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Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS E VARIAÇÕES HIDRO- CLIMÁTICAS EM SÉRIES ANUAIS AO LONGO DO RIO AMAZONAS E SEUS AFLUENTES Victor Zeni Beretta Faculdade de Engenharia Ambiental CEATEC/PUC-Campinas [email protected] Júlio César Penereiro Grupo de Modelagem Matemática CEATEC/PUC-Campinas [email protected] Resumo: Este trabalho busca identificar a ocorrência de tendências em séries temporais relativas aos índices anuais das precipitações pluviométricas e das temperaturas mínima, média e máxima, além da vazão em rios, registradas em localidades pertencen- tes à região Norte do Brasil. Foram utilizadas as medições realizadas pelo Instituto Nacional de Mete- orologia (INMET) e pela Agência Nacional de Águas (ANA). Visando identificar a presença de tendência, para cada série foram aplicadas análises de regres- são linear e os testes não paramétricos de Mann- Kendall e Pettitt. Os resultados confirmam que a maioria das localidades avaliadas (69,4%) não regis- traram tendências na precipitação, enquanto que para as temperaturas, a maioria acusou tendência positiva para a temperatura média (63,9%), seguido da máxima (58,3%) e da mínima (52,8%). Não houve registro de diminuição das temperaturas média e máxima em qualquer das localidades estudadas, enquanto que em apenas uma cidade (São Gabriel da Cachoeira) identificou-se a diminuição da tempe- ratura mínima a partir de 2002. O índice de vazão registrou tendência em apenas quatro localidades, correspondendo a 11,5% do total analisado. Palavras-chave: região Amazônica, mudanças hi- dro-climáticas, testes estatísticos. Área do Conhecimento: Ciências Exatas e da Terra – Estatística e Climatologia. 1. INTRODUÇÃO Um dos temas que vem ocupando o meio científico- acadêmico nos últimos anos está relacionado à iden- tificação de evidências observacionais para varia- ções e mudanças do clima. Apesar de ainda existi- rem muitas controvérsias a respeito da influência humana sobre o clima terrestre, variações dos parâ- metros climáticos desde meados da década de 1970 têm sido identificados, sendo possível afirmar que uma parte da variabilidade do clima seja uma conse- quência do atual aquecimento global observado. Neste sentido, as evidências de mudanças nos regi- mes de temperaturas e precipitações são frequente- mente apontadas com causa da interferência do homem no ambiente, especialmente devido aos desmatamentos, as queimadas e pela crescente urbanização sem planejamento adequado do uso do solo [1, 2]. Não obstante a essas interferências, sa- be-se que o ciclo hidrológico de uma bacia hidrográ- fica é um processo complexo que também é influen- ciado pelas suas características físicas, pelo clima local, assim como pelas atividades humanas [2]. Considerando o acelerado desenvolvimento urbano e agroindustrial ocorrido nas últimas décadas, em par- ticular na região norte do Brasil, esse fenômeno so- cioeconômico tem provocado a degradação dos re- cursos hídricos daquela região, inclusive no que tange aos aspectos quantitativos e qualitativos. Esse problema vem ocorrendo devido, principalmente, ao uso da água e do solo sem um gerenciamento ade- quado e a quase ausência de tratamento do esgoto urbano e industrial [3]. Além destes fatores, as quei- madas em conjunto com a poluição e, consequente- mente, a destruição da mata ciliar, em médio e longo prazo, podem degradar e diminuir a capacidade de armazenamento de água da sub-bacia que lhe per- tence, alterando o regime de vazão dos rios ali exis- tentes [4]. Constata-se, portanto, que as matas cilia- res participam de processos vitais para a manuten- ção dos recursos hídricos, como o escoamento em decorrência das chuvas nas bacias hidrográficas. Com a finalidade de aprofundar os comentários aci- ma citados, a presente pesquisa visa realizar uma extensa análise exploratória das séries temporais dos índices anuais de temperaturas (mínima, média e máxima) e precipitação pluviométrica utilizando os

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Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420

