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NÚMERO 60 15 DE NOVEMBRO A 15 DE DEZEMBRO DE 2007 1 A política ambiental do bipartido consegue unir a sociedade civil excluída do Hórreo A aposta dos diferentes executi- vos galegos na piscicultura e a indústria do turismo litoral pode- rá converter-se no desastre ambiental mais importante do início do século XXI na Galiza, muito por cima do Prestige. O executivo de Touriño, através do departamento de Pesca de Carmen Gallego e com a compla- cência do BNG, avança com um Plano Galego de Aqüicultura que sepultará em asfalto e betom 700.000 metros quadrados mais de costa que o Plano Sectorial que aprovara o PP meses antes de perder o poder, e cuja revisom polo actual governo foi um dos símbolos da mudança de cor polí- tica de Sam Caetano. Salvada a excepcionalidade de certos espa- ços protegidos, o asfaltamento do litoral para a situaçom de unida- des de piscicultura reforça-se com mais viveiros e muitíssimo mais espaço costeiro para a insta- laçom dos mesmos. Politica- mente, o BNG, como no caso da canteira da Campa, de Reganosa ou da Cidade da Cultura, será quem vaia sofrer mais directa- mente este novo Plano: cada vez é maior o divórcio entre grande parte da base social com a cúpula desta frente. Em todas as mobili- zaçons contra as macroinstala- çons piscícolas participam acti- vamente agentes intimamente ligados ao movimento associativo e sindical promovido polo Bloco Nacionalista Galego que, em muitos casos, estiveram mui acti- vos na Plataforma Nunca Mais. A criaçom da plataforma Galiza nom se Vende é o primeiro exemplo de umha Galiza saudá- vel que está a ganhar terreno na defesa do território sem necessi- dade de aprovaçom pola parte das cúpulas partidárias e sindi- cais. / Pág. 12 Plataforma SOS Grova: “É o grande capital que se nos está a meter nos terreios mais baratos da Galiza, que som os montes” / 10 E AINDA... Outras opinions: Maria do Cebreiro, Joám Lopes Facal, Manoel Santos, Ana Paz, Valentim R. Fagim e Leo F. Campos “A alternativa independentista é imprescindível tanto para o BNG como para o conjunto da sociedade galega” Breixo Lousada Valdés, responsável de Comunicaçom do Movimento pola Base PÁGINA 04 A ‘massa crítica’ chega ao nosso país de bicicleta, reclamando mudanças na ordenaçom dos espaços urbanos / 14 Outra visom do povo cigano A etnia cigana conta na Galiza com cerca de nove mil pesso- as e menos de um terço reside em infra-habitaçons. Na cida- de de Vigo a percentagem é de 2,5%, mui similar à de Ponte Vedra, e em Santiago de Compostela o favelismo é já um fenómeno erradicado. Som dados que poucas vezes se dam a conhecer, mas que dam conta de umha série de mudanças que ponhem em questom a dificuldade de convivência deste povo, até há pouco caracterizado polo nomadismo, no seio da nossa sociedade. As plataformas político-sociais que ciganos e ciganas tenhem desenvolvido nos últimos anos para repre- sentarem os seus próprios interesses, o incremento da sua participaçom na vida pública (a percentagem de votantes é semelhante na populaçom cigana e na ‘paia’) ou a transformaçom dos papéis tradicionalmente atri- buídos às mulheres, som só alguns dados que permitem negar essa suposta dificulda- de de ‘convivência’. Acontece que, entre as pessoas nom ciganas, costuma enteder-se o ‘convívio’ como sinónimo de ‘integraçom’, ou até de ‘assi- milaçom’, algo a que nom aspiram os ciganos; é respon- sabilidade do conjunto da sociedade reinventar as nem sempre justas relaçons entre comunidades, descartando qualquer assomo de paterna- lismo, e, nem é preciso dizer, atitudes xenófobas. A história deste ancestral povo, chega- do da Índia à Península Ibérica no século XV fazendo- se passar por ‘egiptano’, é a história de um mau trato. Corrigir a história está tam- bém nas nossas maos, no Vao e em Vilar Cham. / Pág. 15 O GOVERNO QUER SEPULTAR 320 HECTARES DE LITORAL PARA A PRODUÇOM PISCÍCOLA GALIZA NOM SE VENDE aglutina a oposiçom perante as agressons consentidas polo bipartido / 04 QUEIMADA EM NOVEMBRO mais de metade da superfície que no resto do ano / 07 A PROSTITUIÇOM em debate: artigos de Nanina Santos Castroviejo e Mónica Gonçalves / 09 Imagem da manifestaçom convocada em Corrubedo contra o Plano Aqüícola / Fotografia: CUT As ‘bicicletadas’ entram com força na Galiza

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Page 1: Imagem da manifestaçom convocada em Corrubedo contra · PDF fileNÚMERO 60 15 DE NOVEMBRO A 15 DE DEZEMBRO DE 2007 1 € A política ambiental do bipartido consegue unir a sociedade

NÚMERO 60 15 DE NOVEMBRO A 15 DE DEZEMBRO DE 2007 1 €

A política ambiental do bipartido consegueunir a sociedade civil excluída do Hórreo

A aposta dos diferentes executi-vos galegos na piscicultura e aindústria do turismo litoral pode-rá converter-se no desastreambiental mais importante doinício do século XXI na Galiza,muito por cima do Prestige. Oexecutivo de Touriño, através dodepartamento de Pesca deCarmen Gallego e com a compla-cência do BNG, avança com umPlano Galego de Aqüicultura quesepultará em asfalto e betom700.000 metros quadrados maisde costa que o Plano Sectorialque aprovara o PP meses antesde perder o poder, e cuja revisom

polo actual governo foi um dossímbolos da mudança de cor polí-tica de Sam Caetano. Salvada aexcepcionalidade de certos espa-ços protegidos, o asfaltamento dolitoral para a situaçom de unida-des de piscicultura reforça-secom mais viveiros e muitíssimomais espaço costeiro para a insta-laçom dos mesmos. Politica-mente, o BNG, como no caso dacanteira da Campa, de Reganosaou da Cidade da Cultura, seráquem vaia sofrer mais directa-mente este novo Plano: cada vezé maior o divórcio entre grandeparte da base social com a cúpula

desta frente. Em todas as mobili-zaçons contra as macroinstala-çons piscícolas participam acti-vamente agentes intimamenteligados ao movimento associativoe sindical promovido polo BlocoNacionalista Galego que, emmuitos casos, estiveram mui acti-vos na Plataforma Nunca Mais.A criaçom da plataforma Galizanom se Vende é o primeiroexemplo de umha Galiza saudá-vel que está a ganhar terreno nadefesa do território sem necessi-dade de aprovaçom pola partedas cúpulas partidárias e sindi-cais. / Pág. 12

Plataforma SOS Grova: “É o grandecapital que se nos está a meter nosterreios mais baratos da Galiza, quesom os montes” / 10

E AINDA...

Outras opinions: Maria do Cebreiro, JoámLopes Facal, Manoel Santos, Ana Paz,Valentim R. Fagim e Leo F. Campos

“A alternativa independentista é imprescindível tantopara o BNG como para o conjunto da sociedade galega”Breixo Lousada Valdés, responsável de Comunicaçom do Movimento pola Base PÁGINA 04

A ‘massa crítica’ chega ao nosso país debicicleta, reclamando mudanças naordenaçom dos espaços urbanos / 14

Outra visom do povo ciganoA etnia cigana conta na Galizacom cerca de nove mil pesso-as e menos de um terço resideem infra-habitaçons. Na cida-de de Vigo a percentagem éde 2,5%, mui similar à dePonte Vedra, e em Santiagode Compostela o favelismo éjá um fenómeno erradicado.Som dados que poucas vezesse dam a conhecer, mas quedam conta de umha série demudanças que ponhem emquestom a dificuldade deconvivência deste povo, atéhá pouco caracterizado polonomadismo, no seio da nossasociedade. As plataformaspolítico-sociais que ciganos eciganas tenhem desenvolvidonos últimos anos para repre-sentarem os seus própriosinteresses, o incremento dasua participaçom na vidapública (a percentagem devotantes é semelhante napopulaçom cigana e na ‘paia’)

ou a transformaçom dospapéis tradicionalmente atri-buídos às mulheres, som sóalguns dados que permitemnegar essa suposta dificulda-de de ‘convivência’. Aconteceque, entre as pessoas nomciganas, costuma enteder-se o‘convívio’ como sinónimo de‘integraçom’, ou até de ‘assi-milaçom’, algo a que nomaspiram os ciganos; é respon-sabilidade do conjunto dasociedade reinventar as nemsempre justas relaçons entrecomunidades, descartandoqualquer assomo de paterna-lismo, e, nem é preciso dizer,atitudes xenófobas. A históriadeste ancestral povo, chega-do da Índia à PenínsulaIbérica no século XV fazendo-se passar por ‘egiptano’, é ahistória de um mau trato.Corrigir a história está tam-bém nas nossas maos, no Vaoe em Vilar Cham. / Pág. 15

O GOVERNO QUER SEPULTAR 320 HECTARES DE LITORAL PARA A PRODUÇOM PISCÍCOLA

GALIZA NOM SE VENDE aglutina a oposiçom peranteas agressons consentidas polo bipartido / 04

QUEIMADA EM NOVEMBRO mais de metade dasuperfície que no resto do ano / 07

A PROSTITUIÇOM em debate: artigos de NaninaSantos Castroviejo e Mónica Gonçalves / 09

Imagem da manifestaçom convocada em Corrubedo contra o Plano Aqüícola / Fotografia: CUT

As ‘bicicletadas’ entramcom força na Galiza

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A febre que há semanasdesatou o célebre anún-cio dos supermercados

Gadis dá para umha pequenareflexom sobre alguns mecanis-mos da psicologia social. Numhaargumentaçom circular que ospróprios ideólogos do anúncionom duvidariam em considerar‘tipicamente galega’, o slogan dacampanha publicitária incitava-nos a viver como galegos. O convi-te fijo-me reflectir numhaaguda reflexom de Arturo Casassobre o lema ‘Sê tu mesmo’, desabor tam mediático. Com o seuesplêndido sentido da ironia,afirmava Casas que a exortaçoma sermos nós era umha perda detempo, visto que nom nos ficavaoutro remédio. Mágoa que ospublicistas non figessem um usomais proveitoso da sua criativi-dade ? valor polo qual suposta-mente se lhes paga ? para nosanimar a sermos o que nomsomos e, de passagem, se qua-dra, melhorar.

O furor com que muitos gale-gos, ao abrigo das redes de trans-missom tecnológica, favorecê-rom a circulaçom do anúncioinforma às claras de umha atitu-de paradoxal perante a própriaidentidade. De um lado, as pes-soas que se sentiam representa-das polo anúncio contribuírompara o converter numha bandeirada identidade galega, ainda quefosse unicamente por uns dias ?no regime internacional doYoutube nem as essências nacio-nais som valores duráveis. Poroutro lado, é inegável o déficeque revela a mesma pretensom

de atribuir a um anúncio a carac-terizaçom do Volkgeist galego.

À vista do estilo entusiasta dasdefiniçons, qualquer pessoadiria que vivemos no tempo dorelativismo cultural. O certo éque as consignas televisivastiram muito bom proveito da

necessidade humana de conjurara incerteza tomando por instru-mento a autoafirmaçom. Poucoimporta que os valores chama-dos a nos representar sejam tamrançosos como os escolhidospolo anúncio do Gadis.Entramos num dos Outonos

mais secos dos últimos anos, masos publicistas teimam em noslembrar que na Galiza até achuva é arte. Por nom falar da tor-tilha da nossa mae, da aldeia dosnossos avós e da cultura da fome.E por se nom fosse avondo, estepequeno sainete nacional ilus-

tra-nos também quanto ao usoconsolador da palavra ‘riquinho’.Para que ninguém esqueça que,por ter, mesmo temos aindaumha língua de nosso.

Há alguns meses, a Coca-Colatentou convencer-nos, aos queandamos polos trinta, de quepertencemos à geraçom maissimpática do mundo. E os deGadis agora dam-nos provas deque vivemos num país estupen-do. Haverá que lembrar que oúnico que procuram as empresasé vender os seus produtos? Ouserá que os seus produtos agorasomos nós? Parece preocupanteque umha empresa, seja giganteou pequena, seja daqui ou defora? as empresas, se algo nomsom agora, é nacionais? preten-da reconciliar-nos com oque somos.

Houvo quem aduzisse razonsde ordem lingüística para se pro-nunciar contra a campanha. Oanúncio foi dobrado do castelha-no num galego, já agora, bastan-te pobre. Mas o problema defundo nom é o modelo de línguaescolhido pola empresa. Atéagora, nom recaiu em Gadis ofinanciamento da política lin-güística na Galiza, ainda que jáhaja bancos que compram ilhas efundaçons privadas que adorama cultura. O preocupante é operverso jogo de mediaçons einterferências que revela todoeste assunto de nos comportar-mos como galegos. Cuidemo-nosde nom celebrar que Gadis nosdefina nesse fervor ridículo como que os servis buscam o aplausodos poderosos.

NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200702 OPINIOM

O PELOURINHO DO NOVAS

Se tens algumha crítica a fazer, algumfacto a denunciar, ou desejas transmi-tir-nos algumha inquietaçom oumesmo algumha opiniom sobre qual-quer artigo aparecido no NGZ, este éo teu lugar. As cartas enviadas deve-rám ser originais e nom poderámexceder as 30 linhas digitadas a com-putador. É imprescindível que os tex-tos estejam assinados. Em caso con-trário, NOVAS DA GALIZA reserva-se odireito de publicar estas colaboraçons,como também de resumi-las ouestractá-las quando se consideraroportuno. Também poderám ser des-cartadas aquelas cartas que ostenta-rem algum género de desrespeito pes-soal ou promoverem condutas antiso-ciais intoleráveis. Endereço: [email protected]

IMPUNIDADE DOS AGENTESPOLICIAIS DE VIGO

O MpDC considera que se está atransmitir a mensagem de que apolícia, apesar de nom se ter identi-ficado e ter disparado, golpeado edetido um cidadao inocente sem lheler os direitos, nom tem que respon-der perante a justiça, gozando detotal impunidade.

O facto de que umha actuaçomtam evidentemente imprudente enegligente, com claro perigo para avida dos cidadaos, acabe com oarquivamento do caso, demonstracomo actuam os agentes e corposde segurança do Estado: com impu-nidade. Torna-se evidente porqueos cidadaos nom denunciam estesabusos; depois de ter que sofrerumha situaçom tam traumática,devem dispor de tempo e dinheiropara que um juiz escuite o seu casopara depois… ser arquivado.

Entretanto, os agentes disponhemdos advogados da Administraçom ecobram por acudirem a estes julga-mentos, que acabam sem entrar nofundo do assunto.

No caso que nos ocupa, nom esta-mos a falar da intençom de fazerdano do agente, estamos a falar deumha actuaçom absolutamenteimprudente e negligente com resul-tado de lesom e falta de respeito porqualquer protocolo de actuaçom,implicando um claro perigo para avida das pessoas. Ninguém discutiuaté os dias de hoje que esta actua-çom nom fosse assim, e até oDelegado do Governo pediu descul-pa ao afectado.

O MpDC considera que é eviden-te que as garantias constitucionaisfalham sempre que se vem envolvi-dos corpos e forças de segurança doEstado e dia-a-dia deixamos de crernesses direitos, que se transformamem 'papel molhado'. Mesmo quandose consegue imputar um agente eque seja condenado, é mui provável

que o Governo outorgue indultos,ainda quando nom pedem perdomàs suas vítimas, como aconteceu comos polícias locais de Vigo.

Movimento polos Direitos Civis

OUVIDOS SURDOS ÀSREIVINDICAÇONS DA MOCIDADE

Na quinta-feira 28 de Dezembrodecorreu o Pleno Municipal em quese aprovou definitivamente aOrdenança de Resíduos e LimpezaViária, tendo sido rejeitadas as pro-postas realizadas pola Plataformacontra a Criminalizaçom daJuventude, que foram apoiadas porcentenas de jovens compostelanos ecompostelanas. A Cámara Municipalde Compostela demonstrou com oPlenário de hoje o pouco interesseque tem de abordar a sério a práticado 'botelhom' e por extensom o óciojuvenil, já que ao aprovar a

Ordenança sem sequer ter em contaas propostas realizadas polaPlataforma, exclui do debate, e dapossível soluçom, os principais prota-gonistas desta prática, os e as jovens.

A Plataforma contra a criminaliza-çom da juventude, que tem desen-volvido umha intensa actividadedenunciando o esquema repressivoque esconde a OrdenançaMunicipal, é conscientes de que aaprovaçom deste novo regulamentonom fecha nem soluciona nengum-ha problemática. Todo o contrário.O que conseguirá a aplicaçom daOrdenança é converter em 'delin-qüentes' os milhares de jovens quecada fim-de-semana praticam o'botelhom', com os problemas quedisso se podem derivar.

Continuaremos com as activida-des para denunciar o que considera-mos um grave atentado contra osdireitos da mocidade compostelana.

Plataforma contra a Criminalizaçomda Juventude (Compostela)

Vivamos como galegos?MARIA DO CEBREIRO

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 03EDITORIAL

Anecessidade de coopera-çom da Galiza comPortugal e, mais concreta-

mente, com a Regiom Norte, éum princípio quase indiscutívelentre os analistas do desenvolvi-mento económico.

A euro-regiom galaico-durienseque se estende do Ortegal aoDouro – até a margem norte dosdistritos de Aveiro, Viseu e aGuarda, se aceitarmos a flutuantedemarcaçom oficial portuguesa –constitui umha área de 50.853km2 (58% galega) com 6,3 mil-hons de habitantes (43% galegos)e um produto económico agregadosuperior aos 100.000 milhons deeuros, distribuído em partes iguaisentre ambos os lados da fronteira.

A euro-regiom supera em exten-som a Bélgica e a Holanda e temumha populaçom similar à daCatalunha, com um produto eco-nómico por volta de metade docatalám: 10% do PIB de Espanha,aproximadamente.

Se houvesse que assinalar umargumento chave do interesseestratégico deste espaço seria ode assegurar a cada um dos seusparceiros a dimensom necessáriapara amortecer a excentricidadeeconómica que nos limita. A redeurbana e económica que afinca assuas cabeças nas sete cidadesgalegas e no Porto e Braga consti-tui um espaço aberto ao tráficointernacional mas, sobretodo, ummercado interno com dimensomsuficiente: 6,3 milhons de consu-midores e umha rede empresarialem crescimento.

O novo espaço de convivência eprogresso com que a UniomEuropeia nos obsequiou vai apren-dendo a aturar com paciência avácua retórica sobre a língua e acultura que nos une, directamenteproporcional à incapacidade parapromover tarefas construtivascomuns. Umha das raízes da este-rilidade que tolhe a acçom políticaé, além da escassez de personali-dades com liderança, o manifestoreceio de Madrid e de Lisboa. Opoder nom gosta de partilhar, e oseu primeiro mandamento é ten-tar reprimir o possível competidor,

como já sabia Nerom.Contodo, a euro-regiom camin-

ha. Dous ámbitos da cooperaçompermitirám-nos apreciar o seupotencial de desenvolvimento: asoperaçons corporativas de comprae venda de empresas por iniciativatransfronteiriça e o espectacularnível alcançado polas transacçonscomerciais.

