inclusÃo educacional: o que mostram as …educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2013/10115_6150.pdf ·...
TRANSCRIPT
INCLUSÃO EDUCACIONAL: O QUE MOSTRAM AS PESQUISAS
RECENTES SOBRE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE
PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL
ALMEIDA, Sabrina Araujo de1 - UNESA
CAMPOS, Pedro Humberto Faria2 - UNESA
Grupo de Trabalho – Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo A partir da análise da trajetória da Educação Especial é possível perceber que a discriminação e o preconceito estão presentes no pensamento instituído nos diferentes momentos da história. Desta forma, com a evolução no atendimento à pessoa com deficiência, buscam-se possibilidades de aprendizagem, dando origem à inclusão educacional, que consiste no fenômeno que procura garantir o acesso e a permanência de todo indivíduo na rede regular de ensino. Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo fazer um levantamento sobre as pesquisas que trazem a discussão em torno da Inclusão Educacional, a partir do estudo da Teoria das representações sociais, que identifica no imaginário social, determinadas impressões sobre objetos, orientando e justificando práticas. A partir da análise dos trabalhos foi possível identificar os seguintes objetos de estudo: educação inclusiva, inclusão, o deficiente e necessidades específicas; tendo como base o discurso de professores da rede regular de ensino e professores especializados; além de promover o estudo da relação inclusão/exclusão no ambiente educacional, a fim de identificar os significados contidos no pensamento social, construídos e enraizados neste ambiente. Assim, foram analisadas 9 pesquisas, produzidas no período entre 2004 e 2012, na rede pública de ensino, no Ensino Fundamental, que utilizam como método de coleta de dados testes de livre evocação, questionários e entrevistas semi-diretivas; para a verificação dos dados utilizam técnicas como a análise de evocação e análise de conteúdo segundo Bardin. Neste sentido, é possível observar que as pesquisas mostram o trabalho centrado no amor, com paciência e afetividade, além da obrigatoriedade. Outro dado importante é que citam a exclusão como presente no ambiente escolar, mas não como princípio inerente ao ato de incluir, ou seja, se incluímos já
1 Mestre em Psicologia Social: UNIVERSO – Universidade Salgado de Oliveira. Professora do IFRJ – campus Pinheiral. Doutoranda em Educação pela UNESA (Universidade Estácio de Sá). E-mail: [email protected]. 2 Doutor em Psicologia: Universite de Provence - França. Professor Titular da Universidade Estácio de Sá (UNESA) e Professor Titular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: [email protected].
19622
existem práticas excludentes neste contexto, por isso a necessidade em estudar tal objeto com maior afinco. Palavras-chave: Representações sociais. Inclusão Educacional. Exclusão.
Introdução
A Educação Especial passa por diferentes situações em sua trajetória, seguindo o
pensamento instituído em diversos momentos da história. Em seus primórdios, percebe o
indivíduo com deficiência como algo desprezível, tendo como saída mais eficaz o extermínio.
Com o Cristianismo, a pessoa com deficiência passa a ser “cuidada”, pois passam a
reconhecer nesta mais um “filho de Deus”, que precisa de abrigo, cuidados e castigo. Com a
evolução da medicina e as descobertas da ciência, descobre-se que a deficiência tem causas
específicas que necessitam ser tratadas, levando a Educação Especial a atuar como mais um
espaço de produção de saberes sobre o indivíduo “diferente”, descobrindo patologias e
dividindo-se entre o cuidado e a prevenção. Neste sentido, é que observamos o atendimento à
pessoa com deficiência centrado na patologia do indivíduo, o que denominamos modelo
médico, onde o “paciente” não era conhecido por seu nome, mas sim pela “doença que
trazia”. A partir de um entendimento maior, buscando a autonomia desta clientela, o modelo
médico vai sendo aos poucos substituído pelo modelo pedagógico, centrado no indivíduo e
suas possibilidades, promovendo mais independência e a participação efetiva deste na
sociedade, ainda que encontremos a exclusão social como um fenômeno ainda presente em
nossa sociedade.
Assim, é possível perceber a partir de um breve estudo sobre o tema que a educação
especial sofreu ao longo do tempo várias transformações que se devem, principalmente, a
forma como a sociedade historicamente produziu conhecimentos e se comportou com as
pessoas com deficiência. É necessário, portanto, falar de educação especial em seu contexto e
história, a fim de entendermos o que acontece com a pessoa com deficiência desde as
instituições segregadas até as atuais propostas de inclusão na rede regular de ensino.