22 e 23 de setembro de 2015

IDENTIFICAÇÃO DE TENDÊNCIAS E VARIAÇÕES HIDRO-CLIMÁTICAS EM SÉRIES ANUAIS AO LONGO DO RIO

AMAZONAS E SEUS AFLUENTES

Victor Zeni Beretta Faculdade de Engenharia Ambiental

CEATEC/PUC-Campinas [email protected]

Júlio César Penereiro Grupo de Modelagem Matemática

CEATEC/PUC-Campinas [email protected]

Resumo: Este trabalho busca identificar a ocorrência de tendências em séries temporais relativas aos índices anuais das precipitações pluviométricas e das temperaturas mínima, média e máxima, além da vazão em rios, registradas em localidades pertencen-tes à região Norte do Brasil. Foram utilizadas as medições realizadas pelo Instituto Nacional de Mete-orologia (INMET) e pela Agência Nacional de Águas (ANA). Visando identificar a presença de tendência, para cada série foram aplicadas análises de regres-são linear e os testes não paramétricos de Mann-Kendall e Pettitt. Os resultados confirmam que a maioria das localidades avaliadas (69,4%) não regis-traram tendências na precipitação, enquanto que para as temperaturas, a maioria acusou tendência positiva para a temperatura média (63,9%), seguido da máxima (58,3%) e da mínima (52,8%). Não houve registro de diminuição das temperaturas média e máxima em qualquer das localidades estudadas, enquanto que em apenas uma cidade (São Gabriel da Cachoeira) identificou-se a diminuição da tempe-ratura mínima a partir de 2002. O índice de vazão registrou tendência em apenas quatro localidades, correspondendo a 11,5% do total analisado.

Palavras-chave: região Amazônica, mudanças hi-dro-climáticas, testes estatísticos.

Área do Conhecimento: Ciências Exatas e da Terra – Estatística e Climatologia.

1. INTRODUÇÃO Um dos temas que vem ocupando o meio científico-acadêmico nos últimos anos está relacionado à iden-tificação de evidências observacionais para varia-ções e mudanças do clima. Apesar de ainda existi-rem muitas controvérsias a respeito da influência

humana sobre o clima terrestre, variações dos parâ-metros climáticos desde meados da década de 1970 têm sido identificados, sendo possível afirmar que uma parte da variabilidade do clima seja uma conse-quência do atual aquecimento global observado. Neste sentido, as evidências de mudanças nos regi-mes de temperaturas e precipitações são frequente-mente apontadas com causa da interferência do homem no ambiente, especialmente devido aos desmatamentos, as queimadas e pela crescente urbanização sem planejamento adequado do uso do solo [1, 2]. Não obstante a essas interferências, sa-be-se que o ciclo hidrológico de uma bacia hidrográ-fica é um processo complexo que também é influen-ciado pelas suas características físicas, pelo clima local, assim como pelas atividades humanas [2]. Considerando o acelerado desenvolvimento urbano e agroindustrial ocorrido nas últimas décadas, em par-ticular na região norte do Brasil, esse fenômeno so-cioeconômico tem provocado a degradação dos re-cursos hídricos daquela região, inclusive no que tange aos aspectos quantitativos e qualitativos. Esse problema vem ocorrendo devido, principalmente, ao uso da água e do solo sem um gerenciamento ade-quado e a quase ausência de tratamento do esgoto urbano e industrial [3]. Além destes fatores, as quei-madas em conjunto com a poluição e, consequente-mente, a destruição da mata ciliar, em médio e longo prazo, podem degradar e diminuir a capacidade de armazenamento de água da sub-bacia que lhe per-tence, alterando o regime de vazão dos rios ali exis-tentes [4]. Constata-se, portanto, que as matas cilia-res participam de processos vitais para a manuten-ção dos recursos hídricos, como o escoamento em decorrência das chuvas nas bacias hidrográficas. Com a finalidade de aprofundar os comentários aci-ma citados, a presente pesquisa visa realizar uma extensa análise exploratória das séries temporais dos índices anuais de temperaturas (mínima, média e máxima) e precipitação pluviométrica utilizando os

