import an cia do ato de escrever no ensino de lingua portuguesa
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Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua
Portuguesa
Cíntia Barreto
Introdução
O presente trabalho tem por objetivo ressaltar a importância
do ato de escrever no ensino da língua portuguesa na
universidade, levando-se em consideração que a
modalidade escrita é fundamental no exercício profissional
de várias pessoas. Atualmente, exige-se do profissional
redação própria, ou seja, a capacidade de passar para o
papel seu trabalho ou de se comunicar com outras empresas
a partir da modalidade escrita de forma clara. Contudo, é
necessária muita leitura e conhecimento das possibilidades
da língua, pois até mesmo um texto prosaico pode ser
original, no sentido de passar a quem o lê a personalidade
de quem o escreve.
No entanto, sabe-se que, para muitos, o ato de escrever não
é agradável, pois a pouca ou total ausência da modalidade
escrita foi uma das lacunas deixadas pelos ensinos
fundamental e médio. Antes a ênfase nas nomenclaturas
reduzia o espaço da interpretação, da leitura e da escrita, de
forma que o aluno não conseguia, quando solicitado, utilizar
os recursos gramaticais ensinados. Não cabe à
universidade resolver as lacunas deixadas pelos ensinos
fundamental e médio, mas sim despertar aqueles que têm
dificuldade ao escrever, fazendo com que esses leiam,
escrevam bastante e consigam, ao longo dos anos e com a
prática, sanar esse mal da escrita. Para isso, a produção de
textos deve fazer parte da rotina acadêmica. Após a leitura
de um poema, de um trecho de um romance, de um texto
científico, de uma reportagem, ou, até mesmo, após um
debate, o educando sentir-se-á estimulado a elaborar um
texto sobre o tema sugerido.
Com tudo isso, a importância deste estudo está ligada à
possibilidade de orientar a organização de programas de
língua portuguesa, no que diz respeito à relevância da
produção de textos dentro e fora das aulas de redação.
Assim, o presente estudo poderá ser aproveitado por
professores de língua portuguesa, supervisores pedagógicos
e pessoas responsáveis pela elaboração de currículos em
nível de sistemas (particular, estadual e federal), visando ao
melhor domínio da expressão escrita por parte dos alunos.
O Ensino Da Língua Portuguesa: O Ato De Escrever
O ensino de língua portuguesa já sofreu uma série de
mudanças ao longo dos anos, mas, hoje, mais do que
nunca, é preciso repensar o papel do ensino da língua na
universidade, a fim de que se possa ter um profissional
ciente das questões gramaticais que envolvem um texto e
apto a escrevê-lo com coesão e coerência.
Para Feitosa (2000), "escrever é parte inerente ao ofício do
pesquisador" e não costuma ser tarefa fácil para ninguém.
Normalmente, as pessoas "sofrem" muito quando têm que
colocar suas idéias no papel.
Parece que a primeira razão para esse "sofrimento" está
naquilo que é, ao mesmo tempo, causa e efeito da crise em
que se encontra a comunicação escrita: a pouca eficácia do
ensino de redação nas escolas e a falta de treinamento
específico para a redação científica, decorrentes de total
desprestígio em que caiu a língua escrita como meio
eficiente de comunicação. Hoje, "falam" os números, os
dados estatísticos, as fotos, os gráficos, os VTs. (Feitosa,
1991, p.12 )
Não se pode esquecer de que , durante muitos anos, o
ensino da língua não se destinou à produção, à leitura e à
interpretação de textos, mas sim se limitou a exigir do aluno
as nomenclaturas gramaticais, uma vez que essas eram, e
continuam sendo, exigidas pelo vestibular e pelos concursos
em geral. O resultado de tal postura foi um universitário que
mal sabe escrever e, o pior, que pode passar quatro anos na
universidade sem sabê-lo.
Atualmente, a sociedade exige do profissional, seja ele
engenheiro, advogado, jornalista, dentista, analista de
sistemas ou professor, a capacidade de passar para o papel
todos os seus estudos, divulgando assim o seu trabalho.
Para isso, é preciso alguns conhecimentos específicos da
elaboração da redação e, o principal, exige de qualquer um
muita leitura. Escrever significa comunicar-se e, todos
sabem que, nas empresas e instituições a comunicação se
faz, muito mais, através da modalidade escrita do que da
oral.
Por outro lado, em inúmeras faculdades, o que se vê são
pessoas, quase formadas, com dificuldade de escrever um
texto. Esta dificuldade se explicita, quando o profissional tem
de fazer uma pós-graduação, em que o exercício de escrita
é uma constante; ou quando ele é solicitado a escrever um
relatório, uma declaração, ou um outro documento na
empresa. No momento em que estes questionamentos se
colocam, pensamos por que estas pessoas, formadas por
uma instituição, não conseguem escrever com certa
tranqüilidade e atender às necessidades exigidas pelo
mercado de trabalho ou pelas instituições de pós-graduação.
É importante esclarecer que o cerne do problema de se fazer
uma boa redação não está diretamente ligado à
universidade, e sim aos ensinos fundamental e médio.
Contudo, este problema é levado até à faculdade e os
docentes de língua portuguesa, matéria não encontrada em
todas os cursos de graduação, não procuram, geralmente,
fazer nada para sanar este "mal da escrita". Ao final do
curso, o que se tem é um profissional incapaz de escrever
bem o que aprendeu. Incapaz de dissertar com segurança
gramatical e estrutural a respeito de um tema apresentado.
Não se pode deixar de lembrar que o estudo gramatical é
importante para a elaboração de um "bom" texto. Assim,
para se escrever "bem" o texto deve-se saber utilizar,
corretamente, os sinais de pontuação, deve-se saber
ortografia, acentuação; deve-se saber o uso da crase; deve-
se fazer as concordâncias verbal e nominal; deve-se saber
regências verbal e nominal; além de se fazer um texto com
os dois elementos mais importantes: coesão e coerência.
