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Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua Portuguesa Cíntia Barreto Introdução O presente trabalho tem por objetivo ressaltar a importância do ato de escrever no ensino da língua portuguesa na universidade, levando-se em consideração que a modalidade escrita é fundamental no exercício profissional de várias pessoas. Atualmente, exige-se do profissional redação própria, ou seja, a capacidade de passar para o papel seu trabalho ou de se comunicar com outras empresas a partir da modalidade escrita de forma clara. Contudo, é necessária muita leitura e conhecimento das possibilidades da língua, pois até mesmo um texto prosaico pode

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Page 1: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua

Portuguesa

Cíntia Barreto

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo ressaltar a importância

do ato de escrever no ensino da língua portuguesa na

universidade, levando-se em consideração que a

modalidade escrita é fundamental no exercício profissional

de várias pessoas. Atualmente, exige-se do profissional

redação própria, ou seja, a capacidade de passar para o

papel seu trabalho ou de se comunicar com outras empresas

a partir da modalidade escrita de forma clara. Contudo, é

necessária muita leitura e conhecimento das possibilidades

da língua, pois até mesmo um texto prosaico pode ser

original, no sentido de passar a quem o lê a personalidade

de quem o escreve.

No entanto, sabe-se que, para muitos, o ato de escrever não

é agradável, pois a pouca ou total ausência da modalidade

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escrita foi uma das lacunas deixadas pelos ensinos

fundamental e médio. Antes a ênfase nas nomenclaturas

reduzia o espaço da interpretação, da leitura e da escrita, de

forma que o aluno não conseguia, quando solicitado, utilizar

os recursos gramaticais ensinados. Não cabe à

universidade resolver as lacunas deixadas pelos ensinos

fundamental e médio, mas sim despertar aqueles que têm

dificuldade ao escrever, fazendo com que esses leiam,

escrevam bastante e consigam, ao longo dos anos e com a

prática, sanar esse mal da escrita. Para isso, a produção de

textos deve fazer parte da rotina acadêmica. Após a leitura

de um poema, de um trecho de um romance, de um texto

científico, de uma reportagem, ou, até mesmo, após um

debate, o educando sentir-se-á estimulado a elaborar um

texto sobre o tema sugerido.

Com tudo isso, a importância deste estudo está ligada à

possibilidade de orientar a organização de programas de

língua portuguesa, no que diz respeito à relevância da

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produção de textos dentro e fora das aulas de redação.

Assim, o presente estudo poderá ser aproveitado por

professores de língua portuguesa, supervisores pedagógicos

e pessoas responsáveis pela elaboração de currículos em

nível de sistemas (particular, estadual e federal), visando ao

melhor domínio da expressão escrita por parte dos alunos.

O Ensino Da Língua Portuguesa: O Ato De Escrever

O ensino de língua portuguesa já sofreu uma série de

mudanças ao longo dos anos, mas, hoje, mais do que

nunca, é preciso repensar o papel do ensino da língua na

universidade, a fim de que se possa ter um profissional

ciente das questões gramaticais que envolvem um texto e

apto a escrevê-lo com coesão e coerência.

Para Feitosa (2000), "escrever é parte inerente ao ofício do

pesquisador" e não costuma ser tarefa fácil para ninguém.

Normalmente, as pessoas "sofrem" muito quando têm que

colocar suas idéias no papel.

Page 4: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Parece que a primeira razão para esse "sofrimento" está

naquilo que é, ao mesmo tempo, causa e efeito da crise em

que se encontra a comunicação escrita: a pouca eficácia do

ensino de redação nas escolas e a falta de treinamento

específico para a redação científica, decorrentes de total

desprestígio em que caiu a língua escrita como meio

eficiente de comunicação. Hoje, "falam" os números, os

dados estatísticos, as fotos, os gráficos, os VTs. (Feitosa,

1991, p.12 )

Não se pode esquecer de que , durante muitos anos, o

ensino da língua não se destinou à produção, à leitura e à

interpretação de textos, mas sim se limitou a exigir do aluno

as nomenclaturas gramaticais, uma vez que essas eram, e

continuam sendo, exigidas pelo vestibular e pelos concursos

em geral. O resultado de tal postura foi um universitário que

mal sabe escrever e, o pior, que pode passar quatro anos na

universidade sem sabê-lo.

Atualmente, a sociedade exige do profissional, seja ele

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engenheiro, advogado, jornalista, dentista, analista de

sistemas ou professor, a capacidade de passar para o papel

todos os seus estudos, divulgando assim o seu trabalho.

Para isso, é preciso alguns conhecimentos específicos da

elaboração da redação e, o principal, exige de qualquer um

muita leitura. Escrever significa comunicar-se e, todos

sabem que, nas empresas e instituições a comunicação se

faz, muito mais, através da modalidade escrita do que da

oral.

Por outro lado, em inúmeras faculdades, o que se vê são

pessoas, quase formadas, com dificuldade de escrever um

texto. Esta dificuldade se explicita, quando o profissional tem

de fazer uma pós-graduação, em que o exercício de escrita

é uma constante; ou quando ele é solicitado a escrever um

relatório, uma declaração, ou um outro documento na

empresa. No momento em que estes questionamentos se

colocam, pensamos por que estas pessoas, formadas por

uma instituição, não conseguem escrever com certa

Page 6: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

tranqüilidade e atender às necessidades exigidas pelo

mercado de trabalho ou pelas instituições de pós-graduação.

É importante esclarecer que o cerne do problema de se fazer

uma boa redação não está diretamente ligado à

universidade, e sim aos ensinos fundamental e médio.

Contudo, este problema é levado até à faculdade e os

docentes de língua portuguesa, matéria não encontrada em

todas os cursos de graduação, não procuram, geralmente,

fazer nada para sanar este "mal da escrita". Ao final do

curso, o que se tem é um profissional incapaz de escrever

bem o que aprendeu. Incapaz de dissertar com segurança

gramatical e estrutural a respeito de um tema apresentado.

