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Newsletter
Instituto da Defesa Nacional
Maio/Junho
2007
Nº 19
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Washington: como será em 2009?
Nº 18 Março/Abril 2007
As próximas eleições presidenciais americanas estão
marcadas para Novembro de 2008. A corrida já
começou. Os candidatos republicanos e democratas
estão em plena campanha para as primárias dos
respectivos partidos. Rudolph Giuliani e John McCain,
pelos republicanos, e Hillary Clinton e Barack Obama,
pelos democratas, são os principais candidatos. O
próximo Presidente americano sairá deste lote de quatro.
Que visões apresentam para a política externa dos EUA?
Há algum ponto consensual entre os quatro? Como será
a estratégia americana pós-Bush? É disso que trata este
artigo.
Rudolph Giuliani apresenta dois
pontos-chave: o primeiro é a
�guerra ao terror�. Para McCain,
Clinton e Obama, combater o
terrorismo é apenas um dos
braços de uma estratégia mais
ampla. Para Giuliani, a �guerra
ao terror� é fio condutor. O ex-
Mayor de Nova Iorque recusa as
Henrique RaposoInvestigador no IDN
propostas de Hillary Clinton em relação ao Iraque, isto é,
recusa apresentar um calendário para a retirada das
tropas americanas. No The Wall Street Journal, Giuliani
afirmou que os EUA não podem desistir da construção
de um Iraque democrático e estável. O segundo ponto
de Giuliani prende-se com a necessidade de aumentar o
número de efectivos do exército americano (propõe a
criação de 10 novas brigadas de combate). Também
defende que a América, em caso de necessidade, deve
ter a capacidade para travar duas guerras ao mesmo
tempo. A rodear tudo isto, encontramos uma mensagem
clássica de um realista/conservador: �a paz atinge-se
pela força�.
John McCain é o paladino do comércio livre. No Financial
Times, o senador do Arizona rejeitou o proteccionismo,
em crescendo no partido democrata, e afirma que uma
América proteccionista não pode ser um líder mundial.
Num discurso na Hoover Institution, McCain lançou a
sua posição mais ousada: a �guerra ao terror não pode
ser o único princípio organizador da política externa
americana�. O candidato pretende dar um sentido maisRudolph Giulianihttp://images.google.pt
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amplo à visão estratégica americana, revelando-se atento
à emergência dos grandes poderes asiáticos. Mais:
McCain afirma que é necessário reconstruir a ordem
global construída por Truman no período 1945-49. Entre
outras coisas, defende que é preciso renovar a
�solidariedade democrática�. Como? Os EUA devem
expandir a todo o globo a ideia matriz que esteve na
base da aliança atlântica (democracias unidas por valores
e interesses comuns, independentemente de ameaças
conjunturais). McCain aponta um facto pouco salientado
por políticos, jornalistas e académicos: no Afeganistão,
tropas da NATO lutam lado a lado com forças da Austrália,
Nova Zelândia, Japão, Coreia e Filipinas. Ou seja, há
uma aliança de facto entre as democracias atlânticas e
as democracias asiáticas. Para oficializar essa realidade,
McCain propõe uma organização comum a todas as
nações democráticas do mundo, �a worldwide League of
Democracies�. E esta liga democrática é a forma de
adaptar o espírito de Truman ao século XXI. Para terminar,
McCain afirma que esta ideia não nasce de um qualquer
idealismo, mas sim do «mais verdadeiro tipo de realismo»,
o realismo americano. Para o senador do Arizona, a
estratégia americana não deve separar o realismo do
idealismo/liberalismo.
No seu livro The Audacity of Hope, Barack Obama revela
algo já presente em McCain: a estratégia americana
nasce sempre de uma tensão criativa entre a
predisposição realista e o espírito liberal. E Obama
também encontra em 1945-49 (Truman, Acheson,
Marshall e Kennan) a sua matriz essencial. Tal como
em 1945, a América de hoje precisa de �aliados estáveis�,
aliados que partilhem com a América os valores da
liberdade, democracia, estado de direito e economia de
mercado. Numa afirmação claramente inspirada por John
Ikenberry, Obama sustenta que a América deve trabalhar
com outros países no sentido de criar instituições e
normas internacionais que contenham o poder americano.
