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INCLUSÃO DE ALUNOS QUE APRESENTAM DEFICIÊNCIA VISUAL NA
EDUCAÇÃO SUPERIOR: ADAPTAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Bruna da Silva Ferreira Miranda (UNIGRANRIO)
Haydéa Maria Marino de Sant’Anna Reis (UNIGRANRIO)
Resumo
O presente artigo destaca a questão da inclusão e permanência de alunos que apresentam
deficiência visual em uma universidade da Baixada Fluminense. Buscou-se neste
universo investigar a problemática da formação docente para atuar com Educação
Especial e Inclusiva, por considerar importante esta temática na Educação Superior, pois
o avanço do processo de escolarização de alunos inclusos no sistema regular de ensino, a
curto/médio prazo tem feito com que estes cheguem à universidade. O aporte teórico
ancorou-se na cronologia tanto internacional quanto nacional sobre a Educação Especial,
de acordo com marcos históricos definidos através de paradigmas que anunciaram
estágios por intervenções clínico-médicas, sistêmicas, sociológicas e crítico-
materialistas. A metodologia de natureza qualitativa, se configurou como estudo de caso
e, para coleta de dados, utilizou-se entrevistas semiestruturadas. Para análise e discussão
dos resultados, trabalhou-se com análise de conteúdo visando apurar núcleos de sentidos.
A formação em Educação Especial e a utilização de Recursos Pedagógicos para
Adaptação de Materiais Didáticos se configuraram como categorias emergentes. Apesar
da lacuna quanto à formação para a docência no concernente ao domínio de
conhecimentos sobre Educação Especial e Inclusiva, por parte de 76% dos entrevistados,
pôde-se concluir que a carência de estudos sobre a temática, de certa forma explica a
dificuldade dos mesmos em identificar Recursos Pedagógicos para Adaptação de
Materiais Didáticos. Concluiu-se que os mesmos já estão procurando, de alguma forma,
suprir esta lacuna buscando alternativas que possam auxiliá-los no processo de ensino-
aprendizagem ao constatar-se a importância dada às atividades realizadas em grupo, como
procedimentos pedagógicos. No entanto, recomenda-se que os professores apóiem a
autonomia destes alunos para a realização de determinadas tarefas, de forma
independente, para que os mesmos possam demonstrar o potencial latente.
Palavras-chave: Educação Inclusiva. Ensino Superior. Deficiência Visual.
Introdução
Este artigo, oriundo de resultados de pesquisa correspondente a uma dissertação
de Mestrado Acadêmico em Letras e Ciências Humanas, evidencia aspectos e abordagens
relevantes acerca da inclusão de alunos que apresentam deficiência visual na Educação
Superior, com vistas a evidenciar as concepções de professores de uma instituição de
ensino particular da Baixada Fluminense.
A inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais é uma realidade
no ambiente educacional e tem sido pauta de grandes debates em eventos acadêmicos
entre outros, por serem objetos de estudos de pesquisas que abordam o tema inclusão,
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 302499
associado à Educação Básica, Educação Superior e às perspectivas para o mercado de
trabalho.
Nesta perspectiva, considerou-se importante abordar a temática da inclusão na
Educação Superior, pois o avanço do processo de escolarização de alunos inclusos no
sistema regular de ensino, a curto/médio prazo tem feito com que esses cheguem à
Universidade.
Entretanto, a busca pela teorização e a pesquisa a respeito do assunto, ainda
incipiente, com vistas a revelar a realidade sobre a inclusão e permanência de alunos com
necessidades educacionais especiais; os recursos pedagógicos e materiais didáticos
disponibilizados de forma adaptada para atendê-los, tanto quanto a vivência, interação e
participação destes alunos em sala de aula, tornou-se relevante para evidenciar a
utilização de metodologias pedagógicas e práticas inclusivas bem sucedidas, que possam
ser compartilhadas.
Partiu-se inicialmente da problemática correspondente à questão da formação
docente para atuar em Educação Especial e o papel destes acerca da necessidade de
adaptação de material didático e utilização de recursos pedagógicos para auxiliá-los
durante o processo ensino-aprendizagem, ao atender alunos que apresentam deficiência
visual em sala de aula, sendo um profissional generalista.
