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Page 1: INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL - CARTÓRIO DE ... · notarial - omissÃo - dano material - configuraÇÃo - dever de indenizar - VALOR - DANO MORAL - NÃO-CARACTERIZAÇÃO

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conclusão do curso, o que deixa patente a abu-sividade de ser exigido novo pagamento dosmesmos custos já realizados, corroborando oenriquecimento injustificado do apelante, umavez que estaria recebendo por um serviço nãoprestado.

Assim, é abusiva, por ser iníqua, acláusula que desvincula o valor da semestrali-dade do serviço de ensino em que o estudanteefetivamente se matriculou, ou seja, do serviçoefetivamente prestado, porquanto justo e ade-quado é que se pague apenas pelas disciplinascursadas, conforme apuração do valor dasemestralidade dividida pelo número de crédi-tos pertinente às respectivas matérias.

Quanto à alegação de que o apeladoteria cursado outras matérias sem que fossecobrado por isso, não merece prosperar, umavez que os contratos elaborados pelo apelantese vinculam a cada semestre, não havendomotivo de se analisar o curso todo.

Com relação ao pagamento da primeiraprestação, de rigor a devolução do valor pago amaior, na forma simples, porque estando acobrança alicerçada em cláusula contratuallivremente pactuada, entendo inaplicável aregra inserta no art. 42 do CDC, haja vista queo reconhecimento judicial acerca da abusivi-

dade estipulada não é suficiente para caracteri-zar a má-fé do credor.

Por derradeiro, no que se refere ao pedi-do de redução dos honorários advocatícios,também sem razão o apelante, visto que, em setratando de sentença desprovida de cunho con-denatório, deve ser observado, como foi, o dis-posto no art. 20, § 4º, do CPC, para este fim.

Na situação em apreço, conjugadas asdisposições constantes dos §§ 3º e 4º do artigosupra-referido, entendo que a verba honoráriaarbitrada em R$ 1.000,00 (mil reais) não semostra excessiva, motivo pelo qual a mantenhoinalterada.

À luz do exposto, dou parcial provimentoao recurso, tão-somente para afastar a apli-cação do art. 42 do CDC, determinando que adevolução da quantia paga a maior seja efetua-da de forma simples, mantendo, quanto aomais, a r. sentença por seus próprios e jurídicosfundamentos.

Custas recursais, pelo apelante, em con-formidade com o parágrafo único do art. 21 doCPC.

Súmula - DERAM PARCIAL PROVIMEN-TO AO RECURSO.

-:::-

INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL - CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS - ATONOTARIAL - OMISSÃO - DANO MATERIAL - CONFIGURAÇÃO - DEVER DE INDENIZAR -

VALOR - DANO MORAL - NÃO-CARACTERIZAÇÃO

Ementa: Ação de indenização por danos materiais e morais. Responsabilidade civil. Omissãodo cartório extrajudicial no ato do registro do imóvel. Danos materiais. Configuração. Dever deindenizar. Valor da indenização. Manutenção da sentença. Danos morais. Inexistência. Meroaborrecimento.

- A negligência de Cartório de Registro de Imóveis consistente na omissão acerca da existên-cia de servidão implica responsabilidade da titular do respectivo cartório extrajudicial, de ondeexsurge que se reputa devida a condenação desta ao pagamento de indenização pelos danosmateriais suportados pelo alienante em virtude do desfazimento do negócio jurídico celebradocom os adquirentes do terreno alienado.

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Acórdão

Vistos etc., acorda, em Turma, a 18ªCâmara Cível do Tribunal de Justiça do Estadode Minas Gerais, incorporando neste o relatóriode fls., na conformidade da ata dos julgamentose das notas taquigráficas, à unanimidade devotos, EM NEGAR PROVIMENTO ÀSAPELAÇÕES PRINCIPAL E ADESIVA.

Belo Horizonte, 22 de maio de 2007. -Elpídio Donizetti - Relator.

Notas taquigráficas

Produziu sustentação oral pela 1ªapelante o Dr. Marcelo P. Assunção.

O Sr. Des. Elpídio Donizetti - Peço vistados autos tendo em vista a sustentação oralproferida.

Notas taquigráficas

O Sr. Des. Elpídio Donizetti - Trata-se deapelações interpostas à sentença que, nosautos da ação de indenização por danos moraise materiais ajuizada por Cláudio Ferreira Cottaem face de Maria Amélia de Andrade FortiniToscano, julgou parcialmente procedentes ospedidos formulados na inicial, para condenar aré ao pagamento de indenização por danosmateriais no montante de R$ 82.364,24,acrescido de juros moratórios de 1% ao mês ecorreção monetária pelos índices do INPC, tudoa partir da citação.

Na sentença (f. 318/323), asseverou oJuiz de primeiro grau que a ré reconhece oequívoco no registro do imóvel descrito na ini-cial, considerando que a escritura de compra e

venda apresentada ao cartório de titularidadeda ré para as devidas anotações contémmenção expressa à servidão non aedificandi,que, todavia, não foi observada no momento doregistro do referido bem.

Salientou que inexistem elementos nosautos que indiquem qualquer tentativa fraudu-lenta por parte do autor no sentido de seenriquecer ilicitamente às custas da omissãocartorária consistente na não-anotação daservidão no registro do imóvel sob litígio (f.320).

