imortalidade da alma ou ressurreição dos mortos

Upload: regerson-molitor

Post on 02-Apr-2018

225 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    1/43

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    2/43

    [pgina intencionalmente deixada em branco]

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    3/43

    Imortalidade da Alma

    ou

    Ressurreio dos Mortos?

    Oscar Cullmann

    ***

    Immortalit de l'me ou Rsurrection des morts?

    Edio Compacta em Portugus Brasileiro

    Nesta traduo, foram omitidas as muitas

    referncias que o autor faz a obras religiosas emvrios idiomas, publicadas por volta da poca emque o livro foi escrito originalmente.

    O Editor.

    Mentes Bereanas 2011www.mentesbereanas.org

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    4/43

    NDICE

    Captulo Pgina

    Prefcio 1

    Introduo 7

    1 O ltimo Inimigo 10

    2 O Salrio do Pecado: A Morte 16

    3 O Primognito dos Mortos 24

    4 Os Que Esto Dormindo 30

    Concluso 37

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    5/43

    PREFCIO DO AUTOR

    Este trabalho a traduo de um estudo j publicado na Sua, doqual um resumo apareceu em vrios jornais franceses.

    Nenhuma outra publicao minha provocou tanto entusiasmo ouuma hostilidade to violenta. Os editores dos peridicos em questoforam bondosos o bastante em me enviarem algumas das cartas de

    protesto que receberam de seus leitores. Numa das cartas, o escritorfoi induzido pelo meu artigo a expressar a amarga reflexo de queao povo francs, j morrendo por falta do Po da Vida, foi oferecidoem vez de po, pedras, seno serpentes. Outro escritor colocou-mecomo uma espcie de monstro que se deleita em causar aflioespiritual. Ser que o Sr. Cullmann tem uma pedra, em vez de umcorao?, escreveu ele. Para um terceiro, meu estudo foi motivo deespanto, tristeza e profunda aflio. Amigos que acompanharam

    meus trabalhos anteriores com interesse e aprovao deram-meindcios da dor que este estudo lhes causou. Em outros, percebi ummal-estar que eles tentaram esconder mantendo um silncioeloqente.

    Meus crticos pertencem aos mais variados campos. O contraste, quedevido ao interesse pela verdade, eu achei necessrio estabelecerentre a destemida e alegre esperana crist primitiva da ressurreio

    dos mortos e a serena expectativa filosfica da sobrevivncia da almaimortal, desagradou no s muitos cristos sinceros em todas ascomunhes e de todas as perspectivas teolgicas, como tambmaqueles cujas convices, ainda que no exteriormente alienadas docristianismo, so mais fortemente moldadas por consideraesfilosficas. At agora, nenhum crtico de qualquer tipo tentourefutar-me pela exegese, que a base de nosso estudo.

    A notvel concordncia nessa oposio parece mostrar-me quogeneralizado o erro de atribuir ao cristianismo primitivo a crenagrega na imortalidade da alma. Alm disso, pessoas com todiferentes posturas, como essas que mencionei, esto tambmunidas numa incapacidade comum de ouvir com completa

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    6/43

    2

    objetividade o que os textos nos ensinam sobre a f e a esperana docristianismo primitivo, sem misturar suas prprias opinies e osconceitos que lhes so to prezados com sua interpretao dostextos. Surpreendentemente, esta incapacidade de ouvir caracterizatambm pessoas inteligentes, que so comprometidas com os slidosprincpios da exegese cientfica e tambm crentes que professamconfiar na revelao das Escrituras Sagradas.

    Os ataques provocados pelo meu trabalho me impressionariam maisse fossem baseados em argumentos exegticos. Em vez disso, souatacado com consideraes muito gerais de natureza filosfica,psicolgica e, principalmente, sentimental. Tem sido dito contramim que, eu posso aceitar a imortalidade da alma, mas no aressurreio do corpo, ou eu no posso crer que nossos entesqueridos simplesmente dormem por um perodo indeterminado, eque quando eu morrer, simplesmente vou dormir enquanto espero aressurreio.

    Ser que realmente necessrio relembrar hoje a pessoasinteligentes, sejam elas crists ou no, que h uma diferena entrereconhecer que tal conceito foi defendido por Scrates e aceit-lo, ouentre reconhecer uma esperana como sendo dos primitivos cristose compartilh-la?

    Primeiro devemos ouvir o que Plato e Paulo disseram. Podemos ir

    alm. Podemos respeitar e at admirar ambos os conceitos. Comopoderamos deixar de faz-lo se sabemos que seus autores viveram emorreram por estes conceitos? Mas isso no motivo para negar queh uma diferena radical entre a expectativa crist da ressurreiodos mortos e a crena grega na imortalidade da alma. Por maissincera que seja nossa admirao para com ambos os conceitos, nopodemos nos permitir fingir que eles so compatveis, indo contra anossa profunda convico e contra a evidncia exegtica. Que

    possvel descobrir certos pontos de contato, eu mostrarei nesteestudo, mas isso no anula o fato de que sua inspirao fundamental totalmente diferente.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    7/43

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    8/43

    4

    razo aos opositores do cristianismo, os quais repetemconstantemente que a f dos cristos nada mais que a projeo deseus desejos.

    Na realidade, ser que no enaltece nossa f crist, assim como fiz omeu melhor para exp-la, que evitemos partir de nossos desejospessoais, e sim coloquemos nossa ressurreio no mbito de umaredeno csmica e de uma nova criao do universo? Nosubestimo de modo algum a dificuldade que existe em compartilharesta f, e admito francamente a dificuldade de falar sobre esteassunto de forma desapaixonada. Um tmulo aberto lembra-nosimediatamente que no estamos preocupados apenas com umaquesto de cunho acadmico. No haver, ento, todas as razesadicionais para buscarmos a verdade e a clareza neste ponto? Amelhor maneira de fazer isso no comeando com o que ambguo,e sim explicando de maneira simples e to fielmente quanto possvel,com todos os meios nossa disposio, a esperana dos autores do

    Novo Testamento, mostrando assim a verdadeira essncia destaesperana e por mais difcil que possa parecer para ns apresentando o que que a distingue de outras crenas que nos soto preciosas. Se, em primeiro lugar, examinarmos objetivamente aesperana dos primitivos cristos naqueles aspectos que parecemchocantes para nossos conceitos comumente aceitos, no teremosseno uma oportunidade de, no s entender melhor essaexpectativa, como tambm verificar que no to impossvel assim

    aceit-la como imaginamos.Tenho impresso de que alguns dos meus leitores no sepreocuparam em ler minha exposio na ntegra. A comparao damorte de Scrates com a de Jesus parece t-los escandalizado eirritado tanto, que eles no prosseguiram na leitura e no viram oque eu disse sobre a f do Novo Testamento na vitria de Cristosobre a morte.

    Para muitos dos que me atacaram, a causa da tristeza e aflio nofoi s a distino que estabelecemos entre a ressurreio dos mortose a imortalidade da alma, mas acima de tudo o lugar que eu, assimcomo todos no cristianismo primitivo, creio que deveria ser dado ao

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    9/43

    5

    estado intermedirio daqueles que esto mortos e morrem em Cristoantes do ltimo dia, o estado que os escritores do primeiro sculodescreveram com a palavra sono. A idia de um estado temporriode espera , de todas, a mais repulsiva para os que gostariam deinformaes mais completas sobre esse sono dos mortos, os quais,apesar de despojados de seus corpos carnais, so ainda privados deseus corpos ressurretos embora na posse do Esprito Santo. Essaspessoas so incapazes de observar a discrio dos autores do NovoTestamento neste assunto, incluindo Paulo, ou de ficarem satisfeitascom a alegre garantia do apstolo, quando ele diz que doravante amorte no pode mais separar de Cristo aquele que tem o EspritoSanto. Quer vivamos, quer morramos, pertencemos a Cristo.

    H alguns que acham esta ideia de dormir totalmente inaceitvel.Sou tentado a deixar de lado por um momento os mtodos exegticosdeste estudo e perguntar a tais se eles nunca tiveram um sonho queos deixou mais felizes do que qualquer outra experincia, muito

    embora eles estivessem s dormindo. No poderia ser esta umailustrao, ainda que imperfeita, do estado de antecipao no qual,segundo Paulo, os mortos em Cristo se encontram durante seu sono espera da ressurreio do corpo?

    De qualquer modo, no pretendo evitar a pedra de tropeo porminimizar o que eu disse sobre o carter provisrio e aindaimperfeito desta condio. O fato que, de acordo com os primitivos

    cristos, a vida plena e genuna da ressurreio inconcebvel parte do novo corpo, o corpo espiritual, com o qual os mortos serodotados quando o cu e a terra forem recriados.

