immanuel kant - crítica da faculdade do juízo

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Immanuel Kant - Crtica da Faculdade do JuzoNDICEPrlogo IntroduoI. Da diviso da FilosofiaII. Do domnio da Filosofia em geralIII. Da crtica da faculdade do juzo como meio de ligao das duas partes da Filosofia num todoIV. Da faculdade do juzo como uma faculdade legislante a prioriV. O princpio da conformidade a fins formal da natureza um princpio transcendental da faculdade do juzoVI. Da ligao do sentimento de prazer com o conceito da conformidade a fins da naturezaVII. Da representao esttica da conformidade a fins da naturezaVIII. Da representao lgica da conformidade a fins da naturezaIX. Da conexo das legislaes do entendimento e da razo mediante a faculdade do juzoDiviso da obra inteiraPrimeira Parte. Crtica da Faculdade de Juzo EstticaPrimeira seo. Analtica da faculdade de juzo estticaPrimeiro livro. Analtica do beloPrimeiro Momento do juzo de gosto segundo a qualidade1. O juzo de gosto esttico2. A complacncia que determina o juzo de gosto independente de todo interesse3. A complacncia no agradvel ligada a interesse4. A complacncia no bom ligada a interesse5. Comparao dos trs modos especificamente diversos de complacnciaSegundo Momento do juzo de gosto, a saber, segundo sua quantidade.6. O belo o que representado sem conceitos como objeto de uma complacncia universal7. Comparao do belo com o agradvel e o bom atravs da caracterstica acima8. A universalidade da complacncia representada em um juzo de gosto somente como subjetiva9. Investigao da questo, se no juzo de gosto o sentimento de prazer precede o ajuizamento do objeto ou se este ajuizamento precede o prazer.Terceiro Momento do juzo de gosto segundo a relao dos fins que neles considerada10. Da conformidade a fins em geral11. O juzo de gosto no tem por fundamento seno a forma da conformidade a fins de um objeto (ou do seu modo de representao) 12. O juzo de gosto repousa sobre fundamentos a priori13. O juzo de gosto puro independente de atrativo e comoo14. Elucidao atravs de exemplos15. O juzo de gosto totalmente independente do conceito de perfeio16. O juzo de gosto, pelo qual um objeto declarado belo sob a condio de um conceito determinado, no puro.17. Do ideal da belezaQuarto Momento do juzo de gosto segundo a modalidade da complacncia no objeto18. O que a modalidade de um juzo de gosto19. A necessidade subjetiva que atribumos ao juzo de gosto condicionada20. A condio da necessidade que um juzo de gosto pretende a ideia de um sentido comum21. Se se pode com razo pressupor um sentido comum 22. A necessidade do assentimento universal, que pensada em um juzo de gosto, uma necessidade subjetiva, que sob a pressuposio de um sentido comum representada como objetiva.Observao geral sobre a primeira seo da Analtica Segundo livro. Analtica do sublime23. Passagem da faculdade de ajuizamento do belo de ajuizamento do sublime24. Da diviso da investigao do sentimento do sublimeA. Do matemtico-sublime.25. Definio nominal do sublime26. Da avaliao da grandeza das coisas da natureza, que requerida para a ideia do sublime.27. Da qualidade da complacncia no ajuizamento do sublimeB. Do dinmico-sublime na natureza.28. Da natureza como um poder29. Da modalidade do juzo sobre o sublime da naturezaObservao geral exposio dos juzos reflexivos estticosDeduo dos juzos estticos puros30. A deduo dos juzos estticos sobre os objetos da natureza no pode ser dirigida quilo que nesta chamamos de sublime, mas somente ao belo.31. Do mtodo da deduo dos juzos de gosto32. Primeira peculiaridade do juzo de gosto33. Segunda peculiaridade do juzo de gosto34. No possvel nenhum princpio objetivo de gosto35. O princpio do gosto o princpio subjetivo da faculdade do juzo em geral36. Do problema de uma deduo dos juzos de gosto37. Que propriamente afirmado a priori de um objeto em um juzo de gosto?38. Deduo dos juzos de gosto39. Da comunicabilidade de uma sensao 40. Do gosto como uma espcie de sensus communis41. Do interesse emprico pelo belo42. Do interesse intelectual pelo belo43. Da arte em geral44. Da arte bela45. Arte bela uma arte enquanto ela ao mesmo tempo parece ser natureza46. Arte bela arte do gnio47. Elucidao e confirmao da precedente explicao do gnio48. Da relao do gnio com o gosto49. Das faculdades do nimo que constituem o gnio50. Da ligao do gosto com o gnio em produtos da arte bela51. Da diviso das belas artes52. Da ligao das belas artes em um e mesmo produto53. Comparao do valor esttico das belas artes entre si54. ObservaoSegunda seo. Dialtica da faculdade de juzo esttica55.56. Representao da antinomia do gosto57. Resoluo da antinomia do gosto58. Do idealismo da conformidade a fins tanto da natureza como da arte, como o nico princpio da faculdade de juzo esttica.59. Da beleza como smbolo da moralidade60. Da doutrina do mtodo do gostoSegunda Parte. Crtica da Faculdade de Juzo Teleolgica61. Da conformidade a fins objetiva da naturezaPrimeira diviso. Analtica da faculdade de juzo teleolgica62. Da conformidade a fins objetiva, a qual meramente formal, diferentemente da material.63. Da conformidade a fins relativa da natureza, e da diferena da conformidade a fins interna.64. Do carter especfico das coisas como fins naturais65. As coisas como fins naturais so seres organizados66. Do princpio do ajuizamento da conformidade a fins interna em seres organizados67. Do princpio do ajuizamento teleolgico da natureza em geral como sistema dos fins68. Do princpio da teleologia como princpio interno da cincia da naturezaSegunda diviso. Dialtica da faculdade de juzo teleolgica69. O que uma antinomia da faculdade do juzo70. Representao desta antinomia71. Preparao para resoluo da antinomia mencionada72. Dos diversos sistemas sobre a conformidade a fins da natureza73. Nenhum dos sistemas citados realiza aquilo que afirma74. A causa da impossibilidade de tratar dogmaticamente o conceito de uma tcnica da natureza o carter inexplicvel de um fim natural75. O conceito de uma conformidade a fins objetiva da natureza um princpio crtico da razo para a faculdade de juzo reflexiva76. Observao77. Da especificidade do entendimento humano, pelo qual nos possvel o conceito de um fim natural.78. Da unio do princpio do mecanismo universal da matria com o teleolgico na tcnica da naturezaApndice. Doutrina do mtodo da faculdade de juzo teleolgica79. Ser que a teleologia tem que ser tratada como pertencente teoria da natureza?80. Da necessria subordinao do princpio do mecanismo ao princpio teleolgico na explicade uma coisa como fim da natureza81. Da juno do mecanismo com o princpio teleolgico na explicao de um fim da natureza como produto natural82. Do sistema teleolgico nas relaes exteriores dos seres organizados83. Do ltimo fim da natureza como sistema teleolgico84. Sobre o fim terminal da existncia de um mundo, isto , sobre a prpria criao. 85. Da teologia fsica86. Da teologia tica87. Da prova moral da existncia de Deus88. Limitao da validade da prova moral89. Da utilidade do argumento moral90. Da espcie de adeso numa demonstrao teleolgica da existncia de Deus91. Da espcie de adeso mediante uma f prticaObservao geral sobre teleologiaPRLOGO primeira edio, 1790.A faculdade do conhecimento a partir de princpios a priori pode ser chamada razo pura e a investigao da sua possibilidade e dos seus limites em geral, crtica da razo pura, embora se entenda por essa faculdade somente a razo no seu uso terico, como tambm ocorreu na primeira obra sob aquela denominao, sem querer ainda incluir na investigao a sua faculdade como razo prtica segundo seus princpios peculiares. Aquela concerne ento simplesmente nossa faculdade de Conhecer a priori coisas e ocupa-se, portanto, s com a faculdade do conhecimento, com excluso do sentimento de prazer e desprazer e da faculdade da apetio; e entre as faculdades de conhecimento ocupa-se com o entendimento segundo seus princpios a priori, com excluso da faculdade do juzo e da razo (enquanto faculdades igualmente pertencentes ao conhecimento terico), porque se ver a seguir que nenhuma outra faculdade do conhecimento alm do entendimento pode fornecer a priori princpios de conhecimento constitutivos. Portanto, a crtica, que examina as faculdades em conjunto segundo a participao que cada uma das outras por virtude prpria poderia pretender ter na posse efetiva do conhecimento, no retm seno o que o entendimento prescreve a priori como lei para a natureza, enquanto complexo de fenmenos (cuja forma igualmente dada a priori) mas relega todos os outros conceitos puros s ideias, que para nossa faculdade de conhecimento terica so transcendentes. E nem por isso eles so inteis ou dispensveis mas servem como princpios regulativos, em parte para refrear as preocupantes pretenses do entendimento, como se ele (enquanto capaz de indicar a priori as condies da possibilidade de todas as coisas que ele pode conhecer) tivesse tambm determinado, dentro desses limites, a possibilidade de todas as coisas em geral, em parte para guiar a ele mesmo na contemplao da natureza segundo um princpio de completude, embora jamais possa alcan-la, e desse modo promover o objetivo final de todo o conhecimento. Logo, era propriamente o entendimento - que possui o seu prprio domnio, e na verdade na faculdade do conhecimento, na medida em que ele contm a priori princpios de conhecimento constitutivos - que deveria ser posto em geral pela chamada Crtica da razo pura em posse segura e nica contra todos os outros competidores. Do mesmo modo foi atribuda razo, que no contm a priori princpios constitutivos seno com respeito faculdade da apetio, a sua posse na Crtica da razo prtica. Ora, se a faculdade do juzo, que na ordem de nossas faculdades de conhecimento constitui um termo mdio entre o entendimento e a razo, tambm tem por si princpios a priori, se estes so constitutivos ou simplesmente regulativos (e, pois, no provam nenhum domnio prprio), e se ela fornece a priori a regra ao sentimento de prazer e desprazer enquanto termo mdio entre a faculdade do conhecimento e a faculdade da apetio (do mesmo modo como o entendimento prescreve a priori leis primeira, a razo porm segunda): eis com que se ocupa a presente Crtica da faculdade do juzo. Uma Crtica da razo pura, isto , de nossa faculdade de julgar segundo princpios a priori, estaria incompleta se a faculdade do juzo, que por si enquanto faculdade do conhecimento tambm a reivindica, no fosse tratada como uma sua parte especial. No obstante, seus princpios no devem constituir, em um sistema da filosofia pura, nenhuma parte especial entre a filosofia terica e a prtica, mas em caso de necessidade devem poder ser ocasionalmente ajustados a cada parte de ambas. Pois se tal sistema sob o nome geral de metafsica alguma vez dever realizar-se (cuja execuo completa em todos os sentidos possvel e sumamente importante para o uso da razo pura), ento a critica tem que ter investigado antes o solo para este edifcio to profundamente quanto jaz a primeira base da faculdade de princpios independentes da experincia, para que no se afunde em parte alguma, o que inevitavelmente acarretaria o desabamento do todo. Mas se pode facilmente concluir da natureza da faculdade do juzo (cujo uso correto to necessrio e universalmente