in-mind_português, 2010, vol.1, nº.2-3, fernandes e arriaga, dor pediátrica

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  • 7/28/2019 In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N.2-3, Fernandes e Arriaga, Dor peditrica

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    Consideraes gerais sobre a

    definio e a avaliao da dor

    peditr ica

    Sara Fernandes1 e Patrcia Arriaga2

    A dor afecta em todo omundo milhes de pessoas de

    todas as idades. Ao longo deste

    artigo incidiremos no construto dor

    peditrica, na medida em que re-

    mete para uma experincia deve-ras comum durante a infncia e

    fortemente associada ao medo e ansiedade infantis (Bar-

    ros, 2003; ORourke, 2004). Reflectir-se- no s acerca

    das diferentes definies do conceito dor, como tambm

    sobre as suas distintas formas de avaliao. Em suma,

    pretende-se apresentar uma viso geral do panorama da

    dor, sensibilizando para a importncia desta temtica.

    (In)Definies do conceito de Dor

    A dor uma experincia familiar e inerente exis-tncia humana (Bernardes, 2008). Porm, dor sentida

    pelas crianas nem sempre foi atribudo e reconhecido o

    seu real valor (e.g. Baeyer, 2008; Barros, 2003). Esta apa-

    rente negligncia pode ser atribuda a diversos factores,

    em especial ao facto de a dor ser uma experincia subjec-

    In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N. 2-3, 30-38 Fernandes e Arriaga, Dor peditrica30

    1 Centro de Investigao e Interveno Social (CIS), Instituto Universitrio de Lisboa (ISCTE-IUL).

    2

    Centro de Investigao e Interveno Social (CIS), Instituto Universitrio de Lisboa (ISCTE-IUL).

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    tiva complexa (LaMontagne, Hepworth & Salisbury, 2001;

    McGrath & Gillespic, 2001) sobre a qual as crianas em

    fases precoces do desenvolvimento infantil no so capa-

    zes de transmitir informaes precisas e fiveis (Barros,

    2003; McGrath & Gillespic, 2001). Embora as crianas

    mais novas sejam capazes de reconhecer a dor como

    desagradvel, podem ocorrer diferenas na capacidade de

    compreenderem e descreverem esse fenmeno (McGrath

    & Gillespic, 2001).

    No entanto, e apesar de o conceito dor no serainda totalmente claro e consensual, todavia uma expe-

    rincia com a qual todos ns j tivemos contacto (directa

    ou indirectamente). Convm ainda ressalvar que existem

    no s dilemas ao nvel da definio cientfica do conceito

    de dor, como dificuldades inerentes variabilidade da dor

    em funo da fase de desenvolvimento do sujeito que a

    experiencia (Barros, 2003).

    Comecemos por tentar definir em que consiste ador. Segundo a definio de dor, elaborada pela Associa-

    o Internacional para o Estudo da Dor, esta corresponde

    a uma experincia sensorial e emocional desagradvel,

    associada com dano real ou potencial(IASP, 1994).

    A investigao existente nesta rea evidencia asconsequncias negativas que podem surgir em sequncia

    da experincia dolorosa. De um modo geral, a dor pode

    afectar todo o sistema orgnico, e mais especificamente, o

    funcionamento emocional, social, familiar, ocupacional e

    fsico do ser humano (McGrath, 1990; Vaughan,Wichowski & Bosworth, 2007; Walco & Goldschneider).

    Em particular, a dor pode interferir nas relaes sociais,

    educativas e profissionais, ou at mesmo com a realizao

    das tarefas e actividades dirias (Bastos, Silva, Bastos,

    Teixeira, Lustosa, Borda, Couto & Vicente, 2007).

