indicadores de prevenÇÃo dos riscos biolÓgicos: … · diário de campo e ficha de profilaxia...

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MARIA TEREZA SANCHES FIGUEIREDO INDICADORES DE PREVENÇÃO DOS RISCOS BIOLÓGICOS: abordagem da educação para promover a saúde ocupacional – estudo no Hospital Universitário UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FORTALEZA-CEARÁ 2006 A-PDF Merger DEMO : Purchase from www.A-PDF.com to remove the watermark

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  • MARIA TEREZA SANCHES FIGUEIREDO

    INDICADORES DE PREVENO DOS RISCOS BIOLGICOS: abordagem da educao para promover a sade

    ocupacional estudo no Hospital Universitrio

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR FORTALEZA-CEAR

    2006

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR FACULDADE DE EDUCAO

    CURSO DE DOUTORADO EM EDUCAO

    Maria Tereza Sanches Figueiredo

    INDICADORES DE PREVENO DOS RISCOS BIOLGICOS: abordagem da educao para promover a sade

    ocupacional estudo no Hospital Universitrio

    Tese apresentada Universidade Federal do Cear - Faculdade de Educao (Curso de Doutorado) - como requisito parcial para obteno do ttulo de doutora em Educao Brasileira.

    Orientador: Prof. Dr. Raimundo Benedito do Nascimento

    FORTALEZA 2006

  • Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)

    Figueiredo, Maria Tereza Sanches. Indicadores de preveno dos riscos biolgicos: abordagem da educao para promover a sade ocupacional estudo no Hospital Universitrio / Maria Tereza Sanches Figueiredo; orientador, Raimundo Benedito do Nascimento. 2006

    Tese (Doutorado em Educao Brasileira) - Universidade Federal do Cear, Fortaleza, 2006.

    1. Sade Ocupacional Programas Educativos. 2. Riscos Biolgicos. 3. Indicadores. 4. Promoo da Sade. I. Ttulo.

    CDD - 21. ed. 658.382

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR FACULDADE DE EDUCAO

    CURSO DE DOUTORADO EM EDUCAO

    Maria Tereza Sanches Figueiredo

    INDICADORES DE PREVENO DOS RISCOS BIOLGICOS Abordagem da educao para promover a sade ocupacional estudo no

    Hospital Universitrio

    Tese apresentada Universidade Federal do Cear - Faculdade de Educao, (Curso de Doutorado) - como requisito parcial para obteno do ttulo de doutora em Educao Brasileira.

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Benedito do Nascimento

    Orientador

    ___________________________________________ Prof. Dr. Brendan Coleman McDonald

    ___________________________________________ Prof. Dr. Vera Lgia Montenegro de Albuquerque

    ___________________________________________ Prof. Dr. Paulo Srgio de Almeida Corra

    ___________________________________________ Prof. Dr. Irna Carla do Rosrio Souza Carneiro

    Julgado em: 10/ 08/ 2006

    FORTALEZA 2006

  • FAMLIA SANCHES FIGUEIREDO, pela dimenso de sentimentos envolvidos como marco especial da trajetria da vida, rendo minha admirao em homenagem s suas virtudes e aes, bem como a minha gratido por ter-me animado a estudar as cincias cada vez mais.

  • GRATIDO

    A Deus, perante o qual me curvei nos momentos mais

    oportunos da vida, na busca de amparo na f e encorajamento

    para vencer e terminar o estudo.

    Ao meu orientador, professores, colegas e amigos, pelo

    convvio e experincias de vida.

    Ao Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto e ao

    Hospital de Clnicas Gaspar Vianna, juntamente com seus

    profissionais, em especial a CCIH.

    Aos meus irmos, Marta, Nato, Jane, Marcelina, Pedrinho,

    Jos, Cristina, Mnica e Ismael que compreenderam a

    essncia da espiritualidade, segundo ensinamentos de nossos

    pais e, assim, foram solidrios para eu prosseguir os estudos.

  • Quando ns, como indivduos, obedecemos s leis que

    nos levam a trabalhar, pelo bem da comunidade como

    um todo, estamos ajudando indiretamente a busca pela

    felicidade de cada um de nossos irmos seres humanos.

    Aristteles

  • RESUMO

    Os riscos biolgicos caracterizam-se pela dimenso social no contexto do hospital, inter-

    relacionado aos fatores determinantes, que predispem profissionais e comunidade hospitalar,

    potencializam intervenes como substrato de conhecimentos tcnicos, educativos, legais e

    polticos para a promoo da sade no local de trabalho. O menosprezo em relao aos riscos

    origina deficincia no controle das aes; impossibilita a utilizao de indicadores para

    avaliao e efetivao do programa como parte da poltica pblica. O objetivo analisar as

    aes de preveno cujas prticas educativas visam promoo da sade a partir de

    indicadores que subsidiaro a composio de um modelo de avaliao. Trata-se de estudo de

    caso, descritivo, ecolgico, observacional e transversal, com abordagem quali-quantitativa. Os

    instrumentos de pesquisa utilizados foram questionrios com perguntas abertas e fechadas,

    dirio de campo e ficha de profilaxia ps-exposio ocupacional da Comisso de Controle de

    Infeco Hospitalar (CCIH). Os dados coletados foram estratificados em profissionais de

    sade (Ps), expostos direta ou indiretamente aos riscos biolgicos, e intencional, aos gerentes,

    tcnicos da CCIH, Servio Especializado de Segurana e Medicina do Trabalho. O tempo de

    pesquisa foi de vinte e quatro meses, no Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto, em

    Belm-Par-Brasil. Na anlise, os dados subjetivos foram categorizados e os objetivos

    codificados pelo programa Statistical Analysis Software Predictive-SPSS verso 11.1. A

    elaborao dos indicadores sobre preveno dos riscos biolgicos ocupacionais tem por base

    o sistema de indicadores sociais e a classificao segundo a lgica matemtica. O

    conhecimento dos riscos restrito pelos Ps, tcnicos e gerentes, e alguns desconhecem,

    embora aes de preveno isoladas existam. Constatou-se que a concepo dos riscos

    biolgicos limita-se funo e atividades desenvolvidas, e os indicadores funcionam em

    forma de registro administrativo ou estatstica pblica, bem como no h avaliao das aes

    para tomada de deciso, valorizando-se como indicador plano de organizao setorial, poltica

    de formao, recursos administrativos e intersetoralidade, indicadores essenciais para

    avaliao das aes do programa voltado para os riscos biolgicos, constituindo-se como

    poltica pblica para promover a sade ocupacional.

    Palavras-chave: Riscos Biolgicos Ocupacionais. Aes de Preveno. Poltica Pblica.

    Educao Permanente. Indicadores Avaliativos. Promoo da Sade.

  • ABSTRACT

    The biological risks are characterized by social dimension in the context of the hospital,

    interrelated to decisive factors, that predisposes professionals and hospitalar community, they

    potentiate interventions as substratum of technical, educational, legal and political knowledge

    for health promotion in the workplace. The contempt in relation to the risks originates

    deficiency in actions control; it disables indicators use for evaluation and accomplishment of

    the program as part of public politics. The objective is to analyze the prevention actions which

    educational practices seek health promotion starting from indicators that will subsidize the

    composition of an evaluation model. It deals with a study of case, descriptive, ecological,

    observable and traverse, with quali-quantitative approach. The research instruments used were

    questionnaires with open and closed questions, field diary and record of prophylaxis

    occupational powder-exhibition of Infection Hospitalar's Audit board (CCIH). The collected

    data were stratified in health professionals (Ps), exposed direct or indirectly to biological

    risks, and intentional, to the managers, technicians of CCIH, Specialized Service of Safety

    and Occupational Medicine. The time of research was twenty-four months, in the Academical

    Hospital Joo de Barros Barreto, in Belm-Par-Brazil. In the analysis, the subjective dates

    were classified and the objectives codified by Statistical Analysis Software Predictive-SPSS

    version 11.1 program. The indicators elaboration about prevention of occupational biological

    risks has for base the system of social indicators and the classification according to

    mathematical logic. The knowledge of the risks is restricted for Ps, technicians and managers,

    and some ignore, although isolated prevention actions exist. It was verified that the

    conception of biological risks is limited to the function and developed activities, and the

    indicators work in form of administrative registration or public statistics, as well as there is no

    evaluation of actions for decision socket, being valued as plan an indicator of sectorial

    organization, formation politics, administrative appeals and intersectorial, essential indicators

    for evaluation of program actions turned to biological risks, being constituted as public

    politics to promote the occupational health.

    Key-word: Occupational Biological Risks. Prevention Actions. Public Politics. Permanent

    Education. Valuer Indicators. Health Promotion.

  • RESUMEN

    Los riesgos biolgicos caracterzanse por la dimensin social en el contexto del Hospital,

    interralcionado a los factores determinantes, los que predisponen profesionales y comunidad

    hospitalar, potencializan intervenciones como substrato de conocimientos tcnicos,

    educativos, legales y polticos hacia la promocin de la sanidad en el sitio de trabajo. El

    desprecio en relacin a los riesgos origina deficiencia en el control de las acciones;

    imposibilita la utilizacin de indicadores para evaluacin y efectivacin del programa como

    parte de la poltica pblica. El objetivo es analizar las acciones de prevencin cuyas prcticas

    educativas visan la promocin de la sanidad a partir de indicadores que subvencionarn la

    composicin de un modelo de evaluacin. Trtase de estudio de caso, descritivo, ecolgico,

    observacional y transversal, con el abordaje cuali-cuantitativo. Los instrumentos de encuesta

    utilizados, fueron cuestionarios con preguntas abiertas y cerradas, diario de campo y papeleta

    de profilaxa pos-exposicin ocupacional de la Comisin de Control de Infeccin Hospitalar

    (CCIH). Los datos cotizados fueron extracticados en profesionales de sanidad (Ps), expuestos

    directa o indirectamente a los riesgos biolgicos, e intencional, a los gerentes, tcnicos de la

    CCIH, Servicio Especializado de Seguridad y Medicina del Trabajo. El tiempo de encuesta

    fue de veinticuatro meses, en el Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto, en Beln-

    Par-Brasil en el anlisis, los datos subjetivos fueron categorizados, y los subjetivos,

    codificados, por el programa Statistical Analysis Software Predictive SPSS verso 11.1.