requerido que por isso sob o nome de so-entendimento no se tem em mente nenhuma outra faculdade que precisamente essa), que comporta grandes dificuldades descobrir um princpio peculiar dela (pois algum ela ter de conter a priori, porque do contrrio ela no se exporia, como uma faculdade de conhecimento especial, mesmo crtica mais comum), que todavia no tem de ser deduzido de conceitos a priori; pois estes pertencem ao entendimento e faculdade do juzo concerne somente a sua aplicao. Portanto, ela prpria deve indicar um conceito pelo qual propriamente nenhuma coisa conhecida, mas que serve de regra somente a ela prpria, no porm como uma regra objetiva qual ela possa ajustar seu juzo, pois ento se requereria por sua vez uma outra faculdade para poder distinguir se se trata do caso da regra ou no. Esse embarao devido a um princpio (seja ele subjetivo ou objetivo) encontra-se principalmente naqueles ajuizamentos que se chamam estticos e concernem ao belo e ao sublime da natureza ou da arte. E contudo a investigao crtica de um princpio da faculdade do juzo nos mesmos a parte mais importante de uma crtica desta faculdade. Pois embora eles por si s em nada contribuam para o conhecimento das coisas, eles apesar disso pertencem unicamente faculdade do conhecimento e provam uma referncia imediata dessa faculdade ao sentimento de prazer e desprazer segundo algum princpio a priori, sem o mesclar com o que pode ser fundamento de determinao da faculdade da apetio, porque esta tem seus princpios a priori em conceitos da razo. Mas o que concerne ao ajuizamento lgico da natureza, l onde a experincia apresenta uma conformidade a leis em coisas para cuja compreenso ou explicao o universal conceito intelectual do sensvel j no basta e a faculdade do juzo pode tomar de si prpria um princpio da referncia da coisa natural ao suprassensvel incognoscvel, tendo que utiliz-lo, para o conhecimento da natureza, somente com vistas a si prpria, a na verdade tal princpio a priori pode e tem que ser aplicado ao conhecimento dos entes mundanos e ao mesmo tempo abre perspectivas que so vantajosas para a razo prtica; mas ele no tem nenhuma referncia imediata ao sentimento de prazer e desprazer, que precisamente o enigmtico no princpio da faculdade do juzo e que torna necessria uma diviso especial na crtica desta faculdade, j que o ajuizamento lgico segundo conceitos (dos quais jamais pode ser deduzida uma consequncia imediata sobre o sentimento de prazer e desprazer) teria podido, em todo caso, ser atribudo parte terica da filosofia juntamente com uma delimitao crtica dos mesmos. Visto que a investigao da faculdade do gosto, enquanto faculdade de juzo esttica, no aqui empreendida para a formao e cultura do gosto (pois esta seguir adiante como at agora o seu caminho, mesmo sem todas aquelas perquiries), mas simplesmente com um propsito transcendental, assim me lisonjeio de pensar que ela ser tambm ajuizada com indulgncia a respeito da insuficincia daquele fim. Mas, no que concerne ao ltimo objetivo, ela tem que preparar-se para o mais rigoroso exame. Mesmo a, porm, espero que a grande dificuldade em resolver um problema que a natureza complicou tanto possa servir como desculpa para alguma obscuridade no inteiramente evitvel na sua soluo, contanto que seja demonstrado de modo suficientemente claro que o princpio foi indicado corretamente; na suposio de que o modo de deduzir dele o fenmeno da faculdade do juzo no possua toda a clareza que com justia se pode exigir alhures, a saber, de um conhecimento segundo conceitos que na segunda parte desta obra creio ter tambm alcanado. Com isso termino, portanto, minha inteira tarefa crtica. Passarei sem demora doutrinal, para arrebatar sempre que possvel de minha crescente velhice o tempo em certa medida ainda favorvel para tanto. bvio que no haver a nenhuma parte especial para a faculdade do juzo, pois com respeito a ela a crtica toma o lugar da teoria; e que porm, segundo a diviso da Filosofia em terica e prtica e da filosofia pura nas mesmas partes, a metafsica da natureza e a dos costumes constituiro aquela tarefa. INTRODUO I. Da diviso da Filosofia Se dividirmos a Filosofia, na medida em que esta contm princpios do conhecimento racional das coisas mediante conceitos (e no simplesmente, como a Lgica: princpios da forma do pensamento em geral sem atender diferena dos objetos), como usual em terica e prtica, procederemos com total correo. Mas ento os conceitos que indicam aos princpios deste conhecimento da razo qual o seu objeto tm tambm que ser especificamente diferentes, porque doutro modo no conseguiriam justificar qualquer diviso, a qual sempre pressupe uma oposio entre os princpios do conhecimento da razo que pertencem s diferentes partes de uma cincia. Todavia, existem somente duas espcies de conceitos que precisamente permitem outros tantos princpios da possibilidade dos seus objetos. Referimo-nos aos conceitos de natureza e ao de liberdade. Ora, como os primeiros tornam possvel um conhecimento terico segundo princpios a priori, e o segundo em relao a estes comporta j em si mesmo somente um princpio negativo (de simples oposio) e todavia em contrapartida institui para a determinao da vontade princpios que lhe conferem uma maior extenso, ento a Filosofia corretamente dividida em duas partes completamente diferentes segundo os princpios, isto , em terica, como filosofia da natureza, e em prtica, como filosofia da moral (na verdade assim que se designa a legislao prtica da razo segundo o conceito da liberdade). At agora porm reinou um uso deficiente destas expresses que servem para a diviso dos diferentes princpios e com eles tambm da Filosofia: na medida em que se considerou como uma s coisa o prtico segundo conceitos de natureza e o prtico segundo o conceito da liberdade e desse modo se procedeu a uma diviso, sob os mesmos nomes, de uma filosofia terica e prtica, nada na verdade era dividido (j que ambas as partes podiam ter os mesmos princpios). A vontade, como faculdade da apetio, especificamente uma dentre muitas causas da natureza no mundo, a saber aquela que atua segundo conceitos, e tudo o que representado como possvel (ou como necessrio) mediante uma vontade chama-se prtico-possvel (ou necessrio). Diferencia-se assim da possibilidade ou necessidade fsica de um efeito, para o qual a causa no determinada na sua causalidade mediante conceitos (mas sim como acontece com a matria inanimada mediante o mecanismo e, no caso dos animais, mediante o instinto). Ora, aqui ainda permanece indeterminado, no que respeita ao prtico, se o conceito que d a regra causalidade da vontade um conceito de natureza, ou da liberdade. A ltima diferena todavia essencial. Na verdade, se o conceito que determina a causalidade um conceito da natureza, ento os princpios so tcnico-prticos, mas se ele for um conceito da liberdade, ento estes so moral-prtico, e porque na diviso de uma cincia racional tudo depende daquela diferena dos objetos, para cujo conhecimento se necessita de diferentes princpios, pertencero os primeiros filosofia terica (como teoria da natureza), porm os outros" constituem apenas a segunda parte, a saber (como teoria da moral), a filosofia prtica. Todas as regras tcnicas-prticas (isto , as da arte e da habilidade em geral, ou tambm da inteligncia, como habilidade para influir sobre homens e a sua vontade), na medida em que os seus princpios assentem em conceitos, somente podem ser contados como corolrios para a filosofia terica. que eles s dizem respeito possibilidade das coisas segundo conceitos da natureza, para o que so precisos no somente os meios que para tanto se devem encontrar na natureza, mas tambm a prpria vontade (como faculdade de apetio e, por conseguinte, da natureza), na medida em que pode ser determinada mediante tendncias da natureza de acordo com aquelas regras. Porm regras prticas desta espcie no se chamam leis (mais ou menos como as leis fsicas), mas sim prescries. Na verdade assim porque a vontade no se encontra simplesmente sob o conceito da natureza, mas sim sob o da liberdade, em relao ao qual os princpios da mesma se chamam leis e constituem s, com as respectivas consequncias, a segunda parte da Filosofia, isto , a parte prtica. Por isso tampouco como a soluo dos problemas da geometria pura pertence a uma parte especial daquela, ou a agrimensura merece o nome de uma geometria prtica, diferenciando-se da pura como uma segunda parte da geometria em geral, assim tambm ainda menos o merecem a arte mecnica ou qumica das experincias ou das observaes para uma parte prtica da teoria da natureza, e finalmente a economia domstica, regional ou poltica, a arte das relaes sociais, a receita da diettica, at a teoria geral da felicidade e mesmo o domnio das inclinaes e a domesticao dos afetos em proveito destes, no podem ser contados na parte prtica da Filosofia, nem podem estas ltimas de modo nenhum constituir a segunda parte da Filosofia em geral. A verdade que no seu conjunto somente contm regras da habilidade que, por conseguinte, so apenas tcnicas-prticas, cujo objetivo produzir um efeito, o qual possvel segundo conceitos naturais das causas e efeitos, os quais, j que pertencem filosofia terica, esto subordinados quelas prescries, na qualidade de simples corolrios provenientes da mesma (da cincia da natureza) e por isso no podem exigir qualquer lugar numa filosofia particular que tenha o nome de prtica. Pelo contrrio, as prescries moral-prtica, que se fundam por completo no conceito de liberdade, excluindo totalmente os princpios de determinao da vontade a partir da natureza, constituem uma espcie absolutamente particular de prescries, as quais, por semelhana com as regras a que a natureza obedece, se chamam pura e simplesmente leis. No entanto, no assentam como estas em condies sensveis, mas sim num princpio suprassensvel e exigem a par da parte terica da Filosofia, exclusivamente para si, outra parte com o nome de filosofia prtica. Por aqui se v que uma globalidade de prescries prticas, fornecidas pela Filosofia, no constitui, pelo fato de serem prescries prticas, uma parte colocada ao lado da parte terica daquela. Na verdade, poderiam s-lo, ainda que os seus princpios tivessem sido retirados por completo do conhecimento terico da natureza (como regras tcnicas-prticas). Mas porque o princpio dessas prescries no de modo nenhum retirado do conceito da natureza (o qual sempre condicionado sensivelmente), por conseguinte repousa no suprassensvel, que apenas o conceito de liberdade d a conhecer mediante leis formais. Elas no so por isso simples prescries e regras, segundo esta ou aquela inteno, mas sim leis que no se referem previamente, seja a fins, seja a intenes. II. Do domnio da Filosofia em geral O uso da nossa faculdade de conhecimento segundo princpios, assim como a Filosofia, vo to longe quo longe for a aplicao de conceitos a priori. Contudo, a globalidade de todos os objetos a que esto ligados aqueles conceitos, para constituir, onde tal for possvel, um conhecimento desses objetos, s pode ser dividida, segundo a diferente suficincia ou insuficincia das nossas faculdades, no que respeita a esse objetivo. Os conceitos, na medida em que podem ser relacionados com os seus objetos