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Ministério do Trabalho e Solidariedade ESTUDO SOBRE A REPRESENTATIVIDADE SINDICAL EM CABO VERDE 2004 Relatório Final

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Ministério do Trabalho e Solidariedade

ESTUDO SOBRE A REPRESENTATIVIDADE SINDICAL

EM CABO VERDE

2004

Relatório Final

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Í N D I C E

Introdução .................................... 3 I Parte Enquadramento do Estudo .................................... 4

1.1 Objectivos Gerais do Estudo .................................... 5 1.2 Abordagem Metodológica .................................... 6

II Parte Caracterização do Mundo Sindical .................................... 12 2.1 Evolução do Sindicalismo a Nível Mundial .................................... 12 2.2 Trajectória do Sindicalismo em Cabo Verde .................................... 14 2.3 Enquadramento legal do Sindicalismo em Cabo Verde no

período Pós-90 ....................................

15

2.4 Das Estruturas das Associações Sindicais/Centrais/Confederações

....................................

17

III Parte Radiografia da Situação Actual do Sindicalismo em Cabo Verde

....................................

27

3.1 Resultados do Estudo .................................... 27 IV Parte Referências Teóricas sobre o Conceito de

Representatividade Sindical ....................................

42

4.1 Considerações Preliminares .................................... 42 4.2 Um Olhar sobre os Critérios Utilizados em Vários Países

para Delimitar a Representatividade Sindical ....................................

44

4.3 Critérios para Delimitação da Representatividade Sindical em Cabo Verde

....................................

48

4.4 Cálculo dos Indicadores .................................... 56 Principais Conclusões .................................... 58 Recomendações .................................... 60 Bibliografia .................................... 61

Equipa Técnica: Águido Cabral, MS Planning and Mannagement, Praia, Tel: (238) 9.96.89.71, [email protected] Crisanto Barros, Sociólogo/Pedagogo, Praia, Tel: (238) 9.91.81.35, [email protected] Francisco Rodrigues, Economista/Estatístico, Praia, Tel: (238) 9.91.72.38, [email protected] João Cardoso, Jornalista, Praia, Tel: (238) 9.93.39.35, [email protected] José Semedo, Sociólogo/Estatístico, Tel: (238) 9.91.97.96, [email protected] Silvino Castro Jr, Economista, Praia, Tel: (238) 9.93.86.01, [email protected]

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Relatório Final Introdução O relatório que se apresenta resulta de estudo tendo em vista a definição de critérios de representatividade sindical em Cabo Verde conforme termos de referência do Ministério do Trabalho e da Solidariedade.

O presente documento articula fundamentalmente em torno de quatro partes, os quais integram uma totalidade descritiva, compreensiva e explicativa, sobre a configuração do sindicalismo cabo-verdiano, bem como a identificação e sugestão dos critérios referenciais para a mensuração da representatividade sindical em Cabo Verde.

Na primeira parte, intitulada Enquadramento do Estudo, faz-se a contextualização do objecto do estudo, apresentando os objectivos, os resultados preconizados e a Metodologia utilizada para melhor apreender o fenómeno sindical em Cabo Verde.

Na segunda parte, denominada Caracterização do Mundo Sindical, uma breve resenha sobre a evolução e os desafios do sindicalismo no mundo e no país é apresentado. Simultaneamente discorre-se sobre o enquadramento jurídico institucional da actividade sindical, suas estruturas, mecanismos e instâncias de negociação existentes. Radiografia da Situação Actual do Sindicalismo em Cabo Verde constitui a terceira parte a ser abordada. Nesta passagem, figuram informações de índole quantitativas e qualitativas sobre a realidade da dinâmica sindical em Cabo Verde. Inscreve-se ainda nessa parte a percepção dos diferentes parceiros sociais sobre esta mesma realidade.

Na última parte, uma Referência Teórica sobre o Conceito da Representatividade Sindical é apresentada. Discorre-se sobre a revisão da literatura internacional sobre o conceito de representatividade sindical e em decorrência propõe-se um conjunto de critérios que se nos afiguram relevantes e apropriados para a aferição da representatividade das organizações sindicais em Cabo Verde. Um exercício da aplicabilidade prática dos critérios sugeridos, sobre cenários diferenciados encerra esta parte.

A finalizar, o documento apresenta resumidamente as principais conclusões e recomendações emergentes do estudo. O interesse particular desse trabalho reside no facto de apresentar uma visão abrangente da problemática objecto do presente estudo, oferecendo elementos e subsídios fundamentados a oferta de respostas ajustadas aos conteúdos dos termos de referência.

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I PARTE: ENQUADRAMENTO DO ESTUDO O diálogo social permanente e efectivo constitui mecanismo fundamental para a garantia da estabilidade da economia e da sociedade, tendo em conta que, ao facilitar a participação, a consulta, a concertação e o diálogo social pode contribuir para a minimização dos efeitos decorrentes de conflitos e, assim, constituir-se num mecanismo facilitador da harmonização de interesses nem sempre facilmente conciliáveis, particularmente em se tratando de questões complexas como sendo as de índole sócio-laboral. Com o advento do regime liberal democrático a partir dos anos 90, criou-se as condições jurídico institucionais realmente favoráveis à eclosão e à instauração do pluralismo sindical em Cabo Verde. Com efeito, o surgimento da Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres – CCLS – constitui inequivocamente um marco definitivo no processo de efectivação da pluralidade sindical. No entanto, a diversidade profissional e a tendência crescente para a proliferação das organizações sindicais, colocam o problema de quem deve e pode legitimamente representar quem, nas diferentes instâncias de negociação e consultas, nomeadamente, junto às Empresas, à Função Publica, ao

Conselho da Concertação Social e à Conferência Internacional de Trabalho1.

Inscreve-se nesta perspectiva a realização do presente estudo, cujo interesse particular reside no facto de oferecer uma radiografia actualizada do mundo sindical no país, apresentando propostas de critérios objectivos e mensuráveis, que permitirão medir de forma objectiva e imparcial a representatividade sindical em Cabo Verde, considerando em simultâneo as experiências e práticas adoptadas além fronteira e cumulativamente os aspectos específicos que enformam o sindicalismo no país. Entretanto, convém avançar que a determinação dos critérios para a medição da representatividade das organizações sindicais constitui um exercício altamente complexo e cuja solução é de facto reconhecido como sendo difícil em todo o mundo. Assim, entende-se que , não existe nenhuma fórmula ou solução acabada e susceptível de aplicabilidade universal. Contudo, alguns sistemas foram já concebidos e poderão constituir-se em oferta de subsídios que poderão nortear o processo de identificação e definição de critérios ajustados a um determinado contexto. A título de exemplo, para contornar o problema que se pode manifestar sob diversas formas nas diferentes esferas do mundo laboral, em muitos países da

1 Programa de Governo para a VI Legislatura, 2001-2005

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União Europeia, os critérios para determinação da representatividade, tanto das organizações sindicais como das associações do patronato, têm sido fixados por lei. Como se pode depreender, o problema é, então de natureza política sindical, uma vez que, não é possível separar a política sindical da acção política no seu todo. Pois, o movimento da sociedade define as alternativas da acção sindical e vice-versa. Assim sendo, os desafios que se colocam actualmente, é pois, a de estabelecer, teórica e praticamente, critérios objectivos para a determinação da representatividade sindical. Vários são os possíveis caminhos a trilhar. Entretanto, um primeiro passo é compreender o fenómeno. No caso em pauta, trata-se de buscar a compreensão do processo histórico que redundou nas actuais dificuldades das organizações sindicais, até que se possa chegar a justas preposições, encaminhamentos práticos e mecanismos justos para a definição de critérios aplicáveis à realidade do país. Desponta como caminho ideal para se chegar ao objectivo desejado, um amplo e democrático debate político no interior das forças sindicais, das associações do patronato e, num plano mais geral, no interior das instâncias de formação e tomada de decisão, nomeadamente no Concelho de Concertação Social. Com este documento pretende-se contribuir para a sistematização do debate sobre a problemática da representatividade sindical, sem pretensão nenhuma de apontar soluções definitivas. Até porque, o objectivo central é focalizar os problemas mais candentes, colocar as questões de forma mais objectiva e oferecer propostas de soluções às indagações básicas que ditaram a realização do presente estudo. Tudo isto porque, hoje como sempre, a necessidade maior é a de formular os problemas de maneira mais adequada, procurar as soluções preferencialmente de forma mais participativa e democrática, do que antecipar soluções elaboradas unilateralmente e cuja legitimidade do proponente poderá constituir-se facilmente num elemento passível de controvérsias. 1.1. OBJECTIVOS GERAIS DO ESTUDO

Este documento visa fundamentalmente fornecer ao Governo, aos parceiros sociais e ao Conselho de Concertação social elementos e subsídios devidamente fundamentados e traduzidos em critérios objectivamente verificáveis que permitirão determinar com objectividade e imparcialidade a representatividade das organizações sindicais dos trabalhadores tanto a nível nacional, como regional e sectorial, conforme conteúdos do termo de referência (ver anexo).

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Consequentemente, múltiplas são as motivações que ditaram e orientaram a realização do presente estudo, destacando-se particularmente;

• A necessidade de melhor conhecer a realidade sindical, suas organizações, estruturas, e, em suma, seus modus operandi;

• A necessidade de conhecer a percepção dos trabalhadores em geral, das entidades patronais publicas e privadas sobre a matéria objecto do presente estudo –representatividade sindical;

• A necessidade de analisar e avaliar os procedimentos e mecanismos de relacionamento entre as organizações sindicais, empregadores e o governo;

• A necessidade de identificar, analisar e propor procedimentos e sistemas para a determinação da representatividade sindical, à luz das experiências e práticas internacionais e da realidade sindical no país;

• A necessidade de inventariar e analisar todos os aspectos ligados as relações entre o patronato e os sindicatos nas quais a representatividade das organizações sindicais se apresenta como um problema nacional, no quadro dessas mesmas relações;

• A necessidade de testar a aplicabilidade prática dos critérios propostos para a aferição da representatividade das organizações sindicais;

1.2. ABORDAGEM METODOLÓGICA Para se atingir o objectivo do estudo, que é simultaneamente meio e fim, e considerando a complexidade do objecto do mesmo, cumulativamente associados à multiplicidade de interesses, parceiros, interlocutores, informações e a variedade de situações existentes, propôs-se uma metodologia de trabalho que associe de forma combinada instrumentos e técnicas do método tanto quantitativo como qualitativo, traduzindo todo o trabalho num exercício continuado de “validação convergente” ou seja “triangulação simultânea” dos diferentes achados. Nesta perspectiva, uma articulação prévia, utilizando os achados teóricos sobre a temática a nível internacional como também nacional foi desenvolvida, ditando posteriormente a definição e escolha correcta do formato indicativo dos instrumentos e técnicas de recolha de dados.

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Figuram como principais instrumentos:

- Um inquérito, com questões fechadas/abertas conduzido junto as empresas e a administração pública, tendo como unidade estatística os trabalhadores;

- Entrevistas aprofundadas semi-estruturadas dirigidas aos líderes sindicais, aos representantes das centrais sindicais, aos representantes das entidades patronais, às instituições governamentais, designadamente a Direcção Geral do Trabalho e a Inspecção Geral do Trabalho;

- Focus-grupos dirigido aos representantes das duas centrais sindicais, do governo e do patronato, objectivando a melhoria do conhecimento sobre as formas de relacionamento entre os parceiros sociais, seus consensos e dissensos e suas expectativas e propostas sobre os critérios para determinação da representatividade das organizações sindicais;

- Uma revisão bibliográfica alargada foi desenvolvida durante todas as fases do estudo

Âmbito Geográfico

O inquérito teve cobertura nacional e é estatisticamente significativo a esse nível. Foram recolhidos dados/informações em todas as ilhas do país.

Unidade Estatística

A unidade estatística foram os trabalhadores por conta de outrém, os dirigentes sindicais, os representantes do patronato e do poder publico. Recolha A recolha foi realizada entre 9 e 21 de Junho de 2004, por entrevista directa através de inquiridores recrutados para o efeito e devidamente treinados. Em cada instituição (empresa ou serviço do Estado) seleccionada no processo de amostragem foi colocado um inquiridor que recolheu a informação segundo as seguintes etapas:

1. Identificação da Listagem Nominal dos trabalhadores da instituição através do quadro de pessoal e mapas de férias no momento da entrevista.

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2. Selecção do passo de sondagem para selecção sistemática do trabalhador a ser entrevistado segundo um método aleatório previamente definido. A partir da listagem dos trabalhadores, dividia-se o numero de trabalhadores por 10 e entrevistavam-se os trabalhadores cujo numero na lista era múltiplo do resultado da divisão. A escolha do entrevistado foi assim um processo completamente aleatório.

