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Page 1: II-288 – REDUÇÃO DE SULFATO EM REATOR ANAERÓBIO … · representa a degradação de moléculas poliméricas em ambiente anaeróbio e com presença de sulfato (Figura 2). O modelo

23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

II-288 – REDUÇÃO DE SULFATO EM REATOR ANAERÓBIO DE BATELADAS SEQÜENCIAIS CONTENDO BIOMASSA IMOBILIZADA EM

CARVÃO VEGETAL Ariovaldo José da Silva(1)

Graduado em Tecnologia Sanitária - modalidade Saneamento pela Unicamp. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Doutor em Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Aline Cardoso Tavares(2)

Graduanda em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Aluna de Iniciação Científica do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Arnaldo Sarti(3)

Graduado em Engenharia Química pela Universidade Federal de São Carlos. Mestre em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Doutor em Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Pesquisador (pós-doutorando) da Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Eugênio Foresti Graduado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Doutor pela Escola de Engenharia de São Carlos (EESC/USP). Pós-Doutorado na University of Newcastle Upon Tyne, TYNE, Inglaterra. Professor Titular da Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Hidráulica e Saneamento (EESC/SHS/USP). Endereço(1): Rua 9A (Nove A), 1060, casa – Vila Nova – Rio Claro - SP - CEP: 13506-550 - Brasil - Tel: (19) 3534-3108 - e-mail: [email protected] RESUMO

A utilização de reatores anaeróbios empregando bactérias redutoras de sulfato é alternativa para tratamento de águas residuárias com a finalidade de remoção de sulfato. Em reatores anaeróbios, as bactérias redutoras de sulfato interagem sintroficamente e competitivamente com bactérias acidogênicas e arqueas metanogênicas. A compreensão dessas interações é importante para a aplicação de processos biológicos anaeróbios com o objetivo de remoção de sulfato em águas residuárias. Reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais estão sendo extensivamente estudados para o tratamento de águas residuárias diversas. Todavia, o desempenho desses reatores depende das propriedades de granulação do lodo, necessária para a efetiva retenção da biomassa no reator. A imobilização dos microrganismos em suportes inertes tem sido aplicada por eliminar as incertezas quanto a granulação do lodo, melhorar a retenção de biomassa e eliminar a etapa de sedimentação, diminuindo o tempo de ciclo dos sistemas chamados de reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais convencionais. Pesquisas utilizando carvão vegetal como material suporte, em reatores anaeróbios com biomassa imobilizada, demonstraram que esse tipo de material é ideal para adesão de bactérias redutoras de sulfato. Portanto, neste trabalho avaliou-se o processo de biodessulfatação de água residuária com três relações DQO/[SO4

2-] distintas: 3,2 (condição A), 1,3 (condição B), e 0,4 (condição C) utilizando-se um reator anaeróbio com biomassa imobilizada em carvão vegetal, operado em bateladas seqüenciais. As interações entre bactérias redutoras de sulfato, bactérias acidogênicas, e arqueas metanogênicas foram analisadas por meio de modelação cinética, considerando as principais vias metabólicas para degradação de matéria orgânica por esses microrganismos. As eficiências médias em redução de sulfato tratando água residuária sintética nas condições A, B, e C foram: 98% (±1%), 96% (±2%), e 34% (±4%), respectivamente. a modelação cinética foi uma importante ferramenta para avaliação das rotas de consumo de substratos orgânicos envolvendo bactérias redutoras de sulfato, bactérias acidogênicas e arqueas metanogênicas. PALAVRAS-CHAVE: Remoção de sulfato, redução de sulfato, reator anaeróbio, carvão vegetal.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental INTRODUÇÃO

