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1 Índice Resumo .......................................................................................................................................... 3 Abstract.......................................................................................................................................... 4 Capítulo 1 – Introdução .......................................................................................................... 5 1.1. Objectivos do projecto ....................................................................................................... 7 1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português ............ 7 1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo ...................................................... 7 1.2.2. Revisão bibliográfica ................................................................................................ 13 1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo............................................ 14 1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada............................... 26 1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais...................................... 32 1.3. Hipóteses de trabalho ....................................................................................................... 41 1.4. Estrutura da dissertação.................................................................................................... 42 Capítulo 2 – Metodologia ...................................................................................................... 44 2.1. Caracterização do estímulo .............................................................................................. 44 2.1.1. O Pré-teste................................................................................................................. 45 2.1.2. Os Testes ................................................................................................................... 48 2.1.2.1. Teste I – Produção ............................................................................................. 48 2.1.2.2. Teste II – Avaliação........................................................................................... 53 2.2. Sujeitos ............................................................................................................................. 58 2.2.1.Grupo I ....................................................................................................................... 59 2.2.2. Grupo II..................................................................................................................... 59 2.3.Condições de recolha dos dados........................................................................................ 60 Capítulo 3 – Descrição dos Dados ....................................................................................... 61 3.1. Teste I – Produção............................................................................................................ 61 3.1.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas ................ 62 3.1.1.1. Grupo de Sujeitos I (10º Ano) ........................................................................... 64 3.1.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)........................................................................... 74 3.1.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada ...................................... 82 3.1.2.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano) ............................................................................ 85 3.1.2.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)........................................................................... 96 3.1.3. Síntese comparada .................................................................................................. 106

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1

Índice

Resumo..........................................................................................................................................3

Abstract..........................................................................................................................................4

Capítulo 1 – Introdução ..........................................................................................................5

1.1. Objectivos do projecto .......................................................................................................7

1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português............7

1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo ......................................................7

1.2.2. Revisão bibliográfica ................................................................................................13

1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo............................................14

1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada...............................26

1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais......................................32

1.3. Hipóteses de trabalho .......................................................................................................41

1.4. Estrutura da dissertação....................................................................................................42

Capítulo 2 – Metodologia ......................................................................................................44

2.1. Caracterização do estímulo ..............................................................................................44

2.1.1. O Pré-teste.................................................................................................................45

2.1.2. Os Testes...................................................................................................................48

2.1.2.1. Teste I – Produção .............................................................................................48

2.1.2.2. Teste II – Avaliação...........................................................................................53

2.2. Sujeitos.............................................................................................................................58

2.2.1.Grupo I.......................................................................................................................59

2.2.2. Grupo II.....................................................................................................................59

2.3.Condições de recolha dos dados........................................................................................60

Capítulo 3 – Descrição dos Dados .......................................................................................61

3.1. Teste I – Produção............................................................................................................61

3.1.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas ................62

3.1.1.1. Grupo de Sujeitos I (10º Ano) ...........................................................................64

3.1.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...........................................................................74

3.1.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada......................................82

3.1.2.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)............................................................................85

3.1.2.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)...........................................................................96

3.1.3. Síntese comparada ..................................................................................................106

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3.2. Teste II – Avaliação .......................................................................................................111

3.2.1.Relações de (in)dependência temporal ....................................................................111

3.2.1.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)..........................................................................115

3.2.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano).........................................................................121

3.2.2. Síntese comparada ..................................................................................................128

Capítulo 4 – Análise dos dados ..........................................................................................132

4.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas .....................132

4.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada ...........................................139

4.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais ..................................................146

Capítulo 5 – Conclusões ......................................................................................................154

Bibliografia................................................................................................................................158

Anexos.......................................................................................................................................164

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Resumo

Esta dissertação pretende ser um contributo para o estudo da distribuição dos modos

indicativo e conjuntivo em orações subordinadas completivas verbais com a função

sintáctica de objecto directo do português, tendo em conta o desempenho de sujeitos

que frequentam anos de escolaridade distintos em tarefas de produção e de avaliação.

Neste âmbito, são tidos em conta: (i) as propriedades do verbo matriz e a selecção do

modo, (ii) os efeitos da negação frásica superior no modo da encaixada e (iii) as

relações temporais entre a oração matriz e a oração encaixada.

De forma a testar estes três aspectos, adoptou-se como metodologia a aplicação de um

estímulo, composto por dois testes (um de produção provocada e um de avaliação), a 10

sujeitos do 10º ano (grupo I) e a 10 sujeitos do 12º ano (grupo II).

A descrição e a análise comparada dos dados obtidos nos grupos I e II de sujeitos,

permitiu-nos chegar a algumas conclusões, de que se salientam as seguintes: (i) as

orações completivas dependentes de verbos que seleccionam o modo indicativo não são

problemáticas para os sujeitos, contrariamente ao que se verifica quando a completiva é

seleccionada por um verbo que induz conjuntivo, contexto em que alguns sujeitos

optam pela substituição por indicativo; (ii) a preferência por indicativo é também visível

nas construções que envolvem verbos de selecção modal dupla, ou seja, que admitem,

na encaixada, o indicativo ou o conjuntivo; (iii) nas construções em que a presença do

operador de negação na oração matriz induz alterações no modo da encaixada, sendo

possível a selecção dos dois modos na encaixada, verifica-se igualmente uma

preferência pelo indicativo; (iv) os sujeitos estabelecem frequentemente uma relação de

concordância temporal entre o verbo da oração encaixada e o da matriz, mas revelam

dificuldades na identificação de relações de dependência ou de independência temporal

entre a oração encaixada e a oração matriz; (v) as dificuldades na selecção e no

reconhecimento do modo da encaixada, em contextos de produção e de avaliação, não

tendem a diminuir com a progressão escolar, ou seja, os sujeitos do grupo II não

apresentam, na maioria dos contextos, um melhor desempenho na manipulação destas

estruturas relativamente aos sujeitos do grupo I.

Com este projecto de investigação é possível verificar que as orações completivas

carecem de um estudo mais aprofundado em contexto escolar, que implique reflexão

sobre os vários aspectos que lhes estão associados.

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Abstract

This dissertation aims at contributing to the study of mood distribution in Portuguese

(direct object) complement clauses by analysing the performance of students from

different school levels in production and evaluation tasks. To achieve this main goal, the

properties of the matrix verb and the mood selection, the effects of the matrix negation

operator upon the embedded mood and the temporal relations between the matrix and

the embedded clauses are taken into consideration.

With the aim of testing these three aspects, the methodology chosen was to apply a

stimulus, composed by two tasks (ellicited production and evaluation), to ten 10th

grade’s students (group I) and ten 12th grade’s students (group II).

The description and the comparative analysis of the results obtained in groups I and II,

allowed us to conclude that: (i) complement clauses depending on verbs which select

the indicative mood are not problematic to the subjects, unlike to what happens when

the verb induces the subjunctive in the embedded clause, a context in which some

subjects replace this mood with indicative; (ii) the preference for the indicative is also

observed with verbs which involve a double modal selection, that is, which admit the

indicative or the subjunctive in the embedded clause; (iii) in sentences where the matrix

negation operator may change the embedded mood, enabling the selection of both

moods in this clause, the preference for the indicative over the subjunctive is also

observed; (iv) the subjects often establish tense agreement between the embedded verb

and the matrix one, but they reveal difficulties in identifying the temporal dependance

or independance relations between the embedded and the matrix clauses; (iv) the

difficulties in selecting and recognising the embedded mood, in production and

evaluation tasks, may not decrease with schoolar progression, that is, the second group

of subjects does not have, in most contexts, a better performance in manipulating these

structures than the subjects from the first group.

This research project shows that complement clauses need a much more deep and

detailed study in school context, leading to a reflection on the several aspects which are

associated to them.

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Capítulo 1 – Introdução

A presente tese tem como objecto de estudo a distribuição dos modos indicativo e

conjuntivo em orações subordinadas completivas verbais com a função sintáctica de

objecto directo do português. No âmbito deste estudo, serão tidos em consideração três

aspectos: a selecção do modo em função do verbo matriz, a influência da negação

frásica matriz no modo da oração encaixada e as relações temporais entre a oração

matriz e a oração encaixada.

A escolha deste tema decorre das dificuldades que detectei nos alunos, enquanto

docente, no que diz respeito à produção e à avaliação destas estruturas. Em contexto

escolar, verifica-se que o conjuntivo é um modo problemático, gerador de dúvidas e de

dificuldades de uso, sendo mesmo preterido pelo indicativo, em construções que

permitem a selecção dos dois modos. Este desempenho deficitário poderá resultar, entre

outros factores, do tipo de abordagem escolar, dos conteúdos programáticos, do trabalho

pouco reflexivo sobre a estrutura e o funcionamento da língua e da ausência de hábitos

de escrita e de leitura dos alunos. Pela análise do programa de Língua Portuguesa do 3º

ciclo, observa-se que é feita, nos três anos escolares, a distinção entre coordenação e

subordinação, sendo a subordinação abordada de maneira gradual, com a seguinte

sequência: no 7º ano, orações subordinadas temporais e causais; no 8º ano, orações

subordinadas condicionais, finais e completivas; no 9º ano, orações subordinadas

consecutivas, concessivas e relativas restritivas com antecedente. No programa de

Língua Portuguesa do ensino secundário, a competência de funcionamento da língua

visa desenvolver e consolidar os mesmos conteúdos, aprofundando-se a área da

pragmática. Relativamente à subordinação, pressupõe-se a identificação das várias

orações subordinadas, não se especificando, no âmbito das completivas, os factores de

selecção do modo, nem as relações temporais entre as orações encaixada e superior.

A apresentação e aplicação destes conteúdos nos manuais escolares passa sobretudo

pela classificação e divisão das orações, por exercícios de memorização de termos, pela

mera etiquetagem das noções e das regras gramaticais e raramente pela reflexão e

problematização de situações. Por outro lado, o isolamento dos enunciados

relativamente ao respectivo contexto é fruto de uma visão atomística da língua que é

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veiculada pela gramática da frase. No entanto, a língua deve ser entendida como um

todo, e não como um bloco intocável e imutável, pois é formada de partes que

estabelecem entre si relações. Deste modo, deve existir uma complementaridade entre a

Gramática do Texto e a Gramática da Frase, e não uma exclusão mútua, pois só dessa

forma se torna possível ter uma visão globalizante da língua.

A Gramática tem sido, assim, desvalorizada e subalternizada em grande parte das aulas

de Português. Para que a prática lectiva seja bem sucedida, é fundamental que o

professor de Língua Portuguesa tenha uma sólida formação linguística que lhe permita

reflectir sobre os programas, os manuais e as gramáticas, e adaptar os procedimentos

pedagógicos às necessidades específicas dos alunos, promovendo o seu

desenvolvimento linguístico. É igualmente importante que os docentes se preocupem

em reciclar e actualizar constantemente os seus conhecimentos científicos e didácticos,

não se limitando à sua formação inicial. Partindo do conhecimento implícito dos alunos,

o docente deve aplicar estratégias pedagógico-didácticas que os levem a reflectir sobre a

estrutura e o funcionamento da língua, ou seja, deve tentar construir a gramática

explícita a partir da e com a gramática implícita. Como afirma Duarte (2000b) “Só a

convivialidade com a língua nos seus usos multifacetados, alicerçada na competência

metalinguística, permitirá ao professor de Português cumprir o seu papel fundamental:

contribuir para o desenvolvimento linguístico harmonioso dos seus alunos,

proporcionando-lhes o prazer de brincar com a linguagem, guiando-os na descoberta

que é conhecer a língua e levando-os a explorar os múltiplos aspectos de que se reveste

o uso criativo que dela fazemos.” (op. cit.: 121).

Defendo, assim, que o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva sobre a

língua e o seu funcionamento deverá decorrer de um trabalho laboratorial, em que a sala

de aula é transformada numa oficina gramatical, baseada no método da descoberta e da

reflexão (cf. Duarte 1992). Este tipo de trabalho permitirá promover o desenvolvimento

de competências linguísticas e aperfeiçoar as práticas de uso da língua em situações

concretas do dia-a-dia.

Em suma, considero que cabe à escola, e em especial ao professor de Língua

Portuguesa, criar condições para que os alunos possam reflectir sobre a estrutura e o

funcionamento da língua, tendo perante esta uma atitude crítica e objectiva.

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1.1. Objectivos do projecto

Este trabalho tem como objectivo principal contribuir para o estudo dos modos

indicativo e conjuntivo em subordinadas completivas do português, no que diz respeito

aos factores que determinam a selecção do modo na encaixada (propriedades do verbo

matriz e/ou negação frásica superior) e às relações temporais estabelecidas entre os dois

domínios oracionais (frase matriz e frase encaixada). Visando a prossecução deste

objectivo, a investigação apresentada consiste na aplicação de testes sobre as

estruturas-alvo, de modo a verificar o desempenho dos sujeitos ao nível da produção e

da avaliação dessas estruturas. Assim, este projecto de investigação visa igualmente

descrever e analisar comparativamente o desempenho de dois grupos de sujeitos,

pertencentes a níveis de escolaridade distintos (10º e 12º anos), numa perspectiva de

abordagem da influência da progressão escolar no desempenho linguístico dos sujeitos.

1.2. Distribuição do indicativo e do conjuntivo em completivas verbais do português

Esta secção destina-se a descrever e a enquadrar na bibliografia disponível o tema do

presente projecto de investigação: os modos indicativo e conjuntivo em completivas

verbais objecto do português. Assim, apresenta-se, em primeiro lugar, uma breve

descrição das estruturas na gramática do adulto (secção 1.2.1.), seguida de uma revisão

bibliográfica das principais propostas que versam sobre algumas questões relacionadas

com o tópico em análise (secção 1.2.2.).

1.2.1. Breve descrição das estruturas na gramática-alvo

Procede-se na presente secção a uma breve descrição dos dados da gramática do adulto

relativos à temática abordada neste projecto de investigação. Neste intuito, são

primeiramente caracterizados os modos indicativo e conjuntivo, relativamente às noções

semânticas que lhes são tradicionalmente associadas e aos seus contextos de ocorrência.

Seguidamente, estabelece-se a distinção entre os dois processos de formação de

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unidades complexas, nomeadamente a coordenação e a subordinação, sendo este último

alvo de uma descrição detalhada no que diz respeito às orações subordinadas

completivas verbais. No âmbito destas orações, é abordada a selecção do modo na

encaixada, descrevendo-se, a este propósito, dois dos factores determinantes: (i) as

propriedades do verbo matriz e (ii) a ocorrência de um marcador de negação frásica na

frase superior. Por último, é apresentado outro aspecto relevante das orações

completivas: as relações temporais estabelecidas entre a oração matriz e a encaixada.

O modo indicativo é tradicionalmente associado à certeza, aos factos reais e às verdades

intemporais. Considerado também um modo autónomo, ocorre sobretudo em frases

simples (cf. (1)) e na oração matriz de frases complexas (cf. (2)).

(1) Eles foram visitar os avós.

(2) O João disse que o irmão está na escola.

Descrito geralmente em oposição ao indicativo, o modo conjuntivo exprime

tradicionalmente eventualidade, hipótese, irrealidade, possibilidade, dúvida, vontade e

ordem. Embora possa surgir em frases simples, nomeadamente em frases optativas e em

imperativas negativas, como se verifica em (3), o conjuntivo é o modo por excelência da

subordinação, como se observa em (4).

(3) a. Oxalá a operação corra bem.

b. Não faças nenhuma asneira!

(4) a. Lamento que não tenhas dito a verdade.

b. Quero que digas a verdade.

A subordinação é um mecanismo de formação de frases em que uma frase é dependente

sintáctica e semanticamente de um constituinte da frase matriz. As frases subordinadas

são, assim, frases encaixadas em frases superiores (cf. (5)). Por oposição, a coordenação

frásica é um processo de formação de frases, em que duas frases são autónomas, dado

que nenhuma desempenha qualquer função sintáctica relativamente à outra (cf. (6)).

(5) Os jovens desejam que os pais os compreendam.

(6) Ela estudou mas não teve boa nota.

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No caso da subordinação completiva, objecto de estudo desta dissertação, a oração

encaixada é seleccionada como argumento por um núcleo lexical (verbo, adjectivo ou

nome) que ocorre na frase matriz. Por conseguinte, existem três tipos de completivas:

verbais (cf. (7)), adjectivais (cf. (8)) e nominais (cf. (9)).

(7) A Rita disse que gostava de música clássica.

(8) É possível que o Pedro chegue hoje.

(9) É uma certeza que o desemprego aumentará.

Quando os verbos da completiva ocorrem no indicativo ou no conjuntivo, são frases

completivas finitas; quando os mesmos ocorrem no infinitivo, flexionado ou não

flexionado, são completivas não finitas. Os exemplos que se seguem ilustram estes dois

tipos de completivas:

(10) Eles querem que os amigos venham à festa.

(11) Os pacientes desejam ser atendidos rapidamente.

Considerando-se para este estudo apenas as completivas finitas verbais, importa

salientar a importância do complementador que, na medida em que introduz a maioria

das orações subordinadas. As completivas verbais podem manter com o núcleo que as

selecciona a relação gramatical de objecto directo e, neste caso, são seleccionadas como

argumento interno, podendo ser substituídas pelos pronomes demonstrativos invariáveis

isto, isso e -o, em posição pós-verbal, como se exemplifica em (12) e (13):

(12) a. A Andreia sabe que o resultado do exame já saiu.

b. A Andreia sabe isto. / A Andreia sabe-o.

(13) a. Lamento que o carro esteja avariado.

b. Lamento isso. / Lamento-o.

Os verbos da oração principal assumem grande importância na selecção do modo nas

completivas, pois das suas propriedades depende a selecção do indicativo ou do

conjuntivo na encaixada. Assim, o indicativo ocorre nas completivas seleccionadas por

predicados assertivos (cf. (14)), isto é, por predicados que exprimem asserções, como

verbos epistémicos, que exprimem conhecimento e crença (achar, saber, considerar,

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pensar), declarativos, que exprimem declarações e afirmações (afirmar, concluir,

declarar, dizer, prometer) e perceptivos, que exprimem sensações (ouvir, sentir, ver).

Estes predicados admitem coordenações adversativas ou rectificativas que afectem as

completivas que deles dependem (cf. (15)) e permitem ainda réplicas elípticas

correspondentes à polaridade da frase superior ou à polaridade da completiva (cf. (16)) –

cf. Duarte (2003).

(14) O treinador afirmou que gostou do desempenho da equipa.

(15) Sei que o Rui pratica ténis, mas (pratica) poucas vezes.

(16) a. Reparei que a Helena não se inscreveu no curso.

b. Eu também (= reparei que a Helena não se inscreveu no curso).

c. Eu também não (= me inscrevi no curso).

O conjuntivo, por seu turno, é seleccionado por predicados não assertivos que, ao invés

dos referidos anteriormente, não introduzem asserções, mas exprimem avaliações ou

acrescentam informações independentes da própria asserção. São exemplo destes

predicados verbos declarativos de ordem, que expressam ordens e pedidos (ordenar,

pedir), factivos, que pressupõem a verdade da oração complemento (lamentar, gostar),

volitivos e optativos, que expressam vontade e desejo (desejar, querer, detestar), e

causativos, que expressam permissão e obrigação (deixar, fazer). A este propósito,

vejam-se as frases (17) e (18):

(17) Lamento que o António tenha caído de mota.

(18) Os professores desejam que os alunos tenham bons resultados.

(19) *Lamento que a Inês visite os avós, mas (visite) poucas vezes.

(20) a. Espero que o João não tenha enviado o trabalho.

b. Eu também (= espero que o João não tenha enviado o trabalho).

c. *Eu também não (= enviei o trabalho).

Pelo contraste entre (15) e (19) e entre (16) e (20), verificamos, em primeiro lugar, que

os predicados não assertivos, ao contrário dos assertivos, não admitem coordenações de

tipo adversativo ou rectificativo e, em segundo, permitem apenas respostas que

correspondem à polaridade da frase superior (cf. Duarte 2003).

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Existem ainda verbos matriz de selecção modal dupla, ou seja, verbos que seleccionam

na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo (cf. (21) e (22)), como é o caso dos verbos

imaginar, acreditar e supor (entre outros), considerados como verbos que criam

mundos alternativos. A opção de um ou de outro modo decorre de diferentes intenções

do enunciador e acarreta interpretações semânticas distintas, no que diz respeito ao grau

de crença e à atribuição do valor de verdade à proposição encaixada.

(21) Nós acreditamos que a situação vai/ vá melhorar.

(22) Imagino que és/ sejas a minha nova colega.

No âmbito da selecção de modo do verbo encaixado, há a considerar, além das

propriedades dos verbos da oração superior, outro factor determinante – a presença de

um operador de negação frásica na oração superior. O elemento de negação frásica

superior pode, assim, induzir alterações no modo da encaixada, como acontece com

verbos epistémicos (como dizer, saber, achar) e verbos prospectivos (como prometer,

ameaçar), que na afirmativa seleccionam indicativo e que, sob o escopo da negação

superior, passam a seleccionar também o conjuntivo na completiva, como se

exemplifica em (23) e (24), respectivamente:

(23) a. Acho que o médico dá consulta amanhã.

b. Ele não acha que os filhos estão/ estejam no parque.

(24) a. A Alice promete que entrega a carta.

b. Não prometo que te vou / vá visitar.

Embora menos frequente, regista-se também no português o caso oposto, ou seja,

verbos que na afirmativa seleccionam conjuntivo e que, na presença do operador de

negação frásica superior, passam a seleccionar o indicativo. São disso exemplo os

verbos duvidar e negar (cf. (25)).

(25) a. A Teresa duvida que a polícia descubra a verdade.

b. O José não duvida que a Ana vem/ venha hoje.

Nestas estruturas de subordinação verbal assumem igualmente importância as relações

de (in)dependência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz.

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Quando ocorre o indicativo na encaixada, não se verificam restrições sobre o tempo

verbal da encaixada, pois o tempo verbal da oração completiva é, geralmente,

independente do da matriz, sendo possível o uso do presente, do passado ou do futuro,

como se verifica em (26):

(26) a. O Miguel diz que a Catarina {vai/ foi/ irá} às compras.

b. O Miguel disse que a Catarina {vai/ foi/tinha ido/ irá} às compras.

Esta situação de independência temporal é também possível com alguns verbos que

seleccionam o conjuntivo na encaixada, como acontece com o verbo lamentar:

(27) a. O João lamenta que o Sérgio {esteja/ ?estivesse/ tenha estado/ tivesse estado}

doente.

b. O João lamentou que o Sérgio {esteja/ estivesse/ tenha estado/ tivesse estado}

doente.

Com uma grande parte dos verbos que seleccionam o conjuntivo na encaixada, há

restrições temporais, na medida em que o tempo verbal da encaixada depende do da

oração superior. Assim, o tempo do verbo da oração matriz condiciona o tempo verbal

da completiva, admitindo-se apenas as combinações [pres/pres], como em (28a), e

[pas/pas], como em (28b).

(28) a. Ela quer que o Ricardo traga/ *trouxesse/ *trouxer uma encomenda.

b. Ela quis que o Ricardo trouxesse/ *traga/ *trouxer uma encomenda.

Nas situações em que se verifica independência temporal, o tempo da encaixada não

tem sempre como ponto de referência o tempo da oração principal; pode ter também

como referência o tempo de enunciação através do uso de advérbios como amanhã.

Neste caso, estabelece-se uma relação deíctica, em que o tempo da encaixada é posterior

ao momento da fala [pas/pres], como se verifica, por exemplo, com verbos epistémicos,

como afirmar (cf. (29)), com verbos de influência, como sugerir (cf. (30)), e com verbos

factivos, como lamentar (cf. (31)). Note-se que se encontram nesta situação verbos que

seleccionam quer o indicativo quer o conjuntivo.

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(29) A Ana afirmou que a Rita vai ao cinema amanhã.

(30) Ele sugeriu-me que vá ao médico amanhã.

(31) O Pedro lamentou que o Pedro vá amanhã para o estrangeiro.

Por sua vez, quando a encaixada é temporalmente dependente da matriz, não podem

ocorrer expressões temporais que localizem o estado de coisas expresso na referida

encaixada relativamente ao tempo da enunciação:

(32) *O João quis ir ao cinema amanhã.

Estas expressões temporais são, contudo, admitidas se o tempo da enunciação e o tempo

do evento coincidirem:

(33) O João quer ir ao cinema amanhã.

As frases com conjuntivo distinguem-se, ainda, das que integram o indicativo no que

diz respeito às propriedades do sujeito encaixado. Assim, em frases com o Indicativo, o

sujeito é obrigatoriamente disjunto quando está realizado lexicalmente (cf. (34)) e,

quando não se verifica a sua realização lexical (sujeito nulo), o sujeito é interpretado

como co-referente (cf. (35)); já o Conjuntivo, está associado preferencialmente a um

sujeito realizado lexicalmente e disjunto do sujeito matriz (cf. (36)). O fenómeno da

referência de sujeitos não será, no entanto, alvo de estudo nesta dissertação.

(34) [A Raquel]i acha que [ela]j/*i é uma boa amiga.

(35) [O Joaquim]i disse que [-]i/*j ia viajar.

(36) [A Maria]i quer que [ela]j/*i vá ao baile.

1.2.2. Revisão bibliográfica

Esta secção tem como objectivo apresentar uma revisão dos textos mais relevantes sobre

três tópicos relacionados com a distribuição do indicativo e do conjuntivo,

nomeadamente (i) as propriedades do verbo matriz e a selecção do modo na encaixada,

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(ii) os efeitos da negação matriz na selecção do modo da oração encaixada e (iii) as

relações temporais entre os dois domínios oracionais (matriz e encaixada).1

A apresentação das propostas disponíveis na literatura, que servirá de base para a

construção do estímulo (cf. Capítulo 2), é feita segundo uma ordem diacrónica, sendo

que, no ponto 1.2.2.1., são primeiramente apresentadas as propostas ou descrições

presentes nas gramáticas, seguindo-se as análises presentes noutros trabalhos. Na

descrição das diversas posições são sublinhados os pontos em comum, bem como as

diferenças que as separam, no intuito de estabelecer uma análise comparada das várias

propostas. No final de cada secção, é feita uma síntese das principais ideias defendidas.

1.2.2.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo

Em Soares Barbosa (1822), o conjuntivo é apresentado em clara oposição ao indicativo,

associando-se o primeiro à dependência temporal e o segundo à independência. A

caracterização semântica e sintáctica do indicativo aponta-o como um modo autónomo,

absoluto e subordinante. A esta caracterização opõe-se a descrição do conjuntivo, que

exprime a incerteza e a indecisão, sendo um modo subordinado ao verbo da oração

superior e, consequentemente, fortemente determinado pelo mesmo. Daí que se afirme

que “O seu carácter próprio é não poder figurar só no discurso sem dependência de

outra oração clara ou occulta, a que fique subordinada sempre, e ligada ordinariamente

pelo conjuntivo «que».” (op. cit.: 139).

A natureza subordinada do conjuntivo é também reforçada por Epiphanio da Silva Dias

(1917), embora na sua gramática este autor distinga o emprego independente do

conjuntivo em orações principais e o seu emprego dependente em orações subordinadas.

Procede-se, assim, à distinção entre estes dois tipos de orações e, no que diz respeito às

orações principais, o autor afirma que, nestas construções, o conjuntivo se emprega de

modo independente, exprimindo noções imperativas e de ordem. O autor acrescenta que

este modo pode também exprimir um desejo, através das expressões oxalá, quem dera

ou tomara, designando-o, por isso, de conjuntivo optativo; pode ainda traduzir uma

1 A distribuição do indicativo e do conjuntivo não se esgota nestes tópicos. A selecção dos mesmos para a elaboração desta secção prende-se com o facto de serem estes os aspectos em análise na presente dissertação.

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hipótese ou uma possibilidade, na presença de talvez ou quiçá, considerando-o neste

caso como um conjuntivo potencial. Por último, segundo o autor, o conjuntivo figura

igualmente nas disjunções formadas por expressões correlativas como quer-quer e ou-

ou. Em (37) encontra-se exemplificado o conjuntivo optativo:

(37) Oxalá nunca saibas quão intenso e atroz é o meu tormento.

(Herc., Eur., 48, apud op. cit.: 203)

No que concerne às orações subordinadas, são abordadas as orações substantivas,

relativamente às quais se expressam as noções semânticas veiculadas pelos verbos da

oração matriz e pelas locuções que seleccionam a presença do conjuntivo. Assim,

incluem-se no grupo de verbos que seleccionam o conjuntivo os que exprimem a ideia

de fazer ou impedir (verbos fazer, conseguir, pedir, exigir, aconselhar, votar, ordenar,

proibir, conceder, consentir, desejar), de admiração, contentamento ou

descontentamento (verbo admirar-se), de dúvida (verbo duvidar) e de temer ou esperar

(verbos temer, esperar), como se ilustra em (38):

(38) [Abrahão] temeo que como mulher, e mãe, [Sara] não tivesse valor para consentir

no sacrifício.

(Vieira, I: 603, apud id.: 206)

À semelhança do autor anterior, Epiphanio da Silva Dias (1917) também faz alusão à

importância da conjunção que como um elemento introdutor do modo conjuntivo,

embora refira que, por vezes, esta se encontra ausente.

Tal como em Soares Barbosa (1822), o modo conjuntivo em Cunha e Cintra (1984)

surge em contraste com o indicativo. Os autores defendem que, enquanto o indicativo

exprime a certeza e a realidade, o conjuntivo toma os factos como incertos, duvidosos,

eventuais ou irreais. Estabelecem dois princípios gerais que apresentam os contextos de

uso do indicativo e do conjuntivo nas orações subordinadas substantivas:

“1º O INDICATIVO é usado geralmente nas orações que completam o sentido de

verbos como afirmar, compreender, comprovar, crer (no sentido afirmativo), dizer,

pensar, ver, verificar.

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2º O CONJUNTIVO é o modo exigido nas orações que dependem de verbos cujo

sentido está ligado à ideia de ordem, de proibição, de desejo, de vontade, de súplica, de

condição e outras correlatas. É o caso, por exemplo, dos verbos desejar, duvidar,

implorar, lamentar, negar, ordenar, pedir, proibir, querer, rogar e suplicar. ” (op. cit.:

464).

Também como Epiphanio da Silva Dias (1917), Cunha e Cintra (1984) estabelecem

uma distinção na utilização do conjuntivo em orações principais e em subordinadas, da

qual deriva a noção de conjuntivo independente e de conjuntivo subordinado,

respectivamente. O conjuntivo independente está associado à expressão de desejo, de

concessão, de dúvida, de ordem e de indignação do enunciador, enquanto o conjuntivo

subordinado ocorre em orações substantivas que dependem de verbos da oração matriz

que exprimem vontade, sentimento, dúvida e receio, respectivamente exemplificados

em (39) e (40):

(39) Chovam hinos de glória na tua alma!

(Quental 1890: 35, apud id.: 465)

(40) Em todo o caso, gostava que me considerasse um amigo.

(Carvalho 1978: 119, apud id.: 466)

Bechara (1999) sistematiza os principais casos de ocorrência do conjuntivo nas orações

subordinadas substantivas em termos de denotação semântica. Ordem, vontade,

consentimento, aprovação, proibição, receio, desejo, probabilidade, necessidade,

utilidade, dúvida, suspeita, desconfiança são os valores expressos nas frases em que se

utiliza este modo. Além desta situação, afirma-se que o conjuntivo surge depois dos

verbos duvidar, suspeitar e desconfiar em frases afirmativas. No seu conjunto, Bechara

(1999) considera as orações subordinadas com conjuntivo como aquelas em que “o

facto é considerado como incerto, duvidoso ou impossível de se realizar” (op. cit.: 280).

Embora tenhamos de ter em conta a distância entre as línguas portuguesa e espanhola, é

interessante verificar que Ridruejo (1999) fornece elementos importantes para a

discussão sobre a selecção do modo em orações subordinadas completivas. Este autor

centra a sua atenção nos critérios que determinam a ocorrência do modo indicativo ou

do modo conjuntivo, quer quando um deles é obrigatório, quer quando é possível a sua

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alternância. No primeiro caso, não atribui a ocorrência obrigatória do modo apenas ao

verbo da oração principal, mas reconhece o papel determinante de outros elementos

lexicais do predicado superior e de indutores negativos.

No plano semântico, e de acordo com Ridruejo (1999), produz-se asserção sobre a

verdade da oração subordinada quando o modo indicativo é obrigatório; quando os

verbos matriz são não assertivos, o modo conjuntivo é obrigatório e não se assume a

verdade da oração complemento, sendo esta apresentada apenas como provável ou

possível, como acontece com os predicados volitivos (como os verbos desear e querer).

No entanto, ao contrário do que supostamente era esperado, existem contextos de

conjuntivo que pressupõem a verdade da proposição encaixada, como acontece com

predicados causativos (como o verbo conseguir) ou com alguns verbos factivos (como o

verbo lamentar). No que diz respeito à alternância de modos na oração subordinada

completiva, o autor salienta os verbos criadores de mundos, como os verbos imaginar e

suponer, que expressam circunstâncias diferentes da realidade de enunciação, e os

verbos de expectativa, como o verbo esperar, que significa não só vontade, mas

também expectativa ou previsão sobre a proposição complemento. Nestas situações em

que, com o mesmo predicado, é possível a selecção dos dois modos, Ridruejo (1999)

assinala a asserção como função do indicativo e a não asserção como o significado do

conjuntivo. Contudo, ressalva que “ En algunas construcciones hay que entender la

ausência de aserción no de manera absoluta, en el sentido de que no queda aseverada

la verdad de la proposición subordinada, sino solo como ausência de aserción

independiente, por la cual la idea verbal no está actualizada o concretada al margen de

lo indicado en el predicado superior.” (op. cit.: 3249).

