idéias e debates: como deve ser a atuação do ministério ... · de vítimas e tira o sono das...
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Informativo do Ministério Público do Estado do Paraná | Ano 8 | Nº 3 | Maio/Julho 2009
Núcleo de Proteção ao Patrimônio Público do Norte Pioneiro inaugura nova sedeO Núcleo Regional de Proteção ao Patrimônio Público do Norte Pioneiro inaugurou nova
sede, no dia 3 de julho, em Santo Antonio da Platina. Cerca de 500 pessoas participaram da so-
lenidade, presidida pelo Procurador-Geral de Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, incluindo
31 prefeitos, 28 presidentes de Câmaras Legislativas, 16 membros do MP-PR, além do Presidente
do Tribunal de Contas do Estado, Hermas Brandão, entre outras autoridades. Durante o evento
foram apresentadas aos prefeitos e vereadores da região 18 recomendações administrativas que
buscam, entre outros casos, coibir o nepotismo e regularizar a situação dos cargos em comissão
nas 45 cidades que compõem a área de abrangência da unidade especializada do MP-PR. Instituído
em 2003, em Ibaiti, o Núcleo Regional é coordenado, hoje, pela Promotora de Justiça Kele Cristiani
Diogo Bahena, contando também com a atuação dos Promotores de Justiça Josilaine Aletéia de
Andrade e Leandro Antunes Meireles Machado.
Idéias e Debates:
Como deve ser a atuação do Ministério Público fiscal da lei na área cível?
p. 4 e 5
2 Maio | Julho 2009
Expe
dien
te MP Notícias é uma publicação do Ministério Público do Estado do Paraná. Procurador-Geral de Justiça: Olympio de Sá Sotto Maior Neto. Corregedor-Geral: Edison do Rego Monteiro Rocha. Redação e fotografia: Jaqueline Conte (Jornalista responsável MTB 3535/PR) e Patrícia Ribas / Arquivo Memorial MP-PR / Arquivo Núcleo do Norte Pioneiro. Arte-final/impressão: Via Laser Artes Gráficas Ltda. Tiragem: 1.300 exemplares.
MP-PR: 15 anos de atuação especializada no combate ao crime organizado
Em matéria de capa, reportagem da revista Veja
anuncia: Um nôvo crime nas ruas: contra a polícia de ontem,
os bandidos de hoje, mais audazes, organizados e mais
violentos. Não fosse o acento circunflexo, que denuncia a
passagem das reformas ortográficas, a manchete é válida –
mas data de 23 de abril de 1969, ou seja, completou neste
ano três décadas. O crime organizado, que soma milhares
de vítimas e tira o sono das autoridades e da população,
não é novo. E parece estar a cada ano mais forte. Em face
dessa chaga, membros do Ministério Público e policiais
civis e militares de todo país começaram no final da dé-
cada de 1990 e no início deste século uma luta conjunta
contra esse inimigo comum, com a criação de unidades
especializadas que somam as forças das três instituições.
No Paraná, o trabalho começou em 1994, com a resolução
nº 97/1994, que instituiu a Promotoria de Investigação
Criminal (PIC). Anos depois, em setembro de 2007, veio a
resolução nº 1801/2007, que regulamentou e regionalizou
a atuação do MP-PR no combate ao crime organizado no
Estado, criando o Grupo de Atuação Especial de Repressão
ao Crime Organizado – GAECO.
Hoje, as unidades do GAECO estão distribuídas
em Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu, Cascavel e Gua-
rapuava, sob a coordenação estadual do Procurador de
Justiça Leonir Batisti.
Ação conjunta – O Secretário de Estado da Segu-
rança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, que em
2002, enquanto Promotor de Justiça, atuou junto à então
denominada PIC, destaca a importância da integração
do MP com outras instituições, como as Polícias Civil e
Militar. “Esse trabalho conjunto, que pude vivenciar na
antiga PIC, amplia a visão do Promotor. É um momento
diferenciado na carreira, porque nos tira do isolamento e,
dessa maneira, fortalece e protege a figura do Promotor”,
avalia. Para Delazari, essa interação entre as instituições
vive atualmente um de seus melhores momentos. “A SESP,
por exemplo, fornece aos GAECOS todos os policiais, ar-
mas, viaturas e os equipamentos tecnológicos essenciais
para investigações importantes. Nosso objetivo com esse
trabalho é unir forças para combater o crime organizado,
os criminosos de larga escala que atingem diretamente
a sociedade”, diz.
Promotor de Justiça Vani Bueno, Coordenador do GAECO-Curitiba
O Coordenador do GAECO-Curitiba lida com o
combate ao crime organizado desde a década de 90.
Chegou a integrar a antiga PIC entre 1995 e 2002. À
frente do grupo na capital desde 2008, ele aponta como
particularidade da unidade justamente o fato de estar
instalada em Curitiba. “O crime organizado, para lograr
êxito nas suas empreitadas, busca se aproximar de auto-
ridades públicas, principalmente na área policial, o que
faz nossa atuação no controle externo da atividade policial
ser bastante intensa”, diz. “O efetivo da polícia na capital
também é muito maior do que no interior, logo, temos
muito trabalho nessa área”, afirma. Vani ressalta ainda
o desenvolvimento e a especialização da criminalidade
organizada hoje: “Essa turma está com um poder de fogo
muito maior do que há alguns anos, com acesso não apenas
a armamento moderno, mas a equipamentos tecnológicos
que nós, que dependemos da gestão pública, não temos
acesso. A tecnologia avança onde corre mais dinheiro”,
avalia. Ele coloca o tráfico de drogas como o grande vetor
do crime organizado e destaca o recente trabalho da equipe
contra traficantes que agiam na região metropolitana de
Curitiba, em Colombo, e que contavam com o “suporte”
de vários policiais civis da Delegacia de Alto Maracanã.
“Foi uma investigação bastante complexa e que resultou
não apenas na prisão de traficantes perigosos como no
afastamento de vários agentes públicos que davam su-
porte ao crime através de uma rede de extorsões”. Ele
elogia a participação da equipe da unidade, neste e em
outros casos, e afirma que não há como dissociar a ação
dos agentes do Ministério Público que estão nos GAECOS
do trabalho dos policiais civis e militares que compõem
as unidades. “Dependemos do trabalho deles. Sem esse
suporte, ficaríamos atados a funções de gabinete. O GAECO
é a soma de todos.”
Promotor de Justiça Gustavo Henrique Rocha de Macedo, Coordenador do GAECO-CascavelHá pouco mais de um mês na coordenação da unidade
de Cascavel – assumiu em 1º de junho – Macedo destaca
como um dos diferenciais do grupo a grande atuação nas
comarcas vizinhas. “Desde os primórdios, quando ainda
era a PIC, a equipe de Cascavel presta apoio e tem de-
sencadeado operações de destaque em Guaíra, Marechal
Cândido Rondon, Toledo, Santa Helena, Palotina, Assis
Chateaubriand, dentre outras Comarcas da região. Isso
se deve à posição geográfica dessas localidades, próximas
à fronteira com o Paraguai e divisa com o Mato Grosso do
Sul, o que acaba tornando a região palco da atuação de
quadrilhas extremamente organizadas, cujas atividades
exigem repressão por meio de investigações complexas”,
diz. “Hoje, as duas investigações mais trabalhosas a
cargo do GAECO referem-se a ilícitos cometidos não em
Cascavel, mas na região”, sustenta Macedo. Ele conta
que o histórico da unidade é bastante rico e destaca, nos
últimos anos, quatro ações: a investigação que redundou
na prisão de vários peritos do Instituto de Criminalística
do Paraná na região, incluindo seu diretor, pela prática
de crimes de corrupção e falsa perícia; o trabalho que
ocasionou a prisão do comissário de vigilância lotado na
Vara da Infância e Juventude de Cascavel, pela prática
de concussão; a investigação a respeito dos homicídios
ocorridos em confronto armado entre membros do MST,
MLST e Via Campesina contra milícia armada formada
por alguns integrantes da sociedade rural de Cascavel,
em 2007, na sede da empresa SYNGENTA SEEDS, no
Município de Santa Tereza do Oeste; e a Operação Corsário,
desencadeada em 2008, cuja essência foi a investigação
de quadrilha especializada em roubos de cargas, que
tinha policiais militares como integrantes (dois acabaram
perdendo o cargo).
