imposto de importação

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10 UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO DIRETORIA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS JULIANA DA SILVA SIQUEIRA O CARÁTER EXTRAFISCAL DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

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UNIVERSIDADE NOVE DE JULHO

DIRETORIA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

JULIANA DA SILVA SIQUEIRA

O CARÁTER EXTRAFISCAL DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

São Paulo2010

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JULIANA DA SILVA SIQUEIRA

O CARÁTER EXTRAFISCAL DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

Monografia submetida à Universidade Nove de Julho para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas.

Orientador: Professor Especialista Maurício Carlos Pichiliani

São Paulo2010

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JULIANA DA SILVA SIQUEIRA

O CARÁTER EXTRAFISCAL DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

Esta monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas e aprovada em sua forma final pelos professores componentes da banca de avaliação abaixo relacionados.

Banca Examinadora:

Presidente: Professor Especialista Maurício Carlos Pichiliani

Membro:

Membro:

São Paulo, 2010

Page 4: imposto de importação

13

Dedico este trabalho ao meu amado esposo XXXXXXXX, bem como à minha querida mãe YYYYYYY.

Page 5: imposto de importação

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade

e privilégio que me foi dado em compartilhar tamanha

experiência e, ao frequentar este curso, perceber e

atentar para a relevância de temas que não faziam parte,

em profundidade, da minha vida.

Ao meu orientador Maurício Carlos Pichiliani, pelas

orientações precisas em todos os momentos solicitados.

À minha amiga SSSSS pela espontaneidade e alegria na

troca de informações e materiais numa rara

demonstração de amizade e solidariedade.

Page 6: imposto de importação

15

“Disciplina é a ponte que liga nossos sonhos às nossas realizações”.

Pat Tillman

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A aprovação da presente monografia não significará o endosso do Professor Orientador, da Banca Examinadora e da Universidade Nove de Julho à ideologia que a fundamenta ou que nela é exposta.

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RESUMO

O presente trabalho apresenta a essencialidade da função extrafiscal do

imposto de importação, suas peculiares características, assim como a sua

importância protecionista das indústrias nacionais, com a intervenção do Estado no

domínio econômico do país. Aborda ainda as exceções aos princípios

constitucionais tributários, sobretudo da anterioridade e da estrita legalidade, e

conclui que tais ressalvas, inerentes ao Imposto de Importação, não configuram

desrespeito à Constituição Federal, e sim medida de salvaguarda da nação para o

alcance do bem maior.

Palavras-chave: Imposto de Importação. Essencialidade.

Extrafiscal. Peculiares Características. Intervenção do Estado. Medida de

Salvaguarda.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

1. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO 11

1.1. Breve Histórico do Imposto de Importação nas Constituições 11

1.2. Conceito de Imposto de Importação 16

1.3. Características Gerais do Imposto de Importação 17

2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO II 19

2.1. Princípio Federativo 19

2.2. Princípio Republicano 20

2.3. Princípio da Livre Iniciativa 22

3. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO II 25

3.1. Princípio da Legalidade Tributária 25

3.2. Princípio da Capacidade Contributiva 27

3.3. Princípio da Anterioridade 29

3.4. Princípio da Anterioridade Nonagesimal ou Princípio da Noventena 32

3.5. Princípio da Vedação do Confisco ou Princípio do Não Confisco 33

3.6. Princípio da Territorialidade 35

3.7. Princípio da Extraterritorialidade 36

4. ESTRUTURA DO TRIBUTO 39

4.1. Aspecto Pessoal 39

4.1.1. sujeito ativo 39

4.1.2. sujeito passivo 42

4.2. Aspecto Material 47

4.3. Aspecto Quantitativo 50

4.3.1. base de cálculo 50

4.3.2. alíquota 53

4.4. Aspecto Temporal 55

4.5. Aspecto Espacial 56

4.6. Despacho Aduaneiro 58

5. COMPETÊNCIA 61

6. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO 63

6.1. Fato Gerador 65

6.2. Lançamento 67

6.3. Isenção do Imposto de Importação 69

6.4. Imunidade do Imposto de Importação 71

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19

7. TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS APLICÁVEIS AO II 73

7.1. Noções Gerais sobre Tratados e Convenções Internacionais 73

7.2. Tratados e Convenções Internacionais que versam sobre o II 75

7.3. Integrações Regionais 76

8. A EXTRAFISCALIDADE NO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO 78

8.1. Origem Histórica da Extrafiscalidade 78

8.2. A Importância da Extrafiscalidade para o Estado 79

8.3. O Caráter Extrafiscal do Imposto de Importação 81

CONCLUSÃO 85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 86

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INTRODUÇÃO

A partir do momento em que o modelo Liberal do Estado passou a ser

Social, inúmeras atribuições passaram ao seu campo de atuação, principalmente a

sua intervenção na economia, pois é dessa forma que garante subsídios para o

desenvolvimento econômico e social do País.

O imposto de importação, com a sua função predominantemente

extrafiscal, reguladora da economia do País, é instrumento eficaz que tem como fim

a proteção da indústria nacional, é instrumento que garante que os produtos pátrios

sejam protegidos em face de seus similares estrangeiros.

Através do método sistemático de pesquisa, será abordado no presente

trabalho as características do imposto de importação e, principalmente, a primazia

de seu caráter extrafiscal, os tratados internacionais atinentes ao seu bojo, os

princípios que fundamentam a sua importância, e outros aspectos relevantes.

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1. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

Imposto de importação é um imposto incidente sobre o valor de bens e

produtos/mercadorias vindos do exterior, cuja competência fora outorgada pela

Constituição Federal à União, que deve instituí-lo, e cobrá-lo quando da sua entrada

no território nacional.

1.1. Breve Histórico do Imposto de Importação nas Constituições

Existem, na história do País, sete Constituições, sendo que, dentre elas,

encontra-se a primeira Emenda Constitucional, a qual fora promulgada pelas forças

armadas em 1969.

A primeira Constituição foi a do Império do “Brazil” outorgada em

25/03/1824, e a última e atual, a Constituição da Republica Federativa do Brasil,

promulgada em 05/10/1988.

Nas Constituições do Brasil, o imposto de importação, apesar de ser um

dos impostos mais antigos do mundo1, sendo, inclusive, verificado no Brasil desde a

sua descoberta, quando “Direitos Régios”, que nada mais era do que um imposto de

importação2, somente veio aparecer a partir da segunda Constituição, qual seja, a

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.

Promulgada em 24/02/1981, a segunda Constituição trazia em seu bojo,

mais precisamente no inciso 1º do artigo 7º, a competência para decretar o imposto

de importação, in verbis:

Art. 7º - É da competência exclusiva da União decretar:1º) imposto sobre a importação de procedência estrangeira;(...)

1 BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003. P. 212.2 __________. O histórico sobre os Tributos. www.intervox.nce.ufrj.br.

Page 13: imposto de importação

22

Da mesma forma, além da competência exclusiva para decretar o imposto

sobre a importação, competia à União fiscalizá-lo. O inciso 2º do artigo 7º, dispõe

sobre o livre comércio em território nacional mediante o pagamento antecipado do

mencionado imposto, in verbis:

Art. 7º - É da competência exclusiva da União decretar:(...)2º) direitos de entrada, saída e estadia de navios, sendo livre o comércio de cabotagem às mercadorias nacionais, bem como às estrangeiras que já tenham pago impostos de importação;

Destarte, verifica-se desde o início que o imposto de importação sempre

foi federal, todavia, era lícito a um Estado cobrar o mencionado imposto, desde que

as mercadorias fossem para consumo dentro de seu território, sendo a arrecadação

do imposto revertida aos cofres do Tesouro Federal, conforme preceitua o § 3º do

artigo 9º da Constituição em comento, in verbis:

§ 3º - Só é lícito a um Estado tributar a importação de mercadorias estrangeiras, quando destinadas ao consumo no seu território, revertendo, porém, o produto do imposto para o Tesouro federal.

Assim, na primeira Constituição com regime democrático (1891), nota-se

que o imposto de importação já aparecia como um imposto exclusivo da União, ao

qual competia decretar, fiscalizar e arrecadar o aludido imposto, dividindo esta última

atribuição, na forma da lei, com os Estados do Território Nacional.

Na terceira Constituição, qual seja, a Constituição da República dos

Estados Unidos do Brasil, promulgada em 16/07/1934, a competência para decretar

e fiscalizar o imposto de importação era privativo da União, todavia, já não mais

havia a disposição prevista no § 3º da Constituição anterior, isto é, a possibilidade de

um Estado arrecadar o aludido imposto e reverter o seu produto aos cofres do

Tesouro Federal. Assim sendo, referida competência para decretar o imposto de

importação, encontrava-se disposta no artigo 6º, inciso I, alínea “a”, assim como

para fiscalizar, no inciso II do aludido artigo, in verbis:

Art. 6º - Compete, também, privativamente à União: I - decretar impostos:

Page 14: imposto de importação

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sobre a importação de mercadorias de procedência estrangeira;(...) II - cobrar taxas telegráficas, postais e de outros serviços federais; de entrada, saída e estadia de navios e aeronaves, sendo livre o comércio de cabotagem às mercadorias nacionais, e às estrangeiras que já tenham pago imposto de importação.

Nota-se que desta feita, ao invés da Constituição em comento utilizar o

termo “exclusiva” (usado pela Constituição anterior), emprega o termo

“privativamente”, o que em nada interferiu na competência da União para decretar e

fiscalizar o imposto de importação.

Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil, quarta Constituição

decretada em 10/11/1937, as disposições atinentes ao imposto de importação

permaneceram da mesma forma que na Constituição anterior (1934).

Já na quinta Constituição, a Constituição dos Estados Unidos do Brasil,

promulgada em 18/09/1946, mencionava-se no artigo 15, inciso I, que a

competência para decretar o imposto sobre a importação de mercadorias de

procedência estrangeira era da União, incluindo nesta competência, conforme

disposição do inciso III do aludido artigo, a importação de lubrificantes e de

combustíveis líquidos ou gasosos de qualquer origem ou natureza, in verbis:

Art. 15 - Compete à União decretar impostos sobre:I - importação de mercadorias de procedência estrangeira;(...) III - produção, comércio, distribuição e consumo, e bem assim importação e exportação de lubrificantes e de combustíveis líquidos ou gasosos de qualquer origem ou natureza, estendendo-se esse regime, no que for aplicável, aos minerais do País e à energia elétrica;

Verifica-se que esta Constituição (1946) não emprega os termos

“exclusiva” e “privativamente”, utilizada, respectivamente, nas Constituições de 1981

e 1934 (também na de 1937), todavia, o imposto federal continua sendo de

competência exclusiva da União, porquanto nenhuma outra disposição fora prevista.

Quanto a sexta Constituição, a Constituição da República Federativa do

Brasil, decretada e promulgada em 24/01/1967, a competência para decretar o

imposto de importação (artigo 22, inciso I), da mesma forma que nas demais

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Constituições, era da União, todavia, inclui-se nesta Carta, os seguintes incisos

atinentes ao imposto em comento:

Art. 22 - Compete à União decretar impostos sobre:(...)VIII - produção, importação, circulação, distribuição ou consumo de lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos; IX - produção, importação, distribuição ou consumo de energia elétrica;(...)

Assim, também compete a União a decretação de imposto sobre a

importação de lubrificantes e combustíveis líquidos e gasosos, assim como sobre a

importação de energia elétrica.

Ainda na Constituição em escólio, mais precisamente no § 2º do artigo 22,

surgiu uma inovação, a qual dispõe sobre a faculdade outorgada ao Poder

Executivo, observadas as limitações impostas pela lei, de alterar as alíquotas ou as

bases de cálculo, inclusive do imposto de importação, tendo como escopo a

adequação de diversos setores da economia, in verbis:

§ 2º - É facultado ao Poder Executivo, nas condições e limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo dos impostos a que se referem os n.ºs I, II e VI, a fim de ajustá-los aos objetivos da política Cambial e de comércio exterior, ou de política monetária.

Nota-se, portanto, maior preocupação por parte do Estado em intervir no

domínio econômico do país, o que de todo se justifica, tendo em vista o surgimento,

nesses meados, de blocos econômicos, os quais surgem fortemente armados para

enfrentar e invadir os mercados internacionais.

Enfim, chega-se a sétima e atual Carta, qual seja, a Constituição da

República Federativa do Brasil, promulgada em 05/10/1988. Na aludida Carta, o

instituto da importação, assim como a cobrança de seu imposto, se apresenta de

forma mais ampla. Assim, do mesmo modo que as demais Constituições, a atual

dispõe sobre a competência para, desta feita usando do termo “instituir”, o imposto

de importação, que é da União.

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Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I - importação de produtos estrangeiros;(...)

Verifica-se, portanto, que a União, desde a Constituição de 1891, tem a

competência sobre o aludido imposto, tanto para “decretá-lo” “instituí-lo”, como para

cobrá-lo, fiscalizá-lo. Nessa acepção, Hugo de Brito Machado preceitua:

O imposto de importação... é da competência da União Federal, e assim se justifica que seja porque, em se tratando de imposto com implicações no relacionamento do País com o exterior, seu trato deve caber na verdade à União, responsável por esse relacionamento, que há de ser uniforme, pois no âmbito internacional não se deve projetar a personalidade jurídica dos Estados-membros, mas a própria Federação como um todo.3

Assim sendo, conforme os preceitos do citado autor, a competência

outorgada pelas Constituições à União, para que referido ente institua o imposto de

importação, se justifica, porquanto é ela que representa o Estado Brasileiro como um

todo.

Ressalta-se ainda que, conforme já mencionado acima, o instituto da

importação, assim como a cobrança de seu imposto, se apresenta de forma ampla

na atual Carta. Desta forma, podem-se citar como exemplos as disposições que

tratam das alíquotas, tanto a específica quanto a ad valorem (artigo 149, § 2º, inciso

III, alíneas “a” e “b”); as disposições que tratam das contribuições federais incidentes

no imposto de importação, em face da intervenção no domínio econômico,

caracterizando-se função extrafiscal (artigo 149, § 2º, inciso II); as disposições que

versam sobre a Zona Franca de Manaus (artigo 40 dos Atos das Disposições

Constitucionais Transitórias - ADCT); entre outras mais disposições previstas na

atual Constituição de 1988. Todavia, em face do objetivo finalístico do presente

trabalho, algumas disposições constantes da atual Carta serão abordadas de forma

mais dilatada, outras nem tanto, e algumas, não chegaram a ser mencionadas.

Assim sendo, ante a exposição do histórico Constitucional do imposto de

importação, verifica-se que somente na Carta de 1988 sua importância foi abordada

de forma mais expandida, pois, mudanças que ocorrem a cada dia, alteram a

3 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 28ª Ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2007. P. 324.

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26

natureza dos eventos sociais e econômicos, universalmente, precisando que as leis

antevejam determinados acontecimentos, a fim de preservar a própria Nação.

1.2. Conceito de Imposto de Importação

Imposto de importação, também conhecido, como tarifa aduaneira,

direitos de importação, tarifa das alfândegas, direitos aduaneiros, é um imposto

incidente sobre o valor de bens e produtos/mercadorias provindos do exterior, cuja

competência fora outorgada pela Constituição Federal à União, que deve instituí-lo,

e cobrá-lo quando da sua entrada no território aduaneiro.

Destaca-se que a função do imposto de importação é fundamentalmente

extrafiscal, isto é, visa muito mais a regulamentação do comércio exterior, com o

escopo de proteção da indústria nacional, do que mero instrumento de arrecadação

em pecúnia aos cofres do tesouro.

É no artigo 153, inciso I, que a Magna Carta outorga à União a

competência para instituir o imposto de importação, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I – importação de produtos estrangeiros;(...)

Já no Código Tributário Nacional, é no artigo 19 a disposição sobre a

competência para instituir o imposto sobre a importação de produtos estrangeiros e

sobre a ocorrência do fato gerador, in verbis:

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.

Logo o Decreto-Lei nº 37/66, o qual dispõe sobre o imposto de

importação, reorganiza os serviços aduaneiros e dá outras providências, traz em seu

artigo 1º que o imposto de importação incide sobre mercadoria estrangeira, tendo

como fato gerador a sua entrada em território nacional, in verbis:

Page 18: imposto de importação

27

Art. 1º - O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.

Verifica-se que nenhum dos artigos traz um conceito amplo do imposto de

importação, todavia, é importante esclarecer que o conceito acima transcrito se faz

muito de forma geral, pois há diversos elementos e situações concernentes ao

aludido imposto que alteram seu conceito profundamente, deixando-o mais

complexo. Dessa forma, pode-se citar “sua entrada no território aduaneiro”

(expressão que confunde dois critérios, quais sejam, o espacial e o temporal), ou

ainda “cuja competência fora outorgada pela Constituição Federal à União, que deve

instituí-lo, e cobrá-lo” (há hipóteses de isenção). Destarte, o imposto de importação,

suas características e, principalmente, a sua função será mais bem aprofundada no

transcorrer do presente trabalho.