Sem estes dois elementos, o texto perde a intenção de
comunicação, ou melhor, de intercomunicação.
Para BECHARA ( 2001) , o enunciado não se constrói com
um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam
segundo princípios gerais de dependência e independência
sintática e semântica, recobertos por unidades melódicas e
rítmicas que sedimentam estes princípios. Dessa forma,
entende-se que não é só escrever diversas frases e se ter
um texto, mas é imprescindível unidade, é preciso que estas
frases sejam coesas e coerentes e então somem um texto.
A essência do problema é verificar o ensino de língua
portuguesa na universidade no que diz respeito à produção
de textos, ou seja, mais especificamente, ao ensino de
redação dissertativa objetiva na universidade.
A Língua como Expressão Simbólica
Para Celso Cunha, a língua "é um sistema gramatical
pertencente a um grupo de indivíduos. Expressão da
consciência de uma coletividade, a LÍNGUA é o meio por
que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age".
Pelo que se sabe, a língua apresenta variações diatópicas
(variantes regionais, falares locais etc.), variações
diastráticas (nível culto, nível popular, língua padrão, etc.) e
variações diafásicas (língua escrita, língua falada, língua
literária, etc.). Contudo, cabe perceber dentro dessas
variações internas o contexto para a utilização da língua.
Deve-se ter presente que "a língua padrão, por exemplo,
embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma,
é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo,
como norma, como ideal lingüístico de uma comunidade".
(CELSO, 1985)
Em contrapartida, a língua não é apenas um meio de
comunicação, pois não vive só da função denotativa
(informativa). Para Mikhail Bakhtin, Roland Barthes e outros,
a linguagem escrita tem outra função grandiosa: a de
transgredir a norma, o poder institucionalizado pela
gramática, e tem como função maior a expressividade, como
se pode constatar no trecho a seguir:
A lingüística do século XIX - a começar por W. Humboldt - ,
sem negar a função comunicativa da linguagem, empenhou-
se em relegá-la ao segundo plano, como algo acessório;
passava-se para o primeiro plano a função formadora da
língua do pensamento, independente da comunicação. Eis a
célebre fórmula de Humboldt: "abstraindo-se a necessidade
de comunicação do homem, a língua lhe é indispensável
para pensar, mesmo que estivesse de estar sempre
sozinho". A escola de Vossler passa a função dita expressiva
para o primeiro plano. Apesar das diferenças que os teóricos
introduzem nessa função, ela, no essencial, resume-se à
expressão do universo individual do interlocutor. A língua se
deduz da necessidade do homem de expressar-se, de
exteriorizar-se. A essência da língua, de uma forma ou de
outra, resume-se à criatividade espiritual do indivíduo.
(Bakhtin, 2000, p.291)
Assim como Bakhtin, Barthes atribuiu à língua uma função
maior que a simplesmente de comunicar, viu na língua o
"objeto em que se inscreve o poder", afirmando que "a
linguagem é uma legislação" e "a língua é seu código".
Continuou afirmando que "não vemos o poder que reside na
língua porque esquecemos que toda língua é uma
classificação, e que toda classificação é opressiva". Diz
ainda que a língua é fascista, pois não impede o sujeito de
dizer, mas obriga-o a dizer. Barthes vê a língua como
símbolo do poder e objeto de alienação humana. Para ele, a
literatura é a única forma de trapacear a língua. Vejamos o
que o escritor entende por literatura:
Entendo por literatura não um corpo ou uma seqüência de
obras, nem mesmo um setor de comércio ou de ensino, mas
o grafo complexo das pegadas de uma prática de escrever.
Nela viso, portanto, essencialmente, o texto, isto é, o tecido
dos significantes que constitui a obra, porque o texto é o
próprio aflorar da língua, e porque é no interior da língua que
a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem
de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de
que ela é o teatro. Posso portanto dizer, indiferentemente:
literatura, escritura ou texto". (Barthes, 2000, p.16 - 17)
Com esse trecho, percebe-se que Barthes encontra na
literatura a liberdade necessária para a criação da língua,
uma vez que a literatura é transgressão. "As forças de
liberdade que residem na literatura" vêm "do trabalho de
deslocamento que ele exerce sobre a língua: desse ponto de
vista, Céline é tão importante quanto Hugo, Chateubriand
tanto quanto Zola". (Barthes, 2000, p. 17) É evidente que,
mais que liberdade, a língua necessita de sabor e a literatura
cumpre o papel de alimentar a linguagem escrita, a fim de
minimizar seu aspecto protocolar. Disse Barthes: "Na ordem
do saber, para que as coisas se tornem o que são, o que
foram, é necessário esse ingrediente, o sal das palavras. É
esse gosto das palavras que faz o saber profundo, fecundo".
(Barthes, 2000, p.21)
Com isso, começa-se a distinguir língua literária da língua
não-literária. A língua escrita, para alguns, deve obedecer a
normas, regras pré-estabelecidas por gramáticos, deve ter
coesão e coerência para se fazer entender por todos. Mas, o
que é coerência? Para Ingedore, a coerência também deve
estar ligada a um contexto, deve obedecer ao objetivo do
texto (seja ele escrito ou falado), isto é, não basta escrever
várias frases com sentido, é preciso escrever várias frases
com sentido unitário entre as partes do texto, como se pode
observar em:
A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se
estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz
com que o texto faça sentido para os usuários, devendo,
portanto, ser entendida como um princípio de
interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa
situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem
para calcular o sentido deste texto. Este sentido,
evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global.
