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Universidade Federal do Acre Departamento de Economia Curso de Economia ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para a população extrativista Edjane de Araújo Batista Matrícula n.º 9234102 ORIENTADOR: Econ. Raimundo Cláudio Gomes Maciel Rio Branco/Ac, dezembro de 2000.

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Atualmente, o extrativismo da seringueira é considerado como uma atividade inviável, devido ao atraso tecnológico e o seu desempenho econômico ser inferior as demais atividades. Esta monografia vem com o propósito de mostrar uma alternativa que tornaria essa atividade lucrativa novamente, conhecida por Ilhas de Alta Produtividade – IAP’s. Estas fundamentam-se no neoextrativismo, que [...]

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Page 1: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

Universidade Federal do Acre

Departamento de Economia

Curso de Economia

ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para a população extrativista

Edjane de Araújo Batista Matrícula n.º 9234102

ORIENTADOR: Econ. Raimundo Cláudio Gomes Maciel

Rio Branco/Ac, dezembro de 2000.

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EDJANE DE ARAÚJO BATISTA

ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para a população extrativista

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Acre como requisito parcial para obtenção do Grau em Bacharel em Ciências Econômicas.

ORIENTADOR: Econ. Raimundo Cláudio Gomes Maciel

Rua Júlio Camilo de Oliveira, 166 , CEP 69901-210, Bairro Quinze, Rio Branco-Acre, fone (0XX68) 221 4355 ou 224 4188 E-mail: [email protected]

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EDJANE DE ARAÚJO BATISTA

ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para a população extrativista

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Economia da Universidade Federal do Acre como requisito parcial para obtenção do Grau em Bacharel em Ciências Econômicas.

Aprovada em dezembro de 2000.

Nota: ..........................

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Econ. Raimundo Cláudio Gomes Maciel (orientador)

Universidade Federal do Acre

___________________________________________ Profº. Msc. Orlando Sabino da Costa Filho

Universidade Federal do Acre

___________________________________________ Profª Msc. Sheila Maria Palza Universidade Federal do Acre

Rio Branco/Ac, dezembro de 2000.

Page 4: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

AGRADECIMENTOS

À minha mãe Edna, por sempre estar ao meu lado mostrando-me os caminhos a percorrer;

Ao meu esposo Francisco, companheiro, tolerante e compreensivo;

À minha avó Helena pelo incentivo;

À minha irmã Gisele, pelo imenso apoio, para que eu pudesse concluir o curso apesar de

todas as dificuldades;

Ao meu orientador Cláudio, que sempre foi paciente e compreensivo diante das dificuldades

que tive e também pela orientação sempre concisa, pelo seu vasto conhecimento sobre

produção familiar rural;

Aos seringueiros que nos deram toda a atenção enquanto estivemos nas colocações;

Ao Projeto Ilhas de Alta Produtividade, especialmente ao Ferraz (coordenador), pelo

financiamento na pesquisa de campo e todo o apoio despendido;

Ao professor Reginaldo meu grande incentivador e amigo;

Ao professor Fadell pelo interesse em me ajudar;

Aos meus amigos de turma que sempre acreditaram em mim e na minha capacidade;

A todas aquelas pessoas ou instituições que contribuíram para tornar possível este trabalho.

MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS.

Page 5: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................................ vii

RESUMO ................................................................................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................... 9

I - RESERVAS EXTRATIVISTAS: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL? .............................................................................................................................................. 12

1.1. Antecedentes históricos ................................................................................................................................. 12

1.2. Reserva Extrativista e o Desenvolvimento Sustentável ................................................................................ 15

1.3. Produção familiar na reserva extrativista ...................................................................................................... 18

1.4. Ilhas de Alta Produtividade – IAPs, uma alternativa viável para o desenvolvimento sustentável na RESEX ..................................................................................................................................................................... 20

II - A METODOLOGIA ........................................................................................................................................ 22

2.1. Objeto de estudo ............................................................................................................................................. 22

2.2. Metodologia ................................................................................................................................................... 22

2.3. Análise econômica ex-post ............................................................................................................................ 23

2.4. Cálculo do patrimônio da unidade de produção familiar .............................................................................. 25

2.5. Determinação dos Custos de Produção das UPF’s........................................................................................ 26 2.5.1. Custos Totais de Produção (custos fixos e variáveis) ............................................................................ 26

2.6. Determinação de medidas de resultado econômico ...................................................................................... 37 2.6.1. Resultado bruto ....................................................................................................................................... 37 2.6.2. Os resultados líquidos ............................................................................................................................. 38 2.6.3. Medidas de eficiência ou relação ............................................................................................................ 41

III - RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................................................. 43

3.1. Aspectos gerais............................................................................................................................................... 43

3.2. Índice de Trabalho Familiar – ITF ................................................................................................................ 43

3.3. Índice de Capitalização – IK .......................................................................................................................... 43

3.4. Índice de Assalariamento – IA ...................................................................................................................... 44

3.5. Análise da renda das famílias ........................................................................................................................ 44

3.6. Produção das UPF’s ....................................................................................................................................... 45

3.7. Análise econômica da UPF atualmente ......................................................................................................... 45

3.8. Análise econômica das UPF’s com projeção das IAP’s ............................................................................... 48

3.9. Comparação entre o sistema extrativista tradicional e as IAP’s ................................................................... 49

IV - CONCLUSÃO ................................................................................................................................................. 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................. 54

Page 6: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

ANEXO I .................................................................................................................................................................. 57

ANEXO II ................................................................................................................................................................ 58

Page 7: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

vii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Índices de trabalho, capitalização e assalariamento por UPF ................................................................. 44 Tabela 2 - Composição da renda das famílias extrativistas pesquisadas por produtos ........................................... 44 Tabela 3 - Indicadores Econômicos por UPF pesquisada ........................................................................................ 46 Tabela 4 - Comparação do sistema extrativista tradicional da borracha e as IAP’s (Colocação Boa Vista) .......... 49

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RESUMO

Atualmente, o extrativismo da seringueira é considerado como uma atividade

inviável, devido ao atraso tecnológico e o seu desempenho econômico ser inferior as demais

atividades. Esta monografia vem com o propósito de mostrar uma alternativa que tornaria essa

atividade lucrativa novamente, conhecida por Ilhas de Alta Produtividade - IAP’s. Estas

fundamentam-se no neoextrativismo, que apesar de constituir-se de técnicas novas de

produção consegue a harmonia com o modo de vida do seringueiro e sua tradição. Neste

estudo, analisa-se o desempenho econômico atual da unidade de produção familiar extrativista

no Seringal Dois Irmãos da Reserva Extrativista (RESEX) Chico Mendes em Xapuri - AC e

com base nos resultados encontrados, faz-se uma projeção de como seria com a introdução

dessa nova tecnologia, mediante indicadores como a renda bruta, renda líquida, lucro da

exploração, margem bruta familiar, autoconsumo, entre outros. Os resultados demonstraram

que essa alternativa é viável economicamente.

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INTRODUÇÃO

A região amazônica, especificamente a Amazônia Ocidental, tem sido o centro

de muitas discussões, acerca da sustentabilidade do extrativismo, em especial da borracha. No

final da década de 60 e início de 70, o governo federal implementou políticas

desenvolvimentistas para a Amazônia, visando o crescimento econômico da região e a

expansão da fronteira agrícola. Período que marcou profundamente o desestímulo à

exploração extrativista. No Acre, com a introdução da pecuária, houve uma ocupação

desordenada, culminando numa intensa degradação ambiental e impactos sociais. Estes,

ocasionaram numa intensa luta pela posse da terra. Com a incidência desses conflitos e as

articulações políticas dos seringueiros, com algumas organizações nacionais e internacionais,

o governo viu-se forçado a reformular as políticas de desenvolvimento para a região

amazônica. E diante desses fatos, em 1990, surgem as Reservas Extrativistas – RESEX – e os

projetos de assentamentos agroextrativistas, visando o uso dos recursos naturais, sem a

devastação da floresta, com base num modelo de desenvolvimento sustentável.

As RESEX baseadas nesse pressuposto, seriam uma alternativa econômica e

ecológica para a Amazônia. Para alguns autores, como Homma (1993), o sistema de produção

extrativista está superado, e não existiria mais viabilidade econômica dessa atividade.

Segundo o mesmo, o baixo rendimento da terra e da mão-de-obra, juntamente com o

progresso tecnológico, induz ao processo de domesticação, em plantios racionais de

seringueiras, e a descoberta de produtos sintéticos, levariam a atividade extrativista ao

desaparecimento a médio e longo prazo. Porém, outros são contrários a essa posição. Segundo

Kageyama (1996), um novo modelo de desenvolvimento denominado neoextrativismo1,

melhorará a atividade extrativista com a introdução de tecnologias adequadas que

possivelmente, trarão retornos financeiros satisfatórios sem que haja conflitos entre o homem

e o meio ambiente, tudo isso com base em estudos profundos não só com vistas para o campo

econômico, social, ecológico, mas também, com as outras ciências que interagem nesse

processo.

1 “Neoextrativismo supõe a construção de uma nova base técnica ou um desenvolvimento técnico por dentro do extrativismo, subordinado aos padrões e exigências socioculturais dos seringueiros.” (ASPF, 1996, p.01)

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Com a necessidade da utilização dos recursos naturais de modo sustentável

dentro das RESEX, surge uma proposta totalmente inovadora, baseada no neoextrativismo, na

qual o seringueiro voltaria a atividade extrativa com perspectivas de bons rendimentos, sem

que houvesse intervenção no seu modo de vida e na sua tradição, denominada de Ilhas de Alta

Produtividade – IAP’s, que são pequenos plantios de seringueiras, utilizando áreas de roçados,

rodeados pela diversidade da floresta natural e pressupõem o cultivo de outras culturas de

valor econômico nas entrelinhas das seringueiras, por meio dos Sistemas Agroflorestais-

SAF’s. Estes, permitem que o seringueiro cultive diversas culturas num mesmo local. O

consórcio com outras culturas utilizando técnicas adequadas e específicas nessa área,

permitirá um aumento da produção e da produtividade e, consequentemente da renda do

seringueiro, como também reduzirá a incidência de pragas como o mal das folhas2, o que

constitui, num aspecto de melhoria para o extrativismo. A proposta das IAPs, tem um valor

não só econômico na vida do seringueiro, na proporção que pode dar ao mesmo, a

oportunidade de trabalhar com a atividade que seus ancestrais trabalharam, buscando trazer a

perspectiva de melhoria da economia do Estado e consequentemente até mesmo do país, com

bons resultados, podendo até chegar a produzir para o mercado nacional e internacional.

O objetivo desta pesquisa busca analisar o desempenho econômico das

colocações do Seringal Dois Irmãos, localizado no município de Xapuri - Ac, onde foram

implantadas as IAP’s, fazendo-se uma comparação do desempenho destas unidades

produtivas atualmente e após os resultados econômicos que serão proporcionados pelas

mesmas.

No capítulo inicial, aborda-se os antecedentes históricos da economia

amazônica e acreana, verifica-se o papel do extrativismo neste contexto, como e porque são

criadas as RESEX, como também as várias posições acerca do conceito de desenvolvimento

sustentável. Outro item importante a ser destacado neste capítulo, é como se dá a organização

da produção familiar na RESEX. E por conseguinte, a proposta das IAPs.

O segundo capítulo, é voltado para a metodologia que foi extraída do projeto

Análise Econômica de Sistemas Básicos de Produção Familiar Rural no Vale do Acre -

ASPF3, o qual analisa os sistemas de produção existentes na região do Vale do Acre,

2 Mal das folhas é uma doença provocada pelo fungo Microcyclos ulei, principal responsável pelo fracasso dos cultivos racionais da espécie incentivados na Amazônia. (Souza, 1998) 3 Este é um projeto de pesquisa desenvolvido pelo Departamento de Economia da Universidade Federal do Acre - UFAC que analisa o desempenho econômico dos sistemas de produção agrícola, extrativista e agro-florestal, existentes nessa região.