e independentemente de saber se ou no possvel um conhecimento dos mesmos, tm o seu campo, o qual determinado simplesmente segundo a relao que possui o seu objeto com a nossa faculdade de conhecimento. A parte deste campo, em que para ns possvel um conhecimento, um territrio para estes conceitos e para a faculdade de conhecimento correspondente. A parte desse campo a que eles ditam as suas leis o domnio destes conceitos e das faculdades de conhecimento que lhes cabem. Por isso conceitos de experincia possuem na verdade o seu territrio na natureza, enquanto globalidade de todos os objetos dos sentidos, mas no possuem qualquer domnio (pelo contrrio, somente o seu domiclio, porque realmente so produzidos por uma legislao, mas no so legisladores, sendo empricas, e por conseguinte contingentes, as regras que sobre eles se fundam. Toda a nossa faculdade de conhecimento possui dois domnios, o dos conceitos de natureza e o do conceito de liberdade; na verdade, nos dois, ela legisladora a priori. Ora, de acordo com isto, tambm a Filosofia se divide em terica e prtica, mas o territrio em que o seu domnio erigido e a sua legislao exercida sempre s a globalidade dos objetos de toda a experincia possvel, na medida em que forem tomados simplesmente como simples fenmenos; que sem isso no poderia ser pensada qualquer legislao do entendimento relativamente queles. A legislao mediante conceitos da natureza ocorre mediante o entendimento e terica. A legislao mediante o conceito de liberdade acontece pela razo e simplesmente prtica. Apenas no plano prtico pode a razo ser legisladora; a respeito do conhecimento terico (da natureza) ela somente pode retirar concluses, atravs de inferncias, a partir de leis dadas (enquanto tomando conhecimento de leis mediante o entendimento), concluses que porm permanecem circunscritas natureza. Mas, ao invs, onde as regras so prticas, no por isso que imediatamente razo passa a ser legislante, porque aquelas tambm podem ser tcnicas-prticas.A razo e o entendimento possuem por isso duas legislaes diferentes num e mesmo territrio da experincia, sem que seja permitido a uma interferir na outra. Na verdade, o conceito da natureza tem to pouca influncia sobre a legislao mediante o conceito de liberdade, quo pouco este perturba a legislao da natureza. A Crtica da razo pura demonstrou a possibilidade de pensar, ao menos sem contradio, a convivncia de ambas as legislaes e das faculdades que lhes pertencem no mesmo sujeito, na medida em que eliminou as objees que a se levantavam, pela descoberta nelas da aparncia dialtica. Mas o fato de estes dois diferentes domnios - que, de fato, no na sua legislao, porm nos seus efeitos, se limitam permanentemente ao mundo sensvel - no constiturem um s tem origem em que na verdade o conceito de natureza representa os seus objetos na intuio, mas no como coisas em si mesmas, mas na qualidade de simples fenmenos; em contrapartida, o conceito de liberdade representa no seu objeto uma coisa em si mesma, mas no na intuio. Por conseguinte, nenhuma das duas Pode fornecer um conhecimento terico do seu objeto (e at do sujeito pensante) como coisa em si, o que seria o suprassensvel, cuja ideia na verdade se tem que colocar na base de todos aqueles objetos da experincia, no se podendo todavia nunca elev-la e alarg-la a um conhecimento. Existe por isso um campo ilimitado, mas tambm inacessvel para o conjunto da nossa faculdade de conhecimento, a saber, o campo do suprassensvel, no qual no encontramos para ns qualquer territrio e por isso no qual, nem para os conceitos do entendimento, nem da razo possumos um domnio para o conhecimento terico. Um campo que na verdade temos que ocupar com ideias em favor do uso da razo, tanto terico como prtico, mas s quais contudo no podemos, no que respeita s leis provenientes do conceito de liberdade, fornecer nenhuma outra realidade que no seja prtica, pelo que assim o nosso conhecimento terico no alargado no mnimo em direo ao supersensvel. Ainda que na verdade subsista um abismo intransponvel entre o domnio do conceito da natureza, enquanto sensvel, e o do conceito de liberdade, como suprassensvel, de tal modo que nenhuma passagem possvel do primeiro para o segundo (por isso mediante o uso terico da razo), como se se tratasse de outros tantos mundos diferentes, em que o primeiro no pode ter qualquer influncia no segundo, contudo este ltimo deve ter uma influncia sobre aquele, isto , o conceito de liberdade deve tornar efetivo no mundo dos sentidos o fim colocado pelas suas leis e a natureza em consequncia tem que ser pensada de tal modo que a conformidade a leis da sua forma concorde pelo menos com a possibilidade dos fins que nela atuam segundo leis da liberdade. Mas por isso tem que existir um fundamento da unidade do suprassensvel, que esteja na base da natureza, com aquilo que o conceito de liberdade contm de modo prtico e ainda que o conceito desse fundamento no consiga, nem de um ponto de vista terico, nem de um ponto de vista prtico, um conhecimento deste e por conseguinte no possua qualquer domnio especfico, mesmo assim torna possvel a passagem da maneira de pensar segundo os princpios de um para a maneira de pensar segundo os princpios de outro. III. Da crtica da faculdade do Juzo, como meio de ligao das duas partes da Filosofia num todo. A crtica das faculdades de conhecimento a respeito daquilo que elas podem realizar a priori no possui no fundo qualquer domnio relativamente a objetos. A razo que ela no uma doutrina, mas somente tem que investigar se e como possvel uma doutrina, em funo da condio das nossas faculdades e atravs delas. O seu campo estende-se a todas as pretenses daquelas para coloc-las nos limites da sua correta medida. Mas aquilo que no pode aparecer na diviso da Filosofia, pode todavia aparecer como uma parte principal na crtica da faculdade de conhecimento pura em geral, a saber no caso de conter princpios que por si no so teis, nem para o uso terico, nem para o uso prtico. Os conceitos de natureza, que contm a priori o fundamento para todo o conhecimento terico, assentavam na legislao do entendimento. O conceito de liberdade, que continha a priori o fundamento para todas as prescries prticas sensivelmente incondicionadas, assentava na legislao da razo. Por isso ambas as faculdades, para alm do fato de, segundo a forma lgica, poderem ser aplicadas a princpios, qualquer que possa ser a origem destes, possuem cada uma a sua prpria legislao segundo o contedo, sobre a qual nenhuma outra (a priori) existe e por isso justifica a diviso da Filosofia em terica e prtica. S que na famlia das faculdades de conhecimento superiores existe ainda um termo mdio entre o entendimento e a razo. Este a faculdade do juzo, da qual se tem razes para supor, segundo a analogia, que tambm poderia precisamente conter em si a priori, se bem que no uma legislao prpria, todavia um princpio prprio para procurar leis; em todo caso um princpio simplesmente subjetivo, o qual, mesmo, que no lhe convenha um campo de objetos como seu domnio, pode todavia possuir um territrio prprio e uma certa caracterstica deste, para o que precisamente s este princpio poderia ser vlido. Mas ainda possvel (para julgar segundo a analogia) acrescentar uma nova razo que nos leva a conectar a faculdade do juzo com outra ordem das nossas faculdades de representao e que parece ser ainda de maior importncia que o parentesco com a famlia das faculdades do conhecimento. Na verdade todas as faculdades da alma ou capacidades podem ser reduzidas quelas trs, que no se deixam, para alm disso, deduzir de um princpio comum: a faculdade de conhecimento, o sentimento de prazer e desprazer e a faculdade de apetio. Para a faculdade de conhecimento apenas o entendimento legislador, no caso daquela (como ter de acontecer), se for considerada em si, sem se misturar com a faculdade de apetio como faculdade de um conhecimento terico, ser relacionada com a natureza, a respeito da qual apenas (como fenmeno) nos possvel dar leis, mediante conceitos de natureza a priori, os quais no fundo so conceitos de entendimento puros. Para a faculdade de apetio, como uma faculdade superior segundo o conceito de liberdade apenas a razo (na qual somente se encontra este conceito) legisladora a priori. Ora, entre a faculdade de conhecimento e a de apetio est o sentimento de prazer, assim como a faculdade do juzo est contida entre o entendimento e a razo. Por isso, pelo menos provisoriamente, de supor que a faculdade do juzo, exatamente do mesmo modo, contenha por si um princpio a priori e, como com a faculdade de apetio est necessariamente ligado o prazer ou o desprazer (quer ela anteceda, como no caso da faculdade de apetio inferior, o princpio dessa faculdade, quer, como no caso da superior, surja somente a partir da determinao da mesma mediante a lei moral), produza do mesmo modo uma passagem da faculdade de conhecimento pura, isto do domnio dos conceitos de natureza, para o domnio do conceito de liberdade, quando no uso lgico toma possvel a passagem do entendimento para a razo. Por isso ainda que a Filosofia somente possa ser dividida em duas partes principais, a terica e a prtica; ainda que tudo aquilo que pudssemos dizer nos princpios prprios da faculdade do juzo tivesse que nela ser includo na parte terica, isto , no conhecimento racional segundo conceitos de natureza, porm ainda assim a Crtica da razo pura, que tem que constituir tudo isto antes de empreender aquele sistema em favor da sua possibilidade, consiste em trs partes: a crtica do entendimento puro, da faculdade de juzo pura e da razo pura, faculdades que so designadas puras porque legislam a priori. IV. Da faculdade do juzo como uma faculdade legislante a prioriA faculdade do juzo em geral a faculdade de pensar o particular como contido no universal. No caso de este (a regra, o princpio, a lei) ser dado, a faculdade do juzo, que nele subsume o particular, determinante (o mesmo acontece se ela, enquanto faculdade de juzo transcendental, indica a priori as condies de acordo com as quais apenas naquele universal possvel subsumir). Porm, se s o particular for dado, para o qual ela deve encontrar o universal, ento a faculdade do juzo simplesmente reflexiva. A faculdade de juzo determinante, sob leis transcendentais universais dadas pelo entendimento, somente subsume; a lei -lhe indicada a priori e por isso no sente necessidade de pensar uma lei para si mesma, de modo a poder subordinar o particular na natureza ao universal. S que existem tantas formas mltiplas da natureza, como se fossem outras tantas modificaes dos conceitos da natureza universais e transcendentais, que sero deixadas indeterminadas por aquelas leis dadas a priori pelo entendimento puro - j que as mesmas s dizem respeito possibilidade de uma natureza em geral (como objeto dos sentidos) - que para tal multiplicidade tm que existir leis, as quais na verdade, enquanto empricas, podem ser contingentes, segundo a nossa perspicincia intelectual. Porm se merecem o nome de leis (como tambm exigido pelo conceito de uma natureza), tm que ser consideradas necessariamente como provenientes de um princpio, ainda que desconhecido, da unidade do mltiplo. A faculdade de juzo reflexiva, que tem a