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I CABODE Da mente de Cristo à consciência moderna

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  • ICABODEDa mente de Cristo conscincia moderna

  • ICABODEDa mente de Cristo conscincia moderna

    RUBEM MARTINS AMORESE

  • 2002

    Publicado com autorizao e com todos os direitos reservadosEDITORA ULTIMATO LTDA.

    Caixa Postal 4336570-000 Viosa - MG

    Telefone: (31) 3891-3149 - Fax: (31) 3891-1557E-mail: [email protected]

    Amorese, Rubem Martins, 1951-

    Icabode; da mente de Cristo conscincia moderna/ Rubem Martins Amorese. Viosa : Ultimato, 1998.

    224p.

    ISBN 85-86539-15-5

    1. Igreja e modernidade cultural. 2. Igreja e proble-mas culturais. 3. Cristianismo e poltica. I. Ttulo.

    CDD. 19.ed. 273.9CDD. 20.ed. 273.9

    Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Catalogaoe Classificao da Biblioteca Central da UFV

    A524i1998

    Copyright 1998 by Rubem Martins Amorese

    Projeto Grfico:Editora Ultimato

    Capa:Marcelo Simo de Vasconcellos

    1 Edio:Agosto de 1998

    Reviso:Luiz Carlos Alves de Oliveira

    Bernadete Ribeiro

  • Angela, que j , hoje,muito do que ainda sonhopara minha vida espiritual.

  • Prefcio 9

    Apresentao 15

    1. A IMPORTNCIA DO TEMA 21

    2. A HISTRIA DE CABO VERDE 33

    3. A MODERNIZAO DE CABO VERDE 43

    4. CONSCINCIA MODERNA 75

    5. IGREJA MODERNA: O DESAFIO DAS CRISES 101

    6. A IGREJA E OS MEIOS DE COMUNICAO DE MASSA 151

    7. SOLUES? 165

    8. EPLOGO 189

    Bibliografia 199

    SUMRIO

  • PREFCIO

    Cada pessoa, mergulhada em si mesma, comporta-se comose fora estranha ao destino de todas as demais. Seus filhos eseus amigos constituem para ela a totalidade da espcie hu-mana. Em suas transaes com seus concidados, pode mistu-rar-se a eles, sem no entanto v-los; toca-os, mas no ossente; existe apenas em si mesma e para si mesma. E se,nestas condies, um certo sentido de famlia ainda perma-necer em sua mente, j no lhe resta sentido de sociedade.

    Tocqueville

    Em toda a sua histria, o Cristianismo sempre soube,bem ou mal, reconhecer, enfrentar e combater seusinimigos. Fossem eles telogos, com suas heresias edesvios doutrinrios; imprios, com seus reis e exrcitos; oumesmo demnios, com seus ataques sutis e enganosos, oscristos sempre souberam discerni-los e reagir de forma apreservar a vocao da Igreja e sua aliana com o Criador.Discerni-los no era tarefa muito difcil, exceo de algu-mas heresias que trouxeram, por certo tempo, confuso e

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    diviso. Mas, mesmo sendo ameaado com torturas e perse-guies, todos os inimigos do Cristianismo foram enfrenta-dos com coragem e f, e contriburam direta ou indiretamentepara o crescimento e fortalecimento da igreja de Cristo, tan-to na sua f como na sua vocao.

    Em nossa histria mais recente vemos que o conflito deu-se basicamente no campo da dogmtica. O liberalismo teo-lgico do incio do sculo foi, e continua sendo, o grandevilo que ameaa a integridade da f evanglica, levantandodvidas quanto s doutrinas bsicas do Cristianismo. A rea-o a esse inimigo foi o movimento fundamentalista que, aprincpio, buscou resgatar e preservar os princpios fundamen-tais da f crist, mas que acabou sendo absorvido por outrosvalores ideolgicos e teolgicos, transformando-se ele mes-mo numa outra ameaa. Atualmente, vivemos a redescobertada guerra espiritual, com forte nfase nos principados epotestades, que atuam no mundo espiritual, cujo combatetambm se d com as armas do Esprito. Essa guerra denatureza mais metafsica tem dominado quase todo o cen-rio dos conflitos da igreja evanglica nos ltimos anos.

    No entanto, hoje a Igreja se v diante de uma nova rea-lidade, que a ameaa e traz uma caracterstica muito peculi-ar e incomum: no se trata de um inimigo. Pelo menos nono sentido em que os outros mostraram-se na histria. Abem da verdade, trata-se mais de um aliado que ofereceinmeros recursos considerados imprescindveis para o avanodo evangelho do que uma ameaa f e misso da Igreja.Mas exatamente aqui que mora o perigo. Ao mostrar-secomo um aliado inofensivo, aceito e admirado por todos,que cria uma atmosfera de possibilidades e realizaes, tirada Igreja a capacidade de discernir o que realmente estacontecendo sua volta. E, sem que ela perceba, vai deva-gar minando suas bases at comprometer sua identidade.

