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Informativo do Ministério Público do Estado do Paraná | Ano 8 | Nº 3 | Maio/Julho 2009 Núcleo de Proteção ao Patrimônio Público do Norte Pioneiro inaugura nova sede O Núcleo Regional de Proteção ao Patrimônio Público do Norte Pioneiro inaugurou nova sede, no dia 3 de julho, em Santo Antonio da Platina. Cerca de 500 pessoas participaram da so- lenidade, presidida pelo Procurador-Geral de Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, incluindo 31 prefeitos, 28 presidentes de Câmaras Legislativas, 16 membros do MP-PR, além do Presidente do Tribunal de Contas do Estado, Hermas Brandão, entre outras autoridades. Durante o evento foram apresentadas aos prefeitos e vereadores da região 18 recomendações administrativas que buscam, entre outros casos, coibir o nepotismo e regularizar a situação dos cargos em comissão nas 45 cidades que compõem a área de abrangência da unidade especializada do MP-PR. Instituído em 2003, em Ibaiti, o Núcleo Regional é coordenado, hoje, pela Promotora de Justiça Kele Cristiani Diogo Bahena, contando também com a atuação dos Promotores de Justiça Josilaine Aletéia de Andrade e Leandro Antunes Meireles Machado. Idéias e Debates: Como deve ser a atuação do Ministério Público fiscal da lei na área cível? p. 4 e 5

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Informativo do Ministério Público do Estado do Paraná | Ano 8 | Nº 3 | Maio/Julho 2009

Núcleo de Proteção ao Patrimônio Público do Norte Pioneiro inaugura nova sedeO Núcleo Regional de Proteção ao Patrimônio Público do Norte Pioneiro inaugurou nova

sede, no dia 3 de julho, em Santo Antonio da Platina. Cerca de 500 pessoas participaram da so-

lenidade, presidida pelo Procurador-Geral de Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, incluindo

31 prefeitos, 28 presidentes de Câmaras Legislativas, 16 membros do MP-PR, além do Presidente

do Tribunal de Contas do Estado, Hermas Brandão, entre outras autoridades. Durante o evento

foram apresentadas aos prefeitos e vereadores da região 18 recomendações administrativas que

buscam, entre outros casos, coibir o nepotismo e regularizar a situação dos cargos em comissão

nas 45 cidades que compõem a área de abrangência da unidade especializada do MP-PR. Instituído

em 2003, em Ibaiti, o Núcleo Regional é coordenado, hoje, pela Promotora de Justiça Kele Cristiani

Diogo Bahena, contando também com a atuação dos Promotores de Justiça Josilaine Aletéia de

Andrade e Leandro Antunes Meireles Machado.

Idéias e Debates:

Como deve ser a atuação do Ministério Público fiscal da lei na área cível?

p. 4 e 5

2 Maio | Julho 2009

Expe

dien

te MP Notícias é uma publicação do Ministério Público do Estado do Paraná. Procurador-Geral de Justiça: Olympio de Sá Sotto Maior Neto. Corregedor-Geral: Edison do Rego Monteiro Rocha. Redação e fotografia: Jaqueline Conte (Jornalista responsável MTB 3535/PR) e Patrícia Ribas / Arquivo Memorial MP-PR / Arquivo Núcleo do Norte Pioneiro. Arte-final/impressão: Via Laser Artes Gráficas Ltda. Tiragem: 1.300 exemplares.

MP-PR: 15 anos de atuação especializada no combate ao crime organizado

Em matéria de capa, reportagem da revista Veja

anuncia: Um nôvo crime nas ruas: contra a polícia de ontem,

os bandidos de hoje, mais audazes, organizados e mais

violentos. Não fosse o acento circunflexo, que denuncia a

passagem das reformas ortográficas, a manchete é válida –

mas data de 23 de abril de 1969, ou seja, completou neste

ano três décadas. O crime organizado, que soma milhares

de vítimas e tira o sono das autoridades e da população,

não é novo. E parece estar a cada ano mais forte. Em face

dessa chaga, membros do Ministério Público e policiais

civis e militares de todo país começaram no final da dé-

cada de 1990 e no início deste século uma luta conjunta

contra esse inimigo comum, com a criação de unidades

especializadas que somam as forças das três instituições.

No Paraná, o trabalho começou em 1994, com a resolução

nº 97/1994, que instituiu a Promotoria de Investigação

Criminal (PIC). Anos depois, em setembro de 2007, veio a

resolução nº 1801/2007, que regulamentou e regionalizou

a atuação do MP-PR no combate ao crime organizado no

Estado, criando o Grupo de Atuação Especial de Repressão

ao Crime Organizado – GAECO.

Hoje, as unidades do GAECO estão distribuídas

em Curitiba, Londrina, Foz do Iguaçu, Cascavel e Gua-

rapuava, sob a coordenação estadual do Procurador de

Justiça Leonir Batisti.

Ação conjunta – O Secretário de Estado da Segu-

rança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, que em

2002, enquanto Promotor de Justiça, atuou junto à então

denominada PIC, destaca a importância da integração

do MP com outras instituições, como as Polícias Civil e

Militar. “Esse trabalho conjunto, que pude vivenciar na

antiga PIC, amplia a visão do Promotor. É um momento

diferenciado na carreira, porque nos tira do isolamento e,

dessa maneira, fortalece e protege a figura do Promotor”,

avalia. Para Delazari, essa interação entre as instituições

vive atualmente um de seus melhores momentos. “A SESP,

por exemplo, fornece aos GAECOS todos os policiais, ar-

mas, viaturas e os equipamentos tecnológicos essenciais

para investigações importantes. Nosso objetivo com esse

trabalho é unir forças para combater o crime organizado,

os criminosos de larga escala que atingem diretamente

a sociedade”, diz.

Promotor de Justiça Vani Bueno, Coordenador do GAECO-Curitiba

O Coordenador do GAECO-Curitiba lida com o

combate ao crime organizado desde a década de 90.

Chegou a integrar a antiga PIC entre 1995 e 2002. À

frente do grupo na capital desde 2008, ele aponta como

particularidade da unidade justamente o fato de estar

instalada em Curitiba. “O crime organizado, para lograr

êxito nas suas empreitadas, busca se aproximar de auto-

ridades públicas, principalmente na área policial, o que

faz nossa atuação no controle externo da atividade policial

ser bastante intensa”, diz. “O efetivo da polícia na capital

também é muito maior do que no interior, logo, temos

muito trabalho nessa área”, afirma. Vani ressalta ainda

o desenvolvimento e a especialização da criminalidade

organizada hoje: “Essa turma está com um poder de fogo

muito maior do que há alguns anos, com acesso não apenas

a armamento moderno, mas a equipamentos tecnológicos

que nós, que dependemos da gestão pública, não temos

acesso. A tecnologia avança onde corre mais dinheiro”,

avalia. Ele coloca o tráfico de drogas como o grande vetor

do crime organizado e destaca o recente trabalho da equipe

contra traficantes que agiam na região metropolitana de

Curitiba, em Colombo, e que contavam com o “suporte”

de vários policiais civis da Delegacia de Alto Maracanã.

“Foi uma investigação bastante complexa e que resultou

não apenas na prisão de traficantes perigosos como no

afastamento de vários agentes públicos que davam su-

porte ao crime através de uma rede de extorsões”. Ele

elogia a participação da equipe da unidade, neste e em

outros casos, e afirma que não há como dissociar a ação

dos agentes do Ministério Público que estão nos GAECOS

do trabalho dos policiais civis e militares que compõem

as unidades. “Dependemos do trabalho deles. Sem esse

suporte, ficaríamos atados a funções de gabinete. O GAECO

é a soma de todos.”