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dimensionando as entradas (fatores de produção) e as saídas (produtos e resultados) de cada

sistema de produção, a diferença entre os dois momentos e a relação entre variáveis de saída e

de entrada que compreende a determinação ex-post dos custos de produção e das medidas de

resultado econômico, servindo para determinação do desempenho econômico dos sistemas de

produção. Vale ressaltar, que a metodologia investiga os custos executados, ou seja, a

apropriação dos valores gastos no processo de produção depois que o produto já foi gerado.

O terceiro capítulo, apresenta os resultados e as discussões. Demonstra o

desempenho econômico das colocações4, no período de maio/1998 à abril/1999, e diante

destes resultados, compara-os com os resultados projetados para as IAPs. Além disso mostra a

quantificação em termos monetários, enfatizando a renda projetada para o seringueiro com a

implantação de uma ou mais IAPs em sua colocação.

O quarto e último capítulo demonstra as conclusões do trabalho, evidenciando

as possibilidades de ressurgimento do extrativismo vegetal da borracha como principal

atividade das RESEX.

4 Colocação é a unidade de produção familiar onde mora o seringueiro.

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I - RESERVAS EXTRATIVISTAS: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL PARA O

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL?

1.1. Antecedentes históricos

O desenvolvimento da região amazônica foi marcado por três grandes fases, a

saber: a exploração das drogas do sertão; o extrativismo vegetal da borracha e da castanha-do-

brasil e as frentes agropecuárias-minerais combinadas com a exploração da madeira. Esse

desenvolvimento econômico ocorreu de forma desordenada, sem a preocupação com os danos

econômicos, sociais e ambientais. (Fadell, 1997)

A formação econômica da Amazônia, como também do Acre, esteve

diretamente associada ao extrativismo devido, principalmente à exploração da borracha como

matéria-prima da indústria automobilística. A produção da borracha exerceu um papel muito

importante na estrutura da economia regional, passando por períodos de expansão e

decadência.

O período de expansão da produção gumífera, evidenciou-se a partir de 1850,

aproximadamente. Em 1876 foi contrabandeado para Londres, sementes da seringueira, que

após germinarem, foram enviadas para as colônias britânicas da Ásia: Ceilão (atualmente, Sri

Lanka), Bornéu e Malásia, onde se adaptaram facilmente. Cultivadas em plantações bem

organizadas, proporcionaram grande rendimento. Em 1910, a borracha amazônica sofreu uma

queda de preços causada pela primeira safra da borracha de cultivo, oriunda dos seringais

asiáticos. Neste período, a borracha brasileira entrou em fase de declínio. Durante a segunda

Guerra Mundial (1942-1945), os grandes consumidores, principalmente os Estados Unidos,

passaram a valorizar novamente a produção brasileira, devido a invasão dos seringais

asiáticos pelos japoneses, proporcionando um novo estímulo à economia extrativa. Com o

término da guerra e o restabelecimento do fluxo de borracha asiática os preços do produto

brasileiro caíram a níveis baixíssimos, entrando novamente em declínio. A participação do

Brasil nesse mercado, sofreu queda violentíssima. Se em 1906, as florestas naturais tinham

fornecido 99% da produção mundial, em 1920 esse índice baixou para 11%, e em 1950 ficou

em apenas 2%. (Fadell 1997, Costa Filho 1995, Cavalcante 1993)

Em 1966, o governo brasileiro buscou uma alternativa com o objetivo de dar

um novo impulso ao crescimento da região amazônica que se encontrava abalada com a

decadência da economia extrativa, surgindo a chamada Operação Amazônica.

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No início da década de 70 foram criadas várias instituições como a

Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), O Banco da Amazônia S/A

(BASA) e Fundo para Investimentos Privados no Desenvolvimento da Amazônia (FINDAM),

com o objetivo de modificar o sistema de produção do extrativismo tradicional. Nesse período

ocorreu a mudança da base produtiva que antes era baseada no extrativismo tradicional,

passando assim para um sistema de produção agropecuário, uma fase que foi denominada

pelo governo de “desenvolvimentista”. Nesse processo, foram derrubadas grandes

quantidades de seringueiras, castanheiras e outras espécies de árvores. A devastação da

floresta foi intensa. É a partir dessa ocupação dos seringais para a implantação da pecuária

que começaram os conflitos pela posse da terra.

De acordo com Cavalcante (1993, p.11):

“se antes de 1970, ou seja, antes da implementação da pecuária tipicamente capitalista, a luta dos seringueiros era por mais liberdade nas relações semi-escravistas de produção nos seringais, agora ela transmuta-se para a luta pela posse da terra, pela manutenção da floresta ameaçada pelas imensas pastagens, e na resistência a se tornarem favelados nas periferias urbanas”.

Para Maciel (1997), o projeto de desenvolvimento para a Amazônia, alcançou a

princípio os objetivos econômicos esperados, obteve-se um crescimento muito rápido nessas

últimas décadas, porém o custo social e ecológico foi imenso e preocupante. As

conseqüências trazidas pela implementação da pecuária prejudicaram principalmente as

colocações de seringas, meio fundamental de subsistência dos seringueiros, que se uniram em

defesa da floresta contra os grandes proprietários e pecuaristas.

Para Oliveira (1983) apud Homma (1993), essa fase de “planejamento

desenvolvimentista” determinou o desestímulo à atividade extrativista, proporcionou que a

agricultura, pecuária e os megaprojetos minerais e madeireiros desenvolvessem com mais

celeridade, mediante a substituição de importações de bens manufaturados com a implantação

de um parque industrial. Desde o final da década de 50 se estimulava a substituição da

borracha vegetal pela sintética. Em 1960 com a crescente demanda de borracha vegetal exigi-

se a importação da borracha asiática.

Segundo Costa Filho (1995), as relações de produção, principalmente o sistema

de aviamento, sofreram algumas alterações, no sentido de que surgem duas categorias de

seringueiros; o seringueiro tradicional, aquele que continuaria a exercer suas atividades nos

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moldes tradicionais, ligados ao barracão e, também ao seringalista; e o seringueiro autônomo

que não estaria ligado ao patrão ou ao barracão e exerceria suas atividades “livremente”.

Allegretti (1989), salienta que a constituição do seringueiro autônomo, como

uma categoria específica de trabalhador, foi resultante de um contexto político de luta pela

posse da terra, quando teve início a implantação de empresas agropecuárias nos antigos

seringais.

O movimento de resistência dos seringueiros vai contar com o apoio, entre

outros, da Igreja Católica e da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na

Agricultura). A partir daí, os sindicatos dos trabalhadores rurais vão criar várias formas de

luta contra o desmatamento. A principal luta que ficou marcada na história da resistência dos

seringueiros contra os grandes proprietários e pecuaristas foi o empate5. Para Allegretti

(1989), o objetivo do empate era garantir a permanência na colocação e dessa forma,

assegurar a condição de seringueiro.

O INCRA, órgão criado pelo governo com o objetivo de contornar o conflito

pela posse da terra, resolveu fazer algumas desapropriações com a finalidade de serem

atribuídos lotes individuais titulados pelo órgão aos seringueiros. Mas, o objetivo não foi

alcançado devido ao fracionamento das estradas de seringas6, que ocasionou no impedimento

à continuidade da exploração da borracha, e os seringueiros venderam seus lotes e foram para

as cidades.

Cavalcante (1993), descreve que com a implementação da pecuária, o

movimento de resistência aos desmatamentos precisava apresentar uma outra alternativa para

os que sobreviviam da floresta. Foi assim, que surgiu a proposta do 1º Encontro Nacional dos

Seringueiros a fim de discutir com todos os seringueiros da Região Amazônica os caminhos a

seguir. Dentro das propostas aprovadas no 1º Encontro Nacional dos Seringueiros surgiu uma

que seria a alternativa econômica e ecológica para justificar a luta contra o desmatamento na

Amazônia: a Reserva Extrativista

RESEX. A proposta foi aprovada nos seguintes termos: “-

Definição das áreas ocupadas por seringueiros como reservas extrativistas asseguradas ao uso

pelos seringueiros”. (p.15)

5 Conforme Cavalcante (1993) e Silva (2000), os empates aconteciam na época do verão, sendo ações coletivas que visavam o impedimento da ação dos peões encarregados pela derrubada e constantes desmatamentos. 6 As estradas de seringa alcançavam mais de 300 ha, enquanto que os lotes que foram concedidos pelo INCRA tinham aproximadamente 100 há, então as estradas foram fracionadas, impossibilitando o seringueiro de continuar nessa atividade. Cavalcante (1993).

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1.2. Reserva Extrativista e o Desenvolvimento Sustentável

Após a Revolução Industrial, o desenvolvimento econômico trouxe à

humanidade uma degradação do meio ambiente mundial. As decisões econômicas na época

não se preocupavam com o esgotamento dos recursos naturais. Os impactos causados por essa

expansão desordenada da atividade econômica até meados da década de setenta eram tratados

sem grande importância. A partir daí, a questão da preservação ambiental vem a tona em

nível mundial, após a realização de diversos eventos que discutiam sobre o processo de

desenvolvimento econômico sempre com a preocupação da preservação da natureza. (Maciel,

1997).

O processo de desenvolvimento precisava então, criar estratégias no sentido de

reparar ou pelo menos dar uma freada no impacto negativo causado ao meio ambiente, o que

levou a construção de um novo conceito denominado desenvolvimento sustentável. Surgindo

assim, várias definições e controvérsias acerca desse conceito. Em 1972 em Estocolmo,

houve uma Conferência Sobre Meio Ambiente Humano e é com a mesma, que o movimento

ambientalista internacional ganha maior expressividade. Em 1987 surge o Relatório

Brundtland, no qual, é elaborado o mais conhecido conceito de desenvolvimento sustentável.

De acordo com o mesmo, desenvolvimento sustentável “é aquele que satisfaz as necessidades

do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem as suas”.

(Diegues apud Cavalcante, 1993, p.19)

Segundo Diegues (1992) apud Cavalcante (1993, p.20) devem haver certas

conexões quanto: “a base ecológica , a preservação das diversidades genéticas e biológicas e a

utilização sustentada das espécies e dos ecossistemas”. Existe um aspecto positivo no

conceito, ou seja, uma tentativa de resolver as contradições entre o crescimento econômico, a

distribuição da renda e a necessidade de conservar os recursos ambientais, não só em

benefício das gerações atuais como das futuras.

Após alguns conceitos acerca do que seria desenvolvimento sustentável torna-

se possível identificar no conceito de RESEX, formulada pelos próprios seringueiros a

preocupação com o meio ambiente. Segundo Allegretti (1989), as primeiras discussões sobre

RESEX partiram da análise entre dois processos: o das sociedades indígenas e o da

colonização. Se os índios possuem áreas asseguradas por lei, para o uso exclusivo dos

mesmos; os seringueiros então começaram a almejar a possibilidade de também disporem de

áreas reservadas ao exercício de suas atividades.

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16

De acordo com o Relatório Brundtland - “Nosso Futuro Comum”, a reserva

extrativista enquanto proposta, deve ser entendida como: “a regularização de áreas ocupadas

por grupos sociais que têm como fonte de sobrevivência produtos nativos da floresta e que

realizam exploração econômica sustentável: (...) as reservas extrativistas atendem a fins de

conservação ambiental, de regularização fundiária e de desenvolvimento econômico. Devem

portanto, se constituir de um modo socialmente justo, ecologicamente sustentável e

economicamente viável de ocupar a Amazônia.”(Carta de Curitiba, IEA (1988) apud

Cavalcante 1993, p.24)

Para Silva (2000, p.2), as RESEX atuam como a reforma agrária dos

seringueiros e também uma forma de preservação da natureza pelos que dela dependem. São

áreas de floresta, demarcadas com o objetivo de usufruto exclusivo pelos seringueiros e outros

extrativistas, quer organizados em associações ou em cooperativas, porém não há títulos

individuais de propriedade, a área pertence a União. “Nelas serão respeitadas a cultura e as

formas tradicionais de organização e de trabalho dos seringueiros, que continuarão a realizar a

extração de produtos de valor comercial como a borracha, castanha e muitos outros, bem

como a caça e a pesca não predatória, juntamente com pequenos roçados de subsistência em

harmonia com a regeneração da mata.”