1.3. Características Gerais do Imposto de Importação

O imposto de importação, que consiste no pagamento pecuniário pelo

contribuinte, o qual importa bens ou produtos/mercadorias do estrangeiro, é

instituído e cobrado pela União porquanto lhe é outorgado pela Constituição Federal

no inciso I do artigo 153, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I – importação de produtos estrangeiros;(...)

O imposto de importação possui função predominantemente extrafiscal,

ou seja, aludido imposto tem função de regular a economia e proteger a indústria

nacional. Por isso, suas alíquotas podem ser alteradas por decreto do Executivo,

observados os limites fixados em lei, assim como os tratados internacionais dos

quais o Brasil seja signatário.

Page 19: imposto de importação

28

Em razão de sua peculiar função, a qual é muito importante para

desenvolvimento do nosso país, o imposto de importação é exceção de diversos

princípios constitucionais e tributários, como por exemplo, princípio da legalidade

(nos termos fixados em lei), princípio da capacidade contributiva, princípio da

anterioridade, princípio da noventena, entre outros.

No estudo do imposto de importação verificam-se diversos institutos

próprios da matéria alfandegária, como por exemplo, o dumping, que, segundo

Ricardo Cunha Chimenti, consiste:

Na união de exportadores (e muitas vezes dos exportadores e seus respectivos governos) para introduzirem, no exterior, determinados produtos, por preços inferiores aos de mercado no país de origem, ou mesmo abaixo de seu preço de custo, com o intuito de aniquilar a concorrência no país de destino.4

Ainda, pode-se citar-se como exemplo o drawback, este, por sua vez,

versa sobre elemento de proteção da indústria nacional, pelo qual o produtor, por

ocasião da exportação do produto finalizado, é compensado do imposto incidente

sobre a importação de insumos de procedência estrangeira.

Verificam-se ainda no estudo peculiar do imposto de importação, institutos

como: Integrações regionais (zonas preferenciais; Zonas de livre comércio; União

aduaneira), A Zona Franca de Manaus, Tratados Internacionais (Convenção de

Viena; GATT; MERCOSUL; entre outros), os quais serão mais bem ponderados no

decorrer do presente trabalho.

Deste modo, no transcorrer do hodierno estudo, as aludidas

características, assim como outras, como, por exemplo, a base de cálculo, as

alíquotas, a regra matriz do imposto de importação, serão melhores analisadas.

4 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Direito Tributário. 12ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008. p. 174.

Page 20: imposto de importação

29

2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

2.1. Princípio Federativo

Federação é uma forma de Estado adotada pelo Brasil, onde a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios convivem harmonicamente. O princípio

federativo é fundamentado pelo artigo 1º da Constituição Federal, in verbis:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)

Pelo principio federativo, a União e os Estados-membros ocupam

juridicamente o mesmo nível hierárquico. A diferença que há ente ambos está nas

competências delegadas pela Carta Magna. A junção dos Estados-membros forma a

União, a União conjugada com os Estados-membros constitui o Estado Brasileiro.

Desta forma, tanto os Estados-membros quanto a União podem instituir e

exigir tributos no âmbito de suas competências.

Visando a proteção do pacto federativo, o artigo 151 do CF veda à União,

como ente que tributa em todo território, a utilização do seu poder para submeter os

demais entes à sua vontade, in verbis:

Art. 151. É vedado à União:I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre as diferentes regiões do País;II - tributar a renda das obrigações da dívida pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como a remuneração e os proventos dos respectivos agentes públicos, em níveis superiores aos que fixar para suas obrigações e para seus agentes;III - instituir isenções de tributos da competência dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios.

Destarte, dentro de sua competência tributária, a União deve instituir

Page 21: imposto de importação

30

tributo que seja uniforme a todos os Estados-membros.

Entretanto, com o objetivo de promover o equilíbrio sócio-econômico entre

as diferentes regiões do País, fica admitida a concessão de incentivos fiscais (como

por exemplo a Zona Franca de Manaus), conforme dispõe o artigo 3º da Magna

Carta, que menciona a redução das desigualdades sociais e regionais, como um dos

objetivos da República Federativa do Brasil.

2.2. Princípio Republicano

O princípio republicano encontra-se fundamentado no artigo 1º da

Constituição Federal. De forma objetiva, o aludido princípio apresenta o Brasil como

uma republica federativa, formada pela união indissolúvel de seus Estados,

Municípios e Distrito Federal, constituindo, pois, um Estado Democrático de Direito.

A soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores

sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político, são fundamentos que

caracterizam o Brasil como um país democrático.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:I - a soberania;II - a cidadania;III - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo político.Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

A res publica (coisa do povo) é de todos para todos. Logo, todo o poder

emana do povo, que o exerce através de representantes eleitos ou diretamente.

Nesse sentido, Roque Antonio Carrazza conceitua:

República é o tipo de governo, fundado na igualdade formal das pessoas, em que os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo, representativo (de regra), transitório e com responsabilidade.5

5 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 23ª Ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2007. p. 58.

Page 22: imposto de importação

31

Destarte, numa República os governantes são meros gestores do poder,

pois o exercem porque o povo os elegeram.

O inciso I do artigo 1º da CF, apresenta o Brasil como um Estado

Soberano. Significa dizer que o poder supremo é exercido pelo Estado, sendo que

suas normas e decisões prevalecem sobre as normas individuais e, num plano

internacional, é soberana como qualquer outra Nação. Nesse plano, Hugo de Brito

Machado preceitua:

(...) o Estado é entidade soberana. No plano internacional representa a nação em suas relações com as outras nações. No plano interno tem o poder de governar todos os indivíduos que se encontrem no seu território. Caracteriza-se a soberania como a vontade superior às vontades individuais, com um poder que não reconhece superior.6

Assim sendo, ante o poder supremo que o Estado (Soberano) tem dentro

de seu território, pode ele exigir tributos. Todavia, essa exigência não poderá ser

discricionária, antes, deve a Constituição Federal autorizar sua cobrança. Assim,

Ruy Barbosa Nogueira prescreve:

O poder tributário é uma das expressões de manifestação do poder de império do Estado, da sua força ou potestade para exigir tributos, mas, no Estado constitucional moderno, esse poder não é livre ou arbitrário, só pode atuar por meio do Direito, dentro do campo e limitações deste.7

É importante destacar que o Soberano exige tributos com o escopo de

arrecadar recursos necessários a fim de conservar o compromisso pactuado junto

aos governados, quais sejam, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, e

outros sinônimos da Democracia. Destarte, visando os aludidos objetivos, o Estado

institui e exige tributos, os quais devem ser autorizados pela Magna Carta.

Desta forma, pode-se concluir que os tributos extrafiscais, como por

exemplo, o imposto de importação (objeto do presente trabalho), são medidas que o

Estado adota visando o bem comum, através de valores como a segurança e o

desenvolvimento nacional, o que denota o comprometimento do Soberano com a

República.

6 MACHADO, op. cit., p. 115.7 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Saraiva, 1989. p. 123.

Page 23: imposto de importação

32

2.3. Princípio da Livre Iniciativa

O princípio da livre iniciativa encontra seus fundamentos normativos no

artigo 1º, inciso IV, da Constituição Federal, assim como, de forma direta, como

fundamento da ordem econômica, no caput do artigo 170 da mesma Carta, in verbis:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:(...)IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

......................................

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios (...)

Tal princípio é de suma importância, pois se trata de um dos fundamentos

da Republica Federativa do Brasil, como um Estado Democrático de Direito,

garantido a todos o livre desenvolvimento mercantil de qualquer atividade lícita. Não

obstante, a livre iniciativa é um dos componentes que regem a ordem econômica

nacional, tendo como finalidade assegurar a todos uma existência digna, conforme

os ditames da justiça social.

O princípio da livre iniciativa é reconhecido pelas diversas ramificações do

Direito, pois se trata de princípio constitucional, isto é, normas que fundamentam

todas as demais normas do nosso ordenamento jurídico.

Outra disposição que se aplica ao princípio da livre iniciativa é a do caput

do artigo 173 da Magna Carta, estabelecendo que a intervenção do Estado na

atividade econômica somente será tolerada quando imprescindível à segurança

nacional ou a relevante interesse coletivo, in verbis:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando

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33

necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

No mais, como agente normativo e regulador da atividade econômica, o

Estado exercerá as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo seu

desempenho determinante para o setor público e indicativo para o setor privado,

conforme dispõe o caput do artigo 174 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 174. Como agente normativo e regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento, sendo este determinante para o setor público e indicativo para o setor privado.

Nesse sentido, é importante destacar que existem diversas formas

(catalogadas pela doutrina) de intervenção do Estado na economia. A própria

Constituição observa duas formas principais de intervenção do Estado, quais sejam,

intervenção direta e intervenção indireta, esta, prevista no artigo 174 da CF, aquela,

prevista nos artigos 173 e 175 da mesma Carta. Todavia, imprescindível é tratar da

forma de intervenção que se aplica aos objetivos do presente trabalho, isto é, a

intervenção estatal no domínio econômico por meio do imposto de importação,

demonstrando que não há desrespeito ao princípio da livre iniciativa, mas sim,

evidenciando um caráter extrafiscal, ou seja, demonstrando um caráter regulador. A

referida forma de intervenção é a indireta.

Assim, como qualquer outro princípio examinado neste trabalho, a livre

iniciativa não pode ser considerada irrestrita, uma vez que há exceções que a

própria ordem econômica, prevista em lei, impõe sobre ela, como por exemplo, o

imposto de importação.

Assim sendo, nos termos da lei, o Estado pode intervir no domínio

econômico através do manejo das alíquotas do imposto de importação, com o

desígnio de incentivar ou tornar inviável o comércio exterior, configurando, desta

forma, poderoso instrumento intervencionista.

Page 25: imposto de importação

34

Portanto, não há em que se falar em desrespeito ao princípio da livre

iniciativa, eis que, a majoração do imposto de importação, por ato do Poder

Executivo, se dá nos termos da lei. Nessa acepção, a jurisprudência abaixo

transcrita demonstra, de forma contundente, a abordagem do presente tema.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ECONÔMICO. INTERVENÇÃO ESTATAL NA ECONOMIA: REGULAMENTAÇÃO E REGULAÇÃO DE SETORES ECONÔMICOS: NORMAS DE INTERVENÇÃO. LIBERDADE DE INICIATIVA. CF, art. 1º, IV; art. 170. CF, art. 37, § 6º.

A jurisprudência acima descrita, diz respeito aos embargos de declaração

interpostos pela Apelante “X”, a qual alega omissão quanto ao julgamento de sua

afirmação sobre o desrespeito ao princípio da livre iniciativa por ato de alteração da

alíquota do imposto de importação pelo Estado.

Sanando a omissão, o Relator, Juiz Federal Dr. José Antonio Lisboa

Neiva, decide:

O aumento de tributo, de per si, não significa violação ao princípio da livre iniciativa... Não impede ou viola o negócio jurídico em sua essência. A circunstância de existir um aumento de imposto não poderia servir, pura e simplesmente, como argumento de que haveria afronta ao exercício da atividade econômica. Vale observar que o direito tributário encontra-se vinculado ao momento do fato gerador, definido em lei, para delimitação do quantum da exação e não ao momento da concretização do negócio jurídico.8

Deste modo, fica claro que o caráter extrafiscal do imposto de importação

não fere o princípio da livre iniciativa, uma vez que aludido caráter visa o bem do

mercado interno, da sociedade e do próprio Estado Brasileiro.

3. PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO8 BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região.. Embargos de Declaração. Imposto de Importação. Aumento de Alíquota. Fato Gerador. Embargos de Declaração na AC nª 96.02.36587-0/RJ. Apelante Aço Inoxidável Artex S/A e Apelado União Federal. Relator Juiz Federal José Antonio Neiva. Julgado em 26/02/2003.

Page 26: imposto de importação

35

3.1. Princípio da Legalidade Tributária

O fundamento em que se baseia o princípio da legalidade tributária

encontra-se no artigo 150, inciso I, da Constituição Federal, cujo conteúdo trata-se

da vedação aos entes políticos de instituir ou majorar tributos senão por meio de lei,

in verbis:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;

O Princípio da Legalidade, portanto, traz a garantia de que aos entes

políticos estão vedados os atos discricionários, sendo-lhes limitado o poder de

tributar. Nesse sentido, Luciano Amaro, preceitua:

Proclama ser vedado exigir ou aumentar tributo sem que a lei o estabeleça. O princípio é informado pelos ideais de justiça e de segurança jurídica, valores que poderiam ser solapados se à administração pública fosse permitido, livremente, decidir quando, como e de quem cobrar tributos.9

O princípio da legalidade tributária é pressuposto fundamental para a

imposição, modificação e majoração de um tributo, tendo como escopo a segurança

jurídica, conforme as disposições legais contidas no artigo 97 do Código Tributário

Nacional, in verbis:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;(...)§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso.§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

Destarte, é imprescindível a vinculação dos atos administrativos à

previsão legal, pois o princípio da legalidade tributária é garantia fundamental que

garante aos contribuintes a segurança jurídica.

9 AMARO. Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 13ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1997. p. 111.

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36

Todavia, o imposto de importação, assim como outros previstos no rol do

§ 1º do artigo 150 da Constituição Federal, revela exceção à regra do princípio da

reserva legal, possibilitando a alteração de suas alíquotas por mero ato do poder

executivo, conforme previsão do § 2º do Artigo 62 da Constituição Federal, in verbis:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

(...)

§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.

O motivo pelo qual existe tal flexibilidade facultada ao Poder Executivo, é

a extrafiscalidade, cuja principal função não é arrecadar fundos para o Estado, e sim

interferir, por razões atinentes aos interesses públicos e coletivos de um

determinado momento, no domínio econômico do país.

Portanto, apesar de haver a flexibilidade nas alterações de alíquotas, não

há em que se falar em atuação discricionária da autoridade administrativa, eis que,

imprescindível a subordinação das referidas autoridades ao cumprimento e

condições da lei, não havendo em que se falar, portando, em insegurança jurídica.

Nesse sentido, preceitua Luciano Amaro:

(...) não pode a administração fixar caso a caso (discricionariamente), a alíquota aplicável; deve o poder executivo definir, em lei material (ato do Executivo), as alíquotas que serão aplicadas para a medida do tributo, nas situações concretas que vierem a realizar-se sob a vigência desta norma (respeitados, quando for o caso, os limites e condições previamente definidos na lei formal)10

Na mesma linha de análise, Roque Antonio Carrazza dispõe:

(...) o Texto Magno permite, no caso, que a lei delegue ao Poder Executivo a faculdade de fazer variar, observadas determinadas condições e dentro dos limites que ela estabelecer, as alíquotas (não as bases de cálculo) dos

10 AMARO, op. Cit., p. 117.

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mencionados impostos (Imposto de Importação e outros) (...). Na verdade, o Executivo (representado pelo Presidente da República, nos termos do artigo 76 da CF) não cria as alíquotas destes impostos, mas, simplesmente, as altera, dentro dos lides prefixados pelo legislador.11

Assim sendo, as alterações das alíquotas pelo Executivo devem ser

realizadas dentro dos limites permitidos em lei, tendo como principal desígnio, a

proteção dos produtos nacionais em face dos produtos estrangeiros.

3.2. Princípio da Capacidade Contributiva

O princípio da capacidade contributiva é revelado pelo artigo 145 § 1º da

CF. Tal princípio diz respeito a cobrança de determinado tributo de acordo com a

capacidade econômica de cada pessoa, ou seja, de acordo com o patrimônio, renda

e atividades econômicas que possuir o contribuinte, isto é, “quem ganha mais, paga

mais, quem ganha menos, paga menos”.

§ 1º - Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

Desta forma, o aludido princípio denota uma forma de justiça distributiva,

pois a cobrança do tributo é feita de acordo com a capacidade econômica de cada

sujeito. Nessa acepção Luciano Amaro preceitua:

O princípio da capacidade contributiva inspira-se na ordem natural das coisas: onde não houver riqueza é inútil instituir imposto, do mesmo modo que em terra seca não adianta abrir poço à busca de água. Porém, na formulação jurídica do princípio, não se quer apenas preservar a eficácia da lei de incidência... além disso, quer-se preservar o contribuinte, buscando evitar que uma tributação excessiva... comprometa os seus meios de subsistência, ou o livre exercício de sua profissão... ou o exercício de outros direitos fundamentais, já que tudo isso relativiza sua capacidade econômica.12

11 CARRAZZA, op. Cit., p. 295-296.12 AMARO, op. cit., p. 138.

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38

É importante destacar que o princípio da capacidade contributiva está

atrelado ao princípio da igualdade tributária, o qual estabeleceu-se em decorrência

do princípio da igualdade constitucional. Significa dizer que, para se estabelecer

uma igualdade tributária, é necessário, por primeiro, observar a igualdade

constitucional, estabelecendo que o tratamento será igual aos iguais e desigual aos

desiguais, na medida de suas desigualdades. Desta forma, tem-se que o princípio

da igualdade tributária explicita que a uniformidade do tratamento deve ser

observada entre aqueles que têm situação equivalente. Assim prevê o artigo 150, II,

da CF, in verbis:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;

Assim, alguns tributos são cobrados de acordo com a capacidade

econômica de cada contribuinte. Um exemplo é o Imposto de Renda, o qual existe a

alteração de alíquotas de acordo com os rendimentos de um sujeito, caracterizando

a progressividade da referida alíquota. Destarte, o princípio da capacidade

contributiva também esta atrelado ao princípio da progressividade, sendo este, uma

extensão daquele.