3. Marcação das entrevistas com os trabalhadores seleccionados. 4. Realização das entrevistas.

Instrumentos de Notação Foi elaborado um questionário para entrevista aos trabalhadores e um guião de entrevista para os representantes das entidades sindicais e patronais do sector privado e do sector público. Foi ainda produzido um roteiro para orientação no focus-grupo. Amostra A amostra baseou-se nos dados do sector empresarial existente no INE e nos dados preliminares do Recenseamento de Funcionários Públicos. O universo das empresas foi definido por intersecção das 200 maiores em termos de numero de pessoas ao serviço e as 200 maiores em termos de volume de negócios. Para se garantir uma representatividade ao nível das ilhas, foram seleccionadas as 20 maiores em cada ilha em termos de volume de negócios e numero de pessoas ao serviço. Pretendeu-se com esse procedimento seleccionar de facto as maiores empresas do país, garantindo assim que na amostra estivessem representados todos os ramos de actividade importantes no país e com diversidade ao nível geográfico. Estas empresas constituem o essencial do sector empresarial estruturado, abrangendo a parte significativa dos trabalhadores por conta de outrém. Essa restrição amostral impunha-se para se poder excluir do universo das empresas os trabalhadores por conta própria e o sector informal constituído essencialmente por unidades de cariz familiar, naturalmente pouco preponderantes em termos do movimento sindical.

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Quadro Universo/Amostra As empresas seleccionadas para constituição do universo das empresas a inquirir representam assim cerca de 5% das empresas cabo-verdianas, aproximadamente metade dos trabalhadores e praticamente 90% do volume da facturação das empresas. Na administração pública seleccionou-se as instituições do estado sediadas em todas as pequenas ilhas e alguns serviços desconcentrados. Foram inquiridas as maiores instituições públicas em termos de numero de trabalhadores. Foram consideradas como unidades primárias de sondagens as direcções gerais, institutos e municípios que representavam um numero estatisticamente significativo de trabalhadores do Estado. Ao se considerar um mínimo de 10% por empresa, implicou que a amostra do numero de trabalhadores empresariais no estudo fosse de cerca de 1.600 indivíduos. Processamento dos Dados Os dados foram digitados por digitadores com experiência comprovada e procedeu-se a dupla digitação, garantindo desta forma a minimização dos erros de digitação. A digitação foi realizada num programa próprio concebido de raiz para o efeito e teve por base o SPSS Data Entry 3.0. Os controlos de coerência para validação dos dados e o respectivo tratamento estatístico foram realizados com SPSS 11.5. Formação Foi realizada uma formação na Praia para os agentes de terreno de Maio, Santiago, Fogo, Boa Vista e Brava e uma formação no Mindelo para os agentes de terreno de Santo Antão, São Vicente, São Nicolau e Sal. A formação durou 3 dias e teve uma componente teórica e uma componente prática. A componente teórica incidiu sobre a análise do questionário e do seu conteúdo global, sobre a definição e compreensão

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de conceitos e sobre técnicas de entrevista. A componente prática consistiu na simulação de entrevistas em sala e de testes dos formandos em situações similares aos que de facto enfrentaram durante o trabalho no terreno. Os formadores foram os consultores da empresa com comprovada experiência de formação de inquiridores. Focus-grupos Foram previstas 3 sessões destinadas à realização de focus grupo. No entanto, devido a constrangimentos de várias ordens, nomeadamente, a indisponibilidade de tempo principalmente por parte das entidades patronais, optou-se pela realização de uma única sessão, com a presença dos representantes sindicais pertencentes às duas centrais sindicais e representante do sector . A sessão foi animada por três consultores que assumiram o papel de moderadores/facilitadores reservando aos participantes suficiente margem de participação e inovação. Um Roteiro de referência para a condução dos trabalhos foi produzido, o que permitiu orientar as discussões sobre alguns temas, nomeadamente os critérios de representatividade, e permitiram melhor conhecer particularmente os aspectos de consensos e dissensos entre as partes sobre esta matéria em particular. Das Dificuldades Encontradas na Realização do Estudo Durante a implementação do estudo, a equipa de trabalho não deparou com dificuldades que pudessem comprometer a realização, não obstante reconhecer que várias das questões formuladas aos diferentes lideres sindicais eram no mais das vezes sensíveis. Houve uma grande disponibilidade por parte da maioria dos lideres sindicais em fornecer informações e emitir opiniões francas a respeito da vida sindical. As dificuldades enfrentadas durante a realização da recolha de dados prenderam-se essencialmente com : (i) permissão dos empregadores para a condução dos trabalhos juntos aos respectivos

trabalhadores, particularmente dentro das horas normais de expediente;

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(ii) indisponibilidade dos lideres sindicais dos sindicatos afectos à CCSL em fornecer os números de filiados, bem como os relativos documentos de suporte;

(iii) Identificação do Estatuto de alguns sindicatos;

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II PARTE: CARACTERIZAÇÃO DO MUNDO SINDICAL 2.1. Evolução do Sindicalismo a Nível Mundial O movimento sindical, historicamente, surgiu como expressão da necessidade de organização dos trabalhadores, tendo em vista a defesa de seus interesses enquanto assalariados.2 A evolução do movimento sindical a nível mundial tem trilhado caminhos diversos, tendo épocas combativas e de afirmação durante os finais do século XIX, e granjeando status e poder nos períodos pós segunda Guerra mundial com a consolidação da social democracia na Europa. As grandes transformações sociais ocorridas no mundo ocidental deveu-se em grande parte à combatividade das organizações sindicais, que impulsionaram reformas profundas na regulação dos conflitos laborais. As conquistas sociais que posteriormente foram incorporadas nas constituições liberais democráticas traduzem de certa forma a pujante influência do movimento sindical no processo da construção de Estado de cariz social e democrático. Segundo Cardoso, há consenso, entre os analistas do sindicalismo mundial, que a década de 80 foi crítica para a acção sindical no Ocidente, quando comparada com os "Trinta Gloriosos Anos", nome da Escola Francesa da Regulação para os anos posteriores à Segunda Guerra até meados dos anos 70 (Boyer, 1990; Visser, 1993; Western, 1997). A filiação sindical, as taxas de greve e qualquer outra medida da força dos sindicatos caíram em toda parte (Visser, 1994a; L. M. Rodrigues, 1999 ) 3 A desregulamentação dos mercados de produtos financeiros e de trabalho foi encarada como a única avenida possível à reestruturação produtiva, necessária à melhoria da posição de cada país na divisão internacional do trabalho. O resultado desta opção foi a erosão das bases estruturais e institucionais dos Estados de Bem-Estar de tipo keynesiano, apoiados em sindicatos fortes e quase sempre centralizados (Boyer, 1995). Em outras palavras, a crise atual do sindicalismo ocidental terá relação com a reestruturação industrial (Locke e Thelen, 1998), com transições no mercado de trabalho (Mattoso, 1995) e com mudanças ideológicas no ambiente onde atuam (Castells, 1996), ao lado do enfraquecimento dos Estados-nação e de sua habilidade para sustentar serviços de bem-estar, face ao processo da globalização da economia(Tilly, 1995). 4

2 SILVA, Roque Aparecido. Representatividade, democracia e unidade no sindicalismo brasileiro. Revista CEDEC: Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1984 3 CARDOSO, Adalberto Moreira. 1997. Um Referente Fora de Foco: Sobre a Representatividade do Sindicalismo no Brasil: In: Dados. Vol. 40, N°2, Rio de Janeiro, pp. 1-20 4 Idem, ibidem. C.f. HABERMAS, Jurgen. 2000. Aprés l´État-Nation. Ed. Fayard

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Nesta sequência, segundo Pastore, citado por Arouca, o poder sindical sofre evidente erosão devido às novas características históricas do capitalismo. Uma série de factores contribuíram para a fragilização dos sindicatos: o desemprego industrial, a terceirização, a feminização do trabalho, o crescimento das actividades autónomas, etc. Com efeito, os sindicatos não estavam preparados para enfrentar os desafios como a crise do emprego. Nessas condições, o desinteresse dos trabalhadores pelo sindicato tornou-se inevitável”, pois não há como formar sindicatos de desempregados, free lancers ou subcontratados.5 Assim, a par do continuado esvaziamento do quadro associativo, os sindicatos perdem o poder de barganha, até porque a negociação colectiva interioriza-se nas empresas, deixando de lado a categoria. Neste caso, o sindicato não reúne as mesmas qualificações como interlocutor, podendo ser substituído (em certos casos, até com vantagem para os beneficiários directos) por unidades de negociação de outra natureza, como as comissões de fábrica (ou conselhos de estabelecimento, comités de empresa). Nos países em que os sindicatos encolhem, as comissões de fábrica desabrocham, os representantes dos empregados ganham força e as negociações passam a se basear em dados reais das empresas.6 O processo da reestruturação produtiva e a crise de emprego dela decorrente geraram profundas crises no movimento sindical que se traduziu na redução significativa da taxa de sindicalização, especialmente nos países com forte tradição sindical como a França e a Alemanha. Hoje, nos países centrais do capitalismo contemporâneo as taxas de sindicalização são inferiores a 20%, e em alguns casos inferiores a 10%. Todavia, os países nórdicos (Suécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Islândia, etc) constituem uma excepção à esta tendência, uma vez que apresentam melhores taxas de sindicalização, geralmente acima dos 50%. Esta elevada taxa de sindicalização deriva do modelo de desenvolvimento social cuja linha de intervenção teve nos sindicatos um interlocutor privilegiado no processo da regulação dos conflitos laborais e no desenvolvimento socio-económico. Alguns autores defendem que as flutuações das taxas de sindicalização vêm acompanhando as mutações históricas ocorridas na configuração do capitalismo mundial. A deslocalização de empresas ocidentais para vários países do continente asiático nomeadamente na Tailândia, Singapura, etc., com vista a beneficiarem dos baixos custos da produção, provocou o recrudescimento do movimento sindical cuja expressão se manifesta no aumento das taxas de sindicalização.

5 AROUCA, José Carlos. 2003. Sindicato em um Mundo Globalizado. São Paulo: Editora LTR, p.456 6 Idem, Ibidem.

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2.2. Trajectórias do Sindicalismo em Cabo Verde O surgimento das organizações sindicais em Cabo Verde remonta aos finais do século XIX em torno de algumas categorias profissionais. Contudo, é a partir do inicio século XX que surgem as primeiras organizações representativas dos trabalhadores. Na segunda década do século XX, em S. Vicente, deflagrou-se algumas greves organizadas pelos trabalhadores do Porto Grande. Com a instauração do Estado Novo a partir do anos 30, erige-se um modelo de organização sindical sob a influência da ideologia corporativista em que os interesses dos principais actores da sociedade, nomeadamente os do Estado, os dos empresários e os dos trabalhadores, são integrados de forma harmoniosa, razão pela qual havia proibição da luta de classes. A sindicalização dos trabalhadores era obrigatória, sendo os órgãos sindicais designados pelo Estado. Com o advento da independência na segunda metade da década de setenta, instala-se um novo modelo de organização sindical, subordinado aos ditames do partido único. Segundo este modelo, cabia ao sindicato a defesa dos interesses da classe trabalhadora cujos ideais encontravam-se à priori definidos pelo partido mobilizador. Nesta época, os sindicatos gozavam de uma certa protecção do Estado, que viam neles organizações valiosas para garantir a emancipação da classe da trabalhadora.7 A ligação entre a UNTC-CS e o PAICV

era de natureza orgânica. Parte vital das acções desenvolvidas tinham em vista a materialização das

acções preconizadas no programa do partido.8” Entretanto, a sindicalização não era obrigatória,9 embora as opções de escolha cingiam-se à central sindical então existente. A COSCV, Comissão Organizadora dos Sindicatos de Cabo Verde, e a UNTC-CS, União Nacional dos Trabalhadores cabo-verdianos, União Sindical, foram as primeiras emanações deste modelo de organização sindical. 7 C.f. Constituição da República de Cabo Verde. 1981 8 C.f.,Estatuto da UNTC-CS. 9 C.f,. Decreto Lei n° 166/85 de 30 de Dezembro, que regula o exercício da actividade sindical.

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A partir dos anos 90, com o advento do regime liberal democrático, criou-se as condições jurídico-institucionais para a materialização da liberdade sindical, conforme as normas insertas na Constituição e 1992.10 A criação da CCSL, Confederação Cabo-verdianos dos Sindicatos Livres, e a reorganização da UNTC-CS marcaram de vez a instalação do pluralismo sindical em Cabo Verde. A par disso, as profundas reformas introduzidas no sector económico mediante a privatização das empresas do Estado e a liberalização das trocas comerciais impulsionaram a construção de uma economia de mercado cuja modernização e diversificação lançam novos desafios às organizações sindicais, agora desamparadas da protecção tutelar que outrora recebiam do Estado. Doravante, os ganhos e/ou perdas salariais dependem, em parte, da capacidade negocial das organizações sindicais junto às empresas e órgãos de consulta, negociação e concertação, legalmente constituídos. 2.3. Enquadramento Legal do Sindicalismo em Cabo Verde no Período Pós 90 A Constituição de 1992 reconhece a todos os trabalhadores a liberdade de criação de associações sindicais ou de associações profissionais para a defesa dos interesses e direitos colectivos e individuais, gozando as mesmas de plena autonomia organizacional, funcional e de regulamentação interna. Assim, a criação das mesmas não carece de autorização administrativa.11 Estas normas constitucionais coadunam perfeitamente com as orientações emanadas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), expressas na Convenção n° 87, à qual Cabo Vede aderiu em 1989. O aspecto basilar desta convenção reside essencialmente na garantia de constituição de sindicatos sem a prévia autorização das entidades estatais. Contudo, a existência deste principio não isenta os sindicatos do cumprimento de determinados procedimentos como condição para a aquisição de sua personalidade jurídica, sem ferir, obviamente, a liberdade sindical acima referenciada. Assim, a OIT reconhece que os « Estados estão livres para estabelecer em sua legislação as formalidades que lhes pareçam próprias para assegurar o

10 C.f. Cap III. Direitos, Liberdade e Garantias dos Trabalhadores, in: Constituição da República de Cabo Verde. Praia, 1992. Vide também Cabo Verde. Decreto Lei n°170/91. Cf. Organização Internacional do Trabalho (OIT). Liberdade Sindical. Brasília, 1997. 11 C.f ; Constituição de Cabo Verde de 1992, artigos 61°, 62°.