    Neste mbito, a dor tem sido classificada e defi-nida tendo em conta diversos aspectos, nomeadamente a

    sua durao (transitria versus aguda versus crnica),

    intensidade, natureza, localizao, grau de desconforto,

    frequncia e significado (e.g. Bernardes, 2008; Waldo,

    2008). A resposta individual dor ainda determinada por

    factores genticos e temperamentais, por sua vez influen-

    ciados por caractersticas ambientais (Waldo, 2008). Para

    alm destas, as respostas das crianas dependem da

    idade, do nvel cognitivo, da maturidade, de aprendiza-

    gens/experincias anteriores e do meio onde est inserida

    (Barros, 2003; Bussoni, 2007; McGrath & Gillespic, 2001;

    ORourke, 2004). A ttulo exemplificativo, enquanto que

    uma criana de 10 anos de idade define a dor como sen-timento de desconforto quando se ferida, um adoles-

    cente de 17 anos j a descreve como sendo a sensao

    completamente oposta ao conforto, que pode ser fsica ou

    emocional (McGrath & Gillespic, 2001). Visto existirem

    diversas variveis que a caracterizam e definem, torna-se

    imprescindvel atender fase do desenvolvimento infantil

    em que a criana se encontra. Desta forma, as significa-

    es atribudas experincia dolorosa so determinadas

    em funo desse prprio nvel de desenvolvimento. Nos

    recm-nascidos e bebs a dor tende a manifestar-se atra-vs do choro e de certos movimentos corporais, expres-

    ses faciais ou mesmo apatia. Em crianas com idades

    compreendidas entre um e os trs anos o choro pode

    surgir acompanhado por verbalizaes, ou gestos locali-

    zados na regio do foco da dor, bem como por determi-

    nados movimentos inquietos, violentos ou de birra. Pode

    tambm manifestar-se em alteraes nos padres de

    sono, na alimentao e no brincar. A partir dos cinco anos

    de idade, o modo como a criana expressa a dor tende a

    ser mais complexo, uma vez que esta comea a ser capaz

    de reportar, discriminar e representar os seus sentimentos(Barros, 2003). Devido a esta multiplicidade de factores

    fcil perceber a dificuldade de definir e conceptualizar a

    dor no seu todo.

    Avaliao da dor: Medidas e dificuldades

    semelhana da dificuldade existente para defi-nir o conceito de dor, tambm a sua avaliao no ex-

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    clusiva de uma nica medida. Ao longo dos anos, tm

    vindo a ser desenvolvidas e validadas diversas medidas de

    avaliao da dor em crianas.

    Com base no modelo explicativo da percepoda dor peditrica proposto por McGrath e Gillespic (2001),

    existem inmeros factores que influenciam a forma como a

    sensao dolorosa experienciada e interpretada. , no

    entanto, indispensvel ter em conta a forma como a crian-

    a compreende a dor (factores cognitivos), o que faz (fac-tores comportamentais) e o que sente (factores emocio-

    nais). tambm fundamental contemplar o contexto em

    que a dor ocorre, a sua origem, bem como a idade, expe-

    rincias anteriores, sexo, cultura e aspectos familiares da

    criana (McGrath & Gillespic, 2001; Vaughn et al., 2007).

    Assim, semelhana da sua definio, tambm na avalia-

    o da dor no existe uma medida que seja a nica e a

    mais vivel na avaliao da dor na criana (Finley &

    McGrath, 1998). por isso imprescindvel considerar,

    priori, a forma como a dor percepcionada pela criana, e

    s depois escolher a medida avaliativa mais apropriada

    sua idade (McGrath & Gillespic, 2001). Convm igualmente

    salientar, que apesar de ser indiscutvel que desde o nas-

    cimento todo o ser humano capaz de sentir dor, a sua

    avaliao por parte das crianas apresenta obstculos.

    Em casos de bebs e crianas pr-verbais, em especial

    com idade inferior aos trs anos de idade (Finley &

    McGrath, 1998; McGrath, 1990), esta avaliao pode tor-

    nar-se mesmo restritiva. Esta dificuldade deve-se ao facto

    de nestas idades precoces no existirem as capacidades

    cognitivas e sociais necessrias sua avaliao (Besenki,Forsyth & von Baeyer, 2007; Finley & McGrath, 1998). A

    partir dos cinco anos de idade as crianas, em geral, co-

    meam a ser capazes de expressar e reportar a dor que

    sentem, embora tendam a caracteriz-la em plos extre-

    mos de muito ou nada (Besenki et al., 2007; McGrath,

    1990; McGrath & Gillespic, 2001). Nesta idade, a estima-

    o da dor em geral pouco precisa, devido ao facto de

    as crianas poderem apresentar dificuldades em separar a

    dor de outras emoes desagradveis, como o medo, a

    raiva ou a ansiedade (Blount, Piira, Cohen & Cheng, 2006).