Não se pode deixar de lembrar que o estudo gramatical é

importante para a elaboração de um "bom" texto. Assim,

para se escrever "bem" o texto deve-se saber utilizar,

corretamente, os sinais de pontuação, deve-se saber

ortografia, acentuação; deve-se saber o uso da crase; deve-

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se fazer as concordâncias verbal e nominal; deve-se saber

regências verbal e nominal; além de se fazer um texto com

os dois elementos mais importantes: coesão e coerência.

Sem estes dois elementos, o texto perde a intenção de

comunicação, ou melhor, de intercomunicação.

Para BECHARA ( 2001) , o enunciado não se constrói com

um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam

segundo princípios gerais de dependência e independência

sintática e semântica, recobertos por unidades melódicas e

rítmicas que sedimentam estes princípios. Dessa forma,

entende-se que não é só escrever diversas frases e se ter

um texto, mas é imprescindível unidade, é preciso que estas

frases sejam coesas e coerentes e então somem um texto.

A essência do problema é verificar o ensino de língua

portuguesa na universidade no que diz respeito à produção

de textos, ou seja, mais especificamente, ao ensino de

redação dissertativa objetiva na universidade.

Page 8: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

A Língua como Expressão Simbólica

Para Celso Cunha, a língua "é um sistema gramatical

pertencente a um grupo de indivíduos. Expressão da

consciência de uma coletividade, a LÍNGUA é o meio por

que ela concebe o mundo que a cerca e sobre ele age".

Pelo que se sabe, a língua apresenta variações diatópicas

(variantes regionais, falares locais etc.), variações

diastráticas (nível culto, nível popular, língua padrão, etc.) e

variações diafásicas (língua escrita, língua falada, língua

literária, etc.). Contudo, cabe perceber dentro dessas

variações internas o contexto para a utilização da língua.

Deve-se ter presente que "a língua padrão, por exemplo,

embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma,

é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo,

como norma, como ideal lingüístico de uma comunidade".

(CELSO, 1985)

Page 9: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Em contrapartida, a língua não é apenas um meio de

comunicação, pois não vive só da função denotativa

(informativa). Para Mikhail Bakhtin, Roland Barthes e outros,

a linguagem escrita tem outra função grandiosa: a de

transgredir a norma, o poder institucionalizado pela

gramática, e tem como função maior a expressividade, como

se pode constatar no trecho a seguir:

A lingüística do século XIX - a começar por W. Humboldt - ,

sem negar a função comunicativa da linguagem, empenhou-

se em relegá-la ao segundo plano, como algo acessório;

passava-se para o primeiro plano a função formadora da

língua do pensamento, independente da comunicação. Eis a

célebre fórmula de Humboldt: "abstraindo-se a necessidade

de comunicação do homem, a língua lhe é indispensável

para pensar, mesmo que estivesse de estar sempre

sozinho". A escola de Vossler passa a função dita expressiva

para o primeiro plano. Apesar das diferenças que os teóricos

introduzem nessa função, ela, no essencial, resume-se à

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expressão do universo individual do interlocutor. A língua se

deduz da necessidade do homem de expressar-se, de

exteriorizar-se. A essência da língua, de uma forma ou de

outra, resume-se à criatividade espiritual do indivíduo.

(Bakhtin, 2000, p.291)

Assim como Bakhtin, Barthes atribuiu à língua uma função

maior que a simplesmente de comunicar, viu na língua o

"objeto em que se inscreve o poder", afirmando que "a

linguagem é uma legislação" e "a língua é seu código".

Continuou afirmando que "não vemos o poder que reside na

língua porque esquecemos que toda língua é uma

classificação, e que toda classificação é opressiva". Diz

ainda que a língua é fascista, pois não impede o sujeito de

dizer, mas obriga-o a dizer. Barthes vê a língua como

símbolo do poder e objeto de alienação humana. Para ele, a

literatura é a única forma de trapacear a língua. Vejamos o

que o escritor entende por literatura:

Entendo por literatura não um corpo ou uma seqüência de

obras, nem mesmo um setor de comércio ou de ensino, mas

Page 11: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

o grafo complexo das pegadas de uma prática de escrever.

Nela viso, portanto, essencialmente, o texto, isto é, o tecido

dos significantes que constitui a obra, porque o texto é o

próprio aflorar da língua, e porque é no interior da língua que

a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem

de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de

que ela é o teatro. Posso portanto dizer, indiferentemente:

literatura, escritura ou texto". (Barthes, 2000, p.16 - 17)

Com esse trecho, percebe-se que Barthes encontra na

literatura a liberdade necessária para a criação da língua,

uma vez que a literatura é transgressão. "As forças de

liberdade que residem na literatura" vêm "do trabalho de

deslocamento que ele exerce sobre a língua: desse ponto de

vista, Céline é tão importante quanto Hugo, Chateubriand

tanto quanto Zola". (Barthes, 2000, p. 17) É evidente que,

mais que liberdade, a língua necessita de sabor e a literatura

cumpre o papel de alimentar a linguagem escrita, a fim de

minimizar seu aspecto protocolar. Disse Barthes: "Na ordem

do saber, para que as coisas se tornem o que são, o que

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foram, é necessário esse ingrediente, o sal das palavras. É

esse gosto das palavras que faz o saber profundo, fecundo".

(Barthes, 2000, p.21)

Com isso, começa-se a distinguir língua literária da língua

não-literária. A língua escrita, para alguns, deve obedecer a

normas, regras pré-estabelecidas por gramáticos, deve ter

coesão e coerência para se fazer entender por todos. Mas, o

que é coerência? Para Ingedore, a coerência também deve

estar ligada a um contexto, deve obedecer ao objetivo do

texto (seja ele escrito ou falado), isto é, não basta escrever

várias frases com sentido, é preciso escrever várias frases

com sentido unitário entre as partes do texto, como se pode

observar em:

A coerência está diretamente ligada à possibilidade de se

estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz

com que o texto faça sentido para os usuários, devendo,

portanto, ser entendida como um princípio de

interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa

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situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem

para calcular o sentido deste texto. Este sentido,

evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global.