Um dos fenômenos que acompanha a educação especial em sua trajetória é o
preconceito. Presente na maioria das sociedades, o preconceito é a exacerbação da tendência
cognitiva de estereotipar grupos sociais. O estereótipo não é necessariamente negativo, ele
serve para que possamos, de uma forma econômica, apreender e compreender o mundo a
nossa volta. No entanto, quando sentimentos negativos são direcionados a determinado grupo
19623
social, dizemos que existe um preconceito sobre esse grupo. O preconceito predispõe ao
comportamento de discriminação. Os processos que hoje refletem no comportamento social e
nas representações sociais que o indivíduo tem da pessoa com deficiência são históricos e
culturais.
A partir da evolução da Educação Especial, tendo como foco as possibilidades da
pessoa com deficiência, surge a inclusão educacional, que se apresenta como um fenômeno
que procura garantir o acesso e a permanência de todo indivíduo na rede regular de ensino,
independente de sua condição física, mental, sensorial e social. Espera-se, através de ações
educacionais inclusivas, alcançar uma sociedade inclusiva de fato, em sentido mais amplo,
onde as pessoas sejam capazes de caminhar juntas, cada uma com suas diferenças e
particularidades. A escola, em uma perspectiva inclusiva, tem o papel fundamental de
ultrapassar o conhecimento científico e os conteúdos escolares, visando desenvolver o aluno
como um todo, através de suas possibilidades e capacidades.
Desta forma, precisa-se imaginar o processo da inclusão educacional em sua
completude, isto é, com o objetivo de garantir os direitos de todos os indivíduos considerados
marginalizados, devido a condição de vida, raça, cor, crença e opção sexual.
A partir daí começamos a desenhar um modelo de escola para todos, ou seja, uma
escola que respeite o ser humano e a diversidade, entendendo que somos diferentes, mas
convivemos juntos para aprendermos uns com os outros, segundo Machado (2001, p.52):
As escolas para todos são escolas inclusivas, em que todos os alunos estudam juntos, em salas de aula do ensino regular. Esses ambientes educativos desafiam as possibilidades de aprendizagem de todos os alunos, e as estratégias de trabalho pedagógico são adequadas às habilidades e às necessidades de todos.
Assim, partindo deste contexto de estudo, é que elegemos a Teoria das Representações
Sociais como aporte teórico para o estudo da relação inclusão/exclusão no ambiente
educacional, a fim de identificar os significados contidos no pensamento social, construídos e
enraizados neste ambiente. Entretanto, as Representações Sociais são conhecimentos
produzidos pelos seres sociais em dado momento histórico, a partir do contato com um
fenômeno carregado de saberes, crenças, valores, julgamentos, scripts, entre outros. Segundo
Rouquette (2003) “a noção de fenômeno social, igualmente: ela cobre tanto a identidade, a
percepção do outro ou as relações interpessoais quanto às relações de poder, história e os
movimentos de massa”. Desta forma, percebe-se que, para que um fenômeno torne-se objeto
de Representações Sociais é necessário tempo para que os seres sociais tenham contato com
19624
este e construam seus conceitos e impressões sobre o mesmo. De acordo com Madeira (2003)
“Esse processo não se opera no vazio: espacializa e temporaliza o binômio sujeito-objeto, nas
relações mutuamente constitutivas indivíduo-sociedade”. Assim, pode ser considerada uma
teoria desenvolvimentista por evoluir de acordo com o tempo e espaço em que se encontram
os sujeitos envolvidos em determinados grupos. A Teoria das Representações Sociais é uma teoria
que nos permite compreender a dimensão normativa e os processos de transformação dos
conhecimentos partilhados por um dado grupo, acerca da realidade social. O que está em jogo é a
explicação simultânea dos processos de manutenção (resistência) e de transformação das sociedades.
Desta forma, busca-se no presente trabalho a realização de um estudo preliminar, com
o objetivo de investigar a prática de professores quanto à inclusão educacional e suas
particularidades, a partir de estudos que utilizam o aporte teórico-metodológico da Teoria das
Representações sociais, a fim de compreender quais são as crenças construídas, partilhadas e
mantidas no grupo que conduzem esta prática no ambiente educacional. Isto é possível
segundo pesquisas que buscam compreender e analisar os sistemas de significação do
pensamento de certos grupos de professores e como estes estão enraizados, construídos
socialmente e, de que forma orientam práticas, justificando as mesmas.
