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III SIEBRAP -2006 Associação de Brasileiros na Universidade de Aveiro III SIEBRAP – SEMINÁRIO DE INVESTIGADORES E ESTUDANTES BRASILEIROS EM PORTUGAL - CIÊNCIA, ÉTICA E MULTICULTURALISMO Aveiro – 2006 1

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III SIEBRAP -2006

Associação de Brasileiros na Universidade de Aveiro

III SIEBRAP – SEMINÁRIO DE INVESTIGADORES E ESTUDANTES BRASILEIROS EM PORTUGAL -

CIÊNCIA, ÉTICA E MULTICULTURALISMO

Aveiro – 2006

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III SIEBRAP -2006

O III Seminário foi realizado na Universidade de Aveiro, nos dias 13 e

14 de Dezembro de 2006, sob o tema: “ CIÊNCIA, ÉTICA E MULTICULTURALISMO”.

O SIEBRAP vem sendo realizado desde 2004 em Portugal, tornando-

se um importante fórum de apresentação de pesquisas científicas desenvolvidas pelos estudantes brasileiros nas Universidades

portuguesas. É um espaço de reflexão sobre as formas de integração entre os estudantes brasileiros e o espaço lusófono.·

O objetivo principal do seminário é integrar os estudantes e pesquisadores acerca das condições da produção do conhecimento e

divulgar os trabalhos de pesquisa que estão sendo realizados por cidadãos brasileiros em Portugal.

O I e II Seminários de Investigadores e Estudantes Brasileiros em

Portugal ocorreram nas Universidades de Coimbra e do Porto, respectivamente. Este ano, a Universidade de Aveiro foi a anfitriã

do III SIEBRAP, organizado pela Associação de Brasileiros na Universidade de Aveiro (ABRUNA).

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COMISSÃO ORGANIZADORA

III SEMINÁRIO DE INVESTIGADORES E ESTUDANTES BRASILEIROS EM PORTUGAL está sendo organizado pela Associação de Brasileiros na Universidade de Aveiro (ABRUNA), com o apoio da:

- Universidade de Aveiro - Associação Académica da Universidade de Aveiro (AAUAv) - Associação de Brasileiros da Universidade do Porto (BRASUP) - Associação de Cidadãos Brasileiros em Coimbra (APEB-Coimbra) - Câmara Municipal do Aveiro, Fundação para Ciência e Tecnologia - Banco do Brasil, Embaixada do Brasil em Lisboa - Jornal “O Brasileirinho” - Jornal “O Sabiá” - Casa do Brasil - JustPrint - Impressões e Design.

Comissão Organizadora

Rogério Patrício Chagas Nascimento Presidente da Comissão Organizadora

Marcelo Lopes Nunes Presidente da ABRUNA

Fabiane Costa Oliveira Secretária da ABRUNA

Daniela Salgado Carvalho Comissão Sócio-Cultural ABRUNA

Rodrigo De Paula Comissão Sócio- Cultural ABRUNA

Colaboradores Carla Serra Nunes Carlos Rodrigo Vieites Flávia Almeida Francislê Neri De Souza Hypolito José Kalinowski Marcelo Quinderé Pedro Neves Priscila Tatiana Gonçalves Raimundo Cláudio Xavier Terezinha Santos

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Programação

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Dia 13 de Dezembro – Quarta-feira

09h00 Entrega de material e credenciamento 10h00 Abertura Oficial: hino brasileiro e hino português 10h15 Apresentação do III SIEBRAP 10h45 Palestra: "CIÊNCIA, ÉTICA E MULTICULTURALISMO" 11h30 Intervalo/café 11h45 Mesa redonda: “Discussão entre os palestrantes e o público sobre o tema da Palestra” 12h30 Almoço no Refeitório do Crasto 14h00 Apresentação oral de trabalhos 16h00 Intervalo/café 16h15 Apresentação oral de trabalhos 18h00 Apresentação de grupos culturais 18h30 Coquetel de boas vindas "Vinho do Porto" juntamente com exposição “Um Olhar Brasileiro". 20h30 Jantar de confraternização 23h00 J2 Bar – Musica Ao Vivo

Dia 14 de Dezembro – Quinta-feira

10h00 Palestras: "RECONHECIMENTOS DOS DIPLOMAS ESTRANGEIROS NO BRASIL E EM PORTUGAL" 10h45 Intervalo/café 11h00 Mesa redonda "Discussão entre os palestrantes e público sobre o tema da Palestra" 12h30 Almoço 14h00 Apresentação oral de trabalhos 16h00 Intervalo/café 16h15 Apresentação oral de trabalhos 18h00 Sessão de Encerramento

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Apresentação oral dos trabalhos científicos

Qui6: Política e Sociedade

Intervalo para café

Qua1: Educação / Sociologia

Qua2: Biologia / Bioquímica / Processos

Qua3: Econômia e Sociedade

Qua4: Saúde Pública

Qui1: Educação

Qui2: Direito

Qui3: Gênero e Cultura

14:00 - 16:00

16:30 - 18:15

14:00 - 16:00

16:00 - 16:15

16:30 - 18:15

16:00 - 16:15Intervalo para café

Qua5: Multimídia

Qua6: Materiais

Qui5: Governo e Comunidades

Qui4: Ciências da Natureza

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Apresentação oral dos trabalhos científicos Qua 1

Kátia Adair Agostinho Formas de participação de pré-escolares em contextos sócio-educativos

Márcia Andréia Triches Educação Infantil em Santa Catarina (Brasil) e orientações da UNESCO

Marcos Garcia Neira A pedagogia da cultura corporal frente à

diversidade: um estudo comparativo entre a escola portuguesa e a brasileira

Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira

Educação profissional: um percurso do período colonial brasileiro até a atualidade

Deribaldo Santos Políticas públicas para o ensino profissional de nível superior no Brasil: o caso do centec/ce

Flávia Regina Ferreira dos SantosA construção do espaço público sonoro: produção e participação social nas rádios comunitárias e livres

no Brasil e Portugal

Lourenço Cardoso Branquitude e mídia: as cotas como invenção midática

Alexandra Martins Silva Barragens – Luta e resistência

Qua 2

Rodrigo de Paula Psoralenos: da cultura hindu à fotoquimioterapia

Fábio Luiz Partelli Efeitos do Estresse Hídrico e Nutricional no

Metabolismo Fotossintético do Cafeeiro Conilon (Coffea canephora Pierre)

Regina de Andrade Menezes Cooperação entre o YAP1 e YAP8 na resposta ao stress induzido pelos compostos de arsénio em s.

Cerevisiae

Vania Battestin Estudo da aplicação da enzima tanase na biossíntese de compostos antioxidantes

Mariana Conceição da Costa Estudo da fase sólida dos sistemas: ácido oleico + ácido esteárico e ácido mirístico + ácido esteárico

Mylene Cristina Alves Ferreira Rezende

Otimização em tempo real de um reator de hidrogenação trifásico empregando algoritmos

genéticos

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Qua 3

Cristiano de França Lima Conhecimento operário e novas tecnologias: um dialógo na coexistência

José Gabriel de Oliveira Andrade Junior

Comunicação: a resposta para as crises empresariais

Renato Pedro Mugnol Ética, responsabilidade social e sustentabilidade empresarial

Sandra Maria Monteiro Holanda Antecedentes da lealdade de clientes empresariais

no contexto de bancos no Brasil: proposta e teste de um modelo teórico

Juracy Aparecida da Silva Santos A não discriminação tributária internacional

Diego Neves de Sousa Uma óptica do cooperativismo português

Paulo Burnier da Silveira A remuneração dos directores estatutários nas

associações sem fins lucrativos: um estudo comparado entre o direito brasileiro e o direito

português

Deborah de Melo Farias Empresa familiar: implicações para sua definição

Qua 4

Alcione Leite da Silva Acesso a serviços de saúde por mulheres brasileiras imigrantes

Dina Beatriz dos Santos Os desafios de viver em comunidade: reintregrar e reabilitar

Maria do Socorro Costa Feitosa Alves

Saúde bucal do imigrante brasileiro: uma abordagem psicossocial

Alcione Leite da Silva A pesquisa-ação na promoção do desenvolvimento sustentável de comunidade rural

Graziela Raupp Pereira A síndrome da imunodeficiência adquirida em contexto educacional, no Brasil e em Portugal

Valéria Peixoto Bezerra Risco de contágio pelo HIV: representações sociais de estudantes universitários

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Qua 5

Germano Magalhães Inesting Stats

Marcelo Quinderé Comunicação humano-robô através de linguagem falada

Adalto Herculano Guesser Diversidade linguística no ciberespaço: interacção local/global e reacção contra-hegemónica

Rogério P C do Nascimento Ferramenta WEB de apoio a pedagogos e docentes: inquéritos online usando o MOODLE

João Batista Bottentuit Junior Avaliação e desenvolvimento de um laboratório virtual

Heraldo Luis Dias da Silveira Avaliação e validação de um modelo hipermedia para

aprendizagem e calibragem em cefalometria radiográfica

Qua 6

Ana Lúcia Horovistiz Análise morfológica do grau de textura de cerâmicas por meio de processamento e análise de imagens

Flávia Aparecida de Almeida Comportamento de ferramentas de Si3N4 recobertas com filmes de diamante CVD de diferentes tamanhos

de grão na usinagem de metal duro

Fabiane Oliveira Nanocompósitos do tipo inorgânico/polissacarídeo

Rodrigo Alvarenga Rezende Estudo do comportamento mecânico do alginato para

a biofabricação de scaffolds para a engenharia de tecidos

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Qui 1

Elaine Sampaio Araujo O projeto de matemática como campo de possibilidades formativas

Edson Crisóstomo dos Santos O conhecimento profissional experiencial em cálculo na licenciatura em matemática

Maria Elizabete Rambo Kochhann Programa gestar: contribuições para a construção de aprendizagem em geometria nos aspectos atitudinais

e conceituais

Francislê Neri de Souza Perguntar para aprender, aprender a perguntar:

Usando as perguntas para promover a aprendizagem activa

Edson Souza de Azevedo Programas de educação física e as orientações e as orientações curriculares

Dayse Neri de Souza Procedências do secundário como fatores de (in)sucesso à Universidade

Verônica Maria de Araújo Pontes O fantástico e o maravilhoso no ensino de língua

portuguesa: um estudo de caso no 3º e 4º ano das escolas públicas de Portugal e do Brasil

Qui 2

Aldo Nogueira Venâncio O controle jurisdicional da administração pública na união européia

Lenilma Cristina Sena de Figueiredo Meirelles

A Privacão Provisória da Liberdade na Jurisprudencia da Corte Europeia dos Direitos do Homem

Maria Arlinda Gonçalves de AmorimA necessidade de uma abordagem constitucional do biodireito sob a ótica de uma teoria discursiva dos

direitos fundamentais de Jürgen Habermas

Olga Helena Aragon Bonatto Cansiglieri

A política comunitária de biossegurança alimentar e os transgênicos: uma realidade assentada sobre o

reconhecimento de um (novo) bem jurídico?

Paula Lins Goulart Os limites da atuação estatal no controle da livre

iniciativa: o princípio da precaução na defesa do meio ambiente

Leonardo José Oliveira de Azevedo Uma comparação do direito do consumidor no Brasil e em Portugal

Helen Cristina Leite de Lima Comentários acerca da normal geral antielisiva brasileira

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Qui 3

Amanda Oliveira Rabelo Questões de gênero, generalizações e

discriminações: docência masculina nas séries iniciais do brasil e portugal

Heloísa Greco Alves O papel das mulheres na mobilização comunitária

Maria Cleyber Negreiros Barbosa da Cunha

As baianas do acarajé, de Salvador e o Candomblé da Bahia

Maysa Leal de Oliveira Rosseto Ciência e cultura no Brasil: uma contribuição à análise das interacções

Milene Souto Montanha Imigração e difusão da gastronomia brasileira na cidade de Lisboa

Wellington Teixeira Lisboa O Brasil no imaginário português contemporâneo: mitos coloniais e reatualizações identitárias

Juliana Prates Santana “Eu não pedi pra nascer”: uma análise acerca da música no cotidiano de crianças em situação de rua

Qui 4

Daniela Salgado Carvalho Acesso à informação ambiental, participação e proteção do ambiente no contexto europeu

Marcelo Lopes Nunes Avaliação da qualidade ambiental da bacia hidrográfica do rio Mau através de índices

geoquímicos e biológicos.

Raphael Corrêa Medeiros Uso de indicadores para avaliar o desempenho ambiental em instituições de ensino superior

Lúcia de Oliveira Fernandes Áreas contaminadas por resíduos: estudos de caso no Brasil e em Portugal

Fernanda Mendonça Santana Furacão Gordon - Trajetória e intensidade

Lúcio Figueiredo de Rezende Dinâmica da plataforma continental leste brasileira

através da modelagem numérica: da origem da corrente do Brasil ás feições dinâmicas do banco de

Abrolhos.

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Qui 5

Abigail Alcantara Silva Um olhar sobre Algados e o Subúrbio Ferroviário: organização social e a construção do espaço de

moradia.

Alenuska Teixeira Nunes Idosos e poder público no Brasil: preferência na ordem de pagamentos dos precatórios

Karine Marinho de Castro O papel e as ações de influência das regiões

européias na implementação de políticas comunitárias: uma nova abordagem de governança

européia

André Saddy SERVIÇOS POSTAIS E CONSTITUIÇÃO: uma

abordagem do sistema europeu, brasileiro e argentino.

Helen Cristina Leite de Lima Considerações sobre a publicação de listas de devedores pelo fisco

Qui 6

Carlos Estevão Caligiorne Cruz Partido político e a mobilização social

Sônia Regina de Souza Fernandes Práticas de alfabetização - processos de inclusão (ou) exclusão social?: uma experiência rural em questão

Felipe Machado de Moraes LIBERTAÇÃO NACIONAL E IDENTIDADE

MULTICULTURAL: uma análise das estratégias do movimento Zapatista em defesa dos direitos humanos

multiculturais

Helena Maria Vila Nova Pacheco Pesquisa feita sobre a tortura: os elementos que compõem o conceito a tipicidade objetiva e subjetiva

Cecília MacDowell Santos Desarquivando a Guerrilha do Araguaia: O Papel das Lutas Judiciais Locais e Transnacionais pela Memória

e pela Justiça no Brasil

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QUA 1

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FORMAS DE PARTICIPAÇÃO DE PRÉ-ESCOLARES EM CONTEXTOS SÓCIO-EDUCATIVOS

Kátia Adair Agostinho

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1 IEC.UMINHO/ CNPq -Programa de Doutoramento em Sociologia da Infância no Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho / Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

do Brasil. *Autor para correspondência: [email protected]

Este projecto de investigação tem como objecto central de análise as formas de participação infantil em contextos educativos de educação pré-escolar pública, de meio popular, envolvendo as relações sociais estabelecidas pelas crianças e adultos (professores, outros profissionais e familiares) no Brasil e em Portugal. Os estudos sobre os processos sociais que constituem as práticas educativas na pré-escola exigem ainda um maior conhecimento sobre a própria constituição da infância nestes contextos e uma atenção particular às relações entre adultos e crianças, como relações intergeracionais e neste sentido, interculturais. O desafio que tal empreitada coloca a todos nós, profissionais preocupados com a educação da infância, encontra-se justamente em conhecer a criança para além daquilo que até hoje nos foi indicado exclusivamente pela Psicologia do Desenvolvimento, afirmando assim a necessidade do cruzamento das diversas áreas, sabendo-se que do ponto de vista sócio-educativo, ainda sabemos muito pouco das gerações mais jovens. A inventariação dos princípios geradores e das regras das culturas da infância é uma tarefa teórica e epistemológica que se encontra, em boa medida, por realizar. A problematização das relações sociais com o conhecimento, a abertura à diversidade cultural e a conjugação dos esforços pedagógicos visando à reconstrução pelo sujeito aprendente dos seus saberes, constituem condições essenciais de uma prática educativa que não reproduza as condições sociais de exclusão, e que permita a apropriação de saberes fundamentais por públicos escolares em regra precocemente excluídos pelo recalcamento das suas formas de apropriação e construção de conhecimento. É nesse sentido que se faz necessário construir e aprofundar aportes teóricos capazes de qualificar o entendimento sobre as formas de participação infantil como necessidade teórica e política de gerar um conjunto de categorias que não somente forneçam novos tipos de questionamentos críticos e de pesquisa, mas que também indiquem, aos profissionais que trabalham directamente com as crianças, estratégias e modos de actuação alternativos. A educação para uma cidadania activa encontra na intersecção dos planos pedagógico-organizacional, simbólico e político a possibilidade de a escola trabalhar nesse espaço limitado, porém insubstituível, de contraposição à exclusão social e de produção de uma sociedade de afirmação de direitos sociais. Para essa actividade de estudo o caminho metodológico escolhido é o de um estudo de caso etnográfico. Agradecimentos,

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EDUCAÇÃO INFANTIL EM SANTA CATARINA (BRASIL) E ORIENTAÇÕES DA UNESCO

Márcia Andréia Triches*, Carlos Meireles Coelho

Universidade de Aveiro − Departamento de Ciências da Educação, Mestrado em Ciências da Educação, área de especialização Formação Pessoal e Social.

*Autora para correspondência: [email protected]

Ao longo do século XX houve profundas alterações na vida social, no papel da mulher, na estrutura das famílias e nos direitos das crianças. Houve alterações no mundo todo, num mundo que passa a ser cada vez mais globalizado. A UNESCO ― Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, tem desempenhado um papel determinante nesse processo de difusão das mudanças sociais. Neste quadro, a educação infantil foi objecto de grandes desenvolvimentos pelo mundo a fora e, associado a isso, estudos especializados continuam a ser feitos. E a UNESCO continua a ser o grande fórum de partilha do conhecimento sobre esta matéria. O Relatório de Delors, (DELORS, J. (coord.) / UNESCO. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a Unesco da Internacional Commission on Education for the Twenty-First Century / Comissão internacional sobre educação para o século XXI. 4. ed. São Paulo: Cortez, Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1996), aponta para “a educação básica para crianças pode ser definida como uma etapa inicial (formal ou não formal) que vai em princípio, desde cerca dos três anos de idade até aos doze, ou menos um pouco”. A investigação a desenvolver pretende comparar o que se está a desenvolver no Brasil e em particular no Estado de Santa Catarina com as orientações da UNESCO, nomeadamente os conceitos e funções abordados pela Secretaria de Estado da Educação, Ciência e Tecnologia ― SED. Esta investigação histórico comparada em desenvolvimento apresenta-se em três partes: a primeira estuda a evolução dos contextos da institucionalização da educação infantil, creches e pré-escolas no Brasil; a segunda analisa a trajectória da educação infantil no Estado de Santa Catarina, focando os conceitos e funções abordados pela SED, e a terceira, o cruzamento dos ordenamentos, conceitos e funções abordados pela SED com as orientações da UNESCO. Por ser a UNESCO um grande fórum de partilha do conhecimento sobre a educação infantil, julgamos ser importante saber se as suas orientações estão presentes nas determinações da SED.

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A PEDAGOGIA DA CULTURA CORPORAL FRENTE À DIVERSIDADE: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE A ESCOLA PORTUGUESA E A

BRASILEIRA

Marcos Garcia Neira1*

1 Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada

Avenida da Universidade, 308 – São Paulo – SP – 05508-040 – São Paulo, SP – Brasil *Autor para correspondência: [email protected]

O multiculturalismo tem se constituído numa das grandes barreiras à escolarização

homogeneizadora presente nas propostas de unificação curricular, avaliação controladora e conteúdos extraídos da cultura hegemônica. Na sociedade portuguesa e brasileira diversos estudos denunciam a crescente tensão entre a cultura veiculada pela escola frente ao património apresentado pelos seus novos frequentadores. Esse quadro tem apresentado diversos desafios à educação de forma ampla e às práticas pedagógicas em especial, ou seja, a questão que se coloca é: Qual currículo desenvolver? Essa preocupação se irradia, obrigatoriamente, pela formação docente, condições da escola, políticas educacionais etc. Nesse sentido, uma série de modificações curriculares têm sido implementadas visando incluir o Outro no projeto educativo das instituições escolares que, cada vez mais, por força de lei, os têm acolhido. Esses grupos sociais, que até recentemente encontravam-se alheados da escola, a ela adentraram e nela encontram “linguagens”, para eles, desconhecidas. Dentre as inúmeras formas humanas de comunicação e expressão, o multiculturalismo manifesta-se, também e de forma intensa pelos “textos” produzidos pelas manifestações da cultura corporal. Nesse sentido, o repertório de gestos e práticas corporais trazido pelos novos membros da comunidade escolar mostra-se, muitas vezes, diverso daquele privilegiado pela educação escolar, o que ocasiona descompasso, afastamento e resistência por parte dos alunos ou, o pior, a fixação propositada e distorcida de signos de classe, etnia e género pertencentes a outros grupos culturais. Assim, para elucidar essas questões, foi realizado um estudo comparativo entre os currículos reais das manifestações corporais experimentados em duas instituições educativas cujas comunidades caracterizam-se por uma extensa presença dos grupos minoritários e desprovidos de poder. No caso brasileiro, a escola acolhe predominantemente migrantes nordestinos e nortistas, quase todos, moradores de uma favela em uma região periférica da cidade de Osasco (SP) e a escola portuguesa situa-se nos bairros sociais da cidade de Braga e acolhe predominantemente às comunidades cigana e imigrante dos países do leste europeu. Para tanto, foi utilizada uma metodologia de pesquisa de cunho qualitativo e com um olhar intercultural entre os pares, isto é, tanto os planos de ensino quanto as filmagens das aulas em vídeo foram submetidos ao olhar intercultural dos professores e sobre as aulas dos colegas português ou brasileiro foram convidados a refletir. Tais reflexões foram interpretadas pelo pesquisador a partir da teorização multicultural crítica de McLaren, Hall, Steinberg e Kincheloe e desencadearam algumas descobertas relevantes: ambos os professores constatam um elevado grau de heterogeneidade cultural nos seus grupos, mas apesar disso, as noções de multiculturalismo mobilizadas para o desenvolvimento curricular são absolutamente diferentes. Um outro aspecto interessante é que, ao confrontar-se com as práticas pedagógicas do seu par, tanto o professor português quanto o brasileiro mostraram resistências aos caminhos adotados pelo colega.

Agradecimentos: Apoio financeiro da CAPES.

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: UM PERCURSO DO PERÍODO COLONIAL BRASILEIRO ATÉ A ATUALIDADE

Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira

1; Cláudia Tavares do Amaral

2; Deribaldo Santos

3

1 Pós-Doutoranda em Ciência da Educação UP; Professora Doutora em Educação da PUC MINAS;

[email protected]. 2 Mestra em Educação PUC MINAS; [email protected].

3 Doutorando em Ciências da Educação UP; Professor Colaborador do IMO/UECE; [email protected]

Este trabalho parte de pesquisa já realizada e que serviu de base ao Pós-doutorado da autora principal e avança, no campo da investigação sobre a Educação Profissional, até a atualidade, isto é, até a Gestão Lula. Como lócus de investigação, optou-se por um Centro de Educação Tecnológica (CEFET) que, por uma questão ética, passa a ser denominado CEFET-X. Em termos metodológicos, optou-se pela pesquisa qualitativa, devido à natureza e à peculiaridade da investigação, que procurou responder a questões muito particulares e compreender o universo complexo e multifacetado que envolve a educação profissional. Decidiu-se trabalhar com o Estudo de Caso por ele permitir uma investigação detalhada e aprofundada que, embora de cunho microssocial, leva em conta determinações mais amplas. Para a coleta de dados foram utilizadas: a observação, a entrevista semi-estruturada, e a análise documental. A escolha do tema e do conseqüente objeto deveu-se: à prática e ao interesse da autora em pesquisar na área da Política Educacional; à carência de pesquisas (principalmente de campo) sobre a educação profissional; à histórica preterização do ensino profissional, no âmbito da educação brasileira. Buscando conferir uma organização didática, este trabalho foi dividido em três partes: na 1

a, conceitua-se educação tecnológica, identifica-se seus pressupostos e princípios e

procura-se traçar uma trajetória sucinta da educação profissional; na 2a, analisa-se o

contexto sócio-político e econômico e os documentos normativos que levaram à Reforma da Educação Profissional, e ao desmantelamento da Educação Tecnológica; na 3

a, procede-se a uma genealogia do CEFET-X e busca-se apreender as representações

da comunidade cefetiana sobre a Reforma e seus desdobramentos no âmbito da educação tecnológica que vinha, tradicionalmente, sendo ministrada pela instituição. Palavras chave: Educação profissional; CEFET e Educação tecnológica.

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POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ENSINO PROFISSIONAL DE NÍVEL SUPERIOR NO BRASIL: O CASO DO CENTEC/CE

Deribaldo Santos

1; Maria Auxiliadora Monteiro Oliveira

2

1 Doutorando em Ciências da Educação UP; Professor Colaborador do IMO/UECE;

[email protected] 2 Pós-Doutoranda em Ciência da Educação UP; Professora Doutora em Educação da PUC MINAS;

[email protected]. A comunicação propõe uma discussão introdutória e sintética sobre o surgimento e história dos cursos de graduação tecnológica no Brasil. De modo especifico, procura apresentar questionamentos críticos e contextualizados historicamente sobre a concepção, planejamento e implementação do Instituto Centro de Ensino Tecnológico de Ceará-CENTEC/CE. A opção metodológica foi por um estudo bibliográfico e documental. O trabalho procura suscitar qual a importância dos cursos de graduação tecnológica como política pública neoliberal dentro do contexto de crise estrutural do capital (MÉSZÁROS, 2003). Perguntando, para tanto, se esse tipo de ensino não seria a forma disfarçada do dualismo educacional em versão superior. Palavras chave: dualismo educacional; graduação tecnológica; educação profissional, política pública educacional.