Porquê? Resposta ikenberriana: quando a América
mostra vontade de conter
o seu próprio poder, as
suas acções adquirem
maior legitimidade junto
dos aliados e do resto do
mundo. Aplicando este
princípio à realidade de
hoje, Obama afirma que
é preciso renovar as
lições de Truman e, por isso, embarca por um caminho
parecido ao de McCain: �as nossas alianças requerem
uma atenção e revisão constantes a fim de se manterem
efectivas e relevantes�. E, além de recomendar o reforço
da NATO, o senador de Illinois defende que os EUA �devem
procurar construir novas alianças e relações estratégicas
em outras regiões importantes para os interesses
americanos no século XXI� (discurso no Chicago Council
on Global Affairs). Por outras palavras, a Ásia deve ser o
ponto central da visão estratégica americana.
Tal como Obama e McCain, Hillary Clinton faz a fusão
entre realismo e idealismo liberal. Num discurso no
Council on Foreign Relations, a senadora de Nova Iorque
afirma que a cómoda divisão �realismo vs. liberalismo�
não faz sentido na realidade; defende a especificidade
do realismo americano, considerando-se representante
de �uma qualidade realista de idealismo que tem estado
presente, entre nós, desde o início�. Tal como Obama e
McCain, Hillary afirma que é preciso renovar a ordem
internacional construída em 1945 (modernizar as
instituições internacionais; construir novas instituições).
Além disso, Hillary navega sempre entre duas ideias: (1)
é preciso trabalhar �em concerto� com outras nações e
defende o regresso da diplomacia; (2) a América é mais
forte quando estabelece alianças.
Ora, que consenso existe entre os quatro candidatos?
Em primeiro lugar, em termos de escola, podemos dizer
que todos os candidatos são representantes da ética
realista americana. O realismo liberal americano nada
Senador McCainhttp://mccain.senate.gov
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tem a ver com a clássica realpolitik europeia. A cómoda
divisão �realismo vs. liberalismo�, existente nos
corredores das universidades americanas, não existe nos
corredores do poder em Washington. Em termos de
propostas concretas, há um tema constante: reconstruir
a ordem internacional iniciada em 1945, recuperando o
respeito pelos aliados. Em 2009, teremos então uma
ruptura e um recomeço a partir do zero, sem ligações
com o tempo de Bush? Não. Aquilo que é indicado pelos
candidatos (sobretudo McCain, Obama e Hillary) já
começou a ser executado no mandato de Bush. Quando
falam em alianças, Obama, McCain e Hillary afirmam
que é preciso recuperar o respeito pelos aliados, dado
que Bush quebrou esse respeito histórico. Ora, isto é
uma visão estereotipada da Administração Bush. E é,
acima de tudo, uma visão eurocêntrica. Se é verdade
que a aliança atlântica viveu a sua maior crise durante os
anos Bush, também é verdade que as alianças
transpacíficas nunca estiveram tão bem. A administração
Bush reforçou laços com aliados históricos (Austrália,
Japão, Tailândia, Filipinas, etc.) e estabeleceu novas
parcerias com estados tradicionalmente adversos a
Washington (Índia, Vietname).
Em 2009, não haverá uma estratégia marcadamente pós-
Bush. Ao contrário do que pensa McCain, a �guerra ao
terror� não tem sido o único princípio organizador da
estratégia americana. Ao invés do que diz Hillary, a
diplomacia já regressou à Casa Branca, sobretudo desde
que Condoleezza Rice assumiu a batuta do State
Department (2005). E o desejo de Obama (fazer novas
alianças) já está a ser consumado no terreno asiático. A
partir de 2009, teremos mais continuidades do que
rupturas em Washington. É bom que se perceba que o
sistema internacional não começa nem acaba em
Bagdad.
No dia 29 de Maio, depois de semanas de
contestação, Umaru Musa Yar�Adua tomou posse
como presidente da Nigéria. Marcadas pela fraude
generalizada, as eleições presidenciais de Abril que deram
uma expressiva vitória (70% de votos) a Yar�Adua
continuam a ser contestadas nos tribunais. As forças
políticas derrotadas denunciam a ilegitimidade do novo
chefe de Estado, e os países que importam petróleo
nigeriano receiam que a continuação da instabilidade traga
novos aumentos nos mercados mundiais.
Observadores internacionais que acompanharam o
escrutínio afirmam que os resultados ficaram aquém dos
critérios que permitem designar o voto como livre e
democrático. Max van den Berg, chefe da missão da
União Europeia, assegurou que o sufrágio não poderia
ser considerado �credível�. Mesmo assim, pressões
internacionais no sentido de se repetir o voto não se
fizeram sentir porque se receia o agudizar da instabilidade.
