iconicidade e sua funcionalidade

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Iconicidade e Língua de Sinais

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  • Nucleus, v.8, n.1, abr.2011

    123

    ICONICIDADE E SUA FUNCIONALIDADE

    PRADO, Cleide Aparecida 1 BARBOSA, Josiane de Freitas1

    LIMA, Sandra Valria Barbosa de Souza 1

    Recebido em: 2011-01-27 Aprovado em: 2011-04-13 ISSUE DOI: 10.3738/1982.2278.545

    RESUMO: A priori, este trabalho tem como objetivo demonstrar o princpio da iconicidade em sua funcionalidade, trabalhando com a linguagem da imagem e de como essa est carregada de signos icnicos. Esses signos que ajudam a unidade da mensagem a ser bem elaborada e consequentemente mais criativa. Essa funcionalidade ser apresentada atravs de alguns conceitos sobre a semitica no que diz respeito comunicao no verbal, visando importncia da iconicidade contida nas imagens sobre o tabaco. Ser comprovado atravs desses conceitos o potencial icnico dos signos no verbais e de como o elemento iconicidade garante ao enunciador a interpretao da ideia interpretada pelo receptor, garantindo assim a eficincia das mensagens. Portanto, este trabalho ser desenvolvido baseado nos conceitos tericos de Blikstein (1992), Pierce (1989), entre outros, sero interpretadas imagens altamente icnicas, veiculadas pela internet, tambm sero apresentadas opinies obtidas por trs informantes do corpo administrativo da Fundao Educacional de Ituverava, contendo a viso de cada um sobre as imagens selecionadas para este trabalho. Palavras-chave: Semitica.Iconicidade. Imagens. SUMMARY: First of all, this work aims to demonstrate the principle of icons in its function, working with the language of imagery and how it is filled with iconic signs.These signs are what help the integrity of the message to be well developed and therefore more creative. This function will be presented through some concepts of semiotics relating to non verbal communication, taking into account the importance of symbolism contained in the images referring to tobacco.The iconic potential of these non verbal signs shall be proven through these conceipts, as wellas, how the iconic element aids in obtaining a precise interpretation of the intended message. Therefore this work shall be developed based on iconic concepts according to Blikstein (1992), Pierce among others, and upon highly iconic images of images found on the internet, also opinions will be obtained from three members of the administrative body of Fundao Educacional de Ituverava, containing their views of the images chosen for this work. Keywords: Semiotics, Icons, Images.

    INTRODUO

    Para esse trabalho escolhemos entre todas as linguagens, que fazem parte do mundo

    contemporneo, uma que essencialmente icnica: a linguagem visual. Dessa maneira, o

    objetivo do trabalho mostrar que a mensagem pode ser eficiente sem a necessidade de

    qualquer manifestao verbal. Nessa viso, explicitamos que a iconicidade uma propriedade

    essencial para a construo de mensagens que atravs dela conseguimos uma comunicao

    altamente competente. Segundo Blikstein (1992), no suficiente transmitir informaes

    corretas e claras, devemos tambm elaborar mensagens que atraia o leitor, capazes de

    prender a sua ateno. Para isto, podemos utilizar alguns elementos de atrao ou, os

    1 Licenciatura em Letras

  • Nucleus, v.8, n.1, abr.2011

    124 chamados ganchos, para pescar ou agarrar o leitor. Temos dois tipos de elementos de

    atrao:

    - Ganchos Quentes;

    - Ganchos Frios

    Ainda apoiados em Blikstein (1992), se uma mensagem complicada, pesada;

    imediatamente haver um esquentamento, o que provocar no leitor um cansao, um

    desinteresse em saber o que a mensagem est transmitindo. J com o gancho frio, a mensagem

    torna-se menos densa, com ilustraes descontradas, sendo assim temos como resultado uma

    mensagem de fcil entendimento. considerando essas duas tcnicas, o gancho considerado

    mais competente para chamar e atrair a ateno do leitor o gancho frio.

    Parece ter ficado evidente que, para ser eficaz, a mensagem no deve ser muito

    sobrecarregada de informaes, podendo-se traduzir as informaes verbais ou lingsticos

    em imagens ou desenhos visuais.