O aporte teórico ancorou-se em Mendes (2010), Mazzotta (2005), Ochaíta e
Espinosa (2004), Fernandes e Orrico (2012) e Beyer (2010), por descrever o cenário
tanto internacional quanto nacional sobre o universo da Educação Especial, de acordo
com marcos históricos definidos através de paradigmas que anunciam, de forma
cronológica, estágios marcados por intervenções clínico-médicas, sistêmicas,
sociológicas e crítico-materialistas.
Os estudos realizados pelos autores, citados acima, revelaram que a proposta de
manter alunos em sistemas escolares menos segregados promoveu no Brasil, na década
de 60 do século passado, o paradigma da integração e posteriormente, em meados da
década de noventa do referido século, quando coube ao sistema escolar preparar-se para
receber estes alunos, a mudança para o paradigma vigente que vislumbra, na atualidade,
espaços de inclusão em ambientes escolares, Mendes (2010), Beyer (2010) e Glat e Pletch
(2010).
Concepções e Referenciais Teóricos
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 302500
Analisando o processo pelo qual a Educação Especial passou, pode-se afirmar
que, na verdade, ela vem sendo trabalhada há muitos anos, porém, as manifestações da
ação inclusiva estão sendo alcançadas em curto/médio prazo, nos tempos atuais.
Seguindo pelas concepções de Mazzotta (2005, p.17) acerca do assunto “Foi
principalmente na Europa que os primeiros movimentos pelo atendimento aos deficientes,
refletindo mudanças na atitude dos grupos sociais, se concretizaram em medidas
educacionais”.
O autor ressalta ainda que “Tais medidas educacionais, foram se expandindo,
tendo sido primeiramente levadas para os Estados Unidos e Canadá e posteriormente para
outros países, inclusive o Brasil.
Desde então, o processo educacional para pessoas com necessidades educacionais
especiais, passou por algumas mudanças, até chegar a atual Educação Inclusiva. Segundo
Mendes (2010, p. 11) “A história da Educação Especial começou a ser traçada no Século
XVI, com médicos pedagogos, que, desafiando os conceitos vigentes até então, passaram
a acreditar nas possibilidades educacionais de indivíduos que eram considerados
ineducáveis”.
Este processo foi acontecendo em longo prazo e, segundo conceito de Beyer
(2010, p. 56) “A proposta da integração vem se impondo desde 1960, e ganha novos (e
ainda imprecisos contornos), principalmente na década de 90, com ênfases numa
educação inclusiva”.
Nesta perspectiva, acontece a transição da Integração Escolar, para a Educação
Inclusiva, em que os métodos e modelos de ensino, também passaram por mudanças. De
acordo com Beyer (2010, p. 56) “Conceitualmente, dizem os autores do pensamento
inclusivista, há diferenças entre a integração e inclusão escolar, a primeira permanecendo
para seu sucesso à deriva das individualidades, a segunda chamando a atenção das
instituições à responsabilidade.
Partindo dos pressupostos de Fernandes e Orrico (2012) com relação às Políticas
Públicas que passam a garantir os direitos das pessoas com necessidades educacionais
especiais, pode-se analisar que:
A implantação de uma política pública nacional de atendimento às
pessoas com deficiências começou a surgir no contexto brasileiro a
partir dos anos 70, como fruto do movimento internacional de luta pela
garantia de direito das pessoas com deficiência. Três anos após a
implantação da Lei 5962 é criado, pelo decreto 72425 de 03 de julho de
1973, o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP). Este órgão
vinculado ao Ministério da Educação e Cultura possuía como finalidade
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EdUECE - Livro 302501
promover em todo o território nacional a expansão e melhoria do
atendimento aos excepcionais (p. 50).
Este quadro na Educação Especial no nosso país durou alguns anos, pois foi
somente em 1994, foi publicada a Política Nacional de Educação Especial, trazendo
transformações advindas das cartas internacionais de defesa de direitos de pessoas com
necessidades educacionais especiais. Este fato ocorreu, com a extinção do Centro
Nacional de Educação Especial e com a criação da Secretaria de Educação Especial.
