in 780 stf

26
Informativo 780-STF (16/04/2015) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante Processo excluído deste informativo por não ter sido concluído em virtude de pedido de vista: Inq 3305 AgR/RS. Julgados excluídos por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: PSV 109/DF; Inq 3847 AgR/GO. ÍNDICE DIREITO CONSTITUCIONAL CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já discutiu e rejeitou a proposta, proclamando o resultado. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS PELO STF Modelo de fiscalização exacerbado sobre titulares de cargos públicos do Executivo. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União. TRIBUNAL DE CONTAS Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU. DIREITO ADMINISTRATIVO LICITAÇÕES É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá, preferencialmente, utilizar “softwares” livres. CONCURSO PÚBLICO Súmula vinculante 43-STF: É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido. É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual. Súmula vinculante 44-STF: Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público. SERVIDORES PÚBLICOS Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador. DIREITO PROCESSUAL PENAL PROGRESSÃO DE REGIME Novo requisito para progressão de regime: pagamento integral da pena de multa. DIREITO INTERNACIONAL EXTRADIÇÃO Não é possível conceder a extradição de estrangeiro se o crime está prescrito no Brasil

Upload: milla-caroline-gomes

Post on 08-Nov-2015

58 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

780 - stf

TRANSCRIPT

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 1

    Mrcio Andr Lopes Cavalcante

    Processo excludo deste informativo por no ter sido concludo em virtude de pedido de vista: Inq 3305 AgR/RS.

    Julgados excludos por terem menor relevncia para concursos pblicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: PSV 109/DF; Inq 3847 AgR/GO.

    NDICE DIREITO CONSTITUCIONAL

    CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Impossibilidade de reabertura da discusso sobre a modulao se o Plenrio j discutiu e rejeitou a proposta,

    proclamando o resultado. NORMAS DE CONSTITUIES ESTADUAIS DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS PELO STF Modelo de fiscalizao exacerbado sobre titulares de cargos pblicos do Executivo. COMPETNCIAS LEGISLATIVAS Smula vinculante 46-STF: A definio dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas

    de processo e julgamento so da competncia legislativa privativa da Unio. TRIBUNAL DE CONTAS Anulao de acordo extrajudicial pelo TCU.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    LICITAES constitucional lei estadual que determina que a Administrao Pblica ir, preferencialmente, utilizar

    softwares livres. CONCURSO PBLICO Smula vinculante 43-STF: inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se,

    sem prvia aprovao em concurso pblico destinado ao seu provimento, em cargo que no integra a carreira na qual anteriormente investido.

    inconstitucional lei estadual que cria Servio de Interesse Militar Voluntrio Estadual. Smula vinculante 44-STF: S por lei se pode sujeitar a exame psicotcnico a habilitao de candidato a cargo pblico. SERVIDORES PBLICOS Inconstitucionalidade de subsdio vitalcio a ex-governador.

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    PROGRESSO DE REGIME Novo requisito para progresso de regime: pagamento integral da pena de multa. DIREITO INTERNACIONAL

    EXTRADIO No possvel conceder a extradio de estrangeiro se o crime est prescrito no Brasil

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 2

    DIREITO CONSTITUCIONAL

    CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE Impossibilidade de reabertura da discusso sobre a modulao se o Plenrio j discutiu e

    rejeitou a proposta, proclamando o resultado

    Importante!!!

    O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei inconstitucional. No dia que ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria haver ou no a modulao dos efeitos da deciso. 7 Ministros votaram a favor, mas como so necessrios, no mnimo, 8 votos, a proposta de modulao foi rejeitada e o resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava ausente compareceu sesso e afirmou que era favorvel modulao dos efeitos da deciso que declarou a lei inconstitucional no dia anterior.

    Diante disso, indaga-se: possvel que o Plenrio reabra a discusso sobre a modulao?

    NO. Depois da proclamao do resultado final, o julgamento deve ser considerado concludo e encerrado e, por isso, mostra-se invivel a sua reabertura para discutir novamente a modulao dos efeitos da deciso proferida.

    A anlise da ao direta de inconstitucionalidade realizada de maneira bifsica:

    a) primeiro, o Plenrio decide se a lei constitucional ou no; e

    b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulao dos efeitos.

    Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votao sobre a modulao (que no foi alcanada), no h como reabrir o caso, ficando preclusa a possibilidade de reabertura para deliberao sobre a modulao dos efeitos.

    STF. Plenrio. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acrdo Min. Marco Aurlio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

    MODULAO DOS EFEITOS EM PROCESSOS OBJETIVOS DE CONSTITUCIONALIDADE No julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prev expressamente que o STF poder modular os efeitos da deciso que julga determinado ato contrrio CF. Em outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declarao de inconstitucionalidade somente valham a partir da deciso proferida (ex nunc) ou ainda a partir de determinada data futura (efeitos prospectivos).

    Lei 9.868/99:

    Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social, poder o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois teros de seus membros, restringir os efeitos daquela declarao ou decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

    Mesma regra pode ser encontrada no art. 11 da Lei n. 9.882/99.

    Regra: efeitos EX TUNC (retroativos)

    Excepcionalmente o STF pode, pelo voto de, no mnimo, 8 Ministros (2/3):

    * restringir os efeitos da declarao; ou * decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado; ou * de outro momento que venha a ser fixado.

    Desde que haja razes de: * segurana jurdica; ou * excepcional interesse social.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 3

    MODULAO DOS EFEITOS DO JULGADO EM PROCESSOS SUBJETIVOS possvel a modulao dos efeitos do julgado no caso de processos subjetivos, como na hiptese da deciso proferida em um recurso extraordinrio (controle difuso)? SIM. O STF consagrou entendimento no sentido de que, excepcionalmente, admite-se, em caso de controle difuso de constitucionalidade, a modulao temporal dos efeitos da deciso proferida.

    Com o objetivo de seguir o mesmo modelo previsto no art. 27 da Lei n. 9.868/99, o STF decidiu que necessrio o qurum de 2/3 para que ocorra a modulao de efeitos em sede de recurso extraordinrio com repercusso geral reconhecida. Entendeu-se que essa maioria qualificada seria necessria para conferir eficcia objetiva ao instrumento. STF. Plenrio. RE 586453/SE, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acrdo Min. Dias Toffoli, 20/2/2013 (Info 695). MOMENTO-LIMITE DA MODULAO DOS EFEITOS Feitos os esclarecimentos acima, imagine a seguinte situao: O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que a lei ZZZ inconstitucional. No dia que ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se se deveria haver ou no a modulao dos efeitos da deciso. 7 Ministros votaram a favor, mas, como so necessrios, no mnimo 8 votos, a proposta de modulao foi rejeitada e o resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava ausente compareceu sesso e afirmou que era favorvel modulao dos efeitos da deciso que declarou a lei ZZZ inconstitucional no dia anterior. Diante disso, indaga-se: possvel que o Plenrio reabra a discusso sobre a modulao? NO. Depois da proclamao do resultado final, o julgamento deve ser considerado concludo e encerrado e, por isso, mostra-se invivel a sua reabertura para discutir novamente a modulao dos efeitos da deciso proferida. Anlise da ADI ocorre de forma bifsica: A anlise da ao direta de inconstitucionalidade realizada de maneira bifsica: a) primeiro, o Plenrio decide se a lei constitucional ou no; e b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de modulao dos efeitos. Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votao sobre a modulao (que no foi alcanada), no h como reabrir o caso, ficando preclusa a possibilidade de reabertura para deliberao sobre a modulao dos efeitos.

    NORMAS DE CONSTITUIES ESTADUAIS DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS PELO STF Modelo de fiscalizao exacerbado sobre titulares de cargos pblicos do Executivo

    A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima editou emenda, de iniciativa parlamentar, Constituio do Estado prevendo duas regras:

    1) O Governador seria obrigado a submeter anlise da ALE os nomes que ele escolheu para serem nomeados como membros do TCE, Defensor Pblico-Geral, Procurador-Geral do Estado, diretores de fundaes e autarquias e Presidentes de sociedade de economia mista e empresas pblicas.

    2) Os titulares da Universidade Estadual, da Companhia de guas do Estado, da Companhia Energtica do Estado e inmeras outras autoridades deveriam comparecer anualmente ALE

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 4

    para apresentar relatrio de atividades, que seria referendado ou no pelos Deputados e, caso fosse rejeitado, isso implicaria o afastamento imediato do titular do cargo.

    Sob o ponto de vista formal, essa emenda inconstitucional porque como trata sobre regime jurdico de servidores pblicos no poderia ser de iniciativa parlamentar (art. 61, 1, c, da CF/88).

    Sob o aspecto material, quanto regra 1, o STF entendeu que a nomeao do Procurador-Geral do Estado e dos Presidentes de sociedade de economia mista e empresas pblicas no podem ser submetidas ao crivo da ALE. O cargo de Procurador-Geral do Estado de livre nomeao e exonerao, sendo um cargo de confiana do chefe do Poder Executivo. As empresas pblicas e sociedades de economia mista submetem-se a regras de direito privado e no podem sofrer ingerncia por parte do Legislativo.

    Quanto regra 2, esta tambm materialmente inconstitucional porque institui um modelo de fiscalizao exacerbado e, desse modo, viola o princpio da separao de Poderes.

    STF. Plenrio. ADI 4284/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

    APROVAO PELA ALE DE SERVIDORES NOMEADOS PELO GOVERNADOR Imagine a seguinte situao: A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima editou uma emenda Constituio do Estado determinando ao Governador a obrigao de submeter anlise da ALE os nomes que ele escolheu para serem nomeados como membros do TCE, Defensor Pblico-Geral, Procurador-Geral do Estado, diretores de fundaes e autarquias e Presidentes de sociedade de economia mista e empresas pblicas. Segundo o dispositivo (art. 33, XXXI), os nomeados, ainda que interinamente, que no forem encaminhados para apreciao e votao pela Assembleia Legislativa, nos 30 dias seguintes, sero considerados afastados e seus atos sero anulados. Vale ressaltar que essa emenda foi apresentada por um grupo de Deputados, ou seja, trata-se de uma emenda constitucional de iniciativa parlamentar. Essa previso constitucional? NO. O STF entendeu que essa emenda trata sobre regime jurdico de servidores pblicos, matria que de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos do art. 61, 1, c, da CF/88. Logo, a proposta, de iniciativa parlamentar, ao versar sobre regime jurdico de servidores, violou a reserva de iniciativa legislativa privativa do Governador do Estado. Mas o art. 61, 1, fala em leis e o ato impugnado era uma emenda constitucional... O STF entende que, se houver uma emenda constitucional tratando sobre algum dos assuntos listados no art. 61, 1, da CF/88, essa emenda deve ter sido proposta pelo chefe do Poder Executivo. Assim, incabvel que os parlamentares proponham uma emenda constitucional dispondo sobre o regime jurdico dos servidores pblicos, por exemplo (art. 61, 1, II, c). Se isso fosse permitido, seria uma forma de burlar a regra do art. 61, 1, da CF/88. Em suma, matria restrita iniciativa do Poder Executivo no pode ser regulada por emenda constitucional de origem parlamentar (STF. Plenrio. ADI 2.966, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgado em 06/04/2005). Tudo bem. Entendi que a emenda proposta foi formalmente inconstitucional. Mas e sob o ponto de vista material, seria possvel que as autoridades indicadas pelo Governador do Estado fossem obrigadas a se submeter aprovao da ALE?