(Koch, 2001, p.21)

Além disso, vale lembrar que a coerência textual relaciona-

se com a coesão do texto, "pois por coesão se entende a

ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os

elementos que constituem a superfície textual" (Koch, 2001,

p.40). Contudo, a coesão não é suficiente para atribuir

sentido ao texto, esse papel é confiado à coerência. Assim,

"podemos dizer que a coerência dá origem à textualidade,

entendo-se por textualidade "aquilo que converte uma

seqüência lingüística em texto". " (Koch, 2001, p.45) Nesse

sentido, o texto será incoerente se "seu produtor não souber

adequá-lo à situação, levando em conta a intenção

comunicativa, objetivos, destinatário, regras sócio-culturais,

outros elementos da situação, uso dos recursos lingüísticos,

etc. Caso contrário, será coerente". (Koch, 2001, p.50)

Page 14: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Na verdade, não se pode esquecer de que há diferentes

tipos de textos e que cada um tem seu esquema estrutural.

Sabe-se que textos narrativos são diferentes de textos

dissertativos que são bem diferentes de textos descritivos

que, por sua vez, são diferentes de textos poéticos ou de

textos dramáticos.

Seja como for, pode-se retornar à diferença entre texto

literário e texto não- literário. O texto literário é aquele que

transgride a barreira da linearidade formal e soma à sua

estrutura recursos conotativos, levando ao receptor a

possibilidade de significados variados. E entende-se por

texto não-literário aquele que tem a função principal de

comunicar algo de forma objetiva, fazendo uso da função

referencial, utilizando, para isso, a linguagem puramente

denotativa.

Para Bakhtin, a língua literária pertence a um sistema ainda

mais complexo que o da língua não-literária, já que "obedece

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a outros princípios, que pertence a língua literária, cujos

componentes incluem também os estilos da língua não-

escrita". (2000, p.285) Para Barthes, a língua literária "tenta

escapar ao seu próprio poder, à sua própria servidão -

encontramos algo que se relaciona com o teatro" (2000, p.

28). Barthes, em sua reflexão, tenta retirar da língua seu

caráter normativo e atentar para a liberdade de criação de

quem escreve, pois compara a língua ao teatro, ou seja, ao

drama (radical grego que significa ato, ação).

Portanto, não se pode negar que a língua, na sua

modalidade literária, fecunda neologismos, signos, símbolos;

mistura prosa e poesia para parir idéias de forma autêntica,

seduzindo e dando prazer não só a quem escreve como a

quem lê.

Como diz Barthes: "Pode-se dizer que a terceira força da

literatura, sua força propriamente semiótica, consiste em

jogar com os signos em vez de destruí-los, em colocá-los

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numa maquinaria de linguagem cujos breques e travas de

segurança arrebentaram". (2000, p.28-29)

Por outro lado, é incontestável que, apesar da língua ser

multifuncional, deve-se, até pela situação limítrofe de

monografar a importância do ato de escrever, tratar de

isentar aqui o papel da universidade e, com isso, do

professor de língua portuguesa, para o estudo - aprofundado

- da escrita literária, no ambiente acadêmico, caso esteja ele

- o docente - lecionando língua portuguesa em um curso de

engenharia, medicina, administração ou contabilidade, por

exemplo. É importante ressaltar que não é objetivo do

professor de língua portuguesa, nem da universidade, criar

escritores de romances, de poemas, de crônicas, mas é sua

função apresentar aos discentes diferentes tipos de textos e

intenções para que estes saibam precisar a que estrutura da

modalidade escrita devem recorrer quando solicitados a

fazer um relatório, um projeto, uma resenha ou um ensaio

acadêmico.

Page 17: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

De qualquer forma, conhecimento nunca é descartável, no

mínimo, atribui expressividade e, certo grau de criatividade

ao texto não-literário. Além disso, em outro momento,

mostrar-se-á a importância da leitura na construção da

escrita. E, quando se pensa em leitura, pensa-se também,

se não principalmente, em textos literários.

A Língua Portuguesa na Universidade

O aprendizado da nomenclatura dos elementos da língua

acontece a partir da 3ª série do ensino fundamental e é

reforçado durante as demais séries até o término do ensino

médio.

Com o vestibular, cada vez mais interpretativo, a leitura

começa a ganhar espaço nas aulas de língua portuguesa.

Após a leitura de textos literários e não-literários, inicia-se

um debate sobre a temática do texto que culmina com a

Page 18: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

proposta de elaboração de um texto sobre o assunto

debatido. Difícil é receber todas as redações, pois muitos se

esquivam da dramática tarefa de pôr no papel tudo que foi

dito em sala.

A diferença básica entre o ensino médio e a universidade é

que o discente universitário tem que colocar em prática o

conteúdo que foi ensinado no ensino médio. No entanto, a

língua portuguesa, nem sempre, foi ensinada da melhor

maneira possível, isto é, com a intenção de, realmente, dar

autonomia ao educando, a fim de que ele, agora, na

universidade, saiba concatenar o conteúdo de todas

disciplinas e possa elaborar um texto rico sintática e

semanticamente.

É certo que as disciplinas são pluridisciplinares e não

transdisciplinares. Não há aparente relação entre elas, nem

dentro de uma mesma disciplina. Por exemplo, ensina-se ao

aluno as orações subordinadas, mas o aluno não consegue

Page 19: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

usar conectivos, no seu texto, de forma correta. Ele só sabe,

ou melhor, mal sabe dizer as nomenclaturas, como: " esta é

uma conjunção adverbial concessiva." Ensina-se, na escola,

ao aluno a pontuação, a separação silábica, as

concordâncias e as regências verbal e nominal e, nem por

isso, o universitário, aluno do ensino superior, consegue

elaborar um "simples" texto. O aluno pensa que só se faz

dissertação, no momento em que o professor de língua

portuguesa assim determinar. O aluno não percebe que ao

responder a um questionário de filosofia, ou de história, ele

também está dissertando e deve, portanto, usar todos

conhecimentos gramaticais aprendidos nas séries anteriores

e deve utilizar seus conhecimentos de português, geografia,

literatura, biologia, sociologia, enfim perceber as inter-

relações entre as disciplinas.

