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s e

I

CONSELHO EDITORIALConselho Técnico do IJSN

EDITADA PELA ASSESSORIA DECOMUNICAÇÃO DO IJSNDiretor SuperintendenteAntonio Marcus Carvalho MachadoCoordenador TécnicoAntonio Marcus Carvalho MachadoCoordenadora Administrativa e FinanceiraJulia Demoner

IMPRESSÃOSAGRAF Artes Gráficas Ltda.

DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA- Os artigos assinados são de inteira responsa­bilidade dos autores.- Colaborações em forma de artigos, ensaiosou resumos bibliográficos devem ser encami­nhadas à Assessoria de Comunicação do Ins­tituto Jones dos Santos Neves.Endereço: Av. César Hilal, 437 - IQ andar­Praia do Suá - Vitória-ES - CEP: 29.052 - 230- Te!.: 227.5044.

FOTOSDouglas Lynch, Eugênio Herkenhoff, Fernan­do Sanchotene, Sagrilo.

ILUSTRAÇÕESAndré Carloni, Eugênio Herkenhoff, Jairo daSilva Rosa, Yara Paiva

REDAÇÃODjalma VazzolerFrancisca Proba

CAPAEugênio Herkenhoff, Lastênio João Scopel

EDITORAÇÃO E LASERFILMEditora Fundação Ceciliano Abel de AlmeidaCPD - André L. S. Rezende

EDITORAFrancisca Proba

REVISÃODjalma Vazzoler

~I I

tjituto•Jones

ANO VII - N° I - TRIMESTRAL- VITÓRIA - ESPÍRITO SANTOGoverno do Estado do Espírito SantoSeeretaria Estadual de AçõesPlanejamento - SeplaeInstituto Jones dos Santos NevesRegistrada sob o número 1854 -2~9!73,

na Divisão de Censura e Diversões Públicasdo Departamento de Polícia Federal deBrasília (DF)

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28

Um veículo alternativo

Escritos de Vitória

De Adelpho a Hartung

Agropecuária no eixo sul

,INDICE

Café com leite na economia capixaba

Relembrando o governo Jones

Governo: um novo capítulo

Metropolização: uma aproximação conceitual

A transição demográfica no Espírito Santo

Câmaras setoriais e planejamento

Uma cidade de ouro

Grande Vitória em dadosProcesso de crescimento da Grande VitóriaO planejamento urbano da Grande VitóriaUm direito ao alcance de alguns

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Garta ao LeitorJ2JIgumas pu6[-icações têm a característua especia[de cativar e marcar

positivamente os seus feitores. 5l. 2?g.vista do lJsiJi com certeza/ faz parteaessa sefetafat(a de edições. Tm 1978/ quando começou/ e em 1979jorampub[uados quatro números. 'Em 1980/ apenas um númerofoi editado/ quanáoJOi para[isaaa. CJ.[,esse mesmo ano/ a :Fundação Jones dos Santos r:A[çves foitransformada em autarquia epassou a ser denominada Instituto Jones aosSantos r:A[çves. 2?g.ativada/ arevista teve quatro númerospub[icados em198~

três em 1986e dois em 198'0 quanáofoi novamente para[isadal porfarta derecursos. Os seus objetivos poaeriamser assim resumUfos:

1- Promover um fórum de debates em torno de p'robfemas urbanos/regionaisl sociais e econômicos de interesse da comunúiade capt(aba.

2- 'Disseminar informações sobre traba[fws cientifuos e técnuos erabo­rados no Tspírito Santo.

3- Oportunizar a divu(gação da produção de técnicos/ intefectuais edacomunúiaáe capt(aba.

4- :Manter um instrumento de veuu[ação de conlíecimentos técnuo­cientificos1 especia[mente dos temas de interesse do lJS'1I[

Jfojel quando um novo peifi[de desenvo[vimento se abraça ao futurodo Tstado dó Tspírito Santo/ através da tendência de amp[iação das reraçõesinternacionais via sistemaportuário de rIJitórial equando se observa um novovetor de desenvo[vimento para os munuípios do interiorl fundamentarsefaza decisão de tornar viávelum veícuro de comunicação que possa akançar osobjetivos acima mencionados.

Com o re[ançamento da revista do lJSCJ.[, abrimos/ p07tanto/ mais umespaçopa~a.divuiJação de úiéiasl ensaios/ debates/ artigos técnuos e cientifi­cos e matenas ajins.

Poderíamos aTTanjar múdescufpas ecufpadosparajustifuar aop'ção dedet(ar que essapub[uação continuassepara[isada. Preferimos ocamüifw maisdifícúepor efe optamosl aquefe delineado pera determinação/ pero otimismoepor muito traba[fw. Tstamosfe[izes egratifuados por saber que era poderáestar em suas mãos.

Sauáações coráiais,

5lntônio Marcus Carva{flO Macnaáo'lJiretor Supeniltenáente áo IJS'J{

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Antônio Marcus Carvalho Machado·

ESTUDOS & PROJETOS

zando suas pesquisas e estudos bási­cos.

O Instituto Jones dos SantosNeves acaba de publ icar um documen­to que reúne dados sobre a GranéeVitória, canalizados de diversas fontese dos estudos e pesquisas do próprioIJSN, denominado Grande Vitóriaem Dados, que não pretende ser umtrabalho de profundidade analítica,mas uma contribuição importante paraa discussão e o debate temático apro­priado. A idéia é desdobrar esse docu­mento em análises mais densasrelacionadas a temas como demogra­fia, arrecadação de impostos, habita­çã%cupação do solo, consumo deenergia e água, saneamento básico, co­municação, indicadores econômicos,educação, saúde, transporte coletivo,sistema viário, e associá-lo a outrosestudos realizados pelo IJSN ou queestão sendo realizados por esse órgão,

forma parcial, da CVRD, que certa­mente alterarão a forma e o poder denegociação e elaboração de políticaspúblicas. Há que se somar ainda doisaspectos de ambiência externa impor­tantíssimos, quais sejam, a rápida via­bilização do Mercosul, movimentandoum PIE de US$ 800 milhões e cercade 200 milhões de pessoas, e a grandetendência de participação da GrandeVitória na rota internacional do comér­cio relacionado às importações e ex­portações. É imprescindível, portanto,conhecer melhor essa região, atuali-

Economista, com especialização em Comércio Exterior; professor universitário e diretor superintendente doInstituto Jones dos Santos Neves.

5

Adensamentoda Grande Vitória

PARTICIPAÇÃQ DA POPU~çÃO DA GRANDE VITÓRIAEM RELAÇAO A POPULAÇAO DO ESTADO

*

Crescimento da Grande Vitória, planejamentourbano e educação. Estes temas fazem parte do

estudo que reúne dados sobre a Grande Vitória. Parauma análise sobre eles a Revista convidou: FernandoBetarello, Aurélia Castiglioni, Ana Maria Marreco e

Marluza Balarini; respectivamente.

Pensar a Grande Vitória é neces­sário e fundamental para que tenhamosêxito no processo de planejamento doEstado do Espírito Santo. Apesar designificar apenas 3,2% do território es­tadual, pois consolida uma extensão de1.415 Km, ao reunir os municípios deVila Velha, Viana, Serra, Cariacica eVitória, essa região detém aproxima­damente 50% do ICMS do Estado e41 % da população estadual. Além dis­so algumas mudanças em nível de mo­saico estão ou estarão ocorrendo, comoa lei de modernização dos portos, pri­vatização da CST, da Escelsa e, de

,GRANDE VITORIA EM DADOS

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Variação do N° de Eleitores Por Município - 1992/1994

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sentação política correspondente noâmbito estadual ou no federal? Talvezseja cômodo responder pelo ângulo dafragmentação/pu Iverização/dil uiçãodos votos, mas é preciso identificar aforma como a Grande Vitória poderáaumentar a sua representação política.Mais ainda, é preciso considerar aquestão da distribuição dos tributos eda renda de outras fontes face à neces­sidade de sol ucionar problemas co­muns que extrapolam a base tributáriade alguns de seus municípios e estãovoltados ao planejamento metropolita­no. O documento apresenta os princi­pais itens de receita na Grande Vitóriae a relação com os demais municípiosdo Estado, no exercício de 1993.

Uma outra abordagem regis­trada no documento está relacionadaao déficit habitacional. Segundo estu­dos realizados pelo IJSN em 1985,

ção da mulher no mercado de trabalhoe dinamismo econômico. Sabe-se,também, que a população é eminente­mente jovem, tendo 63% na faixa etá­ria não superior a 30 anos e 79% nãosuperior a 40 anos. Aproximadamente21 % estão em idade escolar (faixa de07 a 15 anos). Como adequar o ensinoface aos novos desafios do comércioexterior? Como diminuir o percentualde crianças fora da escola, quando senota que quase 25% das que se encon­tram em idade escolar de primeiro grauestão fora da escola (a saber: Serra ­7,60%; Viana - 6,65%; Cariacica ­6,2%, Vitória - 1,10%; e Vila Velha­2,63%)?

Como analisar ainda o fato deque, apesar de crescer a sua participa­ção na composição do eleitorado capi­xaba, representando mais de 40%, aGrande Vitória não tenha uma repre-

ESTUDOS & PROJETOS

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FONTE: TREHISN

QUANTIDADE DE ELEITORES NA GRANDE VITÓRIA E PARTICIPAÇÃO NO ESTADO DO EspíRITO SANTO -1994

como Abastecimento Alimentar eOcupações Irregulares.

Uma leitura do documento per­mite observar que há uma mudançasignificativa na taxa de crescimento daGrande Vitória, ao passar de 6,3%para 3,8% ao ano. Ou seja, o adensa­mento da região em relação ao Estado,que passa de 12,87% em 1950 para13,69% em 1960, 24,13% em 1970 e34,90 em 1980 (respectivamente 6%,6,9% e 6,3% a.a.), atinge 40,92% em1991, uma taxa de 3,8% a.a.

Observa-se que no período1980/91 o município que apresenta amaior taxa de crescimento anual é aSerra, com uma taxa de 9,4% a.a. Osegundo é Viana, com uma taxa de5,9% a.a. Como explicar esse fato? Háexplicações tanto de caráter só~io-cul­

tural como econômico, passando pelaurbanização, características de absor-

FONTES: TRE - Dados Básicos.IJSN - Tratamento dos Dados.

MunicípioNúmero de Eleitores % Relação % Relação

1992 1994- Grande Vitória Espírito Santo

Cariacica 162.849 175.688 25,40 10,26Serra 117.014 129.295 18,70 7,56Viana 29.585 30.727 4,44 1,80Vila Velha 159.961 174.872 25,28 10,23Vitória 168.729 181.115 26,18 10,59

Grande Vitória 638.138 691.697 100,00 40,44

Espírito Santo 1.618.160 1.710.729 100,00

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Dep. Adm.Federal

dos sobre educação podem ser encon­trados no documento.

No campo da Saúde, os muni­cípios que apresentaram maiores coe­ficientes de natalidade em 1990 foramSerra e Viana. Observa-se que nos mu­nicípios da Grande Vitória e no Estadodo Espírito Santo esse coeficiente vemdiminuindo. Já os coeficientes de mor­talidade infantil são mais expressivosnos municípios de Serra e Vitória, ha­vendo necessidade, porém, de conside­rar as questões de registro cartorial e deconcentração hospitalar antes de análi­ses mais densas. Quanto ao número deóbitos (geral) na Grande Vitória, doponto de vista das principais causasdos 7.447 óbitos registrados no ano de1992, as doenças do aparelho respira­tório aparecem em pri meiro lugar(23% do total), seguidas pelas chama­das causas externas (12,45%), que es-

VitóriaVia Velba

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VianaSerra

grande preocupação da Cesan está re­lacionada com o elevado índice de per­das, da ordem de 40%, significandovazamentos não comunicados, desper­dícios de usuários, ligações clandesti­nas e perdas internas. O maiorconsumidor é o município de Vitória,seguido de Vila Velha. Já, no que tangeao esgotamento sanitário, os maioresíndices de atendimento estão relacio­nados a Serra e Vitória. Vila Velhavem em quarto lugar, após Viana.

O setor Educação registramaiores índices de abandono e transfe­rências no primeiro grau, em 1991, nomunicípio de Cariacica (9.822 matrí­culas), seguido de Vila Velha (9.704matrículas). Em 1992, Vila Velha as­sume o primeiro lugar, com 10.755matrículas, e Serra o segundo, com10.456 matrículas. Muitos outros da-

ESTUDOS & PROJETOS

10

20

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oCarillcicll

FONTE: SEDU II.ISN

Número de ESGolas Por Município e PorDependência A-dministrativa -1991

uma estimativa para 1990 previa umdéficit de 127.189 domicílios na Gran­de Vitória. Um outro estudo, de 1990(Macrozoneamento Costeiro do Espí­rito Santo), detectou que várias áreas,embora já tenham sido loteadas, en­contram-se vazias ou com ocupaçãorarefeita, tendo potencial para ocupa­ção urbana. É curioso observar quenesses espaços já urbanizados e aindanão ocupados estão acumulados algoem torno de 146.475 lotes vagos, que,se fossem ocupados para uso unifami­liar, poderiam abrigar mais 778.439habitantes, no mínimo. O municípioque presumidamente teria o maior nú­mero de lotes vagos é a Serra. Quantoaos contlitos de terra, segundo levan­tamentos do IJSN, o momento de picofoi o biênio 1980/81.

No que diz respeito ao sanea­mento básico, registra-se que uma

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ESTUDOS & PROJETOS

pontos críticos e seu relacionamentocom empresas de transporte coletivo.

Está dado, assim, com a coloca­ção desse documento à disposição dopúblico, um passo sério em direção adelimitação de oportunidades e amea­ças da Grande Vitória, seu diagnósticoestratégico, seus cenários alternativose orientações estratégicas e diretrizessetoriais.

É fundamental melhorar a am­biência dessa região para que projetose programas se consolidem no seu es­paço urbano. Estudos recentes do IJSN(1994) apontam, por exemplo, que apopulação total nas ocupações irregu-

lares verificadas no município de VilaVelha está próxima de 60.000 pessoas,sem serviços sociais básicos, comopostos de saúde, coleta de lixo e ilumi­nação pública. Conhecer a realização éo primeiro passo para intervir comeficiência e objetividade. Leia o docu~

mento Grande Vitória em Dados cparticipe de seus desdobramentos cdebates.

'·oiTQtàl'de·Matl'1ícu.,as'no'~P~i:ld. Adi1jinls*taflva •1992.'. . :'" .1/'":'"

·~ó~ó.To~aí de:Matl0!culas no.', ~p~n~.·tAdnjlnl~tf~tiva • 19&2

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FONTEr S/,PUJ ~SN

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tão relacionadas a vários tipos de aci­dentes e homicídios, suicídios e outrascausas. As afecções originárias do pe­ríodo perinatal, que são complicaçõesdo período de gestação e pós-parto atéo sétimo dia de vida, representam3,32% do total de óbitos gerais.

O documento editado peloIJSN aborda também questões e dadosligados ao setor de transporte coletivo.Observa-se que os usuários já aplicamum valor correspondente a 40% dosalário mínimo para se locomoverem.No tocante ao sistema viário, traz in­formações sobre acidentes de trânsito,

MATRíCULA INICIAL E FINAL DO 12 GRAUENVOLVENDO TODAS A~ DEPENDÊNCIASADMINISTRATIVAS -1991-1992

MATRíCULA INICIAL E FINAL DO 22 GRAUENVOLVENDO TODAS AS DEPENDÊNCIASADMINISTRATIVAS -1991-1992

FONTE: SEDU - Dados Básicos.IJSN - Tratamento dos Dados.

Matrícula MatrículaMunicípio 22 Grau - 1991 22 Grau - 1992

Inicial Final Inicial Final

Cariacica 6.157 4.639 6.828 5.003Serra 2.698 1.930 3.656 2.559Viana 698 516 1.416 1.235Vila Velha 11.611 8.7031 10.59~1 7.933Vitória 20.669 17.088i 21.980 17.962

Grande Vitória 1 41.8331 32.876 44.478 208.296

FONTE: SEDU - Dados Básicos.IJSN - Tratamento dos Dados.

Matrícula MatrículaMunicípio 12 Grau· 1991 12 Grau -1992

Inicial Final Inicial Final

Cariacica 63.431 53.609 62.416 52.066Serra 55.536 46.339 60.394 49.938Viana 11.055 9.065 10.841 8.746Vila Velha 59.173 49.469 60.522 49.767Vitória 58.054 50.294 56.238 47.779

Grande Vitória 247.069 208.776 250.411 208.296

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ESTUDOS & PROJETOS

Professora de Demografia da Ufes, com mestrado e doutorado em Demografia na Universidade Católica deLouvain - Bélgica.

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taxa anual da Grande Vitória foi de6,28% neste período, ao passo que amédia do Estado era de 2,38%, e oconjunto dos demais municípios apre­sentava crescimento quase nulo.

Na última década, o processode crescimento passou a apresentar no­vas tendências de distribuição da po­pulação, caracterizadas pela reduçãodo ritmo de crescimento da região daCapital e diminuição das diferenças decrescimento inter-regionais: a taxa daGrande Vitória baixou para 3,79%, ní­vel ainda superior à média do Estado,de 2,30% ao ano.

O declínio das taxas de cresci­mento ocorreu em todas as unidades daGrande Vitória, que apresentam níveisde cresci mento diferenciados. Até1960, Vila Velha e Cariacica acolhiama maior parte da população migrante.Nas últimas décadas a intensidade damigração provocou a incorporação deSerra e Viana, cujas taxas de cresci­mento ultrapassaram às dos três cen­tros mais populosos. Na última décadaas taxas de crescimento de todas asunidades se reduziram à metade. Vitó­ria, já densamente povoada, apresen­tou taxa de crescimento de 2%, menorportanto que a média do Estado.

O amortecimento do ritmo docrescimento observado na GrandeVitória foi registrado também em ou­tros grandes centros urbanos do Brasil,inclusive São Paulo. Tal tendência doEstado é devida à ação conjunta deuma série de fatores, dentre os quaispodem ser destacados:

Aurélia H. Castiglioni*

vadas de fecundidade da população,sobretudo a rural.

A concentração dos investi­mentos econômicos e sociais na Gran­de Vitória e proximidades aliada à faltade programas dirigidos para o desen­volvimento de pequenos e médios pó­los no Estado levaram a população aabandonar o interior por falta de con­dições de sobrevivência e aglomerar­se na região dinâmica do Estado ouemigrar para outros estados. Em con­seqüência, a população residente naGrande Vitória passou de 14% do totaldo Estado em 1960 para 40,92% em1991.

Em 1950 as atividades agríco­las constituíam o suporte da economiado Estado: 79,19% da população viviana zona rural, cujas atividades ocupa­vam 70% da população ativa do Esta­do. Durante essa década, os problemasagrícolas associados à pressão da mão­de-obra forçaram o êxodo rural em di­reção à Capital. A taxa de crescimentoda Grande Vitória subiu para 5,98% aoano, ultrapassando a média do Estado(3,73%).

Nos anos 60 registraram-se asmaiores taxas de crescimento da GrandeVitória, da ordem de 7,91 % ao ano, emconseqüência do agravamento das ques­tões rurais e do impacto das moditicaçõesda economia local. Tais níveis elevadosde crescimento se reproduziram nadéca­da de 70, quando a implantação dos pro­jetos industriais incentivou atransferência, para a região, da mão-de­obra do interior e de outros estados: a

N OS anos 60registrara111-se

as maiores taxas decrescimento daGrande Vitória.

PROCESSO DE CRESC,IMENTODA GRANDE VITORIA

Nas três últimas décadas, hou­ve no Espírito Santo um processo deredistribuição da população, cujas ca­racterísticas principais são:

- a transferência da populaçãodas zonas rurais para as urbanas: aproporção de população residente nasáreas urbanas passou de 20,8% em1950 a 74,0% em 1991;

- a concentração progressiva dapopulação de grande parte dos demaismunicfpios: atualmente, dois dentrecinco habitantes do Estado moram naGrande Vitória.

Os deseq ui Iíbrios regi onaisproduzidos pelo desenvolvimento so­cioeconômico desigual são as causasprincipais desse processo. O êxodo ru­ral intenso ocorrido no Estado foi con­seqüência da crise rural eclodida nosmeados do século, do modelo de de­senvolvimento adotado, que modifi­cou a estrutura da economia do Estado,priorizando a indústria e pri vilegiandoa Região da Grande Vitória, e de ques­tões demográficas, como as taxas ele-

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ESTUDOS & PROJETOS

1. A redução dos fluxos mi­gratórios

o saldo migratório foi o princi­pal responsável pela "inflação" daGrande Vitória. Entre 1970 e 1980 estecomponente contribuiu diretamentepara mais de 60% do crescimento totalda região e por 85% do crescimento daSerra. Na década de 80 registrou-seuma diminuição na intensidade do flu­xo interior-Grande Vitória, devidoaos seguintes fatores:

- Redução da pressão demo­gráfica no interior e pequenas cida­des em conseqüência da intensadrenagem do efetivo populacionaldestas áreas provocada pelo êxododas décadas anteriores. A maioriados municípios manteve, ao menos,o número de habitantes entre 1980 e1991.

- Busca de novas alternativasde destinação. No Espírito Santo sur­giram grupos de unidades dinâmicas,situadas fora da Grande Vitória, queapresentaram taxas de crescimentosuperiores à média do Estado. Umdos grupos, situado no litoral norte, é

formado porun idades cuj as ati vidadeseconômicas são ligadas à produção decelulose e o outro é formado pelosmunicípios situados naregião elevadado sul, cuja economia se baseia nasatividades agrícolas. As atividadeseconômicas destes grupos geram em­pregos que possibilitam fixar a mão­de-obra local e atrair imigrantes. Taltendência, embora ainda pequena, po­deráconsolidar-seeaumentar nos pró­ximosanos.

- Decepção da população mi­grante face à incapacidade dasgrandes cidades em concretizarsuas aspirações as mais elementa­res. Grande parte dos migrantes quedeixaram suas regiões por falta dealternativas enfrentam, nos grandescentros, a mesma situação de misé­ria da região de origem, agravadapor todos os efeitos perversos da"inflação" urbana: desemprego esubemprego, violência, inseguran­ça, stress, poluição, insuficiênciados serviços, etc.

2. A queda da fecundidade

Outro componente do cresci­mento demogrMico, o saldo natural,

também se reduziu em conseqüênciado controle da natalidade, que provo­cou a diminuição do tamanho da famí­lia. A taxa de crescimento dapopulação do Brasil baixou de 2,48%,entre 1970 e 1980, para 1,89% entre1980 e 1991, e a do Espírito Santo, nosmesmos períodos, passou de 2,38%para 2,30%.

Torna-se importante ti-isar quea população passou de 706.263 a1.063.295 habitantes entre 1980 e1991. Apenas a velocidade do cresci­mento foi reduzida. O aumento da po­pulação continua a requerer a atençãode administradores e planejadores, quetêm como desafio manter o equilíbrioentre crescimento urbano e crescimen-

. to demográfico. A população predomi­nantemente jovem que chega na regiãorequer, além dos serviços de infra-es­trutura e sociais, aumento crescente naoferta de empregos. Os migrantes tra­zem consigo ou originam um númeroelevado de crianças que necessitam deescolas, creches e assistência médica.Devem-se ressaltar também as neces­sidades crescentes do segmento de pes­soas idosas, cujo número aumenta emconseqüência do alongamento da dura­ção da vida.

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Fernando Betarello'

ESTUDOS & PROJETOS

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traI' a maior e melhor parte dos serviçosfinanceiros, educacionais, de saúde ecom melhor infra-estrutura instalada.

A esses problemas identifiea­dos somava-se um outro desafio aosplanejadores da época, que era o depreparar o espaço da Grande Vitóriapara receber num período de oito anos(de 1976 a 1984) um acréscimo demais de 600 mil pessoas, ou seja, odobro da população que havia em1976. Para preparar esse novo póloindustrial brasileiro, que a política fe­deral de descentralização industrial es­tava criando, a equipe responsáveltraçou como ponto de partida para aação ordenada e integrada a visão deque o espaço urbano da Grande Vitóriadeve ter tratamento global, isto é, ape­sar de ser um espaço político e admi-

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o espaço urbano da Grande Vitória deve ter tratamento global.

mental importância de serem equacio­nadas, quais sejam:

- a forma de ocupação do espa­ço, onde se verificavam locais com altadensidade de ocupação (habitação ecomércio), como por exemplo, o cen­tro de Vitória, ao lado de verdadeirosvazios demográficos (Vila Velha e Ca­riacica);

- a expansão acelerada e desor­denada da malha urbana, em forma demancha de óleo, isto é, ramificando-sea partir dos principais eixos viários,mas deixando grandes vazios urbanos;

a existência de grandes esto­ques de lotes vagos em marcante con­fronto com a contfnua ocupação dosmorros e mangues;

- a forte açüo polarizadora exer­cida por Vitória, em função de concen-

Arquiteto, especialista em Planejamento Urbano e técnico do IJSN.*

o PlANEJAMENTO lJRBANO DAGRANDE VITORIA

A Grande Vitória contahoje com mais de

1.200 mil habitantes(41% da população

estadual), um déficithabitacional de 127 mil

habitações.

o Plano de Estruturação do Es­paço da Grande Vitória - PEE -, con­cluído em 1976, instituiu um processode planejamento urbano no EspíritoSanto l

. Ele tinha como objetivo criarum modelo de organização espacialpara a Grande Vitória, tendo em vistao intenso processo de urbanização oca­sionado na época principalmente:

I. pelo grande fluxo migratórioregistrado em direção ü Grande Vitórianas déeadas de 50, 60 e70;

2. pela mudança na escala deinvestimentos federais para a GrandeVitória em função dos chamados gran­des projetos2

Em função destas duas situações,a Grande Vitória, na segunda metadeda década de 70, quando da elaboraçãodo PEE, ocupava uma área que corres­pondia a 3,2% do território estadual etinha uma população de 570.550 habi­tantes, ou seja, 25% da população es­tadual.1.