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funcionamento normal das organizações profissionais, desde que não sejam contraditórias com a Convenção N° 87 ». 12 Em Cabo Verde, a lei vigente que regula o « Exercício do Direito de Associação Sindical data de finais de 1991. Em matéria de constituição de sindicato, federação/confederação, este diploma postula que :

1)

2)

as deliberações de constituição de sindicato serão tomadas por maioria dos trabalhadores presentes na assembleia constituinte ; para a constituição de qualquer união, federação ou confederação as deliberações deverão ser tomadas por maioria dos sindicatos presentes na assembleia constituinte.

Todavia, esta lei é omissa quanto ao número mínimo de trabalhadores para a constituição de um sindicato ou de sindicatos para a constituição de uma federação. Tal situação deixa uma grande margem de manobra aos potenciais lideres sindicais para a constituição de sindicatos. Uma outra dimensão importante deste diploma legal, prende-se com a explicitação dos requisitos para a concessão de personalidade jurídica às associações sindicais. De acordo, com esta legislação :

as associações sindicais adquirem personalidade jurídica com o registo dos seus estatutos no departamento governamental responsável pelo sector do trabalho;

o requerimento do registo será acompanhado de certidão ou fotocópia autenticada da acta

da assembleia constituinte, das folhas de presença e respectivos termos de abertura e encerramento e dos estatutos aprovados;

após o registo, o departamento governamental acima mencionado mandará proceder à

publicação dos estatutos no Boletim Oficial.13 Em suma, apesar da lei prever que o controle da legalidade dos sindicatos está subordinada aos tribunais, a mesma não retira aos poderes públicos o principio do controlo das formalidades exigidas para a constituição de uma organização sindical.

12 OIT. 1997. A Liberdade Sindical : Recompilação de Decisões e Princípios do Comité de Liberdade Sindical do Conselho de Administração da OIT,p.54 13 C, f. Cabo Verde. Decreto Lei n°170/91 de 27 de Novembro. O Exercício do Direito de Associação Sindical.

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Relatório Final

No que concerne ao princípio da democraticidade, a lei exige que as eleições devem ser livres e os membros eleitos democraticamente. O resultado das eleições deverá ser enviado pelo presidente da mesa de assembleia à Direcção Geral do Trabalho e do Emprego e às entidades empregadoras os elementos de identificação dos membros da direcção, bem como a cópia da acta da assembleia eleitoral, num prazo de dez dias. 2.4. Das Estruturas das Associações Sindicais/Centrais/Confederações Com a promulgação, em 1991, da nova lei que regula o “Exercício da Associação Sindical, e da Constituição da República em 1992, colocou-se novos horizontes aos sindicatos, exigindo destes, valores e estruturas organizacionais condizentes com os princípios da liberdade sindical e da democraticidade do exercício do poder. Da análise aprofundada dos estatutos dos diferentes sindicatos, constata-se que todas as associações sindicais têm como eixo norteador das suas intervenções a defesa dos interesses dos trabalhadores independentemente das suas convicções, ideológicas, religiosas ou culturais, bem como a autonomia perante o patronato e o Estado. As normas estatutárias dos sindicatos diferenciam-se essencialmente no que concerne: (i) à natureza das intervenções (ramos profissionais abrangidos) ; (ii) ao âmbito das intervenção (regional ou nacional) ; (iii) à duração dos mandatos dos eleitos (variando de 2 a 4 anos). Nos demais aspectos, todos conformam-se aos princípios que regem a constituição das associações profissionais em Cabo Verde. Em Cabo Verde, por força das transformações económicas, políticas e jurídicas ocorridas nas ultimas duas décadas, os diferentes sindicatos têm feito a sua filiação em duas centrais sindicais : a UNTC CS, União Nacional dos Trabalhadores de Cabo Verde – Central Sindical e a CCSL – Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres.

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Relatório Final

Da UNTC-CS : União Nacional dos Trabalhadores de Cabo Verde – Central Sindical Filiada na Confederação Internacional dos Sindicatos Livres (CISL) desde 1991, a UNTC-CS apresenta estruturas a nível nacional, regional e local. Prevê-se a realização de eleições para os órgãos sociais de 4 em 4 anos. Trata-se de uma Central com implantação em todo o território nacional.

ESTRUTURAS DA UNTC-CS *14

SECRETÁRIOGERAL

Conselho Nacional

Ramos Sindicais

Secretaria Geral

Secretariado Executivo

Delegados Sindicais

CONGRESSO

TESOURARIA

De acordo com os dados disponibilizados pela Direcção Geral do Trabalho e pela própria UNTC-CS, encontram-se filiados nesta central , os seguintes sindicatos, união e federação:

14 Este organograma foi extraído do Relatório da Consultora da OIT/BIT,CLARET, António Maria Martins. 2000. Relatório sobre o Diálogo e a Concertação Social em Cabo Verde.

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Relatório Final

Sindicato filiados à UNTC-CS Âmbito Periodicidade de

eleição Data de

Constituição

1 Sindicato do Comércio, Transportes, Telecomunicações, Administração Pública e Serviços

S. Nicolau 3 anos 1992

2 Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública de Santiago (STAPS)

Santiago 3 anos 1992

3 Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública de São Vicente (SINTAP - SV)

S. Vicente 3 anos 1992

4 Sindicato da Agricultura, Comércio, Transporte, Telecomunicações, Administração Pública e Serviços (SACTAPS)

Fogo 3 anos 1992

5 Sindicato de Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo (SITTHUR)

Santiago 3 anos 1992

6 Sindicato de Indústria, Comércio e Turismo (SICOTUR)

Sal 3 anos 1992

7 Sindicato dos Transportes, Comunicação e Administração Pública (SINTCAP)

Sal 3 anos 1992

8 Sindicato Nacional dos Professores (SINDEP) Cabo Verde 4 anos 2003

9 Sindicato da Indústria, Comércio e Serviços – S. Vicente (SICS)

S. Vicente 3 anos 1992

10 Sindicato dos Trabalhadores Livres de Santo Antão (SLTSA)

Santo Antão 3 anos 1992

11 Sindicato Nacional dos Enfermeiros e Técnicos de Saúde (SNETS)

Cabo Verde 3 anos 1996

12 Sindicato dos Trabalhadores da Boa Vista (STBV) Boa Vista 3 anos 1993

13 Sindicato da Indústria, Serviços, Comércio, Agricultura e Pesca (SISCAP)

Santiago 3 anos 1992

14 Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Financeiras (STIF)*

Cabo Verde 3 anos 1992

15 Federação Nacional dos Sindicato de Transportes, Telecomunicações, Metalomecânica e Turismo (SIMETEC)

Cabo Verde 3 anos 1993

16 Sindicato de Metalomecânica, Transportes, Turismo e Comunicações (SIMETEC)

S. Vicente 3 anos 1992

17 União dos Sindicato de Santiago (USS)

Santiago 3 anos 1993

18 União dos Sindicato de S. Vicente (USV)

S. Vicente 3 anos 1996

* Sindicato independente até Abril de 2002, filiou-se à UNTC-CS a partir dessa data. Da consulta dos estatutos publicados, constata-se que encontram-se filiados nesta Central cerca de 15 sindicados, 1 Federação e 2 Uniões sindicais, os quais totalizam mais de 20.000 membros inscritos. Contudo, dos dados recolhidos pela equipa de trabalho junto dos diferentes sindicatos, verificou-se que o número de inscritos activos aproxima-se dos 11000 filiados.15

15 A contagem dos sócios activos resultou da consulta da documentação relativa ao pagamento das cotas referentes aos meses de Abril e Maio de 2004.

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Relatório Final

Da CCSL: – Confederação Cabo-verdiana dos Sindicatos Livres A Confederação cabo-verdiana dos Sindicatos Livres é uma organização sindical filiada na CPLP-SINDICAL e na Federação Internacional de Educação e Formação de Trabalhadores (FIAET). A CCSL possui estruturas a nível nacional, agregadas nas Federações de Sindicatos e Regional (Sindicatos ). De acordo com o Estatuto, a renovação dos órgãos sociais é de 4 em 4 anos.

ESTRUTURAS DA CCSL *

Sindicatos Nacionais

Federações Sindicais

Delegados Sindicais

CCSL Regional

Sindicatos Regionais

Comissões Sindicais

CCSL Segundo o presidente da CCSL, encontram-se integrados nesta confederação cerca de 19 sindicatos dos quais 15 estão formalmente constituídos, perfazendo cerca de 19000 inscritos. Entretanto, devido à recusa dos dirigentes sindicais da CCSL em disponibilizar os documentos relativos ao pagamento das quotas pelos associados, foi-nos impossível determinar o número de sócios activos afecto a esta central. Da consulta dos estatutos publicados no Boletim Oficial, identificou-se as seguintes organizações sindicais:

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Relatório Final

Relação das Organizações Sindicatos com Estatutos Publicados N.º Sindicato Âmbito Periodicidade

de Eleição Data de

Constituição 1 Sindicato dos Trabalhadores de Comércio e Serviços

(STCS) Cabo Verde 4 anos 1992

2 Sindicato Democráticos dos Trabalhadores da Administração Pública –(SINDETAP )

Cabo Verde 5 anos 1992

3 Sindicato dos Trabalhadores da Industria, Agricultura e Pesca (SIAP) Delegações Ilhas. 1992

Santiago/Nacional 3 anos 1992

4 Sindicato dos Transportes, Comunicações e Turismo ( STCT).

Santiago/Nacional 4 anos 1992

5 Sindicato Nacional Democrático dos Enfermeiros, (SINDEF)

Cabo Verde 4 anos 1992

6 Sindicato da Industria Geral, Alimentação, Construção Civil, Agricultura e Floresta: (SIACSA.) *

Cabo Verde 3 anos 1996

7 Sindicato dos Professores da Ilha do Fogo (SPIF) Fogo 3 anos 1992

8 Sindicatos dos Professores da Ilha de Santiago (SIPROFIS)

Santiago 3 anos 1992

9 Sindicato dos Professores da Ilha do Maio (SPIM) Maio 3 anos 1996

10 Federação Cabo-verdiana dos Professores (FECAP) Cabo Verde 3 anos 1998

* Sindicato independente, aderiu à CCSL a partir de 2002 Para além destes sindicatos, o Presidente da CCSL refere-se a outros sindicatos filiados à esta Central cujos estatutos não foram identificados, isto é, não estão publicados no Boletim Oficial, o que indicia que tais sindicatos não têm personalidade jurídica constituída e reconhecida conforme a exigência legal.

Relação dos Sindicatos cujos Estatutos não foram identificados (isto é, Publicados em BO) 1 Sindicato dos Professores da Ilha Brava (SPIB) Brava

2 Sindicato dos Professores da Ilha do Sal (SIPROSAL) Sal

3 Sindicato dos Professores da Ilha da Boavista (SPIBV) Boavista

4 Sindicato dos Professores da Ilha de S. Nicolau (SPISN) S.Nicolau

5 Sindicato dos Bancários e Trabalhadores das Instituições Financeiras (SBC)

Cabo Verde

6 Sindicato dos Taxistas de Cabo Verde (SINTAX) Cabo Verde

7 Sindicato dos Camionistas de Cabo Verde (SICAM) Cabo Verde

8 Sindicato Democrático dos Jornalistas e Trabalhadores de Comunicação Social (SINDEJOT)

Cabo Verde

9 Sindicato dos Professores da Ilha de Santo Antão (SPISA) Santo Antão

10 Sindicato Livre dos Professores de S. Vicente (SLP-SV) S. Vicente

De acordo com os dados recolhidos no terreno, estão de facto e de direito filiados na CCSL cerca de nove sindicatos (cuja maioria é de âmbito nacional) e uma federação. O argumento evocado pelo Presidente da CCSL segundo o qual, a convenção 87 à qual Cabo verde aderiu em 1999 garante os

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Relatório Final

sindicatos criados a partir desta data o direito de prescindirem das formalidades legais insertas no decreto lei n.º 170/91 não encontra sustentação nem na referida convenção, nem no ordenamento jurídico cabo-verdiano que regula a criação de associações profissionais. Das Instâncias Tripartidas de Concertação Social Os conflitos de interesse são inerentes a toda e qualquer ordem social, uma vez que os grupos sociais são amiúde portadores de convicções políticas, económicas, ideológicas, culturais e religiosas diferentes. Em Cabo Verde, com o advento do pluralismo democrático, os interesses dos diferentes actores nomeadamente os dos segmentos importantes da burocracia estatal, os das entidades empresariais, os dos trabalhadores ganharam visibilidade e legitimidade. A Constituição de 1992, reconhece aos diferentes actores, particularmente aos sindicatos o direito de participar:

a) Nos organismos de concertação social ; b) Na definição da política de segurança social e de outras instituições que visem a protecção e a

defesa dos interesses dos trabalhadores ; c) Na elaboração da legislação laboral.16