(Koch, 2001, p.21)
Além disso, vale lembrar que a coerência textual relaciona-
se com a coesão do texto, "pois por coesão se entende a
ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os
elementos que constituem a superfície textual" (Koch, 2001,
p.40). Contudo, a coesão não é suficiente para atribuir
sentido ao texto, esse papel é confiado à coerência. Assim,
"podemos dizer que a coerência dá origem à textualidade,
entendo-se por textualidade "aquilo que converte uma
seqüência lingüística em texto". " (Koch, 2001, p.45) Nesse
sentido, o texto será incoerente se "seu produtor não souber
adequá-lo à situação, levando em conta a intenção
comunicativa, objetivos, destinatário, regras sócio-culturais,
outros elementos da situação, uso dos recursos lingüísticos,
etc. Caso contrário, será coerente". (Koch, 2001, p.50)
Na verdade, não se pode esquecer de que há diferentes
tipos de textos e que cada um tem seu esquema estrutural.
Sabe-se que textos narrativos são diferentes de textos
dissertativos que são bem diferentes de textos descritivos
que, por sua vez, são diferentes de textos poéticos ou de
textos dramáticos.
Seja como for, pode-se retornar à diferença entre texto
literário e texto não- literário. O texto literário é aquele que
transgride a barreira da linearidade formal e soma à sua
estrutura recursos conotativos, levando ao receptor a
possibilidade de significados variados. E entende-se por
texto não-literário aquele que tem a função principal de
comunicar algo de forma objetiva, fazendo uso da função
referencial, utilizando, para isso, a linguagem puramente
denotativa.
Para Bakhtin, a língua literária pertence a um sistema ainda
mais complexo que o da língua não-literária, já que "obedece
a outros princípios, que pertence a língua literária, cujos
componentes incluem também os estilos da língua não-
escrita". (2000, p.285) Para Barthes, a língua literária "tenta
escapar ao seu próprio poder, à sua própria servidão -
encontramos algo que se relaciona com o teatro" (2000, p.
28). Barthes, em sua reflexão, tenta retirar da língua seu
caráter normativo e atentar para a liberdade de criação de
quem escreve, pois compara a língua ao teatro, ou seja, ao
drama (radical grego que significa ato, ação).
Portanto, não se pode negar que a língua, na sua
modalidade literária, fecunda neologismos, signos, símbolos;
mistura prosa e poesia para parir idéias de forma autêntica,
seduzindo e dando prazer não só a quem escreve como a
quem lê.
Como diz Barthes: "Pode-se dizer que a terceira força da
literatura, sua força propriamente semiótica, consiste em
jogar com os signos em vez de destruí-los, em colocá-los
numa maquinaria de linguagem cujos breques e travas de
segurança arrebentaram". (2000, p.28-29)
Por outro lado, é incontestável que, apesar da língua ser
multifuncional, deve-se, até pela situação limítrofe de
monografar a importância do ato de escrever, tratar de
isentar aqui o papel da universidade e, com isso, do
professor de língua portuguesa, para o estudo - aprofundado
- da escrita literária, no ambiente acadêmico, caso esteja ele
- o docente - lecionando língua portuguesa em um curso de
engenharia, medicina, administração ou contabilidade, por
exemplo. É importante ressaltar que não é objetivo do
professor de língua portuguesa, nem da universidade, criar
escritores de romances, de poemas, de crônicas, mas é sua
função apresentar aos discentes diferentes tipos de textos e
intenções para que estes saibam precisar a que estrutura da
modalidade escrita devem recorrer quando solicitados a
fazer um relatório, um projeto, uma resenha ou um ensaio
acadêmico.
De qualquer forma, conhecimento nunca é descartável, no
mínimo, atribui expressividade e, certo grau de criatividade
ao texto não-literário. Além disso, em outro momento,
mostrar-se-á a importância da leitura na construção da
escrita. E, quando se pensa em leitura, pensa-se também,
se não principalmente, em textos literários.
A Língua Portuguesa na Universidade
O aprendizado da nomenclatura dos elementos da língua
acontece a partir da 3ª série do ensino fundamental e é
reforçado durante as demais séries até o término do ensino
médio.
Com o vestibular, cada vez mais interpretativo, a leitura
começa a ganhar espaço nas aulas de língua portuguesa.
Após a leitura de textos literários e não-literários, inicia-se
um debate sobre a temática do texto que culmina com a
proposta de elaboração de um texto sobre o assunto
debatido. Difícil é receber todas as redações, pois muitos se
esquivam da dramática tarefa de pôr no papel tudo que foi
dito em sala.
A diferença básica entre o ensino médio e a universidade é
que o discente universitário tem que colocar em prática o
conteúdo que foi ensinado no ensino médio. No entanto, a
língua portuguesa, nem sempre, foi ensinada da melhor
maneira possível, isto é, com a intenção de, realmente, dar
autonomia ao educando, a fim de que ele, agora, na
universidade, saiba concatenar o conteúdo de todas
disciplinas e possa elaborar um texto rico sintática e
semanticamente.
É certo que as disciplinas são pluridisciplinares e não
transdisciplinares. Não há aparente relação entre elas, nem
dentro de uma mesma disciplina. Por exemplo, ensina-se ao
aluno as orações subordinadas, mas o aluno não consegue
usar conectivos, no seu texto, de forma correta. Ele só sabe,
ou melhor, mal sabe dizer as nomenclaturas, como: " esta é
uma conjunção adverbial concessiva." Ensina-se, na escola,
ao aluno a pontuação, a separação silábica, as
concordâncias e as regências verbal e nominal e, nem por
isso, o universitário, aluno do ensino superior, consegue
elaborar um "simples" texto. O aluno pensa que só se faz
dissertação, no momento em que o professor de língua
portuguesa assim determinar. O aluno não percebe que ao
responder a um questionário de filosofia, ou de história, ele
também está dissertando e deve, portanto, usar todos
conhecimentos gramaticais aprendidos nas séries anteriores
e deve utilizar seus conhecimentos de português, geografia,
literatura, biologia, sociologia, enfim perceber as inter-
relações entre as disciplinas.