É mister anunciar que a expressão contida no § 1º do artigo 145 da CF,

qual seja, “sempre que possível”, demonstra que o princípio da capacidade

contributiva comporta exceções. Significa dizer que dependendo das características

de cada imposto ou de sua finalidade, que pode ser extrafiscal, esse princípio

deixará de ser observado. É o que acontece com o imposto de importação, que é

cobrado independentemente da capacidade econômica do sujeito.

Um caso hipotético serve para exemplificar a questão. Imagine que dois

indivíduos, sendo um pobre e um rico, importem uma determinada mercadoria no

valor de R$ 1.000,00. Imagine que essa mercadoria ao tempo da importação tenha

sua alíquota majorada em 200% em face de medidas que objetivam a proteção do

Page 30: imposto de importação

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mercado nacional naquele momento. O pagamento do imposto não será menor para

o pobre e nem maior para o rico. Os dois indivíduos contribuirão com o mesmo valor,

isto é, o pagamento do imposto de importação independe da capacidade contributiva

que possui cada um.

É que o imposto de importação não tem função meramente arrecadatória,

tendo, pois, função regulatória, ou seja, o II é um eficaz instrumento para o Estado

administrar o comércio exterior de modo a proteger o mercado interno nacional. A

respeito de tais colocações, Ruy Barbosa Nogueira ensina:

O imposto direto tem a virtude de poder graduar diretamente a soma devida por um contribuinte, de conformidade com sua capacidade contributiva. Exemplo típico de imposto direto é o imposto sobre a renda pessoal. O imposto indireto, diferentemente, liga o ônus tributário a um evento jurídico ou material e não dispõe de um parâmetro direto para apurar a capacidade econômica do contribuinte (...) a personalização ou adequação pessoal da carga tributária em cada caso específico não se pode obter por meio do imposto indireto (...) para facilitar a compreensão (...) são impostos indiretos, entre outro (...) o imposto de importação.13

Destarte, devido a sua função predominantemente regulatória, o imposto

de importação configura exceção ao princípio da capacidade contributiva, não

importando a este peculiar imposto, qual seja a capacidade econômica do

contribuinte.

3.3. Princípio da Anterioridade

O princípio da anterioridade tem seu fundamento explícito no artigo 150,

inciso III, alínea “b”, da Constituição Federal de 1988, cujo dispositivo veda aos

entes políticos cobrar tributos no mesmo exercício financeiro em que haja sido

publicada a lei que os instituiu ou aumentou, nestes termos:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)III - cobrar tributos:(...)b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;

13 NOGUEIRA, op. cit., p. 163.

Page 31: imposto de importação

40

Destaca-se que a expressão “exercício financeiro” contida na alínea “b”

do referido artigo, refere-se ao período de tempo de aprovação de receita e despesa

pública pela lei orçamentária, conforme preleciona Luciano Amaro:

Exercício financeiro é o período de tempo para o qual a lei orçamentária aprova a receita e a despesa pública. Em regra, os orçamentos são anuais. Em nosso país, o exercício financeiro coincide com o ano civil, indo, pois, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de cada ano (...).14

O princípio da anterioridade aborda questões importantes que versam

sobre garantias fundamentais do contribuinte, isto é, a garantia do tributado não ter

que despender quantia para pagamento de tributo no mesmo exercício financeiro em

que houver sido publicada lei que instituir ou aumentar tributo. Nessa acepção,

Ricardo Alexandre preceitua:

(...) a idéia fundamental do princípio da anterioridade é proteger o contribuinte contra a imediata aplicação de normas que aumentem a carga tributária a que ele já esta sujeito (...)15

Todavia, é importante enfatizar que o princípio da anterioridade comporta

exceções, isto é, alguns tributos escapam à aplicação do aludido princípio. O

imposto de importação é um deles, conforme dispõe o artigo 150, inciso III, alínea

“b” e § 1º cumulado com o artigo 153, inciso I, in verbis:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)III - cobrar tributos:(...)b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou;§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos artigos (...), 153, I (...) ............................

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I - importação de produtos estrangeiros;

14 AMARO, op. cit., p. 121.15 ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 3ª Ed. São Paulo: Editora Método, 2009. p. 131.

Page 32: imposto de importação

41

(...)

Perante o seu caráter extrafiscal, ou seja, por atender a objetivos

essenciais que regulam a economia interna, o imposto de importação escapa à

aplicação do princípio da anterioridade. Desta forma, Luciano Amaro ensina:

(...) o imposto de importação, o imposto (...) (além de comportarem exceção ao princípio da estrita reserva legal, no sentido de poderem ter suas alíquotas alteradas por ato do Poder Executivo, dentro de limites e condições definidas em lei) não se submetem ao principio da anterioridade, e, portanto, podem ser aplicados no próprio exercício financeiro em que seja editada a lei que os tenha criado ou aumentado (ou em que tenha sido publicado o ato do Poder Executivo que haja majorado a alíquota).16

Nota-se, portanto, que o imposto de importação e sua função extrafiscal é

importante mecanismo de intervenção no domínio econômico. Nesse sentido, para

maior entendimento, Ricardo Alexandre exemplifica:

(...) quando o Estado quer proteger determinado setor da indústria nacional, para dar-lhes fôlego na concorrência contra produtos estrangeiros, uma das medidas mais adequadas é a majoração das alíquotas do imposto de importação incidentes sobre os bens e insumos produzidos pelo setor. A iniciativa estatal poderia ser praticamente inócua se fosse necessária a obediência de prazo para que a nova alíquota passasse a ser aplicada concretamente às importações. Sendo sensível a esta necessidade, o legislador constituinte, além de excluir parcialmente os impostos reguladores do princípio da legalidade quanto às alterações de alíquotas, também os excetuou da anterioridade.17

Assim sendo, denota-se que as peculiaridades do imposto de importação

visam o bem comum, por isso, sua finalidade, não é meramente arrecadatória, mas

regulatória.

3.4. Princípio da Anterioridade Nonagesimal ou Princípio da Noventena

Com o advento da emenda constitucional nº 42, publicada em 19/12/2003,

foi inserida ao item III do artigo 150 da CF, a alínea “c”, a qual dispõe sobre a

16 AMARO, op. cit., p. 125.17 ALEXANDRE, op. cit., p. 132.

Page 33: imposto de importação

42

vedação de cobrança do tributo antes de decorridos noventa dias da data de

publicação da lei que o instituiu ou o aumentou, nestes termos:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)III - cobrar tributos:(...)c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;

Da mesma forma que o princípio da anterioridade, o princípio da

noventena constitui garantia ao contribuinte de não ser tributado antes de decorridos

noventa dias da data em que haja sido publicada lei que instituir ou aumentar tributo.

Nesse sentido, preceitua Hugo de Brito Machado:

A EC nº 42, de 19.12.2.003, que acrescentou a alínea “c” ao inciso III do artigo 150, vedando a cobrança de tributos antes de decorridos noventa 90 dias (...). Agora, portanto, para que o tributo seja cobrado a partir de 1º de janeiro já não basta que a lei seja publicada até o último dia do exercício anterior (...) Para que o tributo seja devido a partir de 1º de janeiro, a lei que criou ou aumentou deve ser publicada pelo menos 90 dias antes (...).18

Destarte, em regra, os tributos deverão obedecer ao interstício do tempo

que a lei prescreve para dar início à cobrança do tributo.

Todavia, é importante destacar que da mesma forma que o princípio da

anterioridade, o princípio da noventena admite exceções, sendo o imposto de

importação uma delas, conforme disposição do artigo 150, inciso III, alínea “c”

(transcrito acima), § 1º, cumulado com o artigo 153, inciso I (transcrito no item 3.1.2),

ambos da Constituição Federal, in verbis:

§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos Arts. (...) 153, I, (....)

Assim, conforme já enfatizado no item 3.1.2 (princípio da anterioridade), o

imposto de importação tem caráter extrafiscal, sendo, pois, instrumento regulatório

que tem como principal escopo a proteção da indústria nacional.

18 MACHADO, op. cit., p. 65.

Page 34: imposto de importação

43

3.5. Princípio da Vedação do Confisco ou Princípio do Não Confisco

O Princípio da Vedação do Confisco tem seu fundamento no artigo 150,

inciso IV, da Carta Magna, cuja disposição diz respeito sobre a vedação que existe

aos entes políticos, de utilizarem o tributo com efeito de confisco.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

Significa dizer a que o tributo não pode ser excessivamente oneroso a

ponto de consumir parte significativa da propriedade ou inviabilizar o exercício da

atividade lícita, deve existir uma razoabilidade na exigência do tributo. Nesse

sentido, Ricardo Alexandre preleciona:

O princípio da vedação ao confisco também poderia ser denominado de princípio da razoabilidade ou proporcionalidade da carga tributária. A idéia subjacente é que o legislador, ao se utilizar do poder de tributar que a Constituição lhe confere, deve fazê-lo de forma razoável e moderada, sem que a tributação tenha por efeito impedir o exercício de atividades lícitas pelo contribuinte, dificultar o suprimento de suas necessidades vitais básicas ou comprometer seu direito a uma existência digna.19

Assim, o fundamento basilar deste princípio é a proteção da propriedade,

cuja garantia é constitucional (artigo 5º, inciso XXII, CF).

Todavia, é mister destacar, até mesmo por ser objeto do presente

trabalho, que nos tributos extrafiscais não são observadas as imposições do

princípio da vedação do confisco. Deste modo, Eduardo de Moraes Sabbag dispõe:

19 ALEXANDRE, op. cit., p. 140.

Page 35: imposto de importação

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(...) o princípio da vedação do confisco não se aplica aos tributos extrafiscais ('lista do pague do já'), que, conforme a emergência da situação posta, poderão conter alíquotas exageradamente gravosas em abono ao princípio do privilégio da regulação da economia.20

Assim, o imposto de importação, que tem a função regulatória da

economia, com a intervenção do Estado no domínio econômico do país, não está

sujeito ao princípio da vedação do confisco. Nesse sentido, Hugo de Brito Machado

preceitua:

(...) alguns impostos são utilizados como função extrafiscal, isto é, como instrumentos para a intervenção do Estado na atividade econômica, e, em muitas situações, devem ser manejados com rapidez, para que possam produzir a intervenção necessária. (...).21

Destaca-se que a principal função do imposto de importação é a de

proteger a indústria nacional, porquanto é ela que subsidia o desenvolvimento do

país. Destarte, em face da segurança do bem comum, no âmbito do imposto de

importação, se necessário for, o principio da vedação do confisco será afastado.

O Supremo Tribunal Federal adota este entendimento. Conforme se

verifica da seguinte jurisprudência:

IMPORTAÇÃO - REGULARIZAÇÃO FISCAL - CONFISCO. Longe fica de configurar concessão, a tributo, de efeito que implique confisco decisão que, a partir de normas estritamente legais, aplicáveis a espécie, resultou na perda de bem móvel importado.

(AI 173689 AgR, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/03/1996, DJ 26-04-1996 PP-13126 EMENT VOL-01825-05 PP-00918)

A ementa jurisprudencial acima transcrita trata-se da perda do bem

importado, por não obediência das normas legais concernentes à importação. O

agravante “X” alega afronta dos princípios da legalidade e da vedação do confisco.

Por decisão unânime, a Turma negou provimento ao Agravo Regimental. A

fundamentação foi em que momento nenhum houve desvio dos princípios, pois, em

20 SABBAG, Eduardo de Moraes. Direito Tributário. 7ª Ed. São Paulo: Editora Premier Máxima, 2005. p. 40.21 MACHADO, op. cit., p. 327.

Page 36: imposto de importação

45

se tratando da entrada de bens em território nacional, as regras e normas

concernentes à importação devem ser observadas e respeitadas.

3.6. Princípio da Territorialidade

O Princípio da Territorialidade diz respeito à aplicação da lei em todo

território nacional, bem como nos espaços territoriais. Os espaços territoriais se

referem às fronteiras do Estado, incluindo sua extensão de águas territoriais, aviões,

navios, embaixadas, consulados, atmosfera, e outros.

No Brasil, o princípio da territorialidade é dito moderado, pois admite-se a

aplicação de normas estrangeiras em situações especiais autorizadas pela lei

soberana, configurando-se assim, o dualismo. Nesse sentido, Carlos Alberto Di

Lorenzo ensina:

A teoria do dualismo afirma a existência de duas ordens jurídicas distintas, sendo a primeira, a ordem jurídica interna aplicável ao espaço geográfico do Estado. Já a segunda ordem jurídica de direito internacional deve ser aplicável à sociedade internacional.22

No que tange a aplicação do princípio da territorialidade imposto de

importação, tem-se que a observância de tal princípio é condição determinante para

o bom funcionamento e harmonia que o ordenamento planificou. Nesse sentido,

Paulo de Barros Carvalho prescreve:

O princípio da territorialidade da tributação não se manifesta ostensivamente na fraseologia constitucional, mas se reveste de insofismável energia latente, como decorrência imediata de importantes diretrizes do sistema. O poder vinculante de uma lei ensejará os efeitos jurídicos de estilo até os limites geográficos da pessoa política que a editou. A lei federal, por todo o território brasileiro (...).23

Assim, a lei federal (de competência da União) que instituir tributo, deverá

uniformizá-lo por todo o território nacional, não podendo haver diferenciação ou

22 DI LORENZO, Carlos Alberto. Direito Internacional Público e Privado. 1ª Ed. São Paulo: Editora Rideel, 2009. p. 28. 23 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 21ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 522.

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preferência em relação a Estados, ao Distrito Federal ou a Municípios, salvo em

relação aos tributos federais, pois, segundo Ricardo Cunha Chimente:

Admite-se, em relação aos tributos federais, a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico entre diversas regiões do País (...) como, por exemplo, a Zona Franca de Manaus.24

Destarte, com o objetivo de desenvolver a região amazônica, a qual

abrange o Estado do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, assim como as regiões

de Macapá e Santana, pertencentes ao Estado do Amapá, a Zona Franca de

Manaus (instituída pelo Decreto-Lei nº 288/67) estabeleceu uma série de isenções

concernentes às importações e exportações, estabelecendo-se assim, área de livre

comércio.

3.7. Princípio da Extraterritorialidade

O princípio da extraterritorialidade aplicável dentro do território nacional

encontra-se fundamentado no artigo 102 do Código Tributário Nacional, cuja

disposição diz respeito à vigência da legislação tributária de um ente político, dentro

do território de outro ente político. Para tanto, há limites que deverão reconhecer tal

extraterritorialidade, quais sejam, os convênios de que participem as referidas

entidades federadas; as normas do Código Tributário Nacional, assim como as leis

de normas gerais expedidas pela União.

Art. 102. A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.

É importante destacar que as leis tributárias somente vigoram no território

do ente tributante (Estado, DF e Municípios) que as editar. Em se tratando de leis

tributárias editadas pela União, estas vigorarão em todo o território nacional.

24 CHIMENTI, op. cit., p. 40-41.

Page 38: imposto de importação

47

Todavia, conforme já mencionado acima, o reconhecimento da extraterritorialidade

por determinado ente, se faz exceção à regra, e é perfeitamente aplicável.

Em linhas gerais, o princípio da extraterritorialidade no âmbito

internacional diz respeito sobre a possibilidade de aplicação das normas de um

determinado Estado, em território de outro Estado, observando-se, para tanto, o

estabelecido em princípios e convenções internacionais. Assim, a

extraterritorialidade designa os efeitos legais das normas além dos limites dos

Estados.

Em se tratando de legislação tributária interna, tem-se que os tratados e

as convenções internacionais as revogam ou modificam, conforme dispõe o artigo

98 do Código Tributário Nacional, in verbis:

Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha.