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dados climatológicos acumulados ao longo de vários anos pelas estações medidoras do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) distribuídas em território brasileiro. A pesquisa visa identificar tendências, bem como a análise de variabilidade ao longo de cada série considerada. Para tanto, empregou-se métodos estatísticos como da regressão linear, a versão sequencial do teste de tendência de Mann-Kendall [5] e o teste de ruptura de Pettitt [6]. No presente trabalho apresenta-se parte do levanta-mento realizado com os dados medidos pelas esta-ções meteorológicas localizadas em Norte do Brasil. Os resultados inferidos ao aplicar os referidos testes foram analisados na perspectiva de realizar um estu-do exploratório visando averiguar se as tendências detectadas estão relacionadas à influência antropo-gênica. 2. OBJETIVOS Com o auxílio de programas computacionais especí-ficos desenvolvidos em planilhas do Microsoft Excel, pretendeu-se analisar os índices de precipitação, vazão e as medidas de temperaturas mínima média e máxima, existentes na Internet, disponibilizados nas bases de dados do INMET e da ANA. Verificar as eventuais variabilidades nesses parâmetros hidro-climáticos, além de detectar tendências significativas. Relacionar e identificar se ocorreram mudanças no meio ambiente regional e verificar as possíveis cau-sas que levaram a essas alterações. 3. METODOLOGIA DESENVOLVIDA Inicialmente, realizou-se uma revisão bibliográfica sobre o assunto de interesse, sendo os esforços direcionados aos estudos relacionados às caracterís-ticas geográficas, ambientais e climáticas da região norte brasileira e, concomitantemente, as aborda-gens relacionadas aos tratamentos de dados envol-vendo métodos estatísticos para detecção de ten-dência em série temporal. A partir do banco de dados climáticos do Instituto Nacional de Meteorologia [7], para temperaturas e precipitação pluviométrica, além dos disponíveis pela Agência Nacional de Águas [8], para os dados de vazões em rios, foi possível obter as informações necessárias e desejadas para um amplo estudo esta-tístico envolvendo várias localidades espalhadas ao longo do rio Amazonas e seus afluentes. No presente trabalho, foram selecionadas 17 cidades próximas ao percurso do rio Amazonas e seus aflu-entes que possuem estações meteorológicas do INMET. No que concerne às medidas de vazão, co-mo dito anteriormente, foi utilizado o banco de dados

da ANA, onde se selecionou 29 localidades com estações próximas ao rio Amazonas e seus afluen-tes. Na Figura 1 estão contidos os posicionamentos das localidades citadas anteriormente, os círculos indicam as posições das estações do INMET, en-quanto que as cruzes mostram os locais aproxima-dos das estações da ANA ao longo do rio Amazonas e alguns de seus afluentes.

Figura 1. Mapa da Região Norte do Brasil, mostrando as localizações das estações referentes aos dados d o INMET, em círculos, e da ANA, em cruzes. Após o levantamento e organização dos dados, fo-ram usados os modelos matemáticos e estatísticos empregando os programas computacionais utilizando o software Microsoft Excel [9]. A partir desses proce-dimentos, foi possível inferir se ocorrem, e quando, tendência numa série temporal de dados medidos pelas estações do INMET e da ANA. O trabalho empregou três métodos para detecção de tendências nas séries hidro-climáticas de interesse, a saber: o teste da Análise de Regressão e os testes de Mann-Kendall (MK) e de Pettitt (Pet). A seguir são discutidos resumidamente esses modelos estatísti-cos. Utilizou-se a Análise de Regressão para verificar o comportamento da variabilidade de uma determinada série temporal por meio da significância do coeficien-te angular de uma reta ajustada as medições. Para tanto, realizou-se o cálculo das médias móveis, em-pregando ordem cinco aos dados e, em seguida, trabalhou-se com uma suavização dos dados visan-do evitar ou minimizar possíveis flutuações dos mesmos. Posteriormente, tanto para os pontos mé-dios como para os suavizados, aplicou-se o ajuste da equação da reta de tendência e analisou-se o inter-valo de confiança em 95% acima e abaixo do valor estimado do coeficiente angular, sendo que, se este