Esse intenso crescimento popu­lacional, sem qualquer tipo de planeja­mento, ocasionou no espaço da GrandeVitória algumas situações que a equipedo PEE identificou como de funda-

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nistrativo heterogêneo (cinco prefeitu­ras) os seus problemas sociais, econô­micos e ambientais são comuns.

Considerando então as conse­qüências citadas acima - o crescimentoespontâneo que caracterizava a GrandeVitória e a necessidade de uma açãoplanejada - foi formulado o partidourbanístico para a região, que deveriabalizar os projetos subseqüentes oriun­dos do governo estadual e dos cincomunicípios. O esquema de estrutura­ção do espaço propunha basicamente:

- Concentrar a ocupação urbanadentro da área limitada pelos eixos daBR 101/262 e Rodovia do Sol, tendocomo objetivo deter a expansão urbanae adensar a ocupação, maximizando ainfra-estrutura instalada, pela ocupa­ção dos vazios urbanos.

- Desconcentrar o crescirnentoatravés de uma melhor distribuição dosequipamentos coletivos na Grande Vi­tória, usando um modelo polinucleado.Esta proposição visava consolidaráreas de comércio e serviço já existen­tes ou estimular sua formação nos mu­nicípios de Cariacica, Vila Velha eSerra, dotando-as de equipamentos eincentivando o comércio, a fim de setornarem locais onde a população des­tes municípios pudesse realizar suascompras e satisfazer outras necessida­des, descongestionando desta forma ocentro de Vitória. A associação entreesses centros de comércio e serviçotinha também o objetivo de incremen­tar o adensamento populacional capazde favorecer economias de escala nosinvesti mentos in fra-estruturais.

Como se observa, era uma pro­posição de caráter geral, onde se reco­mendava o seu detalhamento em nívellocal através dos planos diretores mu­nicipais e dos planos setoriais, como ode transporte coleti vo, de preservaçãoambiental e histórica e de valorizaçãoda orla marítima.

Nestes quase 20 anos decorri­dos, a Grande Vitória cresceu mUito,fruto da consolidação do pólo indus­trial e da migração populacional", CClI1­

firmando os pressupostos do PEE. Nesteperíodo a Fundação/Instituto Jones dos

ESTUDOS & PROJETOS

Santos Neves elaborou estudos, pes­quisas, projetos e planos, em associa­ção com outros órgãos daadministração estadual e/ou com as ad­ministrações dos cinco municípios quecompõem a Grande Vitória, orientadosno sentido de: maximizar a utilizaçãodos equipamentos que são produzidoscoletivamente (abastecimento de água,energia, telefone, escolas, saúde, etc.);evitar a saturação funcional de espaçosfísicos ou dos equipamentos coletivos(centro de Vitória, transpol1e coletivo,etc.); concretizar o esquema espacial(polinucIeação) proposto para a região(planos de transpol1e, planos diretoresurbanos, detalhamento dos centros decomércio/serviços nos municípios,etc.); ampliar a conscientização públi­ca dos problemas urbanos e sociais edos projetos para resolvê-los, atravésdas amplas discussões públicas que sefizeram e se fazem, de forma a tornarexplícitas as regras que devem condu­zir a ocupação urbana da Grande Vitó­na.

Há hoje uma (re)definição es­pacial na Grande Vitória, que foi via­bi lizada através da implantação dosplanos de transporte coletivo, que in­centivaram, em muito, a formação doscentros de comércio/serviços em Cam­po Granele, Carapina e Vila Velha edos planos diretores urbanos de Vitóriae Vila Velha, que possibilitam às pre­feituras o controle elo tipo ele uso dosolo desejado e a capacidade máximade adensamento de cada uma das cida­des'.

Continuam, no entanto, a exis­tir vários problemas que potencializama grandeza dos investimentos infra-es­truturais requeridos assim como açõesinstitucionais isoladas que não contri­buem para dotar a região de um cresci­mento planejado.

A Granele Vitória conta hojecom mais ele 1.200 mil habitantes(41 % da população estadual), um défi­cit habitacional de 127 mil habitações(praticamente 50% do déficit esta­dual), ocupações de áreas imprópriasao uso urbano, aliadas a 81 kl1lc devazios urbanos (que resultam em mais

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de 140 mil lotes vazios) e muito déficitde infra-estrutura básica (saneamento,pavimento, escolas, postos de saúde,etc.), fruto ainda do crescimento ante­rior e da não-capacidaele individual decada município em solucionar estesproblemas.

Aos investimentos econômicosimplantados na área da infra-estruturaprodutiva há a perspectiva de se soma­rem aqueles oriundos do Corredor deExportação Centro-leste, criando umnovo momento na vida da Grande Vi­tória.

É fundamental neste momentoque, ao lado ele um planejamento esta­dual que integre as diversas regiões doEstado dentro de uma estratégia quepotencialize oportunidades de investi­mento nas diversas zonas funcionaisdo Espírito Santo, haja um entendi­mento e a vontade política elas admi­nistrações municipais da GrandeVitória e do Estado no sentido de pac­tuarem uma nova forma de gestão paraa região. O trabalho integrado é a me­lhor forma de solucionar os vários pro­blemas comuns de ordem social,urbana e ambiental que ainda envol­vem a Grande Vitória, sendo necessá­rio instituir de vez os instrumentospara que a Grande Vitória se desenvol­va de forma planejada.

NOTAS

I. O PEE foi elaborado por um grupo eria­do pelo governo do Estado, integrado porArlindo Villasehi Filho, Antonio Luiz Bor­jaille, Jolindo Martins Filho, José RamosSobrinho, Manoel Martins, Maria do Car­mo Schwab, Michael Beyumar e OdilonBorges Junior.2. Investimentos implantados, na époea, naGrande Vitória: CVRD, pelotização. Portode Tubarão. Investimentos cogitados: ter­minal do corredor de exportação. comple­xo siderürgieo, estaleiro de reparos navaise Aracruz Celulose.3. Em 1950 a população da Grande Vitóriarepresentava 11,6% da população estaduale em 1960 representava 13,7%.4. Na déeada de 70 a taxa de erescimentoroi de 6.3% ao ano. e na déeada de 80. de3,80/<.· ao ano.5. Está em elaboração o Plano Diretor Ur­bano da Serra.

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ESTUDOS & PROJETOS

UM DIREITO AO ALCANCEDE ALGUNS

Anna Maria Marreco Machado·Marluza de Moura Balarini**

Neste trabalho, apresentamosalguns indicadores que~ descrevem aeducação básica na região da GrandeVitória- Vitória, Serra, Cariacica, VilaVelha e Viana - e analisamos aspectosrelacionados à implementação de polí­ticas educacionais.

A exemplo do qu,e ocorre natotalidade do Estado, a oferta de edu­cação pré-escolar e de ensino funda­mentaI e médio é predominantementepública na região da Grande Vitória:das 565 unidades escolares, 71,3% in­tegram as redes estadual e municipalde ensino, 28,3% constituem a redeprivada e 0,4% pertence à esfera fede­ral. De fato, em 1992, 80,81 % dos336.562 alunos matriculados freqüen­tavam escolas públicas. Reproduzindouma tendência histórica no EspíritoSanto, a administração estadual detémo maior número de matrículas - 57,52%em relação ao total e 70,24% em relaçãoao somatório da rede pública.

A participação de cada grau deensino no total de matrículas é a se­guinte: 75,30% para o ensino funda­mentaI, [4,36% para o ensino médio e[0,32% para a educação infantil.

Seguindo a lógica comum aopaís, políticas ancoradas no ideal deuniversalização do ensino fundamen­taI concretizaram-se através da expan­são de vagas na rede pública, de modoque 95,42% das pessoas entre 7 e 15anos de idade freqüentavam escola em[992. Das 10.029 crianças e adoles-

centes que ainda estavam fora das salasde aula, o maior percentual - 7,60% ­localizava-se no município da Serra eo menor - [, I0% - em Vitória.

É possível propor, então, que,nos próximos anos, políticas públicasno campo da educação não priorizema expansão do parque escolar, linear­mente. A inacessibilidade à escola fun­damental restringe-se a criançasdescendentes de famílias extremamen­te pobres, condição que, associando-sea outros indicadores que caracterizamníveis inaceitáveis de qualidade devida - habitação, saúde, emprego, etc.- configura-se como desafio. A entradae permanência dessas crianças nas es­colas não depende apenas da oferta devagas: exige um conjunto de outrascondições - materiais e não-materiais.

Assim, no conjunto dos cincomunicípios, a abertura de novas vagasnas escolas de ensino fundamental de­verá guiar-se por estratégias diversifi­cadas, incluindo a identificação préviada demanda, ao mesmo tempo em quemedidas de melhoria do fluxo escolarao longo das oito séries deverão con­correr para redução do déficit de salasde aula. Sabemos, por exemplo, que arepetência é fator significativo na ofer­ta de vagas, à medida que espaçosfísicos, professores e demais insumossão utilizados para os mesmos alunospor dois, três, quatro anos... Atualmen­te, a distribuição de matrículas nas oitoséries é bastante desproporcional: cer-

ca de 20% das matrículas no ensinofundamental concentram-se na Ia sériee, aproximadamente, 60% referem-seàs quatro primeiras séries. Se este graude ensino estivesse realmente demo­cratizado, esta proporção estaria próxi­ma a 12,5% para cada série.

Ainda que o primeiro passopara a universalização de oportunida­des de escolarização esteja dado, con­siderável investimento financeiro seránecessário para a conservação, manu­tenção e aparelhamento do parque es­colar, dadas as condições precárias emque inúmeras escolas se encontram.

O esforço estatal para melhorara qualidade do ensino tem sido endere­çado à melhoria da oferta - aspectosfísicos dos prédios, equipamentos emateriais - condição que parece evi­denciar uma atuação sobre fatores mais"visíveis", induzindo a um julgamentopositivo sobre o desempenho dos ad­ministradores.

Em relação ao rendimento es­colar no ensino fundamental, na regiãoda Grande Vitória verifica-se que, noano de 1992, 86,90% dos alunos foramaprovados à série seguinte. Mas27. [28 estudantes ficaram reprovados,significando que, em 1993, o sistemaeducacional custeou 775 turmas dealunos repetentes. Qual o significadodesse "re-investimento" para o Esta­do/Município e famílias?

Entre os cinco municípios estu­dados, sobressai o de Viana, com

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Mestre em Educação, diretora do Centro Pedagógico da Ufes e professora de Administração Escolar.Mestre em Educação, especialista em Alfabetização e técnica em Planejamento Educacional.

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17,40% de reprovação, seguindo-se ode Serra, com 15,09%, e o de Vitória,com 14,12%. Abaixo da média encon­trada para a região estão Cariacica(11,82%) e Vila Velha (10,36%).

Aprofundando-se a análise emnível de rede escolar, verifica-se que, àexceção de Vitória, nos demais casos areprovação é sempre maior na redemunicipal comparada à rede estadual.Ainda assim, a taxa encontrada narede municipal de Vitória (15,60%)está acima da média regional(13, I0%). Comparativamente, a taxade reprovação municipal em Vitóriaapresenta-se mais baixa do que na redeestadual, porque esta possui a mais altataxa de reprovação da regional(20,40%).

Em relação à evasão escolar, amédia da região foi de 13,4% ell11992,não havendo distâncias notáveis entrea média de cada um dos municípios.Isso significa que, ao longo do anoleti vo, 33.555 estudantes saíram dasescolas sem concluir o ano letivo. Essecontingente, somado ao de alunos re­provados, totaliza cerca de 60 mil "per­das" em apenas um ano... Cerca de 17milhões de reais desperdiçados ...

Outro indicador do desempe­nho do sistema educacional foi obtido

ESTUDOS & PROJETOS

através do Sistema de Avaliação daEducação Básica (SAEB), um projetoque pretende medir o nível de aprendi­zagem dos estudantes das escolas pú­blicas, a cada dois anos, por meio daaplicação de provas padronizadas nasdisciplinas de Português, Matemáticae Ciências. Os resultados dessas pro­vas mostraram um baixo desempenhodos estudantes, sendo os resultados daCapital, em todas as disciplinas, maisbaixos do que os do interior do Estado.

A consideração dessas análisesleva-nos a sugerir que o esforço estatalem favor da escola pública de boa qua­lidade deverá dirigir-se à implementa­ção de políticas inovadoras capazes deinterferir nos processos pedagógicoscom vistas a alterar o perfil dos produ­tos educacionais nos próximos anos.

Leva-nos também a questionaras causas que determinam o baixo de­sempenho da escola básica. Sabe-se,por exemplo, que as condições de tra­balho do professor "são as piores nocontexto das profissões de seu nível dequalificação" (PUCCI, B. e SGUIS­SARDI,V.), as quais incluem tanto aescassez de livros e material pedagógi­co como a quase inexistência de biblio­tecas e laboratórios, dentre outras. Nãose trata de deslocar para o professor a

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culpa pelo ti-acas~o escolar, mas dereconhecê-lo como conseqüência deum conjunto de condições que operamno interior da escola. A formação defi­citária do professor, sua remuneração eas poucas oportunidades de aperfeiçoa­mento que via de regra tem prejudicamo seu desempenho profissional; daí anecessidade de criar oportunidadespara que ele possa profissionalizar-se.

Tanto os dados estatísticosquanto as informações da pesquisa(SAEB) fornecem indicações gerais,quantitativas. Essas indicações preci­sam ser qualitativamente aprofunda­das para que se possa compreender atotalidade do processo educativo e asmedidas necessárias ao encaminha­mento de soluções eficazes.

Nesse sentido, a urgência decorrigir deficiências da educação re­força-se à medida que elas afetam tan­to as possibilidades de consolidarrealmente a democracia como as deatuar positivamente nos processos pro­dutivos e de participar com competên­cia nos avanços científicos etecnológicos a que chegamos.

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POLÍTICA

UMA CIDADE DE OURODjalma Vazzoler*

Há quase dois séculos, copiosas jazidas de ouro atraíraln o bandei­rante Pedro Bueno Cacunda ao coração geográfico do sul espírito-santen­se. COln ele chegava, eJn 1705, uma caravana de lnineradores ao Pico deForno Grande. Este, por assemelhar-se a Uln torreão estilo feudal, recebeudesses aventureiros o nome de Pedra do Castelo. E Castelo passou a serdenolninado todo aquele território que se estende entre vales e lnontanhas.

* Pedagogo e técnico do IJSN.

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Gozando de privilegiada posi­ção geográfica no mapa estadual, omunicípio de Castelo caracteriza-sesobretudo por suas belezas naturais.Escritos há que sobre elas discorrem.Recentemente, mais precisamente nodia 25 de junho, o jornal A Gazetatrouxe, em seu suplemento "Municí­pios", que é editado todas as segundas­feiras, um estudo realizado peloDepartamento Estadual de Estatísticadestacando aspectos históricos, físico­geográficos, sócio-econômicos, políti­cos e culturais de Castelo. Não noscabe, pois, repetir neste artigo dados efatos tão bem elucidados naquele e emoutros trabalhos. No espaço que a Re­vista Instituto Jones reserva para esteartigo tentaremos colocar ao alcancedo público capixaba aspectos npis di­retamente relacionados ao aproveita­mento das potencialidades domunicípio. Para isso recorremos a umtrabalho concluído em fevereiro doano passado pelo Instituto Jones dosSantos Neves, intitulado Perfil Sócio­econômico e levantamento de opor­tunidades de investimentos:município de Castelo.

TERRENOPREPARADO

Toda ação humana que visetransformar Castelo num paraíso turís­tico será grandemente auxiliada pelascondições físicas do município. A lo­calização deste no mapa estadual é umdos aspectos determinantes. Situadono sul do Espírito Santo, Castelo apre­senta facilidade de acesso tanto à re­gião das montanhas como ao litoral,distando sua sede 83 quilômetros dapraia de Marataízes, no município deItapemirim.

Mas não é só a localização geo­gráfica que torna esse território inte­riorano um potencial pólo turístico.Sua estrutura viária, por exemplo,constitui fator importante de comuni­cação. Atravessando o município denorte a sul, a ES-166, rodovia totalmen­te pavimentada, garante a ligação dasede com os demais distritos. Em sua

MUNICÍPIO

parte norte, além de estabelecer um eloentre a sede e as várias localidades dopróprio município, essa rodovia ligaCastelo a Venda Nova do Imigrante, a38 quilômetros. Neste ponto desembo­ca na BR-262, propiciando ligação, nosentido leste, com Vitória, a 142 quilô­metros da sede, e no sentido oeste, coma cidade de Realeza, no Estado deMinas Gerais.

É ainda a rodovia ES-166 queestabelece ligação entre a sede e o suldo município. Além disso, seu encon­tro com a BR-482 permite o acessodireto a Cachoeiro de Itapemirim, e,através da BR-I01 sul, ao Estado doRio de Janeiro, cuja divisa dista 96quilômetros da sede castelense.

A partir do entroncamento ES­166/BR-482, na localidade de Couti­nho, município de Cachoeiro deItapemirim, tem-se fácil acesso aosmunicípios de Jerônimo Monteiro,Alegre, Guaçuí, Dores do Rio Preto eao Estado de Minas Gerais. E a rodoviaES-379 liga Castelo aos municípios deMuniz Freire, Iúna e Irupi.

Inúmeras estradas vicinais emleito natural também compõem a ma­lha viária de Castelo. Embora apresen­tando tráfego precário em dias dechuvas intensas, elas garantem a liga­ção entre as várias localidades do mu­nicípio, facilitando, assim, o transporteda produção agrícola.

Desta forma, o município deCastelo oferece inúmeras vantagensinfra-estruturais e de localização geo­política, que certamente compensarãoo esforço de quem apostar nas riquezasnaturais desse território e nelas investirvultosos recursos.

OS DONOS DA TERRA

Tamanho não é documento. Eisaí um ditado que parece encontrar econo meio rural castelense. Ao contráriodo que vem ocorrendo em grande partedos municípios capixabas e no país, aspequenas propriedades de Castelo, quedetêm mais de 40% da área total, têmno seu desmembramento uma constan­te. Explicação existe para o fato. Neste

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município de tradição italiana, o apegoà terra faz com que as áreas sejamprogressivamente divididas entre osmembros das famílias.

De acordo com o Incra, existemno município apenas seis grandes esta­belecimentos, que estão localizadosprincipalmente na região de pecuária enas imediações do Pico de Forno Gran­de, onde predomina a olericultura e oque resta de mata natural.

A maior parte, porém, é de pe­quenas propriedades, na sua maioria,trabalhadas por mão-de-obra familiar.É sobretudo nessas propriedades quebrota o milho, tradicionalmente princi­pal cultura alimentar do município,ocupando uma extensão de 4.700 ha esendo cultivado em aproximadamente90% dos estabelecimentos agrícolas.Nessas pequenas glebas viceja tam­bém o café, principal produto agrícolado município, cultivado em aproxima­damente 90% das propriedades, ocu­pando uma área de 9.500 ha, ou seja,25% das terras próprias para a agricul­tura.

o café lidera a agriculturaem Castelo.

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Mas a crise brasileira do caféchegou também em Castelo, impondona época uma decadência anual de20% a 30% no seu parque cafeeiro.Hoje, entretanto, o produto volta aapresentar lucratividade e lidera a agri­cultura no município.

O que ficou da crise foi a neces­sidade que sentiu o agricultor castelen­se de procurar outras alternativas paradiversificar e até substituir a culturatradicional por outra mais rentável.

Com a ajuda da Emater, o ho­mem do campo descobre os novos pro­dutos, a partir do conhecimento dascondições climáticas, do tipo de solo edo relevo castelense. Resultado: Cas­telo é hoje o município do sul do Espí­rito Santo que possui a maior áreaplantada com o cultivo da macadâmia.É importante ressaltar que esta culturaestá sendo incentivada em todo o Esta­do, especialmente neste município,pelo governo do Estado, através decontrato entre produtores e a empresaVale Verde Agro-Industrial SA - Va­versa -, sediada em São Mateus. Poresse contrato a empresa fornece as mu­das e se compromete a comprar toda aprodução, com garantia do preço emdólar, para beneficiamento e exporta­ção. Em breve esta moda pode pegarnos demais municípios capixabas,pois, segundo técnicos da Emater, oEspírito Santo possui condições propí­cias ao culti vo desse produto.

Além da macadâmia, inicia-seno munrcípio a cultura da seringueira,plantio feito em conjunto com o café,o que propicia o consórcio de culturase assim torna ótimo o aproveitamentodo solo. Além disso, a seringueira,como a macadâmia, tem a vantagem deproduzir cobertura vegetal. Seu látexpoderá, no futuro, gerar divisas finan­ceiras consideráveis.

O reflorestamento com euca­lipto, através do convênio Seag/Ema­ter/Ciprus, é outra atividade que seinicia no município com boas perspec­tivas de sucesso.

Também a fruticultura repre­senta uma alternativa aos produtores

MUNICÍPIO

que querem fugir da monocultura docafé e de culturas tradicionais.

Todas essas culturas encontramem Castelo solo e clima propícios, esua sorte está sendo decidida por umpovo que escolheu a terra como ma­nancial e depositário de aspirações her­dadas através de séculos de suor.

NOVIDADE NAPECUÁRIA

A pecuária de Castelo apre­senta um fato curioso: a conjugaçãode seu clima tropical megatérmicocom o relevo montanhoso encontrouno homem do campo um fiel parcei­ro. Desse casamento surgiu a capri­nocultura, que vem crescendoprogressivamente no município. Dezprodutores já operam com tecnologiade produção moderna. E os resulta­dos já se fazem notar. São diariamen­te produzidos 100 litros de leite,assim distribuídos:

.20% de leite "in natura" parao comércio local,

. 50% de leite "in natura" co­mercial izado para fora do município,

. 30% industrializado no pró­prio município.

Não obstante esse dado, quedá um toque de originalidade ao setoragropecuário castelense, quem defato reina naquelas pastagens é ogado bovino. Considerada sua segun­da atividade econômica mais impor­tante, ficando atrás apenas do café, apecuária bovina está presente emquase todas as propriedades rurais domunicípio. Um rebanho de 35 milcabeças resulta uma produção médiade 30 mil litros diários de leite (CCln­

forme depoimento do técnico do es­critório local da Emater), comtendência ao crescimento, tendo emvista a expansão da atividade previs­ta para os próximos anos.

Os estudiosos do assuntonão deixam dúvida sobre o futu­ro promissor da bovinocultura eda caprinocultura na economiacastelense, principalmente noque tange à produção de leite.

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Tal prevlsao se baseia sobretu­do na constatação de que já láse vão muitos anos de tecnolo­gia, e a comercialização vemsendo garantida pela cooperati­va local. No que se refere, es­pecificamente, ao leite decabra, há tendência para o seubeneficiamento e para a fabri­cação de queijo, iguaria que ne­nhum capixaba deix deaprecIar.

O QUETERRA TEM

A festa d~0Corpus Christi, quea cada ano faz de Castelo centro dasatenções de milhares de turistas, é semdúvida um evento para ninguém botardefeito. Mas, longe de ser a única atra­ção do município, é apenas um dosindicativos de como aquela gente espe­lha em suas obras as belezas naturaisdo solo em que pisa.

Esse território repleto de mon­tanhas com altitudes superiores a milmetros, regado por rios, córregos e ca­choeiras, presenteado por um climaagradável, tem tudo para se tornar umimportante pólo turístico do EspíritoSanto. Dentre as suas atrações desta­cam-se as que seguem.

Pico de Forno GrandeNão é difícil aproximar-se do

Pico de Forno Grande, a 22 quilôme­tros da sede. E se houver disposição, ovisitante poderá escalar os seus 2.002metros de altitude para ter uma visãopanorâmica de longa distância, depoisde percorrer 340 ha de reserva rica emfauna e flora. Poderá ainda () turistadispor de uma área para acampamentolocalizada em uma clareira próximo aocume, com capacidade para cinco bar­racas. E o passeio será bem mais agra­dável se for concretizada a proposta deurbanizar o início da subida do pico,construindo uma área para camping,com banheiro e cozinha, e se foremcriados mirantes no cume do pico.

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Gruta do Limoeiro em 1980.

Gruta do LinweiroSituada a 15 quilômetros da

sede e próximo à estrada Castelo­Venda Nova, a Gruta do Limoeiro seapresenta com suas belas formas geo­lógicas e amplos salões. Mede 200 me­tros de profundidade, e sua largura évariada (em alguns locais chega a 15metros).

Mas sua beleza poderá ser me­lhor aproveitada caso sejam concreti­zados projetos já elaborados portécnicos. Um deles é o projeto paradespoluição e instalação de iluminaçãomóvel apropriada. Outro se refere àconstrução de restaurantes e salas derecepção e de treinamento de guias.

Cachoeira da PrataSituada na reserva florestal da

Mata das Flores (cuja área é de 800metros), distrito de Aracuí, a Cachoei­ra da Prata pertence à fazenda de mes­mo nome. Apenas oito quilômetros asepara da sede. Distância muito peque­na para quem deseja passar um diadiferente. E a construção de uma infra­estrutura adequada poderá facil itarainda mais o acesso de milhares de

MUNICÍPIO

turistas a esse manancial, sobretudo sefor acelerado o processo, em andamen­to, de desapropriação da área.