José Eduardo Soares de Melo registra, em sua obra, a crítica que Alberto

Xavier faz a respeito do aludido dispositivo legal:

É incorreta a redação deste preceito quando se refere à ‘revogação’ da lei interna pelos tratados. Com efeito, não se está aqui perante um fenômeno ab-rogativo, já que a lei interna mantém sua eficácia plena fora dos casos subtraídos à sua aplicação pelo tratado. Trata-se, isso sim, de limitação da eficácia na lei que se torna relativamente inaplicável a certo círculo de situações e pessoas, limitação esta que caracteriza o instituto da derrogação.25

Tendo em vista que o Brasil é Estado soberano, não admitindo a

interferência de um Estado em suas atividades, regendo-se nas suas relações

internacionais pelos princípios elencados nos incisos concernentes ao artigo 4º da

Constituição Federal, nestes termos:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

25 MELO, José Eduardo Soares de, A Importação no Direito Tributário. São Paulo: Editora RT, 2003. p. 36.

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I - independência nacional;(...)IV - não-intervenção;V - igualdade entre os Estados;(...)Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Todavia, os tratados internacionais devem ser respeitados, inclusive

internacionalmente, é o que preceitua José Eduardo Soares de Melo:

(...) devido à previsão constitucional e à necessidade de integração dos países, mediante um marcante e crescente processo de globalização, visando à cooperação internacional, recomenda-se o respeito aos tratados cujas normas venham a ser integradas em nosso país.26

Focalizando no objeto do presente trabalho, o imposto de importação é

alvo de diversos tratados e convenções, tais como – o GATT; a MERCOSUL; a

ALALC e outros (os quais serão tratados de forma mais específica no capítulo 0).

Tais tratados são compromissos assumidos pelo Brasil perante diferentes países

fixando, dentre outros acordos, níveis tarifários; critérios para estabelecimento da

base de cálculo e alíquotas.

Assim, conforme explanado acima, o princípio da extraterritorialidade

rege-se tanto nas relações internas como nas externas, consubstanciando

importante princípio que tem por objetivo alcançar relações harmônicas entre os

entes federados e a sociedade internacional.

4. ESTRUTURA DO TRIBUTO

A estrutura do tributo, isto é, a regra matriz de incidência é preenchida por

elementos essenciais que identificam o fato imponível. Tais elementos encontram-se

tipificados em lei porquanto se trata de uma relação jurídica.

26 MELO, op. cit., p. 35.

Page 40: imposto de importação

49

A regra matriz de incidência é composta pela norma jurídica tributária

(previsão legal da incidência do tributo); pelo antecedente ou descritor (precedentes

do tipo previsto, quais sejam, critério material, espacial e temporal) e pelo descritor

ou conseqüente (elementos que serão considerados com a ocorrência do fato

imponível, tais elementos são: o critério pessoal e o critério quantitativo).

Os critérios que compõem a regra matriz de incidência serão analisados

nos próximos itens.

4.1. Aspecto Pessoal

O aspecto pessoal diz respeito ao sujeito ativo e o sujeito passivo da

relação tributária, conforme considerações abaixo delineadas.

4.1.1. sujeito ativo

O sujeito ativo da obrigação tributária é estabelecido pelo artigo 119 do

Código Tributário Nacional, in verbis:

Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento.

O sujeito ativo tem o direito de exigir o cumprimento da obrigação

tributária. Esta, por sua vez, pode ser principal ou acessória. A obrigação principal é

o pagamento de quantia em dinheiro pelo tributo ou multa, enquanto a acessória é o

cumprimento de obrigação não pecuniária. Ressalta-se que o sujeito ativo tem várias

denominações, tais como: Fisco, Fazenda Pública, Tesouro, Erário.

Contudo, segundo Ana Flávia Messa, a interpretação do aludido artigo

tem duas correntes doutrinárias:

Uma parte da doutrina sustenta que o referido artigo está em desacordo com o atual sistema tributário, pois é possível outras entidades atuarem como credoras da obrigação tributária; para ser sujeito ativo não precisa ser

Page 41: imposto de importação

50

titular da competência tributária. Outra parte da doutrina sustenta que o referido artigo está compatível com o sistema tributário atual, pois só as pessoas jurídicas de direito público dotadas de Poder Legislativo podem ser sujeito ativo de obrigação tributária. Sujeito ativo é o titular da competência tributária; os destinatários do produto da arrecadação são beneficiários da transferência governamental e sujeitos da relação financeira.27

Assim, a divergência que há perante o mencionado artigo diz respeito

sobre a sua própria interpretação no que se refere ao sujeito ativo da obrigação

tributária, ou seja, sobre a pessoa que tem competência para exigir o cumprimento

da obrigação imposta pela lei diante do fato imponível.

Hugo de Brito Machado preceitua que somente as pessoas jurídicas de

direito público dotadas de poder legislativo podem ser sujeito ativo de uma obrigação

tributária:

Não há de se confundir a condição de sujeito ativo com a de destinatário do produto da arrecadação ou fiscalização de tributos, ou da execução de leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária. Essas atribuições podem ser conferidas por uma pessoa jurídica de direito público a outra, mas isto não implica transferência de condição de sujeito ativo. (...) Às pessoas jurídicas de direito privado apenas podem ser atribuídas as funções ou encargos de arrecadar, o que não constitui delegação de competência (CTN, art. 7°).28

Deste modo, conforme as lições do aludido autor, o artigo 119 do CTN

deve ser interpretado de acordo com seu próprio texto, isto é, o sujeito ativo será

aquele indicado pela lei, competente para exigir a obrigação tributária, não havendo

de se confundir, portanto, com a condição de sujeito ativo, que nada mais é do que o

delegado para a realização de atribuições inerentes ao sujeito legalmente

competente.

Por outro lado, Paulo de Barros Carvalho não vê empecilho de ser o

sujeito ativo da obrigação tributária uma pessoa jurídica de direito privado ou até

mesmo uma pessoa física:

27 MESSA, Ana Flávia. Direito Tributário. 3ª Ed. São Paulo: Editora Rideel, 2009. p. 230.28 MACHADO, op. cit., p. 169.

Page 42: imposto de importação

51

O sujeito ativo é o titular do direito subjetivo de exigir a prestação pecuniária e, no direito brasileiro, pode ser uma pessoa jurídica, pública ou privada, se bem que não vejamos empecilho técnico de que seja uma pessoa física.29

Nota-se que o citado autor não emprega o termo “competência”, apenas

descreve que tanto a pessoa jurídica de direito público como a de direito privado, e

até mesmo a pessoa física, podem ser sujeitos ativos de uma obrigação tributária.

De qualquer forma, é importante esclarecer que a competência para exigir

o cumprimento de uma obrigação tributária é da pessoa jurídica de direito público

que a lei tipificar, entretanto, nada obsta que funções inerentes ao ente competente

da obrigação tributária sejam atribuídas a outras pessoas (jurídicas de direito

público, de direito privado e pessoas físicas), observadas as normas fixadas em lei.

Partindo para o imposto de importação, elemento fundamental do

presente trabalho, a lei determina que o seu sujeito ativo é a União, porquanto é à

ele que a Constituição outorga a competência para a instituição do aludido imposto.

É no artigo 153, inciso I, que a Constituição Federal dispõe expressamente sobre

essa competência, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I – importação de produtos estrangeiros;(...)

Da mesma forma, o Código Tributário Nacional preceitua em seu artigo

19, in verbis:

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.

Assim, o sujeito ativo do imposto de importação é a União, isto é,

somente a União poderá exigir o cumprimento do imposto aduaneiro, todavia, para

fins de sua arrecadação, poderá o portador da competência atribuir aludida função à

outras pessoas (jurídicas de direito público, de direito privado e pessoas físicas),

conforme preleciona José Eduardo Soares de Melo:

29 CARVALHO, op. cit., p. 115.

Page 43: imposto de importação

52

O Imposto de Importação só pode ser criado (instituído, alterado e suprimido) pela União, na qualidade de titular da competência tributária impositiva (art. 153, I, da CF e 19 do CTN), que, entretanto, poderá ceder (transferir) sua capacidade tributária (arrecadação) a terceiros, sejam pessoas jurídicas (públicas e privadas), ou pessoas naturais (...)30

Portanto, o sujeito ativo do imposto de importação é a União, a qual

através do órgão da Fazenda Nacional tem a competência para exigir o

cumprimento do mencionado imposto, sendo o contribuinte (sujeito passivo)

responsável pelo seu devido recolhimento, que será efetuado no ato da Declaração

de Importação – DI, por débito automático em conta corrente bancária, ou por meio

de DARF eletrônico. Destaca-se que a realização da DI é efetuada através da

utilização do sistema SISCOMEX (um software), o qual será tratado, com mais

relevância, no tópico “despacho aduaneiro” (item 4.6).

4.1.2. sujeito passivo

Em linhas gerais, o Código Tributário Nacional dispõe sobre a existência

de dois sujeitos passivos. O primeiro, sujeito passivo da obrigação principal, isto é, a

pessoa vinculada à prestação de tributo ou penalidade pecuniária, encontra-se

disposto no artigo 121 do aludido diploma, in verbis:

Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.

Destaca-se ainda, que o sujeito passivo da obrigação principal divide-se

em direito e indireto. O sujeito passivo direto é o próprio contribuinte, e o sujeito

passivo indireto o responsável pela obrigação, conforme os preceitos dos incisos I e

II, do parágrafo único, do citado artigo, in verbis:

Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;II – responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa em lei.

30 MELO, op. cit., p. 44.

Page 44: imposto de importação

53

O segundo sujeito passivo é o da obrigação acessória, conforme

disposição do artigo 122 do Código Tributário Nacional, in verbis:

Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.

Assim, o sujeito passivo da obrigação acessória é o sujeito obrigado à

realização de obrigações não pecuniárias.

No que tange ao imposto de importação, o sujeito passivo é o seu

contribuinte, isto é, o importador ou quem a ele a lei equiparar, conforme os

preceitos do artigo 22, inciso I, do Código Tributário Nacional, in verbis:

Art. 22. Contribuinte do imposto é:I – o importador ou quem a lei a ele equiparar;(...)

Em se tratando de produtos apreendidos ou abandonados, o contribuinte

será a pessoa que arrematar tais produtos, conforme se verifica do disposto no

inciso II, do citado artigo, do mesmo diploma, in verbis:

(...)II – o arrematante de produtos apreendidos ou abandonados.

Ressalta-se que o citado inciso tornou-se inaplicável, porquanto a infração

cometida pelo transgressor dos produtos apreendidos ou abandonados é de

natureza grave, denominada dano ao erário, acarretando ao infrator a pena de

perdimento dos domínios, passando a propriedade dos bens à União, que por sua

vez ficará ressarcida do prejuízo.

O sujeito passivo do imposto de importação também é estabelecido pelo

artigo 31 do Decreto-lei 37/1966 (redação dada pelo Decreto-Lei nº 2.472/88), bem

como pelo artigo 104 do Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 6.759/2009), que

possui a mesma redação.

Page 45: imposto de importação

54

Em ambos os artigos já não mais aparece a figura do arrematante de

produtos apreendidos ou abandonados, in verbis:

Arts. 31 do Decreto-lei nº 37/66 e 104 do RA:

É contribuinte do imposto:I - o importador, assim considerada qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria estrangeira no Território Nacional;II - o destinatário de remessa postal internacional indicado pelo respectivo remetente;III - o adquirente de mercadoria entrepostada.

Importante destacar que o importador, assim descrito nos incisos I dos

artigos 22 do CTN; 31 do Decreto-lei 37/66 e 104 do RA, conforme já transcritos

acima, é qualquer pessoa que promova a entrada de mercadoria estrangeira no

território aduaneiro. Nessa acepção, Hugo de Brito Machado ensina:

Geralmente, importador é uma pessoa jurídica, regularmente estabelecida, mas, para os fins do imposto, é considerada importador qualquer pessoa, seja natural ou jurídica, regularmente estabelecida ou não, que realize a introdução da mercadoria no território nacional. É que a capacidade tributária passiva independe de formalismos, como se pode ver da regra do artigo 126 do Código Tributário Nacional.31

As disposições contidas nos incisos II do artigo 31 do Decreto-lei 37/66,

bem como do artigo 104 do RA, também acima transcritos, prescrevem que o

contribuinte do imposto é o destinatário de remessa postal internacional indicado

pelo respectivo remetente. Nesse sentido, Paulino Manfrinato explica:

(...) por norma ínsita na Convenção Postal Universal, a remessa postal internacional pertence ao remetente enquanto não entregue ao destinatário ou a quem de direito. Como o destinatário pode recusar a aceitação da encomenda, nem sempre se tornará contribuinte. Ou seja, aceitando-a é que passará à condição de contribuinte, ainda assim se for devido o imposto.32

Nota-se que as disposições constantes dos incisos III do artigo 31 do

Decreto-lei 37/66, assim como do artigo 104 do RA, já transcritos acima, ressaltam

que o contribuinte do imposto é o adquirente de mercadoria entrepostada.

31 MACHADO, op. cit., p. 329.32 MANFRINATO, Paulino. Imposto de Importação – Uma Análise do Lançamento e Fundamentos. São Paulo: Aduaneiras, 2002. p. 69.

Page 46: imposto de importação

55

Vale destacar que o termo “mercadoria entrepostada” significa dizer

“mercadoria depositada”, haja vista o entreposto aduaneiro ser um local onde as

mercadorias ou produtos são depositados, ficando sob o regime suspensivo e

controle aduaneiro por tempo determinado.

Ressalta-se ainda que, além do contribuinte, o sujeito passivo do imposto

de importação pode ser também o responsável e o responsável solidário.

O Decreto-lei nº 37/66, em seu artigo 32, prevê o pagamento do imposto

pelo responsável e pelo responsável solidário, definido-os, in verbis:

Art. 32. É responsável pelo imposto:I – o transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob controle aduaneiro, inclusive em percurso interno;II – o depositário, assim considerada qualquer pessoa incubida da custódia de mercadoria sob controle aduaneiro;

Parágrafo único.  É responsável solidário:

I - o adquirente ou cessionário de mercadoria beneficiada com isenção ou redução do imposto;II - o representante, no País, do transportador estrangeiro;III - o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora.

Da mesma forma que o artigo anterior, o artigo 105 do RA dispõe sobre o

responsável pelo pagamento do imposto, in verbis:

Art. 105. É responsável pelo imposto:I - o transportador, quando transportar mercadoria procedente do exterior ou sob controle aduaneiro, inclusive em percurso interno;II - o depositário, assim considerada qualquer pessoa incumbida da custódia de mercadoria sob controle aduaneiro; ouIII - qualquer outra pessoa que a lei assim designar.

Ainda, de forma análoga ao parágrafo único do aludido artigo 32, o artigo

106 do RA dispõe sobre o responsável solidário, todavia com um rol mais extenso

de possibilidades, in verbis:

Page 47: imposto de importação

56

Art. 106.  É responsável solidário:I - o adquirente ou o cessionário de mercadoria beneficiada com isenção ou redução do imposto;II - o representante, no País, do transportador estrangeiro;III - o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora;IV - o encomendante predeterminado que adquire mercadoria de procedência estrangeira de pessoa jurídica importadora;V - o expedidor, o operador de transporte multimodal ou qualquer subcontratado para a realização do transporte multimodal;VI - o beneficiário de regime aduaneiro suspensivo destinado à industrialização para exportação, no caso de admissão de mercadoria no regime por outro beneficiário, mediante sua anuência, com vistas à execução de etapa da cadeia industrial do produto a ser exportado; eVII - qualquer outra pessoa que a lei assim designar.

Destarte, consoante as citadas disposições, os responsáveis e

responsáveis solidários também estão sujeitos ao pagamento do imposto.

Em assim sendo, no que se refere ao pagamento do imposto atribuído ao

transportador e ao depositário (incisos I e II, dos artigos 32 e 105, do Decreto-lei nº

37/66 e do RA, respectivamente), Paulo Manfrinato explica:

A previsão de transportador e depositário de mercadoria objeto de comércio exterior como responsáveis está ligada à ocorrência de avaria ou falta de mercadoria, quer durante o seu transporte, quando é presumida a responsabilidade do transportador, quer no seu manuseio em operações de carga, descarga, acondicionamento e depósito, hipótese em que a responsabilidade é atribuída ao depositário (...). Portanto, há presunção de responsabilidade pelo pagamento do imposto no que tange à falta de mercadoria, atribuída ao transportador ou ao depositário. Tal responsabilidade, no entanto, é passível de exclusão se provado, por meios adequados, caso fortuito ou força maior. Além disso, se o transportador for estrangeiro, responsável solidário será o seu representante no País.33

Deste modo, as conseqüências que pode sofrer o responsável pelo

transporte ou depósito da mercadoria se justificam, salvo por caso fortuito ou força

maior, vez que, por sua conta e risco, assume a guarda de produto, devendo primar

pelo seu zelo.

Por conseguinte, tanto o contribuinte, o responsável ou o responsável

solidário são denominados sujeito passivo da obrigação tributária, qual seja, a 33 MANFRINATO, op. cit., p. 75-76.

