,ij'r ,:. ;' . i=- ~~.--; ..tve~ - universidade de são paulo · ... atingindo uma...

3
f 1 ..tVE~ - ~ ~ .",,~~, ,iJ'r ,:. ";' i=- ",' ". ,I:i .,.it. >a~'" ~, 'i'c . .... ~~ .--; . .. ~.-. ..:~ 0.,I - "" - -',~, ~'" - >fr' 1";,' , .".;J', ;,t ~ -- ' " ,. J-~ ,~, ',r.' .- ft" .'4,: ""'- ,~, ~ , Rosicler Martins Rodrigues \ " . \'""" ~ I h, ~~.".~\~- \,~'}' .~. ~ Quando você ler este artigo, o conjunto de saltos e quedas d'água co- nhecido por Sete Quedas já terá deixado de existir, "afogado" no fundo de um imenso lago, formado pelo represamento do Rio Paraná, na bar- ragem de Itaipu. Perdemos Sete Quedas, considerada como uma das maravilhas da natureza e ganhamos Itaipu, a maior usina hidroelétrica do mundo, segundo muitos, "maravilha do engenho humano". Esse acontecimento provocou intensa polêmica. Muitos são radical- mente contra a destruição de Sete Quedas, outros acham que ela foi sacrificada por justa causa. Ambas as partes defendem seus próprios valores e ideais, arrolando uma infinidade de argumentos. Achamos que assunto tão polêmico, envolvendo diferentes posicionamentos em relação ao meio ambiente e aos anseios de progresso humano, mere- ce ser levado aos estudantes como um exercício para o desenvolvi- mento de uma consciência ambienta/. É importante que os jovens co- nheçam os acontecimentos e também se posicionem, pois assim poderão adquirir a prática do pensar a respeito de seus próprios valo- res em relação ao ambiente e assumir atitudes perante os problemas ambientais de nosso tempo. Sugerimos ao professor uma atividade que será desenvolvida em etapas, culminando num debate. UM DEBATE SOBRE SETE QUEDAS Centro de Treinamento para Professores de Ciências Exatas e Naturais de São Paulo CECISP 28

Upload: letuyen

Post on 25-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

f1

..tVE~-~

~ .",,~~,,iJ'r ,:. ";'

i=- ",' ".,I:i .,.it.>a~'" ~, 'i'c

. ....~~.--;. ..

~.-. ..:~

0.,I - "" --',~, ~'" - >fr'1";,' ,

.".;J',

;,t

~

--

' " ,. J-~

,~, ',r.' .-ft" .'4,:""'-,~, ~,

Rosicler Martins Rodrigues

\ " .

\'""" ~ I h,

~~.".~\~- \,~'}' .~. ~

Quando você ler este artigo, o conjunto de saltos e quedas d'água co-nhecido por Sete Quedas já terá deixado de existir, "afogado" no fundode um imenso lago, formado pelo represamento do Rio Paraná, na bar-ragem de Itaipu. Perdemos Sete Quedas, considerada como uma dasmaravilhas da natureza e ganhamos Itaipu, a maior usina hidroelétricado mundo, segundo muitos, "maravilha do engenho humano".Esse acontecimento provocou intensa polêmica. Muitos são radical-mente contra a destruição de Sete Quedas, outros acham que ela foisacrificada por justa causa. Ambas as partes defendem seus própriosvalores e ideais, arrolando uma infinidade de argumentos. Achamosque assunto tão polêmico, envolvendo diferentes posicionamentos emrelação ao meio ambiente e aos anseios de progresso humano, mere-ce ser levado aos estudantes como um exercício para o desenvolvi-mento de uma consciência ambienta/. É importante que os jovens co-nheçam os acontecimentos e também se posicionem, pois só assimpoderão adquirir a prática do pensar a respeito de seus próprios valo-res em relação ao ambiente e assumir atitudes perante os problemasambientais de nosso tempo. Sugerimos ao professor uma atividadeque será desenvolvida em etapas, culminando num debate.

UM DEBATE

SOBRE

SETE QUEDAS

Centro de Treinamento para Professores

de Ciências Exatas e Naturais

de São Paulo

CECISP

28

Na primeira etapa, o professor transmite aos alunosdados objetivos sobre Sete Quedas e a represa de Itaipu(Anexos I e 11),tomando cuidado para não assumir posicio-namento pessoal.

Na segunda etapa, os alunos fazem uma pesquisa deopinião, perguntando a várias pessoas: "Você é contra oua favor da destruição de Sete Quedas para a formação darepresa de Itaipu? Quais os seus argumentos?"

Na terceira etapa, os alunos, reunidos em grupos,analisam as opiniões coletadas, cotejando-as (se for o ca-so) com os dados fornecidos pelo professor.

Na quarta etapa, para enriquecer o debate, o profes-sor apresenta os argumentos pró e contra Itaipu que estãoreproduzidos nos Anexos 111e IV, deixando claro que sãoopiniões impregnadas de valores pessoais. Esses argu-mentos foram transcritos de entrevistas realizadas por jor-nalistas com pesoas as mais diversas, como professoresuniversitários, políticos, militares e participantes de movi-mentos ecológicos.