Assim, para o desenvolvimento da presente proposta foram analisadas 9 pesquisas
publicadas em Anais de Congressos e Jornadas, além de Periódicos, no período entre 2004 e
2012, que investigam as representações sociais de professores do Ensino Fundamental da rede
pública de ensino, com curso superior (na grande maioria Pedagogia), além de professores
especializados, com relação ao fenômeno da Inclusão Educacional.
A partir deste estudo foi possível agrupar as pesquisas em cinco eixos norteadores:
- Representações sociais da Educação Inclusiva: 1 pesquisa;
- Representações sociais do aluno deficiente: 2 pesquisas;
- Representações sociais da Inclusão: 2 pesquisas;
- Representações sociais do professor inclusivo: 2 pesquisas;
- Representações sociais do professor do aluno com necessidades educacionais especiais
(dificuldades de aprendizagem/ hiperatividade): 2 pesquisas.
É neste contexto que o presente trabalho está alicerçado, pois trata da relação entre a
exclusão e a inclusão, suas tensões e demandas sociais, sob o enfoque da Teoria das
Representações sociais, tendo como plano de fundo pesquisa recentes, selecionadas de acordo
com um ponto em comum, a análise do discurso de professores do Ensino Fundamental sobre
inclusão educacional, como veremos em seguida.
19625
Referencial Teórico
O ambiente educacional e suas peculiaridades foi escolhido como cenário para
elucidar tais pesquisas e, com ele encontra-se a prática docente e sua formação inicial, que por
muitas vezes não conseguiu abordar a heterogeneidade do alunado, mostrando um modelo
para educar alunos ditos “normais”, onde as necessidades específicas deveriam ser
encaminhadas para “os especialistas para tratamento”. Durante muitos anos os cursos de
formação de professores não apresentavam a disciplina de educação especial em sua estrutura
curricular, pois o tempo de formação era de apenas três anos de estudo. Caso o aluno se
interessasse pelo trabalho em educação especial, seria necessário que o mesmo fosse
matriculado por mais um ano, a fim de concluir os chamados estudos adicionais, com
formação para a educação infantil e educação especial.
Com o avanço da discussão sobre inclusão educacional, observa-se a necessidade de
implementar, nos cursos de formação para professores, conteúdos que os ajudem a lidar cm
que vão encontrar em sala de aula. Segundo Diniz (2004):
A elaboração e a implementação de uma política de formação de professores e professoras colocam a necessidade de garantir o seu acesso aos novos conhecimentos e produções, e a reflexão sobre a sua prática profissional. Para isso, torna-se necessário lidar com temas da contemporaneidade que possam trazer novos componentes à prática educativa. (DINIZ, 2004 p.128)
Assim percebemos uma preocupação em atender tais peculiaridades da rede regular de
ensino através de documentos legais que garantem a implementação de políticas, buscando
uma educação de qualidade.
Fala-se a todo o momento em garantir a formação nos conhecimentos didáticos e
pedagógicos presentes no contexto da educação especial, pensando em um sentido inclusivo
da proposta, mas tratando a modalidade como um setor a parte, não inserido no contexto
educacional. Isto porque percebemos que os professores responsáveis pela disciplina de
educação especial, na grande maioria das vezes são professores especializados, participam de
cursos, mas não em sala de aula, passam somente informações teóricas.