    Quanto aos dirigentes de autarquias e fundaes e quanto ao Defensor Pblico-Geral: Se no fosse o vcio formal, seria possvel que a Constituio do Estado exigisse que tais nomes fossem aprovados pela ALE. Isso porque a CF/88 permite que a legislao condicione a nomeao de determinados titulares de cargos pblicos prvia aprovao do Senado Federal, a teor do art. 52, III. Logo, em homenagem ao princpio da simetria, essa mesma previso do art. 52 pode ser repetida na

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 5

    Constituio ou mesmo na legislao infraconstitucional estadual. Nesse sentido: STF. Plenrio. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

    Quanto ao Procurador-Geral do Estado: no. Mesmo que no houvesse inconstitucionalidade formal, haveria material. Isso porque o STF possui entendimento pacfico no sentido de que o Advogado-Geral cargo de confiana do Presidente da Repblica, sendo de livre nomeao pelo Chefe do Poder Executivo, no precisando passar por sabatina no Senado.

    Quanto aos dirigentes das empresas pblicas e sociedades de economia mista: no. Mesmo que no houvesse inconstitucionalidade formal, haveria material. Isso porque tais entidades se sujeitam ao regime das empresas privadas e, portanto, no podem sofrer nenhuma ingerncia por parte do Legislativo.

    PRESTAO DE CONTAS ANUAL PARA A ALE Alm da regra acima explicada, a Assembleia Legislativa de Roraima tambm acrescentou na Constituio Estadual a obrigao de que os Titulares da Universidade Estadual de Roraima - UERR; da Companhia de guas e Esgotos de Roraima - CAER; da Companhia Energtica de Roraima CER e inmeras outras autoridades que no vale a pena listar deveriam comparecer anualmente ao Poder Legislativo, em data fixada por este, para apresentao de relatrio anual de atividades desenvolvidas e plano de metas para o ano seguinte, as quais sero referendadas por maioria absoluta em turno nico e em votao secreta, e cuja rejeio implicar o afastamento imediato do titular do cargo (art. 33, XXXI, da CE/RR). Inconstitucionalidade formal Assim como j expliquei acima, essa previso formalmente inconstitucional porque trata sobre regime jurdico de servidores pblicos e foi acrescentada por emenda constitucional de iniciativa parlamentar. Inconstitucionalidade material A obrigao acima tambm inconstitucional sob o ponto de vista material porque institui um modelo de fiscalizao exacerbado, exagerado, extremo. Desse modo, isso viola o princpio da separao de Poderes.

    COMPETNCIAS LEGISLATIVAS Smula vinculante 46

    Smula vinculante 46-STF: A definio dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento so da competncia legislativa privativa da Unio.

    STF. Plenrio. Aprovada em 09/04/2015 (Info 780).

    CRIMES DE RESPONSABILIDADE O que so crimes de responsabilidade? Crimes de responsabilidade so infraes poltico-administrativas praticadas por pessoas que ocupam determinados cargos pblicos. Caso o agente seja condenado por crime de responsabilidade, ele no receber sanes penais (priso ou multa), mas sim sanes poltico-administrativas (perda do cargo e inabilitao para o exerccio de funo pblica). Os crimes de responsabilidade esto previstos:

    Quanto ao Presidente da Repblica: no art. 85 da CF/88 e Lei n. 1.079/50.

    Quanto aos Governadores de Estado: na Lei n. 1.079/50.

    Quanto aos Prefeitos: no DL 201/67.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 6

    COMPETNCIA PARA LEGISLAR SOBRE CRIMES DE RESPONSABILIDADE Muitas Constituies estaduais tratam sobre o procedimento a ser aplicado quando o Governador do Estado pratica um crime de responsabilidade. As Cartas estaduais podem dispor sobre isso? NO. O STF entende que o Estado-membro no pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituio estadual. Isso porque a competncia para legislar sobre crime de responsabilidade privativa da Unio.

    Por que privativa da Unio? Porque o STF entende que definir o que seja crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infraes significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matrias que so de competncia privativa da Unio, nos termos do art. 22, I, e art. 85, pargrafo nico, da CF:

    Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrrio, martimo, aeronutico, espacial e do trabalho;

    Art. 85. So crimes de responsabilidade os atos do Presidente da Repblica que atentem contra a Constituio Federal e, especialmente, contra: (...) Pargrafo nico. Esses crimes sero definidos em lei especial, que estabelecer as normas de processo e julgamento.

    Repare que a doutrina conceitua os crimes de responsabilidade como sendo infraes poltico-administrativas. No entanto, o STF entende que, para fins de competncia legislativa, isso matria que se insere no direito penal e processual, de forma que a competncia da Unio.

    Da o Supremo ter editado um enunciado destacando essa concluso:

    Smula vinculante 46-STF: So da competncia legislativa da Unio a definio dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

    Dessa forma, a Constituio Estadual deve seguir rigorosamente os termos da legislao federal sobre crimes de responsabilidade.

    TRIBUNAL DE CONTAS Anulao de acordo extrajudicial pelo TCU

    O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a Administrao Pblica, quando no homologado judicialmente.

    Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU no pode anul-lo porque a questo j passou a ser de mrito da deciso judicial, o que no pode ser revisto pelo Tribunal de Contas.

    Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situao est apenas no mbito administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.

    STF. 1 Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

    Imagine a seguinte situao adaptada: Determinada empresa privada sofreu um dano causado por um rgo federal. Foi celebrado, ento, um acordo extrajudicial entre a empresa e o rgo por meio do qual a Administrao Pblica comprometeu-se a pagar indenizao de R$ 7 milhes. Vale ressaltar que esse acordo no foi homologado judicialmente. O TCU, analisando a prestao de contas desse rgo, entendeu que o valor pago a ttulo de indenizao foi exacerbado considerando que o prejuzo comprovado da empresa foi de apenas R$ 500 mil. Diante disso, o TCU anulou o acordo celebrado, determinou a devoluo dos valores pagos e aplicou multa

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 7

    ao administrador do rgo. O TCU poderia ter adotado tal providncia? O TCU pode anular acordos extrajudiciais envolvendo a Administrao Pblica federal? SIM. O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a Administrao Pblica, quando no homologado judicialmente. Se o acordo tivesse sido homologado judicialmente, o TCU no poderia anul-lo porque a questo j passaria a ser de mrito da deciso judicial, o que no pode ser revisto pelo Tribunal de Contas. No caso, contudo, como o acordo foi apenas extrajudicial, a situao estava apenas no mbito administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.

    DIREITO ADMINISTRATIVO

    LICITAES constitucional lei estadual que determina que a Administrao Pblica

    ir, preferencialmente, utilizar softwares livres

    O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a administrao pblica do Estado, assim como os rgos autnomos e empresas sob o controle do Estado utilizaro preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de informtica programas abertos, livres de restries proprietrias quanto sua cesso, alterao e distribuio (softwares livres).

    Determinado partido poltico ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria inconstitucionalidades materiais e formais.

    O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei constitucional.

    A preferncia pelo software livre, longe de afrontar os princpios constitucionais da impessoalidade, da eficincia e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, alm de viabilizar a autonomia tecnolgica do Pas.

    No houve violao competncia da Unio para legislar sobre licitaes e contratos porque a competncia da Unio para legislar sobre licitaes e contratos fica restrita s normas gerais, podendo os Estados complementar as normas gerais federais.

    A referida lei tambm no viola o art. 61, II, b, da CF/88 porque a competncia para legislar sobre licitao no de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo, podendo ser apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.

    STF. Plenrio. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, julgado m 9/4/2015 (Info 780).

    Software livre x Software proprietrio Software o nome que se d aos programas de computador. Software proprietrio (tambm chamado de fechado ou privativo) aquele que licenciado com direitos exclusivos para o seu produtor. Seu uso, redistribuio ou modificao proibido, ou requer uma autorizao do produtor. Os softwares proprietrios (tambm conhecidos como fechados) somente podem ser usados pelo seu destinatrio. Os softwares livres, por sua vez, que tambm so chamados de abertos, alm de poderem ser utilizados, podem tambm ser copiados, alterados e redistribudos para outros usurios. Ex: o Governo compra determinado software livre para ser usado na Secretaria de Sade, significa que poder ser instalado em todas as mquinas deste rgo e tambm em outras Secretarias, por exemplo.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 8

    Lei gacha O Governo do Estado do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual (Lei 11.871/2002) determinando que a administrao pblica do Estado, assim como os rgos autnomos e empresas sob o controle do Estado utilizaro preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de informtica programas abertos, livres de restries proprietrias quanto sua cesso, alterao e distribuio. ADI Determinado partido poltico ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria inconstitucionalidades materiais e formais. Segundo o autor, a lei violaria os princpios da impessoalidade, eficincia e economicidade. Alm disso, seria formalmente inconstitucional porque a competncia para legislar sobre licitaes e contratos seria privativa da Unio (art. 22, XXVII, da CF/88) bem como pelo fato de o projeto que deu origem lei ter sido apresentado por um parlamentar (e no pelo Governador), o que afrontaria o art. 61, 1 da CF/88. O STF concordou com a ADI? A referida lei inconstitucional? NO. Ausncia de inconstitucionalidade material Quanto ao primeiro argumento, o STF entendeu que a preferncia pelo software livre, longe de afrontar os princpios constitucionais da impessoalidade, da eficincia e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, alm de viabilizar a autonomia tecnolgica do Pas. Todos os que tenham desenvolvido algum software e que tenham interesse em contratar com a Administrao Pblica podem competir em igualdade de condies, sem que a preferncia por um programa livre constitua obstculo. Basta que, para tanto, os donos dos softwares disponibilizem o cdigo-fonte para a Administrao Pblica. Tambm no houve afronta aos princpios da eficincia e da economicidade (arts. 37, caput e 70, caput, da CF/88) porque, ao optar por um software livre, a Administrao Pblica sai ganhando, j que ela ter liberdade para: a) executar o programa para qualquer propsito; b) poder estudar o funcionamento do programa e adapt-lo livremente s suas necessidades; e c) compartilhar o software com os demais rgos e entidades da Administrao haja vista que uma nica cpia do programa pode ser utilizada por todos os funcionrios de um mesmo rgo pblico ou por qualquer outro ente, seja ele pessoa fsica ou jurdica, sem custos adicionais. Vale ressaltar tambm que a referida lei estadual confere preferncia aos softwares livres, no entanto, essa preferncia no absoluta porque a prpria Lei 11.871/2002, em seu art. 3, admite a contratao de programas de computador com restries proprietrias, nas seguintes hipteses especficas: a) quando o software analisado atender a contento o objetivo licitado ou contratado; e b) quando a utilizao de programa livre e/ou cdigo fonte aberto causar incompatibilidade operacional com outros programas utilizados pela Administrao. Ausncia de ofensa competncia da Unio No que tange suposta violao competncia, o STF entendeu que no houve ofensa ao art. 22, XXVII, da CF/88, uma vez que a competncia da Unio para legislar sobre licitaes e contratos fica restrita s normas gerais. Veja o dispositivo:

