indemnizaçao pelo sacrificio pag. 63

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    F I C H A T C N I C A

    DirectorVitalMoreira

    DirectorAdjuntoPedro Gonalves

    SecretriadeRedacoAnaCludiaGuedes

    ProprietrioCentrodeEstudosdeDireitoPblicoeRegulao

    (CEDIPRE)

    EditorCentrodeEstudosdeDireitoPblicoeRegulao

    (CEDIPRE)

    MoradaFaculdadedeDireitoda

    UniversidadedeCoimbraPtiodaUniversidade

    3004545

    Coimbra

    Portugal

    NIF504736361

    SededaRedacoCentrodeEstudosdeDireitoPblicoeRegulao

    (CEDIPRE)

    N

    do

    Registo

    da

    ERC

    125642

    ISSN16472306

    PeriodicidadeBimestral

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    S U M R I O

    Apresentao....................................................................................3

    Actualidade .......................................................................................5

    Contrataopblicaefundoscomunitrios.................................................. 5BERNARDOAZEVEDO|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    BrevesnotasapropsitodonovoregimedaRAN........................................ 9CARLOSCARVALHO|JuizDesembargadordoTCAN

    Ocontrato

    de

    prestao

    de

    servios

    na

    Lei

    12

    A/2008,

    de

    27

    de

    Fevereiro:

    umregimecontrrioConstituioeaoDireitoComunitrio ................... 17LICNIOLOPESMARTINS|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Umcasoexemplardedegradaodaautonomiamunicipal ...................... 23PEDROGONALVES|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Restriesparticipaoemprocedimentosdecontrataopblica........ 27RODRIGOESTEVESDEOLIVEIRA|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Doutrina.......................................................................................... 35

    ContrataoPblicaaduasvelocidades:atransposiodaDirectiva2007/66/CE.................................................................................................. 35ADOLFOMESQUITANUNES|Advogado

    Notassobreaantecipaodojuzosobreacausaprincipal(umcomentrioaoartigo121doCPTA) ................................................... 55DORALUCASNETO|JuzadeDireitodoTACdeLisboa

    Aindemnizao porsacrifcio...................................................................... 63FERNANDOALVESCORREIA|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    PublicidadeeSegredo

    no

    Conselho

    de

    Estado

    ............................................

    77

    J.C.VieiradeAndrade|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Oprincpiodemocrticosobapressodosnovosesquemasregulatrios. 99J. J.GOMESCANOTILHO|ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Onovodireitodourbanismo .................................................................... 109SUZANATAVARESDASILVA|AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Informaes ................................................................................. 121

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    www.fd.uc.pt/cedipre

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    Pgina1

    Odireitonoumanarrativa,todavia,mostrasetambmpelanarrativa.

    Nos dias de hoje, o direito narradofundamentalmente atravs de trs

    grandeseixos:anarrativalegislativa;anarrativajurisprudencialeanarra

    tivadoutrinal.estanarrativadoutrinalquenosinteressanestemomento.

    Adoutrinadodireitotemsefeitoataostemposdehoje,sobretudodepois

    deGutenberg,atravsdessacoisamgicaquesechamalivro(sendocerto

    quearevista

    ou

    publicao

    peridica

    nada

    mais

    do

    que

    um

    outro

    nome

    paraolivro).Noentanto,ascoisasmudaramradicalmenteequandosediz

    radicalmentenosequerfazerfiguradeestilo,masantestraduziraessn

    ciadascoisas.A informao,osaber,veiculase,hoje,jnopeloclssico

    suportefsico a que chamamospapel mas, muitoparticularmente,pela

    dimensovirtualqueosfluxosinformticossocapazesdetraduzirnoecr

    domaisremotoeincgnitodoscomputadores.

    O saber,a informao com tudooque isto implicade extraordinrio,

    complexoe,

    simultaneamente,

    catico

    chegam

    nos,

    nos

    tempos

    que

    cor

    rem,atravsdawebechegamnosdaformamaisdescomprometida:pelo

    acessoqueumsimplescomputadorfazredeglobal.Por issotemtodoo

    sentido que a doutrinajurdica narre criticamente o direitopormeio de

    umarevistaonline.BemandouporissooCEDIPREetodosaquelesque,de

    umaformaempenhada,lcidaeinovadora,estosuafrente.Bemandou

    oCEDIPREeminiciarapublicaodeumarevistaonline.Poraquisemos

    traqueaFaculdadedeDireitodaUniversidadedeCoimbraou,sesequiser,

    um

    dos

    seus

    Institutos,

    se

    perfila

    na

    vanguarda

    da

    utilizao

    de

    um

    dos

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    meiosmaispotenteseuniversaisde levaracaboaespecficanarrativado

    direitoqueadoutrinacristaliza.

    Perceber,analisar,desconstruire construirodireitopodefazerseedeve

    fazersedasmaisvariadasformas.Fazercomqueesselaborcriticochegue

    cadavezmaisaumnmerocadavezmaiordepessoastarefadaAcade

    miaedaUniversidade.Fazloatravsdaredenomaisdoqueumauti

    lizaointeligentedaquiloqueosmeiostecnolgicosnosdo.Fazloatra

    vsdaredecomumarevistaonlinenomaisdoqueaafirmaodeque

    h sempre mais mundopara alm do mundo que em um determinado

    momentonosdadoconhecerou,sequer,quenspensamosconhecer.

    OPresidentedoConselhoDirectivo,

    JosdeFariaCosta

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    Pgina3

    A P R E S E N T A O

    Temosogratoprazerdeapresentarumanovarevistajurdicaportuguesa,

    criadaeeditadapeloCedipreoseunomeRevistadeDireitoPblicoe

    Regulao.

    Apesardeserumcentroacadmicoedeinvestigaoaindajovem,oCedi

    prej apresenta um curriculum preenchido, sobretudo nas matrias em

    que, nos ltimos anos, o direito pblico portugus sofreu mutaes de

    maior significado: regulaopblica,justia administrativa, contratao

    pblica eempregopblico. Quer atravs da realizao de cursos de ps

    graduao, quer mediante a edio de vrias obras de investigao e de

    estudos,decarcterindividualoucolectivo,oCedipretemprocuradocon

    tribuir para o fortalecimento e o enriquecimento da cincia do direito

    pblico em Portugal; de um modo particular, temse revelado activo e

    empenhadoemmobilizaresforosemtodosossectoresemqueasaltera

    eslegislativasvmreclamandoumamaiorexignciadeadaptao.

    No incio do ano de 2009, entendeu a Direco do Cedipre dar mais um

    passo,destaveznosentidodacriaoenaediodeumperidicoquese

    ocupedealgumadasvastasquestesdedireitopblico,decarctersubs

    tantivoedecarcterprocessual,quetodososdiassecolocamnasadminis

    traes pblicas, nas autoridades reguladoras, nos tribunais, no ensino

    universitrioounapraxisdosescritriosdeadvogados.preocupaoda

    novaRevistadeDireitoPblicoeRegulaolevaressaseoutrasquestes

    paraoespaopblicoeabrira todosos interessadosumaplataformade

    partilhadepontosdevistaedeconcepessobretemasdedireitopblico

    eregulao.

    O

    panorama

    editorial

    portugus

    no

    sector

    dos

    peridicos

    jurdicos

    e,

    em

    especial,emcertasreasdodireitopblicoapresentaediesdegrande

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    qualidadeeinteresse,que,alis,muitotmcontribudoparaaevoluoe

    divulgaodopensamentojurdico.nessamesma linha,dequalidadee

    desucesso,

    que

    aRevista

    tem

    apretenso

    de

    se

    inserir,

    reivindicando,

    partida,aoriginalidade,noquadroportugus,detercomosuporteaedi

    oelectrnica.

    ARevistatemumapublicaobimestral,editadaonlineeficaalojadana

    webpginadoCedipre.Apublicaodetextosabertaatodososinteres

    sadospelostemasdodireitopblicoedaregulaoe,namedidadoposs

    vel,osautoressodesdej incentivadosaadoptaremumestilo informal,

    directoepragmtico.Nesteponto,oobjectivode,pelomenosnumapar

    tedaRevista,seassentarnumparadigmadiscursivoque,obviamentesem

    cederaosimplismo,serevele,paraos leitores,acessveledirectoe,para

    osautores,deelaboraosimplificadaeinformal.

    ARevistacontacom3seces:i)uma,intituladaActualidade,queseocu

    pa,emtextosbreves,dequestesjurdicassuscitadaspornovasleis,deci

    sesadministrativasoudecisesjudiciaisequepoderservircomosupor

    tedeumaespciede intervenodecidadaniasobretemasdeDireito; ii)

    umaoutra,comottuloDoutrina,queacolhertextosmais longos,sobre

    questesdoutrinaise,ouprticasquereclamamumaatenomaiscuida

    daoudesenvolvida; iii)porfim,umaterceiraseco,dedicadaa Informa

    es,quedarcontadenovasobrasdadasestampa,emPortugalouno

    estrangeiro,bemcomodarealizaodeeventossobretemasrelacionados

    com o direito pblico e a regulao; por outro lado, ainda nesta seco,

    serdadanotciasobreleisedecises(administrativasejudiciais)relevan

    tes.

    VitalMoreira

    PedroGonalves

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    BernardodeAzevedo

    A C T U A L I D A D E

    ContrataoPblicaeFundosComunitrios

    BernardodeAzevedo

    AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Aanliseda ntimarelaoquefrequen

    tementeseestabeleceentrecontratao

    pblica e fundoscomunitrios,noobs

    tante as questes de relevante alcance

    prtico

    que

    inegavelmente

    coloca,

    tem

    sido,hquereconheclo,praticamente

    votada ao abandono seja pela doutrina

    (nacionaleestrangeira),seja,oqueno

    deixa de ser ainda mais surpreendente,

    pelaprpriajurisprudncia (a includaa

    do Tribunal de Justia da Unio Euro

    peia).

    Noentanto,

    so

    vrios

    os

    aspectos

    que

    carecem de esclarecimento no contexto

    da apontada relao, sendojustamente

    emordemacumpriresseintentoquese

    alinham, ainda que em termos necessa

    riamente abreviados, os comentrios

    queseseguem.

    A nossa anlise incidir, contudo e fun

    damentalmente,

    sobre

    duas

    ordens

    de

    questes,aprimeirarelativainfluncia

    queocofinanciamentodaactividadede

    determinadas entidades atravs de fun

    doscomunitriospoderexercersobrea

    suaeventualqualificaoenquantoenti

    dadesadjudicantes

    ou,

    para

    sermos

    mais

    especficos, enquanto organismos de

    direitopblico,asegundarelativapos

    svel submisso automtica de toda a

    contrataodeobras,benseserviosno

    contexto de aces apoiadas pelos fun

    dosestruturaisaosprocedimentosadju

    dicatriosrecortadosnaparteIIdoCdi

    godos

    Contratos

    Pblicos

    (CCP).

