impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica...

171
IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA MUNDIAL Fernando Rocha Souza DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM PLANEJAMENTO ENERGÉTICO. Aprovada por: ______________________________________________ Prof. Luis Pinguelli Rosa, D.Sc. __________________________________________________ Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc. ______________________________________________ Prof. Marcos Pereira Estellita Lins, D.Sc. RIO DE JANEIRO RJ - BRASIL NOVEMBRO DE 2006

Upload: others

Post on 10-Mar-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA MUNDIAL

Fernando Rocha Souza

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS

EM PLANEJAMENTO ENERGÉTICO.

Aprovada por:

______________________________________________

Prof. Luis Pinguelli Rosa, D.Sc.

__________________________________________________

Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc.

______________________________________________

Prof. Marcos Pereira Estellita Lins, D.Sc.

RIO DE JANEIRO RJ - BRASIL

NOVEMBRO DE 2006

Page 2: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

ii

SOUZA, FERNANDO ROCHA

Impacto do Preço do Petróleo na Política

Energética Mundial [Rio de Janeiro] 2006.

XI, 160 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

Planejamento Energético, 2006)

Dissertação - Universidade Federal do Rio

de Janeiro, COPPE

1. Economia do Petróleo

2. Indústria do Petróleo no Mundo

I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

Page 3: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

iii

Dedico este trabalho a minha

esposa. Sem você nada disso seria

possível.

Page 4: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador, Professor Luis Pinguelli Rosa, por todo o apoio

dado durante a realização desta dissertação. Sobretudo, por se mostrar sempre acessível

às minhas dúvidas e disposto a ajudar na elaboração do mesmo.

Ao Professor Alexandre Salem Szklo, professor do nosso Programa de

Planejamento Energético, pelo compartilhamento do seu conhecimento que enriqueceu

essa dissertação com informações mais condizentes com a realidade dessa indústria.

Gostaria de agradecer a minha família pelo incentivo e pela dedicação que

foram essenciais, não só para a realização deste trabalho, como também para o meu

desenvolvimento. Agradeço, em especial, minha esposa Gabriela, minha mãe Regina e

meu pai Mario cujo apoio foi determinante para o término desta dissertação.

Aos funcionários do PPE, Sandra, Rita, Mônica, Simone, Fátima e Fernando.

Page 5: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M. Sc.)

IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA MUNDIAL

Fernando Rocha Souza

Novembro/ 2006

Orientador: Luis Pinguelli Rosa

Programa: Planejamento Energético

Este estudo desenvolve uma análise dos recentes aumentos do preço do petróleo

no mercado internacional e os seus impactos na economia e na política energética

mundial. O objetivo principal é mostrar como o preço do petróleo continua sendo

determinante para a performance da indústria do petróleo e da economia mundial.

Oscilações no preço do petróleo afetam tanto a economia dos países desenvolvidos

quanto dos em desenvolvimento. Aumentos nos preços do petróleo tendem a

proporcionar o crescimento da dívida (déficit externo) - dos países importadores do

produto, da inflação, do desemprego e, conseqüentemente, uma redução do PIB. Além

disso, encarece o custo de vida de praticamente toda população mundial, já que os

produtos derivados do petróleo como a gasolina e o diesel, são utilizados como insumos

para funcionamento, produção e desenvolvimento de praticamente todas as atividades

econômicas.

Page 6: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.)

THE IMPACT OF OIL PRICES ON THE WORLD ENERGY POLICY

Fernando Rocha Souza

November/ 2006

Advisor: Luis Pinguelli Rosa

Department: Energy Planning Program

This study analyzes the recent increase of the oil prices in the international

market and its impacts on the world economy and energy policy. The main objective of

this research is to show how oil prices remain a determinant key of oil industry and

global economy performance. An increase in oil prices affects the economy of

developed and developing countries. High oil prices normally increase the external

debt, inflation, unemployment and, consequentially, decrease the GDP (Gross

Domestic Product) of oil-importing countries. Moreover, increase the cost of living of,

practically, all world population because the oil products, such as gasoline and diesel,

are used for the production and the development of all economics activities.

Page 7: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

vii

Sumário

INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 1

1111 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO......................... 7

1.1 HISTÓRICO DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA ......................................................... 7

1.1.1 Pioneiros e Inovadores da indústria: Do surgimento a

internacionalização ................................................................................................. 8

1.1.2 Internacionalização da indústria do petróleo e o surgimento de novos

players 13

1.1.3 Concessões, Consortia e Cartel Internacional ..................................... 17

1.1.4 O surgimento das Estatais Petrolíferas e Renegociações de Concessões

23

1.1.5 Os Choques Petrolíferos ....................................................................... 28

1.1.6 O período do Pós-Choque ..................................................................... 33

1.2 AS CONDIÇÕES DE BASE DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA ATUAL..................... 41

1.2.1 A Estrutura de Oferta de Petróleo ........................................................ 45

1.2.2 A Estrutura de Demanda por Petróleo ................................................. 55

2222 FORMAÇÃO DOS PREÇOS DE PETRÓLEO NO MERCADO

INTERNACIONAL............................................................................................................. 58

2.1 A PARTICIPAÇÃO DOS AGENTES DA INDÚSTRIA PETROLÍFERA NA FORMAÇÃO

DO PREÇO DO PETRÓLEO .......................................................................................... 60

2.2 SISTEMA DE FORMAÇÃO DO PREÇO DOS PETRÓLEOS DE REFERÊNCIA ...... 62

2.3 A ECONOMIA DOS RECURSOS EXAURÍVEIS E AS RENDAS PETROLÍFERAS .. 69

2.3.1 Princípio Fundamental de Hotelling.................................................... 70

2.3.2 Renda Petrolífera: Uma abordagem ricardiana .................................. 74

2.4 A EVOLUÇÃO RECENTE DOS PREÇOS DO PETRÓLEO DESDE À DÉCADA DE 70

80

2.5 DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO ATUAL DOS PREÇOS DO PETRÓLEO

83

2.6 OS MAIORES BENEFICIADOS COM OS PREÇOS ALTOS DE PETRÓLEO ......... 94

Page 8: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

viii

3333 O PICO DA PRODUÇÃO DO PETRÓLEO .......................................................... 98

3.1 O PICO DE HUBBERT...................................................................................... 99

3.2 ESTIMATIVAS DA OCORRÊNCIA DO PICO DA PRODUÇÃO MUNDIAL ............ 103

3.3 POSICIONAMENTO ESTRATÉGICO DO BRASIL: RISCOS E OPORTUNIDADES

116

4444 INFLUÊNCIA DO PREÇO DO PETROLEO NA ECONOMIA MUNDIAL ..... 124

4.1 IMPACTOS SOBRE OS PREÇOS NO CONSUMIDOR E INFLAÇÃO.................... 126

4.2 IMPACTOS SOBRE A ATIVIDADE ECONÔMICA ............................................... 132

4.3 FATORES ESTRUTURAIS E O IMPACTO DOS CHOQUES PETROLÍFEROS ..... 136

4.4 CHOQUES PETROLÍFEROS E MEDIDAS MACROECONÔMICAS ..................... 140

5555 ALTERNATIVAS À ENERGIA DO PETRÓLEO ............................................... 143

CONCLUSÃO .................................................................................................................. 152

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................... 155

Page 9: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

ix

Lista de Figuras

Figura 1-1–Preço do Petroleo e Produção: 1965 – 2004 (Jean-Marie Martin – X

Congresso Brasileiro de Energia)................................................................................... 30

Figura 1-2–Cadeia Produtiva do Petróleo (Elaboração própria).................................... 42

Figura 1-3–Diagrama de McKelvey (Ross, 1998). ........................................................ 48

Figura 1-4–Reserva Técnica x Reserva Política (LAHERRÈRE, 2001b). .................... 52

Figura 1-5–Comportamento do crescimento da demanda de petróleo de 1965 a 2005

(BP, 2006). ..................................................................................................................... 57

Figura 2-1–O mecanismo de apropriação da renda diferencial (Nunes, 2000).............. 76

Figura 2-2–O mecanismo de apropriação da renda de monopólio (Nunes, 2000)......... 79

Figura 2-3–Evolução dos Preços do Petróleo (BP, 2006).............................................. 82

Figura 2-4–Margens Líquidas (em US$) de Refino no Golfo do México (Petrobrás,

2006) .............................................................................................................................. 89

Figura 2-5–Evolução da arrecadação mensal de royalties (em R$ 2004) e média mensal

da taxa de câmbio comercial (R$/US$) (ANP, 2005).................................................... 96

Figura 2-6–Evolução da arrecadação mensal de royalties (em R$ 2004) e cotação média

mensal do petróleo Brent Dated no mercado Spot (US$/Barril) (ANP, 2005). ............. 96

Figura 3-1–Curva Natural de Extração (Campbell, 1997). .......................................... 100

Figura 3-2–Extração de uma Província Petrolífera (Campbell e Laherrère, 1998) ..... 101

Figura 3-3–Exemplo Ilustrativo da Correlação entre o Pico de Produção e as

Descobertas (Campbell, 1997). .................................................................................... 103

Figura 3-4– Reservas Mundiais de Petróleo (Em Bilhões de Barris) segundo

Estimativas do Oil & Gás Journal e Laherrère (2000) – 1950/2010 (Laherrère, 2000).

...................................................................................................................................... 105

Figura 3-5–Produção de Petróleo Convencional e Não-Convencional 1930/2050

(ASPO, 2004). .............................................................................................................. 109

Figura 3-6–Produção x Descobertas (ASPO, 2004). ................................................... 111

Figura 3-7–Cenários de produção anual com taxas de crescimento de 2% e diferentes

níveis de reservas recuperáveis – 1900 – 2125 (em bilhões de Barris/Ano) (EIA, 2003).

...................................................................................................................................... 113

Figura 3-8–Estimativas publicadas das reservas mundiais em trilhões de barris (EIA,

2003) ............................................................................................................................ 114

Figura 3-9–Produção mundial de petroleo 1930 – 2050 (YPF, 2005). ........................ 115

Page 10: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

x

Figura 4-1–Indicadores macroeconômicos da OECD por país/região (IEA, 2004). ... 125

Figura 4-2–Principais implicações de um choque petrolífero aos preços (Elaboração

própria)......................................................................................................................... 127

Figura 4-3–Preços do petróleo e rubricas selecionadas dos produtos energéticos no

IHPC (BCE, 2004). ...................................................................................................... 128

Figura 4-4–Taxa de inflação dos países da OECD e preço médio do petróleo importado

(IEA, 2004b) ................................................................................................................ 131

Figura 4-5–Consumo de petróleo em relação ao PIB real na Zona do Euro (BCE, 2004).

...................................................................................................................................... 137

Figura 4-6–Intensidade de Petróleo em 2002* (OECD = 100) - (EIA, 2004). ............ 138

Page 11: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

xi

Lista de Tabelas

Tabela 1-1 – Produção Mundial de Petróleo, 1900-1925 – Milhares de barris/ano ...... 17

Tabela 1-2 – Repartição Acionária da IPC .................................................................... 20

Tabela 1-3 – Produção de Petróleo na Arábia Saudita – 1939/1950.............................. 23

Tabela 1-4 – O Peso do Cartel das Sete Irmãs no Mercado Internacional do Petróleo

(%).................................................................................................................................. 28

Tabela 1-5 – Principais aquisições e fusões na indústria petrolífera entre 1997 e 2005 38

Tabela 1-6 – Utilizações dos principais derivados do petróleo...................................... 45

Tabela 1-7 – Consumo mundial de energia primária por combustível (2005) .............. 46

Tabela 1-8 – Distribuição das reservas de petróleo (2005)............................................ 51

Tabela 1-9 – Distribuição da produção de petróleo (2005) ........................................... 54

Tabela 1-10 – Distribuição da demanda de petróleo (2005) .......................................... 55

Tabela 2-1 – Aumentos dos preços do petróleo em períodos específicos...................... 81

Tabela 3-1 – Aumentos anômalos reportados das reservas – 1980/1995 .................... 107

Tabela 3-2 – Previsão do Pico do Petróleo segundo Região – 2005/2050 ............... 110

Tabela 3-3 – Distribuição Geográfica das Reservas Brasileiras de Petróleo............... 117

Tabela 4-1 – Indicadores Macroeconômicos da OECD............................................... 125

Tabela 4-2 – Indicadores Macroeconômicos dos Países em Desenvolvimento........... 126

Tabela 5-1 – Fontes de energia alternativas ao petróleo .............................................. 144

Tabela 5-2 – Insuficiências das energias alternativas ao petróleo ............................... 149

Page 12: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

1

INTRODUÇÃO

Durante todo o século XX, foi bastante significativa a contribuição do petróleo à

economia mundial. Apesar de as crises de 1973 e 1979 mostrarem ao mundo as

conseqüências de uma economia sustentada energeticamente por um combustível

vulnerável a fortes oscilações no preço, o petróleo ainda se mantém como o energético

mais consumido do mundo. No ano de 2005, este foi responsável por 36% da demanda

final de energia, o equivalente a 3.837 milhões tEP1 (BP, 2006). Dentre os setores

consumidores, destacam-se o transporte e o industrial, que conjuntamente demandaram

73,3% da oferta final de petróleo (IEA, 2004a). No Brasil, o petróleo foi responsável

por 43% da demanda final de energia, o equivalente a 83 milhões tEP (BEN, 2005).

Dentre os setores consumidores, destacam-se o transporte e o industrial, que

conjuntamente demandaram 64% da oferta final de petróleo (BEN, 2005).

No entanto, a relevância da indústria do petróleo mundial não se limita à sua

posição como principal fonte de energia. A magnitude dos diversos segmentos de sua

cadeia produtiva pode ser verificada em termos econômicos, políticos e financeiros.

Estima-se que entre 2001 e 2030, sejam investidos o montante de US$ 3,04 trilhões,

sendo US$ 2,18 trilhões em exploração e produção (72%), US$ 395 bilhões em refino

(13%) e US$ 456 milhões nos demais segmentos (15%) (IEA, 2004).

Um fator determinante para performance da indústria do petróleo e da economia

mundial é o preço do óleo no mercado internacional. Oscilações no preço do petróleo,

causadas seja pelo poder de mercado dos grandes demandantes seja pelo poder dos

1 tEP = tonelada equivalente de petróleo.

Page 13: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

2

grandes produtores (sobretudo OPEP), afetam tanto a economia dos países

desenvolvidos quanto dos em desenvolvimento. Aumentos nos preços do petróleo

tendem a proporcionar o crescimento da dívida (déficit externo) - dos países

importadores do produto, da inflação, do desemprego e, conseqüentemente, uma

redução do PIB. Além disso, encarece o custo de vida de praticamente toda população

mundial, já que os produtos derivados do petróleo como a gasolina e o diesel, são

utilizados como insumos para funcionamento, produção e desenvolvimento de

praticamente todas as atividades econômicas.

Neste sentido, as relações entre as flutuações dos preços do petróleo e a

economia mundial são de grande importância, tornando relevante a tentativa de definir

as condições de contorno que ajudem a explicar a formação e oscilação do preço desse

produto no mercado internacional, assim como sua influência na economia mundial.

Independentemente das oscilações de curta duração, absolutamente normais e

atribuídas aos impactos mais efêmeros, na longa história das cotações internacionais do

petróleo, estamos agora assistindo, com perplexidade, a uma persistente e renitente

elevação dos preços.

De fato, desde 2002, última ocasião com cotações abaixo de US$ 20,00/bbl, este

preço elevou-se quase que constantemente, mantendo desde final de 2005 valores acima

dos US$ 60,00/bbl (limite superior da banda da OPEP: US$ 22,00 a US$ 28,00/bbl,

média em US$ 25,00/bbl) e atingindo, já nos últimos meses, cotações recordes,

superiores a US$ 70,00/bbl. Aparentemente, já está se delineando o novo patamar de

preço bastante mais elevado do que preconizado por vários analistas, pela própria

Page 14: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

3

Petrobrás (Plano Estratégico 2015) e pela própria OPEP. Uma alta tão persistente não

permite mais interpretá-la como mera flutuação especulativa do mercado, ao sabor dos

sempre numerosos e variados eventos localizados do noticiário internacional. Guerras,

atos terroristas no Oriente Médio, alarmes e medo de terrorismo nos EUA ou na

Europa, greves dos petroleiros na Nigéria ou na Noruega, problemas fiscais e de saúde

financeira de empresas exportadoras russas e tantos outros acontecimentos poderão

apenas ser invocados para justificar as relativamente pequenas oscilações especulativas

localizadas, mas não uma tendência altista tão duradoura.

A bem da verdade, por trás deste conjunto de fatos aparentemente desconexos e

aleatórios emerge toda uma lógica, própria da indústria do petróleo. Por um lado, países

consumidores, em sua maioria ricos e desenvolvidos, carentes de petróleo em seu

subsolo ou com o consumo muito maior que a sua produção, com relativa estabilidade

geo-econômica. Por outro, países produtores, em sua maioria pobres, periféricos e em

desenvolvimento, com sérios problemas de instabilidade social e geo-econômica. No

entanto, esta situação não é nova e persiste já há muito tempo.

A questão mais grave, neste momento, é a da séria instabilidade no Oriente

Médio. Não nos referimos simplesmente à questão Israel x Palestina com antigos e já

crônicos problemas, na prática, quase insolúveis. Referimo-nos sim à questão do Iraque

e suas conseqüências diretas e indiretas cada vez mais graves e complicadas. Referimo-

nos também à delicada questão da Arábia Saudita, com suas reservas provadas

(ressalte-se a existência também de outras categorias como as possíveis e/ou prováveis)

superiores aos 260 bilhões de barris e uma estabilidade política já comprometida e,

mesmo, ameaçada.

Page 15: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

4

De acordo com alguns analistas (Campbell e Laherrère, 1998), criaram-se

situações que, no todo, suscitam nos países consumidores uma justificada sensação de

“medo” de desabastecimento. Este medo seria capaz, por si só, de elevar em mais de

US$10,00/bbl o preço da commodity no mercado internacional (EIA, 2004).

Quanto às questões estruturais de mercado, menciona-se com freqüência a

pressão sobre a demanda relacionada principalmente a um discreto aumento em termos

percentuais de consumo dos EUA e a um notável aumento de consumo da China. Dessa

forma, pretende-se analisar em maior profundidade estas questões estruturais,

principalmente aquelas relacionadas ao aumento da demanda de países em

desenvolvimento, com grande população, até hoje marginalizados quanto ao consumo

energético.

Por outro lado, outros analistas defendem que a commodity está longe do seu

fim e ainda representa um insumo energético abundante e relativamente oferecido,

mesmo um século e meio depois da descoberta do Coronel Drake2. Quanto a esta

relativa garantia de suprimento, o petróleo ainda não deveria atingir patamares de

preços tão elevados, não fosse o irracional, mas justificado, medo do desabastecimento

dos países desenvolvidos e a prevista crescente pressão de demanda dos países em

desenvolvimento, com elevada e crescente expansão demográfica dos “sem-energia”.

2 Edwin Drake, um ex-ferroviario que viria a ser conhecido mundialmente pela alcunha de “coronel” Drake, foi contratado pela Pennsylvania Rock Oil Company of New York (primeira companhia petrolífera dos Estados Unidos) para perfurar regiões onde o petróleo exudava, de modo a atingir o manancial e bombeá-lo, à maneira como se fazia com água. Utilizando-se de equipamentos apropriados à perfuração voltada para a obtenção de sal, veio, após longa saga infrutífera, a perfurar seu primeiro poço

Page 16: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

5

Dentro desse contexto, o objetivo desse estudo é analisar os recentes aumentos

do preço de petróleo no mercado mundial e analisar os seus impactos na economia e

poltítica energética mundial. Dessa forma, esse estudo é organizado em cinco capítulos.

No primeiro capítulo é analisada a formação e evolução da indústria mundial do

petróleo, destacando-se sua influência na economia mundial ao longo do século XX e a

estrutura de oferta e demanda atual de petróleo.

No segundo capítulo, são abordadas questões relativas ao preço do petróleo. O

objetivo é analisar como funciona o sistema de preços atuais e como se formam no

mercado internacional. Além disso, é apresentada uma evolução recente dos preços do

petróleo no mercado internacional, sendo analisado os determinantes para a manutenção

dos atuais preços do petróleo.

No terceiro capítulo, é apresentado o conceito de pico da produção mundial de

petróleo (Pico de Hubbert), assim como a metodologia utilizada para estimar sua data

de ocorrência. Apresentam-se ainda dois cenários para a produção futura de petróleo: o

de um grupo de especialistas (pessimistas) seguidores da teoria de Hubbert e o adotado

por órgãos governamentais norte-americanos (otimistas).

No quarto capítulo, é analisado como a evolução continua dos preços do

petróleo no mercado internacional desde meados de 2003 tem impactado a economia

mundial, principalmente dos países importadores de petróleo.

descobridor de petróleo em 1859, na localidade de Titusville, Pensilvânia. A descoberta do “coronel” Drake é considerada o marco representativo do início da moderna indústria do petróleo.

Page 17: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

6

No quinto e ultimo capitulo, é realizada uma breve descrição das possíveis

alternativas para a energia do petróleo. O objetivo é mostrar que não existe ainda uma

fonte de energia capaz de substituir completamente o petróleo num momento de

escassez na oferta de petróleo, o que contribui para a manutenção do preço elevado do

petróleo.

Page 18: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

7

1111 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DO PETRÓLEO

O objetivo é mostrar como se deu a evolução da indústria petrolífera e o

resultado desta na economia e História do século XX. Na sua evolução, destacam-se as

sucessivas explorações e descobertas de bacias sedimentares ricas em petróleo e gás

natural, seguidas das reestruturações na organização da indústria e suas interações com

as políticas e economias nacional e mundial. As transformações da indústria no século

XX bem como as suas interações com as políticas e economias dos países serão

estudadas neste capítulo. Este estudo servirá de base para o melhor entendimento das

análises que são feitas nos capítulos seguintes, onde se aprofunda o estudo dos impactos

do preço do petróleo na economia mundial.

1.1 Histórico da indústria petrolífera

O registro da participação do petróleo na vida do homem remonta a tempos

bíblicos. Na antiga Babilônia, os tijolos eram assentados com asfalto e o betume era

largamente utilizado pelos fenícios na calafetação de embarcações. Os egípcios o

usaram na pavimentação de estradas, para embalsamar os mortos e na construção de

pirâmides, enquanto os gregos e romanos dele lançaram mão para fins bélicos. No

período da Idade Média, em regiões da Europa – Bavária, Silícia, Vale do Pó, Alsácia,

Hannover e Galícia, era utilizado para fins farmacêuticos. No novo mundo, o petróleo

era conhecido pelos índios pré-colombianos, que o utilizavam para decorar e

impermeabilizar seus potes de cerâmica. Os incas, os maias e outras civilizações antigas

também estavam familiarizados com o petróleo (Thomas, 2001).

Page 19: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

8

Apesar da longevidade e multiplicidade do uso do petróleo, não se pode falar de

uma verdadeira indústria antes de meados do século XIX. Até então, a substância era

utilizada meramente in natura sendo seu potencial energético praticamente

desconhecido. Todavia, nos anos 1850, a realidade era outra. Vivia-se, em plenitude, a

Revolução Industrial, alterando toda a dinâmica das relações de produção. À sociedade

moderna não mais era dado condicionar suas atividades produtivas à disponibilidade de

luz solar. O óleo de baleia e a fase liqüefeita do carvão mineral (“óleo de carvão”)

forneciam uma iluminação cara e precária. O mundo demandava luz e na esteira desta

carência floresceu a moderna indústria do petróleo. Para se ter uma idéia de quão

pequena era a produção européia, nos anos de 1857 e 1858 foram produzidos,

respectivamente, dois mil e quatro mil barris de petróleo (API, 1998; Thomas, 2001;

YERGIN, 1990).

1.1.1 Pioneiros e Inovadores da indústria: Do surgimento a internacionalização

O grande marco do petróleo na a sociedade moderna veio mesmo no século

XIX, mais precisamente em 1859, quando Cel. Edwin Drake perfurou o primeiro poço,

dando início à exploração comercial do petróleo. Este poço foi perfurado em Tittusville,

Pensilvânia (EEUU), vindo a produzir 20 barris/dia, para uma profundidade de

aproximadamente 20 metros.

Motivados pela descoberta de Drake, deu-se início a corrida ao ouro negro no

Oil Creek Valley (Pensilvânia-EEUU). Inúmeros aventureiros de toda espécie e

efêmeras empresas de petróleo disputavam os terrenos exploráveis da região; todos se

avocaram a produzir o mais rápido e na maior quantidade possível, com freqüência

Page 20: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

9

danificando os reservatórios ou levando à exaustão prematura dos poços. Como

resultado, após apenas 5 anos deste marco, nada menos do que 543 empresas haviam

iniciado atividades no novo e rendoso empreendimento (ALVEAL, 2003).

A concorrência anárquica provocou enorme flutuação da produção e dos preços

e nenhuma sustentação ao negócio petroleiro. O preço do barril de petróleo de US$ 20,

em 1859, caiu para US$ 0,10, em 1862 (Baddour,1997) e ocasionou a substituição do

óleo de carvão e outros iluminantes pelo petróleo.

No seu início, o mercado de petróleo se baseava em um único derivado, o

querosene para iluminação, como substituinte do óleo de baleia que até aquele

momento era utilizado para tal fim, mas este animal estava sendo caçado em direção à

extinção. Todos os demais derivados de petróleo que não a querosene iluminante eram

jogados fora após o refino. Naquele momento, não havia padronização alguma da

qualidade do produto: os querosenes produzidos variavam largamente de qualidade, e o

índice de acidentes com vítimas com a queima do querosene era alto. Naquele

momento, a indústria de petróleo era compatível ao nível de desenvolvimento

tecnológico do mundo à época: os únicos campos explorados eram aqueles em terra e

que fossem de mais fácil perfuração, via percussão a base de utensílios mecânicos

rudimentares. As atividades de exploração de petróleo eram feitas a partir da

localização visual de indícios do petróleo; ou seja, só eram exploradas jazidas de

petróleo nas quais pequenos montantes de óleo aflorassem naturalmente à superfície do

solo (oil seeps) ou no subsolo (YERGIN, 1990).

No final desta fase, porém, a indústria registrou avanços tecnológicos:

Page 21: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

10

• a superação do gargalo do transporte até os mercados de consumo, substituindo

carroças e cavalos pela ferrovia e oleodutos de madeira, uma inovação típica da

atividade petrolífera;

• a descoberta de novos métodos de perfuração, acarretando melhor controle da

pressão do gás e a diminuição dos prejuízos;

• a importância do refino, segmento crucial na expansão posterior da indústria,

quando o reinado do querosene iluminante veio ser invadido pela introdução da

iluminação elétrica, após a radical invenção da lâmpada incandescente de

Thomas Alva Edison, em 1877. Contudo, a “invenção” decisiva desta fase

infante foi a percepção das qualidades peculiares da indústria pelos seus

primeiros exploradores.

O primeiro foi o americano John D. Rockefeller, que resolveu racionalmente os

desafios de armazenar, transportar e transformar o petróleo e vender os seus derivados.

Para reduzir custos introduziu novos processos técnicos que melhoraram a

produtividade e a qualidade dos derivados, especialmente do querosene, carro chefe dos

produtos da indústria nas suas primeiras décadas de evolução. A preocupação pela

qualidade dos produtos oferecidos ao mercado inspirou o nome à empresa que

comandou: a Standard Oil Company. Contudo, o posto de honra deste americano na

história do petróleo foi ter percebido e realizado a integração da indústria, inovação

econômica chave para organizar a sua expansão, fundando o maior dos monopólios da

economia americana na passagem do século, sendo fundamental para o

desenvolvimento da economia capitalista moderna no século XX (ALVEAL, 2003).

Page 22: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

11

Em 1870, a Standard Oil controlava 10% do segmento de refino. Havia diversas

refinarias e companhias de E&P (Exploração e Produção) nos EUA, mais de duzentas

companhias adicionando os dois segmentos da cadeia petrolífera. O monopólio da

Standard Oil foi obtido através da busca de economias de escala, escopo e de integração

na indústria de petróleo: a princípio a Standard Oil se tornou monopolista do refino de

petróleo, via compra das demais refinarias e controle do transporte de derivados,

tornando-se assim formadora de preços e de quantidades para a venda às companhias

distribuidoras de derivados, e também monopsonista (única demandante) da compra de

óleo bruto junto às companhias produtoras de óleo cru, em função de ser monopolista

do refino (YERGIN, 1990).

Rockefeller foi tão competente e bem sucedido na implementação de sua

estratégia que aquelas empresas que almejavam competir com a Standard Oil não

tiveram outra escolha que não seguir a mesma estratégia. Ou se integravam

verticalmente ou sucumbiam ao poder da mesma. Num curto espaço de tempo,

transformou radicalmente muitas pequenas empresas industriais descentralizadas em

grandes conglomerados e trustes.

Logo, a Standard Oil se tornou monopolista integrada verticalmente em todos os

segmentos da cadeia do petróleo (E&P, transporte de cru, refino, transporte de

derivados e distribuição). A partir desta total integração, obteve grandes economias de

escala, escopo e de custos de transação. As economias de escala se deram em função do

vultoso aumento dos volumes extraídos e processados sem que houvesse um aumento

substancial do investimento em capital fixo, reduzindo-se assim o custo médio; as

economias de escopo se deram em função de produzir, transportar e comercializar

Page 23: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

12

vários derivados a partir da mesma logística operacional, e as economias de custos de

transação se deram em função de todo a cadeia petrolífera pertencer a uma única

empresa.

Entre 1880/90 esse controle se estendia para ao redor de 90% do transporte

ferroviário e de oleodutos, 80% da capacidade de refino e 90% da rede de distribuição e

venda de produtos; estes já invadiam Europa, Ásia, África do Sul e Austrália e, em

1900, 70% das atividades do truste de empresas comandado por Rockefeller se

desenvolviam fora dos Estados Unidos (YERGIN, 1990).

A rápida mutação e seus desdobramentos eram motivos de apreensão da opinião

pública americana. A mobilização política pressionou o governo para controlar os

excessos do poder econômico e político dos grandes grupos empresariais, em especial o

do emblemático “império” Rockefeller (O’ Connor, 1974; YERGIN, 1990). A

legislação do Sherman Act nasceu em 1890 com esse objetivo, iniciando longa onda de

reformismo progressista da Segunda Revolução Industrial americana (reforma política,

justiça social, melhoria das condições de trabalho, proteção ao consumidor) e o controle

e a regulamentação dos grandes negócios.

Em meio à concorrência crescente das novas empresas surgidas no Oeste dos

Estados Unidos e das grandes rivais européias e após luta legal de duas décadas, a

Suprema Corte Federal dos Estados Unidos, determinou em 1911, a divisão do

monopólio em 33 empresas, entre as quais algumas evoluíram para se tornar as maiores

sociedades da IMP: a Standard Oil of New Jersey, depois Esso e Exxon; a Standard Oil

Page 24: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

13

of New York, após Mobil Oil; a Standard Oil of California, após Socal, hoje Chevron3.

Essas três empresas passaram a disputar com as outras duas americanas, criadas a partir

das descobertas de petróleo do Texas, Louisiana e Oklahoma (Oeste dos Estados

Unidos), que também se tornaram empresas gigantes, a Texaco e a Gulf Oil (comprada

pela Chevron em 1984).

