identificação, caracterização e gestão dos resíduos de madeiras

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DEPT” DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITCNICA MESTRADO PROFISSIONAL EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO SALVADOR 2007 MARIA LIVIA COSTA IDENTIFICA˙ˆO, CARACTERIZA˙ˆO E GESTˆO DOS RES˝DUOS DE MADEIRA PRODUZIDOS EM OBRAS DE EDIFICA˙ES EM SALVADOR

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  • DEPT DE ENGENHARIA AMBIENTAL - DEA

    UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIAESCOLA POLITCNICA

    MESTRADO PROFISSIONAL EMGERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS

    AMBIENTAIS NO PROCESSO PRODUTIVO

    SALVADOR 2007

    MARIA LIVIA COSTA

    IDENTIFICAO, CARACTERIZAO E GESTO DOS RESDUOS DE MADEIRA PRODUZIDOS EM

    OBRAS DE EDIFICAES EM SALVADOR

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  • MARIA LVIA COSTA

    IDENTIFICAO, CARACTERIZAO E GESTO DOS RESDUOS DE MADEIRA PRODUZIDOS EM OBRAS DE

    EDIFICAES EM SALVADOR

    Salvador 2007

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-graduao em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Escola Politcnica, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obteno do grau de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Sandro Fbio Csar

  • C8373 Costa, Maria Lvia

    Identificao, caracterizao e gesto dos resduos de madeiras em obras de edificaes. / Maria Lvia Costa. --- Salvador-BA, 2007.

    182 p. il.

    Orientador: Prof. Dr. Sandro Fbio Csar. Dissertao (Mestrado em Gerenciamento e

    Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo) - Universidade Federal da Bahia. Escola Politcnica, 2007.

    1. Indstria da construo civil Aspectos ambientais.

    2. Madeiras de construo Reaproveitamento (Sobras, refugos, etc.) 3. Materiais de construo

  • A minha me (in memoriam),

    a minha filha Nassa,

    a meu companheiro Paulo.

  • AGRADECIMENTOS

    Contribuir com o setor da construo e com a questo ambiental constituiu a

    motivao deste trabalho cujo pano de fundo foi a crena de que possvel mudar a realidade do setor e de que precisamos fazer a diferena no mundo. Por isso, agradeo queles que acreditaram neste projeto e contriburam para que o objetivo fosse alcanado, de tal modo que seu contedo bsico resultado de um processo de aprendizagem recproco entre profissionais das construtoras participantes e a autora.

    Em especial, agradeo s empresas ARC Engenharia Ltda, Pelir Engenharia

    Ltda e Cosbat Engenharia Ltda que participaram da pesquisa e, desta forma, deram sua contribuio ao setor da construo civil. Agradeo ainda a todos aqueles que me incentivaram em todos os momentos deste trabalho:

    a Deus, que fonte de amor, fora e inspirao; a minha famlia, pela compreenso em minhas ausncias e pelo estmulo

    constante; a meu orientador, Prof. Dr. Sandro Csar Paz, que pacientemente me

    ajudou a sempre melhorar; Cristal Desenvolvimento Organizacional Ltda.

  • A Rede de Indra

    Rig Veda (descrio de Anne Adams)

    H uma rede infinita de fios que perpassa o universo... Em cada interseco da rede h um indivduo.

    E cada indivduo um cristal. E cada cristal reflete no apenas

    a luz de cada cristal da rede, mas tambm cada reflexo atravs do universo.

  • RESUMO

    At bem pouco tempo, no havia qualquer preocupao ambiental em relao aos

    resduos gerados pelo setor da construo. Porm, medida que as questes

    ambientais se tornaram mais presentes no dia-a-dia, foi inevitvel a preocupao

    sobre o que fazer e qual a melhor forma de se gerenciar esses resduos. A prtica

    da reciclagem de resduos de construo apresenta vantagens ambientais e

    econmicas. Depois da publicao da legislao do Conselho Nacional do Meio

    Ambiente (Conama) Resoluo n. 307 de 5 de julho de 2002 passou-se a dar

    nfase questo dos resduos da construo e foram definidas, de forma clara, as

    responsabilidades dos geradores e dos Municpios. Empresrios passaram a se

    interessar pelo assunto, buscando encontrar formas de atender legislao. Vrias

    pesquisas esto sendo realizadas no Brasil com este tema. O trabalho aqui

    apresentado tem como objetivo estudar os resduos da construo com um enfoque

    em resduos de madeira, buscando identificar, quantificar e caracterizar os resduos

    gerados em obras de edificaes. Para tanto props-se o uso de um mtodo para

    implantao do Plano de gesto dos resduos (PGR), baseado no termo de

    referncia do Centro de Recursos Ambientais da Bahia (CRA), fazendo-se as

    adaptaes necessrias para o setor da construo civil. Ao longo da pesquisa,

    foram estudadas trs obras, onde foram coletados os dados sobre a gerao dos

    resduos de madeira utilizados em edifcios residenciais de mdio e alto padro.

    Como resultados, foram obtidos os dados sobre os tipos de madeira utilizados em

    obras de edificaes, e se apresentam as diretrizes para elaborao e implantao

    do PGR, assim como so sugeridas algumas alternativas para reutilizao desses

    resduos.

    Palavras-chave: resduo de madeira; reciclagem; gesto dos resduos.

  • ABSTRACT

    Until recently, in Brazil, there wasnt any environment concern with the waste

    generated in the building sector. Today, as those environment points grew to be part

    of our every day life, the way to improve waste management became an inevitable

    question. The recycling use of construction waste present important advantages in

    both environmental and economic ways. Theres been quite an impact on peoples

    conscience after the publication of the regulation nr. 307/02 from Conama which

    clearly states specifically the responsibilities of the municipalities regarding the

    residues in the construction industry. Many entrepreneurs took a certain interest in

    this topic, seeking ways so as to respect the new promulgated regulations. Presently,

    researches are being carried through this matter in Brazil. Whats undertook to do is

    to study the construction waste with a specific approach in wooden waste, trying

    therefore to identify, quantify, characterize the residues generated into the building

    sites. It also consists in considering a methodology in order to implant the waste

    management plan MWP based on the Centro de Recursos Ambientais da Bahia

    (CRA)1 terms which will help to get the necessary adaptations in the building

    sector. About the researches purposes, the new methodology will be applied to 3

    building sites. Afterward, some of the datas, taken from wooden waste used in

    medium and high standard levels of buildings will be collected. Eventually, the

    submitted results will, firstly, bring informations on the different wooden waste types

    used, secondly, draw directives for an elaboration and an implantation of the MWP,

    proposing other search purposes in order to create alternatives, as for instance, the

    re-use of these residues.

    Keywords: wooden waste; recycling; managing wastes.

    1 CRA - Environments Resources Center of Bahia

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Materiais crticos 42

    Quadro 2 Dados da implantao da gesto de resduos em canteiros

    de obra (So Paulo)

    46

    Quadro 3 Classificao dos resduos 60

    Quadro 4 Estimativas de gerao de resduos de construo civil 64

    Quadro 5 Estimativa de entulho 65

    Quadro 6 Composio dos resduos 65

    Quadro 7 Caracterizao dos resduos 66

    Quadro 8 Tipos de resduos gerados durante a fase de construo 68

    Quadro 9 Consumo de madeira serrada na Amaznia pela construo

    civil em So Paulo (2001)

    71

    Quadro 10 Comparao entre atitudes de controle da poluio e

    produo mais limpa na construo civil

    81

    Quadro 11 Estratgias para trabalhar o conceito de educao ambiental 83

    Quadro 12 Consumo de energia 109

    Quadro 13 Conhecimentos envolvidos em um estudo de reciclagem 112

    Quadro 14 Tipos de madeira plstica 119

    Quadro 15 Caractersticas individuais dos empreendimentos participantes da amostra

    pesquisada (dados fornecidos pelas empresas)

    125

    Quadro 16 Fases de execuo dos empreendimentos pesquisados 126

    Quadro 17 Quadro de legislao e normas 133

    Quadro 18 Planilha de gesto dos resduos 140

    Quadro 19 Caractersticas dos resduos de madeira coletados nas obras 152

    Quadro 20 Fases da obra em que so gerados resduos de madeira 153

    Quadro 21 Resumo da coleta dos resduos nas obras pesquisadas 155

    Quadro 22 Caractersticas dos empreendimentos pesquisados 156

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Composio mdia de RCC de Salvador 1999 27

    Figura 2 Macrofluxo do mtodo proposto para estudo dos resduos 34

    Figura 3 Ficha de destinao dos resduos 38

    Figura 4 Fluxograma das avaliaes 39

    Figura 5 Madeira serrada 85

    Figura 6 Tabuas e ripas 87

    Figura 7 Peas tipo macho-fmea para forro 88

    Figura 8 Principais usos do compensado brasileiro (2005) 90

    Figura 9 Chapas de compensado 90

    Figura 10 Chapa de compensado plastificada 91

    Figura 11 Chapa de compensado resinado 91

    Figura 12 Chapas MDF 93

    Figura 13 Chapas de OSB 95

    Figura 14 Principais usos da madeira serrada no Brasil (2005) 97

    Figura 15 Fluxo de material para reciclagem 102

    Figura 16 Uso da madeira plstica em decks 112

    Figura 17 Exemplares de briquetes de resduos de madeira 114

    Figura 18 Educao ambiental na obra 122

    Figura 19 Treinamento dos colaboradores da empresa 123

    Figura 20 Cdigo de cores para os diferentes tipos de resduos 124

    Figura 21 Fluxo para remoo do entulho 134

    Figura 22 Triagem nos pavimentos dos resduos classe A 134

    Figura 23 Acondicionamento dos resduos classe A 135

    Figura 24 Transporte vertical 135

    Figura 25 Acondicionamento dos resduos de madeira 137

    Figura 26 Baia com divises para pedaos menores e serragem 138

    Figura 27 Recipientes para acondicionar resduos de papel, plstico e metal 138

    Figura 28 Acondicionamento dos sacos de cimento no canteiro 139

    Figura 29 Reaproveitamento da nata de cimento 140

  • Figura 30 Execuo do piso de alta resistncia 141

    Figura 31 Lona para colocao dos resduos molhados 141

    Figura 32 Coleta dos resduos de madeira da obra A 148

    Figura 33 Coleta dos resduos de plstico da obra A 149

    Figura 34 Coleta dos resduos de papel da obra A 150

    Figura 35

    Figura 36

    Figura 37

    Coleta dos resduos classe A da obra A

    Coleta dos resduos de madeira da obra

    Fase de Estrutura

    150

    151

    152

    Figura 38 Fase de alvenaria e revestimento 153

    Figura 39 Composio volumtrica total dos resduos na Obra B 154

    Figura 40 Coleta dos resduos de madeira da obra C 155

  • LISTA DE APNDICES APNDICE A QUESTIONRIO PRELIMINAR APNDICE B DIAGNSTICO APNDICE C LISTA DE VERIFICAO

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABEOR Associao Baiana de Obras Rodovirias

