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Seminário URBFAVELAS 2014 São Bernardo do Campo - SP - Brasil DESLOCAMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO, FRENTE Á HEGEMONIA DO CAPITAL:UMA QUESTÃO SOCIAL Vilma Pereira da Silva (Universidade Federal Fluminense-UFF) - [email protected] Assistente Social,Residente Pós-Graduanda Multiprofissional,Especialização em saúde oncologia;Hospital Universitário Antonio Pedro-HUAP-UFF-Niterói,RJ.

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Seminário URBFAVELAS 2014São Bernardo do Campo - SP - Brasil

DESLOCAMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO, FRENTE Á HEGEMONIA DO CAPITAL:UMAQUESTÃO SOCIAL

Vilma Pereira da Silva (Universidade Federal Fluminense-UFF) - [email protected] Social,Residente Pós-Graduanda Multiprofissional,Especialização em saúde oncologia;Hospital UniversitárioAntonio Pedro-HUAP-UFF-Niterói,RJ.

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DESLOCAMENTO POPULACIONAL BRASILEIRO, FRENTE Á HEGE MONIA DO

CAPITAL:UMA QUESTÃO SOCIAL

*Autor

RESUMO

O Presente artigo tem como objetivo apresentar análise sobre á população deslocada

internamente em território brasileiro,e aponta ser um desafio em decorrência do volume de

pessoas deslocadas do seu espaço natural de habitação. Envolvidas em situação de

desigualdades por conta das remoções intensificadas nas regiões de interesse do capital, os

sujeitos encontram-se em vulnerabilidade sem salvaguarda dos direitos humanos (DH).

Neste sentido o trabalho analisa à ausência de garantia de direitos e normas jurídicas de

proteção aos deslocamentos internamente forçados no território brasileiro,diante da

exploração de áreas ambientais nos grandes centros urbanos e interior do país. Justifica-se

o tema proposto por ser um fenômeno atual e merece estudo mais profundo quanto a

ausência de intervenção do estado em favor das populações removidas nas áreas

ocupadas, decorrente dos grandes empreendimentos e mega projetos, sob o aval do Estado

e parcerias público e privado; considerando a contribuição da assistência social como uma

política de direitos no aparato dos direitos humanos.

Palavras chaves: População Deslocada. Direitos Humanos.Questão Social.

________________

Assistente Social, Pós-Graduanda em Residência de Serviço Social Multiprofissional no

Hospital Universitário Antonio Pedro -HUAP,Universidade Federal Fluminense-UFF,Niterói-

RJ.

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INTRODUÇÃO

A proposta medular deste artigo apresenta as implicações das populações deslocadas no

território brasileiro e chama atenção para as mudanças no panorama das regiões afetadas.

Os deslocamentos na contemporaneidade tem se dado de forma crescente nos países em

desenvolvimento como África, Ásia, América Latina e o Brasil apresenta uma peculiaridade

além dos eventos climáticos, segue determinação do capital internacional sob a lógica de

mercantilização dos espaços regionais e urbanos. Nos demais territórios, as populações

deslocadas apresentam características adversa, reconhecendo-se a deslocação voluntária

quando a movimentação se dá por questões de crises internas, guerras ou catástrofes

ambientais. Segundo a legislação brasileira considera-se refugiada “ (1)a pessoa que devido

a grave e generalizada violação dos direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de

origem para buscar refúgio em outro país”.No estudo em questão verifica-se que o

deslocamento interno no território brasileiro, merece acompanhamento e intervenção de

normas jurídicas de direitos humanos e políticas sociais no atendimento a população

atingida nas remoções; reconhecendo-se que as remoções ocorrem involuntariamente,

alheio a vontade dos sujeitos sociais envolvidos. A ocorrência dos deslocamentos, tem

como resultado o ideário de desenvolvimento e sustentabilidade econômica no Brasil, cuja

origem surge a partir do lançamento (2) Programa de Aceleração do Crescimento

Econômico-PAC I e II e obras de construção dos mega eventos Copa do mundo e

Olimpíadas, este último gerado nos últimos tempos,grandes manifestações populares e

movimentos civis organizados. O saldo das construções dos mega eventos além da

população deslocada, são 8 mortes nas arenas da Copa e mais 3 em outras que seguem o

mesmo modelo; 250 mil pessoas removidas à força de suas casas; trabalhadores

ambulantes e artistas independentes são impedidos de trabalhar; mulheres,crianças e

adolescentes sofrem com a exploração sexual; assim como pessoas em situação de rua

sofrem violência por conta da concorrência nos espaços públicos, com elitização dos

estádios de futebol pelos bilhões investidos em armamentos para as forças de repressão