Apesar das irregularidades foi possível, pela primeira vez,
transferir o poder presidencial sem se recorrer a um golpe
de Estado ou à violência generalizada.
Antes do escrutínio temia-se que as eleições neste país
de 140 milhões poderiam conduzir a Nigéria ao caos.
Até Maio de 2006, altura em que o Senado rejeitou uma
emenda constitucional que permitiria ao presidente
Olusegun Obasanjo con-
correr a um terceiro
mandato, existia a possibili-
dade de Obasanjo se
perpetuar na chefia do
Estado. Essa eventualida-
de levou Atiku Abubakar,
vice-presidente de Oba-
sanjo, a candidatar-se
Vasco RatoInvestigador no IDN
Umaru Yar�Aduahttp://en.wikipedia.org
As Eleições na Nigéria
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contra Yar�Adua, o escolhido de Obasanjo. Inicialmente,
a Comissão Independente de Eleições rejeitou a
candidatura porque Abubakar se encontrava indiciado
por corrupção. Pouco antes das eleições, o Tribunal
Supremo aceitou a sua candidatura, que reuniu apenas
7% de votos.
Dúvidas persistem quanto à autonomia de Yar�Adua,
um político sem dimensão nacional cuja experiência
se limita à gestão do Estado de Katsina. Porque o
general Obasanjo exerce agora o cargo de secretário-
geral do Partido Popular Democrático, formação que
apoiou a candidatura de Yar�Adua, o homem forte
nigeriano continuará a exercer um papel de grande
influência na vida do país. Daí o pessimismo quanto à
possibilidade de Yar�Adua avançar com as reformas
que prometeu durante a campanha.
Yar�Adua herda, de Obasanjo, um país que acumulou
uma divida superior a 35 mil milhões de dólares.
Elevados índices de desemprego, sobretudo nas
camadas urbanas e jovens, causam fricções sociais
que o governo anterior foi incapaz de neutralizar. Mais
importante, a corrupção generalizada, tanto na
administração como no sector privado, produziu efeitos
nefastos na economia do país. Não será fácil combater a
corrupção, até porque o sistema de clientelismo político
aperfeiçoado por Obasanjo substituiu as instituições
do Estado.
Parte do problema reside no federalismo nigeriano. Se
é verdade que Obasanjo conseguiu centralizar poder
na presidência, não é menos verdade que o sistema
de clientelismo por ele estabelecido transformou os
36 Estados, a vasta maioria dos quais são dominados
pelo Partido Popular Democrático, em feudos pessoais
dos governadores, que utilizam as transferências
orçamentais do governo federal para perpetuar as redes
clientelares. No topo deste pirâmide encontra-se o
general Obasanjo.
A situação vivida na Nigéria tem repercussões que
alastram muito para além das suas fronteiras. Dado
que se trata do maior país produtor de petróleo em
África, a estabilidade em Lagos é crucial para evitar
aumentos do crude nos mercados internacionais.
Porém, a exploração do petróleo causou grande parte
das disfuncionalidades hoje existentes na Nigéria.
Desde logo, os habitantes da região do Delta, onde
se encontra parte significativa dos depósitos de
petróleo, exigem uma distribuição mais equitativa
das verbas. Grupos separatistas conduzem uma
insurreição contra o governo e as empresas
petrolíferas, o que já levou à retirada de algumas
dessas empresas. Mas são os rendimentos do
petróleo que mantêm a rede de clientelismo e
corrupção que beneficia os apoiantes de Obasanjo
e do Partido Popular Democrático. Escolhido por
Obsnsajo como seu sucessor, Yar�Adua dificilmente
irá romper com o general que, na sombra, continuará
a dominar a Nigéria.
http://www.isn.ethz.ch/sw_images/240/Untitled-1%20copy40.jpg
(...) Yar�Adua herda, de Obasanjo, um
país que acumulou uma divida superior
a 35 mil milhões de dólares. Elevados
índices de desemprego, sobretudo nas
camadas urbanas e jovens, causam
fricções sociais que o governo anterior
foi incapaz de neutralizar (...)