    Crianas com maior idade, adolescentes e adultos podem

    tender a subavaliar a dor, visto j terem uma maior experi-

    ncia, que lhes permite uma maior diferenciao (McGrath

    & Gillespic, 2001).

    Para alm da idade, o modo como a crianapercepciona a dor depende de outras variveis de nature-

    za individual, familiar e situacional (Barros, 2003; Bussoni,

    2007; McGrath & Gillespic, 2001; ORourke, 2004), pelo

    que a sua avaliao objectiva e sistemtica se torna umatarefa difcil (Barros, 2003).

    Devido importncia que nas ltimas duas d-cadas tem sido concedida avaliao da dor peditrica,

    vrias medidas e instrumentos tm sido estudados. De

    forma sumria, podemos dividi-los em trs grandes gru-

    pos: medidas fisiolgicas, comportamentais/de observa-

    o e psicolgicas.

    Em relao s medidas fisiolgicas, a avaliaoda reaco dor tem-se baseado em alteraes nos n-veis de cortisol, frequncia cardaca e respiratria, nveis

    de oxignio, entre outros (e.g. Barros, 2003; Gunnar, Isen-

    see & Fust, 1987; Johnston & Strada, 1986). Estas medi-

    das assumem extrema importncia quando as medidas de

    observao e psicolgicas so inviveis, nomeadamente

    nos casos em que os doentes se encontram sedados ou

    ventilados. Por outro lado, so medidas que nem sempre

    se adequam prtica clnica (Barros, 2003).

    As medidas comportamentais tm-se reveladoadequadas para lactentes e crianas que ainda no des-

    envolveram competncias verbais ou que apresentam

    atrasos cognitivos. Estas medidas baseiam-se na anlise e

    interpretao de sinais exteriores que a criana exibe,

    como o choro, a postura corporal, as vocalizaes, os

    movimentos e as expresses faciais (ORourke, 2004;

    Schechter, Berde & Yaster, 2002). Apresentam como limi-

    tao o seu carcter subjectivo, tanto do observador,

    como do comportamento individual da criana (Barros,

    2003).

    In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N. 2-3, 30-38 Fernandes e Arriaga, Dor peditrica32

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    Quanto s medidas psicolgicas, as de auto-rela-to continuam a ser as mais utilizadas (cf. Finley & McGrath,

    1998; ORourke, 2004). So instrumentos rpidos, cuja

    aplicao se estende da primeira infncia (acima dos qua-

    tro anos de idade) at idade adulta (Baeyer, 2008). No

    obstante, necessrio ter em considerao que uma boa

    medida de avaliao da dor no se deve contentar apenas

    em determinar a sua presena ou ausncia, mas sim con-

    templar as suas possveis gradaes, isto , os seus dife-

    rentes graus de intensidade (Schechter et al., 2002). Por

    outro lado, visto tratarem-se de instrumentos avaliativos

    para crianas, recorrente a utilizao de figuras ilustrati-

    vas, de forma a tornarem a medida no s mais apelativa,

    como tambm compreensvel (Blount et al., 2006). As es-calas de resposta podem ser apresentadas sob diversos

    formatos, nomeadamente numricos e/ou visuo-analgi-

    cos (ver as Figuras 1 e 2)12 . Adicionalmente podem ser

    ilustradas por diversos estmulos discriminativos, como

    so exemplos os termmetros, as caras, as linhas, cujas

    prprias gradaes (das imagens, coloraes e tamanhos)

    ajudam a criana a identificar a dor experienciada e quan-

    tificarem a sua intensidade com maior rigor (Barros, 2003;