Desta forma, continuam reforçando o distanciamento entre educação e educação
especial, como também trabalham a disciplina distante da prática, por não estarem em contato
com o processo. Neste caso é instituído o saber, enquanto o “saber-fazer” não é construído em
consonância com a teoria. Segundo Neusa Hickel (2004),
19626
analisando a questão do ensino e da aprendizagem das pessoas com deficiência, afirma que essa tarefa exige conhecimento, investigação e uma capacidade de criação de novas práticas, por parte dos professores, para descobrir como esses alunos aprendem. Acrescentamos que há necessidade de uma mudança de lógica: da concepção sobre essa criança como objeto para uma concepção dessa criança como sujeito, por meio da linguagem que opera sobre suas necessidades. (HICKEL, 1995 citado em DINIZ, 2004 p. 121)
Continuamos formando professores detentores de impressões sobre a educação
especial, mas ainda não formamos professores capazes de incluir de fato, pois os próprios
formadores estão distantes desse processo. O ato de incluir irá, certamente, se construir nas
próprias relações estabelecidas em sala de aula, entre o aluno e a escola, e, em última análise,
entre o aluno e a comunidade escolar. Isso requer uma predisposição empática que está para
além da formação em si. Atualmente existe um movimento de normalização da diferença que
prega que todos nós somos diferentes, e que normal é sabe conviver com as diferenças. Diniz
(2004) orienta quanto as dimensões em que a formação docente incide e que faz do professor
peça chave no processo educativo. Diniz nos fala,
há que considerar as duas dimensões da formação docente: a dimensão subjetiva e a dimensão coletiva. A dimensão subjetiva da formação docente tem sido compreendida como uma vertente que problematiza os saberes presentes nas experiências cotidianas e as fundamentações do saber-fazer dos educadores, analisando-as como pressupostos que podem significar novas experiências e vivências. A dimensão coletiva requer uma compreensão da escola como lugar privilegiado de formação, no qual o aspecto coletivo incidirá na forma de produzir as questões apresentadas na prática, o caminho escolhido nas decisões mais rotineiras e nas condições de trabalho. (DINIZ, 2004, p.130-131)
A grande intenção do processo de inclusão é garantir uma escola para todos. No
entanto, as representações sociais acerca da deficiência ainda são marcadas por uma mistura
de conceitos ultrapassados. A segregação provocou um silenciamento acerca dessa temática,
principalmente no que tange a garantia de direitos civis. Atualmente, a sociedade se depara
com um discurso em transformação. As mídias, as leis e os currículos já abordam essas
questões, forçando a produção de novas cognições.
Não podemos negar o avanço alcançado. Hoje se reconhece a profissionalização do
professor pensando também nas pessoas com necessidades educacionais especiais. Conhecer
como os professores e alunos do magistério estão produzindo representações sociais acerca da
inclusão reforça a necessidade de aprender com esses discursos os possíveis entraves e
também os caminhos propostos em prol de uma proposta verdadeiramente inclusiva.
19627
Entretanto, a relação entre o estudo das representações sociais e o campo educacional
surge do interesse em compreender fenômenos pertences ao campo da educacional e o papel
destes entre os grupos sociais suas práticas e processos. Para entendermos melhor o resultado
desta relação é necessário percebermos que este estudo ultrapassa a compreensão de
fenômenos macroscópicos como relações de pertença, atitudes, comportamentos, entre outros;
por outro lado nos auxilia no desvelamento de dados mais particulares como a construção de
saberes e as relações estabelecidas neste contexto. Isto se dá pela influência que a escola
recebe, até os dias de hoje, de discursos políticos, momentos políticos, diferentes
administrações, diversidade de idéias entre os educadores e a interferência dos diferentes
grupos sociais (comunidade). Segundo Gilly (2001):
As representações sociais, enquanto sistemas autônomos de significações sociais, são fruto de compromissos contraditórios, sob a dupla pressão de fatores ideológicos e de restrições ligadas ao funcionamento efetivo do sistema escolar, e que o peso destas últimas parece tão mais forte que os indivíduos são diretamente afetados ou implicados nas práticas cotidianas. Vê-se então que, face a um a instituição que está longe de realizar nos fatos as mudanças esperadas, os indivíduos se apóiam, para guiar e justificar seus comportamentos, em sistemas representacionais que privilegiam mais freqüentemente elementos e esquemas de forte inércia. (GILLY, 2001)
Isso acontece porque o espaço escolar é tido como berço das relações sociais,
principalmente por ser o segundo contato social da criança depois do grupo familiar. É nele
que o indivíduo cresce cercado de diferentes posições, pensamentos, discursos, práticas e
comportamentos. Assim, encontramos o espaço perfeito para explorar o estudo das
representações sociais, onde pessoas são responsáveis por “formar cidadãos” conscientes de
seus direitos, deveres.
Neste contexto que são travadas as primeiras relações de poder, através da construção
de personalidades opressoras e oprimidas, é que são estabelecidas demarcações entre o que é
“perfeito” aos olhos da comunidade ou o que difere do padrão de normalidade esperado. É
neste cenário que são produzidas as representações sociais, a partir do que nos incomoda nos
forçando a um posicionamento e, consequentemente, a partilhar saberes.