Destacou que a vítima dos fatosdescritos na inicial é justamente o autor, que, nomomento da aquisição do imóvel, levou aocartório de titularidade da ré a escritura de com-pra e venda, instrumento público perfeito ecompleto. Contudo, ressalvou que, quando daalienação do referido bem, não teve comoconstatar a omissão no registro, ou pelo menosentendeu que não era exigível que o fizesse, gerandoprejuízos que se pretende ressarcir (f. 321).

Acrescentou que não se vê como atribuirresponsabilidade ao autor pela omissão pratica-da pelo cartório, motivo pelo qual a ré deve in-denizar os prejuízos causados àquele, ao fun-damento de que se demonstrou a presença dosrequisitos necessários à responsabilização civil(f. 321).

No que toca ao valor da condenação pordanos materiais, observou que sobre os R$106.364,24 deve ser decotada a quantia de R$24.000,00, ao fundamento de que o imóvelretornou à esfera patrimonial do autor em vir-tude do desfazimento do negócio jurídico enta-bulado entre as partes (f. 321).

- Não configura dano moral mero aborrecimento decorrente da negligência na prática de atospróprios de serventia, sendo necessário, para que surja o direito à compensação, que hajaintenso abalo psicológico ou à imagem, capaz de agredir a honra e o conceito profissional dosuposto ofendido.

APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0145.05.250304-5/001 - Comarca de Juiz de Fora - Apelante: MariaAmélia de Andrade Fortini Toscano - Apelante adesivo: Cláudio Ferreira Cotta - Apelados: CláudioFerreira Cotta, Maria Amélia de Andrade Fortini Toscano - Relator: Des. ELPÍDIO DONIZETTI

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Em relação aos danos morais, afirmouque "em que pese reconhecer induvidosos osproblemas enfrentados pelo requerente, nãovejo afetação à sua esfera moral a ensejar aproteção prevista pelo constituinte no art. 5º, X,da Carta Constitucional de 1988" (f. 321).

Inconformada com a sentença, a ré inter-pôs apelação (f. 333/343), aduzindo, em sín-tese, que:

a) o autor quedou-se inerte diante daomissão no registro do imóvel em relação aoônus real existente, beneficiando-se de talomissão, ao passo que lhe competia exigir queconstasse no registro a restrição referente àservidão (f. 335);

b) o autor agiu de forma desonesta,omitindo dolosamente no ato do registro daescritura do imóvel sob litígio a existência deárea não edificante no bem (f. 336/337);

c) toda a cadeia de acontecimentos ini-ciou-se por culpa do procurador constituídopelo autor, que agiu de forma negligente eimprudente, razão pela qual tal omissão deveser imputada ao mandante, porquantoresponde pelos atos praticados pelo man-datário (f. 338/341);

d) no caso de manutenção da sentença,no que toca ao reconhecimento da responsabi-lização civil da ré, deve-se decotar do valor dacondenação o preço do imóvel, bem como asbenfeitorias realizadas, perfazendo o total deR$ 96.262,64, considerando-se que o bem foialienado a terceiro (f. 342).

Por fim, requer o provimento da apelaçãopara reformar a sentença e, por conseguinte,julgar improcedentes os pedidos formulados nainicial.

O autor apresentou contra-razões (f.345/356), pugnando pela manutenção da sen-tença.

A seu turno, o autor interpôs apelaçãoadesiva (f. 357/367), sustentando, exclusiva-

mente, que a culpa pelo erro no registro doimóvel sob litígio é exclusiva do Cartório do 1ºOfício de Registro de Imóveis de Juiz de Fora,razão pela qual a titular do referido cartórioextrajudicial deve ser responsabilizada pelosdanos morais causados ao autor, uma vez quese demonstrou a existência de todos os ele-mentos que ensejam a reparação civil.

A ré apresentou contra-razões (f.369/373), pugnando pela manutenção da sen-tença, no que toca ao reconhecimento de quenão se demonstrou a existência dos alegadosdanos materiais supostamente sofridos peloautor.

Presentes os pressupostos de admissi-bilidade, conheço das apelações.

I - Da apelação principal.

Pedi vista dos autos para analisar asquestões levantadas pelo procurador daapelante principal na sustentação oral realizadana última sessão.

A apelante principal alega, na tribuna,portanto pela primeira vez, que a intervençãodo Ministério Público no feito é obrigatória,razão pela qual aduz que a sentença deve seranulada. Acrescenta que há coisa julgada emrelação à matéria versada nos autos, motivopelo qual afirma que o processo deve ser extin-to nos termos do art. 267, inciso V, do CPC.

Conquanto questão atinente à supostaexistência de coisa julgada tenha sido salienta-da na contestação de f. 203/208, a apelanteprincipal quedou-se silente nas razões recur-sais de f. 333/343 em relação a esse ponto.

Contudo, considerando-se que a existên-cia de coisa julgada, bem como a nulidade doprocesso em virtude da ausência de intimaçãodo Ministério Público, constitui matéria deordem pública e, portanto, passível de argüiçãoa qualquer tempo e grau de jurisdição, afigura-se possível o exame de tais questões por esteTribunal, nos termos do art. 267, § 3º, do CPC.