    Neste estudo eu farei referncia mais de uma vez obra deGrnewald, pintor alemo renascentista, no altar do Convento deIsenheim. Foi a ressurreio do corpo que ele retratou, no a almaimortal. Da mesma forma, outro artista, Johann Sebastian Bach,

    possibilitou que ouamos, no Credo da Missa em B Menor, ainterpretao musical das palavras deste antigo credo, que reproduzfielmente a f do Novo Testamento na ressurreio de Cristo e nanossa prpria. A alegre cano deste grande compositor destina-se aexpressar, no a imortalidade da alma, e sim o evento da

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    10/43

    6

    ressurreio do corpo: Et resurrexit tertia die... Expectoresurrectionem mortuorum et vitam venturi saeculi. E Handel, naltima parte do Messias, d-nos alguma indicao do que Pauloentendia pelo sono daqueles que descansam em Cristo, e tambm, nocntico de vitria, da esperana que Paulo tinha na ressurreiofinal, quando a ltima trombeta soar e ns seremostransformados.

    Quer compartilhemos dessa esperana, quer no, pelo menos temos

    de admitir que neste caso os artistas tm mostrado ser os melhoresexpositores da Bblia.

    Chamonix, 15 de setembro de 1956

    Ao terceiro dia, ele ressuscitou... Espero a ressurreio dos mortose a vida do mundo que h de vir.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    11/43

    7

    INTRODUO

    Se perguntssemos hoje a um cristo comum (quer um bem versadoprotestante ou catlico, quer no) sobre o que ele pensa ser o ensinodo Novo Testamento a respeito do destino do homem aps a morte,com poucas excees receberamos a resposta: A imortalidade daalma.1 No entanto, essa idia amplamente aceita um dos maiores

    equvocos do cristianismo. No h qualquer razo para tentaresconder esse fato, ou camufl-lo, reinterpretando a f crist. Isso algo que deve ser discutido com toda a franqueza.

    Mas, ser mesmo verdade que a f dos primitivos cristos naressurreio incompatvel com o conceito grego da imortalidade daalma? No ensina o Novo Testamento, sobretudo o Evangelho deJoo, que ns j temos a vida eterna? Ser que a morte no Novo

    Testamento sempre concebida como o ltimo inimigo dumamaneira diametralmente oposta do pensamento grego, que v namorte um amigo? No escreve Paulo: morte, onde est o teuaguilho? Veremos no final que existe pelo menos uma analogia,mas primeiro devemos salientar as diferenas fundamentais entre osdois conceitos.

    O mal-entendido generalizado de que o Novo Testamento ensina a

    imortalidade da alma foi realmente encorajado pela forte convicodos primeiros discpulos no perodo posterior Pscoa de que aressurreio corporal de Cristo tinha despojado a morte de todo o

    1 Nota do Editor: Isto era assim na poca em que Cullmannescreveu o livro. Contudo, nas ltimas dcadas, esta idia vemsendo atacada por um crescente nmero de eruditos bblicos.Embora ainda seja verdade que o nmero de seguidores de

    religies organizadas que crem na imortalidade da alma esmagadoramente maior do que os que no crem nisso, essadisparidade numrica em meio comunidade erudita, ou entre osque realmente estudaram o que a Bblia diz sobre esta questo jno to grande e tende a decrescer.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    12/43

    8

    seu horror e que da Pscoa em diante, o Esprito Santo haviadespertado as almas dos fiis para a ressurreio de vida.

    O prprio fato de precisarmos grifar a expresso 'posterior Pscoa'ilustra o enorme abismo que separa o conceito cristo do conceitogrego. Todo o pensamento cristo primitivo baseado na Histriada Salvao2, e tudo o que se diz sobre a morte e sobre a vida eternabaseia-se ou cai dentro da crena numa ocorrncia real, em eventosverdadeiros que ocorreram no tempo. nisso que est a distinoradical do pensamento grego.

    Se reconhecermos que a morte e a vida eterna no Novo Testamentoesto sempre ligadas ao evento de Cristo, torna-se evidente que paraos primitivos cristos a alma no inerentemente imortal, mas s setornou imortal por meio da ressurreio de Jesus Cristo, e atravs daf nele. Fica claro tambm que a morte no intrinsecamente umaamiga, e sim que seu aguilho, seu poder, tirado por meio da

    vitria de Jesus sobre ela com sua morte. E, finalmente, torna-seclaro que a ressurreio j realizada no o estado de cumprimento,pois este futuro, momento em que o corpo tambm ressuscitado,o que s ocorrer no ltimo dia.

    um erro ler no evangelho de Lucas uma tendncia primitiva aoensino grego da imortalidade, porque l tambm a vida eterna estassociada ao evento de Cristo. Obviamente, deve-se levar em

    considerao a influncia grega sobre a origem do cristianismo logo2 Histria da Salvao (alemo: Heilsgeschichte): Escola

    teolgica originada por pensadores alemes do sculo 19 e que foipopularizado por Cullmann no sculo 20. O conceito central nessalinha de pensamento a primeira vinda de Jesus Cristo comoSalvador. Toda a histria e todo o tempo, segundo Cullmann, soum drama universal e Jesus a figura central neste drama. Os

    judeus no tempo do Novo Testamento aguardavam a vinda doMessias Salvador como o anncio iminente do fim do mundo, ocentro da histria, depois do qual viriam as glrias da era vindoura.

    A Bblia d testemunho de que Jesus o Messias e que ele deuincio a essa nova era.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    13/43

    9

    desde o incio, mas ao passo que as idias gregas esto subordinadasao conceito total da Histria da Salvao, no se pode falar dehelenizao, propriamente. A verdadeira helenizao ocorre pelaprimeira vez em uma data posterior.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    14/43

    10

    1

    O LTIMO INIMIGO

    Scrates e Jesus

    Nada mostra mais claramente do que o contraste entre a morte de

    Scrates e a de Jesus (um contraste que foi citado muitas vezes pelosopositores do cristianismo, embora com outros objetivos), que aviso bblica da morte focada desde o princpio na Histria daSalvao e assim se afasta completamente da concepo grega.

    Na descrio impressionante que Plato faz da morte de Scrates, noFdon, surge talvez a doutrina mais elevada e mais sublime que j seapresentou sobre a imortalidade da alma. O que d ao argumentodele o seu valor insupervel sua cautela cientfica, seudespojamento de qualquer prova que tenha validade matemtica.Conhecemos os argumentos que ele apresenta para a imortalidadeda alma. Nosso corpo s uma pea de vesturio exterior que,enquanto estamos vivos, impede nossa alma de se mover livrementee de viver de acordo com sua prpria essncia eterna. O corpo impe alma uma lei que no lhe adequada. A alma, confinada dentro docorpo, pertence ao mundo eterno. Enquanto vivemos, nossa alma seencontra numa priso, ou seja, num corpo essencialmente alheio aela. A morte , na verdade, a grande libertadora. Ela libera ascadeias, uma vez que conduz a alma que est presa no corpo de voltaao seu lar eterno. Uma vez que o corpo e a alma so radicalmentediferentes um do outro e pertencem a mundos diferentes, adestruio do corpo no pode significar a destruio da alma, assimcomo uma composio musical no pode ser destruda quando oinstrumento musical destrudo. Embora as provas da imortalidadeda alma no tenham para o prprio Scrates o mesmo valor dasprovas de um teorema matemtico, elas no deixam de atingir,dentro do seu campo, o mais alto grau possvel de validade, e fazem aimortalidade to provvel que ela chega a ser a uma chance para ohomem. E quando o grande Scrates esboou os argumentos para a

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    15/43

    11

    imortalidade, em seu discurso aos discpulos no dia de sua morte, eleno se limitou a ensinar esta doutrina: naquele momento ele viviasua doutrina. Ele mostrou como podemos servir liberdade da alma,mesmo na vida atual, quando nos ocupamos com as verdadeseternas da filosofia. Pois, atravs da filosofia penetramos naquelemundo eterno das idias, ao qual a alma pertence, e libertamos aalma da priso do corpo. A morte no faz mais do que completar estalibertao. Plato nos mostra como Scrates vai para a morte emcompleta paz e serenidade. A morte de Scrates uma bela morte.Nada se v aqui do terror da morte. Scrates no pode ter medo damorte, uma vez que na verdade ela nos liberta do corpo. Qualquerpessoa que tenha medo da morte prova que ama o mundo do corpo,que est completamente enredado no mundo dos sentidos. A morte a grande amiga da alma. Assim ele ensina, e da, em maravilhosaharmonia com seu ensinamento, ele morre este homem querepresenta o mundo grego em sua forma mais nobre.