Estava inaugurada a nova fase da indústria do petróleo, baseada na concorrência

entre companhias grandes e integradas. Mudava também o padrão energético do

período, tendo a gasolina superado as vendas de querosene em 1910, contribuída pelo

surgimento do automóvel.

No período situado entre 1920 e 1930, Rockfeller viu sua Standard Oil liderar o

grupo que ficou conhecido no mundo como “as sete irmãs”: Exxon, Chevron, Mobil,

Texaco, Gulf, British Petroleum e Shell.

1.1.2 Internacionalização da indústria do petróleo e o surgimento de novos

players

Paralelamente ao crescimento da indústria de petróleo nos Estados Unidos são

perfurados os primeiros poços em continente europeu. O desenvolvimento da indústria

inicia-se nos mananciais de petróleo na região de Baku, na Rússia, em 1861. O

concessionário monopolista, Meerzoef constrói a primeira refinaria nessa região, mas

3 Outras empresas menores nascidas desse desmembramento (minors) se tornaram também grandes após os choques do petróleo dos anos 70: a Standard Oil of Indiana (hoje Amoco), a Standard Oil of Ohio (hoje Ohio), a Continental Oil (Conoco), a Standard Oil of Virginia (Atlantic), entre outras.

Page 25: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

14

faltam recursos para incrementar a produção, permitindo a entrada do mercado europeu

nessa região a partir de 1872.

A partir de 1880, os irmãos de origem sueca, Robert e Ludwig Nobel,

devotaram seus talentos inventivos técnicos e organizacionais à invasão dos mercados

europeus com o petróleo russo da região de Baku, transportando através da combinação

de ferrovia, oleoduto e de pioneiros navios petroleiros. O sucesso desse

empreendimento, que desafiou com vantagens a rede de distribuição européia da

Standard Oil durante 15 anos (1890/1905), contou com decisivo apoio financeiro da

Casa Rothschild de Paris.

Em 1890 é fundada a Royal Dutch Petroleum, companhia holandesa, que inicia

sua produção na região das Índias Holandesas. Em 1897 surge a empresa inglesa Shell

Transport and Trading Company, que juntamente com a Royal Dutch controlavam mais

da metade das exportações de petróleo da Rússia e do Oriente Médio.

Nesse período, a produção na Europa encontrava-se descontrolada, o que

deteriorava os preços e facilitava as vendas da Standard Oil, que compensava suas

perdas com a política de subsídios cruzados, ou seja, aumentando o preço dos derivados

em território americano para compensar as baixas européias. A estratégia adotada por

Marcus Samuel, na liderança da británica Shell Transport, e o holandês Henri Whilhem

A. Deterding, apelidado o “Napoleão do petróleo”, sucessor no comando da Royal

Dutch Petroleum Company foi aliança dessas duas empresas em 1901. Dessa aliança

nasceu a Royal Dutch Shell. No início do século XX, a rápida expansão do grupo anglo-

holandês avançou sobre os espaços econômicos mundiais dominados pela Standard Oil

Page 26: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

15

of New Jersey, a mais poderosa das “filhas” nascidas do desmembramento do grupo

Rockefeller: no final da Primeira Guerra Mundial (1918), 75% da produção petroleira

mundial, fora do mercado americano, era controlada pelo grupo europeu (ALVEAL,

2003).

No entanto, em 1908, a descoberta de poços de petróleo na Pérsia (atual Irã)

leva à criação da Anglo – Persian Oil Company (hoje a BP), empresa que viria

estabelecer uma forte concorrência no setor. Já nos EUA, crescem a Gulf, Sun e

Texaco. Vale ressaltar, que neste período a empresa de Rockefeller já não possuía um

poder de mercado tão grande quanto no seu início, principalmente com a dissolução da

Standard Oil em 1911.

O século XX começa e um novo panorama é apresentado à indústria do

petróleo: novas províncias petrolíferas, novas companhias, a rápida ascensão do

automóvel e a difusão da eletricidade. Atentas às novas mudanças, as companhias

adaptam suas refinarias à produção de gasolina, que veio a superar a venda de

querosene em 1910, e procuram aumentar sua capacidade competitiva.

Em 1912, a Shell se estabelece nos Estados Unidos, adquirindo pequenas

companhias em Oklahoma e campos de petróleo na Califórnia. Em 1915, a produção

mundial é a seguinte: os Estados Unidos produzem 281 milhões de barris, a Rússia 68

milhões, o México 32 milhões e a Romênia 12 milhões de barris (MINADEO, 2002).

O início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, o óleo combustível e a gasolina

se tornaram em energéticos fundamentais para a mobilidade das tropas dos países

Page 27: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

16

envolvidos na guerra. O óleo combustível foi utilizado principalmente pela Marinha

Inglesa que substitui o carvão até então utilizado por sua frota. O óleo, ao contrário do

carvão, não se deteriorava, o que facilitava a armazenagem de estoques em tanques

subterrâneos, e admitia o reabastecimento no mar. Oferecia, também, a vantagem de

aumentar a eficiência de combate dos navios, uma vez que um número menor de

homens era retirado das armas para trabalhar nas fornalhas, e a velocidade de

abastecimento era bem superior. O petróleo e o motor a combustão mudaram a natureza

da Primeira Guerra Mundial. (YERGIN, 1990).

O aumento do consumo de derivados de petróleo durante a Primeira Guerra

Mundial exige que novas regiões ou campos entrem em produção. Os governos e

grandes corporações da Europa e dos Estados Unidos iniciaram a disputa para tomar

posse das jazidas de petróleo do Oriente Médio, configurando a terceira fase evolutiva

da indústria (1911-1928). Esse movimento fora precedido por esforços de indivíduos

notáveis4, que mapearam, realizaram descobertas pioneiras e estabeleceram os

primeiros contatos e relações com os governos locais dessa região (Blair, 1978).

Dado que as empresas americanas não tinham acesso a concessões no Oriente

Médio, após a guerra, o governo americano se organizou para apoiar agressivamente as

companhias de petróleo dispostas a procurar reservas no exterior5, aumentando a

rivalidade europeu-americana, em particular entre as 5 grandes firmas americanas, a

Anglo-Persian (atual British Petroleum) e a Royal Dutch Shell. A rivalidade

empresarial inaugurou uma fase de alta competição oligopólica na IMP. A competição

4 Entre eles cabe destacar, o armeniano Calouste Gulbenkian na Turquia e o australiano William K. D’ Arcy na Pérsia (atual Irã). 5 O princípio invocado era o da “Porta Aberta”, ou seja, “acesso igual para os capitais e os negócios americanos” (YERGIN, 1990).

Page 28: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

17

reforçou a pressão pela procura de novas fontes de suprimento na América Latina, no

Médio Oriente e na Ásia, quer para explorar, quer para adquirir a produção existente. A

busca por concessões em regiões promissoras aumentou a produção significativamente

em países como o México, Romênia, Venezuela, Pérsia, Índia, entre outros.

Tabela 1-1 – Produção Mundial de Petróleo, 1900-1925 – Milhares de barris/ano

1900 1913 1921 1922 1923 1924 1925 1925(%)

Total 149.137 385.345 765.903 858.909 1.018.620 1.013.623 1.067.566 100

EUA 63.621 248.446 472.183 557.531 732.407 713.940 763.743 71,5

Rússia 75.780 62.834 28.968 35.692 39.156 45.355 52.448 4,9

Romênia 1.629 13.555 8.368 9.843 10.867 13.369 16.646 1,6

Índias Holandesas

2.253 11.172 16.958 17.066 19.868 20.473 21.422 2,0

Peru 274 2.071 3.699 5.314 5.699 7.812 9.164 0,9

Índia 1.079 7.930 8.734 8.529 8.320 8.416 8.000 0,7

Polônia 2.347 7.818 5.167 5.227 5.402 5.657 5.960 0,6

México - 25.696 193.398 182.278 149.585 139.678 115.515 10,8

Venezuela - - 1.433 2.201 4.201 9.042 19.687 1,8

Pérsia - 1.857 16.673 22.247 28.326 32.373 35.038 3,3

Argentina - 131 2.036 2.866 3.400 4.669 5.818 0,5

Outros 2.154 3.835 8.286 10.115 11.389 12.839 14.125 1,3

Fonte: Denny, Ludwell apud Minadeo (2002).

1.1.3 Concessões, Consortia e Cartel Internacional

Foi nesta fase que a IMP caminhou para estruturar o seu desenvolvimento de

modo relativamente estável, como resultado da crescente percepção, entre as grandes

operadoras mundiais, da necessidade de disciplinar o desenvolvimento da indústria. O

controle do suprimento de cru foi considerado estratégico para evitar a super-produção

Page 29: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

18

e as guerras de preços, que provocavam ameaçadores efeitos predatórios para a IMP

como um todo (Blair,1978), a exemplo da conseqüente queda dos preços internacionais

do petróleo na segunda metade da década de 1920, em função de guerra de preços na

Índia entre Shell e Standard Oil of New York.

A possibilidade desse controle dependia de dois fatores: i) a definição de

direitos de propriedade e de controle das reservas pelas empresas nos abastados países

do Oriente Médio; e ii) a adoção entre as majors de uma coordenação oligopolista que

impedisse formas perigosas de competição, alocando-se níveis de produção e de

suprimento de demanda nas áreas geográficas da indústria. O primeiro fator foi

implementado através do sistema de concessões. Já o segundo originou a formação de

consortia (consórcios ou associações).

O sistema de concessões foi o instrumento jurídico concebido para regular as

relações entre os governos dos países com reservas de cru e as empresas internacionais.

A concessão outorgava a empresa um tipo de direito absoluto sobre uma certa área

territorial sob jurisdição do Estado hospedeiro para procurar, extrair e vender volumes

de óleo a preços também discriminados pela concessionária, em troca de uma

compensação financeira.

A cobertura territorial da concessão se estendia a um pedaço ou à totalidade da

área geográfica do país; a sua duração, usualmente, contemplava entre 60-75 anos; e a

compensação financeira (royalty do proprietário sobre o volume vendido e um imposto

de renda sobre o lucro realizado) se baseava na contabilidade anual, totalmente

controlada pela empresa.

Page 30: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

19

Esta ampla liberdade de ação das empresas petrolíferas internacionais deteve um

papel decisivo para garantir, a partir dos anos 30, extraordinário crescimento da IMP,

dado que possibilitou: i) larga autonomia decisória empresarial, relegando os governos

a meros receptores de renda; ii) garantia de condições de certeza para o futuro,

precavendo-se contratualmente de revisões unilaterais dos termos da concessão; e iii)

forte blindagem jurídica ao ingresso de novos entrantes.

Os consórcios ou associações (consortia) foram concebidos como principal

instrumento de regulação das relações entre as empresas, em particular na fase

estratégica e crucial de crescimento da produção de cru, que se iniciara após 1925. O

primeiro consórcio, fundado em 1928, Iraq Petroleum Company (IPC), sucessora da

Companhia Turca de Petróleo, reuniu as maiores petrolíferas americanas e européias e

sua importância foi decisiva para o desenvolvimento da IMP: i) marcou o ingresso

definitivo das empresas americanas no Oriente Médio; ii) foi referência para a formação

de associações empresariais em outras regiões da indústria; e iii) consagrou a

propriedade e o controle conjunto da gestão, como mecanismo de prevenção da

competição6, antecipando a organização do cartel internacional. A Tabela 1-2 apresenta

como foi repartido o controle da IPC.

6 A função do consórcio era basicamente gerir conjuntamente a produção de óleo e sua distribuição pro rata entre os acionistas participantes. Os lucros eram mantidos num baixo nível, em função de práticas de preços de transferência menores que os do mercado. Para controlar o suprimento potencial de óleo, os membros do IPC assinaram o Acordo da Linha Vermelha, com regras auto-preventivas da competição pelo acesso a novas áreas de concessão.

Page 31: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

20

Tabela 1-2 – Repartição Acionária da IPC

Composição acionária da Companhia Iraquiana do Petróleo %

Royal Dutch-Shell Co 23,75

Anglo Iranian Oil Co,. Ltda. (Britânica) 23,75

Compagnie Française Des Petroles 23,75

Near East Development Co. (Representante das companhias americanas)* 23,75

C. S. Gulbenkian (investidor) 5

Total 100

* Standard Oil of New Jersey e Socony-Vacuum Oil Co. (sucessora da Standard Oil of New York). Fonte: Federal Trade Commission (1952) e Al-Chalabi (1980).

A implementação das anteriores inovações culminou nos acordos negociados na

reunião de Achnacarry (17/09/1928), que levaram à formalização do cartel,

fortalecendo as posições consolidadas até o momento pelas majors através de um

acordo de divisão dos mercados mundiais.

Os princípios gerais acordados em Achnacarry foram seguidos por três acordos

(nos anos de 1930, 1932 e 1934) que, progressivamente, alocaram funções com

objetivos muito específicos de controle para a operação internacional das empresas nos

países consumidores, cobrindo os principais tópicos de funcionamento da indústria: i)

fixação de quotas de produção; ii) ajustamentos para equilibrar o comércio de cru e de

derivados; iii) fixação de preços e outras condições de venda; e iv) controle de

condições dos novos entrantes na indústria (Penrose, 1968; Blair, 1978).

O acordo de Achnacarry iniciou a fase do reinado das “sete irmãs”, Na década

de 30, o mercado mundial de petróleo estava compartilhado pelas sete maiores

companhias petroleiras internacionais (majors): Standard Oil of New Jersey (Exxon),

Page 32: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

21

Standard Oil of Califórnia (Chevron), Guf Oil Co., Texaco, Standard Oil of New York

(Móbil), Royal Dutch-Shell e Anglo Iranian Oil Co. (BP), que juntas formaram joint

ventures para a exploração de campos petrolíferos estrangeiros.

O cartel regulava a taxa de crescimento da oferta e exercia um forte controle

sobre os preços7, possibilitando às majors: i) apropriar-se das rendas geradas no Lago

Maracaibo (Venezuela) e no Golfo Pérsico; ii) evitar impactos sobre os preços,

resultantes da queda de custos na produção de novas regiões petrolíferas; e iii) manter

elevado fluxo de caixa das operações das empresas e, assim, obter os fundos requeridos

para os grandes investimentos necessários ao incremento do produto na vertical da

indústria. Em 1950, excluídos os países à época denominados socialistas, as majors

controlavam 65% das reservas mundiais, mais de 50% da produção de óleo bruto e

detinham a propriedade de 70 % da capacidade de refino e de cerca de dois terços da

frota mundial de petroleiros, além dos mais importantes oleodutos (Penrose, 1968;

Federal Trade Comission, 1952).

Após a Segunda Guerra Mundial, o consumo energético mundial, puxado pela

reconstrução e modernização das economias européia e japonesa, cresceu a uma

velocidade sem precedentes. Além disso, em 1949, o consumo dos Estados Unidos

excede a oferta doméstica de petróleo. Entre 1950 e 1973, a produção de eletricidade foi

multiplicada por 6, a de petróleo por 5,4 e a de gás natural por 6,3. Tais transformações

apoiam-se na importação maciça de petróleo e, mais tarde de gás natural, por parte dos

7 O cartel instaurou e implementou um sistema mundial que evoluiu de um preço de referência de base única (ponto de carga) para uma de base múltipla, em função da importância de origem do óleo suprido e da distância de transporte a ser percorrida para abastecimento dos mercados demandantes (ponto de descarga). O preço de referência inicial (1928-1943) tinha o óleo do Golfo de México como único ponto de base (Texas Gulf-Plus Pricing System); em seqüência (1943-1947), a cotação de referência incorporou

Page 33: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

22

países em industrialização e/ou reconstrução no pós-guerra (YERGIN, 1990). Tal fato

se deve sobretudo ao desenvolvimento econômico destes países, que trouxe no seu bojo

o desenvolvimento da indústria automobilística na Europa, Japão e EUA; assim, o

petróleo passava a fazer parte do way of life não apenas americano, mas também

europeu e japonês. A partir do desenvolvimento do transporte por veículos automotores,

o petróleo substitui o carvão como principal fonte de energia das economias nacionais.

O carvão havia servido como combustível central da Revolução Industrial, a

partir da utilização da máquina a vapor e das ferrovias nos processos de industrialização

do século XIX, em Reino Unido, EUA, Alemanha e, em menor escala França e Bélgica;

mais tarde, o carvão serviu à difusão da eletricidade, a partir da geração de energia

elétrica por usinas termoelétricas a carvão no século XX. Entretanto, após a Segunda

Grande Guerra, os veículos automotores, cuja utilização já era crescente no decorrer do

século XX, adicionaram-se às ferrovias como principais modos de transporte nestes

diversos países, o que contribuiu para a parcial substituição das máquinas a vapor por

motores de combustão interna; a dificuldade no transporte de carvão em larga escala

conduziu à sua parcial substituição para uso industrial por caldeiras à queima de óleo

combustível.

Então, para atender a crescente demanda mundial as Sete Irmãs concentram seus

esforços principalmente nas bacias geológicas do Oriente Médio, onde eram

responsáveis por 99% da produção de óleo bruto em 1950 (FEDERAL TRADE

COMMISSION, 1952). A Tabela 1-3 mostra que, com o término da Segunda Guerra

Mundial (1945), a produção de petróleo na Arábia Saudita disparou.

o Golfo Pérsico como segundo ponto de base; enfim (1947-1959), à duplicação do ponto de base foi

Page 34: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

23

Tabela 1-3 – Produção de Petróleo na Arábia Saudita – 1939/1950

Ano Barris/dia Ano Barris/dia

1939 11.000 1945 59.000

1940 15.000 1946 165.000

1941 12.000 1947 246.000

1942 12.000 1948 290.000

1943 13.000 1949 477.000

1944 21.000 1950 547.000

Fonte: Federal Trade Commission (1952)

Sob muitos aspectos, a Segunda Guerra Mundial marcara um ponto de inflexão

no desenvolvimento da IMP. No pós-guerra verificou-se um declínio permanente do

controle da indústria pelo cartel das 7 maiores corporações do petróleo, que se tornou

evidente no final dos anos 50.

1.1.4 O surgimento das Estatais Petrolíferas e Renegociações de Concessões

O desenvolvimento da IMP não se limitou ao campo exclusivo das grandes

empresas petrolíferas internacionais. Nas três décadas seqüentes a 1920, o aprendizado

sobre a importância da intervenção institucional para organizar e controlar

racionalmente a expansão da indústria fazia escola no mundo. Vários países

incorporaram nas suas agendas públicas o debate para se aprovisionar de petróleo ou,

melhor, desenvolver a indústria de petróleo. Entre as inovações institucionais surgidas

cabe registrar:

agregada uma dupla cotação de distância de descarga.

Page 35: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

24

• As participações acionárias diretas de governos, o governo britânico sendo o

pioneiro com a aquisição majoritária das ações da Anglo-Persian Company, em

1914;

• A criação de empresas estatais, tais como a de Yacimientos Petrolíferos Fscales-

YPF na Argentina (1922), a Compagnie Française des Pétroles-CPF na França

(1924), a YPB (Bolívia), em 1937, e a ENAP (Chile), em 1946 (FEDERAL

TRADE COMMISSION, 1952).

• A regulação da indústria do petróleo em vários países, a exemplo do caso

americano, sob a administração do New Deal de Franklin D. Roosevelt, para

controlar a produção interna e a importação de petróleo, visando sustentar a

estabilidade dos preços;

• As novas condições contratuais reivindicadas por países produtores na outorga

de concessões.

Não interessava às multinacionais a realização de investimentos de riscos em

países com pouca atratividade. O lucro na atividade de petróleo no mundo estava na

transformação do óleo barato do Oriente Médio em refinarias dos países ricos, e seu

manuseio até as distribuidoras dos países importadores de derivados, que pagavam

preços considerados elevados por esses produtos. Por conseguinte, a associação deste

contexto com a necessidade dos países em assegurar a suficiência de petróleo em seus

territórios formaram a base para o processo de nacionalização do setor de petróleo em

diversos países no mundo.

No período após a 2ª Guerra, estava já bastante claro o papel geopolítico da

indústria de petróleo, e seu grande potencial para ser o carro-chefe do processo de

Page 36: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

25

desenvolvimento produtivo dos países industrializados retardatários. Desde então houve

uma política mais firme destes países na negociação de contratos de concessão, e se deu

o surgimento das grandes estatais de petróleo. Este período foi marcado por eventos

fundamentais para a configuração da indústria de petróleo atual: a nacionalização do

petróleo mexicano em 1938; a renegociação dos contratos de concessão na Venezuela;

o retorno do petróleo russo ao mercado europeu na década de 50; o início da

internacionalização das grandes companhias independentes americanas, minors, na

década de 60; a negociação de acordos mais favoráveis para os países exportadores por

parte de estatais européias, notadamente a italiana Ente Nazionale Idrocarburi-ENI8,

desestabilizando as regras contratuais estabelecidas pelas grandes empresas do cartel da

IMP nas concessões do Oriente Médio; a deposição do xá Reza Pahlevi; a Revolução

Islâmica no Irã, resultando na a renegociação dos contratos de concessão neste país; o

surgimento de novos produtores, como Nigéria e Indonésia; e a criação das maiores

estatais de petróleo, como a Petróleos de Venezuela e a Petrobras (Brasil).

No Irã, a partir de 1951, deu-se a mais grave crise até então vista devido à

política de estatização do Primeiro Ministro Mossadegh que nacionalizou os poços da

British Petroleum. A CIA atuando em conjunto com MI-6, o serviço secreto inglês,

numa operação conjunta desencadeada em 1953, conseguiu reverter à situação. O

nacionalista Mossadegh foi deposto e preso pelos que apoiavam o Xá Reza Pahlevi.

Com o sucesso do golpe dos anglo-saxãos o Xá colaboracionista foi novamente

entronado. Mesmo tendo fracassado naquela ocasião, a posição nacionalista de

Mossadegh serviu de exemplo. Ela foi o ponto de partida para uma série de

8 A estatal italiana ENI, que em 1957, implementou com o Irã o acordo de 75/25 (75% dos lucros para Irã e 25% para ENI) rompendo com o valioso acordo fifty-fifty adotado pelo cartel (YERGIN, 1990).

Page 37: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

26

enfrentamentos que se seguiram entre os estados-nacionais do Oriente Médio, que

começavam a se fortalecer contra o poder das Sete Irmãs.

Gradativamente, no transcorrer da década dos 50 e 60, as empresas foram vendo

diminuir suas regalias, sendo obrigadas a aceitar o Pacto dos Cinqüenta mais Cinqüenta

(fiffty-fiffty)9, que tornava os estados-nacionais árabes e iranianos sócios iguais delas.

Outra crise deu-se por motivos não ligados diretamente ao petróleo. Aconteceu

em 1956, ano em que o presidente do Egito, Gamal Nasser, nacionalizou o Canal de

Suez, de enorme importância estratégica para o negócio petroleiro, passagem que até

então estava em mãos de uma companhia anglo-francesa formada nos tempos

colonialistas.

Devido à intervenção militar de tropas inglesas e francesas, apoiadas ainda por

uma ofensiva israelense sobre o Sinai, ocorreu em represália um boicote do

fornecimento do petróleo por parte do mundo árabe. Situação que rapidamente foi

contornada pelos Estados Unidos e pela URSS que, não aceitando aquela última

aventura do colonialismo europeu, exigiram que a ocupação do Suez cessasse

imediatamente.

Entretanto, teve importância mais decisiva a criação da Organização dos Países

Exportadores de Petróleo (OPEP) em 1960, em resposta à decisão das majors que

decidiram unilateralmente reduzir em aproximadamente 7% o preço pago pelo petróleo

9 Os Estados produtores e as companhias internacionais passaram a incorporar nos contratos de concessão a política do ‘fifty-fifty’, pela qual haveria uma distribuição igualitária dos resultados auferidos com a produção petrolífera entre as partes. O modelo do fifty-fifty foi primeiramente adotado pela Venezuela e,

Page 38: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

27

bruto do Oriente Médio. Os cinco países fundadores - Arábia Saudita, Venezuela,

Kuwait, Iraque e Irã – eram responsáveis por mais de 80% das exportações mundiais de

petróleo bruto (YERGIN, 1990). Logo, mais países se associam a organização: Catar

(1961); Indonésia (1962); Líbia (1962); Emirados Árabes (1967); Argélia (1969);

Nigéria (1971); Equador (1973–1992); e Gabão (1975–1994) (OPEC, 2005).

Esses eventos traduziam um potencial dinâmico decisivo para a evolução

subseqüente da IMP, na medida em que a dinâmica da indústria petrolífera caminhava,

nas décadas de 50 e de 60, na direção de mercado comprador: no período 1950/1974, o

petróleo tornou-se o energético dominante na estrutura energética mundial com um

crescimento médio da demanda de seus derivados de 9,55 % a.a. (Furtado, 1985).

A estatização das empresas petrolíferas dos países da OPEP e o primeiro choque

de preços de petróleo em 1973 foram o ponto drástico de mudança de estrutura da

indústria. Verificou-se um inconteste declínio do controle da indústria pelas “sete

irmãs” (as majors), pois, a partir deste evento, a indústria de petróleo passou a

apresentar uma crescente característica de desintegração, tanto no nível horizontal

quanto vertical, com as sete majors não tendo mais acesso às melhores jazidas do

mundo, como resultado da “expulsão” das majors da área da OPEP. Isso significava

significava a transferência de parte do poder10 de mercado das majors para a OPEP.

alguns anos mais tarde, pela Arábia Saudita, tornando-se um ‘divisor de águas’ para os países produtores de petróleo. 10 Apesar das majors terem perdido acesso às melhores jazidas do mundo, permaneciam com o controle de boa parte do refino e da comercialização de derivados. Além disso, a própria expertise técnica em E&P ainda permanecia com as majors.

Page 39: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

28

Em 1975, as companhias petroleiras internacionais não mais controlavam as

atividades de exploração e produção de petróleo, o que reduziu consideravelmente o seu

peso no mercado mundial do petróleo, como pode ser observado na Tabela 1-4.

Tabela 1-4 – O Peso do Cartel das Sete Irmãs no Mercado Internacional do Petróleo (%)

1950 1957 1970 1980

Cartel das sete irmãs 98,2 89,0 68,9 30,0

Outras companhias internacionais 1,8 11,0 31,1 70,0

Total 100 100 100 100

Fonte: Percebois (1989) apud Baddour (1997).

1.1.5 Os Choques Petrolíferos

O primeiro choque de petróleo teve motivações de naturezas política e

econômica. Em 1973, Síria e Egito fizeram um ataque “surpresa” a Israel durante o

feriado judaico de Yom Kippur, o Dia do Perdão, tendo Israel respondido violentamente

ao ataque. Em outubro de 1973, quando a guerra eclodiu entre Israel, Egito e Síria, os

países exportadores do Oriente Médio, reunidos em Genebra (Suíça), elevaram

unilateralmente o preço do barril do tipo Arabian Light de 2,99 dólares para 4,12

dólares. Nos dias que se seguiram ao início da Guerra do Yom Kippur, a OPEP decidiu

embargar as exportações destinadas aos aliados de Israel, a saber EUA e Holanda. Dois

meses mais tarde (dezembro de 1973), houve nova alta dos preços de referência, para

11,65 dólares. Esta seqüência de eventos políticos é muitas vezes apresentada como a

razão por detrás do primeiro choque de petróleo. Entretanto, foi apenas um fator de

incentivo para o choque da OPEP naquele momento. Na verdade os choques se deram

principalmente por fatores de natureza econômica: os países grande-exportadores da

OPEP haviam percebido a crescente perda de renda petrolífera, que estavam cedendo ao

Page 40: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

29

Ocidente em um ambiente de baixos preços de petróleo, principalmente renda de

raridade, pois este é um recurso não-renovável que se constitui na única vantagem

comparativa dos países da OPEP. De fato, a desvalorização do dólar americano e a

inflação mundial dos anos anteriores ao choque vinham reduzindo, em termos reais, o

valor do barril de petróleo, reduzindo a renda real dos países exportadores de petróleo,

que já era baixíssima na média por barril exportado, vis-a-vis o valor real do produto,

quando considerada sua importância estratégica e não-renovabilidade (MARTIN,

1992).

A crise serviu para chamar a atenção sobre a fragilidade da posição dos países

consumidores em relação à oferta de petróleo, uma vez que suas próprias empresas de

petróleo, operantes nos países da OPEP, foram obrigadas a acatar as determinações dos

governos árabes em respeito ao destino de seus carregamentos de petróleo.

No período após o primeiro choque do petróleo, os preços oficiais da OPEP

continuaram sua tendência de alta. Os membros da OPEP perceberam que, pelo menos

no curto prazo, em função da percepção dos riscos de fornecimento, os consumidores

estavam dispostos a pagar preços naqueles patamares para evitar desabastecimento. Por

isso, a OPEP persistiu com aumentos nos preços oficiais. Em dezembro de 1976, seu

valor foi unilateralmente ajustado para US$ 12,70 / bbl, vigente a partir do início do ano

seguinte, e para US$ 13,30 / bbl a partir de julho de 1977. Em dezembro de 1978, o

preço foi outra vez elevado para US$ 13,54 / bbl, vigente durante a maior parte de 1979

(DOE, 2004). Essas oscilações podem ser verificadas na Figura 1-1.

Page 41: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

30

Figura 1-1–Preço do Petroleo e Produção: 1965 – 2004 (Jean-Marie Martin – X Congresso

Brasileiro de Energia)11

Contudo, segundo Evans (1986), a OPEP não estava em posição de evitar a

deterioração dos preços do petróleo após o choque de 1973. Assim, numa situação de

demanda decrescente (como de fato se evidenciou), os membros da Organização não

teriam regras de regulação de suas produções que dessem estabilidade aos preços. Não

obstante esse movimento incessante de revisões crescentes dos preços oficiais

nominais, o preço real do petróleo (ajustado pela inflação dos países consumidores)

estava, às vésperas da Revolução Iraniana, 10% abaixo dos valores observados em 1974

(Evans, 1986), os quais, por si só, entretanto, já representavam o prefácio de uma

mudança no comportamento da demanda mundial.

11 $(2002)/b: Os valores do preço do petróleo tomam como referência o dólar americano do ano de 2002. Os valores correntes do preço do petróleo no período anterior ao choque situavam-se na faixa de US$1/barril, os quais corrigidos para valores de 2002 assumem o valor de US$10/barril, como representado na figura.

Page 42: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

31

Com a perda da capacidade de negociação das empresas de petróleo, estas eram

forçadas a transmitir a elevação de seus gastos com a tributação do petróleo ao longo da

cadeia da indústria – até o consumidor, portanto – para proteger suas margens de lucro.

Considerando que detinham elevada participação nos mercados consumidores, este

repasse não foi problema.

Em fevereiro de 1979, a deposição do Xá do Irã pela revolução islâmica põe fim

ao Consórcio Iraniano de Petróleo, retirando temporariamente 6 milhões de barris/dia

dos mercados mundiais. Neste mesmo mês, os preços oficiais da OPEP foram

reajustados para US$ 14,55 / bbl. Apesar do aumento da produção da Arábia Saudita

em 2 MM bpd para compensar o desaparecimento do petróleo iraniano do mercado,

compras de petróleo para a formação de estoques elevaram seus preços no mercado

spot12

para US$ 40,00 / bbl. Em junho de 1979, o preço oficial foi elevado para US$

18,00 / bbl. No ano seguinte, o preço do petróleo segue uma trajetória ascendente,

atingindo em agosto de 1980, o valor de US$ 30,00/barril (TAVERNE, 1999;

MINADEO, 2002).

