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INDICAÇÃOGEOGRÁFICAEDESENVOLVIMENTOTERRITORIAL:

reflexõessobreotemaepotencialidadesno

EstadodeSantaCatarina

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ComitêCientíficoAryBaddiniTavares(UNIMESP)DanielArrudaNascimento(UFF)DeyveRedyson(UFPB)EduardoKickhofel(UNIFESP)EduardoSaadDiniz(USP,RibeirãoPreto)JorgeMirandadeAlmeida(UESB)MarciaTiburi(Mackenzie)MarceloMartinsBueno(Mackenzie)MariaJ.Binetti(CONICET,ARG)MaurícioCardoso(FFLCH–USP)PatríciaC.Dip(UNGS/CONICET,ARG)SalyWellausen(Mackenzie,Pres.)

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ValdirRoqueDallabrida

(Organizador)

INDICAÇÃOGEOGRÁFICAEDESENVOLVIMENTOTERRITORIAL:

reflexõessobreotemaepotencialidadesno

EstadodeSantaCatarina

1ªedição

EditoraLiberArsSãoPaulo2015

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INDICAÇÃOGEOGRÁFICAEDESENVOLVIMENTOTERRITORIAL:ReflexõessobreotemaepotencialidadesnoEstadodeSantaCatarina©2015,OorganizadorDireitosdeediçãoreservadosàEditoraLiberArsLtdaISBN978‐85‐64783‐58‐4EditoresFransmarCostaLimaLauroFabianodeSouzaCarvalhoRevisãoesupervisãotécnicaeortográficaAnaBeatrizLopesLanchaEditoraçãoCesarLimaImagemdeCapaFabioCosta

DadosInternacionaisdeCatalogaçãonaPublicação–CIP

Bibliotecário responsável: Neuza Marcelino da Silva – CRB 8/8722

Todososdireitosreservados.Areprodução,aindaqueparcial,porqualquermeio,daspáginasquecompõemestelivro,parausonãoindividual,mesmoparafinsdidáticos,semautorizaçãoescritadoeditor,éilícitaeconstituiumacontrafaçãodanosaàcultura.

Foifeitoodepósitolegal.

EditoraLiberArsLtdawww.liberars.com.br

[email protected]

Dallabrida,ValdirRoqueD15dIndicaçãogeográficaedesenvolvimentoterritorial:reflexõessobre

otemaepotencialidadenoEstadodeSantaCatarina/ValdirRoqueDallabrida(org.)‐SãoPaulo:LiberArs,2015.

ISBN978‐85‐64783‐58‐41. Desenvolvimento Regional – Santa Catarina 2. Indicação

Geográfica – Santa Catarina 3. Desenvolvimento Territorial –GovernançaTerritorialI.Título

CDD338.9

CDU 338

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SUMÁRIO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E INDICAÇÃO GEOGRÁFICA: APRESENTAÇÃO DE COLETÂNEA E INTRODUÇÃO AO TEMA ............................................................................................... 7

CAPÍTULO 1 ......................................................................................................................... 23 GOVERNANÇA NOS TERRITÓRIOS, OU GOVERNANÇA TERRITORIAL: DISTÂNCIA ENTRE CONCEPÇÕES TEÓRICAS E A PRÁTICA VALDIRROQUEDALLABRIDA‐UNC JAIROMARCHESAN‐UNC ADRIANAMARQUESROSSETTO‐UFSC ELIANESALETEFILIPPIM‐UNOESC

CAPÍTULO 2 ......................................................................................................................... 41 A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DE PRODUTOS: UM ESTUDO SOBRE SUA CONTRIBUIÇÃO ECONÔMICA NO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL GIOVANEJOSÉMAIORKI‐UNC VALDIRROQUEDALLABRIDA–UNC

CAPÍTULO 3 ......................................................................................................................... 57 A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA COMO CONTRIBUTO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ANÁLISE A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS BRASILEIRAS NO SETOR VINÍCOLA SABRINADHIENIFFERSANDER‐UNC VALDIRROQUEDALLABRIDA‐UNC

CAPÍTULO 4 ......................................................................................................................... 73 O PATRIMÔNIO CULTURAL COMO ATIVO TERRITORIAL NO DESENVOLVIMENTO REGIONAL MÁRCIAFERNANDESROSANEU‐UFPR PATRICIADEOLIVEIRAAREA‐UNIVILLE

CAPÍTULO 5 ......................................................................................................................... 87 DESENVOLVIMENTO, SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS AGROPECUÁRIAS CRISTIANEDEMORAISRAMOS‐UFSC ADRIANAMARQUESROSSETTO‐UFSC

CAPÍTULO 6 ....................................................................................................................... 105 ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO NO MUNICÍPIO DE CANOINHAS (SC): UM ESTUDO A PARTIR DO MANEJO DE FRAGMENTOS DE FLORESTA OMBRÓFILA MISTA E SUA RELAÇÃO COM A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA LAUROWILLIAMPETRENTCHUK‐UNC JAIROMARCHESAN‐UNC VALDIRROQUEDALLABRIDA‐UNC

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CAPÍTULO 7 ...................................................................................................................... 117 SIGNOS DISTINTIVOS E POTENCIAIS BENEFÍCIOS AO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUELENCARLS‐UFSC LILIANALOCATELLI‐UFSC LUIZOTÁVIOPIMENTEL‐UFSC

CAPÍTULO 8 ...................................................................................................................... 135 PRODUTOS COM IDENTIDADE TERRITORIAL NO ESTADO DE SANTA CATARINA: POTENCIAIS PARA A INDICAÇÃO GEOGRÁFICA MAYARAROHRBACHERSAKR‐UNC NATANYZEITHAMMER‐UNC STAVROSWROBELABIB‐UNIVALI VALDIRROQUEDALLABRIDA‐UNC

CAPÍTULO 9 ...................................................................................................................... 173 CONTRIBUIÇÃO DO QUEIJO ARTESANAL SERRANO PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL E PRESERVAÇÃO DOS CAMPOS DE ALTITUDE DO SUL DO BRASIL ULISSESDEARRUDACÓRDOVA‐EPAGRI‐LAGES‐SC ANDRÉIADEFÁTIMADEMEIRABATISTAFERREIRASCHLICKMANN‐EPAGRI‐LAGES‐SC CASSIANOEDUARDOPINTO‐EPAGRI‐LAGES‐SC

CAPÍTULO 10 .................................................................................................................... 187 DESAFIOS PARA O ASSOCIATIVISMO DE BASE TERRITORIAL: O CASO DO PROJETO TRANÇAS DA TERRA ANALÚCIABEHRENDLISTONE‐UNOESC ELIANESALETEFILIPPIM‐UNOESC

CAPÍTULO 11 .................................................................................................................... 213 FORMAÇÃO HISTÓRICA, TERRITORIAL E ECONÔMICA DA MESORREGIÃO OESTE CATARINENSE: LIMITES E POSSIBILIDADES DE CONSTITUIÇÃO DE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS JAIROMARCHESAN‐UNC ROSANAMARIABADALOTTI‐UNOCHAPECÓ

CAPÍTULO 12 .................................................................................................................... 241 INDICAÇÃO GEOGRÁFICA DA ERVA-MATE NO TERRITÓRIO DO CONTESTADO: REFLEXÕES E PROJEÇÕES VALDIRROQUEDALLABRIDA;FERNANDATEIXEIRASANTOS;LAUROWILLIAMPETRENTCHUK;MAYARA

ROHRBACHERSAKR;MURILOZELINSKIBARBOSA;NATANYZEITHAMMER;PAULOMOREIRA;TIAGOLUIZSCOLARO;JAIROMARCHESAN‐UNC

CAPÍTULO 13 .................................................................................................................... 273 INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS COMO POLÍITICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL RURAL - O CASO DOS VALES DA UVA GOETHE ADRIANACARVALHOPINTOVIEIRA‐UNESC VALDINHOPELLIN‐FURB

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DESENVOLVIMENTOTERRITORIALEINDICAÇÃOGEOGRÁFICA:APRESENTAÇÃODE

COLETÂNEAEINTRODUÇÃOAOTEMA

Nestelivro,retoma‐seotemadaIndicaçãoGeográficacomoalternativaparaodesenvolvimentoterritorial.Trata‐sedeumacoletâneadetextos,queresumem os resultados do Projeto de PesquisaTERRITÓRIO, IDENTIDADETERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO: a especificação de ativos territoriaiscomoestratégiadedesenvolvimentonasregiõesdoEstadodeSantaCatarina,oqualcontoucomoapoiofinanceirodaFundaçãodeAmparoàPesquisaeInovaçãodoEstadodeSantaCatarina(FAPESC).Contoucomacolaboraçãodecolegasdeuniversidadescatarinenses,membrosdaequipedepesquisadoreferidoprojeto,sejacomopesquisadoresoualunosdaPós‐GraduaçãoeIniciaçãoCientífica.

Acoletânea,nasuaprimeiraparte,reúnetextosquerefletemquestõesrelacionadas ao tema Indicação Geográfica (IG). Na segunda parte, sãoapresentadasasprincipaispotencialidadesdeprodutosdoEstadodeSantaCatarina que têm condições de serem reconhecidas como experiências deIndicaçãoGeográfica.Alémdaexperiênciade IG registrada,o casodoValedaUvaGoethe,outrosquatroprodutossãocontempladoscomumaanálisemaisaprofundada.

Indicação Geográfica, desde 2012, foi tema de investigação e depublicações, das quais participei, seja como autor, coautor ou organizador(DALLABRIDA, 2012a/b; 2013; 2014a/b/c; DALLABRIDA, et al., 2013;2014a/b; DALLABRIDA e MARCHESAN, 2013; DALLABRIDA e FERRÃO,2014).

Quantoàsinvestigações,IndicaçãoGeográficafoitemadeestudo,atéomomento,emquatroprojetosdepesquisa:oprimeiro, iniciadoem2012efinalizado em 2014,Território, IdentidadeTerritorial eDesenvolvimento: aespecificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nasregiõesdoEstadodeSantaCatarina,pormimcoordenado,naUniversidadedo Contestado (UnC), com financiamento da FAPESC; o segundo, AtivosTerritoriaiscomoEstratégiadeDesenvolvimento:umestudosobreaeficáciada estrutura de governança territorial, como contributo à sustentabilidadesocial, econômica e ambiental dos territórios, o qual serviu de base aosestudos realizados no Instituto de Ciências Sociais, da Universidade deLisboa,referentesaoPlanodeTrabalhodaBolsadoCNPq,PósDoutoradonoExterior(PDE)1;oterceiro,EstratégiasdeespecificaçãodeAtivosTerritoriais

1 Está no prelo, na revista EURE (Chile), artigo com os resultados da investigação. Uma primeira abordagem sobre o tema ativos territoriais foi realizada em Dallabrida e Ferrão (2014).

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comoalternativadeDesenvolvimento,queservirácomoreferênciaàsminhasatividades de investigação, entre 2013 e 2016, relacionados à BolsaProdutividade em Pesquisa do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq); por fim, Signos Distintivos Territoriais eIndicação Geográfica: um estudo sobre os desafios e perspectivas comoalternativadeDesenvolvimentoTerritorial, iniciado emdezembrode2014,comfinanciamentodoCNPq,devendoseestenderaté2016.

Asiniciativasdeinvestigaçãoepublicaçõesmencionadasconvergemnodebate sobre Indicação Geográfica, tendo como substrato odesenvolvimento territorial e a governança territorial. Ou seja, partem doentendimento da Indicação Geográfica como meio, o desenvolvimentoterritorial como fim e a governança territorial como forma de gestãosocietária,tendoporbaseumentendimentopessoaldasreferidascategoriasconceituais.

Agovernançaterritorialcorrespondeaumprocessodeplanejamentoegestãode dinâmicas territoriais que prioriza uma ótica inovadora, partilhada ecolaborativa, por meio de relações horizontais. No entanto, esse processoinclui lutas de poder, discussões, negociações e, por fim, deliberações, entreagentesestatais,representantesdossetoressociaiseempresariais,decentrosuniversitários ou de investigação. Processos desta natureza fundamentam‐senum papel insubstituível do Estado, numa concepção qualificada dedemocracia e no protagonismo da sociedade civil, objetivando harmonizaruma visão para o futuro e um padrão qualificado de desenvolvimentoterritorial. O desenvolvimento territorial é entendido como um processo demudança continuada, situado histórica e territorialmente,mas integrado emdinâmicas intraterritoriais, supraterritoriais e globais, sustentado napotenciação dos recursos e ativos (materiais e imateriais, genéricos eespecíficos)existentesno local,comvistasàdinamizaçãosocioeconômicaeàmelhoriadaqualidadedevidadasuapopulação(DALLABRIDA,2014b,p.16).

O Projeto de Pesquisa do qual resulta esta coletânea contou com aatuaçãodetrezeprofessorespesquisadores:AdrianaCarvalhoPintoSilveira(UNESC), Adriana Marques Rossetto (UFSC), Cassiano Eduardo Pinto(EPAGRI), Eliane Salete Filippim (UNOESC), Jairo Marchesan (UnC), LuizOtávioPimentel(UFSC),MárciaFernandesRosaNeu(UNESUL),PatríciadeOliveiraAreas(UNIVILLE),RosanaMariaBadalotti(UNOCHAPECÓ),StavrosWrobel Abib (UNIVALI), Ulisses de Arruda Córdova (EPAGRI), ValdinhoPellin (FURB) e, como Coordenador, Valdir Roque Dallabrida (UnC). Alémdos pesquisadores, a investigação contou com a participação de quatromestrandos:trêsdaUnC(jáformados),LauroWilliamPetrentchuk,GiovaneJoséMaiorki e SabrinaDhieniffer Sander; e Cristiane deMorais Ramos daUFSC. Por fim, contou com a participação de três alunas de IniciaçãoCientífica:MayaraRohrbacherSakr (UnC);NatanyZeithammer(UnC);AnaLúciaBehrendListo(UNOESC).

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Olivroestádivididoemduaspartes.Naprimeira,sãotratadasquestõesatinentesaumdospropósitosdoprojetodepesquisa:oaprofundamentodacompreensão sobre as potencialidades e limites de estratégias deespecificaçãodeativos territoriais, taiscomoa IndicaçãoGeográfica, comoalternativadedesenvolvimentoterritorial.

O primeiro capítulo do livro faz referência à questão da governançaterritorial, tema do artigo Governança nos Territórios, ou GovernançaTerritorial:distânciaentreconcepçõesteóricaseaprática,oqualcontemplauma avaliação e análises sobre os sistemas de governança territorialutilizados nas experiências de Indicação Geográfica, tendo como foco oestudodeexperiênciasbrasileirasedePortugal.Concluiqueaindaháumagrandedistância entre as concepções teóricas e aspráticasde governançaterritorial.

O segundo e o terceiro capítulo, respectivamente, A IndicaçãoGeográfica de produtos: um estudo sobre sua contribuição econômica noDesenvolvimentoTerritorialeAIndicaçãoGeográficacomocontributoparaoDesenvolvimento Sustentável:análiseapartirde experiênciasbrasileirasnosetor vinícola, resultam de duas dissertações realizadas no âmbito doMestrado em Desenvolvimento Regional da UnC, as quais estudaram ospossíveis impactos no desenvolvimento territorial de experiências de IG,considerandoasdimensõeseconômica,social,culturaleambiental.Quantoàdimensãoeconômica,osresultadosobtidosforamsuficientesparareafirmara importância da IndicaçãoGeográfica comovetor dodesenvolvimentodeterritórioseregiões,salientando,noentanto,queissonãoocorredeformaautônoma,mas, sim,pelo envolvimento integradoda sociedade civil e dossetores da economia que fazem parte do objeto da IG. Já em relação àsdimensões social e cultural, conclui‐se que estão minimamentecontempladas.Noentanto,emrelaçãoàdimensãoambiental,apreocupaçãoresume‐se ao atendimento das exigências legais, sendo necessários maisavanços.

OPatrimônioCulturalcomoativoterritorialnodesenvolvimentoregionalé o título do quarto capítulo. Como o próprio título sugere, o objetivo foirefletir sobre o papel que a educação patrimonial pode ocupar nodesenvolvimentoterritorial,namedidaemqueauxilianoreconhecimentoevalorização do patrimônio cultural de uma comunidade. Essereconhecimentoevalorização,comoaautorapropõe,poderáelevaraauto‐estima e, portanto, auxiliar na busca de soluções para o desenvolvimentosolidário.Trata‐se,ainda,deumareflexãoteórica,masqueversasobreumadimensão importanteaosereferiraoprocessodereconhecimentodeumaIG.

O quinto capítulo ‐ Desenvolvimento, Sustentabilidade Ambiental eIndicaçõesGeográficasagropecuárias ‐ trazumareflexãosobreopapeldasIndicações Geográficas na promoção do desenvolvimento regional, dando

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ênfase ao aspecto ambiental. Inicia pela explicitação das premissas quesustentamarelaçãointrínsecaentredesenvolvimentoeterritórioecomoademarcaçãodeumaIGpodeestarassociadaàsustentabilidade.Combasenalegislação brasileira e o Guia para a Solicitação e Registro das IndicaçõesGeográficas de Produtos Agropecuários, elaborado pelo Ministério daAgricultura,PecuáriaeAbastecimento(MAPA),expõealternativasparaqueoaspectodasustentabilidadeambientalsejainseridodeformamaisefetivanaspremissasdasIG.

Reafirmandoadimensãodasustentabilidadeambientalantesreferida,osextocapítulo‐AlternativasdedesenvolvimentonomunicípiodeCanoinhas(SC):umestudoapartirdomanejodefragmentosdeflorestaombrófilamistae sua relação com a indicação geográfica ‐ aborda o tema, demonstrandocomoalternativasdedesenvolvimentoqueutilizemounãoaestratégiadaIG,podemcontribuir,nãosóparageraçãodeempregoerenda,mastambémcomoumaestratégiadepreservaçãoeregeneraçãodefragmentosflorestais.Aerva‐mateéumdosmuitosexemplosemquesuavalorizaçãopormeiodoreconhecimento de uma IG pode contribuir para a preservação erecuperaçãodasmatasnativas.

Já o último capítulo da primeira parte do livro ‐ Signos Distintivos epotenciais benefícios ao Desenvolvimento Territorial ‐ apresenta trata dagestão dos ativos intangíveis do território, focalizando os direitos depropriedadeindustrialdasmarcasdeprodutoseserviços,marcascoletivasedecertificaçãoeasIndicaçõesGeográficas,destacandoqueaformalizaçãodessesinstitutospotencializasuavalorizaçãoeosprotegejuridicamentenomercado,podendoalicerçaraeconomiadeumaregiãoecomporestratégiasdepromoçãododesenvolvimentoterritorial.

A segunda parte do livro atende a um dos propósitos do projeto depesquisa em referência: mapear as principais potencialidades deespecificação de ativos territoriais situadas nas diferentes mesorregiõescatarinenses,naformadesignosdistintivoscompotencialderegistro,sejana condição de Indicação Geográfica ou Marca Coletiva. Vai além domapeamento, contemplandoa caracterizaçãoe apontamentodepotenciaisemcincoregiõesdoEstadodeSantaCatarina.

Assim,ocapítulooito–ProdutoscomIdentidadeTerritorialnoEstadodeSanta Catarina: potenciais para a Indicação Geográfica ‐ identifica ecaracterizaosprodutoscatarinensesqueapresentampotencialidadesparaadquirirem o reconhecimento como IG, destacando sua localização,possíveisimpactoseconômicoseasformasdevalorizaçãoassumidaslocaleregionalmente. Comopontodepartida, foi utilizadoumestudopreliminarrealizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio àsMicro e Pequenas Empresas(SEBRAE) utilizando uma metodologia própria para tal2. Além da

2 Um dos propósitos do projeto de pesquisa que resultou neste livro era propor indicativos metodológicos que facilitassem a prospecção de ativos e recursos com especificidade

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experiênciadeIGjáreconhecida,oValedaUvaGoethe,sãoapontadosvintee sete produtos com potencialidade de registro, distribuídos nasmesorregiões catarinenses. Algumas experiências merecem uma atençãoespecial,talcomoocasodaerva‐mate.

Na sequência, os capítulos nove, dez, onze e doze registram ecaracterizam experiências de produtos com potencialidade para oreconhecimento de IG, em quatro regiões do Estado de SC: a SerraCatarinense (queijo serrano); o Meio Oeste (tranças da terra); o OesteCatarinense (suinocultura);oPlanaltoNorte (erva‐mate).Os capítulos são,respectivamente: (1) Contribuição do Queijo Artesanal Serrano para odesenvolvimentoregionalepreservaçãodoscamposdealtitudedosuldoBrasil;(2) Desafios para o associativismo de base territorial: o caso do ProjetoTranças da Terra; (3) Formação histórica, territorial e econômica daMesorregião Oeste Catarinense: limites e possibilidades de constituição deIndicaçõesGeográficas; (4) IndicaçãoGeográficadaerva‐matenoTerritóriodoContestado:reflexõeseprojeções.Trata‐sedequatroexperiênciassobreasquais já existem iniciativas em andamento, em especial, a primeira e aquarta.

Oúltimocapítulo‐AutilizaçãodasIndicaçõesGeográficascomopolíticaspúblicasdedesenvolvimentoterritorialrural:ocasodosValesdaUvaGoethe‐dizrespeitoàúnicaexperiênciadeIGregistradanoEstadodeSC.Umadasobservaçõesfeitaspelosautoresnocapítulo,refere‐seaoqueseesperadasexperiências de IG: as IG podem ser entendidas, do ponto de vistaeconômico,comoumaestratégiaparaagregarvaloraprodutosouserviçosque têm características próprias relacionadas ao território ao qual estãoinseridas, e, consequentemente, fortalecer o desenvolvimento territorial,principalmenteemespaçosrurais.Assim,emrelaçãoàúnicaexperiênciadeIGcatarinense,osautoresafirmamoquetodosalmejamosconstatarquandodo registro de uma IG: após o reconhecimento, se observou importantesvantagens,sobretudoeconômicas,comooaumentonasvendaseoacessoanovosmercados.Alémdisso,identificou‐seodesenvolvimentodeatividadescomplementares tais como o enoturismo e a preservação da identidadelocal.

É importante lembrar os principais resultados esperados, quando daelaboraçãodoprojetodepesquisa.Comoumaformadeprestaçãodecontas,transcrevemosnoquadroaseguirosresultadosesperadoseumaavaliaçãodasuaeficácia.

territorial. No entanto, apesar dos esforços, não foi possível concluir esta tarefa a tempo de finalizar um texto possível de ser contemplado neste livro. Ficou como tarefa adicional às atividades do projeto de pesquisa, assumida por três pesquisadores da equipe, a ser finalizada até o primeiro semestre de 2015, que fará parte de outra publicação.

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Quadro1‐Análisedosresultadosesperadoseavaliaçãodaeficácia

Resultadoesperado Avaliaçãodaeficácia

‐Tomarconhecimentoesistematizaroestadodaartesobreotematerritório,identidade territorial e desenvol‐vimento, especificação de ativosterritoriaiseIndicaçãoGeográfica.

‐Situarnocontextodotema,questõescomo a concepção de território,identidade territorial e desenvolvi‐mento.

A execução do projeto de pesquisa, para muitos dospesquisadoresenvolvidos, foiaprimeiraoportunidadedetomar contato com o tema Indicação Geográfica. Semdúvida,pelasleiturasexigidasaosautoresparaelaboraçãode seus textos, a experiência de muitos em analisarpráticas, a oportunidade de participar do debate sobre otema, seja em reuniões da equipe de trabalho, ou pelaparticipação em eventos, os temas território, identidadeterritorial, ativos territoriais e Indicação Geográficapassarama fazerpartedas leiturasedacompreensãodeum grupomultidisciplinar de pesquisadores, atingindo aquase totalidade das universidades catarinenses. Aqualidadeediversidadedeenfoquesqueostextoscontêm,demonstram isso, além do interesse do grupo emcontinuarestudandootemaemoutrasinvestigações.

‐Tomarconhecimentoesistematizaraatual situação, funcionamento,avançosedesafiosdasexperiênciasdeespecificaçãodeativos,nosentidodecontribuírem para a qualificação deprocessos de desenvolvimento (local,regional,territorial).

Além do exercício da leitura, da escrita e da análise deexperiênciasregionaiscatarinenses,mesmoqueemgrausdiferenciados, a equipe tomou conhecimentoda situação,comsuaspotencialidades,mastambémcomseusdesafios,em relação às experiências de IG brasileiras einternacionais.Essasexperiências, algumasvisitadaspelaequipe,serviramparaaprofundamentodosestudossobreotemanoEstadodeSC.

‐Elaboração de um quadro síntese,demonstrando a situação da(s)experiência(s) de especificação deativos territoriais catarinense, aspotencialidades que se apresentam esuacontribuiçãonodesenvolvimento.

‐Apreender as principais lições quepodemser retiradasdas experiênciasbrasileiras já solidificadas deIndicaçãoGeográficaparaa realidadecatarinense, as quais poderão servircomorecomendaçõesparaaspolíticaspúblicasestaduais.

Osartigosdasegundapartedolivroatendemaopropósitode elaboração de um quadro síntese sobre aspotencialidades de IG no Estado de SC. Além domapeamento, foram caracterizadas cinco experiências deprodutoscompotencialparaoreconhecimentodefuturasIG.

Por outro lado, análises oportunizadas pelas visitasrealizadas em experiências brasileiras, seja pelospesquisadores, ou mesmo pelos alunos, quando darealização de suas pesquisas de campo, foram da maiorimportância. Servirão como reflexões e análises, quepoderãoservirdereferênciaparapensarpolíticaspúblicasrelacionadasàsIGnoEstadodeSC.

É importante, ainda, salientar que, além dos estudosrealizados por ocasião da presente investigação, outrosprojetos de pesquisa paralelos, já finalizados ou emprocesso de execução, como os relacionados na parteinicial deste texto, serviram para aprofundar temas aquiprevistos e até avançar na discussão da temática. Nestesentido,umexemploéoprojetodepesquisarecentementeaprovadonoCNPq,oqualdarácontinuidadeaosestudosaquiiniciados.FazemosreferênciaaoProjetodePesquisaSignos Distintivos Territoriais e Indicação Geográfica: umestudosobreosdesafioseperspectivascomoalternativadeDesenvolvimentoTerritorial. Apropostade investigaçãoéousada,pois reúneumarededepesquisadoresdoBrasil,Argentina, Espanha e Portugal, propondo‐se avaliarexperiências destes países, por meio de estudosdocumentais e bibliográficos, realização de reuniões de

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trabalho com pesquisadores e especialistas, visitação deexperiências e entrevistas com atores dos territóriosenvolvidos. Como questões orientadoras, que ao mesmotempo servirão como referencial metodológico nosestudos, visitações e entrevistas, foram escolhidas asseguintes: (1) Qual compreensão e o que ocorre narealidade sobre a relação entre Indicação Geográfica eDesenvolvimentoTerritorial?Meio, fimprincipal, relaçãodialógico‐dialética? (2) Qual o papel das estruturas degovernança territorial, ou seja, das formas deplanejamento e gestão das dinâmicas territoriais, taiscomo,asqueocorrememexperiênciasdeassociativismoterritorial no campo da Indicação Geográfica? (3) Osprocessos de gestão de Indicações Geográficas em queaspectosseassemelhamàconcepçãodegestãoestratégica(ou empresarial), ou de gestão social, ou societária? Queimplicaçõespráticasdecorremdisso?(4)Atéquepontoadinâmica territorial constituída pelo processo deestruturação e gestão da Indicação Geográfica tem seconstituído num programa integrado de desenvolvimentoterritorial, ultrapassando a dimensão de territórios‐zonaaos territórios‐rede, rumo a uma nova inteligênciaterritorial? (5) Os recursos e ativos territoriais quecompõemoque chamamosdeCapitalTerritorial atéqueponto são considerados na definição de uma experiênciadeIndicaçãoGeográfica?Qualseupotencialparaservirdereferência para avaliar as condições necessárias paraproporumaexperiênciadeIndicaçãoGeográfica?(6)Qualopapeldopatrimônioculturaledasrelações identitáriaspara impulsionar a organização dos ativos ou recursosterritoriais, que possam resultar em IndicaçõesGeográficas?(7)Quaisosprincipaisdesafiosemrelaçãoàsquestões de ordem legal nas experiências de IndicaçãoGeográfica? (8) Qual o papel desempenhado pelasatividades turísticas nas experiências de indicaçãoGeográfica? Fator impulsionador, resultante,complementar, ou ambos? (9) Como é internalizada naprática das experiências de Indicação Geográfica aconcepção de sustentabilidade ambiental? Quais osaspectos reais e potenciais e suas implicações? (10) Atéque ponto os benefícios oriundos de experiências deIndicação Geográfica são socializados territorialmente?(distribuição dos resultados entre os atores territoriais)(11)Sistematizando,resumidamente,dequenaturezasãoosprincipaisdesafiosepotencialidadesdeexperiênciasdeIndicação Geográfica? O estudo, no final, resultará empublicação de artigos científicos e de livros, com osresultados da investigação. Com os estudos, pretende‐secontribuirnaqualificaçãodaspolíticaspúblicasbrasileirasvoltadas ao apoio de novas e atuais iniciativas deIndicação Geográfica, qualificando o debate acadêmico,socialeinstitucional.Éimportantesalientarquearededepesquisadores tem um caráter multidisciplinar. A únicarestriçãoemrelaçãoaoprojetoreferidoéquenecessitadeummaioraportederecursosfinanceirosparaaexecuçãona sua totalidade, problema que se espera que sejaequacionado pela sensibilização dos órgãos estataisfinanciadores sobre a importância de estudos com essaenvergadura.

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Propor indicativos de políticaspúblicas para o Estado de SantaCatarina, com vista à utilização dosrecursos e ativos com especificidadeterritorial como apoiadoras dasestratégiasdedesenvolvimento(local,regional,territorial).

Estepropósito,emboaparte,foiatingido,principalmente,nas análises e indicativos propostos nos textos destacoletânea.Acaracterizaçãoeanálisedeexperiências,sejaajáconsolidada,ocasodoValedaUvaGoethe,oumesmoas que estão em processo de discussão, contemplamindicativosinteressantes.

Poroutrolado,partedospesquisadoresestáenvolvidaematividades acadêmicas (orientação de alunos, ourealizando projetos de pesquisa ou extensão) ou departicipaçãocomunitária,assessorandoexperiências(casoda Uva Goethe, Queijo Serrano, Tranças da Terra, Ervamate, Suinocultura do Oeste Catarinense), outrosparticipando de fóruns formais ou oficiais. É o caso depesquisadoresdaequipedepesquisadopresenteprojeto,que participam da Câmara Setorial de Certificação deQualidade dos ProdutosAgropecuários de Santa Catarina,daSecretariaEstadualdaAgriculturaePescadoEstadodeSC, fórum oficial no qual serão discutidas e propostaspolíticas públicas para certificação territorial, como oexemplo da IG. Como ação concreta, no caso da CâmaraSetorial,jáforamapresentados,aconvitedacoordenação,os resultados preliminares do presente projeto depesquisa, ainda em 2014, além da disponibilização dopresente livro aos atores e instituições que compõem amesma.

Fonte:Elaboraçãoprópria

Reconhecemosquenãoé comumesta formadeprestaçãodecontasà

sociedade, em relação aos resultados de investigações custeadas comrecursospúblicos.Comoequipe,entendemosserindispensável.

Por fim, este texto apresenta dois propósitos: primeiro, retomaralgumas categorias conceituais que se constituíram no referencial teóricobásico da presente investigação; segundo, reafirmar que a IndicaçãoGeográficanãodeveservistacomofime,sim,comoummeionoprocessodedesenvolvimentoterritorial.

Umacategoria conceitualqueprecisa ser lembrada éativose recursosterritoriais. Ativos são fatores em atividades, enquanto os recursos sãofatoresarevelar,adesenvolver,ouaindaaorganizar,comopotenciaisreais.Tomemos como exemplo a existência de um tipo especial de solo, numdeterminado território. Enquanto não aproveitado na sua totalidade,permanece como recurso; na medida em que sua utilização é plena,aproveitando suas potencialidades na produção de cereais, ou outrospossíveisusos,passaaserumativo.

Os recursos e ativos podem sermateriais ou imateriais.Materiais sãoativos ou recursos que uma determinada região ou território possuem,possíveis de utilização e aproveitamento, tais como: matérias‐primasvegetais e animais; rochas, solo e minérios; instalações, equipamentos emáquinas utilizados no processo de produção; bens de consumo e uso;

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tecnologia empregada na produção, etc. Imateriais, são ativos ou recursosque uma determinada região ou território possuem, não necessariamentepossíveisdeseremmanipulados,noentanto,queinterferemnodinamismosocioeconômico e cultural, tais como: saber‐fazer local, ou conhecimentoacumulado historicamente; propensão à cooperação, confiança,associativismo, ou outras que contribuem para estimular o dinamismosociocultural e a agregação de valor material e imaterial local; nível deescolaridade;culturalocal.

Ativos ou recursos, sejam eles materiais ou imateriais, podem sergenéricos ou específicos. Ativos e recursos genéricos são totalmentetransferíveis e seuvalor éumvalorde troca, estipuladonomercadoviaosistema de preços. Em geral, também são classificados como commodities.Exemplos de ativos genéricos: matérias‐primas exploradas, equipamentosemuso,conhecimentoscodificados;tecnologiageralutilizadanaprodução,forçadetrabalhonãoqualificada,conhecimento,fatoresestesemutilizaçãonoprocessodeprodução.Jáosativoserecursosespecíficos,possibilitamumusoparticulareseuvalorconstitui‐seemfunçãodascondiçõesdeseuusoeapresentam um custo de transferência que pode ser alto e irrecuperável.Exemplosdeativosespecíficos:matérias‐primas locaisraras,emutilizaçãoou passíveis de exploração e uso; força de trabalho qualificada;conhecimentos e tecnologias raras ou inovadoras possíveis de seremutilizadas na produção; conhecimentos acumulados que tenhamespecificidadelocal;ambienteinstitucionalfavorável3.

Tomando como exemplo a produção de queijo num determinadoterritório, ele será genérico quando o mesmo não tenha qualquerdiferenciaçãodoqueéproduzidoemoutroslugares.Noentanto,namedidaemqueomesmotenhaumdiferencial,resultantedosaberfazer,daculturaoudatradiçãolocal,elepassaaserespecífico.

O conjunto dos ativos e recursos genéricos e específicos, materiais eimateriais,constituemoquepodemoschamardecapitalterritorial,definidoemdocumentodaLEADER(2009)comooconjuntodoselementosdequedispõe o território ao nível material e imaterial e que podem construirvantagens ou desvantagens, dependendo de sua qualificação. O capitalterritorial remete para aquilo que constitui a riqueza do território(atividades,paisagens,patrimônio,saber‐fazer,etc.),naperspectiva,nãodeum inventário contabilístico, mas da procura das especificidades quepossamservalorizadas.

O debate sobre o tema Indicação Geográfica exige que se tenha umentendimento aprofundado sobre a diferença entre ativos e recursosmateriais e imateriais, pois os processos de certificação de produtos dos

3 A abordagem sobre recursos e ativos é feita com base em Benko e Pecqueur (2001).

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territóriosestarãosemprefocadosnosquetêmumcaráterdeespecificidadeterritorial,ouseja,osespecíficos.Damesmaforma,paraoreconhecimentodeexperiênciasdeIGéindispensávelconsideraroconjuntodosfatoresqueconstituem o capital territorial, abrangendo as dimensões do capitalprodutivo, natural, humano, intelectual, cultural, social e institucional, naperspectivadeumprojetointegradodedesenvolvimentoterritorial.

Sobre as categorias Desenvolvimento e Governança Territorial jáfizemos referência no início deste texto. Resta uma pergunta paraampliarmos a reflexão: porque o uso da categoria conceitualDesenvolvimento Territorial, ao se fazer referência ao tema IndicaçãoGeográfica?

Tanto autores como leitores, por vezes, utilizam as categoriasconceituaisDesenvolvimentoRegionaleTerritorial,comosinônimas.Ambastêm um sentido comum: estarem se referindo a processos de mudançacontinuada, situados histórica e territorialmente, que resultem nadinamização socioeconômica e na melhoria da qualidade de vida de suapopulação. No entanto, concordamos com Rallet (2007, p. 80), quandoafirmaquesetratadeduasnoçõesdistintas:

Desenvolvimento regional e desenvolvimento territorial são duas noçõesdistintas. Elas remetem aduasmaneiras diferentes de apreender os espaçosgeográficos na sua relação com o desenvolvimento [...]. O desenvolvimentoterritorial faz referência a um espaço geográfico que não é dado, masconstruído.Construídopelahistória,porumaculturaeporredessociaisquedesenham suas fronteiras. O conteúdo define o recipiente: as fronteiras doterritóriosãooslimites(móveis)deredessocioeconômicas.Aliondearedeseextingue, termina o território. A iniciativa surgemenos de uma instância deplanificaçãodoquedeumamobilizaçãodasforçasinternas.

ParaJean(2010),oconceitodedesenvolvimentoterritorialrompecomtradições mais antigas sobre desenvolvimento regional, articulando duasnoções:territórioedesenvolvimento.Tomandocomoexemplooestudodasregiões rurais,Abramovay (2010) afirmaque anoçãode território [e, porextensão, desenvolvimento territorial] favorece o avanço em váriosaspectos. Primeiro, convida que se abandone um horizonte estritamentesetorial,queconsideraaagriculturacomoumúnicosetoreosagricultorescomo os únicos atores. Segundo, a noção de território impede a confusãoentrecrescimentoeconômicoeoprocessodedesenvolvimento,noçõesquesãodistintas.Terceiro,oestudoempíricodosatoresedesuasorganizaçõestorna‐se absolutamente crucial para compreender situações localizadas,tendoacompreensãoqueessesatoresprovêmdeváriossetoreseconômicose possuem origens políticas e culturais diversificadas. Quarto, o territóriocoloca ênfase namaneira como uma sociedade utiliza os recursos de quedispõeemsuaorganizaçãoprodutivae,portanto,narelaçãoentresistemassociaiseecológicos.

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Reforçandoessa linhadeargumentação,Bonal,CazellaeMaluf (2008)reafirmam a multifuncionalidade da agricultura contemporânea e suarelaçãodiretacomodesenvolvimentoterritorial.

AargumentaçãodeAmbramovay(2010)éreforçada,ainda,poroutrosautores,taiscomo,FroehlicheDullius(2011,p.226):

A dimensão territorial do desenvolvimento enfatiza o estudo das redes,convenções e instituições que permitem ações cooperativas capazes deenriquecerotecidosocialdeumadeterminadaregião.Essaabordagemsupõeadinamizaçãodeáreascontradizendoasteoriasquerelegamaomundoruralumpapelsecundárionodesenvolvimentocontemporâneo.Aruralidadedeixadeserumaetapadodesenvolvimentosocialasersuperadacomoavançodoprogresso e urbanização, passando a ser um valor para as sociedadescontemporâneas.

Já Pecqueur (2009) é enfático ao situar os elementos constitutivos dadinâmica territorial nos processos de desenvolvimento contemporâneo.Para o autor, uma economia não situada é impensável. A ancoragemterritorial se tornou uma constante da organização econômica domundo."Uma economia outra que não a geográfica [ou territorial] tem todas aschances de parecer irreal da perspectiva atual gerada pelos processos deglobalização" (PECQUER, 2009, p. 105).Apesardaperspectiva otimistaouindicativa apresentada pelo autor, da importância e indispensabilidade daancoragemterritorialdasfirmas,emmuitosterritóriosdoschamadospaísessubdesenvolvidos predominam empresas multinacionais que, pelocontrário,podemserconsideradascomo"enclaves territoriais" (SANTOSeSILVEIRA,2001),ouseja,direcionamsuaaçãonumaúnicalógica,qualsejade usurpar riquezas dos territórios, sem enraizar‐se ou lhes proporcionarvantagenssignificativas.

Masapráticadodesenvolvimentoterritorialtemdesafios.Assimsendo:

O desenvolvimento territorial pressupõe também que cada território devaconstruir,pormeiodeumadinâmicainterna,seuprópriomodeloespecíficodedesenvolvimento.Poisomodeloqueobteveêxitonumdadoterritórioe,numdadomomento,podemuitobemfracassaremoutroterritório...Promovercomêxitoodesenvolvimento territorialpressupõeumprocessodeaprendizagemsocial[...](JEAN,2010,p.74‐75).

A acepção atribuída à categoria ancoragem territorial se aproxima aoque outros autores se referem como territorialidade.Albagli (2004, p. 63)ressaltaanecessidadederevalorizaçãodoterritórioedaterritorialidade,apartir de suas diferenças e especificidades socioculturais, políticas eeconômicas,afirmandoqueconsiderapossível“fortalecerterritorialidades”,estimulandolaçosdeidentidadeecooperaçãobaseadosnointeressecomumdeproteger,valorizarecapitalizaraquiloqueumdadoterritóriotemdeseu

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– suas especificidades culturais, tipicidades, natureza enquanto recurso eenquanto patrimônio ambiental, práticas produtivas e potencialidadeseconômicas. No entanto, conclui: “Mas dificilmente será possível construirterritorialidadesapartirdoexternosemumabaseprévia,semumadotaçãoinicial de ‘capital socioterritorial’, acumulado e herdado a partir deprocessoshistóricosdemaislongoprazo”.

Sintetizando a abordagem dos autores mencionados ‐ Rallet (2007);Jean(2010);Bonal,CazellaeMaluf(2008);Ambramovay(2010);FroehlicheDullius(2011);Pecqueur(2009);SantoseSilveira(2001);Albagli(2004)‐,consideramosnecessáriososseguintesdestaques:(1)émaisadequadoseutilizar a acepção de desenvolvimento territorial, por esta ressaltar adimensão da intersetorialidade, damultifuncionalidade e da ação coletivaterritorializadanabuscadesoluçõesparaoterritórioeprojeçõesdofuturodesejado; (2) só teremos produtos que tenham condições de seremreconhecidos com o atributo da Indicação Geográfica, num entornoterritorial em que elementos, tais como a territorialidade e a identidadeterritorial, com suas referidas acepções, estejam presentes de formasignificativa; (3)a IndicaçãoGeográficadiz respeitoaoreconhecimentodeprodutoscomancoragemterritorial,produtosenraizadosnoterritório,queresultemdosaberfazercoletivoerepresentemoselementosidentitários,acultura, as tradições e as técnicas das pessoas que habitam determinadoterritório.

Nonossoentendimento,essesindicativosteórico‐práticos,precisamserreferências indispensáveis, no debate sobre Indicação Geográfica e suarelaçãocomGovernançaeDesenvolvimentoTerritorial.DesconsideraressesindicativospodeimplicarnoinsucessodeexperiênciasdeIGereduzirseuspossíveisimpactosnodesenvolvimentodosterritóriosatingidos.

No entanto, é fundamental reconhecer que não se constroemterritorialidades, identidades, a partir do externo. Reconhecem‐se asmesmas,desdequehajaumacumuloprévio,herdadoapartirdeprocessoshistóricosdemaislongoprazo.Talvez,afaltadesseacúmulohistórico,sejaaprincipal causa que explique o fato de que experiências de IndicaçãoGeográfica já reconhecidas no Brasil não tenham prosperado,permanecendototalouparcialmenteinativas.Essaéumaquestãodamaiorimportância,oqueexigeinvestigaçõesparaavaliaravalidadedestahipótesee propor avanços que possam superar os desafios que motivam seuinsucesso.

Portanto, para finalizar este texto introdutório, queremos assumirumposicionamento pessoal, entendendo que, integralmente ou emparte, sejadoconjuntodospesquisadoresqueparticiparamdapresente investigação,sobreumaquestão frequentementediscutida: a IndicaçãoGeográficadeveservistacomofimoumeionoprocessodedesenvolvimentoterritorial?

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Oquestionamentoéoportuno,pois,mesmoqueatualmenteumnúmeromaiordepesquisadoresentendaaIndicaçãoGeográficacomoferramentaouestratégianoprocessodedesenvolvimentoterritorial,épossívelinterpretarações práticas voltadas ao seu apoio, ainda, como demasiadamentefinalísticas.Ressaltamos:aIndicaçãoGeográficanãodeveservistacomofime, sim, como um meio no processo de desenvolvimento territorial. Essainterpretaçãonão restringea importânciado reconhecimentodeprodutoscomIndicaçãoGeográfica.Taxativamente,reafirmamosqueosprocessosdecertificação territorial de produtos, como a Indicação Geográfica, têmmaioreschancedeêxitoseestivereminseridosnumapropostaintegradadedesenvolvimentoterritorial.

Nãoimportaotamanhodorecorteterritorialaqueestejasereferindo,podendoserumapequenalocalidade,umaregiãodefinidacomooexemplodoPlanaltoNorteCatarinense,oumesmorecortesmacrorregionais,comooexemplo do Território do Contestado, que abrange parte dos estados deSantaCatarinaedoParaná.

Para finalizar, um agradecimento especial à FAPESC, peladisponibilização de recursos financeiros que viabilizaram o custeio dasatividades de investigação, bem como a impressão do presente livro. Damesma forma, como coordenador do projeto de pesquisa, agradeço oempenho de todos os colegas pesquisadores das diversas universidadescatarinenses,osquaisesperocontarcomoparceirosemoutrosprojetosouatividades.Também,nãosepoderiadeixardeexpressarumagradecimentoespecial à direção e às coordenações de cursos das universidadesparticipantes,peloapoioedisponibilizaçãodenossostemposacadêmicos,oquepermitiunosenvolvernasatividadesdepesquisa.Obrigadoatodos.

OOrganizador

REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO1

GOVERNANÇANOSTERRITÓRIOS,OUGOVERNANÇATERRITORIAL:DISTÂNCIAENTRE

CONCEPÇÕESTEÓRICASEAPRÁTICA1

ValdirRoqueDallabrida‐UnCJairoMarchesan‐UnC

AdrianaMarquesRossetto‐UFSCElianeSaleteFilippim‐UNOESC

INTRODUÇÃO

Umadasinovaçõesrecentesnosterritórioséautilizaçãodediferentesestruturas de governança territorial. Utiliza‐se o conceito GovernançaTerritorial, apresentado emDallabrida (2011), para referir‐se ao conjuntode iniciativas ou ações que expressam a capacidade de uma sociedadeorganizada territorialmente para gerir os assuntos públicos a partir doenvolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos einstitucionais,incluindooEstadonassuasdiferentesinstâncias.

Os recortes territoriais podem ser regiões administrativas, regiõesmetropolitanas,áreasdeabrangênciadecomitêsdebaciashidrográficas,ummunicípio ou parte dele, um bairro, ou mesmo a área de abrangência deexperiências de Indicação Geográfica (Brasil2). No entanto, o recorte quevenhamosaidentificarcomoumterritóriopodeestardemarcadoporlaçosde identidade territorial, condição necessária a uma maior participaçãodemocráticadoscidadãosnodestinodeseuentornoespacial.

Neste artigo pretendemos retomar reflexões teórico‐práticas sobregovernança,dandodestaqueàdimensãoterritorial.

Apósaintrodução,apresentamososprocedimentosmetodológicosqueorientaramotrabalho,para,nasequência,sintetizarodebateteóricosobreterritório, identidade territorial e governança, destacando as principaisabordagens e os desafios da sua prática apontados por autores

1 Artigo com publicação na Revista Grifos da Unochapecó. Numa primeira versão, o texto foi apresentado no 19º Congresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional (APDR), na Universidade do Minho (Braga-Portugal), entre 20 e 22 de junho de 2013. 2 Indicação Geográfica aproxima-se em significado ao que se denomina Designação de Origem Protegida em Portugal, ou experiências referidas por categorias conceituais correspondentes, em outros países.

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contemporâneos.Aanálisedepráticasdegovernançaafazemostendocomobase o processo de descentralização político‐administrativa do estado deSanta Catarina (Brasil) e cinco experiências de Indicação Geográfica (IG)brasileiras.Porfim,fazemosalgumasconsideraçõesfinais.

1.PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS

Esteartigoresultadeestudosrealizadosemdoismomentos:primeiro,

emProjetodePesquisarealizadoentre2010e20123;osegundo,deestudosdeexperiênciasbrasileirasde IG,em20134.Noprimeiro, foramrealizadasentrevistas com atores de todas as macrorregiões do estado de SantaCatarina,sobreapráticadegovernançaqueocorremnasSDR.Alémdisso,foicitada,demaneiraaexemplificar,umapráticadegovernançaqueocorrenos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (CDR) do Estado de SantaCatarina, pormeio da consulta a artigos publicados em periódicos que sereferiam ao tema e com base em estudos anteriores dos autores. Nosegundo, foramsistematizadasanálisesresultantesdeobservaçõesquandodavisitaçãodeexperiênciasbrasileirasdeIG’S,realizadasdejaneiroamaiode 2013, em entrevistas a atores qualificados, por meio de questõessemiestruturadas.

Comocategoriasecritériosdeanáliseforamutilizadososseguintes:(1)processodediscussão(canaisdeinclusão,qualidadedainformação,órgãosde acompanhamento); (2) inclusão (abertura dos espaços de decisão,aceitação social e valorização cidadã); (3) pluralismo (participação dediferentes atores); (4) igualdade participativa (formas de escolha dosrepresentantes, valorização das intervenções dos atores envolvidos); (5)autonomia (origem das proposições, perfil da liderança, possibilidade deexercíciodavontadepolíticaindividualecoletiva);(6)bemcomum(alcancedosobjetivoseaprovaçãodosresultadospelosatoresenvolvidos)5.

3 Refere-se ao Projeto de Pesquisa GESTÃO TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO: Descentralização, Estruturas Subnacionais de Gestão do Desenvolvimento, Capacidades Estatais e Escalas Espaciais da Ação Pública, o qual contou com apoio financeiro da FAPESC e da Universidade do Contestado (UnC). 4 Trata-se de atividades inseridas no Projeto de Pesquisa TERRITÓRIO, IDENTIDADE TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO: a especificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina, em realização entre 2013 e 2014, com o apoio financeiro da FAPESC, contando na sua equipe com pesquisadores de universidade de todo o Estado de Santa Catarina. 5 Utilizou-se como referência Villela (2012), com adaptações. A aplicação destas categorias e critérios de análise, no processo de investigação realizado em 2013 demonstrou a necessidade de aperfeiçoamento metodológico.

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2.ODEBATETEÓRICOSOBREGOVERNANÇATERRITORIALEDESENVOLVIMENTO

Odebatesobregovernançaterritorialpressupõemnoçõesintrodutórias

sobreaconcepçãodeterritório,quesegundoHaesbaert(2007),naCiênciaGeográficaconsideratrêsvertentesbásicas,sendoelasapolítica,aculturalea econômica. Segundo o autor, a vertente política destaca as relaçõesespaço‐podere concebeo território comoespaçodelimitadoe controlado,muitas vezes relacionado ao poder político do Estado, e que atualmente,porém,incorporamúltiplospoderes.Avertenteculturalentendeoterritóriocomoprodutoda apropriação eda valorização simbólicadeumgrupoemrelaçãoaoespaçovivido,aocotidiano.Jáavertenteeconômicaoconsideracomofontederecursosoucomoprodutodadivisãoterritorialdotrabalho.Ainda,paraHaesbaert(1997),oterritórioprecisasercompreendidonumaperspectiva integradora, ou seja, como um domínio politicamenteestruturado e também como apropriação simbólica, identitária, inerente acertaclassesocial,comoquea identidadeterritorialédefinidahistóricaeterritorialmente.

Dallabrida(2011)sintetizaessasvertenteseconcebeoterritóriocomoumafraçãodoespaçohistoricamenteconstruídaatravésdas inter‐relaçõesdos atores sociais, econômicos e institucionais que atuam no âmbitoespacial, apropriada a partir de relações de poder sustentadas emmotivaçõespolíticas,sociais,ambientais,econômicas,culturaisoureligiosas,emanadas do Estado, de grupos sociais ou corporativos, instituições ouindivíduos.Portanto,talconcepçãoéconsideradanesteestudo.

Oestudodasespecificidadesdoterritório,segundoPecqueur(2009,p.96‐97), exigiria tomarcomounidadedeanáliseo território,nãoo sistemaprodutivonacional,oqueseconstituiumanovidadeessencialnapercepçãodossistemasdeorganizaçãodaeconomia.Oterritório,concebidocomo

[...]umespaçopostuladoepré‐delimitado,noqualsedesenvolvemdinâmicasespecíficas sob a égide das autoridades locais. O território é, também, ousobretudo, o resultado de um processo de construção e de delimitaçãoefetivadopelosatores.

Tais atores locais têm interesses diferenciados, o que torna maisdesafiante qualquer intervenção. Em outra obra, Pecqueur (2005) afirmaqueodesenvolvimentoterritorialconstituiummodelodedesenvolvimentodotadodecaracterísticasbemprecisasquelhesãoprópriasequeseapoiam,essencialmente, na dinâmica de “especificação” dos recursos por umconjuntodeatoresconstituídonum“território”.

Assumimos aqui a concepção de desenvolvimento territorial expressaemDallabrida(2011,p.19):

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Odesenvolvimento (local, regional, territorial) pode ser entendido comoumprocessodemudançaestruturalempreendidoporumasociedadeorganizadaterritorialmente, sustentado na potencialização dos recursos e ativos(materiaiseimateriais,genéricoseespecíficos)existentesnolocal,comvistasàdinamizaçãoeconômicaeamelhoriadaqualidadedevidadesuapopulação.

Comisso,estamosreafirmandoqueadenominaçãodeterritório,trata‐sedeumrecorteespacialondeconvivempessoascomidentidadeprópria,equepodeserumespaçodeconflitoedisputadepoder.Assim,necessitadeestruturas de governança para a gestão das demandas coletivas e para odesenvolvimentoterritorial.

2.1ODEBATECONTEMPORÂNEOSOBREGOVERNANÇA6

Recorrendo à literatura internacional, é possível encontrar diferentesconcepções sobre governança, pois, como colocado por Romero e Farinós(2011), governança é ainda um conceito polissêmico e ambíguo. Numextremo, estão as que sobrevalorizam o caráter empresarial, como asabordagens que versam sobre governança corporativa; no outro,concepções que se referem a formas de governança democrática,compartilhada entre os diferentes atores sociais, institucionais,governamentaiseempresariais.

Entreasconcepçõesdegovernançaencontramosabordagenssobre:(1)Governança Corporativa (COASE, 1967; ANDRADE E ROSSETI, 2004;LORRAIN, 1998); (2) governança, como Nova Gestão Pública (BRESSERPEREIRA e CUNILL, 1999; HOOD, 1991); (3) “Boa Governança” (WORLDBANK, 1992); (4) governança, como Sistemas Sócio‐Cibernéticos(KOOIMAN, 1993; 2003; 2004); (5) governança, como Redes Auto‐Organizadas, com suas variações teóricas ‐Governance/Gouvernance/Governança, Governança Moderna, GovernançaRelacional (RHODES, 1996 E 1997; STOKER, 1998;MAYNTZ, 1998; 2001;ROSENAU e CZEMPIEL, 1992; SORENSEN e TORFING, 2005; KAZANCIGIL,2002; CZEMPIEL, 2000; HÉRITIER e LEHMKUHL, 2011; WEALE, 2011;MILANI e SOLINÍS, 2002; BLANCO e COMÀ, 2003; GRAÑA, 2005;CHEVALLIER, 2003; KLINK, 2010); (6) Governança Urbana/Metropolitana(LEGALÈS,1995;LEFÈVRE,2009);(7)GovernançaAmbiental(JACOBIetal.,2012); (8) Governança Local/Regional/Territorial (FERRÃO, 2010, 2013;JESSOP, 2002, 2006; FARINÓS, 2008; ROMERO e FARINÓS, 2011; FEIO ECHORINCAS,2009);(9)GovernançaMultinível(RÓTULOeDAMIANI,2010).

6 O debate teórico sobre governança, bem como sobre os desafios apontados adiante, retoma abordagem feita em Dallabrida (2013; 2014). Já em Dallabrida (2014), além de aprofundar o debate teórico, são feitos indicativos metodológicos para a avaliação de práticas de governança territorial.

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As abordagens sobre governança não se esgotam com as referênciasdestacadas. No entanto, elas são representativas do conjunto de obras eautoresqueabordamotemaatualmente7.

Sobreaoquesejaagovernança,nosentidogeral,épossívelsintetizar:(1) instrumento para conceber os problemas e as oportunidades emcontextosnafronteiraentreosocialeopolítico(KOOIMAN,2004);(2)jogode interações, enraizadas na confiança e reguladas por regras do jogonegociadas e acordadas pelos participantes da rede (RHODES, 1996); (3)conjunto complexo de instituições e atores, públicos e não‐públicos, queagemnumprocessointerativo(STOKER,1998);(4)umaformadegovernarmais cooperativa, diferente do antigo modelo hierárquico, no qual asautoridades estatais exerciam um poder soberano sobre os grupos ecidadãosqueconstituíamasociedadecivil(MAYNTZ,1998);(5)redesauto‐organizadasenvolvendoconjuntoscomplexosdeorganizaçõesprovenientesdossetorespúblicoeprivado(ROSENAUeCZEMPIEL,1992);(6)articulaçãorelativamente estável e horizontal de atores interdependentes, masfuncionalmenteautônoma (SORENSENeTORFING,2005); (7)processodetomada de decisão relativamente horizontal, comomodode fazer política,envolvendoautoridadesestataise locais,osetordenegócios,ossindicatosde trabalhadores e os agentes da sociedade civil ‐ ONGs e movimentospopulares(KAZANCIGIL,2002);(8)novosmodosdeformulaçãodepolíticaspúblicas que incluem atores privados e públicos, mas fora do domíniolegislativo e que têm como foco áreas setoriais ou funcionais específicas(HÉRITIER e LEHMKUHL, 2011); (9) espaços de prestação de contas ‐accountability (WEALE, 2011); (10) novo modelo de regulação coletiva,baseadona interaçãoemrededeatorespúblicos,associativos,mercantisecomunitários(BLANCOeCOMÀ,2003);(11)processodetomadadedecisãocoletiva, baseado em uma ampla inclusão de atores atingidos, práticafundada não mais na dominação nem na violência legítima, senão nanegociação e cooperação com base em certos princípios submetidos aoconsenso(GRAÑA,2005).

Sobre o que seja governança (local, regional, territorial)8, é possíveluma síntese: (1) processo de planejamento e gestão de dinâmicasterritoriais, numa ótica inovadora, partilhada e colaborativa (FERRÃO,2010); (2)novas formasde associaçãodoEstado comentidades sindicais,associações empresariais, centros universitários e de investigação,municípioserepresentaçõesdasociedadecivil(JESSOP,2006);(3)relações

7 Alguns autores propõem a introdução do conceito governamentabilidade, como uma concepção que poderia superar insuficiências explicativas da concepção sobre governança territorial – ex. Vigil (2013). 8 Mesmo sendo minoria, alguns autores preferem o uso do termo ‘governação’ ao invés de governança, com o mesmo sentido. Ex. Feio e Chorincas (2009).

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voluntárias e não‐hierárquicas de associação entre atores públicos,semipúblicos e privados (FERRÃO, 2013); (4) novo modo de gestão edecisão dos assuntos públicos num território (FARINÓS, 2008); (5)modalidade reforçada de bom governo, fundamentada num papelinsubstituível doEstado, uma concepçãomais sofisticadadedemocracia emaior protagonismo da sociedade civil (ROMERO e FARINÓS, 2011); (6)capacidade de integrar e adaptar organizações, diferentes grupos einteressesterritoriais(FEIOeCHORINCAS,2009).

O termogovernança recebeváriasadjetivações.Algumasdelasapenasindicam o contexto a que se refere o processo de governança: exemplo,governança metropolitana. Outras adjetivações indicam uma formaespecífica de governança. Por exemplo, governança corporativa. Outrasfazemreferênciaàescalaterritorial.Porexemplo,governançalocal/regionalougovernançamundial.Outras, ainda, referem‐se aum foco temático.Porexemplo,governançaambiental.

Sobre os propósitos da governança no seu sentido geral, é possívelassim sintetizar: (1) a busca de propósitos comuns ao conjunto de atoresque interagem num determinadomeio (KOOIMAN, 1993), (2) e pelo qualdefinem‐se formas de regulação deste meio (RHODES, 1996); (3)desempenhar um papel mais amplo do que o de governo (ROSENAU eCZEMPIEL,1992); (4)a interaçãosocial como fimdeproduzirpropósitospúblicos(SORENSENeTORFING,2005);(5)fazercoisassemacompetêncialegal para ordenar que elas sejam feitas (CZEMPIEL, 2000); (6)envolvimento da multiplicidade de autores em processos de regulação(MILANI e SOLINÍS, 2002); (7) gestão cooperativa para a superação deconflitosdeinteresses(Chevallier,2003).

Sobre os propósitos da governança (local, regional, territorial), épossível assim sintetizar: (1) orientar e promover o desenvolvimento dosrecursos locais (JESSOP, 2006); (2) estabelecer voluntariamente relaçõeshorizontais de cooperação e parceria (FERRÃO, 2013); (3) acordar umavisão compartilhada para o futuro do território entre todos os níveis eatoresenvolvidos(FARINÓS,2008);assegurararepresentaçãodediferentesgrupose interessesterritoriais faceaatoresexternoseodesenvolvimentode estratégias (unificadas e unificadoras) em relação ao mercado e aoEstado(FEIOeCHORINCAS,2009).

Associamo‐nos a autores, por exemplo, Dallabrida (2013), quereivindicamuma adjetivação substantiva para o termo governança, o qualinclui a dimensão de recorte territorial, como umprocesso protagonizadopor uma sociedade situada histórica e geograficamente, por meio derelações estabelecidas entre os diferentes atores territoriais (sociais,políticos e corporativos), na perspectiva de debater, pactuar decisões edeliberartemasdeinteressecoletivo.

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2.2.1DESAFIOSAPONTADOSNALITERATURASOBREAPRÁTICADAGOVERNANÇA

Recorrendo à literatura aqui mencionada, é possível listar algunsdesafiosàpráticadagovernança:(1)necessidadedeavançarnacapacidadeparaafrontarnovastemáticasesatisfazernovasexpectativase,emtermosde legitimidade, o aprofundamentodemocráticonuma linhamais cidadã eparticipativa (BLANCOeCOMÀ,2003); (2)necessidadede contemplarumadequado equilíbrio entre esfera pública, mercado e sociedade civil(ROMERO e FARINÓS, 2011); (3) necessidade de reforçar a prática dademocracia, pois, sem isso, processos de governança efetiva são inviáveis(ROMERO e FARINÓS, 2011); (4) necessidade de empoderamento dasociedade e uma reinterpretação de sua função (ROMERO e FARINÓS,2011); (5) necessidade de obtenção de mecanismos decooperação/coordenação horizontal e vertical entre (a) vários níveis degoverno (governação multinível, relações verticais), (b) políticas setoriaiscom impacto territorial e (c) organizações governamentais, organizaçõesnãogovernamentaisecidadãos(FEIOeCHORINCAS,2009);(6)necessidadedemelhoraraancoragemdemocráticanospolíticoseleitos,combasenumacidadaniaterritorialmentedefinidaeumacondutademocrática,envolvendoas diferentes formas de organização da sociedade para melhorar odesempenhodemocráticoderedesdegovernança(SORENSENeTORFING,2005);(7)necessidadedeintegrarpolíticasdeordenamentodoterritórioegovernança (FERRÃO, 2013) e (8) necessidade de conceitualmente,governança superar seu caráter de imprecisão, polissemia e ambiguidade(ROMEROeFARINÓS,2011).

As observações e análises realizadas recentemente no Brasil emexperiências intraestaduais de descentralização político‐administrativa,sobretudonoestadodeSantaCatariana (Brasil) e emexperiênciasde IGS,confirmam ao menos parte dos desafios apontados pela literaturaconsultada.Taisanálisesserãoreferenciadasposteriormente.

3.PRÁTICASDEGOVERNANÇAEMEXPERIÊNCIASBRASILEIRASDEGESTÃODETERRITÓRIOS

O desenvolvimento incorpora a prerrogativa da existência deprotagonistas que, numa ação integrada, tracem e executemplanejamentocapazdepromovê‐lo.Nocasobrasileiro,apartirdaConstituiçãode1988,oplanejamento para o desenvolvimento, antes ditado tradicionalmente pelogovernocentral,passouaobservarcompetênciaseatribuições legadasaosmunicípiose regiões (Art. 30).Onovomarco constitucional tiroudo setorpúblico federal o monopólio na condução dos assuntos relacionados aodesenvolvimento (PETERS, 2003). Além disso, reconhece a relevância de

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outros atores e a pertinência de propostas formuladas a partir do espaçolocal e da escala regional, demandando articulações e parcerias para aconstruçãodeterritórios(BENKOeLIPIETZ,1994;PAIVA,2004),oqueviriaaatenderasprerrogativasconceituaisdegovernançaterritorial.

Essenovocenárioeasdemandasporumaorganizaçãomaiseficazdos(enos) territórios frente aosdesafios dodesenvolvimentomotivamnovaspráticas de governança, como as encontradas nas unidades federativas doBrasil, particularmente no estado de Santa Catarina. Outras experiências,taiscomoasdeIG,pelofatodearticularemprodutoresrurais,empresáriosou artesãos, são organizadas por associações e por Conselho Regulador.Tanto as associações comoo conselhopodem ser consideradas estruturasdegovernançaterritorial.

Adiante, caracterizaremos uma experiência subnacional dedescentralizaçãopolítico‐administrativaeexperiênciasdeIG,nasequência,fazendoanálisessobreapráticadagovernançaterritorialnasmesmas.

3.1AEXPERIÊNCIASUBNACIONALDEDESCENTRALIZAÇÃOPOLÍTICO‐ADMINISTRATIVANOESTADODESANTACATARIANA(BRASIL)

Estudosefetuadossobreaexperiênciacatarinensededescentralizaçãopolítico‐administrativaporFilippimeRossetto(2008),sintetizadosaseguir,evidenciarama forte relação entre os resultados obtidosnoprocesso e osaspectosdagovernançaterritorial.

No estado de Santa Catarina, intensificou‐se, a partir de 1990, ummovimento pormaior participação de diferentes atores nos processos dedesenvolvimento, chegandoaumconjuntode iniciativas cujoobjetivo temsido a articulação entre a sociedade civil e o poder público. Entre asiniciativasdeformaçãoderedesinterorganizacionaispelodesenvolvimento,três alcançaram destaque, quais sejam: as Associações de Municípios, osFórunsdeDesenvolvimentoRegional e as SecretariasdeDesenvolvimentoRegional,comseusrespectivosconselhos.

As Associações de municípios são entidades que congregammunicipalidadesdeacordocomcritériosdevizinhança,segundointeressespolíticoscomuns.Asfinalidadesessenciaisdessasassociaçõessãoarticularosmunicípiosassociadosemumfórumpermanentededebatesacercadasquestõescomunseprestar‐lhesserviçosdenaturezatécnicaespecializada,para busca de soluções concertadas aos problemas que dificilmente osmunicípiosconseguiriamfazerfrentedemaneiraisolada.

Além das associações dos municípios, outra iniciativa no sentido dearticulaçãodeesforçosparaaimplantaçãodepolíticasdedesenvolvimentoterritorialfoiacriação,emSantaCatarina,dosFórunsdeDesenvolvimentoRegional em 1998. Estes surgiram em um contexto motivado pelaslimitações do governo central no debate sobre desenvolvimento, pelo

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resgate da cidadania e pela necessidade do envolvimento de diferentesatores na definição e implementação de políticas públicas. Surgidos dainiciativadasociedadecivil,essesfóruns,propostoscomoespaçodediálogoentreinstituiçõespúblicaseprivadas,representativasdeclasse,segmentosorganizados da sociedade, universidades e instituições financeiras, tinhamcomopropósitoaqualificaçãodoprocessodedesenvolvimentodasdiversasregiõescatarinenses.

Asatividadesdessesfórunsregionaisgeraramanecessidadedecriaçãodeummecanismoqueproporcionassesuporteoperacionalparaaexecuçãodas ações demandadas. Para tanto, criou‐se uma estrutura de governançaentre as instituições atuantes no território, denominada Agência deDesenvolvimento Regional (ADR). Essas agências foram inspiradas nasADRs europeias e buscavam ser uma plataforma técnico‐institucional decaráter operativo, que identificaria os problemas de desenvolvimentosetorial ou regional, selecionando as oportunidades para intervenção elevantamento de recursos necessários ao desenvolvimento no âmbito doterritório.

Alémdasassociaçõesdosmunicípios,dos fórunsedasagências,outraformadearticulaçãoregionalfoiconduzidaeimplantadanoestadodeSantaCatarinapor iniciativadogovernodoestado:acriaçãode29SDR,pelaLeiComplementarn.243,de30dejaneirode2003.AsSDRforamcriadascomoobjetivo de representar o governo do estado no âmbito de cada região,articular as ações governamentais, promovendo a descentralização e aintegração regional dos diversos setores da administração pública, bemcomo a coordenação das ações de desenvolvimento no território de suaabrangência. Em 2005, com a Lei Complementar n. 284 as SDR foramampliadaspara30SDRepormeiodaLeiComplementarn.381,em2007,onúmerodeSDRfoielevadoa36.

OprocessodedescentralizaçãodogovernoestadualdeSantaCatarinagerou, ainda, a criação dos Conselhos de Desenvolvimento Regional, queintencionavam, na sua criação, ser instância de governança para odesenvolvimento regional. Congregando atores públicos e privados queatuam no território das SDR, a composição do CDR ficou assim disposta:prefeitos, presidentes dos legislativosmunicipais e dois representantes dasociedadecivildecadamunicípiodaregiãodeabrangênciadasSDR.

3.2ASEXPERIÊNCIASDEINDICAÇÃOGEOGRÁFICABRASILEIRAS

Na concepção de território e de desenvolvimento territorial deDallabrida (2011), utilizadas neste estudo, ressalta‐se a importância dosrecursos e ativos materiais e imateriais específicos, num processo demudança de uma sociedade organizada territorialmente, remetendo aodebatesobreIGeaquestãodagovernança.

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NoBrasilacertificaçãodeprodutoscomespecificidadeterritorialéfeitaviaumaIG.Essaconsisteemdoisestágios:a IndicaçãodeProcedênciaeaDenominaçãodeOrigem.AIndicaçãodeProcedênciafazreferênciaaonomegeográficodeumpaís,cidade,regiãoouterritórioquesetornouconhecidocomocentrodeprodução, fabricaçãoouextraçãodedeterminadoprodutoouprestaçãodeserviço. JáaDenominaçãodeOrigeméonomegeográficode um país, cidade, região ou território, que designe produto ou serviçocujasqualidadesoucaracterísticassedevamexclusivaouessencialmenteaomeio geográfico específico, incluídos fatores naturais e humanos. Assim, adiferençasingularentreas formasdeIGestáassociadaàscaracterísticasepeculiaridadesfísicasehumanaspotencializadaspeloterritórioquepossamdesignar umaDenominação deOrigem, enquantoque para a Indicação deProcedência é suficiente a vinculação do produto ou serviço a um espaçogeográfico,independentedesuascaracterísticasequalidadesintrínsecas9.

Por exigênciada legislaçãobrasileira, osprodutores rurais, artesãos eempresários envolvidos nas experiências de IGs organizam‐se emassociações.Alémdisso,háoutra instânciadegestãoquesãoosConselhosReguladores. Nas associações são debatidas questões mais afins àsnormatizações, estratégias relacionadas à produção, ao mercado erelacionadas à organização coletiva. Já o Conselho Gestor é o órgãoresponsável pela gestão, manutenção e preservação da IG regulamentada,tendo como atribuições gerais de orientar e controlar a produção,elaboração e a qualidade dos produtos amparados pela certificação. Emgeral os associados em IGs reúnem‐se com frequência semanal oumensalpara discutir suas dificuldades, situações de produção, distribuição enegócios.

3.3ANÁLISESSOBREPRÁTICASDEGOVERNANÇATERRITORIALNOBRASIL

Tomaremos como unidades de análise empírica a experiência dedescentralização político‐administrativa do estado de Santa Catariana(Brasil)ecincoexperiênciasbrasileirasdeIG.

3.3.1LIMITAÇÕESQUANTOAOPROCESSODEGOVERNANÇANAEXPERIÊNCIACATARINENSEDEARTICULAÇÃOREGIONALPELODESENVOLVIMENTO

AstrêsformasdearticulaçãopelodesenvolvimentopresentesemSantaCatarinaassociaçõesdemunicípios,fóruns/agênciaseSDRcoexisteme,porvezes,entrechocam‐se,jáquetêmobjetivosmuitosimilareseatuamem

9 Conf. Lei 9.279, de 14/05/1996 e Resolução Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) 75/2000. A referida Lei regula os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, incluindo o registro de produtos ou serviços com especificidade territorial.

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ummesmo território.Observa‐senessasexperiênciasum fenômenomuitoapontadopelaliteratura,odafragmentaçãodepolíticaspúblicaseaatuaçãode diferentes atores e esquemas de gestão emumamesma realidade, nãorarogerandoodesperdícioderecursos jáescassoseabaixaconcentraçãodeesforçosemtornodeumobjetivocomum.EmboraaimplantaçãodasSDRtenha sido motivada, segundo seus protagonistas, por uma maioraproximação do governo estadual com as demandas regionais, essassecretarias ainda estão longe de se constituir em instância de governançaterritorialintensivaeefetivaemparticipaçãocivilnadeliberaçãodosrumosdodesenvolvimento.

Estudos realizados por Filippim e Abrucio (2010) observaram que ademarcaçãodasSDRnãolevouemcontanemademarcaçãodasAssociaçõesde Municípios (em número de 21) nem a estrutura de governança pré‐existentedosFórunsdeDesenvolvimentoRegional.Observa‐se,assim,nessecampo empírico, os problemas de (falta de) governança apontados pelaliteratura:afaltadecoordenação,abaixaparticipaçãopopularnatomadadedecisão e a sobreposição de estruturas e de políticas públicas para odesenvolvimentonummesmoterritório.

O Conselho de Desenvolvimento Regional, órgão responsável peladefinição dos projetos de desenvolvimento regionais na estratégia dedescentralização em vigor em Santa Catarina, vê‐se, por vezes, sem aperspectivadeefetivaçãodosprojetosporeleencaminhados,umavezquehá discrepância entre os pleitos apresentados pelo CDR de cada região eaqueles efetivamente aprovados pelo governo do estado por meio daSecretaria Central.Nesse sentido, esta estrutura de governança territorial,concebidaeimplantadapelogovernodoestado,estimulaqueas36regiõesadministrativas (SDR) nos seus Conselhos (CDR) tomem a decisão sobrequaisprojetosdedesenvolvimento sãoprioritários. Contudo, nomomentodeexecutá‐los,adecisãoporqualexecutarounãoacabasendodaSecretariaCentral. Ou seja, embora os CDR contem com a presença demembros dasociedadecivilorganizada,aindanãosãointensivosemparticipaçãosocial,uma vez que os agentes públicos (especialmente agentes políticos) aindaconstituemomaiorgrupo.

A composição social dos CDR comporta pessoas originárias dediferentes áreas do conhecimento, níveis de escolaridade e atividadessociais, econômicas e políticas, configurando‐se em arena de disputa dosdiferentes interesses regionais. As pessoas indicadas (visto que não háeleição) para comporem os CDR têm por objetivo, conforme consta noregimento internodosCDR,deliberarcoletivamente,daraconselhamentos,orientaçõeseformulaçõesdenormasediretrizesgeraisparaaexecuçãodeprogramaseprojetosvoltadosparaodesenvolvimentoregional.Entretanto,essesconselhosnãopossuemautonomiaparaogerenciamentodosrecursospúblicosdestinadosàregião.

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Da mesma forma que os CDR, as SDR propostas como estruturas dedescentralizaçãopolítico‐administrativa têmcumpridomuitomais opapelde desconcentrar as atividades administrativas e burocráticas do governoestadual do que se configurado em estruturas de governança territorialcapazdecooperardemocraticamenteparaodesenvolvimentoregional.

3.3.2LIMITAÇÕESQUANTOAOPROCESSODEGOVERNANÇANASEXPERIÊNCIASDEINDICAÇÃOGEOGRÁFICA10

As análises sobre as limitações do processo de governança nasexperiências de IGS ainda são preliminares, visto que o processo deinvestigaçãoaindanãoestáconcluso.Por isso,nestemomento,evitaremosmencionar o nome das mesmas. Tratam‐se muito mais de percepçõesiniciais, colhidas por meio de entrevistas semiestruturadas, que aindamerecemumaanálisemaisapurada.

Nasentrevistasrealizadasfoipossívelobservaraspectoscríticosquantoàgovernançanasexperiênciasde IGs, tais como: (1) confunde‐sea funçãodas associações, atribuindo‐se pouca importância àsmesmas, pelo fato denão conseguirem aportar recursos financeiros para a manutenção dasatividadesdeproduçãoe/ouindustrialização,esquecendoqueseucaráterérepresentativo e não financeiro; (2) existe dificuldade em articular osassociadosdeIGs,pelofatode,muitasvezes,tratar‐sedepessoascombaixaformação social e acadêmica; (3) nas associações as decisões, com rarasexceções, são tomadaspeladireção; talprocedimento temduplaorigem:abaixa participação de associados nas reuniões ou comportamentos deliderançaconcentradoradepartedadireção;(4)existeodescumprimento,de formaeventual,deregrasdecontroledequalidadeporpartedealgunsassociados, o que faz com que produtos possam estar fora do padrãoestabelecido; (5) existem problemas administrativos na direção dasassociações;(6)frequentementeocorremdisputasinternasporliderançaedomínio de mercado; (7) existe dependência demasiada da iniciativaabnegada de alguns poucos associados, geralmente da direção, o quefragilizaoprocessodegovernança;(8),ocorremconflitos,entreadimensãorepresentativaecomercialdasassociações,algunsdefendendoqueéprecisoser criadaumaempresa comercial porque só a associaçãonão impulsionasuficientementeàsIGs;(9)algunsprodutoresaindanãoentenderamcomooselopodeajudá‐losenãoreconhecemdevidamenteopapeldaassociação;

10AlemdoprocessodeinvestigaçãoobjetodoProjetodePesquisaantesmencionado,essasanálises foramaprofundadasemestudosdepós‐doutorado, realizadosduranteosegundosemestrede2013noInstitutodeCiênciasSociaisdaUniversidadedeLisboa,porumdosautores deste artigo (Valdir), contemplando estudos comparados com experiênciaseuropeias.

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(10)existedemoraemestruturarIGsealgunsprodutoresdesistemantesdeconseguiremoselo,demonstrandodesconfiançaeminiciativasqueexigemassociativismo e parceria; (11) a política partidária, nos processos degovernança gera muito conflito, sendo que a mesma influencia muito noprocesso associativo; (12) ocorrem problemas de inadequações nalegislação que rege as IGs, dificultando o seu funcionamento; (13) aexistência de marcas próprias entre os associados dificulta a articulaçãomaisqualificadadosmesmos,alémde induzira formasvariadasdeacessoao mercado; (14) dificuldade em abandonar o individualismo e pensarcoletivamente.

AtéomomentooestudoconfirmoudiscussãoencontradanaliteraturadequeaconsolidaçãodasIGsesbarranasquestõesdegovernançaedeseusprocessos de articulação no território. Em livro recente publicado porOrtegaeJeziorny(2011,p.149),dedicadoaestudaraexperiênciadeIGdoVale dosVinhedos (SerraGaúcha‐RS), os autores concluemque as IGs e oterritório “[...] formamuma espécie de simbiose, pois não existe IG sem oterritório, ao passo em que o próprio território pode se desenvolver pormeio da construção de uma IG”. Para tais autores, o território pressupõeinteração social, além de ser fonte de conhecimento, “[...] de geração edifusãodeinovação”(p.113).

CONSIDERAÇÕESFINAIS

Odesenvolvimentoterritorialpressupõeumprocessodemelhoriadascondições de vida da população a partir de mudança estruturalempreendida por uma sociedade organizada territorialmente sustentadapelosrecursoseativosexistentesnolocal(Dallabrida,2011).Esseprocessopressupõe governança territorial e, embora ainda seja um termo cujaconstrução conceitual encontra‐se em debate, se constitui, aindareferendando a concepção domesmo autor, no conjunto de iniciativas ouaçõesqueexpressama capacidadedessa sociedadeparageriros assuntospúblicosapartirdoenvolvimentocoletivoecooperativodosatoressociais,econômicos e institucionais, incluindo o Estado nas suas diferentesinstâncias.

A reflexão aqui colocada tem como intuito avançar na tentativa dereduzir a polissemia e ambiguidade do termo governança territorial,consolidandoseuconceitoe,sobretudo,identificandosuacontribuiçãoparao desenvolvimento dos territórios, sem deixar de referir‐se aos seusdesafios. Estes, aqui abordados, confirmam indicativos apontados porestudos, os quais destacam o problema da governança como o principalfator que inviabiliza as iniciativas de articulação para o desenvolvimentodosterritórios,comovistonasduasexperiênciasapresentadas.

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Considerando que a prática de governança territorial, comodemonstrado nas experiências e como é reconhecido pelos própriosenvolvidos,aindatemdesafiosaenfrentar,entendemosqueumaassociaçãoou outro tipo de entidade/instituição gestora do processo, precisa, dentreoutras condições, de lideranças e um conselho regulador atuante, doenvolvimento do poder público assessorando e/ou custeando despesas demanutençãonecessárias,alémdeinstituiçõespúblicasousemipúblicasquecontribuam na coordenação e articulação dos atores. Portanto, taiscondições são fundamentais para a qualificação dos processos degovernança territorial. Por outro lado, a mobilização da população éimprescindívelnesseprocesso.