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas ADEMI Associao de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio da Bahia ASCE - American Society of Civil Engineers ACV - Anlise do Ciclo de Vida CB2 Comit Brasileiro CRA - Centro de Recursos Ambientais da Bahia CERF - Engineering Research Foundation CIB - International Council for Research and Innovations in Building and Construction CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental e Relatrio de Impacto ao Meio Ambiente

    EMLURB - Empresa de Manuteno e Limpeza Urbana

    EPI - Equipamento de Proteo Individual

    ETE - Estaes de Tratamento de Esgoto FF - Finish Foil FSC Forest Stewardship Council HDF - High Density Fiberboards IBD - Instituto Biodinmico IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IEL - Instituto Euvaldo Lodi INMET- Instituto Nacional de Meteorologia IPT Instituto de Pesquisa Tecnolgica IBAMA - Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBRAMEN Instituto Brasileiro da Madeira e das Estruturas de Madeira LIMPURB Empresa de Limpeza Urbana de Salvador MDF - Medium Density Fiberboard

  • MINTER - Ministrio do Interior MWP - Management of Wastes Plan ONGS - Organizaes no Governamentais OSB - Oriented Strand Boards PE - Polietileno PET - Politereftalato de etileno PIB Produto Interno Bruto PGRS - Plano de gerenciamento de resduos slidos PMS - Prefeitura Municipal de Salvador PEVs - Postos de Entrega Voluntria PP - Polipropileno PQO Plano de Qualidade da Obra PVC - Policloreto de Vinil RCC Resduos da Construo Civil RCD Resduos da Construo e Demolio SMA - Secretaria Estadual do Meio Ambiente SINDUSCON Sindicato da Indstria da Construo SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente WRI - Wood Recycling Inc.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO 16 1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA 23

    1.1.1 Objetivo geral 23

    1.1.2 Objetivos especficos 23

    1.2 FORMULAO DO PROBLEMA 24

    1.3 JUSTIFICATIVA 25

    1.3.1 Originalidade da pesquisa 26

    1.3.2 Contribuies da pesquisa 28

    1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAO 29

    2 METODOLOGIA 31

    2.1 DELIMITAO DA PESQUISA E IDENTIFICAO DAS VARIVEIS 32

    2.2 TCNICA DE COLETA DE DADOS 32

    3 REFERENCIAL TERICO 40 3.1 A CONSTRUO CIVIL NA BAHIA 40

    3.2 PANORAMA DA GESTO DE RESDUOS NA CONSTRUO CIVIL 43

    3.3 PLANO DE GESTO DE RESDUOS 47

    3.4 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO E AS NORMAS 50

    3.5 CARACTERIZAO E QUANTIFICAO DOS RESDUOS 60

    3.6 ESTUDO DO LAYOUT 69

    3.7 PERDAS NA CONSTRUO CIVIL 70

    3.8 PRODUO LIMPA 72

    3.9 EDUCAO AMBIENTAL 77

    4 PRODUTOS DE MADEIRA USADOS NA CONSTRUO CIVIL 83 4.1 MADEIRA ROLIA 83

    4.2 MADEIRA SERRADA 84

    4.2.1 Pranchas e pranches 86

    4.2.2 Vigas e vigotas 86

  • 4.2.3 Tbuas, caibros 86

    4.2.4 Madeira beneficiada 87

    4.2.5 Madeira em lminas 88

    4.3 CHAPAS DE MADEIRA 88

    4.3.1 Compensado 90

    4.3.2 Chapas de fibra: chapa dura 92

    4.3.3 Chapa de fibra: chapa de densidade mdia (MDF) 93

    4.3.4 Chapa de aglomerado / chapa seta 94

    4.3.5 Chapas de partculas orientadas (OSB) 95

    4.4 MADEIRA SERRADA E CHAPAS DE MADEIRA NO BRASIL E EM OUTROS PASES 96

    4.4.1 Normas e recomendaes para o uso de produtos de madeira 98

    4.5 A RECICLAGEM DE MADEIRA E A COLETA SELETIVA 100

    4.6 DESENVOLVIMENTO DE ECOPRODUTOS 107

    4.6.1 Mercado interno 108

    4.6.2 Dificuldades 109

    4.6.3 Critrios de sustentabilidade para ecoprodutos 110

    4.6.4 A madeira plstica 111

    4.6.5 Fabricao de briquete 113

    5 RESULTADOS DO ESTUDO DE CASO 116

    5.1 APLICAO DO PLANO DE GESTO DOS RESDUOS (PGR) 118

    5.2 DISCUSSO E AVALIAO DOS RESULTADOS 141

    6 CONCLUSES E RECOMENDAES 156

    6.1 CONCLUSES 156

    6.2 RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS 158

    REFERNCIAS 159 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 169 APNDICES 171 ANEXO 175 AUTORIZAO PARA COMUTAO 176

  • 1 INTRODUO

    A cadeia produtiva da construo civil exerce uma influncia na

    macroeconomia internacional correspondente a 14%. Ela responsvel por cerca de

    40% da formao bruta de capital e emprega uma considervel massa de

    trabalhadores. Por outro lado, a depender da tecnologia, se utiliza algo entre 20% e

    50% do total dos recursos naturais consumidos pela sociedade (SCHENINI;

    BAGNATI; CARDOSO, 2004).

    De acordo com John (2001), o setor consome enormes quantidades de

    materiais com significativo contedo energtico, como ao, cimento, alumnio,

    cermica, entre outros, que necessitam ser transportados a grandes distncias.

    Estima-se que cerca de 80% da energia utilizada na produo de um edifcio

    consumida na produo e transporte de materiais. Segundo o mesmo autor,

    qualquer sociedade seriamente preocupada com a questo do desenvolvimento

    sustentvel deve colocar o aperfeioamento da construo civil como prioridade.

    Quanto gerao de resduos slidos no processo construtivo, observa-se

    que o alto ndice de perdas do setor a principal causa da gerao de resduos.

    Embora nem toda perda se transforme efetivamente em resduo, uma parte pode

    ficar incorporada na prpria obra, como, por exemplo, grandes espessuras de

    argamassas decorrentes de problemas de prumo.

    Os resduos da construo civil (RCC), tambm denominados entulho,

    representam grande parte da produo de resduos slidos urbanos. Quando mal

    gerenciados, eles causam problemas nas cidades, como diminuio da vida til de

    aterros sanitrios, surgimento de depsitos em locais imprprios, provocando a

    obstruo dos cursos d'gua, bueiros e galerias, aumentando as chances de

    enchentes, alm de criar ambiente propcio, juntamente com outros resduos, para

    proliferao de vetores prejudiciais s condies de saneamento e sade humana

    (LIMA, 1999; DEGANI, 2003; MXIMO, 2003; NGULO;JOHN, 2004).

  • 17

    Em geral, as perdas esto relacionadas s deficincias no processo

    construtivo: so erros ou indefinies na elaborao dos projetos e na sua

    execuo, m qualidade dos materiais empregados, perdas na estocagem e no

    transporte. Esses desperdcios podem ser atenuados atravs do aperfeioamento

    dos controles sobre a realizao das obras pblicas e tambm atravs de trabalhos

    conjuntos com empresas e trabalhadores da construo civil, visando a aperfeioar

    os mtodos construtivos, reduzindo a produo de entulho e os desperdcios de

    material (AMBIENTEBRASIL, 2005). a

    A insero das variveis ambientais e sociais na agenda de qualquer cadeia

    produtiva tarefa complexa e no diferente no caso da construo civil. Esse

    processo exige inovao tecnolgica, formao, mudana de cultura e de prticas

    gerenciais, mudanas na legislao e na normalizao, requerendo, inclusive,

    alterao na forma de relacionamento entre os diversos integrantes da cadeia

    produtiva (HABITARE, 2005).

    Segundo Pinto (2001), a elevada gerao de resduos slidos na construo

    civil, determinada pelo acelerado desenvolvimento da economia, torna inevitvel a

    adeso s polticas de valorizao dos resduos e sua reciclagem tanto nos pases

    desenvolvidos quanto em amplas regies dos pases em desenvolvimento.

    Os processos de gesto dos resduos em canteiro de obras, a especializao

    no tratamento e reutilizao dos RCD, entre outros, vo conformando um respeitvel

    e slido ramo da engenharia civil, atento necessidade de usar racionalmente os

    recursos no renovveis e necessidade de reduzir o descarte de rejeitos evitveis

    (PINTO, 2001).

    Quanto reciclagem, as experincias indicam que vantajoso, do ponto de

    visto ambiental e econmico, substituir a deposio irregular do entulho pela sua

    reciclagem. O custo para a administrao municipal de aproximadamente US$ 10

    por metro cbico clandestinamente depositado, incluindo a correo da deposio e

    o controle de doenas. Estima-se que o custo da reciclagem significa cerca de 25%

    desse custo. A produo de agregados com base no entulho pode gerar economias

    de mais de 80% em relao aos preos dos agregados convencionais

    (AMBIENTEBRASIL, 2005). b

    O conceito de desenvolvimento sustentvel est criando razes na sociedade

    e, cada vez mais, o construtor, as instituies pblicas e a sociedade em geral

    devem preparar-se para contribuir com este processo. Esta uma tendncia que

  • 18

    deve ser encarada como fonte para novos negcios e novas oportunidades de

    trabalho.

    Na II Conferncia das Naes Unidas sobre o Meio Ambiente e

    Desenvolvimento Sustentvel ocorrida em 1992, no Rio de Janeiro, foi elaborada a

    Agenda para o sculo XXI. A conservao dos recursos naturais para o

    desenvolvimento enfocada na segunda seo da agenda, e neste contexto que

    se insere a responsabilidade do setor da construo, em virtude da grande utilizao

    desses recursos.

    A gesto de resduos da construo civil hoje um fator fundamental para o

    gerenciamento ambiental. A disposio dos resduos em locais inadequados

    contribui para a degradao ambiental, alterao da paisagem, proliferao de

    doenas, etc. O setor ainda responsvel por um percentual significativo de

    resduos slidos produzidos nas reas urbanas.

    Um outro aspecto abordado na Agenda 21 a sustentabilidade das cidades,

    que depende da implementao de programas como a reorganizao dos sistemas

    de limpeza urbana, residencial e indstrial.

    No Brasil, a gerao de RCD per capita pode ser estimada em 500 kg/hab ao

    ano, considerando-se a mdia de algumas cidades brasileiras. A participao dos

    RCD na massa total de resduos slidos urbanos em cidades como Ribeiro Preto

    pode chegar a 70% (PINTO,1999).

