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IDENTIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS
RISCOS DA DEMANDA EM UMA
EMPRESA DO SETOR PLÁSTICO
Vitoria Maria Mola de Vasconcelos (UFPB)
Thiago Aurelio Freire Freitas (UFPB)
Liane Marcia Freitas e Silva (UFPB)
Maria Silene Alexandre Leite (UFPB)
Talita Floriano Goulart da Silva (UFPB)
O objetivo deste trabalho é analisar qualitativamente os riscos de
demanda presentes em uma empresa do setor plástico. Para tanto
efetuou-se a identificação dos riscos existentes no setor Comercial, já
que este apresentou-se como responsáveel pelos aspectos relativos à
demanda de todo o processo produtivo. Com a identificação dos riscos
foi elaborado um questionário direcionado ao setor contendo os
fatores de risco verificados por meio de observação, posteriormente
aplicado aos envolvidos do mesmo. De posse dos dados utilizou-se uma
técnica qualitativa de gerenciamento de risco, denominada matriz de
risco, para efetuar análises referentes aos pontos indicados como
fontes de risco e suas possíveis causas. A tabulação dos dados
proporcionou a geração de uma matriz para avaliar as questões
referentes à demanda, em que verificou-se que todos os fatores
abordados na pesquisa apresentaram certo grau de risco, alguns com
níveis de risco considerados extremos, com relações subjetivas de
causalidade entre as variáveis estudadas.
Palavras-chaves: Gestão de Riscos, Demanda, Setor Plastico
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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Identificação e Análise dos Riscos da Demanda em uma Empresa do Setor Plástico
1. Introdução
Hallikas et al. (2004) afirma que os riscos surgem das incertezas que tem como fontes
principais a demanda de clientes e a entrega do pedidos. As fontes de risco indicadas pelo
autor são diretamente influenciadas pelas atividades de Planejamento, Programação e
Controle da Produção (PPCP) e aquelas desenvolvidas pelo setor comercial/marketing, já que
é responsabilidade deste último informar aos gestores do PPCP a demanda que o mesmo
provavelmente terá que atender.
Queiroz & Altamiro (1998) apresentam o relacionamento dos objetivos do planejamento,
programação e controle da produção com as atividades desempenhadas pelo comercial/
marketing, ou seja, relacionadas à produto, preço de compra, distribuição/logística,
comunicação e serviço ao cliente. A intenção é orientar as atividades do PPCP para
alcançarem as prioridades competitivas da manufatura, e concluíram que as dimensões de
competitividade estão relacionadas com os objetivos do PPCP, demonstrando a importância
deste para a satisfação das necessidades dos clientes.
Para Kerzner (2006, p.238), “o gerenciamento de riscos é uma forma organizada de identificar
e medir os riscos e de desenvolver, selecionar e gerenciar as opções para seu controle”. Ele
surge como um meio pelo qual as empresas identificam, classificam e priorizam as questões
que mais influem no alcance dos seus resultados.
A empresa pesquisada para elaboração deste trabalho embora conheça os riscos a que está
submetida, não possui uma análise sistematizada dos efeitos gerados pela ocorrência desses
riscos. Desta forma não prioriza as ações que devem ser tomadas e por vezes toma decisões
sem verificar os prejuízos no médio e longo prazo, principalmente quanto aos aspectos de
demanda.
A proposta desse trabalho é identificar e analisar qualitativamente os riscos de demanda
presentes em uma empresa do setor plástico utilizando uma metodologia específica, a matriz
de risco, com o intuito de indicar a intensidade dos riscos detectados e auxiliar a tomada de
decisão.
2. A Gestão da Demanda pelo PPCP
As análises de demanda estão inseridas nas atividades do PPCP devido a necessidade de
conhecer quanto e como os recursos serão utilizados para o atendimento das necessidades dos
clientes. Para tanto, o setor de PPCP necessita de informações advindas de outros setores,
tomando como base as disponibilidades e restrições de todo o sistema para tornar suas
definições executáveis.