A utilização de reatores anaeróbios empregando bactérias redutoras de sulfato (BRS) é uma alternativa promissora no tratamento de águas residuárias com a finalidade de remoção de sulfato. O sulfeto gerado no processo de biodessulfatação pode ser, posteriormente, oxidado a enxofre elementar que, por sua vez, pode ser recuperado e reutilizado na agricultura ou por indústrias de diversos segmentos. Reatores anaeróbios operados em bateladas seqüenciais (ASBR) estão sendo extensivamente estudados para o tratamento de diversas águas residuárias. Esses reatores funcionam em regime intermitente, em ciclos constituídos de quatro estágios: enchimento, reação, sedimentação e descarte. O desempenho do ASBR convencional depende das propriedades de granulação do lodo, necessária para a efetiva retenção da biomassa no reator (Zaiat et al., 2001). A imobilização dos microrganismos em suportes inertes elimina as incertezas quanto a granulação do lodo, melhora a retenção de biomassa e elimina a etapa de sedimentação, diminuindo o tempo de ciclo dos sistemas chamados de ASBR convencionais (Zaiat et al., 2001). Ratusznei et al. (2000) propuseram e testaram o reator anaeróbio operado em bateladas seqüenciais contendo biomassa imobilizada (ASBBR) em espuma de poliuretano. Em reatores anaeróbios, as bactérias redutoras de sulfato interagem sintroficamente e competitivamente com bactérias acidogênicas (BA) e arqueas metanogênicas (AM). A compreensão dessas interações é importante para a aplicação de processos biológicos anaeróbios com o objetivo de remoção de sulfato em águas residuárias. A utilização de modelos cinéticos possibilita a compreensão das principais vias de utilização de substratos orgânicos em reatores anaeróbios operando com cultura mista de microrganismos, especialmente, em presença de sulfato (Silva, 2005). Estudos de adesão microbiana revelaram que carvão vegetal é bom material suporte para adesão de BRS (Silva et al., 2002). Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho de um ASBBR contendo biomassa imobilizada em carvão vegetal (CV) tratando três relações DQO/[SO4

2-] distintas: 3,2 (condição A), 1,3 (condição B), e 0,4 (condição C). As interações entre BRS, BA e AM foram analisadas por meio de modelação cinética, considerando as principais vias metabólicas das BRS. MATERIAIS E MÉTODOS

Reator

O ASBBR em escala de bancada foi confeccionado em acrílico, com diâmetro interno de 220 mm e altura de 258 mm, resultando em volume total de 10 litros (Figura 1). No interior havia um cesto de aço inox perfurado para acondicionamento de cubos de carvão vegetal com 1 cm de aresta, caracterizado no Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM) - Laboratório de Análise de Materiais Particulados da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A área superficial e a porosidade determinada para o CV foi 3,512 m2.g-1 e 42,5%, respectivamente. O reator operou em ciclos de 24 horas, no interior de câmara com temperatura controlada a 30(±2)ºC e sob agitação mecânica com freqüência de 300 rpm definida por estudo hidrodinâmico, realizado para determinação do tempo de mistura. A agitação foi proporcionada por um agitador marca Fisaton®, modelo 713D, com dois impelidores tipo turbina com diâmetro de 6 cm alocados no interior de um cilindro confeccionado em chapa de aço inox perfurada, evitando, dessa forma, o contato com as partículas de carvão.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Figura 1: Desenho do Reator Anaeróbio de Batelada Seqüencial com Biomassa Imobilizada

Água Residuária Sintética

A água residuária sintética (ARS) foi preparada conforme protocolo estabelecido por Torres (1992), contendo, proteínas (50% da DQO), carboidrato (40% da DQO) e lipídeos (10% da DQO), de maneira que resultou em DQO média igual a 914 mg.L-1, 996 mg.L-1, e 987 mg.L-1, nas condições A, B, e C, respectivamente. Na condição A, relação DQO/[SO4

2-] igual a 3,2; a concentração média de sulfato foi igual a 288 mg.L-1 e nas condições B (relação DQO/[SO4

2-]= 1,3) e C (relação DQO/[SO42-]= 0,4), as concentrações de sulfato médias

foram iguais a 786 mg.L-1 e 2.246 mg.L-1, respectivamente. Procedimento Operacional

O reator operou em ciclos de 24 horas (1.440 min) em três períodos: enchimento (10 min), reação (1.420 min), e descarga (10 min). Desde o primeiro até o 30o ciclo (30 dias), adicionou-se lodo de reator anaeróbio de fluxo ascendente e manta de lodo (UASB) tratando água residuária de um abatedouro de aves, como inóculo, em concentração média de 350 mg.L-1, com finalidade de formação inicial do biofilme. A partir do 31º ciclo, o reator foi alimentado somente com ARS. A ARS era preparada em dias alternados e mantida em geladeira (5±1oC) para minimizar as reações bioquímicas fora do reator. Durante o período de enchimento, a ARS era bombeada para o ASBBR, utilizando-se bomba dosadora marca Prominent®, modelo Concept. Antes de chegar ao reator a ARS passava por um trocador de calor (banho-maria) para elevar a temperatura a 30oC (±2°C) evitando, dessa forma, choque térmico sobre os microrganismos. Monitoramento