A desestabilização do mercado com a perda da produção iraniana foi limitada

apenas parcialmente pela entrada em produção de capacidades ociosas na OPEP.

Segundo Evans (1986), o eventual retorno do Irã ao mercado de petróleo restabeleceu o

balanço entre oferta e demanda para consumo, mas em pouco contribuiu para diminuir

as incertezas acerca da política petrolífera do novo regime do país, e elevados prêmios

sobre o preço do petróleo continuaram a ser pagos na medida em que importadores

ainda tentavam maximizar seus estoques com o objetivo de limitar sua exposição para o

Page 43: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

32

caso de uma possível deterioração do cenário geopolítico que comprometesse a oferta

do petróleo.

Com o início das hostilidades da Guerra Irã-Iraque, em 1980, e o

desaparecimento de 4 MM bpd de capacidade do mercado, os preços spot atingiram

US$ 41,00 / bbl. Em dezembro, o preço oficial da OPEP foi definido em US$ 32,00 /

bbl. Entretanto, a decisão de se aumentar outra vez os preços oficiais, desta vez para

US$ 36,00 / bbl, marcou uma cisão temporária entre os membros da OPEP, com a

Arábia Saudita decidindo permanecer a vender seu petróleo a US$ 32,00 / bbl,

cautelosa acerca dos efeitos deste preço sobre a economia mundial e o consumo de

petróleo (Al-Chalabi, 2003). Sob pressões internas e externas, o país se realinhou com

os demais, os quais concordaram com um preço oficial de US$ 34,00 / bbl em outubro

de 1981.

Os choques de petróleo foram responsáveis pela maior mudança de padrão

estratégico observada na história da indústria de petróleo: dos choques resultou o início

da competição das grandes majors internacionais pelas reservas de petróleo no planeta,

com estas objetivando fincar posições estratégicas em todas as áreas de jazidas

representativas. Os choques acabaram por forçar uma descentralização da produção

(aumento da participação de países não-membros da OPEP), em razão de uma nova

visão dos países grandes importadores de petróleo sobre a importância deste, que

colocava em um patamar muito mais alto de relevância a substituição de petróleo

importado por petróleo nacional. Além disso, os choques desencadearam uma mudança

na estrutura de consumo energético mundial: uma busca constante de substituição dos

12 Mercado spot é a cotação de curto prazo e flutuante, em contraste com as cotações acordadas em

Page 44: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

33

derivados de petróleo por outras fontes de energia, sobretudo eletricidade, gás natural e

fontes renováveis, incluindo-se aí programa do Banco Mundial de fomento a

investimentos nestas indústrias (durante a gestão de Robert McNamara a frente desta

instituição), e um aumento da carga tributária das atividades relacionadas à cadeia

petrolífera. A ação destes fatores reduziu a competitividade dos derivados de petróleo

vis-à-vis a outras fontes energéticas.

Pode-se argumentar que os dois choques foram bastante dramáticos pela drástica

virada da economia mundial a partir do início da década de 80: dos aumentos do preço

do barril do cru decorreram enormes déficits na balança corrente dos países mais

dependentes de petróleo, sendo este um dos principais fatores responsáveis pelo choque

de juros do Banco Central americano, no enxugamento da liquidez internacional de

capital nos anos 80, na crise da dívida na América Latina, no caótico ambiente

estagflacionário da “década perdida” e no fortalecimento do paradigma teórico liberal

sobre o papel da intervenção econômica do Estado.

1.1.6 O período do Pós-Choque

A década de 80 foi caracterizada pelo declínio da força da OPEP como

formadora de preços. De 1979 a 1982, a OPEP teve 12 MM bpd de sua produção

desalojada do mercado (BP, 2004), oriunda de múltiplos fatores, tais como: diminuição

do consumo com a desaceleração econômica, políticas de eficiência energética e fontes

alternativas, competição da produção não-OPEP e diminuição dos estoques das

petrolíferas (Evans,1986).

contratos de fornecimento de médio e longo prazos.

Page 45: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

34

A demanda pelo petróleo da OPEP continuou declinante depois de 1982, na

medida em que a produção não-OPEP aumentava num mercado de demanda estática. O

alto preço do petróleo torna possível a abertura de novas fronteiras de exploração, em

especial no mar e em regiões de custos de produção mais elevados, como, por exemplo,

os campos do Mar do Norte, do Alasca e de outras áreas nos países em

desenvolvimento, como o Brasil (BNDES, 1998). O crescente direcionamento às

atividades E&P offshore (em lâmina d´água) pelas major companies foi certamente o

mais importante resultado dos choques de petróleo. Os choques marcaram assim a mais

drástica reorientação de pesquisa e desenvolvimento já ocorrida nesta indústria.

Segundo Evans (1986), medidas de conservação de energia desempenharam um

papel mais importante do que a redução do consumo induzido por recessão na dinâmica

da demanda global por petróleo.

O efeito combinado da queda na demanda e da entrada de novos competidores

foi considerável, especialmente porque ocorreu em um período relativamente curto de

tempo. Com isso, a produção oficial da OPEP atingiu o mínimo histórico de 16 MM

bpd em 1985. Segundo Clô (2000), 60% desta queda pode ser atribuída à queda na

demanda por petróleo (incluindo a variação de estoques), e 40% ao aumento da

produção não-OPEP.

A OPEP tornava-se oficialmente o produtor residual do mercado. O sistema

implicava que, no contexto de aumento da oferta fora da Organização e de declínio da

demanda mundial por petróleo, a participação de mercado da OPEP iria inevitavelmente

Page 46: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

35

reduzir-se. Com a Arábia Saudita arcando com a maior parte desta responsabilidade,

criou-se uma situação em que 12 membros (então eram 13 no total) produziam ao limite

de suas cotas e a Arábia Saudita respondia pelos ajustes da produção da Organização à

demanda global, diminuindo sua participação no mercado mais que proporcionalmente

à redução da OPEP.

Com a natureza residual da produção da OPEP preenchendo o espaço entre a

demanda declinante por petróleo e a oferta crescente não-OPEP, a manutenção dos

preços oficiais em patamares elevados causava dois efeitos: incentivava a entrada de

novas empresas com custos mais altos de produção e permitia que as mesmas (na

condição de tomadoras de preços) colocassem todo o volume de petróleo que

conseguissem produzir no mercado. Isto sem que tivessem que incorrer nos custos de

pertencerem a uma organização que operava, então, por meio de restrições à produção.

Em 1985, o volume de produção da OPEP era um indicativo de que a

Organização estava pagando caro pela manutenção dos preços acima do patamar

competitivo. Em menos de cinco anos, a produção total da Organização caíra de 31 MM

bpd para cerca de metade deste volume, uma conjuntura de difícil sustentação (Chalabi,

2003). Conseqüentemente, a situação fugiu ao controle da OPEP quando a Arábia

Saudita decidiu abandonar a venda de petróleo a preços fixos, de acordo com o sistema

de cotas de 1983, e adotou em seu lugar a precificação orientada pelo mercado, ou de

valor netback, o qual obtinha o valor do petróleo pela diferença entre os preços dos

derivados nos principais mercados consumidores e os custos de refino, transporte e

contratuais. Como resultado, a produção do país começou a subir vertiginosamente, e,

Page 47: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

36

no início de 1986, no mercado de petróleo imperava a competição por participação de

mercado.

A estratégia da Arábia Saudita gerou um colapso dos preços do petróleo,

classificado na literatura como o Contra-Choque de 1986. O preço do petróleo sofreu

vertiginosa queda de vinte Dólares em apenas dois meses, com o Arab Light sendo

vendido por menos de US$ 8 / bbl em julho (e algumas cargas atingindo o mínimo de

US$ 6 / bbl). A situação acarretou num amontoamento de pressão sobre a Arábia

Saudita para que o país abandonasse sua recusa ao sistema de cotas. Um amplo grupo

de pressão era formado por países da OPEP e também pelos EUA, onde produtores de

alto custo foram forçados a parar a produção de seus campos. Investimentos em zonas

de elevado custo de desenvolvimento fora dos EUA, como o Mar do Norte, também

foram seriamente ameaçados pela queda nos preços, mas a maior parte da produção

não-OPEP não foi afetada, fazendo com que as receitas de exportação de petróleo da

OPEP não pudessem compensar a queda nos preços com um aumento dos volumes

(DOE, 2004). Este movimento fez com que a Arábia Saudita acabasse cedendo e

concordasse com a readoção do sistema de cotas, porém vendendo seu petróleo ao

preço oficial de US$ 18 / bbl.

A década de 80, além de ser marcada pela realocação geográfica dos

investimentos em novas áreas de produção petrolífera, foi também um período de

aquisições das companhias internacionais. Após a nacionalização dos países do Oriente

Médio, as majors não possuíam mais reservas de petróleo a preços baixos para

garantirem o abastecimento de suas refinarias e de seus mercados consumidores, tendo,

portanto, que se reestruturarem. Assim sendo, a indústria do petróleo passa por um

Page 48: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

37

período de megafusões, aquisições e parceria. As grandes empresas que preservam sua

proeminência passam a mantê-la através do volume de suas vendas e da sua capacidade

de refino (MARTIN, 1990). Este aumento do nível de concentração industrial foi

resultante da diminuição do valor acionário de grande parte das companhias de petróleo

(CONN e WHITE, 2004).

Passou assim a haver um grande excedente nas quantidades vendidas no

downstream, com relação àquelas vendidas a nível E&P. Entretanto, o inverso deste

fato é o que se dá no caso das estatais dos países grandes produtores. A indústria de

petróleo pode deste ponto de vista ser dividida em dois grupos: de um lado as

companhias dos principais países da OPEP na oferta de óleo cru; no outro, as majors

privadas que têm maior controle sobre o mercado final de derivados, apesar de seus

market shares individuais serem menores após os choques. Ambos os lados estão

relativamente distantes da situação de equilíbrio entre produção de óleo/venda de

derivados.

Page 49: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

38

Tabela 1-5 – Principais aquisições e fusões na indústria petrolífera entre 1997 e 2005

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

BP

Amoco BP Amoco BP Amoco

Arco Arco Arco

Castrol Castrol Castrol

BP BP

Veba Veba Veba Veba Veba

BP

TNK TNK TNK TNK TNK TNK

BP BP BP

Móbil Móbil

Exxon Exxon

Exxon Mobil

Exxon Mobil

Exxon Móbil

Exxon Mobil

Exxon Mobil

Exxon Mobil

Exxon Móbil

PQS PQS PQS PQS PQS

Shell Shell Shell Shell Shell

Enterprise Enterprise Enterprise Enterprise Enterprise

DEA DEA DEA DEA DEA

Shell Shell Shell Shell

Tosco Tosco Tosco Tosco

Phillips Phillips Phillips Phillips

Phillips Tosco

Conoco Conoco Conoco Conoco Conoco

Conoco Phillips

Conoco Phillips

Conoco Phillips

Lukoil Lukoil Lukoil Lukoil Lukoil Lukoil Lukoil Lukoil

Conoco Phillips

Total Total

Fina Fina TotalFina

Elf Elf Elf

TotalFina Elf

TotalFina Elf

TotalFina Elf

Total Total Total

Chevron Chevron Chevron Chevron

Texaco Texaco Texaco Texaco

Chevron Texaco

Chevron Texaco

Chevron Texaco

Chevron Texaco

Unocal Unocal Unocal Unocal Unocal Unocal Unocal Unocal

Chevron

Eni Eni Eni Eni

Lasmo Lasmo Lasmo Lasmo Eni Eni Eni Eni Eni

Fonte: PETROBRAS (2005).

Page 50: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

39

A formação do preço passou a ser regida pela determinação em bolsas de

mercadorias. A relativa substituição das relações contratuais de longo termo por

contratos de prazos menores, a reestruturação das grandes companhias e um aumento

no número de agentes na indústria passaram a causar absoluta imprevisibilidade e

volatilidade nos preços, resultado de um ambiente altamente incerto. O nível de

informação disponível no mercado se elevou, assim como sua transparência e

eficiência. A combinação de globalização física e econômica dos mercados ajudou a

acentuar a instabilidade de preços, sobretudo em períodos de exceção, como guerras.

Qualquer evento extraordinário e de razoável relevância que ocorra em uma refinaria no

Texas ou em uma plataforma no Mar do Norte tende a impactar, em tempo real, toda a

estrutura de preços mundial.

Durante a década de 90, o preço do petróleo manteve uma trajetória de

estabilidade mantendo-se, com algumas exceções, na faixa de US$ 15 - 20 /bbl, com

exceção do período referente ao conflito no Golfo Pérsico, em 1990, quando foram

retirados do mercado 4 milhões barris/dia produzidos pelo Kuwait e Iraque e o preço do

petróleo (Árabe Leve) em US$ 40 / bbl (BP, 2006). Porém, com a suspensão das cotas

de produção dos países da OPEP para compensar a saída do Iraque no mercado e com o

fim das hostilidades em 1991, os preços do petróleo declinaram novamente.

No ambiente empresarial petrolífero da década de 90, as alianças estratégicas

evoluíram para cobrir todos os ramos da cadeia. O segmento que alavancou mais

perspectivas nesse sentido foi o de E&P, na medida em que o incremento das reservas

provadas, sobretudo para exploração offshore, também trouxe incremento nas reservas

de gás natural. Esta foi a década de ápice da onda de fusões e aquisições, tendo dado

Page 51: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

40

origem às super-majors conforme são conhecidas hoje: conforme já mencionado,

British Petroleum Amoco, Chevron Texaco, Total Fina Elf e Exxon Mobil surgiram

neste período pela união de majors anteriores. A razão preponderante desta união é o

fato de as empresas buscarem aumentar suas escalas e horizontes de produção no futuro

mais imediato, sem incorrer em custos de aumentados esforços exploratórios. Este

contínuo aumento da produção de petróleo em razão do maior número de regiões

produtoras contribuiu decisivamente para a já citada “comoditização” do petróleo.

Os enormes esforços exploratórios no período pós-choque elevaram as reservas

provadas mundiais em 58,76% no período 1980-2002, chegando a uma relação

reservas/produção de 40,6 anos em 2002 (BP, 2006). Cabe destacar o contínuo aumento

da participação do óleo offshore no total, e uma melhor distribuição geográfica do

esforço exploratório, reduzindo o direcionamento deste esforço para os países da OPEP.

Tal mudança de padrão da atividade de E&P foi bem-sucedida em maior parte pela

política energética dos países maiores demandantes de petróleo e pelas estratégias das

empresas petrolíferas. Entretanto, cabe ressaltar que, em números absolutos, a área da

OPEP continua de longe superior no que tange à abundância de reservas provadas e à

competitividade via eficiência de custos, auferindo os maiores montantes da renda

diferencial petrolífera mundial (BOUSSENA, 1994).

Page 52: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

41

1.2 As Condições de Base da Indústria Petrolífera Atual

Atualmente o setor de petróleo movimenta trilhões de dólares anualmente, ao redor do

mundo, sendo o petróleo a principal fonte de energia. O petróleo é responsável por 36% do uso

final de energia primária no mundo. Além disso, o petróleo é importante fonte de matéria-prima

para a indústria de maneira geral (BP, 2006).

A estrutura do setor se inicia nas jazidas indo até os consumidores. Desta forma, na

ponta inicial da cadeia – a da matéria-prima -, encontram-se o petróleo e o gás natural

(produzidos em conjunto durante a extração do petróleo). Na ponta final da cadeia estão os

consumidores, que recebem os produtos derivados do petróleo (gasolina, óleo diesel, óleo

combustível, plásticos, e outros derivados).

Esta cadeia está dividida em dois tipos de atividades: upstream (exploração e produção)

e downstream (refino, transporte, distribuição e comercialização). A Figura 1-2 mostra de

forma esquemática os negócios relacionados ao petróleo. Uma característica deste setor é a

integração das empresas13, atuantes em vários pontos da cadeia.

13 È importante mencionar que há algumas empresas importantes, como a Valero, que atuam em um único ramo da cadeia.

Page 53: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

42

Figura 1-2–Cadeia Produtiva do Petróleo (Elaboração própria)

• ATIVIDADES UPSTREAM

o Exploração14 – Atividade de prospecção de áreas em busca de jazidas de

hidrocarbonetos.

o Produção – Atividade de extração e separação15 do óleo bruto existente na

jazida.

14 Antes da perfuração de um poço, que é a etapa que exige a maior parte de investimentos no processo prospectivo, geólogos e geofísicos estudam detalhadamente os dados de diversas camadas do subsolo, visando identificar aqueles parâmetros anteriormente citados que indicam a condição de acumulação de petróleo e os locais mais prováveis de sua ocorrência, ou seja, não se detalha com certeza absoluta, mas com parâmetros bastante confiáveis quanto a existência, que posteriormente terá a relação custo/beneficio avaliada para exploração.

Page 54: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

43

• ATIVIDADES DOWSTREAM

o Transporte – O óleo bruto extraído deve ser transportado para as unidades de

refino. Este transporte é feito por oleodutos, até as refinarias ou terminais

marítimos, onde é embarcado em petroleiros.

o Refino – No estado bruto, o petróleo não tem aplicação comercial, sendo

necessário beneficiá-lo para obtenção de produtos utilizáveis. Portanto, refino é a

separação do mineral bruto em frações desejadas, para posterior processamento e

transformação em produtos de maior valor agregado.

o Transporte (derivados) – os derivados de petróleo produzidos nas refinarias

são enviados para bases de distribuição. São utilizados diversos modais de

transporte nesta etapa, como oleodutos, ferrovia, rodovia e navegação (tanto de

longo curso, quanto hidrovias e cabotagem). Alguns derivados podem ser

enviados diretamente aos locais de consumo – comum nos insumos

petroquímicos enviados às centrais petroquímicas.

o Distribuição – Nessa etapa os derivados são entregues até os consumidores ou

local de abastecimento, como postos de combustíveis. Os derivados são

transportados dos centros produtores (refinaria ou petroquímica) para bases de

armazenamento (distribuidoras), podendo estas últimas ser primárias – atendidas

diretamente pelo produtor, sem intermediários – ou secundárias, assim

consideradas as mais distantes do produtor, havendo a necessidade de

intermediários e outras conexões até o destino final.

o Comercialização – Das bases de distribuição, os derivados seguem para grandes

consumidores, atacadistas e, principalmente, postos revendedores, que podem

15 Durante a fase produtiva de um campo de petróleo, além da prospecção de óleo, ocorre a prospecção de água, gás e sedimentos contidos no reservatório. Tendo em vista que o interesse é relativo apenas à produção de óleo e gás, e que a presença de outras substâncias pode influir negativamente em diversos

Page 55: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

44

estar ligados a alguma bandeira ou ter “bandeira branca”, podendo ser

abastecidos por qualquer distribuidora. Até o final de 2004, dos 33.620 postos

cadastrados na ANP 16% possuíam bandeira da BR, 12% da Ipiranga, 7% da

Texaco, 6% da Shell, 6% da Esso, 14% de outras distribuidoras e 36% eram

“bandeira branca” (ANP, 2005).

Conforme visto anteriormente, o petróleo dá origem a dezena de derivados com uso

diversificado. Esses usos podem ser energéticos – combustível para transporte, indústria e

residências – e não energéticos – asfalto, lubrificantes, plásticos e solventes. Uma utilização

utilizada entre os derivados é feita pela cor: “claros” (gasolina e querosene), que são mais leves

e normalmente de maior valor que os “escuros” (óleo combustível).

aspectos, tais como transporte e segurança operacional, faz-se necessário um processamento primário in

loco, isto é na própria unidade de produção, seja ela terrestre ou marítima.

Page 56: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

45

As principais utilizações dos derivados de petróleo são demonstradas na Tabela 1-6:

Tabela 1-6 – Utilizações dos principais derivados do petróleo

Tipo Derivado Principal Uso

Gasolina

Óleo diesel Combustível automotivo

Óleo combustível Industrial, naval, geração de eletricidade

Gás Liquefeito de Petróleo (GLP)

Cocção

Querosene de Aviação Combustível aeronáutico

Combustíveis

Querosene Iluminante Iluminação

Nafta Matéria prima da indústria petroquímica

Insumos Petroquímicos Propeno (de refinaria)

Matéria prima do polipropileno (para fabricação de plásticos) e acrilatos (usado em tintas)

Óleos Lubrificantes Lubrificação de maquinas e motores

Parafina Velas, indústria alimentícia Outros

Asfalto Pavimentação

Fonte: CARDOSO (2005).

1.2.1 A Estrutura de Oferta de Petróleo

Com uma produção mundial, em 2005, de aproximadamente de 3.837 de

milhões de tEP, o petróleo continua sendo a principal fonte de energia, representando,

atualmente 36,4% do consumo total de energia primária do mundo conforme observado

na tabela. Estes dados confirmam a importância do petróleo no balanço energético

mundial.

Page 57: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

46

Tabela 1-7 – Consumo mundial de energia primária por combustível (2005)

Fonte de Energia Consumo* %

Petróleo 3.836,8 36.41%

Gás Natural 2.474,7 23.49%

Carvão 2.929,8 27.80%

Energia Nuclear 627,2 5.95%

Hidroeletricidade 668,7 6.35%

Total 10537,1 100%

* Bilhões de toneladas de petróleo equivalente Fonte: BP (2006)

A questão das Reservas Mundiais de Petróleo

Quando se analisa a estrutura de oferta de petróleo, é importante que se tenha

uma avaliação mais clara das quantidades de petróleo disponíveis para produção, bem

como daquelas que são esperadas para produção através do desenvolvimento dos

campos, avanços tecnológicos, novas descobertas, extensões, etc. Nesse sentido, é

muito importante o entendimento dos conceitos de classificação de reservas, como

ferramenta de conhecimento dos recursos já descobertos e daqueles que se espera

descobrir.

A indústria do petróleo utiliza o diagrama de McKelvey16 (Figura 1-3) para a

análise das restrições de ordem econômica e tecnológica na definição das reservas e dos

16 A distinção entre reservas e recursos propostas por McKelvey, em seu diagrama, colocava recursos como toda a quantidade de petróleo conhecida, somada a todo volume que já foi produzido e o que ainda resta a ser descoberto. Reserva seria um sub-grupo dentro de Recursos e seriam aqueles descobertos, recuperáveis, comerciais sob as condições econômicas determinadas e restantes nas acumulações.

Page 58: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

47

recursos petrolíferos17. Porém, não existe uniformidade de critérios sobre definição,

classificação e métodos de estimativas de reservas petrolíferas, é comum as empresas

de petróleo estabelecerem critérios e normas próprias de modo a garantir uniformidade

nas suas estimativas e na adequação ao planejamento e gerenciamento da empresa.

Devido a inúmeras limitações (definição de volumes, estudos de viabilidade

técnico-econômica, comparação entre reservas de empresas e países) se tornou

necessário à elaboração de um sistema único de classificação destes recursos.

Atualmente as empresas tendem a se basear nos critérios do código internacional da

SPE (Society of Petroleum Engineers) e do WPC (World Petroleum Congresses), de

modo que as suas reservas possam ser reconhecidas por instituições internacionais e

comparadas com as de outras empresas e países (THOMAS, 2001).

17 Reserva é o volume de petróleo, de reservatórios conhecidos, conforme análise dos dados de geologia e engenharia, sob condições econômicas, regulamentares e com métodos de operação vigentes na época da avaliação. Por recursos entende todos os demais volumes que não se enquadram como reservas. (Thomas, 2001).

Page 59: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

48

Figura 1-3–Diagrama de McKelvey (Ross, 1998).

Em 1997 a SPE/WPC aprovaram um conjunto de definição e classificação para

as reservas de petróleo. Em 2000 a SPE/WPC juntamente com AAPG (American

Association of Petroleum Geologists) publicou um outro documento de forma a

complementar o sistema de classificação e definição das acumulações de petróleo.

Neste artigo foi proposto também um novo sistema de classificação visando a

otimização e uma melhor gestão de carteiras de projetos (SPE, 2001).

A metodologia SPE/WPC para reservas é baseada no grau de certeza, isto é,

uma abordagem probabilística associado ao volume de óleo:

Page 60: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

49

• Reservas Provadas18, Reservas P90 ou Reservas P (provadas): são as reservas que

existem com 90% de probabilidade de ocorrência (técnica e comercialmente

recuperáveis);

• Reservas Prováveis, Reservas P50 ou Reservas 2P (provadas + prováveis): são as

reservas que existem com 50% de probabilidade de ocorrência (técnica e

comercialmente recuperáveis);

• Reservas Possíveis, Reservas P10 ou Reservas 3P (provadas + prováveis +

possíveis): são as reservas que existem com 10% de probabilidade de ocorrência

(técnica e comercialmente recuperáveis).

A quantidade e a classificação de reservas estão sujeitas a contínuas revisões.

Aumentos dos preços de produção e processamento aumentam as reservas,

transformando recursos em reservas, assim como, dentro das próprias definições 1P, 2P

e 3P pode haver reclassificações (mudança de 2P para 1P, por exemplo). Por exemplo, a

elasticidade dos gastos mundiais em E&P em relação ao preço do petróleo (entre 1998 e

2004) foi, média, de 0,5 (EIA, 2004c). Adicionalmente, avanços tecnológicos19 e de

18 Nos EUA a SEC (Securities and Exchange Commission) – órgão regulador do mercado financeiro norte-americano – propõe para as companhias do setor petrolífero classificar como reservas provadas somente aquelas com alto grau de probabilidade de ocorrência e que possam ser produzidas com a tecnologia vigente à preços competitivos. Devido a esta metodologia da SEC as reservas estimadas pelas agências internacionais se aproximam bastante das reservas P90. Este fato, porém, tende a subestimar as reservas norte-americanas e mesmo as reservas mundiais de petróleo, haja vista que matematicamente, a soma de reservas P90 de uma determinada região, tem como resultado um valor menor que o real. Segundo os autores Campbell e Laherrère o mais indicado é o uso das reservas P50 na totalização das reservas, pois além de oferecerem um número que abrange as reservas provadas e prováveis, as reservas P50 ao se somarem tendem a minimizar os erros. Como as reservas P90 tendem a ser subestimadas, ao longo da produção elas também comportam um número maior de incrementos. Isto explica o aumento nas reservas norte-americanas e mundiais mesmo sem haver ocorrido novas descobertas significativas. Para o estabelecimento das condições econômicas a serem utilizadas na estimativa das reservas pode-se considerar o histórico de preços de petróleo e custos associados, bem como as obrigações contratuais, procedimentos corporativos e regulamentações governamentais. 19 No caso de E&P, especificamente, pode-se citar os seguintes avanços: desenvolvimento de Sísmicas 3-D e 4-D; desenvolvimento da perfuração direcional; desenvolvimento de plataformas flutuantes, especialmente os navios-sonda FPSO; desenvolvimento da árvore de natal molhada: controle do poço no fundo do mar; posicionamento dinâmico dos navios, plataformas e sistemas de ancoragem e minimização

Page 61: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

50

conhecimento (por exemplo, novos modelos de interpretação geológica) são

importantes no E&P de petróleo, especialmente ao aumentar o conhecimento das

reservas e reduzir custos de produção (SZLO, MACHADO, SCHAEFFER, 2006).

As reservas petrolíferas mundiais encontram-se em bacias sedimentares

concentradas em algumas regiões. Dentre essas regiões algumas são privilegiadas por

armazenarem maiores reservas em volume e, principalmente, em melhores condições

geológicas e geofísicas de exploração e produção.

É o caso do Oriente Médio que concentra, atualmente, 61,9% das reservas

provadas totais de petróleo. Desse total, a Arábia Saudita concentra 22% das reservas

mundiais de petróleo. O padrão de divisão das reservas (apresentado na Tabela 1-8) é o

mesmo desde a descoberta dos primeiros campos gigantescos de petróleo no Oriente

Médio, na década de 20 do século passado.

dos efeitos de flutuação da plataforma; desenvolvimento de cabos flexíveis (risers) para conexão com as árvores de natal (linhas que recebem petróleo, levam fluidos para o poço e permitem seu controle à distância); métodos de recuperação avançada (EOR); sistema de separação submarina (downrole produced water separation); core system (CFS) (SZLO, MACHADO, SCHAEFFER, 2006).

Page 62: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

51

Tabela 1-8 – Distribuição das reservas de petróleo (2005)

País Reservas de Petróleo (Bilhões de barris)

%

Estados Unidos 29,3 2,4% Canadá 16,5 1,4% México 13,7 1,1% Total América do Norte 59,5 5,0% Venezuela 79,7 6,6% Brasil 11,8 1,6% Outros 12,0 1,0% Total América do Sul e Central 103,5 8,6% Rússia 74,4 6,2% Kazaquistão 39,6 3,3% Outros 26,5 2,2% Total Europa e Eurásia 140,5 11,7% Arábia Saudita 264,2 22,0% Iran 137,5 11,5% Iraque 115,0 9,6% Kuwait 101,5 8,5% Emirados Árabes 97,8 8,1% Outros 26,7 2,22% Total Oriente Médio 742,7 61,9% Líbia 39,1 3,3% Nigéria 35,9 3,0% Argélia 12,2 1,0% Outros 27,1 2,2% Total África 114,3 9,5% China 16,0 1,3% Índia 5,9 0,5% Outros 18,3 1,5% Total Ásia/Pacifico 40,2 3,4%

Total 1200,7 100,0% Fonte:BP (2006)

Analisando os números oficiais das reservas mundiais de petróleo é possível

verificar que os mesmos variam de forma considerável de uma associação internacional

para outra. A razão para esta variabilidade abrange uma série de questões de natureza

técnica, econômica e política. Em LAHERRÈRE (2001a) as informações sobre as

reservas mundiais de petróleo são divididas em dois grupos: reservas políticas (oficiais)

Page 63: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

52

e reservas técnicas (determinadas a partir de projeções estatísticas). Enquanto as

chamadas reservas políticas – oriundas do American Petroleum Institute (API), BP

Review, World Oil (WO), Oil and Gas Journal (OGJ), OPEP e outras organizações do

setor – estão em crescimento, as reservas técnicas se apresentam em declínio acentuado.

Segundo LAHERRÈRE (2001b) os números apresentados paras as reservas oficiais não

são os mais próximos da realidade, pois necessitam de critérios técnicos mais precisos e

realistas.

Reservas mundiais de petróleo: “Políticas” (API, BP, World Oil, Oil & GasJournal, OPEC) & Técnicas

Res

erva

s G

b

Reservas mundiais de petróleo: “Políticas” (API, BP, World Oil, Oil & GasJournal, OPEC) & Técnicas

Res

erva

s G

b

Figura 1-4–Reserva Técnica x Reserva Política (LAHERRÈRE, 2001b).

A concentração das reservas é uma questão central na discussão da dimensão

geopolítica da indústria petrolífera mundial. Os países do Oriente Médio foram

beneficiados, tendo em vista que eles são possuidores das maiores e melhores reservas

petrolíferas. Por melhores reservas entende-se que são aquelas detentoras de condições

geofísicas e geológicas que facilitam sua exploração e uma localização de fácil acesso,

Page 64: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

53

possuindo, assim, um menor custo para serem exploradas e desenvolvidas, ou seja, para

entrarem em produção.

Este fato pode ser verificado através da diferença de custos existente entre os

vários tipos de reservas petrolíferas. O custo técnico de produção de 5 a 6 dólares por

barril não passa de uma média em uma extensa região que vai de custos inferiores a 1

dólar na maioria dos países do Oriente Médio, até 8-10 dólares na zonas difíceis do

Mar do Norte. Muitos fatores explicam essas diferenças: as características geológicas de

cada região petrolífera (alguns falam do Oriente Médio como um monstro geológico,

para acentuar o caráter excepcional de suas jazidas); as condições de acesso aos locais

de perfuração (em terra ou no mar, principalmente); a antiguidade da exploração e a

recorrência ou não de técnicas de recuperação assistida20 (MARTIN, 1992). Além disso,

o petróleo extraído no Oriente Médio é de qualidade superior (mais leve) do que o

petróleo extraído em muitas outras áreas, o que agrega valor ao seu preço21.