obrigao de elevar-se do particular na natureza ao universal, necessita por isso de um princpio que ela no pode retirar da experincia, porque este precisamente deve fundamentar a unidade de todos os princpios empricos sob princpios igualmente empricos, mas superiores e por isso fundamentar a possibilidade da subordinao sistemtica dos mesmos entre si. Por isso s a faculdade de juzo reflexiva pode dar a si mesma tal princpio como lei e no retir-lo de outro lugar (porque ento seria faculdade de juzo determinante), nem prescrev-lo natureza, porque a reflexo sobre as leis da natureza orienta-se em funo desta, enquanto a natureza no se orienta em funo das condies, segundo as quais ns pretendemos adquirir um conceito seu, completamente contingente no que lhe diz respeito. Ora, este princpio no pode ser seno este: como as leis universais tm o seu fundamento no nosso entendimento, que as prescreve natureza (ainda que somente segundo o conceito universal dela como natureza) tm as leis empricas particulares, a respeito daquilo que nelas deixado indeterminado por aquelas leis, que ser consideradas segundo tal unidade, como se igualmente um entendimento (ainda que no o nosso) as tivesse dado em favor da nossa faculdade de conhecimento, para tornar possvel um sistema da experincia segundo leis da natureza particulares. No como se deste modo tivssemos que admitir efetivamente tal entendimento (pois somente faculdade de juzo reflexiva que esta ideia serve de princpio, mas para refletir, no para determinar); pelo contrrio, desse modo, esta faculdade d uma lei somente a si mesma e no natureza. Ora, porque o conceito de um objeto, na medida em que ele ao mesmo tempo contm o fundamento da efetividade deste objeto, chama-se fim e o acordo de uma coisa com aquela constituio das coisas que somente possvel segundo fins se chama conformidade a fins da forma dessa coisa, o princpio da faculdade do juzo ento, no que respeita forma das coisas da natureza sob leis empricas em geral, a conformidade a fins da natureza na sua multiplicidade. O que quer dizer que a natureza representada por este conceito, como se um entendimento contivesse o fundamento da unidade do mltiplo das suas leis empricas. A conformidade a fins da natureza por isso um particular conceito a priori, que tem a sua origem meramente na faculdade de juzo reflexiva. Na verdade no se pode acrescentar aos produtos da natureza algo como uma relao da natureza a fins neles visvel, mas sim somente utilizar este conceito, para refletir sobre eles no respeitante conexo dos fenmenos na natureza, conexo que dada segundo leis empricas. Este conceito tambm completamente diferente da conformidade a fins prtica (da arte humana ou tambm dos costumes), ainda que seja pensado a partir de uma analogia com aquela. V. O princpio da conformidade a fins formal da natureza um princpio transcendental da faculdade do juzo. Um princpio transcendental aquele pelo qual representada a priori a condio universal, sob a qual apenas as coisas podem ser objetos do nosso conhecimento em geral. Em contrapartida, um princpio chama-se metafsico, se representa a priori a condio, sob a qual somente os objetos, cujo conceito tem que ser dado empiricamente, podem ser ainda determinados a priori. Assim transcendental o princpio do conhecimento dos corpos como substncias e como substncias suscetveis de mudana, se com isso se quer dizer que a sua mudana tem que ter uma causa; porm metafsico, se com isso se significar que a sua mudana tem que ter uma causa exterior. A razo que, no primeiro caso, para se conhecer a proposio a priori, o corpo s pode ser pensado mediante predicados ontolgicos (conceitos do entendimento puros), por exemplo como substncia; porm, no segundo, o conceito emprico de um corpo (como de uma coisa que se move no espao) tem que ser colocado como princpio dessa proposio, embora ento possa ser compreendido completamente a priori que o ltimo predicado (do movimento somente mediante causas externas) convm ao corpo. Assim, como j a seguir vou mostrar, o princpio da conformidade afins da natureza (na multiplicidade das suas leis empricas) um princpio transcendental. Na verdade o conceito dos objetos, na medida em que os pensamos existindo sob este princpio, apenas o conceito puro de objetos do conhecimento de experincia possvel em geral e nada contm de emprico. Pelo contrrio, o princpio da conformidade a fins prtica, que tem que ser pensado na ideia da determinao de uma vontade livre, seria um princpio metafsico, porque o conceito de uma faculdade de apetio, enquanto conceito de uma vontade, tem que ser dado empiricamente (no pertence aos predicados transcendentais). Contudo ambos os princpios no so empricos, mas sim princpios a priori. que no necessria uma ulterior experincia para a ligao dpredicado com o conceito emprico do sujeito dos seus juzos, mas, pelo contrrio, tal ligao pode ser compreendida completamente a priori. O fato de o conceito de uma conformidade a fins da natureza pertencer a princpios transcendentais bastante compreensvel a partir das mximas da faculdade do juzo que so postas a priori como fundamento da investigao da natureza e que todavia a nada mais se reportam do que possibilidade da experincia, por conseguinte do conhecimento da natureza, mas no simplesmente como natureza em geral e sim como natureza determinada por uma multiplicidade de leis particulares. Elas aparecem com muita frequncia, embora de modo disperso, no desenvolvimento desta cincia, na qualidade de aforismos da sabedoria metafsica e a par de muitas regras, cuja necessidade no se prova a partir de conceitos. A natureza toma o caminho mais curto; de igual modo no d saltos, nem na sequncia das suas mudanas, nem na articulao de formas especficas diferentes; a sua grande multiplicidade em leis empricas igualmente unidade sob poucos princpios" etc. Mas se tentarmos a via da psicologia para darmos a origem destes princpios, contrariamos completamente o seu sentido. que eles no dizem aquilo que acontece, isto , segundo que regras que as nossas faculdades de conhecimento estimulam efetivamente o seu jogo e como que se julga, mas sim como que deve ser julgado. Ora, esta necessidade lgica e objetiva no aparece se os princpios forem simplesmente empricos. Por isso a conformidade a fins da natureza para as nossas faculdades de conhecimento e o respectivo uso, conformidade que se manifesta naqueles, um princpio transcendental dos juzos e necessita por isso tambm de uma deduo transcendental, por meio da qual o fundamento para assim julgar tenha que ser procurado a priori nas fontes do conhecimento. Isto , encontramos certamente nos princpios da possibilidade de uma experincia, em primeiro lugar, algo de necessrio, isto , as leis universais, sem as quais a natureza em geral (como objeto dos sentidos) no pode ser pensada; e estas assentam em categorias, aplicadas s condies formais de toda a nossa intuio possvel, na medida em que esta de igual modo dada a priori. Sob estas leis a faculdade de juzo determinante, pois esta nada mais faz do que subsumir a leis dadas. Por exemplo, o entendimento diz: toda a mudana tem a sua causa (lei da natureza universal); a faculdade de juzo transcendental no tem mais que fazer ento que indicar a priori a condio da subsuno sob o conceito do entendimento apresentado: essa a sucesso das determinaes de uma e mesma coisa. Ora, para a natureza em geral (como objeto de experincia possvel) aquela lei reconhecida pura e simplesmente como necessria. Porm, os objetos do conhecimento emprico so ainda determinados de muitos modos, fora daquela condio de tempo formal, ou, tanto quanto possvel julgar a priori, suscetveis de ser determinados; de modo que naturezas especificamente diferentes, para alm daquilo que em comum as tornam pertencentes natureza em geral, podem ainda ser causas de infinitas maneiras. E cada uma dessas maneiras tem que possuir (segundo o conceito de uma causa em geral) a sua regra, que lei, e por conseguinte acarreta consigo necessidade, ainda que ns, de acordo com a constituio e os limites das nossas faculdades de conhecimento, de modo nenhum descortinemos essa necessidade. Por isso temos que pensar na natureza uma possibilidade de uma multiplicidade sem fim de leis empricas, em relao s suas leis simplesmente empricas, leis que, no entanto, so contingentes para a nossa compreenso (no podem ser conhecidas a priori). E quando as tomamos em considerao, ajuizamos a unidade da natureza segundo leis empricas e a possibilidade da unidade da experincia (como de um sistema segundo leis empricas) enquanto contingente. Porm, como tal unidade tem que ser necessariamente pressuposta e admitida, pois de outro modo no existiria qualquer articulao completa de conhecimentos empricos para um todo da experincia, na medida em que na verdade as leis da natureza universais sugerem tal articulao entre as coisas segundo o seu gnero, como coisas da natureza em geral, no de forma especfica, como seres da natureza particulares, a faculdade do juzo ter que admitir a priori como princpio que aquilo que contingente para a compreenso humana nas leis da natureza particulares (empricas) mesmo assim para ns uma unidade legtima, no para ser sondada, mas pensvel na ligao do seu mltiplo para um contedo de experincia em si possvel. Em consequncia e porque a unidade legtima numa ligao, que na verdade reconhecemos como adequada a uma inteno necessria (a uma necessidade do entendimento), mas ao mesmo tempo como contingente em si, representada como conformidade a fins dos objetos (aqui da natureza), a faculdade do juzo, que no que diz respeito s coisas sob leis empricas possveis (ainda por descobrir) simplesmente reflexiva, tem que pensar a natureza relativamente quelas leis, segundo um princpio de conformidade a fins para a nossa faculdade do juzo, o que ento expresso nas citadas mximas da faculdade do juzo. Ora, este conceito transcendental de uma conformidade a fins da natureza no nem um conceito de natureza, nem de liberdade, porque no acrescenta nada ao objeto (da natureza), mas representa somente a nica forma segundo a qual ns temos que proceder na reflexo sobre os objetos da natureza com o objetivo de uma experincia exaustivamente interconectada, por conseguinte um princpio subjetivo (mxima) da faculdade do juzo. Da que ns tambm nos regozijemos (no fundo porque nos libertamos de uma necessidade), como se fosse um acaso favorvel s nossas intenes, quando encontramos tal unidade sistemtica sob simples leis empricas, ainda que tenhamos necessariamente que admitir que uma tal necessidade existe, sem que contudo a possamos descortinar e demonstrar. Para nos convencermos da correo desta deduo do presente conceito e da necessidade de o aceitar como princpio de conhecimento transcendental, consideremos s a grandeza da tarefa: realizar uma experincia articulada a partir de percepes dadas de uma natureza, contendo uma multiplicidade eventualmente infinita de leis empricas. Tal uma tarefa que existe a priori no nosso entendimento. Na verdade o entendimento possui a priori leis universais da natureza, sem as quais esta no seria de modo nenhum objeto de uma experincia. Mas para alm disso ele necessita tambm de uma certa ordem da natureza