    Pelo que se refere primeira das ques

    tes acima identificadas, importa, antes

    domais,evidenciarqueaqualificaode

    uma entidade enquanto organismo de

    direitopblico,paraefeitosda respecti

    va submisso aos procedimentos pr

    contratuais catalogados na parte II do

    CCP,depende,

    alm

    da

    sua

    personalida

    dejurdica e da prossecuo de fins de

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    interessegeralsemcarcterindustrialou

    comercial,dacorrespondentesujeio

    influnciadominante

    de

    qualquer

    uma

    das entidades pertencentes Adminis

    trao Pblica em sentido organizatrio

    clssico, conforme enunciadas nas al

    neasa)af)doartigo2.,n.1,doCCP.

    Esta influncia dominante, aferese, por

    sua vez, indiciariamente, mediante a

    verificao, alternativa, de uma das

    seguintescondies:

    a) financiamento maioritrio da res

    pectivaactividadeporumadasenti

    dades elencadas nas alneas a) a f)

    doartigo2.,n.1,doCCP;

    b) sujeiodasuaactuaoaocontrolo

    de gesto de uma das entidades

    indicadasnasalneasa)af)doartigo

    2.,n.

    1,

    do

    CCP;

    c) designao da maioria dos titulares

    dos correspondentes rgos de

    administrao,gestooufiscalizao

    por uma das entidades individuali

    zadasnasalneasa)af)doartigo2.,

    n.1,doCCP.

    Alinhadeintersecoentreosdomnios

    da

    contratao

    pblica

    e

    dos

    fundos

    comunitrios repousaria justamente na

    relevncia (potencial) assumida pelo

    apoiodosfundosestruturaisemordema

    darporpreenchidooprimeirodosrequi

    sitos atrs enunciados financiamento

    maioritrio da actuao desenvolvida

    peloorganismodedireitopblicodeque

    concretamente

    se

    trate

    por

    uma

    das

    entidadesrecenseadasnasalneasa)af)

    doartigo2.,n.1,doCCP.

    Parece,contudo,aconselhvelumaleitu

    rafortementerestritivadopreceitolegal

    em anlise, que obrigue a que esse

    financiamento maioritrio da actividade

    doorganismodedireitopblicoespecifi

    camente em causa provenha, forosa e

    directamente, dos oramentos das enti

    dades referidas expressis verbis nas al

    neasa)

    af)

    do

    artigo

    2.,

    n.

    1,

    do

    CCP.

    Nobasta,assim,enquantocondiode

    verificaodos pressupostosda referida

    previso legal que haja financiamento

    maioritrio por dinheiros pblicos (a

    includos os de provenincia comunit

    ria), antes se exigindo que os dinheiros

    pblicos que concorrem, maioritaria

    mente(em

    mais

    de

    50%)

    para

    arelao

    de dependncia financeira normativa

    menteexigida,sejamexclusivamentede

    origemnacional.

    Ditoemtermosbemmaissimples,finan

    ciamentocomunitrionoequivaleaqui

    a financiamentonacional.E istoporque,

    relativamente distribuio dos apoios

    comunitriospor

    entidades

    nacionais,

    o

    Estado e as demais entidades pblicas

    com responsabilidade nesse domnio se

    limitam a actuar exclusivamente a sua

    vocao de rgos de administrao

    indirectadaUnioEuropeia.

    Ora, tal afasta imediatamente qualquer

    relaodedependnciaefectivaentreas

    entidades

    beneficirias

    dos

    fundos

    comunitriosemequaoeasautorida

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    BernardodeAzevedo

    desnacionaisresponsveispelasuaatri

    buio,aoinvsdoquedecorre,impera

    tivaeliteralmente,

    do

    artigo

    2.,

    n.

    2,

    doCCPedasprpriasdirectivascomuni

    triasrelativasmatriadacontratao

    pblica.

    Quantosujeioautomticaenecess

    riadetodasasentidadesquebeneficiem

    do apoios dos fundos estruturais s

    regras da contratao pblica pelo que

    concerneaos

    contratos

    de

    obras,

    bens

    e

    servios celebrados no contexto de

    aces cofinanciadas comunitariamen

    te, cabe, sobretudo, ressaltar o escasso

    contributo que imediatamente decorre

    dasnormasdedireitopositivo(nacionais

    ecomunitrias)reguladorasda interven

    odosfundoscomunitrios.

    Emvo

    se

    intentar

    da

    extrair

    uma

    solu

    odefinitivaparaaquestoemapreo,

    porquanto, em termos globais, o que

    temos uma remisso genrica para as

    normas da contratao pblica sempre

    queedesdequeaplicveis.

    No choca, contudo, admitir que uma

    vez que est em causa a aplicao de

    fundoscomunitrios

    haja

    a

    uma

    exign

    cia acrescida ou qualificada de respeito

    pelas normas da contrataopblica e

    isto ainda que nos confrontemos com

    entidades que no se inscrevam no

    permetro de entidades adjudicantes

    normativamente delimitado pelo CCP a

    pretextoda

    definio

    do

    seu

    mbito

    sub

    jectivodeaplicao.

    Estaramos, deste modo, colocados

    peranteahiptesedeaplicaodoCCP,

    porpartedestasentidades (equiparadas

    para o efeito a organismos de direito

    pblico), sempre que contratassem

    obras, bens ou servios no quadro do

    desenvolvimento

    de

    aces

    objecto

    de

    cofinanciamento comunitrio, sendo

    quenomais,isto,porrelaoatodaa

    sua restante actividade contratual, se

    encontrariam subtradas aplicao do

    diplomaemcausa.

    Obviamente que a soluo avanada

    merece, porventura, ponderao adicio

    nal

    e

    parece,

    at,

    ao

    menos

    de

    algum

    modo, ser desmentida pelo nico acr

    dodoTJUE relativomatria,mas,ao

    menos em nosso entender, configura,

    apesar de tudo, a via mais adequada

    para,em facedashesitaesda leieda

    jurisprudnciaedosilnciodadoutrina,

    colocar as entidades beneficirias de

    apoioscomunitrios

    asalvo

    de

    eventuais

    decisesdenocertificaodaelegibili

    dade da despesa apresentada por

    incumprimento das regras relativas

    contrataopblica.

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    CarlosLusMedeirosdeCarvalho

    BrevesnotasapropsitodonovoregimeReservaAgrcolaNacional

    CarlosLusMedeirosdeCarvalho

    JuizDesembargadordoTCAN

    Volvidosquase10anosdevignciadoDL

    n.196/89,de14.06,diplomaqueconti

    nhaoregimedaReservaAgrcolaNacio

    nal (doravante RAN), veio o mesmo

    recentemente a ser revogado1 pelo DL

    n. 73/09, de 31.03, passando este a

    conteroregimejurdicodaRAN.

    Esta destinase a defender as reas de

    maiores potencialidades agrcolas, ou

    queforamobjectodeimportantesinves

    timentos destinados a aumentar a sua

    capacidade produtiva, tendo como

    objectivo,nomeadamente,oprogressoe

    amodernizaodaagriculturaportugue

    sa, modernizao essa que passa no

    apenaspelo

    pleno

    aproveitamento

    agr

    cola dos melhores solos e a sua salva

    guarda,masqueexigeoutornanecess

    rioa existnciade exploraes agrcolas

    bemdimensionadas.

    1Cfr.artigo49.,al.a)doDLn.73/09,de31.03.

    Estediploma

    entrou

    em

    vigor

    10

    dias

    aps

    adata

    dasuapublicao talcomodecorredo n.1doseuartigo50.

    O novo regime legal publicado visou o

    aperfeioamento dos procedimentos de

    delimitao da RAN, procedimentos

    esses essenciais para a preservao do

    solo enquanto recurso natural finito e

    com uma multiplicidade de funes

    estratgicas relevantes na dinmica dos

    processoseconmicos,

    sociais

    eambien

    tais.

    Talpropsitoderiva,desde logo,dasim

    plesleituradoprembulododiplomaem

    referncia quando ali se refere que

    atendendo no s sua escassez

    comorecursosnaturaisfinitos,acrescem

    ao solo e terrafunes nucleares na

    regulaodo

    ciclo

    da

    gua

    ena

    manu

    teno da sua qualidade igualmente o

    ressurgir de aplicaes naproduo de

    energia,comoocasodosbiocombust

    veis, o papel fundamental na reduo

    das emisses de carbono, o suporte da

    biodiversidade,bemcomoasuaprocura

    para actividades de lazer das popula

    es,com

    oacrscimo

    da

    sensibilidade

    ambientalporparte da sociedade e em

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    especial no sector agrcola eflorestal o

    solo passou a ser assumido como um

    recursoprecioso,

    escasso

    eindispensvel

    sustentabilidade dos nossos ecossiste

    mas e salvaguarda do planeta.

    assimfundamental e estratgico,pelas

    profundasalteraesgeopolticasqueas

    sociedades actuais tm sofrido, pelo

    reflexo nas sociedades humanas e nos

    ecossistemasemgeralqueasalteraes

    climticastm

    produzido,

    pela

    necessi

    dadedamanutenodecondiesestra

    tgicasbsicasdevidadaspopulaese

    da garantia da sustentabilidade dos

    recursos, que sepromovampolticas de

    defesa e conservaodos terras e solos

    .

    Estaalteraolegislativatemcomopres

    supostosfundamentais

    amanuteno

    da

    naturezajurdica da RAN enquanto res

    triodeutilidadepblicaeoreforoda

    importncia estratgica da RAN, tal

    comoderiva,nomeadamente,doregime

    que se mostra enunciado nos seus arti

    gos2.(conceito)e4.(objectivos).

    O regime agora aprovado introduz na

    ordemjurdica

    uma

    nova

    classificao

    dasterrasedossolos2,adametodologia

    da Organizao das Naes Unidas para

    aAgriculturaeAlimentao (FAO/WRB),

    que permite uma nova abordagem na

    classificao e garante uma maior pro

    2 Cfr. artigos 6. (classificao das terras) e 7.

    (classificao dos solos) e anexos I) e II) do

    diplomaem

    referncia,

    por

    contraposio

    com

    oregimevertidonosartigos.2.,n.2e4.doDL

    n.196/89eseuanexo.

    teco dos recursos pedolgicos nacio

    nais,aqualjseencontraemaplicao

    emtrs

    regies

    do

    Pas

    (Trs

    os

    Montes

    e Alto Douro, Entre Douro e Minho e

    InteriorCentro),prevendoseaexpanso

    dostrabalhosparaassegurarumacober

    turanacional3.

    A RAN, nos termos previstos no artigo

    8., integrada pelas unidades de terra

    que apresentam elevada ou moderada

    aptidopara

    aactividade

    agrcola

    (clas

    ses A1 e A2 classificados nos termos

    enunciadosnoartigo6.),sendoquena

    ausncia daquela classificao prevista,

    integram a RAN as reas com solos das

    classesde capacidade de uso A,B eCh,

    previstasnon.2doartigo7.,asreas

    com unidades de solos classificados

    comobaixas

    aluvionares

    4

    ecoluviais

    5

    ,as

    reasemqueasclasseseunidadesrefe

    ridas anteriormente estejam maiorita

    riamente representadas quando em

    complexocomoutrasclasseseunidades

    desolo.

