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Ficha de EstudoFicha de EstudoFicha de Estudo 113113

Tema

Conhecendo e representando a realidade

Tópico de estudoA Filosofia moral

Entendendo a competênciaCompetência 5 – Utilizar conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da ci-

dadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.

Essa competência refere-se à capacidade de entender a importância da construção da consciência crítica de um

sujeito que participa ativamente do processo democrático. Entender o conceito de cidadania e lutar de forma crítica

pela democracia exigem conhecimento da nossa História, da Filosofia, Sociologia e Geografia.

Desvendando a habilidadeHabilidade 23 – Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.

Dominar esta competência significa identificar correntes filosóficas que colocam, sob a luz da Razão, o problema do

bem e do mal. Além disso, refere-se à capacidade de valorar todo tipo de ação humana de forma a construir um país

mais justo e democrático.

Situações-problema e conceitos básicos

O sequestro do ônibus

Vamos olhar para uma situação hipotética que, infelizmente, já aconteceu várias vezes em nosso país. Imagine um ônibus sequestrado por um assaltante que mantém dez passageiros reféns. A polícia cercou o lugar e conse-guiu estabelecer comunicação com o sequestrador, que está disposto a negociar.

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Durante as negociações, por nervosismo, o assaltante dispara contra um dos reféns, ferindo-o gravemen-te. A polícia tem atiradores de elite posicionados e podem acertar mortalmente o sequestrador, dando fim à situação.

Agora pense bem: no comando de uma operação como essa, você pensaria duas vezes antes de dar a ordem para matar o sequestrador? A vida dele é mais valiosa que as vidas dos dez reféns?

Vamos pensar.Os primeiros filósofos que se incomodaram com a questão do bem e do mal foram os gregos na Antiguidade.

Platão e Aristóteles escreveram sobre a justiça, a virtude e todo tipo de valoração das ações humanas.

Atenção! Valorar é diferente de valorizar. Um quadro se valo-riza, pois seu valor aumenta em quantidade, de 100 para 200, por exemplo. Valorar uma ação é atribuir valor de certo ou errado, o que chamamos de valoração apreciativa ou depreciativa.

Antes de falar sobre o problema do bem e do mal, precisamos estabelecer as condições para que uma ação possa ser valorada.

A ação deve ser livre – É evidente que alguém cuja vida está ameaçada ou até mesmo que está prestes a perder alguém querido, não vai agir em liberdade, mas por pressão. No caso, a ação não é livre.

A ação deve ser racional. Alguém que não é capaz de raciocinar, por problemas mentais, emocionais, ou até mesmo porque ainda é uma criança, vai agir por instinto ou emoção, como os animais. No caso, a ação não é racional.

Com essas duas condições básicas, podemos falar em imputabilidade, ou seja, os efeitos de determinada ação podem ser imputados a quem agiu.

Organizando o problema

Agora que temos as condições básicas para a ação, vamos organizar o problema do bem e do mal.

Em uma sociedade, com uma cultura específica, existem certos valores atribuídos às ações humanas que estão ligados à experiência própria daquela sociedade ou à tradição. A isso chamaremos simplesmente de moral. Na sociedade islâmica, por exemplo, a poligamia é moral, enquanto, na nossa, a monogamia é moral. Na nossa sociedade, há apenas 50 anos, era imoral uma mulher divorciar-se do marido. Percebemos que essa moral muda conforme mudamos de lugar no tempo e no espaço.

Em qualquer sociedade, por outro lado, existem certas regras morais que estão escritas – é a lei. Repare que a lei pode ser divina (de Deus) ou positiva (dos homens). De qualquer forma, as regras estão estabelecidas e cabe a nós respeitá-las. Nenhuma lei pode ser questionada depois que está estabelecida. Caso seja desrespeitada, o criminoso deverá sofrer a pena. No caso da lei divina, então, estamos sujeitos ao dogma, o que significa a im-possibilidade de questioná-la, já que Deus é perfeito e absoluto na sua forma e inteligência.

Por fim, a ética ou filosofia moral também pretende discutir o problema do bem e do mal, da valoração das ações humanas, mas agora sob a luz da Razão. Platão e Aristóteles desligaram-se das tradições e da religião para dar uma luz absolutamente racional ao problema da ética. Assim também o fez Kant, apesar de as questões morais já estarem todas estabelecidas pela verdade da Igreja Católica, das Sagradas Escrituras. A filosofia não toma emprestados os valores das sociedades, da tradição ou da religião. A ideia é usar a lógica e os princípios da razão para refletir, discutir e rediscutir o problema.

Como os filósofos da Antiguidade viam o problema?

Para Platão, o problema do bem e do mal estava circunscrito ao conceito de justiça. Devia ser tratado de forma dialética. Ou seja, enquanto um filósofo apresenta sua ideia do que é a justiça (a tese), outro apresentaria uma contradição dessa ideia (a antítese), para juntos chegarem a uma ideia superior e sem contradições do que

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é a justiça (a síntese). A República de Platão (uma excelente e fácil leitura!) é o livro no qual Sócrates, seu mestre, discute com vários interlocutores acerca desse problema. Para os sofistas (professores de retórica), a justiça era um conceito relativo e o que era justo para uma pessoa poderia não ser para outra. Sócrates leva-os a entrar em contradição e mostra que deve haver uma ideia mais perfeita de Justiça.