    Faz-se necessrio lembrar que nosso olhar estar voltado para os signos no verbais,

    sobre linguagem visual e no sobre a linguagem verbal. Obviamente, esse trabalho no

    pretende apresentar a vasta e complexa teoria da comunicao icnica, so apenas algumas

    observaes e consideraes sobre a competncia dos cones sobre uma mensagem.

    A metodologia deste trabalho se baseia nas interpretaes de imagens acessadas on

    line ou buscadas na internet.

    O tema escolhido das imagens a serem trabalhadas foi o tabagismo. Para o trabalho foi

    selecionadas trs imagens e baseando nessas imagens se faz conveniente elaborar um

    questionrio2, a fim de colher opinies de pessoas3 sobre a mensagem possvel de se

    depreender da observao de imagens.

    Ao final desse trabalho ficar clara a importncia do signo icnico nas mensagens

    visuais, tendo como hiptese bsica de trabalho, a ideia j to propalada de que uma imagem

    pode valer mais do que mil palavras.

    1 CONCEITOS OPERACIONAIS BSICOS QUADRO TERICO

    Iniciaremos este tpico com algumas consideraes sobre semitica ou semiologia,

    pois se faz necessrio esses pressupostos bsicos e imprescindveis para qualquer reflexo

    sobre o trabalho com iconicidade desta pesquisa.

    Segundo Buyssens, (1974), [...] A semiologia pode definir-se como o estudo dos 2 Apndice 3 Funcionrios do corpo administrativo de uma Instituio Ensino Superior

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    125 processos de comunicao, isto dos meios utilizados para influenciar outrem e como tais

    reconhecido por aquele que queremos influenciar.

    Essa definio de Buyssens (1974) deixa claro que as imagens utilizam-se da semitica

    para influenciar seu enunciatrio.

    A mesma linha de pensamento tem a definio de Greimas Courts (1989).

    Em semitica visual a imagem considerada uma unidade de manifestao auto-

    suficiente, como um todo de significao, capaz de ser submetido anlise.

    Essa afirmao s vem reforar que a imagem icnica suficiente para transmitir uma

    mensagem, sem a necessidade, muitas vezes, de nenhuma manifestao verbal.

    Cabe aqui tambm, para melhor entender a teoria da comunicao no verbal, explicitar

    o conceito de signo.

    Segundo Greimas (1989)

    Signo uma unidade, do plano da manifestao, constituda pela funo semitica, isto , pela relao de pressuposio recproca (ou solidariedade), que se estabelece entre grandezas do plano de expresso (do significante), e do plano de contedo (do significado), no momento do ato da linguagem.

    Os signos tm carter icnico e figurativo que se deve a uma relao de dependncia

    entre expresso (imagem) e o contedo (conceito), dando abertura para interpretao.

    Para Blikstein (1992), o signo icnico no depende tanto do conhecimento do cdigo

    lingustico, pois a relao entre o significante visual e o significado to prximo, to

    motivado que a descodificao imediata, quase instantnea.

    Chega-se ento concluso de que o signo icnico trabalha com a verossimilhana e,

    quanto mais bem elaborada a figura em relao aos signos icnicos, mais eficiente ser a

    mensagem. Da a importncia da iconicidade.

    Tendo em vista esses conceitos chega-se a concluso de que tanto o enunciador e,

    tambm, o enunciatrio devem dominar estratgias lingusticas que lhes permitam enfrentar o

    enunciado, seja ele verbal ou no verbal.

    O primeiro utiliza-se elementos persuasivos para chegar at o enunciatrio. J o

    segundo lana mo da abstrao para o entendimento do enunciado, nesse caso, aqui

    analisado, as imagens de cigarros.

    De acordo com Givon (1989),

    Uma experincia codificada mais fcil de ser armazenada, recuperada e

    comunicada, se o cdigo for maximamente isomrfico a essa experincia.

    Segundo Greimas (1989), para Pierce, entende-se por cone um signo definido por

    sua relao de semelhana com a realidade do mundo exterior. A iconicidade parte do plano

    abstrato para o plano do real, pois ela acontece no nvel abstrato de nosso psicolgico, j que

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    126 atravs dos cones( imagens) que conseguimos fazer a abstrao das ideias contidasnos

    enunciados no verbais.

    Antes das anlises das imagens, necessrio deixar claro que a abstrao no

    depende de qualquer manifestao verbal, ela pode ser feita atravs das imagens.