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A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO SONORO: PRODUÇÃO E PARTICIPAÇÃO SOCIAL NAS RÁDIOS COMUNITÁRIAS E LIVRES NO

BRASIL E PORTUGAL

Flávia Regina Ferreira dos Santos1 Universidade Nova de Lisboa- Mestrado em Ciencias da Comunicação. Variante Estudos dos Medias e do Jornalismo

Examinar o cenário das rádio comunitárias no Brasil e das rádios livres em Portugal numa perspectiva comparada é o foco principal da pesquisa de mestrado em andamento. Entendendo a importância da comunicação regional e local como forma de racionalidade alternativa aos grandes sistemas mediáticos de comunicação (nacional e internacional) e ao mesmo tempo reforçando a ideia de que a idéia de local remonta a ideia de proximidade entre o media e o público, de maneira que os actores sociais envolvidos se tornam mais actuantes (ou não) do processo de produção da mensagem e discurso. Em ambos os países, a definição de rádios locais e comunitárias juntas representam a priori a construção de um espaço público mediatizado no qual o discurso dos diversos actores sociais de uma comunidade podem ser reproduzidos. Dado os diferentes contextos politicos e sociais quanto ao surgimento das rádios nesses dois países, pretende-se analisar as principais diferenças levando em consideração que no Brasil, a proliferação actual de emissoras comunitárias é o resultado de um processo de mobilização social pela regulamentação da radiodifusão de baixa potência, juntamente com os movimentos sociais organizados, actores essenciais neste processo. Por outro lado, segundo Bonixe (2003), o cenário português das rádios livres teve o seu apogeu antes do licenciamento das rádios locais que se processou em 1983. Depois disso, houve uma retracção no processo de produção e função dessas rádios que passaram a regular-se pela dinâmica metodológica. Diante dessas características controversas, mas ao mesmo tempo entendendo que a rádio local e comunitária disponibilizam para os actores envolvidos neste processo a oportunidade de se expressarem livremente, criando o valor cidadania dentro de uma perspectiva democrática de acesso aos medias e da participação a comunicação pública, a pesquisa ao final procurará identificar quais os principas fatores que favore de um lado a proliferação de tantas rádios e de outros a decadencia e interesse comercial por completo. 1 Bolseira do Programa de Bolsas de Alto Nível da União Europeia para a America Latina, ALBAN.

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Branquitude e mídia: as cotas como invenção midática

Lourenço Cardoso1

Este artigo Branquitude e mídia: as cotas como invenção midática objetiva analisar a redução das políticas de ação afirmativa (AA) “a cotas para negros” como uma designação “negativa” no discurso expresso na branquitude midiática. É óbvio que as cotas racias voltadas para os negros e “indígenas” não são uma invenção literal da mídia, elas são umas das estratégias de uma política mais ampla que são as políticas de AA. No entanto, desde que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) implantou essa política de Ação Afirmativa. A mídia, em geral, reduziu esse tema a cotas para negros. A mída brasileira em quase nenhum momento se referiu a política de Ação Afirmativa. Ela insistiu no nome “cotas para negros”, e esse “nome colou”. E colaborou e colabora para o esvaziamento de uma discussão mais aprofundada a respeito das possibilidades e dos limites dessa política.

O nome cotas para negros no Brasil “colou”, semelhante ao um outro episódio ocorrido em Portugal em 2004, que a mídia portuguesa batizou como “Barco do Aborto”. Segundo o sociólogo José Manuel de Oliveira Mendes “O episódio ‘Barco do Aborto’ refere-se a inúmeras reportagens ocorridas na mídia portuguesa a respeito de um barco de uma organização holandesa Whomen on Waves, Borndiep, que foi impedido de entrar nas águas territorias portuguesas para participar de uma iniciativa de sensibilização para a questão permanente da interrupção voluntária de gravidez” (2004, p. 155). Mendes nos chama atenção para refletir qual a origem da designação “negativa” “Barco do Aborto”, inspirado nesse artigo de Mendes refletirei também a respeito de se reduzir as políticas de Ação Afirmativa “a cotas para negros” para reforçar um suposto caráter “negativo”.

O marco inical desse artigo surge com a polêmica gerada pela (Uerj2), quando adotou o sistema

de cotas para alunos oriundos de escolas públicas e candidatos autodeclarados negros ou “pardos”. Tal procedimento gerou, praticamente, um “consenso” contra esta política de Ação Afirmativa. A psicóloga social Maria Aparecida da Silva Bento analisa esse “consenso” da seguinte maneira: esse “consenso” seria de fato um “pacto narcísico” entre os brancos que os levaram a defenderem os seus interesses enquanto “grupo”, grupo étnico/racial “branco”, independente da classe social. Aliás, até houve solidariedade entre as classes.

Os brancos da classe média e alta (intelectuais, empresários ou profissionais liberais, etc…) solidarizaram-se com a “suposta” injustiça que essas “cotas para negros” proporcionariam aos brancos pobres. Percebe-se nesse momento, que a dimensão racial encontra-se acima dos interesses de classe. Nesse episódio, a branquitude com esse “pacto narcísico” fez com que brancos de classes antagônicas. Aqueles que pertencem a classe do explorador e os outros que pertencem a classe do explorado se solidarizassem, e se unissem para a defesa dos interesses de sua “racialidade branca”, ou seja, os

interesses e sua branquitude3

contra o outro grupo, ou poderíamos dizer o suposto “inimigo em comum4”

que nesse caso são os negros.

1

Nasceu na capital de São Paulo, Brasil. É escritor e ativista do movimento social negro. Formado em História na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, atualmente realiza como Bolsista Internacional do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford o curso de mestrado no Programa Pós-colonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais

da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Suas principais áreas de interesse são relações raciais e literatura. 2 Cf. A

nefasta lei das cotas raciais O Estado de S. Paulo, Editoriais, 12 de fevereiro de 2003. 3

De acordo com Maria Aparecida da Silva Bento “branquitude refere-se a racialidade do branco, configurando uma visão de mundo, um posicionamento de vantagens calcado no silêncio e omissão por um lado, e por outro, na prática discriminatória sistemática com vistas a conseguir e manter situações de privilégio que impregnam a ação e o discurso; e que justifica, mantém e reproduz as desigualdades raciais” (2002, p. 10).

4

Reinterpreto a essa categoria “inimigo” e “amigo” assim como Boaventura de Sousa Santos utiliza no artigo “Epistemologia da Cegueira” (2000) é óbvio que eu a utilizo em outra ótica, em outro contexto, de maneira antropofágica, no antrpofagismo proposto por Oswald de Andrade.

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BARRAGENS _ LUTA E RESISTÊNCIA Alexandra Martins Silva

1*

1 Universidade de Coimbra – Faculdade de Economia – Programa de Mestrado em Sociologia “As Sociedades Nacionais Perante os Processos de Globalização”

Todos os dias, milhões de pessoas no mundo são serialmente afetadas em seus

modos de subsistência, suas culturas e no direito á moradia adequada em decorrência da construção de Grandes Barragens. Segundo McCully, “ Mais do que simples máquinas geradoras de eletricidade e armazenamento de água, as barragens representam, em concreto, rocha e terra, a ideologia dominante da era da tecnologia. Como ícones do desenvolvimento econômico e do progresso científico, as barragens representam o triunfo da dominação do homem sobre a natureza”.1

Este trabalho pretende analisar a relação entre Estado e Sociedade, em especial à relação entre a implementação de grandes barragens2 formulada pelo Estado e seus rebatimentos para as população atingidas por estas obras. Seu objetivo principal é investigar a participação da mulher na luta contra as grandes barragens, destacando a redefinição de seu espaço e de seu papel na sociedade. O tratamento desta questão foi ancorado na hipótese de que ao longo dos anos, estas mulheres tornaram-se “peças chaves” dentro do movimento e tiveram uma importante participação nas negociações e estratégias de resistência do movimento contra o processo de construção de barragens.

Com intuito de compreender e situar o debate sobre o papel da mulher no Movimento de Atingidos por Barragens - MAB a reflexão ecofeminista surge-nos como particularmente adequada e desafiadora. Os enunciados ecofeministas, sendo em grande parte fruto de reflexão epistemológica, são igualmente reflexo de trajetórias diferenciadas, no Norte e no Sul, dos movimentos sociais feministas, ecologistas e pacifistas.

Através da investigação do processo de implementação dessas grandes obras e dos impactos decorrentes destes grandes projetos, foi possível compreender a forma como o processo de luta do Movimento de Atingidos por Barragens - MAB foi construído e como, hoje ele é percebido no Brasil. Esse procedimento permitiu observar a importância da organização e mobilização das comunidades atingidas e suas estratégias de luta. Percebemos, ainda que na construção da luta, foi enfatizado, por um lado, a presença feminina mobilizada contra as grandes barragens e, por outro, deste movimento social como sujeito no processo de formação da identidade da mulher deslocada de sua terra. 1 McCully, P. Silenced Rivers : The ecology and politics of large dams. Nova Jersey: Zed Books, 1996.

22 De acordo com a ICOLD (International Commission On Large Dams), para ser denominada

como grande barragens é necessário alcançar uma altura igual ou superior a 15 metros de altura. Também são classificadas como grandes barragens, aquelas entre 5 e 15 metros de altura, contudo com uma capacidade de reservatório superior a 3 milhões de metros cubicos.

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PSORALENOS: DA CULTURA HINDU À FOTOQUIMIOTERAPIA

Rodrigo De Paula*

Universidade de Aveiro, Campus Santiago, Departamento de Química, 3810-193, Aveiro/Portugal * Endereço para correspondência: [email protected]

Desde a antiguidade o homem busca entender a natureza afim de extrair tudo o que lhe pode ser útil. Como exemplo, pode-se citar o uso de plantas para infusões, para extração de pigmentos e para utilizá-las como veneno em situações de perigo. Muitas das propriedades químicas destas plantas eram atribuídas à fé. No sistema médico da Índia antiga, o Ayurvedic, empregava-se folhas de figo nos processos de repigmentação da pele. Essa cura era feita através de um ritual de fé com o intuito de se obter a cura. Apesar do uso sistêmico de plantas, tal como o figo (fruto e folha), somente com o desenvolvimento da química foi possível o estudo e caracterização das substâncias que apresentavam propriedades terapêuticas. No caso do referido ritual, encontrou-se psoralenos e outras furano-cumarinas que, mais tarde, forma empregadas juntamente com o uso da radiação ultravioleta para o tratamento de diversas doenças de pele como a psoríase e vitiligo. Psoralenos são compostos de origem natural que possuem um anel furano fundido ao anel cumarínico (fig.1).

(A) (B)

Figura 1: Estruturas químicas de psoralenos; (A) psoraleno linear e (B) psoraleno angular, também conhecido por angelicina.

O emprego destes compostos na medicina deu-se no final dos anos 70 com a introdução da fotoquimioterapia por um grupo de pesquisadores em Boston. O tratamento era baseado na combinação do psoraleno e radiação UV-A e ficou conhecido como terapia PUVA. Nascia ali uma submodalidade medica, a fotomedicina. A descoberta das atividades associadas a este tipo de composto frente a radiação está relacionada com a capacidade destas moléculas produzirem oxigênio singlete com elevado rendimento quântico. Uma breve descrição fotofísica de análogos de psoraleno será apresentada no presente seminário abordando dados como o rendimento quântico de fluorescência (ΦF) e rendimento quântico de geração de oxigênio singlete (ΦΔ) a 77 K e 298 K.

Referências: De Paula, R., Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia-MG, 2003.

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EFEITOS DO ESTRESSE HÍDRICO E NUTRICIONAL NO METABOLISMO FOTOSSINTÉTICO DO CAFEEIRO CONILON (Coffea canephora PIERRE)

Fábio Luiz Partelli

1*; Henrique Duarte Vieira

1; José Cochicho Ramalho

2

1 CCTA/UENF - Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal – Laboratório de Fitotecnia 28602-

013, Campos dos Goytacazes, RJ – Brasil 2 Eco-Bio/IICT –Quinta do Marquês, 2784-505 Oeiras – Portugal.

*Autor para correspondência: [email protected]

A cafeicultura brasileira destaca-se como um dos setores agrícolas mais importantes do país, gerando divisas, milhões de postos de trabalho, fixando o homem no campo, promovendo, dessa forma, uma melhor interiorização e desenvolvimento nos municípios onde se produz e/ou processa o café. O défice hídrico e nutricional são os principais fatores ambientais que provocam estresse no cafeeiro Conilon, pois ocasionam fechamento estomático, produção de espécies reativas de oxigênio e outros danos, causando mau funcionamento da maquinaria fotossintética e, consequentemente, queda da fotossíntese líquida e produtividade.

Uma adequada nutrição e irrigação é essencial para obter alta eficiência fotossintética, defesa aos vários tipos de estresse e boa produtividade. Dessa forma, estudos mais amplos das características fisiológicas e bioquímicas, associadas ao estresse hídrico e nutricional, podem favorecer um uso mais racional de insumos e água, bem como outras práticas agrícolas, podendo também auxiliar na seleção de genótipos tolerantes e produtivos, promovendo maior sustentabilidade do agronegócio do café.

O trabalho tem como objetivo estudar e caracterizar as respostas fisiológicas e bioquímicas de dois genótipos de café Conilon (Coffea canephora Pierre) sob doses diferentes de nitrogênio, submetidas ao estresse hídrico, contribuindo para um melhor manejo do cafeeiro Conilon e para o programa de melhoramento genético da espécie.

Será estudado o cafeeiro Conilon, sendo utilizadas mudas de dois genótipos, crescidas em vasos de polietileno de dois litros, contendo solo e areia como substrato. O experimento será conduzido em condições de casa de vegetação no Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, do Instituto de Investigação Tropical, Oeiras, Portugal, utilizando câmaras de crescimento de plantas (Fitoclima 10000 EHHF). As plantas serão submetidas a diferentes níveis de nitrogênio (1/2 e uma dose recomendada) e défice hídrico.

As determinações incluirão o teor hídrico relativo, taxa fotossintética líquida, condutância estomática, temperatura ambiente e foliar, diversos parâmetros de fluorescência da clorofila a, atividade ribulose-1,5-bisfosfato carboxilase/oxigenase, teor de açúcares, carotenóides fotoprotetores e concentração de nitrogênio foliar.

Os resultados analíticos serão inicialmente aferidos pelo teste de normalidade. Posteriormente, os dados serão submetidos à análise de variância e a testes de média a 5% de probabilidade.

Agradecimentos: À CAPES, UENF e IICT.

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OTIMIZAÇÃO EM TEMPO REAL DE UM REATOR DE HIDROGENAÇÃO TRIFÁSICO EMPREGANDO ALGORITMOS GENÉTICOS

M. C. A. F. Rezende1,2 *

, R. Maciel Filho1 e P. J. Bártolo

2

1 Laboratório de Optimização, Projeto e Controle Avançado, Departamento de Processos Químicos Faculdade de Engenharia Química, Universidade Estadual de Campinas, Brasil

2 Departamento de Engenharia Mecânica, Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria, Portugal

*Autor para correspondência: [email protected] A otimização de processos em Tempo Real consiste na operação da planta industrial inteira ou de uma rede produtiva continuamente de forma ótima, sendo assim, identificada como uma área de pesquisa de ponta e um grande desafio para os projetos em Engenharia. O presente trabalho propõe a otimização em tempo real de um reator de lama catalítico trifásico no qual ocorre a reação de hidrogenação de o-cresol para obtenção de 2-metil-ciclohexanol. O método dos Algoritmos Genéticos (AGs) tem sido extensivamente avaliado quanto ao desempenho e a facilidade de utilização para a otimização deste reator trifásico. A escolha dos AGs como método de otimização é motivada pelo fato de se tratar de um algoritmo robusto que não requer estimativa inicial e que não explora a estrutura matemática da função objetivo e das restrições. Estes fatores são importantes uma vez que o reator proposto como caso de estudo tem o comportamento dinâmico descrito por um modelo matemático não-linear e de elevada dimensão, caracterizado pela dificuldade de otimização através de métodos convencionais. Os AGs são estudados nas codificações binária e real para resolver o problema de otimização do reator e os resultados obtidos têm mostrado o alto desempenho dos AGs na busca da solução ótima com um tempo de execução curto. Os parâmetros do algoritmo genético em ambos métodos de codificação são importantes e precisam ser avaliados. Para isto, é proposta a aplicação de planejamento fatorial nos AGs a fim de se identificar os parâmetros mais relevantes na busca pela solução ótima. Os AGs de codificação binária e real são comparados a fim de se determinar o algoritmo mais adequado para implementação em Tempo Real. A otimização do reator em Tempo Real tem como objetivo integrar algoritmos de controle e otimização em Tempo Real, numa estratégia em uma camada. A função objetivo do algoritmo de controle/otimização é formulada considerando-se os objetivos do controle e da otimização econômica. O caso de estudo aqui apresentado é expresso por objetivos econômicos, como produtividade de 2-metil-ciclohexanol e conversão de o-cresol. Palavras-chave: Reator Trifásico, Otimização, Algoritmos Genéticos, Controle, Tempo Real, Estratégia em uma camada, Planejamento Fatorial.

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CONHECIMENTO OPERÁRIO E NOVAS TECNOLOGIAS: UM DIALÓGO NA COEXISTÊNCIA

Cristiano de França Lima

1

1Mestrando do Programa de Doutoramento Governação, Conhecimento e Inovação da Faculdade de

Economia da Universidade de Coimbra – Centro de Estudos Sociais. Bolsista do Programa Internacional da Fundação FORD.

As inovações tecnológicas estão presentes em todo o cotidiano social. Porém, é o contexto do processo produtivo, que desde seus primórdios, vem sendo marcado pela introdução de invenções e inovações constantes da tecnologia. Logo, é difundida a noção de impacto que estas trazem na organização do trabalho, sendo os operários os que mais sofrem com as conseqüências inevitáveis da modernização das novas técnicas no mundo fabril. O impacto é o esvaziamento do espaço-temporal do conhecimento tácito, ou seja, do saber-fazer do operariado no processo de produção. Todo o conhecimento adquirido pelo operário por sua experiência laboral é transferido às novas tecnologias, o que por seqüência se faz sentir, no próprio operário pela redução absoluta do seu papel e da sua importância no processo produtivo. No entanto, o operário perde a sua centralidade, sendo a tecnologia a fonte de todo o impacto negativo. Porém, historicamente, não se comprova tal afirmação da perda absoluta do espaço-temporal do saber-fazer do operariado na produção de mercadorias. As inovações tecnológicas não lograram até então, tal objetividade. O chão da fábrica é um local onde as tecnologias e o saber-fazer dos operários confluem numa complexa relação e associação. Assim, as transformações historicamente decorrentes na organização do trabalho, não têm origem apenas nas tecnologias. É justamente esta relação complexa entre a tecnologia e o conhecimento tácito do operariado que o presente trabalho terá como pano de fundo. Portanto, não será adotada uma visão determinista da tecnologia. Mas, em todo o trabalho, há preocupação de trazer o operário com suas habilidades e conhecimentos como personagem que interage com as inovações tecnológicas aplicadas no processo da produção, enquanto ator ativo em constante ligação com as novas tecnologias físicas de produção. Sem poder desconsiderar a historicidade que esta relação entre tecnologia e conhecimento tácito do operariado, o presente trabalho trará em sua primeira parte, uma abordagem de como se processaram as inovações tecnológicas nos contextos das Revoluções Industriais. Em seguida, adentrará, propriamente, no cerne do tema do presente trabalho. Para tal, estará dialogando com duas correntes teóricas que “conflituam” entre si sobre as questões dos efeitos da tecnologia na sociedade: uma corrente, denominada de determinismo tecnológico e a outra, com uma característica construtivista sociológica. Do estudo bibliográfico do tema ressalvo algumas indicações conclusivas: a primeira é que o conceito de novas tecnologias não tem nenhum sentido, se o distanciarmos de uma abordagem intrinsecamente social e humana. Tendo as tecnologias enquanto subsistemas da sociedade, é inevitável que nos deparemos com fenômenos sócio-culturais variáveis, em seu processo histórico de desenvolvimento, seja dentro e/ou fora das fábricas. A segunda, diz respeito à impossibilidade de negar que as mudanças na organização do trabalho, mediante a aplicabilidade das novas tecnologias e considerando-a numa interação com o saber-fazer do operariado, alteram a relação capital/trabalho. E a terceira e última, por mais que se busque formas e modelos organizacionis do trabalho, os operários não deixarão de imprimir sua fisionomia própria, seja no processo ou na mercadoria. Por mais que, as técnicas possam replicar em inovações e invenções, conhecimentos e habilidades dos operários, há limites que são insuperáveis. Assim, se faz necessário evitar a idéia amplamente difundida segundo a qual as tecnologias acarretam impactos sociais. Como se houvesse uma exterioridade na relação das inovações técnicas e a sociedade. Evitando essa idéia, poderá se fazer ouvir, reconhecer e identificar a trama de relações – sociais, econômicas, políticas, culturais – que implicam na sua produção, difusão e utilização.

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COMUNICAÇÃO: A RESPOSTA PARA AS CRISES EMPRESARIAIS

José Gabriel de Oliveira Andrade Junior1*

1 Universidade Católica Portuguesa – Mestrando em Ciências da Comunicação – Comunicação, Organização e Novas Tecnologias

*Autor para correspondência: [email protected] / [email protected]

A evolução dos conceitos de cidadania, a ampliação da capacidade da sociedade organizada de interferir na gestão das organizações e a própria evolução tecnológica, que está facilitando o acesso aos meios de processo e divulgação de informações, tem contribuído para aumentar o grau de vulnerabilidade das organizações. Este quadro de enfraquecimento é exponencialmente ampliando pela própria dimensão das organizações, que continuam crescendo para atender à demanda de um mercado globalizado. Para conquistar essas dimensões globalizadas, onde os activos intangíveis, como as marcas, valem mais do que os activos tangíveis, como as instalações industriais, as empresas têm investido milhões de dólares. Mas, em contrapartida, têm feito muito pouco ou quase nada para protegê-las.

Quando se trata de administração de crises ou do desenvolvimento de planos de contingência, destinados a garantir a sobrevivência da organização durante e após uma crise, as empresas, com raras excepções, não assimilam o que está acontecendo com a concorrência e não seguem as recomendações daqueles que passaram por sérios problemas por não estarem justamente preparados para enfrentá-los.

O velho ditado, apesar de velho, está mais válido do que nunca: "é muito melhor prevenir do que remediar". No caso da imagem empresarial, a falta de preparo ou protecção prévia pode criar uma situação onde não haverá muito mais o que remediar.

Os comunicadores trabalham para manter a harmonia dos relacionamentos das organizações com seus públicos preferenciais. Seu objectivo nos momentos de crise, é garantir o menor dano à imagem da empresa, evitando que aspectos negativos possam ferir seus principais quesitos de sobrevivência que são: credibilidade, confiança e reputação.

Pretendo com esse trabalho demonstrar que a administração de crises não é um evento, é um processo (tem começo meio e fim) que exige preparação prévia.

O papel da assessoria de imprensa e comunicação é demonstrado como essencial para a administração de crises, além de deixar clara a função do jornalista assessor de imprensa. A ética é abordada como um item importante, demonstrando a relação assessor x jornalista.

Nos livros e artigos publicados sobre este assunto é frequente a citação de diversos cases de sucesso ou de fracasso na administração de crises. Entretanto, não será focado estes cases neste trabalho, uma vez que eles já foram amplamente divulgados, questionados e criticados. A parte dos conceitos é fundamentada com uma pesquisa bibliográfica em publicações editadas em português, inglês e espanhol.

O que busco com este trabalho é provar que a Comunicação é a respostas para as Crises Empresariais.

Agradecimentos: Programa Alßan, Programa de bolsas de alto nível da União Europeia para América Latina, bolsa nº E06M103724BR

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Ética, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial

Renato Pedro Mugnol1*

1 Faculdade de Economia - Universidade de Coimbra Programa de Doutoramento em Gestão de Empresas

*Autor para correspondência: [email protected]

Segundo a Professora Laura Nash, da Universidade de Harvard, em seu livro Ética nas Empresas, a “ética é entendida como a maneira de pôr em prática nossa hierarquia de valores morais”. A ética e o exercício da responsabilidade social das empresas andam de mãos dadas. Esta é uma visão bastante complexa diante das pressões do mercado, além de outras às quais os gestores das empresas são submetidos diariamente. Em 1997, 165 nações assinaram o Tratado de Kyoto e, em 2000, a ONU lançou o “global compact” buscando unir os empresários, os sindicatos trabalhistas e a sociedade civil na promoção de uma responsabilidade social na economia global. A busca permanente do aperfeiçoamento é o que promove o desenvolvimento dos indivíduos, das organizações e da sociedade. O compromisso com a verdade é o caminho para a qualidade das relações. Quanto maior a diversidade das partes, maior a riqueza e a vitalidade do todo. Em todo o mundo, as empresas estão despertando para o fato de que possuem um papel fundamental na construção do futuro. Cresce a consciência de que o modelo vigente de desenvolvimento desejado está aquém das demandas do mundo atual e, portanto, é necessário buscar outras alternativas, que consigam aliar o crescimento econômica ao atendimento das necessidades humanas e à preservação da vida. Um caso a destacar é a PETROBRAS, que tem como missão: “Atuar de forma segura e rentável, com responsabilidade social e ambiental, nas atividades da indústria de óleo, gás e energia, nos mercados nacional e internacional, fornecendo produtos e serviços adequados às necessidades dos seus clientes e contribuindo para o desenvolvimento do Brasil e dos países onde atua”. Outro exemplo brasileiro a ser destacado é o “Programa de Sustentabilidade” da empresa NATURA, que incorporara aspectos sociais e ambientais nas decisões, atuando preventivamente e reduzindo os impactos dos processos, produtos e serviços. Assim, mitigar impactos não é mais suficiente, é preciso pensar no desenvolvimento de produtos e serviços que ampliem e potencializem os impactos positivos “sociais e ambientais” do negócio e assegurar às comunidades uma atividade economicamente viável para que seja, também, socialmente justa, com desenvolvimento local. Neste contexto do estudo, considera-se que a sustentabilidade significa assegurar o sucesso do negócio no longo prazo, contribuindo simultaneamente para o desenvolvimento econômico e social e o equilíbrio entre meio ambiente e sociedade.