O Conselho de Concertação Social, criado em 1993, tem sido a principal instância de negociação, diálogo social e concertação entre o governo e os parceiros sociais. Trata-se de um órgão colegial de carácter consultivo e de composição tripartida com vista a harmonização de políticas em matéria económica, social, emprego, relações de trabalho e salários. . Funcionamento e Composição Em termos de funcionamento, o Conselho de Concertação Social deve reunir-se em sessão ordinária duas vezes por ano, e em sessão extraordinário por iniciativa do presidente ou a solicitação de um terço dos seus membros. O CCS é composto pelo presidente e por mais dezoito membros efectivos e seis suplentes indicados equitativamente pelas três partes nele representados

16 C.f. Cabo Verde. 1992. Art° 63 da Constituição da Republica de 1992.

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Relatório Final

Assim, integram o conselho de concertação social :

Presidente – Primeiro Ministro ou Membro do Governo em quem for delegado a competência nesta matéria;

Seis Membros - instituições do Estado relacionadas com matérias de desenvolvimento

económico e social);

Seis Membros representativos das Entidades Empregadoras (Associação Comercial e Agrícola de Sotavento; Associação Comercial, industrial e Agrícola de Barlavento; Câmaras de Comércio de Sotavento e Barlavento, Associação cabo-verdiana de Armadores de Marinha ; Associação cabo-verdiana dos Empreiteiros de Obras Publicas;

Seis representantes das organizações dos Trabalhadores ( Representantes das centrais UNTC-

CS e CCSL, três representantes cada uma.17 Dentre as suas atribuições legais figuram :

a) procurar estabelecer, a seu nível, consensos, sobre quaisquer questões que digam respeito às partes nela representadas, viabilizando, sempre que possível, o dialogo e a busca de soluções equilibradas ;

b) Pronunciar-se sobre as políticas económicas e sociais do governo e execução das mesmas ; c) Propor medidas para o regular funcionamento da economia e das unidades empresariais ; d) Estudar as questões relativas à situação do emprego e do trabalho, mão de obra, higiene e

segurança no trabalho e formular as recomendações pertinentes ; e) Propor medidas legislativas necessárias ao aperfeiçoamento do ordenamento laboral e do

regime de previdência e segurança social; f) Avaliar a eficácia da aplicação da legislação laboral e social; g) Analisar as implicações laborais e sociais das estratégias de desenvolvimento;

No estudo realizado pelo consultor da OIT ( Claret) intitulado « o Diálogo e a Concertação Social em Cabo Verde, constata-se que na primeira reunião além da discussão e aprovação do Regimento do CCS, foram ainda discutidos os objectivos, princípios e medidas de revisão do Regime Jurídico Geral das

17 C.f Decretos Leis, N° 35/93, 28/96 e 5/97, todos eles regulam o processo de criação e funcionamento desta instância de negociação social.

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Relações de Trabalho - R.J.G.R.T., as linhas gerais do Programa de Abandono Voluntário - P.A.V., e o projecto do Regime de constituição, modificação e extinção de relação jurídica de emprego público. A partir de 1993, o CCS reuniu-se regularmente, nos termos previstos na Lei, tendo sido nele discutidas as mais diversas matérias relativas a política sócio - económica do País. Contudo, os parceiros sociais pensam que se torna necessário e urgente neste momento reequacionar o funcionamento do CCS e do seu Secretariado Permanente, essencialmente no que tange a periodicidade das reuniões, distribuição dos documentos a serem discutidos em cada sessão, o número de horas das sessões, estas que aliás, se tem revelado insuficientes face à complexidade das matérias que o Governo tem levado ao CCS para discussão. Constata-se também, salvo uma excepção, que das 11 sessões do CCS já efectuadas até 2000, ter sido o Governo quem marca as reuniões e apresenta os temas para apreciação, discussão e deliberação no CCS. 18 O Conselho de Concertação Social é reconhecido pela maioria dos lideres sindicais entrevistados como um importante espaço de negociação e formação da vontade colectiva. Diversas matérias de importância para a vida nacional são apreciadas nesta instância. Entretanto, a maioria dos lideres sindicais é de entendimento que os métodos utilizados pelos sucessivos governos para apreciar as matérias fundamentais para o interesse da classe trabalhadora, nomeadamente o aumento salarial, a segurança social, a legislação laboral, não tem sido de dialogo, mas sim, de legitimação das decisões do governo. Das Negociações Colectivas e Convenções Colectivas de Trabalho

O Regime Jurídico Geral das Relações de Trabalho19, na senda dos acordos ratificados por Cabo Verde junto à OIT, nomeadamente, « as Convenções da OIT n.º 98 e n.º 100, sobre direito de organização e negociação colectiva e sobre igualdade de remuneração entre mão-de-obra masculina e feminina em trabalho de igual valor,. »20, exige um conjunto de condições para o estabelecimento dos acordos colectivos de trabalho, dentre as quais figuram : 18 CLARET, António Maria Martins. 2000. Estudo Diagnóstico sobre o « Diálogo e a Concertação Social em Cabo Verde. 19 Decreto - Lei n.º 62/87, de 30 de Junho, alterado pelo D.L. n.º 51-A/89, de 26 de Junho, este ratificado com alterações pela Resolução da ANP n.º 32/III/89, de 30 de Dezembro e pela Lei n.º 101/IV/93, de 31 de Dezembro 20 Cabo Verde. 2000. Estudo Disgnóstico : Diálogo e Concertação Social em Cabo Verde, elaborado por António Maria Martins Claret.

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Relatório Final

(i) identificação dos outorgantes, (ii) a área de aplicação geográfica e o âmbito profissional de aplicação, (iii) a data da celebração, (iii) o prazo de vigência e o processo de denúncia, sendo que o prazo de vigência dos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho não será inferior a dois anos Considera-se com capacidade para celebrar as convenções colectivas de trabalho : (i) Os membros das direcções de associações sindicais ou de organizações de entidades empregadoras com mandato para negociar e outorgar; (i) Os administradores, gerentes ou mandatários de entidades empregadoras com mandato para negociar e outorgar; (iv) Os mandatários dos trabalhadores, devidamente eleitos, nos casos do n.º 2 do artigo 23º ou os

membros da direcção da confederação sindical quando sejam expressamente mandatados por direcções de associações sindicais nelas filiadas.

Não obstante a ordem jurídica laboral vigente prever a existência da negociação colectiva, não tem sido prática a sua celebração por parte dos empregadores e trabalhadores. Das informações recolhidas junto à DGT, existem apenas dois acordos colectivos de Trabalho : um celebrado com as Empresas Privadas de Segurança e outro com a Cabo Verde Telecom. Uma outra dimensão fundamental no processo da regulação da relação laboral é o direito a greve. Ela constitui um dos instrumentos de pressão que as diferentes categorias profissionais utilizam para defender, in extremis, as reivindicações dos trabalhadores. Nesta matéria, a legislação nacional postula que : A competência para a deliberação da greve pertence às organizações sindicais. Nas empresas em que a maioria dos trabalhadores não esteja representada por organizações

sindicais, a greve pode ser deliberada pelas assembleias de trabalhadores, por voto secreto, desde que sejam convocados expressamente para o efeito por 20% dos trabalhadores.

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Relatório Final

No caso previsto no número anterior, a deliberação só é válida quando a maioria dos trabalhadores nela tenha participado e a greve seja aprovada pela maioria absoluta dos votantes.21

A análise dos pré-avisos de greve/greves realizados pelos sindicatos e os acordos alcançado durante as negociações constitui um importante indicador para aferir a eficácia da acção sindical. Das informações constantes no estudo diagnóstico sobre os pré-avisos de greve e greve, entre 1997 e 1998, ocorreram 28 pré-avisos, tendo sido chegado a acordo durante a conciliação em 10 pré-avisos. Em termos geográficos, durante os últimos dois anos, registaram-se greves, nas seguintes Ilhas: Santiago, com maior número de greves; São Vicente; Sal; Boa Vista e Fogo. 22 Contudo, os dados existentes na Direcção Geral do Trabalho relativo à realização do pré-aviso de greve /greve e acordos celebrados com as empresas entre 2000 a 2003 são insuficientes para construir uma estatística fiável para aferir a eficácia dos sindicatos. Tal situação decorre das mudanças ocorridas ao nível desta direcção entre 2001/02 , o que dificultou o processo de sistematização das informações estatísticas relativas às negociações. 23

21 Decreto-Lei nº 76/90 de 10 de Setembro 22 C.f , Cabo Verde. 2000. Estudo Disgnóstico : Diálogo e Concertação Social em Cabo Verde, elaborado por António Maria Martins Claret 23 É que entre 17 de Setembro de 2001 e Outubro de 2002, a DGT foi dirigida pelo Inspector Geral do Trabalho em regime de substituição cuja nomeação nunca foi publicada no BO.

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Relatório Final

III PARTE: Radiografia da Situação Actual do Sindicalismo em Cabo Verde 3.1. Resultados do Estudo Caracterização sócio-demográfica A estrutura do emprego em Cabo Verde caracteriza-se pela predominância dos indivíduos do sexo masculino, sendo que a idade média de entrada no mercado de trabalho é de aproximadamente 25 anos. Esse facto deve-se essencialmente a elevação progressiva do nível médio de escolaridade combinado com as exigências cada vez mais crescente do mercado de trabalho em termos de formação e capacitação. Por outro lado, o fenómeno da massificação do trabalho feminino pode ser entendido como sendo recente, embora tenha actualmente atingido patamares que podem ser considerados satisfatórios dentro do contexto sócio-económico do país. Nesta senda, entende-se a prevalência maioritária (61%) dos indivíduos inquiridos serem do sexo masculino, contra 39% do sexo feminino, sendo que de cada 5 indivíduos, 4 possuem idade compreendida entre os 25 a 49 anos, ao contrário de 11% que estão no escalão etário entre os 15 e 24 anos. Somente 9% possuem idade superior a 50 anos.

25 a 49 anos80%

15 a 24 anos11%

50 anos e +9%

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Relatório Final

Nível de Instrução Os indivíduos sindicalizados possuem um nível de instrução mais baixo, comparativamente aos trabalhadores não sindicalizados. Assim, 2/3 dos sindicalizados possuem como nível mais elevado o 9º ano, contra 58% dos não sindicalizados. Por outro lado, cerca de 17% dos não sindicalizados são detentores de um diploma pós-secundário, ao contrário de 12% dos sindicalizados.

Nível de Instrução Filiado Não FiliadoSem Instrução 1 2Alfabetizado 6 3EBI 36 347º a 9º ano 27 2110º a 12º ano 18 22Pós-Secundário 12 17Total 100 99

Filiação De acordo com os resultados do inquérito, os trabalhadores sindicalizados representam cerca de ¼ da população empregada no universo das empresas inquiridas, ou seja a taxa de sindicalização é de 22%, dos quais, 87% estão afectos aos sindicatos filiados na UNTC-CS e, 13% aos sindicatos da família CCSL.

Não Sindicalizados

78%

Sindicalizados22%

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Relatório Final

Verifica-se uma enorme concentração dos sindicalizados, pois, de cada três, dois estão localizados nas ilhas de Santiago e S. Vicente, seguindo a mesma tendência verificada ao nível das empresas. Para além destas ilhas, Sal aparece com algum peso, com 7%. As restantes ilhas possuem um peso pouco significativo no contexto nacional. Sector de Actividade Numa análise por sector de actividade, regista-se uma maior taxa de sindicalização nos sectores de Serviço e na Administração Pública, com 28% e 25%, respectivamente. A taxa mais baixa localiza-se no sector de Comércio onde apenas 1 em cada 10 trabalhadores são sindicalizados. Por outro lado, nos sectores do Turismo e da Indústria, aproximadamente 1 em cada 5 indivíduos são sindicalizados.

Sector de Actividade Sindicalizado Não sindicalizado TotalComércio 11 89 100Indústria 18 82 100Turismo 19 81 100Administração Pública 25 75 100Serviços 28 72 100

Razões de Escolha Cerca de metade (49%) dos inquiridos indicaram como razão da escolha do sindicato ao qual estão filiados actualmente, a defesa do interesse laboral. Outra razão apontada por uma percentagem significativa (27%) dos inquiridos é a segurança em termos de emprego. Somente 12% dos inquiridos escolheram o sindicato indicando como razão principal a vontade de participar.

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Relatório Final

49

12

27

10

2

0 10 20 30 40 50 6

Defesa do interesse laboral

Vontade de participar

Segurança em termos deemprego

Benefícios sociais

Não Sabe

0

Tempo de Sindicalização Uma proporção significativa dos inquiridos (37%) estão sindicalizados há mais de 10 anos, contra 34% que têm entre 5 a 10 anos de sindicalização. De registar ainda, que 27% dos inquiridos ingressaram no sindicato mais recentemente, isto é, a menos de 4 anos. Cerca de 60% dos indivíduos afectos à CCSL estão sindicalizados há mais de 11 anos, contra 43% dos da UNTC-CS. Por outro lado, cerca de 23% dos indivíduos que estão filiados na CCSL fizeram-no há menos de 4 anos, contra 19% dos sindicalizados da UNTC-CS.