    La elaboracin de los indicadores sobre la prevencin de los riesgos biolgicos ocupacionales

    tiene por base, el sistema de indicadores sociales y la clasificacin segundo la lgica

    matemtica. El conocimiento de los riesgos es restricto por los Ps, tcnicos y gerentes, y

    algunos desconocen, aunque acciones preventivas aisladas existan. Se ha constatado que la

    concepcin de riesgos biolgicos se limita a la funcin y actividades desarrolladas, y los

    indicadores funcionan en forma de registro administrativo o estadstica pblica, tal que no hay

    evaluacin de las acciones para la toma de decisin, recursos administrativos e

    intesectoralidad, indicadores esenciales hacia la evaluacin de las acciones del programa

    vuelto hacia los riesgos biolgicos, constitundose como poltica pblica hacia la promocin

    de la sanidad ocupacional.

    Palabras-clave: Riesgos Biolgicos Ocupacionales. Acciones de Precaucin. Poltica Pblica.

    Educacin Permanente. Indicadores Evaluativos. Promocin de la Sanidad.

  • LISTA DE FIGURAS

    01 Fluxograma de Ateno a Sade do Servidor da UFPA .................................

    44

    02 Fluxograma de conduta ps-acidente ............................................................. 45

    03 Processo de agregao de valor informacional no indicador ..........................

    107

    04 Construo de um Sistema de Indicadores Sociais .........................................

    108

    05 Estrutura organizacional do HUJBB .............................................................. 119

    06 Classificao dos Indicadores ........................................................................ 123

    07 Distribuio por sexo ......................................................................................

    129

    08 Distribuio por faixa etria e sexo ................................................................ 129

    09 Distribuio por escolaridade e conhecimento de biossegurana ...................

    130

    10 Distribuio por tempo de trabalho ................................................................ 130

    11 Tempo de trabalho e conhecimento das aes de preveno ......................... 131

    12 Distribuio dos acidentes biolgicos nos ltimos 12 meses .........................

    133

    13 Distribuio das notificaes nos ltimos 12 meses .......................................

    133

    14 Distribuio do esquema profiltico contra a hepatite ................................... 134

    15 Distribuio por idade e vacina contra rubola, segundo o sexo feminino .... 134

    16 Distribuio do esquema profiltico contra o ttano ......................................

    135

    17 Distribuio sobre o conhecimento das aes do programa ...........................

    135

    18 Distribuio sobre o conceito das aes do programa ....................................

    136

    19 Distribuio por expectativa das atividades educativas da CCIH .................. 136

    20 Distribuio de freqncia por objetivo ......................................................... 137

    21 Distribuio de freqncia por periodicidade ................................................. 139

    22 Distribuio de freqncia por dificuldades em desenvolver aes ...............

    139

    23 Distribuio de freqncia por eficincia das aes .......................................

    140

    24 Distribuio de freqncia quanto avaliao das aes ...............................

    140

    25 Bactrias ......................................................................................................... 163

    26 Vrus HIV ....................................................................................................... 163

    27 Vrus da hepatite B ......................................................................................... 163

    28 Vrus da hepatite C ......................................................................................... 163

    29 Sala de cirurgia-Centro cirrgico ....................................................................

    164

    30 Servio de Lavanderia Risco de exposio ................................................. 164

    31 Procedimento laboratorial ............................................................................. 165

    32 Risco de exposio ......................................................................................... 165

  • LISTA DE QUADROS

    01 Recomendaes para utilizao de equipamentos de proteo

    individual (EPI) nas precaues bsicas de biossegurana. MS ..........

    55

    02

    03

    Classificao dos Indicadores por peso ...............................................

    Distribuio de categorias e subcategorias por objetivos ...................

    123

    141

    04 Indicador: Plano de organizao setorial ............................................. 219

    05 Indicador: escolarizao ....................................................................... 222

    06 Indicador: Aperfeioamento profissional ............................................. 223

    07 Indicador: Formao continuada......................................................... 224

    08 Indicador: Formao permanente.......................................................... 225

    09 Indicador: Organizao de contedos .................................................. 227

    10 Indicador: Organizao de mtodos ..................................................... 229

    11 Indicador: Distribuio de eventos ...................................................... 230

    12 Indicador: Acompanhamento dos profissionais de sade .................... 231

    13 Indicador: Avaliao de resultados ..................................................... 232

    14 Indicador: Avaliao de processos ....................................................... 232

    15 Indicador: Recursos de avaliao ........................................................ 233

    16 Indicador: Recursos materiais (EPI) .................................................... 235

    17 Indicador: Recursos materiais (mdico-hospitalares) ......................... 236

    18 Indicador: Recursos humanos .............................................................. 237

    19 Indicador: Infra-estrutura ......................................................................

    239

    20 Indicador: Intersetorialidade e monitoramento do acidentado ............. 240

    21 Indicador: Intersetorialidade e monitoramento do acidentado / CCIH .

    241

    22 Indicador: Intersetorialidade e monitoramento do acidentado /

    SESMT ................................................................................................

    241

    23 Indicador: Intersetorialidade e monitoramento do acidentado /

    laboratrio ...........................................................................................

    242

    24 Indicador: Intersetorialidade e monitoramento do acidentado /

    farmcia ...............................................................................................

    242

    25 Indicador: Intersetorialidade e monitoramento do acidentado /

    instituio .............................................................................................

    243

  • LISTA DE TABELAS

    01 Quadro de pessoal do HUJBB, profissionais de sade e categorias

    expostas aos riscos biolgicos, Belm-Par. Jan/2004 ..........................

    120

    02 Leitos por clnicas no HUJBB, Belm/PA Jan/2004 ............................. 120

    03 Distribuio por categoria e tempo de trabalho na Instituio ............... 131

    04 Distribuio amostral de profissionais por setor de trabalho ................. 132

    05 Distribuio sobre o conhecimento dos objetivos do Programa de

    preveno dos Riscos Biolgicos Ps ...................................................

    137

    06 Comentrio da suficincia das Atividades Educativas para Preveno

    dos Riscos biolgicos ocupacionais Ps ...............................................

    138

    07 Distribuio sobre providncias tomadas nas exposies a materiais

    biolgicos para prevenir de contaminao .............................................

    138

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AIDS Sndrome de Imunodeficincia Humana Adquirida

    AIS Aes Integradas de Sade

    API Avaliao do Programa de Imunizao

    BCG Vacina Contra Tuberculose

    CAST Casa da Sade do Trabalhador

    CAT Comunicao de Acidente do Trabalho

    CCIH Comisso de Controle de Infeco Hospitalar

    CDC Centro de Controle de Doenas

    CES Conselho Estadual de Sade

    CIPP Insumo, Processo e Produto

    CIPA Comisso Interna de Preveno de Acidente

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    CMS Conselho Municipal de Sade

    CNE Conselho Nacional de Educao

    CNS Conselho Nacional de Sade

    CRIEs Centros de Referncia para Imunobiolgicos Especiais

    CRTs Centros de Referncia em Sade dos Trabalhadores

    CRST Centros Regionais de Sade do Trabalhador

    CAPs Caixas de Aposentadoria e Penses

    CIT Comisso Intergestores Tripartite

    DSST Diviso de Segurana e Sade do Trabalhador

    DT Vacina Dupla Adulta (difteria / ttano)

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    EUA Estados Unidos da Amrica

    FADESP Fundao de Amparo ao Desenvolvimento de Ensino e Pesquisa

    FUNASA Fundao Nacional de Sade

    HBV Vrus da Hepatite B

    HCV Vrus da Hepatite C

    HEPA Hight Efficience Particulate Air Filter (Filtro Hepa)

    HEMOPA Centro de Hemoterapia e Hematologia do Par

    HIV Sndrome da Imunodeficincia Humana

    HCGV Hospital de Clnicas Gaspar Vianna

  • HUJBB Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto

    HUBFS Hospital Universitrio Betina Ferro e Souza

    IEC Informao Educao e Comunicao

    IH Infeces Hospitalares

    INSS Instituto Nacional da Seguridade Social

    LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    MEC Ministrio da Educao

    MS Ministrio da Sade

    MTb Ministrio do Trabalho

    NNISS National Noscomial infections Surveillance System

    NOB Norma Operacional Bsica

    NOAS Norma Operacional de Assistncia Sade

    NOST Norma Operacional de Sade do Trabalhador

    NR Norma Regulamentadora

    OCDE Organizaes Nacionais, Internacionais e Agncias Multilaterais Scio

    Econmicas de Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    OIT Organizao Internacional do Trabalho

    OMS Organizao Mundial da Sade

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PRAS Profissionais da rea da Sade

    PROFAE Projeto de Profissionalizao dos Trabalhadores da rea de Enfermagem

    PCIH Programa de Controle de Infeco Hospitalar

    PCMSO Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional

    PCN Parmetros Curriculares Nacionais

    PIB Produto Interno Bruto

    PNI Programa Nacional de Imunizaes

    POP Procedimentos Operacionais-Padro

    PPRA Programa de Preveno de Riscos Ambientais

    Ps Profissional de Sade

    PST Programas de Sade do Trabalhador

    PRAS Profissionais da rea da Sade

    PREV-SADE

    Programa Nacional de Servios Bsicos de Sade

    RENAST Rede Nacional de Ateno Sade do Trabalhador

    SESMT Servio Especializado em Segurana e Medicina do Trabalho

  • SIPNI Sistema de Informao do Programa Nacional de Imunizaes

    SPSS Statistical Package for the Social Sciences

    SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Sade

    SUS Sistema nico de Sade

    Tb Tuberculose

    UFPA Universidade Federal do Par

    UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura

    UTI Unidade de Tratamento Intensivo

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................ 18

    1.1 Hiptese e Questes de Pesquisa ...................................................................... 25

    2. OBJETIVOS ..................................................................................................... 27

    3 DAS POLTICAS PBLICAS S AES DE PREVENO DOS

    RISCOS BIOLGICOS OCUPACIONAIS .....................................................

