indústria e ambiente 70

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www.industriaeambiente.pt Ambiente e Saúde parceria ou ameaça? ENTREVISTA José Pereira Miguel TECNOLOGIA Eficiência energética e renováveis INVESTIGAÇÃO Habitação e Saúde OPINIÃO por Paulo Lamarão número 70 Setembro/Outubro 2011 Publicação Bimestral 6.50 9 771645 178003 ISSN 1645-1783

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Page 1: Indústria e Ambiente 70

www.industriaeambiente.pt

Ambiente e Saúde parceria ou ameaça?

ENTREVISTA José Pereira MiguelTECNOLOGIA Eficiência energética e renováveis

INVESTIGAÇÃO Habitação e Saúde OPINIÃO por Paulo Lamarão

número 70Setembro/Outubro 2011Publicação Bimestral6.50 €

9 771645 178003

ISSN 1645-1783

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25-26 January 2012 | London, UK

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1INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

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EditorialAgir pelo ambiente = recuperar a saúde (e descontaminar a economia)

Entrevista | José Pereira Miguel

Dossier “Ambiente e Saúde” Saúde e qualidade de vida em meio urbano – paula santana

A parceria “Ambiente & Saúde” na qualidade da água para consumo humano em Portugal – luís simas

GISA – uma visão integrada e inovadora da gestão da saúde e ambiente – maria joão pereira

Segurança alimentar: os perigos mais relevantes para a saúde pública – ana sá

Análise ao guia para a modelação segundo a Diretiva da Qualidade do Ar – sara capela

Desreguladores Endócrinos: do meio ambiente ao corpo humano

InvestigaçãoHabitação e saúde – concelho de Arganil– s. lopes, m. pinto vasconcelos, j.p. figueiredo j.p. e a. ferreira

TecnologiaEficiência energética e renováveis

Produtos e TecnologiasEEP Award: nomeados de 2011

NotíciasEnergiaÁguaAr e RuídoAlterações Climáticas e Conservação da NaturezaResíduos

Vozes AtivasPodem os valores ambientais promover a justiça social? Dê-nos um exemplo de um projeto que conheça ou no qual esteja envolvido. – dionysia-theodora avgerinopoulou, mary comerio, ian von lindern e richard fuller

Nortada Potencialmente impotente – carlos pedro ferreira

Pessoas e Empresas

Eventos

Estante

Opinião, por Paulo Lamarão

FICHA TÉCNICA

Número 70 | SeTemBro/oUTUBro 2011

Diretor António Guerreiro de Brito

[email protected]

Diretora executiva Carla Santos Silva

[email protected]

Conselho editorialAlexandre Cancela d’Abreu, Ana Malheiro,

António Gonçalves Henriques, António Joyce, Carlos Alberto Alves, Carlos Borrego,

Carlos Pedro Ferreira, Isabel Rosmaninho, Luís Fonseca, Luís Rochartre, Pedro Santos e Rui Rodrigues

redaçãoJoana Correia

[email protected]

O Espaço Energia conta com a colaboração da ADENE

marketing e Publicidade Vera Oliveira

Tel. 225 899 [email protected]

Designavawise

Assinaturas Tel. 225 899 625 | Fax 225 899 629

[email protected]

redação e ediçãoEngenho e Média, Lda.

Grupo PublindústriaTel. 225 899 625 | Fax 225 899 629

www.engenhoemedia.pt

Propriedade e AdministraçãoPUBLINDÚSTRIA, Produção de Comunicação, Lda.

Praça da Corujeira, 38 – Apartado 38254300-144 PORTO – PORTUGAL

www.publindustria.pt | [email protected]

Publicação Periódica Registo no ICS n.o 117 075

ISSN 1645-1783

Depósito Legal 165 277/01

Tiragem 3000 exemplares

os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.

A Indústria e Ambiente adotou na sua redação o novo acordo ortográfico.

A Indústria e Ambiente é impressa em papel proveniente de florestas com Certificação da

Gestão Florestal Responsável.

Capa Foto © D. Sharon Pruitt

A Indústria e Ambiente é o membro português da

European Environmental Press SU

RIO

DOSSIER › Responsabilidade Ambiental

PRÓXIMA EDIÇÃO

Revista Oficial

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 69 JULHO/AGOSTO 20112

EDIToRIAl

Em 1962, Rachel Carlson publicou um livro que mudou o mundo, Primavera Silenciosa. Rachel era uma bióloga com um passado relevante na área da biologia marinha. Antes, já tinha publicado alguns livros, com sucesso aliás, o que lhe permitiu dedicar-se exclusivamente à escrita sobre conservação da natureza (realidade interessante, se considerarmos que foi há mais de 50 anos). Até à edição desse livro nunca se terá enunciado, de forma tão clara para a opinião pública, o efeito devastador do uso de pesticidas, a sua acumulação e persistência nos ecossistemas e os seus insidiosos efeitos na saúde humana. Entretanto, outros começaram a defender, de forma vigorosa, a proteção da natureza. Entre eles, The Ecologist, lançado em Inglaterra, por Edward Goldsmith que, desde logo no seu primeiro número em 1970, teve um artigo cujo tema seria sucessivamente retomado, cada vez com maior preocupação, nas décadas seguintes, a relação entre a agricultura e a saúde. Em Portugal, na década de 70, Afonso Cautela começou a sua cruzada pioneira, por vezes polémica, sobre temas diversos cruzando ecologia e política (e filosofia, mais tarde) mas o ruído foi um dos temas que abordou no início da sua luta. Todos eles constituem exemplos brilhantes de pessoas que perceberam, antes de muitos outros, que o desenvolvimento sustentável tem muitas vertentes, mas que, no fundo, lutar pela saúde dos ecossistemas é uma forma de lutar pela saúde da comunidade humana.

Atualmente, adicionaram-se outros temas, aparentemente mais “modernos”. Estaremos, nesses temas, entre a vulnerabilidade climática e a perda de biodiversidade, em mistura com a ocorrência de pandemias, a resistência de vírus a antibióticos e os disruptores endócrinos, todos eles a merecerem preocupação, dado o desconhecimento ainda existente sobre os mesmos. Por outro lado, tem-se verificado a ressurgimento de doenças que pareciam do passado e julgadas sob controlo, como sejam a tuberculose - mais resistente em resultado dos tratamentos contra a SIDA - ou a malária, suscetível a alterações na temperatura ao nível regional. Este último é uma desigualdade social em muitas zonas do nosso planeta, com soluções objeto da tradicional e valiosa engenharia de saúde pública. Em contrapartida, importa também não esquecer as doenças da civilização industrial – cancro, obesidade, problemas cardiovasculares, úlceras, apendicites, cáries - cuja incidência tende a continuar a aumentar com a evolução do PIB per capita. Na verdade, muitos são os problemas para os quais ainda é preciso encontrar solução e cuja terapia irá requerer conhecimento e um esforço financeiro por parte da indústria e do Estado.

É inquestionável que a saúde depende de elementos básicos e simples, como água de qualidade, ar sem poluentes e alimentos não contaminados. Em simultâneo, também sabemos que o crescimento económico pode (deve) favorecer a consolidação dos direitos humanos, pelo que, em última análise, a saúde das pessoas não é alheia à saúde da economia. Por isso, o nosso entendimento é que água, ar e comida são vida mas, já agora, se tiverem a perspetiva certa pelo lado do ambiente poderão, ainda, descontaminar a economia. É a prova dos nove que valerá a pena fazer.

agir pelo ambiente = recuperar a saúde (e descontaminar a economia)António Guerreiro de Brito, [email protected]

“MuIToS São oS PRoBlEMAS PARA oS quAIS AINDA É

PRECISo ENCoNTRAR Solução E CujA

TERAPIA IRá REquERER CoNhECIMENTo E uM ESfoRço fINANCEIRo

PoR PARTE DA INDÚSTRIA E Do

ESTADo.

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ENTREVISTA

Entrevista conduzida por António GuErrEiro dE Brito | redação por JoAnA CorrEiA | Fotografia por Luís n. FiLipE

JoSé PEREIRA MIguEl

Na presidência do Instituto Nacional Ricardo Jorge há já 6 anos, José Pereira Miguel, segue atentamente os desenvolvimentos e o trabalho que se faz na área da Saúde Ambiental. Apesar de vários domínios ambientais não estarem sob a alçada do INSA, a verdade é que acaba por dar resposta e estar, diretamente ou indiretamente, envolvido em todos os setores, desde água, ar, alterações climáticas, entre outros. Em entrevista à IA, José Pereira Miguel fala do estado de Portugal e da Europa no que se refere à saúde ambiental, pontos críticos e desafios futuros.

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ENTREVISTA

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

Indústria e Ambiente (IA) – O conceito Saúde Ambiental envolve uma panóplia de fatores e um conjunto de saberes, desde a Engenharia à Medicina. Existe uma política e uma estraté-gia de Saúde Ambiental em Portugal que con-gregue e oriente a ação nesse domínio? José Pereira Miguel (JPM) – A Saúde Ambiental tem como objetivo a promoção e a proteção da saúde através do estudo e da interven-ção sobre os fatores de natureza ambiental que a podem afetar. Pressupõe, portanto, um esforço no conhecimento das causas, na sua vigilância e no seu controlo. Creio que a saúde ambiental também deve abranger os esforços de resolução ou mitigação dos problemas e as preocupações com a sustentabilidade. O conceito tem sofrido alguma evolução e hoje, para lá dos fatores físicos, valorizam-se cada vez mais os fatores sociais e psicosso-ciais. Por outro lado, impõe-se à evidência o ambiente como determinante fundamental da saúde e do bem-estar. A Medicina e a Saú-de Pública são um dos seus esteios. Precisamente por essa diversidade de con-tributos necessários, geralmente dispersos também por vários setores da administração pública, nem sempre é fácil definir políticas e ações concertadas. Neste contexto, creio que o Plano Nacional de Saúde 2004-2010 e o Plano Nacional de Ação Ambiente e Saúde (PNAAS) são dois instru-mentos estratégicos de grande valia para a concertação de esforços de múltiplos setores. Por razões diversas têm existido dificuldades na sua concretização, a maior das quais talvez seja a falta de uma estrutura interinstitucio-nal de acompanhamento sólida. Mas, também carências na afetação de recursos humanos e financeiros, condicionando a prossecução cri-teriosa dos objetivos.O Instituto Ricardo Jorge tem um Departa-mento de Saúde Ambiental coordenado pela Doutora Helena Rebelo e um dos membros da direção é o Professor José Calheiros, insigne cultor destas matérias. A Faculdade de Me-dicina de Lisboa tem uma Unidade de Saúde Ambiental integrada no Instituto de Medicina Preventiva (IMP) e coordenada pela Professo-ra Doutora Fátima Reis. Há diversos grupos no país que se interessam pela Saúde Ambiental mas a minha experiência deriva sobretudo do trabalho e convivência com os citados.IA – Quais os riscos ambientais com impactes na saúde a que, atualmente, estamos mais expostos em Portugal/Europa?JPM – Alguns dos principais riscos ambien-tais em Portugal/Europa são os acidentes de viação (sobretudo em Portugal), acidentes em

casa com crianças, ruído e riscos ocupacionais (de alguma forma relacionados com a indus-trialização). É importante salientar que as de-sigualdades sociais potenciam o risco e se ve-rifica muitas vezes uma relação significativa com o gradiente social. Os mais desfavoreci-dos e os excluídos sofrem um maior impacte. Os riscos não são só de ordem física mas tam-bém de natureza social e mental. Acrescem a estas preocupações outros riscos ambientais cuja dimensão ainda não conseguimos carac-terizar bem, como as alterações climáticas, di-versos poluentes emergentes que funcionam como desreguladores endócrinos e a crescen-te produção de nanomateriais.Na Europa, a distribuição das doenças am-bientais tem perfis diferentes consoante se consideram os novos Estados Membros ou os restantes países, onde a doença de etio-logia ambiental apresenta valores muito mais reduzidos. Nas últimas décadas, a política co-munitária em matéria de ambiente teve como resultado uma série de políticas e de medidas eficazes na redução das emissões e das con-centrações de substâncias contaminantes, levando a que os níveis de muitos poluentes atmosféricos comuns em algumas cidades e zonas rurais tenham diminuído significativa-mente. Não obstante, persistem muitos ris-cos e problemas de saúde de génese ambien-tal. O fumo do tabaco ambiental é sem dúvida dos mais preocupantes.IA – E nos países em desenvolvimento?JPM – Nos países em desenvolvimento os principais riscos ambientais para a saúde são mais básicos: prendem-se com a falta de água potável para consumo, falta de sanea-mento básico (rede de esgotos), falta de uma estrutura de recolha, transporte, tratamento e deposição de resíduos sólidos em condições salubres. Falta ainda muita literacia em saúde relativamente a medidas de higiene pessoal, essenciais à profilaxia das doenças transmis-síveis.A OMS estima que o fornecimento de água potável às populações e a implementação de condições sanitárias adequadas (recolha e tratamento de águas residuais e resíduos sólidos) e medidas de higiene pessoal podem prevenir até cerca de 10% da morbilidade e mortalidade. Acredita-se ainda que este seja um valor subestimado uma vez que aparecem muitas doenças, tais como a legionelose, a leptospirose, as conjuntivites, otites, doenças respiratórias e efeitos adversos vários devi-dos à exposição a agentes químicos (fluoretos, arsénio, chumbo, nitratos), para as quais não existe uma adequada evidência.

IA – Dos diferentes fatores ambientais, quali-dade da água, qualidade do ar exterior, quali-dade do ar interior, ruído, qualidade alimentar, fatores ocupacionais, entre outros, quais es-tarão melhor estudados em Portugal, no que respeita à sua influência na saúde humana? JPM – São perfeitamente conhecidos atual-mente os efeitos na saúde devidos à expo-sição a numerosos agentes químicos, físicos (ruído, temperatura, iluminância, vibrações, radiações) e biológicos. Quer isto dizer que o importante é conhecer e caracterizar a ex-posição. O Instituto Ricardo Jorge tem dado alguns contributos. A qualidade da água para o consumo humano em Portugal está regu-lamentada pelo DL 306/2007 de 27 de agos-to que estabelece, para além dos requisitos de qualidade a que a água deve obedecer, as competências nesta matéria. Segundo dados da ERSAR, a água para consumo humano é de excelente qualidade. O controlo da água de reservatórios naturais (rios, albufeiras) é com-petência da APA e o controlo das águas balne-ares é da competência do INAG.O papel do INSA, a este nível, situa-se no de-senvolvimento de estudos de investigação e de observação em saúde para produção de evidência / informação científica para a to-mada de decisão em matéria de saúde pública. A avaliação da qualidade do ar exterior é da competência da APA e o INSA só intervém no âmbito de estudos de investigação e de ob-

““ALGUNS DOS PRINCIPAIS RISCOS

AMBIENTAIS EM PORTUGAL/EUROPA

SãO OS ACIDENTES DE vIAçãO (SOBRETUDO

EM PORTUGAL), ACIDENTES EM CASA

COM CRIANçAS, RUíDO E RISCOS

OCUPACIONAIS

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ENTREVISTA

servação em saúde. Contudo, desempenha um papel preponderante em matéria de “ar interior” a vários níveis: em contexto ocupa-cional, desenvolvendo estudos de avaliação risco para a saúde dos trabalhadores ou de desconforto através da amostragem in loco, da quantificação e avaliação de agentes quí-micos, físicos e biológicos presentes no ar; em contexto de habitabilidade, fazendo a avalia-ção da qualidade do ar de creches, escolas, lares, entre outros. Desenvolve também es-tudos para avaliação da exposição através da quantificação de agentes químicos ou seus metabolitos em meios biológicos (sangue e urina) para comparação com Indicadores Bio-lógicos de Exposição de Referência. De destacar também o papel do INSA na ava-liação da concentração de fibras de amianto em suspensão no ar em numerosos edifícios públicos e privados onde existe amianto ou materiais que o contenham. IA – E quais suscitam maiores preocupações? Onde estão as fragilidades?JPM – Merecem referência os poluentes emer-gentes (pesticidas, hidrocarbonetos, subpro-dutos da desinfeção das águas, nanotecno-logias) por se desconhecer ainda muitos dos seus efeitos na saúde humana e no ambiente. É importante o desenvolvimento de estudos de biomonitorização e toxicológicos. Das metodologias disponíveis para a investi-gação de fatores ambientais e sua influência na saúde, a biomonitorização humana é a que, quando possível, é mais adequada, designa-

damente porque os seus resultados integram a contribuição das diferentes fontes e vias de exposição e porque permite relacionar mais efetivamente exposições individuais com os efeitos em saúde que lhes estão associados.Em Portugal, através desta metodologia, tem sido bastante estudada, em contextos varia-dos e em diferentes instituições, a avaliação da exposição infantil e/ou fetal ao chumbo, mercúrio e outros metais pesados e também a dioxinas e outros compostos orgânicos per-sistentes. O conhecimento dos níveis de expo-sição é importante, dadas as potenciais reper-cussões no desenvolvimento infantil e, duma maneira geral, na morbilidade ao longo da vida, incluindo asma e alergias, cancro, doen-ças cardiovasculares e problemas associados ao desenvolvimento psicomotor. A população adulta também tem sido alvo de investigação através desta metodologia, nomeadamente no que respeita aos fatores ocupacionais. IA – A crise económica pela qual estamos a passar trará impactes na saúde e qualidade de vida humana, por alteração dos fatores ambientais?JPM – Penso que os principais impactos po-derão ser: a falta de recursos a nível das ins-tituições para o cumprimento cabal das suas competências; o retorno de muitas indústrias a processos de produção mais poluentes por serem eventualmente mais económicos e a consequente “pressão” sobre as entidades fiscalizadoras para tais permissões; a pro-dução de produtos de pior qualidade que, por

serem também mais baratos, serão mais consumidos. Não podemos também esquecer que a crise económica aumentará a vulnerabilidade das pessoas e que os escalões sociais mais baixos serão mais atingidos. Na verdade o impacto dos fatores ambientais reflete o gradiente so-cial e corremos o risco de as desigualdades se acentuarem. IA – Os impactes negativos dos poluentes persistentes e disruptores endócrinos, que se encontram na água e nos alimentos, para a saúde humana é uma profunda preocupação na comunidade científica e, mais recentemen-te, tem vindo a ser um assunto discutido nos órgãos soberanos da UE. Que conhecimento temos do seu impacte em Portugal? Qual o nosso grau de preocupação e o nosso grau de prevenção?JPM – Existem de facto muitos poluentes emergentes que são preocupação da comu-nidade científica em geral e também do INSA. Temos a decorrer alguns projetos nesta área: contaminação da água e dos alimentos com bisfenol-A, avaliação da genotoxicidade de nanomateriais manofacturados, exposição a pesticidas em estufas, efeito dos produtos de degradação dos desinfetantes presentes na água de consumo, etc.Por outro lado, projetos desenvolvidos no âmbito dos programas de monitorização am-biental das unidades de incineração de resí-duos urbanos (LIPOR e valorSul) têm ilustrado de um modo inequívoco a redução substancial

“PORTUGAL DEvERIA TER COMO PRIORIDADE MáxIMA A REDUçãO DOS RISCOS AMBIENTAIS A QUE ESTãO ExPOSTAS AS CRIANçAS. É HOJE RECONHECIDA A vULNERABILIDADE ESPECIAL DAS CRIANçAS, QUE A POBREzA E AS DESIGUALDADES SOCIAIS MAIS ACENTUAM

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ENTREVISTA

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

da exposição ao chumbo, em grande parte de-corrente da eliminação do consumo de gaso-lina com chumbo, com benefícios relevantes sobretudo para a população infantil. Acresce que esses mesmos programas vieram ilus-trar que a exposição a dioxinas e furanos em Portugal é baixa, que não se altera com o ade-quado funcionamento das referidas unidades e que, ao contrário do que, frequentemente, tem sido veiculado a exposição é ubiquitária, isto é, ocorre em todas as regiões via cadeia alimentar, e não na direta relação de proximi-dade com as referidas centrais.IA – As alterações climáticas são uma preocu-pação real para as autoridades de Saúde Am-biental em Portugal? Existe uma estratégia para fazer face à vulnerabilidade climática?JPM – A Resolução do Conselho de Ministros n.º 24/2010 de 1 de abril, aprovou a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climá-ticas cujos objetivos são aumentar a cons-ciencialização sobre as alterações climáticas, manter atualizado e disponível o conhecimen-to científico sobre as alterações climáticas e

os seus impactes e, ainda, reforçar as medidas que Portugal terá de adotar, à semelhança da comunidade internacional, com vista ao con-trolo dos efeitos das alterações climáticas. A Estratégia encontra-se estruturada sob 4 objetivos, que pretendem também traduzir a metodologia geral de organização dos tra-balhos. Os setores estratégicos para adap-tação às alterações climáticas onde se irão focar esforços de identificação de impactes e de definição de medidas de adaptação são o ordenamento do território e cidades, os recursos hídricos, a segurança de pessoas e bens, a saúde humana, energia e indústria, biodiversidade, agricultura, floresta e pescas, turismo. No âmbito desta resolução, a DGS é responsável pelo setor estratégico Saúde hu-mana. Assim foram criados vários grupos de trabalho (nos quais o INSA está representado) com o objetivo de estudarem e desenvolve-rem vários domínios do saber: água, Eventos Hidrológicos Extremos e Eventos Térmicos Extremos.Acresce que o INSA, em estreita colaboração com os serviços de saúde pública regionais e de Região Autónoma da Madeira, tem em fun-cionamento um programa de vigilância de ve-tores (mosquitos, carraças e outros) que visa detetar e controlar atempadamente qualquer surto associado a este mecanismo de trans-missão, associado ou não às alterações climá-ticas.Trata-se do Programa REvIvE que, dada a sua relevância, pretendemos manter ativo e refor-

PERFIlJosé pereira Miguel nasceu em 1947 em Lisboa. Licenciou-se em Medicina em 1970 na Faculdade de Medicina de Lisboa, tornando-se especialista em Medicina interna seis anos mais tarde. Em 1985 fez o doutoramento em Medicina interna, também, na Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi diretor Geral e Alto Comissário da saúde e membro do Conselho Executivo da oMs. Fez parte do Conselho nacional do Ambiente e desenvolvimento sustentável. Atualmente é presidente do instituto nacional de saúde doutor ricardo Jorge e professor Catedrático de Medicina preventiva e saúde pública na Faculdade de Medicina da universidade de Lisboa.

çar e que é, na sua organização e objetivos um exemplo único de cooperaçãoIA – A introdução do conceito de Crimes Am-bientais na legislação nacional, traz conse-quências positivas e importantes para a Saú-de Ambiental em Portugal? JPM – Em junho de 2011, a Comissão Europeia deu um prazo de dois meses a Portugal para transpor para a legislação nacional as novas regras europeias em matéria de punição cri-minal de poluição marítima e outras ofensas ambientais. É de esperar que esta medida também seja benéfica para a saúde humana.IA – Que desafios, ameaças e oportunidades se colocam a Portugal e à Europa?JPM – Portugal deveria ter como prioridade máxima a redução dos riscos ambientais a que estão expostas as crianças. É hoje reconhe-cida a vulnerabilidade especial das crianças, que a pobreza e as desigualdades sociais mais acentuam.Assim, alimentos seguros e adequados, am-bientes seguros favoráveis ao lazer (na escola e espaços de habitação), ar exterior e interior sem contaminantes, redução substancial dos níveis de ruído, e programas de monitorização e vigilância deverão ser prioridades do Esta-do e seus organismos. Particular importância deve ser dada à cadeia alimentar e à preven-ção e controlo da contaminação dos espaços interiores (casas e veículos automóveis) locais onde os níveis de exposição ao fumo ambien-tal do tabaco atingem, frequentemente, valo-res de risco muito elevados.

FontEs dE inForMAção

www.insa.ptwww.dgs.ptwww.who.int/occupational_health/en/

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dossier AMBIENTE E SAÚDE

1. Na cidade, hoje, vivem e convivem as mais variadas contingências, contradições/oposi-ções (a fome e a abundância; os muito pobres e os muito ricos; os bem informados e os mal informados,...) com consequências por vezes imprevisíveis na segurança e na sustentabili-dade da própria vida n(d)a cidade (subsistência e sobrevivência para os cidadãos e gerações futuras).Por isso, algumas das maiores questões po-líticas e académicas prendem-se com o am-biente, a sustentabilidade, a qualidade de vida urbana e a saúde. Estas preocupações são também o resultado da progressiva urbaniza-ção do espaço e da aparente contradição entre o papel historicamente desempenhado pelas cidades, enquanto criadoras de riqueza e ge-radoras de bem-estar, e a realidade urbana de pobreza, insegurança e anomia que é comum a um vasto conjunto de cidades, especialmen-te as localizadas em países de urbanização acelerada e muito recente, assim como alguns setores de cidades antigas (áreas marginali-zadas, degradadas ou obsoletas).As cidades de sucesso são centros de empre-endedorismo e inovação que atraem talentos

e trabalhadores qualificados, gerando grande produtividade, crescimento e bem-estar. Mas, paradoxalmente, algumas cidades cresceram e continuam a crescer demasiado – em 2015, haverá 82 megacidades – potenciando mega-problemas: congestionamento, degradação ambiental, inadequação/falta de habitação e formação de guetos, com os fenómenos de marginalização e criminalidade. A gestão dos limites da expansão urbana é complexa e o planeamento e a oferta das infraestruturas e serviços a essas populações dificilmente se adequam às novas necessidades. Gera-se, assim, o conflito entre ambientalistas, a de-fenderem a continuidade de corredores ecoló-gicos e os políticos municipais, defendendo a expansão da cidade. De facto, perspetiva-se que nos próximos anos a urbanização se intensifique, principal-mente em aglomerações urbanas com mais de 4 milhões de habitantes dos países em de-senvolvimento. Em 2015 as megacidades con-centrarão 9,8% da população urbana (714.507 M), duplicando os efetivos de população re-lativamente a 1990. Apesar da urbanização recente alimentar, essencialmente, as mega-

cidades, 80 em cada 100 habitantes urbanos reside, e continuará a residir, em 2015, em cidades de média e pequena dimensão (com menos de 500 mil habitantes) (UN-HABITAT, 2008; Santana, 2009a).

