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Caixa Recapitalização assegura a sua finalidade pública? MS – Partilha dessa opinião? Considera que a recapitalização da Caixa assegura a sua finalidade pública? A primeira questão a que devemos responder é se a CGD precisa, ou não, de ser recapitalizada. Admitindo que o seja (o que não está demonstrado), precisamos de saber qual é o montante de capital adequado e quais os critérios subjacentes a esse cálculo. A Administração cessante, através do seu presidente (José Matos) disse que a CGD não precisava de ser recapitalizada. Quando muito, utilizando critérios mais apertados, essa recapitalização rondaria os 1.000M€ (milhões de euros). Agora, com base nos mesmos números e na mesma empresa de auditoria, vêm-nos dizer que, afinal, a CGD necessita de 5 vezes mais capital. Não de 1.000M€, mas de 5.160M€, sendo 2.700M€de dinheiro público. MS – Admite, então, que esse aumento de capital esteja a ser forçado? O aumento de capital de um banco não pode ser determinado, em rigor, sem se avaliar o risco da carteira e da probabilidade de incumprimento associado aos créditos em risco e demais responsabilidades contingentes. Isso exige o conhecimento, em detalhe, dos “dossiers” de crédito. António Domingues disse que, quando começou a negociar com Bruxelas o aumento de capital da Caixa (em Abril de 2016), sendo ainda Administrador do BPI, não podia ter esse conhecimento detalhado, sob pena de se estar a violar o sigilo bancário. A ser verdade, temos um administrador do BPI (de um banco privado concorrente da CGD) que é “indigitado” para negociar a recapitalização da Caixa, sem dispor de informação para aferir as suas necessidades de capital. Não conhecendo concretamente os créditos em risco e as garantias associadas, como poderia determinar as necessidades de capital? Por “analogia”? Por “palpite”? Apesar de não aferir essas supostas necessidades de capital, António Domingues foi a Bruxelas e Frankfurt. Sem essa informação, foi lá A recapitalização da CGD está na ordem do dia. A autorização de Bruxelas para a recapitalização da CGD com dinheiro público foi apresentado por António Costa como uma grande vitória do governo, porque a recapitalização acordada com a Comissão Europeia e o BCE garantia a manutenção da Caixa como banco público. Henrique Gomes da Costa Henrique Gomes da Costa é um bancário, recentemente aposentado, que quando estava no activo foi delegado sindical do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SBSI), no banco onde trabalhava – Novo Banco (ex-BES). Enquanto delegado sindical, em conjunto com outros delegados e membros de CTs da Banca, empenhou-se em várias iniciativas contra os despedimentos no sector. O MS entrevistou-o sobre o que se está a passar na CGD e a resistência dos bancários ao desmantelamento do sistema bancário em Portugal. Suplemento sobre a CGD I A

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Caixa Recapitalizaçãoassegura a sua finalidade pública?

MS – Partilha dessa opinião?Considera que arecapitalização da Caixaassegura a sua finalidadepública?

A primeira questão a quedevemos responder é se aCGD precisa, ou não, de serrecapitalizada. Admitindo queo seja (o que não estádemonstrado), precisamos desaber qual é o montante decapital adequado e quais oscritérios subjacentes a essecálculo.A Administração cessante,através do seu presidente(José Matos) disse que a CGDnão precisava de serrecapitalizada. Quando muito,utilizando critérios maisapertados, essarecapitalização rondaria os1.000M€ (milhões de euros).

Agora, com base nos mesmosnúmeros e na mesma empresade auditoria, vêm-nos dizerque, afinal, a CGD necessitade 5 vezes mais capital. Nãode 1.000M€, mas de5.160M€, sendo 2.700M€dedinheiro público. MS – Admite, então, que esseaumento de capital esteja aser forçado?O aumento de capital de umbanco não pode serdeterminado, em rigor, semse avaliar o risco da carteirae da probabilidade deincumprimento associadoaos créditos em risco edemais responsabilidadescontingentes. Isso exige oconhecimento, em detalhe,dos “dossiers” de crédito.António Domingues disseque, quando começou anegociar com Bruxelas oaumento de capital da Caixa(em Abril de 2016), sendoainda Administrador do BPI,não podia ter esseconhecimento detalhado, sobpena de se estar a violar osigilo bancário. A serverdade, temos umadministrador do BPI (de umbanco privado concorrente daCGD) que é “indigitado” paranegociar a recapitalização daCaixa, sem dispor deinformação para aferir as suasnecessidades de capital.Não conhecendoconcretamente os créditos emrisco e as garantiasassociadas, como poderiadeterminar as necessidades decapital? Por “analogia”? Por“palpite”?Apesar de não aferir essassupostas necessidades decapital, António Dominguesfoi a Bruxelas e Frankfurt.Sem essa informação, foi lá

Arecapitalização daCGD está naordem do dia. Aautorização deBruxelas para a

recapitalização da CGD comdinheiro público foiapresentado por AntónioCosta como uma grandevitória do governo, porque arecapitalização acordadacom a Comissão Europeia eo BCE garantia amanutenção da Caixa comobanco público.