Promotor de Justiça Rudi Rigo Burkle, Coordenador do GAECO-Foz do Iguaçu
Há seis anos no GAECO-Foz, Burkle aponta a fronteira
dupla com o Paraguai e a Argentina como maior diferen-
cial da unidade, pois favorece a criminalidade no âmbito
intermunicipal, interestadual e internacional e também
dificulta o relacionamento entre as autoridades. “Em virtude
do nosso ordenamento jurídico, dependemos do Ministério
das Relações Exteriores para muitas investigações. Isso
torna o trabalho moroso e acaba nos obrigando a buscar
informações informalmente para garantir celeridade nas
operações. A via oficial é muito burocrática”, diz. Ele
explica que a região é saída de veículos roubados vindos
especialmente do Sul e Sudeste do Brasil e entrada para
drogas e armas. “São práticas criminosas extremamente
graves e altamente rentáveis, que garantem a sustentação
financeira das quadrilhas com acesso a tecnologia de ponta
e alto grau de organização”, afirma. Isso implica também
na necessidade de investigações mais amplas, que muitas
vezes têm origem em Foz e acabam interferindo em outras
unidades do GAECO. Além disso, o grande volume de
dinheiro gerado pelo crime leva a um alto índice de cor-
rupção de autoridades públicas, principalmente policiais.
“O problema da corrupção aqui se inicia, em geral, com a
‘vista grossa’ feita para o contrabando, que na nossa região,
infelizmente, tem um viés quase ‘social’ e não é visto como
um crime ‘sério’. A partir disso, muitos policiais acabam
tendo acesso a criminosos maiores, envolvendo-se com
o tráfico de armas, drogas e com quadrilhas de roubo de
carros”, relata. “Como esses crimes dão muito dinheiro,
a propina sai barata para os bandidos”.
Promotor de Justiça Claudio Rubino Zuan Esteves, Coordenador do GAECO Londrina
Esteves ingressou na unidade em agosto de 2003,
quando da instalação da PIC em Londrina. Sobre esse início,
conta que enfrentaram duas questões para a evolução do
trabalho: primeiro, a constituição de “força-tarefa” entre
o MP e as Polícias Militar e Civil, para atuação conjunta.
“Uma adaptação precisou ser feita e a definição de uma
3Maio | Julho 2009
Leonir BatistiEntrevista
O senhor assumiu a coordenação dos GAECOs no primeiro semestre de 2008. Desde então, como avalia o trabalho desenvolvido nas unidades?As unidades de GAECO trabalham com muito idealismo e pro-
fissionalismo. As unidades de Londrina, Foz do Iguaçu, Cascavel
e Guarapuava mantiveram o curso e a organização. Houve um
encontro de trabalho, em Curitiba, para reafirmar as metas e
afinar os propósitos das unidades. Por outro lado, a unidade de
Curitiba foi remontada.
Quais seriam hoje os grandes desafios no combate à criminalidade organizada no Estado?Imagino que o desafio seja o de evitar o sucesso desta modalidade
de crime e, quando possível, impedi-la. Isso se faz com investigação,
apuração, processo, condenação e aplicação da pena. O desafio é
completar esse ciclo em prazo razoável. Mas, para evitar o sucesso
e impedir esta modalidade de crime é necessário uma melhoria
de legislação para facilitar a apuração. Não é razoável que se
tenha tantas dificuldades para conseguir identificar o titular de
um telefone ou o endereço onde esteja instalado. Não me parece
razoável, igualmente, que se consagre um sigilo bancário em
que os órgãos apuradores tenham dificuldade de obter dados a
respeito de contas que estejam sendo usadas diretamente para
a prática de crimes. Os criminosos têm várias vantagens: agem
sem restrição, sem limites burocráticos ou gerenciais; não têm
limitações financeiras; planejam e agem à frente. Defendo clara-
mente a posição de que o alcance dos sigilos não seja tão extenso.
Aliás, sigilo bancário não é matéria diretamente constitucional,
assim como não o é o sigilo fiscal.
Nesse contexto, como está a participação do GAECO do Paraná em ações nacionais de combate à criminalidade?Na realidade, a investigação começa em cada unidade. Ocasional-
mente, a investigação encontra ramificações em outros Estados.
Em algumas situações, é possível cindir as investigações. Em
outras, é necessário manter uma só investigação centralizada
na unidade que começou a investigação. Os GAECOS, nos vários
Estados, são parceiros. Existe troca de informações e suporte para
a realização de serviços. As unidades do Paraná têm recebido e
oferecido apoio em ações nacionais. A diretriz que se adota é a
de determinar como se obtém maior eficiência na apuração – se
a apuração dever se realizar em outro Estado, porque as provas
estão lá, adota-se o critério de remeter as informações já colhidas
e indicar quais os encaminhamentos que entendemos mais fáceis
para o resultado. O inverso também acontece.
Como funciona a parceria com o Grupo Nacional de Combate ao Crime Organizado e com unidades de outros MPs?O propósito do GNCOC é exatamente o de proporcionar uma ação
conjunta entre os GAECOS. Isto se realiza desde o cumprimento
Natural de Peabiru, o coordenador estadual dos Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público do Paraná, Procurador de Justiça Leonir Batisti, ingressou no MP-PR em 1981. Como Promotor, atuou em Paranavaí, Palmital, Alto Piquiri, Cianorte, Curitiba e Londrina, sendo que nessa Comarca permaneceu por 16 anos, trabalhando com ênfase nas áreas de defesa do consumidor, investigação criminal e sonegação fiscal. É professor de Direito Processual Penal e Direito Penal da Escola da Magistratura do Paraná, da Fundação Escola do MP e da Universidade Estadual de Londrina. Mestre em Direito Negocial pela UEL, Batisti é doutorando em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa. Tem dois livros publicados, “Curso de Direito Processual Penal”, hoje com três edições, e “Direito do Consumidor para o Mercosul”, na segunda edição, ambos pela Editora Juruá. Um terceiro, “Presunção de Inocência”, está em fase de finalização.
crimes patrimoniais. De ações de maior destaque, cita as
denúncias que envolveram dez dos 18 vereadores da cidade
(inclusive com a prisão e afastamento do cargo de alguns
deles), operações de prisão de integrantes de importante
facção criminosa que atua maciçamente no narcotráfico, e
a repressão à corrupção de agentes públicos que protegem
outras atividades ilícitas, como caça-níqueis, roubos, fugas
de presos e estelionatos.