Page 48: imposto de importação

57

obrigação do pagamento do imposto de importação, que tem como fato gerador a

entrada da mercadoria ou produto no território aduaneiro.

4.2. Aspecto Material

O aspecto material do imposto de importação é marcado pela entrada

física de produto estrangeiro no território aduaneiro.

O artigo 19 do Código Tributário Nacional dispõe sobre a ocorrência do

fato gerador com a entrada de produtos estrangeiros no território nacional, in verbis:

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.

Da mesma forma, o artigo 1º do Decreto-lei nº 37/66, preceitua, in verbis:

Art.1º - O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.

O aspecto material diz respeito à incidência do imposto sobre um produto

estrangeiro no momento de sua entrada no território nacional. A respeito da matéria,

preceitua José Eduardo Soares de Melo:

A importação de produtos estrangeiros, como expresso na Constituição Federal (art.153, I), constitui o cerne da materialidade da hipótese de incidência tributária, compreendendo um negócio (jurídico) pertinente a uma contraprestação de uma obrigação de dar, de conformidade como os postulados do direito privado. A incidência ocorre em razão da prática de “operações” (jurídicas) que têm produto por objeto, em razão do que, para a configuração jurídica do Imposto de Importação, são apontados os requisitos seguintes: a) a existência de um produto; b) razão jurídica.34

Segundo o citado autor, a importação de produtos revela a essência da

materialidade da hipótese de incidência, a qual incide perante a existência de um

produto e um agente, podendo (este último) ser pessoa jurídica ou pessoa física.

34 MELO, op. cit., p. 46.

Page 49: imposto de importação

58

É importante destacar que o critério material se realiza não só com a

entrada real da mercadoria estrangeira no território nacional, mas também com a

entrada presumida, ocasião em que haverá a incidência do imposto, é o que

prescreve o § 2º, do artigo 1º, do Decreto-lei nº 37/66, in verbis:

(...)

§ 2º - Para efeito de ocorrência do fato gerador, considerar-se-á entrada no Território Nacional a mercadoria que constar como tendo sido importada e cuja falta venha a ser apurada pela autoridade aduaneira.

Contudo, deve-se esclarecer que não basta somente a entrada física do

produto em território aduaneiro, é necessário que haja sido importado para

consumo, consoante elucida Hugo de Brito Machado:

O fato gerador do imposto de importação consuma-se com a entrada dos produtos no território nacional. Não basta a entrada física, simplesmente. Pode o navio atracar no porto, ou a aeronave pousar no aeroporto, trazendo produtos estrangeiros a bordo, sem que se considere ocorrido o fato gerador do imposto de importação, desde que tais produtos não se destinem ao Brasil e aqui estejam apenas de passagem. As autoridades da Administração Tributária exercem o controle dessas situações para evitar fraude.35

Esclareça-se que a mercadoria estrangeira são objetos, bens, produtos

produzidos em outros países, os quais, por sua vez, são introduzidos no país para

consumo de seu importador.

É importante ressaltar que há mercadorias de cunho nacional ou

nacionalizadas exportadas, que são consideradas mercadorias estrangeiras quando

retornam ao país, as quais estarão sujeitas a incidência do imposto de importação,

ressalvadas algumas hipóteses, consoante dispõe o § 1º e alíneas do artigo 1º do

Decreto-lei nº 37/66, bem como o artigo 70 e seus incisos do RA, o qual possui o

mesmo texto, in verbis:

(...)§ 1º - Para fins de incidência do imposto, considerar-se-á também estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retornar ao País, salvo se:a) enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado;

35 MACHADO, op. cit., p.326.

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59

b) devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou substituição;c) por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país importador;d) por motivo de guerra ou calamidade pública;e) por outros fatores alheios à vontade do exportador.

Existem outras hipóteses de não incidência do imposto de importação,

tais como, mercadoria estrangeira avariada, mercadorias que estão apenas de

passagem, mercadoria estrangeira que tenha sido objeto de perdimento, dentre

outras hipóteses relacionadas no § 4º e seus incisos do artigo 1º do Decreto-lei nº

37/66, in verbis:

§ 4o O imposto não incide sobre mercadoria estrangeira:I - avariada ou que se revele imprestável para os fins a que se destinava, desde que seja destruída sob controle aduaneiro, antes de despachada para consumo, sem ônus para a Fazenda Nacional;II - em trânsito aduaneiro de passagem, acidentalmente destruída; ouIII - que tenha sido objeto de pena de perdimento, exceto na hipótese em que não seja localizada, tenha sido consumida ou revendida.

Assim como na disposição anterior, dispõe o artigo 71 e seus incisos do

RA sobre a hipótese de não incidência do imposto de importação, in verbis:

Art. 71.  O imposto não incide sobre:I - avariada ou que se revele imprestável para os fins a que se destinava, desde que seja destruída sob controle aduaneiro, antes de despachada para consumo, sem ônus para a Fazenda Nacional;I - mercadoria estrangeira que, corretamente descrita nos documentos de transporte, chegar ao País por erro inequívoco ou comprovado de expedição, e que for redestinada ou devolvida para o exterior;II - mercadoria estrangeira idêntica, em igual quantidade e valor, e que se destine a reposição de outra anteriormente importada que se tenha revelado, após o desembaraço aduaneiro, defeituosa ou imprestável para o fim a que se destinava, desde que observada a regulamentação editada pelo Ministério da Fazenda;III - mercadoria estrangeira que tenha sido objeto da pena de perdimento, exceto na hipótese em que não seja localizada, tenha sido consumida ou revendida;IV - mercadoria estrangeira devolvida para o exterior antes do registro da declaração de importação, observada a regulamentação editada pelo Ministério da Fazenda;V - embarcações construídas no Brasil e transferidas por matriz de empresa brasileira de navegação para subsidiária integral no exterior, que retornem ao registro brasileiro, como propriedade da mesma empresa nacional de origem;VI - mercadoria estrangeira avariada ou que se revele imprestável para os fins a que se destinava, desde que seja destruída sob controle aduaneiro, antes do desembaraço aduaneiro, sem ônus para a Fazenda Nacional; e

Page 51: imposto de importação

60

VII - mercadoria estrangeira em trânsito aduaneiro de passagem, acidentalmente destruída.

Nota-se, portanto, que o rol do artigo 71 do RA abarca alguns incisos

existentes do rol constante no § 4º e seus incisos do artigo 1º do Decreto-lei nº

37/66, assim como prevê outras hipóteses de não incidência do imposto.

4.3. Aspecto Quantitativo

O aspecto quantitativo compreende a base de cálculo e as alíquotas do

imposto de importação, conforme considerações abaixo delineadas.

4.3.1 base de cálculo

A base de cálculo é o fundamento que avalia a quantia a ser liquidada

pelo contribuinte, sujeito passivo da obrigação tributária. Tal fundamento é composto

por alíquotas que podem ser fixas ou variáveis (de acordo com as disposições legais

e com os tratados internacionais de qual o Brasil seja membro).

A base de cálculo do imposto de importação é composta pelas alíquotas

previstas no artigo 20 do Código Tributário Nacional. O inciso I do mencionado artigo

dispõe sobre a alíquota específica, in verbis:

Art. 20. A base de cálculo do imposto é:I - quando a alíquota seja específica, a unidade de medida adotada pela lei tributária;(...)

A alíquota específica é determinada pela unidade de medida adotada pela

lei, ou ainda, conforme o artigo 2º do Decreto-lei nº 37/66 e pelo artigo 75, inciso II

do RA (que possui a mesma redação), pela quantidade de mercadoria, expressa na

unidade de medida indicada na tarifa, in verbis:

Art.2º - A base de cálculo do imposto é:

Page 52: imposto de importação

61

I - quando a alíquota for específica, a quantidade de mercadoria, expressa na unidade de medida indicada na tarifa;(...)

Já o inciso II, do artigo 20, do Código Tributário Nacional dispõe sobre a

alíquota ad valorem, nestes termos:

Art. 20. A base de cálculo do imposto é:II - quando a alíquota seja ad valorem, o preço normal que o produto, ou seu similar, alcançaria, ao tempo da importação, em uma venda em condições de livre concorrência, para entrega no porto ou lugar de entrada do produto no País;(...)

A alíquota ad valorem é um percentual a ser aplicado sobre um

determinado valor, que é apurado conforme as normas do artigo 7º do Acordo Geral

sobre Tarifas Aduaneiras – GATT, segundo disposição do inciso II, do artigo 2º, do

Decreto-lei nº 37/66 e o inciso I, do artigo 75 do RA (que possui a mesma redação)

in verbis:

Art.2º - A base de cálculo do imposto é:(...) II - quando a alíquota for "ad valorem", o valor aduaneiro apurado segundo as normas do art.7º do Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio – GATT.

Nota-se que pelas regras do CTN, quando a alíquota for ad valorem, a

base de cálculo será o preço normal que o produto alcançaria, ao tempo da

importação, em uma venda de condições de livre concorrência, para a entrega no

porto ou lugar de entrada do produto no País, tratando-se, portanto, da expressão

monetária do produto importado, constante da fatura comercial expedida no lugar de

origem da mercadoria (valor externo), sobre a qual incide um percentual.

Todavia, as legislações vigentes (Decreto-lei nº 37/66 e RA) estabelecem

que a base de cálculo do imposto será, quando a alíquota for ad valorem, o valor

aduaneiro apurado segundo as normas do art. VII do Acordo Geral sobre Tarifas e

Comércio - GATT.

Page 53: imposto de importação

62

Esclareça-se que o valor externo (CTN) teve vigência até a promulgação

do Acordo sobre Valoração Aduaneira. Contudo, as regras do Código Tributário

Nacional, de apuração de valores utilizando a alíquota ad valorem, não estão

revogadas, porém, prevalecem as normas de apuração do GATT. Nessa acepção,

Hugo de Brito Machado comenta:

(...) os tratados internacionais, pelo menos em matéria tributária prevalecem sobre as leis internas, penso que estão afastados os dispositivos do Código Tributário Nacional que estejam em conflito com as normas do referido dispositivo do GATT.36

Destarte, perante a aplicação das normas constantes dos tratados

internacionais em face de um determinado episódio, as regras contidas no CTN

ficam afastadas somente quanto a este fato.

Assim, de forma pacificada, Ricardo Alexandre conceitua a alíquota ad

valorem da seguinte forma:

(...) é aquela que incide sobre o valor, ou seja, é aquele percentual a ser multiplicado por uma grandeza especificada em moeda corrente (base de cálculo em reais) para a obtenção do tributo a ser pago. É, portanto, o que normalmente se imagina ao deparar com o vocábulo alíquota, ou seja, um percentual a ser aplicado sobre o valor do bem, ou da renda, ou do negócio jurídico, etc.37

No que se refere à alíquota específica, encontra-se estabelecido tanto no

CTN quanto nas demais legislações vigentes (Decreto-lei nº 37/66 e RA), que a base

de cálculo será a quantidade da mercadoria expressa na unidade de medida

estabelecida. Deste modo, explica e exemplifica Ricardo Alexandre:

A alíquota específica é aquela definida por uma quantia determinada de dinheiro por unidade de quantificação dos bens importados (reais por metro, tonelada, litro ou qualquer outra unidade de medida do produto).Como exemplo, pode-se imaginar uma alíquota de imposto de importação de uma determinada mercadoria com o valor de R$ 100/tonelada (cem reais por tonelada). Nesta situação, a base de calculo não pode ser fixada em moeda, mas sim em toneladas (mesma unidade de medida usada na definição da alíquota). Portanto, na importação de dez toneladas de tal mercadoria, o tributo a ser pago seria de mil reais (R$ 10/ton x 100/ton).38

36 MACHADO, op. cit., p. 329.37 ALEXANDRE, op. cit., p. 525.38 ALEXANDRE, op. cit., p. 525.

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63

O exemplo acima citado demonstra e elucida plenamente os preceitos

contidos na lei, ante a definição da alíquota específica.

Por fim, em se tratando do inciso III do artigo 20 do CTN, ou seja, de

produto apreendido ou abandonado, levado a leilão, a base de cálculo será o preço

de arrematação. Contudo, conforme já mencionado do item 4.1.2, o aludido inciso

tornou-se inaplicável, em face das mercadorias apreendidas ou abandonadas

servirem como forma de ressarcimento ao erário, ante o prejuízo causado a este,

passando a ser propriedade da União.

4.3.2. alíquota

Consoante já citado no item anterior (4.3.1), há duas classificações de

alíquotas previstas tanto no CTN (art. 20), quanto nas legislações em vigor (Decreto-

lei nº 37/66, artigos 2º, incisos I e II e RA, artigo 75, incisos I e II), quais sejam,

específica e ad valorem.

A alíquota específica é determinada pela unidade de medida adotada

para a quantificação dos bens ou mercadorias importadas. A alíquota ad valorem é

aquela que incide sobre o valor do bem ou produto, a fim de alcançar a quantificação

do tributo a ser pago.

Assim, as alíquotas compõem a base de cálculo para a obtenção do valor

do imposto a ser liquidado pelo sujeito passivo.

É importante destacar que cada tipo de produto, (mercadoria, bens,

serviços) tem a sua própria alíquota, sendo algumas fixas e outras variáveis,

dependendo de sua classificação, podendo ser específica ou ad valorem.

O Brasil, assim como os demais países da MERCOSUL, adotou a Tarifa

Externa Comum – TEC (prevista no tratado de Assunção) sobre a base de cálculo

com o objetivo de incentivar o comércio exterior entre Estados-partes.

Page 55: imposto de importação

64

No sítio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,

é possível visualizar algumas disposições acerca da TEC. Segundo o mencionado

sítio, a TEC deve incentivar a competitividade dos Estados Partes e seus níveis

tarifários devem contribuir para evitar a formação de oligopólios ou de reservas de

mercado. Também foi acordado que a TEC deveria atender aos seguintes critérios:

a) ter pequeno número de alíquotas; b) baixa dispersão; c) maior homogeneidade

possível das taxas de promoção efetiva (exportações) e de proteção efetiva

(importação); d) que o nível de agregação para o qual seriam definidas as alíquotas

era de seis dígitos. Nesse sentido, José Eduardo Soares de Melo anota:

O Tratado de Assunção (Dec. Leg. 350, de 21.11.1991, art. 5º, c) previu a instituição de uma tarifa externa comum (TEC) sobre a base de cálculo, com o objetivo de incentivar a competitividade externa dos Estados-partes, tendo sido incorporada ao ordenamento pátrio (Dec. 1.343, 23.12.1994), dispondo sobre as alíquotas (ad valorem) aplicáveis aos produtos importados. Com referência aos produtos oriundos de terceiros países, o Brasil assumiu o compromisso (junto ao GATT) de aplicar determinadas alíquotas, que também passam a integrar o ordenamento interno.39

É importante destacar que as alíquotas são fixadas de acordo com a

essencialidade do produto, as quais, de um modo geral, são bastante elevadas. Esta

prática tem como escopo a proteção da indústria e do comércio interior, todavia

deverá estar atingir aos objetivos da política cambial e do comércio exterior, os quais

são objetos de tratados, portanto, deverão ser respeitados.

4.4. Aspecto Temporal

O aspecto temporal do imposto de importação é estabelecido com o

momento da ocorrência do fato gerador, que ocorre com a entrada de mercadoria

estrangeira no território nacional.

Assim, o aspecto temporal encontra-se fundamentado no artigo 19 do

Código Tributário Nacional, in verbis:

39 MELO, op. cit., p. 61.

Page 56: imposto de importação

65

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.

Da mesma forma que no artigo anterior, o artigo 1º do Decreto-Lei nº

37/66 preceitua sobre a incidência do imposto de importação no momento em que a

mercadoria estrangeira ingressa no território nacional, in verbis:

Art.1º - O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.

Com texto análogo aos citados artigos, o Regulamento Aduaneiro – RA,

em seu artigo 72 dispõe sobre o aspecto temporal, in verbis:

Art. 72.  O fato gerador do imposto de importação é a entrada de mercadoria estrangeira no território aduaneiro.

Apesar das disposições supra, prevê o § único do artigo 23 do Decreto-lei

nº 37/66, que, para efeito do cálculo do imposto, considera-se ocorrido o fato

gerador na data do registro da Declaração de Importação – DI de mercadoria

despachada para consumo, in verbis:

Art. 23 - Quando se tratar de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartição aduaneira, da declaração a que se refere o artigo 44.