A Revista de Ensino de Ciências não se responsabili-za pela exatidão das afirmações feitas pelos entrevista-dos. Elas são apresentadas para dar aos alunos mais ele-mentos para fazê-Ios perceber que os problemas ambien-tais, além de complexos por si mesmos, se tornam aindamais difíceis pelas reações emocionais que desenca-deiam.

No final desta etapa, é muito provável que os alunosjá tenham formado suas próprias opiniões e estejam emcondições de realizar o debate. O professor será o media-dor e, só no fim das trocas de idéias, deverá dar sua opi-nião pessoal.

Anexo IALGUNS DADOS SOBRE SETE QUEDAS

O conjunto de saltos e quedas d'água estava localiza-do ao oeste do Estado do Paraná, no Município de Guaíra,divisa entre o Brasil e o Paraguai. Eraformado por uma su-cessão de quedas e saltos, tendo o maior deles 37 metrosde altura. Calcula-se que a água do Rio Paraná levou cer-ca de 1 milhão de anos para cavar no basalto, rocha vul-cânica dura, o caminho que percorria. Era a cachoeiramais caudalosa do mundo, nela se escoando cerca de 75mil metros cúbicos de água por segundo, numa velocida-de de 150 km por hora. Segundo muitos, era um dos maisbelos monumentos do planeta, insuperável espetáculo danatureza.

Os saltos e quedas estavam no Parque Nacional deSete Quedas criado em 1961 , como área de reserva eco-lógica, destinada à preservação de animais e plantas.Mas, na verdade, pouco foi preservado. No decorrer dotempo, a natureza foi sendo devastada por caçadores eagricultores.

De sua flora primitiva, no lado brasileiro, só restavamalguns minguados pés de taquaruçu, formoso bambu quefloresce a cada 25 anos, algumas begônias, maracujás,um ou outro pé de pacuri, além de extensas plantações.Do lado Paraguaio, a mata ainda conserva rica variedadede plantas.

Quando criado, o Parque Nacional de Sete Quedasabrigava muitas espécies de animais: jacaré, sucuris, lon-tras, ariranhas, capivaras, garças, mutuns, siriemas, cego-nhas, emas, veados, onças, pacas, tatus. Lamentavel-mente, a criação do Parque também não foi suficiente pa-ra garantir a preservação da fauna.

No lado brasileiro, sobrevíviam principalmente asaves. As capivaras haviam até aumentado em número,pois, há muito tempo, estavam livres das onças, seusmaiores predadores. De resto, quase somente animais depequeno porte, como esquilos, lagartos, cobras, uma ououtra cutia ou paca e o veado mateiro.

A maioria dos animais vivia nas matas do lado Para-

guaio, onde, calcula-se, encontravam-se cerca de 70 espé-cies de mamíferos, entre os quais se destacavam, pelo pe-so, as antas e, pela beleza, os felinos.

No rio Paraná, a quantidade e variedade de peixeseram muito grandes ao tempo da criação do Parque, mastambém haviam decrescido bastante, em conseqüênciada pesca indiscriminada.

Além do río e do que restava de mata, havia um outroambiente, em geral pouco notado pelos visitantes da re-gião: as lagoas de água doce, formadas por água, de chu-va, represada nas depressões das plataformas das ro-chas. Nesses iocais, ornados por bromélias e cactáceas,viviam centenas de pequenos lagartos, várias espécies deaves e umaespéciede gaviãoque se alimentavade mo- .luscos que viviam nas lagoas.

Toda a área do Parque e suas vizinhanças foi habita-da pelo homem nos últimos 8.000 anos. Havia numerosossítios arqueológicos na região, muitos deles guardando,soterrados, objetos de madeira, pedra, cerâmica e osso,de grande valia para a reconstrução da história cultural daAmérica do Sul.

Anexo 11

ALGUNS DADOS SOBRE ITAIPU

Capaz de gerar 15 milhões de kilowatts, Itaipu é a usi-na de maior potencial energético do mundo. Permitirá atransmissão de energia elétrica num raio de 1ZOOquilô-metros, de Itaipu até a costa do Brasil, na Guanabara, e deItaipu até as encostas andinas; e desde Brasília, no Plana~to Central, até o estuário do Prata, na altura de Montevi-déu, atingindo uma população estimada em 80 milhões dehabitantes.

A barragem, que represa o Rio Paraná, tem a alturaaproximada de um edifício de 62 andares (185 metros),196 metros de largura e 7 quilômetros de extensão. O vo-lume de concreto empregado em sua construção dariapara construir cerca de 160 estádios equivalentes ao doMaracanã, no Rio de Janeiro.

Quando estiver completamente cheio, o lago, forma-do pelo represamento do rio, será três vezes maior que aBaía de Guanabara, com 1350 km2 de superfície e 170metros de profundidade, em média.

Com a formação do lago, a flora e a fauna do localpereceram sob as águas e os peixes, que habitualmente

29

nadam rio acima para a desova, terão seu ciclo de vidaperturbado.