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A intervenção do Ministério Públicoconstitui pressuposto processual, cuja ausêncialeva à nulidade do processo. Consoante dis-posto no art. 246 do CPC, é nulo o processo,quando o Ministério Público não for intimado aacompanhar o feito em que deva intervir. Se oprocesso tiver corrido, sem conhecimento doMinistério Público, o juiz o anulará a partir domomento em que o órgão devia ter sido intimado.

Prescreve o art. 82 do Código deProcesso Civil que:

Art. 82. Compete ao Ministério Público inter-vir: I - nas causas em que há interesses de inca-pazes; II - nas causas concernentes ao estado dapessoa, pátrio poder, tutela, curatela, inter-dição, casamento, declaração de ausência edisposições de última vontade; III - nas ações que envolvam litígios coletivospela posse de terra rural e nas demais causasem que há interesse público evidenciado pelanatureza da lide ou qualidade da parte.

Tal dispositivo deve ser interpretado emconsonância com o art. 127 da ConstituiçãoFederal, que baliza os limites de atuação doÓrgão Ministerial nos seguintes termos:

o Ministério Público é instituição permanente,essencial à função jurisdicional do Estado,incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,do regime democrático e dos interesses soci-ais e individuais indisponíveis.

Vê-se que qualquer atuação que extra-pole os limites traçados pelo art. 127 daConstituição Federal será inconstitucional e,portanto, indevida. Inconstitucional, por exem-plo, seria o Ministério Público se imiscuir emquestões que envolvam assuntos de naturezaestritamente individual e privada.

Ora, a lide versada nos autos respeita apedido de condenação da apelante principal aopagamento de indenização pelos prejuízossupostamente causados ao apelante adesivoem decorrência de omissão no registro doimóvel sob litígio acerca da existência deservidão que onera dito bem. Assim, embora a

apelante principal seja demandada na quali-dade de titular do Cartório do 1º Ofício deRegistro Imobiliário de Juiz de Fora, não sepode admitir que o Ministério Público intervenhano processo, porquanto não se trata de qual-quer dos interesses elencados no mencionadoart. 82 do CPC.

Em síntese, não se vislumbra, nesteprocesso, interesse que justifique a intervençãodo Ministério Público, razão pela qual se deveafastar a argüição de nulidade em razão daausência de participação do Órgão Ministerial.

A apelante principal aduz, ainda, que hácoisa julgada emergente do acórdão proferidonos autos da ação de indenização movida porFernando Paiva da Silva e outros em face doapelante adesivo (reproduzido às f. 154/160).Por conseguinte, acrescenta que o processodeve ser extinto nos termos do art. 267, incisoV, do CPC.

Consoante disposto no art. 472 do CPC,"a sentença faz coisa julgada às partes entre asquais é dada, não beneficiando, nem prejudi-cando terceiros".

A norma legal estabelece, em termos rígi-dos, o alcance subjetivo da coisa julgada, demodo que somente as partes, ou seja, aquelesque de uma forma ou de outra estiveram inte-grados à relação processual, são alcançadaspelos direitos, obrigações ou deveres que foremobjeto da decisão judicial.

Embora não se olvide que a eficácia na-tural da sentença - e também do acórdão -, naterminologia de Liebman, reflete-se também nassituações ocupadas por terceiros, a imutabili-dade do direito material controvertido constitui"lei" somente entre os sujeitos parciais doprocesso, excetuando-se o assistente simples.

No sistema brasileiro, apenas e tão-somente nas hipóteses de interesses coletivoslato sensu a coisa julgada tem efeitos sobredireitos ultra partes e, mesmo assim, apenaspara declarar a existência ou a inexistência de

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direitos, nunca para atribuir-lhes obrigações(Código de Defesa do Consumidor, art. 103).

Na lição do douto e pragmático CândidoRangel Dinamarco:

Há duas razões básicas pelas quais a autori-dade da coisa julgada não deve ir e não vaialém dos sujeitos processuais. A primeira delas é a garantia constitucional docontraditório, que ficaria maculada se umsujeito, sem ter gozado das oportunidadesprocessuais inerentes à condição de parte,ficasse depois impedido de repor em dis-cussão o preceito sentencial (supra, nºs 84 esegs.). A segunda, colhida do modo como a coisa jul-gada incide na vida das pessoas e das regrasprocessuais sobre a legitimidade ad causam,consiste no desinteresse dos terceiros pelosresultados do processo, que não lhes afetamdiretamente a esfera de direitos e obrigações.Como a sentença e seus efeitos têm semprereferência a determinado bem da vida, ordi-nariamente a decisão só atinge os titulares dedireitos, obrigações ou mesmo meras preten-sões que incidam sobre esse bem. Se soucondenado a entregar determinado bem adeterminada pessoa, meu vizinho não estávinculado pela autoridade de coisa julgadaque incidir sobre essa sentença, não somenteporque a lei diz que não, mas antes dissoporque a decisão não lhe diz respeito e por-tanto lhe é juridicamente indiferente. Os ter-ceiros absolutamente indiferentes, que com-põem um número infinito de pessoas, pratica-mente toda a população do globo terrestre,não são autorizados a repor em discussão osefeitos da sentença proferida inter alios, nãoporque a coisa julgada os atinja, mas porquesua vida não fica afetada por eles; e, conse-qüentemente, no plano do direito processualfalta-lhes legitimidade ad causam. Antes deser vedada por motivos político-constitu-cionais, portanto, a eficácia erga omnes dacoisa julgada material é excluída pelo próprioobjeto da sentença de mérito e pelas regrasrelativas à titularidade do direito de ação(DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituiçõesde direito processual civil. 2. ed. São Paulo:Malheiros, 2002, v. III, p. 317-318).