    Art. 22. Compete privativamente Unio legislar sobre: (...) XXVII normas gerais de licitao e contratao, em todas as modalidades, para as administraes pblicas diretas, autrquicas e fundacionais da Unio, Estados, Distrito Federal e Municpios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas pblicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, 1, III;

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 9

    Assim, mesmo no estando no art. 24, o assunto licitao e contratao pode ser objeto de leis estaduais desde que estas apenas complementem e no contrariem as normas gerais fixadas pela Unio. Ausncia de ofensa iniciativa privativa do Governador do Estado Como visto acima, o autor da ADI argumentou que a lei teria violado o art. 61, II, b, da CF/88:

    1 - So de iniciativa privativa do Presidente da Repblica as leis que: (...) II - disponham sobre: b) organizao administrativa e judiciria, matria tributria e oramentria, servios pblicos e pessoal da administrao dos Territrios;

    O STF entendeu que a lei no afronta esse dispositivo porque, na verdade, a lei versa sobre licitao no mbito da Administrao Pblica estadual, e no sobre nenhuma das matrias previstas nesse art. 61, II, b, da CF/88. Ademais, a iniciativa legislativa prevista no aludido dispositivo constitucional teria sido reservada ao Presidente da Repblica apenas por se tratar de matria adstrita aos Territrios.

    CONCURSO PBLICO Smula vinculante 43

    Smula vinculante 43-STF: inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prvia aprovao em concurso pblico destinado ao seu provimento, em cargo que no integra a carreira na qual anteriormente investido.

    STF. Plenrio. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

    Converso da smula 685 do STF A concluso exposta nesta SV 43 j era prevista em uma smula comum do STF, a smula 685 do STF (de 24/09/2003) e que tem a mesma redao. O Plenrio do STF tem convertido em smulas vinculantes algumas smulas comuns com o objetivo de agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

    Provimento Provimento o ato pelo qual o cargo pblico preenchido, com a designao de seu titular (Hely Lopes Meirelles). Existem duas formas de provimento: originrio e derivado.

    Ascenso funcional O que a SV 43 do STF probe a chamada ascenso funcional (tambm conhecida como acesso ou transposio). A ascenso funcional a progresso funcional do servidor pblico entre cargos de carreiras distintas. Ocorre quando o servidor promovido para um cargo melhor, sendo este, no entanto, integrante de uma carreira diferente. A ascenso funcional era extremamente comum antes da CF/88. Quando o servidor chegava ao ltimo nvel de uma carreira, ele ascendia para o primeiro nvel de carreira diversa (e superior) sem necessidade de concurso pblico. Ex.1: o indivduo servidor pblico e ocupa o cargo de tcnico judicirio; a lei previa que, se ele chegasse ltima classe de tcnico judicirio, poderia ser promovido analista judicirio. Ex.2: o agente de polcia de ltimo nvel tornava-se delegado de polcia de nvel inicial. Antes da CF/88, somente se exigia o concurso pblico para o ato da primeira investidura.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 10

    A ascenso funcional compatvel com a CF/88? NO. A promoo do servidor por ascenso funcional constitui uma forma de provimento derivado vertical, ou seja, a pessoa assume um outro cargo (provimento) em virtude de j ocupar um anterior (ou seja, derivado do primeiro), subindo no nvel funcional para um cargo melhor (vertical). A ascenso funcional inconstitucional porque a CF/88 afirma que a pessoa somente pode assumir um cargo pblico aps aprovao em concurso pblico (art. 37, II), salvo as hipteses excepcionais previstas no texto constitucional. Desse modo, a ascenso viola o princpio do concurso pblico. Veja esta ementa bem elucidativa:

    (...) O Supremo Tribunal Federal fixou entendimento no sentido de banir o acesso ou ascenso, que constitui forma de provimento de cargo em carreira diversa daquela para a qual o servidor ingressou no servio pblico. (...) STF. 2 Turma. RE 602795 AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 16/03/2010).

    A SV 43-STF veda a promoo no servio pblico? NO. A SV 43-STF no veda a promoo, desde que seja na mesma carreira. A promoo a passagem (desenvolvimento funcional) do servidor pblico de um cargo para outro melhor, tudo dentro da mesma carreira. Ex.: a Lei prev que a carreira de Defensor Pblico dividida em 3 classes; a pessoa ingressa como Defensor Pblico de 3 classe e, aps determinado tempo e cumpridos certos requisitos, poder ser promovida, por antiguidade e merecimento, alternadamente, a Defensor Pblico de 2 classe e depois a Defensor Pblico de 1 classe. A promoo constitucional, no sendo proibida pela SV 43-STF.

    Pode-se dizer que a A SV 43-STF probe todas as formas de provimento vertical? NO. Vamos com calma. Existem duas formas de provimento: originrio e derivado. 1) Provimento originrio: ocorre quando o indivduo passa a ocupar o cargo pblico sem que existisse qualquer vnculo anterior com o Estado. Ex.: Joo prestou concurso pblico e foi aprovado para o cargo de tcnico judicirio do TRF, sendo nomeado. Trata-se de um provimento originrio. Alguns anos depois, Joo fez novo concurso pblico e foi aprovado, desta vez, para analista judicirio do TRF. Ao ser nomeado para o cargo de analista, houve novo provimento originrio, uma vez que seu vnculo no decorreu do anterior. 2) Provimento derivado: provimento derivado ocorre quando o indivduo passa a ocupar determinado cargo pblico em virtude do fato de ter um vnculo anterior com a Administrao Pblica. O preenchimento do cargo decorre de vnculo anterior entre o servidor e o Poder Pblico. Existem, por sua vez, trs espcies de provimento derivado:

    2.1) Provimento derivado vertical: ocorre quando o servidor muda para um cargo melhor. H dois exemplos de provimento derivado vertical:

    a ascenso funcional (transposio/acesso) e;

    a promoo.

    A ascenso funcional, como vimos, inconstitucional, sendo proibida pela SV 43-STF. Assim, atualmente, a nica hiptese permitida de provimento derivado vertical a promoo.

    2.2) Provimento derivado horizontal: ocorre quando o servidor muda para outro cargo com atribuies, responsabilidades e remunerao semelhantes. o caso da readaptao (art. 24 da Lei n 8.112/90).

    3) Provimento derivado por reingresso: ocorre quando o servidor havia se desligado do servio pblico e retorna em virtude do vnculo anterior. Exs.: reintegrao, reconduo, aproveitamento e reverso.

    Desse modo, concluindo, a SV 43-STF no probe todas as formas de provimento derivado. Na verdade, ela s veda uma espcie de provimento derivado vertical, que a ascenso funcional.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 11

    CONCURSO PBLICO inconstitucional lei estadual que cria Servio de Interesse Militar Voluntrio Estadual

    O Estado de Gois editou uma lei criando algo que ele chamou de Servio de Interesse Militar Voluntrio Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as pessoas poderiam se alistar para trabalhar voluntariamente como soldado na Polcia Militar ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espcie de seleo (menos rigorosa que um concurso pblico) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia, como contraprestao pelo trabalho desempenhado, um subsdio e atuaria como se fosse um soldado. Esse contrato seria por um prazo determinado.

    O STF entendeu que esse SIMVE formal e materialmente inconstitucional.

    O SIMVE viola a regra do concurso pblico (art. 37, II, da CF/88).

    Alm disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vcio formal, j que trata sobre prestao voluntria de servios na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente oposta ao que diz a Lei federal 10.029/2000.

    STF. Plenrio. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 880 e 881).

    Servio de Interesse Militar Voluntrio Estadual SIMVE O Estado de Gois editou uma lei criando algo que ele chamou de Servio de Interesse Militar Voluntrio Estadual (SIMVE). Esse SIMVE, previsto na Lei estadual 17.882/2012, funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as pessoas (homens ou mulheres) com idade entre 19 a 27 anos poderiam se alistar para trabalhar voluntariamente como soldado na Polcia Militar ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espcie de seleo (menos rigorosa que um concurso pblico) e se a pessoa fosse escolhida, ela receberia, como contraprestao pelo trabalho desempenhado, um subsdio de aproximadamente R$ 1.300. As pessoas admitidas no SIMVE prestariam servio durante 12 meses, podendo ser prorrogado at o limite mximo de permanncia, que seria de 33 meses. O argumento do Governo foi o de que o SIMVE seria uma espcie de servio militar facultativo a nvel estadual, em termos semelhante ao servio militar obrigatrio que existe para as Foras Armadas e que

    regulado pela Lei n. 4.735/64 (Lei do Servio Militar). O PGR ajuizou ADI contra essa lei. O que o STF decidiu? A Lei do SIMVE constitucional? NO. O STF decidiu que a Lei que instituiu o SIMVE formal e materialmente inconstitucional. Inconstitucionalidade material

    A Lei estadual n. 17.882/2012, a pretexto de ter fundamento de validade na Lei n. 4.735/64 (Lei do Servio Militar), instituiu uma classe de policiais temporrios, cujos integrantes, aps serem aprovados em seleo e em curso de formao, passariam a ocupar cargo de natureza policial militar. Esses temporrios seriam remunerados por subsdio, sujeitos legislao militar e s normas especficas da Polcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar estaduais. O objetivo do Governo foi o de cortar gastos relacionados com a segurana pblica. No entanto, ao possibilitar que voluntrios tivessem funo de policiamento preventivo e repressivo, alm de terem o direito de usar os uniformes, insgnias e emblemas utilizados pela corporao, com a designao SV, recebendo subsdio, a lei criou policiais temporrios, disfarados sob a classificao de voluntrios, para a execuo de atividades militares, em detrimento da exigncia constitucional de concurso pblico.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 12

    O concurso pblico uma forma de a Administrao assegurar os princpios da isonomia e da impessoalidade na concorrncia dos candidatos aos cargos pblicos. A CF/88 previu algumas hipteses excepcionais em que o concurso pblico no obrigatrio. No entanto, tais situaes so taxativas e entre elas no est includa a possibilidade de contratao de policiais militares.

