igreja em cédulas- teologia da prosperidade em poucas palavras

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    Copyright 2015 Bibotalk Produes

    Direo Editorial: Rodrigo Bibo de Aquino

    Reviso Ortogr ca:Joaquim Avelino Jnior

    Capa:Caio Dart

    Diagramao:George, Bibo e JP

    Todas as citaes bblicas foram extradas da Nova Verso Internacional NVI (2012 - Vida)

    Este ebook uma iniciativa do blog Bibotalk.Deve ser referenciado da seguinte maneira:

    AQUINO, Rodrigo. Igreja em Cdulas: a teologiada prosperidade em poucas palavras. BTBooks:

    Joinville, 2015.

    2015

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    SUMRIO

    INTRODUO

    1 As Origens da Teologia daProsperidade

    1.1 Kenneth Hagin e a Con sso Positiva

    1.1.2 O poder da palavra

    2 O Neopentecostalismo e a Teologia daProsperidade no Brasil

    3 Refutando a Con sso Positiva e aTeologia da Prosperidade

    3.1 A Con sso Positiva e o pedir com sabedoria

    3.2 A lei da semeadura

    CONSIDERAES FINAIS

    REFERNCIAS

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    INTRODUO

    A Teologia da Prosperidade ainda um fato na prticareligiosa brasileira. Alimentada pelo neopentecostalismo,ela tem se in ltrado, de certa forma, em todas as leirasdo pentecostalismo. Por exemplo, temos em igrejasdo pentecostalismo clssico cultos denominados da

    vitria, nos quais correntes so feitas a m de que o elreceba uma bno.Com uma cosmoviso diferente da perspectiva do

    evangelho, a teologia da prosperidade distorce textosbblicos para fundamentar suas doutrinas, abandonaos princpios apostlicos e elementos importantes daReforma Protestante.

    No primeiro captulo, trao um per l histrico ebusco pelas origens da Teologia da Prosperidade. Noconsigo ir raiz do movimento, por isso, fao um recortea partir da vida e obra de Kenneth Hagin e a Con ssoPositiva.

    Depois, no segundo captulo, concentro-mena chegada dessa teologia ao Brasil por meio do

    neopentecostalismo e no terceiro captulo, buscorespostas bblico-teolgicas para as heresias dessemovimento. Inclusive, fao uma pequena avaliao da leida semeadura luz da exegese bblica.

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    1 As Origens da Teologia da

    ProsperidadeO que hoje ns chamamos de Teologia da

    Prosperidade (TP a partir daqui) , na verdade, um mosaicode movimentos de cura, prosperidade e poder da f,oriundo dos EUA na dcada de 1940. Mas importante

    ressaltar que antes mesmo da dcada supracitada, jhavia pregadores que tinham como nfase ministerial acura divina e a libertao, como Essek William Kenyon,A. B. Simpson, Aimee Semple McPherson, Oral Roberts,1 s para citar alguns. Porm, foi somente a partir dosanos 1970 que a TP ganhou visibilidade e atingiu vriosmovimentos cristos, devido difuso da Con ssoPositiva por Kenneth Hagin. No poderemos abordar,por falta de espao, todo o desenvolvimento da TP, porisso, vamos dar esse salto histrico e ir direto a Hagin.2

    1.1 Kenneth Hagin e a Con ssoPositiva

    Hagin, pastor, professor e grande difusor daCon sso Positiva, nasceu no Texas, em agosto de 1917.De sade dbil, no teve uma infncia e adolescncianormais, pois sempre vivia acamado e at inconsciente.Nesse perodo, ele relata experincias sobrenaturais de

    1 Kenyon foi sem dvida um dos grandes in uenciadores da Con sso Po-sitiva. E os ensinos de Oral Roberts o estopim da Teologia da Prosperidade.MARIANO, Ricardo.Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismono Brasil. 2. ed. So Paulo: Loyola, 2005. p. 152-53. Cf. tambm HANEGRAA-FF, H.Cristianismo em crise: um cncer est devorando a Igreja de Cristo.Ele tem de ser extirpado! Rio de Janeiro: CPAD, 1996. p. 211ss.2 MARIANO, 2005, p. 151.

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    visitas ao inferno, sendo que na terceira vez, a voz deDeus o tirou de l e o levou novamente ao seu corpo.Essa experincia foi o su ciente para Hagin se converterem 1933 e comear a estudar a Bblia.3

    As palavras do evangelho de Marcos 11.23-24 lhechamaram muito a ateno:Eu lhes asseguro que sealgum disser a este monte: Levante-se e atire-se nomar, e no duvidar em seu corao, mas crer queacontecer o que diz, assim lhe ser feito. Portanto,eu lhes digo: tudo o que vocs pedirem em orao,creiam que j o receberam, e assim lhes suceder .(NVI) Esse texto despertava em Hagin o questionamentodo motivo pelo qual ele no conseguia se livrar de suacondio enferma. Mas depois de muita meditao, eledescobriu o segredo que mudaria a sua vida:

    Naquele momento, vi exatamente o que o versculo [...]signi cava. At ento eu estava esperando para ser curado.Ficava observando as batidas do meu corao para verse efetivamente eu estava curado. Mas o texto diz que euprecisava crer enquanto orava. O ter vem sempre depois docrer. Eu estava com o inverso. Eu estava tentando primeiro tera bno e s depois crer... - Entendi, entendi, eu dizia comalegria. - Entendi o que devo fazer, Senhor. Tenho que crerque meu corao est bom mesmo enquanto estou aqui nacama, mesmo enquanto meu corao no bate bem. Tenhoque crer que minha paralisia j se foi mesmo enquanto estouaqui deitado e desamparado.4

    Depois de curado, comeou sua carreira comopastor batista, mas logo foi afastado da comunidade

    por dar nfase demasiada ao sobrenatural. Isso,inevitavelmente, aproximou-o dos pentecostais de sua

    3 GONDIM, Ricardo. O evangelho da Nova Era: uma anlise e refutaobblica da chamada Teologia da Prosperidade. So Paulo: Abba Press, 1993.p. 23-25.4 Hagin In: GONDIM, 1993, p. 24-25.