    A produo total anual de resduos dentro da Unio Europia da ordem de

    1,3 milhes de toneladas (sem os resduos agrcolas), correspondentes a 3,5

    ton/hab. Segundo a Agncia Europia de Meio Ambiente, tais resduos so divididos

    em cinco grandes grupos: os resduos das indstrias extrativistas (29%), os resduos

    da indstria manufatureira (26%), os resduos da construo e demolio (22%), os

    resduos domsticos (14%) e os resduos agrcolas e florestais, cujo volume no

    est computado (BLAUREPAIRE, 2003).

    Na anlise dos resduos slidos urbanos de Salvador, realizada pela Limpurb

    (2000), verifica-se que, das 5 517 ton coletadas diariamente, o lixo domiciliar

    representa 46,04% e o entulho representa 49,77% (CASSA, et al., 2001).

    Segundo Blaurepaire, o tratado da Unio Europia prev que a Comunidade

    Europia deve favorecer a promoo de um crescimento durvel e no inflacionrio,

    com um alto nvel de proteo e de melhoramento ambiental. Para este fim, a

  • 19

    comunidade possui uma poltica em matria de meio ambiente, cujos princpios

    esto definidos no artigo 174 do tratado da Unio Europia.

    A poltica da comunidade, na rea ambiental, possui os seguintes objetivos:

    a) a preservao, a proteo e o melhoramento da qualidade ambiental;

    b) a proteo da sade das pessoas;

    c) a utilizao prudente e racional dos recursos naturais;

    d) a promoo, sob o plano regional, de medidas destinadas a enfrentar os

    problemas regionais ou planetrios do meio ambiente.

    A poltica da Comunidade Europia em relao ao meio ambiente visa a um

    alto nvel de proteo, considerando a diversidade das situaes e dentro das

    diferentes regies da Europa. Ela fundamentada nos princpios da precauo e da

    ao preventiva, sobre o princpio da correo e sobre o princpio do poluidor-

    pagador, visando a sanar o problema na sua fonte.

    A indstria da construo civil a principal geradora de resduos da

    economia. Os resduos produzidos nas atividades de construo, manuteno e

    demolio, tm estimativa de gerao muito varivel. Os resduos gerados nas

    atividades de construo e demolio, etapas claramente distintas do ciclo de vida

    de uma edificao, so geralmente constitudos por materiais similares e, portanto,

    igualmente chamados entulho. Os valores encontrados, na bibliografia internacional,

    variam de 163 a mais de 3 000 kg/hab por ano. No entanto, os valores tpicos

    encontram-se entre 400 e 500 kg/hab por ano, valor igual ou superior massa de

    lixo urbano (JOHN, 2000).

    O Brasil, por ser um pas em desenvolvimento, tem no setor da construo um

    grande alavancador de empregos, tanto de forma direta como indireta. Absorve um

    percentual significativo da mo de obra, inclusive aquela de baixo nvel de

    escolaridade que outros setores da indstria no empregam. Portanto, um setor

    estratgico para a reduo do dficit habitacional e para a reduo do desemprego.

    Porm, no se pode esquecer que a construo civil uma atividade que utiliza um

    grande volume de recursos naturais, consome grande quantidade de energia, polui o

    ar, a gua e solo e produz grandes quantidades de resduos.

    Os resduos so heterogneos, compostos por concreto, argamassas, blocos,

    cermicas, solo, areia, argila, metais ferrosos, madeiras, plsticos, latas de tintas,

    borrachas, papelo, etc. Partes significativas desses resduos so depositadas

  • 20

    ilegalmente, acumulam-se nas cidades, gerando custos e agravando problemas

    urbanos, como enchentes e engarrafamentos de trfego (PINTO, 1999).

    Os resduos da construo civil esto definidos pela NBR 10004/2004, como

    resduo inerte, porm alguns oferecem risco de contaminao ambiental como, por

    exemplo, concretos produzidos com cimento e adio de escria com alto teor de

    metais pesados, resduos derivados de servios de pintura, madeira pintada,

    cobertura de amianto, entre outros.

    Na fase de construo, o entulho gerado numa edificao constitudo pelas

    sobras dos materiais adquiridos e danificados ao longo do processo produtivo, tais

    como restos de concreto e argamassa produzidos e no utilizados. ao final do dia de

    trabalho, alvenaria demolida devido ao retrabalho, argamassa que cai durante a

    execuo do revestimento e no reaproveitada, sobras de tubos, ao, madeiras,

    eletrodutos, entre outros.

    Dentre os vrios fatores que contribuem para a gerao do entulho, vale citar:

    a) projetos com detalhamentos insuficientes;

    b) m qualidade dos materiais e componentes;

    c) cultura de recursos abundantes e cultura do desperdcio do setor;

    d) falta de preocupao da engenharia em racionalizar os processo para no

    gerar desperdcios;

    e) baixa qualificao do pessoal que executa os servios;

    f) ausncia de procedimentos operacionais e mecanismo de controle de

    execuo e inspeo dos servios.

    O entulho provoca perda de recursos para o gerador, mas tambm acarreta

    enormes gastos ao setor pblico, que arca com os custos de disposio final e, em

    alguns casos, transporte desses resduos. No caso da construo formal, esses

    custos so assumidos pelo gerador, porm h um volume considervel de

    construo realizada informalmente cujos resduos no so depositados e

    destinados de forma adequada, causando grandes transtornos para as cidades.

    O significativo impacto ambiental causado pelo setor da construo civil tem

    levado diferentes pases a adotarem polticas ambientais especficas para o setor.

    Conseqentemente, a agenda ambiental prioridade em muitas regies do mundo.

    A Civil Engineering Research Foundation (CERF), entidade dedicada a promover a

    modernizao da construo civil nos Estados Unidos, realizou pesquisa junto a

    1 500 construtores, projetistas e pesquisadores de todo o mundo (BERNSTEIN,

  • 21

    1996), visando a detectar quais as tendncias consideradas fundamentais para o

    futuro do setor. Nessa pesquisa, a questo ambiental foi considerada a

    preocupao mais importante para o futuro. Por isso, h uma tendncia

    regulamentao, causando mobilizao internacional.

    O International Council for Research and Innovations in Building and

    Construction (CIB) definiu como uma de suas prioridades de pesquisa e

    desenvolvimento, o desenvolvimento sustentvel. Para estabelecer tais prioridades,

    a entidade produziu a Agenda 21 para construo civil.

    De um modo geral, a reduo do impacto ambiental da construo civil

    tarefa complexa, sendo necessrio atuar em vrias frentes de maneira combinada e

    simultnea (KILBERT, 1994, citado por CARNEIRO et al., 2001. Foram definidas as

    seguintes diretrizes:

    a) minimizar o consumo de recursos (conservar);

    b) maximizar a reutilizao de recursos (reutilizar materiais e componentes);

    c) usar recursos renovveis ou reciclveis (renovar / reciclar);

    d) proteger o meio ambiente (proteo da natureza);

    e) criar um ambiente saudvel e no txico (utilizar no-txicos);

    f) buscar qualidade na criao do ambiente construdo (aumentar a

    qualidade).

    Procurando atuar de modo alinhado com essa tendncia mundial, o Brasil

    aprovou a Resoluo n.. 307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio

    Ambiente (Conama), que estabelece diretrizes, critrios e procedimentos para a

    gesto dos resduos da construo civil.

    A resoluo estabelece a necessidade de implementao de diretrizes para:

    a) a efetiva reduo dos impactos ambientais gerados pelos resduos

    oriundos da construo civil;

    b) a disposio dos resduos em locais adequados;

    c) a responsabilizao dos geradores pelos resduos resultantes de suas

    atividades;

    d) a gesto integrada dos resduos, que deve proporcionar benefcios de

    ordem social, econmica e ambiental.

    A partir dessa resoluo, tanto os geradores como o poder pblico devem

    buscar adaptar seus processos de modo a garantir a destinao ambientalmente

    correta. A Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), atravs da Limpurb, desde 1997,

  • 22

    vem buscando implantar a gesto diferenciada de entulho na cidade de Salvador,

    com o objetivo de reduzir o descarte clandestino dos resduos de construo.

    Existem, na cidade, Postos de Descarga de Entulho (PDE), para os pequenos

    geradores, e Bases de Descarga de Entulho (BDE), utilizadas pelos grandes

    geradores. As empresas que fazem a coleta e o transporte dos resduos de

    construo civil devem ser credenciadas na PMS.

    Quanto s construtoras, devem preparar seus planos e implant-los durante a

    construo do empreendimento, para fazer a gesto dos resduos de forma

    adequada e integrada as atividades de produo, atendendo assim a resoluo.

    A partir dessa resoluo, tem-se que estudar o que fazer com cada um dos

    resduos gerados. Muitos pesquisadores j desenvolveram e propuseram o que

    fazer com os entulhos de argamassa, concreto, blocos. Porm, h que se pensar e

    estudar o que fazer para se reaproveitar os resduos de madeira das obras. Parte da

    madeira utilizada reaproveitada, voltando para o processo produtivo, como o

    caso das formas, porm ainda h uma quantidade significativa que sai da obra em

    forma de resduo.

    A gerao de resduos de madeira causa impacto ao ambiente, tais como a

    reduo da biodiversidade, a contaminao do solo, a utilizao de recursos

    naturais. Portanto necessrio estudos para encontrar formas de reutilizar esse

    material, com o desenvolvimento de novos produtos como uma forma de contribuir

    para a preveno da poluio e o desenvolvimento sustentvel.

    Segundo Zordan (1997), o setor da construo civil consome cerca de de

    toda a madeira natural extrada. Embora esse recurso seja renovvel, as florestas

    no so corretamente manuseadas, o que impede a sustentabilidade desse

    ecossistema.

    Acredita-se que processos simples de gesto, sem emprego significativo de

    recursos, ajudaria muito na obteno de resduos selecionados de forma a otimizar a

    reciclagem. Como exemplo, poder-se-ia citar a retirada do gesso, metal e madeira

    dos entulhos de natureza inorgnica, no metlica. S isso j contribuiria para

    obteno de agregados reciclados de entulho de melhor qualidade, potencializando

    o seu emprego em componentes.

    Um dos principais componentes do entulho misto tm sido as peas de

    madeira, cujo volume utiliza espaos significativos nos aterros. J se fabricam, no

  • 23

    Brasil, equipamentos que permitem absorver grande parte desta madeira,

    transformando-a em lenha ou novos agregados (compensados). Pode-se ainda moer

    a madeira e proceder-se a compostagem verde, ou ainda utilizar a madeira moda in

    natura como protetor e preservador de solos de jardins e parques, como ocorre no

    Canad (COELHO, 2002).

    De qualquer forma, os volumes de entulho de demolio e construo so

    grandes. Os custos de disposio so altos e os locais para isso, dentro das regies

    metropolitanas, cada vez mais escassos. Os terrenos esto cada vez mais

    valorizados para serem utilizados para depositar materiais que podem ser

    reaproveitados. Paralelamente, deve-se observar que em grandes cidades, onde o

    crescimento da rea urbana atingiu os locais de onde so extradas as matrias-

    primas, tais recursos passam a vir de distncias cada vez maiores,

    consequentemente, chegando ao consumidor com um custo cada vez mais alto,

    favorecendo assim a opo de reciclagem de entulhos.