De acordo com o Conselho Nacional dos Seringueiros – CNS (1992 apud

Cavalcante 1993, p.25) há uma relação entre propostas de desenvolvimento sustentado e as

RESEX, pois “...constituem uma primeira forma institucionalizada, legalizada pelo Estado de

implantação de um novo modelo de desenvolvimento sustentável.” Descreve ainda, que a

capacidade de diversificar a produção, assim como a diminuição da dependência do mercado

em conseqüência da necessidade de consumo das populações extrativistas, por meio da

produção nas próprias RESEX de maior número possível de gêneros alimentícios, materiais

para construção, etc. Constitui um dos pontos principais relacionados ao aspecto econômico

da viabilidade das mesmas.

Segundo Costa Filho (1995), pela definição de RESEX fica evidente que se

trata de um modelo de desenvolvimento sustentável e ao mesmo tempo, de

ecodesenvolvimento, pois engloba todos aspectos requeridos pelas novas propostas de

desenvolvimento.

Outros autores, incluindo Homma (1993), são contrários as RESEX, definindo-

as como inviáveis. A domesticação (cultivo), a descoberta de substitutos sintéticos, o

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17

crescimento da demanda, a expansão da fronteira agrícola e o crescimento populacional,

conduzem a atividade extrativa tradicional ao desaparecimento no médio e longo prazo.

À primeira vista, as RESEX são tidas como uma forma social justa de uso da

terra, por relacionar desenvolvimento econômico com preservação ambiental. Mas, para

Anderson (1989) a análise histórica do extrativismo vegetal mostra uma visão mais crítica

acerca do assunto. Para ele, as economias extrativas são instáveis e sujeitas à escassez do

recurso natural, a área de exploração é muito grande, pois as árvores estão aleatoriamente

distribuídas de acordo com o processo natural das mesmas.

Segundo Homma (1989), o extrativismo vegetal pode apresentar

sustentabilidade agronômica e ecológica e insustentabilidade econômica e social. As RESEX

podem retardar a expansão da fronteira agrícola e atenuar as injustiças sociais decorrentes da

expulsão dos seringueiros de suas áreas. Segundo o autor, a sustentabilidade das RESEX está

sendo de forma exógena, ou seja, que provém de causas externas propiciando no futuro das

próximas gerações o seu gradativo desaparecimento.

Rêgo (1996) é contrário a essa posição, e defende que o extrativismo pode

continuar sendo a base produtiva das RESEX, desde que passe a utilizar um novo sistema

denominado neoextrativismo. Este novo sistema teria que viabilizar a mudança do nível de

produção nas RESEX, para poder se consolidar como uma alternativa possível e

modernizadora do modo de vida do seringueiro.

Para Fadell (1996), o desenvolvimento sustentável nas RESEX não se dá

apenas pela regularização fundiária, não basta demarcar as áreas de preservação e distribuir as

famílias nas colocações. Essa população depende dos recursos naturais, e vem de um

extrativismo tradicional, que para tornar a reserva sustentável precisam do apoio

governamental na questão do escoamento da produção, educação, saúde que são requisitos

básicos para a sobrevivência dos mesmos na área. Além de projetos que busquem a melhoria

de vida dos mesmos sem depredar a natureza, como é proposto pelo modelo de

desenvolvimento sustentável. As RESEX não podem e nem devem ser vistas apenas como

áreas particulares de desenvolvimento.

Os vários posicionamentos com relação as RESEX como uma atividade

econômica sustentável mostram que todos de uma forma ou de outra se preocupam não

apenas com o meio ambiente mas, principalmente com o homem, que por sua vez precisa

utilizar os recursos naturais.

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1.3. Produção familiar na reserva extrativista

A agricultura familiar caracteriza uma forma de organização da produção em

que os critérios utilizados para orientar as decisões relativas à exploração não são vistos

unicamente pelo ângulo da produção/rentabilidade econômica, mas considera também as

necessidades e objetivos da família. Ao contrário do modelo patronal, no qual há completa

separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar estes fatores estão intimamente

relacionados. (Embrapa, 2000 p.1)

O conceito de agricultura familiar é aquela em que a família, é proprietária dos

meios de produção e também assume o trabalho no estabelecimento produtivo. No entanto,

essa categoria é necessariamente genérica, pois a combinação entre propriedade e trabalho

assume, no tempo e no espaço, uma grande diversidade de formas sociais. (Wanderley, 1996

apud Mattei, 1999).

Lamarche (1993), afirma que as explorações familiares agrícolas não

constituem um grupo social homogêneo, portanto a exploração familiar não é um elemento

da diversidade, mas que contém nela mesmo toda essa diversidade, uma vez que em um

mesmo lugar e em um mesmo modelo de funcionamento, as explorações dividem-se em

diferentes classes sociais segundo suas condições objetivas de produção (superfície, grau de

mecanização, nível técnico, capacidade financeira, etc.).

Com o avanço do capitalismo pensava-se que o campesinato iria se desintegrar

e que novos tipos de populações rurais iriam surgir. Os pensadores marxistas em sua maioria

previam a desintegração do campesinato devido ao avanço do capitalismo. Lênin (1982) apud

Costa Filho (1995, p.78) descreve que: “O conjunto das contradições existentes no interior do

campesinato constitui o que denominamos desintegração do campesinato. Empregando a

palavra ‘descamponização’, os próprios camponeses fornecem uma definição extremamente

precisa e relevante desse processo, que redunda na destruição radical do antigo campesinato

patriarcal e na criação de novos tipos de população rural.” No caso brasileiro, observa-se que

as atuais definições de “agricultura familiar” procuram englobar os diferentes sistemas de

produção, que se multiplicaram a partir da desintegração do campesinato tradicional, e que se

expressavam em generalidades que vão desde a simples produção de subsistência, até a

agricultura familiar modernizada e integrada à dinâmica agro-industrial. Os modelos de

desenvolvimento que foram impostos para a Amazônia da década de 60 até fins da década de

80, parecia prever também a extinção do seringueiro. Que não ocorreu devido ao fracasso da

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19

maioria dos investimentos agrícolas em função dos custos de transportes e também as longas

distâncias. (Costa Filho, 1995)

Para o caso do seringueiro, a teoria a ser utilizada, a que mais se enquadra nos

moldes é a teoria de Chayanov, elaborada com base na economia camponesa da Rússia, que é

aplicável a exploração familiares de outros locais ou países. Para o mesmo, sua teoria satisfaz

as necessidades dos países com menor densidade de população do que, os de maior densidade

populacional, que para a Amazônia se enquadra perfeitamente. A teoria melhor se aplica aos

países com estrutura agrária razoavelmente flexível, onde os camponeses podem facilmente

comprar ou arrendar um suplemento da terra, como é o caso das RESEX, que por terem uma

vasta área permite uma ampla variedade de utilização da terra em diversas atividades

produtivas. (Costa Filho, 1995)

A mão-de-obra utilizada na produção da seringueira é toda familiar; o trabalho

assalariado praticamente não existe. Conforme Chayanov (1981) nas explorações camponesas

familiares também não empregam nenhum trabalhador assalariado; o trabalho depende

unicamente dos membros da família, por isso o fator salário não existe, tornando-se

impossível calcular o lucro líquido, a renda e o juro do capital. Aquelas avaliações da teoria

econômica da sociedade capitalista moderna onde o sistema de categorias econômicas são

inseparavelmente vinculadas entre si, estão descartadas na teoria camponesa, pois não se pode

compensar validamente a ausência de salários, assinalando um valor ao trabalho não

remunerado da família.

“A quantidade do produto do trabalho é determinada principalmente pelo tamanho e a composição da família trabalhadora, o número de seus membros capazes de trabalhar, e, além disso, pela produtividade da unidade de trabalho e pelo grau do esforço do trabalho, o grau de auto-exploração através do qual os membros trabalhadores realizam certa quantidade de unidades de trabalho durante o ano”. (Chayanov, 1981, p.138)

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20

1.4. Ilhas de Alta Produtividade – IAPs, uma alternativa viável para o desenvolvimento sustentável na RESEX

O projeto IAPs vem sendo executado desde 1995 pelo Parque Zoobotânico da

Universidade Federal do Acre – UFAC. Este propõe a utilização de áreas de roçados para que

se realizem pequenos plantios de seringueiras, espaçadas entre si, de forma que predomine ao

redor a diversidade da floresta natural. Prevê-se, que o uso de técnicas adequadas e

específicas possam influenciar no aumento da produção e da produtividade do extrativismo,

tornando-o competitivo no mercado nacional e internacional, além de evitar problemas de

sanidade como o “mal das folhas”, doença provocada pelo fungo Microcyclus ulei.

(Souza,1998)

As IAPs são inovações técnicas características do neoextrativismo, tendo

como cultura dominante a seringueira, procurando contribuir na viabilização do extrativismo

da borracha. O neoextrativismo supõe a construção de uma nova base técnica ou um

desenvolvimento técnico por dentro do extrativismo sem entrar em conflito com o modo de

vida dos seringueiros seja na parte social, econômica ou cultural.

De acordo com Homma (1993) os cultivos racionais de seringueira

incentivados na Amazônia a partir do Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural

PROBOR I (1972), PROBOR II (1977) e PROBOR III (1982) obtiveram resultados

insatisfatórios devido à doença do mal das folhas, entre outros motivos. A idéia do Projeto

IAPs, baseia-se no fato de que as florestas tropicais possuem uma alta biodiversidade de

plantas e animais e consequentemente, uma infinidade de inter-relações, onde algumas

espécies evoluíram por possuírem uma baixa densidade natural, como a seringueira.

Kageyama (1991) apud Souza (1997), formulou uma hipótese de que entre as

plantations e a árvore isolada na floresta existe um nível em que o fungo não se transforma

em epidemia, permitindo a existência de pequenos plantios.

Vale ressaltar que a introdução de espécies de valor econômico entre as linhas

das seringueiras, partindo dos princípios da sucessão ecológica, prevista nos Sistemas

Agroflorestais (SAF), auxilia tanto na sanidade das IAP’S, como também representa uma

antecipação de renda no período em que a seringueira ainda não estiver produzindo, bem

como um aumento na renda quando esta já estiver com sua produção estabilizada. Isso se

viabiliza com o plantio de culturas de ciclos de produção curto (culturas anuais), médio

(culturas semi-permanentes) e longo (culturas permanentes).

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21

Segundo Souza (1998), tal proposta só pode ser aplicada em grandes áreas

contínuas de florestas como as RESEX, que se fundamentam no uso sustentável dos recursos

naturais pelo extrativismo, associado à preservação da biodiversidade dos ecossistemas.

Page 22: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

22

II - A METODOLOGIA

2.1. Objeto de estudo

A pesquisa foi realizada na área de Reserva Extrativista “Chico Mendes”,

localizada no município de Xapuri – Ac. Foram consideradas cinco unidades produtivas

familiares (UPF’s) do Seringal Dois Irmãos para realização da análise econômica, sendo as

colocações: (1) Boa Vista, (2) Já começa I, (3) Morada Nova, (4) Uruqueu e (5) Santa Maria,

constituindo-se portanto, em um estudo de caso. A área foi classificada, pelo Projeto IAP’s,

como numa situação de média distância, levando-se em consideração as condições de acesso

ao centro de comercialização mais próximo (Xapuri – AC).