As análises de sulfeto total (método iodométrico), pH, potencial redox, DQO, e sulfato [SO42-], foram

realizadas de acordo com o Standard Methods for Examination of Water and Wastewater (APHA, 1998), com freqüência de duas vezes por semana. Com a mesma periodicidade determinou-se alcalinidade de acordo com Rypley et al. (1986), e ácidos totais voláteis (ATV) conforme Dilallo and Albertson (1961). Quando o ASBBR apresentou estabilidade em redução de sulfato realizaram-se perfis temporais das variáveis DQO, [SO4

2-] e ácido acético determinado por cromatografia gasosa (Moraes et al., 2000) para efeito de modelação cinética. Para eliminar a interferência do sulfeto na determinação da DQO, amostras do efluente do ASBBR foram tratadas com sulfato de zinco em excesso para precipitação do sulfeto insolúvel (ZnS), o qual era removido, posteriormente, por centrifugação e filtração em membrana de 1,2 µm.

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental As concentrações de metano no biogás foram determinadas por cromatografia gasosa utilizando-se cromatógrafo marca Gow-Mac equipado com detector de condutividade térmica (série 150) e coluna “Porapack-Q” (comprimento de 2 metros, e diâmetro interno de 1/4 pol – 80/100 mesh), utilizando hidrogênio superseco como gás de arraste a vazão de 1 mL.s-1. O volume de biogás produzido foi medido por deslocamento de líquido, com ponto de captação de gás na parte superior do reator e na descarga de efluente. O efluente descarregado do reator era transferido para um garrafão de 10 litros, deslocando o ar em direção a um frasco de mariot e, proporcionalmente, deslocando o líquido para a proveta de medição. A diferença entre o volume total de água deslocada do frasco de mariot e o volume drenado do reator correspondeu ao volume de biogás liberado juntamente com o efluente do reator (Silva, 2005). Modelação cinética

Para identificação das principais rotas de consumo de substratos orgânicos foi utilizado um modelo cinético envolvendo reações de primeira e segunda ordens baseado no diagrama adaptado de Colleran et al. (1995) que representa a degradação de moléculas poliméricas em ambiente anaeróbio e com presença de sulfato (Figura 2). O modelo foi simplificado partindo-se da matéria orgânica (MO) representada por polímeros, monômeros e intermediários de fermentação. Ácido acético (Hac) foi considerado como intermediário no modelo para distinção das rotas de degradação de substratos orgânicos: acetogênica e não-acetogência (Figura 3).

Monômeros

Produtos de Fermentação

H2 e CO2 Acetato

CH4, CO2 e H2S

BA

BR

S

BA

BA

BR

S

BA

AM

BR

S

AM

BR

S

Figura 2: Rota de Degradação de Compostos Orgânicos Monoméricos em Ambiente Anaeróbio com

Presença de Sulfato (Adaptado de COLLERAN, 1995).

MO – DQO (S 1 )

SO 4 2 - (S3) Hac-DQO (S2) Produtos Finais

k 2S

k 1S

k 1A k3S

k3M

Figura 3: Diagrama do Modelo Cinético Simplificado para Descrição das Rotas de Utilização de

Substratos Orgânicos em Reatores Anaeróbios com Presença de Sulfato. Na Figura 3, S1 é a matéria orgânica quantificada na forma de DQO, exceto ácido acético, Hac-DQO ou S2 representa a concentração de ácido acético expressa em DQO, S3 representa a concentração de sulfato, k1A é a constante cinética da reação de primeira ordem que representa o consumo de S1 por BA, k1S é a constante cinética da reação de segunda ordem que representa a oxidação incompleta de S1 por BRS, k2S é a constante cinética da reação de segunda ordem que representa a oxidação completa de S1 pela via não-acetogênica, por BRS, k3M é a constante cinética da reação de primeira ordem que representa o consumo de ácido acético (S2) por AM, e k3S é a constante cinética de segunda ordem que representa o consumo de Hac (S2) por BRS. O modelo cinético gerou o sistema de equações diferenciais composto pelas Equações 1 a 3.