    Estamos falando da modernidade. Obviamente, no setrata de nenhum inimigo ideolgico nem teolgico, nem mes-mo de um inimigo. apenas a realidade constatada no cha-

  • PREFCIO

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    mado mundo civilizado. Ela est a, admirada por todos, con-tribuindo com o que de melhor o homem pode experimen-tar. Mas, paradoxalmente, ela traz tambm a maior ameaa eo maior desafio que o Cristianismo jamais experimentou.Refletir sobre a modernidade e seus desdobramentos sobrea f e a misso da Igreja a grande tarefa que temos pelafrente.

    A ameaa que a modernidade traz no se encontra nocampo da teologia dogmtica, das formulaes doutrinriasnem das confisses de f da Igreja. Nada disso se encontraameaado de deformao ou extino. Nem mesmo se tratade uma ameaa maligna, de um ataque satnico que poderiaser exorcizado mediante a orao de guerra, livrando aIgreja de uma crise sem precedentes. Tambm no se tratade nenhuma conspirao idealizada por estruturas polticascontrrias aos valores do reino de Deus. Trata-se mais deuma ameaa natureza prpria da Igreja, ao significado deser Igreja. Na verdade, o desafio que temos pela frenteem relao modernidade no o de lutar pelas doutri-nas evanglicas nem pela moral religiosa (embora con-tinuem sendo temas importantes), mas o de preservar opropsito original da aliana de Deus com o seu povo,de conseguir simplesmente ser Igreja.

    Quando olhamos para a realidade protestante da Europaps-moderna, continente que foi o bero do protestantismo,percebemos a fora devastadora da modernidade sobre a fe a Igreja. Aquilo que imperadores com seus exrcitos oumesmo homens com suas heresias no conseguiram ao lon-go destes quase dois mil anos de Cristianismo, a modernidadeconseguiu sem grandes esforos. Para ns, brasileiros, queexperimentamos um momento de grande entusiasmo e cres-cimento evanglico, pode parecer pura especulao de maugosto tratar deste tema como uma ameaa a uma igreja quenunca esteve to slida e segura da sua vocao. Talvezvalesse a pena relembrar aqui as palavras do Senhor Jesus igreja de Laodicia: Pois dizes: Estou rico e abastado, e no

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    preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu s infeliz, sim,miservel, pobre, cego e nu (Ap 3.17). A modernidadecega, empobrece e descaracteriza a Igreja.

    Infelizmente poucos tm se preocupado com este tema.Talvez, por se encontrar to prximo de ns, o assunto este-ja, ao mesmo tempo, mais distante do que nunca. Fazemosparte dele, somos beneficiados por ele e, sem que per-cebamos, somos conduzidos por ele. Nossos valores, culturae religio so sutilmente influenciados e transformados pelamodernidade, e absorvemos tudo isso sem nenhuma resis-tncia. Somos hoje uma igreja moderna, no porque inclu-mos instrumentos modernos na nossa liturgia, mas porqueincorporamos valores prprios de uma sociedade moderna.A secularizao, o individualismo, a pluralizao so algu-mas dessas novas realidades que tm mudado o cenriodas relaes humanas e religiosas.

    Modernidade o tema deste livro. Sua abordagem pro-ftica, feita por algum que tem estado preocupado comeste assunto j h algum tempo. proftica porque contmos trs elementos que considero indispensveis numa pro-fecia. Primeiro, compromisso com o passado, com os orcu-los de Deus, com o propsito da aliana. Toda a profeciamantm sempre um p no passado como referencial bblicoe histrico do chamado e vocao da Igreja. Segundo, ana-lisa, luz do passado, dos orculos de Deus e de sua Pala-vra, o presente, procurando discernir a modernidade nopor ela nem a partir dela, mas pela aliana de Deus com suaIgreja. Esta , particularmente, uma tarefa difcil, princi-palmente em se tratando de uma igreja como a brasileira,que vive momentos de crescimento e euforia. No estamosacostumados a lidar com o bvio; a habilidade para discerniro presente e seus desdobramentos sobre o futuro exige umaviso mais acurada da realidade, viso esta que nos dadacomo um dom do Esprito Santo, que sempre nos pergunta:o que vs? Terceiro, o profetismo bblico aponta para osdesdobramentos da modernidade sobre a Igreja e sua mis-

  • PREFCIO

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    so, caso esta no atente para os riscos inerentes a esteprocesso.