    29

    3.1 Introduo ......................................................................................................... 30

    3.2 O Marco das Polticas de Sade e as Aes de Preveno Ocupacional .......... 30

    3.3 O Programa de Sade e as Aes de Preveno Ocupacional .......................... 40

    3.4 O Programa de Controle de Infeco Hospitalar no HUJBB ........................... 46

    3.5 Da Idealizao s Aes de Preveno dos Riscos Biolgicos Ocupacionais . 48

    4 DA EDUCAO A PREVENO: A CONSCIENTIZAO DOS

    RISCOS BIOLOGICOS OCUPACIONAIS ..................................................... 67

    4.1 Introduo ......................................................................................................... 68

    4.2 A Educao e a Repercusso na Formao dos Profissionais de Sade ............

    69

    4.3 A Conscientizao como Princpio Educativo dos Profissionais de Sade .......

    81

    4.4 Aspectos Legais da Formao ............................................................................

    84

    5 DA AVALIAO AOS INDICADORES SOCIAIS PARA A PREVENO

    DOS RISCOS BIOLGICOS OCUPACIONAIS .............................................

    90

    5.1 Introduo .......................................................................................................... 91

    5.2 A Avaliao e a Contribuio para o Programa de Preveno dos Riscos

    Biolgicos Ocupacionais ....................................................................................

    91

    5.3 Riscos Biolgicos Ocupacionais como Indicador ..............................................

    101

    5.4 Os Indicadores como Medidas para Avaliao das Aes .................................

    104

    6 A TRAJETRIA DA PESQUISA O MTODO ........................................... 115

    6.1 Introduo .......................................................................................................... 116

    6.2 O Estudo ............................................................................................................ 116

    6.3 Limite do Estudo ................................................................................................

    124

    6.4 Termo de Concordncia e Responsabilidade .....................................................

    124

  • 7 RELATOS SOBRE AES DE PREVENO DOS RISCOS

    BIOLGICOS OCUPACIONAIS NO HUJBB RESULTADOS ..................

    126

    7.1 Introduo .......................................................................................................... 127

    7.2 Dados Investigativos Quantitativos e Qualitativos por Objetivos .....................

    128

    7.3 Epidemiologia dos Riscos Biolgicos Ocupacionais .........................................

    128

    7.4 Dados Categorizados por Objetivos da Pesquisa .............................................. 141

    8 AES DE PREVENO DOS RISCOS BIOLGICOS OCUPACIONAIS

    - ANLISE E DISCUSSO ..............................................................................

    142

    8.1 Introduo .......................................................................................................... 143

    8.2 Variveis e Categorizao dos Dados: Posicionamentos e Teorias .................. 144

    9 CONCLUSO ...................................................................................................

    244

    REFERNCIAS ..........................................................................................................

    249

    APNDICES................................................................................................................

    264

    ANEXOS......................................................................................................................

    274

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  • 18

    1. INTRODUO

    O tema riscos biolgicos ocupacionais substrato para compreenso das prticas

    das aes de preveno1, reflete a importncia da pesquisa, sobretudo, na rea das

    polticas pblicas e tem passagem em outros saberes, como o conhecimento em

    educao, legislao, administrao, planejamento, avaliao, educao em sade ... ,

    com interesse de promover sade dos profissionais no mbito do trabalho.

    Neste sentido, o envolvimento da pesquisadora com o objeto investigado, a partir

    de sua experincia na Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH), ponto

    decisivo na reflexo das teorias e das prticas no campo das aes de preveno dos

    riscos biolgicos ocupacionais, especificamente, no Hospital Universitrio Joo de

    Barros Barreto (HUJBB).

    Fica evidente o compromisso com a pesquisa, sobretudo com o papel social, para

    dar solues s situaes-problema que comprometem a sade da comunidade

    hospitalar, logo, oportuno considerar experincias que levem a problematizar as aes

    a fim de promover a sade dos profissionais, frente aos riscos biolgicos, porquanto

    [...] a agenda de um investigador desenvolve-se a partir de vrias fontes. Freqentemente, a prpria biografia pessoal influencia, de forma decisiva, a orientao de um trabalho. Certos pormenores, ambientes ou pessoas tornam-se objetos aliciantes porque intervieram, de forma decisiva, na vida do investigador. Outros se iniciam em uma determinada rea porque um professor ou algum que conhecem se dedica a um projeto afim. Por vezes, a escolha ainda mais acidental: surge uma oportunidade; acorda-se com uma idia, no desempenho de uma tarefa de rotina encontra-se algum material que desperta curiosidade. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 85).

    O entendimento dos autores citados assemelha-se s reflexes elucidadas por Saul

    (1995, p.11) a respeito do tema: O tema de um trabalho , de modo geral, estabelecido

    por razes que tm especial significado para a vida pessoal de seu autor e/ou para o

    plano terico-metodolgico em que a questo se insere.

    Com efeito, o interesse em investigar a temtica advm da experincia

    profissional de doze anos de trabalho como membro da CCIH, do Hospital de Clnicas

    1 Termo que, em sade pblica, significa a ao antecipada, tendo por objetivo interceptar ou anular a evoluo de uma doena. As aes preventivas tm por fim eliminar elos da cadeia patognica, ou no ambiente fsico ou social ou no meio interno dos seres vivos afetados ou suscetveis. Barbosa, MLM Glossrio de Epidemiologia & Sade (2003, p. 673-674).

  • 19

    Gaspar Vianna (HCGV) e do Hospital Universitrio Joo de Barros Barreto, localizados

    em Belm-Par. Nessas instituies, desenvolvem-se atividades socioeducativas para a

    formao, por meio de treinamentos, cursos e palestras intra e interinstitucionais, do

    Sistema de Vigilncia das Infeces Hospitalares2, onde as aes de preveno

    constituem medidas aplicveis, para minimizao dos riscos biolgicos, originando,

    conseqentemente, investimento promoo da sade dos profissionais.

    A trajetria profissional, com incio na assistncia aos pacientes e experincias em

    laboratrio de anlises clnicas, em razo de atividades biomdicas, contribuiu

    significativamente para acumular reflexes sobre aes de preveno, s quais esto

    expostos os profissionais de sade (Ps).

    Desde 1993, na Unidade de Psiquiatria do HCGV, destaca-se a observao e o

    acompanhamento de procedimentos mdico-hospitalares desenvolvidos pelos

    profissionais de sade com pacientes em agudo estado patolgico, em crise ou com

    distrbios de comportamento. Com os profissionais que lhes prestam assistncia, via-se

    a necessidade de ateno redobrada, por estarem expostos a riscos diversos como o de

    atingimento por secrees oronasotraqueais3 e traumatismos.

    Paralelamente s atividades de acompanhamento, prticas educativas de

    capacitao relacionadas s aes do monitoramento dos acidentes biolgicos,

    orientaes quanto a reaes adversas dos quimioprofilticos, seguimento sorolgico,

    infeces hospitalares e de aes que merecem controle, despertaram ainda mais a

    ateno para o problema, de forma a promover a sade do profissional.

    O cotidiano dos Ps marcado pela convivncia com variedade de riscos,

    destacando, principalmente, o carter biolgico e que recebe influncia de fatores

    sociais, chegando a comprometer a sade.

    O perigo de contaminao decorre dos fatores determinantes, como reas de

    insalubridade hospitalar, complexidade de procedimentos mdico-hospitalares, tipo de

    atendimento prestado e funo profissional, alm dos encontrados nos servios de

    sade, problemas administrativos e/ou financeiros, relacionados s falhas nas estruturas

    fsicas e materiais predispondo a riscos, (CAVALCANTE E PEREIRA, 2000).

    2 De acordo com o Ministrio da Sade do Brasil , infeco hospitalar toda infeco adquirida aps a admisso do paciente e que se manifeste durante a internao, ou mesmo aps a alta quando puder ser relacionada com a hospitalizao. Em definies mais abrangentes, costuma-se incluir tambm as infeces adquiridas pelo pessoal de sade, acompanhantes, visitantes e voluntrios quando relacionados a atividade ou permanncia no ambiente hospitalar. Ver Starling, Pinheiro e Couto (1993) 3 So secrees orgnicas eliminadas pela via do trato respiratrio. Ver Rodrigues (1997).

  • 20

    Em virtude da complexidade do problema, torna-se importante o delineamento de

    aes de preveno para sistematiz-las, em decorrncia dos riscos biolgicos, a serem

    integradas, pelos setores com medidas de planejamento, avaliao e administrao para

    operacionalizao das atividades, oriundo do Servio Especializado de Segurana e

    Medicina do Trabalho (SESMT) e CCIH.

    Alm da necessidade de organizao para o desenvolvimento das aes de

    preveno, Rouquayrol (2003) explica que so abrangentes e no se restringem somente

    preocupao com a prtica individual de cada Ps, pois extrapolam as estruturas

    socioeconmicas e polticas e, por isso, do ateno na implementao de medidas

    interinstucionais e intersetoriais.

    Possivelmente, as aes de preveno, para serem avaliadas, partem de

    indicadores sociais como subsdio elaborao e execuo do Programa de Controle de

    Infeco Hospitalar (PCIH), para as decises tcnicas, articuladas com questes ticas e

    polticas, em se tratando de iniciativas para evitar acidentes ou agravos sade do

    profissional no local de trabalho.

    O acidente ou o agravo ps-exposio requer a continuidade de medidas de

    preveno no totalmente eficazes, segundo as recomendaes do Ministrio da Sade

    (MS), reforando a necessidade de investimentos nas atividades por meio de polticas de

    educao continuada e permanente, conforme a proposta de Brasil/MS (2003),

    fortalecida nas contribuies das teorias educacionais de Brando (1995), Libneo

    (2002) e Frigoto (2001), quanto valorizao da formao humanstica.

    Em Teixeira (2002), mereceu destaque depoimento de um Ps acidentado,

    questionado sobre os motivos de no ter ido buscar o exame sorolgico, em que revelou,

    como razes, medo, insegurana e preocupao com a famlia. Esse comportamento

    demonstra

    [...] que o trabalhador est exposto ao risco do acidente cuja conseqncia pode ser doena infecciosa, mas tambm sofrimento psquico (excesso de zelo, negao, medo, preconceito, marginalizao, depresso ansiedade) visto que, nem sempre possvel obter-se conhecimento prvio da existncia ou no de infeco em cada paciente. (SANTOS; CARVALHO, 2003, p. 147).