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    poca, fazendo com que suas doutrinas se espalhasseme ganhassem notoriedade. Na verdade, no ventre domovimento pentecostal que a Teologia da Prosperidadefoi gerada!5

    Inserido no pentecostalismo, Hagin desenvolveuainda mais o seu fascnio pelo sobrenatural, a pontode se afastar de princpios bsicos da f apostlica,aproximando-se mais de prticas espiritualistas. Emvrios relatos, o papai Hagin, como chamado porseus seguidores e discpulos, conta experincias nasquais pregou partes do discurso completamente forade si, sem conscincia. Ele sempre alegou que nessesmomentos era tomado pela nuvem da glria de Deus.No bastasse esses transes durante a pregao, Hagindirigiu seu ministrio com base em vises.6

    Sua pregao no partia da exegese bblica, masdo relato de suas vises dos encontros com Jesus. Hagin,constantemente, alegava receber orientaes diretas deCristo. Em um desses encontros, um demnio em formade macaco atrapalhou a conversa. O mais irnico nestasituao foi que o prprio Hagin expulsou o demnio,ouvindo de Cristo que se ele no o expulsasse, Jesus nada

    poderia fazer.7

    Outro problema srio de tantas visese ensinos supostamente recebidos diretos do prprioSalvador, o carter inquestionvel que Hagin conferiaa suas mensagens por causa disto. Chegou a dizer quequem duvidasse de sua pregao e ensino, sofreria sriasconsequncias, at mesmo a morte.8

    Todo esse subjetivismo aliado a duvidosas

    5 GONDIM, 1993, p. 25. Cf. tambm HANEGRAAFF, H.Cristianismo emcrise: um cncer est devorando a Igreja de Cristo. Ele tem de ser extirpado!Rio de Janeiro: CPAD, 1996. p. 363.6 GONDIM, 1993, p. 25-27.7 HANEGRAAFF, 1996, p. 363.8 GONDIM, 1993, p. 32-33.

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    experincias sobrenaturais enquadram suas doutrinasmais no esoterismo esprita do que na doutrina dosapstolos. Sem contar que Hagin, por mais que tenhanegado algumas vezes, popularizou os ensinamentos deEssek William Kenyon, criador da Teologia da Con ssoPositiva.

    1.1.2 O poder da palavra

    Essek William Kenyon criou esta teologia a partirdos princpios da Cincia Crist, seita que tenta falar dopoder da mente e feitiaria com linguagem cient ca.

    Mas no precisou ir to longe para expor que f umacon sso, e portanto, o que eu confesso, eu possuo, ouque se pode criar a realidade com as palavras proferidas com

    a boca. Tal con sso cria nova f. Os discpulos de Kenyonfalam de prosperidade como um direito divino, e formularamleis da prosperidade para serem recitadas diariamente pelaspessoas em busca de sade e riqueza.9

    Kenyon trocou o poder da mente pelo poder dapalavra. A passagem de Romanos 10.8 se tornou chavepara os arautos da Con sso Positiva. Eles fazem diferenaentre as palavras rhema e logos (ambas signi cam

    palavra no grego). Ensinam quelogos a palavra escritade Deus, a Bblia, ao passo querhema a palavra faladapor Deus em revelaes e inspiraes a uma pessoa emqualquer poca. Dessa forma, segundo eles, o crentepode repetir com f qualquer promessa contida naBblia e exigir seu cumprimento. O que falado em vozalta, com f, torna-se inspirado. A f, ento, con sso,e com a palavra da f, o el pode trazer existncia oque ele declarar com sua lngua. Seus defensores dizemque o exemplo vem do prprio Deus, que criou novas

    9 ARAJO, 2007, p. 616-17

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    realidades por meio da palavra.10Dessa forma, o crente pode possuir todas as

    bnos, de sade fsica prosperidade nanceira, pormeio do poder de suas palavras. O que ele declara comf j possuir no mundo espiritual, materializa-se, pois oespiritual controla o material, ensinam os defensores daTP.

    Outro fato lamentvel, que nessa teologia ocrente no pede ou suplica a Deus, pelo contrrio, exige,determina, decreta a posse da bno. Pedir e suplicardenota falta de f e intimidade com Deus. Abaixo,citaremos duas falas de pastores que, grosso modo,re etem a crena geral da teologia da prosperidade.

    Orar determinar resultados. Determinamos resultados quandooramos obedecendo Palavra de Deus. A gente leva ao Pai, em

    orao, o nosso problema e diz a Ele que tal problema j foi resolvidoem nome de Jesus. Ns determinamos aquilo que queremos queacontea em nome de Jesus, que Ele assim o far. Nossa orao spode trazer resultados se assim o zermos. Tudo aquilo que vocdeterminar com con ana, com f, em nome de Jesus, ser realizado.A enfermidade, a misria, tudo ser solucionado por Deus (...) Deus j fez todas as coisas de nos deu de antemo. Creia que j recebeutudo aquilo que quer, porque Deus j nos deu. (Manuel Cristo Silva)11

    Ns perdemos muitas bnos de Deus por no conhecermos aPalavra de Deus (...) Se voc tem a palavra de Deus, voc poderoso.Se voc no poderoso, Deus no est com voc. Ns somos sereshumanos, mas quando assumimos a Palavra de Deus como sefssemos deuses poderosos. O crente tem que agir, operar, como sefosse Deus. (sermo de R. R. Soares)12

    De acordo com esses ensinamentos, o el s notoma posse da bno se no crer, se estiver escravizadopor Satans e seus demnios. Isto , as bnos no soalcanadas pela inabilidade do el em confess-las.13

    10 MARIANO, 2005, p. 152-53. Cf. tambm ARAJO, 2007, p. 616-17.11 MARIANO, 2005, p. 154-55.12 MARIANO, 2005, p. 154-55.13 MARIANO, 2005, p. 155.