    Neste livro, Rubem Amorese traz uma contribuiovaliosssima para a igreja crist neste final de milnio. Oleitor perceber que os conceitos apresentados no livro soconstrudos sobre uma anlise da realidade do mundo, dasociedade e da Igreja na qual todos estamos inseridos. Nose trata de especulao teolgica nem futurista, mas de cui-dadosa reflexo multidisciplinar sobre aquilo que nem sem-pre to bvio pelo simples fato de estarmos pessoalmenteenvolvidos. A cultura moderna o molde com o qual todosfomos moldados e que somente podemos reconhecer, rejei-tar e mudar por meio da perspectiva exterior de Deus emmeio nossa ignorncia, uma ignorncia agudizada, de certaforma, pelo excesso de informao. A dificuldade encon-trada para discernir o mundo moderno porque ns somosmodernos. O que o Rubem procura aqui se posicionarcomo um observador crtico que analisa o processo de mo-dernizao de uma cultura e seus efeitos sobre a f crist.Esta anlise , ao mesmo tempo, sociolgica e teolgica. Oautor , por um lado, uma pessoa comprometida com aIgreja de Cristo, e que tem servido ao Senhor da Igreja comfidelidade e dedicao; por outro, tambm um comuniclogoque, em sua atividade profissional, dedica-se anlise dosmeios de comunicao de massa e seus efeitos sobre a soci-edade. Estas duas vertentes da sua vida tornam-no uma pes-soa habilitada para refletir sociolgica e teologicamente so-bre um tema to vasto e complexo como a modernidade.

    O sbio afirma que no havendo profecia o povo secorrompe (Pv 29.18). Espero que este livro contribua paraque a Igreja consiga discernir os sinais do mundo em quevive e ao qual serve. Que ele abra nossos olhos para quevejamos aquilo que nem sempre to bvio, e que nosprepare para o enfrentamento desta realidade que no podeser definida como um inimigo, mas que ameaa o futuroda Igreja.

    Ricardo Barbosa de Sousa

  • APRESENTAO

    Oprimeiro texto que me chegou s mos sobre oassunto foi o conhecido Cuidado com a jibia,publicado no livro La Iglesia del futuro, pela CasaBautista de Publicaciones1. Naquele texto, Dr. Os Guinness,discpulo de Francis Schaeffer, apresenta, de forma resumida,sua percepo do desafio apresentado pela modernidade aodiscipulado cristo, discorrendo a respeito de seu efeitodestruidor sobre as instituies sociais, de uma forma geral,e sobre a religio em particular. Ali ele estabelece seu tripestruturador do tema: secularizao, pluralizao eprivatizao.

    O texto me impressionou muito, gerando um misto detemor, incredulidade e urgncia. Na verdade, a incredulida-de provinha de um desejo de que algo naquela anlise esti-

    1 Rio de Janeiro, 1983, pp. 56-83.

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    vesse errado. Com isso, tambm os desafios e ameaas care-ceriam de base factual e terica, e eu voltaria minha pazignorante. Mas veio Lausanne II, em Manila, julho de 89, el fomos ns. Qual no foi a minha surpresa ao encontrar Dr.Guinness, cercado de discpulos, provendo toda uma sriede palestras, plenrias e grupos de estudos sobre o tema.

    A dificuldade de escolher entre os seminrios oferecidosera das maiores. Tudo era interessante, num encontro mun-dial sobre evangelizao: Proclamando Cristo at que EleVenha. Nesse exato momento, numa plenria preliminar,Os Guinness profere uma palestra intitulada: O Impacto daModernizao. Bastou sua introduo para tornar minha cu-riosidade incontrolvel e minha convico de que este eraum tema sobre o qual precisvamos conversar muito noBrasil. Uma de suas primeiras afirmaes foi: A modernidade,ou a civilizao mundial emergente, representa a maior grandeoportunidade e o maior grande desafio que a Igreja jamaisenfrentou desde os tempos apostlicos2.

    Era o bastante. Matriculei-me em todos os seminrios ecolecionei todos os folhetos, documentos e bibliografiasdisponibilizados. Lembro-me que pensei assim: temos maischances do que as igrejas do Primeiro Mundo, porque esta-mos alguns anos atrs. Pelo menos existe um ponto no qual vantagem estar atrs. Precisamos estar atentos ao que acon-tece por l, s solues que encontram por l, e aprendercom seus problemas, sem que tenhamos de passar pelo quecertamente passaro. Precisamos aprender rpido.

    Desde ento 1989 venho tentando ler, pensar, de-bater e compartilhar o assunto, buscando desenvolver umsenso crtico sobre a matria, convencido que estou de suaimportncia para a igreja brasileira. Associado a isso, tenhotentado dar vazo minha vocao de comunicador, buscan-do colocar o assunto ao alcance de um pblico menos espe-

    2 Minneapolis: World Wide Publications, 1990, pp. 283-288.

  • APRESENTAO

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    cializado e sem propenso para o discurso acadmico oufacilidade com leituras em outras lnguas. Tento fazer issoconsciente do comprometimento da acuracidade cientfica edo rigor metodolgico. Mas alcano um leitor que no teriaacesso a esse universo, se tiver de ler Science. Dos debatese trocas com esse pblico, tenho coletado idias, opinies,reaes e material da mais alta importncia, que me tm emmuito ajudado a articular as questes de forma a que toda aigreja possa participar da reflexo e adensar a massa crticanecessria a uma tomada de posio mais abrangente e con-sistente.