    A integraode terrasesolosdeoutras

    classes na RAN pode ocorrer ainda nas

    situaesecondicionalismos

    enunciados

    no artigo 9. (integrao especfica)6,

    mormente, quando assumam relevncia

    3VideparaalmdoprembulodoDLn.73/09

    os seus artigos. 3., alnea e), 6. e anexos aomesmodiploma.4Videdefiniovertidasobaalnean)doartigo

    3.doDLn.73/09.5Videdefiniovertidasobaalneao)doartigo

    3.do

    DL

    n.

    73/09.

    6 Cfr., no anterior regime legal, o disposto no

    artigo6.doDLn.196/89.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    15/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    CarlosLusMedeirosdeCarvalho

    emtermosdeeconomialocalouregional

    etenhamsidosubmetidasaimportantes

    investimentos

    destinados

    a

    aumentar

    com carcter duradouro a capacidade

    produtivadossolos7ouapromoverasua

    sustentabilidade, ou o seu aproveita

    mento seja determinante para a viabili

    dade econmica de exploraes agrco

    las existentes, ou assumam interesse

    estratgico, pedogentico ou patrimo

    nial.

    Tal integrao especfica pode ser efec

    tuada no mbito da elaborao, altera

    o ou reviso de plano municipal ou

    especial de ordenamento do territrio,

    podendo tambm ser determinada por

    despacho do membro do Governo res

    ponsvelpelareadaagricultura.

    Figuram

    como

    solos

    no

    integrados

    na

    RAN,nostermosquedecorremdoartigo

    10.dodiplomaemreferncia,asterras

    ousolosqueintegremopermetrourba

    no identificado em plano municipal de

    ordenamento do territrio como solo

    urbanizado, solos cuja urbanizao seja

    possvel programar ou solo afecto a

    estruturaecolgica

    necessria

    ao

    equil

    briodosistemaurbano8.

    Deharmoniaaindacomoregimeprevis

    to no mesmo diploma, a delimitao da

    RAN ocorre no mbito dos procedimen

    tos de elaborao, alterao ou reviso

    7Videdefiniovertidasobaalnea f)doartigo

    3.do

    DL

    n.

    73/09.

    8Vide,porcontraposio,oregimeanteriormen

    teprevistonoartigo7.doDLn.196/89.

    deplanomunicipalouespecialdeorde

    namento do territrio9, tendo por base

    uma

    proposta

    do

    municpio

    aprovada

    pelas entidades competentes da Admi

    nistrao Central e ficando identificada

    na planta de condicionantes daqueles

    planos10,sendoque,emcasosexcepcio

    naisderelevante interessegeral,sepre

    v a possibilidade do Governo, uma vez

    ouvidaacmaramunicipaldomunicpio

    abrangido,

    poder

    alterar

    a

    delimitao

    daRANanvelmunicipalatravsdereso

    luodoConselhodeMinistros11.

    Consagrase no diploma objecto desta

    breveanliseodireito informaoe

    participaodeharmoniacomodisposto

    no artigo. 19., sendo que no artigo

    antecedente se disciplina o regime da

    reintegrao

    na

    RAN

    de

    reas

    dela

    excludas, regime este sem paralelo no

    anteriorregime.

    Assim, nos termos do artigo 18. do DL

    n. 73/09, as reas que tenham sido

    excludas da RAN so reintegradas, no

    todo ou em parte, quando as mesmas

    notenhamsidodestinadasaosfinsque

    fundamentaramasua

    excluso

    da

    RAN,

    se no prazo de cinco anos a obra ainda

    no se tiver iniciado (casos de excluso

    nombitodoartigo17.);ousenoprazo

    9Cfr.,nocaso,oregimedesenvolvidonosartigos

    11.,13.,14.e15.doDLn.73/09.10

    Cfr.,paramaisdesenvolvimentos,osCaptulosIV(artigos11.a19.)eV(artigos20.a29.)doDL n. 73/09 por contraposio com o anterior

    regimedecorrente

    do

    DL

    n.

    196/89

    (Captulo

    II,

    SecesIeII artigos5.eseguintes).11

    Videartigo17.doDLn.73/09.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    16/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    para a execuo de plano municipal de

    ordenamento do territrio, quando a

    excluso

    tiver

    ocorrido

    no

    mbito

    da

    elaborao desse plano, a obra ainda

    no tiver sido iniciada, cabendo, neste

    caso,cmaramunicipalpromoverobri

    gatoriamenteaalteraodoplanomuni

    cipal que contenha a delimitao nos

    termosdoartigo.97.doDLn.380/99,

    de22.09.

    Atentese

    que,

    nos

    casos

    de

    projectos

    com ttulo vlido para a sua execuo,

    aquela reintegrao s ocorre ou opera

    comacaducidadedottulo12.

    Temos, por outro lado, que em matria

    de regime da RAN, o mesmo se mostra

    disciplinado no Captulo V, ali se elen

    cando as reas de afectao (artigo

    20.)13,

    as

    aces

    interditas

    (artigo

    21.)14, as regras de utilizao de reas

    RANparaoutros fins (artigo22.)15com

    separaodassituaesqueestosujei

    tas a parecer prvio (artigo 23.)16 e as

    sujeitas a comunicao prvia (artigo

    12Cfr.artigo18.,n.2doDLn.73/09.

    13 Cfr., noanterior regime decorrente do DLn.

    196/89,os

    artigos.

    8.

    eseguintes.

    14 Cfr., por contraposio, o anterior regime

    decorrentedoartigo8.,n.1doDLn.196/89.15

    Cfr., por contraposio, o regime previsto noartigo9.doDLn.196/89,oqualcontmlequemaisrestritodeutilizaes.16

    Cfr.,noanteriorregime,oartigo11.doDLn.196/89,sendoquecomoactualquadronormativo e por contraposio com aquele anteriorregime se opera uma clara reduo dos prazosprocedimentais de deciso, mantendose, todavia, a mesma consequnciaj prevista no n. 3

    daquelepreceito

    do

    DL

    n.

    196/89

    para

    odecur

    so do prazo sem emisso de parecer, ou seja,consideraseomesmocomofavorvel.

    24.)17ecomaespecificidadedasaces

    de relevante interesse pblico (artigo

    25.),

    mantendose,

    no

    essencial,

    o

    regimeemsedededireitodepreferncia

    (artigo 26.)18 e elevandose a unidade

    deculturaparaefeitosdefraccionamen

    to (artigo 27. por contraposio com o

    artigo13.doDLn.196/89).

    Instituiuse, todavia, regime inovador e

    sem paralelo com o quadro previsto no

    DL

    n.

    186/89

    com

    a

    introduo

    duma

    comunicao oficiosa Administrao

    Fiscal19 nos casos em que a inutilizao

    deterrasesolosparaoexercciodaacti

    vidadeagrcolasedestineaconstrues

    e edificaes, e, ainda, duma regra de

    inalienabilidade para determinadas

    situaes(artigo29.).

    De

    notar

    que

    nas

    situaes

    sujeitas

    a

    parecerprviosemostraprevistonon.

    10 do artigo 23. do DL n. 73/09 um

    quadro impugnatrio para os pareceres

    vinculativos desfavorveis ali se estipu

    lando que sem prejuzo dapossibili

    dade de impugnao contenciosa, nos

    termosdoCdigodeProcessonosTribu

    naisAdministrativos,

    os

    interessados

    podem interpor recursoparaaentidade

    nacionaldaRANdospareceresvinculati

    vosdesfavorveisemitidospelasentida

    17 No mbito do anterior regime no havia a

    autonomizao das figuras do parecer prvio edacomunicaoprvia.18

    Videartigo12.doDLn.196/89.19

    Cfr.artigo28.,sendoqueacompetnciapara

    efectuar

    tal

    comunicao

    cabe,

    nos

    termos

    doartigo 34., alnea d), s entidades regionais da

    RAN.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    17/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    CarlosLusMedeirosdeCarvalho

    des regionaisdaRAN,aemitirnoprazo

    de 20 dias 20, instituindose, assim,

    impugnao

    administrativa

    de

    natureza

    facultativaaqual,em termosde impug

    naocontenciosajurisdicionalseimpe

    concatenar, mormente, com o regime

    previstonoartigo59.doCPTA.

    EmsededasgarantiasdoregimedaRAN

    mantmse,talcomonoanteriorregime

    legal21,asanodanulidadepara todos

    osactos

    administrativos

    que

    hajam

    sido

    praticados em violao do disposto nos

    artigos 22. a 24. do DL n. 73/0922,

    bem como as aces de cessao das

    violaes da RAN23 e de reposio da

    situao anterior a tais violaes24, tal

    como a previso, com algumas altera

    es, da responsabilidade contra

    ordenacional

    (fiscalizao,

    instruo

    e

    deciso,edestinodoprodutodascoimas

    aplicadas)25. Desaparece, no entanto, a

    regra prevista no artigo 35. do DL n.

    196/89,comaepgrafederesponsabili

    dadedoEstadoedemaispessoascolecti

    vaspblicas,semquecom issosedeva

    ou possa considerar que no mbito do

    novo

    regime

    jurdico

    da

    RAN

    inexista

    responsabilidade do Estado e demais

    20Vide,ainda,artigo32.,n.1,alneag)doDL

    n.73/09.21

    Cfr.artigo34.doDLn.196/89.22

    Cfr.artigo38.doDLn.73/09.23

    Cfr.artigo43.doDLn.73/09e39.doDLn.196/89.24

    Cfr.artigo44.doDLn.73/90eartigo40.doDLn.196/89.25

    Cfr.

    oregime

    previsto

    nos

    artigos.

    39.

    a42.

    doDLn.73/09emcontraposiocomodecorrentedosartigos.36.a38.doDLn.196/89.

    pessoas colectivas pblicas pelos preju

    zos que sejam causados a sujeitos de

    boaf

    e

    decorrentes

    da

    emisso

    de

    actos nulos por violadores dos normati

    vossupracitados.

    Na verdade, tal preceito legal constitua

    apenasummero reforoouo relem

    brardaquiloquejresultavadoregime

    geral de responsabilidade civil extracon

    tratual do Estado e demais pessoas

    colectivas

    pblicas

    previsto

    no

    anterior

    DL n. 48051, de 21.11.1967, e actual

    mente na Lei n. 67/07, de 31.12, pelo

    que a sua ausncia expressa do quadro

    legal do novo regime jurdico da RAN

    nada de novo introduz, pois, indepen

    dentemente de ali figurar ou no, o

    regimegeralvigenteemsedederespon

    sabilidadecivil

    extracontratual

    daqueles

    entes vale em plenitude para a repara

    odosprejuzossofridospelossujeitos

    ouentesparticularesequesejamadve

    nientesdaemissodeactosadministra

    tivos ilegais, mormente, geradores do

    desvalor da nulidade por violao dos

    artigos22.a24.doDLn.73/09.