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usarem contra o povo e uma enorme e questionável dívida pública para a população pagar

após esses eventos (Comitê Popular da Copa,2014).O aprofundamento das desigualdades

tem atingido a população no remanejamento de uma região para outra,quando as mesmas

são encaminhadas para abrigos provisórios,sem infraestrutura, liberando os espaços de

interesse econômico, para beneficiar a exploração dessas áreas nobres ao capital privado

com aporte do Estado. O tema proposto tem sido abordado pela autora em outros trabalhos

apresentados em Congressos(3) e Justifica-se a relevância do trabalho pela abordagem

atual ser de interesse social, para estudos acadêmicos e interesse dos movimentos civil

organizado, trabalhadores e populações tradicional. Verifica-se que há um crescente

aumento das remoções em território nacional, atingindo a vida de pessoas verificando-se

que há mudanças no perfil etnográfico das regiões.O trabalho discute o desenvolvimento

econômico, os investimentos em infraestrutura ás empreiteiras na construção de mega

eventos em áreas urbanas e exploração de minérios no interior do país,com beneficiamento

de parcerias público e privado junto as empresas multinacionais, como Belo Monte, antiga

Vale do Rio Doce entre outras, em detrimento da população tradicional e moradores de

áreas de interesse para exploração do capital neoliberal.Apresentamos como metodologia

investigação de análise empírica, documental de caráter descritivo e referencial teórico

metodológico de autores diversos, sob o contexto das remoções de população em território

nacional e exploração no território brasileiro. É notório as diferenças dos deslocamentos em

outros países verificando-se os impactos gerados nas áreas atingidas pela intervenção das

parceria público-privado, o dilema da população removida do seu local de moradia e

encaminhadas para abrigos provisórios,transferida para outras regiões sem a proteção de

direitos humanos(DH) e políticas de habitação na reintegração social. Por tanto, o artigo

buscou analisar as circunstâncias da atuação dos (DH) no continente e aponta para uma

reflexão, considerando a contribuição da assistência social como uma política de direitos no

aparato dos direitos humanos (DH), sendo o objeto de análise o deslocamento populacional

uma das expressões da questão social em território brasileiro.

BREVES CONSIDERAÇÕES AO DEBATE

Analisando o conceito de “deslocamento”,Porte (2008) refere mesmo que as pessoas

podem tornar-se transnacionais sem nunca terem saído de seus países” Há uma

comparação entre deslocados e o termo “refugiado” associado a pessoas ou grupos que,

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embora não sejam perseguidos, são forçados a deixar seu país de origem,por desastres

ambientais, mudanças climáticas,fome, desemprego,desordem social, guerras internas no

país,questões raciais, conflitos religiosos entre outros. Buscam segurança ou perspectivas

de vida e sobrevivência em outros países ou regiões e, quando nestes casos não se

configuram o conceito de refugiados; estas pessoas ou grupos são com frequência

chamados de migrantes econômicos, refugiados de fato ou deslocados por motivos

ambientais ou conflitos internos.

O elemento propagador do deslocamento populacional no Brasil ocorre na maioria das

vezes por desastres ambientais, interesses políticos e atualmente com a crescente

valorização na desocupação de terras, a população tem sido alijada do desenvolvimento

socioterritorial e colocadas em segundo plano. Nascimento,Allan(2011) acentua que, essas

pessoas não são consideradas para proteção como deslocados,ou por sofrer violação dos

direitos humanos nas remoções,como no caso das deslocações arbitrárias em

consequência de projetos de desenvolvimento em grande escala. O panorama internacional

de população deslocada ou refugiados ambiental embora não seja reconhecido pela ONU,

calcula-se que existiram só em (2011) aproximadamente 50 milhões de pessoas obrigadas a

deixar suas casas por problemas de desastres ambientais,conflitos

internos,guerras,perseguições política e religiosa. De acordo com a ONU as alterações

climáticas, tem proporcionado mudanças e deslocamentos sendo algo natural. Caso

concretizem as mudanças climáticas que causam os deslocamentos nesses países e inclui-