A cidadeColonizada por italianos, Cas­

telo tem, em muitas áreas, aspectos decidade antiga, contrastando com mo­dernas construções, o que contribuipara transformar esse município numpólo turístico importante. Entretanto,resta ainda dotar o município de umainfra-estrutura hoteleira adequada eexecutar medidas diversas, como aconstrução de hotéis-fazendas, spas,pousadas de campo, áreas de campinge outras, que possibilitarão um fluxoturístico permanente.

Algumas dessas medidas vêmsendo adotadas. Há, por exemplo, umgrupo de geólogos e biólogos da Secre­taria de Estado para Assuntos de MeioAmbiente do Espírito Santo -Seama- que vêm realizando levantamentodas dimensões físicas, da fauna e daflora, como também da forma de ilu­minação e conservação da Gruta doLimoeiro.

Um programa que poderá darfrutos é o agroturismo. A Secretaria deEstado da Agricultura elaborou umaproposta preliminar com informaçõesinfra-estruturais, para desenvolver oprograma nos municípios de Castelo,Conceição do Castelo, Venda Nova doImigrante, Domingos Martins, Mare­chal Floriano e Viana, municípios es­ses que se assemelham entre si pelasimilaridade da atividade rural. O ob­jetivo é criar meios de associação entrea exploração agrícola nos estabeleci­mentos de hospedagem e de alimenta­ção e o lazer, proporcionando maiorrelacionamento entre a população docampo e da cidade.

Com a proposta de agroturis­mo, que já está sendo concretizada, omunicípio de Castelo terá uma grandefonte de renda, o que increment~I;~ aeconomia regional, favorecendo aco­mercialização dos produtos típicos lo­cais. como: laticínios em geral, leite equeijo de cabra, massas e doces casei-

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ros, produtos hortifrutigranjeiros, arte­sanatos em pedra, trabalhos manuais,produtos embutidos e defumados e ou­tros.

A região possui uma beleza pai­sagística encantadora, podendo ofere­cer aos turistas uma convivênciaharmônica com a natureza.

Além dos atrati vos naturais, omunicípio tem uma vantagem em ter­mos de localização. como já foi citado:a proximidade com o litoral e o fácilacesso às regiões das montanhas e aosestados do Rio de Janeiro e Minas Ge­rais; o que significa que será possívelintegrar o turismo do litoral com o daregião de montanhas.

o CAMINHODAS MINAS

A viagem dos mineradores co­mandados por Pedro Bueno, em 1705,não encerrou-se no recosto confortan­te do Pico de Forno Grande. Seguindoas correntes do rio Caxixe, esses ban­deirantes estabeleceram-se nas ime­diações das localidades da Fazenda doCentro, Limoeiro e Povoação, pois oouro das minas do Castelo era o seuobjetivo. E só os violentos conflitoscom índios puris e botocudos obriga­ram-nos a abandonar aquelas para­gens, em 17ll.

Mas fincado estava o marco. Eas atenções do governador ManoelJosé Pires da Silva Fontes Lemos paralá se dirigiram. Em 12 de fevereiro de1812, ao escrever sobre viagem quefizera à província, mencionava a des­coberta de ouro do rio Castelo. E ospróprios olhares do rei D.João VI fo­ram enfeitiçados pejo brilho daquelasjazidas. Em 6 de dezembro de 18 16,expedia a Carta Régia ao governadorda capitania recomendando-lhe queadiantasse os exames mineralógicosdas minas do Castelo. O governo esta­dual, por sua vez, não deixou que aven­tureiros usurpassem o quinhão régioque poderia resultar desses recursos.Em 1824 determinou que as terras au­ríferas fossem repartidas em pequenaspropriedades e concedidas a pessoas

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interessadas na exploração das minas,com a condição de que as leis das ses­marias fossem respeitadas, e os impos­tos sobre o ouro, recolhidos aos cofrespúblicos.

De lá para cá, muitas coisas mu­daram. Mas as riquezas minerais da­quele solo não se esgotaram. Aocontrário, atrás do ouro, foram desco­bertos outros tipos de minérios. Águas­marinhas, por exemplo, são encontra­das no centro da cidade.' Há tambémno município rochas carbonáticas,cuja extração é destinada aos setoresindustriais de rochas ornamentais eàs indústrias de cimento, de siderur­gia e de corretivos do solo.Essas ro­chas compreendem os mármorescalcíticos e dolomíticos localizadosem áreas da Fazenda da Prata, de AltoPrata, de Córrego da Onça, de Limoei­ro e de São Cristóvão. O calcário e asrochas gnaissicas e graníticas são mi­nerais que também podem ser encon­trados em Castelo, sendo o granitolargamente utilizado nas indústrias depedras ornamentais e pedras britadas.

E, como a indicar que o elo dahistória não foi perdido, minas de ouroainda reiuzem, com pequenas ocorrên­cias localizadas no córrego do Meio,no rio Caxixe e na localidade de Bata­tal.

Quem ganha com tudo isso é osetor da indústria de extração e benefi­ciamento de minerais, que, de acordocom o cadastro industrial do Ideies,detém 15,15% das 66 indústrias exis­tentes no município, sendo a nota má­xima atribuída à exploração do granito.Esta atividade está em franca expansãoe tem futuro promissor, uma vez que opadrão do granito de Castelo é perma­nente, ou seja, é todo ele do mesmotipo e qualidade. Encontrado nas comu-

MUNICÍPIO

nidades de Corumbá, Campestre, SãoLuís, Pedregulho, Estrela do Norte,Descoberta e São José, ele forma como mármore e o calcário um trio decampeões.Assim, o município de Cas­telo tem na indústria de extração etransformação dessas jazidas uma desuas maiores oportunidades de investi­mento.

A administração municipalsabe disso. E quer que indústrias parao beneficiamento desses minerais se­jam instaladas no próprio município.Deste modo haverá agregação de valorao produto e conseqüente geração dedivisas para o município, uma vez queeste possui grande quantidade de ma­téria-prima. Além disso, Castelo contacom todas as vantagens locacionaispara investimentos em industrializa­ção.

A DINÂMICA DEUM POVO

A população castelense, consti­tuída de 29.566 habitantes, é reconhe­cidamente uma das mais participativase organizadas do Estado, contandocom entidades bem estruturadas eabrangentes, tanto na área urbanaquanto rural. Um levantamento feitopelo escritório local da Emater dá con­ta de 36 associações de moradores es­palhadas por todo o município. Alémdessas, foram levantadas no ano passa­cio pelo Instituto Jones dos Santos Ne­ves as seguintes organizações:Associação Comercial de Castelo,Cooperativa Agrária de Castelo, Asso­ciação Castelense de Proteção Am­biental e Associação Castelense deCriadores e Produtores Rurais.

Também a vida cultural do mu­nicípio tem sido contagiada pelo espí­rito ordeiro e dinâmico de seu povo.No campo das manifestações culturais,por exemplo, além da festa reI igiosa deCorpus Christi, são organizados anual­mente os seguintes eventos:

Festa da cidade - comemoradano primeiro final de semana de junho,com programação festi va e cfvica, desfi­le escolar, shows e eventos esportivos.

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Carnaval Mirareca (minicarna­vaI de Castelo) - realizado no mês desetembro, o tradicional e famoso Mira­reca apresenta blocos sujos e possuiduas escolas de samba.

Jogos Olímpicos Mário Filho ­realizados anualmente em setembro,duram o mês inteiro, com competiçõesde todas as modalidades esportivas.

Jogos Programados - a prefeitu­ra municipal promove campeonatos comjogos programados, contando Som a par­ticipação das torcidas. Os jogos são in­corporados às tradições da cidade.

A intensa vida cultural e a orga­nização desse povo manifestam-setambém nos espaços destinados à cul-tura e ao lazer. O pode orgu-lhar-se, por exemplo, ssuir umteatro que, com seus ugares, éconsiderado o or palcodo Estado.

Não menos significativo é ofato de existirem no município setebibliotecas; seis estão situadas na sedee uma na comunidade de Monte Pio. Aque chama mais atenção é a BibliotecaPública Municipal Ciro Vieira da Cu­nha, localizada no centro da cidade.Construída em 1922, em forma de cas­telinho, já está sendo ampliada paracomportar mais salas de leitura e umespaço para o museu de Castelo. Alémde atender estudantes locais, possuium espaço para exposição e lançamen­to de livros.

O município conta ainda comquatro clubes sociais, três praças, umparque e duas locadoras de vídeo, mos­trando, a partir desses e outros espaços,a importância que o castelense atribuià forma alegre e solidária de viver.

CANALIZANDO ASRIQUEZAS

Poucos são os povos que lo­gram desentranhar das camadas maisprofundas de sua alma o substrato paraações objetivas. Castelo conseguiu co­tejar as riquezas de seu povo e sua terracom a capacidade que possuem suaslideranças de formular e executar polí­ticas públicas de indiscutível impor-

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tância. Assim, muitos de seus projetospodem ser considerados modelos a se­rem seguidos por outros municípios.

Pró-rural - É um projeto daEscelsa, para extensão da rede elétricacom menos de 500 metros. Objetivareduzir o êxodo rural.

FossafUtro - O escritório regio­nal da Cesan é tido como modelo noque se refere ao tratamento de água eesgoto, tendo desenvolvido em Caste­lo a primeira experiência do sul doEstado em "fossa filtro", para trata­mento do resíduo. A municipalidadeestá desenvolvendo um programa desaneamento básico, sob a orientação daCesan, para instalação de fossas sépti­cas, com filtros, nas casas popularesque estão sendo construídas. O mate­rial é fornecido pela prefeitura.

Jogue lixo no lixo - A prefeiturarealizou a campanha "Jogue lixo nolixo" com o objetivo de manter a cida­de limpa. Latões de lixo foram espa­lhados por vários pontos da cidade.

Núcleos de Convergência - Asantigas escolas unidocentes, pequenase mal equipadas, espalhadas pelas di­versas comunidades, foram substituí­das por escolas maiores. Dotadas deprofessores específicos para cada sériee/ou disciplina e de infra-estrutura ade­quada, estas unidades foram construí­das em locais centralizados, atendendoa várias comunidades. O transportepara suprir as dificuldades de desloca­mento entre os núcleos e os locais demoradia dos alunos e professores é for­necido pela prefeitura municipal. O es­paço físico das antigas escolasunidocentes foi repassado aos morado­res das pequenas comunidades paraseu usufruto, atendendo aos interessescoletivos. Os Núcleos de Convergên­cia estão localizados nas comunidadesde Limoeiro, Novo Vênus, MundoNovo, Monte Pio e Delza Fraco.

ProjeTO Crescer/Saber - Em1990 foi criado o Projeto Crescer/Sa­ber, para alfabetização de adultos. Em1922 o projeto foi introduzido em to­das as escolas, possuindo atualmente324 alunos matriculados e 80 ouvintes,

MUNICÍPIO

distribuídos em 17 salas. Há informa­ções de que não existe evasão.

Projeto Curumlm - Criado emagosto de 1983, este projeto, desenvol­vido pela prefeitura, tem como objeti­vo dar atendimento médico eodontológico gratuito a crianças na fai­xa etária de O a 14 anos. No projetoCurumim os profissionais de saúde ede educação atuam de forma integrada.(Aliás, uma das caraterísticas dos pro­jetos introduzidos em Castelo é a inte­gração entre as diversas áreas.) Naescola o atendimento odontológico ésistemático; os profissionais - odontó­lagos e professores - realizam traba­lhos preventivos contra a cárie edoenças de gengivas. O projeto abran­ge as comunidades da sede e do inte-

rior, contando com uma equipe inter­disciplinar de 4 assistentes sociais, 3enfermeiras, I psicólogo, 7 odontólo­gos, 13 assistentes de clínica, 2 recep­cionistas, 2 serventes, 3 auxil iaresadministrativos, 2 assistentes adminis­trativos e 4 motoristas. Os profissio­nais das diversas áreas realizampalestras para mães, gestantes, adoles­centes e crianças, conscientizando-ossobre a necessidade de prevenção dedoenças e oferecendo-lhes orientação.Atualmente 4.200 crianças são assisti­das pelo projeto Curumim, considera­do modelo a ser adotado por outrosmunicípios, pois é resp9nsável pelosbaixos índices de incidência de cáriedentária.

Conhecendo Castelo - Criadopela prefeitura, o projeto consiste numroteiro de turismo ecológico pelosprincipais pontos de atração turísticado município, e tem como objetivoconscientizar a população acerca da

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necessidade de preservação ambiental,além de divulgar o que existe de belezanatural no território castelense. A pri­meira etapa do projeto atendeu 3 milalunos da rede de ensino público. Hojeeste projeto está paralisado, mas a ad­ministração municipal pretende dar­lhe continuidade.

Sericicultura - Foi introduzidona região serrana do Estado um projetode criação do bicho-da-seda. Trata-sede um convênio entre a Secretaria deEstado da Agricultura/Banco de De­senvolvimento do Espírito Santo e aIndústria Japonesa de Tecelagem deSeda - Kanebo -, esta com matriz bra­sileira localizada no Paraná. De acordocom esse convênio, a Kanebo se com­promete a instalar uma tecelagem naregião quando em suas imediaçõeshouver mil produtores desta cultura.Até o momento 180 produtores estãoinstalados.

Esses e outros projetos dão umaidéia do nível de organização dos ha­bitantes de uma terra que outrora seinscrevia no roteiro de aventureiros ehoje constitui palco de bem sucedidasexperiências de canalização de suasnquezas.

ReferênciasBibliográficas

INSTITUTO JONES DOSSANTOS NEVES. Perfil sócio-eco­nômico e levantamento de oportu­nidades de investimentos ­Município de Castelo.RelatórioPreliminar. Vitória, 1993.

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Roberto Garcia Simões*

POLÍTICA

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entidades até o alcance e significadodas deliberações, passando pelos te­mas que deve abordar. Dentre outrosexemplos desses arranjos institucio­nais tripartites, pode-se citar o que estácontido na nova Lei dos Portos com aatribuição de gestão, o Conselho Cura­dor do FGTS, o Conselho do FAT ­Fundo de Amparo ao Trabalhador -, ofórum formado para a negociação doacordo do setor automobilístico. NoEspírito Santo, além da criação de câ­maras setoriais na área econômica,essa concepção foi ampliada com aconstituição da "Câmara Setorial doTransporte Coletivo", incluindo osusu~lrios desse serviço.

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Por outro lado, vem crescendoa tendência de formação de arranjosinstitucionais voltados para a articula­ção e negociação de interesses de em­presários, trabalhadores e governomediante a participação conjunta naformulação, tomada de decisão e im­plementação de políticas públicas.

Sob diferentes designações,tais como conselhos, câmaras seto­riais, comissões e fóruns tripartites, ainserção dos três atores citados nessesarranjos institucionais é feita atravésde entidades representati vas e de órgã­os estatais. A constituição e operaçãodesses arranjos abrange aspectos con­troversos, que vão desde a seleção das

Mestre em Planejamento Urbano e Especialista em Polfticas Públicas.*

cÂMARAS SETORIAISE PLANEJAMENTO

E stá ocorrendouma alteração

no comportamento dedeterminados setores domovimento empresariale sindical e dos partidospolíticos no tocante à

proposição de políticaspúblicas.

Constam dos programas de go­verno de três candidatos ao Governodo Estado do Espírito Santo - MaxMauro, Rose de Freitas e Vitor Buaiz- referências às .câmaras setoriais asso­ciadas ao planejamento e à definiçãode estratégias de desenvolvimento. Naproposta de governo "Mãos à Obra,Brasil", do presidente eleito FernandoHenrique Cardoso, no subitem da po­lítica industrial está previsto que "po­derão ser adotadas políticas setoriais,formuladas e implantadas de forma tri­partite, envolvendo o governo, os tra­balhadores e os empresários".Também na área econômica, integra as"Bases do Programa de Governo" do2° colocado no pleito presidencial LuísInácio Lula da Silva a formulação de"fóruns por cadeia produtiva em queestarão representados empresas, traba­lhadores, consumidores e governo. Asatuais câmaras setoriais são um dosmodelos possíveis para estes fóruns".

Considerando as propostas degoverno citadas, pode-se dizer que háuma demanda "tecnopolítica" em cur­so que implica a redefinição do plane­jamento governamental.

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A formação de' cerca de30 câmaras setoriais noâmbito do Ministério daIndústria, Comércio eTurismo indica que aadoção desse arranjo

institucional estaconcentrada na área de

política industrial.

Esta tendência no CaIÚpO daspolíticas públicas deve ser entendidacomo parte integrante da agenda pós­transição política no que diz respeito úreforma do Estado e à redefinição daclássica relação Estado-sociedade.Daí decorrem alguns pontos específi­cos que tocam o caráter da coordena­ção planejada da nova atuação doEstado na economia, a democra.tizaçãoda gestão dos fundos públicos, a repre­sentação de interesses nas instituiçõesdecisórias no plano governamental.Fica evidente que ainda estão sendoprocessadas, sob o aspecto institucio­nal, as mudanças ocorridas no Brasilem virtude do tipo de crescimento eco­nômico dos anos 70, da urbanização,da emergência do "novo sindicalis­mo", da expansão das classes mé­dias ... , num contexto de crise nacionale de mudanças significativas na novaordem internacional. Esta confluênciae simultaneidade de mudanças gerauma agenda sobrecarregada e contl i­tuosa para a negociação política. Con­tudo essa agenda deve ser equacionadasob pena de comprometer a governabi­lidade.

Ao se recuperar a formulaçãoteórica sobre o significado desses ar­ranjos institucionais tripartites na Eu­ropa, envolvendo a participação deempresários, trabalhadores e Estado nanegociação de ações estratégicas e depolíticas públicas, observa-se que elaestá norteada pelo conceito de neocor­porativismo ou corporativismo socie­tal. Trata-se de uma outra forma decorporativismo distinta da estatal, estaúltima predominante na América Latina.

O neocorporativismo é defini­do por Lehmbruch como um modeloinstitucional de formação das escolhas

POLÍTICA

políticas, no qual as grandes organiza­ções de interesses colaboram entre si ecom as autoridades públicas não só naintermediação dos interesses, comotambém na alocação de recursos e naimplementação de políticas, em suasformas mais desenvolvidas. Sublinha­se que esta definição já enfatiza a com­binação entre intermediação deinteresses e implementação de políti­cas num único arranjo institucional.

A emergência do neocorporati­vismo nas "democracias avançadas",em particular na Europa, é atribuídapor Claus Offe aos seguintes fatores:a) ao declínio dos partidos políticoscomo agregadores e canalizadores dedemandas; b) ú crise fiscal, pois difi­culta a "acomodação" de interessesconflitantes. Para Offe, o neocorpora­ti vismo busca conferir maior previsibi­lidade ao conflito, encaminhandodemandas para uma arena decisóriaque não afeta a estabilidade do gover­no e ajuda a reduzir a agenda sobrecar­regada. E nesta arena decisória têmassento empresários, trabalhadores egoverno.

No caso da transição no Brasil,a construção da estabilidade políticaesteve associada a negociação de umpacto nacional envol vendo as macror­representações dos três atores citadosacima. Apesar de terem sido feitas seistentativas no período 85/91, o pactonacional não vingou. Acabou prevale­cendo a formação de coalizões blo­queadoras que adotaram uma posturanegativa e defensiva diante da crise.Assim, incontinenti, a crise permane­cia.

No entanto, neste início da dé­cada de 90 pode-se notar que está ocor­rendo uma alteração nocomportamento de determinados seto­res do movimento empresarial e sindi­cal e dos partidos políticos no tocanteú proposição de políticas públicas, an­tes refratários a qualquer tipo de nego­ciaçào e participação conjunta nosarranjos tripartites. Claro que ainda hámuita ambigüidade, mas, por exemplo,antes da eleição presidencial de 1989era impensável: a) negociação de um

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acordo tal qual o que ocorreu no setorautomobilístico; b) a proposta de "mo­delo tripartite" dos portuários, sem fa­lar da formação de consórcios mistospara participarem de alguns processosde privatização. Com o resultado elarecente eleição presidencial, a posturaafirmativa e propositiva ampliará o seuespaço.

Esta ampliação da postura pol í­tica propositiva requer o estabeleci­mento de novas relações sociaisfundadas no "antagonismo convergen­te", segundo expressão cunhada peloprof. Francisco de Oliveira. Trata-sede passar de uma relação contlitiva deanulação do outro para uma relaçãocontlitiva de reconhecimento mútuo.Em .outros termbs, o presidente daFIAT do Brasil S/A, Silvano Valenti­no, diz que "a câmara setorial automo­tiva inaugurou, no Brasil, a era daformulação de estratégias cooperativasentre os agentes econômicos e sociais(...)".

Este entendimento do conJlito eda negociação convergente de interes­ses é decisivo para presidir a retomadado planejamento compromissado coma ação resultante de acordos pactuadospublicamente. Assim, o planejamentodeixa de ser "participativo" no sentidode que não se trata da apresentação deum elenco de reivindicações ao gover­no via os "conselhos" tradicionais derepresentação descompromissadoscom a viabilização, execução e avalia­ção das suas decisões. O traço marcan­te do planejamento deve passar a ser aadoção de uma postura propositivavoltada para a negociação democráticadas divergências com o intuito deconstruir ações estratégicas.

Em síntese, em que pese não tersido consumado o pacto nacional noBrasil, estão em curso propostas ou emoperação pactos setoriais como osexempl ificados anteriormente. Estãosendo gestadas coalizões estabi lizado­ras tripartites que procuram ampl iar aresponsabilidade dos atores sociais epolíticos na superação da crise, aindaque setorial mente. Caso contrário, ficaimpossível a parceria e a cooperação

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tão faladas ultimamente. Nesse senti­do, é importante notar que os autoresque tratam de neocorporativismo nos"países avançados" apontam, a partirdos anos 70, a passagem do nível ma­cro para o nível setorial, com a conse­qüente mudança na participação deorganizações de caráter nacional paraorganizações representativas de inte­resses setoriais e profissionais.

A formação de cerca de 30 câ­maras setoriais no âmbito do Ministé­rio da Indústria, Comércio e Turismoindica que a adoção desse arranjo ins­titucional está concentrada na área depolítica industrial. No cntanto, esse ar­ranjo poderia ter seu alcance ampliadono contexto de outras relações do Es­tado com a sociedade? Ao falar dapesquisa do Cebrap sobr!? "Acordodas Montadoras", o seu coordenador,prof. Francisco de Oliveira, assinalaque essa formulação pode ser transpor­tada de forma mais generalizada parao plano da sociedade, inaugurando: a)uma nova sociabilidade; b) novas rela­ções entre o público e o privado; c)uma nova visão do significado do an­tagonismo de interesses na mcdida emque o decisivo não é a derrota do ad­versário, mas sim os ganhos obtidospelas partes.

É a partir dessa concepção que ainstauração de uma nova modalidade deplanejamento deve estar centrada no exer­cício contínuo da articulação e da negocia­ção de interesses, para o que é decisiva aformatação de ,uTanjos institucionais que:a) tornem públicos os conflitos e as diver­gências; b) possibilitem a negociação dasdivergências, e c) permitam a formulaçãoe concertação de ações estratégicw;.

Visto que a concepção das câma­ras setoriais não se restringe à dimensãoeconômica nas relações Estado-socie­dade, permanece, contudo, um conjuntode questões relacionadas à sua feiçãosetorial. E este é um ponto sempre pre­sente nos debates sobre planejamento: asrelações entre o setorial e o global, entreas políticas públicas e o projeto de desen­volvimento.

A configuração do neocorpora­tivismo (setorial), que significa con-

POLÍTICA

certações de interesses de maneirafragmentada, pode, segundo Schimit­ter, produzir desequilíbrios a favor deregiões, de setores ou criar condiçõespara a emergência de fortes tendênciassociais e políticas segregacionistas.

Tendo presente as desigualda­des sócio-econômicas e regionais exis­tentes no Brasil, a proposta deimplementação das câmaras setoriaisna área econômica é criticada peloprof. Gustavo Franco ( PUC-RJ) - "osegmento organizado da sociedade (aBélgica) explora o desorganizado (aÍndia)" -, e tem uma "defesa resigna­da" por parte do prof. Edwar 1. Ama­deo (PUC-RJ) "as vantagens setoriaise de curto prazo não devem afetar osinteresses mais gerais da sociedade".

Para o prof. Gustavo Franco ­um dos atuais diretores do Banco Cen­tral -, as câmaras setoriais procuramsubstituir mercados por negociaçõespolíticas. Como no Brasil é reduzidoo grau de organização da sociedade eacentuada a heterogeneidade setorial eregional, o prol". Gustavo Franco afir­ma que os grupos com acesso privile­giado às instâncias decisórias doEstado tendem a criar privilégios, dis­tribuindo o ônus para os grupos desor­ganizados e sub-representados sob aforma de isenção de impostos. E esta éuma de suas críticas ao "acordo auto­mobilístico". Integrantes da equipeeconômica do então ministro da Fa­zenda Fernando Henrique Cardosocompartilham dessa crítica às câmarassetoriais: os professores Edmar Bachae Winston Fritch, ambos da PUC-RJ,dizem que as discussões nessas câma­ras sempre acabam em rei vindicaçõesna direção de reduzir impostos.

As respostas a essa crítica estãobaseadas nos resul tados decorren tes doreferido acordo: segundo Vicente Pau­lo da Silva, presidente ela CUT, entre1992 e 1994, a produção de veículospulou de 960 mil veículos anuais para1,5 milhões; a produtividade passou de10, I para 14,5 veículos por trabalha­dor; o emprego estabilizou-se apósbrutal retração e o crescimento ela arre-

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No Brasil háconvivência de um

arraigado corporativismoestatal com ensaios/deum neocorporativismoenvolvendo interesses

sociais fortementeorganizados e

instituições estatais.

cadação tributária (ICMS dos estados,mais IPI) foi de 33% no período 91/92.