    De

    registar,

    ainda,

    as

    alteraes

    opera

    das em sede de estrutura e das entida

    desdaRAN,comainstituiodaentida

    denacional2627edasentidadesregionais

    da RAN2829, com a gesto ordenada da

    26 Cfr. artigos 31. (composio) e 32. (compe

    tncias)doDLn.73/09.27

    SucedeaoConselhoNacionaldaReservaAgrcola institudo pelo DL n. 196/89 cfr. artigos

    14.(composio)

    e15.

    (competncias).

    28

    Cfr. artigos 33. (composio) e 34. (competncias)doDLn.73/09.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    18/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    mesma considerando a diviso em

    regies coincidentescomo territriode

    cadaunidade

    de

    nvel

    IIda

    Nomenclatu

    ra de Unidades Territoriais (vulgo

    NUTS)30.

    A composio das entidades sensivel

    mentediminuda,sendoqueasregrase

    procedimentos em matria de funcio

    namento, mandato, reunies, etc., que

    se mostravam previstas nos artigos 18.

    eseguintes

    do

    DL

    n.

    196/89

    foram,

    com

    o novo regime aprovado e publicitado,

    remetidas, nos termos do artigo 35.,

    para regulamento interno a aprovar e

    homologarulteriormente,tudosempre

    juzodoquesedeixoujdisciplinadonos

    artigos 37. (possibilidade de realizao

    das reunies em videoconferncia e da

    suagravao

    poder

    ter

    ovalor

    de

    acta)

    e

    46. (posse dos membros e entrada em

    funcionamentodasentidadesdaRAN).

    De molde a potenciar uma gesto mais

    adequada dos espaos agrcolas lana o

    legisladormo denovos sistemase tec

    nologias de informao31, assentes,

    nomeadamente, em cartografia digital

    comoferramenta

    de

    rigor

    eapoio

    deci

    so,paraassimassegurarummaiorcon

    trolonagestodoterritrio,compatibili

    29 Sucedem s Comisses Regionais da Reserva

    Agrcola institudaspeloDLn.196/89 cfr.artigos.16.(composio)e17.(competncias).30

    Cfr.artigo30.doDLn.73/09.31

    Cfr.artigo36.doDLn.73/09,faltandoaindapublicar,dataqueescrevemos,aportariaprevista no n. 2 do citado preceito, sendo que

    importaainda

    ter

    presente

    oregime

    transitrio

    enunciado no n. 1 do artigo 47. do mesmodiploma.

    zandosecomosrestantes instrumentos

    deordenamento,demoldeaassimper

    mitirtambm

    uma

    mais

    fcil

    harmoniza

    ointermunicipal.

    Por fim, importa ainda ter particular

    ateno ao regime transitrio desenvol

    vidonoartigo47.,aolongodosseus11

    nmeros32, com regras em matria da

    prtica de actos em suporte papel (n.

    1),daadaptaodosplanosmunicipaise

    especiaisde

    ordenamento

    do

    territrio

    classificaodasterras/solosnostermos

    dosartigos6.e7.(n.s2,3,4,5,6e7),

    dadecisodosprocessospendentesque

    aindanoforamobjectodeparecerpr

    viodascomisses regionaisdaRAN (n.

    8), da deciso dos procedimentos de

    avaliao de impacte ambiental ou de

    anlisedas

    incidncias

    ambientais

    relati

    vas a projectos de utilizaes previstas

    na alnea l) do n. 1 do artigo 22. que

    tenham sido iniciados antes da entrada

    em vigor do presente diploma (n.s 9 e

    10) e da apresentao dos pedidos de

    parecerprviosentidadesregionaisna

    ausncia de funcionamento do sistema

    de

    informao

    referido

    no

    artigo

    36.

    (n.11).

    32Tratase,emnossoentendimento,dumainfeliz

    edeficienteprtica legislativaquesevemassistindocomodesenvolverdocorpodosartigosaolongo de imensos nmeros e/ou alneas (cfr. amesmadeficincia,nestemesmodiploma,quantoaos16nmerose8alneasdoartigo14.,s14 alneas do artigo 22., aos 10 nmeros doartigo23.),prticaessaquevemsendosucessivamente repetida em vrios diplomas e queimportariaevitare/ourepetir.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    19/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    CarlosLusMedeirosdeCarvalho

    Eis, pois, muito sumariamente algumas

    breves notas resultantes duma primeira

    leitura

    do

    novo

    regimejurdico

    da

    RAN

    recentementealterado,regimeesteque

    importa aprofundar e acompanhar at

    pelassuas

    relevantes

    implicaes.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    20/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    LicnioLopes

    OcontratodeprestaodeserviosnaLei12A/2008,de27deFevereiro:umregime

    contrrioConstituioeaoDireitoComunitrio

    LicnioLopes

    AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    A Lei 12A/2008, de 27 de Fevereiro,

    doravanteLein12A/2008,queestabe

    leceosregimesdevinculao,decarrei

    ras e de remuneraes dos trabalhado

    resqueexercemfunespblicas, intro

    duziu profundas alteraes na clssica

    relao

    de

    emprego

    pblico,

    indepen

    dentementedasuadurao relaode

    emprego pblico por tempo indetermi

    nado ou por tempo determinado ou

    determinvel, na terminologia daquela

    Lei.

    Dada a extenso e profundidade das

    alteraes introduzidas, pode, provavel

    mente,dizer

    se

    que,

    neste

    momento,

    a

    nica certeza a antecipar a de que a

    clssica relao de emprego pblico

    morreu,pelomenosemaspectosessen

    ciaisdoseuregime.

    Noplanodogmtico,hqueinventarum

    novodicionriojurdiconestedomnio:o

    DireitodaFunoPblicadevesersubs

    titudo

    pelo

    Direito

    Administrativo

    do

    EmpregoPblico.

    Uma das inovaes mais marcantes da

    Lein12A/2008,semdvida,aprevis

    tanoartigo35,relativaaocontratode

    prestaodeservios.

    Non1doartigoestabelecese,a ttulo

    geral,a faculdadedeasentidadespbli

    cas recorrerem celebrao deste con

    trato:osrgoseserviosaqueapre

    sente leiaplicvelpodemcelebrarcon

    tratos de prestao de servios, nas

    modalidadesdecontratosdetarefaede

    avena,nostermosprevistosnopresente

    captulo.

    Contudo,logodeseguida,non2,impe

    limitaes

    imperativas,

    prevendo

    que

    a

    celebrao de contratos de tarefa e de

    avena apenas pode ter lugar quando,

    cumulativamente:a)Se tratedaexecu

    odetrabalhonosubordinado,paraa

    qual se revele inconvenienteo recursoa

    qualquermodalidadeda relaojurdica

    de empregopblico; b)O trabalho seja

    realizado,em

    regra,

    por

    uma

    pessoa

    colectiva; c) Seja observado o regime

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    22/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    legaldaaquisiodeservios;d)Ocon

    tratado comprove ter regularizadas as

    suasobrigaes

    fiscais

    ecom

    aseguran

    asocial.

    Enon4adiantaque,excepcionalmen

    te,quandosecomproveserimpossvelou

    inconveniente, no caso, observar o dis

    postonaalneab)don.2,omembrodo

    Governo responsvel pela rea das

    finanaspodeautorizara celebraode

    contratosde

    tarefa

    ede

    avena

    com

    pes

    soassingulares.

    Sobreestenovoregimelegaldocontrato

    deprestaodeservios,importa,paraa

    economia deste texto, registar duas

    notas:

    a. A imperatividade da regra geral da

    contratao de pessoas colectivas e

    a

    excepcionalidade

    da

    contratao

    depessoassingulares;

    b. A demonstrao da impossibilidade

    ou da inconveninciaem celebraro

    contrato de prestao de servio

    com uma pessoa colectiva para,

    legalmente, o poder celebrar com

    umapessoasingular,aqueacrescea

    exignciade

    autorizao

    ministerial,

    aqualnovale,obviamente,paraas

    autarquiaslocais.

    Em sede de fiscalizao preventiva, o

    TribunalConstitucional(TC),aceitandoo

    entendimentodequeoregimelegalcon

    fereumaprevalnciaspessoascolecti

    vasnessetipodecontratao,emdetri

    mentodas

    pessoas

    em

    nome

    individual,

    no se pronunciou, no entanto, sobre a

    suainconstitucionalidadeporviolaodo

    princpiodaigualdadedetratamento,no

    qualse

    fundamentava

    opedido

    formula

    dopeloPresidentedaRepblica.

    Paraoefeito, o TC aduziu, noessencial,

    como fundamentao da sua deciso o

    factodeoregimeconstantedaalneab)

    do n 2 e do n 4 do artigo 35 se

    enquadrar numa linha estratgica de

    contenode efectivose de racionaliza

    o

    de

    recursos

    humanos,

    pelo

    que

    a

    preferncia concedida contratao de

    servios a empresas tem sobretudo o

    objectivo de evitar o artificial sobredi

    mensionamento da estrutura da Admi

    nistraoPblicaemmatriadepessoal,

    comeando por evitar, dentro do poss

    vel, a celebrao decontratoscom pes

    soas

    singulares,

    cuja

    continuidade

    pudessegerarnovassituaesdedisfun

    cionalidade,queosmecanismosdecon

    troloanteriormente institudosnocon

    seguiramimpedir.

    Neste conspecto, possveljustificar a

    diferenciao introduzida luz de um

    critrio que se afigura razovel, por ser

    compatvelcom

    fins

    constitucionalmente

    relevantes, como sejam a boa organiza

    oegestodosrecursospblicos,epor

    estardotadodeummnimodecoerncia

    entre os objectivos prosseguidos e os

    resultadosprevisveis.

    Nestestermos,concluioTCque,nose

    vmotivobastanteparaconsiderarveri

    ficada

    a

    pretendida

    inconstitucionalidade

    porviolaodoprincpiodaigualdade.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    23/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    LicnioLopes

    Salvo o devido respeito pela fundamen

    taodadecisodoTC,pelanossaparte

    nopodemos

    concordar

    com

    ela.

    No essencial, a equao jurdico

    constitucional a fazer na medida legal

    adoptadaaseguinte:constatadaaexis

    tncia de verdadeiras relaes de

    emprego pblico constitudas sombra

    de contratos de prestao de servios

    justificase,jurdicoconstitucionalmente,

    queolegislador,

    para

    evitar

    asua

    conti

    nuidade para o futuro, imponha uma

    proibiodeprincpiodacelebraodes

    tes contratos com trabalhadores em

    nomeindividual?

    Respondendo a esta questo, vamos,

    sinteticamente, expor algumas das

    razes que expressam a nossa discor

    dncia

    em

    relao

    fundamentao

    e

    decisodoTC.

