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IDENTIFICANDO PEIXES DA BACIA HIDROGRÁFICA DO PAJEÚ, PROCEDENTES DO MUNICÍPIO DE TUPARETAMA, NO CONTEXTO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Heiko BRUNKEN 1 , Maria do Carmo Figueredo SOARES 2 , Glícia Maria Torres CALAZANS 3 , Sandra Cristina Soares da LUZ 4 , Chirleide Marcelino do NASCIMENTO 5 , William SEVERI 2 . ________________ 1. Professor da Hochschule Bremen – Universidade de Ciências Aplicadas de Bremen, Neustadtswall 30, 28199 Bremen, Alemanha. E-mail: [email protected] 2. Professor Associado da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Departamento de Pesca e Aqüicultura (DEPAq), Laboratório de Aqüicultura e Laboratório de Ictiologia, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n. Bairro de Dois Irmãos - Recife - PE. CEP: 52.171-030 3. Professora Associada do Departamento de Antibióticos do CCB-UFPE, Campus Universitário, Recife-PE, CEP 50670-901 4. Mestre em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura- Laboratório de Ictiologia-UFRPE. s/n. Bairro de Dois Irmãos - Recife - PE. CEP: 52.171-030 5. Bolsista de Extensão do Laboratório de Aqüicultura Prof. Johei Koike – Departamento de Pesca e Aqüicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco Apoio financeiro: CNPq, Pro-Reitorias de Extensão UFPE e UFRPE, PROEXT. Introdução A bacia hidrográfica do rio Pajeú está localizada, em sua totalidade, no Estado de Pernambuco, entre as coordenadas 07º 16’ 20” / 08º 56’ 01” S e 036º 59’ 00” / 038º 57’ 45” W. Encontra-se inserida na região fisiográfica do Sertão pernambucano, sendo a maior bacia do Estado de Pernambuco, com uma área de 16.838,7 km 2 , que corresponde a 17,2% do estado. A mesma é sujeita a períodos de seca e cheia, de acordo com as estações do ano, sofrendo escassez de água devido ao clima da região semi-árida [5]. O rio Pajeú nasce na Serra do Balanço, Município de Brejinho, a uma altitude aproximada de 800 m, nos limites entre os estados de Pernambuco e Paraíba, percorrendo 347 km até desaguar no reservatório de Itaparica, formado por um dos barramentos do rio São Francisco. Seu regime fluvial é intermitente (temporário). O conhecimento da diversidade de peixes nesta bacia ainda é incipiente, havendo poucos trabalhos de levantamento da ictiofauna, sendo os estudos precários. Segundo Menezes [3] e Rosa et al. [4], os estudos da diversidade e taxonomia de peixes de água doce neotropical em algumas regiões, com a nordeste, ainda estão no começo, apresentando muitas dificuldades. Neste sentido, a inclusão da comunidade acadêmica de Tuparetama nas coletas de peixes e seu envolvimento nos resultados é de suma importância para a conscientização no contexto da educação ambiental visando o envolvimento da conservação do bioma da caatinga e seus mananciais aquáticos, que estão sendo gradativamente devastados. Dentro do Projeto de Extensão denominado Educação Ambiental e Cuidados com a Água”, desenvolvido no Município de Tuparetama, no Vale do Pajeú, com apoio de docentes da UFPE, UFRPE e de uma instituição internacional, a Hochschule Bremen, Alemanha, um subprojeto de pesquisa visa identificar os peixes coletados nos diferentes mananciais aquáticos da região. O objetivo deste subprojeto é aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade de peixes na região do semi-árido pernambucano, que é fragmentado ou inexistente. Assim, esforços estão sendo desenvolvidos para integrar a investigação científica destes peixes em programas de educação ambiental das escolas públicas de Tuparetama, tornando as informações levantadas, com a participação da própria comunidade, acessível a todos, colocando-as em ambiente da internet, através do site do Atlas de Peixes de Pernambuco. Ao final do estudo, parte das amostras será enviada para as escolas de Tuparetama, como fonte de referência e material didático, para utilização em aulas e feiras de ciências do município. Material e métodos Os procedimentos de coleta dos peixes e a sua preparação seguiram a técnica de rotina, com a fixação dos exemplares em formaldeído com concentração entre 5 e 10%, devidamente etiquetados e conservados no álcool a 70%. O material coletado está sendo identificado nos Laboratórios de Aqüicultura e Ictiologia da UFRPE, contando com apoio de aluno bolsista de extensão e da equipe do Laboratório de Ictilogia, sendo depositado na coleção ictiológica do DEPAq. Para a captura, foi utilizada rede de arrasto com 3 m de comprimento e altura de 0,75 m, com malha de 4 mm entre nós, contando com a participação de alunos e professores das Escolas de Tuparetama. Posteriormente, as amostras foram transportadas para o Departamento de Pesca e Aquicultura para identificação. Os meses de coleta das amostras foram julho e setembro de 2008 e março e agosto de 2009. Os locais sob influência do Rio Pajeú foram georeferenciados

