ianna lucena rocha de oliveira - ufpb
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Ianna Lucena Rocha de Oliveira
Ianna Lucena Rocha de Oliveira
UFPB UERN UESC UFAL UFSE UFRN UFS UFPI
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTAFUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
Ianna Lucena Rocha de Oliveira
PRODUÇÃO FAMILIAR ORGÂNICA DO CAMARÃO DA MALÁSIA
(Macrobrachium rosenbergii)
João Pessoa-PB
2016
UFPB UERN UESC UFAL UFSE UFRN UFS UFPI
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTAFUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE
PRODUÇÃO FAMILIAR ORGÂNICA DO CAMARÃO DA MALÁSIA
(Macrobrachium rosenbergii)
Dissertação apresentada ao Programa
Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, em cumprimento às exigências para
obtenção de grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Basílio Crispim da Silva
João Pessoa
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
Ianna Lucena Rocha de Oliveira
PRODUÇÃO FAMILIAR ORGÂNICA DO CAMARÃO DA MALÁSIA
(Macrobrachium rosenbergii)
Dissertação apresentada ao Programa
Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA, Universidade Federal da
Paraíba, em cumprimento às exigências para
obtenção de grau de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovado em: ___/___/___
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Cristina Basílio Crispim da Silva – UFPB
Orientadora
_________________________________________
Profº. Dr.ª Flávia de Oliveira Paulino – UFPB
Examinador Interno
_________________________________________
Profº. Dr. Mauricio Camargo Zorro – IFPB
Examinador Externo
Se, na verdade, não estou no mundo
para simplesmente a ele me adaptar,
mas para transformá-lo; se não é
possível mudá-lo sem um certo sonho
ou projeto de mundo, devo usar toda
possibilidade que tenha para não
apenas falar de minha utopia, mas
participar de práticas com ela
coerentes.
Paulo Freire
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família que são a fonte da
minha força e inspiração.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me concedido lucidez para a conclusão desta pesquisa
A minha mãe uma mulher forte, que me ensinou tanto a ir atrás daquilo que quero e que
jamais permite que eu me acomode, incentivando-me a melhorar sempre.
Ao meu pai pessoa confiante, que tanto me ensinou a confiar em mim e a não se desesperar
diante da vida.
As minhas irmãs Pollyanna e Shyenne minhas companheiras de vida por todo o apoio e
dedicação para com a minha vida.
A minha avó Estelita, tias Sandra e Silvania, primos Thayanna e João Pedro por sempre
estarem comigo e comemorarem cada conquista alcançada.
Aos meus sobrinhos Maria Clara e Pedro Antonio por alegrarem os meus dias.
Ao meu esposo Daniel pelo seu companheirismo, por toda a paciência, estimulo e por
acreditar que eu sempre posso ir além.
Ao meu tio João (in memoria) por ser uma grande inspiração na minha vida.
A minha orientadora Cristina Crispim essa pessoa maravilhosa compreensiva e com uma
ótima visão do mudo e do quanto é possível melhora-lo, por ser mais que uma orientadora, ser
uma amiga.
A Gil Dutra por sua contribuição para que este projeto fosse possível.
A Maria Marcolina por seu desprendimento em me ajudar com a análise estatística do
trabalho.
A Flavia Paulino por sua contribuição na análise microbiológica da pesquisa.
A Êmille Natane e a Flavia Martins pelo auxilio na análise dos nutrientes da água
A José Carlos presidente da associação de pescadores da Penha (PB) pela participação ativa
em todas as fazes do cultivo junto à comunidade.
A comunidade da Penha (PB) por ser sempre receptiva, ao longo destes tantos anos que
participo de projetos na mesma.
Aos amigos da turma 2014.1 do PRODEMA (UFPB) pela parceria durante o curso e por
tornar mais amena essa trajetória.
Ao PRODEMA (UFPB) por proporcionar esta experiência profissional tão enriquecedora.
A CAPES pelo fomento durante esta pesquisa.
RESUMO
A carcinicultura é uma área de produção que apresenta grande representatividade no
setor aquícola. Apresenta ampla aceitação e interesse econômico, porém a sua prática vem
sendo associada a grandes impactos no âmbito ambiental e social, impregnando-o de
desconfiança e desaprovação, sendo então necessário investir em modelos de produção mais
compatíveis com práticas que não gerem impactos negativos aos ecossistemas. Portanto, a
presente pesquisa buscou desenvolver métodos e técnicas para um sistema de produção
orgânica do camarão da Malásia (Macrobrachium rosenbergii), juntamente com a Associação
de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha. Para tanto foi utilizado um sistema de
recirculação de água, no qual a água era tratada por camadas filtrantes e processos biológicos
em dois módulos de produção, em que o primeiro foi tratado com ração convencional e o
segundo com a ração doméstica produzida pela própria comunidade. O sistema alcançou a
capacidade suporte semelhante ao de sistemas extensivos de criação com +/- 10 ind/m2 em
ambos os tratamentos. Quanto ao crescimento, os camarões apresentaram desenvolvimento
satisfatório, alcançando as dimensões de mercado, sendo o camarão orgânico o que
apresentou a média de biomassa mais elevada (25,77g/ind). Na avaliação das condições
microbiológicas o camarão orgânico também obteve menores valores de contaminação, logo
melhores condições sanitárias e comercialização. Sendo assim, ficou atestado a viabilidade do
sistema de cultivo do camarão e que ao optar por ração não industrializada, portanto livre de
aditivos, há a produção de organismos mais saudáveis e assim de melhor qualidade para o
consumo.
PALAVRAS-CHAVE: Cultivo orgânico, carcinicultura, desenvolvimento sustentável,
microbiologia do camarão.
ABSTRACT
Shrimp farming is a production area that has a great representation in the aquaculture
sector. It offers wide acceptance and economic interests, but its practice has been associated
with major environmental and social impacts, imbuing the distrust and disapproval, and then
need to invest in more consistent production models with practices that do not generate
negative impacts to ecosystems. Therefore, the present study sought to develop methods and
techniques for organic production system of freshwater prawn (Macrobrachium rosenbergii),
along with the Fruit Growers Association of the Penha Beach Sea. For this we used a water
recirculation system in which water was treated by filter layers and biological processes of
two production modules, wherein the first was treated with conventional feed and the second
with domestic food produced by the community. The system reached the carrying capacity
similar to extensive farming systems with +/- 10 ind/m2 in both treatments. As for growth, the
shrimp showed satisfactory development, reaching market size, and the organic shrimp
presented the higher mean biomass (25,77g / ind). In assessing the sanitary conditions organic
shrimp also had lower contamination values, then better able to sanitization and marketing.
Thus, it was attested the feasibility of shrimp farming system and to choose to feed not
industrialized, so free of additives, there is the production of healthier bodies and thus better
quality for consumption.
KEYWORDS: Organic farming, shrimp farming, sustainable development, shrimp
microbiology.
Sumário
LISTA DE QUADROS.........................................................................................................12
LISTA DE FIGURAS ..........................................................................................................12
LISTA DE TABELAS .........................................................................................................13
APRESENTAÇÃO ..............................................................................................................14
1. INTRODUÇÃO GERAL.................................................................................................15
2. OBJETIVOS.....................................................................................................................18
2.1. OBJETIVO GERAL...........................................................................................18
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................18
3. HIPÓTESE.......................................................................................................................18
4. REFERENCIAL TEÓRICO...........................................................................................19
4.1. BIOLOGIA DO CAMARÃO DA MALÁSIA Macrobrachium rosenbergii (De
Man, 1879)............................................................................................................19
4.1.1. Sistemática ......................................................................................................19
4.1.2. Ecologia....................................................................................................... ....21
4.2. CARCINICULTURA............................................................................................. 23
4.2.1 Tecnologias Aplicadas À Carcinicultura......................................................23
4.2.2 Impactos Ambientais Causados Pela Carcinicultura...................................30
REFERÊNCIAS...................................................................................................................32
6. CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO DO CAMARÃO DA MALÁSIA
(Macrobrachium rosenbergii) EM SISTEMA DE CULTIVO ORGÂNICO.................36
RESUMO...............................................................................................................................36
8. INTRODUÇÃO.........................................................................................................37
9. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS..........................................................41
9.1. DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.................41
9.2. MÉTODOS E TÉCNICAS..........................................................................................43
9.2.1. Sistema De Tratamento Da Água.................................................................43
9.2.2. Produção De Ração Doméstica.....................................................................46
9.2.3. Engorda Do Camarão....................................................................................48
9.2.4. Reprodução Em Cativeiro Do Camarão M. Rosenbergii ...........................50
9.2.5. Análise Estatísticas........................................................................................51
9.2.6. Observação Participante...............................................................................51
10. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................52
10.1. ANÁLISE DAS CONDIÇÕES FISÍCAS E QUIMÍCAS DA ÁGUA DO CULTIVO
DO CAMARÃO M. rosenbergii.........................................................................................52
10.2. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO CAMARÃO M. rosenbergii (De
Man, 1879)DURANTE O PERIODO DE ENGORDA......................................................58
10.3. REPRODUÇÃO E LARVICULTU..........................................................................64
10.4. CUSTOS DE PRODUÇÃO.......................................................................................68
11. CONCLUSÃO..........................................................................................................69
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………...70
13. CAPITULO II – QUALIDADE SANITÁRIA DO CAMARÃO DA MALÁSIA
(Macrobrachium rosenbergii) PRODUZIDO EM SISTEMA ORGÂNICO....................73
RESUMO...............................................................................................................................73
15. INTRODUÇÃO.........................................................................................................73
16. OBJETIVOS..............................................................................................................75
16.1. OBJETIVO GERAL..................................................................................................75
16.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................76
17. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS...........................................................76
18. RESULTADOS E DISCUSSÃO..............................................................................78
19. CONCLUSÃO...........................................................................................................82
20. O ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE DA PENHA NO DECORRER DO
PROJETO.............................................................................................................................83
REFERÊNCIAS....................................................................................................................85
22. CONCLUSÃO FINAL..............................................................................................86
23. CONSIDERAÇÕES FINAIS GERAIS...................................................................87
LISTA DE QUADRO
Quadro 01: Ingredientes utilizados para a fabricação da ração e suas respectivas
porcentagens na mistura............................................................................................................47
Quando 02: Valor de cada item do modulo de produção bem como o valor total da
implantação do modulo de produção........................................................................................69
LISTA DE FIGURA
Figura 01: Ilustração da morfologia externa do camarão de água doce Macrobrachium
rosenbergii (De Man, 1879)......................................................................................................20
Figura 02. Mapa e foto aérea das praias do Seixas e Penha.....................................................42
Figura 03: Sequência da montagem do sistema de filtragem da água do viveiro. (A) caixa
vazia; (B e C) camadas de substratos de diferentes dimensões que foram adicionadas do maior
para o menor; (D) Sistema finalizado, mostrando a disposição das caixas de água.................44
Figura 04: Sistema de tratamento da água do cultivo de camarão: A) Detalhe da caixa de
tratamento físico e biológico; B) Água retornando para o cultivo após tratamento; C) Visão
geral do sistema de cultivo desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................45
Figura 05: Análises físicas e químicas sendo realizadas no sistema de produção do camarão
M. rosenbergii (De Man, 1879) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar
da Praia da Penha (PB)..............................................................................................................45
Figura 06: Produção da primeira remessa de ração produzida junto à comunidade da Penha
(PB), na Associação de Pescadores e Produtores de Frutos do Mar da Penha. (A)
Processamento dos resíduos para homogeneização e formação dos péletes; (B) Péletes
disposto ao Sol para secar.........................................................................................................47
Figura 07: Aclimatação das PLs de camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) antes da
liberação dos organismos no viveiro na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia
da Penha (PB)............................................................................................................................49
Figura 08: Esquema da estrutura de tijolos com cerâmicas colocadas nas réplicas, para
aumentar a área do viveiro e também promover áreas de esconderijos para os camarões.......50
Figura 09: Concentrações de Amônia ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................55
Figura 10: Concentrações de Fosfato ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................56
Figura 11: Concentrações de Nitrato ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................57
Figura 12: Concentrações de Nitrito ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................58
Figura 13: Fotografia de espécimes do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879 ) do sistema
de cultivo desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha
(PB); (A) Primeira biometria, (B) Quarta biometria e (C) Sexta biometria (maiores
exemplares medidos).................................................................................................................60
Figura 14: Comprimento do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento com a
ração orgânica (CO) e convencional (CC) ao longo de nove messes de observação,
desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB)............60
Figura 15: Largura do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento com a ração
orgânica (CO) e convencional (CC) ao longo de nove messes de observação, desenvolvido na
Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB).......................................61
Figura 16: Biomassa (em gramas) do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento
com a ração orgânica (CO) e convencional (CC) ao longo de sete messes de observação,
desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB)............62
Figura 17: Fêmea ovada pertencente ao sistema de tratamento orgânico, na imagem é
possível visualizar a porção ventral do animal e na região ventral de coloração laranja está a
câmara de incubação dos ovos. A coloração é devido ao estágio de maturação avançado dos
ovos...........................................................................................................................................67
Figura 18: Estágios larvais do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) e seu
desenvolvimento de LI a LVI, desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................68
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Variação de oxigênio dissolvido, temperatura e pH no tratamento convencional e
orgânico no cultivo de M. rosenbergii (De Man, 1879) desenvolvido na Associação de
Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB)...............................................................54
Tabela 02: Sobrevivência do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento
convencional e no orgânico, desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB)..................................................................................................................64
Tabela 03: Triagem dos camarões da espécie M. rosenbergii (De Man, 1879), cultivados na
Penha (PB), quanto ao seu porte pequenos (com cerca de 6 centímetros de comprimento) ou
grandes (com cerca de 13 centímetros de comprimento)..........................................................67
Tabela 04 – Contagem Padrão Média de Microrganismos Mesófilos Aeróbios Estritos e
Facultativos Viáveis, expressos em UFC/g. CMI = Camarão da Malásia cultivado com ração
industrial; CMO = Camarão da Malásia cultivado com método orgânico; CMP = Camarão
obtido do mercado público; CS = Camarão obtido no supermercado........................................79
Tabela 05 – Contagem Padrão Média de Microrganismos Heterotróficos Psicrotróficos,
expressos em UFC/g. CMI = Camarão da Malásia cultivado com ração industrial; CMO =
Camarão da Malásia cultivado com método orgânico; CMP = Camarão obtido do mercado
público; CS = Camarão obtido no supermercado.........................................................................80
Tabela 06 – Resultado da Contagem Média de Coliformes Totais, expressos em UFC/g. CMI
= Camarão da Malásia cultivado com ração industrial; CMO = Camarão da Malásia cultivado
com método orgânico; CMP = Camarão obtido do mercado público; CS = Camarão obtido no
supermercado..................................................................................................................................81
Tabela 07 – Resultado da Contagem Média de Coliformes Termotolerantes, expressos em
UFC/g. CMI = Camarão da Malásia cultivado com ração industrial; CMO = Camarão da
Malásia cultivado com método orgânico; CMP = Camarão obtido do mercado público; CS =
Camarão obtido no supermercado.................................................................................................82
APRESENTAÇÃO
A dissertação buscou discorrer sobre toda a dinâmica do setor da carcinicultura tendo
como ponto de partida o entendimento geral sobre o setor e a implicação do desenvolvimento
de novas tecnologias para a otimização do cultivo tendo em vista a promoção de um
desenvolvimento sustentável do setor. Sendo assim alia a dinâmica ambiental, social e
econômica. Sua implantação surge como alternativa econômica para a comunidade da Penha,
comunidade que tem sua trajetória histórica atrelada com a atividade da pesca e que a maior
parte dos moradores não encontra-se em situação econômica favorável. Há também atrelado
a esse fator a emergência para o desenvolvimento de métodos menos poluentes de produção
aquícola, sendo assim nesta pesquisa desenvolveram-se tecnologias de cultivo menos
poluentes, tendo em vista que o setor é responsável por impactos ambientais catastróficos. A
proposta apresentada, é para cultivo de pequena escala, produção familiar.
Para abranger toda esta dinâmica a dissertação foi subdividida em três capítulos, em
que o primeiro aborda os temas geradores da pesquisa e traz o referencial teórico. O segundo
capítulo faz uma análise detalhada da dinâmica do cultivo destacando: a eficiência do sistema
de recirculação e tratamento da agua, na manutenção da qualidade d’água; todo o
desenvolvimento do camarão Macrobrachium rosenbergii no cultivo desde o estágio de pós
larvas até o tamanho comercial, reprodução e desenvolvimento larval. No terceiro capítulo o
camarão produzido foi avaliado quanto às suas condições sanitárias para a determinação das
condições de qualidade de consumo do produto.