(FERNANDES E ORRICO, 2012, p. 55).
Desde então, a Educação Especial com a determinação das políticas públicas, foi
ganhando forças, ainda que em longo prazo, e, assim sendo, foi passando por processos
de transição até chegar a atual, Educação Inclusiva, que tornou este processo em
curto/médio prazo, o qual é vivenciado até os dias de hoje.
Conforme explica Mendes (2010, p. 22) sobre este novo processo educacional, foi
somente na década de 90 que, enfim, esta proposta foi concretizada de fato no Brasil
através da Constituição Federal (1988) e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394/96), quando o Plano Nacional de Educação, e os Parâmetros
Curriculares Nacionais, estabeleceram que a educação é direito de todos e que as pessoas
com deficiência devem ter atendimento educacional “preferencialmente na rede regular
de ensino” e garantiu também a possibilidade de “atendimento educacional
especializado”.
Trazendo a questão das políticas públicas de inclusão para o mercado de trabalho,
pode-se observar que, as pessoas com necessidades educacionais especiais também têm
seus direitos reservados para trabalharem e garantirem sua independência financeira.
Fernandes e Orrico (2012) explicam sobre o acesso dessas pessoas ao mundo do trabalho
e, segundo os autores:
As ações afirmativas que garantem o acesso da pessoa com deficiência
são a expressão da evolução e chegada da pessoa com deficiência no
mercado do trabalho competitivo. A Constituição de 1988, a Lei 8753
de 1989, a Lei 8112 de 1990 e a Lei 8213 de 24 de julho de 1991 se
constituem historicamente como a acessibilidade de forma organizada
da pessoa com deficiência no mundo do trabalho, a partir da
implantação de um sistema de cotas que garante o direito de trabalho
em áreas até então inacessíveis para as pessoas com deficiência.
(FERNANDES E ORRICO, 2012, p. 66).
Fazendo uma abordagem mais abrangente sobre a Lei 8213 de 24 de julho de
1991, que diz respeito à LBPS (Lei de Benefícios da Previdência Social), esta Lei
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EdUECE - Livro 302502
estabeleceu em seu Art. 93 que a empresa com cem ou mais empregados está obrigada a
preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos com
beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência (SIC), habilitadas, na
seguinte proporção:
Até 200 empregados......................................................................................2%
De 201 a 500.................................................................................................3%
De 501 a 1.000..............................................................................................4%
De 1.001 em diante.......................................................................................5%
(JUSBRASIL. Art. 93 da Lei de Benefícios da Previdência Social - Lei
8213/91).
Buscando atender o objetivo proposto no trabalho, de analisar os procedimentos
para adaptação de material didático com vistas à inclusão de pessoas que apresentam
deficiência visual na Educação Superior e o papel dos professores destes alunos para
oferecer apoio pedagógico especializado e garantir inclusão de qualidade para os
mesmos, procurou-se apresentar algumas reflexões conceituais sobre a deficiência
visual, baseadas em Ochaíta e Espinosa (2004) e Fernandes e Orrico (2012).
Iniciando pelos conceitos de Fernandes e Orrico (2012, p. 110), pode-se verificar
que, a deficiência visual é definida em dois graus, baixa visão e cegueira, para melhor
entendimento, os autores apresentam a definição de deficiência visual através do Decreto
5296/ 2004:
[...] deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou
menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa
visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho,
com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida
do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60º; ou a
ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;
Neste sentido, é importante destacar a distinção que há entre baixa visão e cegueira
para facilitar a análise no momento da identificação das dificuldades relatas pelos alunos,
pois cada qual apresenta grau de acuidade visual distinto, e, portanto, necessita de auxílio
específico.