Promotor de Justiça Claudio Cesar Cortesia, Coordenador do GAECO-Guarapuava
À frente do mais “jovem” GAECO, instalado em janeiro
do ano passado, Cortesia enumera várias investigações
realizadas com sucesso pelo grupo, apesar do pouco tempo
de atividade. “Só em 2008, nossas ações somam perto
de 40 condenações e apenas oito absolvições, entre 67
prisões efetuadas”, destaca. Segundo o Promotor, a mais
recente, batizada “Operação Transparaná”, que teve foco
em uma quadrilha especializada em roubo, receptação de
cargas e comércio de armas, que agia no Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, rendeu desdobramentos
em quase todo Estado e mobilizou outras duas unidades
do GAECO e o efetivo de outras forças policiais. “Só esse
trabalho resultou em 31 pessoas denunciadas, por 24
crimes”, diz. Para Cortesia, a Transparaná serviu ainda
para ilustrar uma situação que também é citada pelos
demais coordenadores: a alta capacidade de gestão da
criminalidade hoje. “O líder desse bando tinha em casa
uma lista com o nome de todos os policiais que atuam
nos GAECOs. Pior: conseguiu isso fazendo cruzamento
de dados na internet, ou seja, estão atentos e qualquer
‘facilitação’ nossa é de imediato aproveitada em benefício
do crime”, afirma. “Por isso creio ser fundamental que se
direcionem mais investimentos aos grupos, para garantir
pessoal e equipamentos de investigação”, avalia. Apesar
disso, o Promotor afirma que as dificuldades enfrentadas
hoje nas investigações residem no fato de que nem sempre
os pedidos do GAECO são urgentemente atendidos pelo
Juízo local. “Infelizmente temos vivenciado aqui um des-
compasso entre nossas demandas e a interpretação jurídica
na prestação jurisdicional da Comarca, o que nos obriga a
recorrer ao Tribunal de Justiça. Perde-se em celeridade,
pois temos que trabalhar em dobro na parte processual”,
conta. “Neste particular, porém, devo enaltecer a prestação
jurisdicional das Câmaras Criminais do TJ-PR, e também das
Procuradorias Criminais, que têm demonstrado confiança
no trabalho do MP e comprometimento no enfretamento
das organizações criminosas”.
de precatórias, para ouvir pessoas, até o cumprimento de man-
dados de prisão ou apreensão. O importante é esta facilidade
originada da existência do Grupo Nacional. Há invariavelmente
um compromisso de mútuo auxílio que se revela essencial em
muitos casos.
O trabalho no combate ao crime organizado e no controle ex-terno da atividade policial é muito desgastante e absorve muito do Promotor de Justiça – não apenas profissionalmente, mas também na questão pessoal. O que o senhor diria aos colegas que atuam na área, tanto nos GAECOs quanto nas Promotorias Criminais em geral?Diria que nos GAECOS não há como atuar burocraticamente. É
preciso ter disposição permanente. Por outro lado, para caracterizar
a impessoalidade, reforçamos sempre a posição de que os traba-
lhos devam ter envolvimento coletivo, tanto que se sugere que as
medidas sejam assinadas por mais de um Promotor – o que conta
é a equipe, inclusive para evitar desgastes pessoais. A experiência
tem mostrado que os GAECOS, como de resto os Promotores de
todas as áreas, são detentores de extrema confiança da população
e este é um patrimônio que não se deve nunca colocar em risco.
Não raramente os Promotores dos GAECOS são procurados em
horário fora do expediente e devem estar disponíveis para as
pessoas. Por outro lado, as operações avançam noite adentro e
não raras vezes acontecem em finais de semana.
metodologia de trabalho precisou ser criada e amadurecer,
sobretudo com o fim de que a então PIC se constituísse
em verdadeira unidade especializada no combate ao crime
organizado. Os hábitos de cada instituição precisaram ser
superados para dar lugar a um padrão mais moderno e
eficiente de ação”, diz. O segundo ponto de embate foi
o modo como a PIC era vista externamente – de início,
integrantes da Polícia local pensaram que se tratava de um
grupo criado para substituí-los e deliberadamente perse-
guir policiais. “Com o tempo, compreenderam que o nosso
trabalho não se sobreporia às atividades investigatórias
tradicionais, mas se somaria a elas, como hoje ocorre, e
que, na verdade, a corrupção de qualquer agente público é
apenas uma das prioridades de sua atividade”, diz Esteves.
Como característica da unidade, o coordenador aponta o
fato de terem estabelecido um sistema de força-tarefa.
“Não há regime hierárquico, mas distribuição de trabalho
conjunta e uniforme. A coordenação exercida pelo MP não
interfere nas prerrogativas e atribuições típicas das demais
instituições”, explica. Ele conta que as maiores demandas
em Londrina são as organizações criminosas que têm
como integrantes agentes públicos, das mais diversas
áreas, abrangendo inclusive a sonegação fiscal, o tráfico
estruturado de drogas e as quadrilhas especializadas em
4 Maio | Julho 2009
A participação do Ministério Público como fiscal
da lei nos processos de natureza cível é um tema que
há anos vem provocando muito debate e polêmica
entre os integrantes da instituição, em todo o país.
Além da gama de atribuições nas áreas criminal e
de direitos difusos e coletivos, nas quais a instituição
atua como parte autora, o Ministério Público também
é responsável por fiscalizar a legalidade de processos
como separações judiciais e divórcios, outros feitos
da área de família e de sucessões, mandados de
segurança, matéria tributária envolvendo, por exem-
plo, a cobrança de tributos e taxas públicas, ações
patrimoniais envolvendo o Poder Público, falências,
ações de natureza trabalhista movidas por servidores
públicos, entre outras questões.
No Ministério Público do Paraná, a necessidade
de racionalização dos trabalhos ligados ao processo
civil começou a ser discutida em fóruns maiores du-
rante encontro dos membros dos Ministérios Públicos
Estaduais das Regiões Sul e Sudeste e do Estado de
Pernambuco, realizado em julho de 2001, no Paraná,
do qual resultou a Carta de Foz do Iguaçu, documento
assinado por 21 Procuradores e Promotores de Justiça
daqueles estados. Em junho de 2002, um Congresso
Estadual do MP-PR foi dedicado integralmente ao
tema. As manifestações, sobretudo no sentido de que
os estudos sobre a racionalização se dessem a partir
da Carta de Foz, foram compiladas para posterior
análise pela Administração Superior. Não houve, no
entanto, um posicionamento institucional que fosse
de pronto aplicado. No mesmo ano, uma recomenda-
ção da Corregedoria-Geral (nº 01/2002), sem caráter
vinculativo, buscou flexibilizar a atuação. Mas seus
efeitos ficaram prejudicados, posteriormente, com
a edição da Resolução nº 35/2004, do Colégio de
Procuradores (05/10/2004), e da Recomendação nº
11/2004 (27/10/2004), da própria Corregedoria-Geral,
que revogou a primeira recomendação. Recentemente,
o tema voltou à tona durante o Encontro de Alinha-
mento Estratégico da instituição, em abril, onde foi
apontado como um dos maiores desafios a serem
enfrentados pelo Ministério Público.
Frente a todo esse histórico, a Subprocuradoria-
Geral de Justiça para Assuntos de Planejamento Ins-
titucional (Subplan), com a participação do Centro de
Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cíveis,
do Gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça e da
Corregedoria-Geral do MP, apresentou neste ano pro-
posta às cinco Procuradorias de Justiça da área cível,
para que fosse discutida e pudesse, posteriormente,
servir como base para a edição de um ato conjunto
sobre a intervenção ministerial.
Em linhas gerais, nas ações em que o Poder
Público é parte ou interessado, a proposta sugere a
desnecessidade de intervenção em situações como
ações de execução fiscal, respectivos embargos e outras
demandas conexas, tais como repetição de indébito,
declaração, consignação em pagamento e anulatória
de débito; ações que envolvam exclusivamente dis-
cussões relacionadas a reenquadramento funcional,
vencimentos e vantagens pecuniárias de servidores
públicos (exceto mandados de segurança); e nas ações
em que seja parte ente da administração indireta (salvo
quando houver relevância social). A proposta também
elenca casos como ações de inventário e partilha de
bens envolvendo pessoas capazes, ações de alimentos e
revisionais de alimentos entre cônjuges, companheiros
e conviventes, ação de usucapião de coisa móvel e
ação envolvendo interesse de entidade de previdência
privada (ressalvadas eventuais repercussões coletivas
ou de caráter individual indisponível), entre várias
outras situações de não intervenção.
O documento foi criticado por muitos: alguns
por considerá-lo “liberal” demais; outros tantos,
por considerá-lo “conservador” demais, refletindo,
novamente, a dificuldade de haver um necessário
consenso sobre o tema.
Alguns posicionamentos representativos, no
entanto, começam a se desenhar a partir da proposta
apresentada. Em reunião realizada em 4 de junho, a
2ª Procuradoria de Justiça Cível aprovou, por maio-
ria, texto disciplinando em que tipo de demandas o
órgão entende que deve atuar. As situações apon-
tadas neste texto (dois parágrafos acima) entraram
no consenso.