15
1. INTRODUÇÃO GERAL
A aquicultura é uma atividade que tem-se desenvolvido no mundo, tendo a
carcinicultura como uma área que tem tido grande repercussão e interesse social e econômico.
A carcinicultura (criação de camarão em cativeiro) é uma área de produção que tem a sua
prática muito explorada pelo mercado pesqueiro. Esta atividade tem-se disseminado pelas
regiões estuarinas do Nordeste brasileiro, e vem ocasionando a degradação de grandes
porções destes ambientes que têm perdido a sua estrutura e função (BNDES, 2004). Para
tanto, faz-se necessário a criação de metodologias que favoreçam o cultivo destes organismos
sem que esta atividade gere danos graves e/ou permanentes nos ecossistemas. Por outro lado,
os estuários onde a carcinicultura é praticada estão poluídos e podem apresentar metais
pesados, outros poluentes, microorganismos e cianotoxinas, o que coloca em questão a
qualidade do produto (ANA,2005), o que requer pesquisas que permitam o cultivo do
camarão fora dos estuários/mangues, na tentativa de uma produção orgânica.
Um sistema de produção que vise a menor troca das águas, reduza os danos que os
dejetos causam ao ambiente e em contrapartida, as proliferações microbiológicas que crescem
no cultivo, que traga um incremento alimentar natural, diversificando a dieta e assim suprindo
melhor as carências nutricionais que o indivíduo necessita para o seu pleno desenvolvimento,
são desejáveis num cultivo sustentável. As comunidades microbiológicas também atuam
como agente de controle da qualidade de água bem como na regulação dos agentes
patogênicos que podem instalar-se na cultura (CARVALHO, 2010).
Três parâmetros são considerados na aquicultura que visa uma atividade sustentável: o
lucro da produção, a conservação do meio ambiente para a preservação dos recursos naturais e
a promoção do desenvolvimento social e econômico de uma dada região, melhorando a
qualidade da vida da comunidade (VALENTI, 2002).
16
A carcinicultura tradicional utiliza a troca constante de água, e este efluente é em sua
grande maioria despejado nos corpos de água adjacentes. Esta prática tem acarretado grandes
prejuízos para os ecossistemas naturais, devido ao aumento na concentração de nutrientes, o
que provoca alterações na estrutura das comunidades (XIMENES, VIDAL e FEITOSA 2011).
Apesar dos camarões de água doce terem uma posição inferior no mercado, eles
apresentam uma maior resistência a doenças e têm o seu manejo mais simples, estando livres
da água salgada no período de engorda e sua produção pode ser adaptada a pequenas
propriedades (RODRIGUES, 2011). Por outro lado, produções de água doce, poderão ser
realizadas em qualquer parte do estado, podendo após a elaboração de um protocolo viável de
produção, ser disseminado por todo o estado, incluindo pelas áreas do semiárido, como opção
de produção animal.
O camarão é um fruto do mar que agrega muito valor comercial, portanto tem sido
intensamente cultivado e capturado em ambiente natural. Sendo assim, os estoques de
camarões têm sido explorados intensamente, e os seus habitats têm sido amplamente
degradados, ameaçando as populações nativas (RODRIGUES, 2011). Nesta perspectiva a
carcinicultura sustentável é uma alternativa a este panorama.
A ração (alimento artificial) para o cultivo de camarão de água doce é responsável por
aproximadamente 50% dos custos com a sua produção (RANGEL, 2006). O alimento vivo,
ou seja grupo de organismos que cressem no viveiro, pode atingir até 75% da dieta alimentar
dos camarões em sistemas semi-intesivos (RODRIGUES, 2011). Este tipo de alimento
também auxilia na manutenção da qualidade da água, pois os nutrientes que são perdidos na
ministração da ração são reutilizados pelas comunidades bentônicas e planctônicas, que se
desenvolve no cultivo. Portanto, inserir técnicas que utilizem alimento vivo e rações
domésticas (que utilizam resíduos na sua fabricação) reduzem os gastos com a produção,
17
aumentando os lucros, e ao mesmo tempo garantem um sistema de produção mais sustentável
(RODRIGUES, 2011).
Desenvolver uma ração específica a partir dos resíduos orgânicos provenientes da
própria comunidade, adaptando-a às necessidades específicas do organismo a ser cultivado,
tanto nas suas propriedades nutricionais quanto na sua estrutura física é desejável, para o
sucesso da criação.
Devido à sobrepesca, e ao aumento da poluição nas águas, as comunidades pesqueiras
têm sofrido com a redução dos estoques pesqueiros, e assim boa parte dos seus integrantes
têm-se desvinculado do trabalho com a pesca (descendentes) e os que permanecem a dedicar-
se exclusivamente a esta atividade, têm enfrentado problemas em manter os mesmos
rendimentos. Sendo assim, a implantação de um sistema de produção orgânico surge como
uma alternativa a este panorama pois: promove um incremento na renda dos integrantes, pode
reduzir a exploração dos estoques pesqueiros (diminuindo a pressão sobe o ecossistema) e
assim garantir que o mesmo possa se reestabelecer, e desenvolver tecnologias sustentáveis de
produção, que causem menos danos ao ambiente.
O projeto está inserido em um contexto social específico e visa o desenvolvimento, em
conjunto com a Associação de pescadores, de métodos e técnicas sustentáveis para o cultivo
de camarão de água doce. Apresenta um alto potencial de promoção de educação ambiental
pois reestabelece novas formas de vínculo com o ambiente e nas suas relações cotidianas com
os resíduos que são produzidos, assim pode atuar como instrumento de promoção de educação
em ambiente não-formal. De forma intrínseca a pesquisa é interdisciplinar e relaciona as
seguintes áreas de conhecimento: Social, econômico, tecnológico, biológico, químico e
educacional. A pesquisa foi então dividida em dois capítulos listados abaixo:
CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO DO CAMARÃO DA MALÁSIA
(Macrobrachium rosenbergii) EM SISTEMA DE CULTIVO ORGÂNICO
18
CAPITULO II – ANÁLISE SANITÁRIA DO CAMARÃO DA MALÁSIA (Macrobrachium
rosenbergii) PRODUZIDO DE FORMA ORGÂNICA
No final do trabalho será abordado a conclusão e as considerações gerais do trabalho.
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
Desenvolver métodos e técnicas para o sistema de produção orgânica de camarão da
Malásia (Macrobrachium rosenbergii), juntamente com a Associação de Produtores de Frutos
do Mar da Praia da Penha. Localizado em João Pessoa no estado da Paraíba, na região
nordeste do Brasil.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Desenvolver um sistema de recirculação de água e tratamento dos resíduos proveniente do
cultivo.
Testar e avaliar o desenvolvimento do camarão da Malásia em sistema de produção
sustentável;
Comparar a qualidade deste camarão, com outros produzidos em outras fazendas, ao nível de
condições sanitárias.
3. HIPÓTESE
É possível a produção orgânica do camarão gigante da Malásia Macrobrachium rosenbergii
(De Man, 1879) em sistema de recirculação de água.
19
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1. BIOLOGIA DO CAMARÃO DA MALÁSIA Macrobrachium
rosenbergii (De Man, 1879)
4.1.1. Sistemática
O M. rosenbergii (De Man, 1879) de acordo com Pinheiro e Hebling, (1998, p. 21), é
descrito no sistema de classificação zoológica como pertencendo ao:
Reino Animalia
Filo Arthropoda
Subfilo Crustacea Pennant, 1777
Classe Malacostraca Latreille, 1806
Subclasse Eumalacostraca Grobben, 1892
Superordem Eucarida Caiman, 1904
Ordem Decapoda Latreille, 1803
Subordem Pleocyemata Burkenroad, 1963
Infra-ordem Caridea Dana, 1852
Superfamília Palaemonoidea Rafinesque, 1815
Família Palaemonidae Rafinesque, 1815
Subfamília Palaemoninae Dana, 1852
Gênero Macrobrachium Bate, 1888
Espécie Macrobrachium rosenbergii (De Man, 1879)
A primeira descrição feita para M. rosenbergii foi por De Man (1879), e denominado
de Palaemon rosenbergii e em 1950 foi reclassificado para o gênero Macrobrachium por
Holthuis. As características gerais do gênero são: ausência dos espinhos supraorbital e
20
branquiostegal, presença do espinho hepático e palpo mandibular, e dáctilo dos últimos três
pereópodos do tipo simples. As características morfológicas específicas da espécie M.
rosenbergii (De Man, 1879) são: rostro longo, curvado para cima, crista basal distintamente
elevada, longa ou com a metade distal da margem superior nua e margem inferior com 8-14
dentes; carpo do quelópodo distintamente maior que o mero; e telso ultrapassando a
extremidade dos espinhos posteriores mais longos (PINHEIRO & HEBLING, 1998)
(FIGURA 01).
Figura 01: Ilustração da morfologia externa do camarão de água doce Macrobrachium
rosenbergii (De Man, 1879).
Fonte: FAO, 2009.
21
4.1.2. Ecologia
Os machos da espécie M. rosenbergii (De Man, 1879) apresentam diferenciações
morfológicas, e são conhecidos três morfotipos dentro da espécie que são segundo Banu et al.
(2015) e Goldberg & Oshiro (2000): camarão macho de garra azul (BC) são os maiores,
possuem o domínio territorial e são sexualmente ativos; camarão macho de garra laranja (OC)
têm tamanho médio (ligeiramente menor), e são inativos sexualmente na presença de BC; e o
macho pequeno (SM) suas quelas não apresentam coloração definida, são os menores na
população de machos, são oportunistas em relação à copula aproveitam-se da corte realizado
pelo BC para introduzir seu espermatóforo (BANU et al., 2015; GOLDBERG & OSHIRO,
2000).
Ao avaliá-los geneticamente Banu et al. (2015) constataram que os três grupos de
machos têm diferença significativa, mas que as diferenças genéticas são maiores entre os
machos pequenos e os machos de garra azul e que a menor diferenciação genética está entre
os grupos de machos garra azul e os machos de garra laranja.
No que tange à produção em cativeiro desses organismos, os estudos genéticos vêm a
contribuir para que haja uma manipulação da população cultivada a fim de selecionar ou
manter os caracteres de maior interesse da produção (BANU et al., 2015), bem como da
diversidade genética, para a manutenção do maior número possível de alelos na população a
fim de não ter problemas com baixo fluxo gênico que pode vir a gerar populações mais
sensíveis a variações ambientais e suscetíveis a pragas e doenças genéticas.
M. rosenbergii (De Man, 1879) pode chegar a atingir 32cm de comprimento e 500g de
massa corpórea (é considerado a maior espécie de água doce). A sua distribuição geográfica
localiza-se nas áreas subtropicais com registros confirmados nos países: Paquistão, Índia,
Ceilão, Burma, Tailândia, Malásia, Indonésia, Camboja, Vietnã, Austrália e em várias ilhas
dos oceanos Índico e Pacífico (PINHEIRO & HEBLING, 1998).
22
Nos estágios larvais que vão de I (menos de 2mm de comprimento) ao XI (atingem
até 8mm em metamorfose para pós larva), o M. rosenbergii (De Man, 1879) tem a locomoção
livre nadante na coluna d’água em posição dorso ventral invertida e apresenta comportamento
alimentar bem definido para a seleção e ingestão de alimento, bem como para a sua
percepção. A metamorfose em PL pode ocorrer em 16 dias (em casos isolados), mas em
média em viveiros leva de 32 a 35 dias, sob condições ambientais adequadas, com
temperatura ótima entre 28-31ºC (FAO, 2009). Barros & Valenti (1997), ao avaliar tais
comportamentos nas larvas do camarão da Malásia identificaram que os mesmos demonstram
dificuldades para a localização de alimento à distância, atributo que provavelmente está
relacionado com o fato do desenvolvimento das antenas darem-se no decorrer dos estágios
larvais (estando desenvolvida apenas nos últimos estágios). Nesse experimento foram testadas
3 dietas alimentares que consistiam de duas alimentadas com matéria inerte e uma com
organismos vivos (náuplios de artêmia), sendo identificado que a partir do estágio I (estágio
em que a alimentação é estritamente vitelínica) todas as dietas foram ingeridas, porém a
aceitação e ingestão sem a regurgitação de matéria inerte (ração seca ou fresca) deu-se com
maior eficiência nos estágios larvais mais adiantados. O fato de que em todos os estágios
houve a ingestão de todas as dietas oferecidas sugere que as larvas desta espécie são pouco
seletivas. Também foi possível identificar, no estudo citado acima, que o comportamento
alimentar está diretamente relacionado com a forma com que as larvas exploram o seu meio.
A captura do alimento está associada à movimentação de flexão abdominal (fato
recorrente que antecedia cada captura), os maxilípedes por sua vez demonstram estar
relacionados com a seleção do alimento, pois após ser manuseado por este apêndice várias
partículas foram rejeitadas e no que tange a ingestão do alimento os estímulos mecânicos e
químicos mostraram-se imprescindíveis. Nos estágios larvais mais avançados a seletividade e
rejeição das partículas inertes foram sendo reduzidas o que identifica uma crescente mudança
23
nos hábitos alimentares assumindo uma dieta muito mais onívora, o que é característico do
indivíduo pós larval e adulto (BARROS & VALENTI, 1997).
Na fase juvenil e adulta é um animal bentônico (tem a sua vida atrelada ao substrato
aquático) é capaz de nadar curtas distâncias com rapidez, através dos batimentos dos
apêndices abdominais, estratégia utilizada em condições de fuga e/ou captura de alimento.
São animais onívoros com dieta bem generalista e são muito vorazes, alimentando-se de:
vermes, moluscos, larvas, insetos aquáticos, algas, plantas aquáticas, folhas tenras, sementes e
frutas; alimenta-se geralmente ao amanhecer e/ou ao anoitecer, sob condições de estresse
podem cometer o canibalismo (PINHEIRO & HEBLING, 1998).
A temperatura ideal para o pleno desenvolvimento de M. rosenbergii (De Man, 1879)
está na faixa de 28 a 30°C destacado por Ibrahim (2011) e Valenti (1986), temperaturas
menores que 15ºC podem ser letais. Para minimizar os efeitos das baixas temperaturas os
camarões migram para baixas profundidades, onde a irradiação solar é maior, este
comportamento migratório promove o aumento da temperatura corpórea (PINHEIRO &
HEBLING, 1998), sendo uma estratégia de autopreservação.
4.2 CARCINICULTURA
4.2.1 Tecnologias Aplicadas À Carcinicultura
Em ambientes tropicais as matrizes de M. rosenbergii (De Man, 187) para a
reprodução são obtidas de camarões capturados diretamente das lagoas de engorda. Nesta
técnica as fêmeas são utilizadas apenas uma vez para a reprodução. Em contrapartida nas
regiões temperadas os reprodutores têm que ser mantidos em ambientes com temperatura
controlada (em laboratórios). A obtenção de ovos também é possível através da pesca e/ou
24
captura de fêmeas ovadas, que estão livres na natureza em regiões em que a espécie é nativa,
FAO (2009).
A técnica utilizada na produção de larvas para o cultivo vai depender então da região
onde o cultivo será instalado, da tecnologia, infraestrutura e consequentemente do poder
aquisitivo do investidor. Na terceira forma (onde as fêmeas ovadas são capturadas em seu
habitat natural) a aquisição de ovos para a produção larval vai depender de inúmeros fatores
ambientais, tais como a probabilidade de obtenção desta fêmea ovada, das condições do
ambiente onde estes organismos estão dispostos e isto acarreta em uma codependência do
ambiente e não reduz a exploração das comunidades nativas. Sendo assim a viabilidade do
cultivo é comprometido, economicamente e ambientalmente, resultando em um sistema não
sustentável (FAO, 2009).
Para a indução reprodutiva é registrado que com machos BC utiliza-se a relação de 1-
2 para 20 fêmeas, e com machos OC a relação é de 2-3 para 20, em ambos os casos, a
densidade é de 1 camarão por 40 litros de água. A fecundação é externa e só ocorre algumas
horas após a cópula, quando os óvulos migram para a câmara incubadora, localizada na parte
ventral do abdômen. Durante três semanas os ovos permanecem aderidos ao abdômen da
fêmea, para completar o desenvolvimento embrionário. A maturidade dos ovos pode ser
identificada através da mudança de coloração, que passa de cinza para alaranjado nos últimos
três dias de desenvolvimento. Podem produzir de 5000 a 100000 ovos por desova, sendo
eclodidos na forma de larvas livres nadantes (zoea) (FAO, 2009).