Quanto à primeira perspecti-va podemos lembrar operaçonscomo a constituiçom deMadibéria pola parte de Finsa-Tafisa (Viseu, 1985-88), a com-pra de Tafisa por Sonae (1993,90 milhons), ou da Corporacióndel Noroeste por CimentosCimpor (1995), a aquisiçom daS. N. de Produtos Longos noseu processo de sua privatiza-çom pola siderúrgica ferrolanaMegasa ou a compra do BancoSimeón pola Caixa Geral deDepósitos (1995, em 122 mil-hons). Umha recente operaçom,de grande efeito mediático, foi odeslocamento de um projecto degranja marinha promovida porPescanova (7.000 toneladas/anode rodovalho, 140 milhons deinvestimento) ao município deMira, no Distrito de Coimbra.Talvez os empresários sejam maiságeis que os oradores.

No que respeita ao comérciocomum na Europa sem fronteirasque nos une, aí estám os dados doInstituto de Comércio Exterior dePortugal referentes ao ano 2006.Galiza terá efectuado compras aPortugal polo valor de 1.911millons de euros e vendas polomontante de 2.174. Deve salien-tar-se o carácter favorável da balan-ça, o forte crescimento dos fluxosnos últimos anos e, sobretodo, aliderança da Galiza: 23% dasexportaçons portuguesas dirigidaspara Espanha tenhem a Galizacomo agente intermediário. Seráque os negócios nom podem espe-rar tanto como os bons propósitos.

Há uns meses fracassárom asnegociaçons para a revisom doEstatuto porque a representaçomdo PP opinava que a Galiza nomera umha naçom. Será talvezumha euro-regiom? .

Os defensores mornos do bipartido argumenta-vam que, sem confiarem em mudanças radi-cais, cabia aguardar umha pequena regenera-

çom colectiva. Isto justificava por si só acalmar os ímpe-tos mobilizadores dos finais do fraguismo, e pôr o movi-mento popular sob a tutela das instituiçons e dos par-tidos. Transcorridos dous anos destas argumentaçons,até o mais entusiasta cala como um peto. O silêncio ini-cial perante os muitos abusos governamentais conver-te-se em importantes assomos mobilizadores. NestaGaliza dependente, os custos ecológicos do progressoneoliberal alcançam níveis mui preocupantes, e social-mente há quem comece a pedir contas sem comple-xos. De Mugardos a Seoane do Courel, e do Morraço àMarinha, as críticas ganham corpo e o discurso torna-seincisivo. Que a política bipartida é essencialmenteumha reproduçom dos dezasseis anos passados, poucoso questionam. Em matéria energética, urbanística e

até cultural – como mostram as reveladoras manifesta-çons de Quintana sobre a obra do Gaiás – reina o con-sentimento com os que mandam de verdade, e nemtodo o mundo está disposto a assentir passivamente.

Pola primeira vez em várias décadas, a simbologiagalega nom domina na denúncia popular, como se viunos actos recentes em Corrubedo e Mugardos. A iden-tificaçom errada da causa nacional com os pioresexcessos governamentais dá prova de todo um patri-mónio dilapidado polos profissionais da política, e depassos atrás na consciência colectiva de grandes con-seqüências. No extremo contrário, a resposta colecti-va mostra um aspecto saudável: exibe autonomia polí-tica, nom padece o controlo de especialistas da ges-tom e fala com contundência, contra todo ‘desenvol-vimentismo’, ainda que este se disfarce com o verde.Os rumos da oposiçom popular som incertos, o quequer dizer que nela intervém a livre decisom.

MAL-ESTAR E INCERTEZA

SUSO SANMARTIM

A economia galegaolha para sul

JOÁM LOPES FACAL

D. LEGAL: C-1250-02 / As opinions expressas nos artigos nom representam necessariamente a posiçom do periódico. Os artigos som de livre reproduçomrespeitando a ortografia e citando procedência. A informaçom continua periodicamente no sítio web www.novasgz.com e no portal www.galizalivre.org

EDITORA

MINHO MEDIA S.L.

DIRECTOR

Carlos Barros G.

CONSELHO DE REDACÇOM

Alonso Vidal, Antom Santos, Iván Garcia,Xiana Árias, Sole Rei, Helena Irímia,Eduardo S. Maragoto, André Casteleiro,José E. Vicente, Xabier Xil

DESENHO GRÁFICO E MAQUETAÇOM

Miguel Garcia, C.Barros, A. Vidal, X. Árias

IMAGEM CORPORATIVA

Miguel Garcia

FECHO DA EDIÇOM: 20/11/07

INTERNACIONAL

Duarte FerrínNuno Gomes (Portugal), Jon Etxeandia(País Basco) Juanjo Garcia (Países Cataláns)

COLABORAÇONS

Opiniom. Maurício Castro, X. Carlos Ánsia,Maria Álvares, Santiago Alba, Daniel Salgado,Kiko Neves, J.R. Pichel, Carlos Taibo, GermámErmida, Celso Á. Cáccamo, Jorge Paços,Adela Figueroa, Joám Peres, Pedro Alonso,Luís G. Blasco ‘Foz’, Alberte Pagán, ConchaRousia, Xurxo Martínez, Alexandre Banhos,Raul Asegurado, Miguel Penas. Cronologia.Iván Cuevas. Música. Jacobe Pintor. GalizaNatural. João Aveledo. Sexualidade. BeatrizSantos. Língua Nacional. Valentim Fagim.Descobre o que sabes. Salva Gomes. Desportos.Anxo Rua Nova, Xavier S. Paços. Cozinha.Joana Pinto, Miguel Burros, Ana Rocha

FOTOGRAFIA

Arquivo NGZNatália Gonçalves,GZI, Xavier Sampil

ADMINISTRAÇOM

Irene Cancelas Sánchez

HUMOR GRÁFICO

Suso Sanmartin, Pepe Carreiro,Pestinho+1, Xosé Lois Hermo,Gonzalo Vilas, Farruquinho,Aduaneiros sem Fronteiras

CORRECÇOM LINGÜÍSTICA

Eduardo Sanches Maragoto,Fernando Vázquez Corredoira,Vanessa Vila Verde,Mário Herrero

“O NOVO ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA EPROGRESSO COM QUE A UNIOM EUROPEIA NOSOBSEQUIOU VAI APRENDENDO A ATURAR COM

PACIÊNCIA A VÁCUA RETÓRICA SOBRE A LÍNGUAE A CULTURA QUE NOS UNE, DIRECTAMENTE

PROPORCIONAL À INCAPACIDADE PARAPROMOVER TAREFAS CONSTRUTIVAS COMUNS”

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007

NOTÍCIAS

04 NOTÍCIAS

REDACÇOM / Mais de sessentacolectivos e plataformas confor-mam a rede Galiza Nom SeVende que se apresentou publi-camente no passado dia 16 deNovembro em Compostela,como extensom da Rede LitoralVivo. Pretende umha gestomsustentável dos recursos natu-rais e um “ordenamento doterritório racional e socialmentejusto” frente a um modelo eco-nómico que consideram “insoli-dário e depredador”.

Este movimento, que nompermite a participaçom de parti-dos nem sindicatos, pretende atroca de informaçom e experiên-cias, a difusom das iniciativaslocais para promover umhavisom nacional das agressons aopatrimónio e a geraçom de

sinergias para enfrentar gover-nos e empresas. Fam um chama-mento à acçom e à oposiçomcidadá perante umha situaçomem que “nunca os ataquesfôrom tam sistemáticos nemcontárom com tam unánimesilêncio político”. Citam umplano de aquacultura “pensadopara as multinacionais”, a lei deminaria “que fai exploráveistodos os tipos de solo”, a agressi-va planificaçom de portos des-portivos, a lei de pesca que “pre-tende privatizar o marisqueio”, aproliferaçom de parques eólicose hidroeléctricas, o urbanismoselvagem e Reganosa.

Na apresentaçom participá-rom José Reigosa de SalvemosMonte Ferro, da FundaçomGaliza Verde Mabel Rivera, o

membro do Comité deEmergência de Ferrol AlexandreCarrodeguas e o representanteda FEG Tino Quintela.Convocam umha manifestaçomnacional para o dia 17 deFevereiro em Compostela, paraexigir responsabilidades a quemtenciona “mal-vender” o País.

Mabel Rivera considerou quequando acontecer um sinistrona ria de Ferrol, por exemplo,nom estaremos perante um aci-dente, mas frente a um “atenta-do planificado e premeditado”,do que “alguém se terá que res-ponsabilizar”. Declarou sentir-se atraiçoada e enfatizou ainexistência de oposiçom políti-ca na situaçom actual, polo querealizou um chamamento à acti-vaçom da cidadania.

REDACÇOM/ Umha vintena deintegrantes da ComissomVicinal contra a Depuradora deCorujo encerrou-se nas depen-dências da sala de juntas dogoverno viguês entre os dias 16e 17 de Novembro. Coincidindocom a mobilizaçom, durante amadrugada, umha explosom naarqueta que fornece a electrici-dade da depuradora paralisavapor 10 horas o seu funciona-mento, afectando tambémcentenas de casas. Segundo astestemunhas, pessoas descon-

hecidas teriam manipulado ainstalaçom da Fenosa minutosantes do sucesso.

O presidente da CámaraMunicipal de Vigo, AbelCaballero, negou-se a permitir aentrada de comida para as pesso-as fechadas durante o encerra-mento, muitas delas de idadeavançada. Celso Comesaña con-siderou o autarca “mais fascistaque os fascistas”, nas suas decla-raçons à saída. Manifestou tam-bém a vontade de continuar abatalha até serem ouvidos e

salientou que os “inimigos dopovo nom som os que actuam ànoite, mas os políticos que sevoltam contra ele”, por exemplo,“mantendo a actual depuradorana sua localizaçom”.

As denúncias contra a macro-depuradora do Lagares remon-tam-se a dez anos atrás poloforte cheiro que emite. Nosinícios de Novembro umhastrinta pessoas tivérom que serrealojadas em hotéis por nompoderem permanecer nas suascasas. Umha semana antes do

encerramento, outro grupo deafectados fechavam-se nasdependências da depuradoradenunciando o silêncio infor-mativo em relaçom à supostaavaria que obrigou a sair dascasas as pessoas próximas àsinstalaçons. A ComissomVicinal exige a aprovaçom deum plano de emergência parareagir diligentemente perantea situaçom quando o reiteradofedor volte a aparecer.

A agrupaçom da vizinhança deCorujo propom como alternativa

viável a construçom de váriasminidepuradoras no curso doLagares, afastadas dos núcleosde povoaçom e que permitamumha depuraçom progressiva epermanente. Denunciam que aconstruçom da actual despolui-dora foi umha autêntica “cha-puça” que nom cumpre com asdirectrizes necessárias para umcorrecto funcionamento. Ade-mais, nom se produz a separa-çom prévia das águas fecais,pluviais e residuais na maiorcidade da Galiza.

REDACÇOM / Umha forte explo-som destruía a sede de‘Inmobiliaria do Morrazo’ namadrugada de 15 de Novembroem Cangas do Morraço. Semhaver constáncia de aviso prévio,as informaçons policiais aponta-vam a que a bomba continhacinco quilos de ‘cloratita’, hipó-tese que depois foi questionadapola própria investigaçom.

O atentado produziu-se horasantes da visita a esta localidadedo subdelegado do Governo emPonte Vedra, Delfín Fernández.O ministro espanhol do Interior,Alfredo Pérez Rubalcaba, mati-zava nom considerar a existênciade um “novo foco” de violênciamas “um ‘rebrote’ do que éumha actividade que vemos dequando em vez”.

Os interesses imobiliários ten-hem sido objecto de diferentessabotagens ao longo dos últimosmeses. O atentado de Cangascontra umha conhecida empresalocal continua a sequência degolpes violentos que aDelegaçom do Governo atribui a“grupos independentistas radi-cais” que a polícia insiste emenquadrar numha suposta orga-nizaçom denominada “Resis-tência Galega”. Porém, o“Manifesto da ResistênciaGalega” difundido através da

Internet em 2005, negava preci-samente que a violência inde-pendentista estivesse hoje diri-gida desde umha única organiza-çom, chamando à realizaçom desabotagens de forma autónoma edescentralizada.

A empresa proprietária daagência atacada é ‘ActivosInmobiliarios do Morrazo SL’.Dedica-se à compra e venda desolares e imóveis, urbanizaçom,promoçom e construçom. O seuadministrador é Manuel ChapelaMolanes, apoderado também daconstrutora ‘Marítimo RodeiraSL’ que tem como actividade aobra pública e a privada.

Também em Cangas, no passa-do dia 9 de Maio aparecia umhapanela de pressom com pólvorano interior das obras de umhaurbanizaçom. Estava acompan-hada por propaganda indepen-dentista que incluía a palavra deordem ‘resistência galega’ e foradetonada de forma controladapola Guarda Civil. Na mesmaépoca eram colocados explosivoscontra urbanizaçons em Nigráme contra ‘Construcciones Mon’em Lugo.

Segundo informaçons ofi-ciais, trataria-se do oitavo ata-que com bombas atribuído agrupos independentistas aolongo deste ano.

Manifestaçom convocada no passado mês de Maio com o lema ‘Galiza nom se vende’

Paralisam depuradora de Vigo enquanto a vizinhança deCorujo se fecha na sala de juntas do governo municipal

‘Galiza Nom Se Vende’ apresenta-secomo aglutinante da oposiçom peranteas agressons consentidas polo bipartido

Explosivo destroça sedede umha imobiliária emCangas do MorraçoFontes policiais identificam a acçom como a quarta sabotagem independentista contra interesses imobiliários desde o mês de Maio

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 05NOTÍCIAS

Com que possibilidades contahoje um projecto independen-tista no seio do BNG?A alternativa independentista éimprescindível tanto para oBNG como para o conjunto dasociedade galega, pois entende-mos que é a única proposta defuturo viável e com garantiaspara solucionar os problemas donosso povo. O BNG nasceucomo umha frente de libertaçomnacional que aglutinasse todo onacionalismo, fixando uns princí-pios mínimos de carácter sobera-nista em que a defesa de umhaRepública Galega como a quenós fazemos encaixa à perfei-çom. Haveria que perguntar-sese o que tem cabimento no BNGé um projecto totalmente alheioà tradiçom e princípios da frentecomo é o autonomismo, querenuncie no seu discurso à defe-sa da autodeterminaçom nacio-nal e mesmo chegue a legitimaro marco estatutário.

Que vos diferencia de iniciati-vas marxistas e soberanistas

anteriores, como o PCLN ouPrimeira Linha?Com total respeito por outrosprojectos, nom parece adequa-do tentar extrapolar experiên-cias passadas ao momentoactual. Cada projecto políticohá que analisá-lo no seu contex-to, que obviamente tem muda-do nestes anos. Nós somosumha iniciativa original, queaposta em novas formas defazer política, contribuindocom ánalises inovadoras emrelaçom ao modelo organizati-vo e à intervençom social. Porisso, é difícil equiparar-nos anengumha experiência anterior,um debate pouco produtivo,pois para nós a libertaçomnacional nom é umha competi-çom mas um objectivo comumpolo qual havemos de trabalhar.

Quais som os vossos objectivosa curto e a médio prazo?A curto prazo, reforçar a organi-zaçom, formaçom e capacidadede trabalho, e a médio prazo,contribuir para o fortalecimento

dos movimentos sociais e sobera-nistas, construindo poder popu-lar dia-a-dia e por baixo, a partirda coerência entre meios e fins.Trabalharemos para combater aderiva ideológica e organizativado BNG e recuperar o seu perfilantissistémico, convertendo-orealmente numha referênciapara os movimentos sociais, quecatalise as luitas populares e quefaga da acçom institucional umcomplemento do trabalho na ruae nom à inversa.

Queremos visibilizar a ideiade que existem maneiras dife-rentes de fazer política, recu-perando o conteúdo entusias-mante, participativo e transfor-mador desta palavra.

Em que medida pode afectar àvossa independência o facto demuitos dos vossos dirigentesserem assalariados das organiza-çons nacionalistas maioritárias?Fugimos de um modelo comdirigentes imbuídos de todo osaber e apostamos na horizonta-lidade e em modelos organizati-vos mais coerentes com a socie-dade por que luitamos. Cadamilitante deve ser um dirigenteque decide, opina, forma-se einforma. A maioria somos trabal-hadores/as nos mais diversossectores, e contamos com umbom número de estudantes.Temos umha importante pre-sença no movimento operáriopor meio da CIG, e em conse-quência alguns companheiros ecompanheiras (e nom precisa-mente muitos) som assalariadosda central, como é o meu caso.Além de que trabalhar na CIGnom é nengum privilégio, ocompromisso da nossa militán-cia quanto ao serviço à classetrabalhadora está fora de todadúvida, e a sua trajectória avali-za-a como insubornável. Onosso modelo organizativoescrupulosamente democráticoé o melhor antídoto contra a

tentaçom de antepor o interes-se pessoal ao colectivo, e sealguém aspirar a fazer carreirapolítica ou a um lugar maiscómodo ao sol de algum siste-ma estabelecido de privilégiosseria mui estúpido se procuras-se abrigo no MpB.

Que tipo de relaçom pretende-des ter com os sectores sobera-nistas à margem do BNG?Temos vontade de colaborar deforma fluida e aberta com todosos colectivos que trabalhem polasuperaçom do quadro jurídico-político imposto ao nosso país, enessa linha estamos abertos acoincidir na acçom diária comtodo o mundo, partindo do res-peito e a lealdade e mantendo anossa autonomia. Assumindoisto, queremos priorizar o projec-to político que compartilhamospor riba das siglas, fugindo desectarismos estéreis que emnada beneficiam o País.

Quais som as vossas principaispotencialidades?Contamos com um amplo lequegeracional que combina muitamocidade com quadros comexperiência em luitas e no tra-balho de base, com umha impor-tante introduçom nos diversosmovimentos sociais.Defendemos coerentementeum projecto político de liberta-çom nacional e transformaçomsocial que se corresponde com osinteresses das maiorias, e temosvontade e capacidade para orga-nizar politicamente um sectorsocial até agora infravalorizadono nacionalismo. Pensamos quepodemos ser um revulsivo pararesgatar da apatia e o desánimo amuitos e muitas militantes eincorporar novos e novas compa-triotas dispostas a luitarem semter que aguardar tempos melho-res, e a começar a construir umfuturo diferente, a avançar para àindependência e o socialismo.

11.10.2007

Moço de 20 anos apanhado porum elevador de paletes no polígo-no da Uzeira (Carvalhinho)

12.10.2007

Estoura de madrugada umhaantena ilegal da empresaVodafone em Valadares (Vigo)contra a qual protestara repetida-mente a vizinhança.

13.10.2007

Mayor Oreja afirma ao La Voz deGalicia que nom tem porque con-denar o franquismo já que “foi aconseqüência de umha GuerraCivil em que houvo dous bandos”.Também fala da “extraordináriaplacidez” do País Basco comFranco.