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ANTECEDENTES DA LEALDADE DE CLIENTES EMPRESARIAIS NO CONTEXTO DE BANCOS NO BRASIL: PROPOSTA E TESTE

DE UM MODELO TEÓRICO

Sandra Maria Monteiro Holandai1

* ; Arnaldo Fernandes de Matos Coelho2

1 UC/FE – Doutoramento em Gestão de Empresas, Avenida Dias da Silva 165, 3004-512 Coimbra - Portugal

2 UC/FE – Faculdade de Economia *Autor para correspondência: [email protected]

A presente investigação insere-se no âmbito do marketing de relacionamento, de uma forma mais ampla, e mais especificamente nas relações banco-cliente corporativo. São dois os objetivos principais deste trabalho. O primeiro, através de um estudo de natureza descritiva (exploratória), busca investigar na literatura determinantes da lealdade de clientes, em contextos e setores diversos, inclusive de serviços. O segundo, através de uma pesquisa do tipo conclusiva, busca testar empiricamente um modelo que examine os antecedentes, mediadores e conseqüências do relacionamento de clientes pequenas e médias empresas a seu principal banco, susceptíveis de promover a sua lealdade. O contexto do estudo são bancos que atendem ao segmento empresarial. Na fase da revisão da literatura, os problemas de pesquisa foram: O que se compreende por lealdade do cliente?. Que variáveis têm afetado a lealdade do cliente em estudos prévios? O problema de pesquisa desta investigação pode ser assim sintetizado: . Que variáveis influenciam o relacionamento de clientes pequenas e médias empresas a seu principal banco, susceptíveis de promover a sua lealdade? O estudo utiliza uma abordagem multivariada, pois investiga dois ou mais construtos simultaneamente acerca dos resultados relacionais. Uma das primeiras abordagens é a teoria do comprometimento-confiança do marketing de relacionamento, testada por Morgan e Hunt [1]. Essas duas variáveis estão posicionadas como mediadoras, inspirando a denominação modelo de variável-chave mediadora [1]. O estudo propõe um modelo que é uma extensão e adaptação de dois modelos: o de Bloemer e Odekerken-Schröder [2] e o de Guarita e Urdan [3]. Contempla as variáveis emoções, imagem, qualidade do relacionamento com gerente, disponibilidade de crédito, sacrifício, satisfação, valor, confiança, comprometimento afetivo, custos de mudança e dependência. No modelo proposto, lealdade é a variável dependente final, por causa de seu valor como proxy para retenção do cliente e subseqüente lucratividade da empresa [4]. Adota-se neste estudo o conceito de lealdade de Srinivasan et al. [5]: “atitude favorável do cliente em torno da empresa que resulta em comportamento de compra repetida.” Uma pesquisa de campo será utilizada para aferir o modelo proposto, com clientes pequenas e médias empresas de bancos, que atendem às cidades de Fortaleza e João Pessoa, Brasil. Referências [1] Journal of Marketing, v.58, p.20-38, 1994. [2] Journal of Consumer Satisfaction, Dissatisfaction and Complaining Behavior. v.15,

p.6880, 2002. [3] Anais do I Encontro de Marketing da ANPAD, 2006. [4] Journal of Economic Psychology, v.22, p.217-245, 2001. [5] Journal of Retailing. v.78, p.41-50, 2002.

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EMPRESA FAMILIAR: IMPLICAÇÕES PARA SUA DEFINIÇÃO

Deborah de Melo Farias1*

1 FEUC – Doutoramento em Gestão de Empresas - Faculdade de Economia

Universidade de Coimbra *Autor para correspondência: [email protected]

Este artigo teve origem a partir do desenvolvimento da tese de doutoramento, que tem como objectivo principal, determinar se as empresas familiares são mais competitivas do que as empresas não-familiares. Para conseguir tal objectivo, será necessário estabelecer uma definição de empresa familiar que melhor identifique as principais evidências desse grupo, caracterizado por sua grande heterogeneidade e por isso, difícil de ser conceituado de forma consensual. Essa falta de consenso na definição da empresa familiar, na literatura, é interpretada como um dos principais problemas no estudo desse tipo de negócio, visto que, qualquer investigação empírica sobre empresa familiar tem sua definição como ponto de partida. Este tópico em especial, ainda não apresenta uma anuência entre os estudiosos, que continuam a discordar, tendo como consequência o facto de que cada autor acaba por utilizar definições próprias, o que acarreta a existência de uma grande diversidade de definições, esse fenómeno provoca inúmeras consequências como a dificuldade na comparação directa dos resultados encontrados em investigações sobre o mesmo tema; um grande número de pesquisas com resultados contraditórios; informações distorcidas sobre o impacto económico e da importância dos negócios familiares na economia; a respeito das vantagens e desvantagens, que provavelmente afectam o desempenho económico de maneiras diferentes; entre outros. A dificuldade de se chegar a um consenso em relação à definição de empresa familiar, pode ser justificada também, pelo facto das empresas familiares terem se tornado objecto de pesquisa, num tempo relativamente curto, em relação a outras disciplinas. Como também, pelo facto do assunto, empresa familiar, atrair investigadores de uma variedade de disciplinas, tais como: economia, psicologia, sociologia, antropologia, educação e serviço social tendência essa, que vem se mantendo. Entretanto, mesmo seu conceito variando de autor para autor, é comum que estes trabalhem suas definições com a compreensão de que a empresa familiar é um sistema complexo, devido às interacções entre a família enquanto entidade, os membros da família e o próprio negócio. A principal diferença filosófica na definição da empresa familiar está na participação da família, que na visão tradicional parece ser suficiente para fazer do negócio uma empresa familiar. Por outro lado porém, a definição a partir da essência, baseia-se na opinião de que a participação da família é somente uma condição necessária. A participação da família deve ser dirigida para os comportamentos que produzem determinada diferenciação antes que se possa considerar uma empresa como familiar. Assim, duas empresas com a mesma extensão da participação da família não necessariamente, podem ser consideradas ambas como negócios da família se faltar, em uma delas, a intenção, a visão, a familiness, e/ou o comportamento que constitui a essência de uma empresa familiar.

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UMA ÓPTICA DO COOPERATIVISMO PORTUGUÊS

Diego Neves de Sousa1, 2

;Cleiton Silva Ferreira Milagres1;Júlio CésarGouvêa de Souza

1

1 Curso de Gestão de Cooperativas, Depto. De Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa. 2 Escola Superior Agrária de Bragança.

*Autor para correspondência: [email protected]

O Sistema Cooperativista, bem como o movimento oficialmente reconhecido, teve sua origem em Rochdale, no ano de 1844, na Inglaterra, momento marcado pela Revolução Industrial. Assim como outros movimentos na Europa, em Portugal o cooperativismo deu seus primeiros passos no mesmo período desta experiência de cooperação vivida pelos, então, denominados Pioneiros de Rochdale. Este sistema associativista é uma das formas eficazes de organizar indivíduos com mesmos objetivos e ideais, tendo como base do pilar a constituição da Sociedade Cooperativa, uma empresa sem fins lucrativos, autogestionável, constituída para atender as necessidades de seus sócios, e que zela, segundo a ACI – Aliança das Cooperativas Internacionais, por seus princípios e valores verificados na grandeza do respeito à pessoa humana, a igualdade reconhecida a cada homem, a forma de repartição eqüitativa da riqueza e a preocupação pela comunidade. No entanto, a sociedade cooperativa encontra-se inserida num mercado global onde sua sobrevivência neste meio requer uma representação capaz de defendê-la, como é o caso do INSCOOP – Instituto António Sérgio do Setor Cooperativo que é o órgão responsável por apoiar, controlar e defender os direitos das cooperativas portuguesas face às exigências socioeconômicas do mundo moderno. Neste contexto, tem como objeto de estudo analisar questões que movem o cooperativismo na conjuntura econômica, cultural e social portuguesa, introduzir a lei cooperativista local, e apresentar dados estatísticos que revelam o êxito desenvolvimentista deste movimento em confronto com a acirrada globalização em que está inserido, bem como as conseqüências trazidas por ela, sob a visão de um investigador brasileiro.

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Perspectivas de Regulação para os Mercados de Futuros

Márcia Castro Pereira

Brasil: BBF/BVRJ - Pós-Graduação em Mercados de Capitais, Futuros e Commodities Portugal: Univ. MINHO – EEG – Mestrado em Relacções Económicas e Sociais Internacionais

Doutoranda em Direito. Para correspondência: [email protected]

Resumo ampliado: O trabalho tem por raiz a dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre em Relações Económicas e Sociais Internacionais na Universidade do Minho, intitulada: “O Futuro dos Futuros – Perspectivas de Regulação para os Mercados Futuros.” Uma análise comparativa de três sistemas regulatórios: o brasileiro, o português e o norteamericano, para os Mercados Futuros (nomenclatura brasileira), ou Mercados de Futuros (nomenclatura portuguesa).

Descrição do trabalho: O trabalho abordou a verificação da estrutura regulamentar e de auto-regulação em três diferentes sistemas; a visão dos intervenientes no Mercado Português, as perspectivas de um importante mercado. Os desafios para os mercados financeiros por conta de factores especialmente após o 11 de Setembro, a sustentabilidade do mercado português de futuros face a envolvência globalizada, o mercado internacionalizado, por conseguinte, a concentração dos mercados europeus, a criação do euro e a eliminação do risco cambial, o enquadramento fiscal das empresa portuguesas, a tributação das operações financeiras e seu impacto na diminuição da liquidez dos ativos, a dimensão e as potencialidades da bolsa portuguesa, inclusive a arbitragem.

Elementos da investigação: Feito inquérito aos participantes do mercado, análise dos sistemas reulgatório e auto-regulatório para os Mercados de Futuros no Brasil, Estados Unidos e Portugal-União Européia.

Objetivos: Proporcionar uma visão comparativa da regulação e da auto-regulação de e em três mercados significativos: o norte-americano, originário; o brasileiro, que tomou por base de criação o primeiro e o português, inserido na envolvência europeia, até o momento anterior à sua entrada no mercado europeu do EURONEXT. E as perspectivas próprias e expectativas futuras para os mercados de futuros.

Resultados do trabalho proposto: A confirmar conclusões do inquérito e do trabalho em si, tem-se que os mercados de futuros têm futuro assegurado e não se limitam à praça portuguesa, mas, num maior contexto, à praça europeia ou não, e assim por diante, conforme suas peculiaridades, caminhando em paralelo com o desenrolar dos mercados financeiros, de derivativos, de commodities mundiais.A convergência dos mercados, a concentração, a aproximação de padrões, com a agregação de riscos no mercado financeiros e de derivativos, e as medidas tomadas pelos órgãos reguladores (e o novo acordo da Basileia), sua importância significativa para países emergentes ou de dimensão econômica relativa, inclusive na condução da política económica; a globalização dos mercados e as oportunidades daí advindas.

Agradecimentos: a Meus pais e irmã, especialmente aos Professores Doutores: Carlos Machados dos Santos (orientador), Margarida Proença e Luís Filipe Lobo-Fernandes; aos intervenientes do mercado que responderam ao inquérito, aos colaboradores da Bolsa de Valores Lisboa e Porto, da BVRJ, BBF e CLC, no Rio de Janeiro.

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A NÃO DISCRIMINAÇÃOTRIBUTÁRIA INTERNACIONAL

Juracy Aparecia da Silva Santos 1*

1 Universidade de Salamanca /Faculadade de Direito - Programa de Doutoramento em Garantias do contribuinte

*Autor para correspondência: [email protected] O objeto deste trabalho é traçar diretrizes sobre a tutela da garantia à não discriminação Tributária directa e indireta, sendo que a primeira se refere a discriminação do cpmtribuinte nos impostos diretos, e a segunda nos impostos indiretos. Constata-se a falta de tutela assoberbada na discriminação tributária direta nas empresas. Veja-se a jurisprudência neste sentido. Com elementos doutrinais apresentar-se a existência de soluções para o problema. Exigência da nova ordem mundial, tanto numa perspectiva global, quanto numa perspectiva regional, com a experiência do Mercosul e da União Europeia. Tem-se em conta, a realidade dinâmica e sempre nova que se descortina com as propostas de solução do problema. O problema da não discriminação é um dos aspectos mais relevantes do direito fiscal/tributário internacional1, com relação aos direitos fundamentais do contribuinte. A não discriminação tributaria tem urgência em deixar de ser uma utopia, para ser um modelo de organização que as constituições preconizam e determinam que o Estado promova como tarefa fundamental. A não discriminação tributaria não é sequer uma opção que uma maioria legislativa de conjuntura possa seguir e que outra possa rejeitar: é uma inerência do regime democrático. A não discriminação não é uma questão de opinião de que se possa desinteressar os Estados de Direito: porque manifestação óbvia de dignidade da pessoa humana, constitui uma das bases que se assenta as Repúblicas e que deve se assentar todas as Nações. Hoje esta tutela é contratada por convênios internacionais através dos vários modelos de convênios de dupla tributação. São muitas as iniciativas de modelos de convêncio de dupla tributação. O mais consagrado é o Modelo de Convénio da OCDE – MC OCDE. No MC OCDE, como em muitos outros modelos, a não discriminação tributaria internacional é disposta no artigo 24. Questão principiológica que envolve a segurança jurídica para se obter o tão desejado direito a justiça. Que se depara com a questão atual da elaboração de uma norma fora das paredes do legislativo. Ou seja, Modelos propostas de normas elaborado por órgãos internacionais e em suas dependências. Uma vez contratado vai depender se o sistema do país se é monista ou dualista para uma recepção automática ou formal. E consequentemente uma vez recepcionado ter força de lei ou no caso da União Européia que tem a intergovernamentabilidade, a norma goze da hierarquia constitucional. Como se norma constitucional fosse2. Haja vista que cada país tem um ordenamento jurídico distinto, e é nesta hora que o valor semântico de cada palavra em cada país tem um peso distinto e muita das vezes é fator de grandes lides e celeumas. Não bastando se quer a harmonização tributária para resolve-las mas também o bom tratamento do valor semântico numa exegese também já contratada entre as partes (soft law). A interpretação da norma contratada também deve ser dinâmica. Pois, só com a interpretação dinâmica a norma terá alcance nas questões sempre novas das relações do contribuinte com o Fisco. Seja este contribuinte não pode depender de questões semânticas para ter assegurada a não discriminação fiscal. Posto que todos contribuem igualmente para a economia nacional. 1 SÁINZ DE BUJANDA, F., Estudios de Derecho y Hacienda. Vol. 1. Madrid, Ministerio de Economía y

Hacienda, 1987, p. 470, GARCIA FRIAS, Maria Angeles, “La necesaria armonización de la tributación de las personas fisicas no residentes a la luz de la jurisprudencia del TJCE” in revista de Derecho Financeiro y de Hacienda Pública Vol. XLVI, nº 242 p.10; VOGEL, Klaus. On double taxation conventions. 3ª ed., London, Kluwer Law, 1997, p. 71 ss; UCKMAR, Victor. Curso de Derecho Tributário Internacional. Bogotá – Colômbia, Editora Temis S. A. Tomo I, 2003, p. 1. 2 PIRES, Francisco Lucas. Introdução ao Direito Constitucional Europeu. Coimbra. Almedina. 1997. E

outros.

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ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE POR MULHERES BRASILEIRAS IMIGRANTES

Alcione Leite da Silva*

Universidade de Aveiro – Secção Autônoma Ciências da Saúde

*Autor para correspondência: [email protected]

Este estudo teve por objetivo investigar o acesso a serviços de saúde por parte de mulheres brasileiras imigrantes na Austrália. O suporte teórico deste estudo foi construído na intersecção de gênero, cultura e diferença cultural. Foi desenvolvido com base na abordagem qualitativa do tipo multi-métodos. Dados qualitativos foram obtidos com 33 mulheres brasileiras, através da observação participante, entrevista e grupo focal. O registro dos dados foi feito através de notas de campo e de gravação em fitas cassetes. Os dados foram analisados com base na técnica de codificação axial, seletiva e aberta, utilizando o programa de análise qualitativa de dados QSR Nvivo. O rigor do estudo foi apoiado na triangulação de diferentes métodos de coleta de dados e na validação dos dados coletados, incluindo os conteúdos da análise e o relatório escrito da pesquisa. Os principais temas emergentes foram: barreiras sócio-políticas, sócio-culturais e sócio-econômicas para acessar os serviços de saúde. Os resultados deste estudo evidenciaram que as mulheres brasileiras enfrentam uma gama diversificada de problemas no processo de migração para a Austrália. A condição de novas imigrantes e com um background de língua não-inglesa criam dificuldades em negociar suas necessidades de cuidado à saúde e em acessar os serviços de saúde. Estes problemas têm se agravado em decorrência da diferença cultural e da assimetria nas relações de gênero, cujas raízes provêm do país de origem e acabam por determinar o processo de vida no país de destino. Neste sentido, as mulheres deste estudo têm enfrentado três esferas de opressão: como mulheres, como estrangeiras no novo país, e como usuárias dos serviços de cuidado de saúde. O reconhecimento destes problemas é crucial para encorajar abordagens mais efetivas e humanísticas para as questões de saúde das mulheres brasileiras pelos profissionais de saúde e apoiar o avanço e a efetividade das políticas de cuidado de saúde para a população de migrantes brasileiros. Palavras-chave: Migração internacional, Saúde, Mulheres brasileiras

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OS DESAFIOS DE VIVER EM COMUNIDADE: REINTEGRAR E REABILITAR

Dina Beatriz dos Santos

UFRJ/NESC – Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva.

Segundo o relatório do ano de 2001, sobre a saúde mental no mundo da Organização Mundial da Saúde intitulado: “Saúde Mental: Nova Concepção, Nova Esperança” os transtornos mentais continuam sendo responsáveis por uma parte muito significativa da carga global das doenças e ocupam um lugar destacado entre as primeiras causas de incapacidade. Contudo, também é verdade que seu tratamento na comunidade não só se tornou possível em muitos casos, com as novas medicações, com a humanização dos serviços, com a criação de novos dispositivos, assim como veio a revelar um melhor padrão custo-benefício que os modelos hospitalares tradicionais. Neste sentido, a Declaração de Caracas como marco para a superação do modelo do hospital psiquiátrico e a luta contra todos os abusos e a exclusão de que são vítimas as pessoas com problemas de saúde mental retrata as grandes metas mobilizadoras da reforma de saúde mental ocorridos na América Latina e Caribe, a partir de 1990. Além disso, os movimentos de reforma da saúde mental no Brasil seguem o cenário da Reforma Sanitária sendo profundamente influenciados pelos movimentos da atenção primária e da saúde comunitária, vindo a se consolidar passo a passo como uma vertente de grande conquistas no panorama da saúde.Baseados na premissa do potencial terapêutico presente nos recursos da comunidade, os Centros de Atenção Psicossociais são pensados como: favorecendo a promoção da saúde, a prevenção das doenças e a melhoria da qualidade de vida (Birman & Costa,1994). Objetivos do Estudo/Metodologia: Conhecer o modelo de atenção psicossocial a partir da realidade da periferia da cidade do Rio de Janeiro. Refletir sobre os cotidianos e os principais impasses presentes na inserção dos Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) na comunidade. Trata-se de um estudo qualitativo que utilizou como instrumentos: observação-participante, entrevista semi-estruturada e grupo-focal com profissionais de saúde mental. As administrações municipais podem influir nesta realidade de maneira positiva, como ilustra a experiência dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, é imprescindível afirmar que as experiências de reforma levadas a cabo em vários países demonstraram que a melhoria da saúde mental é possível, de fato, quando existe modificação dos contextos sociais e culturais, vontade política, reconhecimento de direitos, atribuição de recursos de acordo com a importância da saúde mental e capacidade técnica para implementar as reformas necessárias. Neste sentido, os resultados do estudo sugerem que estes critérios nem sempre estão presentes na realidade diária dos CAPS o que pode dificultar o processo de reforma psiquiátrica brasileira, assim como a reinserção social dos usuários. O grau de acessibilidade dos serviços também se apresentou como um problema principal, especialmente no tocante a incapacidade de custear o tratamento, dificuldades por parte da equipe de realizar visitas domiciliares aos casos mais graves.

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SAÚDE BUCAL DO IMIGRANTE BRASILEIRO: UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL

Maria do Socorro Costa Feitosa Alves1*, Dyego Leandro Bezerra de Souza 2, Jorge Correia Jesuino3

1 UFRN/ISCTE – Universidade de Lisboa - Estágio Pós-Doutoral-CAPES 2 UFRN/PGOPS – Programa de Pós-Graduação em Odontologia Preventiva e Social.Natal-RN

3 ISCTE – Universidade de Lisboa UFRN - Depto. de Odontologia, Av. Salgado Filho, 1787 - Natal, RN – Brasil

*Autor para correspondência: [email protected]

INTRODUÇÃO: Tem-se observado na literatura pouca ênfase a programas específicos para imigrantes no que concerne a prevenção e promoção da saúde. Os estudos evidenciam que mais de cem mil pessoas migram anualmente à procura de melhores condições de trabalho, no mundo. O número de imigrantes brasileiros ascende cerca de dois milhões, estimando-se que perto de 33% apresentam-se clandestinamente nos seus países de acolhimento. Nesta perspectiva, diferentes profissionais de saúde e pesquisadores, preocupam-se com a temática sobre a saúde bucal dessa população e as estratégias de atendimento utilizados pelos imigrantes brasileiros. Desta forma, este trabalho tem o objectivo de conhecer as representações sociais sobre saúde bucal construídas por imigrantes brasileiros. METODOLOGIA: O estudo é do tipo exploratório em desenvolvimento, com quarenta imigrantes brasileiros residentes em Lisboa-Portugal. Os dados estão sendo colhidos utilizando-se uma entrevista semi-estruturada e o teste da associação livre de palavras, com as palavras indutoras: «saúde dos dentes», «saúde dos dentes para imigrantes»,«tratamento dentário para imigrantes»,«prevenção» e«higiene dos dentes». Os dados encontram-se em fase de análise. RESULTADOS: Os resultados preliminares demonstraram que os imigrantes não têm acesso aos serviços dentários, desconhecem a existência de programas públicos e referem o alto custo desse atendimento. Os que alegam ter utilizado tal serviço reclamaram os valores pagos e a grande dificuldade na obtenção do tratamento dentário. CONCLUSÕES: Pôde-se observar no âmbito da saúde bucal colectiva, a necessidade de pesquisas que tratem de conceber a diversidade de ações necessárias à saúde bucal do imigrante, caracterizados pela carência de atendimentos específicos destinados à promoção da saúde. Faz-se mister compreender a saúde bucal como um processo de carácter bio psicossocial e cultural, o qual demanda a existência de políticas públicas e a participação da sociedade civil, de forma a propiciar uma saúde saudável. Palavras Chave: Saúde bucal, imigrante, representações sociais, promoção da saúde

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A PESQUISA-AÇÃO NA PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE COMUNIDADE RURAL

Alcione Leite da Silva*

Universidade de Aveiro – Secção Autônoma Ciências da Saúde *Autor para correspondência: [email protected]

As comunidades rurais são cenários de grandes desafios no mundo contemporâneo, os quais as mantêm as margens do desenvolvimento global. Dentre estes desafios encontram-se o isolamento geográfico, a falta de acesso aos recursos básicos e indispensáveis a uma vida saudável, o baixo nível de escolaridade, a falta de oportunidades de convívio social e lazer, o envelhecimento, dentre outros aspectos. Estes desafios exercem uma importante influência na desertificação das zonas rurais e na concentração das pessoas nas cinturas industriais das grandes cidades. Em Portugal, as comunidades rurais do interior enfrentam estes desafios, na medida em que estão sendo, sistematicamente, despojadas dos seus apoios cívicos e administrativos. Diante do exposto, a autora defende a pesquisa-ação em comunidades rurais como forma de capacitação política de seus habitantes para a enfrentar os desafios que a elas estão postos. A pesquisa-ação enquadra-se no universo das metodologias qualitativas que tentam explicar os fenômenos sociais e que se desenvolveram num quadro crítico e alternativo face à impossibilidade das metodologias quantitativas conseguirem explicar a complexidade do mundo real. A autora apresenta um estudo de pesquisa-ação participativa que vem desenvolvendo em uma comunidade rural do distrito de Aveiro, desde Julho de 2005. Este estudo tem por objetivo: implementar um programa de ações colaborativas e participativas para promover o desenvolvimento sustentável de uma comunidade do distrito de Aveiro. A autora analisa as etapas do estudo, tais como: Fase Exploratória: mobilização da comunidade, planejamento participativo, mapeamento da comunidade e constituição de um grupo gestor; Fase diagnóstica: capacitação geral da equipa para a elaboração de instrumentos de diagnóstico, aplicação dos instrumentos, análise dos dados e elaboração do perfil da comunidade (ambiental, econômico, social, cultural e de saúde); elaboração do diagnóstico dos problemas e necessidades da comunidade e identificação dos recursos locais e externos; Fase de Planejamento Estratégico: organização dos problemas e necessidades da comunidade, por prioridade, em áreas temáticas; elaboração de agenda de ações estratégicas; redistribuição de ações entre os membros da comunidade; Fase de Implementação de Ações Colaborativas: capacitação de capital humano e social; desenvolvimento de lideranças, formação de redes sociais através de parcerias, implementação da agenda de ações estratégicas; Fase de Avaliação: elaboração de indicadores de avaliação, documentação e avaliação contínua do planejamento das ações, da implementação da agenda, dos resultados e das mudanças. Finalmente, analisa os desafios e avanços obtidos no contexto desta comunidade.

