indicadores ambientais para uma globalização sustentavel

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Passados dez anos da Rio-92, o debate acercade indicadores ambientais parece ainda tãovigoroso quanto inconcluso. Não foram pequenosos esforços de cada país participante e dacomunidade internacional como um todo, nosentido de definir e produzir inform a ç õ e sadequadas a orientar ações relativas ao meioambiente e ao desenvolvimento sustentável, e osavanços foram consideráveis. Ocorre que aperspectiva de ação imposta pelos problemasambientais sugere uma abordagem ampla eextremamente diversificada e um horizonte tem-poral de referência absolutamente inauditos.Assim, o tamanho e a complexidade da tarefafaz com que as conquistas pareçam sempremenores que os desafios (re)colocados.

Afinal, o que se requer são informações que, aomesmo tempo, retratem praticamente toda a ativi-dade humana e seu impacto sobre condições deambiência nos seus múltiplos aspectos. Mais queisso, as informações devem ainda permitir inferên-cias sobre as necessidades das gerações futuras.

As dificuldades tornam-se ainda maioresporque, no caso das estatísticas sociais, as prin-cipais fontes são os registros administrativos eas pesquisas domiciliares, onde o informanteresponde às perguntas do entrevistador, enquan-to no caso das estatísticas econômicas asprincipais fontes são, novamente, os registrosadministrativos e as respostas das empresas,unidades produtivas ou órgãos públicos.

Mas nem os registros administrativos, nemempresas, nem cidadãos estão preparados pararesponder sobre impactos causados ao meioambiente e, ao perguntarmos aos ecossistemassobre estes impactos, eles nos oferecemrespostas em sua própria “linguagem” queainda estamos distantes de saber ouvir ecompreender adequadamente.

Todo indicador, toda informação estatísticaconstitui, antes de tudo, uma síntese de grandeabstração. E são abstrações na forma de cifrascuja inteligibilidade e, logo, utilidade, dependede familiaridade com o fenômeno mensurado ecom o modo e escala em que é medido. Umindicador que agrega, por exemplo, a produçãosocial medida em unidades monetárias, é algoabsolutamente abstrato, mas muito objetivo,passados centenas de anos das sociedadesmonetizadas. Mas é objetivo também por sereferir a mercadorias normalmente comerciali-zadas. Coisa muito diversa é medir e construirindicadores sintéticos que incorporem paisa-gem, qualidade de ar, reservas naturais, danosambientais, saúde e outros que tais. Trata-se dejustapor, condensar e integrar aspectos que sãoobjeto de múltiplas disciplinas, que muitas vezesutilizam diferentes sistemas de medida e que,principalmente, ainda são de valoração socialextremamente difícil por conta tanto daignorância humana sobre a dinâmica ecológicacomo do fato de estarmos ainda nos primórdiosdo processo histórico (econômico, social epolítico) que definirá a extensão e a profundi-dade do compromisso com as gerações humanasdo futuro.

Enquanto o universo da produção deestatísticas econômicas e sociais dispõe de umaparato conceitual, metodológico e de melhorespráticas desenvolvido ao longo de décadas eobjeto de um trabalho mundial de harm o n i z a ç ã o

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Indicadores ambientaispara uma globalizaçãos u s t e n t á v e l

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com vistas à maior comparabilidade, as defini-ções conceituais, viabilidade, aplicabilidade efuncionalidade dos inúmeros indicadores ambi-entais e do desenvolvimento sustentável propos-tos são reiteradamente criticados, revistos epostos à prova. Nesse sentido são todos novos,como nova é a temática do meio ambiente e, porisso, pagam tributo à imprecisão e fluidez dopróprio conceito de desenvolvimento sustentável.

Tornou-se ponto de controvérsia a própriaidéia de valoração de recursos naturais es e rviços ambientais e, logo, a ênfase emmensurações físicas ou a elaboração de medidasmonetárias. A discussão se desdobra ainda entreprivilegiar indicadores associados ao que sedenominou sustentabilidade fraca ou aquelesassociados a sustentabilidade forte. Na hipótesefraca da sustentabilidade admite-se uma grandecapacidade de substituição entre “capitalnatural” e manufaturado de maneira que osrecursos naturais podem ser valorados confor-me se manifesta a preferencia do consumidor.Em outras palavras, supõe-se que qualquer usodos recursos naturais possa ser reposto porfontes alternativas de igual valor. Na hipóteseforte da sustentabilidade, considera-se asubstituição limitada e, com base em pesquisasecológicas, avaliam-se os custos relativos a“padrões de uso” ou de “sustentabilidade” dediferentes “funções ambientais” e os custospara troca ou reformulação das atividadeseconômicas, de sorte que se evite a depleção oudegradação do meio.

