igreja de são lourenço

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ESCOLA SUPERIOR DE ARTES DECORATIVAS Fundação Ricardo Espirito Santos Silva Os Azulejos da Igreja de São Lourenço Catarina Mendes Cunha Licenciatura de Conservação e Restauro História do Azulejo II Prof. José Meco Julho/2014 Lisboa

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Azulejos da igreja de são lourenço

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  • ESCOLA SUPERIOR DE ARTES DECORATIVAS

    Fundao Ricardo Espirito Santos Silva

    Os Azulejos da Igreja de So

    Loureno

    Catarina Mendes Cunha

    Licenciatura de Conservao e Restauro

    Histria do Azulejo II

    Prof. Jos Meco

    Julho/2014

    Lisboa

  • Contedo 1 Introduo .................................................................................................................................. 3

    2 So Loureno ............................................................................................................................. 4

    3 Igreja de So Loureno .............................................................................................................. 5

    4 Ciclo dos Mestres ....................................................................................................................... 6

    5 Descrio dos Azulejos ............................................................................................................... 8

    6 Concluso ................................................................................................................................. 10

    7 Anexos...................................................................................................................................... 11

  • 1 Introduo

    Este trabalho foi realizado no mbito da unidade curricular de Historia do Azulejo II, da

    Licenciatura em Conservao e Restauro. Tem como objectivo, contextualizar a Igreja de So

    Loureno de Almancil e estudar os seus respectivos azulejos, obra de Policarpo de Oliveira

    Bernardes.

    Igreja de S. Loureno (matriz de Almancil) situa-se em Almancil, Freguesia de Alman-

    cil, concelho de Loul, distrito de Faro. Classificado Imvel de Interesse Pblico pelo Dec. 35

    443 de 2-1-1946. O templo que hoje se ergue, substitui um pequeno edifcio tardo-medieval,

    que se encontrava em ruinas.

    Para uma melhor contextualizao da Igreja, primeiramente retratada a vida de So

    Loureno, de seguida descrita a histria do edifcio e finaliza com a descrio dos seus azule-

    jos e a sua contextualizao histrica.

  • 2 So Loureno

    So Loureno, o santo espanhol, tambm conhecido como Loureno de Huesta ou Va-

    lncia. Nasceu em 225 e morreu martirizado em 258, no dia 10 de agosto, em Roma. Est entre

    os diconos do incio da Igreja de Roma. Eles eram considerados os guardies dos bens da Igre-

    ja e dispensadores de ajuda aos pobres. O nome Loureno o mesmo que Laureamtenens, que

    significa Coroa feita de Louro. So Loureno foi ajudante do Papa Sisto II e responsvel por um

    centro dedicado aos pobres.

    Em 257, os cristos comearam a ser perseguidos e mortos por ordem do imperador Va-

    leriano I. Em 258, o Papa Sisto II foi decapitado. Conta a histria que, ao caminhar para o lugar

    da execuo, So Loureno caminhava junto ao papa e dizia: Aonde vai sem seu dicono, meu

    pai? Jamais oferecestes o sacrifcio da missa, sem que eu vos acolitasse (ajudasse)!O papa,

    comovido com essas palavras de dedicao filial, respondeu: No estou te abandonando, meu

    filho! Deus reservou-te provao maior e vitria mais brilhante, pois s jovem e forte. Velhice e

    fraqueza faz com que tenham pena de mim. Em trs dias voc me seguir.

    Depois da morte do Papa, o imperador exigiu que a Igreja lhe entregasse todos os seus

    bens, dentro de 3 dias. Vencido o prazo, So Loureno apresentou os pobres que eram acudidos

    pela Igreja e disse ao imperador: Estes so os bens da Igreja. Valeriano, ento, com muita raiva,

    ordenou que Loureno fosse queimado vivo.

    So Loureno o padroeiro da cidade de Huesca, na Espanha. Ele tambm o padroei-

    ro dos diconos.