    E agora vejamos como Jesus morre. No Getsmani, ele sabe que amorte est diante dele, tal como Scrates esperou a morte em seultimo dia. Os evangelistas sinticos nos fornecem, em geral, umrelatrio unnime. Jesus comeou a ter pavor e a angustiar-se,escreve Marcos (14:33). A minha alma est profundamente triste,numa tristeza mortal., diz ele aos seus discpulos. Jesus toprofundamente humano que compartilha o medo natural da morte.Jesus est com medo, embora no como um covarde teria dos

    homens que vo mat-lo, e muito menos da dor e do sofrimento queantecedem a morte. Ele est com medo diante da morte em si. Amorte para ele no algo divino: algo terrvel. Jesus no quer ficarsozinho neste momento. Ele sabe, claro, que o Pai est perto paraajud-lo. Jesus olha para Ele neste momento decisivo, como fezdurante toda a sua vida. Ele se volta para o Pai com todo o seu temorhumano desta grande inimiga, a morte. intil tentar explicar demaneira diferente o medo de Jesus, conforme relatado pelos

    evangelistas. Os adversrios do cristianismo, que j nos primeirossculos fizeram o contraste entre a morte de Scrates e a morte deJesus, enxergaram com mais clareza aqui do que os expoentes docristianismo. Ele estava realmente com medo da morte. No h nadaaqui da compostura de Scrates, que encontrou a mortepacificamente, como uma amiga. Com certeza, Jesus j sabe a tarefa

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    16/43

    12

    que lhe foi dada: sofrer a morte, e ele j havia falado as seguintespalavras: Mas tenho que passar por um batismo, e como estouangustiado at que ele se realize! (Lucas 12:50). Agora, quando oinimigo de Deus est diante dele, ele clama a Deus, cuja onipotnciaele conhece: Aba, Pai, tudo te possvel. Afasta de mim este clice.(Mar. 14:36). E quando ele conclui: contudo, no seja o que euquero, mas sim o que tu queres, isso no significa que no final eleconsidera, como Scrates, a morte como a amiga, a libertadora. No,o que ele quer dizer apenas isto: Se este maior de todos os terrores,a morte, deve cair sobre mim, segundo a Tua vontade, ento,submeto-me a este horror. Jesus sabe disso com certeza, porque amorte o inimigo de Deus; morrer significa ser totalmenteabandonado. Por isso, ele clama a Deus; diante desse inimigo deDeus, ele no quer ficar sozinho. Jesus quer permanecerestreitamente ligado a Deus como esteve ligado a Ele durante toda asua vida terrestre. Pois qualquer um que esteja nas mos da morteno est mais nas mos de Deus, e sim nas mos do inimigo de Deus.

    Neste momento, Jesus busca a assistncia, no apenas de Deus, masat mesmo de seus discpulos. Vez aps vez ele interrompe suaorao e vai aos seus discpulos mais ntimos, que esto tentandolutar contra o sono, para estarem acordados quando os homensvierem para prender seu Mestre. Eles tentam, mas no conseguem, eJesus tem de acord-los vez aps vez. Por que Jesus deseja que elesse mantenham acordados? Porque ele no quer ficar sozinho.Quando o terrvel inimigo, a morte, se aproxima, ele no quer ser

    abandonado nem mesmo por seus discpulos, cuja fraqueza humanaele conhece. Simo, disse ele a Pedro, voc est dormindo? Nopde vigiar nem por uma hora? (Marcos 14:37).

    Poderia haver um contraste maior do que entre Scrates e Jesus?Assim como Jesus, Scrates tem seus discpulos prximos a ele nodia de sua morte, mas ele palestra serenamente com eles sobre aimortalidade. Poucas horas antes de sua morte, Jesus treme e pede

    aos discpulos que no o deixem sozinho. O autor da Carta aosHebreus, o qual, mais do que qualquer outro autor do NovoTestamento, enfatiza a divindade (1:10) e tambm a naturezahumana de Jesus, vai ainda mais longe do que os relatos dosevangelistas sinticos, em sua descrio do medo que Jesus tem damorte. Em Hebreus 5:7 ele diz que Jesus ofereceu oraes e

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    17/43

    13

    splicas, em alta voz e com lgrimas, quele que o podia salvar damorte. Assim, de acordo com a Carta aos Hebreus, Jesus chorou eclamou fortemente diante da morte. Enquanto Scrates fala daimortalidade da alma com calma e tranqilidade, vemos aqui Jesus,chorando e clamando.

    Da vem a cena da morte em si. Com sublime calma Scrates bebe acicuta, mas Jesus (assim diz o evangelista em Marcos 15:34 noousamos omitir a frase) brada em voz alta: Meu Deus! Meu Deus!Por que me abandonaste? E com outro alto brado ele morre(Marcos 15:37). Esta no a morte como uma amiga. Trata-se damorte em todo o seu horror atemorizante. Este realmente o ltimoinimigo de Deus, o nome que Paulo d a ela em 1 Corntios 15:26,onde o total contraste entre o pensamento grego e o cristianismo descortinado. Usando palavras diferentes, o autor do Apocalipse deJoo tambm considera a morte como o ltimo inimigo, quando eledescreve como a morte ser finalmente lanada no lago de fogo

    (20:14). Pois ela inimiga de Deus, a que nos separa de Deus, que a Vida e o Criador de toda a vida. precisamente por esta razo queJesus, que est to intimamente ligado a Deus como nenhum outrohomem jamais esteve, deve ter experimentado a morte maisterrivelmente do que qualquer outro homem. Estar nas mos dogrande inimigo de Deus significa ser abandonado por Deus. De umaforma bem diferente dos outros, Jesus sofreu esse abandono, essaseparao de Deus, a nica condio realmente a ser temida. Foi por

    isso que ele clamou a Deus: Por que me abandonaste? Ele estariarealmente nas mos do grande inimigo de Deus.

    Devemos ser gratos aos evangelistas por no terem omitido nadasobre aquele momento. Mais tarde (logo no incio do segundo sculo,e provavelmente at um pouco antes) algumas pessoas deascendncia grega ficaram ofendidas com isso. Na histria dosprimitivos cristos, eles so conhecidos como gnsticos.

    Eu coloquei a morte de Scrates e a morte de Jesus lado a lado. Poisnada mostra de uma maneira melhor a diferena radical entre adoutrina grega da imortalidade da alma e a doutrina crist daressurreio. Visto que Jesus sofreu a morte em todo o seu horror,

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    18/43

    14

    no s em seu corpo, como tambm em sua alma (Meu Deus! Porque me abandonaste?), e como ele considerado pelos primeiroscristos como o mediador da salvao, ele deve ser realmente o nicoque vence a morte por meio de sua prpria morte. Ele no podeobter esta vitria por simplesmente continuar vivendo como almaimortal, ou seja, sem expirar totalmente. Ele s pode vencer a mortepor realmente morrer, por ser levado para a esfera da morte, odestruidor da vida; para o domnio do nada, do abandono por Deus.Quando se deseja vencer algum, deve-se entrar em seu territrio.Qualquer um que queira vencer a morte deve morrer, essa pessoadeve realmente deixar de viver no simplesmente continuarvivendo como alma imortal, e sim morrer de corpo e alma, perder aprpria vida, o bem mais precioso que Deus nos deu. Eis a razo porque os evangelistas que, mais do que ningum, apresentaram Jesuscomo o Filho de Deus, no tentaram amenizar o aspecto terrvel desua morte completamente humana.

    Ademais, se a vida eliminada por meio duma morte to genunacomo esta, necessrio um novo ato criativo divino. E este atocriativo chama de volta vida no apenas uma parte do homem, maso homem inteiro tudo o que Deus criara e a morte haviaaniquilado. Para Scrates e Plato no h necessidade de qualquernovo ato criativo. Pois o corpo realmente mau e no deve continuarvivendo. E essa parte que deve continuar vivendo, a alma, no morrerealmente.

    Se quisermos compreender a f crist na ressurreio, devemosrejeitar totalmente o pensamento grego de que o material, ocorporal, o corpo mau e deve ser destrudo, com base na idia deque a morte do corpo no seria em sentido algum uma destruio daverdadeira vida. Para o pensamento cristo (e judaico) a morte docorpo tambm a destruio da vida criada por Deus. No se fazqualquer distino: at a vida do nosso corpo verdadeira vida, a

    morte a destruio de toda a vida criada por Deus. Por isso amorte, no o corpo, que deve ser conquistada pela Ressurreio.

    Somente aquele que discerne com os primitivos cristos o horror damorte, que leva a morte a srio como ela , pode compreender a

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    19/43

    15

    exultao da celebrao na comunidade crist primitiva e entenderque o pensamento de todo o Novo Testamento governado pelacrena na ressurreio. A crena na imortalidade da alma no acrena num evento revolucionrio. Imortalidade , na verdade, suma afirmao negativa: a alma no morre, mas simplesmentecontinua viva. Ressurreio uma afirmao positiva: todo homem,que morreu de fato, chamado de volta vida por um novo atocriativo de Deus. Algo aconteceu um milagre de criao! Pois algotambm tinha ocorrido anteriormente, algo temvel: a vida criadapor Deus havia sido destruda.

    A morte em si no bela, nem mesmo a morte de Jesus. A morteantes da Pscoa realmente a cabea da Morte, rodeada pelo odor dadecomposio. E a morte de Jesus to repulsiva como foi descritapelo grande pintor Grnewald na Renascena. Mas, precisamentepor este motivo, o mesmo pintor deliberou pintar, junto com ela, deuma maneira incomparvel, a grande vitria, a Ressurreio de

    Cristo: Cristo no novo corpo, o corpo da ressurreio. Quem querque pinte uma bela morte no pode pintar alguma ressurreio.Quem no entendeu o horror da morte no pode juntar-se a Paulo nohino da vitria: A morte foi tragada pela vitria. Onde est, morte,a tua vitria? Onde est, morte, o teu aguilho? (1 Corntios15:54).