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IDENTIFICANDO PEIXES DA BACIA HIDROGRÁFICA DO PAJEÚ, PROCEDENTES DOMUNICÍPIO DE TUPARETAMA, NO CONTEXTO

DE EDUCAÇÃO AMBIENTALHeiko BRUNKEN1, Maria do Carmo Figueredo SOARES2, Glícia Maria Torres CALAZANS3, Sandra Cristina Soares da LUZ4, Chirleide Marcelino do NASCIMENTO5, William SEVERI2.

________________1. Professor da Hochschule Bremen – Universidade de Ciências Aplicadas de Bremen, Neustadtswall 30, 28199 Bremen, Alemanha. E-mail:[email protected]. Professor Associado da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Departamento de Pesca e Aqüicultura (DEPAq), Laboratório de Aqüicultura e Laboratório de Ictiologia, Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n. Bairro de Dois Irmãos - Recife - PE. CEP: 52.171-0303. Professora Associada do Departamento de Antibióticos do CCB-UFPE, Campus Universitário, Recife-PE, CEP 50670-9014. Mestre em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura- Laboratório de Ictiologia-UFRPE. s/n. Bairro de Dois Irmãos - Recife - PE. CEP: 52.171-0305. Bolsista de Extensão do Laboratório de Aqüicultura Prof. Johei Koike – Departamento de Pesca e Aqüicultura da Universidade Federal Rural de PernambucoApoio financeiro: CNPq, Pro-Reitorias de Extensão UFPE e UFRPE, PROEXT.

Introdução

A bacia hidrográfica do rio Pajeú está localizada, em sua totalidade, no Estado de Pernambuco, entre as coordenadas 07º 16’ 20” / 08º 56’ 01” S e 036º 59’ 00” / 038º 57’ 45” W. Encontra-se inserida na região fisiográfica do Sertão pernambucano, sendo a maior bacia do Estado de Pernambuco, com uma área de 16.838,7 km2, que corresponde a 17,2% do estado. A mesma é sujeita a períodos de seca e cheia, de acordo com as estações do ano, sofrendo escassez de água devido ao clima da região semi-árida [5].

O rio Pajeú nasce na Serra do Balanço, Município de Brejinho, a uma altitude aproximada de 800 m, nos limites entre os estados de Pernambuco e Paraíba, percorrendo 347 km até desaguar no reservatório de Itaparica, formado por um dos barramentos do rio São Francisco. Seu regime fluvial é intermitente (temporário).

O conhecimento da diversidade de peixes nesta bacia ainda é incipiente, havendo poucos trabalhos de levantamento da ictiofauna, sendo os estudos precários. Segundo Menezes [3] e Rosa et al. [4], os estudos da diversidade e taxonomia de peixes de água doce neotropical em algumas regiões, com a nordeste, ainda estão no começo, apresentando muitas dificuldades. Neste sentido, a inclusão da comunidade acadêmica de Tuparetama nas coletas de peixes e seu envolvimento nos resultados é de suma importância para a conscientização no contexto da educação ambientalvisando o envolvimento da conservação do bioma da caatinga e seus mananciais aquáticos, que estão sendo gradativamente devastados.