    O texto que se segue uma tentativa de relatrio deviagem. Por um lado, pode ser visto como uma resenha domaterial que tenho conseguido amealhar neste tempo. Poroutro, pode servir a quem queira se iniciar no assunto, sejaaproveitando a bibliografia fornecida, seja por meio de umpasseio pelo terreno.

    Apresso-me em reconhecer minha dificuldade em racio-cinar sociologicamente com segurana, a partir do ferramentalfornecido pelos autores compulsados. Todavia, esse o obje-tivo: amadurecer uma forma de pensar, para poder proporuma via de acesso ao fenmeno. No entanto, alguns pode-ro dizer: este fenmeno no distintivamente moderno.Prevejo que essa ponderao poder ocorrer em muitos ca-sos. Em alguns, com inteira razo, inclusive. At porqueaprendemos ser impossvel, em muitos casos, separar, comoo joio do trigo, o que seja exclusivamente moderno em umdado sistema de idias e valores3. Da por que achamos que

    3 O fato macio que ora se impe que existe no mundo contemporneo, mesmo emsua parte avanada, desenvolvida, ou moderna por excelncia, e at no planoto-somente dos sistemas de idias e valores, no plano ideolgico, alguma outracoisa que nada tem a ver com o que se definiu diferencialmente como moderno. Ebem mais do que isso: descobrimos que numerosas idias-valores que se aceitavamcomo intensamente modernas so, na realidade, o resultado de uma histria em cujotranscurso modernidade e no-modernidade ou, mais exatamente, as idias-valoresindividualistas e suas contrrias, combinaram-se intimamente. DUMONT, Lus. Oindividualismo; uma perspectiva antropolgica da ideologia moderna. pp. 30-31.

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    este trabalho seja apenas uma contribuio inicial ao longodebate que esperamos se desenvolva em torno do tema.

    Nossa esperana que este tema, ainda to verde entrens, brasileiros, venha a ocupar a prioridade devida na agendateolgica da Igreja, para que possa ser convenientementeamadurecido. Do debate, espero, surgiro as respostas deque nossa igreja tanto necessita.

    Uma palavra sobre o termo modernidade. Comea asurgir, nos debates sobre o tema, o uso do termo ps-mo-dernidade. Diz-se que somos uma gerao ps-moderna;vivemos o ps-modernismo etc. Optei por continuar commodernidade. Entendo que os termos modernismo e ps-modernismo referem-se ao movimento filosfico e das ar-tes destes ltimos duzentos anos. Na verdade, tm umaproximidade conotativa to grande com o que chamo demodernidade, que esta distino quase desnecessria. Masainda assim h distino: modernidade, na minha forma deentender, no uma designao para movimento artstico-filosfico. Modernidade provm da tecnologia. Est associa-da mais revoluo industrial que rejeio dos padresclssicos.

    Nesse sentido, o termo tem conotao de contemporanei-dade, de atualidade. Moderno, para mim, algo que refletea ltima moda, a ltima inveno, a ideologia do momento.Concebida assim, no h espao para ps-modernidade. Ano ser usando a escada de disseminao das idias de FrancisSchaeffer, em O Deus que intervm: uma mudana comeana Filosofia, reflete-se nas artes e chega ao homem comum,na forma de cultura popular. Nesse caso, no mais alto nvel,teramos o Ps-modernismo dando origem modernidade.Mesmo assim, h uma mudana muito grande de naturezado fenmeno. Confundir modernidade com modernismo po-deria nos levar a dizer ps-hoje. Mais ou menos comotentar afirmar que o homem ps-moderno catico, as-sim: o homem ps-atual catico. No mnimo, teramos demudar o tempo do verbo para ser. Ningum vive o ps-

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    hoje, a ps-atualidade. Pode-se viver o ps-cristianis-mo, o ps-domingo de pscoa (ou, pelo menos, o ps-domingo passado) etc., mas o ps-presente, no. S Deus.

    S um exemplo: ouvi uma autoridade dizendo que a apro-vao pelo Congresso Nacional da possibilidade de reeleiodo presidente da Repblica tem, entre outras vantagens, ade colocar o pas em sintonia com a modernidade. Vejacomo o termo foi usado. Est dizendo que o pas se iguala-ria, em termos polticos, com os pases mais avanados domundo. Imagine, agora, a mesma autoridade dizendo que opas ficaria em sintonia com a ps-modernidade. Faz senti-do? Caberia um termo pelo outro? Entendo que no. Portan-to, nem sempre eles so sinnimos. No devem ser usadossem critrio, sob pena de confuso semntica.

    Rubem Martins AmoreseBraslia, 1993/1998.