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    20/43

    16

    2

    O SALRIO DO PECADO: A MORTE

    O Corpo e a Alma A Carne e o Esprito

    Todavia, o contraste entre a idia grega da imortalidade da alma e a

    crena crist da ressurreio ainda mais profundo. A crena naressurreio pressupe a conexo judaica entre a morte e o pecado. Amorte no algo natural e desejado por Deus, como entendem osfilsofos gregos, e sim algo desnatural, anormal, contrrio aopropsito de Deus. A narrativa do Gnesis nos ensina que ela entrouno mundo apenas como decorrncia do pecado do homem. A morte uma maldio, e toda a criao foi envolvida nessa maldio. Opecado do homem ocasionou toda a srie de eventos que a Bbliaregistra, aos quais chamamos de histria da redeno. A morte spode ser conquistada na medida em que o pecado seja removido.Pois o salrio do pecado a morte. No apenas a narrativa deGnesis que diz isso. Paulo diz a mesma coisa (Romanos 6:23), e este o conceito de morte mantido por todos no primitivo cristianismo.Assim como o pecado algo oposto a Deus, assim suaconseqncia, a morte. Na verdade, Deus pode fazer uso da morte (1Corntios 15:35 em diante; Joo 12:24), como Ele pode fazer uso deSatans em favor do homem.

    Porm, a morte como tal o inimigo de Deus. Pois Deus Vida e oCriador da vida. No pela vontade de Deus que existe a degradaoe a decadncia, a mortalidade e a doena, os subprodutos da morteagindo em nossa vida. Todas estas coisas, segundo o entendimentocristo e judaico decorrem do pecado humano. Portanto, toda acura que Jesus realiza no envolve apenas trazer de volta da morte,mas tambm a invaso do domnio do pecado, e foi por isso que, emtodas as ocasies, Jesus disse: Seus pecados esto perdoados. No que exista um pecado correspondente para cada doena especfica,mas, em vez disso, assim como a presena da morte, o fato de adoena acometer a todos uma conseqncia da condio

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    21/43

    17

    pecaminosa de toda a humanidade. Toda cura uma ressurreioparcial, uma vitria parcial da vida sobre a morte. Este o ponto devista cristo. Segundo a interpretao grega, ao contrrio, a doenafsica um corolrio do fato de que o corpo mau em si mesmo edestina-se destruio. Para o cristo uma antecipao daressurreio j pode tornar-se visvel, mesmo no corpo terreno.

    Isso nos lembra que o corpo no inerentemente mau em sentidoalgum, mas , assim como a alma, uma ddiva de nosso Criador.Portanto, de acordo com Paulo, temos deveres com relao ao nossocorpo. Deus o Criador de todas as coisas. A doutrina grega daimortalidade e a esperana crist da ressurreio diferem toradicalmente porque o pensamento grego tem uma interpretaocompletamente diferente da criao. A interpretao judaico-cristda criao invalida todo o dualismo grego do corpo e da alma. Poisna verdade o visvel, o corpreo, to verdadeiramente uma criaode Deus como o invisvel. Deus o Criador do corpo. O corpo no a

    priso da alma, e sim um templo, conforme diz Paulo (1 Corntios6:19): o santurio do Esprito Santo! Eis aqui a distino bsica. Ocorpo e a alma no so opostos. Deus considerou o corpreo bomdepois de t-lo criado. A histria registrada em Gnesis torna essanfase explcita. Ao mesmo tempo, o pecado abrange tambm ohomem inteiro, no s o corpo, mas tambm a alma; e suaconseqncia, a morte, estende-se sobre todo o resto da criao. Amorte , portanto, algo terrvel, porque toda a criao visvel,

    incluindo o nosso corpo, algo maravilhoso, ainda que sejacorrompida pelo pecado e pela morte. Por trs da interpretaopessimista da morte est a viso otimista da criao. Onde quer quea morte seja vista como uma libertao (como no Platonismo), omundo visvel no reconhecido diretamente como uma criao deDeus.

    Devemos reconhecer que no pensamento grego h tambm uma

    apreciao muito positiva do corpo. Mas em Plato, o que bom ebelo no corpreo no bom e belo, em virtude da corporalidade,mas, por assim dizer, apesar da corporalidade: a alma, nicarealidade eterna e substancial do ser, brilha fracamente por meio domaterial. O corpreo no o real, o eterno, o divino. s o meio

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    22/43

    18

    atravs do qual o real se manifesta e assim mesmo de maneiraanuviada. O corpreo destina-se a levar-nos a contemplar oarqutipo puro, livre de toda a corporeidade, o ideal invisvel.

    Na verdade, os conceitos judaico e cristo tambm contemplam algomais, alm da corporalidade. Pois toda a criao est corrompidapelo pecado e pela morte. A criao que vemos no como Deusdesejou e criou, nem o corpo que temos como Ele fez. A mortedomina sobre todos, e no necessrio que a aniquilao efetue seutrabalho de destruio antes de este fato tornar-se visvel ela j evidente no exterior de todas as coisas. Tudo, mesmo aquilo que mais bonito, marcado pela morte. Assim, poderia parecer que adistino entre a interpretao grega e crist no to grande assim,afinal de contas. Mas essa diferena permanece radical. Por trs daaparncia corporal Plato v o incorpreo, o transcendente, a purezaideal. Por trs da criao corrompida, sentenciada morte, o cristov a futura criao trazida de volta pela ressurreio, exatamente

    como Deus quis. O contraste, para o cristo, no entre o corpo e aalma, nem entre a forma exterior e o ideal invisvel, e sim entre acriao entregue morte pelo pecado e a nova criao, entre o corpocarnal corruptvel e o corpo incorruptvel ressuscitado.

    Isso nos conduz a outro ponto: a interpretao crist do que ohomem. A antropologia do Novo Testamento no grega, mas estligada s concepes judaicas. Para os conceitos de corpo, alma,

    carne e esprito (para citar apenas estes), o Novo Testamento utilizade fato as mesmas palavras usadas pelos filsofos gregos. Mas elassignificam algo bem diferente, e entenderemos todo o NovoTestamento errado se concebermos estes conceitos do ponto de vistado pensamento grego. Muitos equvocos surgem desta maneira. Euno posso apresentar aqui uma antropologia bblica detalhada.Existem boas monografias e artigos sobre o assunto. Um estudocompleto teria de tratar separadamente das antropologias dos vrios

    escritores do Novo Testamento, uma vez que neste ponto existemdiferenas que no so de forma alguma insignificantes. S possotratar aqui, necessariamente, de alguns pontos cardeais que sereferem nossa questo, e mesmo isso deve ser feito um tantoesquematicamente, sem levar em conta as nuanas que teriam de ser

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    23/43

    19

    discutidas numa antropologia adequada. Naturalmente, ao faz-lo,temos de confiar principalmente no apstolo Paulo, uma vez que snos escritos dele que encontramos uma antropologia que definvelem pormenores, embora mesmo ele deixe de apresentar as diferentesidias com total consistncia.

    O Novo Testamento certamente estabelece a diferena entre corpo ealma, ou mais precisamente, entre o homem interior e o homemexterior. Esta distino no significa, porm, oposio, como se umfosse, por natureza, bom, e o outro, por natureza, mau. (As palavrasde Jesus em Marcos 8:36, Mateus 6:25 e Mateus 10:28 [vida] nofalam de um valor infinito da alma imortal e no pressupemalguma supervalorizao do homem interior.) Ambos pertencem criao, ambos so criados por Deus. O homem interior sem oexteriorno tem existncia prpria, plena. Ele requer um corpo. Elepode, certamente, ter uma existncia tnue sem o corpo, assim comoos mortos no Sheol segundo o Antigo Testamento, mas isso no

    uma vida genuna. O contraste com o conceito grego de alma gritante: precisamente separada do corpo que a alma alcana aplena condio de sua vida, para os gregos. Segundo a concepocrist, no entanto, a prpria natureza do homem interior querequer o corpo.