se o Brasil; as previsões de elevação do nível dos oceanos é uma realidade que não se

pode desprezar. Há o risco de algumas nações desaparecerem por danos ambientais e

climáticos. Estimativas da ONU em 2010-2011, já indicavam que em 2.060, o numero de

refugiados ou populações deslocadas nos territórios atingidos, estará entre 250 milhões e 1

bilhão de seres humanos (ONU,2010). O Relatório da ACNUR Tendência Global (2012)

aponta que no final de 2012 havia 35,8 milhões de pessoas sob o amparo da ACNUR

agência da ONU, apresentando a segunda cifra mais alta registrada de populações

deslocadas. Destas 17,7 milhões eram de refugiados,sendo 2,3 milhões a mais do que em

2011.No Brasil o numero de população deslocada tem aumentado sendo invisíveis essas

populações, retiradas da moradia por questões de desastres ambientais e ações arbitrárias

do Estado; pela ausência de planejamento habitacional para absorver o volume

populacional. Portanto vive-se á deriva, formando verdadeiros contingentes de

homens,mulheres,idosos e crianças permanecendo em aglomerados de moradias, sem

infraestrutura, abandonados pelo poder público, quando decide remover essas populações

para atender aos interesses do capital imobiliário. Por força da imprudência do Estado vem

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sendo realizado ações de remoção por conta dos mega eventos, originando deslocamento

populacional, afetando a vida de trabalhadores, remanejados para locais distantes de sua

moradia e local de trabalho. Neste sentido Yazbek (1993) aponta para a realidade “que a

historia recente do capitalismo vem mostrando a rejeição de contingentes de trabalhadores

para os quais o trabalho é instrumento de sobrevivência e não de ascensão social”

(YAZBEK,1993).

POPULAÇÃO DESLOCADA, FRENTE A HEGEMONIA DO CAPITAL

Tendo em vista o conceito de desenvolvimento sustentável estar em discussão, quanto ao

enfrentamento e seus desafios, as perspectivas mostram como a degradação ambiental e

exploração de terras, intensifica as desigualdades, através do impacto negativo sobre a vida

das pessoas na ausência de políticas sociais de prevenção aos impactos e garantia de

direitos para os atingidos, o que configura uma das expressões da questão social. A

sustentabilidade encontra-se descolada do desenvolvimento social, privilegiando interesses

do capital. O crescimento sustentável permite aos sujeitos fazerem ás suas escolhas de

acordo com o padrão de vida de cada um, respeitando á diversidade cultural, sócio-político,

étnicas, de gênero e orientação sexual resguardando as tradições de um povo.Portanto é

incompreensível que ações que agridem o meio ambiente, afetando as populações possam

partir do Estado, privilegiando interesses econômicos e grandes empreiteiras do capital. A

população no interior do país afastada das metrópoles, enfrentam o avanço do poder

econômico, através da exploração nas áreas de interesse, firmados entre a parceria do

Estado e as grandes corporações econômicas; provocando á desaceleração do

desenvolvimento social, estabelece a desigualdade, permitindo o avanço da pobreza,

aumento da violência nos grandes centros urbanos e também no interior dos estados. A

sustentabilidade do meio ambiente como melhor condição de vida é um fenômeno que vem

sendo discutido, visando garantir ás necessidades do presente; desde que os sujeitos

sociais participem deste desenvolvimento.

Contextualizando o modelo vigente de crescimento sustentável, verifica-se o beneficiamento

das áreas urbana e interior dos estados, para exploração dos recursos naturais e construção

de grandes projetos de desenvolvimento econômico, em detrimento da população,sem

investir em moradias e novos abrigos. Enquanto as regiões afastadas dos grandes centros

enfrentam avanços nas demarcações de terras para as empreiteiras; longe do conhecimento

público,origina-se deslocamentos populacional, recrudescimento nas ações e impactos

sociais negativos.O sucateamento nas áreas ocupadas pelo Estado,altera a espacialidade

atingindo populações tradicional,quilombolas, tribos indígenas e muitos desses povos tem

sido eliminados nos embates entre grileiros, fazendeiros e população local. Neste sentido