Muitos autores tomam posição entre os doisextremos das hipóteses fraca e forte desustentabilidade. Aceitam que na prática aseconomias no presente dependem de consumiralgum nível de recursos não renováveis. Poroutro lado, permitir que todas as fontes nãorenováveis sejam consumidas rapidamente seriairresponsável. A alternativa conceitual tem sidotrabalhar com a idéia de um certo “nívelcrítico” de recursos ambientais, ou seja, um

nível além do qual a depleção não deve serpermitida. É evidente que não há consensosobre quais níveis críticos considerar.

Também a disputa entre mensurações físicase sócio-econômicas admite uma posiçãointermediária. Embora seja evidente a dificul-dade em integrar ambos os aspectos, trata-se deuma construção (mais do que técnica, histórica)indispensável. Assim, cabe avançar tanto odesenvolvimento de indicadores e índicesambientais quanto o desenvolvimento de contasfísicas e ambientais e sistemas integrados,consolidando, através de aplicações práticas asalternativas mais úteis e viáveis. Nos trabalhospara a elaboração do novo manual da ONUsobre contas ambientais (SEEA) é propostauma contabilidade ambiental híbrida, confron-tando informações física sobre o uso dosrecursos com informações em termos físicos emonetárias sobre o processo econômico deprodução.

Cabe lembrar que quaisquer que sejam asabordagens conceituais e os métodos seguidos, énecessária a coleta e sistematização de umvasto conjunto de informações. E sua produçãonão pode prescindir da colaboração de diversasinstituições. Algumas em razão da suacompetência específica e outras historicamenteengajadas no estudo das questões ambientais.

O Brasil tem participado ativamente desteesforço, quer internamente, através de orga-nismos públicos, universidades, instituiçõesprivadas e organizações não governamentais,quer externamente, colaborando com diversasiniciativas e organismos internacionais.

O Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística – IBGE, na qualidade de instituiçãooficial de estatística, tem procurado responderàs funções que lhe são atribuídas neste campo,inclusive no sentido da construção de umsistema nacional voltado a organização econsolidação de informações ambientais.

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De fato, enquanto em todo o mundo,Instituições Nacionais de Estatística buscamaproximação com a cartografia em função daspossibilidades abertas pelo desenvolvimento datecnologia de geo-referenciamento de dados eda geografia, ciências biológicas, física equímica, em função das demandas colocadaspela produção de informações ambientais, oBrasil conta, desde 1936 quando foi criado oIBGE, com essas atribuições reunidas numaúnica instituição que tradicionalmente dedica-seao conhecimento da realidade físico-ambientaldo território. Além das atividades básicas degeodesia e cartografia oficial, desenvolvidaspelo IBGE desde então, destaca-se, a incor-poração, em 1986, do acervo e Pr o j e t oRA D A M B RASIL, ampliando a atenção aostemas de geologia, geomorfologia, solos, vege-tação, uso potencial da terra.

Pa r t i c u l a rmente para a Amazônia Legal, querepresenta mais de 50% do Te rritório Nacional,mediante Contrato firmado entre o IBGE e aComissão de Implantação do Sistema deControle do Espaço Aéreo – CISCEA / Sistemade Vigilância da Amazônia – SIVAM, já se en-contram armazenadas, em banco de dados geo-referenciados, informações inerentes a 204 car-tas (escala 1:250 000), compreendendo os temasgeologia, geomorfologia, solos e vegetação.

Ainda no que concerne aos estudos dosrecursos naturais, o IBGE desenvolve pesquisasvoltadas à área de Fauna e Flora. Nestes, des-taca-se o trabalho de levantamento básico rea-lizado pelos herbários IBGE (Brasília eSalvador) na mais absoluta harmonia com insti-tuições congêneres do Brasil e do exterior e comgrande integração com as atividades de mapea-mento de vegetação e coleta de material botânico.

As coleções científicas do IBGE constituemum valioso patrimônio à disposição da Insti-tuição e da comunidade científica, pois são,como importante testemunho histórico-

científico da biodiversidade original, informa-ção indispensável para construção de muitosindicadores de impacto ambiental.

O IBGE tem participado também dostrabalhos da Comunicação Nacional Brasileirade Gases de Efeito Estufa, coordenado peloMinistério da Ciência e Tecnologia – MCT eassumiu a responsabilidade de ser o depositáriodas informações do inventário brasileiro dasemissões de gases do efeito estufa.