    E qual o papel desempenhado pela carne e pelo esprito? especialmente importante no ser induzido aqui ao erro pelo uso

    secular das palavras gregas, embora sejam encontrados casos emvrios lugares no Novo Testamento e mesmo dentro dos escritos deum nico autor, de uma utilizao da terminologia que nunca totalmente uniforme. Tendo em mente estas cautelas, pode-se dizerque, segundo o uso caracterstico, digamos, para a teologia paulina, acarne e o esprito no Novo Testamento so dois poderestranscendentes que podem entrar no homem vindos do exterior, masnenhum dos dois associado com a existncia humana como tal. Em

    geral verdade que a antropologia paulina, ao contrrio da grega,est fundamentada naHistria da Salvao. A carne o poder dopecado ou o poder da morte. Ela abrange o homem exterior e ointerior juntos. O esprito o seu grande rival: o poder da criao.Ele tambm abrange o homem exterior e o interior juntos. A carne e

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    24/43

    20

    o esprito so poderes ativos e, como tais, eles trabalham dentro dens. A carne, o poder da morte, que entrou no homem com o pecadode Ado, na verdade entrou no homem inteiro, no exterior e nointerior, ainda que duma maneira mais intimamente ligada com ocorpo. O homem interior encontra-se menos estreitamenterelacionado com a carne; (o corpo , por assim dizer, o seu locus, oponto a partir do qual ela afeta o homem inteiro. Isso explica por quePaulo pode falar de corpo em vez de carne ou, inversamente, decarne em vez de corpo, contrariando sua prpria concepobsica, embora isso s ocorra em poucos trechos. Estas exceesterminolgicas no alteram o ponto de vista geral dele, que caracterizado por uma ntida distino entre o corpo e a carne)embora atravs da culpaeste poder da morte tenha tomado cada vezmais posse at mesmo do homem interior. O esprito, por outro lado, o grande poder da vida, o elemento da ressurreio; o podercriativo de Deus dado a ns por meio do Esprito Santo. No AntigoTestamento o Esprito s atuava de vez em quando nos profetas. No

    tempo do fim em que vivemos [Atos 2:17: nos ltimos dias] ouseja, desde que Cristo ps fim ao poder da morte por meio de suaprpria morte e ressurreio este poder da vida atua em todos osmembros da comunidade. Assim como a carne, ele tambm j tomaposse do homem como um todo, o interior e o exterior. Mas ao passoque nesta era a carne se estabeleceu em grau considervel no corpo,embora no domine o homem interior da mesma forma inevitvel, opoder vivificador do Esprito Santo j est tomando posse do homem

    interior de modo to decisivo que o homem interior se renova de diaem dia, conforme diz Paulo (2 Corntios 4:16). Todo o Evangelho deJoo enfatiza este ponto. Ns j estamos na condio daressurreio, o da vida eterna no imortalidade da alma: a nova eraj foi inaugurada. O corpo tambm j est sob o poder do EspritoSanto.

    Onde quer que o Esprito Santo esteja em ao, temos o equivalente

    a um recuo momentneo do poder da morte, um vislumbre do Fim.Isto verdade mesmo no que se refere ao corpo, da as curas dosdoentes. Mas aqui s uma questo dum recuo, no datransformao definitiva do corpo sujeito morte para um corporessuscitado. Mesmo aqueles que Jesus ressuscitou em sua vidaterrestre morreram novamente, pois eles no receberam um corpo

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    25/43

    21

    ressurreto, a transformao do corpo carnal num corpo espiritual socorre no Fim. S ento o poder de ressurreio do Esprito Santotomar essa posse completa do corpo, transformando-o, da mesmamaneira como j est transformando o homem interior. importante ver o quanto a antropologia do Novo Testamento difereda grega. O corpo e a alma so ambos originalmente bons, na medidaem que foram criados por Deus; eles so tambm ambos maus namedida em que o poder mortal da carne os domina. Ambos podem edevem ser libertados pelo poder vivificador do Esprito Santo.

    Aqui, portanto, a libertao no consiste numa libertao da alma docorpo, e sim numa libertao de ambos da carne. Ns no somoslibertados do corpo; em vez disso o prprio corpo que posto emliberdade. As epstolas de Paulo, principalmente, tornam isso claro,mas esta a interpretao de todo o Novo Testamento. Quanto a issono se encontram as diferenas que esto presentes entre os vrioslivros, sobre outros pontos. Mesmo a to citada declarao de Jesus

    em Mateus 10:28, de modo algum pressupe a concepo grega.No temais aos que matam o corpo, mas no podem matar a alma.Pode parecer que isso pressupe o conceito de que a alma no temnecessidade do corpo, mas o contexto da passagem mostra que esteno o caso. Jesus no prossegue dizendo: Temei aquele que mataa alma e sim: Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geenatanto a alma como o corpo. Ou seja, temei a Deus, que capaz deentregar completamente morte, a saber, quando Ele no traz uma

    pessoa de volta vida. Veremos, verdade, que a alma o ponto departida para a ressurreio, uma vez que, como j dissemos, ela jpode estar sob o controle do Esprito Santo de uma maneira bemdiferente do corpo. O Esprito Santo j vive em nosso homeminterior. Se habita em vs o Esprito daquele que ressuscitou a Jesusdentre os mortos, diz Paulo em Romanos 8:11, esse mesmo queressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificar tambm ovosso corpo mortal, por meio do seu Esprito, que em vs habita.

    Portanto, aqueles que matam somente o corpo no devem sertemidos. O corpo pode ser ressuscitado dentre os mortos. Maisainda, ele deve ser levantado. A alma no pode permanecer parasempre sem um corpo. E, por outro lado, ouvimos Jesus dizendo emMateus 10:28 que a alma pode ser morta. A alma no imortal. Temde haver uma ressurreio para ambos, pois desde a Queda no

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    26/43

    22

    pecado o homem inteiro semeado em corrupo. Para o homeminterior, graas transformao pelo poder vivificador do EspritoSanto, a ressurreio pode ocorrer j na vida atual: por meio darenovao de dia em dia. A carne pecaminosa, porm, ainda semantm presente em nosso corpo. A transformao do corpo socorre no Fim, quando toda a criao ser renovada pelo EspritoSanto, momento em que no haver mais nenhuma morte ecorrupo.

    A ressurreio do corpo, cuja substncia (eu uso esse termo bastanteinfeliz por falta dum termo melhor. O que quero dizer com isso ficarclaro tendo em vista a discusso precedente) no ser mais a dacarne, e sim a do Esprito Santo, s uma parte de toda a novacriao. Esperamos novos cus e uma nova terra, diz 2 Pedro 3:13.A esperana crist no se refere apenas ao meu destino individual,mas ao destino de toda a criao. Por meio do pecado, toda a criaotornou-se envolvida na morte. Ouvimos isso no s em Gnesis, mas

    tambm em Romanos 8:19 em diante, onde Paulo escreve que toda acriao a partir de agora, aguarda ansiosamente a libertao. Estalibertao vir quando o poder do Esprito Santo transformar toda amatria, quando Deus ir, num novo ato criativo, no destruir amatria, e sim libert-la da carne, da corrupo. No ideais abstratoseternos, e sim objetos concretos sero ento feitos novos, na nova eincorruptvel substncia vital do Esprito Santo, e entre estes objetosest tambm o nosso corpo.

    Uma vez que a ressurreio do corpo um novo ato criativo, queabrange tudo, ela no um evento que comea com a morte de cadaindivduo, mas apenas no Fim. Ela no uma transio deste mundopara outro mundo, como o caso duma alma imortal, liberta docorpo, e sim a transio da era atual para o futuro. Ela est ligada atodo o processo da redeno.

    Como existe o pecado, deve haver um processo de resgate ordenadono tempo. Se o pecado considerado como a fonte do poder damorte sobre a criao de Deus, esse pecado e essa morte devem serderrotados juntos, e o Esprito Santo, o nico poder capaz de vencera morte, deve ganhar todas as criaturas de volta para a vida num

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    27/43

    23

    processo contnuo.

    Dessa forma, a crena crist na ressurreio, distinta da crena gregana imortalidade da alma, est ligada a um processo divino quesignifica libertao total. O pecado e a morte devem ser subjugados.Ns no podemos fazer isso. Outro fez isso por ns, e s ele foi capazde faz-lo porque se dirigiu aos prprios domnios da morte ouseja, ele prprio morreu e expiou o pecado, para que a morte, comosalrio do pecado fosse vencida. A f crist proclama que Jesusrealizou isso e que ele ressuscitou de corpo e alma depois de estarreal e completamente morto. Aqui Deus consumou o milagre da novacriao, esperado no Fim. Mais uma vez Ele criou vida, como noprincpio. Neste aspecto, em Cristo Jesus isto j ocorreu! Aressurreio, no s no sentido de o Esprito Santo tomar posse dohomem interior, mas tambm a ressurreio do corpo. Esta umanova criao de matria, uma matria incorruptvel. Em nenhumoutro lugar existe esta matria espiritual. Em nenhum outro lugar

    existe um corpo espiritual apenas em Cristo.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    28/43

    24

    3

    O PRIMOGNITO DOS MORTOS

    Entre a Ressurreio de Cristo e a Destruio da Morte

    Devemos levar em conta o que significou para os cristos quando

    eles proclamaram: Cristo levantou dos mortos! Acima de tudoprecisamos ter em mente o que a morte significava para eles. Somostentados a associar estas declaraes bblicas poderosas com opensamento grego da imortalidade da alma, e desta forma roubar-lhes seu contedo. Cristo foi levantado: isso quer dizer que estamosna nova era em que a morte foi vencida, na qual a corruptibilidadeno existe mais. Pois, se h realmente um corpo espiritual (no umaalma imortal, e sim um corpo espiritual) que emergiu dum corpocarnal, ento de fato o poder da morte foi quebrado. Os crentes, deacordo com a convico dos primitivos cristos, no devero maismorrer: esta era certamente a expectativa deles nos dias primitivos.Deve ter sido um problema quando eles constataram que os cristoscontinuavam a morrer. Mas, mesmo o fato de os homenscontinuarem a morrer no tem mais a mesma significncia depois daressurreio de Cristo. O fato da morte foi despojado de suaimportncia anterior. Morrer no mais uma expresso do domnioabsoluto da morte, mas apenas uma das pretenses anteriores damorte ao domnio. A morte no pode anular a grande verdade de queexiste um Corpo ressuscitado.