Escalão do tempo sindicalizado UNTC-CS CCSLMenos de 4 anos 19 235 a 10 anos 38 1711 anos e + 43 60Total 100 100

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Quotização Cerca de 85% dos sindicalizados pagaram a quota nos respectivos sindicatos há menos de 1 mês. O desconto na folha de salário é a forma mais utilizada no pagamento das quotas, pois de cada 3 sindicalizados 2 utilizam essa forma de pagamento, contra 15% que fazem o pagamento no Banco e, 8% que pagam directamente no sindicato.

67

15

7 82 1

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Na folha desalário

Pagamentono banco

Descontoautorizadono banco

No sindicato Outra Não sabe

Razões da Não Sindicalização A falta de informação/desconhecimento (41%) e o desinteresse (34%) foram as principais razões apontadas pelos não sindicalizados, para justificarem a não aderência ao sindicato. Uma percentagem pouco significativa (7%) respondeu que os sindicatos são ineficientes ou que não oferecem nenhum benefício.

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41

7

1

12

5

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Desinteresse Falta deinformação

Ineficiente Razões política Outra Não sabe

Pretensão em Sindicalizar-se Entretanto, mais de metade (57%) dos indivíduos inquiridos que não são sindicalizados pretendem fazê-lo, ao contrário de 1/3 que irão continuar sem nenhuma ligação com os sindicatos. Dos que não pretendem sindicalizar-se apontaram como razão para não o fazer, a segurança/estabilidade que gozam nos respectivos empregos e, a resolução de conflitos, com 37% e 35%, respectivamente.

Não Sabe11%

Não32%

Sim 57%

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Relatório Final

Conhecimento Cerca de metade (52%) dos sindicalizados não sabem ou não lembram o nome do Secretário Permanente do sindicato ao qual estão filiados. No que se refere ao Secretário Geral/Presidente o panorama também não é diferente, pois, cerca de 47% não sabem ou não se lembram do nome do líder máximo da Central Sindical a qual os seus sindicatos pertencem. Contudo, cerca de 49% apontaram o nome de Júlio Ascensão Silva (Secretário geral da UNTC-CS), contra 4% que citaram o nome de José Manuel Vaz (Presidente da CCSL).

Não se lembra49%

Júlio Ascensão Silva47%

José Manuel Vaz4%

Percepção das actividades sindicais Os inquiridos sindicalizados tomam conhecimento das actividades dos seus sindicatos principalmente através de uma convocatória escrita (23%), dos delegados/comissão sindicais (21%) ou através dos colegas/amigos e da rádio/jornal/TV com 11% cada um.

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Relatório Final

Como toma conhecimento das actividades sindicais % Convocatória escrita 23 Delegados/comissão sindical 21 Colegas/amigos 11 Rádio/Jornal/TV 11 Boletim Informativo 10 Reuniões Colectivas 6 Jornal de Parede 1 Não Sabe 17 Total 100

Comunicação De uma maneira geral, a comunicação dos sindicatos com os trabalhadores é muito deficiente. De acordo com os resultados do inquérito, mais de metade dos sindicalizados (54%) responderam que os sindicatos comunicam esporadicamente com os trabalhadores e, 21% vão mais longe ao afirmarem que os sindicatos não comunicam com os trabalhadores. Somente 13% consideram que os sindicatos comunicam com alguma frequência com os trabalhadores. Numa análise por central sindical, constata-se que esta fraca comunicação é muito mais acentuada entre os sindicatos pertencentes à família UNTC-CS , (60% são de opinião que a comunicação é feita esporadicamente e 20% entendem que não há comunicação) do que aqueles que estão ligados à CCSL ( 54% responderam que a comunicação é esporádica e, 10% disseram que a comunicação não existe).

Frequência que o sindicato comunica com os trabalhadores UNTC-CS CCSL TotalSemanalmente 0 5 2Mensalmente 5 15 4Trimestralmente 7 15 7Esporadicamente 60 54 54Não Comunica 20 10 21Não Sabe 8 1 12Total 100 100 100

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Relatório Final

Democraticidade/Participação A participação nas reuniões dos sindicatos e outras actividades do tipo é baixa como se pode constatar no quadro a seguir. Praticamente metade (51%) dos sindicalizados não participam nas reuniões dos seus sindicatos, 57% não participam nas reuniões de Comissão dos Trabalhadores nas suas empresas/serviços, 74% nunca participaram nas reuniões de preparação das greves organizadas pelos seus sindicatos e, 80% nunca participaram nas manifestações de protesto/greve organizadas pelos seus sindicatos.

Participação nas reuniões/manifestações organizadas pelo seu sindicato Sim Não Não Sabe TotalSindicato 48 51 1 100Comissões dos Trabalhadores 38 57 5 100Preparação das Greves 25 74 1 100Manifestações de Protesto/Greve 18 80 2 100

A fraca propensão em participar em qualquer tipo de actividade é confirmada uma vez mais, ao se analisar o envolvimento dos sindicalizados em outras instituições. Constata-se que existe uma baixa aderência, pois em média, somente 1 em cada 5 sindicalizados participa em instituições do tipo associação desportiva, religiosa, comunitária ou outra.

Membro de Associações %Associação Desportiva 27Associação Religiosa 21Associação Comunitária 17Partido Político 16Associação Profissional/Classe 7Não Sabe 12Total 100

Estes dados corroboram com os resultados do estudo da Afrosondagem/Afrobarometro que indicam que poucos cabo-verdianos são membros, activos ou não, de grupos como os sindicatos, associações

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Relatório Final

profissionais e associações de desenvolvimento comunitário. Uma excepção a essa tendência, como acontece em outros países recém democratizados, é a participação em grupos religiosos24. Da Conformidade das Eleições/Estatuto. A realização de eleições constitui um elementos chave para a avaliação da legitimidade dos mandatos dos dirigentes sindicais. A maioria dos sindicatos filiados à UNTC-CS alteraram a periodicidade das eleições de 2 para 3 anos tendo conta os elevados encargos financeiros que derivam da organização do processo eleitoral .

Sindicatos afectos à UNTC-CS Periodicidade

de eleição Última Eleição

Observação

1. Sindicato do Comércio, Transportes, Telecomunicações, Administração Pública e Serviços

2 anos S/Inf. N/Conformidade

2. Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública de Santiago (STAPS)

3 anos 2002 Em conformidade

3. Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública de São Vicente (SINTAP - SV)

3 anos 2000 N/Conformidade

4. Sindicato da Agricultura, Comércio, Transporte, Telecomunicações, Administração Pública e Serviços (SACTAPS)

3 anos 2004 Em conformidade

5. Sindicato de Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo (SITTHUR)

3 anos 2003 Em conformidade

6. Sindicato de Indústria, Comércio e Turismo (SICOTUR)

3 anos 2001 Em conformidade

7. Sindicato dos Transportes, Comunicação e Administração Pública (SINTCAP)

3 anos 2000 N/Conformidade

8. Sindicato Nacional dos Professores (SINDEP) 4 anos 2003 Em conformidade 9. Sindicato da Indústria, Comércio e Serviços – S.

Vicente (SICS) 3 anos 2003 Em conformidade

10. Sindicato dos Trabalhadores Livres de Santo Antão (SLTSA)

3 anos 1999 N/Conformidade

11. Sindicato Nacional dos Enfermeiros e Técnicos de Saúde (SNETS)

3 anos 2004 Em conformidade

12. Sindicato dos Trabalhadores da Boa Vista (STBV) 3 anos 2002 Em conformidade 13. Sindicato da Indústria, Serviços, Comércio, 3 anos 2003 Em conformidade

24 C.f. Afrosondagem/Afrobarometro: Opinião Pública sobre a Democracia e os Mercados em Cabo Verde, 2003: pág. 23

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Relatório Final

Agricultura e Pesca (SISCAP)

14. Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Financeiras (STIF)*

3 anos 2004 Em conformidade

15. Federação Nacional dos Sindicato de Transportes, Telecomunicações, Metalomecânica e Turismo (SIMETEC)

3 anos 2002 Em conformidade

16. Sindicato de Metalomecânica, Transportes, Turismo e Comunicações (SIMETEC)

3 anos 2002 Em conformidade

17. União dos Sindicato de Santiago (USS) 3 anos 1999 N/Conformidade 18. União dos Sindicato de S. Vicente (USV) 2 anos 2002 Em conformidade 19. UNTC-CS 4 anos 2000 Em conformidade

Da análise da conformidade da realização das eleições com os dispositivos estatutários, nota-se que 78% dos sindicatos afectos à UNTC-CS vêm realizando com regularidade as eleições. Entre as organizações sindicais que ainda não realizaram as eleições como o previsto no estatuto figuram: (i) Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública de São Vicente (SINTAP - SV) cuja eleição deveria ser realizada em 2003; (ii) Sindicato dos Trabalhadores Livres de Santo Antão (SLTSA) e a União dos Sindicato de Santiago (USS) em que a última eleições deveriam acontecer em 2002, a SINTCAP cuja a última eleição deveria realizar-se em 2003 e o Sindicato do Comércio, Transportes, Telecomunicações, Administração Pública e Serviços de S.Nicolau.

Relação dos Sindicatos Afectos à CCSL: Conformidade das Eleições com o Estatuto

Sindicato Periodicidade Eleição

Última Eleição

Observação

Sindicato Democráticos dos Trabalhadores da Administração Pública –(SINDETAP )

5 anos S/Inf

N/Conformidade

Sindicato dos Trabalhadores da Industria, Agricultura e Pesca (SIAP)

3 anos

1997

N/conformidade

Sindicato dos Transportes, Comunicações e Turismo.( STCT).

4 anos

S/Inf

Considera que tal situação é ingerência

no assunto interno do sindicato

Sindicato Nacional Democrático dos Enfermeiros, (SINDEF)

4 anos

S/Inf

S/Inf

Sindicato da industria Geral, Alimentação, Construção Civil, Agricultura e Floresta: (SIACSA.)

3 anos

2002

Em Conformidade

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Relatório Final

Sindicato dos Professores da Ilha do Fogo (SPIF)

3 anos

S/Inf N/Conformidade

Federação cabo-verdiana dos sindicatos (FECAP) S/Inf N/Conformidade Sindicatos dos Professores da Ilha de Santiago. (SIPROFIS)

3 anos

1999

N/Conformidade

Sindicato dos Professores da Ilha do Maio: (SPIM)

3 anos

S/Inf

N/Conformidade

Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços (STCS)

5 anos * 1999

Em Conformidade

Confederação cabo-verdiana dos Sindicatos Livres (CCSL)

4 2000 Em Conformidade

Em relação às organizações sindicais filiadas CCSL, constata-se que a maioria destas organizações (70%) não realizaram as eleições em conformidade com a exigência legal, o que suscita a questão da legitimidade dos mandatos dos seus dirigentes. As organizações sindicais que realizaram as eleições em conformidade com o estatuto são: o SIACSA, o STCS e a CCSL. Eficácia Interesses que os Sindicatos Defendem

De cada 4 inquiridos, 3 consideram que os sindicatos defendem apenas o interesse dos trabalhadores.

Uma percentagem reduzida dos trabalhadores são de opinião que os sindicatos defendem os interesses

dos partidos políticos (6%), ou interesse pessoal dos dirigentes (4%).

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Relatório Final

80

6

4

3

2

2

2

1

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Dos Trabalhadores

Partidários

Interesses pessoais dosdirigentes

De ninguém

Patronato

Governo

Outros

Não Sabe

Capacidade Negocial Os inquiridos de uma maneira geral confiam na capacidade negocial dos seus sindicatos, pois, cerca de 74% responderam que os sindicatos têm capacidade para negociar e defender os seus interesses, contra 12% que emitiram opinião contrária, ou seja, não acreditam que os sindicatos tenham essa capacidade.

Não/Sabe14%

Não12%

Sim 74%

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Avaliação do Grau de Desempenho Cerca de 1/3 dos inquiridos avaliaram positivamente o grau de desempenho dos sindicatos na defesa dos interesses dos trabalhadores, ao classificarem-no de bom, ao contrário de uma minoria (12%) que deram uma nota negativa. Uma percentagem considerável dos trabalhadores, (40%) consideram satisfatório o desempenho dos sindicatos e, 16% não sabem avaliar por desconhecimento do trabalho que os sindicatos vêm realizando.

32

40

12

16

Bom Satisfatório Péssimo Não Sabe

Quanto à justeza das reivindicações dos sindicatos, cerca de 59% dos trabalhadores consideram-na justas, ao contrário de uma percentagem pouco expressiva (5%) que consideram-na injustas ou pouco justas.

Justeza das acções sindicais

Justas 59As vezes justas/as vezes injustas 21Pouco justas/injustas 5Outro 1Não Sabe 14Total 100

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Relatório Final

Financiamento Proveniência dos Fundos do Sindicato Instados a pronunciarem-se sobre a proveniência dos fundos do sindicato, cerca de metade dos inquiridos (49%) considera que provêm das quotas dos associados. Por outro lado, 1 em cada 3 entrevistados não sabe de onde provêm os fundos. De realçar ainda que, cerca de 10% consideram que os fundos provêm do Orçamento Geral do Estado.

Proveniência dos Fundos %Quotas 49Orçamento do Estado 10Donativos 4Fundos Próprios 1Outros 3Não Sabe 33Total 100

Quem deve financiar os Sindicatos A maioria dos inquiridos, são de opinião que os sindicatos devem ser financiados através do Orçamento Geral do Estado, ou através dos trabalhadores com 41% e 34%, respectivamente. Apenas 8% dos entrevistados consideram que os sindicatos devem ser financiados exclusivamente pelos seus membros.