Ridruejo (1999) alerta-nos, portanto, para a complexidade de que se reveste o emprego

dos modos verbais em orações subordinadas completivas, contribuindo, por isso, para

uma distinção mais consistente entre o indicativo e o conjuntivo, uma vez que não se

limita à enunciação dos verbos que seleccionam conjuntivo e à utilização de critérios

meramente nocionais. O autor afirma que a literatura espanhola que tem versado sobre

este assunto associa, no geral, o modo indicativo à realidade, à objectividade e à

actualidade, face ao conjuntivo, que, por oposição, se relaciona com a irrealidade, a

subjectividade e a futuridade indefinida, sendo o verbo superior apresentado pela

maioria dos gramáticos como o factor determinante da selecção modal na oração

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subordinada. Não descurando esta caracterização, que vai, em parte, ao encontro da tese

asserção vs não asserção, Ridruejo (1999) tenta mostrar, agrupando predicados segundo

o modo da encaixada, que existem mais factores envolvidos na selecção de modo além

do significado do verbo subordinante, como a presença de certos elementos lexicais

integrados na oração superior e elementos de negação.

Em Oliveira (2003) esta questão é abordada como um assunto complexo e

problemático. Ainda que identifique grupos de verbos que seleccionam o modo

indicativo e grupos que exigem o modo conjuntivo, a autora não encontra nestes verbos

traços semânticos comuns que permitam justificar a ocorrência de um dos modos com

base exclusivamente em distinções modais. Como afirma a mesma (op. cit.: 257 e 258),

“Não existe correspondência unívoca entre os dois modos e distinções modais, pois a

cada modo pode associar-se mais do que uma modalidade.”. Para comprovar este facto,

a autora assinala o uso do conjuntivo com o verbo factivo lamentar e o uso do

indicativo com o verbo de crença crer através dos exemplos (41) e (42),

respectivamente:

(41) A Ana lamenta que estejas doente.

(id.: 258; (30))

(42) O Rui crê que a Rita está em casa.

(id.: 258; (31))

No exemplo (41) é afirmada a verdade da proposição e no exemplo (42) a situação é

inversa. Deste modo, na encaixada da primeira frase esperar-se-ia a ocorrência do

indicativo e na encaixada da segunda esperar-se-ia a presença do conjuntivo. Oliveira

(2003) afirma, pois, que estas ocorrências vão de encontro às associações tradicionais

do conjuntivo à incerteza e irrealidade e do indicativo à certeza e à realidade.

Oliveira (2003) refere, ainda, a selecção dos dois modos na encaixada pelo mesmo

verbo matriz, nomeadamente por verbos criadores de mundos alternativos (como os

verbos admitir, imaginar, pensar, supor, assumir, calcular, acreditar, julgar, presumir,

suspeitar; cf. (43)), ocorrência esta que, segundo a autora, contradiz, de novo, o facto de

o conjuntivo ser tradicionalmente considerado como o modo da irrealidade.

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(43) Imagino que gostas/gostes de ir ao cinema.

(id.: 260; (45))

Como resposta ao problema de não existir uma relação directa entre a selecção do modo

e diferentes tipos de modalidade, Duarte (2003), na sequência de Hooper (1975) e de

Bosque (1990b), distingue entre predicados assertivos e predicados pseudo-assertivos,

aos quais estão associados o indicativo e o conjuntivo, respectivamente. Os primeiros,

como o próprio nome indica, introduzem uma asserção, permitindo, como

exemplificado em (44), coordenações de tipo adversativo ou rectificativo que afectem as

completivas que deles dependem:

(44) Sei que ele vem visitar-nos, mas (vem) sozinho.

(op.cit.: 604; (28a))

Os predicados assertivos admitem, ainda, réplicas elípticas correspondentes à polaridade

da frase superior ou à polaridade da completiva, como se verifica em (45):

(45) a. Sei/ reparei/ creio que a Maria ainda não concluiu o relatório.

b. Eu também (= sei/ reparei/ creio que a Maria ainda não concluiu o relatório).

c. Eu também não (= concluí o relatório).

(id.: 604; (30))

Os predicados pseudo-assertivos utilizam-se para “exprimir avaliações ou para

acrescentar conteúdos independentes da própria asserção, uma vez que os mesmos se

encontram já pressupostos nesta” (id.:603) e, ao contrário dos assertivos, não admitem

coordenações de tipo adversativo ou rectificativo (cf. (46)), permitindo apenas respostas

fragmentárias correspondentes à polaridade da frase matriz (cf. (47)).

(46) *Lamento que ele venha visitar-nos, mas (venha) sozinho.

(id.: 604; (29a))

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(47) a. Lamento/ espero que a Maria ainda não tenha concluído o relatório.

b. Eu também (= lamento/ espero que a Maria ainda não tenha concluído o

relatório).

c. *Eu também não (= não concluí ainda o relatório).

(id.: 604; (31))

No caso da presença opcional de indicativo ou de conjuntivo na encaixada, Duarte

(2003) afirma que “ (…) a selecção do conjuntivo exprime maior distância do locutor

relativamente à verdade do conteúdo proposicional da frase completiva.” (id.:605).

Esta questão da selecção do modo em orações completivas é igualmente explorada em

outros estudos linguísticos, elaborados em diversos quadros teóricos.

Faria (1974) mostra que o conjuntivo, enquanto elemento de uma estrutura de

complementação, resulta de restrições impostas pelos verbos mais altos, que

estabelecem vários graus de asserção mental (verbos de asserção mental fortes e médios

e verbos declarativos de ordem médios e fracos), correspondendo, assim, a diferentes

tipos de verbos com características semânticas específicas. Esta graduação semântica

dos verbos superiores é derivada do facto de estes imporem aos verbos da oração

subordinada dois tipos de restrições: qualificadoras (selecção de um único modo como

complementador) e quantificadoras (selecção de dois modos, sendo que a ocorrência de

um ou de outro origina interpretações semânticas distintas). Relativamente a estas

últimas, são identificados os verbos de asserção mental fracos (acreditar, assumir, crer,

ignorar, imaginar, julgar, prever, supor, etc.) como aqueles que seleccionam os dois

modos, embora a interpretação semântica não seja idêntica quando ocorre um e quando

ocorre outro. Assim, a autora considera que, quando o enunciador pressupõe a verdade

da frase complemento, ocorre indicativo; quando pressupõe um potencial de verdade da

frase complemento, surge o conjuntivo.

Além destes dois tipos de restrições, Faria (1974) aponta igualmente a negação como

outro operador condicionador do conjuntivo (cf. secção 1.2.2.2.). Assim, a autora

defende que não há conjuntivo independente, pois “quando não depende de restrições

impostas pelos verbos superiores, ele depende de qualquer forma, de elementos

pertencentes ou introduzidos na frase mais-alta.” (op. cit.: 104).

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No âmbito do estudo do conjuntivo em espanhol, Bosque (1990b) tem como objectivos

centrais a alternância indicativo-conjuntivo e os factores que determinam a sua

ocorrência. Sem descurar as noções semânticas normalmente associadas ao conjuntivo

(incerteza, hipótese, eventualidade, prospecção), o autor sublinha a importância dos

aspectos sintácticos na selecção do modo. Para o autor, semântica e sintaxe devem,

portanto, estar interligadas. Assim, Bosque (1990b) estabelece a distinção entre

predicados assertivos e predicados factivos, afirmando que se trata de diferentes tipos de

subordinação. Os predicados assertivos exprimem afirmações e declarações e, segundo

o autor, são relativamente independentes da própria asserção. Dado que a oração

subordinada é o âmbito da asserção, estes predicados permitem coordenações

adversativas ou rectificativas que afectem as completivas que deles dependem. Assim,

em (48), verifica-se que a oração adversativa ou rectificativa tem como ponto de

referência ou de contraste a própria oração subordinada:

(48) Creo que vendrá a verte, pero solo.

(op.cit.: 30; (21a))

Sintacticamente diferentes, os predicados factivos não têm um âmbito assertivo e

avaliam conteúdos que são independentes da própria asserção, pois esta já está

pressuposta. A este propósito, veja-se o exemplo presente em (49), cujo verbo matriz é

o verbo factivo lamentar:

(49) Lamento que Pepe no hubiera redactado el informe.

(id.: 31; (25))

Como já referido anteriormente, estes conceitos são retomados por Ridruejo (1999) e

por Oliveira (2003), integrados em gramáticas do Espanhol e do Português,

respectivamente.

Associada à noção de asserção, Bosque (1990b) aborda a questão da selecção modal

dupla, tópico que é assumido como problemático, uma vez que, geralmente, na literatura

relevante são refutadas as teorias semânticas que apoiam a existência de homonímia e é

defendido que a ocorrência de um ou de outro modo acarreta alterações de significado,

logo, de polissemia. A título de exemplo, o autor aponta os verbos de (50) e (51), que

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seleccionam ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada, consoante o grau de asserção

que veiculam:

(50) Dile que tiene/tenga valor.

(id.: 45; (46a))

(51) Insisto en que lo hace/haga mejor.

(id.: 45; (46b))

Conclui-se que a selecção dupla está relacionada com o conceito de asserção e que

determinadas partículas lexicais, como o advérbio ya, dada a sua natureza discursiva,

introduzem enunciados de tipo confirmativo e admitem uma interpretação semântica

compatível apenas com o indicativo. Veja-se o exemplo (52a), em que ambos os modos

podem ser seleccionados na encaixada; contudo, em (52b) verifica-se que da presença

do conjuntivo na encaixada decorre a agramaticalidade da frase, pois o advérbio ya

pressupõe a apresentação ou o conhecimento de alguma situação anterior.

(52) a. Compreendo que necesitas/ necesites tiempo.

(id.: 47; (49a))

b. Ya compreendo que necesitas/ *necesites tiempo.

(id.: 47; (49b))

Bybee & Terrell (1990) analisam o modo em Espanhol sob uma perspectiva semântica.

Começam por demarcar as diferenças que separam a análise sintáctica da análise

semântica: numa perspectiva sintáctica, a escolha do modo é determinada por um

sintagma da frase superior; numa perspectiva semântica, a escolha do modo do verbo

subordinado está relacionada com a atitude do falante. Na esteira de Bosque (1990b),

estes autores associam o conceito de asserção ao indicativo e, concretamente, às orações

substantivas. Por conseguinte, associam o conjuntivo à não-asserção, nomeadamente a

três tipos de não-asserção: dúvida, comentário ou ordem. Assim, as orações que

expressam dúvida sobre a validade de uma proposição constroem-se com verbos como

duvidar e negar, como se apresenta em (53):

(53) Dudo que hayan terminado ya.

(op. cit.: 152; (25))

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No caso das orações que expressam comentário, o falante pressupõe que a proposição é

verdadeira, logo, não afirma, apenas opina sobre a proposição. É o que acontece nos

contextos de verbos como alegrarse, em que se expressa um estado de felicidade (cf.

(54)).

(54) Me alegro de que Maria haya podido acabar a tiempo.

(id..: 152; (28))

Por último, nas orações subordinadas de ordem, que expressam valores de vontade,

persuasão ou influência, ocorrem verbos como querer, preferir, aconsejar, permitir. Em

termos sintácticos, as orações que expressam ordem diferenciam-se das restantes pelo

facto de o seu complemento oracional se localizar num intervalo de tempo posterior ao

do momento da fala, como ilustrado em (55):

(55) Quiero que nos quedemos un rato más.

(id..: 151; (22))

Bybee & Terrell (1990) concluem que as características sintácticas das orações são uma

consequência directa das propriedades semânticas das mesmas, no sentido em que “las

propriedades semânticas preceden a las sintácticas.” (op. cit.: 154).

Marques (1995) analisa a distribuição dos modos conjuntivo e indicativo baseando-se

em critérios semânticos. Neste trabalho, é feita uma descrição dos contextos de

ocorrência do conjuntivo e atribui-se especial ênfase às orações completivas finitas por

constituírem uma questão pouco consensual no que concerne à selecção do modo. Neste

âmbito, são listados os verbos da oração matriz que seleccionam o modo indicativo,

bem como os que regem o modo conjuntivo ou ambos os modos, de forma a encontrar

nesses conjuntos traços semânticos comuns. Porém, depois de apresentadas e discutidas

as propostas disponíveis na literatura sobre o assunto (asserção/não-asserção; graus de

crença; veridicalidade), Marques (1995) conclui que, embora essas propostas

contenham alguns dados relevantes, não esclarecem todas as ocorrências dos dois

modos. O exemplo clássico do verbo factivo lamentar continua a constituir uma

situação particular, uma vez que, como a oração complemento é assumida como

verdadeira, seria de esperar a presença do indicativo e não a do conjuntivo. Por outro

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lado, nas orações completivas com os verbos ameaçar e prometer, uma vez que a

proposição da oração encaixada não é tida como verídica, justificar-se-ia a presença do

conjuntivo, o que não acontece.

Com o intuito de encontrar uma solução plausível para estas duas situações

problemáticas, Marques (1995) apresenta uma hipótese alternativa, defendendo que o

indicativo é o modo marcado porque se associa a atitudes epistémicas de conhecimento

ou de crença; identificam-se, deste modo, traços semânticos comuns no tipo de atitude

expressa pelo verbo da frase matriz. O conjuntivo, por seu turno, não está associado a

valores específicos, assumindo-se como o modo não marcado, que ocorre nos contextos

de que está excluído o indicativo.

Contrariando a perspectiva anterior e as tradicionais dicotomias sintácticas

(independente/ dependente) e semânticas (real/irreal; assertivo/ não assertivo; marcado/

não marcado) que distinguem os modos indicativo e conjuntivo, Oliveira (2000) adopta

uma perspectiva enunciativa, apoiando-se no Quadro da Teoria das Operações

Predicativas e Enunciativas de Culioli. A Situação de Enunciação (Sit) – coordenadas

enunciativas que localizam a referência de um enunciado – e a relação predicativa

(relação binária entre o operador de predicação e os argumentos do conteúdo

preposicional) são os dois conceitos fundamentais desta análise, uma vez que, da sua

relação, resulta o valor modal de um enunciado. Nesta perspectiva, acrescenta-se ainda

que “Enquanto marcador de valores modais, o conjuntivo está relacionado com o

parâmetro subjectivo da enunciação e marca a forma como o sujeito enunciador assume

a validação da relação predicativa.” (op. cit.:109).

A autora expõe três tipos de Modalidade: a Modalidade Epistémica, a Modalidade

Apreciativa e a Modalidade Intersujeitos e, para cada um destes casos, especifica-se a

ocorrência do indicativo e do conjuntivo.

A Modalidade Epistémica expressa o grau de conhecimento do enunciador em relação

ao conteúdo proposicional e estabelece uma escala de valores assertivos, cabendo ao

indicativo valores de asserção estrita e de asserção intermédia, ao passo que ao

conjuntivo são associadas as situações de diversos graus de incerteza porque “é

incompatível com a assunção da validação da relação predicativa em Sit0.” (id.: 109). A

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Sit0 é entendida como a situação de enunciação de origem que localiza a construção do

enunciado. Os exemplos que se seguem ilustram esta situação:

(56) Acho/ Penso/ Suspeito/ Desconfio que o Rui chumbou.

(id.: 109; (14))

(57) É possível/ É provável que o Rui tenha chumbado.

(id.: 110; (16))

Com o segundo tipo de Modalidade apresentado, a Modalidade Apreciativa, emite-se

um juízo de valor ou um comentário apreciativo a uma relação predicativa validada.

Neste caso, o indicativo assume um valor assertivo na mesma enunciação (cf. (58)) e o

conjuntivo ocorre quando a relação predicativa é apresentada como validada ou

não-validada numa situação distinta de Sit0 (cf. (59)) ou em Sit0 (cf. (60)):

(58) Ainda bem que o Rui passou.

(id.: 110; (25))

(59) Lamento que o Rui tenha chumbado.

(id.: 110; (20))

(60) Gostava muito que o Rui passasse de ano.

(id.: 110; (23))

Por último, a relação de acção e de influência do sujeito enunciador sobre o

comportamento do sujeito do enunciado é expressa pela Modalidade Intersujeitos,

característica do conjuntivo por se construir uma relação predicativa como validável ou

não-validável em Sit0, traduzindo ordens, pedidos, desejos, permissões. Exemplificam

esta modalidade as frases (61) e (62):

(61) Acho bem que arrumes o quarto.

(id.:111; (28))

(62) Não compres esse livro.

(id.: 111; (29))

Oliveira (2000) mostra-nos, assim, como a teoria culioliana rejeita por completo a

afirmação de que o conjuntivo não tem valores modais específicos e defende que

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“Todas as formas são marcadores de operações abstractas subjacentes.” (id.: 107), pois,

com este modo, o falante, depois de encarar todos os valores possíveis, selecciona

apenas um deles.

Sintetizando, em todas as gramáticas há uma nítida oposição entre os modos indicativo

e conjuntivo, uma dicotomia marcadamente semântica que separa a realidade e a certeza

da irrealidade e da dúvida. Outra das noções que lhes é transversal é o facto de o

conjuntivo ser considerado por excelência o modo da subordinação e,

consequentemente, um modo dependente e determinado. Todavia, continuam a existir

casos problemáticos a que a tese certeza/ incerteza não consegue dar resposta, como a

presença do conjuntivo com o verbo factivo lamentar, um verbo que, por afirmar a

verdade da proposição da encaixada, deveria seleccionar indicativo, bem como a

selecção do indicativo com verbos matriz como crer e prometer, que, ao assumirem a

verdade da oração complemento, deveriam admitir, nesta oração, o conjuntivo. Por sua

vez, a selecção modal dupla na encaixada é outra questão pouco explorada na literatura

que versa sobre este assunto, sobretudo no que diz respeito aos critérios que estão na

base da selecção de cada um dos modos.

A necessidade de responder a estas questões encontra-se subjacente a diferentes estudos

linguísticos, em que se procede, em geral, a uma análise mais fundamentada que

procura definir os critérios que estão na base da selecção modal em completivas e

identificar as propriedades semânticas e/ou sintácticas destas construções e/ou dos

verbos envolvidos. As principais propostas distinguem o comportamento dos dois

modos através de aspectos como asserção/não asserção, marcado/ não marcado,

veridicalidade, entre outros.

1.2.2.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada

De entre os critérios que presidem à escolha do modo na oração completiva, a classe

semântica do verbo da oração matriz tem sido o mais estudado na literatura. A negação,

porém, tem sido assinalada como outro factor que condiciona fortemente o modo na

oração encaixada.

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De entre os gramáticos consultados que seguem a tradição greco-latina, apenas

Epiphanio da Silva Dias (1917) reconheceu a importância da negação na oração matriz

como elemento indutor do modo conjuntivo. O autor assume que o verbo duvidar, sob o

efeito da negação, pode seleccionar o modo indicativo na completiva; por outro lado,

indica que os verbos que exprimem a ideia de pensar, saber ou perceber, o verbo

parecer e os verbos que expressam a ideia de provar ou declarar, sempre que sejam

introduzidos por um elemento negativo, exigem na subordinada o modo conjuntivo.

Como atesta o exemplo (63a), o verbo superior dizer selecciona em frases afirmativas o

indicativo, mas na presença da negação frásica, como em (63b), passa a seleccionar

conjuntivo:

(63) a. Quer dizer o Apostolo que não é/ era verdadeira história.

b. Não quer dizer o Apostolo que não fosse verdadeira história.

(Vieira, I, 598, apud op. cit. 1917: 209)

Numa exposição mais fundamentada, Faria (1974) associa a negação a verbos de

asserção mental (como é o caso dos verbos imaginar, acreditar, pensar e supor) por

admitirem ambos os modos na completiva. Comparando a sua posição com a defendida

por Rivero (1970) e por Raposo (1973), toma como exemplo as frases:

(64) Ela não imagina que as pastilhas elásticas fazem mal aos dentes.

(Faria 1974: 43; (1))

(65) Ela não imagina que as pastilhas elásticas façam mal aos dentes.

(op. cit.: 43; (2))

Esta autora conclui que, como defendem Rivero (1970) e Raposo (1973), as duas

ocorrências do modo não derivam de uma opção; pelo contrário, resultam de uma

atitude do falante. No entanto, enquanto no caso da selecção do indicativo, Faria (1974)

concorda com o facto de existir por parte do falante uma pressuposição da verdade da

frase complemento, na presença do conjuntivo, não aceita a hipótese de o falante

assumir uma posição de neutralidade relativamente à oração completiva. Afirma que,

quando utiliza o conjuntivo, o falante pressupõe uma verdade potencial do

complemento, daí que considere que a diferença entre as duas ocorrências é uma

diferença modal entre o “ser” e o “poder ser”.

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A estes casos, acrescentam-se os verbos de asserção mental muito fracos (achar,

descobrir, fingir, saber, concluir) que, segundo a mesma autora, são os que evidenciam

mais explicitamente o Transporte da Negativa (processo em que o elemento de negação,

embora esteja na frase superior, afecta a frase encaixada, funcionando como

qualificador ou quantificador), dado que também seleccionam conjuntivo ao ocorrerem

sob o escopo da negação. Assim, de acordo com Faria (1974), a restrição sintáctica de

origem posicional que é instanciada pela introdução da negação na oração subordinada

sobrepõe-se à restrição semântica imposta pelo verbo mais alto.

No âmbito da selecção modal em orações completivas, Marques (1995) realça

igualmente a importância do operador de negação na frase superior, reconhecendo que a

sua presença pode alterar o modo na oração encaixada. Como o autor mostra, com

verbos de conhecimento – saber, descobrir, ignorar –, não se assiste a uma variação de

modo, estando o indicativo presente quer as frases sejam afirmativas, quer sofram a

influência da negação, uma vez que o enunciador conhece a verdade da proposição

complemento. Esta situação encontra-se abaixo exemplificada em (66), (67) e (68):

(66) Ela não sabe que ele fugiu para o estrangeiro.

(op. cit.: 125; (170a)

(67) Ela não descobriu que ele fugiu para o estrangeiro.

(id.: 125; (170b)

(68) Ela não ignora que ele fugiu para o estrangeiro.

(id.: 125; (170c)

O mesmo acontece com os verbos que na afirmativa seleccionam o conjuntivo, pois

mantêm esta propriedade de selecção na negativa, verificando-se esta situação em (69) e

(70):

(69) Ela não lamenta que o Paulo se tenha demitido.

(id.: 131; (182a))

(70) Ela não quer que o Paulo se demita.

(id.: 131; (182b))

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No entanto, segundo Marques (1995), os verbos duvidar e negar constituem uma

excepção e admitem na frase negativa o indicativo, na medida em que o sujeito passa a

crer na verdade da oração complemento, como o comprova o exemplo (71):

(71) O Paulo não duvida/ nega que a Ana está em Paris.

(id.: 131; (183))

Marques (1995) faz, ainda, notar que os verbos de selecção modal dupla que expressam

crença, como o verbo acreditar, exibem o mesmo comportamento quando há

interferência do elemento de negação, ou seja, mantêm a possibilidade de ocorrência

dos dois modos. Todavia, o autor coloca aqui uma ressalva – no caso de o sujeito da

frase matriz coincidir com o enunciador, o tempo do verbo da oração superior determina

o modo da completiva: quando aquele verbo surge no pretérito perfeito ou no pretérito

imperfeito do indicativo, selecciona-se o indicativo para a completiva, correspondendo

o primeiro ao intervalo de tempo em que se localiza a frase matriz e o segundo ao

intervalo de tempo em que se localiza a enunciação; quando o referido verbo ocorre no

presente do indicativo, admite-se apenas o conjuntivo na encaixada, por não haver um

estado de crença. Para comprovar estas afirmações, recorre aos seguintes exemplos que

ilustram estas duas situações:

(72) Eu não acreditei/acreditava que ele tinha/tivesse fugido para o estrangeiro.

(id.: 127; (172))

(73) Eu não acredito que ele fugisse/ ? fugiu para o estrangeiro.

(id.: 127; (171)).

Ainda de entre os verbos que exprimem uma atitude de crença, Marques (1995)

considera três outros grupos: (i) verbos pensar e achar, (ii) verbos declarativos, como

dizer, e (iii) verbos prospectivos, como prometer ou ameaçar. Todos eles seleccionam o

indicativo em frases afirmativas e, quando precedidos pela negação, passam a admitir

também o conjuntivo, acarretando uma alteração do grau de crença por eles veiculado.

Sob influência da negação frásica na oração matriz, verifica-se que, com os verbos do

primeiro grupo (pensar e achar), a selecção do conjuntivo se justifica pela ausência de

crença do sujeito na verdade da oração complemento (cf. (74)).

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(74) O inspector não acha que ele tenha fugido para o estrangeiro.

(id.: 128; (175))

Relativamente aos verbos do segundo grupo (dizer, entre outros), sublinha-se

novamente a influência do factor “tempo verbal” na selecção do modo, sendo o passado

o responsável pela presença do indicativo (cf. (75)) e o presente pela ocorrência do

conjuntivo (cf. (76)).

(75) (Eu) não disse/ não dizia que era urgente …

(id.: 129; (178))

(76) (Eu) não digo que seja urgente…

(id.: 129; (177)

Por último, os verbos do terceiro grupo (verbos prospectivos, como prometer ou

ameaçar) admitem o conjuntivo, pois, como se observa em (77), não se estabelece uma

relação de compromisso entre o sujeito e a verdade da proposição complemento.

(77) Não prometo que os livros cheguem a tempo.

(id.: 130; (180)).

Marques (1995) assere, assim, que a negação frásica altera o grau de crença dos verbos

epistémicos, alteração esta que, em determinados casos, é influenciada também pelos

valores temporais presentes no verbo da frase matriz.

No âmbito de uma análise sintáctica, Mendes (1996) assume explicitamente que não

concebe um estudo sobre o conjuntivo em completivas sem ter em conta a negação,

afirmando que “A negação é um elemento que desencadeia o uso do conjuntivo em

contextos em que a frase declarativa correspondente não o permite.”(op. cit.: 40). Centra

a sua análise nos verbos epistémicos e declarativos por exigirem o conjuntivo na frase

subordinada aquando da presença da negação na frase mais alta, defendendo que existe

uma relação directa entre a negação e o tempo nestas estruturas de complementação,

derivando tal relação do facto de que “a negação frásica deve expressar-se numa

posição mais alta que a posição estrutural de Tempo.” (id.:161).

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Adoptando a perspectiva assumida por Zanuttini (1994), Mendes (1996) defende que o

português é uma língua com traços de negação fortes, pelo que a negação, enquanto

categoria funcional, possui traços-V fortes e traços-N que estão ligados a uma projecção

de Tempo na posição de Comp. Consequentemente, o traço [T] da posição de Comp é

eliminado e “a referência temporal da oração subordinada fica dependente do Tempo da

oração superior.” (id.: 163), fazendo com que o verbo na encaixada ocorra no

conjuntivo.

Tal como Marques (1995) e Mendes (1996), Duarte (2003) destaca os verbos

declarativos e os verbos epistémicos como os mais sensíveis à negação da frase

superior, exemplificando com o verbo dizer, que admite o indicativo e o conjuntivo, e o

verbo pensar, que selecciona apenas o conjuntivo. Os exemplos relevantes apresentados

pela autora encontram-se, respectivamente, em (78) e (79):

(78) Não digo que ele saiba/sabe muito sobre fractais.

(op. cit.: 605; (36a)

(79) Não penso que ele que ele ainda chegue/* chega a tempo do jantar.

(id.: 605; (36b)

Quanto aos verbos que apresentam a possibilidade de selecção modal dupla na

encaixada quer em frases afirmativas quer em frases negativas, Duarte (2003) classifica

a escolha do conjuntivo como opcional, sendo essa escolha legitimada pela existência

de uma maior distância entre o locutor e a verdade da proposição da completiva.

Em síntese, a maioria dos gramáticos tradicionais não aflorou a questão da negação em

estruturas completivas e, apesar de Epiphanio da Silva Dias (1917) a ter referenciado,

limita-se a enumerar os verbos que seleccionam cada um dos modos, não descrevendo

as implicações semânticas que daí advêm. Estudos elaborados no âmbito de diferentes

quadros teóricos têm, no entanto, salientado os efeitos semânticos e sintácticos da

negação.

Assim, no âmbito da Semântica, Marques (1995) apresenta-nos um estudo detalhado

sobre os verbos que indicam atitude de conhecimento e sobre verbos que indicam

atitudes de crença, concluindo que, com estes últimos, a negação altera o grau de

crença, conduzindo por isso à presença do conjuntivo na oração complemento. Em

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determinados casos (como na presença do verbo acreditar e dos verbos declarativos,

como dizer), o tempo do verbo da oração matriz influencia igualmente o modo na

encaixada.

Por outro lado, numa análise puramente sintáctica, Mendes (1996) mostra como nas

estruturas de complementação de verbos epistémicos e declarativos em que está

presente a negação, ocorre uma estratégia sintáctica que elimina o traço de tempo da

posição de Comp e conduz à presença do conjuntivo na encaixada.

Duarte (2003) aborda igualmente a influência da negação frásica superior na presença

obrigatória ou opcional do conjuntivo em orações completivas, referindo que, com os

verbos declarativos e epistémicos, a presença do conjuntivo reflecte um maior

afastamento do enunciador relativamente à verdade da proposição da completiva.

1.2.2.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais

A questão das relações temporais em orações completivas com conjuntivo divide

opiniões. Por um lado, encontramos defensores da dependência temporal da encaixada

em relação ao tempo da oração matriz; por outro, alguns autores postulam que o

conjuntivo possui tempo próprio.

De entre os primeiros, importa mencionar Raposo (1985), autor que estabelece a

distinção entre dois tipos de verbos matriz, que designa por E-verbs e W-verbs. Os

primeiros, que correspondem aos verbos epistémicos (como os verbos pensar e achar) e

aos declarativos (como os verbos dizer e afirmar), seleccionam na encaixada o modo

indicativo e permitem que o tempo da oração subordinada seja autónomo. Deste modo,

o domínio temporal do verbo da encaixada é semanticamente independente do tempo

semântico do verbo da oração superior. Segundo o autor, esta situação resulta do facto

de este tipo de verbos possuírem em Comp o operador [+Tempo]. Apresenta-se em (80)

exemplos de E-verbs:

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(80) a. Eu digo/ disse que a Maria ganhou a corrida.

b. Eu digo/ disse que a Maria ganha a corrida.

(op. cit.: 78; (7) e (8))

Os W-verbs, por seu turno, são verbos não-factivos (como temer e recear), volitivos

(como querer e desejar) e verbos de influência e de permissão (como recomendar e

exigir), que seleccionam na encaixada o modo conjuntivo. Nestes contextos, o tempo da

encaixada é dependente do tempo da oração matriz, na medida em que é determinado

pelas propriedades semânticas e morfológicas do verbo superior, estabelecendo-se entre

os dois verbos uma relação de concordância temporal. Ao contrário do que acontecia

com os verbos anteriores, Raposo (1985) mostra que os W-verbs possuem o operador

[-Tempo] em Comp, daí resultando as restrições temporais impostas pelo verbo matriz

ao verbo da encaixada, como se verifica em (81):

(81) a. Eu desejo que a Maria ganhe/ *ganhasse o prémio.

b. Eu desejava/desejei que a Maria ganhasse/ *ganhe a corrida.

(id.: 79; (9) e (11))

Do contraste entre (80) e (81) conclui-se que, com os E-verbs (cf. (80)), a escolha do

tempo verbal na encaixada é livre, sendo possível diversas combinações, como

[pas/pas], [pres/pres], [pas/pres] e [pres/pas]; com os W-verbs (cf. (81)), pelo contrário,

o verbo da encaixada concorda temporalmente com o verbo da oração matriz,

estabelecendo uma ligação anafórica com o operador [+Tempo] da oração superior, o

que faz com que se permitam apenas combinações como [pres/pres] e [pas/pas]. Assim,

Raposo (1985) defende que “(…) subcategorized complement clauses to E-predicates

(…) are characterized by a [+TENSE] in their Comp position (…). Subcategorized

complement clauses to W-predicates are characterized by the feature [-TENSE] in their

Comp position.” (id.: 80).

Em trabalho posterior, o mesmo autor, em colaboração com Meireles (cf. Meireles &

Raposo 1992), contrapõe os verbos epistémicos e declarativos aos verbos volitivos.

Segundo os autores, com os verbos epistémicos e declarativos o tempo da oração

encaixada é independente do tempo da oração principal, ao passo que com os verbos

volitivos se verificam várias restrições que impedem que a referência temporal da

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oração completiva seja livre, ou seja, independente da referência temporal da oração

matriz. Deste modo, é atribuído o traço [+Tempo] às orações completivas com

indicativo, e o traço [-Tempo] às encaixadas com conjuntivo, o que explica o contraste

entre (82) e (83):

(82) O Manel disse/diz/dirá que a Maria chegou/ chega/ chegará tarde.

(op. cit.: 73; (13))

(83) *O Manel deseja que o filho fosse o melhor aluno.

(id.: 74; (16))

Assume-se portanto que “ In clauses selected by volitional predicates (with subjunctive

mood in their verb), however, tense in INFL will have to be linked to the TENSE

operator of the matrix clause, since the subjunctive clause will lack its own TENSE

operator.”(id.: 75).

No seguimento da mesma ideia, Ambar (1992a) atribui ao Indicativo os traços [+T] e

[+forte] e ao conjuntivo [+T] e [-forte]. Como corolário, o indicativo, sendo um modo

temporalmente marcado, pode reger, e o conjuntivo, ao invés deste, tem de ser regido e

só dessa forma pode reger.