    Devemos tentar simplesmente entender o que os primitivos cristosqueriam dizer quando falavam de Cristo como sendo o primognitodentre os mortos. No entanto, por mais difcil que seja fazer isso,devemos excluir a questo de saber se podemos ou no aceitar essacrena. Logo de incio, temos tambm de deixar de lado a questo desaber se Scrates est certo ou se o Novo Testamento que est.Caso contrrio, vamos nos pegar fazendo continuamente a misturade processos de pensamento alheios com os do Novo Testamento.Devemos simplesmente ouvir o que o Novo Testamento diz. Cristo

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    29/43

    25

    o primognito dentre os mortos! Seu corpo o primeiro corpo daressurreio, o primeiro corpo espiritual. Onde esta convico estpresente, toda vida e todo pensamento deve ser influenciado por ele.Todo o pensamento do Novo Testamento permanecer para ns umlivro selado com sete selos, se no lermos por trs de cada fraseescrita nele esta outra sentena: A morte j foi conquistada (note-se,a morte, no o corpo), j h uma nova criao (note-se, uma novacriao, no uma imortalidade que a alma sempre possuiu) a era daressurreio j est inaugurada.

    Admita-se que ela foi apenas inaugurada, mas ainda assimdecisivamente inaugurada. S inaugurada: pois a morte age, e oscristos ainda morrem. Os discpulos experimentaram isso, j que osprimitivos membros da comunidade crist morreram. Isto,necessariamente, apresentou-se como um problema difcil. Em 1Corntios 11:30, Paulo escreve basicamente que a morte e a doenano devero mais ocorrer. Ns continuamos a morrer, e a doena e o

    pecado ainda existem. Mas o Esprito Santo j atua efetivamente emnosso mundo como o poder da nova criao; ele j atuouvisivelmente na comunidade primitiva, em diversas manifestaesdo esprito. Em meu livro Cristo e o Tempo falei de uma tenso entreo presente e o futuro, a tenso entre o j cumprido e o ainda noconsumado. Esta tenso pertence essencialmente ao NovoTestamento e no apresentada como uma soluo secundriaoriginada pelo embarao. Esta tenso est presente em Jesus e com

    ele. Ele proclama o Reino de Deus para o futuro, mas, por outro ladoele proclama que o Reino de Deus j nasceu, uma vez que eleprprio, juntamente com o Esprito Santo j est realmenterepelindo a morte, por curar os doentes e ressuscitar os mortos(Mateus 12:28, 11:3 em diante, Lucas 10:18), antecipando a vitriasobre a morte que ele obtm com sua prpria morte. A esperanacrist pertence prpria essncia do Novo Testamento, que pensaem categorias temporais, e esta a razo de a crena na ressurreio

    conseguida por meio de Cristo ser o ponto de partida de toda a vida ede todo o pensamento cristo. Quando se parte deste princpio,ento a tenso cronolgica entre o j cumprido e o ainda noconsumado constitui a essncia da f crist. De modo que ametfora que uso no livro Cristo e o Tempo caracteriza a situao de

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    30/43

    26

    todo o Novo Testamento: a batalha decisiva foi travada com a mortee a ressurreio de Cristo, s o Dia da Vitria ainda est por vir.

    Basicamente, toda a discusso teolgica contempornea gira emtorno desta questo: a Pscoa o ponto de partida da Igreja deCristo, de sua existncia, vida e pensamento? Se assim for, estamosvivendo num perodo de tempo intermedirio.

    Neste caso, a f na ressurreio apresentada no Novo Testamento

    torna-se o ponto cardeal de toda a crena crist. Assim, a novidadede que h um corpo da ressurreio o corpo de Cristo define todaa interpretao dos primitivos cristos sobre o tempo. Se Cristo oprimognito dentre os mortos, ento isso significa que o tempo doFim j est presente. Mas isso tambm significa que um intervalo detempo separa o Primognito de todos os outros homens que aindano nasceram dentre os mortos. Isto significa ento que vivemosnuma poca intercalar, entre a ressurreio de Jesus, que j

    aconteceu, e a nossa, que s ocorrer no Fim. Significa tambm queo poder energizante, o Esprito Santo, j est em operao entre ns.Dessa forma, Paulo designa o Esprito Santo, pelo mesmo termo primcias (Romanos 8:23) que ele usa em relao ao prprio Jesus (1Corntios 15:23). J h, ento, um prenncio da ressurreio. Erealmente de uma maneira dupla: o nosso homem interior j estsendo renovado a cada dia pelo Esprito Santo (2 Corntios 4:16,Efsios 3:16), o corpo tambm j est sendo soerguido pelo Esprito,

    embora a carne ainda tenha a sua cidadela dentro dele. Sempre que oEsprito Santo entra em cena, o poder da morte rechaado, mesmono corpo. Assim, os milagres de cura ocorreram exatamente emnosso corpo ainda mortal. Ante o clamor desesperado em Romanos7:24, Quem me livrar do corpo desta morte? todo o NovoTestamento responde: O Esprito Santo!

    O prenncio do fim, visualizado por meio do Esprito Santo, torna-se

    mais claramente visvel na celebrao crist de partir o po. Milagresvisveis do Esprito ocorrem nesse momento. Ali o Esprito procuraultrapassar os limites da linguagem humana imperfeita no falar emlnguas. E ali a comunidade colocada em conexo direta com oRessuscitado, no s com sua alma, mas tambm com seu Corpo

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    31/43

    27

    Ressuscitado. por isso que lemos em 1 Corntios 10:18: O po quepartimos no uma comunho com o corpo de Cristo? Aqui emcomunho com os irmos, chegamos mais perto do Corpo daressurreio de Cristo, e por isso Paulo escreve no captulo seguinte,o captulo 11 (uma passagem que tem recebido muito pouca ateno)que se esta Ceia do Senhor era comida por todos os membros dacomunidade de uma forma completamente digna, ento a unio como corpo da ressurreio de Jesus seria to eficaz em nossos prprioscorpos que, mesmo agora no haveria mais doena ou morte (1Corntios 11:28-30) uma afirmao singularmente forte. Portanto, acomunidade descrita como sendo o corpo de Cristo, porque aqui ocorpo espiritual de Cristo est presente, porque aqui chegamos maisprximo a ele; aqui na refeio comum os primeiros discpulos naPscoa viram o corpo da ressurreio de Jesus, seu corpo espiritual.

    No entanto, apesar do fato de o Esprito Santo j estar agindo topoderosamente, os homens continuam a morrer; mesmo aps a

    Pscoa e o Pentecostes os homens continuam morrendo como antes.Nosso corpo continua mortal e sujeito doena. Sua transformaono corpo espiritual s ocorrer quando a criao inteira for feitanova por Deus, s ento, pela primeira vez, no haver nada alm doEsprito, nada alm do poder da vida, pois da a morte ser destrudapor completo. Haver ento uma nova substncia para todas ascoisas visveis. Em lugar da matria carnal, aparecer a espiritual.Ou seja, em vez de matria corruptvel aparecer o incorruptvel. O

    visvel e o invisvel sero esprito. Mas no nos enganemos: este no certamente o sentido grego do Ideal imaterial! Um novo cu e umanova terra. Essa a esperana crist. E, ento, nossos corpostambm ressuscitaro dentre os mortos. Mas no como corposcarnais, e sim como corpos espirituais.

    Alguns procuram explicar a expresso ressurreio da carne, tantodo ponto de vista da teologia bblica como da histria do dogma.

    Paulo no poderia ter dito isso. Carne e sangue no podem herdar oReino. Paulo acredita na ressurreio do corpo, no da carne. Acarne o poder da morte, que deve ser destrudo. Este erro no credogrego se introduziu num momento em que a terminologia bblicatinha sido mal-interpretada no sentido da antropologia grega.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    32/43

    28

    Ademais, nosso corpo (e no apenas a nossa alma), ser levantadono Fim, quando o poder vivificante do Esprito faz novas todas ascoisas, sem exceo.

    Um corpo incorrutvel! Como iremos conceber isto? Ou melhor, queconceito os primitivos cristos tinham disso? Paulo diz em Filipenses3:21 que no Fim, Cristo vai transformar nosso corpo rebaixado paraser conforme o corpo glorioso dele, exatamente como se diz em 2Corntios 3:18: Todos ns... somos transformados de glria emglria na mesma imagem, como pelo Esprito do Senhor. Esta glriafoi concebida pelos primitivos cristos como uma espcie desubstncia luminosa, mas esta apenas uma comparao imperfeita.A nossa linguagem no tem palavras para caracterizar isso. Maisuma vez, fao referncia ao quadro da Ressurreio, de Grnewald.Ele pode estar bem prximo daquilo que Paulo entendia como ocorpo espiritual.