    Pela complexidade da exposio, imprescindvel que as aes de assistncia

    sejam garantidas pelos setores da instituio hospitalar, em razo do cuidado de que o

    acidentado necessita, alm do acompanhamento pelos setores responsveis, haja vista a

  • 21

    avaliao das medidas para que possam encaminhar intervenes que permitam a

    integridade fsica dos Ps ou a efetivao concreta do programa de preveno dos riscos

    biolgicos ocupacionais.

    Outra razo instigante o fato de que os profissionais e estudantes esto sob os

    riscos de contaminao com doenas, que podem ser evitadas com a imunizao. A

    ausncia de controle efetivo do programa, no entanto, compromete a eficcia das aes,

    predispondo aos riscos profissionais expondo os pacientes. Segundo Pedrosa e Couto

    (2004), os profissionais esto sob riscos de doenas.

    Tambm a no-formalizao do programa de vigilncia e controle dos riscos

    biolgicos ocupacionais, no plano institucional, pela falta do controle do estado imune,

    desconhecimento dos riscos, subnotificao dos acidentes e monitoramento dos

    tcnicos, compromete a eficincia e a eficcia das aes, das Recomendaes para

    Atendimento e Acompanhamento de Exposio Ocupacional ao Material Biolgico/MS

    (2003) quando envolve sangue e/ou substncias orgnicas relativas ao vrus da

    imunodeficincia adquirida, vrus da hepatite B (HBV) e C (HCV).

    Conforme as recomendaes, a probabilidade de risco de HIV de 0,3%, aps

    exposio percutnea, e de 0,09% em exposio mucocutnea e riscos associados a

    outros materiais biolgicos inferiores ainda no definidos. Alm disso, a infeco pelo

    vrus da hepatite B (HBV), aps exposio percutnea, pode atingir at 40% e para o

    vrus da hepatite C (HCV) pode variar de 1% a 10%, com probabilidade de complicao

    da doena, cerca de 30% a 70% evoluem para a cronicidade (BRASIL. MINISTRIO

    DA SADE, 2003).

    As recomendaes indicam que as medidas profilticas devem ser enfatizadas

    para implementar aes educativas permanentes que familiarizem os Ps com as

    precaues e os conscientizem da necessidade de empreg-las adequadamente, como

    medida eficaz para a reduo dos riscos de infeco pelo HIV, HBV e HCV, em

    ambiente ocupacional (BRASIL. MINISTRIO DA SADE,1999).

    Entende-se que a conscientizao de preveno dos riscos biolgicos ocupacionais

    vem do conhecimento autnomo, impulsionado criticidade e criatividade, como

    argumenta Freire (1980), diante das situaes-problema, a ser praticada no cotidiano

    dos servios, exercitando a ao-reflexo-ao permanente, para o individuo e

    coletividade hospitalar.

  • 22

    A partir da conscincia crtica, consideram os riscos biolgicos tema de grande

    relevncia para os profissionais da rea da sade, expostos, direta ou indiretamente, a

    eles e aos que executam as aes de preveno, motivo da realizao do estudo, na

    perspectiva da investigao das aes de preveno dos Ps, e dos que desenvolvem

    prticas de educao e promoo da sade, tendo em vista que os profissionais, na

    maioria das vezes, desconsideram e/ou negligenciam a possibilidade dos riscos.

    A realidade evidencia a necessidade do desenvolvimento de aes educativas

    permanentes, no hospital, para esclarecer que o fato de o profissional de sade trabalhar

    com riscos no indicativo de aquisio de doenas profissionais, de trabalho ou

    acidentes, e as prticas de controle social originam indicadores capazes de avaliar e

    facilitar as intervenes por meio das aes de preveno.

    Este estudo abrange as prticas das aes de preveno no que se relaciona s

    atividades educativas, de organizao e determinantes de riscos biolgicos, nos diversos

    ambientes de trabalho, na tentativa de manter o controle das aes de preveno

    instrumentalizada a partir do conhecimento, mediante a formao, visando a propiciar

    indicadores de diagnstico, monitoramento e avaliao da eficincia, eficcia e

    efetividade das aes para o programa de preveno dos riscos biolgicos.

    A respeito dos riscos biolgicos ocupacionais, os estudiosos Souza (1999), Cardo

    (1997), Silva (1997), Nelsing et al. (1997) so enfticos sobre o desconhecimento dos

    riscos, no diferenciando que os profissionais expostos e os que elaboram prticas de

    educao e preveno desprezam os riscos, o que dificulta manter o controle das aes

    de preveno.

    Fator agravante do desconhecimento dos riscos e das medidas de profilaxia dos

    que atuam nos servios de sade que os casos de exposio, no Brasil, no existem

    abordagem de avaliao sistemtica (quanto ao acidente, causas, processo e condies

    de trabalho, estratgias educativas e outros), nem se dispe de sistema de vigilncia

    sobre acidentes ocupacionais (RAPARINI et al., 2002).

    Em face dos estudos de Lima (2001), no Municpio de Belm, os hospitais no

    dispem de efetivo sistema de vigilncia de acidentes para profissionais da rea da

    sade e, em alguns deles, existe apenas ficha de notificao de acidentes e o

    acompanhamento dos acidentados no realizado.

    No trabalho de Teixeira (2002), no HUJBB, foi constatado a falta de

    monitoramento dos acidentados com material biolgico dos que executam as aes

  • 23

    considerveis, subnotificao dos acidentes, deficincia de adeso s medidas

    profilticas como as imunizaes para as doenas imunoprevinveis, e recomendaes

    foram feitas para rever as estratgias de capacitao, parte relevante e integrante das

    aes do programa de preveno.

    Embora tenha aes peculiares, o HUJBB tambm desenvolve atividades de

    educar, ensinar e formar profissionais, de modo a trabalharem com segurana de si e das

    pessoas da comunidade hospitalar, aprimorando conhecimentos sobre preveno dos

    riscos biolgicos.

    Assim, com o surgimento da AIDS, na dcada de 1970, a elevada virulncia da

    hepatite B e C representou uma abordagem do trabalho humano e suas relaes no

    contexto scio-poltico e educacional e, a partir de 1980, o Center Disease Control

    (CDC) alertou para as medidas de proteo ao Ps quanto aos riscos biolgicos a fim de

    evitar acidentes ocupacionais.

    Evidenciou o fato de que os Ps esto expostos aos riscos biolgicos, suscetveis s

    doenas infecciosas, nas atividades cotidianas, pois os avanos cientficos e

    tecnolgicos do diagnstico, tratamento e profilaxia de doenas, por prolongar a vida e

    aumentar o nmero de imunodeprimidos, concentrados em ambientes de ateno

    sade, no so suficientes para o acompanhamento de estratgias intervencionistas de

    promoo da sade, requerendo abordagem educativa.

    Portanto, so convenientes as propostas de promoo como paradigma alternativo

    para as polticas de sade, nos pases em que, de acordo com Capra (1982, p. 299), a

    sade compreendida como resultante de um conjunto de fatores individuais,

    coletivos, sociais, econmicos, polticos, tnicos, religiosos, culturais, psicolgicos,

    laborais, biolgicos e ambientais, entre outros, interagindo num processo dinmico de

    uma vida quotidiana. E, segundo Gutierrez apud Czeresnia e Freitas (2003, p.19),

    [...] promoo da sade um conjunto de atividades, processos e recursos, de ordem institucional, governamental ou da cidadania, orientados a propiciar o melhoramento de condies de bem-estar e acesso a bens e servios sociais, que favoream o desenvolvimento de conhecimentos, atitudes e comportamentos favorveis ao cuidado da sade e o desenvolvimento de estratgias que permitam populao um maior controle sobre suas sade e sua condio de vida.

    As prticas de preveno do programa CCIH/HUJBB (2004) baseiam-se na

    Vigilncia Epidemiolgica das Infeces Hospitalares, direcionadas aos pacientes e Ps,

  • 24

    voltadas para acidentes, seguindo Recomendaes de Condutas em Exposio

    Ocupacional a Material Biolgico / Ministrio da Sade (1999). Da a importncia de

    implementar aes educativas permanentes, que conscientizem os Ps da necessidade de

    seguirem adequadamente as medidas de precaues-padro para a reduo dos riscos de

    infeco pelo HIV, HBV e HCV, em harmonia com as condies e processos de

    trabalho.

    A idia de conscientizao visa a despertar no profissional o compromisso tico,

    poltico e social com a capacidade de desenvolver aes, no mbito da instituio.

    A conscientizao , neste sentido, um teste de realidade. Quanto mais conscientizao, mais se desvela a realidade, mais se penetra na essncia fenomnica do objeto, frente ao qual nos encontramos para analis-lo. Por esta mesma razo, a conscientizao no consiste em estar frente realidade assumindo uma posio falsamente intelectual. A conscientizao no pode existir fora da prxis, ou melhor, sem o ato ao-reflexo. (FREIRE, 1980, p. 26).

    A conscientizao conduz os Ps formao do conhecimento, que versa sobre a

    exposio ao vrus do HIV, HBV e HCV, contudo, relacionado ao domnio de fatores

    que vo alm do aspecto da sade, que levam a outras doenas como a varicela, rubola,

    tuberculose, hepatite, alm de agravos de problemas ocasionados pelos aspectos

    psicolgico e socioeconmico.

    importante destacar, nessa conscientizao, a necessidade do conhecimento da

    legislao do programa de sade do trabalhador, pela Portaria n 1679/2002, que

    normatiza a ateno integral das aes de preveno, promoo e recuperao, de

    acordo com os princpios do Sistema nico de Sade (SUS), eqidade, integralidade e

    universalidade, objeto de todos os servios de sade, independentemente do vnculo

    empregatcio e tipo de insero do profissional no mercado de trabalho.

    Alm do mais, no cotidiano, observa-se a ausncia de controle de aplicabilidade

    das aes do programa, havendo sido possibilitada investigao para a formulao de

    indicadores que servem para um modelo de avaliao de resultados e de processos das

    medidas desenvolvidas quanto aos riscos biolgicos ocupacionais.