No caso do prof. Edward J.Amadeo, a sua resignação advém daconsideração de que a representaçãodos grupos sociais junto ao Estadopode ter fins mais ou menos particula­ristas, mais ou menos coletivos. Alémdisso, lembra que há formas e formasde representar interesses, cada umacom resultados macropolíticos dife­

rentes. Com o intuitos!;g!~vitar que ascâmaras setoriais se transformem emcoalizões distributivas que afetem for­temente os interesses coletivos, am­pliando as desigualgades sociais, o

prol". Edwargipr(.)p~~IBue as ações dascâmaras setoriais sej'l!;l1 submetidas àsinstituições empresàháis e sindicaisque tenham em conta interesses maisabrangentes. E diz que isso ocorre noscasos da Suécia e da Alemanha. Aopolemizar com o referido professor daPUC-RJ, o prof. Francisco de Oliveira,presidente do Cebrap, diz que "Ao Es­tado, e concretamente ao Governo,cabe o papel de 'Camarão"'.

Se nos "países desenvolvidos"as indagações acerca das possibilida­des de afirmação ou não do neocorpo­rativismo partem das mudançasrelacionadas à individual ização dasdemandas, das novas formas de orga­nização e de gestão e das novas c1iva­gens sociais proteção aoconsumidor, qualidade de vida, etnias-, no Brasil há a convivência de umarraigado corporati vismo estatal comensaios de um neocorporativismo en­volvendo interesses sociais fortementeorganizados e instituições estatais. Es­tes ensaios estão indicando novos pro­blemas e oportunidades para a afirmaçãodo planejamento estratégico.

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João Gualberto Vasconcelos*

até então, era deputado estadual peloantigo PSD e vinculado à corrente deJones dos Santos Neves. Na eleição de1962 Jones concorreu e perdeu paraFrancisco Lacerda de Aguiar. Mas Jo­nes deixou um projeto para o EspíritoSanto. O grupo político do qualCristiano participava pensou o nos­so desenvolvimento. As linhas ge­rais deste processo estavam naindustrialização feita através de pa­Iíticas públ icas geridas pela própriaburguesia local.

desenvolvimento. Isto é particular­menteimportanteselembrannosqueaúl ti maadministraçãoque pensou oEs­pírito Santo em seu conjunto foi a deCristiano Dias Lopes, que nos gover­nou entre 1967 e 1971. Cristiano pen­sou o Estado para a situação existentenaquela época, e,depoisdele, vivemosum vácuo que ainda não conseguimosultrapassar. ..

Explico melhor. Dr. Cristianofoi o primeiro governador do Estadodepois do Golpe Militar de 1964. Ele,

Doutor em Sociologia, professor da Ufes, membro do Instituo Histórico e Geográfico do Espírito Santo e diretor daFutura - Instituto de Pesquisa.

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*

GOVERNO: UM NOVO CAPÍTULO

Escrevo este artigo antes quetenha ficado definido o resultado daseleições no segundo turno no EspíritoSanto. Dois candidatos disputam nos­sos votos: Vitor Buaiz do PT e DejairCamata do PSD, com favoritismo paraVitor. É óbvio que resultado de eleiçãodo tipo segundo turno, disputada pordois candidatos, só pode ser assegura­do depois de abertas as urnas.

Estou registrando isto porquejulgo interessante chamar a atençãopara o fato de que rigorosamente nãosabemos ainda quem será o próximogovernador dos capixabas, mesmoque haja um favoritismo já colocadona disputa.

É tendo em mente este quadroque comecei a pensar no que signifi­ca governar o Espírito Santo nos pró­ximos quatro anos. Que tarefasdeverão ser colocadas para o futurogovernador?

Acredito que a primeira delasseja a de redesenhar a máquina públi­ca tendo em vista um programa de

Quetarefasdeverão ser

colocadaspara o futurogovernador?

POLÍTICA

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o que temos hoje sãoórgãos sem dinheiro

para investir, de um lado,e sem missão claramente

definida de outro.Mas eles existem,

empregam pessoas econsomem dinheiro.

Foi neste projeto que CristianoDias Lopes inspirou-se para seu qua­triênio do governo. Foi nas formulaçõesdo grupo jonista dentro do PSD quealimentou-se a administração de DiasLopes. Com trabalho e persistência ogoverno dó Estado montou um máqui­na administrativa com capacidade paraconduzir tal processo. É desta época aLei estadual NU 2296/67, que reformu­lou todo o aparelho do Estado. As li­nhas mestras deste processo dereformulação administrativa estavamvinculadas ao processo de industriali­zação comandado nacionalmente poruma elite militar e tecnocrática entãono poder. Um processo de corte fran­camente estatizante e no qual o Estadodeveria ser suficiente para si mesmo.Não quero me alongar muito neste de­talhe, mas registro que havia condiçõesobjetivas que conduziam a tal formu­lação a ele pertinente com o que sevivia.

Esta visão de um processo deindustrialização conduzido pelo Esta­do e no qual o próprio Estado deveriaprestar a si mesmo os grandes serviçosde que necessitava é que provocou acriação de uma multiplicidade enormede órgãos. Órgãos estes que nos acom­panham até hoje. Lembro-me, porexemplo, da Prodest - criada com onome de Sercop - ou da Emforma oudo Banco de Desenvolvimento, o Ban­des. Todas estas instituições atendiama estes dois requisitos básicos: o Esta­do deveria bastar-se e ele conduziria oprocesso de desenvolvimento.

Estes elementos centrais noprojeto jonisÜl eram extremamente

POLÍTICA

pertinentes com o que se vivia na épo­ca, insisto. Eram muito importantes noprojeto de Cristiano. Foi implantadocom seriedade e produziu seus resulta­dos. Depois disto o governo ArthurCarlos, vivendo já um momento polí­tico diferente, retirou da burguesia ca­pixaba a condução do processo eaprofundou em termos estaduais o pro­cesso de internacionalização da econo­mia. Transferiu para os entãochamados grandes projetos de impactoo centro dinâmico de nossa economia.É só nos lembrarmos da Aracruz Celu­lose, da Samarco ou da CST para sa­bermos do que eu estou falando.

Este processo de internaciona­lização da economia deixou profundasraízes em nosso Estado. Contribuiuprofundamente para a montagem doquadro urbano que hoje temos. A dis­tribuição regional das nossas indús­trias é muito produto desta estratégia.

O governo Élcio Álvarezacentuou o processo que herdou. In­vestiu bastante na criação das condi­ções urbanas que possibilitaram aimplantação dos grandes projetos.Realizou também urna reforma admi­nistrati va, a introduzida pela Lei es­tadual NU 3.043175, cujo objetivoformal era o de preparar a máquina doEstado para o novo surto de crescimen­to que se aproximava. Na prática nãointroduziu nenhuma visão estratégicadiferente, e funcionou apenas cornoampliadora da capacidade do Estadode distribuir cargos entre os amigos dopoder.

É esta estrutura introduzidapela Lei NU 3.043175, modificada aquie ali pelos governos posteriores, quetemos hoje. Esta lei sequer arranhou aconcepção que Cristiano teve para oEstado. Introduziu pálidas modifica­ções pontuais. Mais grave do que isto,não houve nenhum esforço consistenteno sentido de efetivamente implantar anova lei. De mudar filosofias geren­ciais. Ele foi muito mais um esforçomodernizante de fachada do que pro­priamente um leque de medidas queviessem para ficar.

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O mundo mudou muito nestes30 anos que separam a visão do grupojonista para o processo de desenvolvi­mento do Espírito Santo da visão dosdias atuais. Mudou na direção de reti­rar algumas atribuições da máquina doEstado e repassá-las ao conjunto dasociedade. Definições autoritárias deconjuntos habitacionais como semprefez a Cohab não condizem com as de­mandas de participação que estão hojecolocadas, por exemplo. Mais grave doque isto, o Estado empobreceu enor­memente neste período. Perdeu as con­dições materiais de fazer todo esteaparato funcionar. O que temos hojesão órgãos sem dinheiro para investir,de um lado, e sem missão claramentedefinida de outro.

Mas eles existem, empregampessoas e consomem dinheiro. E, en­quanto isto, a maior parte da populaçãonão tem serviços fundamentais, comosaúde, educação ou a construção deestradas. O que fazer então?

Eis aí uma das tarefas funda­mentais do próximo governo: dizer aosseus funcionários e ao conjunto da so­ciedade capixaba o que fazer com estaherança; como fazer com que esta má­quina hoje mal remunerada, mal trei­nada, desmotivada, inchada, tenha umpapel positivo entre nós. Soluçõesexistem que extrapolem a pura e sim­ples demissão em massa, inconcebívelnum quadro de busca de equilíbrio so­cial e de justiça para todos.

A tarefa de explicitar um proje­to de desenvolvimento para o EspíritoSanto, que não ficou clara no programade nenhum dos dois candidatos para osegundo turno, e de articular os recur­sos disponíveis, inclusive institucio­nais, para a sua execução é tarefaurgente. Temos todos o direito de par­ticipar da construção deste modelo.Queremos discutir este processo, in­clusive no seu rebatimento em termosda máquina do Estado.

O que não podemos mais per­mitir é que continuemos navegandosem bússola, todos perdidos, sem terclareza da missão do setor público e deseus organismos. É impossível pensar

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o papel de uma instituição específicaneste emaranhado que está construídosem pensar num sentido mais geral demissão. Esta tarefa não é simples nemdemanda pouco tempo. Ela se colocacomo uma atividade de longo prazo,mas que temos de começar a discutir omais cedo possível.

Obviamente que as tarefas donovo governo são muito mais amplasdo que o que estou listando neste breve

POLÍTICA

artigo. Quero apenas contribuir comalgumas idéias. Não quero nem mesmoprivilegiar a reforma do Estado sobreoutras questões igualmente urgentes.Quero apenas registrar que, sem repen­sar este conjunto, ficaremos presos aestes casuímos pouco eficazes que te­mos hoje.

Quero também registrar que aburocracia não muda a burocracia,ou seja, que é necessário envolver os

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mais amplos estratos da população denosso Estado, de tal forma que umnovo modelo de desenvolvimento e asalterações gerenciais que ele pode pro­vocar na máquina pública sejam umaprodução coletiva dos capixabas, e nãoa obra de alguns poucos iluminados.Iluminados dos quais, registre-se, jáandamos meio enjoados.

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POLÍTICA

..-

METROPOLIZAÇAO: UMAAPROXIMAÇAO CONCEITUAL

micas e dos novos piltilmares financei­ros e técnicos do processo de acumula­ção do capital.

Ao concentrar a populilção e osmeios de produção e, conseqüente­mente, os meios de consumo, ilssegumo urbano as condições ampliadas dosmeios de produção e reprodução daforça de trabalho e da própriil domil1il­ção. Garante ainda a reillização dasatividades de produção e de consumo,aí cmacterizadas como meios coletivose representados pela circulação, distri­buição, gestão e troca, com forte ênfasenas cidades metropolitanas.

A cidade, e particularmente acidade industrial, não pode ser encara­da sob o aspecto meramente formal; aforma urbana associa-se estreitamente

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André Tomoyuki Abe*

metropolização de Vitória como umilde suas manifestações mais visíveis.

Mas... o que é metropolização?Para clarear o tmtillnento do tema, per­corremos a bibliogmfia específica afim de sistematizar os conceitos, vistotermos constatado a utilizilção indis­tinta e muitils vezes errônea clil termi­nologia correlata. Grande cidade, seucaráter em países dependentes, áreas eregiões metropolitanas, aspectos fun­cionais, vivência, plilnejilmento e ges­tão são alguns dos aspectos a seguirtratildos.

Considemda a mais complexa eevoluída forma de organização urbilnilalcançada pelil humanidade, a regiãometropolitana constitui a expressãomaterializada dils novas formils econô-

Arquiteto, com especialização em Plilnejmnento Urbano, professor de Urbanismo na Ufes e técnico do IJSN.*

Quando, em 1973, foi aprovadaa Lei Complementar N° 14, que insti­tuiu as oito regiões metropolitanas doPaís, a Grande Vitória, apesar de jáentão constituir um aglomerado urba­no plurimunicipal, não foi incluída na­quela relação, pois contava comilpenas 400 mil habitilntes, metade dosquais recém-chegados, expu Isos doCill1lpO pela violenta crise do cilfé.

Naquele mesmo ano estavamsendo gestildos os chamados GrandesProjetos, investimentos de cerCil de 5bilhões de dólares nos setores portuá­rio, siderúrgico, minerador e pamquí­mico. Esses empreendimentos tiveramtrajetórias di versas e representilmmuma ruptura no padrão de ilcumulaçãoaté então vigente, tendo o processo de

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ao modo de produção dominante e àsmudanças que a afetam no tempo. Acompreensão desse processo demandaa análise conjunta da origem da terraurbana, da ação dos diversos segmen­tos no mercado imobiliário e da atua­ção restritiva do Estado e doplanejamento, na sua intervenção intere intra-urbana, no sentido da adequa­ção do espaço urbano e dos meios deconsumo coletivo aos objetivos a se­rem historicamente cumpridos pelaaglomeração urbana.

A grande cidade tem sido identi­ficada com as áreas metropolitanas paradesignar as metrópoles que apresentamgrande complexidade de funções, sejampolíticas, históricas, portuárias, indus­triais ou comerciais. Todavia, não sedeve confundir o conceito de área metro­politana com o de grande cidade, nemcom o de metrópole, nem com a noçãode pólo de desenvolvimento, tampoucocom a de lugar central.

O termo metrópole vem dogrego mater-polis e significa cídade­mâe. Todavia seu emprego já não ésuficiente para explicar esta grandeaglomeração urbana que, a partir daRevolução Industrial, se distingue detodas as aglomerações urbanas que aprecederam. Donde a necessidade debuscar outros conceitos, como áreametropolitana, região metropolitana,etc.; com efeito, não basta falar de ur­banização, mas também de metropoli­zação. Todavia, a visão fragmentada esintética tem contribuído para homo­geneizar tanto processos e espaçoscomo problemáticas e conceitos.

Com efeito, há pontos de vistadivergentes no que tange ao fenômenoem suas características fundamentais.Seu estudo comporta diversos planosanalíticos, quais sejam: aqueles relati­vos aos atores que participam de suamodelagem, aqueles que contemplamo papel de superestrutura do Estado,aqueles que analisam o aspecto políti­co e, ainda, aqueles que valorizam asrelações econômicas e financeiras.

Para essa compreensão, não sepodem ignorar também as manifesta­ções resultantes da inserção do homem

POLÍTICA

no meio ambiente da grande cidade.Esta oferece oportunidade de estímu­los, interesses e emprego de tempo,todavia o faz de maneira extremamen­te seletiva, o que obriga o indivíduoegresso de outros meios mais estáveis,como o meio rural, a colocar em açãotodos os seus recursos adaptativos paraa mudança cultural e social.

A divisão social do trabalho e aameaça de marginalização socioculturalinfi'ingem-Ihe o paradoxo da homoge­neização/individualização, cujo esforçopessoal de entendimento e de controledas situações que lhe são impostas levamo pretendente a cidadão metropolitano areagir de maneira a buscar adquirir exis­tência social ou a reestruturar a própriapersonalidade. Nesse processo, passapor conflitos, tensões e frustrações, quepodem vir a lhe provocar distúrbios psí­quicos ou levá-lo a atitudes prosaicas ouextremadas.

Apesar de metropolizaçâo tervindo gradualmente a significar umapopulação muito grande, a mera aglo­meração de indivíduos, por mais im­portante que seja, não constitui umametrópole; há que estar provida de atri­butos metropolitanos para credenciar­se como tal. Trata-se de um câmbioqualitativo, fase superior da urbaniza­ção, ligada ao modo de produção inter­nacional, de algo mais do que o meroaumento, em dimensões e densidade,das aglomerações existentes. Apresen­ta peso político e importância indus­trial significativos, maiores e maisvariadas ofertas de comércio e de ser­viços, alto nível de renda e também deconsumo.

Um critério para estabelecerdistinção entre uma cidade grande euma metrópole é aquele de identificarampla preeminência funcional sobreum território mais amplo, critério quepode ser verificado através da análisedos fluxos de troca interurbanos. Umametrópole é habitualmente um centropolítico, um centro de influência quearticula espaços regionais e até nacio­nais; é muito difícil existir uma metró­pole que não tenha o porte de uma

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É muito dijíflil exi~tir

uma metrópole q. ãotenha oJ?orte d~2> ma .grande cúlade, T!Jf!,.$ nemtodas as cidades grandestêm o status de metrópole.

grande cidade, mas nem todas as cida­des grandes têm o status de metrópole.

Pode dar-se um foco de preemi­nência regional que não consista emuma mas em várias concentrações depopulação, juridicamente separadas;ainda que suficientemente próximas esocioeconomicamente integradas, elasresponderiam legitimamente ao con­ceito de área metropolitana.

A área metropolitana é, por­tanto, um aglomerado urbano cons­tituído pelo núcleo centralmetropolitano e pelos centros urba­nos incorporados a essa área median­te o processo de suburbanização, quetermina por recobrir o território comextensão correspondente a mais deuma unidade administrativa local, in­tegram-se espacialmente e com formasde relações que correspondem a umúnico núcleo urbano, cuja área de in­fluência se faz sentir além dos limitesadministrativos daquele conjunto deunidades.

Esse conjunto de centros urba­nos desenvolve intensa vinculação so­cioeconômica com o núcleo central, detal forma que esses centros passam àcondição de núcleos periféricos e aconstituir um sistema, uma unidade so­cioeconômica, cuja significação para osistema social como um todo é maiordo que a simples soma de suas partes.

Inclui-se na área metropolitanatodo o continuum de áreas urbanizadasresultantes da expansão dos núcleos, esua delimitação se dá nos extremos daárea conurbanizada, com a qual seidentifica. Donde se conclui ser essadelimitação variável ao longo do tem­po, motivo pelo qual comumente paraisso se adotam outros critérios, confor­me os objetivos, como é o caso doplanejamento ou dos monitoramentosestatístico-censitári os.

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POLÍTICA

Os limites entre o que é função local e o que é função metropolitana não são sem­pre muito nítidos; a divisa0 constitucional áe competência e de recolhimentotributário não atende às necessidades; os 12roblemas maiores são legados por

todas as esferas; as motivações políticas superam as técnicas.

Portanto, a metrópole pode es­tar sob uma única administração, en­quanto que a área metropolitanaengloba várias jurisdições e conta commúltiplos núcleos que se integram ecomplementam, distinguindo-se noseu caráter jurídico supralocal. Toda­via, o papel de preeminência regionalé exercido pelo conjunto urbano, mo­tivo pelo qual em muitas ocasiões ve­rificamos o tratamento indiferenciadopara as duas terminologias.

Já a região metropolitana seconstitui num espaço mais extenso,qúe engloba, além da área metropolita­na, uma periferia intermetropolitana,s~bmetida ao processo de metropoliza­ção. Nesse espaço incluem-se os eixosde comunicação e desenvolvimento,o~ núcleos e as áreas periurbanas ealgumas áreas rurais em vias de ocupa­ção urbana.

Esse conceito sofre adaptaçõessob o aspecto da abordagem analítica, aose delimitar de acordo com os objetivosde planificação a região de planejamen­to metropolitano, ou da abordagem ins­titucional, ao se definir a regiãoadministrativa metropolitana adequan­do-a às divisões político-institucionaisdos municípios nela contidos. Já em ou­tras ocasiões pode-se referir à região dametrópole para designar o território deinfluência de uma determinada regiãometropolitana. Nesse caso, estamos nosreferindo ao papel externo exercido pelametrópole perante a rede urbana e o es­paço regional e nacional, e este é desem­penhado pela região metropolitanacomo um todo.

Com efeito, a evolução do meiotécnico vem reduzindo o tempo e eli­m'inando o meio físico enquanto obstá­culo, liberando as atividades deprodução, consumo, gestão e inter­câmbio das locações mais concentra­das e aglomeradas, mantendo avinculação funcional. Se, por um lado,essa transformação atua no sentido da

desconcentração espacial, por outrodepende crescentemente de meio téc­nico correlato e mão-de-obra qualifi­cada e, portanto, de meio urbano maiscomplexo. Também verifica-se a con­centração de atividades relacionais.

Assim, verificam-se novas re­lações tanto na divisão técnica quantona divisão social do trabalho, num pro­cesso de desconcentração/centraliza­ção e descentralizaçãolconcentração, aredefinir, por conseqüência da evolu­ção dos meios técnicos, as espacialida­des funcionais e os esquemasconceituais regionais do planejamen­to, visto tratarem-se de espaços comcaracterísticas funcionais urbanas nãonecessariamente urbanizados.

O enfoque estratégico, seja deajuste, seja de desenvolvimento, a es­cala a ser considerada, tanto micro,como macro ou mega, dentre outros,são elementos diversificados de dis­cussão quanto à abordagem metodoló­gica do planejamento das regiõesmetropolitanas. Estas se definem con­forme a instância de poder e os objeti­vos, podendo ser encaradas peloplanejamento sob duas óticas: nos seusaspectos externos e nos seus aspectosinternos.

Os aspectos externos reportam­se ao papel da região metropolitana noseu relacionamento funcional com ou­tros sistemas e subsistemas espaciaiscom os quais interage. Não se pode,nessa abordagem, pensar no verdadei­ro desenvolvimento dessa formaçãoexcluindo os interesses e objetivos dopaís como um todo. Seu equaciona­mento se faz no âmbito de uma políticaurbana que se enquadre num plano dedesenvolvimento de abrangência na­cional. Como exemplo, por conse­qüência do papel hegemônico daregião e da alta inelasticidade de suaeconomia, pode seu desenvolvimentotornar-se fator de atrações migracio­nais e de satelitização dos territórios

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sob sua influência, com a conseqüentedepressão dos elementos e valores re­gionais e a acentuação do nível da con­centração relativa no espaço da regiãometropolitana.

Quanto aos aspectos internos, osproblemas e necessidades das regiõesmetropolitanas se manifestam sobduas ordens: por um lado se devem aogigantismo enquanto metrópole e con­seqüente escala ascendente emvolu­me, complexidade e custos; e por outroao fato dessa área metropolitana contí­nua porém diferenciada em suas partesalastrar-se sobre territórios de jurisdi­ções distintas e independentes.

Manifestam-se as disfunçõesentre as localizações das diversas ati­vidades e dos equipamentos e serviçospúblicos no interior do espaço metro­politano, resultado da ocupação segre­gada e da somatória de ações e lógicasindividuais sem que o seja no âmbitode um plano a longo prazo ou de umavisão global concernente ao uso dosolo metropolitano. Quanto ao aspectoecológico, o meio ambiente é compro­metido como um todo, e quanto aoaspecto social, verificam-se as conse­qüências sociais negativas do excessode urbanização e das diferenciaçõesespaciais intra-urbanas.

Quanto ao aspecto administra­tivo, surgem assincronias dentro dessesistema urbano-espacial e entre os ór­gãos administrativos locais: diferençasde vantagens locacionais, de tributações,de cessões de poder, de sistemas deplanejamento, de políticas sociais e ou­tras acentuam essas diferenciações.Torna-se evidente a necessidade dotratamento metropolitano ao planeja­mento e à gestão da região, todaviaafloram nessa tentativa embaraços detoda ordem, sejam conceituais,jurisdi­cionais, institucionais, administmti­vos, operacionais, políticos, etc.

Em princípio, seriam objeto detratamento metropolitano as questões

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que ultrapassassem a competência deum só município ou aquelas funçõesque não lhe fossem economicamenterentáveis, ou ainda aquelas que fossemobjeto de abordagem em comum. Asdemais tarefas podem e devem mesmocontinuar a ser asseguradas em âmbitomunicipal. Todavia, os limites entre oque é função local e o que é funçãometropolitana não são sempre muitonítidos; a divisão constitucional decompetência e de recolhimento tribu­tário não atende às necessidades; osproblemas maiores são legados por to­das as esferas; as motivações políticassuperam as técnicas.

Demonstrada a necessidade deimplantar o processo de planejamentometropolitano, coloca-se a questão daconstituição de um organismo que seencarregue de tal tarefa. As possibili­dades colocadas para a institucionali­zação dessa entidade metropolitanaseriam:

a) governo metropolitano comcentral ização;

b) governo metropolitano comdcsccn trai ização;

c) associação de municípios;

d) a entidade metropolitana comoum agente do governo estadual.

De maneira geral, todas as op­ções apresentam em sua aplicação res­trições ou inconvenientes de ordem

POLÍTICA

institucional, política ou operacional.Essa última fórmula foi a adotada noBrasil, através das leis complementa­res N° 14 e 20, que instituíram emâmbito federal as regiões metropolita­nas, seu formato jurídico e sua abran­gência, dando tratamento simétrico adistintas realidades urbanas. Surgiu danecessidade de reestruturação do espa­ço brasileiro e melhoria do desempe­nho de algumas aglomerações para aatuação como pólos de desenvolvi­mento regional na modernização dasua economia.

Contudo, as entidades metro­politanas que resultaram dessas leisdependiam essencialmente dos gover­nos estaduais sob cuja administraçãose localizava cada área metropolitana;os municípios conservaram sua auto­nomia executiva e legislativa, e suaparticipação no processo metropolita­no era garantida por uma espécie dechantagem econômica. No que tangeàs decisões e às orientações que vies­sem a ser tomadas pela entidade metro­politana, os municípios não contavammuito, devido à composição viciadadoconselho deliberativo e do conselhoconsultivo; em última instância, era ogoverno do Estado que assumia essatarefa.