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Hoje em dia assiste-se com frequência à
inversão da política externa dos estados. Não
se trata apenas de descontinuidade mas sim de
verdadeiras pequenas revoluções sistémicas. Foi
para muitos um choque que os EUA tenham invadido
o Iraque em 2003, sem qualquer aval da ONU e
verificando-se mais tarde também, sob premissas
falsas. A resposta de qualquer analista político seria:
11 de Setembro. Mas os atentados de 11/9 foram
apenas um catalizador da mudança que já estava
em curso.
A eleição de George W. Bush em 2000 permitiu a
um grupo selecto de indivíduos controlar a política
externa norte-americana. Os neo-conservadores
conseguiram em virtude da vitória inesperada de
Bush, ditar política e entre as várias prerrogativas
estava o derrube do regime Iraquiano. O estado de
graça de que um Presidente de guerra usufrui
providenciou a oportunidade.
Mas ao procederem de acordo com esta agenda
política, os neoconservadores romperam também
com décadas de linhas de acção pragmáticas sobre
a condução da política externa americana.
A tentação de levar os princípios demoliberais
americanos à letra, esteve sempre presente nos
sucessivos governos norte-americanos1. A
especificidade neoconservadora é que esta nasce
como alternativa democrata à política neo-realista
de Kissinger.
Paul Wolfowitz, o polémico Sub-secretário da
Defesa2, permanece um militante democrata até hoje.
De facto, são conhecidas as diferenças de opinião
entre ele e Jeane Kirkpatrick a qual defendia que
não se deveria alienar regimes aliados ainda que
estes não cumprissem os requisitos humanitaristas
de Washington.
Mas a ruptura que Bush Jr. supervisionou teve
repercussões em países potencialmente aliados que
cedo se viram confrontados com uma retórica pouco
compreensiva. O Uzbequistão optou por refugiar-se
no �estrangeiro próximo� da Federação Russa. As
revoluções coloridas que Washington apoiou, cedo
se viram em dificuldades. Recentemente, os
sucessores do Presidente turcomano Niazov,
optaram por voltar, eles também, à órbita de
Moscovo e elegeram a Gazprom como via de acesso
do seu gás à Europa em detrimento do consórcio
ocidental da conduta BTC3.
Não se pense, no entanto, que os EUA são o único
exemplo do quão contraproducente uma viragem
brusca de política pode ser.
A Rússia, ainda em crise, tem na pessoa do
Presidente Putin, uma figura que tenta resgatar o
que é possível da antiga doutrina Brejnev.
Quando em 1956 Brejnev abortou o �Outono de
Budapeste�, ele inaugurou um sistema de intervenção
que iria pautar a política externa russa nos 30 anos
seguintes 4. Deveria ter sido simplesmente
inconcebível para Gorbachev imaginar que a Europa
A Constante da Destruição do Criadorpor parte da Criação Miguel Nunes Silva
Finalista de RI. Estagiário no IDN
Paul Wolfowitzhttp://upload.wikimedia.org/
Henry Kissingerhttp://www.wtv-zone.com
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Nº 19 Maio/Junho 2007
socialista se manteria alinhada ou mesmo neutral
em relação à URSS voluntariamente5.
Assim, foi a não disponibilidade de Gorbachev em
socorrer os regimes aliados que selou o destino
político da Europa socialista.
As consequências, como já se viu, podem ser
desastrosas. O sistema depende � e ainda mais
numa sociedade globalizada � de previsibilidade e
de segurança. O status quo pode ser alterado mas
não diametralmente. Veja-se o exemplo da China,
cujos líderes serão porventura menos impetuosos
do que os ocidentais.
Um hegeliano diria que de teses e antíteses advêm
sínteses, mas exemplos há que provam que nem
sempre é possível resgatar o que havia de útil na
tese original. Por isto é imperativo saber discernir
entre tendências e extremismos.
Foi através do Iraque centralizado pela elite sunita
que o Pacto de Bagdade6 nasceu e serviu a doutrina
atlantista de contenção durante uma década. Foi
através deste mesmo Iraque que as monarquias do
Golfo tentaram sufocar a revolução islamo-republicana
do clero xiita iraniano. Improvável será então que seja
através de um Iraque federalizado pela maioria xiita
que se consiga conter a emergência regional do Irão.
No mesmo momento em que a liderança americana
tenta denunciar as intenções ulteriores da Republica
Islâmica, há organismos de reflexão americanos a
advogar a reorganização do Médio Oriente. Entre as
várias sugestões estão, desde o início, as tradicionais
divisões em estados dos vários grupos étnico-
religiosos, para pôr cobro à violência sectária.