Técnicas que visem o melhoramento da eficiência da reprodução de camarões em
cativeiro, veem sendo amplamente difundidas e com o camarão M. rosenbergii (De Man,
1879) não é diferente. Na pesquisa realizada por Goldberg & Oshiro (2000) foi utilizada a
técnica de eletroejaculação para a obtenção de espermatóforos a serem utilizados na
inseminação artificial, o uso desta técnica também proporcionou a obtenção de dados
25
referentes ao potencial ejaculatório dos diferentes tipos morfológicos de machos adultos. Eles
obtiveram os seguintes resultados:
Com o uso de apenas um teste por animais que são recém-despescados dos viveiros de
engorda, promove-se um universo maior de disponibilidade de machos viáveis comparando
com o armazenamento de animais em laboratório.
Sendo assim, obtém-se uma maior quantidade de espermatóforos para a fertilização de fêmeas
(através de sêmen pré estocado)
Promove-se assim o requerimento de espaços menores para as instalações; acessibilidade ao
material gênico masculino; viabilidade do material gênico, pois animais enclausurados
tendem a reduzir a oferta de espermatozoides (acarretando em um empobrecimento do
material gênico); disponibilidade de espermatóforos em épocas do ano de baixa reprodução.
A voltagem de 9 volts mostrou-se eficiente na indução artificial de ejaculação em machos de
M. rosenbergii.
Os morfotipos BC, OC e SM são férteis e seu sêmen pode ser obtido através da
eletroejaculação, portanto os três podem ser utilizados na inseminação artificial.
Os machos BC e OC apresentam eficiência ejaculatória similar, logo o que os difere quanto à
reprodução é o comportamento animal.
No trabalho de Goldberg, Albuquerque & Oshiro (2000) cujo foco foi para a qualidade
do material gênico que é estocado pelos laboratórios de fertilização, através do método de
criopreservação e a comparação de dois tratamentos, no primeiro o espermatóforo era obtido
através da eletroejaculação e conservado em nitrogênio líquido ( em solução à base de gema
de ovo, para a conservação do material); no segundo tratamento, o animal inteiro foi
congelado no congelador, e o corpo do animal serviu de meio de conservação do material
gênico; como controle foram usados espermatóforos recém ejaculados. Como resultado o
estudo identificou que o congelamento do animal apresenta uma maior eficiência (de 79,2%)
26
se comparado com o congelamento de espermatóforos em nitrogênio (64,8%), porém mesmo
tento resultados inferiores ao controle (90,8%) ambas as técnicas mostraram-se eficientes na
preservação de material gênico para a fertilização (por no mínimo 12 semanas). Sendo assim,
a abordagem que carece de menos investimentos (o controle??? Descrever como era) tem
demostrado ser mais adequado do ponto de vista econômico e biológico.
O camarão da Malásia depende de água salobra para completar o seu ciclo de vida
(SEBRAE/ES, 2005). Assim, nos períodos de reprodução os adultos reprodutores são
transferidos para outros cultivos que contêm água salobra.
As larvas recém-nascidas ou zoea, apresentam onze estádios de desenvolvimento. As
larvas na fase I correspondem aos estágios iniciais, entre dez e doze dias, devem ser mantidas
com uma densidade entre 300 e 500 indivíduos por litro; posteriormente, na fase II, sua
densidade diminui para no máximo 120 indivíduos por litro. As larvas são planctônicas e no
ambiente natural alimentam-se basicamente de zooplâncton (larvas de insetos, nemátodos,
rotíferos, cladóceros, copépodos, etc.). Em laboratório, até a fase de Zoea I as larvas não
devem ser alimentadas, pois consomem o próprio vitelo. A partir de 2 ou 3 dias (Zoea II)
devem ser alimentadas. Todos estes estágios levam aproximadamente 25 a 35 dias
(SEBRAE/ES, 2005; FAO, 2009).
Quando o desenvolvimento da última larva ZOEA XI completa-se ocorre a
metamorfose para pós-larvas, nesta fase o indivíduo assume características próximas de um
camarão adulto. O desenvolvimento no estágio larval depende do tipo de cultivo e
alimentação. Quando observado que mais de 90% das larvas já sofreram metamorfose e estão
na fase de pós-larva, deve-se então iniciar a aclimatação dos animais para a água doce,
adicionando gradativamente a água doce para evitar choques de salinidade que deve chegar a
zero. Quando o camarão passa a pós-larva passa a ser bentônico (SEBRAE/ES, 2005).
27
A larvicultura necessita de tanques para as mais diversas funções: tanque para
armazenamento de água doce; tanque para armazenamento de água salgada; tanque de mistura
e preparação de água salobra; tanque de acasalamento; tanque de eclosão; tanque de
desenvolvimento de larvas; tanque de estocagem das pós-larvas (SEBRAE/ES, 2005).
A inserção de tecnologias que promovem o menor dano ambiental são pontos críticos
para uma efetiva sustentabilidade do setor. Um dos grandes impactos da carcinicultura é o
banho com metabissulfito, por altura da despesca, para conservar o camarão, mas este produto
é altamente tóxico pois acelera o consumo de oxigênio e reduz o pH da água causando a
morte da fauna e flora aquática (pela acidificação e déficit de oxigênio), e é descartado no
ambiente após o seu uso. Figueiredo et al. (2006, p. 240) descreveram que “Os efluentes das
soluções de metabissulfito, quando adequadamente tratados, podem ser dispostos no solo com
um menor impacto sobre a microbiota”, para mitigar o seu dano a solução contendo
metabissulfito deve-se aerar e corrigir o pH.
Outro método utilizado para reduzir os danos da carcinicultura e é o usado para o
tratamento das águas são as lagoas de sedimentação, que como já citado acima, apenas
decantam o material particulado, mas têm pouco efeito nos nutrientes dissolvidos na água.
Outros métodos devem ser adicionados, para aumentar a eficácia do tratamento. Crispim et
al., (2009) propõem o uso de biofilme para a biorremediação aquática, visto que tem um
grande potencial para a retirada de nutrientes da água. Souza (2015) propõe o uso de
macrófitas e biofilme, como tratamento biológico de águas de estações de tratamento de
esgotos. Usando o método de biofilme, devido à sua capacidade de absorver nutrientes da
água é possível reciclar a água do sistema, reduzindo as trocas de água pois só é preciso repor
a que é perdida através da evaporação. O próprio biofilme serve de alimento para os
camarões (ROLIM, 2015). Nos sistemas convencionais cerca de 30% da água é trocada a cada
três dias. Sendo assim com o uso de métodos de tratamento e recirculação de água mantém-se
28
cerca de 96% (valor referente a todo o período de cultivo, desde a semeia até a despesca) da
água necessária para um bom desenvolvimento dos organismos a serem cultivados,
indiretamente há também uma redução nos custos da produção (PÉREZ-ROSTRO, PÉREZ-
FUENTES & HERNÁNDEZ-VERGARA, 2014). A troca dessa água com tanta frequência,
acarreta na descarga para os ambientes de água rica em nutrientes, o que favorece o aumento
do estado trófico destes sistemas. Estudos realizados em sistemas de carcinicultura não
detectam impactos, porque a troca de água frequente não elimina grandes quantidades de
nutrientes de cada vez, mas esses estudos não analisam o efeito cumulativo, principalmente
em áreas que tenham menor circulação de água, como em algumas baías ou gamboas em
mangues, em que geralmente os viveiros estão localizados (ANGOS, 2009).
Para tanto, a eficiência da carcinicultura compreende a manutenção dos parâmetros
físicos e químicos da água, que funciona em uma dinâmica que engloba os seguintes fatores: a
espécie a ser comercializada, a capacidade filtradora das microalgas e o potencial de
transformação de metabólicos nitrogenados pelas bactérias que os tornam consumíveis ao
plâncton. A criação de camarão de água doce permite a sua adaptação a diversas condições de
cultivo, sendo realizada em uma variedade de ambientes tais como: “ cisternas, valas de
irrigação, gaiolas, canetas, reservatórios e águas naturais; a forma mais comum sendo tanques
de terra” (FAO,2009).
Na metodologia convencional a dinâmica de criação é cíclica. O método contínuo as
lagoas e/ou tanques escavados são mantidos por tempo determinado, com despescas e
reabastecimento regulares. Nos lotes a colheita é realizada uma única vez, sendo
reabastecidos os sistemas após a colheita. Há predominância no mercado produtor de
monocultivos, mas o policultivo vem sendo realizado de forma pontual, como é o caso da
China que vem fazendo o cultivo de camarão de água doce com peixes (carpas) e do Vietnã
que combinou a criação de camarão com a produção vegetal (arroz) (FAO, 2009).
29
Na engorda, os camarões podem ser alimentados através da ração comercial ou por
rações alternativas, cuja produção é feita com insumos oriundos da agricultura ou resíduos
domésticos, barateando a produção. Na última alternativa pode-se utilizar um ou vários
ingredientes e os mesmos são processados com o uso de moinhos e/ou picadores de carne, a
mesma pode ser ministrada na sua forma úmida ou após a desidratação ao sol. O balanço de
nutrientes recomendados é de 5% de lipídios, cerca de 33% de proteína e a proporção de 2:1
em FCR (que é a taxa de conversão alimentar = ingestão de alimento seco / peso corporal
aumento) e de 3:1 em dietas secas (FAO, 2009).
Como ocorre o crescimento desigual da população em M. rosenbergii, devido à
estratificação dos machos, para otimizar a produção recomenda-se a manipulação dos
cultivos. O macho SM cresce pouco na presença de um macho BC, e quando o macho BC é
retirado do ambiente o SM sofre mudas e atinge a estrutura morfológica de um macho OC e
posteriormente de um macho BC. Sendo assim, promover os abates contínuos de machos BC
nos tanques de engorda promove o crescimento dos demais indivíduos aumentando a
produtividade final (FAO, 2009).
A qualidade do produto vai depender de como o mesmo é manuseado, portanto é
importante evitar o esmagamento dos camarões no processo de colheita. Caso a venda não
seja com o animal vivo eles devem ser mortos imediatamente em água e gelo a 0º C e
posteriormente tratados com água clorada (para realizar a desinfeção); os que são vendidos
ainda vivos devem ser transportados em água com cerca de 20ºC e com saturação de oxigênio.
Na venda de camarões frescos os mesmos não devem ser mantidos congelados por mais de
três dias, e os que são congelados devem passar pelo processo posterior de congelamento a -
10ºC e seu armazenamento deve ser a -20ºC (FAO, 2009). Este conjunto de medidas promove
a conservação do animal, evitando que o mesmo chegue à mesa do consumidor em condições
inadequadas ao consumo.
30
Quanto aos parâmetros ambientais, os viveiros de engorda foram avaliados nas
fazendas de camarão. Cunha (2005) constatou que o processo de calagem do solo (que tem
como objetivo correção do pH e estimular o processo de mudas) permite que o viveiro se
mantenha alcalino durante todo o ciclo. Porém em muitos casos o pH chega a ultrapassar os
limites desejados. Contudo também foi observado que os teores de amônia (na forma livre) e
as altas temperaturas da região nordeste são fatores que contribuem para uma baixa
sobrevivência nos cultivos (menos de 65%) (CUNHA, 2005).
4.2.2 Impactos Ambientais Causados Pela Carcinicultura
O impacto ambiental em sua concepção mais ampla é qualquer alteração que ocorra no
ambiente, sendo ele natural ou antropogênico que venha a acarretar em configurações
benéficas ou maléficas (NBR ISO14001 - requisito 3.4.1). A Resolução do CONAMA n.º 01
de 23/01/86 destaca que o impacto ambiental é o termo utilizado para designar qualquer
alteração (das propriedades físicas, químicas e biológicas) do meio ambiente provocada
através da atividade antropogênica que de forma direta ou indireta irá afetar a saúde, a
segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as
condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade e disponibilidade dos recursos
ambientais.
Entre os principais problemas apresentados pela carcinicultura, merece especial
destaque os que são causados pelos efluentes das fazendas de cultivo de camarão,
principalmente se não forem tratados antes de seu descarte no corpo receptor. São resultado
da troca diária da água dos viveiros e, em quantidades bem maiores, quando os viveiros
precisam ser esvaziados entre os ciclos de produção para realização da despesca. Esse
31
aumento de nutrientes ocasiona problemas ambientais e dentre estes os mais graves são a
eutrofização e a consequente depleção nos teores de oxigênio dissolvido (CUNHA, 2005).
Sendo assim, há carência na adoção de métodos de tratamento do efluente que devem ser
aplicados nos viveiros. O referido trabalho de Cunha (2005) elenca que as bacias de
sedimentação devem ser o primeiro processo de tratamento da água dos viveiros, porém
apenas 18,55% das fazendas possuem tal sistema de tratamento e, em muitas das que as têm
foi constatado que o sistema não funciona adequadamente.
As bacias de sedimentação desempenham a função de remoção de material em
suspensão, porém o seu efeito sobre os materiais dissolvidos é ineficaz. É preciso que haja
uma constante manutenção destas lagoas pois elas tendem a assorear rapidamente perdendo a
sua funcionalidade. Outra característica que leva à ineficiência desse sistema de tratamento é
o tamanho reduzido das bacias de sedimentação, comparando com os viveiros de criação e o
fluxo de água, que não levam em consideração os períodos de chuva, o que ocasiona em
pequeno período de permanência da água na bacia, para sua efetiva ação de decantação e
remoção de partículas (CUNHA, 2005).
Um dos grandes problemas quando se cultivam espécies exóticas está justamente na
possibilidade das mesmas escaparem do sistema de cultivo e colonizarem os ambientes
naturais, ocasionando o desequilíbrio desses ecossistemas “invadidos” através da: competição
com espécies nativas (e de dominância caso sua rudicidade seja superior às espécies da
região); ser uma espécie parasita ou que gere metabólitos tóxicos ao ambiente entre outros
fatores. Esse é o caso da espécie de camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) que foi
introduzida no Brasil para ampliar e melhorar a oferta da produção de camarão. A mesma já
foi registrada e capturada em ambiente natural, comprovando assim que está ocorrendo o
escape desses animais dos seus criadouros, embora ainda não haja estudos que comprovem o
seu impacto no ambiente e em outras espécies nativas.
32
Na pesquisa desenvolvida por Oliveira et al. (2011), os autores constataram que há
várias fugas de camarões para o ambiente natural local, mas na maioria dos casos estes
ambientes não dispõem de habitat adequado para que o camarão complete o seu ciclo de vida,
sendo assim, nestas situações o problema é mais simples de ser resolvido e os impactos sob a
cadeia alimentar da região são menores. A questão agrava-se quando estas fugas ocorrem em
áreas que favorecem o estabelecimento dessa espécie, como é o caso da costa da região norte
do Brasil, que apresenta ampla rede de estuários (ambiente no qual estes organismos se
reproduzem) com características adequadas ao seu povoamento.
O segundo panorama de invasão ambiental também foi confirmado, ressaltando que já
está ocorrendo reproduções em ambiente natural e que os espécimes ferais (indivíduos
domesticados que em exposição a ambientes naturais por algum tempo passam a ter
comportamento de animais silvestres, carácter de adaptação ótima ao novo habitat) podem vir
a colonizar desde a costa do Maranhão no Brasil até o delta do Orinoco, na Venezuela (essa
estimativa foi realizada através do software Maxent, que avaliou áreas possíveis de serem
colonizadas) (OLIVEIRA et al., 2011).
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V Nº 15, Setembro de 2011.
36
6. CAPÍTULO I – DESENVOLVIMENTO DO CAMARÃO DA
MALÁSIA (Macrobrachium rosenbergii) EM SISTEMA DE
CULTIVO ORGÂNICO
RESUMO A carcinicultura convencional utiliza técnicas que provocam danos ambientais em
larga escala, o método de contenção de impactos não tem sido aplicado de forma satisfatória,
há ainda muita precariedade na legalização e fiscalização das instalações aquícolas. Isso
ocasiona instalações em áreas inadequadas, o que destaca a carência de zoneamento para a
determinação de regiões mais adequadas que causem menos danos. Sendo assim, diante deste
panorama buscou-se desenvolver métodos e técnicas para um sistema de produção orgânica
do camarão da Malásia (Macrobrachium rosenbergii), em conjunto com a Associação de
Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (João Pessoa, estado da Paraíba, na região
nordeste do Brasil), de forma a testar a eficiência do cultivo destes organismos em cativeiro,
fora do ambiente, para diminuir os impactos e possibilitar o desenvolvimento socioeconômico
da região. Um sistema de produção com recirculação de água, para o seu tratamento, foi
instalado em dois módulos de produção, em que o primeiro foi tratado com ração
convencional e o segundo com a ração orgânica produzida pela própria comunidade. Em
ambos os módulos a quantidade e fracionamento da alimentação foi de 5% ao dia do peso
corporal dos organismos cultivados. Avaliou-se a eficiência do sistema de recirculação e da
ração orgânica em comparação com a convencional. Quanto ao crescimento (comprimento,
largura e massa corporal), ambos os tratamentos foram semelhantes, foi possível manter
densidades de ≤ 10 ind/m2, no entanto, no tratamento com ração produzida pela Associação,
as fêmeas entraram em reprodução primeiro. O sistema é eficiente e aplicável a modelos de
produção aquícolas familiares, pois ajusta-se a pequenas propriedades. O sistema de
37
tratamento de água, com o uso de filtro e biofiltro demonstrou ser adequado para diminuir as
trocas de água do sistema de cultivo.