Dentro do Projeto de Extensão denominado “Educação Ambiental e Cuidados com a Água”,desenvolvido no Município de Tuparetama, no Vale do Pajeú, com apoio de docentes da UFPE, UFRPE e de uma instituição internacional, a Hochschule Bremen, Alemanha, um subprojeto de pesquisa visa identificar

os peixes coletados nos diferentes mananciais aquáticos da região.

O objetivo deste subprojeto é aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade de peixes na região do semi-árido pernambucano, que é fragmentado ou inexistente. Assim, esforços estão sendo desenvolvidos para integrar a investigação científica destes peixes em programas de educação ambiental das escolas públicas de Tuparetama, tornando as informações levantadas, com a participação da própria comunidade, acessível a todos, colocando-as em ambiente da internet, através do site do Atlas de Peixes de Pernambuco. Ao final do estudo, parte das amostras será enviada para as escolas de Tuparetama, como fonte de referência e material didático, para utilização em aulas e feiras de ciências do município.

Material e métodos

Os procedimentos de coleta dos peixes e a sua preparação seguiram a técnica de rotina, com a fixação dos exemplares em formaldeído com concentração entre 5 e 10%, devidamente etiquetados e conservados no álcool a 70%. O material coletado está sendo identificado nos Laboratórios de Aqüicultura e Ictiologia da UFRPE, contando com apoio de aluno bolsista de extensão e da equipe do Laboratório de Ictilogia, sendo depositado na coleção ictiológica do DEPAq.

Para a captura, foi utilizada rede de arrasto com 3 m de comprimento e altura de 0,75 m, com malha de 4 mm entre nós, contando com a participação de alunos e professores das Escolas de Tuparetama. Posteriormente, as amostras foram transportadas para o Departamento de Pesca e Aquicultura para identificação.

Os meses de coleta das amostras foram julho e setembro de 2008 e março e agosto de 2009. Os locais sob influência do Rio Pajeú foram georeferenciados

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com auxílio de GPS (Garmin) e denominados como Rio Pajeú (P) em oito pontos; Açudes (A) em dez pontos, Riachos (R) em dois pontos e Outros (O), compreendendo cacimbas, tanques e poças, em cinco pontos (Tabela 1).

Os pontos das coletas ficam num raio de 10 km da cidade de Tuparetama-PE (07° 36’ S, 037° 19’ W). O esforço de pesca foi aproximadamente equivalente para ambientes de águas correntes (16 coletas) e paradas (18 coletas).

Fez-se uma triagem inicial, separando-se os espécimes pelos diversos morfotipos numa primeira separação visual, utilizando-se chaves de identificação específica e um esteromicroscópio (Olympus SZX) para classificação das espécies.

Registros fotográficos foram realizados in situdestacando as pescarias, os locais e a participação de estudantes e professores em práticas de curso de extensão. Algumas das informações obtidas estão sendo inseridas no site do Atlas de Peixes de Pernambuco [2].

Resultados e Discussão

Até o momento, foram identificados 766 exemplares de peixes, preliminarmente enquadradas em 14 espécies (Tabela 2). Ainda não foram identificados alguns morfotipos das ordens Characiformes (p.e. “piabas” do gênero Astyanax) e Siluriformes (p.e. os gêneros Corydoras e Hypostomus).

A espécie mais frequente nas amostras foi Hopliasmalabaricus, presente em todos os tipos de águas. A mais abundante foi Corydoras cf. garbei, formando grandes cardumes no leito do rio nos trechos arenosos e rasos. A classificação taxonômica dessa espécie ainda é duvidosa. Segundo Britski et al. [1] deve ser Corydoras garbei, mas os exemplares coletados não contemplamtodas as características descritas para a espécie.

Foi observada uma grande diferença na composição das espécies entre os habitats de rios e de águas paradas (açudes, etc.).

A diversidade da ictiofauna foi maior nos rios e riachos (águas correntes), contabilizando 13 espécies,

que nos açudes, poças e cacimbas (águas paradas), totalizando 5 espécies. A tilapia nilótica, Orechromis niloticus, por exemplo, só foi encontrada nos açudes,enquanto o cará, Cichlasoma sanctifranciscense, foi encontrado apenas em águas correntes.