Esclareça-se, portanto, que o fato imponível do imposto de importação se

perfaz com a entrada de mercadoria estrangeira no território aduaneiro. Todavia,

quando se tratar de mercadoria despachada para consumo, o fato imponível será

considerado na data do registro da Declaração de Importação na repartição

competente. Nessa acepção, José Eduardo Soares de Melo prescreve:

É evidente que não há condição para se exigir o imposto no exato momento em que as mercadorias importadas ingressam no mar territorial, espaço

Page 57: imposto de importação

66

aéreo, porto, aeroporto, ou dependências equiparadas, uma vez que dependem de atracação da embarcação, ou liberação da aeronave, descarregamento de bens e etc.40

Dessa forma, destaca-se que o registro documental só pode ter o valor

característico para efeito de liquidação do tributo, porquanto não há condição de se

exigir o imposto no exato momento em que as mercadorias adentram o território

aduaneiro, contudo, não deixa de ser o fato gerador do imposto de importação o

momento em que a mercadoria estrangeira ingressa no país, caracterizando, dessa

forma, o aspecto temporal.

4.5. Aspecto Espacial

O aspecto espacial é a demarcação do local geográfico considerado para

a ocorrência do fato gerador.

Conforme se verifica das disposições legais já transcritas no item anterior

(artigo 19 do CTN, artigo 1º do Decreto-Lei nº 37/66 e artigo 72 do RA), o fato

gerador do imposto de importação ocorre com a entrada da mercadoria estrangeira

no território nacional, portanto, tem-se que o aspecto espacial compreende o âmbito

territorial de validade da lei, circunscrevendo-se aos limites geográficos e ao local da

específica realização do fato gerador.

De acordo com o artigo 33 do Decreto-Lei nº 37/66, o aspecto temporal

compreende o âmbito territorial, e este, por sua vez, abrange locais denominados

“zona primária” e “zona secundária”, in verbis:

Art.33 - A jurisdição dos serviços aduaneiros se estende por todo o território aduaneiro, e abrange:I - zona primária - compreendendo as faixas internas de portos e aeroportos, recintos alfandegados e locais habilitados nas fronteiras terrestres, bem como outras áreas nos quais se efetuem operações de carga e descarga de mercadoria, ou embarque e desembarque de passageiros, procedentes do exterior ou a ele destinados;II - zona secundária - compreendendo a parte restante do território nacional, nela incluídos as águas territoriais e o espaço aéreo correspondente.

40 MELO, op. cit., p. 68.

Page 58: imposto de importação

67

Do mesmo modo que o artigo anterior, os artigos 2º e 3º do RA dispõem

sobre a abrangência das “zonas primária” e “zonas secundária” no âmbito nacional,

in verbis:

Art. 2º  O território aduaneiro compreende todo o território nacional. 

Art. 3º  A jurisdição dos serviços aduaneiros estende-se por todo o território aduaneiro e abrange:I - a zona primária, constituída pelas seguintes áreas demarcadas pela autoridade aduaneira local:

a) a área terrestre ou aquática, contínua ou descontínua, nos portos alfandegados;b) a área terrestre, nos aeroportos alfandegados; ec) a área terrestre, que compreende os pontos de fronteira alfandegados.II - a zona secundária, que compreende a parte restante do território aduaneiro, nela incluídas as águas territoriais e o espaço aéreo.

Verifica-se, portanto, que o critério espacial diz respeito sobre o espaço

que compreende o âmbito nacional, assim como os locais denominados “zonas

primarias” e “zonas secundárias”.

Para maior entendimento acerca do que são as aludidas zonas, José

Eduardo Soares de Melo ensina:

Os recintos alfandegados situam-se na zona primária (pátios, armazéns, terminais e outros locais destinados no movimento e ao depósito de mercadorias importadas, e as lojas francas – free shop); como também na zona secundária (entrepostos, depósitos, terminais, e os depósitos de remessa postais internacionais), que devem movimentar-se ou permanecer sob o controle aduaneiro, assim como as áreas reservadas à verificação de bagagem procedente do exterior.41

Portanto, as “zonas primárias” e “zonas secundárias” são recintos

alfandegados destinados ao movimento e ao deposito de mercadorias importadas.

Ressalta-se que, a Lei Federal nº 8.617/93, trata das disposições a

respeito do mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a

plataforma continental brasileira.

41 MELO, op. cit., p. 71.

Page 59: imposto de importação

68

Importante mencionar que o Regulamento Aduaneiro – RA (Decreto nº

4.543/2002, revogado pelo Decreto nº 6.759/2009) dispõe sobre as áreas

aduaneiras relativas a regimes especiais, quais sejam, Entreposto Aduaneiro;

Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (RECOF); Depósito Especial;

Depósito Afiançado e Depósito Franco, os quais, por sua vez, permitem a

estocagem e armazenagens de determinados produtos.

4.6. Despacho Aduaneiro

Despacho Aduaneiro é o processo que tem como desígnio constatar a

precisão das informações declaradas pelo exportador ou importador, em relação à

mercadoria exportada ou importada, aos documentos prestados e à legislação

vigorante, visando, finalmente, ao desembaraço aduaneiro, que, por sua vez, libera

a saída (exportação) ou entrega (importação) da mercadoria. Nesse sentido, José

Eduardo Soares de Melo preleciona:

Despacho aduaneiro é o procedimento mediante o qual é verificada a exatidão dos dados declarados pelo importador em relação à mercadoria importada, aos documentos apresentados e à legislação específica, com vistas ao seu desembaraço aduaneiro. (...)42

No sitio do Ministério da Fazenda é ressaltada de forma clara sobre o

despacho aduaneiro, explicitando, inclusive, o procedimento “passo a passo” para

que o exportador e importador se estabeleça43.

No que tange ao campo da importação, é mister destacar que toda e

qualquer mercadoria procedente do exterior é submetida ao despacho de

importação, seja a que título for, e seja ela isenta do imposto ou não. A submissão

ao despacho de importação tem como fim a fiscalização pela autoridade

competente, que a realiza com base nas informações contidas na Declaração de

Importação. É deste modo que dispõe o artigo 44 do Decreto-lei nº 37/66, in verbis:

42 MELO, op. cit., p. 72.43 ________.www.receita.fazenda.gov.br/Grupo1/aduana/htm.

Page 60: imposto de importação

69

Art.44 - Toda mercadoria procedente do exterior por qualquer via, destinada a consumo ou a outro regime, sujeita ou não ao pagamento do imposto, deverá ser submetida a despacho aduaneiro, que será processado com base em declaração apresentada à repartição aduaneira no prazo e na forma prescritos em regulamento.

A Declaração de Importação – DI é o registro que se processa o

despacho de importação. Aludido registro geralmente é preenchido através do

Sistema Integrado de Comércio Exterior (SISCOMEX), o qual se trata de um

software que pode ser “baixado”, se habilitado, no próprio sitio do Ministério da

Fazenda. Todavia, o importador, se preferir, poderá optar pelo despacho simplificado

utilizando-se do próprio SISCOMEX ou de formulários próprios, os quais poderão ser

retirados e preenchidos na repartição aduaneira que se encontrar a mercadoria.

Segundo as disposições constantes do sitio do Ministério da Fazenda, o

cálculo do imposto de importação é realizado pelo próprio SISCOMEX, que combina

as alíquotas dos tributos aplicáveis com as informações fornecidas pelo importador.

Em ato contínuo, é debitado diretamente da conta corrente fornecida (no momento

de registro da DI) o valor devido a título de imposto de importação.

O procedimento de despacho aduaneiro é realizado de forma rápida e

organizada. Após o registro da Declaração de Importação e o início do procedimento

do despacho aduaneiro, aludida declaração é submetida ao exame fiscal e

selecionada para um dos canais de conferência, quais sejam, o canal verde,

amarelo, vermelho e cinza.

Ressalta-se que ao mencionado procedimento dá-se o nome de

Parametrização.

De forma sucinta, é importante destacar os significados que possui cada

canal identificado por sua cor. Assim, o canal de cor verde significa que o

desembaraço é automático, o canal de cor amarela, significa que é necessário

exame documental, o canal de cor vermelha significa que além do exame

documental, é imprescindível o exame físico da mercadoria, e finalmente, o canal de

cor cinza significa que todos os exames documentais e físicos atinentes à

Page 61: imposto de importação

70

mercadoria serão realizados, a fim de constatação de fraude, inclusive no que tange

ao preço declarado da mercadoria.

A finalização do procedimento do despacho aduaneiro acarreta o

desembaraço aduaneiro, onde é autorizada a entrega da mercadoria ao importador,

sendo ele o último ato do procedimento de despacho aduaneiro.

Destarte, mais uma vez, nota-se que as peculiaridades acerca do imposto

de importação são demasiadamente importantes, o que se justifica, dado a sua

importância na condução da economia nacional.

5. COMPETÊNCIA

Competência é a delimitação da jurisdição concedida a um ente estatal

para a instituição e cobrança de determinado tributo. Essa competência é outorgada

pela Constituição Federal.

A competência para a instituição e cobrança do imposto de importação é

atribuída de forma expressa à União, conforme dispõe o artigo 153, inciso I, da

Constituição Federal e o artigo 19 do Código Tributário Nacional, in verbis:

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I – importação de produtos estrangeiros;.....................................

(...)

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no Território Nacional.

Page 62: imposto de importação

71

Assim, o poder de tributar o imposto aduaneiro é conferido pela

Constituição à União, que se estabelece em observância ao princípio da estrita

legalidade.

É importante destacar que a competência conferida pela Magna Carta

também é para aumentar, diminuir e isentar o tributo. Nesse sentido, Roque Antonio

Carrazza ensina: A competência tributária não é só para criar tributos, senão,

também, para aumentá-los, diminuí-los e para isentá-los.44

É mister mencionar que a Constituição faculta ao Poder Executivo, nos

termos da lei, a majoração das alíquotas do imposto de importação, conforme se

verifica do § 1º do artigo 153, nestes termos:

§ 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendida as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V. (I – importação de produtos estrangeiros)

As alíquotas do imposto de importação também são passíveis de

redução, conforme dispõe o artigo 97, inciso II, do Código Tributário Nacional, in

verbis:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:(...)II – a majoração de tributos, ou sua redução (...)

Da mesma forma que a Constituição, o Código Tributário Nacional, em

seu artigo 21, dispõe sobre a alteração de alíquotas pelo Poder Executivo, nestes

termos:

Art. 21. O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.

Por razões de política econômica, consistindo em importante instrumento

de regulação, é que esta autorização de majoração das alíquotas do imposto de

importação é concedida pela Lei Maior ao Poder Executivo. Nessa acepção, Aliomar

Baleeiro preceitua:

44 CARRAZZA. op. cit., p. 295.

Page 63: imposto de importação

72

Pela circunstância de ser o imposto de importação, no mundo contemporâneo, mais um instrumento de regulação do comércio internacional e da política cambial do que um meio de receitas, a Constituição permite expressamente que, nos limites e condições da lei, o Executivo possa graduar a alíquota, tudo do mínimo ao máximo da tarifa flexível. Quase todos os países assim procedem, não existindo nisso quebra do princípio da legalidade do tributo, pois cabe ao Congresso fixar aqueles tetos mínimo e máximo.45

Por ser o imposto de importação um imposto extrafiscal, instrumento de

regulação do comércio internacional e da política cambial, utilizado, principalmente,

para proteção da indústria nacional, é que a Lei Maior delegou à União a

competência do aludido imposto, pois, a garantia do desenvolvimento nacional é um

dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, a qual é representada

pela União.

6. INCIDÊNCIA DO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

O imposto de importação incide sobre mercadoria estrangeira, assim

como sobre mercadoria nacional ou nacionalizada que, uma vez exportada, retorne

ao País, conforme dispõe o artigo 1º e §º do Decreto-Lei nº 37/66, in verbis:

Art.1º - O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.

§ 1º - Para fins de incidência do imposto, considerar-se-á também estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retornar ao País.

Do mesmo modo dispõe os artigos 69 e 70 do Decreto nº 6.759/2009,

prescrevendo ainda, no § único do aludido artigo 69, que o imposto aduaneiro

também incidirá sobre bagagens de viajante e bens enviados como presente ou

amostra, ou a título gratuito, nestes termos:

Parágrafo único.  O imposto de importação incide, inclusive, sobre bagagem de viajante e sobre bens enviados como presente ou amostra, ou a título gratuito.

45 BALEEIRO. op. cit., p. 219.

Page 64: imposto de importação

73

Assim, no momento em que penetram no território aduaneiro,

independente da via de acesso, sobre as mercadorias estrangeiras incide o imposto

de importação. Nesse sentido, Aliomar Baleeiro preceitua:

A entrada é o ingresso real ou presumido da mercadoria no território nacional, seja a que título jurídico for. Na importação não é relevante que haja negócio jurídico ou transferência da propriedade. Basta considerar que os bens e objetos de uso pessoal do importador (bagagem) podem se sujeitar a imposto.46

Todavia, é importante destacar que existem situações em que o imposto

de importação não incidira. Tais situações encontram-se prescritas nas alíneas “a” a

“e” do § 1º, do artigo 1º, do Decreto-Lei nº 37/66, in verbis:

§ 1º - Para fins de incidência do imposto, considerar-se-á também estrangeira a mercadoria nacional ou nacionalizada exportada, que retornar ao País, salvo se:a) enviada em consignação e não vendida no prazo autorizado;b) devolvida por motivo de defeito técnico, para reparo ou substituição;c) por motivo de modificações na sistemática de importação por parte do país importador;d) por motivo de guerra ou calamidade pública; e) por outros fatores alheios à vontade do exportador.

Da mesma forma, o § 4º do aludido artigo prescreve situações em que o

imposto não incidirá, in verbis:

§ 4o O imposto não incide sobre mercadoria estrangeira:I - avariada ou que se revele imprestável para os fins a que se destinava, desde que seja destruída sob controle aduaneiro, antes de despachada para consumo, sem ônus para a Fazenda Nacional;II - em trânsito aduaneiro de passagem, acidentalmente destruída; ouIII - que tenha sido objeto de pena de perdimento, exceto na hipótese em que não seja localizada, tenha sido consumida ou revendida.

Destarte, nas situações descritas no rol dos aludidos artigos, acima

expostos, não haverá a incidência do imposto de importação.

É imprescindível destacar que para restar caracterizado o fato gerador, e

com isso o imposto incidir sobre a mercadoria, é necessário que esta permaneça no

46 BALEEIRO. op. cit., p. 215.

Page 65: imposto de importação

74

território nacional para consumo. Nessa acepção, Ricardo Cunha Chimenti

preceitua:

(...) não basta o simples ingresso físico da mercadoria no território nacional para restar caracterizado o fato gerador, já que para a incidência do imposto de importação os bens devem estar destinados a nele permanecer de forma definitiva. Assim, mercadorias transportadas de um país para outro por embarcação ou aeronave que simplesmente faça uma escala no Brasil, bem como as mercadorias estrangeiras que ingressam no território nacional tão-somente para participar de feiras ou exposições (retornando à origem depois de cumprida sua finalidade), são situações que não autorizam a incidência do imposto de importação.47

Assim, ressalvadas as hipóteses de não incidência acima delineadas, em

linhas gerais, o imposto de importação incidirá sobre mercadoria estrangeira, tendo

como fato gerador sua entrada no território nacional. O fato gerador do imposto de

importação é tema do próximo item (6.1).

6.1. Fato Gerador

O artigo 19 do Código Tributário Nacional prescreve que o fato imponível

do imposto de importação se dá com a entrada de produtos estrangeiros no

Território Nacional.

Art. 19. O imposto, de competência da União, sobre a importação de produtos estrangeiros tem como fato gerador a entrada destes no território nacional.

Da mesma forma dispõe o artigo 1º do Decreto-Lei nº 37/66, assim como

o artigo 72 do Decreto nº 6.759/2009, in verbis:

Art.1º - O Imposto sobre a Importação incide sobre mercadoria estrangeira e tem como fato gerador sua entrada no Território Nacional.

........................................

Art. 72.  O fato gerador do imposto de importação é a entrada de mercadoria estrangeira no território aduaneiro.

47 CHIMENTI, op. cit., p. 171.

Page 66: imposto de importação

75

Assim, para restar caracterizado o fato imponível, é necessário que a

mercadoria adentre no território aduaneiro, e nele permaneça. Nesse sentido,

seguindo as lições de Alberto Xavier, Aliomar Baleeiro dispõe:

A importação, como fato gerador do imposto de importação, é um fato complexo de formação sucessiva, enquanto se desdobra em vários momentos distintos no tempo. O processo de importação inicia-se com o embarque da mercadoria no exterior, a que se sucede a entrada no território nacional e a designação a consumo interno.48

Haja vista o fato gerador do imposto de importação se dar com a entrada

física do produto ou mercadoria no território nacional, três aspectos se destacam,

quais sejam, o aspecto material, o aspecto espacial e o aspecto temporal.

O aspecto material, conforme os termos da lei vigente, é caracterizado

pela entrada física do produto estrangeiro no território nacional.

O aspecto espacial demarca o local onde a lei considera consumado o

fato gerador. No imposto de importação o local é o território aduaneiro, isto é, o local

onde a mercadoria encontra-se armazenada, sob o controle da alfândega.