    Os indicadores, para a Organizao Mundial de Sade (OMS), tm alguns

    requisitos como disponibilidade de dados, simplicidade tcnica de rpido manejo e fcil

    entendimento; uniformidade, sinteticidade de abrangncia no efeito do maior nmero

  • 25

    de fatores que influem o estado de sade da coletividade, poder discriminatrio que

    permita comparaes inter-regionais e internacionais, expressando que:

    [...] Indicadores de sade so parmetros utilizados internacionalmente com objetivo de avaliar, sob ponto de vista sanitrio, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsdios aos planejamentos de sade, permitindo o acompanhamento das flutuaes e tendncias histricas do padro sanitrio de diferentes coletividades consideradas a mesma poca ou da mesma coletividade em diversos tempos. (KERR-PONTES; ROUQUAYROL, 2003, p. 62).

    Convm lembrar o que refere Saul (1995, p. 27) sobre avaliao:

    [...] importante e necessria para servir a mltiplos propsitos: orientao de decises de poltica educacional e econmica para o setor ou, ainda, o questionamento da eficincia e, sobretudo, da eficcia dos cursos (....) e pode responder a problemas imediatos de direcionamento da ao em cada curso.

    Os objetivos das atividades avaliativas so reduzir efeitos negativos e aumentar os

    efeitos positivos das aes desenvolvidas. E falar da finalidade profcua da avaliao de

    programa de riscos biolgicos perspectiva para a garantia da eficincia, eficcia e

    efetividade social do programa no HUJBB.

    Com base nas prticas das aes dos profissionais, em relao preveno dos

    riscos biolgicos, tem-se a convico de que os indicadores relevantes, vlidos e

    confiveis potencializam as chances de implementar polticas, na medida em que fazer o

    diagnstico e o monitoramento e avaliar os resultados das aes possibilitar

    intervenes para minimizar os agravos, respaldando tecnicamente os Ps para que haja

    promoo da sade no local de trabalho.

    1.1. Hiptese e Questes de Pesquisa

    No planejamento da investigao, importante esclarecer a hiptese de que os

    indicadores das aes de preveno dos riscos biolgicos so instrumentos de avaliao

    que subsidiam intervenes para reduzir, o mximo possvel, a incidncia de acidentes e

    agravos sade do trabalhador e contribuir para a melhoria da organizao dos servios.

  • 26

    A limitao de referencial terico sobre a temtica riscos biolgicos ocupacionais,

    no Brasil delineia as questes com vistas obteno de resposta do objeto investigado.

    Em relao s questes de pesquisa e hiptese, transcreve-se o seguinte:

    As hipteses, em geral, pertencem ao campo dos estudos experimentais. Outros

    tipos de estudo, tais como descritivos e exploratrios, aceitam, geralmente, questes de

    pesquisa. Nos estudos descritivos, podem existir, ao mesmo tempo, como tambm em

    outros, hipteses e questes de pesquisa (TRIVIOS, 1995, p.105). Neste sentido,

    como indagao do objeto de pesquisa apresenta-se os seguintes questionamentos:

    Que percepo os profissionais de sade tm sobre riscos biolgicos?

    De que atividades educativas se apropriam os profissionais expostos e os que

    executam aes do programa de preveno dos riscos biolgicos?

    A infra-estrutura do programa adequada efetividade das aes educativas de

    preveno dos riscos biolgicos ocupacionais?

    As questes levantadas so relevantes para situar detalhadamente o que se

    tenciona alcanar a partir dos objetivos da pesquisa, de modo que o programa de

    preveno dos riscos biolgicos ocupacionais seja adotado como poltica pblica

    elaborada e implementada de forma coletiva para a transformao da prtica dos Ps, por

    meio do desenvolvimento da conscincia crtica, nas atividades de formao continuada

    e permanente, as quais contribuam na avaliao das aes, possibilitando interveno

    embasada nos indicadores para promover a sade do profissional no ambiente de

    trabalho.

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  • 27

    2 OBJETIVOS

  • 28

    Analisar as aes de preveno de riscos biolgicos ocupacionais considerando as

    prticas educativas que visam promoo da sade.

    Descobrir a percepo dos profissionais de sade ante as aes educativas do

    programa de preveno dos riscos biolgicos.

    Elaborar indicadores que subsidiem a composio de modelos de avaliao do

    programa de preveno dos riscos biolgicos ocupacionais.

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  • 29

    3 DAS POLTICAS PBLICAS S AES DE

    PREVENO DOS RISCOS BIOLGICOS

    OCUPACIONAIS

  • 30

    3.1 Introduo

    As polticas pblicas sociais servem como instrumento de elaborao e implementao

    de planos de governo e de instituies, cuja preveno dos riscos biolgicos se desenvolve

    pelos Programas de Controle de Infeco Hospitalar e Sade do Trabalhador, tendo como

    desafio a forma de planejar, viabilizar e avaliar aes em contextos descentralizados e

    autnomos, especialmente na rea da sade, que, a partir de 1980, envolve articulao

    intersetorial e interinstitucional juntamente com os Ps para as decises.

    Alm do mais, como toda poltica pblica saudvel, criam ambientes sociais e fsicos

    comprometidos com a sade ... e que devem levar em considerao a sade como um fator

    essencial (ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE, 1988). E, para ser elaborada, depende

    de interesses de determinados setores ou grupos da sociedade, como os Ps, cotidianamente

    expostos aos riscos biolgicos, que requerem aes focalizadas de atendimento, promoo e

    recuperao da sade.

    Os agravos sade, como os acidentes com material biolgico, so tratados como caso

    de emergncia mdica. As normas (BRASIL. MINISTRIO DA SADE, 2002) relacionadas

    nas intervenes imediatas de profilaxia e ps-exposio ainda no so totalmente eficazes.

    Quanto s medidas de proteo individual, h limites, sendo, por isso, de fundamental

    importncia a Comisso de Controle de Infeco Hospitalar (CCIH) e Servio Especializado

    em Segurana e Medicina do Trabalho (SESMT) adotarem polticas consistentes de

    implementao de medidas para promoo da sade.

    Ao analisar as mudanas, no contexto scio-histrico das polticas pblicas, entende-se

    a necessidade de estabelecer polticas de promoo da sade, na instituio hospitalar,

    visando monitorar, avaliar e intervir nas aes que identificam, minimizam e possibilitam agir

    sobre os determinantes dos riscos biolgicos, no local de trabalho.

    3.2 O Marco das Polticas de Sade e as Aes de Preveno Ocupacional

    As aes de proteo sade tm o percurso histrico ligado aos acontecimentos da

    humanidade e s medidas de preveno dos riscos de disseminao de agentes infecciosos,

    incorporadas s atividades laborais e/ou comunidade hospitalar, potencialmente expostas aos

    agravos que comprometem a vida populacional.

  • 31

    No sculo XVIII, o mdico italiano Ramazzin, Pai da Medicina do Trabalho, mostrava

    a possibilidade da relao trabalho e patologia profissional provocado por exposio aos

    agentes fsicos, qumicos, biolgicos, em ambiente de trabalho. Nos hospitais, as condies

    higinicas eram precrias, disseminavam doenas como varola, hansenase, sfilis, febre

    tifide e outras.

    Aps breve perodo sem ateno organizada de sade, surgiram idias de preveno, ao

    estabelecer a separao dos casos de enfermidades contagiosas, cuja inteno era avaliar a

    efetividade da separao adequada dos casos.

    As prticas de medidas preventivas comeam no sculo XIX, quando o mdico

    Semmelveis (1847) preconizou o uso de soluo clorada para a higienizao das mos, aps

    investigao aparente do aumento de risco de mortalidade materna, em unidade de obstetrcia,

    reduzindo os riscos de infeces. Florence Nightingale (1891), enfermeira, adotou medidas

    higinicas para prevenir a transmisso de doenas, por meio de campanhas em prol da higiene

    dos alimentos e gua potvel nos hospitais. Somente a partir dos estudos de Pasteur, em 1891,

    teve-se o conhecimento da existncia de microorganismos.

    Diante da descoberta dos microorganismos, as medidas de preveno foram

    estabelecidas e envolvidas no contexto histrico de desenvolvimento do sistema capitalista,

    com o fortalecimento da doutrina liberal das dcadas 1930 e 1940, nos Estados Unidos como

    anota Arouca (2003, p. 111). [...] queremos especificar que a higiene se caracteriza, no

    sculo XIX, por uma ligao com as ideologias liberais que afirmavam as responsabilidades

    individuais perante a sade e como um conceito poltico nos movimentos socialistas da

    poca.

    A trajetria poltica marcada por mudanas do sistema de sade, decorrentes de

    situaes econmicas, sociais e culturais, que passou por transformao impulsionada pelo

    desenvolvimento industrial e, atualmente pela tecnologia, que avana no mundo, pela

    globalizao. Na anlise do percurso, so identificadas quatro principais tendncias da poltica

    de sade do Brasil, segundo os estudos de Mendes (1996).

    No incio do sculo XX, o Brasil era um pas margem do capitalismo mundial, com a

    explorao econmica caracterizada pela agricultura, tendo como principal produto o caf.

    Portanto era de fundamental importncia o saneamento dos espaos de circulao da

    mercadoria, principalmente nos portos.

    Para que houvesse controle de doenas, como peste, clera e varola, a poltica de

    preveno era impedir a ocorrncia da diminuio da produtividade e no prejudicar o

    crescimento econmico, por isso essas doenas precisavam ser combatidas.

  • 32

    No combate das endemias, foram adotadas aes que caracterizaram o modelo do

    sanitarismo campanhista, que tinham estratgia de carter focal. As medidas eram de interesse

    voltado para o econmico, sob a forma de campanhas nas capitais e suspensas com o controle

    de surtos das doenas da poca.

    As aes nesse perodo eram de atendimentos coletivos, dispunham de instrumentos de

    interveno mais eficazes do que a assistncia mdica individual, eminentemente privativa, e

    a assistncia hospitalar pblica assumia o carter de assistncia social, ou seja, abrigava e

    isolava os portadores de hansenase e tuberculose (GUIMARES, 1982); e os que no

    podiam custe-las eram considerados indigentes, prtica dos servios de caridade (Santas

    Casas de Misericrdia).