nas regras particulares da mesma, as quais para ele s empiricamente podem ser conhecidas e que em relao s suas so contingentes. Estas regras, sem as quais no haveria qualquer progresso da analogia universal de uma experincia possvel em geral para a analogia particular, o entendimento tem que pens-las como leis, isto , como necessrias, porque doutro modo no constituiriam qualquer ordem da natureza, ainda que ele no conhea a sua necessidade ou jamais a pudesse descortinar. Por isso, se bem que no que respeita a estes (objetos) ele nada possa determinar a priori, no entanto, para investigar as chamadas leis empricas, ele tem que colocar um princpio a priori como fundamento de toda a reflexo sobre as mesmas, isto , que, segundo tais leis, possvel uma ordem reconhecvel da natureza. As seguintes proposies exprimem esse mesmo princpio: que nela existe uma subordinao de gneros e espcies para ns compreensvel; que por sua vez aqueles se aproximam segundo um princpio comum, de modo ser possvel uma passagem de um para o outro e assim para um gnero superior; que, j que parece inevitvel para o nosso entendimento ter que comear por admitir, para a diversidade especfica dos efeitos da natureza, precisamente outras tantas espcies diferentes da causalidade, mesmo assim eles podem existir sob um pequeno nmero de princpios, a cuja investigao temos que proceder etc. Esta concordncia da natureza com a nossa faculdade da conhecimento pressuposta a priori pela faculdade do juzo em favor da sua reflexo sobre a mesma, segundo as suas leis empricas, na medida em que o entendimento a reconhece ao mesmo tempo como contingente e a faculdade do juzo simplesmente a atribui natureza como conformidade a fins transcendental (em relao faculdade de conhecimento do sujeito). que sem pressupormos isso, no teramos qualquer ordem da natureza segundo leis empricas e por conseguinte nenhum fio condutor para uma experincia e uma investigao das mesmas que funcione com estas segundo toda a sua multiplicidade. Na verdade perfeitamente possvel pensar que, independentemente de toda a uniformidade das coisas da natureza segundo as leis universais, sem as quais a forma de um conhecimento de experincia de modo nenhum existiria, a diversidade especfica das leis empricas da natureza, com os respectivos efeitos poderia ser, no entanto, to grande que seria impossvel para o nosso entendimento descobrir nela uma ordem suscetvel de ser compreendida, dividir os seus produtos em gneros e espcies para utilizar os princpios de explicao e da compreenso de um tambm para a explicao e conceitualizao do outro e constituir uma experincia articulada a partir de uma matria para ns to confusa (no fundo, uma matria infinitamente mltipla que no se adqua nossa faculdade de apreenso). Por isso a faculdade do juzo possui um princpio a priori para a possibilidade da natureza, mas s do ponto de vista de uma considerao subjetiva de si prpria, pela qual ela prescreve uma lei, no natureza (como autonomia), mas sim a si prpria (como heautonomia) para a reflexo sobre aquela, lei a que se poderia chamar da especificao da natureza, a respeito das suas leis empricas e que aquela faculdade no conhece nela a priori, mas que admite em favor de uma ordem daquelas leis, suscetvel de ser conhecida pelo nosso entendimento, na diviso que ela faz das suas leis universais, no caso de pretender subordinar-lhes uma multiplicidade das leis particulares. por isso que, quando se diz que a natureza especifica as suas leis universais, segundo o princpio da conformidade a fins para a nossa faculdade de conhecimento, isto , para a adequao ao nosso entendimento humano na sua necessria atividade, que consiste em encontrar o universal para o particular, que a percepo lhe oferece e por sua vez a conexo na unidade do princpio para aquilo que diverso (na verdade, o universal para cada espcie), desse modo, nem se prescreve natureza uma lei, nem dela se apreende alguma mediante a observao (ainda que aquele princpio possa ser confirmado por esta). Na verdade no se trata de um princpio da faculdade de juzo determinante, mas simplesmente da reflexiva. Apenas se pretende - possa a natureza organizar-se segundo as suas leis universais do modo como ela quiser - que se tenha que seguir inteiramente o rastro das suas leis particulares, segundo aquele princpio, e das mximas que sobre este se fundam, pois s na medida em que aquele exista nos possvel progredir, utilizando o nosso entendimento na experincia, e adquirir conhecimento. VI. Da ligao do sentimento do prazer com o conceito da conformidade a fins da natureza A concebida concordncia da natureza na multiplicidade das suas leis particulares com a nossa necessidade de encontrar para ela a universalidade dos princpios tem que ser ajuizada segundo toda a nossa perspicincia como contingente, mas igualmente como imprescindvel para as nossas necessidades intelectuais, por conseguinte como conformidade a fins, pela qual a natureza concorda com a nossa inteno, mas somente enquanto orientada para o conhecimento. As leis universais do entendimento, que so ao mesmo tempo leis da natureza, so para aquela to necessrias (ainda que nasam da espontaneidade) como as leis do movimento da matria, e a sua produo no pressupe qualquer inteno das nossas faculdades de conhecimento, porque s atravs dessas leis que obtemos um conceito daquilo que o conhecimento das coisas (da natureza) e que elas pertencem necessariamente natureza como objeto do nosso conhecimento. S que, tanto quanto nos possvel descortinar, contingente o fato da ordem da natureza segundo as suas leis particulares, com toda a (pelo menos possvel) multiplicidade e heterogeneidade que ultrapassa a nossa faculdade de apreenso, ser no entanto adequada a esta faculdade. A descoberta de tal ordem uma atividade do entendimento, o qual conduzido com a inteno de um fim necessrio do mesmo, isto , introduzir nela a unidade dos princpios. Tal princpio tem ento que ser atribudo natureza pela faculdade do juzo, porque aqui o entendimento no lhe pode prescrever qualquer lei. A realizao de toda e qualquer inteno est ligada com o sentimento do prazer e sendo condio daquela primeira uma representao a priori - como aqui um princpio para a faculdade de juzo reflexiva em geral - tambm o sentimento de prazer determinado, mediante um princpio a priori e legtimo para todos. Na verdade isso acontece atravs da relao do objeto com a faculdade de conhecimento, sem que o conceito da conformidade a fins se relacione aqui minimamente com a faculdade de apetio, diferenciando-se por isso inteiramente de toda a conformidade a fins prtica da natureza. De fato, no encontramos em ns o mnimo efeito sobre o sentimento do prazer, resultante do encontro das percepes com as leis, segundo conceitos da natureza universais (as categorias) e no podemos encontrar, porque o entendimento procede nesse caso sem inteno e necessariamente, em funo da sua natureza. Por sua vez a descoberta da possibilidade de unio de duas ou de vrias leis da natureza empricas, sob um princpio que integre ambas, razo para um prazer digno de nota, muitas vezes at de uma admirao sem fim, ainda que o objeto deste nos seja bastante familiar. Na verdade ns j no pressentimos mais qualquer prazer notvel ao apreendermos a natureza e a sua unidade da diviso em gneros e espcies, mediante o que apenas so possveis conceitos empricos, pelos quais a conhecemos segundo as suas leis particulares. Mas certamente esse prazer j existiu noutros tempos e somente porque a experincia mais comum no seria possvel sem ele, foi-se gradualmente misturando com o mero conhecimento sem se tornar mais especialmente notado. Por isso faz falta algo que, no ajuizar da natureza, tome o nosso entendimento atento conformidade a fins desta, um estudo que conduza as leis heterogneas da natureza, onde tal for possvel, sob outras leis superiores, ainda que continuem a ser empricas, para que sintamos prazer, por ocasio desta sua concordncia em relao s nossas faculdades de conhecimento, concordncia que consideramos como simplesmente contingente. Pelo contrrio ser-nos-ia completamente desaprazvel uma representao da natureza, na qual antecipadamente nos dissessem que na mnima das investigaes da natureza, para l da experincia mais comum, ns haveramos de deparar com uma heterogeneidade das suas leis, que tornaria impossvel para o nosso entendimento a unio das suas leis especficas sob leis empricas universais. que isso contraria o princpio da especificao da natureza subjetivamente conforme a fins nos seus gneros e o princpio da nossa faculdade de juzo reflexiva no concernente queles. Essa pressuposio da faculdade do juzo , no obstante, em relao a este problema, to inderminada no respeitante a saber quo longe se deve estender aquela conformidade a fins ideal da natureza para a nossa faculdade de conhecimento, que se nos disserem que um conhecimento mais profundo ou mais alargado da natureza atravs da observao ter que finalmente deparar com uma multiplicidade de leis que nenhum entendimento humano capaz de reduzir a um princpio, ficaremos mesmo assim satisfeitos, ainda que preferssemos que outros nos transmitissem a seguinte esperana: quanto mais conhecermos a natureza no seu interior, ou a pudermos comparar com membros exteriores por ora desconhecidos, tanto mais. ns a consideraramos simples nos seus princpios e concordante na aparente heterogeneidade das suas leis empricas, medida que a nossa experincia progride. Na verdade um imperativo da nossa faculdade do juzo proceder segundo o princpio da adequao da natureza nossa faculdade de conhecimento, to longe quanto for possvel, sem (pois que no se trata de uma faculdade de juzo determinante, que nos d esta regra) descobrir se em qualquer lugar existem ou no limites. que na verdade podemos determinar limites a respeito do uso racional das nossas faculdades de conhecimento, mas no campo do emprico nenhuma definio de limites possvel. VII. Da representao esttica da conformidade a fim da naturezaAquilo que na representao de um objeto meramente subjetivo, isto , aquilo que constitui a sua relao com o sujeito e no com o objeto a natureza esttica dessa representao; mas aquilo que nela pode servir ou utilizado para a determinao do objeto (para o conhecimento) a sua validade lgica. No conhecimento de um objeto dos sentidos aparecem ambas as relaes. Na representao sensvel das coisas fora de mim a qualidade do espao, no qual ns as intumos, aquilo que simplesmente subjetivo na minha representao das mesmas (pelo que permanece incerto o que eles possam ser como objetos em si), razo pela qual o objeto tambm pensado simplesmente como fenmeno; todavia, e independentemente da sua qualidade subjetiva, o espao uma parte do conhecimento das coisas como fenmenos. A sensao (neste caso a externa) exprime precisamente o que simplesmente subjetivo das nossas representaes das coisas fora de ns, mas no fundo o material (real) das mesmas (pelo que algo existente dado), assim como o espao exprime a simples forma a priori da possibilidade da sua intuio; e no obstante a sensao tambm utilizada para o conhecimento dos objetos fora de ns. Porm, aquele elemento subjetivo numa representao que no pode de modo nenhum ser uma parte do conhecimento