  • 1.

    A IMPORTNCIA DO TEMA

    o melhor dos tempos, o pior dos tempos! Esta adescrio das mudanas revolucionrias levadas a efeitona Frana do sculo XVIII, na tica e nas palavras de CharlesDickens4. Na verdade, essa expresso retrata bem ascontradies em que esto mergulhadas as instituies sociaisde nossos tempos. difcil compreender as razes por queuma mesma entidade social esteja vivendo, ao mesmo tempo,o melhor e o pior de seus tempos. No melhor dos mundos,encontra um ambiente propcio sua plena manifestao edesenvolvimento; no pior deles, esta mesma instituio se encontraameaada por muitos perigos. Podemos citar alguns exemplos.

    4 BALSWICK, Jack O. The family. Grand Rapids: Baker Book House, 1989. pp. 273-306.

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    Na rea do relacionamento conjugal, o indivduo vivehoje um perodo de divrcios sem precedentes em toda ahistria, levando muitos analistas a prognosticar a falnciada instituio famlia, na forma como tradicionalmenteconhecida. Ao mesmo tempo, no entanto, proliferam os re-latos de satisfao no relacionamento conjugal de uma formasem precedentes. Nunca esse relacionamento foi tosatisfatrio para ambas as partes. O homem, finalmente,encontra uma companheira sua altura, quer para o dilogo,quer para o convvio: ela pensa, age, reage, faz-se bonita,independente, inteligente e o agrada. A mulher, por seuturno, encontra outros tipos de prazeres na companhia dohomem: prazeres intelectuais, companheirismo, proteo no-paternalista, parceria em empreendimentos familiares e no-familiares. Os relatos de realizao nesta rea so to vee-mentes quanto aqueles que do conta dos fracassos.

    Se voltarmos os olhos para a infncia, encontraremos mi-lhes de crianas sofrendo a dor de serem um peso, emlares partidos ou desajustados (para no falar dos rfos depais vivos: os menores abandonados ou filhos de pais se-parados), o que faz com que cresam com uma psiqu com-prometida e de prognsticos sombrios. No entanto, encon-tra-se em todos os meios de comunicao sejam progra-mas especializados, revistas femininas, debates televisivos,legislao de proteo ao menor e ao adolescente umanfase sem precedentes no amor e intimidade no re-lacionamento familiar, como a nica alternativa para a des-graa de toda uma gerao. J no um escndalo encon-trar-se um jovem senhor, em trajes executivos, empurrandoum carrinho de nen na praa principal da cidade, ou nocalado da praia. J no se estranham os desenhos ani-mados em que os pais heris se apresentam vestidos deBatman, Super-homem, ou outro heri coisa impensvelh alguns anos, para a mentalidade machista e para o sensode ridculo de ento. Ao observar a cena, pode passar des-percebido que aquele momento fugaz e tenso: um pai

  • A IMPORTNCIA DO TEMA

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    confuso, culpado, permissivo ao extremo, tentando exercerseu direito de visitar o filho uma vez por semana, depois deseu quarto divrcio. O pai d o que o filho pedir. Nada oleva a contrariar ou disciplinar o filho. E este, sa-bendo que em poucas horas voltar a ser abbora, apro-veita o quanto pode, chegando a se intoxicar de sorvete epizza.

    Vive-se um tempo de liberdade sem precedentes: liber-dade de pensamento, de costumes, de modos de vestir, dereligio, de lazer etc. Nunca as amarras sociais estiveram tofrouxas e oferecendo tanto espao para realizao pessoal,familiar, grupal e mesmo nacional. A tradio j no torestritiva ao ponto de inibir sem explicaes plausveis; aautoridade pblica tem os seus prprios limites e aceita ocostume de ser um agente a servio da populao; o go-vernante tende a ser um democrata, eleito e deposto pelopovo, e assim por diante. O melhor dos tempos.

    No entanto, vivemos num mundo de escravos e escravi-zados sem precedentes. Surgem novas formas de escravi-do, que se apresentam como paradoxos liberdade preten-dida: a escravido de drogas, do consumo, de aparncias, dostatus, da vaidade etc. Esses fenmenos, por mais antigosque sejam, encontram sua potencializao perigosa e dele-tria na anomia da liberdade moderna. Sem parmetros, semideais, que pressuponham limites, os jovens se transformamem hordas dispostas a diverso a qualquer custo, promoven-do bailes funks, pancadarias em estdios, pichaes de mo-numentos, pegas de carro etc. Os adultos, tambm adeptosdo hedonismo total, no conseguem conviver com gover-nos, regras, limites, restries etc. Matam-se no trnsito, pu-xam a arma sem razo aparente, divorciam-se por enfado ouna busca de um novo brinquedo conjugal, e nem ligam se oprefeito est roubando descaradamente.