De acordo com Tubino (2009), o marketing é setor responsável pelas vendas e divulgação dos
bens e serviços oferecidos pela empresa e além das vendas e promoção dos produtos é
responsável por “captar” as necessidades do cliente e as fornecer à engenharia da empresa,
para que sejam incorporadas nas características do produto.
Em processos produtivos que não funcionem sob encomenda, após a definição do
planejamento estratégico de produção, é dado um start no sistema produtivo a partir da
projeção de vendas realizada pelo comercial/marketing. Ou seja, o processo é iniciado pela
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previsão de vendas, tratada por Russomano (1995) como essencial para o funcionamento do
PPCP e movimentação dos demais departamentos para o atendimento das solicitações. Esta
etapa é definida por Moreira (2011) como um processo racional de estimação das vendas
futuras de um item ou um conjunto de itens.
Uma síntese da lógica de funcionamento entre o setor comercial e o PPCP na execução das
atividades relacionadas à produção pode ser vista na figura 1.
Figura 1 – Lógica de funcionamento entre comercial/marketing e PPCP. Fonte: Elaboração
Própria
Com a liberação da previsão de vendas o PPCP poderá elaborar seu plano mestre, etapa
considerada por Fernandes & Godinho Filho (2010, pag. 78) como “a primeira das atividades
de controle da produção e tem por objetivo estabelecer quais produtos finais serão fabricados
em um determinado período de tempo e em que quantidades”. Por fim fará uso de
informações como datas de entrega e disponibilidade de recursos para efetuar a programação
da produção, seqüenciando os itens da maneira que considerar mais adequada.
Assim, em uma visão geral, os pré-requisitos do PPCP consistem basicamente em saber o que
se deseja alcançar, por meio das previsões realizadas pelo comercial/marketing, e o que se
tem disponível para que a partir daí sejam tomadas as decisões, ou seja, a análise da
capacidade disponível.
A relação existente entre setores como comercial/marketing e PPCP podem ser inseridas no
contexto introduzido por Slack et al (2009), onde os autores afirmam que “Nenhuma operação
produtiva, ou parte dela, existe isoladamente. Todas as operações fazem parte de uma rede
maior, interconectada com outras operações”. A partir desta afirmativa pode-se verificar que
aquelas atividades relacionadas ao setor de marketing, mais especificamente as previsões de
demanda passadas para o setor de PPCP, terão influência nas atividades deste último, na
forma de estoques, balanceamento, setups etc.
3. Gerenciamento de Risco
Em termos gerais, o risco pode ser entendido como um desvio potencial do planejamento
idealizado ou a incertezas referentes à determinada ocasião. O risco pode ser conceituado
como “(...) uma chance de perigo, perdas, danos ou quaisquer outras consequências
indesejáveis (...)” (HARLAND et al, 2004).
Nesse sentido as organizações devem antever as situações indesejáveis a que estão submetidas
para que não sejam surpreendidas e, portanto, prejudicadas. Um ponto de vista a ser
considerado é que não necessariamente o risco atrapalha o negócio. Segundo Damodaran
(2007) o risco pode prejudicar ou beneficiar a empresa, embora a priori isto não esteja claro é
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algo bastante tangível se a empresa souber aproveitar a situação de risco a que está submetida
e tentar buscar uma vantagem competitiva.
Sob a visão de Martínez (1994), dirigir estrategicamente os riscos supõe que estes vão ser
considerados como parte da competitividade empresarial. Saber balancear esses pontos
positivos e negativos relativos ao risco permeia um nível mais abrangente e caracterizam o
gerenciamento de riscos.
Blackhurst; Scheibe; Johnson (2008) afirmam que para se avaliar o risco deve-se,
primeiramente, especificar as classificações de risco. Ou seja, para que seja possível analisar a
probabilidade e impacto dos riscos e decidir quais ações serão tomadas é necessário realizar
uma etapa anterior, a identificação.
Em relação aos riscos de a maioria comunga da mesma opinião ao firmarem que a causa está
associada à má previsão de demanda (CHOPRA e SHODI, 2004; TANG, 2006; MANUJ e
MENTZER, 2008; MICCUCI, 2008). Chistopher e Peck (2004), no entanto, afirmam que
estes são causados pelos distúrbios do fluxo do produto, informação e de caixa.