    Apesar das caractersticas dominantes na dcada de 1930, em relao prtica de

    assistncia sade, que eram aes de plano coletivo, comeavam vestgios do modelo

    mdico-assistencial. Diante da situao, surge a assistncia previdenciria no Pas, com a

    concesso de benefcios pecunirios, nas modalidades de aposentadorias e penses, bem

    como na prestao de servios em consultas mdicas e fornecimento de medicamentos

    (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1986).

    Com isso, o Estado dividia a responsabilidade da sade com outros segmentos da

    sociedade civil, em que trabalhadores e empresrios participavam da Previdncia Social,

    Caixas de Aposentadorias e Penso (CAP), e os benefcios estavam vinculados s empresas.

    Nessa relao tripartite, os recursos ficaram centralizados no Estado.

    Por meio da centralizao do poder, foi criado o Ministrio do Trabalho em 1930

    (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1986). O Ministrio da Educao e Sade foi desvinculado em

    1953, quando o Ministrio da Sade passa a coordenar as aes de sade de carter coletivo,

    mantendo-se a prtica de assistncia preventiva mediante campanhas sanitrias.

    Logo, os servios de assistncia mdica passaram a se caracterizar por prticas mdicas

    curativas, individualistas, sistemticas e especializadas, desprivilegiando a sade pblica e

    supervalorizando a lucratividade do prestador de servios de sade da rede privada.

    Viabiliza-se, a partir da, o crescimento do complexo mdico industrial e hospitalar,

    impulsionado pelo pleno desenvolvimento da industrializao e urbanizao que,

    conseqentemente, privilegiam a contratao de servios de terceiros, caracterizando o

    modelo assistencial.

    O sanitarismo campanhista, por no responder as necessidades de uma economia industrializada, deveria ser substitudo por um outro modelo [...], construido

  • 33

    concomitantemente ao crescimento e a mudana qualitativa da Previdncia Social Brasileira (MENDES, 1996, p.33)

    Surge o modelo mdico-assistencial privatista, que se ampliou no perodo da

    industrializao e urbanizao, trazendo mudanas no quadro nosolgico, marco no mundo

    das relaes de trabalho, conseqentemente, nas formas de acidentes de trabalho, advindo

    doenas, invalidez e morte em nveis elevados no Brasil, campeo mundial de acidentes de

    trabalho (GALAFASSI,1998).

    Mesmo com agravos das condies de vida e trabalho, permaneciam as estratgias de

    combate s doenas de massa. Dava-se importncia ao corpo do trabalhador, mantendo-se e

    restaurando-se sua capacidade produtiva (MENDES, 1999), razo do modelo mdico-

    assistencial privatista, uma vez que o de campanha sanitria no respondia a necessidade da

    economia industrializada.

    Com a inteno em contornar os agravos acometidos sade, o modelo mdico-

    assistencial possibilitou a proliferao de contrato de servios com empresas privadas e ao

    MS coube a execuo de medidas e atendimentos de interesse coletivo, inclusive a vigilncia

    sanitria. O Ministrio da Previdncia e Assistncia Social voltou-se para o atendimento

    mdico-assistencial individualizado, conforme Lei Federal 6.229, de 1975, que refora a

    dicotomia das reas preventiva e curativa do sistema de sade brasileiro.

    A lgica est no fato de o sistema de sade responder socialmente pelos problemas

    sanitrios da populao, visto que o modelo de ateno mdica insuficiente para a soluo

    do problema da sade. Em vista disso, a populao tambm recorre prtica de sade

    alternativa, paralelamente Medicina cientfica.

    Por essa razo, a nova prtica sanitria apresenta-se em forma de ateno vigilncia da

    sade, como

    [...] resposta social organizada aos problemas de sade em todas as dimenses, organiza os processos de trabalho em sade mediante operaes intersetoriais, articuladas por diferentes estratgias de interveno. [...] As estratgias de interveno da vigilncia da sade resultam da combinao de trs tipos de aes: a promoo da sade, a preveno das enfermidades e acidentes e a ateno curativa. (MENDES, 1999, p. 245).

    A vigilncia da sade constituda sob a modalidade de ateno, de forma que a

    interveno no coletivo e individual envolva outras questes sociais do saber cientfico de

    doena e sade, ou seja, que mais servios mdicos no tm necessariamente relao com

    mais sade.

  • 34

    Tm-se aes de preveno com idias de Medicina comunitria, proposta originria no

    Canad em 1974, difundida nos pases, como ateno primria sade, promovida pela

    Organizao Mundial de Sade (OMS), no restrita a determinada doena e a parcela da

    populao, mas entendida em concepo ampla, com estratgias destinadas a apropriar,

    recombinar e reorientar os setores e os recursos para satisfazer as necessidades sanitrias de

    toda a sociedade.

    Nessa ptica, surge o Programa Nacional de Servios Bsicos de Sade (PREV-

    SADE), tendo como pressuposto bsico a hierarquizao das formas de atendimento, de

    modo a constituir a porta de entrada aos clientes no sistema de sade por meio dos programas

    de interiorizao das aes de sade e saneamento do Nordeste e do Programa de Preparao

    Estratgica de Pessoal de Sade, cuja inteno era organizar os servios para tornar as aes

    concretas de aplicao dos princpios da Medicina comunitria.

    Para isso, preciso racionalizar despesas e controlar gastos das aes dos programas.

    Lana-se o Plano de Reorientao da Assistncia da Sade da Previdncia Social, cujo

    desdobramento foi a implantao de Aes Integradas de Sade (AIS), em conjunto com os

    Ministrios da Sade, da Previdncia Social e da Educao e Cultura, buscando a

    reorganizao institucional da assistncia sade, com o objetivo de evitar aes paralelas e

    simultneas entre as instituies sanitrias.

    As Aes Integradas de Sade (AIS) foram reconhecidas como marco indiscutvel da

    mudana da poltica de sade do Pas. Em seguida, implanta-se o Sistema Unificado e

    Descentralizado de Sade (SUDS), que visava a redefinir as aes dos trs nveis do governo.

    O Brasil estava vivendo o perodo de transio democrtica com o trmino da ditadura e

    incio da Nova Repblica, fato poltico marcante para a preparao do processo constituinte.

    Na ocasio foi convocada a VIII Conferncia Nacional de Sade em 1986, com uma proposta

    de estrutura e de poltica de sade, com participao do movimento social e envolvimento de

    representaes da populao, interessada nas questes de sade, mostrando, assim, carter

    mais democrtico das deliberaes das polticas de Estado.

    A conferncia contribui com idias de que sade direito de todos e dever do Estado

    e as aes e servios de sade so de relevncia pblica. Em sntese, so princpios das

    idias fundamentais:

    participao pressupe incluso representativa da populao e de trabalhadores de

    sade no processo decisrio e no controle dos servios;

  • 35

    descentralizao contm a idia de multiplicao dos centros de poder e se realiza

    principalmente pela municipalizao;

    universalizao significa acesso igualdade dos servios;

    integralidade aponta para a superao da dicotomia dos servios preventivos versus

    curativos e para a atuao em outras reas, alm da assistncia individual: a rea da

    preveno de doenas e a promoo da sade, extrapolando inclusive o setor sade.

    Esses princpios tm como impacto o reconhecimento da sade, de que a populao

    possa ser includa no sistema de sade, com novas relaes entre diferentes esferas do

    governo, novos papis entre os agentes do setor, dando origem, enfim, ao Sistema nico de

    Sade-SUS, regulamentado pelas Leis Orgnicas de Sade, que detalham princpios,

    diretrizes gerais e condies de organizao e funcionamento do sistema.

    Para manter o sistema, os recursos financeiros so do oramento da Seguridade Social,

    da Unio, alm de outras fontes destinadas ao funcionamento do SUS (ANDRADE et al.,

    2001). A Norma Operacional Bsica - NOB n 01/96 e a Norma Operacional de Assistncia

    Sade (NOAS/SUS) apresentam critrios de controle e avaliao dos servios de sade, em

    previso da forma de repasses financeiros para as esferas do governo, de acordo com as

    prticas de assistncia mdico-odontolgica, aes de vigilncia epidemiolgica e sanitria,

    com incentivos s aes e programas.

    Com as normas legais, a transferncia de recursos para compra de servios de atividades

    assistenciais curativas de maior nfase, principalmente nas instituies hospitalares, contudo

    existem aes e programas de preveno e promoo da sade.

    Com isso, a poltica de sade passa pela trajetria em que a Medicina hospitalar se

    concentra apenas em sintomas e sinais, os quais, em conjunto, configuram uma patologia

    (ARMSTRONG, 1995, p. 393). Gradualmente, surge a Medicina de vigilncia em ateno aos

    membros individualmente e aos grupos sociais da populao, pois as categorias de doenas

    do lugar noo de risco.

    A incorporao da noo de risco e especialmente a busca de identificao de fatores de risco envolvidos na determinao das doenas, no s as infecto-contagiosas, mas principalmente as crnico-degenerativas, que passam a ocupar um lugar predominantemente no perfil epidemiolgico das populaes em sociedades industriais, vem provocando a modernizao das estratgias de ao no campo da sade pblica, tanto pela ampliao e diversificao do seu objeto quanto pela incorporao de novas tcnicas e instrumento de gerao de informaes e organizao das intervenes sobre danos, indcios de danos, riscos e condicionantes e determinantes dos problemas de sade. (TEIXEIRA, PAIM; VILASBAS, 2002, p. 29).

  • 36

    Os limites entre sade e doena tambm so recriados exatamente porque pessoas

    saudveis e doentes so consideradas em risco. A velha tradio do ensino de higiene

    demonstra-se insuficiente e se transforma em Promoo da Sade(ARMSTRONG, 1995,

    p.399), requerendo estratgias de educao para a sade, apoiadas pela OMS.

    As mudanas de concepo de sade-doena ficaram firmadas como direito universal

    suprido pelo SUS, objetivando a eficcia e a eqidade para constituio permanente de aes

    dos programas de controle, incrementada na base social de ampliao da conscincia sanitria

    dos indivduos e grupos populacionais expostos a riscos diferenciados, em razo do

    surgimento de novo paradigma assistencial, desenvolvimento de nova tica profissional e a

    criao de mecanismos da gesto e controle populares do sistema de vigilncia em sade.