Promotor de Justiça Gustavo Henrique Rocha de Macedo, Coordenador do GAECO-CascavelHá pouco mais de um mês na coordenação da unidade

de Cascavel – assumiu em 1º de junho – Macedo destaca

como um dos diferenciais do grupo a grande atuação nas

comarcas vizinhas. “Desde os primórdios, quando ainda

era a PIC, a equipe de Cascavel presta apoio e tem de-

sencadeado operações de destaque em Guaíra, Marechal

Cândido Rondon, Toledo, Santa Helena, Palotina, Assis

Chateaubriand, dentre outras Comarcas da região. Isso

se deve à posição geográfica dessas localidades, próximas

à fronteira com o Paraguai e divisa com o Mato Grosso do

Sul, o que acaba tornando a região palco da atuação de

quadrilhas extremamente organizadas, cujas atividades

exigem repressão por meio de investigações complexas”,

diz. “Hoje, as duas investigações mais trabalhosas a

cargo do GAECO referem-se a ilícitos cometidos não em

Cascavel, mas na região”, sustenta Macedo. Ele conta

que o histórico da unidade é bastante rico e destaca, nos

últimos anos, quatro ações: a investigação que redundou

na prisão de vários peritos do Instituto de Criminalística

do Paraná na região, incluindo seu diretor, pela prática

de crimes de corrupção e falsa perícia; o trabalho que

ocasionou a prisão do comissário de vigilância lotado na

Vara da Infância e Juventude de Cascavel, pela prática

de concussão; a investigação a respeito dos homicídios

ocorridos em confronto armado entre membros do MST,

MLST e Via Campesina contra milícia armada formada

por alguns integrantes da sociedade rural de Cascavel,

em 2007, na sede da empresa SYNGENTA SEEDS, no

Município de Santa Tereza do Oeste; e a Operação Corsário,

desencadeada em 2008, cuja essência foi a investigação

de quadrilha especializada em roubos de cargas, que

tinha policiais militares como integrantes (dois acabaram

perdendo o cargo).

Promotor de Justiça Rudi Rigo Burkle, Coordenador do GAECO-Foz do Iguaçu

Há seis anos no GAECO-Foz, Burkle aponta a fronteira

dupla com o Paraguai e a Argentina como maior diferen-

cial da unidade, pois favorece a criminalidade no âmbito

intermunicipal, interestadual e internacional e também

dificulta o relacionamento entre as autoridades. “Em virtude

do nosso ordenamento jurídico, dependemos do Ministério

das Relações Exteriores para muitas investigações. Isso

torna o trabalho moroso e acaba nos obrigando a buscar

informações informalmente para garantir celeridade nas

operações. A via oficial é muito burocrática”, diz. Ele

explica que a região é saída de veículos roubados vindos

especialmente do Sul e Sudeste do Brasil e entrada para

drogas e armas. “São práticas criminosas extremamente

graves e altamente rentáveis, que garantem a sustentação

financeira das quadrilhas com acesso a tecnologia de ponta

e alto grau de organização”, afirma. Isso implica também

na necessidade de investigações mais amplas, que muitas

vezes têm origem em Foz e acabam interferindo em outras

unidades do GAECO. Além disso, o grande volume de

dinheiro gerado pelo crime leva a um alto índice de cor-

rupção de autoridades públicas, principalmente policiais.

“O problema da corrupção aqui se inicia, em geral, com a

‘vista grossa’ feita para o contrabando, que na nossa região,

infelizmente, tem um viés quase ‘social’ e não é visto como

um crime ‘sério’. A partir disso, muitos policiais acabam

tendo acesso a criminosos maiores, envolvendo-se com

o tráfico de armas, drogas e com quadrilhas de roubo de

carros”, relata. “Como esses crimes dão muito dinheiro,

a propina sai barata para os bandidos”.

Promotor de Justiça Claudio Rubino Zuan Esteves, Coordenador do GAECO Londrina

Esteves ingressou na unidade em agosto de 2003,

quando da instalação da PIC em Londrina. Sobre esse início,

conta que enfrentaram duas questões para a evolução do

trabalho: primeiro, a constituição de “força-tarefa” entre

o MP e as Polícias Militar e Civil, para atuação conjunta.

“Uma adaptação precisou ser feita e a definição de uma

3Maio | Julho 2009

Leonir BatistiEntrevista

O senhor assumiu a coordenação dos GAECOs no primeiro semestre de 2008. Desde então, como avalia o trabalho desenvolvido nas unidades?As unidades de GAECO trabalham com muito idealismo e pro-

fissionalismo. As unidades de Londrina, Foz do Iguaçu, Cascavel

e Guarapuava mantiveram o curso e a organização. Houve um

encontro de trabalho, em Curitiba, para reafirmar as metas e

afinar os propósitos das unidades. Por outro lado, a unidade de

Curitiba foi remontada.

Quais seriam hoje os grandes desafios no combate à criminalidade organizada no Estado?Imagino que o desafio seja o de evitar o sucesso desta modalidade

de crime e, quando possível, impedi-la. Isso se faz com investigação,

apuração, processo, condenação e aplicação da pena. O desafio é

completar esse ciclo em prazo razoável. Mas, para evitar o sucesso

e impedir esta modalidade de crime é necessário uma melhoria

de legislação para facilitar a apuração. Não é razoável que se

tenha tantas dificuldades para conseguir identificar o titular de

um telefone ou o endereço onde esteja instalado. Não me parece

razoável, igualmente, que se consagre um sigilo bancário em

que os órgãos apuradores tenham dificuldade de obter dados a

respeito de contas que estejam sendo usadas diretamente para

a prática de crimes. Os criminosos têm várias vantagens: agem

sem restrição, sem limites burocráticos ou gerenciais; não têm

limitações financeiras; planejam e agem à frente. Defendo clara-

mente a posição de que o alcance dos sigilos não seja tão extenso.

Aliás, sigilo bancário não é matéria diretamente constitucional,

assim como não o é o sigilo fiscal.

Nesse contexto, como está a participação do GAECO do Paraná em ações nacionais de combate à criminalidade?Na realidade, a investigação começa em cada unidade. Ocasional-

mente, a investigação encontra ramificações em outros Estados.

Em algumas situações, é possível cindir as investigações. Em

outras, é necessário manter uma só investigação centralizada

na unidade que começou a investigação. Os GAECOS, nos vários

Estados, são parceiros. Existe troca de informações e suporte para

a realização de serviços. As unidades do Paraná têm recebido e

oferecido apoio em ações nacionais. A diretriz que se adota é a

de determinar como se obtém maior eficiência na apuração – se

a apuração dever se realizar em outro Estado, porque as provas

estão lá, adota-se o critério de remeter as informações já colhidas

e indicar quais os encaminhamentos que entendemos mais fáceis

para o resultado. O inverso também acontece.

Como funciona a parceria com o Grupo Nacional de Combate ao Crime Organizado e com unidades de outros MPs?O propósito do GNCOC é exatamente o de proporcionar uma ação

conjunta entre os GAECOS. Isto se realiza desde o cumprimento

Natural de Peabiru, o coordenador estadual dos Grupos de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público do Paraná, Procurador de Justiça Leonir Batisti, ingressou no MP-PR em 1981. Como Promotor, atuou em Paranavaí, Palmital, Alto Piquiri, Cianorte, Curitiba e Londrina, sendo que nessa Comarca permaneceu por 16 anos, trabalhando com ênfase nas áreas de defesa do consumidor, investigação criminal e sonegação fiscal. É professor de Direito Processual Penal e Direito Penal da Escola da Magistratura do Paraná, da Fundação Escola do MP e da Universidade Estadual de Londrina. Mestre em Direito Negocial pela UEL, Batisti é doutorando em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade de Lisboa. Tem dois livros publicados, “Curso de Direito Processual Penal”, hoje com três edições, e “Direito do Consumidor para o Mercosul”, na segunda edição, ambos pela Editora Juruá. Um terceiro, “Presunção de Inocência”, está em fase de finalização.

crimes patrimoniais. De ações de maior destaque, cita as

denúncias que envolveram dez dos 18 vereadores da cidade

(inclusive com a prisão e afastamento do cargo de alguns

deles), operações de prisão de integrantes de importante

facção criminosa que atua maciçamente no narcotráfico, e

a repressão à corrupção de agentes públicos que protegem

outras atividades ilícitas, como caça-níqueis, roubos, fugas

de presos e estelionatos.