“Estamos diante de uma situação fática inexo-
rável. Precisamos nos adaptar a uma realidade que
já está posta. O Promotor de Justiça hoje é como o
médico em uma UTI da rede pública. Infelizmente
temos que fazer uma opção, quais casos iremos
priorizar, sob pena de atendermos os menos graves
e deixarmos pacientes morrer sem atendimento”,
afirma o Subprocurador-Geral de Justiça, Bruno Sérgio
Galatti (Subplan), referindo-se à atual estrutura da
instituição, que tem um número de membros aquém
do necessário para dar vazão a todo o trabalho de fiscal
da lei e de autor de ações, e à crescente demanda
de atuação processual e extra-processual na área de
direitos difusos e coletivos.
Na opinião do Procurador, a racionalização da
intervenção do MP na área cível é uma questão de
sobrevivência. “Hoje, temos que fazer uma opção:
priorizar a atuação institucional do Ministério Público
como parte. Na medida em que tenhamos condições
de abraçar novamente uma atuação integral como
custos legis, voltamos a intervir em todas as situações”,
afirma, lembrando que grande parte dos Ministérios
Públicos do país já se posicionou sobre o tema, editando
recomendações a seus membros, como é o caso, por
exemplo, dos MPs do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás,
Minas Gerais, Pará, Alagoas e Tocantins.
Como posição pessoal, o Corregedor-Geral do
MP-PR, Edison do Rêgo Monteiro Rocha, entende, por
sua vez, que os agentes do Ministério Público devem
intervir “o máximo possível” como custos legis. “Onde
puder atuar, ele deve atuar. Temos a percepção clara
de que onde o Promotor atua o Juiz toma mais cuida-
do”, afirma. Mesmo assim, ele acredita que existem
situações em que a intervenção do Ministério Público
não é necessária, como nas separações consensuais
sem interesse de menor e outros casos pontuais.
“O que não podemos é ficar como figurantes em
processos onde nossa atividade é dispensável. Aí a
necessidade de haver uma padronização”, defende. “A
racionalização, em algumas situações, é importante,
sobretudo para que o MP possa ter uma atuação mais
eficaz nas Promotorias Especiais”, completa.
Veja a seguir opiniões de outros membros do Ministério Público do Paraná sobre o tema:
“Com relação a questão da redução ou não da
intervenção do Ministério Público - custos legis - no
cível, entendo necessário, antes de passar uma posição
quanto a ser favorável ou contra, lembrar o fato de
que até o advento do Código de Processo Civil de 1973
a intervenção do Ministério Público, basicamente, se
relacionava aos feitos em que houvesse interesse de
menores. Aquele diploma legal é que veio possibilitar
à Instituição uma maior participação nos feitos cíveis.
E essa participação permitiu à Instituição vislumbrar
questões, de interesse público e social, onde deveria
haver uma preocupação de atuação da Instituição, já
então como parte. Desta forma, como resposta legis-
lativa, surge, em 1985, a Lei da Ação Civil Pública. A
Constituição da República de 1988, a par de dotar a
Instituição do seu atual perfil, incumbiu-a de precatar
inúmeros interesses. Daí a pergunta: o atendimento
a estes interesses passa necessariamente, por assim
dizer, em deixar de lado a atuação mais tradicional na
seara cível? Penso que não. O que ocorre é que, por
ausência de estrutura, notadamente de auxiliares e
nem tanto de membros, alguns são tentados a, visando
melhor atender àquelas outras atribuições, deixar de
lado as tradicionais, que foram exatamente a fonte
de onde nasceram essas novas atribuições. Portanto,
ao invés de reduzir nossa intervenção no cível, sob
a justificativa de racionalização, devemos sim lutar
para dotar a Instituição de melhores condições, para
dar respostas eficientes às novas atribuições, sem se
descurar das antigas”.
Arion Rolim Pereira - Procurador de Justiça
integrante da 3º Procuradoria de Justiça Cível, Coorde-
nador do Setor de Recursos Cíveis e do Centro de Apoio
Operacional das Promotorias de Justiça Cíveis.
“O Ministério Público, historicamente, vem
experimentando contínuo crescimento e evolução,
com o enfrentamento destemido de novas atribuições,
sempre empenhando seus esforços na defesa do
interesse público e social. Adquiriu respeitabilidade
Ideias & DebatesIntervenção no cível: em busca de um consenso
5Maio | Julho 2009
e credibilidade, atuando como agente e como custos
legis. No processo penal, tradicionalmente, mantém
sempre uma altiva atuação. No processo cível, ala-
vancou seu crescimento, a ponto de a Constituição
Federal lhe outorgar mais a defesa dos direitos
transindividuais, os quais passaram a lhe dar maior
visibilidade. Portanto, para que o Ministério Público
se mantenha atuante perante uma sociedade cada
vez mais exigente e em franco crescimento, jamais
poderá dispensar simplesmente atribuições que lhe
proporcionaram a prefalada importância, sob o pretexto
de se voltar para atuações extra-judiciais outras, ou
judiciais específicas. Significará que o Ministério Público
perderá autoridade para buscar o seu aparelhamento
para enfrentamento dos desafios que a sociedade
aprendeu e vem aprendendo a lhe dar”.
Ciro Expedito Scheraiber - Procurador de Justiça
com atuação na 3ª Procuradoria Cível e coordenador
do CAOP do Consumidor
“A racionalização da intervenção do Ministério
Público nas áreas cível e de família é imprescindível
e urgente, e não pode ser dissociada do planejamento
estratégico da Instituição. O efetivo cumprimento das
atribuições definidas na constituição federal reclama o
imediato abandono da tutela de interesses individuais
disponíveis e a filtragem constitucional da intervenção
prevista nas leis ordinárias, de forma a viabilizar a con-
centração dos esforços dos Promotores e Procuradores
de Justiça na defesa dos interesses coletivos e difusos
da sociedade brasileira (novo perfil constitucional
do Ministério Público). É notória a incapacidade da
instituição de dar conta de toda a demanda que lhe é
apresentada, impondo-se a priorização da atividade.
E esta, admitamos ou não, invariavelmente ocorre,
seja como resultado de um processo de valoração e
seleção conscientes levado a cabo pela Instituição
(do que o planejamento estratégico é ingrediente
essencial), ou, como hoje se verifica, a partir de
uma demanda aleatória, assistemática e em grande
medida divorciada dos interesses que deveríamos
prioritariamente tutelar, materializada mediante os
procedimentos judiciais encaminhados ao Parquet. A
racionalização da intervenção Ministerial não deve se
dar na perspectiva da atuação individual do Promotor
de Justiça (até porque, no desenvolvimento da ati-
vidade fim, não se está vinculado a esta ou aquela
orientação quanto a sua intervenção em determinado
caso concreto), mas antes na tomada de uma posição
institucional comprometida com a efetiva tutela dos
direitos sociais e individuais indisponíveis, coletiva-
mente considerados, a partir da qual seria definida
a aplicação dos recursos humanos, orçamentários e
materiais da Instituição”.
Fabio Bruzamolin Lourenço - Promotor de Jus-
tiça com atuação no Centro de Apoio Operacional das
Promotorias de Justiça dos Direitos Constitucionais
“O incremento da demanda social tem abarrotado
o Poder Judiciário de serviço cível – serviço este que
tem significativa parcela desaguada nos gabinetes
das Promotorias de Justiça em todo o Estado. Sem-
pre à sombra do Poder Judiciário, nossos valorosos
Promotores de Justiça, absolutamente imobilizados
sob montanhas de trabalho processual, encontram-
se limitados à condição de “pareceristas de autos
judiciais” – o que lamentavelmente conforma uma
Instituição cuja atuação prática em nada se parece
com a figura desejada pelo Legislador Constituinte.