O aspecto temporal é o momento da ocorrência do fato gerador. Neste

último aspecto, é importante destacar que a lei, conforme se verifica dos artigos

transcritos acima, dispõe que o fato gerador se dá com a entrada de mercadoria

estrangeira no território aduaneiro.

Entretanto, apesar das aludidas disposições, prevê o artigo 23 do

Decreto-lei nº 37/66, que para efeito do cálculo do imposto, considera-se ocorrido o

fato gerador na data do registro da Declaração de Importação – DI de mercadoria

despachada para consumo, in verbis:

Art. 23 - Quando se tratar de mercadoria despachada para consumo, considera-se ocorrido o fato gerador na data do registro, na repartição aduaneira, da declaração a que se refere o artigo 44.

48 BALEEIRO. op. cit., p. 215.

Page 67: imposto de importação

76

Do mesmo modo dispõe o inciso I do artigo 73 do Decreto nº 6759/2009

(que possui a mesma redação do artigo anterior) quando a mercadoria for

despachada para consumo.

No que tange aos bens e mercadorias constantes das alíneas “a” a “d”, do

inciso II, do referido artigo, o fato gerador, para efeito do cálculo do imposto,

ocorrerá no dia do lançamento do correspondente crédito tributário, nestes termos:

Art. 73.  Para efeito de cálculo do imposto, considera-se ocorrido o fato gerador (Decreto-Lei no 37, de 1966, art. 23, caput e parágrafo único):(...)II - no dia do lançamento do correspondente crédito tributário, quando se tratar de:a) bens contidos em remessa postal internacional não sujeitos ao regime de importação comum;b) bens compreendidos no conceito de bagagem, acompanhada ou desacompanhada;c) mercadoria constante de manifesto ou de outras declarações de efeito equivalente, cujo extravio ou avaria tenha sido apurado pela autoridade aduaneira; oud) mercadoria estrangeira que não haja sido objeto de declaração de importação, na hipótese em que tenha sido consumida ou revendida, ou não seja localizada.

Assim, em linhas gerais, o fato gerador do imposto de importação se dá

quando do desembaraço aduaneiro, onde, na repartição fiscal aduaneira, na exata

ocasião em que se analisa o câmbio do dia do registro da declaração realizada, para

a conversão do valor do produto.

Encontra-se sedimentado pelo STF que o fato gerador do imposto de

importação ocorre na data do registro da declaração apresentada pelo importador à

repartição alfandegária competente. (RE 237.986-CE – 1ª Turma – rel. Min. Ilmar

Galvão – j. 06.04.1999 – RTJ, vol. 171, p.354-356).

6.2. Lançamento

Page 68: imposto de importação

77

O lançamento do imposto de importação é ato administrativo praticado

pela autoridade competente, que constitui o crédito tributário, com o escopo de obter

o valor do tributo correspondente.

O lançamento do imposto de importação se da por homologação, visto

que, por disposição da legislação específica, o sujeito ativo antecipa o pagamento

do tributo e, posteriormente, a autoridade realiza o ato homologatório do pagamento.

No entanto, alguns autores entendem que o lançamento do imposto em

comento é por declaração. Nesse sentido, Ana Flávia Messa preceitua: O

lançamento do imposto sobre a importação de produtos estrangeiros é por

declaração.49 Seguindo os ensinamentos de Osíris de Azevedo Lopes Filho, Paulino

Manfrinato dispõe: O lançamento do imposto de importação é por declaração,

característico dos regimes aduaneiros50.

A explicação do mencionado autor é que a lei aduaneira estabelece a

obrigatoriedade de se apresentar a declaração de importação, como elemento

básico para o despacho aduaneiro.

Destarte, o importador deverá fazer a declaração de importação com

todas as informações necessárias, pois referida declaração é o marco inicial tanto do

despacho aduaneiro como do respectivo lançamento, formalizando, desta forma, o

crédito tributário, efetuando-se, com antecipação, o pagamento do valor do imposto

apurado.

Assim, consagrando os preceitos de Paulo Manfrinato, no que tange ao

pagamento do crédito tributário de forma facilitada, o Fisco disponibilizou, no sitio do

Ministério da Fazenda, o software SISCOMEX para preenchimento da DI

(Declaração de Importação) pelo importador. O importador deverá prestar todas as

informações necessárias, bem como recolher o valor do tributo, que poderá ser pago

por meio de débito automático em conta corrente bancária, ou através de DARF

eletrônico.

49 MESSA, op. cit., p. 339.50 MANFRINATO, op. cit., p. 104.

Page 69: imposto de importação

78

Desta forma, não havendo nenhuma irregularidade, o que se verifica com

o despacho aduaneiro, isto é, com as etapas da conferência alfandegária, mediante

o exame da documentação e da verificação da mercadoria, acontecerá o

desembaraço aduaneiro, que libera a entrega do bem, produto ou mercadoria ao

sujeito passivo.

6.3. Isenção do Imposto de Importação

Conforme preceitua o artigo 176 do Código Tributário Nacional, abaixo

transcrito, a isenção de um tributo é concedida de forma geral ou específica,

mediante lei, afastando a tributação que seria exigida do sujeito passivo. É possível

estipular prazos e condições para a sua concessão.

Art. 176. A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração.

Assim, observando o princípio da estrita legalidade, somente a lei poderá

isentar um contribuinte do pagamento de tributo. Nesse sentido, Luciano Amaro

preceitua:

Desnecessário é frisar que a isenção, por atuar, como norma de exceção, no plano da incidência do tributo, é matéria de lei, a que cabe a definição do seu regime jurídico (CTN, art. 176). Diante disso, o mínimo que se pode exigir da norma isentiva é que “especifique (...) os tributos a que se aplique” (como pede o CTN, no citado art. 176).51

No campo do imposto de importação, a isenção é concedida nos termos,

limites e condições estabelecidas no regulamento, aos entes públicos, instituições,

51 AMARO, op. cit., p. 159.

Page 70: imposto de importação

79

pessoas físicas e jurídicas e determinados produtos, mencionadas no rol do artigo

15, assim como do artigo 16, do Decreto-Lei nº 37/66, in verbis:

Art.15 - É concedida isenção do imposto de importação nos termos, limites e condições estabelecidos no regulamento:I - à União, Estados, Distrito Federal e Municípios;II - às autarquias e demais entidades de direito público interno;III - às instituições científicas, educacionais e de assistência social;IV - às missões diplomáticas e repartições consulares de caráter permanente, e a seus integrantes;V - às representações de órgãos internacionais e regionais de caráter permanente, de que o Brasil seja membro, e a seus funcionários, peritos, técnicos e consultores estrangeiros, que gozarão do tratamento aduaneiro outorgado ao corpo diplomático quanto às suas bagagens, automóveis, móveis e bens de consumo, enquanto exercerem suas funções de caráter permanente;VI - às amostras comerciais e às remessas postais internacionais, sem valor comercial;VII - aos materiais de reposição e conserto para uso de embarcações ou aeronaves, estrangeiras;VIII - às sementes, espécies vegetais para plantio e animais reprodutores;IX - aos aparelhos, motores, reatores, peças e acessórios de aeronaves importados por estabelecimento com oficina especializada, comprovadamente destinados à manutenção, revisão e reparo de aeronaves ou de seus componentes, bem como aos equipamentos, aparelhos, instrumentos, máquinas, ferramentas e materiais específicos indispensáveis à execução dos respectivos serviços;XI - às aeronaves, suas partes, peças e demais materiais de manutenção e reparo, aparelhos e materiais de radiocomunicação, equipamentos de terra e equipamentos para treinamento de pessoal e segurança de vôo, materiais destinados às oficinas de manutenção e de reparo de aeronave nos aeroportos, bases e hangares, importados por empresas nacionais concessionárias de linhas regulares de transporte aéreo, por aeroclubes, considerados de utilidade pública, com funcionamento regular, e por empresas que explorem serviços de táxis-aéreos;XII - às aeronaves, equipamentos e material técnico, destinados a operações de aerolevantamento e importados por empresas de capital exclusivamente nacional que explorem atividades pertinentes, conforme previstas na legislação específica sobre aerolevantamento.

..............................................

Art.16 - Somente podem importar papel com isenção de tributos as pessoas naturais ou jurídicas responsáveis pela exploração da indústria de livro ou de jornal, ou de outra publicação periódica que não contenha, exclusivamente, matéria de propaganda comercial, na forma e mediante o preenchimento dos requisitos indicados no regulamento.

Assim, conforme menciona no artigo 15, acima descrito, o regulamento irá

dispor sobre os termos, limites e condições da isenção. Desta forma, os artigos 114

a 138 do Regulamento Aduaneiro - RA (Decreto nº 6.759/2009) especificam as

Page 71: imposto de importação

80

modalidades do alcance da isenção do imposto de importação. Todavia, por ser

matéria muito ampla, é cogente ater-se apenas à sua finalidade.

Destarte, o desígnio de determinadas isenções, mediante lei específica, é

estimular o implemento de iniciativas, ou ainda, de atividades de interesse público,

como por exemplo, a Zona Franca de Manaus. Referida Zona foi instituída pelo

Decreto-Lei nº 288/67, que constituiu uma série de isenções pautadas nas

importações e exportações em área delimitada. Seu objetivo é desenvolver a região

amazônica. Tais benefícios estão garantidos pelo menos até o ano de 2.023. (artigos

40 e 92 do ADCT – observadas os preceitos do Decreto nº 205/91)

6.4. Imunidade do Imposto de Importação

Essencialmente, é importante destacar que imunidade tributária é

condição que certas pessoas e instituições possuem de não arcarem com o ônus do

tributo, em razão de certas características delineadas na Lei Maior. Nessa acepção,

Luciano Amaro preceitua:

Não obstante, não quer a Constituição que determinadas situações materiais sejam oneradas por tributos (ou por algum tributo em especial). Dessa forma, complementando o desenho do campo sobre o qual será exercida a competência tributária, a Constituição exclui certas pessoas, ou bens, ou serviços, ou situações, deixando-os fora do alcance do poder de tributar.52

No que tange à imunidade do imposto de importação, a Constituição

Federal dispõe, em seu artigo 150, inciso VI, alínea “c”, assim como no § 4º do

aludido artigo, que é vedado aos entes da federação a instituição de impostos sobre

o patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das

entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência

social, sem fins lucrativos. Contudo, tais vedações compreendem somente o

patrimônio, a renda e os serviços relacionados às suas essencialidades, conforme

dispositivo abaixo transcrito:

52 AMARO. op. cit., p. 151.

Page 72: imposto de importação

81

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:(...)VI - instituir impostos sobre:c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei;(...)§ 4º - As vedações expressas no inciso VI, alíneas "b" e "c", compreendem somente o patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas.(...)

Assim, se mencionadas entidades ou instituições quiserem adquirir bens

para compor seu patrimônio, ou ainda, equipamentos destinados à execução de

suas atividades de caráter educacional ou assistencial, estarão imunes do imposto

de importação. É desta forma que o Supremo Tribunal Federal vem decidindo,

conforme se verifica da jurisprudência abaixo:

EMENTA: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA. IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS E IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO. ENTIDADE DE ASSISTÊNCIA SOCIAL. IMPORTAÇÃO DE “BOLSAS PARA COLETA DE SANGUE”.

O caso trata-se de um Recurso Extraordinário interposto pela União

(recorrente), em face de um Mandado de Segurança interposto por sociedade

beneficente (recorrida), a qual requereu o afastamento do imposto de importação

aplicado pelo aludido ente. O STF afastou a exigência do imposto de importação

aplicado pela União à recorrida (sociedade beneficente), tendo em vista que a

natureza da referida entidade é de assistência social, enquadrando-se assim, na

imunidade prevista no artigo 150, inciso VI, alínea “c”, da Constituição Federal. (RE.

nº 243.807-3 – São Paulo – Rel. Min. Ilmar Galvão).

Nessa conjuntura, a imunidade prevista na Constituição aplica-se a sujeito

de direito que atenda aos requisitos legais, consentindo ao ente sem finalidades

lucrativas, que atuar em benefício do público, a imunidade de tributos, inclusive do

imposto de importação, os quais possam incidir sobre o patrimônio, renda e serviços

imprescindíveis à consecução de suas atividades.

Page 73: imposto de importação

82

7. TRATADOS E CONVENÇÕES INTERNACIONAIS APLICÁVEIS AO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

7.1. Noções Gerais sobre Tratados e Convenções Internacionais

Tratado Internacional é um acordo resultante da convergência dos

anseios de dois ou mais sujeitos de direito internacional, formalizada num texto

escrito, com objetivo de produzir efeitos jurídicos no plano internacional. O artigo 2º,

§ 1º, alínea “a” da Convenção de Viena de 69, apresenta a definição de Tratado, in

verbis:

(...)§ 1º - tratado significa um acordo internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo direito internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja a sua denominação particular.

Assim, o tratado é utilizado para a formalização de acordos solenes, como

por exemplo, o Tratado de Assunção de 26/03/1991, que criou a MERCOSUL.

Já o tratado que cria normas gerais é denominado Convenção, como por

exemplo, a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961.

É mister mencionar que existem diversas terminologias para “tratados”,

como por exemplo: convenção, declaração, pacto, acordo, concordata, protocolo,

entre outros, contudo, cada nomenclatura possui características próprias.

Page 74: imposto de importação

83

A eficácia dos tratados e sua inserção no ordenamento jurídico nacional

deverão atender aos requisitos e condições de validade, como por exemplo, a

habilitação dos agentes signatários, objeto lícito e possível, consentimento mútuo

dos participantes, etc.

É importante destacar que no Brasil os tratados são celebrados pelo

presidente da República ou seus auxiliares, sendo que, em alguns casos, os

tratados são sujeitos a referendo pelo Congresso Nacional, conforme dispõem os

artigos 84, inciso VIII; e 49, inciso I; ambos da Constituição Federal de 1988, in

verbis:

Art. 84 – Compete privativamente ao Presidente da República:(...)VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;..........................................

Art. 49 – É da competência exclusiva do Congresso Nacional:I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

Dessa forma, com a promulgação do tratado, verifica-se a integração de

seus preceitos no ordenamento jurídico nacional, passando a compor o próprio

direito interno, como diretriz a ser respeitada, conforme dispõe o § 2º do artigo 5º da

Magna Carta, nestes termos:

(...)§ 2 - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

Destarte, tanto as regras gerais de validade de um tratado, como as

regras e normas fundamentais concernentes ao ordenamento jurídico do País, são

de observância imprescindível para a formação e conclusão de um acordo

internacional, o qual passará a integrar o ordenamento jurídico pátrio.

Todavia, observando o objetivo do presente trabalho, o foco do presente

título será voltado aos tratados, convenções e acordos internacionais que versam

Page 75: imposto de importação

84

sobre o imposto de importação, o qual também é conhecido como tarifa aduaneira,

ou ainda, tarifa alfandegária, os quais serão delineados no próximo item.

7.2. Tratados e Convenções Internacionais que versam sobre a Tarifa Alfandegária (imposto de importação)

Os tratados mais expressivos acerca da importação ratificados pelo Brasil

são: a) Convenção de Viena; b) GATT; c) ALALC; d) ALADI; e) OMC; f)

MERCOSUL.

Nesse sentido, mesmo que de forma sucinta, é imprescindível abordar

sobre cada um dos referidos tratados para entendimento da importância que estes

têm no instituto do imposto de importação e, conseqüentemente, no seu caráter

extrafiscal.

José Eduardo Soares de Melo fez alusão à Convenção de Viena, como

uma convenção significativa no âmbito das importações, por se tratar de um tratado

que cuida dos direitos dos tratados, estabelecendo regras e normas que devem ser

respeitadas para a validade de qualquer acordo internacional. Tal convenção fora

firmada por 110 países, em 23.05.1969.53

O GATT – General Agreement on Tariffs and Trade (Acordo Geral de

Tarifas Aduaneiras e Comércio), em vigor pela Lei 313, de 30.07.1948, é uma

organização intergovernamental para a cooperação econômica e atividade comercial

de seus membros, mediante a aceitação da cláusula da Nação mais Favorecida,

objetivando uma redução geral dos tributos aduaneiros e abolição de discriminação

na relação entre seus membros.

53 MELO, op. cit., p. 40.

Page 76: imposto de importação

85

A ALALC – Associação Latino Americana de Livre Comércio foi instituída

pelo Tratado de Montevidéu, em 1960. Sua celebração se deu entre Argentina,

Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Uruguai, os quais aderiram, sucessivamente,

Colômbia, Equador, Venezuela e Bolívia. O principal objetivo era a implantação de

um mercado comum regional, mediante a formação de uma zona de livre comércio.

A ALADI – Associação Latino Americana de Integração, formada por 12

Estados, quais sejam, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador,

México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela, foi criada pelo Tratado de

Montevidéu, em 1980. Seu objetivo principal era estabelecer, de forma gradual e

progressiva, um mercado comum latino-americano.