    Na arte litrgica da Igreja So Loureno representado como um dicono em uma gre-

    lha, com a Bblia na mo. A igreja que o imperador Constantino construiu em sua homenagem,

    fica onde est hoje a igreja de So Loureno Extramuros. a quinta Baslica Patriarcal romana.

    A festa de So Loureno celebrada em 10 de agosto.

  • 3 Igreja de So Loureno

    Trata-se de um templo barroco que veio substituir um pequeno edifcio tardo-medieval,

    que se encontrava em avanado estado de ruina. Este edifico, cuja origem se perde na distncia

    dos tempos, parece ser anterior ao sculo XVI. Segundo o livro de visitas dos visitantes da Or-

    dem de Santiago, existente no Arquivo Paroquial da Igreja Matriz de Loul em 1565,a Ermida

    de So Loureno de Almancil foi reconstruda por testamento de Rui Barreto de Mascarenhas,

    do que se depreende que em 1565 j estava velha e com falta de reparao.

    A nova igreja, da nave nica com capelas laterais e ousia coberta por cpula hemisfrica

    foi construda provavelmente na dcada de 1720 a expensas das gentes locais e em cumprimento

    de um voto feito ao santo numa altura de seca. Os irmos Manuel e Anto Borges, naturais de

    Lisboa, devem ter sido os responsveis pela edificao, segundo a inscrio na abbada que diz:

    Feita no ano de 1730, sendo Vigrio Geral o Ver. Do Dr. Manuel de Sousa Teixeira, Juiz do

    Santo. Em 1849, ao ser abolida a freguesia de So Joo Baptista da Venda e criada a Igreja de

    So Loureno, com a denominao de So Joo Baptista de Almancil.

    O interior encontra-se forrado com azulejos azuis e brancos figurados ilustrando a vida

    de So Loureno. O conjunto, considerado um dos mais importantes da azulejaria portuguesa,

    foi realizado por Policarpo de Oliveira Bernardes em 1730. Por cima da janela uma inscrio

    que indica o nome deste: Policarpo dOliveira Bernardes pintou esta obra de azulejo.

    O retbulo-mor, em talha dourada de estilo nacional, foi realizado por volta de 1735 pe-

    lo mestre entalhador e escultor farense Manuel Martin, o mesmo que ter realizado o arcaz da

    sacristia. O retbulo foi dourado por pintores locais em 1742.

  • 4 Ciclo dos Mestres

    Os comeos do sculo XVIII representam para o azulejo portugus a emergncia das

    grandes personalidades criadoras. De certo modo, a individualizao tambm o reconhecimen-

    to da importncia e da erudio que o azulejo foi entretanto assumido.

    O nome que emerge desde logo e o Gabriel Del Barco, chegando a Portugal em 1669.

    Os seus primeiros trabalhos conhecidos so constitudos por pinturas ornamentais, realizada

    para a Igreja dos Franceses em Lisboa. Apenas em 1690, este passar para a pintura de azulejo.

    J dentro da nova esttica do azul e branco, com frisos de potes ou albarradas, motivos cujo

    sentido decorativo de certo modo transita da pintura de tectos. Foi especialmente nas obras figu-

    rativas que Gabriel Del Barco desenvolveu uma pintura especfica de azulejo. Introduziu no

    azulejo o gosto barroco por envolvimento decorativos associados a uma pintura fluida, liberta

    do conforto rigoroso do desenho, com uma figurao monumental e enquadramentos espaciais

    amplos e cenogrficos, desconhecida em exemplos anteriores da azulejaria portuguesa.

    Antnio Pereira e Manuel dos Santos so outros dois azulejadores activos nos comeos

    do sculo XVIII. O primeiro possui uma biografia pouco conhecida. Os seus primeiros Traba-

    lhos assinados localizam-se no Brasil, na Capela Dourada no Recife (1703) e no Solar Saldanha

    do Salvador; em Portugal assinou um painel na capela-mor da Misericrdia da Vidigueira. O

    conjunto da sua obra revela um crescente distanciamento face aos modelos Holandeses e uma

    gradual aproximao aos esquemas de Gabriel Del Barco. A sua obra caracteriza-se pelo dese-

    nho nervoso e trepidante, contractado com a brancura e cintilao do esmalte.