    Blount et al., 2006; ORourke, 2004; Schechter et al.,

    2002) (Ver as Figura 3 e 4) 3. Uma vez que no existe uma

    nica medida avaliativa transversal a todas as idades,

    fundamental ter em conta que a sua correcta utilizao e

    compreenso por parte da criana est associada a capa-

    cidades cognitivas e sociais. Neste mbito, o uso de me-

    didas de auto-relato da dor pressupe capacidades espe-cficas como a compreenso verbal, a seriao, a catego-

    rizao e a ordenao de itens, a contagem, a estimao,

    a classificao e a numerao de quantidades, os proces-

    sos de representaes simblicas e as correspondncias

    entre conceitos e figuras (Besenski et al., 2007). Para alm

    destas caractersticas inerentes ao desenvolvimento infan-

    til, certas competncias sociais, como a confiana e a

    motivao, so requisitos bsicos utilizao de escalas

    avaliativas de auto-relato da dor peditrica (Besenski et al.,

    In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N. 2-3, 30-38 Fernandes e Arriaga, Dor peditrica33

    1 As figuras exemplificativas dos diversos tipos de escalas de auto-relato mencionadas foram retiradas do site

    www.partnersagainstpain.com, originalmente em ingls, e traduzidas pelas autoras do presente artigo no mbito da sua

    publicao. Porm, convm ressalvar que as escalas traduzidas em verso portuguesa no foram ainda validadas, pelo que

    os termos utilizados podero no ser os mais adequados para a populao Portuguesa.

    2Figura 1 retirada de Acute Pain Management (1992). Operative or Medical Procedures and Trauma. Retirado em 29 de

    Fevereiro de 2010 de www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3. Figura 2 retirada

    de Stratton, H. (1997). Guidelines for Treatment of Cancer Pain: The Revised Pocket Edition of the Final Report of the Texas

    Cancer Council's Workgroup on Pain Control in Cancer Patients. Retirado em 29 de Fevereiro de 2010 de

    www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3.

    3Figura 3 retirada de Mountain Pacific Quality Health Fundation. Thermometer pain scale. Retirado em 29 de Fevereiro de

    2010 de www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3. Figura 4 retirada de

    Hockenberry, M. & Wilson, D. (2009). Wongs Essentials of Pediatric Nursing. Retirado em 29 de Fevereiro de 2010 de

    www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3.

    Figura 1: Exemplo de uma escala numrica

    Figura 2: Exemplo de uma escala visuo-analgica

    http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/professional-tools/pain-assessment-scales.aspx?id=3http://www.partnersagainstpain.com/http://www.partnersagainstpain.com/
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    2007). No entanto, na perspectiva de Baeyer (2008), o

    facto de a dor ser uma experincia privada e pessoal,

    pouca utilidade tem a comparao dos seus resultados

    com os de outras crianas. Para o autor, ento mais

    vlido comparar os relatos da dor sentida pela mesma

    criana, em vrios momentos.

    Tendo em conta a faixa etria da criana, acon-selhvel a escolha mais adequada da forma de avaliao

    da dor sentida. Segundo Baeyer (2008), para bebs e

    crianas at ao segundo ano de vida, o melhor instrumen-

    to para a avaliao da dor a observao dos seus com-

    portamentos. Quanto a crianas em idade pr-escolar(aproximadamente entre os trs e os cinco anos), as esca-

    las de auto-relato com faces so a melhor escolha. Em

    comparao, a partir dos seis at aos doze anos (idade

    escolar) muitos dos instrumentos de auto-relato so acon-

    selhados, e tanto as escalas numricas, como as faces ou

    as visuo-analgicas (em especial com linhas ou termme-

    tros) so vlidas e adequadas. De notar, por fim, que para

    adolescentes e adultos recomendado o uso de escalas

    numricas.

    Ser fundamental fazer-se ainda uma ressalvaaos possveis julgamentos enviesados (apreciaes pouco

    correctas) na avaliao da dor. Estudos recentes (Bosacki,

    2007; Chaplin, Cole, & Zahn-Waxler, 2005; Widen & Rus-

    sell, 2002) tm procurado mostrar que o processo avaliati-

    vo das emoes determinado por certos factores como

    a idade e o gnero. Desta forma, e estabelecendo ligao

    com a dor, fundamental ter em conta no s a forma

    como a criana reage dor e as significaes que faz

    dela, como tambm a forma como aqueles que a rodeiam(pais, educadores, tcnicos de sade, pares, etc.) agem.