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intervalo não incluir o valor zero, presume-se que a tendência seja significativa. O teste de MK considera que, na hipótese de estabi-lidade de uma série temporal, a sucessão de valores ocorre de forma independente e a distribuição de probabilidade deve permanecer sempre a mesma (série aleatória simples). Um valor positivo do coefi-ciente ( )ntU e ( )ntU * de MK indica uma tendên-

cia de aumento da variável, enquanto que um valor negativo indica uma tendência de decréscimo, desde que significativos ao nível de 5% e 10%. No que tange ao teste de Pettitt, este verifica se duas amostras pertencem à mesma população. Para tan-to, calcula-se a estatística ( )tK por meio de uma contagem do número de vezes que um membro da primeira amostra é maior que um membro da segun-da amostra. O procedimento localiza o ponto em que houve uma mudança brusca da série temporal, sen-do sua significância avaliada em 5% e 10% do valor crítico ( .critK ), máximo ou mínimo, de ( )tK . Maiores detalhes desses testes podem ser obtidos em [10]. No entender desses autores, os dois últimos testes descritos acima são os melhores procedimen-tos de análises em séries temporais. Isso ocorre porque eles possuem um maior embasamento esta-tístico para modelos teóricos de descrição climática e hidrológica, sendo importante utilizá-los de forma combinada, isto é, realizando análises gráficas e numéricas em conjunto para que se possa identificar e localizar quando passou a existir uma tendência na série. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizados os cálculos dos ajustes da linha de tendência e análise de regressão utilizando as médias móveis e suavizações de todas as séries temporais informadas nas localidades mostradas na Figura 1. Posteriormente a esses cálculos, com o intuito consti-tuir uma ferramenta adicional de interpretação estatís-tica, foram gerados os gráficos dos comportamentos das séries visando identificar as características e peculiaridades de cada uma, tais como a eventual existência de heterogeneidades e mudanças abrup-tas. Por ser um teste com elevado embasamento estatís-tico, optou-se neste trabalho por dar maior evidência aos resultados das aplicações dos testes de MK e Pet. A título de exemplificação, algumas formas grá-ficas são mostradas nas Figuras 2 e 3 e analisadas em seqüência. Nessas figuras as linhas horizontais tracejadas e pontilhadas referem-se os intervalos (para o teste de Mann-Kendall, abaixo da figura e em

preto) e os níveis (para o teste de Pettitt, acima da figura e em vermelho) de confiança de ±5% a ±10%, respectivamente. Estabeleceu-se um critério de uniformidade que ex-pressasse os resultados dos dois testes, utilizou-se a seguinte convenção: o sinal (–)(–) para uma tendên-cia negativa confirmada entre 5% e 10% dos interva-los de confianças bilaterais e o sinal (–) se for acima de 10% do intervalo de confiança. De maneira aná-loga, usou-se os sinais (+)(+) e (+) para tendência positiva confirmada, respectivamente. Caso não houvesse condições de confirmar tendência um sinal (?) foi adotado. A Figura 2 mostra os gráficos com os comportamen-tos medidos pelos testes não paramétricos para os dados de T-Méd na cidade de Fonte Boa e para a T-Máx. na cidade de Óbidos. A Figura 2(a) mostra que para Fonte Boa as medidas da temperatura média indicaram haver tendência positiva (+) iniciando em 2001, pois há um cruza-mento das curvas ( )ntU e ( )ntU * no teste de MK

entre os intervalos de confiança, enquanto que no teste de Pet a curva ( )tK cruzou os níveis de signi-ficância de ±5% e ±10% naquela data. Para a cidade de Óbidos, mostrada na Figura 2(b), a curva estatística do teste de Pettitt não cruzou ne-nhum dos níveis de significância, descartando-se assim a tendência nesta variável climática.

Figura 2. Testes de Mann-Kendall (inferior e na cor preto) e de Pettitt (superior e na cor vermelha) ap li-cados aos dados de: (a) T-Máx. em Óbidos (PA) e (b) T-Méd. em Fonte Boa (AM).