Para reforçar esta tese, Ambar (1992b) estabelece a distinção entre duas categorias de

tempo: o tempo morfológico (Tm) e o tempo semântico (Ts). No caso dos verbos

epistémicos e declarativos, que regem indicativo, Ts é atribuído ao C encaixado e

identifica Tm. Daqui resulta que o valor temporal da oração encaixada seja

independente do valor temporal da oração matriz, podendo ocorrer qualquer tempo

verbal nesta última:

(84) Eles pensam/disseram que os soldados abandonam/abandonavam/abandonaram/

abandonarão/terão abandonado os seus postos.

(op. cit.: 35; (14))

Já os verbos volitivos, que seleccionam conjuntivo, não possuem Ts, pelo que Tm deve

procurar o seu ponto de referência no tempo da oração matriz; desta forma, o tempo da

encaixada tem de ser determinado a partir do tempo da matriz, como se exemplifica em

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(85), em que o tempo verbal da encaixada (presente do conjuntivo) concorda com o do

verbo matriz (presente do indicativo):

(85) Eles querem que a guerra acabe/*acabasse.

(id.: 37; (19))

Assim, segundo Ambar (1992b), “La présence du trait Ts dans Comp enchâssé dépend

des propriétés de sélection du verbe principal.” (id.: 33).

Na esteira desta autora, e através de um estudo igualmente sintáctico, Mendes (1996)

defende a ideia de que o conjuntivo é sempre lexicalmente seleccionado e sempre

sujeito a restrições de ordem temporal. Segundo Mendes (1996), ao contrário dos

verbos epistémicos e declarativos, os verbos volitivos e factivos não atribuem ao núcleo

Comp da oração completiva o traço [+Tempo], existindo, por isso, uma relação de

dependência marcadamente morfológica entre a flexão da frase matriz e a flexão da

frase encaixada. O tempo da frase matriz c-comanda, assim, o traço de tempo do

conjuntivo, pelo que se verifica uma dependência temporal do primeiro relativamente ao

segundo, como visível no exemplo (86):

(86) O Pedro quer que o João diga/*dissesse a verdade.

(op. cit.: 141 (93))

Deste modo, a autora defende que, enquanto nas construções com verbos epistémicos e

declarativos existem dois tempos no discurso (o tempo do verbo da oração superior e o

tempo independente da encaixada), nas estruturas em que estão presentes verbos

volitivos ou factivos, existe um só tempo no discurso, o tempo da oração superior, pois

deste depende o tempo o verbo da encaixada. Mendes (1996) conclui que “De facto, o

conjuntivo por si só não é capaz de estabelecer um domínio temporal. O tempo da

oração matriz é tido como responsável pela atribuição de um ponto de referência

temporal ao conjuntivo.” (id.: 186).

No mesmo sentido, Chitas (1998) defende que as relações temporais intrafrásicas em

cadeias verbais com conjuntivo são essencialmente anafóricas, ou seja, existe uma

dependência temporal entre a oração encaixada e a oração principal. Esta abordagem da

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consecutio temporum tenta conciliar aspectos semânticos e morfológicos e segue a

proposta de Reinchenbach (1947), no que diz respeito à dimensão anafórica e à

importância do ponto de referência. Apoiando-se nestes dois conceitos, a autora adopta

também a perspectiva de Kamp & Reyle (1993), no quadro da Teoria das

Representações do Discurso (DRT), e tem em consideração dois parâmetros: (i) o Ponto

de Perspectiva Temporal (PPT), que estabelece a relação entre o ponto de referência e o

tempo da enunciação, T0, que, segundo Peres (1993), tem em português três valores:

passado, presente e futuro, e (ii) a Localização Relativa (LR) que, através dos valores de

anterioridade, sobreposição e posterioridade, indica a relação entre a situação descrita e

o PPT.

Após uma análise dos contextos do conjuntivo, Chitas (1998) conclui que nas

completivas em que ocorre este modo “As formas verbais cuja localização temporal

serve de PPT à forma verbal com que co-ocorre surgem a operar localizações em

{PRES, sobr}, em {FUT, sobr} e em {PRES,ant} e {PASS,sobr} e a fornecer um PPT

{PRES}, {FUT} e {PASS}. As formas verbais temporalmente dependentes localizam as

situações relativamente ao PPT que lhes é fornecido.” (op. cit.: 193). Chitas (1998)

partilha, deste modo, das propostas referidas anteriormente, uma vez que defende que é

a frase superior que localiza temporalmente o estado de coisas expresso na completiva

com conjuntivo, ao fornecer-lhe o PPT.

Em Duarte (2003), estabelece-se igualmente uma distinção entre completivas com

tempo independente e completivas com tempo dependente, embora não as associe a um

modo específico. Esta distinção, de forma semelhante ao que é proposto em Ambar

(1992a,b), decorre da presença ou ausência de um operador semântico de tempo. No

primeiro caso, as completivas não dependem temporalmente da frase matriz porque têm

no seu núcleo Comp um operador de tempo, sendo, por isso, completivas com “um

domínio semanticamente temporalizado” (op. cit.: 626). Assim, o tempo da oração

superior (passado ou presente) não condiciona o tempo da encaixada, como se verifica

em (87), em que o verbo da completiva pode surgir em qualquer tempo do indicativo

independentemente do tempo do verbo da oração superior (pretérito perfeito ou

presente):

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(87) a. O João afirmou que a Maria tinha ido/ vai/ irá a cinema.

b. O João afirma que a Maria foi/ vai/ irá a cinema.

(id.: 626; (21))

Por seu turno, nas completivas com tempo dependente as “especificações temporais são

dependentes das da frase superior, pelo que não formam um domínio semanticamente

temporalizado” (id.: 626), daí que o tempo do verbo da oração superior condicione o

tempo do verbo da encaixada. Deste modo, quando o verbo da oração matriz se encontra

no pretérito perfeito do indicativo, o verbo da encaixada tem de estar localizado

temporalmente no passado, não se aceitando, por isso, estruturas com o presente do

conjuntivo ou com o futuro do conjuntivo (cf. (88a)); quando o verbo da oração matriz

se encontra no presente do indicativo, apenas admite na completiva o verbo no presente

do conjuntivo, logo, não são possíveis formas do conjuntivo no passado (cf. (88b)). A

autora ilustra estas duas situações com os seguintes exemplos:

(88) a. O João quis que a Maria fosse/ *vá/ * for ao cinema.

b. O João quer que a Maria *fosse/ vá/ *for ao cinema.

(id.: 626; (22))

Oliveira (2003) coloca também a tónica na questão da autonomia vs dependência do

conjuntivo. A autora afirma que, por um lado, o conjuntivo pode estabelecer uma

relação de anáfora temporal com o tempo da oração a que está subordinado (o tempo da

oração matriz é o ponto de perspectiva temporal do conjuntivo), como acontece em

(89), em que os verbos dos dois domínios oracionais (oração matriz e oração encaixada)

se encontram localizados temporalmente no passado (pretérito perfeito do indicativo e

imperfeito do conjuntivo, respectivamente), sendo o segundo dependente do primeiro:

(89) O Rui pediu-me que fosse falar com ele.

(op. cit.: 267; (107))

Por outro lado, o conjuntivo pode ter o seu ponto de referência no tempo da enunciação,

estabelecendo com este uma relação deíctica, ou seja, o conjuntivo estabelece uma

relação de posterioridade em relação ao momento da fala, logo, há independência

temporal (cf. (90)).

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(90) O Rui pediu-me que vá falar com ele.

(id.: 267; (106))

No entanto, Oliveira (2003) sublinha que em ambos os exemplos ((89) e (90)) a oração

encaixada tem sempre interpretações de futuro, alterando-se apenas o ponto de

perspectiva temporal: tempo da oração matriz ou tempo da enunciação.

No que concerne à concordância temporal entre a oração superior e a encaixada, a

autora alerta ainda para o facto de as construções com conjuntivo não admitirem todas

as mesmas combinações temporais: os verbos declarativos de ordem, como exigir e

ordenar, e os verbos volitivos, como desejar e querer, “requerem uma informação de

posterioridade, não aceitando a combinação de presente na oração principal e passado

na subordinada.” (op. cit.: 270; cf. (91)); ao invés destes, os verbos factivos, como

lamentar, “admitem os diferentes tempos, com as óbvias diferenças de leitura” (op. cit.:

270; cf. (92)).

(91) Ele exige que os concorrentes leiam/ *lessem/ tenham lido/ *tivessem lido as

instruções.

(id.: 270; (126))

(92) Ele lamenta/ lamentou que a Maria perca/ perdesse/ tenha perdido/ tivesse perdido

o emprego.

(id.: 270; (125))

Estudos sobre outras línguas, como o Espanhol, vêm ao encontro da necessidade de

estabelecer uma dicotomia entre tempo dependente e tempo independente, não

associando sempre tempo dependente ao conjuntivo, tal como também é defendido em

Duarte (2003) e Oliveira (2003), para o Português..

Kempchinsky (1990) é uma das autoras que, no âmbito da língua espanhola, questiona a

relação de dependência temporal, mostrando que o tempo do conjuntivo nem sempre

concorda com o valor [+/- PAS] do tempo do verbo no indicativo. As características

semânticas dos predicados da frase superior são tidas como condicionantes da

interpretação modal das frases completivas, uma vez que, em relação ao tempo da

oração matriz, os verbos volitivos introduzem um tempo posterior e os verbos

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epistémicos ou emotivo-factivos fazem com que as orações de conjuntivo sejam

interpretadas como simultâneas da matriz. A sustentar a sua posição estão contra-

exemplos que evidenciam que a referência temporal do conjuntivo pode ser

independente, na medida em que o verbo da frase matriz se encontra no passado e o

verbo da oração encaixada no presente do conjuntivo, com interpretação de futuro.

Assim, nas frases que se seguem, o verbo da oração matriz encontra-se no passado,

tempo que, em (93a), é reforçado pela expressão temporal “la semana pasada”; o verbo

da oração completiva encontra-se nos dois exemplos no presente do conjuntivo, sendo a

noção de posterioridade também conferida pelo advérbio de tempo “manãna”, na frase

(93a), e pelo nome “vacaciones”, na frase (93b), que tem igualmente a interpretação de

futuro.

(93) a. Cuando le hablé la semana pasada, insistí en que se presente mañana a la una en

punto.

b. Cármen les recomendó que pasen las vacaciones com ella.

(op. cit.: 238; (12))

A autora acrescenta ainda que, embora o verbo da completiva possa ocorrer, nos

mesmos contextos, no imperfeito do conjuntivo, a interpretação seria necessariamente

distinta da que se obtém em (93), o que decorre do ponto de referência da oração

subordinada: o imperfeito do conjuntivo tem como ponto de referência o tempo do

verbo da oração principal e o presente do conjuntivo tem como ponto de referência o

momento da fala. A possibilidade desta última ocorrência vem pôr em causa a regra

tradicional da concordantia temporum, concluindo Kempchinsky (1990) que “parece

difícil mantener la opinión de que las cláusulas de subjuntivo carecen de tiempo.” (id.:

239).

A corroborar a mesma ideia, Suñer e Rivera (1990) apresentam uma proposta que

contraria igualmente a tese mais comummente defendida de que existe uma

concordância temporal total entre o tempo da oração subordinante e o da oração

subordinada. Segundo estes autores, esta regra mecânica de concordância morfológica,

assente na ideia de que o conjuntivo é uma forma completamente dependente do ponto

de vista temporal, não é verificável em todas as estruturas. Assim, os verbos de desejo

(querer, desear, preferir) e os verbos de falta de conhecimento (ignorar, desconocer)

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constituem aqueles em que as relações temporais são muito estreitas, o que se verifica

em (94) e (95), respectivamente:

(94) Quería que telefonearas/*telefonees.

(op. cit.: 190; (10a))

(95) Ignoraba que *esté/ estuviera en la lista.

(id.: 190; (11a))

Num pólo oposto, os verbos de negação (como negar) e os verbos emotivo-factivos

(como lamentar) são os que menos restringem essa relação de concordância, como

acontece em (96) e (97), respectivamente:

(96) Niego/ negué rotundamente que sostenga/ haya sostenido/ sostuviera/ hubiera

sostenido vínculos com el Partido Nazi.

(id.: 188; (4a))

(97) Lamento que Bolívia no esté incorporada …

(id.: 188; (4c))

Finalmente, numa posição intermédia relativamente aos dois grupos anteriores, os

verbos dubitativos (como dudar) permitem todas as combinações de tempos, à excepção

da combinação [+pas /- pas] e os verbos de influência (como ordenar, exhortar e exigir)

impõem como requisito que o domínio encaixado seja interpretado como futuro

relativamente à matriz, interpretação esta que deriva dos traços lexicais destes verbos e

não dos traços temporais da oração matriz. Os autores apresentam estas situações em

(98) e (99), respectivamente:

(98) Dudo que reciba/ recibiera/ haya recibido/ hubiera recibido un premio por una

actuación tan medíocre.

(id.: 188; (5a))

(99) El Presidente ordenó también al Departamento de la Defensa que incremente en

todo el país el adiestramiento.

(id.: 189; (7a))

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Em síntese, Suñer e Rivera (1990), bem como Kempchinsky (1990), apresentam

argumentos empíricos fortes em favor de que a hipótese de o conjuntivo ser uma forma

neutralizada do ponto de vista temporal não é defensável, afirmando, deste modo, que

“las formas del subjuntivo poseen un valor temporal proprio, independiente del verbo de

la oración principal.” (Suñer e Rivera 1990: 193). Esta perspectiva contrasta claramente

com a maioria das abordagens ao conjuntivo, que defendem a dependência deste modo

relativamente ao tempo do domínio matriz, o que o distingue do indicativo.

1.3. Hipóteses de trabalho

Com base na literatura sobre o assunto e nos problemas relativos às orações completivas

que, enquanto docente, detectei nos alunos, foram formuladas as seguintes hipóteses,

que nortearam o presente trabalho de investigação, permitindo a construção do estímulo

(cf. Capítulo 2 - Metodologia):

HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo

indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.

HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo

conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes,

pela substituição pelo indicativo.

HIPÓTESE 3 – Nas construções que integram verbos que podem seleccionar ou o

indicativo ou o conjuntivo (verbos de selecção modal dupla) tendo em conta condições

sintáctico-semânticas distintas, os sujeitos optam maioritariamente pelo indicativo.

HIPÓTESE 4 – Nas construções em que a presença do operador de negação na oração

matriz induz alterações no modo da encaixada, verificando-se a possibilidade de

selecção dos dois modos, há, por parte dos sujeitos, uma preferência pelo indicativo, em

detrimento do conjuntivo.

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HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se

estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos

verbos dessas orações.

HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de

independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente

dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação

de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que

os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor

desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na

aquisição das mesmas.

1.4. Estrutura da dissertação

O trabalho presente nesta dissertação organiza-se em cinco capítulos.

O primeiro capítulo, de que faz parte a presente secção, identifica, primeiramente, o

objecto de estudo e as motivações que estão na base da sua escolha e, em 1.1., apresenta

os objectivos deste projecto. Seguidamente, descrevem-se sucintamente as estruturas da

gramática-alvo em análise nesta dissertação (secção 1.2.1.) e apresenta-se uma revisão

dos principais trabalhos sobre a temática em estudo (secção 1.2.2.), abordando-se em

particular (i) as propriedades do verbo matriz na selecção modal, (ii) a interferência do

operador de negação frásica superior na selecção do modo da encaixada e (iii) as

relações temporais que se estabelecem entre a oração superior e a completiva. No ponto

1.3. referem-se as hipóteses formuladas para este projecto e, a encerrar o capítulo,

apresenta-se, em 1.4., a estrutura da dissertação, que agora se lavra.

No capítulo 2, apresenta-se a metodologia que esteve na base da presente investigação.

No ponto 2.1., é caracterizado o estímulo, quanto à sua estrutura, objectivos e

parâmetros testados. Este ponto apresenta duas sub-secções principais, que

correspondem à caracterização de dois testes, nomeadamente o teste de produção (ponto

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2.1.2.1.) e o teste de avaliação (2.1.2.2.). Em 2.2, identificam-se os sujeitos alvo e, por

último, em 2.3., descrevem-se as condições em que os dados foram recolhidos.

No capítulo 3, procede-se à descrição dos dados recolhidos nos dois grupos de sujeitos.

Este capítulo subdivide-se em duas partes: primeiramente, são descritos os dados do

teste de produção (ponto 3.1.) e, seguidamente, descrevem-se os dados relativos ao teste

de avaliação (ponto 3.2.). A abordagem a cada teste é feita segundo os respectivos

parâmetros avaliados e por grupo de sujeitos. Assim, no teste de produção, são descritos

os dados respeitantes ao verbo matriz e à selecção do modo na oração complemento, os

efeitos do operador de negação frásica superior na selecção do modo na encaixada e os

tempos verbais produzidos nessa oração (pontos 3.1.1. e 3.1.2.); no teste de avaliação,

por seu turno, a descrição incide sobre as relações temporais entre a frase matriz e a

encaixada (ponto 3.2.1.). Finda cada uma destas secções, é apresentada uma síntese

comparada dos resultados obtidos nos dois grupos de sujeitos (pontos 3.1.3. e 3.2.2.,

respectivamente).

O quarto capítulo destina-se a analisar os dados descritos no capítulo 3, de acordo com

os aspectos em estudo nesta dissertação. Deste modo, num primeiro momento

analisam-se os dados relativos às propriedades do verbo matriz e à selecção do modo e

do tempo da encaixada em frases afirmativas (secção 4.1.); num segundo momento, são

analisados os efeitos da negação superior no modo e do tempo da oração encaixada

através dos dados dos sujeitos (secção 4.2.); num terceiro e último momento, procede-se

à análise das relações temporais estabelecidas entre os dois domínios oracionais (secção

4.3.). Em cada secção, os dados são analisados de forma a comparar o desempenho

linguístico dos sujeitos com as estruturas-alvo.

Por fim, no quinto capítulo, são apresentadas as conclusões decorrentes do estudo

apresentado.

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Capítulo 2 – Metodologia

Como linha metodológica, adoptou-se na presente tese a aplicação de testes em contexto

escolar, seguida da análise dos dados recolhidos. Este capítulo procura, assim, proceder

à caracterização do estímulo, no que concerne à sua estrutura, objectivos, critérios

adoptados e variáveis controladas. São ainda descritos, na secção 2.1.1., os resultados

do pré-teste, os problemas que decorreram da sua construção e/ou aplicação e as

alterações que daí advieram e que contribuíram para a construção dos testes finais. A

secção 2.1.2. é destinada aos testes finais (teste de produção provocada e teste de

avaliação), no que respeita à sua estrutura e aos parâmetros avaliados. Na secção 2.2. é

apresentado o perfil dos sujeitos e as variáveis controladas na selecção dos mesmos e,

por último, é feita a descrição das condições em que foram aplicados os testes e dos

procedimentos de recolha de dados (secção 2.3.).

2.1. Caracterização do estímulo

O estímulo, instrumento base de análise deste trabalho de investigação, visa testar, em

dois grupos de sujeitos, a capacidade de produzir e avaliar frases completivas, de modo

a testar três aspectos: (i) a selecção do modo na completiva segundo o verbo da oração

principal, (ii) a influência da negação, presente na oração matriz, no modo da

completiva, (iii) as relações de concordância temporal entre os verbos da frase matriz e

da subordinada e (iv) as relações de (in)dependência temporal entre a oração

subordinada e a frase matriz. Para esse efeito, foram construídos dois testes, um teste de

produção provocada e outro de avaliação, ambos de natureza escrita, compostos por 30

frases cada, e de cujos resultados depende a confirmação ou infirmação das hipóteses de

trabalho previamente delineadas (cf. secção 1.3.). Considera-se que estas estratégias de

recolha de dados são fundamentais para aceder directamente ao conhecimento

linguístico dos falantes (cf. Crain & Thornton 1998). No que diz respeito ao teste de

produção provocada, considera-se ainda que o mesmo permite obter um corpus robusto

das estruturas em análise, que podem não ocorrer nas produções espontâneas, ainda que

sejam conhecidas pelos sujeitos.

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O estímulo passou por duas etapas fundamentais. A primeira consistiu num teste prévio

(cf. secção 2.1.1.) aplicado a dois grupos de sujeitos de anos lectivos distintos (9º e 11º

anos), com o objectivo de verificar informalmente a exequibilidade do mesmo. Face aos

resultados obtidos e às reacções dos sujeitos, procedeu-se a ajustamentos dos quais

resultaram os testes finais (cf. secção 2.1.2.), que, numa segunda etapa, foram aplicados

a dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) e cujos resultados constituem o cerne da

análise desta investigação.

2.1.1. O Pré-teste

O pré-teste (cf. anexo 1) teve como intenção ensaiar os materiais no que diz respeito à

sua extensão, clareza e eficácia relativamente aos objectivos pretendidos. A sua

aplicação permitiu igualmente verificar a reacção dos sujeitos às tarefas que lhes eram

solicitadas e calcular o tempo médio de realização das mesmas. Assim, a aplicação

prévia do pré-teste tornou possível proceder a ajustamentos e a melhorias relativamente

aos materiais utilizados, às condições de recolha de dados e aos procedimentos a

adoptar.

Uma vez que se pretendia aplicar os testes finais a alunos de 10º ano e de 12º ano no

início de ano lectivo de 2007/08, o pré-teste foi aplicado no final do ano lectivo

antecedente (2006/07) a dois grupos de sujeitos: um grupo de alunos a frequentar o 9º

ano de escolaridade (grupo I) e um grupo de alunos a frequentar o 11º ano de

escolaridade (grupo II). Desta forma, pretendeu-se garantir que, quer no teste piloto,

quer no teste final, estavam a ser testadas competências idênticas, que supostamente os

alunos deverão possuir numa determinada etapa do processo de ensino e aprendizagem,

nomeadamente no final do 3º ciclo e no início do 12º ano.

No entanto, por questões de disponibilidade da escola e dos professores, não foi

possível aplicar os testes no início do ano lectivo de 2007/08, tendo sido aplicados no

início do 2º período do mesmo ano.

Os dois grupos de sujeitos pertenciam a escolas distintas: o grupo I frequentava a Escola

EB 2,3 Padre Bento Pereira de Borba (Borba) e o grupo II, a Escola Secundária com 3º

ciclo Diogo de Gouveia (Beja). A escolha das turmas foi aleatória, resultando apenas da

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disponibilidade das docentes e das Escolas contactadas, pelo que não houve selecção

prévia de sujeitos nem foram controladas quaisquer variáveis relativas ao perfil dos

mesmos. O pré-teste foi, assim, aplicado a todos os alunos da turma presentes na aula,

nomeadamente a 13 alunos do grupo I e a 18 alunos do grupo II.

Como grupo de controlo (grupo III), seleccionaram-se 6 adultos, 4 do sexo masculino e

2 do sexo feminino, com idades entre os 20 e os 35 anos, cuja língua materna é o

português. Todos são licenciados e a exercer actividade profissional no momento da

recolha dos dados. No entanto, na versão final, o estímulo não foi aplicado a um grupo

de adultos, uma vez que o objectivo principal deste projecto é, como já referido no

ponto 1.1., permitir uma análise comparada do desempenho linguístico de sujeitos em

duas etapas escolares distintas. A aplicação do pré-teste ao grupo de sujeitos III visou,

assim, completar e aperfeiçoar os testes finais, garantindo condições mais seguras de

recolha dos dados.

Uma vez que a aplicação do pré-teste se realizou, para todos os sujeitos, no mesmo dia,

o grupo II contou com a presença da respectiva professora de Língua Portuguesa e da

investigadora, tendo o grupo I contado apenas com a colaboração da professora de

Educação Visual e Tecnológica, a quem foram dadas as indicações e informações

necessárias para o esclarecimento de eventuais dúvidas colocadas pelos alunos.

Relativamente à aplicação do teste piloto ao grupo III, os adultos reuniram-se em

simultâneo e a investigadora esteve sempre presente durante a realização da tarefa.

Para os três grupos, a realização do pré-teste foi precedida de um esclarecimento oral da

tarefa pretendida, sem nunca ser revelado o objecto de estudo do mesmo. Assim, todos

os sujeitos desconheciam a natureza do presente trabalho. Os sujeitos de todos os

grupos reagiram positivamente, mostrando-se dispostos a colaborar na tarefa para que

foram solicitados. Levantaram algumas dúvidas relativamente a algumas frases, a

maioria decorrentes de problemas gráficos.

O pré-teste foi realizado pelos três grupos de sujeitos num período médio de tempo de

30 a 40 minutos.

Após a aplicação do pré-teste, os dados recolhidos foram analisados informalmente e,

de acordo com os resultados dessa análise, procedeu-se a algumas alterações gráficas e à

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alteração ou substituição de algumas frases, de forma a tornar os testes claros e

objectivos. Tais alterações encontram-se identificadas abaixo.

No que diz respeito ao Questionário de Identificação, numeraram-se os itens para

facilitar a posterior recolha de dados e melhoraram-se e acrescentaram-se outros de

forma a tornar este questionário mais completo (naturalidade; tempo de residência no

local; e data de realização do teste).

No Teste I – Produção – e no Teste II – Avaliação –, fez-se preceder as frases de uma

indicação escrita da tarefa solicitada e controlou-se a variável género do sujeito da

oração matriz nas frases 4, 11, 16, 18 e 21 (teste I) e nas frases 1, 4, 5, 6, 16, 17 e 24

(teste II).

Corrigiram-se ainda alguns problemas gráficos detectados no Teste II – Avaliação –,

nomeadamente o problema de concordância de género detectado na frase 18 (Nós

soubemos que o tio Clara fez muitas viagens ao Brasil este ano. para Nós soubemos que

a tia Clara viajou para o Brasil.) e o problema de omissão do artigo definido antes do

nome identificado na frase 28 (A Luísa lamenta que [-] Henrique tenha resultados

fracos a História. para A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a

História.). Neste segundo teste, as frases 1, 2, 18, 28 e 30 também foram sujeitas a

alterações, no sentido de as tornar mais curtas e mais claras, em termos de interpretação

semântica (frase 1 - Elas lamentaram que o Miguel seja preguiçoso. para Os pais

lamentaram que o filho seja preguiçoso.; frase 2 - Ele sugere que o jardineiro corte a

relva na sexta-feira. para Ele sugere que as obras comecem em Março.; frase 18 - Nós

soubemos que o tio Clara fez muitas viagens ao Brasil este ano. para Nós soubemos que

a tia Clara viajou para o Brasil.; frase 28 - A Luísa lamenta que Henrique tenha

resultados fracos a História. para A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus

resultados a História.; e frase 30 - Os avós lamentam que os netos estivessem tristes na

festa. para Os avós lamentam que os netos fumassem às escondidas.).

Em ambos os testes, manteve-se a estrutura das frases, no que diz respeito aos verbos da

oração superior e ao tempo verbal presente nos dois domínios oracionais.

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De modo a não revelar a natureza e o objectivo do teste, simplificaram-se também os

nomes das várias partes constituintes, passando a denominar-se, respectivamente,

Identificação, I – Produção e II – Avaliação.

2.1.2. Os Testes

2.1.2.1. Teste I – Produção

O teste de produção (cf. anexo 2) é constituído por 30 frases incompletas, terminando

cada sequência pela conjunção que, de forma a dar possibilidade ao sujeito de completar

a oração completiva da forma que achar mais adequada. A opção por esta estrutura

decorre da intenção de não condicionar a produção do sujeito e de lhe dar liberdade de

criação na escrita. A identificação escrita da tarefa surge no início do teste:

“As frases que se seguem encontram-se incompletas.

Completa-as da maneira que achares mais adequada.”

Neste teste, são três os parâmetros avaliados:

(i) a selecção do modo na completiva;

(ii) a influência da negação matriz no modo da oração encaixada;

(iii) o comportamento dos verbos da oração matriz que admitem selecção modal dupla

na encaixada (modo indicativo e modo conjuntivo);

(iv) o tempo verbal da encaixada, relativamente ao da matriz.

Visando a prossecução destes objectivos, constituíram-se seis grupos de verbos, sendo

que os verbos de cada grupo exibem o mesmo comportamento no que diz respeito ao(s)

modo(s) que seleccionam na encaixada, em frases superiores afirmativas (cf. quadro 1) e

em negativas (cf. quadro 2).

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Resultam desta selecção 15 verbos, todos conjugados no presente do indicativo.2 Cada

verbo repete-se duas vezes, numa frase afirmativa e numa frase negativa, o que perfaz

um total de 30 frases. A ordem pela qual surgem as frases é aleatória, evitando-se

apenas que o mesmo verbo não apareça em frases seguidas.

Os quadros 1 e 2 sistematizam os grupos de verbos considerados para a construção

deste estímulo.

Oração matriz Oração Completiva Grupo

de Verbos Verbos Modo com frases superiores afirmativas

I

1. Afirmar

2. Saber

Indicativo

II

3. Lamentar

4. Querer

5. Esperar

Conjuntivo

III

6. Sentir

7. Achar

8. Prometer

9. Dizer

Indicativo

IV 10. Duvidar

Conjuntivo

V

11. Acreditar

12. Imaginar

13. Suspeitar

14. Prever

Indicativo/ Conjuntivo

VI 15. Pensar

Indicativo/ ?Conjuntivo

Quadro 1 – Verbos da oração matriz organizados segundo a selecção de modo da

completiva em frases afirmativas.

2 A limitação ao presente do indicativo na matriz teve como base a redução ao mínimo de variáveis que

pudessem condicionar as produções dos sujeitos. No entanto, dado que a distinção entre presente e

passado é relevante para este estudo, nomeadamente para a avaliação das relações temporais, essa

distinção foi tida em consideração no teste de avaliação.

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Oração matriz Oração Completiva Grupo

de Verbos Verbos Modo com frases superiores negativas

I

1. Afirmar

2. Saber

Indicativo

II

3. Lamentar

4. Querer

5. Esperar

6. Prever

Conjuntivo

III

7. Sentir

8. Achar

9. Prometer

10. Dizer

Indicativo/ Conjuntivo

IV 11. Duvidar

Indicativo/ Conjuntivo

V

12. Acreditar

13. Imaginar

14. Suspeitar

Indicativo/ Conjuntivo

VI 15. Pensar

Indicativo/ Conjuntivo

Quadro 2 – Verbos da oração matriz organizados segundo a selecção de modo da

completiva, na presença da negação frásica na oração superior.

A construção destes seis grupos de verbos resulta do comportamento dos verbos que os

constituem, em termos de selecção do modo da encaixada. Assim, a observação dos

quadros 1 e 2 permite verificar que cada grupo é formado por verbos que revelam um

comportamento idêntico relativamente ao(s) modo(s) que seleccionam na encaixada, em

frases superiores afirmativas e negativas:

(i) O grupo de verbos I selecciona indicativo em frases superiores afirmativas e

negativas.

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(ii) O grupo de verbos II selecciona o conjuntivo em frases superiores afirmativas e

negativas.

(iii) O grupo de verbos III selecciona o indicativo em frases afirmativas, e selecciona os

dois modos, quando sob o escopo da negação frásica superior.

(iv) O grupo de verbos IV selecciona conjuntivo nas frases afirmativas e, na presença do

elemento de negação frásica superior, selecciona ou o indicativo ou o conjuntivo.

(v) O grupo de verbos V revela selecção modal dupla em frases afirmativas, mantendo

esta selecção com a negação frásica superior. No contexto de frases superiores

negativas, excluiu-se deste grupo o verbo prever, que é agrupado ao grupo de verbos II,

porque selecciona os dois modos em frases afirmativas, mas selecciona apenas o

conjuntivo, na presença do elemento de negação frásica superior.

(vi) Por último, o grupo VI, que, embora seja composto igualmente por um verbo de

selecção modal dupla, como os verbos do grupo anterior, foi incluído num grupo

diferente, visto que os resultados do pré-teste e os dados recolhidos informalmente junto

de falantes adultos pela investigadora, revelaram que a selecção do conjuntivo na

encaixada com este verbo não é considerada por muitos falantes como totalmente

gramatical, persistindo dúvidas na aceitação da sua presença. Assim, o verbo pensar

selecciona os dois modos em frases afirmativas, embora, neste contexto específico, o

conjuntivo possa ser considerado marginal; na presença do marcador de negação frásica

na frase matriz, selecciona ou o indicativo ou o conjuntivo.

Há igualmente um controlo do sujeito da frase matriz em relação ao número (singular

ou plural), quer em cada par de frases com o mesmo verbo, quer no global das 30 frases.

Consequentemente, temos 15 frases em que o sujeito da frase superior se encontra no

singular e 15 frases em que o mesmo surge no plural. O quadro 3 ilustra esta opção

metodológica:

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Oração matriz Número do Sujeito Verbo Sujeito

Frase

O Presidente da Câmara F1 Afirmar

O Paulo F16

Eu F3 Saber

O patrão F18

A enfermeira Ana F5 Esperar

A Madalena F25

Ele F10 Prometer

O teu irmão F27

O Instituto de Meteorologia F9 Prever

O Pedro F28

A chefe da loja F12 Duvidar

O Engenheiro F23

Tu F6 Acreditar

O pequenino Francisco F15

SINGULAR

O polícia F30 Suspeitar

Eu e a Teresa F22

Os alunos F4 Sentir

Eles F19

As raparigas F11 Lamentar

A Ana, o Rui e a Mafalda F24

Os jovens F2 Querer

Os professores F17

Aqueles Senhores F20 Achar

As minhas primas F26

Tu e o André F14 Dizer

Nós F29

Eles F8 Imaginar

O Ricardo e o Artur F13

O Sr. José e a D. Graça F7

PLURAL

Pensar

Os teus pais F21

Quadro 3 – Flexão em número dos sujeitos da oração matriz.