De acordo pesquisadores da Teoria em questão, compreender a representação social
em si não significa apenas entendê-la como o espelho da realidade, mas como afirma Abric
“ela é uma organização significante”, pois “funciona como um sistema de interpretação da
realidade que rege as relações dos indivíduos em seu meio físico e social”, desta relação são
determinados os comportamentos e ações do indivíduo com relação a representação que
19628
possui de tal objeto. Não podemos justificar estes comportamentos e ações, mas é possível,
através das representações, entendermos algumas atitudes geradas por alguns grupos, como a
dissipação de comportamentos preconceituosos e estereotipados. (MOREIRA citado por
ABRIC,1998, p 28)
Portanto, para conceituarmos a inclusão como objeto de representação social, é
necessário que seja levado em conta o conceito de exclusão e suas nuances, pois o fato de
considerarmos a noção de exclusão como polissêmico, algumas vezes confundida com outros
conceitos (o de marginalização social, por exemplo), não nos impede de conceber esta noção como
sendo útil ao estudo dos fatores simbólicos, presentes em determinadas situações sociais.
Neste sentido é imprescindível que os estudos de representações sociais que tratam de
objetos como a diversidade, educação inclusiva, inclusão educacional, investiguem sobre as
raízes da exclusão segundo o objeto que caracteriza a diferença. Um exemplo são os estudos
sobre a inclusão educacional de pessoas com deficiência, pois estes devem investigar quais as
relações estabelecidas entre a exclusão destes indivíduos e a prática de inclusão, pois o
significado simbólico internalizado por certos grupos pode ser fator determinante na
realização de práticas quanto a esta ação. Entretanto, um primeiro parâmetro que consideramos
útil para a utilização desta noção é o da constatação que não se pode discutir a exclusão sem fazer
referência ao valor social da inclusão; neste sentido somente pode se falar em uma população de
excluídos em referência a uma outra população de incluídos.
Este é um dado importante observado através da análise das presentes pesquisas, pois
o fenômeno da inclusão é estudado, mas sem considerar o valor social da exclusão, ou seja,
não faz menção a uma re-inclusão do indivíduo.
Metodologia
O presente trabalho utiliza como metodologia a análise de pesquisas recentes sobre as
Representações Sociais da Inclusão Educacional, a partir do discurso de professores do
Ensino Fundamental e professores especializados, entre os anos de 2004 e 2012, com o
objetivo de identificar o que é comum no imaginário social destes profissionais, segundo um
tema já discutido no cenário acadêmico, principalmente após a implementação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/96).
A pesquisa teórica realizada de acordo com as pesquisas analisadas pretende elucidar o
fenômeno da inclusão educacional e, até que ponto estas apontam a relação entre a
19629
inclusão/exclusão no cenário educacional, sob o enfoque da Teoria das Representações
Sociais. Dentre os temas abordados estão a formação de professores, a inclusão educacional e
a exclusão social.
Neste contexto foram analisadas 9 pesquisas sobre as representações sociais de
professores sobre a inclusão educacional, retiradas de periódicos e Anais de Congressos e
Seminários.
Resultado das Pesquisas Analisadas
A partir da investigação sobre as pesquisas analisadas, é possível afirmar que, com
relação aos métodos de coleta a maioria das pesquisas utilizou: testes de livre evocação,
questionários e entrevistas semi-diretivas. Com relação às técnicas de análise os
pesquisadores utilizaram a análise de evocação e análise de conteúdo.
Os resultados das pesquisas analisadas apontam que os professores, apresentam certa
insegurança para o trabalho de inclusão, pois alegam falta de formação (FRAGOSO, 2012),
(TAVEIRA, 2007; MAURÍCIO, 2007), (MACHADO, 2009), declaram esta não ser suficiente
para a prática com o aluno diferente, seja ele pessoa com deficiência ou com necessidades
educacionais especiais.
A representação sobre a inclusão e a educação inclusiva trata da afetividade,
reconhecida nas pesquisas a partir da relação entre o professor-aluno incluído, baseada ainda
em uma visão romantizada onde o amor, a compreensão, a dedicação, o dom, a atenção e o
respeito é o que alicerça o trabalho docente neste sentido (NÓBREGA, 2007; CARVALHO,
2007), (SANTOS, 2008; SILVA, 2008), (MUSIS, 2010; CARVALHO, 2010).