Em alguns meios foi-se ao extremo de sugerir o
alargamento desta solução à Arábia Saudita e ao
Paquistão7. Há quem ainda, displicentemente, sugira
a criação de um estado curdo integrando partes do
território actual da Turquia.
Convém dizer que a experiência de Wilson não foi tão
bem sucedida, deixando o retalhado Império Austro-
húngaro vulnerável, num primeiro momento aos regimes
fascistas Alemão e Italiano, e num segundo momento
à influência da URSS.
Seria crucial que a próxima administração americana
voltasse à gestão pragmática da sua politica externa.
Geralmente, são as administrações democratas que
começam as guerras e as republicanas que as acabam,
por isso é interessante observar o desfecho deste
conflito. Mas sendo uma vitória democrata cada vez
mais provável, o máximo que se poderá esperar será
algum isolacionismo por parte dos EUA pois nem a
próxima administração terá o capital político para se
comprometer com qualquer solução para o problema
Iraquiano, nem a escola Kissingeriana está muito
presente no partido democrata.
Notas1 Administrações Wilson, Kennedy ou Carter, por exemplo.2 Dado como principal incitador da intervenção no Iraque pelosautores da literatura sobre a administração Bush.3 Baku-Tbilisi-Ceyhan. Uma joint venture da BP, Chevron,Statoil, ENI/Agip, Total, ConocoPhilips, Amerada Hess, Itochucom a SOCAR e a TPAO.4 Embora o responsável pelo fim da URSS tenha de facto sidoBoris Yelts in, fo i Mikhai l Gorbachev que descurou aimportância vital de manter a solidariedade unitária socialista.5 Depois das barbaridades que o Exército Vermelho havialevado a cabo nestes países, da transferência forçada decentros industriais para a Rússia e da alienação das elitesintelectuais, nada mais se poderia esperar destes países quehostilidade e russofobia. Acresce-se a isto o facto de quegrande parte da população da Europa socialista era agrícolae consequentemente conservadora, religiosa e nacionalista �qualquer tipo de cooperação com a URSS teria sido altamenteimprovável por parte de uma população com défice deproletariado industrial.6 CenTO: Central Treaty Organisation.7 Diplomatie nº24, �Les Frontières de Sang�.
Mikhail Gorbachevhttp://www.linternaute.com
Leonid Brejnevhttp://www.born-today.com
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Nº 19 Maio/Junho 2007
Paula Pereira Assessora no IDNEleições Presidenciais em França
As eleições para o Presidente da República
em França marcam uma viragem na cena
política francesa. Tanto para Ségolène Royal como
para Nicolas Sarkozy, esta foi a primeira candidatura
a eleições presidenciais em França, fazem parte de
uma �nova� geração. Nicolas Sarkozy, eleito a 6 de
Maio de 2007, na segunda volta das eleições
presidenciais, com 53,06% dos votos, face a
Ségolène Royal, é o Presidente mais novo da V
República, com 52 anos.
Por outro lado, a participação dos eleitores foi
massiva tanto na primeira como na segunda volta.
Perto de 84% dos inscritos foram às urnas. A
abstenção ficou assim pelos 16,03%, o que não
acontecia desde a década de 1980 com as eleições
de François Mitterrand a Presidente.
Outro facto relevante é que o número de inscritos
passou de pouco mais de 41 milhões em 2002 para
quase 44,5 milhões de inscritos em 2007. Quanto
aos votantes eram 32,8 milhões em 2002 e 37,3
milhões em 2007.
Estas eleições mobilizaram os cidadãos franceses.
Em primeiro lugar, porque os assuntos tratados pelos
candidatos durante a campanha eram polémicos e
de grande importância para o desenvolvimento do
país. Em segundo lugar, porque todos tinham ainda
presentes dois eventos traumáticos � os distúrbios
de 2005 com uma parte da população jovem nas
ruas das grandes cidades francesas e as eleições
presidenciais de 2002 em que, pela primeira vez, o
partido nacionalista (Front National - Frente
Nacional) de Jean-Marie Le Pen acedeu à segunda
volta das eleições à frente do Partido Socialista. Nas
eleições de 2007, a Frente Nacional obteve o seu
pior resultado de sempre com 10% dos sufrágios na
primeira volta.