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A SÍNDROME DA IMUNODEFICIÊNCIA ADQUIRIDA EM CONTEXTO EDUCACIONAL, NO BRASIL E EM PORTUGAL

Graziela Raupp Pereira*; Anabela Pereira

Departamento de Ciências da Educação, Universidade de Aveiro, Portugal *Autor para correspondência: [email protected]

Com o aparecimento do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), no final do século XX, deparamo-nos com uma nova epidemia, a qual, nem com todos os avanços tecnológicos a sociedade tem conseguido controlar. Desde seu início, mais de 25 milhões de pessoas morreram por causa do HIV. Atualmente o número de pessoas infectadas supera os 40,3 milhões – o dobro do quantitativo resgistrado em 1995 (UNAIDS, 2005). A complexidade das dimensões envolvidas nesta doença tornou-a uma ameaça dos tempos modernos. Essa percepção do problema surge com uma abordagem não apenas centrada no indivíduo, mas também em grupos de indivíduos na sociedade, como por exemplo os educadores, que lidam diretamente com crianças e adolescentes afetados pela AIDS. O presente trabalho está associado a experiência vivencial numa Casa de Acolhimento no Município de Florianópolis/Santa Catarina/ Brasil e tem como objetivo apresentar estudos que identifique conhecimentos e atitudes que os professores e os alunos universitários, em formação para professor, têm com relação ao HIV/AIDS. Constitui-se como um estudo preliminar de um projeto mais amplo que tem por finalidade realizar um estudo comparativo entre Portugal e Brasil tendo em vista o desenvolvimento de um programa psicopedagógico de suporte à crianças infetadas pelo HIV. Os dados foram coletados quantitativamente, através de questionário tipo “Likert” com professores e alunos universitários em formação para professor do ensino público e privado das cidades de Florianópolis (Brasil) e de Aveiro (Portugal) e foram analisados no Software de Estatística SPSS-14.0. A actual investigação alude para a necessidade de se investir na formação inicial e contínua dos educadores a nível da educação para a saúde, visando a construção de um processo sistemático, uma intervenção qualitativa, proporcionando espaços de reflexão que circulam em torno desta temática.

Projeto de Investigação Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia – FCT

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RISCO DE CONTÁGIO PELO HIV: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS

Valéria Peixoto Bezerra1*; Maria do Socorro Costa Feitosa Alves2 ; Maria Filomena Mendes Gaspar3

1 UFRN/PPGCSA - Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Brasil 2 UFRN/ISCTE – Instituto de Ciências do Trabalho e da Empresa

3ESEMFR – Escola Superior de Enfermagem Maria Fernanda Resende *Autor para correspondência: [email protected]

INTRODUÇÃO: A aids avança na terceira década de sua descoberta e apesar dos progressos científicos e tecnológicos no combate a epidemia, ainda nos deparamos com práticas e crenças que podem ou não interferir na adoção de comportamentos preventivos para o contágio do HIV. Estudar a ameaça simbólica da aids no âmbito das representações sociais, possibilita conhecer repertórios subjacentes que orientam práticas e comunicações, modeladas a partir da interação estudantes-profissionais de saúde e pacientes no contexto acadêmico, em que reproduzem modos de enfrentamentos, permeados por preconceitos e distanciamento frente ao risco de contágio pelo HIV. Desta forma, este trabalho objectiva analisar as representações sociais sobre o risco de contágio do HIV construídas por estudantes universitários de saúde, salientando diferentes determinantes responsáveis pela adoção das medidas de biossegurança. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório e comparativo (Brasil-Portugal) por analisar e comparar fenômenos naturalmente encontrados em ambos os países, a partir das representações sociais. Será realizado com estudantes dos Cursos de Graduação em Medicina, Enfermagem e Medicina Dentária, selecionados aleatoriamente considerando o número de alunos matriculados no período letivo vigente, cursando disciplinas que desenvolvam atividades teórico-práticas em serviços de saúde. Os dados serão coletados através de um questionário semi-estruturado e grupo focal. RESULTADOS: Os dados em processo de levantamento, serão analisados pela Técnica de Análise de Conteúdo Temática e Estatística Descritiva. Neste sentido, apreender as representações sociais sobre risco construídas por estudantes universitários possibilitará perceber o mesmo sob a ótica a que estão expostos e a adoção de medidas de biossegurança, sendo considerado a Teoria das Representações Sociais um caminho profícuo na avaliação de fenômenos conflituosos.

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INESTING STATS

Germano Magalhães*

UALG/FCT/DEEI – Licenciatura Informática *Autor para correspondência: [email protected]

Neste trabalho é apresentado o Inesting Stats, uma ferramenta Web que objectiva a análise de tráfego nos diferentes sites desenvolvidos pela empresa Inesting. Com esta análise a Inesting pretende maximizar o desempenho dos sites, quer em termos de tecnologia a aplicar (p.e. se um site tem acessos via PDA, é interesse a empresa desenvolver áreas especificas para estes dispositivos), quer em termos de marketing, desenvolvendo e acompanhando campanhas publicitárias e ranking nos principais motores de busca. Para isso, analisa as palavras chave mais procuradas, os picos horários nos acessos, a localização dos visitantes, e outros dados respectivos aos acessos realizados a uma página Web específica. Na figura a seguir, é apresentada uma das principais interfaces da ferramenta onde se pode verificar, em percentagens, quais foram as páginas Web que originaram o acesso ao site analisado.

Todo o processo de recolha de dados é transparente para o utilizador, bem como para o site em análise. Isto é, não há atrasos na apresentação de uma página causada pela recolha de dados. Os resultados são apresentados através de um portal na Internet com acesso seguro a cada utilizador. Assim, os proprietários dos sites em análise poderão consultar em tempo real o desempenho dos mesmos. Por fim, é considerada uma atenção especial ao armazenamento de dados, uma vez que a quantidade de informação cresce de forma exponencial em relação ao número de acessos realizados no site. Agradecimentos: Inesting – Marketing Tecnológico Professor Doutor Patrício Serendero (UALG-FCT-DEEI) Professor Doutor Rogério Nascimento (UALG-FCT-DEEI)

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COMUNICAÇÃO HUMANO-ROBÔ ATRAVÉS DE LINGUAGEM FALADA

Marcelo Quinderé*

IEETA/DETI – Universidade de Aveiro *Autor para correspondência: [email protected]

Em robótica, a subárea dos robôs de serviço possui a maior expectativa de crescimento. Espera-se que já em 2010 ultrapasse a área dos robôs industriais num mercado de 59 bilhões de dólares [Bugmann, 2005]. Este avanço significa que os robôs vão deixar de ser operados por engenheiros especializados e passar a ser comandados por donas de casa, por exemplo. Isto exige uma mudança no paradigma de comunicação humano-robô. Não é mais admissível que seja o homem a aprender a linguagem da máquina, é preciso que a máquina fale na linguagem do homem. O que pode parecer ficção científica, já se encontra em desenvolvimento na Universidade de Aveiro desde 1999. O projeto CARL estuda as várias dimensões do problema de construir um robô móvel inteligente [Seabra Lopes e Teixeira, 2000]. O objetivo principal deste trabalho é a definição, implementação e avaliação de uma arquitetura distribuída, flexível e robusta para um sistema de diálogo utilizável na interação baseada em linguagem natural falada entre humanos e agentes inteligentes. O segundo objetivo, complementar, é o de utilizar esse sistema conjuntamente com um módulo de aquisição e gestão de conhecimento de forma a adquirir, acumular e reutilizar informação fornecida por diferentes interlocutores humanos. Relativamente ao sistema de diálogo, é preciso haver uma gestão de contexto para resolução de ambigüidades na interpretação de anáforas e elipses. Outro ponto a ser considerado aqui é o estabelecimento de diálogos de clarificação, destinados a resolver as ambigüidades não desfeitas pela gestão de contexto, bem como permitir o estabelecimento de diálogos por iniciativa do robô. O módulo de gestão de conhecimento está implementado e teve a sua funcionalidade comprovada através de avaliações de desempenho [Seabra Lopes et al., 2005a, Seabra Lopes et al., 2005b]. A arquitetura do sistema de diálogo encontra-se definida e em fase de implementação. Referências: Bugmann, G. (2005), The What and When of Service Robotics. Industrial Robot: An International Journal, 32(6). Seabra Lopes, L. e Teixeira, A. (2000). Human-Robot Interaction Through Spoken Language Dialogue. IROS 2000, volume 1, 528-534, Japan. Seabra Lopes, L., Teixeira, A., e Quinderé, M. (2005a). A Knowledge Representation and Reasoning Module for a Dialog System in a Mobile Robot. NLUCS, 172-177, Miami, USA. Seabra Lopes, L., Teixeira, A., Quinderé, M., e Rodrigues, M. (2005b). From Robust Spoken Language Understanding to Knowledge Acquisition and Management. Interspeech'2005 - 9th Eurospeech, 3469-3472, Lisboa, Portugal.

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DIVERSIDADE LINGUÍSTICA NO CIBERESPAÇO: INTERACÇÃO LOCAL/GLOBAL E REACÇÃO CONTRA-HEGEMÓNICA

Adalto Herculano Guesser*

CES/FEUC – Centro de Estudos Sociais, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra *Autor para correspondência: [email protected]

A Internet nasceu nos EUA como uma variação de um projecto militar muito específico. Entretanto, desde muito cedo o escopo inicial foi pervertido pelo envolvimento de inúmeros profissionais da área da informática preocupados com os resultados secundários deste projecto hierárquico centralizador. Um corpo de altos especialistas permitiu o desenvolvimento paralelo de uma infra-estrutura de redes que rapidamente passou a ser utilizada por muitas pessoas fora do círculo militar inicial. O passo determinante para a expansão e o rápido crescimento da rede e sua vulgarização, entretanto, deu-se quando empresários capitalistas começaram a perceber o grande potencial deste mercado consumidor e passaram a investir nele massivamente. A origem do nascimento da Internet conferiu a ela, juntamente com a nacionalidade, a sua língua materna. Nos primórdios da Internet, quase a totalidade da comunicação estabelecida era em inglês, uma vez que a maioria das pessoas envolvidas nos projectos eram provenientes dos EUA, ou de comunidades científicas, onde o inglês é utilizado como língua franca. Esta realidade de hegemonia absoluta do inglês passou a ser revista com o aumento da utilização da Internet nos diferentes países do globo. Em 1998, o inglês já tinha sofrido uma queda de 15% do seu total, devido principalmente a proliferação da rede e a produção de conteúdos locais nas línguas nacionais. Esta tem sido uma tendência que vem sendo registrada progressivamente, conforme representado no gráfico abaixo.

Gráfico 1: Distribuição das línguas presentes na Internet em Setembro/2004. Fonte: Global Reach, 2006.

Diante do actual processo de globalização hegemónica é compreensível que as comunicações se estabelecem segundo critérios linguísticos dos centros hegemónicos de poder. Entretanto, a universalização de uma única língua é uma coisa que parece ser ilusória, como tem vindo demonstrar os dados sobre a presença das diferentes línguas na Internet. Como reflexo especular da sociedade, o ciberespaço é também palco de disputas de poder e da busca de um contínuo controlo social por parte dos poderes hegemónicos globais. A presença crescente de línguas locais na Internet vem apontar para uma possibilidade que não pode ser desperdiçada nos projectos de emancipação humana. O espaço-tempo do ciberespaço, somado com as possibilidades de interacção em diferentes línguas locais pode vir a permitir uma maior e mais ampla sociabilidade, ao passo que produz uma divisão digital menos exclusiva e menos centralizadora. O presente trabalho busca perceber quais são as causas do crescente aumento de línguas locais na produção da Internet e, ao mesmo tempo, identificar as formas de reacção contra-hegemónica empreendida pelo uso desta ferramenta como campo fértil para a produção e difusão de ideias, informações, conteúdos, conhecimentos e saberes. Agradecemos, o apoio financeiro da CAPES para a prossecução desta investigação científica.

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FERRAMENTA WEB DE APOIO A PEDAGOGOS E DOCENTES:

INQUÉRITOS ONLINE USANDO O MOODLE

Valter J. Miguel1; Sérgio M. Guerreiro1; Rogério P. C. do Nascimento2*

1 UALG (Universidade do Algarve) – Alunos de Licenciatura em Ensino de Informática 2 UALG – Professor da Faculdade de Ciência e Tecnologias, 8005-139, Faro – Portugal

*Autor para correspondência: [email protected]

O E-Learning é hoje uma realidade adoptada por muitas organizações e escolas em todo o mundo. Com a forte acentuação do uso deste tipo de ensino, os LME – Learning Management Environment são cada vez mais importantes. No entanto, muitas vezes estas ferramentas não são capazes de responder a todas as necessidades das instituições, pedagogos ou docentes que as adoptam, pois estes têm necessidades que são específicas do meio em que se encontram e que diferem de caso para caso. Portanto, é essencial que o software utilizado possa ser adaptado de forma a ir ao encontro dessas necessidades particulares. Neste artigo, apresentamos uma Ferramenta Web de Apoio a Pedagogos e Docentes. Caracteriza-se pala facilidade de uso, permitindo que pessoas sem conhecimento avançado de informática possam elaborar e responder questionários online de forma intuitiva, necessitando apenas que os seus utilizadores possuam conhecimentos básicos sobre um navegador Web e que a instituição tenha adoptado o LME open-source Moodle. Assim, a ferramenta possibilita aos professores ou pedagogos que possam focar a sua atenção nas actividades de ensino e de acompanhamento pedagógico, ao invés de se preocupar com o software. Especificamente, a ferramenta proposta permite que professores ou pedagogos possam facilmente implementar questionários ou inquéritos online com 7 tipos diferentes de resposta, vide figuras abaixo.

Respectivamente, os 7 tipos de respostas são: Datas; Valor; Escolha Múltipla (com uma única selecção); Escolha Múltipla (com múltiplas selecções possíveis); Faixa de Valores; Resposta Aberta; e Respostas Sim ou Não. A ferramenta concebida consiste num módulo que foi implementado em PHP de forma a ser integrado com o LME Moodle. O Moodle está neste momento bastante difundido, sendo uma ferramenta adoptada por mais de 17.000 instituições na data actual. Entre outras aplicações, a ferramenta permite que os seus usuários possam elaborar/responder inquéritos que possam recolher informação online da comunidade estudantil. Estas informações poderão ser utilizadas como ponto de partida para melhorar os resultados dos alunos, nos processos de avaliação de ensino-aprendizagem, ou, até mesmo, pelas

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AVALIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE UM LABORATÓRIO VIRTUAL

João Batista Bottentuit Junior 1*, Clara Coutinho2

1 FCUP - Faculdadade de Ciências da Universidade do Porto 2 UMINHO - Instituto de Educação da Universidade do Minho

*Autor para correspondência: [email protected] O projecto que está a ser desenvolvido por um dos autores deste artigo no âmbito do Mestrado em Educação Multimédia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, trata-se da avaliação e desenvolvimento de um laboratório virtual na área de química orgânica. O laboratório virtual permite a interacção directa do aluno e não deixa que o aluno chegue ao fim da experiência sem se apropriar do conhecimento. Alguns argumentos para a utilização dos laboratórios virtuais são: que são óptimos recursos para utilização tanto dentro quanto fora de sala de aula, Porque reduzem os custos de utilização de um laboratório real; possibilitam o e-learning, é uma ferramenta construtivista e que respeita o ritmo de aprendizagem dos alunos. Alguns argumentos para a escolha da disciplina de química são por ser uma área da ciência que permite experimentações, por ser uma matéria que utiliza grande parte de conceitos abstractos, porque é uma matéria que há grande número de reprovações, porque há sempre demanda de materiais didáctilos para disciplinas das áreas das exactas. Esta investigação conta com duas fases distintas que são elas: Inquéritos para levantamento de dados e desenvolvimento de um protótipo: Na 1ª Fase haverá a aplicação de dois inquéritos sendo um deles destinados a professores de química e físico-química que deverão responder questões sobre o domínio das TIC e avaliação do caráter pedagógico e funcional do Laboratório Virtual de Química Orgânica. O segundo inquérito destinado a profissionais de informática e professores de TIC pretende avaliar a Usabilidade do Laboratório Virtual no domínio técnico, pedagógico e interface gráfica da ferramenta. Esta etapa é de grande importância para revelar as características gerais do sistema a ser utilizado, assim como suas potencialidades e possibilidades de melhorias. O público que irá responder estes inquéritos é formado em sua grande maioria por alunos dos mestrados em Educação Multimédia e Química para o Ensino da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. O número de pessoas a contribuir nesta pesquisa corresponde a um montante de 60 (sessenta) pessoas sendo estas 30 (trinta) professores de química ou físico-química e 30 (trinta) professores de TIC ou profissionais de informática. Procurou-se com esta amostra um público técnico e pedagógico que pudesse responder a questões acerca das potencialidades pedagógicas e informáticas do laboratório virtual. Na 2ª Fase faremos o levantamento e análise de todas as respostas obtidas nos inquéritos. Com as respostas e sugestões obtidas poderemos traçar nosso plano de desenvolvimento e implementações para o novo laboratório com melhores recursos e funcionalidades. A partir das conclusões obtidas haverá o desenvolvimento de um Protótipo que tem como objectivo:

• Melhorar possíveis erros de usabilidade; • Desenvolver mais actividades avaliativas como jogos e quizes; • Desenvolver roteiros de exploração para as experiências; • Implementar sugestões obtidas nos inquéritos;

Ao fim do desenvolvimento deste protótipo pretende-se inserir esta nova ferramenta num ambiente virtual de aprendizagem que hoje é amplamente utilizada para cursos na modalidade e-learning. Os objectivos da utilização dos laboratórios virtuais através de um ambiente virtual de aprendizagem é para que desta forma possamos criar um mecanismo de controlo de entrada e saída dos utilizadores, a utilização do chat como ferramenta de ensino colaborativo, dos fóruns de discussão e todas os benefícios que estes sistemas podem oferecer ao ensino e aprendizagem.

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AVALIAÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM MODELO HIPERMEDIA PARA

APRENDIZAGEM E CALIBRAGEM EM CEFALOMETRIA RADIOGRÁFICA

Heraldo Luis Dias da Silveira¹*; Maria João Gomes da Silva¹; Heloisa Emília Dias da Silveira² 1 UFRGS/ PPGO Programa de Pós Graduação em Odontologia 2 UMINHO/ Departamento de Currículo e Tecnologia Educativa

*Autor para correspondência: [email protected] A cefalometria radiográfica é um importante recurso no diagnóstico, planejamento e acompanhamento de um tratamento ortodôntico. Esta é baseada na marcação de pontos anatômicos sendo que alguns oferecem dificuldade de identificação e nesse sentido o conhecimento profundo da anatomia radiográfica é fundamental. O desenvolvimento de programas computacionais para realização dos exames cefalométricos solucionou o problema de mensuração. Entretanto a literatura mostra que a mais importante causa de erros é a incerteza na identificação das estruturas anatômicas e esta depende da interferência do examinador. Este projecto tem como objectivo desenvolver e testar um modelo interativo (figuras 1 e 2) para a aprendizagem e calibragem em cefalométria radiográfica. O modelo para o aprendizagem foi desenvolvido a partir da criação de um objeto de educacional por meio do programa Flash 8. Para a etapa da calibragem foi desenvolvida uma ferramenta computacional que permite a importação de imagens e marcação dos pontos. Esta tem como principais características a capacidade de diferenciar os usuários mais experientes e menos experientes na área da cefalometria e quantificar a qualidade das marcações dos usuários de forma comparativa com o auxílio de diferentes técnicas estatísticas. Este trabalho está associado aqui em Portugal ao desenvolvimento de actividades de avaliação de aprendizagens em ambientes de multimédia interactivo bem como testagem e avaliação de aspectos de usabilidade e interactividade da aplicação multimédia produzida. Fazem parte o desenho de actividades de avaliação de aprendizagens para documentos multimédia, a construção de instrumentos de avaliação e o desenvolvimento de processos de avaliação da usabilidade e ergonomia do produto.

Figura 1: Interface de abertura do produto Figura 2: Tela principal do produto

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ANÁLISE MORFOLÓGICA DO GRAU DE TEXTURA DE CERÂMICAS POR MEIO DE PROCESSAMENTO E ANÁLISE DE IMAGENS

Ana Lúcia Horovistiz1,*

; Luís Rogério de Oliveira Hein2, Florinda Mendes Costa

3, Jorge Ribeiro Frade

1

1 Departamento de Engenharia Cerâmica e do Vidro, Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal 2 Departamento de Materiais e Tecnologia, Universidade do Estado de São Paulo, 12516-410,

Guaratinguetá, São Paulo, Brasil 3Departamento de Física, Universidade de Aveiro, 3810-193 Aveiro, Portugal

*Autor para correspondência: [email protected] Um novo parâmetro para análise de textura morfológica para cerâmicas avançadas é proposto, Combina tanto o grau de orientação morfológica e a fração volumétrica dos grãos em forma de placa em forma de disco, mas excluindo aqueles com forma equiaxiais. Uma vez que a relação quantitativa entre a textura cristalográfica e a morfológica é difícil de se estabelecer, nenhuma comparação quantitativa entre os dois parâmetros será discutida aqui. A textura morfológica será descrita pelo ângulo do maior eixo do grão alongado. Deste modo o parâmetro para descrição da textura morfológica, (Tx), deve ser baseado em dois fatores: a fração de grãos alongados (El) e a orientação do eixo principal (Or). É necessário encontrar o valor de corte para a razão de aspecto (RA) , ou a relaçãp entre o eixo maior e o eixo menor da partícula, o qual irá diferenciar os grãos isotropicos dos anisotrópicos. Neste trabalho foi utilizado o valor 1.5. Desta forma, ao multiplicar os fatores El por Or, e adotando uma escala de logaritmo na base 2, e corrigindo o resultado para um fator igual a -1, o parâmetro proposto é expresso como: Tx = -log2 (El.Or). Tx pretende ser uma ferramenta útil e prática de análise de imagens para uma inspeção nos precessamentos de cerâmicas texturadas, não sendo, desta forma uma técnica substituta de outras técnicas de investigação de textura.

Figura 1 – Interpretação gráfica dos parâmetros descritivos do grão: (A) área calculada ou seção planar; (d2) diâmetro equivalente ou diâmetro do círculo com a mesma área de superfície do grão analisado; (dmáx) projeção máxima do diâmetro do grão; (p) perímetro do objeto; (2a) e (2b) são respectivamente os comprimentos dos eixos maior e menor da elipse da partícula medida; (θmax) ângulo da orientação do máximo comprimento da projecção do objeto.

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O PROJETO DE MATEMÁTICA COMO CAMPO DE POSSIBILIDADES FORMATIVAS

Elaine Sampaio Araújo*

Universidade de São Paulo/RP

*Autor para correspondência: [email protected]

Este trabalho objetiva trazer ao cenário acadêmico as contribuições, para a formação docente, de um projeto de pesquisa realizado com educadores de Portugal e do Brasil envolvendo a Educação Matemática de Infância. A carência de propostas para a formação de professores que enfatizem o processo de construção do conceito de número pela criança, a necessidade de ruptura com um “ensino” de Matemática deslocado do processo cognitivo e cultural da criança, a percepção de uma dimensão ético-política da Matemática, são todas elas questões que têm povoado o universo da educação infantil e, por essa razão, têm apontado para a necessidade de sistematização de situações que favoreçam uma aprendizagem significativa, tanto para o aluno como para o professor, dos rincões da Serra da Estrela em Portugal, à periferia da zona sul de São Paulo, no Brasil. A dinâmica de formação privilegiou situações de elaboração de atividades de ensino, aplicação, reflexão e novas elaborações, tendo a linguagem como instrumento mediador que possibilita a organização do conhecimento. Essa experiência revelou que os projetos pedagógicos apresentam-se como um meio no qual atitudes de colaboração vão sendo produzidas, assumindo, assim, a tarefa de constituir-se como meio para o professor, em parceria, pensar e repensar, elaborar e reelaborar sua ação educativa, o que lhe possibilita assim assumir uma “nova posição”, pessoal e profissional. Acreditamos que a efetivação de um trabalho que, ao contemplar as propostas aqui defendidas — de tirar da marginalidade a escola de Educação Infantil, de estabelecer um novo trato com o conhecimento matemático, identificando-o também como construção social; e de produzir um projeto pedagógico — torna possível o desenvolvimento profissional e pessoal dos educadores, bem como a apropriação significativa, pelas crianças e pelos docentes, de um legado cultural que é o conhecimento matemático.

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O CONHECIMENTO PROFISSIONAL EXPERIENCIAL EM CÁLCULO NA LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

Edson Crisóstomo dos Santos* UNIMONTES/CCET – Dep. de Ciências Exatas, 39401-089, Montes Claros - MG, Brasil

*Autor para correspondência: [email protected] Neste estudo abordamos o problema da identificação de critérios para o desenho e desenvolvimento curricular de conteúdos matemáticos específicos. A complexidade do problema ante as diversas facetas e dimensões a serem contempladas, nos leva a abordá-lo desde duas aproximações complementárias: (1) estudo sistemático das investigações acadêmicas realizadas em Didática do Cálculo; (2) caracterização dos conhecimentos didático-pedagógicos dos professores “experts” no processo de ensino do Cálculo no contexto universitário. Trata-se de um estudo de casos realizado a partir da extração, codificação e sistematização do conhecimento profissional experiencial (CPE) de uma amostra de professores universitários (investigadores e/ou autores de livros de texto universitário). O conteúdo matemático específico consiste no estudo da integral no contexto socioprofissional da formação de professores de Matemática. Para a análise das informações, obtidas a través das entrevistas, utilizamos os recursos disponíveis no “Atlas.ti 4.2” e, para sua sistematização, as ferramentas conceituais elaboradas pelo “Enfoque ontossemiótico do conhecimento e a instrução matemática -EOS”. Nas conclusões ressaltamos o avanço teórico do EOS e sua potencialidade tanto para o estudo de objetos didáticos quanto para a sistematização do conhecimento profissional docente.

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PROGRAMA GESTAR: CONTRIBUIÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DE APRENDIZAGEM EM GEOMETRIA NOS ASPECTOS ATITUDINAIS E

CONCEITUAIS.