Verificou-se que mesmo havendo concordância na maioria das definições, os autores
esporadicamente associavam outras causas aos riscos analisados. Exemplo disso é a
associação dos riscos referentes à demanda, geralmente associado a erros de previsão, que
Rao e Goldsby (2009) indicam ser provenientes de produtos substitutos e/ou concorrentes.
Neste caso, no momento de indicar os riscos relacionados deverão ser explicitadas as causas
dos riscos, bem como o ambiente a que a organização sujeita ao risco está inserida.
3.1. Técnicas de Gerenciamento de Risco
Existem diversas técnicas e ferramentas que podem ser utilizadas no gerenciamento de riscos,
como por exemplo, a matriz de risco, árvore de decisão, simulações e matriz de desempenho
(PAULO et al, 2007). Essas técnicas podem ser qualitativas ou quantitativas, a depender da
análise e resultados esperados.
3.1.1. Matriz de Risco
A matriz de risco é uma técnica de gerenciamento busca a mensuração de riscos de forma
qualitativa, onde o nível do risco é composto pelas variáveis freqüência e severidade
associadas aos eventos de perda inerentes ao processo avaliado. (MARSHALL, 2002;
CROUHY; GALAI; MARK, 2004)
Os riscos podem ser medidos de acordo com três critérios, segundo George (2002):
a) A probabilidade ou freqüência esperada de ocorrência do risco;
b) A severidade do impacto do risco no negócio, em termos de custo e em termos de
serviço ao cliente;
c) Probabilidade de detecção mais cedo e fuga do impacto.
A Figura 2 apresenta a matriz de risco, na qual são contemplados os dois primeiros critérios:
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Figura 2 - Exemplo de matriz de risco. Fonte: Adaptado de Paulo et al (2007)
De acordo com a figura 2, percebe-se que a matriz é construída pelos pesos relativos as
variáveis de severidade e freqüência.A associação desses pesos é feita pela multiplicação da
variável em cada eixo, o que fornece certa intensidade. A tradução desses pesos pode ser feita
da seguinte forma:
FREQUENCIA DO EVENTO SEVERIDADE DO EVENTO
Classificação Peso Classificação Peso
Raríssimo 1 Perda muito baixa 1
Raro 2 Perda baixa 2
Eventual 3 Perda média 3
Freqüente 4 Perda alta 4
Muito freqüente 5 Perda grave 5
Posteriormente a área do gráfico é fracionada em quatro partes segundo essa intensidade, em
regiões que caracterizam os níveis de risco sob análise. Intuitivamente percebe-se que as
regiões com alto risco são aquelas que exigem controles mais rígidos, enquanto que as de
baixo risco precisam de um controle moderado, que não demande esforços como as demais.
4. Procedimentos Metodológicos
A figura 3 detalha os procedimentos metodológicos seguidos para a construção deste artigo.
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Figura 3 – Esquema dos procedimentos metodológicos utilizados. Fonte: Elaboração própria
O estudo de caso foi conduzido para viabilizar a verificação dos riscos, uma vez que estes são
específicos, ou seja, variam de acordo com a organização. Nesse sentido a observação foi
considerada adequada para a identificação dos riscos na perspectiva dos envolvidos no
processo.
Como a identificação se deu com o auxílio dos envolvidos os mesmos foram designados
como indivíduos pesquisados, participando também como respondentes do questionário
elaborado. Esta escolha justifica-se pelo entendimento desenvolvido por eles no que tange o
conhecimento subjetivo dos impactos ocasionados por problemas inerentes ao setor estudado,
comercial/marketing.
4.1. Seleção da técnica de gerenciamento de riscos
Dentre as técnicas qualitativas presentes na literatura e consideradas como possíveis técnicas
de análise aparecem a matriz de risco, árvore de decisão, e matriz de desempenho. A escolha
se deu pela elaboração do quadro 1 que apresenta as características de cada uma das técnicas
consideradas, identificando aquelas que são de interesse da pesquisa.