    Em primeiro lugar, o regime legal em

    apreoconstituiumamedidadenature

    za restritiva da liberdade de opo da

    formajurdicadeexercciodaactividade

    profissional,compreendidanocontedo

    da liberdade de profisso (artigo 47 da

    CRP),enquanto

    liberdade

    de

    escolha

    do

    modo do exerccio da actividade profis

    sionale,nessaqualidade,abrangidapelo

    regimeespecialdosdireitos,liberdadese

    garantiasprevistosnosartigos17e18

    daConstituiodaRepblicaPortuguesa

    (CRP). Doravante, qualquer profissional

    em nome individual est, por princpio,

    impedido

    de

    celebrar

    um

    contrato

    de

    prestaodeservioscomaAdministra

    oPblica.Paraofazerter,por impo

    siolegal,deconstituirsecomopessoal

    colectiva.

    Tendoemcontaofimtidoemvistapelo

    legisladorevitaraconstituiodever

    dadeiras relaes de emprego pblico

    sombra de contratos de prestao de

    serviosoregimeadoptadoconstitu

    cionalmente exigvel, necessrio e ade

    quado? Isto , a restrio imposta pelo

    legislador

    encontrajustificao

    jurdico

    constitucional em outros valores, inte

    resses ou direitos de igual dignidade

    constitucional?Julgamosqueno.

    Mas a resposta a esta questo com

    preenderse melhor se forem adianta

    dosmaisalgunsargumentos.

    Emprimeirolugar,nopodeesquecerse

    que

    a

    Administrao

    constitui

    um

    mer

    cado contratual de enorme relevncia,

    designadamente entre ns, dada a

    extenso de tarefas pblicas que assu

    me,sejanombitodaAdministraodo

    Estado,sejanombitodaAdministrao

    regionaloudaAdministraoautrquica.

    E se a Administrao recorre ao merca

    do,

    procurando

    nele

    operadores

    para

    a

    celebrao de contratos, fica, a partir

    dessemomento,vinculada,porumlado,

    a princpios constitucionais de actuao

    e,poroutro,obrigadaarespeitaraliber

    dadedeacessodosoperadoresprivados

    habilitados.Isto,seaAdministraose

    disponibilizaacelebrarcontratoscomos

    operadores

    do

    mercado,

    fica,

    a

    partir

    daqui, constitucionalmente vinculada a

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    24/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    respeitar a liberdade de acesso cele

    brao desses contratos por todos e

    qualqueroperador

    do

    mercado.

    Amedidalegislativa,aoimporaregrada

    contrataocompessoascolectivas,res

    tringealiberdadeconstitucionaldeaces

    so de todos os profissionais que traba

    lhememnomeindividualaumsectorde

    contratao cuja dimenso e importn

    cia,atodososnveis,nospareceindiscu

    tvel.

    Eapropsitodetalfim evitaraconsti

    tuio de verdadeiras relaes de

    emprego pblico sombra decontratos

    deprestaodeserviosconstitucio

    nalmente legtimo,justificado, necess

    rio, exigvel e adequado que um profis

    sional liberal umadvogado,umecono

    mista,

    um

    arquitecto,

    um

    engenheiro

    e

    tantos outros, que exerce, por opo

    livre, a sua profisso nessa qualidade e

    em nome individual, seja legalmente

    impedidodeacederaumsectordemer

    cado a contratao pblica de servi

    os?

    Julgamosqueaperguntacontm,emsi,

    aresposta.

    Em segundo lugar, no s a liberdade

    deacessocelebraodecontratoscom

    aAdministraoPblicaquepostaem

    causa, quando esta decide recorrer aos

    servios dos operadores privados. Tam

    bm,julgamos,aigualdadedeacessoe

    noacessoqueatingida.Enoteseque

    noest

    aqui

    apenas

    em

    causa

    aigual

    dadedeacessoenoacessocelebrao

    de contratos com a Administrao

    enquantoprojecodoprincpiogeralda

    igualdadeextrado

    do

    artigo

    13

    da

    CRP.

    Aqui,oprincpiotemtambmumaoutra

    projeco,precisamente:a igualdadede

    acessoenoacessocelebraodecon

    tratoscomaAdministraonocontexto

    deummercadoabertoeconcorrencial.

    E,nestembito,comosabido,oprinc

    piodaliberdadedeiniciativaeconmica,

    daliberdade

    da

    empresa

    eoprincpio

    da

    concorrncia constituem princpios

    estruturantes da ordem econmica

    nacional (e comunitria). E o exerccio

    destas liberdades postula ou pressupe,

    naturalmente, que os operadores do

    mercado disponham, no planojurdico,

    degarantiasdeacessoemcondiesde

    igualdade

    de

    igualdade

    no

    acesso

    ao

    mercado (ou a segmentos de mercado),

    assimcomonoexercciodasrespectivas

    actividades.

    Consequentemente, se, por alguma

    razo, falhar esta garantia estrutural

    esto inevitavelmente comprometidos

    osprincpioseas liberdadesconstitucio

    naisreferidos.

    No negamos a necessidade de evitar a

    utilizao do instrumento contratual da

    prestao de servios como meio de a

    Administrao constituir genunas rela

    es de emprego pblico. Agora, eleger

    este interessecomo fundamentoconsti

    tucionalmente legtimo para inibir a

    liberdade

    de

    contratao,

    a

    liberdade

    de

    opo quanto ao modo de exerccio de

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    LicnioLopes

    actividade, inerente liberdadedeexer

    cciodeprofisso,a liberdadedeacesso

    eno

    acesso

    ao

    mercado

    ou

    acerto

    seg

    mento de mercado, o da contratao

    pblicadeservios,aliberdadedecon

    corrncia e de empresa, exigindo o res

    pectivo exerccio a garantia estrutural

    postulada pelo princpio da igualdade,

    vai um grande passo ao nveljurdico

    constitucional. E com uma agravante:

    quecom

    tal

    medida

    aincria

    do

    Esta

    doLegislador e do EstadoAdministra

    o, revelada ao longo de anos, que se

    pretendesarar.E,noestdioconstitu

    cionalactual,nocremosqueoremdio

    contratalaincriapossaseraliberdade

    docidado.

    MasnoapenasnodomniodoDireito

    Constitucional

    que

    a

    medida

    legislativa

    merecereparos.Tambm luzdoDirei

    to Comunitrio no pode deixar de

    merecersriasreservas.

    Edeixando,poragora,departeafiloso

    fiaestruturanteque,nestedomnio,pre

    side ao Cdigo dos Contratos Pblicos,

    vamosapenasfazerumabrevemeno

    Directiva

    2006/123/CE,

    de

    1212

    06,

    relativaaosserviosnomercadointerno.

    DispeaDirectiva,noseuartigo15,n

    2,queosEstadosMembrosdevemveri

    ficarseosrespectivossistemasjurdicos

    condicionam o acesso a uma actividade

    de servios ou o seu exerccio ao cum

    primento de alguns requisitos no dis

    criminatrios

    a

    expressamente

    enume

    rados. Um deles tem,justamente, a ver

    comaobrigaodeoprestadorsecons

    tituirdeacordocomuma formajurdica

    especfica.

    Por isso, no de estranhar que a

    ComissoEuropeiatenhadecididoenviar

    aPortugalumpedidoformalemrelao

    legislao

    portuguesa

    aplicvel

    cele

    brao de certos contratos pblicos de

    servios,aqual,naopiniodaComisso,

    viola as Directivas Contratos Pblicos,

    precisamentecom fundamentono facto

    dea legislaoemquesto favoreceras

    pessoascolectivasemrelaospessoas

    singulares na adjudicao de contratos

    pblicos

    de

    servios

    para

    determinadas

    tarefasespecficas(tarefa)eparaapres

    taocontinuadadeserviosporprofis

    sionais liberais (avena), assumindo, tal

    injuno, a forma de parecer funda

    mentado, que constitui a segunda

    fase do processo por infraco nos ter

    mos do artigo 226. do Tratado CE.

    Adiantando

    que,

    caso

    no

    receba

    uma

    resposta satisfatria no prazo de dois

    meses,aComissopoderecorreraoTri

    bunalde JustiadasComunidadesEuro

    peias.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    PedroGonalves

    Umcasoexemplardedegradaodaautonomiamunicipal

    Pedro Gonalves

    ProfessordaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    Em algumas das opes fundamentais

    que acolhe, a Lei n. 8/2009, de 18 de

    Fevereiro, sobre o regime jurdico dos

    conselhos municipais dejuventude, sus

    citame dvidas de vria ordem: neste

    escrito, pretendo partilhar algumas

    delas, colocandoas num espao de

    debatepblico.

    NostermosdaLei,oconselhomunicipal

    dejuventude (doravante,conselho)o

    rgo consultivo do municpio sobre

    matrias relacionadas com a poltica da

    juventude;tratase,pois,deumrgo

    (consultivo)domunicpio,deumafigura

    organizativa integrada naquela pessoa

    colectivaou,noutraformulao,deuma

    unidadede

    actuao

    do

    municpio

    nes

    te ponto, a Lei afastouse dos modelos

    adoptados em casos prximos, como

    sucede com o conselho municipal de

    educao, qualificado como instncia

    queactuaanvelmunicipal,oucomo

    conselho municipal de segurana, legal

    mente designado entidade de mbito

    municipal.

    O conselho um rgo de instituio

    obrigatria,devendoasuacriaoocor

    rer,sobagidedaassembleiamunicipal,

    no prazo mximo de seis meses: estra

    nhamente, a Lei no diz quando que

    esseprazocomeaacorrer!

    A nova figura surge como rgo do

    municpio, mas, evidentemente, no

    umrgorepresentativodomunicpio:

    muitos dos seus membros no so elei

    tos pela populao do municpio, mas

    designados por associaes de direito

    privado.

    O conselho prossegue os seus fins no

    mbitodaspolticasmunicipaisdejuven

    tude,assegurandoasuaarticulaocom

    outras polticas sectoriais, na contribui

    o para o aprofundamento do conhe

    cimento dos indicadores econmicos,

    sociais e culturais relativos juventude,

    na divulgao de trabalhose na promo

    o de iniciativas de interesse para a

    juventude,no incentivoeapoioactivi

    dade associativajuvenil. Exerce compe

    tncias

    consultivas

    (emisso

    de

    parece

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    res obrigatrios), competncias de

    acompanhamento dos rgos do muni

    cpio

    e

    competncias

    eleitorais

    (eleio

    dorepresentantedomunicpionoscon

    selhosregionaisdejuventude).

    Comacriaodoconselho,aLei institu

    cionalizou, dentro do municpio, um

    rgocomfunoexclusivaderepresen

    taode interessesdajuventude;enxer

    tounumaentidadedefinsmltiplosede

    prossecuodos

    interesses

    indistintos

    da

    populao uma estrutura que se ocupa

    de interesses parciais, dominada por

    representantesassociativos;esta,quej

    no se revela em si mesma uma boa

    soluo, franqueia as portas adopo

    de solues desastrosas. Como sucede

    comestaLei.