As grandes questões discutidas durante a campanha
das presidenciais incidiram, em grande parte, sobre
a política social da França. Foram abordados os
assuntos da idade da reforma e sustentabilidade do
sistema de reforma, da reforma da segurança social
e do sector da saúde, das horas trabalhadas (que
neste momento estão em 35 horas semanais), da
redistribuição da riqueza produzida, da reforma no
sector da educação, dos recursos energéticos, em
particular a questão do nuclear, do lugar da França
no mundo, em especial no seio da União Europeia e
a sua relação com os Estados Unidos, a reforma
das instituições e a elaboração de uma nova
Constituição, passando assim para a VI República,
e o tema da segurança que constitui, hoje em dia,
uma das grandes preocupações da população
francesa.
A poucos dias da segunda volta das eleições
presidenciais, segundo várias sondagens, cerca de
20% da população ainda estava indecisa entre
Sarkozy e Royal. Sarkozy inspirava receio e Royal
não inspirava confiança à população. Contudo, após
o último debate entre os dois candidatos e na horaNicolas Sarkozy
http://www.elections-presidentielles-2007.org
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Nº 19 Maio/Junho 2007
de votar, os franceses preferiram o candidato que
demonstrava ter melhor conhecimento dos diversos
dossiers da política francesa e imprimia mais
dinamismo.
Desde o primeiro dia, Nicolas Sarkozy imprimiu o seu
estilo ao papel do Presidente da República. Nomeou
um novo Primeiro Ministro, François Fillon, e relegou-
o ao papel de super chefe de gabinete do Presidente,
assim como ao seu governo. Um governo composto
por homens e mulheres da confiança do Presidente e
aberto a personalidades de esquerda e a
independentes, como tinha anunciado no decorrer da
campanha.
Sarkozy �agarrou� os poderes que a Constituição
francesa, de 1958, atribui ao Presidente da República
mas, sobretudo, inspirou-se na prática de Charles de
Gaulle. Este último interpretou essa mesma
Constituição, delineada por ele, para controlar o
governo e definir a política da França, tarefa que
incumbe ao governo, segundo o texto, com excepção
da política externa, prerrogativa do Presidente. Neste
aspecto, o regime francês é ambíguo. Estamos perante
um regime semi- presidencialista em que o Presidente
da República tem competências próprias em termos
de política interna e externa. Preside ao Conselho de
Ministros, promulga as leis, é o chefe das Forças
Armadas, é o garante do bom funcionamento das
instituições e dos Tratados internacionais e pode, sob
proposta do governo, dissolver a Assembleia Nacional.
O artigo 16 da Constituição confere ainda poderes
especiais ao Presidente da República quando o
funcionamento das instituições, a integridade do
território ou ainda a execução dos compromissos
internacionais, entre outras situações, são postos em
causa. O artigo 52 da Constituição de 1958 determina
que o Presidente da República negoceia e ratifica os
tratados, o que significa que é ele que define a política
externa francesa.
Charles de Gaulle usou e abusou destes poderes para
impor a sua visão e a sua política à população nas
décadas de 1950 e 1960. Nicolas Sarkozy não parece
ter complexos em agir da mesma forma, complexos
que limitaram a actuação dos Presidentes anteriores
de Georges Pompidou a Jacques Chirac passando por
François Mitterrand.
É evidente, hoje, que Sarkozy tinha delineado o rumo
que iria dar à política francesa antes das eleições e
que não vai encontrar oposição forte às suas ideias,
sobretudo com a vitória clara obtida pela União para
um Movimento Popular (UMP) nas eleições legislativas
de Junho de 2007. Também a situação actual do UMP
é curiosa. Sarkozy era o Presidente deste partido e
determinou que não haveria eleição de novo Presidente
mas o UMP passaria a funcionar com uma presidência
colegial, o que demonstra bem a determinação do actual
Presidente da República e o seu poder de convicção.
Parte da população, depois deste maremoto da direita
sobre a esquerda na primeira volta das legislativas, receou
um poder demasiado absoluto concedido ao Presidente
da República e, apesar de ter concedido a maioria
absoluta ao partido de Nicolas Sarkozy, privilegiou o voto
no Partido Socialista na segunda volta, atingindo assim
mais de 200 deputados. A população não quis um poder
esmagador da direita, como se previa após a primeira
volta das eleições em que as previsões atribuíam entre
400 e 450 deputados ao UMP. O próprio partido limitou a
sua campanha durante as duas voltas, enquanto o Partido
Socialista apelou ao voto. Está consagrada, nestas
eleições a bipolarização da Assembleia, o que nunca
tinha acontecido desta forma desde há décadas em
França. De facto, os restantes partidos que elegeram
deputados ocuparão apenas 54 dos 577 assentos
parlamentares e, facto importante destas eleições, a FN
não foi para além dos 5% dos votos. Nicolas Sarkozy
tem agora toda a amplitude para fazer as reformas que
enunciou na sua campanha.