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Deluize,N.,(2004) “observa que desigualdades e degradação ambiental sempre andaram

juntas no Brasil,contornando uma questão socioambiental e,por outro, as agressões no meio

ambiente (custos ambientais) afetam as pessoas que dele dependem para viver e

trabalhar”.(2004,p.4). Em nome do crescimento sustentável o capital hegemônico vem se

apropriando dos espaços regionais e urbanos, sob aval do Estado para exploração de mega

projetos, construções de hidrelétricas, exploração de jazidas de ferro e implantação de

agronegócios, que longe de solucionar e amenizar as questões sociais, aprofundam as

desigualdades. De acordo com (VALENCIO,2009;MARCHEZINI E SIENA,2010),

à alteração na condição de desabrigado para desalojado dá-se

sobretudo, quando no contexto de convivência e suprimento dos

mínimos vitais no abrigo provisório se torna aquém do admissível aos

valores, princípios e necessidades psicossociais e materiais do

indivíduo ou da família, o que deflagra reivindicação, junto ao Estado,

do direito a auxilio moradia no valor de um salário mínimo. (grifo

nosso) .

Estimativas dão conta que cerca de 50% da área urbana de Altamira-PA foram alagadas,

provocando o deslocamento da população para outras regiões, sem que estas tenham sido

consultadas ou orientadas no devido tempo, para serem realocadas em outros municípios

ou integradas em programa de habitação popular para novas moradias. Como

consequência, entre 30 a 40 mil pessoas foram desalojadas pela obra da Usina Hidrelétrica

de Belo Monte (4) que está sendo construída no Rio Xingu-PA,nas proximidades da cidade

de Altamira. O divisor de águas foi a decisão de instalar na região a terceira maior

hidrelétrica do mundo, Belo Monte, sem realizar planejamento habitacional para essa

população e posterior reintegração em moradias dignas.Na cidade, a vida segue sem

saneamento básico, a educação é precária,água limpa é para poucos, o sistema de saúde

funciona mal para todos. Dezenas de quilômetros dali,o trabalho nos canteiros da usina

exibe avanços bem visíveis. A comparação entre o frenesi de lá e o impasse de cá entre os

moradores, produz uma queixa consensual na população: há muito descompasso entre o

ritmo da construção e a lentidão em atender às demandas urbanas e social destes

trabalhadores.

A justificativa do Estado para o deslocamento populacional é de que o país precisa

desenvolver economicamente e reduzir as desigualdades sociais. No entanto as

desigualdades são geradas por essas iniciativas truculentas, retirando da população o único

bem que lhes resta a moradia, sem repor este bem e as perdas geradas. A diferença dos

deslocamentos internamente no Brasil e outros países, se diferenciam, pois no Brasil ocorre

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os desastres naturais, e exploração pela política de desenvolvimento econômico excluindo o

povo trabalhador, com aprofundamento a partir da implementação das obras do Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC) quando foi lançado em 2007. O programa elaborado

inicialmente com a intenção de recuperar o crescimento econômico até 2010, com um

avanço previsto até 5% tem deixado um saldo negativo. Esta modalidade de crescimento

econômico tem provocado o deslocamento de contingente populacional pelas obras do PAC

que envolve também os mega eventos por conta da Copa do Mundo e as Olimpíadas até

que surjam novos projetos de interesse econômico. O próprio Estado através das

parcerias,autorizam que empresas realizem exploração nas regiões de interesse econômico

deixando um saldo de populações deslocadas que a cada ano aumenta, por conta das

desocupações e desapropriações surpreendendo a população, principalmente as remoções

truculentas de imóveis ocupados e abandonados pelo Estado,obrigando esses moradores a

construir aglomerados da pobreza. Por outro lado, ao ocorrer mudanças climáticas os

territórios que menos atenção recebem de infraestrutura do Estado por não ser áreas de

interesse público, são os primeiros a ser atingidos; afetando os habitantes que se encontram

nessas áreas. Neste sentido as intervenções realizadas tem se dado de forma violenta da

noite para o dia, removendo pessoas que se veem obrigadas à abandonar os seus bens,

largar tudo para trás por conta das remoções arbitrárias ou por eventos de desastres

ambientais, como ocorrido na cidade do Rio de Janeiro em 2010 algumas comunidades

como a do Morro do Urubu em Pilares, zona norte do Rio de Janeiro cerca e 250 famílias

ficaram desabrigadas após a desocupação de suas casas em áreas atingidas por

deslizamentos e risco iminente. A população atingida no desastre ambiental no Morro do