Os alunos de universidades escrevem a todo momento, ou
pelo menos, deveriam escrever constantemente, então por
que eles escrevem tão mal? Por que não conseguem
escrever textos coesos e coerentes? Por que muitas frases
parecem estar desconexas? Por que os erros de pontuação,
de ortografia e de acentuação são freqüentes no nível
universitário? Será por causa da pouca, ou nenhuma, leitura
extra-escolar? Será pelas facilidades do computador, com
seu corretor ortográfico e seus softwares de concordância e
regência? Será pelo relaxamento dos chats e e-mails, que
sucumbem as vírgulas, os acentos e fazem uso de
neologismos?
Não sabemos, mas é o que se quer descobrir também, o
motivo da falência da expressão escrita. É imprescindível
saber como são dadas, de fato as aulas de português hoje e
como a produção de texto é incentivada e corrigida, se é que
ela é tratada com destaque.
Portanto, o fato é que o ensino de língua portuguesa tem de
passar por uma reformulação, ou melhor, deve seguir as
novas exigências da educação e do mercado de trabalho,
pois ambos defendem o fato de o aluno, ao sair da
universidade, ser capaz de se comunicar a partir das
modalidades oral e escrita com destreza e não com medos e
erros que se igualam a erros de alunos dos ensinos
fundamental e médio.
É preciso que os professores direcionem as aulas também
para escrita, senão continuaremos tendo advogados com
suas petições rejeitadas por falta de coesão e coerência;
senão continuaremos a ler nos jornais e revistas palavras
erradas; senão continuaremos ouvindo no rádio que já
começou o "horário gratuíto"; senão continuaremos sem
entender a receita que o médico acabou de passar, porque
escreveu de qualquer jeito, uma vez que há muito tempo não
escreve e, realmente, não se lembra mais de determinadas
normas gramaticais. É preciso valorizar, novamente, a
expressão escrita.
A Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua
Portuguesa (página 02)
A Importância Da Leitura Para Aquele Que Escreve
Não é de hoje que encontramos pessoas com dificuldade de
passar para o papel as suas idéias a respeito de algo,
porque não têm informação suficiente sobre aquele assunto
específico. Por outro lado, também é raro encontrar essas
mesmas pessoas lendo uma obra poética, de ficção, um
jornal, uma revista, etc. O que todos têm que entender é que
a leitura é a base para a boa escrita e não só se deve ler
para escrever algo, mas se deve ler para enriquecer-se
culturalmente. Deve-se ler pelo prazer de dialogar com
outros que já leram outros que leram outros, pois não há
nenhum mal no plágio criativo.
Um escritor precisa ler para observar e absorver o que foi
lido. Um escritor precisa ler para se enriquecer
culturalmente. Não há um bom escritor que não seja um
leitor voraz com fome de informação, com fome de
formação. Um escritor precisa ler bons textos para escrever
bons textos. Um bom escritor é sempre um bom leitor.
Nesse sentido, sem a prática da leitura, a dissertação, por
exemplo, pode não apresentar argumentos palpáveis, não
alimentando de maneira persuasiva o receptor do texto
elaborado. A leitura, por sua vez, tem a função também de
organizar as informações adquiridas ao longo dos anos. À
medida que se lê, um mundo de magia e conhecimento, de
informações e ritmos, de certezas e possibilidades se revela
àquele que tem, nas mãos e nos olhos, a chave do tesouro a
ser descoberto. A leitura é necessária e, assim como a arte,
tem inúmeras atribuições.
Por outro lado, antes de se buscar a leitura, faz-se mister
escolher bem o texto a ser lido, pois para que "o leitor se
informe é necessário que haja entendimento daquilo que ele
lê" (FAULSTICH, 2002, p. 13) . Assim, a inteligibilidade
textual é imprescindível ao leitor; caso contrário, ele não
conseguirá absorver as informações necessárias à
elaboração do seu próprio texto.
Dito isso, o próximo passo a ser tomado é fazer uma leitura
crítica, isto é, "reconhecer a pertinência dos conteúdos
apresentados, tendo como base o ponto de vista do autor e
a relação entre este e as sentenças-tópico" (FAULSTICH,
2002, p.19) Ler criticamente é, sobretudo, ler
cuidadosamente separando o joio do trigo ou retirando as
ervas daninhas do florido mundo das letras.
Escrever não é essencial apenas a intelectuais, escritores,
jornalistas, advogados ou professores de português. A
escrita como meio de comunicação é para todos e é questão
bem definida e planejada em vários concursos públicos e
vestibulares de maneira geral. Na UNICAMP, a prova de
redação vem ganhando novos objetivos. Nesse momento, o
candidato terá que ser capaz de resolver uma situação-
problema. A partir da leitura de textos - coletânea - , o
estudante deve escolher entre uma dissertação, de natureza
argumentativa; uma narração; e um texto persuasivo. Nesse
sentido, leitura e escrita andam juntas, como podemos
perceber em:
Escrever é uma prática social que consiste, em boa medida,
em escrever contra, sobre, a favor, ou, mais simplesmente, a
partir de outros textos. Não há escrita sem polêmica,
retomada, citação, alusão etc. Ninguém escreve a partir do
nada, ou a partir de si mesmo. (UNICAMP, 2001)
É notória a relevância da leitura nesses processos de
seleção, por exemplo, uma vez que se proporciona , a partir
da coletânea, ao estudante, a possibilidade de pensar com
clareza sobre o tema apresentado.