Já para Aristóteles, a ética deveria ser orientada pelo conceito de virtude. Diferentemente de Platão, Aristó-teles pensava que toda ação tem um fim. No caso do sequestro do ônibus, por exemplo, o fim do sequestrador era simplesmente o dinheiro e não aquela situação em que foi parar. Menos trágico, o fim buscado por um sapateiro é o sapato que ele está fazendo. Se considerarmos algo que todos os seres humanos buscam, ao mesmo tempo, po-demos chamar de eudaimonia (ou felicidade) este fim comum de todos nós. Note que esse conceito de felicidade é bem diferente do atual. Entendemos hoje por felicidade a satisfação pessoal, individualista e hedonista (de prazeres imediatos). A eudaimonia a que Aristóteles se refere é uma felicidade política. Para o filósofo, a ética (do grego ethos, lar) envolve questões e situações que permitam beneficiar todos os cidadãos de forma justa. Para que isso ocorra, todas as ações devem ser virtuosas, ou seja, devemos encontrar a justa medida, ou o equilíbrio, entre os vícios do exagero e da falta, em todas as nossas ações. Diké, a deusa da justiça na mitologia grega, não carrega uma balança à toa em uma das mãos. Essa noção de uma ação equilibrada, que não exagera, mas também não falta com força, quando necessário, é a diretriz principal da ética de Aristóteles.

Ética na Idade Média

Durante os três primeiros séculos da era cristã, por considerarem essa religião ofensiva, os romanos persegui-ram e mataram milhares de cristãos.

Uma mulher cristã é martirizada sob Nero em uma recriação do mito de Dirce. (Henryk Siemiradzki, 1897. Museu de Varsóvia.)

Porém, com a ascensão do Catolicismo, a Bíblia passou a ser a única referência, no Ocidente conhecido, para discutir o problema do bem e do mal. Os mandamentos eram claros: “Não matarás”, “Não roubarás”, “Não cobi-çarás a mulher do próximo” (mesmo que você tivesse sérios motivos para discordar). O dogma assumiu as rédeas e a filosofia ficou sujeita à Sagrada Escritura.

A questão do Bem e do Mal como objeto da Filosofia vinha de muito antes. Por volta do século III, surgiram algumas escolas, principalmente na Pérsia e na Babilônia, que colocaram questões lógicas e éticas (ou seja, que desafiam a Razão) acerca do problema do Bem e do Mal. A escola Maniqueísta, por exemplo, fundada por Mani, entendia que o Bem e o Mal eram forças opostas representadas por Deus e o Diabo, ou o Espírito e a Matéria, respectivamente. Isso veio a gerar uma série de problemas para a Igreja. Por exemplo, do ponto de vista manique-ísta, o fato de Deus ser Criador onipotente e, portanto, causa eficiente de tudo levaria à conclusão de que foi Ele o criador do próprio Mal na Terra? Outras questões, como a de Epicuro (se Deus é bom, por que não acaba com

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o Mal? Por que não consegue ou por que sente prazer em ver o homem sofrer?), foram colocadas, e os filósofos da Igreja tiveram de lidar com elas durante toda a Idade Média (Ironicamente, por volta do século X aprenderam a lidar com essas questões também usando a violência, nas Cruzadas e depois nos Santos Ofícios!).

Santo Agostinho deu uma resposta interessante a esse problema. Considerou que o mal não é uma força positiva, mas a ausência do bem. Nesse argumento, podemos entender que só há a luz e a escuridão é nada mais que a ausência de luz e não uma força ou objeto com existência própria.

Voltando ao sequestro do ônibus...

Agora vamos nos concentrar no problema que colocamos no início: temos uma situação difícil em nossas mãos. Por um lado, um indivíduo que foi levado por interesses próprios a ameaçar a vida de várias pessoas ino-centes. Por outro, dez vidas de pessoas honestas, cidadãos, trabalhadores, vidas que desejamos preservar.

Nicolau Maquiavel, no século XVI, escreveu um dos livros mais polêmicos da história da Ética – O Príncipe. Nele, o autor (talvez ironicamente) apresenta ao mundo a ética consequencialista, em que “os fins justificam os meios”. No caso do sequestro, essa ética diria que, se temos como objetivo preservar o máximo de vidas possível, deveríamos mover nossa equipe de atiradores e eliminar o assaltante na primeira oportunidade.

O consequencialismo, ou utilitarismo, também foi defendido por Jeremy Bentham na máxima “agir de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar” – princípio do bem-estar máximo.