31231112111 CSCSkCSCSkCSkCSk

dtdCS

SSMA −−−−= (1)

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

31323311112 CSCSkCSkCSCSkCSk

dtdCS

SMSA −−+= (2)

3133123113 CSCSkCSCSkCSCSk

dtdCS

SSS −−−= (3)

No sistema de equações diferenciais, CS1, CS2, e CS3 representam as concentrações (mg.L-1) de S1, S2 e S3, respectivamente. Esse sistema de equações diferenciais foi resolvido numericamente pelo método de Runge-Kutta de 4a ordem, utilizando o programa desenvolvido no Microsoft Excel® por Debastiani (2002). Os valores iniciais das constantes cinéticas (k1A, k1S, k2S, k3M e k3S) foram arbitrados e, utilizando a ferramenta “Solver” do Microsoft Excel®, foram minimizados os desvios entre os valores teóricos e os observados experimentalmente. Dessa forma, foram obtidos os valores das constantes cinéticas otimizados. Com a obtenção das constantes cinéticas obteve-se o perfil das velocidades aparentes (rap) de utilização de substratos orgânicos por BA, BRS e AM. RESULTADOS

O ASBBR contendo biomassa imobilizada em carvão vegetal apresentou estabilidade em redução de sulfato a partir do 63o, 36o, e 38o ciclos, tratando água residuária sintética (ARS) conforme as condições A, B, e C, respectivamente. Nessas condições as eficiências médias em redução de sulfato foram: 98% (±1%), 96% (±2%), e 34% (±4%) e, as eficiências médias em remoção de DQO foram: 81% (±8%), 56% (±5%), e 69% (±5%), respectivamente. A Tabela 1 apresenta os valores das variáveis monitoradas no efluente do ASBBR durante o tratamento de ARS nas três condições de relação DQO/[SO4

2-]: 3,2; 1,3; e 0,4.

Tabela 1: Valores Médios das Variáveis Monitoradas no Efluente do ASBBR.

Relação DQO/[SO42-]

Variáveis 3,2 1,3 0,4 pH 7,2±0,2 7,0±0,1 8,1±0,3

Alcalinidade Total (mg.L-1) 779±99 907±81 1.163±222 Alcalinidade a Bicarbonato (mg.L-1) 746±94 760±103 1.132±230

Ácidos Totais Voláteis (mg.L-1) 47±19 119±26 43±22 Sulfato (mg.L-1) 7±3 26±15 1.531±209 Sulfeto (mg.L-1) 44±16 110±23 114±20 DQO (mg.L-1) 170±70 415±47 291±27

Remoção de DQO (%) 81±8 56±5 69±5 Remoção de Sulfato (%) 98±1 96±2 34±7

Os valores de concentrações de ATV foram baixos durante o tratamento de ARS nas condições A (47 m g.L-1) e C (43 mg.L-1), indicando que a matéria orgânica foi, preferencialmente, degradada pela via não acetogênica e que houve interação sintrófica entre BRS e AM acetoclásticas, as quais consumiram Hac eventualmente excretado pelas BRS que oxidam parcialmente substratos orgânicos e pelas BA. Na condição B, a concentração de ATV média medida no efluente foi maior (119 mg.L-1) indicando que, nessa condição, a matéria orgânica pode ter sido parcialmente oxidada por BRS e houve inibição de microrganismos que consomem ácido acético. Considerando o equilíbrio químico para o H2S (Equação 4) e a constante de equilíbrio para a conversão de H2S a HS- igual a 13,05x10-8 a 30oC (LAWRENCE E MCCARTY, 1966), as concentrações de H2S e HS- foram estimadas a partir da concentração de sulfeto total (Tabela 1). Para a condição A, os valores obtidos para essa formas de sulfeto foram: 26±7 mg.L-1 (59% [ST]) e 18±10 mg.L-1 (41% [ST]), respectivamente. Na condição B, tratamento de água residuária sintética com relação DQO/[SO4

2-] igual a 1,3; H2S representou 51% da concentração de sulfeto total e, na condição C, apenas 7%, indicando predominância do sulfeto como HS-, nessa última condição.