    Ademais, a lei impugnada no se amolda contratao temporria do art. 37, IX, da CF/88. No esto presentes os requisitos e limites para esse tipo de contratao.

    Desse modo, o SIMVE viola frontalmente a regra do concurso pblico (art. 37, II, da CF/88).

    A Polcia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar so instituies estaduais destinadas funo de segurana pblica e no seguem o mesmo regime constitucional alusivo s Foras Armadas. Essa diferena diz respeito a inmeros aspectos, dentre eles a forma de ingresso na carreira. Enquanto a admisso nas Foras Armadas ocorre tanto pela via compulsria do recrutamento oficial quanto pela via voluntria de ingresso nos cursos de formao, os servidores militares estaduais so submetidos, sempre voluntariamente, a concurso pblico.

    A Lei goiana possua ainda outro vcio: a lei do SIMVE permite a contratao de 2.400 policiais temporrios, mas existem cerca de 1.400 concursados aprovados regularmente no concurso da Polcia Militar e que esto em cadastro reserva aguardando convocao. Inconstitucionalidade formal O STF afirmou ainda que a Lei possui um vcio formal, j que viola o art. 24 da CF/88, ao usurpar a competncia da Unio para legislar sobre o tema. Isso porque a Unio j editou uma Lei prevendo a prestao voluntria de servios administrativos e de servios auxiliares de sade e de defesa civil nas

    Polcias Militares e nos Corpos de Bombeiros Militares. Trata-se da Lei federal n. 10.029/2000. A Lei estadual goiana, ao tratar sobre o mesmo tema (prestao de servios voluntrios) na PM e Corpo de

    Bombeiros, violou o que diz a Lei n. 10.029/2000 ao dizer que os servios voluntrios podem ser prestados no apenas para atividades administrativas ou servios auxiliares, mas sim para a atividade-fim (policiamento), o que no possvel.

    CONCURSO PBLICO Smula vinculante 44

    Smula vinculante 44-STF: S por lei se pode sujeitar a exame psicotcnico a habilitao de candidato a cargo pblico.

    STF. Plenrio. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

    Converso da smula 686 do STF A concluso exposta nesta SV 43 j era prevista em uma smula comum do STF, a smula 686 do STF (de 24/09/2003) e que tem a mesma redao. O Plenrio do STF tem convertido em smulas vinculantes algumas smulas comuns com o objetivo de agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas. vlida a realizao de exame psicotcnico em concursos pblicos? SIM. O STF afirma que admitida a realizao de exame psicotcnico em concursos pblicos, desde que a lei da carreira preveja expressamente esse teste como um dos requisitos para acesso ao cargo.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 13

    Princpio da legalidade O fundamento principal da smula o princpio da legalidade, aplicvel aos concursos pblicos, nos termos do art. 37, I da CF/88. Confira:

    Art. 37. A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte: I os cargos, empregos e funes pblicas so acessveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;

    O mencionado art. 37, I afirma claramente que os requisitos de acesso a cargos, empregos e funes sejam previstos em lei. Assim, as exigncias contidas no edital do concurso pblico devem ter previso na lei. Em outras palavras, o edital no pode fixar exigncias que no tenham amparo legal. Requisitos do exame psicotcnico Alm da previso em lei, o STJ e o STF exige outros requisitos validade do teste psicotcnico. Cuidado, portanto, porque a redao da SV 44-STF incompleta em relao ao atual cenrio da jurisprudncia. Assim, para que seja vlido em concursos pblicos, o exame psicotcnico dever cumprir os seguintes requisitos: a) o exame precisa estar previsto em lei e no edital; b) devero ser adotados critrios objetivos no teste; c) dever haver a possibilidade de o candidato prejudicado apresentar recurso contra o resultado.

    Nesse sentido: STF. Plenrio. AI 758.533-QO-RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 13/8/2010; STJ. 2 Turma. AgRg no REsp 1404261/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 11/02/2014.

    Incio do prazo para mandado de segurana contra reprovao em exame psicotcnico Se um candidato eliminado no exame psicotcnico, o termo inicial do prazo decadencial para que ele impetre mandado de segurana a data da publicao do resultado do teste e no a data da publicao do edital do certame (STJ. 2 Turma. AgRg no AREsp 202.442-RO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/10/2012). Se o exame psicotcnico for anulado por falta de previso legal, o que acontece? O candidato reprovado neste teste dever ser considerado aprovado. Se o exame psicotcnico for anulado por ser subjetivo (faltar-lhe objetividade), o que acontece? O candidato reprovado neste teste dever ser submetido a novo exame, desta vez adotando-se critrios objetivos (STJ AgRg no REsp 1437941/DF). Assim, uma vez anulado o exame psicotcnico por falta de objetividade, o candidato beneficiado com a deciso no pode prosseguir na disputa sem se submeter a novo exame, no sendo vlida a nomeao e a posse efetuadas sob essa hiptese, sob pena de malferimento aos princpios da isonomia e da legalidade (STJ AgRg no AgRg no AREsp 566.853/SP).

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 14

    SERVIDORES PBLICOS Inconstitucionalidade de subsdio vitalcio a ex-governador

    Algumas Constituies estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Governador do Estado far jus, aps deixar o mandato, a um subsdio mensal e vitalcio. Alguns chamam isso de representao, outros de penso vitalcia e outros de penso civil. A previso desse pagamento compatvel com a CF/88?

    NO. Essa regra fere o princpio da isonomia. No h uma justificativa razovel para que seja prevista genericamente a concesso da penso para ex-governadores, configurando um tratamento privilegiado sem haver fundamento legtimo.

    STF. Plenrio. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Crmen Lcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

    Subsdio vitalcio a ex-Governador do Estado A Constituio do Estado do Par previu, em seu art. 305, que a pessoa que tiver exercido o cargo de Governador do Estado, em carter permanente, far jus, aps deixar o mandato, a um subsdio mensal e vitalcio igual remunerao do cargo de Desembargador do Tribunal de Justia. Enfim, os ex-Governadores teriam direito de ficar recebendo, at morrerem, um valor mensal igual ao subsdio dos Desembargadores.

    Essa previso constitucional? NO. Essa regra fere o princpio da isonomia. No h uma justificativa razovel para que seja prevista genericamente a concesso da penso para ex-governadores, configurando um tratamento privilegiado sem haver fundamento legtimo.

    Natureza dessa verba Fica at difcil definir a natureza jurdica desse valor pago aos ex-Governadores. Ele no pode ser considerado representao uma vez que essa verba recebida pela autoridade para custear as despesas de um gabinete com servidores etc., como o caso dos Deputados e Senadores. Os ex-Governadores no so mais autoridades nem administram qualquer gabinete. No se pode dizer que se trata penso previdenciria considerando que, no servio pblico, a penso previdenciria o benefcio pago aos dependentes do agente pblico que faleceu (art. 40, 7, da CF/88), o que no tem nada a ver com a presente situao. De igual modo, no h possibilidade de enquadrar essa verba como penso civil, haja vista que esta seria devida para o caso de leso ou outra ofensa sade (art. 949 do CC), sendo paga pelo causador do dano vtima.

    Outros precedentes O STF j havia se manifestado sobre o tema, conforme se pode inferir pela ementa a seguir:

    (...) Segundo a nova redao acrescentada ao Ato das Disposies Constitucionais Gerais e Transitrias da Constituio de Mato Grosso do Sul, introduzida pela Emenda Constitucional n. 35/2006, os ex-Governadores sul-mato-grossenses que exerceram mandato integral, em 'carter permanente', receberiam subsdio mensal e vitalcio, igual ao percebido pelo Governador do Estado. Previso de que esse benefcio seria transferido ao cnjuge suprstite, reduzido metade do valor devido ao titular. 2. No vigente ordenamento republicano e democrtico brasileiro, os cargos polticos de chefia do Poder Executivo no so exercidos nem ocupados 'em carter permanente', por serem os mandatos temporrios e seus ocupantes, transitrios. (...) 4. Afronta o equilbrio federativo e os princpios da igualdade, da impessoalidade, da moralidade pblica e da responsabilidade dos gastos pblicos (arts. 1, 5, caput, 25, 1, 37, caput e inc. XIII, 169, 1, inc. I e II, e 195, 5, da Constituio da Repblica). (...) (STF. Plenrio. ADI 3853, Rel. Min. Crmen Lcia, julgado em 12/09/2007)

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 15

    DIREITO PROCESSUAL PENAL

    COMPETNCIA Smula vinculante 45

    Smula vinculante 45-STF: A competncia constitucional do tribunal do jri prevalece sobre o foro por prerrogativa de funo estabelecido exclusivamente pela Constituio Estadual.

    STF. Plenrio. Aprovada em 08/04/2015 (Info 780).

    Converso da smula 721 do STF A concluso exposta nesta SV 45 j era prevista em uma smula comum do STF, a smula 721 do STF (de 24/09/2003) e que tem a mesma redao. O Plenrio do STF tem convertido em smulas vinculantes algumas smulas comuns com o objetivo de agilizar os processos e pacificar os temas. Essa foi uma das escolhidas.

    Competncia constitucional do Tribunal do Jri Dizemos que a competncia do Tribunal do Jri constitucional porque ela prevista na prpria CF/88 (e no no CPP ou em qualquer lei ordinria). O art. 5, XXXVIII, alnea d, da CF/88 afirma expressamente que o Tribunal do Jri ter competncia para julgar os crimes dolosos contra a vida.