A OMC – Organização Mundial do Comércio foi fundada, em 1995, pela

Sociedade Internacional na cidade de Genebra, na Suíça. Abrangendo 145 Estados

a OMC constitui um sistema multilateral de comércio integrado, que tem como

principal escopo a solução de controvérsias inerentes ao comércio internacional.

O MERCOSUL – Mercado Comum do Sul foi constituído pelo Tratado de

Assunção, em 26.03.1991, tendo por objetivo a constituição de um mercado comum

entre a Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Os países da MERCOSUL procuram,

observando a tendência da criação de blocos econômicos, inserirem-se no mercado

internacional com maior competitividade visando, desta forma, a expansão de seus

mercados.

Dessa forma, o bloco econômico tem como objetivo o alcance da redução

das tarifas alfandegárias até sua extinção, o estabelecimento de uma união

aduaneira e a criação de um mercado comum.

7.3. Integrações Regionais

As integrações regionais, anseios do grande projeto comercial

denominado MERCOSUL, visam à formação de relações econômicas entre países,

com o objetivo de incentivar a produção nacional, bem como a inserção dos países

do bloco no mercado internacional, mediante a redução ou eliminação total de

imposto (tarifas), e ainda, por meio de adoção de tarifa externa comum. Segundo

Page 77: imposto de importação

86

José Eduardo Soares de Melo, as integrações regionais são as seguintes: Zonas

Preferências, Zonas de Livre Comércio, União Aduaneira e Mercado Comum54.

Essencialmente, as integrações regionais visam a redução de tarifas ou

sua eliminação, a adoção de tarifa externa comum (TEC) ou a livre circulação de

mercadorias e de fatores produtivos.

Assim, os tratados firmados pelo Brasil em matéria tributária, mais

precisamente os que versam sobre o imposto de importação (tarifas aduaneiras ou

tarifas alfandegárias) visam a expansão do comércio exterior, a proteção do

mercado interno, bem como tendem a dar efetividade ao disposto no § único do

artigo 4º da CF, o que denota medida efetiva de consolidar uma política econômica

favorável para o País, motivo pelo qual as alíquotas do imposto de cada produto ou

mercadoria importada variam, alterando-se quando é possível (observância dos

acordos e tratados internacionais – como por exemplo, com referência aos produtos

oriundos de terceiros países, o Brasil assumiu o compromisso junto ao GATT, de

aplicar determinadas alíquotas, e ainda, a adoção da Tarifa Externa Comum – TEC,

instituída por meio do Tratado de Assunção) e necessário (proteção das indústrias –

como por exemplo as automobilísticas, utilizando-se da cláusula de salvaguarda),

medidas estas que o Poder Executivo faz uso, nos termos da lei, assim como das

normas dos tratados, os quais integram o ordenamento jurídico pátrio.

54 MELO, op. cit., p. 38-39.

Page 78: imposto de importação

87

8. A EXTRAFISCALIDADE NO IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO

A extrafiscalidade no imposto de importação é figura de derradeira

importância porquanto visa a intervenção estatal no domínio econômico do País,

através da redução ou majoração das alíquotas buscando, desta forma, o

desenvolvimento econômico-social do Estado.

Fundamentalmente, antes de abordar sobre o aludido assunto, principal

objeto do presente trabalho, é indispensável, mesmo que de forma sucinta, fazer

referência sobre a origem da extrafiscalidade, bem como sobre a sua importância

para o Estado.

8.1. A Origem Histórica da Extrafiscalidade

Não é possível determinar com precisão a origem histórica da

extrafiscalidade, visto que pouco se aborda sobre este instituto em si. Todavia, há

momentos históricos que o vislumbram.

Segundo Flávio de Azambuja Berti: “são ocasiões em que os órgãos do governo fizeram uso do tributo ou de institutos próximos para garantir o alcance de metas distintas daquela restrita a simples arrecadação de fundos para o Estado.55

Pode-se citar como exemplo da extrafiscalidade na história, contudo não

muito distante, o pós-guerra da 2ª Guerra Mundial, onde permaneceram enormes

55 BERTI, Flávio de Azambuja. Impostos, Extrafiscalidade e Não-confisco. 2ª Ed. Curitiba: Editora Juruá, 2006. p. 48.

Page 79: imposto de importação

88

rastros de destruição de cidades, famílias, exércitos, sendo necessárias medidas

rápidas e eficazes para suprir as necessidades básicas da sociedade, as quais

foram adotadas pelo Estado por meio da extrafiscalidade tributária.

Outro exemplo, retroagindo um pouco mais na história, a extraficalidade

aparece em remissões e incentivos estabelecidos pela Coroa Portuguesa e

Espanhola, com o objetivo de financiar as grandes navegações que partiam para a

descoberta de novos mundos.56

Nessa acepção, é coerente afirmar que a extrafiscalidade apareceu na

história da humanidade muito antes dos referidos exemplos, quiçá de formas

alienígenas, contudo, não se pode afirmar, pois, conforme já acima aludido, há

pouca abordagem sobre o assunto, sendo que talvez, através de um profundo

estudo, possa se chegar a alguma conclusão, contudo, no presente trabalho, visa-se

a destacar este instituto (extrafiscalidade) no imposto de importação, inclusive a sua

importância para o Estado Brasileiro, o que será realizado nos próximos itens (8.2 e

8.3).

8.2. A Importância da Extrafiscalidade para o Estado

A extrafiscalidade consiste no emprego de instrumentos valiosos que tem

como escopo regulamentar certos setores sócio-econômicos, visando o

desenvolvimento nacional mediante a correção de irregularidades que impedem o

crescimento do país, ou fomentando os aludidos setores para a satisfação dos

interesses públicos e coletivos.

É importante destacar que com o fim da Segunda Guerra Mundial, o

Estado, que possuía um modelo Liberal, passou à Social, visto que a sociedade

encontrava-se desamparada por conta da calamidade alastrada pelo mundo,

obrigando o Estado a assumir maiores atribuições de cunho social, de forma que

para cumprir o encargo, necessário se fez utilizar-se de instrumentos extrafiscais

incidentes na política e economia, a fim de efetivar medidas incentivadoras para

desenvolvimento do país com a geração de emprego, diminuição da inflação,

56 BERTI, op. cit., p. 49.

Page 80: imposto de importação

89

promoção do desenvolvimento econômico, dentre outros, tudo em face das

necessidades básicas aclamadas pela sociedade.

Destarte, o Poder Público utiliza-se de alguns tributos de caráter

extrafiscal para alcançar os seus objetivos finalísticos, ou seja, o Estado, através da

regulamentação de alguns setores, busca a segurança da nação, com o pleno

desenvolvimento econômico, político e social, a fim de alcançar o bem de toda a

nação. Nessa acepção, seguindo as lições de Aliomar Baleeiro, Flavio de Azambuja

Berti cita as aludidas lições acerca da denominação da extrafiscalidade por meio do

tributo:

Costuma-se denominar de extrafiscal aquele tributo que não almeja, prioritariamente, prover o Estado dos meios financeiros adequados a seu custeio, mas antes visa a ordenar a propriedade de acordo com a sua função social ou a intervir em dados conjunturais (injetando ou absorvendo a moeda em circulação) ou estruturais da economia (..).57

Assim, com o desígnio de atingir alvos que não sejam, essencialmente, a

arrecadação, o Estado maneja alíquotas do tributo a fim de regulamentar setores da

economia, da política e do social, promovendo, por exemplo, o desenvolvimento e a

proteção da industria nacional, maiores ofertas de emprego, o acesso à educação

superior, o que denota a extrafiscalidade algo decorrente da supremacia do

interesse público sobre o particular, o que significa dizer que tudo àquilo que for bom

para nação em geral, é bom para o individual, e é justamente pensando no

desenvolvimento da nação que a Magna Carta traz em seu bojo disposições legais

que ratificam a interferência do Estado sobre o social e o econômico. O artigo 3º da

Constituição Federal traz em seus incisos os objetivos fundamentais da Republica

Federativa do Brasil, demonstrando que o nosso País é, sobretudo, social, in verbis:

Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;II – garantir o desenvolvimento nacional;III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

57 BERTI, op. cit., p. 42.

Page 81: imposto de importação

90

Conforme se verifica do mencionado dispositivo legal, o uso da

extrafiscalidade é conveniente para promover medidas que reduzam as

desigualdades sociais e regionais, erradicando a pobreza e a marginalização (inciso

III). Da mesma, a fim de garantir o desenvolvimento nacional, o Estado faz uso da

extrafiscalidade intervindo no domínio econômico do país (inciso II).

Portanto, diante do exposto, verifica-se a importância do uso da

extrafiscalidade pelo Estado, através dos tributos, como instrumento eficaz para o

desenvolvimento nacional, tanto social como econômico, garantindo a paz e a

prosperidade da nação.

8.3. O Caráter Extrafiscal do Imposto de Importação

O imposto de importação, de forma geral, é um imposto aplicado sobre a

mercadoria estrangeira que ingressa no território aduaneiro. Sua função é

predominantemente extrafiscal, ou seja, sua função é muito mais importante como

instrumento regulador da economia nacional, no que tange, principalmente, a

proteção da indústria e do mercado interno, não possuindo, portanto, fins

arrecadatórios.

Assim, o manejo das alíquotas do imposto de importação pelo Estado tem

como escopo o protecionismo das indústrias nacionais, garantindo que os produtos

pátrios ou similares do estrangeiro produzidos no país tenham mercado e com isso

haja a salvaguarda do nível de empregos. Nesse sentido, Hugo de Brito Machado

preceitua:

Se não existisse o imposto de importação, a maioria dos produtos industrializados no Brasil não teria condições de competir no mercado com seus similares produzidos em países economicamente mais desenvolvidos, onde o custo industrial é reduzido graças aos processos de racionalização da produção e ao desenvolvimento tecnológico de um modo geral. Além disto, vários países subsidiam as exportações dos produtos industrializados, de sorte que os seus preços ficam consideravelmente reduzidos. Assim, o imposto de importação funciona como valioso instrumento de política econômica.58

58 MACHADO, op. cit., 325.

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91

Deste modo, o emprego da extrafiscalidade no imposto de importação

surge como um meio dinâmico capaz de desestimular a importação de bens e

produtos/mercadorias estrangeiros, para beneficiar os bens e produtos/mercadorias

nacionais.

É justamente por esta finalidade que o imposto de importação é exceção

à vários princípios constitucionais e tributários, conforme pode ser verificado dos

capítulos 2 e 3, mas à titulo de exemplo, cita-se a exceção ao Princípio da

Legalidade (não em toda sua amplitude porquanto deverá ser observado os limites

fixados em lei), Princípio da Anterioridade, Princípio da Capacidade Contributiva.

Ainda, por conta desta peculiar finalidade, a Constituição Federal, no

parágrafo 1º do artigo 153, outorga ao Poder Executivo, nos limites definidos em lei,

a alteração das alíquotas do aludido imposto com o desígnio de ajustá-lo aos

objetivos da política cambial e do comércio exterior.

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I – importação de produtos estrangeiros;(...)§ 1 º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.

Destarte, não há em que se falar em afastamento da aplicabilidade dos

princípios constitucionais e tributários porquanto a própria Constituição outorgou

esta faculdade ao Executivo. Todavia, vale destacar que não se trata de

discricionariedade, pois deve-se respeitar os limites estabelecidos em lei, bem como

os tratados internacionais que o Brasil seja parte.

Portanto, a importância finalística da extrafiscalidade inserida na norma

constitucional, assim como na infraconstitucional, tem a obrigação de acolher às

necessidades fidedignas de segurança da nação com a proteção da indústria e do

comércio nacional, a fim de garantir o pleno desenvolvimento do país.

Amiúde se têm notícias veiculadas por todos os meios de comunicação

sobre a interferência estatal no domínio econômico do país, no que se refere ao

Page 83: imposto de importação

92

comércio exterior, com a majoração do imposto de importação. Como exemplo

recente, pode-se citar o aumento da alíquota do imposto de importação de 35% para

50% sobre o valor de veículos importados, produzidos nos Estados Unidos. Referido

aumento se deu porquanto o Brasil venceu na OMC (Organização Mundial do

Comércio), o direito de retaliar os Estados Unidos da América por conceder

subsídios à produção e à exportação de algodão, comprometendo, desta forma, a

livre concorrência dos mercados. Aludida notícia fora difundida pela “Folha on line”,

e pode ser mais bem analisada logo abaixo.

A lista de produtos produzidos nos Estados Unidos que terão elevação na alíquota de imposto de importação reúne mais de 100 itens, como veículos (aí incluídas as motocicletas), pneus, cosméticos, óculos, produtos do algodão, alimentos e soro de leite. A relação foi publicada nesta segunda-feira (08/03) no Diário Oficial da União com as novas alíquotas, que entrarão em vigor dentro de 30 dias.

O Brasil ganhou na Organização Mundial de Comércio (OMC) o direito de retaliar os Estados Unidos por conceder subsídios à produção e à exportação de algodão. O valor pode chegar a US$ 560 milhões (algo como R$ 1 bilhão) em importações de bens por ano. A secretária executiva da Camex, Lytha Spíndola, explicará a escolha dos itens selecionados em uma lista de 222 produtos colocados em consulta pública no final do ano passado.

Pela nova alíquota, o imposto de importação para veículos passou de 35% para 50% do valor do produto. Cosméticos, como cremes de beleza e xampus, passam a ter alíquota de 36%. O soro de leite passará a ser importado com alíquota de 48%. Também constam da lista metanol (com alíquota de 22%), paracetamol (28%), leitores de códigos de barras (22%) e fones de ouvido (40%). Como retaliação, o Brasil poderia subir as alíquotas

em até 100%. Fonte: Agência Estado / G1 / Folha Online / Financial Times.

A aludida notícia ressalta a interferência do nosso Estado no domínio

econômico do país como medida de protecionismo das indústrias pátrias, pois na

medida em que o governo dos Estados Unidos subsidiava a produção e a

exportação de algodão, acabava por prejudicar a livre concorrência de outros

mercados, como o Brasil, que da mesma forma, produzia o produto, porém acabava

prejudicado na exportação. Assim, nada mais justo do que a medida de retaliação

adotada por nossa Nação, aumentando o imposto de importação dos veículos por

eles (Estados Unidos) produzidos.

Verifica-se, portanto, a suma importância do caráter extrafiscal do imposto

de importação, pois se trata de medida essencialmente regulatória na condução da

economia ou na correção de circunstâncias indesejadas.

Page 84: imposto de importação

93

Todavia, apesar de toda sua importância, há quem diga que o caráter

extrafiscal do imposto de importação fere princípios fundamentais, é o que se pode

verificar no julgado abaixo descrito.

EMENTA: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO DE VEÍCULOS USADOS. VEDAÇÃO: PORTARIA Nº 8/91 – DECEX. VULNERAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ISONOMIA E DA LEGALIDADE. INEXISTÊNCIA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.1. Imposto de importação. Função predominantemente extrafiscal, por ser muito mais instrumento de proteção da indústria nacional do que de arrecadação de recursos financeiros, sendo valioso instrumento de política econômica... Improcedência de ofensa ao princípio da legalidade. 3. Princípio da isonomia. Vulneração. Inexistência. 3.1. A restrição à importação de bens de consumo usados tem como destinatários os importadores em geral, sejam pessoas jurídicas ou físicas. Lícita, pois, a restrição à importação de veículos usados. Recurso extraordinário conhecido e provido.

Neste caso, o Tribunal “a quo” negou provimento ao recurso de apelação

da União, a qual se insurgiu contra sentença que entendeu ilegal a vedação de

veículos usados, deferindo a segurança requerida pelo importador “X”, sob o

fundamento de haver-se caracterizado violação aos princípios da isonomia e da

legalidade tributária. Contra a aludida decisão fora interposto (pela União Federal)

recurso extraordinário, sustentando a legalidade da norma restritiva e a ausência de

vulneração ao princípio da legalidade. No julgamento do aludido acórdão, sustentou-

se que o conceito de igualdade e desigualdade são relativos, ainda mais no que se

refere a norma tributária, sustentando-se ainda que não houve desrespeito algum ao

princípio da legalidade tributária, pois o imposto de importação, nos limites fixados

em lei, é exceção ao referido princípio, uma vez que a sua existência tem função

extrafiscal, sendo sua essência predominantemente regulatória, com a finalidade de

proteção das indústrias nacionais. Destarte, não há em que se falar em afastamento

dos princípios constitucionais e tributários.

Assim, mais uma vez, é importante destacar que o imposto de importação

e o seu caráter extrafiscal é extremamente imprescindível para a condução da

economia, com a intervenção estatal no domínio econômico do país, tendo como

sublime escopo o de proteger a indústria e comércio nacional, visando o regular

desenvolvimento nacional, atingindo, desta forma, o bem comum de todo o Brasil.

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