][]][[

21 SH

HHSk+−

= (4)

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental O volume médio de biogás diariamente produzido durante o tratamento de ARS na condição A foi 260 mL, com 13,8% de metano (CH4). Durante o tratamento de ARS nas condições B e C não foi detectado metano no biogás. Exames por microscopia ótica realizado em amostras do material suporte após o tratamento de ARS na condição B indicaram a presença de morfologias semelhantes a arqueas metanogênicas. Entretanto, a atividade metanogênica nessa condição pode ter sido inibida ou metano foi utilizado como doador de elétrons no processo de biodessulfatação, de acordo com a Equação 5. Na condição C a ausência de atividade metanogênica foi corroborada pelo exame da comunidade microbiana por FISH, na qual não foi detectado arqueas metanogênicas (Silva, 2005). A eficiência média em remoção de DQO nessa condição (69%) indica que o processo sulfetogênico foi limitado pela disponibilidade de doadores de elétrons.

OHSCOSOCH 22

2244 2++→+ −− (5)

As vias de utilização de substratos orgânicos foram identificadas por modelação cinética. As Figuras 4, 5, e 6 apresentam o ajuste do modelo cinético utilizado aos valores das variáveis: DQO, concentração de sulfato, e ácido acético, obtidos experimentalmente, em perfis temporais. A precisão do modelo foi avaliada por teste estatístico de análise de resíduos e de valores extremos. Em todos os casos os testes não foram significativos a nível de 5% indicando similaridade entre os valores teóricos (calculados pelo modelo) e os valores experimentais. Os valores das constantes cinéticas são apresentados na Tabela 2.

0

100

200

300

400

500

0 2 4 6 8 10 12 14

Tempo, h

Con

cent

raçã

o, m

g.L-1

CS1 (T) CS2 (T) CS3 (T)CS1 (E) CS3 (E)

Figura 4: Ajuste do Modelo Cinético aos Valores Empíricos no Tratamento de Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO4

2-] igual a 3,2.

075

150225300375450525600675750

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24

Tempo (h)

Con

cent

raçã

o (m

g.L-1

)

CS1 (T) CS2 (T) CS3 (T)CS1 (E) CS3 (E) CS3 (E)

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Figura 5: Ajuste do Modelo Cinético aos Valores Empíricos no Tratamento de Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO4

2-] igual a 1,3.

0200400600800

100012001400160018002000

0 2 4 6 8 10 12 14Tempo, h

Conc

entra

ção,

mg.

L-1

CS1 (T) CS2 (T) CS3 (T)CS1 (E) CS2 (E) CS3 (E)

Figura 6: Ajuste do Modelo Cinético aos Valores Empíricos no Tratamento de Água Residuária Sintética com Relação DQO/[SO4

2-] igual a 0,4.

Tabela 2: Constantes Cinéticas Determinadas para o ASBBR Contendo Carvão Vegetal Tratando Água

Residuária Sintética com Relação QO/[SO42-] igual a 3,2, 1,3, e 0,4.

Relação DQO/[SO4

2-] k1A (h-1)

k3M (h-1)

k1S L.mg-1.h-1

k2S L.mg-1.h-1

k3S L.mg-1.h-1

3,2 6,64x10-2 4,08x10-1 5,00x10-4 0 4,00x10-4

1,3 4,16x10-2 n.d. 0 2,00x10-4 5,00x10-4

0,4 2,66x10-2 n.d. 0 0 2,00x10-4

n.d. – Não Determinado. O ajuste do modelo cinético aos dados experimentais indicou que, na condição de tratamento de ARS com relação DQO/[SO4

2-] igual a 3,2; a sulfetogênese foi conduzida somente por BRS oxidadoras incompletas de substratos orgânicos, as quais competiram com BA pela matéria orgânica adicionada (Figura 4). O modelo cinético indicou que, no tratamento de ARS com relação DQO/[SO4

2-] igual a 1,3 ocorreu interação sintrófica entre BA, BRS, e interação competitiva entre AM e BRS acetoclásticas (Figura 5). Esses resultados indicam que a matéria orgânica adicionada foi, preferencialmente, oxidada a CO2, via sulfetogênese e metanogênese, concomitantemente. Na condição C, ARS com relação DQO/[SO4