A Produção Mundial de Petróleo

Em relação à produção de petróleo, o Oriente Médio é responsável pela maior

parte da produção, porém não na mesma proporção de suas reservas petrolíferas. O

Oriente Médio representou, em 2005, 25% da produção total de petróleo (BP, 2006).

20 Métodos desenvolvidos para serem utilizados após a injeção de água e gás nos poços, a fim de recuperar um maior volume de petróleo. 21 Existem hoje cerca de 200 tipos de crus divididos em função do seu grau 0API, que mede a densidade específica do petróleo. Os óleos mais leves fornecem mais derivados leves (como a gasolina, o óleo diesel e o gás liquefeito de petróleo – GLP) nas unidades de separação do refino. De acordo com o grau 0API, os petróleos dividem-se em: Leves (0API>30); Médios (22<0API<30); Pesados (10<0API<22); Ultrapesados (0API<10).

Page 65: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

54

Tabela 1-9 – Distribuição da produção de petróleo (2005)

Região Milhões de barris/dia

%

América do Norte 13,6 16,8%

América do Sul e America Central 7,0 8,6%

Euroasia (inclui a Ex-URSS) 17,5 21,6%

Oriente Médio 25,1 31,0%

África 9,8 12,1%

Asia e Pacífico 8,0 9,9%

Total 8122 100%

Fonte: BP (2006)

Atualmente, a diferença entre os maiores produtores e os menores não é tão

grande quanto há algumas décadas. Isto se deve às estratégias adotadas por diversos

países consumidores e pelas companhias privadas, principalmente após os choque

petrolíferos, na busca de reduzirem sua dependência em relação ao petróleo do Oriente

Médio.

É importante destacar a diferença entre a quantidade de reservas disponíveis

econômica e tecnicamente no Oriente Médio e o volume total de sua produção, estes

aspectos demonstram o tamanho do potencial de produção disponível dessa região. Esta

capacidade de aumentar sua produção é um trunfo utilizado pelos países do Oriente

Médio, desde a criação da OPEP, para tentarem controlar o preço do petróleo no

mercado internacional. Adicionalmente, esta região esta localizada geograficamente

entre os mercados consumidores do Ocidente e do Oriente, o que amplia as

oportunidades para os países produtores desta região aumentarem sua participação do

mercado.

Page 66: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

55

1.2.2 A Estrutura de Demanda por Petróleo

A repartição geográfica do consumo do petróleo é bem distinta da repartição da

sua produção, evidenciando a dependência de alguns países consumidores em relação

ao petróleo de outros países.

Como pode ser percebido ao analisar a Tabela 1-10, a região que se destaca por

ser a maior consumidora de petróleo do mundo é a América do Norte, reponsável por

29,5% do consumo mundial em 2005. Nessa região destacam-se os EUA, com 24,6%

do consumo mundial de petróleo (BP, 2006).

Tabela 1-10 – Distribuição da demanda de petróleo (2005)

Região Milhões de barris/dia %

América do Norte 24.875 29,5

América do Sul e America Central 4.776 5,8

Euroasia (inclui a Ex-URSS) 20.350 25,1

Oriente Médio 5.739 7,1

África 2.763 3,4

Ásia e Pacífico 23.957 29,1

Total 82.460 100

Fonte: BP (2006)

Conforme visto anteriormente, a América do Norte produziu em 2005, 16,8% do

total e consumiu 29,5%; a Ásia e Pacífico produziu em 2005, 9,8% do total e consumiu

29,1%; como o volume de petróleo mundialmente produzido (81,1 milhões de

barris/dia) foi próximo ao volume consumido (82,5 milhões de barris/dia), estas

informações nos indicam que essas regiões são grande importadoras de petróleo,

22 Valor equivalente a 3.895 milhões de toneladas de petróleo.

Page 67: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

56

enquanto que o Oriente Médio, que produziu 31% e consumiu 7,1% do total, em 2005,

é um grande exportador (BP, 2006).

Esta disparidade entre as regiões que mais produzem e as que mais consomem é

uma constante presente na indústria petrolífera mundial desde quando o EUA deixaram

de ser um país exportador líquido e passaram a um país importador líquido, depois da 2a

Guerra Mundial.

Na década recente, o crescimento da demanda por derivados de petróleo tem se

comportado de maneira diferente nas várias regiões do mundo. O crescimento da

demanda por destilados médios vem sendo impulsionado pela acentuada expansão da

aviação e do transporte rodoviário e pelo crescimento do uso de óleo diesel em veículos

comerciais, particularmente nos países em desenvolvimento da Ásia. Nos mercados

maduros, tais como América do Norte e Europa, cuja estrutura produtiva já não é tão

intensiva em energia, o crescimento da demanda por cru (petróleo) vem se estagnando

nas últimas décadas, ainda que a demanda por diesel tenha crescido a taxas elevadas,

em detrimento da gasolina. A Figura 1-5 mostra claramente o aumento do consumo de

petróleo pelos países asiáticos a partir no final do século passado e a estagnação do

consumo de petróleo pelos países da Euroasia.

Page 68: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

57

Mil

Bar

risdi

a

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

1965

1967

1969

1971

1973

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

2005

America do Norte América do Sul e América Central

Euroasia Oriente Médio

Africa Ásia e Pacífico

Figura 1-5–Comportamento do crescimento da demanda de petróleo de 1965 a 2005 (BP,

2006).

Page 69: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

58

2 FORMAÇÃO DOS PREÇOS DE PETRÓLEO NO MERCADO INTERNACIONAL

Existem diferentes fases nas tendências de preço de petróleo, conforme

analisado no capítulo 1. A primeira foi marcada pela concorrência predatória logo após

a descoberta do Coronel Drake. Com o surgimento das grandes companhias petrolíferas

e a formação do cartel das “sete irmãs”, o preço do petróleo no mercado internacional

passou a ser administrado pelas majors. O início do processo de renegociação das

concessões e a criação da OPEP reduziram o poder das majors, tornando a OPEP o

price-maker. O comportamento do preço internacional do petróleo permaneceu

relativamente estável em períodos de diferente duração durante os quais o benchmark, o

Árabe Leve (34°API), permaneceu constante em dólares nominais. Após os choques

petrolíferos da década de 70 os preços deixaram de ser estáveis e tornaram-se mais

voláteis.

A última fase, vigente desde 1987 e que permanece até hoje, a OPEP não mais

fixa o preço de referência. O atual sistema de formação dos preços internacionais do

petróleo foi estabelecido através das transformações pelas quais este mercado passou

após os choques petrolíferos. Assim, o aumento da importância do mercado spot,

juntamente com as transformações estruturais da indústria, possibilitou a dissolução da

antiga prática de preços de referência estabelecida pela OPEP, e introduziu um novo

elemento às cotações do petróleo: a volatilidade.

Os países exportadores agora vendem seu petróleo no mercado internacional

com base em uma fórmula que usa como referências os preços spot e futuro de

Page 70: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

59

determinados crus. Em geral, a fórmula de preço de um determinado petróleo no

mercado internacional estabelece a diferença de preço em relação a um petróleo de

referência como o West Texas Intermediate (WTI), Brent, ou Dubai. Este diferencial de

preço reflete basicamente as diferenças de qualidade e de custos de refino e transporte

do petróleo em questão e do petróleo de referência utilizado na fórmula.

O WTI (West Texas Intermediate) é um petróleo com grau API entre 38º e 40º e

teor de enxofre de 0,30% p/p, cuja cotação diária no mercado spot reflete o preço dos

barris entregues em Cushing, Oklahoma, nos EUA. Serve de referência para os

mercados de derivados dos EUA, sendo negociado em Nova Iorque. O Brent23, um óleo

cru light e sweet do Mar do Norte, é também um dos melhores indicadores de preço

para o cálculo de preços no mercado internacional de petróleo. A cotação Brent é

publicada diariamente pela Platt's Crude Oil Marketwire, que reflete o preço de cargas

físicas do petróleo Brent embarcadas de 7 a 17 dias após a data de fechamento do

negócio, no terminal de Sullom Voe nas Ilhas Shetland, no Reino Unido. É uma mistura

de petróleos produzidos no mar do Norte, oriundos dos sistemas petrolíferos Brent e

Ninian, com grau API de 39,4º e teor de enxofre de 0,34% p/p. Serve de referência para

os mercados de derivados da Europa e Ásia.

Existem muitos outros tipos de óleo cru e seus preços são freqüentemente

expressos como cru diferencial para Brent ou WTI, dependendo da diferença de

qualidade e localidade. O preço do petróleo é sensível a condições de crescimento

econômico mundial, padrões de tempo e sazonalidade, como também da capacidade de

refinamento e transportes regionais.

23 Brent era o nome de uma antiga plataforma de petróleo (Brent Spar) da Shell no mar do Norte.

Page 71: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

60

A formação do preço do petróleo é resultado da relação de forças existente entre

os agentes estruturalmente heterogêneos que pertencem a esta indústria, pois o petróleo

não é uma commodity convencional. Desta forma, seu preço não é simplesmente

estabelecido de acordo com o equilíbrio entre a oferta e a demanda. Na indústria

petrolífera, o equilíbrio entre a oferta e a demanda é o resultado da composição de

vários fatores. Além disso, o petróleo é um bem de demanda inelástica em relação às

variações no seu preço (no curto prazo), isto é, as manipulações no seu preço, no curto

prazo, têm pouca influência sobre a sua demanda.

2.1 A Participação dos Agentes da Indústria Petrolífera na Formação do

Preço do Petróleo

Para entender esta especial formação dos preços no mercado petrolífero, faz-se

necessária a apresentação dos seus principais agentes, bem como a descrição das

principais características inerentes a esta indústria. Os principais agentes são:

1) As grandes companhias petrolíferas internacionais, ou majors, que atuam

diretamente na produção e que controlam o refino do petróleo em escala mundial.

2) Um grupo de países em desenvolvimento, detentores de grandes reservas

petrolíferas, reunidos na OPEP, onde a produção é feita direta ou indiretamente sob o

controle de seus governos.

Page 72: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

61

3) Outros países produtores, desenvolvidos ou em desenvolvimento, que não estão

associados, como os pertencentes a OPEP, e que, desta forma, tomam suas decisões de

produção individualmente e não em conjunto.

4) Companhias petrolíferas independentes de portes diferenciados. Estas são definidas

deste modo por não agirem em conjunto com outras companhias ou formando cartéis.

5) Grandes países consumidores, industrializados e em desenvolvimento, pertencentes à

IEA (International Energy Association).

6) Outros países consumidores em desenvolvimento, não associados a IEA.

As transações que se realizam no mercado petrolífero internacional resultam das

decisões tomadas por esses agentes que não têm as mesmas condições para competir,

sendo uns detentores de reservas de baixo custo, outros politicamente fortalecidos,

alguns ricos e outros pobres, necessitando os últimos de maiores volumes de

arrecadação com a renda petrolífera, entre outras diferenças.

Deste modo, em razão das disparidades existentes no mercado petrolífero, as

decisões nele efetuadas são realizadas de acordo com os interesses de alguns de seus

agentes e influenciadas pelas questões de riqueza, poder e ideologia que envolvem esta

indústria. Assim, diferentemente das outras commodities, ditas convencionais, o preço

do petróleo é determinado refletindo uma estrutura de poder e grau de controle dos

agentes pertencentes a este mercado. Além disso, a convergência e a divergência dos

agentes econômicos na indústria petrolífera mundial, entre os interesses econômicos e

Page 73: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

62

políticos, muitas vezes os levam a firmar compromissos e muitas vezes provocam

rupturas entre os mesmos, causando conseqüências como: desequilíbrio entre a oferta e

a demanda, guerra de preços, entre outras.

O nível dos preços é muitas vezes determinado por um julgamento implícito

sobre o poder dos países produtores. Os países consumidores temem um súbito corte de

produção e reconhecem que os principais produtores, países do terceiro mundo,

necessitam extrair renda do petróleo para se manterem politicamente estáveis e assim

manterem o suprimento estável.

2.2 Sistema de Formação do Preço dos Petróleos de Referência

Para analisarmos a formação de preço dos petróleos no mercado internacional é

necessário investigar-se o processo de formação do preço dos petróleos de referência.

Petróleos utilizados como "benchmarkers" devem ser comercializados com

freqüência num mercado transparente e acessível a um número grande de participantes.

O mercado destes petróleos deve também ser razoavelmente líquido, ou seja,

compradores e vendedores devem poder executar rapidamente a transação desejada. Os

preços dos petróleos de referência são formados no seio de mercados que apresentam

características que os distanciam do mercado de concorrência perfeita, o qual deve

satisfazer algumas condições: ter grande número de participantes; ter informações

disponíveis para todos os agentes; permitir arbitragem geográfica e temporal.

Page 74: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

63

Nos mercados de concorrência perfeita, os preços tendem a convergir para os

custos marginais de produção e sinalizam com poucas distorções o surgimento de

desequilíbrios entre a oferta e a demanda. Essa sinalização permitiria por si só um

ajuste desses desequilíbrios seja no curto prazo - através da transferência de cargas para

onde os preços estejam mais altos - seja no longo prazo - através da realização de

investimentos.

Nos mercados de petróleo, apesar do número de participantes ser grande,

encontramos uma concentração em determinados segmentos dos mercados. No lado da

oferta, o Oriente Médio é responsável por mais de 50% e a OPEP por mais de 60% do

petróleo comercializado no mercado internacional (BP, 2006).

Nos mercados que têm papel fundamental na determinação dos preços de

referência, a concentração também é grande: o mercado físico do Brent é dominado por

um grupo de menos de uma dúzia de companhias, cujo comportamento determina o

preço de aproximadamente 20 milhões bbl/d de petróleo; a BP possui 40% da

capacidade de armazenamento em Cushing, onde o WTI é precificado (BP, 2006). Em

função deste poder de mercado a BP teve que vender facilidades da Arco para ter a

autorização para comprá-la. Companhias integradas gigantescas, surgidas após os

movimentos de consolidação, exibem atualmente tremendo poder de mercado,

financeiro e industrial. O acesso destas às capacidades de refino, de armazenamento e

aos nós de suprimento onde petróleos de referência são precificados lhes dá uma

flexibilidade que as "trading companies" não têm. As super majors não têm o poder de

elevar os preços tão brutalmente como a OPEP, mas têm a habilidade de usar os

petróleos de referência para alavancar, mesmo que brevemente, as margens.

Page 75: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

64

Os petróleos de referência apresentam uma base física estreita: a produção do

Brent, na verdade um blend de petróleos, atualmente de 450 mil bbl/d; a do WTI é de

400 mil bbl/d; a do Dubai é de apenas 170 mil bbl/d, volume que levanta dúvidas

quanto a sua viabilidade como referência de preço, para aproximadamente 10 milhões

bbl/d de petróleo do Golfo Pérsico, destinados ao mercado Asia-Pacífico; Oman, o

mercado-spot de maior liquidez no Golfo Pérsico, com volume de 400 mil bbl/d

comercializado no spot, tem sido considerado a melhor alternativa de "benchmark" para

o Dubai.

A base física estreita pode facilitar manipulações de aperto nos mercados dos

petróleos de referência. O mercado físico de um petróleo fica apertado quando, por

algum motivo, não há disponibilidade suficiente no curto prazo. Como exemplo,

podemos citar o "squeeze" do Brent em setembro/00. Em agosto/00, no começo do

comércio físico do Brent para entrega em Setembro, havia poucas cargas disponíveis do

petróleo, pois várias cargas haviam sido destinadas ao mercado Ásia-Pacífico. A

drástica redução de liquidez repercutiu profundamente sobre os preços do mercado do

Brent. O preço do Brent datado, vendido em geral com desconto de aproximadamente

US$1,50/bbl em relação ao WTI, apresentou um prêmio de mais de US$2/bbl sobre o

WTI (BP, 2006).

Mas o mercado tem seus mecanismos de regeneração e o efeito danoso sobre os

preços durou menos de vinte dias. No rescaldo, ficou uma ação judicial movida pela

Tosco, refinadora americana prejudicada pelo squeeze, contra a Arcádia, companhia de

trading, acusada de "conduta ilegal e monopolista". Ao final, a disputa foi acertada fora

Page 76: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

65

dos tribunais através de acordo entre as partes o que evitou sentenças judiciais que

poderiam preconizar regulamentações mais duras. Este squeeze do mercado físico do

Brent, que elevou seu preço em aproximadamente US$3/bbl, pode ser considerado

pálido se comparado com o squeeze massivo promovido pela OPEP, que elevou os

preços de US$10/bbl para mais de US$30/bbl em 2000 (BP, 2006).

A informação sobre os fundamentos do mercado de petróleo é pobre: quanto à

demanda, há uma demora grande na publicação de dados. Os dados de produção

incluem bastante trabalho de adivinhação por parte de jornalistas; as avaliações

semanais de estoques são incompletas e freqüentemente incompatíveis com os dados de

produção e consumo. Assim, em qualquer instante, não se conhece a situação corrente

do balanço mundial de oferta e demanda de petróleo. O que realmente move os

mercados são as percepções dos traders de desbalanceamentos locais, bem como a

forma como os segmentos comerciais das companhias as interpretam e como concebem

serem interpretadas notícias que podem ter impacto nos preços.

O mercado físico de petróleo, por si só, não fornece uma série contínua de

preços, cada transação comercial é única e diferente. Cada carga de Brent tem uma data

particular e, sem avaliações independentes de preço, um conjunto de transações não

poderia configurar um benchmark.

Há muito tempo avaliações independentes de preço vêm sendo usadas nos

contratos físicos. Transações comerciais envolvendo enormes volumes de petróleo são

ligadas a estas avaliações, desde as vendas oficiais dos governos do Golfo Pérsico até as

vendas spot, ligadas ao Brent datado. Os instrumentos financeiros são derivados do

Page 77: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

66

mercado físico e a ele estão ligados, seja por um mecanismo de entrega física, como no

caso dos contratos do WTI no NYMEX (New York Mercantile Exchange), seja por

avaliações dos preços no mercado futuro24, caso do Brent no IPE (International

Petroleum Exchange), ou ainda por avaliações dos preços prompt, como no caso do

comércio de swaps. Sem esta ligação, que precisa ser completamente definida em

termos de volume, qualidade, lugar e tempo, os preços dos derivativos se descolariam

da realidade física e não teriam qualquer significado.

Nos derivativos25, a transparência dos preços é relativa: os preços são

transparentes no IPE e NYMEX, mas perdem um pouco dessa transparência no

mercado forward do Brent e nos derivativos over-the-counter (OTC)26 como swaps27 e

CFDs28 A arbitragem entre dois mercados físicos de petróleo, por exemplo Brent e

Dubai, é imperfeita devido às longas distâncias que podem estar envolvidas. Em

conseqüência, o mercado global parece ser dividido em dois blocos principais: a Bacia

do Atlântico e Bacia da Ásia. Essa fragmentação introduz distorções na formação dos

preços dos petróleos em geral, pois os preços dos petróleos de referência sofrem, além

24 Mercados organizados, onde podem ser assumidos compromissos padronizados de compra ou venda (contrato) de uma determinada mercadoria, ativo, financeiro ou índice econômico, para liquidação numa data futura preestabelecida. 25 Mercados Derivativos são aqueles cujas cotações/preços dependem de um outro mercado mais básico. Os exemplos mais comuns de derivativos são os mercados de swaps, termos futuros e opções. Por exemplo, o mercado de dólar é básico, pois sua cotação não tem transparência direta de outros mercados, mas, sim, da procura e oferta pela moeda. Ao passo que uma opção de compra de dólar tem sua cotação derivando à cotação do dólar. 26 Os derivativos transacionáveis no mercado de balcão (também chamados de derivativos OTC) correspondem a contratos entre duas partes realizados fora das instalações centralizadas de negociações tais como as bolsas de futuros. Neste tipo de mercado as duas contrapartes negociam termos, tais como preço, vencimento e tamanho de contrato a fim de fazê-lo sob medida para ir de encontro às suas necessidades econômicas. Vale mencionar, que neste tipo de contrato em que as duas partes estão envolvidas diretamente, elas estão expostas ao risco de crédito da parte oposta. 27 Trata-se de um dos principais instrumentos utilizados por empresas para proteção financeira de riscos de taxas de câmbio e de juros. O objetivo dos contratos de swap é não permitir desequilíbrios entre os ativos e passivos das corporações por oscilações dos mercados financeiros. 28 CFD (Contrato por Diferença) são contratos onde o produtor e o consumidor concordam em pagar a diferença quando o preço está favorável para um e desfavorável para outro.

Page 78: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

67

da influência de condições globais, o impacto das condições do balanço local de oferta

e demanda nas regiões onde são produzidos.

A arbitragem entre os dois instantes de tempo nos mercados de petróleo foi

facilitada pela criação de contratos de petróleo no mercado de futuros e de outros

instrumentos financeiros. A proliferação desses instrumentos de trading ampliou as

oportunidades de hedging, operação na qual o trader fixa antecipadamente os preços de

compra e/ou de venda do petróleo, negociados no mercado físico. Os preços do

mercado de futuros não constituem previsões dos níveis futuros de preço. Os preços

futuros, juntamente com preços cash e spot, fornecem informação ao trader, ao

refinador e ao produtor sobre a disponibilidade (produção + estoques) de petróleo cru.

Foi demonstrado que os spreads [preços cash menos preços futuros] serão positivos

(backwardation) quando os estoques estiverem baixos, e negativos (contango) quando

os estoques estiverem altos (MENDES, 2003).

A compreensão do papel do mercado de futuros levou os refinadores a adotarem

um comportamento bem definido: eles reduzem - ou no mínimo não aumentam - seus

estoques, se o mercado está em backwardation e os aumentam se, o mercado está em

contango. O problema com este mecanismo é que se cria um círculo vicioso em ambos

os casos:

Vórtice de backwardation - Se os estoques caem, então os preços cash (ou no primeiro

mês seguinte) aumentam, alargando o backwardation, que realimenta a manutenção de

estoques baixos. Como exemplo, lembramos o ocorrido em 1996, que começou com

estoques baixos, pois, em busca de redução de custos, refinadores de todo o mundo,

Page 79: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

68

passaram desde o início da década de 1990 a operar segundo o princípio 'just in time'.

Abriu-se assim o backwardation que foi reforçado pela expectativa da implementação

do programa 'oil for food' de exportações iraquianas. O preço do WTI aumentou de

menos de US19/bbl em jan/96, para mais de US$25/bbl em dez/96. Em fevereiro/97,

com o reinício das exportações iraquianas, a situação se normalizou e o preço do WTI

retornou para a banda US$18-20/bbl.

Vórtice de contango - Se os estoques sobem, então os preços cash caem realimentando

formação adicional de estoques - nesse caso, a retroalimentação cessa quando não

houver mais capacidade de armazenamento. Como exemplo, ressaltamos o vórtice de

contango de 1998. A redução da demanda global provocada pelo inverno ameno e pela

crise Asiática, aliada ao aumento das cotas de produção da OPEP decidido em dez/97

provocou um aumento de estoques que, por sua vez, abriu o contango. O vórtice de

contango trouxe o preço do WTI até quase US$11/bbl, apesar dos tímidos cortes de

produção promovidos pela Arábia Saudita, Venezuela e México, ainda em 1998. O

círculo vicioso só foi desfeito após o massivo corte de produção da OPEP, decidido em

mar/99.

Com base na análise que acabamos de fazer, concluímos que as variações de

curto prazo dos preços dos petróleos são mais respostas a mudanças de sentimentos dos

agentes que operam no mercado do que respostas a variações nos fundamentos de oferta

e demanda.

Page 80: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

69

2.3 A Economia dos Recursos Exauríveis e as Rendas Petrolíferas

Por se tratar de um recurso natural não-renovável, o petróleo, desde o início da

formação de sua indústria, sofre pressões relacionadas com a sustentabilidade de sua

oferta no longo prazo. No seu surgimento, a indústria petrolífera já teve alguma

dificuldade para se estabelecer no mercado energético mundial, pois os possíveis

usuários desta fonte de energia tinham o receio de que ela esgotasse rapidamente e

assim ocorressem problemas de suprimento. A falta de tecnologias para se descobrir e

explorar novas reservas agravava este problema.

No início dos anos 70, o aparecimento das teses neomalthusianas29 e a

publicação do livro do Clube de Roma, advogando a imposição de limites ao

crescimento e o estímulo à adoção de medidas conservacionistas, sob a pena de a

humanidade passar por uma era de sérias privações, reacenderam o interesse pelo

estudo dos recursos naturais, que passaram a ser examinados pelo ângulo de sua

inerente exauribilidade (LODI, 1989).

A partir de então, duas teorias se estabeleceram: a citada acima, que previa um

fim trágico para os consumidores de recursos naturais não-renováveis e outra que

assumia que o aumento do preço de um recurso natural, decorrente do seu esgotamento,

funcionaria como um estímulo à descoberta de substitutos mais baratos, viabilizados

através de pesquisas e avanços tecnológicos.

29 Malthus acreditava que o crescimento da população obedecia a uma progressão geométrica enquanto que o crescimento dos suprimentos alimentícios dava-se de acordo com uma progressão aritmética, estando os humanos fadados a uma crise de escassez dos alimentos.

Page 81: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

70

2.3.1 Princípio Fundamental de Hotelling

Antes das previsões trágicas realizadas em relação ao futuro do preço do

petróleo, em conseqüência dos choques petrolíferos, poucas teorias a respeito da

exauribilidade dos recursos naturais foram desenvolvidas durante o século XX. Porém,

uma abordagem particular, elaborada por HOTELLING (1931), merece destaque. Esta

teoria buscava fornecer elementos para verificar de que maneira a adoção de medidas

conservacionistas poderia conduzir a uma exploração eficiente dos recursos exauríveis.

HOTELLING supôs que o proprietário de um recurso exaurível deseja

maximizar o valor presente de seus lucros futuros. Esta suposição básica foi, mais tarde,

denominada por SOLOW (1974) de “princípio fundamental” da economia dos recursos

exauríveis (LODI, 1989).

Na elaboração do “princípio fundamental” da economia dos recursos exauríveis,

foram utilizados os casos extremos de concorrência e monopólio. Concluiu-se, no

primeiro caso, a existência de uma tendência a se maximizar a utilidade total do

recurso. Contudo, foi considerado que, mesmo sob concorrência, possa haver um

elemento de monopólio e uma tendência ao retardo da produção e, ao mesmo tempo, à

elevação do preço ( LODI, 1989).

Buscando analisar esta teoria pelo lado dos preços dos recursos naturais

exauríveis, chega-se à seguinte formulação alternativa: se o preço líquido do recurso

cresce mais devagar do que a taxa de juros, toda produção postergada, ou seja, deixada

de ser produzida no momento atual para ser produzida posteriormente, implicará numa

Page 82: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

71

redução dos lucros atualizados. Assim, o proprietário deste recurso procurará extrair e

comercializar seu estoque no menor tempo possível, para investir o resultado em setores

mais lucrativos. Ao contrário, se o preço líquido do recurso cresce mais rápido do que a

taxa de juros há um incentivo para reduzir a extração corrente do recurso, já que a

melhor alternativa de investimento é deixá-lo na terra à espera de maiores lucros no

futuro. Logo, a única condição de se manter positivamente ao longo do tempo a

produção de um recurso exaurível é que seu preço líquido se mova ao ritmo da taxa de

juros, ou seja, na mesma proporção e direção desta (LODI, 1989).

Dando seqüência à análise acima, é importante notar que caso um proprietário

detenha duas fontes produtoras de algum recurso esgotável, com custos diferentes,

apenas uma será explorada a cada instante, e será a de menor custo. Sendo assim,

considerando todas as possíveis fontes de um recurso exaurível estas serão exploradas,

“teoricamente”, respeitando a ordem da fonte de menor custo para a de maior custo

(LODI, 1989).

Esta lógica de exploração dos recursos não-renováveis indica que o custo

marginal de produção do recurso é crescente ao longo do tempo e que o seu custo de

uso30 também é uma função crescente no tempo com a taxa de juros. Sendo assim,

conclui-se, segundo o “princípio fundamental” que o preço de mercado de um recurso

exaurível, que é formado pelo seu custo marginal de produção mais o custo de uso deste

recurso, tende a crescer indefinidamente no tempo, conforme recursos com maiores

30 O custo de uso é uma parcela presente no preço de mercado de um recurso exaurível, quando em concorrência, que reflete o custo de oportunidade de não se poder usar o recurso já extraído num momento futuro.

Page 83: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

72

custos de exploração forem sendo explorados e o custo de uso também for aumentando

(LODI).

Como o preço de mercado e a produção corrente estão relacionados com a curva

de demanda do recurso, haverá um instante de tempo onde o preço será suficientemente

elevado para inibir toda a demanda e a produção cair a zero. Se a explotação31 for

idealmente conduzida, nesse mesmo instante o recurso estará integralmente exaurido

(LODI, 1989). Esta seria a lógica de exploração e exaustão de um recurso natural

esgotável de acordo com a teoria dos recursos exauríveis.

Contudo, este padrão de exploração dos recursos naturais não-renováveis até a

sua exaustão final é uma idealização do modelo. No caso do petróleo, devido às

características peculiares de sua indústria, mesmo ele sendo um recurso natural

exaurível, suas reservas não são exploradas respeitando-se o “princípio fundamental” da

economia dos recursos exauríveis, e sim de acordo com a vontade e o interesse dos

agentes pertencentes a este setor e respondendo às relações de força e de pendência

existentes entre eles.

Desta forma, o “princípio fundamental” não se concretiza na realidade em

função de três fatores principais: as questões geopolíticas; o conhecimento geológico e

o progresso tecnológico.

No caso das questões geopolíticas, estas influenciam as tomadas de decisão dos

diversos agentes da indústria petrolífera e muitas vezes fazem com que algumas

31 Explotação: Corresponde as etapas de exploração e produção de petróleo.

Page 84: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

73

reservas de custos superiores sejam exploradas antes das de custos inferiores,

contrariando a lógica do “princípio fundamental” dos recursos exauríveis. É o caso dos

países não-OPEP que, mesmo tendo custos de exploração e produção maiores do que os

dos países da OPEP, são estimulados a explorar suas jazidas em resposta aos fatores

geopolíticos e a necessidade de reduzirem sua dependência em relação ao petróleo

vindo do Oriente Médio. As companhias internacionais também buscam reservas em

outras localidades, que não os países do Oriente Médio, para explorarem, tendo os

mesmos motivos dos países não-OPEP. Ambos não se preocupam com a lógica de

exploração destes recursos.

O conhecimento geológico pode ampliar a base conhecida de reservas além de

prover informações sobre o potencial de descobertas futuras e do risco a elas associado.

O progresso tecnológico permite o acesso econômico a recursos até então não

disponíveis além de poder alterar a demanda através da introdução de novos processos

técnicos menos intensivos em recursos naturais, ou pelo desenvolvimento de recursos

alternativos ou, ainda, pela substituição dos recursos exauríveis por outros fatores de

produção (sobretudo trabalho e capital) (LODI, 1989).