Os alunos de universidades escrevem a todo momento, ou

pelo menos, deveriam escrever constantemente, então por

que eles escrevem tão mal? Por que não conseguem

Page 20: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

escrever textos coesos e coerentes? Por que muitas frases

parecem estar desconexas? Por que os erros de pontuação,

de ortografia e de acentuação são freqüentes no nível

universitário? Será por causa da pouca, ou nenhuma, leitura

extra-escolar? Será pelas facilidades do computador, com

seu corretor ortográfico e seus softwares de concordância e

regência? Será pelo relaxamento dos chats e e-mails, que

sucumbem as vírgulas, os acentos e fazem uso de

neologismos?

Não sabemos, mas é o que se quer descobrir também, o

motivo da falência da expressão escrita. É imprescindível

saber como são dadas, de fato as aulas de português hoje e

como a produção de texto é incentivada e corrigida, se é que

ela é tratada com destaque.

Portanto, o fato é que o ensino de língua portuguesa tem de

passar por uma reformulação, ou melhor, deve seguir as

novas exigências da educação e do mercado de trabalho,

Page 21: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

pois ambos defendem o fato de o aluno, ao sair da

universidade, ser capaz de se comunicar a partir das

modalidades oral e escrita com destreza e não com medos e

erros que se igualam a erros de alunos dos ensinos

fundamental e médio.

É preciso que os professores direcionem as aulas também

para escrita, senão continuaremos tendo advogados com

suas petições rejeitadas por falta de coesão e coerência;

senão continuaremos a ler nos jornais e revistas palavras

erradas; senão continuaremos ouvindo no rádio que já

começou o "horário gratuíto"; senão continuaremos sem

entender a receita que o médico acabou de passar, porque

escreveu de qualquer jeito, uma vez que há muito tempo não

escreve e, realmente, não se lembra mais de determinadas

normas gramaticais. É preciso valorizar, novamente, a

expressão escrita.

A Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua

Portuguesa (página 02)

Page 22: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

A Importância Da Leitura Para Aquele Que Escreve

Não é de hoje que encontramos pessoas com dificuldade de

passar para o papel as suas idéias a respeito de algo,

porque não têm informação suficiente sobre aquele assunto

específico. Por outro lado, também é raro encontrar essas

mesmas pessoas lendo uma obra poética, de ficção, um

jornal, uma revista, etc. O que todos têm que entender é que

a leitura é a base para a boa escrita e não só se deve ler

para escrever algo, mas se deve ler para enriquecer-se

culturalmente. Deve-se ler pelo prazer de dialogar com

outros que já leram outros que leram outros, pois não há

nenhum mal no plágio criativo.

Um escritor precisa ler para observar e absorver o que foi

lido. Um escritor precisa ler para se enriquecer

culturalmente. Não há um bom escritor que não seja um

leitor voraz com fome de informação, com fome de

formação. Um escritor precisa ler bons textos para escrever

bons textos. Um bom escritor é sempre um bom leitor.

Page 23: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Nesse sentido, sem a prática da leitura, a dissertação, por

exemplo, pode não apresentar argumentos palpáveis, não

alimentando de maneira persuasiva o receptor do texto

elaborado. A leitura, por sua vez, tem a função também de

organizar as informações adquiridas ao longo dos anos. À

medida que se lê, um mundo de magia e conhecimento, de

informações e ritmos, de certezas e possibilidades se revela

àquele que tem, nas mãos e nos olhos, a chave do tesouro a

ser descoberto. A leitura é necessária e, assim como a arte,

tem inúmeras atribuições.

Por outro lado, antes de se buscar a leitura, faz-se mister

escolher bem o texto a ser lido, pois para que "o leitor se

informe é necessário que haja entendimento daquilo que ele

lê" (FAULSTICH, 2002, p. 13) . Assim, a inteligibilidade

textual é imprescindível ao leitor; caso contrário, ele não

conseguirá absorver as informações necessárias à

elaboração do seu próprio texto.

Page 24: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Dito isso, o próximo passo a ser tomado é fazer uma leitura

crítica, isto é, "reconhecer a pertinência dos conteúdos

apresentados, tendo como base o ponto de vista do autor e

a relação entre este e as sentenças-tópico" (FAULSTICH,

2002, p.19) Ler criticamente é, sobretudo, ler

cuidadosamente separando o joio do trigo ou retirando as

ervas daninhas do florido mundo das letras.

Escrever não é essencial apenas a intelectuais, escritores,

jornalistas, advogados ou professores de português. A

escrita como meio de comunicação é para todos e é questão

bem definida e planejada em vários concursos públicos e

vestibulares de maneira geral. Na UNICAMP, a prova de

redação vem ganhando novos objetivos. Nesse momento, o

candidato terá que ser capaz de resolver uma situação-

problema. A partir da leitura de textos - coletânea - , o

estudante deve escolher entre uma dissertação, de natureza

argumentativa; uma narração; e um texto persuasivo. Nesse

Page 25: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

sentido, leitura e escrita andam juntas, como podemos

perceber em:

Escrever é uma prática social que consiste, em boa medida,

em escrever contra, sobre, a favor, ou, mais simplesmente, a

partir de outros textos. Não há escrita sem polêmica,

retomada, citação, alusão etc. Ninguém escreve a partir do

nada, ou a partir de si mesmo. (UNICAMP, 2001)

É notória a relevância da leitura nesses processos de

seleção, por exemplo, uma vez que se proporciona , a partir

da coletânea, ao estudante, a possibilidade de pensar com

clareza sobre o tema apresentado.