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QUADRO RESUMO
Técnicas
Qualitativas de
Gerenciamento
Características identificadas
Característica
de Interesse à
Pesquisa
Matriz de risco
Objetivo: Mensuração qualitativa dos riscos X
Análise de riscos de naturezas diversas X
Consideração de freqüência e severidade X
Árvores de
decisão
Objetivo: Classificação de dados a partir da lógica de mineração
Redução de uma decisão complexa à certa quantidade de elementos
simples
Necessário conhecer atributo mais importante e ordem dos
subseqüentes
Facilidade na compreensão X
Utilizada após a ocorrência de uma falha
Matriz
Importância-
Desempenho
Objetivo: Avaliação de fatores competitivos
Necessário definir os indicadores que sejam alinhados à estratégia da
empresa
Utiliza a percepção dos clientes quanto aos objetivos de desempenho
definidos
Compara cada objetivo com os níveis atingidos pelos concorrentes
Quadro 1 - Características Distintivas das Técnicas Qualitativas de Gerenciamento de Risco .Fonte: Elaboração
própria
Por meio da identificação sintetizada no quadro 1, a técnica escolhida para a confecção desse
trabalho foi a matriz de risco. Desta forma, nos questionamentos referentes aos riscos
indicados foram dispostos graus de intensidade e freqüência a cada fonte de risco. Estes graus
variavam de 1 a 5 e os respondentes, caso afirmasse a ocorrência de algumas das fontes de
risco contidas no questionário, assinalaria campos variantes de 1 a 5 em relação à freqüência
de acontecimento e à severidade no caso de ocorrência. Com o cruzamento destes níveis a
matriz foi elaborada e os riscos foram dispostos nas regiões classificadas pela matriz de risco.
5. Resultados
A empresa pesquisada atua no ramo plástico, dispondo de um processo constituído de três
etapas, denominadas como A, B e C e três famílias de produtos, tratadas como I, II, e III.
Do ponto de vista comercial a tabulação permitiu a construção da matriz de risco apresentada
na figura 4, onde apenas com uma breve análise verifica-se que os fatores analisados
encontram-se dispostos em sua maioria (três dos cinco fatores) na região “C” que representa
alto risco. Os fatores dispostos nesta região referem-se ao não atendimento à demanda (a),
alterações na demanda durante o período de planejamento (b) e de problemas advindos da
ausência de técnicas de previsão (c).
Questão Conteúdo das questões
A Não atendimento da demanda
B Alterações na demanda durante período de planejamento
C Percepção da distorção entre demanda real e prevista durante a execução do planejamento
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D Produção ociosa devido à baixa procura
E Problemas advindos da ausência de técnicas de previsão
Figura 4 - Matriz de Risco do Setor Comercial
Entre os fatores dispostos na região “C” a questão “a” foi classificada como a mais grave. Na
percepção do setor comercial não atender à demanda é ir de encontro à sua principal função,
atender ao cliente, pois mesmo que toda a fábrica esteja comprometida com essa atividade, é
ele (comercial) quem realiza todo o contato e negociação. O posicionamento do setor quanto a
questão “b” é interessante, pois mesmo sendo responsável pela atividade o setor indicou como
de alto risco a constante modificação das necessidades dos clientes solicitadas ao PPCP. A
explicação para essa ocorrência com freqüência e severidade altas foi dada pelo próprio setor
durante entrevistas com os membros participantes da pesquisa.
Dentre as causas das alterações foram comentadas: solicitações realizadas por alguns clientes
importantes, sem conhecimento prévio; quebra de equipamentos dedicados a certas famílias
de produtos, gerando necessidade de mudar o planejamento para garantir um máximo
faturamento e problemas ocasionais nas instalações de seus clientes, a exemplo de um grande
comprador do ramo alimentício que teve galpões danificados pelas chuvas no Estado e
postergou entregas por várias semanas.