2. Como se poderá avaliar a saúde e a quali-dade de vida associadas ao processo de ur-banização?Os mais otimistas concordam que a urbaniza-ção, se bem gerida, se associa ao crescimento económico, sendo um sinal positivo de desen-volvimento. Os movimentos populacionais para a cidade, em consequência da moderni-zação e da industrialização das sociedades, trazem benefícios diretos – emprego, aumen-to do rendimento – e indiretos – acesso aos serviços de saúde, cultura e educação – com resultados potencialmente positivos no bem-estar e na saúde das populações e das comu-nidades. Também existe evidência científica de que países ou regiões com taxas de urba-nização elevadas e estáveis têm bons indica-dores sociais, incluindo os de saúde (Santana, 2009a,b). Todavia, os mais pessimistas ad-

Paula Santana Geógrafa Professora Catedrática

da Universidade de [email protected]

Saúde e Qualidade de Vida EM MEIO URBANO

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ANN

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dossier AMBIENTE E SAÚDE

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

vogam que a rápida urbanização tem trazido novos problemas e novas formas de pobreza, incluindo o crescimento de slums/tugúrios, bairros de lata. Argumentam contra o modelo de desenvolvimento económico e social que força a movimentação de trabalhadores do campo para a cidade, à procura de emprego. Os imigrantes transportam consigo a condi-ção de pobreza e, quando chegam à cidade, muitas vezes reforçam-na e perpetuam-na, porque ficam expostos e mais vulneráveis às más condições do ambiente urbano e subur-bano. A exposição às más condições do am-biente físico e social dos bairros pobres está associada a padrões específicos de morbilida-de e mortalidade, dominados especialmente por doenças infeciosas e parasitárias, sendo as crianças um dos grupos mais atingidos (Santana 2009a).A população urbana dos países pobres tem uma carga dupla de problemas de saúde que incluem as doenças transmissíveis e as que, tipicamente, se associam a sociedades econo-micamente desenvolvidas, como as doenças mentais, as doenças crónicas e os acidentes. As taxas de prevalência destas doenças são elevadas e estão associadas aos determi-nantes sociais (falta de condições da habita-bilidade, por exemplo), aos comportamentos (consumo de álcool e tabaco), estilos de vida sedentários e alteração dos padrões alimen-tares (Montgomery, 2008). Apesar de os países menos desenvolvidos registarem taxas mais baixas de urbanização (40,9%) quando comparados com os países mais desenvolvidos (75,2%), era nos primei-ros que residia, em 2001, mais de 2/3 da po-pulação urbana (69,3%), com consequências previsíveis na pobreza e vulnerabilidade des-tas populações (UN-HABITAT, 2003; Santana, 2009b).

3. O crescimento acelerado da população nas áreas urbanas e suburbanas requer atenção urgente, principalmente na identificação das questões críticas da saúde pública, associa-das às condições do planeamento e gestão do território e, ainda, às alterações climáticas. Ou seja, para planear é preciso identificar com precisão as características ambientais que, potencialmente, determinam o bem-estar, a saúde e a qualidade de vida humana. As três principais razões de degradação do ambiente físico são a poluição do ar, a má gestão de re-síduos e a contaminação da água potável, com impactes na saúde, medidos, nomeadamente, na baixa esperança média de vida à nascença

e em altas taxas de mortalidade infantil e de crianças de idade inferior a 5 anos (Santana, 2009b). Por outro lado, os impactes mais ne-gativos das alterações climáticas irão ocorrer em áreas de maior concentração de pessoas, de recursos e de infraestruturas. No futuro, as mudanças climáticas irão multiplicar os riscos da saúde urbana. As ondas de calor, a poluição do ar, as tempestades e as doenças infeciosas tornar-se-ão mais comuns. E os seus impac-tes serão mais gravosos, principalmente para a população pobre que reside em áreas urba-nas.A capacidade de resiliência das cidades é uma condição fundamental na redução da pobre-za global, especialmente no mundo em de-senvolvimento. Quando as infraestruturas são deficientes, os sistemas públicos (ou de acesso público) de prestação de serviços são inadequados e persistem debilidades nos mercados de emprego, ou seja, as oportuni-dades são limitadas, é difícil construir cidades saudáveis onde não seja possível alterar a ca-deia dos determinantes da pobreza/doença/pobreza.E é por isso que os desafios que se colocam à saúde, em consequência da intensa e rápida mobilidade geográfica e transformação de-mográfica que se intensificará no século xxI, exigem soluções inovadoras e adequadas, de acordo com as especificidades das regiões, dos países e dos grupos populacionais.

4. É obrigatório promover a equidade no acesso às condições de defesa da saúde, ga-rantindo a oportunidade de acesso a bens e serviços de acordo com as necessidades das populações.Para isso, terá de ser compreendida a natu-reza e a extensão das desigualdades em saú-de urbana e trabalhar para as reduzir. Uma questão básica: sociedades com altos níveis de desigualdade de rendimento tendem a ter maiores desigualdades em saúde. Em sentido contrário, altos níveis de coesão social e apoio mútuo protegerão a saúde. As desigualdades em saúde são o resulta-do das circunstâncias em que as pessoas crescem, vivem, trabalham e envelhecem e, também, do acesso que têm aos sistemas de saúde. Nesse sentido, a associação entre o planeamento urbano e a saúde tem ganho cada vez mais espaço nos “fora” de discussão académica e política. Tem vindo a concluir-se que há uma influência direta do contexto ur-bano na saúde, sendo esse contexto constitu-ído por múltiplos ambientes: o físico, o social,

o económico e o cultural. Planear lugares mais saudáveis, capazes de promover a equidade na oferta de condições de saúde e de qualida-de de vida dos seus habitantes, é não esque-cer nenhuma destas dimensões.Melhores condições de habitação, saneamen-to, disponibilidade de água potável, seguran-ça ambiental nos locais de trabalho, recreio e residência, espaço público adequado às ne-cessidades de sociabilização e coesão social, acesso a serviços de saúde e de educação e redes adequadas de transportes públicos são alguns exemplos dos determinantes sociais da saúde (Marmot, 2005) que podem ser atin-gidos através de uma boa governação urbana. A diminuição das iniquidades em saúde e a er-radicação das condições materiais e imateriais de pobreza e privação em áreas urbanas e su-burbanas requerem e exigem recursos – aju-das, investimentos públicos e privados – e, em simultâneo, um forte comprometimento em melhorar a governação urbana, sendo o pla-neamento urbano um processo-chave para que seja possível criar os suportes ambientais – físicos e sociais – para a sustentabilidade e condições generalizadas para a prestação de cuidados de saúde.Todavia, ainda está longe de existir um com-promisso social e político de avaliação e moni-torização de impactes dos determinantes do ambiente físico e social na saúde das popula-ções e das comunidades urbanas, numa pers-petiva intersectorial (habitação, educação, transportes, segurança, indústria, turismo, agricultura, emprego, inserção dos imigrante, etc.) e de multinível (cidadãos/comunidade/país/região), que se projete nos horizontes de curto, médio, longo e muito longos prazos. Por exemplo, o desemprego é um dos maiores determinantes sociais da doença (Marmot, 2010). No momento atual, de crise económica e financeira, estarão as cidades e os serviços de saúde preparados para enfrentar as con-sequências desta determinante?

5. É por isso que a saúde deve ser colocada no centro da agenda política e social das cidades.As ações intersectoriais são necessárias e obrigatórias, mas só serão possíveis através do esforço conjunto de instituições e gover-nos, na comunicação e coordenação de ativi-dades, com o objetivo de obter mais ganhos e maior equidade em saúde. Por exemplo, o au-mento dos níveis de educação, principalmente das mulheres, tem efeitos positivos diretos na saúde da população e das comunidades, particularmente na redução das mortalida-

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dossier AMBIENTE E SAÚDE

des materna e de crianças. Depois, a própria educação das crianças e jovens para viverem com mais higiene e saberem como proteger a saúde, nomeadamente na capacitação para comportamentos adequados nos aspetos da dieta alimentar, consumo de bebidas alcoóli-cas, prática de atividade física, atividade sexu-al, determina alterações da “carreira” de saúde dos cidadãos mais jovens, com repercussão nas gerações futuras.Por outro lado, importa referir que a síntese (ação intersectorial) é um processo indispen-sável ao planeamento, onde meras ações sectoriais ou aditivas têm redundado em fra-casso.Hoje, o centro/eixo nas políticas de ordena-mento do território e planeamento urbano, além dos aspetos tradicionais, eminentemen-te físicos, deverá relevar dimensões imateriais – identidade, sentido de pertença a um lugar, por exemplo - e de equidade (de bem comum como síntese da ordem e da justiça social e espacial). Recordo Pedro Hispano (1º e único Papa por-tuguês e único papa médico - João xxI, que nasceu em lisboa no inicio do Sec. xIII) o qual escreveu que a saúde é uma expressão da harmonia do ser humano e essa harmonia tem de se exprimir, não só, entre os diferen-tes órgãos e funções do corpo humano, mas também entre o corpo e o espírito, harmonia dos indivíduos com a comunidade, com a na-tureza, com o cosmos (Hispano, 2010). Enfim, a saúde na sua relação com a totalidade dos problemas, anseios e buscas do homem con-temporâneo, sem perder de vista a informa-ção correta e o equilíbrio psicológico.A saúde promove-se e cultiva-se antes da

doença. Neste contexto, devem ser equa-cionadas novas metodologias e práticas que incorporem as questões das iniquidades na redistribuição da riqueza produzida, na sub-sidiariedade e solidariedade institucional, na justiça social, na justiça territorial, nos níveis de saúde e bem-estar das populações, na qualidade de vida, na qualidade do ambiente, enquanto princípios básicos do planeamen-to urbano do século xxI. É como um retomar da Polis para satisfação do bem-viver, o(s) bem(ns) comum(ns) ou Eu-Zeinas, visando a felicidade possível do Homem no Mundo, como referia Aristóteles, no seu livro «A Po-lítica».

6. Se não tomarmos medidas, teremos um preço a pagar: a proliferação da desigualdade entre citadinos, com impacte em sofrimento evitável e problemas de saúde, os quais po-derão impedir as cidades de aproveitar todo o seu potencial económico e humano.Regiões e Cidades sem estratégia de planea-mento e governação ativa terão cada vez mais dificuldade em adequar-se às novas necessi-dades - de mobilidade, de habitação, de aces-so a bens e serviços adequados – da popula-ção, com uma longevidade cada vez maior e, potencialmente, mais frágil. Quando as soluções são demasiado medicali-zadas as desigualdades em saúde persistem ou aumentam e os resultados ficam aquém do esperado, muito embora os gastos sejam consideráveis. As políticas de saúde terão de incluir soluções, para além das focadas apenas na doença, que avaliem o impacte do ambiente físico e social

na saúde humana e reforcem o poder horizon-tal, diluindo a capacidade unilateral do setor da saúde, cujos arquétipos de intervenção se têm vindo a demonstrar cada vez mais insu-ficientes e desadequados. A complexidade, transversalidade e interdependência dos pro-blemas exige complexidade, transversalidade e interdependência das soluções, exige parce-rias multidisciplinares e multisectoriais.

referências

— Hispano P. (2010) - liber de conservanda sanitate. lis-boa: Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

— Marmot, M. (2005) - Closing the gap in a generation. Health equity through action on the social determi-nants of health. World Health Organization. Commis-sion on Social Determinants of Health.

— Marmot, M. (2010) - Fair Society, Healthy lives. The Marmot Review. Strategic Review of Health Inequali-ties in England.

— Montgomery, M., (2008) – «The Health of Urban Po-pulations in Developing Countries». United Nations Expert Group Meeting on Population Distribution, Ur-banization, Internal Migration and Development. UN/POP/EGM-URB/2008/11, 14 de janeiro, Nova Iorque.

— Santana, P. (Coord.) (2007) - A Cidade e a Saúde, Coim-bra, Almedina.

— Santana, P. (2009a) - “Urbanização e Saúde”, in: JANUS 2009 – Portugal no Mundo. Aspeto da Conjuntura In-ternacional. A Saúde no Mundo. Jornal Público / Uni-versidade Autónoma de lisboa (p.80-82).

— Santana, P. (2009b) - “Por uma Cidade Saudável”, in: JANUS 2009 – Portugal no Mundo. Aspeto da Conjun-tura Internacional. A Saúde no Mundo. Jornal Público / Universidade Autónoma de lisboa (p.83-84).

— UN-HABITAT (2003) - The Challenge of Slums. Global report on human settlements 2003. United Nations Human Settlements P

— UN-HABITAT (2008), Harmonious Cities. State of the World’s Cities 2008/2009. UN-HABITAT, londres.

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Há UMA INFlUêNCIA DIRETA DO CONTExTO URBANO NA SAÚDE, SENDO ESSE CONTExTO CONSTITUíDO POR MÚlTIPlOS AMBIENTES

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dossier Ambiente e sAúde

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introduçãoesta diretiva (diretiva 98/83/Ce, do Conselho de 3 de novembro), conhecida como “diretiva da torneira”, trouxe uma mudança substancial face à anterior legislação sobre a matéria ao obrigar que a demonstração de conformidade da água destinada ao consumo humano com os valores limite definidos fosse relativamen-te a amostras recolhidas nas torneiras do consumidor.O objetivo desta alteração, associado a uma maior transparência na divulgação dos resul-tados ao público em geral, era o de dar a co-nhecer a verdadeira qualidade da água que os europeus consomem e não aquela que é dis-tribuída pelas entidades gestoras.de facto, na perspetiva do consumidor, e ten-do em conta a estreita relação que pode existir entre a qualidade da água que consumimos e a saúde humana, importa saber a qualidade do produto no ponto de utilização.em Portugal, a transposição desta diretiva foi inicialmente concretizada com a publicação do decreto-Lei n.º 243/2001, de 5 de setembro, entretanto revogado pela publicação do de-creto-Lei n.º 306/2007, de 27 de agosto.

A publicação destes diplomas também trouxe uma mudança substancial que consistiu na atribuição à entidade Reguladora dos serviços de Águas e Resíduos (eRsAR)1, antes institu-to Regulador de Águas e Resíduos (iRAR), das competências de coordenação da implemen-tação e fiscalização desta legislação. desta forma, foram criadas as condições ins-titucionais para Portugal dar um cumprimen-to mais cabal à legislação comunitária deste setor, que se materializaram na constituição de um departamento especializado (depar-tamento da Qualidade da Água) responsável pela definição e implementação de um modelo de regulação da qualidade da água que, por um lado garantisse que o controlo era efetuado dando cumprimento aos requisitos comunitá-rios e, por outro, assegurasse que a qualidade da água não colocaria em risco a proteção da saúde humana.

o modelo de regulação da qualidade da águaA introdução de novas regras no processo de controlo da qualidade da água destinada

ao consumo humano com a transposição da diretiva 98/83/Ce, determinou que fosse de-senvolvido um modelo de regulação adequado que entrou em vigor a partir de 2004 (Figura 1).este modelo assenta em três fases principais:

1. envio à eRsAR dos Programas de Controlo da Qualidade da Água (PCQA) preparados pelas entidades gestoras para aprovação durante o mês de setembro do ano ante-rior a que dizem respeito.

2. implementação dos PCQA aprovados pela eRsAR e realização de fiscalizações pela entidade reguladora para verificação da efetiva implementação e acompanhamen-to dos incumprimentos dos valores limite pela eRsAR e pelas autoridades de saúde.

3. envio pelas entidades gestoras à eRsAR de todos os dados resultantes da imple-mentação dos PCQA para processamento, validação e produção de um relatório téc-nico anual (Volume 4 do Relatório Anual do setor de Águas e Resíduos2).

Refira-se que desde 2008 este modelo de regulação da qualidade da água é implemen-

Luís SimasDiretor do Departamento da Qualidade da Água

da ERSAR

A PARCeRiA “Ambiente & sAúde” nA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO em PORtUGAL

O quadro normativo europeu inclui uma diretiva que estabelece os critérios de controlo e qualidade da água destinada ao consumo humano (água da torneira) no espaço da União Europeia.

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dossier Ambiente e sAúde

tado com recurso ao “módulo da Qualidade da Água”3 que consiste num conjunto de ferra-mentas disponíveis no Portal da eRsAR e que asseguram o fluxo e tratamento da informa-ção entre as entidades gestoras e a eRsAR.

a parceria “ambiente & saúde”A qualidade da água para consumo humano em Portugal é uma matéria que exige uma co-ordenação eficaz entre as áreas de ambiente e saúde.Com efeito, neste setor as questões ambien-tais e de saúde são indissociáveis, pelo que a eRsAR e a direção-Geral da saúde estão em articulação permanente em diversas maté-rias, nomeadamente nas questões relaciona-das com os desinfetantes utilizados no pro-cesso de tratamento da água, na participação conjunta em diversos grupos de trabalho ou na definição de procedimentos para a reso-lução de incumprimentos dos valores limite constantes da legislação em vigor.A resolução destes incumprimentos é deter-minante para a manutenção da boa qualidade da água e para uma atuação rápida que impe-ça a ocorrência de problemas de saúde rela-cionados com o consumo da água da torneira.Assim, Portugal dispõe atualmente de um mecanismo que permite à eRsAR e às auto-ridades de saúde conhecer todos os incumpri-mentos dos valores limite com um atraso de apenas 24 horas relativamente às entidades gestoras, uma vez que estas têm a obrigação

de os comunicar neste período de tempo, po-dendo assim estabelecer-se prioridades de atuação mediante uma análise de risco dos parâmetros em incumprimento.deste modo, é possível às entidades gestoras, à eRsAR e às autoridades de saúde atuar em total coordenação nas situações em que os incumprimentos exijam uma tomada de me-didas rápidas, estejam elas relacionadas com modificações no tratamento da água, com a realização de manobras de descargas ou de limpeza e higienização de reservatórios, por exemplo, ou mesmo com a definição de restri-

ções ao uso da água e, em situações extremas e muito raras, à suspensão do abastecimento.salienta-se que mesmo na situação mais extrema de suspensão do abastecimento, a legislação portuguesa determina a obrigato-riedade de a entidade gestora garantir uma alternativa de abastecimento se a suspen-são se prolongar por mais de 24 horas, o que também é uma medida de proteção da saúde pública já que evita que a população recorra a origens de água não controladas e que tam-bém possam colocar em risco a proteção da saúde humana.efetivamente, pode afirmar-se com proprie-dade que Portugal dispõe no processo de controlo da qualidade da água destinada ao consumo humano uma verdadeira parceria “Ambiente & saúde”, uma vez que o esforço conjunto dos diferentes intervenientes nestas áreas tem conduzido à obtenção de elevados índices de água segura.A Figura 2 mostra a evolução da água segura desde 1993, ano em que foi produzido o pri-meiro relatório da qualidade da água destina-da ao consumo humano.nesta figura são evidentes os progressos que Portugal conseguiu em 18 anos, evoluindo para uma situação em que apenas cerca de 50% da água era controlada e tinha boa qua-lidade para a realidade atual de 97% de água segura.de facto, os dados de 2010 do controlo da qualidade da água apresentados no passado dia 30 de setembro, suportados na realização de mais de 600 000 análises, revelam que é perfeitamente seguro consumir água da tor-neira em Portugal, reforçando a mensagem de

Figura 2 Evolução do nível de água segura desde 1993

Figura 1 Modelo de regulação da qualidade da água

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PUb.

que é uma água de confiança, controlada segundo os mais exigentes critérios nacionais e europeus, quimicamente equilibrada e, portanto, saudável.

o Futuro hojeApesar de atualmente os níveis de qualidade apresentarem valores muito elevados, Portugal mantém alguns objetivos por atingir, desig-nadamente 99% de água segura até 2013 (PeAsAAR ii).Para que tal seja possível, além das óbvias melhorias nos procedi-mentos técnicos já existentes, é imperativo que novas ferramentas sejam implementadas para que a segurança da água já existente ain-da possa ser incrementada.neste conjunto de novas ferramentas incluem-se os Planos de segu-rança da Água (PsA) preconizados pela Organização mundial da saú-de. Os PsA assumem-se como uma abordagem preventiva baseada numa análise e controlo de riscos em pontos críticos dos sistemas de abastecimento.desta forma, a implementação de um PsA desde a origem até à tor-neira do consumidor, complementarmente ao controlo previsto na legislação vigente, potenciará o crescimento dos indicadores da qua-lidade da água e, mais importante, incrementará os já elevados níveis de segurança existentes.Por todas estas razões, e porque os PsA têm merecido o consenso in-ternacional dos peritos deste setor, também a eRsAR tem promovido a sua implementação, a par do trabalho já desenvolvido por iniciativa própria nalgumas entidades gestoras.É neste contexto que surge o Guia técnico iRAR n.º 6 – Planos de se-gurança da Água para Consumo Humano e o projeto-piloto desenvol-vido pela eRsAR que engloba um conjunto de cerca de uma dezena de operadores. Pretende-se com este projeto criar know-how que permita no futuro próximo garantir uma implementação generalizada dos PsA por todas as entidades gestoras dos sistemas públicos de abastecimento de água. Os PsA são também um excelente exemplo de como o ambiente e a saúde produzem parcerias com vantagens notórias e que garantem uma efetiva proteção da saúde humana.

considerações FinaisA qualidade da água para consumo humano em Portugal tem benefi-ciado de uma efetiva parceria entre o ambiente e a saúde, proporcio-nado a todos os Portugueses uma água da torneira segura.esta parceria continua a trabalhar com o objetivo de melhorar ainda mais a segurança da água em termos de proteção da saúde humana, promovendo a implementação das recomendações emanadas pelas organizações internacionais de referência neste setor.em resumo, na qualidade da água para consumo humano o Ambien-te & saúde formam claramente uma parceria vantajosa com reflexos positivos nos índices de desenvolvimento de Portugal.

1 A eRsAR é a autoridade competente para a qualidade da água destinada ao consumo humano

em Portugal Continental, uma vez que nas Regiões Autónomas dos Açores e madeira estas

competências estão atribuídas a autoridades competentes regionais.

2 As diferentes edições do Relatório Anual do setor de Águas e Resíduos estão disponíveis em

www.ersar.pt.

3 O “módulo de Regulação da Qualidade da Água” foi premiado na categoria de serviço ao Cidadão

na 7.ª edição dos Prémios das boas Práticas no setor Público e nomeado para as categorias de

melhoria de Processos e informação de Gestão.