Nas UPF’s foram implantadas apenas IAPs solteiras, onde foram plantadas

apenas a seringueira, sem o consórcio com outras culturas, considerando quatro IAPs a partir

de semente (pé-franco)7, com área média de 0,88 ha, e quatro a partir de estacas clonais8, com

área média de 0,69 ha, distribuídas nas colocações. Ressalta-se que para fins de avaliação

econômica, extrapolar-se-á os resultados econômicos para 1 ha, que corresponde ao tamanho

máximo de área, previsto pela equipe do Projeto IAP’s.

2.2. Metodologia

A metodologia utilizada neste trabalho foi a mesma do projeto ASPF, com

algumas alterações ou pode-se dizer, alguns ajustes em virtude de ter-se trabalhado apenas

com alguns indicadores. No caso do projeto ASPF, a metodologia foi desenvolvida com o

objetivo de avaliar e comparar três sistemas de produção familiar rural na região do Vale do

Acre, sendo os sistemas agrícola, extrativista e o agroflorestal. A presente pesquisa tem por

objetivo analisar o desempenho econômico de cinco UPF’s do Seringal Dois Irmãos

componentes do sistema extrativista, localizado no município de Xapuri

Ac, nas quais

foram implantadas as IAPs, fazendo uma comparação do desempenho destas unidades de

7 Plantios de pés-francos – são efetuados com sementes colhidas das estradas de seringa , próximas das árvores nativas mais produtivas, apontadas pelo seringueiro, colocando-se duas plantas por cova, utilizando-se as tabocas para prevenção contra roedores. (Souza et al. 1996). 8 Plantios policlonais – iniciaram-se em abril de 1997, a partir de cinco clones obtidos do viveiro de mudas da empresa TRIANGULO em Pontes e Lacerda – MT. As mudas foram retiradas na forma de raiz nua, parafinadas e transportadas envoltas em serragem úmida, dentro de caixas de madeira por caminhão até Xapuri – Ac, onde foram tratadas com hormônio de enraizamento e embaladas para transporte para os seringais.

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23

produção atualmente (análise ex-post) e após os resultados econômicos que serão projetados

(análise ex-ante) mediante as IAPs. A análise do desempenho econômico das UPF’s é de

curto prazo pois, compreende um período de 12 meses, considerando o ano agrícola9 dos

produtores da região. O período utilizado para análise ex-post, compreendeu entre maio de

1998 à abril de 1999. Para fazer análise ex-ante, utilizou-se o ano de estabilização das IAP’s,

que ocorre a partir do 12º ano10 nas clonais, e 15º ano11 naquelas implantadas a partir de

sementes.

2.3. Análise econômica ex-post

A análise econômica ex-post de um sistema, consiste no dimensionamento das

entradas, que são os fatores de produção e das saídas, que são os produtos e resultados de cada

sistema de produção, da diferença entre estes dois momentos e da relação entre variáveis de

saída e de entrada. Compreende a determinação ex-post dos custos de produção e das medidas

de resultado econômico que são o resultado bruto, os resultados líquidos e os índices de

eficiência ou relação. Procedimento que determina o desempenho econômico do sistema.

A estrutura de um sistema de produção rural compreende concretamente uma

combinação coerente de linhas de exploração, devidamente dimensionadas, uma relação entre

cada um dos fatores de produção e as linhas individuais de exploração; e a relação entre

fatores de produção (Barros & Estácio, 1972 apud Rêgo, 1996).

O valor das entradas de bens e serviços econômicos de um sistema são os seus

custos e o das saídas, os seus resultados econômicos. As entradas compreendem os meios de

produção, os meios de consumo, os serviços e a força de trabalho. Os meios de produção

consistem em capitais fixos e capitais circulantes, comprados e produzidos na unidade de

produção. Os bens de consumo compreendem capitais circulantes comprados e produzidos

internamente. A força de trabalho, refere-se ao trabalho temporário e permanente,

predominantemente familiar e, eventual e complementarmente, assalariado. Os serviços em

sentido amplo são, além dos serviços pessoais, os aluguéis de capitais fixos, impostos,

contribuições, gerência, etc.

9 Ano agrícola corresponde ao período que compreende o ciclo produtivo de todas as linhas de exploração realizadas pelos produtores. 10 As IAP’s clonais foram implantadas no ano de 1997, tendo período de estabilização previsto para 2009.

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24

Os custos dos meios de produção que se incluem na categoria de capitais fixos

serão determinados para as categorias de depreciação, conservação, juros sobre o capital

empatado e, eventualmente riscos, se existir, o que é pouco provável, contrato de seguros.

Os custos referentes aos meios de consumo e aos meios de produção que são

capitais circulantes compreendem os insumos modernos e os diversos tipos de materiais com

vida igual ou inferior a 1 (um) ano.

Tanto para os meios de produção quanto para os meios de consumo e os

serviços serão calculados os custos reais e os imputados. O critério geral para valorizar os

custos imputados consiste na sua equiparação aos custos de oportunidade do fator de

produção considerado. Custo de oportunidade de um fator de produção é o rendimento que

este poderia originar quando aplicado no seu melhor uso alternativo (Barros & Estácio, 1972

apud Rêgo, 1996). Normalmente o custo de oportunidade de um fator é o seu preço de

mercado.

O custo da força de trabalho familiar não será estimado pelo seu custo de

oportunidade, mas pelo custo real, isto é, o custo de sua reprodução. O custo real da força de

trabalho familiar será, portanto, igual ao valor monetário do autoconsumo mais o valor

monetário dos bens de consumo adquiridos no mercado. Ocorre que, especialmente no

contexto do sistema de produção extrativista há, de um lado, uma significativa parcela de

autoconsumo, e, de outro, um superfaturamento dos bens de consumo na composição do custo

da força de trabalho. De outra parte, o trabalho assalariado tem pouca significação no seringal.

São justamente essas especificidades que justificam a adequação do emprego da categoria de

custo real da força de trabalho familiar.

Ademais, o emprego da força de trabalho familiar nas diferentes linhas de

exploração será admitido como trabalho temporário e, portanto, custo variável, tendo-se em

vista que a quantidade empregada varia com o volume da produção. A força de trabalho

permanente, sempre assalariada, se houver, poderá referir-se a uma linha de exploração

(específica) ou ao conjunto da unidade produtiva (comum).

Dessa forma, o custo da força de trabalho familiar é definido como o valor

monetário dos bens de consumo comprados pelo produtor para manutenção da família.

A compreensão desse conceito remete à análise das saídas do sistema de

produção. Estas compreendem os bens produzidos e vendidos e os bens produzidos e

11 As IAP’s de sementes em estudo foram implantadas em 1996 e 1998, tendo período de estabilização previsto

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25

consumidos na unidade de produção familiar, que podem ser tanto bens de produção quanto

bens de consumo (em geral alimentos). Ora, na análise econômica, os bens produzidos que se

destinam ao autoconsumo são apropriados como custos nas entradas e como receitas nas

saídas. Assim, não há de se considerar o autoconsumo no cálculo do custo real da força de

trabalho familiar, já que os valores respectivos de entrada e saída se anulam. O custo real da

força de trabalho familiar é igual, por conseqüência, ao valor monetário dos bens de consumo

adquiridos no mercado.

Pelo mesmo critério não se computará, nos custos, os bens de produção

produzidos e consumidos produtivamente na própria unidade de produção, uma vez que, em

sendo apropriados como receitas, na saída, se anulam.

2.4. Cálculo do patrimônio da unidade de produção familiar

O patrimônio bruto (PB) é o valor atual dos bens materiais e dos direitos. É

dado pela fórmula:

n

PB = ( Vrt +

(Vac)f + Vt + Vei + Vpc + Vep + Dc ) ,

f = 1

sendo:

Vac = Vuf .d

d = (Pnv)f / Vut

Vrt = valor de revenda da terra

Vac = valor atual dos capitais fixos

Vt = valor de títulos a receber

Vei = valor do estoque de insumos

Vpc = valor das produções em curso

Vep = valor do estoque de produtos

Dc= dinheiro em caixa

Vuf = vida útil futura (anos)

d = depreciação anual,

(Pnv)f = preço de um capital fixo novo "f"

para 2011 e 2013.

Page 26: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

26

Vut = vida útil de um capital fixo "f"

f = itens dos capitais fixos (f = 1, 2, ..., n)

Para se calcular o patrimônio líquido (PL), basta diminuir o patrimônio bruto

(PB) do valor das dívidas (Vd). Dado pela fórmula:

PL = PB – Vd

2.5. Determinação dos Custos de Produção das UPF’s 2.5.1. Custos Totais de Produção (custos fixos e variáveis)

De acordo com a metodologia adotada, custos totais de produção (CT), são

todos os encargos ou sacrifícios econômicos suportados pelo produtor para criar o valor total

do produto. Referidos a um sistema de produção, extrativista por exemplo, os custos

eqüivalem ao valor monetário das entradas econômicas do sistema. São compostos pela soma

dos custos fixos (CF) e dos custos variáveis (CV).

Os custos fixos têm sua magnitude independente do volume da produção.

Podem ser comuns e específicos. Os custos comuns referem-se a fatores aplicáveis à várias

linhas de exploração. Os custos específicos ao contrário, referem-se a apenas uma linha de

exploração.

Os custos variáveis variam de acordo com a produção portanto, são

específicos.

De modo geral, os custos de produção podem ser explícitos ou reais e

implícitos ou imputados. Os primeiros são os que correspondem a pagamentos realmente

efetuados a terceiros (monetários ou não-monetários). Os segundos são os que não exigem

uma contrapartida de pagamento monetário ou não-monetário a outrem. No modelo, trabalha-

se tanto com custos reais como com custos imputados.

Os custos totais de produção (CTs) de um sistema de produção de uma unidade

de produção familiar rural serão determinados pela fórmula:

CTs = CF + CV

Os custos fixos são determinados pela fórmula:

CF = CFe + CFc

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27

Então os custos totais constituem:

CTs = CFe + CFc + CV

Fazendo Cfe + CV = Ce

CTs = Ce + CFc

sendo:

CTs = custos totais do sistema de produção

CV = custos variáveis

CFe = custos fixos específicos

CFc = custos fixos comuns

Ce = custos específicos

Os custos totais serão determinados tanto para uma linha de exploração

individual quanto para o conjunto da unidade de produção que pratica um certo sistema de

produção. No primeiro caso, um dos objetivos é determinar o custo de produção unitário. O

custo de produção unitário é dado pela fórmula:

(CPU)i = (CT)i/Qi

sendo:

(CPU)i = custo de produção unitário do produto i

(CT)i = custos totais de produção da linha de exploração i

Qi = quantidade produzida da linha de exploração i

No cálculo dos custos totais das diferentes linhas de exploração de um sistema

de produção, os custos fixos comuns serão rateados entre as linhas de exploração singulares,

imputando-se às explorações individuais uma quota proporcional dos custos fixos comuns

igual à que elas participam na composição dos custos específicos totais. Supõe-se que, no

conjunto do sistema de produção, a distribuição percentual dos custos fixos comuns por linha

de exploração é igual à dos custos específicos totais.

Ocorrendo situações de custos conjuntos, serão adotados os seguintes critérios:

( 1 ) - Se a linha de exploração apresentar subprodutos, os custos totais do produto

principal serão determinados pela fórmula:

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CTpp = CTle – VMps

sendo:

CTpp = custos de produção do produto principal

CTle = custos totais da linha de exploração

VMps = valor de mercado dos produtos secundários.

( 2 )- Se a linha de exploração gerar produtos de importância econômica comparável, o

custo total será rateado proporcionalmente ao valor de mercado de cada um, de acordo com a

fórmula:

(CTp)k = CTle . (qr)k ,

sendo:

(CTp)k = custo total de um produto k

(qr)k = VMk/(VM1 + VM2 + ... + VMn)

(qr)k = quota de rateio para um produto k

(VM)k = valor de mercado de um produto k

VM(1, 2, ... , n) = valor de mercado dos diversos produtos integrantes do consórcio

k = diferentes produtos (k = 1, 2, ..., n).