    Nose

    apresentando

    como

    rgo

    repre

    sentativodomunicpio,oconselhoum

    rgode representao,emconcreto,

    de representao de associaes de

    juventude integra,almdomais, i)um

    representantedecadaassociaojuvenil

    comsedenomunicpioinscritanoRegis

    to Nacional de Associaes Juvenis

    (RNAJ);

    ii)

    um

    representante

    de

    cada

    associaodeestudantesdoensinobsi

    coesecundriocomosedenomunicpio

    inscritanaRNAJ;iii)umrepresentantede

    cadaassociaodeestudantesdoensino

    superiorcomosedenomunicpioinscrita

    na RNAJ; iv) em certas condies, um

    representante de cada federao de

    estudantes inscrita na RNAJ; v) um

    representante de cada organizao de

    juventude partidria com representao

    nos rgos do municpio ou na Assem

    bleiada

    Repblica;

    vi)

    um

    representante

    decadaassociaojuvenil(ouequipara

    da) de mbito nacional, nos termos da

    Lein.23/2006,de23deJunho.

    Almdosrepresentantesdeassociaes

    dejuventude,acomposiodoconselho

    inclui ainda o representante do munic

    pio no conselho regional dejuventude,

    bem

    como

    membros

    de

    outros

    rgos

    municipais, a saber: i) o presidente da

    cmara municipal, que preside; ii) um

    membro da assembleia municipal de

    cada partido ou grupo de cidados

    representadosnessergo.

    A composio do conselho revelanos,

    portanto, um rgo de carcter hbrido:

    aojuntar

    representantes

    de

    associaes

    de juventude e membros de outros

    rgos municipais, o conselho adquire,

    como rgo do municpio, uma fisiono

    mia atpica, parecendo, em rigor, confi

    gurarse como instncia exterior ao

    municpio, formada por representantes

    municipais e por representantes das

    associaesjuvenis.

    De

    resto,

    em

    vrios

    pontos, a Lei deixa claro que no assu

    miunasua inteirezaaopode interna

    lizao:vejamseporexemplo,ede for

    masintomtica,asreferncias realiza

    o dos fins do conselho em colabora

    o com os rgos do municpio,

    representao deste junto dos rgos

    autrquicosoussuascompetnciasde

    acompanhamento da actuao dos

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    PedroGonalves

    rgos do municpio. Em todos estes

    casos, parece pressuporse que os

    rgos

    do

    municpio

    no

    so

    os

    outrosrgosdomunicpio,masantes

    osrgosdeumaentidadeestranha.

    Retomando a composio do conselho,

    umaconsequncia lgica daopo deo

    internalizar passaria por desenhlo

    como rgo apenas representativo das

    associaes de juventude. Embora no

    deixasse

    obviamente

    de

    surgir

    como

    uma m soluo, apresentaria a vanta

    gemdaclarezaedeumacertacoerncia,

    aocolocar a composiodonovo rgo

    emharmoniacomasuafuno.

    Contudo,aindaquedeformaanmala,e

    mesmo paradoxal, a Lei talvez tenha

    adoptado o referido modelo de compo

    siohbrida

    com

    oobjectivo

    pouco

    hon

    roso de credibilizar a prpria operao

    jurdica de internalizao procurando

    contornar as eventuais dificuldades

    suplementares que decorreriam do

    cenrio de adopo domodelo de insti

    tuio, dentro do municpio, de um

    rgo representativo de interesses par

    ciaisecom

    designao

    totalmente

    priva

    da.

    O resultado da soluo legal adoptada,

    menos audaz, saldouse na aberrao

    que consiste em se distinguirem duas

    categorias de membros do conselho: os

    membros de primeira, que so os

    representantes das organizaesjovens,

    titulares

    de

    todos

    os

    direitos

    orgnicos,

    e

    osmembrosdesegunda,querdizer,os

    membros dos outros rgos do munic

    pio, incluindo o presidente da cmara

    municipal,os

    quais

    se

    encontram

    impe

    didos vejase bem! de participar nas

    votaesde todasasmatriassubme

    tidasapreciaodoconselho,incluindo

    a votao na eleio de representantes

    do prprio municpio. No imaginara

    mossoluomaisbizarradoqueesta,de

    fazerdopresidentedacmaramunicipal

    ede

    membros

    da

    assembleia

    municipal,

    respectivamente,presidenteemembros

    donovorgodomunicpio,massemo

    direitodevotoeexclusivamentecomos

    direitosde intervirnasreunies,depro

    por a adopo de recomendaes e de

    solicitaroacessoainformaojuntodos

    outrosrgosmunicipais.

    Um

    regime

    com

    esses

    contornos

    no

    serve, decerto, o interesse da democra

    cia participativa, nem, alis, nenhum

    outro interesse legtimo; constitui, na

    verdade, uma pardia, inspirada numa

    desordemdevalores,que,afinal,corri

    osfundamentoseosentidodademocra

    ciaadministrativa.

    Masaausncia

    total

    de

    bom

    senso

    reve

    lousenoutrosplanos,percorrendoaLei

    umaviadeclaroafrontamentoemesmo

    aviltamento da autonomia municipal.

    Refirome agora atribuio ao munic

    pio (de novo, como se este fosse uma

    entidade estranha) de pesadas respon

    sabilidadesnodomniodoapoiologstico

    aoconselho.Assim,nostermosdaLei,o

    municpio deve disponibilizar ao conse

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    lho: a) apoio logstico e administrativo

    aoseventosorganizadossobasuainicia

    tiva,

    nomeadamente

    a

    realizao

    de

    encontros de jovens, seminrios, col

    quioseconferncias;b) instalaescon

    dignas no s para o conselho, como

    tambm para os servios de apoio; c)

    acesso ao boletim municipal; d) uma

    pginanoseustionaInternet.

    Omunicpioficaassimresponsvel aLei

    referese

    inmeras

    vezes

    ao

    dever

    do

    municpio por suportar a logstica do

    conselho, assim como por apoiar e

    suportar, nos planos administrativo e

    logstico(sejaloqueistofor),oseven

    tos que, de acordo com os altos crit

    rios dos seus membros, o conselho

    entendadeverpromover.

    O

    novo

    regime

    legal

    apresentase

    gros

    seiramente desrazovel e no se con

    forma com as exigncias de constitucio

    nalidade, quando confrontado com o

    princpio da autonomia local princpio

    queseconcretizanumaautonomiadeci

    sria dos rgos representativos do

    municpio.

    Autonomia

    decisria

    que

    puraesimplesmenteabolidaem tudoo

    queserelacionecomoapoio,ouno,de

    aces concretas eespecficasdasorga

    nizaesprivadasdejuventudeoucoma

    definiodotipodeacesaapoiar:nos

    doisplanosadecisopblica foicoloca

    da fora do crculo democrtico munici

    pal.

    E,comoclaro,otruquede internali

    zaroconselho,instituindoocomorgo

    do municpio, no engana ningum. De

    facto,asoluonomascaraaverdadei

    ra natureza do conselho municipal de

    juventude: tratase de uma espcie de

    federao de organizaes juvenis,

    qualaLei

    conferiu

    fora

    aqualidade

    de

    rgodomunicpio,comofito,almdo

    mais,deapravivercustadaentidade

    pblicaemquefoienxertada.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    RodrigoEstevesdeOlive

    ira

    Restriesparticipaoemprocedimentosdecontrataopblica

    RodrigoEstevesdeOliveira

    AssistentedaFaculdadedeDireitodeCoimbra

    1.Emsectoresdominadospeloparadig

    ma da concorrncia e que tm no mer

    cadooseusuporte,comosucedecomo

    da contratao pblica, a restrio ou

    limitao do acesso das empresas aos

    procedimentos de adjudicao , quase

    por natureza, diramos, uma questo

    delicada.

    Se

    mais

    no

    fosse,

    porque

    o

    princpiodaconcorrncianodesenti

    donico,apontando,aum tempo,para

    amaiorconcorrnciapossvele,aoutro

    tempo,paraumaconcorrnciaefectivae

    s.Ali,oprincpiopodeserumobstculo

    instituiodebarreirasdeacesso,aqui,

    podeseroseufundamento.

    Enote

    se

    que

    oproblema

    das

    restries

    participao em procedimentos de

    contrataopblicanojuridicamente

    delicado apenas quando estejam em

    causa empresas privadas (de privados,

    entendase), mas tambm entidades

    pblicas (em formato pblico ou em

    formato de direito privado, designada

    mente,

    societrio),

    cuja

    participao,

    como concorrentes ou candidatos, em

    procedimentos desses pode suscitar, e

    suscita, problemas complexos (indcio

    disso mesmo o Considerando 4 da

    Directiva2004/18/CE).

    Alm de outros, um dos motivos princi

    paisdadiscussocentrasenaexistncia

    de relaes e participaes societrias

    entreasempresas,quepodemirdesdea

    hiptesedasimplesparticipao(igual

    ousuperiora10%)atdarelaode

    grupo (grupo constitudo por domnio

    total, contrato de grupo paritrio e

    contrato de subordinao), passando

    pelas relaes de participao recpro

    caepelasrelaesdedomnio(ver,a

    esterespeito,

    os

    artigos

    481

    eseguintes

    do Cdigo das Sociedades Comerciais),

    questionandose se, em tais casos, que

    so muito diversos, deve admitirse ou

    proibirse a participao separada de

    sociedades coligadas no mesmo pro

    cedimentoadjudicatrio.

    A questo, em abstracto, coloca, pelo

    menos,quatro

    problemas:

    i)

    oprimeiro

    o de saber se as causas de excluso

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    enunciadas nas directivas comunitrias

    emmatriadecontrataopblica,mais

    concretamente,no

    artigo

    45

    da

    Directi

    va 2004/18 (a questo ligeiramente

    diferente no mbito da Directiva

    2004/17/CE,comopodeversepeloseu

    artigo54),sotaxativas,dizer,seso

    apenas as hipteses a previstas que

    podem fundarumadecisodeexcluso,

    no se admitindo que os ordenamentos

    nacionaisestabeleam

    outras

    causas

    de

    exclusoatinentessituaopessoaldo

    concorrente ou candidato. Se forem

    taxativas, ento, no se prevendo nelas

    estaespecficacausadeexcluso,nose

    admitiria a proibio, pelos sistemas

    jurdicos internos,daparticipaosimul

    tneadasempresascoligadasnomesmo

    procedimento

    adjudicatrio;

    ii)

    o

    segun

    dorelacionasecomanaturezavinculati

    vaou imperativadascausasdeexcluso

    previstasnasdirectivascomunitrias,ou

    seja, se elas tm de ser inscritas em

    normanacional(ouse,nosendo,valem

    sua revelia, na medida em que dispo

    nhamdeefeitodirecto)ouse,pelocon

    trrio, est na disponibilidade dos Esta

    dosMembros inclulas nos respectivos

    sistemasjurdicos internos; iii)oterceiro

    problema, que s aparece em caso de

    respostanegativaprimeiraquesto,o

    de saber de que espciepodem ser as

    outras causas de excluso, designada

    mente,sepodemabrangerahipteseda

    participaoseparadadeempresasentre

    asquais

    exista

    uma

    relao

    de

    grupo

    no

    mesmo procedimento adjudicatrio, e

    quaisosprincpiosaqueelasestoespe

    cialmentesujeitas;

    iv)

    oquarto

    problema

    (de que, porm, no se cuidar aqui)

    consiste em saber de que depende a

    vignciaouoperatividadedessas causas

    de excluso, ou seja, se tais causas de

    excluso tm de estar previstas em lei

    interna, se podem apenas constar do

    programa do procedimento, ou se, pelo

    contrrio,

    pode

    a

    entidade

    adjudicante

    ou ojri fundar a sua deciso directa

    mente nos princpios comunitrios da

    contrataopblica.