Certas questões decisivas, senão foram nem tangenciadas pela le­gislação, foram simplesmente passa­das sob silêncio. Assim, os problemas

Vista aérea do Centro de Vitória

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de distribuição de arrecadações que ti­nham origem na estrutura tributárianão foram abordados, e os repasses derecursos foram relativamente reduzi­dos diante do porte dos problemas quesucederam. Também as orientaçõesconcernentes ao uso do solo metropo­litano ficaram praticamente indefini­das; nessas condições, não vemosmuito bem como poderia ter sido ga­rantida a implantação dos planos dedesenvolvimento para as áreas metro­politanas.

A formulação teórica das regiõesmetropolitanas brasileiras foi carrega­da de conteúdo das literaturas dos paí­ses mais desenvolvidos, e seguiram deperto os padrões quantitativos e quali­tativos da Standard Statistical Metro­politan Area americana. Embutida deraciocínio eminentemente técnico-ju­rídico, além do contexto político doautoritarismo, essa instituição apre­sentava numerosos aspectos críticos.

Com efeito, o estudo da metro­polização deve ter a abordagem comoprocesso, no qual é necessário conside­rar os aspectos demográfico-quantitati­vos, os aspectos espaciais, os aspectosfuncionais e ainda os problemas tipica­mente metropolitanos. Todavia, a sim­ples adição desses aspectos não seriasuficiente para captar, perceber e inter­pretar todas as implicações espaciais eeconômicas que emergem. Essa metro­polização é parte intrínseca das particu-

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lm'idades históricas de cada situação edo sistema econômico que a sustenta;elementos estes que não podem de for­ma alguma deixar de ser considerados;assim como é necessário levar em con­ta também as relações e as funções quea formação urbana mantém no interiorda divisão técnica do trabalho especí­fico desse modo de produção domi­nante. Isso porque reproduz na suaestrutura, na concentração de ativida­des e na dominação que exerce, a con­centração e diferenciação da divisãosocial do trabalho em âmbito nacional.

Ademais, trata-se do estudo dametrópole dependente, ou seja, aquelaque nasceu das relações sociais de pro­dução dentro de uma sociedade colonialsucedida de uma sociedade capitalistaperiférica, dependente e monopolística.Portanto, os conceitos não podem sertranspostos mecanicamente, e as refe­rências aos problemas metropolitanosdevem ser devidamente nuançadas.

Com efeito, chama a atenção ograu de primazia dos centros nacionaisdos países latinos, o grau de macroce­falia manifesto na importância demo­gráfica e sobretudo econômica de umacidade em relação à de outras cidadese à do conjunto do país. Não consegui­remos explicar a ênfase com que issoocorre no Brasil se não analisarmos ofenômeno dentro de um contexto his­tórico de formação política e econômi­ca dependente e subdesenvolvida. Ascidades brasileiras tiveram sua origemno controle burocrático colonial doPaís e nas atividades comerciais agro­exportadoras; esse caráter de centroprivilegiado de dominação política ecomercial teve como conseqüência alocalização comprometida com o mare o domínio sobre amplas áreas ruraisprodutoras. Essa economia fundada namonocultura de exportação embotou adivisão social do trabalho e abortou umprocesso de urbanização autárquico eacentuadamente polarizado.

Esse modelo de urbanizaçãoprecedeu, sob muitos aspectos, à novaurbanização que se redefinira a partirdo momento em que algumas dessascidades passaram a ser também a sede

POLÍTICA

da industrialização tardia. A reestrutu­ração dos espaços regionais fez comque a orientação locacional dessas ci­dades as tornasse as mais vantajosaspara abrigar a industrialização de subs­tituição de importações, acelerando oprocesso circular de industrialização­urbanização e reforçando a tendênciahistórica de concentração. Isso porque,tendo em vista a precariedade da di vi­são social do trabalho e de uma redeurbana hierarquizada que a sustentas­se, a industrialização no Brasil ou seriaurbana, ou teria muito poucas condiçõesde nascer, e mesmo assim o fez comcaracterísticas bastante autárquicas.Mesmo que essa industrialização setenha feito sobre o urbano, o fato denão haver anteriormente uma base in­ter e intra-urbana mais completa paradar suporte a essa industrialização fezcom que esta fosse acentuadamente ur­banizadora. Donde um aumento dasdesigualdades regionais e do peso dealgumas aglomerações urbanas noconjunto da rede urbana do País.

Já a industrialização mais re­cente ocorreu baseada em produtos etecnologia sem relação com o conjuntode fatores internos de produção e deconsumo, e por isso não contou com aseconomias de escala de produção. Vol­tou-se para o restrito mercado da classedominante cujos comportamentos so­ciais e atitudes culturais balizavam-senaqueles dos países centrais. O desen­volvimento atual se apóia em ativida­des econômicas capazes de gerarvolumes consideráveis de demandassobre outras atividades induzidas ouperiféricas, tendo como base os pólosde desenvolvimento localizados emcentros capazes de gerar o meio indus­trial e as necessárias economias de es­cala. As grandes cidades atuam comosubsistema do sistema capitalista mun­dial, sucursais industrializadas cujocrescimento se dá por influência exó­gena, complementar, modelo que nãopode ser caracterizado como auto-sus­tentado.

Esse modelo de desenvolvimen­to é socioeconomicamente excludenteno sentido social e também no sentido

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físico-territorial, apoiado em algumaspoucas áreas metropolitanas regional­mente hegemônicas que tendem a tercada vez maior dimensão. Suas taxasde urbanização se dão em índices aci­ma do próprio crescimento industrial,visto que ocorre um crescimento si­multâneo do setor terciário, que contri­bui de maneira igualmente decisivapara esse crescimento urbano. As ca­racterísticas de urbanização sem in­dustrialização, de crescimentodesproporcional do terciário, de forteatração à migração, de autarquismo ede índices de evolução demográficalevam aqueles providos de modelosteóricos que não levam em considera­ção essas peculiaridades históricas asupor as cidades brasileiras inchadasou superurbanízadas.

O estudo do processo de metro­polização de um determinado aglomera­do urbano, tendo que manipular adescrição e análise desse objeto real,tem, portanto, como pré-requisito o le­vantamento e entendimento dos concei­tos básicos referentes ao fenômeno.Trata-se do estudo de um determinadoorganismo - a cidade, em sua dinâmicade transformação para o estágio de me­trópole ou, mais especificamente, deárea metropolitana.

Para a Grande Vitória, a sistema­tização dos conhecimentos do seu pro­cesso de crescimento/desenvolvimentoreveste-se da maior imp0l1ância, tendoem vista. a consolidação da etapa descritano início e a perspectiva de novos movi­mentos dos principais agentes modela­dores do espaço metropolitano. Érelevante também a probabilidade dedesdobramentos no quadro político-ins­titucional, com a aprovação da criação daRegião Metropolitana de Vitória, e aretomada do planejamento metropolita­no integral que resgate aqueles agentes o"desenho" com as diretrizes/projeçõescomuns de configuração do espaço re­gional metropolitano.

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POLÍTICA

A TRANSIÇAÇ) DEMOGRÁFICANO ESPIRITO SANTO

-

esta passagem a mortalidade decrescerapidamente, ao passo que a fecundi­dade decresce num ritmo mais lento,do que resulta o aumento do cresci­mento.

Nos países desenvolvidos, ondeo processo já se completou, a queda damortalidade resultou principalmente doprogresso médico-científico, da melho­ria das condições de higiene pública eprivada, da melhoria qualitativa e quan­titativa dos alimentos, do aumento donível de instrução.

O declínio da natalidade decor­reu de mudanças mais complexas tradu­zidas pelo termo modernização, queresume uma série de fatores de ordemeconômica, social e cultural. A passa­gem a uma sociecmde moderna se carac­teriza por modificações profundas dasestruturas produtiva e familiar. Nas so­ciedades tradicionais, a fecundidade de­via contribuir não só para repor as perdascausadas pela mortal idade elevada comotambém para atender à produção fami­liar destas sociedades agrárias, onde osfilhos e a terra eram os investimentospossíveis. Nesta sociedade pré-transicio­nal, o filho apOlta muito à família: seucusto é baixo e, na idade produtiva, aprole numerosa garante mão-de-obra àeconomia familiar. Nas sociedades mo­dernas, o fluxo de bens e serviços opera­se na direção pais-filhos. O filho temum custo elevado sem muito retornopara a üunília, pois, ao atingir a vidaadulta, constituirá seu próprio núcleo deprodução. Por outro lado, a modern­ização induz à modificação do papel que

Aurélia H. Castiglioni*

aumentam devido à elevação da espe­rança de vida e concentração dos indi­víduos nas idades mais avançadas.

Figura I - Pirâmides etárias doEspírito Santo - 1980, 1991

A pirâmide etária do EspíritoSanto em 1980 tem a forma que deuorigem ao nome da figura. Já a de 1991indica o nípido declínio da natalidadeocorrido na última década: a barra infe­rior, que representa as crianças de menosde 5 anos, é menor que as duas subse­qüentes, a de 5-10 anos, também reduzi­da, e a de 10-15 anos. A evolução destatendência provocará mudanças sucessi­vas na composição etária da população,cuja representação gráfica perderá gra­dativamente a forma clássica.

Estas transformações resultamde um processo denominado transiçãodemogréifica, que é a passagem de umasituação de baixo crescimento da popu­lação, decorrente de níveis elevados denatalidade e de mortalidade, a uma fasede estabilização, em que os níveis dosdois componentes são baixos. Durante

Professora de Demografia da Ufes, com doutorado e mestrado em Demografia na Universidade Católica deLouvain - Bélgica.

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Figura 1Pirâmides etáriasdo Espírito Santo

- 1980, 1981.

*

Os resultados do último censoindicam alterações importantes na com­posição da população do Espírito Santo,que podem ser visualizadas na compara­ção das pirâmides etárias de 1980 e de1991.

A pirâmide é um gráfico querepresenta a distribuição da populaçãopor sexo e idade. No eixo vertical estãorepresentadas as idades, e no horizontal,os valores da população por sexo. Aforma do gráfico traduz o regime demo­gráfico da população considerada. A for­ma piramidal apresenta uma base larga,devido ao número elevado de crianças, eacentuada diminuição das ban"as seguin­tes até formar um ápice afilado ondeestão representadas as idades mais ele­vadas. Este tipo é representativo da es­trutura dos países em desenvolvimento eindica altos índices de natalidade e demortalidade, especialmente a infantil.Nos países desenvolvidos, a pirâmide setransforma em uma colmeia: o declínioda natalidade provoca a redução das bar­ras inferiores enquanto que as superiores

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Taxalcontra-se atualmente na fase do pro­cesso caracterizado pelo declínio acen­tuado da natalidade, com conseqüentediminuição do crescimento. A fecun­didade (desempenho reprodutivo efe­tivo da mulher ao completar o períodoreprodutivo), começou a baixar lenta­mente a partir dos anos 60, quando onúmero médio de filhos por mulherpassou de 6,3 em 1960 a 5,8 em 1970,atingindo 4,4 em 1980. Esta queda tra­duz a redução da natalidade das classesmédia e alta, que passaram a planejaro tamanho da família e a utilizar meiosde controle. Na última década as práti­cas de controle passaram a ser utiliza­das pelas classes menos favorecidas,responsáveis por índices mais eleva­dos, e a fecundidade declinou mais doque o previsto. Esta camada da popu­lação passou a ter conhecimento dosmeios de controle e a utilizar notada­mente a esterilização da mulher paralimitar o tamanho da prole.

No Espírito Santo, a evoluçãodeste processo gera modificações gra­dativas no peso dos diversos segmen­tos da população. A modificação maismarcante é a redução das barras infe­riores da pirâmide de 1991. Em 1980havia 14,1 crianças com menos de 5anos em cada [00 habitantes, em [991a relação caiu para 11,2. A proporçãode crianças e jovens de menos de [5anos passou de 44,9% em 1970 a38,80% em 1980 e a 34,9% em 1991.

Torna-se importante ressaltarque a evolução das tendências descri­tas provoca modificações progressi­vas na distribuição proporcional dosgrupos etários e conseqüentemente notamanho das subpopoulações escolar,ati va e idosa e, conseqüentemente, nasnecessidades e demandas especítlcasde cada um destes segmentos.

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tação de técnicas médicas e sanitáriasexistentes nos países desenvolvidos, eas práticas de controle da natalidadeestão atingindo as classes pobres e seminstrução. O impacto do crescimentodestes países tem provocado uma ver­dadeira revoluçüo demográfica no mun­do, cuja população cresce num ritmosem precedente. O efetivo mundial atin­giu 5,57 bilhões em meados de 1993, eem cada segundo nascem 3 pessoas, ouseja, 10.800 por hora. As taxas de cres­cimento elevadas dos países em desen­vol vimento são responsáveis por mais de90% do crescimento da população mun­dial, imprimindo uma aceleração do seuritmo. Em um século (de 1830 a 1930) apopulação do mundo passou de I bilhãoa 2 bilhões de habitantes, a seguir foramnecessários somente 30 anos (de 1930 a1960) para que ela atingisse 3 bilhões, 15anos (de 1960 a 1975) para chegar a 4bilhões, 12 anos para chegar a 5 bilhõese, em mais 10 anos, será somado mais Ibilhão. Segundo as previsões das NaçõesUnidas, se a fecundidade diminuir, man­tendo o ritmo previsto, a população con­tinuará a aumentar até o ano 2200,quando se estabilizará com um efetivode I 1,6 bilhões, o dobro do atual.

No Brasil este processo foi ini­ciado nas primeiras décadas deste sécu­lo. A esperança de vida, de 41 anos nadécada de 1940, elevou-se gradativa­mente, atingindo atualmente 67 anos. Onível da mortalidade deverá conti nuar adeclinar, sobretudo no que concerne àmortalidade infantil, cujo índice, de 63mortes de crianças de menos de I ano por1.000 nascidos vivos, é o terceiro maiselevado da América do Sul. O país en-

o-'-----------------------J Tempo

Figura 2 - Processo de transição demográfica

10

:so

40

20 ?taxa eM mortalidade

POLÍTICA

a mulher desempenha na sociedade. Asconquistas em oportunidades de ins­trução e de trabalho implicam a redu­ção do tempo dedicado aos afazeresdomésticos e à modificação do com­portamento reprodutivo. As mudançaseconômicas influenciam as idéias e as­pirações por um determinado estilo devida, o desejo de assegurar uma melhorposição social aos filhos. À medidaque a família toma conhecimento dosmeios de controle e a eles tem acesso eà medida que o planejamento familiarpassa a ser socialmente aceito, o tama­nho da família se reduz, passando aotipo nuclear.

A transição demográtlca é uni­versal: quase todo o mundo já passou ouestá passando por este processo. Até oinício do processo a fecundidade era na­tural: as mulheres tinham todos os filhosque poderiam ter, mas 30% das criançasmorriam antes de completar I ano devida e as pessoas viviam em média entre33 e 35 anos. Nos meados do séculopassado os países desenvolvidos inicia­ram a redução da mortalidade e da nata­lidade, encontrando-se atualmente nafase de equilíbrio caracterizada por umcrescimento baixo ou mesmo nulo.

Os países em desenvolvimentoencontram-se na fase do processo emque a mortalidade declina mais rapida­mente que a natalidade. As causas datransição oCOlTida nos países desenvol­vidos não explicam de maneira satisfa­tória o que ocorre atualmente nos paísesdo terceiro mundo. O nível de mortali­dade destes países está diminuindo, in­dependentemente do aumento do nívelde vida das populações, graças à impor-

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Deputado federal (PL-ES) e vice presidente da OlE - Organização Internacional de Empregadores.

HISTÓRIA

Para abrir a série, localizeitrês páginas, redigidas de pró­prio punho, que estou remeten­do à nossa revista, para seuaproveitamento. Trata-se, con­forme se percebe, de trecho im­portante e quase completo do

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centes da vida e da ação destepatrono que, sem dúvida, pelavisão extraordinária de estadis­ta, passou a ser um dos maisadmirados governadores da his­tória política e econômica doEspírito Santo.

Jones Santos Neves Filho'

RELEMBRANDO OGOVERNADOR JONES

*

Pedem-me os amigos eatuais dirigentes do Instituto Jo­nes dos Santos Neves que,abrindo uma nova etapa de suaspublicações periódicas, contri­bua na inserção, em todos osnúmeros, de tópicos reminis-

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discurso que pronunciou Jonesdos Santos Neves na sede doPartido Social Democrático,após o embate das urnas de1962, em que o ilustre homempúblico, retornando penosa­mente às lides políticas, sofreuo revés da derrota; o que, na suaconcepção, mudou tragicamen­te a história capixaba.

A leitura e a interpretaçãodo texto oferecido, tanto emconteúdo político e histórico,quanto na interpretação da ele­gância do estilo e demais quali­dades literárias, ficam a critériode cada leitor:

"Toda estranha e por ve­zes desconcertante beleza dadenwcracia reside, precisa­mente, nas oportunidades aber­tas ao povo para, através aautodeterminação das urnas,escolher os seus cmninhos e re­traçar, assim, o seu próprio des­tino.

O processo histórico, quese desenrola no presente, nãodepende, por isso mesmo, defa­talidades incontroláveis, masresulta apenas das decisões co­letivas, certas ou erradas, que,por sua vez, preponderam e in­fluem sobre os fatos e conse­qüências do que está ainda poracontecer.

Assim entendendo, disse­ra eu aos convencionais do Par­tido Social Democrático:

'O jJrélio democráticoque nos espera nas urnas há demarcar, ao que tudo indica, umcapitulo de alta relevância nahistória política do EspíritoSanto. Nunca, con1O neste ins­tante, foram tüo árduos os deve-

HISTÓRIA

res e tão pesados os encargosreservados àqueles que saírelnvitoriosos no pleito. em contra­partida, nunca também, comonesta hora, se tornou tão gravea responsabilidade do povo naseleçüo dos seus votos e na es­colha dos seus caminhos. É oque as urnas comprovarüo, emoutubro próximo. Delas depen­dem, em verdade, o futuro doEspírito Santo, seu destino e suaprópria grandeza no tempo.

Este, senl dúvida, o temacentral da próxinlCl eleição.Nela, o povo capixaba nüo iráapenas definir preferências,porque terá que fixar roteiros;não vai marcar simpatias, masescolher processos; nüo vai setraduzir enz números, mas emvontades; nunca poderá ser atode inconsciência, porque signi­ficará, sobretudo, o gesto irre­parável de ulnq opção. '

Examinando agora, semamarguras nenl ressentimentosinúteis, o resultado do pleito,sinto e pressinto a inutilidadedaquelas advertências e as gra­ves distorções que ameaçmn odestino da nossa querida terra.No íntimo da consciência guar­do, porém, a serenidade do de­ver exemplarmente cumprido.Nüo retornei à política por von­tade própria, nenz, muito menos,movido por qualquer sentimen­to subalterno de wnbiçüo pes­soal. Mercê de Deus, haviacomprovado, na rude competi­çc70 de um grcmde Centro, quepoderia sobreviver e prosperar,longe e distante das acrimôniase violências da política. Por ou­tro lado, tivera a felicidade de

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deixar, como rastro do meu pas­sado no Espírito Santo, apósdoze anos de atividade política,substancioso acervo de realiza­ções e serviços que constituíama quitaçdo pessoal de lIleus de­veres para com o nosso Estado.

Nada, portanto, me com­pelia ao regresso às lides políti­cas. Tudo, ao contrário, meaconselhava a delas permane­cer ({tastado, cO/no medida deprudência, de segurança e detranqüilidade.

Convocado, porém, à mi­nha inteira revelia, pelo PartidoSocial Democrático, em reu­nido a que não compareci e ape­nas delegara poderes paravotaçüo em qualquer outronome, mesmo de correntes ex­trapartidárias, senti que nüo meera lícito recusar a candidaturaoferecida, senl ser postulada.

A resoluçüo ndo foi fácil,nem obedeceu a wn gesto im­pensado de sofi'eguidão. Resul­tou, antes, de profúnda lutaíntinza e de severo diálogo coma consciência. Era o derradeiroserviço que prestaria ao meuEstado. Poderia ser a continua­çüo do seu progresso, o iníciodo seu ressurginzento econômi­co, a sua presença real, comounidade próspera e feliz, noimenso cenário da nacionalida­de. Minha omissüo seria umafuga e talvez se tran40rmasseno funeral de todos esses an­seios. Firmei, assim, a decisão ecedi ao comando dos aconteci­mentos que contrariavam e de­safiavam a própria vontade... "

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TRIBUNA LIVRE

CAFÉ COM LEITE NAECONOMIA CAPIXABA

lógica, é quase certo que, por isso, aparticipação da pecuária em 1980 foimaior que em 1985.

É importante verificar que a de­sagregação dos dados proposta pelanova metodologia do IBGE pode ori­ginar vários quadros e análises emcima de dados gerados no estudo. Apartir daí uma das principais conclusõ­es é a de que esta desagregação possi­bilitou a supremacia do desempenhodo café e da pecuária no período de1980a 1985.

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se ano quase a mesma participação de1985 (39,6% com relação ao VPB). Aparticipação do Valor da Produção dapecuária em 1980 no VBP do mesmoano girou em torno de 28,09%. Lem­brando que, por causa da mudança demetodologia, principalmente no casoda pecuária, não se pode precisamentefazer uma comparação dos dois anos.Em 1980, o item granja estava incluídono item pecuária, enquanto que, em1985, granja era um subsetor à parte.Desta forma, dada a di ferença metodo-

Luciana Simões'

'" Economista e técnica do IJSN.

o desempenho do setor agrope­cuário no Estado pode ser visto nocálculo do Valor Agregado deste setorem 1985, que foi de US$990.396.661,38.

Para a elaboração deste estudo,realizado pelo IJSN, foi utilizada anova metodologia do IBGE, que tinhacomo principais objetivos a desagrega­ção dos dados, possibilitando uma me­lhor demonstração das informações euma unificação dos cálculos pelos es­tados. Com isso, será possível um me­lhor quadro comparativo com osoutros anos, bem como com o PIB deoutros estados e com o PIB nacional.

Dentre os principais produtos,destaca-se o café, que contribuiu comUS$ 418.386.612,69, representando35,%0 I % do Valor Bruto da Produção(VBP) do Setor Agropecuário de 1985,que foi de US$ 1.195.013.763,92. Damesma maneira, a pecuária, com16,22%, a silvicultura e extração vege­tal, com 7,55%, e construção e melho­rias agropecuárias, com 16,08%. Estaúltima, pela nova metodologia, incluio valor das construções e outras insta­lações e benfeitorias que os produtoresrealizam durante o ano. Em outrosanos, este item estava distribuído emoutros setores.

No período de 1980 a 1985 nãohouve grandes mudanças no que dizrespeito à participação no Valor daProdução de um produto com relaçãoao VBP do mesmo ano.

Estabelecendo para o ano de1980 o mesmo quadro comparativoacima, vemos que o café manteve nes-

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UM VEÍCULO ALTERNATIVO

se esperar que induza também auma reflexão sobre a questãomais ampla, que aqui pretendo,brevemente, antecipar: o tráfegociclístico, de modo geral, naGrande Vitória.

Que condições têm hoje eterão futuramente (motivadospela tal ponte ou por outras ci­clovias que venham a surgir) osque se utilizam da bicicleta paratrabalho, estudo ou lazer, e quetenham deslocamentos lógicosfora das "áreas de segregação"ou mesmo para chegar até elas?

O Plano Diretor de Trans­pOlte Urbano da Grande Vitória-

de esgotamento em seu sistemaviário. Algumas obras impor­tantes de engenharia de trânsitoprecisam ser feitas para evitar ocolapso total nos próximosanos.

Uma destas obras, comprojeso pronto, inclui uma ciclo­via. E a ponte sobre o canal deCamburi, ligando a avenida RioBranco, na Praia do Canto, como bairro de Jardim da Penha.

Provavelmente, a existên­cia da nova ciclovia induzirá ouso da bicicleta, principalmentepor se localizar numa zon<\ degrande atração de viagens. E de

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Alexandre Bello dos Santos'

'" Economista e técnico do I.J5N.

o que é o tráfego de veí­culos na cidade de Vitória senãoo próprio caos?

O que é o transporte públi­co, senão uma quantidade enor­me de ônibus, lotados aqualquer hora por toda parte?

E o que é uma bicicleta?Bicicleta é veículo? Bicicleta étransporte?

Sabemos que sim. O mais"frágil" e desprotegido de todos,abandonado à própria sorte emmeio a tanta "armadilha" e atanta falta de educação.

O complicado espaço ur­bano da ilha começa a dar sinais

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PDTU/GV, realizado pelo IJSNem 1985, revelou dados impor­tantes relativos ao uso da bici­cleta na Grande Vitória.

Observando-se os dados dapesquisa por entrevistas domici­liat'es realizada como suporte aoreferido plano, nota-se, para omunicípio de Vitória, um alto ín­dice de posse de bicicletas (30%dos domicílios entrevistados)sendo por outro lado o municípiocom o mais baixo índice de utili­zação (12%).

No item razões da não-uti­lização da bicicleta, 15% das res­postas apontavam o trânsitoperigoso como o principal impe­ditivo ao uso.

É também interessante no­tar que 25% das viageris eram pormotivo de trabalho e 12% pormo­tivo de estudo.

Este estudo, apesar do lon­go tempo passado de sua realiza­ção, é a única fonte de análisesegura do assunto, e as conclusõesdele extraídas podem, celtamen­te, ser um parâmetro para a reali­dade atual.

Considerando-se o grande"boom" da indústria do setor, re­gistrado principalmente a pattirdo início da década - em 1993 aindústria nacional produziu 3,8milhões de unidades, 58% a maisdo que sem 19922

- pode-se suporque tenha aumentado a relaçãobicicleta/habitante e, portanto,aguçado os problemas da realida­de exposta, baseada em dados de1985.