Não se pode esquecer de que, se é cobrado ao universitário
tamanha reflexão para entrar em uma universidade, não é
correto que, ao longo do curso universitário, não seja ele
capaz de refletir e escrever de forma crítica sobre vários
pontos fornecidos, em diferentes matérias. Na verdade,
escreve mal aquele que não tem o que dizer porque não
aprendeu a organizar seu pensamento. Àquele que não tem
o que dizer, de nada adianta o domínio das regras
gramaticais, muito menos saber selecionar as palavras para
cada ocasião. Faltará a esse sempre o conteúdo, o recheio.
Dessa forma, antes de escrever é preciso refletir, e o melhor
estímulo para a reflexão é a leitura, é ler o que outros já
escreveram a respeito do que leram de outros e assim
sucessivamente, pois a escrita está sempre impregnada de
outras escritas, ou seja, a leitura é diálogo direto ou indireto
com outras leituras. A leitura é um diálogo velado com o
outro.
Para Harold Bloom, o sujeito que pretende desenvolver a
capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações
pessoais necessita ler por iniciativa própria. Não ler apenas
por conveniência. Não ler apenas livros técnicos, pertinentes
ao seu campo de atuação, ou ler por indicação de outrem,
mas, acima de tudo, ler por prazer, por desejo próprio de se
divertir ou de conhecer algo.
A informação, nos dias de hoje, é facilmente encontrada,
pois aumentaram sensivelmente os canais de comunicação.
Além do jornal, da revista, do livro, da televisão, do telefone,
do rádio, do fax, do telegrama, temos agora o e-mail, a Web
(com seus pontos positivos e negativos, proporciona um
fluxo ininterrupto de informações disponíveis em qualquer
ponto do mundo) a videoconferência e a telefonia celular
entre outros. Em contrapartida, discernir o que deve ser
absorvido e o que deve ser deletado ficou mais complicado
depois da internet. Cabe ao leitor transformar informação em
conhecimento, lendo de forma crítica e cuidadosa, pois como
diz Harold Bloom:
Uma das funções da leitura é nos preparar para uma
transformação, e a transformação final tem caráter universal.
Considero aqui a leitura como hábito pessoal, e não como
prática educativa. A maneira como lemos hoje, quando o
fazemos sozinhos, manifesta uma relação contínua com o
passado, a despeito da leitura atualmente praticada nas
academias. Meu leitor ideal (e herói preferido) é Samuel
Johnson, que bem conhecia e tão bem expressou as
vantagens e desvantagens da leitura constante. Conforme
qualquer outra atividade mental, a leitura, para Johnson,
devia atender a uma preocupação central, ou seja, algo que
"nos diz respeito, e que nos é útil". Sr. Francis Bacon, gestor
de algumas da idéias postas em prática por Johnson,
ofereceu o célebre conselho: "Não leia com o intuito de
contradizer ou refutar, nem para acreditar ou concordar,
tampouco para ter o que conversar, mas para refletir e
avaliar". A Bacon e Johnson eu acrescentaria um terceiro
sábio da leitura, inimigo ferrenho da História e de todos os
Historicismos, Emerson, que afirmou: "Os melhores livros
levam-nos à convicção de que a natureza que escreveu é a
mesma que lê". Proponho uma fusão de Bacon, Johnson e
Emerson, uma fórmula de leitura: encontrar algo que nos
diga respeito, que possa ser utilizado como base para
avaliar, refletir, que pareça ser fruto de uma natureza
semelhante à nossa, e que seja livre da tirania do tempo.
(2001, p. 17-8)
A leitura deve ser útil, deve aproximar aquele que lê daquele
que escreve e deve propiciar, antes de qualquer coisa, a
reflexão.
No ensino de língua portuguesa, ao se tratar de produção de
texto devemos automaticamente pensar em leitura, mas
também em tipos de texto. Na universidade, o educando
será, geralmente, chamado a escrever um texto dissertativo,
argumentando sobre um assunto. Por isso, é importante
refletir rapidamente sobre essas nomenclaturas: dissertação
e argumentação.
Deve-se lembrar que a dissertação é a composição mais
utilizada no meio acadêmico. Por isso, tomar-se-á como
modelo de escrita, nesse trabalho, a dissertação que pode
apresentar argumentos para comprovação da tese
defendida.
Para Magda Soares e Edson Nascimento, a dissertação
também foi escolhida como composição mais utilizada tanto
no meio acadêmico quanto no campo profissional, como se
pode perceber no prefácio do livro Técnica de Redação:
A DISSERTAÇÃO é a forma de REDAÇÃO mais usual. Com
mais freqüência é a forma de REDAÇÃO solicitada às
pessoas envolvidas com a produção de trabalhos escolares,
com a administração e execução técnico-burocráticas de
serviços ligados à Indústria, Comércio, etc. A prosa
dissertativa é, assim, predominante nos textos de trabalhos
escolares , nos textos de produção e divulgação científicas
(monografias, ensaios, artigos e relatórios técnico-científicos)
e nos textos técnico administrativos. Raramente é uma
pessoa solicitada a produzir uma descrição ou uma
narração; freqüentemente, ao contrário, é solicitada a
produzir uma dissertação. (Soares, 1979, prefácio)
Nesse sentido, é importante ressaltar a diferença entre
dissertação e argumentação, uma vez que essas
nomenclaturas costumam ser tomadas, muitas vezes, como
sinônimas. Na dissertação, as idéias do emissor são
expostas, mostra-se o que se sabe ou o que se julga saber
sobre aquele determinado assunto. Já na argumentação,
além de se expor o que se pensa sobre um determinado
assunto, faz -se isso de forma persuasiva, tentando
convencer o receptor, isto é, o leitor do seu texto.
Assim, "argumentar é, em última análise, convencer ou
tentar convencer mediante apresentação de razões, em face
da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente e
consistente". (GARCIA, 1992, p.370)
Para expor as idéias ou para convencer alguém, é preciso
conhecer o assunto tratado, uma vez que, ninguém
consegue escrever bem, se não conhece o que vai escrever.