Promotor de Justiça Claudio Cesar Cortesia, Coordenador do GAECO-Guarapuava

À frente do mais “jovem” GAECO, instalado em janeiro

do ano passado, Cortesia enumera várias investigações

realizadas com sucesso pelo grupo, apesar do pouco tempo

de atividade. “Só em 2008, nossas ações somam perto

de 40 condenações e apenas oito absolvições, entre 67

prisões efetuadas”, destaca. Segundo o Promotor, a mais

recente, batizada “Operação Transparaná”, que teve foco

em uma quadrilha especializada em roubo, receptação de

cargas e comércio de armas, que agia no Paraná, Santa

Catarina e Rio Grande do Sul, rendeu desdobramentos

em quase todo Estado e mobilizou outras duas unidades

do GAECO e o efetivo de outras forças policiais. “Só esse

trabalho resultou em 31 pessoas denunciadas, por 24

crimes”, diz. Para Cortesia, a Transparaná serviu ainda

para ilustrar uma situação que também é citada pelos

demais coordenadores: a alta capacidade de gestão da

criminalidade hoje. “O líder desse bando tinha em casa

uma lista com o nome de todos os policiais que atuam

nos GAECOs. Pior: conseguiu isso fazendo cruzamento

de dados na internet, ou seja, estão atentos e qualquer

‘facilitação’ nossa é de imediato aproveitada em benefício

do crime”, afirma. “Por isso creio ser fundamental que se

direcionem mais investimentos aos grupos, para garantir

pessoal e equipamentos de investigação”, avalia. Apesar

disso, o Promotor afirma que as dificuldades enfrentadas

hoje nas investigações residem no fato de que nem sempre

os pedidos do GAECO são urgentemente atendidos pelo

Juízo local. “Infelizmente temos vivenciado aqui um des-

compasso entre nossas demandas e a interpretação jurídica

na prestação jurisdicional da Comarca, o que nos obriga a

recorrer ao Tribunal de Justiça. Perde-se em celeridade,

pois temos que trabalhar em dobro na parte processual”,

conta. “Neste particular, porém, devo enaltecer a prestação

jurisdicional das Câmaras Criminais do TJ-PR, e também das

Procuradorias Criminais, que têm demonstrado confiança

no trabalho do MP e comprometimento no enfretamento

das organizações criminosas”.

de precatórias, para ouvir pessoas, até o cumprimento de man-

dados de prisão ou apreensão. O importante é esta facilidade

originada da existência do Grupo Nacional. Há invariavelmente

um compromisso de mútuo auxílio que se revela essencial em

muitos casos.

O trabalho no combate ao crime organizado e no controle ex-terno da atividade policial é muito desgastante e absorve muito do Promotor de Justiça – não apenas profissionalmente, mas também na questão pessoal. O que o senhor diria aos colegas que atuam na área, tanto nos GAECOs quanto nas Promotorias Criminais em geral?Diria que nos GAECOS não há como atuar burocraticamente. É

preciso ter disposição permanente. Por outro lado, para caracterizar

a impessoalidade, reforçamos sempre a posição de que os traba-

lhos devam ter envolvimento coletivo, tanto que se sugere que as

medidas sejam assinadas por mais de um Promotor – o que conta

é a equipe, inclusive para evitar desgastes pessoais. A experiência

tem mostrado que os GAECOS, como de resto os Promotores de

todas as áreas, são detentores de extrema confiança da população

e este é um patrimônio que não se deve nunca colocar em risco.

Não raramente os Promotores dos GAECOS são procurados em

horário fora do expediente e devem estar disponíveis para as

pessoas. Por outro lado, as operações avançam noite adentro e

não raras vezes acontecem em finais de semana.

metodologia de trabalho precisou ser criada e amadurecer,

sobretudo com o fim de que a então PIC se constituísse

em verdadeira unidade especializada no combate ao crime

organizado. Os hábitos de cada instituição precisaram ser

superados para dar lugar a um padrão mais moderno e

eficiente de ação”, diz. O segundo ponto de embate foi

o modo como a PIC era vista externamente – de início,

integrantes da Polícia local pensaram que se tratava de um

grupo criado para substituí-los e deliberadamente perse-

guir policiais. “Com o tempo, compreenderam que o nosso

trabalho não se sobreporia às atividades investigatórias

tradicionais, mas se somaria a elas, como hoje ocorre, e

que, na verdade, a corrupção de qualquer agente público é

apenas uma das prioridades de sua atividade”, diz Esteves.

Como característica da unidade, o coordenador aponta o

fato de terem estabelecido um sistema de força-tarefa.

“Não há regime hierárquico, mas distribuição de trabalho

conjunta e uniforme. A coordenação exercida pelo MP não

interfere nas prerrogativas e atribuições típicas das demais

instituições”, explica. Ele conta que as maiores demandas

em Londrina são as organizações criminosas que têm

como integrantes agentes públicos, das mais diversas

áreas, abrangendo inclusive a sonegação fiscal, o tráfico

estruturado de drogas e as quadrilhas especializadas em

4 Maio | Julho 2009

A participação do Ministério Público como fiscal

da lei nos processos de natureza cível é um tema que

há anos vem provocando muito debate e polêmica

entre os integrantes da instituição, em todo o país.

Além da gama de atribuições nas áreas criminal e

de direitos difusos e coletivos, nas quais a instituição

atua como parte autora, o Ministério Público também

é responsável por fiscalizar a legalidade de processos

como separações judiciais e divórcios, outros feitos

da área de família e de sucessões, mandados de

segurança, matéria tributária envolvendo, por exem-

plo, a cobrança de tributos e taxas públicas, ações

patrimoniais envolvendo o Poder Público, falências,

ações de natureza trabalhista movidas por servidores

públicos, entre outras questões.

No Ministério Público do Paraná, a necessidade

de racionalização dos trabalhos ligados ao processo

civil começou a ser discutida em fóruns maiores du-

rante encontro dos membros dos Ministérios Públicos

Estaduais das Regiões Sul e Sudeste e do Estado de

Pernambuco, realizado em julho de 2001, no Paraná,

do qual resultou a Carta de Foz do Iguaçu, documento

assinado por 21 Procuradores e Promotores de Justiça

daqueles estados. Em junho de 2002, um Congresso

Estadual do MP-PR foi dedicado integralmente ao

tema. As manifestações, sobretudo no sentido de que

os estudos sobre a racionalização se dessem a partir

da Carta de Foz, foram compiladas para posterior

análise pela Administração Superior. Não houve, no

entanto, um posicionamento institucional que fosse

de pronto aplicado. No mesmo ano, uma recomenda-

ção da Corregedoria-Geral (nº 01/2002), sem caráter

vinculativo, buscou flexibilizar a atuação. Mas seus

efeitos ficaram prejudicados, posteriormente, com

a edição da Resolução nº 35/2004, do Colégio de

Procuradores (05/10/2004), e da Recomendação nº

11/2004 (27/10/2004), da própria Corregedoria-Geral,

que revogou a primeira recomendação. Recentemente,

o tema voltou à tona durante o Encontro de Alinha-

mento Estratégico da instituição, em abril, onde foi

apontado como um dos maiores desafios a serem

enfrentados pelo Ministério Público.

Frente a todo esse histórico, a Subprocuradoria-

Geral de Justiça para Assuntos de Planejamento Ins-

titucional (Subplan), com a participação do Centro de

Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Cíveis,

do Gabinete da Procuradoria-Geral de Justiça e da

Corregedoria-Geral do MP, apresentou neste ano pro-

posta às cinco Procuradorias de Justiça da área cível,

para que fosse discutida e pudesse, posteriormente,

servir como base para a edição de um ato conjunto

sobre a intervenção ministerial.

Em linhas gerais, nas ações em que o Poder

Público é parte ou interessado, a proposta sugere a

desnecessidade de intervenção em situações como

ações de execução fiscal, respectivos embargos e outras

demandas conexas, tais como repetição de indébito,

declaração, consignação em pagamento e anulatória

de débito; ações que envolvam exclusivamente dis-

cussões relacionadas a reenquadramento funcional,

vencimentos e vantagens pecuniárias de servidores

públicos (exceto mandados de segurança); e nas ações

em que seja parte ente da administração indireta (salvo

quando houver relevância social). A proposta também

elenca casos como ações de inventário e partilha de

bens envolvendo pessoas capazes, ações de alimentos e

revisionais de alimentos entre cônjuges, companheiros

e conviventes, ação de usucapião de coisa móvel e

ação envolvendo interesse de entidade de previdência

privada (ressalvadas eventuais repercussões coletivas

ou de caráter individual indisponível), entre várias

outras situações de não intervenção.