A Figura 3(a) revela que a cidade de Barcelos acu-sou tendência positiva de nível (+)(+) no índice de chuva a partir de 1996, pois as curvas estatísticas do teste de MK cruzaram o intervalo de significância de ±5% a ±10%, o mesmo ocorrendo para a curva da estatística do teste de Pet que cruzou os níveis de significância de ±5% a ±10%. No caso da vazão medida em Barcelos, mostrado na Figura 3(b), a situação se repete, isto é, a partir de

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1998, apresentou tendência positiva com nível de significância de 5% a 10%.

Figura 3. O mesmo que na figura anterior, porém para os dados de: (a) Prec . e (b) Vaz. na cidade de Barcelos (AM) .

Como comentado anteriormente, os procedimentos ilustrados nas Figuras 2 e 3 foram aplicados a todos as séries temporais que, posteriormente, foram or-ganizadas para elaboração desse trabalho. A partir desta etapa decidiu-se elaborar mapas das distribui-ções das tendências dessa região hidrográfica, como os apresentados nas Figuras 4 a 8. Cada mapa cor-responde a uma determinada grandeza trabalhada no levantamento. Por meio de análises nesses ma-pas foi possível identificar os locais onde se detecta-ram tendências crescentes e decrescentes nos ní-veis de significâncias avaliados (5% e 10%), segun-do a legenda apresentada ao lado direito de cada figura. A distribuição das tendências relacionadas à vazão média (Vaz.) está mostrada na Figura 4. Pode-se constatar que em quatro localidades apresentaram tendência para o nível de significância de ±5%. Estas localidades foram: Caracaraí (RR), Humaitá (AM), Manacapuru (AM) e Manicoré (AM).

Figura 4. Mapa da Região Norte do Brasil, contendo uma síntese das análises estatísticas empregando os testes de Mann-Kendall e Pettitt para a vazão média (Vaz.) de cada localidade tratada.

Analisando todas as tendências registradas, obser-vou-se que a maioria das localidades não apresentou tendências nos índices de vazões dos rios aborda-dos, entretanto há de se destacar esse fato corres-ponde há 88,50% das localidades presentes na a-mostra estudada, o que concluísse que essa variável hidrológica é pouco sensível aos testes estatísticos não paramétricos aqui aplicados. Constatou-se que a maior parte dos índices de Prec. medida nas 17 localidades que compõem a amostra em estudo não acusou tendências. Isso pode ser comprovado ao analisar o mapa da distribuição des-sas localidades para essa variável climática que está mostrado na Figura 5. Neste caso, as cidades que tiveram tendência confirmada foram: Fonte Boa (AM), Parintins (AM), Monte Alegre (PA), Altamira (AM), Barcelos (AM) e Lábrea (AM). Dessas, as qua-tro primeiras apresentaram tendências positivas a partir dos anos de 1996, 1987, 1998 e 1983, respec-tivamente. Em contrapartida, as cidades de Barcelos (AM) e Lábrea (AM) apresentaram tendência negati-va na precipitação a partir de 1976 e 2001, respecti-vamente.

Figura 5. Similar à figura anterior, mas para os re sul-tados da precipitação Pluviométrica ( Prec. ) cada lo-calidade tratada.

Constata-se no mapa das localidades estudadas, representado na Figura 6, que a maior parte das cidades apresentou tendências positivas significati-vas na T-Mín. Sendo que, em sete cidades registra-ram tendência positiva (+)(+). Na cidade de Fonte Boa (AM) a tendência foi positiva (+), enquanto que em São Gabriel da Cachoeira (AM) identificou-se uma tendência negativa (-)(-). No restante das locali-dades da amostra não se constatou nenhuma ten-dência significativa. Observando o mapa da Figura 7 que mostra a distri-buição das localidades com as medidas de T-Méd.,

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pode-se constatar que a maior parte da amostra estudada apresentou tendência positiva, sendo que em duas localidades, Fonte Boa (AM), a partir de 2001, e Manicoré (AM), a partir de 2002, apresenta-ram uma significância menor. Não obstante, em sete cidades da amostra não se comprovou a ocorrência de tendência. Estas localidades são: Benjamin Cons-tant (AM), Rio Branco (AC), São Gabriel da Cachoei-ra (AM), Itaituba (PA), Altamira (PA), Porto de Moz (PA) e Macapá (AP).