No que diz respeito à prática do professor com o aluno diferente, as pesquisas
mostram a necessidade de informação sobre o trabalho a ser desenvolvido com o aluno e
quanto ao próprio quadro do aluno, reforçando o modelo médico de atendimento à pessoa
com deficiência, no qual tentamos substituir por um modelo pedagógico, visando às
possibilidades e não mais as incapacidades. Outro dado que reforça este quadro é a carência
de apoio técnico especializado para o cuidado com esta clientela, mostrando que é necessário
atendimento especializado como condição sine qua non para o progresso deste aluno
diferente, sem levar em conta a prática pedagógica desenvolvida por este, a partir de seus
próprios recursos em sala de aula regular, que muitas vezes, são espaços riquíssimos de
19630
interação e aprendizagem (TAVEIRA, 2007; MAURÍCIO, 2007), (CERQUEIRA, 2007;
PINTO, 2007), (MACHADO, 2009).
Conforme observado nos artigos, foram citados alguns termos com freqüência menor,
mas com forte interpretação durante o estudo que justificam alguns comportamentos em
espaços escolares, como falta de condições, perigo para o professor, falta de higiene das
pessoas com deficiência (TAVEIRA, 2007; MAURÍCIO, 2007), (FRAGOSO, 2012),
reforçando a idéia de exclusão em “práticas ditas” de inclusão.
Desta forma, o quadro abaixo mostra a síntese das representações sociais sobre a
inclusão, educação inclusão, deficiente, professor inclusivo e pessoa com necessidades
educacionais especiais, revelando representações sociais comuns aos cinco objetos de estudo,
são eles: amor, dedicação, formação, competência, afetividade, aceitação e apoio técnico.
Considerações finais
O presente trabalho tem como princípio norteador fazer um levantamento prévio sobre
pesquisas realizadas sobre as representações da inclusão, educação inclusiva, do deficiente, do
professor inclusivo e da pessoa com necessidades educacionais especiais, por professores da
rede regular de ensino e professores especializados, que atuam no ensino fundamental da rede
pública de diferentes regiões. A partir deste levantamento foi possível concluir que, mesmo
com formação superior, os professores declaram esta ser insuficiente para o trabalho com
alunos diferentes. Outro dado importante é a falta de apoio e suporte técnico para o trabalho
especializado com os alunos, colocando o modelo médico de atendimento à pessoas com
necessidades específicas em evidência e em situação condicional, pois se o aluno é atendido e
passa por toda uma rede de profissionais consegue êxito, caso contrário, a escola não poderá
resolver o problema dele, culminando em situações de evasão.
É neste contexto também que observa-se um discurso politicamente correto
denominando o respeito à diferenças como um chavão, pois é necessário aceitar o outro, mas
sem compreender qual o real sentido do princípio da normalização, que sobrevive mesmo em
uma sociedade que tem enraizada em suas concepções uma exclusão velada e construída
através dos tempos.
Por outro lado temos como base um princípio bastante utilizado como condição para o
cuidado com a pessoa diferente na Idade Média, “vamos praticar a caridade, mas castigar
quando necessário”, pois são todos filhos de Deus. Assim, percebe-se no discurso dos
19631
professores ideia de que, para incluir, é necessário amor, doação, afeto, paciência, dom, entre
outros pré-requisitos que continuam reforçando a ideia de exclusão destes indivíduos.
Com relação ao aluno diferente, percebe-se uma caracterização do mesmo, ainda
carregada pela incapacidade, pelo defeito, caracterizado pelo comportamento fora do padrão,
com aprendizagem problemática, mostrando que o profissional responsável por educar este
indivíduo deve ser diferente também, mais dedicado e responsável. Mas, este profissional
mostra em algumas pesquisas que sente-se incapaz também e, que todas as estratégias que
conhece são insuficientes para o trabalho com a inclusão, como suas próprias condições de
vida, como baixos salários, falta de condições de trabalho, fazendo com que estes sejam
fatores que engessam sua prática e que refletem como um espelho suas preocupações e
ansiedades. Entre todos os trabalhos elencados acima, poucos citam a exclusão como fator
preponderante para compreender a inclusão educacional, e em nenhum deles este tema é
desenvolvido como base para o estudo das representações e práticas de inclusão, mas torna-se
e urgente e necessário fazê-lo. Desde a Antiguidade a pessoa diferente foi “eliminada de
alguma forma”, vale só o que é perfeito para o grupo, evoluímos, conhecemos diferentes
realidades, construímos novos conceitos, mas ainda escolhemos quais são os melhores.