O documento foi criticado por muitos: alguns

por considerá-lo “liberal” demais; outros tantos,

por considerá-lo “conservador” demais, refletindo,

novamente, a dificuldade de haver um necessário

consenso sobre o tema.

Alguns posicionamentos representativos, no

entanto, começam a se desenhar a partir da proposta

apresentada. Em reunião realizada em 4 de junho, a

2ª Procuradoria de Justiça Cível aprovou, por maio-

ria, texto disciplinando em que tipo de demandas o

órgão entende que deve atuar. As situações apon-

tadas neste texto (dois parágrafos acima) entraram

no consenso.

“Estamos diante de uma situação fática inexo-

rável. Precisamos nos adaptar a uma realidade que

já está posta. O Promotor de Justiça hoje é como o

médico em uma UTI da rede pública. Infelizmente

temos que fazer uma opção, quais casos iremos

priorizar, sob pena de atendermos os menos graves

e deixarmos pacientes morrer sem atendimento”,

afirma o Subprocurador-Geral de Justiça, Bruno Sérgio

Galatti (Subplan), referindo-se à atual estrutura da

instituição, que tem um número de membros aquém

do necessário para dar vazão a todo o trabalho de fiscal

da lei e de autor de ações, e à crescente demanda

de atuação processual e extra-processual na área de

direitos difusos e coletivos.

Na opinião do Procurador, a racionalização da

intervenção do MP na área cível é uma questão de

sobrevivência. “Hoje, temos que fazer uma opção:

priorizar a atuação institucional do Ministério Público

como parte. Na medida em que tenhamos condições

de abraçar novamente uma atuação integral como

custos legis, voltamos a intervir em todas as situações”,

afirma, lembrando que grande parte dos Ministérios

Públicos do país já se posicionou sobre o tema, editando

recomendações a seus membros, como é o caso, por

exemplo, dos MPs do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás,

Minas Gerais, Pará, Alagoas e Tocantins.

Como posição pessoal, o Corregedor-Geral do

MP-PR, Edison do Rêgo Monteiro Rocha, entende, por

sua vez, que os agentes do Ministério Público devem

intervir “o máximo possível” como custos legis. “Onde

puder atuar, ele deve atuar. Temos a percepção clara

de que onde o Promotor atua o Juiz toma mais cuida-

do”, afirma. Mesmo assim, ele acredita que existem

situações em que a intervenção do Ministério Público

não é necessária, como nas separações consensuais

sem interesse de menor e outros casos pontuais.

“O que não podemos é ficar como figurantes em

processos onde nossa atividade é dispensável. Aí a

necessidade de haver uma padronização”, defende. “A

racionalização, em algumas situações, é importante,

sobretudo para que o MP possa ter uma atuação mais

eficaz nas Promotorias Especiais”, completa.

Veja a seguir opiniões de outros membros do Ministério Público do Paraná sobre o tema:

“Com relação a questão da redução ou não da

intervenção do Ministério Público - custos legis - no

cível, entendo necessário, antes de passar uma posição

quanto a ser favorável ou contra, lembrar o fato de

que até o advento do Código de Processo Civil de 1973

a intervenção do Ministério Público, basicamente, se

relacionava aos feitos em que houvesse interesse de

menores. Aquele diploma legal é que veio possibilitar

à Instituição uma maior participação nos feitos cíveis.

E essa participação permitiu à Instituição vislumbrar

questões, de interesse público e social, onde deveria

haver uma preocupação de atuação da Instituição, já

então como parte. Desta forma, como resposta legis-

lativa, surge, em 1985, a Lei da Ação Civil Pública. A

Constituição da República de 1988, a par de dotar a

Instituição do seu atual perfil, incumbiu-a de precatar

inúmeros interesses. Daí a pergunta: o atendimento

a estes interesses passa necessariamente, por assim

dizer, em deixar de lado a atuação mais tradicional na

seara cível? Penso que não. O que ocorre é que, por

ausência de estrutura, notadamente de auxiliares e

nem tanto de membros, alguns são tentados a, visando

melhor atender àquelas outras atribuições, deixar de

lado as tradicionais, que foram exatamente a fonte

de onde nasceram essas novas atribuições. Portanto,

ao invés de reduzir nossa intervenção no cível, sob

a justificativa de racionalização, devemos sim lutar

para dotar a Instituição de melhores condições, para

dar respostas eficientes às novas atribuições, sem se

descurar das antigas”.

Arion Rolim Pereira - Procurador de Justiça

integrante da 3º Procuradoria de Justiça Cível, Coorde-

nador do Setor de Recursos Cíveis e do Centro de Apoio

Operacional das Promotorias de Justiça Cíveis.

“O Ministério Público, historicamente, vem

experimentando contínuo crescimento e evolução,

com o enfrentamento destemido de novas atribuições,

sempre empenhando seus esforços na defesa do

interesse público e social. Adquiriu respeitabilidade

Ideias & DebatesIntervenção no cível: em busca de um consenso

5Maio | Julho 2009

e credibilidade, atuando como agente e como custos

legis. No processo penal, tradicionalmente, mantém

sempre uma altiva atuação. No processo cível, ala-

vancou seu crescimento, a ponto de a Constituição

Federal lhe outorgar mais a defesa dos direitos

transindividuais, os quais passaram a lhe dar maior

visibilidade. Portanto, para que o Ministério Público

se mantenha atuante perante uma sociedade cada

vez mais exigente e em franco crescimento, jamais

poderá dispensar simplesmente atribuições que lhe

proporcionaram a prefalada importância, sob o pretexto

de se voltar para atuações extra-judiciais outras, ou

judiciais específicas. Significará que o Ministério Público

perderá autoridade para buscar o seu aparelhamento

para enfrentamento dos desafios que a sociedade

aprendeu e vem aprendendo a lhe dar”.

Ciro Expedito Scheraiber - Procurador de Justiça

com atuação na 3ª Procuradoria Cível e coordenador

do CAOP do Consumidor

“A racionalização da intervenção do Ministério

Público nas áreas cível e de família é imprescindível

e urgente, e não pode ser dissociada do planejamento

estratégico da Instituição. O efetivo cumprimento das

atribuições definidas na constituição federal reclama o

imediato abandono da tutela de interesses individuais

disponíveis e a filtragem constitucional da intervenção

prevista nas leis ordinárias, de forma a viabilizar a con-

centração dos esforços dos Promotores e Procuradores

de Justiça na defesa dos interesses coletivos e difusos

da sociedade brasileira (novo perfil constitucional

do Ministério Público). É notória a incapacidade da

instituição de dar conta de toda a demanda que lhe é

apresentada, impondo-se a priorização da atividade.

E esta, admitamos ou não, invariavelmente ocorre,

seja como resultado de um processo de valoração e

seleção conscientes levado a cabo pela Instituição

(do que o planejamento estratégico é ingrediente

essencial), ou, como hoje se verifica, a partir de

uma demanda aleatória, assistemática e em grande

medida divorciada dos interesses que deveríamos

prioritariamente tutelar, materializada mediante os

procedimentos judiciais encaminhados ao Parquet. A

racionalização da intervenção Ministerial não deve se

dar na perspectiva da atuação individual do Promotor

de Justiça (até porque, no desenvolvimento da ati-

vidade fim, não se está vinculado a esta ou aquela

orientação quanto a sua intervenção em determinado

caso concreto), mas antes na tomada de uma posição

institucional comprometida com a efetiva tutela dos

direitos sociais e individuais indisponíveis, coletiva-

mente considerados, a partir da qual seria definida

a aplicação dos recursos humanos, orçamentários e

materiais da Instituição”.