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dossier AMBIENTE E SAÚDE

A Organização Mundial de Saúde (OMS) con-sidera que a poluição atmosférica, tanto a interior como a exterior, é um dos maiores riscos ambientais para a saúde [1]. O impacto da poluição atmosférica é amplo; a inalação de químicos que resultam na deposição e absor-ção destes nos pulmões têm consequências diretas na saúde dos humanos; no entanto a saúde pública pode também ser afetada in-diretamente pela deposição de poluentes at-mosféricos no meio ambiental que ficam dis-poníveis para serem posteriormente tomados pelas plantas e animais, resultando em quí-micos que entram na cadeia alimentar ou na água potável, e consequentemente consti-tuem outras fontes adicionais de exposição humana. Trata-se de um problema ao nível global que afeta tanto os países desenvolvi-dos como os países em via de desenvolvimen-to e que contribui para o aumento da morte prematura devido a infeções respiratórias, do-enças cardíacas e cancro do pulmão. As esti-mativas da OMS apontam para cerca de 2 mi-lhões de mortes prematuras por ano devidas aos efeitos da poluição atmosférica (World health Report, 2002).Existe ainda evidência

que contribui para um acréscimo de admis-sões hospitalares e da exacerbação dos sin-tomas, particularmente devido a problemas cardíacos e respiratórios com os consequen-tes custos económicos. As crianças e os ido-sos são os grupos mais vulneráveis à poluição atmosférica por causa da sua idade ou devido a problemas de saúde pré-existentes. Além disso, os fetos, os bebés e as crianças estão normalmente mais expostos que os adultos. Vários estudos científicos evidenciam asso-ciação significativa entre a exposição a diver-sos poluentes durante o período gestacional e efeitos adversos no desenvolvimento do feto, nomeadamente a ocorrência de partos pré-termo e de baixo peso à nascença [2-4]. Infelizmente, a exposição a poluentes encon-tra-se em grande medida para além do con-trolo individual e requer ação por parte das autoridades ao nível local, nacional ou mesmo internacional de modo a atingirem-se redu-ções significativas dos níveis de exposição. É neste âmbito que surge o projeto GISA numa conjugação de esforços e interesses comuns para desenvolvimento e gestão da saúde e ambiente na região do Alentejo Litoral. Trata-

se de um projeto pioneiro que integra a saúde no planeamento do desenvolvimento susten-tável de uma região com equilíbrios sensíveis resultantes do crescimento industrial e da necessidade de manutenção da qualidade de vida das populações. É um projeto inovador na medida em que reúne no espaço das soluções os atores mais representativos do desenvol-vimento da região: a população representada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvi-mento Regional do Alentejo (CCDR Alentejo), a Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARSA) e os 5 Municípios do Alentejo Litoral (Sines, Odemira, Grândola, Alcácer do Sal e Santiago do Cacém); os potenciais poluidores através da participação ativa da indústria re-presentada por 10 das principais empresas da região - Petróleos de Portugal (Petrogal), Repsol, Administração do Porto de Sines (APS), Águas de Santo André (AdSA), AICEP, CARBOGAL, Eletricidade de Portugal (EDP), EuroResinas, KIMAXTRA, REN, GENERG e; as universidades – Instituto Superior Técnico da Universidade Técnic a de Lisboa (coordena-ção científica), Faculdade de Ciências da Uni-versidade de Lisboa, e o Instituto Superior de

Maria João PereiraCERENA - Centro de Recursos Naturais e Ambiente, IST

[email protected]

GISA – UMA VISãO INTEGRADA E INOVADORA DA GeStão dA SAúde e AMbIente

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dossier AMBIENTE E SAÚDE

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Ciências do Trabalho e das Empresas -como suporte multidisciplinar científico e tecnológi-co para o desenvolvimento e implementação deste projeto inovador. O objetivo do projeto é criar metodologias de monitorização, observação, avaliação e con-trolo da qualidade do ar e da saúde de forma a garantir uma gestão integrada da região do Alentejo Litoral. O sistema, em construção, consiste num conjunto de instrumentos e modelos matemáticos que permitirão gerar mapas de indicadores ambientais e de saúde a partir de uma base de dados única, para o controlo da região através de cenários críti-cos e de alerta. Para avaliação das relações entre poluição atmosférica exterior e saúde humana, selecionámos neste projeto um dos grupos de risco mais suscetíveis: os fetos [5}. A primeira dificuldade que surge quando se pretende criar um sistema desta natureza é a necessidade de ter uma base de informação de qualidade que normalmente é inexistente. Consequentemente a primeira etapa consistiu em criar procedimentos de recolha de dados, quer de saúde quer de qualidade do ar, e ins-trumentos que permitam o seu armazena-mento e gestão.

recolha de dados Quando se pretende avaliar o impacto da qua-lidade do ar sobre a saúde humana, um dos pontos mais críticos é a recolha de dados de saúde, pois não só é necessário recolher da-dos sobre as variáveis que pretendemos me-dir- neste caso o número de partos pré-termo e o baixo peso à nascença – como também todas as covariáveis que podem interferir nas referidas variáveis para além da própria

qualidade do ar, como sejam o consumo de tabaco, pré-disposição genética ou patolo-gias pré-existentes. Implica ainda a adesão da população (neste caso, das mães) de forma voluntária e devidamente informada. No nos-so projeto revelou-se fundamental não só a colaboração dos médicos de saúde pública na elaboração do protocolo de recolha de dados, como o envolvimento da administração regio-nal de saúde do Alentejo que permitiu a reco-lha de dados nos centros de saúde através do trabalho e empenho dos seus enfermeiros. Consideramos que tratando-se de dados do foro privado, o envolvimento dos enfermeiros dos centros de saúde foi fulcral para o sucesso da recolha de dados, dado a sua proximidade com a população local e o trabalho que desen-volveram no terreno para captação da partici-pação das mães. A recolha de dados de saúde foi suportada por uma aplicação informática que descarrega os dados de forma segura via internet numa base de dados. Esta base da-dos obedece a todas as normas que regulam a proteção de dados pessoais e foi previamente autorizada pelas entidades competentes (Fi-gura 1).A recolha de dados de qualidade do ar não é contudo uma tarefa menos difícil, atendendo a que as redes convencionais apenas con-seguem monitorizar um número muito re-duzido de parâmetros, quando comparado com o número de substâncias químicas que prejudicam a saúde. Em particular, a rede de monitorização da qualidade do ar no Alente-jo litoral, à data do início do projeto era com-posta por apenas 3 estações localizadas em torno do polo industrial de Sines, ou seja a sua cobertura espacial era muito pequena quan-do comparada com a região que se pretendia

caracterizar. Para uma cobertura espacial utilizaram-se tubos difusores em cerca de 100 locais de amostragem dispersos por toda a região do Alentejo Litoral e foi ainda adqui-rida uma estação móvel da qualidade do ar para avaliar a poluição nas zonas mais críticas (Figura 2), ou seja, ou seja áreas com maior densidade populacional). Para ultrapassar as limitações das redes e das formas de medida convencionais o projeto apostou na biomoni-torização da qualidade do ar através campa-nhas para medição do índice de biodiversidade liquénica. Esta metodologia embora inovado-ra já é utilizada noutros países da Europa [5-7] e apresenta várias vantagens que se desta-cam por: 1) serem medidas integradoras do efeito biológico de todos os poluentes de ma-neira sinérgica, mesmo aqueles que não con-seguimos medir atualmente, num período de tempo recente (últimos meses ou anos) o que permite avaliar a exposição ambiental crónica que é a mais difícil de obter; e de 2) possibili-

FiGUra 2 Amostradores passivos (alternativo) e estação de qualidade do ar móvel.

FiGUra 1 Aplicação de acesso à base de dados para os técnicos de saúde..

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dossier AMBIENTE E SAÚDE

tar uma amostragem relativamente densa no espaço com baixo custo efetivo, gerando da-dos com detalhe espacial que conjuntamen-te com aplicação de métodos geoestatíscos permite a obtenção de mapas de qualidade do ar de alta resolução espacial (Figura 3). Esta caracterização detalhada da qualidade do ar é fundamental para se caracterizar os níveis de exposição de cada indivíduo que vive e/ou trabalha numa dada região, e a incerteza as-sociada aos referidos níveis estimados (Figura 4). Este aspeto é raramente tido em conside-ração na maior parte dos estudos. A resolução espacial dos dados de saúde é em geral ava-liada à escala do concelho e menos frequente-mente ao nível da freguesia.A utilização de métodos de simulação geoes-tatísticos [8] para aceder à incerteza espacial da exposição a níveis de poluição individual é fundamental quando se pretende caracterizar o risco para a saúde humana. As relações en-tre as várias variáveis ambientais e de saúde serão avaliadas através de regressão logística.

”a proteção da saúde é possível e eFicaz”Embora ainda haja muito desconhecimento científico sobre o efeito de muitos dos poluen-tes comuns, e em particular do efeito das mis-turas de poluentes, sobre a saúde humana, as políticas baseadas em evidências demonstram que a proteção da saúde é possível e eficaz. Por exemplo, no seguimento da eliminação da utilização de gasolina com chumbo verificou-

líqUenesOs líquenes (organismos simbióticos constituídos por um fungo e uma alga ou cianobactéria) encontram-se em quase todo o planeta, e têm sido utilizados para monitorizar vários poluentes, nomeadamente enxofre, azoto, fluoretos, metais, radionuclídeos, dioxinas [9], PAHs [10] e partículas. Como são organismos com um tempo de vida longo, tendem a acumular ao longo do tempo, refletindo uma exposição de longo termo (desde alguns meses até vários anos); adicionalmente, a diversidade liquénica tende a decrescer em áreas poluídas, como consequência dos efeitos nocivos dos poluentes sobre a fisiologia dos líquenes. A biodiversidade liquénica proporciona uma medida global da qualidade do ar, dado que os líquenes estão expostos às mesmas misturas complexas de poluentes que os humanos nos últimos anos. Isto é um ponto de importância fundamental para os estudos de saúde, dado que uma das tarefas mais difíceis é relacionar baixos níveis de poluição com efeitos nocivos na saúde a médio e longo prazo. No trabalho pioneiro de Cislaghi e Nimis (1997) relacionam baixos valores de um índice de biodiversidade liquénica com elevada mortalidade por cancro do pulmão no norte de Itália.

FiGUra 3 Mapa de LDV do Alentejo Litoral de 2010. PartículasO poluente atmosférico que mais população afeta são as partículas (PM), que consistem numa complexa mistura de partículas sólidos e líquidos de substâncias orgânicas e inorgânicas em suspensão no ar. Estas PM podem ser de origem antropogénica, resultando por exemplo da combustão (atividades urbanas e industriais) ou de práticas de maneio da terra (atividade agrícola), ou de origem natural como seja a ressuspensão de partículas do solo por ação do vento ou a atividade vulcânica. Em consequência este poluente afeta tantas regiões urbanas e agrícolas, como áreas naturais com pouca cobertura vegetal. Daí que regiões como o nosso Alentejo, caracterizado por uma cobertura vegetal esparsa, possam ter naturalmente elevados níveis de PM. Estas são habitualmente identificadas pelo seu diâmetro aerodinâmico. As PM10 (diâmetro aerodinâmico inferior a 10 µm) são as partículas inaláveis, i.e., aquelas que penetram no nosso sistema respiratório, mas PM2.5 (diâmetro aerodinâmico inferior a 2.5 µm) são aquelas que apresentam maior perigosidade porque quando inaladas podem atingir as regiões periféricas dos bronquíolos e interferir nas funções pulmonares.

FiGUra 4 Diagrama da metodologia para a caracterização das associações entre a poluição atmosférica, e o baixo peso à nascença e número de partos pré-termo.

PARTíCULAS

Recolha de dados

Processamento e classificação dos líquenes

Índice LDV

Ajustamento dosvariogramas

Simulaçãogeoestatística(k simulações)

Simulação #i, i=1,2,...,k

Atribuir exposiçãoindividual #i,

i=1,2,...,k

Modelo de regressãologística #i,

i=1,2,...,k

Odd Ratio (OR) #i, i=1,2,...,k

Distribuição da OR #i, i=1,2,...,k

O OR com 95% de intervalo de confiança inclui OR=1?

NãoSimA variação na exposiçãoestá estatisticamenteassociada ao evento

A variação na exposiçãonão está estatisticamente

associada ao evento

Outrascovariáveis

Incerteza daexposição individual

Condicionada pelosvalores originais de LDV

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reFerências

1. World Health Organization: Effects of air pollution on children’s health and develop-ment - A review of the evidence. Bonn; 2005.

2. Bobak M: Outdoor Air Pollution, Low Birth Weight, and Prematurity. Environmental He-alth Perspectives 2000. 108 (2): 173-176.

3. Wang X, Ding H, Xu X: Association between Air Pollution and Low Birth Weight: A Communi-ty-based Study. Environmental Health Pers-petives 1997. 105 (5): 514-520.

4. Rogers JF, Dunlop AL: Air Pollution and Very Low Birth Weight Infants: a Target Population? Pediatrics 2006. 118: 156-164.

5. Cislaghi C, Nimis P: Lichens, air pollution and lung cancer. Nature 1997. 387: 463–464.

6. Pinho P, Augusto S, Branquinho C, Bio A, Pe-reira MJ, Soares A, Catarino F Mapping Lichen Diversity as a First Step for Air Quality As-sessment. Journal of Atmospheric Chemistry 2004. 49: 377-389.

7. Asta J, Erhardt W, Ferreti M, Fornasier F, Kirschbaum U, Nimis PL, Purvis OW, Pirint-sos S, Scheidegger C, Van Haluwyn C, Wirth V: Mapping lichen diversity as an indicator of environmental quality. In Monitoring with Li-chens - Monitoring Lichens. Edited by Nimis PL, Scheidegger C, Wolseley P. Dorderecht, The Netherlands: Kluwer Academic Publisher; 2002: 273-279.

8. Soares A, Pereira MJ: Space-time modelling of air quality for environmental risk maps: a case study in South Portugal. Computer and Geos-ciences 2007. 33: 1327-1336.

9. Augusto S, Pereira MJ, Soares A, Branquinho C: The contribution of environmental biomonito-ring with lichens to assess human exposure to dioxins. International Journal of Hygiene and Environmental Health 2007. 210 : 433-438.

10. Augusto S, Máguas C, Pereira MJ, Soares A, Branquinho C: Spatial modeling of PAHs in lichens for fingerprinting of multisource at-mospheric pollution. Environmental Science and Technology 2009. 43: 7762–7769.

se uma redução dos níveis de chumbo no san-gue das crianças e uma redução do risco de deficiente desenvolvimento neuro-comporta-mental. Ou seja, um controlo eficiente da po-luição atmosférica, quer interior quer exterior, pode significativamente prevenir doenças. É para contribuir para este esforço de prevenir os efeitos adversos da poluição atmosférica que as instituições do Alentejo Litoral se uni-ram, criando massa crítica para a construção de um sistema de gestão da saúde e ambien-te. Para além do sistema de monitorização

Gases inorGânicosNo âmbito dos poluentes gasosos são sobretudo o dióxido de azoto (NO2) e o dióxido de enxofre (SO2), ambos resultantes essencialmente de atividade humana, e o ozono1 (O3) como poluente secundário, que afetam a saúde humana. A principal fonte do NO2 são os processos de combustão (aquecimento, geração de energia, e motores de veículos e barcos), enquanto o SO2 encontra-se essencialmente associado à queima de combustíveis fósseis (carvão e petróleo) e fundição de minérios com enxofre. O NO2 é por sua vez, uma das principais fontes de aerossóis de nitrato, que formam uma importante fração das PM2.5 e, na presença de luz ultravioleta, formam o O3 ao nível do solo.

1 Refere-se ao ozono formado na tropoesfera, ao nível do solo, não confundir com a camada de ozono da estratoesfera, localizada na alta atmosfera e que protege a superfície terrestre dos raios ultravioleta emitidos pelo Sol.

comPostos orGânicosvoláteis (vocs)Os VOCs incluem uma variedade de produtos químicos, alguns dos quais podem ter a curto e longo prazo efeitos adversos para a saúde. Concentrações de muitos dos VOCs são consistentemente mais elevadas (até dez vezes maior) dentro de casa do que ao ar livre. Os VOCs são emitidos por uma grande variedade de produtos (da ordem dos milhares), destacando-se as tintas e vernizes, decapantes, produtos de limpeza, pesticidas, materiais de construção e mobiliário, equipamentos de escritório como copiadoras e impressoras, líquidos corretivos e papel de cópia sem carbono, gráficos e materiais artesanais, incluindo colas e adesivos, marcadores permanentes, e soluções fotográficas.

Poluentes orGânicosPersistentes (PoPs)Os (POPs) são compostos altamente estáveis e que persistem no ambiente, resistindo à degradação química, fotolítica e biológica. Têm a capacidade de bio-acumular em organismos vivos, sendo tóxicos para estes incluindo o homem. Uma outra propriedade destes compostos é a sua lipofilia, ou seja, solubilidade em tecidos adiposos, o que leva a acumulações na gordura corporal e fígado dos animais a eles expostos. Alguns destes compostos além de bioacumularem, têm tendência para biomagnificar, ou seja aumentar a sua concentração ao longo das cadeias tróficas. Atuam negativamente sobretudo como disruptor dos sistemas reprodutivo, imunitário e endócrino, sendo também apontados como carcinogénicos. Outra característica muito importante é o facto de serem transportados a longas distâncias pela água, vento ou pelos próprios animais. Os POPs podem ser divididos em pesticidas (ex. DDT, aldrina, toxafeno), em Policlorobifenilos (PCBs) e Dioxinas e Furanos, sendo estes resultantes sobretudo de incinerações industriais e de resíduos. Os pesticidas começaram a ser usados em larga escala após a II Guerra Mundial tanto na proteção de culturas agrícolas como em prevenção de doenças (malária).FONTE: http://pt.wikipedia.org/wiki/Poluentes_org%C3%A2nicos_persistentes

PUB.

das associações entre a poluição atmosférica e a saúde pública, o projeto contempla outras componentes como sejam a base de dados da monitorização de emissões por autocon-trolo e um sistema de alerta de qualidade do ar, que constituirão importantes ferramentas de gestão para as autoridades competentes e de informação à população. Este é um exce-lente exemplo que pode e deve ser seguido por outras regiões dentro e fora de Portugal, dado que a abordagem metodológica pode ser facil-mente transposta para outras regiões.

GASES INORGâNICOS VOCs POPs

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Na produção, transporte e armazenamento de alimentos é necessário desenvolver um conjunto de normas capazes de garantir pro-dutos seguros para os consumidores. Basea-da na análise de riscos, a União Europeia tem vindo a desenvolver políticas nesse sentido com a elaboração de um quadro legislativo global que tem sofrido adaptações de acordo com as novas realidades. Com a criação da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (AESA), foi possível a obtenção de pareceres científicos indepen-dentes sobre todas as áreas com impacto di-reto ou indireto na segurança alimentar, pois a AESA tem personalidade jurídica própria e é independente das outras instituições da União Europeia. Estabelecida como uma das principais medidas do Livro Branco sobre Se-gurança dos Alimentos da Comissão, publica-do em janeiro de 2000, a AESA abrange todas as etapas da produção e do aprovisionamento alimentar, desde a produção primária até ao fornecimento de alimentos aos consumido-res, passando pela segurança dos alimentos para animais. É responsável, ainda, por reco-lher informações e analisar os novos avanços

científicos, de modo a identificar e a avaliar to-dos os eventuais riscos para a cadeia alimen-tar. Pode, também, proceder a uma avaliação científica de qualquer matéria suscetível de ter impacto direto ou indireto na segurança do aprovisionamento de alimentos.

Perigos biológicos, químicos ou físicosImporta salientar que quando falamos de ali-mentos saudáveis temos de ter sempre em atenção o conceito de “perigos” e que estes podem ser de natureza biológica, química ou física. Nos perigos biológicos, temos os microrga-nismos como vírus, bactérias, protozoários e fungos, capazes de contaminar os alimentos e causar toxi-infeções alimentares. Os ali-mentos possuem na sua composição água, proteínas, lípidos, hidratos de carbono, sais minerais, vitaminas, entre outros, e desta forma tornam-se meios para o desenvolvi-mento e vetores de transmissão destes mi-crorganismos. Com o desenvolvimento bacteriano é pro-movida a deterioração dos alimentos e, con-

sequentemente, as características sensórias dos mesmos vão ser alteradas, afetando o cheiro, a cor, o sabor, a textura e a viscosidade dos mesmos. A presença e desenvolvimento de bactérias patogénicas leva ao aparecimen-to de intoxicações e infeções alimentares. As bactérias que mais contribuem para estes problemas são a E. coli, Salmonella, Liste-ria monocytogenes, Staphylococcus aureus, Clostridium perfringens, Bacillus cereus, Vibrio e Campylobacter.O Regulamento (CE) n.º 2073 da comissão de 15 de novembro de 2005 estabelece critérios microbiológicos aplicáveis a géneros alimentí-cios. Já sofreu atualizações com o Regulamen-to (CE) n.º 1441/2007 e mais recentemente o Regulamento (CE) n.º 365/2010.Os vírus, embora não se multipliquem nos ali-mentos (por necessitarem de células especí-ficas), não são destruídos se não houver uma confeção adequada dos produtos. Os vírus mais frequentemente implicados em doenças são os da hepatite A e E, os rotovírus (principal causa de diarreia infantil) e os vírus da família Norwalk que provocam gastroenterites.Os fungos que se dividem em leveduras ou

Ana SáDiretora Técnica de Laboratório

SGS [email protected]

SegurAnçA AlimentAr: OS PERIgOS MAIS RELEVANTES PARA A SAÚDE PÚBLICA

Na produção, transporte e armazenamento de alimentos é necessário desenvolver um conjunto de normas capazes de garantir produtos seguros para os consumidores. Baseada na análise de riscos, a União Europeia tem vindo a desenvolver políticas nesse sentido com a elaboração de um quadro legislativo global que tem sofrido adaptações de acordo com as novas realidades.

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bolores (fungos filamentosos) são também uma importante fonte de contaminação dos alimentos. Os fungos filamentosos assumem um particular destaque devido ao risco de al-gumas espécies produzirem micotoxinas, que são metabolitos sintetizados em condições muito particulares. Estes compostos ao se-rem consumidos, devido às suas propriedades químicas, acumulam-se nos organismos, no-meadamente no fígado, e podem levar ao de-senvolvimento de células cancerígenas. Uma das espécies mais perigosas de fungos é o As-pergillus flavus que sintetiza a aftatoxina B1. O Regulamento (CE) nº 1881 da Comissão de 19 de dezembro de 2006, fixa os teores máxi-mos de certos contaminantes presentes nos géneros alimentícios e estabelece os teores máximos em função dos géneros alimentícios para a aflatoxina B1; somatório da aflatoxina B1, B2, g1 e g2; M1; Ocratoxina A; Patulina; Desoxinivalenol; Zearalenona; Fumonisinas; Toxinas T2 e HT-2.Os priões são partículas infeciosas e, ao que se sabe, causadoras das encefalopatias es-pongiformes transmissíveis (TSE), como a En-cefalopatia Espongiforme Bovina (BSE – mais conhecida por “doença das vacas loucas”) e sua variante humana. O prião é constituído por uma proteína modificada que, por contac-to com uma proteína sã, a modifica e converte numa proteína deficiente que, por sua vez, vai modificar outra sã e assim sucessivamente, causando uma reação em cadeia.Outras toxinas como a saxitoxina, sintetiza-das por dinoflagelados constituintes do fito-plancton e que provocam fenómenos conhe-cidos como marés vermelhas. Estas toxinas são filtradas pelos bivalves e ficam retidas nos mesmos. Ao serem ingeridas por huma-nos podem provocar intoxicações muito gra-ves. Os perigos de natureza química podem ter efeitos extremamente graves na saúde dos consumidores, como efeitos teratogénicos, carcinogénicos, psicotrópicos, degenerescên-cias hepáticas, renais, neurológicas, alergias, entre outros.Nestes perigos estão englobados os contami-nantes, ou seja, as substâncias que não são adicionadas intencionalmente ao género ali-mentício, mas que estão nele presentes como resíduo da produção, transporte, armazena-gem e contaminação ambiental.Os pesticidas são compostos, ou mistura de compostos, destinados e evitar, destruir ou atenuar quaisquer pragas. Existem, pestici-das que podem ser utilizados de forma segu-ra, pois apresentam um risco reduzido para a

saúde humana se forem aplicados em confor-midade. O Regulamento (CE) nº 396 de 23 de fevereiro de 2005, fixa os limites máximos de resíduos de pesticidas no interior e à superfí-cie dos géneros alimentícios e dos alimentos para animais, de origem vegetal ou animal.Os metais pesados são extremamente reati-vos e bioacumuláveis. Os seres vivos neces-sitam de pequenas quantidades de alguns destes metais (cobre, manganês, molibdénio, vanádio, estrôncio e zinco) para assegurar funções vitais do organismo. Contudo, em excesso podem tornar-se extremamente tó-xicos. O mercúrio, chumbo e cádmio não pos-suem funções no organismo e a sua acumula-ção pode causar problemas graves na saúde. O Regulamento (CE) nº 1881 da Comissão de 19 de dezembro de 2006, fixa os teores máxi-mos para estes metais nos diferentes géne-ros alimentícios.As Dioxinas são moléculas complexas, que se formam na maioria dos casos por ação do ca-lor, apresentando na sua constituição átomos de Carbono (C), Oxigénio (O), Hidrogénio (H) e Cloro (Cl), sendo desta forma compostos or-gânicos. O número de átomos, em especial de Cloro varia consoante a dioxina. Existem mais de 75 dioxinas diferentes e 135 compostos semelhantes, designados por Furanos. A for-ma mais conhecida e tóxica, é a 2,3,7,8-tetra clorodibenzo-p-dioxina ou TCDD. As Dioxinas são consideradas compostos extremamente perigosos, uma vez que são cancerígenos e que podem surgir durante o processo de in-cineração. Para além disso, estes compostos apresentam outras consequências para a saúde, como efeitos crónicos no sistema imu-nitário, reprodutor e hormonal, assim como também, no crescimento e desenvolvimento dos seres vivos. O Regulamento (CE) n.º 1881 da Comissão, de 19 de dezembro de 2006, fixa os teores máximos para estes compostos nos diferentes géneros alimentícios.Os Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HAPs) constituem uma família de compos-tos que se caracteriza por possuir dois ou mais anéis aromáticos condensados, sendo o benzo[a]pireno o mais estudado. Estes e os seus derivados são formados pela combustão incompleta de material orgânico e estão liga-dos ao aumento da incidência de diferentes ti-pos de tumores. O grau de contaminação dos alimentos depende da forma como estes são processados, preservados e armazenados. Os HAPs são especialmente detetados em mús-culo (peixe, frango, porco) quando o mesmo é cozinhado a altas temperaturas e em espe-cial em contacto direto com o fogo, como em

churrascos. Também pode ser detetado em vegetais não cozinhados quando os mesmos foram alvo de contaminações atmosféricas. O Regulamento (CE) n.º 1881 da Comissão, de 19 de dezembro de 2006, fixa os teores máximos para estes compostos nos diferentes géneros alimentícios.Os Nitratos (NO3-), tal como os Nitritos (NO2-),são utilizados na indústria alimentar como conservantes e fixadores de coloração e con-duzem a alterações sensoriais favoráveis. São também muito importantes no controlo do desenvolvimento de microrganismos como o Clostridium botulinum, na medida em que inibem o seu crescimento e protegem o con-sumidor. Estes compostos também ocorrem naturalmente e em especial nos vegetais como os espinafres, rabanetes, beterraba, aipo, repolho, pois são constituintes dos solos e aumentam consideravelmente quando são utilizados nitratos como adubo. A sua pre-sença nos solos conduz a contaminações nas águas subterrâneas, lagos e rios. Os nitratos presentes nos alimentos são originalmente bastante estáveis e de baixa toxicidade. Con-tudo podem ser transformados em nitritos, especialmente por ação bacteriana. Os nitri-tos, por sua vez, podem reagir ao nível do es-tômago com aminas secundárias presentes nos alimentos formando nitrosaminas, que são compostos altamente cancerígenos. Os resíduos de antibióticos também assu-mem um destaque particular, na medida em que podem provocar o desenvolvimento de reações alérgicas em indivíduos sensíveis, redução da eficácia dos antibióticos no tra-tamento de infeções devido a fenómenos de resistência por parte de microrganismos, de-senvolvimento de doenças associadas à toxi-cidade do produto e eventuais mutações. Como perigos físicos, temos fundamentalmen-te a presença de corpos estranhos como me-tais, plástico, madeira entre outros, que duran-te o processo de fabrico ou preparação podem entrar em contacto com os alimentos.