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    2 O Neopentecostalismo e a

    Teologia da Prosperidade no Brasil

    O neopentecostalismo irrompe no cenrio religiosobrasileiro a partir do m da dcada de 1970, ganhandonotoriedade nas dcadas de 1980 e 1990. O termo

    neopentecostal foi cunhado nos Estados Unidos paraindicar dissidncias pentecostais das igrejas protestantes,posteriormente denominadas de carismticas. Aqui,no Brasil, carismticas so as designaes dadas aosmovimentos dentro da Igreja Catlica Romana e IgrejaEvanglica de Con sso Luterana no Brasil. Sobre onome neopentecostalismo, Mariano prope que opre xo neo mostra-se apropriado para design-la [aterceira onda do pentecostalismo], tanto por remeter sua formao recente como ao carter inovador doneopentecostalismo.14 Como j exposto acima, a terceiraonda do pentecostalismo brasileiro rompe com as nfasesteolgicas e comportamentais das duas primeiras ondas.Arajo a rma:

    Do mais nfase ao louvor e so mais exveis teologicamente,no permanecendo estticos na doutrina, como ospentecostais clssicos. Na dcada de 1990, grande partede seus pregadores comeou a incluir em suas mensagenselementos da Teologia da Prosperidade e da Con ssoPositiva. (...) Distinguem-se tambm quanto aos usos ecostumes.15

    Dessa forma, o neopentecostalismo torna-se uma

    14 Cf. MARIANO, Ricardo.Neopentecostais: sociologia do novo pentecos-talismo no Brasil. So Paulo: Loyola, 1999. p. 33.15 Cf. ARAJO, Isael.Dicionrio do movimento pentecostal. Rio de Janei-ro: CPAD, 2007. p. 505-506.

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    manifestao religiosa para um Brasil urbanizado e emcrise econmica nunca vista antes na histria do pas.16 A globalizao da economia foi, de certa forma, a molapropulsora para o surgimento do neopentecostalismo,fato comprovado nas estratgias evangelsticas utilizadaspelas igrejas representantes dessa onda pentecostal, queproliferaram a mensagem da teologia da prosperidadee da con sso positiva.17 O historiador Martin Dreherreconhece a mudana na identidade protestantecausada pelo neopentecostalismo. Segundo Dreher,os elementos da religiosidade popular que antes eramrefutados pelo protestantismo, agora fazem parte de suateologia, ocupando muitas vezes lugar de destaque naliturgia do culto. Ocorre tambm uma nfase na aodos demnios, os quais, de acordo com os pregadores

    do neopentecostalismo, so os responsveis por todosos males; o ser humano abandona o status de pecador,e o pecado no mais a fonte do mal. Dreher escreve:

    Por isso, no h mais a necessidade de pregar arrependimentono sentido do protestantismo tradicional. No h mais o acentono livre-arbtrio; esse acento, alis, se torna impossvel porqueo ser humano presa dos demnios. A nica possibilidadeque lhe resta negociar com Deus. Sinal de delidade a Deus o dzimo. O dinheiro, alias, o sangue da Igreja do SenhorJesus, na expresso do Bispo Edir Macedo.

    Assim percebemos que o neopentecostalismo rompecom doutrinas do pentecostalismo clssico e algumasigrejas do deuteropentecostalismo signi cativamente.

    O neopentecostalismo se afastou tanto dos

    princpios do pentecostalismo bem como dos pilares da

    16 As desigualdades sociais no Brasil. Disponvel em . Acesso em: 09 de mar de 2008.17 Cf. GUTIRREZ, Benjamim F.; CAMPOS, Leonildo Silveira, (Ed.).Na forado esprito os pentecostais na Amrica Latina : um desa o s igrejashistricas. So Paulo: Pendo Real, 1996. p. 91.

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    Reforma Protestante que Robinson Cavalcanti relata:

    Lucidez e coragem teve Washington Franco, em suadissertao de mestrado na Universidade Federal de Alagoas,quando classi cou o fenmeno representado pela IURD depseudo-pentecostalismo: algo que no .

    E ainda:Se o pseudo-pentecostalismo no pentecostalismo, nemtampouco evangelicalismo, tambm no protestantismo.O discurso e a prtica dessa expresso religiosa indicam ainexistncia de vnculos ou pontos de contatos com a ReformaProtestante do Sculo 16: as Escrituras, Cristo, a graa, a f.Chamar o bispo Macedo de protestante de fazer tremer oMuro da Reforma, em Genebra, e os ossos de Lutero e Calvinoem seus tmulos.18

    No Brasil, telogos e socilogos concordam que aporta de entrada da TP no pas se deu por meio da IgrejaUniversal do Reino de Deus e congneres.19 Suas prticaslitrgicas e pregaes apresentam ao el s tcnicase sadas para a aquisio da cura e da prosperidade.Coisas to estranhas ao evangelho de Jesus, que maisparecem prticas religiosas afro-brasileiras, recheadas demisticismo e superstio. Por exemplo: o uso do copodgua, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abenoadas,pentes santos, kit de beleza da rainha Ester, leos deoliveiras de Jerusalm, guas do Jordo etc. A criatividadedos lderes sem limites e a credulidade do povo

    18 CAVALCANTI, R. Pseudo-pentecostais: nem evanglicos, nem protes-tantes. Disponvel em Acesso em 21de setembro de 2011.19 FRESTON, Paul. Breve histria do pentecostalismo brasileiro. In: ANTO-NIAZZI, Alberto (et al.).Nem anjos nem demnios: interpretaes sociol-gicas do pentecostalismo. Rio de Janeiro: Petrpolis, 1994. p. 146.