o prazer ou desprazer, ligados quela representao; na verdade atravs dele nada conheo no objeto da representao, ainda que eles possam ser at o efeito de um conhecimento qualquer. Ora, a conformidade a fins de uma coisa, na medida em que representada na percepo, tambm no uma caracterstica do prprio objeto (poissta no pode ser percebida), ainda que possa ser deduzida a partir de um conhecimento das coisas. Por Isso a conformidade a fins, que precede o conhecimento de um objeto, at mesmo sem pretender utilizar a sua representao para um conhecimento e no obstante estando imediatamente ligada quela, o elemento subjetivo, da mesma, no podendo ser uma parte do conhecimento. Por isso objeto s pode ser designado conforme a fins, porque a sua representao est imediatamente ligada ao sentimento do prazer; e esta representao ela prpria uma representao esttica da conformidade a fins. S quagora surge a pergunta: existe em geral tal representao da conformidade a fins? Se o prazer estiver ligado simples apreenso da forma de um objeto da intuio, sem relao dessa forma com um conceito destinado a um conhecimento determinado, nesse caso a representao no se liga ao objeto, mas sim apenas ao sujeito; e o prazer no pode mais do que exprimir a adequao desse objeto s faculdades de conhecimento que esto em jogo na faculdade do juzo reflexiva e por isso, na medida em que elas a se encontram, exprime simplesmente uma subjetiva e formal conformidade a fins do objeto. Na verdade aquela apreenso das formas na faculdade da imaginao nunca pode suceder, sem que a faculdade de juzo reflexiva, tambm sem inteno, pelo menos a possa comparar com a sua faculdade de relacionar intuies com conceitos. Ora, se nesta comparao a faculdade da imaginao (como faculdade das intuies a priori) sem inteno posta de acordo com o entendimento (como faculdade dos conceitos) mediante uma dada representao e desse modo se desperta um sentimento de prazer, nesse caso o objeto tem que ento ser considerado como conforme a fins para a faculdade de juzo reflexiva. Tal juzo um juzo esttico sobre a conformidade a fins do objeto, que no se fundamenta em qualquer conceito existente de ajuizar objeto e nenhum conceito por ele criado. No caso de se ajuizar a forma do objeto (no o material da sua representao, como sensao) na simples reflexo sobre a mesma (sem ter a inteno de obter um conceito dele), como o fundamento de um prazer na representao de tal objeto, ento nesta mesma representao este prazer julgado como estando necessariamente ligado representao, por consequncia, no simplesmente para o sujeito que apreende esta forma, mas sim para todo aquele que julga em geral. O objeto chama-se ento belo e a faculdade de julgar mediante tal prazer (por conseguinte tambm universalmente vlido) chama-se gosto. Na verdade, como o fundamento do prazer colocado simplesmente na forma do objeto para a reflexo em geral, por conseguinte em nenhuma sensao do objeto, tambm colocado sem relao a um conceito que contenha uma inteno qualquer, apenas a legalidade no uso emprico da faculdade do juzo em geral (unidade da faculdade da imaginao com o entendimento) no sujeito com que a representao do objeto na reflexo concorda. As condies dessa reflexo so vlidas a priori de forma universal. E como esta concordncia do objeto com as faculdades do sujeito contingente, ela prpria efetua a representao de uma conformidade a fins desse mesmo objeto, no que respeita s faculdades do conhecimento do sujeito. Ora, aqui estamos na presena de um prazer, que como todo o prazer ou desprazer que no so produzidos pelo conceito de liberdade (isto , pela determinao precedente da faculdade de apetio superior atravs da razo pura), nunca pode ser compreendido como provindo de conceitos, necessariamente ligados representao de um objeto, mas pelo contrrio, tem sempre que ser conhecido atravs da percepo refletida e ligada a esta. Por conseguinte no pode, tal como todos os juzos empricos, anunciar qualquer necessidade objetiva e exigir uma validade a priori. Todavia o juzo de gosto exige somente ser vlido para toda a gente, tal como todos os outros juzos empricos, o que sempre possvel, independentemente da sua contingncia interna. O que estranho e invulgar somente o fato de ele no ser um conceito emprico, mas sim um sentimento do prazer (por conseguinte nenhum conceito), o qual todavia, mediante o juzo de gosto, deve ser exigido a cada um e conectado com a representao daquele, como se fosse um predicado ligado a um conhecimento do objeto. Um juzo de experincia singular, p. ex., daquele que percebe uma gota movendo-se num cristal, exige com razo que qualquer outro o tenha que considerar precisamente assim, porque proferiu esse juzo segundo as condies universais da faculdade de juzo determinante, sob as leis de uma experincia possvel em geral. Precisamente assim acontece com aquele que sente prazer na simples reflexo sobre a forma de um objeto sem considerar um conceito, ao exigir o acordo universal, ainda que este juzo seja emprico e singular. A razo que o fundamento para este prazer se encontra na condio universal, ainda que subjetiva, dos juzos reflexivos, ou seja, na concordncia conforme fins de um objeto (seja produto da natureza ou da arte) com a relao das faculdades de conhecimento entre si, as quais so exigidas para todo o conhecimento emprico (da faculdade da imaginao e do entendimento). O prazer est por isso no juzo de gosto verdadeiramente dependente de uma representao emprica e no pode estar ligado a prior i a nenhum conceito (no se pode determinar a priori que tipo de objeto ser ou no conforme ao gosto; ser necessrio experiment-lo); porm, ele o fundamento de determinao deste juzo somente pelo fato de estarmos conscientes de que assenta simplesmente na reflexo e nas condies universais, ainda que subjetivas, do seu acordo com o conhecimento dos objetos em geral, para os quais a forma do objeto conforme a fins. Essa a razo por que os juzos do gosto, segundo a sua possibilidade, j que esta pressupe um princpio a priori, tambm esto subordinados a uma crtica, ainda que este princpio no seja nem um princpio de conhecimento para o entendimento, nem um princpio prtico para a vontade e por isso no seja de modo nenhum a priori determinante. A receptividade de um prazer a partir da reflexo sobre as formas das coisas (da natureza, assim como da arte) no assinala porm apenas uma conformidade a fins dos objetos, na relao com a faculdade de juzo no sujeito, conforme ao conceito de natureza, mas tambm e inversamente assinala uma conformidade a fins do sujeito em relao aos objetos, segundo a respectiva forma e mesmo segundo o seu carter informe, de acordo com o conceito de liberdade. Desse modo sucede que o juzo esttico est referido, no simplesmente enquanto juzo de gosto, ao belo, mas tambm, enquanto nasce de um sentimento do esprito, ao sublime, e desse modo aquela critica da faculdade de juzo esttica tem que se decompor em duas partes principais conforme queles. VIII. Da representao lgica da conformidade a fins da natureza Num objeto dado numa experincia a conformidade a fins pode ser representada, quer a partir de um princpio simplesmente subjetivo, como concordncia da sua forma com as faculdades de conhecimento na apreenso do mesmo, antes de qualquer conceito, para unir a intuio com conceitos a favor de um conhecimento em geral, quer a partir de um princpio objetivo, enquanto concordncia da sua forma com a possibilidade da prpria coisa, segundo um conceito deste que antecede e contm o fundamento desta forma. J vimos que a representao da conformidade a fins da primeira espcie assenta no prazer imediato, na forma do objeto, na simples reflexo sobre ela; por isso a representao da conformidade a fins da segunda espcie, j que relaciona a forma do objeto, no com as faculdades de conhecimento do sujeito na apreenso do mesmo, mas sim com um conhecimento determinado do objeto sob um conceito dado, nada tem a ver com um sentimento do prazer nas coisas, mas sim com o entendimento no ajuizamento das mesmas. Se o conceito de um objeto dado, nesse caso a atividade da faculdade do juzo, no seu uso com vistas ao conhecimento, consiste na apresentao, isto , no fato de colocar ao lado do conceito uma intuio correspondente, quer no caso disto acontecer atravs da nossa prpria faculdade de imaginao, como na arte, quando realizamos um conceito de um objeto antecipadamente concebido que para ns fim, quer mediante a natureza na tcnica da mesma (como acontece nos corpos organizados), quando lhe atribumos o nosso conceito do fim para o ajuizamento dos seus produtos. Nesse caso representa-se no simplesmente a conformidade a fins da natureza na forma da coisa, mas este seu produto representado como fim da natureza. Ainda que o nosso conceito de uma conformidade a fins subjetiva da natureza, nas suas formas segundo leis empricas, no seja de modo nenhum um conceito do objeto, mas sim somente um princpio da faculdade do juzo para arranjarmos conceitos nesta multiplicidade desmedida (para nos podermos orientar nela), ns atribumos todavia natureza como que uma considerao das nossas faculdades de conhecimento segundo a analogia de um fim; e assim nos possvel considerar a beleza da natureza como apresentao do conceito da conformidade a fins formal (simplesmente subjetiva) e os fins da natureza como apresentao do conceito da conformidade a fins real (objetiva). Uma delas ns ajuizamos mediante o gosto (esteticamente, mediante o sentimento do prazer) e a outra mediante o entendimento e a razo (logicamente, segundo conceitos). sobre isso que se funda a diviso da crtica da faculdade do juzo em faculdade do juzo esttica e teleolgica: enquanto que pela primeira entendemos a faculdade de ajuizar a conformidade a fins formal (tambm chamada subjetiva) mediante o sentimento de prazer ou desprazer, pela segunda entendemos a faculdade de ajuizar a conformidade a fins real (objetiva) da natureza mediante o entendimento e a razo. Numa crtica da faculdade do juzo a parte que contm a faculdade do juzo esttica aquela que lhe essencial, porque apenas esta contm um princpio que a faculdade do juzo coloca como princpio inteiramente a priori na sua reflexo sobre a natureza, a saber o princpio de uma conformidade a fins formal da natureza segundo as suas leis particulares (empricas) para a nossa faculdade de conhecimento, conformidade sem a qual o entendimento no se orientaria naquelas. Em contrapartida, pelo fato de no poder ser dado a priori absolutamente nenhum princpio, nem mesmo a possibilidade deste, a partir do conceito de uma natureza, como objeto de experincia, tanto no universal como no particular, decorre dar que ter que haver fins objetivos da natureza, isto , coisas que somente so possveis como fins da natureza; mas s a faculdade do juzo, sem conter em si para isso a priori um princpio, contm em certos casos (em certos produtos) a regra para fazer uso do conceito dos fins, em favor da razo, depois que aquele princpio transcendental j preparou o entendimento a aplicar natureza o conceito de um fim (pelo menos segundo a forma). Mas o princpio transcendental que consiste em representar uma conformidade a fins da natureza na relao subjetiva s nossas faculdades de conhecimento