Ochaíta e Espinosa (2004, p. 151), por sua vez, abordam que “Não há um consenso
na definição do que pode ser considerado funcionalmente como cegueira.” Segundo os
autores “Na Espanha, a Organização Nacional de Cegos (ONCE) considera legalmente
cegas aquelas pessoas que, com a melhor correção possível, têm menos de um décimo de
visão nos dois olhos, desde que tal limitação visual seja de caráter permanente e incurável
(Pelechano, de MigueleIbáñez, 1995).” Fernandes e Orrico (2012, p. 110), seguem
explicando sobre este assunto, afirmando que:
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EdUECE - Livro 302503
Os níveis de acuidade visual possuem uma graduação, a cegueira é a
ausência total de visão ou simples percepção luminosa; a cegueira
parcial é o resíduo visual que permite a orientação à luz e à percepção
de massas, facilitando de forma considerável o deslocamento e a
apreensão do mundo exterior.
Devido a esta diversidade de diagnósticos existentes, relacionados à deficiência
visual, Fernandes e Orrico (2012, p. 111) chamam a atenção para a importância de uma
equipe multiprofissional na identificação desses diagnósticos, para que a escola possa
adequar as adaptações curriculares e recursos necessários a cada aluno, de acordo com o
grau de deficiência visual que apresentam.
Com relação ao papel das instituições de ensino para receber estes alunos que
apresentam deficiência visual, Fernandes e Orrico (2012), explicam que “As adaptações
curriculares devem adequar-se a cada caso concreto”. Os autores ainda citam alguns
exemplos ao propor que:
[...] podem-se construir objetivos específicos para o aluno com
deficiência visual que proporcionem ao estudante cego o acesso ao
currículo, tais como o estabelecimento de códigos orais e táteis, a
organização do espaço físico, a promoção de interação entre o pares, a
utilização dos recursos tiflotecnológicos, que analisaremos a seguir. A
utilização de materiais gravados, maquetes em relevo (p. 114).
No entanto, pode-se analisar que, para que a Educação Inclusiva aconteça de fato,
é necessária a participação ativa do professor, o qual terá papel fundamental na formação
destes alunos com necessidades educacionais especiais que estão chegando à sala de aula
e terá também o papel de adaptar materiais didáticos e oferecer recursos pedagógicos que
auxiliem na inclusão dos mesmos. Glat e Pletsch (2010, p. 5), explicam sobre esta questão
e segundo as autoras:
O grande desafio posto para as universidades é formar profissionais/
educadores que não sejam apenas instrumentos de transmissão de
conhecimentos, mas, sobretudo, de novas atitudes e práticas que
valorizem a diversidade humana. Neste sentido, devem ser preparados
para construir estratégias de ensino e adaptar atividades e conteúdos que
permitam a aprendizagem e desenvolvimento de todos os alunos. Cabe
às faculdades de Educação também, trabalhar com formação
continuada dos atuais professores, e incentivar o vínculo direto entre os
professores de Educação Especial e Ensino Regular, através de
discussões nas disciplinas, trabalhos de campo, estágios, entre outras
ações.
Fonseca (1995 apud GLAT e OLIVEIRA, 2004, p. 138), por sua vez, acredita
que é preciso preparar todos os professores com urgência para se obter sucesso na
inclusão, através de um processo de inserção progressiva; assim eles poderão aceitar e
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EdUECE - Livro 302504
relacionar-se com seus diferentes alunos e, consequentemente com suas diferenças e
necessidades individuais.
Os autores ressaltam também que, “A educação inclusiva, apesar de encontrar,
ainda, sérias resistências (legítimas ou preconceituosas) por parte de muitos educadores,
constitui, sem dúvida, uma proposta que busca resgatar valores sociais fundamentais,
condizentes com a igualdade de direitos e de oportunidades para todos” (p. 138-139).
Ou seja, estejam a instituição de ensino e os professores preparados ou não para
atender este novo sujeito, eles devem assumir esta responsabilidade, que antes, era
exclusiva das escolas e professores de Educação Especial. Por esta razão, há a necessidade
da preparação tanto da instituição de ensino, quanto dos docentes para receber estes
alunos, de forma a proporcionar a inclusão de fato.
Metodologia
Quanto aos procedimentos metodológicos, a pesquisa de natureza qualitativa se
caracterizou como Estudo de Casos, que segundo Stake (1994, p. 236 apud ANDRÉ,
2006) todo “[...] conhecimento gerado pelo estudo de caso é diferente do de outros tipos
de pesquisa porque é mais concreto, mais contextualizado e mais voltado para a
interpretação do leitor”.