Fabio Bruzamolin Lourenço - Promotor de Jus-

tiça com atuação no Centro de Apoio Operacional das

Promotorias de Justiça dos Direitos Constitucionais

“O incremento da demanda social tem abarrotado

o Poder Judiciário de serviço cível – serviço este que

tem significativa parcela desaguada nos gabinetes

das Promotorias de Justiça em todo o Estado. Sem-

pre à sombra do Poder Judiciário, nossos valorosos

Promotores de Justiça, absolutamente imobilizados

sob montanhas de trabalho processual, encontram-

se limitados à condição de “pareceristas de autos

judiciais” – o que lamentavelmente conforma uma

Instituição cuja atuação prática em nada se parece

com a figura desejada pelo Legislador Constituinte.

Mesmo contando com todo o ferramental jurídico-

legal disponível (ação civil pública, inquérito civil,

procedimento investigatório criminal, requisição,

notificação, termo de ajustamento de conduta, reco-

mendação administrativa etc.), e ressalvada a atuação

parecerista custos legis presa ao Poder Judiciário, o

Ministério Público muito pouco tem efetivamente

feito, ou conseguido fazer, no âmbito cível pela

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e

dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Os

valorosos e hercúleos esforços dos muitos colegas

que ainda conseguem desempenhar algumas de suas

funções extrajudiciais especializadas, em que pese

devam ser reconhecidos e elogiados, não constituem

senão uma ponta mínima de um grande iceberg de

demanda latente que se encontra submerso em todo

o Estado. E mesmo esta cada vez mais rara “ponta”

de atuação na maioria das vezes atende somente a

situações casuísticas e pontuais, de maneira quase

sempre insipiente e demorada. Se não é possível fazer

tudo – que bom se conseguíssemos fazer tudo – então

é preciso racionalizar, fixar as prioridades que melhor

atendam aos interesses sociais e busquem cumprir

nossas elevadas e primeiras incumbências institucionais

(art. 127, caput, da Constituição Federal). No entanto,

o contrário parece estar acontecendo: o Ministério

Público tem sacrificado suas mais preciosas áreas

de atuação para lançar cotas e pareceres em pedidos

tardios de registro de óbito, usucapiões individuais e

habilitações de casamento”.

Fábio Vermeulen Carvalho Grade - Promotor

de Justiça de Primeiro de Maio

“No final do século XX e início do século XXI

tem prosperado em nosso país a tese de redução da

intervenção do Ministério Público no processo civil

individual. Todavia, não me parece adequado que o

Ministério Público abandone uma atividade típica

e exclusiva – a intervenção no processo civil como

custos iuris – sob o argumento de que necessita

se dedicar à relevante atividade de proteção dos

interesses transindividuais. Embora a defesa desses

interesses seja uma tarefa de grande relevância e à

qual efetivamente também devemos nos dedicar com

afinco, nunca se deve esquecer que pelos parâmetros

constitucionais não é uma atividade exclusiva, mas

concorrente com várias outras instituições. Ademais,

embora exista na doutrina e na jurisprudência uma

corrente que procura diminuir a dimensão do conceito

de interesse público para efeito de aplicação do artigo

83 do CPC, com ela não compactuo, considerando-a

totalmente equivocada e discrepante do disposto na

Constituição Federal e na legislação infraconstitucional,

especialmente no Código de Processo Civil. A inter-

pretação que se tenta fazer do conceito de interesse

público previsto no artigo 82 do CPC, não encontra

amparo no referido estatuto processual e tampouco

na legislação extravagante. Esta última apenas cui-

dou de ampliar as atividades do Ministério Público,

sem pretender restringi-la de qualquer forma. De

outro lado, diversamente do que sustentam alguns,

a Constituição Federal também não estabelece base

para a pretendida limitação. Embora o seu artigo

127, em sua parte final efetivamente mencione a

defesa dos interesses sociais e individuais indisponí-

veis – circunstância que tem levado à interpretação

restritiva – em sua parte inicial também determina

a DEFESA DA ORDEM JURÍDICA, o que a meu ver

inclusive permite a intervenção do Ministério Público

em qualquer processo de natureza civil visando a

correta aplicação da legislação. No momento em que a

jurisprudência cada vez mais ganha força como fonte

do Direito, não pode o Ministério Público abdicar do seu

poder de influir em sua formulação, manifestando-se

nos casos previstos na legislação e, especialmente,

apresentando recursos objetivando adequá-la aos inte-

resses da sociedade. Este é um momento incompatível

com teses brandas e cômodas. Cabe ao Ministério

Público ter inteligência e competência para se de-

sincumbir de todas as tarefas que lhe são conferidas

pela Constituição e legislação infraconstitucional. Um

passo importante nesse sentido pode ser dado com

uma melhor interpretação dos casos de atuação no

processo civil, focada na idéia de intervenção vigorosa

na formulação de uma jurisprudência adequada aos

interesses da sociedade”.

Luiz Fernando Belinetti - Procurador de Justiça

com atuação na 2ª Procuradoria Cível

“Já há algum tempo ecoa o inconformismo

de vários Promotores de Justiça com a intervenção

irracional – vez que desarmonizada com o figurino

constitucional – do Ministério Público como custos legis

nos processos cíveis. Em um país cuja Constituição

promete vida digna, mas a realidade a proíbe, a ins-

tituição a quem incumbe primordialmente incluir os

direitos fundamentais e sociais na vida dos excluídos,

não pode se dar ao luxo de despender energia quan-

do não estejam em jogo interesses sociais (difusos,

coletivos e individuais homogêneos) ou individuais

indisponíveis (CR, art. 127). Ou bem o Ministério

Público racionaliza e raciocina sua intervenção no

cível e prioriza sua atuação na proteção dos interesses

sociais, ou estará fadado a atuar disfuncionalmente

(por não cumprir seu papel), frustrando as justas e

fundadas expectativas que a população deposita em

seus membros. Está na hora de o Ministério Público do

Estado do Paraná fazer uma opção institucional clara

pela atuação racionalizada, inclusive com a extinção

de algumas Promotorias Cíveis, para concentrar e

priorizar seus esforços nas especiais Promotorias

Especializadas, essas sim (desde que focadas no

coletivo), valiosas ferramentas para superar o abissal

déficit de concretização que ostenta a Constituição

de nossa República”.

Rodrigo Leite Ferreira Cabral - Promotor de

Justiça de São João do Triunfo

6 Maio | Julho 2009

Criminais, do Júri e de Execuções PenaisO Mutirão Jurídico, sob a coordenação da área de Execuções Penais

do CAOP, analisou, desde agosto de 2008, a situação executório-penal de

2.600 presos em cadeias públicas de Curitiba, Região Metropolitana, Litoral

e da Cadeia Pública de Guaíra. Desse número, 538 já tinham condenação

definitiva, estando, portanto, cumprindo pena irregularmente fora do sistema

prisional. No âmbito Criminal e do Júri, o CAOP intercedeu junto ao Instituto

Médico Legal e à Vara de Inquérito Policiais, visando à celeridade na remessa

dos laudos de necropsia, tão logo concluído o respectivo exame, indepen-

dentemente do resultado dos exames complementares, o que resultou na

expedição da Portaria Judicial 002/2009, regulamentando este procedimento.

Quanto à carência de peritos no Instituto de Criminalística do Paraná, o CAOP

protocolou expediente solicitando a intervenção do Procurador-Geral de

Justiça junto ao Poder Executivo, a fim propiciar melhor estruturação ao IC.

A área Criminal ainda requereu ao PGJ a análise da viabilidade da criação de

uma Promotoria Especializada em Crimes Cibernéticos e a intervenção junto

ao Judiciário para que uma única Vara Criminal da Capital seja responsável

pelos feitos envolvendo tais crimes.