Henrique Gomes da Costa

Henrique Gomes da Costa é um bancário, recentemente aposentado, que quandoestava no activo foi delegado sindical do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas(SBSI), no banco onde trabalhava – Novo Banco (ex-BES).Enquanto delegado sindical, em conjunto com outros delegados e membros de CTs daBanca, empenhou-se em várias iniciativas contra os despedimentos no sector.O MS entrevistou-o sobre o que se está a passar na CGD e a resistência dos bancáriosao desmantelamento do sistema bancário em Portugal.

Suplemento sobre a CGD I

A

fazer o quê? A menos que onível de imparidades eprovisões, não fosseimportante, não fosse oponto de partida, mas o dechegada. Fosse apenas opretexto para “justificar” oaumento de capital, prévia earbitrariamente decidido.

Como sindicalista, penso queos meus colegas da Caixa sedevem dirigir à Comissão deTrabalhadores e aos seusSindicatos – SBSI e STEC (1),para que estas suasorganizações representativasexijam ao Governo quedivulgue:- os critérios usados parapredeterminar o montanteanunciado da recapitalização- as condições e as contrapartidas associadas àrecapitalização da CGD,pois só assim se pode saber sea finalidade pública da Caixaestá garantida, ou se, pelocontrário, está ameaçada.MS - Isto leva-nos à questãoda composição pública(2.700M€) e privada(1.000M€) do financiamentoda Caixa. Algumas dascontrapartidas aceites eacordadas entre o governo deAntónio Costa, a ComissãoEuropeia e o BCE, são dodomínio público.Permitem essas condições queo Estado português continuea controlar a gestão da CGDe garantir a sua finalidadepública? Ou será que deixade ter o controlo da gestão daCaixa, permitindo que a suafinalidade pública sejaesvaziada, ainda que comcapitais públicos? Cingindo-me ao que é doconhecimento público, paraobter “luz verde” de Bruxelase do BCE, as condições aceites

pelo governo de António Costaforam as seguintes:O Plano de “reestruturação”consiste na entregacompulsiva de parte daquota de mercado da Caixaaos Bancos concorrentesprivados, que se traduz:- em Portugal, no fecho de 300balcões e na redução de 2.500postos de trabalho;- em Espanha, no abandonodo mercado espanhol,determinando o encerramentodas 110 agências e odespedimento dos actuais 521trabalhadores. Por outro lado, o Plano de“recapitalização” consiste naentrada de umaAdministração privada paragerir um Banco público epropiciar uma “renda”garantida a Bancos e Fundosprivados, em claro prejuízo dointeresse público. Ascondições foram as seguintes:- a entrada de 2.700 M€ decapitais públicos;- a emissão de 1.000 M€ de“instrumentos de dívida com elevado grau desubordinação” “títulos dedívida da CGD, destinada aFundos e Bancos privados, aquem o accionista da Caixa(Estado) garantirá uma taxade juro anual de pelo menos8%, durante 10 anos, numaaltura em que as taxas dosmercados estão próximas dezero, ou até negativas;- a nomeação para aAdministração da Caixa, degestores privados –previamente aprovados pelaComissão Europeia e peloBCE – maioritariamenteoriundos do BPI, mas tambémda Vodafone, da anteriorAdministração da PT, doDresdner Bank, do SantanderCentral Hispano (2)…levando o economista daCGTP e ex-deputado do PCP,Eugénio Rosa, a dizer que oBPI tinha feito uma “OPA”(Oferta Pública de Aquisição)à Administração da Caixa!