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As variáveis controladas no teste de produção foram, assim,

(i) a extensão das frases incompletas;

(ii) o número do sujeito da oração matriz;

(iii) os verbos da oração matriz, tendo em conta o modo que seleccionam na completiva;

(iv) a presença/ausência do elemento de negação na oração matriz.

2.1.2.2. Teste II – Avaliação

O teste de avaliação (cf. anexo 3) é composto por 30 frases que devem ser classificadas

quanto à sua gramaticalidade ou agramaticalidade, colocando-se OK ou *,

respectivamente. Esta avaliação exige uma leitura atenta das frases e activa os

conhecimentos gramaticais implícitos e/ou explícitos dos sujeitos. Tal como acontece

no teste de produção, a indicação escrita da tarefa surge no topo do teste:

“Lê atentamente todas as frases e classifica-as colocando, no respectivo quadrado,

“OK” se as considerares correctas e “*” se as considerares incorrectas.”

Com este teste, pretende-se avaliar as relações de dependência ou de independência

temporal entre a oração encaixada e a oração matriz. Com esse intuito, foram criados

dois grupos de verbos: o grupo I, formado por três verbos que seleccionam na encaixada

o modo indicativo (afirmar, saber e sentir), e o grupo II, composto por quatro verbos

que exigem a presença do modo conjuntivo na completiva (querer, desejar, sugerir e

lamentar).

A criação do grupo I segue o mesmo padrão que o do grupo II: cada verbo da oração

matriz surge conjugado no presente do indicativo e no pretérito perfeito do indicativo.

Assim, cada verbo do grupo I repete-se duas vezes, uma no presente do indicativo e

uma no pretérito perfeito do indicativo. No total, o grupo I perfaz 6 frases. No grupo II,

cada verbo repete-se 8 vezes, quatro das quais no presente do indicativo e quatro no

pretérito perfeito do indicativo, estando os verbos querer e desejar agrupados, na

medida em que registam o mesmo comportamento (o verbo querer surge em três frases

conjugado no presente do indicativo e em três frases no pretérito perfeito e o verbo

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desejar uma vez em cada tempo). Ao todo, seleccionaram-se sete verbos, tendo sido

introduzidos na encaixada modificadores temporais, o que perfaz 30 frases.

No total das 30 frases, 6 são relativas ao grupo de verbos I e 24 pertencem ao grupo de

verbos II. O grupo de verbos II apresenta dois subgrupos: o grupo II-A, composto por

13 frases gramaticais, e o grupo II-B, constituído por 11 sequências agramaticais, na

medida em que neste último grupo foi controlado o tempo do conjuntivo do verbo da

encaixada. Por conseguinte, ao todo, o teste de avaliação comporta 19 frases gramaticais

e 11 frases agramaticais. As 11 sequências agramaticais, distribuídas pelo teste

aleatoriamente, são: F4, F8, F11, F14, F15, F16, F20, F21, F24, F26, F30 e encontram-

se identificadas no quadro abaixo por um asterisco.

Todas as informações relativas ao modo e aos tempos seleccionados por cada verbo se

encontram reunidas no quadro 4:

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Oração Matriz Oração Encaixada Grupo de Verbos Verbo Tempo Modo Indicativo

Tempo Modo Conjuntivo

Tempo

Frase

Presente Forma Perifrástica v. ir pres. + inf.

_ _ _ _ _ _ 13

1. Afirmar Pret. Perfeito Futuro _ _ _ _ _ _

23 Presente Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _

6

2. Saber Pret. Perfeito Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _

18 Presente Presente _ _ _ _ _ _

3

I

3. Sentir Pret. Perfeito Presente _ _ _ _ _ _

9 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

19

Presente

_ _ _ _ _ _

Presente 22

4a.

Querer e

Desejar

Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Imperfeito 7

Presente 2 Presente

_ _ _ _ _ _ Forma Perifrástica

v. ir presente + inf.

27 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

10

Imperfeito 12

5a. Sugerir Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _

Presente 29 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

5

Presente

_ _ _ _ _ _

Presente 28 Presente 1 Imperfeito 17

A

6a.

Lamentar Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _

Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

25

Futuro *11 Presente

_ _ _ _ _ _ Imperfeito *15 Presente *4 Futuro *14

4b.

Querer e

Desejar

Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _

Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

*24

Imperfeito *8 Presente

_ _ _ _ _ _ Futuro *20

5b.Sugerir Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _ Futuro *16

Futuro *21 Presente

_ _ _ _ _ _ Imperfeito *30

II

B

6b.

Lamentar Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Futuro

*26

Quadro 4 – Relações de (in)dependência temporal entre a oração matriz e a oração

encaixada.

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À semelhança do teste I, o número do sujeito da oração principal (singular ou plural) é

controlado em cada verbo numa divisão equitativa relativamente ao número de frases.

No grupo I, temos três frases em que o sujeito ocorre no singular e três frases em que

surge no plural. No grupo II, a cada verbo correspondem quatro frases em que o sujeito

está no singular e quatro frases em que o sujeito ocorre no plural. Assim, na

globalidade, o teste é constituído por 15 frases com sujeito singular e por 15 frases com

sujeito plural, informação esta que se encontra documentada no quadro 5:

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Oração Matriz Número do sujeito Verbo Sujeito

Frase

Afirmar A Directora do Colégio F23

O João F3 Sentir

O professor F9

Tu F14

Eu F15

O Francisco F19

Querer/Desejar

A mãe F24

Ele F2

A Dulce F10

a Ana F12

Sugerir

A Educadora F27

Tu F21

Ele F25

Eu F26

SINGULAR

Lamentar

A Luísa F28

Afirmar Eles F13

Os funcionários da loja F6 Saber

Nós F18

Os filhos F4

Eles F7

As raparigas F11

Querer/ Desejar

Nós F22

Os Bancos F8

Os professores F16

Eu e a Carla F20

Sugerir

Os meus amigos F29

Os pais F1

O Raul e a Carolina F5

Elas F17

PLURAL

Lamentar

Os avós F30

Quadro 5 – Flexão em número dos sujeitos da oração matriz.

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Em síntese, no teste de avaliação são controladas as seguintes variáveis:

(i) a extensão das frases;

(ii) o verbo da oração matriz segundo o modo e o tempo que admitem na completiva;

(iii) o número do sujeito da oração matriz;

(iv) o modo e o tempo da oração principal e da oração completiva;

(v) a (a)gramaticalidade das frases;

(vi) as relações de (in)dependência temporal da encaixada relativamente à matriz.

2.2. Sujeitos

Como referido anteriormente, foram definidos dois grupos de sujeitos: o grupo I,

composto por 10 alunos que frequentam o 10º ano de escolaridade, e o grupo II,

formado por 10 alunos que frequentam o 12º ano de escolaridade, perfazendo um total

de 20 sujeitos. Todos os alunos frequentam, no ano lectivo de 2007/08, a mesma escola,

a Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia (Beja).

A aplicação do estímulo a estes dois grupos teve como objectivo testar as competências

adquiridas em duas etapas de ensino e considerar o seu desempenho significativo. Deste

modo, o grupo I permitirá aferir as competências adquiridas no início do ensino

secundário, mais concretamente, no início do segundo período do 10º ano, e o grupo II

dará conta do desempenho dos alunos no início do segundo período do 12º ano.

A realização dos testes foi antecedida do preenchimento de um questionário de

identificação (cf. anexo 4) que permitiu recolher dados pessoais (nome, idade, sexo,

naturalidade, localidade, língua materna) e académicos (escola, ano de escolaridade,

turma, classificação na disciplina de Língua Portuguesa) e, por conseguinte, controlar as

variáveis na selecção dos sujeitos. Todos os elementos solicitados neste questionário

estavam numerados para facilitar a recolha e a organização de dados. Deste modo, na

selecção dos sujeitos foram controladas as seguintes variáveis:

• Idade;

• Sexo;

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• Língua materna;

• Ano de escolaridade;

• Aproveitamento escolar na disciplina de Língua Portuguesa (no ano lectivo

anterior e no ano lectivo em vigor).

Para que o perfil de ambos os grupos de sujeitos fosse o mais homogéneo possível,

excluíram-se os sujeitos que residiam há menos de 10 anos no distrito de Beja, os que

não tinham como língua materna o português, os que fossem repetentes (alunos que não

estão a frequentar pela primeira vez o mesmo ano lectivo) e os que tivessem obtido

classificações negativas a Língua Portuguesa no ano lectivo anterior e no ano lectivo

vigente.

Apresenta-se, de seguida, a caracterização dos sujeitos por grupo, tendo em conta as

variáveis acima enunciadas.

2.2.1.Grupo I

O grupo I (cf. anexo 5) é composto por 10 alunos que frequentam o 10º de escolaridade

e estão integrados na turma C da Escola Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia

(Beja). Destes, 5 são do sexo feminino e 5, do sexo masculino. Todos os elementos têm

15 anos no momento da recolha dos dados, residem há mais de 10 anos no distrito de

Beja e estão pela primeira vez a frequentar o 10º ano de escolaridade no ano lectivo

2007/08. Todos têm como língua materna o Português e o seu aproveitamento escolar a

Língua Portuguesa foi positivo, quer no ano lectivo anterior (9º ano), quer no presente

ano lectivo (10º ano, 1º período). Relativamente ao 9º ano, as classificações variam

entre 3 e 5 e, quanto à primeira avaliação do 10º ano (1º período), as classificações

situam-se entre o nível 14 e o nível 19.

2.2.2. Grupo II

O Grupo II (cf. anexo 6) é constituído por 10 alunos do 12º ano, turma B, da Escola

Secundária com 3º ciclo Diogo de Gouveia (Beja), sendo que metade é do sexo

feminino e a outra metade é do sexo masculino. Todos os elementos têm em comum a

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idade (17 anos), a língua materna (Português) e o facto de residirem no distrito de Beja

há mais de 10 anos. Frequentam pela primeira vez o 12º ano de escolaridade, no ano

lectivo 2007/08, e todos obtiveram uma avaliação positiva a Língua Portuguesa no 1º

período do presente ano lectivo e no final do ano lectivo anterior ao momento da

recolha (11º ano). No que concerne ao 11º ano, os sujeitos apresentam notas entre 12 e

19 e, no que diz respeito ao 1º período do 12º ano, as suas classificações variam entre 11

e 19.

2.3.Condições de recolha dos dados

O teste foi aplicado em contexto de sala de aula e no decorrer da aula de Língua

Portuguesa. A investigadora esteve sempre presente durante a realização da tarefa e

contou com a colaboração e com a presença dos respectivos professores de Português, a

quem foi dada a conhecer previamente a natureza do trabalho de investigação e os

objectivos do teste.

A investigadora começou por se apresentar, fornecendo aos alunos alguns dados

pessoais e profissionais e, de seguida, informou-os de que as tarefas que iriam

desempenhar se enquadravam no âmbito de um trabalho de investigação na área da

Língua Portuguesa. De modo a assegurar a compreensão das tarefas solicitadas nos

testes, a investigadora reforçou oralmente as instruções escritas das tarefas solicitadas

nas 3 partes constituintes (Identificação, I-Produção e II-Avaliação), recorrendo a

exemplos ilustrativos. Mostrou-se disponível para qualquer esclarecimento adicional,

embora nunca revelasse o objecto de estudo dos testes.

A todos os alunos presentes na aula de Língua Portuguesa foram aplicados os testes,

nomeadamente a 23 alunos do 10º ano e a 17 alunos do 12º ano, sendo que a selecção

dos 10 sujeitos por cada grupo foi feita posteriormente, segundo as variáveis

previamente estabelecidas e o perfil pretendido.

O tempo total de recolha dos dados foi de cerca de 35 minutos em ambas as turmas.

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Capítulo 3 – Descrição dos Dados

Neste capítulo procede-se à descrição dos dados produzidos pelo grupo de sujeitos I

(10º ano) e pelo grupo de sujeitos II (12º ano), segundo os objectivos previamente

definidos para cada teste (cf. secção 2.1.2.). Este capítulo encontra-se, assim, dividido

em duas partes: a primeira diz respeito ao teste de produção (secção 3.1.), e subdivide-

se nos dois parâmetros avaliados (propriedades do verbo matriz e selecção do modo;

efeitos da negação superior no modo da oração encaixada), sendo também descritas as

relações de concordância temporal entre o verbo da oração encaixada e o da oração

matriz; a segunda parte apresenta os dados relativos ao teste de avaliação (secção 3.2.)

de acordo com o parâmetro testado (relações de (in)dependência temporal entre a frase

encaixada e a matriz).

3.1. Teste I – Produção

Como referido no Capítulo 2 – Metodologia (cf. secção 2.1.2.1.), o teste de produção

pretendia que os sujeitos completassem as orações completivas, de modo a verificar se

os mesmos seleccionam o modo correcto na encaixada, de acordo com o verbo presente

na oração matriz. É composto por frases incompletas em que o verbo superior se

encontra no presente do indicativo. Assim, na observação dos dados, ter-se-á em

consideração o modo produzido pelos sujeitos na encaixada, bem como o respectivo

tempo verbal.

De acordo com os dados recolhidos, organizou-se a informação de forma a dar conta:

(i) da distribuição dos modos indicativo e conjuntivo por grupo verbal – quadro 7

(secção 3.1.1.1.), quadro 8 (secção 3.1.1.2.), quadro 10 (secção 3.1.2.1.) e quadro 11

(secção 3.1.2.2.);

(ii) do tempo verbal seleccionado pelos sujeitos em cada modo e do respectivo número

de ocorrências – quadros 1 a 4 (cf. anexo 7);

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(iii) da percentagem de cada tempo verbal em cada modo, por grupo de verbos –

gráficos 1 a 12 (secção 3.1.1.) e gráficos 13 a 24 (secção 3.1.2.).

3.1.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas

Com já previamente estabelecido (cf. secção 2.1.2.1.), organizaram-se seis grupos de

verbos que ocorrem na oração matriz, de acordo com o(s) modo(s) que seleccionam na

oração completiva. Por facilidade de exposição, o quadro 1 é agora repetido como

quadro 6:

Oração Matriz Oração Completiva Grupo

de Verbos Verbos Modo(s)

I

1. Afirmar

2. Saber

Indicativo

II

3. Lamentar

4. Querer

5. Esperar

Conjuntivo

III

6. Sentir

7. Achar

8. Prometer

9. Dizer

Indicativo

IV

10. Duvidar

Conjuntivo

V

11. Acreditar

12. Imaginar

13. Suspeitar

14. Prever

Indicativo/ Conjuntivo

VI

15. Pensar

Indicativo/ ?Conjuntivo

Quadro 6 – Verbos da oração superior e modo(s) seleccionado(s) na encaixada.

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A ocorrência destes verbos em Português encontra-se ilustrada nos exemplos (100) a

(105):

(100) O Pedro {afirma/ sabe} que o João está de férias.

(101) O pai {lamenta/ quer/ espera} que o seu filho vá ao teatro.

(102) Eles {sentem/ acham/ prometem/ dizem} que a Maria ficará contente com a

surpresa.

(103) Eu duvido que os miúdos venham amanhã.

(104) a. Os Professores {acreditam/ imaginam/ suspeitam/ prevêem} que os alunos

terão bons resultados.

b. A Mariana {acredita/ imagina/ suspeita/ prevê} que os próximos testes sejam

mais difíceis.

(105) Pensamos que ele {chega/chegue} hoje.

No caso dos verbos do grupo V, como já referimos anteriormente, a escolha do modo

indicativo ou conjuntivo decorre do valor de verdade atribuído à proposição encaixada.

Assim, em (104a) a selecção do indicativo na encaixada pressupõe a verdade da frase

complemento, mas em (104b) a escolha do conjuntivo revela que a proposição

encaixada não é tida como verdadeira.

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3.1.1.1. Grupo de Sujeitos I (10º Ano)

Apresenta-se no quadro 7 a distribuição dos modos indicativo e conjuntivo da encaixada

por grupo de verbos, de acordo com as produções dos sujeitos do grupo I.

Produções dos Sujeitos (%) Grupo

de Verbos

Modo

seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo

I

Indicativo

100%

0%

II

Conjuntivo

3.3%

96.7%

III

Indicativo

100%

0%

IV

Conjuntivo

40%

60%

V

Indicativo/ Conjuntivo

82.5%

15%

VI

Indicativo/ ?Conjuntivo

100%

0%

Quadro 7 – Valores percentuais relativos ao(s) modo(s) seleccionado(s) no teste de

produção pelo grupo de sujeitos I (10º ano).

Com base no quadro 7, verifica-se que, no que diz respeito ao primeiro conjunto de

verbos (verbos afirmar e saber), o grupo de sujeitos I selecciona apenas o indicativo,

apresentando este modo 100% do total das ocorrências, o que corresponde à alternativa

correcta. Exemplificam as produções dos sujeitos os dados seguintes:

(106) O Presidente da Câmara afirma que3 a localidade de Ferreira precisa de obras

no jardim.

(107) Eu sei que os meus amigos são dignos de confiança.

3 Colocou-se a negrito as frases incompletas que constavam do teste de produção, correspondendo a restante frase às produções dos sujeitos.

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Pela observação do gráfico 1 abaixo, podemos igualmente constatar que neste grupo de

verbos o tempo predominante do modo indicativo é o presente, registando no total 14

ocorrências (70%), distribuídas equitativamente pelos dois verbos constituintes (7

ocorrências cada) – cf. quadro 1, anexo 7. Como exemplos, vejam-se alguns dos dados

produzidos pelos sujeitos em (108) e (109):

(108) O Presidente da Câmara afirma que o Alentejo é um bom local para se viver.

(109) Eu sei que há eleições para o governo de 4 em 4 anos.

Seguem-se as formas perifrásticas4 com 5 ocorrências (25 %; cf. gráfico 1), 2 das quais

com o verbo afirmar, construídas com o verbo auxiliar ir no futuro, e 3 com o verbo

saber, estando o verbo auxiliar no presente (2 ocorrências são construídas com o verbo

auxiliar ter e uma com o verbo auxiliar dever) – cf. quadro 1, anexo 7. Estes dados estão

exemplificados em (110) e (111), respectivamente. Com uma ocorrência (5%), surge,

em terceiro lugar, o futuro, como atesta o exemplo (112) – cf. quadro 1, anexo 7.

(110) O Presidente da Câmara afirma que a cidade irá beneficiar com o aeroporto.

(111) Eu sei que devo estudar mais.

(112) O Presidente da Câmara afirma que haverá obras de remodelação da estrada

principal.

Assim, através da observação do gráfico 1, podemos identificar os três tempos

produzidos pelos sujeitos no modo indicativo, com uma preferência clara pelo presente.

4 De forma a facilitar a descrição dos dados, as formas perifrásticas são apresentadas no quadro dos verbais, especificando-se os tempos predominantes do verbo auxiliar.

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Grupo de Verbos I

Presente70,0%

Futuro5,0%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)25,0%

Gráfico 1 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos I.

Quanto ao grupo de verbos II (verbos lamentar, querer e esperar), predomina a

selecção do conjuntivo com 96.7%, correspondendo o indicativo a 3.3%. Os dados

seguintes exemplificam as produções correctas dos sujeitos, estando o verbo da

encaixada no conjuntivo, conforme o alvo:

(113) As raparigas lamentam que os rapazes olhem tão pouco para elas.

(114) Os professores querem que os alunos se esforcem mais.

(115) A Madalena espera que eu melhore rápido.

Representando no total 93.3%, o presente do conjuntivo é o tempo mais produzido pelos

sujeitos (28 ocorrências; cf. (113) a (115)) e a única ocorrência agramatical, que

corresponde a uma produção no indicativo, verifica-se com o verbo lamentar (cf. quadro

1, anexo 7), como documenta o seguinte exemplo:

(116) *As raparigas lamentam que ele não é um bom aluno.

Veja-se, assim, o gráfico 2, que apresenta as produções dos sujeitos relativamente à

escolha do modo e respectivos tempos verbais na encaixada, e que, como já referido

anteriormente, revela uma preferência do modo conjuntivo sobre o indicativo.

Indicativo

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Grupo de Verbos II

Presente3,3%

Presente93,3%

Pret. Perfeito Composto

3,3%

Gráfico 2 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos II.

Relativamente ao grupo de verbos III (verbos sentir, achar, prometer e dizer), o

indicativo foi o único modo seleccionado pelos sujeitos, apresentando, assim, 100% de

ocorrências, de acordo com as produções-alvo, o que se pode verificar pelos exemplos

(117) e (118):

(117) Os alunos sentem que o 10º ano é complicado.

(118) O teu irmão promete que te irá ajudar a realizar o trabalho.

Pela observação do gráfico 3, podemos verificar que os tempos do modo indicativo

predominantes são, em primeiro lugar, o presente, com 19 ocorrências (47.5%; cf.

(119)) e, em segundo, as formas perifrásticas, com 15 ocorrências (37.5%), distribuídas

pelos quatro verbos constituintes, sendo que 9 destas últimas ocorrências envolvem o

verbo prometer (cf. (120)) e são construídas com o verbo ir (destas 9 ocorrências, em 7

o verbo auxiliar encontra-se no presente e em 2 este está no futuro - cf. quadro 1, anexo

7). Por último, temos o pretérito perfeito com 12.5% (5 ocorrências; cf. (121)) e o futuro

com 2.5% (1 ocorrência; cf. (122)) – cf. quadro 1, anexo 7.

(119) Aqueles Senhores acham que têm direito ao aumento da reforma.

(120) O teu irmão promete que vai arrumar o seu quarto.

(121) Tu e o André dizem que o chefe da loja não foi roubado.

Indicativo

Conjuntivo

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(122) O teu irmão promete que levantará as notas.

Assim, o gráfico 3 reúne a informação relativa aos tempos verbais seleccionados pelos

sujeitos no modo indicativo.

Grupo de Verbos III

Presente47,5%

Futuro2,5%

Pretérito Perfeito12,5%

F. Perifrásticas (Pres/Fut/P.I.)

37,5%

Gráfico 3 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos III.

No que concerne ao grupo IV (verbo duvidar), os dois modos foram seleccionados,

sendo que o modo conjuntivo, em conformidade com o alvo, apresenta uma maior

percentagem relativamente ao modo indicativo, a saber, 60% e 40%, respectivamente.

A selecção do conjuntivo e do indicativo na encaixada encontra-se, respectivamente,

exemplificada nos seguintes dados:

(123) A chefe da loja duvida que aqueles jovens sejam de confiança.

(124) *A chefe da loja duvida que eu paguei.

Com este grupo de verbos, os dados integram 4 ocorrências agramaticais no indicativo,

2 que correspondem ao uso do pretérito perfeito (20%; cf. (125)) e 2 ao uso de formas

perifrásticas (20%; cf. (126)), uma com o verbo auxiliar ir no futuro e uma com o verbo

auxiliar ter no presente – cf. quadro 1, anexo 7.

Indicativo

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(125) *A chefe da loja duvida que foi roubada.

(126) *A chefe da loja duvida que irá ter prejuízo.

Quanto ao conjuntivo, os dados comportam 6 ocorrências (cf. quadro 1, anexo 7) que,

como se observa no gráfico 4, correspondem ao presente (40%) e ao pretérito perfeito

composto (20%), o que se observa pelos dados que se seguem, respectivamente:

(127) A chefe da loja duvida que ganhe algum dinheiro com a nova marca.

(128) A chefe da loja duvida que aquilo tenha sido um engano.

Atente-se no gráfico 4, que apresenta os tempos verbais produzidos em cada modo na

encaixada, com o respectivo valor percentual.

Grupo de Verbos IV

F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%

Pretérito Perfeito20,0%

Pret. Perfeito Composto20,0%

Presente40,0%

Gráfico 4 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos IV.

No grupo de verbos V (verbos acreditar, imaginar, suspeitar e prever), por seu turno,

verifica-se um valor de 82.5% para o modo indicativo e 15% para o modo conjuntivo. A

selecção destes modos encontra-se exemplificada nos seguintes dados, respectivamente:

(129) Eles imaginam que todas as crianças do mundo são felizes.

(130) Eu e a Teresa suspeitamos que eles tenham copiado nos testes.

Indicativo

Conjuntivo

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Note-se que, como ilustrámos através do exemplo (104), estes verbos admitem os dois

modos na encaixada, sendo a sua distribuição determinada pela atribuição do valor de

verdade à proposição da encaixada.

Todos os verbos constituintes deste grupo, à excepção do verbo imaginar, apresentam

ocorrências no modo conjuntivo (total de 6 ocorrências), predominando o presente

(12.5%; cf. (131) e (132)), sobretudo na frase com o verbo prever (3 ocorrências; cf.

(133)) – cf. quadro 1, anexo 7.

(131) O pequenino Francisco acredita que na vida tudo seja fácil.

(132) Eu e a Teresa suspeitamos que o Professor de Filosofia tenha uma filha.

(133) O Pedro prevê que um tsunami destrua Portugal.

De entre as ocorrências no modo indicativo, destacam-se as formas perifrásticas com

40% do total das produções (16 ocorrências; cf. (134) e (135)), o que corresponde a 9

ocorrências com o verbo auxiliar no presente (verbo ir ou estar) e a 7 (verbo ir) com o

verbo auxiliar no futuro. Segue-se o presente com 27.5% (cf. (136) e (137)). Note-se, no

entanto, que o presente do indicativo é produzido em todas as frases dos verbos

constituintes, à excepção da frase com o verbo prever (cf. quadro 1, anexo 7).

(134) Eles imaginam que estão a jogar no computador.

(135) Eu e a Teresa suspeitamos que irá ocorrer um atentado em Portugal.

(136) O pequenino Francisco acredita que o Pai Natal existe realmente.

(137) Eles imaginam que o casamento é um mar de rosas.

Com um valor inferior, (5%), o futuro, exemplificado em (138), e o pretérito perfeito,

ilustrado em (139), são tempos igualmente seleccionados pelos sujeitos na encaixada.

(138) O pequenino Francisco acredita que um dia será um grande gestor.

(139) Eu e a Teresa suspeitamos que o Filipe copiou no teste de Geografia.

Acrescente-se ainda que um dos sujeitos não completou a frase com o verbo prever

(frase 28, “O Pedro prevê que …”) – cf. quadro 1, anexo 7.

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O gráfico 5 mostra todos os tempos verbais produzidos pelos sujeitos em cada modo e

revela, como já referido anteriormente, uma produção mais elevada do indicativo face

ao conjuntivo.

Grupo de Verbos V

P resente27,5%

Futuro5,0%

Pretérito P erfeito5,0%

Futuro do P retérito2,5%

P .M.Q.P . Comp.2,5%

N. R.2,5%

P resente12,5%

Pret. P erfeito Composto

2,5%

F. P erifrás ticas (P res /Fut)40,0%

Gráfico 5 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos V.

Por último, no sexto grupo de verbos (verbo pensar), o indicativo foi o único modo

seleccionado, correspondendo, por isso, a 100% das ocorrências. Os exemplos (140) e

(141) ilustram as produções dos sujeitos:

(140) O Sr. José e a D. Graça pensam que a sua casa necessita de uma remodelação.

(141) O Sr. José e a D. Graça pensam que os vizinhos são muito barulhentos.

Como regista o gráfico 6, com o verbo pensar predomina claramente o presente do

indicativo (80%) – cf. quadro 1, anexo 7 –, ilustrado nas frases (140) e (141).

Este gráfico permite-nos igualmente verificar que as formas perifrásticas (uma

ocorrência, construída com o verbo auxiliar estar no presente) e o futuro do pretérito

apresentam o mesmo valor percentual, 10%, relativamente ao total das ocorrências, o

que corresponde aos seguintes dados, respectivamente:

Não Respondeu

Indicativo

Conjuntivo

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(142) O Sr. José e a D. Graça pensam que Portugal está a passar por uma enorme

crise.

(143) ?O Sr. José e a D. Graça pensam que a sua filha conseguiria ter melhores

resultados.

Grupo de Verbos VI

Presente80,0%

F. Perifrásticas (Pres)10,0%

Futuro do Pretérito10,0%

Gráfico 6 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos VI.

Tendo em conta os dados apresentados nesta secção, podemos concluir que,

relativamente à selecção do modo e do tempo do verbo da encaixada:

(i) Os grupos de verbos I e III, que seleccionam na encaixada o modo indicativo,

apresentam uma taxa de sucesso total (100%), não se verificando produções incorrectas.

(iii) Nos grupos de verbos II e IV, que admitem na oração complemento o modo

conjuntivo, predomina claramente a produção do modo conjuntivo: no grupo II, a

selecção do conjuntivo corresponde a um valor percentual de 96.7%, sendo a

percentagem de produções incorrectas de 3.3%; no grupo de verbos IV, o conjuntivo,

embora apresente um valor inferior, 60%, é também o modo mais seleccionado pelos

sujeitos.

Indicativo

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(iv) No que diz respeito ao grupo de verbos com selecção dupla de modo (indicativo ou

conjuntivo), verifica-se, no grupo V, que o modo mais seleccionado pelos sujeitos é o

indicativo, com um valor percentual de 82.5%. Neste grupo, as produções de conjuntivo

perfazem um total de 15% e dizem respeito aos verbos acreditar, suspeitar e prever.

Relativamente ao grupo VI, o indicativo apresenta 100% de ocorrências.

(v) Relativamente aos tempos verbais produzidos pelos sujeitos na encaixada, podemos

afirmar que, de entre os seleccionados no modo indicativo, o presente é marcadamente o

tempo predominante. A este, seguem-se as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar no

presente e/ou no futuro, e, em terceiro lugar, o pretérito perfeito.

Quando ao conjuntivo, o cenário é idêntico: o presente é o tempo mais utilizado pelos

sujeitos. Em segundo lugar, surge o pretérito perfeito composto.

Neste contexto, importa recordar que todas as frases constituintes do teste de produção

apresentam o verbo da oração matriz no presente do indicativo, facto este que irá ser

tomado em consideração aquando da análise dos dados (cf. Capítulo 4 – Análise dos

dados).

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3.1.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)

De acordo com os dados recolhidos no grupo de sujeitos II, organizou-se a distribuição

dos modos indicativo e conjuntivo da encaixada no quadro 8.

Produções dos Sujeitos (%) Grupo

de Verbos

Modo

seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo

I

Indicativo

100%

0%

II

Conjuntivo

0%

100%

III

Indicativo

100%

0%

IV

Conjuntivo

0%

100%

V

Indicativo/ Conjuntivo

82.5%

17.5%

VI

Indicativo/ ?Conjuntivo

100%

0%

Quadro 8 – Valores percentuais relativos ao(s) modo(s) seleccionado(s) no teste de

produção pelo grupo de sujeitos II (12º ano).

Nos grupos de verbos que, na gramática-alvo, seleccionam exclusivamente o indicativo

na oração completiva, nomeadamente nos grupos I (verbos afirmar e saber; cf. (144) e

(145)) e III (verbos sentir, achar, prometer e dizer; cf. (146) e (147)), todos os sujeitos

seleccionaram este modo, obtendo-se, portanto, 100% do total das ocorrências.

(144) O Presidente da Câmara afirma que irá mandar construir uma nova escola.

(145) Eu sei que tu não confias em mim.

(146) Os alunos sentem que a exigência começa a aumentar.

(147) Aqueles Senhores acham que o carro tem um problema no motor.

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Com 65% do total das ocorrências nos grupos de verbos I (13 ocorrências; cf. (148) e

(149)) e III (26 ocorrências; cf. (150) e (151)), o presente do indicativo é o tempo mais

produzido pelos sujeitos (cf. quadro 2, anexo 7).

(148) O Presidente da Câmara afirma que as estradas necessitam de obras.

(149) Eu sei que a vida é curta.

(150) O teu irmão promete que me paga a aposta.

(151) Tu e o André dizem que as taxas alfandegárias estão cada vez mais altas.

Com base nos dados apresentados nos gráficos 7 e 8, pode-se constatar também que,

nos dois grupos de verbos, as formas perifrásticas apresentam mais de 15% do total das

produções e são construídas com o auxiliar no presente ou no futuro (25% para o grupo

de verbos I, cf. (152); 17.5% para o grupo de verbos III, cf. (153) e (154)), com destaque

para as formas que envolvem o auxiliar ir – cf. quadro 2, anexo 7.

(152) O Presidente da Câmara afirma que se irá recandidatar nas próximas eleições.

(153) Aqueles Senhores acham que não iremos ser bem sucedidos.

(154) O teu irmão promete que vai estudar.

No grupo de verbos III, o futuro do indicativo apresenta, relativamente ao total de

produções, um valor percentual de 12.5% (cf. gráfico 8). Porém, neste grupo, as

produções deste tempo verbal ocorrem apenas com os verbos prometer (3 ocorrências) e

dizer (2 ocorrências), como exemplificado nos seguintes dados, respectivamente (cf.

quadro 2, anexo 7):

(155) O teu irmão promete que nunca te deixará sozinha.

(156) Tu e o André dizem que a Maria jamais será feliz.

Desta forma, através da observação dos gráficos 7 e 8, podemos identificar os tempos

verbais produzidos pelos sujeitos no indicativo e o respectivo valor percentual

relativamente à totalidade dos dados relativos aos verbos dos grupos I e III.

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Grupo de Verbos I

Presente65,0%

Futuro do Pretérito5,0%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)25,0%

Pretérito Imperfeito

5,0%

Gráfico 7 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos I.

Grupo de Verbos III

Presente65,0%

Futuro12,5%

Pretérito Perfeito5,0%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)17,5%

Gráfico 8 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos III.