Mesmo contando com todo o ferramental jurídico-
legal disponível (ação civil pública, inquérito civil,
procedimento investigatório criminal, requisição,
notificação, termo de ajustamento de conduta, reco-
mendação administrativa etc.), e ressalvada a atuação
parecerista custos legis presa ao Poder Judiciário, o
Ministério Público muito pouco tem efetivamente
feito, ou conseguido fazer, no âmbito cível pela
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Os
valorosos e hercúleos esforços dos muitos colegas
que ainda conseguem desempenhar algumas de suas
funções extrajudiciais especializadas, em que pese
devam ser reconhecidos e elogiados, não constituem
senão uma ponta mínima de um grande iceberg de
demanda latente que se encontra submerso em todo
o Estado. E mesmo esta cada vez mais rara “ponta”
de atuação na maioria das vezes atende somente a
situações casuísticas e pontuais, de maneira quase
sempre insipiente e demorada. Se não é possível fazer
tudo – que bom se conseguíssemos fazer tudo – então
é preciso racionalizar, fixar as prioridades que melhor
atendam aos interesses sociais e busquem cumprir
nossas elevadas e primeiras incumbências institucionais
(art. 127, caput, da Constituição Federal). No entanto,
o contrário parece estar acontecendo: o Ministério
Público tem sacrificado suas mais preciosas áreas
de atuação para lançar cotas e pareceres em pedidos
tardios de registro de óbito, usucapiões individuais e
habilitações de casamento”.
Fábio Vermeulen Carvalho Grade - Promotor
de Justiça de Primeiro de Maio
“No final do século XX e início do século XXI
tem prosperado em nosso país a tese de redução da
intervenção do Ministério Público no processo civil
individual. Todavia, não me parece adequado que o
Ministério Público abandone uma atividade típica
e exclusiva – a intervenção no processo civil como
custos iuris – sob o argumento de que necessita
se dedicar à relevante atividade de proteção dos
interesses transindividuais. Embora a defesa desses
interesses seja uma tarefa de grande relevância e à
qual efetivamente também devemos nos dedicar com
afinco, nunca se deve esquecer que pelos parâmetros
constitucionais não é uma atividade exclusiva, mas
concorrente com várias outras instituições. Ademais,
embora exista na doutrina e na jurisprudência uma
corrente que procura diminuir a dimensão do conceito
de interesse público para efeito de aplicação do artigo
83 do CPC, com ela não compactuo, considerando-a
totalmente equivocada e discrepante do disposto na
Constituição Federal e na legislação infraconstitucional,
especialmente no Código de Processo Civil. A inter-
pretação que se tenta fazer do conceito de interesse
público previsto no artigo 82 do CPC, não encontra
amparo no referido estatuto processual e tampouco
na legislação extravagante. Esta última apenas cui-
dou de ampliar as atividades do Ministério Público,
sem pretender restringi-la de qualquer forma. De
outro lado, diversamente do que sustentam alguns,
a Constituição Federal também não estabelece base
para a pretendida limitação. Embora o seu artigo
127, em sua parte final efetivamente mencione a
defesa dos interesses sociais e individuais indisponí-
veis – circunstância que tem levado à interpretação
restritiva – em sua parte inicial também determina
a DEFESA DA ORDEM JURÍDICA, o que a meu ver
inclusive permite a intervenção do Ministério Público
em qualquer processo de natureza civil visando a
correta aplicação da legislação. No momento em que a
jurisprudência cada vez mais ganha força como fonte
do Direito, não pode o Ministério Público abdicar do seu
poder de influir em sua formulação, manifestando-se
nos casos previstos na legislação e, especialmente,
apresentando recursos objetivando adequá-la aos inte-
resses da sociedade. Este é um momento incompatível
com teses brandas e cômodas. Cabe ao Ministério
Público ter inteligência e competência para se de-
sincumbir de todas as tarefas que lhe são conferidas
pela Constituição e legislação infraconstitucional. Um
passo importante nesse sentido pode ser dado com
uma melhor interpretação dos casos de atuação no
processo civil, focada na idéia de intervenção vigorosa
na formulação de uma jurisprudência adequada aos
interesses da sociedade”.
Luiz Fernando Belinetti - Procurador de Justiça
com atuação na 2ª Procuradoria Cível
“Já há algum tempo ecoa o inconformismo
de vários Promotores de Justiça com a intervenção
irracional – vez que desarmonizada com o figurino
constitucional – do Ministério Público como custos legis
nos processos cíveis. Em um país cuja Constituição
promete vida digna, mas a realidade a proíbe, a ins-
tituição a quem incumbe primordialmente incluir os
direitos fundamentais e sociais na vida dos excluídos,
não pode se dar ao luxo de despender energia quan-
do não estejam em jogo interesses sociais (difusos,
coletivos e individuais homogêneos) ou individuais
indisponíveis (CR, art. 127). Ou bem o Ministério
Público racionaliza e raciocina sua intervenção no
cível e prioriza sua atuação na proteção dos interesses
sociais, ou estará fadado a atuar disfuncionalmente
(por não cumprir seu papel), frustrando as justas e
fundadas expectativas que a população deposita em
seus membros. Está na hora de o Ministério Público do
Estado do Paraná fazer uma opção institucional clara
pela atuação racionalizada, inclusive com a extinção
de algumas Promotorias Cíveis, para concentrar e
priorizar seus esforços nas especiais Promotorias
Especializadas, essas sim (desde que focadas no
coletivo), valiosas ferramentas para superar o abissal
déficit de concretização que ostenta a Constituição
de nossa República”.
Rodrigo Leite Ferreira Cabral - Promotor de
Justiça de São João do Triunfo
6 Maio | Julho 2009
Criminais, do Júri e de Execuções PenaisO Mutirão Jurídico, sob a coordenação da área de Execuções Penais
do CAOP, analisou, desde agosto de 2008, a situação executório-penal de
2.600 presos em cadeias públicas de Curitiba, Região Metropolitana, Litoral
e da Cadeia Pública de Guaíra. Desse número, 538 já tinham condenação
definitiva, estando, portanto, cumprindo pena irregularmente fora do sistema
prisional. No âmbito Criminal e do Júri, o CAOP intercedeu junto ao Instituto
Médico Legal e à Vara de Inquérito Policiais, visando à celeridade na remessa
dos laudos de necropsia, tão logo concluído o respectivo exame, indepen-
dentemente do resultado dos exames complementares, o que resultou na
expedição da Portaria Judicial 002/2009, regulamentando este procedimento.
Quanto à carência de peritos no Instituto de Criminalística do Paraná, o CAOP
protocolou expediente solicitando a intervenção do Procurador-Geral de
Justiça junto ao Poder Executivo, a fim propiciar melhor estruturação ao IC.
A área Criminal ainda requereu ao PGJ a análise da viabilidade da criação de
uma Promotoria Especializada em Crimes Cibernéticos e a intervenção junto
ao Judiciário para que uma única Vara Criminal da Capital seja responsável
pelos feitos envolvendo tais crimes.
ComunidadesO CAOP elaborou, juntamente com a Promotoria da Vara de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, projeto voltado à implementação da
Lei Maria da Penha (Lei Federal 11.340/2006), com recursos do PRONASCI,
programa do Ministério da Justiça. Após algumas atividades desenvolvidas,
como a prévia análise das atribuições conferidas ao MP pela lei federal,
o conhecimento e identificação da rede de proteção disponível no Estado
e, ainda, a captação da opinião e das necessidades dos Promotores de
Justiça que atuam nesta área, o projeto intitulado “Reestruturação das
Promotorias de Justiça de Curitiba e Região Metropolitana com Atribuição
no Atendimento dos Casos de Violência Doméstica e Familiar Contra a
Mulher para Efetivação da Lei Maria da Penha” foi encaminhado em maio
ao Ministério da Justiça, pela Procuradoria-Geral de Justiça, e aguarda
aprovação para a sua efetiva execução no segundo semestre. O projeto
como um todo prevê a organização de um sistema eficiente de cadastro
dos casos de violência contra a mulher no âmbito do MP, a capacitação de
200 pessoas da rede de atendimento, incluindo os agentes ministeriais,
além da criação de um serviço terapêutico especializado para atendimento
àquelas mulheres.
