XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Importância da Ultrassonografia no Diagnóstico de Gestação em

Caprinos e Ovinos

José Carlos Ferreira da Silva1, Pamela Ramos de Deus 2, Priscila Germany Corrêa da Silva3, Marcelo Tigre Moura4, Marcos Antônio Lemos de Oliveira5.

Introdução

A ovinocaprinocultura é uma atividade de grande importância no nordeste brasileiro, principalmente nos estados da Bahia, Ceará, Piauí e Pernambuco, proporcionando uma fonte alternativa de proteína animal e contribuindo significativamente na oferta de alimentos (Simplício et al., 2004). A criação de pequenos ruminantes no cenário mundial vem apresentando inegável crescimento nos aspectos qualitativos e quantitativos, sobretudo nos países em desenvolvimento, que são os detentores dos maiores rebanhos, devido, principalmente à introdução comercial de biotecnologias como a inseminação artificial, transferências de embriões e produção in vitro de embriões (Chaves et al., 2012). Segundo Nogueira Filho (2000), os maiores detentores de rebanhos ovinos são: a Austrália, a China e a Nova Zelândia, que concentram, respectivamente, 28%, 14% e 9% do efetivo mundial. Quanto aos caprinos, os maiores criadores são a Índia, a China e o Paquistão, que, conjuntamente, concentram 42% do rebanho do globo.

O Brasil conta com um rebanho de ovinos e caprinos que, somados, representam 32 milhões de cabeças, equivalentes a 3,3% do efetivo mundial, o qual é superior a 990 milhões de animais. Considerando a dimensão territorial brasileira e as condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento dessa atividade, nossos rebanhos são numericamente inexpressivos, sobretudo quando comparados com a criação de bovinos, cujo efetivo nacional é da ordem de 150 milhões de cabeças. A Região Nordeste possui 10,4 milhões de caprinos e 7,2 milhões de ovinos, correspondendo, respectivamente, a 88% e 39% dos rebanhos do País. O Estado da Bahia concentra os maiores plantéis dessas espécies, com aproximadamente 30% do efetivo da região nordeste seguido por Piauí, Pernambuco e Ceara com 20%, 15% e 11% respectivamente.

A introdução de caprinos de raças exóticas no Brasil através da importação de matrizes, sêmen e embriões de alto valor zootécnico tem sido intensificada nos últimos anos. Esse novo direcionamento tem modificado o modelo de produção, que paulatinamente substitui uma atividade de subsistência por uma mais tecnificada e exigente, na qual a adoção de biotécnicas intensifica o melhoramento genético dos rebanhos e garante a rotatividade do capital investido (Santos et al., 2007). O diagnóstico precoce da gestação e essencial tanto para o manejo reprodutivo quanto para a produção econômica, agregam valor à pecuária de alta tecnologia, porque racionalizam as ações de manejo, qualificam e valorizam o comércio de fêmeas gestantes (Hafez & Hafez, 2004; Santos et al., 2004).

Nesta revisão estão presentes os principais métodos ultrassonográficos de diagnóstico de prenhez nos pequenos ruminantes enfatizando a sua metodologia.

Estudo da Arte

O diagnóstico precoce de prenhez em caprinos, como em outras espécies domésticas, tornou-se uma necessidade em regimes de manejo semi-intensivo e intensivo dentro do sistema de exploração produtivo. A prática do repasse mediante o uso de rufião e o não retorno ao estro não são métodos eficazes de diagnóstico de prenhez servindo, apenas, como elementos auxiliares. Ainda, em caprinos, não é possível proceder a palpação do sistema genital através do reto, objetivando o diagnóstico de prenhez como é feito na égua e na vaca Por outro lado, a incapacidade de proceder-se o diagnóstico precoce de prenhez na cabra pode resultar em perdas econômicas significativas, quer em sistema de produção de leite quer de carne, devido ao aumento no intervalo entre partos (Freitas & Simplício, 1999).

Um adequado diagnóstico de gestação se torna essencial também para garantir a eficácia do manejo reprodutivo de um rebanho. Entre os varios meios usados no diagnóstico de gestação em cabras e ovelhas, os que utilizam o princípio da ultrassonografia é que merecem destaque, pois além de serem não invasivos, aliam precocidade e acurácia. O Modo-A, sistema Doppler e o Modo-B em tempo real. Todos os três métodos podem ser usados em condições de campo. A

1 Primeiro Autor é Bolsista de PIBIC do Laboratório de Biotécnicas da Reprodução do Departamento de Medicina Veterinária/UFRPE., Av. D. Manoel de Medeiros, s.n. Dois Irmãos, CEP: 52171 900, Recife, PE.

2 Segundo Autor é Bolsista de PIBIC do Laboratório de Biotécnicas da Reprodução do Departamento de Medicina Veterinária/UFRPE., Av. D. Manoel de Medeiros, s.n. Dois Irmãos, CEP: 52171 900, Recife, PE..

3 Terceiro Autor é Bolsista de PIBIC do Laboratório de Biotécnicas da Reprodução do Departamento de Medicina Veterinária/UFRPE., Av. D. Manoel de Medeiros, s.n. Dois Irmãos, CEP: 52171 900, Recife, PE.