Quem Deve Financiar os Sindicatos OGE 41Trabalhadores 34Membros 8Organizações Internacionais 4Fundos Próprios 3Partidos Políticos 1Outros 2Não Sabe 7Total 100

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IV PARTE: REFERÊNCIA TEÓRICA SOBRE O CONCEITO DE REPRESENTATIVIDADE SINDICAL

4.1. Considerações Preliminares

Geralmente, a filiação sindical é considerada como medida necessária (e por vezes, suficiente) para a definição da representatividade sindical. A queda do número dos associados tem sido tomada como indicador decisivo de crise, para muitos, resultando no definitivo deslocamento dos sindicatos do centro da cena na ordem social contemporânea25. Segundo Cardoso, o critério numérico não deixa de apresentar limitações sobretudo na comparação entre países. Em primeiro lugar, a definição mesma da taxa de filiação é coextensiva à forma como é mensurada. Por outras palavras, uma taxa é um número resultante de uma divisão, uma conta em que a delimitação do numerador e do denominador define inteiramente seu conteúdo. Entretanto, problema aparentemente técnico ganha vulto conceptual na identificação tanto da população de referência (o denominador) quanto da população-alvo (o numerador). Na primeira, deve-se incluir toda a população do país ou apenas a população ocupada? Apenas os assalariados ou todos os ocupados? Não será conveniente incluir também os trabalhadores desempregados, já que em algum momento voltarão a um emprego? Em países onde os sindicatos prestam serviços aos desempregados (como a Suécia ou a Austrália) isso faz todo sentido, mas onde os sindicatos organizam apenas os empregados (como Brasil ou Estados Unidos) tal inclusão talvez subestime a taxa de filiação.

Em segundo lugar, embora em boa parte dos casos a taxa de filiação seja uma medida da extensão da cobertura dos acordos colectivos de trabalho, em certos países isto não se dá. No Brasil, por exemplo, o trabalhador não tem que se filiar para ter direito aos benefícios da negociação colectiva. Na França (e em vários outros países de tradição legislada de relações de trabalho, como Portugal, Austrália, Argentina ou México) dá-se algo semelhante. Embora a taxa de filiação seja inferior a 9%, mais de 90% da população assalariada francesa é coberta por acordos colectivos. E ninguém negará que os sindicatos franceses têm poder social e económico expresso, por exemplo, na capacidade de parar o país em greves gerais. 26

Em terceiro lugar, pode-se argumentar que o poder sindical se mede não tanto (ou nem sempre) pela capacidade de arregimentar filiados, mas sim pelo poder de iniciar acções colectivas, encerrá-las quando

25 CARDOSO, Adalberto Moreira. 1997. Um Referente For a de Foco: Sobre a Representatividade do Sindicalismo no Brasil: In: Dados. Vol. 40, N°2, Rio de Janeiro, pp. 1-20 26 Idem, Ibidem

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Relatório Final

for o caso, ou impedir que ocorram sem o consentimento do sindicato (Pizzorno, 1978; Tilly e Tilly, 1998, cap. 11; Cardoso, 1999a, cap. 3). Isto porque a filiação sindical não denota necessariamente disposição para a acção colectiva, que é, em última análise, a forma efectiva de exercício de poder por parte dos sindicatos. No Leste da Europa e na antiga União Soviética, a sindicalização era próxima dos 100%, porque compulsória (Thirkell et alii, 1998). Na China Continental as taxas são superiores aos 70% da força de trabalho (Ng e Warner, 1998). Em qualquer um desses casos, porém, os sindicatos não actuavam ou não atuam como instituições autónomas de organização e luta pelo interesse dos representados. A filiação era ou é, mais propriamente, uma figura administrativa, não uma medida de poder ou capacidade de mobilização sindical. 27 José Francisco Siqueira Neto, apoiado nos escritos de Jean Maurice Verdier, considera que “a noção de sindicato mais representativo foi introduzida pela primeira vez no Direito do Trabalho Internacional, com a criação, pelo Tratado de Versailles, da Organização Internacional do Trabalho, quando foi determinado que os delegados não governamentais dos Estados-membros seriam indicados de acordo com as organizações sindicais mais representativas”. Sequeira Neto, defensor da pluralidade, não esconde que “na verdade, não deixa de ser um paradoxo (reconhecido por Garcia Abellan) o facto de o próprio regime que possibilita o pluralismo, que cresce exactamente pelo reconhecimento da liberdade fundamental do grupo para se constituir e agir como organização, fornecer o germe desagregador do pluralismo, ao procurar os “mais iguais dentre os iguais. 28 Para este autor, os índices ou critérios para um exame comparativo podem ser resumidos em: a) quantitativos, em que prepondera a consistência numérica de uma determinada dimensão geográfica, e de uma dada natureza (número de associados, de delegados de pessoal, de componentes nos comités de empresa, de contribuintes, de trabalhadores e empregadores efectivamente representados, de votos específicos); b) qualitativos, que valorizam a independência em relação à contraparte, a experiência e a antiguidade sindical; c) institucionais, que privilegiam a participação das organizações dos órgãos públicos; d) ideológicos, que enaltecem determinadas passagens históricas, como a resistência patriótica durante a ocupação da França; e) funcionais, que relevam os instrumentos colectivos firmados fora do âmbito exclusivo da empresa; f) estruturais, que enaltecem um determinado tipo de estrutura organizativa, invariavelmente, a confederativa; g) de estabilidade e continuidade do sujeito da negociação, que optam pela continuidade das organizações sindicais na negociação colectiva.29

27 Idem, Ibidem, p.3 28 AROUCA, José Carlos. 2003. Sindicato em um Mundo Globalizado. São Paulo: Editora LTR, p.656 29 Idem, Ibidem

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4.2. Um olhar sobre os Critérios Utilizados em Vários Países para Determinar a Representatividade Sindical A realização de uma análise comparativa dos diferentes critérios utilizados em diversos países para a definição de representatividade sindical constitui uma exigência incontornável para a construção de referências a partir dos quais se pode haurir elementos para a construção de critérios válidos e aplicáveis à realidade sindical cabo-verdiana. - Experiências de alguns Países Europeus e de América Latina i) Argentina Na Argentina, “a qualificação de mais representativa é conferida à associação que tenha o maior número médio de filiados cotizantes no semestre anterior”. Quem reconhece a personalidade da associação profissional é a autoridade administrativa do trabalho. ii) Espanha Na Espanha, são considerados mais representativos os sindicatos que:

a) a nível nacional, tiverem pelo menos 10% do total de delegados de pessoal, dos membros de comités de empresas e dos correspondentes órgãos nas administrações públicas;

b) a nível regional autónomas, tiverem pelo menos 15% dos assentos no seio dos conselhos representativos ao nível das empresas.

Quanto à sua verificação, pode ser feita em diferentes momentos, valendo: “a) o controle preliminar da autoridade pública, que acorda o requisito e, consequentemente, reconhece a capacidade negocial do sujeito colectivo; b) verificação da representatividade sucessiva ou a posteriori, que geralmente se apresenta nas realidades em que a lei e a jurisprudência elaboram índices de representatividade pré-constituída; c) o modelo intermediário, que alternativamente está em condições de assegurar o controle da idoneidade representativa das entidades, a posteriori e a priori, cujo caso mais comum de incidências é o relativo à eleição do agente da negociação.30

30 Liberdade Sindical e Representação dos Trabalhadores nos Locais de Trabalho, LTr Ed., págs. 107 a 110)

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iii) Itália A legislação italiana estabelece entre outros critérios electivos para a determinação dos sindicatos de maior representatividade, considerando os seguintes elementos : a) consistência numérica; b) presença equilibrada em amplo arco de sectores produtivos; c) difusão em todo o território nacional; iv) França Na França as cinco confederações sindicais são consideradas representativas a nível nacional. Em decorrência disso, os sindicatos nelas filiados não precisam justificar a sua representatividade nas empresas e podem designar os delegados. Os critérios adoptados para a determinação da representatividade são os seguintes : (i) os Efectivos ; (ii) as Cotizações ; (iii) a Independência ; (iii) a Experiência (iv) a Antiguidade dos Sindicatos e (v) a Atitude Patriótica durante a ocupação. v) Bélgica Na Bélgica, a representatividade dos sindicatos/federações é determinada com base, nos seguintes aspectos :

(i) a implantação geográfica; (ii) a consistência numérica - 50.000 filiados; (iii) estar representado no conselho central económico e no Conselho Nacional de Trabalho.

- Experiências de alguns Países Africanos (Francófonos) Com a finalidade de basear-se unicamente em critérios objectivos e atribuir o peso de cada organização de trabalhadores, muitas práticas foram desenvolvidas em diferentes países africanos de língua oficial francesa : (i) as eleições sindicais (RDC) ; (ii) as eleições profissionais (Benin), (iii) os efectivos sindicalizados (Camarões) ; (iv) Inquéritos Quantitativos (Senegal e Tchad)31 ;

31 BIT. PRODIAF. 2002. La Représentativité des Organisations de Travailleurs et d’Employeurs en Afrique Francophone.

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vi) Benin No Benin, a questão da representatividade sindical é regido pelas eleições profissionais, de acordo com a Lei de Janeiro de 2004. Uma organização é representativa se obtiver 25% dos votos expressos. A organização sindical mais representativa é aquela que obtém o maior numero de votos. 32 Assim, a lei prevê a realização de eleições profissionais nacionais para determinar a representatividade das centrais ou confederações. As eleições realizam-se a cada quatro anos e abrangem as empresas e os serviços públicos que dispõem de pelo menos 11 efectivos e têm um sindicato. As organizações ocupam o numero de assentos nos fóruns de forma proporcional ao numero de votos obtidos vii) Senegal No Senegal, após uma larga consulta aos parceiros sociais, definiu-se os seguintes critérios para a determinação da representatividade : (i) os efectivos (filiados) ; (ii) os resultados das eleições do delegado do pessoal ; (iii) a Independência dos sindicatos ; (iv) as cotizações dos associados ; (iv) a experiência do sindicato ; (vi) a extensão e a natureza de sua actividade ; O instrumento utilizado para aferir a representatividade dos sindicatos tem sido o inquérito, realizado periodicamente de dois em 2 anos. Todavia, o intervalo de tempo entre a realização do primeiro e o segundo inquérito foi de cinco anos. viii) Togo No Togo, a mensuração da representatividade das organizações sindicais compreende os seguintes elementos:

(i) Efectivos; (ii) (ii) Cotização; (iii) (iiii) Independência; (iv) (iv) experiência do Sindicato.

32 Idem, iibidem

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Os filiados e as cotizações são dois critérios objectivos utilizados. Todavia, desde 1997, encontra-se no parlamento uma na lei que propõe as eleições profissionais como critério para a definição de representatividade. ix) Camarões Nos Camarões, desde 1992, o critério de representatividade utilizado é o numero de efectivos por sindicato. Para emitir o certificado de representatividade, basta o Ministério do trabalho recolher junto dos sindicatos os dados relativos aos aderentes. O quadro a seguir sintetiza os critérios utilizados nos países africanos acima referidos:

Países Critérios Fonte de Verificação Observação Benin

Eleições Profissionais Acta das Eleições As Eleições são organizadas por uma comissão nacional integrada por individualidades de diferentes quadrantes

Senegal

- N° de Filiados/Cotização ; - Independência do sindicato; - Experiência; - Extensão e natureza da actividade do sindicato

Inquérito organizado por uma entidade independente

O inquérito possibilita dados fiáveis, mas requer a disponibilidade de recursos financeiros Os critérios tais como independência e experiência são de difícil verificação e mensuração

Togo N° de Filiados/Cotização ; - Independência; - Experiência

S/R Na indefinição dos meios de verificação, é difícil mensurar a representatividade

Camarões

N° de Filiados Dados recolhidos pelo Ministério de Trabalho junto aos Sindicatos

Todavia, como muitas vezes os dados não são fiáveis, o ministério vê-se desprovido de meios de verificação da sua fiabilidade

Na globalidade, constata-se que existe uma variedade de critérios utilizados em diferentes países. Esta variedade justifica-se não só pela maior ou menor complexidade da estrutura produtiva dos diferentes países, mas também pelo contexto político, social e cultural que marca a história de cada país. Neste sentido, a análise das diferentes experiências não deve ser visualizada como um exercício de mimetismo, mas sim, uma oportunidade de compreender o sentido que noutros contextos os intervenientes atribuem às suas práticas institucionais.