Bumba em Niterói no mesmo ano; também foi atingida e a população obrigada a procurar

abrigo em casas de parentes ou foram deslocados para outras áreas próxima à comunidade

ou regiões mais distantes. Para Oliveira (2004), “As definições de deslocados internos são

limitados, pois baseiam-se no critério de ‘refugiado’ onde somente o fato de não cruzarem

uma fronteira nacional os diferenciaria dos refugiados”. Por diversas razões inúmeras

pessoas se veem obrigadas a deslocarem-se de sua cidade, algumas não chegam a

atravessar uma região e frequentemente perdem a referência social, sejam de amigos,

vizinhos, familiares e veem-se sem perspectivas; desamparados pelas políticas sociais que

não garante proteção as famílias e muitas das vezes os perseguem, por instrumentos

jurídicos defasados e insuficiente, ao invés de proteger este cidadão os renegam pelo fato

de ser um desabrigado, deslocado vivendo em abrigos provisórios ou até mesmo

engrossando as fileiras da população de rua. Esta é mais uma realidade da população de

sobreviventes como de algumas comunidades em Niterói de cidades do Rio de

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Janeiro,São Paulo e outros estados;onde engrossam as fileiras a população de Sem

Terra,Sem Teto entre outros. Desde sua desativação, na elevação de terras formada pela

acumulação de resíduos no Morro do Bumba em Niterói, foram construídas habitações cujos

registros de deslizamentos e desabamento de casas nessa área instável eram constantes.

Todavia, a expansão do assentamento foi tolerada e mesmo estimulada pelo Poder Público

municipal que, em 1996, realizou obras de urbanização sobre terrenos onde nada deveria

ser construído e as demais administrações, também nada fizeram. O desinteresse por

estas áreas que não traz lucratividade para o Estado faz com que abandone a ideia de

políticas sociais junto a população. São áreas improdutivas, sem atrativos imobiliários e de

lucro, que mobilize o Poder Público a realizar obras de contenção nas encostas e remoção

das famílias para áreas seguras através de políticas de habitação, até que ocorra fortes

mudanças climáticas, mobilizando a sociedade como ocorreu no desastre que tirou a vida

de trezentos pessoas.

Cabe mencionar o entendimento de Valencio,V.,que as mortes decorrentes de desastres

devem ser consideradas para além de meras estatísticas, posto que a existência de óbitos

pressuponha falhas incontornáveis do Estado, particularmente dos órgãos de defesa civil,

cuja missão é resguardar a incolumidade da vida em contexto de desastre (VALENCIO E

VALENCIO,2010). A importância de legislação Jurídica (5) de proteção aos desabrigados e

deslocados internamente se faz necessário, na medida em que os desastres ambientais

ocorrem com muito mais vigor do que se espera as ações de crescimento econômico a

qualquer custo, aprofundam as desigualdades e violências nesses espaços;agravado pela

ausência do Estado.Sendo necessário repensar este crescimento econômico acelerado a

qualquer custo, sem investir mais no desenvolvimento social, nas Políticas de Habitação e

garantias de direitos humanos (DH) para os desabrigados..

CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho analisa as condições das populações deslocadas internamente no país,

apresentando um cenário de desigualdades e verifica a diversidade de elementos que

apontam para a desestruturação nas relações societárias, imposta por um projeto neoliberal

internacional de caráter acumulador na produção capitalista, que no seus últimos estágios

vem desenvolvendo a barbárie social,ocasionando uma das maiores crises de identidade nos

últimos tempos na América Latina em especial no Brasil, com a questão da exploração dos

recursos naturais, sucateamento de terras ocupadas pelos trabalhadores, povos tradicionais,

indígena e nos grandes centros os interesses de especulação imobiliária promovem as

desocupações arbitrárias. Discute-se o Programa de Aceleração de Crescimento quando

investe massivamente com aportes na parceria público e privado, enquanto

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aproximadamente duzentas famílias na cidade de Niterói, ainda encontram-se desabrigadas,

aguardando uma nova moradia. A maioria das famílias encontram-se em abrigos provisórios

ou vivendo com familiares e faz cinco anos que aguardam uma solução da Administração

municipal para que providencie novas habitações para a população,deixando de lado as