    Um exemplo do paradoxo na rea religiosa: O sonho demuitos pais da f se realizou: o de ter em sua prpria lnguavrias verses das Escrituras, alm de comentrios, lxicos,

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    pesquisas e ferramentas cientficas. Isso sem falar nastradues da Bblia em linguagem popular, o que a leva aoalcance das crianas e do povo menos erudito, e nas deze-nas de boas revistas de escola dominical. No entanto, o desco-nhecimento do contedo bblico para falar apenas sobreaqueles que teriam a obrigao de conhec-lo, o povo deDeus chega a ser considerado por alguns educadorescristos como uma calamidade. Isso sem considerar o fen-meno da baixa escolaridade e do analfabetismo, que come-a a caracterizar justamente o povo da Palavra: os bblia.Pesquisas revelam que o grupo social, recentemente tipi-ficado e caracterizado como evanglico se distingue porseu pendor antiintelectual e (no sei se causa ou conse-qncia) por estar cada vez mais abaixo da mdia nacionalde escolaridade. To prximos, todavia to distantes.

    A modernidade tem sido celebrada como o caminho dofuturo, com sua tcnica, sua tecnologia, seu conforto e seupotencial de solucionar os problemas da humanidade. Mastem sido acusada tambm como a causadora do declnio denossa civilizao, produtora de pobreza, explorao, con-centrao de renda, bens e servios e produtora de indi-cadores de indignidade social sem precedentes. Esse efeitocontraditrio tem provocado uma interessante ambigidadede sentimentos em pessoas mais idosas. Por um lado, reco-nhecem que esto saudveis, em muitos casos economica-mente ativas e socialmente vivas graas a facilidades erecursos destes tempos. Por outro lado, sonham com otipo de vida de outrora, em que eram realmente felizes.Nas palavras de Betinho:

    A modernidade produziu um mundo menor do que a huma-nidade. Sobram bilhes de pessoas. No se previu espaopara elas nos vrios projetos internacionais e nacionais. NoBrasil essa excluso tem razes seculares. De um lado, se-nhores, proprietrios, doutores. De outro, ndios, escravos,trabalhadores, pobres. (...) A industrializao brasileira no

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    encurtou o abismo entre pobres e ricos. Os senhores vira-ram empresrios, mas continuaram a viver em novas ver-ses da casa-grande. Os escravos viraram trabalhadores,mas continuaram morando na senzala, em dormitriosfeitos para isolar o pobre depois do servio.5

    A QUESTO INEVITVEL

    O que ter acontecido com nossa sociedade, paraprovocar tais reaes, tal ambigidade de sentimentos, talnvel de contradies? Na verdade, essas mudanas no sode hoje: j vm ocorrendo h algum tempo. Trata-se doprocesso de modernizao, que traz consigo todos esse fato-res ambguos, contraditrios e paradoxais.

    Esse fenmeno pouco estudado e compreendido, quesignifica prazer, realizao e conforto, mas que, ao mesmotempo, apresenta tamanho poder de destruio das formase estruturas sociais estabelecidas, consideradas tradicio-nais; formas de agir, pensar e sentir de existir em socie-dade, enfim , chamado de modernidade 6. Ela precisaser conhecida em sua constituio, sua evoluo, seus efei-tos, seus aspectos positivos e negativos, de forma que sepossa viv-la inteligentemente.

    Em sua memorvel palestra inaugural em Cambridge, em1954, C. S. Lewis, referindo-se ao movimento modernista,defendeu que ele era a maior diviso histrica do homem

    5 SOUZA, Herbert. O po nosso. Veja 25 anos. p. 16.6 Estamos conscientes de que essas mudanas ainda esto em pleno processo e, napercepo do socilogo Domenico de Masi, da Universidade de Roma, ainda tmmuito a caminhar: ...as novas conquistas, j estocadas na bagagem da humanida-de, exigiro uma restruturao dos sistemas polticos, sociais e psicolgicos. A estru-tura de nossas personalidades, assim como a de nossas comunidades nacionais einternacionais, expresso de um mundo tecnologicamente primitivo em relao aoatual e espelha o seu atraso. A sociedade ps-industrial gerenciada com critriosindustriais ou at rurais. MASI, Domenico. Em busca do cio. Veja 25 anos. p. 47.

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    ocidental; maior que a diferena entre Antigidade e a Eradas Trevas, maior que aquela entre a Era das Trevas e aIdade Mdia, maior ainda que aquela entre a Idade Mdia eo Renascimento7.

