importância da adubação fosfatada em solos tropicais para a cultura da cana

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Revista Canavieiros - Setembro de 2016 68 Importância da adubação fosfatada em solos tropicais para a cultura da cana Sandro Roberto Brancalião, Marcos Guimarães de Andrade Landell, Antonio Lúcio Mello Martins, Márcio Aurélio Pitta Bidóia, Carolina Cattani Najm H istoricamente, a cana-de-açú- car é um dos principais produ- tos agrícolas do Brasil, sendo cultivada desde a época da colonização. Do seu processo de industrialização obtêm-se como produtos o açúcar e o álcool (anidro e hidratado). A cana-de-açúcar representa no agronegócio brasileiro um papel de destaque, gerando divisas com a ex- portação na casa de U$$ 7,7 bilhões, criando empregos diretos e indiretos. O setor sucroalcooleiro responde por cer- ca de 1 milhão de empregos, sendo que 511 mil são diretamente envolvidos na produção de cana-de-açúcar e o restante distribuído na cadeia do processamento do açúcar e do álcool. As perspectivas para o setor são animadoras, sendo que a crescente preocupação da população mundial em relação ao meio ambiente vem exer- cendo uma pressão para a diminuição da utilização dos combustíveis fósseis, responsáveis pela maioria dos gases poluentes à atmosfera. As doses aplicadas de fósforo nas adubações são bem maiores do que as quantidades exportadas, sendo que a exportação de fósforo pela cana é de 10 a 15% da quantidade do fertilizante aplicado (Tomaz, 2009). Em solos tropicais, um dos princi- pais fatores para essa baixa eficiência da adubação fosfatada são os altos te- ores de óxidos e alumínio e de ferro que promovem a fixação dos elemen- tos (Rossetto et al., 2008). Com isso, alguns autores (Rossetto et al., 2008) recomendam que a melhor forma de aplicação do fósforo em cana-de-açú- car é em área total, tendo o fósforo melhor distribuído na área, obtendo um melhor enraizamento e uma maior parte do solo explorado. De forma geral, a eficiência da adu- bação fosfatada é baixa. Ressalta-se a importância de novos métodos de apli- cação da adubação fosfatada, referindo- -se a fontes, épocas de aplicação e a localização do adubo. A combinação apropriada da adubação corretiva em área total e da manutenção no sulco de plantio assume grande importância para obter um aumento na produção. Devido à importância do fósforo para o desenvolvimento, produtividade e longevidade dos canaviais e sua alta taxa de fixação nos solos tropicais, é ge- rado um aumento nos estudos de níveis e formas de aplicação desse elemento. Resposta de cana-de-açúcar a dife- rentes fontes de fósforo Apenas uma pequena parte do fósforo é disponibilizada às plantas, no entanto, a estimativa do fósforo total não informa sobre biodisponibilidade do elemento, fazendo-se necessário o conhecimento de suas formas predominantes. Sendo as- sim, diversas metodologias de extração do fósforo do solo foram desenvolvidas, tendo como base teórica a técnica do fra- cionamento desenvolvida por Chang e Artigo Técnico III Sandro Roberto Brancalião Jackson (1956), que usa o modo de ação de extratores químicos como agente se- letivo para a extração do fósforo ocor- rente em diferentes formas e estados de energia (Fixen e Grove, 1990). Nos solos mais pobres, ou seja, aque- les que apresentam pH baixo (menor que 5,0), há maior ocorrência de fósforo nos minerais que contêm Fe e Al, enquanto nos solos mais ricos em matéria orgânica, apresentam pH elevados, isso acontece, preferencialmente, naqueles solos ricos em Ca, sendo que a variação do pH pode promover a dissolução e formação de ou- tros compostos (Fixen e Ludwick, 1982). Pela Figura 1 podem-se observar as formas de fósforo na planta O ciclo do fósforo no solo: Seus componentes e correspondência com as fra- ções estimadas pelo fracionamento. (1982). Adaptado de Satell & Morris (1992)

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Page 1: Importância da adubação fosfatada em solos tropicais para a cultura da cana

Revista Canavieiros - Setembro de 2016

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Importância da adubação fosfatada em solos tropicais para a cultura da canaSandro Roberto Brancalião, Marcos Guimarães de Andrade Landell, Antonio Lúcio Mello Martins, Márcio Aurélio Pitta Bidóia, Carolina Cattani Najm

Historicamente, a cana-de-açú-car é um dos principais produ-tos agrícolas do Brasil, sendo

cultivada desde a época da colonização. Do seu processo de industrialização obtêm-se como produtos o açúcar e o álcool (anidro e hidratado).