na forma de uma coisa, enquanto princpio do ajuizamento da mesma, deixa completamente indeterminado onde e em que casos que eu tenho que empregar o ajuizamento, como ajuizamento de um produto segundo um princpio da conformidade a fins e no antes simplesmente segundo leis da natureza universais, deixando ao critrio da faculdade de juzo esttica a tarefa de constituir no gosto a adequao desse produto (da sua forma) s nossas faculdades de conhecimento (na medida em que esta faculdade decide, no atravs da concordncia com conceitos, mas sim atravs do sentimento). Pelo contrrio a faculdade do juzo usada teleologicamente indica de forma precisa as condies sob as quais algo (por exemplo, um corpo organizado) deve ser ajuizado segundo a ideia de um fim da natureza; no entanto, ela no pode aduzir qualquer princpio a partir do conceito da natureza como objeto da experincia que autoriza atribuir quela a priori uma referncia a fins e que leve a admitir, ainda que de forma indeterminada, tais fins a partir da experincia efetiva desses produtos. A razo para isso que muitas experincias particulares tm que ser examinadas e consideradas sob a unidade do seu princpio, para poder conhecer num certo objeto uma conformidade a fins objetiva de forma somente emprica. A faculdade de juzo esttica por isso uma faculdade particular de ajuizar as coisas segundo uma regra, mas no segundo conceitos. A teleolgica no uma faculdade particular, mas sim somente a faculdade de juzo reflexiva em geral, na medida em que ela procede, como sempre acontece no conhecimento terico, segundo conceitos, mas atendendo a certos objetos da natureza segundo princpios particulares, isto , os de uma faculdade de juzo simplesmente reflexiva e no determinante dos objetos. Por isso, e segundo a sua aplicao, pertence parte terica da Filosofia e por causa dos princpios particulares que no so determinantes - tal como tem que acontecer numa doutrina - tem tambm que constituir uma parte particular da crtica; em vez disso a faculdade de juzo esttica nada acrescenta ao conhecimento dos seus objetos e por isso apenas tem que ser includa na crtica do sujeito que julga e das faculdades de conhecimento do mesmo, uma vez que aquelas so capazes a priori de princpios, qualquer que possa de resto ser o seu uso (quer terico, quer prtico). Esta crtica a propedutica de toda a Filosofia. IX. Da conexo das legislaes do entendimento e da razo mediante a faculdade do juzo O entendimento legislador a priori em relao natureza, enquanto objeto dos sentidos, para um conhecimento terico da mesma numa experincia possvel. A razo legisladora a priori em relao liberdade e causalidade que prpria desta (como aquilo que suprassensvel no sujeito) para um conhecimento incondicionado prtico. O domnio do conceito de natureza, sob a primeira e o domnio do conceito de liberdade, sob a segunda legislao, esto completamente separados atravs do grande abismo que separa o suprassensvel dos fenmenos, apesar de toda a influncia recproca que cada um deles por si (cada um segundo as respectivas leis fundamentais) poderia ter sobre o outro. O conceito de liberdade nada determina no respeitante ao conhecimento terico da natureza; precisamente do mesmo modo o conceito de natureza nada determina s leis prticas da liberdade. Desse modo no possvel lanar uma ponte de um domnio para o outro. Mas se bem que os fundamentos de determinao da causalidade segundo o conceito de liberdade (e da regra prtica que ele envolve) no se possam testemunhar na natureza e o sensvel no possa determinar o suprassensvel no sujeito, todavia possvel o inverso (no de fato no que respeita ao conhecimento da natureza, mas sim s consequncias do primeiro sobre a segunda) e o que j est contido no conceito de uma causalidade mediante a liberdade, cujo efeito deve acontecer no mundo de acordo com estas suas leis formais, ainda que a palavra causa, usada no sentido do suprassensvel, signifique somente o fundamento para determinar a causalidade das coisas da natureza no sentido de um efeito, de acordo com as suas prprias leis naturais, mas ao mesmo tempo em unanimidade com o princpio formal das leis da razo. A possibilidade disso no descortinvel, mas a objeo segundo a qual a se encontra uma pretensa contradio podeer suficientemente refutada. O efeito segundo o conceito de liberdade o fim terminal; o qual (ou a sua manifestao no mundo dos sentidos) deve existir, para o que se pressupe a condio da possibilidade do mesmo na natureza (do sujeito como ser sensvel, isto , como ser humano). A faculdade do juzo que pressupe a priori essa condio, sem tomar em considerao o elemento prtico, d o conceito mediador entre os conceitos de natureza e o conceito de liberdade que torna possvel, no conceito de uma conformidade a fins da natureza, a passagem da razo pura terica para a razo pura prtica, isto , da conformidade a leis segundo a primeira para o fim terminal segundo aquele ltimo conceito. Na verdade desse modo conhecida a possibilidade do fim terminal, que apenas na natureza e com a concordncia das suas leis se pode tomar efetivo. O entendimento fornece, mediante a possibilidade das suas leis a priori para a natureza, uma demonstrao de que somente conhecemos esta como fenmeno, por conseguinte simultaneamente a indicao de um substrato suprassensvel da mesma, deixando-o no entanto completamente indeterminado. Atravs do seu princpio a priori do ajuizamento da natureza segundo leis particulares possveis da mesma, a faculdade do juzo fornece ao substrato suprassensvel daquela (tanto em ns, como fora de ns) a possibilidade de determinao mediante a faculdade intelectual. Porm, a razo fornece precisamente a esse mesmo substrato, mediante a sua lei prtica a priori, a determinao; e desse modo a faculdade do juzo torna possvel a passagem do domnio do conceito de natureza para o de liberdade. No que respeita s faculdades da alma em geral, na medida em que elas so consideradas como faculdades superiores, isto , como aquelas que contm uma autonomia, o entendimento para a faculdade do conhecimento (o conhecimento terico da natureza) aquilo que contm a priori os princpios constitutivos; para o sentimento do prazer e desprazer -o a faculdade do juzo, independentemente de conceitos e de sensaes, as quais poderiam referir-se determinao da faculdade de apetio e desse modo ser imediatamente prticas; para a faculdade de apetio -o a razo, que prtica, sem mediao de qualqueazer, venha este donde vier e que determina quela faculdade, na qualidade de faculdade superior, o fim terminal, o qual se faz acompanhar ao mesmo tempo de uma complacncia intelectual pura no objeto. O conceito da faculdade do juzo de uma conformidade a fins da natureza pertence ainda aos conceitos de natureza, mas somente como princpio regulativo da faculdade de conhecimento, se bem que o juzo esttico sobre certos objetos (da natureza ou da arte), que ocasiona tal conceito, seja um princpio constitutivo em respeito ao sentimento do prazer ou desprazer. A espontaneidade no jogo das faculdades de conhecimento, cujo acordo contm o fundamento deste prazer, torna o conceito pensado adequado para uma mediao da conexo dos domnios do conceito de natureza com o conceito de liberdade nas suas consequncias, na medida em que este acordo promove ao mesmo tempo a receptividade do nimo ao sentimento moral. O seguinte quadro facilita-nos a perspectiva sinptica de todas as faculdades superiores segundo a sua unidade sistemtica.Faculdades gerais do nimo - Faculdades do conhecimento - Princpios a priori - Aplicao Faculdade de conhecimento Entendimento - Conformidade a leis - NaturezaSentimento de Prazer e desprazer Faculdade do Juzo Conformidade a fins ArteFaculdade de apetio Razo Fim terminal - LiberdadeDIVISO DA OBRA INTEIRA Primeira parte Crtica da faculdade de juzo esttica Primeira seo Analtica da faculdade de juzo esttica Primeiro livro Analtica do belo Segundo livro Analtica do sublime Segunda seo Dialtica da faculdade de juzo esttica Segunda parte Crtica da faculdade de juzo teleolgica Primeira diviso Analtica da faculdade de juzo teleolgica Segunda diviso Dialtica da faculdade de juzo teleolgica Apndice. Doutrina do mtodo da faculdade de juzo teleolgica Primeira Parte CRITICA DA FACULDADE DE JUZO ESTTICAPrimeira Seo ANALTICA DA FACULDADE DE JUZO ESTTICA Primeiro Livro ANALTICA DO BELO Primeiro momento do juzo de gosto, segundo a qualidade. 1. O juzo de gosto esttico. Para distinguir se algo belo ou no, referimos a representao, no pelo entendimento ao objeto em vista do conhecimento, mas pela faculdade da imaginao (talvez ligada ao entendimento) ao sujeito e ao seu sentimento de prazer ou desprazer. O juzo de gosto no , pois, nenhum juzo de conhecimento, por conseguinte no lgico e sim esttico, pelo qual se entende aquilo cujo fundamento de determinao no pode ser seno subjetivo. Toda referncia das representaes, mesmo a das sensaes, pode, porm, ser objetiva (e ela significa ento o real de uma representao emprica); somente no pode s-lo a referncia ao sentimento de prazer e desprazer, pelo qual no designado absolutamente nada no objeto, mas no qual o sujeito sente-se a si prprio do modo como ele afetado pela sensao.Apreender pela sua faculdade de conhecimento (quer em um modo de representao claro ou confuso) um edifcio regular e conforme a fins algo totalmente diverso do que ser consciente desta representao com a sensao de complacncia. Aqui a representao refeda inteiramente ao sujeito e na verdade ao seu sentimento de vida, sob o nome de sentimentos de prazer ou desprazer, o qual funda uma faculdade de distino e ajuizamento inteiramente peculiar, que em nada contribui para o conhecimento, mas somente mantm a representao dada no sujeito em relao com a inteira faculdade de representaes, da qual o nimo torna-se consciente no sentimento de seu estado. Representaes dadas em um juzo podem ser empricas (por consegui e estticas); mas o juzo que proferido atravs delas lgico se elas so referidas ao objeto somente no juzo. Inversamente, porm - mesmo que as representaes dadas fossem racionais, mas em um juzo fossem referidas meramente ao sujeito (seu sentimento) -, elas so sempre estticas.2. A complacncia que determina o juzo de gosto Independente de todo Interesse. Chama-se interesse a complacncia que ligamos representao da existncia de um objeto. Por isso, tal interesse sempre envolve ao mesmo tempo referncia faculdade da apetio, quer como seu fundamento de determinao, quer como vinculando-se necessariamente ao seu fundamento de determinao. Agora, se a questo se algo belo, ento no se quer saber se a ns ou a qualquer um importa ou sequer possa importar algo da existncia da coisa, e sim como a ajuizamos na simples contemplao (intuio ou reflexo). Se algum me pergunta se acho belo o palcio que vejo ante mim, ento posso na verdade dizer: no gosto desta espcie de coisas que so feitas simplesmente para embasbacar, ou, como aquele chefe iroqus, de que em Paris nada lhe agrada mais do que as tabernas; posso, alm disso, em bom estilo rousseauniano, recriminar a vaidade dos grandes, que se servem do suor do povo para coisas to suprfluas; finalmente, posso convencer-me facilmente de que, se me encontrasse em uma ilha inabitada, sem esperana de algum