É preciso, antes de qualquer movimento, conhecer
profundamente o objeto de reflexão. Para escrever, assim, a
respeito de qualquer assunto, é necessário, antes, ler e
refletir, procurando argumentos que serão apresentados
como elementos de sustentação temático-textual.
Para Mattoso Câmara, "qualquer um de nós senhor de um
assunto é, em princípio, capaz de escrever sobre ele. Não
há um jeito especial para a redação, ao contrário do que
muita gente pensa. Há apenas uma falta de preparação
inicial, que o esforço e a prática vencem". (Mattoso, 2001,
p.61)
Essa falta de preparação inicial que Mattoso cita, decorre da
ausência, muitas vezes, de conhecimento da estrutura do
texto a ser elaborado, de elementos substanciais à
inteligibilidade textual e da carência de leitura. Na verdade, a
prática da leitura é parte fundamental no processo de
elaboração de um texto. Mattoso Câmara também se referiu
a esse aspecto textual:
A arte de escrever precisa assentar, analogamente, numa
atividade preliminar já radicada, que parte do ensino escolar
e de um hábito de leitura inteligentemente conduzido;
depende muito, portanto, de nós mesmos, de uma disciplina
mental adquirida pela autocrítica e pela observação
cuidadosa do que outros com bom resultado escreveram.
(2001, p.61)
Portanto, há de se reforçar o que Othon Moacyr Garcia
disse: "aprender a escrever é aprender a pensar". Pode-se
completar essa afirmativa com a idéia de que para se
pensar, ou melhor, refletir a respeito de algo, é preciso
conhecer a temática a ser abordada e, para se ter
conhecimento, nada melhor que ler o que outros já disseram
sobre o assunto.
Os Principais Problemas De Redação
Mattoso Camara dividiu os problemas de redação dois
grupos: os essenciais e os secundários.
Os problemas essenciais estão ligados à composição, ou
seja, ao plano da redação e à escolha vocabular, "técnica de
uma formulação verbal que dispense os elementos
extralingüísticos e elocucionais, só participantes da
exposição oral". (2001, p.62)
Assim, a pontuação, a ortografia, a concordância, a
acentuação, isto é , os elementos gramaticais constituem os
problemas secundários que, para Mattoso, são mais fáceis
de resolver.
Por outro lado, são os problemas secundários que brilham,
muitas vezes, no palco-papel. Há professores que se
preocupam em demasia com a ortografia das palavras,
atribuindo aos problemas gramaticais a essência da
redação, deixando em segundo plano a estrutura do texto.
De qualquer forma, são os elementos secundários, de
Mattoso, que ganham destaque nas páginas de jornais e
revistas e são esses mesmos problemas, principalmente, os
ortográficos que ganham notoriedade em reportagens da
televisão.
Vale ressaltar que a vida social é marcada pela comunicação
escrita e oral. No campo profissional, a comunicação escrita
é mais usada, pois através de relatórios, requerimentos,
declarações, circulares, etc. as pessoas se comunicam
dentro e fora de uma empresa. Nesse sentido, cabe a todos
ter domínio dessa modalidade tão usada no dia-a-dia.
Como podemos notar, a língua escrita requer conhecimento
de uma série de elementos que possibilitem ao homem
expressar-se bem. Para escrever bem a pessoa precisa
conhecer um grande número de regras e também de um
conhecimento técnico da estrutura que será elaborada.
A pontuação não é no papel uma contraparte cabal da
distribuição dos grupos de força da comunicação falada, e
constitui a rigor um caráter próprio da exposição escrita.
(Mattoso, 2001, p.57)
Os erros mais freqüentes
Os erros mais freqüentes são os gramaticais, isto é, erros de
pontuação, acentuação, ortografia, concordâncias verbal e
nominal, regências verbal e nominal, etc.
Pode-se encontrar uma tabela com os erros mais freqüentes
em várias redações dissertativas no Manual de Redação e
Estilo do Estadão . É evidente que não são apenas esses os
erros de vários profissionais e universitários, contudo é
importante mostrar quais são os principais erros gramaticais
para que se tenha uma idéia geral dos problemas
secundários de um texto escrito.
Como as pessoas aprenderam, durante muitos anos, as
nomenclaturas gramaticais e pouco se interessaram na
funcionalidade de orações subordinadas adverbiais, por
exemplo, na frase, percebe-se por que há tantos erros nos
textos de muitos universitários e pós-universitários. Eles não
aprenderam a escrever. Eles escreveram pouco. E, de
repente, se viram às voltas com uma série de textos e de
trabalhos escritos. A saída, para muitos, infelizmente, são os
ghost-writers ("escritores fantasmas") , pessoas pagas para
elaborarem trabalhos que deveriam ser feitos pelos próprios
universitários, de preferência, em sala de aula, com exceção
da monografia - de final de curso - e de trabalhos mais
longos (que não podem ser feitos em sala de aula, mas
devem ser feitos pelo próprio estudante).
Uma boa saída para as aulas de língua portuguesa é fazer
com que o educando escreva em todas as aulas a fim de
que ele se familiarize com o ato de escrever e veja a
dissertação como forma de manifestação de suas idéias. É
importante que o universitário esteja sempre refletindo sobre
os tópicos apresentados durante o curso na universidade. É
certo que o educando encontra na universidade um espaço
altamente interdisciplinar no qual filosofia e sociologia assim
como física e cálculo, por exemplo, devem ser vistos como
um todo constituídos por partes e não como partes isoladas
de um todo.