Um bom exemplo disto é onúmero de acidentes envolvendobicicletas na Grande Vitória. Em1985 aconteceram 90 acidentes,com uma média mensal de 7,5.Em 1993 o número de acidentes

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foi de 238, e a média mensal, de19,8 3

.

O PDTU-GV apresentoucomo propostaparaestamodalida­de de transpOlte a consuução deuma rede cicloviária básica para aGrande Vitória, com penetraçãoem grande parte da aglomeração,permitindo ligações importantesentre zonas de diferentes tipos deatividades.

O sistema proposto foi di­vidido em trechos. Analisadosconforme as suas peculiari­dades, para cada um deles fo­ram indicadas as seguintesmedidas: pistas exclusivas,tráfego partilhado ciclista ­automóvel e tráfego partilha­do ciclista - pedestre.

Como as pistas exclusivasnão penetram em toda a malhaurbana, nas vias ou trechos de viasda rede onde o tráfego é partilhadoplppôs-se a aplicação de sinaliza­ção ad~quada.

E neste ponto que acreditoser possível e necessário interven­ções mínimas a curto prazo e comreduzidos custos.

O chamado u'áfego patti­lhado ciclista-automóvel sem­pre existiu, existe e existirá àrevelia de qualquer planejamento.Os principais corredores esponta­neamente utilizados por bicicletasindicados pelo PDTU-GV deve­riam receber um tratamento míni­mo de pavimentação (nas faixasda direita, utilizadas principal­mente por ônibus e bicicletas) e desinalização (indicando a presençada bicicleta).

Algumas áreas de estacio­namento, por vezes totalmenteabsurdas, deveriam ser suprimi­das, com fiscalização rigorosa.

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Aliada a isto, uma campa­nha educativa intensiva e bemconduzida, dirigida a motoristas eciclistas, poderia contribuir bas­tante para a subsistência da moda­lidade marginalizada.

Em algumas grandes cida­des do Japão é proibida a circula­ção de automóveis durante o"rush" nas ruas com forte trânsitode ciclistas!

Na Holanda, com cerca de10.000 km de ciclovias, as bici­cletas desfrutam de prioridade so­bre os demais veículos em suasáreas urbanas!

Na China continental, a bi­cicleta é o meio de transporte demassa.

No Brasil, alguns passos jáestão sendo dados nesta direção.No Estado do Paraná, o Instituto dePesquisa e Planejamento Urbanode Curitiva-IPPUC propôs e con­seguiu implantar uma rede ciclo­viária na Capital, que hoje chega a150km.

Na Grartde Vitória, com opassar do tempo e mantidas inal­teradas as atuais condições de trá­fego ciclístico, teremos duassituações: medidas simplesmenteproibitivas ou a "extinção naturalda espécie". Pat'a aqueles que pe­dalam para manter a forma ou porpuro prazer, o conselho: troque oseu biciclo por uma ergométrica,aquela que você pedala cavalgan­do, em frente à TV, sem sair dolugar.

NOTAS1. Ver PDTU-GV. Estudo sobre o siste­ma de bicicletas.2. Revista Isto É. 06/07/94.3. A Gazeta. 28/09/94.

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AGROPECUÁRIA NO EIXO SUL

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As principais atividades destaregião do ponto de vista econômicosão a bovinocultura e a bananicultura,seguidas da olericultura e da cultura demandioca, do milho e do feijão.

PRINCIPAIS CULTURAS

Ronaldo J. M. Víncenzí*

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essa atividade permaneceu, de modogeral, presa a determinadas caracterís­ticas que o tempo - no que se incluemas diversidades conjunturais - não con­seguiu transformar.

* Economista e técnico do USN.

A partir da última década im­portantes alterações ocorreram naGrande Vitória no que diz respeito aoaumento de importância dos setoressecundário e terciário em detrimentoda atividade agropecuária.

Nos municípios situados noeixo sul da Grande Vitória (Cariacicae Viana) a coisa não foi diferente, noentanto existe uma certa especificida­de em sua agropecuária, que merececonsideração.

Tal como ocorreu na região me­tropolitana, verificou-se um relevantecrescimento nas taxas de urbanizaçãodesses dois municípios. Essa taxa che­ga a98% em Cariacica e a 84% emViana: este último, até a década de 70,tinha urna população predominante­mente rural.

A urbanização ocorrida naGrande Vitória guarda uma estreita re­lação com a instalação dos denomina­dos grandes. projetos (AracruzCelulose, Cia. Siderúrgica de Tubarãoe certas ampliações de setores da Cia.Vale do Rio Doce, etc.) em meados dadécada de 70 e início dos anos 80,sendo responsável em grande parte porum impulso nas atividades urbano-in­dustriais.

Um importante retlexo desteprocesso de transformação pode servisto na distribuição setorial da arreca­dação do ICMS nesses municípios.Para se ter uma idéia, em 1991 o ICMSgerado pelo setor primário de Cariaci­ca e Viana representava, respectiva­mente, 2% e 0,96% do total desseimpostai.

Apesar do declínio relativo daparticipação da agropecuária no pro­duto interno bruto destes municípios,

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TABELAEixo Sul - Evolução da Quantidade Produzida e da Área Colhida dos Principais Produtos

Talvez a explicação deste fatoesteja justamente no mesmo ponto ondeesta atividade encontrou forças para nãose retrair e que também não forneceu aspré-condições necessárias para seu de­senvolvimento. Isso implica falar emuma agropecuária tradicional, baseadaem pequenas propriedades familiares,que apresentam, logicamente, algunsobstáculos - principalmente a falta derecursos financeiros - à sua passagempara uma produção mais empresarial.

De qualquer forma, esse racio­cínio não nos deve levar a qualquersentimento pessimista no que se referea perda de oportunidade, pois é somen­te a partir da apresentação de excelen­tes potencialidades que poderiam serjustificados investimentos nestes mu­nicípios, tendo em vista a facilidade deacesso aos hortigranjeirÇ)s P!i€ítluzidos

na Região Colonial Serrana e, em me­nor escala, em outros municípios e es­tados.

I. IBGE - Segundo dados da Secretaria deEstado da Fazenda - Sefa.2. Utilização de espaçamento, de irrigação,de colubros, de defensivos e de tratores,principalmente em Juruaba (Viana).3. IBGE - Censos Agropecuários - 1960,1970, 1980 e 1985 e Produção AgrícolaMunicipal- 1990 e 1992.

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aumentou em quase 100% e, de 1975para cá, vem crescendo sistematica­mente.

Esse destaque é importante,pois atividades de cunho mais em­presarial tendem a empregar cadavez mais assalariados. E isso é justa­mente o contrário desta atividade,apesar de em algumas culturas (prin­cipalmente na olericultura e na bovi­nocultura) utilizarem-se mais astecnologias modernas. Mas no geral,e inclusive na m<tioria das produçõesacima citadas, existe um predomíniodas pequenas propriedades familia­res, com todos os requisitos que lhessão peculiares.

É de estranhar no entanto que,com o crescimento das atividades in­dustriais e de serviços em toda a Gran­de Vitória, não houvesse um aumentoda demanda por alimentos advinda da

Com exceção da bovinocultu­ra, que aparece também em proprieda­des maiores (mais de 100 ha), e utilizaalguma tecnologia, as demais culturas- banana, café, milho, mandioca, arroz,etc. - têm uma dinâmica produtiva tra­dicional no que diz respeito à produçãode cunho familiar, ou seja, pequenaspropriedades (na maioria inferiores a100 ha) tocadas pelos braços da famí­lia, sendo o assalariamento esporadica­mente usado no plantio e na colheita,além de uma inexpressiva utilização detecnologia.

Uma atividade que realmentefoge a essa regra geral é a produção deolerícolas, que, embora produzidasem estabelecimentos não inferiores a30 ha, apresentam um grau relativa­mente alto de tecnificaçã02

. Este fatose justifica pela alta lucrativil:1ade atual­mente alcançada por esta cultura.

I Quantidade Produzida (em toneladas Área Colhida (ha)Produtos

1960 1970 1980 1985 1990 1992 1960 1970 1980 1985 1990 1992

Banana (1) 798.048 1.123.746 5.948 2.597 1.700 2.618 1.049 2.754 2060 2.615 1.551 2.453Café 533 250 151 486 390 439 1.498 298 294 665 280 430Mandioca 1.463 2.177 1560 2.095 764 2.870 300 307 189 488 664 245Arroz em C. 98 197 116 553 200 290 62 296 140 728 190 130Feijão 97 187 134 336 565 624 184 431 351 908 329 750Milho em G. 423 310 272 602 580 1.400 407 540 444 987 533 580Laranja (2) 16.987 18.211 2.983 4.306 1.541 1.840 273 87 119 590 40Limão (2) 312 - 1.067 3.040 385 1.360 - - - 66 1.592 46Leite (3) 7.299 1.766 2.413 4.718 4.499 5.447(4) - - - - - -

Fonte: IBGE /IJSN(1) Sua produção até 1970 é medida em cachos, a partir de 1980 em mil cachos.(2) Sua produção até 1960 é medida em centos, a partir de 1970 em mil frutos.(3) Sua produção é medida em mil litros, exceto em 1960, quando a unidade usada é o hl.(4) Foi utilizada a informação de 1991 por ser a última disponível.

Segundo dados do IBGE3, no renda gerada por esses setores. Entre-

sul da Grande Vitória são cultivados tanto, um aumento de população, comdesde 1960 praticamente os mesmos mais renda, evidentemente gera umaprodutos (banana, café, leite, mandio- pressão na demanda por alimentos. Aca, agrícolas, arroz, feijão e milho), questão então é saber por que o sul da NOTAS:

numa estrutura de terra pautada por Grande Vitória, especializado na pro-pequenas propriedades, com área nun- dução de alimentos - como leite, bana-ca superior, na maioria, a 100 ha, e na, hortaliças, mandioca, etc. -, não63% da força de trabalho é composta apresentou uma resposta via cresci-pelos produtores e seus familiares: a mento de sua produção através dos me-denominada mão-de-obra familiar. canismos imprescindíveis para tal,Neste caso, é importante frisar que, de como investimentos em tecnologia e1960 até 1985, essa ocupação familiar outros?

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ENTREVISTA

De Adelpho a Hartung

Num encontro de duas gerações, Adelpho Monjardime Paulo Hartung falam um pouco da arte de administrar

e revelam nesta entrevista que ambos têm em comumo carinho pela ilha de Vitória.

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O/itória OntemFilho do Barão de Monjardim e de D. Beatrice,

Adelpho Poli Monjardim nasceu em Vitória, tendo passadoa infância entre esta capital, a Fazenda de Jucutuquara ­hoje museu do Estado - e o Rio de Janeiro, onde seu paiatuava como deputado federal.

Celebrado atleta najuventude, em Vitória trabalhouno Bank ofLond and River Plate Ltda., foi corretor oficialde café e se dedicou ao jornalismo. Ajudou a jitndar aAssociação Espírito-santense de Imprensa, a Revista Cha­naan, o Anuário Norte-Sul do Brasil e O Saldanhista.

Foi tesoureiro da Prefeitura Municipal de Vitória erepresentante do chefe de Polícia do Distrito Federal. No­meado prefeito em 1955, exonerou-se dois anos após. Em

1958 concorreu novamente ao cargo de chefe do EJ.:ecütivode Vitória, por eleição, obtendo magnífica votação. Seuúltimo cargo político foi o de deputado estadual.

Detentor de vários prêmios literários de âmbitonacional, entre eles o Prêmio General Tasso Fragoso e oPrêmio Cultural do Exército Brasileiro, guarda várias con­decorações, entre elas a Medalha do Pacificador, do Exér­cito Brasileiro; Medalha Amigo do Batalhão Tibúrcio;Medalha do Mérito Tamandaré, da Marinha; Estrela daSolidariedade, do governo da Itália.

Foi membro de várias academias e instituições cul­turais do Brasil e do exterior.

-

Revista - O Senhor tem muito co­nhecimento da questão histórica deVitória, do bairro de Jucutuquara,mais especificamente. Como foi odesenvolvimento desse bairro?

Adelpho - Aquilo tudo pertencia a mi­nha família. A viúva de Vasco Fernan­des Coutinho, Luíza Grinalda ( e nãoGrinaldi) era portuguesa. No ano de1597 fez doação aos jesuítas do bairrode Jucutuquara. Até diziam "morrosmaninhos em forma de anfiteatros".Maninhos porque eram estéreis, ali nãodava nada.Por causa disso é que digo que aquelacasa, o atual museu de Jucutuquara,que estão dizendo que é do século pas­sado, não é. Os jesuítas receberam Ju­cutuquara em 1597. Aquela casa, omodelo, é dos princípios do séculoXVI. Era uma fazenda muito boa, im­portante. Tanto que Sant-I1er visitou afazenda por vol ta de 1817; foi hóspedede meu avô, que era dono da fazendaque pertenceu ao capitão-mor Francis­co Pinto Homem de Azevedo, que vema ser o meu bisavô. Sant-Iler, quandoesteve aqui e visitou a fazenda, fezelogios a ela, pois lá tinha de tudo. Essenegócio de creche parece que inicioucom eles. O meu avô, no tempo daescravidão, separava as escravas grávi­das para que não trabalhassem até ter acriança. Daí surgiram as creches.O Sant-Iler ia lá com o senador Ver­gueiro, eles foram exilados depois darevolução, em 1842, em São Paulo, evieram para Vitória. Sant-I1er era ocabeça da revolução. Tanto que na fa­zenda existia uma sela especi ai para elemontar, pois era coxo. Daí para frente

Jucutuquara veio crescendo. Hoje estádividido: tem o bairro de Lourdes eoutros.

Revista - Gostaríamos que o senhorfalasse um pouco sobre a fábrica detecelagem.

Adelpho - A tecelagem pertencia aLizandro Nicoletti. Foi nos princípiosde 1910. Na época do governo de Je­rônimo Monteiro ele brigou, a luz elé­trica dele, por isso, foi cortada. Elefazia um tecido azulão. Era ótimo. MasVitória não comprava nada. Então elevendia a produção toda para São Paulo.Os daqui só queriam aquele azulão.

Revista - Qual a origem do nome"Jucutuquara"?

Adelpho - É de origem indígena. Sig­nifica "olhos do buraco da pedra". Maso nome verdadeiro seria "pássaro doburaco da pedra".Tudo ali era terreno nosso. Depois quemeu avô morreu foi dividido. Começa­va em Maruípe. Tinha vários nomes:Muchiba, Terere, Gurigica e Maruípe,que era o nome da praia que hoje sechama Camburi. A baixada grande an­tigamente era uma salina, onde hoje éo campo do Rio Branco, que pertenceà Escola Técnica. A Ilha de Santa Ma­ria também era propriedade nossa.Havia um inglês, Mr. Beri, que possuíaem Maruípe uma casa grande, que ain­da existe. Hoje ela é alguma coisa dogoverno.Quando o Dl'. Américo tomou posse,em seu discurso ele dizia uma coisaque eu penso ter sido o primeiro planode desenvolvimento de Vitória.

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A estrada do Contorno foi feita por ele.Ninguém ia lá, não tinha transporte, iaa pé ou a cavalo. A estrada do Contor­no é que deu um grande impulso aVitória. Eu, quando prefeito, pretendiafazer ali um jardim zoológico, um jar­dim botânico.

Revista - O serviço de água e esgo­to, foi ele quem assumiu também?

Adelpho - Passou para a prefeitura, erado Estado.

Revista - Ele era médico?

Adelpho - Sim. Na época ele tambémpropôs fazer a erradicação das favelas.Isso era um plano antigo, como eu fiz,também, na Ilha do Príncipe. Ali eraterrível. Chamava-se Curva da Morte,porque aconteciam muitos desastres.A rua tinha 6 metros de largura, semcalçamento algum. A prostituição do­minava. O que eu fiz deixou o pessoalassustado, achavam que eu ia atrapa­lhar. Eu cheguei lá e disse: "Não, é ocontrário. Eu vou dar dinheiro a vocêspara construir outra casa". Assim eufiz. Acabei com tudo. Hoje a Ilha tematé casa de cimento armado de quatroandares. Naquela época era barraco depalha. Tinha uma célebre moradora:Maria Tomba Homem. Ah! era mulherdanada. Mas ela ficou minha amiga porcausa disso. Eu disse: "Estou dandodinheiro a vocês. Hoje vocês têm umbarraco, eu corto seu barraco e passopara trás. Mas depois vocês vão vendere por muito bom dinheiro, porquequem for construir tem que fazer casaboa. Senão a prefeitllra não dá licen­ça". Foi o que aconteceu.

Revista - Gostaria que o senhor fa­lasse da Vitória do seu tempo.

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Adelpho - Nasci na rua Henrique deNovaes. Naquele tempo era chácara.Não tinha nada, tudo aquilo era nosso.Depois que o Barão morreu nós vende­mos e dividimos o resto.

Revista - O senhor tinha quantosirmãos?

Adelpho - Éramos, ao todo, nove.

Revista - Depois da divisão, os ter­renos foram vendidos?

Adelpho - Cada um ficou com a suaparte. Aqui, na Barão de Monjardim,era meu. Fiz esta casa. O Novaes fez arua Henrique Novaes. E a nossa cháca­ra foi dividida ao meio.Eu nasci aqui. Com seis meses de idadetive tifo (Vitória era muito atacada pelafebre amarela) depois fui para Jucutu­quara. Meu pai era deputado federal.Aos seis anos fui para o Rio de Janeiro.Quando voltei, em 1915, Vitória eraum burgo. Apesar da avenida JerônimoMonteiro. Mas quem vinha do Rio deJaneiro para Vitória sentia muita dife­rença. A baía de Vitória não era comohoje. A baía era só aqui na frente. Ti­nha seguramente um quilômetro delargura. Depois foram sendo feitos osaterros. Não havia cais do porto, elecomeçou a ser construído em 1914, poruma companhia inglesa.

Revista - Era na guerra de 1914.

Adelpho - Foi justamente naquelaépoca. Eles pararam quando estavacom 100 metros de extensão. Nós atéjogávamos waterpolo ali. Depoisconstruíram os armazéns, ampliaram ocais. Nas segundas-feiras e guartas-fei­ras entravam os navios do Halo, eramnavios pequeninos, de duas ou três to­neladas. Nas sextas-feiras entrava onavio do Lloyd Brasileiro e Comérciode Navegação. Estes eram naviosmaiores. Hoje o porto de Vitória é onúmero um de tonelagem bruta.No governo de Florentino Avidos o

porto tomou um grande impulso. O Dr.Florentino Avidos fez obras grandesem Vitória. Ele foi um grande gover­nador. Depois veio o Bley, que gover­nou por 13 anos, também foi um bomgoverno, fazendo obras muito grandes.Ele fez um tratado de troca com a Po-

lônia. Fez o abastecimento de águacom esses tubulões de ferro.

Revista - O senhor teve alguma par­ticipação nesses governos?

Adelpho - Não, quem participou foimeu irmão Américo. Ele foi prefeito naépoca do Bley e saiu quando entrou oJones dos Santos Neves no governo.

Revista - A partir de quando o se­nhor começou a participar?

Adelpho - No governo de Chiquinho.Francisco Lacerda de Aguiar. Ele menomeou. Antes eu já havia sido convi­dado por Jones dos Santos Neves, masnão aceitei. O Chiquinho não pergun­tou se eu queria, nada. Me obrigou aser prefeito. Fui prefeito nomeado du­rante aproximadamente dois anos, de­pois me aborreci e me exonerei. Em1958 disputei a prefeitura. Fui o pri­meiro prefeito eleito de Vitória. Traba­lhei de 1959 a 1963.

Revista - Depois disso o senhor con­tinuou participando do governo?

Adelpho - Fui ser deputado estadual.Depois não fui mais nada. Quando saída prefeitura, em 1963, me aposentei.Já tinha sido prefeito, o que eu ia fazerna prefeitura? Nesse meio tempo o Fi­namore, que era secretário do Interior,muito amigo meu, me chamou paraficar à disposição de um prefeito quenão era meu amigo. Não aceitei.

Revista - Quais as suas principaisobras na prefeitura de Vitória?

Adelpho - Eu calcei mais de uma cen­tena de ruas, abri outras que não exis­tiam. Fiz a avenida da Ilha do Príncipe,um trabalho do meu governo que nin­guém tinha coragem de fazer. Ela erauma avenida sem calçamento, com 6metros de largura, esburacada, a Curvada Morte. O governo não pegava aqui­lo. Antes fiz a avenida César Hilal. Aprefeiturajá tinha gasto ali uma fortunae transformou aquilo numa lagoaenor­me. Quando fui nomeado fiz a avenidaem sete meses. Fiz a avenida PrincesaIsabel. Inclusive mudei o plano pro­posto. Não admito um engenheiro fa­zer um plano idiota igual aquele. Elepropu nha derrubar o Saldanha daGama e a avenida iria desembocar emfrente a outras três ruas: a Barão deMonjardim, a Henrique Novaes e aPrincesa Isabel. Teria desastre todo

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dia. E logo adiante havia duas ruasapertadas. Acabei com tudo isso. AJ eucoloquei a avenida cortando reto nasubida do Forte São João. Calcei maisde uma centena de ruas em Vitória e fizoutras. As avenidas de Vitória quemcomeçou a fazer fui eu.A iluminação pública era feita comlâmpadas de casa comum. Entre umposte e outro havia uma distância de 25metros. Não iluminava nada. Coloqueiluz f1uorescente. Foi um sucesso. Naavenida da Capixaba, a praça CostaPereira era considerada a mais bemiluminada do Brasil. Eu fiz uma ilumi­nação feérica; os viajantes comerciaisiam para a praça ler suas cartas. Ocalçamento moderno é meu, tudo quetem de moderno foi feito por mim, coma prefeitura mendiga. Mas o que eupodia fazer? Tivesse eu o dinheiro des­ses homens! Hoje existem bilhões. Omeu orçamento na prefeitura foi de386 milhões, no fim da minha adminis­tração.

Revista - Se o senhor tivesse essesbilhões, faria o quê?

Adelpho - Acho que faria uma Vitórianova. A idéia que eu tinha era essa. Erao meu trabalho, o meu maior prazerera poder calçar uma rua. O asfaltocom ci men to armado é obra minha. Hámais de 30 anos foi feita a avenida daIlha do Príncipe, e o asfalto continuasem que nada tenha sido mudado. Oasfalto da avenida César Hilal tambémnunca foi mudado. O da avenida Vitó­ria também.O arranha-céu é uma obra que conside­ro de grande importância. Se o arra­nha-céu não existisse, Vitória não teriaa população que tem hoje. O que dástatus a uma cidade é o arranha-céu.Toda cidade rica tem. Ele passa umaimpressão boa. A esplanada da Capi­xaba é a fotografia de Vitória. Ela éuma beleza, realmente muito bonita.Quem é que vai construir casa pequenacom o preço em que está um terreno?De vez em quando alguém me pergun­ta: se eu fosse prefeito o que eu fariaem Vitória? Eu mudava o gabarito dacidade toda. Colocava arranha-céu. Éassim em todas as grandes cidades.Aquele gabarito para a praia de Cam-

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buri é ridículo - uma praia de 5 quilô­metros, uma coisa maravilhosa, fazemprédios de três, quatro andares. Primei­ro fizeram um gabarito alto, porque osujeito era o dono do terreno. Depoiseles obrigaram o sujeito a isso. O quese vai fazer? Um amigo meu queriaconstruir um hotel de luxo para turista,tem que ser um hotel de dez a dozeandares. O sujeito não vai gastar umafortuna para construir um hotel de trêsandares. Onde se viu isso? É uma coi­sa que eu reclamo.E se eu não fosse prefeito, naquelaépoca, a Serra teria tomado Goiabei­ras. Ela tomou um gostinho, porqueVitória estupidamente entregou doisdistritos enormes de mais de 200 qui­lômetros quadrados, que eram os deCarapina e Queimados. A própria Ser­ra era de Vitória. Vitória 'fez Viana eCariacica. Tudo isso foi tirado de Vi­tória. Eles fizeram até protesto. Se al­guém tinha que protestar era Vitória.Os outros não eram nada. Teve umaépoca em que Vila Velha também foiagregada a Vitória. Foi nesta mesmaocasião. Vila Velha era menor que osdois distritos que nós temos. E Vi laVelha não veio toda para Vitória, foiuma parte de Viana.

Revista - Em que período?

Adclpho - No tempo do Bley, na dé­cada de 40. Eles tiraram Vila Velha deVitória, e, além disso, ficamos sem aSerra. Resultado: hoje Vitória é o me­nor município do Brasil. Depois Serratomou o gostinho e também queria ti­rar Goiabeiras. Se eu não fosse depu­tado naquela ocasião, Vitória teriaperdido. Resultado: Serra vai ficar fi­nanceiramente superior a Vitória.Tudo que tínhamos para fazer a parteindustrial ficou com a Serra. Eu fiqueicontra, ficaram danados comigo. Meameaçaram de morte. Queriam fazermeu enterro.A maior coisa que eu fiz na minhaadministração foi equiparar o venci­mento do aposentado ao do servidor daativa. Foi a primeira experiência doBrasil.Só recentemente o governo fe­deral decidiu hlzer o que já havíamosfeito em 1956.

Revista - Nessa briga pela defesa doterritório de Vitória, da qual o se­nhor participou enquanto deputadoestadual, quais os grupos que fa­ziam politicamente a defesa do ter­ritório da Serra?