    Dito de outra maneira, as investigaes nesta rea eviden-

    ciam a existncia de determinadas variveis que podem

    influir com a avaliao da dor, como as caractersticas

    contextuais e pessoais de quem avalia e de quem avali-

    ado. Exemplo disto o caso da varivel gnero, com a

    crena de que o feminino mais emotivo e apresenta me-

    nor tolerncia dor do que o masculino (e.g. Bernardes,

    2008; Li, DiGiuseppe, & Froh, 2006; Rudolph & Flynn,

    2007). Para alm disto, existem igualmente diferenas degnero (masculino e feminino) ao nvel da forma como a

    dor exprimida, isto , os meninos e as meninas podem

    interpretar e exteriorizar a dor de diferentes formas. Assim,

    a sinalizao da dor da criana pode depender no s do

    comportamento que manifesta, como tambm de outras

    variveis (como o sexo e a idade), sendo possvel que

    ocorram enviesamentos na sua leitura e interpretao por

    parte de quem avalia (Bernardes, 2008; Bosacki, 2007;

    Chaplin, Cole, & Zahn-Waxler, 2005; Widen & Russell,

    2002). por isso essencial no subestimar a dor da crian-

    a em funo de certas variveis externas, sob pena de se

    avaliar erradamente a situao.

    In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N. 2-3, 30-38 Fernandes e Arriaga, Dor peditrica34

    Figura 3: Exemplo de uma escala em termmetro

    Figura 4: Exemplo de uma escala com caras

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    Em suma, e apesar da investigao na rea dador infantil ter evoludo amplamente nos ltimos 20 anos

    (Walco, 2008), visto tratar-se de um sentimento subjectivo

    e pessoal, a sua definio e estratgias avaliativas no so

    nicas e invariveis. A investigao nesta rea indispen-

    svel, a par com um maior envolvimento dos pais e dos

    profissionais de sade na compreenso deste fenmeno.

    Quanto maior for a sua compreenso, melhor a escolha de

    formas de avaliao e mais adequadas e eficazes as estra-

    tgias de interveno junto das crianas.

    Concluso

    A dor um sentimento negativo que faz parte dodia-a-dia de milhes de pessoas em todo o mundo. Esta

    experincia pode ter repercusses negativas em termos

    do funcionamento fsico, cognitivo, social, relacional, com-

    portamental e emocional do indivduo. A investigao re-

    cente nesta rea tem evidenciado que todas as pessoas,desde a mais tenra idade, so capazes de experienciar dor

    (Barros, 2003; ORourke, 2004). O que difere em relao

    ao adulto, cuja dor foi desde sempre mais valorizada e

    foco de ateno, o facto de os bebs e as crianas (em

    especial as mais novas) no possurem competncias de

    comunicao suficientes para transmitir informaes com-

    preensivas e fiveis sobre o que sentem (McGrath & Gil-

    lespic, 2001). Por outro lado, a mesma dor pode ser senti-

    da de diferentes formas consoante a pessoa ou a situa-

    o. Factores como a idade, temperamento, maturidade,

    capacidades cognitivas, experincias anteriores, caracte-

    rsticas genticas e meio scio-cultural, esto associados

    ao modo como cada um de ns, em determinado mo-

    mento e contexto ambiental, percepciona a dor (Bussoni,

    2007; McGrath & Gillespic, 2001; Waldo, 2008). A somar a

    todos estes factores, imprescindvel ter em conta que a

    dor deve ser enquadrada e compreendida em funo da

    fase de desenvolvimento do sujeito (Barros, 2003). Por

    tudo isto, fundamental encarar a dor como um fenme-

    no de natureza biopsicossocial (Bernardes, 2008).

    Acresce a esta subjectividade na definio daqui-lo que a dor, a variabilidade nas suas possveis formas

    de avaliao. Uma explicao pode passar por encarar-se

    a dor como uma experincia privada e altamente pessoal,

    que no est de todo directamente acessvel aos outros

    (Schechter et al., 2002). No entanto, dada a importncia

    de uma correcta avaliao da dor, tem aumentado a inves-

    tigao sobre as diversas formas de a mensurar. A escolha

    da tcnica avaliativa deve ter em conta inmeros factores,

    como as capacidades cognitivas, sociais e comunicacio-nais das crianas, bem como o estado fsico e psicolgico

    em que esta se encontra. Por outro lado, aconselhvel a

    conjugao de mais do que uma medida (por exemplo

    uma observao comportamental associada com uma

    medida psicolgica de auto-relato). O uso de diferentes

    medidas pode aumentar a validade na avaliao da dor.