Não se pode esquecer de que, se é cobrado ao universitário

tamanha reflexão para entrar em uma universidade, não é

correto que, ao longo do curso universitário, não seja ele

capaz de refletir e escrever de forma crítica sobre vários

pontos fornecidos, em diferentes matérias. Na verdade,

escreve mal aquele que não tem o que dizer porque não

aprendeu a organizar seu pensamento. Àquele que não tem

Page 26: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

o que dizer, de nada adianta o domínio das regras

gramaticais, muito menos saber selecionar as palavras para

cada ocasião. Faltará a esse sempre o conteúdo, o recheio.

Dessa forma, antes de escrever é preciso refletir, e o melhor

estímulo para a reflexão é a leitura, é ler o que outros já

escreveram a respeito do que leram de outros e assim

sucessivamente, pois a escrita está sempre impregnada de

outras escritas, ou seja, a leitura é diálogo direto ou indireto

com outras leituras. A leitura é um diálogo velado com o

outro.

Para Harold Bloom, o sujeito que pretende desenvolver a

capacidade de formar opiniões críticas e chegar a avaliações

pessoais necessita ler por iniciativa própria. Não ler apenas

por conveniência. Não ler apenas livros técnicos, pertinentes

ao seu campo de atuação, ou ler por indicação de outrem,

mas, acima de tudo, ler por prazer, por desejo próprio de se

divertir ou de conhecer algo.

Page 27: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

A informação, nos dias de hoje, é facilmente encontrada,

pois aumentaram sensivelmente os canais de comunicação.

Além do jornal, da revista, do livro, da televisão, do telefone,

do rádio, do fax, do telegrama, temos agora o e-mail, a Web

(com seus pontos positivos e negativos, proporciona um

fluxo ininterrupto de informações disponíveis em qualquer

ponto do mundo) a videoconferência e a telefonia celular

entre outros. Em contrapartida, discernir o que deve ser

absorvido e o que deve ser deletado ficou mais complicado

depois da internet. Cabe ao leitor transformar informação em

conhecimento, lendo de forma crítica e cuidadosa, pois como

diz Harold Bloom:

Uma das funções da leitura é nos preparar para uma

transformação, e a transformação final tem caráter universal.

Considero aqui a leitura como hábito pessoal, e não como

prática educativa. A maneira como lemos hoje, quando o

fazemos sozinhos, manifesta uma relação contínua com o

passado, a despeito da leitura atualmente praticada nas

Page 28: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

academias. Meu leitor ideal (e herói preferido) é Samuel

Johnson, que bem conhecia e tão bem expressou as

vantagens e desvantagens da leitura constante. Conforme

qualquer outra atividade mental, a leitura, para Johnson,

devia atender a uma preocupação central, ou seja, algo que

"nos diz respeito, e que nos é útil". Sr. Francis Bacon, gestor

de algumas da idéias postas em prática por Johnson,

ofereceu o célebre conselho: "Não leia com o intuito de

contradizer ou refutar, nem para acreditar ou concordar,

tampouco para ter o que conversar, mas para refletir e

avaliar". A Bacon e Johnson eu acrescentaria um terceiro

sábio da leitura, inimigo ferrenho da História e de todos os

Historicismos, Emerson, que afirmou: "Os melhores livros

levam-nos à convicção de que a natureza que escreveu é a

mesma que lê". Proponho uma fusão de Bacon, Johnson e

Emerson, uma fórmula de leitura: encontrar algo que nos

diga respeito, que possa ser utilizado como base para

avaliar, refletir, que pareça ser fruto de uma natureza

Page 29: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

semelhante à nossa, e que seja livre da tirania do tempo.

(2001, p. 17-8)

A leitura deve ser útil, deve aproximar aquele que lê daquele

que escreve e deve propiciar, antes de qualquer coisa, a

reflexão.

No ensino de língua portuguesa, ao se tratar de produção de

texto devemos automaticamente pensar em leitura, mas

também em tipos de texto. Na universidade, o educando

será, geralmente, chamado a escrever um texto dissertativo,

argumentando sobre um assunto. Por isso, é importante

refletir rapidamente sobre essas nomenclaturas: dissertação

e argumentação.

Deve-se lembrar que a dissertação é a composição mais

utilizada no meio acadêmico. Por isso, tomar-se-á como

modelo de escrita, nesse trabalho, a dissertação que pode

apresentar argumentos para comprovação da tese

defendida.

Page 30: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Para Magda Soares e Edson Nascimento, a dissertação

também foi escolhida como composição mais utilizada tanto

no meio acadêmico quanto no campo profissional, como se

pode perceber no prefácio do livro Técnica de Redação:

A DISSERTAÇÃO é a forma de REDAÇÃO mais usual. Com

mais freqüência é a forma de REDAÇÃO solicitada às

pessoas envolvidas com a produção de trabalhos escolares,

com a administração e execução técnico-burocráticas de

serviços ligados à Indústria, Comércio, etc. A prosa

dissertativa é, assim, predominante nos textos de trabalhos

escolares , nos textos de produção e divulgação científicas

(monografias, ensaios, artigos e relatórios técnico-científicos)

e nos textos técnico administrativos. Raramente é uma

pessoa solicitada a produzir uma descrição ou uma

narração; freqüentemente, ao contrário, é solicitada a

produzir uma dissertação. (Soares, 1979, prefácio)

Nesse sentido, é importante ressaltar a diferença entre

dissertação e argumentação, uma vez que essas

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nomenclaturas costumam ser tomadas, muitas vezes, como

sinônimas. Na dissertação, as idéias do emissor são

expostas, mostra-se o que se sabe ou o que se julga saber

sobre aquele determinado assunto. Já na argumentação,

além de se expor o que se pensa sobre um determinado

assunto, faz -se isso de forma persuasiva, tentando

convencer o receptor, isto é, o leitor do seu texto.