Maria Elizabete Rambo Kochhann*; Dr. Nelson Antônio Pirola 1 UNESP/Bauru- SP - Dep. Educação. Programa de Pós-Graduação de Educação para a Ciência

*.Autor para correspondência: [email protected]

Este artigo faz um relato da trajetória de formação dos educadores do estado de Mato Grosso a partir da década de 90. A cidade de Rondonópolis, mesmo possuindo um número acentuado de professores com pós-graduação, é considerada Zona de Desenvolvimento Prioritário (ZAP1) pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC). Por pertencer a essa zona é oferecido ao estado um programa de formação de professores chamado Gestão de Aprendizagem Escolar (GESTAR), que tem como finalidade trabalhar os conteúdos de Matemática e Língua Portuguesa. Participaram da pesquisa doze professores, cujo tempo médio de atuação no magistério era de vinte anos. Foi aplicado um teste elaborado a partir dos conteúdos do material de trabalho utilizado no GESTAR, antes de os professores iniciarem o módulo de Geometria, uma escala de atitudes em relação a geometria e um questionário sobre EAD (Educação à Distância). A análise dos dados mostrou que a média geral obtida na prova foi considerada sofrível. A dificuldade maior dos sujeitos envolvidos nos estudos evidencio-se na representação plana (planificação) de poliedros e na conceituação de figuras planas e não-planas. A atividade de montar e desmontar os sólidos geométricos é importante para a compreensão dos conceitos de bidimensionalidade e tridimensionalidade, trabalhados desde a Educação Infantil e que contribuem para o desenvolvimento do pensamento geométrico. O trabalho está em andamento, e nesse momento estamos em Aveiro-PT para estudar projetos de formação de professores desenvolvidos aqui, sobre o ensino da Matemática em especial a geometria. REFERÊNCIAS: BRASIL. MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO FUNDESCOLA. Manual de operacionalização e monitoramento do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar − GESTAR. Brasília, 2000/2002. BRASIL. MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO FUNDESCOLA. Geometria TP5 e TP7 − GESTAR. Brasília, 2002. PIROLA, N. A. Solução de problemas geométricos: dificuldades e perspectivas. Tese (Doutorado). Grupo de Pesquisa em Psicologia da Educação Matemática (PSIEM). Campinas, SP: Faculdade de Educação. UNICAMP, 2000. RIBEIRO, A. e CABRITA, I. A Geometria e a Informática na Formação do Professor do 1º Ciclo do Ensino Básico. In: BORALHO, A. et al. A Matemática na formação do Professor. Sociedade Portuguesa de Ciências de Educação. Évora, 2004. ZABALA, A. A função social do ensino e a concepção sobre os processos de aprendizagem: instrumentos de análise. In: ZABALA, A. A prática educativa. Porto Alegre: ArtMed Editora, 1998.

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PERGUNTAR PARA APRENDER, APRENDER A PERGUNTAR: USANDO AS PERGUNTAS PARA PROMOVER A APRENDIZAGEM ACTIVA

Francislê Neri de Souza*

DTE - Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa, Universidade de Aveiro

*Autor para correspondência: [email protected]

A investigação em educação em ciência tem vindo a sustentar a necessidade de se considerarem novas ênfases no ensino e aprendizagem, em particular no ensino universitário Diversos investigadores consideram que existem capacidades e competências chave que devem ser desenvolvidas nos estudantes, para além dos conteúdos académicos. Entre estas salientam-se as seguintes: a competência de questionamento e de comunicação, a capacidade de trabalhar em grupo, de resolução de problemas e do uso das novas tecnologias e, ainda, a capacidade para continuar a adquirir, ao longo da vida, novos conhecimentos e práticas. Todas estas capacidades e competências pressupõem uma aprendizagem muito mais activa, em oposição aos processos tradicionais. O acto de formular perguntas pode estimular o raciocínio, a capacidade de resolver problemas e de reflectir. Por isso, o estímulo ao questionamento é uma estratégia eficiente para promover o ensino e a aprendizagem mais activas. “Perguntar para aprender”, coloca a ênfase na necessidade de estimular as perguntas dos alunos como meio estruturador da aprendizagem activa; “Aprender a perguntar” coloca a ênfase na necessidade de desenvolver a capacidade dos professores em formular perguntas adequadas a cada desafio da sua prática lectiva.

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PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E AS ORIENTAÇÕES CURRICULARES

Edson Souza de Azevedo1*; Beatriz Oliveira Pereira2

1 IEC/UMINHO -Programa de Pós-Graduação em Estudos da Criança

2 IEC/UMINHO -Depto. de Expressões Artísticas e Educação Física, 4710-229 -Braga –Portugal *Autor para correspondência: [email protected]

As Propostas Curriculares Nacionais, atendendo a nova realidade procuram enfocar a Educação Física Escolar retirando a prioridade dada ao esporte nas aulas e oferecendo novas propostas de conteúdos e enfoques metodológicos. Por sua vez, os professores de Educação Física em geral vêm apresentando dificuldades na assimilação, organização e sistematização destas propostas inerentes ao desenvolvimento das aulas de Educação Física. As demais disciplinas apresentam propostas sistematizadas indicando claramente o desenvolvimento ao longo dos anos escolares, entretanto, a Educação Física não vem apresentando e isso acaba por gerar equívocos, trabalhos desarticulados e sem seqüência pedagógica. Este estudo caracteriza-se como sendo uma pesquisa do tipo descritiva exploratória, levantamento Survey que consiste na modalidade de pesquisa interativa mediada pelo investigador, que utilizará séries de questionários para que os respondentes possam chegar a um consenso sobre projeções ou previsões de acontecimentos (estudos exploratórios) ou ainda sobre a fixação de objetivos (estudos normativos). Como objetivos buscar-se-á responder a seguinte questão: como estão organizados e sistematizados os conteúdos programáticos da educação física escolar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental no âmbito dos Colégios de Aplicação da região sul do Brasil e escolas da região norte de Portugal. A população deste estudo será composta por profissionais graduados em Educação Física da Região Sul do Brasil, que atuam como Docentes nos Colégios de Aplicação e em Colégios da Região Norte de Portugal. O processo de seleção da amostra será intencional, composta por docentes que atuam nas escolas participantes do estudo e que atuam no 1° Ciclo do Ensino Fundamental. Como processo de tabulação será utilizado o processador Excel 7,0 para a tabulação e posteriormente o lançamento dos dados no programa Statistical Package for Social Sciences

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(SSPS 14,0) para análise dos conteúdos e categorias delineados, concomitantemente a este processo será aplicado o sistema Nudist

®

para categorização das referências empíricas pesquisadas. Palavras Chave: Educação Física; Orientações Curriculares; Programas de Ensino Agradecimentos, À Alban Office, que após processo seletivo depositou em meus estudos a confiança e incentivos com uma bolsa de estudos para a realização do Doutoramento em Estudos da Criança; Ao Instituto de Estudos da Criança, Departamento de Expressões Artísticas e Educação Física, que por análise e seleção no Conselho Técnico-Científico selecionou-me para a execução do Doutoramento em Estudos da Criança naquele Instituto.

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PROCEDÊNCIAS METODOLÓGICAS DO SECUNDÁRIO COMO FACTORES DE (IN) SUCESSO À UNIVERSIDADE

Dayse Neri de Souza*

Universidade de Aveiro

*Autor para correspondência: [email protected]

O presente estudo tem por objectivo apresentar dados referentes a percepção dos alunos do 1º ano dos cursos de licenciatura das ciências e engenharias da Universidade de Aveiro que cursaram as disciplinas de Cálculo I e Elementos de Física, sobre as procedências metodológicas que experienciaram no secundário e que influenciaram no ajustamento à universidade. O contexto metodológico (programa, aulas, avaliação, docentes) tem vindo a se confirmar como factores imprescindíveis ao sucesso dos alunos. Para a análise dos dados foi utilizado o método de triangulação entre os dados quantitativos (SPSS) e os dados qualitativos (NUD*IST – N6). Os resultados indicam que na perspectiva dos alunos, o ajustamento no contexto universitário foi de difícil adaptação, tendo em vista as diferenças sentidas no aspecto metodológico entre o nível secundário e o nível superior. Nomeadamente, no aspecto da avaliação da aprendizagem e da relação professor-aluno.

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O FANTÁSTICO E O MARAVILHOSO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM ESTUDO DE CASO NO 3º E 4º ANO DAS ESCOLAS

PÚBLICAS DE PORTUGAL E DO BRASIL

Verónica Maria de Araújo Pontes*

Doutoranda em Literatura para a Infância no Instituto de Estudos da Criança da Universidade do

Minho/Portugal e Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/Brasil

*Autor para correspondência: [email protected]

Sendo a instituição responsável por ensinar a ler, dentre outras coisas, a escola tem interpretado essa incumbência de maneira mecânica e estática, sem conferir sentido ao ler. Dessa forma, a escola se afasta da compreensão de leitura enquanto um processo significativo de interação entre leitor e texto, quando, ao contrário, deve ser um instrumento de transformação, pois nela é veiculado o saber que, se dominado, leva a questionamentos, discussão e compreensão do mundo que nos rodeia. Os textos literários têm um papel importante nessa transformação. A partir dessa visão de leitura e da importância do texto literário é que investigaremos sobre como se dá a utilização do fantástico e do maravilhoso no ensino de língua portuguesa em turmas do 3º e 4º ano do Ensino Básico de escolas públicas no Brasil e em Portugal. Para isso, optamos por uma análise qualitativa dos dados, através de um estudo de caso, em que utilizaremos entrevistas e observações com professores e alunos. Utilizaremos como referencial teórico que contempla aspectos psicolinguísticos e sociais de compreensão de leitura e do ensino desta, em autores como: Vigotski, Teberosky, Smith, Oakhill, Marcuschi, Spinillo, Colomer, Azevedo, Zilberman, Shavit, Cerrillo, entre outros.

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O CONTROLE JURISDICIONAL DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA UNIÃO EUROPÉIA

Aldo Nogueira Venâncio*

Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa - Escola de Lisboa. Pós-Graduação em Contencioso Administrativo/Mestrado em Direito Público.

* Autor para correspondência: [email protected]

É fato que a Administração Pública só pode agir de acordo com a lei, na forma determinada, de acordo com o interesse público e a moralidade. A lei, ao mesmo tempo que define os direitos individuais, estabelece também os limites da atuação administrativa que tenha por objeto a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da coletividade. Contudo, de nada adiantaria sujeitar-se a Administração Pública à lei se os seus atos não pudessem ser controlados por um órgão dotado de garantias de imparcialidade que permitam apreciar e invalidar os atos iícitos praticados por esta. Juntamente com o princípio da legalidade, o controle da Administração Pública constitui um dos pilares em que se sustenta o Estado de Direito. O direito brasileiro adotou o sistema de jurisdição una, pelo qual o Poder Judiciário deve apreciar com força de coisa julgada qualquer lesão ou ameaça de lesão a direitos individuais e coletivos, afastando o sistema de dualidade de jurisdição adotado em Portugal, onde paralelamente ao Poder Judiciário, existem os órgãos do Contencioso Administrativo que exercem função jurisdicional sobre controvérsias onde a Administração seja parte interessada. Seja através de uma jurisdição una ou de um sistema próprio de contencioso administrativo, o certo é que tanto a Constituição Brasileira em seu art. 5º, inciso XXXV, quanto a Constituição Portuguesa em seu art. 268º, nº 4 e 5, asseguram o acesso dos administrados à justiça administrativa, tutelando seus direitos e interesses. No ordenamento jurídico português, como ocorre em grande parte dos países da Europa continental, a jurisdição administrativa é autônoma em relação à chamada jurisdição comum, possuindo os tribunais administrativos a mesma dignidade e importância dos demais tribunais de jurisdição comum. Este modelo de justiça administrativa surgiu na França, que implementou por razões históricas, um modelo de contencioso administrativo no qual as lides entre o cidadão e a Administração foram atribuídas a um Conselho de Estado, a partir de uma idéia radical de separação de poderes e de desconfiança do Poder Judiciário. A expressão "contencioso administrativo" designa genericamente um conjunto de meios processuais colocados à disposição do cidadão para defesa de seus direitos em relação à Administração ou ainda, o sistema jurisdicional em que a tutela dos direitos e interesses dos particulares é atribuída à uma jurisdição própria, distinta dos tribunais comuns.Em nossos estudos em terras lusitanas pretendemos, através de uma análise jurídica, histórica e comparativa, entender a finalidade, a eficácia, a eficiência e as particularidades do sistema de controle jurisdicional da Administração Pública existente em Portugal e em outros países da União Européia. Quais os pontos positivos e negativos do sistema? Qual sua eficiência? Quais os desafios encontrados na implementação deste modelo? São essas e outras respostas que pretendemos encontrar ao final de nossos estudos. Agradecimentos: Programa Alban - Programa de bolsas de alto nível da União Européia para a América Latina, bolsa no E06M104070BR

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COMENTÁRIOS ACERCA DA NORMA GERAL ANTIELISIVA BRASILEIRA

Helen Cristina Leite de Lima*

Universidade de Coimbra -Programa de Pós-Graduação em Direito da Comunicação *Autora para correspondência: [email protected]

Desde a década de 1980 vinham sendo introduzidas pelo legislador brasileiro cláusulas antielisivas específicas para o Imposto de Renda, como, por exemplo, as Leis nº 7.450/1985,7.717/1988e9.430/1996.Todavia, fato é que esta questão entrou em pauta mais recentemente, como advento da Lei Complementar 104, promulgada em 10 de janeiro de 2001, que trouxe uma série de alterações importantes em vários dispositivos do Código Tributário Nacional. Dentre essas mudanças, uma em particular causou grande debate na doutrina e jurisprudência pátrias: a inclusão do Parágrafo Único do art. 116, com a previsão explícita para o ordenamento brasileiro de uma norma antielisiva geral. A análise dos estudos até então publicados sobre o tema demonstra, consequentemente, a enorme divergência, deixando claro que não existe posição unânime acerca da constitucionalidadeedoalcancedestedispositivolegalnoBrasil. Além destes dois aspectos acima mencionados, para entender o caso brasileiro, haja vista a complexidade da matéria, necessária igualmente se fez uma pesquisa acerca dos princípios constitucionais informadores da tributação, vez que existe um inegável conflito entre valores consagrados na Carta Magna, qual seja, a oposição entre segurança jurídica e Justiça, que se consubstancia no confronto entre a legalidade tributária, com sua tipicidade fechada, e a capacidade contributiva. Buscamos ainda estabelecer uma diferenciação entre elisão, evasão e fraude tributária, bem como um panorama geral das Escolas de interpretação que influenciaram o Direito Tributário, principalmente da chamada “jurisprudência dos valores”. Para finalizar, nos debruçamos sobre uma rápida abordagem da experiência no Direito Comparado, ponto que, igualmente, foi importante para se chegar à conclusão final. Partindo destes pressupostos, concluímos que, desde que observados os limites ao poder de tributar e os direitos em favor dos contribuintes, a norma em comento não afronta o texto constitucional. A antielisão, na verdade, é de grande relevância na medida em que busca alcançar significativa capacidade econômica que se encontrava fora do campo de incidência fiscal, sendo ainda um meio de corrigir desigualdades entre contribuintes em situação semelhante, isto ao promover o dever de todos os cidadãos de pagar tributos conforme sua capacidade para o custeio da máquina estatal. Certo é que estas são exigências da sociedade que devem ser observadas por qualquer governo considerado democrático. Por tudo que foi exposto, podemos afirmar que a elisão fiscal que se pretende afastar aqui é a prática abusiva, com base na dissimulação do fato gerador, isto porque esta conduta viola o valor Justiça, bem como os princípios da igualdade e da capacidade contributiva. Desta forma, a norma em questão se encontra em conformidade com linha da jurisprudência dos valores e como sistema jurídico-constitucional brasileiro. Importante se faz, portanto, uma relativização do positivismo formalista que ainda predomina na doutrina pátria, de maneira que a legalidade e a tipicidade fechada não sejam aplicadas de forma absoluta, elevadas a um patamar quase inalcançável. Logo, o tributo justo será aquele que conciliar as idéias de legalidade e capacidade contributiva, o que poderá ser alcançado através da ponderação de princípios. Inclusive, tendo em vista sua importância e conformidade com os anseios sociais e democráticos atuais, a adoção de normas antielisivas, nas últimas décadas do século XX, vem sendo verificada em diversos Estados desenvolvidos, sob os mais variados formatos e influências jurídicas e culturais, dentre os quais destacamos a Alemanha, Espanha, Argentina, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá, Suécia, Austrália, Holanda, Portugal, Itália e França, sendo este último o mais próximo do modelo brasileiro, no qual a Administração Pública possui autorização para requalificar fatos ou negócios jurídicos. A posição aqui defendida é, portanto, no sentido de que legalidade e capacidade contributiva caminham juntas para realizar os ditames da Constituição, pelo que devem ser observadas na elaboração e aplicação da norma tributária, na medida em que um princípio não pode se sobrepor a o outro, não existindo relação de superioridade entre eles. Assim, o intérprete deverá analisar o caso concreto, utilizando-se da ponderação entre princípios para alcançar uma solução compatível com o ordenamento jurídico brasileiro.

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A PRIVACAO PROVISORIA DA LIBERDADE NA JURISPRUDENCIA DA CORTE EUROPEIA DOS DIREITOS DO HOMEM

Lenilma Cristina Sena de Figueiredo Meirelles

ALFA – Università Degli Studi di Firenze – Italia

Universidade de Lisboa em Ciencias Juridicas – Portugal Universidade Federal da Paraiba – Curso de Direito – Brasil

O presente estudo visa analisar a funçao interpretativa da Corte Europeia de Direitos do Homem como orgao encarregado de zelar pelo respeito aos principios estatuidos na Convençao Europeia dos Direitos do Homem e, aplicar jurisdicionalmente os dispositivos normativos ali elencados, promovendo a concretizaçao dos direitos humanos no continente europeu. Especificamente, a pesquisa se propoe a verificar a atuaçao da Corte de Estrasburgo no que tange à matéria relativa às prisoes provisorias, tema devidamente disciplinado pela Convençao Europeia, artigo 5°, que trata do direito à liberdade e à segurança. Referido dispositivo convencional reforça o disciplinamento ja esistente nas legislaçoes nacionais acerca da restriçao à liberdade de locomoçao, estabelecendo, inizialmente que toda pessoa tem direito à liberdade e que tal situaçao constitui a regra, nao podendo haver privaçao do direito, salvo nos casos espressamente estabelecidos e, respeitando-se o principio da presunçao de inocencia. Na estera deste raciocinio e, levando-se em consideraçao que nos dias atuais ha uma crescente valorizaçao de mecanismos internacionais, em particolar objetivando a concretizaçao de direitos consagrados universalmente, como o direito à liberdade, è que buscamos compreender como se comporta a Corte Europeia, em materia especifica de custodia cautelar. Para tanto, formulamos os seguintes questionamentos: a jurisdiçao europeia se presenta como mecanismo eficaz e apto a reconhecer situaçoes de flagrantes violaçoes ao status libertatis de cidadaos processados que aguardam julgamento? Quais os criterios interpretativos utilizados para auxiliar nas decisoes? Qual a sançao aplicavel ao fim de cada sentença proferida pela Corte, ao reconhecer a violaçao ao artico 5°? Durante o desenvolvimento do trabalho foi possivel responder às indagaçoes acima formuladas, de maniera satisfatoria, mediante a analise comparativa de varias decisoes proferidas pela Corte Europeia, atribuindo-se especial enfase à jurisprudencia mais recente. Ademais, pode-se constatar que a Corte vem reconhecendo com frequencia, violaçoes sistematicas ao direito de liberdade consistentes no reconhecimento de prisoes provisorias, na maioria das vezes decretadas de forma arbitraria e abusiva, carecendo de controle legal, bem como prisoes que excedem o tempo razoavel de duraçao, tornando-se incompativel com a exigencia de presteza prevista na convençao. Outrossim, a Corte vem ressaltando a obrigaçao dos Estados em conformar suas leis domesticas com as linhas dos direitos estabelecidos na Convençao em materia de prisco, bem como alertar para a excepcional aplicaçao da prisao cautelar, nao se podendo justifica-la apenas em funçao da pratica de crimes graves que geram a possibilidade de aplicaçao de longa pena de prisao, tendo em vista que a manutençao de uma detençao cautelar nao pode se basear apenas na gravidade do crime e da severidade previsivel da pena. Por fim, compre observar que as decisoes proferidas pela Corte possuem poder vinculante e vem impondo aos Estados violadores da Convençao, o pagamento de indenizaçoes aos reclamantes, alçados em valores razoaveis, aptos a penalizar o Estado e, compensar, erbora nao de forma satisfatoria o reclamante.

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UMA COMPARAÇÃO DO DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL E EM PORTUGAL

Leonardo José Oliveira de Azevedo*

Universidade de Coimbra

*Autor para correspondência: [email protected]

Neste trabalho objectiva-se investigar o Direito do Consumidor não apenas com a visão técnico-operacional dos operadores do direito, mas também sob o aspecto científico-político, contextualizando a relação Estado X Povo, Governantes X Governados, com o enfoque principal na análise do referido Ramo do Direito. Com efeito, a escolha por este tema revela-se, na actualidade, de suma importância, revestindo-se de grande utilidade para os mais diversos seguimentos da sociedade, seja no ramo acadêmico, prático-jurídico, visto que vivemos em um mundo globalizado, onde, ao mesmo tempo, enquanto se abrem algumas fronteiras físicas, com a formação de blocos continentais para os diversos fins, fecham-se outras, outrora utilizadas nas relações e práticas econômicas entre os Estados e as pessoas. Torna-se indiscutível a necessidade do Direito do Consumidor passar a ser visto como uma política estatal onde o interesse particular cede espaço ao interesse coletivo. Logicamente, esta necessidade nasce da interacção, acção e reacção das personas que, com o passar dos tempos, sofrem mudanças, trazendo constantemente à tona conflitos de interesses que devem ser resolvidos a encargo dos Estados – a Justiça. Neste diapasão, este estudo direcciona-se a uma análise comparativa e restrita das normas referentes ao direito do consumidor no Brasil e em Portugal. Destaca-se que a legislação acerca dos direitos do consumidor é relativamente recente, tendo seu surgimento como categoria jurídica distinta a partir da metade do século XX, apesar de existirem anteriormente jurisprudências que versavam sobre o assunto (embora não com esta denominação). Como princípios metodológicos para esta pesquisa destaca-se a importância da análise de semelhanças e diferenças destas leis, tendo sempre em vista que as mesmas não surgiram ao acaso, mas de condições sócio-políticas, culturais e econômicas que se desenvolveram durante determinado período de tempo. Abordando-se com particular interesse as condições que levaram ambos Estados a criarem tais regramentos. Assim, o tema e objecto desse estudo nutrem-se não só do direito positivo, instrumentalizado pela Justiça do Brasil e de Portugal, mas dos motivos e influências que levaram os respectivos Estados a estabelecerem as citadas normas. Valendo-se da máxima democrática: “todo poder emana do povo”, a sociedade, dentro dos Novos Direitos, está aprendendo, às duras penas, a reclamá-los, o que é resultado das transformações sociais que estamos sofrendo. Entretanto, torna-se necessário que se levantem as vozes, na forma de trabalhos e doutrinas, que fundamentem e abordem o tema para que, cada vez mais, a sociedade, o Poder Judiciário e o Poder Executivo sedimentem e percebam como política pública o Direito do Consumidor, atendendo ao interesse difuso e aos fins sociais; por ser mais que direito, por ser justo.

Palavras-chave: Direito do Consumidor; Consumo; Direito; Políticas Públicas; Política.

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A NECESSIDADE DE UMA ABORDAGEM CONSTITUCIONAL DO BIODIREITO SOB A ÓTICA DE UMA TEORIA DISCURSIVA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DE JÜRGEN HABERMAS

Maria Arlinda Gonçalves de Amorim

Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH - Brasil

Universidade de Coimbra - Portugal O final do século XX é marcado por um progresso científico e técnico na área da biologia e da genética, principalmente no âmbito da reprodução humana. A procriação artificial aparece como um problema de natureza ética, científica e jurídica. Este problema demonstra-se muito mais grave dentro desse diálogo difícil entre o Direito e os desafios das novas tecnologias genéticas, quando se busca afirmar o homem como pessoa infungível e dotado de dignidade inalienável. Dessa forma, o médico depara-se com desafios éticos, com por exemplo, com relação aos doadores de esperma de esperma, de óvulos e de embriões e as mães de aluguel. No âmbito jurídico, tanto o aplicador como o criador do Direito deparam-se com desafios da ética, onde deverão analisar, por exemplo, quais são os direitos sucessórios daquele que nasce de uma inseminação artificial homóloga vários anos após a morte do doador do esperma, sem contudo, se afastar dos direitos fundamentais. E, neste preciso contexto, a teoria discursiva dos direitos fundamentais de Jürgen Habermas realiza uma distinção entre os discursos político-jurídicos e os discursos morais. Em que, os discursos morais especializam-se nas razões morais e os discursos jurídicos recorrem quer às razões morais, quer às razões éticas, quer às razões pragmáticas. O princípio moral condiciona, segundo Jürgen Habermas, a formação de juízos, enquanto o discurso político-jurídico estrutura não só o saber, mas também a prática dos cidadãos. Neste sentido, sustenta o autor citado, que os direitos individuais:

“não podem ser adequadamente formulados, nem muito menos, politicamente realizados, onde quer que os próprios interessados não tenham, previamente, clarificado, com discussões públicas, que aspectos são, caso a caso, relevantes para a paridade (ou disparidade) de tratamento dos casos típicos e, bem assim, onde quer que eles não tenham mobilizado o seu poder comunicativo para o exame das sua necessidades, interpretadas em formas novas”i.

Com isso, fica claramente demonstrado que dentro de uma esfera pública multicultural deve haver uma discussão capaz de promover uma necessária abordagem constitucional do biodireito resguardando os direitos fundamentais. Agradecimentos: Ao meu mestre e orientador Professor Marcelo Barroso Lima Brito de Campos. 1 HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia, entre a faticidade e a validade. Edições Tempo Brasileiro, 1996.