Os dados coletados foram organizados a partir da Análise de Conteúdos, através do
sistema de categorias, estabelecidos de acordo com a perspectiva de BARDIN (2009).
Para o presente Artigo, foram destacados os conceitos das seguintes categorias: Formação
em Educação Especial e Recursos Pedagógicos para Adaptação de Materiais Didáticos.
Para a análise dos dados obtidos com as entrevistas realizadas com professores,
trabalhou-se com o objetivo de apurar núcleos de sentido, que segundo BARDIN (2009)
“um sistema de categorias é válido se puder ser aplicado com precisão ao conjunto da
informação e se for produtivo no plano das inferências”.
Foram identificados no semestre (2013/2), três alunos que apresentam
deficiência visual. Destes, um é do sexo masculino, apresenta baixa visão e está
matriculado no curso de Educação Física, e duas são do sexo feminino, uma do curso de
Pedagogia, a qual também apresenta baixa visão, e a outra aluna está matriculada no
curso de Letras, esta apresenta perda total da visão.
As pessoas citadas acima frequentam o Laboratório de Didática Inclusiva da
Universidade pesquisada. Este Laboratório faz parte do projeto de pesquisa “Inclusão
Solidária: A Práxis Compartilhada e a Produção de Material Didático para Cursos de
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Licenciatura” desenvolvido com Apoio da FAPERJ (2012/2013) e em parceria com os
Cursos de Mestrado Profissional em Ensino das Ciências na Educação Básica e Mestrado
Acadêmico em Letras e Ciências Humanas, vinculados à Escola de Ciências, Educação,
Letras, Artes e Humanidades da referida Universidade.
A partir desta informação, treze professores foram entrevistados, sendo três do
curso de Letras; cinco do curso de Pedagogia e cinco do curso de Educação Física, por
estarem responsáveis por disciplinas ministradas para estes alunos.
Resultados: Relacionando a teoria com a prática
Em vista das informações obtidas através das entrevistas com os professores dos
alunos que apresentam deficiência visual, pôde-se refletir acerca das narrativas através
das seguintes etapas básicas estabelecidas por Bardin (2009); pré-análise, descrição
analítica e interpretação referencial. Quanto ao sistema de categorias emergentes, dois
enfoques foram priorizados por fortes recorrências culminando com as seguintes
categorias: Formação em Educação Especial e Recursos Pedagógicos para Adaptação de
Materiais Didáticos.
Quanto à primeira categoria estabelecida, ao proceder a descrição analítica das
entrevistas realizadas com os professores, pôde-se observar que, dos treze entrevistados,
quatro docentes afirmaram que não tiveram nenhum contato sobre formação para
Educação Especial seja de natureza formal seja de natureza informal. O relato abaixo é
contundente sobre a realidade vivida por um dos entrevistados:
Não, nunca fiz curso sobre isso, sei muito pouco sobre Educação
especial, o que eu acho até uma falha mesmo [...] nas licenciaturas, nós
não tivemos, eu não tive livros como aqui tem, eu acho bacana, eu acho
que hoje em dia é necessário. Professora”G”
Seis professores informaram que o tema inclusão sempre fez parte da trajetória
acadêmico-profissional, seja através de cursos oferecidos pela Secretaria Municipal de
Educação do Rio de Janeiro, como também, através de cursos de capacitação oferecidos
por instituições de ensino. Neste estudo identificou-se, ainda, a importância da ‘formação
livre’ para atuar com a Educação Especial, através de experiências vivenciadas em
trabalhos voluntários, estudos independentes como declara a professora, que leciona para
a aluna que apresenta baixa visão do curso de Pedagogia, ao relatar:
Na verdade não, mas toda minha vida foi envolvida com Educação
Inclusiva, então, por exemplo, lá em Vitória eu me coloquei à
disposição do Instituto de Cegos pra eu ler [...] sempre estava envolvida
em alguma ação que tinha alguma proposta de trabalhar, de criar jogos,
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de preparar algum tipo de material diferente, ou pelo menos pra escutar,
e sempre estive lendo, sempre estive me atualizando com essa literatura
[...].” Professora “F”
Nesta perspectiva, pôde-se analisar que, há também o interesse desses
professores pelo assunto e, embora não tenham tido nenhuma formação específica na área
tiveram, de alguma forma, contato com a Educação Especial e Educação Inclusiva, o que
acredita-se estar contribuindo, significativamente, para a conscientização do profissional
acerca da forma de atendimento ao aluno em sala de aula.
