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000067
I
Diretrizes para atuação das psicólogas e psicólogos em serviços de atenção à
mulher eJll situação de violência
A discussão das contribuições da Psicologia para o atendimento à mulher em
situação de violência coloca-se como algo muito impOliante para o Sistema Conselhos
de Psicologia por uma questão muito peculiar: o fato de nossa categoria profissional ser
predominantemente formada por mulheres - representam quase 90% dos profissionais
inscritos.
Uma das iniciativas do Sistema Conselhos para somar esforços às discussões e
às experiências da Psicologia brasileira no âmbito dessa impOliante temática foi a
i'ealização, em 2008, por meio do Centro de Referência Técnica em Psicologia e
Políticas Públicas (Crepop), da pesquisa sobre as Práticas do (a) Psicólogo (a) em
Serviros de Atenção às Mulheres em Situação de Violência. Em diálogo com os
resultados dessa pesquisa está sendo produzido um documento com princípios ético~,
políticos e técnicos norteadores para aqueles que atuam ou pretendem atuar na áreal.
A patiir dessa pesquisa, das discussões produzidas para a construção desse
documento e dos princípios éticos de nossa profissão e considerando a dimensão
normativa que orienta o trabalho nesse campo, o Conselho Regional de Psicologia
expõe algumas considerações e diretrizes necessárias à atuação das psicólogas e
psicólogos em serviços de atenção à mulher em situação de violência.
A pesquisa mostrou que muitos municípios estão se organizando para aplicar a
Lei Maria da Penha e melhorar os serviços de assistência às mulheres em situação de
violência. No entanto, fica evidente que a efetivação das ações do Pacto Nacional de
Enfrentamento da Violência Contra a Mulher é um processo e que tem ocorrido de
maneira distinta nas diversas regiões do país em função de suas próprias peculiaridades.
lCONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Crepop. Documento de referência para atuação dospsicólogos em serviços de atenção à mulher em situação de violência. (versão preliminar paraConsulta Pública). Brasma: CFP, 2012.
• RUA TIMBIRAS, 1532 6' ANDAR LOURDES CEPo 30140-061 BELO HORIZONTE/MG TELEFAX: (31) 2138 6767 [email protected]• Rua Ana Neri, 145 Centro CEP: 35020 M 040 Governador Valad-ares/MG Telefax: (33) 32250475 [email protected]" Av. Barão do Rio Branco, 2001 sala 1505 a 1508, Centro CEP: 36013-020 Juiz de Fora/MG Telefax: (32) 32159014 [email protected]
" Av. Deputado Esteves Rodrigues, 616, sala 702 Centro CEP: 39400-215 Montes Claros/MG Telefax: (38) 3221 7720 [email protected]" Av. Doutor João Beraldo, 864 Centro CEP: 37550-000 Pouso Alegre/MG Telefax: (35) 34238382 [email protected]" Av. Floriano Peixoto, 615 salas 3Ô2 a 304 Centro CEP: 38412~112 Uberlândia/MG Telefax: (34) 32356765 [email protected]
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Algumas especificidades relacionadas à essa temática também impedem
avanços. Participantes da pesquisa se queixaram do desconhecimento da Lei Maria da
Penha. Um dos principais percalços à aplicabilidade da Lei tem sido o fato de que
muitos advogados e juizes estão impregnados de preconceitos herdados da cultura
brasileira que não responsabiliza o homem pela agressão cometida contra a mulher.
A violência contra a mulher está assentada em um amplo conjunto de valores,
normas e símbolos culturais, compartilhado igualmente entre homens e mulheres, o que
lhe oferece grande legitimidade social' e exige a implementação de políticas e ações
especificamente voltadas para sua erradicação. A violência contra a mulher também se
constitui em um problema de justiça na medida em que ao reconhecimento da violação
de direitos devem se seguir medidas reparadoras das consequências negativas da
agressão e re.stauradoras da justiça. Finalmente, é um problema ético na medida em que
discute o tipo de sociedade almejada por todos e questiona as formas de conduta e
interação social aceitas e toleradas. É importante destacar que há um compromisso
social das psicólogas e psicólogos com a' defesa dos direitos humanos no sentido de
desconstruir a ideia da suposta inferioridade das mulheres. Assim, cabem às psicólogas
e aos psicólogos: promover alternativas que questionem o discurso dominante e as
práticas profissionais e situações pessoais que exercem esse tipo de padrão social,
avaliando os impactos nas subjetividades masculinas e femininas em seus contextos de
relações de poder.