Compulsando o acórdão reproduzido àsf. 154/160, proferido nos autos da ação in-denizatória nº 424.576-9, ajuizada por

Fernando Paiva da Silva e outros em face deCláudio Ferreira Cotta (apelante adesivo), veri-fica-se que a Turma Julgadora concluiu que:

(...) No presente caso, a sentença de primeirograu deixou expressamente assentado que aresponsabilidade da tabeliã não poderia serexaminada em face de sua exclusão da lide;descabia examinar a conduta do mandatário,corretor de imóveis, por não ser parte na lide,e, quanto à responsabilidade dos apelantesna venda do imóvel, concluiu que as provasconstantes dos autos demonstraram que co-nheciam a servidão, mas não informaram aosadquirentes, responsabilizando-se pela pri-vação de uso e gozo do imóvel alienado, nãohavendo, a meu juízo, qualquer nulidade nasentença recorrida. Rejeito a preliminar. No mérito, a questão é singela. O conjuntoprobatório constante dos autos demonstra deforma clara e inequívoca que os proprietáriosdo imóvel tinham conhecimento da restriçãocontida sobre os imóveis e a documentaçãoapresentada aos adquirentes não continhatais informações. Se o cartório deixou de consignar a servidão,cabia aos proprietários fazer a retificação eexigir que constasse a restrição, pois têm odever de informar qualquer ônus que recaíssesobre o imóvel.

Assim, a toda evidência, a coisa julgadaemergente do acórdão transcrito declarou ser oapelante adesivo responsável pela omissão emrelação à existência de servidão que onera obem sob litígio. A sentença transitada em julga-do é imutável e indiscutível em relação àspartes da ação indenizatória nº 424.576-9,quais sejam apelante adesivo e terceirosadquirentes de boa-fé (Fernando Paiva da Silvae outros).

Cumpre asseverar que, conforme se ve-rifica do trecho do acórdão anteriormentetranscrito, a apelante principal, isto é, a titulardo Cartório do 1º Ofício de Registro de Imóvelde Juiz de Fora, foi excluída da lide.

Nessa linha de raciocínio, nada impedeque o apelante adesivo ajuíze demanda em fa-

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ce da apelante principal, a fim de ver declaradoser ela a verdadeira responsável pela omissãoverificada no ato da transcrição do registro dobem objeto do litígio, no que concerne àexistência de servidão.

De nada adianta à apelante principal afir-mar que uma sentença transitada em julgado járeconhecera ser o apelante adesivo culpadopela mencionada omissão. A coisa julgada exis-tente não impede que o apelante adesivo dis-cuta o ponto em relação à apelante principal,que foi terceira em relação àquele primeiroprocesso (nº 424.576-9).

Nesse sentido, a existência de coisa jul-gada trata-se de mera alegação, suscitada àundécima hora na tribuna, em verdadeiro ato dedesespero, que não deve prevalecer, conformedemonstrado.

À guisa de conclusão, considerando-seque a coisa julgada emergente do acórdãoreproduzido às f. 154/160 não atinge a apelanteprincipal, não há que se falar em extinção doprocesso sem resolução do mérito com base noart. 267, inciso V, do CPC.

I -1 - Da responsabilidade civil.

O Juiz de primeiro grau entendeu que atitular do Cartório do 1º Ofício de RegistroImobiliário de Juiz de Fora deve ser respon-sabilizada pelos prejuízos causados ao autorem decorrência da omissão no registro doimóvel sob litígio acerca da existência deservidão que onera dito bem.

Não resignada, alega a ré (apelante prin-cipal) que a culpa pela indução a erro dosadquirentes do bem é do procurador que inter-mediou a venda do imóvel, ao fundamento deque este omitiu a existência de servidão nomomento da alienação, razão pela qual afirmaque o autor (apelante adesivo) deve ser respon-sabilizado pelos atos praticados pelo man-datário, não havendo que se falar em dever deindenizar por parte da ré (apelante principal).

A seu turno, aduz o autor (apelante ade-sivo) que no momento do registro do imóvelapresentou escritura de compra e venda na

qual havia menção expressa à servidão queonera o bem, razão pela qual entende que a ti-tular do cartório deve ser responsabilizada pelaomissão verificada, considerando-se que talônus não foi transcrito no registro do imóvel,induzindo, assim, os futuros alienantes do bema erro.

Postas as alegações de ambas aspartes, verifica-se que a controvérsia tratadaneste tópico se cinge a perquirir acerca daculpa da apelante principal pela omissão noregistro do imóvel sob discussão atinente àservidão que onera o bem.

Compulsando os autos, verifica-se que oapelante adesivo, então proprietário do terrenodescrito na inicial, constituiu procurador paraintermediar a negociação do bem, o qual foialienado pela quantia de R$ 24.000,00.