    1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

    1.1.1 Objetivo geral

    A pesquisa que fundamenta esta dissertao teve como objetivo geral

    identificar e quantificar os resduos de madeira produzidos em obras de edificaes

    residenciais de mltiplos pavimentos na cidade de Salvador, com vistas a medir o

    potencial de reutilizao.

    1.1.2 Objetivos especficos Para atingir seu objetivo geral, a pesquisa, especificamente buscou:

    a) caracterizar quali-quantitativamente os tipos de madeira descartados em

    canteiros de obras de edifcios residenciais;

    b) propor diretrizes de gesto para a preveno da poluio atravs da

    reutilizao dos resduos de madeiras geradas pelo setor;

    c) introduzir nos canteiros das obras pesquisadas os conceitos de produo

    mais limpa, reciclagem e reutilizao de resduos.

  • 24

    1.2 FORMULAO DO PROBLEMA

    A construo civil, concretamente seu subsetor de edificaes, atravs dos

    sistemas construtivos atuais, utiliza uma quantidade muito diversificada de materiais,

    entre os quais se destacam, pelo seu uso intensivo os recursos naturais. Desse

    modo, a atividade da construo civil constitui-se em um impacto ambiental

    considervel.

    O setor da construo o maior consumidor individual de recursos naturais,

    pois o desperdcio intenso ainda, e gera poluio nas diversas fases da obra. Do

    ponto de vista da equipe de produo da obra, o resduo visto como inevitvel,

    fazendo parte de sua cultura a premissa de que no possvel produzir sem a

    gerao de resduos. Portanto sua existncia um problema a ser enfrentado.

    Segundo Teixeira (2004), a necessidade de um destino para os resduos de

    madeira de modo eco-eficiente aponta para o uso das Tecnologias Limpas, cujo

    propsito reduzir os impactos ambientais negativos do processo produtivo, ou seja:

    tecnologias que promovem a preservao dos recursos naturais e a preveno da

    poluio. Kiperstok e Marinho (2001, p.34 explicam que:

    [...] os caminhos para a no gerao de resduos so vrios:

    devemos repensar as matrias primas que utilizamos e rever

    os processos de fabricao, discutindo porque estes geram

    perdas de material e energia, e considerando se algumas

    dessas perdas, devidamente processadas, no seriam

    insumos para outros processos. Todas essas aes

    resultariam na preveno da poluio.

    O processo produtivo utiliza a madeira em diversas etapas da obra, porm

    na fase de estrutura que seu uso mais significativo em funo das formas, nas

    quais so utilizadas as chapas de compensado plastificado ou resinado para

    construir as lajes, e do escoramento, cujas vigas e pilares so feitos de madeira

    agreste (madeira no identificada pela botnica)..

    Apesar de a madeira ser muito representativa na produo de um edifcio,

    encontram-se poucos dados relativos a perdas desse material e dos resduos de

    madeira gerados pela obra.

    Considerando todas essas questes, levantaram-se os seguintes problemas:

  • 25

    a) Qual a quantidade de resduos de madeira gerados em uma obra

    edificaes de mltiplos pavimentos residenciais em Salvador?

    b) possvel reaproveitar os resduos de madeira gerados em obras de

    edificaes?

    Para definio do problema da pesquisa, foi adotada a metodologia

    apresentada por Martins, citada por Csar (2002), ou seja, apresentou-se o assunto,

    seguido do tema, sendo o problema levantado atravs de uma questo relacionada

    ao estudo:

    a) assunto: resduos de madeira produzidos em edifcios residenciais da construo civil;

    b) tema: identificao e caracterizao dos resduos de madeira gerados nas

    obras de edificaes.

    c) problema: como identificar, qual a quantidade e as caractersticas dos

    resduos de madeira gerados na construo de um edifcio residencial e

    como verificar a possibilidade de reutilizao desses resduos?

    1.3 JUSTIFICATIVA

    A gerao e a destinao de resduos causam impactos ambientais

    significativos, demandando recursos pblicos e privados para o seu gerenciamento.

    Dentre as vrias aes possveis de serem implementadas, para minimizar os

    impactos negativos, esto a reutilizao e a reciclagem dos resduos de madeira,

    que apresentam vrios fatores positivos tais como a reduo da demanda de fontes

    de matria prima, otimizao do consumo energtico nos processos de

    transformao e as campanhas de aumento da conscientizao da populao para a

    preservao ambiental, dentre outras (YUBA; LIMA; TAMAI; SHIMBO, 2006).

    Com o crescimento populacional nos grandes centros urbanos e a crescente

    industrializao, os resduos se transformaram em problemas para as cidades, j

    que est cada vez mais difcil encontrar reas para sua deposio. Alm disso,

    essas reas esto cada vez mais distantes, exigindo gastos com o transporte,

    onerando assim todo o gerenciamento desses resduos. Como afirma Coelho (2002

    p.3) parece muito pouco inteligente ocupar reas valorizadas com material que

    pode ser reciclado economicamente.

  • 26

    Segundo dados da Associao Brasileira da Indstria de Madeira Processada

    Mecanicamente (ABIMCI) (2006), o consumo e as aplicaes da madeira serrada no

    Brasil esto vinculados a trs segmentos industriais principais: indstria moveleira, a

    de embalagens e a da construo civil. A construo civil consome 21%.

    Ainda neste mesmo relatrio (2006), pode-se observar que consumo do

    compensado representa 41% na construo civil e 31% no setor moveleiro, que

    tambm faz parte da cadeia da construo. Isto significa que, juntos, os dois setores

    iro contribuir com uma parcela significativa de resduo, em um primeiro momento,

    na fase da construo e, depois, na fase de demolio ou reforma.

    Desta maneira, pode-se dizer que a construo civil gera grandes volumes de

    resduos de madeira no processo de produo dos edifcios. Apesar da madeira ser

    um recurso renovvel, necessrio estudar formas para se otimizar o uso deste

    recurso natural e fazer uma reutilizao racional.

    Portanto, o estudo aqui apresentado vem ao encontro do propsito de

    desenvolvimento sustentvel, que pode ter como estratgia a busca de solues

    para reciclagem ou reutilizao dos materiais de madeira da construo civil.

    1.3.1 Originalidade da pesquisa

    A Figura 1 apresenta a composio mdia de RCC de Salvador do entulho

    produzido no municpio de Salvador, no ano de 1999. De acordo com seus autores,

    Carneiro et al. (2001), esse entulho apresentava a seguinte composio: 53% de

    restos de concreto e argamassa; 14% de material cermico produzido na regio, 5%

    de rochas; 22% de solo e areia; os outros grupos de materiais, juntos, correspondem

    a apenas 2% do entulho pesquisado. De acordo com esses autores, os trs

    primeiros componentes totalizam 72% do material estudado e podem produzir

    agregados grados com alto potencial de utilizao na construo civil.

  • 27

    Figura 1 Composio mdia de RCC de Salvador 1999 Fonte: Carneiro et al., 2001.

    Em uma outra pesquisa, realizada no municpio de So Paulo, Leal (2001)

    verificou que, em mdia, 65% do entulho dos bota-foras so de origem mineral, 13%

    de madeira, 8% de plsticos e 14% compostos por outros materiais. Esse resduo

    de madeira a que a pesquisa se refere, no oriundo apenas da construo:

    compreende resduos de obras, bem como aqueles de outras procedncias, tais

    como poda de rvores, descarte de embalagens de madeira, restos de mveis, etc.

    A partir desses dados, percebe-se a necessidade de um estudo sobre os

    resduos de madeira produzidos nas obras em Salvador. Na pesquisa sobre RCC de

    Salvador, realizada por Carneiro et al. (2001), considera-se que os resduos de

    madeira esto includos nos 2% designados como outros resduos. J a pesquisa

    realizada no municpio de So Paulo apresenta um nmero de 13% de resduos de

    madeira. Sendo assim, havia uma lacuna no conhecimento a respeito das obras de

    Salvador que precisa ser preenchida.

    A construo civil tem um grande potencial de utilizao dos resduos, uma

    vez que ela chega a consumir at 75% de recursos naturais (JOHN, 2000; LEVY,

    1997, PINTO, 1999).

    At o momento em que se iniciou a pesquisa relatada neste trabalho, tinham

    sido realizadas algumas pesquisas relacionadas reciclagem ou reutilizao de

    entulho nas obras. Entretanto, elas no empreenderam uma caracterizao e

  • 28

    quantificao dos resduos de madeira. Dessa maneira, configurava-se como

    bastante conveniente estudar os resduos de madeira gerados em obras de

    edificaes, buscando-se quantific-los e verificar a possibilidade de seu

    reaproveitamento, possibilitando maior economia da matria prima.

    Por outro lado, a introduo de um programa visando reutilizao dos

    resduos de madeira se apresentava como extremamente vantajoso. A implantao

    do programa promove melhor organizao do canteiro, reduo das perdas de

    materiais, melhor conscientizao dos operrios sobre a importncia da reutilizao.

    A empresa tem uma reduo nos custos, j que a quantidade a ser retirada ser

    menor, havendo tambm um ganho de melhoria na imagem. Reutilizar

    economicamente vivel, j que sempre menos custoso que descartar os resduos.

    Esta prtica contribui para o desenvolvimento sustentvel e conscientizao das

    pessoas ligadas ao setor quanto importncia da preveno da poluio, atravs da

    aplicao do conceito de desenvolvimento sustentvel.

    Tambm no h, at o momento, um termo de referncia especifico para o

    setor da construo para elaborao de um plano de gesto dos resduos da

    construo civil e, ao longo desta pesquisa foi desenvolvido um modelo, a partir do

    termo de referncia do Centro de Recursos Ambientais (CRA), que poder ser

    utilizado para nas obras fazendo-se as devidas adaptaes em funo da tecnologia

    utilizada e dos resduos que sero gerados.

    No , portanto, descabido afirmar que a realizao da pesquisa abriu, para

    sua autora, as portas de um conhecimento novo, abordando aspectos ainda no

    suficientemente explorados pelos estudos de processos produtivos na rea da

    Engenharia.

    1.3.2 Contribuies da pesquisa

    Este trabalho pretende contribuir para uma melhor gesto dos resduos de

    madeira da construo civil e sua caracterizao, mais especificamente para o setor

    de edificaes, como tambm para uma maior conscientizao das equipes das

    obras com relao s questes ambientais e os resduos produzidos durante as

    diversas etapas da obra. A realizao dos treinamentos de educao ambiental e a

    coleta seletiva contribuem para uma mudana de comportamento dos operrios e de

    toda e equipe da obra.