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    inacreditvel.20No se pode negar que o neopentecostalismo

    adaptou, de certa forma, a mensagem pentecostal para ohomem ps-moderno e capitalista, contudo, a perguntaque surge se tal atitude foi boa. O pastor Elienai CabralJr. acredita que no. Acerca disso, ele escreve:

    O neopentecostalismo nasceu do adiamento pentecostal dare exo. Digo adiamento, porque no questiono a ausncia devocao para re etir de qualquer novo fenmeno religioso. Ahistria rati ca o fato. Mas a di culdade de se reinventar comomovimento, a rigidez postergada da irre exo ocasionou umassura do tamanho do neopentecostalismo.21

    O neopentecostalismo, ao adaptar-se, abandonouelementos marcantes da raiz pentecostal e incorporououtros, muitas vezes, avessos teologia pentecostalde raiz. Nessa tentativa de atualizao da mensagempentecostal, o neopentecostalismo encontrou salvaono caminho largo (Mt 7.13). H uma valorizao daconcretizao das promessas de Deus aqui e agora,perdendo-se a esperana escatolgica.

    20 NICODEMOS, A. L.O que esto fazendo com a igreja: ascenso e quedado movimento evanglico brasileiro. So Paulo: Mundo Cristo 2008. p. 28.21 CABRAL JR, Elienai. Meu pentecostalismo revisitado. Disponvel em. Acesso em: 27 de mar de 2008.

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    3 Refutando a Con sso Positiva

    e a Teologia da Prosperidade

    No teremos espao para refutar todas asdistores da TP, por isso, focaremos na questo dosdzimos, ofertas e pobreza. Mas isto no inibe que outrosaspectos sejam analisados. Todavia, a nfase recai naquesto do dinheiro, porque a prpria TP gira sobre esseeixo capitalista e, por ele, envolve-se em escndalos queganham repercusso na mdia nacional.22

    Defendendo a ideia de que o sangue de Jesus tempoder sem limites para livrar o el de todas as tribulaesdessa vida, garantindo-lhe sade total e prosperidadesem m, a TP impe uma condio determinante paraque isto acontea: a f, que expressa pela doao. Noimporta a condio de vida do el, se ele quer todasas benesses do Reino aqui e agora, ele precisa fazersacrifcios nanceiros. Por meio desses sacrifcios, Deus,que o dono da prata e do ouro e, por isso contraa pobreza, segundo defendem, agir em prol do el,tirando-lhe dessa condio nanceira precria, banindotodos os males. Edir Macedo a rma que esta aautntica teologia da libertao, feita a partir dos pobres,porque lhes oferece a possibilidade de superao dos

    22 Prova disso foi a denncia feita pelo Ministrio Pblico Federal (MPF)na qual Edir Macedo e outras trs pessoas ligadas IURD so acusados de lavagem de dinheiro e evaso de divisas, formao de quadrilha, falsidadeideolgica e estelionato contra is para a obteno de recursos para aIgreja. MPF denuncia Edir Macedo por evaso de divisas e estelionato. Dis-ponvel em: < http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/mpf-denuncia-e-dir-macedo-por-evasao-de-divisas-e-estelionato/n1597206098439.html>Acesso em 23 de setembro de 2011.

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    males da pobreza. Ela um protesto contra a pobreza.23A pergunta que esta concepo levanta : a

    pobreza fruto de um insu ciente relacionamentocom Deus, como falta de f? Isso quer dizer que quem rico, independente da relao com Deus, umapessoa abenoada? Claro que no! A pobreza at podeser gerada pela desobedincia ao Senhor, mas isso um caso, no a regra, a nal, a maioria dos pobres sogerados pela m administrao e distribuio de renda,irresponsabilidades e uma srie de outros fatores deordem scio-econmica. luz da Bblia, seguindo essepensamento, todos ns deveramos ser pobres, poistodos ns somos pecadores!

    A Palavra de Deus jamais tratou os pobres comdesdm, como se fossem amaldioados.24 J no AT

    existiam pobres entre o povo eleito de Deus, que inclusivepromulgou leis no intuito de ajud-los (Dt 15.4ss). EmLevtico 25.10ss Deus proclama o ano do Jubileu, quetinha como objetivo, por meio de medidas econmicas,limitar o direito propriedade e explorao do trabalhoalheio. Era uma forma de evitar a pobreza, uma vez quea cada cinco dcadas a sociedade voltava ao estado de

    igualdade.25

    No NT, a busca pela erradicao da pobrezacontinua e a soluo proposta no de ordem espiritual,mas social. Jesus Cristo incentivou uma nova sociedade,na qual o governo trabalharia no servio a todos. Naspalavras de Ariovaldo Ramos:

    23 PASSOS, Joo Dcio.Pentecostais: origens e comeos. So Paulo: Pau-linas, 2005. p. 72.24 ROMEIRO, Paulo.Super Crentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin,Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. 4. Ed. So Paulo: MundoCristo, 1993. p. 43.25 RAMOS, Ariovaldo. O que Edir Macedo diz e o que a Bblia diz sobreriqueza e pobreza. In:Ultimato. Viosa: Ultimato, Julho Agosto de 2008.p. 22.