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A POLÍTICA COMUNITÁRIA DE BIOSSEGURANÇA ALIMENTAR E OS TRANSGÊNICOS: UMA REALIDADE ASSENTADA SOBRE O RECONHECIMENTO DE UM (NOVO) BEM JURÍDICO?

Olga Helena Aragon Bonatto Cansiglieri*

Universidade de Salamanca - Doctorado en Derecho, Economía y Sociedad en la Unión Europea *Autor para correspondência: [email protected]

O presente trabalho visa refletir acerca do Direito Comunitário relativo aos alimentos geneticamente modificados, como um domínio jurídico em expansão. A partir da identificação e do tratamento de problemas de fundo, buscamos reunir e analisar questões de carácter ontológico, reconhecendo no regime jurídico existente os aspectos contemplados e os conhecimentos envolvidos, de modo a trabalhar especificidades do iure condendo. As técnicas de engenharia genética se situam entre os amplos marcos abrigados na seara dos novos riscos. Por isto, a sociedade demonstra uma crescente sensibilidade acerca da natureza e da regulamentação desse tipo de alimento. No entanto, é patente – e mesmo inevitável, a falta de correspondência entre os progressos genéticos e a legislação comunitária, muito embora seja ela a mais avançada do momento em termos mundiais. Mesmo assim, há de se questionar se, de fato, a União Europeia já teria um sistema preparado para atuar no exame e no controle da produção e comercialização dos alimentos geneticamente modificados, de modo a responder às preocupações da população, sem esquecer, de outra parte, o relacionamento com seus inúmeros parceiros comerciais e as regras da OMC. Isso obriga à revisão dos marcos jurídicos existentes, a fim de adequá-los à nova realidade, para assegurar a tutela. Neste quadro, a aplicação da biotecnologia agro-alimentar deve desenvolver-se sobre uma base adequada, edificada sobre reflexões éticas e humanistas, que resultem em efetiva protecção jurídica, estruturada com solidez e coerência. Talvez, mais relevante do que defender a biossegurança alimentar como um novo bem jurídico, seja caso de defender uma nova forma de entender o próprio bem jurídico, do que decorre a defesa da sociedade e do cidadão como objetos do direito difuso contra as possibilidades de agressões genéticas, as quais não necessitam ferir materialmente o direito ou concretizar-se em lesão. Diante disso, a livre circulação de mercadorias no espaço europeu, só poderá estar juridicamente amparada contra a fraude e o engano, se resultar da imprescindível salvaguarda de direitos. Em síntese, decisões políticas e leis comunitárias devem justificar-se a partir da observação do princípio da precaução e de valores que conduzam a boas práticas, pois a interface dos organismos geneticamente modificados com o ambiente, a saúde pública, a preservação da vida e a liberdade de escolha do consumidor, requerem um tratamento ético, dado que a ética da responsabilidade deve contemplar as aplicações biotecnológicas considerando as gerações futuras. Isso revela a importância do papel exercido pelas instituições como motor de confiança, devendo refletir a preocupação dos cidadãos em suas produções legislativas. O reconhecimento da dignidade humana exige a não instrumentalização do homem, protegendo-o dos possíveis danos que venham a violar seus direitos de cidadão, o que reclama mais prudência e cautela do que propriamente abstenção.

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OS LIMITES DA ATUAÇÃO ESTATAL NO CONTROLE DA LIVRE INICIATIVA: O PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO NA DEFESA DO MEIO

AMBIENTE

Paula Lins Goulart *

Universidade de Lisboa, Programa de pós-graduação em Direito *Autor para correspondência: [email protected]

A presente pesquisa científica pretende verificar os limites da atuação do Estado diante do seguinte paradoxo: a necessidade do fomento da livre iniciativa para o regular crescimento econômico do Brasil como um dos fundamentos da Ordem Econômica Constitucional com a defesa da aplicação do princípio da precaução ambiental recepcionado dentro do contexto normativo na defesa do meio ambiente. O Estado deverá adotar medidas disciplinadoras da iniciativa privada para preservar o meio ambiente, todavia, não deverá torná-la inviável em seus fins por ocasião da aplicação do princípio da precaução. Assim, o foco da análise do texto será a avaliação da razoabilidade dos atos estatais no sentido da limitação da livre iniciativa diante das incertezas científicas advindas do avanço tecnológico. O método utilizado foi o bibliográfico por conter base doutrinária nascidas de pesquisa feita em acervo pessoal, em bibliotecas e livrarias, além de artigos encontrados na Internet e o método documental pelo fichamento bibliográfico de textos e artigos. Podemos citar que em decorrência dos resultados salutares do trabalho destaca-se o estudo dos reflexos da intervenção estatal na economia ao limitar a livre iniciativa quando da aplicação do princípio da precaução ambiental frente à necessidade de defesa do meio ambiente para a garantia do desenvolvimento sustentável.

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A REMUNERAÇÃO DOS DIRECTORES ESTATUTÁRIOS NAS ASSOCIAÇÕES SEM FINS LUCRATIVOS: UM ESTUDO COMPARADO

ENTRE O DIREITO BRASILEIRO E O DIREITO PORTUGUÊS

Paulo Burnier da Silveira*

UCP Lisboa/Faculdade de Direito – Programa de Mestrado Erasmus Mundus * Autor para correspondência: [email protected]

O trabalho se destina ao estudo da remuneração dos directores estatutários nas associações sem fins lucrativos, comummente conhecidas como Organizações Não-Governamentais (ONGs), do Brasil e de Portugal, haja vista que, como regra geral, essa remuneração é vedada por lei. A pesquisa inicia com uma análise histórica das ONGs no mundo, constando que as mesmas aparecem como resultado de inúmeras transformações na sociedade moderna, dentre as quais se destacam: (a) a maior participação da sociedade civil em questões de interesse público; (b) a crescente preocupação do sector empresarial em relação às desigualdades sociais; e (c) a impossibilidade do Estado em atender a todas as necessidades básicas da população. Em seguida, o estudo analisa a expansão do chamado “Terceiro Sector”, que recebe esse nome em contraposição à dualidade clássica entre Estado e Mercado, sendo o primeiro marcado pela actuação do poder público e o segundo pela actuação da iniciativa privada. O Terceiro Sector aparece para esclarecer que os conceitos de “público” e “estatal” não se confundem, uma vez que o interesse público está presente em diversas e diferentes formas, inclusive no âmbito privado, ao qual se insere o denominado Terceiro Sector. Nesse sentido, essa categoria é entendida como um sector da sociedade civil, sem fins lucrativos e com finalidade pública.1 Após a análise histórica das ONGs, bem como do surgimento e desenvolvimento do “Terceiro Sector”, o trabalho passa a analisar concretamente a possibilidade de remunerar directores estatutários de associações sem fins lucrativos, sem ferir dispositivos legais e, principalmente, sem perder incentivos fiscais. No Brasil, esta remuneração é possível somente nas associações qualificadas como “Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs)”, cujo certificado é emitido pelo Ministério da Justiça. Em Portugal, os tipos societários estão sendo estudados para que as conclusões na ordem do direito comparado possam ser devidamente elaboradas. Como conclusões já atingidas, podemos destacar que a Lei nº 9.790/99, instituidora da OSCIP no Brasil, ao possibilitar a remuneração dos dirigentes estatutários, conseguiu implementar um novo modelo de ONG, que reflecte uma preocupação crescente do Terceiro Sector no sentido de que a prática de actividades de cunho social, ainda que sem fins lucrativos, exige uma gestão eficiente e qualificada. Em conclusão, pode-se afirmar que a nova legislação trouxe importantes avanços nesta área para o direito brasileiro.2

1 FERNANDES, Rubem César. Privado Porém Público: o Terceiro Setor na América Latina. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994. 2 SZAZI, Eduardo. Terceiro Setor: Regulação no Brasil. 3ª ed. São Paulo: Peirópolis, 2003; e PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e Entidades de Interesse Social: aspectos jurídicos, administrativos, contábeis e tributários. 2. ed. Brasília: Brasília Jurídica, 2000.

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QUESTÕES DE GÊNERO, GENERALIZAÇÕES E DISCRIMINAÇÕES: DOCÊNCIA MASCULINA NAS SÉRIES INICIAIS DO BRASIL E PORTUGAL

Amanda Oliveira Rabelo*

Doutoranda da Universidade de Aveiro, Projecto de Investigação Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia – FCT – Portugal

*Autor para correspondência: [email protected]

Este artigo dá conta dos resultados provisórios de uma busca centrada na figura do professor do sexo masculino que trabalha no ensino público das séries iniciais do ensino fundamental. Com esta investigação pretendo averiguar os motivos e as conseqüências da escolha profissional destes docentes que se enveredam por uma área tipicamente associada com o feminino. Identifico nas suas narrativas/discursos as questões que marcaram/marcam a opção pelo magistério fazendo um estudo comparativo entre duas regiões: Rio de Janeiro (Brasil) e Aveiro (Portugal). Este recorte espacial foi tomado e escolhido como ponto central de discussões e comparações com o intuito de captar as diferenças e semelhanças entre estes dois locais, nunca esquecendo da influência da colonização portuguesa sobre a cultura e a escola brasileira, mas também destacando as características locais como forma de perceber que caminhos diferentes podem ser traçados, que dependem dos vários condicionantes a que se são submetidos. Meu grande desafio é desmistificar a idéia muito divulgada no Rio de Janeiro (além de outras localidades do Brasil) de que os homens que optam pelo magistério apresentam características efeminadas, e/ou a idéia ainda mais freqüente (tanto no Brasil quanto em Portugal) de que os homens não são aptos para ensinar nesta primeira fase do ensino. Considero que a divisão de gênero no magistério tem historicamente potencializado uma desvalorização da profissão e uma exaltação do professor enquanto profissional que segue as normas estabelecidas, sem questionar, aceitando ou “recebendo” os conteúdos prontos, ao invés de transformá-los às realidades concretas do aluno. Deste pensamento destaca-se a importância de tal investigação ao promover discussões centradas nas representações de gênero que rondam o campo profissional da docência, cabendo, então, questionar a normalização do magistério enquanto profissão aliada à temática do cuidado de crianças e mostrar que existem outros temas e outras vozes que ecoam nas escolas.

Palavras-chave: Professor do sexo masculino; gênero; discriminação; escolha profissional.

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O PAPEL DAS MULHERES NA MOBILIZAÇÃO COMUNITÁRIA

Heloisa Greco Alves* FEUC/ UC- Mestrado em Ciências Sociais

* Autor para correspondência: [email protected]

O Brasil é um país notadamente marcado por um abismo social, enquanto alguns poucos se beneficiam das riquezas produzidas, a grande parte da população vive em condições precárias ou, pode-se dizer, até desumanas. É no contexto dos aglomerados urbanos em áreas públicas de risco social e geológico, as favelas, que se justifica a pertinência de uma proposta de investigação e de ação que parta de uma noção de cidadania e de participação democrática da vida social e coletiva, conforme a acepção proposta por Gustin (2005), segundo a qual “cidadania se trata da democratização de relações para sustentação da diversidade”. Nesta perspectiva, considerando a necessária mobilização e organização dessas comunidades para tornarem-se autônomas e críticas da realidade da qual fazem parte, apresento uma proposta de intervenção/ ação junto a grupos de mulheres membros dessas comunidades. Compreende-se que as mulheres têm participado mais da vida política e econômica de suas comunidades, ao integrarem ativamente o mercado de trabalho e cada vez mais sustentarem financeiramente suas casas. Nessas comunidades periféricas, o número de divórcios é elevado, sendo que as mulheres assumem as responsabilidades financeiras e educacionais de seus filhos, participando de reuniões de colégios, debates sobre questões coletivas (saúde, educação, lazer), e passam a ter um papel fundamental na construção de melhorias para a comunidade. Razão maior que justifica uma ação que contribua para que as mulheres possam reconhecer e confiar no seu próprio potencial e capacidades para se responsabilizar por suas próprias vidas, de suas famílias e da comunidade a qual pertencem, condição indispensável à ampliação de espaços legítimos de autonomia e emancipação. A metodologia utilizada para essa intervenção será da mediação, que propõe uma visão mais ampla e sistêmica do conflito, aonde para chegar a sua resolução é necessário desconstruí-lo e integrar os conhecimentos dos envolvidos. A mediação constitui-se em um processo em que se instauram relações democráticas porque possibilita a incorporação de todas as “vozes” e exige o envolvimento crítico e a responsabilização das partes envolvidas: “ao contrário do que sucede na forma de adjudicação” (vencedor/vencido), que é hoje largamente dominante nos sistemas jurídicos oficiais dos Estados capitalistas (se não mesmo do Estado moderno, em geral). Esse trabalho será realizado junto a grupos de mulheres de uma comunidade da periferia da cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, Brasil, no intuito da construção de capital social e humano na comunidade, a partir da mobilização e ação desses atores sociais-femininos, na busca por contribuir na emancipação da comunidade a que pertence.O trabalho de mediação comunitária apresenta dois momentos: o primeiro de constituição do coletivo, mobilização das mulheres da comunidade diante de uma questão e o segundo, a mediação com o órgão competente. Propõe-se uma reflexão acerca das estratégias de abordagem que viabilizem a legitimação de saberes elaborados e de estratégias de vida criadas por esses grupos de mulheres, visando a adoção de alternativas para, posteriormente, traduzi-los tanto para os demais membros de sua comunidade e/ou para outros grupos de mulheres, cujo cotidiano seja afetado pelas mesmas privações e conflitos, como para órgãos e instituições governamentais. Referências: GUSTIN, M. B. S.. Resgate dos direitos humanos em situações adversas de países periféricos. Revista da Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, n. 47, p. 181-216, 2005.

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AS BAIANAS DO ACARAJÉ, DE SALVADOR E O CANDOMBLÉ DA BAHIA

Maria Cleyber Negreiros Barbosa da Cunha*

Universidade de Coimbra – Programa de Pós-Graduação em Sociologia: As Sociedades Nacionais Perante os Processos de Globalização – Departamento de Economia -Coimbra – Portugal

*Autor para correspondência: [email protected]

Este resumo contextualiza as actividades das mulheres escravas e ex-escravas, que participavam do comércio ambulante nas ruas; as mulheres de saia, mais tarde referenciadas às vendas de acarajé, no contexto religioso do Candomblé da Bahia. Esta comunicação faz parte do estudo desenvolvido, em Salvador, entre as baianas de tabuleiro de acarajé, nos meses de Janeiro/Junho/2004 e início de 2005. A história das baianas de tabuleiro acarajé está remetida à escravidão, ao contexto do comércio ambulante e ao Candomblé. A presença e a continuidade da prática de vendas de acarajé pelas ruas da cidade de Salvador estão alicerçadas no compromisso religioso de algumas dessas baianas. Compromisso continuado entre várias gerações até os dias actuais, não só nesta cidade mas também em outras do Brasil. O objectivo dessa comunicação é o de mostrar o contexto da entrada de escravos; suas actividades na cidade e a inserção de escravas no comércio ambulante e, consequentemente, o contexto religioso das vendas de acarajé, das alforriadas: o Candomblé da Bahia. Palavras-chave: escravidão, comércio ambulante, vendas de acarajé e Candomblé

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CIÊNCIA E CULTURA NO BRASIL: UMA CONTRIBUIÇÃO À ANÁLISE DAS INTERACÇÕES

Maysa Leal de Oliveira Rossetto*

Universidade do Porto Faculdade de Letras Mestrado em Cultura e Comunicação no Domínio da comunicação da Ciência

*Autor para correspondência: [email protected]

O período recente está marcado por grandes evoluções no campo das ciências e pelas rápidas mudanças que elas ocasionam na prática e na vida diária dos indivíduos mediante suas aplicações tecnológicas em todas as partes do planeta. Nesta perspectiva é extremamente relevante estar atento aos dilemas decorrentes das relações entre a ciência e as dinâmicas culturais; aos riscos gerados pelas aplicações tecnológicas incluindo as preocupações ecológicas e a questão da homogeneização e da diversidade cultural dos povos. O trabalho de que trata este resumo buscou investigar as relações que travam entre si a ciência e a cultura no Brasil e saber acerca do papel e natureza da actividade científica na sociedade brasileira. Compreendeu quatro abordagens mutuamente complementares a saber: um estudo sobre a cultura mediante análise de suas vias de constituição; um estudo sobre a ciência partindo de uma reflexão sobre o conceito até se chegar à tecnociência moderna; uma revisão dos estudos sobre o campo científico no Brasil e, finalmente, um estudo sobre uma comunidade de proeminentes cientistas do Brasil, cujos depoimentos contribuíram na articulação de todo o conteúdo compreendido no trabalho. Sendo a Europa o centro “irradiador” da ciência moderna, poderia se conceber facilmente que as disciplinas científicas tenham se desenvolvido no Brasil, como mudas transplantadas da árvore principal mas, apesar de inspiradas, enriquecidas e estruturadas pela absorção das contribuições europeias, as várias disciplinas científicas se desenvolveram numa relação simbiótica e intimamente ligadas ao território e ao momento social e político brasileiro. Do esforço empreendido no trabalho resultou a percepção de contrastes qualitativos profundos entre a ciência que se realiza na Europa (e em outros contextos para onde sua cultura foi transplantada) e a ciência levada a cabo pela comunidade científica estudada. Estes contrastes apontam para a possibilidade de se distinguir do paradigma dominante em ciência, um outro, que viria se desenvolvendo em alteridade àquele pois não recorre à transcendência da razão e do sujeito nem reclama para si posição soberana, ao contrário, confessa o lugar silencioso de onde vê e interpreta o mundo, respeita e procura estabelecer uma linha de diálogo com os outros saberes e entende que o aumento do conhecimento comporta um aumento da responsabilidade e deve libertar a pessoa da fria abstracção elevando a ética moral para a responsabilidade interior face ao mundo e face aos homens. É possível que esses contrastes venham servindo para definir em grandes linhas as orientações teóricas e metodológicas da ciência que se realiza no Brasil. Embora esta seja apenas uma hipótese a maior contribuição desse trabalho será, talvez, justamente a abertura do espaço epistemológico para a discussão acerca da possibilidade da existência de uma outra concepção de ciência, não menos rigorosa, objectiva ou racional, mas, qualitativamente diferente, alternativa ao paradigma “moderno”. Palavras-chave: ciência, cultura, Brasil, cientistas. Agradecimentos: à Doutora Maria Manuel Martins da Costa Pinheiro de Araújo Jorge, professora associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, não apenas pelas aulas maravilhosas ou pela orientação que me deu, mas, acima de tudo, pelo exemplo inspirador.

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DIFUSÃO DA GASTRONOMIA BRASILEIRA NA CIDADE DE LISBOA

Milene Souto Montanha* Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa *Autor para correspondência: [email protected]

Este trabalho de investigação científica refere-se à pesquisa empírica da tese de Mestrado em Geografia Humana e Planeamento Regional e Local, da Faculdade de Letras – Universidade de Lisboa, iniciado no ano lectivo 2003/2004 e com término previsto para o primeiro semestre do ano lectivo 2006/2007, intitulada “Imigração e Difusão da Gastronomia Brasileira na cidade de Lisboa”. A pesquisa de campo foi realizada no período compreendido entre o segundo semestre de 2005 e início de 2006 e contou com a participação de 41 empreendimentos do sector da restauração e similares com características brasileiras, na cidade de Lisboa.

O objectivo deste trabalho é conhecer as particularidades dos empreendimentos com características brasileiras do sector da restauração e similares na cidade de Lisboa, por exemplo, as especialidades, os perfis dos empresários, funcionários e clientes, as oportunidades de negócio e os diferenciais destes empreendimentos. A metodologia adoptada para delinear esta pesquisa empírica foi baseada nos métodos qualitativo e quantitativo de investigação científica. Desta forma, foi estruturado um guião de entrevista com questões abertas a fim de recolher informações para descrever cientificamente as pessoas envolvidas e os acontecimentos; associando-se ao modelo científico de “triangulação de dados”, por se tratar de uma investigação que necessita de dados concretos para identificar factores classificatórios, quantitativos e temporais inter-relacionados, que conduzem às análises através das figuras e tabelas apresentadas. Diferente do que se verifica em outros “empreendimentos étnicos” do sector da restauração e similares na cidade de Lisboa, nomeadamente nos restaurantes chineses, os proprietários dos restaurantes com características brasileiras não são exclusivamente de nacionalidade brasileira. Assim, um dos resultados de maior relevância desta pesquisa foi detectar o grande interesse dos empresários de nacionalidade portuguesa que investem no sector, caracterizando desta forma um novo contexto dos contributos da diversidade étnica para a cidade de Lisboa.

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O BRASIL NO IMAGINÁRIO PORTUGUÊS CONTEMPORÂNEO: MITOS COLONIAIS E REATUALIZAÇÕES IDENTITÁRIAS

Wellington Teixeira Lisboa

Mestrando em Comunicação e Jornalismo

Universidade de Coimbra – Portugal Bolseiro do Programa de Bolsas de Alto Nível da União Europeia para a América Latina

(ALBan)

As relações histórico-culturais entre Brasil e Portugal vêm, há longos séculos, influindo nos processos de (re)construção das representações do Brasil no imaginário social português. O desenvolvimento dos meios de comunicação e das indústrias culturais, impulsionado na segunda metade do século XX, conferiu uma nova dinâmica a essas interações transatlânticas, redimensionando a identidade brasileira em Portugal. Na década de cinquenta desse último século, iniciaram-se, entre os dois países, as permutas culturais de massa, recaindo sobre a esfera das expressões musicais, da revista à portuguesa, do teatro e do humor. Nos anos sessenta, para além desses formatos culturais, Portugal importou da Editora Abril Cultural e de outras editoras brasileiras revistas sobre temas variados, além de banda desenhada e traduções de obras clássicas. A MPB (Música Popular Brasileira) teve, a partir daquele momento, um enorme impacto em Portugal, sobretudo junto à juventude. Na década de 70, mesmo com o deflagrar da revolução portuguesa de 1974, centenas de brasileiros procuraram o «país-irmão» para se exilarem do regime militar, e integraram os quadros de jornais, editoras, grupos de teatro e produtoras de música. Em 1977, Gabriela inaugurou a ininterrupta exibição das telenovelas brasileiras na televisão portuguesa, um género ficcional que se veio instalar como fonte de mediação de referências lusófonas. Concomitantemente, o movimento emigratório brasileiro para Portugal, desencadeado na viragem dos anos 80 para 90, parece estar recompondo e remodelando a paisagem urbana e a realidade social portuguesas, incitando a população do antigo Império ao embate entre expectativas do imaginário colonial e percepções apreendidas no presente. Considerando esses marcos contextuais, esta investigação tem como objetivo geral identificar as representações do Brasil no imaginário português contemporâneo. Como objetivo específico, busca-se percepcionar o papel da mídia no processo de formação e reatualização da identidade brasileira em Portugal. Para que tais objetivos fossem atingidos, desenvolveu-se uma pesquisa empírica nas cidades de Lisboa e Coimbra, junto a jovens portugueses matriculados no ensino superior, com idades entre 18 e 25 anos, e adultos que frequentaram até ao ensino primário, com idades entre 40 e 55 anos. O instrumento de pesquisa aplicado caracterizava-se por um questionário, com perguntas fechadas e abertas, e um álbum constituído por imagens (fotografias) do Brasil, e de brasileiros, que foram veiculadas na mídia portuguesa. Com base nessas imagens, pretendeu-se estimular reflexões e respostas que facultassem o entendimento da inter-relação entre cultura, história e mídia no atual pensamento português sobre o Brasil e os brasileiros.