PALAVRAS-CHAVE: Cultivo orgânico, carcinicultura, desenvolvimento sustentável
8. INTRODUÇÃO
Dentre os camarões de água doce o M. rosenbergii (De Man, 1879) é o que mais tem-
se destacado no cenário de produção mundial, devido principalmente às suas características
biológicas que viabilizam a produção. São elas: a alto sucesso de reprodução em cativeiro,
alta fecundidade, taxa de crescimento rápido, rusticidade e resistência a doenças (BARROS &
VALENTI, 1997).
O fato da carcinicultura de água doce possibilitar a fundação de fazendas de camarão
em regiões distantes dos estuários e até mesmo no interior e por esta atividade aquícola ser
considerada de baixo impacto ambiental e dentre os preceitos da sustentabilidade poder ser
adaptada a diversos tamanhos de propriedade e formas de manejo. A produção mostra-se
lucrativa podendo ser otimizada a partir da pesquisa de novas tecnologias, sendo assim, a
produtividade pode triplicar aumentado a lucratividade do empreendimento. Porém Valenti
(2002) destaca que:
...é essencial garantir que o aumento de produtividade não
prejudique a sustentabilidade dos sistemas da carcinicultura
de água doce. As pesquisas visando o aumento da
produtividade devem considerar sempre os impactos
ambientais e sociais, que podem estar atrelados...”
(VALENTI, 2002 p.6)
Os avanços na tecnologia da larvicultura têm aumentado a produção de Pós-Larvas
(PL), este fator acarreta em uma diminuição nos custos da produção o que permite ampliar a
38
viabilidade econômica. Valenti também ressaltou no trabalho citado acima a importância
ambiental e econômica da inserção crescente de sistemas de cultivo em consórcio ou de
policultivos (ex. cultivo de camarão e produção de arroz, ou cultivo de camarão e tilápia),
sendo assim, há uma otimização do espaço envolvido na produção. Nesse modelo de
produção, o produtor carece de amparo técnico e tecnológico, para o manuseio do cultivo
(VALENTI, 2002).
Os estudos em cultivos do M. rosenbergii (De Man, 1879) ocorreram primeiramente
no Havaí depois na África, Caribe, América Central e do Sul, Israel, Japão, Ilhas Mauritius,
Tahiti, Taiwan e Reino Unido. Na década de 70 o cultivo de M. rosenbergii (De Man, 1879)
foi introduzido no Brasil (PINHEIRO & HEBLING, 1998).
Para uma produção eficiente é necessário que no manuseio destes animas haja um
cuidado com alguns aspectos do ambiente utilizado no cultivo. Ibrahim (2011) destacou em
seu trabalho, os valores médios dos fatores ambientais que foram atingidos durante o
experimento e são os desejáveis para um bom desenvolvimento de crustáceos (no referido
estudo o organismo avaliado foi o Macrobrachium amazonicum). Com os seguintes valores
de referência: temperatura com média de 30ºC ± 0,5; média de oxigênio dissolvido de 88% ±
2,6; pH de 8,62 ± 0,14; níveis de amônia total e nitrito 0,25 mg.L-1mg.L-1 e 0,08 mg.L-1mg.L-1,
respectivamente.
A insuficiência de alimento pode desencadear comportamento de canibalismo,
tornando-se um problema para o cultivo em densidades elevadas (PINHEIRO & HEBLING,
1998). Porém este não é o único fator que desencadeia este comportamento, qualquer estresse
ao qual o animal seja exposto, tanto de origem ambiental quanto social pode levá-lo a
desenvolver um comportamento canibalista, isto deve ser evitado no sistema de cultivo.
No Brasil, a carcinicultura tem a sua produção concentrada na região nordeste do país,
porém a sua amplitude comercial não é estritamente local. O mercado compete com
produtores a nível de Brasil e também internacionalmente (FROTA, 2005). O Nordeste é uma
região propícia para o desenvolvimento desta atividade devido às condições climáticas, áreas
de cultivo propícias para a implantação do cultivo, e boa localização geográfica para o
escoamento da produção para o mercado internacional.
A carcinicultura de água doce do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) em áreas
tropicais, varia a sua produtividade de acordo com o tipo de cultivo, sendo assim, nos
sistemas extensivos são produzidos até 500 kg / ha / ano com estocagem de PL de 1-4 /m²; já
no semi-intensivo a produtividade é 500-5.000 kg / ha / ano densidade de estocagem de PL é
39
de, 4-20/m²; no sistema intensivo são encontrados valores de > 20 / m² (na estocagem de PL)
e > 5.000 kg / ha / ano (na produção anual). Na região temperada a produtividade é menos
expressiva devido aos fatores climáticos, com cerca de 5-10 PL / m² estocados (FAO, 2009).
A cadeia produtiva de camarão compreende os seguintes segmentos: Fornecedores de
insumos para a produção de larvas; Laboratório de larvas; Fornecedores de insumos para
crescimento e engorda de camarão; Fazendas de engorda; Fornecedores de recursos para o
processamento do camarão; Centros de processamento; Consumidor final (FROTA, 2005). As
etapas da produção foram elencadas por Queiroz (2007), como Larvicultura, Fazenda de
engorda, Abastecimento dos viveiros, Rotinas de engorda da fazenda (manejo dos viveiros),
Biometria, Arraçoamento e Despesca dos viveiros. Estas etapas foram identificadas na
carcinicultura convencional.
Desde o surgimento do setor (carcinicultura) no panorama mundial este vem sofrendo
grandes alterações e a mais significativa consiste na dominação de técnicas e procedimentos
de reprodução em cativeiro (FROTA, 2005). Este fator é decisivo para a sustentabilidade de
todo o setor produtivo, tornando assim a cadeia produtiva independente do ambiente natural.
Para o pleno desenvolvimento do setor produtivo é indispensável o estabelecimento de
todo um aparato legal, mas apesar de haver uma legislação ambiental forte no que tange ao
licenciamento da atividade aquícola no Brasil, dados do IBAMA (2005) demonstram que no
Ceará os 245 projetos de carcinicultura existentes no estado apresentam as seguintes
condições: 51,85% estão em situação de irregularidade, e mais alarmante é que 79,5%
interferem em áreas de preservação permanente (APP) (AMORIM,2009). Isso demostra a
carência de fiscalização do setor e o efetivo ajustamento na sua legislação regulamentadora.
Amorim (2009) também evidenciou que há um conflito entre a definição e delimitação
do manguezal, questão esta que dificulta a preservação deste ambiente natural e a concessão
de licença para os carcinicultores. Sendo assim, a definição conceitual deste ambiente precisa
ser melhor definida, para que o mesmo possa ser inteiramente contemplado e protegido pelo
regimento que lhe compete. O mangue é a região mais afetada, seja no cultivo de camarão
marinho ou o camarão de água doce, pois é a área mais utilizada para a implantação das
fazendas de engorda.
[...]Dessa forma é possível constatar que ainda se necessita
um maior consenso nas definições de manguezal, APP, e
assim das áreas permissíveis para a prática da
carcinicultura. Isso seria um primeiro passo para a
40
minimização dos conflitos sociais e ambientais que
envolvem essa atividade (AMORIM ,2009 p.47).
Para Figueirêdo et al. (2006) fica nítido a grande necessidade de um zoneamento das
áreas exploradas pela carcinicultura objetivando, selecionar regiões de impacto ambiental
baixo e fora dos limites das APPs, para que esta atividade deixe de ser um fator de risco
ambiental.
Amorim (2009), em suas análises identificou que o Nordeste é a região com maior
número de empreendimentos da carcinicultura e que o Rio Grande do Norte e o Ceará são
onde o setor é mais desenvolvido. No que se refere aos impactos são constatados impactos
ambientais (sendo destacado o desmatamento de áreas de mangue e a instalação das fazendas
de camarão na área que corresponde ao apicum, bem como o despejo de águas sem tratamento
no estuário) e também foram destacados os impactos sociais, pois as comunidades pesqueiras
têm enfrentado perda de espaço para as instalações aquícolas.
O cultivo de camarão de água doce (Macrobrachium spp) tem aspectos bem
diferenciados com relação ao cultivo do camarão de água salgada, os camarões de água doce
são animais que não podem ser criados em densidades elevadas, pois isto acarreta em uma
produtividade menor, porém é menos trabalhosa e, portanto, o desperdício com insumos
também é reduzido, assim como o risco de epidemias, e não provoca a salinização dos solos e
das águas subterrâneas (problema frequente nos cultivos de camarão marinho no interior do
território). O setor de produção do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) é adequado a
pequenas propriedades e pequenas empresas familiares por longo prazo e pode vir a ser
cultivado em consórcio com outros organismos (FAO, 2009). Existem então inúmeras
possibilidades a serem aplicadas quando o produtor opta pela produção do camarão de água
doce. Este cultivo entra também como uma opção para a diminuição dos impactos causados
nos mangues pelos cultivos de camarões marinhos.
O desenvolvimento e inserção desta mercadoria no mercado deve-se também ao fato
de seu tempo de incubação e de produção ser menor que a do camarão marinho. Embora não
seja um insumo tão popular quanto o é o camarão marinho estas limitações foram superadas
pelas positividades de sua produção que consiste em desenvolvimento de um nicho de
mercado diferenciado (com menor competitividade), o que acarreta em uma menor produção
de mercadoria de baixa qualidade (FAO, 2009). Ou seja, o setor tem-se beneficiado de áreas e
condições que limitam a produção do camarão de água salgada, para se estabelecer e
41
consolidar-se, o número crescente de produtores desde organismo corrobora com a sua
viabilidade comercial.
Desta forma, este trabalho objetivou avaliar o desenvolvimento do camarão da Malásia
M. rosenbergii (De Man, 1879) em sistema de produção sustentável, junto à Associação de
Pescadores e Produtores de Frutos do Mar da Penha (PB), para isso propôs-se a subsidiar o
desenvolvimento de um protocolo de cultivo do camarão da Malásia, incluindo a produção de
ração e a recirculação de água, para diminuir os custos e os impactos
9. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
9.1. DELIMITAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O presente estudo foi desenvolvido no bairro da Penha que é situado na região costeira
de João Pessoa e foi ocupada em torno do ano de 1900, de acordo com o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, possui cerca de 773 habitantes. Este número varia nos períodos de
férias, devido aos veranistas que são proprietários de casas grandes no bairro (SILVA;
ANDRADE, 2010). A área tem características muito particulares: a comunidade sofre
influências diretas do ambiente, pois apresenta o Rio do Cabelo (que encontra-se poluído) que
corta todo o bairro; situado à beira mar, apresenta fragmentos de Mata Atlântica e Mangue.
Outro aspecto muito importante na região é o histórico de sua ocupação e a grande relação
que foi estabelecida pelos moradores com a pesca. Atualmente a população é representada por
60 famílias que são organizadas nos seguintes aglomerados: a vila dos pescadores, a praça
Oswaldo Pessoa e o aglomerado na beira-mar (SILVA; ANDRADE 2010).
No que se refere à salubridade do rio que se estende por toda a comunidade, este já foi
destino de banhistas e fonte de subsistência da comunidade através da pesca. Porém, devido à
qualidade da água causada pela poluição, o seu uso não tem sido recomendado. Trabalhos
como o de Farias (2006), destacaram que o rio encontra-se com altos níveis de concentração
de metais pesados tais como Boro, Cádmio e Chumbo. Considerando o Limite da resolução
357/05 do CONAMA para rio de classe III. Tais níveis são prejudiciais à vida de organismos
aquáticos bem como a todos os seres que façam uso do mesmo, caracterizando-o como alvo
de atividades antropogênicas tais como esgotos domésticos e industriais, resíduos sólidos,
42
desmatamento, aterramento do mangue, ocupação irregular da praia e urbanização (FARIAS,
2006).
A região ainda é destino turístico da cidade, não só pela sua beleza paisagística, mas
principalmente pelo festejo (festa da Penha) que movimenta a economia local e que traz
vários turistas no período da festa, com tempo de duração de nove dias. Esta festa profano-
religiosa é destino de fiéis, devido à grande procissão que é realizada por toda a cidade de
João Pessoa, cujo o destino final é a comunidade. Nesta época do ano (novembro) a
comunidade enfeita-se nas cores de Nossa Senhora da Penha, (cor azul e branco, cores do
manto da padroeira). Na praça central é realizada uma missa, para coroar os festejos e na
escadaria da Penha vários fiéis “pagam” as suas promessas, sendo assim um valioso ponto
cultural e turístico da cidade de João Pessoa (SILVA; ANDRADE, 2010). Na figura 02 é
possível observar o mapa e a foto da delimitação geográfica do bairro da Penha (João Pessoa,
PB).
Figura 02. Mapa e foto aérea das praias do Seixas e Penha.
Fonte: Google maps, 2016.
43
9.2. MÉTODOS E TÉCNICAS
9.2.1. Sistema De Tratamento Da Água
A produção do camarão da Malásia foi realizada em um sistema fechado dinâmico em
que a água do cultivo recirculou e permitiu ser reutilizada (SEBRAE, 2005), para isso passou
por um sistema de tratamento físico e biológico, que foi desenvolvido para esse fim, através
de processos de filtragem. Para validar a eficiência do sistema de tratamento foi
imprescindível a realização do monitoramento da qualidade da água para identificar os
aspectos ambientais que favorecem ou desfavorecem o pleno desenvolvimento dos
organismos, tais como: pH, analisado com um pHmetro portátil; condutividade, analisada
com um condutivímetro (Technal); temperatura medida com um termômetro Inconterm
mercúrio, 0,1 º C de precisão; oxigênio dissolvido, analisado com um oxímetro (ver FIGURA
05 analise sendo realizada); fosfato analisado pelo método do persulfato; nitrito. analisado
pelo método colorimétrico; nitrato pelo método da coluna de redução de cádmio; amônia pelo
método do fenol. Todas estas análises foram baseadas em APHA (CLESCERI et al., 2005) e a
transparência da água foi analisada com o disco de Secchi.
O cultivo consistiu de cinco caixas de água de 1000 L, sendo quatro caixas para a
criação dos camarões e uma caixa para o tratamento com o sistema de filtragem (incluindo
biofiltragem).
A montagem do sistema de tratamento consistiu em interligar as cinco caixas com
encanação na parte inferior. A caixa filtro que foi colocada ao centro e contou com quatro
ductos que as conectavam aos quatros viveiros. Na caixa filtro foi adicionado cascalho
envolto por uma tela e posteriormente adicionado brita e areia até 1/3 da caixa (o cascalho e
areia serão responsáveis pela filtragem física da água, retendo as partículas em suspensão).
Apesar do sistema físico de filtragem, a presença de material de maior porte, como restos de
tijolo, permite a presença de bactérias e fungos decompositores, o que aumenta a eficiência do
tratamento. A área superior é o local onde a água se acumula para ser tratado biologicamente
pela comunidade perifítica (biofilme), e para otimizar o desenvolvimento desta comunidade
foram instalados vários varais com plásticos transparentes que aumentam a área disponível
para que os organismos da comunidade do biofilme possam se proliferar. O perifiton atua
metabolizando os compostos nitrogenados e fosfatados produzidos pelas excretas dos
camarões e da ração ministrada, melhorando assim a qualidade da água. Para evitar larvas de
44
mosquito nessa caixa tratamento, pequenos peixes de água doce foram colocados, eles
também se alimentam do biofilme, auxiliando assim na liberação de mais espaço, para esta
comunidade (FIGURA 03 e 04).
O sistema de tratamento da água funciona da seguinte forma: a água do filtro que é
localizado no centro do sistema é impulsionada para as caixas viveiros através de uma bomba
de aquário (800L/h). Esta bomba leva a água para um sistema de canos que redistribui a água
para as caixas viveiros. Como as caixas estão no mesmo nível e são interconectadas por
ductos na porção inferior das cinco caixas, as águas retornam à caixa filtro por diferença de
pressão, metodologia também aplicada por Rolim (2015).
A comunidade da Penha já possuía caixas de água para serem usadas para este fim,
através de projetos de extensão anteriores. Apesar disso, esta abordagem (camarão M.
rosenbergii) não foi ainda testada, bem como todo o desenvolvimento do animal ser neste
espaço. As vantagens de se trabalhar com caixas de água é o fato de ser redondo e assim
provocar menos estresse devido à ilusão de continuidade que o espaço oferece, o fato de não
ter cantos também favorece que todo o ambiente seja controlado de forma igualitária, pois não
gera zonas de água parada que podem promover o desenvolvimento de bactérias danosas.