Figura 6. Analogamente à figura anterior, mas para os resultados estatísticos envolvendo a temperatura minima ( T-Mín.).

Figura 7. Idem ao apresentado na figura anterior, m as para a temperatura média ( T-Méd.).

No mapa da distribuição das cidades analisadas para a T-Máx., mostrado na Figura 8, pode-se observar que a maioria das localidades apresentaram tendên-cias positivas (+)(+). No entanto, a cidade de Manico-ré (AM) indicou uma tendência positiva, porém com uma significância menor (+). O mapa revela que em sete cidades da amostra não foi possível acusar tendência na temperatura máxima quando se aplica-ram os testes de Mann-Kendall e de Pettitt.

Possivelmente, os comportamentos das tendências detectadas nas temperaturas mostradas nas Figuras 6, 7 e 8 parecem estar relacionados com as caracte-rísticas geográficas da região norte do Brasil. No entanto, por intermédio de levantamentos realizados relativos às ocorrências dos fenômenos El Niño e La Niña, por meio do boletim informativo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE [11] e dos trabalhos elaborados por [12], realizou-se algumas observações referentes a esses eventos climáticos, considerando a influência ou não deles nas tendên-cias aqui estudadas.

Figura 8. Distribuição dos resultados para a temper a-tura máxima ( T-Máx.) na região norte do Brasil.

Os anos que ocorreram os eventos climáticos El Niño e La Niña são pertencentes ao período do mês de julho, correspondendo ao início do fenômeno, até o mês de junho do ano subseqüente. A literatura indica os seguintes períodos de influencia desses fenômenos [12]: • El Niño: 1976–1977, 1982–1983, 1987–1988, 1990 - 1994, 1994–1995, 1997–1998, 2002–2003, 2004-2005. • La Niña: 1983-1985, 1995–1996, 1998–1999, 1999–2000. Como as tendências para algumas localidades aqui analisadas ocorreram no mesmo período do fenô-meno ENOS, observa-se que parte das tendências podem ter sido influenciadas por esses fenômenos. Desta forma, constatou-se que em 27 tendências inferidas para as medidas de precipitação e de tem-peraturas coincidiram com esses períodos. No entan-to, para a variável hidrológica de vazão, foi verificado que em apenas três localidades apresentaram ten-dência no mesmo ano dos fenômenos e, consequen-temente, pode ter influenciado os testes estatísticos realizados nessas localidades. Porém, não são somente estes fenômenos que po-dem ter influenciado as tendências aqui inferidas. Os