A cana-de-açúcar representa no agronegócio brasileiro um papel de destaque, gerando divisas com a ex-portação na casa de U$$ 7,7 bilhões, criando empregos diretos e indiretos. O setor sucroalcooleiro responde por cer-ca de 1 milhão de empregos, sendo que 511 mil são diretamente envolvidos na produção de cana-de-açúcar e o restante distribuído na cadeia do processamento do açúcar e do álcool.

As perspectivas para o setor são animadoras, sendo que a crescente preocupação da população mundial em relação ao meio ambiente vem exer-cendo uma pressão para a diminuição da utilização dos combustíveis fósseis, responsáveis pela maioria dos gases poluentes à atmosfera.

As doses aplicadas de fósforo nas adubações são bem maiores do que as quantidades exportadas, sendo que a exportação de fósforo pela cana é de 10 a 15% da quantidade do fertilizante aplicado (Tomaz, 2009).

Em solos tropicais, um dos princi-pais fatores para essa baixa eficiência da adubação fosfatada são os altos te-ores de óxidos e alumínio e de ferro que promovem a fixação dos elemen-tos (Rossetto et al., 2008). Com isso, alguns autores (Rossetto et al., 2008) recomendam que a melhor forma de aplicação do fósforo em cana-de-açú-car é em área total, tendo o fósforo melhor distribuído na área, obtendo um melhor enraizamento e uma maior parte do solo explorado.

De forma geral, a eficiência da adu-bação fosfatada é baixa. Ressalta-se a importância de novos métodos de apli-cação da adubação fosfatada, referindo--se a fontes, épocas de aplicação e a localização do adubo. A combinação apropriada da adubação corretiva em área total e da manutenção no sulco de plantio assume grande importância para obter um aumento na produção.

Devido à importância do fósforo para o desenvolvimento, produtividade e longevidade dos canaviais e sua alta taxa de fixação nos solos tropicais, é ge-rado um aumento nos estudos de níveis e formas de aplicação desse elemento.

Resposta de cana-de-açúcar a dife-rentes fontes de fósforo

Apenas uma pequena parte do fósforo é disponibilizada às plantas, no entanto, a estimativa do fósforo total não informa sobre biodisponibilidade do elemento, fazendo-se necessário o conhecimento de suas formas predominantes. Sendo as-sim, diversas metodologias de extração do fósforo do solo foram desenvolvidas, tendo como base teórica a técnica do fra-cionamento desenvolvida por Chang e

Artigo Técnico III

Sandro Roberto Brancalião

Jackson (1956), que usa o modo de ação de extratores químicos como agente se-letivo para a extração do fósforo ocor-rente em diferentes formas e estados de energia (Fixen e Grove, 1990).

Nos solos mais pobres, ou seja, aque-les que apresentam pH baixo (menor que 5,0), há maior ocorrência de fósforo nos minerais que contêm Fe e Al, enquanto nos solos mais ricos em matéria orgânica, apresentam pH elevados, isso acontece, preferencialmente, naqueles solos ricos em Ca, sendo que a variação do pH pode promover a dissolução e formação de ou-tros compostos (Fixen e Ludwick, 1982).

Pela Figura 1 podem-se observar as formas de fósforo na planta

O ciclo do fósforo no solo: Seus componentes e correspondência com as fra-ções estimadas pelo fracionamento. (1982). Adaptado de Satell & Morris (1992)

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O fósforo é o nutriente mais limitan-te na produção vegetal em regiões tropi-cais. Apesar de comparativamente aos outros nutrientes, ser exigido em menor quantidade, (tabela 1), são necessárias adubações “pesadas” com esse nutrien-te, devido aos solos brasileiros apresen-tar deficiência natural com relação a esse nutriente, pois ele apresenta habi-lidade em reagir com outros nutrientes como Al, Ca, Fe, silicatos e com as ar-gilas, formando compostos insolúveis.

Com a tabela 1, podemos observar o quanto é extraído e exportado de nu-trientes a partir da produção de 100 to-neladas de colmos de cana-de-açúcar.