  • 29

    O desenvolvimento de um modelo de plano de gesto de resduos, baseado

    no termo de referncia do CRA, adaptado para a realidade do setor da construo

    civil, pode servir de base para se estabelecer um termo de referncia especfico para

    o setor, podendo o mesmo servir para o CRA e a PMS como forma de ajudar no

    atendimento a legislao. Contribui ainda para o meio cientfico, por apresentar uma

    sistematizao de etapas para implantao de um plano de gesto dos resduos da

    construo civil e. em especial, os de madeira.

    Uma das contribuies foi a elaborao de material didtico para realizao

    de treinamentos sobre gesto dos resduos na construo civil e educao

    ambiental, contendo transparncias, cartazes, exerccios e cartilha de educao

    ambiental.

    Por fim, os resultados obtidos contribuem com o aprimoramento das prticas

    do setor da construo, divulgando os conceitos de tecnologias limpas, o controle da

    poluio na fonte, reciclagem e reuso de materiais, racionalizao dos materiais e

    reduo de retrabalho, reduo do desperdcio, melhor utilizao dos recursos

    naturais, atravs da realizao de treinamentos.

    1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAO

    Esta dissertao est subdividida em sete sees. A primeira delas a

    introduo, na qual se esboa um panorama geral sobre o tema, os objetivos geral

    e especficos, a contextualizao do problema da pesquisa que lhe forneceu os

    dados e sua justificativa, que inclui os aspectos de sua originalidade e as

    contribuies do trabalho.

    Na seo 2 est descrita a metodologia utilizada: faz-se a delimitao da

    pesquisa e a identificao das variveis; explicita-se a tcnica de coleta dos dados

    explicando-se detalhadamente cada uma das fases, isto , preparao e

    planejamento, implementao e operao, monitoramento e a de verificao.

    No seo 3 apresenta-se o referencial terico, abordando o estado da arte

    sobre o tema estudado. Nesta seo esto algumas definies e o embasamento

    conceitual para o desenvolvimento do trabalho. Nela, esto tratados temas de

    interesse tais como: perdas na construo civil, produo limpa, educao

    ambiental, reciclagem da madeira e o cunho social da coleta seletiva e do

  • 30

    desenvolvimento de ecoprodutos. Tambm se fazem consideraes sobre a

    legislao referente ao tema, as normas existentes e em desenvolvimento.

    A seo 4 enfoca a caracterizao dos produtos de madeira usados na

    construo civil e descreve os tipos e caractersticas das principais madeiras

    utilizadas no setor da construo: madeira rolia, madeira serrada, chapa de

    madeira. Nela, tambm se apresenta o panorama das chapas de madeira no Brasil e

    em outros pases.

    Na seo 5 descrevem-se os resultados alcanados com a aplicao do plano

    de gesto dos resduos desenvolvido para cada uma das obras, o panorama sobre a

    situao da gesto dos resduos. Apresentam-se ainda os dados coletados nas

    diversas fases da pesquisa, desde o planejamento da implantao, a implantao

    nas obras, as verificaes e as melhorias alcanadas. Por fim, faz-se uma anlise e

    avaliao dos resultados.

    A seo 6 apresenta as consideraes finais e as sugestes para trabalhos

    futuros.

  • 31

    2 METODOLOGIA

    A depender de sua natureza, uma pesquisa pode ser classificada como

    pesquisa bsica ou aplicada. Do ponto de vista da forma de abordagem do

    problema, ela pode ser quantitativa ou qualitativa (SILVA; MENEZES, citados por

    CESAR, 2002).

    Em relao aos seus objetivos poder caracterizar-se como exploratria;

    descritiva ou explicativa. Considerando os procedimentos tcnicos de coleta de

    dados, ela poder classificar-se como pesquisa bibliogrfica, documental,

    experimental, de levantamento ou de campo, de estudo de caso, pesquisa ex-post-

    facto (quando se realiza o experimento depois dos fatos) e pesquisa-ao ou

    participante.

    De acordo com a classificao acima, a pesquisa relatada nesta dissertao se

    caracteriza como aplicada, pois ela se props a gerar conhecimentos para aplicao na

    soluo de um determinado problema, relacionado gerao de resduos de madeira.

    Com relao a abordagem do problema, caracteriza-se como pesquisa qualitativa, pois

    ela no requer necessariamente o emprego de mtodos e tcnicas estatsticas.

    tambm descritiva, uma vez que o pesquisador tende a analisar seus dados

    indutivamente.

    A estratgia utilizada para realizao da pesquisa foi a de desenvolver de um

    mtodo para ser aplicado em um estudo de casos.

    Deste modo o mtodo utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa,

    descrito na seqncia deste item, tambm pode ser considerado como uma

    contribuio para futuros trabalhos e estudos sobre gesto dos resduos slidos.

  • 32

    2.1 DELIMITAO DA PESQUISA E IDENTIFICAO DAS VARIVEIS

    As variveis identificadas para estudo dos resduos de madeira da construo

    civil em obras de edificaes so:

    a) tipo de empresa o estudo foi realizado em canteiros de obras de

    construtoras de mdio e grande porte, do mercado imobilirio, edifcios

    residenciais de mltiplos pavimentos, com a tipologia de 3 e 4 quartos;

    b) as obras foram classificadas de acordo com a pesquisa do mercado

    imobilirio realizada pela Associao de Dirigentes de Empresas do

    Mercado Imobilirio da Bahia (ADEMI), da seguinte forma:

    - populao de baixa renda: prdios com rea total de at 3 999 m2, - populao de classe mdia: prdio com rea total entre 4 000 m2 e

    6 999 m2,

    - populao de classe alta: prdios com rea total superior a 7 000 m2, - volume de resduo de madeira produzido, - tipos de madeira que so utilizados na obra: peas serradas, madeira

    de lei, compensados, prensadas, barrotes, tbuas, etc.

    Optou-se por fazer o estudo de caso em trs obras de edificaes do

    mercado formal por serem obras supervisionadas pela Prefeitura Municipal de

    Salvador e cadastrada pela ADEMI.

    2.2 TCNICA DE COLETA DE DADOS

    A coleta dos dados desta pesquisa referiu-se a dois tipos de dados: dados

    existentes, relacionados gesto dos resduos da construo civil e dados oriundos

    da observao de campo, relativos forma como so coletados, armazenados e

    reaproveitados os resduos de madeira e quais os tipos de madeiras usados e em

    que fase da obra.

    Os dados iniciais foram levantados a partir de pesquisa documental e de

    campo, considerando-se a fase da obra, o tipo de madeira utilizado em cada uma

    dessas fases e os resduos de madeira gerados em funo do sistema construtivo

    utilizado.

    A pesquisa bibliogrfica, realizada em biblioteca e em sites especializados,

    ajudou tanto na reviso da literatura sobre o assunto, como na identificao e

  • 33

    elaborao da problemtica em relao aos resduos de madeira gerados na

    construo de um edifcio. A partir desses dados, constituiu-se a base para a

    elaborao de uma mtodo para a gesto dos resduos de madeira utilizados na

    obra, incluindo tambm a sua caracterizao. O mtodo de trabalho proposto foi um

    estudo de caso realizado em trs fases, subdividas em oito etapas, apresentadas a

    seguir.

    A primeira delas, a fase de preparao e de planejamento, constituiu-se de quatro etapas, quais sejam, na ordem de execuo: contato e apresentao do

    mtodo para a empresa, seleo do empreendimento que deveria participar da

    implantao, realizao de diagnsticos e, por fim, elaborao do layout da obra.

    A segunda fase de implementao e operao foi desenvolvida atravs de trs etapas, das quais a primeira foi a elaborao do plano de gesto de resduos

    (PGR), destinada a levantar resduos de madeira gerados, sua classificao e a

    quantidade produzida nas obras estudadas. A segunda etapa dessa fase foi a

    realizao de treinamento em educao ambiental. Por fim, a ltima, de implantao

    do plano, coleta e transporte dos resduos.

    A terceira e ltima fase, que foi denominada fase de verificao, constou de uma s etapa, a do monitoramento e verificao da aplicao do Plano de gesto

    dos resduos, com enfoque em madeira.

    A Figura 2 apresenta o macrofluxo do mtodo proposto para o estudo dos

    resduos da obra. As aes vinculadas ao estudo de caso caracterizaram-se como

    necessrias para seu desenvolvimento e podem ser explicitadas e definidas

    detalhadamente .

    Na fase de preparao e de planejamento, a primeira etapa, a do contato inicial, teve o objetivo de familiarizar o pesquisador com a empresa e foi a

    oportunidade de se apresentar detalhadamente o mtodo, explicar os objetivos, o

    que ser realizado e os resultados esperados. A empresa precisa ter uma

    compreenso clara do trabalho que ser realizado, para que possa contribuir e

    colaborar no decorrer da aplicao da interveno.

    A segunda etapa da primeira fase foi aquela em que foram escolhidos empreendimentos com as caractersticas definidas como alvo da pesquisa, isto ,

    edifcios de residenciais de mltiplos pavimentos que estejam em construo.

  • 34

    Figura 2 - Macrofluxo do mtodo proposto para estudo dos resduos Fonte: elaborao da Autora (2006)

    J na terceira etapa da primeira fase, com o objetivo de traar um diagnstico

    das condies do canteiro, do gerenciamento da obra e dos controles existentes, foi

    aplicado um formulrio elaborado previamente (veja o Apndice B) antes do incio

    dos trabalhos na empresa. O diagnstico se realizou atravs de perguntas sobre a

    FFFAAASSSEEE DDDOOO PPPLLLAAANNNEEEJJJAAAMMMEEENNNTTTOOO

    FFFAAASSSEEE DDDAAA IIIMMMPPPLLLEEEMMMEEENNNTTTAAAOOO

    EEE OOOPPPEEERRRAAAOOO

    MONITORAMENTO E VERIFICAES DOS

    RESDUOS DE MADEIRA

    ELABORAO DO PGR

    AES DE MELHORIA

    FFFAAASSSEEE DDDAAA VVVEEERRRIIIFFFIIICCCAAAOOO

    APRESENTAO DO PROGRAMA PARA A

    ENGENHARIA

    INCIO

    ESTUDO DO LAYOUT DO CANTEIRO

    TREINAMENTO E EDUCAO AMBIENTAL

    IMPLANTAO DAS ROTINAS

    DIAGNSTICO

    FIM

  • 35

    caracterizao da obra, a gesto da matria-prima, a gesto dos resduos e os

    aspectos ambientais gerais e outras informaes como consumo de gua e energia.

    Por fim, na quarta etapa da primeira fase a do layout do canteiro de obra

    foi verificado se existia um projeto de canteiro, visando a coletar informaes

    relativas aos locais para o descarte dos resduos, circulao interna de pessoas e

    equipamentos de transporte, localizao das instalaes provisrias, como silos

    dos agregados e materiais bsicos, almoxarifado, deposito de materiais,

    equipamentos de movimentao como gruas, elevadores, guinchos.