    Quais so os crimes dolosos contra a vida (de competncia do Tribunal do Jri)?

    homicdio (art. 121 do CP);

    induzimento, instigao ou auxlio a suicdio (art. 122 do CP);

    infanticdio (art. 123 do CP);

    aborto em suas trs espcies (arts. 124, 125 e 126 do CP). Desse modo, em regra, ocorrendo a prtica de um desses crimes, o autor ser julgado pelo Tribunal do Jri (e no por um juzo singular). O que o foro por prerrogativa de funo? Trata-se de uma prerrogativa prevista pela Constituio segundo a qual as pessoas ocupantes de determinados cargos ou funes somente sero processadas e julgadas criminalmente (no engloba processos cveis) em foros privativos colegiados (TJ, TRF, STJ, STF). A Constituio Federal prev diversos casos de foro por prerrogativa de funo. Ex: os Senadores devero ser julgados criminalmente pelo STF (art. 102, I, b da CF/88). A CF/88 previu que determinadas autoridades deveriam ser julgadas pelo Tribunal de Justia e, como o tema interessa aos Estados, as Constituies estaduais acabaram repetindo essas regras. Ex.1: a CF/88 afirma que os Prefeitos devem ser julgados pelo TJ (art. 29, X, da CF/88). Mesmo sendo desnecessrio, todas as Constituies Estaduais decidiram repetir, em seus textos, essa regra. Assim, voc ir encontrar tanto na CF/88 como nas Constituies Estaduais que a competncia para julgar os Prefeitos do TJ. Surge, por fim, uma dvida: a Constituio Estadual pode estabelecer que determinadas autoridades devero ser julgadas pelo Tribunal de Justia mesmo isso no estando previsto na CF/88? possvel foro por prerrogativa de funo estabelecido exclusivamente pela Constituio Estadual? SIM. A CF/88 autoriza que a competncia dos Tribunais de Justia seja definida na Constituio do Estado (art. 125, 1). No entanto, essa liberdade de definio no absoluta. Quando a Constituio Estadual for definir quais so as autoridades que sero julgadas pelo TJ ela dever respeitar o princpio da simetria ou paralelismo com a CF/88. Explicando melhor: as autoridades estaduais que podem ter foro privativo so aquelas que, se comparadas com as mesmas autoridades em nvel federal, teriam direito de foro por prerrogativa de funo na CF/88.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 16

    Ex.1: a CE pode prever que o Vice-Governador ter foro por prerrogativa de funo no TJ. Isso porque a autoridade correspondente em nvel federal (Vice-Presidente) tambm possui foro privativo no STF. Ex.2: a CE pode prever que os Secretrios de Estado tero foro por prerrogativa de funo no TJ. Isso porque a autoridade correspondente em nvel federal (Ministros de Estado) tambm possuem foro privativo no STF. Obs: existem ainda algumas polmicas envolvendo o tema, mas, para fins de concurso, a resposta mais adequada o que foi explicado acima. Desse modo, podemos concluir que existem hipteses em que o foro por prerrogativa de funo estabelecido exclusivamente pela Constituio Estadual. Exs: Vice-Governador, Secretrios de Estado. Feitos esses esclarecimentos, imagine o seguinte exemplo hipottico: A Constituio do Estado do Amazonas prev que os Secretrios de Estado, se praticarem algum crime, devero ser julgados pelo Tribunal de Justia (e no pelo juzo de 1 instncia). Em outras palavras, a Constituio do Estado confere aos Secretrios de Estado foro por prerrogativa de funo. Pode-se dizer que esse foro por prerrogativa de funo estabelecido exclusivamente pela Constituio Estadual (a CF/88 no traz uma regra prevendo isso). Suponha, ento, que um Secretrio do Estado do Amazonas cometa homicdio doloso contra algum. Quem julgar esse Secretrio Estadual pelo homicdio por ele praticado? Temos aqui um impasse: a CF/88 determina que esse ru seja julgado pelo Tribunal do Jri e a Constituio Estadual preconiza que o foro competente o Tribunal de Justia. Qual dos dois comandos dever prevalecer? A Constituio Federal, por ser hierarquicamente superior. Logo, qual a concluso: Se determinada pessoa possui por foro prerrogativa de funo previsto na Constituio Estadual e comete crime doloso contra a vida, dever ser julgada pelo Tribunal do Jri, no prevalecendo o foro privativo estabelecido na Constituio Estadual. Este o entendimento sumulado do STF: Smula vinculante 45-STF: A competncia constitucional do Tribunal do Jri prevalece sobre o foro por prerrogativa de funo estabelecido exclusivamente pela Constituio estadual. Imaginemos outra seguinte situao hipottica para verificar se voc entendeu: BB Vice-Governador do Estado XX A Constituio do Estado XX prev que os Vice-Governadores sero julgados criminalmente pelo TJ.

    BB pratica crime contra licitao

    (art. 89, da Lei n. 8.666/93).

    BB ser julgado pelo Tribunal de Justia

    BB pratica crime doloso contra a vida (arts. 121 a 126 do CP).

    BB ser julgado pelo Tribunal do Jri

    Vale ressaltar que esta diferena entre crimes dolosos contra a vida e demais delitos somente se aplica para os casos em que o foro por prerrogativa de funo for previsto apenas na Constituio Estadual. Se o foro por prerrogativa de funo for previsto na Constituio Federal, a pessoa ser julgada no foro privativo mesmo que o crime seja doloso contra a vida. Vamos a mais um exemplo:

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 17

    BB Prefeito de uma cidade do interior.

    BB pratica crime contra licitao

    (art. 89, da Lei n. 8.666/93).

    BB ser julgado pelo Tribunal de Justia

    BB pratica crime doloso contra a vida (arts. 121 a 126 do CP).

    BB ser julgado pelo Tribunal de Justia (e no pelo Tribunal do Jri)

    Por qu? Porque o foro por prerrogativa de funo dos prefeitos previsto na prpria Constituio Federal (art. 29, X). Logo, temos a previso da CF/88 dizendo que as pessoas que cometem crimes dolosos contra a vida sero julgadas pelo Tribunal do Jri (art. 5, XXXVIII, d). E temos a previso, tambm da CF/88, dizendo que os Prefeitos sero julgados pelo Tribunal de Justia (art. 29, X). As duas normas so de mesma hierarquia (as duas so da CF/88). Qual deve ser aplicada ento? A norma mais especfica, ou seja, a norma que prev o foro por prerrogativa de funo (os crimes cometidos por Prefeito sero julgados pelo Tribunal de Justia). Vale ressaltar, no entanto, que o Prefeito ser julgado pelo TJ se o crime for de competncia da Justia Estadual. Se for da competncia da Justia Federal, ser julgado pelo TRF e se for da Justia Eleitoral, pelo TRE. Este o entendimento sumulado do STF. Confira: Smula 702-STF: A competncia do Tribunal de Justia para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competncia da justia comum estadual; nos demais casos, a competncia originria caber ao respectivo tribunal de segundo grau. Crime comum praticado por Prefeito:

    Crime estadual: TJ

    Crime federal: TRF

    Crime eleitoral: TRE

    PROGRESSO DE REGIME Novo requisito para progresso de regime: pagamento integral da pena de multa

    Importante!!!

    No tem nos livros!!!

    O no pagamento voluntrio da pena de multa impede a progresso no regime prisional?

    SIM. O Plenrio do STF decidiu o seguinte:

    Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado impede a progresso no regime prisional.

    Exceo: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progresso de regime se ficar comprovada a absoluta impossibilidade econmica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.

    STF. Plenrio. EP 12 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 18

    PROGRESSO DE REGIME Existem trs regimes de cumprimento de pena: a) Fechado: a pena cumprida na Penitenciria. b) Semiaberto: a pena cumprida em colnia agrcola, industrial ou estabelecimento similar. c) Aberto: a pena cumprida na Casa do Albergado. Progresso de regime No Brasil, adota-se o sistema progressivo (ou ingls), ainda que de maneira no pura. Assim, de acordo com o CP e com a LEP, as penas privativas de liberdade devero ser executadas (cumpridas) em forma progressiva, com a transferncia do apenado de regime mais gravoso para menos gravoso to logo ele preencha os requisitos legais. Requisitos para a progresso

    Os requisitos para que a pessoa tenha direito progresso de regime esto previstos na Lei n. 7.210/84 e tambm no Cdigo Penal. Veja um resumo: Requisitos para a progresso do regime FECHADO para o SEMIABERTO:

    Requisito OBJETIVO

    Crimes comuns: cumprimento de 1/6 da pena aplicada. Crimes hediondos ou equiparados (se cometidos aps a Lei 11.464/07):

    Cumprimento de 2/5 da pena se for primrio.

    Cumprimento de 3/5 da pena se for reincidente.

    Requisito SUBJETIVO

    Bom comportamento carcerrio durante a execuo (mrito).

    Requisito FORMAL

    Oitiva prvia do MP e do defensor do apenado ( 1A do art. 112 da LEP).

    Requisitos para a progresso do regime SEMIABERTO para o ABERTO:

    Requisito OBJETIVO

    Crimes comuns: cumprimento de 1/6 da pena RESTANTE. Crimes hediondos ou equiparados (se cometidos aps a Lei 11.464/07):

    Cumprimento de 2/5 da pena se for primrio.

    Cumprimento de 3/5 da pena se for reincidente.

    Requisito SUBJETIVO

    Bom comportamento carcerrio durante a execuo (mrito).

    Requisito FORMAL

    Oitiva prvia do MP e do defensor do apenado ( 1A do art. 112 da LEP).

    Requisitos ESPECFICOS

    do regime aberto

    Alm dos requisitos acima expostos, o reeducando deve: a) Aceitar o programa do regime aberto (art. 115 da LEP) e as condies especiais

    impostas pelo Juiz (art. 116 da LEP); b) Estar trabalhando ou comprovar a possibilidade de trabalhar imediatamente quando

    for para o regime aberto (inciso I do art. 114); c) Apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos exames a que foi

    submetido, fundados indcios de que ir ajustar-se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo regime (inciso II do art. 114).

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 19

    Requisito OBJETIVO adicional no caso de condenados por crime contra a Administrao Pblica: No caso de crime contra a Administrao Pblica, para que haja a progresso ser necessria ainda:

    a reparao do dano causado; ou

    a devoluo do produto do ilcito praticado, com os acrscimos legais. Isso est previsto no 4 do art. 33 do Cdigo Penal:

    4 O condenado por crime contra a administrao pblica ter a progresso de regime do cumprimento da pena condicionada reparao do dano que causou, ou devoluo do produto do ilcito praticado, com os acrscimos legais.

    CONSTITUCIONALIDADE DO 4 DO ART. 33 DO CP A defesa de um dos condenados no Mensalo alegou que esse requisito exigido pelo 4 do art. 33 do CP seria inconstitucional por representar uma espcie de priso por dvida. O STF concordou com o argumento? Esse dispositivo viola a CF/88? NO. O 4 do art. 33 do CP CONSTITUCIONAL. Vale ressaltar, no entanto, que, mesmo sem previso expressa, deve ser permitido que o condenado faa o parcelamento do valor da dvida. STF. Plenrio. EP 22 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/12/2014 (Info 772). Feita essa breve reviso, imagine a seguinte situao: Joo, indivduo muito rico, foi condenado, com trnsito em julgado, pela prtica de corrupo passiva e lavagem de dinheiro. Na sentena, recebeu duas penas:

    Pena privativa de liberdade de 6 anos de recluso, em regime semiaberto.