    Uma correcta e minuciosa avaliao da dor ter a vanta-

    gem de possibilitar uma melhor interveno e um trata-

    mento mais adequado e eficaz no seu alvio.

    Por tudo isto, facilmente se compreende a impor-tncia de uma adequada abordagem da dor infantil em

    mltiplos contextos. Dito de outro modo, alguns dos ins-

    trumentos anteriormente mencionados, como as escalas

    com caras ou os termmetros, podero (e devero) ser

    usados alm do mbito clnico, nomeadamente em con-

    textos familiares e educativos. Estas ferramentas de fcil e

    rpida aplicao possibilitam aos adultos (profissionais de

    sade, pais e educadores) um melhor despiste e compre-

    enso da dor que sentida pela criana, permitindo uma

    interveno mais atempada, de forma a minimizar o sofri-mento existente. O uso destes instrumentos pode permitir

    aos pais e educadores corroborar certos comportamentos

    da criana, que atravs da mera observao, considerem

    mais ou menos adequados.

    Porm, indispensvel a consciencializao porparte de quem avalia, da existncia de diferenas ao nvel

    da expresso e significao da dor, em funo de outros

    factores como o sexo e a idade da criana. Estes factores

    podem influir tanto na forma como a criana expressa e

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    avalia a sua dor, como no modo como os adultos inferem

    a dor da criana em escalas de observao. Uma maior

    consciencializao e aprofundamento desta temtica po-

    der minimizar o impacto dos possveis enviesamentos

    avaliativos, prejudiciais a uma interveno adequada.

    Em suma, o presente artigo procura contribuirpara um maior e melhor entendimento sobre a temtica da

    dor infantil, salientando a importncia da sua correcta defi-

    nio e avaliao. Na medida em que a dor pode ser umsinal importantssimo de leso (Barros, 2003), que atinge

    milhares de pessoas em todo o mundo, torna-se funda-

    mental e urgente responder com a maior preciso possvel

    s perguntas o que a dor? e como se avalia?.

    Referncias

    Acute Pain Management (1992). Operative or Medical Pro-

    cedures and Trauma. AHCPR Retirado em 29 de

    Fevereiro de 2010 de

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  • 7/28/2019 In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N.2-3, Fernandes e Arriaga, Dor peditrica

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    Autoras

    Sara Fernandes licenciada em

    Psicologia e mestre em Psicolo-

    gia, Aconselhamento e Psicotera-

    pias pela Universidade Lusfona

    de Humanidades e Tecnologias

    (ULHT, Portugal). Os seus interes-

    ses de investigao centram-sena promoo da sade infantil em

    contexto hospitalar. Em 2009

    recebeu uma bolsa de investigao concedida pela Fun-

    dao para a Cincia e a Tecnologia (Ref FCT: SFRH/BD/

    61041/2009), no mbito do desenvolvimento do seu pro-

    jecto de doutoramento subordinado ao tema da Prepara-

    o de crianas para a hospitalizao. Encontra-se na

    actualidade a fazer o doutoramento no ISCTE-IUL, em

    Lisboa, sob a orientao de Patrcia Arriaga e Francisco

    Esteves. [email protected]

    Patrcia Arriaga Licenciada

    em Psicologia pelo Instituto Supe-

    rior de Psicologia Aplicada. Con-

    cluiu o Mestrado em Psicopatolo-

    gia e Psicologia Clnica pelo ISPA

    em 2000 e o Doutoramento em

    Psicologia Social e das Organiza-

    es no Instituto Superior de Ci-ncias do Trabalho e da Empresa

    em 2006. docente no Ensino

    Superior desde 1996 e actualmente Investigadora Auxili-

    ar no Centro de Investigao e Interveno Social (CIS) ao

    abrigo do Contrato-Programa Cincia 2008.

    [email protected]

    In-Mind_Portugus, 2010, Vol.1, N. 2-3, 30-38 Fernandes e Arriaga, Dor peditrica38

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]