    2. Estas questes (com excepo da

    ltima) iro ser em breve tratadas pelo

    Tribunal de Justia no processoAssitur,

    sendo propsito nico deste pequeno

    texto dar uma imagem das tendncias

    quesedesenhamnoplanocomunitrio,

    aproveitando,aquieali,para fazeruma

    referncia s solues consagradas no

    Cdigo dos Contratos Pblicos (CCP).

    verdade,convmdizloj,queaorefe

    ridocasoAssiturnoseaplicaaDirectiva

    2004/18, mas a anterior Directiva

    92/50/CEE(sobre

    processos

    de

    adjudica

    odecontratosdeservios),notendo

    porm as questes controvertidas, em

    nossaopinio,tratamentosensivelmente

    diferentenumenoutrodessesdiplomas,

    pelo que adeciso que vier do Tribunal

    deJustiacontribuircertamenteparaa

    formao do acquis comunitrio aplic

    velaos

    actuais

    procedimentos

    de

    contra

    taopblica.

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    RodrigoEstevesdeOlive

    ira

    O caso Assitur descrevese em breves

    palavras. Em 2003, a Camera di Com

    mercio,

    Industria,

    Artigianato

    e

    Agricol

    turadiMilanabriuumconcursopblico

    paraaadjudicao,combasenocritrio

    do preo mais baixo, de um contrato

    para a prestao de servios postais, a

    que se apresentaram trs empresas: a

    SDA Spa, a Poste Italiane Spa e Assitur

    Srl.Tendoseverificadoqueatotalidade

    dasaces

    da

    SDA

    era

    detida

    pela

    Attivi

    tMobiliariSpA,aqual,porsuavez,era

    inteiramente participada pela Poste Ita

    liane,aAssiturrequereu,nostermosdas

    normas do concurso que proibiam que

    empresas em relaes de grupo partici

    passem (separadamente) como concor

    rentes, a excluso da SDA e da Poste

    Italiane,

    com

    fundamento

    nas

    referidas

    ligaes societrias. O requerimento

    acabou,noentanto,porserindeferidoe

    ocontratofoiadjudicadoSDA,pergun

    tandoagoraostribunais italianosaoTri

    bunal de Justia, em sede de reenvio

    prejudicial, se o artigo 29 da antiga

    Directiva 92/50/CE (sobre processos de

    adjudicaodecontratosdeservios)

    que corresponde ao artigo 45/2 da

    Directiva 2004/18/CE enuncia de for

    ma taxativa as causas de excluso da

    participao nos concursos, se h nessa

    matria um numerus clausus, e, con

    sequentemente,seodireitocomunitrio

    obsta a que haja legislao interna que

    proba a participao simultnea num

    procedimentoadjudicatrio

    de

    empresas

    que se encontrem, entre si, em relao

    dedomnio (talcomodefinidonoartigo

    2359do

    Cdigo

    Civil

    italiano).

    3.OAdvogadoGeralnoprocessoAssitur

    (JnMazk),nassuasconcluses,jdes

    creveu em termos essenciais o proble

    ma.

    Assim, relativamentequestoda taxa

    tividadeounodascausasdeexcluso,o

    Tribunalde

    Justia,

    no

    acrdo

    La

    Casci

    na (de9.2.2006,processoC226/04eC

    228/04),jhaviaconsiderado,verdade,

    queoartigo29daDirectiva92/50obs

    tava a que os EstadosMembros previs

    sem causas de excluso diferentes das

    nele previstas (ver n 22 do acrdo),

    mas, como bem observou o Advogado

    Geral, deve entenderse at porque

    era issoqueestavaemcausanessepro

    cesso (vern21)quetal limitaos

    valeriaparaascausasimpeditivasquese

    reportam honestidade profissional,

    solvabilidadeoufiabilidadedosconcor

    rentesecandidatos.Nestamatria,por

    tanto,massnela,haveriaumaregrade

    taxatividade ouexaustividadecomunit

    ria,

    no

    podendo

    os

    sistemasjurdicos

    internos estabelecer, com base nessas

    razes,outrascausasdeexcluso.

    essa,alis,ajurisprudnciaqueparece

    tambm retirarse do recente acrdo

    Michaniki (de 16.12.2008, processo C

    213/07), a propsito do artigo 24 da

    antiga Directiva 93/37/CEE (sobre pro

    cessosde

    adjudicao

    de

    empreitadas

    de

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    obras pblicas) em que estava em

    causa a conformidade jurdico

    comunitria

    de

    uma

    norma

    constitucio

    nal do Estado grego que institua uma

    incompatibilidade geral entre o sector

    dasobras pblicase osector dos meios

    decomunicaosocialedaqualresulta

    va uma proibio de participao nos

    procedimento de empreitadas a empre

    sasempreiteirascomrelaessocietrias

    comosector

    dos

    meios

    de

    comunicao

    social , no qual o Tribunal de Justia

    decidiu que a referida norma do artigo

    24dadirectivadeveserinterpretadano

    sentido de que enumera de forma

    exaustivaascausasdeexclusobaseadas

    em consideraes objectivas sobre a

    qualidade profissional susceptveis de

    justificar

    a

    excluso

    de

    um

    concorrente

    ou candidato, s essas, portanto, no

    outrascomdiferentefundamento.

    4.Noteseeentramosaquinasegun

    da questo que os EstadosMembros

    no esto obrigados a transpor para a

    respectiva ordemjurdica as causas de

    excluso enunciadas no artigo 45 da

    Directiva

    2004/18,

    com

    excepo

    das

    previstas no n 1 desse preceito, que

    essas tmnaturezavinculativaou impe

    rativa.Onossolegisladorentendeufaz

    lo, no artigo 55 do CCP, mas podia ter

    optado por soluo diferente, como

    podetambmumaleiavulsaviradispor

    em sentido diverso, admitindo (ou no

    proibindo)

    a

    participao

    de

    empresas

    emalgumasdassituaesenunciadasno

    n2doartigo45daDirectiva2004/18.

    Como se disse no acrdo La Cascina,

    mesmo se a propsito do artigo 29 da

    Directiva 92/50, no [se] prev na

    matria uma aplicao uniforme das

    causasdeexclusoneleindicadasanvel

    comunitrio,namedidaemqueosEsta

    dosMembros tm a faculdade de no

    aplicardenenhummodoessascausasde

    excluso,optando

    pela

    participao

    mais

    amplapossvel nos processos deadjudi

    cao de contratos pblicos, ou de as

    integrar na regulamentao nacional

    comumgrauderigorquepodervariar

    consoanteoscasos,emfunodeconsi

    deraes de ordemjurdica, econmica

    ou social que prevaleam a nvel nacio

    nal.

    Neste

    contexto,

    os

    Esta

    dosMembros tm o poder de moderar

    ou de tornar mais flexveis os critrios

    estabelecidosnoartigo29dadirectiva.

    Acontece que, repetese, em matria

    de honestidade profissional, solvabilida

    dee fiabilidadedosconcorrentesecan

    didatos, os sistemas jurdicos internos

    nopodem

    criar

    outras

    causas

    de

    exclu

    so,diferentesdasenunciadasnasdirec

    tivas.

    5.Masseassimedesta formache

    gamosao terceiroproblema, issosig

    nificaquepodemexistiroutrascausasde

    excluso estabelecidas pelos sistemas

    jurdicos internos. Ponto que tenham

    um

    fundamento

    ou

    natureza

    diferente,

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    RodrigoEstevesdeOlive

    ira

    ouseja,nodigamrespeitohonestida

    deprofissional,solvabilidadee fiabi

    lidadedas

    empresas.

    A que podem ento ir votadas essas

    outras causas de excluso? O acrdo

    Michaniki, depois de considerar que as

    directivas no impedem que um Esta

    doMembroprevejaoutrasmedidas de

    excluso dos concorrentes ou candida

    tos, j adiantou alguma coisa sobre o

    assunto,

    afirmando

    que

    isso

    ser

    legti

    moquandotenhamemvistagarantiro

    respeito dos princpios da igualdade de

    tratamentodosconcorrentesedatrans

    parncia, desde que essas medidas no

    vo alm do que for necessrio para

    alcanaresseobjectivo.

    E isso que vem tambm sustentar o

    Advogado

    Geral

    no

    processoAssitur,

    afirmando, nas suas concluses, que a

    enumerao taxativa das causas de

    excluso relativas honestidade profis

    sional, solvabilidade e fiabilidade

    no afasta a possibilidade de os Esta

    dosMembros manterem ou aprovarem

    outrasnormasdestinadas a garantir (...)

    orespeito

    do

    princpio

    da

    igualdade

    de

    tratamento e do concomitante princpio

    da transparncia. Esses princpios, que

    correspondem prpria essncia das

    directivas relativas aos processos de

    adjudicao de contratos pblicos,

    devem ser respeitados pelas entidades

    adjudicantesemtodososprocessospara

    a adjudicao de contratos deste tipo e

    significam, em especial, que os concor

    rentes devem estar numa posio de

    igualdade tanto no momento em que

    preparam

    as

    suas

    propostas

    como

    no

    momento em que estas so avaliadas

    pela entidade adjudicante. Um Esta

    doMembro pode, pois, prever medidas

    deexclusocomofimdegarantirores

    peito pelos princpios da igualdade de

    tratamento de todos os concorrentes e

    da transparncianosprocessosdeadju

    dicaode

    contratos

    pblicos,

    para

    alm

    das(...)causasdeexclusobaseadasem

    consideraes objectivas sobre a quali

    dade profissional, taxativamente enu

    meradas nas directivas comunitrias. E

    como so os EstadosMembros que

    estonamelhorposioparaidentificar,

    luzdeconsideraesdeordemhistri

    ca,

    econmica

    ou

    social,

    que

    lhes

    so

    prprias, situaes susceptveis de con

    duziraviolaesdosprincpiosda igual

    dade de tratamento dos concorrentes e

    da transparncianosprocessosdeadju

    dicaodecontratospblicos,()hque

    reconhecerlhes uma certa margem de

    apreciao para efeitos da adopo de

    medidasdestinadasagarantirorespeito

    desses princpios. No entanto, em con

    formidadecomoprincpiodaproporcio

    nalidade, que um princpio geral do

    direito comunitrio, essas medidas no

    devem iralmdoquenecessriopara

    alcanaresseobjectivo.