De acordo com os pressupostos acima, os custos totais de produção de uma

linha de exploração ( i ) serão calculados pelo modelo abaixo:

(CTle)i = (Ce)i + (CFcr)i ,

sendo:

(CTle)i = custo total de uma linha de exploração i

(Ce)i = custos específicos de uma linha de exploração i

(CFcr)i = custos fixos comuns rateados para a linha de exploração i

i = linha de exploração (i = 1, 2, ..., n) ,

sabendo-se que:

(Ce)i = (CV)i + (CFe)i

(CTle)i = (CV)i + (CFe)i + (CFcr)i ,

Page 29: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

29

Sendo:

(CV)i = (Cim)i + (Cmi)i + (Cftf)i + (Cfta)i + (Ctbs)i + Cjcc)i

onde:

(CV)i = Custos variáveis de uma linha de exploração i

n

(Cim)i =

(Qim)s . ps

s = 1

(Cim)i = custos de insumos e materiais de uma linha de exploração i

(Qim)s = quantidade de um insumo ou material s

ps = preço unitário de insumo ou material s

s = espécie de insumo ou material (s = 1, 2, ..., n)

n

(Cmi)i =

(Ta)

. p

= 1

(Cmi)i = custo do aluguel de máquinas e implementos de uma linha de exploração i

(Ta)

= tempo de aluguel em horas de uma máquina ou implemento

p

= preço/hora de uma máquina ou implemento

= espécie de máquina ou implemento (

= 1, 2, ... , n)

n

(Cftf)i = [

(Qbcc)u . pu] . Qh/d/FTF

u = 1

sendo:

(Cftf)i = custo da força de trabalho familiar (temporária) de uma linha de exploração i

(Qbcc)u = quantidade de um bem de consumo comprado u

pu = preço unitário de um bem de consumo comprado u

Qh/d = quantidade de força de trabalho familiar utilizada em i, em homem/dia (h/d)

FTF = força de trabalho disponível na família (h/d)

u = itens de bens de consumo (u = 1, 2, ..., n)

Page 30: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

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(Cfta)i = Qfta . pf

sendo:

(Cfta)i = custo da força de trabalho temporária assalariada utilizada na linha de exploração i

Qfta = quantidade de força de trabalho assalariada utilizada (h/d) em i

pf = preço unitário da força de trabalho (preço/h.d)

(Ctbs)i = (Ct)i + (Cb)i + (Cs)i ,

sendo:

(Ct)i = Fi . Qt

(Cb)i = (Qb)i . pb

(Ctbs)i = custo de transporte, beneficiamento e outros serviços da linha de exploração i

(Ct)i = custo de transporte da linha de exploração i

Fi = preço do frete por kg do produto i

Qt = quantidade (em Kg) transportada do produto i

(Cb)i = custo de beneficiamento do produto i

(Qb)i = quantidade beneficiada do produto i

pb = preço unitário do beneficiamento

(Cs)i = custo de outros serviços da linha de exploração i

(Cjcc)i = [(Cim)i + (Cmi)i + (Cftf)i + (Cfta)i + (Ctbs)i] . r. k

sendo:

(Cjcc)i = custo de juros sobre o capital circulante (próprio ou de empréstimo) da linha de

exploração i

r = taxa mensal de juros (custo de oportunidade do capital dinheiro na região)

k = ciclo produtivo da linha de exploração (em meses)

(CFe)i = (Cdp)i + (Ccn)i + (Cjcf)i + (Cjfi)i + (Cftp)i + (Crss)i

sendo:

n

(Cdp)i =

(Pnv) /(Vut)

= 1

(Cdp)i = custo de depreciação dos capitais fixos específicos da linha de exploração i

Page 31: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

31

(Pnv)

= preço total de um capital fixo específico

novo

(Vut)k = vida útil (em anos) de um capital fixo específico

= item de capital fixo específico (

= i, 2, ..., n)

Observação: no caso de benfeitorias rústicas construídas com materiais produzidos pela força

de trabalho familiar, pode-se usar nos cálculos de depreciação, conservação e juros, ao invés

de Pnv, o custo de construção:

Cc = Tnt . Cuft + VMmat.

sendo:

Cc = custo de construção

Tnt = tempo necessário de trabalho (dias)

Cuft = custo unitário da força de trabalho/dia

VMmat. = Valor de mercado dos materiais próprios utilizados.

n

(Ccn)i =

[0,03 . (Pnv) ]

= 1

sendo:

(Ccn)i = custo de conservação dos capitais fixos específicos da linha de exploração i

n

(Cjcf)i =

[(Pnv) /2] . R

=1

sendo:

(Cjcf)i = custo de juros sobre os capitais fixos específicos de uma linha de exploração i

R = taxa anual de juro (custo de oportunidade do capital dinheiro na região)

(Cjfi)i = Vj

sendo:

(Cjfi)i = custos de juros de financiamento de investimento para uma linha de produção

específica i

Page 32: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

32

Vj = valor anual dos juros

(Cftp)i = Qft . pft

sendo

(Cftp)i = custo da força de trabalho assalariada permanente (específica) de uma linha de

exploração i

Qft = quantidade (em h/d) da força de trabalho permanente utilizada na linha de exploração i

pft = preço unitário da força de trabalho permanente (preço por h/d)

(Crss)i = Vp

sendo:

(Crss)i = custo de riscos segurados de uma linha de exploração i

Vj = valor do prêmio

n

(CFcr)i = CFc . (Ce)i/

(Ce)i ;

i = 1

Os custos fixos comuns (CFc) são determinados pela fórmula:

n n n

CFc =

(Cdp)m +

(Ccn)m +

(Cjcf)m + Cjfic+ Cftpc + Cjct + Cadm + Cog + Crss(c)

m = 1 m = 1 m = 1

sendo:

(Cdp)m = (Pnv)m /(Vut)m

(Cdp)m = custo de depreciação de um capital fixo comum m

Pnv = preço total de um capital fixo comum m novo

m = item de capital fixo comum (m = 1, 2, ..., n)

(Ccn)m = [0,03 . (Pnv)m]

(Ccn)m = custo de conservação de um capital fixo comum m

Page 33: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

33

(Cjcf)m = [(Pnv)m /2] . R

(Cjcf)m = custo de juros sobre um capital fixo comum m

R = taxa anual de juro (custo de oportunidade do capital dinheiro na região)

Cjfic = Vj

Cjfic = custo de juros sobre financiamentos para investimentos comuns a toda a unidade de

produção

Vj = valor anual dos juros

Cftpc = Qft . pft

Cftpc = custo da força de trabalho assalariada permanente (comum)

Qft = quantidade de força de trabalho utilizada em h/d

pft = preço unitário da força de trabalho permanente (preço por h/d)

Cjct = Vr . R

Cjct = custo de juros sobre o capital terra

Vr = valor de revenda da terra

R = taxa anual de juro (custo de oportunidade do capital dinheiro na região)

Cadm = Sa

Cadm = custo de administração (custo de oportunidade do trabalho gerencial do chefe da

família e, se houver, outros custos administrativos)

Sa = custo de oportunidade do trabalho de gestão do chefe da família (na unidade de produção

rural familiar em geral é igual a zero)

Cog = Cip + Ct + Cc

Cog = custo relativo a outras despesas gerais

Cip = custo de impostos (ITR)

Ct = custo de taxas diversas

Cc = custo de contribuições diversas

Page 34: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

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Crss(c) = Vpr

Crss(c) = custo de risco segurados para capitais fixos comuns (raramente incide na produção

familiar)

Vpr = valor do prêmio

Dessa forma, os custos totais de uma unidade de produção familiar que

pratica um sistema de produção extrativista, agroflorestal ou agrícola serão dados pela

fórmula:

n n

CTs =

(CV)i +

(CFe)i + CFc

i = 1 i = 1

sendo:

i = linhas de exploração (i = 1,2, ... , n)

Nas situações de consorciação de culturas, os custos de uma cultura em

consórcio serão determinados pela fórmula:

(CTc)k = (Cce)k + (CFcr)k

sendo:

(CTc)k = custos totais da cultura k em consórcio

(Cce)k = (CVc) k + (CFce)k

(Cce)k = custos totais específicos da cultura k em consórcio

(CVc)k = custos variáveis totais da cultura k em consórcio

(CFce)k = custos fixos específicos da cultura k em consórcio

(CVc)k = (CVci)k + (CVcr)k

(CVci)k = (Cim)cik + (Cmi)cik + (Cftf)cik + (Cfta)cik + (Ctbs)cik +

(Cjcc)cik

sendo:

(CVci)k = custos variáveis individuais da cultura k em consórcio

(Cim)cik = custos individuais de insumos e materiais da cultura k em consórcio

Page 35: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

35

(Cmi)cik = custos individuais do aluguel de máquinas e implementos da cultura k em

consórcio

(Cftf)cik = custo individual da força de trabalho familiar da cultura k em consórcio

(Cfta)cik = custo individual da força de trabalho assalariada da cultura k em consórcio

(Ctbs)cik = custo individual de transporte, beneficiamento e outros serviços da cultura k em

consórcio

(Cjcc)cik = Custos individuais de juros sobre o capital circulante da cultura k em consórcio

(CVcr)k=(CVccs) . (Pr)k . (VM)k / (Pr)1. (VM)1 + (Pr)2 . (VM)2 + ... +

(Pr)k . (VM)k + ... + (Pr)n . (VM)n

sendo:

(CVcr)k = custos variáveis comuns do consórcio repartidos para a cultura k

CVccs = (Cim)ccs + (Cmi)ccs + (Cftf)ccs + (Cfta)ccs + (Ctbs)ccs +

(Cjcc)ccs

sendo:

CVccs = custos variáveis comuns do consórcio

(C...)ccs = os diferentes itens de custos variáveis comuns do consórcio

(Pr)k = produtividade física da cultura em consórcio k

(VM)k = valor unitário de mercado do produto k

(Pr)(1, 2, ... , n) = produtividade física das diferentes culturas integrantes do consórcio

(VM)(1, 2, ... , n) = Valor unitário de mercado dos diferentes produtos integrantes do

consórcio

(CFce)k = (Cdp)cek + (Ccn)cek + (Ccjf)cek + (Cjfi)cek + (Crss)cek

sendo:

(CFce)k = custos fixos específicos da cultura k em consórcio

[C(dp, ... , rss)]cek = os diferentes itens de custos fixos específicos para cultura k em

consórcio

n

(CFcr)k = (C Fco)s . (Cce)k/

(Ce)i

i = 1

Page 36: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

36

sendo:

(CFcr)k = custos fixos comuns do sistema de produção rateados para a cultura k

(CFco)s = custos fixos comuns do sistema de produção/UPF

(Ce)i = custo específico total de uma linha de exploração i do sistema de produção/UPF

i = linhas de exploração do sistema de produção (i = 1, 2, ... , n)

As despesas efetivas (DE) são todos os valores efetivamente retirados do

patrimônio e consumidos de fato no processo de produção. Compreendem os desembolsos

monetários para pagar serviços(inclusive pagamento de salários) e/ou adquirir bens

consumíveis de gasto imediato (capital circulante de aprovisionamento), o consumo em

natureza de bens de gasto imediato, o valor imputado à mão de obra familiar, o valor

imputado ao trabalho de administração exercido pelo próprio produtor e a depreciação dos

capitais fixos.