    A repercusso demonstra a abrangncia do conceito de sade de forma existencial e no

    abstrato, como definida anteriormente pela OMS2. Atualmente, entende-se a sade, no

    contexto histrico de determinada sociedade, em dado momento, de acordo com a realidade

    da vida cotidiana:

    A sade a resultante das condies de alimentao, habitao, educao, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a servios de sade; exige a sade como direito de cidadania e dever do Estado; instituio de um Sistema nico de Sade que tenha como princpios essenciais a universalidade, a integralidade das aes, a descentralizao com mando nico em cada instncia federativa e a participao popular. (MENDES, 1996, p.42).

    O modelo de vigilncia contempla outras reas da sade, da nutrio, medicamentos,

    mortes violentas, acidentes de trabalho e outros agravos. A definio proclama o direito

    sade como fundamental pessoa humana, e compreende abrangncia e complexidade no

    contexto holstico.

    Para Capra (1982, p. 299-357),

    As comprovaes entre sistemas mdicos de diferentes culturas devem ser feitas com todo o cuidado. Pois qualquer sistema de assistncia sade incluindo a medicina ocidental moderna, o produto de sua histria e existe dentro de um certo contexto ambiental e cultural.

    2 Conceito de Sade OMS (1976): Sade um completo bem-estar fsico, psquico e social.

  • 37

    De acordo com essa viso dos sistemas de sade e mudanas, eles no podem servir

    como modelo nico para a sociedade, tornando-se necessrio o estudo do contexto do meio

    ambiente, escola, lar e trabalho, sempre na compreenso holstica. O estudo pode, ento, ser

    atingido pela educao em sade, em todos os setores da sociedade.

    Portanto compete ao SUS prestar assistncia s pessoas por intermdio de aes de

    promoo, proteo e recuperao da sade, com a realizao integrada das aes

    assistenciais e das atividades preventivas, includas aes de vigilncia sanitria, vigilncia

    epidemiolgica e sade do trabalhador.

    As aes da sade do trabalhador so previstas na NOB-SUS 01/96, que inclui a sade

    como campo de atuao, estabelece procedimentos de orientao, instrumentalizao e

    avaliao das aes e servios de sade do trabalhador do SUS. A partir da legislao, foram

    institudos os programas de Sade do Trabalhador (PST) e os centros de referncia em sade

    dos trabalhadores (CRTs).

    O Programa Sade do Trabalhador (PST) uma poltica pblica de deciso geral para o

    desenvolvimento do programa de aes planejadas, no tocante a determinados temas que

    servem de orientao para governos e instituies, no que concerne ao atendimento

    populao, referendadas nas diretrizes elaboradas pelos rgos responsveis pela

    implementao de tais polticas.

    Diante disso, a Secretaria de Polticas de Sade do SUS argumenta que devem ser

    elaboradas aes fundamentadas em metodologia, constituda em bases legais da Constituio

    Federal de 1988, Lei Orgnica de Sade, n. 8.142/90, referenciais terico-tcnico-cientficos

    de sade (BRASIL. MINISTRIO DA SADE, 1998) e instrumentos de planejamento de

    polticas concernentes a programas, projetos e atividades detalhadas no plano, com objetivos,

    metas, oramento, avaliao e cronogramas feitos segundo as caractersticas operacionais dos

    governos e instituies hospitalares.

    As decises metodolgicas precisam estar consubstanciadas ao processo completo de

    formulao, execuo, acompanhamento e avaliao para fins indispensveis, na definio

    das prioridades dos governos e das instituies.

    Assim, as intenes dos governos e instituies de polticas esto norteadas em

    contedos que visam a tornar transparentes as aes e potencializados os efeitos de

    continuidade da prtica administrativa e dos recursos disponveis, materializados em

    propsitos, diretrizes e definies de responsabilidades, base de contedos para a formulao

    de polticas (BRASIL. MINISTRIO DA SADE, 1998).

  • 38

    Para cumprir as finalidades, a formulao do objeto das polticas apresenta-se da

    seguinte maneira:

    Introduo - deve ser fundamentada em bases legais que orientam o tema objeto das

    polticas, os problemas, dificuldades, avanos e resultados alcanados ou no, e as

    questes norteadoras do contexto em que se quer implantar tal poltica. Entende-se

    como diagnstico da realidade.

    Diretrizes - servem para o alcance de determinado propsito e originam-se do

    diagnstico do governo e instituies, das comparaes da realidade, das situaes

    desejadas e da anlise dos seguintes componentes:

    Factibilidade -aes implementadas da poltica, relacionadas disposio de recursos,

    tecnologias, insumos tcnico-cientficos, estrutura administrativa e gerencial; e

    Coerncia - ligao e consistncia entre interesses internos e externos, comparadas

    com os propsitos e com a elaborao das diretrizes setoriais e globais.

    Viabilidade - trata-se dos propsitos de poltica e grau de interesses dos sujeitos

    envolvidos.

    Propsito - pretende-se essa poltica, a ser avaliada ante o impacto de mudanas e

    avanos, de ao futura desejada, observando lacunas e obstculos, transformando-os

    em proposta de ao, endereados aos sujeitos envolvidos.

    Responsabilidades: formulao e implementao da poltica competem s instituies

    onde se apresentam as parcerias que devem ser realizadas, com vistas

    intencionalidade de alcance dos resultados, estabelecidos por meio de

    responsabilidades institucionais intersetoriais (rgos pblicos, privados, organizaes

    sociais dos profissionais e sociedade civil).

    Parmetros para avaliao: inclui-se a anlise crtica das diretrizes, propsitos e

    dados quantificados, alm dos impactos efetivos alcanados por essa poltica para

    obteno de resultados significativos, na garantia da qualidade de vida e promoo da

    sade da populao em planos, programas, projetos e atividades.

    Alm disso, h posio de que, para a formulao de poltica de sade, necessria a

    potencializao de elaboraes coletivas e participativas entre rgos pblicos, privados,

    organizaes sociais dos profissionais e sociedade civil.

  • 39

    Na viso de conjunto da constituio da poltica pblica, alm dos caminhos

    metodolgicos e dos componentes estruturais, requer-se o processo de formulao de

    orientaes em ordem de prioridades respaldadas pela poltica especifica seqencial:

    a poltica deve ser elaborada tomando como referencial os direcionamentos do

    Ministrio da Sade.

    equipe tcnica responsvel pelo controle do tema objeto da poltica, que

    representa a intencionalidade da esfera governamental (Secretria de Poltica),

    responsvel pelo acompanhamento das propostas dos movimentos ligados

    sade e ao prprio SUS.

    as formulaes de outros segmentos de governo ou da sociedade civil.

    As fases do processo de apreciao e aprovao de polticas so:

    Proposio - fase de apreciao por tcnicos especialistas do MS, ligada

    diretamente ao tema.

    Aperfeioamento dos grupos de trabalho formados por tcnicos e especialistas,

    ligados ao governo ou instituies outras que realizam eventos para discusso do

    documento.

    Validao: o documento encaminhado e apresentado para a apreciao da

    Comisso Intergestores Tripartite - CIT e Conselho Nacional de Sade CNS,

    para referendo do MS, aprovado como documento oficial.

    As polticas formuladas, no mbito governamental e institucional, para desenvolvimento

    de aes, devem atender a demanda populacional, em garantia da qualidade de vida e

    promoo da sade.

    Os planos, programas, projetos e atividades dos riscos biolgicos ocupacionais,

    constitudos pelo HUJBB, precisam ser avaliados pelo que determinam a lei, diretrizes,

    propsitos, na definio das responsabilidades, competncias, atribuies de conhecimentos

    legais, tcnicos, ticos, dos setores e da Instituio, normatizados e regimentados na forma da

    lei e estabelecidos dentro de poltica mais ampla.

    Compreende-se que, no Brasil, o marco do desenvolvimento de poltica pblica em

    sade ainda recente, pois, a partir de 1997, inicia a preocupao do prprio MS com a

    criao da Secretria de Polticas de Sade, visando a formular aes gerais para o Pas.

  • 40

    A elaborao da poltica pblica em sade parte da materializao de idias, nos

    Governos federal, distrital, estaduais e municipais e instituies inseridas no processo das

    decises. Como toda poltica parte de ao geral, essas esferas se responsabilizam pela

    formulao de planos, projetos e programas a serem definidos para concretizao e

    caracterizao da poltica de sade (BRASIL. MINISTRIO DA SADE, 1998).

    Portanto a sade do trabalhador e controle de infeco hospitalar se concretizam como

    poltica nacional, obrigatoriamente estabelecidos pelos programas, cujas aes so de

    promoo, proteo e recuperao da sade pelas instituies.

    3.3 O Programa de Sade e as Aes de Preveno Ocupacional

    As polticas pblicas sociais de sade do trabalhador integram aes descentralizadas,

    nos Governos federal, distrital, estadual e municipal, operacionalizadas segundo a demanda

    dos locais de trabalho, implantadas por instrumentos legais.

    O Ministrio do Trabalho, pela Portaria n 3.214, de 8 de junho de 1978, aprova as

    Normas Regulamentadoras NR tendo em vista as peculiaridades de cada atividade ou

    setor de trabalho, estabelecidos critrios de risco, nmero de empregados das empresas,

    obrigatoriedade de servios e programas responsveis pelas questes relativas sade e

    segurana no ambiente de trabalho.

    promulgada a Constituio Federal em 1988, ressaltada pela lei 8.080/90 (lei orgnica

    da sade), competindo ao SUS, alm da promoo da sade do trabalhador, a ao no que

    respeita recuperao e reabilitao da sade, quando submetido aos riscos das condies de

    trabalho.

    Quanto s Normas Operacionais Bsicas 01/93 e 01/96, Norma Operacional de Sade

    do Trabalhador (NOST) e Instruo Normativa de Vigilncia em Sade do Trabalhador no

    SUS, designada na Portaria 3.120, de 1 de julho de 1998, trata-se no somente dos programas

    estaduais e municipais, especialmente nas reas de vigilncia epidemiolgica3, vigilncia

    3 Vigilncia epidemiolgica: conjunto de aes que proporcionam o conhecimento, a deteco ou preveno de qualquer mudana dos fatores determinantes de sade individual ou coletiva, com finalidade de recomendar e adotar as medidas preventivas e controle das doenas e agravos. (ROUQUAYROL, 1994).