    Abstrao a capacidade de abstrair partindo do irreal para o real. Sem essa

    abstrao, no h qualquer tipo de linguagem, ela como uma ponte entre o imaginrio e a

    realidade.

    Aqui fica claro mais uma vez a competncia leitora dos signos icnicos, j que eles

    mantm uma estreita relao com a realidade, podendo ento ser abstrados pelos

    enunciatrios, j que, como j foi dito, a iconicidade acontece no nvel abstrato do nosso

    psicolgico.

    Todos esses conceitos foram apresentados para que a seguir possamos fazer algumas

    anlises de imagens icnicas.

    A partir desse arcabouo terico analisaremos as trs imagens relacionadas ao

    tabagismo, cujas mensagens se expressam pela carga de iconicidade contida em cada uma

    delas, sem a necessidade de um signo verbal.

    2 ANLISE DO CORPUS

    A imagem, apresentada a seguir, mostra que a linguagem absolutamente visual, no

    sendo necessrio o uso de nenhuma palavra. Pode se dizer que foi usada tcnica

    ganchos frios, resultando uma imagem simples, porm eficaz pelo grau de averso que

    provoca.

    Figura 1 - Cigarro acesso substitui perna humana Fonte: Internet.Google. Cigarros e Tabagismo.

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    Ao se deparar com essa imagem agressiva, o sujeito sofre impacto por visualizar uma

    perna humana representando uma ponta de cigarro, a qual remete imediatamente quanto o

    tabagismo prejudicial sade, uma vez que a mensagem praticamente instantnea, h o

    reconhecimento dos males provenientes do cigarro.

    Segundo a opinio da informante x, a imagem retrata uma realidade que de

    conhecimento de todos, mas ignorada por muitos.

    Para estes, fumar uma mistura de liberdade e prazer; mas ao contrrio do que

    pensam, uma forma lenta de suicdio, com conseqncias malficas e dolorosas.

    Quem fuma, no consegue perceber o bvio: sua vida, sua sade queimando e evaporando

    como fumaa.

    Uma das formas eficientes de gerenciar a produo de imagem o uso do signo, pois

    quanto mais habilidosa a construo da imagem, mais eficiente ser a mensagem

    Figura 2: Cigarros e Tabagismo

    Fonte: Internet.Google..

    Pode-se notar, na Figura 2, boca humana de lindo formato vermelho, em que se

    evidencia uma necrose labial, o carvo arredondado faz lembrar a ponta do cigarro sem

    chama, causador da ferida que destri a beleza dos lbios carnudos.

    Essa interpretao se d pelo uso do signo que tem carter icnico e figurativo, ou

    seja, uma relao entre imagem e conceito, muitas vezes, as imagens sobre produtos tm

    pouco impacto no sentido de mobilizar o fumante a pensar em parar de fumar e tambm no de

    desestimular no fumantes a adquirirem o hbito.

    Dessa maneira, essa imagem se apresenta eficaz, j que causa algum tipo de reao

    emocional negativa, como repulsa ou medo.

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    128 De acordo com o informante y, a imagem apresentada, observamos a definio do

    contorno dos lbios, que aparenta uma mulher jovem, que possui vaidades naturais de mulher,

    mas que traz estampado nos seus lbios a marca deixada pelo descuido do vcio (tabaco), que

    outrora, essa marca sempre ficara cravado no seu interior, e apenas se manifesta pelo seu

    hlito, exalando o seu odor e deixando o seu rastro por onde for, assim como deixou a sua

    marca mostra.

    O cone tem uma relao de semelhana com a realidade do mundo exterior, ficando

    comprovado mais uma vez que a iconicidade , ento, o elemento essencial para a construo

    de mensagem visual.

    Figura 3: Cigarros e Tabagismo. Fonte: Internet.Google.

    Atravs da Figura 3 observa-se que o cone representado, uma caveira formada pela

    fumaa do cigarro pode-se abstrair a ideia de perigo e repugnncia contida nessa imagem, est

    disposta de maneira que realmente nos leva a ideia de morte contida no cone da caveira.

    A medida em que a imagem nos permite essa interpretao, sem dvida, chegamos

    concluso que ela realmente ameaadora e evidencia os malefcios que o tabaco provoca no

    organismo humano.