No entanto, tanto para a ampliação do conhecimento geológico como para o

avanço tecnológico são necessários investimentos pesados que, do ponto de vista

econômico, muitas vezes devem ser postergados, principalmente por razões de incerteza

quanto ao futuro da indústria. A redução desta incerteza depende de uma sinalização do

preço futuro do recurso exaurível. Assim, há que se reconhecer o mecanismo de preços

em si como uma força resistente à tendência de exaustão final dos recursos não-

renováveis (LODI, 1989).

Page 85: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

74

Além dos três fatores já citados, que não permitem que o “princípio

fundamental” dos recursos exauríveis realmente se efetive, costuma-se supor a

existência de uma tecnologia capaz de substituir completamente um recurso não-

renovável quando este atingir um preço elevado. Este nível de preço deve ser apenas

suficiente para cobrir os custos desta tecnologia de substituição ou backstop technology.

Desta forma, quando o recurso atinge este preço sua produção cai a zero. Assim, a

backstop technology impõe um limite ao preço de mercado de um recurso exaurível,

como se este fosse um preço teto máximo determinado pelo próprio avanço tecnológico

(LODI, 1989).

Desta forma, contrariando o “princípio fundamental”, a exauribilidade por si só

não é capaz de explicar o comportamento do preço do petróleo. Este fato compromete a

validade da teoria formulada por HOTTELING para descrever o comportamento do

preço dos recursos naturais no futuro. Na verdade, ela só age através das expectativas

feitas pelos agentes do mercado e, mesmo assim, limitadamente.

2.3.2 Renda Petrolífera: Uma abordagem ricardiana

A partir da “Teoria da Renda da Terra” elaborada por RICARDO (1815)32, uma

teoria para a indústria petrolífera mundial foi formulada por CHEVALIER (1986). De

32 Segundo esta teoria a renda é a porção do produto da terra paga ao seu proprietário pelo uso das forças originais e indestrutíveis do solo. Estas rendas surgem quando, com o desenvolvimento da sociedade, as terras de fertilidade secundária são utilizadas para cultivo. Além disso, a magnitude de tal renda dependerá da diferença de qualidade daquelas duas faixas de terra. Da mesma forma, quando uma terra de terceira qualidade começa a ser cultivada, imediatamente aparece renda na segunda, regulando-se, como no caso anterior, pela diferença entre as forças produtivas de uma e de outra. Ao mesmo tempo, aumenta a renda da terra de primeira qualidade, pois esta deve ser sempre superior à renda da segunda, de acordo com a diferença entre as produções obtidas numa e noutra com uma dada quantidade de capital e

Page 86: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

75

acordo com esta formulação o mercado petrolífero internacional é capaz de gerar rendas

diferenciais, rendas de monopólio e rendas de raridade que, somadas, formam a renda

petrolífera.

As rendas diferenciais são aquelas que se formam sobre as jazidas beneficiadas

por um menor custo, em oposição às jazidas marginais. Esta renda divide-se em quatro

categorias: as rendas minerais, as rendas tecnológicas, as rendas de posição e as rendas

de qualidade.

A Figura 2.1 demonstra graficamente como funciona a renda diferencial. Nesta

figura as letras A, B e C representam três produtores diferentes, produzindo em jazidas

diferentes. O eixo horizontal representa o volume produzido por cada agente e pelo

mercado. O eixo vertical representa o custo médio total (com um lucro normal incluído)

de produção. O produtor C está na margem do setor, por ter o maior custo, sendo assim,

ele é o limite das rendas diferenciais, não sendo beneficiado por elas. Os produtores A e

B são beneficiados com esta renda devido aos seus menores custos em relação ao

produtor marginal. Este menor custo dos produtores A e B pode dever-se a vários

fatores, como às condições naturais das jazidas, às tecnologias aplicadas, à localização

da reserva e à qualidade do petróleo extraído, além do tamanho da jazida.

trabalho. As terras mais férteis e mais favoravelmente localizadas serão cultivadas primeiro, e o valor de troca de seus produtos será ajustado da mesma forma que o de todas as demais mercadorias, isto é, pela quantidade total de trabalho necessário, sob várias formas, da primeira à última, para produzi-los e coloca-los no mercado. Quando a terra de qualidade inferior começa a ser cultivada, o valor de troca dos produtos agrícolas aumenta, pois torna-se necessário mais trabalho para produzi-los (RICARDO, 1996).

Page 87: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

76

$/Barril

Produção (Barril)

10

5

2

0 3 8 10

A

B

CRenda

diferencialdo produtor

ARd=8x3=24

Rendadiferencialdo produtor

BRd=5x5=25

Figura 2-1–O mecanismo de apropriação da renda diferencial (Nunes, 2000).

Para a captura da renda diferencial, o tamanho da jazida que está sendo

explorada torna-se de especial relevância, tanto devido às economias de escala que daí

podem resultar, como devido ao montante arrecadado com a produção total da jazida.

Este fato pode ser comprovado também através da Figura 2.1 onde se observa que o

produtor B, apesar de ter um custo maior que o produtor A (CA=2<CB=5), apropria-se

de uma parcela maior da renda diferencial gerada pelo setor (RdA=24<RdB=25). Isto se

deve ao tamanho de sua jazida que permite um maior volume de produção,

(QA=3<QB=5) e absorve maior volume da renda gerada. Desta forma, percebe-se

porque a descoberta de campos gigantes é sempre importante, ainda que seja em águas

Page 88: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

77

profundas, ou seja, com um custo de produção mais elevado, pois a possibilidade de

apropriação das rendas diferenciais compensa os riscos.

De acordo com a subdivisão da renda diferencial, as rendas minerais, que são as

mais importantes, caracterizam-se por serem geradas em setores que apresentam uma

curva de oferta descontínua, em forma de escada (Figura 2.1), fator que tem como causa

as condições de exploração e produção dos recursos naturais e/ou minerais, impostas

pela natureza, ou seja, heterogêneas. No mercado petrolífero as diferenças de

concentração, qualidade e condições geológicas das reservas são muitos relevantes.

Assim, cada tipo de jazida petrolífera explorada possui um patamar de custo. Esta

diferenciação das condições de produção leva a uma situação em que as rendas

recebidas pelos proprietários são diferentes devido aos seus diferentes custos de

extração.

As rendas tecnológicas beneficiam o produtor que detém o domínio de uma

tecnologia mais avançada e que assim consegue reduzir seus custos de extração, ou que

consegue tornar econômica uma jazida que, sem este avanço, era inviável de ser

explorada.

As rendas de posição medem a diferença entre os custos de transporte

sustentados pelos recursos vendidos. Sendo mais beneficiado aquele agente que estiver

produzindo o petróleo em uma região próxima aos centros de consumo.

Page 89: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

78

As rendas de qualidade exprimem as vantagens econômicas procuradas para a

utilização do petróleo, através da diferenciação da sua composição química ou da sua

estrutura física.

A segunda parcela da renda petrolífera, as rendas de monopólio (Figura 2.2), ao

contrário das rendas diferenciais, são produzidas na jazida marginal, ou seja, naquela de

maior custo. Este tipo de renda surge quando o produtor marginal usa seu poder de

monopólio (price maker) para impor maiores preços. Porém, a renda de monopólio não

pode crescer indefinidamente, de acordo com a vontade do produtor. O montante desta

renda é limitado por restrições econômicas, como a exploração de novas jazidas, que se

tornam viáveis quando o preço de mercado do petróleo se eleva, ou a introdução de

substitutos ao petróleo (backstop technology). Caso o produtor exceda o limite imposto

pela restrição econômica, a concorrência no mercado aumentará, a oferta de petróleo

aumentará e, conseqüentemente, ele perderá seu poder de monopólio e a renda de

monopólio.

A Figura 2.2 demonstra graficamente como funciona a renda de monopólio.

Além do descrito para a figura 2.1, esta mostra que os produtores da indústria

petrolífera, quando têm poder para fixar os preços, ou seja, poder de monopólio, e

fixam um preço de venda para o seu produto superior ao preço concorrencial, isto é,

fixam um preço maior do que o custo médio total do produtor marginal, eles recebem a

renda de monopólio. Na figura 2.2, o custo médio total do produtor marginal é de

$10/barril e o preço de venda “determinado” pelos produtores foi de $15/barril. Isto

demonstra que os produtores utilizaram seu poder de monopólio. Com o produto sendo

Page 90: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

79

vendido acima do seu preço de concorrência, todos os produtores, inclusive o marginal,

ganham esta renda adicional.

Produção (Barril)

10

5

2

0 3 8 10

A

B

CRendadiferencialdo produtor

ARd=8x3=24

Rendadiferencialdo produtor

BRd=5x5=25

15

Rendamonopóliodo produtor

ARm=5x3=15

Rendamonopóliodo produtor

BRm=5x5=25

Rendamonopóliodo produtor

CRm=5x2=10

Figura 2-2–O mecanismo de apropriação da renda de monopólio (Nunes, 2000).

A última parcela que forma a renda petrolífera é a renda de raridade, ou renda de

escassez, que é o valor pago pela esgotabilidade do recurso ou o custo de uso de um

Page 91: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

80

recurso não-renovável. Ela é maior à medida que o custo marginal de um barril de

petróleo aumenta e vice-versa. Esta renda está relacionada com a inelasticidade da

demanda por petróleo em relação às variações no preço que, por sua vez, está

relacionada com o alto grau de diferenciação do petróleo e à ausência de substitutos

completos no curto prazo.

Resumindo, são principalmente as disparidades entre os custos de exploração e

produção das diferentes jazidas que geram a renda petrolífera: US$ 15,00 separam o

barril do bruto mais barato do Golfo Pérsico ao mais caro do Mar do Norte (MARTIN,

1990).

2.4 A Evolução Recente dos Preços do Petróleo desde à década de 70

A presente seção analisa a evolução dos preços do petróleo nos últimos 30 anos

e compara a evolução recente com os principais movimentos dos preços do petróleo no

passado.

Após décadas de preços do petróleo relativamente estáveis, o primeiro choque

petrolífero ocorreu na sequência de tensões políticas e militares no Oriente Médio,

resultando num aumento dos preços do petróleo (Árabe Leve) de US$ 4,6 em Outubro

de 1973 para USD 15,5 em Março de 1974 (BP, 2006).

O segundo choque petrolífero, também provocado por um conflito militar e

político no Oriente Médio, impulsionou os preços do petróleo (Árabe Leve) de US$

Page 92: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

81

14,4 em Outubro de 1978 para USD 42,0 no auge da crise, em Novembro de 1979 (BP,

2006).

Os preços do petróleo desceram gradualmente na primeira metade da década de

80, mas permaneceram bastante acima dos níveis anteriores a 1978. Os choques

petrolíferos da década de 70 levaram à conservação de energia e à substituição de

produtos energéticos, o que, em conjunto com a recessão mundial do início da década

de 80, deprimiu a procura de petróleo e exerceu pressões descendentes sobre os preços

do petróleo. Os preços do petróleo (Brent) permaneceram relativamente baixos até

Agosto de 1990, subindo acentuadamente, para US$ 36,1, após a invasão do Kuwait

pelo Iraque, mas voltando aos níveis anteriores quando a guerra terminou, em Fevereiro

de 1991. Entre 1991 e 1997, os preços do petróleo Brent situaram-se em média em US$

18,3. Na seqüência da crise econômica na Ásia, caíram para USD 9,8 em Dezembro de

1998, tendo posteriormente triplicado, entre Janeiro de 1999 e Setembro de 2000, o que

mais que inverteu a queda de preços observada nos anos anteriores. Não obstante o

abrandamento econômico e 2001-02, as tensões políticas e geopolíticas continuaram a

exercer pressões ascendentes sobre os preços do petróleo em 2001-03 (BP, 2006).

Tabela 2-1 – Aumentos dos preços do petróleo em períodos específicos

Out. 1973 – Mar. 1974

Out. 1978 – Nov. 1979

Jul. 1990 – Out. 1990

Jan. 1999 – Set. 2000

Out. 2003 – Out. 2004

Variações Percentuais

237 193 111 198 67

Fonte: BP (2006)

Page 93: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

82

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

80.00

90.00

100.00

110.00

1861 1871 1881 1891 1901 1911 1921 1931 1941 1951 1961 1971 1981 1991 2001

$ money of the day $ 2004

Figura 2-3–Evolução dos Preços do Petróleo33 (BP, 2006)

Desde meados de 2003, o preço internacional do petróleo tem registrado

aumentos significativos e o mercado tem dado sinais de que, por ora, não existe mais

um preço ou banda de referência funcionando como um instrumento de estabilização

das expectativas dos operadores.

Este problema se tornou ainda mais marcante ao longo de 2005, devido à

continuidade das fontes de incerteza, tanto no plano geopolítico quanto com relação ao

comportamento das estruturas de oferta e demanda do óleo bruto. O Brent e o WTI

ficaram, respectivamente, 42% e 36% mais caros do que a média do ano anterior (BP,

2006).

É importante verificar que, embora os preços do petróleo tenham subido no

decurso dos dois últimos anos, o recente aumento pode ser considerado menor do que

33 Petróleo de referência: 1861 a 1944 – Média do petróleo do EUA; 1945 a 1983 – Árabe Leve (Ras Tanura); 1984 a 2005 – Brent.

Page 94: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

83

os observados no decurso dos outros grandes choques petrolíferos, conforme verificado

na Figura 2-3. Além disso, os aumentos dos preços do petróleo de 1973, 1979, 1990 e

1999 foram, sobretudo, causados pelas perturbações do lado da oferta.

A situação atual parece ser mais complexa, uma vez que, diversos fatores

parecem estar relacionados com os aumentos, não somente fatores relacionados à

oferta. Além disso, não existe uma previsão de recuo dos preços34, ao contrário do que

ocorreu no passado. Os fatores determinantes para os atuais preços do petróleo são

analisados a seguir.

2.5 Determinantes do Comportamento Atual dos Preços do Petróleo

Atualmente, várias explicações concorrem para identificar os fatores

determinantes do comportamento recente dos preços que levaram os preços do petróleo

para além da barreira dos US$ 50 por barril no ano passado. Recentemente, as

principais preocupações, neste mercado, giravam em torno do crescimento da oferta e

da demanda, porém como visto anteriormente, a determinação dos preços do petróleo

depende não somente de variáveis econômicas, mas também de variáveis políticas,

estratégicas e sociais.

34 Existe uma previsão de recuo de preços, por parte do DOE e da Exxon, que trabalham com cenários de preços abaixo de US$ 55 por barril, porque o preço está bem acima do custo técnico de produção.

Page 95: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

84

Aumento da Demanda

Recentemente deram-se um grande aumento da procura, especialmente na

China, Índia e outros países asiáticos, mas também nos Estado Unidos, que com 4% da

população mundial, queimam 25% da produção diária (metade disso em veículos) (BP,

2006). O crescimento do consumo, nos últimos anos - conduzido pelo aumento das

demandas chinesa e americana - junto à recuperação econômica mundial, aumentou o

medo de falta de abastecimento e tem contribuído para a manutenção de patamares

elevados do preço do petróleo. Além disso, existe a tentativa dos EUA, da China e da

Índia de recomporem ou de elevarem seus estoques estratégicos.

Sempre que existe o risco de escassez do petróleo, o preço do barril do produto

dispara. Isso porque alguns países passam a importar mais do que precisam, com o

objetivo de criar uma reserva interna e assim ficar livre da falta de petróleo.

O crescimento da demanda mundial, seja pelo "fator China" e sua expansão de

PIB na ordem dos dois dígitos, seja pelo gargalo na produção de derivados, indica o

novo perfil da crise: a oferta não é mais superior à demanda e, portanto, os preços não

voltam ao normal depois dos meses de crise.

O impacto causado pela tragédia natural do Katrina é exemplar desse quadro.

Apesar de toda a devastação que causou, o furacão deveria ter representado problema

"sob controle" para o sistema mundial de petróleo. A IEA mostrou que, embora o

Katrina tenha paralisado 50 plataformas de petróleo na região do Golfo do México, o

furacão suspendeu apenas 1,5 milhões de barris na produção diária global (IEA, 2006).

Page 96: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

85

Por essa razão, apesar dos estragos, a agência internacional afirmou que o

Katrina ficou em décimo lugar entre os 11 maiores choques naturais que prejudicaram a

indústria do óleo mundial. Porém, como notou o The Wall Street Journal, o Katrina só

causou o impacto que causou por ocorrer quando o mercado de petróleo está no

momento de oferta mais restrita em 30 anos.

Segundo a IEA, os produtores mundiais de petróleo têm, no máximo, 1,5 milhão

de barris para processar em uma emergência, prova da difícil relação oferta/demanda do

produto. Seria preciso uma capacidade de produção de 3,5 milhões de barris (4% da

demanda) para proteger os consumidores de qualquer choque longo de oferta (IEA,

2006).

Caso da China

O aumento de consumo de petróleo na China deve ser analisado separadamente

porque a analise do mercado internacional do petróleo estará nos próximos anos cada

vez mais relacionada com a evolução de oferta e demanda da China. Este país vem

apresentando nas três últimas décadas, uma das maiores taxa de crescimento econômico

quando comparada com o resto do mundo. Seu PIB tem crescido a uma taxa anual de

8,2% ao ano, desde de 1971, e somou 1,93 trilhões de dólares em 2004 (PINTO JR,

2003). A expectativa da Agência Internacional de Energia (EIA) é que esse valor mais

que quadruplique em 2030.

Consequentemente, o crescimento econômico tem estimulado um rápido

crescimento da demanda de energia. Como resultado desse processo que continuará

Page 97: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

86

vigorosamente em curso ao longo dos próximos anos, a China alcançou em 2002 a

posição de segundo maior país consumidor de petróleo no mundo, ficando atrás apenas

dos EUA e superando o Japão que, como todos os países industrializados, têm

registrado, nas últimas décadas, uma relativa estabilidade no consumo.

Desse modo, quando se compara os dados de demanda de petróleo da China

com os outros países industrializados, fica manifesta a disparidade nos ritmos recente

de crescimento: na última década, na China, a taxa média de crescimento anual do

consumo de petróleo atingiu 7,2%, ao passo que a maioria dos países industrializados, o

crescimento da demanda cresceu a taxas inferiores a 1,5% ao ano (BP, 2006).

Dessa forma, a China tem se tornado um importador relevante no mercado

internacional (cerca de 1,5 milhões de barris/dia). A importação de petróleo na China

vem, desde 1993, crescendo continuamente para atender a crescente demanda

energética do país. A taxa de crescimento relativa nos últimos nove anos foi de 8% e a

expectativa dos estudos realizados pelo Departamento de Energia do EUA é de que, em

2010, a china alcance um nível de importações de 4,2 milhões de barris/dia (PINTO JR,

2003).

É importante recordar algumas transformações institucionais que impulsionam a

participação da China no comércio internacional. Em novembro de 2001, com a entrada

da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), o governo Chinês firmou

compromissos de comércio e de liberalização de investimentos externos no país. Esse

passo pode significar, para o setor energético, uma maior atração de investimentos

externos e a possibilidade de atrair operadores estrangeiros em projetos de upstream.

Page 98: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

87

Estes movimentos qualificam a China como um dos principais atores da

indústria e do comércio internacional do petróleo nos próximos anos. Por essa razão, é

de esperar, mantido tal ritmo de evolução da demanda, as importações chinesas, a curto

prazo, também continuarão crescendo, uma vez que o resultado do esforço exploratório

é incerto e, mesmo que venha a gerar incremento de reservas, só poderá diminuir o

ritmo de importações em horizontes mais largos. Dessa forma, o comportamento da

demanda de petróleo da China constitui-se numa das variáveis mais importantes a

serem analisadas para o monitoramento de flutuações dos preços internacionais do

petróleo.

Diminuição do Crescimento da Oferta

Os países produtores, principalmente os da OPEP, têm encontrado limites para

aumentar a sua produção, no curto prazo, têm dificultado a reposição dos estoques

mundiais. De fato, a capacidade de produção ociosa destes países produtores é estimada

em cerca de 2 milhões de barris/dia, sendo cerca de dois terços deste total concentrados

na Arábia Saudita, o que dificulta os aumentos da produção no curto prazo (PINTO JR,

2005). Este dado revela que, independentemente dos problemas geopolíticos, o

comportamento atual dos preços também reflete, como em outros mercados, a

necessidade de se iniciar um novo ciclo de investimentos na capacidade de produção.

A incapacidade dos países da OPEP de aumentar a oferta aliada ao aumento da

demanda faz com que os operadores tendam a se precaver no mercado futuro com

contratos de hedge. Neste sentido, as operações no mercado futuro acabam por retro-

Page 99: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

88

alimentar o movimento altista e a percepção de incerteza. Alterações significativas

nesse quadro só serão passíveis de ocorrer com a reversão de alguns dos fatores que têm

desequilibrado a estrutura de oferta e demanda, tais como o nível de importações e das

demandas americana e chinesa, bem como a redução da instabilidade geopolítica no

Golfo Pérsico.

Como alternativa para reduzir a dependência dos conturbados fornecedores do

Oriente Médio, grandes investimentos vêm sendo realizados na Rússia e na costa

Ocidental da África, mas os resultados obtidos, até o momento, estão bastante aquém

das otimistas previsões iniciais. O crescimento da produção de petróleo dos países que

não integram a OPEP sofreu drástica desaceleração em 2005, mantendo-se praticamente

estável, com o acréscimo de cerca de 1 milhão de barris de petróleo/dia em 2004 (BP,

2006). Esta queda explica-se menos pelo declínio produtivo de regiões maduras, como

o Mar do Norte, do que pela paralisação temporária no Golfo do México causada pelos

furacões Katrina e Rita, e mais importante pela desaceleração da produção da Rússia,

que, de um aumento médio de 10% ao ano nos últimos cinco anos, caiu para 2% (BP,

2006).

Como o petróleo de fora da OPEP não atende à nova demanda, a Organização

passou a produzir mais, colocando em operação sua capacidade ociosa, que atualmente

é predominantemente de óleos pesados. Embora mais do que suficiente em volume,

essa oferta adicional mostrou-se inadequada em qualidade à demanda devido à falta de

capacidade do parque mundial de refino (exceto para o EUA) para converter esses

petróleos nos derivados médios e leves mais demandados, como o diesel e a gasolina.

Page 100: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

89

Em conseqüência, os refinadores marginais pressionaram para cima os preços

dos óleos mais leves, como o Brent e o WTI, a fim de obter rendimento adequado ao

perfil da demanda. Assim se explica a ocorrência de margens de refino ainda mais

elevadas em 2005, particularmente para os refinadores com capacidade de conversão. A

Figura 2-4 mostra o aumento das margens líquidas de refino no Golfo do México,

região com boa capacidade de conversão.

Figura 2-4–Margens Líquidas (em US$) de Refino no Golfo do México (Petrobrás, 2006)

Novos projetos de E&P de petróleo considerados grandes (aqueles de mais de

500 milhões de barris) são contados e muito poucos. O tempo necessário para colocar

em produção um poço desde o momento de sua descoberta é em torno de 6 anos. Dessa

forma, qualquer descoberta recente não poderá entrar em produção antes de 2010. A

exploração de petróleo está chegando cada vez a regiões mais remotas, onde a extração

Page 101: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

90

do cru é mais custosa, normalmente é de menor qualidade e se encontra em quantidades

menores do que os encontrados em décadas passadas. Além disso, para cada barril

descoberto se consomem todos os dias 4 barris (THOMAS, 2001).

Este cenário aumenta a discussão de quando a produção mundial de petróleo irá

chegar a sua máxima capacidade ou pico de produção, e inicie o seu declínio. Segundo

a Associação para o Estudo do Petróleo e Gás (ASPO)35, a produção mundial do

petróleo iniciará o seu declínio entre 2007 e 2010, levando a uma escassez maior que a

atual fazendo com que o preço do petróleo alcance novos recordes a cada semana

(ASPO, 2004).

Fatores Sazonais

Os fatores sazonais também exercem influência sobre a demanda no curto prazo.

O inverno rigoroso no Hemisfério Norte em 2005 aumentou a demanda por

combustíveis para aquecimento, que já tem se traduzido em aumentos no preço

internacional de petróleo e derivados nos primeiros meses do ano, fazendo com que a

cotação do óleo bruto voltasse a romper a barreira dos US$ 50 por barril no primeiro

trimestre de 2005.

Por outro lado, os fenômenos naturais, como o furacão Katrina, afetou áreas

restritas num curto período e “têm apenas influências conjeturais”, pois perturbam a

produção durante alguns dias, mas não causam estragos de maior nas infra-estruturas

35 A ASPO não considera os óleos não-convencionais em sua estimativa.

Page 102: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

91

básicas de produção e distribuição. Ao contrário, os incêndios no Iraque impediram a

produção durante vários meses.

Falta de credibilidade e falha das informações sobre oferta

Na indústria do petróleo é comum que as reservas de petróleo sejam

sobreestimadas tanto pelos paises produtores e pelas majors, provocando incerteza no

mercado, e consequentemente elevações nos preços do petróleo.

No ano de 2004, as questões empresariais decorrentes de falhas informacionais,

no caso da Shell e de problemas fiscais, no caso da Yukos, ampliaram o grau de

incerteza no mercado. O “efeito Shell”, que implicou na necessidade de reconhecimento

de um menor nível de reservas provadas, acendeu uma luz amarela com relação à

credibilidade das informações referentes à relação do indicador reservas/produção,

afetando o valor das ações da empresa. Mesmo admitindo-se que o problema possa ser

apenas um episódio singular, é bastante compreensível a reação de desconfiança de

muitos operadores, traduzida pela manutenção de prêmios mais elevados para cobrir os

riscos informacionais (PINTO JR, 2005).

O caso da Yukos provocou-se certa desconfiança sobre a capacidade de

produção e exportação russa, pois as relações do governo russo com a empresa

petrolífera têm sido tensas. O governo vem exigindo pagamentos de impostos atrasados

em valores extremamente elevados (US$ 3,4 bilhões) e já colocou na cadeia seu

presidente por alegações de evasão fiscal e fraude (NONNENBERG, 2004).

Page 103: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

92

A Arábia Saudita, além de ser maior produtor mundial de petróleo, sempre foi

responsável por incrementar a produção mundial de petróleo quando ocorreram

interrupções no fornecimento e em períodos em que os preços do petróleo estiveram em

alta por questões políticas. Muitos especialistas começam a duvidar se é real a

capacidade de produção diária (cerca de 9,5 milhões de barris dia) desse país e

questionam severamente a confiabilidade dos dados disponíveis relacionados à

capacidade restante de produção desta nação árabe e sobre todo o volume de suas

reservas (Campbell e Laherrère, 1998).

Em 1988 a Arábia Saudita foi o último dos países da OPEC a aumentar do dia

para a noite as suas reservas declaradas, de modo a ter maior quota de produção, na

altura para cerca de 240 mil milhões de barris. Desde então este país produziu 46 mil

milhões de barris, mas pouco alterou as reservas declaradas, situando-as em 264 mil

milhões de barris em 2004, quando um novo aumento aumentou suas reservas

declaradas para pelo menos 464 mil milhões de barris (BP, 2006).

Instabilidade geopolítica no Oriente Médio

A incerteza quanto ao equilíbrio geopolítico no Oriente Médio faz com que o

mercado de petróleo continue cobrando um prêmio de risco. As fontes de incerteza

vieram da permanência da instabilidade política e institucional no Iraque, que vêm

periodicamente dificultando as exportações. Hoje, as tensões políticas na região ainda

exercem grande influência no mercado. No entanto, cada vez mais o mercado se volta

para analisar quais serão os novos investimentos do Iraque, uma vez que sua capacidade

Page 104: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

93

de produção foi prejudicada dados os diversos ataques sofridos. O mercado também

aguarda a estabilização do novo governo que assumiu em Janeiro de 2005.

Além disso, o aumento das tensões entre EUA e Irã culmina com o reforço das

fontes de incerteza quanto ao equilíbrio geopolítico no Oriente Médio. Do mesmo

modo, um agravamento estrutural do conflito entre Israel e Palestino poderia acarretar

num alinhamento estratégico por parte dos países árabes produtores no sentido de

reduzir explicitamente a produção.

Concluindo, os altos preços atuais do petróleo é resultado de vários fatores que

produziram a elevação significativa dos preços no passado e permaneceram ativos.

Neste contexto, mudanças conjunturais na estrutura de oferta e demanda, como por

exemplo, condições climáticas rigorosas ou greves em países produtores, favorecem os

movimentos especulativos de curto prazo e tendem a reforçar as pressões de alta.

No mercado petrolífero há "uma inelasticidade extrema" da procura e da oferta

em relação ao preço do barril no curto prazo. Isso significa que qualquer alteração na

procura (consumidores e importadores) ou na oferta (produtores e exportadores),

mesmo que pequena, provoca sempre variações significativas no preço. Daí a chamada

volatilidade do preço do crude - variações exageradas para cima ou para baixo, em

função de 'choques' na procura ou na oferta.

Sem a reversão das condições atuais no plano geopolítico, no comportamento

aquecido da demanda e na resolução dos gargalos de oferta na capacidade de produção,

devemos esperar pela continuidade da situação de preços elevados e voláteis, pois o

Page 105: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

94

mercado tende a pedir prêmios elevados e parece ainda não conhecer a nova banda de

flutuação que poderia reduzir a amplitude da volatilidade e estabilizar as transações.

2.6 Os Maiores Beneficiados com os Preços Altos de Petróleo

Imagina-se que os únicos beneficiados com os altos preços do petróleo são os

países produtores que aumentam suas receitas com a exportação de seu principal

produto. Porém, existem outros agentes da indústria do petróleo que também se

beneficiam com o atual cenário de preços altos.

No último relatório, atualizado no ano de 2005, a OPEP estima que a cada ano o

petróleo gere cerca de US$ 320 bilhões somente em tributos recolhidos pelos governos

dos países integrantes do G-7, enquanto a cada ano os países membros da OPEP

receberiam apenas cerca de US$ 250 bilhões. Ainda de acordo com suas estimativas,

entre os anos de 2000 e 2004, os governos do G-7 teriam arrecadado US$ 1,600 bilhões

sobre o petróleo contra apenas US$ 1,300 bilhões da OPEP (OPEC, 2005).

Entre os países do G-7 os maiores tributos sobre o petróleo são cobrados no

Reino Unido, seguido em ordem decrescente pela Itália, Alemanha, França, Japão,

Canadá e, finalmente, Estados Unidos. Com raras exceções e inversões, esta é a mesma

ordem dos preços do litro de gasolina nestes países, significando mais uma vez que, em

boa parte, o preço final ao consumidor da gasolina depende fundamentalmente da

grandeza dos tributos. Estes dados apresentados pela OPEP significam, sem sombra de

dúvida, que os governos obtêm maior parcela da renda petrolífera do consumidor do

que os países produtores e/ou as empresas de petróleo.

Page 106: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

95

Além dos governos as empresas de petróleo também lucram e se capitalizam

podendo aumentar os próprios investimentos no setor e, dessa forma, descobrir mais

óleo, aumentar o fator de recuperação dos velhos campos, desenvolver tecnologia e

novos produtos, além de propiciarem níveis mais elevados de empregos e

desenvolvimento econômico em suas respectivas áreas de atuação.

No caso do Brasil, onde temos uma empresa petrolífera estatal com capital

aberto, a Petrobrás vem adquirindo força exportadora. Em 2005, suas exportações de

petróleo foram da ordem de 352 mil barris dia, representando um aumento de 45% em

relação ao ano anterior. Dessa forma, o preço elevado no mercado internacional vem

contribuindo para o aumento da receita da empresa. Por conta desse desempenho, a

empresa vem diminuindo o déficit em sua balança comercial (PETROBRAS, 2005).