Figura 03: Sequência da montagem do sistema de filtragem da água do viveiro. (A) caixa
vazia; (B e C) camadas de substratos de diferentes dimensões que foram adicionadas do maior
para o menor; (D) Sistema finalizado, mostrando a disposição das caixas de água.
45
Figura 04: Sistema de tratamento da água do cultivo de camarão: A) Detalhe da caixa de
tratamento físico e biológico; B) Água retornando para o cultivo após tratamento; C) Visão
geral do sistema de cultivo desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
.
Figura 05: Análises físicas e químicas sendo realizadas no sistema de produção do camarão
M. rosenbergii (De Man, 1879) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar
da Praia da Penha (PB).
.
46
9.2.2. Produção De Ração Doméstica
A atividade de fabricação de uma ração artesanal através de resíduos
hortifrutigranjeiros, provenientes do descarte diário das famílias que residem na comunidade
da Penha, teve como principal objetivo reduzir o volume total de lixo e potencializar a vida
útil destes recursos antes dos mesmos serem descartados. O não tratamento adequado do
resíduo orgânico acarreta em graves danos ambientais tais como a formação de gases tóxicos
(o que favorece o efeito estufa) e a formação de chorume que contamina o solo, lençóis
freáticos e efluentes, para além da propagação de animais vetores de doenças, como ratos,
baratas, moscas, mosquitos, etc.
Com a mobilização da comunidade foi possível reunir os devidos ingredientes
requeridos para a produção da ração, tais como: resíduos de frutas e legumes; raspa de
mandioca; coco ralado; como fonte proteica no caso foram utilizados restos de peixes e foi
acrescentado fosfato bicálcio e Premix vitamínico e mineral (QUADRO 01). Estes foram
fragmentados para assim serem moídos e homogeneizados em moinho industrial
(processamento mecânico).
Após a homogeneização, a mistura passa pelo processo de peletização. Lima et al.
(2009) discorrem sobre a importância do processo de peletização que objetiva provocar a
gelatinização do amido, para facilitar a sua digestão em animais monogástricos, melhorando a
digestibilidade e o nível energético das rações.
A escolha por um determinado tipo de ração pode ser definida de acordo com o
sistema de cultivo empregado em cada propriedade, em que, as formas peletizada trazem
melhores resultados de desempenho em relação à farelada, pois não ocorre a dispersão dos
nutrientes na água, sendo assim um desperdício de ração e consequentemente provoca
alteração na qualidade da água. Para a confecção de um pellet resistente, os níveis de gordura
devem permanecer abaixo de 6% (LIMA et al., 2009). Porém, a forma farelada pode ser
utilizada na criação de alevinos ou crustáceos, para facilitar o seu consumo aumentando desta
forma o desempenho dos organismos nas fazes iniciais do seu desenvolvimento.
Em seguida a ração é posta para desidratar exposta ao Sol de 6 a 8 horas e
posteriormente é ensacada. A retirada da umidade é uma etapa importante na conservação da
ração, principalmente para evitar a ocorrência de fungos. Posteriormente as rações produzidas
foram avaliadas para determinar o seu teor nutricional (FIGURA 06).
47
Quadro 01: Ingredientes utilizados para a fabricação da ração e suas respectivas
porcentagens na mistura, onde 100% corresponde a 5,420Kg massa úmida.
Ingredientes Quantidade (%)
Resíduos de hortifrutigranjeiros (majoritariamente
de: manga, mamão e melancia)
25,83
Farelo de mandioca (Manihot esculenta) 27,67
Proteína (peixe inteiro de descarte da pesca) 29,89
Farelo de coco (Cocos nucifera) 9,22
Fosfato bicálcico, Premix vitamínico e mineral 1,84
Leite em pó integral 3,69
Bertalha (Basella alba) 1,84
Total 100
Figura 06: Produção da primeira remessa de ração produzida junto à comunidade da Penha
(PB), na Associação de Pescadores e Produtores de Frutos do Mar da Penha. (A)
Processamento dos resíduos para homogeneização e formação dos péletes; (B) Péletes
disposto ao Sol para secar.
48
9.2.3. Engorda Do Camarão
A engorda foi realizada em dois tratamentos contendo o mesmo sistema de cultivo,
mas com rações diferentes. No primeiro, os camarões foram alimentados com ração industrial
que é convencionalmente utilizada na carcinicultura; no segundo tratamento, os camarões
foram alimentados com a ração doméstica, produzida através de resíduos orgânicos. Em cada
caixa foram colocados cerca de 150 indivíduos PL (a densidade foi extrapolada para tentar
identificar a capacidade suporte do sistema).
Para acompanhar o crescimento, os camarões foram medidos e pesados (comprimento,
largura e massa corpórea) assim que o experimento foi iniciado. Posteriormente a biometria
foi repetida em uma periodicidade de cerca de vinte dias. A contagem para estabelecer a
sobrevivência e posteriormente a produtividade do sistema de produção, foi realizada quando
as caixas viveiros eram limpas (havendo neste processo a conservação de 1/3 do volume de
água desta caixa, que era isolada das demais), não havendo neste processo uma periodicidade
definida, sendo trocada quando a água tornava-se muito verde. Ao longo do cultivo de 6
meses foi trocada duas vezes em cada réplica (momento em que a densidade foi obtida em
cada caixa).
Após 11 dias de cultivo, foi colocada uma estrutura de tijolos com cerâmicas
(FIGURA 08) em todas as caixas réplicas, para aumentar a área do viveiro e também
promover áreas de esconderijo para os camarões. Essa estrutura foi colocada com o propósito
de auxiliar nos movimentos de fuga, pois esta espécie é identificada pela sua voracidade e
dominância dos machos maiores (BC) e por ser territorialista (FAO, 2009). Tentou-se
oferecer o máximo de condições naturais possível para evitar o stress dos animais.
49
Figura 07: Aclimatação das PLs de camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) antes da
liberação dos organismos no viveiro na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia
da Penha (PB).
.
50
Figura 08: Esquema da estrutura de tijolos com cerâmicas colocadas nas réplicas, para
aumentar a área do viveiro e também promover áreas de esconderijos para os camarões.
9.2.4. Reprodução Em Cativeiro Do Camarão M. Rosenbergii
Os camarões de cada sistema de tratamento foram separados em duas caixas
adjacentes, após passarem por uma triagem que selecionou os camarões quanto ao seu
comprimento. Em uma caixa foram colocados os indivíduos de comprimento pequeno e
médio (até 10cm) e no tratamento dois os que tinham maior comprimento (maior que 10cm),
sendo assim para cada tratamento (ração industrial e ração doméstica). As fêmeas tendem a
entrar no período fértil com a presença de machos BC e alta competição entre as fêmeas e na
ausência do macho BC (dominante) os machos OC tornam-se ativos sexualmente.
Nessa mudança cerca de um terço da água do ambiente anterior (para manter um
gradiente de mudança das condições ambientais e os mesmos não sofrerem choque de
ambientação) foi mantido e misturado com água da chuva (armazenada) e do sistema público
de abastecimento. Antes da transferência para o novo sistema os camarões foram contados e
aclimatados, através da adição parcial de água no seu recipiente estoque e posteriormente
foram liberados no novo ambiente.
51
Nesta indução também foi avaliado qual tratamento gerava indivíduos mais saudáveis
para a reprodução, sendo sabido que os indivíduos tendem a se reproduzir apenas em
condições adequadas, sejam elas ambientais ou biológicas. Ou seja, os camarões precisam
estar saudáveis, pois a reprodução exige grande investimento energético. Dessa forma é
possível avaliar se a ração orgânica supre adequadamente todos os requisitos nutricionais
requeridos no desenvolvimento dos camarões analisados.
9.2.5. Análise Estatísticas
Os dados de crescimento (comprimento, largura e biomassa), bem como os dados
fisíco-quimícos da água (temperatura, Oxigênio, pH, Nitrito, Nitrato, Amônia e Fosfato)
foram submetidos ao teste – t para amostras dependentes, ou seja a amostra é constituída de
“n” pares de indivíduos com dois tipos de tratamentos o teste foi realizado no programa “R
software”.
9.2.6. Observação Participante
A observação participante surge da necessidade de construir conhecimentos, que
podem levar a um maior entendimento dos processos humanos, tanto no trabalho, nas
organizações, como na vida em si, em que as pessoas não param de construir e reconstruir a
sua maneira de agir e de viver. A observação participativa inclui o pesquisador com o papel
participante estabelecido no contexto estudado. O processo de coleta de dados dá-se no
próprio ambiente natural de vida dos observados, que passam a ser vistos não mais como
objetos de pesquisa, mas como sujeitos que interagem em dado projeto de estudo.
Valorizando a interação social, a pesquisa deve ser compreendida como o exercício de
conhecimento de uma parte com o todo e vice-versa, que produz linguagem, cultura, regras e
assim o efeito é ao mesmo tempo a causa. Outro princípio importante na observação é integrar
o observador à sua observação, e o conhecedor ao seu conhecimento (QUEIROZ et al., 2007).
Neste contexto foi realizada de forma descritiva as nuances percebidas pelo
pesquisador sobre o impacto do projeto na comunidade no qual foi inserido, sua propagação e
o contexto da pesquisa, tendo em vista que o pesquisador já esteve presente na comunidade
com projetos similares a este anteriormente. O público de contato direto são os frequentadores
da Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha PB.
52
Esta metodologia caracterizou-se como pesquisa-ação em virtude de ser uma pesquisa,
conjuntamente com a comunidade, ao mesmo tempo em que os resultados obtidos se
refletiram na capacitação da mesma para o cultivo do camarão da Malásia.
10. RESULTADOS E DISCUSSÃO
10.1.ANÁLISE DAS CONDIÇÕES FISÍCAS E QUIMÍCAS DA ÁGUA DO
CULTIVO DO CAMARÃO M. rosenbergii
A avaliação dos parâmetros ambientais demonstrou que no experimento que o
camarão foi alimentado com ração convencional a variação de: Oxigênio dissolvido foi de
5,13 a 9,28 (mg.L-1); as temperaturas de 27,4 a 30,8 ºC; pH de 8,02 a 9,33. Os camarões que
foram alimentados com ração doméstica tiveram parâmetros ambientais de: Oxigênio
dissolvido de 5,23 a 11,17 (mg.L-1); temperatura de 27,4 a 32,1 ºC e pH 8,00 a 9,34
(TABELA 04).
Os valores observados de oxigênio dissolvido estão dentro do intervalo de valores
considerados normais para o bom desenvolvimento dos organismos em que o mínimo
tolerável é de 4 mg.L-1. Quanto à temperatura o intervalo tolerável é de 28 a 31 ºC, este valor
foi ultrapassado no sistema de cultivo orgânico atingindo 32,1 ºC no dia 13 de fevereiro,
depois deste pico os valores voltaram para o intervalo tolerável. Apesar deste parâmetro ter
apresentado diferenças estatísticas, pelo teste T, não foi muito grande a diferença, sendo a
média apenas cerca de 1ºC maior no tratamento orgânico.
Nos dias iniciais do projeto, os animais foram observados em plena atividade,
explorando todo o ambiente. À medida em que estes foram crescendo ficou mais difícil
serem observados, tendo em vista que passaram a ficar mais no fundo das caixas
Quanto às elevações na concentração de oxigênio dissolvido, estas deram-se no
período que correspondeu ao intervalo das 13:00 às 15:00 horas, isto deve-se ao fato de que
esse é o período de bloom de fitoplâncton segundo Mendes; Santos; Queiroz (1996). Esta
faixa temporal corresponde com a que foram analisados os parâmetros ambientais, sendo
assim os valores registrados para o oxigênio referem-se aos seus picos diários no sistema.
Analisando estatisticamente, verificou-se que o teste T apresentou diferenças para o
Oxigênio dissolvido entre os tratamentos (p=0,009), sendo neste parâmetro estes valores mais
elevados no tratamento com ração doméstica. Dessa forma, as temperaturas ligeiramente mais
53
elevadas neste tratamento, não causaram diminuição nas concentrações de Oxigênio
dissolvido, visto que foi no tratamento orgânico que as concentrações de oxigênio dissolvido
foram mais elevadas.
Valores altos de pH podem acarretar em taxas altas de mortalidade (NEW e
SINGHOLKA, 1984). O trabalho de Mendes; Santos; Queiroz (1996), os valores de pH
extremos foram alcançados e correspondem a 5,7 e 9,7, porém estes valores foram pontuais,
não sendo significativa a sua ocorrência. No presente projeto não foram obtido pH baixos,
porém em parte do processo o pH esteve elevado, aproximando-se do valor extremo que foi
citado pelo referido trabalho. Estatisticamente não se verificaram diferenças significativas
nestes valores entre os dois tratamentos.
Para Hartnoll (1982) a temperatura e o alimento são os principais fatores ambientais
que influenciam o crescimento, portanto carece de ser avaliada. Sendo assim, quanto aos
valores de temperatura estes só foram extrapolados em ocasião pontual e o alimento foi
ministrado diariamente (tendo em vista a biomassa dos camarões no viveiro) contudo, estes
organismos são favorecidos pela presença de alimento natural nos viveiros para complementar
a sua alimentação. Este parâmetro não foi contabilizado devido a inviabilidade técnica para
tal, mas em avaliação qualitativa foi possível perceber que os viveiros com maior quantidade
de indivíduos tinham menos biota perifítica que os com menos quantidades de camarões, ou
seja, quanto maior a quantidade de indivíduos maior foi o consumo do alimento natural
presente nos viveiros. Mas é preciso ressaltar que o fato de diferença de luminosidade também
pode estar relacionado com a oferta de biofilme.
Tabela 04: Valores médios de oxigênio dissolvido, temperatura e pH no tratamento
convencional e orgânico no cultivo de M. rosenbergii (De Man, 1879) desenvolvido na
Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB).
Camarão convencional
O2 (mg.L-1mg.L-1) TºC PH
Média Média Média
6,07 29,14 8,12
Camarão orgânico
O2 (mg.L-1mg.L-1) TºC PH
Média Média Média
7,50 30,94 8,80
54
Também foi realizada coleta periódica de água para análise da concentração de
nutrientes do sistema, sabendo que os nutrientes são fruto das excretas dos camarões, da sobra
de rações, bem como do metabolismo de outros organismos presentes no sistema.
No tratamento convencional a amônia teve o seu pico máximo de concentração na
metade do segundo mês do experimento com valor de 0,22 mg.L-1, enquanto o maior pico de
amônia no tratamento com ração doméstica foi de 0,15mg.L-1, depois este voltou a decair e
não voltou a atingir esta concentração (FIGURA 09). Este composto é tóxico e não deve ter
concentrações elevadas nos cultivos de seres vivos, apesar do tratamento orgânico ter
apresentado concentrações menos elevadas, o teste T não apresentou diferenças significativas.
O fosfato no tratamento convencional teve uma leve subida no terceiro mês mantendo-
se entre 0,04 e 0,06 mg.L-1, enquanto que no tratamento orgânico teve sua maior concentração
no terceiro mês, com valores mais elevados (0,12 mg.L-1) este pico coincidiu com o pico do
nitrito (0,09 mg.L-1) (FIGURA 10). No teste T não foram detectadas diferenças significativas.
O nitrito apresentou suas concentrações variando de 0 a 0,01 mg.L-1 no tratamento
convencional, enquanto no tratamento orgânico apresentou valores semelhantes, mas um pico
de concentração de 0,09 mg.L-1 (FIGURA 12). Também não foram detectadas diferenças
significativas para este parâmetro, pelo teste T entre os dois tratamentos.
O nitrato, no tratamento convencional teve dois picos durante o experimento que
foram, no segundo e quarto mês do cultivo com valores de 0,35 e 0,36 mg.L-1,
respectivamente (FIGURA 11). No tratamento orgânico o nitrato teve variação durante o
cultivo de 0,03 a 0,07 mg.L-1 (FIGURA 11). Este foi o único nutriente que apresentou
diferença significativa entre os tratamentos, pelo teste T, que apresentou valores menos
elevados no tratamento orgânico.