A governança territorial, apesar dos propósitos inseridos em suaconcepção teórica, enfrenta desafios na sua prática originados pelodesacordo de muitas ações dos atores envolvidos no processo, tanto ospúblicosquantodasociedadecivil.Urgemedidasparasuperá‐los,pois,casocontrário, algumas experiências de associativismo territorial tendem a seinviabilizar ou conduzidas ao descrédito. Em outros estudos pretendemosvoltaraotema,aprofundando‐oeapontandopossíveisalternativas.

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CAPÍTULO2

AINDICAÇÃOGEOGRÁFICADEPRODUTOS:UMESTUDOSOBRESUACONTRIBUIÇÃOECONÔMICA

NODESENVOLVIMENTOTERRITORIAL1

GiovaneJoséMaiorki‐UnCValdirRoqueDallabrida–UnC

INTRODUÇÃO

A IndicaçãoGeográfica (IG) refere‐se a umaqualidade atribuída a umprodutoorigináriodeumterritóriocujascaracterísticassãoinerentesasuaorigemgeográfica.Representaumaqualidade relacionada aomeionaturalou a fatores humanos que lhes atribuem notoriedade e especificidadeterritorial.

OregistrodeprodutoscomIGnoBrasilé feitopeloInstitutoNacionalda Propriedade Industrial (INPI), e que vem crescendo nos últimos cincoanos. Os fatores para que um produto adquira certa notoriedade estãorelacionadoscomolocaldeprodução,emfunçãodosolo,doclima,daformadeproduçãoecolheita,oucomoutrascaracterísticasque lheconfiramumdiferencial.Essaespecificidadetendeacontribuircomaagregaçãodevalora esses produtos, o que pode gerar maior retorno financeiro aos atoresenvolvidos,compossíveisimpactosnodesenvolvimentoterritorial.

Nessesentido,eminvestigaçãoqueresultounopresenteartigo,buscou‐se responder a seguinte questão: qual a contribuição econômica daIndicaçãoGeográficadeprodutosnodesenvolvimentoterritorial?Partiu‐seda hipótese de trabalho de que, se os produtos que possuem IndicaçãoGeográfica são capazes de gerar um incrementonopreçode venda e comisso contribuir para a agregação de renda, a Indicação Geográfica podecontribuireconomicamentecomodesenvolvimentodeumterritório2.

OestudorealizadotevecomocampodeobservaçãoduasexperiênciasdeIGdosetorvinícoladosuldoBrasil.Trata‐sedeumapesquisaaindade

1 O presente artigo tem publicação na Revista Interações (Campo Grande), Vol. 16, N. 1, jan/jun /2015. Está integrado aos estudos do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento: a especificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina, o qual contou com o apoio financeiro da FAPESC. 2 Este artigo sintetiza estudos realizados na Dissertação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional, na Universidade do Contestado (Santa Catarina - Brasil), sendo o primeiro e o último autor, respectivamente, mestrando e orientador.

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caráterexploratório,sustentadanoestudodedoiscasos,atravésdevisitasdeobservaçãoeentrevistascomatoresenvolvidos.Complementarmente,aconsultaàbibliografiarecentetambémserviudereferência.

Estudos dessa natureza tornam‐se necessários, visto que no Brasil odebatesobreprodutoscomIGérecenteemrelaçãoaospaísesdaEuropaeÁsia,tendoseusprimeirosregistrosocorridoshápoucomaisdedezanos.Ainiciativadoestudofoiumpontopositivo,poistrouxealgumasevidênciaseapontoudiferentesdesafios,osquais,porconseguinte,équeexigirãonovosestudos.

Além desta introdução, o texto foi estruturado em cinco partes: (1)retrospecto histórico sobre Indicação Geográfica; (2) aspectos teóricos econceituaisdos temas relacionadosaoobjetodapesquisa; (3)questõesdeordemmetodológicaecaracterizaçãodoobjetodeestudo;(4)resultadosdapesquisa quanto à percepção dos entrevistados; (5) última parte, comconsiderações finais sobre possíveis impactos de uma IG nodesenvolvimentodeumterritório, levando‐seemconsideraçãoadimensãoeconômica,combasenasduasexperiênciasestudadas.

1.INDICAÇÕESGEOGRÁFICAS:RETROSPECTOHISTÓRICOECONTEXTUALIZAÇÃO

Mundialmente a Indicação Geográfica, segundo Kakuta et al. (2006),ocorredesdeaeraRomanaenaantigaGrécia (século4A.C).Naprimeira,pela produção de vinhos e na segunda pelosmármores de Carrara, comouma forma de proteger os produtos e atribuir punição aos quedescumprissem as normas. Para Pimentel (2013), ao utilizar o sistema depropriedade intelectual asnaçõesbuscampormeiodesteo crescimento edesenvolvimento, através de recursos que podem ser explorados comoativoseconômicos.

Segundo Gontijo (2005), foi o acordo de Paris um importante marcoregulatório. Mundialmente, no ano de 1994, foi instituído o marco legal,quandoaOrganizaçãoMundialdoComércio (OMC) reconheceuo conceitode Indicação Geográfica, no acordo Trade‐Related Aspects of IntellectualPropertyRights (TRIPS).OAcordoTRIPS, segundoFerreiraet al. (2013,p.128): "Tratava de questões ligadas ao comércio de bens cujo diferencialcompetitivo pudesse estar protegido por mecanismos de propriedadeintelectualequefoisubscritoportodosospaísesquedesejavampertenceràOMC,incluindooBrasil,contandoatualmentecom157países".

Na Europa, segundo Sacco dos Anjos et al. (2013), é através doregulamentoCE2081/92quesãoapresentadososdoistiposdecertificação.AprimeirareferenteàDenominaçãodeOrigemProtegida(DOP)easegundaàIndicaçãoGeográficaProtegida(IGP). JáoregulamentoCE2082/92trata

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da certificaçãode características específicasou especialidades tradicionaisgarantidas,sendoqueessascontemplamapenasprodutosagroalimentares.Para tais autores,hádiferençasentreasexperiênciasde IGeuropeiase asbrasileiras.Enquantonospaíseseuropeusincluem‐seapenasalimentos,noBrasil a certificação inclui vários produtos, como alimentos, calçados,mármoreseatéserviços.

MasháoutrasdiferençasentreoBrasileaEuropaemrelaçãoàsIGs.Aprimeiraestánofatodeexistirumaaprovaçãotransitóriae,somenteapósesta,pelaComissãoEuropeiadeAgriculturaeDesenvolvimento,obtém‐seoregistrodefinitivo.NoBrasil,ocorreemcaráterdefinitivopelo INPI, semanecessidadedecertificaçãoprévia,sendoumprocessoúnico.ParaSaccodosAnjosetal.(2013),asegundaéaexistênciadasempresasdosetorprivadoou as autoridades públicas, que são entidades certificadoras de cada paísEuropeuresponsáveisporfiscalizarocumprimentodoCadernodeNormas.Elassão igualmentesubordinadasaosregimesdecontrolee fiscalização,oquenãoexistenomodelobrasileiro.

OBrasil,mesmosendopaíssignatáriodaConvençãodaUniãodeParis(CUP) desde 1883, somente após o acordo deMadrid, em 1975, passou arepreenderasfalsasindicaçõesdeprocedência(FERREIRAetal.,2013).Noano1967,épromulgadooCódigodePropriedadeIndustrial(CPI)brasileiro,comoqualsepassaareconhecereaprotegeraproduçãonacionalcontraafalsificaçãodosprodutosedaprocedênciadosmesmos.

Atualmente, no Brasil, a Lei nº 9279 de 14 de maio de 1996 é queregulamenta os direitos e obrigações sobre propriedade intelectual. AIndicação Geográfica está disciplinada no Título IV, nos Art. 176 a 182. Oparágrafo único do Art. 182 estabelece que o órgão responsável pelaconcessãoeregistrodasIndicaçõesGeográficaséoINPI.

1.1AINDICAÇÃOGEOGRÁFICA(IG)NOBRASIL

AIndicaçãoGeográficaconstituiumprocesso,comoopróprionomediz,de identificar um produto ou serviço de determinado território. É umprocedimento similar ao registro civil de uma pessoa, que lhe garantedireitoscivisestabelecidospelaconstituição.

A identificação de produtos e serviços com Indicação Geográficatambémgarantea essesdireitos civis. Ferreiraetal. (2013)caracteriza IGcomoumdireitoexclusivo ligadoàpropriedade industrial,comnaturezaeusocoletivoevinculadoaumaregiãoespecífica.

Outrosautores tambémconceituamIndicaçãoGeográfica.ParaGolloeCastro(2006)éumprodutoorigináriodoterritóriocujascaracterísticassãoatribuídas à origem geográfica. Já Pimentel (2013) define como umapropriedadeintelectualdotipoindustrial,coletivaeexclusivaaprodutores

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de determinado local. Dentre os principais objetivos da IndicaçãoGeográfica, segundo o autor, está o desenvolvimento econômico doterritóriopormeiodevinculaçãodoproduto,suaqualidadeeespecificidadeemrelaçãoaoterritórioondeesteéproduzido.

BoechateAlves(2011)evidenciamaimportânciadaIGnavalorizaçãodopatrimônioculturaledo turismo,oque,segundoeles,pode trazerumamaior abertura demercado, a padronização dos produtos e o estímulo aoagroturismo. Para Kakuta et al. (2006), os benefícios do uso da IndicaçãoGeográfica são a proteção ao patrimônio, o desenvolvimento rural, apromoção e facilidades de exportação e o desenvolvimento. O registro noINPIéconsiderado,demodogeral,comoopontodechegada,masdeveriaservistocomopontodepartidaparafomentarnovasaliançasentreturismo,serviços e demais setores.Nesse sentido, entende‐se que a certificação deuma IG deve ter início com a intenção de transformar um recurso emumativo comespecificidade territorial. Para tanto, é necessária amobilizaçãodepessoasparaformarumaassociaçãooucooperativae,assim,obteroatodeclaratóriodeIG.

NoBrasil,asexperiênciasdeIGpodemserregistradascomoIndicaçãodeProcedênciaouDenominaçãodeOrigem.

1.1.1INDICAÇÃODEPROCEDÊNCIA

Adefiniçãode IndicaçãodeProcedência(IP)estáprevistanoArt.177

daLeinº9.279/1996.AIPserefereaolocal,oterritórioondefoiproduzido,sem que este esteja relacionado especificamente com fatores dediferenciação em relação à qualidade do produto com outros similares. Oseu diferencial é o modo de produção e o aspecto cultural que o fazemreconhecido como de qualidade diferenciada em relação aos demais. Essadiferenciaçãopodegerarumvalordevendamaior.

De acordo com o INPI, na data de 25 de janeiro de 2014, no Brasilexistiam 30 registros de Indicação de Procedências, todas nacionais. OestadodeMinasGeraisaparececom7registros,oRioGrandedoSul,com6eoestadodoEspíritoSanto,com3indicações.AsdemaisexperiênciasdeIGsão de outros estados brasileiros que possuem apenas uma Indicação deProcedência.

1.1.2DENOMINAÇÃODEORIGEM

ORegistrodeDenominaçãodeOrigem(DO)estáprevistanoArt.178da

Leinº9.279/1996.ADOestárelacionadocomcomponentesfísico‐químicosencontrados nos produtos, que devido às condições geográficas (solo eclima)nãopoderãoserencontradasemoutrasregiões,ouseja,aDOindica

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queoprodutosomentepodeserencontradoemdeterminadaregião,oquelheconfereumapersonalíssimacaracterística.

DeacordocomoINPI(2014),emmaiode2014,noBrasilexistiam16registrosdeDenominaçãodeOrigem,dasquais8eramnacionais.

2.INDICAÇÃOGEOGRÁFICA:CONCEPÇÕESTEÓRICASQUEFUNDAMENTAMOTEMA

Dentre as concepções teóricas que fundamentam a discussão sobre o

tema Indicação Geográfica, algumas são fundamentais: a concepção deterritório,identidadeedesenvolvimentoterritorial.

2.1TERRITÓRIOESUARELAÇÃOCOMAINDICAÇÃOGEOGRÁFICA

Etimologicamente,territóriovemdolatimterritorium,pedaçodeterra

apropriado,quetransmiteaideiadepoder,identidadeedomínio.Para Santos (1996, p. 51): “A configuração territorial é dada pelo

conjunto formado pelos sistemas naturais existentes em um dado país ounumadada área epelos acréscimosqueoshomens superpuserama essessistemasnaturais”.Emoutraobra,Santos(2007,p.13),defineterritório:“Olugar em que desembocam todas as ações, todas as paixões, todos ospoderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história dohomemplenamenteserealizaapartirdasmanifestaçõesdasuaexistência”.

NaconcepçãodeSaqueteSilva(2008,p.17):“Oterritóriocorrespondeaoscomplexosnaturaiseàsconstruções/obrasfeitaspelohomem:estradas,plantações,fábricas,casas,cidades.Oterritórioéconstruídohistoricamente,cadavezmais,comonegaçãodanaturezanatural”.JáParaPollice(2010,p.8): “Em síntese, o território pode ser entendido como aquela porção doespaçogeográficonaqualumadeterminadacomunidadesereconheceeserelacionanoseuagirindividualoucoletivo[...]”.Souza(2001,p.111)assimconceituaterritório:“[...]todoespaçodefinidoedelimitadoporeapartirderelações de poder é um território, do quarteirão aterrorizado por umaganguedejovensatéoblococonstituídopelospaísesmembrosdaOTAN”.

Na concepção de Haesbaert (2004, p. 79), “[...] o território pode serconhecidoapartirda imbricaçãodemúltiplasrelaçõesdepoder,dopodermaismaterialdasrelaçõeseconômico‐políticasaopodermaissimbólicodasrelaçõesdeordemmaisestritamentecultural”.Emrelaçãoàformadepoder,para Haesbaert (2010), deve‐se entender que não está se referindo a umpodermaterial,masosefeitosdesse.

Para Haesbaert (2007), o território também possui uma forte ligaçãocom a natureza e com os recursos nela existentes, configurando assim,juntamentecomohomem,oscostumeseahistória,umdoselementosparaaformaçãodeumterritório.

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Sobre a definição de território, assume‐se aqui uma conceituaçãoreferenciadaemDallabridaeFernández(2008,p.40).Paraessesautoresoterritórioéentendidocomo:

Uma fração do espaço historicamente construída através das inter‐relaçõesdos atores sociais, econômicos e institucionais que atuam neste âmbitoespacial,apropriadaapartirderelaçõesdepodersustentadasemmotivaçõespolíticas,sociais,ambientais,econômicas,culturaisoureligiosas,emanadasdoEstado,degrupossociaisoucorporativos,instituiçõesouindivíduos.

A relação entre Indicação Geográfica e território é apresentada porJeziorny (2009, p. 148): “Concluímos que as indicações geográficas e oterritório formam uma espécie de simbiose, pois não existe indicaçãogeográfica sem o território, ao passo em que o próprio território pode sedesenvolverpormeiodaconstruçãodeumaindicaçãogeográfica”.

Considerando as definições sobre território, de forma especial oargumentoque esse se formaporuma relaçãodepoder (SOUZA,2011), eque não existe Indicação Geográfica sem território (JEZIORNY, 2009), ficaimplícitoque a IndicaçãoGeográfica é umprocessodedemarcaçãodeumterritório, pois adeclaraçãoexpedidapelo INPIdefinequaispessoas e emquelocaispodemsebeneficiardacertificaçãodeprodutosoraproduzidos.

2.2IDENTIDADEEDESENVOLVIMENTOTERRITORIALDefinido território comoespaçodelimitadopelas relaçõesdepoder, a

identidade territorial é a expressão cultural e do estoque de fatoresendógenosqueidentificamesseterritório.Aidentidadeterritorial,chamadapor Pollice (2010) de identidade geográfica, é aquela que nasce daconsciênciacoletivadaspessoasquehabitamdeterminadoterritório.Assim,somentesepodeterumaidentidadeterritorialougeográficaquandoadvémdodesejodaspessoasde seremreconhecidas comoatoresdesseprocessodeidentificação.Quandoaidentidadeterritorialsedápeloaspectonegativode representação, essa identificação é feita por fontes externas, como, porexemplo, pessoas que moram em regiões próximas à chamada“Cracolândia”, em São Paulo. Os indivíduos que moram nessas regiõesjamaissesentirãocomopessoasquemoramnoterritórioda“Cracolândia”.Por outro lado, quando a identificação é benéfica ou reforça o estoquecultural e os fatores endógenos do lugar, essa recebe contornos denotoriedade,como,porexemplo,oterritóriodoValedosVinhedosnoestadodoRioGrandedoSul.

Assume‐seumaconcepçãodedesenvolvimento territorialpautadaemDallabrida (2014): processo de mudança continuada, situado histórica eterritorialmente, mas integrado em dinâmicas intraterritoriais,supraterritoriaiseglobais,sustentadonapotenciaçãodosrecursoseativos

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(materiais e imateriais, genéricos e específicos) existentes no local, comvistasàdinamizaçãosocioeconômicaeàmelhoriadaqualidadedevidadasuapopulação.

Por fim, Pollice (2010) estabelece uma relação entre identidade edesenvolvimentoterritorial,conformesintetizadonoQuadro1. Quadro1‐Relaçõesentreidentidadeterritorialedesenvolvimento

Indicador Relação

Identidadeevaloressociais

Aidentidadeterritorialtendeareforçaropodernormativodosvaloreséticosecomportamentaislocalmentecompartilhados.Sobreoplanosocioeconômicoapresençadessesvalorese,sobretudo,oentrecruzamentodeles,consenteemmelhoraronívelderelaçãoprodutivaecomercial,favorecendoamanifestaçãodaquelasformasdecolaboraçãocompetitivaqueconstituemofundamentodaseconomiasdistritais.

Identidadeetransferênciadosaber

Manifesta‐seum“apegoafetivo”aosaberlocalmentedeterminadoeumapropensãomaisfortequeemoutrolugarparaaatualizaçãodessepatrimôniocognitivo.

Identidadeesentidodepertença

Talvezessesejaoexemplomaisemblemáticodainteraçãovirtuosaentreidentidadeterritorialedesenvolvimentolocal.Osentidodepertençaconstitui,defato,ocimentodosistemaeconômico‐territorialeimpeleosatoreslocaisapreferir,tambémnapresençadealgumasdeseconomias,conterrelaçõestransacionaisecolaborativasnointeriordoâmbitolocal.

Identidadeeautorreprodução

Melhoraronívelderelaçãoprodutivaecomercial,favorecendoamanifestaçãodaquelasformasdecolaboraçãocompetitivaqueconstituemofundamentodaseconomiasdistritais.

Identidadeepolítica Arelaçãoentreidentidadeepolíticaémuitoforte,tendeacrescer,noâmbitodaarenapolítica,oníveldeconvergênciasobreostemaseodesenvolvimentodeatoreslocaisadequando‐osàsexigênciasdoterritórioeevitandoqueresultenumadesorganizaçãodosequilíbrioslocais.

Identidadeevalorizaçãodosrecursosterritoriais

Odesenvolvimentoendógenosesubstancianacapacidadedacomunidadelocalde“colocaremvalor”oterritórioe,emparticular,aquelesrecursosnãolocalizáveisque,alémdeconstituirelementodediferenciação,podemtornar‐se,emtermosprojetivos,certospluscompetitivosemtornodosquaissepodeconstruiraestratégiadedesenvolvimentolocal.

Identidadeesustentabilidade

Ossentimentosidentitáriosdeterminamemnívellocalumapegoafetivoaosvalorespaisagísticoseculturaisdoterritórioquetende,porsuavez,atraduzir‐senaadoçãodecomportamentosindividuaisecoletivosvoltadosàtutelaeàvalorizaçãodaquelesvalores.Apresençadeumaforteidentidadeterritorialfavoreceamaturaçãodemodelosdedesenvolvimentosustentável,enquantoestesefundasobreavalorização,especificidadedoslugares;valorizaçãoqueétantomaiseficazquantomaioréoenvolvimentoativodacomunidadelocal.Alémdisso,a“sustentabilidade”dosprocessosemescalalocalnãoéumobjetivomensurávelsomenteemtermosambientais,mastambémemtermoseconômicoseculturais.

Fonte:AdaptadodePollice(2010p.18‐20)

Considerandoasfortesrelaçõesentreanoçãodeterritório,identidadeedesenvolvimento territorial comoque se esperadas experiênciasde IG, éoportunoremeterestedebateàaveriguaçãodasuaprática.

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3.QUESTÕESDEORDEMMETODOLÓGICAECARACTERIZAÇÃODOOBJETODEESTUDO

ParainvestigaraspossíveiscontribuiçõeseconômicasdeumaIndicaçãoGeográfica de produtos no desenvolvimento territorial, foram estudadasduasexperiênciasdeIGdosetorvinícola,aAsprovinho,localizadanoestadodoRioGrandedo Sul, e a Progoethe, localizada ao sul do estadode SantaCatarina.

Inicialmente foramrealizadosestudosbibliográficossobrea IndicaçãoGeográfica e demais temas conexos. Para a coleta de dados e informaçõessobreosdois casos, foram realizadaspesquisasdocumentaisnos arquivosdasassociações, alémde entrevistas comassociadosedirigentesdasduasassociações que detêm o ato declaratório do INPI. Foi aplicado umquestionário semiestruturado, ficando de fora apenas três associados deumadasexperiênciaspornãoestarempresentesquandodavisitaaosdoisterritóriosestudados,duranteosmesesdejulhode2013.

Nasequência,sãocaracterizadasasduasexperiênciasobjetodeestudo.

3.1TERRITÓRIODOVALEDAUVAGOETHEA Indicação Geográfica da Uva Goethe está inserida na região sul do

estadode SantaCatarina.De acordo comos dadosdo INPI, oVale daUvaGoethe, está localizado entre as encostas da Serra Geral e o litoral sulcatarinensenasBaciasdoRioUrussangaeRioTubarão.SegundodadosdaProgoethe,oslimitesnosvalesformadospelassub‐baciasdosriosAmérica,Caeté, Cocal, Carvão eMaior, que são afluentes do rio Urussanga e o valeprincipal desse mesmo rio, acrescidas das sub‐bacias dos rios Lajeado,Molha, Armazém e Azambuja que fazem parte da bacia do rio Tubarão. Adelimitação da área geográfica são os municípios de Urussanga, PedrasGrandes, Cocal do Sul, Morro da Fumaça, Treze de Maio, Orleans, NovaVenezaeIçaranoEstadodeSantaCatarina,conformeafigura1.

AfundaçãodaAssociaçãodosProdutoresdaUvaedoVinhoGoethedaRegião de Urussanga (Progoethe) ocorreu em 05 de setembro de 2007.DentreascaracterísticasdovinhodaUvaGoethe,bemcomoosfatoresquecontribuíramparaquefossepossívelreceberoselodeIndicaçãoGeográfica,destaca‐se,alémdasparticularidadestécnicasdoproduto,oaspectoligadoàimigraçãoitaliananoséculoXIX,queconsolidoujuntoaoINPIaidentidadedos"ValesdaUvaGoethe"comoumterritórioúnicodirecionadoàproduçãodos vinhos Goethe. Essa foi a primeira Indicação Geográfica do estado deSanta Catarina, sendo considerado o único território a produzir talvariedade de uva em escala comercial, no mundo. A uva Goethe não éconsiderada uma uva fina ou uva vinífera. Classifica‐se como uma uvaamericana. Seu conjunto é composto de uvas menos sofisticadas e, dessa

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forma, o preço de venda do vinho produzido com elas é inferior ao dosvinhosfinos.Porém,possuiumpúblicoconsumidorespecífico.

Figura1–MunicípiospertencentesàáreadelimitadadosValesdaUvaGoethe

Fonte:Silvaetal.(2011apudVIEIRA,WATABABEeBRUCH2012,p.336)(adaptado)

3.2TERRITÓRIODOVINHODEPINTOBANDEIRA

A Indicação Geográfica do Vinho de Pinto Bandeira, originalmente,

estava localizada no município de Bento Gonçalves, além de 9% emFarroupilha,noestadodoRioGrandedoSul.Noiníciode2013,oDistritodePinto Bandeira emancipou‐se de Bento Gonçalves, sendo que, a partir deentão, a maior parte da IG se localiza neste novo município, conforme aFigura2.

OmunicípiodePintoBandeirapossuiasvinícolasque fazempartedaIG,alémdesedestacarnaproduçãodepêssego.Trata‐sedeummunicípioessencialmenteagrícolaecompotencialparaoturismoruralouecoturismo.No setor vinícola, além da tradição na produção de vinhos de regiões dealtitude, a região detentora da IG destaca‐se na industrialização deespumantesdequalidade.

AAssociaçãodosProdutoresdeVinhosdePintoBandeira(Asprovinho)foi criada em 29 de junho de 2001 e, segundo seus estatutos, tem com oobjetivo proteger a natureza, a cultura local, os produtores de vinho e,sobretudo, preservar a qualidade e afirmar a identidade dos vinhos eespumantes produzidos no local. Os vinhos produzidos no território quedetémoselodeIPsãodenominados“VinhosPintoBandeira”.Ocontrolede

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qualidade é realizado pela Asprovinho, a qual contempla desde ocadastramento dos vinhedos e vinícolas, análises químicas, degustação eselodecontrole.

Figura2–LimitesdaregiãodelimitadadaIGPintoBandeira

Fonte:SitedaAsprovinho(2013,Adaptado)

4.RESULTADOSDAINVESTIGAÇÃOParaesteestudo,aavaliaçãodasexperiênciasdeIGemreferência,além

de todo arcabouço teórico, contou com a análise de informaçõesdocumentais.Neste artigo, fazemos um recorte, considerando a percepçãoque os associados e dirigentes têm sobre a IG, a partir da análise doconteúdodasentrevistas,conformeasíntesequeconstanosQuadros2e3.

Àesquerdadosquadrosestãoosaspectosfocadospelasperguntasdasentrevistas,tendo,àdireita,umasíntesedasrespostas.

Quadro02–Síntesedasobservaçõeseanálisesdasentrevistascomassociados

Aspecto Principaisobservaçõesouanálisespermitidaspelainvestigação

OscustosdeproduçãoapósadeclaraçãodeIG

ParaasvinícolasqueestavamproduzindoforadoCadernodeNormas,houveocustodeadequação,alémdofatodeseobterumaconversãomenordelitrosdevinhoporkgdeuva,paraobterumamelhorqualidade.

PreçodevendaapósaIG

Foipossívelperceberumaelevaçãodopreçodevenda,principalmenteemUrussanga.

AutilizaçãodoMark‐upparaafixaçãodopreçodevenda

EmPintoBandeira,alémdoscustosdeprodução,impostoseolucro,quecompõemoMark‐up,sãoaliadosaosfatoresdemercado,nocasoapercepçãodequalidadecomparadaaoutrosprodutos,principalmenteaosimportados.Emrelaçãoaovinho

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Goethe,alémdadefiniçãodopreçopeloMark‐up,éobservadoovalordemercado.

ParticipaçãodosprodutoscomIGemrelaçãoàproduçãototal

Identificou‐seumapequenaparceladaproduçãocomselodeIGeemalgunscasosnenhumprodutocomselo.

ImpactodoprojetodeIndicaçãoGeográfica

NoterritóriodaProgoethe,constatou‐seumaexpectativaderetornofinanceirocomaagregaçãodevaloraosprodutoseapadronizaçãodaqualidade.NoterritóriodePintoBandeira,oprincipalargumentoéavisibilidade,aforçadoconjuntoeoobjetivodeobterumaDO.

OdiferencialparaosprodutoscomIG

Paragrandepartedosassociados,omaiorproblemaestánoaspectodoconsumidorbrasileiroterpoucainformaçãosobreoquesignificaumselodeIGecomosãocontroladososprodutosquereceberãoesseselo.

AimportânciadoturismonaIndicaçãoGeográfica

OturismoétidocomoumpontodeextremarelevânciaparaosucessodaIG,umaestratégiademarketingedivulgaçãodosprodutos.Épeloturistaqueosprodutossãolevadosaoutroscentrosconsumidores,queseinteressampeloprodutoepelaregião,indicando‐osaoutraspessoas.

AimportânciadasAssociações

Naopiniãodosprodutores,ficaevidentequefoipelauniãodeesforçosemumaassociaçãoqueoprocessodaobtençãodaIGseconsolidou.

AIGeodesenvolvimentodeumterritório

ApesquisapermitiuconcluirquesóaestruturaçãodaIGnãoconseguedesenvolveroterritório,dependedeoutrosfatoresassociados,comdestaqueparaoturismocomoformadedivulgaçãodoproduto.OdesenvolvimentoécomplexoenecessitadeumconjuntodeaçõesporpartedasociedadeedopoderpúbliconabuscadevetoresdedesenvolvimentoecertamenteaIGéumdessesvetores,nãooúnico.

Omercadoparaoramodavinicultura

Emgeral,existeumexcedentedeuvanomercado.Essefazcomqueopreçopagoaoprodutorsejabaixo.Paraasvinícolas,omaiorproblemasãoosvinhosimportadoscomtributaçãodiferenciada.AsubstituiçãotributáriadoICMStambémgeraumdesequilíbriodecaixa,poisoimpostoserárecolhidoporocasiãodavenda.

Fonte:Dadosdapesquisa(2013)

No Quadro 3 está uma síntese das entrevistas com os dirigentes das

associações.

Quadro03–Observaçõeseanálisesdasentrevistascomdirigentesdasassociações

Aspecto Principaisobservaçõesouanálisespermitidaspelainvestigação

AIGeodesenvolvimentodeumterritório

Aopiniãodetodoséunânime,queaIGé,sim,umaalternativaparaodesenvolvimentodoterritório,contribuindoparaaagregaçãodevaloràcadeiaprodutivaeaocomérciolocal,masqueaIGsozinhanãoécapazdedesenvolverumterritório,dependedeoutros

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fatoresedeveestaraliadaaoturismo,poiscomporáacestadeserviçosoferecidosaoturista.

AsestratégiasdemarketingdasAssociaçõesparadivulgaraIG

Asassociaçõesvêmparticipandodeeventosefeiras,firmandoparceriascomorganizaçõesdeformaademonstraroqueéumaIndicaçãoGeográfica.

OturismodaregiãocomofatordedivulgaçãodosprodutoscomcertificaçãodeIG

AimportânciadoturismonoprocessodedivulgaçãodeumaIGtambémévozcorrenteentreasassociaçõesenãoapenasumaopiniãodosvinicultores.

InteressedeoutraspessoasemfazerpartedaassociaçãoapósadeclaraçãodeIG

Houveinteressedeoutrosempreendimentos,principalmenteosligadosaoturismo,oquedemonstradeformaclaraqueaIGéumaalternativaparaodesenvolvimentoterritorialeparaocrescimentodocomérciolocal.

AçõesparamotivarosassociadosabuscaracertificaçãodeIG

AvisibilidadedoprodutoeosbenefíciosdeumaIGforamosprincipaisaspectosutilizadospelasassociações.

Registrosquantoaovolumedeproduçãodosassociados

Atualmenteocontrolesobreaproduçãoeosbenefíciosgeradoséreduzido,poishaveráapenasocontrolesobreovolumedeproduçãocomselodeIG.

PerspectivasdeexportaçãodosprodutoscomIG

Nãoexisteprevisão,enavisãodaAsprovinhoofatorlimitadoréacargatributáriadoproduto,queotornamuitocaronomercadointernacional.

Fonte:Dadosdapesquisa(2013)

Os dois quadros resumem as principais percepções dos entrevistados

quantoà interrogaçãoqueoriginouapresente investigação.Para finalizar,são feitas algumas considerações finais, sintetizando as principais análisespermitidaspeloestudorealizado.

5.CONSIDERAÇÕESFINAIS

O objetivo desta pesquisa foi analisar a contribuição econômica da

Indicação Geográfica de produtos no desenvolvimento territorial, pelarealização de estudos bibliográficos e documentais, a visitação àsexperiênciaserealizaçãodeentrevistas.

A dimensão econômica foi tratada no universo do desenvolvimentoterritorial,umavezqueaIndicaçãoGeográficarepresentaadelimitaçãodeumespaço territorial comespecificidade.Assim,a IGseconstitui, segundoas normas brasileiras, em um ato declaratório que, de acordo com suatipologia, será uma Indicação de Procedência ou uma Denominação deOrigem.

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A IG no Brasil está em um processo de expansão e aomesmo tempoestruturação, pois muitas delas estão se constituindo no decorrer dosúltimos cinco anos. Nos dois territórios estudados, foram encontradassituações diversas, pois uma das experiências já está comercializando osprodutos e a outra iniciará em 2014 a comercialização da primeira safra.Nesse contexto, os aspectos econômicos precisaram ser analisados nãoapenaspeloganhoemescaladeprodução,mastambémpelasexpectativasdepossíveisimpactoseconômicosnodesenvolvimentoterritorial.

Aoanalisarovolumedeprodução,verificou‐sequeosprodutoscomIGapresentamvalorespoucorepresentativosemrelaçãoaototaldasreceitas.Apoucarelevânciaentreovolumedeproduçãocomcertificaçãode IGemrelaçãoaototalproduzido,nãochegaaserumarestriçãoàimportânciadaIG, mas, sim, uma questão de mercado, pois nas regiões pesquisadas osprodutoscomIGsãovinhosbrancoseespumantes,aopassoqueomercadoconsome mais vinhos tintos. Assim, verifica‐se que os produtos com IGcompõemomixdeprodutosdavinícola,ondeexistemprodutosdemenorvalor e commaior volume de vendas e produtos diferenciados com valormaior,nocasoosprodutoscomIG.Nasvinícolaspesquisadas,ficouevidentequeosprodutos com IG sãodestinados aumpúblicomais seletivo, sendoque são mais significativos os reflexos indiretos, favorecendo aos demaisprodutosemfunçãodavisibilidadequeaIGproporciona.

Aanálisedosdoiscasosestudadosrevelaqueépeloturismoaprincipalforma através da qual os produtos com IG são reconhecidos fora de seuterritório. Da mesma forma, uma região que pensa em desenvolver oturismo, ao buscar evidenciar seus atributos, deve considerar que estespodem estar associados a produtos com IG. Dessemodo, observa‐se umarelaçãomuitopróximaentreaIGeoturismo,oquecertamentefavoreceráodesenvolvimentodoterritório,comaintegraçãodessasduasestratégiasdedesenvolvimento territorial. A relação intrínseca entre turismo e IG édescritaporNascimento,NuneseBandeira(2012,p.380):“Aaliançaentreturismo e Indicação Geográfica propicia o reconhecimento de culturastradicionais, a valorização da gastronomia típica, produção sustentável dealimentos,proteçãodosmanuseiosartesanalecultural”.

Outroaspectoadestacar,estárelacionadoàidentidadeterritorial,queéabuscadeatributosdoterritório,quepodemestarassociadoscomaspectosgeográficos,históricosouporumtipodeprodutoousaborespecial.Abuscanaidentificaçãodessesatributoséoesforçodosatoressociaisdoterritóriona trajetóriadoseudesenvolvimento.Emambasasexperiênciasvisitadas,foipossívelobservarnoaspectopráticoaimportânciadessesatoressociais.

Os resultados obtidos dão conta de um considerável entrosamentoentre a existência de uma IG e a promoção socioeconômica e cultural doterritórioatingido,comoumprocessodebenefíciomútuo.Esseargumentofoievidenciadoquandoperguntadosobreointeressedeoutraspessoasem

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seassociaremapósacertificaçãodeIG.Verificou‐sequehouveaintegraçãode empresas e pessoas ligadas ao setor de serviço,mais precisamente, osserviços de atendimento aos turistas. Constatou‐se, então, que os turistasvêmembuscadoprodutocomIGe,porconseguinte,consomemdiferentesprodutos e serviços, trazendo benefícios econômicos para outrosempreendimentos locais.Entende‐se,então,queaIGéumaestratégiaque,mesmosendoexclusividadedaspessoasquedetêmodireitoaousodoselo,torna‐se inclusiva, pois gera benefícios indiretos a outros setores daeconomia.

A Indicação Geográfica, como já fora citada na revisão bibliográfica, éumprocessodeconstruçãocoletivaquevisabeneficiaraumterritório,sejadiretamenteaosprodutoresenvolvidosnaIG,sejapelobenefícioindiretoaocomércio local.Comosestudosrealizados, ficouevidenciadoquea IGgeramaisbenefíciosindiretosparaodesenvolvimentoterritorialdoquediretos,implicandoanecessidadedaintegraçãocomosoutrossetoresdaeconomialocal.Dessaforma,oprimeiropassodaIGéauniãodepessoasemtornodeumobjetivocoletivo.

Portanto,pode‐sedizerqueaIGgeraencadeamentosparafrenteeparatraz, impactando no desenvolvimento territorial. No caso do vinho, essacadeia produtiva envolve de forma descendente, a partir das vinícolas, osprodutores e, estes, as empresas, principalmente as que comercializaminsumosagrícolas.Deformaascendente,partindodavinícolaparaosetordetransportee,deste,paraosetordeserviços(combustíveis,autopeças,etc.).De forma lateral, tem‐se o turismo, este capaz de gerar um novodesencadeamento. Poderia, ainda, se dizer que os produtos com IG,conforme propõe a teoria dos polos de crescimento, seriam a indústriamotriz,capazdedesenvolveroutrasatividadesemseuentorno.

Épossívelconcluir,então,que,quandoumterritóriopossuiumprodutoou serviço com diferencial e que este possa ser declarado como IG, sãogerados impactos não somente para os produtores e à cadeira produtivaligada ao produto com IG, mas para todo território circundante. Assim, ahipótese levantada: se os produtos que possuem IndicaçãoGeográfica sãocapazesde gerarum incrementonopreçode venda e com isso contribuirpara a agregação de renda e ainda corroborar economicamente odesenvolvimentoterritorial.Conclui‐sequeessahipóteseseconfirmou.Noentanto, os benefícios não estão simplesmente relacionados a umincremento de preço, pois os resultados econômicos para o território sãobemsuperiores.AlémdaelevaçãodospreçosdevendadosprodutoscomIG,os demais produtos similares também obtêm um ganho econômico, alémdosdemaissetoresdasociedade.

Porfim,comorecomendação,entende‐sequeadivulgaçãonamídiademassasobreoqueéumaIG,representariaumgrandeimpulsoparaabuscade produtos e serviços com diferencial, com contributos no

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desenvolvimentodosterritórios.Oconsumidor,nocasodovinho,temumapreferência pelos importados, principalmente pela fama de vinhos dequalidadesuperior,discursoconstruídopelamídiademassa.UtilizaressesmesmosmeiosparaevidenciarqueosprodutosnacionaiscomselodeIGsãoprodutosdequalidadeequesãocertificadosfariacomqueavisibilidadetãopretendidapelosprodutoresdevinhodasduasregiõespudesseseratingida.

Os estudos nas duas regiões devem ser ampliados, por exemplo, paraavaliar se com o passar do tempo as expectativas dos produtores da UvaGoetheseconfirmamcomoaumentodaproduçãoeagregaçãodevaloraoproduto, assimpodendo gerarmaior renda aos produtores e vinícolas.Damesma forma, emPintoBandeira, avaliar a aspiraçãode, se fordeclarada,umaDO,trarámaioresimpactosterritoriaisdoqueadeclaraçãodeIP.Sãoestudosquemerecemserrealizadosnofuturo.

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CAPÍTULO3

AINDICAÇÃOGEOGRÁFICACOMOCONTRIBUTOPARAODESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL:

ANÁLISEAPARTIRDEEXPERIÊNCIASBRASILEIRASNOSETORVINÍCOLA1

SabrinaDhienifferSander‐UnCValdirRoqueDallabrida‐UnC

1.INTRODUÇÃO

AIndicaçãoGeográficatemsidoumtemadiscutidoporpesquisadorescomo um instrumento que valoriza territórios através do resgate de suacultura,históriaouentãoda tipicidadedeprodutosouserviçosprestados.Juntoaessavalorizaçãodosterritórioseseusprodutos,surgeumacorrenteamparada na sustentabilidade e na preservação de diferentes ambientes.Consumidoresatentosataisquestõeseexigentesnoconsumodeprodutospassamaparticiparcadavezmaisdomercado,aumentandoademandadeprodutoscomqualidadeegarantiadeprocedência,comoocasodeprodutoscomIndicaçãodeProcedênciaeDenominaçãodeOrigem.

Nessecontexto,asdiscussõesemprojetosdeIndicaçãoGeográfica(IG)edesenvolvimentosustentávelapresentammuitosdesafios.Deumlado,osdeassociareincluirsuasdiferentesdimensões(social,cultural,ambientaleeconômica). De outro, promover a homogeneidade social, direito àeducação, à saúde, renda justa, manutenção das tradições e o respeito àcapacidadederesiliênciadosecossistemas.

De acordo com Paula (2004), o Brasil tem experimentado diversasformasdedesenvolvimentonosterritórios.Noentanto,asexperiênciassãorecenteseprecisamse tornaremobservatóriosparanãosedesperdiçaraoportunidadedetestarasalternativasedesbravarnovoscaminhosparaumdesenvolvimentohumano,socialesustentável.

Dentro desse contexto, Sacco dos Anjos (2013) salienta o notávelcrescimento de Indicações Geográficas (IGs) no Brasil. Ao abordar duas

1 Este artigo sintetiza estudos realizados na Dissertação no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional, na Universidade do Contestado (Santa Catarina - Brasil), sendo o primeiro e o último autor, respectivamente, mestrando e orientador. Está integrado aos estudos do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento: a especificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina, o qual contou com o apoio financeiro da FAPESC.

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experiênciasdoRioGrandedoSul,oValedosVinhedoseaCarnedoPampaGaúcho, e fazer análises com base em suas pesquisas sobre as diversassituaçõesqueasenvolvem,chegaàconclusãoqueasIGspodemseconverternuminstrumentodedesenvolvimentoterritorial.Noentanto,nãodevemservistas como destino final,mas, sim, comoponto de partida emuma longacaminhadadeconstruçãosocialdaqualidadeedadiferenciação.

Diante dessa incerteza quanto ao impacto de diferentes experiênciasbrasileiras no desenvolvimento, a presente pesquisa tem o intuito derespondero seguintequestionamento:quala contribuiçãodeexperiênciasde Indicação Geográfica do setor vinícola no desenvolvimento dosterritórios em que estão inseridos, considerando as dimensões social,culturaleambiental?

Para responder a esse questionamento, parte‐se da premissa de quealgumas regiões ou territórios possuem produtos ou serviços queapresentam fortes traços de especificidade territorial, condição necessáriapara o registro de uma Indicação Geográfica, o que, em geral, resulta naagregação de valor e valorização econômica dos mesmos no mercado.Entende‐se, então, que a Indicação Geográfica é um dos instrumentos devalorização dos produtos com especificidade territorial e que pode, ainda,contribuir para o desenvolvimento das regiões ou territórios atingidos,principalmentenasdimensõessocial,culturaleambiental.

Assim, teoricamente a pesquisa justificou‐se pela possibilidade derealçar a importância da Indicação Geográfica para o desenvolvimento deregiõeseterritóriosatingidos,considerandoasdimensõessocial,culturaleambiental do desenvolvimento. Sob o aspecto prático, foi possível levar aconhecimento o impacto das duas experiências brasileiras de IndicaçãoGeográfica no setor vinícola já implantada, traçando particularidades enecessidades para um efetivo avanço em relação ao desenvolvimento dosterritóriosdeformasustentável.

Com esse propósito, foram analisadas duas experiências de IndicaçãoGeográfica já implantadas, ambas do setor vinícola, a Associação dosProdutoresdeVinhosdePintoBandeira(Asprovinho),localizadanaregiãoserranadoestadodoRioGrandedoSuleaAssociaçãodosProdutoresdaUva edoVinhoGoethedaRegiãodeUrussanga (Progoethe), localizadaaosuldoestadodeSantaCatarina,sendoqueemambasoprodutoéovinho,analisandopormeiodelasoimpactonodesenvolvimentodeterritóriosemqueestãoinseridos,considerandoasdimensõessocial,culturaleambiental.Emespecífico,buscou‐se:arevisãobibliográficasobreIndicaçãoGeográficae temas conexos (espaço geográfico, território, identidade territorial,sustentabilidade e desenvolvimento regional); a investigação da realidadede Indicações Geográficas do setor vinícola focando as dimensões social,culturaleambiental;easistematizaçãodasprincipaisevidênciasquantoà

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sustentabilidade do desenvolvimento de territórios abrangidos porexperiênciasdessetiponosetorvinícola.

Tomandocomoreferênciaasexperiênciasanalisadas,observou‐sequeasvariáveisrelacionadasàsdimensõessocialeculturalestãominimamentecontempladas.Noentanto,emrelaçãoàdimensãoambiental,apreocupaçãoresume‐se ao atendimento das exigências legais, fazendo‐se necessáriosmaisavanços.

2.IDENTIDADETERRITORIAL,INDICAÇÃOGEOGRÁFICAESUSTENTABILIDADE

Noâmbitodasdiscussõessobredesenvolvimentoterritorialeprojetos

de Indicação Geográfica, destaca‐se a perspectiva territorial, possibilidadequelevaemcontaaproduçãodeprodutoseserviçoseapermanênciadostraçoshistóricos e culturais. Junto a isso, debate‐se sobre a capacidadedeorganização da sociedade e a gestão de seu território, amparado em umdesenvolvimentoquesustenteasdimensõessociais,culturaiseambientais.

A sociedade está intimamente ligada ao espaço. É através dele que épossível observar e perceber as constantes mudanças nas relaçõeseconômicas, políticas ou culturais e identificar suas particularidades. Já oterritórioéapresentadoaquicomogeradorderaízeseidentidades,ouseja,singularidade e diferenciação, indispensáveis às regiões e territórios comprojetosdeIndicaçãoGeográfica.

AdiscussãosobreIndicaçãoGeográfica,alémdesuarelaçãoconceitualcomespaçoe território, remeteànecessidadede referenciaraquestãodoenfoqueterritorial.

As questões territoriais, conforme Silva e Silva (2001), vêm sedestacando,refletindoointeressedasociedadecomoumtodopelatemática,como resultado da crescente e competitiva integração global de lugares eregiões.Paraosautores,o territóriocareceserentendidosobasseguintesperspectivas:(a)Oterritórioexpressaumcomplexoedinâmicoconjuntoderelações socioeconômicas, culturais e políticas, historicamentedesenvolvidas e contextualmente espacializadas, incluindo suaperspectivaambiental; (b)emfunçãodasdiferentes formasdecombinaçãotemporaleespacial das relações acima citadas, por conseguinte os territóriosapresentamgrandediversidade,comfortescaracterísticasidentitáriaseistoenvolvendodiferentesescalas;(c)osterritóriosassimidentificadostendem,potencialmente, a apresentar laços de coesão e solidariedade tambémestimulados e dinamizados pelo crescimento das competitivas relaçõesentre diferentes unidades territoriais no contexto da globalização; (d) osterritórios tendem a valorizar agora suas vantagens (e possibilidades)comparativasatravésdeformasorganizacionaissociais, institucionalmenteterritorializadas, capazes de promover uma inserção competitiva e bem

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sucedida nas novas e dinâmicas relações socioeconômicas, culturais epolíticasdenossostempos,emumaescalaglobal.Convémdestacarqueistoérelativamenterecente.

As relações entre o homem e o meio, segundo Chelotti (2010),possibilitaramque as sociedadeshistoricamente construíssem identidadesterritoriais com símbolos, signos emarcas. Com isso, as economias locaisexpostasaprocessoscorrosivosdesuadinâmicaeconômicaedeseutecidosocialpoderiamengendrar formasderelacionamentocapazesde fomentaridentidades, territorial ouhistórico‐cultural, que tenhamcomoresultado aconstrução de caminhos alternativos para o desenvolvimento, o que deformaexpressaremeteàdiscussãodotemaidentidadeterritorial.

Aonotarqueosprocessosatuaisdeglobalizaçãonãoforamcapazesdeadentrarcertasregiõesouterritórios,épossívelperceberaconservaçãodediferentes características ligadas à história e cultura em determinadosespaçosouterritórios.Atualmente,essascaracterísticastêmsetornadoumaalternativadedesenvolvimentoregional.

A identidade territorial é um elemento diferenciador, seus traços ecaracterísticas estão ligados ao espaço, à cultura, às relações sociais e aopatrimônio ambiental, elementos essenciais à Indicação Geográfica e aodesenvolvimento regional. Nas palavras de Albagli (2004), tais elementossãochamadosdedimensõesesãoelasasresponsáveispelaparticularidadedosterritórios,osquaispassamaseremmoldadosapartirdacombinaçãode forças internas e externas, tais sejam: a dimensão física (clima, solo,relevo, vegetação e a resultante do uso e práticas dos atores sociais), adimensão econômica (consumo e comercialização), a dimensão simbólica(lugaresparticulares,relaçõesculturais,afetivas)eadimensãosociopolítica(dominaçãoepoder).

A identidade territorial na definição de Haesbaert (1999) é umaidentidade social definida através do território, dentro de uma relação deapropriação que se dá tanto no campo das ideias quanto na realidadeconcreta. Assim, a relação construída entre determinada sociedade e seuespaço geográficoproduzema identidade territorial. ParaCuche (1999), aidentidadeexprimearesultantedasdiversasinteraçõesentreoindivíduoeseuambientesocial,próximooudistante.

SaqueteBriskievicz(2009)salientamqueasidentidadesresultamdosprocessos históricos e relacionais. Assim, a identidade configura‐se numpatrimônioterritorialaserpreservadoevalorizadopelosatoresenvolvidos.Para os autores, o território envolve o patrimônio identitário, ou seja, osaber‐fazer, as edificações, os monumentos, os museus, os dialetos, ascrenças,osarquivoshistóricos,asrelaçõessociaisdasfamílias,asempresas,as organizações políticas. Esses podem ser potencializados em projetos eprogramasdedesenvolvimento.Namesma linhaderaciocínio,Fonteetal.

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(2006) afirmam que a identidade expressa‐se pelos sinais materiais eimateriais, como os sítios arqueológicos, a música, literatura e artes e,também, através de sua arquitetura, paisagem, tradição, folclore,biodiversidadeeosprodutosalimentarestípicoseosprodutosartesanais.

Uma forte identidade territorial, para Pollice (2010), não contribuiapenas para estimular processos de desenvolvimento (endógeno eautocentrado),masparapredeterminarobjetivoseestratégias.

Saquet eBriskievicz (2009) contemplama ideia de que o território, aterritorialidade e identidade acontecem simultaneamente e há umadependência mútua também entre território ‐ identidade –desenvolvimento.

Uma comunidade local, como já se indicou, tende a atribuir um valorsimbólico a alguns elementos da paisagem, reconhecendo‐os comoexpressão tangível da própria identidade territorial. A atribuição dessesvalores simbólicos se funda quase sempre sobre a imagem que acomunidadelocal(insiders)possuidesimesmaedaprópriaespecificidadeterritorial(POLLICE,2010,p.13).

De acordo com Flores (2006), uma gama de novos conceitosrelacionados ao espaço rural vem sendo debatida em nível internacional.Esses conceitos passam pela agricultura familiar, pluriatividade,multifuncionalidade da agricultura, atividades não agrícolas rurais,agroecologia, certificação de origem e qualidade de produtos eterritorialidade,entreoutros.Todaessadiscussão,segundooautor,buscaareaproximação do processo de desenvolvimento rural às expectativas dosatoreslocaiseoconfrontoàsquestõesculturaislocaise,comoprocessodeglobalização, no intento de se pensar e programar uma nova lógica dedesenvolvimento.

Naglobalização,aproduçãoemmassatemproporcionadoaaberturadeum mercado a produtos diferenciados com garantia de qualidade,procedência e características específicas. “Os ventos da globalização e datransformação da base técnico‐produtiva trouxeram, em contrapartida, arevalorização do território e alçaram a territorialidade a fator dedinamismo,diferenciaçãoecompetitividade”(ALBAGLI,2004,p.62).

As Indicações Geográficas representam, assim, uma alternativa pararegiõesqueseencontramforadoprocessocompetitivodaglobalização.Talprocessoconstitui‐senuminstrumentodeproteçãointelectualquevalorizaelementos sociais, culturais e históricos, apresentando‐se também comouma forma de integrar a conservação de ambientes característicos eameaçadospeloshabituaismodosdehomogeneizaçãodomercado.

Portanto, na implementação de uma Indicação Geográfica voltada aosprincípios do desenvolvimento sustentável se deve buscar a inclusão deprodutoreslocais,adiversidadeculturalehistórica,amelhoriadaqualidadede vida, econômica, social e ambientalmente, ou seja, deve promover o

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crescimentocomequidade,ainclusãoeajustiçasociale,também,agestãodosrecursosnaturais.

De modo geral, de acordo com Sachs (2009), o objetivo para odesenvolvimento deveria ser o estabelecimento de um aproveitamentoracional e ecologicamente sustentável da natureza em benefício daspopulações, como um componente de estratégia. Outramaneira, ainda, deencararodesenvolvimento,segundooautor,consisteemreconceituá‐loseapropriando de três gerações dos direitos humanos: os direitos políticos,civis e cívicos; os direitos econômicos, sociais e culturais; e os direitoscoletivosaomeioambienteedesenvolvimento.

O envolvimento entre território, fatores naturais e humanosdesencadeia a formação de uma identidade territorial que, ao longo dotempo, vem se destacando como uma possibilidade estratégica, singular ecompetitiva de inserção de regiões e territórios no mercado globalizado,além da possibilidade de acesso a bens e serviços. Para Sacco dos Anjos(2011),aIndicaçãoGeográficaéumaformadefomentarodesenvolvimentode zonas rurais que sofrem com o isolamento e crise de perspectivas emrelaçãoaoseufuturo.

O conceito de Indicação Geográfica passou a existir quandodeterminadosprodutos apresentavamqualidade ímpar e eramnominadospelasuaorigemgeográfica.EssecostumesurgiunaEuropa,hámaisde150anos, com produtos como queijos e vinhos. No entanto, tal conceito vemsendo difundido no meio acadêmico e também em propostas dedesenvolvimento. Para Froehlich e Dullius (2011), no mundocontemporâneo, onde o mercado valoriza produtos diferenciados, estasestratégiasbaseadasemqualidade tornaram‐seumvetordealtopoderdeagregaçãodevalorterritorial.

NoBrasil, o órgão responsável pela IndicaçãoGeográfica é o InstitutoNacionaldaPropriedadeIndustrial(INPI),queadefinecomoaidentificaçãodeumprodutoouumserviçoorigináriodeumlocal,regiãooupaís,quandodeterminada reputação, característica e/ou qualidade possam servinculadasessencialmenteasuaorigemparticular.Éumagarantiarelativaàorigemdeumprodutoquantoàssuasqualidadesecaracterísticasregionais.Ouseja,aIndicaçãoGeográficanãopodesercriada,apenasreconhecida.

ALeinº9.729,de14demaiode1996,regulaaPropriedadeIndustrialbrasileira e apresenta, em seus artigos 177 a 182, as definições para aindicação de procedência e denominação de origem, bem como asmodalidades da Indicação Geográfica. Para a Indicação de Procedência,considera‐seonomegeográficodepaís,cidade,regiãooulocalidadedeseuterritório que se tenha tornado conhecido, para Denominação de Origem.Além do nome geográfico, deve‐se se levar em conta qualidades oucaracterísticas vinculadas essencialmente ao respectivo meio geográfico,incluindoosfatoresnaturaisehumanos.

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A normatização jurídica favoreceu a efetivação de um mercadodiferenciador,cujosprodutoscomespecificidadesegarantiadosmodosdeprodução têm atraído um maior número de consumidores que, segundoGlass e Castro (2009), estão cada vezmaismotivados em consumir essesprodutos, pela sua singularidade e tradição. Bruch (2008) aponta aIndicaçãoGeográficacomoabuscadeproteçãoaoconsumidor,assegurandouma informação correta sobre o produto e a garantia de procedência egenuinidade.

Ainda quanto aos aspectos jurídicos do reconhecimento de umaIndicação Geográfica no Brasil, Pimentel (2013) destaca requisitosessenciais para o pedido de registro e sua concessão tais como: aorganizaçãodosprodutores,instituiçõespúblicas,associações,empresários,entre outros, e a comprovação dos produtores estabelecidos na áreageográfica em questão; a comprovação de notoriedade de produtos; asnormasdecontrole,ouseja,requisitosaosparticipantesdecomumacordopara serem cumpridos; o design dos sinais distintivos ou logos; oinstrumento oficial que delimita a área geográfica. O autor conclui que, apartir desses elementos, a Indicação Geográfica se mostra como umaestratégiacoletivaparapromoçãoecomercializaçãodosprodutos.

ParaFroehlicheDullius(2011),recentementepropaladasnoBrasil,asIndicaçõesGeográficas(IGs)sãoumdesafioaserenfrentado,poissãoaindaincipientesasarticulaçõeseos investimentos,dadasaspotencialidadesdaampla diversidade biocultural do país e o diferencial de mercado que sepode atingir. Ainda, para os autores, uma das principais estratégias quearticula identidadeterritorialedesenvolvimentosãoasIGs,poispermiteavalorizaçãodeatributoslocaisespecíficos,buscandoassociar,noimagináriodoconsumidor,relaçõesdetipicidade,culturaetradição,alémdeprotegeropatrimônioagrícolanacionaleagerarrenda.

Assim, as IGs são vistas como instrumentos importantes para odesenvolvimentoterritorialesustentável.ParaSaccodosAnjos(2011),nosencontramosdiantedeumnovodiscursosobrea ruralidadeem favordosprodutos, processos e serviços com identidade cultural. O autor expõe opapel das IGs para o dinamismo, a inovação e a diversificação de áreasrurais.

3.DESCRIÇÃOMETODOLÓGICA

Foram analisadas duas experiências de Indicação Geográfica do setor

vinícola, já implantadas: a Associação dos Produtores de Vinhos de PintoBandeira (RS) (Asprovinho) e a Associação dos Produtores da Uva e doVinho Goethe da Região de Urussanga (SC) (Progoethe). Aplicou‐se umquestionárioaempresários,agricultoresetécnicosenvolvidos,tendocomoreferencialoselementosteórico‐metodológicoselencadosnoQuadro1.

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Quadro1–Questões‐chaveparainvestigaçãodasexperiências

CritérioComponentes

(Sachs,2009)

QuestõesparaasentrevistasSocial

*Alcancedeumpatamarrazoáveldehomogeneidadesocial.

*Distribuiçãoderendajusta.

*Autonomia,comqualidadedevidadescente.

*Acessoarecursoseserviços.

*Melhoriadoambienteurbano.

*ComoaIndicaçãoGeográficaelevaasoportunidadessociais?

*ComoaIndicaçãoGeográficaaumentaaviabilidadeeconômicalocaleamelhordistribuiçãoderenda?

*DequeformaaIndicaçãoGeográficasetornainclusivacomosindivíduosenvolvidosdiretaeindiretamente?

*ComoaIndicaçãoGeográficaorganizaosgrupossociaisequaisosreflexosparaaqualidadedevida?

Cultural

*Equilíbrioentreinovaçãoetradição.

*Autoconfiançacomaberturaparaomundo.

*Respeitoàformaçãocultural.

*ComoaIndicaçãoGeográficamantémoequilíbrioentreinovaçãoetradição?Ouseja,emqueinova,semdesconsiderarosaspectosligadosàtradiçãolocal?

*ComoaIndicaçãoGeográficapossibilitaapermanênciadaculturanoterritório?

*QuaisaçõesaassociaçãoquecoordenaaIndicaçãoGeográficarealizaparapreservarevalorizaraculturadoterritórioesuagente?

Ambiental

*Preservaçãodopotencialdecapitalnaturalnaproduçãoderecursosrenováveis.

*Limitaçãodousodosrecursosnão‐renováveis.

*Estratégiasdedesenvolvimentoambientalsegurasparaasáreasecologicamentefrágeis.

*ComoaIndicaçãoGeográficaconservaapaisagemnaturaldoterritório?

*ComoaIndicaçãoGeográficautilizaosrecursosnaturaisenvolvidosnaproduçãodosprodutos?

*DequeformaaIndicaçãoGeográficacontribuiparaodesenvolvimentosustentávelecologicamente?

Fonte:Elaboraçãoprópria.

Em contato com as associações responsáveis, foi solicitado o

agendamento de visitas in loco a todas as vinícolas das duas experiênciaspara aplicação das questões‐chave, observações e coleta de materialdisponível. De um total de dezessete vinícolas ou instituições, 82% (13)participaramdapesquisa.

3.1VALESDAUVAGOETHE

AIndicaçãoGeográficadenominadaValesdaUvaGoethe(Mapa1)está

estruturadanaformadeIndicaçãodeProcedência.IntegraosmunicípiosdeUrussanga,PedrasGrandes,CocaldoSul,TrezedeMaio,NovaVeneza,Içara,OrleanseMorrodaFumaça, localizadosentreaSerraGeraleoLitoralSul

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Catarinense, a qual ficou popularmente conhecida como Região deUrussanga.

Mapa1–MapadaRegiãodaIndicaçãoGeografiadaUvaGoethe

Fonte:Silvaetal.(2011apudVIEIRA;WATABABE;BRUCH.2012,p.336,adaptado)

AregiãodeUrussangafoicolonizadaporimigrantesitalianoscomforte

culturavitivinícola.Ahistóriadovinhoestápresentehámaisde130anosnestaregiãoedetémrelevanteimportânciasocioeconômica.

A IndicaçãoGeográficaemreferênciaéarticuladapelaAssociaçãodosProdutores daUva e doVinhoGoethe (Progoethe), fundada em2005, queabrange os produtores de uva e vinho Goethe, além dos prestadores deserviçosdeenoturismo,comohotéis,pousadas, restaurantesdaregiãodosVales daUva Goethe. Com grande importância cultural, os Vales dasUvasGoethepossuemuma identidadeúnica em relação à produçãode vinho jáque sua paisagem é característica, seu clima agradável e o patrimôniohistóricomantêm‐sepreservado.AculturaeatradiçãoestãopresentesemtodasasvinícolasefamíliasqueintegramosVales.

3.2VINHOSDEPINTOBANDEIRA

AáreaGeográficadelimitadaéde81,38km²;aproximadamente91%da

regiãoestálocalizadaemBentoGonçalvese9%emFarroupilha,noEstadodoRioGrandedoSul.(Figura1).

Antigo distrito do município de Bento Gonçalves, Pinto Bandeira foireinstaladonomunicípioem2013,depoisdeváriasdiscussõesjudiciais.

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Figura1–LocalizaçãodaIndicaçãodeProcedênciaVinhosdePintoBandeira

Fonte:ASPROVINHO(2014,adaptado).

Pinto Bandeira é dotado de identidade territorial e cultural, possuiparticularidadesnassuaspaisagenscomoasextensasplantaçõesdefrutaseseus parreirais. A característica cultural é a produção de vinhos empequenas propriedades familiares. Atualmente, os associados daASPROVINHO são: Dom Diovane, Vinícola Valmarino, Vinícola Pompéia,VinícolaGeisse,VinícolaAuroraeVinícolaTerraças.

4.ANÁLISEDOSDADOS

Os dados coletados foram analisados e interpretados, conforme oQuadro 1, pelas dimensões social, cultural e ambiental e suas respectivasquestões‐chave.

Na análise da dimensão social, buscaram‐se respostas quanto àsoportunidadessociais,aviabilidadeeconômica,ainclusãodosindivíduoseaqualidadedevida.Nasrespostasdasentrevistas,percebeu‐sequeamaiorianãoconsiderousignificativooaumentodeoportunidadessociaisapartirdaIG.Noentanto,destacaramo turismocomoestratégiaparaamelhoriadasoportunidades de acesso a novos serviços e empreendimentosmercadológicos, pois a Indicação Geográfica trouxe a valorização domeiolocal,daculturaedasfamíliasenvolvidas.

Alguns entrevistados afirmam que o preço do produto com IG vemsendodiluídoaolongodotempoparaquenãohajaumgrandeimpactonomercado.Então,verifica‐seumprocessocontínuodemelhora.Emsuma,os

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entrevistados assumem o posicionamento de que a Indicação Geográficafacilita o turismo, o qual dá mais visibilidade ao território e,consequentemente, favorece a implantação de novos empreendimentos enovasalternativasdedesenvolvimento.

Logo, segundo os entrevistados, o valor agregado no produto não seapresenta como principal conquista, mas, sim, a maior visibilidade dosprodutos, facilitando o acesso aos mercados nacional e internacional.Argumentaram que a IG possibilitou o acesso de um maior número devisitantes à região no território, o que, por sua vez, proporcionamaioresganhos, já que atinge outros empreendimentos e possibilita a venda deprodutos que não possuem selo de IG. A principal reclamação dosentrevistadosestánadificuldadedeconseguirinserirprodutosnasgrandesredes de mercado no território nacional. Outro fato interessante a serconsiderado é que os entrevistados não colocaram o retorno financeirocomoprincipalquesito,mas,sim,avalorizaçãodoseuproduto.

A Indicação Geográfica apresenta‐se como socialmente inclusiva nasduas experiências. Além da conquista demuitas parcerias emelhoria nasrelações entre empresários, houve também a possibilidade de criar umarede que divulga e atrai diferentes públicos, além dos que produzem ecomercializamosprodutoscomIG,taiscomohotéis,restaurantes,artesãos,todos,mesmoqueindiretamente,beneficiando‐senoterritório.

Um deles resume o fato, afirmando que pode ser considerada “umacestadeprodutos–turismo,IG,cultura,valorizaçãodoterritório,visitação.Pousadas e restaurantes usam o selo tambémpara divulgação e atrativo”.Outra importantecontribuiçãoéo fatodequeo turismoproporcionaessainclusãodaspessoasenvolvidasdiretaou indiretamente. “A IG incluiunãosóosprodutoresevinícolas,comooutrosempreendimentos,artesão,etc.Sónãoestáinclusoquemnãooptoupelotipodeprodução”.

Paraumdosentrevistados:“devidoaoturismo,é inclusivo.Quandosefalaemcooperativa,émaisfácilainclusão;trouxeoportunidadedetrabalhonaregião”.Complementa‐secomoutraresposta: “o turista fazquilômetrospara conhecer o vinho”. Ou seja, a região começa a ser inserida em umcenário mais amplo de produtos diferenciados e começa a ganharnotoriedade.

A forma de inclusão é específica para cada produtor vinícola ouempreendimento. Um dos entrevistados contou: “parame incluir tive quecolocarvendedoresnarua,diferentedeoutrasvinícolasquetêmoturistanaporta”. É possível observar o esforço e a particularidade de cadavitivinicultor, já que estão localizados emdiferentes localidadesdentrodaregião.

Dois entrevistados apontam situações de exclusão. Para um, “alegislação brasileira não existe para vinho colonial, isso bloqueia algumaspossibilidadedemercado”;paraoutro,“alegislaçãoexclui,poissópodeter

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selo aqueles que tiverem inscrição no Ministérios da Agricultura, o quenecessita de uma infraestrutura”; em contrapartida, um dos entrevistadosconsideraque “oprodutornãoprecisa investirmuitoparaproduzir vinhocomselo”.

Osentrevistadossereferiramàmelhoriadaqualidadedevida,descritanasrelaçõescomacomunidade,valorizaçãodaculturaedapopulaçãolocal,interaçãocomopoderpúblico,alémdesituaçõesmaisespecíficas,comonoacesso aos serviços básicos, tais como água, luz, coleta de lixo e avançospositivos na infraestrutura. De maneira geral, a Indicação Geográficapossibilitouo bem‐estar a partir damelhoriadas relações eparceriasnosdiferentessetores,noacessoarecursoseserviços.

Na dimensão cultural se questionou sobre a relação entre inovação etradição, a permanência da cultura no território e as ações locais depreservação e valorização cultural. Essa foi a dimensão que teve maiorexpressãonasrespostasdos inquiridosnasduasexperiênciasdeIndicaçãoGeográfica. Os entrevistados demonstraram preocupação e zelo com ahistória e cultura do meio e relação com os produtos. Deixaram clara aintenção de preservar o território e a paisagem. Foi possível observar orespeito à tradição e à inovação, além da ampliação da capacidade demobilização endógena na busca por objetivos comuns. Em geral, asinovações não indicam desconfiguração do produto, apenas facilitam otrabalho dos colaboradores e proprietários, com avanços tecnológicos noprocesso produtivo. A tradição é mantida dentro da vinícola como umacervoparaoturista.

As respostas permitem observar que a longa história e a culturapresente nos territórios são o ponto‐chave para o turismo, sendo esseconcebido na perspectiva da conservação e manutenção das paisagens. AIndicaçãoGeográficasetornariaumrecursoimportanteparaamanutençãoe permanência dessa cultura no território. No entanto, a falta de maisprojetosporpartedopoderpúblicoéconsideradapelosentrevistadoscomopreocupante, pois consideram que seria fundamental para o sucesso daIndicaçãoGeográfica.

NasduasexperiênciasdeIG,houveconcordânciaquantoàimportânciadasAssociaçõesquecoordenamasatividadesdaIGs.Nessacategoria,todososposicionamentosforampositivos.

Nasrespostasdosentrevistadosaassociaçãotemumpapelimportante,pois,emsuma:“incentivaemelhoraascondiçõesdevenda,oquepossibilitauma maior visibilidade da região e do vinho”; “realiza festas regionais,participaçãodefeiraseeventos,parceriascomEPAGRI”;“responsabilidadesobre o selo da IG, marketing e atrativos turísticos”; “sinalização, folders,contatocomjornalistas,parceriasparafortalecimento,aumentodonúmerode visitantes; assuntos sobre turismo e vinhos são levados para reuniões,

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palestras para a comunidade, ações com escolas, artesanato comovalorização”.

A dimensão ambiental envolve a sustentabilidade ambiental, aconservação da paisagem natural, a utilização dos recursos naturais e acontribuição da atividade com o desenvolvimento sustentávelecologicamente. Nas experiências de IG analisadas, essa dimensão não évista como prioridade. Além disso, não há preocupação aparente dosprodutoresouproprietáriosvinícolascomasquestõesecológicas.Aracionalutilização de recursos naturais não é levada em conta na produção deprodutoscomselodeIndicaçãoGeográfica.

Paraosentrevistadosháumgrandeinteresseemconservarapaisagemnaturalatualdoterritório.Notou‐seduranteosquestionamentosque,comoas vinícolas já estão instaladas e já conseguem fazer uma projeção deprodução/plantio,nãohápreocupaçãonadesconfiguraçãodoterritóriocomo aumento de parreirais. Para um entrevistado, “há preocupação com aespeculaçãoimobiliáriaeamigraçãodointeriorparacidade”.

Como a indicação geográfica está diretamente ligada ao turismo, paraeles o turismo tem relação com a paisagem natural. Os entrevistadosdemonstraram “grande preocupação com a paisagem; a paisagem vai nonosso rótulo”; “a IG está estritamente relacionada ao território e suapaisagem. Sua manutenção é fundamental para a consolidação da IG”;também vale ressaltar que “a intenção é que as pessoas venham para cáconhecer a paisagem”. Ratifica‐se nas palavras de outro entrevistado, “avinícolaestáinseridaemroteirosturísticos.Estarentreaserraeomarfazcom que seja especial. A paisagem tem causado curiosidade e está sendoinseridanomapaturísticobrasileiro”.

QuantoàutilizaçãodosrecursosnaturaisnãohádistinçãodautilizaçãoantesoudepoisdaimplantaçãodaIG.Deacordocomumdosentrevistados,“a IG para vinhos está relacionada ao “terroir”, que envolve o clima, solo,inclinação do terreno e até mesmo o manejo do vinhedo”, mas, de modogeral,nãoéumfatordominanteparaaIndicaçãoGeográfica.

Outroentrevistadoafirma:“Nuncafizestarelação.Existeumlimitedeprodução por hectare, mas não por região, poderia plantar vinhedos portodaaregião.Istoéumaescolhadavinícolaemutilizarosrecursosnaturaiseconservarapaisagem”.

Não se percebe uma preocupação dos produtores ou vinícolas com aecologia. Doze, dos treze entrevistados se posicionaram negativamentequantoàcontribuiçõesparaodesenvolvimentosustentávelecologicamente.Oqueosprodutoresouvinícolasrealizamsãoocontrolederecolhimentodeembalagens, o cadastro vitícola, referente à produção familiar e oatendimentoàslegislaçõesambientaisexistentes.

Somente um entrevistado posicionou‐se positivamente afirmando que

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na sua vinícola tem instalado o TPC (sistema Thermal Pest Control), umprocessodeimunizaçãodeculturasagrícolasàbasedoarquente.

Noentanto,osentrevistadosafirmaramqueháumgrandeinteresseemconservarapaisagemnaturalatualdoterritório.Ouseja,apaisagemnaturalé vista como atrativo, tem relação direta com a venda do produto e oturismo.Noentanto,nãoéconsideradaumativodiferencial.

5.CONSIDERAÇÕESFINAIS

O propósito desta pesquisa foi investigar acerca da contribuição dasexperiênciasdeIndicaçãoGeográficadosetorvinícolanodesenvolvimentodos territórios atingidos, considerando as dimensões social, cultural eambiental. Para o presente estudo, foram tomadas como referência duasexperiências do setor vinícola, a Associação dos Produtores de Vinhos dePintoBandeira,localizadanaregiãoserranadoestadodoRioGrandedoSul.e a Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe da Região deUrussanga, localizada ao sul do estado de Santa Catarina. Comoprocedimentometodológico,foramutilizadasentrevistas,observaçãodireta,pesquisadocumentalebibliográfica.

Nesta investigação, partiu‐se da hipótese de que algumas regiões outerritórios possuem produtos ou serviços com especificidade territorial eque a Indicação Geográfica poderia contribuir para o desenvolvimentosustentável dos territórios atingidos, em especial, nas dimensões social,culturaleambiental.

Finalizando,retoma‐seaquestãocentralquemotivouestainvestigação:qual a contribuição de experiências de Indicação Geográfica nodesenvolvimento dos territórios em que estão inseridas, considerando asdimensõessocial,culturaleambiental?

A investigação dessa temática é fundamental, pois o Brasil possui umextensoterritório,comdiferentesespecificidades,oqueseapresentacomopotencialidadeparaa instituiçãodeumgrandenúmerodeexperiênciasdeIndicação Geográfica, valorizando os ativos naturais e culturais, além desurgimentodenovosprodutosturísticos,osquaisalongoprazo,pelomenosem tese, poderiam estimular o desenvolvimento territorial com destaqueparaasdimensõessocioeconômica,culturaleambiental.

Considerando as análises permitidas pela presente investigação,entende‐se que a Indicação Geográfica pode contribuir para potenciarestratégias de desenvolvimento territorial sustentável. No entanto,deveriamconsiderarregrasparaaproduçãodeprodutosquelevassememconta as dimensões social, cultural e ambiental, além da econômica.Entende‐se que a efetividade dessa perspectiva implicaria em que oplanejamentodeexperiênciasde IGconsiderasseaspectos taiscomo:(1)avalorização da economia local, com apoio aos empreendimentos jáexistentes;(2)amanutençãodatradiçãoeculturalocal,oquecontribuiria,

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porexemplo,nasustentaçãodosetorturístico;(3)incentivoàconservaçãodapaisagem,comopatrimônioculturaleambientaldacomunidadelocal;(4)facilitaçãodasrelaçõesentreempresários,sociedadelocalepoderpúblico;(5)criaçãodeestratégiasquefavorecessemacompetitividadedosprodutoslocais frente ao mercado nacional e internacional. Especificamente emrelação à dimensão ambiental, implicaria em uma alternativa dedesenvolvimento gerada por experiências de Indicação Geográfica queatentasseaousoracionaldaágua,ousoeconservaçãodosolo,preservaçãode áreas naturais existentes e aplicação de práticas agrícolas sustentáveiscomodiferencialnaproduçãodosprodutos.

Tomandocomoreferênciaasexperiênciasanalisadas,conclui‐sequeasvariáveis relacionadas às dimensões social e cultural estão minimamentecontempladas.Noentanto,emrelaçãoàdimensãoambiental,apreocupaçãoresume‐se ao atendimento das exigências legais, sendo necessários novosavanços.

Tem‐seconsciênciadas limitaçõesdopresenteestudo,principalmentepor terem sido observadas apenas duas experiências de um único setor.Alémdisso,setratamdeexperiênciasaindarecentes,sendoqueaanálisedasua prática atinge um períodomuito curto, não permitindo análises maisaprofundadas. Mesmo em se tratando da análise dessas ou outrasexperiências, sugere‐separapesquisas futurasenvolverummaiornúmerode entrevistados, atingindo os demais setores produtivos locais, ou seja,pousadas, restaurantes, hotéis e a comunidade, com a intenção demelhorperceberoimpactodaIndicaçãoGeográficaemtodooterritório.REFERÊNCIASALBAGLI, S. Território e territorialidade. In: LAGES ,V.; BRAGA, C.; MORELLI, G.Territórios em movimento: cultura e identidade como estratégia de inserçãocompetitiva.Brasília:SEBRAE,p.24‐69,2004.

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CAPÍTULO4

OPATRIMÔNIOCULTURALCOMOATIVOTERRITORIALNODESENVOLVIMENTO

REGIONAL1

MárciaFernandesRosaNeu‐UFPRPatriciadeOliveiraArea–UNIVILLE

INTRODUÇÃO

Aproduçãodesteartigosefundamentanasreflexõesrealizadasdurante

a participação na execução de um Projeto de Pesquisa, financiado pelaFAPESC,coordenadopeloProf.ValdirRoqueDallabrida,daUniversidadedoContestado, nas reuniões com a equipe de pesquisa do referido projeto equando da participação na Rede Iberoamericana de Estudos sobreDesenvolvimentoTerritorialeGovernança2.

Durante as pesquisas e os debates sobre desenvolvimento regional eIndicações Geográficas, um problema se apresentava recorrente entre ospesquisadores: a participação ou adesão da população na implantação eimplementaçãodeumaIndicaçãodeProcedênciaoudeumaDenominaçãodeOrigem.A participação da comunidade em geral é o que garante o seupróprio reconhecimento. A exemplo dos países europeus que, de modogeral, possuem uma grande experiência de desenvolvimento regionalfundamentado nos pequenos produtores, no associativismo e nas açõescooperadas para a valorização das Indicações Geográficas (IGs), no Brasiltêm surgido vários movimentos, inclusive por meio de políticas públicas,paragerarodesenvolvimentoregionalcomoreconhecimentodosprópriosprodutoresdoseupotencial.3

1 O texto resume reflexões realizadas durante a execução do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento: a especificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina, financiado pela FAPESC, Chamada Pública Nº04/ 2012/Universal. 2 A Rede resultou de encontro que reuniu professores de universidades brasileiras, de Portugal e Espanha, no dia 17 de agosto de 2014, na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Propõe o estudo comparado de práticas de desenvolvimento territorial e governança, envolvendo pesquisadores universitários, técnicos profissionais ou gestores públicos e privados que estudam ou estão envolvidos em experiências de desenvolvimento territorial e governança. Na objetivação de seu propósito básico propõe-se realizar parcerias com pesquisadores universitários e estudiosos de países iberoamericanos. O endereço provisório de contato é: [email protected]. 3 Sobre o assunto, é interessante mencionar a publicação de Krone e Menasche (2010) na qual é analisada o uso de ferramenas como patrimonialização e indicações geográficas para gerar desenvolvimento regional com base em produtos tradicionais.

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Apesar do patrimônio cultural não ser especificamente o objetotutelado pelas Indicações Geográficas, a exclusividade sobre o signodistintivo vinculado a uma região geográfica está intrinsecamenterelacionada à tradição e identidade cultural da comunidade dessa região.Essa relação impacta direta e indiretamente a comunidade local e suaparticipaçãoepertencimentoàexploraçãoeconômicadosprodutorese/ouserviçoscomosignodistintivoprotegidoporindicaçõesgeográficas.

Portanto,paraqueesseprocessodedesenvolvimento regionalocorra,se faz necessária a reflexão sobre o patrimônio cultural das comunidadesenvolvidas. É imprescindível que a comunidade, mais especificamente, osagentes da cadeia produtiva, reconheça o potencial que uma integraçãocooperadapodegerarparatodos.Emais,quesetomemosdevidoscuidadosparaquenãoexistaumesvaziamentosimbólicodessepatrimôniocultural,oque tornaria determinado produto e/ou serviço apenas uma commodity aser consumida, desassociado da trajetória histórica e patrimonial dacomunidade.

Nesse esforço, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA),associadoaoInstitutoNacionaldePropriedadeIndustrial(INPI)ecom o apoio de membros da Rede Iberoamericana de Estudos sobreDesenvolvimento Territorial e Governança, elaborou um curso com oobjetivodegerarempoderamentosobreopotencialdasIGs,cujapropostaéformar gestores locais para promover as Indicações Geográficas e suarelaçãodiretacomopatrimônioculturaldeumacomunidade.Essamesmacomunidade precisa ser envolvida num amplo trabalho de EducaçãoPatrimonialparaquepossareconhecerevalorizarsuacultura.Nãoétarefafácil, haja vista que a fase atual do capitalismo remete para os grandesmonopólioseosoligopólios,quetentamdominaromercadoeimpor,dessaforma,umauniformizaçãoculturalparaumamassificaçãodoconsumo.

2.PATRIMÔNIOCULTURALEOSATIVOSDODESENVOLVIMENTOREGIONAL

“Ocapitalismoéumprocesso,nãoéumacoisa”, jádisseDavidHarvey

(1989,p.307).Contudo,continuaoautor,éumprocessodereproduçãodavida social por meio da produção de mercadorias, envolvendo todas aspessoas no mundo capitalista. Enquanto o capital mascara. fetichiza ealcança crescimento mediante a destruição criativa, cria novos desejoshumanosenecessidades, transformaespaçoseaceleraoritmodavida.Ouseja,mudaculturas(HARVEY,1989).

O fordismo, modelo de desenvolvimento e regime de acumulaçãoimplantadoemmeadosdoséculoXX,sefundamentounaproduçãoemsérieeapoiou‐senoconsumodemassa.Acrisedessemodelodeproduçãolevouao quemuitos autores chamaram de fase pós‐fordista, ou fase flexível de

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produção, criada no final da IIª Guerra Mundial na indústria Toyota, noJapão(BENKO,1999).Oconsumodemassaalteravahábitosecostumes(ouseja,alteravaasculturas)principalmenteentreosmaisjovens.