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A modelação da dispersão de poluentes at-mosféricos é uma técnica frequentemente aplicada para a avaliação de impactes na qua-lidade do ar (Figura 1), para a caracterização da qualidade do ar na envolvente de uma fonte emissora e como apoio na gestão e planea-mento do território ou seleção da localização mais favorável para um projeto. Por isso, é importante por um lado criar meto-dologias e procedimentos uniformes e trans-versais, seguidas pelos utilizadores do modelo, por outro lado, estabelecer requisitos mínimos de qualidade dos dados de entrada e de saída dos modelos. Desta forma, é possível garantir a qualidade das estimativas dos modelos de dis-persão aplicados nos estudos de qualidade do ar.O Forum for Air Quality Modelling in Europe, FAIRMODE (ver Figura 2), criou um guia técni-co de referência para a modelação da qualida-de do ar, segundo a Diretiva Europeia para a Qualidade do Ar, 2008/50/CE, de 21 de maio de 20081, que visa responder às necessidades levantadas de harmonização de metodologias e dos processos de avaliação e validação de modelos, que é analisado e interpretado no presente artigo.

introduçãoEm outubro de 2010, surgiu a versão 6.2 do guia para o uso da modelação tendo em con-ta as indicações da Diretiva Europeia para a Qualidade do Ar, transposta para o Decreto-Lei nº 102/2010, de 23 de setembro. Este guia foi criado pelo grupo FAIRMODE, tendo tido a contribuição de 32 autores representan-tes dos vários países da Europa. No mês de setembro foi publicado o relatório técnico nº 10/2011 criado a partir do referido Guia.Os objetivos do referido documento são for-necer um guia para a modelação da qualidade do ar, promover a boas práticas a modelação e criar uma referência e desenvolver uma com-preensão harmonizada dos requisitos dos modelos tendo em vista a Qualidade do Ar.No presente artigo pretende-se efetuar uma análise interpretativa do Guia, realçando os aspetos mais relevantes e estabelecendo uma correspondência à realidade de Portugal. Deve realçar-se que a aplicação de modelos de dispersão em Portugal, assim como nos outros países da Comunidade Europeia, deve seguir as metodologias, princípios e regras expostos no Guia interpretativo da Diretiva de

Qualidade do ar, para que as estimativas dos modelos sejam credíveis, válidas e possíveis de comparar com outros estudos.

Quando aplicar a modelação?A Diretiva indica que a modelação pode ser aplicada:

• Ao nível da avaliação da qualidade do ar existente em suplemento ou substituição da monitorização, podendo chegar a subs-tituir até 50% dos pontos de monitorização, se o modelo apresentar uma qualidade e resolução adequada. No caso do ozono a redução do número de pontos pode ir até um terço do total.

O uso da modelação é orientado pelos níveis de qualidade do ar existentes: se os Limia-res Superiores de Avaliação forem ultrapas-sados, os pontos de monitorização devem manter-se e adicionalmente efetuar mo-delação; se o Limiar de Inferior de Avaliação for ultrapassado então deve combinar-se a modelação e monitorização na rede de pon-tos de medição e se o Limiar de Inferior de

Sara Capela UVW – Centro de Modelação

de Sistemas Ambientais, [email protected]

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Avaliação não for ultrapassado, a modela-ção pode substituir a monitorização;

• Na gestão e planeamento da qualidade do ar, para verificação da eficácia de medidas de mitigação de impactes. O uso de mode-los nos planos de gestão de qualidade do ar não está explícito na Diretiva da Qualidade do Ar, mas o FAIRMODE considera o uso de modelos como ferramenta essencial nesta análise.

Modelos de curto termo (horas ou dias) > previsão da qualidade do ar

Modelos de longo termo (anos ou décadas) > cenários de emissão e medidas de redu-ção de impactes. (Saber mais em: capítulo 7 do Guia).

• Distribuição das fontes, para avaliar as cau-sas de excedências dos valores limite ou para determinação da contribuição das vá-rias tipologias de fontes existentes na en-volvente de um ponto de medição (recetor). Esta técnica envolve sempre a combinação de medições e simulações. (Saber mais em: capítulo 8 do Guia).

A Diretiva 2008/50/CE não inclui os processos de Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) no âmbito da aplicação de modelos de dispersão, no entanto, constata-se que a Diretiva não estabelece qualquer relação com a legislação existente para a Avaliação de Impacte Am-biental, cingindo-se aos métodos de avaliação acima referidos. Deste modo, convém salientar que a modelação deve ser efetivamente apli-cada em Estudos de Impacte Ambiental, por serem uma ferramenta útil e única, no que diz respeito à previsão de impactes na qualidade do ar, assim como outros fatores ambientais.

Que tipo de modelos podem ser usados?Na Diretiva não é declarada a preferência/obrigatoriedade de uso de determinados mo-delos. A única exigência efetuada é o cumpri-mento dos objetivos de qualidade pelo modelo de dispersão (Anexo I, quadro A da Diretiva), e que o modelo seja adequado ao propósito da sua aplicação (“fit for purpose”).

Assim, no Guia para a modelação, são indi-cados os critérios gerais do modelo para que seja adequado ao propósito da sua aplicação:

a. Ter a resolução espacial e temporal ade-quada à aplicaçãoEm termos de resolução espacial considera-se que:

• A avaliação deve ocorrer nas áreas onde as concentrações são mais elevadas, assim como em áreas representativas da expo-sição ao público. No entanto, os recetores devem localizar-se a pelo menos 25 metros do limite de cruzamentos. Por outro lado, em vias com acesso ao público, por terem habitações próximas ou simplesmente por circularem transeuntes, os recetores não devem distar mais de 10 metros da berma da estrada;

• Em zonas industriais a resolução máxima da malha deve ser de 250 m2 e na envolven-te das vias de 100 m2 (se a via tiver mais de 100 metros de comprimento);

• A altura do recetor deve estar entre 1.5 e 4 metros;

• No caso de se estar a avaliar o impacte no ecossistema (NOx ou SO2 anuais), devem ser apenas considerados os recetores localiza-dos fora da influência urbana ou industrial (Anexo III, ponto B.2, da Diretiva).

Deve ser considerada a resolução temporal que permita a aplicação dos valores limite de concentração indicados na Diretiva. Em caso de se utilizar um modelo que estime valores apenas horários, a conversão para concentra-ções médias octo-horárias, diárias ou anuais deve ser feita segundo documentos de refe-rência.

b. o modelo estar adequadamente validado para a aplicação específica e bem documen-tado.

Os modelos recomendados pela EPA estão bem documentados, e acessíveis a consulta no Centro para a Modelação2.

c. o modelo deve considerar os processos fí-sicos e químicos adequados ao poluente, es-cala e tipo de aplicação.Na Tabela 4 do guia para a modelação são des-critas as características que devem ser tidas em linha de conta para a atribuição de um mo-delo, tendo por base o domínio de estudo e o poluente.

d. As emissões das fontes mais relevantes estão representadas adequadamente.

e. devem ser considerados dados meteoroló-gicos adequados.Os dados meteorológicos devem ter em con-sideração, sempre que possível, informação medida no local. O ano de dados meteoroló-gicos usado deve ser validado face à Normal Climatológica representativa da região.

objetivos de Qualidade dos modelosOs objetivos de qualidade do modelo impos-tos na Diretiva são indicados apenas no caso da avaliação de áreas com excedências nos pontos de monitorização. Para previsões e planeamento, em que se usa igualmente o modelo de qualidade do ar, a Diretiva, apesar de demonstrar que se deve efetuar a verifica-ção e validação do modelo, não indica o modo como estas devem ocorrer, devendo, segundo

FiGura 1 Avaliação do Impacte de um projeto na qualidade do ar envolvente (concentrações máximas horárias de NO2).

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201122

dossier AMBIENTE E SAÚDE

o FAIRMODE considerar-se a mesma metodo-logia de validação.A incerteza associada à modelação deve ser interpretada como sendo aplicável na região do valor limite pertinente, e que, as medições fixas que forem selecionadas para compa-ração devem ser representavas da escala abrangida pela modelação (Anexo I, quadro A da Diretiva).O cálculo da Incerteza do modelo faz-se atra-vés da equação 1.

erro relativo da diretiva = (oVl – eVl)/Vl (1)

O valor observado deve ser o mais próximo do vL. O valor estimado a considerar deve ser o que corresponde à mesma posição no ranking do valor observado utilizado. Isto é, se o va-lor observado mais próximo do vL for o valor mais alto do período em estudo, então deve utilizar-se o valor máximo estimado. Mas, se o valor observado mais próximo do vL for o 3º maior valor medido no período de estudo, deve utilizar-se também o terceiro valor má-ximo estimado.Na diretiva testaram também a fórmula reco-mendada por Stern e Flemming (2004).A situação de apenas ser necessário que 90% das estações cumpram os objetivos não se apli-ca à realidade de Portugal (seria necessário ter, pelo menos, 10 estações no domínio de simula-ção), por isso deve assumir-se o cumprimento na totalidade dos pontos de amostragem.

representatividade da escala dos mo-delos e das observaçõesO que importa garantir é que a modelação te-nha uma representatividade idêntica à Esta-ção de Monitorização que se utiliza para efe-

tuar a comparação com os valores estimados. Assim, segundo o grupo de investigação do FAIRMODE uma estação de tráfego requer um modelo com uma resolução de 1-10 metros. No caso de se utilizar uma estação urbana de fundo, para comparação com valores esti-mados, a resolução do modelo deve ser de 1 a 3 km. Por fim, numa estação rural de fundo, deve ser utilizado um modelo com uma reso-lução de 5 a 25 km. Contudo, a Diretiva não de-fine a representatividade exata de cada tipo-logia de Estação, nem a resolução necessária para a malha da modelação, pelo que esta é uma questão ainda em aberto.

Garantia de Qualidade e avaliação do modeloA diretiva estabelece como critérios de aceita-ção do modelo o cumprimento dos objetivos da qualidade, mas isso não é suficiente.Com vista ao estabelecimento da confiança no modelo aplicado para avaliação da quali-dade do ar são indicados os procedimentos a seguir para garantia de qualidade do modelo e a avaliação e validação do mesmo.

GARANTIA DE QUALIDADE: É um sistema in-tegrado de gestão estabelecido para que o processo tenha a qualidade necessária e ex-pectável, que envolve o planeamento (meto-dologia proposta), a documentação base, a implementação (aplicação do modelo) e a ava-liação do modelo e das metodologias.

AVALIAÇÃO DO MODELO: Determinação da performance do modelo aplicado, com expo-sição das vantagens e desvantagens (limita-ções) do mesmo.A avaliação do modelo deve incluir igualmente

a análise de sensibilidade do mesmo e a inter-comparação de modelos.A análise de sensibilidade pressupõe compre-ender como um modelo responde a alterações nas variáveis (meteorologia, emissões, pro-cessos fotoquímicos). Deste modo é possível relacionar a incerteza dos dados de entrada e das opções metodológicas com os resultados do modelo.

INDICADORES DA QUALIDADE DO MODELO DE DISPERSÃO DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS: Para além do Erro Relativo da modelação as-sociado ao objetivo de qualidade da Diretiva, devem ser, sempre que o estudo o justificar, calculados os parâmetros estatísticos e efe-tuada análise qualitativa dos dados, tendo por referência dados medidos localmente. A aná-lise estatística permite quantificar a proximi-dade entre os dados estimados e os dados observados.

Os parâmetros estatísticos normalmente de-terminados para avaliação da performance da modelação da qualidade do ar são a bias (por vezes também designado por enviesamento) o erro médio quadrático normalizado, o coefi-ciente de correlação, o desvio fraccional, a va-riância geométrica, a bias geométrica e o fator dois. No Anexo II do guia interpretativo são ex-postas as fórmulas de cálculo dos parâmetros estatísticos referidos.A análise qualitativa pode ser feita com base em gráficos de dispersão e gráficos quantil-quantil. Os gráficos de dispersão relacionam os valores medidos com os valores estimados na mesma hora, enquanto os gráficos quan-til-quantil relacionam os valores medidos e estimados ordenados de forma crescente ou decrescente, sem ter em conta a sequência dos acontecimentos. Por outras palavras, os gráficos quantil-quantil permitem avaliar se, no período global em análise, a magnitude dos valores estimados é similar à dos valores me-didos, independentemente de terem ocorrido em horas coincidentes.No Guia para a modelação são indicados sof-twares que facilitam a determinação dos indi-cadores de qualidade do modelo de dispersão, como o Boot3 ou o ASTM4.

1 http://fairmode.ew.eea.europa.eu/

2 http://www.epa.gov/scram001

3 Chang, J, C, Hanna, S.R., 2005, BOOT Statistical Model Evalua-

tion Software Package, version 2.0

4 J. Irwin, , 2000, ASTM package, the uSA Standard Guide for

Statistical Evaluation of Atmospheric Dispersion Model Per-

formance

FiGura 2 Esquema representativo do funcionamento do FAIRMODE.

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dossier Ambiente e sAúde

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desreguladores endócrinos: o que são?bordalo e sá, Professor do instituto de Ciên-cias biomédicas de Abel salazar (iCbAs) da Universidade do Porto define, de uma forma simples os desreguladores endócrinos como “substâncias capazes de condicionar o funcio-namento dos diferentes sistemas hormonais nos seres vivos que os possuem, como é o caso dos humanos”. Acrescenta que nem todos os de são fabricados pelo homem, também “há algumas plantas são capazes de biosintetizar substâncias com efeitos disrruptores.”essa influência não ocorre sempre da mesma maneira. Pode ser de várias ordens, desde imitação da ação da hormona produzida na-turalmente ou bloqueio dos recetores hormo-nais ou ainda através da alteração da sínte-se, transporte, metabolismo ou excreção das hormonas, o que vai sempre alterar a ação e concentração das hormonas naturais.

Pesticidas, dioxinas, furanos, bifenilos poli-clorados (PCB), fenóis e alquilfenóis, hidro-carbonetos aromáticos policíclicos, ftalatos, bisfenol A, metais pesados, esteroides, subs-

tâncias tensioativas, entre outras, são as substâncias mais referenciadas como DE e são, normalmente, as utilizadas na agricultu-ra e indústria.

“estas substâncias podem contaminar a água, os solos, o ar e diversos alimentos, mas podem também fazer parte de produtos de higiene e cosmética, tintas, plásticos, etc. Por exemplo, os ftalatos são usados como plasti-ficantes na produção, em particular, de PVC e

daí poderem ser encontrados em brinquedos, embalagens e equipamentos médicos”, diz Helena Rebelo, Coordenadora do departa-mento de saúde Ambiental do instituto na-cional Ricardo Jorge (insA).

efeitos na saúde humanaOs especialistas são unanimes ao afirmar que existem efeitos nefastos, mas que estes não são ainda conhecidos com precisão, nem na sua dimensão, nem na sua atuação no tempo.Até agora, os casos mais evidentes foram revelados em estudos feitos no meio aquá-tico e, especialmente, em peixes. Helena Rebelo explica que vários estudos consegui-ram estabelecer correspondências entre o aparecimento de hermafrodismo ou inter-sexualidade nos peixes de rio e certas fontes emissoras de poluentes, tais como, efluentes agrícolas e de tratamento de águas residuais da indústria de papel, madeira e têxtil. “Um dos acontecimentos que despertou maior interesse nesta área foi a observação, em 1980, de peixes hermafroditas da espécie Rutilus rutilus em lagos a jusante da estação

DesregulaDores enDócrinos: dO meiO Ambiente AO CORPO HUmAnO

O sistema endócrino é composto por uma rede de glândulas, hormonas e recetores que são responsáveis pelo desenvolvimento de determinadas características como o género, o sistema reprodutivo, o cérebro e o sistema nervoso, além disso, é fulcral para a regulação de processos metabólicos durante toda a vida. Todo este sistema é vulnerável à contaminação ambiental por substâncias químicas capazes de o alterar – são os chamados Disruptores ou Desreguladores Endócrinos (DE).

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dossier Ambiente e sAúde

de tratamento de Águas Residuais na Grã-bretanha”, afirma.Contudo, no ser humano ainda não se con-segue definir com precisão o que poderá pro-vocar, no entanto, os especialistas garantem que já há algumas evidências epidemiológicas que mostram uma relação na alteração da saúde dos humanos.O Professor e investigador do iCbAs, afir-ma: “os de ao condicionarem o metabolismo normal interferem com a produção de subs-tâncias chave, em quantidade e qualidade, responsáveis pelo correto funcionamento de determinados órgãos. exemplos como a produção de insulina, óvulos, espermatozoi-des e leite materno são paradigmáticos. mas outros, menos conhecidos como a perda ou aumento do apetite ou a síntese de melani-na, podem ter efeitos dramáticos nos seres humanos.” Helena Rebelo, aprofunda o tema e refere: “Alguns destes estudos apontam para a exis-tência de correlação entre a exposição de agri-cultores a pesticidas organoclorados e o apa-

recimento de casos de infertilidade, cancro do testículo, da mama, da próstata e do ovário na população exposta”.

Os efeitos na reprodução são os mais estu-dados atualmente. A Coordenadora do DSA do INSA, explica que está provado que há várias substâncias que podem causar efeitos adver-sos nos sistemas reprodutivos feminino (dife-renciação sexual, função dos ovários, irregula-ridades no ciclo menstrual, aumento no risco de cancro da mama, ovários poliquísticos e endometriose) e masculino (redução na pro-dução de esperma, aumento do risco de can-cro dos testículos e da próstata, infertilidade e alterações nos níveis hormonais da tiroide). Sabe-se também que os esteroides, podem estar envolvidos na iniciação e progressão de tumores e que a indução da proliferação ce-lular aumenta a probabilidade de ocorrerem mutações durante a síntese de DNA.

mas o mais preocupante são mesmo os efei-tos dos de nas fases mais precoces da vida do

ser humano, uma vez as hormonas são res-ponsáveis pelo crescimento e desenvolvimen-to de alguns tecidos e órgãos.

estudos e legislação em Portugalem Portugal faz-se investigação no que toca a de mas, segundo os especialistas, são estu-dos independentes feitos pelas universidades e institutos, não sendo integrados em nenhu-ma plataforma nacional. “não existe um pro-grama de âmbito nacional para monitorização e controlo de de no ambiente bem como um programa de biovigilância para avaliação da exposição da população ou em grupos popu-lacionais específicos a substâncias químicas exógenas”, lamenta Helena Rebelo.Por outro lado, bordalo e sá, refere que tam-bém nem sempre se consegue provar uma causa-efeito, o que acrescenta dificuldades na avaliação do problema. “muitos estudos são efetuados em laboratório usando modelos animais expostos a concentrações muito mais elevadas do que aquelas que existem efetiva-

reação

Hormona

recetor

Desreguladorendócrino

“Os desreguladores endócrinos ao condicionarem o metabolismo normal interferem com a produção de substâncias chave, em quantidade e qualidade, responsáveis pelo correto funcionamento de determinados órgãos.”

bordalo e sá, iCbAs

“não existe um programa de âmbito nacional para monitorização e controlo de desreguladores endócrinos no ambiente bem como um programa de biovigilância para avaliação da exposição da população ou em grupos populacionais específicos a substâncias químicas exógenas”

Helena Rebelo, insA

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mente no ambiente, complicando a interpre-tação do potencial efeito”, afirma.A falta de legislação nacional específica nesta área e de equipamento adequado são tam-bém outros dos entraves ao aumento do co-nhecimento no que toca aos efeitos dos de em Portugal. “O nível de implementação des-tes estudos nos diferentes países da europa é variado. em Portugal a experiência é ainda muito reduzida”, sublinha Helena Rebelo.em Portugal a questão dos de está incluída no Plano nacional de Ação Ambiente e saúde 2008-2013 (PnAAs), elaborado pelo ministério do Ambiente, do Ordenamento do território e do desenvolvimento Regional através da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e pelo ministério da saúde através da direção Geral de saúde, cujo objetivo é poder dar resposta aos compromissos nacionais e Comunitários assumidos no contexto Ambiente e saúde. Contudo, a saúde Ambiental é um conceito enorme e em que é preciso batalhar em vá-rias frentes. “Os químicos são aqui apontados como um domínio prioritário, estando previsto o desenvolvimento de projetos no âmbito dos de”, explica Helena Rebelo. só que este pla-

no não está a ser implementado como seria esperado, uma vez que os restrimentos orça-mentais do país estão a condicionar a concre-tização das 36 Ações Programáticas estabe-lecidas no documento.Apesar de tudo, Portugal tem vindo a transpor bastante legislação europeia que está ligada à saúde Ambiental (ver caixa), admite Helena Rebelo. mas ainda não é suficiente na opi-nião de bordalo e sá, que diz ser necessário a “efetiva aplicação da legislação europeia e internacional, redução e/ou interdição do uso de substâncias e materiais reconhecidamente consideradas como de (os ftalatos em brin-quedos e biberons são um exemplo) e a mo-nitorização sistemática com base no conheci-mento científico mais atual, ainda que vá para além do estipulado na legislação”.

estratégia comunitáriaAs prioridades da Comissão europeia nesta matéria estão divididas em três áreas: melho-ria da legislação; melhoria e mais investimen-to na investigação; melhor e mais informação ao público.

em termos comunitários não há dúvidas que a legislação para os de está a aumentar e está a tornar-se uma área cada vez mais regulada, o que tem trazido polémica, especialmente, no seio da indústria química. Umas das medidas mais “apertadas” foi a constituição de uma lis-ta de 553 substâncias artificiais e 9 hormonas de síntese ou naturais, consideradas suspei-tas de influenciarem o sistema endócrino dos seres humanos, tendo já algumas delas sido restringidas ou proibidas por alguns estados-membros. Além desta medida, foram estabelecidas ou-tras, como programas de vigilância biológica a fim de estudar a dosagem, duração da exposi-ção e outros fatores com efeito no fenómeno tóxico ou prosseguir a cooperação internacio-nal na investigação, visando estabelecer mé-todos de ensaio validados capazes de identifi-car todas as substâncias suspeitas de de, etc. medidas estas que foram sustentadas por vários trabalhos de investigação científica fei-tos, por exemplo, pelo CRedO cluster (Cluster of Research into endocrine disruption in euro-pe) até 2008. este cluster de investigação foi financiado num total de 20 milhões de euros

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pela Ce e contou com 4 projetos distribuídos por 63 laboratórios espalhados pela europa. mas os programas e projetos de investiga-ção não ficaram por aqui e a Ce continuam a incentivar e a financiar estudos na área dos desreguladores endócrinos. exemplo disso são os projetos: RePROteCt; CAsCAde; neW-GeneRis; neCtAR; ObeLiX; PeRFOOd.no que toca à monitorização da aplicação desta legislação, na realidade não existem programas coordenados na União europeia. A Ce refere que os que existem são de inicitiava individual de países, universidades ou agên-cias europeias e incidem só sobre determina-das substâncias em estudo mas todos juntos acabam por dar uma perceção do cumprimen-to ou não cumprimentos das normas e limites estabelecidos pela Ue.“Há pouca ou nenhuma coordenação nos di-ferentes programas de monitorização em relação à forma como os dados são recolhi-dos, avaliados e comunicados”, é referido no 4º Relatório da Ce sobre a implementação da “estratégia Comunitária para os desregulado-res endócrinos”, lançado em agosto deste ano. Contudo, é igualmente dito que está a ser re-alizado um estudo de viabilidade para anali-sar de que forma é que os dados dispersos e abundantes desta monitorização podem ser usados de uma forma mais sistemática.Agora o objetivo principal é, tanto dentro da

Ue como a nível internacional, chegar a acordo sobre abordagens para a identificação e ava-liação dos desreguladores endócrinos.Além disso, os serviços da Ce estão também a estudar a possibilidade de implementação de uma plataforma online com informação sobre susbtâncias endócrinas Ativas. A plataforma incorporaria a base de dados já existente e proporcionaria uma fonte de informação cien-tífica e técnica interativa, que poderia ser usa-da pela comunidade científica e reguladores, bem como pela indústria e sociedade civil.

o Processo de comunicação com a PoPulaçãona realidade, é provável que o tema “desregu-ladores endócrinos” não é seja algo que esteja na mente ou que preocupe o cidadão comum. Pouca gente sabe o significado dos de ou, num sentido mais lato, de saúde Ambiental, ficando somente na preocupação de um grupo privi-legiado de legisladores, investigadores, cien-tistas e profissionais de saúde. O que acaba por ser um contrassenso, na medida, em que a saúde do ser humano está no centro do risco.Helena Rebelo defende que a população se encontra dividida no que toca à informação/conhecimento sobre os de. “não só o proces-so de comunicação do risco influi na reação da população. A sensibilidade, formação, crenças,

nível sociocultural e económico bem como ou-tros fatores individuais, moldam também lar-gamente a sua opinião e reação, podendo criar, em alguns indivíduos alarmismos exagerados e noutros não exercer qualquer efeito.”Já bordalo e sá acredita mesmo que este não “seja um assunto na ordem do dia da popu-lação, desconhecedora do risco e efeitos da exposição aos de.”A direção Geral de investigação e desenvol-vimento tecnológico (idt) da Ce mantém um site dedicado à investigação sobre desregu-ladores endócrinos na Ue, financiado pela Co-missão europeia, e que é atualizado regular-mente. muitos dos projetos financiados pela Ce têm os seus próprios sites dedicados e atualizados. Outro exemplo, é a direção Ge-ral do Ambiente da Ce que disponibilizou um website dedicado à informação geral sobre desreguladores endócrinos e às atividades da Comissão no âmbito da estratégia comunitá-ria nesta matéria. O Centro de investigação Comum da Comissão europeia lançou recen-temente um website dedicado a sua atividade em desreguladores endócrinos.A direção Geral de investigação e inovação foi mais longe e organizou quatro seminários in-ternacionais para discutir estratégias de en-saio em relação aos disruptores endócrinos (2005, 2006, bruxelas, 2006 Helsinki, 2008 Praga).

importantes Diplomas aprovaDos nos últimos anos na área Da saúDe ambiental

•Decreto-Lei nº 194/2000 de 21 de agosto–transpõeaDiretivaPCIP/IPPC(96/61/CEE)de24desetembro.