MS – Como assim?Em vez das necessidades decapital decorrerem da“normal” e “independente”avaliação da auditora –análise de risco eprobabilidade deincumprimento associado –poderão ter feito o inverso.Primeiro, fixaram oresultado pretendido(injectar 2.700M€ dedinheiro público) e, depois,foram “apurar” o montantede imparidades e deprovisões a registar,susceptíveis de “acomodar”ou servir de pretexto para oaumento pretendido.Veja-se o que diz o Expressode 19.NOV.2016. Vou citar:“De modo a maximizar odinheiro que o Estado vaicolocar na Caixa, o actualpresidente, AntónioDomingues, já informou aauditora (a Deloitte) quequer ter uma política maisconservadora em relação àsimparidades. Isto porque,quanto maior for o nível deimparidades e provisõesregistadas, maior será o

montante de dinheiro[público] disponibilizado.”.MS – Mas, isso é fazer batota!Nada que não tenham feitoantes. Essa foi exactamente amesma “trama” urdida noBANIF. A redução em cercade 60% do valor dos activosem risco (“haircut”), serviupara “justificar” a “injecção”dos 2.250M€ de dinheiropúblico no BANIF, oumelhor, no Santander.MS – Nesse caso, consideraque o processo derecapitalização da Caixa estáviciado?Formo as minhas opiniões apartir dos factos. Partamos,então, dos factos.Qual deve ser o objectivofundamental darecapitalização? Assegurar afinalidade pública da Caixa.Para isso, os seus capitaisdevem ser exclusivamentepúblicos. Mas, esse requisito,por si só, não garante afinalidade pública da Caixa.Têm de ser conhecidas ascontrapartidas associadas aessa recapitalização. Se assimnão for, como podemos saberse essa finalidade pública nãoestá a ser desvirtuada ouameaçada?MS – Considera que é issoque está em causa?O que digo, é que, para osaber, é indispensávelconhecer as condiçõesassociadas a essarecapitalização.

António Domingues

ANO XVIII ( II Série ) nº 125 de 24 de Novembro de 2016 / Publicação do

II

III MS – Fale-nos então dessaquestão, da composição e oscritérios de escolha dessaAdministração…Essa questão é, porventura, amais importante de todas asque envolvem a Caixa eaquela que, deliberadamenteou não, tem sido a maisescamoteada. A composição eos critérios para a nomeaçãoda Administração (desta oude qualquer outra) da Caixa é,para mim, a questãofundamental.O governo de António Costa eMário Centeno decidiunomear, para a Administraçãoda Caixa, um conjunto degestores privadosrepresentantes do capitalfinanceiro. O Governo nuncarevelou os critérios dessaescolha. O Governo nãodefiniu, como lhe competia,nem a missão pública daCaixa, nem a estratégia quepreconiza para a realizaçãodessa missão, dando até aideia que quem define aestratégia da Caixa é aAdministração nomeada e nãoo Governo. Escolheu os Administradoressem ter definido (prévia eclaramente) esses objectivos,quando os devia escolher sódepois de estabelecidos osobjectivos, para então definir operfil que os seus gestoresdeviam possuir.MS – O Governo tambémreferiu a necessidade de tergestores “profissionais”?Os gestores ditos“profissionais” não dãoqualquer garantia de boagestão.Eu e os meus colegas do ex-BES (agora Novo Banco)sabemos, infelizmente, osignificado das alegadascompetências queAdministrações“profissionais” conferem àgestão de um Banco. Tambémconhecemos bem o valor dapalavra de banqueiros egovernadores do Banco dePortugal. Até à véspera daqueda do BES, Faria deOliveira (o presidente daAssociação Portuguesa de

Bancos), Cavaco Silva,…todos defendiam a“idoneidade”, a “competência”e a “reputação” de RicardoSalgado. Carlos Costa (opresidente do Banco dePortugal) deixou que RicardoSalgado permanecesse noBES, até ao seu fim,permitindo que, na últimaquinzena da sua permanênciano Banco, “sacasse” mais1.200M€, que terão idoengrossar as somasastronómicas colocadas em“off-shores” por sicontrolados!Há muitos e bons gestores,dotados de grande

Que eu saiba, nem o Governo,nem o Ministério das Finançaselaboraram um “caderno deencargos” a definir a missão, aestratégia, que operações sãoautorizadas e proibidas(especulativas), quais oscritérios de concessão decrédito, quais os sectores eperfil de empresas a financiar.Nada disto foi feito, dando-setotal liberdade àAdministração privada paragerir o Banco público.A Caixa é formalmente umBanco público (de capitaisexclusivamente públicos).Mas, ao escolher comoadministradores representantes

profissionalismo no sectorpúblico. Os casos polémicos, ocrédito de favor e ofinanciamento a amigosficaram-se a dever – não ànatureza pública da Caixa –mas a actos e à gestão dolosade algumas administrações“políticas” (ou administradores)para beneficiar “Berardo’s”,“Fino’s” e outros mais. Ora não se pode, comopretendem, meter no mesmosaco, nem confundir a gestãofraudulenta e danosa deAdministrações da Caixa com anatureza pública da gestão, nemesta é a causa daquela. Comodisse um conhecido dirigentedo movimento operário,nenhuma mãe confunde o seubebé com a água suja onde lhedeu banho. A mãe deita fora aágua suja, mas não deita fora obebé… juntamente com a águasuja.MS – O que se pode, afinal,inferir sobre o impacto que ascondições da recapitalizaçãopoderão ter na Caixa?