Quanto aos grupos de verbos II (verbos lamentar, querer e esperar) e IV (verbo

duvidar), que seleccionam o conjuntivo na encaixada, verifica-se que este modo é o

único seleccionado pelos sujeitos, correspondendo por isso a 100% das ocorrências. As

produções dos sujeitos relativas ao grupo de verbos II estão exemplificadas nas frases

Indicativo

Indicativo

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(157) e (158) e os dados respeitantes ao grupo de verbos IV são ilustrados pelas frases

(159) e (160):

(157) As raparigas lamentam que os rapazes sejam tão imaturos.

(158) Os professores querem que os alunos tenham boas notas nos exames.

(159) A chefe da loja duvida que os novos gelados cheguem hoje.

(160) A chefe da loja duvida que a concorrência tenha preços mais baixos.

Relativamente aos tempos seleccionados (cf. gráficos 9 e 10), o presente do conjuntivo é

o mais seleccionado pelos sujeitos, nos dois grupos de verbos, correspondendo a 93.3%

no grupo II (28 ocorrências; cf. (157) e (158)) e a 80% no grupo IV (8 ocorrências; cf.

(159) e (160)) – cf. quadro 2, anexo 7. A este tempo, segue-se o pretérito perfeito

composto que apresenta 2 ocorrências (6.7%) no grupo de verbos II, que envolvem

apenas o verbo lamentar, como exemplificado através da frase (161) – cf. quadro 2,

anexo 7. Também com 2 ocorrências (cf. quadro 2, anexo 7), este tempo verbal

apresenta, no grupo de verbos IV, um valor percentual superior, 20% do total de

produções (cf. (162)).

(161) As raparigas lamentam que o professor tenha ficado doente.

(162) A chefe da loja duvida que o ladrão tenha entrado pela porta.

Os dados referidos anteriormente podem ser observados nos gráficos 9 e 10, que

apresentam os valores percentuais obtidos para cada tempo verbal produzido no

conjuntivo.

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Grupo de Verbos II

Presente93,3%

Pret. Perfeito Composto

6,7%

Gráfico 9 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos II.

Grupo de Verbos IV

Presente80,0%

Pret. Perfeito Composto20,0%

Gráfico 10 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos IV.

Por fim, no grupo V (verbos acreditar, imaginar, suspeitar e prever), grupo cujos

verbos exibem uma selecção modal dupla na oração complemento, predomina o modo

indicativo (82.5%) em detrimento do modo conjuntivo (17.5%). A este propósito,

vejam-se os seguintes dados:

Conjuntivo

Conjuntivo

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(163) Eles imaginam que um dia o mundo vai acabar.

(164) Eu e a Teresa suspeitamos que o Ricardo e a Ana namoram.

(165) a. O Pedro prevê que a tua equipa não consiga melhor que um empate.

b. O Pedro prevê que o Porto será campeão.

Como se regista no gráfico 11, o tempo mais produzido no indicativo é o presente, com

14 ocorrências (35%), que não envolvem o verbo prever (cf. quadro 2, anexo 7). Os

dados em (166) e (167) são exemplos dessas produções:

(166) O pequenino Francisco acredita que o Pai Natal existe.

(167) Eles imaginam que estão numa ilha deserta em pleno Pacífico.

Surgem, em segundo lugar, as formas perifrásticas, com um valor de 20% do total das

produções, correspondendo a 8 ocorrências construídas com o verbo auxiliar ir (4 com o

verbo auxiliar no presente e 4 com o mesmo verbo no futuro – cf. quadro 2, anexo 7).

Note-se que as formas perifrásticas são produzidas com todos os verbos, excepto com o

verbo suspeitar – cf. quadro 2, anexo 7. A exemplificar estas produções, estão os dados

presentes em (168) e (169):

(168) O pequenino Francisco acredita que vai receber uma playstation3 no seu

aniversário.

(169) O Pedro prevê que irá chover amanhã.

Pela leitura do gráfico 11, verificamos igualmente que, em terceiro lugar, o tempo

verbal mais produzido é o futuro, correspondendo a 15% da totalidade das ocorrências

(4 ocorrências – cf. quadro 2, anexo 7). Este tempo é seleccionado pelos sujeitos nas

frases que envolvem os verbos acreditar e prever, como se verifica nas frases (170) e

(171), respectivamente:

(170) O pequenino Francisco acredita que os seus pais o levarão ao estrangeiro.

(171) O Pedro prevê que a Matilde voltará amanhã.

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Relativamente às produções do conjuntivo, apenas se verificam com os verbos suspeitar

(3 ocorrências; cf. (172)) e prever (4 ocorrências; cf. (173)), predominando o presente,

com 15%, seguido do pretérito perfeito composto, com 2.5% – cf. quadro 2, anexo 7.

(172) Eu e a Teresa suspeitamos que o João e a Margarida sejam namorados.

(173) O Pedro prevê que as suas notas sejam boas.

Atente-se no gráfico 11, que representa a distribuição do modo indicativo e conjuntivo,

no que diz respeito aos tempos verbais seleccionados em cada grupo de verbos.

Grupo de Verbos V

Presente35,0%

Futuro15,0%

Pretérito Perfeito7,5%

Futuro do Pretérito2,5%

Pretérito Imperfeito2,5%

Presente15,0%

Pret. Perfeito Composto

2,5%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%

Gráfico 11 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos V.

Por fim, considere-se o grupo VI, constituído exclusivamente pelo verbo pensar, que,

tal como os verbos do grupo anterior, selecciona na oração complemento ou o indicativo

ou, para alguns falantes, também o conjuntivo. No entanto, este verbo ocorre, nos dados

em análise, sempre no indicativo, registando este modo 100% do total das ocorrências.

Veja-se, a título ilustrativo, o exemplo (174):

(174) O Sr. José e a D. Graça pensam que são antiquados demais para sair à noite.

Indicativo

Conjuntivo

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Com 4 ocorrências (40%; cf. (175)), o presente é o tempo mais produzido pelos sujeitos

e, com um número de ocorrências ligeiramente inferior, 3 (30%; cf. (176)), surge em

seguida o futuro – cf. quadro 2, anexo 7.

(175) O Sr. José e a D. Graça pensam que os seus netos são os mais bonitos do

mundo.

(176) O Sr. José e a D. Graça pensam que ficarão juntos para sempre.

O gráfico 12 permite-nos igualmente verificar que, em terceiro lugar, com um valor de

20%, se encontram as formas perifrásticas (2 ocorrências com os verbos auxiliares ir e

estar no presente; cf. (177)), e, por último, o pretérito perfeito, com 10% (cf. (178)) – cf.

quadro 2, anexo 7.

(177) O Sr. José e a D. Graça pensam que não vão ter dinheiro suficiente quando

chegarem à reforma.

(178) O Sr. José e a D. Graça pensam que o seu filho adoeceu devido ao que comeu

no dia anterior.

Grupo de Verbos VI

Presente40,0%

Futuro30,0%

Pretérito Perfeito10,0%

F. Perifrásticas (Pres)20,0%

Gráfico 12 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos VI.

Indicativo

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Em síntese, os dados apresentados permitem-nos afirmar que, relativamente à selecção

do modo e do tempo do verbo da encaixada:

(i) Em todos os grupos de verbos a taxa de sucesso é de 100%, uma vez que os sujeitos

produzem na completiva o(s) modo(s) seleccionado(s) pelo verbo matriz.

(ii) No grupo de verbos que seleccionam ou o indicativo ou o conjuntivo (grupos de

verbos V e VI), os sujeitos produzem, no grupo V, maioritariamente o indicativo,

registando-se apenas 7 ocorrências no conjuntivo; no grupo VI, o indicativo é o único

modo produzido pelos sujeitos, registando este modo 100% do total das ocorrências.

(iii) Nas construções em que os sujeitos seleccionam o modo indicativo (grupos de

verbos I, III, V e VI), o presente é o tempo verbal que regista um maior número de

produções. Em segundo lugar, com um valor percentual um pouco inferior, surgem as

formas perifrásticas, cujo verbo auxiliar se encontra ou no presente ou no futuro. Segue-

se o uso do futuro e do pretérito perfeito.

Relativamente às frases em que os sujeitos produzem o conjuntivo (grupos de verbos II,

IV e V), o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos é, à semelhança do que acontece

com o indicativo, o presente. Além do presente, os sujeitos produzem também o

pretérito perfeito composto, sendo de destacar o grupo de verbos IV, onde este tempo

regista, relativamente aos grupos II e V, um valor percentual superior (20% para 6.7% e

2.5%, respectivamente).

3.1.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada

Como mostrámos anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), a ocorrência do marcador de

negação frásica na oração matriz pode induzir alterações no modo da encaixada.

A observação comparada dos quadros 6 e 9, permite-nos verificar que os grupos I, II, V

e VI mantêm a mesma selecção modal, ao passo que os grupos de verbos III e IV

sofrem a interferência do elemento de negação frásica, passando a admitir um modo

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diferente nas frases afirmativas e nas negativas 5. O quadro 2 encontra-se repetido nesta

secção como quadro 9 de modo a facilitar a exposição da informação:

Oração Matriz

(operador de negação frásica) Oração Completiva Grupo

de Verbos Verbos Modo(s)

I

1. Afirmar

2. Saber

Indicativo

II

3. Lamentar

4. Querer

5. Esperar

6. Prever

Conjuntivo

III

7. Sentir

8. Achar

9. Prometer

10. Dizer

Indicativo/ Conjuntivo

IV

11. Duvidar

Indicativo/ Conjuntivo

V

12. Acreditar

13. Imaginar

14. Suspeitar

Indicativo/ Conjuntivo

VI

15. Pensar

Indicativo/ Conjuntivo

Quadro 9 – Verbos da oração superior e modo(s) seleccionado(s) na encaixada na

presença de negação frásica.

Os exemplos que se seguem ilustram o(s) modo(s) seleccionado(s) na encaixada na

presença do operador de negação frásica na oração superior:

(179) Eles não {afirmam/sabem} que o Director está em reunião.

(180) Eu e a Mariana não {lamentamos/queremos/ esperamos/ prevemos} que ele venha

à festa. 5 Note-se que, como referimos anteriormente, tendo em conta este fenómeno, o verbo prever passa a incluir-se no grupo de verbos II.

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(181) a. Tu não {sentes/ achas/ prometes/ dizes} que o teu irmão vai contar a verdade.

b. Elas não {sentem/ acham/ prometem/ dizem} que o Miguel esteja a contar a

verdade.

(182) a. O Roberto não duvida que os seus pais são os seus melhores amigos.

b. A Maria não duvida que o seu filho comece a andar dentro em breve.

(183) a. Eu não {acredito/ imagino/ suspeito} que o Pedro vai desistir da escola.

b. O Rui e a Inês não {acreditam/ imaginam/ suspeitam} que o desemprego

aumente nos próximos meses.

(184) a. Os professores não pensam que os alunos estão todos motivados.

b. O inquilino não pensa que o senhorio baixe a renda.

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3.1.2.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)

Os valores percentuais correspondentes às produções dos sujeitos do grupo I (10º ano),

relativas à escolha do modo na encaixada, encontram-se registados no quadro 10.

Produções dos Sujeitos (%) Grupo

de Verbos

Modo

seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo

I

Indicativo

100%

0%

II

Conjuntivo

2.5%

97.5%

III

Indicativo/ Conjuntivo

65%

32.5%

IV

Indicativo/ Conjuntivo

70%

20%

V

Indicativo/ Conjuntivo

73.4%

26.6%

VI

Indicativo/ Conjuntivo

60%

40%

Quadro 10 – Modo(s) seleccionado(s) no teste de produção pelo grupo de sujeitos I

(10º ano).

Os dados recolhidos mostram que, no grupo de verbos I (verbos afirmar e saber), o

indicativo é o único modo produzido, o que se encontra em conformidade com o alvo,

apresentando um valor de 100% do total das ocorrências. Os dados que se seguem

atestam estas produções:

(185) O Paulo nunca afirma que gosta da Inês.

(186) O patrão não sabe que os funcionários estão a planear uma greve.

De entre os tempos produzidos (cf. gráfico 13), destaca-se o presente (cf. (187)), com

40%, tendo-se registado neste tempo 6 ocorrências com o verbo afirmar e 2 com o

verbo saber (cf. quadro 3, anexo 7). Seguem-se as formas perifrásticas (cf. (188)), com

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um valor percentual de 30%, correspondente a 6 ocorrências, estando o auxiliar

predominantemente no presente (3 ocorrências com o auxiliar ir no presente, 1 com o

auxiliar ir no futuro e 1 com o auxiliar estar no presente) – cf. quadro 3, anexo 7.

Com o mesmo valor percentual, 30%, o pretérito perfeito (cf. (189)) também foi

produzido pelos sujeitos nos verbos do grupo I, apresentando maior número de

ocorrências nas frases que envolvem o verbo saber – cf. quadro 3, anexo 7.

(187) O Paulo nunca afirma que os testes são fáceis.

(188) O Paulo nunca afirma que irá ter boas notas no final do período.

(189) O patrão não sabe que o empregado faltou ao trabalho.

O gráfico 13 apresenta os tempos verbais seleccionados pelos sujeitos para a encaixada.

Grupo de Verbos I

Presente40,0%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)30,0%

Pretérito Perfeito30,0%

Gráfico 13 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos I.

Relativamente ao grupo de verbos II (verbos lamentar, querer, esperar e prever), os

sujeitos seleccionam maioritariamente o conjuntivo, em conformidade com o alvo,

registando este modo 97.5% de respostas correctas (cf. gráfico 14), algumas das quais

ilustradas pelos exemplos (190) a (193):

Indicativo

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(190) A Ana, o Rui e a Mafalda não lamentam que o seu colega tenha obtido um mau

resultado.

(191) Os jovens não querem que existam exames nacionais.

(192) A enfermeira Ana não espera que a afluência ao seu gabinete seja grande.

(193) O Instituto de Meteorologia não prevê que haja mau tempo.

Nas frases com o modo conjuntivo, o tempo verbal mais produzido é o presente, com

72.5% (cf. gráfico 14). Porém, enquanto com os verbos querer, esperar e prever há um

maior número de ocorrências no presente (10, 9 e 9, respectivamente), como se verifica

em (191), (192) e (193), com o verbo lamentar regista-se um maior número de

produções no pretérito perfeito composto (9 ocorrências; 22.5%), como se exemplifica

em (190) – cf. quadro 3, anexo 7.

A única produção agramatical no indicativo é uma forma perifrástica, que ocorre com o

verbo prever (cf. quadro 3, anexo 7) e corresponde a 2.5% do total de ocorrências (cf.

(194)).

(194) *O Instituto de Meteorologia não prevê que irá ocorrer alguma tempestade.

As produções dos sujeitos, no que diz respeito aos tempos verbais seleccionados,

encontram-se registadas no gráfico 14.

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Grupo de Verbos II

F. Perifrásticas (Fut)2,5%

Presente72,5%

F. Perifrásticas (Pres)2,5%

Pret. Perfeito Composto22,5%

Gráfico 14 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos II.

No que concerne aos verbos sentir, achar, prometer e dizer (grupo de verbos III), os

sujeitos seleccionam ambos os modos, como permitido pela gramática-alvo, embora

prefiram o indicativo (65%), exemplificado em (195) e (196):

(195) As minhas primas não acham que eu sou a mais divertida.

(196) Nós nunca dizemos que estamos num bom momento financeiro.

Neste grupo de verbos e relativamente ao modo indicativo, predominam as formas

perifrásticas (32.5%, percentagem correspondente a 13 ocorrências), a maioria das quais

com o auxiliar no presente (5 ocorrências com o auxiliar ir no presente; 6 com o auxiliar

estar no presente e 2 com o auxiliar ir no futuro) – cf. quadro 3, anexo 7 –, como se

pode verificar nas frases (197) e (198):

(197) Eles não sentem que está a acontecer um sismo.

(198) Ele nunca promete que vai chegar a horas de poder almoçar com a família.

A registar 9 ocorrências (22.5%) surge, em segundo lugar, o presente (cf. (199)), tempo

este que é produzido pelos sujeitos com todos os verbos que constituem este grupo, à

excepção do verbo sentir – cf. quadro 3, anexo 7. A selecção do pretérito perfeito (cf.

Indicativo

Conjuntivo

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(200)) e do futuro (cf. (201)) é pouco expressiva, correspondendo o primeiro apenas a 3

ocorrências (7.5%) e o segundo a 1 ocorrência (2.5%) – cf. quadro 3, anexo 7.

(199) Nós nunca dizemos que temos algumas dúvidas.

(200) Eles não sentem que estiveram mal durante o jogo.

(201) Ele nunca promete que voltará a estudar.

No que diz respeito às produções com o modo conjuntivo, podemos verificar, através do

quadro 9, que estas representam 32.5% do total dos dados. À excepção do verbo dizer,

este modo é seleccionado pelos sujeitos com todos os verbos, sendo de evidenciar o

verbo achar por registar 8 ocorrências neste modo, um número superior relativamente

aos restantes (cf. quadro 3, anexo 7). Como exemplo da selecção do conjuntivo,

atente-se nas seguintes frases:

(202) Eles não sentem que os salários sejam justos.

(203) As minhas primas não acham que eu esteja mais gorda.

Pela leitura do gráfico 15, verifica-se que o tempo verbal mais produzido no modo

conjuntivo é o presente (cf. (204)), com 11 ocorrências (27.5%), que envolvem apenas

os verbos sentir e achar, sendo que o verbo achar regista 8 dessas ocorrências. Com 2

ocorrências com o verbo prometer (5%), surgem, em seguida, as formas perifrásticas

(cf. 205)), ambas com o auxiliar ir no presente (cf. quadro 3, anexo 7).

(204) As minhas primas não acham que eu seja uma pessoa exigente.

(205) Ele nunca promete que vá mudar a sua personalidade.

Na frase com o verbo dizer, frase 29 (“Nós nunca dizemos que …”), regista-se uma

frase alterada em termos de estrutura (A.F.; cf. (206)), motivo pelo qual não pôde ser

considerada para a apuração dos dados (2.5%) - cf. quadro 3, anexo 7.

(206) Nós nunca dizemos que não!

O gráfico 15 reúne a informação relativa à selecção dos tempos verbais em cada modo.

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Grupo de Verbos III

Presente22,5%

Futuro2,5%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)32,5%

A. F. 2,5%

Presente27,5%

F. Perifrásticas (Pres)5,0%

Pretérito Perfeito7,5%

Gráfico 15 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos III.

Relativamente ao verbo duvidar (grupo IV), que admite ambos os modos na encaixada,

há uma maior produção do modo indicativo, com um total de 7 ocorrências (70%; cf.

(207)), de entre as quais 5 envolvem o presente, como exemplificado em (208) (cf.

gráfico 16) – cf. quadro 3, anexo 7.

(207) O Engenheiro nunca duvida que os seus projectos irão ser aceites.

(208) O Engenheiro nunca duvida que os seus cálculos estão correctos.

A observação do gráfico 16 permite-nos também verificar que o modo conjuntivo

representa 20% do total das produções, com 2 ocorrências no presente (cf. quadro 3,

anexo 7), tempo este que figura no exemplo seguinte:

(209) O Engenheiro nunca duvida que os seus planos estejam errados.

Um dos sujeitos alterou a frase 23 (“O Engenheiro nunca duvida que …”), produzindo

uma estrutura agramatical (cf. quadro 3, anexo 7):

(210) *O Engenheiro nunca duvida que de mim.

O gráfico 16 dá conta dos tempos verbais produzidos em cada modo pelos sujeitos.

Alterou frase

Indicativo

Conjuntivo

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Grupo de Verbos IV

Presente50,0%

F. Perifrásticas (Fut)10,0%

Pretérito Perfeito10,0%

Presente20,0%

A. F. 10,0%

Gráfico 16 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos IV.

Relativamente ao grupo de verbos V (verbos acreditar, imaginar e suspeitar), que

selecciona os dois modos na encaixada, verifica-se que, do total das produções, o

indicativo representa de novo a preferência dos sujeitos: 73.4% contra 26.6% do

conjuntivo. A selecção destes dois modos apresenta-se em (211) e (212),

respectivamente:

(211) a. Tu nunca acreditas que eu canto com sentimento.

b. Tu nunca acreditas que ele diga a verdade.

(212) a. O polícia não suspeita que o Sr. Mário foi roubado.

b. O polícia não suspeita que ele tenha roubado o carro.

De acordo com a informação apresentada no gráfico 17, podemos verificar que, no que

diz respeito às produções no indicativo, o tempo mais produzido pelos sujeitos é o

presente (33.3%), que corresponde a 10 ocorrências, envolvendo todos os verbos (cf.

quadro 3, anexo 7), maioritariamente os verbos acreditar e imaginar:

(213) Tu nunca acreditas que Deus existe.

(214) O Ricardo e o Artur não imaginam que eu sou de Beja.

Alterou frase

Indicativo

Conjuntivo

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Além do presente, os sujeitos seleccionaram ainda nas suas produções as formas

perifrásticas e o pretérito perfeito (cf. gráfico 17), que registam um valor percentual

idêntico, a saber, 20%. Relativamente às formas perifrásticas, registam-se 6 ocorrências,

5 das quais com o verbo auxiliar no presente (cf. (215)); quanto às produções no

pretérito perfeito, a maioria envolve o verbo suspeitar (cf. (216)) – cf. quadro 3, anexo

7.

(215) O Ricardo e o Artur não imaginam que neste momento estão a ser alvo de um

inquérito.

(216) O polícia não suspeita que a pequena Maddie foi vítima de um engano.

Os tempos verbais produzidos no conjuntivo são o presente e o pretérito perfeito

composto, com um valor percentual idêntico de 13.3% (cf. gráfico 17), que corresponde

a 4 ocorrências para cada verbo matriz. Com mais ocorrências no conjuntivo (1

ocorrência no presente e 4 ocorrências no pretérito perfeito composto), destaca-se o

verbo suspeitar. Exemplificam estas produções as frases (217) e (218):

(217) Tu nunca acreditas que o mundo possa melhorar.

(218) O polícia não suspeita que um recluso tenha escapado da prisão.

Neste gráfico são identificados os tempos verbais seleccionados pelos sujeitos,

relativamente a cada modo.

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Grupo de Verbos V

Presente33,3%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%

Pretérito Perfeito20,0%

Pret. Perfeito Composto13,3%

Presente13,3%

Gráfico 17 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos V.

Por último, com o verbo pensar (grupo VI), os dados dos sujeitos revelam uma

preferência pelo indicativo, observando-se 6 ocorrências com este modo (60%) e 4

ocorrências com o conjuntivo (40%); vejam-se, a título exemplificativo, (219) e (220) –

cf. quadro 3, anexo 7:

(219) Os teus pais não pensam que tu sabes a matéria?

(220) Os teus pais não pensam que estejas aqui.

Relativamente aos tempos verbais que ocorrem no modo indicativo (cf. gráfico 18),

regista-se a preferência pelo pretérito perfeito, com um valor percentual de 30% (3

ocorrências; cf. (221)), e pelas formas perifrásticas, com 20% (2 ocorrências, uma com

o auxiliar no presente e outra com o mesmo no futuro, respectivamente; cf. (222)) – cf.

quadro 3, anexo 7.

(221) Os teus pais não pensam que tu faltaste às aulas.

(222) Os teus pais não pensam que tu andas a vandalizar a rua à noite.

No conjuntivo, os tempos verbais seleccionados pelos sujeitos foram o presente, com 3

ocorrências (30%), e o pretérito perfeito composto, com apenas 1 ocorrência (10%),

Indicativo

Conjuntivo

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como ilustram os dados presentes em (223) e (224), respectivamente – cf. quadro 3,

anexo 7:

(223) Os teus pais não pensam que o futebol seja importante

(224) Os teus pais não pensam que tenhas estudado o suficiente.

No gráfico 18 apresentam-se os valores percentuais relativos aos tempos utilizados

pelos sujeitos em cada modo.

Grupo de Verbos VI

Presente10,0%

F. Perifrásticas (Pres/Fut)20,0%

Pretérito Perfeito30,0%

Pret. Perfeito Composto10,0%

Presente30,0%

Gráfico 18 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo I

(10º ano) no grupo de verbos VI.

Em síntese, os dados apresentados, relativos à interferência do operador de negação

frásica na selecção do modo da encaixada, permitem-nos afirmar que:

(i) No grupo de verbos I, os sujeitos seleccionam, conforme o alvo, o modo indicativo

em todas as produções, registando este modo 100% do total das ocorrências.

(ii) Quanto ao grupo II, cujos verbos seleccionam conjuntivo na oração complemento,

verifica-se uma reduzida percentagem de produções incorrectas (no indicativo) face a

Indicativo

Conjuntivo

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uma percentagem elevada de produções conformes com o alvo (conjuntivo), a saber,

2.5% e 97.5%, respectivamente.

(iii) Com os restantes grupos de verbos (III, IV, V e VI), que seleccionam ou o

indicativo ou o conjuntivo na encaixada, verifica-se que em todos os grupos o indicativo

é o modo mais produzido pelos sujeitos, embora também se registem frases com o

conjuntivo.

(iv) As frases que envolvem o indicativo e que se verificam em todos os grupos de

verbos revelam que o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos é o presente. Em

segundo lugar, assumem relevância as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar

predominantemente no presente. Por último, a ocupar um número elevado de

ocorrências, surge o pretérito perfeito.

Com base nos dados obtidos para o conjuntivo (grupos de verbos II, III, IV, V e VI)

podemos constatar que o presente é também o tempo mais seleccionado pelos sujeitos,

seguido do pretérito perfeito composto e, por fim, com um valor percentual baixo, das

formas perifrásticas, cujo auxiliar se encontra sempre no presente.

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3.1.2.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)

Nesta secção são descritos os dados produzidos pelo segundo grupo de sujeitos (12º

ano). Assim, o quadro 11 apresenta a percentagem obtida na selecção dos modos

indicativo e conjuntivo na oração completiva por este grupo de sujeitos, na presença de

um marcador de negação frásica na frase matriz.

Produções dos Sujeitos (%) Grupo

de Verbos

Modo

seleccionado na encaixada Indicativo Conjuntivo

I

Indicativo

100%

0%

II

Conjuntivo

0%

100%

III

Indicativo/ Conjuntivo

75%

25%

IV

Indicativo/ Conjuntivo

70%

30%

V

Indicativo/ Conjuntivo

56.7%

43.3%

VI

Indicativo/ Conjuntivo

100%

0%

Quadro 11 – Modos(s) seleccionado(s) no teste de produção pelo grupo de sujeitos I

(10º ano).

No que diz respeito aos verbos afirmar e saber (grupo de verbos I), os dados produzidos

pelos sujeitos do grupo II revelam que o indicativo é o único modo seleccionado,

apresentando o valor de 100%, como ilustram as frases (225) e (226):

(225) O Paulo nunca afirma que não falhará.

(226) O patrão não sabe que ele chega sempre atrasado ao trabalho.

Com base nos valores representados no gráfico 19, verifica-se que o tempo verbal mais

seleccionado pelos sujeitos é o presente, apresentando um valor percentual de 70%, que

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corresponde a 14 ocorrências distribuídas equitativamente pelos dois verbos – cf.

quadro 4, anexo 7. As frases (227) e (228) exemplificam as ocorrências com este tempo

verbal:

(227) O Paulo nunca afirma que o Benfica é a melhor equipa.

(228) O patrão não sabe que o empregado engana os clientes.

Este tempo é seguido pelo pretérito perfeito, que apresenta 3 ocorrências (15%), todas

com o verbo saber, e pelas formas perifrásticas, que registam 2 ocorrências com o verbo

afirmar (10%), ambas com o auxiliar no presente (cf. quadro 4, anexo 7). Exemplificam

estas produções as frases (229) e (230), respectivamente:

(229) O patrão não sabe que o João saiu mais cedo.

(230) O Paulo nunca afirma que vai tirar boa nota num teste.

De acordo com as produções dos sujeitos, o gráfico 19 apresenta os tempos verbais

seleccionados.

Grupo de Verbos I

Presente70,0%

Futuro do Pretérito5,0%

F. Perifrásticas (Pres)10,0%

Pretérito Perfeito15,0%

Gráfico 19 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos I.

Relativamente ao grupo de verbos II (verbos lamentar, querer, esperar e prever), não

há produções no modo indicativo. Por conseguinte, todas os sujeitos seleccionam, nas

Indicativo

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suas produções, o conjuntivo, que apresenta 100% do total dos dados apurados, como se

verifica nos exemplos (231) e (232).

(231) Os jovens não querem que os pais controlem as suas vidas.

(232) A enfermeira Ana não espera que o resultado seja positivo.

As informações apresentadas no gráfico 20 revelam que os tempos produzidos neste

modo são o presente, com 31 ocorrências (77.5%; cf. (233) e (234)), e o pretérito

perfeito composto, com 9 ocorrências (22.5%; cf. (235)) – cf. quadro 4, anexo 7.

(233) A enfermeira Ana não espera que o Dr. João diagnostique a doença do Sr.

Silva.

(234) O Instituto de Meteorologia não prevê que chova para a próxima semana.

(235) A Ana, o Rui e a Mafalda não lamentam que a escola tenha fechado.

O verbo lamentar destaca-se dos verbos querer, esperar e prever, na medida em que

regista um maior número de ocorrências do pretérito perfeito composto na encaixada (9

ocorrências; cf. (235)), enquanto os outros verbos apresentam apenas o verbo encaixado

no presente – cf. quadro 4, anexo 7.

Considere-se, assim, o gráfico 20, que regista os valores percentuais relativos a cada

tempo verbal produzido pelos sujeitos.

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Grupo de Verbos II

Presente77,5%

Pret. Perfeito Composto22,5%

Gráfico 20 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos II.

As ocorrências registadas no grupo de verbos III (verbos sentir, achar, prometer e

dizer) permitem-nos verificar que o indicativo é o modo preferido dos sujeitos, com 30

ocorrências (75%), por oposição a 10 ocorrências no conjuntivo (25%) – cf. quadro 4,

anexo 7. As produções destes dois modos encontram-se exemplificadas em (236) e

(237), respectivamente:

(236) Nós nunca dizemos que o dia de amanhã será surpreendente.

(237) Ele nunca promete que esta seja a última vez.

O tempo predominante no modo indicativo é o presente, com 42.5% (cf. gráfico 21),

que corresponde a 17 ocorrências (cf. quadro 4, anexo 7). Embora este tempo verbal

seja produzido com todos os verbos que constituem o grupo III, salienta-se o verbo

dizer, por registar 8 das 17 ocorrências (cf. quadro 4, anexo 7). A este propósito vejam-

se os dados em (238) e (239):

(238) Eles não sentem que o Instituto os prepara correctamente.

(239) Nós nunca dizemos que a vida é uma desgraça, mas, no entanto, pensamo-lo.

Em segundo lugar, com 15%, surgem as formas perifrásticas (com o auxiliar

predominantemente no presente), que registam um maior número de ocorrências com o

Conjuntivo

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verbo sentir (cf. quadro 4, anexo 7). Com um valor um pouco inferior, 12.5%, o futuro

regista 5 ocorrências, 4 das quais com o verbo prometer (cf. quadro 4, anexo 7). Em

(240) e (241) encontram-se as produções dos sujeitos que exemplificam a selecção

destes dois tempos verbais, respectivamente:

(240) Eles não sentem que está a chover.

(241) Ele nunca promete que deixará de fumar.

O conjuntivo, por seu turno, ocorre predominantemente no presente (20%), tempo este

que ocorre em 8 frases, que envolvem apenas os verbos achar e prometer, sendo que 6

dessas ocorrências envolvem o verbo achar (cf. (242)) – cf. quadro 4, anexo 7.

Consequentemente, as produções com o verbo achar, ao invés do que acontece com os

restantes verbos, registam uma maior produção no conjuntivo (60%), em detrimento do

indicativo (40%).

(242) As minhas primas não acham que o Paulo seja simpático.

Os dados recolhidos revelam também a ocorrência de duas formas perifrásticas com o

verbo sentir (5%), em que o verbo auxiliar estar se encontra no presente (cf. quadro 4,

anexo 7), como abaixo se exemplifica:

(243) Eles não sentem que estejam a aprender nas aulas de piano.

O gráfico 21 reúne a informação relativa aos tempos verbais seleccionados pelos

sujeitos em cada modo.

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101

Grupo de Verbos III

Presente42,5%

Futuro12,5%

F. Perifrásticas (Pres/P.I.)15,0%

Pretérito Perfeito2,5%

Presente20,0%

F. Perifrásticas (Pres)5,0%

Futuro do Pretérito2,5%

Gráfico 21 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos III.

O indicativo é, de novo, predominante nas produções com o verbo duvidar (grupo de

verbos IV), correspondendo ao valor percentual de 70%, por oposição ao conjuntivo,

que ocorre em 30% das produções. Estas produções encontram-se exemplificadas nas

frases seguintes:

(244) O Engenheiro nunca duvida que a sua obra é das melhores do país.

(245) O Engenheiro nunca duvida que as paredes estejam bem feitas.

Como se verifica no gráfico 22, no modo indicativo, o presente é o tempo mais

seleccionado (cf. (246)), correspondendo a metade das produções que envolvem este

modo. O pretérito perfeito (cf. (247)) e o futuro (cf. (248)) apresentam valores idênticos

(10%), mais baixos que os do presente.

(246) O Engenheiro nunca duvida que as suas obras são de boa qualidade.

(247) O Engenheiro nunca duvida que tirou o curso que realmente queria.

(248) O Engenheiro nunca duvida que o projecto ficará bem feito.

Indicativo

Conjuntivo

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102

Quando ocorre o conjuntivo, o único tempo seleccionado pelos sujeitos é o presente,

apresentando 3 ocorrências (cf. quadro 4, anexo 7), que correspondem a 30% do total

dos dados obtidos (cf. (249)).