Fundações e do Terceiro SetorCom base nos documentos em arquivo e nos registros do Banco
de Dados de Fundações do Estado do Paraná (SICAP), o CAOP concluiu o
levantamento das 93 fundações privadas com sede em Curitiba. Trabalha
agora,, por meio da respectiva Promotoria da capital, para regularizar a
situação das entidades que estão com as prestações de contas anuais
atrasadas e para regularizar ou extinguir administrativa e judicialmente
as que estão inativas ou funcionando em desacordo com suas finalidades.
Paralelamente, foi iniciado levantamento das entidades fundacionais
sediadas no interior. O CAOP também está orientando e estimulando os
agentes do MP-PR a instalar e alimentar periodicamente nas suas comarcas
o módulo SICAP PROMOTOR, a fim de que cada Promotoria responsável
pelo velamento das fundações mantenha um banco de dados atualizado.
Na área de atuação coletiva, está em desenvolvimento projeto de mapea-
mento que propiciará conhecer quais entidades sem fins lucrativos estão
desenvolvendo atividades de interesse social, com que tipo de recurso,
quantos empregos formais geram, entre outros dados.
Defesa do ConsumidorO CAOP está em tratativas com URBS e com empresas “encar-
roçadoras”, visando ao “recall” dos mecanismos das portas dos ônibus
que operam em estações-tubo da capital, para garantir maior segurança
aos usuários do transporte coletivo de Curitiba. Também discute com
as Vigilâncias Sanitárias Municipal e Estadual e o Conselho Regional de
Farmácia a comercialização de medicamentos por intermédio da internet,
telefone e do sistema de “delivery”. Recomendação Administrativa sobre o
tema será disponibilizada no site do CAOP. Resultado da atuação do CAOP
e da Promotoria da capital, foi celebrado ainda Termo de Ajustamento de
Conduta com a Sanepar, para normatizar a cobrança das taxas de água e
lixo no Estado. Assim, está proibida a cobrança “casada” das duas taxas na
mesma fatura, a menos que haja autorização do consumidor.
Meio AmbienteO CAOP vem realizando audiências públicas com empresas
de diversas áreas, visando ao recolhimento das embalagens por elas
geradas. A atividade busca o atendimento à Lei Estadual 12.493/99, que
estabelece procedimentos e critérios relacionados ao gerenciamento de
resíduos sólidos. Neste ano, já foram realizadas audiências com repre-
sentantes das empresas fabricantes e distribuidoras dos setores de óleos
lubrificantes, embalagens PET e TETRA-PAK, produtos veterinários e
medicamentos (vencidos).
EleitoraisNo segundo semestre, os Promotores Eleitorais já poderão contar
com banco de dados virtual organizado pelo CAOP. Nele estarão disponíveis
arquivos de petições, pareceres, representações, sentenças e acórdãos, bem
como jurisprudência selecionada, legislação, entre outras informações.
Saúde PúblicaNos dias 27, 28 e 29 de abril e 4, 6 e 7 de maio, o MP-PR participou
de audiência pública promovida pelo STF para colher elementos sobre temas
ligados ao direito à saúde. Na pauta estavam as responsabilidades dos entes
da federação em matéria de direito à saúde, obrigação do Estado de fornecer
medicamento não licitado e não previsto na lista do SUS e obrigação do
Estado de oferecer medicamentos ou tratamentos experimentais ou não
aconselhados pelos protocolos clínicos do Sistema Único. O posicionamento
do MP brasileiro foi especificamente sobre o terceiro tema, como solicitado
pelo Supremo. A apresentação coube ao presidente do Conselho Nacional
de Procuradores-Gerais, Leonardo Azeredo Bandarra. A fala teve como
base texto produzido pelo CAO da Saúde, que foi previamente discutido
e aprovado na Comissão Permanente de Defesa da Saúde do CNPG,
transformando-se em documento de política institucional, apto a indicar
posicionamentos de membros do MP com atribuições na área. A íntegra
do material está disponível na página do CAO na internet.
Patrimônio Público e Ordem TributáriaO Centro de Apoio está reformulando sua página na internet.
Desde maio, está disponível para Procuradores, Promotores de Justiça
e Servidores da Instituição o acesso à cerca de 300 consultas que foram
respondidas por escrito pelo CAOP, desde 1995. No link “consultas”, à
direita da página, há duas opções: índices (cronológico ou por assunto) e
íntegra das consultas. A íntegra pode ser visualizada pelo acesso restrito.
Também desta forma está disponível a instrução normativa dos atos da
Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público de Curitiba, que visa
auxiliar as Promotorias quanto à forma de tramitação dos inquéritos civis e
procedimentos preparatórios, em razão das recentes regulamentações do
CNMP e da PGJ. Ela pode ser acessada no link modelos, atos procedimen-
tais. O tópico “jurisprudência”, por sua vez, está em fase de remodelação
e em breve voltará a estar disponível. O CAOP solicita que dados sobre a
propositura de ações ou sobre sentenças proferidas em processos da área
sejam informados ao órgão, para divulgação nas notícias.
EducaçãoEm decorrência das tratativas entre o Ministério Público Es-
tadual e o Executivo Municipal de Curitiba, que se deram em função
do inquérito civil nº 160/2008, em trâmite na Promotoria de Justiça
de Proteção à Educação, o orçamento destinado à área da educação
infantil na capital poderá receber incremento em 2010, alcançando os
R$ 25 milhões. O Executivo já encaminhou à Câmara de Vereadores
o anteprojeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, prevendo recursos
que possibilitem a ampliação do número de vagas em creches, hoje
extremamente defasado em relação à demanda.
IdosoO CAOP do Idoso está intensificando a fiscalização das entida-
des de longa permanência em Curitiba. Resultado da atuação, houve
inclusive o fechamento de uma das instituições, que apresentava
irregularidades graves em relação à qualidade do atendimento e a
questões sanitárias.
Pessoa Portadora de DeficiênciaO Governo Estadual publicou em 15 de maio o Decreto nº 4742,
regulamentando a lei que assegura transporte gratuito aos portadores de
deficiência comprovadamente carentes nas linhas comuns do transporte
intermunicipal de passageiros (Lei nº 11.911/1997). Para esclarecer as
diversas associações ligadas aos portadores de deficiência sobre o decreto,
o CAOP promoveu reunião em 4 de junho. A gratuidade estende-se a
pessoas que sofrem de algumas patologias crônicas e inclui as linhas
de ônibus que compõem as redes integradas de transporte coletivo
de regiões metropolitanas. O decreto regulamentador teve como base
minuta elaborada pelo CAOP, apresentada ao governador do Estado
pelo Procurador-Geral de Justiça.
Criança e AdolescenteO CAOP tem disponibilizado material sobre temas dos mais
diversos na área, visando a auxiliar os Promotores de Justiça e ou-
tros integrantes do chamado “Sistema de Garantias dos Direitos da
Criança e do Adolescente” na busca de soluções concretas para os
problemas que afligem a população infanto-juvenil paranaense. Vale
citar a elaboração da cartilha “Município que Respeita a Criança”,
referência e “roteiro” para atuação dos prefeitos e gestores públicos
no sentido da implementação de políticas municipais destinadas ao
atendimento de crianças, adolescentes e famílias. Também merecem
destaque os tópicos relativos à violência contra crianças e adolescentes,
disponibilizado em preparação ao dia 18 de maio (Dia Nacional de
Combate à Violência Sexual), às Conferências Municipais dos Direitos
da Criança e do Adolescente e à Semana Nacional Antidrogas, além
da participação de integrantes do órgão em numerosos eventos da
área em todo o Estado.