Agradecimentos

Ao guia Pedro Petrônio Nunes de Aragão, de Tuparetama-PE, pela valiosa ajuda no campo. Àcomunidade de Tuparetama, em especial, à Escola Cônego Olímpio Torres, pelo envolvimento nas coletas dos peixes. À equipe do Laboratório de Ictiologia pelaidentificação das amostras, e aos demais colegas do DEPAq pelo apoio.

Referências[1] BRITSKI, H.A.; SATO, Y. & ROSA, A.B.S. 1984. Manual de

Identificação de Peixes da Região de Três Marias. Brasilia, Camara dos Deputados/ CODEVASF, 128 p.

[2] BRUNKEN, H.; BARBOSA, J.M.; LESSA, R.P., SEVERI, W.; SOARES, M.C.F. & WINKLER, M. 2009. Atlas de Peixes de Pernambuco. World Wide Web electronic publication. www.atlas-peixes-pe.com

[3] MENEZES, N. A. 1992. Sistemática de peixes. In:AGOSTINHO, A. A. & BENEDITO-CECILIO, E. (Eds.) Situação atual e perspectivas da ictiologia no Brasil. –Documentos do IX Encontro Brasileiro de Ictiologia. Maringá-Editora da UEM. 128p

[4] ROSA, R.S.; MENEZES, N.A., BRITSKI, H.A., COSTA, W.J.E.M. & GROTH, F. 2003. Diversidade, padrões de distribuição e conservação dos peixes da Caatinga. p.135-181. In: LEAL, I.R.; TABARELLI, M. & da SILVA, J.M.C. (Eds.) Ecologia e Conservação da Caatinga. Editora Universitária da Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

[5] SALES, L.T. 2001. Avaliação dos peixamentos realizados em açudes das bacias hidrográficas dos rios Brígida, Terra Nova, Pajeú e Moxoto. Recife, Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Pernambuco, CFCH, Gestão e Políticas Ambientais.90p.

Tabela 1. Período e número de coletas de peixes realizadas em diferentes pontos na área de influência do Rio Pajeú, no Município

de Tuparetama - PE.

Período No de localidadesamostradas

Rio Pajeú(P)

Riachos(R)

Açudes(A)

Outros(O)

Julho/2008 18 5 2 6 5Setembro/2008 3 2 - 1 -Março/2009 6 2 - 3 1Agosto/2009 7 4 1 2 -Total 34 13 3 12 6Outros = cacimbas, poças, tanques, etc.

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Tabela 2. Lista das espécies de peixes identificadas de Tuparetama-PE, e suas respectivas quantidades, por período amostral e típo

de ambiente: R = águas correntes; A = águas paradas.;

EspécieJulho 2008 Setembro 2008 Março 2009 Agosto 2009 Número de

espécimesR A R A R A R A

Cichlasoma sanctifranciscense 9 17 7 12 45

Corydoras cf. garbei 52 112 26 65 255

Crenichichla lepidota 4 42 9 55

Curimata macrops 18 1 74 31 124

Hemigrammus gracilis 3 9 12

Hoplias malabaricus 35 4 32 3 4 5 3 21 107

Hyphessobrycon santae 3 3

Leporinus piau 2 13 1 1 17

Leporinus reinhardti 13 3 1 17

Moenkhausia costae 3 2 3 35 2 2 47

Oreochromis niloticus 6 6

Prochilodus brevis 5 6 3 14

Serrasalmus brandtii 10 13 1 24

Steindachnerina elegans 9 3 3 25 40

Total 766

Figura 1. Rio Pajeú, Sítio Santana, Tuparetama-PE (23.07.08). Figura 2. Açude Carnauba, Tuparetama-PE (20.09.07).Nesse trecho arenoso e rochoso foram encontradas várias espécies de Siluriformes.

Figura 3. Cacimba no Sítio Consulta, Tuparetama-PE, Figura 4. Alunos da Escola Cônego Olimpio Torres, onde foram encontradas várias espécies de peixes (25.07.08). Tuparetama-PE, nas aulas práticas no Rio Pajeú (11.09.08).