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    Na sociedade do Cristo, o poder deve ser exercidodessa forma para que ela seja um espao em que:

    -- o uso da terra seja regulamentado tendo em

    vista o bem de todos, pois Deus no admite que algumpossa comprar casa sobre casa e terra sobre terra atser o nico morador do lugar (Is 5.8). Na sociedade doCristo a terra tem de ser repartida entre todos, pois para todos;

    -- a riqueza seja distribuda com equidade, pois

    Deus quer que quem colheu demais no tenha sobrando,e quem colheu de menos no tenha faltando (2Co 8.15);haja conscincia de coletividade; o imposto seja uminstrumento legtimo de distribuio de renda;

    -- o trabalhador usufrua da riqueza que produz,pois ele digno de seu salrio (Lc 10.7). No se podeamordaar o boi que debulha o milho (1Tm 5.18), isto, aquele que produz deve ser o primeiro a usufruir doque produziu. Esta seria uma sociedade de trabalhadorespara trabalhadores;

    -- a criana tenha prioridade, pois Deus no querque nenhum dos pequeninos se perca e ameaa comduras penas a sociedade que desviar as crianas de suavocao divina: vocao sade, educao, segurana, longevidade, ao emprego, en m, a uma vida que possaser celebrada;

    -- os rfos e as vivas, isto , os que tudoperderam, no quem desamparados; ao contrrio, parteda produo deve ser destinada exclusivamente paraestes, para que no haja misria na sociedade. Trata-sede uma sociedade em que todos desfrutem do direito

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    dignidade; uma sociedade de cidados, pois s onde hdignidade h cidadania;

    -- o idoso seja referencial de sabedoria, nunca

    um fardo, pois na Bblia ele o conselheiro que ajudao jovem na sua caminhada e por este visto como ummentor, como guardio dos valores que devem norteara sociedade, como algum que deve ser honrado, ocidado por excelncia, pois construiu e legou para asgeraes que o sucedem.

    RAMOS, Ariovaldo. O que Edir Macedo diz e o quea Bblia diz sobre riqueza e pobreza. In: Ultimato. Viosa:Ultimato , Julho Agosto de 2008. p. 24-25

    Fica evidente, a partir do texto do pastor AriovaldoRamos, que a ferramenta da qual a igreja dispe paracombater a pobreza o servio e no sacrifcios de tolo!

    Muitos pregadores da TP incentivam seus eisa darem ofertas exorbitantes e a fazerem verdadeirossacrifcios nanceiros. Silas Malafaia, por exemplo, em

    seu programa de televiso, j chegou a pedir sementesde f de R$ 900 e R$ 1.000. Em outra ocasio, disse quea pessoa, para ter a casa prpria, precisaria pegar o valordo aluguel, dividir em tantas parcelas quanto pudesse,dentro do perodo por ele estipulado, e semear noministrio dele. Para os que j estivessem pagando acasa prpria, seria necessrio pegar o valor da prestao

    e, tambm, semear, para que Deus abenoasse ata quitao do imvel. E no para por a. Silas pede aoferta especial at mesmo para quem mora de favor,orientando a pessoa a sacri car o pagamento de algumservio informal, para poder sair dessa misria, dessa

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    escravido.26Esse tipo de orientao espiritual leva o crente a

    crer em Deus pelos motivos errados. Refutando umcomentrio da Bblia de Estudo Batalha Espiritual e VitriaFinanceira, que a rma que a pobreza escravido, entreoutros desvios bblicos, o pastor Altair Germano diz:

    Pobreza no escravido, trata-se apenas de uma condioscio-econmica, fruto do pecado, da acomodao, dainjustia social, do egosmo e de outras mazelas. Voc podeser pobre, e mesmo assim, no ser escravo da pobreza.Voc pode ser pobre e ser feliz! Joo Batista (Mt 3.4), Jesus(Lc 2.21-24 com Lv 12.8), Pedro e Joo (At 3.1-6), Paulo (2Co 6.10) e tantos outros servos de Deus, apesar de pobresno eram escravos da pobreza. preciso lembrar que ariqueza tambm pode promover escravido (Mt 6.19-24).Desta maneira, no a pobreza ou a riqueza em si que tornaalgum escravo, mas sim a forma como lidamos com essascondies scio-econmicas.27

    ser antibblico pensar que em nossa congregaono teremos irmos e irms pobres. O prpriopentecostalismo nasceu entre os pobres e marginalizados,

    e muitos permanecem nesta condio at hoje. O alvo davida crist o relacionamento com Cristo, seja na pobrezaou riqueza. Na verdade, o estilo de vida apregoado peloNT simples e livre de pompa.

    Podemos ser pobres e at passar necessidades, que

    26 No YouTube, basta procurar por Silas Malafaia Sementes que voc acha-r esse programa no qual ele lana essa proposta. E muitos outros em queele desa a os is a ofertarem para seu ministrio. Disponvel em: < https:// www.youtube.com/watch?v=ztQSS1_hgHw > Acesso em 20 de dezembrode 2014.27 GERMANO, A. A pobreza na perspectiva da Bblia de Estudo BatalhaEspiritual e Vitria Financeira. Disponvel em Acesso em 27 desetembro de 2011.

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    ainda assim, continuaremos sendo lhos de Deus. Cristono veio trazer prosperidade nanceira nem nos livrar detodas as situaes periclitantes da vida, mas redirecionarnosso foco para Deus, que no priva seu povo do deserto,mas atravessa junto!

    3.1 A Con sso Positiva e o pedir com

    sabedoriaComo j exposto acima, o el no deve pedir as

    coisas a Deus, mas determinar em nome de Cristo. R. R.Soares declara: Usar a frase se for a Tua vontade emorao pode parecer espiritual, e demonstrar atitudepiedosa de quem submisso vontade do Senhor, mas

    alm de no adiantar nada, destri a prpria orao.28

    O que os expoentes da TP dizem e fazem aqui noBrasil mera repetio do que outros j falaram e zeramnos EUA. Kenneth Hagin ao comentar Joo 14.13, quediz E eu farei o que vocs pedirem em meu nome, paraque o Pai seja glori cado no Filho. O que vocs pediremem meu nome, eu farei. (NVI), a rma que pedir signi ca

    tambm exigir. Ele l o versculo quatorze da seguinteforma: O que vocs exigirem em meu nome, eu farei.29O verbo pedir que aparece no versculo em

    questo, em grego (aite ), sugere, na maioria dos casos,a atitude de um suplicante, a petio daquele que estem posio inferior quele a quem a petio feita; porexemplo, no caso dos homens pedindo algo a Deus (Mt

    7.7).30 No somos iguais a Deus, por isso, no exigimos28 SOARES, R. R. In: ROMEIRO, 1993, p. 37.29 ROMEIRO, 1993, p. 36.30 VINE, W. E. pedir . Dicionrio Vine: o signi cado exegtico e expositivodas palavras do Antigo e do Novo Testamentos. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.p. 860.