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Actividades do IDN
Mesa Redonda A Presidência Portuguesa da União EuropeiaNa segunda metade de 2007, Portugal irá assumir pela terceira vez a Presidência daUnião Europeia, ano em que também se comemora o 50º aniversário do Tratado deRoma.Neste sentido o Instituto da Defesa Nacional promoveu, no passado dia 7 de Maio,uma Mesa Redonda coordenada pela Profª Doutora Isabel Ferreira Nunes,Subdirectora do IDN e pela Dra. Teresa Leal Coelho, assessora de estudos do IDN -subordinada ao tema A Presidência Portuguesa da União Europeia que contou compresença das seguintes personalidades:
Orador convidado:Dr. Manuel Lobo Antunes Secretário de Estado dos Assuntos Europeus
Participantes:General Aníbal J. R. Ferreira da Silva Director do Instituto da Defesa Nacional
Prof. Doutora Isabel Ferreira Nunes Subdirectora do Instituto da Defesa Nacional
Dr. José Luís Arnault Comissão dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas
Dr. Vitalino Canas Comissão dos Assuntos Europeus e Futuro da Europa
Prof. Doutor Carlos Blanco de Morais Assessor da Presidência da República
Dra Rita Laranjinha Adjunta do Gabinete do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Embaixador Carlos Frota Subdirector da Direcção-Geral de Política Externa
Dr. Paulo Almeida Sande Director do Gabinete do Parlamento Europeu em Lisboa
Dr. Carlos Gaspar Assessor do IDN e Director interino do IPRI
Sessão de EncerramentoActividades Académicas do CDN 2007No dia 1 de Junho decorreu no auditório General Câmara Pina a sessão deencerramento das actividades académicas do Curso de Defesa Nacional 2007.Na cerimónia usaram da palavra o Director do IDN, Tenente General AníbalFerreira da Silva, a Subdirectora Profª Doutora Isabel Ferreira Nunes e o Auditordo Curso Dr. Clemente Lima. Foram entregues, a todos os auditores, medalhasdo IDN alusivas à cerimónia.
Publicações Revista Nação e DefesaDurante o mês de Junho será publicado o 116º número da revista Nação e Defesa - Primavera 2007 -, que contarácom os seguintes contributos:
- Políticas Energéticas. Que Implicações para a Segurança Internacional? Henrique Schwarz
- Acessibilidade aos Recursos Energéticos na União Europeia, António Costa e Silva
- Segurança e Defesa no Ensino Superior, Adriano Moreira
- Sécurité et Défense dans l�Enseignement Supérieur en Europe, Bernard Boëne
- A Vertente Europeia-Continental e a Vertente Atlântico-Global na Política Externa Portuguesa, Rui Pedro
Pereira
- Análise da Tendência Institucional/Ocupacional dos Oficiais da GNR, Jorge Gaspar Esteves
- Desafios Europeus, Projectos Nacionais, Realidades da Globalização, João Salgueiro
- (Re)Pensar a Sociologia dos Conflitos: a Disputa Paradigmática Entre a Paz Negativa e/ou a Paz
Positiva, Maria da Saudade Baltazar .
Colecção AtenaIgualmente durante o mês de Junho será divulgado o volume 22 da Colecção Atena intitulado Raymond Aron. A Paz e aGuerra no Século XXI.Este livro é o resultado de um conjunto de reflexões apresentadas no decurso de uma conferência internacional,organizada em 2005 pelo Instituto da Defesa Nacional em parceria com o Instituto Português de RelaçõesInternacionais, sobre o tema Raymond Aron: Um Intelectual Comprometido. Contando com a participação devários especialistas nacionais e estrangeiros, este livro pretende contribuir para o aprofundamento do
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Nº 19 Maio/Junho 2007
A Nigéria
A Nigéria Formalmente, a Nigéria é uma república federal, composta por 36 estados. Um em cadaquatro africanos é nigeriano � a população do país é actualmente estimada em 135milhões. É o maior país de toda a África Ocidental.A Nigéria apresenta uma enorme diversidade de tecidos sociais, a qual é exponenciadapelo potencial demográfico do Estado, que engloba mais de 250 grupos étnicos distintos.Destes, os três mais representativos são os Hausa, os Yoruba e os Igbo.A Nigéria é o sexto produtor mundial (e o primeiro africano) de petróleo filiado na OPEP,mas perto de 75% da sua população vive abaixo do limiar da pobreza, apresentando
um baixo Índice de Desenvolvimento Humano/ IDH (ocupa a 159ª posição na lista dos 177 países anualmente avaliados pela ONU).Com reservas estimadas em quase 40 mil milhões de barris, o petróleo em 2004 representava 80% das receitas do governo, 90% dosrendimentos do comércio exterior e 96% das receitas de exportação.