Determinadas as diversas categorias de custos, cabe destacar dentro dos custos

totais as despesas efetivas (DE) do conjunto do sistema de produção/unidade de produção

como variável fundamental no cálculo e análise dos resultados líquidos.

n n n n n n n

DE =

(Cim)i +

(Cmi)i +

(Ctbs)i +

(Cftf)i +

(Cfta)i +

(Cftp)i +

(Ccn)i +

i = 1 i = 1 i = 1 i = 1 i = 1 i = 1 i =1

n n n n n

+

(Cdp)i +

(Cjfi)i +

(Crss)i+

(Cdp)m +

(Ccn)m + Cftpc + Cadm +

i = 1 i =1 i = 1 m = 1 m = 1

+ Cog + Crss(c) + Cjfc + Cjfic

onde,

Cjfc = custo de juros de financiamento de custeio.

Page 37: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

37

Na produção familiar o autoconsumo ressalta-se também como um índice de

crucial importância na avaliação de desempenho econômico. O autoconsumo pode ser

calculado pela fórmula abaixo:

n

AC =

(Qbcp)v . pv

v = 1

sendo:

AC = autoconsumo

(Qbcp)v = quantidade do bem de autoconsumo produzido v

pv = preço unitário do bem de autoconsumo produzido v

v = itens de bens de autoconsumo produzidos (v = 1, 2, ..., n)

2.6. Determinação de medidas de resultado econômico

Medidas de resultado econômico são índices que, dados os custos de

produção, permitem medir o desempenho econômico do sistema de produção. Desempenho

econômico é a diferença entre os valores de saída e os de entrada, as diversas relações entre

valores de saída e de entrada e as flutuações dos valores de saída do sistema de produção.

2.6.1. Resultado bruto

Entende-se por resultado bruto a renda bruta, ou seja, o valor da produção

destinada ao mercado, obtido pela fórmula:

RB = Qm . pp ,

sendo:

RB = renda bruta

Qm = qv + qe

Qm = quantidade do produto destinada ao mercado

qv = quantidade do produto vendida

Page 38: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

38

qe = quantidade do produto do exercício em estoque

pp = preço unitário ao produtor

A renda bruta pode ser global e parcial. Determina-se para o conjunto da

unidade de produção e para as linhas de exploração individuais. É um indicador de escala da

unidade de produção.

2.6.2. Os resultados líquidos

a) - Renda líquida - é o valor excedente apropriado pela unidade de produção familiar, ou

seja, a parte do valor do produto que fica com a unidade de produção familiar depois de serem

repostos os valores dos meios de produção, dos meios de consumo e dos serviços (inclusive

salários) prestados à produção. Neste sentido, ela não consiste em todo o acréscimo de valor

que o produtor familiar faz aos meios de produção e de consumo, uma vez que a maior parte

deste é apropriada por intermediários na comercialização dos produtos e na compra de

insumos e bens de consumo. É calculada pela fórmula:

RL = RB - DE ,

sendo:

RL = renda líquida

RB = renda bruta

DE = despesas efetivas

A renda líquida é o primeiro indicador de eficiência econômica e das

possibilidades de reprodução da unidade de produção familiar. Se RL ( 0 a unidade de

produção familiar se reproduz sem afetar o seu patrimônio. Se RL < 0 a unidade de produção

familiar só se reproduz com perda de patrimônio. Será calculada apenas para o conjunto da

unidade de produção familiar.

b) - Lucro da exploração - é o chamado lucro puro. É a fração da renda bruta que fica

disponível depois de o produtor ter pago todos os custos reais, de ter atribuído as

remunerações julgadas normais (custos de oportunidade) aos fatores utilizados, mas não

pagos: o seu próprio trabalho (executivo e gerencial), o trabalho familiar, os seus próprios

Page 39: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

39

capitais; e de ter reservado determinada quantia para fazer face a prováveis riscos. É

determinado também para o conjunto da unidade de produção familiar mediante a fórmula:

LE = RB - CT ,

sendo:

LE = lucro da exploração

RB = renda bruta

CT = custos totais

O lucro da exploração, embora uma categoria específica da empresa agrícola

patronal, quando calculado para unidades de produção rural familiares permite avaliar se a

renda líquida (o excedente) obtida pelo pequeno produtor é suficiente para remunerar os

capitais próprios, inclusive a terra; e destinar uma parte restante para acumulação. Indica,

portanto, as possibilidades de acumulação da unidade de produção familiar. Permite, por outro

lado, a comparação da eficiência econômica da produção familiar com empresas patronais do

mesmo ramo, agrícola, agroflorestal ou extrativista.

c) - Margem bruta familiar é o resultado líquido específico e próprio para indicar o valor

monetário disponível para a subsistência da família, inclusive uma eventual elevação do nível

de vida, se o montante for suficiente. A sua magnitude incorpora a parcela de valor do

produto correspondente ao consumo familiar obtida por via do mercado. Em situações

favoráveis, poderá ser suficiente para ressarcir custos fixos, especialmente as exigências

mínimas de reposição do patrimônio. Cumpridas estas funções, a disponibilidade restante

pode ser usada como capital de giro.

É calculada pela fórmula:

MBF = RB - (CV - ftf)

sendo:

RB = renda bruta

CV = custos variáveis

n

Page 40: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

40

Vbcc =

(Qbcc)u . pu

u = 1

sendo:

Vbcc = valor dos bens de consumo comprados

Qbcc = quantidade de bens consumo comprados u

pu = preço unitário de um bem de consumo comprado

u = itens de bens de consumo (u = 1, 2, ... , n)

A margem bruta familiar pode também ser calculada para as linhas de

exploração individuais de acordo com a fórmula:

(MBF)i = (RB)i - [(CV)i - (Cftf)i] ,

sendo:

(MBF)i = margem bruta familiar de uma linha de exploração i

(RB)i = renda bruta de uma linha de exploração i

(CV)i = custos variáveis de uma linha de exploração i

(Cftf)i = custo da força de trabalho familiar utilizada numa linha de exploração i

d) - Nível de vida - é a totalidade do valor apropriado pelo produtor familiar, inclusive

valores imputados, deduzidas as obrigações financeiras com empréstimos.

NV = (MBF + AC + Cjicc) – AA

sendo:

Cjicc = juros imputados ao capital circulante.

É, portanto, o valor que determina o padrão de vida da família.

Page 41: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

41

2.6.3. Medidas de eficiência ou relação

a) - Índice de eficiência econômica - é a relação que indica a capacidade de a unidade de

produção familiar gerar valor por unidade de custo. É um indicador de benefício/custo do

conjunto da unidade de produção. Sem embargo de ser um índice mais apropriado para

mostrar o desempenho de empresas agrícolas patronais, serve como referencial para

comparação de desempenho e verificar a possibilidade de as unidades de produção familiares

realizarem lucro e, por conseqüência, acumularem. O índice é determinado pela fórmula:

IEE = RB/C ,

IEE > 1, a situação é de lucro

IEE < 1, a situação é de prejuízo

IEE = 1, a situação é de equilíbrio.

b) - Relação MBF/RB - é a relação mais apropriada para medir a eficiência econômica da

produção familiar, pois mostra que proporção de valor a unidade de produção tornará

disponível para a família por cada unidade de valor produzido. Em outros termos, que

percentagem de renda bruta a unidade de produção é capaz de converter em margem bruta

familiar. Uma relação superior a 50% é considerada favorável. Pode ser determinada para a

unidade de produção e para as linhas de exploração.

c) - Relação MBF/Qh/d - é o índice de remuneração da força de trabalho familiar. Mostra a

quantia de margem bruta gerada por unidade de trabalho familiar (1 h/d = 1 jornada de

trabalho). O valor deve ser comparado com o preço de mercado da força de trabalho. Será

calculado por linha de exploração e para o conjunto da unidade de produção. Qh/d =

quantidade de força de trabalho utilizada no ciclo produtivo da linha de exploração ou a

quantidade total anual de força de trabalho familiar utilizada pela unidade de produção.

d) - Índice de trabalho familiar - é a participação da força de trabalho familiar no trabalho

total. É dado pela relação:

ITF = Qftf /Qftt

Page 42: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

42

sendo:

ITF = índice de trabalho familiar

Qftf = quantidade anual da força de trabalho familiar empregada no sistema de produção (h/d)

Qftt = quantidade anual total de força de trabalho empregada no sistema de produção (h/d)

e) - Índice de capitalização - é a relação que indica a intensidade de capital. É obtida pela

fórmula:

IK = Kc / Vftt ,

sendo:

IK = índice de capitalização

Kc = capital constante

Kc = (Ccf + Cim + Cmi)

sendo:

Ccf = custos de capitais fixos

Vftt = valor total da força de trabalho empregada

f) - Índice de assalariamento - é a proporção da força de trabalho familiar que se assalaria

fora da unidade de produção. É dado pela fórmula:

IA = Qftv ( (Qftv + Qftf) ,

sendo:

IA = índice de assalariamento

Qftv = quantidade anual de força de trabalho vendida

Qftf = quantidade anual de força de trabalho empregada no sistema de produção

Page 43: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

43

III – RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Aspectos gerais

Constatou-se que em quatro UPF’s o acesso a terra foi através da compra, esta

refere-se à aquisição das benfeitorias contidas na colocação e não o direito de propriedade,

devido a área pertencer ao governo federal, sendo adquirida por meio de concessão de uso, e a

colocação restante foi adquirida por meio de herança. As famílias permanecem em média 14

anos nas colocações. Moram numa situação de média distância (46 km) em relação à cidade

mais próxima o que faz com que o acesso para comercialização de seus produtos torne-se um

pouco difícil, o acesso se dá através de rios e estradas (ramais). A força de trabalho diária

disponível por família é de 3 homem/dia (trabalhando em média 8 horas/dia). Verificou-se

que 100% da força de trabalho familiar são adultos, dentre os!quais 80% são homens e 20%

mulheres, não havendo força de trabalho infantil na produção.

3.2. Índice de Trabalho Familiar – ITF

Conforme tabela 1, foi verificado que duas colocações, isto é, a Boa Vista e a

Uruqueu, possuem índice de trabalho familiar (ITF) estritamente composto pelos membros da

família. Duas colocações: Morada Nova e a Santa Maria, eventualmente contratam mão-de-

obra temporária. E a colocação Já Começa I, é um caso a parte, pois o ITF é baixo devido as

pessoas que trabalham na produção receberem ajuda de custo para trabalhar na própria

colocação

3.3. Índice de Capitalização – IK

Foi verificado (tabela 1) que apenas a colocação Já Começa apresentou o IK

inferior a 0,5, o que demonstra que a unidade é descapitalizada. A colocação Uruqueu

apresentou IK maior que 2, significando ser tecnificada. E as colocações Boa Vista, Morada

Nova e Santa Maria onde predomina a utilização de mão-de-obra familiar o índice de

capitalização é de médio a intenso.

Page 44: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

44

3.4. Índice de Assalariamento – IA

Observa-se (tabela 1) que em apenas uma colocação, a Boa Vista o IA foi igual

a zero, não apresentando assalariamento de membros da família, fora da UPF. As colocações,

Já Começa e Uruqueu, apresentaram IA elevados, a primeira o índice se eleva devido o

produtor receber ajuda de custo e na outra o assalariamento decorre de duas pessoas que

trabalham como professores na região.

Tabela 1

Índices de trabalho, capitalização e assalariamento por UPF

Colocações ITF IK IA Boa Vista 1,00 0,82 0,00 Já Começa I 0,17 0,19 0,68 Morada Nova 0,93 0,70 0,05 Uruqueu 1,00 3,85 0,77 Santa Maria 0,99 0,50 0,02

3.5. Análise da renda das famílias

Conforme tabela 2, na composição da renda bruta total gerada pelas UPF’s, a

produção agrícola predomina com 47,47% (destacando-se a melancia, com 22,34% do total da

renda), a criação de animais representa 33,78% (destacando-se o boi com 26,09% do total da

renda) e o extrativismo tem uma participação na renda com apenas 18,75% (destacando-se a

castanha com 14,64% do total da renda).