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4.3. Critérios para a Definição da Representatividade Sindical em Cabo Verde Contribuições para Definição da Representatividade Sindical em Cabo Verde - Proposta - Em Cabo Verde, a discussão sobre a representatividade sindical reporta ao inicio dos anos 90, com a instauração do pluralismo sindical. Com a existência de duas centrais sindicais, o então governo viu-se confrontado com a necessidade de definir os critérios para a escolha dos delegados das centrais sindicais que deveriam representar as organizações sindicais do país junto à OIT. O governo decidiu pelo sistema de rotatividade de representação das centrais sindicais junto à OIT, uma vez que no seu entendimento tal sistema é a que melhor se adequava à realidade sindical. Além do mais, havia limitações de ordem financeira para suportar os custos da deslocação em simultâneo da comitiva das duas centrais sindicais à OIT.33 Tal situação gerou uma forte reacção da UNTC-CS que contestou, por diversas vezes, junto à OIT a legalidade e a justeza da medida adoptada pelo governo de Cabo Verde, alegando que o estudo sobre a representatividade sindical realizado por uma entidade independente conferia-lhe maior representatividade sindical em Cabo Verde. Independentemente das razões que as diferentes partes invocam para justificar as posições nesta matéria, a verdade é que a discussão sobre a representatividade sindical foi retomada de forma mais sistematizada ao nível do conselho de concertação social. A maioria dos representantes presentes, essencialmente os das duas centrais sindicais, endossou a proposta do governo relativamente à necessidade de realização de um estudo sobre a representatividade sindical.34 A esse respeito, convém realçar que os dispositivos legais da OIT são favoráveis à realização de estudos sobre a representatividade sindical razão pela qual a constituição da OIT, no parágrafo 5 do art° 3°, consagra a noção de “organizações sindicais mais representativas35. Contudo, segundo as

33 C.f. Alegações apresentadas pelo então Ministro da Justiça e Trabalho. 34 C.f. Conselho de Concertação Social. Acta Síntese da Reunião Extraordinária do Conselho de Concertação Social de 03 de Junho de 2002. 35 Este dispositivo legal da OIT tem sido fonte de várias interpretações. Sem querer entrar no âmago desta discussão jurídica, somos em crer que a questão é mais de natureza política que jurídica ou sociológica. Cf. Organização Internacional de Trabalho,

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recomendações desta organização é necessário que uma distinção dessa natureza não tenha como resultado conceder às organizações mais representativas - carácter que deriva de um numero mais elevado de membros - privilégios que excedam uma prioridade em matéria de representação nas negociações colectivas de consultas com os governos ou mesmo em matéria de designação de delegados junto a organismos internacionais. 36 De todo modo, a determinação da representatividade sindical não é, em si, contrária ao principio da liberdade sindical , desde que se observem algumas condições. Em primeiro lugar a definição de organização mais representativa deveria basear-se em critérios objectivos e pré-estabelecidos , a fim de evitar qualquer decisão abusiva. Além disso, as vantagens deveriam limitar-se, de uma maneira geral, ao reconhecimento de alguns direitos preferenciais no que se refere a questões tais como a

negociação colectiva, a consulta pelas autoridades ou a designação de delegados junto a organismos internacionais. Proposta de Critérios Definidores da Representatividade Sindical na Opinião dos Líderes Sindicais Diversos experts da OIT em matéria de práticas de diálogo e Concertação social, reconhecem que a definição da representatividade sindical é importante, uma vez que permite : (i) uma melhor condução das negociações colectivas ; (ii) o respeito e a boa aplicação dos acordos firmados e (iii) a constituição de equipas de consulta nacional , bem como a composição dos delegados à OIT.37 Dos subsídios recolhidos aquando da realização do focus groupos com a participação de lideres sindicais, nota-se que existe alguma convergência quanto à adopção de alguns critérios : Assim, os representantes da CCSL, sugeriram a inclusão dos seguintes critérios para a determinação da representatividade :

(i) Numero de filiados; (ii) participação das mulheres nos órgãos directivos dos sindicatos;

1996. Constituição da Organização Internacional do Trabalho e Regulamento da Conferência Internacional do Trabalho. Lisboa: 36 OIT. 1997. A Liberdade Sindical : Recompilação de decisões e Princípios do Comité de Liberdade Sindical do Conselho de Administração da OIT : Brasília 37 BIT. PRODIAF. 2002. La Représentativité des Organisations de Travailleurs et d’Employeurs en Afrique Francophone.

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Relatório Final

(iii) participação e a contribuição dos sindicatos para a melhoria das condições de vida de trabalho dos trabalhadores;

(iv) participação dos sindicatos em diversos órgãos existentes a nível nacional (CCS; CNEF); (v) participação nas conferências internacionais.

Por seu lado, os representantes da UNTC-CS, propuseram os seguintes critérios :

(i) Numero filiados efectivos (cotizam regularmente); (ii) implantação geográfica; (iii) sectores de actividade; (iv) acordos colectivos celebrados; (v) eleição dos dirigentes sindicais; (vi) capacidade de resolução dos problemas da classe que representa; (vii) participação nos órgãos tripartido.

De uma forma geral, as propostas formuladas pelos líderes sindicais são, na maioria dos casos, convergentes com o que tem sido adoptado em vários países, nomeadamente: (a) a proporção de filiados; (b) a implantação geográfica; (c) participação nos órgãos de negociação colectiva; d) eleição de dirigentes sindicais. Entretanto, outros critérios tais como: (i) participação e a contribuição dos sindicatos para a melhoria das condições de vida de trabalho dos trabalhadores ; (ii) participação nas conferências internacionais comportam aspectos muito subjectivos e como tal de difícil mensuração. Assim, com base na revisão da literatura internacional, nos resultados do inquérito aos trabalhadores, nas entrevistas aos líderes sindicais, propõe-se a adopção dos seguintes critérios referenciais para determinação da representatividade sindical em Cabo Verde :

1. Filiados activos; 2. Implantação geográfica; 3. Implantação Sectorial; 4. Democraticidade /Participação; 5. Eficácia da Acção Sindical; 6. Independência/Autonomia ;

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Relatório Final

Dos Conceitos de Referência para a determinação da Representatividade Sindical : Vantagens e Desvantagens 1. Filiados activos: entende-se por filiados activos a proporção de indivíduos filiados numa determinada organização sindical com a quota regularizada nos termos do disposto no estatuto. Trata-se de um critério facilmente quantificável. A desvantagem da utilização deste critério prende-se com acesso às informações relativas à regularidade do pagamento da quota, bem como dos custos decorrentes da utilização do inquérito.

2. Implantação Geográfica: por implantação geográfica entende-se a proporção de filiados activos numa organização sindical residentes nos diferentes espaços territoriais (ilhas) do país, bem como a existência de representações/ delegações. Trata-se de um critério passível de ser medido com rigor e fiabilidade. A sua desvantagem prende-se com os custos decorrentes da realização do inquérito, da deslocação para observar in loco as estruturas sindicais existentes e da fiabilidade dos registos junto à DGT. 3. Implantação Sectorial: entende-se por implantação sectorial a proporção de filiados activos por sectores de actividades em conformidade com a classificação das actividades económicas/Cabo Verde. Trata-se de critério de fácil operacionalização. A desvantagem da utilização deste critério prende-se com os custos decorrentes da aplicação do inquérito; 4. Democraticidade/Participação: Entende-se por democraticidade a conformidade das eleições dos órgãos sociais com os dispositivos estatutários/legais, bem como o grau de participação dos filiados nas instâncias de formação e constituição de vontade colectiva. Trata-se de um critério complexo, porém sob vários aspectos mensurável. Entretanto, apresenta algumas desvantagens, nomeadamente: o acesso às actas de realização das eleições junto aos sindicatos, bem como os registos na DGT;

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Relatório Final

5. Eficácia da Acção Sindical: por eficácia da Acção Sindical, entende-se a capacidade de agregar e mobilizar as reivindicações dos associados e traduzi-los em conquistas que correspondem às expectativas vontades manifestas dos trabalhadores . Trata-se de um critério complexo, mas passível de ser mensurável. Todavia, a sua mensuração pressupõe a existência de registo fiável sobre os pré-avisos de greve/greve e dos acordos celebrados; 6. Independência/autonomia: independência em relação aos grupos de pressão ( patronato/Estado, partidos políticos, etc.), bem como a capacidade de gerar recursos para suportar os custos decorrentes das suas actividades. Trata-se de um critério muito complexo, porém de difícil mensuração uma vez que requer a utilização de instrumentos metodológicos mais qualitativos que quantitativos, comportando um certo grau subjectividade. A operacionalização dos critérios acima indicados para a aferição da representatividade das organizações sindicais requer a existência de fontes de verificação fiáveis e de entidades responsáveis independentes, conforme o quadro em baixo.

Quadro: Critérios/ Fonte de Verificação/Entidade Responsável

Critérios

Instrumento/Fonte de Verificação

Entidade

(i) Filiados activos

Inquérito/registo nas organizações sindicais

Independente

(ii) Implantação Territorial

Inquérito/observação directa Independente

(iii) Implantação Sectorial

Inquérito Independente

(iv) Democraticidade/Participação

Estatuto/ Acta de Eleição Direcção Geral do Trabalho

(v) Eficácia da Acção Sindical

Acta dos Acordos celebrados

Direcção Geral do Trabalho

(vi) Independência/Autonomia

Inquérito/Observação Directa Independente

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Fórmulas de Cálculo dos Indicadores por Organismo Sindical

Indicador Fórmula IRf = FT/T *10 * Pf

Indicador de Representatividade de Filiados (IRf)

FT – Numero de Filiados Activos T - Numero Total de Trabalhadores Pf – Ponderador do IRf IRg = (FI * pi + RI/I * pr) / T * 10) * Pg

Indicador de Representatividade Geográfica (IRg)

FI – Numero de Filiados Activos por Grupo de Ilhas pi – Ponderador do Grupo de Ilhas RI – Numero de Representações nas Ilhas I – Numero total de Ilhas pr –Ponderador do numero de representações T - Numero Total de Trabalhadores Pg – Ponderador do IRg IRs = (FS * ps + RS/S * psr) / T * 100 * Ps

Indicador de Representatividade Sectorial (IRs)

FS – Numero de Filiados por Sector ps – Ponderador do Sector RS – Numero de Sectores com Representações S – Numero Total de Sectores psr – Ponderador do Sector T - Numero Total de Trabalhadores Ps – Ponderador do IRs IRd = (K * ((E/OS * pe) + (P/SOS* pp))) * Pd

Indicador de Representatividade da Democraticidade (IRd)

K – Constante E – Numero de Eleições OS – Numero de Sindicatos pe – Ponderador das Eleições P – Numero de Participantes Sindicalizados SOS – Total de Sindicalizados pp – Ponderador da Participação Pd – Ponderador do IRd IRe = (((AD * pa) + (APA/PA * ppa) + (AG/G * pg) ) * Pe

Indicador de Representatividade de Eficácia (IRe)

AD – Numero de Acordos Directos pa – Ponderador dos Acordos Directos APA – Numero de Acordos após Pré-Avisos de Greve PA – Numero de Pré-Avisos de Greve ppa – Ponderador dos Acordos com pré-Avisos de Greve AG – Numero de Acordos após Greves G – Numero de Greves pg – Ponderador dos Acordos com Greves Pe – Ponderador do IRe IRa = Q / D * Pa

Indicador de Representatividade de Autonomia (IRa)

Q – Montante Total das Quotas D – Montante Total das Despesas Pa – Ponderador da Autonomia

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Em que: Pf + Pg + Ps + Pd + Pe + Pa = 1 pi + pr = 1 ps + psr = 1 pe + pp = 1 pa + ppa + pg = 1 Assim, O Indicador de Representatividade Total de uma organização sindical i (IRTi) é: IRTi = IRf + IRg + IRs + IRd + IRe + IRa

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4.4. Cálculo dos Indicadores: Cenário 1: Critérios IRf, IRg, IRs IRf : Numero de Filiados Activos (pagantes nos últimos 2 meses) – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores – Fonte: Inquérito Ponderador IRf = 0,4 IRg: Numero de Filiados Activos por Ilha (pagantes nos últimos 2 meses por ilha) – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores – Fonte: Inquérito Grupos de Ilhas e Ponderadores: Grupo 1 (Santiago, S. Vicente e Sal); ponderador pi1 = 0,2 Grupo 2 (Fogo e Santo Antão); ponderador pi2 = 0,3 Grupo 3 (São Nicolau, Brava, Maio e Boa Vista); ponderador pi3 = 0,5 Numero de Representações nas Ilhas – Fonte: Organizações Sindicais Ponderador Ilha – 0,7 Ponderador da Representação na Ilha – 0,3 Ponderador IRg = 0,3 IRs: Numero de Filiados Activos por Sectores (pagantes nos últimos 2 meses por sector) – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores – Fonte: Inquérito Sectores e Ponderadores: Sector 1 (Comércio); ponderador ps1 = 0,25 Sector 2 (Indústria); ponderador ps2 = 0,25 Sector 3 (Serviços); ponderador ps3 = 0,25 Sector 4 (Ad. Pública); ponderador ps4 = 0,25 Numero de Representações nos Sectores – Fonte: Organizações Sindicais Ponderador Sector – 0,5 Ponderador da Representação no Sector – 0,5 Ponderador IRg = 0,3 Da aplicação das fórmulas, resulta que:

UNTC-CS CCSLIndicador de Representatividade Total 1,381 0,142

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Cenário 2: Critérios IRf, IRg, IRs, IRd, IRe, IRa IRf : Numero de Filiados Activos (pagantes nos últimos 2 meses) – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores – Fonte: Inquérito Ponderador IRf = 0,3 IRg: Numero de Filiados Activos por Ilha (pagantes nos últimos 2 meses por ilha) – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores – Fonte: Inquérito Grupos de Ilhas e Ponderadores: Grupo 1 (Santiago, S. Vicente e Sal); ponderador pi1 = 0,2 Grupo 2 (Fogo e Santo Antão); ponderador pi2 = 0,3 Grupo 3 (São Nicolau, Brava, Maio e Boa Vista); ponderador pi3 = 0,5 Numero de Representações nas Ilhas – Fonte: Organizações Sindicais Ponderador Ilha – 0,7 Ponderador da Representação na Ilha – 0,3 Ponderador IRg = 0,2 IRs: Numero de Filiados Activos por Sectores (pagantes nos últimos 2 meses por sector) – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores – Fonte: Inquérito Sectores e Ponderadores: Sector 1 (Comércio); ponderador ps1 = 0,25 Sector 2 (Indústria); ponderador ps2 = 0,25 Sector 3 (Serviços); ponderador ps3 = 0,25 Sector 4 (Ad. Pública); ponderador ps4 = 0,25 Numero de Representações nos Sectores – Fonte: Organizações Sindicais Ponderador Sector – 0,5 Ponderador da Representação no Sector – 0,5 Ponderador IRg = 0,2 IRd: K = 2 Numero de Eleições - Fonte: Organizações Sindicais Numero de Organizações Sindicais - Fonte: Organizações Sindicais Numero de Participantes nas Reuniões – Fonte: Inquérito Numero Total de Trabalhadores Sindicalizados – Fonte: Inquérito Ponderador das Eleições - 0,7 Ponderador da Participação – 0,3 Ponderador IRd – 0,1 IRe: Na ausência de uma série de dados, considerou-se como pressuposto que ambas as centrais tiveram a mesma performance em termos de acordos, de pré-avisos e de greves. Embora não seja real, essa hipótese permitiu viabilizar os cálculos de simulação.