ComunidadesO CAOP elaborou, juntamente com a Promotoria da Vara de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher, projeto voltado à implementação da

Lei Maria da Penha (Lei Federal 11.340/2006), com recursos do PRONASCI,

programa do Ministério da Justiça. Após algumas atividades desenvolvidas,

como a prévia análise das atribuições conferidas ao MP pela lei federal,

o conhecimento e identificação da rede de proteção disponível no Estado

e, ainda, a captação da opinião e das necessidades dos Promotores de

Justiça que atuam nesta área, o projeto intitulado “Reestruturação das

Promotorias de Justiça de Curitiba e Região Metropolitana com Atribuição

no Atendimento dos Casos de Violência Doméstica e Familiar Contra a

Mulher para Efetivação da Lei Maria da Penha” foi encaminhado em maio

ao Ministério da Justiça, pela Procuradoria-Geral de Justiça, e aguarda

aprovação para a sua efetiva execução no segundo semestre. O projeto

como um todo prevê a organização de um sistema eficiente de cadastro

dos casos de violência contra a mulher no âmbito do MP, a capacitação de

200 pessoas da rede de atendimento, incluindo os agentes ministeriais,

além da criação de um serviço terapêutico especializado para atendimento

àquelas mulheres.

Fundações e do Terceiro SetorCom base nos documentos em arquivo e nos registros do Banco

de Dados de Fundações do Estado do Paraná (SICAP), o CAOP concluiu o

levantamento das 93 fundações privadas com sede em Curitiba. Trabalha

agora,, por meio da respectiva Promotoria da capital, para regularizar a

situação das entidades que estão com as prestações de contas anuais

atrasadas e para regularizar ou extinguir administrativa e judicialmente

as que estão inativas ou funcionando em desacordo com suas finalidades.

Paralelamente, foi iniciado levantamento das entidades fundacionais

sediadas no interior. O CAOP também está orientando e estimulando os

agentes do MP-PR a instalar e alimentar periodicamente nas suas comarcas

o módulo SICAP PROMOTOR, a fim de que cada Promotoria responsável

pelo velamento das fundações mantenha um banco de dados atualizado.

Na área de atuação coletiva, está em desenvolvimento projeto de mapea-

mento que propiciará conhecer quais entidades sem fins lucrativos estão

desenvolvendo atividades de interesse social, com que tipo de recurso,

quantos empregos formais geram, entre outros dados.

Defesa do ConsumidorO CAOP está em tratativas com URBS e com empresas “encar-

roçadoras”, visando ao “recall” dos mecanismos das portas dos ônibus

que operam em estações-tubo da capital, para garantir maior segurança

aos usuários do transporte coletivo de Curitiba. Também discute com

as Vigilâncias Sanitárias Municipal e Estadual e o Conselho Regional de

Farmácia a comercialização de medicamentos por intermédio da internet,

telefone e do sistema de “delivery”. Recomendação Administrativa sobre o

tema será disponibilizada no site do CAOP. Resultado da atuação do CAOP

e da Promotoria da capital, foi celebrado ainda Termo de Ajustamento de

Conduta com a Sanepar, para normatizar a cobrança das taxas de água e

lixo no Estado. Assim, está proibida a cobrança “casada” das duas taxas na

mesma fatura, a menos que haja autorização do consumidor.

Meio AmbienteO CAOP vem realizando audiências públicas com empresas

de diversas áreas, visando ao recolhimento das embalagens por elas

geradas. A atividade busca o atendimento à Lei Estadual 12.493/99, que

estabelece procedimentos e critérios relacionados ao gerenciamento de

resíduos sólidos. Neste ano, já foram realizadas audiências com repre-

sentantes das empresas fabricantes e distribuidoras dos setores de óleos

lubrificantes, embalagens PET e TETRA-PAK, produtos veterinários e

medicamentos (vencidos).

EleitoraisNo segundo semestre, os Promotores Eleitorais já poderão contar

com banco de dados virtual organizado pelo CAOP. Nele estarão disponíveis

arquivos de petições, pareceres, representações, sentenças e acórdãos, bem

como jurisprudência selecionada, legislação, entre outras informações.

Saúde PúblicaNos dias 27, 28 e 29 de abril e 4, 6 e 7 de maio, o MP-PR participou

de audiência pública promovida pelo STF para colher elementos sobre temas

ligados ao direito à saúde. Na pauta estavam as responsabilidades dos entes

da federação em matéria de direito à saúde, obrigação do Estado de fornecer

medicamento não licitado e não previsto na lista do SUS e obrigação do

Estado de oferecer medicamentos ou tratamentos experimentais ou não

aconselhados pelos protocolos clínicos do Sistema Único. O posicionamento

do MP brasileiro foi especificamente sobre o terceiro tema, como solicitado

pelo Supremo. A apresentação coube ao presidente do Conselho Nacional

de Procuradores-Gerais, Leonardo Azeredo Bandarra. A fala teve como

base texto produzido pelo CAO da Saúde, que foi previamente discutido

e aprovado na Comissão Permanente de Defesa da Saúde do CNPG,

transformando-se em documento de política institucional, apto a indicar

posicionamentos de membros do MP com atribuições na área. A íntegra

do material está disponível na página do CAO na internet.

Patrimônio Público e Ordem TributáriaO Centro de Apoio está reformulando sua página na internet.

Desde maio, está disponível para Procuradores, Promotores de Justiça

e Servidores da Instituição o acesso à cerca de 300 consultas que foram

respondidas por escrito pelo CAOP, desde 1995. No link “consultas”, à

direita da página, há duas opções: índices (cronológico ou por assunto) e

íntegra das consultas. A íntegra pode ser visualizada pelo acesso restrito.

Também desta forma está disponível a instrução normativa dos atos da

Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público de Curitiba, que visa

auxiliar as Promotorias quanto à forma de tramitação dos inquéritos civis e

procedimentos preparatórios, em razão das recentes regulamentações do

CNMP e da PGJ. Ela pode ser acessada no link modelos, atos procedimen-

tais. O tópico “jurisprudência”, por sua vez, está em fase de remodelação

e em breve voltará a estar disponível. O CAOP solicita que dados sobre a

propositura de ações ou sobre sentenças proferidas em processos da área

sejam informados ao órgão, para divulgação nas notícias.

EducaçãoEm decorrência das tratativas entre o Ministério Público Es-

tadual e o Executivo Municipal de Curitiba, que se deram em função

do inquérito civil nº 160/2008, em trâmite na Promotoria de Justiça

de Proteção à Educação, o orçamento destinado à área da educação

infantil na capital poderá receber incremento em 2010, alcançando os

R$ 25 milhões. O Executivo já encaminhou à Câmara de Vereadores

o anteprojeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias, prevendo recursos

que possibilitem a ampliação do número de vagas em creches, hoje

extremamente defasado em relação à demanda.

IdosoO CAOP do Idoso está intensificando a fiscalização das entida-

des de longa permanência em Curitiba. Resultado da atuação, houve

inclusive o fechamento de uma das instituições, que apresentava

irregularidades graves em relação à qualidade do atendimento e a

questões sanitárias.

Pessoa Portadora de DeficiênciaO Governo Estadual publicou em 15 de maio o Decreto nº 4742,

regulamentando a lei que assegura transporte gratuito aos portadores de

deficiência comprovadamente carentes nas linhas comuns do transporte

intermunicipal de passageiros (Lei nº 11.911/1997). Para esclarecer as

diversas associações ligadas aos portadores de deficiência sobre o decreto,

o CAOP promoveu reunião em 4 de junho. A gratuidade estende-se a

pessoas que sofrem de algumas patologias crônicas e inclui as linhas

de ônibus que compõem as redes integradas de transporte coletivo

de regiões metropolitanas. O decreto regulamentador teve como base

minuta elaborada pelo CAOP, apresentada ao governador do Estado

pelo Procurador-Geral de Justiça.

Criança e AdolescenteO CAOP tem disponibilizado material sobre temas dos mais

diversos na área, visando a auxiliar os Promotores de Justiça e ou-

tros integrantes do chamado “Sistema de Garantias dos Direitos da

Criança e do Adolescente” na busca de soluções concretas para os

problemas que afligem a população infanto-juvenil paranaense. Vale

citar a elaboração da cartilha “Município que Respeita a Criança”,

referência e “roteiro” para atuação dos prefeitos e gestores públicos

no sentido da implementação de políticas municipais destinadas ao

atendimento de crianças, adolescentes e famílias. Também merecem

destaque os tópicos relativos à violência contra crianças e adolescentes,

disponibilizado em preparação ao dia 18 de maio (Dia Nacional de

Combate à Violência Sexual), às Conferências Municipais dos Direitos

da Criança e do Adolescente e à Semana Nacional Antidrogas, além

da participação de integrantes do órgão em numerosos eventos da

área em todo o Estado.