(249) O Engenheiro nunca duvida que as medidas estejam mal tiradas.

A informação sobre a produção dos tempos verbais encontra-se documentada no gráfico

que abaixo se apresenta.

Grupo de Verbos IV

Presente50,0%

Futuro10,0%

Pretérito Perfeito10,0%

Presente30,0%

Gráfico 22 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos IV.

No que concerne ao grupo de verbos V (verbos acreditar, imaginar e suspeitar) e, de

acordo com a informação disponibilizada no quadro 10, a produção dos modos

indicativo e conjuntivo apresenta um valor aproximado: o indicativo representa 56.7%

das ocorrências (cf. (250)), enquanto o conjuntivo corresponde a um valor percentual de

43.3% (cf. (251)).

(250) O Ricardo e o Artur não imaginam que o seu amigo João está doente.

(251) Tu nunca acreditas que D. Sebastião regresse.

Indicativo

Conjuntivo

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103

Todos os verbos deste grupo registam produções no conjuntivo, embora o verbo

suspeitar apresente, relativamente aos restantes, um maior número de ocorrências,

nomeadamente 7 – cf. quadro 4, anexo 7 –, como se ilustra em (252):

(252) O polícia não suspeita que o meu pai tenha morto o sem-abrigo.

Em ambos os modos, o tempo mais utilizado pelos sujeitos é o presente (cf. gráfico 23),

com 33.3% (10 ocorrências) para o indicativo e 23.3% (7 ocorrências) para o conjuntivo

– cf. quadro 4, anexo 7. Os dados presentes em (253) e (254) exemplificam estas

produções:

(253) Tu nunca acreditas que tens mais capacidades do que aquilo que pensas.

(254) O Ricardo e o Artur não imaginam que as suas notas sejam assim tão baixas.

Nas construções com o indicativo, as formas perifrásticas (com o auxiliar no presente),

como se observa em (255), e o pretérito perfeito, presente em (256), apresentam,

relativamente ao presente, um valor percentual inferior, a saber, 10%.

(255) O polícia não suspeita que o João o está a enganar.

(256) O Ricardo e o Artur não imaginam que eu lhes arrumei o quarto.

Quanto às estruturas que envolvem o conjuntivo, o pretérito perfeito composto, com 5

ocorrências na presença do verbo suspeitar (16.7%; cf. (257)), é o segundo tempo mais

seleccionado pelos sujeitos – cf. quadro 4, anexo 7.

(257) O polícia não suspeita que eu tenha roubado a gargantilha.

Pode observar-se, no gráfico 23, os tempos verbais produzidos pelos sujeitos em cada

modo.

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Grupo de Verbos V

Presente33,3%

F. Perifrásticas (Pres)10,0%

Pretérito Perfeito10,0%

Presente23,3%

Pret. Perfeito Composto16,7%

Pretérito Imperfeito3,3%

Futuro do Pretérito3,3%

Gráfico 23 – Modos e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos V.

Finalmente, as produções relativas ao verbo pensar (grupo VI) envolvem todas o

indicativo, não se verificando ocorrências no conjuntivo.

(258) Os teus pais não pensam que tu ouves música apropriada.

O gráfico 24 permite-nos observar que, com 70% (7 ocorrências), se salienta o presente

do indicativo como o tempo mais produzido pelos sujeitos (cf. (259)), tendo o futuro (cf.

(260)) e as formas perifrásticas (auxiliar andar no presente; cf. (261)) um valor idêntico,

10% (1 ocorrência cada), consideravelmente inferior ao do presente – cf. quadro 4,

anexo 7.

Registou-se, porém, a alteração de uma frase (frase 21; cf. (262)), cuja estrutura não foi

respeitada (cf. quadro 4, anexo 7).

(259) Os teus pais não pensam que tu te comportas mal.

(260) Os teus pais não pensam que poderás fazer alguma coisa que eles não gostem.

(261) Os teus pais não pensam que tu andas a faltar às aulas.

(262) *Os teus pais não pensam que naquilo que aconteceu.

Indicativo

Conjuntivo

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O gráfico 24 apresenta o valor percentual relativo à produção de cada tempo verbal

neste grupo de verbos.

Grupo de Verbos VI

Presente70,0%

Futuro10,0%

F. Perifrásticas (Pres)10,0%

A. F.10,0%

Gráfico 24 – Modo e respectivos tempos verbais produzidos pelos sujeitos do grupo II

(12º ano) no grupo de verbos VI.

Sintetizando, os dados descritos nesta secção permitem-nos afirmar que, na presença do

marcador de negação frásica na frase superior:

(i) o grupo de verbos I que, na presença da negação na oração matriz, selecciona o modo

indicativo na encaixada, apresenta 100% de produções correctas neste modo.

(ii) o grupo de verbos II, que selecciona na completiva o conjuntivo, revela uma taxa de

sucesso de 100%, estando todas as produções conforme o alvo.

(iii) quanto aos grupos de verbos de selecção dupla (grupos de verbos III, IV, V e VI),

podemos constatar que, com todos, o indicativo é o modo que regista um número de

ocorrências superior relativamente ao conjuntivo. No entanto, no grupo V, o valor

percentual obtido em cada modo é aproximado: 56.7% para o indicativo e 43.3% para o

conjuntivo. O grupo VI é, de todos, o único em que não há produções no conjuntivo,

representando, assim, o indicativo 100% do total das ocorrências.

Indicativo

Alterou frase

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(iv) De entre os tempos verbais produzidos no modo indicativo (grupos de verbos I, III,

IV, V e Vl), o presente é, em todas as construções, o que regista o maior número de

ocorrências, sendo, por isso, o tempo predominante. Os dados revelam também que o

número de formas perifrásticas é elevado, tendo o verbo auxiliar predominantemente no

presente. Seguem-se o pretérito perfeito e o futuro, com um número de ocorrências um

pouco inferior, mas igualmente relevante.

No que diz respeito às produções em que os sujeitos seleccionam o modo conjuntivo,

verifica-se que o presente, à semelhança do que acontece com o indicativo, é o tempo

verbal predominante, seguido do pretérito perfeito e, por último, com uma presença

pouco significativa, das formas perifrásticas, cujo auxiliar se encontra sempre no

presente.

3.1.3. Síntese comparada

Tendo por base os dados descritos nas secções anteriores, procede-se agora à

sistematização dos resultados obtidos pelos dois grupos de sujeitos no teste de

produção.

Relativamente às propriedades do verbo matriz e à selecção do modo em frases

afirmativas, verifica-se que:

- Nos grupos de verbos que seleccionam o modo indicativo na encaixada,

nomeadamente nos grupos I (afirmar e saber) e III (sentir, achar, prometer e dizer), os

dois grupos de sujeitos registam 100% de ocorrências no indicativo. Os tempos mais

produzidos pelos sujeitos são o presente do indicativo, mesmo nos contextos em que são

utilizadas as formas perifrásticas. Assim, com estes dois grupos de verbos, a taxa de

sucesso é total.

- No grupo de verbos II (lamentar, querer e esperar), verbos que seleccionam o modo

conjuntivo na encaixada, o grupo de sujeitos I (10º ano) apresenta 96.7% de produções

no conjuntivo e o grupo de sujeitos II (12º ano) 100%. O presente do conjuntivo é o

tempo mais produzido pelos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), apresentando em

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107

ambos um valor percentual de 93.3%. Por conseguinte, a percentagem de produções

incorrectas, que se verifica apenas no grupo de sujeitos I (10º ano), é de 3.3%.

- Na frase com o verbo matriz duvidar (grupo IV), que selecciona o modo conjuntivo na

encaixada, o grupo de sujeitos I (10º ano) apresenta 60% de produções no modo

conjuntivo e 40% de produções (incorrectas) no indicativo; o grupo de sujeitos II (12º

ano), por seu turno, apresenta 100% de produções no conjuntivo. No indicativo, os

sujeitos do grupo I utilizam essencialmente o pretérito perfeito; no conjuntivo, os dois

grupos de sujeitos produzem predominantemente o presente e, também com um valor

significativo, o pretérito perfeito composto.

O grupo de sujeitos I regista, assim, uma taxa de insucesso de 40% enquanto o grupo de

sujeitos II não apresenta produções incorrectas.

- Com os verbos do grupo V (acreditar, imaginar, suspeitar e prever), que seleccionam

ou o modo indicativo ou o modo conjuntivo na encaixada, os dois grupos de sujeitos

optam maioritariamente pelo indicativo em detrimento do conjuntivo, numa média de

82.5% para o indicativo face a 16% para o conjuntivo. De entre as ocorrências no

indicativo, o presente é o tempo mais produzido pelos sujeitos. As ocorrências no

conjuntivo envolvem sobretudo os verbos suspeitar e prever e, com estes verbos,

predomina também a utilização do presente.

- Com o verbo pensar (grupo de verbos VI), admite-se igualmente selecção modal dupla

na encaixada, embora, como já referido anteriormente, a selecção do conjuntivo possa

ser considerada marginal por alguns falantes. Os dados recolhidos neste grupo, revelam

que os sujeitos produzem apenas o modo indicativo, predominando o presente com

80%. Assim, verifica-se uma preferência absoluta pelo indicativo, modo este que regista

100% do total das ocorrências.

O quadro que se segue reúne a informação acima explicitada:

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108

Modo seleccionado na encaixada (%)

Indicativo Conjuntivo

Grupo

de

Verbos

Modo

seleccionado na

encaixada GS I GS II GS I GS II

I Indicativo

100%

100%

0%

0%

II Conjuntivo

3.3%

0%

96.7%

100%

III Indicativo

100%

100%

0%

0%

IV Conjuntivo

40%

0%

60%

100%

V

Indicativo/ Conjuntivo

82.5%

82.5%

15%

17.5%

VI

Indicativo/ ?Conjuntivo

100%

100%

0%

0%

Quadro 12 – Distribuição dos modos indicativo e conjuntivo na encaixada, nas

produções dos grupos de sujeitos I (10º ano) e II (12º ano).

Ainda no âmbito do teste de produção, verificou-se que, na presença de um operador de

negação na oração matriz:

- Com o grupo de verbos I (afirmar e saber), que selecciona o modo indicativo na

encaixada, todas as produções dos dois grupos de sujeitos estão conforme o alvo, ou

seja, o indicativo regista 100% do total de ocorrências. Em ambos os grupos de sujeitos

o tempo verbal mais seleccionado é o presente (40% para o grupo I de sujeitos e 70%

para o grupo II de sujeitos). O pretérito perfeito e as formas perifrásticas, com o auxiliar

predominantemente no presente, revelam igualmente valores relevantes.

- Nas frases com os verbos matriz lamentar, querer, esperar e prever (grupo de verbos

II), que seleccionam o conjuntivo na encaixada, o grupo de sujeitos I selecciona

maioritariamente o conjuntivo (97.5%), apresentando apenas uma produção agramatical

no indicativo, que corresponde a 2.5% do total de ocorrências.

No caso do grupo II de sujeitos, regista-se 100% de ocorrências no conjuntivo, não

havendo, portanto, produções incorrectas.

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109

Os tempos verbais mais produzidos no conjuntivo pelos dois grupos de sujeitos são, em

primeiro lugar, o presente e, em segundo, o pretérito perfeito composto.

- Com os verbos sentir, achar, prometer e dizer (grupo de verbos III), que, nestas

circunstâncias, seleccionam na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo, verifica-se

nos dois grupos de sujeitos uma preferência clara pelo indicativo: 65% para o grupo de

sujeitos I (10º ano) e 75% para o grupo de sujeitos II (12º ano). Neste modo, destaca-se

o presente como o tempo mais utilizado pelos dois grupos de sujeitos.

O conjuntivo apresenta 32.5% de produções no grupo de sujeitos I e 25% de produções

no grupo de sujeitos II, predominando em ambos os grupos de sujeitos o presente, sendo

de destacar o verbo achar por apresentar, relativamente aos restantes verbos que

constituem este grupo, um elevado número de ocorrências em que o modo seleccionado

é o conjuntivo.

- Tal como o grupo de verbos anterior, o grupo de verbos IV (verbo duvidar) sofre os

efeitos na negação na oração matriz e passa a seleccionar os dois modos na encaixada.

Nos dois grupos de sujeitos verifica-se o mesmo comportamento: um número elevado

de ocorrências do modo indicativo (70%) face a um número de ocorrências inferior no

modo conjuntivo (20% e 30% para os grupos I e II, respectivamente). O uso do tempo

do presente é o que predomina com ambos os modos.

- No que diz respeito ao grupo de verbos V (acreditar, imaginar e suspeitar), com

propriedades de selecção modal dupla, os dados revelam que os dois grupos de sujeitos

registam, no indicativo, uma percentagem elevada, a saber 73.4% e 56.7%,

respectivamente. No entanto, enquanto o grupo de sujeitos I (10º ano) apresenta uma

produção reduzida de conjuntivo (26.6%), o grupo de sujeitos II (12º ano) regista um

valor muito próximo do obtido para o indicativo, 43.3%. Assim, no grupo I de sujeitos

há uma preferência clara pelo indicativo; no grupo II de sujeitos verifica-se uma

distribuição próxima dos dois modos.

No indicativo predomina o uso do presente, seguido das formas perifrásticas com o

auxiliar predominantemente no presente e do pretérito perfeito; no conjuntivo

predomina também o uso do presente e, com um valor mais baixo, do pretérito perfeito

composto.

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- Por fim, com o verbo matriz pensar (grupo VI), que selecciona os dois modos na

encaixada, o grupo de sujeitos I (10º ano) regista um valor percentual de 60% para o

indicativo e de 40% para o conjuntivo, verificando-se, assim, uma preferência pelo

indicativo. No modo indicativo, este grupo de sujeitos selecciona predominantemente o

pretérito perfeito e, no modo conjuntivo, o presente.

O grupo de sujeitos II (12º ano), por seu turno, apresenta 100% de ocorrências no modo

indicativo, predominando o uso do presente.

A sistematização dos dados anteriormente descritos encontra-se no quadro 13:

Modo seleccionado na encaixada (%)

Indicativo Conjuntivo

Grupo

de

Verbos

Modo

seleccionado na

encaixada GS I GS II GS I GS II

I

Indicativo

100%

100%

0%

0%

II

Conjuntivo

2.5%

0%

97.5%

100%

III

Indicativo/ Conjuntivo

65%

75%

32.5%

25%

IV

Indicativo/ Conjuntivo

70%

70%

20%

30% V

Indicativo/ Conjuntivo

73.4%

56.7%

26.6%

43.3%

VI

Indicativo/ Conjuntivo

60%

100%

40%

0%

Quadro 13 – Distribuição dos modos indicativo e conjuntivo na encaixada, na presença

da negação frásica, nas produções dos grupos de sujeitos I (10º ano) e II (12º ano).

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3.2. Teste II – Avaliação

Como referido anteriormente (cf. Capítulo 2 – Metodologia), o teste de avaliação teve

como objectivo testar o desempenho dos sujeitos na capacidade de identificar frases

gramaticais e sequências agramaticais, tendo em conta as relações de (in)dependência

temporal entre a oração encaixada e a oração superior. É formado por frases em que o

verbo matriz se encontra conjugado ou no presente ou no pretérito perfeito do

indicativo.

Os dados recolhidos no teste II foram, assim, organizados, a fim de dar conta:

(i) das classificações correctas e incorrectas6 relativas a cada verbo - quadros 15

a 17 (secção 3.2.1.1.) e quadros 18 a 20 (secção 3.2.1.2.);

(ii) das avaliações das sequências como correctas (OK) ou incorrectas (*) por

parte dos sujeitos relativamente a cada grupo de verbos (cf. quadros 1 e 2,

anexo 8);

(iii) das classificações correctas e incorrectas por parte dos sujeitos relativamente

aos grupos de verbos, considerados na sua totalidade - gráficos 25 a 27

(secção 3.2.1.1.) e gráficos 28 a 30 (secção 3.2.1.2.).

3.2.1.Relações de (in)dependência temporal

Com base no objectivo estipulado aquando da construção do teste II – relações de

(in)dependência temporal entre a oração matriz e a encaixada – organizaram-se os

verbos em dois grupos (cf. secção 2.1.2.2.): o Grupo de verbos I, composto por 6 frases

gramaticais, cujo verbo superior selecciona na encaixada o modo indicativo; e o Grupo

de verbos II, formado por 24 frases, cujo verbo matriz selecciona na encaixada o modo

conjuntivo. Neste último grupo, 13 frases são gramaticais (Grupo II-A) e 11 frases são

6 Entende-se por classificações correctas a que estão conforme o alvo, e por classificações incorrectas, as que não estão segundo a gramática-alvo.

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112

agramaticais (Grupo II-B), na medida em que nestas últimas foi controlado o tempo

verbal da oração complemento.

O quadro 4, repetido nesta secção como quadro 14 por facilidade de exposição,

sistematiza esta informação:

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113

Oração Matriz Oração Encaixada Grupo de Verbos Verbo Tempo Modo Indicativo

Tempo Modo Conjuntivo

Tempo

Frase

Presente Forma Perifrástica v. ir pres. + inf.

_ _ _ _ _ _ 13

1. Afirmar Pret. Perfeito Futuro _ _ _ _ _ _

23 Presente Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _

6

2. Saber Pret. Perfeito Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _

18 Presente Presente _ _ _ _ _ _

3

I

3. Sentir Pret. Perfeito Presente _ _ _ _ _ _

9 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

19

Presente

_ _ _ _ _ _

Presente 22

4a.

Querer e

Desejar

Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Imperfeito 7

Presente 2 Presente

_ _ _ _ _ _ Forma Perifrástica

v. ir presente + inf.

27 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

10

Imperfeito 12

5a. Sugerir Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _

Presente 29 Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

5

Presente

_ _ _ _ _ _

Presente 28 Presente 1 Imperfeito 17

A

6a.

Lamentar Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _

Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

25

Futuro *11 Presente

_ _ _ _ _ _ Imperfeito *15 Presente *4 Futuro *14

4b.

Querer e

Desejar

Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _

Forma Perifrástica v. ir presente + inf.

*24

Imperfeito *8 Presente

_ _ _ _ _ _ Futuro *20

5b.Sugerir Pret. Perfeito

_ _ _ _ _ _ Futuro *16

Futuro *21 Presente

_ _ _ _ _ _ Imperfeito *30

II

B

6b.

Lamentar Pret. Perfeito _ _ _ _ _ _ Futuro

*26

Quadro 14 – Tempo verbal dos verbos da oração matriz e da encaixada.

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114

Tendo em conta os verbos matriz seleccionados para figurarem neste teste, é possível

verificar que:

(i) Com alguns desses verbos, existe independência temporal da encaixada

relativamente à matriz, pelo que qualquer tempo verbal é aceite na primeira,

independentemente do tempo em que se encontra o verbo superior. Esta situação ocorre

com os verbos que seleccionam indicativo (cf. (263)), mas também com verbos que

seleccionam conjuntivo (cf. (264)). Note-se que, em alguns contextos do conjuntivo,

dadas as propriedades semânticas do verbo superior, podem registar-se algumas

restrições sobre a encaixada (cf. (265)).

(263) a. O Pedro {afirma/ sabe/ sente} que a Joana {está/ esteve/ tinha estado/ estará}

em casa.

b. O Pedro {afirmou/ soube/ sentiu} que a Joana {está/ esteve/ tinha estado/

estará} em casa.

(264) a. O professor lamenta que o aluno {esteja/ ?estivesse/ tenha sido/ tivesse sido/

*estiver} desatento nas aulas.

b. O professor lamentou que o aluno {esteja/ estivesse/ tenha estado/

tivesse estado/*estiver} desatento nas aulas.

(265) O João sugeriu que a Rita vá/ fosse/ *tenha ido/ *tivesse ido/ *for à praia.

(ii) Com outros verbos, que seleccionam o conjuntivo, a encaixada é temporalmente

dependente da matriz, no sentido em que o intervalo de tempo em que a primeira se

localiza é obrigatoriamente determinado a partir do intervalo de tempo em que se

localiza a segunda. Neste caso, só são legítimos alguns tempos verbais na encaixada:

(266) a. Ele {quer/ deseja} que a Inês {vá / *fosse/ *tenha ido/ *tivesse ido/ *for}

à praia.

b. Ele {quis/ desejou} que a Inês {fosse/ tivesse ido/ *vá/ *tenha ido/*for}

à praia.

Veja-se que, no caso dos verbos referidos em (i), é sempre possível localizar

temporalmente o estado de coisas expresso na encaixada relativamente ao momento da

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115

enunciação através de advérbios, como amanhã (cf. (267)), o que não acontece com os

verbos referidos em (ii) (cf. (268)).

(267) a. Ontem, o João {afirmou/ soube} que a Maria não vai ao cinema amanhã.

b. Ontem, O João {lamentou/ sugeriu} que a Maria não vá ao cinema amanhã.

(268) *O João {quis/ desejou} que a Maria vá ao cinema amanhã.

3.2.1.1. Grupo de sujeitos I (10º Ano)

Nesta secção, procede-se à apresentação e descrição dos dados produzidos no teste de

avaliação por parte dos sujeitos do grupo I.

Com o grupo de verbos I (afirmar, saber e sentir), composto por 6 frases gramaticais,

verificou-se, na totalidade, 83.3% de classificações correctas e 16.7% de classificações

incorrectas (cf. gráfico 25).

GRUPO DE VERBOS I

83,3%

16,7%

Cl. Correctas

Cl. Incorrectas

Gráfico 25 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo I (10º ano),

relativamente ao grupo de verbos I.

Os dados recolhidos revelam um maior número de classificações correctas nas frases

que envolvem os verbos afirmar e saber, quer quando o verbo matriz está no presente

(F13 e F6, “Eles afirmam que a empresa vai conseguir bons resultados.” e “Os

funcionários da loja sabem que os clientes foram exigentes.”, respectivamente), quer

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116

quando o mesmo se encontra no pretérito perfeito (F23 e F18, “A Directora do Colégio

afirmou que as aulas começarão em Setembro.” e “ Nós soubemos que a tia Clara

viajou para o Brasil.”, respectivamente). As frases que envolvem estes verbos registam

9 classificações correctas cada, à excepção da frase 13 (cujo auxiliar está no presente:

“Eles afirmam que a empresa vai conseguir bons resultados.”), que apresenta 10

respostas correctas (cf. quadro 1, anexo 8).

Pela leitura do quadro 15, podemos verificar que as frases com o verbo afirmar e com o

verbo saber apresentam um valor percentual elevado de classificações correctas, 95% e

90%, respectivamente.

Relativamente às classificações incorrectas, importa referir o verbo sentir, na medida

em que as frases em que este ocorre, F3 e F9 (“O João sente que os irmãos vêem muita

televisão por dia.” e “O Professor sentiu que os alunos estão desmotivados.”,

respectivamente), apresentam, relativamente às restantes, um maior número de respostas

erradas, a saber, 2 e 5 respectivamente – cf. quadro 1, anexo 8 –, perfazendo um valor

percentual de 35% de classificações incorrectas (cf. quadro 15). Os dados apurados

relativamente à frase 9 mostram que, neste caso, se obtém o mesmo número de

avaliações correctas (5) e de avaliações incorrectas (5), apresentando esta tarefa uma

taxa de sucesso de 50% – cf. quadro 1, anexo 8.

O quadro 15 mostra-nos que, dos três verbos que constituem o grupo de verbos I, o

verbo sentir é o que apresenta um valor inferior de classificações correctas, 65%.

Oração Matriz Classificações (%) Grupo de

Verbos Verbo

Frase

Correctas Incorrectas

13 1. Afirmar 23

95%

5%

6 2. Saber 18

90%

10%

3

I

3. Sentir 9

65%

35%

Quadro 15 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de

verbos I, por parte dos sujeitos do grupo I (10º ano).

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117

O gráfico 26 permite verificar que o grupo de verbos II-A (querer e desejar, sugerir e

lamentar), constituído por 13 frases gramaticais, apresenta, na totalidade, 79.2% de

classificações correctas e 20.8% de classificações incorrectas.

GRUPO DE VERBOS II - A

79,2%

20,8%

Cl. Correctas

Cl. Incorrectas

Gráfico 26 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo I (10º ano),

relativamente ao grupo de verbos II-A.

Relativamente aos verbos querer e desejar, as frases gramaticais 19 e 22 (“O Francisco

quer que o primo vá aprender inglês” e “Nós desejamos que os noivos sejam felizes.”,

respectivamente) não registam nenhuma classificação incorrecta; a frase 7, cujo verbo

superior se encontra no pretérito perfeito (“Eles quiseram que o Pedro viajasse com

eles.”), apresenta apenas uma classificação incorrecta – cf. quadro 1, anexo 8. Na

totalidade, estes verbos registam 96.7% de classificações correctas.

Quanto ao verbo sugerir, apresenta 24% de classificações incorrectas. A este propósito,

destacam-se as frases gramaticais 10 e 29, ambas com o verbo matriz no pretérito

perfeito do indicativo (“A Dulce sugeriu que o marido vá escolher o restaurante.” e “Os

meus amigos sugeriram que eu tire férias para descansar.”, respectivamente), por

apresentarem, cada uma, 60% de avaliações incorrectas contra 40% de classificações

correctas (cf. quadro 1, anexo 8). As restantes frases – 2, 12 e 27 (“Ele sugere que as

obras comecem em Março.”, “Ontem, a Ana sugeriu ao marido que trocasse de carro.” e

“A Educadora sugere que as crianças vão brincar para o jardim.”, respectivamente) –

apresentam 100% de classificações correctas, ou seja, todos os sujeitos as consideram,

correctamente, frases gramaticais – cf. quadro 1, anexo 8. Como se verifica no quadro

16, o verbo sugerir apresenta 76% de classificações correctas.

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118

Os dados recolhidos registam ainda, relativamente às frases que envolvem o verbo

lamentar, um valor percentual de 72% para classificações correctas face a um valor de

28% para classificações incorrectas (cf. quadro 16). As frases 5, 17 e 28 (“O Raul e a

Carolina lamentam que a Rita vá sair do país.”, “Elas lamentaram que o Luís estivesse

doente.” e “A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a História.”,

respectivamente) registam 100% de classificações correctas, ao passo que as frases 1 e

25, em que o verbo matriz se encontra no pretérito perfeito do indicativo (“Os pais

lamentaram que o filho seja preguiçoso.” e “Ele lamentou que o Rodrigo vá vender a

casa.”, respectivamente), apresentam um número elevado de classificações incorrectas,

a saber, 9 (90%) e 5 (50%), respectivamente – cf. quadro 1, anexo 8.

Oração Matriz Classificações (%) Grupo

de Verbos Verbo

Frase

Correctas Incorrectas

7 19

4a. Querer e

Desejar 22

96.7%

3.3%

2 10 12 27

5a. Sugerir

29

76%

24%

1 5 28 17

II-A

6a. Lamentar

25

72%

28%

Quadro 16 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de

verbos II-A, por parte dos sujeitos do grupo I (10º ano).

Os dados recolhidos no caso do grupo de verbos II-B (querer e desejar, sugerir e

lamentar), composto por 11 sequências agramaticais, revelam 92.7% de classificações

correctas e 7.3% de classificações incorrectas (cf. gráfico 27) – cf. quadro 1, anexo 8.

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119

GRUPO DE VERBOS II - B

92,7%

7,3%

Cl. Correctas

Cl. Incorrectas

Gráfico 27 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo I (10º ano)

relativamente ao grupo de verbos II-B.

Pode-se constatar que todas as sequências agramaticais que integram os verbos querer e

desejar (F4 – “Os filhos quiseram que a mãe faça um bolo.”; F11 – As raparigas

querem que os rapazes olharem para elas.”; F14 – “Tu desejaste que o Bruno for

contigo ao cinema.”; e F15 – “Eu quero que o Manuel deixasse de faltar às aulas.”)

apresentam 100% de avaliações correctas, à excepção da sequência agramatical 24 (“A

mãe quis que o filho vá estudar para o quarto.”), que é classificada por 3 sujeitos como

gramatical – cf. quadro 1, anexo 8.

Relativamente ao verbo sugerir, as sequências agramaticais 16 e 20 (“Os professores

sugeriram que os alunos virem a nova peça de teatro.” e “Eu e a Carla sugerimos que a

mãe fizer lasanha.”, respectivamente) não suscitam dúvidas aos sujeitos, registando

100% de classificações correctas. A sequência agramatical 8 (“Os Bancos sugerem que

os clientes comprassem acções.”), por sua vez, apresenta apenas uma classificação

incorrecta – cf. quadro 1, anexo 8.

Esta situação de sucesso repete-se nas frases relativas ao verbo lamentar, pois as

sequências agramaticais 21 e 26 (“Tu lamentas que a Cristina souber da verdade.” e “Eu

lamentei que tu partires tão cedo.”, respectivamente) apresentam, cada uma, 90% de

classificações correctas – cf. quadro 1, anexo 8. Na sequência agramatical 30 (“Os avós

lamentam que os netos fumassem às escondidas.”) verifica-se, com um valor um pouco

inferior, uma taxa de sucesso elevada, 80% – cf. quadro 1, anexo 8.

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120

Como revela o quadro 17, todos os verbos que constituem o grupo II-B (verbos querer e

desejar, sugerir e lamentar) apresentam um elevado valor percentual de classificações

correctas (todos acima dos 85%), embora o verbo lamentar registe uma maior

percentagem de avaliações incorrectas (13.3%).

Oração Matriz Classificações (%) Grupo

de Verbos Verbo

Seqs.

Agram. Correctas Incorrectas

*4 *11 *14 *15

4b. Querer e

Desejar

*24

94%

6%

*8 *16

5b. Sugerir *20

96.7%

3.3%

*21 *26

II – B

6b. Lamentar *30

86.7%

13.3%

Quadro 17 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de

verbos II-B, por parte dos sujeitos do grupo I (10º ano).

Em síntese, os resultados do teste de avaliação, aplicado ao grupo I de sujeitos (10º

ano), revelam que:

(i) As tarefas relativas a todos os grupos de verbos apresentam, na totalidade, uma

elevada taxa de sucesso, sendo o valor percentual de classificações correctas superior a

75%.

(ii) Com o grupo de verbos I, composto por frases gramaticais, regista-se um maior

número de classificações correctas quando ocorrem os verbos afirmar e saber. As

classificações incorrectas, por seu turno, verificam-se em maior número nas frases com

o verbo sentir (65%), salientando-se sobretudo a frase gramatical 9, por constituir, junto

dos sujeitos, uma sequência problemática, uma vez que 5 sujeitos a consideram

agramatical. Na totalidade, este grupo de verbos apresenta 83.3% de classificações

correctas face a 16.7% de classificações incorrectas.

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121

(iii) O grupo II-A, constituído por frases gramaticais com os verbos querer e desejar,

sugerir e lamentar, apresenta, por parte dos sujeitos, 79.2% de classificações correctas e

20.8% de classificações incorrectas. Relativamente às classificações correctas, as

sequências gramaticais com os verbos querer e desejar são as que registam um melhor

desempenho por parte dos sujeitos (96.7%). Quanto às classificações incorrectas,

importa referir as frases gramaticais 10 e 29, ambas construídas com o verbo sugerir,

por serem avaliadas por 6 sujeitos como agramaticais. Com o verbo lamentar, regista-se

dois casos a considerar: a frase gramatical 1, com 90% de classificações incorrectas e,

com um valor inferior, a frase 25, que apresenta 50% de classificações incorrectas.

(iv) Com todos os verbos do grupo II-B (querer e desejar, sugerir e lamentar) verifica-

se um reduzido número de classificações incorrectas (6% para os verbos querer e

desejar, 3.3% para o verbo sugerir e 13.3% para o verbo lamentar). A este propósito,

salientam-se as sequências agramaticais 24 (verbos matriz querer e desejar) e 30 (verbo

matriz lamentar), por apresentarem 3 e 2 classificações incorrectas, respectivamente.

Assim, de todos os grupos considerados, o grupo II-B é o que regista o maior valor

percentual de classificações correctas e, consequentemente, o menor valor de

classificações incorrectas, a saber, 92.7% e 7.3%, respectivamente.

3.2.1.2. Grupo de sujeitos II (12º Ano)

Nesta secção, são apresentados os resultados obtidos no teste de avaliação,

relativamente às classificações atribuídas pelos sujeitos do grupo II (12º ano) a cada

grupo de verbos.

Considere-se, em primeiro lugar, o grupo de verbos I (afirmar, saber e sentir),

constituído por frases gramaticais, cujos resultados totais se apresentam no gráfico 28.

Neste grupo regista-se 76.7% de classificações correctas, sendo de destacar as frases

relativas ao verbo afirmar – frases 13 e 23 (“Eles afirmam que a empresa vai conseguir

bons resultados.” e “ A Directora do Colégio afirmou que as aulas começarão em

Setembro.”, respectivamente) – e a frase 18, que envolve o verbo saber (“Nós soubemos

que a tia Clara viajou para o Brasil.”), por serem avaliadas por todos os sujeitos como

gramaticais – cf. quadro 2, anexo 8.

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122

Por outro lado, verifica-se, neste grupo de verbos, que as classificações incorrectas

perfazem um total de 23.3% do total de ocorrências (cf. gráfico 28). Para este valor

percentual concorrem as avaliações incorrectas da frase 6 (3 respostas incorrectas), que

envolve o verbo saber (“Os funcionários da loja sabem que os clientes foram

exigentes.”), e das frases que envolvem o verbo sentir, nomeadamente as frases 3 (2

classificações incorrectas) e 9 (9 classificações incorrectas) – “O João sente que os

irmãos vêem muita televisão por dia.” e “O Professor sentiu que os alunos estão

desmotivados.”, respectivamente - (cf. quadro 2, anexo 8). Os dados recolhidos

permitem-nos igualmente verificar que, de entre as frases anteriormente referidas, a

frase 9 é, de todas, a que apresenta um maior número de classificações incorrectas, na

medida em que, como já acima referido, 9 sujeitos a classificam como agramatical – cf.

quadro 2, anexo 8.