    A fase de nmero dois, a de implementao e operao, caracteriza-se

    pela sistematizao dos dados e foi complementada, pelas etapas de treinamento

    em educao ambiental, de elaborao do Plano de gesto de resduos slidos

    (PGRS) e da etapa de implantao do plano, com a coleta e o transporte dos

    resduos.

    Na primeira delas, foram realizados treinamentos com temas de educao

    ambiental, coleta seletiva, produo mais limpa, etc., com todos os envolvidos na

    obra, engenheiros, almoxarifes, operrios e terceiros, com o objetivo de

    conscientizar o grupo e fomentar a implantao do plano de gesto de resduos e

    sua etapa de coleta seletiva, visando preveno da poluio atravs da reduo,

    reutilizao ou reciclagem dos resduos gerados na obra e em especial os resduos

    de madeira.

    O treinamento foi realizado atravs de palestras no canteiro de obras,

    utilizando-se tcnicas de exposio, discusso em classe, mutiro de idias,

    trabalho em grupo, debate, reflexo, explorao do ambiente local. Todas essas

    tcnicas ajudaram a passar os conceitos fazendo com que os trabalhadores faam

    uma reflexo sobre a realidade vivida na obra e levassem esses conceitos para a

    sua vida pessoal e profissional. Ao longo dos treinamentos foram apresentados

    conceitos de educao ambiental, tais como:

    a) lixo urbano;

    b) aspectos sanitrios e os agentes fsicos, qumicos, biolgicos e sociais;

    c) caractersticas do lixo urbano;

    d) coleta seletiva e seus smbolos;

    e) reciclagem;

    f) conceitos dos trs erres: reduzir, reutilizar e reciclar;

    g) coleta seletiva na obra e os problemas dos resduos de construo civil;

  • 36

    classificao dos resduos na obra.

    Na segunda etapa desta fase, conforme j foi dito, realizou-se a elaborao

    do Plano de gesto de resduos slidos (PGRS), baseado nas instrues e no termo

    de referncia do Centro de Recursos Ambientais (CRA) do Estado da Bahia, que

    visa subsidiar os diversos empreendimentos que necessitam de licenciamento. O

    plano deve ser elaborado pelo gerador dos resduos e submetido analise do rgo

    ambiental. Com base nesta instruo foi elaborada uma adaptao, visando a

    atender s necessidades do setor da construo e s exigncias da Resoluo

    Conama 307/2002. Deste modo, o Plano de gesto dos resduos ficou estruturado

    da seguinte forma:

    Objetivos

    Minimizar a gerao de resduos na fonte, adequar a segregao na origem,

    controlar e reduzir riscos ao meio ambiente e assegurar o correto manuseio e

    disposio final em conformidade com a legislao vigente.

    Apresentao e caracterizao da obra Neste item foi feita uma apresentao sucinta da obra, a localizao e a

    caracterizao do empreendimento como rea construda e os itens que compem o

    edifcio.

    Responsabilidades Foram definidas as responsabilidades dos envolvidos para estabelecer de

    forma clara como cada um pode contribuir com o processo de implantao. Sendo

    assim, todas as funes envolvidas como engenheiro, almoxarife, estagirios,

    funcionrios e terceiros foram descritas neste item.

    Sistema construtivo e atividades da obra Foram descritas as atividades que esto em andamento e que foram

    executadas na obra desde a fase de implantao at o final da obra. Foi tambm

    feita uma caracterizao das atividades de acordo com o sistema construtivo

    adotado na obra e os tipos de materiais utilizados.

    Caracterizao dos resduos

  • 37

    Para facilitar a caracterizao foi elaborada uma planilha de gesto de

    resduos para a obra, em que o resduo est classificado de acordo com a

    Resoluo do Conama 307/2002. A tcnica de coleta dos dados foi adaptada pela

    autora. a partir de Yuba et al., (2006) e definida basicamente pela execuo dos

    seguintes passos:

    a) identificao visual do contedo de resduos de madeira no volume da

    pilha analisada;

    b) caracterizao e quantificao por tipo atravs do mtodo visual. Nessa

    caracterizao foi considerado no somente as dimenses, mas tambm

    a presena de contaminantes.

    O mtodo utilizado possui algumas limitaes, em funo da subjetividade utilizada,

    j que a quantificao feita de forma visual e tambm porque existem vazios nas

    pilhas, que so reduzidos em funo do entulho est selecionado, mas mesmo

    assim ainda temos alguns vazios.

    Plano de reduo de resduos Neste item, abordou-se a sistemtica utilizada pela empresa para estabelecer

    as prticas visando reduo dos resduos na fonte, segregao, identificao,

    limpeza das reas, ao armazenamento, ao acondicionamento, ao transporte

    interno e externo e destinao final. Com este propsito foram elaboradas fichas

    para controle do descarte dos resduos e uma planilha para coletar os resduos que

    esto sendo descartados.

    Na ltima etapa desta segunda fase, denominada Implantao coleta e

    transporte foram realizadas as aes definidas no Plano de gesto dos resduos. Os

    resduos foram selecionados de acordo com as classes, organizados conforme sua

    identificao, nos locais indicados sendo os recipientes acondicionadores definidos

    em funo do tipo de resduo. Nos pavimentos foram colocados recipientes para as

    coletas intermedirias dos resduos que, em seguida, foram transportados para

    posterior entrega e destinao adequada conforme estava definido na planilha de

    gesto dos resduos. Tambm foi necessrio identificar empresas que pudessem

    fazer a coleta dos resduos e cooperativas para coletar os resduos que fossem

    possvel de ser reciclados.

    A execuo da fase de monitoramento e verificao ocorreu atravs do

    preenchimento de planilhas elaboradas para coletar os dados e quantificar o volume

  • 38

    dos resduos retirados da obra durante o perodo da coleta. A quantidade dos

    resduos foi controlada a partir da Ficha de destinao dos resduos (ver Figura 3)

    contendo dados da empresa, a descrio dos resduos, a quantidade e o volume

    que estava sendo entregues ao transportador.

    DADOS DA EMPRESA DESTINATRIA

    EMPRESA: OBRA: ENDEREO:

    DADOS DO TRANSPORTADOR EMPRESA COLETORA: CNPJ: No DA LICENA: VECULO TRANSPORTADOR: PLACA DO VECULO: DATA: HORRIO: NOME DO TRANSPORTADOR/ RECEBEDOR: RG:

    DESCRIO DO RESDUO QUANT UN VOLUME APROX.

    ALVENARIA E CONCRETO MADEIRA METAL PAPEL OU PAPELO PLSTICO LATAS DE TINTAS E

    RESDUO CONTAMINADO

    TERRA/SOLO GESSO OUTROS

    DESTINO FINAL DO RESDUO:

    ( ) DIRETO PARA USINA RECICLAGEM ( ) QUEIMA EM FORNOS DE OLARIA ( ) VENDA PARA SUCATAS ( ) ATERROS LICENCIADOS ( ) EMPRESA DE TRATAMENTO DE RESDUOS ( ) OUTROS (descreva)____________________________________

    Figura 3 - Ficha de destinao dos resduos Fonte:elaborada pela Autora, 2005

    A ficha de destinao foi aplicada durante a fase de execuo das atividades

    na obra para verificar a quantidade de resduos que foi descartada, por tipo e por

    classe. A partir disso, foi possvel estimar visualmente o volume dos resduos de

  • 39

    madeira gerados e o quanto este representava no volume total dos demais resduos

    retirados da obra.

    As verificaes foram realizadas a partir de uma adaptao da Lista de

    verificao da metodologia do Programa 5 S no canteiro (COSTA e ROSA, 1999).

    Para isso foi elaborada uma lista de verificao (veja Apndice C) que contm itens

    sobre a coleta dos resduos, limpeza e organizao do canteiro.

    O objetivo da verificao foi avaliar de forma sistemtica cada setor e os

    estgios alcanados em relao implantao do programa e os resultados da

    coleta seletiva. A Figura 4 mostra como ocorreu o fluxo das avaliaes.

    Figura 4 - Fluxograma das avaliaes Fonte: elaborado pela autora, 2005

    Implantar o PGR e realizar a coleta

    seletiva

    Aplicar as Listas de Verificaes

    Problemas?

    Sim

    No

    Fazer o reconhecimento

    Fazer plano de melhorias

    Relatrio de Avaliao

  • 40

    Aps a aplicao da ficha de verificao o grupo foi informado dos resultados

    e essas avaliaes devem servir como estimulo para o crescimento de todos e da

    identificao de oportunidades de melhorias.

    As empresas definiram formas de fazer um reconhecimento do grupo

    estabelecendo prmios para aqueles que mais se destacaram e que tiveram o

    melhor desempenho. O reconhecimento serve de estmulo para alavancar o

    programa.

  • 3 REFERENCIAL TERICO

    Nesta seo, alm de se buscar definies para embasamento conceitual do

    trabalho, apresenta-se um breve relato do estgio atual do conhecimento sobre o

    tema abordado, bem como uma sntese dos estudos sobre a construo civil na

    Bahia.

    3.1 A CONSTRUO CIVIL NA BAHIA

    Para situar o leitor deste trabalho em relao ao universo das empresas de

    construo civil que foram objeto da pesquisa foi traado um breve perfil do setor no

    Estado da Bahia. O texto a seguir se baseia em pesquisa realizada, no ano de 1997,

    por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia e do Instituto Euvaldo Lodi

    (IEL) da Bahia. Esta pesquisa est relatada em documento denominado Diagnstico

    competitivo da indstria da construo civil, (SOUZA et al.,1997) que teve como

    objetivo diagnosticar as condies de competitividade dinmica da indstria baiana

    da construo civil para analisar as implicaes desses resultados sobre as polticas

    de fomento ao setor.

    O setor da construo civil no Estado da Bahia representado por trs

    entidades: o Sindicato da Indstria da Construo Civil da Bahia (SINDUSCON/BA),

    a Associao dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobilirio da Bahia (ADEMI-

    BA) e a Associao Baiana de Obras Rodovirias (ABEOR).

    No que respeita situao geral do setor, depreende-se, a partir dos dados

    da pesquisa realizada junto a uma amostra de 108 empresas do universo estadual,

    na qual foram representados todos os subsetores que compem a indstria , que

    34% delas atuam no setor de edificaes, 23% no setor de incorporao imobiliria,

  • 41

    12% trabalham com terraplenagem e pavimentao, 12% com saneamento,

    7% com energia e 13% com instalaes e montagem.

    De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),

    a participao da indstria da construo civil no Produto Interno Bruto (PIB) do

    Estado da Bahia, foi da ordem de 14% no ano de 2004. Entre os anos de 2003 e

    2004 o setor construiu 210 000 m2 em unidades residenciais.