Coordena também a coleta, revisão eatualização da base de dados sobre estatísticasambientais que o grupo de trabalho formadopelo IBGE, Instituto de Pesquisas Espaciais(INPE), Instituto de Pesquisa Ambiental daAmazônia (IPAM), Banco de Dados daAmazônia da Secretaria da Amazônia do Minis-tério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro deMeio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis (IBAMA) produz para dar suporteao Relatório Perspectivas do Meio Ambiente noBrasil, o Geo Brasil, que está sendo elaboradopelo MMA e o IBAMA, em parceria com o Pro-grama das Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA) com vistas à divulgaçãodurante a Conferência Mundial de MeioAmbiente e Desenvolvimento – Rio +10, emJohannesburgo.

Mais recentemente o IBGE, valendo-setambém de seu patrimônio de informações epesquisas econômicas e sociais, vem desenvol-vendo juntamente com o Ministério do MeioAmbiente o Projeto Indicadores de Desenvolvi-mento Sustentável. Ele tenta contribuir paraavaliações abrangentes da realidade brasileira,incluindo a perspectiva ambiental, sob a óticada compatibilização das diversas dimensões dodesenvolvimento, com a intenção de sistema-tizar e acompanhar a situação nacional no quediz respeito ao desenvolvimento sustentável.

A preocupação com indicadores desustentabilidade foi colocada pela Agenda 21

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nos capítulos que tratam da relação entre meioambiente, desenvolvimento sustentável ei n f o rmações para a tomada de decisões. Aidéia central da Conferência Rio-92 foi a dedotar os países signatários dos instru m e n t o sadequados para medir e avaliar as políticaspúblicas voltadas para o desenvolvimentos u s t e n t á v e l .

O projeto toma como referência ametodologia proposta pela Comissão para oDesenvolvimento Sustentável elaborada em1996, intitulada. “Indicators of SustentainableDevelopment Framework and Methodologics”conhecido como “Livro Azul” e as recomenda-ções adicionais que o sucederam, como é o casodos resultados do “International ExpertMeeting on Information for Decision - Makingand Participation”, em setembro de 2000, noCanadá. Assim, trata de temas como Saúde,Educação, Habitação, População, Atmosfera,Terra, Oceanos/Mares e Costas, Água, Biodiver-sidade, Padrões de consumo e produção, etc.

Com o objetivo de fornecer uma avaliaçãomais adequada quanto ao processo de desenvol-vimento, cada indicador será apresentado numaperspectiva evolutiva através de série históricade dados para Brasil, tomando como base o anode 1992. Além disso, quando possível, será ado-tado o nível de agregação espacial das unidadesda Federação o que permite o exame da diver-sidade de situações existentes no país.

O esforço que o IBGE vem realizando comeste projeto pretende disponibilizar um conjuntode indicadores que posteriormente poderá edeverá ser adaptado, ampliado e aprimorado eque, certamente, contribui para ampliar odebate das questões ambientais na sociedadebrasileira.

Acreditamos que é importante, contudo, nãominimizar as dificuldades existentes na defini-ção e no aprofundamento do conceito de desen-volvimento sustentável.

A visão de desenvolvimento sustentável dainterpretação neoclássica tende a cair, na nossaopinião, na armadilha do que poderíamoschamar de utopia da razão técnica e supor quea sustentabilidade da aventura civilizatóriahumana pode ser alcançada exclusivamenteatravés do aumento da eficiência econômica eda adoção de tecnologias mais limpas. Nessecaso, estaríamos frente à uma versão extremistada hipótese fraca da sustentabilidade, queadmite a exaustão de qualquer riqueza naturaldesde que seu valor possa ser reposto por outroativo de igual valor, propondo um modelo queignora completamente as incertezas envolvidasnessa troca e representa muito mal a realidadedo processo de produção.

Em outra posição estariam não apenas osadeptos da hipótese forte da sustentabilidadecomo também aqueles que ao se situarem entreos dois extremos (na forma apresentada noinício deste artigo) chamam a atenção para anecessidade de definir o recorte territorial dosecossistemas cuja sustentabilidade deseja-sep r e s e rvar e a abrangência temporal docompromisso com as futuras gerações.

Se o que pode estar sob ameaça, numa escalade tempo à qual não estamos habituados e éimpossível ao mercado “enxergar”, é oecossistema planetário na sua forma atual e,portanto, a própria sobrevivência da espéciehumana, como atribuir valor àquilo que afeta,positiva ou negativamente, a sustentabilidadedo desenvolvimento?