4 Quarto Autor é Bolsista de Pós-Doutorado do Laboratório de Biotécnicas da Reprodução do Departamento de Medicina Veterinária/UFRPE., Av. D. Manoel de Medeiros, s.n. Dois Irmãos, CEP: 52171 900, Recife, PE.

5 Quinto Autor é Professor do Departamento de Medicina Veterinária Av. D. Manoel de Medeiros, s.n. Dois Irmãos, CEP: 52171 900, Recife, PE.

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

precisão do diagnóstico, o tempo despendido para a realização do exame e a acurácia na determinação do número de fetos e sua idade variam entre as três técnicas e dependem da sensibilidade do equipamento usado e do profissional. Entretanto, independente do método a ser usado deve-se atentar para proceder a jejum hídrico e alimentar de, pelo menos, 12 horas (Peixoto & Silva, 2010).

O efeito Doppler vem sendo mundialmente utilizado em varias espécies e com relativa frequência, tem como principio envolvido no efeito Doppler para a confirmação diagnóstica de prenhes é o registro de movimentos como um indicador da prenhez tais como: a pulsação sanguínea, o batimento cardíaco e os movimentos fetais. Os movimentos são registrados por ondas mecânicas de frequência ultrassônica contínua e de baixa potência que são enviadas para o interior do corpo do animal através de um transdutor. Após serem refletidas retornam ao transdutor produzindo sinais elétricos que são amplificados e audíveis pelo técnico. O Doppler pode ser utilizado por via transabdominal e transretal, no primeiro o transdutor deve ser posicionado no flanco direito, cranialmente ao lado do úbere, com o animal em estação, a segunda técnica é superior a primeira no diagnostico de gestação em virtude da viabilidade fetal poder ser avaliada. (Santos et al., 2004). O princípio de ultrassom analisando a amplitude do eco versus tempo para o diagnóstico de gestação é fundamentado na detecção da faixa fluida presente no útero. A unidade scan-A emite ondas ultrassônicas a partir de um transdutor manual colocado externamente sobre a epiderme do abdômen e em direção ao útero. As ondas ultrassônicas são refletidas entre os diferentes tecidos para o transdutor e transformadas em energia elétrica na forma de sinais audíveis ou visuais. A unidade é sensível a uma profundidade de 10 a 20 cm. Um sinal audível ou luminoso é emitido pela unidade quando uma faixa de estrutura fluida é registrada.

O ultrassom scan-A é considerado um método de diagnóstico de prenhez satisfatório em caprinos para uma idade fetal entre 50 a 120 dias, conforme descrito anteriormente por Santos, (2007) Entretanto, Haibel (1990) descreve uma acurácia de, no mínimo, 95% quando o diagnóstico é feito entre 60 e 80 dias após a cobertura ou inseminação artificial. É importante considerar que a bexiga urinária repleta, a hidrometra e a piometra podem levar a um resultado falso positivo. Por outro lado, resultado falso negativo pode ocorrer no início ou final da prenhez, devido a reduzida quantidade de fluido uterino em relação ao volume de tecido fetal. A viabilidade fetal e o número de fetos não são detectáveis por este método. Ressalta-se que a técnica pode ser muito útil em áreas onde a eletricidade não é disponível. O ultrassom scan-B foi desenvolvido na Austrália e proporciona acurácia, rapidez, segurança e praticidade para diagnosticar a prenhez e determinar o número de fetos. O método produz uma imagem bidimensional e móvel do útero, fluidos fetais, feto, batimento cardíaco fetal e dos placentomas. Para proceder-se o exame a Fêmea deve estar em posição de estação e a parte correspondente à cabeça do transdutor é colocada contra a pele, após a tricotomia, na região inguinal cruzando o abdômen cranialmente. A melhor acurácia é alcançada quando o exame é feito entre 40º e 75º dias após a cobertura ou inseminação artificial, quando o útero prenhe que se encontra em distensão, ocupa principalmente o lado direito do abdômen. Segundo (Ishwar, 1995), quando usado por via transabdominal, permite uma boa acurácia a partir do 50º dia após a cobrição ou inseminação artificial No entanto, Haibel(1990) demonstrou que o diagnóstico de prenhez é possível entre o 25º e o 30º dia após a cobertura ou inseminação artificial desde que se use a via transretal. Para tanto, o reto deve ser esvaziado reduzindo-se a possibilidade das fezes envolverem o transdutor dificultando o contato deste com a parede do reto levando a obtenção de uma imagem de má qualidade. O feto e o seu batimento cardíaco são, geralmente, perceptíveis a partir do 25º dia de prenhez.

A viabilidade fetal pode ser avaliada pelo registro dos movimentos e batimentos cardíacos fetais. Os placentomas podem ser visualizados a partir do 26º dia da prenhez. A possibilidade e a acurácia da determinação do número de fetos com o uso da ultrassonografia em tempo real é uma vantagem sobre as demais técnicas ultrassônicas. Outra vantagem do ultrassom em tempo real é que permite diferenciar com segurança a prenhez de patologias como a hidrometra, da piometra e da mumificação fetal. Nos dois primeiros casos os placentomas estão ausentes e o útero aparece distendido com um fluido ecogênico na hidrometra e um fluido cinza-esbranquiçado na piometra. A mumificação fetal é caracterizada pela ausência de fluido e a presença de uma imagem hiperecogênica.