Celebrada a compra e venda, osadquirentes contrataram a elaboração de proje-to de engenharia e iniciaram a edificação deuma casa no terreno adquirido, quando entãose constatou a existência de tubulação de ferrofundido na linha dos pilares. Desconhecendo aexistência de servidão relativa ao imóvel alie-nado, os proprietários ajuizaram ação de anu-lação de negócio jurídico, buscando desfazer acompra e venda entabulada entre as partes, aofundamento de que foram enganados, uma vezque se omitiu acerca da existência de dito ônusreal naquele imóvel.

Constatado que no registro do imóvelnão havia qualquer menção àquela servidão, oapelante adesivo foi condenado a restituir aosadquirentes do bem o valor pago pelo terreno(R$ 24.000,00), acrescido da quantia atinenteàs despesas com a contratação do projeto deengenharia, bem como com o início daconstrução da casa, perfazendo o montantetotal de R$ 106.364,24.

Em seguida, o apelante adesivo ajuizou apresente ação de indenização em face da titulardo aludido cartório, com o intuito de respon-sabilizá-la pela omissão ocorrida, ao fundamen-to de que o erro se deu por culpa exclusiva docartório.

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Cumpre salientar que se trata de fatoincontroverso nos autos que o apelante adesi-vo, ao proceder ao registro do imóvel sob litígio,apresentou escritura de compra e venda dobem, contendo menção expressa à existênciade servidão. Todavia, não obstante a apresen-tação de tal documento, verifica-se que, ao seproceder ao registro do terreno, omitiu-se emrelação ao aludido ônus real.

Assim, demonstrado que a escritura decompra e venda apresentada pelo apelanteadesivo no ato de registro do imóvel sob litígiocontinha menção expressa acerca da servidãoque onera o bem, a qual não foi transcrita parao respectivo registro, reputa-se patente a omis-são verificada pelo preposto do cartório, razãopela qual se entende que a apelante principaldeve ser civilmente responsabilizada pelosdanos materiais descritos na inicial.

Diante da negligência observada, restaclara a responsabilidade da titular do Cartóriodo 1º Ofício de Registro de Imóveis pela condu-ta praticada por funcionário deste, de ondeexsurge que agiu acertadamente o Juiz senten-ciante, ao condená-la ao pagamento de in-denização pelos danos materiais suportadospelo apelante adesivo em virtude do desfazi-mento do negócio jurídico celebrado com osadquirentes do terreno alienado.

Dispõe o art. 28 da Lei 6.015/73:

Art. 28. Além dos casos expressamenteconsignados, os oficiais são civilmenteresponsáveis por todos os prejuízos que, pes-soalmente, ou pelos prepostos ou substitutosque indicarem, causarem, por culpa ou dolo,aos interessados no registro.

No mesmo sentido, dispõe o art. 22 daLei dos Cartórios (Lei 8.935/94):

Art. 22. Os notários e oficiais de registroresponderão pelos danos que eles e seusprepostos causem a terceiros, na prática deatos próprios da serventia, assegurado aosprimeiros direito de regresso no caso de doloou culpa dos prepostos.

De tais dispositivos, ressai que aapelante principal deve arcar com o pagamentoda indenização pelos danos materiais suporta-

dos pelo apelante adesivo, uma vez quedemonstrada a culpa desta pela omissão conti-da no registro do imóvel sob discussão.

Nesse sentido, transcrevem-se osseguintes julgados:

Indenização - Compra e venda de bem imóvel- Alienantes e adquirentes de boa-fé - Perdado bem para o verdadeiro dono - Dever derestituição do numerário recebido pelos alie-nantes não proprietários - Reconhecimento -Litisdenunciação contra tabelião do cartóriode imóveis - Responsabilidade reconhecida. -I - Aquele que, sem ser detentor do domínio,tiver alienado bem imóvel e recebido o seupreço, ainda que tenha obrado de boa-fé, éobrigado a restituir a importância paga, sobpena de enriquecimento ilícito, não havendoque se perquirir de existência ou não deculpa, tudo conforme art. 968 do Código Civil.- II - O tabelião de cartório extrajudicialresponde pelos danos que causar a terceirosna prática de atos próprios da serventia,sendo tal responsabilidade, inclusive, objetiva,conforme conjugação dos arts. 37, § 6º, e 236da Constituição da República com o art. 22 da Lei nº 8.935/94 (TAMG, 1ª Câmara Cível, Rel.Juiz Osmando Almeida, AC2.0000.00.373431-4/000, j. em 10.12.02).

Ação anulatória - Má-fé - Configuração -Danos morais e materiais - Responsabilidadedo oficial do Cartório de Registro de Imóveis -Fornecimento de certidão incorreta -Solidariedade passiva - Obrigação de in-denizar. - A má-fé é a intenção malévola deprejudicar, equiparada à culpa grave e errogrosseiro, podendo o juiz inferi-la das cir-cunstâncias de fato e dos indícios existentesnos autos, o que ocorreu no caso sub exa-mine. Comprovados o evento danoso, o nexode causalidade e o prejuízo causado, impõe-se o dever de indenizar, ao teor do art. 159 doCC/1916. Comprovado o dano causado porcertidão incorretamente fornecida por oficialdo cartório, inconteste é o dever de indenizar,conforme o art. 22 da Lei 8.935/94. A respon-sabilidade dos réus é solidária, ao teor do art.1.518 do CC/16 (TAMG, 4ª Câmara Cível, Rel.Juiz Domingos Coelho, AC 2.0000.00.420841-5/000, j. em 05.05.04).