Direitos ConstitucionaisO CAOP tem desenvolvido ações direcionadas à defesa de
direitos de povos e comunidades tradicionais (quilombolas, pescado-
res artesanais, faxinalenses, ribeirinhos e outros). Desde 2008, vem
realizando visitas, reuniões e audiências públicas em diversas regiões
do Estado, com a finalidade de conhecer as formas de organização
desses grupos e acolher as demandas por direitos sociais das quais
são titulares, para então construir coletivamente as estratégias mais
apropriadas para dar respostas às suas dificuldades cotidianas. A última
das visitas, realizada em Barra do Superagui, em 22 de junho, reuniu
mais de 60 pessoas, sobretudo pescadores artesanais das comunidades
de Superagui e Ilha das Peças.
Notas dos Centros de Apoio
7Maio | Julho 2009
Concurso para Promotor SubstitutoFoi realizada em 26 de julho a primeira fase do concurso para ingresso na carreira do Ministério Público do Paraná. Inscreveram-se para o certame 1945 candidatos, de diversos estados. A prova preambular foi realizada no bloco de Ciências Jurídicas do campus da PUC-PR. A princípio, estão sendo oferecidas 11 vagas para o cargo de Promotor Substituto. A segunda etapa do processo seletivo está prevista para o período de 24 a 28 de agosto.
Com foco na discussão das maiores demandas
da comunidade indígena paranaense e brasileira, o
Ministério Público do Paraná, através do Centro de
Apoio Operacional às Promotorias de Proteção às
Comunidades Indígenas, promoveu de 20 a 22 de
maio, em Curitiba, o II Seminário Estadual Indígena
– História e Atualidade.
Na abertura do evento, o Procurador-Geral de
Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, que presidiu
a solenidade, falou da alegria do MP-PR em ser pio-
neiro entre os MPs Estaduais do país na defesa dos
direitos das comunidades indígenas, enaltecendo a
criação do Centro de Apoio, em 2007, na gestão do
então Procurador-Geral de Justiça Milton Riquelme de
Macedo, que estava presente na cerimônia. Olympio
também fez menção ao projeto Ministério Público
Social, desenvolvido desde o ano passado pelo MP-
PR, com foco nas regiões de menor IDH do Estado,
incluindo áreas com comunidades quilombolas. “Da
mesma forma que com os quilombolas, temos uma
dívida histórica imensa a ser resgatada com os povos
indígenas, sobretudo quanto à garantia dos direitos
fundamentais”, disse o Procurador-Geral.
O coordenador do Centro de Apoio, Promotor
de Justiça Luiz Eduardo Canto de Azevedo Bueno,
abordou a importância da iniciativa do MP-PR em
assumir a causa indígena, em detrimento às críticas
de que esta seria uma atribuição federal. “Nosso
entendimento é o de que os Ministérios Públicos
Estaduais têm atribuição direta na defesa dos direitos
fundamentais dessa população, que muitas vezes acaba
abandonada até por uma questão geográfica, visto que
o acesso às unidades
do MPF é mais restrito
do que às Promotorias
de Justiça, que estão
distribuídas em qua-
se todas as cidades
brasileiras”, sustenta.
Bueno falou ainda dos
problemas mais urgen-
tes que os indígenas
têm levado ao CAOP,
como a questão da
demarcação de terras, o atendimento precário
na área da saúde, o combate ao alcoolismo
e o desafio da auto-sustentabilidade das
comunidades. “Precisamos ainda aprender
a trazer para nossa cultura o conhecimento
desses povos, que têm muito a nos ensinar,
sobretudo na área ambiental. É fundamental
diminuir o preconceito com que a sociedade
- muitas vezes nós mesmos, operadores do
Direito - vê essa população”.
Direito Indígena – A conferência de
abertura ficou a cargo do Procurador-Geral do
Estado, Carlos Frederico Marés, profissional
de destaque na área da defesa dos direitos
indígenas. Ele também ressaltou a preocupação
social demonstrada pelo MP-PR ao trazer para seu
rol de atribuições as populações indígenas. “O MP
Paranaense poderia se abster da questão, relegando
a responsabilidade ao MP Federal, mas não – fez
questão de assumir a causa”, disse. Marés abordou
a forma como foi discutida a matéria indígena no
processo de criação da Constituição Federal de
1988, bem como em tratados internacionais, como
a Convenção nº 169, da Organização Internacional
do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, que trata
dos povos indígenas e tribais.
Durante o encontro, apresentaram palestras o
Procurador Federal da FUNAI, Derli Cardoso Fiúza,
especializado na área criminal, na defesa de índios;
Paulo Cipassé Xavante, cacique xavante do Mato Grosso;
Eliane Moreira, Promotora da Justiça do Pará; Edivio
Battistelli, indigenista da FUNAI; Marlene Osowski
Curtis e João Carlos
Bernardes, funcio-
nários da Itaipu
Binacional; Pedro
Hej Hej Lucas,
cacique kaingang;
Iunak Yawalapiti,
cacique xinguano e
presidente do Ins-
tituto de Pesquisa
Etno Ambiental
do Xingu (IPEAX);
Ianaculá Rodarte,
indígena xinguano
e coordenador-
geral do IPEAX; Tatiana Azambuja, advogada e
mestre em Direito; Nizan Pereira, Secretário Especial
de Assuntos Estratégicos do Paraná e José Porfírio
Fontenele de Carvalho, consultor indigenista da
Eletronorte. Todas as apresentações foram gravadas
em vídeo e podem ser consultadas. Também há na
página do CAOP Indígena na internet um resumo de
cada uma das exposições, bem como entrevistas com
alguns dos índios que estiveram no evento.
Como encaminhamento do seminário, será
oficiado à presidência da FUNAI e da FUNASA, em
Brasília, ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, ao
Presidente do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do
Sul, Elpídio Helvécio Chaves Martins, ao Procurador-
Geral de Justiça do Mato Grosso do Sul, Miguel Vieira
da Silva e ao Conselho Nacional de Justiça, sobre a
situação jurídica e social que envolve os indígenas
no Mato Grosso do Sul, em especial no Município de
Dourados. Foi solicitado ainda ao Procurador-Geral
de Justiça que proponha aos MPs dos outros Estados
a criação de um Centro de Apoio Operacional ou uma
Promotoria Especializada sobre Direitos Indígenas.
Também será requerida a destinação de terras para
o povo Xetá no Paraná, que atualmente enfrenta
problemas de demarcação de territórios.
Direito de não ser esquecido“Hoje os indígenas sofrem muita discriminação. Também
precisa ser feita a demarcação da terra. Precisa ainda de mais saúde,
educação, melhorar a infraestrutura que ainda não tem. Algumas
áreas indígenas são esquecidas, só quando o índio invade uma
repartição pública, invade a Funasa, aí entra na mídia, aí lembram
do índio, vão atrás pra ver o que estes índios precisam. Enquanto
os índios não se manifestam, ficam desconhecidos, por isso fica a
situação precária que existe nas áreas indígenas hoje. (...) Achei
muito interessante o seminário, é um debate muito importante
para a comunidade indígena e para a comunidade civil também.
Que possa levar para outros lugares, que seja exemplo para outras
autoridades, que não seja em vão, que não tenham vindo só passar
mel na boca dos índios que vieram aqui, mas que cada um, cada
Ministério Público, cada Tribunal de Justiça veja onde está a dis-
criminação com os povos indígenas. Hoje os povos indígenas são
minoria e são discriminados. Por isso que tem muitos índios presos
na cadeia pública, temos pouco a acesso a advogados. Por mínima
coisa o índio fica lá, até cumprir tudo. Tem muitos bandidos que
mata e rouba, e fica ali, qualquer advogado tira. Já o índio vai preso
por mínima coisa, às vezes até por coisas dele, vai tirar uma lenha,
uma caça, pesca e vai preso”, (sic)..
Ludovico Monconã, índio xokleng, vive em Ibirama (SC),
em uma comunidade que reúne perto de 2 mil famílias e habita a
região desde 1914.