Assim, "argumentar é, em última análise, convencer ou

tentar convencer mediante apresentação de razões, em face

da evidência das provas e à luz de um raciocínio coerente e

consistente". (GARCIA, 1992, p.370)

Para expor as idéias ou para convencer alguém, é preciso

conhecer o assunto tratado, uma vez que, ninguém

consegue escrever bem, se não conhece o que vai escrever.

É preciso, antes de qualquer movimento, conhecer

profundamente o objeto de reflexão. Para escrever, assim, a

respeito de qualquer assunto, é necessário, antes, ler e

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refletir, procurando argumentos que serão apresentados

como elementos de sustentação temático-textual.

Para Mattoso Câmara, "qualquer um de nós senhor de um

assunto é, em princípio, capaz de escrever sobre ele. Não

há um jeito especial para a redação, ao contrário do que

muita gente pensa. Há apenas uma falta de preparação

inicial, que o esforço e a prática vencem". (Mattoso, 2001,

p.61)

Essa falta de preparação inicial que Mattoso cita, decorre da

ausência, muitas vezes, de conhecimento da estrutura do

texto a ser elaborado, de elementos substanciais à

inteligibilidade textual e da carência de leitura. Na verdade, a

prática da leitura é parte fundamental no processo de

elaboração de um texto. Mattoso Câmara também se referiu

a esse aspecto textual:

A arte de escrever precisa assentar, analogamente, numa

atividade preliminar já radicada, que parte do ensino escolar

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e de um hábito de leitura inteligentemente conduzido;

depende muito, portanto, de nós mesmos, de uma disciplina

mental adquirida pela autocrítica e pela observação

cuidadosa do que outros com bom resultado escreveram.

(2001, p.61)

Portanto, há de se reforçar o que Othon Moacyr Garcia

disse: "aprender a escrever é aprender a pensar". Pode-se

completar essa afirmativa com a idéia de que para se

pensar, ou melhor, refletir a respeito de algo, é preciso

conhecer a temática a ser abordada e, para se ter

conhecimento, nada melhor que ler o que outros já disseram

sobre o assunto.

Os Principais Problemas De Redação

Mattoso Camara dividiu os problemas de redação dois

grupos: os essenciais e os secundários.

Os problemas essenciais estão ligados à composição, ou

seja, ao plano da redação e à escolha vocabular, "técnica de

uma formulação verbal que dispense os elementos

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extralingüísticos e elocucionais, só participantes da

exposição oral". (2001, p.62)

Assim, a pontuação, a ortografia, a concordância, a

acentuação, isto é , os elementos gramaticais constituem os

problemas secundários que, para Mattoso, são mais fáceis

de resolver.

Por outro lado, são os problemas secundários que brilham,

muitas vezes, no palco-papel. Há professores que se

preocupam em demasia com a ortografia das palavras,

atribuindo aos problemas gramaticais a essência da

redação, deixando em segundo plano a estrutura do texto.

De qualquer forma, são os elementos secundários, de

Mattoso, que ganham destaque nas páginas de jornais e

revistas e são esses mesmos problemas, principalmente, os

ortográficos que ganham notoriedade em reportagens da

televisão.

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Vale ressaltar que a vida social é marcada pela comunicação

escrita e oral. No campo profissional, a comunicação escrita

é mais usada, pois através de relatórios, requerimentos,

declarações, circulares, etc. as pessoas se comunicam

dentro e fora de uma empresa. Nesse sentido, cabe a todos

ter domínio dessa modalidade tão usada no dia-a-dia.

Como podemos notar, a língua escrita requer conhecimento

de uma série de elementos que possibilitem ao homem

expressar-se bem. Para escrever bem a pessoa precisa

conhecer um grande número de regras e também de um

conhecimento técnico da estrutura que será elaborada.

A pontuação não é no papel uma contraparte cabal da

distribuição dos grupos de força da comunicação falada, e

constitui a rigor um caráter próprio da exposição escrita.

(Mattoso, 2001, p.57)

Os erros mais freqüentes

Page 36: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

Os erros mais freqüentes são os gramaticais, isto é, erros de

pontuação, acentuação, ortografia, concordâncias verbal e

nominal, regências verbal e nominal, etc.

Pode-se encontrar uma tabela com os erros mais freqüentes

em várias redações dissertativas no Manual de Redação e

Estilo do Estadão . É evidente que não são apenas esses os

erros de vários profissionais e universitários, contudo é

importante mostrar quais são os principais erros gramaticais

para que se tenha uma idéia geral dos problemas

secundários de um texto escrito.

Como as pessoas aprenderam, durante muitos anos, as

nomenclaturas gramaticais e pouco se interessaram na

funcionalidade de orações subordinadas adverbiais, por

exemplo, na frase, percebe-se por que há tantos erros nos

textos de muitos universitários e pós-universitários. Eles não

aprenderam a escrever. Eles escreveram pouco. E, de

repente, se viram às voltas com uma série de textos e de

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trabalhos escritos. A saída, para muitos, infelizmente, são os

ghost-writers ("escritores fantasmas") , pessoas pagas para

elaborarem trabalhos que deveriam ser feitos pelos próprios

universitários, de preferência, em sala de aula, com exceção

da monografia - de final de curso - e de trabalhos mais

longos (que não podem ser feitos em sala de aula, mas

devem ser feitos pelo próprio estudante).

Uma boa saída para as aulas de língua portuguesa é fazer

com que o educando escreva em todas as aulas a fim de

que ele se familiarize com o ato de escrever e veja a

dissertação como forma de manifestação de suas idéias. É

importante que o universitário esteja sempre refletindo sobre

os tópicos apresentados durante o curso na universidade. É

certo que o educando encontra na universidade um espaço

altamente interdisciplinar no qual filosofia e sociologia assim

como física e cálculo, por exemplo, devem ser vistos como

um todo constituídos por partes e não como partes isoladas

de um todo.