    [Figura na pgina seguinte:Ressurreio de Cristo, Mathias Grnewald]

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    33/43

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    34/43

    30

    4

    OS QUE ESTO DORMINDO

    O Esprito Santo e a Condio Intermediria dos Mortos

    E agora chegamos ltima questo. Quando que ocorre esta

    transformao do corpo? No pode restar dvida sobre este ponto. Ointeiro Novo Testamento responde que no Fim, e isso deve serentendido literalmente, ou seja, no sentido temporal. Isso levanta aquesto da condio dos mortos no nterim. A morte j foirealmente conquistada de acordo com 2 Timteo 1:10: Cristo venceua morte e j trouxe a vida e a incorruptibilidade luz. A tensocronolgica que eu constantemente enfatizo, refere-se precisamentea este ponto central de que a morte foi conquistada, mas s serabolida no Fim. 1 Corntios 15:26 diz que a morte ser conquistadacomo o ltimo inimigo. significativo que em grego usa-se o mesmoverbo para descrever a vitria decisiva j conseguida e a ainda noconsumada vitria no fim. Apocalipse 20:14 descreve a vitria nofim, a aniquilao da morte: A morte ser lanada no lago de fogo, ealguns versculos depois dito que a morte no mais existir.

    No entanto, isso significa que a transformao do corpo no ocorreimediatamente aps cada morte individual. Aqui tambm, temos deguardar-nos mais uma vez contra qualquer tipo de acomodao filosofia grega, se quisermos compreender a doutrina do NovoTestamento. H quem considere ser a interpretao do NovoTestamento que a transformao do corpo ocorre para todos,imediatamente aps a morte individual como se os mortos noestivessem mais no tempo. Todavia, segundo o Novo Testamento,eles ainda esto no tempo. Caso contrrio, o problema registrado em1 Tessalonicenses 4:13 em diante no teria sentido. Aqui, Paulo estna verdade preocupado em mostrar que no momento do retorno deCristo aqueles que estiverem ento vivos no levaro vantagemsobre os que morreram em Cristo. Desse modo, os mortos em Cristoainda esto no tempo, eles tambm esto esperando. At quando,

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    35/43

    31

    Senhor?, clamam os mrtires que esto dormindo debaixo do altarmencionado no Apocalipse de Joo (captulo 6, versculo 11). Nem aspalavras ditas na cruz, Hoje estars comigo no paraso (Lucas23:43), nem a parbola do homem rico, onde Lzaro levadodiretamente para o seio de Abrao (Lucas 16:22), nem as palavras dePaulo, Eu desejo morrer e estar com Cristo (Filipenses 1:23),provam, como muitas vezes se afirmou, que a ressurreio do corpoocorre imediatamente aps a morte individual. (As palavras muitodiscutidas de Lucas 23:43, hoje estars comigo no Paraso, sopertinentes aqui. Na verdade no impossvel compreend-las,ainda que artificialmente. A declarao deve ser entendida luz deLucas 16:23 e da concepo judaica primitiva de Paraso, comosendo o lugar dos abenoados. certo que Lucas 16:23 no se refere ressurreio do corpo, e a expectativa da Parusia no de modoalgum suplantada. Existe certa disparidade aqui quanto teologia dePaulo, na medida em que no dia referido como hoje o prprioCristo ainda no tinha sido levantado e, portanto, a base da condio

    de os mortos estarem unidos a Cristo ainda no tinha sidoestabelecida. Mas, em ltima anlise, a nfase aqui est no fato deque o ladro estar com Cristo. A resposta de Jesus deve serentendida em relao splica do ladro. O ladro pede que Jesus selembre dele quando entrar em seu reino, o qual, segundo a visojudaica do Messias, s pode se referir ao momento em que o Messiasvem e estabelece seu reino. Jesus no s concede o pedido, como dao ladro mais do que ele pediu: ele estar unido com Jesus, mesmo

    antes da vinda do reino. Entendidas desse modo, de acordo com suainteno, estas palavras no constituem uma dificuldade para aposio defendida acima). Em nenhum desses textos h qualquerpalavra sobre a ressurreio do corpo. Em vez disso, essas diferentesimagens retratam a condio daqueles que morrem em Cristo antesdo Fim o estado intermedirio em que eles, bem como os vivos, seencontram. Todas essas imagens expressam simplesmente umaproximidade especial com Cristo, na qual se encontram aqueles que

    morrem em Cristo antes do Fim. Eles esto com Cristo ou noparaso ou no seio de Abrao, ou, segundo o Apocalipse 6:9,debaixo do altar. Todas estas so simplesmente vrias imagens daproximidade especial com Deus. Mas a imagem mais comum paraPaulo : Eles esto dormindo. Seria difcil contestar que o NovoTestamento reconhece esse perodo intermedirio para os mortos,

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    36/43

    32

    bem como para os vivos, apesar de faltar aqui qualquer tipo deespeculao sobre a condio dos mortos neste perodointermedirio.

    Os mortos em Cristo compartilham da tenso do perodointermedirio. (A falta de especulao sobre isso no NovoTestamento no nos d o direito de simplesmente suprimir o estadointermedirio como tal. Eu no entendo por que os telogosprotestantes tm tanto medo da posio do Novo Testamento,quando o Novo Testamento ensina apenas, sendo muito disto sobreo estado intermedirio: (1) que ele existe, (2) que j significa aunio com Cristo [isso por causa do Esprito Santo]). Mas isso nosignifica apenas que eles esto esperando. Significa que, para elestambm, algo decisivo aconteceu com a morte e ressurreio deJesus. Para eles tambm, a Pscoa o grande momento decisivo(Mateus 27:52). Esta nova situao criada pela Pscoa nos leva a verpelo menos a possibilidade de um elo comum com Scrates, no com

    o seu ensinamento, mas com seu prprio comportamento em face damorte. A morte perdeu o seu horror, seu aguilho. Embora semantenha como o ltimo inimigo, a morte j no tem qualquersignificado final. Se a ressurreio de Cristo tivesse sido para marcaro grande momento decisivo das eras s para os vivos e no para osmortos tambm, ento os vivos certamente teriam uma imensavantagem sobre os mortos. Pois, como membros da comunidade deCristo, os vivos realmente esto agora mesmo de posse do poder da

    ressurreio, o Esprito Santo. inconcebvel que, segundo o pontode vista dos primitivos cristos, nada tivesse se alterado para osmortos no perodo antes do Fim. So precisamente essas imagensusadas no Novo Testamento para descrever a condio dos mortosem Cristo, que provam que, mesmo agora, nesta condiointermediria dos mortos, a ressurreio de Cristo a antecipaodo Fim j efetiva. Eles esto com Cristo.

    Particularmente em 2 Corntios 5:1-10 ouvimos porque que osmortos, embora ainda no tenham um corpo e estejam sdormindo, esto, contudo, numa proximidade especial com Cristo.Paulo fala aqui da ansiedade natural que at ele sente antes damorte, a qual ainda mantm sua efetividade. Ele teme a condio de

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    37/43

    33

    nudez, como ele a chama, isto , a condio do homem interior queno tem corpo. Este medo natural da morte, portanto, nodesapareceu. Paulo gostaria, como ele diz, de receber um corpoespiritual adicional, enquanto ainda vivo, sem sofrer a morte. Ouseja, ele gostaria de estar vivo no momento do retorno de Cristo.Encontramos aqui, mais uma vez, a confirmao do que dissemossobre o medo da morte por parte de Jesus. Mas agora vemostambm algo novo: neste mesmo texto, ao lado dessa ansiedadenatural por causa da nudez da alma est a grande confiana naproximidade de Cristo, mesmo nesse estado intermedirio. O que hpara se temer no fato de que essa condio intermediria aindaexiste? A confiana na proximidade de Cristo baseada na convicode que o nosso homem interior j est sob o controle do EspritoSanto. Desde a poca de Cristo, ns, os vivos, temos de fato oEsprito Santo. Se ele est realmente dentro de ns, j transformou onosso homem interior. Mas, como ouvimos, o Esprito Santo opoder da vida. A morte no pode lhe fazer nenhum mal. Por isso,

    algo realmente mudou para os mortos, para aqueles que realmentemorrem em Cristo, ou seja, na posse do Esprito Santo. O horrvelabandono na morte, a separao de Deus, da qual temos falado, noexiste mais, justamente por causa da realidade do Esprito Santo.Desse modo, o Novo Testamento enfatiza que os mortos estorealmente com Cristo, e por isso no esto abandonados. Podemoscompreender, ento, por que justamente em 2 Corntios 5:1 emdiante, onde ele menciona o medo da desencarnao no perodo

    intermedirio, Paulo descreve o Esprito Santo como penhor (ougarantia).

    base do versculo 8 do mesmo captulo, fica evidente que os mortosesto mais prximos de Cristo. O sono parece lev-los ainda maisprximo: Mas temos confiana e desejamos antes deixar este corpo,para habitar com o Senhor. Por esta razo, o apstolo pde escreverem Filipenses 1:23 que ele deseja morrer e estar com Cristo. Ento,

    um homem que no tem o corpo carnal est ainda mais prximo deCristo do que antes, se ele tem o Esprito Santo. a carne, ligada aonosso corpo terreno, que ao longo da nossa vida dificulta o plenodesenvolvimento do Esprito Santo. A morte nos liberta desteobstculo, embora seja um estado imperfeito na medida em que ficafaltando o corpo da ressurreio. Nem neste trecho, nem em parte

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    38/43

    34

    alguma se encontra qualquer informao mais detalhada sobre esteestado intermedirio no qual o homem interior, despojado realmentede seu corpo carnal, mas ainda privado do corpo espiritual, existecom o Esprito Santo. O apstolo se limita a garantir-nos que estacondio, a qual antecipa o destino que nosso j que recebemos oEsprito Santo, aproxima-nos da ressurreio final.