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Indenização - Cartório de imóveis -Fornecimento de certidão incorreta - Danocomprovado - Obrigação de indenizar - Lei8.935/94. - Comprovado o dano causado porcertidão incorretamente fornecida por oficialdo cartório, inconteste é o dever de indenizar,conforme o art. 22 da Lei 8.935/94 (TAMG, 4ªCâmara Cível, Rel. Juiz Paulo Cezar Dias, AC2.0000.00.321272-2/000, j. em 22.11.00).

Com tais considerações, deve-se afastara alegação da apelante principal de que a culpapela omissão acerca da servidão que onera obem é do procurador que intermediou a alie-nação do terreno e que, por conseguinte, a ne-gligência do mandatário deve ser imputada aomandante, no caso ao apelante adesivo. Issoporque, conforme exposto anteriormente,demonstrou-se que a responsabilidade pela alu-dida omissão é da titular do Cartório do 1º Ofíciode Registro de Imóveis, razão pela qual se afigu-ra devida a condenação desta ao pagamento deindenização pelos prejuízos causados.

No mesmo sentido, não deve prevalecera alegação de que o apelante adesivo deveriaexigir que constasse no registro do imóvel aservidão que onera o bem submetido a registro,tendo em vista que não é crível imaginar queum cidadão comum se atente a detalhes tãoespecíficos atinentes a registros públicos.

Por outro lado, é de se presumir que oscartórios extrajudiciais, na prática de atospróprios de serventia, devem ser cautelosos aoproceder ao registro de imóveis, atentos aosdetalhes contidos nas escrituras de compra evenda que lhe são apresentadas, de forma aregistrar a existência de eventuais ônus reais.

Ora, se nem mesmo o funcionário docartório, habituado às minúcias das certidões,escrituras e registro públicos, atentou para aexistência de ônus real que grava o imóvelalienado, não se deve exigir do apelante adesi-vo, que não está habituado ao trato comtransações imobiliárias e a tais particularidades,percebesse dita omissão.

Ressalte-se que, como bem salientou oJuiz sentenciante, a atividade de registro car-

torário "deve ser encarado como serviço desegurança nacional, pois diz respeito à própriaestrutura do Estado e da propriedade" (f. 319),cumprindo destacar a importância dos serviçosprestados pelos cartórios, uma vez que emmuito contribuem para a estabilidade dasrelações sociais.

Dessarte, deve-se negar provimento àapelação principal nesse particular, mantendo-se, por conseguinte, a sentença recorrida, noque toca à condenação da apelante principal aopagamento de indenização ao apelante adesivopelos danos materiais suportados.

I -2 - Do valor da indenização por danosmateriais.

Na sentença, o Juiz de primeiro grauressalvou que "sobre os R$ 106.364,24 de-verão ser abatidos os 24.000,00 recebidos peloimóvel que, em face da anulação da relaçãotranslativa correspondente, reverteu para a pro-priedade do requerente (embora já alienadocomo se denota do documento de f. 299)" (f.321).

Inconformada, alega a apelante principalque, além dos R$ 24.000,00 recebidos peloapelante adesivo, deve-se decotar do valor daindenização o valor atual do imóvel, ao funda-mento de que dito bem foi novamente alienado.

Ressalvou, ainda, que, conquanto o bemtenha sido alienado pela ínfima quantia de R$30.000,00, deve-se decotar do valor da conde-nação o montante de R$ 96.262,64, correspon-dente ao real valor do bem, considerando-se aexistência de benfeitorias no terreno.

A seu turno, aduz o apelante adesivo queas benfeitorias realizadas pelos antigosadquirentes nada acrescem ao preço do bem,sob o argumento de que "tais melhorias devemser derrubadas, exatamente em função do errodo cartório" (f. 354).

Verifica-se que o apelante adesivo foicondenado, nos autos da ação anulatória c/cindenizatória ajuizada pelos antigos adquiren-

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tes nada acrescem ao preço do bem, sob oargumento de que "tais melhorias devem serderrubadas, exatamente em função do erro docartório" (f. 354).

Verifica-se que o apelante adesivo foi con-denado, nos autos da ação anulatória c/c ind-enizatória ajuizada pelos antigos adquirentes doterreno em face deste, "a devolver o valor pagopelos autores devidamente corrigido, a partir dorespectivo desembolso, devidamente atualizado,além dos gastos despendidos pelos autores coma transação e a execução da obra, até o dia24.10.00, conforme se apurar em liquidação desentença" (f. 159).

Em virtude da sentença proferida nosautos da aludida ação anulatória c/c indeniza-tória, o apelante adesivo ajuizou a presenteação regressiva, a fim de obter a reparaçãopelas quantias indicadas na condenação.