Ibrahim (2011) destacou em seu trabalho com M. amazonicum que os limites máximos
de amônia total e nitrito desejáveis no sistema de cultivo são respectivamente 0,25 mg.L-1 e
0,08 mg.L-1, por serem estes os dois nutrientes que requerem uma maior atenção devido ao
seu potencial de toxidade. Os valores de amônia e nitrito no cultivo dos camarões na
Associação de pescadores da Penha, não ultrapassou estes valores, com exceção do nitrito que
apresentou um pico de 0,09 mg.L-1 uma única vez, no tratamento orgânico. É possível que a
presença de substrato para a instalação do biofilme, que absorve os nutrientes (CRISPIM et
al., 2009), esteja mantendo a água com melhor qualidade, em relação a estes compostos,
mantendo-os dentro do limite aceitável. No que tange ao sistema de tratamento de água
utilizado no cultivo do M. rosenbergii (De Man, 1879)este mostrou-se eficiente no controle
55
desses parâmetros. As atividades de limpeza e troca de 1/3 d’água de cada réplica de ambos
os tratamentos de forma cíclica a partir do segundo mês de cultivo pode também ter
contribuído para a não elevação destes parâmetros e a sua manutenção em níveis normais.
Figura 09: Concentrações de Amônia ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
.
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
mg.
L-1
Linha Temporal CO CC
56
Figura 10: Concentrações de Fosfato ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
0,000
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
mg.
L-1
Linha Temporal CO CC
57
Figura 11: Concentrações de Nitrato ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
mg.
L-1
Linha TemporalCO CC
58
Figura 12: Concentrações de Nitrito ao longo do tempo no tratamento com ração orgânica
(CO) e convencional (CC) desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
.
10.2. AVALIAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO CAMARÃO M. rosenbergii
(De Man, 1879) DURANTE O PERIODO DE ENGORDA
Quanto à avaliação do crescimento dos camarões tem-se que no tratamento com ração
convencional, observou-se o mesmo padrão de crescimento das populações sendo a taxa de
crescimento maior a partir do segundo mês de cultivo (Março) chegando a atingir uma média
(comprimento) de 13,00 cm. Quanto à largura o desenho da curva de crescimento foi
semelhante ao do comprimento, com maior medida alcançada no intervalo de 1,91 cm
(FIGURA 14 e 15).
Na análise realizada no tratamento com a ração orgânica, a curva de crescimento teve
um desenho similar ao do tratamento com ração convencional, a taxa de crescimento também
teve seu aumento a partir de março. Na última biometria foi registrado a média de 12,92 cm
comprimento, quanto à largura na última análise a média foi de 1,78 cm (FIGURA 14 e 15).
0,00
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
0,10
mg.
L-1
Linha TemporalCO CC
59
O teste T não detectou diferenças significativas entre os dois tratamentos, para estas análises
biométricas.
O padrão da curva da média de massa corpórea comportou-se de forma semelhante
tanto no tratamento com a ração convencional quanto no tratamento com ração orgânica
(FIGURA 16), atingindo uma maior estabilidade no seu crescimento após o registro do dia
30/mar. No entanto, na última data analisada, 22 de outubro, verificou-se uma maior diferença
entre os pesos obtidos pelos camarões do tratamento orgânico. No tratamento com a ração
convencional foi de 18,33g; e o resultado obtido com a ração orgânica foi maior, de 25,77g.
Analisando todo o período de desenvolvimento e aumento de biomassa dos dois tratamentos
não se verificou, segundo o teste t diferenças significativas, mas analisando apenas a última
data, verificou-se que há uma diferença significativa. Como os tamanhos dos camarões não
foi diferente entre os tratamentos, a diferença observada no aumento da biomassa, só pode ser
devida ao aumento de massa corpórea, ou seja, de gordura animal. Como estes organismos
são vendidos ao peso, um aumento nesta variável é desejável.
Segundo Valenti et al. (1993), uma forma de conhecer a biologia de uma dada espécie
em que se tem interesse comercial é avaliando o crescimento do indivíduo (fator determinante
para a viabilidade econômica), outro fator importante é que o crescimento delineia o sistema a
ser adotado. Em seu estudo identificou que quanto maior a densidade menor é a média de
crescimento, a máxima densidade testada foi de 20 camarões por m2. A curva de crescimento
teve a sua redução a partir da densidade de 16 indivíduos, porém a variação foi relativamente
pequena. Altas densidades acarretam competição interespecífica pelos recursos disponíveis.
Outro fator relevante é referente ao comportamento social agressivo da espécie, é que
este fator acarreta em um gasto energético muito grande e leva a uma redução no crescimento
dos camarões (VALENTI et al., 1993). Este comportamento agressivo tentou a ser
minimizado através da colocação de estruturas nas caixas de água, para servir de esconderijos,
áreas de escapes e evitar que os mesmos se encontrem com maior frequência, mas é preciso
que a quantidade destes espaços seja o suficiente para a quantidade de indivíduos e em
proporções adequadas para acompanhar o crescimento dos camarões.
60
Figura 13: Fotografia de espécimes do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) do sistema
de cultivo desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha
(PB).
Figura 14: Comprimento do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento com a
ração orgânica (CO) e convencional (CC) ao longo de nove messes de observação,
desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB).
.
0
2
4
6
8
10
12
14
02/fev 02/mar 02/abr 02/mai 02/jun 02/jul 02/ago 02/set 02/out
Co
mp
rim
en
to (
cm)
Linha Temporal CO CC
61
Figura 15: Largura do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento com a ração
orgânica (CO) e convencional (CC) ao longo de nove messes de observação, desenvolvido na
Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB).
.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
02/fev 02/mar 02/abr 02/mai 02/jun 02/jul 02/ago 02/set 02/out
Larg
ura
(cm
)
Linha Temporal CO CC
62
Figura 16: Biomassa (em gramas) do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento
com a ração orgânica (CO) e convencional (CC) ao longo de sete messes de observação,
desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha (PB).
.
A mortalidade e/ou sobrevivência foram observadas (através da presença de camarões
mortos sendo vistos boiando nos viveiros) a partir dos últimos dias de fevereiro período que
correspondeu a uma elevada coloração esverdeada na água (provocada pelo crescimento da
comunidade fitoplanctônica do sistema). Para mitigar este fator foi realizada a primeira
limpeza de umas das réplicas com adição de aproximadamente um terço do volume de água
no início de Março, para melhorar a qualidade d’água. As manutenções nos viveiros foram os
momentos oportunos para acompanhar a sobrevivência dos camarões, através da contagem
dos remanescentes.
O bloom de microalgas pode ter sido provocado pelo sombreamento provocado por
uma árvore oliveira presente no terreno da associação. Com o sombreamento o fitoplâncton
se torna mais eficiente na competição pela luz em detrimento do perifiton (comunidade que se
desenvolve associada ao substrato). Isto foi possível ser percebido a partir do momento em
que a indução reprodutiva foi iniciada, pois os camarões foram relocados para outro módulo
0
5
10
15
20
25
30
02/fev 02/mar 02/abr 02/mai 02/jun 02/jul 02/ago 02/set
Bio
mas
sa (
g)
Linha Temporal
CO CC
63
onde a sombra da árvore não alcança e neste local o perifíton desenvolveu-se em maiores
proporções do que o fitoplâncton, como consequência a água ficou mais clara.
A sobrevivência dos camarões no sistema de cultivo foi observada esporadicamente à
medida em que era realizada a limpeza e reposição de cerca de 1/3 das águas dos sistemas
(duas vezes em cada réplica nos dois tratamentos) (TABELA 02).
Em estudos referentes à sobrevivência e ao crescimento do camarão M. rosenbergii,
avaliando a melhor profundidade para o seu cultivo identificou-se que em tanques com coluna
de água de 45cm, foi obtido sobrevivência de 84% e biomassa de 915,8+ 115,8 g/10,0m2
(MENDES; SANTOS; QUEIROZ 1996). No presente estudo teve-se uma coluna de água
superior a 45cm sendo assim, as mudanças climáticas são menores, mesmo estando
distribuídas em pequenos volumes.
Silva e Sampaio (2009), indicaram as densidades de proliferação de pós-larvas no
sistema de produção extensivo (<20 ind/m2), semi-intensivo (20 a 50 ind/m2) e intensivo (50 a
100 ind/m2), considerando que a sobrevivência estimada é de 85%. Neste trabalho foi
percebido que os sistemas extensivo e semi-intensivo apresentam uma eficiência mais alta
pois este sistemas carecem de menor controle das condições ambientais quando comparado
com o sistema intensivo. Os resultados obtidos nesta pesquisa demonstram que as instalações
e sistema de tratamento de água se mostram viáveis aos modelos de sistemas de produção
extensivo tendo em vista a sobrevivência final nos dois tratamentos.
A pesquisa de Marques et al. (1999) estudou a eficiência do fracionamento da ração
(ou seja, o total de ração diária é dividida e ministrada duas vezes por dia) em comparação
com o não fracionamento, e obteve o seguinte resultado: o fracionamento mostrou-se
significativamente mais eficaz após o primeiro ciclo de cultivo (após a pré cria) do animal, e
no primeiro ciclo as diferenças não foram significativas. Neste trabalho foi obtido taxa de
sobrevivência inferior ao destacado em outros trabalhos. Os autores destacam como possíveis
causas da baixa sobrevivência: a presença de predadores na água tais como, insetos aquáticos,
peixes e girinos. Com relação à presença de predadores no sistema de cultivo testado, destaca-
se a presença de insetos aquáticos que foram observados em raras ocasiões, os demais
predadores não foram observados no cultivo nesta pesquisa.
64
Tabela 02: Sobrevivência do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) no tratamento
convencional e no orgânico, desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
.
Camarão Convencional Camarão Orgânico
Réplica
Data
Réplica
1
Réplica
2
Réplica
3
Réplica
4
Réplica
1
Réplica
2
Réplica
3
Réplica
4
02/fev 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
15/mar
7,33%
19/mar
4%
24/mar
18%
25/mar
18%
27/mar
0,66%
14/abr
2%
16/abr
17,33%
17/abr 16,66%
24/abr
13/mai
0% 0%
8%
15/mai
3,33%
28/mai
16%
10/jun 14,66%
0%
29/jul 12,66% 1,33% 0% 0% 13,33% 6% 2,66% 0%
10.3. REPRODUÇÃO E LARVICULTURA
Quanto à fase de indução da reprodução a técnica utilizada consiste na separação dos
indivíduos de grande porte dos de pequeno e médio porte. Na tabela 06 é possível observar
que no tratamento convencional foram colocados 21 camarões tanto na réplica de indivíduos
pequenos quanto na dos camarões grandes; e no tratamento orgânico a réplica 1 ficou com 18
indivíduos e a réplica 2 com 15. Objetivou-se a partir desta triagem, quebrar o sistema de
dominância do macho BC em detrimento do OC e o SM, para que os mesmos possam se
desenvolver (crescer) e obter maior sucesso reprodutivo tendo em vista os aspectos da
estrutura da comunidade desta espécie.
Após 22 dias da indução à reprodução, durante a captura de indivíduos para a
avaliação biométrica foram encontrados no sistema quatro fêmeas ovadas, sendo três no
tratamento orgânico em que duas pertenciam à réplica que continha os camarões de pequeno e
médio porte (comprimento) e uma na réplica referente aos de grande porte, quanto ao
65
tratamento convencional a fêmea ovada estava na réplica de camarões de grande porte, ambas
as fêmeas foram capturadas no mesmo dia (VER FIGURA 17, fêmea ovada da réplica 2
tratamento orgânico).
A reprodução foi alcançada com sucesso e por um longo período, os meses em que
fêmeas foram observadas ovadas foi de junho a dezembro. Durante esse tempo foi tentado
realizar o cultivo de larvas (sem sucesso em sua conclusão até o presente momento).
Na primeira vez a fêmea ovada foi separada em caixa d’água com salinidade igual ao
do cultivo, ou seja, 0 psu em ambiente aberto, as larvas não sobreviveram para além do
primeiro estágio LI. Na segunda tentativa, quatro fêmeas foram separadas e colocadas em
caixa d’água com água salobra em que a salinidade foi ajustada para 10% as larvas atingiram
o sexto estágio de desenvolvimento, vindo a óbito após um pico de temperatura na água que
chegou a atingir 35ºC. Na terceira tentativa uma fêmea foi separada e colocada em aquário em
um ambiente fechado para evitar a influência da temperatura, esta fêmea quando foi separada
não apresentava os ovos expostos, porém estava com o abdômen bem distendido, após uma
semana os ovos desceram para a região ventral do abdômen, as larvas chegaram a atingir o
primeiro estágio de desenvolvimento LI, motivo do insucesso foi por perda de controle da
salinidade por problemas de infra-estrutura.
Na quarta tentativa uma fêmea foi posta na caixa d’água com salinidade ajustada para
14 psu, após uma semana as larvas eclodiram, porém a salinidade teve uma elevação para
17psu(este fator esteve relacionado com a alta taxa de evaporação da água, o que resultou em
uma maior concentração de sais na água, sem o aumento de temperatura) isso ocasionou a
morte das larvas, pois seu limite máximo de salinidade foi ultrapassado. Simultaneamente a
este experimento outra fêmea foi colocada em aquário (em ambiente “fechado”) com
salinidade ajustada para 12psu, após a eclosão as larvas atingiram o segundo estágio de
desenvolvimento, porém após uma grande chuva e ao fato de haver uma abertura no teto
ocorreu uma grande entrada de água no aquário o que resultou na diminuição da concentração
de sais que passou a 2psu isso provocou a morte das larvas.
As fêmeas foram encontradas com a ova na coloração laranja, um indicativo de que o
desenvolvimento dos ovos se encontravam em estágio avançado e que estas estavam perto de
realizar a desova. A desova por sua vez ocorreu de duas a três semanas após a fecundação,
então devido a este fator é possível destacar que a indução reprodutiva foi eficiente e que a
reprodução ocorreu nos primeiros dias após a indução. Ou seja, antes da média temporal
relatada na literatura que consiste em cerca de 45 dias.
66
Valenti et al. (2001) indicaram como as condições ambientais adequadas para a
reprodução: temperatura entre 24-31 ºC e oxigênio dissolvido entre 8 e 9 mg.L--1. Os registros
obtidos na análise destes parâmetros, para este estudo foram: temperatura média de 28,3 ºC;
oxigênio dissolvido de 7,32 mg.L--1 e pH de 7,99. A desova foi registrada cerca de duas
semanas após o isolamento das fêmeas, quando foi observado que as quatro fêmeas haviam
desovado ( Figura 18 da larva de M. rosenbergii).
A fonte de alimentação das larvas teve como base os náuplios de copépodes presentes
nos criadouros e na água do mar utilizada para ajustar a salinidade, mas também de rotíferos
em menor proporção. A oferta alimentar foi avaliada e considerada abundante em todas as
tentativas portanto não foi um fator limitante. A comprovação é que as larvas se
desenvolveram e passaram para os estágios seguintes, até que acidentes infraestruturais
causassem a sua morte (temperatura e salinidade fora de controle)
Cada estágio larval apresenta características específicas que podem ser observados na
figura 18, que apresenta os seis estágios conseguidos durante as tentativas de larvicultura. As
principais características de cada faze são: L1 apresenta o olho não pendunculado; LII os
olhos ficam pendunculados; LIII apresenta uropodo com exopodito já formado; LIV surgem
dois espinhos no rostro; LV telso se estreita; LVI surgimento dos botões dos pleópodos
(HENRIQUES, 2006; FAO, 2009).
Conclui-se que ajustando e mantendo controlados os fatores ambientais de
temperatura, salinidade e oxigenação (que neste caso foi realizada por aeradores mantidos em
funcionamento constantemente), é possível realizar a larvicultura com os aparatos
disponíveis na associação. Sendo assim, os pescadores associados querendo, podem realizar a
criação do camarão gigante da Malásia.
67
Tabela 03: Triagem dos camarões da espécie M. rosenbergii, cultivados na Penha (PB),
quanto ao seu porte pequenos (com cerca de 6 centímetros de comprimento) ou grandes (com
cerca de 13 centímetros de comprimento).
Camarão Convencional Camarão Orgânico
Nº de indivíduos Nº de indivíduos
Réplicas Pequenos Grandes Réplicas Pequenos Grandes
1 12 7 1 12 8
2 1 1 2 4 5
3 3 6 3 2 2
4 5 7 4 0 0
Total 21 21 Total 18 15
Figura 17: Fêmea ovada pertencente ao sistema de tratamento orgânico, na imagem é
possível visualizar a porção ventral do animal e na região ventral de coloração laranja está a
câmara de incubação dos ovos. A coloração é devido ao estágio de maturação avançado dos
ovos.
68
Foto: Maria José Andrade
Figura 18: Estágios larvais do camarão M. rosenbergii (De Man, 1879) e seu
desenvolvimento de LI a LVI, desenvolvido na Associação de Produtores de Frutos do Mar da
Praia da Penha (PB).
.