A figura 5 evidencia o impacto para a fábrica provocado pela freqüência de alterações. A
figura foi obtida do relatório de produção de uma das máquinas do setor de impressão. Os
setups desse setor são considerados altos, chegando à 5h quando equivalem a trocas de
mandris (suportes acoplados na máquina de impressão para encaixar os produtos que serão
impressos). De acordo com a figura 5 , os produtos vinham sendo fabricados em uma
sequência em que não havia necessidade de efetuar grandes setups, porém do dia 18 ao dia 21
verifica-se uma considerável freqüência nas alterações dos produtos tornando necessária a
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troca dos mandris e consequentemente diminuindo a capacidade efetiva devido a setups que
poderiam ser evitados.
Figura 5 - Relatório de produção Setor Impressão
Na figura 6 é possível ilustrar de que forma a capacidade efetiva poderia ser aumentada no
período considerado (entre os dias 18 e 21), apenas mudando a sequencia de produção. As
horas em que a produção fica parada para realização de setups poderiam sofrer um
decréscimo de 5:05h caso houvesse um sequenciamento adequado, passando de 22:35h para
17:30h.
Cabe ressaltar que neste sequenciamento foram desconsiderados os produtos anteriores ao
período analisado, havendo uma possibilidade de melhorar ainda mais a forma como estes
produtos estão dispostos durante o mês. Analisando o sequenciamento real de produção
(figura 5) é possível perceber a rapidez com que as alterações são solicitadas. Por duas vezes,
nos dias 18 e 20 no turno C, houve a necessidade de quebrar a sequencia processo produtivo e
colocar um produto distinto no processo, ocasionando a realização de grandes setups na
máquina.
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Figura 6 - Comparação entre Sequências de Produção
Verifica-se a falta de coerência entre a demanda real e prevista no processo A, haja vista que,
caso houvesse esse conhecimento, não haveria necessidade de mudanças repentinas em
períodos tão curtos. Na figura 4, que representa a matriz de risco do setor comercial, verifica-
se o indicativo deste fator como o risco a que a fábrica está mais propensa em termos de
demanda, o que endossa a ocorrência deste. O risco neste caso ocorre em dois casos: na
entrega atrasada do produto ao cliente, devido à falta de flexibilidade da fábrica com seus
altos setups; e no descontentamento gerado entre os funcionários que precisam ser ágeis para
impedir que o problema anterior aconteça.
Na figura 6, os produtos que quebraram o seqüenciamento (P265 e P290) e que ficaram
prontos nos dias 19 e 20 estariam disponíveis no dia 21, uma mudança pouco significativa,
desconsiderando é claro, a existência de algum problema que não somos capazes de enxergar
por não estarmos inseridos no cotidiano da fabril.
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Este seqüenciamento foi proposto pelos próprios funcionários do processo A e disposto neste
trabalho ilustrativamente, com o intuito de mostrar que medidas simples podem ocasionar
melhorias nas condições da fábrica.
O mesmo problema de sequenciamento da produção da figura 5 pode ser visto na figura 7,
que representa a mesma máquina considerada anteriormente, só que no mês seguinte. Nesta
última figura, a mudança ocorreu no final do mês, período em que a fábrica geralmente realiza
todas as alterações necessárias para que o faturamento esteja compatível com o orçado no
inicio do ano, inclusive a realização de setups, que são prejudiciais a empresa como um todo.
Figura 7 - Relatório de produção Setor Impressão
Este tipo de problema não é apenas encontrado em períodos em que a demanda pelos produtos
é alta, ocorrendo até mesmo quando a empresa não utiliza toda a sua capacidade. Os
entrevistados afirmaram que por vezes os clientes solicitam mudanças que são aceitas pela
fábrica antes de uma análise de sua atual situação. Os entrevistados, principalmente os
supervisores da empresa, indicaram que as alterações que ocasionam grandes setups ocorrem
freqüentemente no decorrer do mês, o que pode ser constatado facilmente pela análise dos
relatórios.