    Relativamente aos aspectos econmicos, conforme dados apresentados no

    Diagnstico competitivo da indstria da construo civil no Estado da Bahia,

    levantados do Anurio estatstico do IBGE, em 1996, a indstria da construo civil

    baiana possui em torno de 3,5% do nmero total de empresas construtoras

    brasileiras, emprega em mdia 7% do total de trabalho e gera, em mdia, quase 8%

    do valor bruto de produo desse setor no Brasil. ,

    Na Bahia, esto sediadas quase 20% das empresas nordestinas de

    construo civil e mais de 40% do total dos postos de trabalho do setor. As

    empresas baianas respondem, ainda por quase 70% do valor bruto da produo

    gerado no nordeste pela indstria da construo civil.

    Segundo dados do IBGE, publicados na Pesquisa anual da indstria da

    construo, em 2004, as empresas de construo registraram crescimento real de

    12,2% no valor total das obras e/ou servios executados, em relao ao ano

    anterior, devido boa performance da economia como um todo e de algumas

    medidas setoriais adotadas. As construes para entidades pblicas se recuperaram

    e tiveram aumento real de 21,4%,em relao a 2003. As obras de infra-estrutura, de

    maior peso no setor, aumentaram sua participao para 35,2% e, junto com as obras

    residenciais, representaram quase 60% do valor total das construes executadas.

    O grupo das edificaes industriais tambm se destacou e ficou com a terceira maior

    participao (11,8%), impulsionado pelo crescimento industrial, especialmente na

    produo de bens de capital.

    Os dados so da Pesquisa anual da indstria da construo 2004, que

    registrou 109 mil empresas de construo em atividade no pas, empregando 1,6

    milho de pessoas, nmero 6,3% superior ao de 2003. Essas empresas pagaram

    salrio mdio mensal de 3,0 salrios mnimos (mesma mdia do ano anterior), num

    montante de R$ 15,3 bilhes em salrios no ano e realizaram obras e servios no

    valor de R$ 94 bilhes. A receita proveniente de obras e servios no exterior

    alcanou 2,2 bilhes.

  • 42

    No ano de 1999, o poder pblico, representado entre outros pelo governo do

    Estado da Bahia, assinou um acordo setorial com os representantes do setor da

    construo, o Sinduscon/BA e a Ademi/BA. Em conseqncia desse acordo, o

    Programa setorial da qualidade (COSTA; SILVA, 1999) realizou um diagnstico da

    situao do setor e identificou os principais problemas com os materiais utilizados na

    obra.

    Considerando os materiais empregados na construo, oito deles so

    apontados pelos engenheiros de produo como sendo os materiais crticos,

    aqueles que apresentam muitos problemas de qualidade e que trazem

    conseqncias negativas para o empreendimento como um todo como se v no

    Quadro 1 a seguir:

    Quadro 1 - Materiais crticos

    MATERIAL PROBLEMAS CONSEQNCIAS Bloco cermico Variao nas dimenses e na

    forma Blocos quebrados e com trincas

    Aumento do consumo de argamassa para o assentamento

    e revestimento da parede, desperdcios, gerao de entulho

    Placas cermicas para revestimento

    Variao da tonalidade e das dimenses

    Entrega fora do prazo

    Maior trabalho no assentamento, prejuzo do aspecto visual, prejuzo na coordenao

    dimensional Madeira para

    telhado e esquadrias

    Madeira empenada, partida e verde

    Variao dimensional

    Substituio de peas j fixadas ou executadas

    Esquadrias de Madeira

    Peas empenadas e feitas com madeira verde

    Substituio de peas j executadas

    Placas de compensado

    resinado

    Descascamentos Descolamentos

    Acabamento superficial ruim da estrutura

    Agregados minerais Excesso de impurezas e de torres

    Exigncia do peneiramento do material na obra

    Placas de gesso para forro

    Amarelecimento com o tempo Substituio das peas

    Conexes hidrulicas de PVC

    Rompimento Infiltraes, substituio das peas

    Fonte: Costa; Silva, 1999

    De todos esses materiais, o bloco cermico o que apresenta os mais srios

    problemas relativos qualidade, e essa situao pode ser verificada na grande

    maioria das marcas disponveis no mercado.

  • 43

    Um problema facilmente detectado nesse material refere-se variao nas

    dimenses e na forma, que se reflete no aumento do consumo de argamassa. Mas

    os problemas do bloco cermico no se resumem forma e s dimenses: eles se

    estendem tambm s suas caractersticas fsicas e mecnicas, que no atendem s

    determinaes das normas tcnicas brasileiras, podendo comprometer a segurana

    e a estabilidade das paredes.

    No caso da madeira, conforme se v no Quadro 1, o maior problema refere-se

    tanto entrega de madeira verde para a execuo de telhados e esquadrias quanto

    com esquadrias entregues prontas nas obras quando so feitas com madeira verde:

    esquadrias e telhados acabam empenando depois de fixados, devido retrao da

    madeira, sendo necessrio aumentar a espessura do revestimento ou substituir

    peas inteiras, para acertar a irregularidade.

    As placas de compensado resinado, por apresentarem descascamentos,

    acabam prejudicando o acabamento superficial da estrutura de concreto,

    aumentando o consumo de argamassa para regularizao. Alm disso, o freqente

    descolamento das lminas que formam a placa do compensado faz com que o seu

    reaproveitamento seja muito baixo. Em geral, as placas de compensado plastificado

    no apresentam esses problemas.

    Os problemas com materiais geram conseqentemente um volume de

    resduos maior do que se o material fosse de boa qualidade. Neste sentido, muitas

    empresas j esto fazendo substituio de blocos cermicos por blocos de cimento

    e no caso da madeira, as obras esto utilizando as esquadrias metlicas e portas

    prontas que so industrializadas e no apresentam problemas de empenar.

    3.2 PANORAMA SOBRE GESTO DOS RESDUOS DA CONSTRUO CIVIL

    Pesquisa sobre a gerao e destinao de resduos slidos urbanos,

    realizada no municpio de Salvador, demonstra que a construo civil gera 2 150 t /

    dia de entulho (CARNEIRO, 2000). Isto se deve ao fato de que praticamente todas

    as atividades desenvolvidas no setor da construo so geradoras de entulho.

    O entulho da construo civil tornou-se um grande problema na administrao

    das grandes cidades brasileiras, devido enorme quantidade gerada: em alguns

    casos, chega a responder por 60% da massa de resduos slidos urbanos

  • 44

    produzidos. Alm disso, h falta de espao ou de solues que absorvam toda essa

    produo.

    Segundo Quaresma,(2003), o volume estimado de entulho a ser retirado da

    obra em torno de 250 caambas para um edifcio de 15 pavimentos com rea

    construda de 10 000 m, conforme dados do Sinduscon/SP.

    Em pesquisa realizada por Levy e Helene (1997), em Londrina, obteve-se um

    ndice de previso da gerao de 0,00848 m3 mensais de resduos da construo e

    demolio (RCD) por m2 de construo.

    Tornou-se comum, nos grandes centros, encontrar esse resduo depositado

    em bota-foras clandestinos, nas margens de rios e crregos ou em terrenos baldios,

    causando o entupimento ou assoreamento de cursos dgua, de bueiros e galerias

    (com conseqentes enchentes) e a degradao das reas urbanas e da qualidade

    de vida na sociedade.

    A partir da constatao de que as novas construes so responsveis por

    aproximadamente 50% do total de resduos (construo e demolio) existentes no

    Brasil (PINTO, 1999), seu tratamento teria repercusso significativa numa gesto

    global.

    Trata-se, porm, de processos distintos dos de demolies e reformas. Nas

    novas construes, as aes de gesto podem ser mais facilmente empregadas,

    devido caracterstica organizacional e estrutura das construtoras. De fato, so

    poucos os processos construtivos que geram resduos de forma misturada. Os

    resduos surgem em reas e em tempos diferentes. A mistura de resduos ocorre, de

    fato, na retirada da frente do servio para o canteiro e nos equipamentos de

    transporte de entulho.

    De acordo com pesquisa realizada na regio metropolitana de Recife

    (CARNEIRO; MELO; BARKOKBAS JR.; SOUZA, 2004), 91% do total caracterizado

    composto de argamassa, solo, cermica vermelha, concreto, brita, areia e

    pedregulho. Um outro dado importante foi a baixa quantidade de resduos de

    madeira (2%), metal e papel presentes nos resduos da construo. Isto se deve, em

    grande parte, coleta desses resduos por pequenos catadores que,

    posteriormente, os comercializam.

    A limpeza do entulho misto pode ser feita por meio da melhoria da gesto da

    coleta, da legislao e da tarifao adequada associada. Esta pode ser a melhor

    opo para a limpeza do entulho. No entanto, sozinha, no garante o

  • 45

    processamento da maior quantidade do entulho e, sim, somente segrega o melhor e

    dispe o pior. Porm, o restante do entulho pode conter material ainda til e

    reciclvel, como madeira, papel, metais, plsticos e finos (solos). Estes, em

    quantidade significativa, podem justificar o seu reaproveitamento.

    Sabe-se que a qualidade dos agregados reciclados fundamental para uma

    aplicao mais economicamente rentvel, aumentando o atrativo dos componentes

    reciclados. Ressalta-se ainda que a preveno ou minimizao de resduos seja

    ainda o grande alvo numa escala para o desenvolvimento sustentvel. Reduzir o

    desperdcio de fato a primeira grande contribuio ambiental da construo

    (NGULO, 1999).

    Segundo Leal (2001), entre 20% e 25% do entulho das cidades so gerados

    pelas construtoras. O restante originado em obras de autoconstruo, sobretudo

    reformas.

    Segundo dados da Prefeitura Municipal de Salvador, para fins de limpeza

    urbana Salvador est dividida administrativamente em 17 ncleos de limpeza.

    Cada ncleo corresponde a uma regio geogrfica que abrange um

    determinado conjunto de bairros. Salvador produz aproximadamente 4.488t/dia de

    resduos slidos urbanos. Os RCD representam cerca da metade dos resduos

    slidos urbanos e correspondem gerao diria de aproximadamente 2000t

    (LIMPURB, 2004).

    A destinao final dos resduos slidos o Aterro Metropolitano Centro, que

    atende s cidades de Salvador, Lauro de Freitas e Simes Filho. J o Aterro

    Canabrava recebe resduos da construo civil, materiais infectantes, as sobras de

    podas de arvores e do corte de grama e o material oriundo da coleta seletiva.

    Em Salvador, so grandes os esforos para promover a coleta seletiva e a

    reciclagem. O poder pblico, aliado s organizaes no governamentais (ONG),

    associaes de moradores e a um grande numero de empresas e instituies

    interessadas em assegurar umas destinao adequada do lixo urbano, tem criado

    uma corrente em prol da reciclagem. Na cidade h vrios pontos para entrega

    voluntria, os chamados Postos de Entrega Voluntria (PEV).