Dois projetos ambientalistas foram executados paraminimizar os desastres causados pelo lago. Um deles re-fere-se à fauna: foi feito o levantamento das espécies ani-mais da região e criaram-se refúgios que servirão paraabrigar os animais, salvos da inudação. a segundo projetodiz respeito à flora: foi feito um levantamento das espéciesde plantas da região e a coleta de mudas para a formaçãode um bosque ao redor da barragem. Tudo mais apodre-cerá no fundo do lago.

Com o afogamento das quedas, Guaíra perdeu suafonte de renda: o turismo. Mas, segundo alguns, o lagopoderá gerar novas atrações turísticas na região.

Anexo111

O QUE DIZEM OS QUE SÃO CONTRAO DESAPARECIMENTO DE SETE QUEDAS

Teria sido mais econômico e viável construir muitas pe-quenas usinas, que trariam menos danos ecológicos queItaipu.

Sete Quedas existia, na forma em que a conhecemos, hácerca de 1 milhão de anos. Num país cujos dirigentes fos-sem razoavelmente afinados com a sensibilidade cultural

da nação, tudo se teria feito para preservar essa grandemaravilha do planeta.

No lago de Itaipu desaparecetam mamíferos, pertencentesa 70 espécies, e aves, pertencentes a 252 espécies, alémde insetos de 1600 espécies. Muitos exemplares foramsalvos, mas calcula-se que 70% pereceu sob as águas.

Existia um outro projeto, que não foi levado em considera-ção, elaborado pelo Engenheiro Marcondes Ferraz, cria-dor do projeto da Usina de Paulo Afonso. Com ele, SeteQuedas seria preservada, pois a barragem seria construí-da acima das quedas e uma parte da água desceria porum túnel cavado dentro da rocha viva, até as turbinas queficariam num "salão" subterrâneo.

Muitos homens estão cegos com a força da ciência e datecnologia; não medem as conseqüências sociais e huma-nas desses projetos; perderam o respeito à natureza.

Não temos nem como aproveitar tanta potência energéti-ca. Essa usina é para o próximo século, não deveria ser

construída agora, quando há problemas mais graves paraserem resolvidos.

É inacreditável que um projeto como esse não tenha sidodiscutido em nível nacional, com esclarecimento à popula-ção sobre os prós e contras que envolve.

Haverá alteração do clima local, com a formação de nebli-na, aumento da velocidade dos ventos e modificações natemperatura. a ambiente sempre dá uma resposta à inter-ferência do homem.

30

Perdemos135.000hectaresde terrascultiváveis,quepro-duziam200 mil toneladasde produtosagrícolaspor ano.

a movimento ambientalistarecomendaque seja incenti-vada a formação de pequenascidades. Itaipu mandaráenergiaparagrandescidades,dando condiçõesparaquese tornem megalópolis. É a idéia de progresso: quantomaior, melhor. a que, geralmente, não é verdade.

Essa usina é uma das armas mais sinistras da história. Aágua do lago, se a barragem arrebentar ou for arrebenta-da, causará milhões de mortes e inundará 2/3 da Argenti-na e do Paraguai.

Anexo IV

O QUE DIZEM OS QUE SÃO A FAVORDA USINA DE SETE QUEDAS

Itaipu é perfeitamente segura, sua barragem jamais cede-rá e o acumulo de detritos no fundo do lago será desprezí-vel, garantindo uma longa vida à usina.

Se fizéssemos usinas pequenas, talvez não fosse possívelconstruir todas ao mesmo tempo. Isso encareceria o pro-jeto, pois não movimentaria tanto material quanto Itaipumovimentou em pouco tempo.

Sempre que possível, se deve preservar o ambiente.aque não podemos, nesse mundo carente de energia, édeixar de aproveitarnossosrecursoshídricosparaprodu-zir energia.E o Brasilprecisarácada vezmaisdeenergiaelétrica.

Itaipufoi o projetomais baratodentretodos os propostos.

Não existe progresso sem energia elétrica. É verdade queagora não precisamos de toda a energia que Itaipu podegerar, mas ela será indispensável no próximo século. Semexcesso, não há progresso.

Todo cuidado foi tomado para a preservação dos docu-mentos arqueológicos da região. Foram feitas escava-ções em toda a área brasileira que será submersa, reali-zando-se um trabalho inédito de salvação da cultura.

Na área do reservatório, foram feitos inventários florestais,faunísticos, arqueológicos, bem como estudo do clima daregião. Animais estão sendo resgatados, árvores sendoplantadas em torno da área do futuro lago, que será usadonão apenas para gerar energia, mas também para irriga-ção, pesca, abastecimento de 'cidades, lazer e navega-ção.

Se não construíssemos Itaipu, teríamos que recorrer, nofuturo, à energia nuclear, o que seria bem pior. A energiahidroelétricà é renovável e limpa e, para ela, temos tecno-logia brasileira.

Itaipu é uma prova da competência de nossa tecnologia edeve ser um orgulho para todos os brasileiros. Foi realiza-da por nossos engenheiros, usando, quase totalmente,materiais píoduzidos por nossas indústrias.