Direitos ConstitucionaisO CAOP tem desenvolvido ações direcionadas à defesa de

direitos de povos e comunidades tradicionais (quilombolas, pescado-

res artesanais, faxinalenses, ribeirinhos e outros). Desde 2008, vem

realizando visitas, reuniões e audiências públicas em diversas regiões

do Estado, com a finalidade de conhecer as formas de organização

desses grupos e acolher as demandas por direitos sociais das quais

são titulares, para então construir coletivamente as estratégias mais

apropriadas para dar respostas às suas dificuldades cotidianas. A última

das visitas, realizada em Barra do Superagui, em 22 de junho, reuniu

mais de 60 pessoas, sobretudo pescadores artesanais das comunidades

de Superagui e Ilha das Peças.

Notas dos Centros de Apoio

7Maio | Julho 2009

Concurso para Promotor SubstitutoFoi realizada em 26 de julho a primeira fase do concurso para ingresso na carreira do Ministério Público do Paraná. Inscreveram-se para o certame 1945 candidatos, de diversos estados. A prova preambular foi realizada no bloco de Ciências Jurídicas do campus da PUC-PR. A princípio, estão sendo oferecidas 11 vagas para o cargo de Promotor Substituto. A segunda etapa do processo seletivo está prevista para o período de 24 a 28 de agosto.

Com foco na discussão das maiores demandas

da comunidade indígena paranaense e brasileira, o

Ministério Público do Paraná, através do Centro de

Apoio Operacional às Promotorias de Proteção às

Comunidades Indígenas, promoveu de 20 a 22 de

maio, em Curitiba, o II Seminário Estadual Indígena

– História e Atualidade.

Na abertura do evento, o Procurador-Geral de

Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, que presidiu

a solenidade, falou da alegria do MP-PR em ser pio-

neiro entre os MPs Estaduais do país na defesa dos

direitos das comunidades indígenas, enaltecendo a

criação do Centro de Apoio, em 2007, na gestão do

então Procurador-Geral de Justiça Milton Riquelme de

Macedo, que estava presente na cerimônia. Olympio

também fez menção ao projeto Ministério Público

Social, desenvolvido desde o ano passado pelo MP-

PR, com foco nas regiões de menor IDH do Estado,

incluindo áreas com comunidades quilombolas. “Da

mesma forma que com os quilombolas, temos uma

dívida histórica imensa a ser resgatada com os povos

indígenas, sobretudo quanto à garantia dos direitos

fundamentais”, disse o Procurador-Geral.

O coordenador do Centro de Apoio, Promotor

de Justiça Luiz Eduardo Canto de Azevedo Bueno,

abordou a importância da iniciativa do MP-PR em

assumir a causa indígena, em detrimento às críticas

de que esta seria uma atribuição federal. “Nosso

entendimento é o de que os Ministérios Públicos

Estaduais têm atribuição direta na defesa dos direitos

fundamentais dessa população, que muitas vezes acaba

abandonada até por uma questão geográfica, visto que

o acesso às unidades

do MPF é mais restrito

do que às Promotorias

de Justiça, que estão

distribuídas em qua-

se todas as cidades

brasileiras”, sustenta.

Bueno falou ainda dos

problemas mais urgen-

tes que os indígenas

têm levado ao CAOP,

como a questão da

demarcação de terras, o atendimento precário

na área da saúde, o combate ao alcoolismo

e o desafio da auto-sustentabilidade das

comunidades. “Precisamos ainda aprender

a trazer para nossa cultura o conhecimento

desses povos, que têm muito a nos ensinar,

sobretudo na área ambiental. É fundamental

diminuir o preconceito com que a sociedade

- muitas vezes nós mesmos, operadores do

Direito - vê essa população”.

Direito Indígena – A conferência de

abertura ficou a cargo do Procurador-Geral do

Estado, Carlos Frederico Marés, profissional

de destaque na área da defesa dos direitos

indígenas. Ele também ressaltou a preocupação

social demonstrada pelo MP-PR ao trazer para seu

rol de atribuições as populações indígenas. “O MP

Paranaense poderia se abster da questão, relegando

a responsabilidade ao MP Federal, mas não – fez

questão de assumir a causa”, disse. Marés abordou

a forma como foi discutida a matéria indígena no

processo de criação da Constituição Federal de

1988, bem como em tratados internacionais, como

a Convenção nº 169, da Organização Internacional

do Trabalho, da qual o Brasil é signatário, que trata

dos povos indígenas e tribais.

Durante o encontro, apresentaram palestras o

Procurador Federal da FUNAI, Derli Cardoso Fiúza,

especializado na área criminal, na defesa de índios;

Paulo Cipassé Xavante, cacique xavante do Mato Grosso;

Eliane Moreira, Promotora da Justiça do Pará; Edivio

Battistelli, indigenista da FUNAI; Marlene Osowski

Curtis e João Carlos

Bernardes, funcio-

nários da Itaipu

Binacional; Pedro

Hej Hej Lucas,

cacique kaingang;

Iunak Yawalapiti,

cacique xinguano e

presidente do Ins-

tituto de Pesquisa

Etno Ambiental

do Xingu (IPEAX);

Ianaculá Rodarte,

indígena xinguano

e coordenador-

geral do IPEAX; Tatiana Azambuja, advogada e

mestre em Direito; Nizan Pereira, Secretário Especial

de Assuntos Estratégicos do Paraná e José Porfírio

Fontenele de Carvalho, consultor indigenista da

Eletronorte. Todas as apresentações foram gravadas

em vídeo e podem ser consultadas. Também há na

página do CAOP Indígena na internet um resumo de

cada uma das exposições, bem como entrevistas com

alguns dos índios que estiveram no evento.

Como encaminhamento do seminário, será

oficiado à presidência da FUNAI e da FUNASA, em

Brasília, ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, ao

Presidente do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do

Sul, Elpídio Helvécio Chaves Martins, ao Procurador-

Geral de Justiça do Mato Grosso do Sul, Miguel Vieira

da Silva e ao Conselho Nacional de Justiça, sobre a

situação jurídica e social que envolve os indígenas

no Mato Grosso do Sul, em especial no Município de

Dourados. Foi solicitado ainda ao Procurador-Geral

de Justiça que proponha aos MPs dos outros Estados

a criação de um Centro de Apoio Operacional ou uma

Promotoria Especializada sobre Direitos Indígenas.

Também será requerida a destinação de terras para

o povo Xetá no Paraná, que atualmente enfrenta

problemas de demarcação de territórios.

Direito de não ser esquecido“Hoje os indígenas sofrem muita discriminação. Também

precisa ser feita a demarcação da terra. Precisa ainda de mais saúde,

educação, melhorar a infraestrutura que ainda não tem. Algumas

áreas indígenas são esquecidas, só quando o índio invade uma

repartição pública, invade a Funasa, aí entra na mídia, aí lembram

do índio, vão atrás pra ver o que estes índios precisam. Enquanto

os índios não se manifestam, ficam desconhecidos, por isso fica a

situação precária que existe nas áreas indígenas hoje. (...) Achei

muito interessante o seminário, é um debate muito importante

para a comunidade indígena e para a comunidade civil também.

Que possa levar para outros lugares, que seja exemplo para outras

autoridades, que não seja em vão, que não tenham vindo só passar

mel na boca dos índios que vieram aqui, mas que cada um, cada

Ministério Público, cada Tribunal de Justiça veja onde está a dis-

criminação com os povos indígenas. Hoje os povos indígenas são

minoria e são discriminados. Por isso que tem muitos índios presos

na cadeia pública, temos pouco a acesso a advogados. Por mínima

coisa o índio fica lá, até cumprir tudo. Tem muitos bandidos que

mata e rouba, e fica ali, qualquer advogado tira. Já o índio vai preso

por mínima coisa, às vezes até por coisas dele, vai tirar uma lenha,

uma caça, pesca e vai preso”, (sic)..