14.10.2007

Luis Alfonso Fernández Carro-deguas, marinheiro de Vila Pol(Jove) de 51 anos, desaparece noCantábrico a 190 milhas do CaboOrtegal.

15.10.2007

Pedem dous anos de cadeia paraJosé Manuel Quintana Rey, irmaoda presidenta da cámara de SamTisso de Abres (do PP), acusadode ameaçar em 2003 com queimara casa de umha ex-vereadora, pas-sada ao grupo misto, se nom demi-tia no seguinte pleno.

16.10.2007

Trabalhadores da construçom dascomarcas ponte-vedresas ponhemfim à greve depois de conseguiremmelhorias salariais (600 euros maispor ano) e da jornada laboral.

17.10.2007

Mais de 40% dos trabalhadores etrabalhadoras galegas afirmam quenom tivérom direito a férias deVerao no ano passado.

18.10.2007

A CIG-AAdministraçom acusa aVice-Presidência de privatizar aselecçom de pessoal dasGalescolas para fazer delas “umchiringuito”.

CRONOLOGIA

“Temos vontade de colaborar com todosos colectivos que trabalhem pola superaçom do quadro jurídico-político imposto”

Breixo Lousada, responsável de comunicaçom do Movimento pola Base

REDACÇOM / Recentemente constituído como organizaçom política,o Movimento pola Base (MpB) nasce como nova força independentis-ta no BNG, com a intençom de “combater a deriva ideológica e orga-nizativa e recuperar o seu perfil antissistémico”. Conversamos comBreixo Lousada Valdés, o seu responsável de comunicaçom e umexemplo da nova juventude organizada na frente nacionalista.

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200706 NOTÍCIAS

19.10.2007

Uniom do Gerês-JJurês inaugura afigura de espaço natural transfron-teiriço e converte-se no maior par-que da Europa.

20.10.2007

Um incêndio queima quinzehectares em Ponte Caldelas, noOutono mais seco da últimadécada.

22.10.2007

Touriño mostra-sse convencido deque a construçom de habitaçomprotegida paliará o decrescimentodos benefícios das construtoras,desvendando às claras o verdadeiroobjectivo desta.

23.10.2007

Responsáveis pola Reganosa afir-mam que “nom é necessário queesteja activado" o plano de emer-gência para que a fábrica poda des-envolver o seu trabalho com nor-malidade.

25.10.2007

A Pescanova acumula 30 multas eumha ordem de derrube daConselharia da Política Territorialpolo viveiro de piscicultura de Oiaque Pesca quer agora ampliar.

26.10.2007

Derrubadas duas favelas do Vaosem um realojamento definitivopara as famílias.

29.10.2007

Ferido grave um topógrafo ao ficarpreso num túnel das obras do TAVem Amoeiro.

30.10.2007

45.000 pessoas galegas, 60%delas menores de 34 anos, emi-grárom em 2006 dentro doEstado espanhol.

31.10.2007

Ferido grave em Návia um trabal-hador português da empresaConstrugómez enquanto trabalha-va nas obras da A-8.

1.11.2007

Água da poça "milagreira" deAlhigal de Codesido (Vilalva),junto à qual a Fadesa construiu umhotel com spa, regista um altonível de poluiçom por resíduosfecais.

2.11.2007

Registos civis da Corunha e Vigopermitem a inscriçom em galegopola primeira vez, décadas depois

REDACÇOM / Já passárom cincoanos desde que a 13 deNovembro de 2002 um petro-leiro chamado Prestige tingiude preto as costas do nosso paíse, no entanto, continuamregistando-se hoje os mesmosproblemas que naquela altura:descoordenaçom, falta demeios materiais e humanos,ausência de protocolos e meca-nismos preventivos.

A descoordenaçom continuano que di respeito à preven-çom. Nos dias de hoje, seacontecer um sinistro similar,nom se conhece quais som oslugares de refúgio aonde sedevem dirigir ou devem serrebocados os navios com pro-blemas. Tampouco se definí-

rom os centros de armazena-mento do combustível para ocaso dos petroleiros.

Outras carências tenhem aver com a protecçom activa epassiva. Na actualidade, nolitoral galego continua semhaver barreiras antipoluiçom.No que di respeito à activa, aGaliza continua sem ter umnavio anticontaminaçom, detal forma que em caso decatástrofe o mais próximogeograficamente estariasituado em Brest —naBretanha—, como já foidenunciado no Parlamento.

A falta recursos materiais ehumanos é outra carência queagrava os efeitos da centraliza-çom. O plano estatal para o

Salvamento marítimo, orça-mentado com algo mais de milmilhons de euros, dedica 90por cento à dotaçom de novosefectivos, mas na distribuiçomdas despesas o nosso país con-tinua discriminado. Destemodo, enquanto o Estadoduplica a frota de helicópteros,na Galiza continuará a haver sóum, o veterano Helimer — dequase 40 anos — que asinhaserá substituído por um aparel-ho novo. Igualmente, o núme-ro de rebocadores reduz-se detrês a dous, enquanto no restodo Estado aumentam.

Falta de competênciasOutro aspecto de preocupa-çom e sobejamente debatido é

que a Galiza carece das com-petências em matéria deSalvamento Marítimo. A situa-çom traz para o nosso país umgrande número de inconve-nientes. O primeiro, o da coor-denaçom e efectividade, já quea centralizaçom fora da Galizaimplica um alto número de trá-mites antes de cada acçom, oque impede atender devida-mente as ameaças potenciais.Em frente às costas galegascontinuam a circular mais de40 mil navios, uns 13 mil commercadorias perigosas, e damaioria nem se conhece a suaprocedência. Som os chamados'navios pirata' que transitamcom bandeiras de conveniên-cia, como o Prestige.

REDACÇOM / A plataforma‘Cultura Sim, Mausoleu Nom’denuncia que das despesascomprometidas que atribuemao PP em 2005, 476 milhonsde euros, 23 estám destinadosa “incidências previsíveis”como os gastos derivados daparalisaçom temporária dasobras e a redefiniçom dos con-teúdos do Gaiás. Este montan-te seria responsabilidade dogoverno PSOE-BNG, queoptou por dar umha nova for-mulaçom ao projecto.

Num comunicado silencia-do polos diários destacam queo bipartido oculta as importan-tes despesas correspondentesaos seus passados anos degoverno. Nos orçamentos de2008 o presidente PérezTourinho anunciou destinar

46 milhons ao projecto, nosquais nom incluiu os 8 mil-hons que irá gerir a FundaçomCidade da Cultura, assinalamna plataforma.

Denunciam que estám porcontabilizar os gastos das liga-çons da autoestrada com asestradas dirigidas ao Gaiás,assim como os necessáriospara dotar de conteúdos asedificaçons. As consultorascom que trabalhou o PP calcu-lavam que a quantia anual paraa manutençom atingiria entre50 e 60 milhons de euros.Com base nas estimaçons docolectivo, a Cidade da Culturapoderá significar investimen-tos globais em torno dos 600milhons de euros, 150 maisque os atribuídos à planifica-çom do Partido Popular. .

REDACÇOM / Umha dúzia deestudantes conseguírom inte-rromper um acto de promoçomdo exército espanhol naFaculdade de Ciências Sociaisde Ponte Vedra no dia 13 deNovembro. Os activistas exibí-rom umha faixa frente aos con-ferenciantes com o slogan “Forao exército espanhol daUniversidade e da Galiza” o queproduziu momentos de tensomcom os militares presentes nopúblico, que finalmente decidí-rom abandonar a sala após terfotografado os estudantes.

A jornada militarista tinhasido organizada por professo-res em colaboraçom com oMinistério espanhol da Defesapara promover as campanhasmilitares com o título“Políticas de Segurança no

Marco da Cultura de Defesa”.Iam intervir representantes doExército espanhol e do CNI.O público assistente compun-ham-no efectivos da marinhaespanhola, com “presença nulade estudantes”, conforme acomunicaçom consultada.

A organizaçom juvenil Brigatinha denunciado nas semanasprévias a organizaçom do actomilitarista, denunciando como“escándalo” que os espaçospúblicos da capital provincial“se vejam ocupados cadapouco” polas tropas militaresespanholas. Três jovens inde-pendentistas estám penden-tes de serem julgados por“injúrias ao Exército” e “mautrato” por responderem aosactos organizados pola BRI-LAT em Julho de 2006.

Cinco anos depois do 'Prestige' Galizacontinua sem planos efectivos de prevençomFalta de meios, ausência de protocolos preventivos e permanência da descoordenaçom

Acusam o bipartido de atribuir23 milhons ao PP em gastospróprios para a Cidade da Cultura

Estudantes boicotam um actode promoçom do exércitoespanhol em Ponte Vedra

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 07NOTÍCIAS

da ‘oficialidade’ da língua.

3.11.2007

68,7% das famílias galegas rece-bem algum tipo de subsídiopúblico.

4.11.2007

Auditoria pública desvenda 2,2milhons de euros em números ver-melhos na Zona Franca de Vigo.

5.11.2007

Movimento pola Base anuncia quese absterá na escolha de cabeça delista do BNG para as eleiçons esta-tais, ao entender que houvo umhamanobra para ‘publicitar’ os candi-datos propostos antes de se discu-tirem no Conselho Nacional e quea militáncia é obrigada a decidirsobre um “facto consumado”.

6.11.2007

Xosé Ramón Piñol, fiscal do TSJG,afirma na Rádio Galega que pordetrás do Gaiás pode estar a maiorfraude da história autonómica daGaliza.

7.11.2007

Reganosa obtém a licença definiti-va para a fábrica de gás na ria deFerrol.

8.11.2007

Fiscalia de Ferrol solicita quesejam chamados a declarar, comoimputados na causa polas obras dapraça de Espanha, os 13 vereadoresda anterior vereaçom local, gover-nada polo PP e Independentes porFerrol.

9.11.2007

Secretário Geral de Cultura, CarlosAmoedo, acusa o governo anteriorde ter realizado umha compramaciça de destrutoras de papelantes de abandonarem a Junta.

10.11.2007

Conclui o encerramento contraa Reganosa depois de 110 dias nacasa do concelho de Mugardos.Porém, os protestos contra afábrica vam continuar, segundo avizinhança.

REDACÇOM / Mais de 1.600hectares ardêrom durante a pri-meira quinzena de Novembro,um número que supera metadeda superfície ardida no resto doano, se bem que a maior parteafectasse monte nom florestal.A informaçom oficial aponta àqueima de pastagens e activida-des vinculadas à caça como ascausadoras dos fogos, ainda quetambém se produzírom deten-çons de pirómanos.

Os incêndios de maior gravi-dade afectárom a Serra doGerês, tanto em território gale-go como português, com dife-rentes focos e ao longo de váriosdias. Conforme o presidente daCámara Municipal de Entrimo,

Ramón Alonso López, na zonada Baixa Límia teriam sidoqueimadas um total de 300 hec-tares de monte baixo. E segun-do o regedor de Chandrejaseriam 4.000 as hectares ardidasno Maciço Central.

Só no dia 8 de Novembro aprovíncia de Ourense sofreu aincidência de 36 focos delume, enquanto quatro diasdepois eram 12 os incêndiosque se propagavam na mesmaárea geográfica. No ámbito daGaliza administrativa, fôromregistados fogos nos municí-pios de Rairiz de Veiga, Rubiá,Sam Joám de Rio, Chandrejada Queixa, Laça, Vale d’Eorras,Salvaterra, Mós, Moanha, Tui,

Estrada, Lalim, Guarda,Mesquita, Verim, Junqueira deAmbia, Riós, Monte de Ramo,Calvos de Randim, Caniça eCastro Caldelas, entre outros.

Dous brigadistas que parti-cipárom na luita contra osincêndios durante o Veraoindicavam ao Novas da Galizaque nom fôrom solicitadosreforços especiais para osincêndios provocados na BaixaLímia. As consultas destapublicaçom ao Parque doGerês e ao Distrito 15 deBande nom recebêrom respos-ta e remetêrom as perguntas àConselharia do Meio Rural.No seu gabinete de imprensaindicam que as medidas toma-

das perante a ausência de chu-vas nesta época de ano consis-tírom em renovar as contrata-çons dos trabalhadores efecti-vos discontínuos. Indicamtambém que estám a trabal-har pessoas dependentestanto da Conselharia como daempresa SEAGA e dim quecontam com os efectivosnecessários para enfrentaremos riscos em vigor, tantohumanos como materiais.

No fecho desta ediçom, a 17de Novembro, registavam-se nomesmo dia 56 focos incendiá-rios, 41 deles no termo da pro-víncia de Ourense. No totalafectárom 116 novas hectarespor causa do lume.

Insistem em que o Ministério da Indústriapode paralisar Reganosa sem indemnizaçons

Queimada no mês de Novembro mais demetade da superfície que no resto do ano

REDACÇOM / O Comité deEmergência para a Ria de Ferrolassegura que a concessom daacta de começo do funciona-mento concedida à Reganosapolo Ministério da Indústrianom implica a legalizaçom dasua actividade. O porta-voz daplataforma, Carmelo Teixeiro,incide em que os organismoscompetentes poderiam paralisara fábrica de gás mesmo semindemnizar a empresa por estarlocalizada junto a vivendas enom apresentar garantias sufi-cientes para permitir a saída dosnavios gaseiros perante qual-quer acidente, polas caracterís-ticas da ria ferrolana. Estesrequerimentos formam parte daLei de Hidrocarbonetos.

Solicitam a nulidade do pro-cesso de aprovaçons, que nomcontárom com informes válidosde impacto ambiental, por des-respeitarem a legislaçom emvigor e por existirem duas sen-tenças contrárias à Reganosaemitidas polo Tribunal Superiorda Justiça da Galiza. A Juntarecorreu delas e estám penden-tes de resoluçom por parte doTribunal Supremo.

Carmelo Teixeiro destaca quea licença de actividade definitivadeve ser concedida pola CámaraMunicipal de Mugardos e aguar-da que a vereaçom municipal seja“sensível à legalidade e à justiçasocial nom concedendo essalicença, polo menos até que seresolva o recurso”. Insiste em quea via administrativa “nunca sepode dar por terminada” peranteos riscos que implica a fábrica,polo que “antes de que ocorraumha catástrofe com milhares devítimas, um governo responsávelterá que tomar a decisom deparalisar a sua actividade”.

Pola sua parte, a plataformavicinal O Cruzeiro de Meá deupor concluído o fecho quemantinha na sala de plenos daCámara de Mugardos no passa-do dia 10 de Novembro,depois de permaneceremdurante 111 dias em protestocontra a presença de Reganosana sua paróquia.

O Comité de Emergênciaanunciou que nas próximassemanas vai apresentar emBruxelas umha nova denúnciapor desrespeito da DirectivaSveso II ao se ter iniciado o fun-

cionamento da fábrica. Estanorma estabelece umha distán-cia de segurança de dous quiló-metros das casas por partedeste tipo de instalaçons. Poroutro lado, o Ministério da

Indústria solicitou um terceirorelatório aos organismos queautorizárom a sua construçom,a primeira vez que aconteceperante a implantaçom deumha regasificadora.

REDACÇOM / O blogue deum cidadao mugardês con-tradi com rigor as informa-çons falsas lançadas por LaVoz de Galicia no passado dia5 de Junho em que se assina-lava a existência de um bomnúmero de regasificadorasem condiçons similares às deReganosa na Europa. As oitocentrais referidas fora doEstado espanhol ou nomexistem ou nom estám próxi-mas dos núcleos populacio-nais que o diário indica.

Como exemplos a desta-car, as instalaçons de Gdanskna Polónia nom fôrom auto-rizadas polo seu governo; nocaso de Brindisi, na Itália, oexecutivo retirou recente-mente a autorizaçom deconstruçom, enquanto a

central de Zeebrugge naBélgica nom está na cidadede Bruxas como asseguravaLa Voz, mas num porto exte-rior com os tanques de arma-zenamento soterrados.

Os sectores mobilizadoscontra a presença daReganosa no interior da riadenunciam continuadamen-te o papel ‘seguidista’ do diá-rio mais lido da Galiza emrelaçom aos interesses dospromotores. O documento,elaborado por Ferrol-Cape, pode ser consul-tado no endereço http://artri-tris.blogspot.com, onde incluium completo documento emque analisa umha por umhaas inexactitudes nom rectifi-cadas sobre a situaçom dasregasificadoras na Europa.

Desvendam mentiras de La Voz

O lume intensifica-se no sul do País e afecta o parque natural do Gerês

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200708 INTERNACIONAL

INTERNACIONAL

DUARTE FERRÍN / Juan Carlos andamuito nervoso, ainda que o seupatrimónio supere os 1.700 milhonsde euros, e apesar de que receberáno próximo ano mais de 1.400 mil-hons de pesetas para gastos, para elee a sua estupenda família, que nomtenhem que justificar e som de livredisposiçom do monarca. Isto emtroca de assistir a festas, esquiar,navegar, atentar contra espéciesprotegidas, abusar da sua posiçomprivilegiada, relacionar-se com dita-dores, genocidas e com outrasmonarquias feudais, enriquecer-see multiplicar-se alegremente.

Na visita de Juan Carlos deBourbon e a sua mulher às colóniasde Ceuta e Melilha o governo e ascámaras de comércio unírom todasas suas forças para que fosse umêxito. Esgotárom as bandeiras espan-holas, dérom aos funcionários o dialivre e fechárom os centros escolarese os comércios para fomentarem aparticipaçom da populaçom.

Na Cimeira Ibero-Americanaparece que o rei, pola primeira vez,dixo algo espontáneo que previa-mente nom fora escrito por nengumassessor, mas era umha boa oportuni-dade para ficar como um defensordos interesses espanhóis e legitimaro seu posto vitalício. Ocasiom queaproveitou, assessorado ou nom, para‘dar a nota’ com a cumplicidade detoda a imprensa oficial espanhola.

Esta imprensa, que se escandalizaperante o qualificativo de “fascista”lançado por Chávez a Aznar, nom res-pondeu da mesma forma quandoeste chamou a Chávez “novo dita-dor”, falou de umha suposta “volta aonazismo”, denunciou o "enormeperigo para a América Latina" quesignificava a Venezuela, acusou o pre-

sidente venezuelano de ser umdefensor do "abuso, a tirania e oempobrecimento", entre outras mui-tas expressons semelhantes. Aznar,ademais, apoiou um golpe de Estadopara derrubar Chávez e instaurarumha ditadura militar. Perante todoisso, é lógico que Chavez qualifiqueAznar de ‘fascista’.

O facto de que Zapatero e oBourbon saiam na defensa do genoci-da Aznar por chamá-lo fascista é por-que os três apoiam a exploraçom daAmérica latina pondo todos os recur-sos do Estado em prol da penetra-çom das multinacionais espanholas.

O monarca, único chefe de Estadonom eleito na cimeira, ofende-sequando Daniel Ortega critica o papelda transnacional espanhola UniomFenosa na Nicarágua, talvez ignoran-do que o próprio monarca é sócio daFenosa e tem valores na ‘máfia’ quecontrola o negócio da electricidadeem vários países latino-americanos.Temos um monarca que se enche degozo e satisfaçom perante a avidez ea rapina das empresas espanholas.