Adclpho - A família Castelo. Tantoque um dia a dona Judith Castelo faziaaniversário e passei-lhe um telegrama.Ela me respondeu que estava por de­mais sentida comigo. Eu disse que nãoestava fazendo nada contra ninguém,estava defendendo a cidade. Vitóriapertence a todos os municípios. Nãoestava fazendo isso por bairrismo. Nãosou idiota. Eles tomaram Vitória por­que descobriram que havia um juiz quenomeava delegado tal, não tinha ne­nhum valor jurídico. Se alguém temalguma coisa a reivindicar é Vitória,pois a Serra saiu de Vitória.

Revista - Qual era a divisa?

Adclpho - Tinha o Mestre Álvaro, mastudo isso era montanha natural ou umrio ou uma serra. Como era tambémfeito com Minas Gerais antigamente.Mas nada disso valia no governo anti­gamente. O que valia era o poder deles.Minas Gerais tomou um pedação doEspírito Santo, Bahia tomou outro. Éum absurdo. Naquele tempo a Capita­nia do Espírito Santo não se limitavacom a da Bahia. Havia duas capitaniasentre o Espírito Santo e a Bahia, umaera Porto Seguro e a outra esqueci onome. O rio Mucuri era um rio cauda­loso, eles nos jogaram num regato quenem figura no mapa, era um córrego.É o poder. A bancada do Espírito Sa~toera composta de quatro deputados. ABahia tinha dezenas, era uma dasmaiores. O Espírito Santo foi roubadode maneira estúpida.

Revista - Como era a coleta de lixona sua época?

Adclpho - O lixo sempre causou preo­cupação na prefeitura. Hoje ele estásendo comercial izado. Mas de primei­ro não existia nada disso. Nós procurá­vamos zonas para aterrá-lo. Muitomangue foi aterrado com o Iixo. Quasetoda a área da Ilha do Príncipe foiaterrada assim. O lixo era, como sem­pre, uma fonte de recursos. As pessoaspobres iam para lá e catavam. Um diafui lá, eu era prefeito, e conheci umapreta velha que ganhava uns bons con-

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tos de réis por dia catando lixo. Nessesbanquetes que eram dados sobravamuita coisa boa. Um dia encontraramaté um revólver novinho em folha emcaixotes usados para proteger a merca­doria.Eles brigavam para tirar o lixo.Era umaluta. A Ilha do Príncipe era nosso de­pósito de lixo, depois fomos colocá-loperto da estrada do Contorno. Causouaborrecimento. Tinha gente que pro­testava por causa do lixo. Iam colocan­do o lixo e completando com terra parafazer o aterro. De forma que o lixo foiuma preocupação constante da prefei­tura. Certa vez fui a São Paulo para vercomo funcionava a usina para queimarlixo. Era um processo muito caro, anossa prefeitura não podia agüentar.Agora o Vítor conseguiu fazer isto. Jáé uma fonte de renda. Fazem papelpara a imprensa, etc. O lixo sempre deutrabalho, mas ele estava fora das pos­sibilidades financeiras do município.

Revista - Toda cidade foi aterradacom lixo?

Adclpho - Não, algumas partes. Emalguns lugares eles iam buscar areiaemalto-mar. Eles queriam aterrar a PraiaComprida e Praia de Santa Helena. Nomeu tempo de prefeito eles quiseram,eu não deixei. Já havia, naquela época,um projeto. A única beleza turísticaque nós tínhamos era a Praia Compri­da. Eles aterraram. Eles já tinham feitoaté lotes. A gente não tinha nada comisso, não somos donos da praia. Erauma negociata que eles queriam fazer.E eu não deixei. Depois eles fizeramum aterro. Era uma draga muito forteque pegava areia no alto-mar e vinhajogar aqui. Era com isso que eles ater­ravam Vitória. Costumo dizer que ovitoriense é o holandês do Brasil. Elesconquistaram o mar. Vitória é muitopequena, apertada. A baía de Vitórianaquele tempo tinha I quilômetro delargura. Fazia uma volta do outro ladoe em Vitória também. Hoje o porto deVitória é um corredor.

Revista - O Senhor tem notícia deum forno crematório que foi cons­truído em Santo Antônio, em 1928?

Adclpho - Penso que esse forno ficousó no papel. O Iixo nesse tempo serviapara aterrar mangues.

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Revista - O município tem arquivosdesta data?

Adelpho - Sim, ao menos no nossotempo tinha. Todo ano a munieipalida­de publicava doeumentos. Deve tersido um trabalho de Alvimar Silva. Elefez um trabalho sobre a história doEstado, do Vasco Fernandes Coutinhoao Dr. Amérieo Poli Monjardim. Nãosei se ele chegou a publ icar. Alvi marSilva era um poeta, suicidou-se.No tempo em que o Américo era pre­feito, a prefeitura fazia uma con ferên­cia todo mês. Escritores daqui faziamuma conferência. Todo mês, um faziao trabalho que era publicado pelo jor­nal A Tribuna. O meu trabalho sobreVitória foi atrapalhado. Isto em1939/40. Eu lú sobre O Estragar doTempo. Tinha outro que queria passarna minha frente. estragou o meu traba­lho e o dele. Este documento existen'A Tribuna daquele tempo. O Dr.Eurides Queiroz do Vale foi um dospnmelros a escrever.

Revista - E este documento conti­nha o quê?

Addpho Ele falava sobre Vitória. Eu,por exemplo, falei sobre Vasco Fer­nandes Coutinho.

Revista - O senhor poderia fazeruma retrospectiva sobre a atuaçãodos antigos governadores e umacomparação com os atuais?

Adelpho - Destaco Jerônimo Montei­ro, Sílvio Avidos, Nestor Gomes,Bley. O meu pai foi o primeiro gover­nador do Espírito Santo. Mas naqueletempo não tinha coisa nenhuma. O quemais se distinguiu foi Muni/. Freire.que foi um grande governador. Fezgrandes obras, como a estrada de ferropara o Rio de Janeiro.Antigamente a vida cultural de Vitóriaera muito rica. Havia uma quantidadeimensa de jornais que saíam com muitafreqüência. [:ram jornais pequenos.Hoje, no Espírito Santo o governo nãoprestigia a cultura. Eles acham que oescritor é alguém que não tem o quefazer. aí vai escrever. Como se escre­ver fosse coisa para qualquer um. OEspírito Santo é o único estado que nãotem representante na Academia Brasi-

leira de Letras, entretanto Alagoas eSergipe têm.Um dos membros da Academia Brasi­leira de Letras, exercia também o car­go de inspetor na área cultural evisitava ginásios para fazer exames,ver se estava tudo bem. Certa vez eleveio a Vitória e trouxe consigo umamoça loira, bon itona, para fazer exameaqui e passar. Ela não sabia nada. Aquiele encontrou o professor Jonas Mon­tenegro, que era um homem danado,tinha um grande talento, e era profes­sor de português. Ela logo brigou comele, foi uma coisa séria. O governo atéameaçou tirar o doutor .Jonas, mas adefesa dela era nula, não sabia nada. Oinspetor então ficou furioso e escreveuo seguinte: "a literatura do EspíritoSanto é uma página em branco". Issonão era verdade. Já naquele tempo tí­nhamos Afonso Cláudio. que é autordo Código Civil, o Graciano Neves,Peçanha Pól vora e outros mais. O Es­pírito Santo ti nha gente importante.Mas a Academ ia Brasileira de Letrasnão tem mais o valor que ti nha. Hojenão é o mérito que prevalece, é a posi­ção, é o presidente da Repúbl ica quenomeia, é o ministro. O Espírito Santonão protege, ao contrário, põe entra­ves. Aqu i uma senhora, que já morreu,escreveu uma obra. Essa obra inclusi­ve está comigo; fala sobre a história deVitória no princípio do século.

Revista - Quem é esta senhora?

Adelpho - Edite Guaraná, filha do ge­neral Guaraná, um dos heróis da guerrado Paragu~:i. Ela procurou o então go­vernador Eleio AI vares para publ iearsua obra. Ele prometeu ajudá-Ia e nãofez nada. Por isso está na minha mão.Eu vou tentar publicar através da LeiRubem Braga. Ela fala sobre aquelesrapa/.es do princípio do século, queagora já estão mortos, fala sobre a re­gata em Vitória, sobre a história dealguns galãs. muitos deles já morre­ram.

Revista - A biblioteca da família dosenhor está dispersa?

Adelpho - Quem tem sou eu. Querodeixá-Ia para o Ítalo Brasileiro; clubeque ajudei a fundar. Tenho 22 livros

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publicados, mas aqui ninguém me co­nhece. Acho graça que fazem relaçãode escritores capixabas, o meu nomenão aparece. Cada lista tinha 20 no­mes, eu nunca figurei. Figurou RaulAzevedo, que nunca escreveu coisa ne­nhuma, era dono de uma casa de ferra­gens. Alguém comentou eom o autor,ele fez nova listagem e fiquei no fim.Eu então dizia: "Sou porteiro: quandovoeês aeabarem, eu varro a easa, feehoa porta e vou para casa".Nessa época eu era tesoureiro da pre­feitura. Determinado dia, quando che­guei em casa, recebi um telegrama meconvidando para apresentar VirgíniaTamanini no teatro. Quer dizer, paraessas coisas eu servia. Então eu disse:"Dona Virgínia, não vou fazer nada,não sou nada. Tudo bem I" Ela, furiosa,não tomou conhecimento da apresen­tação.Já mandei livros para o Nejar, da Aca­demia de Letras, e ele nunca me res­pondeu. Para tantos outros já mandeimeus livros e me responderam, meagradeceram. Qualquer pessoa que es­creve recebe o nome de escritor, e ci­tam como escritor um camarada quenão é nada. ]~ por isso que nós doEspírito Santo não somos bem vistos.Eu escrevo porque gosto, para mim éum hobby.

Revista - O senhor tem algum traba­lho que ainda não foi publicado?

Adelpho - Sim, um que está na editorapara ser publicado faz muito tempo. Te­nho outro que quero mandar publicar,que é sobre a América: Voz da América.Fala sobre nosso escritor Euel ides daCunha, autor de Os Sertões, sobreCuba, México. É um livro histórico.Certa vez, entrei num concurso impor­tante do Exército brasileiro. Ganhei oconcurso, em 1966, eles publicaram 15mil exemplares. O prêmio recebi noPalácio da Guerra, uma coisa muitobonita. O ministro da Guerra me man­dou um ofício para que eu entrasse emoutro concurso cultural do Exército.Eles me consideravam um dos escrito­res do Brasil. Aqui não me consideramnada. Aqui ninguém convida ninguémpara entrar em concurso. Eu tive doismeses para elaborar o livro do Exérci-

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to, até mudaram o título que eu ia dar:O Exército visto por um civil. O livrotinha quase 300 páginas, e fiz nestepequeno espaço de tempo.

Revista - E sobre a história do muni­cípio de Vitória?

Adclpho - Escrevi sobre a história fí­sica. Fui premiado pela Câmara dosVereadores, em 1951.

Falo dos aspectos físicos e históricosde Vitória e do Espírito Santo, commapas antigos, algumas fotograficas,dei nomes às montanhas ...Foram pu­blicados apenas mil exemplares.

Revista - Que outros prêmios o se­nhorganhou?

Adelpho - No Espírito Santo não entroem concurso nenhum, pois sei que, sepegarem livro com o meu nome, elescortam, como fez o prefeito, de VilaVelha. Eu não queria participar do con­curso, mas escrevi. Eles leram e muda­ram. Até o Dr. Cristiano Fragaprotestou. O que escrevi não podia en­trar. Não é que os miseráveis fizeramisso? Eu no décimo lugar, outro nooitavo. Foi para machucar.

Revista - Isso aconteceu na admi­nistração de quem?

Adelpho - Do Solon Borges. Mas elesnunca publicaram o vencedor. Disse­ram que era uma moça de Minas Ge­rais. Eles têm um prevenção muitogrande contra mim. Mas estão me fa­zendo um elogio sem saber, porque, seeu não valesse nada, eles publicariam.Nós, aqui, na parte cultural temos mui­to a desejar.

Revista - Como era o carnaval emVitória?

Adelpho - Era bom. Havia grupos car­navalescos. Aqui na Capixaba haviaum também. A gente ia vê-los treinar.O carnaval era à noite; os automóveispassando, as pessoas jogando serpenti­na. Eu gostava disso para namorar,apesar de não participar. No ParqueMoscoso é que era ideal, com lança­perfume e com as moças. Era interes­sante. Havia diversos clubes, os"pastinhos" - homens vestidos de mor­cego, com capa preta - muito bonitos,que cantavam assim: "O nosso presi­dente, que estudava pierrô chuverio de

prata ". Era engraçado. E canta-vam com muito entusiasmo.

Revista - E onde o senhor estudou?

Adelpho - Fui para o Rio analfabeto.Lá aprendi a ler em 15 dias; era aquelacartilha da tinta sardinha, no GinásioCruzeiro. O diretor era o cônego Osó­rio, um padre muito severo.

Revista - Até quando o senhor estu­dou lá?

Adelpho - Até voltar para Vitória, em1915. Entrei então no Ginásio EspíritoSanto, que ficava na Capixaba. Era umgrande colégio, com professores muitobons. Quis seguir a carreira no bancoinglês, foi um erro. Eu não dava paraISSO.

Revista - Com quantos anos o se­nhor começou a trabalhar?

Adclpho - Com 16 anos. Depois entreipara o jornalismo. Não era empregado.Trabalhei em A Gazeta e A Tribuna.As minhas matérias saíam nas quartas­feiras, na primeira página de A Gaze­ta, no tempo em que A Gazeta era doThieres Veloso, eu gostava muito. Mesentava na mesa com dois amigos: Al­meida Cuzen, poeta e professor - gos­tava do comunismo - e Carlos Madeira,que tinha simpatia pelo integralismo,apesar de não fazer parte.

Revista - E o senhor?

Adclpho - Eu não gostava nem docomunismo nem do integralismo.

Revista - Era liberal?

Adclpho - Sim. Eu defendia nessetempo a briga da Itália contra aAbissí­nia. Eu era a favor da Itália, porque orei da Abissínia mandou para o rei daItália uma fila enorme de orelhas dossoldados que eles matavam, entre ou­tras coisas bárbaras que faziam. E real­mente a Itália ganhou.

Revista - O senhor chegou a sair doBrasil?

Adclpho - Não. Nunca tive tempo paraisso. Uma vez recebi um convite deBaltimore, cidade dos Estados Unidos,mas eu não podia deixar Vitória. De­pois também esteve aqui o embaixadorda Alemanha, ele era arquidófilo, e eulhe dei de presente três orquídeas raras,ele ficou encantado. Me convidou parair à Alemanha.

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Revista - Ent~~~c~o um pouco na suavida pessoal;M~ii.$>enhor teve um lon­go namoro com dona lolanda, não?

Adelpho - Muito longo, seguramentequarenta e tantos anos. Mas eu nãopodia casar, tinha muitos compromis­sos, atrapalhado da vida. Fui sócio deuma firma que me deu um prejuízoimenso.

Revista - Firma de quê2

Adelpho - Comércio'p~t;i.rrieiro come­çamos com represe~%~~ão. Mas nãodeu certo. Eu assumiaresponsabilida­de, levei 20 anos pagando a dívida doque não comi, nem bebi. Não podiafazer nada, fiquei aqui lutando comoum leão para me sair bem. Graças aDeus saí do atoleiro. Na minha firmasó tinha passivo. Isto foi em 1939, umtempo terrível, quando a Bolsa de NewYork quebrou. As casas importantesde Vitória faliram. Com o passar dotempo, esbarrei com o doutor JoãoTomé (advogado) lá na alfândega; eleentão me disse: " Ó menino, eu estavana Europa, se eu estivesse aqui vocênão teria feito o que fez. O que vocêfez me honra muito, mas você foi mui­to burro". Achei mui ta graça. Eu sabiao que era uma concordata, mas nãoqueria fazer nada disso. Fiquei a zero,vinte anos.

Revista - E a dona lolanda do ladodo senhor?

Adclpho - Eu me dava muito com afamília de Iolanda, ela era muito retraí­da. E eu tinha outros compromissosque não podia deixar. São questões deconsciência.

Revista - O senhor casou-se em1992?

Adelpho - Sim, em 15 de outubro de1992. Eu queria fazer tudo escondido,só com a família dela e o pessoal de

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casa. Quando entrei na Catedral de Vi­tória, havia algumas pessoas e o padretambém não podia realizar a cerimô­nia, porque não era o pároco da igreja.Quando saí, em frente da Catedral es­tava a televisão, os fotógrafos. O queeu não queria aconteceu. A casa ficoucheia, havia uma recepção. Foi bom,vieram muitos amigos. Gostei.

Revista - O senhor foi remador?

Adelpho - Fiz tudo.

Revista - O senhor foi o fundador doSaldanha?

Adelpho - Não. O Saldanha é maisvelho do que eu, ele é de 1902. Foifundado por um grupo grande.

Revista - E o Clube Vitória é maisantigo?

Adelpho - Não. O Saldanha é mais.Mas o Clube Vitória era muito bom,não era qualquer pessoa que entrava. OSaldanha também.

Revista - Que esportes o senhor pra­ticou?

Adelpho - Boxe. Qualquer homemforte que aparecesse em Vitória ia parao Saldanha. Certo dia, apareceu deter­minado japonês, de musculatura boni­ta. E ele fez lá uma série de exibiçõesno palco. No dia seguinte, era domin­go, eu estava no Saldanha, quando elelá apareceu à minha procura. Todo ho­mem forte ia bater lú, principalmenteda marinha. O japonês então quis ex­perimentar força comigo. Fizemos di­versas experiências, ganhei todas.

Revista - Além do boxe, que outrosesportes o senhor praticou?

Adelpho - Remo, fui campeão de wa­terpolo, natação, levantamento depeso, futebol. Tenho uma marca nacanela até hoje. Passei um ano fazendotratamento. Eu estava jogando numpântano, num capim ruim, quando ummiserável deu uma chapa; de propósitoele meteu a chuteira na minha perna.Quase que precisei raspar um osso.

Revista - O senhor é um liberal deorigem nobre.

Adelpho - Isso é muito ruim para mim.Há muita prevenção. É apenas um título.Minha mãe também era de origem no­bre. Ela era filha de um conde italiano.

Revista - Qual família?

Adelpho - Poli. Ele chamava-se Bar­tolomeu Poli. Uma família importante,mas que também se arruinou, não quismais ficar na Itália e veio para cá. Mor­reu aqui, de febre amarela. Minha mãetambém teve febre amarela e tifo. Umacoisa em cima da outra. Mas conseguiuse salvar.

Revista - A sua família era republica­na?

Adelpho - Não, era monarquista. Foiaté uma coisa interessante. A Repúbli­ca tinha aparecido naqueles dias, e na­quela época as pessoas cantavam nasportas (agora não existe mais). E foramà casa cio meu pai, e ele dizia: "MeuDeus, que loucura!" Eles cantavamque meu pai ia ser presidente do Esta­do. Meu pai era monarquista, mas tam­bém não fez nada contra a República.Mas não é que a música era verdade?Meu pai foi o primeiro governador doEspírito Santo. Depois ele foi deputadofederal.

Revista - Qual era o nome completodo seu pai?

Adelpho - Alfeu Adelpho de AndradeAlmeida Monjardim.

Revista - A sua família era abolicio­nista?

Adelpho - Sim. Meu pai liberou todosos escravos dele. E eles ficaram lá.Meu pai e meu avô eram muitos bons.As moças que ficavam grávidas nãotrabalhavam, elas tomavam conta dascrianças.

Revista - Nessa época a sua famíliajá morava na fazenda, mas já existiaa vila de Vitória. Não havia esgotonas casas do centro da cidade.Como era a situação do esgoto?

Adelpho - Eles levavam os dejetos embarris para jogar no mar. Havia os car­regadores. Até que um dia um barrilabriu e derramou a sujeira na chácarade meu pai.

Revista - Esse barril era chamado detigre. Por que?

Adelpho - Por causa do mau cheiro,

Revista - Era feito de que?

Adelpho - Era barril de vinho, de qual­quer coisa.

Revista - Os dejetos eram jogadosno mar?

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Adelpho - Em qualquer canto. Podiaser na cidade, na Capixaba. Naqueletempo tudo aquilo era um deserto. Ti­nha o cais, na Praça Oito.

Revista - E esses carregadores dedejetos eram funcionários do muni­cípio?

Adelpho - Deviam ser. Naquele tempoa prefeitura chamava-se Conselho deIntendência.

Revista - O senhor citou o AlvimarSilva e a dona Edith. O senhor co­nhece outras obras sobre Vitória?

Adelpho - O Bemon. Esse eu conheço.Ele contava muita mentira, era desleal.Não sei por quê. Naturalmente era con­tra a família Monjardim. Ele não erapropriamente historiador. Ele anotoudatas e disse o que aconteceu.

Revista - O senhor acompanhou ahistória do bonde, em Vitória?

Adelpho - Quando fui para o Rio deJaneiro, o bonde era puxado por bur­ros. Quando os trabalhadores faziamgreve, colocavam feixes de capim nomeio da estrada. O burro parava paracomer. As greves deles eram assim.

Revista - Depois de quanto tempoveio o bonde?

Adelpho - Parece que em 1912. Em1910, quando fui para o Rio, o trans­porte ainda era feito por burros.Quando voltei, Jerônimo Monteiro játinha instalado luz elétrica. O bonde iaaté a Praia Comprida e saía de SantoAntônio, na altura do cemitério. E naPraia Comprida a linha passava próxi­mo à casa do Lemond, gerente do Ban­co Inglês, na avenida Saturnino deBrito, que era última rua do bairro. Delá em diante era mar. Depois aterraram.Certo dia me perdi lá, não consegui ira casa de quem eu queria.

Revista - Quando começou a chegarcarro aqui?

Adelpho - Quem teve o primeiro CUlTO

aqui foi André Carloni, em 19 18. Era umFord Bigode. Nesse mesmo ano foi cria­da a Lei N° 1213, e com base nessa leiconstruiu-se a primeira estrada para au­tomóveis, ligando Vitória a Serra. Sóhavia o carro de André Carloni.Tinha outra estrada também nessadata, liganclo Vitória a Santa Leopol­dina, foi o Novaes quem fez. Depois

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ligou Santa Leopoldina a Santa Teresa,que era uma coisinha pequena. AcabouSanta Teresa matando Santa Leopoldi­na. Santa Leopoldina pertencia ao mu­nicípio de Vitória.

Revista - Que repercussões teveaqui a morte de Getúlio Vargas?

Adelpho - Provocou um crime logo deinício. Eu não gostava de Getúlio Var­gas. Ele trouxe muita coisa ruim paranós. Ele criou a rivalidade entre o ope­rário e o patrão. Embora tenha criadooutras coisas boas.O Gregório, aquele sem-vergonha, queera seu guarda-costas, escreveu sobrea vida íntima de Getúlio Vargas, falan­do sobre as amantes que ele tinha. Elefoi assassinado na detenção. Era umatrevido. Quando ele veio aqui comGetúlio para uma solenidade, ele deuuma canelada em Jones dos S~ntos Ne­ves. Fez isso também com o Agame­non, de Pernambuco.Por que Getúlio não fez igual a Kubis­tchek, que andava pela rua sozinho,sem guarda? Meu sobrinho um dia ialevar uma carta para Getúlio, no Cate­te. Então avisaram para ele: "Você levaa carta na mão, que, se enfiar a mão nobolso, eles te fuzilam!" Naquelas árvo­res havia vários guardas escondidos.Não precisava disso, ele era o ídolo dopovo, mas vivia escondido.Eu era do PTB, fui eu quem fundou o

partido aqui, mas, sem querer. Eu esta­va na tesouraria e chegaram SaturninoRangel Mauro e outro rapaz da Vale doRio Doce. Eles falaram: "Adelpho,nós queremos criar o partido, mas pre­cisamos de uma pessoa de repre­sentação social para assinar nocartório". E fui eu. E teve um telegra­ma do prefeito do Rio de Janeiro, queera uma homenagem que o operariadoqueria me prestar, eu ia ser senador.Candidato a senador, faltando 15 diaspara a eleição, concorrendo com o can­didato do governo, o senador AtílioVivacqua, e com o doutor Novaes, euentão pensei que não ia adiantar nada,mas, como era uma homenagem ...Também havia vaga para deputado fe­deral, mas quiseram me dar a de sena­dor. Na eleição eu tive 7 mil votos e

Getúlio 12 mil. Resultado: o outro, quepensava que ia fazer muita coisa, teve1.500 votos.

Revista - Em que ano o senhor foideputado estadual?

Adelpho - Em 1963.

Revista - Foi contemporâneo dedona Judith Castelo?

Adelpho - Não. Ela foi antes.

Revista - Ela foi uma das primeirasmulheres na política capixaba?

Adelpho - Sim, foi a primeira. Ela foiapoiada pelo irmão, Rômulo Castelo.Depois ele morreu e ela não se elegeumms.A política sempre foi suja, agora amesma coisa. Não está vendo o escân­dalo da construção do prédio da As­sembléia? Isto é um absurdo. Quefaçam outro prédio, porque aquele nãovale nada. Aquilo foi uma igreja anti­ga. Ali embaixo eles enterravam ospadres. Tanto que agora descobriramuns ossos. No meu tempo, quando en­trei eles tinham consertado. O governoera dono de todo aquele quarteirão. Esugeri para fazer ali um grande prédioque abrigasse todas as secretarias e ogoverno transformasse o Palácio nummuseu. O casario da Assembléia podiaser transformado em palácio.

Revista - E o salário de deputado?

Adclpho - É astronômico. No meutempo não era assim.

Revista - Para o senhor, que foi pre­feito de Vitória e deputado, qual se­ria a obra prioritária hoje?