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    ou determinamos, mas suplicamos e pedimos a Suavontade, assim na terra, como no cu!

    3.2 A lei da semeadura

    Esse cncer que tem corrodo a igreja de Cristoem todo o mundo gera uma cosmoviso distorcida darealidade. A TP prepara seus seguidores somente para asbenesses da vida, sem orient-los para as adversidadesda vida que, inevitavelmente, sobrevm sobre todos oslhos de Deus, a nal, nesse mundo teremos a ies.

    H tempos venho pensando sobre ofertas, dzimos,bno de Deus, lei da semeadura e o que tudo issotem a ver com a teologia da prosperidade. Creio, apartir da Bblia, que Deus abenoa nanceiramente seupovo. Defendo a prtica dos dzimos e ofertas para amanuteno da igreja local e seus projetos. E acreditoque o Senhor olha com bons olhos o corao grato.

    Porm, a coisa comea a car estranha quandoesses elementos deixam de ser uma parte do culto e doviver cristos para se tornarem o centro de um discurso

    e liturgia, no af de ludibriar o povo e prometer bnossem m para o ofertante. Isso Teologia da Prosperidadee leva a maioria das pessoas a ofertarem pelos motivoserrados. A oferta deixa de ser uma manifestao degratido para se tornar uma moeda de troca.

    Constantemente, os arautos da prosperidade seutilizam de 2Co 8-9, principalmente dos versculos 6-11

    do captulo 9, para embasar sua mensagemtoma-l-d-c . Mas ser que luz do seu contexto imediato essestextos podem ser utilizados para dizer que se voc ofertarmuito Deus vai lhe abenoar muito? Ser que esse tipode prtica que o apstolo Paulo est incentivando? Estmesmo Deus preso a essa dinmica da semeadura, na

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    lei da recompensa? Vamos ento, panoramicamente,analisar esses textos; para tanto, muito importante quevoc abra sua Bblia e v conferindo as referncias.

    2Co 8.1-6 Nos primeiros versculos do captulo 8, Paulo

    esclarece aos corntios, uma igreja abastada, comoos irmos macednios foram generosos na oferta igreja de Jerusalm, mesmo estando em condies deprofunda pobreza (v.2). Paulo exalta a voluntariedadedeles em ofertar para a coleta, a alegria em ajudar osirmos, tambm pobres, em Jerusalm. O exemplo paraa igreja de Corinto, e para ns hoje, o abenoar paraajudar, e no para ser abenoado.

    2Co 8.7-15 Aqui, Paulo deixa claro que no est imputando umaordem aos irmos (v.8), est apenas dando sua opinio(v.10), expondo o exemplo dos macednios e do prprioCristo, para que eles sejam generosos na coleta. No soas qualidades materiais dos irmos de Corinto que soexaltadas por Paulo, mas seus bens interiores (f, palavra,

    cuidado), ou seja, no por muito terem que devemofertar, mas por terem conscincia da importncia deajudar o prximo. No texto em questo, o apstolo tomacuidado para no ser visto como explorador, deixandoos corntios constrangidos a ofertarem mais s porquepossuem mais recursos. Nada disso! A oferta autntica segundo o corao; ofertar e ajudar uma graa que

    deve ser praticada pelos cristos. isso que o apstoloquer ensinar igreja: vocs precisam demonstrar esseamor, e essa coleta pode ser uma oportunidade.

    No v. 9, Paulo deixa claro que os corntios conhecemo conceito de graa, do amor que se doa; acerca disso elediz: Pois vocs conhecem a graa de nosso Senhor Jesus

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    Cristo que, sendo rico, se fez pobre por amor de vocs,para que por meio de sua pobreza vocs se tornassemricos. Voc no precisa ser exegeta para entender deque tipo de riqueza Paulo est falando aqui. So riquezasinefveis, no consumidas pela traa e pela ferrugem. Amaior riqueza que um ser humano pode experimentar sair do status inimigo de Deus para lho de Deus. Issono tem preo!

    No m desta percope, Paulo fala da igualdade quedeve haver entre o povo do Senhor, trazendo mentedeles a proviso de Deus no deserto com o man, ondeningum tinha demais ou de menos.

    Vale ressaltar ainda que Paulo no est falandoque quem rico deve doar tudo para os irmos pobres;ele quer apenas conscientizar a igreja no apoio aos

    necessitados. E para ns, que dispomos de todo o NT namo, devemos linkar essa passagem com outras, a m determos uma ideia mais clara da vontade de Deus. E mevem mente 1Jo 3.16-17 Nisto conhecemos o que oamor: Jesus Cristo deu a sua vida por ns, e devemos dara nossa vida por nossos irmos. Se algum tiver recursosmateriais e, vendo seu irmo em necessidade, no se

    compadecer dele, como pode permanecer nele o amorde Deus?. Aqui ca claro que dar a vida pelos irmos ajud-los em suas necessidades.

    2Co 9.1-5 No incio desse captulo, Paulo est reforando o

    zelo dos corntios em relao ao levantamento da coleta.

    Diz que est enviando os irmos (Tito e outro irmo)apenas para ajud-los nesse processo. No versculocinco ca evidente a maneira como Paulo enxerga essacoleta: uma ddiva, como expresso da generosidadedaqueles que ofertam. Silas Malafaia em uma de suas

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    pregaes31 erra ao fazer todo um arrazoado em cimada palavra bno, dizendo que oferta bno, e isso favor de Deus e meio de felicidade. Ainda que bno,de modo geral, possa signi car isto, esta anlise dapalavra completamente descabida para esse texto, poisaqui ela no teme ste signi cado, signi ca apenas ddivaaos necessitados. A palavra gregaeulogia /bno nessetexto empregada como generosidade.32 um textosimples e claro, no qual Paulo diz que essa oferta umaddiva generosa, e que mostrar que os corntios noso avarentos. No adianta querer espiritualizar o texto etentar arrancar verdades que ele no quer dizer.