de Bancos privados econcorrentes, o Governo está aabrir caminho para que afinalidade pública da Caixaseja desfeiteada: está, como secostuma dizer, a meter asraposas dentro do galinheiro.Caixa pública, exige capitaispúblicos, missão e estratégiapúblicas, gestores públicosque defendam e estejaminequivocamente ao serviçodo interesse público, exige adefesa de todos os postos detrabalho e a defesa doestatuto dos seustrabalhadores, que mantenhae melhore a qualidade dosserviços prestados àpopulação, o que éincompatível com a reduçãoda sua rede de balcões.A finalidade pública da Caixaé incompatível com umagestão privada, comrepresentantes do capitalfinanceiro (nacional einternacional) na suaAdministração, com gestoresque querem esconder os seus

António Costa com Faria de Oliveira

MS – Que ilações se podeminferir?Desde logo, o facto darecapitalização da Caixa estarligada a uma operaçãodestinada a propiciar aosBancos e Fundos privados, aogrande capital financeiro, uma“renda” anual mínima de 8%,garantida pelo accionistaEstado, sendo essa “renda”paga à custa dos proveitosgerados pela CGD e subtraídosaos dividendos que deveriamreverter a favor do Estado. Ouseja, está-se a “sangrar” aCGD e a usá-la como “vacaleiteira”, perdoem-me o termo,do grande capital financeiro.Depois, temos a redução de2.500 postos de trabalho e oencerramento de 300 balcões,ou seja, a redução forçada daactividade do Banco público,em prejuízo dos trabalhadorese dos clientes da Caixa e embenefício dos Bancosprivados concorrentes queficarem com os depósitos e ocrédito dos clientes dessesbalcões que foram forçados adeixar a Caixa.Depois, existe ainda apossibilidade darecapitalização pode vir aafectar o défice orçamental! MS – Afectar o déficeorçamental? Como assim?Foi-nos dito que essa questãotinha sido acautelada…A ideia de que arecapitalização da CGD nãoafectaria o défice públiconão é verdade.Se o Governo não conseguircolocar metade daqueles1.000M€ da dívida altamentesubordinada (500M€) emFundos e Bancos privados, odinheiro público darecapitalização (2.700M€)será classificado, pela UE,como “ajuda de Estado” epassará a contar para o défice.Isso explicará, porventura, oanúncio do adiamento darecapitalização para 2017. Além disso, entendo que acomposição e os critérios deescolha da Administração paraa Caixa, sendo uma dasprincipais questões, está a sertotalmente escamoteada.

Suplemento sobre a CGD

destruir os direitos laborais,sindicais e sociais dosbancários!Estou em crer que o DL nº39/2016 constitui uma sériaameaça à finalidade pública daCaixa, às regalias e direitosdos seus trabalhadores e ao seuestatuto.Ao contrário do que muitosfazem crer, a questãofundamental não é exigir queos Administradoresapresentem a sua declaraçãode rendimentos e património,mas exigir a revogação desseDL e a exoneração de umaAdministração sem perfil paragerir a “coisa” pública! MS – Enquanto sindicalista,o que faria, se estivesse naCaixa?Juntaria os colegas, para nosreunirmos com a Comissão deTrabalhadores e com os nossosSindicatos (SBSI e STEC), emandatá-los para exigirem doGoverno e dos partidos que oapoiam (PS, PCP, BE eVerdes):- a revogação imediata do DLnº 39/2016;- a exoneração imediata daAdministração nomeada;- a garantia escrita do Governode que nenhum balcão seriaencerrado e de que todos ospostos de trabalho seriamsalvaguardados, bem comotodos os direitos e regalias dostrabalhadores da CGD.

(1) STEC: Sindicato dos Trabalhadores dasEmpresas do grupo Caixa (Geral deDepósitos).