Na sentença, o Juiz de primeiro grau,reconhecendo a culpa da apelante principalpela omissão no registro do bem sob litígio,condenou-a ao pagamento da indenização pordanos materiais pleiteada, ressalvando, contu-do, que do montante total (R$ 106.364,24) deveser decotado o valor do terreno (R$ 24.000,00),ao fundamento de que o referido bem retornouà esfera patrimonial do apelante adesivo.

Alega a apelante principal que, em vir-tude da posterior alienação do bem a terceiro,deve-se decotar da condenação o valor obtidocom a venda do terreno (R$ 30.000,00), bemcomo o montante atinente às "benfeitorias"existentes, avaliadas em 52.649,27, perfazendoo total de R$ 96.262,64 (R$ 30.000,00 +52.649,27).

Todavia, em que pesem as alegaçõesdeduzidas pela apelante principal, cumpreobservar que ela foi condenada a restituir aoapelante adesivo as quantias despendidas porele em face da sentença proferida nos autos daação de desfazimento de negócio jurídicoajuizada pelos antigos adquirentes do imóvelem desfavor do apelante adesivo.

Verifica-se de tal sentença que o valorrecebido em virtude da alienação do imóvel liti-gioso foi devidamente restituído aos antigosalienantes, uma vez que o aludido bem retornouà esfera patrimonial do apelante adesivo.

Assim, tendo em vista que o imóvel alie-nado retornou à esfera patrimonial do apelanteadesivo e que o valor desembolsado pelos anti-gos adquirentes do imóvel lhes foi restituído,verifica-se que restou ao apelante adesivo tão-somente reembolsá-los das quantias despendi-das com a transação e a execução da obra.

Por conseguinte, considerando que aapelante principal foi condenada a restituir aoapelante adesivo os valores indicados na sen-tença proferida na mencionada ação de desfa-zimento de negócio jurídico, consistente nasdespesas desembolsadas pelos antigosadquirentes com a transação e a execução daobra, não há que se falar em dever de decotarda condenação a quantia obtida com a posterioralienação do bem.

Isso porque, conforme demonstrado, nasentença proferida nos autos da aludida açãode desfazimento de negócio jurídico, o apelanteadesivo foi condenado a restituir apenas asquantias desembolsadas pelos antigosadquirentes com a transação e a execução daobra.

À guisa de conclusão, não merece refor-ma a sentença nesse ponto, motivo pelo qualse impõe negar provimento à apelação principaltambém nesse particular.

O Sr. Des. Fábio Maia Viani - De acordo.

O Sr. Des. Guilherme Luciano BaetaNunes - Peço vista.

Súmula - O DES. RELATOR E O DES.REVISOR NEGARAM PROVIMENTO ÀAPELAÇÃO PRINCIPAL. PEDIU VISTA O DES.VOGAL.

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Notas taquigráficas

O Sr. Des. Presidente - O julgamentodeste feito foi adiado na sessão anterior, a pedi-do do Des. Vogal, quando, então, osDesembargadores Relator e Revisor negavamprovimento à apelação principal.

O Sr. Des. Guilherme Luciano BaetaNunes - Eminentes Pares.

Pedi vista dos autos porque me impres-sionou a manifestação oral do ilustre advogadoda primeira apelante, o qual insistiu no argu-mento de que a questão já havia sido resolvidapor decisão transitada em julgado, quando, emação anterior, negou-se a denunciação da lide àora apelante.

Contudo, examinando-se os autos, verifi-ca-se que o douto Juiz da causa anterior inde-ferira a denunciação da lide, mas porque adenunciação, baseada no inciso III do art. 70 doCPC, não é obrigatória.

Portanto, não houve, na ocasião, oentendimento de que a denunciada não teriaresponsabilidade civil no caso.

Transcrevo trecho da decisão daqueledouto Juiz:

Impõe-se relembrar que, por força de normamaterial (CC, art. 116), somente na hipótesedo inciso I do art. 70 a denunciação da lide éobrigatória, enquanto que, nos demais dis-positivos, prevalece a regra de que a denun-ciação é mera faculdade, não inibindo odenunciante de fazer valer o seu direito emação distinta e autônoma. O máximo que lheocorre é perder a oportunidade de, analisadoo thema decidendum, ver consagrado numasó sentença e na mesma oportunidade o seudireito regressivo, somente isto.

Tal decisão foi confirmada em grau de recurso.

Com efeito, assim vem decidindo o STJ:

(...) Entretanto, o indeferimento da denun-ciação da lide não justifica a anulação doprocesso’ (REsp nº 165411/ES, Rel. Min.

Garcia Vieira) e, por fim, que ‘os princípios daeconomia e da celeridade podem justificar anão-anulação parcial do processo onde inde-vidamente não se admitiu denunciação dalide (CPC, art. 70, III), ressalvado ao denun-ciante postular seus eventuais interesses navia autônoma’ (REsp nº 11599/RJ, Rel. Min.Sálvio de Figueiredo Teixeira). 5. Precedentesdas 1ª, 2ª, 3ª e 4ª Turmas desta CorteSuperior. 6. Agravo regimental não provido.(STJ - AGRESP 631723 - CE - 1ª T. - Rel. Min.José Delgado - DJU de 13.09.04 - p. 00184).

Portanto, não houve qualquer decisãojudicial sobre o mérito da participação daprimeira apelante no caso em pauta, daí a ine-xistência de trânsito em julgado sobre aquestão.