    2Co 9.6-15 No versculo 6, temos a to famosa lei da

    semeadura. Aqui Paulo emprega uma metfora combase na vida agrcola (a regra do campons) como formade incentivar, mais uma vez, os corntios a ofertarem am de remover a barreira que poderia estar impedindoa coleta naquela igreja, pois sabemos que Paulo tinhaadversrios em Corinto. A metfora clara em si, eaqui o semear sinnimo de dar. Contudo, e aqui isso

    deve car muito claro, no podemos interpretar Paulo esua lei da semeadura s com base no versculo 6, quede fato soa muito utilitarista e mecnica, mas luz doversculo 10, entendemos que toda semente provm de

    31 Inclusive nessa pregao Silas desa a os blogueiros e crticos de seuministrio a examinarem a sua mensagem e ver se nela contm algum res-qucio de teologia da prosperidade. No preciso dizer que ele se equivocaem vrios momentos e, pelo fato de estar to cheio de si, no percebe maisos problemas do seu discurso. Se quiser conferir, acesse < https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=kDFmctcG2GY> Aces-so em 17 de dezembro de 2014.32 GINGRICH, F. W.; DANKER, F. W.Lxico do N.T. grego/portugus . SoPaulo: Vida Nova, 2003. pg. 88.

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    Deus;33 Ele o doador de toda boa ddiva. Deus abenoaSeu povo para que esse abenoe quem precisa, gerando,ento, louvores a Deus. Esses textos no so garantiasde prosperidade material, mas incentivos para a igrejademonstrar que um povo salvo pela graa gracioso.34

    Obviamente, a bno material no est fora dequesto. Calvino j dizia que devemos entender essacolheita tanto em termos de recompensa espiritual devida eterna como tambm uma colheita de bnosterrenas, com as quais o Senhor agracia o benfeitor.35 Porm, muito importante termos em mente doispontos:

    1 Ainda que Deus abenoe nanceiramente Seupovo, proporcionando uma colheita farta no terreno

    fsico, este no o padro do NT (2Co 8.9; 11.27; Lc 6.20-21,24-25; Tg 2.5)2 No tem cabimento dentro do todo da teologia

    paulina, um incentivo a ofertar no intuito de possuirriquezas e prosperidade nesse mundo, pois para Paulo edemais autores do NT, Cristo j estava retornando parabuscar Seus eleitos. O senso de peregrinao era muito

    forte na igreja primitiva.Na continuao, Paulo fala que a oferta deve

    ser dada com alegria (v.7), pois quem d com tristezae constrangimento no agrada a Deus. Oferta comofruto de coero no gera boa colheita. Agora, prezado

    33 E aqui Silas erra mais uma vez, pois interpreta esse versculo no sentidode que aquele que semeia na vida de quem d muitos frutos prosperarainda mais. Ele esperto, mostra em seu programa projetos sociais e diz,grosso modo, seja meu parceiro que aqui a coisa rende, e voc prospera-r. Mas como vimos no texto, isso um equvoco exegtico.34 BOOR, Werner de.Carta aos corntios . Curitiba: Esperana, 2004. p. 436-437.35 CALVINO, J.2 Corntios . So Paulo: Paracletos, 1995. p. 189.

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    leitor, seja sincero: a forma como esses telepastorespedem suas ofertas no coercitiva? Trazer pregadoresamericanos, ou garantir que Deus prosperar se vocofertar, no uma forma de induo? A ARA (AlmeidaRevista e Atualizada) utiliza a palavra necessidade nesseversculo, e isso interessante, pois muita gente ofertano para abenoar, mas por necessidade, pois precisamelhorar de vida, sair do buraco, e nesse processoliteralmente transforma a oferta em uma aposta, na qualespera ganhar mais que o dobro.

    Os versculos 8 e 9 querem reforar a ideia de quetoda nossa semeadura fruto da graa de Deus agindono Seu povo e, por meio dele, suscitando louvores ao Seunome (v.15). O versculo 10 rati ca essa ideia mostrandoessa cooperao entre o divino e o humano.

    Nos versculos seguintes ca evidente que aqueleque generoso na doao enriquecido na simplicidade(esse o sentido a partir do texto grego36). Paulo reforanos v.12-13 a importncia dessa coleta para a igrejade Jerusalm e como esse ato representa a obedinciadas igrejas gentlicas ao senhorio de Cristo. E isso temcontexto interessante, pois sabemos que as igrejas

    gentlicas no foram aceitas imediatamente pela igrejame em Jerusalm (At. 15). Essa coleta no alegrar ossantos em Jerusalm s pela quantia em dinheiro quereceberam, mas pela evidncia da ao de Deus entre osgentios na obedincia ao evangelho de Cristo.

    Paulo encerra o assunto falando mais uma vez dagraa de Deus, a mola propulsora de toda essa ao da

    igreja, que mostra a fora do amor e da unio, nessecaso, judeus e gentios servindo ao mesmo Senhor.Muitas outras colocaes poderiam ser feitas,

    mas imagino que esta exposio su ciente paraentendermos essas passagens bblicas. Penso que cou

    36 BOOR, 2004. p. 437.

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    claro que toda oferta e dzimo devem ser manifestaesde gratido, a partir do momento em que ofertamos emformas de esquemas e barganhas, perdemos o sentidoda oferta.

    Ento, que sejamos dizimistas e ofertantes, a m deno deixar a avareza se apoderar de ns, e que sejamossenhores do nosso dinheiro; que ele nos sirva, e no ocontrrio, pois a partir do momento que nos tornarmosescravos dele, perderemos nosso senso de peregrinaoe ofertaremos com segundas intenes, do jeito que oDiabo gosta!