    Digase,alis,queistomesmojsehavia

    admitido noutros casos, designadamen

    te,quandoumaempresatenhaprestado

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    Actualidade

    assessoria ou apoio tcnico entidade

    adjudicantena preparao e elaborao

    daspeas

    do

    procedimento.

    No

    se

    trata

    adeumacausadeexclusoprevistanas

    directivas comunitrias, mas o Tribunal

    deJustiaaceitouqueessahiptesepos

    sa constituir, em certos termos, motivo

    paraoafastamentodaempresaconcor

    rente (ver, por exemplo, acrdo Fabri

    com,de3.3.2005)mesmoque,note

    se,no

    tenha

    sido

    prevista

    nas

    peas

    do

    procedimento , soluo que o nosso

    legislador veio consagrar na alneaj) do

    artigo 55 do CCP, em termos porm

    cujaplenacompatibilidadecomodireito

    comunitrionossuscitadvidas.

    6.Relativamentehiptesedaparticipa

    osimultnea

    num

    procedimento

    adju

    dicatrio de empresas que se encon

    trem, entre si, em relao de domnio,

    sobrequetrataoprocessoAssitur,oque

    estar em causa, segundo o Advogado

    Geral,o factodeojogoda livrecon

    corrncia e a rivalidade ficarem irreme

    diavelmente prejudicados com a admis

    so

    de

    propostas

    que,

    apesar

    deprovi

    remformalmentededuasoumaissocie

    dades legalmente distintas, possam ser

    imputadasaumnicocentrodeinteres

    ses.Ouseja,associedadesdominadas

    no so consideradas terceiros relativa

    mentessociedadesdominantese,por

    tanto, no tm legitimidade para apre

    sentaroutrapropostanomesmoconcur

    so. Ora, diz, essa eventual causa de

    excluso no se reporta honestidade

    profissional, solvabilidade ou fiabili

    dadedos

    candidatos,

    no

    versa

    sobre

    ocomportamentodoscandidatos,antes

    procura prevenir situaes em que a

    prpria relao entre determinadas

    sociedades que participam num concur

    sotendeafalsearesseprocesso,tendo

    porissoemvistagarantiraigualdadede

    tratamentodetodososconcorrentesea

    transparnciados

    processos

    de

    adjudica

    odoscontratospblicos,sustentando

    por issoqueodireitocomunitriodeve

    ser interpretado no sentido de que, em

    princpio,noobstaadopodemedi

    dasnacionaisdessetipo.

    Refiraseque,aocontrrio,porexemplo,

    do Cdigo dos Contratos Pblicos italia

    no

    aprovado

    pelo

    Decreto

    legislativo

    n163/06,de12deAbrilde2006(Codi

    cedei contrattipubblici relativia lavori,

    servizi e forniture in attuazione delle

    direttive2004/17/CEe2004/18/CE), em

    cujoartigo34,ltimopargrafo,sepre

    vquenopodemparticiparnomesmo

    concurso concorrentes que se encon

    trem

    entre

    si

    numa

    das

    situaes

    de

    domnio previstas no artigo 2359 do

    Cdigo Civil, dispondose ainda que

    devemserexcludosdoconcursooscon

    correntesrelativamenteaosquaisverifi

    quem, com baseem elementos inequ

    vocos, que as respectivas propostas so

    imputveis a um nico centro de deci

    so,oCCPnopreviuexpressamente

    esta hiptese, embora no tenha deixa

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

    37/130

    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    RodrigoEstevesdeOlive

    ira

    dodedispor,norespectivoartigo54/2,

    que os membros de um agrupamento

    candidato

    ou

    de

    um

    agrupamento

    con

    corrente no podem ser candidatos ou

    concorrentes no mesmo procedimento,

    () nem integrar outro agrupamento

    candidato ou outro agrupamento con

    corrente.

    Notese porm que a circunstncia de,

    segundo o Advogado Geral, o direito

    comunitriono

    impedir,

    em

    princpio,

    a

    adopodemedidastendentesproibi

    o da participao simultnea num

    mesmo procedimento adjudicatrio de

    empresasqueseencontremem relao

    dedomnioougruponosignificaasua

    aceitaosemmais,poisamedida insti

    tudahdesercompatvelcomoprinc

    pioda

    proporcionalidade.

    Ora,nocasoAssitur,anormadedireito

    italianoemapreodeterminaaexcluso

    automticadassociedades,baseandose

    napresunojurisetdejuredacognos

    cibilidade da proposta da sociedade

    dominadaporpartedasociedadedomi

    nante, insusceptvel portanto de ser

    refutadacom

    aprova

    de

    que

    asocieda

    de dominada formulou a sua proposta

    com total autonomia, facto que leva o

    Advogado Geral a considerar a norma

    como desproporcionada, uma vez que

    no permite que os concorrentes pos

    samprovarqueassuaspropostasforam,

    defacto,elaboradasdetalmodoque,na

    verdade,noconstituemumobstculo

    igualdadede tratamentodosconcorren

    tes e transparncia dos processos de

    adjudicaodoscontratospblicos.

    7. esta portanto a proposta que o

    Advogado Geral sujeita apreciao do

    Tribunal de Justia: por um lado, as

    directivas comunitrias sobre contrata

    o pblica devem ser interpretadas no

    sentido de que enumeram, de forma

    exaustiva, as causas de excluso basea

    das

    em

    consideraes

    objectivas

    sobre

    a

    qualidade profissional susceptveis de

    justificaraexclusodeum[concorrente]

    daparticipaonumprocessodeadjudi

    caodeumcontratopblico,masno

    obstama queum EstadoMembropre

    veja outras medidas de excluso com o

    fimdegarantirorespeitodosprincpios

    da igualdadede tratamentodosconcor

    rentes e da transparncia, desde que

    essas medidas no vo alm do que

    necessrioparaalcanaresseobjectivo;

    e,poroutrolado,queodireitocomuni

    triodeveserinterpretadonosentidode

    que se ope a uma disposio nacional,

    que,emboraprosseguindoosobjectivos

    legtimos de igualdade de tratamento

    dosconcorrentes

    ede

    transparncia

    nos

    processos de adjudicao de contratos

    pblicos, implica a excluso automtica

    do concurso no tocante a concorrentes

    entre os quais exista uma relao de

    domnio,comodefinidapelaregulamen

    taonacional,semquelhessejadadaa

    oportunidade de provarem que,nas cir

    cunstnciasdo

    caso

    concreto,

    essa

    rela

    o no levou violao dos princpios

  • 7/22/2019 Indemnizaao pelo sacrificio pag. 63

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Actualidade

    da igualdadedetratamentodosconcor

    rentesedatransparncia.

    Aquesto,comosev,muitodelicada

    e o caso particular no deixa sequer

    antever todaacomplexidadedoproble

    ma, que, de resto, se mantm mesmo

    queoTribunalde Justiavenhaaconsi

    derar contrria ao direito comunitrio

    uma norma que proba a participao

    simultnea de sociedades com relao

    dedomnio

    ou

    de

    grupo.

    Basta

    imaginar,

    por exemplo,aqualificao, em concur

    so limitadocomsistemadeseleco(do

    artigo181doCCP),deduassociedades

    entre as quais exista uma relao de

    domnio ou de grupo ou a seleco de

    duas sociedades dessas para a fase de

    negociaes (em separado) de um pro

    cedimentoadjudicatrio,

    que

    se

    nos

    afi

    guram casos de desvirtuamento das

    regras da concorrncia. Para no dizer

    tambmque,aocontrriodoquesucede

    noutros

    casos

    (vg,

    no

    regime

    do

    preo

    anormalmente baixo ou no caso do

    acrdo Fabricom), a admissibilidade da

    provaemcontrrio,propostapeloAdvo

    gado Geral, em hipteses como a do

    processoAssiturpodenoresolvermui

    to, pois, dependendo da leitura que se

    faa,ousetratardeumaprovadiab

    licaou

    ser

    tendencialmente

    uma

    prova

    bastante simples, insusceptvel de ser

    refutadapelaentidadeadjudicante.

    Como quer que seja, o propsito deste

    pequenotexto,queeradarumaimagem

    dastendnciasquesedesenhamnopla

    no comunitrio, esgotase aqui. A pala

    vra pertence agora ao Tribunalde Justi

    a.

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    AdolfoMesquitaNunes

    D O U T R I N A

    ContrataoPblicaaduasvelocidades:atransposiodaDirectiva2007/66/CE

    AdolfoMesquitaNunes

    Advogado

    1.Enquadramento

    A aproximao da data limite de trans

    posiodaDirectiva2007/66/CEdoPar

    lamento Europeu e do Conselho, de 11

    deDezembrode20071,ofereceumexce

    lente pretexto para actualizar reflexes

    acerca da urgncia no contencioso pr

    contratual, uma vez esta Directiva diz

    precisamente respeito melhoria da

    eficcia dos recursos em matria de

    adjudicaodecontratospblicos

    Reagindo s presses rtmicas impostas

    pela acelerao dos procedimentos de

    contratao pblicaprevistanasDirecti

    vas 2004/18/CE e 2004/17/CE do Parla

    mentoEuropeuedoConselho2,aDirec

    1DirectivaquealteraasDirectivas89/665/CEEe

    92/13/CEEdoConselho,emconjuntoaquireferidascomoDirectivasrelativasaosmeioscontenciosos.2

    Relativas

    coordenao

    dos

    processos

    de

    adju

    dicao dos contratos de empreitada de obraspblicas,doscontratospblicosdefornecimento

    tiva 2007/66/CE introduziu no ordena

    mento comunitrio um conjunto de

    mecanismos de desacelerao procedi

    mental e de reforma contenciosa que

    importadestacar.

    Esperarseia de uma Directiva que se

    props garantir a aplicao efectiva das

    disposies das Directivas Procedimen

    tais, impondo aos EstadosMembros a

    obrigao de estabelecer processos de

    recurso rpidos e eficazes em caso de

    violao das referidas Directivas, que a

    mesmatrabalhasse

    com

    arealidade

    pro

    cedimentalquenelasfoiconsagradaese

    dedicasseadesenvolverumconjuntode

    mecanismos contenciosos adequados a

    e dos contratos pblicos de servios e procedimentosdeadjudicaodecontratosnossectoresexcludosdagua,daenergia,dos transportese

    dosservios

    postais,

    respectivamente.

    Aqui

    refe

    ridas, em conjunto, como Directivas Procedimentais.

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    R E V I S T A D E D I R E I T O P B L I C O E R E G U L A O

    Doutrina

    fazer vingar as opes das Directivas

    Procedimentais.

    No foi isso, no entanto, q