    O Sinduscon/SP, em janeiro de 2003, iniciou a aplicao de um programa de

    educao ambiental em canteiros de obras, denominado Obra limpa, junto a um

    grupo de 11 construtoras, para implantar um programa piloto de gesto ambiental de

    resduos, visando a dar-lhes uma destinao compromissada e responsvel. Foi

  • 46

    necessrio realizar aes conjuntas entre os geradores, os transportadores e os

    gestores municipais.

    Com a implantao, aqueles resduos que antes eram coletados e jogados

    nos aterros, misturados uns aos outros, sem nenhum aproveitamento, passaram a

    ter outra destinao, o que levou a realizao da reciclagem do PVC, os papis

    foram destinados a aparistas2, as madeiras, destinadas para a caldeira e os resduos

    de alvenaria e concreto foram reciclados. Ainda no mbito das aes do

    Sinduscon/SP, est a busca de solues para a correta destinao de resduos no

    inertes como gesso, tintas e impermeabilizantes: para cuidar de sua destinao,

    esto formados grupos de trabalho envolvendo os fabricantes e aplicadores.

    O Quadro 2, sintetiza dados do Programa obra limpa, apresentados pelo

    engenheiro Francisco Vasconcellos, em julho de 2004, na Primeira Conferncia

    Latino-americana da Construo Sustentvel, em So Paulo.

    Quadro 2 - Dados da implantao da gesto de resduos em canteiros de obra (So Paulo)

    Empresa A Empresa B Empresa C Empresa D Empresa E

    Tipo de obra 1 edifcio padro mdio

    2 edifcios padro alto

    1 edifcio padro alto

    5 edifcios padro mdio

    34 residncias padro alto

    Etapas consideradas

    Da fundao

    limpeza final

    Da estrutura pintura externa

    Do projeto ao incio da pintura

    Da fundao

    limpeza final

    Da estrutura pintura externa

    Total m2 rea construida

    8 003 19 247 5 642 16 606 7.600

    Tipos de resduos

    Papel m3 31 90 96 53 23 Plstico m3 35 88 31 26 35 Madeira m3 137 248 83 160 Blocos e argamassa m3

    576 960 160 156 206

    Total m3 642 1 275 535 318 424

    Total m3/m2 0,08 0,07 0,09 0,02 0,06

    Fonte: Vasconcellos, 2004 - I Conferncia Latino-americana de Construo Sustentvel.

    2 Aquele que trabalha com aparas de papel (retalhos de papel sobra de produo), compra papel de

    lojas, bancos, supermercados, residncias, escolas, rgos pblicos, etc. leva para o seu depsito, o papel selecionado, enfardado e vendido para as indstrias de papel (recicladores). Cf. . Acesso em 13 jun. 2007.

  • 47

    Segundo Vasconcellos, com a implantao do programa, houve uma reduo

    dos resduos gerados, devido a melhorias feitas nos processos, como o reuso de

    resduos na prpria obra e foi feito um aprimoramento dos projetos.

    Na Bahia, foi implantado o Programa de gesto de resduos de construo

    civil em canteiros de obra, em nove empresas, com o apoio do Projeto competir

    (SENAI/SEBRAE e GTZ) em parceria com outros atores locais envolvidos com o

    tema, como Sinduscon-BA e Limpurb.

    De acordo com Almeida et al. (2005), a concepo do programa baseia-se na

    segregao dos resduos no canteiro, de forma a reaproveit-los ou conduzi-los

    destinao adequada. Como resultados parciais obtidos com o programa, destacam-

    se: maior limpeza e organizao da obra, segregao e destinao ambientalmente

    responsvel dos resduos, reduo dos custos com a destinao, controle do

    transporte e disposio final.

    No Distrito Federal e em Goinia, foi tambm desenvolvido um programa de

    gerenciamento dos resduos slidos da construo civil, chamado Entulho limpo,

    visando a atender a resoluo 307/2002 do Conama. A metodologia utilizada pelas

    empresas foi desenvolvida pela Universidade de Braslia (UnB) e sua implantao

    teve como parceiros o Sinduscon-DF, a Eco Atitude Aes Ambientais e a UnB. Para

    sua divulgao, foi publicada uma cartilha que apresenta as diretrizes para a

    implantao do projeto .

    Segundo Blumenschein (2004), alguns resultados obtidos com o programa

    piloto so:

    a) reduo de custo pela reduo do nmero de caambas alugadas pelas

    empresas construtoras, considerando que os resduos classe B so

    retirados na porta da obra;

    b) melhoria da organizao e da limpeza da obra;

    c) fortalecimento do marketing da empresa;

    d) fortalecimento da capacidade de cumprir as responsabilidades

    socioambientais da empresa;

    e) contribuio da empresa com a educao ambiental da equipe da obra.

    At 2002, no havia, no Brasil, qualquer legislao especificamente voltada

    para os resduos da construo, mas o setor necessitava de uma regulamentao

    sobre o tema, visando melhorar sua gesto. Esta iniciativa deu origem a esses

  • 48

    diversos programas e contribuiu para melhorar a gesto dos resduos nos canteiros

    de obras.

    Em todos os programas so apresentados como resultados a melhoria na

    organizao, na limpeza da obra e uma reduo de custos a partir da reduo do

    volume de resduos gerados. Tambm observa-se que os resduos so tratados de

    forma geral e classificados de acordo com critrios do Conama, mas no h

    especificamente uma preocupao com a caracterizao dos resduos de madeira.

    3.3 PLANO DE GESTO DE RESDUOS

    Aps a publicao da resoluo do Conama 307/2002, houve uma

    mobilizao do setor da construo civil para buscar o atendimento a esta

    legislao, tanto pelos municpios como por parte das construtoras. Desta forma,

    cidades como So Paulo, Salvador e o Distrito Federal tomaram a iniciativa de,

    juntamente com o Sinduscon desses estados, elaborar programas que

    contribussem para que as empresas atendessem suas diretrizes. Surgiu ento o

    programa Obra limpa, em So Paulo e em Salvador, e o Projeto de gerenciamento

    de resduos slidos em canteiros de obras, no Distrito Federal. Esses programas

    desenvolveram cartilhas para ajudar as empresa na implantao da gesto dos

    resduos no canteiro de obra.

    Para o desenvolvimento do Plano de gesto de resduos slidos (PGRS) nas

    obras pesquisadas, foi utilizado as Instrues para elaborao do plano de

    gerenciamento de resduos slidos do Centro de Recursos Ambientais da Bahia

    (CRA) que, segundo Medeiros (2002), tem como objetivo subsidiar os diversos

    empreendimentos quanto legislao e a apresentao do PGRS, que se constitui

    num documento integrante do sistema de gesto ambiental, baseado nos princpios

    da no-gerao e da minimizao da gerao de resduos, que aponta e descreve

    as aes relativas ao seu manejo, contemplando os aspectos referentes

    minimizao na gerao, segregao, acondicionamento, identificao, coleta e

    transporte interno, armazenamento temporrio, tratamento interno, armazenamento

    externo, coleta e transporte externo, tratamento externo e disposio final.

    Conforme exige o Art. 138 do Regulamento da lei estadual n. 7.799, de

    07/02/2001, aprovado pelo decreto estadual n. 7.967, de 05/06/2001, o PGRS busca

    minimizar a gerao de resduos na fonte, adequar a segregao na origem,

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    controlar e reduzir riscos ao meio ambiente e assegurar o correto manuseio e

    disposio final, em conformidade com a legislao vigente.

    O plano contempla as seguintes etapas:

    a) caracterizao: consiste na identificao e quantificao dos resduos

    gerados;

    b) reduo e segregao na fonte: utilizao de tecnologias e prticas

    operacionais que visem minimizao, reduo, reutilizao, e reciclagem

    de resduos gerados, obedecendo aos critrios tcnicos que conduzam a

    reduo dos riscos sade pblica e a qualidade do meio ambiente,

    devendo a segregao dos resduos na fonte ser realizada de acordo com

    as classes estabelecidas no Art. 3 da resoluo Conama n 307/2002;

    c) acondicionamento: o gerador deve garantir o confinamento dos resduos

    aps a gerao at a etapa de transporte, de acordo com as normas

    tcnicas vigentes e assegurando em todos os casos em que seja possvel,

    as condies de reutilizao e de reciclagem;

    d) transporte: dever ser realizado em conformidade com as etapas anteriores e de acordo com as normas tcnicas vigentes para o transporte

    de resduos;

    e) destinao: dever ser prevista de acordo com as normas tcnicas especficas para cada tipo de resduo e com o estabelecido no Art. 10 da

    resoluo Conama n 307/2002.

    Segundo Arajo (2000), o acondicionamento dos resduos slidos inertes em

    recipientes tambm tem o objetivo de evitar a disperso de materiais no ambiente

    urbano e reduzir os problemas ambientais, sanitrios e urbanos que os resduos

    podem ocasionar: falta de saneamento ambiental nas reas urbanas; partculas de

    ps e poeiras em suspenso na atmosfera; carreamento de sedimentos e outros

    materiais para o solo e para os mananciais; degradao da paisagem ambiental e

    urbana; transporte de materiais para os sistemas de drenagem urbana e cursos

    d'gua; falta de segurana a pedestres e ao trnsito de veculos, dentre outros.

    A implantao do PGRS gera benefcios ambientais e a segregao dos

    resduos nos canteiros de obra promove:

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    reduo de custos para a obra, com a contratao de servios de

    remoo de entulho, uma vez que j existe mercado para parte dos

    resduos reciclveis (madeira, papelo, vidro e plstico) que podem ser

    doados ou comercializados diretamente nas obras;

    reduo do desperdcio nas obras, uma vez que, ao segregar os

    resduos, o construtor/gerador passa a identificar os focos de maior

    gerao, propiciando aes para a sua reduo;

    desenvolvimento de boa reputao junto aos rgos ambientais,

    comunidade e organizaes no governamentais (ONG);

    criao de uma imagem verde que poder ser explorado em

    campanhas de marketing;

    conscientizao dos funcionrios, trazendo benefcios coletivos e

    pessoais.

    Para se falar em gesto de resduos, necessrio se pensar em novos

    mtodos construtivos, desenvolvendo-se um planejamento detalhado da produo e,

    conseqentemente, do gerenciamento dos resduos gerados pela obra, atravs de

    um projeto prvio do canteiro de obras com definio de uma rea para segregao

    e processamento que possibilite a valorizao dos resduos gerados.

    3.4 CONSIDERAES SOBRE A LEGISLAO E NORMAS RELACIONADAS AO PGR

    A poltica ambiental brasileira tem seus fundamentos fixados na Constituio

    e na lei n. 6.938 de 1981, que estabelece a poltica nacional do meio ambiente e

    constitui o sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). O Conselho Nacional do

    Meio Ambiente (Conama) o rgo consultivo e deliberativo do Sisnama. O Instituto

    Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (Ibama), criado em

    1989, o executor da poltica ambiental nacional. A Lei de Crimes Ambientais n.

    9.605 de 12/02/1998, em seu Artigo 56, determin