Em posição oposta à razão tecnicista,portanto, estariam aqueles que, ainda queconsiderando desejável e indispensável o aumen-to da eficiência econômica e tecnológica, pen-sam ser necessária a constituição de vontades emecanismos democráticos globais que se sobre-ponham à orientação de mercado (eficiente naalocação dos recursos produtivos mas cega esurda à quaisquer outros valores que não os da

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acumulação de capital) fazendo prevalecer osprincípios da sustentabilidade ambiental e éticada humanidade. Para isso é preciso estar abertoà discussão dos padrões deprodução, circulação econsumo de mercadorias eadmitir que os recursos natu-rais do planeta constituemativos cujos valores não serãod e t e rminados de form aintrínseca pelo mercado nasua forma atual, mas simc o n s t ruídos historicamentepor uma humanidade progres-sivamente mais consciente.

Os trabalhos preparatóriospara o novo manual da ONUsobre contas ambientais(SEEA 2000) definem três“funções” do meio ambiente sobre a economia:1) funções de recursos (recursos naturais

colocados à disposição para conversão embens ou serviços);

2) funções de serviços (provêem as condiçõesnecessárias para a manutenção da vida) e

3) funções de absorção (diz respeito à absorçãodos resíduos da produção e do consumo).

Para nossos propósitos, podemos considerarsecundária a questão da disponibilidade derecursos naturais para o processo de produção econsumo porque ela é muito mais sensível àevolução tecnológica e porque para um recursofundamental (a energia) existe enorme econstante oferta externa ao planeta, o que nãoocorre para as outras duas funções.

A diminuição da quantidade e qualidade dasfunções de serviço e o inegável uso das funçõesde absorção muito além das suas capacidadesde assimilação dos resíduos da produção e doconsumo, contudo, podem (e o estão fazendo)ameaçar severamente a qualidade de vida daspopulações mais desfavorecidas em term o s

econômicos e sociais e a própria biodiversidadeatual do planeta, inclusive a sobrevivência daespécie humana.

Para dimensionar o im-pacto das atividades humanassobre essas funções, entre-tanto, é necessário definir orecorte territorial, determi-nando se os impactos sãolocais, regionais ou globais.Questões locais tem a ver comqualidade do ar, fornecimentode água limpa, a remoção edisposição do lixo sólido e dosefluentes líquidos, limpezadas ruas, etc.

Questões regionais sãocausadas principalmentepelos automóveis, produção

de energia e indústria pesada. Afetam asgrandes cidades e áreas circunvizinhas, baciashidrográficas e até extensões além das fron-teiras nacionais, como a “chuva ácida”decorrente das emissões de dióxidos de enxofree de nitrogênio.

A terceira categoria de questões são asglobais e suas conseqüências mais conhecidassão o aquecimento global, a crise debiodiversidade, a destruição da camada deozônio e a degradação dos oceanos. É provávelque a escassez de recursos hídricos e o aumentoda desertificação exijam, também, umaaproximação global, além da regional.

Desenvolvimento sustentável é um conceito eum processo histórico em construção quepressupõe uma dimensão espacial (o território)e uma dimensão temporal (a extensão do com-promisso com as gerações futuras). Ambas exi-gem definições concretas e consistentes entre si.

Assim, a preservação de um determinadoecossistema poderia ser definida, em função daabrangência de seu território, como umproblema local ou regional. A avaliação da

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D e s e n v o l v i m e n t os u s t e n t á vel é um conceito eum processo histórico emconstrução que pressupõeu ma dimensão espacial eu ma dimensão temporal.Ambas exigem defi n i ç õ e sc o n c r e tas e consistentes

entre si.

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sustentabilidade do desenvolvimento de umanação, ou grupos de nações, uma questãoregional. Os processos globais são, como vimos,aqueles que afetam a sustentabilidade do desen-volvimento e da vida humana no planeta.

Quanto à dimensão temporal, a escala detempo que envolve a sustentabilidade de umambiente local ou regional é medida emdécadas, o que já configura um horizonte muitomais dilatado do que aquele à que estamos(instituições e mercado) habituados.

A agressão ao ecossistema global,entretanto, exige da humanidade capacidade depensar e agir em um tempo histórico ainda maisamplo, mensurável em séculos. Isso diz respeitonão apenas ao futuro (apenas como exemplo,gases de efeito estufa permanecem séculos naatmosfera e essa também é a unidade paramedir a dilatação das águas dos oceanos,d e c o rrente do aquecimento global e causaprincipal da elevação do nível dos mares) mastambém ao passado, na medida em que pordetrás da noção de “responsabilidades comunsporém diferenciadas”, consagrada na Rio-92,está a consciência de que entre as nações domundo existem responsabilidades históricasdistintas pelos processos em andamento.