Através do quadro 18, verifica-se que, dos três verbos do grupo I, o verbo sentir é o que

apresenta o valor percentual mais elevado de classificações incorrectas (55%).

Veja-se o gráfico 28, que apresenta as classificações correctas e incorrectas atribuídas

pelos sujeitos ao grupo de verbos I.

GRUPO DE VERBOS I

76,7%

23,3%

Cl. Correctas

Cl. Incorrectas

Gráfico 28 – Classificações correctas incorrectas dos sujeitos do grupo II (12º ano), no

grupo de verbos I.

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123

Oração Matriz Classificações (%) Grupo de

Verbos Verbo

Frase

Correctas Incorrectas

13 1. Afirmar 23

100%

0%

6 2. Saber 18

85%

15%

3

I

3. Sentir 9

45%

55%

Quadro 18 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de

verbos I, por parte dos sujeitos do grupo II (12º ano).

Atente-se, agora, nos dados relativos ao grupo de verbos II-A (querer e desejar, sugerir

e lamentar), composto por 13 frases gramaticais. Neste caso, as avaliações correctas

correspondem a um valor percentual de 76.2% e as incorrectas de 23.8% (cf. gráfico

29).

GRUPO DE VERBOS II - A

76,2%

23,8%

Cl. Correctas

Cl. Incorrectas

Gráfico 29 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo II (12º ano),

no grupo de verbos II-A.

Relativamente a este grupo, as frases 7, 19 e 22 (“Eles quiseram que o Pedro viajasse

com eles.”, “ O Francisco quer que o primo vá aprender inglês.” e “ Nós desejamos que

os noivos sejam felizes.”, respectivamente), que envolvem os verbos matriz querer e

desejar, são maioritariamente classificadas como gramaticais (cf. quadro 2, anexo 8), o

que corresponde a 93.3% de classificações correctas (cf. quadro 19).

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124

No que diz respeito ao verbo sugerir, podemos verificar pelo quadro 19 que a

percentagem de classificações correctas é de 68% contra 32% de classificações

incorrectas. As frases gramaticais 2, 12 e 27 (“Ele sugere que as obras comecem em

Março.”, “Ontem, a Ana sugeriu ao marido que trocasse de carro.” e “A Educadora

sugere que as crianças vão brincar para o jardim.”, respectivamente) apresentam 100%

de classificações correctas. Ao contrário destas, as frases gramaticais 10 e 29 (“A Dulce

sugeriu que o marido vá escolher o restaurante.” e “Os meus amigos sugeriram que eu

tire férias para descansar.”, respectivamente), cujo verbo matriz se encontra no pretérito

perfeito e o verbo da encaixada no presente, registam 90% e 70% de classificações

incorrectas, respectivamente – cf. quadro 2, anexo 8.

Por último, nas estruturas que envolvem o verbo matriz lamentar, regista-se 26% de

classificações incorrectas (cf. quadro 19), valor este que decorre do facto de a frase

gramatical 1 (“Os pais lamentaram que o filho seja preguiçoso.”) registar 8 avaliações

incorrectas, e a frase 25 (“Ele lamentou que o Rodrigo vá vender a casa.”) apresentar 5

classificações incorrectas – cf. quadro 2, anexo 8. As restantes frases gramaticais com o

mesmo verbo matriz – frases 5, 17 e 28 (“O Raul e a Carolina lamentam que a Rita vá

sair do país.”, “Elas lamentaram que o Luís estivesse doente.” e “A Luísa lamenta que

o Henrique tenha maus resultados a História.”, respectivamente) – são todas avaliadas

correctamente pelos sujeitos como gramaticais, apresentando 100% de classificações

correctas.

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125

Oração Matriz Classificações (%) Grupo

de Verbos Verbo

Frase

Correctas Incorrectas

7 19

4b. Querer e

Desejar 22

93.3%

6.7%

2 10 12 27

5b. Sugerir

29

68%

32%

1 5 28 17

II-A

6b. Lamentar

25

74%

26%

Quadro 19 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de

verbos II-A, por parte dos sujeitos do grupo II (12º ano).

Finalmente, as 11 sequências agramaticais, que integram os verbos querer e desejar,

sugerir e lamentar do grupo II-B, apresentam um valor percentual de 97.3% no que diz

respeito às classificações correctas e de 2.7% relativamente às classificações incorrectas

(cf. gráfico 30).

GRUPO DE VERBOS II - B

97,3%

2,7%

Cl. Correctas

Cl. Incorrectas

Gráfico 30 – Classificações correctas e incorrectas dos sujeitos do grupo II (12º ano),

no grupo de verbos II-B.

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126

Quanto ao verbos matriz querer e desejar, os dados apurados mostram que as

sequências agramaticais 4, 11, 14, 15 e 24 em que aqueles ocorrem (F4 - “Os filhos

quiseram que a mãe faça um bolo.”; F11 - “As raparigas querem que os rapazes

olharem para elas.”; F14 - “Tu desejaste que o Bruno for contigo ao cinema.”; F15 -

“Eu quero que o Manuel deixasse de faltar às aulas.”; e F 24 - “A mãe quis que o filho

vá estudar para o quarto.”) apresentam um elevado número de classificações correctas,

num total de 49 ocorrências (cf. quadro 2, anexo 8), que equivalem a um valor

percentual de 98% (cf. quadro 20).

As sequências agramaticais relativas ao verbo sugerir, sequências 8, 16 e 20 (“Os

Bancos sugerem que os clientes comprassem acções.”, Os professores sugeriram que os

alunos virem a nova peça de teatro.” e “Eu e a Carla sugerimos que a mãe fizer

lasanha.”, respectivamente), são todas correctamente classificadas pelos sujeitos como

agramaticais (cf. quadro 2, anexo 8). Por conseguinte, nestas frases verifica-se 100% de

classificações correctas (cf. quadro 20).

No que diz respeito ao verbo lamentar, as sequências agramaticais 21 e 26 (“Tu

lamentas que a Cristina souber da verdade.” e “Eu lamentei que tu partires tão cedo.”)

registam 100% de classificações correctas.

No entanto, a sequência 30, igualmente agramatical (“Os avós lamentam que os netos

fumassem às escondidas.”), apresenta 2 classificações incorrectas – cf. quadro 2, anexo

8. Os resultados obtidos com o verbo lamentar equivalem, assim, a 93.3% de

classificações correctas e a 6.7% de classificações incorrectas (cf. quadro 20).

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127

Oração Matriz Classificações (%) Grupo

de Verbos Verbo

Seqs.

Agram. Correctas Incorrectas

*11 *15 *4 *14

4b. Querer e

Desejar

*24

98%

2%

*8 *20

5b. Sugerir *16

100%

0%

*21 *30 *1

II - B

6b. Lamentar

*26

93.3%

6.7%

Quadro 20 – Classificações correctas e incorrectas, atribuídas a cada verbo do grupo de

verbos II-B, por parte dos sujeitos do grupo II (12º ano).

Sintetizando, os resultados anteriormente expostos, obtidos pela aplicação do teste de

avaliação ao grupo de sujeitos II (12º ano), permitem-nos afirmar que:

(i) As frases que integram os três grupos de verbos apresentam um valor percentual de

classificações correctas acima dos 75%, embora o grupo II-B se destaque por ser o que

apresenta o valor superior, 97.3%.

(ii) Os verbos do grupo I, que ocorrem em frases gramaticais, apresentam, na totalidade,

76.7% de classificações correctas e 23.3% de classificações incorrectas.

Enquanto os verbos afirmar e saber registam um resultado positivo em termos de

classificações correctas (100% e 85%, respectivamente), o verbo sentir apresenta um

valor mais baixo, 45%, resultante sobretudo dos resultados obtidos na frase 9 (9

classificações incorrectas).

(iii) Com o grupo de verbos II-A, composto por 13 frases gramaticais, verifica-se 93.3%

de classificações correctas para as frases com os verbos querer e desejar, não se tendo

registado nenhuma sequência problemática. Contudo, o verbo sugerir apresenta um

valor superior de classificações incorrectas (32%), na medida em que as frases

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128

gramaticais 10 e 29 comportam um elevado número de avaliações incorrectas (9 e 7,

respectivamente). Com 74% de classificações correctas, o verbo lamentar, por sua vez,

revela resultados positivos em todas as frases, à excepção das frases 1 e 25, que, apesar

de gramaticais, são avaliadas como agramaticais por 8 e 5 sujeitos, respectivamente.

Na totalidade, o grupo de verbos II-A apresenta 76.2% de classificações correctas e

23.8% de classificações incorrectas.

(iv) Todos os verbos do grupo II-B apresentam uma elevada percentagem de

classificações correctas, perfazendo um total de 97.3%. Com 2.7% de classificações

incorrectas, salienta-se a frase 30, construída com o verbo lamentar no presente, em que

se verificam 2 avaliações erradas.

3.2.2. Síntese comparada

Tendo por base os dados descritos na secção anterior, procede-se agora à sistematização

dos resultados obtidos pelos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) no teste de

avaliação.

No que diz respeito às relações de (in)dependência temporal entre os dois domínios

oracionais, verifica-se que:

- No grupo de verbos I há uma percentagem elevada de classificações correctas nos dois

grupos de sujeitos (10º e 12º anos): 83.3% e 76.7%, respectivamente. Em ambos os

grupos se destaca a frase 13 (verbo afirmar – “Eles afirmam que a empresa vai

conseguir bons resultados.”) por revelar 100% de classificações correctas.

Quanto às classificações incorrectas, o grupo de sujeitos I (10º ano) regista 16.7% e o

grupo de sujeitos II (12º ano), 23%. As frases relativas ao verbo sentir (frases 3 e 9, “O

João sente que os irmãos vêem muita televisão por dia.” e “O Professor sentiu que os

alunos estão desmotivados.”, respectivamente) são aquelas em que se verificam mais

avaliações erradas, salientando-se a frase 9 por apresentar 5 respostas incorrectas;

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129

- Quanto ao grupo de verbos II-A, composto por 13 frases gramaticais, verifica-se uma

elevada taxa de sucesso nos dois grupos de sujeitos: o grupo de sujeitos I (10º ano)

regista 79.2% de classificações correctas e o grupo de sujeitos II (12º ano), 76.2%.

As construções com os verbos matriz querer e desejar são, na sua maioria, classificadas

correctamente por todos os sujeitos como gramaticais, destacando-se as frases 19 e 22

(“O Francisco quer que o primo vá aprender inglês.” e “ Nós desejamos que os noivos

sejam felizes.”, respectivamente).

Relativamente às frases construídas com o verbo matriz sugerir, verifica-se que as

frases 2, 12 e 27 (“Ele sugere que as obras comecem em Março.”, “Ontem, a Ana

sugeriu ao marido que trocasse de carro.” e “A Educadora sugere que as crianças vão

brincar para o jardim.”, respectivamente) apresentam, nos dois grupos de sujeitos 100%

de classificações correctas; as frases 10 e 29 (“A Dulce sugeriu que o marido vá

escolher o restaurante.” e “Os meus amigos sugeriram que eu tire férias para

descansar.”, respectivamente), ao invés daquelas, constituem sequências problemáticas,

pois registam um maior número de classificações incorrectas.

Por fim, os dados relativos às frases com o verbo matriz lamentar mostram que os

grupos de sujeitos I e II classificam correctamente as frases 5, 17 e 28 (“O Raul e a

Carolina lamentam que a Rita vá sair do país.”, “Elas lamentaram que o Luís estivesse

doente.” e “A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a História.”,

respectivamente) como frases gramaticais; as frases 1 (“Os pais lamentaram que o filho

seja preguiçoso.”) e 25 (“Ele lamentou que o Rodrigo vá vender a casa.”) são, no

entanto, as que apresentam um maior número de classificações incorrectas;

- O grupo de verbos II-B, composto por 11 sequências agramaticais, apresenta uma

elevada percentagem de classificações correctas por parte dos sujeitos, nomeadamente

92.7% no grupo de sujeitos I (10º ano) e 97.3% no grupo de sujeitos II (12º ano).

As frases com os verbos matriz querer e desejar são classificadas, na sua maioria, como

agramaticais por todos os sujeitos, não constituindo, assim, casos problemáticos.

Nas construções com o verbo matriz sugerir, os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos)

revelam igualmente um bom desempenho na classificação de todas as frases, que são,

na sua maioria, avaliadas correctamente como agramaticais.

Por último, verifica-se que as frases com o verbo lamentar apresentam, nos grupos de

sujeitos I e II, uma elevada taxa de classificações correctas, destacando-se as frases 21 e

26 (“Tu lamentas que a Cristina souber da verdade.” e “Eu lamentei que tu partires tão

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130

cedo.”). A frase 30 (“Os avós lamentam que os netos fumassem às escondidas.”),

todavia, regista, nos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), duas classificações como

gramatical.

O quadro 21 apresenta as classificações correctas e incorrectas atribuídas pelos dois

grupos de sujeitos (10º e 12º anos) a cada grupo de verbos, considerado na sua

totalidade.

Classificação dos Sujeitos (%)

Correcta Incorrecta

Grupo

de

Verbos GS I GS II GS I GS II

I

83.3%

76.7%

16.7%

23.3%

II – A

79.2%

76.2%

20.8%

23.8%

II – B

92.7%

97.3%

7.3%

2.7%

Quadro 21 – Classificações correctas e incorrectas registadas em cada grupo de verbos,

por parte dos sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º anos).

Por sua vez, o quadro 22 reúne os resultados dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º ano),

relativos às classificações correctas e incorrectas registadas para cada verbo.

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131

Oração

Matriz

Classificações dos sujeitos (%)

Correctas Incorrectas

Grupo de

Verbos Verbo

GS I GS II GS I GS II

Afirmar

95%

100%

5%

0%

Saber

90%

85%

10%

15%

I

Sentir

65%

45%

35%

55%

Querer/Desejar

96.7%

93.3%

3.3%

6.7%

Sugerir

76%

68%

24%

32%

A

Lamentar

72%

74%

28%

26%

Querer/Desejar

94%

98%

6%

2%

Sugerir

96.7%

100%

3.3%

0%

II

B

Lamentar

86.7%

93.3%

13.3%

6.7%

Quadro 22 – Classificações correctas e incorrectas apresentadas em cada verbo pelos

sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º anos).

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132

Capítulo 4 – Análise dos dados

Neste capítulo analisam-se os dados descritos no capítulo anterior relativos (i) ao teste

de produção provocada, no que diz respeito às propriedades do verbo matriz e selecção

do modo e do tempo verbal em frases afirmativas, aos efeitos da negação frásica no

modo e no tempo verbal da encaixada (cf. pontos 4.1. e 4.2.), e (ii) ao teste de avaliação,

nomeadamente às relações de (in)dependência temporal estabelecidas entre a oração

encaixada e a oração matriz (cf. ponto 4.3.). Esta análise é elaborada numa perspectiva

de comparação do desempenho linguístico dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos),

de forma a tentar encontrar razões para os dados obtidos e a levantar questões

pertinentes sobre a dicotomia indicativo/conjuntivo. Todas as hipóteses formuladas no

ponto 1.3. são retomadas e discutidas ao longo do presente capítulo.

4.1. Propriedades do verbo matriz e selecção do modo em frases afirmativas Neste ponto procede-se à análise dos dados recolhidos no teste de produção, relativos à

selecção do modo e do tempo verbal na encaixada. Recorde-se que, em todas as frases

deste teste o verbo superior se encontra no presente do indicativo.

Comecemos por analisar os dados relativos aos grupos de verbos matriz que

seleccionam na encaixada o modo indicativo, nomeadamente os grupos de verbos I e

III.

O grupo de verbos I (afirmar e saber), que selecciona na encaixada o modo indicativo,

não suscita problemas aos sujeitos, pois quer o grupo de sujeitos I (10º ano), quer o

grupo de sujeitos II (12º ano) produz, conforme o alvo, o indicativo. O modo indicativo

apresenta, pois, 100% do total de ocorrências.

Os dados revelam, assim, que as propriedades semânticas destes verbos não geram

dúvidas aos sujeitos quanto ao modo que seleccionam na encaixada: o verbo afirmar,

um verbo epistémico que expressa uma declaração, e o verbo saber, um verbo

igualmente epistémico que expressa conhecimento, são predicados assertivos (cf.

Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003), uma vez que introduzem afirmações e

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133

declarações. Esta propriedade contribui para a caracterização do indicativo como um

modo que expressa asserções e está, portanto, associado a atitudes epistémicas de

conhecimento e de crença.

O facto de o presente do indicativo ser o tempo mais produzido pelos dois grupos de

sujeitos (10º e 12º anos), representando 70% das ocorrências, no grupo de sujeitos I, e

65% de ocorrências, no grupo II, indica que os sujeitos estabelecem nas suas produções

relações de concordância temporal relativamente ao verbo matriz, o qual se encontra no

presente do indicativo. Com 25% do total das produções, surgem, nos dois grupos de

sujeitos, as formas perifrásticas, com o verbo auxiliar (na maioria dos casos, o verbo ir)

predominantemente no presente do indicativo ou no futuro do indicativo, o que, por um

lado, confirma o que referimos anteriormente e, por outro, mostra também como os

falantes nativos estão a substituir o uso do futuro do indicativo pela forma perifrástica

com o auxiliar no futuro.

Em suma, os dois grupos de sujeitos, apesar de pertencentes a dois níveis de

escolaridade diferentes, 10º e 12º anos, apresentam o mesmo comportamento,

desempenhando com total sucesso a tarefa proposta.

Relativamente ao grupo de verbos III, que selecciona igualmente o indicativo na

encaixada, verifica-se que todos os sujeitos produzem este modo. Com base nestes

dados, podemos afirmar que os verbos sentir, achar, prometer e dizer não são

problemáticos nem para o grupo de sujeitos I (10º ano), nem para o grupo de sujeitos II

(12º ano).

O verbo perceptivo sentir, o verbo epistémico de crença achar, o verbo prospectivo

prometer e o verbo declarativo dizer exprimem asserções, isto é, são predicados

assertivos, logo, seleccionam o modo indicativo (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999;

Duarte 2003).

Com os dois grupos de sujeitos o presente é o tempo mais produzido, registando o valor

de 47.5%, no grupo I, e um valor superior de 65%, no grupo II. Em segundo lugar,

surgem as formas perifrásticas com o auxiliar (na maioria dos casos, o verbo ir)

predominantemente no presente do indicativo, com 37.5%, no grupo de sujeitos I, e

17.5%, no grupo de sujeitos II. Estes dados revelam novamente que há por parte dos

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134

sujeitos uma preocupação em estabelecer entre a oração matriz e a encaixada uma

relação de concordância temporal [pres/pres].

Com 12.5% do total das ocorrências, o pretérito perfeito (grupo de sujeitos I) e o futuro

(grupo de sujeitos II) são, em cada um dos grupos de sujeitos, o terceiro tempo mais

seleccionado, o que demonstra o reconhecimento, por parte de alguns sujeitos, de

independência temporal em completivas em que é seleccionado o indicativo, tendo em

conta que o verbo superior se encontra no presente do indicativo.

Sintetizando, os grupos de sujeitos I e II seleccionam na encaixada o modo conforme o

alvo, ou seja, o indicativo. O modo indicativo regista, deste modo, 100% do total dos

dados produzidos.

Pela análise anteriormente apresentada, podemos verificar que o indicativo é o único

modo seleccionado pelos sujeitos nas frases que envolvem os grupos de verbos I e III, o

que corresponde à alternativa correcta. Estes resultados revelam que os verbos

superiores destes grupos não suscitam dúvidas aos sujeitos, apresentando o indicativo

100% do total de ocorrências. Assim, podemos confirmar a hipótese 1, que agora se

recupera:

HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo

indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.

Passemos, de seguida, à análise dos resultados obtidos para os grupos de verbos II e IV,

cujos verbos da matriz seleccionam na encaixada o modo conjuntivo.

Relativamente aos verbos lamentar, querer e esperar, que constituem o grupo II, os

dados recolhidos no grupo de sujeitos I (10º ano) mostram que a maioria dos sujeitos

produziu na encaixada o modo conjuntivo (96.7%), registando-se apenas uma

ocorrência no modo indicativo (3.3%). No grupo de sujeitos II (12º ano), todos os

sujeitos seleccionam na encaixada o modo conjuntivo, apresentando 100% de produções

correctas. Estes resultados demonstram, então, que este grupo de verbos, assim como os

anteriormente referidos, não gera dificuldades relevantes na selecção do modo,

apresentando uma elevada taxa de sucesso.

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135

Como anteriormente referimos, este grupo é composto pelos verbos volitivos querer e

esperar e pelo verbo factivo lamentar. Este último verbo, sendo um verbo factivo,

pressupõe a verdade da proposição da frase encaixada, logo, tendo em conta algumas

das análises clássicas, esperar-se-ia a presença do indicativo na mesma oração, motivo

pelo qual este verbo tem sido considerado um caso problemático no âmbito da selecção

modal, reforçando a ideia da ausência de uma relação directa entre as propriedades do

verbo superior e a selecção do modo na encaixada. No entanto, podemos justificar a

selecção do conjuntivo na completiva se adoptarmos a ideia de que todos estes

predicados são não assertivos (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003), ou seja,

predicados que, ao invés dos assertivos, não expressam asserções, mas introduzem

avaliações ou acrescentam conteúdos independentes da própria asserção.

O tempo mais produzido pelos dois grupos de sujeitos é o presente do conjuntivo, com

93.3% em cada grupo. Como já foi acima referido, a selecção deste tempo verbal parece

decorrer da prática de uma concordância temporal entre o verbo da encaixada, que se

encontra no presente do indicativo, e o verbo superior [pres/pres]. Com uma

representação pouco relevante, o pretérito perfeito é também produzido pelos sujeitos

com o verbo lamentar (3.3% no grupo I e 6.7% no grupo II).

Assim, o comportamento dos sujeitos nas estruturas analisadas é idêntico, na medida em

que ambos os grupos demonstram um número elevado de produções correctas no

conjuntivo, registando-se, apenas no grupo de sujeitos I, um valor muito baixo de

produções incorrectas no indicativo (3.3%).

O verbo duvidar (grupo IV), que veicula as noções de dúvida e de descrença, é um

predicado não assertivo que, tal comos os verbos constituintes do grupo II, selecciona o

modo conjuntivo na encaixada.

Face aos resultados obtidos no grupo de verbos IV, podemos observar que os sujeitos

têm um comportamento bastante distinto: enquanto o grupo de sujeitos I (10º ano)

regista 60% de ocorrências no conjuntivo, o grupo de sujeitos II (12ºano) apresenta

100% de ocorrências neste modo. Por conseguinte, poder-se-á explicar o desempenho

dos sujeitos pelos níveis de escolaridade a que pertencem: o grupo de sujeitos II, por

frequentar um nível de escolaridade superior (12º ano), revela um melhor desempenho

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136

na selecção do modo (taxa de sucesso total); o grupo de sujeitos I, por frequentar um

nível de escolaridade inferior (10º ano), demonstra não ter estabilizado completamente

estas construções, manifestando dificuldade em seleccionar o modo correcto (40% de

produções incorrectas no indicativo). Depreende-se, portanto, que no início do 2º

período do 12º ano, os sujeitos revelam um melhor domínio sobre a selecção modal em

completivas do que no início do ensino secundário (especificamente, no início do 2º

período do 10º ano).

Quanto às produções incorrectas, verifica-se que o pretérito perfeito e as formas

perifrásticas com o auxiliar ou no presente ou no futuro são os tempos verbais utilizados

no indicativo pelos sujeitos do grupo I.

Relativamente às produções correctas no conjuntivo, regista-se que o presente é o tempo

verbal mais seleccionado pelos sujeitos, apresentando 40% no grupo I e 80% no grupo

II, o que concorre mais uma vez para a concordância temporal [pres/pres] entre a oração

encaixada e a oração superior. Com 20% em cada grupo de sujeitos, o pretérito perfeito

composto é o segundo tempo mais produzido pelos sujeitos, o que revela o

estabelecimento de algumas relações de independência temporal entre as orações.

Conclui-se, desta forma, que enquanto no grupo de sujeitos I há uma taxa de insucesso

relevante de 40%, no grupo II, verifica-se 100% de produções correctas conforme o

alvo.

Os dados permitem confirmar as hipóteses 2 e 7, que abaixo se transcrevem:

HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo

conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes,

pela substituição pelo indicativo.

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação

de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que

os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor

desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na

aquisição de competências linguísticas.

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137

Por último, considerem-se os dados referentes aos grupos de verbos que admitem

selecção modal dupla na encaixada: grupos V e VI.

Os verbos constituintes do grupo V, acreditar, imaginar, suspeitar e prever,

seleccionam na encaixada ou o indicativo ou o conjuntivo e são verbos denominados

“criadores de mundos”, pois permitem a criação de realidades alternativas (cf. Ridruejo

1999; Oliveira 2003). Como já referimos anteriormente, a escolha do modo indicativo

ou conjuntivo decorre do valor de verdade atribuído à proposição encaixada, ou seja,

quando é seleccionado o indicativo pressupõe-se a verdade da frase complemento, o que

não acontece quando é seleccionado o conjuntivo.

Os dados recolhidos no grupo de verbos V permitem verificar que há uma clara

preferência pelo modo indicativo, apresentando este modo, nos dois grupos de sujeitos

(10º e 12º anos), um valor percentual de 82.5% do total das ocorrências.

Relativamente aos tempos verbais seleccionados, os sujeitos do grupo I (10º ano)

registam um maior número de produções nas formas perifrásticas, com o auxiliar (na

maioria das produções, o verbo ir) predominantemente ou no presente ou no futuro

(40%), seguindo-se o uso do presente (27.5%). Os sujeitos do grupo II (12º ano), por

seu turno, apresentam, em primeiro lugar, mais ocorrências no presente (35%); em

segundo lugar, produzem as formas perifrásticas, todas com o verbo auxiliar ir, também

ou no presente ou no futuro (20%) e, em terceiro lugar, o futuro (15%). Tendo em conta

que o verbo matriz se encontra no presente do indicativo em todas as frases, mais uma

vez, a selecção das formas perifrásticas com o auxiliar no presente e a selecção do

presente do indicativo, parecem denotar uma preocupação dos sujeitos em estabelecer

uma relação de concordância entre o tempo do verbo da encaixada e o tempo do verbo

da matriz [pres/pres].

No que concerne às produções com o conjuntivo, estas envolvem sobretudo os verbos

suspeitar e prever e representam um valor aproximado nos dois grupos de sujeitos:

15%, no grupo de sujeitos I, e 17.5%, no grupo de sujeitos II. Estabelece-se

concordância temporal entre os dois domínios oracionais, visto que predomina o uso do

presente nos dois grupos de sujeitos (12.5% e 15%, respectivamente), seguindo-se a

selecção do pretérito perfeito composto, embora com um valor percentual inferior de

2.5%, em cada grupo.

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138

Pelo que atrás foi dito, podemos concluir que a tarefa que envolve o grupo de verbos V

é desempenhada de forma idêntica pelos dois grupos de sujeitos, registando-se um valor

elevado de produções no indicativo, relativamente a um valor pouco significativo de

produções no conjuntivo.7

Por último, considere-se o verbo pensar (grupo VI), que, tal como os verbos do grupo

anterior, selecciona os dois modos na encaixada, permitindo também a criação de

mundos alternativos (cf. Ridruejo 1999; Oliveira 2003). Contudo, como referido

anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.), assume-se que a selecção do conjuntivo possa ser

considerada como marginal para alguns sujeitos.

Os resultados registados no teste de produção mostram que os dois grupos de sujeitos

produzem exclusivamente o indicativo. O grupo de sujeitos I e o grupo de sujeitos II

apresentam, assim, o mesmo desempenho, registando o indicativo 100% das

ocorrências. Estes resultados podem revelar que, para estes sujeitos, a selecção do

conjuntivo em frases afirmativas com o verbo pensar não é reconhecida como

gramatical, o que vai ao encontro das intuições de alguns falantes adultos. Esta situação

pode dever-se ao facto de o verbo pensar assumir diferentes significados conforme o

modo da encaixada: quando ocorre com conjuntivo assume um valor dubitativo, ausente

quando co-ocorre com indicativo. A ocorrência exclusiva do indicativo nas produções

dos sujeitos revela a sua preferência por uma das interpretações. Adicionalmente, a

exclusividade do indicativo, no contexto deste verbo, vem ao encontro da tendência

generalizada verificada em outros contextos, como anteriormente se referiu.

Quanto aos tempos verbais utilizados, nas produções dos sujeitos do grupo I predomina

claramente o uso do presente, com 80%; nas produções dos sujeitos do grupo II este

tempo regista um valor percentual inferior, 40%, na medida em se verificam produções

significativas no futuro, apresentando este tempo verbal 30%. Saliente-se que, como já

referido, o verbo superior se encontra no presente do indicativo. Constata-se, assim,

7 Na análise de Marques (1995), o indicativo é considerado um modo marcado porque está associado a

atitudes epistémicas de conhecimento ou de crença. Por conseguinte, e, de acordo com o mesmo autor, o

conjuntivo associa-se a uma variedade de valores modais, pelo que pode ser considerado um modo não

marcado.

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139

que, enquanto no grupo de sujeitos I (10º ano) há um maior número de relações de

concordância temporal, no grupo de sujeitos II (12º ano) assumem-se também relações

de independência temporal, o que poderá derivar de uma aquisição mais sólida destas

estruturas por parte destes sujeitos, visto que frequentam um nível de escolaridade

superior.

Face aos resultados obtidos com os grupos de verbos V e VI, relativos ao modo

seleccionado na encaixada, podemos confirmar a hipótese 3:

HIPÓTESE 3 – Nas construções que integram verbos que podem seleccionar ou o

indicativo ou o conjuntivo (verbos de selecção modal dupla) tendo em conta condições

sintáctico-semânticas distintas, os sujeitos optam maioritariamente pelo indicativo.

Por último, os dados analisados com todos os grupos de verbos nesta secção levam à

confirmação da hipótese 5, que se recupera de seguida:

HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se

estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos

verbos dessas orações.

4.2. Efeitos da negação superior no modo da oração encaixada

Ainda no âmbito do teste de produção, procede-se neste ponto à análise dos dados

obtidos nos vários grupos de verbos, tendo em conta a presença da negação frásica

superior e a possibilidade de esta alterar a selecção modal na encaixada. Nesta análise

são tidos em conta os mesmos pressupostos teóricos apresentados no ponto anterior

relativos a cada grupo de verbos, uma vez que os grupos se mantêm, à excepção dos

grupos II e V, dado que o verbo prever, como referido anteriormente (cf. secção

2.1.2.1.), se encontra, neste contexto, inserido no grupo II.

Considerem-se primeiramente os dados relativos aos grupos de verbos I e II, que

seleccionam na encaixada o indicativo e o conjuntivo, respectivamente, não sendo estes

modos condicionados pelo operador de negação frásica superior.

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140

Os verbos afirmar e saber, que pertencem ao grupo I, são, como referido no ponto

anterior, verbos assertivos, associados a atitudes epistémicas de conhecimento e de

crença e, portanto, seleccionam indicativo (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte

2003).

Os resultados obtidos com este grupo de verbos demonstram que as estruturas com estes

verbos matriz estão estabilizadas nos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), pelo que o

indicativo regista em ambos 100% de ocorrências, conforme o alvo.

O presente do indicativo é o tempo verbal mais produzido pelos sujeitos, embora o

grupo II (12º ano) apresente um valor percentual superior, de 70%, face ao registado no

grupo I (10º ano), de 40%. No grupo de sujeitos I, as formas perifrásticas, com o

auxiliar (na maioria das produções, verbo ir) predominantemente no presente, e o

pretérito perfeito registam o mesmo valor – 30% do total das ocorrências – um valor

próximo do obtido no presente e, por conseguinte, igualmente relevante. Os mesmos

tempos verbais são seleccionados pelos sujeitos do grupo II, correspondendo as formas

perifrásticas, com o auxiliar (verbo ir) também maioritariamente no presente, a 10%, e o

pretérito perfeito a 15%.

A utilização do presente e das formas perifrásticas, construídas sobretudo com o auxiliar

no presente, revela que os sujeitos estabelecem, na maioria das produções, concordância

temporal entre o verbo da oração encaixada e o verbo da matriz, uma vez que o verbo da

oração matriz, como já referido, se encontra no presente do indicativo. Os valores

também relevantes registados nos restantes tempos verbais mostram, por outro lado, que

os sujeitos também admitem nas frases com indicativo na encaixada uma relação de

independência temporal entre as duas orações.

Em síntese, os sujeitos dos grupos I e II não demonstram ter dificuldades em seleccionar

o modo correcto neste tipo de estruturas, tendo sido o seu desempenho de total sucesso.

Estes dados conduzem de novo à confirmação da hipótese 1:

HIPÓTESE 1 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo

indicativo na encaixada não são problemáticas para os sujeitos.

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141

Os verbos matriz que compõem o grupo II (lamentar, querer, esperar e prever)

seleccionam na oração completiva o modo conjuntivo. Os verbos lamentar, querer e

esperar seleccionam este modo, porque, como referido na secção anterior, são

predicados não assertivos, que introduzem avaliações ou acrescentam informações

independentes da própria asserção (cf. Bosque 1990b; Ridruejo 1999; Duarte 2003). No

entanto, o verbo prever, como já se afirmou anteriormente (cf. secção 2.1.2.1.),

selecciona em frases afirmativas os dois modos e, quando sob o escopo da negação

frásica, selecciona apenas o conjuntivo, passando a ter propriedades não assertivas.