O monarca ergue-se e abandona asala, mas o normal seria que se fos-sem todos os representantes dos paí-ses americanos, deixando sós oBourbon e Zapatero em protestopolos abusos que cometem asempresas espanholas nos seus paísese o trato que recebem os emigranteslatino-americanos no Estado. Masnom, é o senhor Bourbon quem seenfada numha atitude colonialista,despótica e antidemocrática. Ogoverno espanhol nom fai mais quelegitimar actuaçons de empresas queescondem violaçons de direitoshumanos e graves impactos ecológi-cos fora das nossas fronteiras.

Existem numerosos conflitos aber-

tos, e documentados, de violaçons dedireitos humanos por parte deempresas espanholas como a UniomFenosa, Repsol-YPF, Endesa, ENCE,AGBAR, BBVA, etc.

A política pública exterior dogoverno espanhol está exclusivamen-te centrada na defensa dos interesseseconómicos espanhóis, por muitoque falem de luitar contra as des-igualdades na América Latina.

Este monarca tam complacentecom Bush ou com os reis da Arábia oude Marrocos, é incapaz de lhe dizerao presidente norte-americano amais mínima palavra contrária à infa-me agressom contra o Iraque quecausou centos de milhares de mor-tos, mas perde os papéis peranteumha bem fundada acusaçom contraum nefasto ex-presidente espanhol.

Por outro lado, o juiz da AudiênciaNacional espanhola, José MaríaVázquez Honrubia, declarou culpa-dos o desenhador Guilhermo Torrese o guionista Manel Fontdevila deum delito de injúrias ao Príncipeherdeiro, tendo de pagar cada um3.000 euros de multa, com pena decadeia substitutiva em caso de faltade pagamento.

Ainda, em 2007, temos leismedievais que sancionam o ques-tionamento da monarquia; por issosom censuradas publicaçons, e somlevados ao cárcere os que queimamretratos. As ofensas à família realestám castigadas com penas de atédous anos de cárcere.

Todos somos iguais perante a lei,excepto a família real, que carece deresponsabilidade política e jurídica.

Segundo a Constituiçom espanho-la, a pessoa do rei é inviolável e nomestá sujeita a responsabilidade. O reié o símbolo da desigualdade.

ANA PAZ (LISBOA) / Desdehá muitos anos tem sido práticacorrente dos estudantes portu-gueses que têm pretensão aseguir um curso superior demedicina ir a instituições doEstado espanhol procurar essaformação. Em Portugal, abrirameste ano 1.400 vagas para oingresso aos cursos de medicinae as médias para entrada sãoaltíssimas: o aluno com a notamais baixa deu entrada naRegião Autónoma da Madeiracom 17,75 (escala de 0 a 20). Enão é só isso. Um aluno terminaa sua formação básica após seisanos, mais cinco anos de espe-cialidade e após um ano de está-gio tutelado. Com tudo isto,chega-se a médico ou médica,na melhor das hipóteses, comcerca de 28 anos. Esta é a razãopela qual o Estado português sevê na obrigação de contratarjovens do Estado espanhol.

Esta é também a razão pelaqual, desde Junho do correnteano de 2007, os jornais portu-gueses terem vindo a alertarpara a fuga de estudantes paraEspanha. Mas eis que mechama a atenção: agora umagrande percentagem procura aGaliza. E há aqui uma questãolinguística.

A Lei espanhola de 10 deMaio de 2007, aprovada emMadrid ao abrigo do Processo deBolonha e extensiva a todo oterritório do Estado, veio tornarpossível que os estudantes daUnião Europeia não sejam sub-metidos a provas linguísticas decastelhano para entrada, bastan-do apenas a nota de candidatu-ra. Somente as Universidadesda Andaluzia e da Extremaduraaplicaram a prerrogativa de con-tinuar a pedir esse exame lin-guístico. E assim chegaram osportugueses aspirantes a médi-cos à Universidade de Santiagode Compostela. No ano passa-do, conta-se que acederam ape-nas dois alunos, ao passo queeste ano, as matrículas foramcinquenta, um sexto do total

das vagas!Fala-se em ‘invasão lusa’ dos

dois lados da fronteira. Os gale-gos e galegas que se viramimpossibilitados de entrar for-maram uma “comissão de nãoadmitidos” e o resultado para oano que vem pode vir a ser oaumento das vagas. Porque as300 vagas da Universidade deCompostela são fixadas a níveldo Estado espanhol, em relaçãocom os hospitais para a aberturae acompanhamento das espe-cialidades e o que agora aconte-ceu é já irreversível.

Todas estas questões da pla-nificação universitária são toda-via apenas o prelúdio para che-gar onde nos importa: o reinte-gracionismo. Duvido que maisdo que meia dúzia destes alu-nos que vêm para ‘Espanha’tenham consciência linguísticado galego, e muito menos doreintegracionismo. A Galiza éuma escolha natural por razõesde proximidade, para uma parteda população portuguesa. Dogalego, já se ouviu falar, umacoisa medieval que se dava naescola. Outros tempos e járemotos, para os jovens aspiran-tes. Se existe uma lei que per-mite que dominem apenas oportuguês no momento daentrada, tanto melhor.Dominarão sem problema o‘espanhol’ e o ‘galego’, isso já odizia José Ramón Leis Fidalgo,o director Geral deOrdenamento e Qualidade doSistema Universitário daGaliza.

Parece-me uma equação fácilde realizar. Se existe um contin-gente de falantes portuguesesque vão ficar a viver na Galizadurante pelo menos os anos docurso de Medicina, ficarão atéque aprendam eles a falar o gale-go oficial, convencendo-se deque esse é o galego? Ou procu-rar-se-á fazer uma sensibilizaçãoa esta população e até mesmousar os seus conhecimentos parao reintegracionismo?O ano lectivo acaba de começar…

ANDA NERVOSO O BOURBON ‘CAMPECHANO’Desde que o juiz Del Olmo ordenou seqüestrar a revis-ta “El Jueves” por injúrias à Coroa e se começárom aqueimar retratos régios, o Bourbon nom para de apare-cer na imprensa fazendo que trabalha, presidindo actosde todo o tipo, visitando as colónias de Ceuta e Melilha,

e mostrando o seu patriotismo empresarial na cimeiraibero-aamericana; parece que quer aparentar ser umimprescindível defensor dos interesses do Estadoespanhol, nom venha a ser que tenha que ir para o des-emprego com toda a família mais cedo do que tarde.

NOVAS DE ALÉM MINHO

Medicinaalternativa

“DUVIDO QUE MAIS DO QUE MEIA DÚZIADESTES ALUNOS QUE VÊM PARA ‘ESPANHA’TENHAM CONSCIÊNCIA LINGUÍSTICA DOGALEGO, E MUITO MENOS DOREINTEGRACIONISMO”

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 09PALESTRA

Édifícil entender que haja quemrecuse os direitos que reclamamospara qualquer pessoa trabalhadora

às mulheres que exercem a prostituiçom.Acaso nom som elas trabalhadoras? Nomtrabalham? Mesmo para quem pensa queesse trabalho nom deve existir. Enquantoexistir e ocupar milhares de pessoas, maio-ritariamente mulheres, que fazer? Mantê-las em situaçom de 'nom'?.

Pode-se admitir que, dado que um sec-tor da populaçom -tam grande como sequiger- nom gosta de que as mulheresexerçam sexo comercial, as trabalhadorasdo sexo sejam privadas de direitos?.

Lembro quando luitávamos (1976 emdiante) polo divórcio e polo aborto livre.Havia sectores sociais que se opunham,nomeadamente no caso do aborto - queidentificavam com assassinato.

O modo de raciocinar nom é agora diferen-te. Como eu nom estou de acordo (porque aprostituiçom é violência contra as mulheres,é umha forma de escravatura, é…), nompodem ser regulamentados os direitos dastrabalhadoras do sector. Que se arranjem!.

Que continuem a ser invisíveis e quecontinue oculta a responsabilidade quena sua exploraçom e nas duras condiçonsde vida e trabalho, designadamente asmigrantes, tenhem diversos agentessociais (nom só as redes, máfias e proxe-netas, únicos invocados) tais como admi-nistradores, políticos, donos de negócios,polícias, advogados, comerciantes e evi-dentemente, também, as associaçonsassistenciais que vivem disto.

Primeiro e principalmente, é preciso aco-meter a protecçom das mulheres que trabal-ham no sector através do reconhecimentodos seus direitos e de ir quebrando o estigma-mácula perpétua que arrasta a prostituta.

A existência generalizada da prostitui-çom feminina é umha conseqüência dadesigual distribuiçom dos recursos econó-micos por género (como o trabalho domés-tico). A presença maciça de imigrantes

confirma-o. O acesso à prostituiçom éumha via sempre aberta. Umha opçomeconómica. Um trabalho pior visto e mel-hor pago. E como é rentável usa-se o estig-ma para "a desalentar".

Porque é permitido às mulheres propor-cionarem sexo grátis e nom, porém, nego-ciarem o sexo sem desafiar um bom núme-ro de leis reais ou simbólicas?.

Se quase todas as pessoas vendemos algopara podermos comer, porque vender sexoé considerado o pior?.

É indigno o sexo excepto quando se faipor amor e com sentimentos 'puros'?

E quando se fala de punir os clientes -pri-vando as prostitutas dos seus meios de vida-a pregunta é: 'que pode haver de mau emprocurar sexo?' E se nom o obténs de formagratuita, o que é criticável do facto de o paga-res, sempre que cumprires os tratos?

A questom da prostituiçom é complexa enom é um fenómeno homogéneo. É esseprisma de que nos fala Gail Pheterson,através do qual se obtém um olhar dife-rente do funcionamento da cultura.

Brevemente:1. A questom da prostituiçom interessa a

todas as mulheres. Às feministas em parti-cular. As prostitutas som mulheres.

2. O estigma das putas é "umha maneirasocialmente desenvolvida de todas sermoscontroladas" (JULIANO:2002).

3. Importa que as trabalhadoras do sexo seconstituam como sujeitos sociais e de direi-tos e que o reconhecimento dos seus direitossirva para lhes dar poder e assim melhorar assuas condiçons de vida e trabalho e que issorepercuta na sua afirmaçom pessoal e na nor-malizaçom das suas actividades.

4. Liberdade para as mulheres, para fazerdo nosso corpo e do nosso sexo o que nosapeteça sem que Igreja, ciência, Estado…falem e decidam de nós e por nós. Nem paranos salvar nem para nos redimir.

Nanina Santos forma parte da redacçom deANDAINA, revista galega de pensamento feminista

Direitos para asprostitutas, porque nom?

NANINA SANTOS CASTROVIEJO

PALESTRA

Prostituiçom: abolir ou regular?

NGZ / Recuperamos um intrincado debate de difícil síntese. Perante a problemática gera-da à volta da prostituiçom, qual é a soluçom mais apropriada? Regulá-lla para dotar dedireitos as prostitutas ou aboli-lla para evitar com leis que se produzam os abusos que gera?Duas feministas exponhem as suas argumentaçons, destacando os pontos fortes que defen-

de cada umha das posiçons. No seio do nacionalismo ainda nom se pode dizer que existaumha tendência dominante; antes parece que o debate continua tam enquistado como anosatrás, perante a impossibilidade de soluçons intermédias. NOVAS DA GALIZA volta ao regopara dar voz às diferentes posturas e clarificar o que cada umha delas propom.

MILITANTES FEMINISTAS OFERECEM AS SUAS PERSPECTIVAS A RESPEITO DESTE CONTROVERSO DEBATE

IMPORTA QUE AS TRABALHADORAS DO SEXO SE CONSTITUAM COMO SUJEITOS DE

DIREITOS PARA GANHAREM PODER E ASSIM MELHORAREM AS SUAS CONDIÇONS

Uma realidade invisibilizada mas evi-dente aos gritos, envolvida numaaranheira de mitos, tabus, interes-

ses... e várias mentiras fundamentais.Mentira primeira: o ofício mais antigo

do mundo -mesmo se a primeira prostitui-ção foi a 'sagrada', antes que putas as mul-heres foram sacerdotisas, mediadoras entrea humanidade e a divindade feminina(ainda hoje os padres cristãos vestemsaias...). Hábil truque do sistema, colocar-nos desde o primeiro momento na posiçãode servir, ser Evas e putas, como se asLilith e as deusas nunca tivessem existido.

Uma outra mentira: sexo livre! Tersexo com alguém que não o deseja não éuma expressão da sexualidade humana,é uma expressão de poder, e por isso fazparte da sexualidade masculina. E mil-hares de homens fazem a diário o quenão podem fazer ou dizer a outras mul-heres, dominar, às vezes subtil e outrasbrutalmente. Se tendes reparado nasmensagens da maioria das canções deamor, vereis que são uma penosa mani-pulação da realidade; como o modelooficial de sexualidade masculina (efeminina) também é. Estão os homensdispostos a fugir dos seus próprios este-reótipos? De momento parece que não...

Terceira mentira: abolir é proibir. Eproibir a prostituição é como pôr diquesao mar, e condenar à clandestinidadeperpétua umas mulheres que existem eexistirão. Mas não é a mesma cousa,nem se parte dos mesmos supostos.Assim como a prostituição não nasceucom a humanidade, não tem que morrercom ela; como tampouco o matrimónio,por exemplo. Ambos nasceram com umaforma concreta de organização social, opaatriarcado, que queremos abolir, quedesapareça. Claro, isto é utopia... mas éa que defendemos face a um mundosimplesmente inaceitável.

O abolicionismo não tenciona proibircastigando as prostitutas, mas terminar

com uma procura, um privilégio, com umaexpressão mais do poder que os homensexercem sobre as mulheres. Neste mode-lo a lei castiga a quem procura e oferecealternativas às mulheres; na Suécia 60%das prostitutas acolheram-se a ajudasintegrais para mudarem de actividade.Mas no mundo globalizado em que esta-mos, o negócio deslocou-se aos paísesvizinhos. Na Holanda, onde foi legalizada,diminuíram os bordeis e aumentou o trá-fico de mulheres sem regularizar, comotambém a prostituição infantil.

Julgamos as mulheres que se prosti-tuem porque está mal "vender o corpo"? Ecada quem é livre de fazer o que quisercom o seu corpo, isso diz o feminismo! Ecom o corpo das demais pessoas? Estábem comprar sexo a uma pessoa que sevende porque necessita de dinheiro? Aliberdade que nós questionamos não é ade vender, é a liberdade de comprar doshomens num mundo onde continuam ater o poder. Pode haver uma prostituiçãojusta, num mundo onde as mulheres nãosomos cidadãs plenas? Pode haver umaprostituição livre num mundo onde omáximo valor é o económico? As realida-des concretas das mulheres prostituidasnão têm porque ser sempre de tragédiaspessoais, vítimas de todos os males semcontrolo sobre a sua vida; mas o que sabe-mos todas e todos é que quem paga,manda (outra 'lei de vida'). O dinheiromove o mundo, move as mulheres de paí-ses empobrecidos para serem 'consumi-das' no mundo rico, e homens do mundoocidental para consumirem sexo (mulhe-res, homens, crianças) nos países de ori-gem com maior facilidade.

Como dizia um lema das MulheresNacionalistas Galegas há muitos anos:"Entre o sim à prostituta e o não à prosti-tuição, só cabe uma revolução!".

Mónica Gonçalves é militante deMulheres Nacionalistas Galegas

Prostituição: sexo,mentiras... e muito dinheiro

MÓNICA GONÇALVES

ESTÁ BEM COMPRAR SEXO A QUEM SE VENDE PORQUE O NECESSITA? O QUESTIONADO

É QUE O FAGAM OS HOMENS NUM MUNDO ONDE CONTINUAM NO PODER

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200710 ENTREVISTA

“É necessário que a gente saiba que tem poderpara mudar a realidade que nos querem impor”

XABIER XIL / A Serra da Grova abrange as comarcas do Val Minhor e do Baixo Minho. É umterritório livre até hoje de qualquer tipo de poluiçom industrial e paisagística. Trata-sse deum lugar cheio de mámoas, petróglifos e mais restos arqueológicos e etnográficos, e comumha grande riqueza ecológica e paisagística onde habita a maior reserva de cavalos de raçagalega e com treze espécies de aves silvestres protegidas e três de morcegos. Mas também

é o lugar onde a empresa Eurovento pousou os olhos para projectar o parque eólico AlvarinhoI, que já no nome deixa claro que pretende que seja o primeiro, mas nom o último. Falamoscom Xosé Lois Vilar, arqueólogo e historiador, bom conhecedor da Serra da Grova e presiden-te da plataforma SOS Grova, para que nos explique a situaçom do movimento vicinal contrao projecto. Ele dá-nnos as chaves do conflito, e também as soluçons.

Como se entende que alguémpretenda instalar um parque eóli-co das características do AlvarinhoI num conjunto etnográfico,arqueológico, ecológico e paisagís-tico como a Serra da Grova?Pois porque esse parque eóliconom o instalamos os vizinhos doVal Minhor. Se a sociedade civil epolítica do Val Minhor decidisseser autárquica energeticamente,nós decidiríamos onde e comoqueremos instalar este parque eóli-co danificando o menos possível omeio natural. Polo contrário, o quevem para a Serra da Grova é umhaempresa que se chama Eurovento,na qual participa com 50%Acciona, de Fenosa, e com outro50% umha empresa de investi-mento japonesa. Entóm, tanto lhesdá montarem cá um parque eólicocomo pôr zumha barragem de pro-duçom eléctrica no Vale do Bio-Bio, no Chile, expulsando dali mil-hares de índios mapuches. É ogrande capital que se nos está ameter nos terreios mais baratos daGaliza, que som os montes.

Mas esses montes nom somterreio industrial, ou?Nom som terreio industrial, maseles som-che mui cucos; o proble-ma de base da instalaçom de par-ques eólicos encontra-se na legisla-çom, porque no Plano Eólico dogoverno de Fraga de 1997, e pormeio do decreto 302/2001, estetipo de iniciativas som declaradasde utilidade pública. E nós dize-mos que de utilidade pública seriase os vizinhos consumíssemos aelectricidade que se gera. Mas aGaliza produz nestes momentos28.000 megavátios de potência,dos quais som exportados 8.000, demaneira que deixa de ser um bemde utilidade pública para a nossanaçom e converte-se numha mer-cadoria da qual os únicos que tiramproveito som os empresários.

E que tenhem a dizer as cámarasdos concelhos afectados?Como muito emitem um relatório,se querem, e nom vinculante. Istovem de cima e chamam-se PlanosEmpresariais de Produçom Eólica,que solicitam instalar-se nosterreios mais baratos que há.

Como som recebidas as reivindica-çons de SOS Grova por parte dasdiferentes agrupaçons políticas?De diferentes maneiras: em Oiatemos umha resposta parcial dopresidente da Cámara, dizindo-nosque nos vai chamar depois de tentarfalar com ele cinco vezes; emBaiona houvo um acordo plenáriode todos os grupos políticos da opo-siçom ao parque eólico; em Nigrám,já se pronunciárom vários grupos eno vindouro dia 28 de Novembrovotarám também contra o parque; eestamos à espera de Gondomar eTominho, onde ainda nom exterio-rizárom as suas posturas.