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Caso o universitário não crie o hábito de escrever em sala de

aula, será praticamente impossível minimizar as dificuldades

existentes na hora de escrever em casa. O universitário ou o

pós-universitário deve enxergar na escrita o meio por que

suas idéias serão organizadas e divulgadas a outras

pessoas, valendo ou não nota. No caso de um profissional,

vale lembrar que o que está em jogo não é mais um ano

letivo, mas sim sua carreira que pode desmoronar , pelo

simples fato de um engenheiro escrever um relatório cheio

de erros de ortografia, concordância, regência , etc. A

primeira impressão de quem lê um texto de um graduado

cheio de erros é: "tem certeza de que ele cursou uma

universidade???!!"

Dado o exposto, fica patente que os erros mais comuns são

os erros 2ligados aos ensinos médio e fundamental (erros

ligados ao aprendizado, falho, da gramática nesses períodos

apresentados da vida escolar) e podem e devem ser

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sanados na universidade a partir de um exercício constante

da escrita e da correção gramatical pelo professor e a

posteriori pelo aluno.

Para finalizar esse capítulo, vale a pena refletir a respeito

das afirmações de Adriana Armony no jornal O GLOBO de

15 de outubro deste ano:

Em sua vivência escolar, os alunos foram acostumados a

decorar, a despejar conhecimentos mal digeridos no papel

para simplesmente obter uma nota e passar.

Freqüentemente eles não dominam o código escrito básico:

escrevem frases incompletas, incoerentes ou sem qualquer

tipo de coesão, cometem erros ortográficos grosseiros, não

utilizam pontuação.

A partir dessas afirmativas, é imprescindível repensar o

papel do ato de escrever na universidade, epicentro de

saber, espaço de crítica e reflexão. Dessa forma, espaço

também de debate, de leitura e de muita escrita a respeito

de tudo que passa por ela.

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A Importância do Ato de Escrever no Ensino de Língua

Portuguesa (página 03)

A Língua Portuguesa No Exercício Profissional

Com a globalização, o mercado torna-se, cada vez mais

exigente e apenas absorve aqueles que forem qualificados

em vários sentidos. Agora o que se pretende é um

profissional que saiba planejar, executar e divulgar o seu

trabalho. Para isso, o profissional de hoje deve saber, além

de exercer bem seu ofício, uma ou duas línguas estrangeiras

- sendo uma, com certeza, o inglês e a outra que diga

respeito à sua especialidade, como por exemplo: um filósofo

deve aprender alemão; um literato, francês e um

economista, espanhol.

Ao contrário do que se pensa, não se pode deixar de lado a

língua portuguesa, a não ser que o profissional não trabalhe

no Brasil, pois o que se vê é uma desvalorização de nossa

língua e, sobretudo, a banalização da modalidade escrita.

Hoje há uma preferência por gráficos e fotos, valorizam-se

Page 41: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

os números por não saberem organizar as letras.

No entanto, determinados profissionais utilizam-se da

modalidade escrita para discriminar tarefas, para expor

idéias, divulgar pesquisas, propor negócios, etc. Nesse

momento, o domínio da língua padrão se faz necessário no

mercado de trabalho.

É possível que um professor, um médico, um biólogo, um

engenheiro ou um físico, entre outros, sejam chamados a

fazer um seminário, uma palestra, ou mesmo dar um curso,

como também; na área tecnológica, um webdesigner, ou um

programador, pode ser solicitado à elaboração de relatórios

mensais, principalmente, se esses trabalham para um cliente

que, eventualmente, procura saber o andamento de seu

investimento, como no caso de um site de uma empresa de

grande porte.

Sabemos que as grandes transações são feitas de forma

Page 42: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

escrita. Por isso a universidade, como espaço "gerador" de

profissionais, tem que apresentar mais rigor com a produção

de textos, uma vez que é uma das habilidades mais

importantes para o profissional contemporâneo. Vejamos

trechos da reportagem da matéria de capa da seção Boa

Chance do dia 11 de agosto deste ano:

Erros de português comprometem imagem profissional

Um bilhetinho preso ao relatório diz: "faça as alterações que

quizer", em vez de "as alterações que quiser". A

contrariedade do diretor é imediata ele passa a questionar a

qualidade de todo o material que tem em mãos. Sustos

como esses, envolvendo tropeços na língua portuguesa, são

comuns. E prejudiciais: abalam a imagem do profissional e

põem em dúvida o trabalho. Aliás, também expõem a

empresa, no caso de o relatório ser enviado a clientes. (O

GLOBO)

O profissional de hoje, se quer, realmente, sobreviver no

novo mercado, precisa ser multifuncional e apresentar

diferentes habilidades, como ter iniciativa, ter conhecimento

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especializado em mais de uma área, ter leitura, ter um bom

vocabulário, ter texto próprio, ter capacidade de pesquisa, ter

vontade de se manter sempre atualizado, participando,

constantemente, de cursos, de palestras, de congressos e

de seminários nos quais os temas referem-se à sua área de

atuação. Além desses aspectos, o profissional

contemporâneo precisa ter domínio do inglês e/ou do

espanhol, contudo, seja qual for a sua profissão, o

conhecimento de informática é essencial.

Dessa forma, não podemos mais ver um sujeito sair da

universidade sem saber passar suas idéias para o papel de

forma coesa e coerente, sem ter o hábito de verificar a

concordância ou a regência verbal em uma gramática ou em

um livro especializado. Para FEITOSA (2000), cabe ao

pesquisador o trabalho de relatar suas descobertas, pois tão

importante quanto descobrir e experimentar coisas é

comunicá-las. Vejamos:

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Escrever é parte inerente ao ofício do pesquisador. O

trabalho do cientista ou do tecnólogo não se esgota nas

descobertas que faz, nos engenhos que cria: é de sua

responsabilidade a comunicação do que descobriu, criou,

desenvolveu. No entanto, é fato tão notório quanto lastimável

que a comunicação escrita está em crise, e essa crise se faz

notar até mesmo nos meios mais especializados e

intelectualizados.

a comunicação escrita, mesmo quando é muito pouco

formal, confere à mensagem que se quer - ou se deve -

transmitir uma forma, um corpo, que vai minimizar os efeitos

negativos da transmissão oral do conhecimento. (Feitosa,

1991, p.11)

Dado o exposto, percebe-se a importância do domínio de

vários aspectos, sobretudo os gramaticais, da língua

portuguesa para o mercado de trabalho, já que esse

encontra-se mais exigente quanto ao profissional

contemporâneo. O mercado exige um sujeito qualificado,

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especialista na sua área, mas também com conhecimento

diversificado. Como se pode perceber em:

Quem vai sobreviver nesse novo mundo?