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“EU NÃO PEDI PRA NASCER”: UMA ANÁLISE ACERCA DA MÚSICA NO COTIDIANO DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Juliana Prates Santana*

Universidade do Minho - Instituto de Estudos da Criança Braga-Portugal

*Autor para correspondência: [email protected]

O presente trabalho tem por objetivo analisar as apropriações que crianças em situação de rua fazem de alguns raps e outros gêneros musicais, como forma de expressarem seus sentimentos e opiniões. Pretende-se, também, descrever as reflexões das crianças sobre as letras de algumas músicas de rap que foram selecionadas por elas. Ao acompanhar o cotidiano dessas crianças em uma instituição de atendimento, localizada na cidade de Salvador, no Brasil, foi possível verificar a importância dessa forma de expressão na organização do cotidiano das crianças e na interação que elas estabelecem com os pares. A música é, em geral, acompanhada pela dança, sendo possível observar que o domínio dessa técnica influencia, entre outros aspectos, a aceitação da criança pelo grupo de pares. Participaram desse estudo doze crianças inseridas em uma instituição destinadas a crianças em situação de rua, de ambos os sexos, com idades entre dez e dezesseis anos. Foi realizada uma atividade coletiva em que as crianças escolheram as músicas que gostariam de ouvir, sendo realizada uma discussão acerca do conteúdos dessas músicas. Essa atividade foi filmada e trascrita, sendo o seu conteúdo submetido a uma análise qualitativa. Acrescenta-se a essa atividade, a realização de uma filmagem de apresentações de música e dança das crianças e a realização de observações de orientação etnográfica do cotidiano dessas crianças. Algumas músicas, especialmente os raps, parecem descrever a realidade violenta que muitas dessas crianças conhecem e/ou experienciaram, e por isso são cantadas e representadas com grande entusiasmo e emoção. Em alguns momentos as crianças utilizam trechos das músicas para descreverem e narrarem suas próprias trajectórias de vida. Parece haver um certo ritual para ouvir determinadas músicas, como o rap Eu não pedi pra nascer, do grupo Facção Central, em que as crianças ouvem a música pelo menos duas vezes e a audição atenta e o acompanhamento entusiasmado por parte do grupo é seguido por um período relativamente longo de silêncio e de um certo embotamento coletivo. A utilização das músicas pelas crianças vai além de uma simples reprodução, havendo uma produção ativa das crianças na criação de novas letras ou de versões das músicas preferidas, assim como a elaboração de coreografias de danças. Torna-se importante, por isso, o estudo dessas músicas e danças como produções culturais da infância que apesar de exprimirem a cultural societal em que se inserem, apresentam-se de forma distinta das culturas adultas, merecendo uma compreensão e uma teorização própria. Tais produções culturais podem ser utilizadas como importantes recursos no atendimento a crianças em situação de rua, uma vez que se constituem, muitas vezes, como via de acesso às vozes dessas crianças acerca de questões cruciais das suas trajetórias de vida. Aceder a essas vozes é o primeiro passo para potencializar e efetivar a participação das crianças na construção de um projeto conjunto de intervenção, respeitando dessa forma, as orientações presentes na Convenção dos Direitos das Crianças. Kellogg’s Foudantion/LASPAU

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ACESSO À INFORMAÇÃO AMBIENTAL, PARTICIPAÇÃO E PROTEÇÃO DO AMBIENTE NO CONTEXTO EUROPEU

Daniela Salgado Carvalho*

UA / CSJP – Mestrado Luso-Brasileiro em Gestão e Políticas Ambientais * Autor para correspondência: [email protected]

A promoção do meio de vida sustentável é uma das maiores preocupações da atualidade, devendo ser prioritária na estratégia do desenvolvimento e que não pode ter sucesso sem o acesso à informação ambiental e a participação dos grupos e das comunidades locais. O presente trabalho propõe uma reflexão acerca da importância do acesso à informação ambiental, fundamentalmente no contexto europeu, visto como um mecanismo imprescindível para o conhecimento do estado do ambiente. Aliado a esta proposta, buscou-se fazer uma reflexão acerca da participação e proteção do ambiente, vistos neste trabalho como mecanismos interligados, facilitados e/ou condicionados pelo acesso à informação ambiental, sem o apoio de um estudo de caso concreto. O direito de acesso à informação ambiental está consagrado pela Diretiva 2003/4/CE e, mediante este instrumento legal, deve haver esforços das comunidades locais, sobretudo organizadas, da governação local ou de particulares, para que a informação torne-se um instrumento de participação na defesa do ambiente ao alcance de toda a sociedade. Para tal, é necessário que a fraca provisão de informação, apontada por Wood & Hartley (2005) como uma das principais barreiras à participação efetiva do público, seja superada, cabendo fundamentalmente à sociedade participar ativamente neste sentido. Por sua vez, os mecanismos de participação, manifestados de diversas formas, desde a educação, enquanto formador e informador, até a contestação, devem ser articulados de forma a serem criados os três tipos de capital essenciais à abordagem efetiva e eficiente nos processos de participação, propostos por Vasconcelos (1999): o “capital intelectual”, o “capital social” e o “capital político”. Portanto, se “a informação nos proporciona o conhecimento e o conhecimento nos proporciona poder” (Krämer, 2003) , é necessário que façamos da informação não somente uma fonte de conhecimento, mas também um instrumento de poder capaz de assegurar a participação, a intervenção dos cidadãos na defesa do ambiente e, fundamentalmente, um exercício pleno de cidadania. Agradecimentos: “Com o apoio do Programa AlBan, Programa de bolsas de alto nível da União Europeia para América Latina, bolsa nº E05M053040BR”. Referências: Krämer, L. Access to Environmental Information in an Open European Society – Directive 2003/4, European Legal Studies, Brugge, Belgium, 36p, 2003. Vasconcelos, L. T. Processos Interactivos e Cidadania”. Actas do Workshop “A Componente Sócio-Económica na Gestão de Resíduos”, APEA – Associação Portuguesa de Engenheiros do Ambiente, Lisboa, 1999. Wood, C. & Hartley, N. Public Participation in environmental impact assessment – implementing the Aarhus Convention. Environmental Impact Assessment Review, vol. 319 – 340, 2005. Directiva 2003/4/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 28 de Janeiro de 2003, relativa ao acesso do público às informações sobre ambiente e que revoga a Directiva 90/313/CEE do Conselho. Jornal Oficial nº L 041 de 14/02/2003, p. 0026 - 0032.

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FURACÃO GORDON – TRAJETÓRIA E INTENSIDADE

Luís Carlos Cavalheiro1; Fernanda Mendonça Santana

2*, Pedro Miguel Correia3

1 UA/Atmosfera -Programa de Pós-Graduação em Meteorologia Aveiro– Portugal 2 UFRJ -Depto. de Meteorologia, -Rio de Janeiro, RJ – Brasil

3 UA-Depto. de Física, -Aveiro– Portugal *Autor para correspondência: [email protected]

No dia dez de Setembro foi identificada uma pequena depressão ao largo das ilhas Leeward (Haiti), que se foi deslocando para nordeste em direcção ao arquipélago dos Açores, com velocidades da ordem dos 25km/h. No dia doze essa depressão passou a ser conhecida como “Furacão Gordon”, tendo os seus ventos atingido velocidades de 160 km/h durante o seu auge de intensidade e causando alguns estragos na região da Galícia (norte da Espanha). Por se tratar de um fenômeno raro nesta região, foi feita uma análise das imagens de satélite recolhidas na Estação High Resolution Picture Transmission (HRPT) / Chinese HRPT (CHRPT) da Universidade de Aveiro, em funcionamento desde 23 de Maio de 2006 e que permite a recepção de dados dos sensores Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR) a bordo do satélite NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). A seguir encontram-se algumas imagens para os dias 14, 17, 19 e 22 que mostram o ciclo de vida do furacão, a sua trajetória exata e o seu grau de intensidade.

As figuras de 1 a 4 representam o deslocamento do furacão Gordon através do Oceano Atlântico até ao seu desaparecimento, e as figuras de 5 a 8 representam a sua passagem pelo arquipélago dos Açores. A figura 1 representa o estado do furacão no dia catorze, nesta imagem é possível vê-lo completamente formado e deslocando-se para nordeste desde a América Central. Na figura 2, 3 e 4 (dias dezassete, dezanove e vinte e dois) pode-se observar a sua intensificação e sua passagem pelos Açores. Pelas figuras 1 a 4 vê-se de uma maneira geral a sua trajetória, e o seu desaparecimento em forma de uma Tempestade Extra-Tropical que causou danos materiais na Galícia. Nas figuras inferiores (para as 22h do dia dezanove e para as 04, 08 e 12 horas do dia vinte) pode-se ver em pormenor a sua passagem pelos Açores. Ao contrário do esperado, o furacão desviou a sua trajetória para sul não atingindo os grupos Ocidental e Central com a intensidade que se previa. Por se tratar de um furacão de grau um, foram emitidos alguns alertas para várias ilhas onde se esperava que a tempestade fosse mais sentida. Apesar desses alertas e das precauções tomadas pelos habitantes e proteção civil, apenas se registaram alguns cortes de energia e derrube de árvores nas ilhas de S. Miguel e Santa Maria.

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ÁREAS CONTAMINADAS POR RESÍDUOS: ESTUDOS DE CASO NO BRASIL E EM PORTUGAL

Lúcia de Oliveira Fernandes*

CES /FEUIC/ UC - Programa Doutoral Governação, Conhecimento e Inovação

*Autor para correspondência: [email protected]

As áreas contaminadas ou potencialmente contaminadas por resíduos sólidos ou industriais constituem um problema complexo na área da saúde e do meio ambiente, que envolve um amplo leque de atores: instituições públicas, populações, governo, indústrias; possui incertezas, por exemplo, na definição do grau, da extensão de contaminação, dos potenciais atingidos, das consequências de medidas a tomar. Em vários países já foram bem diagnosticadas, o que não ocorreu nem em Portugal nem no Brasil, que ainda se ressentem de uma situação de vulnerabilidade. Destaca-se três aspectos do problema que serão focalizados neste trabalho: a segurança química, a participação das populações e as acções institucionais. Este trabalho será desenvolvido no âmbito de uma tese de doutorado em sociologia na Faculdade de Economia/ Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal) com cooperação com o CESTEH/ ENSP/ FIOCRUZ (Brasil). Procurará contribuir para responder à questão: como as instituições e populações podem intervir positivamente nos casos dos riscos provocados por estes resíduos em contextos vulneráveis, com vista a uma melhor segurança química e participação, à luz de um estado de justiça ambiental? Como objectivos gerais do trabalho destaca-se: -Avaliar as virtudes e fracassos das acções e mecanismos institucionais e não institucionais para enfrentar o problema das áreas contaminadas no Brasil e em Portugal; -Analisar a existência de espaços públicos de debate e deliberação e utilização de mecanismos de discussão pública estatais e não estatais, envolvendo especialistas, instituições e populações e a efectividade destes espaços em debater os diversos aspectos do problema e elaborar estratégias de actuação em prevenção e controle dos riscos e das incertezas.O trabalho terá uma parte empírica constituída por estudos de caso no Brasil e em Portugal tanto de áreas relacionadas aos resíduos sólidos quanto aos resíduos industriais. Em Portugal, pretende-se estudar um aterro de resíduos sólidos que se localiza em Vila Nova de Gaia, norte do país. No caso dos resíduos industriais, tenciona-se estudar o caso de Estarreja, pólo industrial localizado no norte do país. No Brasil, no caso dos resíduos sólidos será estudado o caso de Gramacho. No caso dos resíduos industriais será estudado o caso de Cidade dos Meninos. Para a análise dos casos serão usadas metodologias qualitativas principalmente: a análise documental, a análise de imprensa e entrevistas com os atores institucionais e populações afectadas. Referências: 11

o Congresso Mundial de Saúde Pública e 8

o Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva,

Riocentro, Rio de Janeiro (Brasil), 21 a 25 de Agosto.

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DINÂMICA DA PLATAFORMA CONTINENTAL LESTE BRASILEIRA ATRAVÉS DA MODELAGEM NUMÉRICA: DA ORIGEM DA CORRENTE

DO BRASIL ÁS FEIÇÕES DINÂMICAS DO BANCO DE ABROLHOS. Lúcio Figueiredo de Rezendei

1, 2, *; Paulo Alves Silva2

; Mauro Cirano

3

1 Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus – Brasil; 2 Universidade de Aveiro_ Portugal;

3 Universidade Federal da Bahia – Brasil. * Programme Alβan, The European Union Programme of High Level Scholarship for Latin America *Autor para correspondência: [email protected]

A Plataforma Continental Leste Brasileira (PCLB) localizada a sudoeste do Atlântico Sul, entre as latitudes de 9°S a 20°S é uma plataforma estreita, marcada por uma batimetria complexa, e caracterizada por uma baixa produtividade primária. Em plataformas com essas características, os processos de interação plataforma – oceano são mecanismos efetivos na variabilidade dos processos físicos de circulação e, na consequente promoção do enriquecimento da coluna de água por nutrientes. O Modelo Numérico ROMS – Regional Ocean Modeling System, um modelo hidrodinâmico de equações primitivas, tridimensional e em coordenadas sigma foi implementado, para a PCLB, com o intuito de avaliar a resposta em mesoescala á forçante oceânica de larga escala. O anilhamento de malhas computacionais foi integrado ao modelo ROMS visando obter-se soluções de mesoescala, preservando entretanto a circulação de larga escala e o baixo custo computacional. A configuração adotada para a larga escala apresenta resolução espacial de 1/4° de latitude e, 30 níveis de resolução na vertical, sendo forçada e iniciada com dados de reanálise SODA – The Simple Ocean Data Assimilation Reanalysis of Ocean Climate Variability (www.atmos.umd.edu/~ocean/reanalysis). A sub-malha, com resolução espacial de 1/12° foi implementada à malha de larga escala através do sistema de anilhamento de subgrades, AGRIF – Adaptive Grid Refinement in Fortran (http://brest.ird.fr/Roms_tools). O objetivo inicial foi avaliar uma configuração que representasse com um razoável grau de confiabilidade a variabilidade de larga escala e, investigar os padrões de variabilidade de mesoescala, explorando as forçantes oceânicas atuantes nas interações entre a larga e a mesoescala escala e, trabalhar sobre a validação das simulações encontradas. As principais feições dinâmicas de larga escala descritas na literatura são representadas nas simulações da circulação em larga escala. A circulação média anual, na camada superficial, interpretada como a espessura média da massa de água superficial, a água tropical (AT, 0-116m), capta a influência da Corrente Sul Equatorial junto á fronteira oeste do modelo, a formação do fluxo da Corrente do Brasil, a sul de 12°S, sua intensificação em torno de 23°S; a formação e intensificação da Corrente Norte do Brasil, ao norte de 12°S e a complexa circulação equatorial em secções de baixa latitude. Em níveis sub-superficiais, associado áespessura da Água Central do Atlântico Sul (ACAS, 116-657 m), também é notável a associação do fluxo com a Corrente Sul Equatorial, sua bifurcação em torno de 18°S, onde parte do fluxo toma o sentido norte e parte, o sul. O Fluxo norte, confinado á porção ocidental da bacia sul atlântica revela um padrão de recirculação em baixa latitude, ao entrar na circulação equatorial a cerca de 5°S, enquanto que o fluxo sul, segue ao longo da costa sudeste brasileira, ganhando em intensidade a 24°S. As simulações de mesoescala revelam atividades vorticais persistentes nas proximidades da costa, particulamente nas proximidades de Abrolhos. Essas estruturas têm a capacidade de promover a mistura na coluna de água e, portanto, de promover o enriquecimento nutricional, em uma plataforma marcada por uma baixa produtividade. O desenvolvimento do trabalho é focado na implementação de outras sub-malhas, com maior resolução espacial, junto á entrada do sistema costeiro da Baía de Camamu, o que permitirá estudar as trocas daquele sistema com o oceano adjacente.

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AVALIAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MAU ATRAVÉS DE ÍNDICES GEOQUÍMICOS E BIOLÓGICOS.

Marcelo L. Nunes1, Eduardo Ferreira da Silva1 e Salomé F.P. Almeida2

1 Departamento de Geociências. Universidade de Aveiro

2. Departamento de Biologia. Universidade de Aveiro *Autor para correspondência: [email protected]

O objectivo principal deste estudo é avaliar a qualidade de sedimentos de linha de água da bacia hidrográfica do rio Mau onde o impacto antropogénico se sobrepõe aos mecanismos naturais, principalmente nas zonas onde existem antigas minas abandonadas (minas do Braçal – MB). A bacia hidrográfica do rio Mau está situada na sua íntegra, no Concelho de Sever do Vouga, limitada pelos paralelos 4504000 e 4517000 N e os meridianos 549000 e 555000 E (coordenadas UTM). A zona Braçal-Malhada constituiu o campo mineiro que dominou a produção de chumbo, sendo, na altura, as minas mais importantes. A cartografia dos índices de contaminação (IC) evidenciou a presença de duas zonas fortemente contaminadas, uma localizada na linha principal do rio Mau e que drena a área da mina do Braçal, em que a contaminação está associada a material de origem antrópica (mineira) e uma segunda zona, mais a sul da bacia, em que o enriquecimento está provavelmente relacionado com causas naturais (geológica). Os teores anómalos observados na linha principal do rio Mau (Cd, Ni, Co, S, Pb, Zn e Ag) estão espacialmente associados à deposição de forma não controlada de escombreiras. Estes materiais, resultantes da actividade mineira ao longo de décadas (por exemplo: Minas do Braçal e da Malhada, localizadas próximas nas margens do rio Mau), são ricos em sulfuretos de Pb, Zn, Ag entre outros. A dispersão mecânica é responsável pela presença de uma apreciável extensão de contaminação nos sedimentos de linhas de água. Tal facto foi registado na bacia do rio Mau, onde foi possível constatar a presença uma extensão considerável, entre a mina da Malhada e a foz do rio Mau, onde as concentrações destes elementos nos sedimentos são elevadas. Muitos dos elementos químicos aqui referidos (Pb, Zn, Cd, Ni, Co, S) aparecem catalogados na bibliografia ambiental e toxicológica como elementos de nocividade química e biológica enquanto que outros têm pequena ou reduzida importância nessa perspectiva (Mn, Ag). Para melhor avaliar as condições do ambiente aquático, de forma a dar maior fiabilidade aos resultados e ser mais completa a determinação da qualidade deste ambiente, foi realizada a interpretação dos índices diatómicos em simultâneo com os parâmetros físico-químicos da água e com os resultados do índice geoquímico (IC). Os resultados do índice de contaminação geoquímico (IC) foram comparados com os resultados do índice biológico diatómico (IBD). Na área perto das minas o IC para os sedimentos mostra valores elevados para alguns elementos químicos (Pb, Zn, Cd, Ag, Ni, Co, S e Mg) quando na água estes elementos foram ausentes. O índice biológico mostra uma qualidade de água de Excelente a Média. A interpretação simultânea dos dados discriminou melhor os locais que parecem ser similares ao considerar separadamente os aspectos geoquímicos ou biológicos.

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EFETIVIDADE DAS REGRAS INTERNACIONAIS QUE ORGANIZAM AS RELAÇÕES AMBIENTAIS ENTRE PAISES.

Marcos Antonio Ribeiro Baracho, Hertha Urquiza Baracho.

Pós Graduação em Direito Ambiental, Universidade Federal da Paraiba. Este trabalho aborda, no contexto da discussão da gestão dos recursos hídricos, a seguinte questão: Em que medida a introdução de técnicas de apoio a tomadas de decisões relacionadas aos Comitês de Bacia poderia contribuir para a gestão dos recursos hídricos? A questão pode ser enfrentada pela análise de conflitos que existem quando decisões devem ser tomadas sob a interveniência de muitos atores com diversos interesses a serem atendidos. A bacia hidrográfica como unidade de gestão criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Dentre os integrantes desse sistema está o Comitê de Bacia Hidrográfica, instituição que atua no âmbito da bacia hidrográfica e tem como finalidade o plaejamento. Países em desenvolvimento, sem muita tradição no enfrentamento de conflitos ambientai, de forma participativa, necessitam de mecanismos que facilitem e reforcem os processos democráticos de negociação e decisão. A transposição de águas entre bacias hidrográficas, que vem sendo praticada de forma crescente no mundo, emerge como particular foco de conflitos, cujo enfrentamento adquire relevância principalmente em países em desenvolvimento.E também analisa a aplicação de uma metodologia da que promova uma estratégia, para solução de conflito de transposição de águas entre duas bacias hidrográficas.Os resultados são analisados em função da aplicação desta metodologia que se torna relevante em casos como o aqui estudado, onde as decisões são tomadas e de forma incremental ao longo do tempo, em um contexto de incertezas políticas, administrativas e legais.

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USO DE INDICADORES PARA AVALIAR O DESEMPENHO AMBIENTAL EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR

Raphael Corrêa Medeiros 1*; Artur Gonçalves 2

1 UFV/Brasil-Graduando em Engenharia Ambiental e estagiário na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança – Bragança – Portugal, na área de Auditoria e Gestão Ambiental.

2 IPB/ESAB – Campus Santa Apolónia, Apartado 1172; 5301-855 Bragança, Portugal. * Autor para correspondência: [email protected]

A partir do momento que a Gestão Ambiental visa a gerir as atividades de uma organização que têm, ou pode ter, um impacto sobre o meio ambiente, estudar o caso de uma Instituição de Ensino Superior contribui para constatar onde se encontra o conceito de desenvolvimento sustentável: no papel ou em ações concretas. A implementação de um Sistema de Gestão Ambiental na Escola Superior Agrária de Bragança – EcoESAB - teve o intuito de promover a sustentabilidade com práticas adequadas de gestão ambiental; bem como, reduzir os impactos ambientais da instituição em um ciclo de melhoria contínua (Gonçalves e Rodrigues, 2006). Com isso, existe a necessidade de implementar procedimentos para monitorar, medir e, assim, avaliar o seu desempenho ambiental. O objetivo desse projeto, integrado num Protocolo de Cooperação com a Universidade Federal de Viçosa (MG – Brasil), é o desenvolvimento de uma proposta de indicadores de avaliação de desempenho ambiental aplicável à ESAB e que possa servir de modelo a iniciativas semelhantes desenvolvidas em Instituições de Ensino Superior no Brasil e em outros países. Os indicadores desenvolvidos procuram responder à realidade local, contudo não se afastando da facilidade de transmissão de informação. Foi criado um modelo de avaliação de desempenho ambiental para mensuração dos aspectos ambientais mais relevantes e das atividades da instituição, com indicadores gerais e específicos, além da formulação de fichas explicativas para cada indicador (ISO 14031:1999). Como resultado ter-se-ão parâmetros para verificação dos avanços que vão se registrando nos programas implementados e identificação de problemas mais significativos no Sistema de Gestão Ambiental, o que possibilitará uma redefinição de objetivos e metas de maneira mais rápida; e, consequentemente, servirão como mostra de conformidade ambiental: externamente, à legislação ambiental; internamente, à política ambiental da própria instituição. Referências: Gonçalves, A. and Rodrigues, M.(2006),´EcoESAB – Bragança Higher School of Agricultural Engineering (Portugal) – An EMSproject´. ISO (14031 :1999), ´Manegement de l´environnement. L´évaluation des performances environnementales´, p. 341-383, AFNOR, 3eédition, Recueil Environnement .

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UM OLHAR SOBRE ALGADOS E O SUBÚRBIO FERROVIÁRIO: ORGANIZAÇÃO SOCIAL E A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO DE MORADIA.

Abigail Alcantara Silva3

Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global da Faculdade de Economia da Universidade de

Coimbra e Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford

Alagados4 está entre as ocupações5 mais antigas da cidade, com uma população que representa quase 1/3 da cidade de Salvador e desse modo, tem uma contribuição relevante para a expansão do Subúrbio Ferroviário tornando-se uma alternativa de moradia para uma parcela significativa da população negra. Historicamente, marginalizada, invisibilizada resiste ao preconceito e os diferentes tipos do racismo praticado na sociedade brasileira. Foi constatado através das discussões e reuniões para preparação do seminário “Salvador: o arquiteto e a cidade informal”6 que surpreendetemente uma parte da cidade, maior do que se imaginava esta fora dos padrões legais de construção e infra estrutura mínima de habitabilidade. Esta parte informal na qual se incluem os bairros que fazem parte do Suburbio Ferroviário é citada nos estudos sobre a urbanização da cidade desde 1940, quando surgem as grandes ocupações nas proximidades e nas periferias das áreas urbanas de Salvador. A precaria condição de vida da população negra, reflexo da extrema desigualdade social e racial, sobretudo em tempos de politicas neoliberal é comum em todas as cidades brasileiras e está população tratada como subalterna, inferior e “incapaz” na luta pela cidadania reclama pela igualdade de direitos. Entretanto Alagados e o Suburbio Ferroviário se diferencia de outras áreas ocupadas para moradia pela sua historica organização popular a enfrentar os obstáculos à sua emancipação social e pelos laços de solidariedades existentes para além da diversidade local. Nestes aglomerados populacionais identificados no Brasil através de diferentes denominações: as áreas remanecentes de quilombos, os cortiços, os mocambos, mais tarde, as favelas nos morros e encostas, ou como ocupações ou “invasões” nos vales e nos alagados. Todas estas denominações guardam caracteristicas intrinsecas da “trama historia social” da população negra na luta pela conquista e consolidação do espaço de moradia.

3 Doutoranda do Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e bolsista do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford. 4 Alagados significa a ocupação da maré para moradia. As casas, conhecidas como palafitas, feitas de madeira geramente, são construidas tambem com maderit, papelão e outros materiais de construção com teto em telha de eternit ou plastico. 5 Ocupações se refere ao espaço público ou “privado” no centro ou na periferia das grandes cidades brasileira ocupado pela população negra e pobre para moradia. No dicionário Aurélio dentre outros significados do termo um explica a preferência de moradores e pesquisadores pelo termo ocupação que assim esta disposto:” jur. Ato de apoderar-se alguém, legalmente, de coisa móvel (…) sem dono, ou porque ainda não foi apropriada, ou por haver sido abandonada. Com outra conotação o termo invasão significa local ocupado ilegalmente por habitação popular. 6 Seminário realizado em Salvador em Dezembro de 1999.

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IDOSOS E PODER PÚBLICO NO BRASIL: PREFERÊNCIA NA ORDEM DE

PAGAMENTO DOS PRECATÓRIOS

Alenuska Teixeira Nunes1

1 Advogada, graduada pela Universidade Potiguar em Natal/RN, Pós-graduada pela Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, Mestranda em Ciências Jurídico-Internacionais pela Faculdade de

Direito da Universidade Clássica de Lisboa, Vice-Presidente do NELB – Núcleo de Estudantes Luso-

Brasileiros da Universidade de Lisboa, gestão 2006/2007.

Ao longo desse desenvolver perceberá que os velhos passaram a ter uma idade. Até então tínhamos a infância, a adolescência, a idade adulta, mas a velhice não era uma idade; estava mais para o fim e menos para uma idade. O tema proposto trata-se de uma problematização referente ao idoso e a efetivação de seus direitos frente ao Poder Público brasileiro. Enfatizamos os aspectos sociais relevantes na tentativa de enaltecer a carência da sociedade idosa que cresce numa progressão geométrica. Esse é o ponto crucial do presente desenvolver, ou seja, uma interpretação sobre a possibilidade de se conceder um benefício esquecido pelo Estatuto do Idoso, mas que com uma Proposta de Emenda Constitucional traz a esperança de concessão aos idosos de seus direitos, em vista do Poder Público, efetivamente concretizados. Nesse ínterim, pretendemos abordar traços caracterizadores do instituto dos Precatórios no afã de poder cada vez mais afastar a possibilidade de conjugação destes com os créditos dos idosos. Sendo perfilhado questionamentos sobre a sua real efetividade mediante a celeridade processual almejada.Para poder chegar à conclusão aduzida, nessa estrada em busca de ver efetivado o direito dos idosos, palmilhamos pelos mais diversos aspectos sociológico que vêm a ser o idoso de hoje, e que fora o “velho” de ontem, sua relação com as sociedades e o tratamento diferenciado que cada uma concedia ao mesmo ao longo dos tempos, e , até os dias de hoje, os almejos já alcançados não só burocraticamente, mas também na prática. Os quais foram poucos.Sem dúvida um passo pequeno em uma estrada tão longa e cheia de obstáculos é o que pretendemos dar no presente estudo, para que possamos medir os acontecimentos não com a medida do tempo, mas com a medida da vida.