AculturaaquidiscutidasebaseianoconceitocriadoporTylor (1877,apudMINTZ2009)noqualbusca“[...]refletirosprodutoscomportamentais,espirituais emateriaisda vida socialhumana”.A culturaé inerenteao serhumanoemsociedade.

Nosistemamaisflexível,Benko(1999,p29)destacouqueapassagempara o novo regime de acumulação é acompanhado de mudançasimportantesnosmodosdeproduçãoede consumo.O consumoemmassacontinuacomoimportanteformadeacumulaçãoparaasindústriasdemodogeral. Entretanto, como resistência involuntária, há a valorização deprodutoscomreferênciasculturaisdistintas.

Essasociedadedeconsumoemassificaçãoestávinculadaàprópriapós‐modernidade, que tem como principais critérios a performatividade efuncionalidade. SegundoWestphal (2004, p. 20), “[...] para a filosofia pós‐moderna,nãoháumpoderregulamentadorouumpontodeconvergência,poisocritérionãoéodajustiçaoudeautoridadeenemdeverdade,masdeperformatividade (desempenho)”. Em outras palavras, a principal questãohoje é: para que serve, qual sua função, qual retorno deste objeto? AindaconformeWestphal(2004,p.21),“[...]oquesebuscanãoestámaisligadoaofalso ou verdadeiro, ao justo ou injusto,mas ao critério da competência eperformatividade,ouseja,daeficiênciaedalucratividade”.

Aoseaplicara lógicadaperformatividadee funcionalidade(produçãoemmassa)paraessesprodutose/ouserviçostradicionais,poderáhaverumesvaziamentodoprópriosentidodopatrimônioculturalexistentenaformade fazer tradicional.Esvaziadooativo cultural, essa comunidade localnãoconseguirá sobreviver à lógica de mercado das grandes corporações, pornãoterescalarilidadesuficienteparasuprirasdemandasdemercado.Comisto, haverá uma desvalorização da comunidade local e uma exclusão edesempoderamentodessesagentestradicionais.

Portanto, auxiliar uma comunidade no reconhecimento de suaidentidade cultural e, a partir daí, do seu potencial econômico é umaestratégia fundamental para o processo de criação das IndicaçõesGeográficas comopromotoras dodesenvolvimento regional, tendo sempreemcontaqueaidentidadeculturalemsiéumdosprincipaisativos.2.1OPAPELDOSATIVOSNODESENVOLVIMENTODOSTERRITÓRIOSESUARELAÇÃOCOMACULTURALOCAL

Oprocessodemundializaçãoemcursodestróiasidentidadesculturais

das comunidades locais. Para Camargo (2009, p. 41) “[...] umdos grandes

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debatesdaatualidadequesemanifestamcomoelemento‐chavedocombateà globalização é a questãoda territorialidadedo lugar e da identidade”.Oreconhecimentodopatrimônioculturaldeumacomunidadeéfundamentalparaposicionarocidadãoemseucontexto,tornarsuavisãodemundomaisampla e destituir as suas amarras políticas e ideológicas. Repensar aidentidade à luz da complexidade significa perceber o constanterenascimento do cidadão, significa a integração do local e do global numintensofluxodeconexão(CAMARGO,2009,p.41a43).

ParaCastells(1996),aspessoasaindavivememlugaresondeafunçãoeopodersãoorganizadosnoespaçoeondealógicadadominaçãoestruturalalteraessencialmenteosignificadoeadinâmicado lugar.Aconstruçãodaidentidadedeumpovoestánabasecultural,afirmaoautor.Oprocessodeglobalizaçãoocorrenolugar,masquandoaidentidadeculturalébasilarelapodeserodiferencialnosistemaprodutivo(CASTELLS,1996,p.458).

Poressarazão,aprópriaConstituiçãoFederalBrasileirade1988sofreuuma alteração em2012, pela EmendaConstitucional nº 71, a qual, dentreoutras alterações, acrescentou o art. 216‐A, que destaca a importância daculturaparaodesenvolvimentonacionaleaimportânciadaparticipaçãodetodos,de formadescentralizadaeparticipativa, envolvendo tantoos entesda federaçãocomoaprópriasociedade.EnoArt.216,manteveoconceitoamplo de patrimônio cultural, englobando bens de natureza material ouimaterial,conformesevêabaixo:

Art. 216‐A. O Sistema Nacional de Cultura, organizado em regime decolaboração,deformadescentralizadaeparticipativa,instituiumprocessodegestão e promoção conjunta de políticas públicas de cultura, democráticas epermanentes,pactuadasentreosentesdaFederaçãoeasociedade,tendoporobjetivopromoverodesenvolvimentohumano,socialeeconômicocomplenoexercíciodosdireitosculturais.(IncluídopelaEmendaConstitucionalnº71,de2012)[...].

Portanto, patrimônio cultural é um conceito complexo, que reflete emseu conteúdo não só a construção histórica da sociedade, masprincipalmentearelaçãoqueestaspossuemcomaspessoasquefazempartede manifestações culturais. Está relacionado a pertencimento, memória,identidade cultural, o que está vinculado necessariamente a pessoas, àcoletividade. Veloso (2006, p. 440 et seq) destaca tal relação com acoletividade: “[...] o importante a destacar é a intrínseca relação existenteentrepatrimônioculturaleexperiênciacoletiva,ouseja,ossaberesefazerestradicionaisegenuínossãoconhecimentoscompartilhadosquefazempartedo repertório cultural comum de um determinado grupo”. A tradiçãocultural,porsuavez, “[...] é frutodeuma tessituramuitocomplexoqueosindivíduos tecem com base em elementos da história, da memória e do

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cotidiano”. Daí a importante relação entre Indicação Geográfica, ativosterritoriais e patrimônio cultural. Para Guia (2010), o debate sobre oordenamentoterritorialeodesenvolvimentoregionalbrasileiroprecisaserdiscutidoà luzda temáticasocial,ambientaleeconômica.Nessesentido,opatrimônio cultural é uma referência pouco utilizada quando se trata dodesenvolvimento do Brasil. Já quando se trata de agências internacionais,Unesco, Banco Mundial, entre outros, como lembrou o autor, o elementocultural é fundamental para discutir o desenvolvimento econômico dediversas atividades, dentre elas o turismo. No Brasil, país com enormediversidade cultural, o conteúdo cultural de seu território sofre de um“processodeanomiageneralizada”.

SegundooGuia,

[…] a agenda de desenvolvimento econômico do país desconsidera opatrimônioculturaloupelodesconhecimentoacercadoconteúdoculturaldoterritório brasileiro, ou pela resistência, em suas políticas nacionais esubnacionais,deconsiderarosinstrumentosdeproteção(inventário,chancela,tombamento, registro) como medidas eficazes de promoção dodesenvolvimentonacional(GUIA,2010,p.4).

O Brasil sofre de grande desconsideração do patrimônio culturalbrasileiro, lembrouoautor, jáqueoBrasildispõede“[...]mais1.125benstombados pelo Governo Federal, incluindo igrejas, terreiros, jardinshistóricos, paisagens naturais, lugares sagrados" [...], dentre outros bens emanifestações culturais (GUIA, 2010, p. 5). Esses patrimônios culturais ediversosoutrosqueaindanãoforaminventariadosjánãoseriamsuficienteparasepromoverarranjosprodutivoslocais?

Algumastentativastêmsidorealizadasafimdeestimularaorganizaçãoda base produtiva local em torno da identidade cultural, mas com poucaadesão da população4. Qual o motivo para esse distanciamento? Comoaproximaraspessoasparaconstruiralternativasprodutivasquepromovamo desenvolvimento regional? Uma hipótese plausível para essedistanciamentoéafaseatualdaorganizaçãododesenvolvimentocapitalista,existentenapós‐modernidade,quereforçaoindividualismo,compequenasparticipações em associações, sindicatos, entre outras iniciativas deorganizaçãodasociedadecivil.Westphal(2010,p.11)afirmaque"[...]oeupassaaseroeixoeocritérioparaoagirmoral.Aperguntafundamentalé:Oqueeuganhoaoseréticonarelaçãocomooutro?”

Singer (2004) diferenciou o desenvolvimento capitalista do

4 Exemplos dessas tentativas são as associações que se organizam para pedir IGs com base no saber-fazer tradicional local de, principalmente, produtos. Contudo, dessas IGs registradas, poucas efetivamente estão atuantes no mercado, gerando renda e desenvolvimento regional para as comunidades.

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desenvolvimento solidário. Para ele, o desenvolvimento capitalista érealizado com os valores da competição, do individualismo e do Estadomínimo. Já o desenvolvimento solidário é realizado com pequenascomunidades, por meio de cooperativas ou associações de trabalhadores,que,mesmocompetindoentresipelomercado,estabelecemumaespéciedeajudamútua.

Nessesentido,apropostadasindicaçõesgeográficaséadeestabelecerum desenvolvimento solidário, já que se faz necessário gerar na cadeiaprodutiva ações coletivas com benefícios para todos os produtores, aindamais considerando que a titularidade da indicação geográfica é coletiva5.AindasegundoSinger (2004),umadascaracterísticasdodesenvolvimentocapitalista é o seu caráter excludente. Nos últimos anos os consumidorestêmsebeneficiadocomoportunidadedesatisfazerassuasnecessidadesdenovos bens e serviços com preços mais reduzidos. No entanto, reforçouSinger (2004, p.10), o “[…] desenvolvimento capitalista é seletivo, tantosocialcomogeograficamente”.Hajavistaocomércio internacional,noqualos países do Atlântico Norte apresentam comércio externo commovimentação portuária muito mais intensa se comparado aos países doAtlânticoSul.Aslocalidadesexcluídasperdemparticipaçãonarendaglobal,perdem vigor econômico, reduzindo as possibilidades de novosinvestimentos em infraestruturas, educação, saúde, entre outros. Cria‐se ocírculoviciosodosubdesenvolvimento.

O surgimento das reflexões e de diversas iniciativas baseadas nodesenvolvimento solidário pode gerar alternativas de renda a partir dopatrimônioculturaldacomunidade.Aparececomoumaformaderesistênciaà“economiadodinheiro”,aqualMarxacusavadedissolverascomunidadestradicionais(apudHARVEY,2001,p.98).

2.2RISCOSEDESAFIOSDAMERCANTILIZAÇÃODOPATRIMÔNIOCULTURAL

Como se observou, o uso das Indicações Geográficas se estabelecem

comoumaimportanteferramentaparaodesenvolvimentoregionalapartirda exploração econômica de produtos e/ou serviços, com identidadecultural,vinculando‐osasignosdistintivosbaseadosemnomesgeográficos.Emoutraspalavras,éutilizar‐sedaprópriaorigemtradicionaldosprodutose/ou serviços como diferencial competitivo nomercado, gerando renda eespaçonomercadoparaosprodutorestradicionais.

Yudice (2013, p. 26‐27), tratando a cultura como recurso, também

5 Essa é, inclusive, uma exigência legal, consubstanciada no art. 182, da Lei nº 9.279/1996: “O uso da indicação geográfica é restrito aos produtores e prestadores de serviço estabelecidos no local, exigindo-se, ainda, em relação às denominações de origem, o atendimento de requisitos de qualidade”.

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destaca essa instrumentalização da arte e da cultura, fruto da própriadesmaterialização das várias fontes de crescimento. Esta ocorre ora paralegitimardiferençasculturais,oraparaestimularocrescimentoeconômico.

[...] hoje em dia é quase impossível encontrar declarações públicas que nãoarregimentemainstrumentalizaçãodaarteedacultura,oraparamelhorarascondições sociais, comona criaçãode tolerânciamulticultural e participaçãocívica através de defesas como as da UNESCO pela cidadania cultural e pordireito culturais, ora para estimular o crescimento econômico através deprojetosdedesenvolvimentoculturalurbanoeaconcomitanteproliferaçãodemuseus para o turismo cultural, culminados pelo crescente número defranquiasdeGuggenheim.

Podeserumaimportanteferramentaparaodesenvolvimentoregionale empoderamento da comunidade, coordenando crescimento econômicocom preservação sustentável do patrimônio cultural local. Contudo, aexploração econômica, por si só, não é garantidora de desenvolvimentosustentável de uma comunidade e seu patrimônio cultural. Muito pelocontrário, ela pode trazer consequências prejudiciais no que tange àpreservaçãodopatrimôniocultural.Aexposiçãoesubmissãodopatrimôniocultural à lógica do mercado, do consumo próprio da pós‐modernidade,pode provocar externalidades negativas, na medida em que transforma obem cultural emuma simples commodity, provocandoum “esvaziamento”do conteúdo patrimonial desse bem. Veloso (2006, p. 439) destaca esseperigo:

Operigoquesecorreéodetransformarosbensculturaisemmerosobjetosdeconsumo,emtransformaropatrimôniomaterialemexpressãodeumahistóriarasa;ou,ainda,transformarasmanifestaçõesculturaisdopatrimônioimaterialemfetiche,ouseja,privilegiaroprodutotransformadoemobjetodeconsumocomoqualqueroutramercadoriaquecirculanasociedadeatual.

Veloso (2006) chama essa situação de “fetiche do patrimônio”, que étransformá‐lo em produto customizado para consumo, promovendo umadistinçãosocialdaquelesqueoconsomem.NaspalavrasdeVeloso(2006,p.438):

O chamadocapitalismo tardio,marcadopela internacionalizaçãodo capital eflexibilidadedotrabalho,entreoutrasconsequências,provocouumaprofundamercantilização da cultura, introduzindo a noção de que o consumo culturalpromove distinção social. O patrimônio cultural, tanto o material quanto oimaterial,extraisuasingularidadeporexpressar‘marcasdedistinção’que,porsua vez, remetem a situações específicas vividas por uma determinadacomunidade[...]

[…] Portanto, tornar o patrimônio um fetiche, considerar apenas o seuprodutoobjetivadoéumriscopalpáveldiantedasociedadedeconsumoeda

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‘modernidade liquida’ (BAUMAN, 2001). Nela o fragmento, a aparência e oindividualismoimperam.

Assim, a maior riqueza do patrimônio cultural é a ideia depertencimento (VELOSO 2006) e é através dele que se poderá efetivar oempoderamentodapopulaçãosobreaexploraçãoeconômicadosprodutose/ou serviços tradicionais vinculados ao território. Ademais, há que seatentarparaosriscosqueoconsumodessesativosterritoriaispodemtrazerparaaprópriareferênciaculturaldopatrimônioculturaldascomunidades.

Osativosdo territórioexistemem todasas localidades,masprecisamserdescobertosjáquemuitasvezesaspessoas,individualmenteenvolvidasemsuas rotinas,não identificamnovaspossibilidades.Paraessedespertarda valorização cultural da comunidade, acredita‐se que é necessárioempregarasmetodologiasdaEducaçãoPatrimonial.

AEducaçãoPatrimonialéumprocessoqueprecisaatuarbaseadonosprincípios de Paulo Freire, de uma educação libertadora. A EducaçãoPatrimonialnãopodeatuarcomoacumulaçãodeconhecimentos,nemcomodisciplinaescolar,masdevesercapazdeajudarnaestruturaçãodotempoedoespaço,desenvolvendoossentidose,maisparticularmente,acapacidadedever,dedesvelar.

2.3EDUCAÇÃOPATRIMONIALEACULTURALOCAL

Aculturadascomunidadesestáencobertapormuitasinvestidasda

industrialculturaldemassa.SegundoMorin(2002):

[...]achegadadocinema,dagrandeimprensaedepoisdorádioedatelevisãono século XX conduziram ao desenvolvimento da industrialização e dacomercialização da cultura com o auxílio dos seguintes fatores: da divisãoespecializada do trabalho, da padronização do produto e sua mensuraçãocronométrica,dabuscadarentabilidadeedolucro(MORIN,2002,p.02).

Aculturadecadacomunidadese integraàcomplexidadeepermiteaoserhumanosereconhecernogrupo,nasociedade.Osmeiosdecomunicaçãode massa tendem a homogeneizar as culturas, garantindo, assim, alucratividade. No desenvolvimento capitalista, segundo Singer (2004),somentealgunsconseguemrealmenteganhar.

A proposta de desenvolvimento solidário parte da cultura local,permitindo o reconhecimento das potencialidades das comunidades econstituindo, em toda a cadeia produtiva, um processo de ajuda e decooperação.

É outra lógica, fora dos padrões reproduzidos pela população.Entretanto, as estratégias que envolvem a educação patrimonial tornampossíveloestabelecimentodovínculocomacomunidadee,apartirdaí,umapropostadedesenvolvimentosolidário.

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ParaPeregrino(2012):

[...] a formadegarantir apreservaçãodos valores culturaisda sociedadee ainserção do patrimônio cultural no cotidiano das comunidades passanecessariamente por ações voltadas para a sensibilização dos cidadãos,sujeitos da transformação social e importantes agentes para se alcançar odesenvolvimentosociocultural(PEREGRINO,2012,p.5).

Nesse sentido, segundooautor, apalavrapatrimônio carregaanoçãodebenscarregadosdememória,aquiloqueherdamos,queseacumulacomopassardotempo,podendoassumirvaloreconômico,masqueprecisaestarrelacionado ao “[…] vínculo do apoderamento, de pertencimento”(PEREGRINO,2012,p.5).Opatrimônioculturalreferenciaa identidadedeumacomunidade,criaformaepermiteacriaçãodasindicaçõesGeográfica,pois,namaioriadoscasos,aculturatemvaloreconômico.

Avalorizaçãodopatrimônioculturalbrasileiroprecisapassarporaçõespedagógicas,noslembrouPeregrino(2012),jáqueprecisadesenvolverumprocesso permanente de conhecimento junto à comunidade. A EducaçãoPatrimonial pode ser uma das formas de gerar a formação cidadã, poisauxiliaosujeitonoprocessodesolidariedade,que,demodocoletivo,possabuscarosentidodepertencimentoeapoderamento.Taissentidos,navisãodoautor,sãoessenciaisparaaauto‐estimacomunitáriaecontribuemparaapreservaçãodopatrimôniocultural.

Para Londres (2012), a valorização do patrimônio cultural sefundamenta na transmissão, difusão e apropriação dos cidadãos que, emcomunidade, preservarão seus bens. Os produtos regionais passam aapresentar‐se com especificidades da cultura, fortalecendo os vínculosidentitários.Aeducaçãopatrimonial remeteaumcaminhodepreservaçãodosbenscomopráticasocial,inseridanavidadaspessoas,eminterlocuçãocomasociedadeeosserviçospúblicos(LONDRES,2012,p.15).

2.4DESENVOLVIMENTOSOLIDÁRIOOUSEMI‐SOLIDÁRIO‐CASODAFLUSSHAUSEMSÃOMARTINHO‐SC

Singer (2004, p. 15) refletiu sobre o “[…] desenvolvimento semi‐

capitalistas ou semi‐solidário”, que na fase do capitalismo flexível aparececommaisevidência.Oaumentodaspequenasemédiasempresaspropiciaaos trabalhadores atuar junto com os proprietários e até auxiliar naconduçãodaempresa.

Segundooautor,

[…] Neste ambiente, não há segredo do negócio. Os empregados em geralconhecemosclienteseovalordobemouserviçoquelhesévendido.Podemcalcularovalorqueproduzemeoquelhesépago(SINGER,2004,p.15).

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Ooperáriotemmaisflexibilidadeparaauxiliaremdiversastarefasnaspequenasemédiasempresas, inclusiveaprendendosobreonegócio,oquelhe permite criar, em algumas condições, seu próprio negócio ou crescercomaempresa.

Nesse sentido, trazemos como exemplo um empreendimento criadonumacomunidaderuraldeorigemalemã,noMunicípiodeSãoMartinhoSC.AempresaFlussHaus,ouCasadoRio,cujo lemaserespaldanastradiçõesculturais quando diz logo na entrada: pensando no futuro, sem perder astradiçõesdopassado(figura1).

Figura1:PlacanaentradadaFlussHausnaComunidadedeVargemdoCedro,SãoMartinho.

Fonte:autora.

Essa empresa atua há 18 anos e representa para os moradores a

alternativa ao êxodo rural. Na história da empresa, segundo osproprietários, há um misto de superação, trabalho em família e tradição.Segundo eles, uma grande crise na lavoura forçou a busca de soluções:fabricarpequenoslotesdepães,roscas,bolachasdecoradascomreceitasdafamíliaevendernaregião.

Quando as pessoas conheceram os produtos começaram a comprar,enfrentadoestradadechãocompontesdemadeira,passandopordiversasáreras rurais, até uma pequena comunidade com poucomais de 30 casasespalhadasnaspropriedadesruraisecercadasporplantaçãodemilho,soja,fumo, feijão entre outros. Durante o trajeto, os compradores já tinhaminiciadoseumergulhonaculturalocal,algunsseidentificandomais,outros,estranhando.Mashavia,demodogeral,oencantamentodoingressoemumaculturadiferente.Ao chegar lá, optavampor comerosprodutosno local epediamaosproprietárioscaféecháparaacompanharasbolachas,roscasepãescaseiros.Apartirdessademanda,montarumcafécolonial,comamplaáreadelazerealmoçonosfinsdesemana,foiumpequenopasso(figura2).

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Figura2:AcessoaFlussHaus‐naComunidadedeVargemdoCedroemSãoMartinhoSC.

Fonte:sitewww.flusshaus.com.br.Atualmente, a comunidade gira em torno desse empreendimento, que

empregamaisde80 trabalhadores fixose terceirizapartedaproduçãodesalgados e tortas, gerando novos empreendimentos no entorno. Algunsvendem artesanato em pequenas lojas, outros instalaram uma pousada,todospróximoaFlussHaus,semcontaraindarestaurantesnotrajeto,queaproveitam as belezas naturais das quedas d’agua e o constante fluxo deturistas pele estrada. A comunidade, emais especificamente a FlussHaus,recebeem tornode5milpessoaspormês,oquesuperaemmuito todaapopulação de São Martinho que, segundo o IBGE 2010, é de 3.323habitantes.

No entanto, é necessário que os moradores e os empreendimentosformem uma comunidade organizada onde, segundo Singer, (2004, P. 16)“[…]oprogressodeledependedoprogressodacomunidadee,portanto,doprogressode cadaumdosoutrosmembrosdela […]”. Essa regiãopoderiaser condenada ao esvaziamento e a saída dos jovens para a cidade, comotantas outras realidades brasileiras. Atualmente, porém, muitos jovensretornam,poisconseguemempregosnasuacomunidade.

A Indicação Geográfica dos produtos de Vargem do Cedro (SãoMartinho)poderiaserumasequêncianatural,poisacomunidade já teveoseudespertardaEducaçãoPatrimonial,quenãochegoupormeiodepessoasalheias à comunidade, mas partir de iniciativa criada numa situação deextremanecessidade,combinadaàculturadacomunidade.

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Mantero ambiente sustentávele sensibilizarosdemaismoradoresdoMunicípio,pormeiodaEducaçãoPatrimonial,podeauxiliarnapreservaçãodastradiçõesculturaiseprojetarofuturo.Essasindicaçõespermitirãoqueoutrosexemploscomoestepossamsurgiremtantosmunicípiosbrasileirosque carecem de alternativas geradoras de renda, apesar de estaremsentados sobre o "pote de ouro", a sua riqueza cultural, mas que não areconhecerem.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

As IndicaçõesGeográficasconstituemmecanismodegeraçãoderenda

num modelo de desenvolvimento solidário. No entanto, nossa culturaeconômicaderivadocapitalismo,quepressupõecompetição,exclusão.Paraessemodeloquesepropõe,sefaznecessáriaacooperação,demodoqueemtodosnacomunidadepossamcrescerjuntos.

Contudo, os produtores e a própria população da respectivacomunidade participarão quanto maior for sua consciência depertencimento com o empreendimento da indicação geográfica. E essaconsciência está intrínsecamente relacionada com o patrimônio culturallocal.

Para isso, se fazem necessários o reconhecimento e a valorização dariqueza cultural das comunidades. A globalização no processo fordista deprodução gerou a massificação tanto do consumo como da produção. Noentanto, a crise desse modelo permite o surgimento de modelosalternativos,maiscooperativos,centradosnacultura local.Essediferencialdeproduçãonãoencontraconcorrência,poiséúnico,nãoexisteoutroigual.

Noentanto,asensibilizaçãodacomunidaderequeraçõesdeEducaçãoPatrimonial, envolvendo as escolas e outras associações para oempreendedorismo solidário, coletivo, capaz de gerar, a partir da culturalocal,renda.Paraisso,énecessárioqueacomunidadetenhasuaautoestimaelevada,percebendocondiçõesculturaisqueadiferenciamdeoutras.

Aeducaçãopatrimonial tambémpodeseruma importante ferramentapara evitar a “fetichização” do patrimônio cultural, na medida em quepossibilita que tanto a comunidade local como as pessoas que a visitamtenham pleno conhecimento da história,memória, identidade cultural e ocotidianoquegerouosaberfazerdarespectivacomunidade.

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CAPÍTULO5

DESENVOLVIMENTO,SUSTENTABILIDADEAMBIENTALEINDICAÇÕESGEOGRÁFICAS

AGROPECUÁRIAS1

CristianedeMoraisRamos‐UFSCAdrianaMarquesRossetto‐UFSC

INTRODUÇÃO

Umadas premissas atribuídas à existência das IndicaçõesGeográficasno Brasil é que estas atuam como promotoras do desenvolvimentosustentáveldoterritórioondeestãoinseridas(BRASIL,2008).

No entanto, essa premissa torna‐se ilusória, em parte, à medida queexisteumacarênciadeorientaçãorelativaàpromoçãodasustentabilidadeambiental, um dos aspectos do desenvolvimento sustentável, ou falta deapoio por parte do governo aos produtores desses territórios, durante oprocessoderegistro,implantaçãoemanutençãodasIndicaçõesGeográficas.

Apesardaobrigatoriedadedocumprimentoda legislaçãoambiental(edemaispertinentes)paraobtençãodoregistrodasIndicaçõesGeográficas,acarência de normativas, leis e diretrizes específicas para o alcance dessapremissa faz comque recaia sobre os produtores a responsabilidade pelopróprio estabelecimento e definição de ações, de forma individual oucoletiva,queobjetivemapromoçãoda sustentabilidade ambientalde seusrespectivos territórios. Ações que, no entanto, têm ocorrido de formavoluntária, não abrangendo a totalidade das IG’s brasileiras e de seusprodutores.

Reconhecer e entender o vínculo existente entre as IndicaçõesGeográficasesuaorigemgeográficaédeextremaimportância,poisapartirdesse entendimento será possível compreender sua influência nodesenvolvimento de um território, em seus aspectos sociais, ambientais eeconômicos.

Assim,paraacompreensãodaproblemáticaexpostaanteriormente,faz‐se necessário, primeiramente, uma breve descrição de alguns conceitosessenciais,taiscomoterritório,desenvolvimentoeIndicaçõesGeográficas,aqualseráapresentadaaseguir.Apósaapresentaçãodessesconceitos‐chave,

1 O texto resume resultados do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento, financiado pela FAPESC, Chamada Pública Nº 04/2012/Universal.

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será feita uma reflexão acerca de como o aspecto ambiental tem sidoincluído no tema das Indicações Geográficas, partindo da legislação quetrata sobre o tema, da instrução normativa que rege o registro dasIndicaçõesGeográficas(nº25/2013)edoGuiaparaaSolicitaçãoeRegistrodas Indicações Geográficas de Produtos Agropecuários, elaborado peloMinistériodaAgricultura,PecuáriaeAbastecimento(MAPA).Porfim,serãopropostasalternativasesugestõesparaqueoaspectoambientalsejamelhorconsideradonesseprocesso.1.TERRITÓRIOEDESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Umdosprincipaisautoresbrasileirosatratarsobreoterritório,MiltonSantos(2000),odefinenãoapenascomooresultadodasuperposiçãodeumconjuntodesistemasnaturaiseumconjuntodesistemasdecoisascriadaspelohomem.Parao autor, o território éo chão acrescidodapopulação.Éuma identidade, o fato e o sentimentodepertencer àquilo quepertence anós. O território também é base do trabalho, da residência, das trocasmateriais e espirituais e da vida, sobre os quais ele exerce influência e éinfluenciado. Ao falar‐se em território, subentende‐se a área utilizada porumadeterminadapopulação.

Albagli (2004, p. 28), ao definir o território, relembra a origem dotermo.Esteseoriginoudotermoemlatimterritorium,quederivadeterraesignifica pedaço de terra apropriado. O autor também cita que, na línguafrancesa, a palavra territoriumdeu origem às palavras terroir e territoire.Para Abagli (2004, p. 26), “[...] o território é o espaço apropriado por umator, sendo definido e delimitado a partir de relações de poder, em suasmúltiplasdimensões.Cadaterritórioéprodutodaintervençãoedotrabalhodeumoumaisatoressobredeterminadoespaço”.

Albagli (2004) não reduz o território à sua dimensão material econcreta, considerando‐o uma teia de relações sociais projetadas em umespaçodefinido.Eleapontaeexplica,ainda,quatrodimensõesdoterritório,a saber: física, política/organizacional, simbólica/cultural e econômica. Adimensão física do território está relacionada à sua materialidade. Nessesentido, os elementos naturais de um território são transformados empotencialidades, no momento em que a sociedade reconhece suaimportância,transformando‐osemrecursoseosincluindoematividadesdeseusterritórios,podendoserpredatóriasousustentáveisparaoambiente.

A dimensão político/organizacional, levantada por Albagli (2004), dizrespeito ao sistema político, e este, por sua vez, integra outras duasdimensões: os conflitos e alianças entre grupos socialmente distintos e acooperação entre grupos espacialmente diferenciados. O domínio desseespaçootornaterritórioeéfontedepodersocial.Nessesentido,oatorou

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grupo social, ao apropriarem‐se de um dado território, decidem quaisintervenções realizarão. Intervenções essas que, por sua vez, estãorelacionadasàssuasconcepçõeséticas,opçõespolíticaseníveltecnológico.

Com relação à dimensão simbólica/cultural, ao se definir umaidentidadecoletiva, tambémsedefinea relaçãoqueseráestabelecidacomosoutros, criando‐se a imagemdequeméo “amigo” e “inimigo”, “rival” e“aliado”.Adimensãoculturalatua,nessecontexto,comoum“umfioinvisívelque vincula os indivíduos ao espaço”, diferenciando as comunidades(ALBAGLI,2004).

Por fim, para Albagli (2004), a dimensão econômica também possuiuma forte dimensão espacial. Segundo o autor, os territórios possuemdiferentes capacidades de oferecer competitividade e rentabilidade paraempreendimentos e investimentos, o que traz diversas vantagens delocalização. Há uma divisão do trabalho e do processo de acumulação decapital que pode ser identificada na hierarquização e diferenciação dasatividadespredominantesdoslugares.

O território não pode ser confundido, simplesmente com umamaterialidade do espaço construído socialmente, e tampouco com um“conjunto de forças mediadas por esta materialidade” (HAESBAERT;LIMONAD,2007,p.42).Paraosautores,oterritórioésempreapropriaçãoedomíniodeumespaçosocialmentecompartilhado.Enquantoaapropriaçãopossuiumsentidomaissimbólico,odomínioapresentaumaacepçãomaispolíticaeeconômica.Oterritórioéumaconstruçãohistórica,social,epartede relações de poder que incluem, concomitantemente, a sociedade e oespaçogeográfico.

Para Dallabrida (2011, Apud MARCHESAN e DALLABRIDA, 2013, p.205),territóriocorresponde

“[...] a uma fração do espaço historicamente construída através das inter‐relações dos atores sociais, econômicos e institucionais que atuam nesteâmbito espacial, apropriada a partir de relações de poder sustentadas emmotivações políticas, sociais, ambientais, econômicas, culturais ou religiosas,emanadas do Estado, de grupos sociais ou corporativos, instituições ouindivíduos”.

Saquet (2006,p.82) reiteraqueanaturezaestánasociedade, comoanatureza inorgânica do homem, e por outro lado, “a sociedade está nanaturezaatravésdohomemcomosergenérico”,eassimilaarelaçãoentreadinâmica econômica e processos políticos e culturais. Para o autor, “adinâmica econômica está, na constituição do território, nos processospolíticos e culturais, identitários, e estes estão ligados ao movimentomercantil”,ressaltandoqueosarranjoseasrelaçõesentreoselementosdasterritorialização variam de lugar para lugar, de momento e períodohistórico.

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Aindasegundooautor,oterritórioénaturezaesociedade,nãohavendoseparação entre eles. O território é “[...] economia, política e cultura;edificaçõeserelaçõessociais;des‐continuidades;conexãoeredes;domínioesubordinação;degradaçãoeproteçãoambiental,etc”.Elerepresenta

[...] heterogeneidade e traços comuns; apropriação e dominaçãohistoricamentecondicionadas;éprodutoecondiçãohistóricaetrans‐escalar;com múltiplas variáveis, determinações, relações e unidade. É espaço demoradia,deprodução,deserviços,demobilidade,dedes‐organização,dearte,desonhos,enfim,devida(objetivaesubjetivamente).Oterritórioéprocessuale relacional, (i)material, com diversidade e unidade, concomitantemente(SAQUET,2006,p.83).

1.1DESENVOLVIMENTOTERRITORIALSUSTENTÁVEL

Após a apresentação de algumas das definições acerca do território,podemos seguir para as considerações sobre o desenvolvimento e, emseguida, sua relação com o território, chegando a um dos pontos centraisdestetrabalho,odesenvolvimentoterritorialsustentável.

Odesenvolvimentodito como sustentável sediferencia fortementedocrescimento econômico, que tem o produto interno bruto (PIB) como seumais importante indicador, e está restrito aosaspectoseconômicosdeumterritório.Porém,pormuitotempo(eatéhojeemalgunscasos),foitratadocomsinônimodotermodesenvolvimento.

Parao entendimentodasdinâmicasdeum território edamediçãodaqualidade de vida de sua população, o crescimento econômico e o PIB setornam insuficientes, fazendo com que outras formas de desenvolvimentosejam consideradas necessárias, e também outros tipos de indicadores.Nessesentido,CelsoFurtado,jáem1974,emseulivrointitulado“Omitododesenvolvimentoeconômico”, traziaà tonaaquestãoda incompatibilidadeentre a busca pelo crescimento econômico, em si, e o desenvolvimento, àmedida que apontava a impossibilidade de países periféricos atingirem omesmograudepressãosobreosrecursos,quefoicaracterísticodospaísescapitalistascentrais.Estefato,apressãosobreosrecursosocasionadapelabuscadospaísesperiféricosemalcançaremumconsumoequivalenteaodapopulação dos países centrais, acarretaria em uma exaustão dessesrecursos,assimcomoimpactosnegativosnoambienteenasociedade.

Nesse contexto, dois grandes autores se destacam: Amartya Sen eIgnacySachs.Sen,ganhadordoprêmioNobelemeconomia,emseutrabalho“Desenvolvimento como liberdade” (2000) entende o desenvolvimentocomo um processo de ampliação das liberdades dos indivíduos,contrastando essa visão àquela que limita a compreensão dodesenvolvimentocomocrescimentodoprodutointernobruto(PIB).

Sachs, um dos pioneiros a trabalhar com o tema desenvolvimento

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sustentável, publicou diversos trabalhos com essa temática, dentre eles:CapitalismodeEstadoeSubdesenvolvimento:Padrõesdesetorpúblicoemeconomias subdesenvolvidas, 1969; Ecodesenvolvimento: crescer semdestruir, 1981; Espaços, tempos e estratégias do desenvolvimento, 1986;Rumo à Ecossocioeconomia ‐ teoria e prática do desenvolvimento, 2007;Caminhos para o desenvolvimento sustentável, 2006; Desenvolvimentoincludente,sustentávelesustentado,2006.

SegundoSachs(2004),odesenvolvimentosedistinguedocrescimentoeconômico àmedida que os objetivos do desenvolvimento transpassam oobjetivodeaumentode riquezamaterial.Oautor considerao crescimentoumacondiçãonecessária,porém,nãoobastanteparaalcançarumamelhorqualidadedevida,maiscompletaemaisfelizparatodosenãoumobjetivoemsi.

Sachs (2004) compreende que a igualdade, equidade e solidariedadefazempartedoqueéentendidopordesenvolvimento,eque,aoinvésdesebuscar o aumento do PIB, o objetivo deve tornar‐se a promoção daigualdade e maximização das vantagens dos que possuem as piorescondições, buscando‐se diminuir a pobreza, que é desnecessária evergonhosaemummundonoqualexisteaabundância.Oautorressaltaqueo desenvolvimento sustentável acrescenta a dimensão da sustentabilidadeambientalesustentabilidadesocial,queébaseadaemsolidariedadecomasgeraçõesfuturas.

O desenvolvimento sustentável, assim, prima pela solidariedade dasgerações presentes e futuras e também requer que estejam claros oscritérios para sustentabilidade social e ambiental e para a viabilidadeeconômica.Nesse sentido, somente soluçõesque resultememcrescimentoeconômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais,merecemreceberadenominaçãodedesenvolvimento(SACHS,2004).

Para o autor, o desenvolvimento sustentável está firmado sobre cincopilares, a saber: social, ambiental, territorial, econômico e político. O pilarsocialéfundamentaldevidoà“perspectivadadisrupçãosocial”,presentedeformaameaçadoraemmuitos lugaresdoplaneta.Opilarambientalpossuioutrasduasdimensões,ossistemasdesustentaçãodavidacomoprovedorde recursos e como “recipientes” para a disposição de resíduos. O pilareconômico, comrelaçãoa suaviabilidade, éentendidocomocondictio sinequanonparaqueascoisasaconteçam.Por fim,opilar territorialestá “[...]relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e dasatividades”; e o pilar político está relacionado à “[...] governançademocrática comovalor fundadoreum instrumentonecessáriopara fazeras coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença” (SACHS, 2004, p.15).

Partindo, então, para a relação entreo território e odesenvolvimento

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(sustentável), os autores Cazella e Carrière (2006, p. 25), apontam que acorrente de pensamento sobre o desenvolvimento que abarca a noção deterritório, “[...] representa uma tomada de consciência dos limites dacapacidadedoEstadocentraldeordenareplanejardemaneiraadequadaoterritório”.

Pecqueur (2004 apud CAZELLA; CARRIÈRE, 2006), ressalta que se háquinzeanossefalavadedesenvolvimentolocal,atualmenteépreferívelfalaremdesenvolvimento territorial, jáqueesseestilodedesenvolvimentonãosereduzàpequenadimensão.

Para Cazella e Carrière (2006), espaço‐território é diferenciado doespaço‐lugar pela sua “construção” a partir da dinâmica entre indivíduosque o habitam.Nesse sentido, o território é definido como o resultado daconfrontação dos espaços individuais dos atores nas suas dimensõeseconômicas, socioculturais e ambientais. O território, assim, não está emoposiçãoaoespaço‐lugarfuncional,e,sim,oexemplifica.

SegundoPecqueur(2004apudCAZELLA;CARRIÈRE,2006),aformaçãodeumterritórioéassumida,porváriosatoresatuais,comoumresultadodoencontro,damobilizaçãoedainteraçãodeseusatoressociaiscomumdadoespaço geográfico, com vistas a encontrarem soluções para um problemacomum. Em outro sentido, um “território dado”, com delimitação política‐administrativa,podeabrigarvários“territóriosconstruídos”.Nessesentido,asdinâmicasterritoriaisapresentamcomocaracterísticasseremmúltiplasesobrepostas,nãopossuíremlimitesnítidosebuscaremvalorizaropotencialderecursoslatentes.

Nesse momento, então, faz‐se necessária a diferenciação entre ostermos“ativo”e“recursos”.SegundoCazellaeCarrière(2006),oativopodeser definido como um fator “em atividade”, que já possui valorização nomercado.Jáorecursopodeserentendidocomoumareserva,umpotenciallatentee/ouvirtual,quepodevirasetransformarfuturamenteemumativo.

Segundo Bonnal et al. (2014), o desenvolvimento territorial pode serconsideradocomoumametodologia, sendo,assim,uma formadepensarede fazer o desenvolvimento, correspondendo, então a um processo dearticulação entre os atores sociais e entre os setores relacionados àperspectiva da descentralização. Segundo os autores, o desenvolvimentoterritorial passa pelo inventário de seus recursos locais, capaz detransformaraspectosnegativosemnovosprojetosdedesenvolvimento,emque valores meramente simbólicos passam a desempenhar um papel derecursossocioeconômicos.Adinâmicadedesenvolvimentoterritorialnãoseinstala sem a criação ou cooperação. Precisam existir estruturas de trocaentre os pesquisadores, associações civis, empresas privadas, órgãospúblicos, passo que é essencial para estimular uma reflexão para novosprojetos.

O desenvolvimento territorial deriva, então, da negociação entre os

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atoresdoterritório,mesmoqueseusinteressesnãosejamosmesmos,masqueencontremumpontoemcomumemnovosprojetos.Eletambémpodeser considerado “[...] um processo tributário da descentralização político‐administrativa do Estado”, sendo que seu sucesso pode depender daqualidade das atitudes cívicas de iniciativas locais. Esse fato decorre dapremissa do modelo de desenvolvimento de requalificar o “saber‐fazer”local,fazendoousodenovastecnologias(BONNALetal.,2008,p.204).2.DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVELEINDICAÇÕESGEOGRÁFICAS

NoBrasil,asIndicaçõesGeográficas(IG)sãodefinidaseregulamentadaspelaLeinº9.279/96, conhecida comoLeidePropriedade Industrial (LPI).Estão as IG enquadradas como figura da propriedade intelectual, e está acargo do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) oestabelecimentodascondiçõesdeseuregistro.

Deacordocomoartigo176daleinº9.279/96(LPI),constitui‐secomoindicação geográfica a “indicação de procedência ou a denominação deorigem”.Deacordocomosartigos177e178daLPIbrasileira,asIndicaçõesGeográficas podem ocorrer de duas maneiras distintas: as indicações deprocedênciaeasdenominaçõesdeorigem.

A Indicação de Procedência é o nome geográfico de um país, cidade,região ou uma localidade de seu território que se tornou conhecido comocentro de produção, fabricação ou extração de determinado produto ouprestaçãodedeterminado serviço.Nesse caso, paraprovar a IndicaçãodeProcedência, é necessária a apresentação de documentos para comprovarqueonomegeográficoé conhecidocomocentrodeextração,produçãooufabricaçãodoprodutoouprestaçãodoserviço.ADenominaçãodeOrigeméonomegeográficodepaís,cidade,regiãooulocalidadedeseuterritório,quedesigne produto ou serviço cujas qualidades ou características se devamexclusivaouessencialmenteaomeiogeográfico,incluídosfatoresnaturaisehumanos. Para a solicitação da denominação de origem, deverá serapresentada a descrição completa das qualidades e as características doprodutoouserviçoquesedestacam,deformaexclusiva,ouessencialmente,por causa do meio geográfico, ou também devido aos fatores naturais ehumanos(INPI,2014).

O nome geográfico, que deverá ser registrado junto ao InstitutoNacionaldePropriedadeIndustrial(INPI)é,assim,oelementodedistinçãodo produto ou serviço específico. Esse nome pode ser o nome oficial,tradicional ou costumeiro que identifica a área geográfica onde édesenvolvidaaatividadereferenteàindicaçãogeográfica.Ressalta‐sequeasIndicações Geográficas não possuem prazo de validade e o interessenacionalporessacertificaçãotorna‐secadavezmaior.

Atualmente(novembro/2014),sãoreconhecidaspeloInstitutoNacionalda Propriedade Industrial (INPI) 49 Indicações Geográficas: 41 nacionais,

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sendo 33 Indicações de Procedência e 8 Denominações de Origem; e 8estrangeiras, todas Denominações de Origem. Destaca‐se, no Brasil, pelonúmerodeIndicaçõesGeográficas,aproduçãodevinhos(ValedosVinhedos‐ RS, AltosMontes ‐ RS,Monte Belo‐RS, Pinto Bandeira‐RS, , Vales daUvaGoethe – SC) e a produção de café (Região do CerradoMineiro‐MG, AltaMogiana – SP, Norte Pioneiro do Paraná – PR, Região da Serra daMantiqueira–MG)(INPI,2014).

2.1INDICAÇÕESGEOGRÁFICAS:ADIMENSÃOAMBIENTALDODESENVOLVIMENTO

Neste tópico serão apresentados os documentos que, atualmente,fornecemasdiretrizesparaopedidoderegistrodasIndicaçõesGeográficas,buscando‐serefletirsobrecomooaspectoambientaldodesenvolvimentoéabordadoporessesdocumentos,àmedidaqueseconstituemcomoabasepara todo o processo de implantação das Indicações Geográficas pelosprodutores/requerentesdasIndicaçõesGeográficas.

Comomencionado anteriormente, o desenvolvimento se distingue docrescimento econômico por incluir as dimensões ambiental e social.Partindo desse entendimento, é importante relembrar que uma daspremissas atribuídas às Indicações Geográficas é a promoção dodesenvolvimento sustentável de seu território. Tal desenvolvimento, noentanto, para ocorrer de forma efetiva, deverá englobar aspectos sociais,econômicosetambémambientais(BRASIL,2008;SACHS,2004).

Ouseja,énecessárioquehajaumequilíbrioentreessesaspectosequetodos sejam incluídos e considerados no momento do registro,implementação emanutenção de uma indicação geográfica, para que hajagarantia de sua consecução. Porém, é na etapa de registro que ocorrerá oestabelecimento,pelosprópriosrequerentesdaIG,doregulamentodeusoedasformasdecontrolequeserãoutilizadas,conformeexigidopelainstruçãonormativa INPI nº25/2015, que será abordada mais detalhadamenteposteriormente.

Comrelação ao registrodas IG’s, podemser encontradosos seguintesdocumentos e legislação que fornecem orientação para o mesmo: o Guiapara Solicitação de Registro de Indicação Geográfica para ProdutosAgropecuários; a Instrução Normativa Nº 25/2013, estabelecida peloInstitutoNacionaldePropriedadeIndustrial(INPI).

O Guia para Registro de Indicações Geográficas para ProdutosAgropecuários é um manual para a orientação para osprodutores/requerentesdeIGessencialmenteagropecuárias.NeleconstamositensexigidospelainstruçãonormativadoINPI(órgãoresponsávelpeloregistrodasIG’s),nº25/2013,demaneiramaisdetalhada,deformaaservir

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comoumaorientaçãoaos requerentesdo registro.Portanto, esseguianãotema funçãode acrescentar regras aoprocessode registrode IG’s e, sim,esclarecerasregrasjáexistentes.

Porém, analisando o Guia elaborado pelo MAPA, encontramos aseguinteafirmação:

O objetivo da concessão de IG apoiada pelo MAPA é o desenvolvimentosustentável,viaagregaçãodevaloraosprodutosagropecuários,ressaltandoasdiferençaseidentidadesculturaispróprias,organizandoascadeiasprodutivase assegurando inocuidade e qualidade aos produtos agropecuários (BRASIL,2008,p.4).

Nota‐seque,apesardeoMAPA,apartirdessaafirmação,colocarqueoobjetivo da concessão de IG apoiada por ele é o desenvolvimentosustentável,hápoucareferênciaaoaspectoambientaldodesenvolvimentonodecorrerdodocumento.Omesmopodeserobservadonalegislaçãoquerege as IG (LPI), apresentada anteriormente, e na instrução normativa doINPInº25/2013.

A partir dessa afirmação, pode ser subentendido que a principalmaneira da indicação geográfica contribuir para o desenvolvimentosustentável, apoiada pelo MAPA é por meio da agregação de valor aosprodutos agropecuários, uma característica que é, essencialmente,econômica.Noentanto,talguia,dizqueasformasdeagregarvaloraessesprodutossão:

1. Ressaltarasdiferençaseidentidadesculturaispróprias;2. Organizarcadeiasprodutivas;3. Assegurar a inocuidade e qualidade aos produtos

agropecuários.

Relacionando esaas três formas aos três aspectos gerais dodesenvolvimento (social, econômico e ambiental), observa‐se que éapresentada referência clara ao aspecto ambiental. Embora esse aspectopossasertrabalhadoemcadaumasdasmaneirasdeagregaçãodevaloraoprodutocitadasanteriormente,omesmonãoéclaramenteexplicitadonessaafirmação inicial do guia, contrariamente ao que ocorre com os demaisaspectos, econômico e social. Tendo em vista a prevalência, no atualparadigma economicista da sociedade contemporânea, do aspectoeconômicoemdetrimentoaoutrosaspectosdodesenvolvimento,ainclusãodecritériosrelativosapráticasambientaisadequadasseriadeterminanteàefetivasustentabilidadedoterritório.

Seria importante citar claramente e objetivamente a relação daIndicaçãoGeográficaedodesenvolvimento,incluindoaimportânciadoseu

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aspectoambientalnessaafirmação,paraqueomesmofosseconsideradoeentendidopelosprodutoresrequerentesdasIG’seleitoresdesseguia,comoumaparteintrínsecaaodesenvolvimentodeseusrespectivosterritórios.

Ainda no texto do Guia para Solicitação de Registro de IndicaçãoGeográficaparaProdutosAgropecuários,encontra‐seaseguinteafirmação:

Objetivos da IG: As indicações geográficas são uma ferramenta coletiva depromoção comercial de produtos onde qualidade, reputação ou outrascaracterísticas devem‐se essencialmente à origem geográfica. As IG podemproteger produtos/ regiões de falsificações e usurpações indevidas, servemcomo garantia para o consumidor, indicando que se trata de um produtoespecial e diferenciado. No Brasil, o MAPA tem fomentado que, para IGagropecuárias, o ideal seria a combinação da qualidade do produto com aocupação harmoniosa do espaço rural, sendo também, uma ferramenta depreservaçãodabiodiversidadealiadaaodesenvolvimentoepromoçãoregional”(BRASIL,2008,grifodoautor).

Nessa afirmação, definida como “objetivos da IG”, encontramos umaprimeiramençãoaoaspectoambientaldodesenvolvimento,onderessalta‐se que, para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, seriaideal que nas Indicações Geográficas agropecuárias houvesse umacombinação entre a qualidade do produto e a ocupação harmoniosa doespaço rural, e que as IG’s também poderiam ser utilizadas como umaferramentaparaapreservaçãodabiodiversidadealiadaaodesenvolvimentoregional.

O texto, porém, limita‐se a essa afirmação, não fornecendo indicaçõesmais específicas aosprodutores e requerentesdas IG’sde como realizar aocupação harmoniosa do espaço rural e de como utilizar as IG’s comoferramentaparaapreservaçãodabiodiversidadealiadaaodesenvolvimentoregional.Esseobjetivo,então,torna‐seapenasumasugestão,àmedidaquenãoécondiçãoobrigatóriaparaoregistrodasIG’s.Pois,paradeixardesersugestão, deveria ser incluída na instrução normativa que regulamenta oregistro.

Partimos,então,paraumaanáliseda InstruçãoNormativanº25/2013,editada pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) eresponsável pela regulamentação do registro da IG no Brasil. A referidainstrução normativa regulamenta as exigências para que se solicite oregistro das Indicações Geográficas junto ao INPI, conforme pode serobservadoaseguirnoartigo6º:

Art. 6º. O pedido de registro de Indicação Geográfica deverá referir‐se a umúniconomegeográficoenascondiçõesestabelecidasematoprópriodoINPI,conterá:

I–requerimento(modeloI),noqualconste:

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a)onomegeográfico;

b)adescriçãodoprodutoouserviço;

II–instrumentohábilacomprovaralegitimidadedorequerente,naformadoart.5º;

III–regulamentodeusodonomegeográfico.

IV–instrumentooficialquedelimitaaáreageográfica;

V – etiquetas, quando se tratar de representação gráfica ou figurativa daIndicaçãoGeográficaouderepresentaçãodepaís,cidade,regiãooulocalidadedoterritório,bemcomosuaversãoemarquivoeletrônicodeimagem;

VI–procuração,seforocaso,observandoodispostonosart.20e21;

VII–comprovantedopagamentodaretribuiçãocorrespondente.

Também diferencia os requisitos necessários para as duas formas deindicação geográfica, a indicação de procedência e a denominação deorigem,conformepodeserobservadonosartigos8ºe9º:

Art. 8º. Em se tratando de pedido de registro de Indicação de Procedência,alémdascondiçõesestabelecidasnoArt.6º,opedidodeveráconter:

a) documentos que comprovem ter o nome geográfico se tornado conhecidocomocentrodeextração,produçãooufabricaçãodoprodutooudeprestaçãodeserviço;

b)documentoquecomproveaexistênciadeumaestruturadecontrolesobreos produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao usoexclusivo da Indicação de Procedência, bem como sobre o produto ou aprestaçãodoserviçodistinguidocomaIndicaçãodeProcedência;

c) documentoque comprove estarosprodutoresouprestadoresde serviçosestabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo, efetivamente, asatividadesdeproduçãoouprestaçãodoserviço.

Art.9ºEmsetratandodepedidoderegistrodeDenominaçãodeOrigem,alémdascondiçõesestabelecidasnoArt.6º,opedidodeveráconter:

a) elementos que identifiquema influênciadomeio geográfico, naqualidadeou características do produto ou serviço que se devam exclusivamente ouessencialmenteaomeiogeográfico,incluindofatoresnaturaisehumanos.

b)descriçãodoprocessooumétododeobtençãodoprodutoouserviço,quedevemserlocais,leaiseconstantes;

c)documentoquecomproveaexistênciadeumaestruturadecontrolesobreos produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso

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exclusivodadenominaçãodeorigem,bemcomosobreoprodutoouprestaçãodoserviçodistinguidocomaDenominaçãodeOrigem;

d)documentoque comproveestarosprodutoresouprestadoresde serviçosestabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo, efetivamente, asatividadesdeproduçãooudeprestaçãodoserviço.

Na instrução normativa apresentada, nº25/2013, podem serencontrados alguns indícios do aspecto ambiental do desenvolvimento,comonoseuartigo9º:“a)elementosqueidentifiquemainfluênciadomeiogeográfico, na qualidade ou características do produto ou serviço que sedevam exclusivamente ou essencialmente ao meio geográfico, incluindofatores naturais e humanos”. Aqui, pode ser subentendido que os fatoresnaturais(quepodemserpercebidoscomosinônimodefatoresambientais)são importantesna relaçãoentreoprodutoeomeiogeográfico,portanto,paraaprópriaexistênciaequalidadedoproduto.

Já nos trechos “b” e “c”, do mesmo artigo, observa‐se a exigência daelaboraçãodoRegulamentodeUso (b)edacomprovaçãodaexistênciadeestruturadecontrolepelosrequerentesdoregistrodaIndicaçãoGeográfica.

Nesse sentido, “As normas de produção são uma etapa chave noprocesso de implementação de uma Indicação Geográfica. Elas devem serclaramente descritas e passíveis de ser objeto de controle; elas são oresultado de acordos coletivos entre os membros da região e da cadeiaprodutiva (representado pela entidade requerente)”. A afirmação estácontidanolivroreferenteaoCursodepropriedadeindustrialeinovaçãonoagronegócio,módulo2–IndicaçõesGeográficas2(BRASIL,2014,p.165).

Deacordocomosautores,

A legislação em si não estabeleceminimamente os requisitos ou o que deveconterounãoumregulamentodeuso,mas,atravésdasprópriasdefiniçõesdeIP e DO que ela apresenta, temos “dicas” sobre o que deve constar nele. Oregulamentodeuso, na verdade, servirá para o controle dosprodutores (ouservidores) sobre a qualidade de seu produto (ou serviço). O que (quais osfatores),paracadacaso,promoveaqualidadedesejada(reconhecidapelaIG)no produto? Essa é a pergunta norteadora para a construção de umregulamento de uso, que deverá ser definido pelas pessoas envolvidas noprocessoprodutivo(produtores, consumidores,pesquisadores,etc.) (BRASIL,2014,p.167).

Assim,caberiaaosprópriossolicitantesdosregistrosdeIGestabelecercritérios,noregulamentodeusooucontrole,porexemplo,queincluíssemo

2 Esse livro traz maiores informações acerca dos procedimentos para obtenção de registro, dentre outras informações, que são objeto de estudo destes pesquisadores, portanto, trazem um melhor detalhamento sobre o que deve contar no regulamento de uso e controle das indicações geográficas.

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aspectoambiental.Nesse sentido, outra informação contida no livro referente ao Curso

sobreIndicaçõesGeográficaséque:

OrespeitoaoregulamentodeusodeumprodutoIGnãoliberaosprodutoresacumprir as regras mínimas exigidas pelos órgãos responsáveis. Também oregulamento de uso de uma IG não pode ser apenas um resumo ou umaenumeração das legislações em vigor. O respeito às regras exigidas pelalegislação federal, estadual ou municipal é obrigatório e não constitui umdiferencial(BRASIL,2014,p.168).

O aspecto ambiental, tanto com relação ao desenvolvimento quanto àsua própria importância, para si e para o território, não é demonstrado esolicitado na instrução normativa 25/2013. Conforme dito anteriormente,talaspecto,apartirdomomentoquenãoéespecificadonalegislaçãoouemdocumentooficialdeórgãosgovernamentais,seresumeaocumprimentodalegislaçãoambientalvigente3.Nessesentido,oseupapelenquantopartedodesenvolvimentodoterritóriodasIG’sseencontralimitado.

Emboraodocumento(dossiê)geradopelossolicitantesdasIndicaçõesGeográficas, como integrantedopedidode registrodas IG’s junto ao INPI,sejanormalmenteextenso,contendoemsuamaioriamaisde100páginas,asorientações aos requerentes para pedido do registro são gerais e trazempouca informação específica sobre o que deve ser conteúdo do dossiê,conforme pode ser observado no Guia (apresentado anteriormente), etambém na instrução normativa citada acima. Nota‐se que as exigênciassolicitadas por essa normativa são apresentadas de forma genérica,podendo trazerdificuldadesnapreparaçãodosdocumentos solicitados, seos mesmos não forem elaborados de forma conjunta e em parceria comespecialistas e/ou institutos de pesquisa que trabalhem e tenham grandeconhecimentosobreotema.2.2INDICAÇÕESGEOGRÁFICASCOMOCAMINHOPARAASUSTENTABILIDADEAMBIENTAL

Apesardafaltadenorteamentogovernamental,naformadelegislaçãoe/ouguiasespecíficos,paraoalcancedodesenvolvimentosustentáveldosterritórios,noquedizrespeitoàsIndicaçõesGeográficas,algunsterritóriostêmsedestacadoaoincorporaraspectosdasustentabilidadeambiental,deforma voluntária ou para suprir a própria exigência de novos mercadosconsumidores. Alguns autores (LOPES, 2011; SOUZA, 2006; BOWENA;ZAPATA, 2008; SANTILLI, 2009; TRENTINE, 2009) têm se dedicado ao

3 Ver conclusões de estudo sobre a questão ambiental e IG, constantes no texto do Capítulo 3 deste livro.

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estudodasIndicaçõesGeográficasesuarelaçãocomomeioambienteeaodesenvolvimento sustentável. Assim como também tem sido de extremaimportância as parcerias realizadas entre produtores, Universidades eInstitutosdePesquisa,surgindocomoumadasalternativasparaa faltadenorteamentooferecidopelasdiretrizesgovernamentaisexistentes.

Comosugestãoealternativaà faltadenorteamentoparaoalcancedodesenvolvimento do território, e no caso específico da sustentabilidadeambiental,seria incorporar,dentroda legislaçãoe/ounoguiareferenteaoregistrodasIndicaçõesGeográficasalgosemelhanteaoqueseconheceporindicadoresdedesenvolvimentosustentável.

Umexemploexistentede indicadoresdedesenvolvimento sustentávelnoBrasil é o elaborado pelo InstitutoBrasileiro deGeografia e Estatística(IBGE),cujaúltimaversãocorrespondeaoanode2012,eéchamadodeIDS2012. Esse documento possui 350 páginas e elenca indicadores nasdimensões:ambiental,social,econômicaeinstitucional.

No documento, os indicadores são entendidos como ferramentas quecontémduasoumaisvariáveisque,aoseremassociadasdevárias formas,mostram significados sobre os fenômenos a que se referem. Já osindicadoresdedesenvolvimentosustentável,porsuavez,sãoinstrumentoscapazes de guiar ações e subsidiar o monitoramento e avaliação de umprogresso rumo ao desenvolvimento sustentável. Assim, dever ser vistoscomoummeiopara alcançaremodesenvolvimento sustentável, e nãoumfimemsimesmo(IBGE,2012).

Nesse documento (IDS‐2012), a dimensão ambiental está relacionadaao uso dos recursos naturais, à degradação ambiental e também aosobjetivos de preservação e conservação do meio ambiente, fundamentaisparaaqualidadedevidadasgeraçõesatuaisefuturas.Essasquestõesestãoapresentadasnostemasatmosfera;terra;águadoce;oceanos,mareseáreascosteiras; biodiversidade e saneamento, como pode ser observado noQuadro 1 (IBGE, 2012). Além do IDS‐2012, existem outros sistemas deindicadoresdedesenvolvimentosustentável,como,porexemplo,oSistemade Indicadores de Desenvolvimento Municipal Sustentável do Estado deSantaCatarina, o SIDMS.Esse sistema tempor objetivo central “facilitar oacesso dos agentes públicos à imensa quantidade de informaçõesespalhadaspelas bases dedadosdos órgãospúblicos federais e estaduais,além das pesquisas da própria FECAM, tratando e consolidando osconteúdosmaisestratégicosparaosmunicípios,associaçõesdemunicípiose aos diversos recortes territoriais usados em Santa Catarina” (SIDMS,2014).

A incorporação de indicadores de sustentabilidade, no entanto, nãoviria de forma a tornar a fase de registro “engessada” ou trazer maisempecilhos à mesma. Ela poderia atuar esclarecendo aos próprios

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requerentes das IG’s, quais aspectos da sustentabilidade ambiental (etambémeconômicaesocial),deveriamserconsideradosparaqueoprodutopudesse colaborar de forma mais efetiva para o desenvolvimento de seurespectivoterritório.

Quadro1.Indicadoresdedesenvolvimentosustentável(IDS‐2012)

Dimensãoambiental

Atmosfera

Emissõesdeorigemantrópicadosgasesassociadosaoefeitoestufa

Consumoindustrialdesubstânciasdestruidorasdacamadadeozônio

Concentraçãodepoluentesnoaremáreasurbanas

Terra

Usodefertilizantes

Usodeagrotóxicos

Terrasemusoagrossilvipastoril

Queimadaseincêndiosflorestais

DesflorestamentodaAmazôniaLegal

Desmatamentonosbiomasextra‐amazônicos

Águadoce Qualidadedeáguasinteriores

Oceanos,mares e áreascosteiras

Balneabilidade

Populaçãoresidenteemáreascosteiras

Biodiversidade

Espéciesextintaseameaçadasdeextinção

Áreasprotegidas

Espéciesinvasoras

Saneamento

Acessoasistemadeabastecimentodeágua

Acessoaesgotamentosanitário

Acessoaserviçodecoletadelixodoméstico

Tratamentodeesgoto

Destinaçãofinaldolixo

Fonte:IBGE,2012

Paraqueissoocorra,noentanto,énecessáriaaescolhadeindicadoresquetenhamrelaçãocomasIndicaçõesGeográficas,ouseja,queconsideremasingularidadedessesprodutos,queporsuavezpossuemforterelaçãocomoseumeiogeográficoesocial.

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CONSIDERAÇÕESFINAIS

A relação entre o aspecto ambiental e o desenvolvimento dosterritórios, aos quais pertencem as IG’s, não é claramente exposta nalegislação e demais documentos elaborados por órgãos governamentaisresponsáveis pela orientação e normatização do registro das IndicaçõesGeográficas.

Muitas vezes, existem informações referentes ao aspecto ambientalnessesdocumentos,mas asmesmas se encontramdispersas, nãohavendoconectividade com o desenvolvimento como um todo e com as própriasIndicações Geográficas. Nota‐se falta de clareza na demonstração daimportância deste aspecto para o desenvolvimento do território a quepertencem essas IG’s, e também pouca informação acerca de quais são osreais potenciais das IG’s enquanto promotoras do desenvolvimentosustentável.Paraisso,éimportantehaverestudosquerelacionemoaspectoambientaldodesenvolvimentocomodesenvolvimentoemsieasIndicaçõesGeográficas, tendo como referência as IndicaçõesGeográficas já existentesnoBrasil.

Também é importante que continuem sendo levantados, tendo comoreferência IG’s já estabelecidas (nacionalmente ou internacionalmente), osreais potenciais das IG’s como promotoras do desenvolvimento doterritório, relacionando‐os com o aspecto ambiental do desenvolvimento,paraqueosresultadosdessesestudospossamserutilizadoscomosubsídiospara elaboração de legislação e documentos relacionados às IndicaçõesGeográficas.

Osindicadoresdedesenvolvimentosustentávelpoderiamsurgir,então,comoumaalternativaàfaltadeclarezadasexigênciasatuaisdoINPIparaoregistro das IG’s. Esses indicadores teriam a função de nortear osrequerentesdaIGnabuscaportransformá‐la,efetivamente,emferramentapotencializadoradodesenvolvimentodeseuterritório.

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CAPÍTULO6

ALTERNATIVASDEDESENVOLVIMENTONOMUNICÍPIODECANOINHAS(SC):UMESTUDOAPARTIRDOMANEJODEFRAGMENTOSDE

FLORESTAOMBRÓFILAMISTAESUARELAÇÃOCOMAINDICAÇÃOGEOGRÁFICA1

LauroWilliamPetrentchuk‐UnCJairoMarchesan‐UnC

ValdirRoqueDallabrida‐UnC

INTRODUÇÃO

Asdiscussões formadasemestudosde IndicaçõesGeográficas (IG’s) ede desenvolvimento sustentável possuem desafios imensuráveis,envolvendomúltiplas faces, com o dever de agregar diferentes grandezascomo a social, ambiental, cultural e econômicaConforme Sander (2014, p.12):“Aindicaçãogeográficatemsidoumtemadiscutidoporpesquisadorescomo instrumento que valoriza territórios [...]. Junto a essa valorização[...]surge uma corrente amparada na sustentabilidade e na preservação dediferentesambientes”.

OtextotemopropósitodeapresentarapaisagemnaturaldoterritóriodeCanoinhas‐SC,ondeaFlorestaOmbrófilaMistasedesenvolve,propondoa valorização dessa paisagem para os processos de IG da erva‐mate, pormeio de potenciais fontes de desenvolvimento econômico oriundos domanejo florestal, que consiste em “administrar a floresta”para aobtençãode seus serviços nos âmbitos sociais, econômicos e ambientais, dandorespaldoaosmecanismosdesustentaçãodoecossistema.

Diariamente, observa‐se uma crescente necessidade de programas epolíticas públicas que ajustem a conservação das florestas aos anseios dasociedade, por produtos e serviços ou, ainda, pelo espaço que as florestasocupamconcorrendocomoutrosusosdaterra.Aproduçãodeinformaçõessobrerecursosflorestaisémuitoimportanteparaindicarasformulaçõesdepolíticasque incidemsobre regiões agrícolas, influenciandoospadrõesdeusodaterrapelapopulação.Nestetextopretendemosfazeralgunsaportessobreotemaemreferência,alémdeindicativosdepolíticaspúblicas.

1 Texto apresentado no II SEDRES, Campina Grande (PB), de 13 a 15 de agosto de 2014. Faz parte também dos estudos realizados quando da execução do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento: a especificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina, com financiamento da FAPESC.

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CARACTERIZAÇÃODAMATAATLÂNTICA

A Mata Atlântica abrange um conjunto de formações florestais,constituído de campos naturais, manguezais, restingas e outros tipos devegetação de grande biodiversidade. “Quando os primeiros europeuschegaram ao Brasil em 1500, a mata atlântica cobria 15% do territóriobrasileiro; [...] existem hoje [apenas] 27% de remanescentes, incluindovários estágios de regeneração [...]” (CAMPANILI e SCHAFFER, 2010).Mesmofragmentadaecomumareduçãoconsideráveldesuaáreaoriginal,estima‐se que aMataAtlântica possua algo entre 33%e 36%de todas asespéciesvegetaisexistentesnoBrasil.ComparadacomaAmazônia,aMataAtlântica oferece, proporcionalmente ao seu tamanho, maior diversidadebiológica. Campanili e Schaffer (2010, p.05) lembram que “[...] a MataAtlânticaéumHotspot,umaáreadealtabiodiversidadeeendemismoeaomesmotempoaltamenteameaçadadeextinção”.AFLORESTAOMBRÓFILAMISTA(FOM)

AFlorestaOmbrófilaMista (FOM)é tambémconhecidacomomatadearaucária, mata de pinhais ou floresta com araucária, perfazendo umecossistema que acolhe grande variedade de espécies. É um ecossistemaoriundo de uma formação florestal integrante do bioma Mata Atlântica.Medeiros(2002,apudSCHAFFERePROCHNOW,2002,p.15)assimadefine:“Sua feição é caracterizada por dois estratos arbóreos ‐ um superior,dominado pelo [...] pinheiro brasileiro, que confere à floresta umdesenhoexclusivo, e outro inferior, dominado por variedades como a canela e aimbuia”.Emboraaindasejacaracterísticaaexistênciadeestratosarbustivosno sub‐bosque (Figura 01) com predominância de espécies como a Ilexparaguariensis(erva‐mate),aDiksoniasellowiana(xaxim)entreoutras.

Figura01–PerfilesquemáticodestacandoaestruturadeumsegmentodeFlorestaOmbrófilaMista

Fonte:Fupef(1990).

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Asquasedizimadaseextensasáreasdessesistemaflorestal,quesefaziapresente no planalto sul‐brasileiro, erammescladas por áreas de campos.Segundo o IBGE (2012), atualmente existem quatro formações da FOM.Aluvial: em terraços antigos associados à rede hidrográfica; Submontana:constituindo disjunções em altitudes inferiores a 400 metros; Montana:situada aproximadamente entre 400 e 1000 metros de altitude; eAltomontana:compreendendoasaltitudessuperioresa1000metros.FLORESTAOMBRÓFILAMISTAMONTANA

Essa formação está preservada em poucos locais, principalmente no

planalto acima de 500 metros de altitude (Figura 02), nos estados doParaná,SantaCatarinaeRioGrandedoSul(IBGE,2012.p83).

AonortedoEstadodeSantaCatarinaeaosuldoEstadodoParaná,opinheiro‐brasileiro ou pinheiro‐do‐paraná estava associado à imbuia (Ocotea porosa),formandoagrupamentosbemcaracterísticos;atualmentegrandesagrupamen‐tos gregários foram substituídos pelas monoculturas de soja e trigo,intercaladas(IBGE,2012,p.83).

É nessa formação que se encontra inserido omunicípio de Canoinhas(SC) e onde os remanescentes florestais são de interesse principal destapesquisa.

Figura02‐PerfilesquemáticodaFOM

Fonte:IBGE(2012)apudVeloso,RangelFilhoeLima(1991).

Distribui‐se, portanto, sobre o Planalto catarinense, em altitudes quevariamde500a1.800metros.Caracteriza‐seprincipalmentepelapresençado pinheiro brasileiro, destacando‐se no dossel, formando uma paisagemmuito peculiar. Existem hoje 27% de remanescentes, incluindo váriosestágiosderegeneração[...](CAMPANILIeSCHAFFER,2010).

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Os estudos dos remanescentes florestais da FOM do Estado de SantaCatarina (Figura 03) são decorrentes do mapeamento da Fundação SOSMata Atlântica realizado no ano de 2008, registrando uma coberturaflorestal remanescente da Floresta OmbrófilaMista de 13.741,03 Km², ouseja,24,4%dasuaáreaoriginal5.2

Figura03–MapadosremanescentesflorestaisdaFOMemSC.

Fonte:IFFSC(2013)adaptadodeSOSMataAtlântica(2009).DEGRADAÇÃODAFLORESTAOMBRÓFILAMISTA

A crescente colonização do sul do país por europeus e o avanço dafronteira econômica sobre muitas áreas cobertas da Floresta OmbrófilaMista e, consequentemente, a sua destruição aconteceu com maiorintensidade durante todo o século passado, motivada por questõescomerciaisdeexploraçãodopinheirobrasileiro.SegundoVibrasetal.(2012,p.158),“emrazãodesuamadeiradeótimaqualidadeevaloreconômico,[...]juntamente com outras espécies, como canela e cedro, foram exploradaspelaindústriamadeireiraduranteboapartedoséculoXX”.ConformeIBAMA(2003;THOMÉ,1995apudMARQUES2007,p.53), “[...]no iníciodoséculopassado,[...]foiinstaladanonortecatarinense,nomunicípiodeTrêsBarras,

5 Considerando um conjunto de parâmetros estatísticos e os trabalhos de campo do Inventário Florístico e Florestal de Santa Catarina (IFFSC), é possível afirmar, baseado no mapeamento do Atlas 2008 (Fundação SOS Mata Atlântica, 2009) e com probabilidade de 95%, que a cobertura florestal era de 13.741.03Km² (equivalente a 24,4% da área original) com intervalo de confiança entre 12.350,40 e 15.170,13Km² (equivalente a uma cobertura florestal entre 21,9% e 26,9%) para um nível de probabilidade de 95%). Fonte: Vibrans et al (2013).

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a serraria da SoutherBrazilLumber&ColonizationCompany’ (Lumber)naépocaconsideradaamaiorserrariadaAméricadoSul,quechegouaserraraproximadamentetrezentosmetroscúbicosdearaucáriapordia”.Marques(2007,p.53)complementa:

Aaçãodestaempresa foiumadasprincipais causasdodesencadeamentoda“GuerradoContestado”,umdosmaioresemaisviolentosconflitosbrasileiros.A exploração madeireira pela Lumber durou até 1940, quando o governofederalincorporouaempresaepartedesuasáreasdeterras,masaexploraçãopredatória da Floresta com Araucárias continuou através de inúmerasserrariasnacionais.

Aindústriaervateiramovimentoucomgrandeintensidadeaeconomiadesseterritórioduranteasprimeirasdécadasdeemancipaçãopolítica,entre1911 e 1930, juntamente com a exploração madeireira. Nessa situação, abase econômica do município de Canoinhas era fundamentada em doisprincipais produtos oriundos da floresta nativa: um produto florestal nãomadeireiro, a erva‐mate, e outro produto florestal, asmadeiras nobres dearaucária,imbuia(Ocoteaporosa),canelapreta(Ocoteacatharinensis),cedrorosa (Cedrela fissilis) e bracatinga (Mimosa scabrella), as quais eramutilizadasparafabricaçãodemóveis,pisosetambémparaaconstruçãocivil.Outras espécies não‐madeiráveis comuns nesse território, como o Xaxim(Diksonia sellowiana), exploradas como produtos secundários, sofreramumagrande reduçãoemsuasreservasnaturais (NASCIMENTOetal.,2001apudVIBRANSetal.,2013,p.146).

Portanto, a extração de madeiras nativas regionais ocorreu de formaintensivaesistemáticadesdeoiníciodoséculopassado.Consequentemente,oterritóriodoPlanaltoNorteCatarinense,maisespecificamenteomunicípiodeCanoinhas,sofreuumretrocessoeconômiconasdécadasde1980e1990.Após a estagnaçãodesse ciclo econômico‐florestal, o espaço rural regionalfoi alvo de atividades agrícolas em larga escala, predominantemente demonoculturas, especialmente a fumageira, de grãos e de reflorestamentoscomespéciesexóticas(pinuseeucaliptos),alterando,assim,maisumavez,ocenáriodapaisagemregional.

As causas da mudança desse cenário podem ser consideradas comoconsequências da globalização política econômica em curso, calcada emmercadoscompetitivos,economiadeextrativismo,entreoutros.Entende‐seporglobalizaçãoomovimentopolítico‐econômicoqueabrangeváriasáreasdo globo terrestre impondo regras e sistemas de produção, circulação,acumulação e dominação através da lógica capitalista. Essa lógica destróiidentidades físicas, sociais, políticas e econômicas, impactandonegativamente sobre as diferentes formas de vida, principalmente nadestruiçãodosrecursosnaturais.

A globalização propõe pseudomaneiras de “integração” das mais

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diferentes áreas do globo terrestre, atuando na perspectiva que melhorconvenhaaosinteressesdecirculação,acumulaçãoedominaçãocapitalista.Portanto, de maneira geral, pode‐se afirmar que o processo relatadointerferiunaidentidadefísica,ambiental,políticaeeconômicaregional.

Superado esse ciclo, torna‐se necessário investigar novas alternativaspara o município, resgatando os restos genéticos dos remanescentes dafloresta e analisar as possíveis potencialidades econômicas para esseterritório.AFLORESTAEALEGISLAÇÃO

O Código Florestal, Lei Federal 4.771 de 1965, atualmente revogadopelonovoCódigo FlorestalBrasileiro, Lei 12.651, de 2012, dispõe sobre aproteçãodavegetaçãonativaeobrigaa recompore/oupreservar20%desuas propriedades como reserva florestal legal, além das áreas depreservação permanente (APP's). Essa “obrigação” é, por vezes, rejeitadapelos proprietários rurais, pois, aparentemente, torna improdutiva umaparceladeáreasignificativaemsuaspropriedades.

A legislação prevê, também, uma determinada área da propriedade,paraapreservaçãoambiental.TaláreaédenominadadeReservaLegal(RL),que é a área pertencente a cada propriedade particular onde não épermitidoodesmatamento,masquepodeserutilizadaemformademanejosustentado.

AReservaLegaléumaáreaprescritana legislaçãoaousosustentáveldosrecursosnaturais,destinadaàconservaçãoereabilitaçãodosprocessosecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo da fauna e floranativa.NaregiãosuldoBrasil,ondeexisteaMataAtlântica,areservalegaléde20%decadapropriedade.ConformeaLei12.651,de25demaiode2012,tem‐se:

[...] Art. 20. No manejo sustentável da vegetação florestal da Reserva Legal,serão adotadas práticas de exploração seletiva nas modalidades de manejosustentávelsempropósitocomercialparaconsumonapropriedadeemanejosustentávelparaexploraçãoflorestalcompropósitocomercial.

Conforme Blum e Oliveira (s.d. apud SANTOS, 2008, p. 09), “[...] é degrande importância a busca demeios para transformar a conservação defragmentos florestais na forma de reserva legal em atividades que gerembenefíciosdiretoseindiretosaosproprietáriosrurais,tornando‐adesejávelparaestes”.

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ALTERNATIVASDEUSODAFLORESTA

Aose considerarapenas a superfície florestaldapropriedade, surgemlimitesdaculturarural,privilegiandoatividadesagrícolasepecuáriaseemescalaaflorestaéconsideradaumobstáculo,poucoounadaacrescentandoà renda familiar. Para mudar esse cenário, algumas ações podem seradotadasnointuitodemelhorarascondiçõesdeproduçãoereproduçãodosproprietários no espaço rural. As áreas de Reserva Legal e PreservaçãoPermanente garantem o patrimônio florestal nativo dentro daspropriedades rurais, com seus múltiplos benefícios. Nessas áreas oproprietárioruralouagricultorpoderáobternovasfontesderendaatravésde vários produtos provenientes desses remanescentes, podendomanejarosrecursosnaturaisdapropriedaderuralcomadiversificaçãoderenda.

Paraquesejapossívelmanejaraflorestanatural,énecessárioincrementarsuarentabilidade,oquedepende,basicamente,dequatrofatores:a)produtividadeda floresta (sítio, estado de conservação, estágio de desenvolvimento); b)produtividadedasatividadesdecolheita,sejaeladeprodutosmadeiráveisounão madeiráveis (organização e planejamento, habilidade, força); c)infraestrutura (caminhos, acessos, rotas, equipamentos); d) mercados(produtosepreços)(ROSOT,2007,p.80).

Rosot (2007, p. 80) afirma que “[...] a floresta funcional precisa demanejosilvicultural".Omanejopossibilitaamelhoriadaflorestaemtermosde estrutura e, consequentemente, pode gerar benefícios às famílias quesobrevivem no espaço rural, oportunizando novas dinâmicas e ganhosambientais,econômicosesociais.Umadasalternativasdedesenvolvimentodaspropriedadesruraiscomintençãodevaloraçãodaflorestaéautilizaçãodosrecursosouprodutosflorestaisnãomadeireiros(PFNM).OsPFNMsãoosdiversosrecursosnaturaisdisponíveisemtodasas formações florestaisexistentes.Historicamente,foramextraídoseutilizadosparadiferentesfins:econômicos, saúde, ornamental, entre outros. Entre os produtos florestaisnão madeiráveis, destacam‐se as plantas medicinais, extratos, frutas,sementes,cipós,cortiças,fibras,resinas,taninos,óleos,etc.Muitosdelessãoamplamente utilizados em processos de produção industrial ou artesanal,cujademandaécrescente.

ConformeBentes‐Gama(2006,p.11):

A possibilidade de gerar bens e serviços ambientais e econômicos com aconservação das florestas naturais vem incentivando novos mercados. Umexemplo disso está na demanda das indústrias nacionais de cosméticos queprocuramutilizarmatérias‐primasvegetaisinovadorasemseusprodutos,cujaprodução, além de estar vinculada ao compromisso de conservação dabiodiversidade, também proporciona a geração de trabalho e renda emcomunidadesenvolvidascomoextrativismo.

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Segundo Nasser (2000, apud BENTES‐GAMA et al., 2006, p. 11),“estudos em economia regional estão ligados à necessidade deconhecimento das especificidades regionais enquanto bases produtivas oudinâmicas”. Essas novas bases produtivas referem‐se aos produtos nãomadeiráveis que podem ser extraídos da floresta como possibilidades demanejo florestal sustentado.Apesar de a FlorestaOmbrófilaMista possuirgrandepartedessesprodutos,muitosnãosãodisseminadosnaculturalocale, de maneira geral, são desconhecidos por muitos proprietários rurais.Embora se conheça a erva‐mate, o pinhão, entre outros produtos nãomadeiráveis utilizáveis, existem muitos mais, possivelmente aindadesconhecidos,quepodemguardarenormespotenciaiseconômicos,sociaiseambientais.