conhecimento sobre a obra daquele teórico francês, no domínio da filosofia política e do pensamento estratégico.Se a faceta de intelectual empenhado de Aron, no que respeita à reflexão política, tem sido objecto de interesseno plano editorial português, o mesmo já não se poderá dizer em relação ao trabalho desenvolvido no campo dateorização sobre estratégia e segurança.Este volume concorre para uma leitura alternativa do pensamento do autor naqueles domínios do conhecimento,revelando a modernidade da sua obra para o entendimento das questões da paz e da guerra no século XXI e temcomo autores as seguintes personalidades:
Aurelian Craiutu, Professor de Ciência Política na Universidade de Indiana, Estados Unidos da América;Jean Pierre Derriennic, Professor na Universidade Laval, Canadá;Christian Malis, Antigo Aluno da École Normale Supérieure, Paris. Doutor em História laureado com o PrémioRaymond Aron;Abel Cabral Couto, General. Antigo Director do Instituto da Defesa Nacional;Bryan-Paul Frost, Professor de Ciência Política na Universidade de Louisiana Lafayette, Estados Unidos daAmérica;Carlos Gaspar, Director do Instituto Português de Relações Internacionais, Lisboa. Professor Universitário;Miguel Morgado, Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, Lisboa;Pierre Hassner, Fondation Nationale des Sciences Politiques, Centre d�Études et de RecherchesInternationales, Paris.
Seminário InternacionalA LISBON AGENDA for European Security and Defence: Challenges, Responses and HUMAN SECURITY
Em parceria com a Fundação Friedrich Ebertdecorreu no IDN, no dia 11 de Maio, umWorkshop Internacional sobre EuropeanSecurity and Defence: Challenges, Responsesand Human Security.A recepção dos participantes e a introdução dos trabalhos estiveram a cargo do Directordo IDN, General Aníbal Ferreira da Silva, do representante da Fundação Friedrich Ebert,Reinhard Naumann e de Mary Kaldor da London School of Economics.Participaram também neste evento, diversas personalidades que foram oradores nasseguintes áreas:ESDP and Priorities for the Portuguese PresidencyCarlos Frota, Director da Direcção-Geral de Política Externa do MNE;
Chair: Isabel Ferreira Nunes, Subdirectora do Instituto da Defesa Nacional
A Human Security Agenda� Adding Value to ESDPMary Kaldor, HSSG, London School of Economics;
Chair: Reinhard Naumann, Fundação Friedrich Ebert
Putting Human Security into Practice - Lessons from ESDP MissionsMary Martin, HSSG, London School of Economics
Ana Gomes, Parlamento Europeu, Bruxelas/Lisboa;
Chair: Marlies Glasius, HSSG, London School of Economics
Human Security Approaches in the Middle EastMary Kaldor, HSSG, London School of Economics;Yahia Said HSSG, London School of Economics;
Mient Jan Faber, Free University of Amsterdam;
Comentadora: Ana Santos Pinto, IPRI, Lisboa;Chair: Stefanie Flechtner, Fundação Friedrich Ebert, Berlim
ESDP e os Balcãs � a Human Security Approach to KosovoDenisa Kostovicova, HSSG, London School of Economics;
Chair: Christos Katsioulis, Fundação Friedrich Ebert, Bruxelas
Sumario e ConclusõesIsabel Ferreira Nunes, Subdirectora do Instituto da Defesa Nacional
Mary Kaldor, London School of Economics.
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Newsletter do IDN Publicação em Formato ElectrónicoDirector Tenente-General Aníbal Ferreira da Silva
Edição e Paginação Centro EditorialDesign Gabinete de Desenho
Propriedade Instituto da Defesa NacionalISSN 1646-1746
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