    CANA 2000

    Antes de comearmos a descrever o fenmeno damodernidade, gostaria, numa espcie de parntesis, de apre-sentar uma analogia. Ela nos seguir por todo este livro, enos ajudar a manter o prumo das nossas anlises. Encontra-se em Deuteronmio 6.1-21:

    Estes, pois, so os mandamentos, os estatutos e os juzosque mandou o SENHOR teu Deus se te ensinassem, paraque os cumprisses na terra a que passas para a possuir;2 para que temas ao SENHOR teu Deus, e guardes todos osseus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teufilho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e queteus dias sejam prolongados.3 Ouve, pois, Israel, e atenta em os cumprires, para quebem te suceda, e muito te multipliques na terra que manaleite e mel, como te disse o SENHOR Deus de teus pais.4 Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus o nico SENHOR.5 Amars, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu corao,de toda a tua alma, e de toda a tua fora.6 Estas palavras que hoje te ordeno, estaro no teu corao;7 tu as inculcars a teus filhos, e delas falars assentado emtua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levan-tar-te.8 Tambm as atars como sinal na tua mo e te sero porfrontal entre os teus olhos.9 E as escrevers nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.10 Havendo-te, pois, o SENHOR teu Deus introduzido naterra que, sob juramento, prometeu a teus pais, Abrao,

    7 MYERS, Kenneth, A. All Gods children and blue suede shoes; christians and popularculture. New York: Crossway Books, 1989.

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    Isaque e Jac, te daria, grandes e boas cidades, que tu noedificaste;11 e casas cheias de tudo o que bom, casas que noencheste; e poos abertos, que no abriste; vinhais e olivais,que no plantaste; e quando comeres e te fartares,12 guarda-te, para que no esqueas o SENHOR, que tetirou da terra do Egito, da casa da servido.13 O SENHOR teu Deus temers, a Ele servirs, e pelo seunome jurars.14 No seguirs outros deuses, nenhum dos deuses dos po-vos que houver roda de ti,15 porque o SENHOR teu Deus Deus zeloso no meio deti, para que a ira do SENHOR teu Deus se no acenda contrati e te destrua de sobre a face da terra.16 No tentars o SENHOR teu Deus, como o tentaste emMass.17 Diligentemente guardars os mandamentos do SENHORteu Deus, e os seus testemunhos, e os seus estatutos, que teordenou.18 Fars o que reto e bom aos olhos do SENHOR, paraque bem te suceda, e entres, e possuas a boa terra, a qual oSENHOR, sob juramento, prometeu dar a teus pais,19 lanando fora a todos os teus inimigos de diante de ti,como o SENHOR tem dito.20 Quando teu filho de futuro te perguntar, dizendo: Quesignificam os testemunhos e estatutos e juzos que O SE-NHOR nosso Deus vos ordenou?21 Ento dirs a teu filho: ramos servos de Fara no Egito:porm o SENHOR de l nos tirou com poderosa mo.

    OS PERIGOS QUE MOISS VIA

    Esse texto nos fala de perigos, de situaes escorrega-dias, de um ambiente adverso, dentro do qual se daria anova vida na terra prometida. Naquele ambiente, e paraaquela situao, a Lei foi repassada, e as graves e solenesrecomendaes sobre lealdade e amor incondicional ao Se-nhor foram repetidas.

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    No acha, leitor, que se poderia, simplesmente, ter ditoque o Senhor deve ser amado de todo o corao, de toda aalma e de toda a fora? Claro que sim! Essa recomendao seaplica a qualquer situao da vida.

    Mas repare que Deus, ali, est preocupado com ameaasespecficas; com situaes novas pelas quais o povo passa-r. H um contexto concreto, diagnosticado por Deus e porMoiss, dentro do qual vo-se repassar as recomendaesde fidelidade; como que a dizer que o tipo de fidelidade edevoo requeridas na vivncia da terra prometida ser di-ferente da experincia do deserto. O princpio o mesmo,mas a forma de viv-lo precisar ser contextualizada. E seisso no for feito com todo o cuidado e diligncia, toda anao corre risco de desintegrao. Uma desintegrao quecomea com o enfraquecimento da identidade nacional, etermina, de uma forma ou de outra, em exlio e escravido.Para sobreviver como povo de Deus na nova terra, preci-so, antes de tudo, uma slida identidade nacional: a identi-dade de povo de Deus.

    Tambm ns vivemos tempos difceis. No entanto, nemsempre nos apercebemos de que nossa identidade de povode Deus est ameaada. To ou mais ameaada do que na-queles tempos bblicos. O perigo, ento, era de que o povo,ao adentrar um conforto que nunca conhecera; ao habitarcasas cheias de tudo o que bom, casas que no haviamenchido; poos que no haviam aberto; ao desfrutar de vinhaise olivais que no haviam plantado, esquecessem-se do Se-nhor que os havia tirado da terra da servido. Havia o perigode que passassem a viver como cananeus; sentir como cana-neus, adotar os valores e ideais da terra; e a seguir os deu-ses dos povos ao seu redor. Se isso acontecesse, deixariam,simplesmente, de ser povo de Deus. Veja como isso ditonos versos 15 e 24: ... para que a ira do Senhor teu Deusse no acenda contra ti e te destrua de sobre a face daterra; ... e temssemos o Senhor nosso Deus, para o nosso

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    perptuo bem, para nos guardar em vida, como tem feitoat hoje.