Adclpho - O Estado deveria fazer umagrande reforma na parte social. Estãomargi nal izando coisas importantes,como a educação. Não aparece ne­nhum prefeito que faça isso. Duas coi­sas que, se eu fosse prefeito, faria: aeducação, principalmente a primária(os professores deveriam ser muitobem pagos, hoje eles têm quase o mes­mo salário de uma empregada domés­tica) e a polícia. Eu também faria umareforma grande na polícia. O soldadode polícia precisa ser um sujeito muitodecente. Na Inglaterra, basta dizer quealguém é policial que todos respeitam.É um homem íntegro. Aqui não. A

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polícia é mal remunerada. Eles estãojogando com a vida todo dia. Eu fariaisso. Educação e segurança. O profes­sorado ganharia muito bem. Hoje éuma vergonha. Será que não existe umgoverno nesta terra? E os deputados evereadores determinam o seu próprioordenado!

Revista - O que o senhor tem a dizerdos últimos governadores?

Adelpho - Eu não distingo nenhumdeles por coisa nenhuma. O Élcio Ál­vares deu início a uma grandeque é a ponte que ligaVelha. O Rezende não fez nada. Rece­beu 400 milhões para essa obra e apli­cou em outras coisas, fez rua .nointerior, parou a obra durante um tem­po enorme.

Revista - Que obra o senhor consi­dera importante na atual administra­ção?

Adelpho - O Paulo Hartung está indomuito bem, está mexendo com a edu­cação. Recentemente ele esteve aqui,ele vai dar o meu nome à bibliotecamunicipal. É uma pessoa cOl·data. Abiblioteca é uma obra importante, épara instrução do povo. Ali estão todasas ciências; a biblioteca é um lugar desaber.Tivemos também uma boa administra­ção com o Vítor Buaiz, foi tambémexcelente prefeito, teve boas posiçõesem relação ao funcionalismo, ele sem­pre procurou administrar da melhorforma possível.

Revista - Se o senhor fosse hoje ogovernador eleito, qual o assuntoque teria prioridade, diante de tan­tos problemas de infra-estrutura,como saúde, educação, transportee outros?

Adelpho - A educação, a situação dointerior do Estado, escolas que é o prin­cipal. Destaco também uma frase deum general francês - "governar é abrirestradas". E é uma verdade, eu fariaisto também. E, nos trabalhos, mantera honestidade absoluta. Porque o di­nheiro destinado para obras deve irpara obras, alguns gastam um pouqui­nho, outros já pegam tudo e põem den­tro do próprio bolso.

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Vitória J{ojePresidente do DCE, deputado estadual, deputado

federal e atual prefeito de Vitória, assim milita na políticao economista Paulo Hartung.

Dinâmico, eloqüente e político, Paulo Hartung dá ascartas neste depoimento à Revista llSN. Nos cargos públi­cos, alcançados por um carisma próprio, Hartung constróisua vida política e se torna figura importante no pólo dedecisões das questões políticas do Espírito Santo.

O político Paulo Hartung já nos concedeu algumasprovas de habilidade e visão, ocasiões em que ficou patenteque nessa arte ele dificilmente se engana.

Neste depoimento ele faz uma avaliação minuciosado seu momento como prefeito de Vitória.

O prefeito aposta que investir na qualidade e noplanejamento estratégico é a melhor maneira de adminis­trar com competência.

Emjaneiro de 1993, Paulo Hartung assumia a Pre­feitura Municipal de Vitória. A Revista llSN conseguiuneste depoimento do prefeito uma retrospectiva da suaadministração. Aqui o leitor vai sentir e saber como andamas coisas na Prefeitura de Vitória, nesse período de um anoe dez meses. Confira conosco e veja o que diz o prefeito:

Tomamos posse em janeiro de1993. Em seis meses de trabalho con­seguimos o reequilíbrio orçamentário.Para isso, a primeira providência foibuscar uma contribuição importante dacidade através da arrecp.dação doIPTU. Ter contas saneadas transcendea importância já significati va da obri­gação de gastar dentro dos limites quese arrecada. Com isso a cidade tevedois outros ganhos, que são inestimá­veis. O primeiro foi o barateamentodas obras públicas; quando se pagaaos fornecedores e às empresas con­tratadas em dia eles realizam obras eprestam serviços mais baratos. Umasegunda coisa importante é que vocêelimina o tráfego de influência no setorpúblico, alguns pagamentos estão sen­do feitos direto na rede bancária, asempresas contratadas sequer precisamvir à prefeitura.

A segunda providência foi adescentralização. A primeira medidanesse sentido foi mudar para outro pré­dio algumas secretarias que funciona­vam aqui no prédio central.

O outro momento foi o de for­talecer, particularmente a partir de1994, algumas estruturas criadas nopassado e que estavam fragilizadasquando assumimos a prefeitura, basi­camente as chamadas regionais deobras, criadas durante o governo Cri­sógono Teixeira da Cruz, e as regionaisde serviços urbanos. Conseguimos ter­ceirizar os serviços de algumas regio­nais de obras, dando maior velocidadee resolutividade aos pequenos proble­mas das comunidades que são apresen-

AÇAOINTERNAtados à prefeitura. A nossa filosofia éfazer com que o cidadão não precise sedeslocar do seu bairro, da sua região,para fazer a sua reclamação ou apre­sentar a sua reivindicação, mas que elepossa fazer isto na própria regional deobras ou na regional de serviços urba­nos, que funciona unificada através deum sistema de rádio ou do telefone,como é o caso do ligue-lixo, que atendenão só a limpeza, varrição, coleta delixo, mas também aos serviços de ilu­minação da cidade.

Qualidade totalOutro ponto importante é a im­

plantação do plano de qualidade totaldentro da prefeitura. A Prefeitura deVitória foi a primeira do Brasil a im­plantar um programa de qualidade, ehoje já alcançamos uns cem númerosde avanço nessa área, treinamos maisde 4 mil servidores, quase a métade doatual número de funcionários. Um tra­balho importantíssimo que tem melho­rado muito a qualidade dos nossosserviços. Só para dar um exemplo, umalvará de empresa, que no início quan­do tomei posse demorava em torno de30 a 35 dias para ser expedido, hojeele é feito em 5 dias, muitas vezes em3 dias. Esse foi um trabalho feito pelogrupo de qualidade da prefeitura, queestudou todos os procedimentos daprefeitura e sugeriu a criação de umórgão, uma central de atendimento aoempresário, que está localizada na Se­murb - Secretaria de Serviços Urbanos- e que atende diretamente o empresá-

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rio. Esta central reúne funcionários detodas as secretarias juntas e todas vis­toriam o empreendimento e as condi­ções de funcionamento doempreendimento para que o nosso al­vará possa ser emitido imediatamente,facilitando os negócios na cidade, ge­ração de empregos e de renda e a pró­pria geração de tributos.

Planejamento estratégicoOutra questão importante,

também no plano interno, foi a implan­tação do Planejamento Estratégico. OPlanejamento Estratégico também éuma técnica muito difundida no setorpri vado, algumas estatais implanta­ram-no com muito sucesso, como é ocaso da CVRD. O setor público estáum pouco atrasado nessas novas técni­cas. E já realizamos três semináriossobre o Programa de Planejamento Es­tratégico, através do qual estabelece­mos as metas e prioridades daadministração. Facilita a ação adminis­trativa, acaba com desperdício de tem­po, de recursos. Cada secretaria sabequais são as suas ações prioritárias emnível interno e em nível de entrelaça­mento com as outras secretarias degoverno. Talvez um resultado palpávelseja o orçamento popular; no passadoterminava-se o ano com 30% a 40%das obras orçadas; chegamos este anoa executar ou iniciar execução de apro­ximadamente 87% das obras orçadas,isto é inédito e é fruto de um planeja­mento, de uma organização, de uma

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PosturaE uma última questão que aca-

;, bou surpreendendo a cidade e o meiopolítico tradicional diz respeito a umapostura que a administração assumiuque se diferencia do que acontece peloBrasil afora. É muito comum no Brasil,quando a administração toma posse,desconsiderar tudo o que foi feito nopassado, e tentar criar tudo do seu jeito.Aqui fizemos o contrário, chegamos,analisamos os projetos que estavamsendo desenvolvidos na prefeitura e

forma de trabalhar que elimina o im­proviso.

EducaçãoVitória nos últimos anos rompe

com a visão de que educação pública éeducação sem qualidade, e vem cons­truindo a possibilidade de fazer ensinopúblico de qualidade e ofertado aomaior número de pessoas possível. Arede pública do município de Vitória éuma das maiores redes públicas doBrasil em termos de município, nósofertamos em termos de vagas o mes­mo que oferta a prefeitura de PortoAlegre, o mesmo que oferta a prefeitu­ra de Campinas, isto é inacreditável. Apopulação de Vitória é de 27 mil habi­tantes, a de Porto Alegre ultrapassa 2milhões de habitantes, é nós temosuma rede pública dez vezes maior doque a de Porto Alegre, proporcional­mente. Temos 73 escolas e 2.300 pro-

todos os grandes projetos tiveram con­tinuidade, e temos orgulho de dizerque damos continuidade às coisas, por­que essa questão da continuidade éuma postura moderna diante da socie­dade, que precisamos criar no Brasil.Não faz sentido você desprezar umprograma na área educacional como oque encontramos aqui e que vinha ten­do vitórias expressivas, e assim ou­tros programas aos quais nós demoscontinuidade, alguns que mereciam re­toques, como foi o caso do orçamentopopular, cuja metodologia tivemos

AÇÃO EXTERNA

fessores, oferecemos 36 mil vagas; 6mil para pré-escola e 30 mil para ensi­no de Il! grau. Das vagas públicas queexistem no município, 67% são ofere­cidas pela prefeitura de Vitória e 33%pelo governo do Estado. Isto tambémé outra relação quase que inédita emtermos de país.

A prefeitura de Vitória destina40% do seu orçamento à educação(pagamento de pessoal, fornecimentode merenda, de material didático, pe­dagógico, manutenção da rede públicae de equipamentos). Este é um projetoque não pertence mais à administração,pertence à cidade, e talvez o seu pontomais importante são os conselhos deescolas, que começam a participar dagestão administrativa e pedagógica dasescolas; pais, alunos e professores co­meçam a discutir o ensino, avaliando,por exemplo, a capacitação e o traba­lho dos professores. É uma experiên-

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que aperfeiçoar. Esta é uma postura derespeito ao contribuinte, ao cidadãoque paga a conta e que merece umtratamento diferente do administradorcom relação aos seus recursos, ao seupatrimônio. Eu situaria estas seiscomo ações importantes no campo in­terno, porque, com a prefeitura organi­zada, com a implantação de métodosimportantes de administração, pude­mos ir para a rua implantar os projetosmaiores da administração.

cia importante e uma das motivaçõesmaiores do nosso trabalho.

SaúdeUm outro projeto importante é

o da área da saúde. Temos 23 unida­des, cobrindo toda a cidade. Essas uni­dades fornecem remédio e examegratuitos. Existe um laboratório cen­traI capaz de processar 50 mil examespor mês. No ano passado inauguramosuma unidade no Forte São João e outrana Fonte Grande e este ano mais duasunidades foram reformadas, como é ocaso da unidade da Ilha de Santa Mariae a de Santo André. Estamos expandin­do a rede para levar a todos os pontosde Vitória um atendimento de qualida­de na área de saúde e ao mesmo tempotentar resolver as primeiras demandaspara que isso não pressione permanen­temente a rede hospitalar. Estamos es­tudando um novo passo na área de

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municipalização das unidades do go­verno, entramos em discussão com ogoverno do Estado, há idéia de fazeruma primeira municipalização em re­lação ao centro de Vitória, vai ser umaprimeira experiência.

No Brasil inteiro as administra­ções estão assustadas com essa possi­bilidade de municipalização, masachamos que temos de dar um passo,tentando alternativa, uma maior ràcio­nalização do atendimento de saúde.

São PedroOutro projeto importante da ad­

ministração é o Projeto São Pedro, quevem se desenvolvendo ao longo de trêsadministrações que me antecederam. Obairro São Pedro foi ocupado basica­mente a partir da década de 7üjunto dagrande migração do centro urbano, queresultou principalmente da introduçãodos projetos industriais CST, CVRD eoutros. Houve uma ocupação desorde­nada daquela área, inclusive com inva­são de uma área de mangue que deveriaser preservada. Esse projeto avançou naadministração que me precedeu em ter­mos do seu conceito. Esses conceitossão muito importantes, eles estão liga­dos, por exemplo, à área de teITa quecada um deve ocupar, à necessidade depreservação dos manguezais, à necessi­dade de assentar no próprio bairro todasas t~lmílias que ali se encontram, à neces­sidade de fazer isto não como um proje­to autoritário mas através de umainteração da prefeitura com a comunida­de, da participação popular. Investimoslá nesse período de administração apro­ximadamente 10 milhões de dólares.Esta região é habitada por 43 mil mora­dores, ou seja, a população da GrandeSão Pedro é maior do que a grande maio­ria dos municípios do interior do Estadodo Espírito Santo, e isso é apenas umaregião da cidade de Vitória.

Área socialEncontramos um programa de

atendimento a migrantes, reformula­mos esse programa e hoje funcionapara atender os migrantes da Grande

Vitória. Criamos um Programa deAtendimento a Mendigos, que hojeatende 70 mendigos da cidade, comabrigo, banho, roupa lavada, alimenta­ção. Estamos implantando desde 1993o programa da criança e do adolescenteem estado de risco social, risco pes­soal. Estamos avançando na infra-es­trutura desse programa, que é a Casado Menino Trabalhador, na Praia doCanto, construindo a sede do conselhotutelar e também uma casa para ampa­ro a esse trabalho no Morro do Quadro.Além disso estamos implantandojunto com as igrejas o atendimentonoturno aos meninos e meninas queestão na rua, é um trabalho importan­te e tem um conteúdo significativo nosentido de buscarmos parceria, porexemplo, atendimento ao câncer in­fantil (conseguimos a casa no bairrode Lourdes para instalação definitivada instituição).

A tarefa de atendimento à ques­tão social é uma tarefa que demanda ainteração da atual administração com asociedade civil.

Na área da cidadania foi criadaa Casa do Cidadão em Vitória, em1993; temos o juizado de pequenascausas, o Procon municipal, o escritó­rio modelo, e temos curso para forma­ção da cidadania. Esse trabalho ganhoutanta intensidade, que foi preciso criara Secretaria da Cidadania, que estásendo organizada inclusive com aten­dimento à mulher, ao negro.

Revitalização do centroOutro projeto que começou na

administração anterior é o programa derevitalização do centro da cidade, umprograma importante, porque combinao respeito à cidade, ao seu passado, àsua história, com a possibilidade derevitalizar uma área onde o poder pú­blico já investiu muitos recursos eminfra-estrutura; talvez o marco maissignificativo seja o da igreja do Rosá­rio, construída em 1789.

Dando continuidade a esse pro­grama, a prefeitura contratou o Depar­tamento de Arquitetura da USP, que irá

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apresentar uma proposta de revitaliza­ção. Essa proposta deverá ser apresen­tada à sociedade nos próximos dias ejá estamos seguindo os indicativos doprograma; um deles, por exemplo, éenvolver moradores e usuários dessaregião. Estamos trabalhando tambémpara que a iniciativa privada comece aparticipar, dando a sua contribuição.O Banco Itaú fez a reforma do antigoprédio da SarJo, no Parque Moscoso; oBanco BIC fez a reforma do prédio daCannes, na Praça Costa Pereira; agorao Cartório Nelson Monteiro reformouo seu prédio. Restauramos algumas dasescadarias centenárias, no centro: aAdjanira, no início da avenida Jerôni­mo Monteiro; a São Diogo, na PraçaCosta Pereira; a escadaria Maria Ortiz,e a escadaria do Palácio Anchieta.

No mesmo sentido estamoscuidando das praças ,dàS áreas verdesda cidade. A CVRD assumiu agora oParque Moscoso, que é um espaço delazer desde 1912. A CST também iráassumir a Gruta da Onça, um parqueecológico que poderá ser usado não sópara visitação, como também pela redepública municipal para educação am­biental.

A iluminação do centro vai nomesmo sentido. Já iluminamos váriosprédios, como a Catedral, a igreja Pres­biteriana, na rua Sete; iluminamos oPenedo; restauramos a escola São Vi­cente de Paulo, uma construção do sé­culo passado.

Da mesma forma criamos umnovo paisagismo: no Convento SãoFrancisco, na igreja São Gonçalo, quefoi restaurada através da Lei RubemBraga.

Estamos mantendo uma pro­gramação na Fafi, e a Lira Municipalfoi criada pelo ex-secretário JoaquimBeato.

Conseguimos, ainda, do Minis­tério da Agricultura a doação de umprédio antigo que fica no início da ruaDuque de Caxias, onde será instaladonão só um centro de memórias da cida­de como também a Biblioteca PúblicaMunicipal; pretendemos homenagear

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o ex-prefeito Adelpho Poli Monjar­Gim, dando à biblioteca seu nome.

CamburiOutro projeto amplo e impor­

tante é o da área de Camburi. No anopassado conseguimos com o ministroJutaíMagalhães os recursos para a des­poluição de Camburi. Através do Pro­ceje, que é um programa definanciamento do Banco Interamerica­no de Desenvolvimento, 8,3 milhõesde dólares serão liberados para a des­poluição, dividindo o projeto em trêsfases: o de Jardim Camburi, do bairrode Fátima e o do bairro Maria Ortiz.Fizemos parceria com a Cesan, queestá executando essas obras.

A primeira parte do p~'ojeto deCamburi se refere a estudo da erosãona praia. Contratamos o INBH, Insti­tuto ligado à Companhia Docas noRio de Janeiro, especializado em e9tu­dar esses movimentos no mar, justa­mente para identificar as causas reaisdos problemas de erosão na Praia deCamburi, para que se deixe de fazerobras paliativas e se passe a fazer obrasdefinitivas. Camburi precisa de umaciclovia, de uma outra estrutura paraaquelas barracas que foram construí­das sem os cuidados referentes ao sa­neamento hidráulico e à implantaçãode novos equipamentos na praia, delazer, para a prática de esporte.

Um projeto dessa área de Cam­buri que deve ficar pronto na nossa ad­ministração é o da ponte que liga aavenida Rio Branco ao bailTo Jardim daPenha. Essa obra deverá ser iniciada atédezembro de 1994. A ponte não seráusada para o transp0l1e coletivo, teráurna ciclovia, passeio para pedestre.

Consta também desse projetoa instalação do centro de convençõesde Vitória. Já conseguimos os recur­sos, o ministro Élcio Álvares nos aju­dou nisto.

Outro projeto se refere à con­tenção de encostas. A prefeitura estáfazendo um trabalho, parte iniciado naadministração anterior. É o caso doreflorestamento. Estamos cuidando

também da manutenção das áreas jáplantadas e ao mesmo tempo amplian­do as áreas de reflorestamento. Inicia­mos no ano passado um trabalho deeducação dessas pessoas que moramno morro. Já foram organizados juntocom isto seminários, foram realizadasobras de contenção, todas essas obrasvisam dar maior segurança para a cida­de. É um trabalho que une obras decontenção com reflorestamento e edu­cação da população.

Dentre os projetos maiores te­mos os relativos a área de lazer. Esta­mos criando pracinhas nos bairros,montando campos para prática de fute­bol, voleibol, etc. Além disso temos oparque do Horto de Maruípe, que vaiter o nome de Augusto Ruschi. Alémde quadras e brinquedos, teremos lá amaioria das espécies da Mata Atlânti­ca, como o cedro, jacarandá, cujaplantação já iniciamos. Outro parque éo situado na Prainha de Santo Antô­nio, com o mesmo padrão construtivoda Praça dos Namorados.

Outro projeto importante paraVitória é o planejamento viário. Con­tratamos técnicos do nSN , os estudosjá estão sendo transformados em pro­jeto e curiosamente esses estudos estãofazendo com que nos dediquemosmais à área norte da cidade ,onde aspesquisas de tráfego indicam fluxocrescente.

Pensamos também num planode drenagem da cidade, onde existempontes na mesma altura do mar e al­guns bairros situados em níveis atémais baixos. Dois projetos estão emandamento, o primeiro na Saturnino deBrito e o segundo na Jair Etiene Des­saune.

Num outro aspecto vem a polí­tica de Ciência e Tecnologia munici­pal. Conseguimos financiar arealização da SBPC em Vitória e como mesmo fundo de Ciência e Tecnolo­gia financiamos também nove proje­tos de pesquisa na Ufes. Participamosdo Programa Sofetec 2000, em parce­ria com várias entidades públicas e pri­vadas. Com recursos do fundoconseguimos construir e equipar o Pla-

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netário de Vitória, que com certezaserá um instrumento complementar àeducação universitária, à educação de1° e 2° graus e representará mais umatrativo para Vitória. Escolhemos aUniversidade por achar que ela é muitoimportante para Vitória e queremoscontribuir para aproximar a universi­dade da sua cidade.

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RESENHA

Publicação da Secretaria Municipal de Culturae Esporte da Prefeitura de Vitória - ES.

Adilson Vilaça*

tos e Adilson Vilaça - permitam-me:Luciana foi produzir o filme O AmorEstá no Ar, de Amylton de Almeida, eeste escriba retornou nos livros quarto esétimo como autor. Ah: membro do Con­selho não pode escrever!

"Assim foi Vitória por anos se­guidos ...", escreve a introdução doquarto Iivro do Escritos, cujo temário sedesignou com o título "Logradouros". Otexto da introdução é compilado do livroLogradouros Antigos de Vitória, dohistoriador Elmo Elton, editado pelo Ins­tituto Jones dos Santos Neves, em 1987.Hoje, por anos seguidos, já não temos oelmo Elton...

Mas o Escritos avança lança­mentos seguidos. O mais recente foi noCine Metrópolis, na Ufes, com o temário"Cinema". Mais uma vez uma excelentereunião de autores, num filme exibidopela sétima vez; mas que, sempre, vale apena ver de novo!

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apresentação era do professor JoaquimBeato, então secretário de Cultura eEsporte. O professor Joaquim Beatoteve o mérito de conquistar escritorese escritoras para a viagem literária queé o Escritos de Vitória. A seu lado,Miriam Santos Cardoso, coordenadora doEscritos, sempre foi a provedora atenta eenvolvida, que acompanhou a modela­gem de cada livro com uma supervisão,ao mesmo tempo, experta no profissiona­lismo e quase artesanal no trato do detalheda produção, na esmerada paciência comos autores e Conselho Editorial.

O projeto caminha já pelo séti­mo volume. Ora reuniu os autores se­gundo o gênero, ora segundo o temáriorecomendado, ora ambos os critérios,ora ilustrou e fotografou a cidade Vi­tória. O concerto de cada livro, o assimchamado "vamos-ver", é da conta doConselho Editorial: Adilson Vilaça,Jaca Simonetti, Luciana Vellozo San­tos, Pedro J. Nunes e Sérgio B1ank,inicialmente. A partir do quarto livrohouve baixa de Luciana Vellozo San-

Jornalista e escritor, servidor do nSN.*

Escritos de Vitória

"O presente volume inicia umprojeto da Administração Municipalde Vitória dimensionado para lidarcom as emoções que permeiam o dia­a-dia e a história cultural da nossa ci­dade. O projeto Escritos de Vitória,conduzido pela Secretaria de culturae Esporte do Município, tem cornoternário para a produção dos autoresconvidados a cidade de Vitória.

A cidade é o amplo cenário e oprotagonista dos textos,. de maneiraque se comporá um painel do espíritoda nossa sociedade, um rico testemu­nho documentado pela sensibilidadede autores de vários gêneros literários;autores que aqui nasceram ou estãoradicados, vivenciando os costumes evalores da identidade capixaba, em es­pecial aqueles que reverenciam a nossailha-delícia".

O texto de apresentação do pre­feito Paulo Hartung iniciava o projetoEscritos de Vitória, apelo literário à re­descoberta ou revigoramento da identida­de capixaba. O primeiro volume,reunindo cronistas, nasceu, à visão de al­guns, titubeante, com tantos outros des­concertos que marcam os passos iniciaisdo primeiro ano de uma administraçãopública. Mas que nada!

"Que venha o volume dois! AVitória que cada um deles nos oferecenão é a Vitória-em-si, que todos supos­tamente conhecemos. É uma Vitóriacaptada e moldada pela sensibilidade esubjetividade dos escritores.( ...) Des­cubra cada leitor a sua Vitória, e usu­frua a sua beleza, a sua magia, tudoaquilo que a torna especial e única".Dessa feita, a assinatura do texto de

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Av. César HiIal. 437 - 1 0 andar - Praia do SuáVitóti-a -ES - CEP: 2.9.050-230

li • .. TeI.: 227 - 5044

.."Senti'tJWs dentro detws umapr(»cuplJ!iio amstante1J/io só pela ~ssa: ~ ..

amUJ ta'inbém pela nossa ciiúJde. Embora esteja11UJs vol/àdospara otUPtlfÕesdiferente$, toJos 'nÓs teJrWs um.a QpinUio própria aa!rCtl dos problemas d4cidtukTodiJ 4qU(ie que não parlUipa dos problemas d4 ciiúi3e é amsú:lerado. cntreMs,um fhauddadiío. não 'tun cidadão silencitJso. Somos nós fluedtiidimos os assuntosda, êitkuJe ou. pelo menos. rtfleti11Ws sobre des profundat!Jl!nte. Pois nãQ vemos naopil1ião eJtfJressa publicafJU1J'11~ um perigo ptrra a 1JfiüJ~ 1fl4S. sim, no. mis&cia deiliscussóes anteriores à~ fJas obras nRMSárias."llt.•

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