    Pena de multa de 330 dias-multa. Aps cumprir 1/6 da pena (requisito objetivo) e tendo bom comportamento carcerrio (requisito subjetivo), Joo pediu a progresso do regime semiaberto para o aberto. Depois de toda a tramitao, com a oitiva do MP, o juiz indeferiu o pedido porque o sentenciado, embora devidamente notificado, no efetuou o pagamento da pena de multa imposta na sentena. A defesa recorreu afirmando que o prvio pagamento da pena de multa no requisito legal para a progresso de regime, tendo em vista que no h priso por dvida (art. 5, LXVII) e que o art. 51 do CP probe a converso da multa em priso. Diante disso, indaga-se: a deciso do juiz foi correta? O no pagamento voluntrio da pena de multa impede a progresso no regime prisional? SIM. O Plenrio do STF decidiu o seguinte:

    Regra: o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado impede a progresso no regime prisional.

    Exceo: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progresso de regime se ficar comprovada a absoluta impossibilidade econmica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.

    O condenado tem o dever jurdico (e no a faculdade) de pagar integralmente o valor da multa. Pensar de modo diferente seria o mesmo que ignorar que esta espcie de pena prevista, expressamente, de forma autnoma, no art. 5, inciso XLVI, alnea c da CF/88. O no recolhimento da multa por condenado que tenha condies econmicas de pag-la constitui deliberado descumprimento de deciso judicial e deve impedir a progresso de regime. Alm disso, admitir-se o no pagamento da multa configuraria tratamento privilegiado em relao ao sentenciado que espontaneamente paga a sano pecuniria.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 20

    Ressalte-se, ainda, que, em matria de criminalidade econmica, a pena de multa desempenha um papel muito relevante, sendo mais importante at mesmo que a pena de priso, que, nas condies atuais, relativamente breve e no capaz de promover a ressocializao. Desse modo, cabe multa a funo retributiva e preventiva geral da pena, desestimulando, no prprio infrator ou em infratores potenciais, a prtica dos crimes. No caso concreto, a defesa no comprovou a impossibilidade do sentenciado de cumprir a pena de multa, de forma que incabvel aplicar a ele a exceo. O pagamento da multa est previsto no art. 112 da LEP como sendo um requisito para a progresso? NO. O pagamento da multa no est previsto expressamente no art. 112 como um dos requisitos necessrios para a progresso de regime. Apesar disso, o STF entendeu que esse pagamento poder ser exigido porque a anlise dos requisitos necessrios para a progresso de regime no se restringe ao referido art. 112 da LEP. Em outras palavras, outros elementos podem, e devem, ser considerados pelo julgador na deciso quanto progresso. Assim, para o STF, o julgador, atento s finalidades da pena e de modo fundamentado, est autorizado a lanar mo de outros requisitos, no necessariamente enunciados no art. 112 da LEP, mas extrados do ordenamento jurdico, para avaliar a possibilidade de progresso no regime prisional, tendo como objetivo, sobretudo, o exame do merecimento do sentenciado. Essa deciso no viola o art. 51 do CP, que probe a converso da pena de multa em priso? NO. O art. 51 do Cdigo Penal previa que se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de

    multa, ela deveria ser convertida em pena de deteno. Essa regra foi alterada pela Lei n. 9.268/96 e, atualmente, se a multa no for paga, ela ser considerada dvida de valor e dever ser cobrada do condenado pela Fazenda Pblica por meio de execuo fiscal.

    Importante, no entanto, esclarecer que, mesmo com essa mudana feita pela Lei n. 9.268/96, a multa continua tendo carter de sano criminal, ou seja, permanece sendo uma pena. Esse entendimento no viola a regra constitucional segundo a qual no existe priso civil por dvida? NO. No se est prendendo algum por causa da dvida, mas apenas impedindo que ela tenha direito progresso de regime em virtude do descumprimento de um dever imposto ao condenado. O benefcio da progresso exige do sentenciado autodisciplina e senso de responsabilidade (art. 114, II da LEP), o que pressupe o cumprimento das decises judiciais que a ele so aplicadas. Mais um novo requisito objetivo: Desse modo, o STF cria um novo requisito objetivo para a progresso de regime: o apenado dever pagar integralmente o valor da multa que foi imposta na condenao ou, ento, provar a absoluta impossibilidade econmica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 21

    DIREITO INTERNACIONAL

    EXTRADIO No possvel conceder a extradio de estrangeiro se o crime est prescrito no Brasil

    O Governo da Itlia pediu a extradio de nacional italiano que est no Brasil em virtude de ele ter sido condenado por crimes de falncia fraudulenta naquele pas.

    O STF negou o pedido j que houve a prescrio da pretenso executria da pena do referido delito segundo a lei brasileira.

    Em outras palavras, estando o crime prescrito, no possvel conceder a extradio por faltar o requisito da dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).

    STF. 2 Turma. Ext 1324/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

    EXERCCIOS Julgue os itens a seguir: 1) (Juiz TJ/CE 2012 CESPE) A definio de condutas tpicas configuradoras da prtica de crime de

    responsabilidade por parte de agentes estaduais e municipais est inserida no mbito da competncia legislativa do estado-membro e do municpio, respectivamente. ( )

    2) (Juiz TJ/DF 2014 CESPE) Ser constitucional lei distrital que defina as condutas tpicas configuradoras de crimes de responsabilidade dos agentes polticos distritais e que discipline o correspondente processo. ( )

    3) (DPE/TO 2013 CESPE) constitucional norma inserida na constituio estadual que repute crime de responsabilidade a ausncia injustificada de secretrio do estado convocao da assembleia legislativa para prestar esclarecimentos. ( )

    Gabarito

    1. E 2. E 3. E

    JULGADOS NO COMENTADOS

    PSV: imunidade tributria e instituies de assistncia social O Plenrio rejeitou proposta de edio de enunciado de smula vinculante, resultante da converso do Enunciado 730 da Smula do STF, e com o seguinte teor: A imunidade tributria conferida a instituies de assistncia social sem fins lucrativos pelo art. 150, VI, c, da Constituio, somente alcana as entidades fechadas de previdncia social privada se no houver contribuio dos beneficirios. Os Ministros Dias Toffoli, Marco Aurlio, Crmen Lcia e Teori Zavascki, ao votar pela rejeio da proposta, consignaram que o art. 150, VI, c, da CF, no distinguiria as entidades de assistncia social, ou seja, se apenas seriam beneficirias da imunidade aquelas que no contassem com a contribuio dos beneficirios ou se todas as entidades. Ademais, o entendimento relativo matria no estaria pacificado a ponto de se tornar vinculante, preservado, no entanto, o Enunciado 730 da Smula do STF. PSV 109/DF, 9.4.2015. (PSV-109)

    Arquivamento de inqurito e requerimento do PGR A Primeira Turma, em concluso de julgamento e por maioria, negou provimento a agravo regimental em que se impugnava deciso monocrtica que, com base no art. 21, XV, e, do RISTF, determinara o arquivamento de inqurito [Art. 21. So atribuies do Relator: ... XV determinar a instaurao de inqurito a pedido do Procurador-Geral da Repblica, da autoridade policial ou do ofendido, bem como o seu arquivamento, quando o requerer o Procurador-Geral da Repblica, ou quando verificar: ... e) ausncia

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 22

    de indcios mnimos de autoria ou materialidade]. O agravante apontava a ilegitimidade da deciso impugnada, porquanto o arquivamento de inqurito deveria decorrer de requerimento do PGR ou, quando menos, aps a sua oitiva. Destacava, tambm, a aplicabilidade, no caso, do precedente firmado quando do julgamento do Inq 2.913 AgR/MT (DJe de 21.6.2012) no qual se afirmara que o dispositivo do regimento interno utilizado como fundamento da deciso ora agravada ofenderia o art. 3, I, da Lei 8.038/1990 (Art. 3 - Compete ao relator: I - determinar o arquivamento do inqurito ou de peas informativas, quando o requerer o Ministrio Pblico, ou submeter o requerimento deciso competente do Tribunal). A Turma asseverou que a questo relativa legitimidade da determinao de arquivamento do inqurito estaria superada na hiptese em comento, dado que, com a interposio do agravo regimental, a matria estaria sendo apreciada pelo Colegiado. Outrossim, no existiria justa causa para a instaurao do inqurito. O Ministro Dias Toffoli (relator), embora tambm negasse provimento ao recurso, afirmara (na sesso de 30.9.2014) que eventual agravo regimental, interposto em face de deciso monocrtica que tivesse determinado o arquivamento de inqurito, levaria a matria apreciao do Colegiado, o que no subverteria o quanto disposto no art. 3, I, da Lei 8.038/1990. Ademais, no haveria, na espcie, elementos suficientes para o prosseguimento do inqurito. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que dava provimento ao agravo. Afirmava que a Lei 8.038/1990 seria clara, no apresentando qualquer distino no que junge a possibilidade de o relator arquivar o inqurito ao requerimento do Ministrio Pblico. Ausente o requerimento, o inqurito deveria ir Turma, em questo de ordem. Por outro lado, seria cabvel investigao ante qualquer notcia de prtica criminosa, devendo-se viabilizar a atuao do Ministrio Pblico em defesa da sociedade. Inq 3847 AgR/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2015.

    OUTRAS INFORMAES

    C L I P P I N G D O D JE 6 a 10 de abril de 2015

    HC N.120.678-PR

    RED/ O ACRDO: MIN. MARCO AURLIO

    EMENTA: CRIME HOMICDIO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO EXCLUDENTE DE ILICITUDE LEGTIMA DEFESA EXTENSO IMPROPRIEDADE. No se comunica a excludente de ilicitude que a legtima defesa, relativa ao homicdio, ao crime autnomo de porte ilegal de arma.

    *noticiado no Informativo 775

    HC N. 119.934-SP

    RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

    EMENTA: Habeas corpus. Processual Penal. Priso em flagrante. Crimes de trfico de drogas. Artigo 33, caput, da Lei n 11.343/06.

    Liberdade provisria. Possibilidade. Inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 44, caput, da Lei n 11.343/06 reconhecida. Precedente da Corte. Necessidade de comprovao da presena dos requisitos previstos no art. 312 do Cdigo de Processo Penal. Inidoneidade dos

    fundamentos justificadores da custdia no caso concreto. Superao do enunciado da Smula n 691 do Supremo Tribunal. Ordem

    concedida. 1. Em princpio, se o caso no de flagrante constrangimento ilegal, segundo o enunciado da Smula n 691, no compete ao Supremo Tribunal

    Federal conhecer de habeas corpus contra deciso de relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere liminar.