•Decreto-Lei nº 306/2007 de 27 de agosto –transpõeaDiretiva98/83/CEde3denovembro.

• Lei nº 58/2005 de 29 de dezembro–aprovaaLeidaÁgua,transpõeaDiretivanº2000/60/CEdoParlamentoEuropeuedoConselho,de23deoutubro.

•Decreto-Lei nº 77/2006 de 30 de março–complementaatranspo-siçãodaDiretiva2000/60/CEqueestabeleceumquadrodeaçãonodomíniodapolíticadaágua,emdesenvolvimentodoregimefixadoLeinº58/2005de29dedezembro.

•Decreto-Lei nº 94/98 de 15 de abril–transpõeaDiretiva91/414/CEE.•Decreto-Lei nº 121/2002 de 3 de maio–transpõeaDiretiva98/8/CE.

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investigação

inDÚstRia e aMBiente 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

HaBitação e saÚDe – CONCELHO DE ARGANIL

A exposição a certos perigos existentes nas habitações, pode colocar em risco a integridade física e psicológica das pessoas que as habitam, ou seja, pode influenciar a sua saúde e bem-estar. Com o intuito de perceber se a antiguidade das habitações e a distância à sede de concelho influencia as condições de habitabilidade, efetuou-se um estudo em habitações com antiguidade superior e inferior a 30 anos, em duas freguesias do concelho de Arganil. Foi efetuado um estudo de nível II a 6 habitações com mais de 30 anos e 6 com menos de 30 anos, em cada freguesia. Através da aplicação de questionários e, como complemento, avaliações analíticas a determinados compostos existentes no ar aferiu-se a realidade habitacional destas povoações e a sua influência na saúde e bem-estar das pessoas.Depois de analisados os dados estatisticamente pode-se afirmar que, de uma maneira geral, a saúde e bem-estar das pessoas está relacionada com as condições de habitabilidade, encontrando-se estas, no concelho de Arganil, igualmente relacionadas com a distância à sede do concelho e com a antiguidade das habitações.

Palavras Chave: Habitação; saúde; Bem-estar; Condições de Habitabilidade.

Lopes, S.(1); Pinto Vasconcelos, M.(2); Figueiredo J.P.(3); Ferreira A.(2)

(1) Discente da Licenciatura em Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologias da Saúde de Coimbra(2) Departamento de Saúde Ambiental da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra(3) Departamento das Ciências Complementares – áreas científicas de Estatística e Epidemiologia da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra

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investigação

Introdução80 a 90% da vida de um individuo é passada dentro de todo o tipo de construções. estes locais podem representar perigo para a saúde das pessoas pois são locais fechados, muitas vezes sobrelotados e desprovidos das condi-ções salubridade expectáveis. Contudo, rara-mente certos estados patológicos são asso-ciados a deficientes condições habitacionais.estudos revelam que muitas das situações adversas de saúde, tais como alergias, fadiga, ansiedade e depressão, estão relacionados com fatores habitacionais.(1) alguns dos fa-tores habitacionais que contribuem em larga escala para situações adversas de saúde e de bem-estar são(2) a humidade e bolores, o mo-nóxido de Carbono (Co) e o dióxido de carbono (Co2), a acessibilidade, ventilação e conforto térmico.estudos cujo tema é a desigualdade na saúde, demonstram que as pessoas que habitam ca-sas com piores condições têm mais doenças e níveis de mortalidade mais elevados, vivendo menos tempo.(3)(4)situações de precariedade habitacional jun-tamente com reaidades de isolamento e/ou abandono contribuem para o aparecimento de certas patologias.(5) a serra do açor, caracterizada pelos seus pon-tos com interesse turísticos e pelo verde ca-racterístico, está manchada aqui e além por pequenos aglomerados habitacionais, cujos acessos são difíceis.o presente estudo tem como objetivo conhe-cer a realidade habitacional do concelho de ar-ganil, comparando a freguesia mais afastada da sede de concelho com a mais próxima. esta diferenciação tem como intuito perceber se a distância à sede de concelho tem influência nas condições habitacionais, e se estas estão relacionadas com a saúde e bem-estar dos seus habitantes.

MAtErIAL E MÉtodoSDo universo das habitações do concelho de arganil, foram estudadas como população-alvo as habitações da freguesia do Piódão e arganil, selecionadas segundo o tipo de amos-tragem não probabilística e técnica de amos-tragem por Bola de neve; 6 habitações com mais de 30 de anos e 6 com menos de 30 anos, perfazendo 24 habitações no total.a recolha de dados foi conseguida através de dois questionários, um sobre “Condições de Habitabilidade” e outro sobre “saúde e Bem-estar”; um guia de observação, preenchido pelo investigador.

rESuLtAdoSo gráfico 1 descreve a relação existente entre as condições de habitabilidade da amostra e a saúde e bem-estar de quem as ocupa. verificou-se que existe uma tendência positiva entre es-tas duas variáveis, ou seja, quanto melhor forem as condições de habitabilidade mais elevada é a perceção de saúde e bem-estar.

GrÁFICo 1 Relação entre Condições de Habitabilidade e Saúde e Bem-Estar.

observaram-se diferenças médias estatisticamente significativas na perceção das condições de habitabilidade entre os habitantes do Piódão e de arganil. Constatou-se que foram os habi-tantes de arganil que revelaram ter melhores condições de habitabilidade (p≤0,05).

QuAdro 1 Comparação das Condições de Habitabilidade entre as duas freguesias.

ao efetuar-se a comparação das mesmas variáveis, tendo por base a idade das habitações, veri-fica-se que, apesar de não existirem diferenças médias estatisticamente significativas (p>0,05), arganil possui melhores condições de habitabilidade (Quadro 2).

QuAdro 2 Comparação das Condições de Habitabilidade por Freguesia, tendo como referência a Idade das Habitações.

Freguesia N X ± S

Condições de Habitabilidade (%)

Piódão 12 56,08 ± 9,03

arganil 12 64,93 ± 11,85

t de student amostras independentes; p – value =0,052; n=24

Idade da Habitação Freguesia N X ± S p-value

Condições de Habitabilidade

(%)

+30 anosPiódão 6 54,51±12,39

0,732arganil 6 56,94 ± 11,54

–30 anosPiódão 6 57,64 ± 4,50

0,000arganil 6 72,92 ± 4,75

t-student amostras independents; n=24

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investigação

inDÚstRia e aMBiente 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

Compararam-se as condições de habitabilidade com a idade das habitações e observou-se di-ferenças médias estatisticamente significativas (p≤0,05), sendo as habitações mais recentes as que possuem melhores condições de habitabilidade (Quadro 3).

QuAdro 3 Comparação das Condições de Habitabilidade com a Idade das Habitações.

atendendo à relação existente entre a perceção de saúde e bem-estar dos habitantes das casas com mais de 30 anos e com menos de 30 anos, verificou-se que não existiam diferenças médias estatisticamente significativas (p>0,05). Contudo, observou-se que as pessoas que habitam as mais recentes são as que apresentam uma perceção mais positiva da sua saúde e bem-estar (Quadro 4).

QuAdro 4 Comparação da Perceção de Saúde e Bem-Estar entre os dois tipos de habitação.

Por último, comparou-se a perceção que as pessoas do Piódão e de arganil possuem em relação à saúde e bem-estar (Quadro 5). averiguou-se que as pessoas que habitam a freguesia de arga-nil são aquelas que têm uma visão mais positiva em relação à sua saúde e bem-estar (p≤0,05).existem pessoas que dispõem de boas condições de habitabilidade e, no entanto, têm uma má perceção da sua saúde e bem-estar. este facto pode ser explicado pela idade das pessoas e pela situação familiar, económica e social que enfrentam. as pessoas que habitam o Piódão, na sua maioria são pessoas idosas, que vivem sozinhas. as dificuldades pelas quais passam são condi-cionantes dos sentimentos de solidão e isolamento e geradoras de estados psicológicos depres-sivos e patológicos. assim, estas pessoas que se sentem abandonadas, têm mais tendência para avaliarem negativamente a sua saúde e bem-estar.(5)

QuAdro 5 Comparação da Perceção de Saúde e Bem-Estar entre Freguesias.

ConCLuSÕESeste estudo teve como principal objetivo conhecer a realidade habitacional do concelho de ar-ganil e perceber se a distância à sede de concelho influencia as condições de habitabilidade das pessoas e, por sua vez, se estas condições afetam a perceção de saúde e bem-estar que os habitantes possuem. Pode-se concluir que a distância à sede de concelho influencia as condições de habitabilidade, sendo a freguesia mais próxima da sede de concelho a que possui melhores condições de habitabilidade.Quanto à saúde e bem-estar o mesmo também se pode afirmar - as pessoas que habitam a

freguesia de arganil possuem uma perceção mais positiva.Dentro da população-alvo, a amostra foi cons-tituída por casas com mais de 30 anos e casas com menos de 30 anos. Pretendeu-se verifi-car se a idade das habitações é condicionan-te das condições de habitabilidade e do nível de perceção de saúde e bem-estar dos seus habitantes. a primeira parte foi comprovada, pois de uma maneira geral as habitações mais recentes possuem melhores condições de ha-bitabilidade. no entanto, não foi possível con-firmar a influência da idade das habitações na perceção da saúde e bem-estar das pessoas, pois não ocorreram diferenças significativas entre os dois grupos habitacionais. Contudo, são as pessoas que habitam as casas mais recentes que têm melhor perceção da sua saúde e bem-estar.este estudo teve diversas limitações e entra-ves. a principal prendeu-se o facto de não se ter registado a idade das pessoas inquiridas, pois esta variável com certeza seria esclare-cedora em algumas situações encontradas.arganil é um concelho cheio de pequenas po-voações, com pobreza e solidão. seria reco-nhecidamente interessante o alargamento deste estudo a todas as freguesias. assim, os resultados poderiam ser utilizados como um instrumento para as autarquias, almejando um conhecimento mais aprofundado sobre as situações críticas relacionadas com habitabi-lidade e saúde Pública.

rEFErÊnCIAS BIBLIoGrÁFICAS

(1) Filho, Daltro José e Sales, Ângela Tereza Costa. Con-

dições de salubridade de Habitação em uma Comu-

nidade do semiárido de sergipe. Brasil: s.n.

(2) Saúde, Ministério da. Planos Locais de Habitação e

saúde.

(3) Cohen, Simone Cynamon, et al. 2007. Habitação

saudável e ambientes Favoráveis à saúde como

estratégia de Promoção da saúde. Ciência e saúde

Coletiva. 001, 2007, vol. 12.

(4) Cohen, Simone Cynamon. 2004. Habitação saudável

como Caminho para a Promoção da saúde. 2004.

(5) Santos, Ana Filipa Alves. 2008. Qualidade de vida

e solidão na terceira idade. Biblioteca Digital - Uni-

versidade Fernando Pessoa. [online] 2008. https://

bdigital.ufp.pt/dspace/bitstream/10284/1179/3/

Monografia.pdf.

(6) Portugal, Ministério das Obras Públicas, Transpor-

tes e Comunicações. Dec-Lei nº 79/2006, de 4 de

abril. Regulamento dos sistemas energéticos de

Climatização em edifícios.

Idade das Habitações N X ± S

Condições de Habitabilidade (%)

+30 anos 12 55,73 ± 11,48

-30 anos 12 65,28 ± 9,12

t de student amostras independentes; P-value=0,034; n=24

Idade das Habitações N X ± S

saúde e Bem -estar (%)

+30 anos 12 25,72 ± 23,11

-30 anos 12 28,26 ± 16,32

t de student amostras independentes; P-value=0,759; n=24

Freguesia N X ± S

saúde e Bem -estar (%)

Piódão 12 17,03 ± 10,56

arganil 12 39,96 ± 6,30

t de student amostras independentes; P-value=0,012; n=24

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201130

tecnologia EfIcIêNcIA ENERgéTIcA E RENovávEIS

CaraCterístiCas téCniCaso MovIgEAR® é constituído por um motor, redutor e eletrónica de po-tência, numa unidade bastante compacta. A utilização de componentes mecânicos com rendimento otimizado possibilita uma ótima adaptação às necessidades do binário da aplicação. Todos os componentes inte-ragem entre si e são tratados como um único conceito de temperatura global. A tecnologia economiza energia e não requer ventilação forçada. Esta característica é importante para aplicações com cuidados espe-ciais em termos de higiene, já que o acionamento não contribui para a dispersão do ar, poeira e bactérias. Este sistema é fácil de limpar e tem um nível de ruído mínimo. os com-ponentes do MovIgEAR® são criteriosamente selecionados, sendo que é escolhido o acionamento adequado para o perfil de carga, em particu-lar no ponto de arranque/paragem.

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Sistema de acionamentos descentralizados

A SEW-EURODRIVE lançou um novo tipo de sistemas de acionamentos descentralizados, destinado, especialmente, a transportadores específicos e exigentes, como por exemplo aqueles da indústria automóvel, alimentação e bebidas, logística dos aeroportos ou logística em geral, em que o espaço disponível para instalação é reduzido.

pode beneficiar deste conhecimento reduzindo significativamente a potência elétrica instalada na máquina. graças ao elevado binário de arranque, os utilizadores podem limitar o tipo de acionamentos que usam, resultando em menos equipamento. Além disso, utiliza compo-nentes mecânicos com rendimento otimizado possibilitando uma ótima adaptação às necessidades do binário da aplicação. A sua implementa-ção pode trazer reduções de consumo até 75 %.

Custo/BenefíCioNão querendo referir o custo de um sistema deste genéro, a SEW-EURoDRIvE, garante que os acionamentos MovIgEAR® têm um “Pay-back” entre 1 e 2 anos.

apliCação prátiCao MovIgEAR está já a ser utilizado por váeias empresas em todo o mundo. Destacam-se as implementações na linha de transporte de garrafas PET e embalagens na coca-cola HBc-gmbH áustria, em vie-na, na linha de engarrafamento de cerveja na Sidel conveying SAS, em frança e an embaladora “variopac Pro” (para ErgoBloc D) da Krones Ag, Neutraubling, na Alemanha.

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tecnologia Eficiência EnErgética E rEnovávEis

inDÚstria E aMBiEntE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

A Buderus lançou os módulos de cogeração Loganova que combinam de forma eficiente a produção de energia térmica e elétrica. Este novo módulo integra um motor de combustão a gás que ao acionar o gerador para produção de energia elétrica, gera também calor, que é transferido para o sistema de aquecimento durante o funcionamento do sistema.

CaraCterístiCas téCniCasEstes produtos utilizam um conceito energético que é feito à medida para o fornecimento de aquecimento e energia elétrica. a Buderus dis-ponibiliza todos os componentes necessários para a instalação de um sistema completo, o qual inclui caldeiras, coletores solares, acumula-dores de água quente sanitária e sistemas de regulação. Este sistema tem um conceito de utilização e controlo simples, controlando o módulo de cogeração e a caldeira fazendo a gestão integrada da central térmica, o que permite fornecer um sistema de aquecimento mais eficiente e económico, respeitando assim o meio ambiente. os módulos de cogeração Loganova da Buderus combinam a produção de energia térmica e elétrica num módulo completo, com capacidade para obter uma potência elétrica desde os 19 até aos 240 kW. oferecem segurança e fiabilidade, proporcionando a energia necessária em qual-quer momento. a Buderus tem vários modelos de módulos de cogeração disponíveis em função da potência necessária: o Loganova En20, o Lo-ganova En50, o Loganova En70, Loganova En120 e o Loganova En240.

Vantagensos módulos Loganova permitem poupar até 40% de energia primária, quando comparado com um fornecimento energético convencional, de calor e eletricidade em separado.

Custo/benefíCiosem referir um custo específico destes equipamentos, a Buderus refere que por utilizarem energia de forma eficiente, estas instalações amor-tizam em poucos anos o seu investimento inicial, pela poupança anual dos custos energéticos de exploração.

www.buderus.pt

sistema de cogeração

O Solar-vent-Plus é um novo tipo de sistema solar que aproveita diretamente a energia do sol e com rendimento elevado. Através deste painel é possível manter um conforto adequado e agradável nas casas, indústrias ou outros locais que sejam beneficiados com estes sistemas.

CaraCterístiCas téCniCaso solar-vent-Plus capta e usa diretamente a energia solar acumulada nele através do efeito estufa provocado pelo sol ou de simples incidên-cia luminosa (em dias encobertos poderá também aquecer, embora com rendimento inferior). Em versões industriais, o ar interior pode ser cap-tado da nave, ser reaquecido e ser enviado de novo para o local.

Vantagenso custo energético desta solução é zero (caso esteja instalado com a versão módulo fotovoltaico para alimentação do ventilador) ou extre-mamente reduzido com a utilização de um ventilador sem módulo solar fotovoltaico (cerca de 80 w). Melhora a eficiência energética do edifício e reduz a fatura energética do edifício.Permite filtrar e renovar o ar interior do edifício, mesmo sem abertu-ra de janelas ou sem uso de ventilação mecânica, contribuindo desta forma para evitar os maus cheiros, os excessos de humidade, bolores, fungos e os demais poluentes que normalmente se desenvolvem em espaços fechados e mal arejados. além disso consegue pressurizar os espaços com ar quente e seco, forçando o ar viciado que lá exista a sair para o exterior, levando consigo a humidade em excesso.

Custo/benefíCioo custo deste sistema depende-rá sempre da capacidade que se pretenderá instalar, variando en-tre os 500 e os 5000 euros.

www.chatron.pt

novo sistema solar

Buderus loganova en240

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201132

PRODUTOS E TECNOLOGIAS

Distinguir e promover a inovação continuam a ser principais objetivos dos European Environmental Press Award 2011, tendo já sido selecionadas as dez inovações ambientais europeias que vão a concurso este ano. Os três grandes vencedores serão anunciados durante a feira Pollutec que vai decorrer de 29 de novembro a 2 de dezembro em Paris. Mais uma vez, Portugal faz parte da lista dos dez nomeados, desta vez com uma solução de pavimento que gera energia.

EEP Award: nomeados de 2011

BéLGICA

Cúpulas inteligentes que captam luz

O LightCatcher é a mais recente inovação da empresa ECONATION. Como o próprio nome diz, este sistema consegue “apanhar” a luz, atra-vés de uma cúpula inteligente que capta a luz do dia recorrendo a um espelho motorizado que contém um sensor que a amplifica e distribui por todo o edifício. Esta tecnologia é completamente nova e foi desen-volvida pela EcoNation em parceria com a Ghent University, sendo o pri-meiro sistema de luz eficiente e inteligente.Os sensores do seu sistema procuram a luz ideal a qualquer hora do dia, o que garante a máxima captura possível. A tecnologia não segue uma posição teórica do sol. Graças aos seus sensores de luz, é capaz de medir e olhar para o ponto mais brilhante de luz no horizonte para cada cúpula individual (que pode corrigir a posição do sol em caso de nuvens, obstáculos locais, etc). Em média, o LightCatcher fornece aos clientes cerca de dez horas de luz grátis e natural, por dia.Este sistema captura e redireciona a luz solar para espaços abertos dentro dos edifícios, sem afetar a temperatura no interior. O sistema pode produzir cerca de 400 lux, quase independentemente das condi-ções climáticas e da estação do ano (também durante o inverno). De acordo com a empresa, o LightCatcher, permite recuperar 3650 horas de iluminação elétrica, que antes não era possível capturar.O LightCatcher custa 1250 euros (sem IVA) e pode iluminar entre 60 a 120m2. Praticamente não há custos com a manutenção e limpeza do sistema. Este sistema saiu para o mercado em 2010 e já está instala-do em edifícios em Amesterdão (Holanda), Breda (Holanda) e Hoboken (Bélgica).www.econation.be

ALEMANHA

Tratamento de águas residuais

A Hansgrohe AG desenvol-veu uma tecnologia ino-vadora que se traduz num tratamento eletroquímico que decompõe os compos-to de tensioativos fluora-dos, muitas vezes presen-tes nas águas residuais. A tecnologia foi lançada em 2010 e é comercializada pela Atotech.Como estas substâncias não são filtradas pelos sistemas de tratamentos de águas tradicionais, aca-bam por ser libertadas na natureza. Alguns destes

tensioativos fluorados são declarados como substâncias PBT (per-sistentes, bioacumulativos e tóxicos), sendo que tecnologias como a evaporação a vácuo, sistemas de filtro de carvão ativo ou de troca iónica são aplicadas para reduzir a sua libertação. Essas tecnologias já existentes são menos eficazes e produzem uma outra categoria de resíduos sólidos. A maneira mais prática de as eliminar, ou pelo menos parcialmente, das águas residuais de produção é a filtração com filtros de carvão ativo. Só que a mudança periódica de carvão ativado em intervalos curtos e o controlo do processo de análise para decidir, se o carvão ativado tem que ser mudado ou não, é muito demorado e cria resíduos de carvão ativo, que tem de ser decomposto por combustão de resíduos. Por isso, esta tecnologia de decomposição eletroquímica é mais adequada.Os custos da implementação de uma tecnologia de filtros ativos para a redução de 99% de tensioativos fluorados numa unidade de tratamento de águas residuais são de 130000€/a, com esta nova tecnologia eletro-química os custos são reduzidos para 30000 €/a. Além disso, a decom-posição eletroquímica trabalha automaticamente, sem ser necessário recursos humanos e com controlo de processo automático. Os custos de manutenção andam à volta dos 4000€/a.www.hansgrohe.com

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

BéLGICA

Recuperação de fosfato e nitrogénio

A NuReSys desenvolveu uma tecnologia inova-dora que permite recu-perar fosfato e nitrogé-nio de águas residuais. O fosfato é retirado das águas residuais através de sais de ferro e depois precipita no lodo onde acaba por se perder.

O que é novo aqui é o facto de se conseguir recuperar, através desta tecnologia, até 85% do fosfato presente no esgoto e conseguir utilizá-lo como Struvite, que pode, sem qualquer outro tratamento, ser usado como um fertilizante lento na agricultura e na horticultura. O fosfato é um elemento crucial no fornecimento de alimentos e formas de nitro-génio, juntamente com um componente muito importante de fertilizan-tes artificiais.

Apesar de ser uma técnica já utilizada, é a primeira vez que está a ser aplicada à área industrial.A tecnologia NuReSys pode ser aplicada em qualquer estação de tra-tamento de águas residuais. é mais económico quando se tratam de plantas com um volume de água de 20m3/hora com uma participação de 45 mg / l de PO4-P. Os custos dependem muito do volume de água e do nível de concentração de fosfato (P). No entanto, o custo de re-cuperação de fosfato e nitrogénio é, amortizado, não sendo mais caro do que o custo real do processo de remoção de P das águas residu-ais. Depois de um período de amortização de 5 a 7 anos, o custo cai para 50%. As instalações podem ser construídas para volumes como 20/40/60/80/100/120m3/hora e o custo de investimento varia entre os 250000 e 700000 €. A tecnologia NuReSys está no mercado desde 2009 e já existem duas estações industriais de tratamentos de água com o sistema implemen-tado, na Bélgica.www.nuresys.com

FRANÇA

Oxidante de água

O Super Critical Water Oxida-tion (SCWO) é uma tecnologia de tratamento de resíduos. Caracterizada por ser limpa, revolucionária e quase 100% eficaz, esta tecnologia, cria-da pela INNOVEOX, pode ser aplicada a um largo espectro de resíduos, perigosos (óleos, solventes, etc) ou não.