Assim, com os verbos lamentar, querer e esperar, o elemento de negação frásica

superior não altera a selecção do modo da encaixada; o mesmo não acontece com o

verbo prever, pois a negação induz a alterações na selecção modal.

Os resultados obtidos neste grupo de verbos revelam um desempenho dos sujeitos muito

positivo, verificando-se um elevado número de produções no conjuntivo, a saber,

97.5%, no grupo de sujeitos I (10º ano), e 100%, no grupo de sujeitos II (12º ano).

Quanto aos tempos verbais seleccionados, os dois grupos de sujeitos produzem

maioritariamente o presente, sobretudo com os verbos querer, esperar e prever. Este

tempo regista nos dois grupos de sujeitos um valor superior a 70% relativamente ao

total das produções (72.5%, no grupo I, e 77.5%, no grupo II). Estes dados mostram

também que há por parte dos sujeitos uma tendência para estabelecer entre o tempo do

verbo da oração superior e o tempo do verbo da encaixada uma relação de concordância

temporal [pres/pres]. Com 22.5%, o pretérito perfeito composto apresenta igualmente

um valor elevado de produções, tendo sido seleccionado somente com o verbo

lamentar. Estas ocorrências demonstram que o verbo factivo lamentar, ao contrário dos

anteriores, admite na encaixada diferentes tempos, o que revela independência temporal

entre o verbo da completiva e o verbo da matriz.

Em suma, no grupo de verbos II, o comportamento dos sujeitos dos grupos I e II é

idêntico, apresentando uma elevada percentagem de produções correctas no conjuntivo

e, embora se registe, no grupo de sujeitos I, uma produção incorrecta no indicativo, é

pouco relevante (2.5%). Todas estas observações tornam possível, mais uma vez, a

confirmação da hipótese 2:

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142

HIPÓTESE 2 – As construções que integram verbos que seleccionam o modo

conjuntivo colocam problemas aos sujeitos, prevendo-se que estes optem, por vezes,

pela substituição pelo indicativo.

Apresenta-se de seguida a análise dos grupos de verbos III e IV, que sofrem os efeitos

da negação frásica superior na selecção do modo, passando a admitir os dois modos na

oração encaixada.

Em frases superiores afirmativas, o grupo de verbos III (sentir, achar, prometer e dizer)

selecciona na encaixada o indicativo, mas, quando introduzido pela negação frásica

superior, passa a seleccionar ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada. Na presença

da negação frásica superior, o verbo perceptivo sentir, o epistémico achar e o

declarativo dizer seleccionam conjuntivo, não se encontrando especificado o valor de

verdade da proposição encaixada. Por fim, com o verbo prospectivo prometer, a

selecção do conjuntivo decorre da ausência de compromisso entre o sujeito e a verdade

da proposição da encaixada. Deste modo, em frases superiores afirmativas estes verbos

introduzem asserções; quando influenciados pela negação, passam a introduzir também

avaliações ou informações independentes da asserção, ou seja, partilham de

características assertivas e não assertivas, acarretando necessariamente diferentes

interpretações semânticas, consoante a selecção de um ou de outro modo.

Os dados produzidos pelos sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º ano) revelam uma

preferência evidente pelo indicativo em detrimento do conjuntivo: o grupo I de sujeitos

(10º ano) apresenta 65% de ocorrências no indicativo face a 32.5% no conjuntivo; o

grupo II de sujeitos (12º ano) regista 75% no indicativo contra 25% no conjuntivo. A

preferência pelo indicativo poderá resultar do facto deste modo ser típico de atitudes

epistémicas específicas, e a produção inferior de conjuntivo poderá indicar dificuldades

na selecção deste modo com estas estruturas, que não induz um valor de verdade

completamente especificado.

Nas produções do grupo de sujeitos I com o indicativo, verifica-se que as formas

perifrásticas com o auxiliar estar ou ir predominantemente no presente, com um valor

percentual de 32.5%, e o presente, com um valor de 22.5%, são os tempos mais

produzidos pelos sujeitos. Numa ordem inversa, o grupo de sujeitos II produz em

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primeiro lugar o presente, com 42.5% e, em segundo, as formas perifrásticas com o

auxiliar predominantemente no presente, com 15%. Podemos, assim, confirmar que, em

muitas produções dos sujeitos com indicativo, o verbo da oração completiva concorda

temporalmente com o da matriz [pres/pres].

Relativamente aos dados das produções com o conjuntivo, os sujeitos dos grupos I e II

seleccionam sobretudo o presente (27.5%, no grupo de sujeitos I, e 20%, no grupo de

sujeitos II), envolvendo a maioria destas produções o verbo achar. Estes resultados

revelam de novo o estabelecimento de uma relação de concordância temporal entre os

verbos dos dois domínios oracionais [pres/pres].

Sintetizando, o grupo de verbos III, que permite uma selecção modal dupla na

encaixada, apresenta um elevado número de produções no modo indicativo contra um

número reduzido de produções no modo conjuntivo.

No que diz respeito ao grupo IV, composto pelo verbo duvidar, que na afirmativa

selecciona conjuntivo, verifica-se que, sob influência da negação frásica na oração

matriz, há uma alteração na selecção do modo, passando este verbo a admitir os dois

modos na encaixada. Esta situação constitui uma excepção, pois a maior parte dos

verbos que, em frases superiores afirmativas, seleccionam o conjuntivo, mantêm a

mesma selecção aquando da presença do elemento de negação frásica superior (como os

verbos lamentar e querer, por exemplo). Como já referido no ponto anterior, a selecção

do conjuntivo resulta da descrença do sujeito na verdade da proposição da encaixada.

Consequentemente, a escolha do indicativo decorre da crença do sujeito na mesma.

Os sujeitos dos grupos I e II (10º e 12º anos) revelam um comportamento idêntico,

verificando-se, como no grupo de verbos anterior, uma preferência clara pelo indicativo

relativamente ao conjuntivo. Assim, os dois grupos de sujeitos apresentam 70% de

produções no indicativo, predominando o presente. Quanto às produções com o

conjuntivo, o grupo de sujeitos I regista 20% e o grupo de sujeitos II 30% do total das

ocorrências, sendo o presente o único tempo verbal seleccionado. Os tempos verbais

mais produzidos na encaixada pelos sujeitos (presente do indicativo e presente do

conjuntivo) demonstram, de novo, uma relação de concordância temporal com o verbo

superior, já que este, como já referimos, se encontra no presente do indicativo.

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144

A preferência pelo modo indicativo nas frases que envolvem os grupos de verbos III e

IV parece ser novamente motivada pela associação deste modo a atitudes epistémicas

específicas e permite confirmar a hipótese 4:

HIPÓTESE 4 – Nas construções em que a presença do operador de negação na oração

matriz induz alterações no modo da encaixada, verificando-se a possibilidade de

selecção dos dois modos, há, por parte dos sujeitos, uma preferência pelo indicativo, em

detrimento do conjuntivo.

Por último, são analisados os dados relativos aos grupos de verbos V e VI, que não são

afectados pela presença da negação frásica superior, mantendo a selecção modal dupla

na encaixada.

Os verbos acreditar, imaginar e suspeitar, que constituem o grupo V, mantêm a

possibilidade de ocorrência dos dois modos na presença da negação frásica superior,

continuando, assim, a criar mundos alternativos, decorrente da selecção de um ou outro

modo (cf. Ridruejo 1999; Oliveira 2003).

Os resultados apurados neste grupo demonstram que os sujeitos dos grupos I e II (10º e

12º anos) apresentam uma maior produção do indicativo contra uma menor produção do

conjuntivo. No entanto, o seu desempenho não é totalmente idêntico, pois enquanto os

sujeitos do grupo I apresentam uma preferência clara pelo indicativo relativamente ao

conjuntivo (73.4% para 26.6%, respectivamente), os sujeitos do grupo II registam entre

os dois modos um valor aproximado (56.7% para o indicativo e 43.3% para o

conjuntivo). Esta distribuição díspar dos modos em cada grupo de sujeitos leva-nos a

considerar que os sujeitos em nível de escolaridade inferior (grupo I, 10º ano) optam

maioritariamente pelo modo mais frequente, o indicativo, enquanto os sujeitos em nível

de escolaridade superior (grupo II, 12º ano) apresentam uma selecção mais homogénea

dos dois modos, o que poderá traduzir uma aquisição mais sólida destas estruturas.

Com 33.3% do total das ocorrências, o presente foi o tempo mais produzido pelos dois

grupos de sujeitos no modo indicativo. A registar um valor igualmente significativo,

seguem-se as formas perifrásticas, com o auxiliar (verbo ir ou estar)

predominantemente no presente (20%, no grupo de sujeitos I, e 10%, no grupo de

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sujeitos II), e o pretérito perfeito (20%, no grupo de sujeitos I, e 10%, no grupo de

sujeitos II).

No que diz respeito ao conjuntivo, são produzidos o presente e o pretérito perfeito

composto, sobretudo com o verbo suspeitar, correspondendo estes tempos verbais ao

mesmo valor percentual no grupo de sujeitos I, 20%, e a 23.3% e 16.7%,

respectivamente, no grupo de sujeitos II. O presente é, assim, nas construções com o

indicativo e com o conjuntivo, o tempo mais seleccionado pelos sujeitos, o que revela,

novamente, uma preocupação dos sujeitos em concordar o tempo do verbo da encaixada

com o da oração superior.

Com base no exposto, podemos afirmar que os dados obtidos no grupo de verbos V

parecem ser condicionados pelo nível de escolaridade a que pertencem os sujeitos e pelo

tempo do verbo matriz, confirmando-se a hipótese 7:

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação

de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que

os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor

desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na

aquisição de competências linguísticas.

Por último, considere-se o verbo do grupo VI (pensar) que, tal como acontece com os

verbos dos grupos anteriores, selecciona ou o indicativo ou o conjuntivo na encaixada

na presença de um operador de negação frásica na matriz. Verifica-se que o grupo de

sujeitos I (10º ano) opta preferencialmente pelo indicativo, registando este modo 60%

das ocorrências; o grupo de sujeitos II (12º ano), por sua vez, selecciona o indicativo em

todas as produções, apresentando este modo 100%.

Relativamente aos tempos verbais seleccionados no indicativo, observa-se que o

comportamento dos sujeitos é igualmente distinto: os sujeitos do grupo I produzem um

maior número de ocorrências no pretérito perfeito (30%); os sujeitos do grupo II

seleccionam predominantemente o presente (70%), concordando temporalmente com o

verbo da oração superior.

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As estruturas com o modo conjuntivo, apenas construídas pelos sujeitos do grupo I,

apresentam 3 ocorrências no presente (30%) e duas no pretérito perfeito composto

(20%).

Perante os resultados obtidos para o grupo de verbos VI, constata-se que o desempenho

dos sujeitos não é semelhante, pois o grupo I de sujeitos selecciona os dois modos,

enquanto o grupo II de sujeitos produz exclusivamente o indicativo, revelando um

comportamento mais homogéneo em termos de selecção modal, mas ao mesmo tempo

um domínio menos estabilizado destas estruturas. Não obstante, é indiscutível a

preferência pelo indicativo nos dois grupos de sujeitos, o que possibilita, novamente, a

confirmação da hipótese 4:

HIPÓTESE 4 – Nas construções em que a presença do operador de negação na oração

matriz induz alterações no modo da encaixada, verificando-se a possibilidade de

selecção dos dois modos, há, por parte dos sujeitos, uma preferência pelo indicativo, em

detrimento do conjuntivo.

Considerando todos os grupos de verbos analisados nesta secção, pode-se observar que,

relativamente aos tempos verbais produzidos, existe nos dois grupos de sujeitos uma

preocupação predominante em estabelecer uma relação de concordância temporal entre

o verbo da oração encaixada (presente do indicativo) e o da matriz [pres/pres]. Assim,

esta análise permite confirmar a hipótese 5, que agora se retoma:

HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se

estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos

verbos dessas orações.

4.3. Relações temporais entre os dois domínios oracionais

Este ponto destina-se a analisar os dados relativos ao teste de avaliação, que permitem

verificar se os sujeitos identificam correctamente as frases gramaticais e as sequências

agramaticais, tendo em conta as relações de (in)dependência temporal estabelecidas

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entre a oração matriz e a encaixada. Relembre-se que, os verbos da matriz que integram

as frases deste teste se encontram ou no presente ou no pretérito perfeito do indicativo.

O grupo I, composto pelos verbos assertivos afirmar, saber e sentir, selecciona na

encaixada o modo indicativo, ocupando 6 frases gramaticais no teste de avaliação.

Verifica-se com este grupo de verbos uma percentagem de classificações correctas

acima dos 75%, por parte dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos), envolvendo

sobretudo os verbos afirmar e saber (83.3%, no grupo de sujeitos I, e 76.7%, no grupo

de sujeitos II).

Relativamente às classificações incorrectas deste grupo de verbos, regista-se, na

totalidade, 16.7% para o grupo de sujeitos I (10º ano) e 23.3% para o grupo de sujeitos

II (12º ano). A frase 6 (“Os funcionários da loja sabem que os clientes foram

exigentes.”), formada pelo verbo matriz saber, apresenta três avaliações incorrectas por

parte dos sujeitos do grupo II. No entanto, no âmbito destes resultados incorrectos,

destacam-se as frases que envolvem o verbo sentir, que perfazem uma percentagem de

classificações incorrectas de 35%, para o grupo I de sujeitos, e de 55%, para o grupo II

de sujeitos. Salienta-se, em primeiro lugar, a frase 9 (“O professor sentiu que os alunos

estão desmotivados.”), construída com o verbo superior sentir no pretérito perfeito e

com o verbo da encaixada no presente do indicativo, por registar, no grupo de sujeitos I,

50% de avaliações incorrectas e, no grupo de sujeitos II, 90%. Assim, esta frase

revela-se claramente problemática para os dois grupos de sujeitos, o que parece decorrer

dos tempos verbais presentes nos dois domínios oracionais. Em todas as construções

com verbos assertivos, o tempo da oração encaixada é independente do tempo da oração

principal. No entanto, nas frases 3 e 9, os sujeitos não reconhecem essa relação de

independência temporal entre o verbo matriz e o da encaixada, o que é mais evidente

nos sujeitos do 12º ano (grupo de sujeitos II). Em segundo lugar, salienta-se a frase 3

(“O João sente que os irmãos vêem muita televisão por dia.”) que apresenta, em cada

grupo de sujeitos, uma percentagem inferior de classificações incorrectas, mas também

relevante, de 20%. Neste caso, os sujeitos não identificam a relação de concordância

temporal [pres/pres].

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Deste modo, confirmam-se apenas parcialmente as hipóteses 5 e 6 8:

HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se

estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos

verbos dessas orações.

HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de

independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente

dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.

Em síntese, os dois grupos de sujeitos revelam um desempenho próximo, apresentando

um elevado número de classificações correctas, sobretudo com os verbos afirmar e

saber, face ao número reduzido de classificações incorrectas, predominantemente nas

frases com o verbo sentir. Apesar de pertencente a um nível de escolaridade superior, o

grupo de sujeitos II (12º ano) apresenta, contudo, uma percentagem de avaliações

correctas inferior à obtida pelo grupo de sujeitos do grupo I (10º ano) e, por

conseguinte, uma percentagem superior de classificações incorrectas, o que não permite

confirmar a hipótese 7, no teste de avaliação:

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação

de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que

os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor

desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na

aquisição de competências linguísticas.

Os verbos do grupo II-A, constituído pelos predicados não assertivos querer e desejar,

sugerir e lamentar que seleccionam conjuntivo na encaixada, integram13 sequências

gramaticais no teste de avaliação.

8 Note-se que, tendo em conta exclusivamente os dados de produção, a hipótese 5 foi confirmada. No

entanto, relembre-se que, nesse caso, os sujeitos optaram maioritariamente por manter na encaixada o

tempo verbal da matriz, o que permitia confirmar na totalidade esta hipótese. Do mesmo modo, a hipótese

6 não pôde ser confirmada pelos dados de produção, daí a necessidade de construir o teste de avaliação.

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Os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) revelam um comportamento semelhante no

desempenho da tarefa solicitada, registando-se, em termos de classificações correctas,

uma percentagem superior a 75% (79.2% e 76.2%, respectivamente) e, relativamente às

classificações incorrectas, inferior a 25% (20.8% e 23.8%, respectivamente).

As construções com os verbos volitivos querer e desejar não suscitam dúvidas,

apresentando, nos dois grupos de sujeitos, um elevado número de classificações

correctas, correspondentes a 96.7%, no grupo I de sujeitos (10º ano), e a 93.3%, no

grupo II de sujeitos (12º ano). Este desempenho positivo parece estar relacionado com o

facto de, nas frases que envolvem estes verbos, estarem presentes relações de

concordância temporal [pres/pres], como acontece nas frases 19 e 22 (“ O Francisco

quer que o primo vá aprender inglês.” e “ Nós desejamos que os noivos sejam felizes.”,

respectivamente), e de [pas/pas], como ocorre na frase 7 (“Eles quiseram que o Pedro

viajasse com eles.”).

Já com o verbo superior de influência sugerir, a percentagem relativa às classificações

correctas é inferior (76%, no grupo de sujeitos I, e 68%, no grupo de sujeitos II) e,

consequentemente, a percentagem de classificações incorrectas é superior relativamente

à obtida com os anteriores (24%, no grupo de sujeitos I, e 32%, no grupo de sujeitos II).

De novo, as avaliações correctas dizem respeito às estruturas onde o verbo da encaixada

concorda temporalmente com o da superior, como acontece nas frases 2 e 27 (“Ele

sugere que as obras comecem em Março.” e “A Educadora sugere que as crianças vão

brincar para o jardim.”, respectivamente), em que se estabelece a combinação

[pres/pres], e na frase 12 (“Ontem, a Ana sugeriu ao marido que trocasse de carro.”),

onde está presente a combinação [pas/pas].

Quanto às avaliações incorrectas com o mesmo verbo, verifica-se que estas envolvem as

frases em que se manifesta uma relação de independência temporal da encaixada

relativamente à matriz, nomeadamente as frases 10 e 29 (“A Dulce sugeriu que o

marido vá escolher o restaurante.” e “Os meus amigos sugeriram que eu tire férias para

descansar.”, respectivamente), cujo verbo superior se encontra no pretérito perfeito e o

verbo da encaixada no presente. Neste caso, verifica-se que o estado de coisas expresso

pela encaixada se localiza relativamente ao tempo da enunciação e não ao ponto de

perspectiva temporal da matriz, facto que entendemos ser uma manifestação de

independência temporal entre os dois domínios. A frase 10 regista 60% de avaliações

erradas no grupo I de sujeitos, e 90% no grupo II de sujeitos; a frase 29, por sua vez,

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comporta 60% de classificações incorrectas no grupo I de sujeitos, e 70% no grupo II de

sujeitos.

Esta situação repete-se nas frases com o verbo lamentar: sempre que há concordância

temporal entre os verbos dos dois domínios oracionais, os sujeitos identificam

facilmente as estruturas como gramaticais; nas estruturas em que se verifica

independência temporal, os sujeitos classificam, incorrectamente, as construções como

agramaticais. Assim, nas frases 5 e 28 (“O Raul e a Carolina lamentam que a Rita vá

sair do país.” e “A Luísa lamenta que o Henrique tenha maus resultados a História.”,

respectivamente), onde se estabelece a combinação [pres/pres], e na frase 17 (“Elas

lamentaram que o Luís estivesse doente.”), onde está presente a combinação [pas/pas],

verifica-se 100% de classificações correctas, nos dois grupos de sujeitos. Por oposição,

nas frases 1 e 25 (“Os pais lamentaram que o filho seja preguiçoso.” e “Ele lamentou

que o Rodrigo vá vender a casa.”, respectivamente), em que o tempo da encaixada é

independente do da matriz, estando presente a combinação [pas/pres], regista-se uma

elevada percentagem de classificações incorrectas: a frase 1 apresenta 90%, no grupo I

de sujeitos, e 80%, no grupo II de sujeitos; a frase 25 regista 50% nos dois grupos de

sujeitos.

Deste modo, os grupos de sujeitos I e II identificam as relações de concordância

temporal entre a oração matriz e a oração completiva, mas têm algumas dificuldades em

reconhecer relações de independência temporal entre os dois domínios oracionais. Estas

observações possibilitam, simultaneamente, a confirmação da hipótese 5, como

acontece com os dados da produção, e a infirmação da hipótese 6:

HIPÓTESE 5 – Os sujeitos identificam a relação de concordância temporal que se

estabelece entre a oração encaixada e a oração matriz, tendo em conta os tempos dos

verbos dessas orações.

HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de

independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente

dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.

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Por outro lado, dado que os resultados globais do grupo de sujeitos II (12º ano) são

inferiores aos apresentados pelo grupo de sujeitos I (10º ano), conclui-se que a

progressão escolar pode não ser um factor condicionante do sucesso no que diz respeito

ao reconhecimento de relações temporais entre a matriz e a encaixada, pelo que não se

confirma a hipótese 7. Isto significa que, embora a progressão escolar esteja, na maior

parte dos casos, associada a desenvolvimento linguístico, em outros casos, o mesmo não

acontece. Note-se que estas estruturas são das mais problemáticas mesmo para os

adultos (o que se verificou durante a fase do pré-teste), o que mostra que a sua

estabilização é tardia, podendo não estar concluída no final do ensino secundário.

Apresenta-se, de seguida, a hipótese 7, que, pelo que atrás foi referido, não se confirma:

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação

de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que

os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor

desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na

aquisição de competências linguísticas.

Por fim, analisam-se os dados relativos ao grupo II-B, que, sendo composto pelos

mesmos verbos superiores que o grupo anterior (querer e desejar, sugerir e lamentar),

selecciona igualmente na encaixada o conjuntivo. No entanto, com este grupo foi

controlado o tempo verbal da encaixada em todas as sequências, num total de 11

sequências agramaticais.

Com este grupo, verifica-se uma elevada taxa de sucesso no desempenho dos sujeitos,

apresentando o grupo I de sujeitos (10º ano) um valor de 92.7% e o grupo II (12º ano)

um valor de 97.3% de classificações correctas. Observa-se também que não há registo

de situações marcadamente problemáticas em nenhum dos verbos constituintes. Assim,

as frases com os verbos querer e desejar apresentam todas 100% de classificações

correctas pelos sujeitos (F4 – “Os filhos quiseram que a mãe faça um bolo.”; F11 – “As

raparigas querem que os rapazes olharem para elas”; F14 – “Tu desejaste que o Bruno

for contigo ao cinema.”; e F15 – “Eu quero que o Manuel deixasse de faltar às aulas.”),

à excepção da frase 24 (“A mãe quis que o filho vá estudar para o quarto.”) que, no

grupo I de sujeitos, apresenta três avaliações erradas e, no grupo II de sujeitos, uma.

Estes resultados revelam que os sujeitos identificam, nas estruturas com estes verbos,

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restrições temporais impostas pelo verbo matriz ao verbo da encaixada, daí que

considerem agramaticais sequências em que se estabelecem combinações [pas/pres],

como nas sequências 4 e 24, e [pres/pas], como na sequência 1.

Por outro lado, estes dados demonstram também que a presença do futuro do conjuntivo

na encaixada não é admitida como possível pelos sujeitos, como se verifica nas

sequências 11 e 14.

As estruturas com o verbo sugerir apresentam igualmente uma elevada percentagem de

classificações correctas nos grupos I e II de sujeitos (10º e 12º anos), a saber, 96.7% e

100%, respectivamente. Também com este verbo matriz, os sujeitos reconhecem como

agramaticais as sequências em que o verbo da encaixada não concorda temporalmente

com o verbo da oração superior, como acontece na sequência 8 (“Os Bancos sugerem

que os clientes comprassem acções.”), em que se verifica a combinação [pres/pas]. De

novo, as construções em que é seleccionado o futuro do conjuntivo na encaixada, como

as sequências 16 e 20 (“Os professores sugeriram que os alunos virem a nova peça de

teatro.” e “Eu e a Carla sugerimos que a mãe fizer lasanha.”), são classificadas,

correctamente, como agramaticais.

Com o verbo lamentar, a situação é idêntica, ocorrendo muitas avaliações correctas,

com destaque para o grupo II de sujeitos, que regista 93.3% contra 86.7%, do grupo I de

sujeitos. As sequências agramaticais 21 e 26 (“Tu lamentas que a Cristina souber da

verdade.” e “Eu lamentei que tu partires tão cedo.”, respectivamente) registam uma

classificação errada cada, no grupo I de sujeitos; no grupo II, as duas frases são

correctamente classificadas por todos os sujeitos. Esta situação decorre do facto de os

sujeitos reconhecerem, novamente, que o futuro do conjuntivo não pode ser

seleccionado nestas orações. Salienta-se, porém, a sequência agramatical 30 (“Os avós

lamentam que os netos fumassem às escondidas.”), em que o verbo superior está no

presente do indicativo e o verbo da encaixada no imperfeito do conjuntivo, que

apresenta 2 classificações incorrectas em cada grupo de sujeitos. Estes dados levam a

verificar que, a combinação [pres/pas] com o verbo matriz lamentar é considerada

marginal por alguns sujeitos. No entanto, se na mesma sequência ocorresse um tempo

igualmente passado, mas composto, como o pretérito perfeito ou o pretérito mais que

perfeito do conjuntivo (“Os avós lamentam que os netos tenham fumado/ tivessem

fumado às escondidas.”), tornaria a frase gramatical, na medida em que estes tempos

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exprimem uma informação de perfectividade. O imperfeito do conjuntivo parece, assim,

receber nesta sequência uma leitura ou de presente ou de futuro.

Assim, os resultados apurados neste grupo de verbos demonstram que os grupos I e II

de sujeitos revelam facilidade em identificar a maioria das sequências como

agramaticais. Depreende-se, portanto, que identificam restrições temporais com os

verbos matriz querer e sugerir e que reconhecem o futuro do conjuntivo como um

tempo verbal que não pode figurar em orações subordinadas completivas. Confirma-se,

assim, a hipótese 6:

HIPÓTESE 6 – Os sujeitos identificam as relações de dependência ou de

independência temporal entre a oração encaixada e a oração matriz, independentemente

dos tempos em que se encontram os verbos dessas orações.

Em todos os verbos do grupo II-B, o desempenho dos sujeitos do grupo II (12º ano) foi

melhor relativamente ao do grupo I (10º ano), o que permite confirmar a hipótese 7:

HIPÓTESE 7 – As dificuldades na selecção do modo da encaixada e na identificação

de frases (a)gramaticais tendem a diminuir com a progressão escolar, no sentido em que

os sujeitos pertencentes a um nível de escolaridade superior apresentam um melhor

desempenho na manipulação destas estruturas, revelando uma maior estabilização na

aquisição de competências linguísticas.

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154

Capítulo 5 – Conclusões

Considera-se que os objectivos formulados no início desta investigação (cf. secção 1.1.)

foram atingidos, contribuindo-se para o estudo dos modos indicativo e conjuntivo em

completivas objecto directo em português e para a comparação do desempenho

linguístico dos sujeitos alvo. O trabalho apresentado nesta dissertação permitiu, assim,

tecer ilações sobre (i) a selecção do modo e do tempo do verbo da encaixada, (ii) a

interferência do operador de negação frásica na selecção do modo e do tempo da

encaixada e (iii) as relações temporais entre a oração encaixada e a matriz.

Procede-se agora à apresentação das principais conclusões decorrentes da descrição e

análise dos dados dos dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos):

(i) As orações completivas que integram verbos que seleccionam o indicativo na

encaixada, em frases afirmativas, não colocam problemas aos sujeitos, pois os dois

grupos de sujeitos (10º e 12º anos) produzem na encaixada o modo indicativo, conforme

o alvo. Pelos dados obtidos nestas construções, podemos constatar que se verifica nos

dois grupos de sujeitos um bom domínio linguístico destas construções.

(ii) As orações completivas que envolvem verbos que seleccionam o conjuntivo na

encaixada, em frases afirmativas, suscitam algumas dúvidas aos sujeitos do grupo I (10º

ano), tendo-se verificado uma margem de erro relevante com o verbo duvidar. O grupo

II de sujeitos (12º ano) não apresenta produções incorrectas, revelando um melhor

domínio sobre estas construções. Por conseguinte, os resultados demonstram que a

progressão escolar condiciona o desempenho desta tarefa, em particular, apresentando o

grupo II de sujeitos uma maior estabilização na aquisição destas estruturas.

(iii) Nas orações completivas seleccionadas por verbos de selecção modal dupla, em

frases afirmativas, todos os sujeitos, embora optem em alguns casos pelo conjuntivo,

revelam uma preferência clara pelo indicativo, apresentando este modo um valor

percentual acima dos 80%, nos dois grupos de sujeitos. No entanto, neste contexto,

destacam-se as construções com o verbo matriz pensar, na medida em que os dados

demonstram que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) seleccionam exclusivamente

o indicativo, não se registando produções no conjuntivo. Esta situação permite

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corroborar a hipótese previamente formulada de que as construções que envolvem o

verbo pensar que seleccionam o conjuntivo podem ser assumidas por alguns sujeitos

como marginais.

(iv) Com as orações que envolvem verbos que seleccionam o indicativo, em frases

negativas, verifica-se que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) seleccionam

correctamente este modo, segundo a gramática-alvo, revelando um bom desempenho na

manipulação destas estruturas.

(v) As construções que integram verbos que seleccionam o conjuntivo na presença do

operador de negação frásica superior colocam alguns problemas ao grupo I de sujeitos

(10º ano); o grupo II de sujeitos (12º ano) apresenta todas as produções no conjuntivo,

conforme o alvo. Os sujeitos de nível de escolaridade superior (grupo II) apresentam,

assim, um melhor desempenho na selecção do modo na encaixada.

(vi) Com os verbos que sofrem a interferência do operador de negação frásica superior,

passando a seleccionar indicativo ou conjuntivo na encaixada, o desempenho dos dois

grupos de sujeitos não é idêntico. Verifica-se, no grupo I de sujeitos (10º ano), uma

preferência evidente pelo modo indicativo, em detrimento do modo conjuntivo, em

todos os grupos de verbos. No entanto, no grupo II de sujeitos (12º ano) esta preferência

pelo indicativo não é tão visível quando ocorrem os verbos acreditar, imaginar,

suspeitar e, quando ocorre o verbo pensar, o indicativo apresenta 100% do total das

cocorrências.

(vii) Os tempos verbais mais produzidos na encaixada pelos sujeitos – presente e formas

perifrásticas com auxiliar no presente – revelam que estes estabelecem constantemente

com o verbo da oração superior uma relação de concordância temporal.

(viii) Na capacidade de avaliação de frases gramaticais e de sequências agramaticais,

verifica-se que os dois grupos de sujeitos (10º e 12º anos) identificam facilmente entre

os dois verbos relações de concordância temporal, mas apresentam dificuldades em

reconhecer os contextos de independência temporal entre a encaixada e a matriz. Os

dados do grupo II de sujeitos (12º ano) na tarefa solicitada no teste de avaliação,

correspondem, na maioria dos contextos, a um resultado ligeiramente inferior de

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avaliações correctas, relativamente ao obtido pelo grupo I de sujeitos (10º ano), o que

revela que as dificuldades atrás enunciadas não tendem a diminuir com a progressão

escolar. Isto mostra que concordância temporal e independência temporal são dois

fenómenos que, embora relacionados, são independentes, tendendo os sujeitos a atribuir

mais peso ao primeiro do que ao segundo. Os valores elevados para o indicativo em

contextos de selecção modal dupla ou em contextos em o conjuntivo deveria ser o modo

seleccionado, podem resultar do facto de os sujeitos estarem a considerar o indicativo

como o modo por defeito, tendendo, por isso, a generalizá-lo a todos os contextos.

Adicionalmente, note-se que, quando ocorre este modo na encaixada, são admitidos

sujeitos disjuntos e sujeitos correferentes, com o mesmo verbo, o que não acontece com

o conjuntivo. Efectivamente, quando é seleccionado o conjuntivo na encaixada os

sujeitos são interpretados obrigatoriamente como disjuntos.

Estes resultados evidenciam dois aspectos importantes em termos didácticos. Por um

lado, mostram que as orações completivas devem ser objecto de um estudo mais

aprofundado no ensino básico e secundário, que implique não apenas uma mera

classificação mas também uma reflexão crítica sobre os vários aspectos que lhe estão

associados; por outro, e resultante do primeiro, que este domínio específico apresenta

problemas sobretudo ao nível da selecção do conjuntivo e da identificação de relações

de (in)dependência temporal entre a encaixada e a matriz.

Uma outra constatação, decorrente dos resultados apurados, prende-se com o facto de o

indicativo ser o modo preferido e mais facilmente usado pelos sujeitos, o que revela que

o conjuntivo é, sem dúvida, um modo que coloca problemas e gera dúvidas, não só nas

orações completivas, como também noutras orações subordinadas. Perante isto,

compete à escola e ao professor de Português proporcionar aos alunos oportunidades

que lhes permitam descobrir e compreender o funcionamento da língua.

Como investigação futura, será interessante explorar a relação entre os modos indicativo

e conjuntivo e questões de referência dos sujeitos, aspecto igualmente a considerar nas

orações completivas, uma vez que se verificam diferenças neste domínio: o indicativo

associa-se à referência disjunta e à correferência; e o conjuntivo apenas à referência

disjunta. A construção de um estímulo com este objectivo permitirá testar a

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compreensão e interpretação destas orações pelos sujeitos e, dessa forma, funcionar

como um contributo para o assunto central desta investigação.

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Anexos