Alémdisso, taisprodutosnaturais(PFNM)podemsuprirnecessidadesdesobrevivênciaeproduçãoeconômicadohabitanterural.ParaItto(1988,apudBRAZetal.,2005,p19),“[...]osprodutosnãomadeiráveisgeralmentesãobaseparaaproduçãoartesanaleindustrialdepequenaescala,alémdegerar empregos, considerando que a exploração requerida exige intensamãodeobra”.

Várias são as espécies nativas que fornecem algum tipo de alimento,entreelasasdafamíliaMyrtaceae,quesãoasmaisencontradasnasáreasdeFloresta OmbrófilaMista no Planalto Norte Catarinense: pitanga (Eugeniauniflora), guabiju (Myrcianthes pungens), guabiroba (Campomanesiaxanthocarpa), cerejeira (Eugenia involucrata), araçá (Psidium cattleianum),jaboticaba (Myrciaria trunciflora), uvaia (Eugenia pyriformis), grumixama(Eugeniabrasiliensis),araticum(Annonacacans),ingá‐feijão(Ingácapitata),entreoutras.Alémdessas,outrassãopotenciaisparaodesenvolvimentodePFNM como a guaçatunga (Casearia decandra), a araucária, através dospinhões,eapalmeirajerivá(Syagrusromanzoffiana).

Aflorabrasileira,demodogeral,nãoproduzmuitasespéciesdefrutascomercialmente viáveis. Por isso, muitas espécies frutíferas somente sãoconhecidas na sua região de origem, embora possam gerar uma demandalocal pelos produtos e subprodutos delas advindos. Determinadas plantassão ricas fontes de substâncias orgânicas de interesse científico etecnológico.Taissubstânciassãoconhecidascomometabólicossecundárioseencontram‐sedistribuídaspor todaaplanta.Muitasdelasdesempenhamimportantepapelreguladordedesenvolvimentodomecanismodedefesadocorpo humano e na reprodução da espécie para fins comerciaisfarmacêuticos. Quantomaior a diversidade biológica de uma determinadafloresta, maior será a sua diversidade química, podendo‐se citar a MataAtlânticacomoumdosmaisricossistemasbiológicosdomundo.

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CONSIDERAÇÕESFINAIS

AFlorestaOmbrófilaMistaregionalsofreugrandeintervençãohumanaeintensaexploraçãoeconômicadesdeoiníciodoséculopassadoatravésdoprocessodecolonização,extraçãoebeneficiamentodamadeira.

A implantação de Unidades de Conservação (UC), o controle daexpansão de espécies exóticas, a criação de políticas públicas específicasvoltadas ao manejo múltiplo de recursos florestais não madeiráveis e oincentivoanovaspesquisasde tecnologiasparamelhorusoeconservaçãodessafloresta,entreoutras,sãoaçõesesugestõesquepodemserpensadas,articuladaseatéimplantadas,nointuitodeproteçãodosremanescentesdaflorestanativaregional.

No âmbito das IG’s, o contraste com o desenvolvimento sustentáveldevebuscarinclusãodefatorescomoadiversidadesculturalehistóricadolocal, resgatando o valor do “Contestado”, além de promover umcrescimentoequilibradocoma justiçasocial,egestãoderecursosnaturaisdapaisagemlocallançadostambémaparticipardaaçãodeIG.Aestratégiaprimordialparaumbomaproveitamentodapaisagemnaturaldomateesuavalorização no processo de IG deve primar o estabelecimento de umaproveitamento inteligente e sustentável da floresta em benefício daspopulaçõesresidentesnoterritório.

Avalorizaçãodeespéciesendêmicaseprodutosassociadoserva‐matesãodetalhesquesefazemessenciaisparavalorizaçãodessapaisagemúnica.Algumas delas, como o Caraguatá (Bromelia antiacantha), desempenhamuma papel fundamental na paisagem com grande apelo paisagístico etambém potencial medicinal, além de muitas outras espécies que sãoassociadasaerva‐matena fitossociologia florestal e tambémpodemservirdesubsídiosnavalorizaçãodapaisagemenaconquistadaIGdaerva‐mateatravés do aproveitamento dos frutos para fabricação de sucos, geleias,polpacongeladaeatémesmoacomercializaçãodofruto innaturanocasodopinhão.

Sugere‐seautilizaçãosustentáveldaFlorestaOmbrófilaMista,istoé,omanejoadequadodosprodutosflorestaisnãomadeireiros.Éindispensáveltambém considerar futuras investigações sobre a temática, além defortaleceraspolíticaspúblicasruraiscomincentivosàadoçãodeproduçãoagrícola no modelo de Sistemas Agroflorestais, aliando a produção dealimentos. Outra possibilidade a ser considerada nas estratégias dedesenvolvimento são os pagamentos por serviços ambientais oferecidospelos fragmentosdaFOM, tais comoo sequestrodeCO², apolinizaçãoe amanutençãoderecursoshídricos.Esseressarcimentoaosprodutoresruraisestáprevistonoatualcódigoflorestaleasuaexecução(ounão)dependedopoderpúblico.

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Os remanescentes florestais na forma de Reserva Legal e Áreas dePreservação Permanentes podem viabilizar economicamente aspropriedades rurais através da produção de bens e serviços, além daconservação da biodiversidade. Por essa razão, os fragmentos deremanescentes da floresta nativa regional em forma de Reserva Legal eÁreas de Preservação Permanente não podem ser considerados áreas“improdutivas”,ou,porvezes,entendidosemantidosapenasporexigênciada legislação ambiental,mas comopossibilidade de exploração econômicasustentável.

Em estudos3já realizados anteriormente (SANDER, 2014), a dimensãoambientaldeconservaçãodapaisagemnaturalnãoévistacomoprioridade,alémdemostrarqueanãopreocupaçãoeacorretautilizaçãodosrecursosnaturaisnãoévalorizadanaproduçãodosprodutoscomselodeIG.Ofatoéque não faz sentindo a conquista de um registro de IG para um produtoexclusivo oriundo de uma paisagem singular e de uma espécie endêmicasem a conservação e valorização desta paisagem da qual a rica matéria‐primachamadaerva‐matefazparte.

Assim,deve‐sezelarpelapreservaçãodocapitalnatural,nãolimitandoos usos da floresta, mas desenvolvendo estratégias seguras para as suasfragilidadescomooavançodaagricultura,oumonoculturassilvícolas.AIGpode ser um excelente recurso de integração entre desenvolvimento esustentabilidadeambientalparaa florestaombrófilamista,desdequeatueintrinsicamente com os atores locais, a sua capacidade de resiliência,atividadeseconômicasevalorizaçãoculturalehistórica.

REFERÊNCIAS

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SCHAFFER,W.B;PROCHNOW,M.AMataAtlânticaeVocê:comopreservar,recuperaresebeneficiardamaisameaçadaflorestabrasileira.Brasília:Apremavi,2002.156p.

VIBRANS,A.C;etal.InventárioFlorísticoeFlorestaldeSantaCatarina:diversidadeeconservaçãodosremanescentesflorestais.Vol.1.Blumenau‐SC:Edifurb,2012.

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CAPÍTULO7

SIGNOSDISTINTIVOSEPOTENCIAISBENEFÍCIOSAODESENVOLVIMENTOTERRITORIAL1

SuelenCarls‐UFSC

LilianaLocatelli‐UFSCLuizOtávioPimentel‐UFSC

1.INTRODUÇÃO

Agestãodo território, com todosos elementosqueo compõem,podegerarativostangíveiseintangíveis.Considerandoanaturezajurídicadessesativos, comumente, os indivíduos tendem a valorizar e a reconhecer commaior facilidade os ativos tangíveis, os quais ainda representam a formapreponderantedefomentaraeconomiaegarantirosustentodasfamíliasaliinseridas.

Diantedeumatendênciacrescentedevalorizaropatrimônioimaterialvinculado aos territórios, especialmente por influência europeia,vislumbram‐se novas perspectivas sobre instrumentos que possamfomentarodesenvolvimentoterritorial.

Dentre esses instrumentos, estão os signos distintivos, institutos quepermitemumamaiordiferenciaçãodosprodutoseserviçosnomercadodeconsumo, bem como podem propiciar a gestão coletiva dos ativosintangíveis advindos da exploração de atividades econômicas ligadas aoterritório.Portanto,aabrangênciadoestudofoidelimitadacomointuitodesecompreenderessessignosdistintivosapartirdesuanatureza jurídicaeformas de proteção, perpassando exemplos estabelecidos na realidadebrasileira, atémesmoapossibilidadedecoexistênciademaisdeumsignoparaamesmaatividadeouprodutoesuaspotencialidadeseconômicas,semesquecerdosaspectosrelevantesvinculadosàquestãoterritorial.

Paraaconstruçãodosargumentos,foirealizadaintroduçãorelacionadaaoterritório,seguidadeumaanálisenormativaedasmarcasdeprodutoseserviços, marcas coletivas e de certificação e indicações geográficas,finalizada com uma apreciação formal desses institutos como potenciaisinstrumentos de valorização e proteção dos respectivos ativos intangíveis

1 O presente texto se integra aos estudos do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento: a especificação de ativos territoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina, o qual contou com o apoio financeiro da FAPESC.

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comvistas a fomentar a economia de determinadas regiões e promover odesenvolvimentoterritorial.

A metodologia utilizada adota a abordagem qualitativa, com enfoqueindutivo na análise das informações, baseada em pesquisa bibliográficasecundáriade livros, artigos, legislação,dadosestatísticosdisponibilizadospor órgãos governamentais ou privados e outros materiais pertinentessobreotema.2.TERRITÓRIO

A ideia de localidade assumiu, nas últimas décadas, um papel deprotagonista nas questões vinculadas ao desenvolvimento da atividadeprodutiva, inclusive no que diz respeito às estratégias utilizadas pelaspróprias empresas, individual ou coletivamente (CALDAS; CERQUEIRA;PERIN,2005).

Issoconduzaconsiderarqueodesenvolvimentoditoterritorializadosetornapontodepartidaparaa construçãodeumanovadimensãodosetorprodutivo: a dimensão espacial, de um desenvolvimento localizado noterritório, cujo referencial é pensado justamente a partir da delimitaçãoterritorial.

Trata‐se de desenvolvimento a partir da utilização dos ativosdisponíveis em determinado ponto do território: ativos tangíveis eintangíveisque,umavezutilizadosporempresas,individualouemconjuntocom a comunidade, permitem uma requalificação (positiva) do território,gerandodesenvolvimento.

Nessecontexto,oterritório,évistocomoberçoehabitatdareproduçãodasrelaçõessociaisdeprodução.Dessaforma,Santos(1977,p.87),apontaque:

Os modos de produção tornam‐se concretos sobre uma base territorialhistoricamentedeterminada.Destepontodevista,asformasespaciaisseriamumalinguagemdosmodosdeprodução.Daí,nasuadeterminaçãogeográfica,seremelesseletivos,reforçandodessamaneiraaespecificidadedoslugares.

Dallabrida(2006,p.161),aseutempo,afirma:

O conceito território refere‐se a uma fração do espaço historicamenteconstruída através das interrelações dos atores sociais, econômicos einstitucionaisqueatuamnesseâmbitoespacial,apropriadaapartirderelaçõesde poder sustentadas emmotivações políticas, sociais, econômicas, culturaisou religiosas, emanadas do Estado, de grupos sociais ou corporativos,instituiçõesouindivíduos.

Nessaseara,aconcepçãodedesenvolvimentoterritorialéamaisamplaconcepção de desenvolvimento entre aquelas que se coadunam com a

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perspectiva do espaço geográfico, ou seja, a dimensão espacial2. É umconceitoqueseassociaaideiadecontinenteenãodeconteúdo.Enele,noterritório,“[...]équalquerrecortedasuperfícieterrestre,masnemtodososterritórios são de interesse igual a partir da perspectiva dodesenvolvimento”(BOISER,2006).

É nesse sentido que Franco (2002, p. 72) observa que: “[...] odesenvolvimentodeuma localidadedependede, entre inumeráveisoutrosfatores, sempre de dois fatores: o capital social e humano existentes noambientedassuasrelações”.

Anjos et al. (2013) compartilham pensamento semelhante e afirmamqueo território exige interação social para sedesenvolver. Logonãodeveser entendido apenas como um conjunto de recursos materiais, mas,principalmente, a partir da forma como pessoas e organizações nesseterritóriosecomportamemrelaçãoaosrecursoseosutilizam.Portanto,éperemptório estabelecer pactos para a geração de benefícios, dodesenvolvimento.

Assiméquea ideiadocapital3 social fazenxergarque indivíduosnãoagem de maneira isolada, nem independentes são seus objetivos e seucomportamentonemsemprese traduzemegoísmo.Épor issoque“[...]asestruturassociaisdevemservistascomorecursos,comoumativodecapitalqueosindivíduospodemdispor”(ABRAMOVAY,2003,p.86).

Nessecenário,açõesparaodesenvolvimentoegestãodoterritóriosãopensadastantoapartirdeativostangíveiscomode intangíveis,sejamelesutilizados isolada ou conjuntamente. Particularmente em um país dedimensõescontinentaiscomooBrasil,noqualsepercebeumavariadacargacultural,autilizaçãodessesrecursos,segeridoscomobjetivosclaros,poderender frutos nos mais diversos campos, como o econômico, o social e ocultural,propriamentedito,apartirdoestímuloàpreservaçãoepromoçãodasidentidades.

É nesse horizonte que se encontram, entre outras possibilidades, ossignosdistintivos,partedosdireitosdapropriedadeintelectualqueobjetivadiferenciar empresas, produtos e serviços a partir de marcas, marcascoletivas, marcas de certificações e indicações geográficas, a depender docaso. A utilização desses signos, combinada a um projeto de gestãoabrangente do território, é capaz de gerar benefícios e promover a

2 Incluídas nesse contexto também as concepções de desenvolvimento local e regional. 3 Conforme Bourdieu (1989) pode-se dizer a respeito do capital econômico que, sob a forma dos diferentes fatores de produção (terras, fábricas, trabalho) e do conjunto de bens econômicos (dinheiro, patrimônio, bens materiais) é acumulado, reproduzido e ampliado por meio de estratégias específicas de investimento econômico e de outras relacionadas a investimentos culturais e à obtenção ou manutenção de relações sociais que podem possibilitar o estabelecimento de vínculos economicamente úteis, a curto e longo prazo.

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cooperaçãoentreempresas,pessoasecoletividades.Essaideiaseresumeàcapacidade de articulação das forças produtivas, culturais e sociais de umterritório, guiada por um mesmo propósito: o desenvolvimento doterritório.3.SIGNOSDISTINTIVOSESUAREGULAMENTAÇÃOJURÍDICA

Paraumagestãoapropriadados signosdistintivoscompreendidosemdeterminado território, é imprescindível conhecer a regulamentaçãojurídicadosinstitutos.Aexistênciaderegrasclaraseodomíniodasmesmassetraduzememconfiançanaproteçãodapropriedadeintelectualefazcomque se forme um ciclo de aprendizado e desenvolvimento, no qual osvínculos se fortalecem. Nesse sentido, a existência de normas nacionaiscoerentesemmatériadepropriedade intelectualédeelevada importânciaparaofomentododesenvolvimentoapartirdaproteçãojurídicadosativosintangíveiscompreendidosnessaespéciedepropriedade.3.1MARCAS

As marcas representam uma categoria múltipla de signos distintivoscompreendidosnosdireitosdepropriedade intelectual:podemsermarcasdeprodutoouserviços,marcasdecertificaçãooumarcascoletivas.

ALein.9.279/1996prescrevequesãoregistráveiscomomarcaos“[...]sinais distintivos visualmente perceptíveis, não compreendidos nasproibiçõeslegais”,eespecifica(BRASIL,1996):

Art.123.ParaosefeitosdestaLei,considera‐se:

I ‐ marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ouserviçodeoutroidêntico,semelhanteouafim,deorigemdiversa;

II ‐ marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de umproduto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas,notadamente quanto à qualidade, natureza,material utilizado emetodologiaempregada;e

III ‐ marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviçosprovindosdemembrosdeumadeterminadaentidade.

Conceitualmente,Bruchetal.(2014,p.80)esclareceque:

Marcas são signos nominativos, figurativos, mistos ou tridimensionais,destinados a identificar e distinguir determinados produtos ou serviços deoutros, de procedência diversa. Para que o signo possa ser registrado comomarcaénecessárioqueosrequisitosdanovidade,distinguibilidade,aindaquerelativa,edalicitudeestejampresentes.

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Asmarcas têm por função precípua diferenciar visualmente produtosou serviços de outros, semelhantes ou idênticos, disponíveis no mercadoconsumidor.Nessacategoriaatitularidadepodepertencerapessoafísicaoujurídica,estaúltimadedireitopúblicoouprivado4.

Já as marcas de certificação são signos distintivos cuja titularidadepertence à pessoa física ou jurídica obrigatoriamente sem relação e/ouinteresse com o produto ou serviço a ser certificado5. A origem dessesprodutos ou serviços não guarda, necessariamente, vínculo geográficoespecífico, apenas exige‐se que se atenda aos padrões estabelecidos pelaentidadecertificadora.

Emdiferentestermos,asmarcasdecertificação:

[...] são usadas para atestar a conformidade de um produto ou serviço comdeterminadas normas, especificações técnicas ou padrões de identidade equalidade.Otitulardamarcadecertificaçãoéumterceiroqueverificaseumproduto ou serviço foi elaborado conforme o regulamento por ele criado. Seaprovado,permiteautilizaçãodosignoqueidentificaestacertificação(BRUCHetal.,2014,p.83).

Diferentesituaçãoéverificadanoquedizrespeitoàsmarcascoletivas.Nessa espécie, a titularidade pertence a uma entidade coletivarepresentativadeumgrupodeprodutoresouprestadoresdeserviçoqueseunemcomumpropósitocomum6.Nessecaso,apenasosqueestiveremnacondição de associados e que respeitarem as normas coletivamenteestabelecidas poderão se utilizar da marca coletiva e sua representaçãográfica.

SegundoexpõemBruchetal.(2014,p.82):

A marca coletiva identifica produtos ou serviços provindos de membros deuma determinada entidade. Esse tipo de marca também tem uma funçãodiferenciadora. Ela pode ser utilizada por Associações ou Cooperativas, porexemplo, cujos associados ou cooperados elaboram produtos que sãodisponibilizadosnomercadocomumamesmamarca.Issopodegarantirumamaior visibilidade e força à marca, o que não aconteceria se cada um dosassociadosoucooperadosutilizasseumamarcaprópria.

Oportuno mencionar que a marca (de produto ou serviço), a marcacoletiva,amarcadecertificaçãoeaIndicaçãoGeográficapodemcoexistirem

4 Artigo 128. [...] § 1º As pessoas de direito privado só podem requerer registro de marca relativo à atividade que exerçam efetiva e licitamente, de modo direto ou através de empresas que controlem direta ou indiretamente, declarando, no próprio requerimento, esta condição, sob as penas da lei. 5 Artigo 128. [...] § 3º O registro da marca de certificação só poderá ser requerido por pessoa sem interesse comercial ou industrial direto no produto ou serviço atestado. 6 Artigo 128. [...] § 2º O registro de marca coletiva só poderá ser requerido por pessoa jurídica representativa de coletividade, a qual poderá exercer atividade distinta da de seus membros.

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um mesmo produto ou serviço, sem que exista qualquer tipo de conflitoapresentadopelo conjuntonormativonacional.Alémdisso,muitasvezesautilização de mais de um signo distintivo representa um avanço nadiferenciação e promoção do produto ou serviço no mercado, podendoimpactarpositivamentenagestãodosativosegeraçãodedesenvolvimento.

Mas, antes que se pense em acumular signos distintivos, é precisoconhecer a legislação que os regulamenta. Nesse sentido, a começar pelasmarcas (de produto ou serviço), uma lista de 23 incisos especificando ossinais não registráveis está contida no artigo 124 de Lei n. 9.279/1996(BRASIL,1996).

Osartigosseguintes(125,126e127)tratamdamarcadealtorenome,da marca notoriamente conhecida e do direito de prioridade relativo adepósitosfeitoempaísquemantenhaacordocomoBrasil.

No que se refere ao pedido, “[...] deverá referir‐se a um único sinaldistintivo e, nas condições estabelecidas pelo INPI, conterá: I ‐requerimento; II ‐ etiquetas, quando for o caso; e III ‐ comprovante dopagamento da retribuição relativa ao depósito”. Ademais, todos osdocumentos que acompanharem o pedido deverão estar em línguaportuguesa,sejanooriginalouemtraduçãosimples(BRASIL,1996).

A aquisição da propriedade da marca se concretiza pelo registrovalidamenteexpedidoequeasseguraaotitularaexclusividadedeutilizaçãoem todoo território nacional pelo períodode10 anos a partir da data daconcessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos e “[...]abrange o uso damarca empapéis, impressos, propaganda e documentosrelativos à atividade do titular”, observadas as restrições do artigo 132 eincisos(BRASIL,1996).Alémdisso:

Art.130.Aotitulardamarcaouaodepositanteéaindaasseguradoodireitode:I‐cederseuregistrooupedidoderegistro;II‐licenciarseuuso;III‐zelarpelasuaintegridadematerialoureputação(BRASIL,1996).Damesma forma, a lei também prevê os casos em que o registro da

marcaseextingueeosdireitossobreelasãoperdidos:expiraçãodoprazodevigênciasemquehajarenovação,renúnciatotalouparcial,caducidadeouausênciadeprocuradorconstituídonoBrasilnocasodetitularresidentenoexterior(BRASIL,1996).

Acerca das marcas coletivas e das marcas de certificação, a Lei n.9.279/1996 reserva os artigos 147 a 154 para tratar das particularidadesdessascategorias.

Osdispositivosalertamque:“[...]opedidoderegistrodemarcacoletivaconterá regulamento de utilização, dispondo sobre condições e proibiçõesde uso da marca”, devendo ser protocolizado no máximo 60 dias após o

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depósito,casonãoacompanheopedido,sobpenadearquivamento(BRASIL,1996).

O pedido de registro de marca de certificação, por sua vez, deverácontemplar: “I ‐ as características do produto ou serviço objeto decertificação;e II ‐asmedidasdecontrolequeserãoadotadaspelo titular”,estas devendo, da mesma forma como ocorre na marca coletiva, seremapresentadasemnomáximo60dias,casonãofaçampartedadocumentaçãoentreguecomopedido,sobpenadearquivamento(BRASIL,1996).

Casosejamempreendidasmodificaçõesnoregulamentodeutilizaçãodamarca, o INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) deverá sercomunicadopormeiodepetiçãocomtodososdetalhesdasmudanças.

Alémdoscasosdeextinçãodamarcadeprodutoouserviço,aplicam‐setambémàsmarcascoletivasedecertificaçãoasseguintescausas:“Art.151[...]I‐aentidadedeixardeexistir;ouII‐amarcaforutilizadaemcondiçõesoutras que não aquelas previstas no regulamento de utilização” (BRASIL,1996).

Osdispositivosseguintesestabelecem:

Art. 152. Só será admitida a renúncia ao registro demarca coletiva quandorequeridanos termosdocontratosocialouestatutodaprópriaentidade,ou,ainda,conformeoregulamentodeutilização.

Art.153.Acaducidadedoregistroserádeclaradaseamarcacoletivanãoforusadapormaisdeumapessoaautorizada,observadoodispostonosarts.143a146.

Art.154.Amarcacoletivaeadecertificaçãoquejátenhamsidousadasecujosregistros tenham sido extintos não poderão ser registradas em nome deterceiro,antesdeexpiradooprazode5(cinco)anos,contadosdaextinçãodoregistro(BRASIL,1996).

Feita essa revisão de conceitos, usos e regulamentação, é possívelperceber que a marca, em todas as suas variantes, tem potencial para avalorizaçãoterritorial.Issoconsideradoemconjuntocomosapontamentosrealizados acima a respeito do território e da cooperação entre pessoas,empresas e coletividade em prol da valorização dos ativos presentes emdeterminadoespaçoterritorial.3.2INDICAÇÕESGEOGRÁFICAS

A Lei n. 9.279/1996 prescreve que as Indicações Geográficas (IG)

podemserreconhecidascomoIndicaçãodeProcedênciaouDenominaçãodeOrigem. Assim, ao analisar os requisitos legais para o reconhecimento deumaIG,importaobservarasdiferençasentreaIndicaçãodeProcedênciaeaDenominaçãodeOrigem.

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Alegislaçãobrasileiradefineque:“Art.177.Considera‐se indicaçãodeprocedênciaonomegeográficodepaís,cidade,regiãooulocalidadedeseuterritório, que se tenha tornado conhecido como centro de extração,produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação dedeterminadoserviço”(BRASIL,1996).

Observa‐sequealeiexigecomorequisitoparaoreconhecimentodessesignoanotoriedadedomeiogeográficodeorigemdosprodutosouserviços.Quando se fala em indicações geográficas, tendo em vista sua origemeuropeia,aideiaquevemàtonaéjustamenteadetradiçãoequalidadeemprodutosouserviçosqueutilizamessesigno.Atradição,porsuavez,nãofoiexpressanaLein.9.279/1996,emboratallegislaçãonãoaexclua.

Adiferençaentreessasduascaracterísticas–notoriedadee tradição–pode ser tênue em alguns casos e significativa em outros. A tradiçãopressupõe práticas reiteradas que se consolidam no decurso dotempo/história,passandodegeraçõesparagerações.Anotoriedade,porsuavez, pressupõe o reconhecimento, o tornar público. Nesses termos, anotoriedade domeio geográfico de origem pode advir da sua tradição naprodução de bens ou serviços, mas também pode ser alcançada a curtoprazocomestratégiasdemarketing.

É possível exemplificar essa distinção imaginando que determinadalocalidade resolva explorar novos produtos, não característicos outradicionais da região. Os novos produtores investem em publicidade,eventosdedivulgaçãoeemcurtotempoalocalidadeéreconhecidaregionalounacionalmentepelaproduçãodeseusbens.Nessecaso,independentedatradição, está preenchido o requisito legal para o reconhecimento de umaIndicaçãodeProcedência.Aqui,atradiçãonãofoiopressupostoparaqueomeiogeográficodeorigemdosprodutossetornasseconhecido.

Como exemplo de Indicação de Procedência, não se pode deixar demencionaroValedosVinhedos,portersidoaprimeiraIGnacional,aqualserefereavinhostintos,brancoseespumantes,tendooseuregistrodeferidoemnovembrode2002(BRASIL,2014),maisdeseisanosapósoadventodaatuallegislaçãodepropriedadeindustrial7.

No Estado de Santa Catarina, a primeira Indicação de Procedênciatambém está vinculada a vinhos (da uva Goethe), e teve seu registrodeferido em fevereiro de 2012 – Vales da Uva Goethe. Trata‐se de umamicrorregião localizada entre as encostas da Serra Geral e o litoral sulcatarinense nas bacias do rio Urussanga e rio Tubarão, compreendendovários municípios (Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Morro daFumaça, Treze de Maio, Orleans, Nova Veneza e Içara) que se tornoureconhecidanaproduçãodessesvinhos(BRASIL,2014).

7 Mais tarde, reconheceu-se também a Denominação de Origem Vale dos Vinhedos, para uma gama menor de variedades de vinhos e espumantes.

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Nãoobstantealgunsexemplospioneiros,asIndicaçõesdeProcedêncianacionaisnãoserestringemavinhos,tendodiversosoutrosprodutostantodosegmentoagroalimentar,comonãoagroalimentares,comoosartesanaise industriais.Citam‐secomoexemplos:oValedoSubmédioSãoFrancisco,parauvasdemesaemangas,em2009;aRegiãodaSerradaMantiqueiradeMinas Gerais, para o café, em 2011; a Região do Jalapão do Estado doTocantins,paraoartesanatoemcapimdourado,tambémem2011;Franca,paracalçados,em2012;Canastra,paraqueijo,tambémem2012;Mossoró,para o melão, em 2013; Rio Negro, para peixes ornamentais, em 2014;Microrregião de Abaíra, para cachaça, também em 2014. De 41 IGsnacionais,têm‐se33indicaçõesdeprocedência8(BRASIL,2014).

Esses exemplos aleatórios evidenciam a diversidade de produtos eregiões brasileiras que obtiveram o registro de uma Indicação deProcedência, agregando à sua produção tradicional um reconhecimentovinculadoaopatrimônioimaterialdessasregiõesesuarespectivaprodução.

Noquese refereàsDenominaçõesdeOrigem,poroutro lado, aLein.9.279/1996, em seu artigo 178, aduz que: “Considera‐se denominação deorigem o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade de seuterritório, que designe produto ou serviço cujas qualidades oucaracterísticas se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico,incluídos fatoresnaturaisehumanos” (BRASIL,1996).Aqui, asqualidadesou características do produto, vinculadas ao meio geográfico de origem,constituemorequisitoessencialparaoreconhecimentodaindicação.

Nesses casos, mais do que tradição ou notoriedade são relevantes,sendo exigida uma comprovação de características que relacionem oproduto/serviçoàsuaorigemgeográfica, tornando‐opeculiarouúnicoemrazãodela.

Alémdesserequisito,aLein.9.279/1996,noartigo182,dispõequeatitularidadeouodireitodeusodaIGérestritoaosprodutoreseprestadoresestabelecidos no local, inferindo‐se que estes explorem a atividadecaracterística da IG. No caso da Denominação de Origem, a leiexpressamente exige o cumprimento dos requisitos de qualidade que adeterminam. Tal distinção se faz relevante nomomento da elaboração doRegulamento de Uso da indicação, bem como no momento de verificar alegitimidadedoprodutor/prestadorparaseutilizardosignogeográfico.

NoBrasil,das41IGsregistradas,oitosãoDenominaçõesdeOrigem.AprimeiraDenominaçãodeOrigemnacional registradano INPI foioLitoralNorteGaúcho,paraoarroz,em2010.Nestecaso,

8 Dados atualizados pelo INPI até 14 de outubro de 2014 e disponíveis no link contido na lista de referências.

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As características climáticas da região do Litoral Norte Gaúcho sãodeterminantes sobre a lavoura de arroz irrigado e isto é fartamentecomprovado na literatura existente. O grão produzido tem características dealto rendimento de grãos inteiros, aparência vítrea e baixo percentual degessamento mantendo uma constância ao longo de diferentes safras. Istocaracteriza um arroz diferenciado, valorizado não somente pela indústriabeneficiadora, mas também pelos consumidores finais que buscam além damelhor aparência do grão um maior rendimento de panela e melhorescaracterísticas de cocção que permitam servir um arroz “solto”, não“empapado”edefácilpreparo(APROARROZ,2010).

Omaior rendimento é decorrência, então, desses fatores naturais queresultam na característica sui generis do produto. Evidencia‐se, nesteexemplopioneiro,umprodutoquesofre influênciasdomeiogeográficodeorigem,agregandocaracterísticaspeculiaresquesedevemexclusivamenteaele. Diferente das Indicações de Procedência, como mencionadoanteriormente,nãosetratasomentedereputaçãoounotoriedadedoLitoralNorteGaúcho,masdequalidadesdoprodutoorigináriodaquele território,que podem ser comprovadas cientificamente e vinculadas a essa origem,decorrentesdefatoresnaturaisehumanos.

Háoutrosexemplosnacionaisqueobtiveramreconhecimentoposteriorcomo Denominação de Origem, como a Costa Negra, para o camarão, em2011, e osManguezais de Alagoas, para a Própolis vermelha e extrato deprópolisvermelha,em2012.Aototal,têm‐seatualmenteoitodenominaçõesnacionaisregistradas.(BRASIL,2014)

Importa mencionar, ainda, o caso de uma mesma região ter sidoreconhecida como Indicação de Procedência e posteriormente ter seuregistro também como Denominação de Origem. No Brasil, o Vale dosVinhedos e o Cerrado Mineiro estão nessa situação. Trata‐se de umapossibilidadenãoprevistana legislaçãonacional,nemvedada,motivopeloqualpermiteinterpretaçõesdiversas.

Faz‐senecessárioobservarqueaIndicaçãodeProcedêncianãodeveservista como uma etapa prévia da Denominação de Origem, uma vez que oobjetotuteladoporambasédistinto.9Talconcepçãopodeensejarconfusãoao consumidor quando se tratar do mesmo produto, por não saberdiferenciartaissignos,oqueacarretariaumamenorvalorizaçãodoprodutoe,consequentemente,a faltaderetornoaos investimentosdosprodutores,especialmente na Denominação que, em tese, gera mais custos,especialmentenocontrole.

Na regulamentação das IGs hámuitas lacunas e omissões, bem comosituações em que os casos práticos e a interpretação do INPI têm dado oalcancedosdispositivoslegais.

9 Sobre o tema, sugere-se consultar ANJOS et al., 2013.

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Nesse mesmo contexto, a generalização do nome geográfico mereceespecialatençãoaqui,motivopeloqualtambémfoiabordadapelolegisladornacional.Assim,consolidou‐sequeestãoexcluídosdaproteçãocomoIGosnomesquetenhamsetornadodeusocomum(artigo180).Observa‐seumaquestãocomplexa,considerandoqueoINPI,órgãoresponsávelpeloregistrodasIGsnoBrasil,acabourelativizandoaexigênciaaodeferiroregistroparaIGs,especialmenteestrangeiras,quesetornaramdeusocomumnoBrasil.

Entende‐se que uma das funções precípuas das IGs é informar aoconsumidor, relacionando o produto à sua origem geográfica. Quando onomegeográfico segeneraliza, suaproteçãocomo IG, alémdeconfundiroconsumidor,podegerarrestrições injustificadasaosdemaisprodutoresouprestadoresqueseutilizavamdessenomegenéricodeboa‐fé.Restaa taisprodutores,dependendodocaso,recorreraoPoderJudiciárioparaverseusdireitosresguardados.

AregulamentaçãodoconflitoentreIGsemarcastambéméprevistanaLein.9.279/1996(artigo181).Aproblemáticaaquiestácentradanofatodeinúmeros nomes geográficos nacionais já terem sido registrados comomarcas, não obstante possuírem características próprias das IGs. Tal fatocausatranstornosaosprodutoreseprestadoresdasindicações,tornandooprocessodereconhecimentomoroso,caroeincerto.

Amesma Lei n. 9.279/1996 (artigo 182, parágrafo único) dispõe, porfim,quecabeaoINPIdeterminarascondiçõesparaoregistrodasIGs,órgãoque, no intuito de regulamentar a matéria, editou normas próprias. Arecente InstruçãoNormativa (IN)n.25/2013 trouxepoucasalteraçõesemrelaçãoàResoluçãon.75/2000queregulamentouamatériaapósaediçãoda Lei n. 9.279/1996, não refletindo em quaisquer modificaçõessubstanciais nos requisitos e documentos exigidos para o deferimento dopedido.

AprimeiraeimportantedisposiçãodoINPIrefere‐seànaturezajurídicadoregistrodeumaIG,qualseja,declaratória.Taldisposiçãoimplicanofatode que o registro não constitui nenhuma nova situação, apenas reconheceumdireitojáexistente(BRASIL,2013b).

Alegitimidadepararequereroregistro,porsuavez,nostermosdaINn.25/2013, artigo 5º, é atribuída, no caso das indicações nacionais, àsassociações, aos institutoseàspessoas jurídicasque representemogrupode produtores ou prestadores legitimados ao uso do nome geográfico (naqualidade de substitutos processuais), quando não se tratar deprodutor/prestadorúnico(BRASIL,2013b).Interessaobservarqueanormado INPI designa a legitimidade como requerente ao registro, o que nãodeterminaatitularidadedodireitodeuso,jáprevistanaLein.9.279/1996.

Opedidoderegistrodeveráconter,nostermosdaINn.25/2013,artigo6º:

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I–requerimento(modeloI),noqualconste:a)onomegeográfico;b)adescriçãodoprodutoouserviço;II–instrumentohábilacomprovaralegitimidadedorequerente,naformadoart.5º;III–regulamentodeusodonomegeográfico.IV–instrumentooficialquedelimitaaáreageográfica;V – etiquetas, quando se tratar de representação gráfica ou figurativa daIndicaçãoGeográficaouderepresentaçãodepaís,cidade,regiãooulocalidadedoterritório,bemcomosuaversãoemarquivoeletrônicodeimagem;VI–procuração,seforocaso,observandoodispostonosart.20e21;VII – comprovante do pagamento da retribuição correspondente (BRASIL,2013b).No caso da Indicação de Procedência, o nome geográfico deve ser

reconhecido e sua notoriedade/reputação comprovada, juntamente com ademarcação da área geográfica, cujo documento deve ser expedido peloórgãocompetentedecadaEstado,nos termosda INn.25/2013,artigo7º,quedispõecomoórgãoscompetentes,

[...] no Brasil, no âmbito específico de suas competências, a União Federal,representadapelosMinistériosafinsaoprodutoouserviçodistinguindocomonome geográfico, e os Estados, representados pelas Secretarias afins aoprodutoouserviçodistinguidocomonomegeográfico.

Os produtos ou serviços que poderão se utilizar da IG deverão serdeterminadosedevidamentecaracterizados,sendoqueodireitodeusodosigno não é extensivo a todo e qualquer produto ou serviço originado narespectivaregião/localidade.

O Regulamento de Uso, por sua vez, estabelecerá essa caracterização,bemcomotodasasdemaisregrasquenortearãoousodaIG.Nessesentido,oRegulamentopodepreverosprocessosprodutivosesuaspeculiaridades;forma de gestão e controle da IG; mecanismo de deliberação dosprodutores/prestadores; custos do selo; regras quanto à matéria prima,produtividade, armazenamento e embalagem; publicidade e divulgação doselo;entreoutras.

AINn.25/2013,artigo8º,solicita,ainda,documentosquecomprovem:a notoriedade do nome geográfico ‐ relacionada à produção ou prestaçãocaracterística; a existência de uma estrutura de controle; e que osprodutores/prestadoresautorizadosautilizaroseloestejamestabelecidosnaáreageográficademarcadaeexploremaatividaderespectiva.Sendoessaúltima exigência também aplicável às Denominações de Origem (BRASIL,2013b).

No caso da Denominação de Origem, o pedido deve conter também acomprovação dos elementos que determinam a influência do meio

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geográficonoproduto,bemcomoadescriçãodosprocessosemétodosdeobtenção, caracterizando a influência de fatores humanos. Nesse últimocaso,destaca‐sequetaismétodosdevemserlocais,leaiseconstantes,afimde garantir ao consumidor o diferencial que o referido produto promete.Para a verificação de todos esses elementos, há, ainda, que se apresentaruma estrutura de controle que fiscalize produtores/prestadores eprodutos/serviços(BRASIL,2013b).

As demais exigências do INPI são de natureza burocrática parainstrumentalizar o pedido, como o formulário de requerimento,comprovante de pagamento, procuração quando pertinente e documentoqueatestealegitimidadedainstituiçãorequerente.

Observa‐sequedentreosmaioresdesafiosenfrentadosnaformalizaçãodopedidodereconhecimentodeumaIGestáaorganizaçãodosprodutores,considerando os diferentes interesses envolvidos, bem como as práticasindividualizadasquerequeremumaharmonizaçãoeaestruturadecontrolequeéumimportante instrumentoparagarantiracredibilidadeperanteosconsumidores, mas que traz custos e, por vezes, conflitos entre osprodutores,especialmentequandoaregrasnãoestãoadequadasàspráticasconsolidadas10.4.ASPOTENCIALIDADESECONÔMICASADVINDASDAUTILIZAÇÃODOSSIGNOSDISTINTIVOSEOIMPACTONODESENVOLVIMENTOTERRITORIAL

Comomencionado anteriormente, os signos distintivos possibilitam adiferenciação e valorização dos produtos, bem comoquanto aos coletivos,novas formas de organização/gestão e melhor aproveitamento dos ativosintangíveisnosterritórios.Ospotenciaisbenefíciosadvindosdesseprocessosãovariadosevãodesdeaproduçãoatéainserçãonomercadoconsumidor.

Nessesentido, faz‐sepertinentemencionaralgunsexemplosnosquaisessessignosdistintivostrouxerambenefíciosaosprodutoresecomunidadeenvolvidos,traduzidosemvalorizaçãoterritorial,alémdeestabelecernovodiálogocomosconsumidores.

No primeiro exemplo, estão as marcas de certificação Rastro do BoiCertificadoraeArrobaCertificadora.Comointuitodeatenderexigênciasdomercado interno e externo, produtores mineiros apostaram narastreabilidadedorebanhoparagarantiraofertadecarnedequalidade.Osprodutores contaram (e contam) com apoio do IMA (InstitutoMineiro deAgropecuária) nessas questões e a certificação tem sido uma estratégiarentável. Em 2009, Minas Gerais já possuía o “[...] maior número depropriedades capazes de fornecer animais para frigoríficos exportadoresparaaUniãoEuropeia:das1.371fazendasaptasemtodoopaís,530[eram] 10 Sobre o tema, sugere-se consultar Claire et al. (2014).

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localizadasemterritóriomineiro”(IMA,2009).Como benefícios da adoção da certificação, podem ser citados: a

diferençaobtidaporarroba,queem2009eradeR$6,00,chegouaR$18,00amaisdoqueadeanimaisnãocertificados.

Outro benefício que a certificação trouxe foi a profissionalização dagestão da propriedade. A responsável técnica da Arroba Certificadoraexplica o primeiro obstáculo para os produtores que se interessam pelacertificação é a documentação. “Acostumados a tocar a propriedade demaneirainformal,aobuscararastreabilidadeoprodutorsedácontadequeprecisaterinformaçõesprecisaseidênticasnosórgãosestaduaisefederais”eassimapropriedadeeproduçãosetornammaisorganizadas(IMA,2009).

No cenário mineiro, em especial em virtude das experiências bemsucedidas,acertificaçãotendeaalcançarmaispropriedades.E,aindaqueopequenoprodutortenhaumgastocercadequatrovezesmaiorqueograndeparagarantiracertificação,elecontinuainteressado,jáqueéumaexigênciadomercadoexternoeagregavaloraoproduto(IMA,2009).

A partir da certificação, os produtores obtiveram melhoria em suagestão e no produto que oferecem ao consumidor, promovendopositivamente,ainda,oterritórionoqualestãoestabelecidos.

OsegundocasodizrespeitoàmarcacoletivaAmorango,quetemcomoslogan “Cultivados com amor” e pertence àAssociaçãodosagricultores fa‐miliaresdeprodutoresdemorangodeNovaFriburgo (Amorango).AmarcafoidesenvolvidanoâmbitodoprojetoABREdoServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas(SEBRAE)comopartedeumaestratégiaparafortalecer a região produtora e a cooperação entre os produtores e acomunidade(BARBOSA,2014,p.277‐278).

Entre as vantagens que umamarca coletiva pode trazer, são citados:“[...] redução dos gastos com propaganda e marketing e a facilidade deentradaemnovosmercados”(BRASIL,2013a).AAmorangovemapostandonessasenoutrasquestõeseosprodutoresaelavinculadosestãobastanteotimistas.

FernandoHottz,produtorepresidentedaAmorango,afirmaque“[...]oproduto identificado pela Marca Coletiva ganha maior credibilidade domercadoe,comotempo,dosconsumidores,oquefacilitaacomercialização”(BRASIL,2013a).

A marca ainda é recente, posto que seu certificado de registro foientregue aos produtores em setembro de 2013, mas as expectativas sãoboas.O agricultor José LuizBrantes é umdos beneficiadospelas ações defortalecimento do cultivo do morango na região de Friburgo, no Rio deJaneiro. Para ele, “amarca coletiva chegou emumótimomomento.Nossodiferencialdemercadosãoosmorangosselecionados”(GOVERNO...,2013,p.2).

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Em contextos como esse, a marca coletiva é um ativo promissor nofortalecimentodacooperaçãoepromoçãodoterritório,compossibilidadesde geração de desenvolvimento. Reúne esforços, divide responsabilidades,otimizainvestimentosecompartilhadiferentesexperiênciasnabuscadeumobjetivocomum.

De outro lado, as marcas de produtos ou serviços também sãoinstrumentos importantes de diferenciação dos produtos, especialmentequando existem qualidades ou características especiais relacionadas a umou outro produtor individualmente. Elas podem coexistir com as demaismarcas e fortalecer estas potencialidades individuais, gerando umreconhecimentoperanteomercadoconsumidor.

NocasodasIGs,aspotencialidadeseconômicasjásãoreconhecidasemvários aspectos, podendo citar: o aumento da demanda; a valorização doproduto no mercado consumidor (valor agregado); geração de empregos;inserção no mercado internacional; fomento às atividades lucrativasindiretas;valorizaçãoimobiliáriadaáreademarcada(LOCATELLI,2007).

Corroborando com as potencialidades referidas, DULLIUS (2009, p.123) aduz, ainda, que as IGs possuem aptidão para instrumentalizar odesenvolvimento territorial “[...] conferindo originalidade à produçãobrasileira e fortalecendo a competitividade nomercado externo e internoatravés dos produtos da agricultura familiar, que possuem fortes vínculoscom o território de origem e com as tradições e modos de fazerdiferenciados.”Destacaquetalestratégiadeveriaserobservadatambémporterritóriosruraismarginalizadosedesfavorecidos.

UmdosexemplosdeconsolidaçãodemuitasdaspotencialidadesacimacitadaséaIGpioneiranoBrasil–oValedosVinhedos.Alémdosbenefíciosmercadológicos,vislumbra‐senestaexperiência,emadição,a satisfaçãodoprodutordiantedavalorizaçãodoseuproduto,oestímuloainvestimentosemelhorias na produção e na qualidade dos produtos e, em especial, apreservação da tipicidade dos produtos, enquanto patrimônio daquelaregião(APROVALE).

Não obstante se destaquem as potencialidades econômicas, essa éapenasumadasfacetasdodesenvolvimentoterritorial.Importareferirqueno que tange aos signos distintivos, as indicações geográficas assumemespecial relevância, uma vez que permitem concretizar além dessaspotencialidades, permitindo a preservação da identidade e cultura destasregiões, novas formas de governança e um estímulo a que as famíliasreencontremsua fontede subsistênciano campoaliadaàpossibilidadedepreservarsuahistória.

Contudo,oreconhecimentoouregistrodequalquersignodistintivo,porsi só,nãoé capazdeconsolidarosbenefíciosacimadescritosnemmesmooutros que tambémpodem ser alcançados. Para tanto, faz‐se necessária a

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adequadagestãodessesativos, oqueenvolveumaparticipaçãodiretadosprodutores/prestadores em todo o processo. Com a união dos envolvidosemproldointeressecomum,benefíciosdasmaisvariadasordenspodemserobtidos, impactando positivamente na produção, na comunidade e napromoção territorial sob as perspectivas econômica, social e cultural(CARLS,2013).5.CONSIDERAÇÕESFINAIS

Comoobservado,oterritórioenvolvemaisdoqueosfatoresmateriaisque o integram, como a interação desses recursos com os atores sociaisenvolvidos naquele espaço. Por essa perspectiva, há diferentes formas degestão ou governança desses espaços, bem como de interação entre osdiversos atores envolvidos. Os instrumentos que permitem o melhoraproveitamentodessesrecursossãoinúmeros,dentreosquaissedestacamossignosdistintivos.

AsmarcaseasIndicaçõesGeográficasseapresentamcomoferramentasquepermitemqueaproduçãoadvindadosterritóriospossaserreconhecidapor seus diferenciais, tanto de qualidade quanto culturais. A partir dautilizaçãodessessignos,épossívelconsolidarcaracterísticaspeculiaresdosprodutoseserviços,alcançandonovosmercadoseumamaiordemanda.

Emrelaçãoaossignoscoletivos,porvez,visualiza‐seapossibilidadedagestão compartilhada dos ativos, buscando soluções conjuntas, dividindoinvestimentos e estratégias que fomentem o desenvolvimento territorial.Maisespecificamente,nocasodasIGs,sepermite,alémdeobterbenefícioseconômicos, garantir a preservação da história, tradição e diversidadeculturaldasdiferentesregiõesdopaís.

Contudo,aformalizaçãoeproteçãodessessignosdevemestaratreladaa ações conjuntas de planejamento e gestão, com a efetiva inserção e oprotagonismoda comunidade envolvida, paraqueospotenciais benefíciosvenhamaseconsolidarrespeitandoàrealidadeeàsnecessidadeslocais.

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CAPÍTULO8

PRODUTOSCOMIDENTIDADETERRITORIALNOESTADODESANTACATARINA:POTENCIAIS

PARAAINDICAÇÃOGEOGRÁFICA 1

MayaraRohrbacherSakr‐UnCNatanyZeithammer‐UnC

StavrosWrobelAbib‐UNIVALI ValdirRoqueDallabrida‐Un

INTRODUÇÃO

Os produtos com identidade territorial no Brasil podem ser alvo decertificação territorial, sendo denominados, genericamente, de IndicaçãoGeográfica (IG). As Indicações Geográficas (IGs) podem ser de dois tipos(BRASIL, 1996): Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem(DO).Noprimeirocaso,refere‐seaonomegeográficodeumalocalidadequese tornou conhecida como centro de produção, fabricação ou extração dedeterminado produto ou prestação de determinado serviço. No segundocaso, estão envolvidas as qualidades ou características que se devamexclusivaouessencialmenteaomeiogeográfico,incluindofatoresnaturaisehumanos.

O Estado de Santa Catarine possui uma única experiência de IG, umaIndicaçãodeProcedência – “ValesdaUvaGoethe”, emUrussanga ‐ emaisduasemprocessodeencaminhamentoparacertificação‐QueijoSerranoeErva‐Mate do PlanaltoNorte Catarinense. Estudos preliminares realizadospelo Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Microempresa (SEBRAE)apontaram,alémdaexperiênciadeIGexistente–ValedaUvaGoethe‐,27produtoscompotencialidadesparaadquiriremessereconhecimentoe,comisso,contribuirnodesenvolvimentodosterritóriosemquesesituam.

Este capítulo procura explorar brevemente alguns conceitosrecorrentesdocampoteóricorelativoaotema,propondo,nasequênciaum

1 O texto resume resultados do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento, financiado pela FAPESC, Chamada Pública Nº 04/2012/Universal, estando também integrado a dois projetos de Iniciação Científica, desenvolvidos na UnC, pelas alunas Mayara - Valorização dos produtos com identidade territorial como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado de Santa Catarina - e Natany - Valorização dos produtos com identidade territorial como estratégia de desenvolvimento: um estudo sobre as potencialidades da erva-mate no Planalto Norte Catarinense -, coautoras.

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exercício de avaliação acerca dos 27 produtos territoriais que possuempotenciaisdeobtençãodeIGemSantaCatarina,aprofundandoaanálisenocaso da Erva‐Mate do PlanaltoNorte Catarinense (produto que já busca acertificaçãoterritorial).

Temosnestecapítuloumobjetivocentral:tendocomoreferênciainicialoestudodoSEBRAE,caracterizarosprodutoscomespecificidadeterritorialdas diferentes regiões do estado de Santa Catarina, apresentados comopotencialparafuturaIG.Tendoemvistaopropósitomaiordestacoletânea,acaracterizaçãoserábreve.Comopropósitocomplementar,aprofundamosacaracterizaçãodeumadasexperiênciasapresentadas,ocasodaerva‐mate,mais no sentido de demonstrar as ações necessárias para se chegar a umregistrodeprodutocomIG,alémdeexporalgunsdesafios.OtemadaIGdaerva‐mateseráretomadonumdoscapítulosdestelivro,quando,então,alémdacaracterização,mereceráumaanálisepropositiva.

Naprimeirapartedestetrabalhosefazumaconstruçãoteórica,naqualse destacam os seguintes conceitos recorrentes na bibliografia relativa aoassunto: Identidade territorial, Especificidade territorial, IndicaçãoGeográficaeDesenvolvimentoTerritorial.

Na segunda parte se elabora uma rápida apresentação dosprocedimentosdepesquisaempregados.

Naterceiraparteseapresentaoresultadodeumapesquisanomotéticaemqueos27produtoscatarinensessãocondensadosemumtextosucintodestacandosualocalizaçãoeformasdevalorizaçãoeconômicaeregional.

Naquartaparteseapresentaoresultadodeumapesquisaidiográfica,oestudo de caso da erva‐mate (Ilexparaguariensis St. Hil), abordando suaspotencialidades socioeconômicas para a obtenção da IG, bem como asperspectivasdeimpactonodesenvolvimentoterritorial.

Naquintapartese fazemasconsiderações finaise sepropõemalgunsencaminhamentos para pesquisas futuras. Também se discorre sobre aslimitaçõesencontradasnapesquisa.

1.REVISÃOTEÓRICA

Para fundamentar teoricamente o debate sobre Indicação Geográfica(IG) e seu potencial de desenvolvimento territorial, faz‐se o emprego decategorias analíticas. Tais categorias não são definitivas e exclusivas, sãoconstruções baseadas nas discussões acerca do tema localizadas em umarevisãode literaturaelaboradasobreoassunto,bemcomosãooresultadoda seleção feita a partir de um critério. O critério escolhido tem aresponsabilidadede ser capazdeestabelecerumarelação intrínsecaentreas temáticas centrais Indicação Geográfica e Desenvolvimento Territorial.Nesse sentido, as próprias temáticas centrais participam da revisão.

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Tambémseelencouoconceito“CapitalSocial”afimderelacioná‐las,jáqueparticipadaraizda lógicadoargumentoemqueas IndicaçõesGeográficaspodem desencadear processos que promovem o desenvolvimentoterritorial.

Anjosetal.(2013)descrevemoCapitalSocialcomonãopertencenteàscategorias de Capital Físico (terra e capital) e Capital Humano (nível deescolaridade), uma vez que esses dois, por si só, não seriam capazes deexplicar os diferentes processos que provocam o desenvolvimento nassociedadese,devidoaessaaparentenecessidade,oCapitalSocialveioaserofatordepreenchimentodaslacunasqueformamoroteirodecrescimento,avançosocial,tecnológico,econômicoepolíticodentreascomunidades.

O capital social, comovaticinouAbramovay (2003), correspondeaoethosdecertasociedadee,aonossoentendimento,aumaidentidademoldadaapartirdeumconjuntodevalorescompartilhados,osquaisnão são transferíveisdeumcontextoparaooutro.[...]umacapacidadedearticulaçãoquefaçaaflorarasforças produtivas de um território em torno a uma determinada ideia‐ guia(ANJOSetal.,2013,p.168).

Complementarmente,Niederle(2014,p.245)afirma:“Teoriasrecentestambém têm destacado o papel das ideias como fator determinante dodesenvolvimento nas sociedades do conhecimento”. Portanto entende‐seque “[...] sãonovas ideias capazesdeproduzir combinações inovadorasderecursos que fundamentam o sucesso das economias avançadas”. Sendoassim, o Capital Social conduz à necessidade de avaliar a categoriaIdentidade Territorial, que é pautada em recursos intangíveis, histórias eculturas promotoras do desenvolvimento de um território ou uma região.EntendemosqueapromoçãodeumaIG,numéumbomexemplode"novasideias capazes de produzir combinações inovadoras", nos territórios quepossuamprodutoscomespecificidadeterritorial.

É nesse cenário que surge o conceito de IG visando reconhecer asespecificidades e agregar valor a produtos com potencialidades deadquirirem identidade territorial para, consequentemente, promoverem ocitadodesenvolvimento.

Apresentamosaseguirumarelaçãosintéticaentrevariáveisqueserãoobservadasquandodaapresentaçãodosresultadosdapesquisa. 1.1IDENTIDADETERRITORIAL

Aidentidadeterritorialestáenraizadanocontextosocialehistóricode

cada localidade, ressaltando as características e valores próprios de cadalugar.Sãoessascaracterísticasidentitáriasquegeramostraçostípicosdoslugaresdentrodeumcontextoglobal.

Segundo Vela (2013), a identidade, em um contexto de concorrência

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emergenteentreosterritórios,passaaseroelementodereconhecimentoediferenciação no processo de posicionamento comunicativo de cidades,regiões e países. Complementando a argumentação sobre o tema, Chelotti(2010)destacaqueaidentidadeéconstruídaporsubjetividadesindividuaisecoletivasoupodeestarrelacionadaagrupossociaisouaopertencimentoterritorial.

Para fins deste trabalho, se compreende que a identidade territorialdesempenhaumpapelestratégiconodesenvolvimentoterritorial,umavezque o pertencer a determinado local representa fator determinante noprocesso de desenvolvimento como um todo. Em geral, a atenção depesquisaemumacategoriacomoestarecairásobrevariáveisquetenhamopotencial de apresentar como se identifica no contexto específico de umaIndicação Geográfica subjetividades individuais e coletivas ou pode estarrelacionadaagrupossociaisouaopertencimentoterritorial.

Pollice (2010) afirma que a identidade territorial nasce por umprocesso autorreferencial colocado em ação por uma comunidade que seapropria culturalmente de um âmbito espacial predefinido, gerando eorientandoosprocessosdeterritorialização,poisoterritórioéinterpretadocomo fonte de criação dos valores, estes desempenhando um papelimportante na constituição e na gestão dos territórios. O autor aindacomplementa que a identidade territorial pode ser interpretada comosentido de pertença, identificação social, representação partilhada de umcoletivo, sendo que, de modo algum pode ser identificada seguindo umavisãoreduzida,nassuasmanifestaçõesexteriores,nossinaisdeixadossobreoterritório.Tambémérelacionadaaoagirpolítico,quandodeveriatenderapreservar não somente as expressões identitárias da cultura dos lugares,mas também os valores identitários que tais expressões contribuíram aplasmar.

Comessabreverevisão,argumentamosqueaidentidadeterritorialtempotencialmente a capacidade de ser operacionalizada enquanto categoriaanalítica,portanto,prática.

Complementando o debate sobre o tema, Pecqueur (2005) cita osrecursoseativosterritoriaiscomoreferênciadaidentidadeterritorial.Paraele, o desafio das estratégias de desenvolvimento constitui‐se em seapropriar dos recursos específicos e buscar o que possa se constituir nopotencial identificável de um território. Para tal, segundo o autor, deveocorrer um processo de especificação ou ativação de recursos, ou seja,transformar recursos emativos específicos.O autor faz umadiferenciaçãoentre ativos e recursos genéricos, de ativos e recursos específicos,descrevendoqueosprimeirossãototalmentetransferíveiseseuvaloréumvalordetroca,estipuladonomercadoviasistemadepreços.Essesativoserecursosnãopermitemqueumterritóriosediferenciedeformaconsistente

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deoutros,umavezqueelessãotransferíveis,ouseja,sãotransacionadosnomercado.Jáosativoserecursosespecíficospossibilitamumusoparticulareseuvalorconstitui‐seemfunçãodascondiçõesdeseuuso.Alémdisso,elesapresentamumcustodetransferênciaquepodeseraltoeirrecuperável.

Os recursos específicosmerecemmaior atenção, já quepossibilitam aconstruçãodeumaargumentaçãoquedestacaa importânciadosprodutoscomidentidadeterritorial,paraodesenvolvimento,sendoqueesserecorteéassumidonoqueserefereàcategoriadeIdentidadeTerritorial.

1.2ESPECIFICIDADETERRITORIAL

Emtrabalhoanterior,Dallabrida(2012)identificaque,naatualidade,o

ambiente mercadológico valoriza produtos diferenciados. Argumenta oautor que a elaboração de estratégias de desenvolvimento baseadas nasespecificidades territoriais tornou‐seumvetordealtopoderdeagregaçãodevaloraosprodutosouserviços.Pelalegislaçãobrasileiraeinternacional,os produtos ou serviços que apresentem uma especificidade e que seidentificam com o entorno territorial onde estão localizados podemrequerer sua certificação territorial. A partir da certificação territorial, osprodutos adquirem notoriedade, facilitando o acesso ao mercado, tendocomo resultado principal a agregação de valor, contribuindo assim para odesenvolvimentoterritorial.

Dullius et al. (2008) considera que o reconhecimento notório de umproduto se atribui às características do território e do saber fazer dosprodutores, como aoriginalidade criativa, umbem imaterial que pode serexploradopelosatoresterritoriais.

Já,segundoPecqueur(2009),cadaprodutodeveserdiferenciadoparaque ele se torne específico de cada território e, assim, escape daconcorrência.Justificasuaposição,afirmandoqueasproduçõesencontram‐seentreguesaumaconcorrêncianaqualsomenteaseconomiascombaixocusto de produção (com domínio equivalente das tecnologias) podemtriunfar.Assim, segundooautor,paraos territórios, trata‐seentãodenãomais se especializar segundo a lógica do esquema comparativo, mas depreferência escapar das leis da concorrência quando elas tornam‐seimpossíveis de serem seguidas, visando a produção para a qual elesestariam(nomodeloideal)emsituaçãodemonopólio.

AquiretomamosoargumentodesenvolvidoporDallabridaeMarchesan(2013)emquesereforçaaideiadaespecificidadedosprodutosterritoriaise sua importância estratégica, afirmando que os territórios geramcompetênciasquepodemserusadasparaqualificarosprodutosdaregião.Então,pode‐sedizerqueesseprocessodeespecificaçãoéoquediferenciaumterritóriodooutro.

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Para fins desta pesquisa, a especificidade territorial não apenas é umindíciodequeépossívelobterdesenvolvimentoterritorialapartirdeumaIndicação Geográfica, como também, aponta para que a identificação daespecificidadeterritorialemumcontextoparticularpodeserdadaapartirdaobservânciadavariávelnotoriedadedeumrecursoespecífico.1.3INDICAÇÃOGEOGRÁFICA

Relembrando o texto apresentado na introdução, recupera‐se a noçãodequeaIGnoBrasilpodeconstituir‐seemIndicaçãodeProcedência(IP)ouDenominaçãodeOrigem(DO).AIPfazreferênciaaonomegeográficodeumpaís, cidade, regiãoou território,que se tornou conhecida como centrodeprodução, fabricaçãoouextraçãodedeterminadoprodutoouprestaçãodeserviço.JáaDOéonomegeográficodeumpaís,cidade,regiãoouterritório,quedesigneprodutoouserviçocujasqualidadesoucaracterísticassedevamexclusivaouessencialmenteaomeiogeográficoespecífico,incluídosfatoresnaturaisehumanos.Detalmodo,adiferençasingularentreasformasdeIGestá associada às características e peculiaridades físicas e humanas,potencializadaspeloterritório,quepodemdesignarumaDO,enquantoquepara a IP é suficiente a vinculação do produto ou serviço a um espaçogeográfico, independentemente de suas características e qualidadesintrínsecas.

Aprofundandoadiscussãopara alémdadefiniçãogeraldoqueéumaIndicação Geográfica, Souza (2010, p. 09) acrescenta, ainda, que hápossibilidade de valorização econômica e competitividade em termos demercadoparaumprodutoadvindodeumaIG:

A Indicação Geográfica é uma das formas mais efetivas de valorizaçãoeconômicaedevantagemcompetitivanosmercados.Elaéumadasmaisantigasformasdediferenciaçãodeprodutos e foi ratificadapeloBrasil nos recentesacordoscomerciaispromovidospelaOrganizaçãoMundialdoComercio(OMC),assim como as patentes, os direitos autorais, as marcas, os desenhosindustriais,oscultivaresdeplantas.

EmDallabrida(2012)seencontraumaconcepçãomaisabrangentedaIG.OautorelaboraqueaIGéumadasformasdevalorizaçãoeconômica,deproteção do conhecimento e dos processos de produção e transformaçãolocais, uma vez que é propriedade coletiva da população de umadeterminada área geográfica, bem como um processo gerado pelos atoreslocais, motivado pela criação de um monopólio baseado nos atributosgeográficos dos produtos, conferindo ao produto ou ao serviço umaidentidadeprópria,ligandosuascaracterísticasesuaorigem.

Relacionando a visão que enfatiza as questões econômica emercadológicadas IG,emSouza (2010), comopostuladomaisabrangentede Dallabrida (2012), constrói‐se um entendimento sintético da questão

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pelo qual se compreende que, na perspectiva apresentada, existe umarelação intrínseca entre o território e a cultura de um local, assim comoentre esses e o contexto econômico global, algo que tem como agenteintegradoroprodutoouserviçolocalsingular.

1.4DESENVOLVIMENTOTERRITORIAL

A categoria desenvolvimento territorial ainda é confundida comosinônimadeoutras,comooexemplodedesenvolvimentoregionaloulocal.Não aprofundaremos aqui o tema,mas lembramos de que tais categorias,apesardeaproximarem‐senoseusentido,têmacepçõesdiferenciadas.

Pecqueur(2005)definedesenvolvimentoterritorialafirmandoqueelesecaracterizaapartirdaconstituiçãodeumaentidadeprodutivaenraizadanumespaçogeográfico. JáDullius et al. (2008)argumentaque, apartir devariados e persistentes estímulos e articulações socioeconômicas,determinadasregiõesrespondempositivamenteaosdesafiosterritoriaisdaglobalização, conseguindo construir seus próprios modelos dedesenvolvimento.

Dallabrida (2011) conclui que o desenvolvimento refere‐se a umprocesso de mudança estrutural empreendido por uma sociedadeorganizada territorialmente, sustentado na potenciação dos recursos eativos (materiais e imateriais, genéricos e específicos) existentes no local,comvistasàdinamizaçãosocioeconômicaeàmelhoriadaqualidadedevidadesuapopulação.

Estas concepções parecem suficientes para sustentar a relaçãopretendidaentredesenvolvimentoterritorialeIG.

Niederle (2014, p. 245) pondera sobre a relação entre a IG e odesenvolvimento. Para tanto, expõe três interpretações de autores quequestionamas implicações econômicas, políticas e socioculturais advindasdesse registro2. Uma das interpretações coloca o papel da IG comomecanismosdemercado“[...]quetransmiteminformaçõesessenciaissobreoproduto–geralmentepelointermédiodeumselo,oquepossibilitareduzirassimetrias entre produtores e consumidores”. A outra interpretaçãoenvolve arranjos institucionais, ou seja, coloca a IG como estratégiascompetitivas para controlar os mercados. A terceira interpretação “[...]destaca a contribuição da IG na construção de sistemas produtivos locaisfundados na autenticidade, tipicidade e originalidade dos produtos”. OmesmoautorenfatizaqueasIGfundamentamoenraizamentosocioculturalem relação ao produto, produtor, consumidores e territórios. Portanto,

2 Dois capítulos desta coletânea, em especial, resultaram de estudos que tiveram como propósito avaliar a relação entre uma IG e o desenvolvimento dos territórios atingidos pela mesma. São os capítulos 2 e 3.

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considerando as três interpretações destacadas por Niederle (2014),parece‐nosqueaterceiratemumamaiorproximidadecomopapelessencialdeumaIG.

Dallabrida e Marchesan (2013) ressaltam a ideia de que aspotencialidades locais, definidas como IG, podem converter‐se,decididamente,numinstrumentodedesenvolvimentoterritorialdesdequeoutras condições e circunstâncias estejam presentes, e reafirma que acriaçãodeumaIGnãodeveserodestinofinaldeumprocesso,mas,sim,ummeio para se atingir o fimmaior que é o desenvolvimento dos territóriosatingidos.

Dullius et al. (2008, p. 6), resumindo contribuições de autores queabordam o tema (a exemplo de Albagli (2004) e Lagares, Lages e Braga(2006), considera o território como uma relação entre raízes históricas,configurações políticas e identidades, preponderantes para odesenvolvimento. Seguindo essa perspectiva, ele afirma que o território éconstruído através da memória coletiva e das relações sociais formadaspelastrocaslocaiseexternas(DULLIUSetal.,2008).

Este argumento acaba por alinhar‐se com a terceira interpretaçãolistadaporNiederle(2014)ecomaobservaçãodeDallabridaeMarchesan(2013)acercadametaqueultrapassaaIGeapontaparaaconstruçãosocialda qualidade, alémde compartilhar comDullius et al. (2008) eDallabrida(2011),anoçãodequeoobjetivododesenvolvimentoterritorialenvolveocrescimentosocioeconômicoemelhoriadaqualidadedevida.

1.5SÍNTESEDOREFERENCIALTEÓRICO

Ao terminar a revisão teórica e a construção de categorias analíticas,avalia‐se que há evidências na literatura sobre a Indicação GeográficapotencialmenteseconstituiremvetordeDesenvolvimentoTerritorial.Alémdisso, as categorias analisadas permitem construir ummarco teórico, umrecortepossível,paracompreenderaconstituiçãodecomoessarelaçãoseestabelece. Nesse tópico são apresentadas as sínteses de cada categoria esuasarticulações.

Da categoria Identidade Territorial se obteve a variável recursosespecíficos como central da categoria já que destaca a importância dosprodutoscomidentidadeterritorialparaodesenvolvimento.

DacategoriaEspecificidadeTerritorialseobteveavariávelnotoriedadedeumrecursoespecífico,bemcomosuacapacidadedetransferi‐laparaumalocalidadeparticular.

Relativo às denominadas grandes categorias, como o caso dasIndicações Geográficas, podemos cotejar que existeuma relação intrínsecaentreoterritórioeaculturadeumlocal,assimcomoentreesseseocontextoeconômicoglobal,algoquetemcomoagenteintegradoroprodutoouserviço

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localsingular.Nessetocante,reforça‐seaimportânciadapesquisasobreasvariáveisrecursoespecíficoesuanotoriedade.

No caso da grande categoria Desenvolvimento Territorial secompreendeanecessidadedeidentificaraconstruçãodesistemasprodutivoslocais fundados na autenticidade, tipicidade e originalidade dos produtos,alémdabuscapor identificaraconstruçãosocialdaqualidade, eosefeitosdas IG em termos de desenvolvimento socioeconômico e melhoria daqualidade de vida (avaliando inclusive os recursos e ativos genéricos eespecíficos,materiaiseimateriais).

Asvariáveis listadasnocasodacategoriaDesenvolvimentoTerritorialpodemseridentificadasemtermosdepotencialidadeparaaproposiçãodeuma IG. Ressaltamos que a grande maioria dessas variáveis possui altacomplexidadeenãoseráfocodeaprofundamentonestetrabalho.2.PROCEDIMENTOS

No intuito de atingir os objetivos traçados para esta pesquisa, aprimeira fase refere‐se à elaboração da revisão de literatura na qualbuscamos articular conceitos que respondam se há evidências teóricas darelação entre a Indicação Geográfica e a possibilidade potencial doDesenvolvimentoTerritorialadvindodessa,bemcomodequemodopoderiase dar um caminho possível caso provada a relação. Disso resultariamcategoriasanalíticasaseremempregadasemfasesubsequentedapesquisa.

A segunda fase da pesquisa empregamos as categorias e variáveisdesenvolvidasanteriormenteemumcontextoparticular:oestadodeSantaCatarina. Nessa fase privilegiamos o desenvolvimento de uma pesquisadocumental de orientação nomotética e um estudo de caso (também combaseempesquisadocumental)comorientaçãoidiográfica.

Apesquisanomotéticaempregapoucasvariáveisebuscacomparaçõesgerais entre diversasmanifestações do fenômeno estudado. Seu propósitoserá,prioritariamente,contextualizaros27produtos listadospeloSEBRAEcomotendopotencialparaobtençãodeIGnoestadodeSantaCatarina.

As categorias analíticas empregadas são Identidade Territorial eEspecificidade Territorial, respeitadas as variáveis recursos (específicosprioritariamente) e notoriedade, respectivamente. Como se estáempregando o universo da pesquisa do SEBRAE, a variável recurso éassumida como dada. A questão fica por conta da notoriedade, daespecialização do produto.Diante disso, propõe‐se tratar de cada produtoenquanto recurso especializado e descrevê‐los em termos dos aspectoslocalizaçãoeformasdevalorizaçãoeconômicaeregional.

Após a contextualização do fenômeno no estado de Santa Catarina otrabalho passa a explorar um segundo nível de profundidade e especial‐zaçãodaquestão‐ fazemosapropostadeumapesquisaidiográficaemumestudodecaso.

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Por sua natureza, a pesquisa idiográfica é predominantementequalitativa, centrada em um estudo aprofundado acerca da essência dofenômeno, tendo como referencial literatura regional que trata do tema.Com base nisso, volta‐se à pesquisa nomotética, avaliando os casos maissignificativosdofenômenodeestudo.Douniversodapesquisa,duasforamas possibilidades aventadas em função de constituírem‐se nos casosmaisadiantadosnoprocessodesolicitaçãodacertificaçãoterritorial,sãoeles:oQueijoSerranoeaErva‐Mate.

Tanto o Queijo Serrano quanto a Erva‐Mate apresentam o mesmopotencialdepesquisa.NocasodaErva‐Mate,aprofundamosnestetextoseuestudo.OcasodoQueijoSerrano,édedicadoumcapítuloespecial3.

Ressalvamosquenoestudodecasoascategoriasanalíticasempregadasforam a Indicação Geográfica e o Desenvolvimento Territorial, maisprecisamente as variáveis que as vinculam: a autenticidade, tipicidade eoriginalidade do produto, bem como a construção social da qualidade e odesenvolvimento socioeconômico. Está preservada também a construçãoanterior na qual se vinculam a Indicação Geográfica e as categoriasIdentidade Territorial e Especificidade Territorial, envolvendo a variávelrecursoespecífico.

Noqueserefereàcoletadedados,tratamentoeobtençãoderesultadoshouve uma orientação fenomenológica que resultou na condensação dosresultadosemtornodasvariáveisedascategoriaselencadas.Optamosporapresentar, a seguir, apenasos textos dos resultados já comasdiscussõesfeitas,deumaformasintética.

Mesmoquesetratedeumtextoelaboradoaquatromãos,éimportantesalientar que os autores, em específico, tiveram funções diferenciadas. AsalunasdeIniciaçãoCientíficaMayaraeNatanyativeram‐semais,aprimeira,à pesquisa sobre as potencialidades de IG nas regiões do estado de SantaCatarina,enquantoasegundaseocupou,emespecial,nacaracterizaçãodaexperiência da erva‐mate no Planalto Norte Catarinense. Os dois outrosautores supervisionaram o processo de escrita das alunas de graduação,além disso, contribuindo, em especial, na estruturação do referencialteórico.

3.RECURSOSESPECIALIZADOSEPOTENCIALIDADESDEINDICAÇÃOGEOGRÁFICANOESTADODESANTACATARINA:PRODUTOS,LOCALIZAÇÃOECARACTERIZAÇÃO

Aseguirsãoapresentadososresultadosdapesquisanomotética.Cada

recurso específico será apresentado com suas respectivas localizações erápida caracterização. São apontados como potenciais candidatos à

3 Fazemos menção ao Capítulo 9. Já o Capítulo 10, apresenta uma outra potencialidade, o caso do artesanato Tranças da Terra, que, apesar de ainda não haver ações a esse respeito, apresenta-se, em especial, como uma futura experiência de IG.

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obtençãodaIndicaçãoGeográficadevidoassuasespecificidadesterritoriais.Aofimdestetópicoháumafigura(Figura01)identificandoomapeamentodecadaprodutonoestadodeSantaCatarina.

3.1ALHODOPLANALTONORTEESERRACATARINENSE:REGIÃODASERRAEPLANALTO NORTE CATARINENSE, TENDO OMUNICÍPIO DE CORREIA PINTOCOMOREFERÊNCIA

Nadécadade1970,TakashiChonancomeçouomelhoramentogenéticodoalhobrasileiro.Apartirde1977,aEmpresadePesquisaAgropecuáriadeSanta Catarina transformou sua propriedade em campo experimental.Durantemaisdeumadécadaelerecebeuvisitasquasediáriasdetécnicoseagrônomos que pesquisavam o desenvolvimento desse produto. Chonancriouumavariedade especial de alho: brancopor fora, roxo por dentro, ecomnomáximo15dentesnobulbo.Em1975,umtécnicodoMinistériodaAgricultura foi ao município de Frei Rogério conhecer o tal alho. No ato,garantiuàvariedadeonomedocriadoreoincentivoparaamultiplicaçãodoexperimento. Desde então, o cultivo da hortaliça é feito artesanalmente, oplantiosedádentepordenteeacolheita,bulboporbulbo.

A importância desse cultivo para o desenvolvimento regional doPlanaltoCatarinense,eSerraCatarinense(compreendidapelomunicípiodeCorreiaPintoeseuentorno),podeserexemplificadacitando‐seaexistênciade empresas de beneficiamento de alho que ali executam suas atividades,comoaEmpresaAlhoPlanalto,quebeneficiaoalhoinnatura,embalando‐oemdiversostamanhosparasercomercializado.

3.2 ARROZ DO ALTO VALE DO ITAJAÍ: REGIÃO DO ALTO VALE DO ITAJAÍ,TENDOCOMOMUNICÍPIOPOLORIODOSULEIBIRAMA

A região do Alto Vale do Itajaí é caracterizada por propriedades depequeno porte, cultivadas na forma de agricultura familiar. O relevorelativamente acidentado contribui para a eficácia das plantações. Essaregiãopossuiumaáreacultivadadearrozirrigadode10.697hectarescomumrendimentode8,5t/ha,acimadamédiageral,tornando‐seumprodutode tradição regional, com fortepreocupaçãoacercadenovas tecnologiaseaumentododesempenhodoscultivares.

Os benefícios do cultivo do arroz trouxeram para essa regiãooportunidades de emprego e renda, através deUnidades de Recebimento,Classificação,BeneficiamentoeArmazenagemdeCereais‐respondendoaoanseiodepequenosagricultoresquebuscavamalternativasderendaparaotrabalhoagrícola.

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3.3BANANADE CORUPÁ:MUNICÍPIODE CORUPÁ E ENTORNO, SITUADONAREGIÃONORTEDOESTADODESANTACATARINA

Trata‐sedeumterritórioenvoltopelacadeiamontanhosadaSerradoMar e pela Mata Atlântica, em áreas colonizadas por suíços, austríacos ealemães.OmunicípiodeCorupáéconhecidocomoa"CapitalCatarinensedaBanana", possuindo a maior produção do estado. Sua base econômicaprincipalestánaagricultura,especificamentenocultivodabananaenoseubeneficiamento industrial. Com essa fruta, é possível elaborar uma gamadiversadeprodutosesubprodutos,comoexemplopode‐secitarabanana‐passa, as cachaças, os doces e as geléias. A culinária local é famosa pelospratostípicos,docesesalgadoselaboradoscomabanana.

Alémdautilizaçãodabananeiracomocomplementoàalimentação,elapode ser utilizada para confeccionar produtos artesanais, como bolsas,cestos, chapéus e enfeites, sendo que do seu caule são extraídas as fibrasnecessáriasparaessaatividade.

Anualmente, em outubro, o município festeja a Bananafest (festa dabanana), promovidapelaAssociaçãodosBananicultoresdeCorupá, comointuito de divulgar a cultura desse município, com enfoque para aimportânciadaproduçãoadvindadabananeira,seuusoeaproveitamento,osmanejosadequadosparaaproduçãodessafruta,astradições,aculináriaeprodutosartesanais.CommunicípioscomoLuísAlves,SãoJoãoeCorupá,SantaCatarinaéoquartomaiorprodutordebananasdopaís.3.4BANANADELUÍSALVES:MUNICÍPIODELUÍSALVESEENTORNO,NAREGIÃODO

VALEDOITAJAÍ,CORUPÁEENTORNO,SITUADONAREGIÃONORTEDOESTADODE

SANTACATARINA

Luís Alves é conhecido como “O Paraíso do Verde Vale” devido a suaexuberante natureza. Emmeados da década de 1970 que os luisalvensesiniciaram o cultivo da banana, tornando‐se um fator decisivo para adiminuição do êxodo rural e para o seu desenvolvimento. A banana éutilizada comomatéria‐prima para a confecção de cachaças, produto peloqualomunicípioéreconhecidoemescalanacional.Alémdessaaplicação,afruta apresenta funções culinárias e artesanais, juntamente com o seuconsumoinnatura.

A geração de melhores oportunidades, econômicas e sociais nessemunicípio se deve, em grande parte, ao cultivo da banana. Como exemplodosestabelecimentosquecomprovamageraçãodeempregoerenda,alémdos fornecedores das sementes e insumos para o cultivo dessa fruta,poderíamos mencionar várias empresas regionais que se dedicam àcomercialização da banana. A entidade representativa dos produtores de

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bananas dessemunicípio é a Associação dos Bananicultores de Luís Alves(ABLA)4.

3.5CACHAÇADELUÍSALVES:MUNICÍPIODELUÍSALVES,NOVALEDOITAJAÍ

OmunicípiodeLuísAlves,localizadoentreBlumenau,JoinvilleeItajaí,éreconhecido por sua aguardente produzida de forma artesanal, o que lheconfere o título de “Capital Catarinense da Cachaça”. Considerado um dosmaiores produtores de cachaça de Santa Catarina, a aguardente domunicípio leva a classificaçãonobrede estar entre asmelhoresdopaís.Abandeira do município traz a imagem de uma moenda, representando agrandeproduçãodacachaçaeageraçãoderiquezasqueelaproporciona.

A "Festa Nacional da Cachaça" ocorre no mês de julho, quando osluisalvenses celebram a safra da cana‐de‐açúcar e a produção da cachaça.Essa festividade atrai um número considerável de turistas e se concretizacomo uma ferramenta para difundir a cultura popular da região, sendo amovimentação econômica importante para impulsionar as atividadescomerciais.

Pode‐se citar os Alambiques Wrück, Delmonego, Momm, SACCA eIndústriaeComérciodeAguardenteMorauercomoempresasqueexploramaatividadedocultivodacanaeaelaboraçãodaaguardentenomunicípiodeLuísAlves. 3.6 CALÇADOS FEMININOSDE SÃO JOÃOBATISTA:MUNICÍPIODE SÃO JOÃOBATISTA,NOVALEDORIOTIJUCAS

Inicialmente,abaseeconômicadomunicípioeraaagriculturae,apartirda instalação de indústrias calçadistas, a economia de São João Batistapassou a se sustentar no ramo dos calçados femininos, sendo hojeconsiderada a "Capital Catarinense dos Calçados". Em âmbito nacional omunicípio destaca‐se por ser um dos que mais cresceram em termospopulacionais nos últimos cinco anos. Aproximadamente 80% de suaeconomiaestáfundamentadanaproduçãodesapatos.