O SCWO é baseado nas propriedades dos fluídos supercríticos. Consiste em aplicar pressão (>250 Pa) e calor (>400° C) em efluentes a serem tratados e injetar oxigénio, que é imediatamente solúvel e que gera uma rápida oxidação e destruição (<1 minuto) da matéria orgânica. Segundo a empresa, esta tecnologia consegue eliminar 99,99% dos resí-duos, sendo a primeira que destrói resíduos perigosos. Consegue recu-perar a água, que é completamente descartável no meio ambiente e/ou valorização. Não emite CO2 para a atmosfera e permite o transporte de unidades de resíduos sem perigo. Esta tecnologia é fruto da transferência de uma tecnologia a CNRS (French National Research Centre) que depois foi melhorada e sofreu evolução por parte da INNOVEOX.SCWO é considerado um serviço e portanto o preço é calculado por to-nelada tratada. Segundo a empresa, os clientes não têm de fazer qual-quer investimento inicial e os preços dependem muito do tipo de resí-duo a ser tratado.A empresa afirma que o sistema está a ser utilizado em vários grupos industriais localizados na França, Canadá e Índia.www.innoveox.com

FRANÇA

Degrémont Greenbass: controle de ventilação nas ETAR’s

Desenvolvido pela empresa francesa Degrémont, o Greenbass consiste num novo sistema de controle biológico para ventilação sequenciada de unidades de tratamento de águas residuais. Baseia-se num algoritmo patenteado que otimi-za os indicadores principais do processo, evitando o fornecimento desnecessário de ar dentro das bacias. Esta é uma tecnologia totalmente nova que se destaca pela combinação do uso de novos sensores que permitem ob-ter um estado mais preciso do processo biológico. Por outro lado, permite poupar energia, podendo chegar a 15% e o balan-

ço energético da unidade de tratamento de águas residuais pode ser reduzido de 5 a 10%.O custo estimado desta inovação é de cerca de 30 k € / bacia biológica. Os custo de operação e manutenção previsto é de 1€/ano e bacia. A Dégremont refere que o período de retorno do investimento depende do tamanho da unidade e do custo da energia no país europeu, mas pode ser estimado entre menos de um ano e três anos.O Greenbass foi lançado em julho de 2010, tendo sido anteriormente testado na ETAR de Dijon (400.000 PE), durante 9 meses. No final de 2011, será instalada esta tecnologia em 4 linhas de tratamento da ETAR de Dijon e na ETAR de Tournus (França - 10500 PE) e Phalempin Cam-phin (França-7500 PE).www.degremont.com

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

ITÁLIA

Resina bio-sustentável

Esta inovação consiste na produção industrial de monómeros e pré-polímeros derivados do cardanol, um fenol alquila obtido a partir do lí-quido da casca da castanha de caju (LCC), um desperdício da indústria de transformação alimentar.Os produtos Exaphen, ao contrário de outros bio-derivados, são alter-nativas eficazes para os de base de petróleo, para a preparação de re-sinas termofixas e espumas de poliuretano. Os produtos Exaphen deri-vam de subprodutos agrícolas que são postos de lado para eliminação, não têm nenhum impacto sobre a cadeia alimentar e contribuem para o combate à deflorestação e esgotamento do solo, representando uma alternativa totalmente sustentável à gasolina.Não sendo considerado uma tecnologia totalmente nova, é uma nova propriedade da modificação química do cardanol, desenvolvida e paten-teada pela Cimteclab SPA. Sob a marca Exaphen 2010 foram lançados no mercado no ano de 2010 duas linhas de produtos: o Novolacs Novo-card para serem utilizados como agentes de cura para formulações de resina epóxi, e os Polióis PolycardTM adequados tanto para espumas rígidas de poliuretano como para formulações flexíveis.A vantagem da utilização do caju é que a sua árvore só cresce em solos

FINLâNDIA

Sistema Robótico de separação e ordenação de resíduos

O ZenRobotics Recycler é um ino-vador sistema de separação e or-denação de resíduos que permite substituir a via manual e proces-sa uma vasta amplitude de ma-teriais, que muitas vezes a mão humana tem mais dificuldade de reconhecer. É concebido pela em-presa filândesa de alta tecnologia, a ZenRobotics.

O ZenRobotics Recycler é construído com componentes industriais pa-drão, aplicando a capacidade de aprendizagem da máquina para iden-tificar valiosas matérias-primas a partir de resíduos. Direcionado para resíduos de construção e demolição (CND), bem como outras frações de resíduos, esta tecnologia usa múltiplas entradas de sensores para identificar itens e matérias-primas. A mistura de sensores pode incluir câmaras de espectro visível, NIR, scanners de laser a 3D, sensores háp-ticos, raios-x, etc. A fusão dos dados do sensor permite uma análise precisa dos resíduos. Ao contrário de qualquer outro método de separa-ção e ordenação, o sistema pode efetuar múltiplas tarefas de separação e ordenação, simultaneamente: recuperar matérias-primas e remover substâncias contaminantes. Não se podendo definir um preço certo, já que depende muito do tipo de instalações, a empresa refere que, de um modo geral para um sistema completo o preço atingirá menos de um milhão de euros, conseguindo um retorno do investimento em cerca de 2 anos. Para já, este sistema está a ser aplicado a nível local em Helsínquia, sendo operado pela SITA Finlândia. www.zenrobotics.com

PORTUGAL

Pavimento que gera energia

O Waynergy consiste num sistema inovador de aplicação no pavimen-to que permite captar a energia cinética libertada pelo movimento de pessoas e veículos sobre a sua superfície e converter esta energia em energia elétrica, permitindo a espaços de grande afluência de pessoas ou veículos gerarem a sua

própria energia e tornar-se, em muitas das situações, autossustentá-veis do ponto de vista energético. Desenvolvido pela Waydip, spin-off da Universidade da Beira Interior, esta tecnologia recorre a sistemas piezo-elétricos mas é muito mais acessível do que os existentes. Este pavimento pode ser aplicado em espaços interiores ou exteriores onde passam muitas pessoas ou veículos, tais como centros comer-ciais, estações de transportes públicos, espaços desportivos, etc. O sis-tema pode ser instalado de forma embutida ou sobrelevada e a energia captada pode ser armazenada ou consumida diretamente. A energia produzida pode ser direcionada para alimentar dispositivos elétricos, publicidades que necessitem de energia, entre outros.A Waynergy apresenta duas soluções: Waynergy People e Waynergy Vehicles. A primeira solução, como próprio nome indica, é um pavimen-to direcionado para locais de passagem de pessoas, gera 10W (pico por passo) e custará 400€. O Waynergy Vehicles é destinado para zonas de passagem de veículos, gera 240W (pico por veículo) e vai custar 800€.Neste momento as soluções Waynergy estão em fase de validação téc-nica através de instalações piloto (testes em ambiente real). Está pre-vista a sua entrada no mercado em julho, no caso do Waynergy People e início de 2012, no caso do Waynergy Vehicles.www.waydip.com

pobres de regiões equatorianas e podem viver até aos 80 anos, ou seja, esta árvore pode estar continuamente a sequestrar dióxido de carbono ao longo da sua vida. É uma espécie de produção que propor-ciona rendimentos aos agricultores em regiões equatoriais, desencorajarando o corte indiscriminado de árvores para fazer carvão. Além disso, como os frutos são apanhados à mão reduzem a utiliza-ção de máquinas poluentes. O processo químico para a produção de Exaphen foi otimizada de modo a minimizar a quantidade de gasolina com base em reagentes e para evitar o uso de solventes, enquanto maximiza o rendimento de produção.Os preço dos produtos Exaphen, é semelhante aos dos produtos sintéc-ticos, derivados do petróleo. Os produtos estão disponíveis para venda ao público e, neste momento, são usados para espumas e poliuretano e produtores de materiais compósitos na Europa e na Itália. www.innoveox.com

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PRODUTOS E TECNOLOGIAS

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

FRANÇA

Coletor solar termal

Esta coletor solar desenvol-vido pela DUOSUN, combina tecnologias que nos coleto-res tradicionais estão sempre separadas: preserva a tem-peratura e aumenta a tem-peratura. O DUOSUN’s Captor usa um painel de absorção que recebe os raios do sol em ambos os lados, simultanea-

mente, para proporcionar a duplicação do efeito de aquecimento. Isto é possível porque recorre a uma forma triangular em que a folha de absorção é colocada a meio entre os dois espelhos. A sua forma longa e fina e a capacidade de desenvolver coletores à medida, permite que eles sejam integrados em edifícios existentes de uma maneira que a torna praticamente invisível.O facto de ambos os lados da superfície de absorção receber energia solar significa que deixa de ser necessário o tratamento diferente de cada lado do conversor térmico, como é o caso dos modelos tradicionais que absorvem de um lado e estão isolados do outro. O DUOSUN´s Cap-tor não requer o isolamento de qualquer superfície, o que evita compli-cações associadas com a evolução incerta dos materiais e os resíduos

SUÍÇA

Proteção de praias contra o petróleo

O Oilguard é um falso tecido usa-do como proteção preventiva das praias em caso de derramamentos de petróleo off-shore. Foi desenvol-vido durante o derramamento de petróleo no Golfo México. O produto repele a água, absorve o petróleo e pode ser colocado em mais de 10 km de costa num único dia. Este material é muito forte, tem grande resistência às forças do ven-to e da água. O produto é implanta-do na praia, em seguida, recolhe o petróleo que lá chega e, posterior-

mente, é ecologicamente incinerado numa fábrica de cimento, forman-do uma solução de círculo verde para recuperar a energia do petróleo. O Oilguard foi desenvolvido para proteção de praias de 100km. Esta inovação foi criada de raiz por duas empresas de materiais quími-cos HeiQ e Beyond Surface Technologies (ambas na Suíça) e pela TWE, produtor de tecidos falsos na Alemanha. Antes do Oilguard não havia nenhum produto no mercado para a proteção proativa das praias.O Oilguard tem um custo de 50 euros por metro. O produto foi pos-to, pela primeira vez no mercado, em junho de 2010 após testes bem sucedidos em Orange Beach, Alabama, durante o derramamento de petróleo. Entretanto, já foi comprado por dois continentes, com imple-mentação em mais de dez países.www.oilguard.org

PUB.

que estes produtos normalmente produzem. Este produto é feito sem que seja necessário soldar os seus compo-nentes distintos, além disso, permite a integração de uma superfície de absorção que é bastante mais pequena do que as tradicionais, é mais leve porque é em alumínio e tem uma superfície transparente, sendo fácil de manter e amigo do ambiente.Além disso, o fato de que ambos os lados da superfície de absorção receberem a energia solar significa que não é mais necessário o trata-mento de cada lado do conversor térmico de forma diferente, como é o caso com os modelos tradicionais que absorvem de um lado e estão isolados na outra. Captor DUOSUN não requer qualquer superfície a ser isolada. Este tem a vantagem de evitar as complicações associadas com a evolução incerta de tais materiais e os resíduos que estes produ-tos normalmente produzem. O isolador só que está presente em captor DUOSUN é ar.Este conversor solar permite uma série de poupanças quando compa-rado com os conversores tradicionais, tendo custos muito semelhan-tes. As instalações deste genéro variam, normalmene, entre os 6500 € e os 7000 € para uma instalação de sensores controlados.O DUOSUN´s Captor foi lançado no mercado em 2010 e foi instalado ini-cialmente no sudoeste de Françawww.duosun.com

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201136

ENERgIA

ENQUADRAMENTOOs Peritos Qualificados (PQ) são individual-mente responsáveis pela certificação ener-gética dos edifícios, sendo os agentes que, no terreno, asseguram a operacionalidade do SCE. O acesso à atividade de PQ do SCE obri-ga ao cumprimento de um conjunto de requi-sitos, nomeadamente a frequência e aprova-ção em formação específica reconhecida no âmbito do SCE.Esta formação específica dos PQ tem uma tipologia modular e integra três módulos técnicos (RCCTE, RSECE – Energia e RSECE – Qualidade do Ar Interior), que podem ser fre-quentados de forma independente, associa-dos a um módulo “Certificação SCE” (RCCTE ou RSECE). Os módulos técnicos são leciona-dos por instituições formadoras reconheci-das no SCE e o módulo “Certificação SCE” é da responsabilidade da ADENE.

BALANÇO 2007 - 2011No que respeita aos módulos técnicos, neste período foram reconhecidas 77 instituições formadoras do SCE cuja lista pode ser con-sultada no site da ADENE Portal da Forma-ção SCE, as quais já realizaram 471 ações de formação distribuídas da seguinte forma:• 317 do módulo técnico RCCTE• 54 do módulo técnico RSECE-Energia• 46 do módulo técnico RSECE-QAI

Estas ações de formação foram frequentadas por mais de 6000 formandos, sendo que cerca de 80% correspondem a formandos do módulo técnico RCCTE.Relativamente ao módulo “Certificação SCE”,

a ADENE, até setembro de 2011, realizou mais de 100 ações de formação de PQ, desagrega-das como a seguir indicado:• 84 do módulo de Certificação RCCTE• 30 do módulo de Certificação RSECE

Dos cerca de 3 000 formandos que frequen-taram os módulos de Certificação, mais de 1 500 concluíram com sucesso a formação es-pecífica nas 3 áreas de intervenção – RCCTE, RSECE-Energia e RSECE-QAI. De realçar que cerca de 600 formandos ainda se encontram em situação de avaliação.

PERSPETivASDecorridos que são 5 anos de implementa-ção do SCE, importa antes de mais relevar a contínua evolução na interpretação e enten-dimento das matérias consubstanciadas no Decreto-Lei n.º 80/2006 relativo ao Regu-lamento das Características de Comporta-mento Térmico dos Edifícios (RCCTE) e nas Perguntas&Respostas do RCCTE.Assim, para além das ações de formação vi-sando a melhoria contínua das competências dos PQ RCCTE e RSECE que a ADENE tem vindo a promover desde o 2º semestre de 2010, e tendo por base este enquadramento e pressupostos, constata-se que é essencial a realização de ações de formação que vão de encontro a essa evolução.Neste contexto, a ADENE lançou um conjun-to de ações de formação com vista à Reci-clagem e Atualização de Conhecimentos de PQ RCCTE (CRAC), a iniciar no 2ºsemestre de 2011 e em que serão abordadas as seguintes temáticas:

• Intervenção do PQ ao nível dos edifícios abrangidos pelo RCCTE com incidência nos seguintes assuntos:− Definição de envolventes, fatores sola-

res de vãos envidraçados, inércia térmi-ca, requisitos mínimos, equipamentos, águas quentes sanitárias, ventilação e energias renováveis.

• Intervenção do PQ ao nível dos sistemas em que serão abordados os seguintes te-mas:− Caracterização e funcionamento de

sistemas AVAC em pequenos edifícios, noções básicas de aquecimento central e contabilização de energias renováveis no cálculo energético.

• Estudo de Medidas de Melhoria (MM) com destaque para:− Exemplos de cálculo de MM em soluções

de envolvente, ventilação e sistemas;− Exemplos de preenchimento de certifi-

cados energéticos.

A frequência desta formação pelos PQ RCC-TE é essencial na perspetiva de uma efetiva e melhor compreensão das novas interpreta-ções e considerações sobre estas matérias, as quais foram objeto de atualização, bem como para um exercício mais eficiente das suas fun-ções como PQ.A frequência desta Formação é opcional, mas recomendável a todos os PQ RCCTE.

Para mais informações e inscrições deve ser contactada a Direção Técnica da ADENE ([email protected]) ou consultar o Portal da Formação SCE.

Formação de Peritos Qualificados do Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior (SCE) – balanço e perspetivas

O Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE) entrou em vigor em 1 de julho de 2007, com a publicação da Portaria n.º 461/2007, de 5 de junho que estabeleceu a calendarização da aplicação do SCE aos vários tipos de edifícios, a qual ocorre em três fases, até à sua aplicação plena em janeiro de 2009. A partir dessa data, todos os edifícios objeto de transação estarão abrangidos pelo SCE, sendo obrigatória a emissão do certificado energético.

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ENERgIA

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

Para além da identificação de medidas para a melhoria da eficiência energética em edifícios de serviços, esta formação visa promover a introdução/integração de energias renová-veis e perceber como são efetuadas as au-ditorias à QAI e a sistemas de Climatização.

DESTiNATÁRiOSEsta formação é destinada a gestores de energia de edifícios de serviços, responsáveis pela construção e manutenção de edifícios, projetistas e técnicos que pretendam adqui-rir conhecimentos na área do RSECE e conta a colaboração da Schneider Electric.A 1ª edição desta ação de formação realiza-se em Lisboa, de 24 a 28 de outubro, com um total de 35 horas de formação, e serão forne-cidos materiais de apoio, incluindo um Manu-al de Formação.Para mais informações sobre o programa e inscrições contactar a Direção Técnica da ADENE ([email protected]) ou consultar o Portal da Formação SCE.Estas ações de ações de formação comple-mentar e de atualização de conhecimentos são apoiadas pelo projeto comunitário EN-FORCE, o qual tem por objetivo a criação de uma Rede Europeia para a promoção e divul-gação da certificação energética de edifícios e das boas práticas de eficiência energética em edifícios.

ADENE lança nova formação complementar para peritos qualificados e projetistas na área da gestão de energia em edifícios

Neste contexto, destaque para uma nova ação de formação direcionada para a ges-tão de energia de energia em edifícios, que se insere na estratégia de reforço da oferta formativa da ADENE e visa proporcionar uma alternativa na aquisição e atualização de co-nhecimentos específicos na área da gestão de energia, exclusivamente dedicada a edi-fícios de serviços e na ótica da aplicação do RSECE (Regulamento dos Sistemas Energéti-cos e de Climatização de Edifícios).

OBjETivOS GERAiS DO CURSOEsta ação de formação, pela abrangência de temáticas abordadas sobre eficiência ener-gética em edifícios de serviços, visa dotar e/

ou aprofundar os conhecimentos de todos os agentes envolvidos na gestão de edifícios de serviços, técnicos de manutenção, projetis-tas e/ou técnicos pretendam adquirir mais informação no âmbito da aplicação do RSECE em edifícios de serviços.O programa desta ação de formação é bas-tante amplo, e dele consta a abordagem das seguintes temáticas:

• AVAC;• Sistemas de Iluminação Eficiente;• Manutenção de Edifícios;• Energias Renováveis;• Simulação Dinâmica;• Auditorias à qualidade do ar interior (QAI)• Auditorias Energéticas;• Sistemas de gestão de Energia em Edifí-

cios de Serviços• Medição e Verificação de consumos (M&V);• Eficiência nas redes de transporte de Fluí-

dos.

Esta formação terá também associada uma componente teórica, onde serão abordados os principais conceitos de RCCTE e RSECE, assim como o sobre o Sistema de Certifica-ção Energética. De destacar ainda as apre-sentações sobre o Programa de Eficiência Energética na Administração Pública ECO.AP e PNAEE (Plano Nacional de Ação para a Efi-ciência Energética).

Tal como tem vindo a ser reportado, desde o 2º semestre de 2010 que a ADENE tem vindo a promover ações de formação visando a melhoria contínua das competências dos peritos qualificados (PQ) do Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE), bem como de outros profissionais, nomeadamente projetistas.

Centros escolares de Paredes aquecidos com desperdícios de madeiraA autarquia conseguiu receber diretamente e de forma gratuita os desperdícios de madeira, oriundos das fábricas da região, que são dire-cionados para uma pequena unidade cons-truída para o efeito no Ecocentro de Cristelo. Esta unidade implicou um investimento de cerca de 165 mil euros, financiados através de uma candidatura a fundos comunitários. Os desperdícios industriais que, normalmen-te seriam queimados, são agora transforma-dos em briquetes de alta qualidade e densida-de. “Depois de embalados e distribuídos, e em alternativa ao mais dispendioso gás natural, os briquetes são usados como combustível nas caldeiras de aquecimento, desenvolvidas

por uma empresa local propositadamente para aquele fim, nos novos centros escolares de Paredes”, refere a autarquia.“O Município conseguiu uma poupança de cerca de 300 mil euros por ano só nesta pri-meira fase, reduzindo drasticamente a fatura do gás, eletricidade ou gasóleo”, explicou Pe-dro Mendes, vereador da Educação da Câma-ra Municipal de Paredes. “Contudo, logo que estejam em pleno funcionamento todos os 14 novos centros escolares, a poupança po-derá ascender a mais de um milhão de euros”, acrescentou.

www.cm-paredes.pt

O município de Paredes pôs em prática um projeto inovador para o aquecimento das escolas que já permitiu uma poupança de mais de 300 mil euros à autarquia.

PAREDES

MUNICÍPIOS

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201138

ENERgIA

Nova edição do curso de certificação de profissionais de medição e verificação (CMVP)

(PMVP). Com base neste enquadramento, as ESE deverão elaborar os contratos de gestão de eficiência energética de acordo com as re-gras do PMVP, parte integrante do curso CMVP que a ADENE organiza, em parceria com a EVO.Para mais informação sobre os cursos CMVP, recomendamos a consulta da informação disponível no website da EVO, em www.evo-world.org

CALENDÁRiO DE FORMAÇãO 2011

Em parceria com a EvO - Efficiency valu-ation Organization, a ADENE realiza em Portugal, a 3ª edição do Curso de Certifi-cação de Profissionais de Medição e veri-ficação (CMvP).A formação dos peritos de M&V é um fator determinante para o desenvolvimento do mercado da eficiência energética e vem, nomeadamente, ao encontro dos objeti-vos da Resolução do Conselho de Minis-tros n.º 2/2011 relativa ao Programa de Eficiência Energética na Administração Pública (ECO.AP), para implementação de medidas e planos de ação de eficiên-cia energética em serviços, organismos e equipamentos públicos, através da con-tratação de empresas de serviços energé-ticos (ESE).

Esta ação de formação destina-se a en-genheiros e arquitetos com experiência na área da eficiência energética, e tal como nas edições anteriores, terá uma abrangência in-ternacional, esperando-se formandos de di-versos países. Os formandos que reúnam os requisitos para obtenção do Certificado CMVP e tenham aprovação no exame, ficam habili-tados a um reconhecimento de perito interna-cional em medição e verificação de eficiência energética (M&V).De acordo ainda com o Decreto-Lei n.º 29/2011, especificamente no que respeita aos conteúdos dos contratos de gestão de eficiên-cia energética, um dos critérios de avaliação do desempenho energético dos edifícios deve ser feito de acordo com o Protocolo de Medi-ção e Verificação do Desempenho Energético

ICC Portugal cria Comissão de Ambiente e Energia

Em declarações à IA, a ICC não fala em nomes em concreto mas refere que as empresas que integrarão esta comissão são de vários seto-res, desde seguros, gestão de resíduos, reci-clagem, águas, biomassa e energia, juristas especialistas em direito do ambiente e con-sultores.O apoio previsto às empresas, traduzir-se-á através da participação nesta comissão. “As empresas contribuem com os seus conhe-cimentos para a elaboração de declarações da ICC, utilizadas para exercer influência jun-to de governos e outras instituições. Podem assim usufruir do vasto conhecimento mul-tidisciplinar de mais de 5000 peritos de co-mércio internacional que fazem parte destas Comissões. Simultaneamente, a ICC oferece aos seus membros muitas das vantagens de pertencerem a um grupo de prestígio, e bem assim a oportunidade de desenvolver as suas relações comerciais ao mais alto nível, em eventos exclusivos da ICC”, explica.As empresas presentes nesta Comissão vão poder estar ligadas a uma rede internacional, isto é, com as empresas das outras congé-neres internacionais. “Uma das missões da

Comissão de Ambiente da ICC, a nível global, é formular e defender posições e políticas em-presariais sobre grandes questões relaciona-das com o ambiente e a energia”, refere a ICC.Criar e promover várias iniciativas é o que promete a ICC, como por exemplo o “ICC Pu-blic Policy Roadmap on Finance and Climate Change” (recomendações concretas dirigidas a políticos para estabelecer um quadro para o investimento em projetos relacionados com as alterações climáticas); “BASD – Bu-siness action to sustainable development” (uma coligação temporária para coordenar as contribuições das empresas para a Confe-rência da ONU sobre Desenvolvimento Sus-tentável em 2012”.Contudo, as ações não ficam só por aí, segun-do o que referem os responsáveis: “os mem-bros da Comissão a nível nacional reúnem-se regularmente para analisar as principais questões políticas de ambiente e energia que afetam a sua atividade, podendo organizar ações de formação, sessões de esclarecimen-to e/ou outras iniciativas que julguem neces-sárias.”www.iccwbo.org

A International Chamber of Commerce (ICC) de Portugal vai lançar uma Comissão de Ambiente e Energia, tal como acontece noutros países. Tendo em conta que as questões do ambiente são, cada vez mais, uma preocupação das empresas atualmente, o ICC pretende promover o confronto de ideias, a partilha de experiências e abordagens e o desenvolvimento de parcerias de maneira a fomentar a cooperação entre investigadores, consultores, técnicos profissionais e decisores políticos.