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    CONSIDERAES FINAIS

    Aqui lano umas perguntas: qual o propsito dese pedir tanto dinheiro na televiso? Ser que todo essedinheiro pedido tem um destino nobre, como ajudarpessoas em situao de risco, ou usado para manterum imprio pessoal? Ter tantos horrios na televiso mesmo necessrio?Infelizmente, alguns desses telepastores comearambem, mas a coisa foi cando grande, assim como oorgulho, e o jeito foi apelar usando textos bblicos paraconseguir dinheiro. O que ca evidente nesses homens a sndrome da Torre de Babel; eles querem construir umnome para si, e a pergunta que ca no ar : quando Deusdescer para acabar com esta farra? certo que Deus abenoa nanceiramente Seuslhos; na Bblia temos exemplos de homens prsperos,mas essa condio prspera no era a regra, ela nosmostra muitos outros que viviam de maneira simples esem muitos recursos.

    A Bblia tambm nos adverte que o amor aodinheiro a raiz de todos os males (1Tm 6.10) e quenosso relacionamento com Deus no pode ser pautadopelas bnos nanceiras que dEle recebemos. CaioFbio nos bons tempos a rmou:

    medida que se parte para a nfase do ter, perde-se o ser.Isso porque a f crist uma f baseada totalmente no ser.Em Hebreus 11:1-40 temos um texto que a rma a f. Do v.1 ao 35 se fala daqueles que foram (ser) e tiveram (possuir,conquistar) [...] No entanto, j do v. 35 em diante fala-sedaqueles que foram e no tiveram ... Vejo irmos adeptos dateologia da prosperidade a rmando o ter. Peo ento a elesque leiam Hebreus 11, [onde] a f profunda, genuna, nemsempre a f que garante o ter, mas sempre f que garanteo ser. [...] quando a busca do ter o alvo da vida, o ser se

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    desvanece.37

    O fato da TP ganhar espao em nossas igrejas revelao tipo de crente que elas tm produzido. Pessoas vidaspor bens materiais, que j no ofertam ou dizimam poramor, mas para pr Deus prova e dEle tirar algumproveito. So igrejas que transformam a oferta embarganha! Para os fariseus dos tempos de Jesus, o dzimoera isso, o centro do relacionamento com Deus. Foramcondenados por Cristo por essa atitude (Lc 11.42).

    Acreditamos que as palavras do profeta Habacuquenos versculos 17 e 18 de seu livro sejam ideais paraencerrarmos nossa exposio:

    Mesmo no florescendo a figueira, no havendouvas nas videiras; mesmo falhando a safra de azeitonas,

    no havendo produo de alimento nas lavouras, nemovelhas no curral nem bois nos estbulos,

    ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei noDeus da minha salvao.

    37 FBIO, Caio. In: ROMEIRO, 1993, p. 46.

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    REFERNCIAS

    ARAJO, Isael.Dicionrio do movimento pentecostal. Rio de Janeiro:CPAD, 2007. p. 505-506.As desigualdades sociais no Brasil. Disponvel em . Acesso em: 09 de mar de 2008.BOOR, Werner de.Carta aos corntios . Curitiba: Esperana, 2004.CABRAL JR, Elienai.Meu pentecostalismo revisitado . Disponvel em. Acesso em: 27 de mar de 2008.CALVINO, J.2 Corntios . So Paulo: Paracletos, 1995.CAVALCANTI, R.Pseudo-pentecostais : nem evanglicos, nemprotestantes. Disponvel em Acesso em 21 de setembro de 2011.

    FRESTON, Paul. Breve histria do pentecostalismo brasileiro. In:ANTONIAZZI, Alberto (et al.).Nem anjos nem demnios: interpretaessociolgicas do pentecostalismo. Rio de Janeiro: Petrpolis, 1994.GERMANO, A. A pobreza na perspectiva da bblia de estudo batalhaespiritual e vitria nanceira. Disponvel em Acesso em27 de setembro de 2011.GINGRICH, F. W.; DANKER, F. W.Lxico do N.T. grego/portugus . SoPaulo: Vida Nova, 2003.GONDIM, Ricardo. O evangelho da Nova Era: uma anlise e refutaobblica da chamada Teologia da Prosperidade. So Paulo: Abba Press,1993.GUTIRREZ, Benjamim F.; CAMPOS, Leonildo Silveira, (Ed.).Na fora doesprito os pentecostais na Amrica Latina : um desa o s igrejashistricas. So Paulo: Pendo Real, 1996.

    HANEGRAAFF, H.Cristianismo em crise: um cncer est devorando aIgreja de Cristo. Ele tem de ser extirpado! Rio de Janeiro: CPAD, 1996.MARIANO, Ricardo.Neopentecostais: sociologia do novopentecostalismo no Brasil. 2. ed. So Paulo: Loyola, 2005.NICODEMOS, A. L.O que esto fazendo com a igreja: ascenso equeda do movimento evanglico brasileiro. So Paulo: Mundo Cristo2008.

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    PASSOS, Joo Dcio.Pentecostais: origens e comeos. So Paulo:Paulinas, 2005. p. 72.

    RAMOS, Ariovaldo. O que Edir Macedo diz e o que a Bblia diz sobreriquiza e pobreza. In:Ultimato. Viosa: Ultimato, Julho Agosto de2008. p. 22.

    ROMEIRO, Paulo.Super Crentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin,Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. 4. Ed. So Paulo:Mundo Cristo, 1993. p. 43.

    VINE, W. E. pedir . Dicionrio Vine: o signi cado exegtico e expositivodas palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD,2002.

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    Abaixo alguns podcasts que podem ampliar as re exes

    BTCast #053 O Bom Samaritano (Srie Parbolas)

    BTCast #076 O Rico Insensato (Srie Parbolas/Se7en)

    http://bibotalk.com.br/site/podcast/btcast-076-o-rico-insensatohttp://bibotalk.com.br/site/podcast/btcast-053-o-bom-samaritano
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