Anualmente,nosmesesdejaneiroefevereiro,SãoJoãoBatistapromovea"FeiradeCalçadosCatarinense",atraindomilharesdeturistasdoestadoedeoutrasregiõesdoBrasil,movimentandotodosossetoreseconômicos.Omunicípioéconsideradoumaótimarotadeturismodecompras,devidoaopreço baixo e à qualidade dos produtos que oferece. Juntamente é 4 Apesar de apresentarmos em separado os casos da banana de Curupá e Luís Alves, é possível pressupor que as duas experiências poderiam compor uma única IG, pela sua proximidade e semelhança nas características climáticas e de paisagem. No entanto, é importante ressaltar que são processos próximos, que se assemelham, mas que têm características identitárias diferenciadas.

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considerado o terceiro maior polo industrial de calçados do país, commovimentaçõesmercadológicas também voltadas às empresas fabricantesdecomponenteseacessóriosparaessesprodutos.

São João Batista possui hoje cerca de 150 indústrias voltadas para osetor calçadista, oferecendo milhares de empregos e melhoresoportunidadeseconômico‐financeirasparasuapopulação.

3.7 CARNE SUÍNA DO OESTE CATARINENSE: OESTE DO ESTADO DE SC,MUNICÍPIOSDECONCÓRDIA,CHAPECÓ,FRAIBURGOESEARA

OEstadodeSantaCatarinaéconsideradoomaiorprodutornacionaldefrangos e suínos, sediando empresas como a Sadia e a Perdigão, além daSeara e Cooperativa Aurora. Na pecuária, a região responde por 82% daprodução de carne de frango e 67% da carne suína de todo o estado.Provando sua importância no cenário nacional, a região é considerada o“CeleirodeSantaCatarina”.

Aimportânciadasuinoculturapodesercomprovada,porexemplo,porsediarempresasde inovaçãoemtecnologiaparamelhoramentosgenéticosem suínos. Os produtos cárneos de suínos da região, como defumados,embutidos, recheados, temperados, entre outros, possuem característicasespecíficasquelhesatribuemumaidentidadesingular.

Eventos, tais como a Exposição Feira Agropecuária, Industrial eComercial, o Salão Brasileiro da Suinocultura, a Feira Internacional deProcessamento e Industrialização da Carne, o Simpósio Brasil Sul deSuinocultura,ea"FestaNacionaldoLeitãoAssado",ocorremnosmunicípiosde Concórdia e Chapecó, tornando evidente a importância da carne suínapara essa região. As festividades envolvem a exposição da suinocultura, aforma de criação do animal e do preparo dos alimentos – advindo dossaberes populares dessa região – e expressam efetivamente a cultura doOestedoEstado.

3.8CEBOLADEITUPORANGA:MUNICÍPIODEITUPORANGA,NOVALEDOITAJAÍ

O município de Ituporanga é o responsável por abastecer,aproximadamente,12%domercadonacionaldeconsumodecebola,alémde exportar esse vegetal, usufruindo, dessa forma, do título de “CapitalNacional da Cebola”. Tem sua economia voltada para a agricultura,destacando‐se também no turismo rural relacionado à produção dessevegetal, onde é sanada anecessidadededivulgarosprodutos, já que suasqualidadessãoreconhecidasnacionalmente.

Anualmenteocorrea"FestaNacionaldaCebola",queatraivisitantesde

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todo o país e também estrangeiros. Esse evento busca maneiras deaprimorarastecnologiasempregadasnaproduçãoagrícoladacebola,alémde divulgar investimentos e melhorias no cultivo, beneficiando todos osramos empresariais do município. Conjuntamente, são realizados outrosprogramasdenaturezaculturalerecreativanoeventocomemorativo.

Importanteressaltarqueexistemnomunicípiodiversasempresasqueutilizamaprodução,ocomércio,aarmazenagemeaexportaçãodecebolascomobaseparasuasatividadeseconômicas.3.9 CERVEJAS ARTESANAIS DA REGIÃO DE BLUMENAU: MUNICÍPIO DEBLUMENAUEENTORNO

Blumenau,pertencenteàregiãodoValedoItajaí,éoterceiromunicípiomais populoso do Estado de Santa Catarina. Um setor tradicional ealtamente promissor da economia do município e região próxima é o daproduçãodecervejasartesanais,comoasmarcasEisenbahneaBierland.Omunicípio leva o título de “Capital Nacional da Cerveja”, possuindo fortesherançasculturaisdospovosgermânicos,seusprincipaiscolonizadores.

Na região de Blumenau existem mais de 10 microcervejarias, quasetodasrespeitandoachamadaLeidaPurezaAlemã(Reinheitsgebot),queimpôsa essa bebida apenas quatro ingredientes para sua confecção: água, lúpulo,malte(decevadaoudetrigo)efermento.Anualmente,emoutubro,BlumenaupromoveaOktoberfest,cujatradiçãoconfiguraasegundamaiorfestasobrecervejasdomundo(apósMunique,naAlemanha), sendoumadasmaioresatraçõesculturaisdopaís.

Uma das principais atrações turísticas da região é o Roteiro dasCervejasArtesanais,queocorreanualmenteeéomaiorencontrocervejeirodoBrasil.EsseRoteiroexpõeumagrandediversidadedearomas,texturasesaboresdecervejas,afimdedemonstraraqualidadeeasingularidadedasmesmasque, nessesmoldesde confecção, são encontradas somentenessaregiãodopaís.Oevento conta comshows,palestras e feiras comatraçõesartísticas e gastronômicas; Sendo um dos seus principais objetivos fazercom que os produtores nacionais de cerveja (fornecedores, bares,cervejeiros) tenham oportunidades de maior crescimento no mercadoatravés do contato com o público consumidor, de modo a consolidar aidentificaçãodacidadeedaregiãocomessabebida.Nacidadeencontra‐seoMuseudaCerveja,únicodogênerodopaís.3.10CRISTAISDEBLUMENAU:MUNICÍPIODEBLUMENAU,NOVALEDOITAJAÍ

Omunicípio de Blumenau, predominantemente de origem germânica,tem como base de sua economia o setor industrial e, dentre as principaisindústrias,sedestacamasdecristais.Omunicípioapresentacaracterísticasprópriasnaproduçãodecristais,tendoassuasvariedades,cores,formasdeconfecções e utilidades comomotivo de atração turística na região, sendo

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possível contemplar ao vivo o processo de produção em determinadosroteiros. Além do Roteiro Industrial dos Cristais, a cidade conta, também,comoMuseudoCristal,quereúneumacervodedocumentos,fotografiaseinformações das indústrias produtoras dessas peças que ajudaram aconstruir as manifestações históricas e culturais da região. Conhecer asfábricaseseusprocessoséumpasseioencantadorparamuitaspessoasqueparticipam dessa rota turística, onde é possível observar a tecnologiaempregada, os recursos humanos qualificados e o cuidado detalhista comquecadamaterialéproduzido.

Importanteressaltarqueessaproduçãoé,predominantemente,manual,a fim de manter intactas a cultura e a tradição da região ao produzirprodutosdequalidade inigualável.Entreasempresasdecristaisda regiãoestãoaCristaisBlumenau,CristallerieStrausseGlasPark.Essasabremàsportas ao turismo industrial e contribuem com asmanifestações culturaisdessemunicípio, alémdepromoveremempregose fontesde rendapara apopulação. Blumenau é, portanto, referência nacional na produção decristais.

3.11 ERVA‐MATE DO PLANALTO NORTE CATARINENSE: PLANALTO NORTECATARINENSE,TENDOCANOINHASCOMOMUNICÍPIOPOLO

A erva‐mate é famosa pela sua utilização no chimarrão, bebidasaboreada nas reuniões com amigos e confraternizações com o típicochurrasco e fogo de chão, configurando‐se como uma característicaoriginária da Região Sul do Brasil. Utilizada, também, para elaboração dechás, adquirindo os mais variados aromas e sabores, o produto possuipotencialidades naturais com características de fazerem bem à saúde –englobando um segmento demercado em franca expansão. Atualmente, oEstadodeSantaCatarinaéosegundomaiorprodutordeerva‐matedopaís.OPlanaltoNorteCatarinensedestaca‐senaproduçãodaerva,emespecialomunicípio de Canoinhas, que teve sua origem no cultivo e na extração daerva‐matenativa.

Osimigrantes,comoosdeorigemalemã,polonesa,italianaeucraniana,nopassado,foramatraídosàregiãodevidoàproduçãodaerva‐mateesuaspotencialidades. Esse município possui o Museu da Erva‐Mate, comfotografias, imagenseobjetosquerefletemaproduçãodaerva‐mateeseubeneficiamentoartesanaleindustrial.

ÉtradiçãoemCanoinhas,nomêsdesetembro,apromoçãoda"FestadaErva‐Mate", configurando‐se a maior festividade do município,apresentandoshows,leilõeseexposiçãodeprodutostípicosdaregião,alémdagastronomiaregional.Canoinhasdeclara‐sea “CapitalMundialdaErva‐Mate”.

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3.12FRESCALDESÃOJOAQUIM:MUNICÍPIODESÃOJOAQUIM,NAREGIÃODASERRACATARINENSE

OmunicípiodeSãoJoaquiméfamosoporumamodalidadedepreparo

dacarnebovina,salgadaecurtidaaorelento(naausênciadoSol,geralmenteànoite),ofamosoFrescal.Comosefosseumavariantedocharque,adaptadaàculturaregional,oFrescaléfeitoapartirdecarnesbovinasdaregião,dequalidade nobre. Esse produto é genuinamente de São Joaquim, nãoexistindosuafabricação,comasmesmascaracterísticas,emnenhumoutrolocaldopaís.EstudiososacreditamqueogostosingularexistentenoFrescalde São Joaquim é devido ao fato de o gado se alimentar de pastagensnaturaisprópriasdaregião,quelheconfereosabordiferenciadoedignodedestaque.

OFrescal éprocuradopormuitos turistasquevisitamessa regiãoembusca da carne típica joaquinense, com fama de "derreter na boca" e tergosto de uma carne cuidadosamente curtida. A procura por esse alimentoaumentanasestaçõesdeoutonoeinverno,quandooturismodomunicípioémaisacentuadopelofriointensoeatépelapresençadeneve.

Como exemplo de investimentos voltados para esse produto pode‐secitaros realizadospela empresaFrigozan,quepossuioFrescal comoumamarca registrada, e o comercializa há cerca de 40 anos. Em muitossupermercados e açougues catarinenses é possível conferir o Frescalproduzido no Planalto Serrano, com as devidas especificações quecomprovamsuaprocedência.

3.13KOCHKAESEDOVALEDOITAJAÍ:MUNICÍPIOSDOVALEDOITAJAÍ,TENDOOSMUNICÍPIOSDEBLUMENAU,INDAIALEPOMERODECOMOPOLO

O queijo Kochkaese é elaborado de modo caseiro e não há a

pasteurização do leite no seu processo de confecção, razão pela qual essamodalidade de queijo branco ainda está em processo de regulamentaçãojunto ao Ministério da Agricultura, sendo realizadas vendas em pequenaescala na região. O Kochkaese é vendido em feiras, por produtores queconfeccionam o produto isoladamente, sem a utilização de equipamentostecnológicos. Dessa forma se preserva a cultura popular e traz fonte derenda para muitas famílias. A confecção desse alimento demora cerca desetediaseosmuitosapreciadoresdizemquepossuiumsaborinigualável.

Existem expectativas de que pesquisas que estão sendo realizadascontribuamparaumaposteriorregulamentaçãodoprodutoe,dessaforma,sedifundaa culturagastronômica típicapresentenoKochkaese. Comoumqueijo cremoso, na forma atual de produção doKochkaese, o processo deenvelhecimentoéprovocado,sendoque,antigamente,erausadooleitequenão mais seria consumido por estar envelhecido. Os produtores dos

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municípiosdessaregião,predominantementedeorigemalemã,lideramumforte movimento que busca o tombamento imaterial desse alimento,tornando‐opatrimôniohistóricoecultural.Écertoqueesse tipodequeijonãopossuireferênciaedestaqueemnenhumaoutraregiãodopaís,porissoosturistassãoatraídosporessepratosingularaovisitaremaregiãodoValedoItajaí.

3.14LARANJAESUCODOVALEDORIOURUGUAI:VALEDORIOURUGUAI

O Vale do Rio Uruguai engloba municípios catarinenses comoConcórdia,Chapecóe Itapiranga, emunicípiosdoRioGrandedoSul comoErechim,Iraí,TrêsPassoseSantaRosa5.

Segundo estudos, nessas regiões se concentra a laranja de melhorqualidadedopaís,comummenorgraudeacidez,agradávelaopaladar,umtamanho adequado e uma coloração chamativa e vivaz, atraindo osconsumidoresdeformasignificativa.Essasqualidadesespecíficassedevema um microclima regional configurado pela presença de um vale nasproximidades do Rio Uruguai e seus afluentes, que banham essa grandeárea. Essemicroclimapossibilita aproduçãode cítricos,mesmosendoemáreasdeclimasubtropical.

A cadeia produtiva do Oeste catarinense é abrangida pela AssociaçãoCatarinense de Citricultura (Acacitros), já tendo atingido cerca de 1.700estabelecimentos rurais cultivandomais de três milhões de laranjeiras. Oaumento da área plantada nessa região é constante, e é altamentepromissor. No entanto, apesar da potencialidade que a laranja apresentanestaregião,nosúltimosanos,têmocorridocrisesdemercado,interferindonaáreadeprodução.

Mesmoassim,noValedoRioUruguaiexistefestividadesqueexpõemaricaproduçãocítricadosmunicípios,alaranjaeseusderivados,produzidosde forma artesanal pelas famílias locais, demonstrando a cultura típica daregião.

3.15 LINGUIÇA DE BLUMENAU: MUNICÍPIO DE BLUMENAU, NA REGIÃO DOVALEDOITAJAÍ

A Linguiça de Blumenau é um embutido famoso, no entanto, suaprodução ocorre em todo o estado catarinense. Em especial, esse produtoexpressa a cultura e a singularidade da produção blumenauense, comqualidadereconhecidaesaborresultantedautilizaçãodecarnesnobresdaregião.

As origens dessa receita expressam as raízes da colonização alemã,

5 Ou seja, no caso de se pensar numa IG, a mesma poderia estender sua área de abrangência também para áreas daquele estado.

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fortemente presente nessa região. Inúmeras receitas culinárias utilizam aLinguiça Blumenau como matéria‐prima, desde aperitivos até pratosprincipais,sendoquepossuiummercadoconsumidorconsolidado.Existemblumenauenses, produtores isolados, que até hoje usam os ensinamentosdos seus antepassados para o preparo da Linguiça Blumenau, muitoapreciadacompãopretoemostardaforte.

Esseeoutrosprodutosdaregiãooportunizameventos,comoo"FestivalGastronômico", com a participação de restaurantes que elaboram pratosexclusivos para o festival utilizando‐se de produtos específicos regionais.Eventoscomoessedifundemaculturaregionalemovimentamaeconomiado município de Blumenau e região, nas áreas industrial, comercial e deserviços.3.16 MAÇÃ DE SÃO JOAQUIM: MUNICÍPIO DE SÃO JOAQUIM, NA SERRACATARINENSE

Omunicípiode São Joaquim, alémde ser famosopelas suasmais de800horas de frio ao ano, compresença eventual de neve, é reconhecido pela suaprodução de maçãs, principalmente as da qualidade Fuji, tanto que possui otítulo demaior produtor dessa fruta no Estado de SC. Cerca de 70% da baseeconômicadeSãoJoaquimgiraemtornodaproduçãoecomercializaçãodessafruta,consideradapormuitosdesabor,aparência,coretexturaincomparáveis.

A cada dois anos, o município promove a "Festa Nacional da Maçã",realizadaentreo finaldomêsdeabrile iníciodemaio,aqualpossuiatraçõesturísticas tradicionais, como camping, cancha de laço e palco para shows,atraindomilharesdeturistasemantendoumatradiçãoquejáexisteacercade50 anos. Envolvendo a culinária, trajes típicos, shows, palestras e seminários,esseeventocontribuiparaadivulgaçãodaculturatípicaregionaleclassificamamaçãcomoumprodutoessencialparaomunicípiodeSãoJoaquim.

Hoje,SãoJoaquimcontacommaisdemilpequenosprodutoresecomaAssociação de Produtores de Maçã e Pera (AMAP). Essa fruta atraiinvestimentos tecnológicos para sua produção, no que diz respeito à suaindustrializaçãoenavariedadedesubprodutoscomodoces,balasegeléias.Comoexemplodeempresasqueproporcionamfontesdeempregoerendaspara a população utilizando‐se da maçã como matéria‐prima econômica,pode‐secitaraSANJO‐CooperativaAgrícoladeSãoJoaquim,quehojecontacom cerca de 330 funcionários e produz, colhe e comercializa essa frutadurantetodasasépocasdoano.

3.17MELDEMELATODASERRACATARINENSE:MUNICÍPIOSDAREGIÃODASERRACATARINENSE

O Mel de Melato se diferencia do mel tradicional, este últimoconfeccionadopelasabelhasapartirdopólendevariadasespéciesdeflores.OMelato é resultante da utilização, pelas abelhas, de um líquido expelido

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pelaárvoreMimosaScabrella (apopularbracatinga),apartirdoataquedacochonilha,umparasitaquepossuitempodevidadedoisanos.Portantooaugedaproduçãodessemelocorreacadadoisanos.

Essamodalidade demel configura‐se comoúnico,menos açucarado ecomumacormaisescuraqueomelobtidodonéctarfloral.Esseprodutopormuito tempo foidesconhecidoedesvalorizadopelosapicultores.Naépocadeseusurgimento,retiravamsuasabelhasdoslocaisdeorigemparaqueaproduçãodomeltradicionalnãofossecomprometida.

NaSerraCatarinense‐compreendidapelosmunicípiosdeUrubici,BomRetiro, Rio Rufino, Bocaina do Sul, Palmeira, Lages e entorno ‐ o Mel deMelato produzido é "puro" devido à grande quantidade de bracatingasexistentes,oquenãoocorreemoutrasregiõesdosul,emqueaproduçãosemisturacomadeoutrasflores.

OMeldeMelatojárecebeupremiaçõesqueoconfiguramcomomelhormel do mundo e, por possuir certificações de produção com origem emflorestas nativas, respeita a regulamentação para orgânicos da UniãoEuropeia, o que facilita a sua exportação. A Alemanha é a principalimportadora desse produto Estima‐se que existam cerca de 1.800apicultoresnaSerraCatarinense,osquaisfocamsuasproduçõesnoMeldeMelato.

3.18 MÓVEIS DE SÃO BENTO DO SUL: MUNICÍPIO DE SÃO BENTO DO SUL,NORTEDOESTADODESC

A economia de São Bento do Sul é essencialmente industrial, comempresas de cerâmica,metalúrgicas, têxteis e, principalmente,moveleiras.Pode‐se citar o ramo moveleiro do município como fundamental para amovimentação econômica e financeira dos setores primário (extração dasmatérias‐primas, as madeiras), secundário (fabricação dos móveis) eterciário(comercializaçãoeprestaçãodeserviços).

São Bento conta com extensos parques fabris para a confecção demóveiscustomizados,comdesignsdiferenciadosedealtopadrão.Osmóveisproduzidos adquiriram reconhecimento em caráter nacional, compondo,também,oprincipalprodutodeexportaçãodacidade(amaiorexportaçãomoveleiradopaís).

São Bento do Sul é reconhecido como "Capital dos Móveis" sendo,semestralmente, realizada a feiraFEISTOCK, com o intuito de promover ocomércioeoreconhecimentodaregiãocomopolodefabricaçãodemóveisdiferenciados, customizados e de alta qualidade. Essa feira impulsiona oturismoconsideravelmente,comapromoçãodeeventosqueenvolvemtodaaregiãonortecatarinense,movimentandoaeconomiadomunicípiodurantesuaexecução,alémdepromovercontratosentreindústriasecomércioscom

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oconsumidor final.Opolomoveleiroseestendeaosmunicípiospróximos,comoodeRioNegrinho.

3.19 OSTRAS DE FLORIANÓPOLIS: ,FLORIANÓPOLIS,CAPITALDOESTADODESC

As ostras alimentam‐se de detritos marinhos e operam como filtrossubaquáticos. A criação de ostras em Florianópolis começou a partir de1990, sendoque foi implantadacomoalternativaderendaaospescadoresartesanais.AparteinsulardeFlorianópolispossuicercade100hectaresdassuas águas ocupadas pela maricultura, a criação de mariscos. No bairroRibeirãodaIlhaaproximadamente5.000pessoastiramseusustentodessaatividade.

Florianópolispossuiaságuasconsideradas ideaisparaocultivodessemarisco, são rasas de até ummetro emeio, calmas e possuem nutrientesadvindosdachuvaqueocorrenaSerradoMar,napartecontinental.Assim,a ostra da capital catarinense desenvolve‐se completamente em cerca deseismeses,enquantoaostrafrancesa,referênciamundial,demoraseisvezesmais.

Entre os principais eventos de Florianópolis, destaca‐se a "FestaNacional da Ostra", única festividade do gênero do Brasil, que reúne agastronomiatípica,pratosexóticosediferenciadosfeitoscomfrutosdomar,tendocomobaseprincipalaostra.Esseeventoapresentashows,palestras,atividadestécnicas,econômicas,científicas,artísticaseculturaisfocadosnaprodução desse marisco, trazendo oportunidades aos produtores paraconsolidarem seu público consumidor e divulgarem a qualidade dos seusprodutos. Florianópolis detém 80% da produção nacional de ostras. AFazenda Marinha Ostra Viva é um exemplo de empresa produtora dessemarisco,desde1998.

3.20 QUEIJO SERRANO: MUNICÍPIOS DA SERRA CATARINENSE E REGIÃOSERRANADONORDESTEDORIOGRANDEDOSUL

A Serra Catarinense, que se estende desde o município de Lages eentorno, comextensãoatéa região serranadonordestedoRioGrandedoSul, possui altitudes superiores a 1.000metros e invernos rigorosos. Essaregião é famosa pela produção de queijos artesanais e coloniais, típicosdesse território, conhecidos como Queijo Serrano e intitulados pelopatrimônioculturalterritorial6.

Aproduçãodessequeijoéfontederendademuitasfamíliasdaregião,produtores isolados e pequenos pecuaristas. Cerca de 50% da renda

6 O Capítulo 9 desta coletânea trata com mais profundidade o tema.

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inerente à Serra Catarinense vemda produção desse queijo artesanal queremontaprocessosseculares,tradiçõespassadasdegeraçãoageração.

AqualidadedoQueijoSerranoresultadastécnicasartesanaisutilizadasnaregião,comooleitedasvacasquesealimentamdaspastagensnaturaiseoclimatípico,que,segundoestudos,atribuemaesseprodutocaracterísticasúnicas e reconhecidas nacionalmente. Com o objetivo de qualificar osprodutores,aEmpresadePesquisaAgropecuáriaeExtensãoRuraldeSantaCatarina(Epagri),emparceriacomoConsórcioSerraCatarinense(Cisama),promove a Capacitação de Boas Práticas de Fabricação (BPF) de QueijoArtesanal Serrano.EmLages, visandopromoveramelhororganizaçãodasestratégias da cadeia produtiva do Queijo Serrano, foi realizada aconstituição da Associação de Produtores de Queijo Artesanal Serrano daSerraCatarinense(Aproserra).

Nomunicípio de Laurentino (SC)ocorre a "FestaEstadual doQueijo",contribuindo no fortalecimento da cultura regional, promovendo maiorintegração e divulgação dos potenciais econômicos da região, juntamentecomaculturaeatradiçãodasociedadeserrana.

3.21 QUIRERA: TERRITÓRIO DO CONTESTADO, DE CONCÓRDIA, IRANI EJOAÇABA,ATÉCANOINHASESULDOPARANÁ

Quireraéonomepopularatribuídoaomilhotrituradoempilão.Cozidomisturadocomcarnesuínatorna‐seumalimentonutritivoedebaixocusto.Tal alimentação fazia parte da dieta alimentar cotidiana do homem doContestado.Assim,adietaalimentardasociedaderegional,duranteeapósaGuerra do Contestado era, basicamente, a quirera. Nesse sentido, essealimento típico do homem do Contestado poderia constituir‐se umaespecificidadeterritorial.

Atualmente, a quirera ainda é consumida na culinária da região. Noentanto, diferentemente da sua origem, hoje o milho é trituradomecanicamente,oquenãolheatribuiamesmaqualidade,aliadoaofatodequenãonecessariamenteháumapreocupaçãodaindústriacomaqualidadedamatériaprima.

3.22 RENDA DE BILRO DE FLORIANÓPOLIS: FLORIANÓPOLIS, CAPITAL DOESTADODESC

Originalmente, a economia de Florianópolis esteve relacionada comatividades ligadas à pesca, usualmente feita por homens. Já as mulheres,desdeséculospassados,utilizavam‐sedeatividadesmanuais,comoofeitiodaRendadeBilroparaajudarnasdespesasdacasa.Sendoassim,aRendadeBilrorefleteaculturaeatradiçãoseculardasociedadequehabitaessailha,expressadaspeloditado“ondehárede,hárenda”,referindo‐seàsredesdepescaeasRendasdeBilro.

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Trazidanaépocadacolonizaçãoaçoriana,emmeadosdoséculoXVIII,são trançasde fiosquedesenhamrendascompequenaspeçasdemadeira(os bilros) e é muito famosa na ilha catarinense, principalmente naslocalidades de Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa e Lagoa daConceição.

Na localidade de Pântano do Sul existe a Casa das Rendeiras, quepreservaaculturaeatradiçãodessaatividade.Nesselocal,diversaspessoasse reúnem, desde rendeiras até turistas e curiosos, se configurando umamodalidade de oficina de renda que funciona como uma cooperativa deartes manuais. As técnicas para a confecção das Rendas de Bilros forampassadasdegeraçãoageração.Adiferenciaçãodessemododeconfecçãoéque é necessário utilizar um tecido como base. A “Maria Morena” e a“Tramoia” são denominações de algumas das rendas mais conhecidas naregião,tidascomoprodutostípicoseespecíficosdacapitalcatarinense.

3.23 RENDAS DE CRIVO CATARINENSE: FLORIANÓPOLIS E MUNICÍPIOS DAREGIÃOMETROPOLITANADEFLORIANÓPOLIS

A Renda de Crivo constitui‐se em uma modalidade de bordadoelaborado a partir da preparação de um determinado tecido de onde sãoretiradosalgunsfiosafimdeformarespaços.Essesespaçossãopreenchidoscomfiosdecoresdiversas,delineandoodesenhodesejadopelarendeira.

Essa atividade, típica da Capital Catarinense, possui raízes nacolonização açoriana e, assim como a famosa Renda de Bilro, constitui aculturaeatradiçãoseculardessaregião.

Mulheres quepraticam essa arte são denominadas “criveiras”. Elas sereúnememlocaiscomoaCasadaCulturaeaGaleriadoArtesanato,tambémnacasaparticulardasamigasecompanheiras,a fimdebordaremaRendadeCrivo,sendoessapráticapassadadegeraçãoemgeração.

No mês de agosto, na região da Grande Florianópolis, ocorremcelebrações e atividades culturais no denominado Dia do Folclore, eventocriado para divulgar os produtos artesanais da região, englobando, narelação das artes manuais, a Renda de Bilro e a Renda de Crivo.Investimentos são aplicados para que haja o resgate e o incentivo àcomercialização dessamodalidade de artesanato catarinense, consideradoumaidentidadeculturaldoEstado.Asgaleriasdearte,destinadasparaessefim,recebemmuitosvisitantesquecontemplamastécnicasempregadasnaconfecção dessas artes em tecido, prestigiando os artesãos e a bagagemhistóricaexistente.

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3.24 TRANÇAS DA TERRA DO MEIO OESTE CATARINENSE: MUNICÍPIOS DAREGIÃOMEIOOESTECATARINENSE,TENDOJOAÇABACOMOPOLO

OMeioOestedeSantaCatarinafoicolonizadoporalemãeseitalianosejáfoiconsideradoa“CapitaldoTrigo”dopaísnadécadade50.AsTrançasda Terra configuram umamodalidade de artesanato feito com a palha dotrigo, muito praticado na região montanhosa e colonial do Meio OesteCatarinense,quepossuiessaatividadetípicacomespecificidadeterritorial.Essas trançasrefletemculturashistóricas, sendoqueosartesãosdetêmossaberes relacionados às tradições dessas localidades, além de seconstituíremfontederendaparainúmerasfamíliasqueláhabitam.

Temendo que essa tradição seja perdida, existem projetos que visamresgataraculturadessaartemanualnaregião,comooProjetoTrançasdaTerra.Essefoicriadoporumgrupodemulheresehojecontacomdezenasde artesãos e produtores de trigo, espalhados entre os municípios deJoaçaba,Catanduvas,Lacerdopólis,LuzernaeOuro.

Essa modalidade de investimento cultural agrega valor à identidade dosmunicípios, pois o número de pessoas que passam a se interessar pela arteaumentagradativamente,naproporçãoemqueosprodutossãoexpostoseastécnicasdivulgadas,tornando‐seumarotadecomprasatrativaaosturistas.Esseprojeto, respeitando as raízes culturais da sociedade e possuindo comoperspectivaodesenvolvimento,envolvemaisdecemfamíliasdaregião,tendojáalcançado certificação e reconhecimento da qualidade dos produtosconfeccionados,comoo"PrêmioSEBRAETOP100deArtesanato".

3.25TRUTADASERRACATARINENSE:MUNICÍPIOSDEBOMJESUSDASERRA,PAINEL,LAGES,SÃOJOAQUIM,URUPEMAEURIBICI

Os municípios da Serra Catarinense possuem diversas atraçõesturísticas relacionadas à truta, peixe famoso da região. Santa Catarinaencontra‐se entre principais estados produtores, graças à produção daregião serrana, ondea truticultura foi implantadaemmeadosde1970.Ospiscicultores,objetivandoalavancarsuasatividades,investiramemtanquesparatruticultura.Atrutamovimentaaeconomia,comapresençadepesque‐pagues,culináriastípicasepousadasespecializadas.

Nomunicípio dePainel, o InstitutodoMeioAmbiente e dosRecursosNaturais Renováveis (IBAMA) administra a Estação Nacional deTruticultura. JáaAssociaçãoBrasileiradeTruticultores(Abrat) investeemprojetoseinovação,comoacriaçãoda"RotadaTruta",roteiroqueenglobaosmunicípiosdaregiãoserrana,sedesdascriaçõesdepeixesmaisantigasdo estado. Sendo assim, é grande a expectativa quanto à integração datruticultura com o setor turístico e na criação de um potencial “roteirotemático”focadonapescaesportivadessepeixe.

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3.26VIMEDERIORUFINO:RIORUFINO,NASERRACATARINENSE

A economia do município de Rio Rufino é baseada na agriculturafamiliarenacriaçãodebovinosparacorteeprodução leiteira.Porém,nasúltimas décadas, uma nova alternativa de desenvolvimento vemdespontandonaregião,aproduçãodovime.

Comovimesãoelaboradosinúmerosprodutosartesanais,comocestosemóveis.RioRufinoeregiãopossuemascondiçõesambientaisideais,comoo clima, temperatura, relevo e altitude para o cultivo desse arbusto, comvimeiros que atingem cerca de dezmetros de altura, adquirindo porte deárvore frondosa de tamanho três vezes maior que o convencional. Omunicípio é considerado a “Capital Nacional do Vime”, sendo responsávelpor90%daproduçãonacional,juntamentecomBomRetiro,BocainadoSul,UrubiciePalmeira,municípiospróximos.

NomunicípiodeRioRufinoexisteadenominadaCentraldasCestas,quereúneaproduçãodecercade25artesãosecontacomaconfecçãodecercade20milpeçaspormês,vendidasparaentidadeseempresasdentroeforadoEstado, as quais realizamencomendasde cestas para osmais variadosfins,comocestasparacafédamanhãeflores.Dessaformaamãodeobradaregiãoéabsorvidapeloartesanato,configurandofontederendaparamaisdecemfamílias.

Aregiãopromove,anualmente,aFestaNacionaldoVime,queexpõemasproduções e atividades dos agricultores e artesãos típicas dessaslocalidades,contandocomshows,palestrasegastronomia.

3.27 VINHOS DE ALTITUDE DA SERRA CATARINENSE: MUNICÍPIOS DE SÃOJOAQUIM,CAMPOSNOVOSECAÇADOR

Os Vinhos de Altitude são produzidos em áreas situadas entre 900 e1.400metros.Ainfraestruturaquealgunsmunicípioscatarinensespossuempara produzi‐los reflete potencialidades de uma nova especificidadeterritorial,oVinhodeAltitude,sendoessaregiãodetentoradecercade180qualidades dessa bebida. Em São Joaquim existe a famosa Villa Francioni,maiorvinícoladaregiãoeconsideradaumaobradearte,atraindoturistasecontempladoresdaatividadevinícola.

O centro comercial Casa dos Vinhos, sediado em São Joaquim e comfiliais em outros municípios, aderiu à venda dos vinhos de altitudeproduzidosnaSerraCatarinense.JáaAssociaçãoCatarinensedeProdutoresde Vinhos Finos de Altitude atua na divulgação dos vinhos dessa regiãocatarinense promovendo a feira "EXPOVINIS". Dessa forma, é possíveldivulgaraqualidadecertificadadosvinhoscatarinenses,comaroma,texturaepaladarsingulares.Outrofatoquemerecedestaqueéaformadaproduçãoe do cultivo da uva na região, plantadas em fileiras para captar mais luz

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solar,compequenaproduçãoporparreira,afimdegarantirasuaqualidade.A "VindimadeVinhos FinosdeAltitude" é umeventoque ocorre nos

municípiosserranoscatarinensesprodutoresdessabebida,comarealizaçãodo enoturismo, visitação das vinícolas, passeios, palestras, degustações ealmoçostípicosdaculinária,comtraçosculturaisdaregião.ComoInstitutoCatarinensedeTecnologiaemVitivinicultura,estãosendoelaboradosselosdequalidadequedistinguemos vinhosdessas localidades.Muitas famíliasserranas sobrevivem do plantio da uva, da sua colheita, da confecção dovinhoedacomercializaçãodessabebidanomercado.

Estes são os 27 produtos que, segundo estudos já realizados,apresentam especificidade territorial, a qual poderá contribuir noreconhecimento de futuras experiências de IG nas diferentes regiões doestadodeSC.NaFigura1,estãomapeadasessasexperiências,incluindoaIGValedaUvaGoethe.

4.ERVA‐MATENOPLANALTONORTECATARINENSE

Nestetópicoiniciamoscomumabrevecontextualizaçãodohistóricoem

torno do recurso específico da erva‐mate, bem como empregamos ascategoriasevariáveisadvindasdarevisãodeliteraturaafimdecaracterizaresse produto em termos de seu potencial de obtenção de IndicaçãoGeográfica.

Figura01‐PotencialidadesdeIndicaçãoGeográficadoEstadodeSC:produtoselocalização

Fonte:Elaboraçãoprópria,combasenosdadosdapesquisa

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4.1RESGATEHISTÓRICO

A erva‐mate foi a atividade econômica extrativa mais importante dofinal do século XIX até por volta de 1970 para a chamada Região doContestado, estendendo‐sepor todoo suldovaledoRioNegro,que servecomo divisor físico entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, na suaporção central. Essa região corresponde, aproximadamente, ao PlanaltoNorte Catarinense e Centro Sul do Paraná (DALLABRIDA, 2012; MAFRA,2008).

Sendo ela omotivo principal de disputa entre os territórios de SantaCatarinaeParaná,podemosdestacaraconstruçãodaestradade ferroSãoPaulo–RioGrandedoSuleoramalqueligavaPortoUniãoaoportodeSãoFrancisco do Sul. Para tal obra, o governo federal contratou a empresaamericanaBrazilRailwayCompany, subsidiária da SouthernBrazilLumberandColonizationCompany.Comopartedopagamentoaempresarecebeuaconcessãodaexploraçãodamadeiraematé15kmdecadaladodaestradaaserconstruída.Muitasdessasáreaseramocupadasporposseiros,amaioria,oschamadoscaboclos,osquaisforamsendoexpulsos(MARQUES,2014).

ALumber, alémdeexploraramadeira, ainda loteavaos terrenoseosrepassavaaimigranteseuropeus.Essasituaçãodeexclusãoeabandonodaspopulações locais, emáreas sema ação efetivado governo catarinenseouparanaense, gerou um ambiente propício para o desenvolvimento de ummovimento messiânico, liderado pelo monge José Maria, que agregoumilharesdefamíliasnalutapelaterraemelhorescondiçõesdevidaparaaspopulaçõeslocais,desencadeandoaGuerradoContestado,umdosmaioresconflitosdahistóriabrasileira(MARQUES,2014).

A área de disputa de territórios ficou conhecida como Território doContestado.Aáreademaiorincidênciadaerva‐matecorrespondeàsterraspróximas ao município de Canoinhas, na região do Planalto NorteCatarinenseeCentroSuldoParaná,sendoesseumdosmunicípiosquetemmaioridentificaçãocomaproduçãodeerva‐mate(DALLABRIDA,2012).

Nessa região viviam pessoas simples e humildes, que dependiam daextração da erva‐mate para sobreviver. Durante muitos anos, extraíam eproduziam para seu próprio consumo e vendiam como forma de biscate.EssapassouaserumaatividadeeconômicatratadacomoquestãodeEstado,poisoservaiscatarinensesaosuldoRioNegrodespertavaminteressedosempresáriosdomateedasempresasexportadorasnoParanáe,maistarde,emSantaCatarina(MAFRA,2008).

Mafra(2008)destacaaimportânciaeconômicaqueteveapartirdoanode1902.Comojácitado,aerva‐matepassouaserexploradaporempresasde grande porte, de uma forma empresarial, substituindo formas deexploração originais feita por posseiros. As empresas ervateiras, de forma

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monopolística, passaram a receber do Estado a concessão de terras paraexploraroproduto.Comisso,segundooautor,osantigosmoradoresforamexpropriados de suas terras e dos ervais, sua tradicional fonte de renda,transformando‐se,então,emassalariadosdasempresaservateiras.

Podesedizerqueessaregiãofoimarcadaporconflitosqueimpactaramna economia local, na forma de exploração dos habitantes nativos. Sendoassim, desde o século XIX até a década de 1930, o principal produto deexportação do Paraná e de Santa Catarina, embora perdendo a primaziaeconômica,foiaerva‐mateparachimarrão,oquecontinuaatéosdiasatuais,mesmoquecommenorimportânciaeconômica(MAFRA,2008).

4.2IMPORTÂNCIAECONÔMICA

No Planalto Norte Catarinense (PNC) existe uma aglomeração de

empresas dedicadas à atividade ervateira, o quemarcouprofundamente ahistória socioeconômica do território. Na atualidade, esse aglomerado deempresasnecessitadeatençãoparamantersuacompetitividade,sendoqueaexportaçãoestápresentedesdeoséculoXIX,tendograndeimportâncianodesenvolvimentosocioeconômicodoterritório(SOUZA,2009).

Omesmoautormencionadocitaque:

Desde o terço final do séculoXIX atémeados anos 1980 este território foi aprincipal região catarinensedeproduçãoe transformaçãode erva‐mate.Nosanos 1960 chegou a constituir mais de 93% de toda a produção estadual(SOUZA,2009,p.02).

Souza (2009) relata que a competitividade das empresas ervateirasdesse território tem diminuído, tendo em vista, por um lado, os maiorescustos de produção da erva‐mate nesses ambientes manejados, emcomparaçãoaosmenorescustosdeproduçãodeoutrasregiõeservateiras,incluindo a dificuldade crescente de manutenção de mercados e dadiferenciaçãodepreçosfrenteàoutrasregiõesprodutoras.

Quanto aos sistemas tradicionais de produção de erva‐mate empropriedadesdeagricultores familiares, tantoParanácomoSantaCatarinatêmgrandeimportânciaeconômica,socialeambiental,pois,alémdessaseruma fontederenda,contribuiparaaconservaçãoda florestadeAraucária(DALLABRIDA,2012).Segundoessemesmoautor,aerva‐mateéoprincipalprodutoflorestalnãomadeirávelemordemdevalordogrupodeprodutosflorestais, citando que em 2011 essa extração dos ervais nativos foi de229.681toneladasdeerva‐matecancheada.

Marques (2014) e Dallabrida (2012) salientam que a erva‐mateconstitui a atividade que produz uma renda segura, com poucosinvestimentos assume importante função de reserva de valor e deestabilizaçãodasunidadesfamiliares,pois,éfortementeligadaàstradições

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e as historias das famílias, além de contribuir para a conservação dosremanescentesflorestaisedeespéciesarbóreasameaçadasdeextinção.

Dessa forma, os processosde reconhecimento e registrodeuma IG, éumaformaefetivadevalorizaroterritório,atravésdareputaçãodoprodutoou através do diferencial no produto que essa região incorpora. É umavantagem decisiva para as pequenas e médias empresas e para osagricultorescompetirnomundoglobalizado(DALLABRIDA,2012). 4.3PERSPECTIVAS

A seguir fazemos referências quanto às perspectivas socioeconômicasdeumapossívelIGdaerva‐mate. 4.3.1SOCIOECONÔMICAS

De acordo com o censo de 2010, o PNC possui 364.206 habitantes(MARQUES,2014).Desses,24%nomeiorurale76%nomeiourbano.Essaporcentagem da população rural é maior do que a média brasileira ecatarinense, ambas de 16%. Apesar da impressão de que se trata de umaregiãocompoucarelevância,omeioruralédegrandeimportância,umavezque a distribuição da população é desigual, concentrando a populaçãourbanaemapenasseismunicípios,osmaisindustrializados:Canoinhas,TrêsBarras, Mafra, Porto União, Rio Negrinho e São Bento do Sul. Destaca‐se,ainda, que os municípios de Monte Castelo, Itaiópolis, Papanduva, TimbóGrandeeMatosCostapossuemmaisde40%dapopulaçãovivendonomeioruraleesseíndiceatinge60%emMajorVieira,66%emIrineópolise86%emBelaVistadoToldo.

A principal atividade econômica da região está ligada à indústriamadeireira,seconstituindoemumimportantepolodemóveisedemadeiraemtoraparapapel,celuloseeoutrosfins,concentrandoaindaumagrandeáreadereflorestamentodepinuseeucalipto.Aagriculturatambémassumegrandeimportânciaondesedestacamasculturasdasoja,milho,fumo,alémdaextraçãodaerva‐mate.

SegundoTokarski(2014):

Na economia de Canoinhas, a erva‐mate não representa mais que 2,5% dareceitamunicipale2%dototaldasindústriaslocais.Mesmoassim,aproduçãoregionaltemaumentadotalvezdecorrentedadiminuiçãodointervaloentreascolheitas, aexploraçãodenovoservaisnativoseasmelhoriasdemanejoeaadoção de novas tecnologias de produção. Dados de 1995 dão conta que aproduçãoervateiradoPlanaltoNorteCatarinense foide27.054 toneladasdeerva cancheada, de um total de 79.350 toneladas produzidas nesse ano emSantaCatarina7.

7 Dados obtidos do site erva mate Canoinhas -http://ervamatecanoinhas.com.br/reportagem.php?id=261.

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SegundodadosdoInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE)(2012),acidadedeCanoinhaséoprincipalpoloprodutordeerva‐matedaregiãoedoEstadodeSantaCatarina(Figura1).Apesardeaproduçãoestarenraizada na história da região, essa atividade enfrenta dificuldades. Osdadosqueenvolvemacadeiaprodutivadaerva‐matesãodifíceisdeseremlevantados devido à amplitude de formas como a erva‐mate é cultivada,extraída,processadaecomercializada(LOPES,2011).

Dessa forma, para este texto, foi possível identificar apenas o volumeanualdeerva‐mateproduzida,naformadefolhaverdeecancheada.Mesmoassim, esses dados são aproximados, pois, as fontes de informação sãoimprecisas,servindoapenascomoumreferencial.Apartirdisso,sentimosanecessidadedebuscade informações juntoàsprefeituras,órgãospúblicosdeextensãoruralouervateiros.

Na figura 2 estão listados os municípios do PNC e seus volumes deprodução. Esses dados foram obtidos somando os informados como erva‐mate verde e cancheada, sendo os dados em folha verde convertido paraerva‐mate cancheada. Portanto, há uma grande fragilidade estatística nosdados, pois as informações são aproximadas. Mesmo assim, podemos terumaideiasobreaimportânciadaerva‐matenaregiãodoPNC.Noentanto,exigindoaorganizaçãoebuscadeinformaçõesmaisprecisas,porexemplo,pelarealizaçãodeuminventário.Figura2–Mapadelocalizaçãodomaiorvolumedeproduçãodeerva‐matenoPlanaltoNorteCatarinense

Fonte:IBGE–Somatórioemtoneladasdaerva‐mateemfolhaverdeecancheada

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Souza (2009), em estudo realizado, fez uma entrevista com 23indústriaservateiras,naregiãodoPNC,diretoresdecooperativasdemateerepresentantes de associações de classe da indústria ervateira, entrenovembro de 2009 emarço de 2010, referente às perspectivas quanto aofuturo da atividade ervateira. O autor demonstra que os entrevistadosdedicados ao mercado interno, expressam a preocupação com a forteconcorrênciadomercadogaúcho,poiseles têmmenorespreçose fazemautilizaçãodeaçúcar,hojepermitido,desdequeinformado.Osentrevistadosque se dedicam ao mercado externo, especialmente o mercado Uruguaio,expressam preocupação com concorrências da erva‐mate argentina, poistemmenospreço(SOUZA,2009).

Em síntese, a valorização do produto erva‐mate tem significativaimportância,tantoeconômicaquantosocial,paramilharesdeagricultoresesuas famílias, além de muitas outras pessoas envolvidas nessa cadeia deprodução.

4.3.2INDICAÇÃOGEOGRÁFICADAERVA‐MATE

Em artigo publicado recentemente, Dallabrida e Marchesan (2013)referem‐se à importância da erva‐mate, nos últimos anos, abrindoperspectivas para a oficialização da IG, pois se trata de um produto comhistóricodiferenciado(notoriedade)equepodeserfacilmentereconhecidopelosmercadosconsumidores,lembrandoqueessetrabalhoestáemfasededebate regional, com vistas ao futuro registro junto aos órgãos oficiaisbrasileiro. Entretanto, para que se concretize, essa possibilidade estádiretamente ligada à mobilização dos atores sociais e econômicos,juntamentecomaexecuçãodeestudosestruturadores(SOUZAetal.,2013).

Marques (2014) complementa citandoque, emnovembrode2009 foifundada a Associação da Erva‐Mate do Planalto do Ouro Verde(APROMATE), comaparticipaçãode representantesdo SindicatodaErva‐Mate de Santa Catarina, das cooperativas de mate, de várias empresaservateiras, da associação de ervateiros, da Associação dos TrabalhadoresRurais da Região da Erva‐Mate (Astramate), do Sindicado da AgriculturaFamiliar Planalto Norte (Sintraf‐PN), técnicos da Epagri e UFSC, com afinalidade de promover e apoiar o desenvolvimento do processo de IG daerva‐matedosmunicípiosdoPNC.

Não podendo deixar de lado a importância desse produto, Dallabrida(2012) afirma que a erva‐mate é uma das principais riquezas naturais daregiãodoPNCeCentro‐SuldoParaná.

Percebe‐se o grande potencial que a atividade ervateira tem no PNC,conformeMarques(2014,p.145‐146):

Aatividadecomercialdeerva‐mateocorrehápelomenos152

anosnoPlanaltoNorteCatarinense;

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A produção, em quase sua totalidade, é oriunda de “ervaisnativos”,abarcando95%dototalem2008;

Maisde20 empresas commarcasprópriasna região, sendo amaisantigadatadadoanode1918;

Dentre as empresas, estão as Cooperativas de Mate deCanoinhas e de Campo Alegre, datadas de 1932 e 1938,respectivamente;

São produzidos diversos tipos de produtos da erva‐mate paraconsumointernoeparaexportação,dochimarrãoachásverdesetostados;

Em1960e1970,oterritórioeraresponsávelpor97%e81%daerva‐mate produzida em Santa Catarina; hoje ainda respondepor41%,sendoqueaoredorde4.000famíliasestãoenvolvidasnaatividade(CensoAgropecuário1996);

Em2009,31%daexportaçãobrasileirademateteveorigemdoterritórioemreferência,gerandoUS$13.989.535,00emdivisas.

Não há dúvidas sobre a identificação da erva‐mate com a história de

ocupação territorial, oquedádestaqueàquestãoda IndicaçãoGeográfica,pois,semdúvida,éumamarcaqueoterritórioexercedurantetodosessesanoseumaestratégiaparaavançarregionalmentecombasenosprincípiosdodesenvolvimento,sendo,principalmente,produtodaagriculturafamiliar.

Muitojáestásendofeitoalgoparaqueissoseconcretize.Nessesentido,destacam‐se trabalhos já realizados como aporte para dar origem econsolidarapropostadeIGnoterritórioemreferência,paraosprodutosdaerva‐mate. No momento, estão ocorrendo discussões em vários fóruns,seminários e reuniões, dos quais participam técnicos, produtores eempresários do setor agropecuário, voltado para a possibilidade derevitalização de sistemas tradicionais de produção de erva‐mate e dosprocessosdeproduçãoetransformaçãoartesanalnaspropriedades.

Entreosanosde1999e2003,foramrealizadosreuniõesesemináriosde apresentação da proposta. Já em 2006, houve um trabalho deconstituiçãodoprimeiroprojetodeIGparaprodutosdeerva‐mate,masnãopode seguir, pois ainda faltava um grau demobilização adequado e apoiomínimo do setor ervateiro. Contudo, em 2007, esse grau de mobilizaçãomínima foiatingidoparaoavançodaproposta. Issosóocorreuatravésdarealizaçãode reuniõesparaatualização técnica sobreproduçãoemercadode erva‐mate, como alternativa de renda e conservação ambiental emsistemasdeproduçãodeagriculturafamiliar(NEPPEL,2013).

A partir disso, a EPAGRI visualizou a possibilidade de parceria eobtenção de recursos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (MAPA), sendo deflagrado, então, um processo de buscadessa parceria, no projeto denominado “Ações de apoio à estruturação daIndicação Geográfica Planalto Norte Catarinense para produtos da Erva

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Mate”.Assim,estáemfaseexecuçãooreferidoprojeto,visandoseuobjetivoprincipal, que é promover todas as ações de apoio à estruturação e aconstituiçãodaIndicaçãoGeográficaparaprodutosderivadosdaerva‐materegional(NEPPEL,2013).

5.ESTUDOSEINVESTIGAÇÕESSOBREASPOTENCIALIDADESDAERVAMATE

Como citado, há vários estudos já realizados com o intuito de pensar

uma Indicação Geográfica para a região em estudo, estando vários emandamento.Dentreeles,podemosdestacaroProjetodePesquisaTerritório,Identidade Territorial e Desenvolvimento: a especificação de ativosterritoriais como estratégia de desenvolvimento nas regiões do Estado deSantaCatarina8.

Neppel(2013)destacaaçõesrealizadasnoâmbitodaEpagri(RegionaldeCanoinhas)emrelaçãoàIndicaçãoGeográficadaerva‐materegional,emespecialasqueforaminiciadasoanode2013,seestendendoatéoanode20159.Aprincipalaçãorefere‐seaoProjetoIGMAPA10,quetemporobjetivoasensibilizaçãoatravésdereuniõescomlíderesdosmunicípios(prefeitos,presidentes de sindicatos, clubes de serviço, vereadores, secretáriosmunicipais, gerentes de bancos, cooperativas, universidades etc), reuniõespara técnicos, industriais, produtores de erva e sindicatos, reuniões comConselhosMunicipaisdeDesenvolvimentoRuraleacapacitação,atravésdeviagens de intercâmbio para técnicos, agentes de desenvolvimento,indústrias e agricultores ervateiros, além de formatar os estatutos eregulamentosdaIG,viabilizarestudosdeinformaçõeshistóricaseprovasdereputação/ notoriedade para a IG, levantar e propor delimitação para IG,pesquisar, estudar e difundir práticas de manejo utilizadas pelosagricultoresparaapoioaIG,realizarSeminárioEstadual.

OutroéoProjetoIGFapesc11,quetemoobjetivoderealizarestudosdeidentificação e caracterização morfogenética de árvores matrizes paraimplantação de área de produção de sementes e banco ativo degermoplasma.

Com isso, apresenta‐se uma situação com ações que representamavançosnodesenvolvimentodaregião.Namedidaemqueoprodutoerva‐

8 Sob a coordenação do Prof. Dr. Valdir Roque Dallabrida, com financiamento da FAPESC, executado no Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado. 9 Perspectivas apresentadas em palestra proferida no II Workshop sobre Desenvolvimento Regional na Região do Contestado, representando a EPAGRI. 10 Título do projeto em execução: Ações de apoio à estruturação da Indicação Geográfica Planalto Norte Catarinense para produtos da erva mate. 11 Título do projeto: Identificação e caracterização morfogenéticas de árvores matrizes de erva mate para implantação de área de produção de sementes e banco ativo de germoplasma na mesorregião Norte Catarinense com vistas a Indicação Geográfica.

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mate seja valorizado, contribuirá também para a ampliação da coberturavegetal,poishaveráinteresseemampliaraáreaplantadacomerva‐matenaregião (DALLABRIDA,2012).Assim,o reconhecimentoda IGda erva‐mateproduzirá a valorização econômica dos ervais nativos, que é um doselementos característicos das matas de araucária. Dessa forma a IG paraerva‐mate, além dos possíveis impactos socioeconômicos, será um meiodecisivo para a manutenção e reprodução das matas de araucárias(DALLABRIDAetal.,2014).

CONSIDERAÇÕESFINAIS

A proposta central deste capítulo foi caracterizar os produtos com

especificidadeterritorialdasdiferentesregiõesdoestadodeSantaCatarina,apresentados como potencial para futura IG, por meio de um estudoexploratóriobaseadonaliteraturaeembasesdocumentais.

Pelarevisãoteórica,foipossívelconstruirummarcoteóriconoqualasIndicações Geográficas aparecem como potenciais articuladoras deestratégias inovadoras de desenvolvimento dos territórios. De fato,construíram‐se e articularam‐se categorias analíticas e suas variáveis, demodo a obter categorias específicas (como Identidade Territorial eEspecificidade Territorial) ligadas à categoria Indicação Geográfica (IG),maisampla.Essaarticulaçãofoigradualmenteaproximandoodebatequesetravava com o tema do desenvolvimento territorial. Ao fim foi possívelavançar para uma relação entre IG e Desenvolvimento Territorial,vinculandoascategoriasanalíticasespecíficascomasgeraiseconstruindoumcaminhoparapesquisarespecificamenteocontextodeSantaCatarina.

Umsegundopassofoidadonocasodereforçarapercepçãodapesquisado SEBRAE acerca dos 27 recursos específicos com potenciais paratornarem‐se IG em Santa Catarina, agora diante das categorias analíticasproduzidas.Apesardaafirmativaencontradapararespostadestaquestão,apesquisa nomotética e as categorias e variáveis empregadas precisam sercomplementadas para um resultado mais seguro, portanto, merecendoestudosfuturosmaisaprofundados.

Na pesquisa, se identificou uma dificuldade na operacionalização dascategorias analíticas e variáveis desenvolvidas, bem como se percebeu anecessidade de incrementação do exercício teórico‐metodológico. Porexemplo, em relação aos produtos, precisam ser adicionadas asespecificidadesnaformadeserviços,taiscomoroteirosturísticosdesdeaspraias às áreas de serra (como Serra do Rio do Rastro), estânciashidrominerais e de águas termais e/ou sulforosas, além de cidadeshistóricas (como Laguna). Os produtos das áreas do setor de serviços, sesomadoà listade27potencialidadesaqui referidas, conseguirãoconstruir

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umquadromaisrepresentativodaspotencialidadescatarinensesemrelaçãoa futuras experiências de Indicação Geográfica, ou Marcas Coletivas12,quandoforocaso.

Opasso final procurou analisar especificamenteum caso significativo,em termos da própria construção teórico‐metodológica central destetrabalho,ocasodaerva‐matedoPlanaltoNorteCatarinense.

Aabordagemdocasoserveparaconhecermospossíveistrajetóriasparao reconhecimento de um produto com IG, além dos desafios que osprocessos impõem. Assim sendo, os resultadosmostraram que o produtoerva‐mate ainda terá desafios a serem superados, não apenas para aobtençãodaIG,masparaqueessaestratégiapossacontribuirefetivamenteno desenvolvimento territorial. Entre os desafios, ressaltamos que falta acaracterização dos componentes do capital territorial do Planalto NorteCatarinense,oquesóserápossívelpela realizaçãodeum inventário.Faltatambém a conscientização e comprometimento dos produtores rurais,técnicos, autoridades, agentes de desenvolvimento (em geral, todos osatores da cadeia produtiva envolvidos com o desenvolvimento do projetoIG).Ou seja, aindaque se consigaparcialmente identificara construçãodesistemas produtivos locais fundados na autenticidade, tipicidade eoriginalidadedosprodutos,háumlongotrajetoatésepoderafirmarqueseobteveaconstruçãosocialdaqualidadeeodesenvolvimentosocioeconômicoemelhoriadaqualidadedevida,comometafinalística.

Por fim, considera‐se ser necessário muito trabalho, pesquisas eestudos, empenho, negociação e fortificação de parcerias para que opotencial latente de desenvolvimento territorial advindo de uma IG serealizenocontextoestudado,emespecialalgoqueficaevidentequandoseaprofundaaanálisenoestudodecasodaerva‐mate13.Noentanto,tambémseidentificaquehágrandesoportunidadeseganhoscasoseconsigasuperarosobstáculosencontrados.

A notoriedade de algumas cidades e regiões advém de produtos eserviços que se destacam pela qualidade e tradição dosmesmos. Quandoesses fatores estão contidos em ummesmo espaço físico (território), a IGtorna‐se um fator decisivo para garantir as suas diferenciações. Seatribuirmos este indicativo às diferentes regiões do estado de SantaCatarina, pelas potencialidades apontadas neste capítulo, somado àcontribuiçãodoconjuntodoscapítulosdestacoletânea,épossívelpensarodesenvolvimentoterritorialdeumaformaotimista.Noentanto,salientamosque a dinamização socioeconômica necessária com vistas ao reconhe‐

12 O Capítulo 7 desta coletânea aborda o tema das Marcas Coletivas, como alternativa para reconhecimento das especificidades territoriais, abordando, em especial, a questão da legislação sobre o tema. 13 Ressaltamos, novamente, que o Capítulo 12 retoma e aprofunda o estudo do caso da erva-mate. Recomendamos a leitura.

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cimento de uma IG precisa ser considerada como um processo complexo,que exige estudos multidisciplinares especializados, articulação, negocia‐çõesentretodososatoresenvolvidos,semtempopré‐definido.

Nãoépossívelesquecerque,noBrasil,osprocessosdeconstituiçãodeIGsãorecentes.Nosúltimos20anos,passamosdepoucasexperiências,paramais de40 atualmente.Avançamos, então.No entanto, em funçãoda faltapréviadeestudosmultidisciplinaresmaisavançados,odespreparo técnicodos agentes governamentais e institucionais para articulação de formasespeciaisdeassociativismoterritorial‐comosãoasIndicaçõesGeográficas‐,aexcessivavisãomercadológica,semconsideraraspectossociais,culturais,históricosrelacionadoscomoprocessodeconstituiçãodeumaIG, fezcomque muitas experiências que têm registro, estejam pouco ativas, ou atétotalmenteparalisadas.

O desafio é avançarmos. O estado de Santa Catarina tem vantagensdiferenciais que poderão evitar casos futuros de insucesso. Destaco trêsdelas: (1) estamos ainda no estágio inicial, o que evita que a falta deexperiênciadopassadopossatercontribuídoparafracassos,comoocorreuemoutrosestadosbrasileiros;(2)temospesquisadoresdedentroeforadasuniversidades, executando projetos de investigação, formando grupos depesquisa, realizando eventos sobre IG, produzindomaterial informativo ereflexivo (boletins, artigos e livros), proporcionando conhecimento,formação e reflexão sobre o tema, atingindo técnicos, produtores,empresários e população em geral; (3) recentemente, o estado brasileiro,tanto na esfera federal como na estadual, tem despertado para rever aspráticas iniciais, qualificar e melhor articular sua atuação, com o fim depensarpolíticaspúblicasquesirvamdeapoioaosprocessosdeconstituiçãodeexperiênciasdeIndicaçãoGeográfica.

Para referendar a melhora na ação governamental, destacamos duasiniciativas.Noâmbitofederal,oMAPA,hámaisdetrêsanostemexecutadoarealização de cursos de formação gratuitos, na modalidade à distância,atingindo técnicos, produtores, empresários e população em geral.Adicionalmente,apartirde2014,oMAPApassouaarticularumgrupodeespecialistasdoBrasiledaAméricaLatina,comofimdecolocarempráticaumnovocursodeformação,tendocomotemaDesenvolvimentoTerritoriale IndicaçõesGeográficas.Alémdisso, oMAPA temdisponibilizadoequipestécnicas especializadas no apoio às iniciativas de IG, seja financiando asmesmas,prestandoassessoria,ouapoiandoapublicaçãodelivroseoutrosmateriais14. No âmbito estadual, o Governo do Estado de SC tem se

14Umexemploéapublicação,em2014,deumlivrosobreIndicaçãoGeográfica,comartigosdeespecialistasnacionaiseinternacionais,comfinanciamentodoMAPA.Olivroestádisponívelparadownloadgratuitoem:http://www.unc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2421.

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envolvido diretamente no tema Signos Distintivos Territoriais e IndicaçãoGeográfica. A principal iniciativa, além do aporte de recursos parainvestigações,foiaconstituição,em2014,daCâmaraSetorialdeCertificaçãodeQualidadedosProdutosAgropecuários,aqualjáestáemfuncionamento,contando com a participação colegiada de agentes governamentais einstitucionais, universidades e representantes dos setores produtivos. AarticulaçãoéfeitapelaSecretariadeEstadodaAgriculturaedaPesca.

São iniciativas que deixa, a nós investigadores, otimistas quando aos avanços futuros.

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CAPÍTULO9

CONTRIBUIÇÃODOQUEIJOARTESANALSERRANOPARAODESENVOLVIMENTOREGIONALE

PRESERVAÇÃODOSCAMPOSDEALTITUDEDOSULDOBRASIL1

UlissesdeArrudaCórdova‐EPAGRI‐Lages‐SCAndréiadeFátimadeMeiraBatistaFerreiraSchlickmann‐EPAGRI‐Lages‐SC

CassianoEduardoPinto‐EPAGRI‐Lages‐SC

INTRODUÇÃOOpresenteartigoéresultantedeváriostrabalhosdecamporealizados

por técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão Tecnológica(Epagri) na Serra Catarinense nos últimos anos. A metodologia incluipesquisa de campo com centenas de produtores de queijo artesanalserrano (QAS), com o objetivo de resgatar a história desse produtocentenário,numvastoterritóriode16.000km

2,ondeéproduzidohámaisde

doisséculoseondeapecuáriadecortesemprefoiumadasprincipaisfontesde renda. Esses trabalhos de campo tiveram como objetivo buscarconhecimentos para legalizar a produção e comercialização do QAS,registrá‐ lo como patrimônio cultural de natureza imaterial e buscar umaIndicação Geográfica na modalidade de Denominação de Origem (DO)(CÓRDOVA et al., 2010; CÓRDOVA et al.,2011;CÓRDOVA;SCHLICKMANN,2012a;CÓRDOVA;SCHLICKMANN,2012b).

O objetivo deste estudo foi contextualizar o estado da arte do queijoartesanal serrano, bem como demonstrar a sua importância econômica,social e cultural para a população que sobrevive da produção ecomercialização desse produto, para a sociedade serrana de modo geral.Sobretudo, propôs‐se evidenciar o potencial para se tornar um signodistintivo coletivo e consequentemente, agregar valor ao mesmo,permitindoquemilharesdefamíliasdepecuaristasfamiliarespermaneçamnomeioruralatravésdesuaprodução.

Na Serra Catarinense, as práticas e os saberes relacionados à

1 Os estudos que resultaram no presente artigo estão integrados ao projeto de pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento, com financiamento da FAPESC. Versão deste artigo foi publicada em Desenvolvimento Regional em debate, V. 4, N. 2/2014.

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produção do queijo artesanal serrano ultrapassam séculos e perpassamgerações,conferindoacondiçãodeumprodutotípicodaregião,apreciadoevalorizado além dos limites da sua área de fabricação. O queijo serrano,mais que um produto, representa ummodo de vida, reconhecido por suaidentidade territorial de relevância histórica, social, cultural e econômicaparamilharesdepecuaristasfamiliares(Figura1).

Figura1–Queijoartesanalserrano,patrimôniodospovosserranosdeSCeRS.

Fonte:Equipedepesquisa.

Assim,apartirdessecontexto,desde2009,aEpagriemconjuntocomaAssociação Rio‐Grandense de Assistência Técnica e Extensão Rural(Emater),mantémuma equipe de extensionistas e pesquisadores atuandonoProjetoQueijoArtesanalSerrano,queabrangeos18municípiosdaSerraCatarinenseemais11municípiosnosCamposdeCimadaSerradonoRioGrandedoSul.

Nesse período, diversas pesquisas de campo, publicação dos livros“Queijoartesanalserrano:séculosdetravessiademares,serrasevales–AhistórianoscamposdaSerraCatarinense”e“OQueijoartesanalserranonoscamposdoPlanalto dasAraucárias Catarinense”, alémde outrosmeios dedivulgação(folders,pôsterestécnicosededivulgação,relatóriosematériasna imprensa), representaram avanços significativos, que fortaleceram etornaramoProjetoreconhecido.

OProjetoQueijoArtesanalSerrano,formadoporumarededeparceriascom entidades, poder público, sociedade civil, associações e produtores,promoveu,nesseperíodo,oresgatehistóricoeculturaldessesaberfazer,adelimitação da região produtora, a descrição do sistema e do processo deprodução, a capacitação de produtores e buscou a caracterização do QASatravésdediversostiposdeanáliseslaboratoriais.

Alicerçadonumtripécompostopelavalorizaçãodoproduto,capacitaçãodeprodutorese legalizaçãodoQAS,oProjetopossuicomoobjetivo finalaconcessãodeumaIndicaçãoGeográficaeoregistrodoprodutonoLivrodos

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Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan),como patrimônio cultural de natureza imaterial do Brasil, além dalegalização da produção e comercialização em toda a região produtora.Esses reconhecimentos contribuirão para que se tenha uma legislaçãoprópriaparaoQAS,permitindoqueasfamíliasquepossuemnessaatividadeuma importante fonte de renda e, mais do que isso, um modo de vidacarregado de simbolismo e identidade cultural, venham a legitimar a suacomercialização e possam contribuir ainda mais para o desenvolvimentoregional.

No texto a seguir, inicialmente é feito um resgate histórico sobre orecorte territorial onde se produz oQAS. Em seguida são apresentadas asprincipais características daproduçãodoQAS, em relação ao ambientedeprodução,osistemaeoprocessode fabricação,alémde fazer referênciaàsua relação com a identidade de um povo, situando‐o não somente comoproduto, mas como patrimônio. Finalizando, são feitas consideraçõesdestacandoaspectoseconômicose culturais, apontandoapossibilidadedoQASbuscarnofuturoseuregistrocomoumaIndicaçãoGeográfica.HISTÓRIA:DOSTROPEIROSEAÇORIANOSÀCONSTRUÇÃODACULTURASERRANA

O QAS é um produto vinculado aos altiplanos do Sul do Brasil, ondeocorrem as maiores altitudes não andinas da América Meridional,especialmente os municípios que compreendem a Serra Catarinense e osCamposdeCimadaSerranoRioGrandedoSul.

Ressalta‐sequenãoporacasoaproduçãodoqueijoartesanal serranoabrange as áreas limítrofes dos dois estados, devido às característicasassemelhadas de clima, relevo, povoamento e cultura. Região conhecidacomo o “Continente das Lajens”, por muito tempo, foi considerada umprolongamento dos campos sul‐brasileiros e uruguaios, sendo assim,pertencenteaoestadodoRioGrandedoSul,comodescrevePireseCorrea(1991,p.17).

Porvoltade1767,aCâmaradeViamão,noRioGrandedoSul(RS),tinhaestabelecidocomodivisacomSãoPaulooRioCanoas,enquantoospaulistasconsideravamadivisadacapitaniadeSãoPaulocomoRSoRioPelotas.Oobjetivo era demarcaroRioPelotas comodivisa, para frear as pretensõesdos castelhanos, instalados na região das missões, e já na sua margemesquerda,poistinhamgrandeinteressenoterritórioporestaremaserviçoda Coroa Espanhola. Isso, aliada à vontade dos próprios pioneiros dessesvastoscampos,foiumdosmotivosquelevaramoGovernadordaCapitaniade São Paulo a determinar queAntônio Correia Pinto deMacedo tomassepossedaregiãoefundasseumpovoado,oqueseconcretizouem1766.

AhistóriadoQASnasregiõesdealtitudedoSuldoBrasilcertamentese

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iniciou quando os portugueses vieram ocupar essa vasta região, maisprecisamente,defevereirode1728aoutubrode1730,quandofoiabertooCaminhodosConventos, ligandooConeSuldaAméricaàprovínciadeSãoPaulo, e, alguns anos mais tarde quando o traçado foi retificado porCristóvão Pereira de Abreu, ficando conhecido como Caminho das Tropas(Figura2).Apartirdesseperíodoteminícioumdosmaisimportantesciclosda economia brasileira, o tropeirismo e assim, o futuro povoamento dasLagenspassaaserumdoslocaisdepouso:“[...]fazia‐sesempreumaparadaprolongada nos campos de Lages” (DEFFONTAINES, citado COSTA, 1982,p.170).

Figura2–Tropeirismo:CaminhodasTropasetransportedequeijoemmulasarrreadas

Fonte:Fotosde1912,dedomíniopúblico

Na mesma época, chegaram ao Planalto Sul Catarinense famílias deaçorianosquevieramocuparas imensidõesdecamposnaturais,nosquaisse encontravam milhares de bovinos, chamados popularmente dechimarrões.Comaintensificaçãodotropeirismoeachegadadosaçorianoscomeçam a se formar as primeiras propriedades no “Continente dasLagens”,asquaistinhanapecuáriaaúnicafontederenda.

Ébastanteprovávelquenessaépocase tenha iniciadoa fabricaçãodeQASporpessoasquevieramformarapátriaeaquerêncianoamanhecerdaformaçãodoSul.Especialmenteosaçorianos já tinhamtradiçãosecularnafabricação de queijos, aperfeiçoada com a ajuda dos flamengos e,provavelmente,essesaber fazer foidecisivoparaosurgimentodoQAS,hámaisdedoisséculos.Porém,pode‐sepresumirqueostropeirospaulistas,deorigem portuguesa, que também se fixaram na região já tivessemconhecimento do processo de fabricação de queijo, pois muitos eramoriundos da Serra da Estrela em Portugal, onde há séculos se produz umqueijodeleitedeovelhamuitosemelhante.

Assim,aorigemdoQASéportuguesa,sendoaindaaprincipaletniaqueo produz. Por aproximadamente dois séculos o QAS foi transportado emlombodemuaresparacomercialização(Figura2),servindocomomoedade

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trocapormercadoriasquenãopodiamserproduzidasnaSerraCatarinense,comoaçúcar,farinha,café,sal,entreoutros.Essecomércioeraintensocomas regiões litorâneas, transpondo serras, que somente os cascos afiados efirmes das mulas conseguiam vencer. Segundo Krone (2006), citandoprodutoresentrevistados“oqueijodesciaeomantimentosubia”[...];“eramduasviagens,paraabastecernoinvernoenoverão”.Esseregistroevidenciaoqueijoserranocomomoedabásicautilizadanatrocadeprodutosentreaserraeolitoralcatarinense.AMBIENTEDEPRODUÇÃO:LUGARPRIVILEGIADOESINGULAR

Aalimentação típica de um povo vai além do objetivo de nutrição eenvolvediversosfatores que a tornam única e demarcam fronteiras deidentidade. O queijo serrano é umprodutoque,independentedereceita,inclui outros fatores fundamentais para sua produção, como clima,temperatura, solo, altitude, vegetação, enfim, características que tornam aregiãoserranadeSantaCatarina(SC)eosCamposdeCimadaSerradoRioGrandedoSul (RS),ambientessingularesnafabricaçãodoqueijoartesanalserrano.

OclimadaSerraCatarinenseéclassificadocomoCfb,segundoKöeppen.Ouseja,temperadoconstantementeúmido,semestaçãosecadefinidaecomverão fresco. A temperatura média anual varia de 11,3 a 15,8°C. Aprecipitaçãopluviométricaanualpodevariarde1.360a1.650mm, comototaldediasdechuvaentre123e140,sendoqueaumidaderelativadoaroscilaentre80a83%.

Outro fenômeno típico desse ambiente são as geadas, que podemocorrerde20a36vezesporanoemesmonevesfortes(Figura3).Onúmerode horas de frio abaixo ou iguais a 7,2°C varia de 642 a 1.120 horasacumuladaspor ano.A insolação total anual pode variar de1.824 a 2.083horas.

Os solos são originários de rochas sedimentares e de efusivas.Apresentam baixa fertilidade natural, com teores elevados de matériaorgânicaealumínio,pHefósforomuitobaixos.Oteordepotássiovariademédio a alto. Ocorre afloramento de rochas em grande escala, por essarazão, aliada a declividade acentuada, estima‐se que somente 30% daáreatotalapresentepossibilidadedemecanização.

A altitude mais comumestá em torno de 900a 1.200m acima donível do mar, podendo ultrapassar, 1.800m, com declividade sempre emdireção ao oeste. Referente à vegetação há predominância dos camposnaturais entremeados com a Floresta Ombrófila Mista (Mata deAraucária). Esses campos são o produto de uma vasta história demudanças evolutivas que iniciaram há milhões de anos e sãoremanescentes de um clima semiárido,maisantigodoqueaselvapluvial.

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Figura3–Geadaeneve:fenômenoscomunsnaSerraCatarinensenoinverno

Fonte:Registrosfeitospormoradoresdolocal

Sãopoucas as regiões domundoque apresentamumadiversidadedeespécies campestres como as encontradas no subtrópico brasileiro. Essariqueza florística traz um fato pouco comum ao registrado no restante domundo, que é a associação de espécies C4, de crescimento estival, comespéciesC3,decrescimentohibernal.

QuantoàáreageográficadaregiãoprodutoradeQASemSC,encontra‐senosCamposdasAraucáriassituadosnaSerraCatarinense,comumaáreageográficade16.000km²,abrangendo18municípios,querepresentam17%da área total do Estado. A produção de QAS ocorre em toda essa vastaregião,realizada,nasuamaioria,poragricultoresfamiliares,estendendo‐seatéoRS.

SISTEMADEPRODUÇÃO:PARTICULARIDADESQUETORNAMOQASUMPRODUTOÚNICO

O Sistema de produção do queijo artesanal serrano apresenta

característicaspeculiaresquantoaraças,alimentação,ordenhaemanejo.OsdadosqueserãocitadostêmcomobaseapesquisadecamporealizadacomcentenasdeprodutoresemtodososmunicípiosdaSerraCatarinense.

São utilizadas diversas raças bovinas para produzir o leite usadona fabricação doQAS,sendoque75%dorebanhoécompostoporraçasdecorte e seus cruzamentos. 8,5% são raças de corte cruzadas com raçasleiteiras e 16,5% têm aptidão leiteira. Outro ponto característico é aalimentação do rebanho com base em pastagens naturais, melhoradas ecultivadas, principalmente de inverno. Em proporção bemmenor, a dietainclui também silagem de milho e uso de milho em espigas moídas.Todos os produtores fornecem salminerale/ousalcomume,empoucaspropriedades, se usa ração concentrada. Quanto ao sistema de ordenha,86,6% dos produtores utiliza a ordenha manual e somente 13,4%, aordenhamecânica.

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Em se tratando do manejo do gado, na maioria das propriedades osterneiros ficamcomasvacasduranteodiaesãoapartadosnofimdatarde.São criados de duas maneiras: a) nos rebanhos de aptidão leiteira sãoseparados das vacas e amamentados em baldes ou mamadeiras com odesmamefeitoentre60e90dias,sendosuplementadoscomraçãofeitanapropriedade; b) nos rebanhos de corte os terneiros são criados ao pé davacaeamamentadosporcercade7a10meses,sendodepoisvendidosparaseremrecriadosparaabate.Nessecaso,aordenhadasvacasnãotemcomofinalidade única a obtenção damatéria‐prima para a fabricação do queijoserrano,mas,sim,omanejodogado(KRONE,2006).

Quanto ao manejo reprodutivo, 63,1% dos produtores usam montanatural o ano todo e 36,9% usam inseminação artificial; somente 21%(principalmente as propriedades maiores) usam a estação de montadefinidaparaconcentrarapariçãonaprimavera‐verão,quandoaofertadealimentos émaior.Nospecuaristas familiares o touropermanece o tempotodocomasmatrizes.

Devidoàimportânciadarendaparaafamília,atualmenteamaioriadospequenos produtores de QAS, 71,3%, produzem durante o ano todo, e28,7% produzemo queijo somente na primavera‐verão quando hámaiorofertadepastagensnaturaiseounaturalizadas.

Os produtores, em sua maioria, utilizam produtos convencionais(alopáticos) para o controle dos ecto e endoparasitos, mas cerca de 14%opta pela homeopatia e 14,4 % usam algumas plantas medicinais paracombateressaspragas.

Para50%dosprodutores,oQASrepresentaaprincipalfontederenda.Estima‐se que na Serra Catarinense existem aproximadamente 2.000produtores que comercializam o QAS, gerando uma renda bruta estimadaem aproximadamente R$ 21 milhões por ano, possibilitando uma rendamédia familiarsuperioraR$10.360,00porano,oquerepresentamaisdeumsaláriomínimopormês.Referenteàcomercialização,53%dosqueijosproduzidossãovendidosdiretamenteparaosconsumidores,enquanto47%paravarejistas.

PROCESSODEFABRICAÇÃO:MAISQUEUMARECEITA,AARTEDEUMSABERFAZER

De acordo com dados históricos e os relatos obtidos na pesquisa de

campo,osaberenvolvidonapráticadefazeroQASésecular,repassadodegeraçãoageraçãoesuareceitaseguepraticamenteinalteradaeinfluenciadasempre pelo ambiente, a alimentação do gado e o trabalho artesanal domanipuladore,porisso,nãoéumalimentopadronizadoapesardepoderseridentificadopeloseusaborparticular.

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Sendo o queijo serrano um produto artesanal, de pequena escala,fabricadocomoleitecruintegraldapropriedade,emsuamaioriadevacasde corte, tendo como base de alimentação as pastagens nativas, é umalimentoregional,podendoserconsideradoidentitáriodeumdeterminadogrupo.ConformeMacieleMenachem(2003,p.5),citadoporKrone(2006):"Sãoquasedesconhecidospelasdemaisregiões,muitasvezespelosimplesfatodequeos ingredientesnecessáriossãoexclusivosdo lugardeorigem,mastambémporrazõesdeordemcultural,quedeterminamcertoshábitosalimentares".

Umadaspoucasalteraçõesnoprocessode fabricaçãoé a substituiçãode coalho animal pelo coalho industrial usado para coagulação damassa,sendo que outras modificações estão relacionadas com a adequação deutensílios,comoformaeprensa,conformeexigênciadalegislação.

A primeira prática para fabricar o queijo começa na tarde do diaanterior,quandoasvacassãorecolhidaseosterneirossãoapartadosatéaordenhadodiaseguinte(Figura4).Figura4–RecolhendoasvacasparafazerQASnodiaseguinte

Fonte:Fotoregistradapelaequipedepesquisa.

Quantoaoprocessamentodoleite,asprincipaisetapasqueenvolvemafabricação doQAS, podendo ocorrer pequenas variações de acordo com oprodutor: a) medição do leite e filtragem; b) salga realizada junto com afiltragem do leite; c) coagulação feita com adição do coalho ao leite, paraformar a coalhada; d) corte da coalhada, divisão damassa em cubos com

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auxíliodefacaoupá;e)dessorarem,retiradadosorocompressãomanualsobre a massa; f) enformagem, moldagem da massa com auxílio de umtecidofino;g)prensagem,retiradadoexcessodesoro,deixandonaprensaporaproximadamenteoitohorascomtrêsaquatroviragens;h)cura, feitaem temperatura ambiente sobre prateleiras de madeira, fórmica ou sobrefrigeração; i) embalagem, em filme plástico; j) armazenamento emtemperaturaambiente.

O tempo de cura varia emmédia 15 dias e a venda é realizada pelosprópriosprodutores.Apesardasrestriçõesimpostaspelalegislaçãovigente,o QAS ainda é muito procurado e consumido e toda a produção écomercializada.GENTEETERRITÓRIO:MAISQUEUMPRODUTO,UMPATRIMÔNIO

O Planalto Catarinense foi ocupado por bandeirantes paulistas e

açorianos. Esses pioneiros, por séculos, viveram em permanentesdessemelhançaseatémesmocontrastescomoshabitantesdolitoral.

Disto tudo [...] ocupando o planalto, resultou o serrano. Tipo físico definido.Atividades econômicas semelhantes, em toda a Serra Catarinense. Umalinguagem própria nas suas corruptelas [...]. Até em seus costumes e suacultura,ummundopróprio[...](MARTORANO,1982,p.173).