2-], os valores das constantes cinéticas indicaram predomínio da sulfetogênese, e que esse processo ocorreu por conta das BRS acetoclásticas (Figura 6). Os resultados obtidos na análise cinética indicaram que o processo de biodessulfatação, nesse estudo, foi mais eficiente no tratamento de ARS com relação DQO/[SO4

2-] igual a 1,3. Sulfato foi reduzido a sulfeto por BRS oxidadoras incompletas de substratos orgânicos, oxidadoras completas de substratos orgânicos e acetoclásticas. As Figuras 7, 8, e 9 apresentam os perfis das velocidades aparentes (rap) de utilização de substratos orgânicos por bactérias acidogênicas, bactérias redutoras de sulfato e arqueas metanogênicas.

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0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

T em po (h )

rap

(S1)

, mg.

L-1.h

-1

05101520253035404550

rap

(Hac

), m

g.L-1

.h-1

R 1A R 1S R 3M R 3S Figura 7: Velocidades de Consumo de Substratos Orgânicos no ASBBR Tratando Água Residuária

Sintética com Relação DQO/[SO42-] igual a 3,2.

Na Figura 7, R1A representa a velocidade de utilização de S1 por BA – R1S representa a velocidade de utilização de S1 por BRS oxidadoras incompletas - R3M representa a velocidade de utilização de Hac por AM – R3S representa a velocidade de utilização de Hac por BRS. Nessa figura pode ser observado que S1 foi mais rapidamente utilizado por BRS oxidadoras incompletas. AM consumiram mais rapidamente Hac do que BRS.

0 .0

10 .0

20 .0

30 .0

40 .0

50 .0

60 .0

70 .0

80 .0

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

T em po (h)

rap

(S1)

, mg.

L-1.h

-1

0

5

10

15

20

25

30

rap

(Hac

), m

g.L-1

.h-1

R 1A R 2S R 3S Figura 8: Velocidades de Consumo de Substratos Orgânicos no ASBBR Tratando Água Residuária

Sintética com Relação DQO/[SO42-] igual a 1,3.

Na Figura 8, R1A representa a velocidade de utilização S1 por BA – R2S representa a velocidade de utilização de S1 por BRS oxidadoras completas – R3S representa a velocidade de utilização de Hac por BRS. S1 foi consumido mais rapidamente por BRS oxidadoras completas.

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Page 9: II-288 – REDUÇÃO DE SULFATO EM REATOR ANAERÓBIO … · representa a degradação de moléculas poliméricas em ambiente anaeróbio e com presença de sulfato (Figura 2). O modelo

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6

8

10

12

14

16

18

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

T em po (h)

rap

(S1)

, mg.

L-1.h

-1

5

10

15

20

25

30

35

40

45

rap

(Hac

), m

g.L-1

.h-1

R 1A R 3S Figura 9: Velocidades de Consumo de Substratos Orgânicos no ASBBR Tratando Meio Sintético com

Relação DQO/[SO42-] igual a 0,4.

Na Figura 9, R1A representa a velocidade de consumo S1 por BA – R3S representa a velocidade de consumo de Hac por BRS. CONCLUSÕES

Nesse estudo, o ASBBR com biomassa imobilizada em carvão vegetal demonstrou ser aplicável no tratamento de águas residuárias contendo sulfato em processos biológicos anaeróbios. O processo de biodessulfatação utilizando essa configuração de reator é mais eficiente para águas residuárias com relação DQO/[SO4

2-] maior ou igual a 1,3. Em casos em que a relação DQO/[SO4

2-] na água residuária a ser tratada for menor do que 1,3 há necessidade de fonte de carbono e doador de elétrons complementar, como, por exemplo, etanol. Nesse trabalho, a modelação cinética foi uma importante ferramenta para avaliação das rotas de consumo de substratos orgânicos envolvendo bactérias redutoras de sulfato, bactérias acidogênicas e arqueas metanogênicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 10: II-288 – REDUÇÃO DE SULFATO EM REATOR ANAERÓBIO … · representa a degradação de moléculas poliméricas em ambiente anaeróbio e com presença de sulfato (Figura 2). O modelo

23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

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