DATA LOCALFormação teórica,

28, 29 e 30 de novembro

Avaliação, 7 dezembro

Hotel Eurostars das Letras

Rua Castilho 6-12, Lisboa

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ENERgIA

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Serviço de diagnóstico energético

Tal como aconteceu no início deste ano, a AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portu-gal – vai promover a ação de compra de energia em grupo junto das empresas associadas, de forma a potenciar a cooperação in-terempresarial com benefícios para as empresas envolvidas, no-meadamente a redução dos custos energéticos nos custos gerais das empresas.Na inciativa deste ano, a compra de energia em grupo permitiu poupanças reais de 6% a 15% na fatura elétrica das 57 empresas aderentes. “Para o ano de 2012 se estima que o valor de poupança no consumo energético das empresas aderentes seja similar”, re-fere a AIMMAP.A pool em causa integrou um grupo de 57 empresas associadas da AIMMAP, tendo concorrido ao fornecimento de energia elétrica as cinco maiores operadoras a atuar no mercado livre em Portugal de forma a apurar qual o fornecedor mais adequado a cada tipo de consumo de energia elétrica – Baixa Tensão Especial e Média Tensão. Depois de analisadas criteriosamente todas as propostas, as empresas selecionadas para fornecer energia elétrica foram a gALP POWER e ENDESA. www.aimmap.pt

Setor Metalúrgico e Metalomecânico compra energia em grupo para poupar custos

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ENERgIA

O evento contou com Pedro Sampaio Nunes (Comissão Executiva da Especialização em Energia da OE) e Manuel Collares Pereira (Uni-versidade de Évora) que apresentaram duas visões completamente contraditórias, esti-mulando o debate comentado por Luís Nazaré (ISEg) e Lobo Xavier (Sonae).Pedro Sampaio Nunes afirmou que “não há qualquer hipótese de sermos competitivos se não encararmos o nuclear, principalmente na atual situação que enfrentamos” e lem-brou que, apesar do custo inicial ser superior, os custos de manutenção são “incrivelmente inferiores aos do carvão ou gás natural”. Se-gundo o orador, com 20 reatores na União Eu-ropeia e mais de 500 previstos no mundo, “não

podemos sair fora do mercado” afirmando que a dimensão de Portugal não é desculpa. “A Bélgica, que tem um terço do nosso tamanho, tem sete reatores, e a Eslováquia, com meta-de, tem seis”, disse. Sampaio Nunes defendeu que, perante esta energia extraordinariamente potente, de-vemos abstrair-nos do terror difundido pelo desconhecimento e adotar uma atitude cien-tífica, uma vez que a perceção e a realidade são muito distantes”.Manuel Collares Pereira tem uma opinião completamente oposta e é contra a opção pelo nuclear em Portugal, levantando dúvi-das que esta seja inesgotável, ilimitada, ba-rata, segura, necessária, inevitável e limpa.

O especialista lembra que todos os reatores em funcionamento tiveram de ser subsidia-dos e que “o custo para o desmantelamento também é elevadíssimo” e que esta forma de energia pode originar um grande acidente em cada dez anos – “sem contar com os peque-nos acidentes”. Collares Pereira afirma que a alternativa é óbvia: “as renováveis são um re-curso nosso, e abundante, que representam um investimento direto na nossa economia, utilizando tecnologia ao nosso alcance”.Perante os fatos apresentados, Lobo Xavier acrescentou que, nos próximos anos, “estuda-ria os aspetos do nuclear que ainda não es-tão completamente esclarecidos e manteria a aposta nas renováveis”.

Energia nuclear em debate na Ordem dos Engenheiros

Quando se fala em energia nuclear rapidamente surgem posições contraditória e está lançado o debate que durará durante horas. Foi o que aconteceu na conferência “Será o Nuclear uma Opção Economicamente Plausível?”, promovida ontem pela Ordem dos Engenheiros (OE) no final de outubro. Luís Nazaré do iSEG concluiu, contudo, que a melhor solução energética é que a garante a melhor racionalidade económica para o país, onde a prioridade deve ser a ”rendibilidade” e a ”exploração”.

Eletricidade continua a ser predominante na cidade do PortoApesar da utilização do gás natural estar a crescer e a rede deste tipo de energia ser cada vez mais abrangente na cidade do Por-to, o preço não incentiva os consumidores a mudarem da eletricidade para o gás natural.O inquérito foi feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Cató-lica Portuguesa, auscultou 1535 residentes e avaliou a utilização de energia na habitação, nas deslocações, bem como os comporta-mentos relacionados com o consumo ener-gético.Outra das conclusões é que apenas 35% dos inquiridos optou pela tarifa bi-horária, sendo que os restantes 65% continua com a tarifa simples de eletricidade.“As respostas diversificadas podem ser in-terpretadas como significando que, no fundo, à data do inquérito, o preçário da eletricidade não parecia ser determinante na adoção de opções de racionalidade económica como a que a tarifa bi-horária representa”, refere a

AdEPorto.Relativamente ao gás, do total dos inquiridos, 52% não utiliza gás em casa, 31% opta pelo gás de garrafa e apenas 17% pelo gás natural. “A não adesão ao gás natural encontra jus-tificação em diversos motivos que passam pela referida «tradição elétrica» do Porto e, pelo facto de, também por isso, o edifício não dispor de instalação, ou, ainda, pela falta de confiança nesta forma de energia”, explica a Agência.No que toca à mobilidade, a maioria não se desloca para fora da sua área de residência para ir trabalhar ou estudar. Nas suas des-locações diárias 46% dos inquirido utilizam o transporte individual, 31% optam pelo trans-porte coletivo (até aos 34 anos) e 23% deslo-ca-se a pé (prevalecendo os indivíduos entre os 25 e os 34 anos). Em relação às pessoas que utilizam o transporte coletivo, 67% opta pelo autocarro, 46% pelo metro, 3% pelo com-boio.

MUNICÍPIOS

A Agência de Energia do Porto (AdEPorto) levou a cabo um estudo, no 4º trimestre de 2010, sobre os hábitos de utilização de energia da população do Porto onde se concluiu que a eletricidade é o vetor dominante para os diferentes usos de calor.

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Qualidade da água para o consumo humano continua excelente

A qualidade da água para o consumo humano em Portugal continua bastante boa, segundo o relatório anual sobre o “Controlo da Quali-dade da Água para Consumo Humano”, apre-sentado recentemente pela ERSAR. Em 2010 atingiu-se uma percentagem de cumprimen-to dos valores paramétricos na torneira do consumidor de praticamente 98%. A ERSAR refere que além da “excelente” qua-lidade da qualidade da água, também há um cada vez maior e mais exigente controlo, que se traduz “numa crescente melhoria da fiabili-dade dos resultados analíticos e na realização da quase totalidade das análises impostas pela legislação”. A ERSAR refere que em relação ao 2% de in-cumprimento, os parâmetros que evidenciam maior percentagem de incumprimento dos valores paramétricos foram as bactérias co-liformes, a Escherichia coli, os enterococos, o pH, o ferro, o manganês e o arsénio. “Foram no entanto tomadas as medidas ade-quadas para garantir a proteção da saúde

humana em articulação com as autoridades de saúde, nos casos em que tal se tenha jus-tificado”, sublinha a ERSAR.No relatório é referido que em mais de 99% dos cerca de 55 000 valores medidos constatou-se a existência de desinfetante residual na água para prevenir eventuais contaminações no percurso até à torneira do consumidor. A Entidade refere as quantidades excessi-vas de cloro que muitas vezes se encontra na água, o que apesar de não constituir um problema para a saúde pública, prejudicam a aceitabilidade por parte dos consumidores. A ERSAR afirma que há ainda um “número apreciável” de entidades gestoras que têm que continuar a melhorar o controlo opera-cional da desinfeção.“Em conclusão, pode afirmar-se que um dos aspetos mais salientes dos dados de 2010 é a continuação da evolução muito positiva na qualidade da água, quer fornecida pelas en-tidades gestoras em alta, quer na torneira do consumidor”, afirma. Mais informação em www.ersar.pt

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ÁgUA | AR E RUÍDO

Gestão integrada das bacias hidrográficas é o futuro

Decorreu nos passados dias 28, 29 e 30 de setembro, no Porto, a 9ª Conferência Euro-peia de Implementação da Diretiva Quadro da Água (DQA), promovida pelo grupo Europeu de Organismos de Bacia (Europeu-INBO), e a 9ª Assembleia-geral da Rede Mediterrânea dos Organismos de Bacia (MENBO). Com a parti-cipação de mais de 200 delegados oriundos de vários países, discutiram-se, no evento, soluções para uma gestão mais eficiente das bacias hidrográficas, do qual resultou a “De-claração do Porto”. Com a proximidade no VI Fórum Mundial da Água, que vai ter lugar em Marselha no mês de março, a conferência, organizada pela ARH Norte, foi crucial para se definirem propostas concretas nesta área.“Este ano o cerne da questão estará na ges-tão integrada de bacias hidrográficas, por-tanto, a forma como a governação promove o desenvolvimento, os recursos hídricos podem ser elementos de criação de valor para o de-senvolvimento económico e social”, explicou o Presidente da ARH Norte, António guerreiro de Brito.

COOPERAÇãO iNTERNACiONALOs vários intervenientes na sessão de apre-sentação destacaram a necessidade de união entre os vários países e de que forma se pode potenciar as boas relações entre países tendo em vista melhores recursos hídricos e atingir as metas da DQA.Victor Dukhovny, diretor do SIC ICWC e Secre-tário Permanente da rede de organismos de bacia da Europa Oriental, Cáucaso e Ásia Cen-tral referiu que é necessário “criar uma força

internacional, através de parcerias, para poder proteger os recursos de água para as futuras gerações”.Já Fadi Comair, Presidente da MENBO, passa uma mensagem de solidariedade que deverá existir entre todos os parceiros, referindo que acredita que todos presentes na conferên-cia “estão dispostos a adotar uma estratégia durável e a trabalharem para isso”. Não deixa contudo de avisar que, apesar das iniciativas positivas a que se tem assistido, é ainda ne-cessário intervir mais nas matérias e políticas da água.

DECLARAÇãO DO PORTOTodo o debate intenso que decorreu nos 3 dias de conferência culminou num documento so-bre a gestão integrada de recursos hídricos. Na Declaração do Porto, reconhece-se “que a gestão por bacia hidrográfica continua a ser o instrumento fundamental para a implemen-tação da DQA e que a aplicação de uma política da água racional e coerente é o caminho para a valorização do território e o desenvolvimen-to sustentável.” Outro dos aspetos abordado foi a gestão de secas e escassez de água, a problemática das cheias e inundações - fenó-menos que atualmente afetam uma grande parte da população europeia - assim como as ligações entre água e energia e a recuperação dos ecossistemas aquáticos.Antonio gato Casado, Presidente da Confe-deración Hidrográfica del Duero, afirmou es-perar que a Declaração do Porto tenha muita influência em termos de gestão internacional de bacias hidrográficas e, portanto, no Fórum Mundial da Água.

“A Declaração do Porto vai partir da experiên-cia do Douro entre Espanha e Portugal e vai projetá-la como um modelo de boa gestão e entendimento que é aplicável a outra bacias internacionais. Temos trabalhado há mais de 3 anos na gestão da região hidrográfica do norte, contactando diariamente e trocando informação. Não podemos ainda elaborar um único plano de bacia hidrográfica mas espera-mos fazê-lo em 2015.”

sensibilização dos colaboradores da CCDR-N.“Os planos de eficiência energética da CCDR-N são desenvolvidos numa colaboração estreitaentre os serviços de administração e siste-mas de tecnologias de informação da institui-ção e o fórum voluntário de ecoeficiência di-namizado por funcionários e colaboradores”, refere a CCDR-N.

CCDR-N reduz emissões de CO2 e poupa em energiaA Comissão de Coordenação e Desenvol-vimento Regional do Norte (CCDR-N) con-seguiu reduzir, num período de dois anos, 192 mil quilos de emissões de CO2 e pou-par 40 mil euros em energia.Isto acontece na sequência do investi-mento da CCDR-N em medidas de redu-ção de consumo energético, tais como,

iluminação com baixos consumos, recorrendo à tecnologia LED, a detetores de movimen-to e a um luxímetro que assegura condições de luminosidade adequadas sem gastos energéticos elevados. Foi também adquirida uma câmara termográfica para a deteção de comportamentos térmicos inadequados para posterior correção. Além disso, apostaram na

É ainda de destacar que a presidência da INBO ficou a

cargo de Portugal. Em nome da ARH do Norte, o seu presidente, Prof. António Guerreiro de Brito

assumiu as presidências da rede europeia (Euro-INBO) e da rede

mediterrânica da INBO (MEMBO), sucedendo a, respetivamente,

França e Líbano.

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AR E RUÍDO

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Fórum Civitas 2011

As cidades europeias que integram o Civitas pedem mais fundos europeus para a mobi-lidade urbana. O Fórum 2011 desta inciativa europeia, que se destina a promover estraté-gias de transporte urbano sustentáveis, de-correu de 17 a 19 de outubro no Funchal.As 209 cidades que integram o Civitas assina-ram um documento, denominado Declaração do Funchal, onde assumem a sua responsa-bilidade nesta matéria e apelam à Comissão Europeia para que canalize mais verbas para atacar os problemas de mobilidade nas cida-des. “É uma declaração que será um legado para o futuro, com as preocupações que temos e as orientações que achamos importantes para os próximos anos”, disse o vice-presidente da Câmara do Funchal. Entre as cidades que assinaram o documento estão Aveiro, Beja, Braga, Cascais, Coimbra, Faro, Funchal, Porto, Torres Vedras e Vila Nova de gaia. Em declarações ao PÚBLICO, Bruno Pereira, sublinhou a importância do documento, que

será agora enviado a Siim Kallas, vice-presi-dente da Comissão Europeia com a pasta dos Transportes.As cidades que assumiram a Declaração do Funchal, reconhecem a sua responsabilidade em alcançar objetivos definidos pela União Europeia para a qualidade do ar, diminuição da sinistralidade rodoviária e supressão gradual nas áreas urbanas dos veículos movidos a combustíveis fósseis. Destacam a importân-cia do Civitas, enquanto rede de colaboração e troca de experiências.A Declaração do Funchal foi entregue a Da-niela Rosca, que dirige a Direção-geral dos Transportes e Mobilidade da Comissão Euro-peia, durante a cerimónia de encerramento do fórum anual do Civitas, que este ano se reali-zou na cidade do Funchal.

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2011

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ALTERAçõES CLIMÁTICAS E CONSERVAçãO DA NATUREzA

Estudo revela que Terra está mais quente

Desde 1950 até agora, a temperatura do planeta Terra aumentou, em média, 1ºC. A conclusão surge depois de quatro estudos científicos independentes, levados a cabo pelo do Grupo de Berkeley, constituído por dez cientistas da Universidade da Califórnia. Esta afirmação vem responder às dúvidas daqueles que refutavam essa possibilidade.“O aquecimento global é real”, escreve em comunicado, o grupo coordenado por Richard A. Muller, professor de Física daquela universidade.

Utilizando novos métodos estatísticos para analisar mais de mil milhões de dados reco-lhidos em 40 mil estações de medição mete-orológicas, espalhadas pelo planeta, durante 2 anos, esta investigação pretendia saber se houve um real aquecimento ou não. Ao mes-mo tempo, queriam responder às dúvidas le-vantadas pelos céticos, relativas ao efeito das ilhas urbanas de calor, má qualidade das esta-ções de medição e a pouca transparência nos dados e nos métodos. Muller explica que deram início ao estudo por-que sentiam que as dúvidas expostas pelos mais céticos eram legítimas e não sabiam a que resultados iriam chegar. “A nossa maior surpresa foi que estes novos resultados estão em linha com os valores publicados por outras equipas nos Estados Unidos e Reino Unido” e amplamente critica-dos, diz Muller, referindo-se aos trabalhos do britânico Hadley Center, e das agências norte-americanas NASA (agência espacial norte-americana) e NOAA (agência norte-americana oceanográfica e atmosférica). Os investigado-res chegaram a um gráfico de temperaturas muito semelhante e concluíram que o efeito das cidades enquanto pontos de calor “não contribui de forma significativa para o aumen-to das temperaturas”, porque “representam menos de 1% da superfície terrestre”, escre-

vem em comunicado. Os estudos permitiram concluir que um terço das estações de medição de temperatura re-gistou um arrefecimento nos últimos 70 anos. Robert Rohde, um dos autores do estudo afir-ma: “O aquecimento global é demasiado lento para os humanos o sentirem diretamente e se o vosso meteorologista local vos diz que as temperaturas são as mesmas ou são mais baixas do que eram há 100 anos, é fácil acre-ditar nele”. Mas para ter a fotografia das tem-peraturas “é preciso termos não dezenas mas milhares de estações de medição”, alertou. De acordo com estes estudos científicos, mesmo as estações de medição consideradas “más” mostraram o mesmo padrão de aqueci-mento do que as consideradas “boas”. “Estes estudos reduzem a incerteza nos registos das temperaturas e dão-nos a confiança de que os relatórios anteriores eram certos e de que hoje vivemos num período excecionalmente quente”, disse Muller ao “New York Times”. Os resultados ainda não foram submetidos à revisão pelos pares e ainda não foram pu-blicados. O grupo de Berkeley divulgou o seu trabalho num site na Internet porque “quis tornar públicos os resultados preliminares para incentivar um escrutínio mais rápido por parte dos cidadãos” e só depois os submeteu a avaliação.

Reintrodução da águia-pesqueira em Portugal

A espécie que deixou de nidificar há vários anos em Portugal, vai voltar a ser reintrodu-zida no país, através de um projeto de parce-ria entre a EDP e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos genéticos (CIBIO), da Universidade do Porto. O projeto está pre-visto para um período de tempo mínimo de 5 anos. Anualmente virão 10 aves para o nosso país, o que se espera que permita a recupera-ção da população reprodutora desta espécie, que deixou de nidificar em Portugal no início da última década. As primeiras 10 águias (5 da Suécia e 5 da Fin-lândia) já chegaram a Portugal e encontram-se num espaço natural perto de Alqueva, onde se desenvolverá o processo de habituação ao nosso país.

Este processo tem de ter obrigatoriamente intervenção humana, uma vez que, com o de-saparecimento dos últimos indivíduos repro-dutores em 2002, já não se pode esperar que a população portuguesa de águia-pesqueira recupere naturalmente. No entanto, Portugal continua a dispor de todas as condições ide-ais de habitat para a espécie, desde a costa rochosa que constituiu o seu último reduto, como também algumas zonas húmidas estu-arinas e albufeiras de barragens.“A recuperação da águia-pesqueira nestas áreas é possível, mas tem que passar pela co-lheita de indivíduos em populações dadoras, onde a espécie não corre risco de extinção, e a sua posterior transferência e libertação para locais favoráveis”, refere a EDP no site oficial.

O objetivo passa por criar um núcleo reprodu-tor inicial, a partir do qual se pode promover a recolonização progressiva das áreas históri-cas de ocorrência da espécie. “O trabalho conta com a colaboração insti-tucional do ICNB, e está ser desenvolvido em parceria com a SAIP, a TAP e a EDIA. A nível in-ternacional, o projeto envolve investigadores dos países dadores das aves, a Finlândia e a Suécia, e tem a estreita colaboração de par-ceiros espanhóis, onde um projeto similar tem vindo a ser desenvolvido com elevado sucesso desde 2003”, destaca a EDP.

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RESÍDUOS PUB.

WASTES: Solutions, Treatments and Opportunities

A problemática dos resíduos es-teve em destaque, de 12 a 14 de setembro em guimarães, na pri-meira conferência internacional “WASTES: Solutions, Treatments and Opportunities”. Contou com a presença de mais de 200 par-ticipantes e de cerca de 15 paí-ses diferentes.

O objetivo do evento passava pela criação de um espaço privilegia-do para a apresentação, esclarecimento, debate e permuta de ideias, centrado nas exigências, mudanças, desafios, soluções e oportuni-dades que se colocam ao setor do Ambiente, com especial enfoque na gestão sustentável de resíduos. Cândida Vilarinho, da organiza-ção, fez um balanço muito positivo dos 3 dias de trabalho, referindo que “foram várias as temáticas abordadas na área da reciclagem, desde a gestão resíduos, aterros, resíduos perigosos, aspetos sociais e económicos relacionados com a gestão sustentável de gestão de resíduos, etc”.A conferência contou com sessões plenárias, com oradores convida-dos, e sessões paralelas de natureza técnica e científica, tendo como protagonista autores nacionais e internacionais. Segundo Cândida Vilarinho, a valorização material e energética dos resíduos são as atuais apostas no setor dos resíduos. Por outro lado, a Professora refere: “começam a haver muitas tecnologias inovado-ras no sentido de garantirem efetivamente a gestão sustentável dos resíduos e cada vezOrganizado pelo Centro para a Valorização de Resíduos (CVR), o even-to conta também com o apoio da Ordem dos Engenheiros (OE), da Universidade do Minho (UM), da Sociedade Portuguesa de Materiais (SPM) e da Associação Portuguesa de Engenharia Sanitária e Am-biental (APESB).

Um estudo levado a cabo pela Tetra Pak conclui que os consumidores estão a adotar comportamentos de defesa do ambiente, tais como a reciclagem e preferência por produtos ambientalmente sustentáveis para os seus lares. No inquérito “Pesquisa Ambiental 2011” são reve-lados tipos de comportamentos pró-ambientais por parte de consu-midores em mercados estratégicos desde 2005: Brasil, China, Fran-ça, Alemanha e Estados Unidos. “Estes comportamentos incluem a separação das embalagens alimentares para efeitos de reciclagem e evitar o consumo de determinados produtos por razões ambientais”, afirma a Tetra Pak.Este estudo foi desenvolvido pela Euromonitor International para a Tetra Pak entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, envolveu 6600 consumidores e mais de 200 influenciadores da indústria alimentar inquiridos em 10 países.

Estudo Tetra Pak revela mudança de comportamento do consumidor

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RESÍDUOS

Depois de 5 anos de trabalho e de proximida-de com as empresas a ANREEE – Associação Nacional para o Registo de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos - defende a criação de uma entidade única de registo ambiental.

No evento de comemoração do aniversário da ANREEE no final de outubro, em Lisboa, foram apresentados os resultados da atividade da Associação e os argumentos a favor da exis-tência de uma única entidade onde possam ser realizados todos os atos de registo rela-cionados com as obrigações ambientais das empresas.Rui Cabral, diretor executivo da ANREEE, fez um balanço bastante positivo do trabalho da associação nos últimos 5 anos. Por exemplo, só em 2010 mais de 1600 produtores declara-ram 77-552.249 unidades de EEE.Contudo, Rui Cabral refere que “este processo não foi isento de dificuldades”. O pioneirismo

da atividade foi uma delas.“ Sendo pioneiro temos as dificuldades de quem arranca, espe-cialmente quando tínhamos aqui ao lado, em Espanha, um mau exemplo.” Por outro lado, o responsável da ANREEE refere que “muitas empresas duvidavam da evolução positiva desta obrigação, e portanto retardaram um bocadinho o cumprimentos das suas obriga-ções”. Além disso, o conceito de produtor era mal entendido. “Toda a gente entende por produtor alguém que fabrica e achavam que se importavam não eram produtores e não estavam dentro desta obrigação. Na verdade não, são produtores no sentido de produzir um resíduo ambiental, isto é, são agentes que estão a colocar no mercado algo que será sus-cetível de mais tarde ser um resíduo”.

ENTiDADE úNiCA DE REGiSTO AMBiENTAL A criação desta entidade única de registo am-biental é o grande objetivo da ANREEE, não só pela desburocratização dos registos mas também pela poupança de tempo e dinheiro das empresas. A ANREEE encomendou um estudo elaborado pela Premivalor e Sociedade Abreu Advogados que claramente mostra as vantagens da criação de uma entidade deste género.Se a ANREEE assumir o papel de entidade única de registo para todas as obrigações ambientais, as empresas portuguesas po-dem começar a pagar uma taxa anual única

de cerca de 20 Euros, contra os mais de 1.000 Euros que agora pagam com todo o processo burocrático de registos ambientais múltiplos. Para além do aspeto económico, se desejarem cumprir com todas as suas obrigações am-bientais as empresas deparam-se com a ne-cessidade de declarar em várias plataformas, e junto de várias entidades, todos os produtos novos que colocam no mercado (embalagens, equipamentos elétricos e eletrónicos, pilhas, óleos, etc.) e ainda todos os resíduos gerados pela sua atividade. “Esses processos estão sujeitos a diferentes calendários e à utilização de diferentes pas-swords de acesso às várias plataformas e diferentes formas de declarar. Ou seja, trata-se de um processo disperso, moroso a que as empresas têm que dedicar muito tempo e esforço, não existindo uma visão integrada, o poderá levar facilmente as empresas a situa-ções de incumprimento por omissão”, sublinha Rui Cabral.O secretário Secretário de Estado do Ambien-te e Ordenamento do Território, Pedro Afonso de Paulo, encerrou a sessão dando um sinal positivo no que toca à criação da entidade única de registo ambiental, sem no entanto referir nada em concreto. Rui Cabral viu as pa-lavras de Pedro Afonso de Paulo como sendo de incentivo e afirmou que já está a ser desen-volvido um “business plan que consubstancia-rá este projeto” e que depois será apresentado à tutela, com metas e objetivos.