    2. Entretanto, o caso evidencia situao de flagrante ilegalidade, apta a ensejar o afastamento, excepcional, do referido bice processual. 3. Diante do que foi decidido pelo Plenrio da Corte no HC n 104.339/SP, Relator o Ministro Gilmar Mendes, est reconhecida a

    inconstitucionalidade incidenter tantum do art. 44, caput, da Lei n 11.343/06, o qual vedava a possibilidade de concesso de liberdade provisria

    nos casos de priso em flagrante pelo delito de trfico de entorpecentes, sendo necessrio, portanto, averiguar se o ato prisional apresenta, de modo fundamentado, os pressupostos autorizadores da constrio cautelar, nos termos do art. 312 do Cdigo de Processo Penal.

    4. Na hiptese em anlise, ao determinar a custdia do paciente, o Tribunal estadual no indicou elementos concretos e individualizados que

    comprovassem a necessidade da sua decretao, conforme a lei processual de regncia, calcando-a em consideraes a respeito da gravidade em abstrato do delito, que, segundo a jurisprudncia da Corte, no a justificam.

    5. Ordem concedida.

    *noticiado no Informativo 773

    RHC N. 118.006-SP

    RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

    EMENTA: Recurso ordinrio em habeas corpus. Processual Penal. Jri. Homicdio qualificado. Artigo 121, 2, II, c/c o art. 29, do Cdigo

    Penal. Leitura pelo Ministrio Pblico, nos debates, de sentena condenatria de corru proferida em julgamento anterior. Alegao de sua

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 23

    utilizao como argumento de autoridade, em prejuzo do recorrente. Nulidade. No ocorrncia. Sentena que no faz qualquer aluso a sua

    pessoa nem a sua suposta participao no crime. Inaptido do documento para interferir no nimo dos jurados em desfavor do recorrente.

    Pea que no se subsume na vedao do art. 478, I, do Cdigo de Processo Penal. Possibilidade de sua leitura em plenrio (art. 480, caput,

    CPP). Inexistncia de comprovao de que o documento, de fato, foi empregado como argumento de autoridade e de que houve prejuzo

    insanvel defesa (art. 563, CPP). Recurso no provido. 1. O art. 478, I, do Cdigo de Processo Penal veda que as partes, nos debates, faam referncia a deciso de pronncia e a decises posteriores em que se tenha julgado admissvel a acusao como argumento de autoridade para beneficiar ou prejudicar o acusado.

    2. Esse dispositivo legal no veda a leitura, em plenrio, da sentena condenatria de corru, proferida em julgamento anterior, a qual admitida pelo

    art. 480, caput, do Cdigo de Processo Penal. 3. A sentena, ademais, desprovida de aptido para interferir no nimo dos jurados, como argumento de autoridade e em prejuzo do recorrente, uma

    vez que no faz qualquer aluso a sua pessoa nem a sua suposta participao no crime.

    4. Ausente a comprovao de que o documento, de fato, foi empregado como argumento de autoridade e que houve prejuzo insanvel defesa (art. 563, CPP), no h nulidade a ser reconhecida.

    5. Recurso no provido.

    *noticiado no Informativo 774

    RHC N. 119.149-RS

    RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI

    EMENTA: Recurso ordinrio em habeas corpus. Impetrao da qual no conheceu o Superior Tribunal de Justia, por ser ela substitutiva de

    recurso especial. Entendimento que no se coaduna com o entendimento da Corte. Precedentes. Alegao de ofensa vedao da reformatio

    in pejus e ao princpio da individualizao da pena. No ocorrncia. Recurso no provido. 1. A Corte no tem admitido a rejeio da impetrao perante o Superior Tribunal de Justia a pretexto de se cuidar de substitutivo de recurso

    especial cabvel (HC n 115.715/CE, Primeira Turma, Rel. p/ o ac. Min. Marco Aurlio, julgado em 11/6/13).

    2. No h que se cogitar da reformatio in pejus, pois o Tribunal de Justia gacho, ao negar provimento ao recurso criminal defensivo, no reconheceu, em desfavor do recorrente, circunstncia ftica no reconhecida em primeiro grau, apenas fazendo sua reclassificao dentre os

    vetores previstos no art. 59 do Cdigo Penal.

    3. Recurso no provido. *noticiado no Informativo 774

    ADI N. 4.639-GO

    RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

    EMENTA: PREVIDENCIRIO E CONSTITUCIONAL. LEI 15.150/05, DO ESTADO DE GOIS. CRIAO DE REGIME DE PREVIDNCIA ALTERNATIVO EM BENEFCIO DE CATEGORIAS DE AGENTES PBLICOS NO REMUNERADOS PELOS COFRES PBLICOS.

    INADMISSIBILIDADE. CONTRASTE COM OS MODELOS DE PREVIDNCIA PREVISTOS NOS ARTS. 40 (RPPS) E 201 (RGPS) DA CF.

    1. A Lei estadual 15.150/05 estabeleceu regime previdencirio especfico para trs classes de agentes colaboradores do Estado de Gois, a saber: (a) os delegatrios de servio notarial e registral, que tiveram seus direitos assegurados pelo art. 51 da Lei federal 8.935, de 18 de novembro de 1994; (b)

    os serventurios do foro judicial, admitidos antes da vigncia da Lei federal 8.935, de 18 de novembro de 1994; e (c) os antigos segurados facultativos

    com contribuio em dobro, filiados ao regime prprio de previdncia estadual antes da publicao da Lei 12.964, de 19 de novembro de 1996.

    2. No julgamento da ADI 3106, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 29/9/10, o Plenrio invalidou norma que autorizava Estado-membro a criar sistema

    previdencirio especial para amparar agentes pblicos no efetivos, por entender que, alm de atentatria ao contedo do art. 40, 13, da Constituio Federal, tal medida estaria alm da competncia legislativa garantida ao ente federativo pelo art. 24, XII, do texto constitucional.

    3. Presente situao anloga, irrecusvel a concluso de que, ao criar, no Estado de Gois, um modelo de previdncia extravagante destinado a beneficiar agentes no remunerados pelos cofres pblicos, cujo formato no compatvel com os fundamentos constitucionais do RPPS (art. 40), do RGPS (art. 201) e nem mesmo da previdncia complementar (art. 202) o poder legislativo local desviou-se do desenho institucional que deveria observar e, alm disso, incorreu em episdio de usurpao de competncia, atuando para alm do que lhe cabia nos termos do art. 24, XII, da CF, o

    que resulta na invalidade de todo o contedo da Lei 15.150/05. 4. Ao direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulao de efeitos, para declarar a inconstitucionalidade integral da Lei

    15.150/2005, do Estado de Gois, ressalvados os direitos dos agentes que, at a data da publicao da ata deste julgamento, j houvessem reunido os

    requisitos necessrios para obter os correspondentes benefcios de aposentadoria ou penso.

    HC N. 119.984-SP

    RELATOR: MIN. MARCO AURLIO

    EMENTA: PRISO PREVENTIVA CRIME HEDIONDO AFASTAMENTO. Se a prpria lei prev que, em caso de sentena condenatria, o juiz decidir fundamentadamente se o ru poder apelar em liberdade, foroso concluir que o enquadramento do crime como hediondo no revela, por si s, base para a priso.

    PRISO PREVENTIVA GRAVIDADE DA IMPUTAO. A gravidade da imputao, presente o princpio da no culpabilidade, no capaz de levar priso preventiva.

    PRISO PREVENTIVA DISTRITO DA CULPA ABANDONO. A interpretao sistemtica do Cdigo de Processo Penal conduz a afastar-se, como mvel para a preventiva, o fato de o acusado haver deixado o distrito da culpa.

    PRISO PREVENTIVA INSTRUO CRIMINAL TESTEMUNHAS INFLUNCIA. Mostra-se extravagante presumir que, solto, o acusado poder influenciar testemunhas, exigindo-se, para chegar-se custdia preventiva, ato concreto sob tal ngulo.

    PRISO PREVENTIVA TRIBUNAL DO JRI - PRESENA Descabe priso preventiva para assegurar a presena do acusado no Tribunal do Jri.

    ADI N. 4.641-SC

    RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI

    EMENTA: PREVIDENCIRIO E CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL QUE INCLUIU NO REGIME PRPRIO DE PREVIDNCIA

    SEGURADOS QUE NO SO SERVIDORES DE CARGOS EFETIVOS NA ADMINISTRAO PBLICA. ART. 40 DA CONSTITUIO FEDERAL. NECESSRIA VINCULAO AO REGIME GERAL DE PREVIDNCIA SOCIAL.

    1. O art. 40 da Constituio de 1988, na redao hoje vigente aps as Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03, enquadra como segurados dos Regimes

    Prprios de Previdncia Social apenas os servidores titulares de cargo efetivo na Unio, Estado, Distrito Federal ou Municpios, ou em suas respectivas autarquias e fundaes pblicas, qualidade que no aproveita aos titulares de serventias extrajudiciais.

    2. O art. 95 da Lei Complementar 412/2008, do Estado de Santa Catarina, materialmente inconstitucional, por incluir como segurados obrigatrios

    de seu RPPS os cartorrios extrajudiciais (notrios, registradores, oficiais maiores e escreventes juramentados) admitidos antes da vigncia da Lei federal 8.935/94 que, at 15/12/98 (data da promulgao da EC 20/98), no satisfaziam os pressupostos para obter benefcios previdencirios.

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 24

    3. Ao direta de inconstitucionalidade julgada procedente, com modulao de efeitos, para assegurar o direito adquirido dos segurados e dependentes

    que, at a data da publicao da ata do presente julgamento, j estivessem recebendo benefcios previdencirios juntos ao regime prprio paranaense

    ou j houvessem cumprido os requisitos necessrios para obt-los.

    HC N. 84.548-SP

    RED P/ O ACRDO: MIN. GILMAR MENDES

    EMENTA: Habeas Corpus. 2. Questo de ordem. Renovao da sustentao oral. Alterao substancial da composio do Tribunal. A alterao da

    composio do Tribunal no autoriza a renovao da sustentao oral. Maioria. 3. Priso preventiva. Garantia da ordem pblica. Ausncia de fundamentao concreta da necessidade da priso. No entendimento da maioria, a comoo popular no , por si s, suficiente para demonstrar a

    necessidade da priso. 4. Poderes de investigao do Ministrio Pblico. O Ministrio Pblico pode realizar diligncias investigatrias para

    complementar a prova produzida no inqurito policial. Maioria. 5. Rejeitada a questo de ordem por maioria. Ordem concedida, por maioria, apenas para cassar o decreto de priso preventiva.

    Acrdos Publicados: 547

    TRANSCRIES

    Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreenso mais

    aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espao trechos de decises que tenham

    despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurdica.