Em que altura estamos do proces-so de licitaçom do parque eólico?O processo vai ser longo, graças aque SOS Grova tornou públicoeste projecto, porque essa é outra:é impensável que no século XXI sevaia instalar um parque eólico numterritório como o da Grova e asociedade civil nom saiba nada.Nós já o dixemos aos políticos deturno. Os técnicos municipais e osda Junta tenhem a obrigaçom deirem às aldeias informar do macro-projecto que irá no monte, e nomme vale de nada que ponham aescusa de que sai no DOG. Porqueo que nom se pode admitir é quetenha que ser a sociedade organi-zada a que faga o trabalho quecorresponde aos políticos. E o queainda é mais grave: o argumento

que há dous anos empregava Ánxe-la Bugallo para defender na Europaa candidatura do património ima-terial galego-portugués (toponímiaque ficará dilapidada polo parque,restos arqueológicos, mesmo amaior reserva de cavalos de puraraça galega e que há na Grova)agora nom serve, e pretendem darcabo disso com um parque eólico.Como se explica esta contradiçom?Ademais, este plano contradi setedirectivas europeias referidas àprotecçom de aves, anfíbios e mor-cegos e, por se fosse pouco, afectaaqüíferos dos quais se abastecemas freguesias todas.

Som conscientes as comunidadesde montes do Val Minhor daimportáncia da Serra da Grova?Sabem realmente o que tenhementre as maos?Nom. A sociedade civil está total-mente desinformada, que é o queinteressa ao grande capital e aoEstado. Nós já estivemos emBarrantes, em Pinçás, em Bainha,em Torronha, e vamos continuar apercorrer as paróquias informandoa gente, e quando lhes falamos dariqueza arqueológica que tenhemna Serra da Grova ficam abraiados eassinam em massa contra o parque,porque pola primeira vez alguémlhes explicou o que lhes vam armarno monte na realidade. É por istoque, apesar de todo, confiamosplenamente na gente e estamos

contentíssimos do nosso trabalho,e é preciso que a gente saiba quetem poder para mudar a realidadeque nos querem impor, e isso noVal Minhor já o temos constatadoem luitas vicinais anteriores.

De que tipos de agressom aopatrimónio estamos a falar?A serra da Grova está inçada deBIC (Bens de Interesse Cultural),que é a máxima protecçom queconcede a Lei do PatrimónioCultural da Galiza. No coraçom doparque eólico projectado temos asruínas de um castelo medievalesbarrulhado polos Irmandinhosno séc. XV; o maior labirinto petro-glífico da Europa; umha das maio-res armadilhas de lobo de toda aGaliza, ainda sem catalogar; mina-ria romana nas Minas da Gata emPinçás e um cemitério neolítico. Epassam absolutamente por riba detodo, com pistas e moinhos,enquanto que um particular nompoderia tocar nem numha pedra.

E se as comunidades de montesse negassem a ceder os terreios?Durante o governo do PP as expro-priaçons eram forçosas, e o terreioexpropriado pola força paga-se aseis euros o metro quadrado. AConselharia da Indústria do BNGsuavizou um pouco esta medida,mas exige-se às comunidades demontes que polo menos cedam60% das suas terras.

E o relatório de impacto arqueoló-gico nom tem nada a dizer?O relatório de impacto arqueológi-co e etnográfico fai-no a mesmaempresa, e esse é o primeiro pontoque há que reformar. O relatório

omite muitíssimas cousas, já sejapor incompetência ou por negli-gência: quando na parte afectadapolo parque há mais de 70 pontosarqueológicos, eles ponhem 30, eomitem todos aqueles elementosarqueológicos documentados. Nósjá o comunicamos todo ao directorgeral de Património, eu nom seicomo vam actuar.

Quantas serras da Grova nomhaverá na Galiza?Pois umha cheia delas. O que acon-tece é que levávamos demasiadosanos com umha política abusivado PP, com a qual parece que que-rem continuar agora. A Galiza pro-duz já 4.500 megavátios de energiaeléctrica por meio de parques eóli-cos e está inçado o Gistral, asPassareiras em Carnota, o Suído, oCondado-Paradanta, o Larouco,etc. A UE, que nos restringiu a pro-duçom leiteira, que nos tirou apesca em Marrocos, que nos tirouos estaleiros, etc., agora oferece-nos 2.500 megavátios mais de pro-duçom eólica, um presente enve-nenado para a Galiza, que é a maiorprodutora de energia eólica domundo por quilómetro quadrado.Eu penso que é o momento já deparar para planificarmos outraGaliza totalmente diferente edecidirmos que modelo de paísqueremos. Senom, continuaremosa ser um número mais em Madrid,onde vam decidir por nós, porexemplo, a instalaçom de parqueseólicos marítimos. Nós nom somoscontra a energia eólica, mas sim decomo se está a levar todo e dos cri-térios que se empregam. Só umdado mais, e finalizo: nos dias dehoje temos mais de mil moinhosinstalados dentre 0,4 e 0'6 mega-vátios; se estes moinhos já instala-dos os substituirmos por uns de2,4 como os que estám projectadosna Grova, multiplicamos a produ-çom por quatro sem necessidadede violar mais Grovas na Galiza. Senum país normalizado dispuges-sem do património natural earqueológico que temos cá, esta-riam felizes de terem e promocio-narem isto, mesmo que só fossepara orgulho nacional próprio, masé que ainda por cima está todo porestudar e por valorizar.

XOSÉ LOIS VILAR, PRESIDENTE DA PLATAFORMA SOS GROVA, DEFENDE A CONSERVAÇOM DA RIQUEZA NATURAL DA SERRA

Xosé Lois Vilar: “O relatório de impacto arqueológico e etnográfico fai-noa mesma empresa, e esse é o primeiro ponto que há que reformar”

A sociedade estádesinformada, oque interessa aogrande capital eao Estado. Vamoscontinuar a percorreras paróquias econfiamos na gente

ENTREVISTA

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 11OPINIOM

OPINIOM

Osistema neoliberalmundial, esse em queo culto ao Deus dinhei-

ro - religiom também, ópio dopovo sempre -prevalece sobre adignidade e a soberania dospovos, nom mudou de estratégianos últimos 150 anos. Se a épocado colonialismo, em que se ali-cerçou a revoluçom industrialque aproximou do Norte globalessa teima consumista chamadaestado do bem-estar, se caracte-rizou por umha detracçom sel-vagem de recursos naturais noSul global, hoje continuamos namesma. Mas agora a detracçomtambém é de identidades nacio-nais, de sistemas de produçomautóctones, de conhecimentotradicional, de princípios acti-vos, de genes, de espécies…Todo vale, todo é privatizável,todo é susceptível de engordaros amos das bolsas mundiais. Osmercados já nom som de divi-sas, nem de acçons, petróleo oucereais, som mercados de vidas.

Ogano as empresas governam,os governos obedecem e os cida-daos e o orbe padecem. A Repsolesnaquiza parques nacionais boli-vianos deslocando comunidadesindígenas completas. Fai omesmo no Equador e na terra dosmapuches. A Endesa tem denún-cias polas suas actuaçons no Bio-Bio chileno. A Ence passa porcima da populaçom pretendendo

instalar umha macrocelulose noUruguai. A Calvo submete os tra-balhadores e trabalhadoras equa-torianas a detectores de menti-ras. As sardinhas e bocartes aus-trais já nom alimentam a gente,senom os salmons da Pescanova.O centro do sistema medra soca-vando a dignidade da periferia. Ehá cínicos que se atrevem a dizer"Porque nom te calas?".

A Galiza, no seu contexto,nom é diferente. Estamos nocentro do sistema global, é ver-dade, mas na periferia desse cen-tro. Para a Europa e para a mamáEspanha somos o seu TerceiroMundo particular. Basta com-provar como a nossa terra dá luza Espanha inteira à custa dosseus rios, dos seus montes inça-dos de moinhos de vento ou do

seu ar poluído por insustentáveistérmicas que operam pondo emperigo e deslocando a popula-çom com monstros como aReganosa. E agora também lhestemos que dar de comer.

O plano aqüícola da Junta,feito a meias entre Fraga eTouriño - com a silenciosa cum-plicidade nacionalista -, preten-de roubar ao povo 3,3 milhons demetros quadrados das suas pai-sagens mais prezadas para cedê-lo às transnacionais do peixe,nomeadamente a Stolt Sea Farm- com matriz no paraíso fiscal doLuxemburgo -, que substituiu noPSOE as preferências do PP coma Pescanova. Nom temos prece-dentes de semelhante ocupaçomno litoral alheio às rias.

É um plano para a fabricaçom

intensiva de peixes planos,sobretudo do rentável rodovalho,no qual as subvençons públicasfarám que as galegas e os galegosfinanciemos durante anos os gas-tos de produçom das empresas.Neoliberalismo puro: socializar ogasto e privatizar o ganho, umhavez que os tecidos produtivosgalegos ficam fora das previsons.Nem umha cooperativa, nemumha sociedade feita polos docomum poderá aceder a estegorentoso oferecimento.

A Galiza produz da ordem de3.800 toneladas de rodovalhosartificiais. A Europa inteira5.300. Contodo, o FundoEuropeu de Pesca destina maisde 70% dos seus investimentospara a Galiza à produçom piscí-cola. O resto, se calhar, será parao desmantelamento de frota.Com a bênçom espanhola, aEuropa pretende dizer-nos que opovo galego já nom é um povo demarinheiros, que devemos mudarem piscicultores mal assalariadospor um par de transnacionais e assuas ETT's. Pretendem obrigar-nos a que soframos o gastoambiental das suas insustentáveisactividades económicas. Porquesom só isso, actividades económi-cas, nom alimentares. Sim, conti-nuamos na mesma.

Manoel Santos é membro da PlataformaMeio-Ambiental de Corrubedo

No terceiro mundo da EuropaMANOEL SANTOS

OGANO AS EMPRESAS GOVERNAM, OS GOVERNOS OBEDECEM E OS CIDADAOS E O ORBE PADECEM. O CENTRO DO SISTEMA

MEDRA SOCAVANDO A DIGNIDADE DA PERIFERIA. E HÁ CÍNICOS QUE SE ATREVEM A DIZER “PORQUE NOM TE CALAS?”.

ESTAMOS NO CENTRO DO

SISTEMA GLOBAL, MAS NA

PERIFERIA DESSE CENTRO.PARA A EUROPA E A MAMÁ

ESPANHA SOMOS O SEU

TERCEIRO MUNDO

PARTICULAR. BASTA

COMPROVAR COMO A

NOSSA TERRA DÁ LUZ A

ESPANHA INTEIRA À CUSTA

DOS RIOS, DOS MONTES

OU DO AR POLUÍDO.PONDO EM PERIGO A

POPULAÇOMCOMMONSTROS

COMO A REGANOSA.E AGORA TAMBÉM LHES

TEMOS QUE DAR DE COMER

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200712 A FUNDO

Setecentos mil metros quadrados maispara a piscicultura do que com o PP

RAIMUNDO SERANTES / Serám 26parques de cultivo numha superfí-cie de 3,2 milhons de metros qua-drados, frente aos 2,5 que recolhiao Plano do governo Fraga. Afinal, opropósito do bipartido nada tinha aver com a revisom da aqüiculturaem terra como sector estratégico.Tratava-se apenas de salvar osentraves postos por uns 'espaçosprotegidos' que, mais do quebarreiras para impedir que a 'lei doOeste' se imponha em assuntos deordenaçom territorial, parecemperfeitos para camuflar a falta decompromissos sérios com a protec-çom do ambiente. Mas nemsequer os espaços preservados polaRede Natura escapárom, com onovo Plano, à ansiedade produti-vista da Stolt Sea Farm ouPescanova. Já porque som cercadospolos viveiros a escassíssimosmetros já porque som atravessadose penetrados por instalaçons debombeio de água, nem sequer apreservaçom dos mesmos poderáser salientada como diferença emrelaçom ao Plano Sectorial deOrdenaçom Territorial de Parquesde Tecnologia Alimentar que que-ria levar avante Fraga.

Galiza: terceiro mundodo Ocidente europeuO governo galego e o clúster aqüí-cola detenhem-se sobretodo numargumento, que a sociedade receberepetidamente: o de a Galiza estara impulsionar um sector estratégi-co. Porém, a piscicultura em terrasó representa 1'8% do sector aqüí-cola na Galiza, dando emprego acerca de 520 pessoas. Polo contrá-rio, a aqüicultura no mar e os par-ques de cultivo marisqueiro, geri-dos por empresas e cooperativasautóctones emprega 10.000 pesso-as. Os colectivos afectados insistem

na desproporçom desta incidênciasocioeconómica, sobretodo criti-cando os 400 milhons de euros emconceito de subsídios públicos queas transnacionais piscícolas vamreceber, apesar do impacto ambien-tal e paisagístico que vam produzir.A multinacional mais beneficiadapor estas quantias que vam pagaraté 50% da construçom das unida-des de produçom será a Stolt SeaFarm, umha empresa luxembur-guesa que começou a sua trajectó-ria na Noruega, país onde só pode-ria explorar a aqüicultura no mar,umha vez que a legislaçom localrestringe a mesma piscicultura deterra que na Galiza vai usar maisde 3.000.000 de metros quadradosde litoral. Como acontecera outro-ra com o monocultivo do eucaliptoe as papeleiras, Galiza, Portugal eem geral os países com problemaspara seguir o ritmo de desenvolvi-mento económico do resto daEuropa, convertem-se nas vítimas

da instalaçom de indústrias de'enclave', comportando-se comoterceiro mundo europeu.

Porque ocupam os cabos?Metade dos 26 pontos do litoralescolhidos para instalar os viveiroslindam directamente com o territó-rio da Rede Natura e costumam ser

cabos ou promontórios. Este é umdos principais problemas ambientaisque provocam, pois os espaços escol-hidos terám que ser necessariamen-te virgens, já que necessitam águado mar mui limpa para poderemreproduzir o habitat dos rodovalhos.A qualidade da água, segundo oPlano Aqüícola Galego, é condiçomindispensável: "deve ser batida,limpa, oceánica [...] e permanecerlonge de pontos de despejos domés-ticos ou industriais." A este problemaunem-se outros que tenhem a vercom a produtividade e o investimen-to realizado polo clúster da aqüicul-tura. O sector pretende atingir30.000 toneladas de produçom em15 anos e, segundo a Conselharia daPesca, esta produçom seria impensá-vel se nom fossem dedicadas maisde 400 hectares de ocupaçom às uni-dades piscícolas. Mas nom é este oúnico ponto em que a rentabiliza-çom do investimento do clústeraqüícola, fortemente financiado com

dinheiro público, passa por cima do,esse sim estratégico, desenvolvi-mento sustentável do litoral afecta-do. Segundo o Plano da Conselharia,"outra condiçom necessária é a exis-tência de zonas com quotas de alti-tude relativamente baixas. Umhamaior altura implica umha maiorelevaçom de água do mar e portantoum maior consumo de energia nasbombas hidráulicas". Por causa disto,as instalaçons som colocadas ao pédo mar. O BNG, pressionado polacontestaçom popular, argumentavaque talvez neste ponto o Planopoderia ser revisto, pois "o territórionom deve pagar a engorda das trans-nacionais piscícolas".

Qualidade das águasA poluiçom das águas é outra dasgrandes preocupaçons do movimen-to ambientalista, que assinala, peran-te os que dim que as próprias empre-sas seriam as prejudicadas com apoluiçom, que as instalaçons piscí-colas "pretendem ocupar os promon-tórios para disporem de umha ense-ada de entrada e outra de saída deágua a cada lado do cabo ocupado."As empresas nom utilizam as águasda enseada de saída, por conteremefluentes que as tornam impróprias.Os milhons de metros cúbicos deáguas contaminadas que as instala-çons piscícolas estám a deitar para omar, segundo a Adega, incluem pei-xes mortos dissolvidos em ácido fór-mico. A Stolt Sea Farm reagiu viru-lentamente, anunciando empreen-der acçons legais contra a organiza-çom ambientalista e dizendo que os"parámetros da saída de água para omar som similares aos de entrada".

O velho e o novo PlanoDas 26 localizaçons propostas polonovo Plano, 18 figuravam no PlanoSectorial do PP, que propunha 21.

O Plano Aqüícola impusionado pola conselheira de Pesca Carmen Gallego nem sequer respeita os espaços preservadospola Rede Natura. A ansiedade produtivista da Stolt Sea Farm ou da Pescanova imponhem-se nas decisons da Junta

A FUNDO

Quando Emilio Pérez Touriño ganhou as eleiçons em Junho de 2005 necessitou, comonecessitara Zapatero meses antes, de algo que anunciar. À falta de tropas que retirar, o sím-bolo da mudança foi a interrupçom do plano piscícola que o Conselho da Junta do GovernoFraga tinha aprovado aceleradamente meses antes. Na altura, o cabo Tourinhám simboliza-

va a ameaça de sepultar com betom milhons de metros quadrados dos locais mais valiosos dacosta galega. Mais de dous anos depois, salvada a excepcionalidade de certos espaços prote-gidos, o asfaltamento do litoral para a situaçom de unidades de piscicultura reforça-sse commais viveiros e muitíssimo mais espaço costeiro para a instalaçom dos mesmos.

A PLANIFICAÇOM DA JUNTA PREVÊ SEPULTAR 320 HECTARES DE LITORAL EM BENEFÍCIO DAS TRANSNACIONAIS DO SECTOR PISCÍCOLA

A piscicultura emterra só representa1'8% do sector,dando emprego a só520 pessoas. A Juntajustifica-se aduzindodefender ‘interessesestratégicos’

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No fecho desta ediçom, a Stolt Sea Farm voltava autilizar a ameaça de deslocalizaçom para pressionara favor dos seus interesses. O detonante é o factode o Ministério do Ambiente nom ter aceitado arenovaçom da concessom dos terrenos em que sesitua o viveiro de Merejo (Mogia), vencida no mêsde Agosto, segundo publica Galicia Hoxe. A estra-tégia, que consiste em anunciar deslocalizaçonscomo conseqüência das políticas ambientais locais,deve estar a funcionar, umha vez que em menos deum ano foi utilizada polas duas principais empresasaqüícolas instaladas na Galiza. De facto, aConselharia da Pesca, desautorizada com esta ini-ciativa do Governo estatal, apressou-se a assegurarque nengumha empresa terá que abandonar aGaliza, porque já se estám a estudar "diversasopçons" alternativas para tornar rentável às empre-sas o assentamento galaico. NOVAS DA GALIZA jápublicara umha extensa reportagem (nº 51) sobreumha ameaça similar da Pescanova em 2006 paraevitar a que a Junta interferisse nas localizaçonsque mais lhe convinham, e fijo crer aos galegos queo facto de instalar-se em Mira (Portugal) tinha rela-çom com a política ambiental da Junta.

NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 13A FUNDO

Em Corrubedo nom faltou nin-guém. No dia 4 de Novembro, foia capital de Mugardos, do Courele até de Compostela. A tomadade consciência dos 'excluídos' doHórreo vai em aumento e nonacionalismo nota-se certa preo-cupaçom quanto a isso. É comose o descontentamento com apolítica do bipartido estivesse atomar força e a estruturar-se emtorno de conflitos em que atéagora o Bloco sempre tinha tidoum papel protagonista. Algunsmeios de comunicaçom destaca-vam estes dias a escassa conco-rrência de bandeiras com estrelana manifestaçom de Corrubedo einterpretavam este facto comdesafecçom ao BNG. O Bloco

tentou reconduzir a sua posturanum debate televisionado emque Ana Pontón dizia necessárioreconsiderar as instalaçons maispolémicas, que seriam, segundo adeputada, as de Corrubedo eMerejo. Mas nada indica que oBNG vaia votar contra o Plano noConselho da Junta. Umha faixaera clara neste sentido: BieitoLobeira, antes com Nunca Mais eagora com as multinacionais. Oambiente fica descrito numhasdeclaraçons de Manoel Santos emrelaçom ao parecido deste movi-mento com a Nunca Mais: "Emnengum caso se vam voltar aadmitir partidos políticos dentrodos movimentos sociais. E sindi-catos, já veremos".

O Prestige foi o pretexto definitivo para impulsionar a irrupçom maciça da aquacultura

A origem da colonizaçom piscícolaEm Setembro de 2004 NOVAS DA

GALIZA denunciava que a Costada Morte estava a converter-seem moeda de troca do governoFraga para retribuir os contratosda Bazám para construir cinco fra-gatas para o governo da Noruega.No contrato assinalava-se quedeveria haver "contrapartidas

importadoras" e outras "compen-saçons especiais". Nesse contextodevia entender-se o crescentepeso de indústrias multinacionaiscomo a Stolt Sea Farm (StoltNielsen na altura). A crise após oafundamento do Prestige foi opretexto definitivo para impulsio-nar a colonizaçom piscícola.

Destas fôrom descartadas três,mas acrescentadas outras oito.Para a ampliaçom das que já estáma trabalhar exige-se que nom este-jam sobre zonas dunares e, segun-do a Conselharia, tam só 1,8% doterritório protegido será afectadopolo alargamento das mesmas.Para as de nova construçom limi-tam-se as "paisagens de especialreleváncia", mas permitem-seafectaçons pontuais a espaços pre-servados, como as canalizaçons debombeio. A dimensom de cadaumha das instalaçons é brutal, emetade supera 100.000 quadra-dos. Três delas, a de Lago, naMarinha cantábrica, a de Merejo(em Mogia) e a de Quilmas (emCarnota) superam mesmo os250.000 metros quadrados, umhaaposta clara nos macroviveiros muicriticada polos colectivos ambien-talistas, que proponhem um planosubsectorial de piscicultura quereduza em 70% as dimensons dosestabelecimentos de piscicultura,

numha altura em que o próprioFundo Europeu aposta nas peque-nas e médias instalaçons em lugardas macroindústrias.

A Adega mantém o optimismoA Adega foi o colectivo ambienta-lista mais activo contra o novoPlano, fazendo um grande trabal-ho de coordenaçom dos sectoresafectados e de apresentaçom dealegaçons, mais de mil no total.Para a presidenta, Adela Figueroa,o principal problema do plano estáno 'diferencial ecológico', isto é, nadesproporçom existente entre osproblemas ambientais causados,nomeadamente relacionados coma ocupaçom de um espaço litoralque poderá ficar hipotecado porumha actividade económica cujofuturo é incerto, e a escassa inci-dência que tem no PIB e na rentaper cápita da populaçom local. Emdeclaraçons ao Novas da Galiza,Adela Figueroa manifestou ainda asua preocupaçom por "como afec-

ta isto ao conjunto do sector daaqüicultura", que incluiria até apesca litoral, já que o plano, apre-sentado como sectorial e de inci-dência supramunicipal nom é tal,considerando só um subsector (opiscícola de terra) que poderá pre-judicar o conjunto. Finalizado operíodo de alegaçons, quanto àsnegociaçons mantidas polas con-selharias socialistas e o Bloco,Figueroa mostrou-se mais opti-mista que outras vozes, e aindacriticando as evasivas do BNG edo PSOE, tem em conta as últi-mas declaraçons de políticos quecomeçam a sentir o alento da pres-som social. Porém, todo indica queo Plano Galego de Aqüiculturaserá aprovado no Conselho daJunta, evitando mesmo o debateParlamentar. O próprio conselhei-ro do Meio Ambiente resumia asituaçom com umhas declaraçonsexplosivas: para ele é preciso assu-mir que 'potência piscícola' tem'custos ambientais'.

Em Corrubedo nom faltou ninguém. No dia 4 de Novembro, foi a capital de Mugardos, do Courel e até de Compostela / CUT

A Costa da Morte foi amoeda de troca do governoFraga para retribuir oscontratos da Bazám

Os excluídos do Hórreo

Umha estratégia que funciona

Xosé Manuel Beiras destacou perante a ausência de dirigentes destacados do BNG

HEMEROTECA DO NOVAS

Stolt Sea Farm voltoua utilizar a ameaça dedeslocalizaçom parapressionar a favor dosseus interesses

A Conselharia da Pescaassegurou que nengumhaempresa terá que abandonara Galiza. Já estám a estudar“diversas opçons” alternativas

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200714 REPORTAGEM

CENTROS SOCIAISAguilhoarGinzo de Límia

Alto MinhoCatassol, 15 · Lugo

ArtábriaTrav. Batalhons · Ferrol

Atreu!S. José, 8 · Corunha

Baiuca VermelhaPonte Areias

Casa EncantadaBetanços · Compostela

A Casa da TrigaP. Maior · Ponte Areias

A Cova dos RatosRomil, 3 · Vigo

A Fouce de OuroBertamiráns · Ames

A FormigaRedondela

O FrescoP. Abastos · Ponte Areias

Henriqueta OuteiroQuiroga Palacios, 42Compostela

Mádia LevaManuel Amor Meilám, 18Lugo

SRCD PalestinaRua do Ril, 4Burela

A RevoltaReal, 32 · Vigo

Roi SogaRua Travessa, 3Noia

A TiradouraReboredo · Cangas

ALONSO VIDAL / Trata-se de pro-mover e exigir formas de transpor-te nom poluentes e mais sustentá-veis a longo prazo do que o auto-móvel ou outros veículos depen-dentes de energias nom renová-veis. Por se parece umha questommenor, vai apenas um dado: Vigoencabeça a lista de cidades doEstado com maior concentraçomde fumos negros. Segundo estudoscientíficos de solvência, com umparque automobilístico de 160.000veículos, aos quais há que acres-centar os da área metropolitana,triplica a quantidade de fumosnegros por metro cúbico que sofreMadrid. A causa fundamental, otránsito e a orografia urbana.

A novidade da proposta da 'massacrítica' está na espontaneidade daacçom, longe de qualquer interessepolítico partidário ou organizativo.Falamos simplesmente de pessoas ebicicletas à procura de um lugarfrente ao asfalto e a poluiçom.

Nasce involuntariamente na ChinaTodo começa com um documentá-rio de Ted White sobre o ciclismo:Return of the Scorcher. (1992). Nelerecolhia-se um exemplo real ecurioso de unidade que fai força.Nas ruas da China é impossívelque um ciclista atravesse umha ruaperante a grande densidade de veí-culos e a falta de sinalizaçom esemáforos. Assim, cada ciclista quese chega a um cruzamento deveaguardar muito tempo para ter oca-siom de atravessar. Os ciclistas vamchegando e aguardando paciente-mente até que, quando o número ésuficientemente grande (MassaCrítica), podem atrever-se a cru-zar por ser a sua força superior aosdos carros que passam. Daí surgiriao nome do movimento.

As primeiras acçons da 'massa crí-

tica' começam em Sam Franciscoem Setembro de 1992 com a reu-niom de um grupo de ciclistas queno seu passeio pola cidade criavaconscientemente problemas aotránsito motorizado. Queria-se pro-testar assim polas condiçons dotránsito; as pessoas gostárom daexperiência e a mecha prendeu.Tornou-se costume mensal. Nomesmo lugar, à mesma hora. Aespontaneidade dos encontros tor-navam desnecessárias as autoriza-çons oficiais. Aquele primeiro dia, háagora 15 anos, reuniram-se 48 pesso-as. Hoje o movimento da "massa crí-tica" está presente em mais de 350cidades de todo o mundo.

Modelos para o sucessoUm dos aspectos mais interessan-tes desta modalidade reivindicati-va está no facto de nom ser organi-zada nem convocada por ninguém.Ninguém a controla, ninguém sefai responsável por ela. Nom háprotagonismos pessoais, políticosou culturais. Para muitos dos parti-

cipantes esta é a principal novida-de: o seu princípio essencial. Poresse motivo ninguém a tem queautorizar, porque nom é umhamanifestaçom. Usuários de bicicle-tas nas cidades que gostam de pas-sear por ela, de outra forma, reivin-dicando a necessidade de travar obarulho, o tránsito motorizado e apoluiçom, combinam num dia,hora e lugar, e... quantas mais pes-soas, mais 'massa combativa'.

E normas simplesÉ sempre um percurso urbano tra-çado para poder ser cumprido semdificuldade. A velocidade vai deter-minada polo mais lento dos partici-pantes. Durante o passeio, quehabitualmente dura 1,5 ou 2 horas,a ideia que subjaz é a visibilidadeda 'massa' para que a mensagemfuncione. Por isso, os itinerárioscostumam passar polos centros dacidade, evitando ruas estreitas paranom entupir a circulaçom. Muitasvezes nem os itinerários estam pre-fixados. Os ciclistas que circulam à

cabeça vam dirigindo e cuidandoque a marcha seja fluida. Sempre serespeita o peom por ser um aliado.As faixas de bus e táxi sempreficam livres para facilitar o trabalhodos profissionais do sector, e tenta-se evitar o confronto com os auto-mobilistas, ainda que nem sempreseja possível se a 'massa' for densa.Como a finalidade é ludico-reivin-dicativa e a intençom também édivertir-se, muitos participantesdas marchas animam-nas com fai-xas, disfarces ou cantando palavrasde ordem a favor da bicicleta.

Em Portugal e na GalizaAs MC também som conhecidas nospaíses lusófonos como bicicletadasporque a maioria dos participantesdesloca-se de bicicleta. Em Portugalhá 'massa crítica' em Lisboa, Porto,Coimbra, Aveiro e Portimão. EmLisboa tenhem início no Marquêsde Pombal, no Porto começa naPraça dos Leões, em Coimbra noLargo da Portagem e em Aveiro naPraça da Ponte. Sempre som à últi-

ma sexta-feira de cada mês, às18h00, "faça chuva ou faça sol".

Na Galiza do desenvolvimentourbanístico incontrolado, do cimen-to, tijolo e alquitram, os ciclousuá-rios e ciclousuárias, que agora come-çam a organizar as primeiras 'mas-sas' nas principais cidades, queremampliar a mensagem demandandoatençom sobre a necessidade dereumanizar estes espaços. "Um ele-mento fundamental nessa humani-zaçom é a bicicleta", afirmam. Nomse trata unicamente de um meio detransporte, é também "um elemen-to socializador, de saúde, libertador,divertido, que além disso contribuipara a nossa mobilidade". É o instru-mento simbólico à procura de umhaviragem das políticas urbanísticas ede relaçom das nossas cidades evilas, onde o transporte públicodeve primar frente ao automóvelparticular. Para a 'massa crítica gale-ga', o uso preponderante da bicicle-ta "implica umha atitude vital, derespeito ao meio ambiente e às pes-soas; por esse motivo deve desem-penhar um papel central na mobili-dade urbana e interurbana".

No nosso país tenhem-se reali-zado bicicletadas nas cidades ondehá "massa crítica" (Corunha,Ourense, Compostela e Vigo), poragora ainda sem muita participa-çom, mas crescendo o seu número.No passado dia 22 de Setembro,tivo lugar a 1ª Massa Crítica Galegacom ciclousuários de toda a Galiza.Saiu da Alameda de Compostela, eterminou num jantar colectivo noParque de Bonaval e a projecçomdo documentário "Return of theScorcher" no centro social OPichel. No próximo dia 23 deNovembro incorpora-se Ferrol àlista das cidades com 'massa críti-ca'. A primeira bicicletada ferrolanapartirá às 18h00 da Porta Nova.

Tenhem-se realizado bicicletadas na Corunha, Ourense, Compostela e Vigo

Nom é só ummeio, é também

“um elementosocializador, de

saúde, libertador,divertido, que

contribui para anossa mobilidade”.

Um instrumentosimbólico à procura

de viragens naspolíticas urbanísticas

REPORTAGEM

A Massa Crítica chega à Galiza àprocura de um espaço entre o asfalto Com o nome de Massa Crítica (MC) conhece-sse um movimento ambientalista, consciente-mente desorganizado que se está a espalhar por muitas cidades do mundo e que agora come-ça a chegar com certa força à Galiza. A ideia básica é a luita e conscientizaçom contra a polui-çom urbana mediante passeios de bici, patins, skats, auto-oorganizados e independentes e nos

quais geralmente apenas se conhece o local e hora de saída. Claramente existe um carácter deprotesto nesses eventos: os participantes demonstram as vantagens de usar a bicicleta comomeio de transporte nas cidades e exigem, com as suas acçons pacíficas 'de tomada da rua',mudanças necessárias no espaço urbano para facilitar a locomoçom nesse meio alternativo.

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SOLE REI / Por volta de nove milpessoas ciganas vivem na Galiza,segundo dados da FundaçomSecretariado Cigano, e apenasum terço delas reside em infravi-vendas. Na cidade de Vigo a per-centagem é de 2,5%, mui similarà de Ponte Vedra, e em Santiagode Compostela o favelismo é jáum fenómeno erradicado. A ciga-na é a etnia maioritária nosassentamentos de favelas queainda existem, mas encontramoscasos como o dos moinantes, emCarvalho, que malvivem tam-bém em núcleos marginaiscarentes das condiçons básicasde salubridade. Assim, parecemais apropriado pensar na espi-ral de precariedade económica-exclusom social como factor quedificulta o desenvolvimento decertos grupos de populaçom.

A sedentarizaçom do povo ciga-no na Galiza começou por volta dosanos 50, e desde entom o colectivotem-se instalado em 46 concelhos.Porém, o distanciamento e o des-conhecimento da cultura ciganacontinua a ser para a maior parte dapopulaçom nom cigana mui similarao que podia ser naquela altura, eos entraves com que amiúdebatem no dia-a-dia, enormes.

Um pouco de históriaOs primeiros ciganos e ciganaschegárom à península Ibéricaatravés dos Pirineus por volta doséculo XV, e se bem que numprimeiro momento tivessem umbom acolhimento, a chegada aopoder dos Reis Católicos deucomeço a um período de perse-guiçom do seu povo como medi-da homogeneizadora contrária àsdiferentes culturas que demo-rou até os anos da ditadura fran-quista, quando se reafirmáromas leis anticiganas com a decla-raçom, por exemplo, do romanócomo gíria de delinqüentes. O

resultado: milhares de pessoasfechadas em cadeias e assassi-nadas polo simples facto deserem ciganas.

Banessa Giménez é cigana, e éo exemplo que desmonta todosos preconceitos e estereótiposnegativos associados ao seupovo. Actualmente trabalhacomo mediadora intercultural naFundaçom Secretariado Ciganoem Compostela, mas antes esti-vo empregada cuidando menin-hos num infantário ou de caixanum supermercado. "A minhaavó nom foi à escola; minha maefoi, mas nom a finalizou, e eufum, terminei e estou a trabal-har", conta. A progressom é lógi-ca se olharmos atrás e pensamosque há apenas cinqüenta anosque os ciganos deixárom a vidaerrante e começárom a se seden-tarizar e, por outro lado, tampou-co dista tanto da de boa partedas famílias galegas nom ciganas.

A venda ambulante é a ocupa-

çom maioritária entre a popula-çom cigana galega (62,7% em2000), mas nesse mesmo ano85% figurava no regime geralpara trabalhadores autónomos.Desde 1983 a escolarizaçom doscativos ciganos no ensino primá-rio subiu de 65% a 94%, e nosecundário passou de ser quaseinexistente a atingir 40%. Aliás,a educaçom infantil pré-obriga-tória foi em 2006 de 63%. ParaBanessa o principal problemacontra a extensom da educaçomregrada no colectivo cigano era afalta de referentes sócio-familia-res que servissem de exemplo,assim como a pouca importánciaque no passado tinha a escolapara um povo que possuía o céupor teito. Mas a situaçom está amudar, tal e como corroboram aspercentagens, "e agora a minhasobrinha já vai à escola secundá-ria, e no futuro com certeza queservirá de exemplo a outras pes-soas", afirma Banessa.

NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 15ANÁLISE

Por volta de nove milpessoas ciganasvivem na Galiza.Apenas um terço reside em infravivendas.Em Compostelao favelismo está já erradicado.A cigana é a etniamaioritária nosassentamentos queainda existem

Ciganos e ‘paios’: o repto da convivênciaNas últimas semanas a colectividade cigana galega foi protagonista de numerososmanchetes nos meios de comunicaçom do País, todos eles com dous denominadorescomuns: marginalidade e rejeiçom por parte da vizinhança paia. Os tópicos sobre osciganos som já velhos conhecidos; do que se fala menos é das plataformas político-sociais que ciganos e ciganas tenhem desenvolvido nos últimos anos para representa-

rem os seus próprios interesses (como a Uniom Romani, Romipén ou o PartidoNacionalista Caló), do incremento da sua participaçom na vida pública (63% vota, per-centagem bem similar à da populaçom nom cigana) ou da mudança dos papéis tradi-cionalmente atribuídos às mulheres: do atraso da idade média de casamento e da suaprogressiva incorporaçom ao trabalho assalariado.

Banessa Giménez é cigana, e é o exemplo que desmonta todos os preconceitos e estereótipos negativos associadosao seu povo. Actualmente trabalha como mediadora intercultural na Fundaçom Secretariado Cigano em Compostela

ANÁLISE

Desde 2004, a FundaçomSecretariado Cigano conta com umregisto de casos de discriminaçom apessoas ciganas, produzidos emámbitos como o da vivenda, oemprego, ou as prestaçons sociais.O caso mais recente pudo ver-se nosmeios de comunicaçom, e levou umgrupo de vizinhos de Vilar Cham(Ponte Caldelas) a pagarem cadaum a sua quota-parte de umha casapara que essa nom fosse adquiridapor umha família cigana. Mas nom éo único, e tenhem sido registadassituaçons em que se rejeita expres-samente a contrataçom de pessoasciganas polo simples facto de oserem, em que som excluídas doaluguer de casas ou mesmo em quese encontram com entraves parareceberem atençom sanitária.

Com freqüência escuitam-sevozes que acusam os ciganos deserem fechados e de nom quererem

integrar-se na sociedade. "Nós nomqueremos integrar-nos, queremosconviver", explica Banessa. E por essaconvivência trabalha a FundaçomSecretariado Cigano, com tarefas deformaçom, assessoramento e mesmomediaçom para o acesso ao mercadolaboral, mas também de promoçom evalorizaçom da cultura cigana.

A cultura cigana é umha descon-hecida para a maior parte da popula-çom e, polo mesmo, objecto de des-confiança. A família tem um papelfundamental e decisivo na confor-maçom de umha identidade colec-tiva que prima o respeito e o cuida-do dos demais ao desenvolvimentopessoal individual. E longe de serraro, à vista de um historial derepressom e discriminaçom como oque levam às costas ciganos e ciga-nas, é mesmo bonito que, nummundo regido polas leis da compe-titividade, continue a ser assim.