Paradoxalmente, essa dilatada escala detempo torna fundamental e coloca na agenda aexigência de urgência para a produção dasinformações físicas que permitam acompanharos processos de poluição que ocorrem em escalaglobal. Isto por duas razões. Em primeiro lugarporque como é grande o desconhecimento sobrea dinâmica ecológica do planeta, o princípio daprecaução exige o uso equilibrado dos recursose serviços do meio ambiente de forma a prevenirdanos irreparáveis à sua sustentabilidade. Emsegundo lugar, porque é o conhecimentocientífico dos processos em andamento e dassuas conseqüências que fornecerá o suportepara que a sociedade humana, através de uma

dinâmica democrática global, construa osmercados e os sistemas de regulação quetornarão possível atribuir valores aos ativosimportantes para a sustentabilidade da vida talqual a conhecemos. O melhor exemplo contem-porâneo são as negociações no âmbito da ONUpara o enfrentamento do aquecimento global,que através do Protocolo de Kioto e acordossubseqüentes viabilizaram o surgimento de ummercado global para toneladas de carbono quedeixem de ser acumulados na atmosfera.

Do ponto de vista da elaboração deindicadores de Desenvolvimento Sustentávelisso significa, também, que é preciso tomarextremo cuidado para não confundir osindicadores que iluminem a agressão humanaao ecossistema planetário com o conjunto deinformações que cada sociedade produz e utilizaem seu território com vistas à avaliar asustentabilidade de seu desenvolvimento e àmelhoria de suas políticas públicas.

Em outras palavras, não é a agregação dosIndicadores de Desenvolvimento Sustentávelque cada país produz, com seu caráter embri-onário anteriormente exposto e suas dificul-dades para obterem uma territorialização quereflita a realidade dos ecossistemas, que poderiac o n s t i t u i r-se numa informação adequada dasustentabilidade do desenvolvimento global.Tampouco esses indicadores se prestam àhierarquizações que não teriam qualquerconsistência espacial ou temporal com asustentabilidade do planeta.

Ainda que os indicadores globais possam serharmonizados e definidos como um subconjuntodos indicadores de desenvolvimento sustentávelque cada país deveria produzir, sabemos que oestágio em que as nações do mundo se encon-tram na produção de estatísticas econômicas,sociais, e, principalmente, ambientais, é bas-tante heterogêneo e que a definição das prio-ridades nos programas de trabalho estatístico

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de cada país decorre de sua própria vida sociale é assunto autônomo dos Institutos Nacionaisde Estatística.

Desse ponto de vista, parece-nos que, semprejuízo dos esforços conduzidos pela ComissãoEstatística das Nações Unidas na produção deestatísticas ambientais e de contas ambientaisassociadas às contas nacionais e pela Comissãode Desenvolvimento Sustentável das NaçõesUnidas através dos indicadores do desenvol-vimento sustentável do Livro Azul, quepropiciam às sociedades elementos para avaliaraspectos da sustentabilidade de seu desenvol-vimento, deveria ser considerado objetivoprioritário a elaboração de Indicadores doDesenvolvimento Sustentável Global queretratem fisicamente os processos de agressãoglobal ao ecossistema planetário, torn a n d opossível prevenir eventos irreparáveis ef o rnecendo o suporte necessário para aconstrução dos mercados que serão responsá-veis pela valoração dos ativos naturais.

Para isso seria necessária a concentração deesforços nesses processos (Mudança Global doClima, Crise de Biodiversidade, Redução daCamada de Ozônio, degradação dos oceanos,desertificação e crise de recursos hídricos). Acriação de um sistema de monitoramento dasustentabilidade do desenvolvimento mundialexigiria dos países desenvolvidos amplosinvestimentos no conhecimento científico eacompanhamento da biosfera, da atmosfera,dos oceanos e dos continentes; na realização deseus próprios levantamentos nacionais e noapoio à ONU e instituições multilaterais namobilização de recursos para harm o n i z a rmetodologias e viabilizar a execução doslevantamentos dos países menos desenvolvidos.A experiência da definição de metodologia peloPainel Intergovernamental sobre Mudança doClima (IPCC) e o sistema construído paraapoiar a realização das comunicações nacionaispara a Convenção Quadro das Nações Unidassobre Mudança do Clima poderia seraproveitada como modelo.

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Sérgio Besserman ViannaPresidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

Guido GelliDiretor de Geociências do IBGE