Ludovico Monconã, índio xokleng, vive em Ibirama (SC),

em uma comunidade que reúne perto de 2 mil famílias e habita a

região desde 1914.

Causa indígena é destaque de encontro no MP-PR

Indígenas de várias etnias, autoridades e profissionais ligados à causa participaram do encontro

Assessoria de Imprensa | Ministério Público do Estado do ParanáRua Marechal Hermes, 751 | CEP 80530-230 | Curitiba - PR

e-mails: [email protected] | [email protected]

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te

Rememorandum Memorial do Ministério Público

Poucos membros do Ministério Público do

Paraná receberam tantos elogios pela alta qualida-

de de sua formação jurídica e competência do seu

desempenho funcional quanto Luiz Viel, que por 21

anos integrou o Parquet estadual, até sua nomeação

para o Tribunal de Alçada, em 1984. Vitimado ainda

muito jovem pela escoliose, doença deformante

que tolheu seu desenvolvimento e dificultava sua

movimentação, conta-se que mesmo assim viveu

vida de plena atividade e que até praticava futebol

com os amigos dos fóruns do interior nas horas de

folga – e era bom de bola. Chegou à capital depois

de carreira de mais de 10 anos no interior, em que

perpassou Paranaguá, como substituto, e Ribeirão

Claro, Andirá, Primeiro de Maio, Cambará, como

titular, até ser convocado, em 1971, para prestar

serviços na Procuradoria-Geral. Em Curitiba, passou

a compor o corpo docente do Curso de Estagiários

do MP e foi membro do Conselho de Redação da

“Revista MP”.

Ainda nesse tempo, foi designado assessor do

Senador Accioly Filho no projeto de revisão do Código

Penal, do qual o político paranaense era relator. Sua

contribuição mereceu elogioso reconhecimento devido

à sua “grande cultura jurídico-penal e seu acentua-

do bom-senso”,

segundo pala-

vras do próprio

Senador. Du-

rante seu tempo

no interior, Viel

tinha uma expli-

cação para sua

preferência pe-

las comarcas de

menor volume de serviço – era para poder dispor

de mais tempo para estudar e preparar com mais

qualidade suas manifestações forenses. Igual ao

que se conta de Nelson Hungria que, no início da

carreira, quando no MP, deixou-se ficar nove anos

numa pequena comarca do interior de Minas Gerais,

tempo que aproveitou para apreender seis línguas

e se preparar para a brilhante carreira que iria de-

sempenhar na magistratura e nas letras jurídicas

nacionais.

Viel tinha, porém, uma opinião sobre a função

do Ministério Público que os tempos atuais parecem

não ter confirmado: a de que os Promotores devem

se ater, com maior empenho, à sua função histórica

de dominus da ação penal, em um tempo em que a

segurança pública é uma grave ameaça à conservação

da vida social e à liberdade dos cidadãos. Para ele, o

MP não podia sacrificar a função penal para a qual

foi destinado, para diluir sua atividade entre tantas

outras, de igual relevância, é certo, mas que, por

serem tantas e tão graves, acabam por prejudicar a

eficiência de todas elas. Acreditava, porém, que com

o tempo essas outras funções acabariam confiadas

a outros órgãos, como ocorreu durante tanto tempo

com o atendimento trabalhista. Luiz Viel, afinal, era

homem de convicções e de grande devoção ao estu-

do do Direito. Acreditava que todo membro do MP

tinha que ser pessoa de apurada cultura, inclusive

filosófica, para compreender e cumprir melhor seu

dever. Em 1993, foi eleito presidente do Tribunal

de Alçada e, em 1994, nomeado desembargador do

Tribunal de Justiça.

Algum tempo depois, porém, se aposentou,

para assumir a Diretoria Jurídica da Itaipu Binacio-

nal, falecendo pouco depois. Não publicou nenhum

livro, restando a maior parte de seus trabalhos no

bojo dos inumeráveis processos e recursos em que

atuou. Agora, seu filho, Roque Viel, selecionou

parte desse material e o publicou, em edição “post

mortem”, com prefácio do Ministro Felix Fischer, do

STJ. Assim, quem quiser conhecê-lo melhor, pode

ler o seu “Temas Polêmicos – Estudos e Acórdãos

em Matéria Criminal”.

Depois de 44 anos de serviços prestados

ao Ministério Público do Paraná, em maio deste

ano, aposentou-se a Promotora de Justiça Iara

Marques Dib, de Sengés, no Norte Pioneiro.

Até então membro mais antigo em atividade,

ela foi uma das primeiras mulheres a ingres-

sar no MP-PR, em maio de 1963. Assumiu

como Promotora Substituta em Sengés e lá permaneceu por praticamente

toda a carreira – pouco antes de se aposentar, foi promovida por merecimento

a Promotora de Justiça de Entrância Intermediária, na comarca de Castro. No

dia 8 de maio, foi homenageada com a Medalha de Bons Serviços, condecora-

ção instituída pela Resolução 342/1989, do MP-PR. A cerimônia foi realizada

na sede do Tribunal do Júri de Sengés, com a presença do Procurador-Geral

de Justiça Olympio de Sá Sotto Maior Neto, do Procurador de Justiça Gilberto

Giacóia e dos Promotores de Justiça Maria Luiza Corrêa de Mello, Wanderlei

Gonçalves Custódio, Joel Carlos Beffa e Ivonei Sfoggia, bem como autoridades

locais e familiares. A propósito da condecoração, Iara declarou: “Agradeço ao

Ministério Público pela bela e grandiosa homenagem que recebi por ocasião de

minha aposentadoria. Não posso deixar de relatar a emoção que invadiu minha

alma ao perceber a chegada dos caros amigos e colegas em minha residência.

De pronto, recordei-me com muita saudade das vezes que recebi a visita do Dr.

Olympio, acompanhado de sua mãe, Dona Olinda, a qual tive a satisfação de

ter como amiga. Ao tomarem a decisão de prestar-me esta homenagem, não

podia eu avaliar todo alcance que este gesto teria para mim. Reconhecimento

e distinção do Ministério público pelos mais de 40 anos de serviços prestados

na Comarca de Sengés. Reconhecida, agradeço a generosidade de todos.”

No dia 14 de maio, o Procurador de Justiça Luiz

do Amaral foi eleito e tomou posse como Ouvidor-

Geral do Ministério Público do Paraná para a gestão

2009/2011. Na cerimônia de posse, o Procurador-

Geral de Justiça, Olympio de Sá Sotto Maior Neto,

ressaltou a importância da Ouvidoria como ponte

entre as demandas da população e a Instituição. O

órgão foi instituído pela Lei Complementar no 117,

de fevereiro de 2007.

Amaral substituiu o Procurador de Justiça Wanderley Batista da Silva, que

ocupou a Ouvidoria-Geral nos últimos dois anos. A eleição foi definida pelos

80 Procuradores de Justiça que integram o MP-PR.

“Assumo com a intenção de servir de ferramenta para garantir que os

direitos do cidadão junto ao Ministério Público sejam respeitados”, disse o

Ouvidor-Geral. “A grande demanda no judiciário não pode servir de pretexto

para não esclarecermos a população, sobretudo a imensa parcela dos menos

favorecidos, sobre seus direitos de cidadania e abrir caminho para torná-los

efetivos”, afirmou. “A Ouvidoria também deve estar a serviço da conscientização

e busca da efetivação dos direitos de cidadania na construção da verdadeira de-

mocracia, que é objetivo constitucional permanente do Ministério Público”.

Natural de Joaçaba, Santa Catarina, Amaral graduou-se em Direito pela

Universidade Federal do Paraná em 1976. Ingressou no MP-PR em 1981, como

Promotor de Justiça, sendo promovido a Procurador de Justiça em 2002. Entre

1992 e 1994, licenciou-se da Instituição para exercer o cargo de prefeito de Assis

Chateaubriand, no Oeste do Estado. Durante esse período, por duas ocasiões foi

eleito presidente da Associação dos Municípios do Paraná (1992 e 1994).

Condecoração pela dedicação ao MP-PRMP-PR escolhe novo Ouvidor-Geral

Luiz Viel - O Promotor JuristaPor Rui Cavallin Pinto