Caso o universitário não crie o hábito de escrever em sala de
aula, será praticamente impossível minimizar as dificuldades
existentes na hora de escrever em casa. O universitário ou o
pós-universitário deve enxergar na escrita o meio por que
suas idéias serão organizadas e divulgadas a outras
pessoas, valendo ou não nota. No caso de um profissional,
vale lembrar que o que está em jogo não é mais um ano
letivo, mas sim sua carreira que pode desmoronar , pelo
simples fato de um engenheiro escrever um relatório cheio
de erros de ortografia, concordância, regência , etc. A
primeira impressão de quem lê um texto de um graduado
cheio de erros é: "tem certeza de que ele cursou uma
universidade???!!"
Dado o exposto, fica patente que os erros mais comuns são
os erros 2ligados aos ensinos médio e fundamental (erros
ligados ao aprendizado, falho, da gramática nesses períodos
apresentados da vida escolar) e podem e devem ser
sanados na universidade a partir de um exercício constante
da escrita e da correção gramatical pelo professor e a
posteriori pelo aluno.
Para finalizar esse capítulo, vale a pena refletir a respeito
das afirmações de Adriana Armony no jornal O GLOBO de
15 de outubro deste ano:
Em sua vivência escolar, os alunos foram acostumados a
decorar, a despejar conhecimentos mal digeridos no papel
para simplesmente obter uma nota e passar.
Freqüentemente eles não dominam o código escrito básico:
escrevem frases incompletas, incoerentes ou sem qualquer
tipo de coesão, cometem erros ortográficos grosseiros, não
utilizam pontuação.
A partir dessas afirmativas, é imprescindível repensar o
papel do ato de escrever na universidade, epicentro de
saber, espaço de crítica e reflexão. Dessa forma, espaço
também de debate, de leitura e de muita escrita a respeito
de tudo que passa por ela.
A Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua
Portuguesa (página 03)
A Língua Portuguesa No Exercício Profissional
Com a globalização, o mercado torna-se, cada vez mais
exigente e apenas absorve aqueles que forem qualificados
em vários sentidos. Agora o que se pretende é um
profissional que saiba planejar, executar e divulgar o seu
trabalho. Para isso, o profissional de hoje deve saber, além
de exercer bem seu ofício, uma ou duas línguas estrangeiras
- sendo uma, com certeza, o inglês e a outra que diga
respeito à sua especialidade, como por exemplo: um filósofo
deve aprender alemão; um literato, francês e um
economista, espanhol.
Ao contrário do que se pensa, não se pode deixar de lado a
língua portuguesa, a não ser que o profissional não trabalhe
no Brasil, pois o que se vê é uma desvalorização de nossa
língua e, sobretudo, a banalização da modalidade escrita.
Hoje há uma preferência por gráficos e fotos, valorizam-se
os números por não saberem organizar as letras.
No entanto, determinados profissionais utilizam-se da
modalidade escrita para discriminar tarefas, para expor
idéias, divulgar pesquisas, propor negócios, etc. Nesse
momento, o domínio da língua padrão se faz necessário no
mercado de trabalho.
É possível que um professor, um médico, um biólogo, um
engenheiro ou um físico, entre outros, sejam chamados a
fazer um seminário, uma palestra, ou mesmo dar um curso,
como também; na área tecnológica, um webdesigner, ou um
programador, pode ser solicitado à elaboração de relatórios
mensais, principalmente, se esses trabalham para um cliente
que, eventualmente, procura saber o andamento de seu
investimento, como no caso de um site de uma empresa de
grande porte.
Sabemos que as grandes transações são feitas de forma
escrita. Por isso a universidade, como espaço "gerador" de
profissionais, tem que apresentar mais rigor com a produção
de textos, uma vez que é uma das habilidades mais
importantes para o profissional contemporâneo. Vejamos
trechos da reportagem da matéria de capa da seção Boa
Chance do dia 11 de agosto deste ano:
Erros de português comprometem imagem profissional
Um bilhetinho preso ao relatório diz: "faça as alterações que
quizer", em vez de "as alterações que quiser". A
contrariedade do diretor é imediata ele passa a questionar a
qualidade de todo o material que tem em mãos. Sustos
como esses, envolvendo tropeços na língua portuguesa, são
comuns. E prejudiciais: abalam a imagem do profissional e
põem em dúvida o trabalho. Aliás, também expõem a
empresa, no caso de o relatório ser enviado a clientes. (O
GLOBO)
O profissional de hoje, se quer, realmente, sobreviver no
novo mercado, precisa ser multifuncional e apresentar
diferentes habilidades, como ter iniciativa, ter conhecimento
especializado em mais de uma área, ter leitura, ter um bom
vocabulário, ter texto próprio, ter capacidade de pesquisa, ter
vontade de se manter sempre atualizado, participando,
constantemente, de cursos, de palestras, de congressos e
de seminários nos quais os temas referem-se à sua área de
atuação. Além desses aspectos, o profissional
contemporâneo precisa ter domínio do inglês e/ou do
espanhol, contudo, seja qual for a sua profissão, o
conhecimento de informática é essencial.
Dessa forma, não podemos mais ver um sujeito sair da
universidade sem saber passar suas idéias para o papel de
forma coesa e coerente, sem ter o hábito de verificar a
concordância ou a regência verbal em uma gramática ou em
um livro especializado. Para FEITOSA (2000), cabe ao
pesquisador o trabalho de relatar suas descobertas, pois tão
importante quanto descobrir e experimentar coisas é
comunicá-las. Vejamos:
Escrever é parte inerente ao ofício do pesquisador. O
trabalho do cientista ou do tecnólogo não se esgota nas
descobertas que faz, nos engenhos que cria: é de sua
responsabilidade a comunicação do que descobriu, criou,
desenvolveu. No entanto, é fato tão notório quanto lastimável
que a comunicação escrita está em crise, e essa crise se faz
notar até mesmo nos meios mais especializados e
intelectualizados.
a comunicação escrita, mesmo quando é muito pouco
formal, confere à mensagem que se quer - ou se deve -
transmitir uma forma, um corpo, que vai minimizar os efeitos
negativos da transmissão oral do conhecimento. (Feitosa,
1991, p.11)
Dado o exposto, percebe-se a importância do domínio de
vários aspectos, sobretudo os gramaticais, da língua
portuguesa para o mercado de trabalho, já que esse
encontra-se mais exigente quanto ao profissional
contemporâneo. O mercado exige um sujeito qualificado,
especialista na sua área, mas também com conhecimento
diversificado. Como se pode perceber em:
Quem vai sobreviver nesse novo mundo?