especulações e as políticas menores para angariar votos em épocas de eleição.O

aprofundamento das desigualdades ocorrem no remanejamento da população de uma região

para outra,quando as mesmas são encaminhadas para abrigos provisórios,sem

infraestrutura a fim de liberar as desocupações de áreas nobres para beneficiar a

especulação imobiliária pelo capital privado com o aporte do Estado, configurando uma das

várias expressões da questão social . Cabe ressaltar que o debate não pretende se esgotar

no presente artigo, mas tão somente apresentar uma análise para reflexão e

aprofundamento em futuros apontamentos, esclarecendo na investigação que fica claro a

resposta aos questionamentos quanto ao aumento de população deslocada no país, segue

uma estruturação de caráter político e de acumulação econômica em detrimento da

população e desenvolvimento social. Portanto, está expressamente qualificado na

Constituição Brasileira de 1988, aguardando portanto que se cumpra a vinte e seis anos

garantia digna de habitação para a população brasileira.

(1)Lei 9.474/97, de 22 de Julho de 1997,art.1º.inciso III).Define mecanismos para

implementação do estatuto dos deslocados(refugiados )de 1951, e determina outras

providências.Art. 1º.Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: III- devido a grave

e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade

para buscar refúgio em outro país.

(2) PAC-Programa de Aceleração do Crescimento econômico,foi lançado pelo governo Lula

no dia 28 de janeiro de 2007,prevendo investimentos da ordem de 503,9 bilhões de reais até

o ano de 2010,quando foi lançado o PAC II pelo governo Dilma aprofundando os

investimentos na economia e infra-estrutura com mudanças no perfil do país, o Estado tem

sido abusivamente omisso em relação ao assunto. Ainda segundo o juiz, o prazo

apresentado para a conclusão dos trabalhos é muito restrito, diante da complexidade e a

extensão da tarefa- sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento

Agrário,Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), da Secretaria do

Patrimônio da União (SPU), entre outros.http://www.ecodebate.com.br/2013/12/05/belo-

monte-justica-rejeita-pedido-de-prazo-para-regularizacao-fundiaria-mpf-vai-recorrer/.

(3) O tema foi abordado em trabalho aceito no Congresso Ciso Pré-Alas em setembro de

2012, na Universidade Federal do Piauí-UFPI;publicação no Congresso II Foro de

Sociologia ISA,Justiça Social y Democratizacion em Buenos Aires-Argentina em 2012,

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:<http.www.isa-forum2012-programme-book.pdf> Acesso em 25 mai.2014. tema abordado

na apresentação do III Congresso Internacional do Núcleo de Estudo das

Américas,UERJ/NUCLEAS/FCE/Faculdade de Direito-RJ,2012.

(4) Eco Debate:Cidadania & meio ambiente:Belo-Monte.A justiça federal rejeitou os pedidos

feitos pelo Ministério Público Federal (MPF) para que a empresa norte Energia,responsável

pelas obras e operação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte,no Pará,fosse obrigada a

concluir ano prazo de 60 dias cadastro socioeconômico dos moradores que seriam afetados

pelo empreendimento e para concluir em 120 dias o processo de regularização fundiária. Na

sentença emitida pela 9ª.Vara Federal do Para, o juiz federal Arthur Pinheiro Chaves

considerou improcedente o pedido que tentava proibir a empresa de ingressar sem

autorização nas casas dos moradores. O MF antecipou à Agência Brasil que vai recorrer da

decisão.Em relação à regularização fundiária na região de Volta Grande no Xingu,cujo prazo

solicitado pelo MPF seria até 120 dias seguindo os moldes do Programa Terra Legal, o juiz

argumentou que,ao contrário do que foi dito pelo MF,o Ministério do Desenvolvimento

Agrário está tomando providências para implementar o programa na região de influência da

obra da Usina de Belo Monte, não se podendo afirmar que há poder.

(5) De acordo com Allan Nascimento,o Secretário-geral da ONU, Francis Deng em 1998

lançou o (PORDI) Princípios Orientadores Relativos aos Deslocados Internos. Estes

princípios orientam os governos e as agências humanitárias e de desenvolvimento

internacional na proteção, na identificação de garantias e direitos, na assistência e proteção

durante a deslocação, o retorno, a reinstalação e a reintegração.

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soterrados-no-morro-do-bumba-diz-subsecretario-de-defesa-civil/

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