Conforme explicação de Fonseca (1995, apud GLAT e OLIVEIRA, 2004, p. 138),
é preciso preparar todos os professores com urgência para se obter sucesso na inclusão,
através de um processo de inserção progressiva; assim eles poderão relacionar-se com
seus diferentes alunos e, consequentemente, com suas diferenças e necessidades
individuais.
Por outro lado, três professores informaram terem feito cursos na área de
Educação Especial. Inclusive, uma dessas professoras é experiente pois já elaborou
produtos na Universidade para auxiliar estes alunos nas atividades acadêmicas, como
áudio-books, áudio-descrição, materiais em MP3, entre outros recursos que atendam às
necessidades específicas dos alunos que apresentam deficiência visual.
A referida professora leciona para a aluna com perda total da visão do curso de
Letras. Ao longo de 20 (vinte) anos de formação/atuação profissional, frequentou cursos
de formação continuada, Pós-Graduações lato-sensu, cursos de extensão no Instituto
Nacional de Surdos - INES. Participa, atualmente, de encontros bimestrais em que há o
debate sobre leis e políticas públicas para inclusão em vigência no país.
A experiência que esta professora apresenta na área de Educação Especial e, o
estudo contínuo tem resultado em projetos direcionados para estes alunos e trabalhos que
atendam às especificidades dos mesmos. Neste sentido, observa-se mais uma vez, a
importância que há na formação continuada para criar o vínculo necessário entre
profissionais generalistas e especialistas para fortalecer a inclusão. Glat e Pletsch (2010,
p. 5), afirmam que:
[...] Cabe às faculdades de Educação também, trabalhar com formação
continuada dos atuais professores, e incentivar o vínculo direto entre os
professores de Educação Especial e Ensino Regular, através de
discussões nas disciplinas, trabalhos de campo, estágios, entre outras
ações.
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EdUECE - Livro 302507
Conforme Fernandes e Orrico (2012), há uma diversidade de diagnósticos
existentes relacionados à deficiência visual, inclusive como dito anteriormente, os autores
chamam a atenção para a importância de uma equipe multiprofissional na identificação
desses diagnósticos, para que a escola possa adequar as adaptações curriculares e recursos
didáticos necessários a cada aluno, de acordo com o grau de deficiência visual que
apresentam (FERNANDES; ORRICO, 2012, p. 111).
Com relação à segunda categoria, Recursos Pedagógicos para Adaptação de
Materiais Didáticos, os professores entrevistados informaram auxiliar, de alguma forma,
estes alunos que apresentam deficiência visual, seja com aulas dialogadas, trabalhos em
dupla, ou grupo, ou até mesmo enviando os textos para o aluno transcrever para o
programa em áudio no computador.
Os exemplos abaixo explicitam como o aluno do curso de Educação Física, que
apresenta baixa visão, participa das aulas correlacionando conteúdos teórico- práticos,
onde movimentos são estrategicamente trabalhados de forma que o auxiliem não só na
sala de aula, mas na quadra poliesportiva:
[...] a partir do momento que ele compreende o que é pra ser feito, o que
eu faço é esmiuçar um pouco mais os movimentos, por quê? Eu
demonstro e aturma que enxerga, faz, e aí eu detalho um pouco mais
verbalmente [...] o que eu posso dizer é que eu manipulo ele, faço que
a partir do momento que ele permite, eu manipulo, então eu manuseio
os membros dele [...]. Professora “B” “[...] sempre coloco um aluno, como se fosse um guia pra ele, então,
todas as vezes que a gente participa das atividades, ele está em contato
com outro aluno pra correr, pra ter a posse da bola, é... explico pra ele
separadamente da turma, o mecanismo do movimento, a mecânica do
movimento, tem sido o que a gente tem feito”. Professor “A”
Conclusões e recomendações
O paradigma da inclusão na atualidade traz à tona discussões acerca de aspectos
que envolvam a formação docente tanto de profissionais generalistas quanto especialistas.