A idade fetal pode ser determinada entre 40 e 100 dias de prenhez pela mensuração da largura da cabeça conforme descrito por Burstel (2002) o que torna a técnica valiosa na predição do provável período do parto quando a data da cobertura ou inseminação artificial não é conhecida. A ultrassonografia em tempo real para o diagnóstico de prenhez em pequnos ruminantes pode ser fácil e rapidamente dominada, permitindo que um profissional qualificado e com boa experiência obtenha uma acurácia diagnóstica da ordem de 91% a 100%. Diagnóstico falso positivo é raro e pode ser devido à morte embrionária precoce com absorção fetal, aborto não observado ou erro no registro da bexiga como se fosse o útero (Oliveira et al., 2004). O diagnóstico falso negativo pode resultar da imagem pouco detalhada do sistema genital no início da prenhez ou devido a não qualificação e inexperiência do profissional.

Discussão

O diagnostico da gestação em pequenos ruminantes agrega considerável valor econômico, além de permitir o desenvolvimento de um excelente manejo reprodutivo. A escolha do método depende de algumas variáveis (espécie, estádio da gestação, custo, entre outras), Na reprodução de caprinos e ovinos, dentre os modernos recursos que podem ser empregados para o incremento de produtividade, o diagnóstico de gestação por meio da ultrassonografia deve ser considerado o que mais rapidamente confere retorno econômico ao proprietário, e além de não ser um invasivo é bastante eficiente.

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Agradecimentos

Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pela bolsa de Pesquisa.

Referências

Azevedo, E.M.P. Utilização da ultra-sonografia em ovinos e caprinos para diagnosticar a gestação,sexar fetos e predizer a idade da gestação e o peso fetal ao nascimento. Revista do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE, Recife, v.1, n.1, p.109-110, jan-jun, 2007. Bürstel D.; Meinecke-Tillmann S.; Meinecke B.; Ultrasonographic diagnosis of fetal sex in small ruminants bearing multiple fetuses. Vet Record. v.151 n.21. p.635-636. 2002. Chaves, R.M.; Santos Junior, E.R.; Neves. J.P.; Moura, M.T.; Silva, J.C.F.; Lima, P.F.; Oliveira, M.A.L.; Influência Das Estações Seca E Chuvosa Na Capacidade De Desenvolvimento De Oócitos E Produção In Vitro De Embriões Na Espécie Caprina. Revista Ciência Animal Brasileira, v. 14, n.1, p. 135-142, 2013. Freitas, V.J.F.; Simplício, A.A.; Diagnóstico De Prenhez Em Caprinos: Uma Revisão. Ceará, Ciência Animal, v.9 n.2: 51-59. 1999. Hafez, E. S. E.; Hafez, B.; Reprodução animal. 7. ed. São Paulo: Manole, 2004. 513 p. Haibel, G. K. Use of ultrasonography in reproductive management of sheep and goat herds. Food Animal Practice,Veterinary Clinics of North America: v. 3, p. 597-613, 1990. Ishwar, A.K. Pregnancy diagnosis in sheep and goats: a review. Small Rum. Res., v.17, p.37-44, 1995. Nogueira Filho, Antônio. A Cadeia Produtiva Da Ovinocaprinocultura. In Anais Do Iv Seminário Nordestino De Pecuária. Vol. 6. Fortaleza. Fortaleza: Faec, 2000. Oliveira, M.A.L. et al. Aplicabilidade do scan B na reprodução de pequenos ruminantes. In: SANTOS, M.H.B. et al. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. São Paulo: Varela, 2004. Cap.13. p.85-96. Peixoto, G.C.X.; Silva, A.R.; Diagnóstico De Gestação E Sexagem Fetal Em Caprinos Por Ultrassonografia. Acta Veterinaria Brasilica, v.4, Supl., p.S30-S35, 2010. Santos, M.H.B.; Moraes, É.P.B.X.; Chiamenti, A.; J.M.; Rocha, Paula, N.R.O.; Silva, G.A.; Lima, P.F.; Oliveira, M.A.L.; Determinação Do Período De Migração Do Tubérculo Genital Na Sexagem Precoce De Fetos Ovinos Das Raças Damara, Santa Inês E 3/4 Damara-Santa Inês. Ciência Animal Brasileira, v. 8, n. 1, p. 111-117, jan./mar. 2007. Santos M.H.B., Oliveira M.A.L. & Lima, P.F. 2004. Diagnóstico de gestação na cabra e na ovelha. Editora Varela, São Paulo, p.145. Simplício, A.A.; Wander, A.E.; Leite, E.R; Lopes, E.A.; A Caprino-ovinocultura de Corte como Alternativa para a Geração de Emprego e Renda. Sobral: EMBRAPA CAPRINOS, 2004. p.44.