Discriminaçom e ciganidade

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200716 CULTURA

CULTURA

Antes de mais, podías-nnos falardo teu novo disco...Bom, ‘Cinsa Namorada’ é frutode umha reflexom, 11 peçascom texto e músicas minhas,com umha excepçom, a peçaque dá nome ao disco, que é daautoria de Marica Campo; éum disco que procura apalavra, que se afasta daneutralidade musical, porqueas músicas, a meu ver, tenhemque pegar na palavra, seremvitalistas... trazerem frescuracom um selo de autor.

Tu tiveste umha especialrelaçom com a gente docolectivo Vozes Ceives, mesmotés interpretado muitas das suaspeças. O que significárom parati e para o País?Sabes? Eu acho que os tempos,como na altura de Vozes Ceives,ainda nom som chegados, mas oSuso, Benedito, Bibiano, CasaVelha, todos eles encetárom nopaís umha ideia fundamental

para mim, a música como suportede comunicaçom mais do quesimplesmente estética. Eleslavrárom parte fulcral para umfuturo ainda por vir.

Cantárom em galego, como tu.Nesse sentido, o que mudou? Quesignifica cantar em galego hoje?Certos 'persoeiros' gostam desatanizar realidades como ogalego, cantar em galego é umacto de rebeldia, sim, mascumpre cada vez maisaproximá-lo da normalidade.Eu sei das minhas fíliaslinguísticas e também seidesses discursos globais,monstruosos e que danificamseriamente o nosso idioma.

Como vês o panorama actualdas nossas músicas?Nom tenho qualquer dúvida,vivemos umha época de ouro emrelaçom ao que tem a ver com acriaçom, já nem me admira versurgir novos grupos que

assumem a normalidade decantar em galego e o melhor éque num leque mui variado degéneros. Só odeio umha cousanisto da música, a mercadotécniaque só gera hierarquia,sectarismo e insolidariedades.

Tino, para acabarmos.Cumprírom-sse 5 anos datragédia do Prestige. Como éque valorizas o lustro que acabade se comemorar?Infelizmente acho que a cousanom mudou demasiado. Hojeainda estamos à mercê de queoutro barco poluente atinja asnossas costas, aliás, creio quedepois do Prestige houvoumha bateria de atitudes,censura, repressom, sata-nizaçom de movimentoscívicos que na medida em quefigérom activar a cidadania atéa uns níveis nom previstos,devem ser tomados comohistóricos. Eu creio no NuncaMais cidadao, marinheiro...

“As músicas galegas vivem umha idade de ouro,orgulha-me fazer parte deste momento criativo”ANDRÉ CASTELEIRO / O Guardês Tino Baz, queapresenta o novo disco ‘Cinsa Namorada’,começou da mao do bem-qquerido cantor galego

Suso Vaamonde lá polo ano 90, tendo feito partedo grupo A Roda. Tivemos a sorte departilharmos umhas palavras com ele.

Como todos sabemos háfactos pasmosos, muitosdenegridores, ofensivos

e até reganhosos, fruto da maiorincultura e ignorância bárbara;notícias que nunca recolhe aimprensa galega, ou, no máximo,fá-lo de uma perspectiva tão gros-seiramente ridicularizadora comodireitosa. Factos ridículos e direi-tosos que, passados meses, anosou décadas, ainda que voltem aser igual de pasmosos, bárbaros edenegridores, continua a escamo-tear a prestigiada e subvenciona-da imprensa galega.

Um capítulo de muito inte-resse na sociologia política daGaliza é o da cobertura mediáti-ca de qualquer tema casual (setemporalmente coincidente)antes do que algum relevantereferido à língua, à literaturagalega ou aos partidos e associa-ções que a defendem (tirando aquestão reintegracionista, que ésimplesmente tabu). Nesta sec-ção que deveria ser de referên-cia cumpre-se a lei geral ou daManobra de diversão.

Há uma excepção de muitointeresse à lei geral que dá paraestabelecer uma segunda formu-lação. Quando o ruge-ruge departe da sociedade indica clara-mente um incremento do inte-resse social ou se incrementasocialmente a massa de utentespara posturas mais avançadas,ortográfica ou politicamente, doaté esse momento evidenciado,a imprensa galega, indefectivel-mente, ressuscita opções jáultrapassadas, entrevista políti-

cos galegos a opinarem sobre lín-gua, dá tribuna a figuras já poucoprotagonistas, apresentando-ascomo alternativas possíveis e emconfronto com posturas radicais,problemáticas, custosas e evi-dentemente antigalegas (vê-l'aíé quando se menta o tabu rein-tegracionista).

Por isso, um dos assuntos maisfascinadoramente recorrente naimprensa galega é a opinião e avalque se dá a qualquer postura lin-guística (anteriormente tratadacomo radical por ela própria)entanto o progresso da língua gale-ga ou da sua política manifestequalquer adianto menor. Tudo afim de convencer a opinião públicae para distrair os mesmos protago-nistas da intranscendência, radica-lidade, antipatriotismo e impro-priedade da sua postura. Estasegunda lei é a do oferecimento decaminhos fechados de consenso.

Por isso tantos desleixos ouprovocações das redacções, coin-cidentes campanhas e propagan-das, tantas páginas de opiniãocedidas de súbito a surpreenden-tes colaboradores, tantas facilida-de na hora de gerar debates, nãodevem ser entendidas senãocomo uma consequência dasdinâmicas históricas da política edo poder numa terra onde asactuações do poder e dos políti-cos nunca são casualidades, ape-nas propaganda e favores.

O resto, ou o mesmo, o tra-balho mercenário de intelec-tuais e jornalistas atados a estesmeios e pagos, para mais rirmos,com dinheiro público.

O guardês acaba de publicar ‘Cinsa Namorada’ com 10 peças com texto e músicas da sua autoria e um poema de Marica Campo

O CANTOR TINO BAZ APRESENTA DISCO

OPINIOM

ERNESTO VÁZQUEZ SOUZA

Notas de imprensa

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 17CULTURA

MANUEL FERNÁNDEZ / O ManualGalego de Língua e Estilo é um livrosurgido das necessidades concretasdos e das utilizadoras do galego rein-tegrado, em expansom entre colec-tivos de base cujos membros nomtenhem tido formaçom académicapara adquirirem esta norma, e quemesmo assim tenhem feito enor-mes esforços para a aprenderem deforma autodidacta. Em 1983 e 1985publicavam-se, respectivamente, oEstudo Crítico das Normas Ortográficase Morfológicas do Idioma Galego e oProntuário Ortográfico Galego daAssociaçom Galega da Língua(AGAL). Com eles, e com a leiturade textos luso-brasileiros, váriasgeraçons de reintegracionistas lan-çárom-se ao uso do galego grafadoconsoante a história e a tradiçomescrita do português contemporá-neo. Porém, a normativa da AGALadmitia demasiadas duplicidadesque provocavam que entre váriostextos, às vezes num mesmo bole-tim ou jornal, houvesse muitasdivergências gráficas. Com a assun-çom da norma reintegrada por cadavez mais colectivos, nomeadamente

juvenis, Maurício Castro, BeatrizPeres e Eduardo S. Maragoto, trêsprofessores de português nasEscolas Oficiais de Idiomas daCorunha e Compostela, habitual-mente encarregados da correcçomdos textos que esses colectivosgeram, entendêrom que era neces-sário elaborar uns critérios para darunidade ao estilo e às escolhas lin-güísticas dos diferentes colectivosque usam a norma da AGAL.

Mas tendo sido essa a motivaçompara iniciar do trabalho, o ManualGalego de Língua e Estilo inclui, afinal,muito mais, tornando-se inovadorem alguns aspectos, polo menosdentro do ámbito galego, carentepor enquanto de umha boa biblio-grafia estilística.

O Manual trata nomeadamenteda língua divulgativa e jornalística,incluindo completas listas de voca-bulário galego-espanhol-inglês, fal-sos amigos, topónimos galegos einternacionais com os seus gentíli-cos, soluçons a erros freqüentes nostextos reintegrados e pormenoriza-dos conselhos para o uso dos tem-pos verbais e perífrases, da pontua-

çom, dos tipos de letra, dos núme-ros nos textos, etc. Ainda, destacaum completo capítulo de estraté-gias para evitar a linguagem sexista.

O livro está dividido em quatrounidades: Ortografia e Estilo,Morfossintaxe e Estilo, Léxico eEstilo e os Apêndices. Apesar destasubdivisom de carácter gramatical,os autores e a autora destacam quea língua do Manual é "acessível atodos os públicos", evitando sem-pre que possível a terminologia filo-lógica que pudesse obscurecer asexplicaçons às pessoas leigas na lei-tura de gramáticas. Como se explicano prefácio, a vontade divulgativa"afasta esta proposta de outras cons-truídas com critérios exclusivamen-te gramaticais ou académicos, semum público concreto a quem diri-gir-se. Partimos neste caso dasnecessidades e carências concretassocialmente verificadas em secto-res igualmente concretos, e apre-sentamos soluçons que aspiram aser acordes com as mesmas, com ointuito de contribuirmos para a pro-gressiva alfabetizaçom colectiva domovimento normalizador".

PGL / O deputado do BNG noCongresso dos Deputados,Francisco Rodríguez, solicitou aoGoverno de Espanha um novomúltiplex digital para a emissomna Galiza dos canais portuguesesde televisom. A reivindicaçom,surgida há duas décadas no seiodos colectivos de defesa da lín-gua, foi retomada há 3 anos polaPlataforma pola Recepçom dasTelevisons e Rádios Portuguesasna Galiza e assumida progressiva-mente por diversos colectivos.

No passado dia 21 deNovembro, o deputado naciona-lista solicitava no Parlamentoespanhol os meios técnicos ehumanos para tornar possível arecepçom dos canais portuguesesna Galiza. O deputado baseou asua argumentaçom no desrespei-to da Carta Europeia das LínguasRegionais ou Minoritárias.

A Carta foi redigida e aprovadaem 1992 e aceite por todos osEstados membros da altura, rati-

ficada também polo Congressoespanhol em 1994. Porém, asmedidas incluídas fôrom incum-pridas sistematicamente na suamaioria, o qual suscitou váriosavisos da Comissom Europeia aoEstado espanhol.

Em 2005, a Fundaçom ViaGalego enviou um relatório queentre outras cousas denunciavaque os meios portugueses nomestavam a ser recebidos na Galiza.Como conseqüência desse rela-tório e de outro enviado poloGoverno espanhol, no passadomês de Outubro umha delega-çom da Comissom Europeia visi-tou a Galiza e reuniu-se comvários colectivos de defesa e nor-malizaçom lingüística.

A notícia suscitou um gran-de interesse em Portugal,onde foi noticiada num gran-de número de médios de edi-çom estatal, enquanto nosmeios galegos e espanhóispassou mais despercebida.

LÍNGUA NACIONAL

Publica-se um livro que pretendedar soluçom às dúvidas de quemutiliza o galego reintegrado

Reparai nestes três man-chetes de imprensa nacio-nal espanhola "El vasco

será la lengua básica de la ense-ñanza del País Vasco "Cataluñadisputará un mundial de fútbolsala como una selección nacionalmás" "El BNG apuesta por elhuso horario 'natural'" Neste tipode notícias, via de regra, o anun-ciado no manchete costuma sercriticado no corpo da notícia.

Na verdade, som mais de 100anos de coexistência dos diferen-tes nacionalismos no Reino deEspanha. E em certos aspectosas cousas parecem ter mudadopouco, nomeadamente a perple-xidade do nacionalismo hegemó-nico. E esta perplexidade, acho, éa mãe da sua fúria.

Talvez tudo fosse um bocadomais fácil se focassem o desencon-tro de umha perspectiva sintácti-ca. Tomemos os PREDICADOS

das notícias vistas acima e retire-mos toda referência geopolítica:"será a língua básica do ensino noPaís basco", "disputará um mun-dial de futebol de salom comomais umha selecçom nacional","aposta polo fuso horário natural".

Assim visto, nom haveria proble-ma. O PREDICADO pode ficardescansado, a tensom nom vai comele. Peguemos agora nos SUJEI-TOS: "O basco", "Catalunha" "OBNG". Pronto, pessoal, parece quealgo se pom a tremer.

Fagamos finalmente umhaúltima operaçom sintáctica,MUDAR OS SUJEITOS: "Oespanhol será a língua básica doensino no País basco" "Espanhadisputará um mundial de futebolde salom como mais umha selec-çom nacional" "Espanha apostapolo fuso horário natural".

Ao que parece, a questom nom étanto o que se fai como quem o fai.

VALENTIM R. FAGIM

Sintaxe

Solicitam a recepçomdas televisons portuguesas

Conjugar em gramática é pôrum verbo em todos os seusmodos, tempos e pessoas.

Por incrível que pareça o verbosexuar é conjugável.

Di-nos a Sexologia que TODASas pessoas som sexuadas, que vamtomando forma e estrutura sexua-da, que seguírom um processo notempo que as foi sexuando.

Sexuar vem sendo Sexuar-se,verbo pronominal ou reflexivo emtanto que acontece ao sujeito. Apessoa vai-se fazendo (que diria aBeauvoir) e para isso conta com o

que se deu em chamar ElementosSexuantes: desde os mais biológi-cos, sociais e culturais, aos existen-ciais... . Tais elementos sexuam ascélulas, os gostos, as atracçons, as crenças,os gestos, as acçons... das tais pessoas.O processo é Biográfico e o resulta-do (sempre inacabado) é tornar-sede um ou outro sexo. Mas, atençom,nom numha dicotomia idêntica(homens iguais a homens e mulhe-res iguais a mulheres), senom den-tro de um continuum infinito.

A questom é que, ainda que nalinguagem sexológica isto foi des-

envolvido enormemente, na lin-guagem geral e na de certos e certasprofissionais da questom ficou limi-tado basicamente a dous ou trêstermos: os substantivos sexo esexualidade, o adjectivo sexual e,talvez, o advérbio sexualmente.Todo para referir-se clara ou difu-samente aos genitais, esquecendoo principal: as pessoas, os sujeitossexuados, que som aqueles de quepretende e a quem pretende falar"a conjugar o verbo sexuar": de nós,tu, elas, eles... pessoas activadas efeitas carne no verbo.

A CONJUGAR O VERBO SEXUAR

BEATRIZ SANTOS

A conjugar o verbo sexuar ou os genitaisnom nos deixarám ver os sexos

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NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 200718 CULTURA

XERMÁN VILUBA / No domingo 4 deNovembro, doa a quem doer, ficarámarcado, igual que o ferro marca apele das bestas, como um dia histó-rico no desporte galego. Váriassemanas antes, a tensom foi-se acu-mulando na expediçom galega que,só três semanas antes do primeiroencontro oficial na primeira CopaCantábrica, via como era destituídoo que, até esse momento, tinha sidoo seleccionador galego, FernandoVeiga. O nervosismo era máximo,mas perante o desconcerto apare-ceu a PxA Plataforma de Gestom daAutêntica) que decidiu levar as ren-das emitindo a sempre polémicalista de convocados para defende-rem a Galiza e serem dirigidos, aopé da pista, polo único que poderialevar adiante este grande projecto,Ismael. O Zidane da Bilharda, eranomeado novo seleccionadorenfrentando o grande repto de gan-har a I Copa Cantábrica da história.Todo estava preparado, os dezasseisconvocados estavam dispostos adeixar a pele na pista polideportivade Piyarnu (Asturies), o ambientena Guagua indescritível, com ogolpe, os paláns e as bandeiras dapátria viajando na mala e a ilusomsentada nas bancadas. Asturies, diri-gida por Xosé Pravia, esperava semmedo as tropas galegas que à partidapartiam como favoritas. E começouo jogo e todos os temores se figéromrealidade, a mecánica do jogo eradisputar dous setos simultáneos e,se a Galiza vencia num, no outrovapuleava Asturies, polo que erainevitável o temível seto da morteou do desempate, Ismael, o selec-cionador Galego deu a lista com oscinco escolhidos e Xosé Pravia tam-bém escolheu os seus palanadorespara o trecho final. Arrancou o setoda morte e Galiza punha-se com um0-2 sobre 5, possível match point, queHugo desfijo, para a selecçom atu-riana, superando o palanador galego,1-2 e a pista de piyarno converteu-se num autêntico fervedoiro comberros e apoio das claques das ban-cadas aos seus palanadores, que iamdisputar o trecho final. Após dispu-tar a 1º carreira da jornada de histó-ria, Chema via-se envolvido numacto histórico, decidir para onde ia a,tam desejada polos dous países,

Copa Cantábrica de Lirio-Bilharda,e aqui surgiu a lenda do famosoMatch Point de Fram Folgueira,indiscutivelmete o jovem palanadore debutante na Autêntica foi o gran-de protagonista desta espectacular ICopa Cantábrica, já que decidiucom o seu mítico semi-varado o des-tino final deste encontro. Especialmençom à importante participaçomdos debutantes na Selecçom comoDifranco, o italo-galego estivoimplacável e junto com Daniel,Calvete, Juan Pico e o campeomgalego de Varados, David Fontán,dirigidos explendidamente dabanda polo também debutantecomo seleccionador nacionalIsmael, o Zidane da bilharda, figé-rom junto com toda a expediçomque a Galiza conseguisse a desejadaI Copa Cantábrica. Depois do jantardesquite do internacional com a dis-puta do Xamom Cantábrico, umtodos contra todos onde a dopagemde emoçom e licor para além de serlegal é quase obrigatória. Bilhardasébrias cortando o ar, buscando àspressas o varal, resoavam os berros ea incerteza para decidir quemmeteria o dente ao desejado pre-sunto cantábrico, e fôrom o avilesi-no Pablo, o killer do Quirinal quemse bateu na final contra o palanadorde Celeiro de marinhaos Ginés,entre lusco e fusco disputou-se afinalíssima em que Ginés foi capazde vencer o grande palanador astur.Entre Copas e presuntos, a LNBembarca no caiuco e deixa o ronseldo Cantábrico para, sulcando aságuas do Atlántico, desembarcar nacorunhesa pista da Sapateira onde, a18 de Novembro, tinha começado acompetiçom na ConferênciaNorOeste da Superliga Galega deBilharda. LNB avante toda!!

GALIZA RABUNHA A I COPACANTÁBRICA DE BILHARDA

DESPORTOS

Dopagem: um reflexo da profissionalizaçomdo desporto e da intromissom do mercado

XIANA GUERRA ARIAS / Poderíamoscitar nomes até cobrir estapágina inteira daquelesdesportistas de eliteque ultrapassárom abarreira (física e psí-quica) que é capazde superar ocorpo humano,mediante asajudas ergoge-néticas e assubstáncias ile-gais inseridas,estas últimas, nofenómeno conheci-do como dopagem.

A dopagem volta aestar em auge em todos os'mass media', mas som poucosos que se posicionam numha pers-pectiva verdadeiramente analítica,já que sabem que por trás destefenómeno de consumo de substán-cias existem grandes empresas far-macêuticas, que movem imensasquantidades de capital. Portanto,costuma-se falar da dopagem exclu-sivamente de umha dimensomética, centrada no próprio despor-tista e emitindo juízos valorativos,sem aprofundar nas causas últimasque conduzem a esta situaçom.