Causa indígena é destaque de encontro no MP-PR
Indígenas de várias etnias, autoridades e profissionais ligados à causa participaram do encontro
Assessoria de Imprensa | Ministério Público do Estado do ParanáRua Marechal Hermes, 751 | CEP 80530-230 | Curitiba - PR
e-mails: [email protected] | [email protected]
eten
te
Rememorandum Memorial do Ministério Público
Poucos membros do Ministério Público do
Paraná receberam tantos elogios pela alta qualida-
de de sua formação jurídica e competência do seu
desempenho funcional quanto Luiz Viel, que por 21
anos integrou o Parquet estadual, até sua nomeação
para o Tribunal de Alçada, em 1984. Vitimado ainda
muito jovem pela escoliose, doença deformante
que tolheu seu desenvolvimento e dificultava sua
movimentação, conta-se que mesmo assim viveu
vida de plena atividade e que até praticava futebol
com os amigos dos fóruns do interior nas horas de
folga – e era bom de bola. Chegou à capital depois
de carreira de mais de 10 anos no interior, em que
perpassou Paranaguá, como substituto, e Ribeirão
Claro, Andirá, Primeiro de Maio, Cambará, como
titular, até ser convocado, em 1971, para prestar
serviços na Procuradoria-Geral. Em Curitiba, passou
a compor o corpo docente do Curso de Estagiários
do MP e foi membro do Conselho de Redação da
“Revista MP”.
Ainda nesse tempo, foi designado assessor do
Senador Accioly Filho no projeto de revisão do Código
Penal, do qual o político paranaense era relator. Sua
contribuição mereceu elogioso reconhecimento devido
à sua “grande cultura jurídico-penal e seu acentua-
do bom-senso”,
segundo pala-
vras do próprio
Senador. Du-
rante seu tempo
no interior, Viel
tinha uma expli-
cação para sua
preferência pe-
las comarcas de
menor volume de serviço – era para poder dispor
de mais tempo para estudar e preparar com mais
qualidade suas manifestações forenses. Igual ao
que se conta de Nelson Hungria que, no início da
carreira, quando no MP, deixou-se ficar nove anos
numa pequena comarca do interior de Minas Gerais,
tempo que aproveitou para apreender seis línguas
e se preparar para a brilhante carreira que iria de-
sempenhar na magistratura e nas letras jurídicas
nacionais.
Viel tinha, porém, uma opinião sobre a função
do Ministério Público que os tempos atuais parecem
não ter confirmado: a de que os Promotores devem
se ater, com maior empenho, à sua função histórica
de dominus da ação penal, em um tempo em que a
segurança pública é uma grave ameaça à conservação
da vida social e à liberdade dos cidadãos. Para ele, o
MP não podia sacrificar a função penal para a qual
foi destinado, para diluir sua atividade entre tantas
outras, de igual relevância, é certo, mas que, por
serem tantas e tão graves, acabam por prejudicar a
eficiência de todas elas. Acreditava, porém, que com
o tempo essas outras funções acabariam confiadas
a outros órgãos, como ocorreu durante tanto tempo
com o atendimento trabalhista. Luiz Viel, afinal, era
homem de convicções e de grande devoção ao estu-
do do Direito. Acreditava que todo membro do MP
tinha que ser pessoa de apurada cultura, inclusive
filosófica, para compreender e cumprir melhor seu
dever. Em 1993, foi eleito presidente do Tribunal
de Alçada e, em 1994, nomeado desembargador do
Tribunal de Justiça.
Algum tempo depois, porém, se aposentou,
para assumir a Diretoria Jurídica da Itaipu Binacio-
nal, falecendo pouco depois. Não publicou nenhum
livro, restando a maior parte de seus trabalhos no
bojo dos inumeráveis processos e recursos em que
atuou. Agora, seu filho, Roque Viel, selecionou
parte desse material e o publicou, em edição “post
mortem”, com prefácio do Ministro Felix Fischer, do
STJ. Assim, quem quiser conhecê-lo melhor, pode
ler o seu “Temas Polêmicos – Estudos e Acórdãos
em Matéria Criminal”.
Depois de 44 anos de serviços prestados
ao Ministério Público do Paraná, em maio deste
ano, aposentou-se a Promotora de Justiça Iara
Marques Dib, de Sengés, no Norte Pioneiro.
Até então membro mais antigo em atividade,
ela foi uma das primeiras mulheres a ingres-
sar no MP-PR, em maio de 1963. Assumiu
como Promotora Substituta em Sengés e lá permaneceu por praticamente
toda a carreira – pouco antes de se aposentar, foi promovida por merecimento
a Promotora de Justiça de Entrância Intermediária, na comarca de Castro. No
dia 8 de maio, foi homenageada com a Medalha de Bons Serviços, condecora-
ção instituída pela Resolução 342/1989, do MP-PR. A cerimônia foi realizada
na sede do Tribunal do Júri de Sengés, com a presença do Procurador-Geral
de Justiça Olympio de Sá Sotto Maior Neto, do Procurador de Justiça Gilberto
Giacóia e dos Promotores de Justiça Maria Luiza Corrêa de Mello, Wanderlei
Gonçalves Custódio, Joel Carlos Beffa e Ivonei Sfoggia, bem como autoridades
locais e familiares. A propósito da condecoração, Iara declarou: “Agradeço ao
Ministério Público pela bela e grandiosa homenagem que recebi por ocasião de
minha aposentadoria. Não posso deixar de relatar a emoção que invadiu minha
alma ao perceber a chegada dos caros amigos e colegas em minha residência.
De pronto, recordei-me com muita saudade das vezes que recebi a visita do Dr.
Olympio, acompanhado de sua mãe, Dona Olinda, a qual tive a satisfação de
ter como amiga. Ao tomarem a decisão de prestar-me esta homenagem, não
podia eu avaliar todo alcance que este gesto teria para mim. Reconhecimento
e distinção do Ministério público pelos mais de 40 anos de serviços prestados
na Comarca de Sengés. Reconhecida, agradeço a generosidade de todos.”
No dia 14 de maio, o Procurador de Justiça Luiz
do Amaral foi eleito e tomou posse como Ouvidor-
Geral do Ministério Público do Paraná para a gestão
2009/2011. Na cerimônia de posse, o Procurador-
Geral de Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto,
ressaltou a importância da Ouvidoria como ponte
entre as demandas da população e a Instituição. O
órgão foi instituído pela Lei Complementar no 117,
de fevereiro de 2007.
Amaral substituiu o Procurador de Justiça Wanderley Batista da Silva, que
ocupou a Ouvidoria-Geral nos últimos dois anos. A eleição foi definida pelos
80 Procuradores de Justiça que integram o MP-PR.
“Assumo com a intenção de servir de ferramenta para garantir que os
direitos do cidadão junto ao Ministério Público sejam respeitados”, disse o
Ouvidor-Geral. “A grande demanda no judiciário não pode servir de pretexto
para não esclarecermos a população, sobretudo a imensa parcela dos menos
favorecidos, sobre seus direitos de cidadania e abrir caminho para torná-los
efetivos”, afirmou. “A Ouvidoria também deve estar a serviço da conscientização
e busca da efetivação dos direitos de cidadania na construção da verdadeira de-
mocracia, que é objetivo constitucional permanente do Ministério Público”.
Natural de Joaçaba, Santa Catarina, Amaral graduou-se em Direito pela
Universidade Federal do Paraná em 1976. Ingressou no MP-PR em 1981, como
Promotor de Justiça, sendo promovido a Procurador de Justiça em 2002. Entre
1992 e 1994, licenciou-se da Instituição para exercer o cargo de prefeito de Assis
Chateaubriand, no Oeste do Estado. Durante esse período, por duas ocasiões foi
eleito presidente da Associação dos Municípios do Paraná (1992 e 1994).
Condecoração pela dedicação ao MP-PRMP-PR escolhe novo Ouvidor-Geral
Luiz Viel - O Promotor JuristaPor Rui Cavallin Pinto