Terão mais chances os que conseguirem acompanhar o

ritmo das mudanças e também quem for "educado" e não

meramente preparado para "apertar parafusos". O cacife dos

que tiverem capacidade para criar e transferir conhecimentos

de um campo para outro também será maior. Também o dos

que souberem se comunicar, trabalhar em grupo, aprender

várias atividades. Sobreviverão aqueles que estiverem

preparados para a era da polivalência, da

multifuncionalidade, das famílias de ocupações. (ASSIS,

1999. p. 13)

Devemos nos preparar, antes de mais nada. Seja qual for a

nossa profissão, devemos levar em consideração a realidade

circundante. Não podemos ignorar o que ocorre na

sociedade pós-moderna, uma vez que as mudanças são

notórias e já afetam vários setores da sociedade.

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Assim, a educação não pode ficar de fora dessas

transformações no trabalho, uma vez que a universidade

representa um espaço no qual cidadãos estão sendo

orientados, de forma interdisciplinar, para enfrentar o mundo

real. A universidade não pode ser vista como um espaço fora

da sociedade.

É preciso vincular o "trabalho" realizado em sala de aula com

a realidade da sociedade atual, principalmente, no que diz

respeito às exigências educacionais, competências e

habilidades do profissional contemporâneo. Tais exigências

podem ser observadas no Kit de sobrevivência criado por

SIMONETTI & GRINBAUM:

Para você que quer se preparar para o futuro, aqui vai um kit

de sobrevivência

Conceitos como carreira, estabilidade, promoção por tempo

de serviço estão desaparecendo. As empresas valorizam

mais quem não se acomoda num único emprego, mas

procura aprimoramento contínuo. Hoje se recomenda que a

Page 47: Import an CIA Do Ato de Escrever No Ensino de Lingua Portuguesa

pessoa não fique mais de cinco anos no mesmo emprego.

É preciso ter conhecimento especializado em pelo menos

uma área, além de conhecimento básico das outras áreas da

empresa. Quem conhece um pouquinho de cada coisa, mas

nada em profundidade, está perdendo importância.

O técnico também precisa mudar. É bom que ele tenha

noções de vendas, administração, mercado. Marca ponto se

consegue abrir uma oportunidade de negócio para a

companhia.

É necessário antecipar-se às mudanças e preparar-se para

elas. Um bom conselho é fugir dos setores que não dão

lucro, ou estão em decadência, ou a caminho da

terceirização.

Informação geral é preciosa, mesmo para um técnico. A

leitura precisa acrescentar alguma coisa às necessidades do

trabalho, ainda que seja um vocabulário melhor .

O profissional deve melhorar seus conhecimentos por conta

própria. A iniciativa é bem vista pelas empresas. Cada vez

menos elas promovem cursos de reciclagem ou pagam aula

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de inglês.

(SIMONETTI & GRINBAUM, 1998 in ASSIS, 1999, p. 133)

É óbvio que não cabe, nesse momento, comentar as

mudanças relativas ao trabalho, em sua profundidade, mas é

importante perceber que um dos itens desse manual se

refere à língua portuguesa. E vale rever: "Informação geral é

preciosa, mesmo para um técnico. A leitura precisa

acrescentar alguma coisa às necessidades do trabalho,

ainda que seja um vocabulário melhor". Assim, pode-se

somar essa recomendação à modalidade escrita, uma vez

que é tão importante ter um bom vocabulário para a fala

quanto para a produção de um texto.

Conclusão

A língua portuguesa é o nosso instrumento de comunicação

e é através da língua escrita ou falada que nós expressamos

nossos sentimentos, nossas idéias, nossas dúvidas e

certezas, nossas alegrias e tristezas.

É também através da língua escrita que os homens de

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negócio iniciam ou terminam importantes transações. É a

partir da língua escrita que um cientista pode divulgar suas

descobertas para os seus e para todo o mundo. E, na busca

da comunicação melhor e maior, o homem esquece-se de

dizer obrigado à língua-mãe, banalizando-a e diminuindo-a à

condição de objeto cortante, de poder censurador. No

mundo há regras. Na vida há normas a serem seguidas, não

com total silêncio, mas com murmúrios sensatos de quem

sabe o que diz, ou no nosso caso, o que escreve.

Com este trabalho, aprende-se que o poder da língua é

soma. O poder da língua, a censura da língua - vista pelos

poetas e literatos - existe para que esses possam ousar. Se

tudo fosse livre, não teria nenhum sabor a liberdade.

O uso padrão da língua tem hora e lugar para acontecer e é

papel da universidade fornecer textos motivadores para que

a língua formal, para que a língua padrão, seja utilizada em

textos dissertativos e/ou argumentativos. Assim, se os

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ensinos fundamental e médio não foram suficientes para

inspirar ou seduzir as pessoas para o ato de escrever, cabe

à universidade não deixar que um indivíduo saia desse

espaço sem saber organizar suas idéias e articular as

palavras, transformando-as em períodos coesos e coerentes

que formarão um texto claro para ele e para seus receptores.

Portanto, escrever é importante antes, durante e depois da

universidade, ou melhor, o ato de escrever se faz necessário

para sempre na vida de qualquer pessoa.

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