Já Immanuel Kant, tinha ideias bem diferentes. Para ele, todos temos interesses, impulsos naturais e desejos inexplicáveis, mas é importante que todas as ações humanas sejam movidas por boa vontade. Isso significa que, independentemente da consequência da ação, não podemos ser movidos pelo desejo de matar, mentir ou roubar. Mas como podemos saber qual é o nosso dever, ou seja, quais são as ações realmente movidas por boa vontade?

Para isto, vamos ao princípio do Imperativo Categórico:

“Age de tal forma que tua ação possa sempre transformar-se em uma máxima universal”.

O imperativo categórico se desenvolve na seguinte máxima, na mesma obra (Fundamentação da Metafísicados Costumes):

“Age de tal forma que trates a humanidade, na tua pessoa ou na pessoa de outrem, sempre como um fim e nunca apenas como um meio”.

Se voltarmos ao problema do sequestro, a ação de matar o sequestrador para salvar todas as outras vidas ja-mais poderia tornar-se uma máxima universal, pois “matar para salvar” nunca seria uma máxima adotada pelas pessoas que estão sendo mortas.

Da ética kantiana, derivamos os direitos humanos, considerados direitos universais. São máximas que po-deriam ser adotadas por qualquer um, em qualquer sociedade, de qualquer religião, porque são interesses de todos os seres humanos. Observe alguns artigos da Declaração Universal de Direitos Humanos:

Art. 3 – Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.Art. 4 – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos estão proibi-

dos em todas as suas formas.Art. 5 – Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.Art. 6 – Todo homem tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.Art. 9 – Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

São Tomás de Aquino defendeu que a razão da filosofia estava em perfeita sintonia com a Sagrada Escritura. Caberia a nós estu-darmos filosofia para percebermos como Deus, por ser a própria Razão, não poderia nos dar comandos diferentes daqueles da filo-sofia. São Tomás passou a vida estudando Aristóteles e conseguiu, na medida do possível, adequar a ética cristã à ética aristotélica – os vícios aristotélicos começam a transformar-se nos pecados veniais, capitais e mortais que conhecemos hoje (Gula, Avareza, Ira, Traição e Fraude, para dar alguns exemplos). Talvez Tomás de Aquino possa ser considerado o maior estudioso de Aristóteles da nossa História.

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Lembramos que, no total, a Declaração possui 30 artigos, nenhum menos importante que outro. No caso do sequestro, é claro que o caminho mais fácil (matematicamente) seria assassinar um assaltante para poupar a vida de outras dez pessoas. O problema do ônibus, portanto, não pode ser resolvido do modo mais “fácil”. No Brasil, nossa lei é orientada principalmente pela ética kantiana e a noção de Direitos Humanos. Algumas evidências são o fato de não adotarmos a pena de morte ou o de nossa polícia estar uniformizada e identificada.

A ética utilitarista, a noção de que não importam os meios que usaremos para alcançar nossos fins, nossos objetivos, marcou o século XX com a ascensão de Lênin, Hitler, Mussolini e outros ditadores ao poder.

A utopia ariana de Hitler, por exemplo, é uma cidade construída com uma base econômica forte, saúde e educação para todas as camadas sociais e um Estado militarizado que não se preocupa com nenhuma ameaça externa. Parece o tipo de lugar em que todos queremos viver. O único detalhe é que, para chegar lá, precisaremos eliminar todos os judeus, negros, latinos e qualquer um que não esteja exatamente de acordo com essa utopia maravilhosa.

Quem seria bobo de discordar, já que ‘os fins são tão bons’?

No Brasil, a princípio, as pessoas não se incomodaram em abrir mão de alguns direitos e da liberdade, en-quanto o governo provisório de Getúlio Vargas apresentava resultados. É sempre assim. Basta colocar um prato de comida na mesa de uma população com fome, dar algumas cédulas a mais no salário no fim do mês e todos nós estamos dispostos a abrir mão da nossa liberdade e da democracia. Quem não tem ou teve um tio que defende ou defendia que tudo era melhor na época do “milagre econômico” durante a ditadura? Ou que, com a redemocra-tização, o Congresso está cheio de ladrões, enquanto naquela época éramos um país sério? Esse é o problema!

A ética (exercício filosófico de discutir os valores das ações humanas) é um instrumento de garantia da ci-dadania e, atualmente, de democracia. Ela orienta o nosso país nessa direção e nos protege de determinados “raciocínios” que não passam de sofismas (erros propositais para levar a conclusão errada). Depois do golpe de 64, as Faculdades de Filosofia de muitas universidades brasileiras foram fechadas. Foram demitidos centenas de professores universitários, entre eles o arquiteto Oscar Niemeyer, o sociólogo Josué de Castro, o economista Celso Furtado, os educadores Anísio Teixeira e Paulo Freire.

Em poucas palavras, o pensamento pode ser reprimido por motivo religioso (como foi durante toda a Idade Média) ou militar (Estados Nacionais do séc. XX).

A ética é a liberdade de discutir filosoficamente o problema do bem e do mal, as ações humanas e o tipo de sociedade que queremos construir.

Judeus sendo levados do gueto de Varsóvia em 1943.