Tabela 2 – Composição da renda das famílias extrativistas pesquisadas por produtos

Produtos Percentual (%) Agrícolas 47,47 Melancia 22,34 Arroz 17,18 Banana 2,70 Outros 5,26 Extrativistas 18,75 Castanha 14,64 Borracha 4,11 Criações 33,78 Boi 26,09 Cavalo 4,24 Aves 3,01 Outros 0,44

Page 45: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

45

A crise dos produtos extrativistas, especialmente a borracha, pela falta de

políticas públicas de crédito, entre outros fatores, contribuíram para que o produtor procurasse

outros meios mais rentáveis para a subsistência de sua família, diversificando sua produção

com outras atividades voltadas para a agricultura e a criação de animais, que manifesta-se nos

81,25% de participação dessas atividades na composição total da renda. A extração da

borracha nas colocações, nas condições atuais, não interessa a maioria dos produtores, porque

essa atividade, não estava proporcionando o retorno esperado. De cinco colocações apenas

uma produziu borracha. De acordo com relato do produtor desta colocação, o mesmo diz

acreditar, que o extrativismo da borracha, ainda pode dar lucro, e que para isso, precisa-se

investir em pesquisas para que se possa encontrar formas mais adequadas para produzi-la e

também com o apoio do governo que paga subsídio como forma de incentivar a produção.

3.6. Produção das UPF’s

Os produtos comuns a todas as cinco colocações foram: a castanha e os

oriundos da criação de bois. Aves e arroz foram produzidos e comercializados por quatro,

enquanto a melancia foi vendida por três colocações.

Nos custos de produção das UPF's analisadas observa-se que predominam os

custos fixos que representam 56% dos custos totais. Reafirmando um bom índice de

capitalização das unidades. O custos variáveis representam 44% do custo total. O custo mais

representativo dentre da composição dos custos variáveis é o da força de trabalho familiar,

com 58%.

3.7. Análise econômica da UPF atualmente

As colocações apresentaram um desempenho econômico satisfatório.

Conforme tabela 3, a renda bruta (RB) média obtida foi de R$ 324,59 por mês. A renda

líquida (RL) e o lucro da exploração (LE) das colocações 1, 2, 3 e 5 apresentaram resultados

positivos, ou seja, depois de serem repostos todos os valores dos meios de produção os

produtores não precisaram afetar o seu patrimônio ou se desfazer de algum bem, para

reprodução do capital, podendo até destinar parte deste valor para acumulação.

Page 46: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

46

Simultaneamente, com os resultados líquidos obtidos usou-se o índice de eficiência (IEE) e

foi constatado que a maioria das UPF’s encontram-se em situação de lucro.

Tabela 3 - Indicadores Econômicos por UPF pesquisada

Indicadores de eficiência econômica

Unidade

Unidades de Produção Familiares – UPF's*

Média 1 2 3 4 5

Renda Bruta (RB) R$/mês 513,71

340,33 223,00 67,47 478,42

324,59

Renda Líquida (RL) R$/mês 251,11

127,90 140,29 -69,21

315,76

153,17

Lucro da Exploração (LE)

R$/mês 213,44

101,29 133,02 -98,69

292,18

128,25

Margem Bruta Familiar (MBF)

R$/mês 457,27

290,54 198,62 62,08 436,00

288,90

Índice de Eficiência Econômica (IEE)

Un. 1,71 1,42 2,48 0,41 2,57 1,72

Remuneração da mão-de-obra (MBF/Qh/d)

R$/(H/D)

9,34 15,07 16,63 8,64 10,36 12,01

Autoconsumo (AC) R$/mês

228,30

383,91 229,58 232,33

241,61

263,14

Nível de Vida (NV) R$/mês 690,94

681,13 430,51 295,28

682,25

556,02 *Unidades de Produção Familiares – UPF’s: (1) Boa Vista; (2) Já Começa I; (3) Morada Nova; (4) Uruqueu; (5)

Santa Maria.

A margem bruta familiar encontrada em média foi de R$ 288,90/mês, sendo

suficiente para adquirir bens de consumo no mercado, em média de R$ 122,81 SM/mês, como

também para cobrir os gastos com capitais fixos (R$ 110,23/mês), havendo possibilidades de

acumulação de capital.

A relação MBF/Qh/d mostra que o índice de remuneração da força de trabalho

familiar na colocação é de R$ 12,01/dia, comparando com o custo de oportunidade do

mercado (R$ 5,00/dia), verifica-se que é mais rentável o produtor trabalhar na sua própria

colocação a se assalariar fora dela. Sendo uma diferença considerável, pois ele ganharia em

torno de 140% em cima do valor que é oferecido atualmente, trabalhando apenas na sua

própria produção. Porém, ocorreu índice de assalariamento em duas colocações. São dois

casos bem distintos: numa colocação, se explica a necessidade na região de professores, e na

Page 47: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

47

outra UPF a pessoa que é responsável pela produção recebe uma ajuda de custo para trabalhar

na própria colocação.

O autoconsumo das unidades de produção é elevado, chegando em média a R$

263,14/mês. Na cidade, para que o produtor venha a sustentar-se, só com alimentação o

mesmo gastaria em torno deste valor, fora outras despesas como luz, água, imposto aluguel

etc. Em sua colocação ele produz grande parte dos produtos básicos para alimentação, dos

quais se apropria de certa quantidade para subsistência. Analisando por este aspecto podemos

compreender porque muitos produtores apesar de sofrerem prejuízos na sua produção ainda

continuam na sua colocação.

Apenas na colocação Uruqueu (4), ocorreu situação de prejuízo. Demonstrando

que essa família obteve uma renda líquida que não foi suficiente para repor nem os capitais

fixos no processo de reprodução da produção. Essa situação de prejuízo pode ter ligação com

a mão-de-obra familiar que se assalaria fora da unidade de produção ( professores), deixando

a desejar a produção. Apesar de não dispensarem tempo integral na produção, não houve

contratação de mão-de-obra temporária na UPF. Possivelmente, em virtude desses fatores a

produção pode ter sido prejudicada, acarretando uma situação de prejuízo. Analisando o

índice de eficiência econômica da mesma podemos notar que para cada R$ 1,00 gasto na

produção, o produtor recebeu apenas R$ 0,41, o que demonstra que o mesmo saiu perdendo

R$ 0,59, demonstrando visivelmente uma situação de prejuízo.

A colocação apesar de ter obtido prejuízo no período pesquisado, vale ressaltar

que a renda da família é advinda não só da produção, mas com a mão-de-obra que se assalaria

fora da UPF. Duas pessoas da família trabalham na comunidade como professores e recebem

em torno de R$ 6.420,00 ao ano, ou R$ 535,00/mês, a mais na renda. Isso explica o porque da

colocação conseguir se reproduzir novamente e contar com um alto índice de capitalização na

unidade.

Comparando esses resultados do Seringal Dois Irmãos com o levantamento

econômico do extrativismo na região do Vale do Acre, realizado pelo Projeto ASPF (2000),

observou-se que o nível de desenvolvimento deste seringal é superior à média do sistema

extrativista na região mencionada. Isso se verifica na renda bruta encontrada por esta

pesquisa, que representa quase o triplo do valor de R$ 114,24/mês encontrado pelo Projeto

ASPF. Destaca-se, ainda, que enquanto o produtor recebe uma remuneração de R$ 3,37/dia na

região do Vale do Acre como um todo, no Seringal Dois Irmãos a remuneração recebida

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48

corresponde a R$ 12,01/dia. Além disso verifica-se no relatório do Projeto ASPF uma

situação de prejuízo em todo sistema extrativista, enquanto as famílias da pesquisa em estudo

apresentam situação contrária. Significando, que os seringueiros que vivem no seringal Dois

Irmãos, tem um nível de desenvolvimento melhor em relação ao extrativismo como um todo.

3.8. Análise econômica das UPF’s com projeção das IAP’s

O anexo 1, demonstra a comparação do desempenho econômico atual das

colocações com a projeção dos possíveis resultados que as IAPs, que já se encontram

implantadas atualmente, poderiam proporcionar. No caso da colocação Uruqueu que se

encontrava em prejuízo, mesmo com o possível rendimento que as IAPs (duas atualmente)

poderiam proporcionar ainda não seria o suficiente para colocar a UPF em situação de lucro

ou equilíbrio, mas o índice de eficiência econômica será elevado em 96,28%. A renda bruta

que se apresentava em torno de R$ 67,47/mês com o possível rendimento da IAP passaria

para R$ 153,56/mês, resultando um aumento de mais de 100%. O índice de remuneração da

força de trabalho familiar que sem a IAP é de R$ 8,64/dia com a IAP passaria para R$ 29,98,

um aumento de 247%.

O anexo 2, demonstra um cenário com a quantidade máxima12 de IAPs que

podem ser implantadas por colocação. Na colocação deficitária - Uruqueu – que possui duas

ilhas implantadas, previu-se a implantação de mais três IAPs de sementes13. Dessa forma, a

colocação finalmente passaria para uma situação de lucro. A renda bruta, por sua vez, passaria

a ser praticamente o triplo com a incorporação das IAPs, significando que o produtor não

precisaria desenvolver tantas atividades em sua colocação. De forma que sua sobrevivência

depois que a borracha começasse a produzir poderia até depender principalmente do

extrativismo.

12 De acordo com o projeto a quantidade máxima de IAPs por colocação seria de cinco, para que não deixassem de ser pequenas ilhas. 13 É preferível trabalhar com sementes em virtude dos clones só serem encontrados fora do estado, encarecendo muito o custo com os mesmos, enquanto que as sementes são de fácil aquisição na região e outro fator importante é que os clones são mais susceptíveis as doenças da floresta amazônica.

Page 49: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

49

3.9. Comparação entre o sistema extrativista tradicional e as IAP’s

Tabela 4 - Comparação do sistema extrativista tradicional da borracha e as IAP’s (Colocação Boa Vista)

Indicadores Unidade Extrat.

Tradicional

IAP 5 IAP's

Renda Bruta (RB) R$/mês 66,67 26,49 132,44

Renda Líquida (RL) R$/mês -16,93 15,12 75,60

Lucro da Exploração (LE)

R$/mês -19,10 14,50 72,50

Margem Bruta Familiar (MBF)

R$/mês 62,08 26,13 130,67

Índice de Eficiência Econômica (IEE)

Un. 0,78 2,21 2,21

Remuneração da mão-de-obra (MBF/(Qh/d))

R$/hd 2,90 6,53 32,67

Mão-de-obra H/D 257,25 48,00 240,00

A tabela 4, demonstra a comparação entre a rentabilidade da colocação no

extrativismo tradicional e a previsão de rentabilidade de uma IAP. Ressalta-se que esta

comparação pôde ser realizada na única UPF que produziu borracha, a colocação Boa Vista,

segundo os indicadores econômicos utilizados, evidenciando o grau de desinteresse dos

produtores pela extração da borracha nas condições atuais.

Comparando-se os retornos econômicos de uma IAP com os obtidos através da

exploração tradicional da seringueira, utilizando-se como parâmetro o ano de estabilização da

produção, observa-se que é muito mais vantajoso implantar uma IAP.

No sistema extrativista tradicional o seringueiro obteve uma renda bruta média

de R$ 66,67/mês – incluindo subsídio estadual previsto na lei de Subvenção à Borracha de Nº

1.227 de 13/01/1999 (denominada Lei “Chico Mendes) – utilizando uma mão-de-obra

familiar média de 257,25 homem/dia (H/D), enquanto que com apenas uma IAP de pé-franco

(semente) a renda bruta gerada seria quase a metade desse valor, correspondendo a R$

26,49/mês, utilizando uma mão-de-obra familiar de 48,00 H/D. Mesmo obtendo uma renda

bruta inferior com a IAP, observa-se a vantagem de sua implantação, já que para esta

utilizaria aproximadamente 1/5 da mão-de-obra empregada atualmente. Além disso, verifica-

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50

se que com a IAP a colocação sairia de uma situação de prejuízo, na produção de borracha,

pois o índice de eficiência econômica que no extrativismo tradicional foi em torno de 0,78,

significando que para cada R$ 1,00 gasto recebeu apenas R$ 0,78, a partir da IAP esse índice

passaria para 2,21, evidenciando situação de lucro, já que para cada R$ 1,00 gasto obteria R$

2,21.