    Note a fora extraordinria do texto. Fala de destruiofsica, de vida e morte. E nesse momento de crise, carac-terizado pela convivncia do desafio e da oportunidade,que o povo tem de retomar suas crenas, afirmar sua identi-dade e fazer as opes corretas.

    OS PERIGOS DE HOJE

    Para sobreviver como povo de Deus no Brasil de hoje, preciso, antes de tudo, uma slida identidade eclesistica.Dizendo de outra forma: precisamos aprender, urgentemente,a ser igreja no Brasil do final do sculo XX.

    Mas voc pode estar pensando: isso muito fcil dedizer. Fazer j outra coisa. Como se compreenderiam aquelasmesmas recomendaes, se destinadas igreja brasileira dehoje? Qual o grande desafio da virada do milnio? Em quesentido o povo de Deus est sendo ameaado de desinte-grao? Ou ser exagero despropositado pensar em ameaade exlio e escravido para os dias de hoje?

    EM BUSCA DE DISCERNIMENTO

    Vivemos, hoje, uma verso moderna da Cana a ser con-quistada por Josu: um tempo de grande conforto e facilidadesmateriais. Um tempo de telefone sem fio, fax, computado-res, nibus, metrs, rdio, televiso, revistas, jornais, auto-mveis, avies a jato, freezers, fornos de microondas, ener-gia eltrica, antibiticos, catteres, ultrasonografia, raio-x,skates com roda de poliuretano, tnis com sola pneumticae cano inflvel, CD-ROM, discos laser, DNA, Internet etc. Seessas facilidades fossem estendidas a todos os brasileiros,seria uma maravilha. Mas caracterstica de nosso tempo

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    termos tudo isso associado ao caos social e a um princpiode barbrie. (O que so, afinal, os cabeas raspadas, osgrupos de roque pesado, as gangues de bairro, as organiza-es religiosas auto-identificadas como satanistas, os esqua-dres da morte, os neonazistas etc. seno novos brbaros?)Vivemos o que Charles Chaplin chamou de tempos moder-nos. Tempos de profundas contradies. Tempos em que semisturam, como parte da mesma realidade, conforto e mis-ria; tecnologia de ponta e falncia social; prodgios da medi-cina e mortandade pela Aids; safras recordes e fome profun-da; liberdade e escravido; comunicao de massa e isola-mento; metrpoles superpopulosas e solido.

    Falar de tempos modernos falar de contradies, trazi-das pelos fenmenos da pluralizao, privatizao e secula-rizao.

    Vamos conversar mais detidamente sobre esses paradoxos.Gostaria, no entanto, de trazer tona uma aplicao impor-tante da analogia de Cana 2000. Trata-se da compreensode que Cana sempre foi vista como promessa de Deus aAbrao, Isaque e Jac. Quando Moiss, no texto citado, re-passa a Lei, e exorta o povo, apresentando os perigos que aTerra Prometida encerra, no est dizendo, com isso, queela seja inteiramente m. No. promessa sendo cumprida. bno.

    No devemos imaginar, em nossa transposio, que Cana2000, ou seja, a modernidade, seja algo de que devamos nosenvergonhar; um mundo do qual devamos nos retirar, umterritrio do diabo, ou coisa assim. No. A modernidade podee deve ser vista como um tempo de coisas boas de Deuspara seu povo. Um tempo de casas que no edificamos,olivais que no plantamos e vinhas que no semeamos. Faci-lidades e confortos que nunca tivemos, preparados por Deuspara nossa alegria.

    A postura adequada diante dessa nova dimenso exis-tencial permanece sendo a de Josu: Vamos e possuamosessa boa terra que o Senhor nos d.

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    No entanto, esclarecido esse ponto, voltemos s preocu-paes de Moiss. Nem tudo o que ali existe nos permi-tido; nem tudo edifica; nem tudo agrada a Deus. Da o refrode Moiss: guarda-te de que no esqueas o Senhor que tetirou da terra da servido.

    Unindo essas duas dimenses: a da promessa e a da exor-tao, verificamos que a vivncia em Cana exigir do povode Deus, como exigiu nos tempos de Josu, muito discerni-mento. No d para viver em Cana como se vivia no Egito;e muito menos no deserto. Precisamos aprender a vivernesse novo tempo a est o propsito deste livro. Ajudarnesse momento de anlise, diagnstico e discernimento domomento que vive a Igreja de hoje. Fechemos o parntesis.

    Passemos a tentar descrever o fenmeno da modernidade,no sentido de criar o espao de compreenso necessrio aodiscernimento das aes e reaes que se requeiram paraque possamos caminhar com liberdade, ou seja, sem temo-res infundados, mas sem a ingenuidade que nos faz presafcil. Tentaremos fazer isso de forma bem fcil, por meio dahistria de uma cidade hipottica.