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SERVIÇOS POSTAIS E CONSTITUIÇÃO: UMA ABORDAGEM DO SISTEMA EUROPEU, BRASILEIRO E ARGENTINO.

André Saddy7

Mestrando em “Administração Pública” pela Universidade de Lisboa, Professor da disciplina “Direito Econômico e Regulatório” na pós-graduação/educação continuada da Fundação Getúlio Vargas - FGV

DIREITO RIO

Diante da dupla falência dos modelos de Estado Social ou Intervencionista e do Estado Bem-Estar, as sociedades nacionais não tiveram alternativas que apartir para a reformulação dos dois modelos intervencionistas e, reivindicando então seus protagonismos, desenvolveram um modelo misto, temperando a organização e a disciplina até então atingida pelo Estado, com as potencialidades inesgotáveis de criatividade própria das sociedades livres. Hoje, esta busca de um Estado eficiente, com menos custos e melhores resultados, de modo que seja capaz de atrair recursos privados para o seu desenvolvimento, fez com que começasse a se afirmar que as características gerais da nova configuração contemporânea, fossem identificadas como Estado Pós-moderno, caracterizado pelo: Estado Regulador, Estado Distributivo, Estado Associado e Estado Propulsivo. Esse novo cenário mundial trouxe mudanças em muitos setores da economia, entre eles o postal. Este passou a assumir um papel vital de infra-estrutura para transações comerciais num mundo em que, freqüentemente, o produtor e o consumidor se encontram geograficamente distantes. O fornecimento de serviços postais no mundo passou a ser partilhado pelo Estado e pela iniciativa privada. Dessa forma, a maioria dos países, desafiados a responder a essa nova demanda, se mostram incapazes não só de realizar os investimentos necessários à melhoria do setor, como também de gerenciá-lo de forma empresarial. Daí porque, as maiorias dos países desenvolvidos, a partir do final da década de 90 do século XX, fizeram suas reformas postais, onde a principal medida adotada pelo Estado foram o desmembramento das atividades complementarias ou ligadas a uma mesma cadeia produtiva; o estabelecimento de uma competência “gradual e controlada” em fases de exploração de atividade; e a criação de regras para evitar a concentração econômica. Ou seja, liberalizaram o setor postal para a iniciativa privada. Tais países foram guiados pelas mudanças da União Européia, realizadas pelas Diretivas 97/67/CE, modificada pela 2002/39/CE. Alguns desses países estão com suas reformas finalizadas e em pleno desenvolvimento. Outros, até hoje, tentam fazer suas reformas, mas não fizeram. É o caso brasileiro, que desde 1999 tem tramitado no Congresso Nacional um Projeto de Lei Postal (Projeto n.º 1.491/99). E outros a fizeram, mudando demasiadamente os parâmetros estabelecidos pela União Européia, como é o caso Argentino que optou por afastar completamente o Poder Público da prestação de serviço postal, mas em seguida tiveram problemas tendo que (re)estatizar seus serviços postais, voltando a uma situação muito similar a que se tinha anteriormente a desestatização. Por conta do antagonismo existente entre esses três blocos, que pretendemos analisar alguns pontos constitucionais-administrativos dos serviços postais europeu, brasileiro e argentino.

7 Consultor da MethoIus Consultaría Jurídica Internacional, Advogado, Mestrando em “Administração Pública” pela Universidade de Lisboa, Professor da disciplina “Direito Econômico e Regulatório” na pós-graduação/educação continuada da Fundação Getúlio Vargas - FGV DIREITO RIO.

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CONSIDERAÇÕES SOBRE A PUBLICAÇÃO DE LISTAS DE DEVEDORES PELO FISCO

Helen Cristina Leite de Lima* Universidade de Coimbra -Programa de Pós-Graduação em Direito da Comunicação

*Autor para correspondência: [email protected]

A postura da Administração Fiscal Portuguesa, ao publicar na internet e outros meios de comunicação social listas de devedores ao Fisco e à Segurança Social, nos termos dos artigos 64º, nºs 5 e 6 da Lei Geral Tributária, e 45º da Lei 60-A/2005, vem gerando muita polêmica nos meios acadêmicos, principalmente no que diz respeito à sua constitucionalidade. Desta forma, tornou-se imperiosa uma análise mais apurada do tema, de maneira a se averiguar se a atuação da Administração é ou não legítima. No caso em comento, estão em jogo dois princípios, que, inevitavelmente, devem ser levados em conta num Estado Democrático de Direito: por um lado, a liberdade de informação, que, nesta hipótese, vincula-se ao direito do Estado de cobrar tributos e ao dever dos cidadãos de suportá-los, e, por outro lado, os denominados direitos da personalidade, dentre os quais se encontram o direito à honra e à vida privada. Uma importante característica deste tipo de situação jurídica é a ausência de uma solução em tese para o conflito, fornecida abstratamente pelas normas aplicáveis, razão pela qual se justifica o questionamento formulado pela Administração Fiscal à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), que culminou no Parecer nº 676/2006, de 19 de junho. A CNPD, nesta hipótese, concluiu que a referida divulgação é adequada, pertinente e proporcional, manifestando-se a favor da publicação dos dados pessoais, de acordo com as modificações operadas nos diplomas legislativos envolvidos. Todavia, não obstante esta respeitável posição, não parece ser este o melhor entendimento. Fato é que todo indivíduo é titular de direitos da personalidade, descrevendo-os a doutrina como emanações da própria dignidade da pessoa humana. Desta maneira, merece registro uma importante característica: tendo em vista ser atribuído a todo ser humano e reconhecido pelos textos constitucionais em geral, eles seriam oponíveis a toda coletividade, como também ao Estado. A Constituição da República Portuguesa, por sua vez, também abrigou esta idéia. Portanto, além da Lei de Protecção de Dados Pessoais (67/98), temos a disposição prevista no artigo 26 da Carta Magna, que visa proteger o direito ao bom nome e à reputação, bem como oartigo35,cujoescopo é a utilização da informática segundo parâmetros razoáveis. Assim, a discussão posta se encontra além do plano do legislador ordinário, devendo ser observada se a pretensão da Administração Fiscal encontra ou não respaldo na Lei Maior. Importante ressaltar, por oportuno, que o citado parecer da CNPD recorreu a um exercício de ponderação entre os valores conflitantes para justificar o seu posicionamento favorável à divulgação das listas de deve dores pelo Fisco. Certo é que a ponderação é uma técnica de decisão jurídica aplicável acasos difíceis, como o aqui analisado, quando normas de mesma hierarquia indicam soluções diferenciadas. Apesar de sua relevância, não existe ainda um consenso doutrinário sobre a estrutura interna deste raciocínio ponderativo. Sabe-se, contudo, que a ponderação está sempre associada às noções difusas de balanceamento e so pesamento de interesses, valores e/ou normas, possuindo este processo intelectual como fio condutor o princípio instrumental da proporcionalidade ou razoabilidade. Desta forma, haja vista o que foi brevemente exposto acima e a finalidade para a qual a publicação da lista de devedores é utilizada, chega-se à conclusão de que a pretensão do Fisco não se mostra razoável, sendo, por conseguinte, inconstitucional, não obstante o interesse legítimo por parte da Administração em obter o pagamento do imposto que lhe é devido e necessário para sua manutenção. Inegável que este é um meio possível para se chegar ao fim pretendido, mas a lista não se apresenta como um caminho proporcional, até porque o Poder Público poderia se utilizar de outros métodos para alcançar o mesmo objetivo, sem, contudo, atingir o direito à honra e à intimidade privada dos contribuintes que não arcaram com os tributos devidos. No caso em tela poderíamo saventar, por exemplo, uma alteração legislativa que permitisse ao Fisco uma cobrança mais célebre e fetiva. Logo, sendo possível adotar medidas que evitem a restrição de direitos fundamentais, previstos constitucionalmente, estas possibilidades devem ter preferência sobre as que afrontam a referi da proteção.

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O PAPEL E AS AÇÕES DE INFLÊNCIA DAS REGIÕES EUROPÉIAS NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS COMUNITÁRIAS: UMA NOVA

ABORDAGEM DE GOVERNANÇA EUROPÉIA

Karine Marinho de Castro1 *

1 PUC-MG –Graduação em Relações Internacionais – Brasil UCP- IEE – Mestranda do curso de Altos Estudos Europeus da UCP – Lisboa

Bolsista da 4ª Convocatória do Programa Alban - E06M103301BR *Autor para correspondência: [email protected]

Como forma de tentar superar as insuficiências dos modelos tradicionais que enfatizam as relações supranacionais e intergovernamentais dentro da Comunidade Européia, esse artigo tem como objetivo apresentar uma nova abordagem conhecida como de multi-nível ou de múltiplos níveis a fim de considerar também o papel e as ações das entidades infranacionais, seja na formação das preferências nacionais, seja no interesse real de proporcionar maiores resultados na implementação de políticas, sobretudo à política regional. A política regional pode ser considerada como uma política distributiva, ou seja, por agir através da alocação de recursos e ajudas estruturais para regiões européias desfavorecidas economicamente e socialmente, tendo como principais objetivos, o desenvolvimento e a coesão das regiões européias. Logo, as regiões e Estados tentam estabelecer maior vínculo com a UE para assim conseguir maiores ganhos e benefícios. Dessa forma, as autoridades regionais se destacam como partes importantes em tal processo, como também nas decisões políticas da União Européia, uma vez que são agentes fundamentais na implementação e na busca pelos resultados de tal coesão regional. Os argumentos apresentados nos Tratados fundadores da UE sobre os processos de tomada de decisão no seio da Comunidade demonstraram uma centralidade política nas mãos dos Estados nacionais e instituições européias. Mas, a partir dos anos 80, caracterizou no âmbito da UE o processo de descentralização do papel Estado como o único ator capaz de estabelecer vínculo com as instâncias de poder intergovernamentais e supranacionais da União. Logo, o princípio da subsidiariedade destaca-se como um mecanismo de transferência de autoridade para outras esferas de poder no bloco, sobretudo o infranacional. O interesse aqui, é tentar estreitar os vínculos com outras dimensões governamentais com a intenção de melhor prover os recursos necessários na distribuição dos fundos da política estrutural e salientar a convergência real dos interesses das partes presentes, uma vez que as regiões não são partes independentes do nível europeu e são objetos de tal política. Sendo assim, diversas ações regionais tem sido evidenciadas na UE com o intuito de tornar mais presente e influente as autoridades regionais nos processos políticos europeus. Destacam-se aqui, o crescente número de escritórios representativos das regiões em Bruxelas, o papel importante do Comitê das Regiões, a formação de redes e alianças inter-regionais com o intuito de apresentar maior pressão às instuituições, e outros elementos importantes para maior atuação e representatividades dessas unidades. Por fim, o trabalho considerou a importância de tal participação regional para se atingir melhores resultados de coesão e desenvolvimento para as regiões, assim como apresentou alternativas de se estabelecer maior diálogo entre os diferentes níveis de governança no bloco, uma vez que a UE baseada somente nas relações entre estados e instituições, não necessariamente representará os interesses das unidades infranacionais, sobretudo das regiões européias.

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DESARQUIVANDO A GUERRILHA DO ARAGUAIA: O PAPEL DAS LUTAS JUDICIAIS LOCAIS E TRANSNACIONAIS PELA MEMÓRIA E PELA

JUSTIÇA NO BRASIL

Cecília MacDowell Santos*

Investigadora do Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra

Professora Associada de Sociologia, Universidade de San Francisco, Califórnia *Autor para correspondência: [email protected]

O presente trabalho tem por objetivo analisar, sob uma perspectiva sócio-jurídica crítica, a chamada “batalha da memória” e as estratégias de lutas pelo direito à memória e pela justiça por parte dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Tais estratégias serão discutidas no âmbito das lutas judiciais locais e transnacionais em torno do direito à informação sobre a ditadura e mais especificamente sobre a repressão realizada pelos militares ao movimento da Guerrilha do Araguaia entre 1972 e 1975, lutas essas que vêm sendo travadas pelos familiares de mortos e desaparecidos políticos contra a República Federativa do Brasil desde o início dos anos 80. Este trabalho partirá das seguintes perguntas: Qual o papel do Judiciário nas lutas pelo direito à informação no Brasil? Como a Justiça brasileira e os organismos internacionais de Direitos Humanos têm respondido às demandas pela memória protagonizadas pelos familiares dos mortos e desaparecidos políticos e pelos seus aliados no Brasil? Como o uso do Judiciário tem repercutido na construção da sua memória individual e coletiva? Quais os limites e os desafios do uso do Judiciário nas lutas pela memória e pela justiça? Qual a contribuição dessas lutas ao processo de democratização no Brasil? Essas perguntas serão respondidas com base em entrevistas com familiares de mortos e desaparecidos políticos, sobreviventes da Guerrilha do Araguaia, militantes de Direitos Humanos, advogados e representantes da Secretaria Especial de Direitos Humanos do Brasil. Além de entrevistas, o presente trabalho basear-se-á em dados documentais, tais como peças de processos judiciais, materiais sobre a “batalha da memória” produzidos pelos familiares e por ONGs de Direitos Humanos, bem como artigos publicados em jornais e revistas sobre o tema no Brasil. Com base nesses dados, o trabalho mostrará que as lutas judiciais pelo direito à informação e pelo acesso aos arquivos militares sobre a ditadura brasileira têm sido uma estratégia fundamental na luta dos familiares. No caso da Guerrilha do Araguaia, mostrar-se-á como as lutas judiciais pelo acesso a informações sobre as circunstâncias do desaparecimento de 61 guerrilheiros têm sido fundamental para a reconstrução da memória individual e coletiva dos familiares e para a busca de uma nova História do Brasil. No curso das lutas judiciais, os familiares vão re-descobrindo novos fatos e re-contando a sua história. No decorrer dessas lutas, a História vai sendo re-contada publicamente através da mídia e de mobilizações sociais e políticas organizadas pelos familiares e por seus aliados. As ações judiciais, até o presente em andamento, vão também propiciando o surgimento de novas alianças entre os familiares, políticos, militantes de Direitos Humanos, intelectuais e profissionais do Direito. A demora judicial, neste caso, pode ser interpretada como uma oportunidade para a construção de alianças e para a reconstrução ininterrupta da memória tanto individual quanto coletiva. Por outro lado, o uso do Judiciário mostra-se limitador da luta dos familiares pelo acesso à informação e pela justiça, na medida em que tal estratégia não proporciona uma expansão desta luta e uma conexão das mortes e desaparecimentos políticos, ocorridas no passado, com as mortes e desaparecimentos que acontecem no contexto do novo regime civil contemporâneo.

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LIBERTAÇÃO NACIONAL E IDENTIDADE MULTICULTURAL: UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DO MOVIMENTO ZAPATISTA EM DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS MULTICULTURAIS

Felipe Machado de Moraes* *Autor para correspondência: [email protected]

Desenvolver uma temática de análise Multicultural dos Direitos Humanos suscita uma grande discussão, um desafio que desperta os ideais fundamentados na afirmação da democracia. Atualmente, seria impossível analisar o direito à igualdade, através dos direitos humanos, sem que este esteja diretamente ligado ao tema do reconhecimento e respeito pelas diferenças, o que supõe lutar contra todas as formas de preconceito, discriminação e intolerância. Dessa forma, as lutas pelos direitos humanos através dos movimentos sociais sempre constituíram uma parte da tradição política dos povos e dos setores populares em muitos dos países da América Latina. Através das causas desses movimentos, na medida em que se articulam e constituem alternativas de poder, torna-se possível criar e construir condições que possam combater a desigualdade social, a pobreza e a carência de opções básicas para o desenvolvimento humano. O resumo da pesquisa, ora apresentado, propõe desenvolver uma investigação frente aos desafios dos Direitos Humanos Multiculturais, a fim de construir uma análise através do pensamento e da política de um dos movimentos mais democráticos e revolucionários da recente história latino-americana, o Movimento do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) nascido no Sudeste do México. Tal proposta de realização de um estudo multicultural, esta sendo realizada, na busca da compreensão dos conceitos orientados em explicar as possibilidades de construção de uma sociedade democrática, plural e que possibilite o reconhecimento junto as diferentes identidades culturais. Trata-se, por tanto, de uma abordagem que não incorre na supremacia hegemônica dos sujeitos das elites sociais nem no determinismo do poder das estruturas, mas sim, prevê um diálogo entre estas diferentes dimensões sociais, onde tais perspectivas podem trazer grandes contribuições para os estudos do multiculturalismo, um comportamento que tem insistido em compreender o distante e respeitar o diferente. OBJETIVO GERAL: Analisar as políticas de inclusão social através das estratégias do EZLN como exemplos da prática e reconhecimento dos direitos humanos multiculturais, fortalecendo as estratégias de sobrevivência dos direitos das minorias como afirmação de políticas de globalização contrahegemônica diante de uma sua recente estratégia diante das eleições presidenciais no México. A abordagem metodológica molda um estudo exploratório de aprofundamento empírico do método indutivo e dialético. Dessa forma, a pesquisa propõe, fora os registros da experiência de campo realizada em 2000, utilizar uma análise bibliográfica e descritiva, interpretando a realidade especifica sobre o Multiculturalismo dos Direitos Humanos, de modo que todas as condições metodológicas e diretrizes para proceder a atual investigação, será proposta e justificada, caso venha a ser selecionado e tenha a oportunidade de melhor apresentar os fundamentos da pesquisa aqui resumida. Como encontrar condições para apresentar novos caminhos de defesa dos direitos humanos multiculturais a fim de combater a intolerância e a exclusão social? Para tanto, o problema de pesquisa é resultante da seguinte questão: os movimentos sociais latino-americanos, tomando como estudo o EZLN, podem consolidar-se como um exemplo de reconhecimento dos Direitos Humanos Multiculturais de enfrentamento à crescente desigualdade social e reconhecimento das identidades? A resposta apresentada pelos Zapatistas esta na “estória” fora da História. São novas respostas diante de uma nova condição de se fazer política para a sustentabilidade social da vida humana do anti-poder estatal. A sabedoria zapatista emerge a esperança que diz através da voz do subcomandante Marcos: “Não posso fazer sua história para você. Mas posso lhe dizer que a história é sua para que você a faça”. E parece que o muitos dos novos movimentos sociais transnacionais estão aprendendo algo e em resposta para todo o sofrimento e luta zapatista na construção de novos caminhos e os gritos: Zapatistas, vocês não estão sozinhos! Todos somos Marcos! Ecoam pelas terras onde ainda cabe a esperança.

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PESQUISA FEITA SOBRE A TORTURA: OS ELEMENTOS QUE COMPÕEM O CONCEITO A TIPICIDADE OBJETIVA E SUBJETIVA

Helena Maria Vila Nova Pacheco

Mestranda em Ciências Jurídico Internacionais Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

O tema abordado na pesquisa avalia os elementos constitutivos do conceito de tortura, elemento material, elemento teleológico ou finalista e, por fim, o elemento subjetivo e a sua interação com as demais condutas dos trataementos cruéis, desumanos e degradantes. Para além disso, analizamos a tipicidade objetiva e subjetiva da tortura, e o seu enquadramento em situações práticas de estado de necessidade. O segundo ponto importante abordado na pesquisa em tela, diz respeito a tipicidade objetiva e subjetiva da conduta. O estudo concluiu que vários textos internacionais acerca do tema, em especial a Convenção elaborada pela ONU e a Convenção Interamericana possuem redação imperfeita, visto que, nesses textos tenta-se definir a tortura partindo dos seus efeitos e dos fins praticados, olvidando-se de expor em que consiste, de fato, a ação de torturar. No tratamento do tipo subjetivo da conduta, detectou-se que a doutrina é praticamente unânime em afirmar que não há nenhum interesse superior ao direito de não ser torturado para que o bem jurídico tutelado pela norma em exame (integridade física) possa ser preterido, com amparo em alguma causa justificante; entretanto, a questão mais complexa sobre o tema concentra-se nas hipóteses de estado de necessidade, oportunidade em que fazemos uma análise da teoria das circunstâncias excepcionais8. Atualmente o princípio da necessidade opera como cláusula justificante das atuações dos poderes públicos. A avaliação sobre essa realidade deve ser feita ao tempero do estudo prévio dos valores humanos mais paradigmáticos. O interesse em pesquisar o âmbito de alcance do conceito de tortura e sua tipicidade objetiva e subjetiva se deu em razão dos recentes acontecimentos terroristas que tem atigido o cotidiano da comunidade internacional. Adotamos como escopo trazer uma reflexão jurídica atual para a questão da tortura à luz das jurisprudências do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem e considerando a consequente ação dos governos em resposta a esses ataques e o liame a ser observado de preservação dos direitos humanos mais fundamentais desses agressores.

8 Cfr: GAUDEMET, Yves. Traité de droit administratif. Paris : L.G.D.J. t.1, 16º ed, pp. 586.

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FUNDAMENTOS E DIMENSÕES DO TERMO CIDADANIA

Hertha Urquiza Baracho

Professora da Universidade Federal da Paraiba Doutora em Direito de Estado, São Paulo

O presente trabalho versa sobre cidadania: conceitos, fundamentos e dimensões. O tema é antigo e ao mesmo tempo futurista, pois sempre interessou ao longo da história da Humanidade. Nos últimos anos adquiriu o status de tema central, e sua afirmação está ligada a própria consolidação do projeto de modernidade, que pressupõe o reconhecimento da autonomia individual, da democracia e do Estado de Direito. Fez-se uma abordagem histórico-filosófica, procurando compreender os fundamentos, as dimensões e as perspectivas do conceito de cidadania. Analisou-se o conceito de cidadania na visão de Thomas H. Marshall e de seus críticos. O debate teórico dos doutrinadores internacionais sobre a questão conceitual da cidadania, de sua dimensão e titularidade foi observado. A visão dos constitucionalistas brasileiros e a discussão sobre nacionalidade e cidadania, foi destacada no modelo comparativo. Por fim, tratou-se da cidadania europeia no contexto dos direitos humanos, em relação a dimensão e a geração de direitos, levando em consideração a cidadania nacional relacionada à cidadania europeia, e das inovações introduzidas pelos Tratados de Maastricht, de Amsterdã e de Nice.

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PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO - PROCESSOS DE INCLUSÃO (OU) EXCLUSÃO SOCIAL?: UMA EXPERIÊNCIA RURAL EM QUESTÃO.

Sônia Regina de Souza Fernandes1*; Marilane Maria Wolff Paim2 1 Professora dos Departamentos de Ciências Humanas, Letras e Artes e de Ciências Biológicas e da

Saúde –UNIPLAC/ SC. Doutoranda em Educação – PPGE/UNISINOS/RS - Brasil – Doutorado Sanduíche/FPCE/Universidade do Porto (Bolsista CAPES).

2 Professora do Departamento de Ciências Humanas, Letras e Artes – UNIPLAC/ SC. Doutoranda em Educação – PPGE/UNISINOS/RS. *Autor para correspondência: [email protected]

O trabalho diz respeito a pesquisa desenvolvida na Região Serrana de Santa Catarina, vinculada à Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), especificamente nos municípios de Lages, Cerro Negro e Campo Belo do Sul, sobre experiências escolares alfabetizadoras desenvolvidas nos meios rural e urbano. Os sujeitos da pesquisa, neste momento, situam-se no contexto da Região Serrana de Santa Catarina, essa região, segundo dados, do Censo de 2.000, apresenta uma taxa de alfabetismo de 94,3%, sendo que Lages o índice é de 93,4%, em Campo Belo do Sul, 82,3% e em Cerro Negro, 78,8%. Os dados da empiria, extraídos da documentação pedagógica (cadernos de atividades dos alunos/as; planejamento de aula; registros de classe e outros) e, das entrevistas com professores/as alfabetizadores/as, demonstram que tais práticas, vêm revelando concepções pedagógicas ainda descontextualizadas e não significativas para o contexto lingüístico e social das crianças, destacadamente as rurais. Essa tendência se faz revelar através de atividades centradas na memorização e repetição de conteúdos alfabetizadores, presentes predominantemente nas cartilhas e livros de alfabetização, bem como nos cadernos de atividades dos alunos/as. Tais práticas são identificadas por Soares (2000), Garcia(2001), Kramer (2001) e FREIRE (2001) como descontextualizadas, por não levarem em conta a linguagem social utilizada pelas crianças em sua comunidade no processo de alfabetização, conduzindo-as, muitas vezes, ao fracasso escolar. É possível dizer que a escola ao reproduzir por meio dos processos pedagógicos, cujos processos são promotores ou não de inclusão social, padrões dominantes de conduta da linguagem oral e escrita, desconsidera e descaracteriza a diversidade cultural e social, não percebendo as manifestações lingüísticas diferenciadas da língua considerada padrão/oficial, conduzindo, muitas vezes, ao fracasso escolar, à não alfabetização e, por conseqüência , à exclusão social. Além dos dados evidenciados pela empiria, os dados estatísicos auxiliam nessa compreensão, reforçando a condição de um alto indice de pessoas não alfabetizadas. Destacamos como dados importantes, os apontados no “Mapa do Analfabetismo no Brasil”, apresentado pelo INEP/MEC de 2003, onde revelam que quase um terço da população brasileira possui baixos níveis de letramento. Entre os jovens e adultos, considerando-se aqueles que têm mais de 15 anos, cerca de 13% são analfabetos, ainda que um terço deles já tenha passado pelo Ensino Fundamental. Entre as crianças, mais da metade das que chegam à 4.ª série não têm apresentado um rendimento adequado em leitura, sendo que quase 30% do total dessas crianças não sabem ler. As reflexões em torno do que os dados empíricos apresentam e os autores/as com os quais dialogamos, indicam que diferentes visões de mundo, estilos de vida, crenças, costumes, cores, etnias e todos os aspectos que compõem a cultura estão presentes diariamente nas salas de aula, porém muitas vezes não vistos e, portanto, silenciadas. Palavras-chave: Escola, alfabetização, sociedade, práticas pedagógicas, inclusão/exclusão social.

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III SIEBRAP -2006

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