A identidade serrana está envolvida no processo de trabalho naspropriedadesrurais,queincluitodaafamíliaeinfluenciaarotinadiáriadosenvolvidos, compapéisdefinidosdependendoda idadee sexo.Entretanto,as pesquisas evidenciaramopapel damulher no contextodoQAS como aprincipal envolvida, especialmente no processamento do leite. ConformeMenascheeBelem(1996),citadoporKrone(2006,p.34),“[...]deummodogeral, pode‐se perceber claramente uma divisão sexual do trabalho naexecução e planejamento das atividades que ao longo do ano envolvem aproduçãodeleitenumaunidadefamiliar”.Mesmoquenamaioriadoscasosseja o marido o reconhecido pela comercialização do produto, odesenvolvimentodessaatividadepelasmulheres representaa importânciado seu trabalho, sua profissão e sua contribuição na geração de rendafamiliar.

Portanto, produzir o queijo está intimamente ligado à afirmação daidentidadetrabalhadoradamulher.ParaKroneeMenasche(2007),maisdoque produtor de alimentos, o pecuarista familiar é um produtor designificados, pois, além de produzir cultivos, o trabalho produz cultura(WOORTMANN;WOORTMANN,1997).

É inegável a necessidade da legalização do Queijo Artesanal Serranopela sua importância histórica, social e econômica, mas precisa de um

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trabalho educativo, que requer tempo, persistência, união e parceria comprodutor, consumidor, comerciantes, instituições de pesquisa e extensãorural, bem como com os órgãos fiscalizadores. Para isso, é fundamentaltrabalhar na lógica territorial, num processo que vincula as pessoas a umlugar, o seu lugar. E, nessa perspectiva, o queijo artesanal serrano é umproduto típico de terroir, ou seja, suas características particulares sãodeterminadas por influências do ambiente, mas também do ser humano(saber fazer tradicional, origem histórica, características típicas). Assim,passaaexprimirainteraçãoentreomeionaturaleosfatoreshumanos.

Figura5–SeverinaMotade84anosaprendeuafazerqueijocomaavóerepassouaseusdescendentes(esquerda)Filhadeprodutordequeijo(direita)

Fonte:Fotoregistradapelaequipedepesquisa

Assim, o saber fazer, historicamente repassado de geração a geração(Figura 5), mais que uma receita, é a representação de uma culturaespecífica, desenvolvida num contexto peculiar e protagonizada por umgrupo identitário que faz dessa atividade um modo de vida e deestabelecimentoderelaçõessociais,econômicaseculturais.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

A tradiçãodeproduçãoecomercializaçãodoQASreporta‐sealémdos

aspectos econômicos; remete também a um simbolismo e identidade quepor mais de dois séculos vêm perpetuando uma cultura notoriamentereconhecida, mas que precisa ser valorizada e, principalmente, ter seuprodutoregulamentado,sobriscodeseperderumatradiçãosecular.

Apesar de ser um produto secular e quase que totalmente nainformalidade,oqueijoartesanalserrano,éaprincipal fonteformadoradarendaparamilharesdepecuaristasfamiliares.Possuihistória,notoriedadeefaz parte do cotidiano e da cultura de um povo com etnia definida, aportuguesa,eestáligadoaumambienteúnico,oscamposdearaucária.

Dessa forma, o QAS possui grande potencial para legalização de suaprodução e comercialização, agregando valor à mesma. Mas, sobretudo,

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podeobter,nomédioprazo,ostatusdesignodistintivocoletivo,oquepodetorná‐lo umproduto aindamais reconhecido e com identidade territorial,peloregistro,comoumaIndicaçãoGeográfica,nacategoriadeDenominaçãodeOrigem,tornando‐sepatrimônioculturaldenaturezaimaterialdoBrasil.

Para isso, é necessário aprofundar os estudos e pesquisas, organizarmelhor a cadeiaprodutiva ebuscar a padronização e segurança alimentarpara conquistar mercados mais exigentes. Esses objetivos somente serãoconseguidos com a conjugaçãode esforços entreprodutores e instituiçõesparceiraspertencentesaoscamposdaextensão,pesquisaeensino.REFERÊNCIASCÓRDOVA, U. A. et al. O queijo artesanal serrano nos campos do Planalto dasAraucáriascatarinense.Florianópolis,SC:Epagri,2011.

CÓRDOVA,U.etal.Queijoartesanalserrano:séculosdetravessiademares,serrase vales: a história nos campos da Serra Catarinense. Florianópolis: Epagri, 2010(Epagri,Documentos,234).

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KRONE,E.E.;MENASCHE,R.Agregadosemulheres,o“queijodefinaldesemana”eovalordotrabalho.Raízes,CampinaGrande,v.26,n.1‐2,p.113‐119,jan./dez.2007.

KRONE,E.E.;Práticasesaberesemmovimento:ahistóriadaproduçãoartesanaldoqueijoserranoentrepecuaristasfamiliaresdomunicípiodeBomJesus–RS.2006.49p.Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Desenvolvimento Rural e GestãoAgroindustrial)‐UniversidadeEstadualdoRioGrandedoSul.Encantado,RS,2006.

MARTORANO,D.Temascatarinenses.Florianópolis.Ed.UFSC/Ed.Lunardelli.1982.

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CARTADEFORTALEZAOs queijos artesanais brasileiros são valiosas expressões da nossa

culturae tradição.Suasqualidadesestão intimamente ligadasaoambienteondesãoproduzidos,àculturalocaleàhistóriadasfamíliasqueháséculososelaboram.

No Brasil, estimam‐se em 100 mil propriedades que praticam aagricultura familiar quedepende, basicamente, da produção de queijos deleitecru.Entretanto,aproduçãodessesqueijos,associadaaomododevidaeidentidade dos produtores artesanais, encontra‐se ameaçada pelaincompreensão das autoridades públicas em relação à importância dosqueijosartesanaisnavidadosbrasileiros.

Um produto incorporado há séculos como um componente daalimentação de produtores e consumidores doBrasil inteiro nãopode serobjeto de ações persecutórias, violando, ainda, as escolhas alimentaressaudáveisdeumimensouniversodeconsumidores.

O1°SimpósiodeQueijosArtesanaisdoBrasil, realizadoemFortaleza,tevecomoobjetivoprincipalchamaraatençãodasautoridadesdoPaísparaa diversidade de queijos artesanais produzidos em nosso território. Alémdisso, teve também o objetivo de mostrar para a sociedade brasileira asituação de abandono em que estão vivendo os produtores de queijosartesanais no Brasil, devido à imposição de uma legislação higiênico‐sanitária inadequada e inatingível, que foi concebida, em 1953, paraproduçãoindustrialdequeijos.

Assim, vivemos uma situação paradoxal: enquanto muitos países domundo vêm resgatando, preservando e protegendo seus patrimôniosculturais e gastronômicos, o Estado brasileiro age no sentido inverso,criando mecanismos que estão levando muitos alimentos tradicionais aodesaparecimento,comoéocasodosqueijosartesanais.

Asleisestaduaisefederaisexcluemaproduçãoartesanalnamedidaemque não reconhecem a sua especificidade, submetendo‐a aos mesmospadrões sanitários e de instalações de grandes empresas, inviabilizando,assim, a produção artesanal devido aos elevados custos de adaptação,inacessíveis ao pequeno produtor. Ao mesmo tempo, tal adaptaçãocomprometeaqualidadesensorialdoprodutoeo“saber‐fazer”dopequenoprodutor,consolidadoatravésdosséculosdehistória.

AsnormativasdirecionadasàproduçãodequeijosnoBrasil sãoaindadiscriminatórias e restringem a liberdade de escolha dos cidadãos quequeremconsumi‐los.

Mesmo comas alteraçõespropostasna reformulaçãodoRegulamento

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de Inspeção Industrial de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), não seconstruirá legislação diferenciada que contemple, de forma própria eadequada, a produção artesanal. Persistiremos no velho erro de tratarigualmenteosdesiguais.

Aoinvésdecriarregulamentosrestritivosepunitivosainspeçãooficialdeveria enfrentar o desafio posto pela produção artesanal de queijos econstruir uma proposta própria, ouvindo os atores envolvidos,especialmenteprodutoresparaconhecerosproblemaseencontrarsoluçõesadequadas.

Nesseseminário,emquepudemoscontemplaradiversidadedequeijosartesanais do Brasil, nos deparamos com produtores dedicados àmanutençãodatradição.Essesprodutoreselaboramqueijosartesanaispelaconvicção de que são produtos diferenciados, valorizados pelosconsumidoresequerepresentamaculturaeomododevidadesuasregiões.Em cada peça de queijo artesanal temos a história, cultura, tradição eexpressãodomeioondesãoproduzidas.

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CAPÍTULO10

DESAFIOSPARAOASSOCIATIVISMODEBASETERRITORIAL:OCASODOPROJETO

TRANÇASDATERRA1

AnaLúciaBehrendListone‐UNOESCElianeSaleteFilippim‐UNOESC

1.INTRODUÇÃO

Por iniciativade liderançasregionaisedopoderpúblico,em1998, foiimplantado no Meio Oeste Catarinense um Fórum de DesenvolvimentoRegionalquebuscoufirmarparceriasafimdesuperaroslimitesrestritosdomunicípio e propor alternativas de desenvolvimento que integrassem oterritório regional. O Fórum implantou, no ano de 2002, a sua agênciaexecutiva denominada de Agência de Desenvolvimento do Meio OesteCatarinense(ADMOC).

Essa agência, em diagnóstico realizado, detectou como uma dasalternativas para o desenvolvimento regional o incremento do artesanatoem palha de trigo por meio da articulação de uma rede de artesãos queatuava em tal atividade. Com base nesse diagnóstico, desenvolveu‐se, naUnoesc(UniversidadedoOestedeSantaCatarina),em2003,umprojetodeiniciação científica pelo então aluno de Ciências ContábeisMaicon Progol,orientado pela Professora Eliane Salete Filippim, que teve como objetivomapearoartesanatodepalhade trigo remanescente,bemcomocadastraros (as)mestre (s) desse ofício e as possibilidades da sua associação paraproduzir esse tipo de artesanato. Os resultados da pesquisa serviram debase para que o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio àsMicro e PequenasEmpresas) organizasse a implantação de um Projeto que foi, depois,denominadoTrançasdaTerra.

O processo de constituição da rede de base para efetivar o ProjetoTranças da Terra teve início em 2005, com a instalação de núcleos. Emnovembro de 2006, foi concluída a constituição de uma associação com a

1 O texto resume resultados do Projeto de Pesquisa Potencialidades e desafios para o associativismo de base territorial: o caso do Projeto Tranças da Terra - Edital 07/ Unoesc-R/ 2014 (Art. 170). Da mesma forma, esteve integrado aos estudos realizados quando da execução do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento, com financiamento da FAPESC. Numa primeira versão foi publicado em Desenvolvimento Regional em debate, V. 4, N. 2/2014.

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inauguraçãodonúcleoadministrativo,umacentraldevendaseumaloja.Nessecontexto,oestudobuscoudescrevera trajetóriadeconstituição

da associação desde 2006, quais os resultados alcançados pelo Projeto equaisosseusprincipaisdesafiosparaofuturo.Nessesentido,asperguntasquenortearamestapesquisaforam:oprojetoTrançasdaTerraseconstituinuma alternativa que pode contribuir para o desenvolvimento da regiãoMeio Oeste de Santa Catarina? Existe possibilidade de buscar a IndicaçãoGeográfica(IG)paraosprodutosdoProjetoTrançasdaTerra?

Visandoaprofundara compreensão sobreaspotencialidadese limitesde estratégias de especificação de ativos territoriais como alternativa dedesenvolvimento, buscou‐se estudar um caso específico, o do ProjetoTrançasdaTerra.Paratal,foramtraçadososseguintesobjetivos:oObjetivoGeral foi descrever o projeto Tranças da Terra observando se ele podecontribuirparaodesenvolvimentodaregiãoMeioOestedeSantaCatarina.Objetivos específicos: a) Caracterizar a região Meio Oeste Catarinense; b)Descrever breve histórico do Projeto Tranças da Terra; c) Identificar osprodutos do Projeto Tranças da Terra demonstrando sua tradiçãoterritorial;d)Conhecera formadegestãodoProjetoTrançasdaTerra; e)Registrariniciativasqueestejamsendorealizadasnosentidodavalorizaçãodoproduto; f)CaracterizaraspotencialidadesdoProjetoTrançasdaTerraem termos de geração e agregação de renda e como nova atividadeeconômica regional. Este estudo contém as seguintes partes: após estaintrodução, apresenta‐se a revisão bibliográfica, seguida da descrição dosprocedimentos metodológicos. Após, apresenta‐se a análise dos dados, aconclusãoeasreferênciasatualizadas.2.REVISÃOBIBLIOGRÁFICA

Nesta parte, tratou‐se dos temas que dão base ao estudo:desenvolvimentosustentável,artesanato,território,governançaterritorialeIndicaçãoGeográfica.2.1DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Um território pode ser desenvolvido desde que adote estratégiassustentáveisparaasatuaise futurasgerações.Nessesentido,projetosquecontemplemoresgatedaculturaregional,osquaisgeremrenda,formemoassociativismo, preservem o meio ambiente e busquem superar asdisparidades cidade/campo, acabam por atender a critérios desustentabilidade(SACHS,1994).

Para além de simples crescimento econômico, compreende‐se aquidesenvolvimento sustentável como aquele que é capaz de atender a cincodimensões: a) sustentabilidade social: contempla a redução de

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desigualdades;b)sustentabilidadeeconômica:buscaaumentarageraçãoderenda e a riqueza social por meio da endogenização; c) sustentabilidadeecológica:visamelhoraraqualidadedomeioambienteeapreservaçãodosrecursos energéticos; d) sustentabilidade espacial: busca superar asdesigualdadesregionaiseentrecidade/campo;e)sustentabilidadecultural:incentivaoresgateeorespeitoàculturalocal(MONTIBELLER,2002).

Noestudodatemáticadodesenvolvimento,nãoapenasoespaçolocaleregionaldeveserconsiderado,umavezqueháescalasdecisóriasquefogemda alçadada região.Oprocessode globalização emcurso temexigidodosterritórios e das organizações uma constante reformulação de suasestratégias,afimdequeconsigammanterem‐secompetitivos.

Um projeto ancorado em desenvolvimento sustentável social,econômica, ecológica, cultural e geograficamente tem como premissaconsiderar que deve gerar renda para seus participantes por meio daatividade que tenha raízes em um processo de identificação cultural e norespeitoaomeioambiente.Entende‐sequeoartesanatotemessepotencialde sustentabilidade, uma vez que faz parte da tradição cultural de umaregião. A partir de técnica artesanal há muito utilizada, podem‐se criarnovosprodutoseintensificaraagregaçãodevalor.2.2OARTESANATOCOMOELEMENTOAGREGADOR

Oartesanatonãoapenasrepresentaumaspectodamemóriaculturaldeumpovo,mastambémsefazinstrumentodevalorizaçãodosseuselementosmateriais, pois a atividade artesanal é um exercício do poder criativo dohomem,emprestandovariedadeebelezaàs formasrepresentativasdasuaculturamaterial(PEREIRA,1979).

Como atividade cultural, o artesanato produzido em grande escala ecomaltopotencial competitivo sópode ser feitopormeiodeparceriasdevários artesãos constituindo uma rede. Os artesãos dispersos e buscandocolocação individual nomercado não têm conseguido lograr êxito. Algunsfatores (o investimento em design, por exemplo) não são acessíveis apequenosprodutores,mas,umavezassociadosemrede,oseupotencialdeinvestimentoficaampliadoeaschancesdegeraçãoderendasemultiplicam.Chegar a um eficiente estágio de cooperação requer a implantação de umsistemadeparceriaregional,ancoradoemmecanismosdeassociativismo.

Amaestria no processo artesanal é observada emum grupo de pessoas queconjugam, no seu fazer, técnica e sensibilidade. Por maestria entende‐se odomíniodeumcampodesaberesepráticasrelativamentedefinidoenquantonaturezae estrutura conceitual, ou seja, umcampodisciplinadopelaprópriaestruturadosaberecomritosdepassagemquegarantemasuapermanênciaerenovação(FISCHER2007,p.4).

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O artesanato insere‐se como um dos campos de representação daculturapopular,responsávelporcontribuircomaidentidadeculturaldeumdadoterritório.2.3TERRITÓRIOEDESENVOLVIMENTO

O tema território é tratado por diferentes autores ‐ alguns, aquireferenciados, cada um deles com sua concepção, em geral,complementando‐se. O território é concebido, principalmente, como: (a)domínio politicamente estruturado resultante de apropriação simbólicaidentitária, inerente a certa classe social (HAESBAERT, 2007); (b) espaçodefinidoedelimitadoporeapartirderelaçõesdepoder(RAFFESTIN,1993;SOUZA,1995);(c)espaçoapropriadoapartirdaideiadepoder,decontrole,quersefaçareferênciaaopoderpúblicoouagrandesempresas(ANDRADE,1995); (d) como um nome político para o espaço de um país (SANTOS eSILVEIRA,2001);espaçousado,apropriado(SANTOS,1997).

Apesar do poder de autonomia atribuído à escala territorial, énecessário lembrar que os territórios estão inseridos num mundoglobalizado,emqueamultiescalaridadedosprocessosestápresente,sendoque vários autores têm chamado atenção para esse fato (FERNÁNDEZ eDALLABRIDA, 2008; BRANDÃO, 2007; AMIN, 2008; DALLABRIDA eFERNÁNDEZ,2008).

Corroborando, Saquet (2007) afirma ser o território a condição deprocessos de desenvolvimento, reforçando a necessidade de se buscarcompreender as relações entre os atores e o lugar. Conforme o autor,referimo‐nos a lugar não apenas como área geográfica, mas como umcontextorepresentadopeloterritórioepelasterritorialidades.

Algunsautoresenfatizamanoçãodeterritórioparaodesenvolvimentolocal, namedida em que essa noção integra os diferentes atores, práticasculturais, valores, características econômicase sociaisparticularesdeumadada região. SegundoDallabrida (2006, p. 161), a concepção de territórioenvolvenãoapropriedadedaterra,masaapropriaçãodoespaço,“[...]comseus atributos naturais e socialmente construídos, o qual é apropriado,ocupado,porumgruposocial”.

No contexto da globalização o território torna‐se o espaço onde sedefinem os embates entre os diferentes atores sociais e econômicos. Issoocorreporque a eficáciadas ações econômicas está ligada ao espaçoondeessas são concretizadas: “[...] os atores mais poderosos se reservam osmelhorespedaçosdoterritórioedeixamorestoparaosoutros”(SANTOS,2000,p.79).

Pode‐sedizer,então,queterritórioéumespaçofragmentado,postoqueos diferentes atores (ou empresas hegemônicas) que nele atuam (e

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conflitam) buscam atender objetivos individuais, muitas vezesimpossibilitando a regulação dessa ação pelos poderes públicos.Talfragmentação pode levar à deterioração da solidariedade e da cooperaçãocaracterísticasde grupos sociaisque compartilhamasmesmasvivências etradições.

EmrelaçãoàIdentidadeTerritorial,Castells(1999,p.23)afirmaque:

Existeumconsensodequetodaidentidadeéumaconstruçãosocial.Assim,aconstrução de identidades vale‐se da matéria‐prima fornecida pela história,geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memóriacoletivaepor fantasiaspessoais,pelosaparatosepelopodererevelaçõesdecunho religioso. Ao longo do tempo os grupos sociais e sociedadesreorganizam seu significado em função de tendências sociais e projetosculturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão detempo/espaço.

OsautoresBenkoePecquer(2001)afirmamqueanoçãodeterritórioestá de volta nas análises econômicas. Os territórios oferecem recursosespecíficos, intransferíveis e incomparáveis no mercado, gerando umavantagemcomparativa.Aquestãoésabercomoosterritórioscapitalizamounão isso a seu favor. Já Pecqueur (2009) propõe que estratégias paradesenvolvimento de sistemas produtivos que se originem a partir daperspectiva territorialdeveriamestar focadasnoquechamademodelodequalidade, avançando da vantagem comparativa para a vantagemdiferenciadora.

Aoconceitodeterritórioliga‐se,também,anoçãoderegião.DeacordocomCorrêa(1986),otermoregiãoderivadolatimregio,cujaraizregiseligaàregência, regra, regenteeserefereaumaunidadepolítico‐territorialemque se dividia o Império Romano, o que atribui à conceituação umaconotaçãopolítica,comoáreadeextensãodopodercentralizadoemRoma,delimites,dedomínio.

Embora seja difícil estabelecer com precisão o significado da palavraregião,qualquerdefiniçãoestaráintimamenterelacionadacomasformasdeprodução,desenvolvidasporgrupos sociais emdeterminados territórios eemumdadomomentohistórico.ParaGomes(1995),osdiferentesusosdoconceitode regiãoe suasdiferentesoperacionalidadesvariamno tempoeno espaço, explicando também contextos políticos, econômicos,institucionaiseculturais.

Asdiscussõesacercadoconceitodeterritórioganhamimportânciacomacrescentenecessidadedemudançanossistemasdegoverno,incapazesdesuprirsozinhosasnecessidadesdamaioriadapopulação.Dessaforma,umaspecto necessário de ser analisado em relação ao debate em torno doterritórioéaquestãodagovernançaterritorial.

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2.3.1GOVERNANÇADEBASETERRITORIAL

Ferrão(2010,p.30)afirmaqueaemergênciadotemanaatualidade:

Resultadedebatesquetêmcomopanodefundoanecessidadedetranscenderas limitações das concepções modernas até então prevalecentes sobre oEstado, intencionando o aprofundamento da democracia e a melhoria daeficiência da ação pública, representando a transição de um Estadodiretamente interventor e executor, uma visão de comando e controle, paraoutra concepção do papel do Estado centrada em intervenções de natureza,sobretudoreguladoraeestratégica.

Complementando a argumentação sobre o tema, Dasí (2008) destacaque a governança territorial pode ser encarada como aplicação dosprincípiosdeboagovernançaàspolíticasterritoriaiseurbanas,oucomoumprocesso de planejamento e gestão de dinâmicas territoriais numa ópticainovadora,partilhadaecolaborativa.

A análise dos diferentes processos de governança territorial edesenvolvimento contribuem para firmar a convicção de que governa edecidequem tempoder. A governança, assim, sinteticamente, refere‐se aoatodeatribuirpoderàsociedade,paragovernar,ou,deconquistadepoderpela sociedade, para governar. Portanto, o exercício da governança érealizadopormeioderelaçõesdepoder(DALLABRIDA,2003;2007).Aindade acordo com o autor, o termo governança territorial ao referir‐se àsiniciativas ou ações que expressam a capacidade de uma sociedadeorganizada territorialmente para gerir os assuntos públicos, a partir doenvolvimento conjunto e cooperativo dos atores sociais, econômicos einstitucionais.

Brandão (2011) ressalta que é imprescindível buscar construirestratégias multiescalares e governança multinível. Tais estratégias,segundooautor,precisamcontemplarumaabordagemdasdiversasescalasespaciais que se articulam no território em que se quer promoverdeterminadoprocessodedesenvolvimento.

Emsíntese,conformeDallabrida(2011),agovernança territorialpodeser percebida como uma instância institucional de exercício de poder deforma simétrica no nível territorial. A sua prática pode incidir sobre trêstipos de processos: (1) a definição de uma estratégia de desenvolvimentoterritorialeaimplementaçãodascondiçõesnecessáriasparasuagestão;(2)a construção de consensosmínimos, através da instauração de diferentesformasdeconcertaçãosocialcomoexercíciodaaçãocoletiva;e,porfim,(3)aconstruçãodeumavisãoprospectivadefuturo.Umapráticaqualificadadegovernançaterritorialéumrequisitoindispensávelparaodesenvolvimento.A gestão do desenvolvimento, realizada na perspectiva da concertaçãopúblico‐privada, implicanumarevalorizaçãodasociedade,assumindouma

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postura propositiva, sem, no entanto, diminuir o papel das estruturasestataisnassuasdiferentesinstâncias.

Uma das principais estratégias que articula os potenciais dedesenvolvimento territorialàNoçãode identidade territorialéa IndicaçãoGeográfica.2.4INDICAÇÃOGEOGRÁFICA

NoBrasil,deformajurídica,asIndicaçõesGeográficassãoconsideradasmarcas territoriais que reconhecem os direitos coletivos referentes aossinais distintivos de um território (ANJOS, 2012; GURGEL, 2006). Assim,tornam‐se ferramentas coletivas de valorização de produtos tradicionaisvinculados a determinados territórios, atendendo a duas funções: agregarvaloraoprodutoeprotegeraregiãoprodutora.

A Indicação Geográfica se caracteriza como um ativo intangível dapropriedade intelectual que representa um atributo, uma qualidadeatribuídaaomeiooua fatoreshumanosouaumareputaçãoquedistingueprodutos ou serviços relacionados a uma determinada origem geográfica(FERREIRAetal.,2013).

Para os autores Pecquer (2009) e Dallabrida (2012), a IndicaçãoGeográfica possibilita a construção de uma conformação socioeconômicaque destaca a importância dos produtos (ou serviços) com identidadeterritorial para o desenvolvimento. Trata‐se deultrapassar a dimensão devantagem comparativa para uma vantagem diferenciadora, resultante deprocessos originais de emergência de recursos e ativos com ancoragemterritorial.

Aliteraturacontemporâneaquetratadotema,emgeral,reconhecequeuma das principais estratégias que articula os potenciais dedesenvolvimentoànoçãodeterritórioeidentidadeterritorialéaIndicaçãoGeográfica. Trata‐se de uma das principais alternativas para conferir aosserviçoseprodutosdebaseterritorialmaiorcompetitividadee,atémesmo,a possibilidade de inserção diante de um mercado local ou mundial,produzindouma conjuntura favorável aodesenvolvimento (local, regional,territorial). Das experiências brasileiras de Indicação Geográfica, apenasumadelassitua‐senoestadodeSantaCarina(SC).Trata‐sedaexperiênciade Urussanga emunicípios próximos, no Sul catarinense, registrada comoVales da Uva Goethe, dedicada à produção de vinho da uva Goethe,articulada pela Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe daRegiãodeUrussanga(PROGOETHE).

Complementarmente, Pecqueur (2001; 2006) propõe ummodelo quechamade cesta de bens e serviços ancorados territorialmente, associandobens e serviços com Denominação de Origem Protegida com outros, que

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tenhamqualidade e se identifiquem como território de origem.De formasemelhante,AcamporaeFonte (2008)reforçamanecessidadedepolíticaspúblicas com a finalidade de reconhecer e proteger as especificidadesterritoriaiseculturais,pelavalorizaçãodaidentidadeterritorialpormeiodeuma cesta de bens. Já Albagli (2004) propõe diferentes estratégias nosentido do fortalecimento e capitalização de territorialidades em favor dodesenvolvimento(local,regional,territorial).

Deformasemelhante,AcamporaeFonte(2008)reforçamanecessidadede políticas públicas com a finalidade de reconhecer e proteger asespecificidades territoriais e culturais, pela valorização da identidadeterritorial por meio de uma cesta de bens. Já Albagli (2004) propõediferentes estratégias no sentido do fortalecimento e capitalização deterritorialidadesemfavordodesenvolvimento(local,regional,territorial).

Outraquestãoquetemreferênciacomotemadaidentidadeterritorialesua relação com o desenvolvimento é a questão dos recursos e ativosterritoriais. Para Pecqueur (2005), o desafio das estratégias dedesenvolvimento constitui‐se em se apropriar dos recursos específicos ebuscar o que possa se estabelecer como potencial identificável de umterritório.Para tal,deveocorrerumprocessodeespecificaçãoouativaçãoderecursos,ouseja,transformarrecursosemativosespecíficos.Oautorfazuma diferenciação entre ativos e recursos genéricos, de ativos e recursosespecíficos.Osativoserecursosgenéricossãototalmentetransferíveiseseuvaloréumvalorde troca, estipuladonomercadoviao sistemadepreços.Esses ativos e recursos não permitem que um território se diferencie deformaconsistentedeoutros,umavezqueelessãotransferíveis,ouseja,sãotransacionados no mercado. Já os ativos específicos, por sua vez,possibilitam um uso particular e seu valor constitui‐se em função dascondições de seu uso. Além disso, eles apresentam um custo detransferência que pode ser alto e irrecuperável. Assim, os recursosespecíficosmerecemmaioratenção.Elespossibilitamaconstruçãodeumaargumentação que destaca a importância dos produtos com identidadeterritorialparaodesenvolvimento.Ressaltaaindaoautorqueos recursosespecíficos, ao contrário dos recursos genéricos, não sãomensuráveis, ouseja, não são expressos em preços e não podem ser transferidos, comoqualquerprodutotransacionadonomercado.Sãoelaboradosnumespaçodeproximidadegeográficaeinstitucional,apartirdeumatrocanãomercantil:areciprocidade.

Benko e Pecqueur (2001, p. 31), ao lembrarem que apesar damundialização,ametropolização,aformaçãodasáreasdelivrecomércio,aarticulaçãoentreoglobaleolocalestaremnocentrodaspreocupaçõesdaeconomia espacial, a mundialização não significa homogeneização dosespaços.

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ParaSaquet(2003),aterritorialidadecorrespondeàsrelaçõessociaiseàsatividadesdiáriasqueoshomenstêmcomseuentorno.Éoresultadodoprocesso de produção de cada território, sendo fundamental para aconstruçãodaidentidadeeparaareorganizaçãodavidaquotidiana.Assimsendo, a identidade é construída pelasmúltiplas relações‐territorialidadesqueseestabelecemtodososdiaseissoenvolve,necessariamente,asobrasmateriaiseimateriaisproduzidas,comoostemplos,ascanções,ascrenças,osrituais,osvalores,ascasas,asruas,alémdeoutrosaspectos.

Outro autor brasileiro, Souza (2005), salienta que o território é umespaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. Para oautor, a autonomia é a base do desenvolvimento, este encarado comoprocesso de auto‐instituição da sociedade rumo à umamaior liberdade emenor desigualdade. Assim sendo, uma sociedade autônoma é aquela quelogradefenderegerirlivrementeseuterritório.Trata‐sedeumasociedadecom poder, onde o Estado não pode ser concebido enquanto instância depoder centralizadora e separada da sociedade. A concepção de territórioautônomo implica num ambiente onde as pessoas têm a liberdade demanifestarsuasescolhasepotencialidades,gerandoumespaçosocialmenteequitativoedemocrático.

O conjunto dos ativos e recursos genéricos e específicos, materiais eimateriais,constituemoquepodemoschamardecapitalterritorial,definidoemdocumentodaLEADER(2009,p.19)comooconjuntodoselementosdequedispõeoterritórioaonívelmaterialeimaterialequepodemconstruirvantagem ou desvantagens, dependendo de sua qualificação. O capitalterritorial remete para aquilo que constitui a riqueza do território(atividades,paisagens,patrimônio,saber‐fazer,etc.),naperspectiva,nãodeum inventário contabilístico,mas da procura das especificidades podendoservalorizadas.

Aofinaldestarevisãobibliográfica,sistematizam‐senoquadro1algunstópicosnorteadoresdoestudo.

Quadro1‐Tópicosnorteadoresdoestudo

Tópico Características Principaisautores

Desenvolvimentoregional ‐Adoçãodeestratégiassustentáveis,‐resgatedaculturaregional,‐geraçãoderenda,‐formaçãodoassociativismo,‐preservaçãodomeioambiente,‐buscaporsuperarasdisparidadescidade/campo.

Sachs,1994.Montibeller,2002.Friedmann,1992.

Artesanato ‐Umaspectodamemóriaculturaldeumpovo,‐instrumentodevalorizaçãodosseuselementosmateriais,‐exercíciodopodercriativodo

Pereira,1979.Fischer,2007.

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homem,‐representaçãodaculturapopular,‐responsávelporcontribuircomaidentidadeculturaldeumdadoterritório.

Território ‐Domíniopoliticamenteestruturadoresultantedeapropriaçãosimbólicaidentitária,inerenteacertaclassesocial,‐espaçodefinidoedelimitadoporeapartirderelaçõesdepoder,‐espaçoapropriadoapartirdaideiadepoder,decontrole,quersefaçareferênciaaopoderpúblicoouagrandesempresas,‐nomepolíticoparaoespaçodeumpaís,‐espaçousado,apropriado,‐governançaterritorial.

Haesbaert,2007.Raffestin,1993.Souza,1995.Andrade,1995.SantoseSilveira,2001.Santos,1997.FernándezeDallabrida,2008.Brandão,2007.Amin,2008.Dallabrida,2006;2007;2010b.Saquet2007.Coro1999.CassiolatoeLastres,2003.Castells,1999.BenkoePecquer,2001.Pecqueur,2001;2006;2009.Corrêa,1986.Gomes,1995.

IndicaçãoGeográfica ‐Marcasterritoriaisquereconhecemosdireitoscoletivosreferentesaossinaisdistintivosdeumterritório,‐ferramentascoletivasdevalorizaçãodeprodutostradicionaisvinculadosadeterminadosterritórios,‐ativointangíveldapropriedadeintelectualquerepresentaumatributo,umaqualidadeatribuídaaomeio,ouafatoreshumanosouumareputaçãoquedistingueprodutosouserviçosrelacionadosaumadeterminadaorigemgeográfica,‐comfunçãodeagregarvaloraoprodutoeprotegeraregiãoprodutora.

Anjos,2012.Gurgel,2006.Leader,2009.Souza,2005.Saquet,2003.BenkoePecquer,2001.Albagli,2004.Pecqueur,2005.AcamporaeFonte(2008)Dallabrida,2012.Ferreiraetal,2013.

Fonte:elaboradopelasautorascombasenarevisãobibliográfica.3.PROCEDIMENTOSMETODOLÓGICOS

Quantoaosprocedimentosmetodológicos,estapesquisadefine‐secomoqualitativa,umavezque,alémdedadosobjetivos,buscouanalisartambémaqueles de difícil mensuração e apresentação numérica. Foram adotadasmúltiplasfontesdeevidênciasparaacoletadedados:aentrevista,orelatohistóricoeaobservaçãodireta,conformerecomendaGodoy(1995).

Ométodoutilizadofoioestudodecaso,que,deacordocomYin(2001,p. 32), é uma “[...] investigação empírica que investiga um fenômenocontemporâneodentrodeseucontextodavidareal,especialmentequando

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oslimitesentreofenômenoeocontextonãoestãoclaramentedefinidos”.Aanálisedocaso teveduas frentesde investigação:abibliográficaea

pesquisadecampo. Apesquisabibliográficaconsultoualiteraturasobreostemas: desenvolvimento sustentável, artesanato, território, governançaterritorialeindicaçãogeográfica.

Paraacoletadedadosfoirealizadaabusca,leituraeanálisedetextos,reportagens, atas e demais documentos referentes ao Projeto Tranças daTerranoperíododesuaexistência(2006a2014).Tambémforamrealizadas02 entrevistas abertas com: 01 representante da associação Tranças daTerra(Artesã)e01gestordoSebrae(gestor),entidadequedásuporteparaoTrançasdaTerra.As02entrevistasforamfeitasnomesmodia,horárioelocal (dia 01/07/2014, às 13h30min, na loja do Tranças da Terra emJoaçaba) e tiveram a duração de 48 minutos. Versaram sobredesenvolvimento regional, artesanato, território, Indicação Geográfica e,sobretudo, sobre o Projeto Tranças da Terra. Com o consentimento dasentrevistadas,asentrevistasforamgravadaseposteriormentetranscritaseanalisadas.

Realizou‐setambémaobservaçãodasatividadesdoProjetoTrançasdaterra,pormeiodavisitaanúcleoprodutordeartesanatoeàlojanaqualsãovendidososprodutos.

Osdadoscoletadosnasdiferentesfrentesforamanalisadospormeioderecursosinterpretativos,cotejando‐oscomarevisãobibliográficarealizada.Abaseparaaanáliseforamostópicosdescritosnoquadro01.Buscou‐se,aoanalisarosdadoscoletadosagrupadoseclassificadosnestestópicos,emsuarelação com a revisão bibliográfica realizada, responder aos objetivos depesquisa.4.ANÁLISE

Nestaparte,foramabordadosdadosdaregiãoemestudo,aMeioOesteCatarinense, bem como a trajetória e características atuais do projetoTrançasdaTerra,suasformasdegovernança,iniciativasdevalorizaçãodosprodutos, potencialidades do projeto e sugestões e oportunidades demelhorias.4.1AREGIÃOMEIOOESTECATARINENSELÓCUSDOPROJETOTRANÇASDATERRA

SegundooInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE,2014),aMacrorregiãoMeioOesteCatarinense,naqualsesituaoProjetoTrançasdaTerra, possuía, em 2010, uma população de 349.143 habitantes e umadensidade populacional de 34,1 hab./km². O município de Joaçaba éconsiderado o município sede da Macrorregião Meio Oeste e a cidade de

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Caçadoramaispopulosa,com70.762habitantes.Opovoamentodaregião tevecomoaspectomarcanteaconstruçãoda

estradade ferroque ligaoRioGrandedoSulaSãoPauloeachegadadosimigrantesgaúchosdeorigemitaliana.Acolonizaçãodaregiãofoitambéminfluenciadaporalemães,caboclos,austríacoseparanaenses.

ConformedadosdoIBGE,relativosa2009,amovimentaçãoeconômicados 32municípios daMacrorregião, segundo a composição do PIB, foi deaproximadamente R$ 7,4 bilhões, o equivalente a 5,7% do PIB estadual ealcançandoo7ºmaiornocomparativoentreasnovemacrorregiões.

Aregiãoocupaumaposiçãodedestaquenosetorprimáriocatarinense,comomaiorprodutoraestadualdemilho,sojaetrigo.Tambémpossuiumaatividade agropecuária bastante expressiva, respondendo, em 2010, por19% do rebanho catarinense de suínos e por 22% do de frangos. Naagricultura, destaca‐se a fruticultura e horticultura (uva, pêssego, maçã etomate),ocultivodemilhoeaproduçãoflorestal.

O setor industrial estabelece uma forte sinergia com a atividadeagropecuáriadaregião,cabendoassinalararepresentatividadedonúmerode empresas e empregos dos segmentos de fabricação de alimentos ebebidas, do setor madeireiro e o de produção de papel e embalagens depapel.OsegmentodaIndústriadetransformação,em2011,foiresponsávelpor35.531empregosformais,oequivalentea32%dospostosdetrabalhodaMacrorregiãoMeioOeste.

O quadro 2 apresenta, de maneira sucinta, alguns dados gerais ehistóricosdaregiãoemestudo.Quadro2‐AspectosgeraisehistóricosnaMacrorregiãoMeioOeste

Aspectosgeraisehistóricos

CoordenadoriaRegionaldoSEBRAE/SC MacrorregiãoMeioOeste

MunicípiosededaCoordenadoria Joaçaba

Áreaterritorial(km²) 10.236,8

PopulaçãoTotal2010 349.143

Densidadedemográfica2010(hab/km²)

34,11

Altitude(metros) Altitudemédiade957metrosacimadoníveldomar,sendoamínimade409metrosemIpiraemáximade870emPalmaSola.

Clima PredomíniodoclimaMesotérmicoúmido,comtemperaturamédia16°C.

Colonização Predominanaregiãoacolonizaçãodeorigemitalianaealemã.Aindaqueemmenornúmero,assinala‐seacolonizaçãocabocla.

NúmerodeEleitores 265.269NúmerodeMunicípios 32Municípios ÁguaDoce

LebonRégisArroioTrinta

Hervald'OesteRiodasAntasIbiam

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LuzernaCaçadorMacieiraCalmonMatosCostaCapinzalOuroCatanduvasPeritibaErvalVelhoPinheiroPretoFraiburgoPiratuba

SaltoVelosoIbicaréTangaráIomerêTimbóGrandeIpiraTrezeTíliasJaboráVargemBonitaJoaçabaVideiraLacerdópolis

Fonte:AdaptadodeIBGE(2012)

Dessesmunicípios, osqueparticipamdiretamentedoProjetoTrançasdaTerrasão:Catanduvas,ÁguaDoce;Capinzal,Joaçaba,LuzernaeOuro.

ApopulaçãodaMacrorregiãoMeioOesteapresentou,noanode2010,crescimento de 7% desde o Censo Demográfico realizado em 2000. Oshomensrepresentavam49,76%dapopulaçãoeasmulheres,50,24%.

Aestruturaetáriadeumapopulação,habitualmente,édivididaemtrêsfaixas:osjovens,quecompreendemdonascimentoaté19anos,osadultos,dos20anosaté59anos,eosidosos,dos60anosemdiante.Segundoessaorganização, na Macrorregião Meio Oeste, em 2010, os jovensrepresentavam32,4%dapopulação,osadultos,56,5%eos idosos,11,1%.Nodecorrerdos10anosentreoscensosdoIBGEde2000e2010,ocorreuuma evolução positiva de 5,3% no percentual da populaçãoeconomicamente ativa, passando de 49,8% no ano 2000, para 55,1% em2010.

Visando melhor conhecer as potencialidades do Projeto Tranças daTerra,presentenessaregião,aplicou‐seumInventáriodoCapitalTerritorialdoTerritório2.DeacordocomoCapitalNatural,PatrimônioNaturaleMeioAmbiente, o trigo é o produto vegetal de base para o Projeto Tranças daTerra, sendonecessário caracterizara sua tipificaçãoequais as formasdeuso.4.2TRAJETÓRIAECAPITALSOCIALDOPROJETOTRANÇASDATERRA

De acordo com informações coletadas junto aos gestores do ProjetoTranças da Terra, a região do Meio Oeste Catarinense foi considerada aCapital Nacional do Trigo na década de 1950. A região montanhosa combaixas temperaturas era ideal para o plantio desse cereal, cujo plantio foi

2 Tomou-se como base o Inventário do Capital Territorial do Território elaborado para Projeto de Pesquisa, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), que deu origem ao projeto de Iniciação científica, cujos resultados aqui são relatados.

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introduzidoporimigrantesitalianosealemães.Oartesanatofeitoempalhadetrigoeraumatradição,responsávelpelaproduçãodechapéusesportas(palavradeorigemitalianaquesignificasacolas),usadosprincipalmentenaslidas da lavoura e nas idas à cidade para compras. Com a mudança dafronteiraagrícolaparaoestadodoParanáeamecanizaçãodaagricultura,ocorridas a partir dos anos 1970, a cultura do trigo foi praticamentedescontinuada no Meio Oeste Catarinense. Dessa forma, o artesanato empalha de trigo se restringiu a poucas comunidades de agricultores queprosseguiram cultivando o cereal nos moldes tradicionais, sem uso demáquinas.

Visando resgatar o artesanato tradicional em palha de trigo, em 9 deagostode2005oProjetoTrançasdaterrafoilançado,comaadesãodeseismunicípios: Água Doce, Capinzal, Catanduvas, Joaçaba, Luzerna e Ouro.Aderiu, ainda, ao projeto a Secretaria de Estado do DesenvolvimentoRegional (SDR) de Joaçaba. Também na ocasião, apoiaram o projetoempresas do setor privado, especialmente uma tradicional do ramo demoagemdetrigoefarinhas;empresadecomunicações(granderededoSuldoBrasil)eempresasdecontabilidade.Noiníciode2006,oprojetoganhoumais força com a adesão de outras empresas privadas e de uma empresapúblicaqueprestaassessoriaapequenosagricultoresemSC.

O processo de constituição da rede de base para efetivar o ProjetoTranças da Terra teve início com a instalação de alguns núcleos: a) 01núcleoprodutordamatéria‐prima,comprodutoresruraisdeCatanduvasede Água Doce; b) 06 núcleos de produtores de artesanato, com sede nosmunicípiosdeÁguaDoce,Capinzal,Catanduvas, Joaçaba,LuzernaeOuro,ec)01núcleodearmazenagemdamatéria‐prima,nomunicípiodeLuzerna.Implantadososnúcleos,emnovembrode2006,foiconcluídaaconstituiçãoda associação com a inauguração do núcleo administrativo, da central devendasedeumalojaparacomercializaçãodosprodutos.

Desde a implantaçãodoProjeto, em2006, até2014, várias atividadesforamrealizadas,taiscomo:articulaçãodeparceiros,mobilizaçãoeadesãode artesãos, criação da marca Tranças da Terra, prospecção de mercado,realização de oficinas técnicas e capacitação nas áreas de gestão eassociativismo, pesquisas e desenvolvimento de novos produtos,formalização da Associação de Artesanato Tranças da Terra, apresentaçãodosprodutosàcomunidadelocaleregional,elaboraçãodoplanoestratégicodemarketingdaAssociaçãodeartesanatoTrançasdaTerra,implantaçãodaLoja Tranças da Terra, capacitação e consultoria empresarial, consultoriatecnológica e acesso ao mercado. Com essas etapas, o projeto prevêaumentarovolumedeprodução,onúmerodeclientesativoseatingirumfaturamento base por mês, buscar outros pontos e canais de venda dosprodutoseimplantarocomércioeletrônico.(TRANÇASDATERRA,2014).

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De acordo com Tranças da Terra (2014), o projeto Tranças da Terrapossuialgunsdestaquesereconhecimentoexternoimportante,taiscomoosapresentadosnoquadro3.Quadro3‐DestaquesereconhecimentosdoTrançasdaTerra

SeleçãoRedeGloboSãoPaulo‐em2012,aemissoraselecionouoTrançasdaTerraparagravaçãodoProgramaAçãoComunitária,transmissãosábado,às7h30damanhã;

PrêmioHouseeGiftdedesign,consideradoo"Oscar"dodesignbrasileiro‐em2011foipremiadocomaLumináriaFlores;

PrêmioPlanetaCasa‐em2011,ficouentreosdezfinalistasnacategoriaaçãosocial(concorreucommaisde400inscritos,segundoinformaçãodaorganizaçãoplanetacasa);

ProgramaCaixadeApoioaoArtesanatoBrasileiro‐em2009,selecionadoatravésdaCaixaEconômicaFederal(CEF)paraoprograma;

PrêmioPlanetaCasa–em2008,nacategoriaAçãoSocial–umaaçãopioneiradarevistaCasaClaudia;

PrêmioFINEP‐em2008foiaterceiracolocadaregiãoSulnacategoriaTecnologiaSocial;

PrêmioSEBRAETOP100deArtesanato‐em2008,entreastrêsunidadesselecionadas,ficandoemprimeirolugarnoEstadoobtendoamelhorpontuação;

PrêmioSEBRAETOP100deArtesanato‐em2006,ficouentreascincounidadesselecionadasemSantaCatarina;

PrêmioHouseeGiftdedesign‐em2006,premiadocomaCestaFloresnacategoriaArtesanatoRegional;

PrêmioFINEPnacategoriaInovaçãoSocial‐em2006,2ºLugar.Fonte:AsautorascombaseemTrançasdaTerra(2014).

A partir de informações coletadas nas entrevistas, as maioresdificuldades encontradas no início do Projeto foram de tornar o produtoconhecido, interessante, útil, e de colocá‐lo no mercado. Nem todos osartesãos que iniciaram no projeto conseguiram adquirir a habilidade emtrançarempalhadetrigo.EssefoiumdosfatoresquelevoualgunsartesãosadesistirdeparticipardoProjeto.

Quanto ao capital social, o Projeto Tranças da Terra, contou, na suaorigem, com 118 adesões de pessoas com habilidades manuais, critériobásico para aderir ao projeto. Aderiram ao projeto para a produção damatéria‐prima (o trigo “peladinho”) 16 produtores rurais. Hoje, o Projetoconta com 22 artesãs (somente do sexo feminino) associadas e 03agricultoresnaproduçãodematéria‐prima.

Segundo as entrevistas, essa redução significativa no número deartesãos é vista com muita preocupação pelas entrevistadas, porque, navisãodelas,oartesanatotemsidoentendidopelasartesãsmembro,apenascomo uma atividade para passar o tempo e não como uma atividade

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econômica rentável. Pelo contrário, os atuais participantes do Projeto oconsideram pouco rentável, o que não atrai novos interessados e gera odesânimo das atuais artesãs. Dessa forma, não ocorrem atualmentecapacitações, como ocorreram no início do projeto, porque não se tempúblicoparatalatividade.Ainda,deacordocomasentrevistas(2014):

Quemestánoprojetodesdeoinício,acompanhoutodoesteprocesso,acabouseapaixonandopelacausa,eaquestãonemé tantooretorno financeiro,atéporque como são várias, tem um pouco para cada uma então se teria quevendermuitoparaterumretornofinanceirobom.Quemtáforaquersaberoquantovaiganharseentrarnoprojeto,seforartesãdoTranças,eaísefalarapessoanãovaiquerer,entãotemqueseapaixonarmesmopelacausa,veralémdofinanceiro[...].Esteenvolvimentocomapartedagestão,porexemplo,trazapessoaparaumconvíviosocial.(Artesã1)

Quanto à gestão da Associação, o Projeto Tranças da Terra éadministrado por uma diretoria formalizada, com presidência, gerência,secretária,tesoureiraemaisalgumaslíderesartesãsquenãofazempartedadiretoria,mas que contribuem com a gestão. São feitas reuniõesmensais,mesmoquenãohaja pauta prévia. As artesãs consideramesses encontrosfundamentais,porpermitemqueváriosassuntossejamdiscutidosequeasprofissionaismantenhamocontatocomaequipedirigente.

A produção é feita nos núcleos produtivos e as artesãs ganham porprodução,conformerelatadonasentrevistas:

Elasganhamporprodução, é feito sempre levantamentodoque cadanúcleotem e se percebe, por exemplo, Lacerdópolis: eles desenvolveram umahabilidade maior em fazer peças pequenas, produzem bastante. EmCatanduvasjáfazemmaispeçasmaiores.Entãoquandovocêproduz100peçaspequenas equivale a duas ou três peças grandes, então tem que ser porprodução, porque depende muito da quantidade de matéria‐prima que deutilizanapeçaedotempopraproduzir,éassimqueagente fazocálculodovalordamãodeobra,entãoéporproduçãoqueagentepaga.(Artesã2)

OutradificuldadequeexistedesdeoiníciodoProjetoequepersisteatéhojeécomrelaçãoàmatéria‐prima,porqueeladependedoclima.Apesardea região ter clima apropriado para a produção do trigo, se faltar chuva, amatéria‐primaestragaesechoverdemaistambémháperda.Esseéumfatorque pode fazer comque, em determinados anos, a produção de trigo sejamaioroumenor,causandoefeitosobreaproduçãodeartesanatoempalhadetrigo.4.3CAPITALNATURAL,HUMANOEINTELECTUALPRESENTESNOTRANÇASDATERRA

O principal capital natural do Projeto Tranças da Terra é o trigo,

matéria prima para todo o processo e para a confecção dos produtos. O

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Projetopossuiumestoque consideráveldematéria‐prima,porque compratodaaproduçãodoagricultorquefazpartedaassociaçãoparanãoperderaadesão do produtor e nem a semente. Os agricultores que plantam avariedadedetrigoespecíficaparaoartesanatosãoorientadosportécnicosdaEmpresadePesquisaAgropecuária eExtensãoRural de SantaCatarina(Epagri), desde como se faz o plantio e omanejo até como faz a colheita.Inclusive, antesdaescolhadavariedade, aEpagri cooperou comoProjetoTranças e estudouqual amelhor sementeparadar amelhorhasteparaoartesanato, chegando‐se à variedade conhecida na região comoPeladinho,cujo nome científico é triticum. Na colheita, o agricultor não pode usarmáquinapara cortar apalhaporque a estraga, precisando fazer a colheitamanualmente.EssavariedadeétradicionalnaregiãoMeioOeste,porémseucultivo praticamente desapareceu quando do processo denominado demodernização agrícola, ocorrido nos anos 1960, quando se introduziu amecanização consorciada com o uso intensivo de agrotóxicos,eufemisticamentechamadosdedefensivosagrícolas.

A variedade de haste de trigo utilizada no Projeto Tranças da Terraatende as dimensões de sustentabilidade ambiental, pois é produzida semqualquerusodeagrotóxicoesemcausardanosaomeioambiente.Tambématendeàdimensãocultural,vistoquesetratadeumcultivotradicionalquerequerumsaberespecífico,desdeoplantioatéacolheitaearmazenamento.Na produção das peças artesanais, geralmente não se aplica qualquercorantesobreapalhadetrigo,porém,quandoissoédemandado,sãousadoscorantesnaturais,como,porexemplo,corantesapartirdecipó‐índioecascadepinheiroaraucária.

Osaberdosartesãossobreoprocessodeproduçãodotrigopeladinhosomou‐seaosaberdaEpagri,que, alémde resgatara semente tradicional,tambémorientaosprodutoresnousodas técnicas tradicionaisedoCursode Ciências Biológicas da Unoesc ‐ que cooperou com o Projetocompartilhando o seu conhecimento sobre formas de secagem earmazenamentodotrigo.

No início do Projeto Tranças da Terra havia muitos agricultores quefaziam este plantio do trigo específico para o Projeto Tranças. Porém, nomomentodapesquisa,foramidentificadosapenastrês(doishomenseumamulher).Umdosmotivos é que ele precisa plantar exclusivamentepara oProjeto, porque essa variedadede trigo, o trigopeladinho, temumapalhamais comprida,mas não produz grãosmuito bons para fazer a farinha. Oagricultor planta o trigo objetivando a produção de farinha, pois lhe geramaior lucro do que a produção da variedade tradicional, que temmenorproduçãodefarinha,masserveparaoartesanato.

Essaquestãodaproduçãodamatéria‐primacausaimpactodiretosobrea possibilidadede continuidadedo ProjetoTranças daTerra. Os produtos

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em palha de trigo consolidam o artesanato tradicional local, estandorelacionados às artes e ofícios dos colonizadores da região doMeioOesteCatarinense. Tratam‐se, portanto, de produtos com marcada vinculação aumterritórioeaumaidentidadedeumacomunidadelocal/regional.4.4OCAPITALCULTURALDOPROJETOTRANÇASDATERRA

Omaior capital cultural do Projeto Tranças da Terra é amanutençãovivadeuma tradiçãodaregiãoMeioOeste: aproduçãodeartesanatocombase em palha de trigo, a preservação da arte de trançar esta palha dediferentesmaneiraseoseuarranjopelacosturaartesanal formandopeçasutilitárias e de decoração. Originalmente os objetos trançados resultavam,principalmente, em chapéus e sacolas (sportas) utilizadas peloscolonizadores da região, de origem ítalo e germânica, principalmente nasatividadesagrícolas.Alémdadurabilidade,oschapéustraziamumconfortotérmico adequado para os agricultores na lida na lavoura. Essa atividadeartesanaltradicionalaindaéobservadacomfrequêncianaregião,contudojáescasseiamaspessoasquetêmodomíniodatécnicatradicionaldeelaborarastranças.

ParaoProjetoTrançasforamcontratadaspeloSebraeduasecodesinersque após estudarem e observarem detidamente as peças tradicionais e acultura regional elaboraram protótipos de produtos e submeteram àapreciaçãodosmembrosdaAssociaçãoparasuavalidação.Dessa forma,oque se fez foi uma releitura dos produtos tradicionais, preservando naíntegraaformaoriginaldetrançar.

Quanto ao nome do Projeto, Tranças da Terra, ele foi sugerido pelasprópriasartesãs,umavezqueamatéria‐prima‐apalhado trigo ‐vemdaterraeoatodetecerlembratambémelosexpressospelaprópriatrançae,simbolicamente pelo associativismo, forma escolhida para a produção doartesanato.

Ascoleçõesdeprodutosforamdesenvolvidasalinhadasaoconceitodedesignecologicamentecorreto,pormeiodacontrataçãodeconsultoriaemecodesign e são:CurvasdaTerra, FloresdaTerra,CoresdaTerra,ColeçãoInterioreseColeçãoFlordeMenina.Oquadro4apresentaosprodutosdoTrançasdaTerranasuatradicionalidade.Quadro4‐ProdutosTrançasdaTerraetradicionalidade

Produto Descrição TradicionalidadeColeçãoFloresdaTerra

‐Bolsafloresoval;‐Bolsafloresquadrada;‐Cestaflores;‐Chapéuflores;‐Descansodepanelasflor;‐Móbiles;

Osprodutossãoinspiradosnostemasfloraisdospanôseesculturas,emmadeira,religiosas.Ousodaflorrepresentaolardopovoimigrantequeseestabeleceunomeio‐oestecatarinense.Todososprodutossãofeitoscompalha

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‐ Porta‐guardanapoflor;‐Sousplatflor;‐Trilhomesaflores.

detrigo.

ColeçãoCurvasdaTerra

‐ Bowl;‐Bolsacurvas;‐Capitel;‐Cestacurvas;‐Chapéucurvas;‐Rechaud(porta‐velas);‐Sousplatcaracol;‐Anjo;‐Minicuia.

Osprodutossãoumresgatedascurvasdostrigaiseesculturasreligiosaspresentesnaregião.Todososprodutossãofeitoscompalhadetrigo.

ColeçãoCoresdaTerra

‐ Americano;‐Bandejasporta;‐Marcadordelivro;‐Porta‐guardanapo;‐Porta‐cartãosporta;‐Descansodepanelaquadrado;‐Sporta;‐Sportaparavinho.

Osprodutossãocoloridoscommateriaisextraídosnanatureza.Todososprodutossãofeitoscompalhadetrigo.

ColeçãoInteriores

‐ Bromélia;‐Folha(porta‐bala);‐Lumináriacasulo‐arandela;;‐Lumináriacasulo‐mesa;‐Lumináriadeflor‐pendente;‐Mandala;‐Revisteiro.

Osprodutossãodesenvolvidosparadecoraçãodeambienteeinteriores.Todososprodutossãofeitoscompalhadetrigo.

ColeçãoFlordeMenina

‐ Adorno;‐Batonflor;‐Cintoflor;‐Colarflor;‐Flor‐presilhaparalenço;‐Prendedorcabelo.

Osprodutossãoinspiradosemacessóriosfemininos.Todososprodutossãofeitoscompalhadetrigo.

Fonte:ElaboradospelasautorascombaseemTrançasdaTerra(2014)

A questão cultural é possivelmente a maior contribuição do projeto

Trançasdaterraparaaregiãonaqualsesitua.Trata‐sedeumProjetoquepartedeumatécnicatradicionalconferindo‐lhenovosusoseadicionandoadimensão ambiental da sustentabilidade. O que se questiona é se essequesitoseriasuficienteparageraramanutençãoepermanênciadoProjetoao longo do tempo, bem como o seu potencial com marcas muitoparticulares desse território. O que hoje é efetivamente produzido noProjetoTrançasdaTerrasãoprodutosquesónesteterritórioseencontram,masa artede trançar apalhade trigoé encontradaemoutros territórios.Por estes motivos, somam‐se as dificuldades de buscar a IndicaçãoGeográfica(IG)paraosProdutosdoTrançasdaTerra.

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4.5OCAPITALINSTITUCIONALEPRODUTIVODOPROJETOTRANÇASDATERRA

OProjetoTrançasdaTerratemcontado,aolongodesuatrajetória,cominstituiçõesdeapoiolistadasnoquadro5.

Quando5‐Instituiçõesdeapoio

Instituição FormadeapoioSebrae Consultoria,capacitação.Unoesc Pesquisanaáreadegestão,redesedeciênciasbiológicas.PrefeituradeLuzerna Fornecimentodelocaldetrabalhoàsartesãsedelocalpara

estoquedematéria‐prima.PrefeituradeJoaçaba Fornecimentodelocalparaalojadoprojeto.PrefeituradeCatanduvas

Fornecimentodelocaldetrabalhoasartesãs.

PrefeituradeÁguaDoce

Fornecimentodelocaldetrabalhoasartesãs.

PrefeituradeCapinzal Fornecimentodelocaldetrabalhoasartesãs.PrefeituradeOuro Fornecimentodelocaldetrabalhoasartesãs.Fonte:asautoras,combasenasentrevistas

Essas organizações listadas contribuem com aporte de conhecimento,capacitação e consultoria, ou então com a cedência de instalações para otrabalhodoprojetoTrançasdaTerra.Contudo,oProjetoprecisaencontrarformasparagerarasuaautosustentaçãooqueaindanãoseobservanesteperíodode2006a2014.

Quantoàinfraestrutura,oProjetoTrançasdaTerracontacomumalojaemJoaçaba,equipadacomtelefoneecomputadorcomacessoàinternet.

Com relação às máquinas e equipamentos, o projeto conta commáquinas de costura em todos os núcleos produtores. Os materiais deescritórioestãoconcentradosnalojadeJoaçaba.

Noque se refere recursos financeiros, algumasempresas compramosprodutosdoprojetoparadarcomobrindescorporativos,aUnoesc,oSebraee a Acioc‐ Associação Comercial e Industrial do Oeste Catarinense, masmesmo essas empresas acabam achando que fica caro, porque quando sefala em artesanato logo se pensa em crochê, tricô, que não fica tão caroproduzircomoosprodutosdotrançasdaterra.

Atualmente, a ajuda financeira recebida pelo projeto, em todas ascidadesemqueeleatua,dizrespeitoàcessãopelasprefeiturasdoslocaisdetrabalho,ondeasartesãstrabalhamedo localparaa lojaeparaoestoquedas matérias primas. Essa é uma preocupação evidenciada pelasentrevistadas, porque cada vez que muda a gestão das prefeituras énecessário buscar a continuidade da cessão desses locais e nunca se está

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seguro a respeito.Atualmente, a associação foi contemplada com recursosdeumprojetodogovernofederalchamadoRedeSolidária.Comorecurso,oProjeto está construindo um novo espaço, num terreno doado pelaprefeituradeJoaçaba,maséemumbairronovo,longedocentro.Comonãofica num centro comercial, não será usado como loja,mas como ponto deencontrodasartesãseparaestoquedematéria‐primaedepeçasprontas.

No início, o Projeto vendiamuitomais para outros estados do Brasil,comoBahia, Salvador,MinasGerais eRiode Janeiro, porque, na visãodasentrevistadas “[...] o nosso estado, a nossa região não valorizava tanto oartesanato, hoje em dia a situação já mudou muito, e os produtos já sãomuitomaisvalorizadosporaqui.”(artesã).

Osmaisde30produtosdiferentesproduzidospelasartesãsdoprojetoajudam na geração de renda às suas famílias, mas de forma poucosignificativa. Esse é talvezumdoismaioresdesafiosdoProjeto: encontrarformas de melhorar as vendas para que se possa aumentar, também, oretorno para as artesãs participantes do Projeto e, assim, contribuirmaissignificativamente para o desenvolvimento regional. As entrevistadas nãopassaram os valores atuais percebidos pelos artesãos participantes doprojeto,apenasasseguraramqueovalorébaixo.

Tem‐se também um paradoxo: de um lado, o Projeto tem poucosassociados devido à baixa geração de renda, de outro, o projeto fica emdificuldadeparaampliarovolumedeprodução,poistempoucosassociados.Esseaspectoconstitui‐senumdesafioqueaAssociação teráqueenfrentarembreve.

Busca‐seainovaçãoconstantementenosprodutos.Umexemplodissoéa coleção mais recentemente lançada, a coleção Flor de Menina, que foielaboradaparaatenderespecialmenteaopúblicofeminino,sendoqueforamcriadaspresilhasdecabelo,cintos,colares,prendedores,entreoutros.

A técnica de costurar a trança para fazer as peças também agregavalorização ao produto, já que não é usado cola, o que aumenta adurabilidadedosprodutos.Osprodutosoriginaisreceberamvalorizaçãopormeiododesignecológicoincorporado.

Umdospontos críticosnoProjetoTrançasdaTerra é ademandaporprodutoscomerciaisecombaixovalordecomercialização,oquedificultaavenda de algumas linhas mais elaboradas que o Projeto produz. Dessaforma,osprodutosquemaisreceberam.5.CONSIDERAÇÕESFINAIS

Quanto àspotencialidades e limitesde estratégiasde especificaçãodeativos territoriaiscomoalternativadedesenvolvimento,observou‐senesteestudo que o Projeto Tranças da Terra possui alguns pontos que o

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favorecem, como a forte identidade cultural dos seus produtos com oterritório doMeioOeste Catarinense. Contudo, há sérios desafios a seremvencidos,comoabaixageraçãoderecursosparaseusassociados,ograndenúmerodeartesãosquedeixaramoProjetoeafaltadeinteressedenovosartesãosdeseassociaremaoTrançasdaTerra.

Observou‐se,aolongodotrabalhodecampo,queaatividadeartesanalainda é percebida como um passatempo para alguns participantes doProjeto,carecendodeumadedicaçãomaiscontínuadehorasdetrabalhonoProjeto. Se por um lado a geração de renda extra é baixa, por outro aprodução de peças também é pequena. O dilema para pensar asustentabilidade econômica do projeto é como aumentar a produção dogrupo diante um quadro de associados que disponibilizam pouco tempoparaotrabalhonoTrançasdaTerra?

NoqueserefereàscaracterísticasdaregiãoMeioOesteCatarinenseemsuarelaçãocomoProjetoTrançasdaTerra,observa‐sequeoProjetonasceude práticas tradicionais já decorrentes entre os imigrantes italianos ealemãescolonizadoresdaregião,bemcomodocapitalsocialeinstitucionalpresentesnesse território.Osprodutos têmforteapeloaessas tradiçõesereceberamsignificativoaportedeconhecimentoeinovaçãopelaintroduçãode design ecológico e pela forma de produção baseada na dimensãoambiental da sustentabilidade. Contudo, apesar das dimensões cultural eambiental serem bem atendidas pelo Projeto, os produtos são de certaforma elitizados, pois demandam um consumidor que valorize estesatributos e aceite remunerar o artesão por um produtomais elaborado ecomconhecimentosocial,culturaleambientalinjetado.

No histórico do Projeto Tranças da Terra percebeu‐se que foifundamental para a sua constituição os seminários realizados nosmunicípios participantes do projeto, para apresentação e sensibilizaçãosobre a ideia, para a mobilização e para o cadastramento de pessoasinteressadas em desenvolver‐se nesse ofício. Observou‐se também que de2006 a 2014 o Projeto recebeu capacitação de diferentes conteúdos eformas.

Quanto à forma de gestão do Projeto Tranças da Terra, ela se dá pormeio de uma associação formalizada e que recebe apoio institucional dediversasentidades,sobretudodoSebrae(SC)edeseisprefeiturasdaregiãoMeio Oeste Catarinense. É possível, a partir da observação daspesquisadoras,queaatualformadegestãomereçaincrementos,sobretudona dinamização da estratégia de vendas, na motivação do quadro deassociados, no desenvolvimento de produtos que, resguardando asdimensões da sustentabilidade, tenham também mercado acessível a umpúblicomaior.

Sobre as potencialidades do Projeto Tranças da Terra em termos degeração e agregação de renda e como nova alternativa de atividade

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econômica regional, é necessário uma reflexão e tomada de posição dadiretoriadaAssociaçãoemconjuntocomoSebrae,entidadeparceira,sobreos rumos para o Projeto. Embora o Tranças da Terra tenha diversoscomponentesrelevantescomo:sustentabilidadesocialeambiental,elenãotemhojesustentabilidadeeconômicaenãorepresentafontedegeraçãoderendasignificativaparaseusmembroseparaacomunidaderegional.Essaé,possivelmente,umagrandeoportunidadedeestudofuturaparaverificaremquemedidaoprojetoTrançasdaTerraeasuarespectivaassociaçãopodemserviabilizadosdopontodevistaeconômico.Acredita‐sequeoTrançasdaTerra possa ser viabilizado e alcance novo patamar de sustentabilidadeeconômica. Contudo, é necessária uma ampla concentraçãode esforços deseus principais atores, especialmente dos artesãos e da diretoria daAssociação,paradiscutirosrumosdoProjetoepermitirasuaemancipaçãoeconsolidação.REFERÊNCIASACAMPORA, T.; FONTE, M. Productos típicos, estrategias de desarrollo rural econocimientolocal.Opera,n.7,p.191‐212,2008.

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CAPÍTULO11

FORMAÇÃOHISTÓRICA,TERRITORIALEECONÔMICADAMESORREGIÃOOESTE

CATARINENSE:LIMITESEPOSSIBILIDADESDECONSTITUIÇÃODEINDICAÇÕESGEOGRÁFICAS1

JairoMarchesan‐UnCRosanaMariaBadalotti‐UNOCHAPECÓ

INTRODUÇÃOEstetexto,primeiramente,sepropõeadescreveraformaçãohistórica,

territorialeeconômicadaMesorregiãodoOesteCatarinense,perpassandoaconstituição dos ciclos econômicos regionais até a situação atual.Posteriormente,analisaoslimitesepossibilidadesdatrajetóriahistóricadeconstituição de Indicações Geográficas nesse território, tendo como focoestratégias de organização da Indicação Geográfica da carne suína e seusderivadosnorecorteterritorialdoMeioOesteCatarinense.Nesseterritório,há aproximadamente seis milhões de suínos, sendo identificadonacionalmente pelo profundo vínculo com tal produção e pela atuação depequenas,médiasegrandesagroindústrias.

Por fim, propõe recuperar, também, o histórico e formação daAssociaçãodosProdutoresdeCarneeDerivadosdeSuínosdoMeioOesteCatarinense (APROSUI), analisando os limites e possibilidades dereconhecimento de instituição da Indicação Geográfica no referidoterritório.Alémdisso,propõeodebate coma sociedadenaperspectivadedivulgarepermitiroempoderamentodessaferramentacomopossibilidadedeagregarrenda,valorizaçãocultural,econômicaepreservaçãoambiental.

Metodologicamente,secaracterizaporumarevisãodeliteraturasobreo processo de formação histórica, territorial e econômica do OesteCatarinense,analisando arelaçãodasociedadehumanacomanatureza,oprocessodeocupaçãoetransformaçãoterritorialregionalemsuainterfacecomoscicloseconômicosregionaise,ainda,osnovoscenárioseconômicosregionais, entre eles as barragens (produção de energia, instalação detanques‐rede) e os crescentes reflorestamentos com espécies vegetaisexóticas. Por fim, analisa os novos cenários que emergem na economia

1 O texto resume resultados do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento, financiado pela FAPESC, Chamada Pública N.04/2012/Universal.

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regional, com destaque às possibilidades e limites das IndicaçõesGeográficasnoreferidoterritório.

1.AFORMAÇÃOHISTÓRICA,TERRITORIALEECONÔMICADOOESTECATARINENSE

Nestaseção,buscamosdescrevereentenderaformaçãodaMesorregião

Oeste Catarinense (Figura 1) sob os aspectos históricos, políticos eeconômicos. Para tanto, é interessante pedagogicamente antecipar aapresentação geográfica do Oeste Catarinense. Portanto, geograficamente,denomina‐sedeMesorregiãoOesteCatarinenseo territórioquese localizanoOestedoEstadodeSantaCatarinaequeselimita:aoSul,comoEstadodoRio Grande do Sul; ao Norte, com o Estado do Paraná; a Oeste, com aRepública Argentina e, ao Leste, com o Planalto Catarinense. O InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) denomina essa região deMesorregião Oeste Catarinense, que é composta pelas microrregiõesColonial e Oeste Catarinense. EssaMesorregião2 possui uma dimensão de27.365 km² (Figura 1) e conta com aproximadamente 1milhão e 200milhabitantes.

As terras do Estado de Santa Catarina e, mais especificamente, doPlanalto Catarinense começaram a ser visitadas, a partir do ano de 1600,quando os bandeirantes fizeram suas primeiras incursões pela região.DevidoaoTratadodeTordesilhas,essasterraspertenciamàEspanha.PelosTratadosdeMadri(1750)edeSanto Ildefonso(1777),as terraspassarampara a Coroa Portuguesa que, após a independência do Brasil, iniciou umprogramaparaacolonizaçãodo interior,atravésde incentivoà imigração.Dessa forma, as províncias sulinas, apoiadas pelo Governo Imperial,passaramafazerconcessõesdeterrasàscompanhiasestrangeiras(JORNALABERTURA,1984,p.10).

NahistóriadoOesteCatarinense,opovoamentoaconteceumuitoantesdoprocessodecolonização,poishistoriadoresepesquisadoresconfirmamapresençadegruposhumanosnômades(índiosecaboclos)que,emtemposremotos,habitavamesseterritório.

Quanto à população indígena, estudos apontam a dificuldade emdeterminaraquantidadede índiosquehabitavama regiãoOestedeSantaCatarina. Segundo Ferreira (1992, p. 24), “ [...] a região do Alto UruguaiCatarinensefoi,pormuitotempo,dominadaporíndiostupis‐guaranisque,apartir do século XVIII, foram desaparecendo da região”. Ainda, para omesmoautor,(1992,p.26),“[...]odesenvolvimentodacolonizaçãolevou‐osaretirarem‐sedaregião,buscandozonasnãocolonizadas”.

2 A Mesorregião Oeste Catarinense baseia-se nas delimitações político-administrativas estabelecidas pelo IBGE e, também, pela sua formação e identificação histórico-cultural e socioeconômica.

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Figura1:MapadeLocalizaçãodaMesorregiãodoOesteCatarinense.

Fonte:Marchesan,2007.

Sobre a população cabocla da região, conforme Poli (1995, p. 75),quando se pesquisa a origem e formação do contingente populacional doOeste Catarinense, percebe‐se a predominância marcante dos luso‐brasileiros,maisconhecidosporcaboclos.Paraoautor,oscaboclosforamosverdadeirospioneirosnapenetraçãoenodesbravamentodaregião.

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Para Poli (1995, p.99), “ [...] o caboclo do Oeste não é simplesmenteorigináriodecruzamento racialpuro,masdocruzamentode indivíduos jámiscigenados[...]Aconceituaçãodecabocloémuitomaissocialeeconômicadoqueracial”.Paraoautor,suasorigenssãoaindabastanteconfusas,masaspesquisasapontamqueessapopulaçãofoiseformando,principalmente,apartirdospousosdotropeirismo(caminhodastropasdoRioGrandedoSula São Paulo), dos que se deixavam perder pelo caminho ou dos quebuscavam a sobrevivência através da extração e exploração da erva‐matepelo interior. Vale observar que os caboclos, de maneira geral, tinham apossedaterra,masnãoapropriedadedela.

As populações caboclas sucederam às indígenas e precederam oscolonizadoresimigrantes,sendoqueoscaboclosviviam,principalmente,daagricultura de subsistência e da extração da erva‐mate. Por possuircaracterísticas de vida e hábitos bastante diferentes dos colonizadoresimigrantes, que chegaram à região objetivando implantar novas relaçõeseconômicas e outros padrões culturais, essa população não se coadunavacomos interesses capitalistasemcurso.Poressa razão,os caboclos foramsendo gradativamente espoliados, marginalizados, expropriados eexploradospeloprocessocapitalista.

[...] Esses, desprotegidos, ficaram sujeitos aos novos métodos adotados,restando duas opções: deixar suas posses ou tornarem‐se empregados dosimigrantesquecomeçavamachegar.Eraacobiçaeaespoliaçãoquevinhamjuntocomoprogresso.Pelaaçãodacompanhiacolonizadora,atravésdeseusencarregadospelasegurança,ocaboclofoidespejadodeseusredutosedesuasposses,atravésdemétodosgeralmenteviolentos,vendo‐seobrigadoaretirar‐separaosconfinsdasmatas.Aferroefogo,oAltoUruguaiCatarinenseficou“limpo”paraosimigrantes(FERREIRA,1992,p.79‐80).

Nesse processo de povoamento e colonização, evidencia‐se o embateentre forçashumanasobjetivandoaconquistadoespaço,queculminounainclusão dos imigrantes e na exclusão dos indígenas e caboclos.Concomitantemente, excluíram‐se e/ou marginalizaram‐se suas culturas,métodosdeproduçãoeformasorganizativas.

Oscaboclosforamsubstituídosporcolonosgaúchosdescendentesdeitalianose alemães. Estes, atraídos pela propaganda de Companhias Colonizadoras,transpuseramoRioUruguai,superando,dessaforma,afronteiradaexpansãoagrícoladeseuestadodeorigemeiniciandoaocupaçãodefinitivadosolodoOeste de Santa Catarina e do Sudoeste do Paraná. Era o ‘pioneirismo’ daeconomia de mercado, iniciada com a extração da madeira, cujo transportepelo Rio Uruguai e cuja comercialização na Argentina estabeleceram a baseeconômica do atual processo de agro‐industrialização que se alicerça nasuinoculturaenaavicultura,outralinhadefronteiraentreomercadonacionaleomercadointernacional(ROSSETTO,1989,p.18).

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Percebe‐se, também, que, desde o início do processo dedesbravamento,3 é forte o interesse de progresso a qualquer custo, semlevar em consideração os limites dos recursos naturais e o respeito aosprimeiroshabitantesdaregião,osindígenasecaboclos.D’Angelis(1992),naconclusão do artigo “Para uma história dos índios do Oeste Catarinense”,analisa o modelo colonizador agrícola na conjuntura do processo deocupaçãoecolonizaçãodaregiãonaquelaépoca,afirmandoque:

Diante dos interesses econômicos não havia perspectiva ecológica, nemdireitoshistóricos,nemrespeitohumanoquevalesseapenaserconsiderado:oOeste Catarinense foi devastado, tanto física como culturalmente (1992, p.210).

Dessa forma, em tal espaço geográfico considerado devoluto,4 “vaziodemograficamente”eabundanteemrecursosnaturais‐terrasférteis,águasematas‐,acolonizaçãofoiseconsolidandoemritmoaceleradocomoformade ocupação das terras. Consequentemente, iniciou‐se a formação denúcleos de povoamento, determinando‐se, gradativamente, o afastamentodosíndiosecaboclos(mestiços)paraoutrasáreasnãocolonizadas.

Sobre a importância dos recursos naturais para o desenvolvimentosocioeconômico,Testaeoutrosassimsemanifestam:

Osrecursosnaturaisdaregiãoconstituíram‐senumdospilaresdoprocessodecolonizaçãoempequenaspropriedadesecomproduçãofamiliardeexcedentesagrícolas.Aexistênciadematanativaexuberanteeaboafertilidadenaturaldosolo propiciaram aos imigrantes uma forte base de produção demeios paraviabilizaçãodomodelo(TESTAetal.,1996,p.44).

Incentivados pela política do Governo Imperial, as Províncias Sulinaspassaram a fazer concessões de terras às companhias estrangeiras. Em1906, a ferrovia São Paulo–Rio Grande começou a ser construída. Essaferrovia atravessava o Estado de Santa Catarina, no sentido Norte‐Sul e,consequentemente, acabou promovendo o povoamento da região,principalmente do Oeste. Os pioneiros dessa região ‐ construtores daferrovia e caboclos extratores de erva‐mate, ainda do período dosbandeirantes ‐ foram, por ocasiãodaGuerradoContestado (1912‐1916),5 3 Desbravamento - Des + bravo + mento: explorar (terras desconhecidas), limpar, acabar com o “bravo”: matas, índios, caboclos, etc (FERREIRA, 1998, p. 548). A fim de compreender o significado desse processo, vale comparar os padrões histórico-culturais dos índios e caboclos com os dos colonizadores, por exemplo, no que se refere ao uso dos recursos naturais. Na verdade, os que já habitavam a região (índios e caboclos) eram menos “bravos” e agressivos com os recursos naturais do que aqueles que vieram “colonizar” (colonizadores). 4 Devoluto – espaço desocupado, desabitado, terras que pertenciam ao Estado/União. 5 Guerra do Contestado – Disputa entre os Estados do Paraná e Santa Catarina por uma área de terras de aproximadamente 48.000 km². Paralelamente ao conflito local, intensificaram-se as

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denominadosdejagunços.OconflitodoContestado,ouGuerradoContestado, comoéconhecida,

estávinculadoàdisputaedivergênciasdelimitesterritoriaisentreoBrasileaArgentina,porumaáreade terrasdeaproximadamente48.000km²dosEstadosdoParanáeSantaCatarina,conhecidotambémcomoa“QuestãodePalmas”.Mocelin(1990,p.56)defineoconflitoafirmandoque“[...]aGuerrado Contestado foi uma insurreição camponesa, gerada pelas injustiçassociais reinantes na época”, sendoque os sertanejos, [...] exploradospelosestrangeiros, esquecidospelasautoridades [...], ao seumodo, rebelaram‐secontra essa ordem econômica, social e política que os sufocava”. Com aferrovia feita por uma empresa norte‐americana, veio a guerra peloterritório,pelasriquezas:amadeiraeoservais.Eraocomeçodoséculoeoscombatesenvolviamprincipalmenteoscaboclosqueviviamalieogovernocomsuasideiasdeocupação(FAGANELLO,1997).

A construção da ferrovia contribuiu para o impulso da colonização,atraindo colonos, comerciantes,madeireiros eoutros,provenientesdoRioGrande do Sul, e, consequentemente, a plena incorporação da região aomercadobrasileiro.

As terras férteis, “livres” de índios e caboclos posseiros, a construção daferrovia, a ação das companhias colonizadoras, o aumento da população e asaturação das colônias em partes do território gaúcho, a facilidade para aaquisição de lotes rurais na região, foram algumas das principais causasmotivadorasdacolonizaçãodoMeioOesteCatarinense,queviriaasedestacar,desde seu início, como região potencialmente fornecedora de alimentos(FERREIRA,1992,p.42).

Portanto,esseprocessode“nomadismo”nãosedavaespontaneamente,mas por umanecessidade econômica de sobrevivência e por interferênciadas companhias colonizadoras, que tinham interesses comerciais,justificando,assim,aexploraçãoeconômicasobalógicacapitalista.