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desmatamentos podem estar relacionados com as tendências positivas, em particular para as variáveis climáticas aqui abordadas, sendo que nos anos de 1995, 2004, 2003, 2002, 1998, 2001 e 2000, respec-tivamente, foram os anos de maior índice de desma-tamentos na região Norte do Brasil. 5. CONCLUSÕES O presente trabalho representa uma ampla gama de dados envolvendo as medições registradas pelos equipamentos da rede de estações medidoras do INMET e da ANA espa-lhadas pela região Norte do Brasil. As análises realizadas por meio dos testes estatísticos nas séries de cada parâ-metro meteorológico e hidrológico indicaram que: - Para a T-Mín., 47% das séries tratadas acusaram ten-dência positiva e somente uma localidade registrou ten-dência negativa, o que equivale a 6% da amostra. O res-tando, isto é, 47% das localidades não apresentaram ten-dência. - Para as T-Méd. e T-Máx., os testes indicaram que a mai-oria das séries apresentou tendência positiva, correspon-dendo a 59% da amostra. Em sete locais não foram con-firmadas tendência, ou seja, 41% das estações abordadas. - Para a Prec., tendência positiva foi inferida em 23,5% dos locais, enquanto que tendência negativa foi acusada em 12% da amostra. O restante, isto é, em 11 locais não indi-caram tendência, ou seja, 64,5% dos locais estudados. - Para as Vaz., medidas no rio Amazonas e seus afluentes, apenas três, das 26 localidades estudadas, apresentaram tendência, o que correspondendo a 11,5% da amostra avaliada. O restante das localidades, isto é, para as 23 estações da ANA, não apresentaram nenhuma tendência, o que significa 88,5% da amostra selecionada. O trabalho sugere a possibilidade de que a inferência de uma determinada tendência numa variável hidro-climática esteja relacionada à ação antropogênica e, portanto, têm um caráter regional. Talvez isso se deva ao mau uso da terra e dos rios, tais como desmatamentos, queimadas, assoreamento, uso excessivo da água e o lançamento de esgotos. Sendo assim, ainda não se pode ter um quadro claro sobre os possíveis impactos da mudança climática e da ação antropogênica quando se olha a distribuição espacial das tendências inferidas no presente trabalho. Portanto, faz-se necessário uma melhor avaliação dos dados aqui mostra-dos. Estudos deste tipo poderão contribuir para a mitiga-ção das mudanças que estão ocorrendo nos ecossistemas e na biodiversidade da região amazônica. AGRADECIMENTOS Agradecemos à PROPESQ (Pró-Reitoria de Pesqui-sas) e a Reitoria da PUC-Campinas que, através do programa FAPIC, concederam a bolsa de I.C. REFERÊNCIAS [1] Serra Filho, R., et.al. (1975). Levantamento da

cobertura vegetal natural e do reflorestamento

no Estado de São Paulo. Boletim Técnico do Instituto Florestal. v.11, p. 1-56.

[2] Karl, T. R.; Diaz, H. F.; Kukla, G. (1988). Urbani-zation: its detection and effect in the United States climate record. Journal of Climate. v.1, p. 1099-1123.

[3] Groppo, J. D., et.al. (2001). Análise de séries temporais de vazão e precipitação na bacia do rio Piracicaba. Revista Ciência & Tecnologia. v.8, p. 109-117.

[4] ANA. Agência Nacional de Águas. (2012). Con-juntura dos Recursos Hídricos no Brasil – Infor-me 2012. Disponível em: <http://www.2.ana.gov.br>. Acessado em: 01/09/2013.

[5] Sneyers, R., et al. (1990). Climatic changes in Belgium as appearing from the homogenized se-ries of observations made in Brussels – Uccle (1933-1988) In: SCHIETECAT, G. D. (Ed.). Con-tributions à l’etude des changements de climat. Bruxelles: Institut Royal Meteorologique de Belgique, Publications Serie. v.124, p. 17-20.

[6] Pettitt, A. N. (1979). A non-parametric approach to the change-point problem. Applied Statistics. v.28, p. 126-135.

[7] INMET. (2014). Instituto Nacional de Meteorolo-gia. BDMEP. Disponível em: <www.inmet.gov.br>. Acessado em: 07/05/2014.

[8] ANA. (2014). Agência Nacional de Águas. Sis-tema – HidroWeb. Disponível em: <www.hidroweb.ana.gov.br>. Acessado em: 09/06/2014.

[9] Penereiro, J. C.; Ferreira, D. H. L. (2011). Esta-tística apoiada pela Tecnologia: uma proposta para identificar tendências climáticas. Acta Sci-entiae. v.13, no.1, p. 87-105.

[10] Sansigolo, C. A.; Kayano, M. T. (2010). Trends of seasonal maximum and minimum tempera-tures and precipitation in Southern Brazil for the 1913-2006 period. Theoretical and Applied Cli-matology. v.101, p. 209-216.

[11] INPE. (2013). Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Ocorrência do La Niña e El Niño. Disponível em: <www.inpe.br>. Acessado em: 10/05/2013.

[12] Berlato M. A.; Farenzana H.; Fontana D. C. (2005). Associação entre El Niño Oscilação Sul e a produtividade do milho no Estado do Rio Grande do Sul. Pesquisa Agropecuária Brasileira. v.40, no.5, p. 423-432.