Assim, passam-se por alto as cau-sas profundas polas que nasce estefenómeno, e olham para outro lado- pretendendo que nom existaconexom - quando se fala de umincremento importante do consu-mo de esteróides e anabolizantesnos ginásios (salas de muscula-çom). Depois, com estes dados namao, devemos assinalar que adopagem nom é apenas um pro-blema da elite desportiva, mas queexiste um novo 'tipo' de consumi-dor habitual no qual se misturaactividade física com valores vin-culados nitidamente à éstetica.

A introduçom no desporto denovas ramas da ciência como aMedicina, a Farmacologia ou aPsicologia, possibilitárom enormesavanços técnicos que fôrom aplica-dos ao sistema de preparaçom dos

deportistas rapidamente. Isto tivocomo consequência o incrementodo rendimento desportivo e a opti-mizaçom de lograr novos recordes emarcas. Surge por parte dos des-portistas a necessidade de vencer,de obter resultados e de criar umespectáculo atraente para as gran-des massas de consumo.

A partir disto, aparece umhanova concepçom do desporto foca-da para o espectáculo (a consumirpolas massas), e para a profissiona-lizaçom dos desportistas (transfor-mados numha minoria que praticaa actividade física). Inicia-se, assim,umha carreira dirigida à mercantili-

zaçom do desporto, como umha viapara impulsionar e criar

empresas afins a esse novoconceito, entre as que a

farmacologia joga umpapel privilegiado.

Neste cenário,os desportistasvem-se na obrigade utilizar medi-camentos erecuperantespara posterior-

mente aguentar aassimilaçom de

cargas de treino,assim como as exigên-

cias das competiçons.As grandes empresas lan-

çam-se a investir grandes somasde dinheiro para posteriormentemultiplicar o ganho, mediante acomercializaçom dos eventos des-portivos. Como contrapartida, gera-se um ambiente de corrupçomentre os desportistas e umha gran-de rivalidade entre os competidorese as claques, que se traduzem emviolência e modelos de conduta pre-ocupantes já desde o desporto base.

O COI (Comité OlímpicoInternacional) é o encarregado deregular e controlar a dopagem, cen-trando-se na realizaçom dos con-trolos. Estes som pouco úteis, jáque a produçom e elaboraçom desubstáncias proibidas antecede osmétodos de controlo, polo que serequerem mecanismos científicose técnicos mais avançados para asdetectar. Em consequência, incre-menta-se a mobilidade de capitalpara a produçom de novas substán-cias, assim como os novos mecanis-mos de controlo, entrando numhadinámica absurda e retórica. Istodeve-nos levar a considerar se real-mente o caminho a seguir é endu-recer os controlos antidopagem, oupolo contrário deveríamos revisar a'estrutura' (competiçom, periodiza-çom...) dos diferentes desportos.

Xiana Guerra é estudante de INEFe atleta do Clube Ria de Ferrol

FRAM FOLGUEIRA,O JOVEM PALANADOR

FOI O PROTAGONISTA

DESTA ESPECTACULAR

COMPETIÇOM E

DECIDIU O FINAL

DO ENCONTRO

Surge umha nova concepçom do desporto emque se introduzem outras formas de lograrobjectivos e recordes, marcados por umhas com-petiçons altamente prejudiciais para a saúde.

Perdem-sse assim os valores primitivos do des-porto, a consequência da intromissom do merca-do e do capital num ámbito cada vez mais selva-gemente competitivo.

APARECE UMHA

NOVA CONCEPÇOM

DO DESPORTO

FOCADA PARA O

ESPECTÁCULO.OS DESPORTISTAS

TRANSFORMAM-SE

NUMHA MINORIA

QUE PRATICA A

ACTIVIDADE FÍSICA

RAÚL LÓPEZ

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A demissom de Xavier MartinezCobas no passado mês de Outubroé o último capítulo de umha crise noReal Clube Celta que parece nomter fim e que no plano desportivo sesaldou com o segundo descenso àsegunda divisom em três anos. OCelta fecha assim o lustro mais con-tradictório da sua longa história: em2003 iguala a sua melhor posiçomna liga conseguida no ano 1948 eclassifica-sse pola primeira vez para aliga de campeons, em 2004 desce àsegunda divisom para subir nova-mente à primeira em 2005; no seuprimeiro ano, após o retorno, classi-fica-sse brilhantemente para a copada UEFA e, finalmente, volta aenfiar o caminho da segunda divi-som em Junho de 2007.

XAVIER PAÇOS / A crise por semana,o Real Clube Celta vive numha per-manente convulsom desde quecomeçou o ano. Umha crise que, noplano desportivo, se saldou com uminesperado e humilhante descida àsegunda divisom, mas que vai maislonge ao pôr de manifesto umha lar-vada crise institucional e económicae umha profunda fenda social noámbito do celtismo. Os 84 milhonsde dívida ameaçam a viabilidade e ofuturo da entidade a médio e longoprazo. Umha situaçom similar à doseu eterno rival, o Desportivo, mascom as vitrinas vazias.

Quando em Maio de 2006,Horacio Gómez, o anterior presi-dente e accionista maioritário, ven-deu as suas acçons com um alto valoracrescentado ao empresário, CarlosMouriño, poucos podiam imaginarque o clube estaria nesta situaçomapenas um ano e médio depois. Aequipa acabava de classificar-se paraa copa da UEFA no seu primeiro anoapós o ascenso e a situaçom econó-mica parecia estável. Para alémdisto, com a crise do Deportivoparecia que o Celta estava chamadoa recuperar a supremacia no futebolgalego depois de longos anos dehegemonia herculina. A irrupçom deMouriño foi toda umha surpresa.Porque um acaudalado emigranteque ganhara dinheiro como milhono México entrava de repente nonegócio de futebol? Sejam quaisforem as obscuras intençons do'mexicano' de Aviom, o certo é que a

sua chegada foi bem-vinda polaimprensa no mesmo momento emque saltava à opiniom pública a suaimplicaçom num escándalo urbanís-tico no concelho de Nigrám. CarlosMouriño e o vice-presidenteRicardo Barros compraram a umcusto baixísimo umhas parcelas pos-teriormente requalificadas poloPlano Geral de Urbanismo deNigrám, concelho naquela alturagovernado por Alfredo Rodriguez,ex-director geral do clube celeste.

Em qualquer caso, CarlosMouriño iniciou umha ambiciosamodernizaçom do clube viguês queincluía a profissionalizaçom das suasestruturas. Além disso, o clubecomeçou um processo de aberturasocial e regaleguizaçom. A peçaclave em todo este projecto eraXavier Martinez Cobas. Nomomento do seu nomeamentocomo Director Geral do Celta nompoucos vírom nesta decisom umhapiscadela de Carlos Mouriño àDirecçom Geral para o Desportoencabeçada polo nacionalistaSantiago Domínguez. Com amplaexperiência no ámbito empresarial euniversitário, próximo do BNG eceltista desde a sua infáncia, XavierMartinez Cobas cria sinceramentena necessidade de que o clube cel-tinha recuperasse parte das suassenhas de identidade galeguistas.Que o clube viguês exercesse a suacondiçom de equipa galega nom eraapenas umha estrategia para superaro Deportivo, mas devia ser a vianatural de crescimento do Celta.

A aposta galeguista do Celta era

sincera e rapidamente se traduziuem factos. Todos os cartazes e docu-mentaçom pública do clube passoua estar escrita integramente emgalego; a megafonia já era em galegodesde havia décadas. A ediçom donovo jornal do clube foi encarregadaa Galáxia e estava redigida 90% emgalego. O nome do jornal, A cor deGalicia, deixava claras as intençonsdo Celta. No plano comercial oclube orientou-se na procura depatrocinadores galegos: a TVG,Estrella Galicia e R. Por outra parte,a campanha de sócios tinha comoobjectivo incrementar o número desubscritores em vilas do País históri-camente celtistas (Vilalba, Ilha deArousa, Porto Doçom...). Outroaspecto clave desta política foi aampliaçom da equipa directiva asectores empresariais e sociais doPaís buscando nesta expansom umequilíbrio territorial que desseentrada a personalidades das quatrodemarcaçons provinciais da comu-nidade autónoma galega. Tambémfôrom melhoradas as relaçons comos outros clubes da Galiza. Da equi-pa directiva e direcçom técnica tras-mitiu-se a consigna de jogar comintençons de ganhar a primeira edi-çom da copa Galiza organizada poloGoverno autonómico. Finalmente,no plano desportivo lançou-se aideia de construir umha cidade dofutebol galego como germe de umhafutura canteira da qual se nutririaprogressivamente o Celta.

Esta política nom suscitou entu-siasmadas adesons mais alá de secto-res galeguistas dos siareiros, mas o

certo é que apenas gerou oposiçomalgumha. Porque naquela altura overdadeiro objectivo a abater do sec-tor espanholista da imprensa e daclaque celeste era FernandoVázquez. Neste novo andamentogaleguista, Fernando Vázquez eraalgo mais que a cabeça desportiva. Otreinador de Castrofeito nunca foibem recebido por um amplo sectorda claque e da imprensa. Estes últi-mos sempre apresentáromFernando Vázquez, o "técnicocorunhês", como umha espécie deintruso, um infiltrado do deportivis-mo no Celta. Digamo-lo claramente,a Fernando Vázquez figérom-lhe avida impossível por ser daqui, polasua identificaçom com o nacionalis-mo galego e polo reiterado e norma-lizado emprego do galego, a sua lín-gua de sempre. Os sectores maisespanholistas e localistas, semprehegemónicos nas forças vivas do cel-tismo, nunca lhe aceitárom a suacondiçom íntegra de galego, quenoutras latitudes cotaria em alta,mas que no nosso país pode ser umpesado lastro para poder triunfar emqualquer ámbito. O reiterado usopúblico da sua lingua, a humildadeda sua figura e projecçom pública,num mundo em que o que triunfa éo glamour e o exibicionismo, e dasua procedência social, mesmo a suacondiçom de seleccionador nacionaldeu-lhe numerosos inimigos emVigo, os quais conscientes de que osbons resultados deportivos nomfacilitavam o acosso e derrube deFernando Vázquez, aguardáromtempos melhores. Quando os maus

resultados chegárom as navalhas jálevavam tempo afiadas. Com as pri-meiras derrotas a situaçom tornou-se insustentável. A FernandoVázquez só o apoiavam os Celtarras,que estivérom com ele até o final, esectores galeguistas da torcida, tal-vez mais numerosos do que sepensa, mas desorganizados e semapoios mediáticos. Pode ser queMouriño e Martinez Cobas o apoias-sem sinceramente, mas ao finalcesárom-no. A galeguizaçom despor-tiva da entidade saltava polos aresao perder a sua peça chave. Quempodia apostar entom neste projectoquando à frente do mesmo se punhaum fantasma búlgaro comoStoichkov? Da noite para a manhá aideia de um Celta mais galego noplano desportivo desapareceu.

Como se a política galeguistativesse culpa do desastre desporti-vo, o novo ano em segunda divisominiciou-se com umha revirada espan-holista. Sem maiores explicaçons, denovo todos os cartazes, documenta-çom e mesmo o jornal passárom aestar novamente escritos maiorita-riamente em castelhano. Por outraparte, os projectos de revitalizaçomda canteira do clube e de ampliaçomao longo do país das escolas desporti-vas também fôrom paralisados. Noconselho de administraçom prevê-se umha fuga daqueles membrosapresentados entom como represen-tantes das diferentes zonas deGaliza. Com este panorama comopano de fundo e com as últimas deci-sons nas parcelas económica e des-portiva, Xavier Martínez Cobas apre-sentou a sua demisom. A sua partidafoi encenada publicamente comofruto de umha decisom acordada econsensualizada por ambas as partes,mas a verdade é que, MartinezCobas, a pessoa que tentou regale-guizar o Celta, sentiu-se desautoriza-do e preferiu apresentar honrosa-mente a sua demisom. À frente dadirecçom técnica e desportiva ficamum treinador andaluz, um segundotreinador castelhano e um directordesportivo madrileno. Já só nos faltaKarpim de proprietário e presidentedo clube. Todo se andará.Entretanto, gente da casa comoManolo Carneiro, Rafa Saez, Maté,Covelo e Xurxo Otero saem todospola porta de trás. Ver para crer.

NOVAS DA GALIZA15 de Novembro a 15 de Dezembro de 2007 19DESPORTOS

Porque um abastado emigrante como Mouriño entra no negócio de futebol?

SECTOR GALEGUISTA DO CELTA ATIRA A TOALHA

Demissom do Director Geral do Celta, Xavier Martinez Cobas,liquida a política galeguista iniciada na época passada

A GALEGUIZAÇOM DA

ENTIDADE SALTAVA

POLOS ARES AO PERDER

FERNANDO VÁZQUEZ,A SUA PEÇA CHAVE.QUEM PODIA APOSTAR

ENTOM NO PROJECTO

QUANDO À FRENTE DO

MESMO SE PUNHA

UMFANTASMABÚLGARO

COMO STOICHKOV?

Page 20: Imagem da manifestaçom convocada em Corrubedo contra · PDF fileNÚMERO 60 15 DE NOVEMBRO A 15 DE DEZEMBRO DE 2007 1 € A política ambiental do bipartido consegue unir a sociedade

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Actualmente já quasetoda a gente sabeque por comprar um

apartamento em Madrid háimobiliárias que oferecemumha vivenda no litoral.Esta prática está a criarfenómenos como a Marinhad'Ouro, Cidade de Férias,ou autênticas réplicas debairros da capital nas zonasde veraneio, com os vizin-hos que moram juntos tam-bém no Verao, porque com-prárom as vivendas (amadrilena como a galega)na mesma altura.

A translaçom é tam aca-bada, que é preciso aceitarque já nom lutamos contraa primeira acepçom doverbo colonizar, 'fazer deum país umha colónia',mas contra a segunda,'povoar de colonos'. EmEivissa o processo estáquase consumado.

Aqui está encetado. Dehoje num par de anosserám os colonos mançanil-hos os que começem a semanifestar ao berro de "Anossa terra é nossa e nomda Lei de costas".Fundarám associaçonscomo SOS Laísmo.Cantarám, com sesseio,nom se sabe se produto dosubstrato galaico-portuguêsou do superestrato andaluz,"Çementar, çementarei...".Reclamarám língua e país:"Na Galiza, em manche-go!". E rematarám asmanifes ao berro de"Galiza fodechincha,poder especular!".

O Jalhas já nom botaágua desde a única desem-bocadura em cadoiro daEuropa. Os recheios amea-çam, entre outras, a Ria deVigo. Os parques eólicos daCosta da Morte. As "sapa-tilhas" do alcalde deNegreira. A Marinha lugue-sa. Os encoros que alu-miam Madrid. Monteferroresistiu, graças à Plataformaque o salvou. A gente, nós,tem que reagir. Galiza nomse vende.

Antes que deixem"Çemento de vencer"...

“Enquanto viver vou dar testemunhodo que lhe figérom ao meu filho”

PASTORA GONZÁLEZ MAE DE XOSÉ TARRÍO

LEO F. CAMPOS

Mançanilha?Nom se vende!

- QQue importáncia crês que tempara o preso o apoio familiare do exterior?- Toda. É o pé deles para se sus-terem ali dentro. Se lhes falharisso nom tenhem nada. Lembroumha entrevista que lhe figeramem Radio Kalimera em que diziaque para eles era muito impor-tante saber que nom estám sós,que com apenas haver quatro oucinco pessoas fora que estámcom eles, tenhem quatro oucinco razons por que luitar.

- NNo momento em que o teufilho entra na cadeia fás tua aluita dele. Tinhas consciênciapolítica naquela altura?- Nom. Era umha de tantas quecria o que diziam nos noticiários:que os julgamentos eram justos eque os presos estavam na cadeiaporque eram maus… Agora rio-me do ignorante que era a esserespeito. Encontro-me com a

realidade quando fam com o meufilho o que fam: as torturas, o iso-lamento, o sofrimento... e come-ço a fazer parte da Comissom deDenúncia. Topo-me com a reali-dade quando Xosé escreve o livroHuye, hombre, huye no ano 98,antes sempre me dizia que esta-va bem. Tirárom-lhe a vida porroubar. Pergunto-me quando seráo momento em que irá à cadeiaquem o maltratou e matou.

- QQue dirias aos que aindapensam que as cadeias servempara reeducar?- Pois que nom tenhem nemideia, que os que há que reedu-car som os que pensam isso, senom que passem 3 meses emFIES e que mo contem. Ascadeias estám feitas por doentespara destruírem as pessoas... efôrom feitas para os pobres: 75%dos presos é gente que nom tivonengumha oportunidade na vida,

que provenhem da marginalida-de. As cadeias som tapadeiras,metem ali os drogados ou os que'trapicheiam' e ali há mais drogaque na rua, e claro, intruduzidapolos funcionários para levantarum dinheirinho extra.

- QQue acolhimento estám a teras palestras em que participas?- Mui boa, há um ano estive naItália, onde a polícia me icomo-dou registrando-me e seguindo-nos... mas a gente que véu àpalestra respondeu mui bem. Olivro está a ter boas vendas. Foitraduzido para o alemám, para oitaliano, e vai-se traduzir para oinglês e o francês, em espanholvai pola segunda ediçom... tras-passou fronteiras apesar deles.

- TTens relaçom com a mae deDiego Vinha, o rapaz quemorreu nos calabouços daGuarda Civil de Arteijo.- Sempre é necessário dar apoioa outra mae que passa por algotam duro, gostei muito de con-hecê-la e dar-lhe o carinho queme faltou quando aconteceu ode Xosé, porque embora esti-vesse muito respaldada polosanarquistas que se movêrom

muito, botei em falta falar comoutra mae que soubesse real-mente como me sentia. Elaagora sente-se mui apoiada e eusempre a estou a animar paradar algumha palestra porque amim servem-me de terapia.

- LLuitadora incansável, tambémparticipas na Casa Encantada enas luitas em Oseiro (ondemoras) contra as linhas de altatensom. De onde tiras a energia?- Penso que nascêrom comigo,sempre me sentim mui livre econsidero que ninguém por muipoderoso que seja tem direito aimpor nada pola força. Lá ondehouver umha injustiça vou estareu. Sou pobre, mas nom souparva e os meus direitos nom mosrouba ninguém. No outro diativemos umha reuniom com odelegado de Meio Ambiente polodas linhas de alta tensom;erguim-me e saim, queria con-vencer-nos de que as linhas nomeram tam prejudicias para a saúdedos vizinhos e vizinhas... dixem-lhe que nom tinha nem ideia, quehavia gente morrendo de cancro eele a dizer que todo era legal...que as ponham por cima da casade Tourinho entom!.

MARIA ÁLVARES / A vida de Pastora está intrinsicamente vinculada àdo filho, Xosé Tarrio. Quando ele entrou na cadeia por um roubo écomo se descobrisse a outra face da realidade, a que permaneceoculta pola ordem estabelecida. Agora que Tarrio morreu nom se dápor vencida e continua com o legado que lhe deixou: denunciar o queacontece por detrás das prisons. Porque está convencida de que"contar o que fam e o que ali acontece é o que mais lhes molesta".