    Encontramos aqui o medo de uma condio imaterial associado coma firme confiana de que, mesmo nessa condio intermediria etransitria no ocorre qualquer separao de Cristo (entre ospoderes que no podem nos separar do amor de Deus em Cristo esta morte Romanos 8:38). Este medo e esta confiana esto lado alado em 2 Corntios 5, e isso confirma o fato de que at mesmo osmortos compartilham da tenso do momento presente. Porm, aconfiana predomina, pois a ao foi realmente tomada. A morte estsubjugada. O homem interior, despojado do corpo, no est maissozinho, ele no leva a existncia sombria que os judeus esperavam e

    que no pode ser descrita como vida. O homem interior, despojadodo corpo, j foi transformado pelo Esprito Santo em seu perodo devida, j est soerguido pela ressurreio (Romanos 6:3 em diante;Joo 3:3 em diante), se como pessoa viva, ele j tinha sido renovadopelo Esprito Santo. Embora ele ainda durma e ainda aguarde aressurreio do corpo, a qual, por si s, dar a ele a vida plena, ocristo falecido tem o Esprito Santo. Assim, mesmo nesta condio,a morte perdeu o seu horror, embora ela ainda exista. E dessa

    maneira que os que morrem no Senhor podem realmente serabenoados desde agora, conforme diz o autor do Apocalipse(Apocalipse 14:13). O que se diz em 1 Corntios 15:54, 55 aplica-setambm aos mortos: A morte foi destruda pela vitria. Onde est, morte, a sua vitria? Onde est, morte, o seu aguilho?Assim, oapstolo escreve em Romanos 14: Assim, quer vivamos, quermorramos, pertencemos ao Senhor. (versculo 8) Por esta razoCristo morreu e voltou a viver, para ser Senhor de vivos e de mortos.

    (versculo 9).Algum poderia perguntar: No fomos, desta maneira, levados devolta, em ltima anlise, doutrina grega da imortalidade, se o NovoTestamento presume, para o perodo ps-Pscoa, uma continuidade

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    39/43

    35

    do homem interior das pessoas convertidas antes e depois damorte, de maneira que aqui tambm a morte apresentada paratodos os efeitos prticos apenas como um transio natural? H umsentido no qual uma espcie de aproximao com o ensino gregorealmente ocorre, na medida em que o homem interior, que j foitransformado pelo Esprito (Romanos 6:3 em diante), e foi,conseqentemente renovado, continua a viver com Cristo nesteestado transformado, na condio do sono. Esta continuidade fortemente enfatizada, principalmente no Evangelho de Joo (3:36,4:14, 6:54 e com freqncia). Observamos aqui pelo menos algumaanalogia com a imortalidade da alma, todavia a distinopermanece radical. Alm disso, a condio dos mortos em Cristo ainda imperfeita, um estado de nudez, conforme diz Paulo, desono, de espera pela ressurreio do corpo por parte de toda acriao. Por outro lado, a morte no Novo Testamento continua a sero inimigo, se bem que um inimigo derrotado, que ainda deve serdestrudo. O fato de que mesmo nesta condio os mortos j esto

    vivendo com Cristo no corresponde essncia natural da alma.Emvez disso, o resultado de uma interveno divina a partir doexterior, por meio do Esprito Santo, que j teria despertado ohomem interior na vida terrena por seu poder milagroso.

    Assim, continua sendo verdade que a ressurreio do corpo esperada, mesmo no Evangelho de Joo naturalmente j com acerteza da vitria, porque o Esprito Santo j habita no homem

    interior. Conseqentemente, no h qualquer dvida: uma vez que oEsprito j habita no homem interior, ele certamente transformar ocorpo. Pois o Esprito Santo, esse poder vivificante, penetra em tudoe no conhece barreira. Se ele est realmente dentro de um homem,ento ele despertar o homem inteiro. Por isso Paulo escreve emRomanos 8:11: E se o Esprito daquele que ressuscitou Jesus dentreos mortos habita em vocs, aquele que ressuscitou a Cristo dentre osmortos tambm dar vida a seus corpos mortais, por meio do seu

    Esprito, que habita em vocs. Em Filipenses 3:21: Pelo poder queo capacita a colocar todas as coisas debaixo do seu domnio, eletransformar os nossos corpos humilhados, para serem semelhantesao seu corpo glorioso. Nada se diz no Novo Testamento sobre osdetalhes da condio intermediria. Ouvimos apenas isto: estamosmais perto de Deus.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    40/43

    36

    Ns aguardamos e os mortos aguardam. Naturalmente o ritmo dotempo para eles pode ser diferente do que para os vivos, e destaforma o perodo intermedirio pode ser encurtado para eles.Realmente isto no significa ir alm dos textos do Novo Testamentoe sua exegese, porque esta expresso dormir, que a designaocomum no Novo Testamento para o estado intermedirio, leva-nosao conceito de que para os mortos existe outro tipo de conscincia dotempo, a dos que esto dormindo. Mas isso no quer dizer que osmortos no esto parados no tempo. Vemos mais uma vez, portanto,que a esperana da ressurreio do Novo Testamento diferente dacrena grega na imortalidade.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    41/43

    37

    CONCLUSO

    Em suas viagens missionrias, Paulo certamente encontrou pessoasque eram incapazes de crer em sua pregao da ressurreioexatamente em razo de acreditarem na imortalidade da alma.Assim, em Atenas s houve zombaria no momento em que Paulofalou da ressurreio (Atos 17:32). Tanto as pessoas de quem Paulo

    fala (em 1 Tessalonicenses 4:13) que no tm esperana comoaquelas sobre as quais ele escreve (em 1 Corntios 15:12) que nocrem que haja uma ressurreio dos mortos, provavelmente no soos epicuristas, como estamos inclinados a acreditar. Pois os quecrem na imortalidade da alma no tm a esperana de que Paulofala, a esperana que expressa a crena no milagre divino da novacriao que ir abranger tudo, cada parte do mundo criado por Deus.Com efeito, para os gregos, que acreditavam na imortalidade da

    alma, pode ter sido mais difcil aceitar a pregao crist daressurreio do que foi para os outros. Por volta do ano 150, Justino(em seu Dilogo, 80) escreve sobre as pessoas, que dizem que noh ressurreio dos mortos, e sim que imediatamente aps a morte aalma deles ascende ao cu. Aqui se percebe claramente o contraste.

    O imperador Marco Aurlio, um filsofo que, assim como Scrates,est entre as mais nobres figuras da Antiguidade, tambm percebeu

    o contraste. Como se sabe, ele abrigava o mais profundo desprezopelo Cristianismo.

    Poderamos imaginar que a morte dos mrtires cristos inspirariarespeito neste grande estico que considerava a morte comequanimidade. Todavia, foi exatamente para com a morte dosmrtires que ele demonstrou menos simpatia. O fervor com que oscristos encaravam a morte o desagradava. (Marco Aurlio,Med. XI,

    3. Na verdade, com o passar do tempo ele foi desistindo da crena naimortalidade da alma). Os esticos partiam desta vida sem paixo, osmrtires cristos, por outro lado, morriam fervorosamente pelacausa de Cristo, pois sabiam que ao faz-lo permaneciam dentro deum poderoso processo de redeno. O primeiro mrtir cristo,

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    42/43

    38

    Estvo, mostra-nos (em Atos 7:55) quo diferente a vitria sobre amorte daquele que morre em Cristo, em comparao com o filsofoda antiguidade: Estevo diz que viu os cus abertos e Cristo em p direita de Deus! Ele v Cristo, o Conquistador da Morte. Tendo estaf de que a morte, qual ele deveria se submeter, j estavaconquistada por aquele mesmo Jesus que a tinha suportado, Estevose deixou apedrejar.

    A resposta questo imortalidade da alma ou ressurreio dosmortos no Novo Testamento inequvoca. No h maneira deharmonizar o ensino dos grandes filsofos Scrates e Plato com oensino do Novo Testamento. Que as pessoas envolvidas, as vidasdelas, e a atitude delas por ocasio da morte podem at serrespeitadas pelos cristos, os apologistas do segundo sculomostraram.Acredito que isto pode ser tambm demonstrado combase no Novo Testamento. Mas esta uma questo com a qual noprecisamos lidar aqui.

  • 7/27/2019 Imortalidade da Alma ou Ressurreio dos Mortos

    43/43