O aumento do preço do petróleo e a taxa de câmbio elevam a valoração da

produção da Petrobrás, pois ao aumentar o preço de realização dos derivados

produzidos nas refinarias da empresa, eleva também a sua receita. Em última instância,

o aumento das receitas da Petrobrás implica maiores dividendos pagos aos acionistas,

onde se inclui o próprio governo.

Além destes dois fatores acima, no Brasil, cabe ressaltar um mais relevante que

diz respeito à arrecadação de royalties. De acordo com a Portaria numero 155 da ANP,

instituída em 1998, o preço mínimo do petróleo produzido em campos brasileiros, o

qual é referência para o cálculo das participações governamentais, passou a variar de

acordo com a taxa de câmbio real/dólar e com os preços do petróleo tipo Brent.

Page 107: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

96

Observa-se, assim, que a evolução da apuração do valor de royalties a partir de 1998

segue claramente a influência dos preços do petróleo internacional e relativos entre as

moedas.

Figura 2-5–Evolução da arrecadação mensal de royalties (em R$ 2004) e média mensal da taxa

de câmbio comercial (R$/US$) (ANP, 2005).

Figura 2-6–Evolução da arrecadação mensal de royalties (em R$ 2004) e cotação média mensal

do petróleo Brent Dated no mercado Spot (US$/Barril) (ANP, 2005).

Page 108: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

97

No primeiro semestre de 2006, o pagamento de royalties e participação especial

sobre a produção de petróleo e gás natural sofreu um aumento significativo em relação

ao mesmo período de 2005, devido à manutenção em um nível elevado do preço do

petróleo no mercado internacional e da crescente produção nacional. A receita de

royalties no priemeiro semestre de 2006 atingiu R$ 3,6 bilhões, com um crescimento de

28% em relação ao mesmo período de 2005. A receita de participação especial alcançou

R$ 3,9 bilhões, representando um aumento de 23% sobre a receita do ano anterior. Do

total de R$ 7,5 bilhões arrecadados de royalties e participação especial, 61%, ou seja,

R$ 4,6 bilhões destinaram-se aos estados e municípios brasileiros, enquanto o restante

ficou com a União. Desses R$ 4,6 bilhões, 71%, (R$ 3,2 bilhões), foram arrecadados

pelo estado do Rio de Janeiro e seus municípios (GLOBO ON-LINE, 2006).

Finalmente podemos concluir que os ganhadores com a alta do preço do

petróleo são os governos, os países produtores, as empresas de petróleo e os acionistas

destas empresas.

Page 109: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

98

3333 O Pico da Produção do Petróleo O objetivo dessa seção é detalhar o conceito de Pico do Petróleo, que proclama

o inevitável declínio e subseqüente término da produção de petróleo em qualquer área

geográfica em questão. De acordo com a teoria, seja em apenas um poço de petróleo ou

no planeta inteiro, a taxa de produção tende a seguir uma curva normal. No início da

curva (pré-pico), a produção aumenta com o acréscimo de infra-estrutura produtiva. Já

na fase posterior (pós-pico), a produção diminui devido ao esgotamento do recurso.

Trata-se de tema de grande importância, uma vez que há indícios de que o pico –

correspondente ao ponto médio da curva – ocorrerá dentro de poucos anos.

Sendo consumido em maiores quantidades do que a natureza é capaz de prover,

não há como negar, o petróleo poderá acabar. O problema é quando vai acabar. Para

melhor precisar esse quando, uma quantidade enorme de prognósticos foi e vem sendo

elaborada desde que o ouro negro jorrou em Titusville, Pensilvânia, em 1859. A partir

de então, a cada nova revisão dos prognósticos sobre até quando contaremos com esse

recurso tão determinante ao modelo de desenvolvimento atual, mais à frente se

vislumbra o horizonte de seu esgotamento, contrariando, sempre, afoitos e pessimistas.

Estes, contudo, não cessam de proclamar suas profecias.

Caso essas previsões estejam corretas, a crise de oferta é iminente, e pouco

poderá ser feito para amenizar seus efeitos danosos para a economia mundial.

Provavelmente, o ajuste inicial do mercado de petróleo seria feito por meio de uma

forte retração da demanda, pressionado pelos preços elevados, o que se traduziria em

uma forte e duradoura recessão mundial. Somando-se a isso, a substituição do petróleo

Page 110: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

99

por outras fontes de energia teria de ocorrer de forma abrupta e constante para manter

estáveis os níveis de atividade econômica.

3.1 O Pico de Hubbert

Na literatura referente à produção de petróleo, é muito freqüente a utilização da

relação reservas/produção quando se discute o futuro do petróleo. As estimativas mais

comuns são de que as reservas provadas atingem cerca de um trilhão de barris, o que,

considerando-se a produção atual de cerca de 25 bilhões de barris/ano, garantiria o

atendimento da demanda por 40 anos (BP, 2006). A ampla divulgação dessa relação e

sua utilização sem ressalvas, além de contribuir de forma decisiva, sem dúvida, para a

falta de preocupação da opinião pública com o suprimento de petróleo a médio e longo

prazo, pressupõem que a evolução da produção segue um dos perfis abaixo:

• aumento até um certo patamar, que se mantém por vários anos, seguido de

rápido declínio; e

• aumento constante até um pico, seguido de declínio muito rápido.

A curva habitual da produção de um determinado campo de petróleo, entretanto,

não obedece a nenhum desses dois padrões. O petróleo – assim como o gás natural – se

origina, como é amplamente conhecido, de alterações químicas sofridas por sedimentos

orgânicos ao longo de milhões de anos. O material orgânico inicialmente sólido

transforma-se em uma mistura de hidrocarbonetos líquida – ou gasosa – que preenche

os interstícios de uma camada rochosa. Ocorre que esses hidrocarbonetos, em virtude de

serem menos densos que o material orgânico original, estão submetidos a considerável

pressão por parte das rochas que os contêm (Campbell, 1997). Ao se perfurar um poço,

Page 111: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

100

a pressão nos poros da camada rochosa faz com que o petróleo ou o gás subam até à

superfície.

O papel da pressão da jazida explica o perfil de extração normalmente

encontrado em poços de petróleo. Após uma rápida expansão até um pico, a extração

decresce gradativamente, à medida que cai a pressão da jazida e o fluxo do petróleo em

seu interior é dificultado pela tensão superficial dos poros (Campbell, 1997).

Figura 3-1–Curva Natural de Extração (Campbell, 1997).

A queda da pressão e o fluxo de petróleo são influenciados por diversos fatores,

cuja análise detalhada está fora do escopo deste trabalho. O importante, para os nossos

fins, é observar que a curva de exaustão de um poço de petróleo diverge da sugerida

pela relação reservas/produção. O que se aplica a um poço individual é válido, em

linhas gerais, para uma jazida ou uma província petrolífera. A única – e crucial –

diferença é que, em face da otimização da produção de diversos poços, a produção de

uma província petrolífera segue, aproximadamente, uma curva normal (Campbell e

Laherrère, 1998). Caso o poder de mercado da empresa proprietária da jazida seja

suficientemente grande para controlar a taxa de extração, é possível que se verifique um

Page 112: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

101

patamar, e não um pico, embora sem modificações nos períodos de crescimento e

declínio (Campbell, 1997).

Figura 3-2–Extração de uma Província Petrolífera (Campbell e Laherrère, 1998)

Baseando-se nos perfis de extração expostos acima, o geólogo M. King Hubbert

previu, em 1956, que a produção de petróleo dos Estados Unidos chegaria ao pico em

torno de 1970, seguindo-se um longo período de declínio (Deffeyes, 2001). A previsão

revelou-se correta (o pico foi atingido em 1969) e pode ser considerada como a origem

remota dos estudos a respeito da exaustão do petróleo comentados nesse capítulo. O

ponto em que a produção atinge o máximo foi denominado Pico de Hubbert, em sua

homenagem.

A metodologia utilizada por Hubbert é relativamente simples. A premissa inicial

é que as jazidas de petróleo são descobertas, em geral, de acordo com a seqüência

descrita a seguir (Hubbert, 1956):

• em primeiro lugar, descobrem-se as jazidas mais acessíveis (por exemplo,

situadas a pouca profundidade);

Page 113: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

102

• à medida que evoluem as tecnologias de prospecção e o conhecimento

geológico da província em questão, descobrem-se as jazidas de maior dimensão;

e

• as últimas jazidas a serem descobertas serão as de acesso mais difícil e de

dimensões relativamente reduzidas.

Essa seqüência corresponde, aproximadamente, a uma curva normal, cujo ponto

médio seria ocupado pela jazida de maior porte da região. Tal perfil de descobertas não

é apenas hipotético, sendo semelhante ao verificado em diversas regiões. Já a curva de

produção, por outro lado, também é aproximadamente normal, como visto, desde que os

produtores não interrompam “artificialmente” o aumento da extração (hipótese pouco

realista numa conjuntura de crescimento do consumo).

A evolução da produção numa província determinada, portanto, pode ser

estimada com razoável precisão até o esgotamento, desde que sejam conhecidas a

seqüência temporal da produção e o total das reservas. Esse total, por sua vez, pode ser

estimado a partir da seqüência das descobertas. Como as duas seqüências seguem, em

linhas gerais, o mesmo padrão (curva normal), é possível confirmar a curva de

produção defasando tipicamente de algumas décadas a curva das descobertas, conforme

pode ser observado na Figura 3-3.

Page 114: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

103

Figura 3-3–Exemplo Ilustrativo da Correlação entre o Pico de Produção e as Descobertas

(Campbell, 1997).

A previsão de Hubbert foi bastante facilitada, sem dúvida, pela abundância de

informações a respeito da produção e das descobertas de petróleo nos Estados Unidos,

assim como pelo fato de que a evolução da produção norte-americana obedece

basicamente a fatores de ordem econômica. A tentativa de estimar o pico da produção

mundial – que será objeto da próxima seção – é muito mais difícil. De fato, as

informações a respeito da produção e das reservas são de qualidade muito desigual e,

com freqüência, pouco confiável. Além disso, a produção de petróleo na região mais

importante –o Golfo Pérsico – sofreu forte influência de fatores políticos por muito

tempo, o que distorce consideravelmente as projeções.

3.2 Estimativas da Ocorrência do Pico da Produção Mundial

O método desenvolvido por Hubbert para prever o futuro da extração de

petróleo nos Estados Unidos pode ser aplicado ao mundo como um todo, o que foi feito,

Page 115: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

104

em 1982, pelo próprio Hubbert (Deffeyes, 2001). Para tanto, basta estimar a totalidade

do petróleo existente (em condições de ser extraído de forma econômica) e a taxa de

crescimento da produção. No momento em que a produção acumulada atingir a metade

– ou, no mínimo, a vizinhança da metade – do total existente, a produção estará no

máximo e tenderá a declinar a partir desse ponto.

A grande dificuldade para efetuar esse cálculo consiste, como seria de esperar,

em conhecer a totalidade do petróleo existente. De fato, as informações sobre reservas

são pouco confiáveis e, freqüentemente, consideradas segredo de Estado. A proporção

do petróleo recuperável economicamente, por outro lado, depende fortemente da

evolução da tecnologia da extração. Finalmente, o próprio crescimento da demanda só

pode ser projetado com alguma incerteza, já que envolve, por exemplo, o cálculo da

elasticidade de substituição por outras fontes de energia.

Levando em conta as dificuldades mencionadas, os especialistas que aceitam as

idéias de Hubbert, dispuseram-se a dimensionar, com o máximo de consistência

possível, o montante do petróleo economicamente recuperável e, por conseguinte, a

data de ocorrência do pico [Campbell (1997), Laherrère (2000), Deffeyes (2001)]. O

resultado desses esforços será apresentado a seguir.

Para estimar o total do petróleo recuperável, é preciso quantificar:

• a produção acumulada;

• as reservas conhecidas;

• as reservas a serem descobertas ou a probabilidade de adição de reservas; e

• a evolução futura da taxa de extração.

Page 116: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

105

A produção acumulada não oferece, naturalmente, grandes problemas. A

situação é bem diferente no que se referem às demais questões, a começar pelas

reservas conhecidas. Com efeito, a definição de “reserva” de petróleo varia de modo

substancial, conforme os países ou empresas produtores.

Além do valor absoluto das reservas, é fundamental levar em consideração em

que data elas foram descobertas. De fato, boa parte do crescimento das reservas se deve

à reavaliação das já conhecidas, e não à descoberta de novas jazidas. Alguns autores,

utilizando informações de bases de dados privadas, procuraram eliminar esse

“crescimento” aparente através do chamado backdating, técnica que permite antecipar

que, se as reservas em uma jazida são reavaliadas, o valor revisto é considerado como

estando presente na data em que ela foi descoberta (Illum et alii, 2003). A Figura 3-4

permite comparar a evolução das reservas mundiais de petróleo, de acordo com a

técnica do backdating e com os métodos usuais.

Figura 3-4– Reservas Mundiais de Petróleo (Em Bilhões de Barris) segundo Estimativas do Oil

& Gás Journal e Laherrère (2000) – 1950/2010 (Laherrère, 2000).

Page 117: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

106

O gráfico da Figura 3.4 torna perfeitamente claro – supondo, naturalmente, que

as estimativas dos autores citados sejam corretas – o caráter errôneo da percepção

generalizada de que as reservas têm crescido regularmente, apesar do aumento da

produção. É fácil imaginar as conseqüências de uma mudança nessa percepção para as

expectativas quanto ao futuro da produção, e dos preços, do petróleo.

Antes de examinar as perspectivas de novas descobertas, é necessário analisar,

sumariamente, os aumentos das reservas declaradas por países e empresas produtores

que, aparentemente, não estão relacionados com novas jazidas. O exemplo mais nítido,

sem dúvida, é o dos países da Opep, cuja produção obedece a um sistema de quotas,

estabelecido em 1982, no esforço de manter os elevados preços então vigentes

(YERGIN, 1990). O sistema de quotas, entretanto, não conseguiu deter a acentuada

queda dos preços a partir de 1986, motivada, principalmente, pelo grande aumento na

produção de países não pertencentes à Opep, o que levou os seus membros a tentar

aumentar suas quotas individuais, de modo a compensar a queda nos preços pelo

aumento da produção. Como as reservas declaradas constituem um dos fatores para

determinar as quotas de cada membro, o resultado foi o grande crescimento das

reservas, o que parece suspeito a muitos analistas do setor, por não corresponder a

descobertas conhecidas (Campbell, 1997). Nesse contexto, existem razões para supor

que a Arábia Saudita estaria próxima do pico, já que a maior parte de sua produção é

extraída de um único campo que já produz há muitos anos.

Page 118: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

107

Tabela 3-1 – Aumentos anômalos reportados das reservas – 1980/1995

Abu

Dhabi Dubai Irã Iraque Kuwait

Arábia Saudita

Venezuela

1980 28,0 1,4 58,0 31,0 65,4 163,3 17,9

1981 29,0 1,4 57,5 30,0 65,9 165,0 18,0

1982 30,6 1,3 57,0 29,7 64,5 164,6 20,3

1983 30,5 1,4 55,3 41,0 64,2 162,4 21,5

1984 30,4 1,4 51,0 43,0 63,9 166,0 24,9

1985 30,5 1,4 48,5 44,5 90,0 169,0 25,9

1986 31,0 1,4 47,9 44,1 89,8 168,8 25,6

1987 31,0 1,4 48,8 47,1 91,9 166,6 25,0

1988 92,2 4,0 93,0 100,0 91,9 167,0 56,3

1989 92,2 4,0 92,9 100,0 91,9 167,0 58,0

1990 92,2 4,0 92,9 100,0 94,5 257,5 59,0

Fonte: Campbell (1997) Obs: Os aumentos estão sublinhados em negrito

A prática de declarar níveis de reservas provadas que não correspondem à

realidade não está restrita aos países exportadores de petróleo, pois há indícios de que

algumas empresas petrolíferas subestimam o volume das reservas contabilizadas em

seus relatórios financeiros periódicos. O objetivo seria, aparentemente, apresentar aos

investidores do mercado de capitais um quadro de crescimento regular das reservas

(principal ativo dessas empresas), de modo a garantir a valorização contínua de suas

ações (Laherrère, 2000). O recurso à subestimação, no entanto, tem limites, já que em

algum momento o crescimento declarado das reservas colidiria com a realidade, o que

seria uma explicação para a surpreendente revisão para baixo das reservas da Shell,

ocorrida em janeiro de 2004 (Aspo, 2004).

Page 119: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

108

Levando em conta os ajustes mencionados acima, os seguidores de Hubbert

reunidos na (Aspo) - A Associação para o Estudo do Pico do Petróleo e Gás (ASPO) foi

fundada pelo geólogo irlandês Colin Campbell, e tem como principal objetivo estudar o

momento do pico destes dois recursos. Esta associação argumenta que o modelo de

Hubbert é fundamentalmente correto - estimam que as reservas provadas de petróleo

convencional (excluídos os provenientes das regiões polares e de águas profundas) são

da ordem de apenas 780 bilhões de barris, em contraste com a estimativa de 1.200

bilhões da British Petroleum. Já o dimensionamento da quantidade de petróleo a ser

descoberta é, naturalmente, muito mais controverso que o das reservas existentes e

constitui o núcleo da discórdia entre os seguidores de Hubbert e o meio petrolífero

(mainstream) em geral. A estimativa da Aspo (2004) é de 150 bilhões de barris.

As conclusões dos defensores do modelo de Hubbert serão expostas a seguir,

mostrando-se em contraposição o ponto de vista da Energy Information Administration

(EIA), órgão especializado do governo norte-americano.

O procedimento usado por Hubbert para estimar o total de petróleo existente nos

Estados Unidos foi generalizado por seus seguidores para estimar o total mundial

[Campbell (1997), Laherrère (2000), Deffeyes (2001)]. O grau de incerteza do resultado

é bem maior, em virtude, como já foi mencionado, da qualidade inferior das

informações disponíveis e da evolução menos regular das descobertas e da produção.

Para definir a data do pico mundial – que estará situado no entorno do ponto

médio da curva de produção global – é preciso quantificar a totalidade do petróleo

recuperável existente. Cabe salientar que a maior parte do petróleo contido nas jazidas

Page 120: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

109

(oil in place) não é recuperável, mesmo com as tecnologias mais avançadas. O total do

petróleo recuperável consiste na soma de produção acumulada + reservas + reservas a

descobrir. Pela definição adotada pela Aspo – que é bastante restritiva – para o petróleo

convencional36, os valores são os seguintes, em bilhões de barris:

• produção acumulada até 2003: 920;

• reservas conhecidas: 780;

• reservas a descobrir: 150; e

• total: 1.850.

O pico seria, portanto, iminente, já tendo ocorrido em 2005. A participação

crescente do petróleo não-convencional – que na definição da Aspo abrange o petróleo

das regiões polares, o de águas profundas e os líquidos de gás natural – teria pouca

influência, deslocando o pico para 2006. A inclusão do petróleo não-convencional eleva

o montante do petróleo recuperável para cerca de 2,5 trilhões de barris.

Figura 3-5–Produção de Petróleo Convencional e Não-Convencional 1930/2050 (ASPO,

2004).

36 Pela definição da ASPO para petróleo convencional são excluídos o petróleo offshore de águas

Page 121: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

110

A data estipulada na Figura 3-5 pode parecer excessivamente próxima. Trata-se,

no entanto, de questão crucial: basta imaginar as conseqüências da redução contínua da

oferta da fonte de energia usada nos transportes para a economia global. Não é

surpreendente que a própria idéia do Pico de Hubbert enfrente tanta resistência. O

detalhamento das estimativas do pico de produção de petróleo convencional segundo

região encontra-se na Tabela 3-2.

Tabela 3-2 – Previsão do Pico do Petróleo segundo Região – 2005/2050

Extração Anual de Petróleo Convencional (milhões de Barris/Dia)

Região

2005 2010 2020 2050

Bilhões de Barris (Total)

Data do Pico*

Estados Unidos (menos Alasca)

3,6 2,8 1,7 0,4 200 1969

Europa 5,0 3,6 1,8 0,3 75 2000

Rússia 9,1 10,0 5,5 0,9 210 1987

Golfo Pérsico 19,0 19,0 17,0 10,0 675 1974

Outras Regiões 27,0 23,0 17,0 9,0 690 1997

Total 64,0 58,0 43,0 20,0 1.850 2005

Fonte: ASPO (2004) * Os picos regionais ocorreram anteriormente ao pico global projetado em virtude do caráter atípico das curvas de produção dos países da OPEP e da antiga União Soviética, entre as décadas de 1970 e 1990.

Antes de apresentar o cenário adotado pela EIA, é interessante observar que dois

argumentos distintos parecem corroborar a previsão de que o pico da produção está

próximo: em primeiro lugar, de acordo com algumas estimativas, em cerca de metade

dos países produtores a quantidade extraída anualmente está em queda, ou seja, já

passou do pico, encontrando-se nessa situação alguns dos maiores produtores mundiais,

profundas, areias betuminosas do Canadá e o petróleo pesado da Venezuela.

Page 122: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

111

como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Noruega, Canadá37 e Indonésia (este último país,

embora faça parte da OPEP, tornou-se recentemente importador de petróleo); além

disso, em segundo lugar, o pico das descobertas ocorreu em meados da década de

196038, enquanto na atualidade o volume descoberto anualmente corresponde a menos

de um terço, aproximadamente, da produção (ASPO, 2004). A Figura 3-6 ilustra a

evolução das descobertas desde 1930.

Figura 3-6–Produção x Descobertas (ASPO, 2004).

Para estimar o total do petróleo recuperável existente no mundo, a EIA utiliza-se

de metodologia bastante diferente da que foi discutida até agora, adotando os métodos

de outro órgão governamental, o United States Geological Survey (USGS). Em vez de

37 Parcela expressiva da produção canadense atual é formada por petróleo não-convencional (areias asfálticas). Porém, a produção/reservas cresce consideravelmente com o petróleo não-convencional. O mesmo ocorre com a Venezuela. 38 Por outro lado, no Oriente Médio apenas 2% dos poços pioneiros foram perfurados entre 1984 e 2005. Logo, permanece uma perspectiva de adições de reservas nessa região e fica a pergunta se o pico das descobertas se deu apenas por questões físicas, ou se aspectos de acesso,

Page 123: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

112

estimar o total a partir da extrapolação da tendência histórica das descobertas, o método

do USGS divide a superfície da Terra em numerosas regiões, e em cada uma delas, com

base em suas características geológicas, procura então calcular a quantidade de petróleo

recuperável original, considerando uma certa distribuição de probabilidade (95%, 50%

e 5%). A projeção do USGS, além disso, supõe que a taxa de extração, ou seja, a

proporção do petróleo original que pode ser recuperável economicamente, irá elevar-se

dos 30% atuais para 40%, em virtude do progresso das tecnologias de extração.

Em documento divulgado em 2003, é interessante observar que a IEA declara-se

seguidora das idéias de Hubbert, uma vez que o modelo utilizado trabalha com o

conceito de pico de produção. Verifica-se, no entanto, uma diferença fundamental em

relação ao modelo original de Hubbert: enquanto a curva de produção se mostra

assimétrica, a etapa de declínio é muito mais rápida que a de crescimento (IEA, 2003).

Dessa forma, o pico, nas projeções da EIA, encontra-se muito distante, no futuro, do

ponto médio da produção.

A combinação das probabilidades estimadas pelo USGS para o total de petróleo

recuperável com três projeções de crescimento da demanda resultou no conjunto de

nove cenários para o pico de produção de petróleo. Os três cenários com crescimento de

2% da demanda por óleo cru são apresentados na Figura 3-7:

tecnologia e estratégia de NOCs também são importantes (por exemplo, redução de esforço exploratório em função de elevada Reservas/Produção). (SZKLO, 2006)..

Page 124: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

113

Figura 3-7–Cenários de produção anual com taxas de crescimento de 2% e diferentes níveis de

reservas recuperáveis – 1900 – 2125 (em bilhões de Barris/Ano) (EIA, 2003).

Embora a análise detalhada dos vários cenários esteja fora do escopo deste

trabalho, talvez seja conveniente duas objeções formuladas por especialistas aos

cenários da EIA (2003):

• a rapidez do declínio é pouco compatível com as condições geológicas da

maioria das jazidas de petróleo; e

• as tecnologias que permitiriam o aumento da taxa de extração de 30% para 40%

defrontam-se com problemas para ser aplicadas em numerosas jazidas e

dependem do preço do petróleo (Aspo, 2003).

O aparente otimismo das projeções da EIA pode ser constatado pelo exame da

Figura 3-8, que reúne diversas estimativas das reservas mundiais de petróleo feitas por

vários autores em datas diferentes. Das 24 estimativas, as duas maiores são a média e a

otimista do USGS, verificando-se igualmente que a maior parte das estimativas está

mais próxima das de Campbell que da projeção média do USGS.

Page 125: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

114

Figura 3-8–Estimativas publicadas das reservas mundiais em trilhões de barris (EIA, 2003)

Apesar do otimismo das projeções da EIA, algumas companhias petrolíferas já

reconhecem a ocorrência do pico petrolífero. A Repsol YPF, a principal companhia

petrolífera espanhola, reconheceu formalmente a realidade do pico petrolífero. O

reconhecimento foi feito durante a última conferência da European Association of

Geoscientists and Engineers, onde apresentou ali o seguinte gráfico (Figura 3-9) do

declínio:

Page 126: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

115

Figura 3-9–Produção mundial de petroleo 1930 – 2050 (YPF, 2005).

A Chevron também já reconhece publicamente o pico petrolífero através de

anúncios nos veículos de media39 e criou um site na internet

http://www.willyoujoinus.com (será que você se juntará a nós?) destinado a promover o

diálogo acerca dessas questões.

Além disso, a ameaça do fim da era do petróleo vem provocando mudanças de

enfoque nas principais empresas petrolíferas do mundo. É o caso, por exemplo, da BP,

que inclusive alterou seu nome de British Petroleum para Beyond Petroleum;

ExxonMobil, Shell e a própria Petrobras, que tornaram públicas suas estratégias de

investir no desenvolvimento de energéticos alternativos ao petróleo, tal como o gás

natural, a célula de hidrogênio, a energia solar, a eólica e o biocombustível,

transformando-se em verdadeiras empresas de energia.

39 A Chevron publicou um anúncio no qual afirma que "O mundo consome dois barris de petróleo por cada barril descoberto. Devemos preocupar-nos?".

Page 127: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

116

3.3 Posicionamento Estratégico do Brasil: Riscos e Oportunidades

O pico de produção de petróleo no Brasil é bastante difícil de ser previsto40

devido à localização em águas profundas das principais reservas, que elevam o custo do

investimento em procura e mapeamento de novas áreas de produção. Ao final de 2004,

cerca de 91% das reservas brasileiras provadas de petróleo, de 11,2 bilhões de barris,

localizavam-se no mar. A distribuição geográfica das reservas pode ser observada na

Tabela 3-3:

40 Segundo SZKLO (2006), as curvas de produção de petróleo, modeladas segundo Hubbert para o Brasil, indicariam picos de produção com defasagem de 15 anos, conforme se evoluiu de reservas com 75% de certeza (pico 3,27 Mbpd em 2020) para reservas com 50% (pico 3,28 Mbpd em 2028) e 30% de certeza (Mbpd em 2036).

Page 128: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

117

Tabela 3-3 – Distribuição Geográfica das Reservas Brasileiras de Petróleo

Local Estado Reserva Provada

(Milhões de Barris) Reserva Total

(Milhões de Barris)

Terra Alagoas 10,9 24,7

Amazonas 100,0 123,8

Bahia 214,8 402,5

Ceará 6,8 17,6

Espírito Santo 58,4 112,7

Rio Grande do Norte 250,2 310

Sergipe 223,3 307,9

Subtotal 864,5 1.299,3

Mar Alagoas 1,6 2,0

Bahia 2,3 6,1

Ceará 70,1 79,2

Espírito Santo 1.205,6 1.530,6

Paraná2 14,8 44,0

Rio de Janeiro1 8.931,1 11.514,2

Rio Grande do Norte 67,4 116,0

São Paulo 39,9 63,0

Santa Catarina3 9,9 21,0

Sergipe 36,1 93,1

Subtotal 10.378,8 13.469,2

Total 11.243,3 14.768,4

Fonte: ANP, 2005 1 As reservas do campo de Roncador estão apropriadas totalmente no estado do Rio de Janeiro

por simplificação. 2 As reservas do campo de Tubarão estão apropriadas totalmente no estado do Paraná por

simplificação. 3 Incluindo as reservas dos campos de Baleia Anã, Baleia Azul, Baleia Bicuda, Baleia Franca,

Lagosta, Mexilhão e Salema Branca, ainda não formalmente reconhecidas pela ANP.

O crescimento da produção de petróleo no Brasil vem sendo bastante

significativo: entre 1993 e 2003, quando foram produzidos 545 milhões de barris, houve

Page 129: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

118

um aumento de 112%. A produção é fortemente concentrada na Bacia de Campos,

sendo o Rio de Janeiro responsável por 84% do petróleo produzido em 2003 (ANP,

2005).

A produção de novos campos com planos de desenvolvimento aprovados,

listados pela ANP, indica crescimento até 2009, porém será necessário descobrir e

desenvolver outros campos de grande porte nos próximos anos para que a tendência de

crescimento se mantenha, porque o campo de Marlim, o principal da Bacia de Campos,

estaria próximo de atingir o pico de produção. Vale ressaltar, no entanto, que é

planejado um investimento de US$ 34,1 bilhões em exploração e produção de novas

áreas no período 2006/10, valores que representam um incremento de US$ 13,6 bilhões

em relação à previsão realizada para o período 2003/07 e poderão ser revertidos em

incremento das reservas nacionais de petróleo (PETROBRAS, 2005).

Aparentemente, nos últimos anos a Petrobras concentrou esforços na exploração

dos campos já provados, que demandaram vultosos investimentos em um período de

preços e rentabilidade relativamente baixos. Nesse cenário de restrição de fontes de

recursos, a opção parece ter sido investir menos na prospecção de novas áreas de

produção e na recomposição de suas reservas e mais no desenvolvimento e produção

dos campos existentes.

Há evidências de que a geologia do Atlântico Sul é uma das mais favoráveis ao

descobrimento de novas reservas de petróleo em águas profundas (Aspo, 2003). Além

disso, há uma possibilidade de o potencial exploratório no Brasil esteja subestimado,

devido ao atual estágio do conhecimento de suas bacias. Neste caso, um instrumento

Page 130: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

119

útil de análise da maturidade exploratória de regiões é o Indicador de Intensidade

Exploratória (IE), que consiste na razão área sedimentar/número de poços perfurados

(exploratórios ou totais). O IE brasileiro varia entre o valor de aproximadamente 10

Km2/PExp (quilômetros quadrados/poço exploratório) no Recôncavo Baiano, a bacia

sedimentar mais explorada, e aproximadamente 21.000 Km2/PExp na Bacia do

Parnaíba, a menos explorada (SZKLO, 2006). No Brasil existem ainda áreas de

fronteiras quase que totalmente inexploradas, como, por exemplo, a Bacia do Parecis-

Alto Xingu com apenas dois poços perfurados, perfazendo um IE de 177.700

Km2/PExp (SZKLO, 2006). Na média, o IE brasileiro situa-se em torno de 1.100

Km2/PExp ou 305 Km2 (quilômetros quadrados por poços totais, incluindo os de

desenvolvimento) – (SZKLO, 2006). Assim, mesmo as bacias consideradas maduras no

Brasil seriam consideradas pouco exploradas em países com o Estados Unidos.