  • 41

    sanitria4 e fiscalizao sanitria5, de forma a incorporarem, em suas prticas, mecanismos de

    anlise e interveno nos processos e ambiente de trabalho. O decreto n 3.048, de 6 de maio

    de 1999, aprova o regulamento dos beneficirios da previdncia social, destinado a assegurar

    o direito sade, previdncia e assistncia social, provendo atendimento s necessidades

    bsicas e de referncias a acidentes de trabalho e doenas profissionais.

    A lei n 8.213, de 24 de julho de 1991, no artigo 17, prescreve que o acidente de

    trabalho ocorre no exerccio do trabalho, a servio da empresa, com leso corporal ou

    perfurao funcional, causa de morte, perda ou reduo da capacidade para o trabalho,

    permanente ou temporria.

    Para efeito previdencirio, so considerados acidentes de trabalho as respectivas

    doenas, de acordo com o artigo anterior, sendo importante diferenciar os conceitos de doena

    profissional e doena do trabalho, conforme o decreto 3.048, Ministrio da Previdncia Social

    (2000).

    A doena profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exerccio do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relao elaborada pelo Ministrio do Trabalho e da Previdncia Social. A doena do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em funo de condies especiais em que o trabalho realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relao mencionada ao Anexo II do Decreto 3.048.

    No Anexo II do decreto 3.048, so listados os agentes patognicos e os trabalhos de

    risco para fins da caracterizao de doenas profissionais ou do trabalho.

    No caso dos agentes biolgicos, especificamente para os hospitais, laboratrios e outros

    ambientes de tratamento de doenas transmissveis, so considerados agentes patognicos as

    bactrias, vrus, protozorios e outros organismos vivos que podem causar doena

    profissional.

    Tambm doena do trabalho o acidente proveniente de contaminao acidental do

    empregado no exerccio da atividade. Nesse item, cabe o enquadramento em doena

    decorrente de contaminao acidental, no local de trabalho, com material de origem biolgica.

    Conforme o Anexo do Regulamento da Previdncia Social, esto inclusas as hepatites e a

    Sndrome de imunodeficincia humana adquirida (AIDS).

    4 Vigilncia sanitria deve ser entendida como um amplo e complexo sistema de normatizao e controle da situao sanitria, atravs dos monitoramentos, da qualidade de bens, produtos, servios, atividades e procedimentos de interesse da sade, do meio ambiente e ambiente de trabalho, visando a reduo dos riscos, concebido como eixo estratgico das polticas pblicas para elevar o nvel de sade da populao. (COSTA, 1994) 5 Fiscalizao sanitria um dos momentos de concreo do exerccio do poder que detm o Estado para aceitar ou recusar produtos ou servios sob o controle da sade pblica e para intervir em situaes de risco sade. A fiscalizao verifica o cumprimento das normas estabelecidas para garantir a proteo da sade.

  • 42

    A Rede Nacional de Ateno Sade do Trabalhador (RENAST), efetivada pela

    Portaria 1679, de 19/09/2002, tem como objetivo garantir ateno sade, considerando a

    dimenso de toda a estrutura, a vida em ambiente de trabalho, participao da produo de

    bens e servios, desgaste fsico e mental durante o processo de atividade, obrigam tratamento

    diferenciado das questes mdicas, sociais e econmicas relacionadas aos problemas de

    sade delas decorrentes, o que demonstra que essa complexidade determinante na

    elaborao da RENAST e depende da infra-estrutura, ao citar que

    A estrutura desta rede de atendimento aos problemas de sade decorrentes do processo produtivo, extrapola o ambiente de um servio mdico tradicional e requer o desenvolvimento de uma cultura ou mentalidade sanitria, difusa dentro da sociedade concentrada nos servios de atendimentos aos trabalhadores, sejam nos servios de sade, nos servios de segurana, na proteo social, Ministrio Pblico, na Vigilncia Sanitria e ambiental, entre outros. (BRASIL. MINISTRIO DA SADE, 2002).

    A garantia de aspectos da sade do trabalhador, segundo a lgica da RENAST, no

    apenas para assegurar atendimento clnico, porque depende de situaes epidemiolgicas,

    condies sanitrias, formas da gesto e infra-estrutura, o que permite a descentralizao das

    responsabilidades entre estados e municpios, com estratgias regionais voltadas para a

    ateno bsica sade do trabalhador.

    As propostas do NOST/NOAS, deliberadas no II Encontro Estadual em So Paulo,

    foram: a descentralizao da gesto por habilitao dos estados e municpios; criao de

    Comisso Intergestores Tripartites para o controle de recursos e utilizao de modelo prprio

    de organizao da ateno da sade, como recomenda o Conselho Nacional de Sade - CNS,

    em 14/09/2001, liberao de recursos pelo SUS via Fundo de Aes Estratgicas do

    Ministrio da Sade.

    Forma-se, ainda, o sistema de informao nacional para saber os fatores determinantes

    do agravo sade, para controle, avaliao e impactos das medidas de eliminao, atenuao

    e tomadas de decises nas trs esferas de governo, alm da criao da Comisso Intersetorial,

    com a participao de entidades cientificas e sociais ligadas rea, subordinadas aos

    conselhos estaduais de sade - CES e conselhos municipais de sade - CMS, responsveis

    pela definio, estabelecimento de prioridades, acompanhamento e avaliao das aes.

    A operacionalizao da RENAST, no Estado do Par, de responsabilidade das

    Secretarias Municipal e Estadual de Sade. que o Governo estadual implantou a Rede de

    Sade do Trabalhador, seguindo orientaes da Rede Nacional. O Projeto foi elaborado em

    2004 para atendimento dos 143 municpios, com o objetivo de criar os centros regionais de

  • 43

    sade do trabalhador (CRST) por plos, capacitar funcionrios do SUS para polticas de

    ateno integral a sade do trabalhador, visando s metas de carter organizacional e de infra-

    estrutura para obteno de recursos materiais, humanos, elaborao de instrumentos

    pedaggicos e implantao de comisses intersetoriais e o sistema de informao.

    Em Belm, o atendimento sade do trabalhador acontece na Casa da Sade do

    Trabalhador (CAST), criada em 1997, cujo objetivo atendimento biopsicossocial de

    monitoramento, encaminhamento, prticas de acolhimento e capacitao, para garantia dos

    direitos do trabalhador das redes pblica e privada, rea formal e informal, empregados e

    desempregados, com metas de implementar poltica de preveno s Leses por esforos

    repetitivos e outros agravos com relevncia epidemiolgica; contribuir para a

    implementao de Comisses de Sade em todos os locais de trabalho; investigar todos os

    acidentes graves e fatais relacionados ao trabalho.

    A viso da CAST - Belm conduzir a poltica de sade do trabalhador integral para o

    atendimento de promoo, proteo, recuperao e reabilitao, de acordo com as orientaes

    e princpios do SUS. A misso assegurar o controle do processo de trabalho pela preveno

    de agravos sade e de aes de sade, educao, formao, pesquisa e informao em sade

    do trabalhador, seguindo os valores de transdisciplinaridade, conscincia crtica e eficincia e

    eficcia das aes.

    O agravo sade decorrente do trabalho deve ser notificado obrigatoriamente pelo

    empregador aos servios de sade por meio da Comunicao de Acidente de Trabalho (CAT).

    Na Rede de Assistncia Sade do Trabalhador nos centros regionais, o Hospital

    Universitrio Joo de Barros Barreto - HUJBB tem as aes ligadas ao Programa de Ateno

    Sade do Servidor da UFPA , elaborado em 2004, em parceria com o Hospital Universitrio

    Betina Ferro e Souza (HUBFS) e o Laboratrio do Curso de Farmcia da UFPA.

    O objetivo atender as demandas dos servidores da UFPA, em relao sade, dentro

    dos princpios do SUS, ampliar o atendimento aos dependentes, fortalecer a rede de sade da

    UFPA, levantar dados epidemiolgicos sobre a sade do servidor e subsidiar a equipe de

    sade ocupacional. A meta garantir a sade dos servidores ativos, dependentes, aposentados

    e outros.

    A viso do programa o valor social da sade do trabalhador, ateno s aes de

    promoo e assistncia de maior complexidade, para tornar efetivos os servios

    multiprofissionais em reas bsicas de especialidades e internao, conforme expresso na

    figura 1.

  • 44

    FIGURA 1 Fluxograma de Ateno Sade do Servidor da UFPA Fonte: UFPA/HUJBB

    Alm da RENAST e do Programa de Assistncia Sade do Servidor da UFPA, no

    HUJBB, existem aes do Programa de Controle Mdico de Sade Ocupacional (PCMSO),

    organizado de acordo com as exigncias do Ministrio do Trabalho, pautado nas Normas

    Regulamentadoras (NR) e Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), que objetivam

    promover e preservar a sade dos trabalhadores.

    O programa desenvolvido pela Diviso de Segurana e Sade do Trabalhador (DSST).

    Constitui-se como Servio Especializado de Engenharia e Segurana e Medicina do Trabalho

    (SESMT), formado por tcnicos de segurana, assistente social, auxiliar de enfermagem e

    mdico responsvel pelo diagnstico, preveno e rastreamento dos agravos sade e

    doenas profissionais e do trabalho.

    As atividades so campanhas peridicas de vacinao do trabalhador, visitas a reas

    crticas para investigao epidemiolgica e graus de riscos, atendimento socio-jurdico-

    educativo orientao familiar, avaliao clnica, exames mdicos de admisso, peridicos e

    demissionais, alm de fiscalizao de procedimentos, notificao e controle de atestado,

    monitoramento, capacitaes, pela realizao de cursos, treinamentos, seminrios e palestras,

    campanhas educativas e eventos de segurana, sistema de informao e participao na

    Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA).

    HHUUBBFFSS (Acolhimento)

    Consultas bsicas

    Consultas especializadas

    Cirurgias ambulatoriais

    Exames diagnsticos

    Terapias

    HHUUJJBBBB

    Consultas Referenciadas

    Exames Diagnsticos

    Interaes

    Cirurgias de mdio e grande porte

    Terapias

    SERVIDOR

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    Em relao aos riscos biolgicos, as aes acontecem em parceria com a