10.4. CUSTOS DE PRODUÇÃO
Os custos de implementação são tidos como valores estáticos que serão dispendidos
apenas na implantação de cada modulo. O benefício de ser um sistema modular é que o
mesmo pode ser ampliado à medida que há mais disponibilidade de área e também de recurso
para investir, portanto é aplicável à aquicultura familiar já que a mesma não dispõe de muito
capital para iniciar o cultivo (QUADRO 02). De acordo com o trabalho realizado por
Marinho et, al. (2015) a ração doméstica sai a um custo de cerca de R$ 55,96 obtendo o lucro
de R$ 145,34 da venda do pescado e a ração industrial custa R$ 150,00 com o lucro de
69
produção de R$ 163,40 de acordo com os cálculos de custo da produção de Tilapia e Carpas
em dois tratamentos onde um era alimentado com ração doméstica e outro com ração
industrial. Sendo assim o uso da ração doméstica barateia muito o custo de produção o que
acarreta em maiores ganhos com a venda do produto tendo em vista que o desenvolvimento
do animal se dá de forma similar nos dois tratamentos.
Quadro 02: Valor de cada item do módulo de produção (uma caixa filtro e quatro caixas
viveiros) bem como o valor total da implantação do modulo de produção.
Item Valor unitário (R$) Valor do módulo (R$)
Caixa d’água 279,98 1399,9
Bomba d’água 149,00 149,00
Cano de pvc 25mm 2,99 29,96
Conector T 1,00 3,00
Conector 5,00 40,00
Total 1621,89
11. CONCLUSÃO
O projeto piloto obteve bons indícios de que o sistema de cultivo é viável, pois: os
camarões cresceram; a capacidade suporte do sistema foi semelhante aos sistemas de cultivo
convencional extensivos (embora tenha havido grande mortalidade inicial, que pode ter sido
resultado da alta densidade aplicada); os parâmetros ambientais analisados até o presente
momento só foram extrapolados na taxa ótima para a espécie em momentos pontuais; a
indução da reprodução foi alcançada com sucesso em que as quatro fêmeas separadas
desovaram; as larvas conseguiram atingir o estágio de LV.
O sistema de tratamento biológico demonstrou ser adequado para diminuir as trocas de
águas no cultivo.
A capacidade de carga de um sistema de 1000L foi de cerca de 10 indivíduos, como
eles ocupam pouco a coluna de água e vivem associados aos fundo, pode-se falar em cerca de
10 ind/m2.
70
O alimento ração doméstica, adicionado no cultivo demonstrou ser adequado, manteve
melhor qualidade de água, promoveu um maior crescimento nos adultos e induziu a
reprodução mais cedo, em comparação com o sistema com ração convencional.
A produção com a ração doméstica, diminui os custos da produção.
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237. 2002.
73
13. CAPITULO II – QUALIDADE SANITÁRIA DO CAMARÃO DA
MALÁSIA (Macrobrachium rosenbergii) PRODUZIDO EM
SISTEMA ORGÂNICO
RESUMO O controle de qualidade alimentar é imprescindível para obter alimentos seguros,
livres de contaminantes e de alto valor nutricional. Dentre os fatores que afetam a qualidade
do produto, a contaminação dos alimentos merece atenção especial, pois os danos à saúde
podem ir de grau leve a gravíssimo. Os casos de intoxicação alimentar representam um grande
problema para a saúde no Brasil. Sendo assim, a avaliação microbiológica dos alimentos
comercializados é importante. Portanto, neste capitulo avaliou-se a qualidade microbiológica
do camarão da Malásia produzido em sistema orgânico comparado com os comercializados
em João Pessoa (PB). Foram então avaliados quatro tipos de amostras, são elas: o Camarão da
Malásia cultivado com ração industrial; Camarão da Malásia cultivado com método orgânico;
Camarão obtido do mercado público; Camarão obtido no supermercado. As determinações
das condições de sanitização foram obtidas através da realização de quatro tipos de análises:
Contagem Total de Bactérias Heterotróficas Mesófilas, Contagem Total de Bactérias
Heterotróficas Psicrotróficas, Contagem de Coliformes Totais e Contagem de Coliformes
Termotolerantes. O Camarão da Malásia Orgânico foi o que demonstrou melhores condições
sanitárias de acordo com os bioindicadores microbiológicos testados. O que vem a validar que
sistemas orgânicos produzem melhores produtos em detrimento dos cultivos convencionais.
15. INTRODUÇÃO
O recurso pesqueiro, tais como os peixes, crustáceos e moluscos têm grande
importância nutricional sendo considerado de fácil digestão e a relação de matéria prima
consumível pode chegar a 100%, portanto configura-se como um recurso alimentar de grande
importância (FARIAS e FREITAS, 2008).
Os alimentos que são consumidos sejam eles de origem industrial ou comercializados
in natura podem estar carregando compostos e organismos causadores de inúmeras
74
patologias, que são da microbiota natural ou devido ao mal acondicionamento e
processamento alimentício. Isso tem gerado um grande problema social, como é descrito por
Welken et al (2010):
As doenças transmitidas por alimentos (DTA) constituem um dos
problemas de saúde pública mais freqüentes do mundo
contemporâneo. São causadas por agentes etiológicos, principalmente
microrganismos, os quais penetram no organismo humano através da
ingestão de água e alimentos contaminados
O pescado é um recurso alimentar com rica fonte de proteína, porém tal qual as carnes
bovina, suínas e de frango, ele pode estar contaminado, seja por condições ambientais do
cultivo ou de corpos hídricos contaminados por esgoto, ou por inadequação das condições de
higiene no transporte, manuseio e armazenamento do pescado (DUARTE et al., 2010).
Vieira (2011) destacou que os crustáceos são altamente perecíveis, a alta
perecibilidade do camarão dá-se pelo fato da grande presença de aminoácidos livres (LIRA,
2013), sendo assim é necessário tomar algumas medidas para manter as condições adequadas
de consumo. Para controlar a perecibilidade do pescado é preciso estabelecer procedimentos
que proporcionem uma condição adequada de sanitização, para tanto, o tempo das etapas de
processamento devem ser curtos, a temperatura de condicionamento deve ser mantida o mais
baixo possível para a manutenção do produto. Estes são critérios que promovem a
comercialização de produtos com alto nível de qualidade (MOURA et al., 2003). Como
etapas da cadeia produtiva do camarão rosa, Moura et al.(2003) destacaram: a captura, o
manuseio, o armazenamento, a descarga, a manipulação e a distribuição do produto. Todas
estas etapas devem estar em consonância com os procedimentos de conservação dos produtos
alimentares.
As bactérias Listeria monicytogenes, Vibrio vulnificus, Vibrio parahaemoliticus,
Vibrio cholerae, Escherichia coli, Salmonella spp., Shigella spp., Staphylococcus aureus,
Clostridium perfringens, Bacilus cereus, Campylobacter jejuni e Yersinia enterocolitica são
bactérias patogênicas encontradas em peixes. Dentre as bactérias causadoras de doenças deve-
se ter maior atenção com as que são resistentes e se multiplicam em baixas temperaturas (ou
seja as psicrotróficas), pois estas podem estar presentes mesmo em condições de
congelamento (LIMA, 2012).
Dentre os tipos de contaminação que são frequentemente provocadas por ingestão de
alimento a maioria é provocada por bactérias, o que pode ter ocorrido devido ao contato com
75
a água contaminada ou por problemas durante a descarga, processamento, distribuição ou seu
preparo para o consumo do alimento. Portanto, é necessário que a fiscalização sanitária faça-
se atuante para verificar as condições higiênicas do alimento a ser comercializado. As
bactérias comumente encontradas no pescado de forma geral (peixes, crustáceos, moluscos
entre outros) que podem ser patógenas ao homem são: Salmonella sp., E. coli patogênica,
Sthapylococcus coagulase (+), Vibrio sp e Clostridium botulinum (LIRA, 2013).
No pescado que é comercializado, seja ele resfriado ou congelado e consumido não
cru, o padrão micorbiológico desejável consiste na ausência de Salmonella em 25 g e
tolerância de até 103 UFC/g de Sthapylococcus coagulase (+) e os que são defumados devem
ter no máximo 102 NMP/g de coliformes a 45ºC, 5x102 UFC/g de Sthapylococcus coagulase
(+) e ausência de Salmonella em 25 g (BRASIL, 2003).
As análises de Contagem Total de Bactérias Heterotróficas Mesófilas, Contagem Total
de Bactérias Heterotróficas Psicrotróficas, Contagem de Coliformes Totais e Contagem de
Coliformes Termotolerantes estabelecem parâmetros que determinam as condições de higiene
e sanitização em que o produto se encontra, sendo considerados bioindicadores de
contaminação e do estado de conservação do pescado. Para a classificação e determinação do
microrganismo como bioindicador ele deve ser de fácil identificação, não deve ser da
microbiota natural do produto a ser avaliado, sua presença está atrelada à presença dos grupos
de patógenos a serem identificados (ou seja, ter as mesmas necessidades ambientais que o
patógeno) e crescimento rápido (CERQUEIRA, 2013; LIMA, 2012).
Silva, (2002) destacou que os bioindicadores podem ser separados em dois grupos:
aquele que não tem relação direta com a ocorrência de doenças provocadas por contaminação
alimentar, sendo eles contagem padrão de mesófilos, contagem de psicotróficos e termófilos
e contagem de bolores e leveduras; o segundo grupo está relacionado diretamente com as
contaminações alimentares, porém em grau baixo são eles os coliformes a 35ºC, coliformes a
45 ºC, Enterococcus, enterobactérias-totais e E. coli.
16. OBJETIVOS
16.1. OBJETIVO GERAL
Avaliar a qualidade sanitária do camarão da Malásia produzido em sistema orgânico
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16.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Avaliar o estado sanitário do camarão da Malásia alimentado com ração convencional
Avaliar o estado sanitário do camarão da Malásia alimentado com ração doméstica, de forma
orgânica;
Avaliar o estado sanitário do camarão comercializado no mercado público
Avaliar o estado sanitário do camarão comercializado em um mercado da região
Comparar a qualidade sanitária do camarão da Malásia produzido de forma orgânica com o
cultivo convencional e com os camarões que são comercializados na região
17. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
Os camarões pertencentes ao sistema de recirculação em experimentação que foram
submetidos a dois tratamentos de ração em que o primeiro foi alimentado com ração
comercial e o segundo com ração doméstica (metodologia descrita no primeiro capítulo),
foram avaliados quanto à sua condição de sanitização (por meio de análise microbiológica) e
comparados com camarões comumente comercializados na região de João Pessoa (PB).
Os indivíduos no estágio de engorda do primeiro tratamento que foram alimentados com
a ração doméstica foram produzidos na presente pesquisa (Capítulo I), e fez uso de resíduos
domésticos de origem hortifrutigranjeira, no segundo tratamento foi ministrado a ração
industrial que é convencionalmente utilizada na carcinicultura convencional. O sistema
desenvolvido foi destinado à carcinicultura familiar, sendo assim os materiais e a tecnologia
desenvolvida para a produção têm em vista o menor custeio e um maior reaproveitamento de
resíduos e/ou recursos disponíveis na própria comunidade da Penha, João Pessoa (PB).
Todas as amostras foram coletadas no mesmo dia com camarões frescos e
armazenadas em caixas térmicas individualizadas, para evitar a contaminação de uma amostra
com as demais, em cada caixa térmica continha gelo (Temperatura ± 1ºC) para a manutenção
e conservação das condições no qual os produtos foram coletados. Para que também não
houvesse contaminação com o gelo, o mesmo foi mantido em recipiente impermeabilizado,
garantindo que a microbiota que foi detectada era a presente no camarão no momento da
amostragem. Sendo assim, foram realizados quatro tipos de amostragem que consistem em:
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Amostra 1 = Camarão da Malásia cultivado com ração industrial (CMI)
Amostra 2 = Camarão da Malásia cultivado com método orgânico (CMO)
Amostra 3 = Camarão obtido do mercado público (CMP)
Amostra 4 = Camarão obtido no supermercado (CS)
Para a determinação das condições de sanitização das amostras foram realizados
quatro tipos de análises: Contagem Total de Bactérias Heterotróficas Mesófilas, Contagem
Total de Bactérias Heterotróficas Psicrotróficas, Contagem de Coliformes Totais e Contagem
de Coliformes Termotolerantes.
Para a contagem total de bactérias heterotróficas mesófilas utilizou-se metodologia
recomendada por Brasil (2003). Esta técnica baseia-se na semeadura da amostra ou de suas
diluições em ágar padrão para contagem (PCA), seguida de incubação com placas invertidas
em temperatura de 36±1ºC por 48 horas. Para a contagem padrão de microrganismos
heterotróficos psicrotróficos utilizou-se a mesma metodologia anterior, porém com incubação
de 7ºC±1ºC durante 10 dias, segundo metodologia descrita por Maturin & Peeler (2005).
Para a determinação de colimetria utilizou-se a técnica da Contagem de Coliformes
Totais e Contagem de Coliformes Termotolerantes, recomendadas por Brasil (2003), na série
de cinco tubos. Esta técnica foi dividida em 03 etapas: prova presuntiva, prova confirmativa
para coliformes totais e prova confirmativa para coliformes termotolerantes. A prova
presuntiva baseou-se na inoculação da amostra em caldo lauril sulfato de sódio, em que a
presença de coliformes é evidenciada pela formação de gás nos tubos de Durhan, produzido
pela fermentação da lactose contida no meio. A prova confirmativa para coliformes totais foi
realizada por meio da inoculação dos tubos positivos para a fermentação de lactose, na prova
presuntiva, em caldo verde brilhante bile 2% lactose, e posterior incubação a 36 ± 1ºC. A
presença de gás nos tubos de Durhan do caldo verde brilhante evidencia a fermentação da
lactose presente no meio. Finalmente, a confirmação da presença de coliformes
termotolerantes foi realizada por meio da inoculação em caldo EC, com incubação em
temperatura seletiva de 45 ± 0,2ºC a partir dos tubos positivos obtidos na prova presuntiva.
A avaliação estatística dos dados foi realizada através do teste- T para amostras
independentes no programa “R software”.
78
18. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de Microrganismos Mesófilos Aeróbios Estritos e Facultativos Viáveis
(UFC/g), demonstra que dentre as quatro amostragens realizadas a que apresenta menor
densidade média de microrganismos é o camarão da Malásia alimentado com ração industrial,
que apresentou 2,86 x 104 UFC/g, seguido do camarão de supermercado com 3,37 x 104
UFC/g, posteriormente veio o camarão da Malásia orgânico com densidade de 4,77 x 104
UFC/g, e a maior densidade foi encontrada no camarão comercializado no mercado público
com 5,62 x 106 UFC/g. Pode-se identificar que os três primeiros tipos de amostras se
encontraram na mesma ordem de grandeza 104 enquanto a densidade apresentada pelo
camarão comercializado no mercado público apresentou 106 (TABELA 04). Essa diferença é
bastante expressiva e denota a forma em que o mesmo é cultivado, armazenado e exposto.
A avaliação dos microrganismos aeróbicos mesófilos é importante, pois estes
organismos apresentam as condições de temperatura ótima no espectro de crescimento ótimo
para a maioria das bactérias patogênicas (37ºC), as bactéria que englobam o grupo de
mesófilos aeróbicos são: Enterobacteriaceae, Bacillus, Clostridium, Corynebacterium e
Streptococcus (CERQUEIRA, 2013). Sendo assim, quando este grupo se apresenta em
grandes quantidades significa que a contaminação está alta e que os métodos de manutenção e
controle de higiene foram falhos, assim deve-se rever as condições de temperatura de
conservação, bem como a limpeza dos utensílios utilizados no manuseio do alimento.
A contagem total de bactérias aeróbicas sejam elas mesófilas ou psicrotróficas é um
indicador do total geral de bactérias presente em uma amostra, importante na determinação do
estado de deterioração do produto (LIMA, 2012), já a contagem padrão de bactérias mesófilas
aponta para condições higiênicas precárias sob a condição do tempo e da temperatura. Os
gêneros Bacillus, Clostridium, Corynebacterium e Streptococcus são alguns dos pertencentes
deste grupo (LIMA, 2012).
Analisando estatisticamente, através do teste T, foi possível observar diferenças
significativas entre os tratamentos, para bactérias psicrotróficas, coliformes totais e
termotolerantes, sendo sempre menos abundantes no tratamento orgânico, apenas as bactérias
mesotróficas não apresentaram diferenças significativas.
Para Rolim (2015, p.73) na análise de bactérias mesófilas realizada em camarões
Litopenaeus vannamei em quatro tipos de amostras em que o primeiro foi o camarão
79
industrializado, o segundo foi o comercializado no mercado, TO e TI (tratamento orgânico e
industrial respectivamente), observou que “o camarão industrializado apresentou maior
número de bactérias mesófilas, seguidas daqueles do mercado local, TO e TI”, resultado este
que difere do encontrado na presente pesquisa que identificou que o camarão do mercado
público (CMP), seguido do camarão da Malásia orgânico (CMO), depois o camarão do
supermercado (CS) e por fim o camarão da Malásia industrial (CMI).