dia retomar aos homens, e se pelo meu simples desejo pudesse produzir por encanto tal edifcio suntuoso, nem por isso dar-me-ia uma vez sequer esse trabalho se j tivesse uma cabana que me fosse suficientemente cmoda. Pode-se conceder-me e aprovar tudo isto; s que agora no se trata disso. Quer-se saber somente se esta simples representao do objeto em mim acompanhada de complacncia, por indiferente que sempre eu possa ser com respeito existncia do objeto desta representao. V-se facilmente que se trata do que fao dessa representao em mim mesmo, no daquilo em que dependo da existncia do objeto, para dizer que ele belo e para provar que tenho gosto. Cada um tem de reconhecer que aquele juzo sobre beleza, ao qual se mescla o mnimo interesse, muito faccioso e no nenhum juzo de gosto puro. No se tem que simpatizar minimamente com a existncia da coisa, mas ser a esse respeito completamente indiferente para em matria de gosto desempenhar o papel de juiz. Mas no podemos elucidar melhor essa proposio, que de importncia primordial, do que se contrapomos complacncia pura e desinteressada no juzo de gosto, aquela que ligada a interesse; principalmente se ao mesmo tempo podemos estar certos de que no h mais espcies de interesse do que as que precisamente agora devem ser nomeadas.3. A complacncia no agradvel ligada a Interesse. Agradvel o que apraz aos sentidos na sensao. Aqui se mostra de imediato a ocasio para censurar uma confuso bem usual e chamar a ateno para ela, relativamente ao duplo significado que a palavra sensao pode ter. Toda complacncia (diz-se ou pensa-se) ela prpria sensao (de um prazer). Portanto, tudo o que apraz precisamente pelo fato de que apraz, agradvel (e, segundo os diferentes graus ou tambm relaes com outras sensaes agradveis, gracioso, encantador, deleitvel, alegre etc.). Se isto, porm, for concedido, ento impresses dos sentidos, que determinam a inclinao, ou princpios da razo, que determinam a vontade, ou simples formas refletidas da intuio, que determinam a faculdade do juzo, so, no que concerne ao efeito sobre o sentimento de prazer, inteiramente a mesma coisa. Pois este efeito seria o agrado na sensao de seu estado; e, j que enfim todo o cultivo de nossas faculdades tem de ter em vista o prtico e unificar-se nele como em seu objetivo, assim no se poderia pretender delas nenhuma outra avaliao das coisas e de seu valor do que a que consiste no deleite que elas prometem. O modo como elas o conseguem no importa enfim absolutamente; e como unicamente a escolha dos meios pode fazer nisso uma diferena, assim os homens poderiam culpar-se reciprocamente de tolice e de insensatez, jamais, porm, de vileza e maldade; porque todos eles, cada um segundo o seu modo de ver as coisas, tendem a um objetivo que para qualquer um o deleite. Se uma determinao do sentimento de prazer ou desprazer denominada sensao, ento esta expresso significa algo totalmente diverso do que se denomino a representao de uma coisa (pelos sentidos, como uma receptividade pertencente faculdade do conhecimento)," sensao. Pois, no ltimo caso, a representao referida ao objeto; no primeiro, porm, meramente ao sujeito, e no serve absolutamente para nenhum conhecimento, tampouco para aquele pelo qual o prprio sujeito se conhece. Na definio dada, entendemos contudo pela palavra "sensao" uma representao objetiva dos sentidos; e, para no corrermos sempre perigo de ser falsamente interpretados, queremos chamar aquilo que sempre tem de permanecer simplesmente subjetivo, e que absolutamente no pode constituir nenhuma representao de um objeto, pelo nome, alis, usual de sentimento. A cor verde dos prados pertence sensao objetiva, como percepo d um objeto do sentido; o seu agrado, porm, pertence sensao subjetiva, pela qual nenhum objeto representado: isto , ao sentimento pelo qual o objeto considerado como objeto da complacncia (a qual no nenhum conhecimento do mesmo). Ora, que meu juzo sobre um objeto, pelo qual o declaro agradvel, expresse um interesse pelo mesmo, j resulta claro do fato que mediante sensao ele suscita um desejo de tal objeto, por conseguinte a complacncia pressupe no o simples juzo sobre ele, mas a referncia de sua existncia a meu estado, na medida em que ele afetado por tal objeto. Por isso, do agradvel no se diz apenas: ele apraz, mas: ele deleita. No uma simples aprovao que lhe dedico, mas atravs dele gerada inclinao; e ao que agradvelo modo mais vivo no pertence a tal ponto nenhum juzo sobre a natureza do objeto, que aqueles que sempre tm em vista o gozo (pois esta a palavra com que se designa o ntimo do deleite) de bom grado dispensam-se de todo o julgar.4. A complacncia no bom, ligada a Interesse. Bom o que apraz mediante a razo pelo simples conceito. Denominamos bom para (o til) algo que apraz somente como meio; outra coisa, porm, que apraz por si mesma denominamos bom em si. Em ambos est contido o conceito de um fim, portanto a relao da razo ao (pelo menos possvel) querer, consequentemente uma complacncia na existncia de um objeto ou de uma ao, isto , um interesse qualquer. Para considerar algo bom, preciso saber sempre que tipo de coisa o objeto deva ser, isto , ter um conceito do mesmo. Para encontrar nele beleza, no o necessito. Flores, desenhos livres, linhas entrelaadas sem inteno sob o nome de folhagem no significam nada, no dependem de nenhum conceito determinado e contudo aprazem. A complacncia no belo tem que depender da reflexo sobre um objeto, que conduz a um conceito qualquer (sem determinar qual), e desta maneira distingue-se tambm do agradvel, que assenta inteiramente na sensao. Na verdade, o agradvel parece ser em muitos casos idntico ao bom. Assim, se dir comumente: todo o deleite (nomeadamente o duradouro) em si mesmo bom; o que aproximadamente significa que ser duradouramente agradvel ou bom o mesmo. Todavia, se pode notar logo que isto simplesmente uma confuso errnea de palavras, j que os conceitos que propriamente so atribudos a estas expresses de nenhum modo podem ser intercambiados. O agradvel, visto que como tal representa o objeto meramente em referncia ao sentido, precisa ser primeiro submetido pelo conceito de fim a princpios da razo, para que se o denomine bom, como objeto da vontade. Mas que ento se trata de uma referncia inteiramente diversa complacncia se aquilo que deleita eu o denomino ao mesmo tempo bom, conclui-se do fato que em relao ao bom sempre se pergunta se s mediatamente-bom ou imediatamente-bom (se til ou bom em si); enquanto em relao ao agradvel, contrariamente, essa questo no pode ser posta, porque a palavra sempre significa algo que apraz imediatamente. (O mesmo se passa tambm com o que denomino belo). Mesmo nas conversaes mais comuns distingue-se o agradvel do bom. De um prato que reala o gosto mediante temperos e outros ingredientes, diz-se sem hesitar que agradvel e confessa-se ao mesmo tempo em que no bom; porque ele, na verdade, agrada imediatamente aos sentidos, mas mediatamente, isto , pela razo que olha para as consequncias, ele desagrada. Mesmo no ajuizamento da sade pode-se ainda notar esta diferena. Ela imediatamente agradvel para todo aquele que a possui (pelo menos negativamente, isto , enquanto afastamento de todas as dores corporais). Mas, para dizer que ela boa, tem-se que ainda dirigi-la pela razo a fins, ou seja, como um estado que nos torna dispostos para todas as nossas ocupaes. Com vistas felicidade, finalmente, qualquer um cr contudo poder chamar a soma mxima (tanto pela quantidade como pela durao) dos agrados da vida um verdadeiro bem, at mesmo o bem supremo. No entanto, tambm a isso a razo ope-se. Amenidade gozo. Mas se apenas este contasse, seria tolo ser escrupuloso com respeito aos meios que no-lo proporcionam, quer ele fosse obtido passivamente da liberalidade da natureza, quer por atividade prpria e por nossa prpria atuao. A razo, porm, jamais se deixar persuadir de que tenha em si um valor a existncia de um homem que vive simplesmente para gozar (e seja at muito diligente a este propsito), mesmo que ele fosse, enquanto meio, o mais til possvel a outros, que visam todos igualmente ao gozo, e na verdade porque ele, pela simpatia coparticipasse do gozo de todo o deleite. Somente atravs do que o homem faz sem considerao do gozo, em inteira liberdade e independentemente do que a natureza tambm passivamente poderia proporcionar-lhe, d ele um valor absoluto sua existncia enquanto existncia de uma pessoa; e a felicidade, com a inteira plenitude de sua amenidade, no de longe um bem incondicionado.Mas, a despeito de toda esta diversidade entre o agradvel e o bom, ambos concordam em que eles sempre esto ligados com interesse ao seu objeto, no s o agradvel (3), e o mediatamente bom (o til), que apraz como meio para qualquer amenidade, mas tambm o absolutamente e em todos os sentidos bom, a saber, o bem moral, que comporta o mximo interesse. Pois o bom o objeto da vontade (isto , de uma faculdade da apetio determinada pela razo). Todavia, querer alguma coisa e ter complacncia na sua existncia, isto , tomar um interesse por ela, idntico. 5. Comparao dos trs modos especificamente diversos de complacncia. O agradvel e o bom tm ambos uma referncia faculdade da apetio e nesta medida trazem consigo, aquele uma complacncia patologicamente condicionada (por estmulos), este uma complacncia prtica, a qual no determinada simplesmente pela representao do objeto, mas ao mesmo tempo pela representada conexo do sujeito com a existncia do mesmo. No simplesmente o objeto apraz, mas tambm sua existncia. Contrariamente, o juzo de gosto meramente contemplativo, isto , um juzo que, indiferente em relao existncia de um objeto, s considera sua natureza em comparao com o sentimento de prazer e desprazer. Mas esta prpria contemplao tampouco dirigida a conceitos; pois o juzo de gosto no nenhum juzo de conhecimento (nem terico nem prtico), e por isso tampouco fundado sobre conceitos e nem os tem por fim.O agradvel, o belo, o bom designam, portanto, trs relaes diversas das representaes ao sentimento de prazer e desprazer, com referncia ao qual distinguimos entre si objetos ou modos de representao. Tambm no so idnticas as expresses que convm a cada um e m as quais se designa a complacncia nos mesmos. Agradvel chama-se para algum aquilo que o deleita; belo, aquilo que meramente o apraz; bom, aquilo que estimado, aprovado isto , onde posto por ele um valor objetivo. Amenidade vale tambm para animais irracionais; beleza somente para homens, isto , entes animais mas contudo racionais, mas tambm no meramente enquanto tais (por exemplo, espritos), porm ao mesmo tempo enquanto animais; o bom, porm, vale para todo ente racional em geral; uma proposio que somente no que se segue pode obter sua completa justificao e elucidao. Pode-se dizer que, entre todos estes modos de complacncia, nica e exclusivamente o do gosto pelo belo uma complacncia desinteressada e livre; pois nenhum interesse, quer o dos sentidos, quer o da razo, arranca aplauso. Por isso, poder-se-ia dizer da complacncia que ela, nos trs casos mencionados, refere-se a inclinao ou favor ou respeito. Pois favor a nica complacncia livre. Um objeto da inclinao e um que nos imposto ao desejo mediante uma lei da razo no nos deixam nenhuma liberd