No entanto, Malavolta et al.(1997) observaram a exigência de 90 kg de N, 10 kg de P e 65 kg de K; para uma pro-dução de 100 kg de colmos de cana de açúcar.

Quando novas áreas são incorpora-das ao sistema produtivo e quando altas produtividades são almejadas, a neces-sidade de correção dos teores naturais de fósforo no solo é fundamental. A fosfatagem, como prática corretiva, tem por objetivo elevar os teores de fósfo-ro no solo, potencializando a adubação de plantio. A aplicação combinada de 200 kg ha-1 de P2O5 em área total em pré-plantio, seguida de 100 kg ha-1 de P2O5 no sulco de plantio proporcionou

TABELA 1: Extração e exportação denutrientes para a produção de 100 toneladas de colmos

Fonte: Raij e Cantarella (1996)

Partes da planta N P K Ca Mg SColmos 83 11 78 47 33 26Folhas 60 08 96 40 16 18Total 143 19 174 87 49 44

um incremento de 32% na produção de colmos por hectare quando comparada com a aplicação de 300 kg ha-1 no sul-co de plantio.

Mas, se adubos fosfatados forem aplicados no solo, logo após sua disso-lução, ocorre da maioria do fósforo ser retido na fase sólida, onde apenas parte desse fósforo é aproveitada pelas plan-tas. Essa recuperação depende da espé-cie cultivada, da textura do solo, dos minerais da argila, da acidez do solo, da fonte de adubação, da granulometria e da aplicação do fertilizante (SOUZA & VOLKEISS 1987). Por tratar-se de uma cultura semiperene, a cana-de-açú-car requer quantidades de nutrientes ao longo do ciclo, em média de cinco anos. Com a adubação corretiva ocorre o fornecimento de quantidades de P que serão, gradativamente, disponibilizadas para a cultura. De maneira geral, o va-lor residual de fertilizantes fosfatados solúveis em água, em relação ao efei-to imediato no ano da aplicação, é de 60%, 45%, 35%, 15% e 5%, após um, dois, três quatro e cinco anos da apli-cação do fertilizante, respectivamente.

No entanto, torna-se necessário o monitoramento anual através de análise de solo, diagnose visual e análise foliar, as quais são ferramentas importantes para o acompanhamento do estado nu-

tricional do canavial quando são espe-radas altas produtividades

Foram verificados que em diversos ensaios de adubação fosfatada, realiza-dos no período de 1950 a 1963, ocor-reu um aumento de 26% na produção da cultura da cana, com a aplicação de superfosfato simples. Porém, em revi-sões feitas, foi observado que o efeito do fósforo não é geral, podendo ser nulo ou reduzido em solos que vêm sendo corri-gidos com fósforo ou em solos férteis.

A queda na população de perfilho do quarto para o sexto mês contrasta com o crescimento médio em altura em cana--de-açúcar, pois passou de 48,6 cm para 122,6 cm. No entanto, pode se conside-rar que a partir do quarto mês tem início a fase de alongamento do colmo, cuja população já estabelecida inicia um rá-pido crescimento em altura. Para alguns pesquisadores, o maior crescimento em altura do colmo após a fase de perfilha-mento quando a variedade RB855536 cresceu 99,2 cm em apenas 44 dias, mostrando a importância da umidade do solo na fase de grande desenvolvi-mento da cultura.

No entanto, a falta de resposta das fontes de fósforo pode estar relacionada com o efeito residual desse nutriente no solo, proveniente da sequência de adu-bações fosfatadas, ao longo do tempo, a fatores edafoclimáticos e a caracterís-ticas genéticas intrínsecas das cultiva-res. Em trabalhos da década de 1980, observaram, em solos com níveis de P acima de 9 mg dm-3, que não houve resposta da cana-de-açúcar à adubação fosfatada, isto no sistema de produção com cana queimada. Demais trabalhos e isoquantas de absorção do fósforo po-dem ser calibrados por variedade e para realidade do sistema de produção de cana crua, sem despalha a fogo.

Sandro Roberto Brancalião, Mar-cos Guimarães de Andrade Landell,

Antonio Lúcio Mello Martins, Márcio Aurélio Pitta Bidóia, Carolina Cattani

Najm.Centro de Cana do IAC/APTA/SAA; Polo Regional do Centro Norte/

APTA/Pindorama,brancaliaoiac.sp.gov.br RC