Em resumo, tem-se que, não admitida adenunciação da lide, porque, no caso, seria fa-cultativa (CPC, art. 70, III), considera-se ressal-vado ao denunciante postular seus eventuaisinteresses pela via autônoma.

Quanto ao mérito do primeiro recurso, talcomo o douto Desembargador Revisor, tambémacompanho o eminente DesembargadorRelator, negando-lhe provimento.

O Sr. Des. Elpídio Donizetti - II - Daapelação adesiva.

II -1 - Da alegação de danos morais

Asseverou o Juiz de primeiro grau que"quanto aos danos morais, todavia, em quepese reconhecer induvidosos os problemasenfrentados pelo requerente, não vejo afetaçãoà sua esfera moral a ensejar a proteção pre-vista pelo constituinte no art. 5º, X, da CartaConstitucional de 1988" (f. 321).

Acrescentou que, "apesar de nãobanalizar as vicissitudes enfrentadas com oatributo de simples aborrecimentos, ratifico queos dissabores experimentados pelo requerentenão me parecem coadunar com a naturezareparatória do dano moral" (f. 321/322).

Não resignado, aduz o apelante adesivoque a culpa pelo erro no registro do imóvel sob

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litígio é exclusiva da apelante principal, razãopela qual entende que, presentes todos os ele-mentos que ensejam o dever de indenizar,deve-se condenar a apelante principal ao paga-mento de indenização a título de danos morais.

A Constituição Federal assegura a com-pensação pelo dano moral, mais precisamenteno seu art. 5º, V e X, ao disporem que:

V - é assegurado o direito de resposta, pro-porcional ao agravo, além de indenização pordano material, moral ou à imagem; (...)X - são invioláveis a intimidade, a vida priva-da, a honra e a imagem das pessoas, asse-gurado o direito de indenização pelo danomaterial ou moral decorrente de sua violação.

Conquanto a enumeração das hipótesesprevistas nos incisos mencionados seja exem-plificativa, o julgador não deve afastar-se dasdiretrizes nela traçadas. Assim, para evitar abu-sos, somente configuram dano moral a dor, oconstrangimento e a humilhação intensas e quefujam à normalidade, interferindo de forma deci-siva no comportamento psicológico do indiví-duo. Nesse diapasão, mero dissabor não éobjeto de tutela pela ordem jurídica. Do con-trário, estaríamos diante da banalização doinstituto da reparabilidade do dano extrapatri-monial, que teria como resultado prático umacorrida desenfreada ao Poder Judiciário, impul-sionada pela possibilidade de locupletamentoàs custas dos aborrecimentos do cotidiano.

Acrescente-se que, em se admitindo ahipótese de reparabilidade por dano moraldecorrente de omissão do cartório no ato doregistro de imóvel indiscriminadamente, estar-se-ia, em última análise, fomentando a famige-rada indústria do dano moral, prática que deveser repudiada com veemência.

No caso sob julgamento, verifica-se queo apelante adesivo pleiteia o ressarcimento porsupostos danos morais decorrentes da omissãodo cartório no ato do registro do imóvel descritona inicial, o que, a toda evidência, não configu-ra abalo à sua honra ou à sua integridade bio-psicológica, tampouco representa ofensa à suadignidade. Por outro lado, há que se observar

que os aborrecimentos causados ao apelanteadesivo são inerentes à negligência na práticade atos próprios de serventia e se situa dentrodos limites do razoável, do tolerável pelohomem médio. Na esteira de tal entendimento,colaciona-se a seguinte decisão:

Ação de indenização - Expedição de certidãonegativa de registro de nascimento -Equívoco do Cartório de Registro Civil -Aborrecimento rotineiro - Dano moral nãoconfigurado - Improcedência do pedido -Apelo improvido. - Para que surja o dever deindenizar, é necessário que simultaneamenteocorram as seguintes situações: [1] condutadolosa do agente; [2] existência do dano, querde natureza material ou moral, como esta-belece o art. 186 do Código Civil; e [3] nexode causalidade entre o dano e o comporta-mento do agente. - O mero aborrecimentorotineiro, causado por um equívoco dosprestadores de serviços públicos, não tem ocondão de provocar lesão efetiva aos bens dapersonalidade do indivíduo (TAMG, 8ªCâmara Cível, Apelação Cível nº2.0000.00.449263-3/000, Relator JuizSebastião Pereira de Souza, data do julga-mento: 12.11.04).

Com tais fundamentos, entende-se quenão há que se falar em dano moral indenizávelno caso vertente, devendo a sentença, por con-seguinte, ser mantida nesse ponto.

III - Conclusão.

Ante o exposto, nego provimento àsapelações principal e adesiva, mantendo, porconseguinte, a sentença recorrida.

Custas recursais, pelos apelantes,ressalvando-se, contudo, a suspensão da exigi-bilidade de tais parcelas em relação aoapelante adesivo, tendo em vista a assistênciajudiciária deferida no primeiro grau (f. 192-v.).

O Sr. Des. Fábio Maia Viani - De acordo.

O Sr. Des. Guilherme Luciano BaetaNunes - Também estou de acordo.

Súmula - NEGARAM PROVIMENTO ÀSAPELAÇÕES PRINCIPAL E ADESIVA.

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