ANREEE celebra 5 anos de atividade

Famalicão vai ter ecocentroEste espaço vai servir os 500 mil habitantes dos concelhos de Vila Nova de Famalicão, guimarães, Fafe, Vizela, Santo Tirso e Trofa.A utilização do ecocentro é gratuita, sendo que as empresas têm apenas de pedir auto-rização à Resinorte para efetuar descargas.O ecocentro está preparado para receber di-versos tipos de resíduos, tais como: resídu-os verdes, plásticos, plásticos duros, papel e cartão, metal, vidro, madeira, pilhas e acumu-ladores, monstros, resíduos de construção e demolição, lâmpadas fluorescentes e resídu-os de equipamentos elétricos e eletrónicos.“Os Ecocentros são centros de receção de re-

síduos valorizáveis, com vedação e vigilância, devidamente organizados, dotados com con-tentores de grande dimensão, destinados a receber separadamente diversos materiais, para posterior tratamento e/ou reciclagem”, explica a Resinorte.A RESINORTE iniciou a sua atividade em 2009 e é responsável pela exploração e gestão do Sistema Multimunicipal de Triagem, Recolha, Valorização e Tratamento de Resíduos Sóli-dos Urbanos do Norte Central. Encontra-se estruturada em quatro Polos: Polo do Alto Tâmega, Polo do Baixo Tâmega, Polo do Vale do Ave e Polo do Vale do Douro.

MUNICÍPIOS

A Resinorte inaugurou no início de setembro um novo ecocentro em Vila Nova de Famalicão.

FAMALICÃO

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vozes ativas

iNDÚstRia e aMBieNte 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

Em situações de emergência ambiental, o voluntariado é um dos valores a que eu adiro. Em 2007, depois dos incêndios que devastaram a minha cidade natal Zacharo e o Sudoeste da Grécia, como Diretora do Instituto Europeu de Ciência, Direito e Tecnologia, organizei e executei pro bono um plano de reconstrução de 10 meses. A fim de revitalizar a economia local, apoiar psicologicamente as comunidades afetadas e restaurar o meio ambiente natural, trabalhámos na preservação do capital de floresta e na gestão ambiental, na proteção da nossa riqueza cultural e no desenvolvimento turístico da região.

A reconstrução da habitação no Haiti, após o devastador terremoto de fevereiro 2009, é um processo longo e complexo que envolve governo, doadores internacionais e ONG’s. Um projeto patrocinado pela Comissão Provisória de Reconstrução do Haiti em que tenho estado envolvida é o projeto Build Back Better Communities. Arquitetos e construtores submeteram projetos para uma comunidade de demonstração, onde as questões de design ambiental são critérios chave. Incluíram iluminação, arrefecimento passivo, aproveitamento da água das chuvas e tecnologia solar. Além disso, o uso de materiais renováveis, mão de obra local e projeto sísmico faziam parte das exigências. Estas casas de demonstração servirão de modelo para melhorar a qualidade de vida e fornecer uma habitação segura e acessível para as vítimas do terremoto.

Em 2010, em Zamfara, Nigéria, cerca de 500 crianças morreram de envenenamento por chumbo, quando os moradores passaram de empregos agrícolas com baixos salários para a extração de ouro de minas da era colonial. A resposta para esta crise de saúde está a ser implementada, ajudando os governos locais a auxiliarem esses habitantes para que equipem as suas casas com equipamentos e materiais seguros. As técnicas e as mensagens de promoção de saúde e limpeza estão a ser integradas de forma segura nas práticas artesanais de mineração e processamento, permitindo que as comunidades continuem a explorar as oportunidades económicas, evitando o envenenamento.

Valores ambientais promovem a justiça social porque o ambiente está intimamente ligado à forma como as pessoas vivem. Em muitos dos lugares mais poluídos, os problemas surgem quando o ambiente é ignorado ou maltratado, seja deliberadamente ou por acidente. Em 2010, os moradores da Nigéria inadvertidamente causaram um dos maiores surtos de envenenamento por chumbo de sempre, por processarem minério cheio de chumbo dentro de suas casas. As condições de vida estão agora mais asseguradas porque ensinamos os aldeões a processar o minério com maior cuidado.

PoDeM os valoRes aMBieNtais PRoMoveR a justiça social? Dê-Nos uM exeMPlo De uM PRojeto que coNheça ou No qual esteja eNvolviDo.

Embora não o tenha descoberto hoje, ago-ra tenho a absoluta certeza que, além da morte existe uma ou-tra certeza absoluta, que dá razão ao “não há regra sem exce-ção”: todos somos capazes de cometer irregularidades que dependem somente

da oportunidade e o seu tamanho e impacto está relacionado apenas com a nossa ambição nos casos mais graves, e nos mais simples, na nossa perceção da sobrevivência e justiça. o joão es-condeu um buraco de 233 milhões de euros na Madeira, não se arrepende, o Dias loureiro desa-pareceu e deixou outro no BPN que vamos todos pagar, o homem forte Norte americano fez de-sabar o Mundo com a valorização artificial de ati-

Mary CoMerio Professora de Arquitetura na Universidade da Califórnia, Berkeley

ian von LindernPresidente da TerraGraphics Environmental Engineering

riChard FuLLerFundador do Blacksmith Institute

seja uma voz ativa e envie-nos questões que queira ver respondidas nas próximas edições! [email protected]

PARTICIPE

vos sem valor, o sócrates gastou o que não tinha e sabia que não podia pagar... No futebol o que se falava em surdina apareceu claro, e surpreendeu pela forma escabrosa, a corrupção sem pudores justificada pelo desejo de ganhar e do poder, bem como obviamente do dinheiro.No nosso dia-a-dia, não há ninguém (ou quase) que não tenha um pecado do mesmo tipo, des-de a empregada doméstica que não passa recibo, o médico que pergunta se é com ou sem, o tipo da ótica que sugere pôr na fatura do óculo de sol uns de ver, favores que pagam favores, as cunhas do amigo para colocar o primo do outro e, até, as cunhas sugeridas a quem não quer cunhas, com o argumento que não é uma verdadeira cunha, mas um mecanismo de equilibrar e tornar justo o siste-ma porque todos as têm; a chamada contracunha.tudo isto, que é o nosso Pais e que vemos não ser só no nosso, surge maioritariamente, nas pe-quenas irregularidades porque se veem as gran-des e nada acontece..

a resolução do nosso problema global é teorica-mente simples, basta educar o Mundo chamado “civilizado” para os valores da ética, e simplifican-do ainda mais, ser-se sério e não roubar, criando mecanismos que demonstrem inequivocamente que não vale a pena, ou seja, os sonhos e a feli-cidade não podem ser roubados e podemos ser felizes com eles, se alguém assegurar o básico. e hoje, no chamado mundo “civilizado” 90% daquilo que nos faz ser (in)feliz é o trabalho para atin-gir e pagar o dispensável, que o básico permitiria viver com liberdade. as relações “liberais” entre cliente/fornecedor tal como existem, contêm in-trinsecamente um risco enorme de estarem ou ficarem inquinadas, aquilo que se chama de rela-ções potencialmente conflituosas.Na realidade estamos num estado de “sitio” onde ser-se sério é ser-se parvo. Mas prefiro assim, não sofro de ciúmes, tão pouco de invejas, digo mal do Mundo, mas mesmo assim, digo melhor de mim e das opções tomadas.

NoRtaDa Potencialmente impotentepor Carlos Pedro Ferreira, Diretor Geral - Grupo Sondar

dionysia-Theodora avgerinopouLou Deputada do Partido para a Nova Democracia da Grécia

Nesta edição, o ”Vozes Ativas” conta com alguns dos vencedores dos Greenstar Awards 2011, prémio promovido pela Green Cross.

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201148

PESSOAS E EMPRESAS

“O Setor dos Resíduos, com a progressiva

participação de Privados (...) vai rapidamente

ganhar mais profissionalismo, maior

foco em Resultados

“A minha preocupação é a de que o setor dos Resíduos efetivamente contribua para a valorização da região e do país”Com um profundo know-how do setor dos resíduos, Fernando Leite, está na direção da LIPOR há já 11 anos. Formado em economia, o administador da Lipor tem provas dadas de boa gestão e de boa orientação futura desta entidade intermunicipal da área metropolitana do Porto. A inovação e a aposta na formação e sensibilização da comunidade são as suas linhas orientadoras na direção da Lipor.

Fernando LeiteAdministrador-Delegado da Lipor

Diga-me o que faz...Sou licenciado em Economia pela Universidade do Porto e tenho uma Graduação com o PADE pela AESE. Trabalhei como Técnico Superior da Câmara Municipal da Maia, fui Chefe de Divisão da Qualidade de Vida e posteriormente Diretor de Departamento de Ambiente e da Qualidade de Vida da mesma Autarquia. Atualmente sou Administrador-Delegado da LIPOR desde 2000. Acumulo também outros cargos como Administrador não Execu-tivo da Maiambiente, Empresa Municipal, EIM. E Vogal da Direção da Agência de Energia do Porto. Sou membro de vários organismos nacionais e internacionais, exercendo, em alguns, funções de Direção.

Porto e PortugalA área metropolitana do Porto e Portugal são os meus locais de referência em termos de gestão de resíduos.

O que dizem os resíduos sobre a sociedade portuguesa?A nossa Sociedade é uma típica Sociedade de Consumo e com os problemas com que nos defrontamos, cá está a produção de resíduos a baixar, menos Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos entregues para reciclar, menos jornais e revistas na fração papel/cartão, tudo reflexo de uma contenção no consumo das famílias.

O que o preocupa?A minha preocupação é a de que o setor dos Resíduos efetivamente contribua para a valorização da região e do país, crie valor, potenciando e entendendo os resíduos como recursos e contribuindo para a empregabilidade e o empreendedorismo.

No curto prazo deseja...Que no nosso País, os Sistemas de Gestão de Resíduos intensifiquem o desvio dos resí-duos dos Aterros, pois ainda 62% dos RSU’s têm aquele destino.

Previsões para o futuro do setor?O Setor dos Resíduos, com a progressiva participação de Privados, quer na Recolha, quer na Valorização/Tratamento, vai rapidamente ganhar mais profissionalismo, maior foco em Resultados.

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PESSOAS E EMPRESAS

INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

multidisciplinar integrando nos seus quadros internos especialistas nas áreas da Biologia, Agronomia, Sociologia, Geologia, Engenharia do Ambiente e Engenharia Civil. Esta multi-disciplinaridade permite-lhes um espectro de ação alargado, com capacidade de resposta em múltiplos domínios das ciências do Ambiente. Os principais vetores de atuação são as áreas da Consultoria Ambiental com realização de Estudos e Projetos; o Acompanhamento/ Fis-calização Ambiental de Empreitadas de Obras Públicas e Privadas e também a Monitorização Ambiental ao nível da Indústria e das Conces-sões de Obras Públicas e Privadas.

Fiscalização Ambiental A área da Fiscalização e Acompanhamento Ambiental de empreitadas é onde a Geosolve é mais solicitada. Dentro da área de Estudos e Projetos estão a acompanhar a realização de projetos de requalificação ambiental de antigas áreas mineiras e têm em efetivação projetos de descontaminação de solos para Indústrias, bem como, a elaboração de múl-

Com uma vasta área de atuação a Geosolve distingue-se na área do Ambiente. Direcionados para a indústria da construção, transportam todo o saber e boas práticas ambientais nos serviços que prestam aos seus clientes. “Crescer a saber fazer” é o lema desta empresa que vai investindo nos seus próprios recursos ao longo do tempo.

Soluções de Engenharia, Geotecnia, Topografia e Ambiente

Indústria da ConstruçãoO principal alvo de mercado têm sido todos os players intervenientes na indústria da construção. O Departamento de Ambiente da Geosolve presta serviços de consultoria ambiental a projetistas, donos de Obra pú-blicos e privados bem como a múltiplas em-presas de construção, tendo capacidade de atuar nas diferentes fases do projeto: des-de a fase de conceção com a elaboração dos Estudos Ambientais e processo de licencia-mento requeridos legalmente, até à fase de acompanhamento ou fiscalização ambiental da empreitada. Presta também serviços de monitorização ambiental nas matrizes de Ar (Efluentes Gasosos e PM10), Água (Caracte-rização de Efluentes líquidos industriais), e Solos (Caracterização da potencial contami-nação de solos e Sedimentos).

Departamento de Ambiente em destaqueAo longo dos últimos anos o Departamento de Ambiente da Geosolve tem crescido con-sideravelmente e dotou-se de uma equipa

B.I. Geosolve – Soluções de Engenharia, Geotecnia, Topografia e AmbienteNascimento Janeiro de 1999Localização Trajouce, S. Domingos de Rana Foco Prestação de serviços à indústria da construção, especializada nas áreas da consultoria em Engenharia, Geotecnia, Ambiente e TopografiaDireção Técnica Eng. José Marques da Cruz (Sócio Gerente) e Grupo INZAMAC (Espanha)

tiplos Planos de Gestão de Resíduos para obras públicas. Têm também sido bastante procurados para a realização de campanhas de monitorização ambiental em algumas subconcessões rodoviárias e nos projetos de construção das infraestruturas de Rega do Alqueva, por exemplo.

Próximas apostas A estratégia para os próximos anos passa por reforçar a prestação de serviços nos mercados externos com particular incidência na zona do Atlântico Sul e PALOP’s. A abertura de uma empresa em Moçambique, a ENGEO, ainda no decorrer de 2011 é a face visível desta opção. Outra aposta prevista para este ano é conti-nuar a estender o número dos ensaios acre-ditados segundo a norma ISO/IEC 17025, sobretudo ensaios relacionados com a moni-torização de Ruído e da Qualidade do Ar, entre outros. Querem ainda aumentar a oferta de Coordenação de Segurança em Obra e outros serviços relacionados com a Higiene e Segu-rança no Trabalho.

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201150

EvENToS

Desenvolvimento sustentável: Urbanismo Lisboa 14 Câmara de Comércio e Ind. Luso-francesaeCo-uRBAnismo Portugal novembro www.ccilf.pt 2011semináRio WinD & BioDiveRsity Energia eólica e biodiversidade Aveiro 15 BIo3 e UA Alemanha novembro www.bio3.pt 2011visuAlising sCienCe AnD enviRonment Comunicação de conteúdos científicos Brighton 17 e 18 ECREA, University of Brighton e ambientais Inglaterra novembro http://arts.brighton.ac.uk 2011 iWA CongRes Soluções para águas urbanas Kuala Lumpur 21 a 24 IWA Malásia novembro www.iwa2011kl.org 2011 eneg 2011 Encontro nacional de entidades gestoras Santarém 22 a 24 APDA de água e saneamento Portugal novembro www.eneg2011.apda.pt 2011 iCeuBi2011 Inovação e desenvolvimento Covilhã 28 a 30 UBI Portugal novembro www.iceubi2011.ubi.pt 2011PolluteC Salão internacional de ambiente Paris 29 novembro Reed Expositions França a 2 dezembro www.pollutec.com 2011enContRo nACionAl gestão De ResíDuos Resíduos Lisboa 13 APEMETA Portugal dezembro www.apemeta.pt 2011ConfeRênCiA inteRnACionAl soBRe Água e sociedade Las vegas 5 a 7 Wessex Institute of TechnologyáguA e soCieDADe EUA dezembro www.wessex.ac.uk 2011

Pollutec Horizons 2011Negócios e tecnologias “verdes” para o futuro

CALENDÁRIO DE EVENTOS

As informações constantes deste calendário poderão sofrer alterações. Para confirmação oficial, contactar a organização.

evento temática local Data informações

do ambiental. Estão incluídas biotecnologias, fluídos supercríticos e membranas e uma no-vidade que são aplicações via satélite apre-sentados na “Focus Horizons”. Este espaço de exposição contará com a presença de vários centros de investigação e desenvolvimento de tecnologias verdes, organizações, laboratórios, associações profissionais, entre outros. Como inovação é sinónimo de Pollutec, serão distinguidos, como habitualmente, os mais re-centes produtos ou serviços inovadores, quer tenham sido anunciados com antecedência ou estão sejam apresentados pelos expositores nos seus stands ou então nas palestras, du-rante as diversas transmissões diversas do Estúdio de Tv e na entrega dos vários prémios e troféus.

otimização de processosNeste caso, o objetivo é mostrar todas as eta-pas de uma cadeia de processo de forma a que se possa melhorar o desempenho das empre-sas. Diagnósticos às empresas, novos proces-sos de engenharia e soluções de conceção de produtos mais ecológicas, tipos de tratamen-tos de resíduos, entre outras, serão apresen-tadas. Não ficarão de fora vários sistemas de medição do desempenho e qualidade das indústrias. A interação vital entre a qualidade

Como é habitual a maior feira de ambiente eu-ropeia, Pollutec, volta a acontecer, desta vez em Paris, de 29 de novembro a 2 de dezembro. Ecotecnologias, energia e soluções para com-bate à poluição continuam a ser os grandes destaques da Pollutec. Além da exploração dos setores tradicionais como a água, ar, solo, resíduos e riscos, esta feira aposta também nas novas preocupações ambientais como reciclagem e aproveitamen-to de resíduos, reutilização de águas, respon-sabilidade ambiental, alterações climáticas, economias de baixo carbono, entre outras. Este ano a Pollutec vai-se focar em três te-mas principais e que vão de encontro às pre-ocupações dos profissionais do ambiente: in-vestigação, inovação e finanças; otimização de processos industriais; energia e desempenho energético.

investigação em destaqueA escolha de enfatizar a investigação, inovação e finanças tem como objetivo dar a conhecer a mostrar o crescimento das tecnologias e so-luções verdes. Estarão presentes várias start-ups de todos os setores da feira. Estes casos de inovação, saídos muitas vezes de PME’s promissoras, são complementados por tecno-logias de grande potencial para usar no merca-

do ar, saúde e energia é um tema que estará presente de novo este ano na Pollutec.

energia e desempenho energéticoApontados como as melhores soluções para o futuro, as tecnologias de energia e de melhoria do desempenho energético não poderiam de deixar de fazer parte da Pollutec 2011. Dado o custo dos combustíveis convencionais, as di-ficuldades de abastecimento e a necessidade de reduzir gases de efeito estufa emissões e, ao mesmo tempo, aumentar os lucros, fazem com que sejam temas fulcrais. o foco estará na exploração do valor energético dos resíduos, nas energias renováveis (sobretudo biomassa), redes de energia inteligentes, armazenamento de energia e eficiência energética na indústria. Este ano, a Pollutec vai contemplar dois novos desafios que estão a causar algumas preocu-pações no seio dos profissionais: responsabi-lidade social corporativa, algo que diz respeito a um número crescente de empresas - a ISo 26000 - e a biodiversidade.A Polltec Horizons 2011 vai contar com cer-ca de 1500 expositores, 30% dos quais são estrangeiros. são esperados 35 000 visitan-tes, desde empresários, autoridades locais e nacionais, profissionais do setor da energia, construção, agricultura, etc. www.pollutec.com

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estante

InDÚstRIa e aMBIente 70 SETEMBRO/OUTUBRO 2011

Responsabilidade Ambiental - Operadores Públicos e Privados

este livro surge na sequência da publicação do Decreto-Lei nº 147/2008 de 29 de julho que transpôs a Diretiva nº 2004/35/Ce e estabelece o regime jurídico da responsabilidade por danos ambientais. Desenvolve o tema de forma pragmática e objetiva recorrendo a uma lin-guagem acessível sobretudo dirigida aos operadores públicos e privados abrangidos por este regime jurídico.a autora recorre frequentemente à apresentação visual dos temas desenvolvidos através figu-ras, esquemas e quadros facilitando a compreensão do tema.O livro está organizado por: Os antecedentes da responsabilidade ambiental; O regime jurídico da responsabilidade ambiental; O dano ambiental; Garantias financeiras; Relatório da Comis-são europeia; análise comparada dos diplomas; Considerações finais.É destinado a operadores públicos e privados, profissionais dos seguros e da banca, atuários e técnicos com atividade neste domínio.

Autora: Sofia Sá · ISBN: 9789727884308 · Editor: Grupo Editorial Vida Económica

Idioma: Português · Número de páginas: 312 · Data de Edição: 2011

PVP: € 22,00

PUB.

Laboratórios de Energia Solar Fotovoltaica

O objetivo deste livro é a integração permanente dos conhecimentos do saber fazer, através de uma prática experimental em consonância com as restantes disciplinas inerentes a esta área de formação. Conta com a estruturação de 13 trabalhos laboratoriais, contemplados nos programas dos cursos profissionais de técnicos de energias Renováveis (variante de sistemas solares), e ainda no Curso técnico/a Instalador/a de sistemas solares Fotovoltaicos. O manual é direcionado para os formandos dos cursos profissionais de energias renováveis, dos ministrados no Instituto do emprego e Formação Profissional (IeFP) e aos formadores/professores, facilitando – aos primeiros –, a sistematização das ideias a transmitir, simplifican-do a comunicação entre ambos, e oferecendo – aos últimos –, a garantia da uniformização das ações de formação e resposta às necessidades coletivas ou individuais. Dirige-se, também, aos alunos do ensino superior, a engenheiros, empresas e técnicos do setor, sob uma ótica de resolução de problemas.

Autores: Filipe Alexandre de Sousa Pereira, Manuel Ângelo Sarmento de Oliveira · ISBN: 9789728953775

Editora: Publindústria · Número de Páginas: 164 · Idioma: Português · Data de Edição: 2011

Preço: 22,42 €, à venda em www.engebook.com

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INDÚSTRIA E AMBIENTE 70 SETEMBRO/OUTUBRO 201152

opINIão

A existência de moléculas de ozono na estratosfera é condição essencial para a filtragem de grande parte da radiação ultravioleta (UV) oriunda do Sol que, de outro modo, chegaria à superfície

terreste e a “esterilizaria”. De facto, toda a radiação UV C e grande parte da UV B, são absorvidas num processo virtualmente perfeito se a atividade humana não o tivesse perturbado.

Sabe-se que a produção e a consequente libertação na atmosfera de compostos clorofluorcarbonetos (CFCs), usados na indústria (de refrigeração e ar condicionado, produção de sprays, solventes, etc.) tem um efeito catalítico, originando uma diminuição progressiva da quantidade de ozono. Daí resultaria uma menor absorção da radiação UV e a consequente exposição da superfície terrestre a níveis de radiação que poderiam colocar em risco a saúde humana.

A demonstração da existência de um grande área, sobre a Antártida, em que sazonalmente a diminuição do ozono estratosférico é tao acentuada que permite falar em “buraco” originou, como é sabido, grande discussão sobre o tema e o interesse do público. Foi produzida regulamentação, a nível mundial, para impedir a produção e libertação dos CFCs e para reverter, como se espera, o processo de diminuição do ozono. Estima-se que nos próximos cinquenta anos, será possível normalizar a situação.

Mas será que a reação foi tardia e iremos ter graves repercussões na saúde humana?Como efeitos deletérios a longo prazo da radiação UV B em excesso contam-se a

carcinogénese cutânea (contribui para o aparecimento de certos cancros cutâneos), a formação de cataratas e o enfraquecimento do sistema imunitário. Contudo, pequenas doses diárias de UV B são essenciais para a ativação da Vitamina D na pele humana com efeitos protetores da osteoporose.

Nos últimos cinquenta anos, os médicos têm alertado para um crescimento desmesurado do número de cancros cutâneos, sobretudo em países industrializados. para justificar isto, a exposição à radiação UV parece ser a principal responsável, e especula-se sobre o papel da diminuição do ozono e do “buraco” do ozono.

Não nos podemos esquecer, no entanto, de outros factos. Assistimos, no último meio século, a um aumento progressivo da esperança média de vida e da qualidade de vida, se pensarmos nos países industrializados. Com isso, vivemos mais, passamos mais tempo em atividades lúdicas ao ar livre e viajamos com alguma frequência para latitudes onde estamos expostos a índices mais elevados de radiação UV. E o estar bronzeado, sinónimo de “estar saudável” foi uma moda que veio para ficar há décadas atrás… Assim, os efeitos cumulativos da radiação UV sobre a pele humana vão tendo oportunidade de se manifestarem. Com ou sem diminuição do ozono!

Terá importância, sem dúvida, tudo o que está a ser feito, com sucesso, para reverter o processo de depleção do ozono pois, caso contrário, o futuro no que diz respeito à saúde humana como a de muitos ecossistemas, seria sombrio. Mas, atualmente, talvez seja exagerado atribuir a grande responsabilidade no incremento do cancro cutâneo e das cataratas à diminuição da camada de ozono. Até porque, nas latitudes onde vive a grande maioria da Humanidade a diminuição da camada de ozono não tem atingido valores que originem níveis significativamente mais elevados de radiação UV B, face às décadas anteriores.

São os comportamentos humanos que terão de ser modificados. Podemos manter atividades ao ar livre, laborais ou lúdicas, mas devemos instituir uma “cultura da sombra”. para isso, as autoridades politicas e ambientais devem compreender que os edifícios, as ruas, os parques devem ser planeados de forma a promover espaços de sombra em abundancia. Sobretudo em latitudes como a nossa, em que os índices de UV, em muitos meses do ano, são significativos. E a conduta individual deverá ser reequacionada, desde a infância e a adolescência, em que o papel dos educadores assume preponderância. A utilização de vestuário adequado, de óculos de proteção que protejam da radiação, deve ser complementada com a aplicação correta de protetor solar. Mas, ainda assim, é essencial reduzir a exposição em horários de maior radiância (entre as 12 e as 16 horas no horário de verão). o público deve perceber que, mesmo que o problema da diminuição do ozono esteja em vias de resolução, a radiação UV oferece perigos que não são totalmente evitados com a utilização de um simples protetor solar.

O “buraco” do ozono e os efeitos na saúde humana – mito ou realidade?

Paulo LamarãoMédico Dermatologista

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