    Separao entre os Poderes: jurisdio constitucional e devido processo constitucional legislativo (Transcries)

    MS 33.351/DF*

    RELATOR: Ministro Luiz Fux

    MANDADO DE SEGURANA. PRESIDENTE DA REPBLICA. RELATRIO BIMESTRAL SOBRE EXECUO

    ORAMENTRIA E FINANCEIRA. EXAME DE SUA COMPATIBILIDADE COM A CONSTITUIO DA REPBLICA E DE

    LEGALIDADE. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM DE PARLAMENTAR. SEPARAO ENTRE OS PODERES E

    PREVISO CONSTITUCIONAL PARA SUAS ATUAES. DEFERNCIA DO PODER JUDICIRIO DELIBERAO DA

    MAIORIA PARLAMENTAR. MANDADO DE SEGURANA A QUE SE NEGA SEGUIMENTO.

    DECISO: Trata-se de mandado de segurana, com pedido de liminar, impetrado por **, **, **, ** e **, Deputados Federais, contra ato da Presidente

    da Repblica.

    Argumentam que esta Corte reconheceu a legitimidade do parlamentar para impetrar mandado de segurana contra ato da Mesa do Congresso Nacional que viole o devido processo constitucional legislativo.

    Narram os impetrantes que a autoridade coatora encaminhou ao Congresso Nacional o Relatrio de Avaliao das Receitas e Despesas, referente ao quinto bimestre de 2014, destinada Comisso Mista de Planos, Oramentos Pblicos e Fiscalizao do Congresso Nacional, o qual foi elaborado em flagrante violao ao direito em vigor poca do exerccio oramentrio a que se refere e da feitura do instrumento.

    Sustentam que a mensagem seria nula, pois foi elaborada sem observar o art. 3 da Lei de Diretrizes Oramentrias (Lei n 12.919/2013), que estabelece:

    Art. 3 A meta de supervit a que se refere o art. 2 pode ser reduzida em at R$ 67.000.000.000,00 (sessenta e sete bilhes de reais), relativos ao Programa de Acelerao do Crescimento - PAC, cujas programaes sero identificadas no Projeto e na Lei Oramentria de

    2014 com identificador de Resultado Primrio previsto na alnea c do inciso II do 4 do art. 7 desta Lei, e a desoneraes de tributos.

    Informam que na Exposio de Motivos Interministerial EMI n 00218/2014 MP MF, subscrita pela Ministra do Planejamento e anexada Mensagem n 398/2014, por intermdio da qual foi encaminhado o citado relatrio, consta a seguinte informao:

    12. Nesse contexto, o Poder Executivo enviou ao Congresso Nacional, por intermdio da Mensagem n 365, de 10 de novembro de 2014, Projeto de Lei que altera a LDO-2014 (PLN n 36/2014) no sentido de ampliar a possibilidade de reduo da meta de resultado

    primrio no montante dos gastos relativos s desoneraes de tributos e ao PAC. Ou seja, em caso de aprovao do referido projeto, o valor que for apurado, ao final do exerccio, relativo a desoneraes e as despesas com o PAC, poder ser utilizado para abatimento da meta fiscal.

    O presente relatrio j considera o projeto de lei em questo, indicando aumento de R$ 70,7 bilhes na projeo do abatimento da meta

    fiscal. Isso posto, o abatimento previsto, neste Relatrio, de R$ 106,0 bilhes, o que compatvel com a obteno de um resultado primrio de R$ 10,1 bilhes.

    Argumentam que estaria sendo violado o direito de fiscalizao do Poder Executivo pelo Congresso Nacional, prerrogativa veiculada nos arts.

    34, VII, d, 49, IX, e 70 da Constituio da Repblica. Ressaltam que esse direito estaria includo no estatuto constitucional da minoria parlamentar. Pugnam pela declarao de nulidade da Mensagem n 398/2014 da Presidente da Repblica, bem como pela determinao para que seja

    enviada nova mensagem de acordo com a legislao vigente poca do exerccio bimestral a que se refere.

    Requerem o deferimento de medida liminar para que seja suspensa a tramitao do PLN n 36, de 2014 at que a deciso de mrito tenha sido cumprida pela Presidente da Repblica, nos termos do art. 7, III, da Lei 12.016, de 2009.

    o relatrio. Decido.

    Preliminarmente, examino a legitimidade ativa ad causam dos impetrantes para deduzir a pretenso veiculada nesta ao mandamental.

    Na esteira da remansosa jurisprudncia desta Corte, os parlamentares possuem direito pblico subjetivo ao devido processo legislativo. Nesse

    sentido, MS 20.257, Rel. Min. Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 27/2/1981; MS 21.642, Rel. Min. Celso de Mello, RDA 191/200; MS 21.303, Rel. Min. Octavio Galloti; MS 24.356, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno, DJ 12/9/2003; e MS 24.642, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal Pleno,

    DJ 18/6/2004.

    cedio que o parlamentar, fundado na sua condio de co-partcipe do procedimento de formao das normas estatais, dispe, por tal razo, da prerrogativa irrecusvel de impugnar, em juzo, o eventual descumprimento, pela Casa legislativa, das clusulas constitucionais que lhe

    condicionam, no domnio material ou no plano formal, a atividade de positivao dos atos normativos (MS n 23.565, rel. Min. Celso de Mello, j. 10/11/1999, DJ 17.11.1999).

  • Informativo 780-STF (16/04/2015) Esquematizado por Mrcio Andr Lopes Cavalcante | 25

    Entretanto, a controvrsia versada nestes autos no se enquadra nesta hiptese excepcional de legitimidade ativa para impetrao de mandado

    de segurana.

    O artigo 49, IX, da Constituio Federal, estabelece:

    Art. 49. da competncia exclusiva do Congresso Nacional: (...)

    IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da Repblica e apreciar os relatrios sobre a execuo dos planos de

    governo;

    O artigo 70 da Carta de 1988 tambm trata da fiscalizao atribuda ao Poder Legislativo:

    Art. 70. A fiscalizao contbil, financeira, oramentria, operacional e patrimonial da Unio e das entidades da administrao direta e indireta, quanto legalidade, legitimidade, economicidade, aplicao das subvenes e renncia de receitas, ser exercida pelo

    Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

    A Constituio da Repblica ainda determina, em seu artigo 165, 1, II, que o acompanhamento e a fiscalizao oramentria caber a uma Comisso mista permanente de Senadores e Deputados.

    A questo atinge o cerne da teoria constitucional em um Estado Democrtico de Direito, na medida em que conclama que o Supremo Tribunal

    Federal se pronuncie sobre a validade jurdica de relatrios elaborados pelo Poder Executivo, que, posteriormente, so submetidos ao crivo do Poder

    Legislativo, como representao da atuao poltica exercida pelos representantes do povo. Indispensvel, por tal motivo, uma incurso, ainda que

    breve, sobre os limites da atuao do Poder Judicirio em um regime democrtico.

    Os ideais da democracia e do constitucionalismo no obstante caminhem lado a lado vez por outra revelam uma tenso latente entre si. que, de um lado, a democracia, apostando na autonomia coletiva dos cidados, preconiza a soberania popular, que tem na regra majoritria sua forma mais autntica de expresso. De outro lado, o constitucionalismo propugna pela limitao do poder atravs de sua sujeio ao direito, o que impe

    obstculos s deliberaes do povo. Como bem destacou Vital Moreira, ao afirmar que (...) por definio, toda Constituio constitui um limite da expresso e da autonomia da vontade popular. Constituio quer dizer limitao da maioria de cada momento, e, neste sentido, quanto mais Constituio, mais limitao do princpio democrtico. (...) O problema consiste em saber at que ponto que a excessiva constitucionalizao no

    se traduz em prejuzo do princpio democrtico (MOREIRA, Vital. Constituio e Democracia. In: MAUS, Antonio G. Moreira (Org.) Constituio e Democracia. So Paulo: Max Limonad, 2001, p. 272).

    Essa aparente contradio entre os valores albergados pelo Estado Democrtico de Direito impe um dever de cautela redobrado no exerccio

    da jurisdio constitucional. Com efeito, certo que os tribunais no podem asfixiar a autonomia pblica dos cidados, substituindo as escolhas

    polticas de seus representantes por preferncias pessoais de magistrados no eleitos pelo povo, como, alis, testemunhado pela histria constitucional norte-americana durante a cognominada Era Lochner (1905-1937), perodo em que a Suprema Corte daquele pas freou a implantao do Estado

    social a partir de uma exegese inflacionada da clusula aberta do devido processo legal (CHEMERINSKY, Erwin. Constitutional law: principles and

    policies. New York: Wolters Kluwer Law & Business, 2011, p. 630-645). Nesse sentido, a Constituio no pode ser vista como repositrio de todas as decises coletivas, seno apenas dos lineamentos bsicos e

    objetivos fundamentais da Repblica. Deve-se, portanto, rechaar qualquer leitura maximalista das clusulas constitucionais que acabe por

    amesquinhar o papel da poltica ordinria na vida social. esse o magistrio de Dieter Grimm:

    A Constituio estrutura a ao poltica organizando-a, guiando-a, limitando-a. Mas ela no regula a ponto de a poltica estar reduzida mera execuo de ordens constitucionais. Dentro da moldura constitucional, os rgos polticos esto livres para fazer as escolhas

    que, de acordo com seu ponto de vista, o bem comum exige. A eleio decide qual dos pontos de vista em competio o preferido pela sociedade e qual o grupo poltico deve, dessa forma, liderar as posies no Estado e executar seu programa poltico. A seu turno, as Cortes,

    especificamente as Cortes Constitucionais, so chamadas a controlar se os outros ramos de poder, ao definir, concretizar e implementar os

    objetivos polticos agiram de acordo com os princpios constitucionais e no ultrapassaram os limites constitucionais

    [Do original: The constitution structures political action by organizing, guiding and limiting it. But it does not regulate it to an extent which would reduce politics to mere execution of constitutional orders. Within the framework of the constitution the political organs are free

    to make those choices which, according to their view, the common best requires. The election decides which of the competing views is

    preferred by society and which political group may therefore fill the leading positions in the state and carry out its political program. By contrast, courts and especially constitutional courts, are called to control whether the other branches of government, in defining, concretizing

    and implementing the political goals, have acted in accordance with the constitutional principles and not transgressed the constitutional

    limits]. (GRIMM, Dieter. Constitution Adjudication and democracy. Israel Law Review, vol. 33, 1999, p. 210).

    Sem embargo, no se pode perder de mira que a Constituio representa autntica norma jurdica, dotada de fora cogente, vocacionada a

    conformar condutas e apta a ensejar consequncias pelo seu descumprimento. De h muito as Con