Adicionalmente, os esforços exploratórios até hoje aplicados na maior parte das bacias

inferiores do país foram reduzidos e certamente ainda insuficientes para uma efetiva

análise critica de seu real potencial petrolífero (SZKLO, 2006).

Portanto, do ponto de vista da oferta de fontes de energia, o posicionamento

estratégico do país é bastante favorável. O Brasil estaria relativamente bem preparado

para absorver um novo choque do preço do petróleo ou até mesmo uma diminuição da

produção mundial após o pico de produção. Existem quatro principais fatores que

corroboram essa opinião:

• O primeiro fator é a participação acentuada da geração hidrelétrica renovável e

de baixo custo na matriz energética nacional. No caso de elevação do preço do

petróleo, a grande parcela de geração hidrelétrica deverá aumentar a

Page 131: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

120

competitividade da economia nacional, comparada com economias cuja matriz é

fundamentada no petróleo.

• A auto-suficiência na produção de petróleo, que foi atingida em maio de 2006, é

uma segunda vantagem, no caso de ocorrência de um cenário de escassez da

oferta. A produção nacional seria suficiente para atender à demanda e poderia

evitar que o país fosse obrigado a disputar petróleos escassos a preços elevados

em caso de escassez no mercado internacional. A manutenção dessa situação

dependeria, no entanto, da manutenção da capacidade de produção nacional,

uma vez que, a demanda doméstica, no momento, é de, aproximadamente, 1,8

milhões de barris diários, e a Petrobras só tem reservas provadas de 16 bilhões

de barris, o suprimento estaria assegurado pôr mais 15 anos, e depende também

da realização dos investimentos previstos para o refino (metalurgia e

conversão). Assim sendo e se não descobrir mais petróleo no futuro, a empresa

só terá capacidade de satisfazer o abastecimento, com petróleo nacional, ate

2020.

• Um terceiro fator de vantagem relativa do Brasil é a recente descoberta de

grandes reservas de gás natural na Bacia de Santos e a previsão de aumento de

sua participação na matriz energética nacional. O gás natural é mais abundante

que o petróleo no mundo e vem substituindo seus derivados com vantagens em

diversas áreas (geração de energia elétrica, transporte etc.). No Brasil, o esforço

de aumento das redes de distribuição e transporte deve ser ampliado, visando

maximizar a possibilidade de substituição de derivados de petróleo pelo gás

natural. A disseminação do uso do gás natural no país deve levar em conta ainda

que existem reservas consideráveis nos países vizinhos (Bolívia e Venezuela)

que não têm utilização alternativa para o gás a não ser a possibilidade de

Page 132: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

121

produção de GNL para exportação, que, entretanto, possui um custo bastante

elevado de investimento e rentabilidade relativamente mais baixa do que a

venda in natura para o Brasil. A participação do gás natural na matriz energética

nacional vem crescendo, apesar do preço elevado do gás importado da Bolívia e

dos gargalos de infra-estrutura e regulação do mercado. No entanto, esses

pontos devem ser equacionados, para que o país possa aproveitar ao máximo a

vantagem da localização próxima dos centros industriais a grandes reservas de

gás natural.

• O Brasil possui uma grande vantagem competitiva na produção de energia a

partir de fontes alternativas e renováveis, como o álcool, biodiesel e H-Bio.

Portanto, deve haver apoio institucional aos investimentos na produção desse

tipo de energia e à pesquisa e desenvolvimento de biotecnologia associada a tais

produtos. O BNDES vem discutindo alternativas para desenvolver a produção

de biodiesel e aumentar a competitividade da produção de álcool e outras fontes

renováveis de energia.

Por outro lado, no caso de um choque do preço de petróleo, seja ele causado por

fatores conjunturais ou por escassez de oferta devido ao atingimento do pico de

produção mundial, existem três fatores principais de fragilidade da economia brasileira:

o atual nível de endividamento externo, a concentração dos transportes no modal

rodoviário e as rodadas de licitações promovidas pela ANP.

No que diz respeito ao endividamento externo, os choques de preços de

petróleo, no passado, foram acompanhados por grande elevação das taxas de juros em

todo o mundo, visando conter a disseminação do aumento dos preços de petróleo e

Page 133: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

122

derivados para o resto da economia, sob a forma de inflação. Esse movimento agravou,

principalmente, a situação de países como o Brasil, cujas dívidas se multiplicaram pela

necessidade de importar derivados de petróleo caros e pelo pagamento de juros

elevados. No caso de ocorrer um novo choque de preços, possivelmente a elevação dos

juros não se repetirá na mesma magnitude dos choques anteriores, uma vez que, o

Brasil vem reduzindo o seu nível de endividamento externo. Isso se as autoridades

monetárias nacionais decidirem que os efeitos recessivos do aumento dos juros, quando

associados a um aumento de preços de petróleo (que por si só já é um fator de restrição

da capacidade de gasto), podem ser desastrosos para as economias nacionais.

A concentração no transporte rodoviário de cargas e de passageiros, por sua vez,

pode aumentar o efeito multiplicador de um choque de preços de petróleo na economia

brasileira, porque a enorme frota de caminhões e ônibus depende quase que

exclusivamente do suprimento de diesel, derivado de petróleo. O desenvolvimento de

outros modais (ferroviário, marítimo e fluvial) é fundamental, pois podem utilizar

diferentes combustíveis ou energia elétrica gerada de fontes diversas e, além disso,

possuem uma eficiência energética maior. Portanto, economias neles baseadas terão

custos de transporte mais baixos. Nesse aspecto, o Brasil tem muito que avançar, sendo

essa uma excelente oportunidade de investimento.

A abertura do setor do petróleo no Brasil, com a promulgação da Lei 9.478, foi

preconizada como a solução necessária para forçar a redução do custo dos derivados,

argumentando-se, à época, que a competição entre as empresas levaria, naturalmente, à

diminuição dos preços aos consumidores.

Page 134: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

123

A abertura vem sendo realizada através de rodadas de licitações da ANP que

permite a exploração de preciosas jazidas a empresas transnacionais. Cerca de metade

das áreas já licitadas foram ganhas por empresas estrangeiras, que assinaram contratos

de 30 anos de validade, com a ANP. Esses contratos permitem a exportação do petróleo

descoberto, uma vez atendidas às necessidades nacionais de curto prazo. As empresas

estrangeiras, que começaram a prospecção no país desde 1999 (ano da 1ª licitação), ao

descobrirem petróleo, vão estar exportando o excedente, durante a fase em que a

Petrobrás terá capacidade de garantir o abastecimento nacional, como já vem

ocorrendo; tão logo a Petrobrás esgote a capacidade de assegurar, autonomamente, esse

abastecimento, as empresas estrangeiras serão obrigadas a atender o abastecimento do

país, mas pelo preço internacional (devido aos contratos), podendo continuar

exportando o excedente de produção. Dessa forma, é necessária uma legislação que

assegure ao país o abastecimento, mesmo após 2020, com petróleo a custos razoáveis e

pôr um longo período, através da Petrobrás.

Em síntese, o país deve se preparar para um cenário de escassez de oferta de

petróleo. Serão necessários diversos investimentos em infra-estrutura, principalmente

no transporte e distribuição de gás natural, na prospecção e exploração de novas áreas

de extração de petróleo e no transporte ferroviário, marítimo e fluvial. Desse modo,

poderão ser absorvidos os efeitos de um novo choque de preços de petróleo, sem que

haja reflexos danosos maiores à economia nacional.

Somando-se a isso, nesse cenário o Brasil poderá desenvolver vantagens

comparativas importantes, relacionadas às características específicas da sua matriz

energética e ao desenvolvimento de fontes renováveis de energia a custos competitivos.

Page 135: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

124

4 INFLUÊNCIA DO PREÇO DO PETROLEO NA ECONOMIA MUNDIAL

Como fonte primária de energia amplamente utilizada a partir de meados da

primeira metade do século XX, o petróleo tem exercido grande influência na economia

global. Os aspectos de oferta e demanda, com conseqüente repercussão no seu preço,

afetam a economia mundial sob vários aspectos. A transferência de produto bruto entre

países importadores e países exportadores de petróleo segue as flutuações de seu preço.

O preço do petróleo afeta diretamente o preço de seus derivados que são utilizados tanto

como matéria prima como produto final, repercutindo no consumo das famílias e

impactando no seu poder de compra e, consequentemente, na sua cesta de produtos.

A vulnerabilidade dos países importadores de petróleo a um aumento

significativo de preço depende da intensidade de seu uso em suas economias. De acordo

com estudo realizado pela Agência Internacional de Energia (IEA), em colaboração

com o departamento econômico da OECD (Organization for Economic Co-Operation

and Development) demonstrou-se que, em 2004, um aumento de US$ 10 no preço do

barril causaria uma redução no produto bruto de 0,4% nos países da OECD como um

todo (IEA, 2004b). Os países da região do Euro, altamente dependentes do petróleo

importado, teriam uma redução em seu produto bruto de 0,5%. Os Estados Unidos

teriam uma queda menor, 0,3%, devido a sua produção que atende grande parcela de

suas necessidades. Porém o estudo indicou que os impactos seriam maiores em países

em desenvolvimento e pobres. No caso da Índia, que gastou 3% de seu produto bruto

em 2003 com importação de petróleo, a queda do produto bruto seria de 0,8%. Nos

países africanos da região sub-saariana, a queda seria de 3%. O produto bruto mundial

Page 136: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

125

seria pelo menos 1% menor no ano seguinte ao aumento. Isto é devido ao estimulo

econômico dos rendimentos dos países da OPEC e de outros países exportadores seria

suplantado pelo efeito depressivo de preços elevados nas atividades econômicas dos

países importadores (IEA, 2004b).

Os resultados desse estudo realizado pela Agência Internacional de Energia são

apresentados nas Tabelas 4-1 e 4-2, e na Figura 4-1.

Tabela 4-1 – Indicadores Macroeconômicos da OECD

2004 2005

PIB -0,4% -0,4%

Índice de Preços ao Consumidor 0,5% 0,6%

Taxa de Desemprego 0,1% 0,1%

Balança Comercial -32 -42

Fonte: IEA (2004b).

Figura 4-1–Indicadores macroeconômicos da OECD por país/região (IEA, 2004).

Page 137: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

126

Tabela 4-2 – Indicadores Macroeconômicos dos Países em Desenvolvimento

PIB (%) Inflação (%) Balança

Comercial (% do PIB)

Ásia -0,8 1.4 -1.0

China -0,8 0.8 -0.6

Índia -1,0 2.6 -1,2

Malásia -0,4 2,0 0,0

Filipinas -1,6 1,6 -2,0

Tailândia -1,8 0,8 -3,0

América Latina* -0,2 1,2 0,0

Argentina -0,4 0,2 0,2

Brasil -0,4 2,0 -0,4

Chile -0,4 2,0 -1,4 * Incluindo o México. Nota: Impactos após um ano com preços do petróleo acima de US$ 10 do cenário base. Fonte: IEA (2004).

O crescimento da economia mundial se desacelerou a 4,3% do Produto Interno

Bruto (PIB) em 2005 e manteve esse ritmo em 2006, devido ao aumento dos preços do

petróleo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI considera hoje que

os altos preços do petróleo sejam uma ameaça para a economia mundial, já que parte

das altas do preço se deve a uma insuficiência da oferta, ao contrario do passado,

quando sua causa estava no crescimento da demanda.

4.1 Impactos sobre os Preços no Consumidor e Inflação

A Figura 4-2 apresenta uma panorâmica estilizada das principais implicações

possíveis através dos quais um choque petrolífero influência os preços. Os aumentos

dos preços do petróleo afetam diretamente os preços ao consumidor, dado que os seus

Page 138: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

127

derivados fazem parte da cesta de consumo das famílias. Além disso, podem ter um

efeito indireto sobre os preços no consumidor através do aumento dos preços ao

produtor. Além do mais, podem existir outras repercussões nos preços no consumidor

se os aumentos dos preços devidos a preços do petróleo mais elevado se refletirem em

salários mais elevados ou, de um modo mais geral, nas expectativas de inflação.

Figura 4-2–Principais implicações de um choque petrolífero aos preços (Elaboração própria).

Relativamente aos efeitos diretos, a Figura 4-3 abaixo ilustra a estreita ligação

entre os movimentos dos preços do petróleo e as rubricas relacionadas com o petróleo –

petróleo para aquecimento e combustíveis para transportes – incluídas na componente

energética do IHPC (índice de preços ao consumidor da Comunidade Européia). Os

preços destas duas rubricas reagem quase de imediato aos aumentos dos preços do

Page 139: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

128

petróleo, ou seja, durante o mês do choque ou no mês seguinte, o que poderá estar em

parte relacionado com o período de repasse de preços.

Figura 4-3–Preços do petróleo e rubricas selecionadas dos produtos energéticos no IHPC

(BCE, 2004).

Os preços dos outros produtos energéticos substitutos do petróleo, como o gás,

também seguem a evolução dos preços do petróleo, mas geralmente são afetados com

algum atraso. Analisando a componente de energia total do IHPC, uma regra prática

muitas vezes usada sugere que um aumento de 10% nos preços do petróleo, leva a um

aumento de 1,5 pontos percentuais da taxa de variação homóloga dos preços no

consumidor dos produtos de energia dentro de cerca de meio ano. Como os produtos de

energia têm um peso de aproximadamente 8-9% do IHPC global, tal traduz-se num

aumento direto de 0.1-0.2 pontos percentuais na inflação total dos preços ao

consumidor (EIA, 2004b).

Page 140: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

129

Como indicado acima, os preços ao consumidor também podem ser

indiretamente afetados, uma vez que as empresas, ao enfrentarem preços dos fatores de

produção do petróleo mais elevados, tentarão passar estes aumentos dos custos aos

respectivos preços de venda (ou seja, preços ao produtor), de forma a manter ou

restabelecer as respectivas margens de lucro. Posteriormente, estes aumentos dos preços

mais gerais podem ainda transmitir-se aos preços de outros produtos (não relacionados

à energia) e serviços incluídos no índice de preços no consumidor. O grau em que estes

aumentos dos custos são transmitidos às fases de preços subseqüentes é afetado por

fatores como as pressões de mercado e a situação do ciclo econômico. Dado que a

transmissão de um aumento dos custos aos preços ao longo da cadeia de oferta não é

imediata, o impacto indireto de um choque petrolífero sobre os preços no consumidor é

mais defasado e leva mais tempo do que o efeito direto. Mesmo que os efeitos diretos e

os indiretos de um aumento permanente dos preços do petróleo tenham um impacto

duradouro sobre o nível do índice de preços no consumidor, a taxa de inflação, no

inicio, é apenas temporariamente afetada. Contudo, embora o impacto sobre a taxa de

inflação resultante do efeito direto seja de duração relativamente curta, o impacto do

efeito indireto é mais prolongado devido à sua transmissão mais lenta e gradual.

Além dos efeitos diretos e indiretos, normalmente caracterizados como efeitos

de primeira ordem, existe o risco dos chamados efeitos de segunda ordem, que podem

exercer novas pressões ascendentes sobre os preços ao consumidor. Os efeitos de

segunda ordem referem-se tipicamente à situação em que os aumentos dos preços de

primeira ordem são tidos em conta no processo de negociação salarial subseqüente, por

forma a compensar a queda do rendimento real o que, por sua vez, aumentará as

expectativas inflacionárias exercendo novas influências sobre o comportamento da

Page 141: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

130

fixação de preços. Se os trabalhadores obtiverem aumentos salariais mais substanciais

em resultado do choque petrolífero, poderá desencadear-se uma espiral salários/preços.

As empresas que enfrentarem reivindicações salariais mais fortes poderão ser forçadas a

aumentar de novo os respectivos preços, o que, por sua vez, alimentará as expectativas

inflacionárias, repercutindo-se na próxima ronda de negociações salariais. Assim, na

presença de efeitos de segunda ordem, um choque petrolífero não só afeta

permanentemente o nível dos preços como poderá desencadear efeitos mais persistentes

sobre a inflação.

A probabilidade dos efeitos de segunda ordem varia de acordo com a situação

macroeconômica global e depende da credibilidade e reação dos bancos centrais. Numa

situação de abrandamento econômico, os efeitos indiretos e de segunda ordem terão

menos probabilidade de ocorrer do que em condições de expansão, em que o mercado

de trabalho é restrito e as pressões sobre os preços são elevadas. Do mesmo modo,

enquanto o impacto direto “mecânico” de preços do petróleo mais elevados sobre a

componente produtos de energia dos índices de preços no consumidor é inevitável, as

eventuais pressões sobre os preços, relacionadas, nomeadamente, com efeitos de

segunda ordem, dependem fortemente da ação do Banco Central e ainda da reação

efetiva da política monetária. Com uma política monetária orientada para a manutenção

da estabilidade de preços a médio prazo, haverá uma maior probabilidade de os

trabalhadores aceitarem a redução no rendimento real e de as expectativas inflacionárias

não serem afetadas pelo aumento temporário da inflação provocado pela subida dos

preços do petróleo. No entanto, se as expectativas inflacionárias aumentarem, a política

monetária ortodoxa fará subir as taxas de juro, de forma a conter as pressões

inflacionárias resultantes dos efeitos indiretos e de segunda ordem em médio prazo.

Page 142: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

131

Obviamente, uma reação salarial adequada, ou seja, a aceitação dos efeitos de um

aumento dos preços do petróleo sobre o rendimento real, permite evitar eficazmente

uma espiral inflacionária e perdas de produto.

O estudo da Agência Internacional de Energia de maio de 2004 mostra a

correlação positiva entre a taxa de inflação e o preço do barril de petróleo em valores

constantes tendo como base o ano 2000.

Figura 4-4–Taxa de inflação dos países da OECD e preço médio do petróleo importado (IEA,

2004b)

No caso da economia brasileira, a elevação dos preços internacionais do

petróleo, a partir de fins de 1973, tem sido usualmente identificada como uma das

causas básicas do processo de aceleração inflacionária. O repasse interno do aumento

dos preços internacionais do petróleo exerceu forte impacto sobre a taxa de inflação, em

função da estrutura do setor industrial e do sistema de transportes brasileiros, que

apresentavam alto grau de dependência com relação ao petróleo importado.

Page 143: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

132

Examinando-se os dados do período 1973-83, constata-se que a variação média do nível

geral de preços foi da ordem de 17.000%, enquanto os preços médios de gasolina, óleo

diesel e óleos combustíveis cresceram em torno de 40.000%, 32.000% e 71.000%,

respectivamente (MARQUES, 1987). Ou seja, os preços médios dos derivados de

petróleo variaram efetivamente acima da taxa de inflação, o que representou, sem

dúvida, intensa pressão inflacionária ao longo desse período.

4.2 Impactos sobre a Atividade Econômica

Uma das explicações mais importantes do impacto de um choque petrolífero

sobre a atividade econômica real advém do canal do lado da oferta. O petróleo

representa um importante fator de produção. Um aumento dos preços do petróleo

implica um aumento nos custos de produção, dado que a capacidade de substituir o

petróleo é limitada, particularmente no curto prazo. Como resultado do aumento dos

custos do petróleo, o nível do produto poderá ser reduzido, podendo levar ainda à

diminuição da demanda de outros fatores de produção, como o trabalho.

Do lado da demanda da economia, um aumento nos preços do petróleo implica

uma deterioração dos termos de troca das economias importadoras líquidas de petróleo.

Consequentemente, o rendimento será redistribuído das economias importadoras

líquidas de petróleo para as economias exportadoras líquidas de petróleo41. A queda do

rendimento real nos países importadores líquidos de petróleo associada ao choque

petrolífero se traduzirá numa menor demanda interna na medida em que não for

41 A Afirmação somente é válida para uma mesma taxa de câmbio e o curto prazo. Mudanças na taxa de câmbio (por exemplo, desvalorização do dólar) e maior agregação de valor aos produtores exportadores pelos países compradores de petróleo “recalibram” os termos de troca em favor destes últimos.

Page 144: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

133

compensada pela redução da poupança ou pelo aumento do endividamento. Além disso,

se os parceiros comerciais de um país forem predominantemente países importadores

líquidos de petróleo, a queda da demanda interna será provavelmente acompanhada por

uma queda da demanda de exportações. Na perspectiva da economia mundial, o

impacto líquido sobre a demanda poderá também ser negativo, se muitos países

exportadores líquidos de petróleo, beneficiando-se de um choque petrolífero, tiverem

uma menor propensão para o consumo do que os países importadores líquidos de

petróleo, e provavelmente só ajustarem a respectiva demanda gradualmente.

O impacto negativo de um choque petrolífero sobre a atividade, resultante dos

efeitos básicos de aumento dos custos e do lado da demanda, pode ser exacerbado

através de alguns outros canais. Por exemplo, um choque petrolífero poderá ter novo

impacto sobre a atividade através do seu efeito sobre a confiança. Um aumento dos

preços do petróleo aumenta a incerteza acerca da evolução futura dos preços do

petróleo e, desse modo, acerca das perspectivas econômicas em geral. Em vista do

aumento da incerteza, os consumidores poderão abster-se de fazer grandes compras e as

empresas poderão decidir adiar ou prolongar projetos de investimento irreversíveis. Do

mesmo modo, um choque petrolífero poderá afetar negativamente o consumo e o

investimento através do seu impacto sobre os mercados financeiros ou, de um modo

mais geral, fazendo piorar as condições de financiamento. A variação no sentido

ascendente do nível dos preços devido a um choque petrolífero, tudo o resto constante,

reduz os saldos reais. Por forma a restaurar o equilíbrio da carteira, as pessoas tendem a

reorientar as respectivas carteiras para ativos líquidos. Consequentemente, as taxas de

juro de longo prazo poderão subir.

Page 145: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

134

Contudo, o impacto sobre o produto pode ser compensado pela reação adequada

da política monetária. Ao estabilizar as expectativas de inflação, uma política monetária

orientada para a estabilidade de preços reduz as perdas de produto. Além disso, embora

em curto prazo a possibilidade de substituir o petróleo por outros fatores no processo de

produção seja limitada, representa uma opção viável para além desse horizonte. Assim,

se um aumento dos preços do petróleo for considerado permanente, as empresas

poderão decidir mudar para um plano de produção menos intensivo em petróleo. Da

mesma forma, um choque petrolífero persistente poderá causar uma restruturação entre

setores mais e menos intensivos em petróleo, tornando a economia mais resistente aos

choques petrolíferos futuros.

Em qualquer discussão sobre o modo como os preços do petróleo afetam a

economia é importante ter em mente que o impacto também depende da natureza do

choque petrolífero. Em particular, alguns argumentos sugerem que o impacto global

pode não ser proporcional à dimensão (em temos percentuais) da variação dos preços

do petróleo, ou seja, o impacto pode não ser linear. Vários fatores, tais como a direção,

duração e causa do choque e o nível absoluto e variabilidade dos preços do petróleo,

poderão desempenhar um papel importante.

O efeito dos aumentos e das diminuições dos preços do petróleo sobre a

economia poderá ser assimétrico42, devido a fatores como a rigidez ou os custos de

42 Uma explicação frequentemente sugerida para este impacto assimétrico é que os preços dos combustíveis e outros produtos petrolíferos variam mais devido aos aumentos dos preços do petróleo do que em resultado das descidas. Mais especificamente, a literatura considera que os preços dos combustíveis se ajustam mais rapidamente e, em parte em conseqüência disso, mais intensamente na seqüência de aumentos dos preços do petróleo do que após descidas dos preços do petróleo. Assim, se um aumento dos preços do petróleo se traduz numa maior variação dos preços dos combustíveis no período

Page 146: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

135

ajustamento. Poderá também suceder que o nível dos preços do petróleo (seja qual for a

variação a ele conducente) desempenhe um papel em termos de impacto sobre a

atividade, dando origem aos chamados efeitos limiar. Por exemplo, se os preços do

petróleo atingir um nível elevado, alguns projetos de investimento poderão ser

considerados inviáveis. Além disso, a variação do nível absoluto dos preços do petróleo

poderá ser mais relevante do que a variação percentual. Se o consumo de petróleo for

relativamente inelástico ao preço e o orçamento total for fixo, a subida absoluta dos

preços do petróleo determinará o montante adicional que as famílias e as empresas

precisarão despender nas contas de produtos energéticos. A duração do período em que

os preços do petróleo aumentam ou permanecem elevados poderá também influenciar a

reação da economia ao choque. Quanto mais persistente for o aumento, menor a

probabilidade de as empresas e as famílias absorverem o choque através da redução das

margens de lucro e da poupança. Também é mais provável que um choque petrolífero

permanente afete a estrutura da produção na economia, já que as empresas podem

substituir o stock de capital por equipamento menos intensivo em petróleo ou tentar

diversificar o respectivo consumo de produtos energéticos. A variabilidade dos preços

do petróleo também pode ter um papel a desempenhar, uma vez que os aumentos que

invertem descidas anteriores dos preços do petróleo podem não ter um impacto

significativo sobre a economia. Além disso, num contexto de preços do petróleo

voláteis, os consumidores e as empresas têm maior probabilidade de considerar a

variação temporária. Finalmente, a causa de um choque petrolífero desempenha um

papel importante em termos de impacto geral. Os choques petrolíferos relacionados

subseqüente ao choque do que uma descida, terá também um impacto mais rápido e forte sobre a inflação e o produto. Além disso, o impacto assimétrico dos preços do petróleo sobre a inflação e o produto poderá estar relacionado com a rigidez descendente dos salários. Tal refere-se a uma situação em que os trabalhadores reivindicariam salários nominais mais elevados para compensar a diminuição do respectivo poder de compra real resultante dos aumentos dos preços do petróleo, mas não aceitariam salários

Page 147: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

136

com perturbações da oferta levam normalmente a uma queda do produto e a uma

inflação mais elevada. No entanto, os preços do petróleo também podem aumentar em

reação a uma forte recuperação da procura mundial. Nesse caso, o efeito negativo do

produto será mitigado pela aceleração da procura mundial, enquanto as pressões

inflacionistas aumentarão mais do que no caso de um choque motivado pela oferta.

4.3 Fatores Estruturais e o Impacto dos Choques Petrolíferos

Alguns fatores estruturais podem influenciar o impacto dos choques petrolíferos

sobre a atividade econômica e a inflação. São relevantes as tendências de longo prazo

relativas à dependência do petróleo por parte das áreas importadoras e o grau de

substituibilidade entre o petróleo e outras fontes de produtos energéticos primários.

Relativamente às variações de longo prazo da dependência do petróleo, alguns

países e áreas tornaram-se menos dependentes ao petróleo. No caso dos países que

adotaram o Euro (a Zona do Euro) tornaram-se consideravelmente menos dependente

do petróleo desde a década de 70, devido aos ajustamentos entre indústrias e à

substituição do petróleo por outras fontes de produtos energéticos. Esta tendência é

partilhada com outras economias industrializadas, tais como os Estados Unidos e o

Reino Unido. Tal mudança se reflete em ajustamentos entre indústrias, de setores mais

intensivos em petróleo, como a indústria de transformação, para setores menos

intensivos em petróleo, como os serviços (excluindo os transportes), bem como a

utilização de tecnologias menos intensivas em petróleo.

nominais decrescentes na eventualidade de uma descida dos preços do petróleo (JIMÉNEZ-

Page 148: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

137

A Zona do Euro também reduziu a respectiva dependência em produtos de

energia não petrolíferos desde a década de 70, embora em menor escala do que a sua

dependência em petróleo, o que se ficou a dever à substituição do petróleo por outras

fontes de produtos primários de energia. A crescente substituição do petróleo por outras

fontes de energia, em conjunto com a redução da dependência global face ao petróleo,

tem contribuído para tornar a economia da Zona do Euro menos vulnerável a choques

petrolíferos do que no início da década de 70.

Nota: Tonelada de petróleo por um milhão de PIB a preços de 1995

Figura 4-5–Consumo de petróleo em relação ao PIB real na Zona do Euro (BCE, 2004).

As economias dos países em desenvolvimento, principalmente os da África e

Ásia, serão as que mais sofrerão com a manutenção dos preços altos do petróleo porque

são economias extremamente dependentes da importação de petróleo. Além disso, suas

indústrias energo-intensivas representam a maior parcela de seus PIB e são

energeticamente ineficientes. Na média, os países em desenvolvimento utilizam mais

que o dobro de petróleo para produção de um bem de consumo do que os países

desenvolvidos.

RODRIGUEZ, R. E SÁNCHEZ, M., 2004).

Page 149: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

138

A Figura 4-6 abaixo realiza a comparação da intensidade de petróleo, definida

como o consumo de petróleo por unidade do PIB, de alguns países em desenvolvimento

com os países OECD. A Índia, por exemplo, utiliza mais de duas vezes e meia mais

petróleo que os países desenvolvidos por unidade de PIB, enquanto que as economias

da China, Tailândia e países da África são ainda mais intensivos. É estimado que a

Índia gastou em torno de 15 bilhões de dólares importando petróleo, o que representa

3% do seu PIB em 2003. Isso representa um crescimento de 16% em relação a 2001.

Enquanto isso, os países da OECD, que eram responsáveis por 13% das importações de

petróleo em 1990, foram responsáveis por somente 4% das importações de petróleo no

final de 1999 (EIA, 2004b).

Figura 4-6–Intensidade de Petróleo em 2002* (OECD = 100) - (EIA, 2004).

* Quantidade de petróleo utilizada para produção de um bem de consumo.

Os efeitos negativos de um choque petrolífero sobre o produto e a inflação

tendem a ser menores quanto mais flexível for a economia, uma vez que isso permite

um ajustamento mais célere e suave para um novo equilíbrio pós-choque. O impacto

Page 150: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

139

dos choques petrolíferos depende do funcionamento dos mercados do produto e do

trabalho, uma vez que os efeitos sobre a atividade econômica e a inflação variam de

acordo com o grau de flexibilidade dos preços e dos salários na economia, o que, por

sua vez, é afetado pelo nível de concorrência no mercado do produto e de flexibilidade

no mercado de trabalho.

Quando se analisa a transmissão de um choque petrolífero à economia, deve ter-

se em conta o grau de flexibilidade do mercado de trabalho, porque este determina a

capacidade de ajustamento a esses choques e a eficiência dos recursos humanos e

outros. A flexibilidade do mercado de trabalho é definida como a capacidade do

mercado de trabalho de se adaptar e reagir à mutação das condições econômicas,

através das variações dos preços, ou seja, os salários, e/ou através das variações das

quantidades, ou seja, o emprego ou as horas trabalhadas. A capacidade de resposta dos

salários às variações do nível dos preços é de particular relevância, dado que, na

seqüência de um choque petrolífero, os trabalhadores poderão exigir salários nominais

mais elevados para manter o respectivo poder de compra real, mas não aceitarão cortes

nos salários nominais em resultado da queda dos preços do petróleo. Por outras

palavras, os salários poderão ser flexíveis no sentido ascendente, mas inflexíveis no

sentido descendente (rigidez nominal), exacerbando assim as perdas potenciais do

produto e os aumentos da inflação resultantes de um choque petrolífero. A capacidade

de resposta dos salários à taxa de desemprego também desempenha um papel

importante, porque a rigidez real poderá exacerbar os efeitos negativos de um choque

petrolífero. Os necessários ajustamentos setoriais poderão ser prejudicados pela

legislação de proteção ao emprego, escudando dos choques parte da população ativa.