DeacordocomCampos,

divergências entre o Brasil e a Argentina, disputando o território contestado. Associada às disputas pelas terras, ocorria a construção da Ferrovia São Paulo–Rio Grande, que traz para a região a modernização e, concomitantemente, a exploração e a exclusão social em função da expulsão dos posseiros das terras, que vinham sendo ocupadas pelas empresas construtoras da ferrovia. Somados a esses fatores políticos, sociais e econômicos, um novo fator entra em cena: o religioso. Os excluídos do conjunto desse processo, como sertanejos, posseiros, construtores da ferrovia, (...) agrupam-se em torno de alguns líderes e fanáticos religiosos, únicos a se interessarem pelo povo espoliado e abandonado. O Brasil defendia que a divisa seriam os rios Santo Antônio e Peperi-Guaçu. Essa questão foi solucionada em 1895, quando o presidente norte-americano Grover Cleveland arbitrou favorável ao Brasil. Paralelamente a isso, os Estados de Santa Catarina e Paraná passaram a disputar entre si esse território e/ou região. A Guerra do Contestado, como ficou conhecido esse episódio, provocou um genocídio de aproximadamente vinte mil pessoas. Sobre o Contestado, ver as obras de Monteiro (1974), Thomé (1992) e Auras (1995).

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(...)comagestaçãodeumafortedemandaporterrasporpartedospequenosprodutores do RS, logo surgiram empresas que viram na colonização umalucrativaatividade.Poroutrolado,haviaporpartedogovernodoEstadodeSCinteresse na consolidação de sua soberania sobre os Campos de Palmas. Aocupação daquele enorme vazio selaria por fim quaisquer divergências eproporcionariaaoestadonovasfontesderecursos(...).Destaformativemosaconjugação de dois processos históricos ‐ o primeiro relacionado com aevoluçãoeconômicadascolôniasrio‐grandenseseosegundoligadoàquestãodo Contestado ‐ com os interesses da acumulação de capitais. Reuniram‐senumagrandeempreitadaogovernoestadual,ograndecapitalmultinacionaleocapitalnacional(1987,p.98‐99).

Emsíntese,paraPoli(1991,p.48),aocupaçãodoOesteCatarinensesedeu em três fases diferenciadas, cada uma com atividades econômicasespecíficas: a fase da ocupação indígena, a fase cabocla e a fase dacolonização,comavindademigrantesdoRioGrandedoSul.

A fase de colonização nesse território ocorreu a partir do início doséculo XIX por descendentes de imigrantes alemães e italianos,principalmente,provenientesdoEstadodoRioGrandedoSul, que tinhamcomobasedesuareproduçãosocialasatividadesdepoliculturaassociadasao trabalho familiar (BELATO, 1985; 1999; CALLAI, 1983; CAMPOS, 1987;MARCHESAN,2003;ROCHE,1969;ROSSETTO,1989;1995).

Para Rossetto (1995, p. 11), “[...] a fase de colonização, propriamentedita, ocorre somente após o término da Guerra do Contestado, em 1916”.Conforme o autor, esse episódio se constituiu num marco histórico deextrema importância dentro do contexto do processo de colonização etransformação da estrutura socioeconômica de toda essa imensa região, aqual descreveremos na sequência, considerando os diferentes cicloseconômicos constituídos e que representam as diversas facetas eparticularidadesdaMesorregião.

NodecorrerdoséculoXXepeloprocessodedesenvolvimentomovidopela vinda dos “gaúchos”, provocou‐se a extinção, quase que total, dosindígenas e a expulsão dos caboclos de suas terras e de seus processosprodutivos rurais, promovendo uma profunda transformação na estruturasocioeconômicadaregião.

DesdeomomentoemquesesolucionouaquestãodoContestado,asgrandesepromissoras potencialidades de colonização do Oeste CatarinenseproporcionaramaalgunsempresáriosaobtençãodoGovernoCatarinensedeenormes concessões de terras, para promover este processo de colonização(...).Ossertanejosque,atravésdeumprocessode intrusamento,precederamos colonizadores imigrantes, também desapareceram destruídos, diluídos ouabsorvidospelonovosistemaquese instalava,caracterizadoempioneirismocolonizador, de imigrantes gaúchos que levavampara oOeste o processodacompetiçãopelaânsiadolucro.Apreocupaçãopassouaseraexploraçãodos

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recursos florestais e o cultivo do solo, agressivamente (ROSSETTO, 1995, p.12).

Amolamestre,portanto,daconquistaepovoamentodoOestenão foijamais a curiosidade, o desejo de aventura, o pioneirismo e o espíritodesbravador.Amolapropulsorasãoosinteresseseconômicosmaisamplos,quenemsãomuitasvezesosdopróprioposseirooudocolonopioneiro.Nosdois últimos séculos, a economia capitalista internacional dirigiu essaocupação de forma distante, às vezes, anárquica, apenas pela dinâmicaprópriade relações econômicasbaseadasnaexploraçãodamão‐de‐obra ena economia de mercado, com sua necessidade de permanente expansão(D’ANGELIS,1995).

As características básicas, fundantes da estrutura socioeconômica daregiãoOestedeSantaCatarina,historicamente,estãopautadasnoprocessode colonização, que se estabeleceu a partir do regime da pequenapropriedadeagrícolafamiliar,voltadaparaapráticadapolicultura.

No Oeste Catarinense, os colonos não produziam apenas para asubsistência, mas, principalmente, para o mercado. Esse diferencial estáintimamenteassociadoàscaracterísticasétnicas,econômicaseculturaisdaorigem desses colonos: honra aos compromissos assumidos; atividadeeconômica definitivamente vinculada ao mercado (agricultura esuinocultura); necessidadede aquisiçãodebens eutensílios fundamentaispara o desenvolvimento da propriedade e do bem‐estar; valorização daconcepçãodaideologiaéticadotrabalho,incorporadapeloscolonos;issoé,mediante o trabalho seria possível conseguir uma vida de fartura,abundânciaeprogressoeconômico.

Ao referir‐se ao processo de colonização e integração da produçãoregionalaomercadonacional,viaredeferroviária,Waibelassimanalisa‐o:

AexpansãodopovoamentoparaoNorte,atravésdoRioUruguaiedafronteirado Estado do Rio Grande do Sul, penetrando no Estado de Santa Catarina,começouem1915,quandoaestradadeferro,vindadoParanáedeSãoPaulo,alcançou o Vale do Rio do Peixe, afluente do Rio Uruguai. O novo meio detransporte possibilitou a exportação de porcos vivos e outros produtoscomerciais (alfafa) para a cidade de São Paulo e, assim, o hinterland[interiorização] de Santa Catarina foi drenado comercialmente para o Norte,paraSãoPaulo,porgentequeveiodoSul.Anovazonapioneiraseexpandiuparajusante,comoavançodaestradadeferro(1979,p.238).

Sobreomesmoassunto,maisadiante,Waibelsemanifesta:

(...) A estrada de ferro atraiu magneticamente grande número de colonosdescendentes de alemães e italianos do Estado do Rio Grande do Sul,facultando‐lhes ainda a possibilidade de exportar seus produtos,principalmente, porcos e alfafa, para São Paulo, que ficava 1000 km dedistância. Este é um caso raro de uma “captura econômica” numa zona

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pioneira: o Oeste remoto de Santa Catarina não foi desbravado a partir dolitoral, mas por povoadores que vieram do Sul e que exportam os seusprodutosparaummercadolocalizadoagrandedistância,maisaoNorte(1979,p.295).

A colonização do Oeste Catarinense pode ser interpretada pelosinteressesdoEstadoeasprópriasnecessidadesdoscamponesespelabuscade terras. Porém, há que se destacar a interferência das CompanhiasColonizadoras,constituindo‐senaexpansãocapitalista,possuindoobjetivospolíticos, econômicos e até estratégicos, em buscar a valorização dessasterras por elas adquiridas e que estavam “desocupadas” e, portanto,passíveisdeseremcolonizadas.Issopodetambémserexplicadopelalógicacorrente:“colonizarparaconquistar,explorarevalorizar”.

Osempreendimentoscolonizadoresforamplanejadosnosentidodedarênfase às pequenas propriedades, não porque estavam preocupados em"facilitar a vida dos agricultores", que possuíam escassos recursos paraadquirir as terras, mas porque correspondia à política de colonização dopaís que, a partir da Lei de Terras, viu na pequena propriedade fonte desucessoeprogresso(RENK,1997).

Segundo Renk (2006, p. 61), nas décadas de 40 a 60 o movimentocolonizador cresceu significativamente. O Oeste Catarinense era apontadocomoo“CeleirodoBrasil”.Antesdacolonização,eraumtempoemque“[...]aleieraotrabuco”e,depois,emqueeraa“[...]civilizaçãoeoprogresso,aleieajustiça”.A"[...]civilizaçãoeoprogresso,aleieajustiça"estãoassociadasaumarepresentaçãopolíticaoficialelegal.

Dessa forma, foi‐se consolidando o regime de trabalho familiar dapequenapropriedaderural,assentadanapolicultura.

Nessas pequenas propriedades predominava a policultura e uma pequenacriação de animais que, em geral, abrangia aves, porcos, alguns bovinos ecavalosparapuxar aradoe carroça.Tudogirava em tornoda ideiade que ocolonodeviaserautossuficiente,vendendoosexcedenteseproduzindoalgunsgêneros em quantidade maior a fim de destiná‐los ao mercado interno(PETRONE,1982,p.60‐61).

Conforme destacado anteriormente na descrição histórica sobre acolonização e os aspectos que caracterizam a formação e constituiçãosocioeconômica daMesorregião Oeste Catarinense, as atividades agrícolasde subsistência através da policultura constituíram a base econômica esocial da agricultura familiar, que possibilitaram a expansão da economiaindustrial e da instalação de uma lógica assentada na produção para omercadonacionalemundial.

É preciso entender também como é que os sujeitos sociais (colonos)foram inseridos nesses espaços, construíram a capacidade de enfrentar

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desafiosfísicos,sociaisouculturais,dominaramevenceramtopografiasdeformaainserirem‐senomercadonummundoglobalizado.

Monopolista sobre o espaço geográfico, o capital controla os homens e anatureza,paraostornarhomensenaturezaparaocapital.Mediandoarelaçãohomem‐meio e crescendo sobre ela, o capital tece a “geografia dos homensconcretos”.E estageografiadaalienaçãodegradaohomemeanatureza (...).Fomentaaescassezparaforjarnecessidadesnovaserenovarasnecessidadesvelhas,subordinandoaexistênciadoshomenseosmovimentosdanaturezaaocircuitodasmercadorias(MOREIRA,1985,p.106).

Como consequência, mais tarde, pela ação dos conglomeradosagroindustriais,ocapital, zeloso,estratégico,meticulosamentearticuladoeorganizado,encontraestratégiasparainvestiremumaregiãorelativamenteafastadadoscentrosnacionaisdemaiorpoderdeabastecimento,produçãoe consumo e tirar daí integrações que produzam suínos, aves e, maisrecentemente,leiteefumo,entreoutrosprodutos,paracompetirnãosónomercadonacional,mastambémmundial.Nessesentido,Belato(1999,p.43)assinala que “o eixo sobre o qual gira a sociedade rural criada pelosimigrantesnãoémaisomesmo.Eleseengatanasengrenagensdocapitaledomercadomundial”.

Entretanto,omesmocapitalpercebeereconhece,nosimigranteseseusdescendentes, forte potencial para o trabalho agrícola e, posteriormente,para a indústria, umavezqueosmesmos estavam imbuídosdeaudaciosoespírito empreendedor, além de perseverante e arraigado senso depoupança. Com certeza, essas características foram observadas eapropriadaspelosinvestidorescapazesdecriarpossibilidadesegarantiraimplantaçãoeareproduçãodavisãocapitalistanomeiorural.

A partir dessa lógica, para reproduzir e agregar valor, o capitalnecessitava de grupos sociais que possuíssem conhecimento construído eacumulado historicamente expresso em atitudes, habilidades, experiênciasherdadasepraticadasemseuuniversocultural,concretizadasnacriaçãodeanimaisou cultivodevegetais, oque émuitobemexpressoemestudodeTesta e outros (1996, p. 77): “O patrimônio cultural construído etransmitidodegeraçãoemgeraçãoconstituium‘capitalsocial’,queestánabasedodesenvolvimentoalcançadopelaregião”.

No decorrer do desenvolvimento capitalista em curso, a agriculturapassou a sofrer rápidas transformações políticas e econômicas queresultaramna suamodernização.Esseprocesso foi capazde reverterumatradição histórica de produção, que dá lugar a uma nova lógica: aprodutividade. Esse novo imperativo da forma de produzir só pode serviabilizadosustentando‐senotripérecursosnaturaisdisponíveis,trabalhoetecnologia. O capital e suas novas relações com os setores agrícolasutilizaram‐se dos recursos naturais existentes e da moral do trabalho

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incorporadaàéticadoscolonos,que,associadosàtecnologia,resultaramnaaltaprodutividade,tãonecessáriaàlógicacapitalista.

Se a colonização priorizou e facilitou a entrada dos migrantesdescendentes de europeus, cuja racionalidade permite toda forma deintervençãosobreosespaços"vazios"danatureza,bemcomoosvaloresdeusoqueprimavamporinteressesmercantissobreomeioambiente,issonãoquer dizer que os agricultores não possuíam também estratégias depreservaçãodanatureza.SegundoSilvestro,

Antesdeseefetuarodesmatamentooucorteparaas lavouras,os imigrantesestudavamcomatençãoaáreadeumapropriedade.Erapreciso,emumaáreapequena,prestaratençãoenãofazerumdesmatamentoarbitrário,poishavianecessidade de conservar parte da floresta, para lenha e madeira para aconstruçãoeposteriormanutençãodasbenfeitorias.Asencostasexpostasaonascente geralmente eram derrubadas para as lavouras enquanto que as deexposição para o poente ficavam como reserva. As primeiras, dizem eles, seprestavammaisparaocultivodetodasasculturas.Comafaltadeadubo,ouderecursos para a sua aquisição, e a consequente impossibilidade de adubar,restavaao imigranteapráticadedeixaráreasempousioe a cadaquatrooucincoanosfazerocortedacapoeiraparaoplantiodalavoura(1995,p.72‐73).

Portanto,odesmatamento,nesseprimeiromomento,deacordocomoautor,foidecorrênciadanecessidadedeplantarecultivarparasobreviver.Mesmonessecontextoexistiuapreocupaçãodepreservaralgumasespécies,aschamadasmadeirasdelei,porsuautilidadeouatémesmoporsuabeleza(idem,p.73).

DeacordocomPoli(1991,p.68),atransformaçãodaterraembemdeprodução acarretou a institucionalização da propriedade privada, emdetrimentodasimplesocupaçãoouposse.Apartirdaexploraçãodaerva‐mateedoiníciodociclodamadeira,aterrapassouasercobiçadaetomadaou ganha pelas companhias colonizadoras, que, quase sempre, foram asmesmasqueexploraramamadeira.Aretiradadariquezanaturalpermitiaapenetraçãodoagricultor,oriundodoRioGrandedoSul,peloscaminhosdaextraçãodamadeira.

A compra de terras pelos imigrantes no Oeste Catarinense obedecia,principalmente, à observação de um critério fundamental: a coberturavegetal.

Osimigrantesencontraram,portanto,profusaofertaderecursosarbóreosquelhesasseguraramfacilidadesdeprocessamentoeopçõesdeuso.Encontraramespécies adequadas para combustão, outras adequadas para a rotina dasoperações agrícolas, para a construção de cercas, paióis, depósitos, currais,habitações(LAGO,1988,p.113).

Cabe destacar que a região disponibilizava, na visão do imigrante, deforma abundante, a nobre espécie vegetal aciculifoliada ‐ araucária

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augustifolia‐,opinheiro,comoéconhecido,quemuitoinfluenciounovalordas terras oestinas, bem como contribuiu fortemente para a opção dacolonização da região. O pinheiro não apenas servia para o uso dasconstruçõesnapropriedadedoscolonizadores,masagregavatambémvaloreconômicoàsterrasquandovendidas.

PelaabundânciademadeiranaregiãodoAltoUruguainesseterritórioeem virtude da necessidade que os colonos tinham de estabelecer umcomércio como forma de angariar recursos econômicos, se estabeleceucomércio comosmercadosplatinos, conformeexpressoporPoli (1995, p.97):“Aindústriamadeireiradesenvolveu‐semuitoàmedidaqueoscolonosforamseinstalando,poisasterraseramdesbravadaseamadeiravendida.Obaixopreçoeracompensadopelaabundânciadoprodutocomercializado”.

Odeslocamentodamadeira,na formade torasoubeneficiada,ocorriaviabalsas6duranteosperíodosdecheiasdoRioUruguai.Apesardapoucaouinexistentepossibilidadedenavegabilidade,nessetrecho,oRioUruguaiproporcionouaoscolonizadoresdoOesteCatarinense,atéadécadade1960,umaimportanteatividadeeconômica:serviudecaminhoparaoescoamentodamadeiraparaaArgentinaeUruguai.Essecomérciodamadeiraparaospaíses platinos proporcionou aos colonos, por muitas décadas, umapossibilidade de angariar recursos econômicos, provenientes dessemercantilismofluvial.

DeacordocomRossetto(1995,p.13),esseprocessoerao“resultadodeum desbravamento, ao mesmo tempo intensivo e extensivo, de toda aregião”. O comércio da madeira, por vezes clandestino, com os mercadosargentinos contava com a omissão de fiscalização do governo central, quesilenciosamentepermitiaessaprática(FAGANELLO,1997).

Afartaexistênciadematanativaeraumbemnatural imprescindívelepropiciavaaoscolonosumarelativaautossuficiênciaeconômica.Dasmatasde suas propriedades, eram extraídas as madeiras que por eles eramserradase,comelas,edificadassuasconstruções(casas,pocilgas,estábulos,paióis,cercados,pontes,móveis,etc.).Alémdisso,tambémconfeccionavamrecipientes para o armazenamento de bebidas, grãos e alimentos,equipamentos,ferramentasdetrabalhoeoutrosutensílios.

Os colonizadores se valeram também de uma economia florestal,calcadanaexploraçãodomatoequeresultavaemmaisumrecurso:alenha.Esta era utilizada não somente no fogão para cocção dos alimentos, mascomo combustível, para uma série de outras atividades, cotidianamentenecessáriasnapropriedadeequeenvolvesseofogo.

6 Balsas: aglomerado de troncos, toras ou tábuas de madeira, reunidos à feição de jangada, que desce o rio e, chegado ao destino, é desmanchado, sendo a madeira vendida (FERREIRA, 1998, p. 225).

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A concepção que os colonizadores tinham, no início do século, emrelaçãoà extraçãoe à exploraçãodas florestasnoOesteCatarinense,maisprecisamente da floresta de araucária, é assim expressa pelo historiadorNilsonThomé:

Aextraçãopredatóriade árvoresnas florestasparaaobtençãodemadeira ‐diga‐sedepassagem‐nãofoiatividadeexclusivadohomemdoContestadodoséculo XX. Em relação ao mesmo pinheiro, que o digam os rio‐grandenses,paranaensesepaulistas;sobreoquesefezcomaMataAtlântica,quefalemosirmãos catarinenses da serra abaixo. E se recuarmos mais longe no tempo,então que se expliquem os portugueses de 1500 que saquearam a árvoresímbolo do nosso país: o pau‐brasil. Por aí se tem que o extrativismodesenfreadoocorridonoPlanalto[eOeste]estavaembutidonamentalidadedacivilizaçãodaépoca,consumidoradebens,quesolicitavaadisponibilidadedemadeiraserradanomercado,poucoseimportandocomaprocedênciaemuitomenoscomaconsequência(THOMÉ,1994,p.222).

Apósmaisdemeioséculodeintensaexploraçãodavegetaçãodaregião,convémdestacarque, em funçãodomodelo econômico estabelecido edaspolíticas agrícolas em curso que estão inviabilizando a sustentaçãoeconômica dos pequenos agricultores e, portanto, expulsando‐os do meiorural,percebe‐sequeháumatendênciaàcrescenteregeneraçãoquantoaorepovoamentodavegetaçãonativa,de formanaturaleoriginal.Emoutraspalavras,emfunçãodainviabilidadedesustentar‐seeconomicamentenumaatividade que não consegue ser competitiva, a lógica domercado agrícolalevaopequenoagricultoraabandonaromeiorural.

Paralelamenteàexploraçãovegetalnoreferidoterritório,desenvolveu‐se a agricultura. Tal atividade, que antes era predominantemente voltadapara a policultura e a subsistência, paulatinamente começa a serincorporadaparaatenderàsexigênciasdomercado.Este,porsuavez,lança‐secomtodaasuavoracidadesobreosagricultores,exigindoqueproduzamem escala cada vez maior e de forma mais sistemática. Para tanto, osagricultores foram sendo obrigados a implementar técnicas de exploraçãointensiva dos recursos naturais, principalmente do solo, reduzindo a“rotaçãodeterras”eelevandosuacapacidadeprodutivapermanentemente.Àmedidaqueosbensnaturaisdiminuem,porém,énecessárioaprofundaraexploraçãodessesremanescentes.

Concomitante a esse período e a essas circunstâncias, começaram aocorrersinaisdeesgotamentodaocupaçãodasfronteirasagrícolasoestinas,repercutindodiretamentenaelevaçãodopreçodasterras.Issofezcomqueos pequenos agricultores aumentassem a capacidade produtiva das suasunidades de produção, explorando de forma intensiva a terra e, assim,garantindoareproduçãodasunidadesfamiliares(CAMPOS,1987,p.184).

O processo todo de modernização da agricultura a partir de 1970dificultou diretamente a lógica da reprodução das unidades camponesas:

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doaçãodeumpedaçodeterra(geralmentedemeiacolôniaaumacolônia)paracadafilhohomemadultoqueiriaconstituirumanovaunidadefamiliar,à exceção do filho mais jovem, que geralmente herdava a propriedadepaterna.Essalógicanãosesustentavamais.

O modelo agrícola de produção, pautado na teoria da agriculturamoderna, levou os colonos a explorarem intensivamente o solo, comonecessidadedesobrevivênciaeparafazerempartedomercado.Sobreessaformadeutilizaçãodosrecursosnaturais,Marxassimsemanifesta:

Cada progresso da agricultura capitalista constitui um progresso não só napartederapinarooperário[agricultor],mastambémnaartederapinarosolo;(...) constitui ao mesmo tempo um progresso da ruína das fontes duráveisdestafertilidade(apudQUAINI,1979,p.133).

OJornalGazetaMercantilrefere‐seàexploraçãoinadequadadasterras,aoanalisarosespaçosdisponíveisparaaagriculturaemlavourasanuais:

Parte da responsabilidade é da exploração de terras inaptas para certasatividadeseconômicas.ÉocasodoOesteCatarinense,onde43%dasuperfíciecultivada é inadequada para lavouras anuais. Outros 26% estão longe dascondiçõesideais(GAZETAMERCANTIL,A‐8:27‐28/02e1º/03/99).

Odesenvolvimentointensodesistemasdecultivo,associadoaousodeáreasdeterrasinadequadasàpráticaagrícola,gerousériasconsequênciasàqualidade dos solos, verificadas através de intensos processos erosivos,diminuiçãodosníveisdenutrientese,porvezes,esgotamento.

Considera‐se a erosão como o principal problema ambiental da região, poisocorre em praticamente todo o território, afetando todos os agricultores deacordo com as práticas de manejo, e pelas consequências ambientais eeconômicasdeladecorrentes(TESTAetal.,1996,p.137).

A topografiaacidentadadaregião,bemcomoomodeloagrícolaacimareferido, pautado numa dinâmica muito acelerada em relação ao uso e àexploraçãosistemáticadosoloforamfatoresdeterminantesdadeterioraçãoedaelevaçãodoscustosdeprodução.

A expansão dos complexos agroindustriais do Oeste Catarinense, apartir de meados dos anos 1960, está associada ao processo demodernizaçãodaagriculturae,consequentemente,dapequenapropriedadefamiliar,que,porsinal,semprefoideelevadaprodução.Foramesãoelasasresponsáveis diretas pelo fornecimento de matérias‐primas àsagroindústrias. Estas, gradativamente, foram se consolidando e exercendocontrolehegemônicodossetoresdeproduçãoedistribuição,tantoregionalquantonacional,efetivandotalmodelodedesenvolvimentoeconômico.

Umdosproblemasambientaismaisgravesdecorrentesdoaumentonaprodução agropecuária (suínos, aves e bovinos) nas últimas décadas foi a

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crescentequantidadededejetos.Frenteaisso,enatentativadedardestinoaos dejetos, a alternativa foi de usá‐los como adubo orgânico para arecuperaçãodos solos agrícolas. Evidentemente, devido à sua composição,osdejetos se constituemembons fertilizantesparaas lavouras.Poroutrolado,causamviolentapoluiçãodossolosagrícolase,porextensão,fontesemananciais, comprometendo seriamente a qualidade das águas, o querepercutenasaúdepúblicadapopulaçãoenavidadasdiferentesespéciesanimais.

Destequadroresultaaindaprejuízosà faunaaquáticaeaoabastecimentodeágua aos animais domésticos, às propriedades rurais e a grande parte dascidades da região. Em relação ao abastecimento das cidades, os custosdecorrentesdaremoçãodossedimentos,reduçãodaturbidezetratamentodaágua são elevados. Com o controle da poluição, grande parte desses custospoderiamserreduzidos,bemcomoseriamevitadoscertospoluentesquímicos(agrotóxicos), que não são retirados pelo tratamento convencional da água(TESTAetal.,1996,p.138).

Cabedestacarmatéria publicadano JornalGazetaMercantil sobreumestudoqueavaliao impactododescartededejetosdasuinoculturaesuasconsequências, e isto vale para omunicípio de Concórdia, profundamenteinseridonessecontexto:

Em 1993, as pocilgas do Oeste de Santa Catarina produziam 8,8milhões demetroscúbicosdeestercoporano–compotencialpoluidordeumacidadede30 milhões de pessoas. A consequência é a contaminação de muitos rios.Pesquisa realizada em Concórdia (SC) no início dos anos 90 mostrou que36,8% das amostras de água coletadas tinham concentração de nitratossuperiores ao limite máximo legal (GAZETA MERCANTIL, A‐8: 27‐28/02 e1º/03/99).

De acordo com a mesma matéria, ressalta‐se que, “[...] se fossemindustrializados, taisnitratospoderiamenriquecera região.Cada toneladadeestercosuínocorrespondea10quilosdeaduboNPK”(nitrogênio,fosfatoe potássio) [Nutrientes Químicos] (GAZETAMERCANTIL, A‐8: 27‐28/02 e1º/03/99).

Apartirdadécadade1970,principalmente,aquestãoecológicapassoua conquistar maior espaço em nível mundial, através da Conferência deEstocolmo (1972) e, por extensão, nacional. O debate em torno dessaquestão acabou permeando e influenciando osmais distintos espaços dassociedades regionais, que, timidamente, foram ampliando as discussões,com os diferentes setores educacionais, públicos e privados acerca dasquestõesambientaisdecorrentesdaadoçãodeummodeloeconômico.

Nessecontexto,apartirdemeadosdadécadade80,começamaser,decerta forma e em certos setores da sociedade, inclusive no nível regional,intensificadas e aprofundadas as discussões em relação ao uso, manejo e

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conservação dos recursos naturais e, mais especificamente, dos solos. Foiflagrante a constante preocupação ambiental, expressa por diferentessetoresdasociedade,noquedizrespeitoàscausasdaerosãoepoluiçãodossolos e ao seu uso intensivo. Apontavam‐se essas práticas comodesencadeadorasdeintensosprejuízosnaprodutividadeagrícola.

Diante das consequências decorrentes dos ciclos econômicos jádescritos,nosdesafiamosaapontaralgumaspossibilidadese reflexõesemtorno de novos cenários econômicos regionais, entre eles as barragens(produção de energia, instalação de tanques‐rede) e os crescentesreflorestamentos com espécies vegetais exóticas. Por fim, analisamos osnovoscenáriosqueemergemnaeconomia regional, comdestaqueparaaspossibilidadeselimitesdasIndicaçõesGeográficasnoreferidoterritório.2.NOVOSCENÁRIOSPARAAECONOMIAREGIONAL

É importante observar, mediante a história da humanidade, que, por

umanecessidadevitaldesobrevivência,asdiversaspopulações,sejamelasde caçadores, agricultores, nômades, sejam de sedentários que sedeslocavam para diferentes regiões, de forma temporária ou definitiva,estabeleceram‐se, de maneira geral, junto ou próximo aos cursos d’água.Essa lógica também ocorreu na ocupação do Oeste Catarinense pelosprimeirosgruposhumanos(índiosecaboclos).

Posteriormente, pelo processo de colonização da região pelosimigranteseseusdescendentes,amesmalógicaserepete:habitarjuntooupróximoaos cursosd’água.As águas se constituíram, evidentemente, numrecurso fundamental para a sobrevivência, mas, também, essencialmente,numa garantia necessária para os diferentes tipos de abastecimento, alémde servirem para as instalações do conjunto da propriedade, bem comonuma potencial fonte de energia onde quer que fossem estabelecer suaspropriedades.

Aságuas,principalmentedospequenosrios,serviram,porvezes,paraaprodução de energia, obtida através da instalação de grandes rodas demadeira (rodas d’água) movimentadas pela força ou queda das águas,gerandoenergiaelétricaparaoconjuntodapropriedade.Valedizer,ainda,que,mesmonãoencontradoscommuitafrequência,osmoinhoseengenhos(aparelhos destinados à atividade de beneficiamento) para moer cereaiscomo o milho, o arroz e outros também eram movidos utilizando‐se aenergiadaságuasdosrios.

Pelaabundânciadeáguasna região, eracomumapresençadepeixes,constituindo‐se em uma importante fonte de alimentação, pois eramencontrados em todos os rios e arroios. Ao estudar as águas da região,

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torna‐seimprescindíveldestacaraimportânciadoRioUruguainocontextodesseprocessodecolonização.

As características físico‐geográficas que apresenta o Vale do RioUruguai (encachoeirado, canyons, saltos, corredeiras, etc.), além daquantidade de água oferecida no conjunto da bacia que forma o rio,acabaram despertando motivações no governo e na iniciativa privada apartirdosanos80,osquaispassaramaseinteressarpelaexploraçãodoseupotencial hidrelétrico. Não tardou o início de estudos, projetos einvestimentosqueresultaramnaaprovaçãoeconstruçãodebarragensnasdécadas de 1990 a 2010 entre as quais, destacam‐se: Pai Querê, BarraGrande,Machadinho,Itá,FozdoChapecóeItapiranga.

Consideramosimportanteageraçãodeenergia,poispraticamentetodooconjuntodossetoresprodutivosdaeconomiadasociedademodernaestáestruturado sobre essa modalidade energética. No entanto, torna‐sepremente analisar os interesses que estão em jogo para a execução demegaprojetoscomoesses.Questionamossetaisiniciativasestãolevandoemconta os aspectos histórico‐culturais, econômicos e antropológicos daspopulaçõesquevivemouviviamnessesterritóriosequesãoatingidaspelaconstruçãodessasbarragens.

Haveria necessidade de construir obras dessas proporções quandoexemplos e estudos apontam e demonstram que seria possível construirPequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) em rios menores com custosinferiores e com reduzidos impactos, sejam eles sociais, econômicos ouambientais? Será que não existiria a possibilidade de aproveitamento deoutros recursos naturais para a geração de energia como, por exemplo, aeólica e a solar, já que dispomos de tecnologias avançadas, sem causartantosimpactos?

O Rio Uruguai, formado a partir da junção dos rios Canoas e Pelotas,serve de divisor dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.Possui aproximadamente 2,3 mil km de extensão e uma média de 400metrosdelargura.Juntocomoutrosimportantesafluentes,queformamsuabacia ao longo de sua extensão territorial, tornou‐se historicamente degranderelevânciaeconômica.Ofomentodoturismo,provenientedoslagos,porexemplo,poderáseconstituirnumanovaatividadeeconômicaregional,capaz de estimular o desenvolvimento socioeconômico, gerando,principalmente,empregoerenda.

Uma das atividades econômicas em curso desenvolvidas no lago daUsinaHidrelétricadeItá(UHI)éoProjeto“Tanques‐redes”7.Talatividadeé

7 Tanques-rede (ou gaiolas): é um sistema de produção de peixes em alta densidade de estocagem, ou seja, de forma intensiva, cujo resultado final é a alta produtividade. Em geral,

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incentivada e coordenada pelo Governo Federal através do Ministério daPescaeAquiculturaeexecutadopelaPrefeituraMunicipaldeConcórdia.Osagricultores ribeirinhos interessados no desenvolvimento da atividade depiscicultura se organizam em cooperativas denominadas “Colônia dePescadores”.Éoqueocorreucomaexperiênciadesenvolvidadesdeoanode 2011 e localizada na Comunidade Rural de Pinheiro Preto, interior domunicípio.

Atualmente,há166tanquesredesparacriaçãodepeixes.Paraoanode2015,háperspectivasdainstalaçãodemais200tanques.Aopçãodaespéciedepeixeépelatilápia,poistalespécieadaptou‐sebemaoclima,temsaboragradável,aceitabilidadedemercado,alémdobomdesempenhoemtermosde produtividade. Segundo informações dos sócios da Colônia dePescadores, são comercializadas, mensalmente, cerca de 20 toneladas depeixe. Tal atividade está gerando emprego, renda e contribuindo para odesenvolvimentoeconômicoesocialregional.

Alémdessa,outrasatividadesemexpansãonoOesteCatarinensesãoasplantações de monoculturas (pinus e eucaliptos), principalmente. Noentanto,questiona‐se:quaisosimpactosambientaisacurto,médioelongoprazo,decorrentesdetaispráticasmonocultoras?

Dentro da Mesorregião Oeste Catarinense está o território do MeioOeste,conformeaFigura2,compostopor25municípios.Suaáreaterritorialédeaproximadamente5.780,782km².

3.INDICAÇÕESGEOGRÁFICASCOMOPOTENCIAISDEDENVOLVIMENTOEIDENTIDADEREGIONALNOOESTEDESANTACATARINA:OCASODACARNESUÍNANOMEIOOESTEDESANTACATARINA

NoterritóriodoMeioOeste,apoliculturadaproduçãodemilho,feijão,

trigo,fumoemandioca,associadaàcriaçãodeanimaisdomésticos,entreosquais, suínos, bovinos e aves, constituíram a base da economia.Historicamente,aoperacionalidadedetaisatividadeseconômicasassentou‐senotrabalhofamiliar,conformedestacadoanteriormente.

Dentre as atividades econômicas mais importantes, historicamentedesenvolvidasnesseterritório,sedestacaasuinocultura.ExemplodissofoieéomunicípiodeConcórdia:

Estima‐seque,emtodoomunicípio,nadécadade1930,haviaumrebanhodecem mil cabeças. A atividade era incentivada pela companhia colonizadoraMosele,quedistribuíaaosimigrantesquetraziadoRioGrandedoSulovosdeavesereprodutoresdesuínos(ACCS,2010,p.23).

são estruturas retangulares que flutuam na água e confinam peixes em seu interior. Esse equipamento é constituído, basicamente, por flutuadores (galões, bombonas, bambu, isopor, canos de PVC, etc.) que sustentam submersas redes de nylon, plásticos perfurados, arames galvanizados revestidos com PVC, ou ainda, telas rígidas.

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Figura2:MapadeLocalizaçãodaáreadeatuaçãodaAPROSUI(AssociaçãodosProdutoresdeCarneeDerivadosdeSuínosdoMeioOesteCatarinense).

Fonte:Marchesan&Badalotti,2014.

Inicialmente,desdeoprocessodecolonizaçãoatéadécadade1940,aproduçãoatendiabasicamenteasubsistênciafamiliar.Posteriormente,comainstalaçãodosprimeirosfrigoríficoseacrescenteurbanizaçãobrasileira,oexcedente foi gradativamente voltando‐se ao mercado consumidor.

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Portanto, criarsuínosestavapresentenaculturapopulardos imigranteseseus descendentes. Da carne suína, resultavam os derivados, dentre osquais, linguiça, "queijo de porco”, torresmo, etc. Tais produtos faziam efazem parte da dieta das famílias camponesas. Entretanto, conformeressaltado anteriormente, tais práticas tradicionais se transformaram, emfunção do processo demodernização da agricultura, em especial devido àverticalização da produção de suínos e aves, em forma de “integraçãoagroindustrial” instalada na região a partir da década de 1940. A partirdessadécada, constituíram‐segrandescomplexosagroindustriaisnoOesteCatarinense, entre eles, a Seara, a Sadia e a Perdigão (BRF Brasil Foods),além da Cooperativa Aurora. A viabilidade desses complexos se deumediantea implantaçãodesistemasde integraçãoagroindustrial.SegundoMior (2005), a região agrega o maior complexo agroindustrial de carnesuína e de aves do Brasil e América Latina, sendo pioneira noestabelecimentodeumsistemade integraçãoagroindustrialentregrandesagroindústriaseaagriculturafamiliar.

Tal sistema é a forma e/ou modalidade como se estabeleceram e seestabelecemasrelaçõescomerciaisentreasagroindústriaseosagricultores.As agroindústrias fornecem os insumos e a assistência técnica aosagricultores e estes, em contrapartida, disponibilizam as instalações erecursosnaturais,principalmenteáguaemãodeobra.Quandoosanimaisestãoprontosparaoabate,asagroindústriasosadquiremeremuneramosprodutoresdeacordocominteressesindustriaisevaloresdomercado.

Dessaforma,atravésdeumprocessoverticalizado,apopulaçãoruraldoterritóriodoOesteCatarinensefoiorientadae/ouencaminhadaaintegrar‐se aos complexos agroindustirais regionais e produzir produtos (suínos,aves,bovinoculturade leite, fumo,entreoutros)de formahomogeneizada.Evidentemente, as agroindústrias utilizaram‐se demuitas estratégias paramanterasrelaçõesviaprojetosdeintegraçãoagroindustrial.

Como resultado, ao longo do tempo, constituiu‐se toda uma estruturaprodutiva na forma de monocultora, com alta dependência do setoragroindustrial.Comisso,historicamente,esseterritóriopassouadependerquase que exclusivamente da matriz produtiva da agropecuária. Essemodeloprodutivo,atéosanos80,definiuumaformadegestãodoterritórioassociada à forte influência dos interesses dos setores agroindustriais,vinculados à ampliação da produção, número de produtores e política decréditovia lógicaprodutivista,quecaracterizouumpadrãohomogêneodedesenvolvimentoruraleregional(MIOR,2005).

Poressa razão, constata‐se, atualmente,umaprofundadependência e,por vezes, dificuldade de desvinculação de tal “modelo” de integração aoscomplexos agroindustriais implantados, que prenuncia uma crise norelacionamento entre agroindústrias e produção familiar, com profundas

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repercussõesnoterritórioregional.Oprocessodeproduçãodesuínos,porexemplo, cada vez mais especializado, tem “[...] levado ao aumento dasescalas de produção e, consequentemente, à exclusão dos pequenossuinocultoresdacadeia”(MIOR,2005,p.87).

Essas reflexões remetem à necessidade de estudos que busquemidentificar novas possibilidades produtivas para o território em análise.Diante desse cenário, por outro lado, será possível pensar em novasmatrizes produtivas para o referido território? O debate sobre aspossibilidades de constituição de Indicações Geográficas8 pode despertarpara novas matrizes produtivas ou novos cenários sociais, políticos,econômicos e ambientais? Quais as possibilidades de novas IndicaçõesGeográficasregionais?

NoOesteCatarinense,háacriaçãodeaproximadamenteseismilhõesdesuínos, sendo esse território identificado nacionalmente pelo profundovínculo com tal produção e pela atuação de pequenas, médias e grandesagroindústrias.Desde2010,ocorreminiciativasparadiscutirapossibilidadedeIndicaçãoGeográficaparaacarnesuínaregional.Dentreasdúvidasquepermanecem,umadelasé:comopensarumaIndicaçãoGeográfica,partindodanotoriedadedosprodutoscárneossuínos,numterritóriodominadopeloscomplexosagroindustriais,naperspectivadeinclusãodeummaiornúmerodeprodutores rurais aoprocessodeproduçãoe circulação?Taisquestõesnos levam a refletir sobre as Indicações Geográficas como potenciaisindutoresdedesenvolvimentoe identidade regionaldoOesteCatarinense,tomandocomoexemploocasodacarneproduzidanaregião.

8 Indicações Geográficas são ferramentas coletivas de valorização de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. Normalmente, possuem duas funções principais: agregar valor ao produto e proteger a região produtora. O sistema de Indicações Geográficas deve promover os produtos e sua herança histórico-cultural, que são intransferíveis. Essa herança abrange vários aspectos relevantes: área de produção definida, tipicidade, autenticidade com que os produtos são desenvolvidos e a disciplina quanto ao método de produção, garantindo um padrão de qualidade. Tudo isso confere uma notoriedade exclusiva aos produtores da área delimitada. Ao mesmo tempo em que se possui uma qualidade diferenciada, a mesma está protegida por esse reconhecimento ser único em meio aos produtores daquela região. As Indicações Geográficas contribuem para a preservação da biodiversidade, do conhecimento e dos recursos naturais. Trazem contribuições extremamente positivas para as economias locais e para o dinamismo regional, pois proporcionam o real significado de criação de valor local. As Indicações Geográficas são divididas em duas espécies: Indicação de Procedência (IP) – que valoriza a tradição produtiva e o reconhecimento público de que o produto de uma determinada região possui uma qualidade diferenciada. É caracterizada por ser uma área conhecida pela produção, extração ou fabricação de determinado produto. Ela protege a relação entre o produto e sua reputação, em razão de sua origem geográfica específica; e Denominação de Origem (DO) – em que as características daquele território agregam um diferencial ao produto. Define que uma determinada área tenha um produto cujas qualidades sofram influência exclusiva ou essencial por causa das características daquele lugar, incluindo fatores naturais e humanos. Em suma, as peculiaridades daquela região devem afetar o resultado final do produto, de forma identificável e mensurável (SEBRAE, INPE, 2011, p. 16).

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A discussão sobre a especificação de ativos e recursos territoriais viaIndicaçãoGeográficaououtrasformasassemelhadasestabeleceumdiálogodireto com o tema território, identidade territorial e desenvolvimento, apartirdoentendimentodequeodesenvolvimentoresultadaformacomoosatores se relacionam, atuam e se identificam com um âmbito espacialespecífico: o território. Nesse sentido, a partir de 2010, configurou‐se naregiãoemestudoumconjuntodeaçõesquereuniudiferentesatoressociaisgovernamentais e não governamentais, tendo em vista a discussão eelaboração de estratégias para uma possível constituição de IndicaçõesGeográficasparaacarnesuínadesseterritório.

No dia 29 de novembro de 2010 ocorreu, no auditório da EmpresaBrasileiradePesquisaAgropecuária(EMBRAPA),seçãodeSuínoseAvesdeConcórdia, o I Workshop para discutir a possibilidade de IndicaçãoGeográfica para carne suína no Oeste de Santa Catarina. O evento teve oapoio da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), doInstituto Nacional da Carne Suína (INCS) e do SEBRAE. Foi um eventovoltado para associações, cooperativas, criadores de suínos, produtores,agroindústrias, instituições públicas, técnicos e demais atores envolvidosdiretaeindiretamentecomasuinoculturaregional.

Dandosequênciaaesseconjuntodeaçõeseproposições,nodia22dejunhode2012umgrupodepequenosempresáriosvinculadosafrigoríficosou agroindústrias constituiu a Associação de Produtores de Carne eDerivados de Suínos doMeio Oeste Catarinense (APROSUI). A Associaçãotem por objetivo buscar o reconhecimento dos produtos cárneos suínos(defumados,embutidos,recheados, temperados...)nomercadoconsumidorviaIndicaçãoGeográfica.

Assim,organizadospelaAssociaçãoe emparceria com Instituiçõesdefomento e pesquisa, como, por exemplo, a EMBRAPA, através do CentroNacional dePesquisas emSuínos eAves (CNPSA), buscou‐se identificar apossibilidadedealcançaroreconhecimentoatravésdoregistrodeIndicaçãoGeográficaparaosprodutoscárneossuínosproduzidosnesseterritório.

No dia 12 de setembro de 2012, o superintendente do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) JacirMassi, o fiscal federalagropecuário José Carlos Ramos e a advogada da Embrapa e responsávelpelas Indicações Geográficas Suely Silva, receberam em Florianópolis opresidentedoInstitutoNacionaldaCarneSuína(INCS),WolmirdeSouza,opresidentedaAssociaçãodosProdutoresdeCarneseDerivadosdeSuínosdoMeio Oeste Catarinense (APROSSUI) Altair Dale Laste, e o pesquisadorresponsável pela IG da Embrapa Suínos e Aves de Concórdia, FabianoSimioni,paradefiniretapasdosprocessosdeefetivaçãodoSelodeIndicaçãoGeográfica.

Posteriormente, no dia 20 de setembro, a Superintendência do Maparealizou em Concórdia (SC) uma reunião com os frigoríficos e produtores

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independentesde suínospara estabelecerumcronogramade ações. Entreosobjetivos,buscouaprofundaradiscussãoe sensibilizarosparticipantesdo projeto quanto à importância da organização, produção eindustrializaçãoparavencerasetapas.Entreosaspectosmaisimportantes,se destacam: organização das etapas de fabricação dos produtos (desde acriaçãodossuínosatéaindustrializaçãodacarne),visãodemercado(comovai ocorrer a comercialização dos produtos e a agregação de valor) eaprovaçãodasplantasnoserviçodeinspeçãofederal,paraqueosprodutossejamcomercializadosdentrodetodooterritórionacional.

O presidente do Instituto Nacional da Carne Suína (INCS),Wolmir deSouza, frisou que, antes do reconhecimento do Instituto Nacional dePropriedadeIntelectual(INPI)sobrea IndicaçãoGeográficadacarnesuínadoMeioOesteCatarinense,osfrigoríficosenvolvidosnoprojetopassarãoavender sob umamarca coletiva: “Esta ação vai abrir omercado e agregarvalor aos produtos derivados de carne suína da região. Quando acomercializaçãodamarcainiciaréqueoprojetovaiestarconcluídoeaptoparareceberacertificaçãodeIndicaçãoGeográfica”.Opresidentereconheceque o processo para a certificação é lento. Necessita de consenso ecomprometimentodetodososenvolvidosnoprojetoparaqueacarnesuínaocupe o espaço de direito namesa dos brasileiros e para que a região doMeio Oeste, tradicional produtora de suínos, ganhe visibilidade no Brasilcomopolodeproduçãodeprodutosàbasedecarnesuínacomgarantiadequalidadeesabor,pontuouopresidente.

Nessesentido,nodia9demaiode2013,tendocomolocaloAuditóriodoCentrodeEventosdeConcórdia,ocorreuoIIWorkshopsobreIndicaçãoGeográficadacarnesuínadoMeioOesteCatarinense.EntreosobjetivosdoWorkshop, buscou‐se informar e mobilizar os atores (produtores,autoridadespolíticaseempresários,profissionaisligadosàcadeiadecarnesuína e do turismo regional, entre outros). Além disso, o evento suscitoupensarempossibilidadesdearticulaçãoeconstruçãodemecanismosafimdelegitimaraIndicaçãoGeográficadaCarneSuínanesseterritório.

ParaosorganizadoresdoEvento,oterritóriodoMeioOesteCatarinensefoiumdosberçosdasuinoculturabrasileira,poisoscolonizadoresalemãese italianos, principalmente, sabiam criar, manejar e preparar produtos,primeiramente para sua subsistência , sendo o excedente destinado aomercado. Com isso, conferiu‐se e confere‐se a especificidade cultural doscolonizadoresemproduzirsuínosederivadosetransformá‐losemprodutosdiferenciadosequalificados.Assim,aregiãoconstituiu‐seemberçoesededas maiores agroindústrias brasileiras e mundiais, entre elas a Sadia, aPerdigãoeaAurora.

Além do mais, os organizadores acreditam na possibilidade deconstituiçãodeIG,poisosprodutosdacarnesuínaproduzidosporpequenas

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agroindústrias da região possuem qualidade e sabor diferenciado,principalmente em função do “saber‐fazer popular”, caracterizando o quetemsidodenominadodecapitalterritorial.

O capital territorial constitui‐se na riqueza do território (atividades,paisagens, patrimônio, saber‐fazer, etc.). Por outro lado, as relações doterritóriocomoexteriorsãoelementosdeterminantesdocapitalterritorial(LEADER, 2009). Os atores locais podem ativar e revalorizar o capitalterritorial transformando os ativos genéricos em especificidades. SegundoRallet (1995), ao seremde natureza única e diferenciada, são dificilmentetransponíveis, ou transladáveis, constituindo‐se em uma das chavesexplicativasdacompetitividadeterritorialedodesenvolvimento.

A constituição de uma IG poderá agregar valor aos produtos cárneos,promover o desenvolvimento socioeconômico e fortalecer toda a cadeiasuinícola,alémdefomentarnovosdesdobramentosaoturismoeestímuloaoutrasatividadeseconômicas,entreelas,oturismogastronômico.

Entre os parceiros na perspectiva de constituição da IG, está aEMBRAPA,porintermédiodospesquisadoresdoCNPSA.Apropostainicialérecuperaragenéticaanimaldosuínomouro,do“tipobanha"ou“comum”,melhoradogeneticamenteeanãoutilizaçãode insumosoupromotoresdecrescimento. Para Volmir de Souza, “hoje, vende‐semarca,mas não carnediferenciada”.Ouseja,opresidentedoINCSreporta‐sepelavendadecarneem escala, profundamente vinculada à marca das agroindústrias e não aprodutoscomespecificidadesoudiferenciais.

Além disso, nesse contexto, os recursos e ativos com especificidadeterritorialprecisammereceratenção.Elespossibilitamaconstruçãodeumaconformação socioeconômica que destaca a importância dos produtos (ouserviços) com identidade territorial, para o desenvolvimento. Trata‐se deultrapassaradimensãodeumavantagemcomparativaparaumavantagemdiferenciadora,resultantedeprocessosoriginaisdeemergênciaderecursoseativoscomancoragemterritorial(PECQUEUR,2009;DALLABRIDA,2012).CONSIDERAÇÕESFINAIS

Tradicionalmente,apopulaçãoruraldoterritóriodoOesteCatarinense,

mais especificamente do Meio Oeste Catarinense, foi orientada e/ouencaminhada a integrar‐se aos complexos agroindustriais regionais eproduzir produtos (suínos, aves, leite, fumo) em escala e de formahomogeneizada. Evidentemente, os grandes complexos agroindustriaisutilizaram‐seeutilizam‐sedemuitosartefatoseartimanhasparamanterasrelaçõesviaprojetosdeintegraçãoagroindustrialporlhesserconveniente.

Dessa forma, historicamente constituiu‐se toda uma estruturaprodutivademonocultoraedependência,sendoqueesseterritóriopassoua

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depender quase que exclusivamente damatriz produtiva da agropecuária.Portanto, constata‐se, atualmente, a profunda dependência e, por vezes,dificuldadedesedesvencilhardetal“modelodeintegração”doscomplexosagroinstriaisimplantados.

Por outro lado, questiona‐se: será possível pensar em novasmatrizesprodutivas para o referido território?O debate sobre as possibilidades deconstituiçãodeIndicaçõesGeográficaspodedespertarparanovasmatrizesprodutivasounovoscenáriospolíticos,econômicoseambientais?QuaisaspossibilidadesdenovasIndicaçõesGeográficasregionais?

O território do Meio Oeste Catarinense foi o berço do conflito doContestado (1912‐1916),aqualdesenhouumahistóriadiferenciadasobreváriosaspectos,entreeles,aalimentaçãodoshabitantesdesselugar.Adietaalimentardasociedadehumanaregionalantes,duranteeapósaGuerradoContestado era a quirera9. Nesse sentido, esse alimento humano típico doterritóriodoContestadopoderiaconstituir‐senumaIndicaçãoGeográfica?

Além disso, pela formação geológica regional, aflora, em diferentesáreasdoterritóriooestino,águastermais.ExemplodissosãoosmunicípiosdePiratuba, Itá eÁguasdeChapecó.Regionalmente, obalneáriodemaiorestrutura e movimento de turistas é o de Piratuba,10 que, igualmente,poderiaseconstituiremumaIndicaçãodeProcedência?

Essas e outras questões estão sendo apresentadas na perspectiva defomentarodebabe.Aliás, esseéumdoscompromissoseumadas funçõessociaisdaUniversidade,ouseja,estarnavanguardadareflexão,proposiçãoe ação, e não apenas formar/preparar/qualificar mão‐de‐obra ouprofissionalizar sujeitos para operacionalizar máquinas e produzircommoditys, mas, sim, estimular a pensar, refletir, criar e empreender.Assim, pode‐se fomentar o empreendedorismo, o associativismo, ocooperativismo e, com isso, promover o desenvolvimento social, cultural,político e econômico. Ou seja, o desenvolvimento regional em suasdiferentes dimensões. Entende‐se por desenvolvimento territorial oaprimoramentodo conjuntodepolíticas e açõesquemelhoremavidadaspessoasedoambientedeumdeterminadoterritório.

Obviamente,essenovoprocessodedesenvolvimentoprecisapensarnaperspectivadainclusãosocial,demodoapromoverproduçãodiferenciada,qualificadaequedistribuarenda.Damesmaforma,impõe‐seanecessidade

9Quirera: milho triturado em pilão. Após triturado e misturado com carne suína, fazia-se a cocção. Tal alimentação fazia parte da dieta alimentar cotidiana do homem do Contestado. 10 No intuito de procurar petróleo, em 1964 a Petrobrás perfurou um poço com 2.271,30 metros de profundidade. Nos 674 metros, encontrou um lençol de águas sulfurosas. São águas com temperaturas médias de 37,4º C na fonte. Suas águas são utilizadas para lazer, além de recomendações no tratamento de reumatismos, úlceras, cálculos renais, hipertensão arterial, eczema e estresse.

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deseestabelecerumanovarelaçãocomosrecursosnaturais,consideradosestratégicos ao desenvolvimento regional, produzindo e cuidando daqualidadeambientalconcomitantemente.REFERÊNCIASANJOS, F. S. dos. A agricultura familiar em transformação: o caso dos colonos‐operários de Massaranduba (SC). Pelotas: UFPEL ‐ Universidade Federal de Pelotas,1995.

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CAPÍTULO12

INDICAÇÃOGEOGRÁFICADAERVA‐MATENOTERRITÓRIODOCONTESTADO:REFLEXÕESE

PROJEÇÕES1

ValdirRoqueDallabrida;FernandaTeixeiraSantos;LauroWilliamPetrentchuk;MayaraRohrbacherSakr;MuriloZelinskiBarbosa;NatanyZeithammer;PauloMoreira;TiagoLuizScolaro;JairoMarchesan‐UnC

INTRODUÇÃONosanosrecentes,estudosforamrealizados,avaliandoexperiênciasde

Indicação Geográfica (IG), alguns deles no Brasil, outros no exterior, emespecial nos países europeus. Para citar alguns, lembramos: Tonietto(2003); Sacco dos Anjos e Caldas (2010); Silva et al. (2010); Ortega eJeziorny (2011); Sacco dos Anjos, Criado e Caldas (2011); Champredonde(2011; 2012); Froehlich (2012); Santos e Ribeiro (2012); Niederle(2013a/b);Dallabridaetal.(2013);Dallabrida(2012a/b;2013;2014a/b/c).Algumas dessas obras são coletâneas, contemplando a visão de diferentesautores. Parte das publicaçõesmencionadas resulta de estudos realizadospor pesquisadores do Grupo de Estudos e Investigação sobre SignosDistintivosTerritoriais,IndicaçãoGeográficaeDesenvolvimentoTerritorial(GEDET)2.

No seu conjunto, as publicações referidas revisam literatura que tratado tema IG3, além de realizar a análise de experiências brasileiras einternacionais.Pelaleituradaspublicações,umaconstataçãoérecorrente:odebate do tema Indicação Geográfica precisa ser contextualizado entre os

1 Este artigo foi publicado na revista DRd – Desenvolvimento Regional em debate, v. 4, jul./dez. 2014. Sua elaboração foi feita no contexto do debate em curso no Grupo de Estudos e Investigação sobre Signos Distintivos Territoriais, Indicação Geográfica e Desenvolvimento Territorial (GEDET), no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (Santa Catarina). Agradecemos aos colegas pelas críticas e sugestões, as quais vieram a melhorar a qualidade do texto. No entanto, os posicionamentos aqui assumidos são de exclusiva responsabilidade dos autores. Por outro lado, em parte, o texto resume resultados de dois projetos de investigação em curso: Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento (financiado pela FAPESC); Indicação Geográfica como alternativa de desenvolvimento territorial (CNPq). 2 Grupo de Pesquisa registrado no CNPq, tendo na coordenação professor do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado. 3 Por esse motivo, optamos neste artigo por reduzir o referencial teórico a um conjunto de categorias conceituais que, na nossa percepção, são básicas para situar o debate sobre Indicação Geográfica.

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esforços que os atores territoriais realizam em relação à definição de seufuturo,afimdequetalestratégiadearticulaçãoterritorialsejaconsideradaummeioenãoumfimemsimesmo.Partindodessacompreensão,aIGseriaentendida como uma estratégia, dentre outras, para articulação dosprocessosdedesenvolvimentoterritorial.Mesmonãosendoaúnica,nãoéamenosimportante,oquejustificaoaprofundamentodoseuestudo.

Retomando o tema, apresentamos um conjunto de reflexões parafundamentar o debate sobre a proposta de IG da erva‐mate no PlanaltoNorteCatarinenseeCentro‐SuldoParaná,recorteterritorialquepreferimosdenominar de Território do Contestado, ao mesmo tempo em que nosdesafiamosafazerprojeções.

O presente texto se apresenta como um ensaio, aomesmo tempo emque tem um caráter especulativo, na forma de pesquisa‐ação, refletindosobreumadeterminadarealidadeeousandoemserpropositivo.Sustenta‐seem estudos teórico‐analíticos, nacionais e internacionais, além daexperiência recente na investigação sobre o tema IG. Portanto, resulta deestudosteóricos,deobservaçõeseanálisesoportunizadasporprocessosdeinvestigação,alémincluirposicionamentospessoais.

Iniciamos pelo debate teórico, dando destaque a algumas categoriasconceituais que consideramos fundamentais. Na sequência, fazemos acontextualização da realidade sociocultural e econômica do recorteterritorialnoqualestáocorrendoodebateparaaproposiçãodaIGdaerva‐mate, o Território do Contestado4. Logo após, damos destaque a aspectospráticosrelacionadosàsnormativasparaoregistrodeumaIG,tendocomoreferênciao casodaerva‐matenoTerritóriodoContestado.Finalizamosotextocomanáliseseprojeções,apontandoindicativosemrelaçãoaocasoemreferência.1.SITUANDOTEORICAMENTEOTEMAINDICAÇÃOGEOGRÁFICA

Inicialmente,partimosdaconcepçãodequeumapráticadistintarequer

robustafundamentaçãoteórica.Porisso,iniciamossituandoteoricamenteodebate sobre Indicação Geográfica, fazendo referência a seis categoriasconceituais: território, territorialidade, identidade territorial, ancoragemterritorial, capital territorial e governança territorial. Para facilitar oentendimento,relacionamosareferênciateóricacompossíveisimplicaçõespráticas.Ofimaquesugeremprocessoscomcaracterísticasdesignadasdelaacepção das mencionadas categorias é o desenvolvimento territorial. UmdosmeiosparaaconsecuçãodefinsdessanaturezaéaIndicaçãoGeográfica.Por isso, finalizamosaabordagemteóricacomumabrevereferênciasobreIndicaçãoGeográficaedesenvolvimentoterritorial.

4 Temporalmente, fazemos referência ao segundo semestre de 2014.

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1.1TERRITÓRIOO território é uma construção social resultante de relações de poder

que,simultaneamente,contémadimensãodaunidade,dasolidariedadeedaconflitualidade.Trata‐sederelaçõesinseridasnahistóriadeumasociedadesituada territorialmente.Refere‐seauma fraçãodoespaço,historicamenteconstruídapelasinterelaçõesdosatoressociais,econômicoseinstitucionaisqueatuamnesserecorteespacial,apropriadaapartirderelaçõesdepodersustentadas em motivações políticas, sociais, econômicas, culturais oureligiosas, oriundas do Estado, de grupos sociais ou corporativos,instituiçõesouindivíduos(DALLABRIDA,2011).

Oqueconvencionamosteoricamentechamardeterritórionãosetratadequalquerrecorteespacial.Édiferentedoquechamamosderegião,estasendo um recorte demarcado por limites político‐administrativos. Ex.Região da 26ª Secretaria de Desenvolvimento Regional. Território é umrecortecujoslimitesseestendematéaáreaabrangidaporumadeterminadacaracterística identitária e de poder. Dois exemplos: o "Território doContestado",comosendoaáreaonderesidiaumpovoquetinhaumaformade vida própria e que, por determinados ideais, lutou contra a forma deocupação que não atendia aos seus interesses; área abrangida por umaforma histórica de ocupação da terra, a exemplo do cultivo de erva‐mate.Nesse último exemplo, podemos fazer referência ao "território da ervasombreadadoContestado",compredominânciadeumaformaespecíficadecultivo.1.2TERRITORIALIDADE

Territorialidade refere‐se ao ato de pertencimento, ou seja, estarintegradonummeioquenospertence(SANTOSeSILVEIRA,2001).Tambémcorrespondeàsrelaçõessociaiseàsatividadesdiáriasqueoshomens têmcomseuentorno(SAQUET,2007;HAESBAERT,2011),ou,ainda,àsrelaçõesentre um indivíduo ou grupo social e seu meio de referência (ALBAGLI,2004).

Albagli (2004) defende o fortalecimento e capitalização deterritorialidades em favor do desenvolvimento territorial, propondo, naprática, a necessidade de identificação das unidades territoriais que serevelam pelo senso de identidade e pertencimento territorial, deexclusividade e tipicidade, pelos tipos e intensidade de interações entreatores locais. Issoexige(1)ageraçãodeconhecimentossobreo território,ouseja,identificarecaracterizarasespecificidadesquemelhortraduzamedistingueaqueleterritório,(2)apromoçãodesociabilidades,identificandoemobilizando os atores e segmentos sociais que imprimam um dinamismo

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local e que se caracterizem por serem genuínos e com tradição, e (3) oreconhecimento e a valorização da territorialidade, na perspectiva dadinamização social, produtiva e comercial, do resgate e valorização dasimagensesímbolosqueapopulaçãoautóctonevaloriza.Essesreferenciaisdevem direcionar a forma de intervenção dos poderes públicos e dasorganizações sociais num determinando território (ACAMPORA e FONTE,2008).

A questão do fortalecimento e capitalização de territorialidades emfavordodesenvolvimento territorial, no casodoTerritóriodoContestado,implicaria em desencadear um processo de diagnóstico e planejamentoterritorial integrado, valorizando todos os componentes do seu capitalterritorial.

1.3IDENTIDADETERRITORIAL

Aidentidadeterritorialéoelementodiferenciadordeumdeterminado

agrupamento populacional, pois seus traços e características estão ligadosao espaço, à cultura, às relações sociais e ao patrimônio ambientalterritorial.Refere‐setantoàdimensãosocialquantoàfísico‐natural(tipodepaisagem)ecultural(tradiçõesevalores).Aidentidadeterritorialresultadeprocessos históricos e relacionais. Assim, a identidade configura‐se numpatrimônioterritorialaserpreservadoevalorizadopelosatoresenvolvidos(SAQUETeBRISKIEVICZ,2009;RAMÍRES,2007;FLORES,2008;DENARDINeSULZBACH,2010).

A identidade territorial envolve o patrimônio identitário, ou seja, osaber‐fazer, as edificações, os monumentos, os museus, os dialetos, ascrenças,osarquivoshistóricos,asrelaçõessociaisdasfamílias,asempresas,as organizações políticas, dentre outros aspectos. Tais elementosidentitários podem ser decompostos em projetos e programas dedesenvolvimento de cada território. Quanto aos possíveis impactos daidentidade territorial no processo de desenvolvimento, Pollice (2010)destaca que esta tende a reforçar as normas, os valores éticos ecomportamentais localmente compartilhados, além de contribuir paramelhoraratransferênciadosaberentreasgerações.

Concordamos com Pollice (2010) quando afirma que os sentimentosidentitários determinam, no nível local, um apego afetivo aos valorespaisagísticos e culturais do território. Partindo dessa compreensão, odesenvolvimentoterritorialsesustentanacapacidadedacomunidadelocalde valorização do território, em particular os ativos e recursos queconstituemelementosdediferenciação.

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1.4ANCORAGEMTERRITORIALA ancoragem territorial se parece com um diálogo entre ator e

território, inscrito no tempo, em que os processos se comunicammutuamente em uma relação sistêmica (FRAYSSIGNES, 2005). Estarancoradoterritorialmenterepresentaestarenraizadonoterritório.

Contrariamenteàancoragem,noprocessodeglobalização,asempresastransnacionaisquandoapenas seapropriados recursosde territórios,nãonecessariamente se enraízam. Pelo contrário, normalmente exercem aexploração dos recursos naturais e humanos. Ou seja, é mais comum asituaçãodas empresas se transformar emverdadeirosenclaves territoriais(SANTOS e SILVEIRA, 2001). Trata‐se de empreendimentos situados nosterritórios, com o interesse exclusivo de apropriar‐se das riquezas alidisponíveis, transformando‐asemcommodities,viabilizandoaexpansãodocapital empresarial e financeiro. Como exemplos, seriam certosempreendimentos que apenas semi‐industrializam produtos de umdeterminadoterritório,semagregarvalorlocalmente.

Um produto resultante de processos de ancoragem territorial temmaior potencial de transformar‐se em produto típico, logo, se constituirnumapotencial IG (CHAMPREDONDE,2012).Resultantedisso, empresaseprodutores não ancorados territorialmente se constituem em atores quenem sempre atendem aos interesses específicos dos territórios, pois aancoragem é decisiva no processo de desenvolvimento territorial. Odocumento FAO y SINER de 20105, define qualidade específica como "[…]um conjunto de características associadas a um bem ou serviçoreconhecidas como aspectos distintos em comparação com produtossimilares".Trata‐sedeumprodutoorigináriodedeterminadoterritórioquepodeseridentificadoporsuasparticularidades,diferenciando‐seassimdosdemais(CHAMPREDONDE,2011).

1.5CAPITALTERRITORIAL

Capitalterritorialrefere‐seaoconjuntodoselementosdequedispõeo

território ao nível material (produtos e serviços) e imaterial (valores etradições) e que podem construir, em alguns aspectos, vantagem e, emoutros,desvantagens(LEADER,2009).Ocapitalterritorialconstitui,então,ariqueza do território, na forma de atividades produtivas, paisagens,patrimônio,saber‐fazer,culturaetradições.

O capital territorial se constitui nos recursos e ativos territoriais aseremvalorizadas.CaravacaeGonzález(2009)propõemativarerevalorizar 5 Trata-se do documento Uniendo personas, territorios y productos, citado em Champredonde et all. (2012, p. 4).

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ocapitalterritorial,ouseja,osrecursosligadosaosterritórios,convertendoaqueles que são genéricos em específicos, resultando numa das maisimportantesestratégiasdedesenvolvimentoterritorial.

NaFigura1estãorepresentadososcomponentesdoquechamamosdecapital territorial, ao mesmo tempo, integrando as demais categoriasconceituais. A compreensão de tais categorias e sua aplicabilidade eimplicação prática são fundamentais para o adequado direcionamento dodebate sobrea constituiçãodeuma IG. Já tínhamospensadonisso?Temosconsiderado os elementos do capital territorial, integradamente, aopropormos uma estratégia de desenvolvimento? Ou ainda somos dos quepensamodesenvolvimentoterritorialdeformasetorializada?

Figura1‐CapitalTerritorialeseuscomponentes

CAPITAL HUMANO E INTELECTUAL

Saber fazer local, formação acadêmica e profissional,

conhecimento, criatividade...

CAPITAL PRODUTIVO Recursos Financeiros,

maquinaria, equipamentos, infraestruturas...

CAPITAL CULTURAL

Valores e códigos de conduta, patrimônio cultural, cultura empresarial...

CAPITAL INSTITUCIONAL Institucionalidades estatais e não estatais, de caráter

social, corporativo, cultural, político, administrativo...

CAPITAL TERRITORIAL

CAPITAL SOCIAL

Valores compartilhados socialmente,

associativismo, redes sociais estabelecidas...

CAPITAL NATURAL

Patrimônio natural, meio ambiente...

Fonte:Elaboraçãoprópria,apartirdeCaravacaeGonzález(2009)

1.6GOVERNANÇATERRITORIAL

Por fim, resta uma questão importante: a gestão dos processos dedesenvolvimento territorial. Trata‐se da necessidade de mencionarmosoutracategoriaconceitual,quechamamosdegovernançaterritorial.

Agovernançaterritorialcorrespondeaumprocessodeplanejamentoegestão de dinâmicas territoriais que prioriza uma ótica inovadora,partilhadaecolaborativa,pormeioderelaçõeshorizontais.Noentanto,esseprocesso inclui lutas de poder, discussões, negociações e, por fim,deliberações, entre agentes estatais, representantes dos setores sociais eempresariais,decentrosuniversitáriosoudeinvestigação.Processosdessa

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natureza fundamentam‐se num papel insubstituível do Estado, em umaconcepçãoqualificadadedemocraciaenoprotagonismodasociedadecivil,objetivando harmonizar uma visão para o futuro e um padrão maisqualificadodedesenvolvimentoterritorial(DALLABRIDA,2014a).

A menção à governança territorial é utilizada para referir‐se aosprocessosdeassociativismoterritorial,sejamelessobaformadefórunsouconselhosvoltadosaodebatesobredesenvolvimentoregionalouadefiniçãodepolíticaspúblicas,sejamformasdeassociativismo,taiscomo,associaçõesdeprodutoresou artesãos, pequenas iniciativasna formade cooperativas,ou associações de bairros, entre outras. O que diferencia uma ação degovernança é que sempre se trata de intervenção coletiva voltada aobemcomum do conjunto de atores envolvidos, que inclui atores de caráterestatal, social e empresarial, integradamente, sustentada em relaçõeshorizontais,ondetodos,indistintamente,têmvezevoz.Diferedeumaaçãodegoverno,decunhovertical,sustentadaemparâmetroslegais.Damesmaforma, difere de uma ação do setor empresarial, a qual se rege porparâmetrosdecompetitividadesetorialedeaçãoprivada.

Ousamos em afirmar que processos de desenvolvimento territorial sósão legítimos se geridos por formas de gestão aqui caracterizadas pelaconcepçãoexpressapelacategoriaconceitualgovernançaterritorial.

NocasoespecíficodasIG,suagestãotambémérealizadaporestruturasassociativas, envolvendo atores sociais, empresariais e o Estado. Logo,podemosfazerreferênciaataisprocessosdeassociativismoterritorialcomopráticasdegovernançaterritorial.

1.7MEIOEFIM:AINDICAÇÃOGEOGRÁFICACOMOUMAESTRATÉGIANOPROCESSODEDESENVOLVIMENTOTERRITORIAL

Finalizamos esta parte do texto situandoa IndicaçãoGeográfica como

umaestratégiaparaodesenvolvimentoterritorial.

1.7.1INDICAÇÃOGEOGRÁFICAConsideramos as experiências de IG como uma das principais

estratégiasquearticulaospotenciaisdedesenvolvimentoterritorialànoçãode território, territorialidade, identidade, ancoragem e capital territorial,tendo como referencial para a sua gestão, a concepção de governançaterritorial.Sobre IG,nosrestringimosaquiaduasmenções:suaconcepçãobásicaetipologia.

No Brasil, as Indicações Geográficas são consideradas marcasterritoriais que reconhecem os direitos coletivos referentes aos sinaisdistintivos de um território. Assim, tornam‐se ferramentas coletivas de

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valorizaçãodeprodutostradicionaisvinculadosadeterminadosterritórios,atendendo a duas funções: agregar valor ao produto e proteger a regiãoprodutora(GURGEL,2006).

Uma IGpode ser deduas categorias. A IndicaçãodeProcedência (IP),caracterizadaporseráreaconhecidapelaprodução,extraçãooufabricaçãode determinado produto, ou prestação de serviço. Já a Denominação deOrigem (DO) é a categoria onde as características daquele territórioagregamumdiferencial ao produto, ou seja, umproduto cujas qualidadessofram influência exclusiva ou essencial, decorrente das característicasdaquelelugar,incluídosfatoresnaturaisehumanos.

Assim, as singularidades vinculadas ao território podem serreconhecidas e protegidas mediante a IG, transformando‐se em umaestratégia a ser considerada no processo de desenvolvimento territorial,integrandooselementosconstitutivosdocapitalterritorial.

1.7.2DESENVOLVIMENTOTERRITORIAL

Aconcepçãodedesenvolvimentoterritorialsurgedepoisdadécadade

1970,noséculoXX,numaassociaçãoentreanoçãodeterritórioeumanovaconcepçãodedesenvolvimento.Decertaforma,origina‐sedasformulaçõesteóricasque recusaram, conscienteou inconscientemente, oparadigmadomodeloúnicodedesenvolvimentodominanteatéentão(CAZELLA,BONNALeMALUF,2008).

Odesenvolvimentoterritorialpodeserentendidocomoumprocessodemudança continuada, situado histórica e territorialmente, integrado emdinâmicas intraterritoriais, supraterritoriais e globais, sustentado napotenciação dos recursos e ativos (materiais e imateriais, genéricos eespecíficos), com vistas à dinamização socioeconômica e à melhoria daqualidadedevidadesuapopulação(DALLABRIDA,2014a).

Partindo da concepção de desenvolvimento territorial, qualquerestratégia ou projeto político de desenvolvimento que seja pensada paralugares, municípios, regiões, territórios ou países implica em considerarseus recursos e ativos integradamente, superando a tradicional concepçãosetorial.

2.CONTEXTUALIZANDOAREALIDADESOCIOCULTURALEECONÔMICANAQUALESTÁSENDOPROPOSTAAIGDAERVA‐MATE

Énecessáriocontextualizarorecorteterritorialdaáreadeabrangência

emqueestásendopropostaumaIGdaerva‐mate,nocontextosocioculturale econômico que resultaram na História do Contestado, com sua herançahistórica, suas formas de inclusão e exclusão social, seus valores éticos,culturaisetradições.

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Em 2012, o jornal O Estado de São Paulo realizou uma série dereportagens,sendoaprincipaldelasintituladaOsmeninosdoContestado.AexpressãomeninoséumareferênciaàpopulaçãosobreviventedaGuerradoContestado,queeramcriançasnaépocadoconflito.Vejamosumareferênciaàpopulaçãoremanescente,feitapelorepórterCelsoJunior6,quefazpensarenosremeteaodesafiodebuscarsuperarcarênciashistóricas.

O olhar dessesmeninos revela sofrimento,muito sofrimento,mas por outroladorevelaumolharguerreiro,deesperança,equemsabeumdia,estaterraoutrora maldita, tenha dias melhores... O Contestado não é uma guerra dopassado,poisoestadobrasileiroaindanãoreparouosdanoslácausados.

A referência a que o estado brasileiro ainda não reparou os danoscausados pela forma de ocupação do Território do Contestado pode serpercebidanoatualpadrãoregionaldedesenvolvimentodoEstadodeSantaCatarina.TemosumaregiãodinâmicaqueseestendepeloValedoRioItajaí,o nordeste do estado e o litoral de norte a sul, atividades agrárias eindustriais na serra e sul, além do oeste catarinense, onde se situam asgrandes empresas ligadas ao agronegócio de cereais e carnes. Na partecentral do estado, que corresponde ao recorte territorial do Contestado,predominam atividades do tipo extrativo‐vegetal e um setor industrialvoltadoàproduçãodesemimanufaturados,aexemplodosetorervateiro,depapelecelulose.Mesmooseixosrodoviários,praticamenteaúnicaformadecirculação de pessoas e mercadorias, circundam o Contestado, deixandovácuosdefluxoseatividadessocioeconômicasnoterritório,emespecialnoPlanalto Norte, onde situa‐se a cidade de Canoinhas. É o que estárepresentadonaFigura2.

Aliás,opadrãoregionaldedesenvolvimentodeSCfoitemadeestudodepesquisadorescatarinenseseespanhóis,duranteosmesesdejulhoeagostode 20147. Tal estudo apontou quatro características básicas: (1) áreas noOeste Catarinense, com dominância de complexos agroindustriais, comprodutores totalmente integrados e identificados comomodelo; (2) áreascom ausência de complexos agroindustriais, com produtores identificadoscom produtos regionais, além das atividades industriais, como o caso doValedaUvaGoethe (IG‐2012),doQueijoSerranonaSerraCatarinenseeoVale do Rio Itajaí; (3) áreas com existência de complexos agroindustriais

6 O documentário está disponível no site: http://topicos.estadao.com.br/contestado. A citação acima é um recorte de comentários feitos pelo repórter jornalístico em um vídeo disponível no site. 7 Os primeiros resultados dos referidos estudos foram apresentados em evento internacional, na Espanha. O tema está motivando a realização de um convênio entre universidades catarinenses, dentre elas a UnC, e a Universidad Castilla-La Macha, de Ciudad Real, na Espanha, o qual prevê o aprofundamento das investigações e a circulação interinstitucional de professores e estudantes de pós-graduação.

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cominteressesemprodutospoucovalorizadoslocalmente,noentanto,comforteidentidadepaisagísticaeculturaleescassaintegraçãodosprodutores,como o caso da Erva‐Mate do Contestado8; (4) a área litorânea, que seestende de norte a sul, com predominância de atividades relacionadas aoturismoe funçõesadministrativas,comexceçãodonordeste,ondesesituaum setor industrial dinâmico, exercendo uma forte pressão de atração decapitaisgeradosnointeriordoestado,aexemplodosinvestimentosnosetorimobiliário(DALLABRIDAetal.,2014). Figura2‐RepresentaçãodopadrãoregionaldedesenvolvimentodoEstadodeSC

Fonte:AdaptadadeDallabridaetal.(2014)

Especificamente em relação ao caso da erva‐mate do Território do

Contestado, o estudo detecta desafios: (1) percebe‐se uma pressão deempresasparacontrolaraproduçãodeerva‐mate, inclusivecomacomprade ervateiras por multinacionais; (2) há desconhecimento local dospotenciaisdacadeiaprodutivadaerva‐mate,considerandooqueocorreemoutras regiões produtoras; (3) percebe‐se desconexão dos grupos deinvestigação e falta de estudos sobre as potencialidades da conversão dasáreas de remanescentes da Mata Atlântica em espaços de

8 Essa situação se repete no caso da atividade extrativo-florestal que serve de matéria prima para as indústrias de papel e celulose, com acentuada presença no Território do Contestado.

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multifuncionalidades, compadrõesde exploração sustentáveis9, e (4)umaexcessiva visão agrarista nopadrãodedesenvolvimento regional, alémdabaixa participação cidadã no processo de debate sobre desenvolvimentoregional(DALLABRIDAetal.,2014).

O que aqui chamamos Território do Contestado trata‐se, então, dorecorte que compreende as áreas disputadas pelos Estados do Paraná eSantaCatarinaentreosanosde1853e1917eondeocorreramosconflitosda Guerra do Contestado, entre 1912 a 1916. O conflito representou aresistência dos camponeses, os ocupantes desse território naquela época,lutando contra forças militares institucionais que protegiam a ocupaçãoterritorialpor formasdecolonizaçãoquerepresentavama implantaçãodomodo capitalista de produção. Os conflitos de resistência se tornammaisevidentesquandodaaberturadaestradadeferro,iniciadaem1890,aqualresultounadesapropriaçãodeterrassituadasnoseuentorno.OutromotivodarevoltadoscamponesesfoiapresençadaempresamadeireiraamericanaLumber,queadquiriuna regiãomaisde3.000hectaresde terras cobertaspor araucárias, ocupadas pelos camponeses que exploravam a erva‐matenativa,comomeiodesobrevivência.

Noaspectoambiental,acoberturavegetalqueabrigava,alémdaerva‐mate, diferentes espécies, tais como a imbuia, as canelas e, em especial, aaraucária, passou a ser objeto da devastação, para ser transformada emmadeira.Concomitantemente,aerva‐matepassaaserexploraporempresaservateiras. A própria presença da Lumber, ao impedir a populaçãocamponesade ter acesso aos ervaisnativosnas áreas emque adquiriuouemquefaziaocortedamadeira,eramotivoderevoltaparaoscamponeses.Tanto a erva‐mate como a madeira passam a ser destinada ao comércionacionaleinternacional.

Énessecontextosócio‐históricoeeconômicoqueaerva‐matepassaater uma importância diferenciada; antes meio de sobrevivência doscamponeses,apartirdeentão,umamercadoriaparacomercialização.Todasessas transformações, aliadas à disputa por limites entre catarinenses eparanaenses,emgrandepartemotivadapelointeressedosdoisestadosemtributar a erva‐mateda região, forammotivosde contestação.Daí onomeContestado.

É notória a dificuldade para se localizar comprecisão o Território doContestado.Porexemplo,oGovernodoEstadodeSantaCatarinadefiniuasRegiões Turísticas, dentre as quais está destacada a região do Vale do

9 Uma das poucas exceções em termos de estudos é um trabalho que está em realização no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da UnC que estuda as potencialidades socioeconômicas nas áreas com a presença de remanescentes da Mata Atlântica. Ver resultados preliminares do estudo em: Petrentchuk, Marchesan e Dallabrida (2014).

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Contestado10,conformeoMapa1.Éumaformadelocalização.Noentanto,omapeamentonãoabrangetodaaáreaondepredominaaproduçãoervateiracatarinense,estendendo‐setambémnoextremooeste.Alémdisso,nãoincluia área ervateira do Estado do Paraná, que é contígua, estando presente,principalmente,nomédiovaledoRioIguaçu.Portanto,omapeamentonãoésuficiente,sendoapenasindicativo,comoumpontodereferênciainicial.

Mapa1‐RegiõesTurísticasdoEstadodeSantaCatarina

Fonte:http://www.santacatarinaturismo.com.br/

A região definida como Vale do Contestado, territorialmente,corresponde aproximadamente ao que os historiadores registram comosendo a área em que ocorreram os principais eventos da Guerra doContestado, conforme a Figura 3. Assinala os locais onde ocorreram osprincipais eventos da Guerra do Contestado, além de trazer algumasinformações ‐ por exemplo, o traçado da estrada de ferro São Paulo‐RioGrandedoSulelocalizaçãodaempresaLumber‐alémdeinformaçõessobreosefeitosdaguerra.