Acredita-se que estas formações sejam imprescindíveis para o sucesso da inclusão no
país.
A pesquisa realizada com treze docentes confirma a incipiente formação para a
Educação Especial e Inclusiva para atender três alunos que apresentam necessidades
educacionais especiais, matriculados em cursos de licenciaturas de uma Universidade da
Baixada Fluminense.
A sinceridade dos pesquisados ao relatar quanto à ausência de abordagem
específica para a área da Educação Especial durante a formação inicial em Graduação
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EdUECE - Livro 302508
para a docência e as tímidas iniciativas descritas e vivenciadas pelos mesmos, acerca da
formação continuada, através da participação em cursos livres e de estudos
independentes, vêm contribuindo para a consolidação da realidade existente. Acredita-se
que com as políticas públicas e legislações vigentes este cenário possa mudar
paulatinamente nos próximos anos. Atualmente, os cursos de licenciaturas organizam os
currículos contemplando disciplinas que aprofundam a temática da Educação Especial e
Inclusiva.
Apesar da lacuna quanto à formação para a docência no concernente ao domínio
de conhecimentos sobre Educação Especial e Inclusiva por parte de 76% dos
entrevistados, pôde-se analisar através das entrevistas realizadas com os professores, que
a carência de estudos sobre esta temática, de certa forma explica a dificuldade dos
mesmos em identificar Recursos Pedagógicos para Adaptação de Materiais Didáticos.
Concluiu-se, portanto, que os mesmos já estão procurando, de alguma forma,
suprir esta lacuna buscando alternativas para desenvolver providências que possam
auxiliá-los no processo de ensino-aprendizagem.
As relações interpessoais tão recorrentes em sala de aula, sempre ancoradas por
mediação dos colegas de turma, vêm suprindo carências sobre procedimentos que
envolvam a utilização de recursos a serem definidos pelos professores e contribuindo pela
permanência destes alunos na Universidade, como podemos observar abaixo:
Eu fiz uma amostra de atividades, na qual o aluno [...] participou na
quadra, e as pessoas nem sabiam que a gente tinha ‘um deficiente visual
dançando’, [...] se apresentando com a turma de ginástica, que trocava
de lugar desarvoradamente, que tinha uma movimentação frenética, que
o grupo dele foi um grupo de montagem coreográfica bastante
elaborada, e eles resolveram, o [...] trocava de lugar como todo mundo
precisava trocar de lugar de forma que as pessoas não perceberam.[...]
o mais maravilhoso que acontece é o grupo resolvendo as situações. [...]
aí eu me sirvo [...] me aproveito do que o grupo propõe, até eu mesma.
Professora “B” sobre o aluno do curso de Educação Física. Nas aulas práticas, sim, sempre coloco um aluno, como se fosse um
guia pra ele, então todas as vezes que a gente participa das atividades,
ele está em contato com outro aluno... pra correr... pra ter a posse da
bola...explico pra ele separadamente da turma o mecanismo do
movimento, a mecânica do movimento, tem sido o que a gente tem
feito. Professor “A”sobre o aluno do curso de Educação Física. A verdade é essa, ela consegue acompanhar com a ajuda de uma colega,
até o trabalho que eu passei agora foi em grupo, então eu não tive
necessidade de reprodução em fonte maior, nada disso. Ela fez a prova
com a colega dela em dupla. Professora “G” sobre a aluna do curso de
Pedagogia.
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A importância das atividades em grupo e dos momentos de interação plena torna-
se fundamental. Entretanto, recomenda-se que os professores saibam desenvolver a
autonomia destes alunos para a realização de determinadas tarefas de forma independente.
Por isso, saber identificar e utilizar Recursos Pedagógicos para Adaptação de Materiais
Didáticos e propiciar as devidas flexibilizações do Currículo permitindo-lhes demonstrar
todo o potencial latente, é providencial para formar profissionais realizados.
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