O Projeto IAP’s prevê a implantação de no máximo 5 IAP’s por colocação,

dependendo da disponibilidade de mão-de-obra. Com a implantação das mesmas, o

seringueiro conseguiria uma renda bruta média de R$ 132,44/mês, utilizando uma mão-de-

obra de 240 H/D, a qual ainda é inferior àquela empregada no extrativismo tradicional.

A remuneração da força de trabalho familiar - R$ 2,90/dia - no extrativismo

tradicional foi inferior ao custo de oportunidade da região em torno de R$ 5,00/dia.

Comparando com a projeção de uma IAP a remuneração seria R$ 6,53/dia, acima do custo de

oportunidade e comparando ainda com a projeção de cinco IAP’s a remuneração seria mais

representativa, em torno de R$ 32,67/dia.

Esses resultados demonstram que com essa nova tecnologia o seringueiro tem

possibilidades de produzir mais, gastando menos mão-de-obra e podendo ainda, continuar

com sua produção diversificada, pois enquanto não for época de extração do látex, existirão as

culturas de entrelinhas neste intervalo de tempo, para proporcioná-lo maior renda.

Page 51: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

51

IV - CONCLUSÃO

Em 1990, surgem as Reservas Extrativistas, com o objetivo de apaziguar os

conflitos pela posse de terra, e também para dar uma freada na degradação dos recursos

ambientais, com a utilização econômica dos recursos naturais renováveis de forma

sustentável. Mas, era preciso não somente a regulamentação fundiária, como também uma

modernização e diversificação da sua estrutura produtiva.

Tendo em vista, a decadência em que se encontra o extrativismo, no qual o

seringueiro deixou de lidar basicamente com produtos extrativos, recorrendo à pecuária, à

agricultura e a criação de pequenos animais, surge uma proposta denominada de Ilhas de Alta

Produtividade- IAP’s, com a finalidade de não só fazer com que o seringueiro retornasse a sua

atividade principal, mas como também, com o propósito de melhorar as condições de trabalho

e retorno financeiro. Além disso, a proposta das IAP’s pressupõe que o seringueiro alcance

níveis mais elevados de produção, dado a incorporação do progresso técnico, como também

de produtividade e rendimentos capazes de reverter essa situação de decadência, levando a um

nível competitivo no mercado nacional e internacional.

Nas IAP’s, as culturas são plantadas próximas umas das outras, numa área de

aproximadamente uma hectare, significando que o seringueiro gastará menos tempo e, por

conseguinte, menor quantidade de mão-de-obra para trabalhar na produção, em especial da

borracha, e com um bom retorno financeiro. No extrativismo tradicional, podemos notar que

a colocação Boa Vista (única que produziu borracha), utilizou-se de muita mão-de-obra, a

remuneração recebida foi baixa e o produto mostrou-se ineficiente. Com a introdução das

IAP’s o custo da mão-de-obra diminuirá e a remuneração a ser recebida pelo produtor

aumentará e deixará de ser um produto ineficiente no processo.

As IAP’s podem e devem ser implantadas em áreas de roçados. Isso é de

fundamental importância, uma vez que não se faz necessário abrir uma área nova,

incentivando mais derrubadas, já que utiliza-se a área de roçado já aberta, permitindo assim a

conservação do meio ambiente.

Como as IAP’s têm um longo prazo para começarem a produzir, em torno de

08 anos, o ideal seria que essas famílias consorciassem suas IAP’s com outras culturas de

valor econômico nas entrelinhas, através dos Sistemas Agroflorestais – SAF’s, o que

possibilitará uma renda alternativa a curto prazo. A consorciação das mesmas segundo os

Page 52: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

52

SAF’s mostram que a incidência de pragas reduz, há um aumento da produtividade de forma

sustentável e há uma aceitabilidade pela comunidade local que dá sugestões e questionam

também. A IAP traz benefícios ao seringueiro sem que isto venha gerar conflitos em seu

modo de vida e tradição que é a base do conceito de neoextrativismo, que sugere o uso dos

recursos naturais de forma sustentável.

Os resultados econômicos encontrados, referem-se às IAP’s solteiras. Para

cada colocação foi feita uma projeção, com base nos dados coletados, para verificação da

situação futura das colocações. Analisando as IAP’s, de um modo geral, todas irão acrescentar

lucros, principalmente quando estiverem com sua produção estabilizada, a partir do 12º ano

para as clonais e 15º ano para as de sementes, por isso é importante a consorciação das

mesmas com outras culturas de valor econômico, que proporcionarão uma renda mais rápida

até que a produção de borracha se inicie.

Com relação ao desempenho econômico das colocações, estas apresentaram-se

economicamente eficientes no processo de produção, capazes de se reproduzirem novamente

sem afetar o patrimônio. Entretanto, analisando-se separadamente, podemos notar que cada

colocação possui sua peculiaridade ou particularidade. Por exemplo, a colocação Boa Vista

(única UPF que produziu borracha no período), mostrou-se eficiente no processo de produção.

No entanto, analisando-se individualmente cada produto, verifica-se que a borracha gerou

prejuízo, mas mesmo assim a produção total da UPF não foi prejudicada, tendo em vista ser

uma colocação capitalizada e ter uma produção bem diversificada, não dependendo

exclusivamente da produção da mesma. Todos seringueiros entrevistados enfatizam que nos

moldes atuais o extrativismo não gera mais lucro, pois o produto tem um custo muito alto,

principalmente com a mão-de-obra. Além disso, a renda obtida não é suficiente nem para

pagar os custos de produção. Reflexos estes que mostram porque as outras colocações

optaram por não cortar seringa. Esta UPF é provida de um bom índice de capitalização e

também possui mão-de-obra disponível, sendo a dos filhos, por isso eles têm condições de

manter a tradição de cortar seringa, função esta que o seringueiro nos informou que conhece e

gosta de trabalhar e que não desejaria que se extinguisse.

De acordo com o Projeto ASPF o sistema extrativista, na região do Vale do

Acre, estratifica-se pelos níveis de desenvolvimento alto, médio e baixo, sendo esta

classificação definida em conformidade com os seguintes critérios: nível de organização da

comunidade, infra-estrutura, volume de produção, assistência técnica e acesso. Utilizando esta

Page 53: ILHAS DE ALTA PRODUTIVIDADE: alternativa de desenvolvimento sustentável para população extrativista

53

classificação, o referido projeto considerou o Seringal Dois Irmãos como região de alto

desenvolvimento, sendo corroborado pelos resultados desta pesquisa. No entanto, se

considerarmos a pesquisa do Projeto ASPF, que envolveu uma amostra maior do sistema

extrativista, perceberemos que existem muitas áreas com baixo desenvolvimento econômico,

levando a apresentar ineficiência no processo. Dessa forma, se numa área de alto

desenvolvimento as IAP’s melhorarão o desempenho econômico das colocações, por

conseguinte, aquelas áreas de baixo desenvolvimento que foram detectadas pelo Projeto,

também terão oportunidades de melhorar seu desempenho. Além de contribuir

significativamente para o equilíbrio do nosso ecossistema.

No presente estudo, verifica-se a inviabilidade econômica do extrativismo

tradicional da seringueira. No entanto, essa inviabilidade não é inerente ao extrativismo pois,

a incorporação de tecnologias, por meio das IAP’s – que constitui em uma alternativa

neoxtrativista viável – pode reverter essa situação, contribuindo para que o mesmo volte a ser

produtivo e competitivo no mercado, possibilitando que o seringueiro tenha melhores

condições tanto de trabalho como de vida na colocação.

Para as IAP’s obterem sucesso, se faz necessário não somente o apoio do

governo estadual juntamente com os órgãos responsáveis pelas Reservas Extrativistas para

implementação de políticas públicas específicas para o setor, como também que a colocação

do seringueiro seja provida de assistência técnica. Além disso, é necessário que este tenha os

devidos cuidados com a IAP implantada, como por exemplo protegê-la da invasão de animais,

cuidar para que não seja atingida por fogo em época de queimadas e obedecer às exigências

agronômicas de espaçamentos. Assim, seu sucesso depende de que tudo ocorra dentro do

previsto.

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54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO I

Desempenho econômico das UPF's do Ser. Dois Irmãos sem IAP's e com IAP's implantadas

Indicadores Unidade

UPF's

Boa Vista (1) Já Começa I (2) Morada Nova (3) Uruqueu (4) Santa Maria (5)

s/ IAP c/ IAP % s/ IAP c/ IAP % s/ IAP c/ IAP % s/ IAP c/ IAP % s/ IAP c/ IAP %

Renda Bruta (RB) R$/mês

513,71 540,20 5,16 340,33 419,80 23,35 223,00 299,82 34,45 67,47 153,56 127,59 478,42 542,52 13,40

Renda Líquida (RL)

R$/mês

251,11 266,23 6,02 127,90 184,66 44,38 140,29 196,09 39,77 -69,21 -6,51 90,59 315,76 367,36 16,34

Lucro da Exploração (LE)

R$/mês

213,44 227,94 6,79 101,29 156,81 54,82 133,02 187,62 41,04 -98,69 -37,25 62,25 292,18 343,14 17,44

Margem Bruta Familiar (MBF)

R$/mês

457,27 483,40 5,72 290,54 369,33 27,12 198,62 274,87 38,39 62,08 147,46 137,52 436,00 499,72 14,61

Índice de Eficiência Econômica (IEE)

Un. 1,71 1,73 1,17 1,42 1,60 12,41 2,48 2,67 7,75 0,41 0,80 96,28 2,57 2,72 5,88

Remuneração da mão-de-obra (MBF/(Qh/d))

R$/hd 9,34 15,87 69,95 15,07 34,77 130,71 16,63 35,69 114,64 8,64 29,98 247,03 10,36 26,29 153,76

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ANEXO II

Desempenho econômico das UPF's do Ser. Dois Irmãos sem IAP's e com até 5 IAP's implantadas

Indicadores Unidade

UPF's

Boa Vista (1) Já Começa I (2) Morada Nova (3) Uruqueu (4) Santa Maria (5) s/ IAP

c/ IAP

% s/ IAP

c/ IAP

% s/ IAP

c/ IAP

% s/ IAP

c/ IAP

% s/ IAP

c/ IAP

%

Renda Bruta (RB) R$/mês 513,71

646,15

25,78 340,33

446,29

31,13 223,00

339,55

52,26 67,47 233,02

245,36

478,42

734,82

53,59

Renda Líquida (RL) R$/mês 251,11

326,71

30,11 127,90

199,78

56,21 140,29

210,09

49,75 -69,21

38,85 156,13

315,76

522,18

65,37

Lucro da Exploração (LE) R$/mês 213,44

285,93

33,97 101,29

171,31

69,13 133,02

199,96

50,32 -98,69

6,24 106,33

292,18

496,01

69,76

Margem Bruta Familiar (MBF)

R$/mês 457,27

587,94

28,58 290,54

395,47

36,11 198,62

314,07

58,13 62,08 225,86

263,81

436,00

690,87

58,45

Índice de Eficiência Econômica (IEE)

un. 1,71 1,79 4,90 1,42 1,62 14,30 2,48 2,43 -1,91 0,41 1,03 150,62

2,57 2,59 0,69

Remuneração da mão-de-obra (MBF/(Qh/d))

R$/hd 9,34 42,01 349,77

15,07 41,30 174,07

16,63 45,49 173,57

8,64 49,58 473,89

10,36 74,08 615,02