Tabela 04 – Contagem Padrão Média de Microrganismos Mesófilos Aeróbios Estritos e
Facultativos Viáveis, expressos em UFC/g. CMI = Camarão da Malásia cultivado com ração
industrial; CMO = Camarão da Malásia cultivado com método orgânico; CMP = Camarão
obtido do mercado público; CS = Camarão obtido no supermercado.
CMI CMO CMP CS
1º resultado 3,04 x 104 2,70 x 104 1,16 x 106 2,50 x 104
2º resultado 2,96 x 104 2,40 x 104 6,60 x 106 3,70 x 104
3º resultado 2,59 x 104 9,20 x 104 9,10 x 106 3,90 x 104
Média 2,86 x 104 4,77 x 104 5,62 x 106 3,37 x 104
Na contagem de Microrganismos Heterotróficos Psicotróficos (UFC/g), a amostra que
se mostrou em melhor condição de sanitização foi a do camarão da Malásia orgânico, seguido
pelo camarão da Malásia industrial, o camarão do supermercado e em pior condição de
conservação estava o camarão do mercado público (TABELA 05). Neste parâmetro
identifica-se que há uma grande diferença na densidade microbiológica encontrada entre os
camarões da Malásia produzidos junto à comunidade da Penha, João Pessoa (PB), destacando
que o camarão orgânico obteve uma densidade muito inferior tanto no quadro geral das
amostras quanto na avaliação com o camarão da Malásia alimentado com ração industrial.
Outra grande diferença de densidade também é percebida na amostra do camarão vendido no
mercado público que o qualifica como o menos indicado para o consumo também neste
bioindicador.
80
Bactérias psicrotróficas proliferam-se mais em temperaturas baixas pois há uma
diminuição na fase lag (favorecem a deterioração do produto sob baixas temperaturas) em
produtos congelados, esse grupo é o principal fator de deterioração do pescado, o seu
crescimento promove uma competição com as bactérias patogênicas (LIMA, 2012). A ICMSF
(2002) indica que a contagem de mesófilos e psicotróficos não pode exceder os 107 UFC/g.
Tabela 05 – Contagem Padrão Média de Microrganismos Heterotróficos Psicrotróficos,
expressos em UFC/g. CMI = Camarão da Malásia cultivado com ração industrial; CMO =
Camarão da Malásia cultivado com método orgânico; CMP = Camarão obtido do mercado
público; CS = Camarão obtido no supermercado.
CMI CMO CMP CS
1º resultado 2,33 x 105 2,40 x 104 9,20 x 106 1,05 x 105
2º resultado 2,48 x 105 2,50 x 104 1,15 x 106 1,72 x 105
3º resultado 2,45 x 105 9,20 x 104 8,10 x 106 9,60 x 105
Média 2,09 x 105 2,37 x 104 6,15 x 106 4,12 x 105
A contagem de coliformes totais obteve as seguintes médias em ordem crescente de
densidade avaliada: o camarão da Malásia orgânico apesentou 5 UFC/g, seguido pelo camarão
do supermercado com 15 UFC/g, do camarão da Malásia industrial 280 UFC/g e por último o
camarão do mercado público com 300 UFC/g (TABELA 06). Também nesta análise o
camarão da Malásia orgânico obteve o melhor resultado e o camarão do mercado público o
pior.
Os coliformes totais são um grupo de bactérias que integram a familia
Enterobacteriacea que está associada com a contaminação fecal recente, e neste grupo há um
sub-grupo, o dos coliformes termotolerantes ou seja coliformes que fermentam à temperatura
de 44 a 45,5 ºC ( LIMA, 2012). Estes estão associados com a contaminação fecal e a sua
presença indentifica o mau estado de higienização ocorrido no processamento dos alimentos,
e especificamente os coliformes termotolerantes são indicadores ótimos para o pescado
81
mantido sobre congelamento (pois dá indicativos de congelamento ineficiente e/ou
oscilatório). O aumento deste grupo pode também ser um indicador de criações com água
contaminada por estes organismos, o que é comum em ambientes estuarinos. Carvalho et al.
(2013) identificaram alta concentração de coliformes fecais nos estuários dos rios Itamambuca
e Juqueriquerê, o que indica que estes ambientes funcionam como um “funil”onde a poluição
vem a se acumular e concentrar.
Os resultados médios obtidos na contagem de Coliformes Termotolerantes (UFC/g)
foram: <2 UFC/g para o camarão da Malásia orgânico e para o camarão do supermercado,
14,33 UFC/g para o camarão da Malásia industrial e 36,67 para o camarão do mercado
público (TABELA 07).
Arannilew et al. (2005) encontraram os seguintes resultados para coliformes
termotolerantes 3,0 x 103 a 7,5 x 106 NMP/g em tilápias mantidas congeladas esta variação
pode estar relacionada com a variação da temperatura do período de armazenamento. Os
índices altos desse grupo de microrganismos é comumente encontrado no pescado fresco que
é comercializado a temperatura ambiente (LIMA, 2012). Porém os valores de risco não são
especificados na legislação brasileira (BRASIL, 2003).
Em estudo similar desenvolvido por Rolim (2015), com o camarão L. vannamei
encontrou resultados diferentes, ao comparar os camarões de mercado e industrializados com
os produzidos em sistema alternativo. Obteve o resultado de que os camarões industrializados
e de mercado apresentaram resultados melhores em detrimento dos camarões produzidos em
sistema alternativo, para os coliformes totais e termotolerantes.
Tabela 06 – Resultado da Contagem Média de Coliformes Totais, expressos em UFC/g. CMI
= Camarão da Malásia cultivado com ração industrial; CMO = Camarão da Malásia cultivado
com método orgânico; CMP = Camarão obtido do mercado público; CS = Camarão obtido no
supermercado.
CMI CMO CMP CS
1º resultado 3,0 x102 0,4 x 10-1 3,0 x102 1,7 x 10-1
2º resultado 3,0 x102 0,7 x 10-1 3,0 x102 1,4 x 10-1
3º resultado 2,4 x102 0,4 x 10-1 3,0 x102 1,4 x 10-1
82
Média 2,8 x102 0,5 x 10-1 3,0 x102 1,5 x 10-1
Tabela 07 – Resultado da Contagem Média de Coliformes Termotolerantes, expressos em
UFC/g. CMI = Camarão da Malásia cultivado com ração industrial; CMO = Camarão da
Malásia cultivado com método orgânico; CMP = Camarão obtido do mercado público; CS =
Camarão obtido no supermercado.
CMI CMO CMP CS
1º resultado 1,7 x 10-1 < 0,2 x 10-1 3,0 x 10-1 < 0,2 x 10-1
2º resultado 1,3 x 10-1 < 0,2 x 10-1 3,0 x 10-1 < 0,2 x 10-1
3º resultado 1,3 x 10-1 < 0,2 x 10-1 5,0 x 10-1 < 0,2 x 10-1
Média 1,4 x 10-1 < 0,2 x 10-1 3,7 x 10-1 < 0,2 x 10-1
A avaliação realizada por Emire e Gebremariam (2010) em filés de tilápias que foram
mantidas sob congelamento durante três meses constatou que o número de bactérias declinou
ao longo do tempo, que a carga total de bactérias foi de 2,6 x 106 para 8,2 x 105 UFC/g e
referente aos coliformes totais passou de 23 NMP/g para níveis indetectáveis. Neste trabalho
não foi realizada essa análise, no entanto, poderá servir de base para próximos estudos.
19. CONCLUSÃO
O Camarão do Mercado Público teve os piores resultados nas quatro análises a que
foram submetidos os camarões, o que indica condições inadequadas durante o seu
processamento
O Camarão da Malásia Orgânico mostrou-se em melhores condições do que as demais
amostras em três parâmetros que foram eles: Contagem Padrão de Microrganismos
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Heterotróficos Psicrotróficos; Contagem de Coliformes Totais e Contagem de Coliformes
Termotolerantes. Só na Contagem Padrão de Microrganismos Mesófilos Aeróbios Estritos e
Facultativos teve resultado com maiores densidades que o Camarão de Supermercado. O
perfil microbiológico de CMO é mais próximo do camarão que é comercializado em
supermercado, em que se espera melhores condições de sanitização para o consumo, pois o
mesmo passa por vários processos de desinfecção e que deve passar por constante
fiscalização.
Comparando o Camarão da Malásia Orgânico com o Industrial, o orgânico apresentou
melhores condições microbiológicas em três tipos de análises microbiológicas (Heterotróficos
Psicrotróficos; Contagem de Coliformes Totais e Contagem de Coliformes Termotolerantes).
Este fator pode estar relacionado com a condição de saúde do indivíduo como também com as
condições ambientais do meio de cultivo. Tendo em vista que o fator que diferencia os dois
tipos de amostras foi o tipo de alimentação ministrado nos dois tratamentos, e a alimentação
pode tanto interferir na qualidade da agua como no desenvolvimento do animal que a
consome.. O orgânico foi alimentado com ração doméstica (ou seja, livre de aditivos) e o
industrial foi alimentado com ração industrial, ambos criados sob as mesmas condições
ambientais. Portanto esse resultado deve ser atribuído a este fator.
Sendo assim, fica comprovado que a qualidade do camarão que é produzido na Penha,
em condições de alimentação com ração doméstica, e sistema biológico de tratamento de água
apresenta condições higiênicas comparáveis e até melhores do que os que são comercializados
na região, podendo ser considerado uma produção orgânica, de melhor qualidade para o
consumo humano.
20. O ENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE DA PENHA NO
DECORRER DO PROJETO
84
Antes de discorrer sobre a percepção no referido projeto, é imprescindível destacar que
a participação dos moradores da Penha deu-se por livre escolha, mas também de tempo em
tempos o projeto é beneficiado com ajuda de custo do Proext (Programa de Extensão da
Universidade Federal da Paraíba - UFPB). Nestes projetos anteriores, alguns dos participantes
mais ativos nas atividades são contemplados com uma ajuda de custo, no momento de
aplicação deste projeto, o mesmo não foi financiado. A determinação dos contemplados é
feita pelo presidente da Associação de Produtores de Frutos do Mar da Praia da Penha em
concordância com a coordenação do projeto. Sendo assim, ligados ao projeto de forma
financeira há umas seis pessoas. É importante ressaltar que o projeto ainda não atingiu o nível
de promoção de renda para a comunidade, fator que pode ser o decisivo na participação dos
demais membros da comunidade, visto que ainda está em fase de pesquisa.
A escolha em desenvolver um meio de produção do camarão gigante da Malásia, deu-
se através da sondagem da comunidade sobre que organismos os mesmos tinham interesse em
produzir. Posteriormente foi analisada a viabilidade desta produção e o método a ser adotado,
tendo em vista a logística da região em que o projeto seria implantado, as matérias disponíveis
e a adequação no que tange à sustentabilidade do sistema. Representantes da ONG Mandalla,
apresentaram o camarão à Associação de produtores de Frutos do Mar, que ficou interessada
em trabalhar com a espécie. Ao mesmo tempo relataram as dificuldades na produção da
espécie e pediram que a UFPB, através do projeto de pesquisa “Aquicultura familiar como
forma de desenvolvimento sustentável” ajudasse a criar um protocolo de cultivo. Ressaltando
que a proposta deste projeto objetiva ser um incremento na renda dos participantes, e que
através da sua vivência possam passar a formar outros laços com o seu meio, e que este possa
ver-se sendo parte e mantenedor da homeostase ecossistêmica.
No início do projeto foi necessário fazer alguns mutirões para a execução de atividades
(ou oficinas) tais como: limpeza de caixas d’água, para posterior montagem do sistema de
cultivo e produção da ração doméstica . Nestas ocasiões todo o grupo de participantes
estavam presentes e interessados em compreender cada etapa (desde a montagem do sistema à
alimentação dos camarões). Durante as atividades os participantes foram orientados quanto à
importância e o sentido de todas as etapas diante do que se objetiva na produção do camarão.
No decorrer do projeto as participações tornaram-se mais pontuais, mas em quase
todas as vezes em que o pesquisador esteve na comunidade havia um ou dois participantes
acompanhando as atividades de manutenção e análises do sistema. Quando em uma das
manutenções foi observado que os camarões estavam crescendo, na atividade seguinte a esta
85
houve várias adesões, os pescadores estavam curiosos e nitidamente interessados em ver os
camarões, na sequência deste fato o número e frequência de pessoas que visitavam as
instalações para ver e ajudar aumentou. O interesse também foi percebido entre as crianças
que vivem na comunidade, pelos seus constantes questionamentos sobres os organismos que
estão sendo cultivados e o que cada etapa (que eles observam) significa, as questões
levantadas foram sempre respondidas em linguagem adequada para as faixas etárias
correspondentes.
Diante do exposto foi possível perceber que a comunidade é suscetível ao projeto e
que a mesma tende a se tornar mais presente à medida que vai percebendo que a produção é
de fato viável. Também foi percebido um interesse maior pela produção de camarão na
comunidade, tendo em vista que já houve a tentativa de outras culturas em outros projetos
anteriores, como o camarão marinho e a ostra.
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22. CONCLUSÃO FINAL
A investigação propôs-se a pesquisar a melhor metodologia, para a elaboração de um
protocolo de produção de camarão de forma orgânica, para isso foi testado a criação com a
produção de ração doméstica e alimento natural. Tentou-se recriar as condições ambientais
adequadas para o pleno desenvolvimento dos animais, com a ministração de alimento vivo
para os indivíduos em estágio larval através de cultivos paralelos de fitoplâncton e
zooplâncton (que por sua vez também foram produzidos em sistema orgânico).
Os indivíduos no estágio de engorda foram alimentados com ração doméstica que
também foi desenvolvida na presente pesquisa, que utiliza resíduos orgânicos domésticos de
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origem hortifrutigranjeira. Como os cultivos orgânicos não utilizam aditivos químicos e neste
sistema os indivíduos não estavam em contato com os ambientes naturais (que em linhas
gerais se encontram poluídos), o alimento produzido será mais saudável que o produzido na
carcinicultura convencional. O sistema a ser desenvolvido foi destinado à carcinicultura
familiar, sendo assim as matérias e tecnologias desenvolvidas para a produção têm em vista o
menor custeio e um maior reaproveitamento de resíduos provenientes da própria comunidade.
A atuação conjunta dos moradores no projeto, veio a ser um fator integrador.
Assim, pretendeu-se pesquisar um sistema de cultivo de camarão orgânico, que
proporcione melhor produto e desenvolvimento social, causando menos impactos ambientais,
e assim divulgar para outras comunidades o protocolo desenvolvido.
Os resultados obtidos demonstraram que a qualidade de água na produção orgânica e o
crescimento do camarão foram melhores que no sistema alimentado com ração comercial.
Além disso, as condições sanitárias dos camarões produzidos em sistema orgânico
apresentaram menor densidade de bactérias indicadoras de contaminação ambiental,
demonstrando a superioridade do produto orgânico e a maior confiança desse produto para o
consumo humano.
23. CONSIDERAÇÕES FINAIS GERAIS
É preciso aumentar a capacidade suporte do sistema, ou aumentar a área de cultivo,
para garantir a viabilidade econômica e a partir da conclusão do estágio larval tem-se um
sistema que se auto sustenta e promove a autonomia da comunidade em relação aos
produtores larvais o que vem a diminuir os custos da produção. Por outro lado, a estrutura que
já existe na Associação permite a larvicultura desta espécie, que acredita-se ser possível, da
forma que vinha sendo realizada até o momento.
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As atividades futuras incluem a sequência do desenvolvimento larval, com águas com
distintas alimentações, e será avaliado se é possível com o alimento natural (plâncton)
desenvolver todas as fases juvenis até o Pós Larva. Isso sendo alcançado, o processo
produtivo pode ser considerado exitoso, por ter conseguido produzir todo o ciclo de vida do
animal em cativeiro, mesmo que sendo em pequena área, como uma caixa de água.
Como os cultivos orgânicos não utilizam aditivos químicos e neste sistema os
indivíduos não estarão em contato com os ambientes naturais (que em linhas gerais se
encontram poluídos), o alimento que será produzido será mais saudável que o produzido na
carcinicultura convencional.
Projetos futuros tentarão aumentar as taxas de sobrevivência, de forma a tornar a
produção mais importante a nível comercial.
Sobre as condições de sanitização deve-se ter cautela ao comprar e consumir camarões
em mercados públicos, observar as condições em que o produto é exposto e armazenado, pois
estes fatores são indícios fortes de suas condições de conservação que compromete a
qualidade do produto.