Page 151: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

140

A transmissão dos choques petrolíferos à economia é ainda influenciada pela

flexibilidade dos mercados do produto, já que a perda do produto e o aumento dos

preços na seqüência de um choque petrolífero tendem a ser menores nos mercados

abertos do que nos mercados com uma significativa rigidez. Num mercado de muita

concorrência, a rápida readaptação de recursos deverá garantir que um novo equilíbrio

em termos de produto, emprego e nível dos preços seja rapidamente alcançado quando a

economia for atingida por um choque petrolífero. A existência de mercados com

alternativas energéticas é particularmente importante neste contexto para melhorar a

transparência dos preços dos produtos energéticos e absorver os choques petrolíferos.

4.4 Choques Petrolíferos e Medidas Macroeconômicas

A experiência passada demonstra que as políticas macroeconômicas

desempenham um papel importante na determinação dos efeitos agregados de um

choque petrolífero sobre a economia. Tomando como exemplo o primeiro choque

petrolífero no início da década de 70, os salários aumentaram fortemente e os governos

em geral tentaram atenuar os efeitos negativos sobre a atividade através de políticas

fiscais expansionistas, levando a um aumento significativo e duradouro dos déficits

fiscais. Em muitos países, a política monetária também tomou uma orientação de

relativa acomodação, refletida, por exemplo, em taxas de juro reais geralmente

negativas no período subseqüente ao aumento dos preços do petróleo. A reação das

políticas fiscal e monetária na maioria dos países foi manifestamente inadequada,

considerando os rápidos aumentos dos preços ao consumidor na seqüência do primeiro

choque petrolífero e os fortes aumentos salariais resultantes da prevalência da

indexação salarial e de tentativas mais gerais dos trabalhadores para recuperar as perdas

Page 152: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

141

do rendimento real associadas. As reações de política nessa altura não só adiaram a

queda do rendimento real necessária face ao aumento dos preços do petróleo, como, na

verdade, adicionaram pressões inflacionárias, aumentando desse modo os custos

posteriores de desinflação. Em resultado da experiência com o primeiro choque

petrolífero, as autoridades fiscais e monetárias em geral adotaram uma orientação muito

menos suave a partir daí. Por exemplo, após o segundo choque petrolífero em 1979, a

política monetária restringiu-se mais decisivamente, de forma a manter a inflação baixa,

e a política fiscal foi menos expansionista em muitos países.

Algumas lições podem ser tiradas do passado. A mais importante reside no fato

de as economias importadoras líquidas de petróleo não poderem evitar a perda nos

termos de troca associada a um aumento dos preços do petróleo. Um aumento do preço

do petróleo está geralmente associado à transferência de riqueza dos países

importadores líquidos de petróleo para os exportadores de petróleo. Este encargo tem de

ser absorvido na economia, de modo a minimizar as perdas de produto e evitar a

aceleração das expectativas inflacionárias. Em particular, a fixação de salários, em linha

com a estabilidade de preços em médio prazo, constitui um importante arma para

facilitar o ajustamento necessário e limitar os custos associados.

O papel da política monetária ortodoxa orientada para a estabilidade de preços é

assegurar que os efeitos diretos temporários e inevitáveis dos aumentos dos preços do

petróleo sobre a inflação não alimentem expectativas inflacionárias, nem levem à

emergência de efeitos de segunda ordem. A credibilidade da política monetária é crucial

nesse contexto. Desde que todos os agentes econômicos estejam certos de que política

monetária atuará vigorosamente contra a emergência de pressões inflacionárias gerais,

Page 153: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

142

os responsáveis pela fixação de salários agirão provavelmente em conformidade. Ao

ancorar as expectativas inflacionárias, esta estratégia contribui para a redução das

perdas de produto. No entanto, se existirem indicações de que as pressões inflacionárias

gerais estão a aumentar, os bancos centrais necessitam de estar preparados para tomar

medidas. A este respeito, é extremamente importante que a política monetária esteja

vigilante contra a emergência de efeitos de segunda ordem após um aumento dos preços

do petróleo, incluindo um acompanhamento de perto das expectativas inflacionárias e

da evolução do processo de negociação salarial. Os bancos centrais também têm de

avaliar as causas e a natureza do choque petrolífero, em conjunto com a posição cíclica

corrente da economia e a evolução provável da demanda e da oferta agregadas. Além

disso, a política monetária deverá tomar em consideração o comportamento dos outros

agentes de política.

As políticas fiscais podem apoiar a condução da política monetária orientada

para a estabilidade de preços ao não tentar acomodar os efeitos econômicos negativos

associados aos choques petrolíferos, o que prolongaria os inevitáveis efeitos reais

associados a esses choques. Em termos gerais, a orientação fiscal subjacente deverá

permanecer praticamente inalterada, embora se deva deixar funcionar os estabilizadores

automáticos. Contudo, se já se verificarem desequilíbrios significativos e os esforços de

consolidação fiscal estiverem aquém dos compromissos assumidos, é importante que os

governos retomem políticas de consolidação, em particular se for previsível que o

aumento dos preços subsista durante algum tempo. Nessa situação, uma orientação de

política fiscal inadequada poderia ter um efeito desestabilizador, na medida em que

poderia adiar o ajustamento estrutural e prolongar as pressões inflacionárias.

Page 154: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

143

5 ALTERNATIVAS À ENERGIA DO PETRÓLEO

A principal alternativa para redução do consumo de petróleo seria iniciar a sua

substituição por fontes alternativas de energia. Atualmente as fontes de energia

baseadas em recursos não renováveis, que causam muitos problemas ambientais,

correspondem a 86% do consumo energético mundial (BP, 2006). Nenhuma das

alternativas tradicionais ao petróleo se aproxima sequer a este valor, mesmo sem

considerar o incremento necessário no futuro para responder ao aumento da população e

da industrialização.

Um fator de importância ao avaliar as alternativas energéticas ao petróleo é o

fato de que as fontes de energia alternativas citadas na tabela abaixo possuem custos de

produção mais elevados e requerem uma quantidade de energia maior para serem

produzidas do que a simples extração de petróleo. Desse modo, a energia gerada por

esses combustíveis (taxa de conversão) tem de ser maior do que a consumida na sua

produção, ou eles não são de fato um substituto para o petróleo como fonte de energia

(Goodstein, 2004).

Page 155: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

144

Tabela 5-1 – Fontes de energia alternativas ao petróleo

Não Renováveis Renováveis

Areais Asfálticas Biomassa

Petróleo Ultra-Pesado Hidrelétrica

Gás Natural Solar

Carvão Eólica

Xisto Betuminoso Energia das Ondas

Hidratos de Metano Energia das Marés

Fissão Nuclear Energia Térmica dos Oceanos

Geotérmica Fissão Nuclear

Fonte: Elaboração Própria.

A partir da queda na produção de petróleo, a disponibilidade de outras fontes

primárias de energia será decisiva para a economia global.

As reservas conhecidas de areias asfálticas (tar sands) e de petróleo pesado

chegam a 7 trilhões de barris e constituem a maior parte do chamado petróleo não-

convencional. As areias do Canadá, em particular, já são exploradas em grande escala e

respondem por parcela expressiva da produção petrolífera do país. No entanto, o

potencial econômico das areias e do petróleo ultra-pesado não deve ser superestimado,

uma vez que ambos só podem ser utilizados após processamento e transporte custosos,

em termos energéticos e ambientais. O aumento da produção de combustíveis

provenientes dessas fontes deverá ser lento, mesmo que ocorra grande elevação nos

preços do petróleo.

As perspectivas do xisto betuminoso são ainda mais problemáticas. De fato,

embora as reservas estimadas sejam enormes, o xisto tem de ser extraído como mineral

Page 156: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

145

aquecido e hidrogenado, de modo a proporcionar materiais líquidos. Os efeitos sobre o

ambiente são graves, pois é preciso utilizar vários barris de água para obter um barril de

“petróleo”, e o processamento consome muita energia.

Os hidratos de metano, que são sólidos semelhantes ao gelo encontrados em

sedimentos oceânicos, constituem-se provavelmente na fonte de energia fóssil mais

controversa. Não há perspectivas de utilização comercial a médio prazo.

A principal fonte de energia alternativa ao petróleo é o gás natural, que pode

inclusive substituir a gasolina em motores a combustão, desde que feitas pequenas

adaptações, conforme o exemplo verificado em diversos estados no Brasil. Além disso,

existe a possibilidade de se produzir, a partir dele, gasolina, diesel e nafta pela

tecnologia gas-to-liquids (GTL). Desde 2003, empresas como a ExxonMobil, Shell,

ConocoPhillips e ChevronTexaco vêm realizando estudos de viabilidade econômica

para o desenvolvimento de plantas de GTL no Catar. Suas reservas ainda são elevadas e

poderiam adiar a crise de oferta de energia por vários anos caso as modificações de

infra-estrutura, necessárias para a substituição dos derivados de petróleo, possam ser

feitas de forma rápida. No entanto, esses investimentos são bastante vultosos,

principalmente para viabilizar o transporte de longa distância, através de gasodutos ou

de navios de GNL. Além disso, como o gás natural também é uma fonte não-renovável,

inevitavelmente o crescimento da produção levará ao esgotamento mais rápido das

reservas mundiais existentes.

Ainda mais distante das características do petróleo está o carvão, que foi a

principal fonte de energia primária dos países industriais até meados do século 20 e é a

Page 157: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

146

fonte de energia não-renovável convencional mais abundante na Terra (reservas

provadas de cerca de 1 trilhão de toneladas) – (BP, 2006). Em relação ao petróleo, o

carvão é mais difícil de ser extraído e transportado, possui menor densidade de energia

e é um combustível mais poluente, já que a sua extração está associada a um nível

elevado de elementos nocivos ao meio ambiente, como enxofre e mercúrio. Além disso,

a maior parte do petróleo é consumida no setor de transportes, no qual o uso do carvão é

tecnicamente bem mais custoso, através da tecnologia CTL.

A fissão nuclear utiliza como “combustível” um isótopo (variedade) que

corresponde a apenas 0,7% do urânio existente na natureza. Assim, deve ser

considerada como energia não-renovável, sendo importante destacar que a relação entre

reservas e produção de urânio físsil é da mesma ordem de grandeza que a verificada

para os combustíveis fósseis. A disponibilidade de material físsil poderia multiplicar-se

por cerca de 100 vezes se fosse viabilizada a produção de plutônio em reatores

breeders, tecnologia que, porém, é extremamente complexa e ainda não atingiu de

forma plena o estágio comercial, após décadas de desenvolvimento. A energia nuclear,

além disso, está restrita – pelo menos até hoje – à geração de eletricidade, o que limita

seriamente seu emprego nos transportes.

A energia geotérmica consiste na utilização de vapor ou água quente

provenientes de camadas subterrâneas. Trata-se, por sua vez, de fonte de interesse local

ou, no máximo, regional, pela escassez de lugares que reúnam as condições naturais

necessárias.

Page 158: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

147

No que se refere às fontes de energia renovável, a mais importante tem sido a

biomassa, em suas múltiplas formas: lenha, resíduos vegetais, álcool, biodiesel etc. Seu

papel é particularmente relevante nos países que ainda estão no início do processo de

industrialização, sendo pouco provável que venha a substituir em grande escala os

combustíveis fósseis. No caso do Brasil, entretanto, a biomassa poderá contribuir de

forma significativa para a matriz energética, em virtude dos custos de produção

relativamente pequenos.

A energia hidrelétrica abundante constitui outra vantagem do Brasil. Cabe

salientar, todavia, que boa parte dos rios com potencial expressivo de geração de

eletricidade já foi aproveitado e que a participação da hidroeletricidade na matriz

energética brasileira deverá diminuir ao longo do tempo. É interessante observar, ainda,

que a energia hidrelétrica não pode, rigorosamente, ser classificada como renovável, já

que todos os reservatórios sofrerão com o assoreamento no longo prazo. A exceção,

naturalmente, são as usinas a fio d’água, que não necessitam de reservatórios.

As energias eólica, das ondas e das marés assemelham-se à geotérmica, no

sentido de que são primordialmente de interesse local e complementar, além de não

haver muitos lugares favoráveis. Quanto à utilização da energia térmica dos oceanos,

não passa, no momento, de uma possibilidade teórica.

Finalmente, restam as duas fontes de energia que poderão, a longo prazo,

substituir de modo definitivo os combustíveis fósseis. A fusão nuclear é, sem dúvida, a

mais avançada em termos técnicos e, se vier a ser comercialmente viável, deverá suprir

as necessidades humanas durante muitos milênios. Ocorre, porém, que essa tecnologia

Page 159: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

148

ainda se encontra, após décadas de esforços contínuos, no estágio de pesquisa básica,

em face das gigantescas dificuldades técnicas envolvidas. Nas previsões de longo prazo

é freqüente a consideração de que a fusão nuclear não será economicamente viável

antes de 2050. Já a energia solar, ao contrário, é muito mais simples, do ponto de vista

estritamente técnico, limitando-se os problemas, de modo geral, a aumentar a eficiência

dos conversores (por exemplo, células fotovoltaicas). O principal obstáculo à sua

utilização futura em grande escala consiste na natureza dispersa da radiação solar, que é

pouco compatível com a estrutura produtiva do mundo atual.

Em suma, é possível afirmar que a substituição do petróleo por outras fontes de

energia representará um desafio de grandes dimensões, pois nenhuma das alternativas –

com exceção parcial do gás natural – reúne os mesmos atributos de densidade

energética, facilidade de transporte e armazenamento, segurança e versatilidade,

conforme a Tabela 5.2 abaixo.

Page 160: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

149

Tabela 5-2 – Insuficiências das energias alternativas ao petróleo

Fonte Insuficiências

Gás Natural

• Possibilidade de escassez a partir de 2020. A procura de gás natural

na América do Norte começou já a ultrapassar a oferta, sobretudo a

partir do momento em que as centrais energéticas passaram a usar o

gás excedente para gerar eletricidade.

• Produto emissor de gases de efeito estufa

Solar

• Varia constantemente com as condições metereológicas e com a

alternância dia/noite.

• Não é prática para uso nos meios de transporte. Embora já tenha sido

construído veículos experimentais movidos a energia solar, ela

mostra-se inadequada para aviões, barcos, carros, etc..

• Não proporciona a produção de pesticidas, fertilizantes ou plásticos.

Eólica

• Tal como a energia solar, a eólica varia muito com as condições

metereológicas, e não é transportável ou armazenável como o

petróleo ou o gás.

• O vento não proporciona a produção de pesticidas, fertilizantes ou

plásticos.

Hidrogênio

• O hidrogênio é atualmente fabricado a partir do gás de metano. É

preciso mais energia para fabricá-lo do que aquela que o hidrogênio

depois vai fornecer. É, portanto, um "condutor" de energia e não uma

fonte.

• O hidrogênio líquido ocupa um volume 4 a 11 vezes superior ao de

uma quantidade energeticamente equivalente de gasolina ou diesel.

• Os veículos, aeronaves e sistemas de distribuição existentes não são

adequados ao hidrogênio.

• O hidrogênio não proporciona a produção de plásticos ou

fertilizantes.

Nuclear

• Possibilidade de acidentes e de terrorismo.

• O custo: um reator nuclear custa cerca de 3.000 milhões de dólares

(MARTIN, 1990).

• O número de reatores necessários: 800 a 1000 só nos EUA.

• Não se adequa diretamente aos transportes ou à agricultura.

Page 161: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

150

Fonte Insuficiências

• O urânio requer energia petrolífera na sua extração.

• Todos os reatores abandonados permanecem radioativos por períodos

de tempo que vão de décadas a milênios

• A energia nuclear é uma solução de curto prazo. O urânio tem

igualmente um pico de Hubbert (o próprio Hubbert estudou o Urânio

no seu texto de 1956), e as reservas atualmente conhecidas

suportariam apenas a energia necessária na Terra durante um período

de 25 anos.

Carvão

• É mais pesado que o petróleo, entre 50 a 200%, por cada unidade de

energia.

• Substituir o petróleo por carvão levaria a uma expansão da atividade

mineira, que por sua vez conduziria à degradação ambiental nas áreas

de exploração e ao aumento das emissões de gases que provocam o

efeito de estufa.

• Ao contrário dos combustíveis petrolíferos e do gás, no carvão é

praticamente impossível a afinação rigorosa do ponto de combustão.

Por isso ele é usado em centrais energéticas para obter eletricidade,

desperdiçando assim metade do seu conteúdo energético.

• A atividade de mineração do carvão é alimentada por combustíveis

petrolíferos, tal como os maquinismos e transportes associados a esta

indústria.

• A poluição é também um problema principal. Uma única central

alimentada a carvão produz por ano milhões de toneladas de resíduos

sólidos. A queima de carvão nas residências polui a atmosfera com

fumos ácidos, que contêm partículas e gases ácidos.

• Os combustíveis líquidos obtidos a partir do carvão são pouco

eficazes e requerem enormes quantidades de água.

O pior cenário possível da crise de oferta gerada pelo pico de produção seria

aquele em que a velocidade de substituição do petróleo por outros combustíveis não

fosse suficiente para compensar o déficit crescente entre oferta e demanda de petróleo.

Por outro lado, na melhor das hipóteses, a velocidade de substituição de petróleo por

Page 162: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

151

gás natural é suficiente para amortecer a crise e possibilitar a construção de novas

usinas nucleares e infra-estrutura para utilização de fontes de energia não-

convencionais, que adiariam o pico de produção de energia por algumas décadas

(Goodstein, 2004).

Page 163: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

152

CONCLUSÃO

Dada à volatilidade do mercado do petróleo, bem como a importância do

petróleo como bem de produção e bem de consumo, os movimentos dos preços do

petróleo deverão permanecer um fator significativo para a inflação e a atividade

econômica mundial. Os modelos macroeconômicos habituais sugerem que a forte

subida dos preços do petróleo poderá ter um impacto considerável na economia

mundial, aumentando a inflação e, embora em menor escala, moderando o crescimento

do PIB real. Estas estimativas estão, contudo, rodeadas de considerável incerteza,

podendo servir apenas para fins ilustrativos.

Neste contexto, o aumento dos preços do petróleo observados no ano passado e,

em particular, o fato de os preços do petróleo terem permanecido em um nível mais

elevado do que o esperado por algum tempo poderá levar a riscos para a estabilidade de

preços e para o crescimento. Contudo, na avaliação do impacto deste choque

petrolífero, é de se notar que a recente subida dos preços do petróleo foi

consideravelmente menor do que em episódios anteriores, em que os aumentos tiveram

um grande impacto sobre a economia mundial.

Adicionalmente, os preços do petróleo, em termos reais, estão

significativamente abaixo dos picos alcançados no passado. Além disso, enquanto os

aumentos passados dos preços do petróleo foram motivados, sobretudo, por fatores do

lado da oferta, o recente aumento deve-se também à procura mais elevada de petróleo

em resultado da forte expansão mundial. Tudo considerado, a atual subida deverá ter

um impacto mais limitado sobre a economia mundial do que os grandes choques

Page 164: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

153

petrolíferos do passado. No entanto, níveis elevados dos preços do petróleo, ou mesmo

novos aumentos, serão motivo de preocupação.

Na perspectiva estrutural, vários fatores sugerem que a economia mundial está

atualmente mais resistente aos choques petrolíferos. Em comparação com a década de

70, a intensidade em petróleo da produção e a percentagem do consumo de petróleo no

consumo total de produtos energéticos caíram significativamente. Além disso, os

mercados do trabalho e do produto parecem ter-se tornado um pouco mais flexíveis. No

entanto, verifica-se claramente a necessidade de novas reformas estruturais para

aumentar a capacidade da economia mundial para se ajustar de forma mais suave aos

choques futuros.

A recente subida nos preços do petróleo já teve um impacto direto visível sobre

a inflação de alguns países. É importante que a política monetária evite a emergência de

pressões inflacionistas globais, ancorando as expectativas inflacionistas. Uma política

monetária credível orientada para a estabilidade de preços reduz as perdas de produto.

Todavia, é necessária vigilância para assegurar que os efeitos de segunda ordem não se

materializem. Estes efeitos serão evitados através da fixação de salários em linha com a

estabilidade de preços a médio prazo.

Para finalizar, tendo em vista a crescente demanda do petróleo, destaca-se a

necessidade programas de conservação energia e investimentos em fontes alternativas

de energia. Esses programas foram fundamentais para que o consumo relativo de

petróleo se mantivesse estável nos países mais ricos durante a década de 70. A indústria

deu um salto tecnológico importante, produzindo motores mais eficientes, e o

Page 165: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

154

isolamento térmico se tornou corriqueiro no Ocidente e no Japão. Porém, a expectativa

de um novo salto tecnológico importante no campo da conservação de energia ou da

substituição por fontes renováveis não está à vista. Espera-se que a energia de biomassa

ganhe relevância, mas não existe qualquer esforço concentrado para que os veículos

híbridos, por exemplo, venham a representar no curto prazo uma parcela expressiva do

mercado.

Uma sugestão de estudo futuro poderia também incluir uma análise mais

detalhada dos mecanismos financeiros. Trata-se de um fator extremamente importante

no amortecimento dos impactos da elevação de preços de petróleo, que são os

mecanismos financeiros associados aos mercados futuros e derivativos. É um

fenômeno, cuja magnitude é relativamente recente e permite aos consumidores lidarem,

de certa forma, com o que é chamado de oil price risk, que são estas oscilações não

amortecidas dos preços de petróleo. Os mercados futuros e os derivativos também

podem resultar em mecanismos de amortecimento da variação de preço de petróleo,

porque formas de proteção do consumidor (refinadores, principlamente), baseadas em

hedge, levam a movimentos opostos no mercado spot (físico, ou cash) e no mercado

futuros.

Também se recomenda como estudo futuro relacionado ao tema uma análise de

quais fontes renováveis poderão vir a substituir o petróleo a fim de diminuir a

dependência da economia dos países importadores de petróleo a sucessivos aumentos

dos preços dessa commodity. Outro tema cabível de ser explorado futuramente, refere-

se ao posicionamento do Brasil no mercado internacional do petróleo após atingir a

auto-suficiência.

Page 166: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

155

BIBLIOGRAFIA

AL-CHALABI, F.J. (1980), OPEC and the international oil industry: a changing

structure. Oxford: Oxford University Press.

Al-CHALABI, F. J. (2003), US Encyclopedia of Energy – A History of OPEC. Centre

for Global Energy Studies, Janeiro de 2003.

ALVEAL, C. (2003), “Evolução da Indústria de Petróleo: Nascimento e

Desenvolvimento”, Economia e Gestão em Energia. Curso de Especialização,

COPPEAD-IE/UFRJ.

ANP (2005). Anuário estatístico brasileiro do petróleo e do gás natural 2004. Rio de

Janeiro.

API (1998), API Basic Petroleum Data Book, American Petroleum Institute.

ASPO (2004), Association for the Study of Peak Oil&Gas. Newsletter, n. 26, Feb. 2003.

Material disponível na internet: http://www.asponews.org/ASPO.newsletter.026.php.

ASPO (2004), Association for the Study of Peak Oil&Gas. Newsletter, n. 45, Sept.

2004. Material disponível na internet:

http://www.asponews.org/HTML/Newsletter45.html.

BADDOUR, J.W. (1997), “The international petroleum industry”, Energy Policy,

25(2):

143-157.

BP (2006), BP Statistical review of world energy 2005, Material disponível na internet:

www.bp.com.

BEN (2005), Balanço Energetico Nacional 2004, Material disponível na internet:

www.mme.gov.br.

Page 167: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

156

BCE (2004), Banco Central Europeu, Boletim mensal de novembro de 2004.

BLAIR J. M. (1978), The Control of Oil. New York, Vintage Books.

BNDES (1998), O que mudou na indústria do petróleo. Informe infraestrutura nº 29.

CARDOSO, L. C. (2005), Petróleo, do poço ao posto. 1ª edição. Rio de janeiro:

Qualitymark Editora.

CAMPBELL, C. J. (1997), The coming oil crisis. England: Multi-Science Publishing

Company and Petroconsultants SA, 1997.

CAMPBELL, C. J., LAHERRÈRE, J. (1998), “The end of cheap oil”. Scientific

American, Mar. 1998.

CLÔ, A. (2000), Oil Economics and Policy. Kluwer Academic Publishers, Londres.

CONN CH. e WHITE D. (1994), “The revolution in upstream oil and gas”, Energy

Futures.The McKinsey Quarterly. Number 3, p. 71-86.

DEFFEYES, K. S. (2001), Hubbert’s Peak: the impending world oil shortage. New

Jersey: Princeton University Press, 2001.

DEPARTMENT OF ENERGY (DOE) (2004), World Oil Market and Oil Price

Chronologies: 1970-2003. U.S. Department of Energy, Washington

EVANS, John. (1986) OPEC, Its Member States and World Energy Market. Longman,

Londres.

FEDERAL TRADE COMMISSION (1952), The international petroleum Cartel. Staff

Report to the Federal Trade Commission. Subcommittee on Monopoly of Select

Committee on Small Business, U.S. Senate, 83d Cong., 2nd sess (Washington,DC).

Chapters 1, 2, 3 e 5. (www.mtholyoke.edu/acad/intrel/energy.htm).

Page 168: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

157

GLOBO ON-LINE (2006), “Arrecadação de Royalties e Participação Especial em

2006”, 13/07/2006.

GOODSTEIN, D. (2004), Out of gas: the end of the age of oil. New York: W. W.

Norton

Company, 2004.

HUBBERT, K. (1956), Nuclear Energy and the Fossil Fuels 95. Shell Development

Company. Houston, Texas.

IEA (2003), International energy outlook. Washington, 2003. Material disponível na

internet: http://www.eia.doe.gov/oiaf/archive/ieo03/index.html.

IEA (2004a), Key world energy statistics 2003, IEA. Material disponível na internet:

www.iea.org.

IEA (2004b), Analysis of the Impact of High Oil Prices on the Global Economy.

Washington, 2004.

IEA (2004c), World Energy Outlook 2004. Paris: IEA.

IEA (2006), World Energy Outlook 2006. Paris: IEA.

ILLUM, K., et alii (2003), Oil-based technology and economy: prospects for the future.

Copenhagen: Society of Danish Engineers (SDE).

JIMÉNEZ-RODRIGUEZ, R. E SÁNCHEZ, M. (2004), Oil price shocks and real GDP

growth: empirical evidence for some OECD countries, Documento de Trabalho do BCE

N.º 362, Maio de 2004.

LAHERRÈRE, J. (2000), Vers un déclin de la production pétrolière. Apresentado no

“Énergie et Développement Durable”. Bruxelas, 2000.

Page 169: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

158

LAHERRÈRE, J. (2001a), “Estimative of Oil Reserves”. Material disponível na

internet: http://www.oilcrisis.com/laherrere, IIASA - International Energy Workshop,

Luxemburg, Plenary Session I: Resources, 19 June.

LAHERRÈRE, J. (2001b), “Forecasting Future Production from Past Discovery”.

Material disponível na internet: http://www.oilcrisis/com/laherrere, OPEC and Global

Energy Balance: Towards a Sustainable Energy Future, Vienna, Sept. 28-29.

LODI, Carlos Felipe G. (1989). Modelo analítico de formação do preço no mercado

internacional do petróleo. Tese de M.Sc., PPE/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.

MARQUES, M. S. B. (1991). Inflação e Política Macroeconômica Após o Primeiro

Choque do Petróleo, 1ª edição, Rio de janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas.

MARTIN, J.M. (1990), L’Économie Mondiale de l’Énergie. Paris: Éditions La

Découverte (Edição Brasileira, 1992: A Economia Mundial da Energia. São Paulo:

UNESP).

MENDES, A. F. (2003), Mercado Futuro de Petróleo: Origem e Desenvolvimento.

Monografia de Bacharelato, IE/UFRJ, Rio de Janeiro.

MINADEO, R. (2002), Petróleo, a maior indústria do mundo. 1ª edição. Rio de janeiro:

Thex Editora.

NONNENBERG, M. J. B. (2004), Evolução Recente dos Preços do Petróleo, Boletim

de Conjuntura, IPEA. N.º 66, p. 77-80, Setembro/2004.

NUNES, L. S. (2000), A Dinâmica dos Preços Internacionais do Petróleo. Monografia

de Bacharelato, IE/UFRJ, Rio de Janeiro.

O’CONNOR R. (1974), Los Barones del Petróleo. Traducción de Laura Pla Bacin,

Barcelona, Editora Euros.

OPEC (2005). www.opec.com.

Page 170: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

159

PENROSE E. (1983), "Defending the Price of Oil", The Energy Journal, 9, n°. 1, p. 19-

25.

PERCEBOIS J. (1989), Economie de l’ Energie. Paris, Editora Economica.

PETROBRAS (2005), Plano estratégico 2004/2010. Material disponível na internet:

www.petrobras.com.br.

PETROBRAS (2006), Relatório Anual 2006. Material disponível na internet:

www.petrobras.com.br.

PINTO JR, H. Q. (2003). A Evolução do Consumo de Petróleo na China e Sua

Influência Sobre o Mercado Internacional. Boletim de Conjuntura, IE-UFRJ. Ano 4, n.º

9, p. 6-8, Setembro/2003.

PINTO JR, H. Q. (2005). A Evolução dos Preços do Petróleo: As Dificuldades de

Previsão para 2005. Boletim de Conjuntura, IE-UFRJ. Ano 6, n.º 1, p. 3-5,

Janeiro/Fevereiro/2005.

RICARDO, David (1996). Os Economistas. Editora Nova Cultural. São Paulo.

ROSS, J. G. (1998), Booking Reserves. 1998 SPE Annual Technical Conference and

Exhibition. New Orleans, Louisiana: Society of Petroleum Engineers.

SILVEIRA, J. P., CAVALCANTI, M. C. B., FRANCO, C. B. (2004), “Investimentos

previstos nas atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural 2003-2007”.

Conjuntura e Informação, ANP, n. 24, jan. 2004.

SIMÃO, N.B. (2001), A reestruturação do Setor Petrolífero no Brasil: A Questão da

tributação. Tese de M.Sc., PPE/COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.

SOCIETY OF PETROLEUM ENGINEERS (SPE) (1997), Petroleum Reserves

Definitions, Material disponível na internet: www.spe.org.

Page 171: IMPACTO DO PREÇO DO PETRÓLEO NA POLÍTICA ENERGÉTICA …antigo.ppe.ufrj.br/ppe/production/tesis/souzafr.pdf · 2007-02-12 · impacto do preÇo do petrÓleo na polÍtica energÉtica

160

SPE/WPC/AAPG (2001), Resource Definitions as a Basis for Portfolio Management,

J G Ross, SPE, Gaffney, Cline & Associations, SPE 68573.

SZKLO A., MACHADO G., SCHAEFFER R. (2006), Perspectivas de Produção de

Petróleo no Brasil nas Próximas Décadas: Simulação de Cenários a partir de um

Modelo de Hubbert. In: Rio Oil&Gás 2006 Expo and Confererence.

TAVERNE, B. (1999), Petroleum, industry and governments. An introduction to

petroleum regulation, economics and government policies. London: Kluwer Law

International.

THOMAS, J. E. (2001), Fundamentos de Engenharia de Petróleo, 1ª edição, Rio de

janeiro: Editora Iterciência.

YERGIN, D. (1990), The prize: the epic quest for oil, money and power. (Edição

Brasileira, 1993: O petróleo: uma história de ganância, dinheiro e poder, São Paulo:

Scritta).

YPF (2005), http://www.repsolypf.com.