    Para a recepcionista z, num primeiro momento, ao observar a figura, o que se v o

    contorno mrbido de uma caveira e seus chifres, decifrando que o cigarro perigo iminente, e

    tal mal que causa fica mais do que comprovado. O fundo preto denota ainda mais o lado

    fnebre e a fumaa parece ser o sopro da vida se esvaindo.

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    129 CONCLUSO

    Tivemos aqui a oportunidade de analisar, identificar e pesquisar a iconicidade e sua

    funcionalidade, e provar como as imagens trabalhadas so altamente carregadas de

    informaes, embora no expressas em palavras.

    Ainda que esse trabalho mostre de maneira bastante sucinta o mecanismo

    da iconicidade, pretendeu-se demonstrar a importncia e a habilidade dos cones na

    construo das imagens aqui abordadas e que atravs deles houve a compreenso e

    interpretao das mesmas.

    As anlises realizadas por trs pessoas sobre as imagem deixam claro que a fora do

    cone muito grande e eficaz para que o emissor possa passar a ideia da mensagem ao

    receptor.

    Foi um trabalho muito gratificante, pois percebemos na prtica realmente a

    importncia da iconicidade no convencimento sobre o consumidor ao determinado produto,

    ou no.

    Encerramos assim nossas reflexes com o seguinte trecho:

    Em semitica visual a imagem considerada como uma unidade de manifestao auto

    suficiente, como um todo de significado, capaz de ser submetido a anlise (GREIMAS;

    COUTES)

    REFERNCIAS

    ABREU, A. S. Iconicidade e descrio gramatical do portugus. Letras, Campinas: PUCCAMP, v.18, p.7-15, 1999. GREIMAS, A. J.; COURTS, J. Dicionrio da semitica. 9.ed. So Paulo: Cultrix,1989. BLIKISTEIN, I. Tcnicas de comunicao escrita. 20.ed. So Paulo: tica, 1992. BUYSSENS, E. Semiologia, comunicao e lingstica. 2.ed. So Paulo: Cultrix,1974. PAULA, V. M. C. de. Manual para elaborao e apresentao de monografias. Ituverava: FEItuverava, 2005. ROLAND, B.Elementos da semiologia. 3.ed. So Paulo: Cultrix,1964. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho cientfico. 23.ed.rev.e atual. So Paulo: Cortez, 2007.

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    APNDICES

    APNDICE - A - Entrevista (Corpo Administrativo da Fundao Educacional de Ituverava).

    B1. Qual a primeira impresso da figura abaixo?

    A imagem retrata uma realidade que de conhecimento de todos, mas ignorada por

    muitos.

    Para estes, fumar uma mistura de liberdade e prazer; mas ao contrrio do que pensam,

    uma forma lenta de suicdio, com conseqncias malficas e dolorosas.

    Quem fuma, no consegue perceber o bvio: sua vida, sua sade queimando e evaporando

    como fumaa. Informante X - Alessandra Pereira do Nascimento Secretria - Colgio Nossa Senhora do Carmo

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    131 2. Qual a primeira impresso da figura abaixo?

    Pela imagem apresentada, observa-se a definio do contorno dos lbios, que aparenta

    uma mulher jovem, que possui vaidades naturais de mulher, mas que traz estampado nos

    seus lbios a marca deixada pelo descuido do vcio (tabaco), que outrora, essa marca sempre

    ficara cravado no seu interior, e apenas se manifesta pelo seu hlito, exalando o seu odor e

    deixando o seu rastro por onde for, assim como deixou a sua marca a mostra.

    E com o passar do tempo, lhe mostrar a dor sem amor. Informante Y - Reinaldo de Almeida Supervisor de Recursos Humanos - Fundao Educacional de Ituverava

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    132 3. Qual a primeira impresso da figura abaixo?

    Em primeiro momento, ao observar a figura, o que se v o contorno mrbido de

    uma caveira e seus chifres, decifrando que o cigarro perigo iminente, e tal mal que causa

    fica mais do que comprovados. O fundo preto denota ainda mais o lado fnebre e a fumaa

    parece ser o sopro da vida se esvaindo.

    Informante Z - Vnia Regina Barbosa Porto Gomiero. Recepcionista - Fundao Educacional de Ituverava.