Terão mais chances os que conseguirem acompanhar o
ritmo das mudanças e também quem for "educado" e não
meramente preparado para "apertar parafusos". O cacife dos
que tiverem capacidade para criar e transferir conhecimentos
de um campo para outro também será maior. Também o dos
que souberem se comunicar, trabalhar em grupo, aprender
várias atividades. Sobreviverão aqueles que estiverem
preparados para a era da polivalência, da
multifuncionalidade, das famílias de ocupações. (ASSIS,
1999. p. 13)
Devemos nos preparar, antes de mais nada. Seja qual for a
nossa profissão, devemos levar em consideração a realidade
circundante. Não podemos ignorar o que ocorre na
sociedade pós-moderna, uma vez que as mudanças são
notórias e já afetam vários setores da sociedade.
Assim, a educação não pode ficar de fora dessas
transformações no trabalho, uma vez que a universidade
representa um espaço no qual cidadãos estão sendo
orientados, de forma interdisciplinar, para enfrentar o mundo
real. A universidade não pode ser vista como um espaço fora
da sociedade.
É preciso vincular o "trabalho" realizado em sala de aula com
a realidade da sociedade atual, principalmente, no que diz
respeito às exigências educacionais, competências e
habilidades do profissional contemporâneo. Tais exigências
podem ser observadas no Kit de sobrevivência criado por
SIMONETTI & GRINBAUM:
Para você que quer se preparar para o futuro, aqui vai um kit
de sobrevivência
Conceitos como carreira, estabilidade, promoção por tempo
de serviço estão desaparecendo. As empresas valorizam
mais quem não se acomoda num único emprego, mas
procura aprimoramento contínuo. Hoje se recomenda que a
pessoa não fique mais de cinco anos no mesmo emprego.
É preciso ter conhecimento especializado em pelo menos
uma área, além de conhecimento básico das outras áreas da
empresa. Quem conhece um pouquinho de cada coisa, mas
nada em profundidade, está perdendo importância.
O técnico também precisa mudar. É bom que ele tenha
noções de vendas, administração, mercado. Marca ponto se
consegue abrir uma oportunidade de negócio para a
companhia.
É necessário antecipar-se às mudanças e preparar-se para
elas. Um bom conselho é fugir dos setores que não dão
lucro, ou estão em decadência, ou a caminho da
terceirização.
Informação geral é preciosa, mesmo para um técnico. A
leitura precisa acrescentar alguma coisa às necessidades do
trabalho, ainda que seja um vocabulário melhor .
O profissional deve melhorar seus conhecimentos por conta
própria. A iniciativa é bem vista pelas empresas. Cada vez
menos elas promovem cursos de reciclagem ou pagam aula
de inglês.
(SIMONETTI & GRINBAUM, 1998 in ASSIS, 1999, p. 133)
É óbvio que não cabe, nesse momento, comentar as
mudanças relativas ao trabalho, em sua profundidade, mas é
importante perceber que um dos itens desse manual se
refere à língua portuguesa. E vale rever: "Informação geral é
preciosa, mesmo para um técnico. A leitura precisa
acrescentar alguma coisa às necessidades do trabalho,
ainda que seja um vocabulário melhor". Assim, pode-se
somar essa recomendação à modalidade escrita, uma vez
que é tão importante ter um bom vocabulário para a fala
quanto para a produção de um texto.
Conclusão
A língua portuguesa é o nosso instrumento de comunicação
e é através da língua escrita ou falada que nós expressamos
nossos sentimentos, nossas idéias, nossas dúvidas e
certezas, nossas alegrias e tristezas.
É também através da língua escrita que os homens de
negócio iniciam ou terminam importantes transações. É a
partir da língua escrita que um cientista pode divulgar suas
descobertas para os seus e para todo o mundo. E, na busca
da comunicação melhor e maior, o homem esquece-se de
dizer obrigado à língua-mãe, banalizando-a e diminuindo-a à
condição de objeto cortante, de poder censurador. No
mundo há regras. Na vida há normas a serem seguidas, não
com total silêncio, mas com murmúrios sensatos de quem
sabe o que diz, ou no nosso caso, o que escreve.
Com este trabalho, aprende-se que o poder da língua é
soma. O poder da língua, a censura da língua - vista pelos
poetas e literatos - existe para que esses possam ousar. Se
tudo fosse livre, não teria nenhum sabor a liberdade.
O uso padrão da língua tem hora e lugar para acontecer e é
papel da universidade fornecer textos motivadores para que
a língua formal, para que a língua padrão, seja utilizada em
textos dissertativos e/ou argumentativos. Assim, se os
ensinos fundamental e médio não foram suficientes para
inspirar ou seduzir as pessoas para o ato de escrever, cabe
à universidade não deixar que um indivíduo saia desse
espaço sem saber organizar suas idéias e articular as
palavras, transformando-as em períodos coesos e coerentes
que formarão um texto claro para ele e para seus receptores.
Portanto, escrever é importante antes, durante e depois da
universidade, ou melhor, o ato de escrever se faz necessário
para sempre na vida de qualquer pessoa.
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Técnica de redação. 2. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico
S/A - Indústria