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AINDA A PROPÓSITO DE TER., EVNVCHVS, 489-491 359 AINDA A PROPÓSITO DE TER., EVNVCHVS, 489-491 (*> Quando em Novembro de 1961, estive quinze dias em Portugal, a fim de tomar parte no doutoramento do Lie. Walter de Sousa Medeiros, tive ocasião de consultar a edição Lemaire de Terêncio, da Bibliotheca Clássica Latina, no Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O texto de Terêncio, segundo informa o editor no Prefácio, é o anteriormente publicado por Perlet: «Ipsum Nostri Auctoris textum fere talem omnino dedimus, qualem editio in lucem prolata Lipsiae, anno 1821, a Frid. Christ. Gottl. Perlet». A reedição de Lemaire é de 1827: Publii Terentii Afri Comoediae ex Optimarum Editionum Textu recensitae... illustrauit N. E. Lemaire. Volumen Prius. Parisiis, MDCCCXXVII. Pois bem, a comparação do passo terenciano com o BcofioXóyoç grego, que eu apenas encontrara vagamente indicada na edição de J. A. Philips (1) como sugestão de Farnabius (não Farnalius como apareceu no referido artigo), já se encontra na edição de Lemaire, atri- buída ao editor inicial Perlet: «491 : Qui parasitus hoc facit, graece dicitur BCO/J,OãO%óç (2), Perl». Deste modo, ao contrário da maioria dos comentadores que, seguindo Donato, vêem no passo qui huic animum adsentari induxeris, e flamma peíere te cibum arbitrar (TER. Eun., 489-491) uma expressão proverbial, Perlet indicou o verdadeiro sentido desses dois versos terencianos. A minha intenção, ao escrever o artigo, não foi descobrir a origem grega do passo, mas mostrar como Terêncio, seguindo o espírito da (*) Ver Humanitas, vols. XI-XII, pp. 156-164. (1) Publii Terentii Afri Comoediae Sex. Dublin, 1845? (2) Sic. i: # língua latina, substitui um composto grego por uma paráfrase. Esta prática representa um nítido progresso no sentido da evolução futura do latim, quando comparada com o uso plautino de verter compostos gregos por compostos latinos ou de introduzir aqueles em latim tais como os encontrava nos originais gregos que traduzia ou adaptava. Foi exactamente com esta intenção que anunciei o envio deste artigo como comunicação a um Congresso Luso-Espanhol para o Pro- gresso das Ciências, realizado em Portugal. Dei-lhe o título de Uma paráfrase terenciana e assim vem indicado no índice de trabalhos do referido Congresso (1). Infelizmente não tive então tempo de comparecer à sessão respectiva e também não enviei o trabalho. Por isso, não se justifica no resumo em inglês (que não é da minha autoria) o uso de discovers. Deve ler-se points out e, em vez de a fact which has been overlooked by editors of Terence, eu prefiro by most editors of Terence. Além disso, os dois passos de Flauto aduzidos (Ps. 361 e Rud. 140) referem-se a versões do mesmo conceito, mas não do mesmo original dramático. Por isso, no resumo, substituo original por word: Two other loci in Plautus (Ps. 361 and Rud. 140) which suggest the same Greek word are also analyzed. Nova Iorque, Janeiro de 1962 AMéRICO DA COSTA RAMALHO (1) Escrevendo esta nota em Nova Iorque, não tenho presente qual foi o Congresso, mas creio que foi um realizado em Coimbra, há cerca de quatro anos. 28

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  • AINDA A PROPÓSITO DE TER., EVNVCHVS, 489-491 359

    AINDA A PROPÓSITO DE TER., EVNVCHVS, 489-491 (*>

    Quando em Novembro de 1961, estive quinze dias em Portugal, a fim de tomar parte no doutoramento do Lie. Walter de Sousa Medeiros, tive ocasião de consultar a edição Lemaire de Terêncio, da Bibliotheca Clássica Latina, no Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

    O texto de Terêncio, segundo informa o editor no Prefácio, é o anteriormente publicado por Perlet: «Ipsum Nostri Auctoris textum fere talem omnino dedimus, qualem editio in lucem prolata Lipsiae, anno 1821, a Frid. Christ. Gottl. Perlet».

    A reedição de Lemaire é de 1827: Publii Terentii Afri Comoediae ex Optimarum Editionum Textu recensitae... illustrauit N. E. Lemaire. Volumen Prius. Parisiis, MDCCCXXVII.

    Pois bem, a comparação do passo terenciano com o BcofioXóyoç grego, que eu apenas encontrara vagamente indicada na edição de J. A. Philips (1) como sugestão de Farnabius (não Farnalius como apareceu no referido artigo), já se encontra na edição de Lemaire, atri-buída ao editor inicial Perlet:

    «491 : Qui parasitus hoc facit, graece dicitur BCO/J,OãO%óç (2), Perl». Deste modo, ao contrário da maioria dos comentadores que,

    seguindo Donato, vêem no passo qui huic animum adsentari induxeris, e flamma peíere te cibum arbitrar (TER. Eun., 489-491) uma expressão proverbial, Perlet indicou o verdadeiro sentido desses dois versos terencianos.

    A minha intenção, ao escrever o artigo, não foi descobrir a origem grega do passo, mas mostrar como Terêncio, seguindo o espírito da

    (*) Ver Humanitas, vols. XI-XII, pp. 156-164. (1) Publii Terentii Afri Comoediae Sex. Dublin, 1845? (2) Sic.

    i:

    #

    língua latina, substitui um composto grego por uma paráfrase. Esta prática representa um nítido progresso no sentido da evolução futura do latim, quando comparada com o uso plautino de verter compostos gregos por compostos latinos ou de introduzir aqueles em latim tais como os encontrava nos originais gregos que traduzia ou adaptava.

    Foi exactamente com esta intenção que anunciei o envio deste artigo como comunicação a um Congresso Luso-Espanhol para o Pro-gresso das Ciências, realizado em Portugal. Dei-lhe o título de Uma paráfrase terenciana e assim vem indicado no índice de trabalhos do referido Congresso (1).

    Infelizmente não tive então tempo de comparecer à sessão respectiva e também não enviei o trabalho.

    Por isso, não se justifica no resumo em inglês (que não é da minha autoria) o uso de discovers. Deve ler-se points out e, em vez de a fact which has been overlooked by editors of Terence, eu prefiro by most editors of Terence. Além disso, os dois passos de Flauto aduzidos (Ps. 361 e Rud. 140) referem-se a versões do mesmo conceito, mas não do mesmo original dramático. Por isso, no resumo, substituo original por word: Two other loci in Plautus (Ps. 361 and Rud. 140) which suggest the same Greek word are also analyzed.

    Nova Iorque, Janeiro de 1962

    A M é R I C O D A C O S T A R A M A L H O

    (1) Escrevendo esta nota em Nova Iorque, não tenho presente qual foi o Congresso, mas creio que foi um realizado em Coimbra, há cerca de quatro anos.

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