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Ponderador dos acordos directos – 0,45 Ponderador dos pré-avisos de greve – 0,35 Ponderador das Greves – 0,2 Ponderador do IRe – 0,1 IRa: Na ausência de informação, considerou-se como pressuposto que ambas as centrais tiveram o mesmo rácio. Embora não seja real, essa hipótese permitiu viabilizar os cálculos de simulação. Ponderador do IRa – 0,1

UNTC-CS CCSLIndicador de Representatividade Total 1,605 0,719

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PRINCIPAIS CONCLUSÕES Do universo das empresas e instituições públicas inquiridas, verifica-se que aproximadamente 2 em cada 10 trabalhadores cabo-verdianos são sindicalizados. Esta taxa poderia ser mais elevada se os sindicatos fossem mais pró-activos, isto é, se desencadeassem acções tendentes a sensibilizar e informar os trabalhadores sobre os benefícios decorrentes da adesão ao sindicato, especialmente com a precarização dos contratos de trabalho. Do universo dos trabalhadores sindicalizados em Cabo Verde, a grande maioria (praticamente 9 em cada 10 trabalhadores) encontra-se filiado na UNTCS. Trata-se de uma organização sindical com maior implantação geográfica, sectorial e cujas eleições dos dirigentes tem sido realizadas com maior regularidade, o que lhe confere maior legitimidade aos seus dirigentes. A CCSL é uma organização sindical que abrange um número reduzido de trabalhadores, facto que se deve à sua criação mais recente, estando concentrado essencialmente na Praia e em S. Vicente. Trata-se de uma organização sindical cuja maioria dos líderes sindicais não renovaram os seus mandatos conforme o consagrado nos dispositivos estatutários. Á semelhança do que acontece na vida das outras organizações, a participação dos associados na vida sindical tem-se revelado pouco expressiva. Na maioria das vezes a participação dos associados ocorre quando os mesmos são confrontados com problemas pessoais e de foro laboral. Da análise da literatura internacional em matéria de representatividade sindical, da consulta da opinião dos principais líderes sindicais, bem como das orientações da OIT, sugeriu-se a adopção dos seguintes critérios para a mensuração da representatividade das organizações sindicais, a saber: (i) Filiados activos; (ii) Implantação geográfica; (iii) Implantação Sectorial; (iv) Democraticidade /Participação ; (v) Eficácia da Acção Sindical e (vi) Independência/Autonomia. Resultante do exercício da aplicabilidade dos critérios sugeridos, a UNTC-CS figura como a central sindical de maior representatividade no panorama sócio-laboral cabo-verdiano. Porém, à luz das orientações da OIT e das práticas e experiências na maioria dos países do mundo, os critérios e ou sistemas de mensuração da representatividade das organizações sindicais deverão ser definidos e validados a priori junto aos parceiros sociais. Nesta senda é de convir que a nossa proposta

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deverá passar por um processo de discussão e validação como forma de melhor responder aos desafios e a complexidade que uma tal decisão comporta.

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RECOMENDAÇÕES

Destacam-se como principais recomendações as seguintes:

1. Dotar a Direcção Geral do Trabalho de recursos humanos, técnicos e financeiros para que possa cumprir cabalmente as suas funções estatísticas, nomeadamente, maior controle do registo das eleições dos sindicatos e dos pré avisos de greve/greves e acordos celebrados;

2. Maior periodicidade nas reuniões do Conselho de Concertação Social e, que as decisões

tomadas ao nível desse órgão sejam vinculativas;

3. Para assegurar a autonomia dos sindicatos, os mesmos não devem beneficiar dos subsídios do Estado para suportar as despesas de funcionamento, uma vez que tal situação pode fomentar uma relação de promiscuidade o que fere a letra e o espírito do decreto lei n.º 170/91 que regula o exercício da actividade sindical em Cabo Verde;

4. Em existindo um subsídio destinado às organizações sindicais o mesmo deveria ter como único

fim a formação e capacitação humana e institucional das organizações sindicais por forma a melhorar a inserção/performance dos trabalhadores no mercado de trabalho;

5. O acesso ao Fundo deve ser submetido a critérios transparentes e os sindicatos só serão

contemplados mediante a apresentação de um projecto que será avaliado por uma comissão independente constituída para o efeito, que deverá acompanhar a execução do mesmo;

6. Deve-se realizar a cada triénio um estudo por uma organização independente para determinar a

representatividade sindical e acompanhar a dinâmica do movimento sindical, devendo para o efeito ser reservado um fundo;

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Relatório Final

BIBLIOGRAFIA Afrobarometer/Afrosondagem. Opinião Publica sobre a Democracia e os Mercados em Cabo Verde, Cabo Verde, 2003 AArroouuccaa,, JJoosséé CCaarrllooss.. OO SSiinnddiiccaattoo eemm uumm MMuunnddoo GGlloobbaalliizzaaddoo,, EEdd.. LLTTRR,, 22000033

AAuuggeerr,, JJeeaann.. SSyynnddiiccaalliissmmee ddeess AAuuttrreess,, SSyynnddiiccaattss dd´́EEuurrooppee –– LLeess IInntteerrnnaattiioonnaalleess SSyynnddiiccaalleess,, EEdd..

OOuuvvrriièèrreess,, 11999911

BBoolleettiimm OOffiicciiaall –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1144 ddee 1100 ddee AAbbrriill ddee 11999922

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1155 ddee 1166 ddee AAbbrriill ddee 11999922

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 0044 ddee 2277 ddee JJuullhhoo ddee 11999922

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1111 ddee 1144 ddee SSeetteemmbbrroo ddee 11999922

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1155 ddee 1122 ddee OOuuttuubbrroo ddee 11999922

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 2255 ddee 2288 ddee DDeezzeemmbbrroo ddee 11999922

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 0099 ddee 0011 ddee MMaarrççoo ddee 11999933

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1111 ddee 1155 ddee MMaarrççoo ddee 11999933

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1122 ddee 2222 ddee MMaarrççoo ddee 11999933

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 3311 ddee 2222 ddee AAggoossttoo ddee 22000033

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 3344 ddee 2233 ddee AAggoossttoo ddee 11999933

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 5522 ddee 2277 ddee DDeezzeemmbbrroo ddee 11999933

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 1111 ddee 1111 ddee MMaarrççoo ddee 11999966

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 2255 ddee 2244 ddee JJuunnhhoo ddee 11999966

________________________ –– IIIIªª SSéérriiee,, nn..ºº 4444 ddee 0033 ddee NNoovveemmbbrroo ddee 11999977

BBoorrttoolloottttoo,, RRuuddiimmaarr RRoobbeerrttoo.. OOss AAssppeeccttooss ddaa RReepprreesseennttaattiivviiddaaddee nnoo AAccttuuaall DDiirreeiittoo SSiinnddiiccaall BBrraassiilleeiirroo,, EEdd..

LLTTRR,, 22000011

BBuurreeaauu IInntteerrnnaattiioonnaall dduu TTrraavvaaiill.. AAss NNoorrmmaass ddaa OOIITT :: AAccttuuaaççããoo ddooss GGoovveerrnnooss qquuaannttoo ààss NNoorrmmaass,, 11999955

__________________________________________________.. CCoonnssttiittuuiiççããoo ddaa OOrrggaanniizzaaççããoo IInntteerrnnaacciioonnaall ddoo TTrraabbaallhhoo ee RReegguullaammeennttoo

ddaa CCoonnffeerrêênncciiaa IInntteerrnnaacciioonnaall ddoo TTrraabbaallhhoo,, LLiissbbooaa,, 11999966

__________________________________________________ .. AA LLiibbeerrddaaddee SSiinnddiiccaall,, BBrraassíílliiaa,, 11999977

__________________________________________________ .. LLaa RReepprréésseennttaattiivviittéé ddeess OOrrggaanniissaattiioonnss ddee TTrraavvaaiilllleeuurrss eett DD´́eemmppllooyyeeuurrss

eenn AAffrriiqquuee FFrraannccoopphhoonnee ddaannss uunn ccoonntteexxttee ccoommppaarraattiiff,, DDaakkaarr,, 22000022

____________________________________________________.. LLaa RReepprréésseennttaattiivviittéé ddeess OOrrggaanniissaattiioonnss ddeess TTrraavvaaiilllleeuurrss eett dd´́eemmppllooyyeeuurrss

eenn AAffrriiqquuee FFrraannccoopphhoonnee,, 22000022

____________________________________________________ .. CCoolllleeccttiivvee BBaarrggaaiinniinngg NNeeggoottiiaattiioonnss,, 11999966

CCaarrddoossoo,, AAddaallbbeerrttoo MMoorreeiirraa.. UUmm RReeffeerreennttee FFoorraa ddee FFooccoo:: SSoobbrree aa RReepprreesseennttaattiivviiddaaddee ddoo SSiinnddiiccaalliissmmoo nnoo

BBrraassiill,, IInn:: DDaaddooss.. VVooll.. 4400,, nn..ºº 22,, RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 11999977

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Relatório Final

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________________________________ .. AA FFiilliiaaççããoo SSiinnddiiccaall nnoo BBrraassiill,, IInn:: DDaaddooss.. VVooll.. 4444,, nn..ºº 11,, RRiioo ddee JJaanneeiirroo,, 22000011

BBooyyeerr,, RRoobbeerrtt.. AA TTeeoorriiaa ddaa RReegguullaaççããoo:: UUmmaa AAnnáálliissee CCrrííttiiccaa,, EEdd.. NNoobbeell,, 11999900

CChhaaiiaa,, MMiigguueell.. IInntteelleeccttuuaaiiss ee SSiinnddiiccaalliissttaass,, EEdd.. HHuummaanniiddaaddeess,, 11999922

CCllaarreett,, AAnnttóónniioo MMaarriiaa MMaarrttiinnss.. EEssttuuddoo DDiiaaggnnóóssttiiccoo ssoobbrree oo DDiiáállooggoo ee aa CCoonncceerrttaaççããoo SSoocciiaall eemm CCaabboo

VVeerrddee,, OOIITT,, 22000000

CCoonnssttiittuuiiççããoo ddaa RReeppuubblliiccaa ddee CCaabboo VVeerrddee.. PPrraaiiaa,, 11998811

CCoonnssttiittuuiiççããoo ddaa RReeppuubblliiccaa ddee CCaabboo VVeerrddee.. PPrraaiiaa,, 11999922

DDeeccrreettoo LLeeii nn..ºº 116666//8855 ddee 3300 ddee DDeezzeemmbbrroo ddee 11998855

DDeeccrreettoo LLeeii nn..ºº 6622//8877 ddee 3300 ddee JJuunnhhoo

DDeeccrreettoo lleeii nn..ºº 5511--AA//8899 ddee 2266 ddee JJuunnhhoo ddee 11998899

DDeeccrreettoo LLeeii nn..ºº 7766//9900 ddee 1100 ddee SSeetteemmbbrroo ddee 11999900

DDeeccrreettoo LLeeii nn..ºº 117700//9911 ddee 2277 ddee NNoovveemmbbrroo ddee 11999911

DDeeccrreettoo LLeeii nn..ºº 3355//9933,, 2288//9966 ee 55//9977

DDiiaalllloo,, MMiidd;; DDooppaavvoogguuii,, MMaauurriiccee ee KKeesstteerr GGéérraarrdd.. GGuuiinneeee:: PPoouurr uunn NNoouuvveeaauu SSyynnddiiccaalliissmmee eenn AAffrriiqquuee,,

PPAADDEEPP,, 11999922

LLeeii nn..ºº 110011//IIVV//9933 ddee 3311 ddee DDeezzeemmbbrroo ddee 11999933

LLoojjkkiinnee,, JJeeaann.. LLaa CCllaassssee OOuuvvrriièèrree eenn MMuuttaattiioonnss,, EEdd.. SSoocciiaalleess,, 11998866

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