REFERÊNCIAS
ABRIC, J. C. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, A. Representações sociais: teoria e prática. João Pessoa: Ed. Universitária: 1998.
BRASIL, M. E. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394 de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF: 1996.
CERQUEIRA, T. C. S. & PINTO, C. B. G. C. As representações sociais dos professores sobre a Hiperatividade. In: JORNADA INTERNACIONAL E III CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, 5, Brasília, 2007. Disponível em <http://www.vjirs.com.br/>. Acesso em 30 mar. 2013.
DINIZ, M. & VASCONCELOS, R. N. Pluralidade cultural e inclusão na formação de professoras e professores: gênero, sexualidade, raça, educação especial, educação indígena, educação de jovens e adultos. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2004.
FRAGOSO, F. M. R. A. & CASAL, J. Representações sociais dos educadores de infância e a inclusão de alunos com necessidades educativas especiais. Rev. bras. educ. espec. [online]. 2012, vol.18, n.3, pp. 527-546. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1413-65382012000300011. Acesso em 30/03/2013.
19632
GILLY, M. As representações sociais no campo da educação. In: JODELET, J. (Ed). As representações sociais. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2001. p.321-342.
GOMES, C. & REY, F. L. G. Inclusão escolar: representações compartilhadas de profissionais da educação acerca da inclusão escolar. Psicol. cienc. prof. [online]. 2007, vol.27, n.3, pp. 406-417. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932007000300004. Acesso em 30/03/2013.
MACHADO, N. J., MANTOAN, M. T, E., NASCIMENTO, A. R., RAHME, M. M. F., & SÁ, E. D. Pensando e fazendo educação de qualidade. São Paulo: Moderna, 2001. p.51-71
MACHADO, L. B. (et al). Resistências e impossibilidades nas Representações sociais de Inclusão de Professoras. 32ª Reunião Anual da ANPED, 2009, Caxambu, Resumo. Disponível em <www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/.../GT15-5315--Int.pdf.> Acesso em 31 mar. 2013.
MADEIRA, M. C. Representações Sociais e Educação: importância teórico-metodológica de uma relação. In: MOREIRA, A. S. P. & JESUÍNO, J. C. Representações Sociais: teoria e prática. Ed. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2003 p. 113- 133.
MOREIRA, A. S. P. (ORG) & OLIVEIRA, D. C. (ORG). Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB, 1998.
MUSIS, C. R. de & CARVALHO, S. P. de. Representações sociais de professores acerca do aluno com deficiência: a prática educacional e o ideal do ajuste à normalidade. Educ. Soc. [online]. 2010, vol.31, n.110, pp. 201-217. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73302010000100011. Acesso em 30/03/2013.
NÓBREGA, D. O. da & CARVALHO, M. do. R. de F. Perpetuando Segregações? Representações Sociais de Educação Inclusiva. In: JORNADA INTERNACIONAL E III CONFERÊNCIA BRASILEIRA SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS, 5, Brasília, 2007.. Disponível em <http://www.vjirs.com.br/>. Acesso em 30 mar. 2013.
ROUQUETTE, M-L. Introdução ao estudo do Conhecimento Social. In: MOREIRA, A. S. P. & JESUÍNO, J. C. Representações Sociais: teoria e prática. Ed. João Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2003 p. 29- 45.
SANTOS, M. P. & SILVA, K. R. X. da. Representações sociais sobre o “professor inclusivo”: competências interpessoais e políticas de formação de professores em questão. Teias: Rio de Janeiro, ano 9, nº 18, PP.12-26, julho/dezembro 2008. Disponível em <http://www.periodicos.proped.pro.br/index.php?journal=revistateias&page=article&op=view&path%5B%5D=278>. Acesso em 30 mar. 2013.
TAVEIRA, C. C. & MAURÍCIO, L. V. As Representações sociais expressas nos discursos e nas práticas dos professores a respeito da inclusão escolar de alunos com deficiência em turmas regulares. In: JORNADA INTERNACIONAL E III CONFERÊNCIA