Por fim a questão “e” relacionada à ausência de técnicas de previsão foi também indicada
como fonte de risco, ocasionando as distorções entre a demanda real e a prevista. A gerência,
responsável pela confecção de parte do orçamento anual que indica as famílias de produtos
que possivelmente serão vendidas e suas respectivas quantidades, afirma que devido á
instabilidade fabril e do próprio mercado a utilização de técnicas ainda sim ocasionariam
distorções. A técnica utilizada atualmente é uma média da demanda solicitada historicamente
com ajustes implementados de acordo com as considerações atuais do mercado, como o
preço.
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O fator disposto na região “D”, proveniente da questão “c”, refere-se à percepção da distorção
entre a demanda real e prevista durante a execução do planejamento. Pelo mesmo motivo que
a questão “b”, o setor comercial indicou que não apenas ocorrem alterações na demanda
durante o planejamento, mas que essas alterações são perceptíveis e relativamente aceitas
pelos demais gestores por conta das causas comentadas anteriormente, como o atendimento de
um cliente importante. A figura 6 também é útil para exemplificar essa constatação, uma vez
que o relatório de produção é diário e está disponível para todos os funcionários ligados às
áreas administrativas. Desta forma, uma breve analise da seqüência dos itens fabricados no
mês deixa claro que, ou houve falha no planejamento inicial, ou foi necessário atender a
alguma solicitação urgente de determinado cliente.
A região “B”, que representa um risco médio, teve apenas um fator relacionado, referente à
questão “d”, que é o indicativo de produção ociosa, devido á baixa procura pelos produtos. A
gerência comercial indicou que em períodos de sazonalidade existe uma certa compensação
de itens fabricados entre famílias de produtos da empresa (I, II e III). Um dos maiores clientes
da família de I é um grande fabricante de chá gelado e suco, e por as vendas serem reduzidas
no inverno ocorre uma diminuição na demanda por embalagens plásticas. Nestes meses em
que a procura por esta família de produtos é baixa, outro grande comprador, fabricante de
margarina e creme vegetal, aumentam seus pedidos, porém das famílias de II e III, fazendo
com que as vendas sejam levemente acrescidas em um momento de baixa de demanda
relacionados a produtos associados as estações quentes. Mesmo com essa substituição não há
compensação total e é comum que seja mantida a produção dos produtos “lisos”, ou seja,
aqueles que não passam pelo processo A, baseados nas previsões que nem sempre são
coerentes e aumentam os estoques de produtos intermediários.
6. Conclusões
De maneira resumida apresentam-se os possíveis ocasionadores de problemas referentes aos
riscos detectados, que são:
Ausência de previsão de demanda sistematizada;
Má formulação da estratégia da empresa quanto ao seu sistema de produção,
apresentando um confronto entre atender a meta de baixos estoques, mas
produzindo acima da sua real necessidade;
Desalinhamento entre demanda e capacidade;
Com a elaboração da matriz foi possível constatar que as operações entre os setores de PPCP
e Comercial são fontes potenciais de risco para empresa. Com uma rápida visualização
percebe-se a grande quantidade de fatores dispostos nas regiões “C” e “D”, de alto e extremo
risco, respectivamente. Além disso, visualizou-se que estas operações, com falhas recorrentes,
acarretam uma série de prejuízos para o sistema como um todo, tais como, aumento dos
estoques e do capital de giro parado, dificuldade de armazenagem e movimentação,
retrabalho, discussões verbais e desmotivação dos funcionários, que convivem diariamente
com um sistema totalmente vulnerável a erros.
Conclui-se, portanto, que dentre os riscos de demanda, inerentes ao setor comercial/marketing
aqueles que merecem ser tratados com veemência referem-se a:
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1. Percepção da distorção entre demanda real e prevista durante execução do
planejamento;
2. Não atendimento da demanda;
3. Ausência de técnicas de previsão.
Estes são, portanto, os pontos que devem ter planos de ação elaborados com o caráter de
prevenção no sentido de minimizar os problemas que são comumente encontrados, aqui
relacionados como sendo: aumento dos estoques; capital de giro parado; dificuldade na
armazenagem e movimentação; retrabalho; discussões verbais; desmotivação dos
funcionários.
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