10 A utilização da expressão Vale não é adequada sob o ponto de vista geográfico, pois, o recorte territorial situa-se predominantemente numa área de planalto.

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Figura3:RecorteterritorialdaGuerradoContestado

Fonte:http://www.estadao.com.br/infograficos/os‐principais‐embates‐da‐guerra,160605.htm

JáomapeamentodoTerritóriodoContestado,registradonaFigura4,émais abrangente. Demarca o Território do Contestado, incluindo áreaslimítrofesentreSantaCatarinaeParaná,comoa"áreacontestada",ouseja,que no passado esteve em disputa entre paranaenses e catarinenses.Percebamos que o recorte territorial abrange, além do Planalto NorteCatarinense,todoooestedeSantaCatarinaeáreaspróximasdoParaná,nasua porção centro‐sul e oeste. Há nesse mapeamento uma melhoraproximação entre as áreas de predomínio da erva‐mate no territóriocatarinenseeparanaense.

AtarefademapearmosoTerritóriodoContestadotemumaimplicaçãocomoquevamosreferirmaisadiante,queéaquestãodonomegeográficodaIGdaerva‐mateedadelimitaçãodasuaáreadeabrangência.Nãodeixade ter, também, relação com o tipo de IG que for decidido registrar: umaIndicaçãodeProcedênciaouumaDenominaçãodeOrigem?

Em qualquer dos casos, é necessário omapeamento das áreas com apresençadaerva‐matecomascaracterísticaspretendidasparaaIG.Ocorreque, pelos dados estatísticos disponíveis atualmente, apenas conseguimosidentificarovolumeanualdeerva‐mateproduzido,naformadefolhaverdee cancheada, conforme a Tabela 1. Mesmo esses dados, são aproximados,pois as fontes de informações são imprecisas. Servem apenas como umreferencial.Essefatoreforçaanecessidadederealizaçãodeuminventário,oquedemandaumtrabalhodecampo,alémdebuscar informações juntoàsprefeituras,órgãospúblicosdeextensãoruralouervateiras.

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Figura4:MapeamentolocalizandoaáreaterritorialcontestadadosestadosdeSCePR

Fonte:Fraga(2010,p.43,combaseemQueiroz,1981)

NaTabela1,estãolistadososmunicípiosdosEstadosdeSantaCatarinae Paraná, na qual podemos ter uma primeira ideia sobre a distribuiçãoterritorial da erva‐mate. Os dados, apesar da sua fragilidade estatística,mostram que a erva‐mate tem uma concentração significativa nosmunicípiossituadosnoPlanaltoNorteCatarinense,dooestedecatarinenseesuasproximidades,alémdocentro‐suleoestedoParaná.

Se projetarmos essas informações no mapa dos estados de SantaCatarina e Paraná, temos uma distribuição, com áreas de concentração eoutrasmaisdispersasnoterritório.VernaFigura5.

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Tabela1‐Distribuiçãodomaiorvolumedeproduçãodeerva‐matenosestadosdeSCePR

Fonte:IBGE‐Somatórioemtoneladasdaerva‐mateemfolhaverdeecancheadanoperíodo

OutroaspectoaconsideraréqueoTerritóriodoContestado,comoárea

referidaparaconstituiraIGdaerva‐mate,fazpartedeumrecorteterritorialmaior,queatingepartedoBrasileoutrospaísessul‐americanos.Noentanto,aerva‐matedorecorteterritorialemreferênciatemumdiferencial:trata‐sedamaioremaiscontíguaáreadeerva‐matesombreadadomundo.Éoqueapontamestudos recentes (MARQUESet al., 2012/2014;MARQUES, 2014;CHAIMSOHNetal.,2014).Vejamosalocalizaçãodasáreasdeincidênciadeerva‐mate na Figura 6. Uma explicação sobre a Figura 6: toda a áreamarcadapela coloraçãomais escura é ondehá a ocorrênciade erva‐mate.Vejam que na sua maior parte coincide com a área original ocupada poríndiosdanaçãoTupi‐Gurarani.Esseéumregistroparanoslembrardequeohábitodousodaerva‐matefoipornósherdadodosindígenas.

Oquedenominamosde"erva‐matenativaousombreada"seapresentana natureza de formas variadas, conforme demonstrado na Figura 7, umareferênciaàsáreascomapresençadeerva‐mate,emassociaçãocomoutrasespéciesvegetais.Apaisagemconstituiascaívas,umadenominaçãoregionalpara se referir aos remanescentes de áreas florestais manejadas, com aassociaçãodeespéciesvegetais,dentreasquaisa erva‐mate.Nasáreasdecaívasmaisabertas,emgeral,háaassociaçãocomacriaçãoanimais.

Municípios Total (ton) Municípios Total (ton)Canoinhas - SC 201.987,667 São Mateus do Sul - PR 422.929,000

Mafra - SC 101.557,000 Cruz Machado - PR 342.406,333

Itaiópolis - SC 101.467,667 Bituruna - PR 233.867,333

Irineópolis - SC 79.489,333 Paula Freitas - PR 224.680,000

Abelardo Luz - SC 78.795,000 Pinhão - PR 179.936,000

Xaxim - SC 77.646,333 Inácio Martins - PR 169.984,000

Chapecó - SC 75.311,667 General Carneiro - PR 163.151,667

Ponte Serrada - SC 60.706,000 Guarapuava - PR 132.604,667

Major Vieira - SC 51.290,333 Prudentópolis - PR 109.628,333

Bela Vista do Toldo - SC 50.569,333 Palmas - PR 95.610,333

Concórdia - SC 47.317,333 Pitanga - PR 90.637,667

Xanxerê - SC 46.328,667 Coronel Domingos Soares - PR 79.950,000

Caçador - SC 40.585,333 Turvo - PR 78.321,000

Guatambú - SC 37.384,000 Mallet - PR 72.135,000

Porto União - SC 32.560,000 Santa Maria do Oeste - PR 58.791,667

Papanduva - SC 31.018,000 Paulo Frontin - PR 53.904,667

Monte Castelo - SC 29.777,000 Porto Vitória - PR 48.276,667

Vargeão - SC 26.217,333 São João do Triunfo - PR 46.484,333

Campo Alegre - SC 25.265,333 Fernandes Pinheiro - PR 39.898,667

Timbó Grande - SC 22.278,000 Imbituva - PR 37.127,000

Três Barras - SC 20.437,333 Mangueirinha - PR 34.707,333

Rio Negrinho - SC 20.012,000 União da Vitória - PR 33.953,000

periodo 1990 a 2012

ParanáSanta Ctarina

periodo 1990 a 2012

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igura6‐Áreasdelocalizaçãonaturaldaerva‐matenohemisfériosul

Fonte:www.google.com.br Figura7‐Formasemqueseapresentaaerva‐matenativaousombreadananatureza

Fonte:Marques(2014)

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Por fim, é importante salientarmos que a erva‐mate do território doContestado faz parte de um conjuntomaior de produtos que apresentamespecificidade territorial, espalhados por todo o Estado de Santa Catarina.Nocapítulo8,jáfoifeitaumadescriçãoelocalizaçãodosprincipaisprodutosregionais que apresentam potencialidades para se transformaremfuturamenteemumaIG.Nãosãoosúnicos.Comcerteza,aestesénecessárioagregaroutros.Alémdosprodutos,temosaáreadeserviços.Nessesentido,poderiam sermencionadas, por exemplo, áreas turísticas tradicionais, taiscomo as regiões de águas termais. Todos os potenciais, no entanto, aindacarecem de estudos mais aprofundados para que se defina o caráter e aforma de destacar cada uma das especificidades territoriais apontadas,como ferramenta para articulação do desenvolvimento dos territórios daáreadeabrangência.3.ASPECTOSPRÁTICOSRELACIONADOSÀSNORMATIVASPARAOREGISTRODEUMAIG

Situado teoricamente o tema IndicaçãoGeográfica e contextualizada arealidadesobreaqualestásendoapresentadaumanovaexperiênciadeIG,nos propomos, na sequência, mencionar os principais aspectos exigidospelas normativas que se referem ao registro, fazendo inferências sobre aprática, tomando como referência, o caso da erva‐mate no Território doContestado.

FaremosreferênciaaosprincipaisaspectosqueresultamdasexigênciaslegaisdoórgãoresponsávelpeloregistrodeumaIG,oInstitutoNacionaldePropriedadeIndustrial(INPI),fazendoindicativasemrelaçãoàsituaçãodaerva‐mate. Tais aspectos são: (a) o requerente da IG junto ao INPI; (b) onome geográfico da IG; (c) o produto ou serviço a ser registrado; (d) aespéciedeIG;(e)adelimitaçãodaáreaaserabrangidapelaIG.

3.1AQUEMCABEREQUERERUMAIG?

ObservandoasIndicaçõesGeográficasregistradasatualmentenoBrasil

peloINPI,temosdistintassituações.Quantoaorequerente,sempresetratade um agente coletivo, por exemplo, na forma de associação, cooperativa,consórcio ou sindicato. O registro de uma IG é feito junto ao InstitutoNacional de Propriedade Industrial (INPI), mediante um instrumentoprocessualquesolicitaoreconhecimento.

Em quase todos os casos de IG, o registro é solicitado por umaassociaçãodeprodutores. Sãoexemplos: associaçãodosprodutoresvinho,carne,panelasdebarroecafé.Hácasosemqueoregistroérequeridoporumaassociaçãodeprodutoreseamigosdeumproduto.Exemplo:associaçãodosprodutorese amigosdacachaça.Quandoa IG se refereaumproduto,

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cuja área de abrangência é extensa, há duas situações: conselhos deassociações de produtores; união das associações e cooperativas deprodutores. Há casos em que a IG é requerida por uma associação deindústrias, em especial, quando se trata de um produto industrializado,como o exemplo do couro, produto resultante do processo deindustrialização,nocaso,dematadourosoufrigoríficos.Émenosrecorrenteque o registro de IG tenha sido requerido por cooperativas de produção,consórciosousindicatosdeprodutoresoudeindústrias.

No caso da erva‐mate no Planalto Norte Catarinense e Centro‐Sul doParaná, temos dois atores principais envolvidos. Em primeiro lugar e emmaior número, os produtores, na sua maioria de pequeno porte; emsegundo, vem o setor industrial e comercial. O setor empresarial,atualmente, está organizado, nos estados produtores, pelo Sindicato daIndústriadoMate,tantoemSantaCatarinacomonoParanáeRioGrandedoSul, estados brasileiros que concentram a produção e industrialização daerva‐mate no Brasil. Quanto aos produtores, os mesmos se agregam emsindicatos de trabalhadores rurais. No entanto, não há no momentoassociaçõesdepequenosprodutores,emespecíficodaerva‐mate.

Portanto,nocasodaIGdaerva‐mate,poderãosercaracterizadasduassituações. O registro poderá ser requerido por um ou mais sindicatos daindústria do mate. No entanto, há aspectos favoráveis e desfavoráveis. Ofavorávelrefere‐seao fatodequese tratadeestruturasorganizacionais jáexistentes.Porém,osaspectosdesfavoráveisparecemseremmaiornúmero.Primeiro,éumarepresentaçãodeapenasumsegmentodacadeiaprodutiva,o comercial e industrial. Segundo, o setor, apesar de sua importânciaeconômica,articulaumaparcelamuitopequenadosetorprodutivodaerva‐mate, considerando‐se o grande número de produtores rurais que têm aerva‐matecomoumaatividadeeconômicaprioritáriaoucomplementar.

Ouseja,nocasodapropostadeIGdaerva‐mate,umadasevidênciaséque o setor produtivo, que abrange a maior parte dos atores da cadeiaprodutiva,precisaseorganizaremumaoumaisassociaçãooucooperativadeprodutores.Essaéumaexigênciacomduplosentido.Primeiro,éaúnicaformadeumdoselosdacadeiaprodutivafazerrepresentarseusinteressesfrente ao sindicatoda indústria, segmento já organizado. Segundo, o setorprodutivoagrícolaprecisaránecessariamente ter representaçãoeestanãodeveserminoritária,sejanonúmerodecomponentesou,mesmo,nopoderdedecisão.Arazãoésimples:sãoamaioriae,porquenãodizer,aprincipalrazão de ser, ao se pensar no registro de uma IG como ferramenta paraagregaçãodevaloremtodosossegmentosdacadeiaprodutiva.

3.2NOMEGEOGRÁFICOPARAAIG

VerificandoosregistrosatuaisdeIGnoINPI,observamosqueexistem,

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nomínimo,quatrosituações.Aprimeiraemaiscomuméarelaçãodonomegeográficocomadelimitaçãodaáreadeabrangência.Temos,então,nomesdeummunicípio,aexemplodocasodeParaty,comaIGdaCachaçaParaty.Outra situação é associar o nome geográfico fazendo menção a umareferênciadelocalizaçãoregional,aexemplodaRegiãodoCerradoMineiro,comaIGdoCafédeCerrado.Aterceirasituaçãoéassociarumareferênciade localização com um produto, a exemplo do Vale do Própolis Verde deMinas Gerais, para uma DO de própolis recentemente registrada11. Umaquarta situação é definir o nome geográfico associando localizaçãogeográfica com algum fator de ordem cultural ou histórica. Ex.: NortePioneiro do Paraná, onde está presente a dimensão geográfica ‐ Norte doParaná ‐, comum fator histórico, ao referir‐se a uma região caracterizadapelopioneirismonocultivodocafé.

Retomemosaocasodaerva‐mate.Mesmoqueadiscussãoaindaestejanoseuestágiopreliminar,dassugestõesmaisreferidas,duassedestacam.Aprimeira é o nome geográfico fazer referência à área territorial onde seconcentra a maior produção. Nesse caso, referências feitas são: PlanaltoNorteCatarinenseeCentroSuldoParaná;ouValedosriosNegroeIguaçu.Essasduasreferênciasrequeremseranalisadasnoespaço, considerandoanecessidadedeinstitucionalizararegionalizaçãoedelimitaçãodaárea.

A análise preliminar da realidade socioeconômica e histórico‐culturaldo Contestado parece indicar que o mais adequado é associar o nomegeográfico da IG da erva‐mate, com fatores de ordem histórica e cultural,além dos de localização. Ou seja, o termo Contestado remete a umareferência de ordem histórico‐cultual e identitária, fazendo referência àhistóriadeumpovoque,graçasaosseusvaloresculturais,rebelou‐secontraaformadeocupaçãoterritorial,alémdeteraerva‐matecomohábitoemeiodesobrevivência.Refere‐se, também,aosaspectosde localização,poisestáinstitucionalizadapeloEstadodeSantaCatarinaaregiãoturísticadoValedoContesta.Éclaroqueonomevale,nãoéadequadosobopontodevistadageografia, pois o recorte territorial é constituído predominantemente deáreasdeplanalto, oque implicaqueessaquestão seja revista, alterandoalegislação que a institucionalizou. Outro aspecto é o fato de que, caso sepretenda abranger toda a área de produção da erva‐mate dos estados deSanta Catarina e Paraná, a regionalização do Vale do Contestado nãocontemplaorecorteterritorialparanaense,comosomentepartedaáreadecultivodeerva‐matedeSC.

Ou seja, há desafios a serem pensados antes de se definir o nomegeográfico.Sãoalgunsexemplos.QualaáreaaserdefinidaparaaIG?QualotipodeIG?CasoseopteporumaIGtipoDO,quaiscaracterísticasespecíficasserão destacadas? Dependendo das opções de respostas, poderá se optar

11 No caso referido, o diferencial do produto é ter coloração predominantemente verde, em função do tipo de vegetação na qual as abelhas buscam a matéria prima.

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entre uma das diferentes possibilidades, dentre as quais, apresentamossugestões: Território Ervateiro do Contestado; Erva‐Mate Florestal doContestado; Território da erva‐mate nativa do Contestado. Mesmo estesexemplos requerem análises e tomada de posição no que se refere àoficializaçãodaregionalização,vistoqueoque temoséapenasochamadoValedoContestado,comoregiãoturística.

3.3PRODUTOOUSERVIÇOASERREGISTRADO

Quantoaoprodutoaserregistrado,nocasoemreferência,seráaerva‐mate, nas suas diferentes formas de utilização, tais como: erva‐mate parachimarrão; chás a base da erva‐mate; erva‐mate para sucos, refrigerantes,energéticosououtrasbebidas;erva‐mateparausoculinário, farmacêutico,cosméticoenaindústriaquímicaemgeral.3.4AESPÉCIEDEIG

Neste quesito, dependendo do tipo de encaminhamento, poderemostornaraerva‐mate,pormeiodoprocessoderegistrodaIG,umprodutocommaisespecificidadeenotoriedade,dependendodaespéciederegistro,comoIP,ouDO.

Essa é uma questão da maior importância. Temos a possibilidade deapenasregistrarumprodutopelasuanotoriedadehistóricaeterritorial,naespéciedeumaIP.OutrapossibilidadeéregistrarmosumaDO.Trata‐sederegistrarmos um produto, ao mesmo tempo, com notoriedade eespecificidade.AsegundaopçãorestringiriaaatribuiçãodoselodaIGparaaerva‐mate,daáreaaserdefinida,quetenhacaracterísticasespecíficas.

Considerando estudos já realizados12, os quais precisariam seraprofundados, cerca de 70% a 80%da erva‐mate das regiões do PlanaltoNorte Catarinense e Centro‐Sul do Paraná, o que corresponde ao quechamamosdeTerritóriodoContestado,temduascaracterísticasespeciais:écultivada na forma nativa ou sombreada e sem uso de agrotóxicos.Poderíamos acrescentar uma terceira: predominamnos ervaisde espéciesnativasdaregião.Claroqueestaúltimacaracterísticaexigirámaisestudos,demédioelongoprazo.

Aassociaçãodessascaracterísticaspoderáseconstituirnoindicativodapossibilidade de se realizar o registro da erva‐mate regional na forma deumaDO.Apesardepareceralgorestritivo,nãodeixariadetrazerreflexosdenotoriedade à erva‐mate produzida na área definida, tanto a que poderiaobter o selo de IG como o restante da produção. Uma questão deve serconsiderada: quanto maior a diferenciação do produto a ser registrado,maior será a valorização pelo mercado, do que resultarão, por extensão,maioresganhosemtodaacadeiaprodutivadaerva‐mate. 12 Um deles já mencionado: Marques (2014).

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3.5DELIMITAÇÃODAÁREAASERABRANGIDAPELAIGDamesmaformaquenosaspectosanteriormentereferidos,observando

os registros de IG no Brasil, percebem‐se diferentes situações. Há IGregistrada, tendo como área de delimitação uma parte de um ou maismunicípios. Outras demarcações correspondem às regionalizações jáexistentes,aexemplodaRegiãodoJalapãonoEstadodeTocantins,nocasoda IG de artesanato de capim dourado. No entanto, é mais comum ademarcação geográfica pelas coordenadas geográficas, de forma exclusiva,ouassociadaàsformasanteriormentemencionadas.

No caso da IG da erva‐mate, a demarcação da área de abrangênciadependerá,emparte,donomegeográficoedotipodeIGescolhida,IPouDO.Ouseja,deverácorresponder,aomesmotempo,aoterritóriodeabrangênciadosfatoshistóricosrelacionadoscomaQuestãodoContestado,associadoàárea de maior domínio da erva‐mate. Pelo que conhecemos, há umacorrespondênciamuito próxima, entre fatos históricos e área de domínio.Nessecaso,restariadefinirorecorteterritorialquemelhorcorrespondesseaosdoisfatoresmencionados,sejaporcoordenadasgeográficas,ouporáreadeabrangênciadeumconjuntodemunicípios,sejamelesdeSantaCatarinaoudoParaná.

4.ANÁLISESEPROJEÇÕESSOBREAIGDAERVA‐MATENOCONTESTADO

Mesmo que a forma com a qual fazemos essas análises e projeções

possaserconsideradaumpoucoanárquica,considerandooqueéusualnumartigo científico, ousamos em apontar indicativos para reflexão e, sepossível,orientaçãodasaçõesemrelaçãoàproposiçãodaIGdaerva‐matenoTerritóriodoContestado.Ofazemossempedantismoedeformaquenãorepresente uma opinião isolada, nem temos a pretensão de representar averdade única. Tivemos, sim, o cuidado científico de sustentar nossasproposições em estudos nacionais e internacionais já realizados sobre otemaemreferência.

Vários são estudos realizados sobre as potencialidades para a IG daerva‐materegional,nosquaisnossustentamos,aexemplodedissertaçõeseteses de doutorado, tais como, de Souza (1998) e Marques (2014). Namesmalinha,fazemosreferênciaainvestigaçõesqueforamrealizadasdesde2010 no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional daUniversidade do Contestado, destacando: (a) o Projeto de PesquisaTerritório, Identidade Territorial e Desenvolvimento (financiado pelaFAPESC),queestudouexperiênciasdeIGbrasileiras,comaparticipaçãodemais de uma dezena de pesquisadores das principais universidadescatarinenses, parte dos resultados registrados em publicações recentes

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(DALLABRIDA et al., 2014; MAIORSKI e DALLABRIDA, 2014; SANDER eDALLABRIDA, 2014; PETRENTCHUK,MARCHESAN eDALLABRIDA, 2014);(b)estudosdepós‐doutoradorealizadosem2013no InstitutodeCiênciasSociaisdaUniversidadedeLisboa,abrangendoexperiênciasdeIGdoBrasile de Portugal (DALLABRIDA, 2014a); (3) estudos realizadas em cincoexperiênciasbrasileiras,cincodePortugaleduasdaEspanha,entre2013e2014, que resultaram já em publicações nacionais e internacionais, taiscomo,Dallabrida(2013;2014b/c)eDallabridaeFerrão(2014).

Ainda, durante osmeses de julho e agosto de 2014, foram realizadosestudosde investigaçãopeloProf.Dr. JulioPlazaTabasco,daUniversidadedeLaMancha(Espanha),emsuaatuaçãonaUniversidadedoContestadoeoutras três de Santa Catarina, como Pesquisador Visitante, projetofinanciado pelo CNPq que teve como tema de estudo a "Erva‐mate comoalternativa de desenvolvimento territorial", contextualizando‐a no estudosobre as formas de usos de solo e seus impactos no desenvolvimentoregional. No mesmo período, em evento promovido pelo Programa deMestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado,juntamente com a EPAGRI de Canoinhas, intitulado III Workshop sobreDesenvolvimentoRegionalnoTerritóriodoContestadoeIISeminárioSistemasdeProduçãoTradicionais eAgroflorestaisnoCentro‐SuldoParaná eNorteCatarinense, foram apresentadas por palestrantes brasileiros, portugueses,espanhóis argentinos, experiências brasileiras e internacionais, cujasprincipaisconclusõesforamcondensadasemdocumentodisponibilizadoàsinstituições, liderançase comunidade regional13.Boapartedas conclusõescontidasnodocumentocoincidecomosindicativosaquipropostos.

Como já fizemos referência na introdução, há contribuições de umconjunto significativodepesquisadoresbrasileiros edeoutrospaíses, querealizaram investigações epublicaram livros e artigos científicos, tratandodo tema, com análises de experiências brasileiras e europeias. Com basenisso, acreditamos que é possível afirmar que temos uma base teórica eprática que pode servir de referencial para propormos indicativos, com ofimdeorientaroprocessodediscussãoeproposiçãodaIGemreferência.

Em síntese, tais estudos, somando‐se aos debates já realizadosregionalmente, apontam, no mínimo, seis questões referenciais, conformeenumeradasadiante.

1. Todas as ações voltadas à proposição de uma IG precisam estar

referenciadas no envolvimento social, ou seja, fazer com os atoresterritoriais e não para eles, o que implica no envolvimento de forma

13 Trata-se do Documento Estratégico sobre Desenvolvimento Regional no Território do Contestado, o qual pode ser disponibilizado aos interessados, pelos autores.

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igualitária de todos os segmentos da cadeia produtiva da erva‐mate(pequenosegrandesprodutoresruraiserepresentantesdosetorsindicalaque pertencem; setor industrial, setores públicos municipais, estaduais efederais relacionados ao setor agrícola...), além dos pesquisadores queinvestigamotema.

2. A atividade produtiva da erva‐mate precisa ser considerada nadimensão do que podemos denominar uma agricultura multifuncional aserviçododesenvolvimento sustentável (RÉMI, 2010), na formade sistemasagroalimentares localizados (SIAL) (REQUIER‐DESJARDINS, 2010), ousistemasprodutivoslocaisagroecológicos(VIEIRAetal.,2010),oqueimplicaem que a avaliação de sua importância como fator impulsionador dodesenvolvimentoprecisalevaremcontanãosóosresultadoseconômicosdaatividade de produção e industrialização, mas sua contribuição napreservação ambiental, na manutenção do agricultor familiar na suapropriedade rural e na possibilidade de gerar alternativas futuras dedesenvolvimento, por exemplo, a valorização do patrimônio cultural eambiental ou o turismo rural, oportunizando com isso outras formas derendimento aos produtores rurais, sustentáveis econômica eambientalmente.

3. Damesma formaque emoutras atividades econômicas, no caso daerva‐mate,éindispensávelmanterofococentralnaagregaçãodevaloraosprodutos,afimdesuperaratradiçãoextrativistapredatóriaeexportadorade commodities de baixo valor agregado, historicamente presente noTerritóriodoContestado,oqueimplica:

a‐ Apoiar pesquisas em realização e incentivar novos estudos, com ointuito de ampliar o desenvolvimento de novos produtos e subprodutosoriundos da erva‐mate, tais como, bebidas, refrigerantes, sucos e outros,tarefaresponsabilidadedosórgãosdepesquisa,asuniversidadesedemaisórgãosregionais;

b‐Departedosetorempresarial,terofoconainovaçãoindustrial,comlançamentodenovosprodutos,priorizaçãodaqualidade,alémdeampliaroprocessamento regional dos mesmos, evitando a comercialização ouexportaçãodaerva‐mate,comomatériaprimasemiprocessada.

4.Estudos,comoosdeMarques(2014),demonstramqueemtornode80% da erva‐mate produzida nas áreas produtoras de Santa Catarina eParaná provém de ervais nativos, ou o que também chamamos de "erva‐mate sombreada". Além disso, a maior parte dessa produção não utilizaagroquímicosnoprocessoprodutivo,oquereforçaoindicativodequesejaadotadocomonormaparaaIndicaçãoGeográficadaerva‐materegional,naforma de Denominação de Origem, duas exigências, tais sejam, serexclusivamente erva‐mate nativa ou sombreada e cultivada de formaagroecológica,transformando‐seestenoprincipaldiferencialdoprodutoem

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relação às outras regiões produtoras, consequentemente, atribuindo‐lhemaior notoriedade e valorização no mercado de consumo nacional einternacional. A este diferencial, outros podem ser acrescidos, mediantecomprovação.

5. Realizar um inventário definindo e mapeando as áreas compredominância de localização da erva‐mate sombreada, nos estados deSanta Catarina e Paraná, caso essa característica seja assumida comodiferencial.

6. Que sejam aprofundados estudos em relação ao melhoramentogenético da erva‐mate, priorizando espécies nativas, originalmenteencontradasnaMataAtlânticadaregião,comoque,nofuturopróximo,sepossa inserirmaisestediferencialnas característicasa serematribuídasaerva‐matequeviráutilizaroselodeIG.

Porfim,algumasreflexõesnosentidodequecompreendamosmelhora

acepção dos conceitos que são propostos aqui para orientar a prática dodesenvolvimentoterritorial.

Primeiro, quando concebemos território como uma construção socialresultantederelaçõesdepoder,precisamosdiferenciardoquepoderiaserentendido como o ressurgir do "mandonismo local"14, ou do sistema depatronagem.Aocontrário,aconcepçãodeterritóriocomoconstruçãosocial,no caso do chamado Território do Contestado, implica em rever e, sepossível,superarconcepçõesdeliderançacentralizadoras,paraumapráticademocrática.Implica,também,emrenegartentativassutisdeesquecimentoda história e identidade dos povos derrotados, representada por certodesleixo para com o patrimônio histórico e cultural do Contestado, aexemplodoabandonoouatençãoinsuficienteàsigrejasegrutas,aospontoshistóricoscomoocasodacidadedeIrani,oupeloesquecimentodaculináriaedaartedopassado,alémdeoutrosexemplosnegativos.

Implica em resgatar e reconstruir valores e tradições do passado.Relembramos apenas três destes valores tão presentes no povo doContestadodopassado:acooperação,aaçãocoletivaeaindignação,esta,nosentido de não aceitação passiva de imposições, sejam elas de qualquerorigemouespécie.AdefiniçãodeumaestruturaorganizacionalparageriraIG da erva‐mate, exigirá, além da prática democrática, muita cooperação,capacidade de ação coletiva e, por vezes, posicionamentos de indignação,

14 Conceito proposto por autores clássicos, tais como Oliveira Viana e Maria Isaura Queiroz, para se referirem às relações de subordinação de senhores sobre escravos, ou, mais tarde, dos coronéis, representados por grandes latifundiários, sobre as populações locais a eles subordinadas. Hoje, poderíamos comparar com posturas ainda presentes em algumas regiões, que se revelam no que chamamos de "votos de cabresto", ou formas correlatas de liderar antidemocraticamente.

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renegando práticas invasivas, individualistas e que não privilegiem osinteressescoletivos.Ouseja,oprocessoderegistrodaIGserencaradocomoumprojetocoletivo,queincluaosdiferentessujeitosdoterritório.

Uma segunda categoria conceitual referida é a identidade territorial,entendida como elemento diferenciador de umdeterminado agrupamentopopulacional.Conformejáreferido,aidentidadeterritorial,aoreafirmarasnormas e valores éticos e comportamentais, contribui para melhorar atransferência do saber entre as gerações. Além disso, os sentimentosidentitários determinam, no nível local, um apego afetivo aos valorespaisagísticose culturaisdo território.Assim,odesenvolvimento territorialsesustentanacapacidadedacomunidadelocaldevalorizaçãodoterritório,emparticular,os recursosqueconstituemelementosdediferenciação.ÉoquepareceserograndedesafioparaoTerritóriodoContestado,conformeapontamestudosanteriormentereferenciados.

Outra questão é a concepção de ancoragem territorial. Umadeterminada atividade econômica estar ancorada territorialmenterepresenta estar enraizada no território. Implica em inverter a lógicahistórica que ocorre em muitas regiões, e também no Território doContestado,queatendeunicamenteadimensãodeapropriaçãodosrecursosdosterritórios.EmpresaseprodutoresruraisprecisamterclaroqueaIGdaerva‐mate terá maiores contribuições ao desenvolvimento territorial, namedidaemquecontribuaparaaumentaracirculaçãoderendaregional,quehajacomprometimento,porexemplo,comapreservaçãoambiental,pois,nocaso da erva‐mate, esse é o principal recurso disponível para geração deempregoerenda.

Tanto a acepção de território, identidade e ancoragem territorial,remeteànoçãodecapitalterritorial,comooconjuntodosrecursoseativosde um determinado território. Trata‐se de enfrentar o desafio de ativar erevalorizarocapitalterritorial,convertendoaquelesprodutosgenéricosemespecíficos, resultando numa das mais importantes estratégias dedesenvolvimentoterritorial(BENKOEPECQUEUR,2001;PECQUEUR,2006).Ouseja,éindispensáveldedicarumaatençãoespecialaoreconhecimentoevalorização das características de especificidade territorial que possui aerva‐mate do Território do Contestado. Se não for dedicada a atençãonecessáriaaessadimensão,nomáximo,estaremosdandoumpoucomaisdenotoriedade ao produto erva‐mate e continuaremos competindo nomercadonacionaleinternacional,vendendomaisumcommodity.

Sintetizando, a possibilidade de articulação do desenvolvimentoterritorialpormeiodeestratégiastaiscomooreconhecimentoevalorizaçãodas características de especificidade territorial, a exemplo da IndicaçãoGeográfica, representa associar articuladamente as pessoas, o produto e oterritório,comoestárepresentadonaFigura8.

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Figura8‐Interaçãoentrepessoas,oprodutoeoterritório

Fonte:AdaptadodeVandecandelaere(2011,p.11)

Restariaumaúltima interrogação:qualosignificadodo indicativoqueconsta na Figura 8 sobre o processo coletivo de criação de valor? Areferênciatemrelaçãocomofatodequediferentesatorespodemparticiparnoprocessodecriaçãodevalor,desdeasautoridadespúblicas,osórgãosdeinvestigação e extensão, as organizações não governamentais e os setoresempresariais do território. Ou seja, o envolvimento articulado de toda acadeiaprodutiva,quenessecasopassaaseconstituircomocadeiadevalor,(os produtores, os processadores, os distribuidores e os consumidores,tantolocaiscomoextralocais).

Essas referências são de extrema importância no processo deinstitucionalizaçãodeumaIGnumdeterminadoterritório.

CONSIDERAÇÕESFINAIS

Para finalizar, assinalamos como um dos principais desafios a serem

enfrentados,ofatodequenoTerritóriodoContestadonãosetemrealizadoum estudo que identifique com profundidade os ativos e recursosterritoriaisquepossamapoiarumplanejamentoterritorial,integradamenteà estratégia da IndicaçãoGeográficada erva‐mate.Ou seja, referimo‐nos àtarefadeinventariarecaracterizaroscomponentesdocapitalterritorialdoTerritório do Contestado. Fazemos referência a um esforço no sentido daidentificação e caracterização de suas paisagens, o patrimônio histórico,artístico,culturalearquitetônico,asatividadeseconômicaspotenciais,comoexemplo, o turismo. Paralelamente, se apresenta a necessidade de

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pensarmosnaestruturaçãode centrosde investigação, alémde atividadesdeapoioquepossamcontribuirnaarticulaçãodacadeiaprodutivadaerva‐mate, na perspectiva de sua reestruturação, com destaque na inovação edesenvolvimentodenovosprodutos.

Um segundo desafio é a necessidade de organização dos produtoresrurais que tem a erva‐mate como uma atividade prioritária oucomplementar se organizarem, de preferência, em microrregiões, seja naforma de associação ou cooperativas de produtores. Justificando aproposição, a projeção é de que a IG da erva‐mate venha abranger umagrandeáreageográfica,inclusiveatingindomaisdeumestadobrasileiro,nocaso,SantaCatarinaeParaná.

Considerando que, nessa prospecção, teríamos um sindicato daindústria e uma oumais estruturas organizacionais dos produtores, seriaprudente que se imagine uma estrutura organizacional, integrando osdiferentes segmentos da cadeia produtiva da erva‐mate. Ressalta‐se esseindicativo, considerando‐se que a reestruturação da cadeia produtiva daerva‐mate poderá gerar outras iniciativas produtivas, a exemplo de rotasturísticas de caráter histórico, cultural e ambiental, o que poderáoportunizar o surgimento de outras iniciativas empresariais, tais como,pousadas ou hotéis, restaurantes, empresas de transporte ou turismo,museuseocomérciodeprodutosalimentaresouartesanatotípicoregional.Ouseja,aestruturaorganizacionalmaisrecomendávelseriaaprevistasobaformadeUniãodasAssociaçõesdeEmpreendedoresnoSetorErvateiro,ouConsórcio do Setor Ervateiro, ou algo assemelhado. O título poderá seracrescidodonomegeográficoaserdefinidoparaaIG.

Emrelaçãoaonomegeográficoda IGdaerva‐matepelaassociaçãodeumprodutocomdestaquenoTerritóriodoContestado, incluindoáreasdeSanta Catarina e Paraná, lembramos uma questão adicional: trata‐secertamentedamaioráreadeerva‐matedomundocontíguaoupróxima,compredominância quase absoluta da forma de cultivo nativo ou sombreado,incluindo formasdeplantionatural, ouporprocessosdemanejo florestal,poradensamentoemáreasderemanescentesdaMataAtlântica.Alémdisso,predominaocultivoagroecológico.

A questão ecológica é um dos aspectos de maior importância a serconsideradoparaodesenvolvimentoterritorial.Éumdebateaserassumidocom discernimento, superando interesses individualistas ou imediatistas,sejadosetorprodutivo,comercialouindustrial.Éimportanteressaltarqueproduzir agroecologicamente é conceber a produção agrícola como umsistemavivoecomplexo, integradonanaturezaemantendoadiversidade,noqualaespéciehumanaseinserenãocomopredadora,mascomoumdoselementos integrantesepromotoradapreservaçãodasdemaisespécies.Oprincipalbônusdeproduziremsistemasdeproduçãoagroecológicoséque,

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alémdeproduziralimentosmaissaudáveis,osmesmostendemasercadavezmais valorizados pelomercado, alémde, no caso da erva‐mate, servircomoumdiferencialqualificado.

Estudospreliminaresapontamqueaerva‐matenativaousombreadaecultivada de forma agroecológica apresenta um sabor mais suave, commelhor aceitação no mercado brasileiro e uruguaio (LOPES, 2011;MARQUESetal.,2012), alémdequeosmanejos tradicionaisdaerva‐matejunto a ervais florestais, pelamaior valorização nomercado, compensariauma possível menor produtividade (MARQUES et al., 2014). Tais estudosprecisamseraprofundados.

Já autores como Chaimsohn et al. (2014), apontam que a erva‐matecultivadadeumaformatradicional,ouagroecologicamente, trazvantagenssignificativas.

Configura‐se como atividade fortemente ligada às tradições e à história dasfamílias, além de ser um trabalho prazeroso para os agricultores. Contribuipara a conservação dos remanescentes florestais e de espécies arbóreasameaçadasdeextensão,aumentaaconectividadeentrefragmentosflorestais,gera diversos serviços ecossistêmicos e permite umamultiplicidade de usosnoservaisflorestais(CHAIMSOHNetal.,2014,p.49).

É importante salientar que o processodepreservação e reconstruçãodestessistemas contribui para a permanência da biodiversidade da floresta dearaucáriaedeseusvalorespaisagísticos,ecológicoseambientais(incluindoaconservação do solo e água), além de culturais e históricos, que podemestimular o turismo rural e ecológico, por exemplo, colaborando para odesenvolvimentoterritorial.

Em síntese, os sistemas tradicionais de erva mate, se valorizados,"reinventados" e reconstruídos, podem ter impactos importantes nodesenvolvimento territorial das regiões Centro‐Sul do Paraná e NorteCatarinense,tantodopontodevistaeconômico,comoambiental,paisagístico,socialecultural(CHAIMSOHNetal.,2014,p.53).

Por fim, além da questão ecológica, acreditamos que no processo devalorizaçãodaerva‐matepormeiodaIG,sefaznecessárioassumirodesafiode pensar ações de desenvolvimento territorial na perspectiva dapluriatividade, associando inovação, viabilidade econômica, equilíbrio econservação socioambiental. São exigências para dimensionaradequadamente uma estratégia de desenvolvimento territorial integradaparaoTerritóriodoContestado.

São essas as reflexões e projeções que consideramos imprescindíveis,tantonosentidodecontextualizarteoricamenteodebatesobreIGquantoaose referir aos aspectos práticos relacionados às normativas para seuregistro, tomandocomoreferênciaaexperiênciaemcursodeestruturaçãodaIGdaerva‐matenoTerritóriodoContestado.Comoassumimosodesafio

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de ser tanto críticos como propositivos, estamos abertos a admitirposicionamentos contrários, no entanto, comprometendo‐nos com oaprofundamentododebatesobreatemáticaaquiapresentada.

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CAPÍTULO13

INDICAÇÕESGEOGRÁFICASCOMOPOLÍITICASPÚBLICASDEDESENVOLVIMENTOTERRITORIALRURAL‐OCASODOSVALESDAUVAGOETHE1

AdrianaCarvalhoPintoVieira‐UNESCValdinhoPellin‐FURB

1.INTRODUÇÃO

Nosúltimosanos,asindicaçõesgeográficas(IG’s)têmsidoconsideradaspossíveisestratégiasdedesenvolvimentoe/oufortalecimentoeconômicoderegiões,comsuacapacidadedevalorizarosrecursosterritoriaiseestimularosurgimentodenovosnichosdemercado.Podemserpensadascomoumaferramentadeocupaçãoharmoniosadoespaçoculturalprodutivo,aliandoavalorização de um produto típico e seus aspectos históricos e culturais àconservaçãodabiodiversidadeeodesenvolvimentorural.

Trata‐se de uma importante estratégia para a indução dedesenvolvimentoterritorialrural,bemcomodeestímuloaosatoressociaispara promover “processos de qualificação”. Ensejam um novo modelo deprodução e consumo alimentar, revalorização de tradições, costumes, osaberfazereoutrosbensimateriaisassociadosaumaidentidadeterritorialeorigemgeográficaespecífica(NIEDERLE,2013).

Conforme Cerdan (2013), a proteção e a promoção das IG’s sãojustificadas pelos seus impactos no desenvolvimento territorial. A autoraapontaquediversospaísesevidenciamequalificamosprincipaisbenefícios,tais como observados na Europa. Estes benefícios são: a geração desatisfação para o produtor, que vê seus produtos comercializados nomercado,valorizandooterritórioeoconhecimentolocal;facilitaapresençadeprodutostípicosnomercado;contribuiparapreservaradiversificaçãodaprodução agrícola, as particularidades e a personalidade do produto;aumenta o valor agregado dos produtos; estimula a qualidade, já que osprodutossãosubmetidosacontroledeproduçãoeelaboração;permiteaoconsumidor identificarperfeitamenteoprodutonosmétodosdeprodução,fabricação e elaboração dos produtos; melhora e torna mais estável ademandadoproduto;geraganhosdeconfiançajuntoaoconsumidorquanto

1 O texto resume resultados do Projeto de Pesquisa Território, Identidade Territorial e Desenvolvimento, financiado pela FAPESC, Chamada Pública N.04/2012/Universal.

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àautenticidadedosprodutos,pelaaçãodosConselhosReguladores;facilitaomarketing; promove os produtos típicos; facilita o combate à fraude, ocontrabando, a contrafação e as usurpações; favorece as exportações eprotegeosprodutoscontraaconcorrênciadeslealexterna.

É nesse contexto que emergiram recentemente no Brasil discussõesvoltadas às contribuições que as IG’s podem oferecer para odesenvolvimento territorial. Em concreto, este artigo pretende analisarcomo o instituto da IG pode promover o desenvolvimento territorial noespaçorural,identificandopontosfortesevocaçõeseconômicasquepodemtornar a região mais competitiva. A análise será efetuada à luz daexperiênciadaIndicaçãodeProcedênciadosValesdaUvaGoethe,naregiãodeUrussanga–SC.

Metodologicamente, o artigo vale‐se de uma pesquisa qualitativa edescritiva,vistoquepermiteaopesquisadorseaproximardavivênciasocialdogrupoemestudo,entendendocomoaconstruçãodessarealidadequeseprocessouecomonaquelecontextosemovimenta(SHAW,1999).E,quantoaosmeios de investigação, classifica‐se como bibliográfica e de estudo decaso, uma vez que foi realizada como meio de investigação as fontessecundárias.

A estrutura do artigo é dividida em três partes. Em um primeiromomento, privilegia‐se uma breve abordagem sobre desenvolvimentoterritorial no espaço rural, avançando para uma caracterização dapropriedade intelectual e da relação entre a vitivinicultura e as IG’s. Nasequência efetua‐se a análise da experiência da Indicação de Procedênciados Vales da Uva Goethe na região sul de Santa Catarina e, por fim,apresentam‐seasconsideraçõesfinais.

2.REFERENCIALTEÓRICO

Omarco teórico‐conceitual do presente trabalho compreende, em umprimeiromomento,acaracterizaçãosobreodesenvolvimentoterritorialemespaços rurais. Em seguida, aborda brevemente a questão da propriedadeintelectual e, na sequência, apresenta a relação entre a vitivinicultura e asIndicaçõesGeográficasnapromoçãododesenvolvimentoterritorial.

2.1ODESENVOLVIMENTOTERRITORIALEMESPAÇOSRURAIS

Um dos primeiros estudiosos a apresentar uma definição para oterritório foi Ratzel, que o descreve como um espaço apropriado por umdeterminado grupo (CORREA, 1995; SCHNEIDER, 2004). Considerando asformasdeapropriaçãoetransformação,oterritóriopodesercompreendidoapartirdeseususos,comooespaçomodificadopelatécnica,pelotrabalho,

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sendopalcoeatornasrelaçõesquealisãoproduzidas(SANTOSESILVEIRA,2001).

Schneider (2004, p. 99) compreende o território enquanto “[...] umespaço de ação em que transcorrem as relações sociais, econômicas,políticaseinstitucionais.Esseespaçoéconstruídoapartirdaaçãoentreosindivíduoseoambienteoucontextoobjetivoemqueestãoinseridos”.Nessesentido,percebe‐ocomodinâmico,emconstantetransformaçãoemudança.Esse dinamismo é configurado tanto pelos atores internos e suas inter‐relações como pela relação com fatores externos. Resultado de umaconstruçãosocialecoletiva,oterritórioéconsideradooespaçoapropriadopor um determinado grupo que compartilha valores culturais, e se tornafoco do desenvolvimento, não sendo apenas o espaço físico,mas tambématordesseprocesso.Osterritóriossão,portanto,realidadesemmovimento,nasquaisimperaramasrelaçõessociais,eanoçãodeterritóriodesignaaquio resultado da confrontação dos espaços individuais dos atores nas suasdimensõeseconômicas,socioculturaiseambientais(CARRIÀREeCAZELLA2006).

O desenvolvimento territorial designa todo processo de mobilizaçãodosatoresqueleveàelaboraçãodeumaestratégiadeadaptaçãoaoslimitesexternos, na base de uma identificação coletiva com uma cultura e umterritório(PECQUEUR,2005).Anoçãodeterritório,portanto,abrecaminhopara um avanço notável no estudo do próprio desenvolvimento, já quesugereumaênfasenamaneiracomoosdiversosatores(privados,públicoseassociativos)relacionam‐senoplanolocal.Oprocessodedesenvolvimentoéo resultado da forma específica como são usados os fatores materiais eimateriaisdisponíveis,combaseemditasrelações(ABRAMOVAY,2006).

NoBrasil,odebateemtornododesenvolvimentoterritorialsustentávelnomeio rural intensifica‐se, não apenas comomais umaquestão de cortesetorial,mascomoumassuntoqueinteressaatodasociedade.Omeioruralpassaaservistocomoumpalcoparaacriaçãodedinâmicasinovadorasdedesenvolvimento.Issoocorreu,principalmentenasúltimasdécadas,quandoa maioria da população brasileira observou o crescimento de umaurbanizaçãocaóticaeexcessivaequesetornacadavezmaisproblemáticaem funçãodoagravamentodoêxodorural, sobretudodapopulação jovemprovenientedonordeste(ANDION,2010).

Aliás,oprocessodeurbanizaçãosempreestarápresentenasdiscussõesrelacionadasaodesenvolvimentonomeiorural.Averdadeéque,comobemdestaca Martini (1993), a redistribuição da população sobre o espaçoobedece à evolução da localização e da reestruturação da atividadeeconômica. Ou seja, como a concentração espacial da grande maioria dasatividadeseconômicaslocaliza‐senosgrandescentros,éláqueseconcentratambémamaiorpartedapopulação.

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Quandosediscuteeseproblematizaoêxodorurale,emalgunscasos,os processos de litoralização2, é possível deparar‐se com estratégiasinteressantes de fortalecimento dos espaços rurais. Namaioria dos casos,essasestratégiastêmdemonstradoqueosterritóriosruraistambémpodemtornar‐sedinâmicosquandoinvestemnasuamultifuncionalidade.Pequenosprodutores rurais podem investir na produção orgânica ou de produtostradicionais locais agregando valor a estes produtos e tornando atividaderentável economicamente. Outro exemplo é o desenvolvimento deatividadesnãoruraisemespaçosruraiscomoéocasodoturismo.

Nesse cenário, emergem as IG’s como possíveis estratégias dedesenvolvimentooufortalecimentodeespaçosrurais,sobretudonasregiõesmais fragilizadas economicamente. Embora ainda em estágio embrionáriono Brasil, algumas experiências têm demonstrado vitalidade e resultadospositivosnoaproveitamentodaspotencialidadeslocais,como,porexemplo,o estímulo à produção e comercialização de produtos tradicionais,promovendoumamelhorianaqualidadedevidadapopulaçãoautóctone.

Osprodutostradicionaispodemserconsideradosumimportanteativoparaodesenvolvimento,emparticularnaszonasrurais.Essetemaconstituio objeto de uma literatura emergente, que se concentra especialmente nainterface entre o usodemarcas coletivas, as denominaçõesde origeme odesenvolvimento de atividades relacionadas ao turismo (LORENZINI,CALZATIeGIUDICI,2011).

2.2PROPRIEDADEINTELECTUAL–INDICAÇÕESGEOGRÁFICAS

ConformeapontamVieiraeBuainain(2011),apropriedadeintelectual

tem conquistado um papel relevante em diversos setores da economia.Atualmente, o valor e a importância dos bens imateriais são consideradossuperiores ao dos bens materiais e imóveis que constituía o principalcomponente do patrimônio das pessoas físicas e jurídicas até muitorecentemente.

Destacamosautoresqueosdiversossinaisdistintivosnasceramdeumobjetivocomum:distinguiraorigem(geográficaoupessoal)deumproduto.Em 1883, em virtude de que alguns acordos bilaterais formulados paraproteger as indicações geográficas eram bastante frágeis, os paísesprodutores, especialmente de vinho, optaram por organizar um tratadointernacional para proteger os direitos de propriedade intelectual, e nãosomente os de indicações geográficas. A partir desse cenário, cria‐se aConvençãoUniãodeParisparaaproteçãodapropriedadeindustrial(CUP).Otratadotinhacomoobjetivoinicialcoibirafalsaindicaçãodeprocedência(VIEIRAeBUAINAIN,2011).

2 É o caso que ocorre no Estado de Santa Catarina.

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Novos nichos demercados foram surgindo, adquirindo estratégias devalorizaçãodoproduto.Anoçãodeindicaçõesgeográficas(IG)foisurgindode forma gradativa, quando produtores e consumidores passaram aperceber sabores ou qualidades peculiares em alguns produtos queprovinham de determinados locais. Essas características não eramencontradas em produtos equivalentes feitos em outro local. Assim,começou‐seadenominarosprodutos–queapresentavamumdiferencial–comonomegeográficodesuaprocedência(FÁVEROetal.,2010).

NoBrasil,omarcoregulatóriosobrepropriedade intelectual foiquaseinteiramente renovado na década de noventa. E, dentre as diversaslegislaçõesaprovadassobreotema,tem‐seaLein.º9.279/96,denominadadeLeidePropriedade Industrial (LPI).Quantoàs indicaçõesgeográficas,anorma não define o que é, mas estabelece suas espécies: a Indicação deProcedência (IP) e aDenominaçãodeOrigem (DO), inexistindohierarquialegalentreelas,sendopossibilidadesparalelasàescolhadosprodutoresouprestadoresdeserviçosqueplanejambuscaressamodalidadedeproteção,atendidososrequisitosdaleiedesuaregulamentação.

A Indicação de Procedência (IP) é caracterizada por ser o nomegeográficoconhecidopelaprodução,extraçãooufabricaçãodedeterminadoproduto, ou pela prestação de dado serviço, de forma a possibilitar aagregaçãodevalorquando indicadaa suaorigem, independentedeoutrascaracterísticas. Ela protegerá a relação entre o produto ou serviço e suareputaçãoemrazãodesuaorigemgeográficaespecífica,condiçãoestaquedeveráser,indispensavelmente,preexistenteaopedidoderegistro.

ADenominaçãodeOrigem(DO)cuidadonomegeográfico“quedesigneproduto ou serviço cujas qualidades ou características se devamexclusivaou essencialmente ao meio geográfico, incluídos fatores naturais ehumanos”. Em suma, a origem geográfica deve afetar o resultado final doproduto ou a prestação do serviço, de forma identificável emensurável, oque será objeto de prova quando formulado um pedido de registroenquadrado nessa espécie ante ao INPI, através de estudos técnicos ecientíficos,constituindo‐seumaprovamaiscomplexadoqueaexigidaparaasIndicaçõesdeProcedência.

Assim,aDOtratadeumdireitodepropriedadeintelectual,associadoauma região, passível de utilização por aqueles que naquela área exploremqualquerramodeproduçãocaracterístico,sendoconstituídopelonomedalocalidade,regiãooumesmopaís.Temporfunçãodesignarumprodutoouuma mercadoria originária, cuja qualidade e características são devidasexclusiva ou essencialmente aomeio geográfico, incluindomesmo fatoreshumanos.

Barbosa (2013) aponta que a IP é a expressão ou sinal que indica aorigem geográfica específica de um produto ou serviço. Na DO, além da

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origem geográfica o produto ou serviço possui características particularesdevido ao meio geográfico em que se encontra, como o tipo de solo queconferesaboresdiferenciados,porexemploaumauvaprodutoradevinho.Eno presente estudo, cita‐se como exemplo o Vale dos Vinhedos. Nessaproteção, podem ser incluídos fatores humanos singulares como ascondiçõesespecíficasdeprodução.Porexemplo,aformaímpardemanusearoleiteparatransformá‐loemqueijo.

Nas palavras deBarbosa (2013), se percebeque a disposição feita noAcordo TRIPs, descreve as IG’s como indicações que identificam um bemcomoorigináriodoterritório,oudeumaregiãooudeumalocalidade,enãoumnomegeográficocomonaLPI.Dessaforma,oBrasilémaisrestritivoaocondicionarseusregistrosanomesgeográficos.

Portanto,diferenciando‐sea IPdaDO, aprimeirapoderá ser apostaaqualquerprodutoprovenientedeumadeterminadaárea,enquantoqueDOassinala umproduto que provémde uma determinada região e que, alémdisso, é produzido ali segundométodos particulares associados devido aomeiogeográficoequeadquireespecificidadesdaregião.

2.3AVITIVINICULTURAEASINDICAÇÕESGEOGRÁFICASCOMOESTRATÉGIAPARAODESENVOLVIMENTOTERRITORIALRURAL

No Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro do Vinho3(IBRAVIN), a vitivinicultura4 ocupava em 2009 uma área deaproximadamente 100 mil hectares, com uma produção anual de 1,2milhões de toneladas, concentrada principalmente nos estados do RioGrande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia ePernambuco.ParaMello(2013),trata‐sedeumaatividadeimportanteparaasustentaçãodepequenaspropriedadesnoBrasile,nosúltimosanos,temse tornado importante, também, na geração de empregos em grandesempreendimentosqueproduzemuvasdemesaeuvasparaprocessamento.

A vitivinicultura brasileira hoje pertence ao que se pode chamar denovo mundo vitivinícola5, ao lado de países como Chile, Argentina, EUA,África do Sul, Austrália, entre outros, cuja produção está baseadaprincipalmente em variedades importadas dos tradicionais países

3 Dados disponíveis em http://www.ibravin.org.br/regioesprodutoras.php 4 De acordo com o dicionário online de português, vitivinicultura é o processo ou desenvolvimento que envolve o cultivo e/ou a fabricação de vinho. Pode ser entendido ainda como a atividade que consiste na exploração econômica desse processo. 5 O aumento no consumo dos chamados “vinhos do novo mundo” já preocupa os produtores de regiões vinícolas tradicionais. De acordo com Novakoski e Freitas (2003) enquanto as exportações de vinhos europeus cresceram em torno de 20% nos últimos 20 anos, países não tradicionais nesse setor como Nova Zelândia, EUA, Chile, Austrália, Argentina e África do Sul experimentaram um crescimento de mais de 50% no mesmo período.

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produtoresdevinhodaregiãomediterrânea.Nasúltimasdécadasessesetortem apresentado um significativo crescimento, principalmente emdecorrênciadaexpansãodeáreascultivadasedamelhorianastecnologiasde produção de uvas e vinhos em diversas regiões brasileiras (VIEIRA,WATANABE e BRUCH, 2012). No contexto da vitivinicultura brasileira,destaca‐se a Serra Gaúcha como a principal região vitivinícola do Brasil.Nessa região 12 mil pequenas propriedades rurais cultivamaproximadamente31milhectaresdevinhedos.Aregiãocontacomcercade600produtoresdevinho,entregrandesempresas,cooperativasecantinasfamiliares(NIEDERLE,2009).

É justamente a forte ligação com o território que favorece oreconhecimento6 e o desenvolvimento de IG’s na vitivinicultura. Comodestacam Flores, Falcade e Medeiros (2010) na vitivinicultura o terroir7podecaracterizarediferenciarcadaprodutolheconferindoumaidentidadeprópria.EssaidentidadepodesermaterializadaatravésdasIG’squepodemfomentarefortificarregiões.NessaesteiradediscussãoSato(2013)lembraqueatualmentenoBrasilaIGparavinhostemsidogradativamenteadotadaporassociaçõesprodutorasdevinhos,principalmentenaregiãosul8,ondeaproduçãodevinhosfinoseespumantesémaissignificativa.

AsIG’s,comunsnaEuropa9eaindapoucoreconhecidasnaAméricadoSulenoBrasil,podemserentendidas,dopontodevistaeconômico, comouma estratégia para agregar valor a produtos ou serviços que têmcaracterísticas próprias, relacionadas ao território ao qual estão inseridas.Essa agregação de valor pode representar um incremento na renda dosprodutores envolvidos, seja através do aumento no preço dos produtosoferecidos, no aumento do volume de vendas ou na conquista de novosmercados. Podem valorizar, também, as tradições locais, fortalecendo aidentidadeculturaldaregião.

AsIG’stêmsidoamplamenteutilizadasnosmercadosagroalimentaresparaproteger e valorizarprodutosdediferentes tipos.Nesse sentido, têmsidofomentadasiniciativasparaqueosprodutosconsideradoslocaiscriem

6 É importante destacar que uma IG não se cria, mas, sim, se reconhece. 7 De acordo com a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), o terroir vitivinícola compreende características específicas de solo, topografia, clima, paisagem e biodiversidade. Além disso, seu conceito refere-se ao espaço onde se desenvolve um saber coletivo de interações entre o meio físico, biológico e práticas vitivinícolas aplicadas (OIV, 2008). 8 A região sul apresenta, até o momento, o reconhecimento de quatro IGs de vinhos: Vale dos Vinhedos (RS), Vales da Uva Goethe (SC), Vinhos Pinto Bandeira (RS) e Vinhos Altos Montes (RS). Além destas está em andamento mais um projeto de reconhecimento de IG. Trata-se dos Vinhos da Campanha, na região de Santana do Livramento- RS (Sato, 2013). 9 Na Europa, esse tipo de dispositivo de diferenciação é conhecido como Denominação de Origem Protegida (DOP) ou Indicação Geográfica Protegida (IGP) e contempla principalmente produtos agroalimentares, que podem ser oriundos de transformação agroindustrial ou produtos in natura (SILVA, et al. 2012).

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estratégias de diferenciação no mercado a partir das denominações deorigem,aexemplodaqualidadedoproduto,agregaçãodevaloraoproduto,etc.(VIEIRAeBUAINAIN,2011).

Estima‐sequeovalorgeradopelavendadeprodutoscomIG10naUniãoEuropeiaem2010equivaleaaproximadamente54,3bilhõesdeeuros.Dessetotal,osprodutoscommaiordestaquesãoosvinhos,querepresentamemtorno de 56%, os produtos agrícolas e gêneros alimentícios em torno de29%easbebidasespirituosas11comaproximadamente15%dovalortotalgeradospelosprodutos. Aindaemrelaçãoàsvendas,oestudoapontaque60%destesprodutossãocomercializadosnoprópriopaísdeprodução,20%emoutrospaísesdauniãoeuropeiae20%sãocomercializadosempaísforadaUniãoEuropeia.Outrodadoimportanteapontadopeloestudorefere‐seàagregaçãodevaloraosprodutoscomIG.Deacordocomorelatóriodofundoeuropeu,estima‐sequeessesprodutossãocomercializados,emmédia,porumvalor2,3312vezesmaiorqueprodutossimilaressemIG(CHEVERetal.,2012) 13.

Ao contrário dasmarcas e das patentes, as IG’s são passíveis de umagrande variedade de proteções. Podem ser protegidas por legislação suigenerisoudecretos ‐esseéosistemaadotadopelaFrançaeporPortugal,por exemplo. Outra possibilidade é o registro das indicações geográficas,adotado pelo Brasil. É possível, também, apoiar‐se na lei contra aconcorrênciadesleal,ounanoçãodoilícitodo“passingoff,”(fazerprodutos“passarem por” outros), que basicamente preveem práticas comerciaisdesleaisquenãodevemserusadas.OusodeIndicaçãoGeográficaparaumprodutoquenãoéprovenientedaregiãoindicadaseriaumótimoexemploda prática da concorrência desleal. Se a proteção for buscar no Direito aproteção contra ato ilícito, não existem formalidades a cumprir, como o

10 Nessa análise são considerados os produtos reconhecidos com Indicação Geográfica Protegida e Denominação de Origem Protegida. 11 De acordo com o regulamento europeu, bebidas espirituosas são bebidas que possuem características organolépticas específicas e um título alcoométrico mínimo de 15 % vol., sendo produzidas diretamente por destilação, maceração ou adição de aromas ou pela mistura de uma bebida espirituosa com outra bebida, de álcool etílico de origem agrícola ou de certos destilados. São exemplos de bebidas espirituosas: o rum, aguardente, vodka. 12 Em relação a esta questão, é importante lembrar que isso não significa que a margem de lucro desses produtores seja 2,23 vezes maior. É preciso considerar que, muitas vezes, os produtos com IG e DO têm custos adicionais de produção em relação a seus similares por necessitarem cumprir normas estabelecidas em seus cadernos de especificações da IG ou da DO. 13 Os atores desenvolveram um estudo que procurou quantificar o valor econômico da produção de produtos agrícolas e de gêneros alimentícios, de vinhos, de vinhos aromatizados e de bebidas espirituosas cujo nome está protegido como Indicação Geográfica ou Denominação de Origem na União Europeia. Os dados se referem ao período compreendido entre 2005 e 2010. O relatório completo está disponível em: http://ec.europa.eu/agriculture/external-studies/value-gi_en.htm.

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registro ou decisão administrativa; ou seja, a parte lesada vai direto aostribunais(VIEIRAeBUAINAIN,2011;VIEIRA,WATANABEeBRUCH,2012).

AsIG’spodemaindaserprotegidaspeloregistrodemarcascoletivasoumarcas de certificação. As marcas coletivas, ao contrário das marcas,pertencem a um grupo de comerciantes ou produtores. A marca decertificação, por outro lado, não pertence a ninguém: é registrada nasuposiçãoquequalquerpessoaquepreenchaascondiçõesprescritaspodeutilizá‐la.Porexemplo,ousodamarcadecertificaçãoparaoqueijoStiltonéreservado a certos produtores que satisfazem as condições exigidas peloregulamentodeutilizaçãodessamarca(VIEIRAeBUAINAIN,2011).

Representam, portanto, um instrumento de valorização de tradições,costumes,saberes,práticaseoutrosbensimateriaisassociadosàidentidadeterritorial. Utilizada pelos produtores como um instrumento de agregaçãode valor e acesso a mercados e reputadas pelos consumidores como ummecanismodegarantiadequalidade,asindicaçõesgeográficastambémsãoconsideradascomopotenciaisinstrumentosdedesenvolvimentoterritorial,posto que possibilitam a exploração de ativos intangíveis de difíciltransposição para outros territórios, constituindo uma vantagemcompetitiva em mercados cada vez mais marcados pela diferenciação deprodutos(NIEDERLE,2009;DULLIUS,2009).

Todavia, existem outros benefícios que também precisam serconsiderados. De acordo com o Cerdan et al. (2010), as IG’s podem gerarbenefíciossociaiseculturais,representadospelainserçãodeprodutoresouregiõesdesfavorecidasnomercado,ebenefíciosambientais,relacionadosàpreservaçãodabiodiversidadeedosrecursosgenéticoslocais.

Além disso, é importante destacar as atividades complementares quepodem surgir após a certificação de produtos tradicionais. Na grandemaioriadoscasos, as indicaçõesgeográficas e asdenominaçõesdeorigemprotegida podem estabelecer relações com outros segmentos que nãotenham ligação direta com o produto certificado. Tal consequência podefortalecer atividades importantes, gerandoempregoe renda local.ÉoquePecquer (2001) denomina de “cesta de bens e serviços do território”. Umexemplosãoasatividadesvoltadasaoturismo14.

Locatelli (2007)corroboracomasafirmaçõesdePecqueraodefenderque é possível observar o desenvolvimento e fortalecimentode atividadesvoltadas ao turismo e a gastronomia emmuitas regiões que obtiveram oreconhecimento de IG’s para seus produtos. Para a autora, as IG’s, aoestimularem a tradição e a cultura de uma região, atraem turistas epossibilitamaexploraçãodeatividadeslucrativasindiretas.

14 Após o reconhecimento da indicação geográfica, o Vale dos Vinhedos estruturou propostas de roteiros pelas vinícolas (roteiro enológico, gastronômico e cultural), aumentando significativamente o fluxo de turistas na região e complementando a renda dos produtores, principalmente das pequenas vinícolas.

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3.APRESENTAÇÃOEANÁLISEDAEXPERIÊNCIADOSVALESDAUVAGOETHESanta Catarina tem reconhecimento nacional e internacional pela

qualidade dos vinhos que produz. Segundo a Empresa de PesquisaAgropecuáriaeExtensãoRuraldeSantaCatarina–EPAGRI,oimpulsodadopelaspesquisaseporinvestimentospioneirosnosetorvitivinícolaconstruiuumsegmentoeconômicopromissorparaoEstado.

Com o objetivo de darmaior visibilidade a seu produto, a Progoethe,juntamente com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e PequenasEmpresas ‐ SEBRAEe aUniversidadede SantaCatarina –UFSC, fizeramopedidodereconhecimentodaIndicaçãodeProcedência(IP)dosvinhosdos“ValesdaUvaGoethe”(videFigura2),noInstitutoNacionaldePropriedadeIntelectual (INPI). Este foi depositado em 18 de agosto de 2010 sob n°.IG201009,naespécieIndicaçãodeProcedência.

Figura2:LogomarcadaIndicaçãodeProcedênciadosValesdaUvaGoethe(IPVUG)

Fonte:ConselhoRegulador(IPVUG)

Teve como requerente a ProGoethe, compreendendo a seguinte área

delimitada:VALESDAUVAGOETHE, localizadaentreas encostasdaSerraGeraleolitoralsulcatarinensenasBaciasdoRioUrussangaeRioTubarão,cujosvinhedosdeverãoestarinstaladosnestaáreadelimitadanumaregiãode458,9Km2,conformeapresentadonoMapa1.Aregiãoélocalizadaentreos municípios de Urussanga, Pedras Grandes, Cocal do Sul, Morro daFumaça, Treze deMaio, Orleans, Nova Veneza e Içara no Estado de SantaCatarina (INPI, 2012), conforme pode ser visualizado no Mapa 2, eestabelecidonoEstatutodaProGoethe,paraáreadeabrangênciaeinclusãodeseusassociados.

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Mapa1:LocalizaçãodadelimitaçãoáreaIPVUG

Fonte:Vieira,GarciaeBruch(2013)Mapa2–LocalizaçãodosmunícipiosevinícolasIPVUG

Fonte:Vieira,GarciaeBruch(2013)

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A região está intimamente ligada à cultura e tradição na produção dauva e vinho Goethe (savoir faire ou fator humano), apresentando solos econdições climáticas distintas (fatores naturais). São autorizados para osvinhos Goethe da IPVUG exclusivamente a variedade de coloração branca,rosada leve ou vermelho pálido: Goethe (Roger 1), dos clones GoetheclássicaeGoetheprimo,emsistemadeconduçãolatada(sistematradicionalutilizado no território delimitado pela IPVUG), em estrutura de pedras degranito.

Oreconhecimentoda“IndicaçãodeProcedência”(IP)ocorreuem2012,comaconcessãodoregistropublicadonaRevistadePropriedadeIndustrialdo INPI, sob n. 2.145, em 14 de fevereiro. Ainda, diante deste cenário, ogoverno de Santa Catarina reconheceu a importância dos “Vales da uvaGoethe”, na região de Urussanga, como território único no Estado,reforçandoopedidodaIndicaçãodeProcedênciainiciadojuntoaoINPI.

E,conformedemonstradoporVieira,WatanabeeBruch(2012),comaconcessão do registro pelo INPI da indicação de procedência, criou um“clima”favorávelaoenoturismo15emUrussanga.Ainda,osvinhosGoethedareferida região são reconhecidos como verdadeiros terroirs devido a suaíntima relação com as condições específicas de clima/solos. E, emdecorrência do seu caráter pioneiro em Santa Catarina, serve de exemploparaoaprimoramentodaproduçãoeelaboraçãodosvinhos,bemcomoparaum conjunto de práticas agrícolas, que apresente potencial para seintegraremaoprocessoderegistrodasindicaçõesgeográficas.

Asvinícolas integrantesda IPVUGqueelaboramvinhosàbasedeuvaGoetheepertencentesàProGoethesão:VinícolaMazon‐Fundadanadécadade1970pelos irmãosGenésioe JaymeMazon,aVinícola temporobjetivoseguiratradiçãodalinhamaternadafamília‐,osDebiasi,preenchendoumalacuna no tradicional ramo da vitivinicultura de Urussanga; VitivinícolaUrussanga–ProvenientedeLongarone,RegiãodoVêneto,Itália,osDamianestabeleceram‐seemUrussangaemfinsdoséculoXIX‐;VinícolaQuarezemin‐Atuadesde2002naregião;VinícolaFelippe–a famíliaéprovenientedaregiãodaToscananaItália,vindoparaaregiãonofinaldoséculoXIX.Alémdestas,tambémcultivamauvaeelaboramvinhosartesanaisosassociadosRodolfoDellaBruna,DennerQuarezemin,DeivsonBaldin,RaulSavio,RafaelSorato,MárcioScremineAntoniodeLorenziCancelier(Progoethe,2014).

Após o reconhecimento da IPVUG, foi possível observar algumasvantagens econômicas importantes. Após dois anos de concessão doregistro, as vinícolas já começam a perceber um aumento nas vendas dovinhoGoethe,emmédia20%e,dosespumantes,porvoltade30%,segundo

15 O enoturismo ocorre em função de deslocamentos motivados para o conhecimento do processo da produção de vinhos, realizando visitas a vinhedos e vinícolas, fazendo parte da experiência a degustação de vinhos e de seus derivados. Além disso, pode-se caracterizar como uma atividade do segmento a visitação a festivais de vinhos e/ou mostras de vinhos onde a motivação principal da viagem seja a degustação de vinhos.

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apontado pelo presidente da ProGoethe. Esses produtos colocados nomercado sãoaprimeira safra controladospeloConselhoRegulador (CR)apartir das normas implementadas peloManual deControle Interno (MCI),comosselosnasgarrafas.

Ainda, é reconhecido pela ProGoethe que há maior curiosidade porparte dos consumidores (turistas), decorrente dadivulgaçãodosprodutosadvindos da uva Goethe, uma vez que eles vão visitar as vinícolas e jásolicitam o “vinho Goethe”, conforme apontado pelo presidente daProGoethe.

Portanto, verifica‐se que o próprio aumento no consumo do vinhoproduzidologodeveráserobservadoentreconsumidoreslocaiseregionais,que o adquirem nos restaurantes e nas próprias vinícolas da IPVUG e emalgumascidadesdoentornodaregiãodoSuldeSantaCatarina.

Outro reflexo importante refere‐se ao acesso a novos mercados. Oreconhecimento da IG do vinho Goethe possibilitou que as vinícolascomercializem seus produtos nas gôndolas de importantes redes desupermercados na região, bem como fora do Estado (São Paulo, Rio deJaneiroeDistritoFederal).Alémdisso,outrasimportantesvantagensestãosendo potencializadas e estudadas, como a inserção do produtointernacionalmente. Para o Conselho Regulador, as vantagens parapertenceraIPVUGsão:reconhecimentodaidentidadeculturaldoterritóriocomo diferencial competitivo; valorização do produto e da sua terra;divulgaçãodeseusprodutos;melhoriaqualitativadosprodutos,bemcomoo padrão tecnológico; preservação das características e da tipicidade dosprodutos,queconstituemumpatrimôniodecadaregião,entreoutros.

Alémdisso, a aprovação da IPVUG levou os produtores e vinícolas daregião a investirem no desenvolvimento do enoturismo local, voltado aovinho, à cultura e à tradição, comodesenvolvimentode outras atividadesrelacionadas a estas, tais como hotelaria (hotéis, pousadas), gastronomia(restaurantes, fabricação artesanal de produtos típicos), enologia e avalorização da história da imigração italiana. Nesse sentido, a regiãoprepara‐se para elaborar um plano de desenvolvimento da atividadeturística no espaço rural demaneira integrada com outrosmunicípios daregião, contribuindoparaodesenvolvimento territorialdessesmunicípios.Inclusive, na cidade de Urussanga, já foi realizado um levantamento dapotencialidade do enoturismo, pela Universidade do Extremo SulCatarinense–Unesc.

Portanto, o reconhecimento da IP tem como objetivo garantir umaconstância na demanda pelo produto e, se possível, agregar valor, buscaruma melhoria na geração de renda de seus associados e fomentar odesenvolvimentolocal(VIEIRA,WATANABEeBRUCH,2012).

Finalmente, e não menos importante, os produtos que carregam acertificação da indicação geográfica trazem consigo uma carga cultural,

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enraizadanastradiçõesdaregião,preservando,dessamaneira,aidentidadedolocalevalorizandooterritório.

4.CONSIDERAÇÕESFINAIS

ApartirdoadventodaLeidePropriedade Industrial (LPI),o instituto

da indicação geográfica visou uma alternativa para a valorização dosterritórios e respectivo aumento da competitividade dos produtos dequalidade em regiões demarcadas, através das normas estabelecidas peloConselhoRegulador(CR).FoiapartirdomarcoregulatórioaprovadoqueoBrasil contemplou a possibilidade de ter o reconhecimento da identidadeculturaldoterritóriocomodiferencialcompetitivo,valorizaçãodoprodutoeda sua terra (seu ambiente de origem), aumento da participação dosagricultores (e no caso específico da IPVUG – da agricultura familiar) nociclo de comercialização dosprodutos e estímulodemelhoria e qualidadeem seus produtos, uma vez que são submetidos ao controle do CR naproduçãoeelaboraçãodosvinhoseespumantes.

O que se percebe é que a vitivinicultura tem cada dia um papelmaisimportante no setor agroalimentar, em especial no território demarcadopela IPVUG. E, nesse sentido, as IG’s têm como fim agregar valor e gerarriqueza, constituindo‐se uma opção concreta para uma nova etapa dedesenvolvimento do agronegócio brasileiro, com a geração de produtostípicosetradicionais,comqualidadediferenciada.

Assim,paraosvitivinicultoresassociadosdaProGoethe,aobtençãodaIGpôdeampliarmercados, agregarvaloraosprodutos, serumgeradordemaisempregos,movimentaraeconomialocal,bemcomopreservarosaberfazer,permitirqueosprodutorespermaneçamnocampo,comaexpectativadequeseusfilhosenetospermaneçamnonegócioparasobreviver.Diantedesse cenário, consequentemente, possibilita‐se a promoção de umdesenvolvimento sustentado na região delimitada pela Indicação deProcedênciadosValesdaUvaGoethe.

Apartirdessaperspectiva,osassociadosjáestãocomeçandoapercebera diferença, pós‐concessão do registro da IP, uma vez que as vinícolas jápresenciamo aumento da procura dos vinhos e espumantes produzidos apartir da uva Goethe, tanto pelos residentes como por novos turistas naregião. Jáháapercepçãoporpartedosvitivinicultores;quandoosturistasvisitamasvinícolas,játêmsolicitadodiretamenteosvinhosdeuvaGoethe,advindos da curiosidade em conhecer um produto diferenciado e comagregaçãodevalorpelaqualidade.Inclusiveosassociadosjápercebemquea receptividade dos compradores para o vinho Goethe mudou, com umcrescimentomédioemtornode20%nacomercializaçãoparaosvinhosede30% para os espumantes, segundo apresentado pelo presidente daProGoethe.

Portanto, infere‐se apartir dopresente estudoe concordando comos

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autoresapresentadosqueasIG’spossibilitamodesenvolvimentoterritorial,aproveitando o conjunto natural da sua região, o patrimônio histórico, osaber fazer, criando um “processo de qualificação” que permite umaadequada colocação de seus produtos em mercados dinâmicos, ashabilidadesartísticas,culináriaseatradiçãofolclóricadeumadeterminadapopulação,embuscadamelhoriadaqualidadedevida.

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DADOSDOSAUTORES

AdrianaCarvalhoPintoVieiraGraduadaeMestreemDireito,comDoutoradoemDesenvolvimentoEconômico.Professora do Programa de Pós‐graduação em DesenvolvimentoSocioeconômico da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC).Endereçoparacontato:[email protected] e Urbanista, doutora em Engenharia de Produção na área deConcentração em Gestão Ambiental, professora do Departamento deArquitetura e Urbanismo/UFSC. Endereço para contato:[email protected]úciaListoneGraduada em Administração ‐ Comércio Exterior (Unoesc). Bolsista IniciaçãoCientífica(Unoesc).Endereçoparacontato:[email protected]éiadeFátimadeMeiraBatistaFerreiraSchlickmannExtensionistaSocial,PedagogaePesquisadoradaEpagri/EstaçãoExperimentaldeLages.Endereçoparacontato:[email protected] em Zootecnia. Atua como pesquisador da Empresa de PesquisaAgropecuáriaeExtensãoRuraldeSantaCatarina(Epagri‐Lages).Endereçoparacontato:[email protected],mestrandadoProgramadeMestradoUrbanismo,HistóriaeArquiteturadaCidade/UFSC.Endereçoparacontato:[email protected]ós‐DoutoraemAdministraçãoPúblicaeGoverno,Doutora emEngenhariadaprodução e Sistemas. Editora‐Chefe da RACE, com atuação no MestradoProfissionalemAdministraçãodaUniversidadedoOesteCatarinense.Endereçoparacontato:[email protected]ção em Letras, cursando disciplinas no Programa de Mestrado emDesenvolvimento Regional da UnC. Endereço para contato:[email protected].

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GiovaneJoséMaiorkiGraduação em Contabilidade e Mestrado em Desenvolvimento Regional. AtuaprofessornaUniversidadedoContestadoCampusMafra,alémdeocuparcargoadministrativo.Endereçoparacontato:giovane@unc.br.JairoMarchesanDoutoremGeografia.ProfessordoProgramadeMestradoemDesenvolvimentoRegionaldaUniversidadedoContestado(UnC),SantaCatarina‐Brasil.Contato:[email protected] Florestal, Especialista em Licenciamento Ambiental, Docente doInstituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC).Endereçoparacontato:[email protected] PNPD/Capes, Pós‐Doutoranda em Direito, Grupo de PesquisaPropriedade Intelectual, Transferência de Tecnologia e Inovação, naUniversidade Federal de Santa Catarina. Endereço para contato:[email protected]ávioPimentelDoutoremDireitoecoordenadordoGrupodePesquisaPropriedadeIntelectual,Transferência de Tecnologia e Inovação, Universidade Federal de SantaCatarina.Endereçoparacontato:[email protected]árciaFernandesRosaNeuGeógrafa,DoutoraemGeografiaHumanapelaUSP.Atuouaté2013naUNISULeatualmenteépós‐doutorandapelaUFPR.MayaraRohrbacherSakrAluna do curso de Administração na Universidade do Contestado, campusCanoinhas/SC. Bolsista de Iniciação Científica CNPq. Endereço para contato:[email protected]ção em Turismo, mestrando no Programa de Mestrado emDesenvolvimento Regional da UnC. Endereço para contato:[email protected]êmica de Medicina Veterinária da Universidade do Contestado – UnC,Presidente do Diretório Central Estudantil da Universidade do Contestado de

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Canoinhas (Santa Catarina‐Brasil). Bolsista de Iniciação Científica. Endereçoparacontato:[email protected] em Direito pela UFSC e professora da Universidade da Região deJoinville–Univille,noCursodeDireitoenoMestradoemPatrimônioCulturaleSociedade.Endereçoparacontato:[email protected]ógrafo,mestrandonoProgramadeMestradoemDesenvolvimentoRegionaldaUnC.Endereçoparacontato:[email protected],DoutoraemCiênciasHumanas.AtuanoMestradoemPolíticasSociais e Dinâmicas Regionais da Unochapecó. Endereço para contato:[email protected]óloga,MestreemDesenvolvimentoRegionalpelaUniversidadedoContestado(SantaCatarina‐Brasil).Endereçoparacontato:[email protected], Doutor em Engenharia Civil em Cadastro TécnicoMultifinalitário eGestão Territorial. Professor com atuação na Universidade do Vale do Itajaí.Endereçoparacontato:[email protected] CNPq, Doutoranda em Direito, participante do Grupo de PesquisaPropriedade Intelectual, Transferência de Tecnologia e Inovação daUniversidade Federal de Santa Catarina. Endereço para contato:[email protected]êmico do Curso de Engenharia Florestal da UnC, bolsista de IniciaçãoCientífica(PIBIC/CNPq).Endereçoparacontato:[email protected]órdovaEngenheiro Agrônomo,mestre em Agroecossistemas, pesquisador da Epagri ‐Estação Experimental de Lages. Endereço para contato:[email protected].

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ValdinhoPellinGraduadoemEconomia.MestreeDoutorandoemDesenvolvimentoRegionalnaUniversidade Regional de Blumenau. Pesquisador do Núcleo de PolíticasPúblicas/FURB.BolsistaCapesProgramaDoutoradoSanduíche.Endereçoparacontato:[email protected]ógrafo, Doutor em Desenvolvimento Regional. Atua no Mestrado emDesenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (Santa Catarina‐Brasil).Endereçoparacontato:[email protected].

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