    Manuel dos Santos insere-se igualmente neste ciclo, discpulo provvel de Gabriel Del

    Barco, terminou o revestimento da capela-mor da Matriz do Sardoal iniciado pelo seu mestre. A

    sua actividade ter terminado cerca de 1725-1735. A sua obra mais importante localiza-se na

    portaria de So Vicente de Fora, em 1710.

    No entanto, Gabriel Del Barco, foi seguramente o nome mais significativo desta primei-

    ra fase. A fase seguinte ser a do apuramento dos processos de representao nomeadamente o

    apuro no rigor do desenho.

    Essa nova gerao ser representada pela famlia Oliveira Bernardes: pelo pai, Antnio

    (c.1660 1732), e pelo seu filho, Policarpo (1695 1778).

    Antnio de Oliveira Bernardes, teve igualmente uma fase de aprendizagem com marcos

    da Cruz. Deste conhecem-se alguns quadros a leo. Nos seus primeiros trabalhos ainda se nota

    alguma influncia dos azulejadores Holandeses e uma certa indeciso quanto pintura. No en-

    tanto, desde logo se nota uma melhoria qualitativa da obra de Bernardes em relao a Gabriel

    Del Barco. Tornou-se o artista mais destacado deste perodo, pela excepcional mestria das com-

    posies e do doseamento das tonalidades azuis, em especial na obteno de efeitos esfumados.

    Na sua oficina formaram-se azulejadores importantes com Teotnio dos Santos e Nicolau de

    Freitas, para alm da influncia que exerceu sobre o mestre P.M.P. Mas como natural a conti-

    nuidade assegurada essencialmente pelo seu filho Policarpo.

    Policarpo de Oliveira Bernardes iniciou a sua carreira artstica no revestimento da cape-

    la-mor da Igreja de So Loureno, em Azeito. Embora influenciado pelo seu pai, este artista

    demonstrou ter uma personalidade artstica bastante definida. Revelou-se um artista mais com-

  • plexo que seu pai e acentuou o caracter barroco e teatral, utilizando tons de azul mais carrega-

    dos.

    Em alguns paneis de azulejo surge uma sigla P.M.P que tem sido entendida como uma

    assinatura de um mestre de um mestre azulejador desconhecido. Este possui uma certa origina-

    lidade e simplicidade no desenho, um acentuado decorativismo das composies estruturais da

    sua obra. Do conjunto dos mestres, P.M.P foi quem criou um maior nmero de obras profanas

    para vrios palcios e que melhor retractou o seu meio.

  • 5 Descrio dos Azulejos

    A Igreja de So Loureno revestida interiormente por azulejos, obra pertencente a Po-

    licarpo de Oliveira Bernardes. Estes representam a vida de So Loureno. Atendendo a que o

    contrato notarial foi realizado no dia 16 de Novembro de 1729 e determinava que os azulejos

    estivessem todos assentes na Primavera seguinte de 1730, Policarpo contou com a ajuda de um

    colaborador.

    Cobrem a cpula, os alados da capela-mor, da nave e da abbada da nave. Os dois pa-

    neis das paredes da ousia representam o santo a distribuir os bens da Igreja pelos pobres e a cura

    de dois cegos, naquela que ficou conhecido como o o milagre do rio Tiber, pode-se ler o dsti-

    co ET THESAUROS ECLESIA DEDIT PAURIBUS.

    Os seis quadros cermicos que decoram os arcos do corpo do templo apresentam-se por

    ordem cronolgica, com incio no lado da Epstola, junto capela-mor, e desenvolvem-se pelo

    lado do Evangelho, a partir da porta. Descendo o altar-mor, no primeiro arco esquerda l-se ao

    alto: NON EGO TE DESERO FILI: POST TRIDUUM ME SEQUERIS. Descreve este painel

    o dilogo entre So Loureno e o Papa So Sisto, quando este ia ser martirizado, lamentando-se

    So Loureno de o Pontfice no o levar consigo para o martrio. So Sisto anima seu dicono

    (So Loureno) dizendo-lhe que trs dias depois ser tambm martirizado.