(2) Administradores Executivos: oriundosdo BPI (ANTÓNIO DOMINGUES,EMÍDIO PINHEIRO, TIAGO RAVARAMARTINS), da Vodafone (PAULORODRIGUES DA SILVA), da anteriorAdministração da PT (PEDRO LEITÃO);Administradores Não Executivos: oriundosda Gulbenkian (RUI VILAR), da Impresade Pinto Balsemão (PEDRO NORTON), doDresdner Bank (HERBERT WALTER, ex-presidente executivo do banco alemãoDresdner Bank e antigo administrador doBPI, em representação da Allianz,seguradora que controla aquele bancoalemão), do Santander Central Hispano(ÁNGEL CORCOSTEGUI – antigoDirector Executivo do Santander CentralHispano e fundador do “private equity”Magnum Capital, onde a CGD detémunidades de participação).

rendimentos e património, quese consideram como uma castaà parte, acima dos demais,com direito a saláriosmilionários e a um estatuto deexcepção.MS – Considera que estaAdministração devepermanecer?Não. A defesa da finalidadepública da Caixa exige aexoneração imediata destaAdministração e a revogaçãodo DL nº 39/2016. EsteDecreto-Lei foi feito,deliberadamente, para excluiros Administradores da Caixa(estes e os futuros) do Estatutode Gestor Público e lhesconferir um tratamento deexcepção. Ele deve serrevogado.Todos os partidos, que sereclamam da defesa dostrabalhadores, devem-sepronunciar nesse sentido. Istoé o que deve ser feito. Nãofazê-lo, é enfiar um “cavalo deTróia” dentro da Caixa!MS – António Costajustificou a aprovação dessediploma legal, porque eranecessário pagar bem aosgestores que nomeou, porquea Caixa merecia uma gestãocompetente…Considero isso uma ofensa ànossa inteligência.Desde quando é que a

competência é determinadapelo nível de salário auferido?A ser assim, qual é o nível decompetência que deve seratribuído aos ministros egestores públicos, para nãofalar de outros, que recebem 8vezes menos que essesbanqueiros? Desde quando é que umagestão privada é sinónimo decompetência?Quanto aos banqueiros, à suacompetência e às provasdadas… essas são conhecidas– levaram Bancos à falênciaou tiveram de pedir as ajudasde Estado, como foi o caso doBPI! Querem-nos fazer crer que,entre os quadros superioresqualificados da Caixa – que sesubmeteriam, livre evoluntariamente, ao Estatutode Gestor Público e aos níveisremuneratórios compatíveiscom a função – não existequem poderia preencher edesempenhar o cargo, tão bem,ou melhor que os banqueirosnomeados? Sinceramente, nãoacredito.MS – E quanto ao diplomalegal, propriamente dito?Já vimos que, desde oGoverno (que aprovou odiploma legal) até aoPresidente da República que opromulgou, todos tentam

eximir-se às suasresponsabilidades, empurrandopara o Tribunal Constitucional(TC) uma decisão que, antesde mais, é política e nãojurídico-constitucional.Este diploma, feito à medidados destinatários (adhominem), criou um regime deexcepção para os beneficiar. A questão não é entre osbanqueiros e o TC. Estediploma foi elaborado eaprovado por este Governo.A responsabilidade política édo Governo.A única atitude responsável ecorrecta consiste em demitiros banqueiros nomeados erevogar o DL nº 39/2016 quelhes atribuiu um regime deexcepção, em clara violaçãodo direito de igualdade detratamento devido a todos oscidadãos.Quanto a este diploma legal,creio que o seu alcance vaipara além dos banqueirosvisados.Ao libertar a Administração daCaixa (a actual e as futuras) dovínculo do Estatuto de GestorPúblico, não se estará a abrir aporta e a permitir que osgestores do Banco públicopassem a ficar sujeitos aocontrolo da ComissãoEuropeia e do BCE, àquelesque afinal lhes deram o aval?Por outro lado, para aplicar oplano de reestruturação, aAdministração da Caixaquer ter “as mãos livres”para poder dizer aostrabalhadores:“A CGD tem de ser geridacomo qualquer outro Bancoprivado. As leis e as regrastêm de ser essas, para todos. Oestatuto dos trabalhadores daCaixa está a ser um obstáculoà agilidade operacional doBanco. Para bem do Banco eda sua rentabilidade, esseestatuto e esses privilégios têmde acabar.”

MS – É uma premonição?Não tenho esse dom. Baseio-me apenas naquilo que temsido a estratégia usada pelosbanqueiros, desde sempre,para despedir, para tentar

Um Banco dePortugal e o seu“governador” – os agentes doBCE no nosso país. IV

ANO XVIII ( II Série ) nº 125 de 24 de Novembro de 2016 / Publicação do