    No segundo arco h esta inscrio: CIRCUNDIDERUT ME UNDIQUE, ET NON

    ERAT QUI ADJUVARET. Este painel representa a priso de So Loureno, que por ordem do

    Papa So Sisto distribui pelos pobres os tesouros da igreja, isto , as esmolas que lhe eram con-

    fiadas o que deu motivo a ser acusado ao Imperador Valeriano, como possuidor de grandes ri-

    quezas, sendo por isso preso, sem que ningum o defendesse.

    No arco ao centro do qual est a pia de gua benta, l-se: HIC SUNT THESAURI

    ECLESIAE IN QUIBUS CHRISTUS EST. So Loureno apresenta ao imperador os tesouros

    da Igreja, os pobres nos quais Cristo vive.

    No primeiro arco esquerda, notrio a inscrio: DEUM MEUM COLO, ILLI SOLI

    SERVIO ET IDEO NON TOMEO TORMENTA TUA. Trata da intimao feita a So Louren-

    o para renegar a f e adorar os falsos deuses do Imprio a que So Loureno recusou, dizendo

    que os deuses do Imprio no merecem as honras devidas ao Deus verdadeiro ao qual So Lou-

    reno ama e serve.

    A seguir a este arco h outro no qual se l: IN CRATICULA TE DEUM NON NEGA-

    VI. Como So Loureno no renegou f, o seu corpo colocado sobre uma grelha para ser

    queimado a fogo lento a fim de ser maior o seu suplcio, na esperana de se conseguir que rene-

    gue a f a que So Loureno resistiu tenazmente.

    Nos pilares e sobre os arcos esto expostas alegorias s virtudes. A abbada da nave

    mostra a coroao de So Loureno. Na cpula, por entre arquitecturas perspectivas, o orago

    conduzido ao cu. O revestimento cermico prolonga-se pelas paredes da sacristia, apresentando

    um grande rodap de azulejos com motivos decorativos caractersticos do perodo barroco, co-

    mo folhas de acanto e albarradas, entre outros.

  • de realar nesta cena da coroao de S. Loureno, tema do painel central da abbada

    da nave, uma tcnica bem caracterstica de Policarpo em que as sombras e marcas mais car-

    regadas de azul so obtidas atravs do cruza-mento perceptvel de pinceladas distintas.

  • 6 Concluso Este trabalho centralizou-se no estudo dos azulejos presentes na Igreja de So Loureno,

    em Almancil.

    Para o estudo dos azulejos, foi necessrio recorrer a estudo sobre a contextualizao

    destes e a histria da prpria igreja. Foi notrio que esta foi construda em substituio de um

    edifcio tardo-medieval. Este anterior ao sculo XVI, no entanto est registado no livro de

    visitas dos visitantes da Ordem de Santiago, existente no Arquivo Paroquial da Igreja Matriz de

    Loul em 1565, a Ermida de So Loureno de Almancil foi reconstruda por testamento de Rui

    Barreto de Mascarenhas, do que se depreende que em 1565 j estava velha e com falta de repa-

    rao.

    Na realizao dos azulejos, alguns historiadores defendem que o realizador da obra foi

    um colaborador de Policarpo de Oliveira Bernardes e no o prprio. No entanto acredita-se que

    Policarpo na verdade o executador da obra, mas como o prazo de acabamento desta era curto,

    contou com a ajuda de colaboradores.

  • 7 Anexos

    Fig. 1 Igreja de So Loureno

    Fig. 2 - Fachada Posterior

  • Fig. 1 Fachada Principal

    Fig. 4 - Interior da nave principal

  • Fig. 5 Cpula

    Fig. 6 Abobada