A compreensão da conjuntura na qual a violência ocorre e o significado que esta
assume é uma diretriz fundamental para a atuação da(o) psicóloga(o) no atendimento à
mulher em situação de violência. Isso porque diversas peculiaridades envolvem a
mulher que chega à rede. Por exemplo: pmie dessas mulheres não busca
necessariamente a separação de seus parceiros. Inclusive, muitas delas relatam não se
sentirem inferiorizadas ou na posição de vítimas da violência conjugal, ou seja, não
reconhecem as situações vivenciadas com os parceiros como violência. Como campo de
ciência e profissão, a Psicologia pode ajudar de forma significativa na desconstrução
das desigualdades sociais e de gênero, evitando interpretações unilaterais e simplistas., RUA TIMBIRAS, 1532 6' ANDAR LOURDES CEP: 30140-061 BELO HORIZONTE/MG TELEFAX: (31) 2138 6767 [email protected]• Rua Ana Neri. 145 Centro CEP: 35020-040 Governador Valadares/MG Telefax: (33) 32250475 [email protected]" Av. Barão do Rio Branco, 2001 sala 1505 a 1508 Centro CEP: 36013-020 Juiz de Fora/MG Telefax: (32) 32159014 [email protected]" Av. Deputado Estaves Rodrigues, 616, sala 702 Centro CEP: 39400-215 Montes Claros/MG Telefax: (38) 3221 7720 [email protected]" Av. Doutor João Beraldo, 864 Centro CEP: 37550-000 Pouso Alegre/MG Telefax: (35) 34238382 [email protected];, Av. Floriano Peixoto, 615 salas 302 a 304 Centro CEP: 38412-112 Uberlândia/MG Telefax: (34) 32356765 [email protected]
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Isso revela o quanto é preciso superar as noções de gênero dualistas e fixas que muitas
vezes penetram a rede, especialmente, no âmbito da atuação jurídica.
Há uma questão impOliante que deve ser atrelada a esse fato: o medo da
violência, que seria outro fator contribuinte para que a mulher permaneça em uma
relação violenta, sem denunciar ou buscar ajuda. Além disso, é preciso considerar que
muitas mulheres que decidem romper um relacionamento violento também estão se
desfazendo de sonhos e expectativas em relação ao casamento e à família; recomeçar
uma nova vida, desatrelada de tudo isso, demanda uma nova maneira de comportar-se
no mundo, o que também é fonte de medo, ainda que agora seja do novo, do
desconhécido, do fracasso ao caminhar sozinha. Reconhecer todas as implicações desse
fato é fundamental para encorajar a mulher no redirecionamento de novos projetos de
vida.
Portanto, o profissional de Psicologia exerce um papel muito importante na rede
de serviços de atenção à mulher em situação de violência. Seja para identificar os sinais
de que uma mulher está em situação de violência ou para avaliar as possibilidades de
que a violência possa vir a ocorrer, a(o) psicóloga(o) deve sempre intervir no sentido de
auxiliar a mulher a desenvolver condições para evitar ou superar a situação de violência,
a patiir do momento em que favorece o seu processo de tomada de consciência.
É preciso entender que as mulheres têm autonomia e poder para mudar esse
processo e a situação de violência na qual se encontram.
As(os) psicólogos(as) que atuam na rede de serviçosde atenção a mulheres em
situação de violência estão locados em serviços, especializados ou não, de diferentes
setores: saúde, assistência social, segurança pública. Essa diversidade indica a
existência de múltiplas possibilidades de ação nesse campo.
Estes profissionais lidam com obstáculos reais em seu trabalho cotidiano, como
apontou a Pesquisa sobre as Práticas de Psicólogos em Programas de Atenção às
Mulheres em Situação de Violência. Os patiicipantes falaram das dificuldades em:
• presenciar o encaminhamento de mulheres a um tratamento inadequado e
incompleto, inclusive, quando deixam os abrigos;, RUA TIMBIRAS, 1532 6' ANDAR LOURDES CEP: 30140·061 BELO HORIZONTEIMG TELEFAX: (31) 2138 6767 [email protected]• Rua Ana Neri, 145 C'entro CEP: 35020-040 Governador Valadares/MG Telefax: (33) 32250475 [email protected]~ Av. Barão do Rio Branco, 2001 sala 1505 a 1508 Centro CEP: 36013-020 Juiz de Fora/MG Telefax: (32) 32159014 [email protected]" Av. Deputado Esteves Rodrigues, 616, sala 702 Centro CEP: 39400-215 Montes Claros/MG Telefax: (38) 3221 7720 [email protected]" Av. Doutor João Beraldo, 864 Centro CEP: 37550-000 PousoAlegre/MG Telefax: (35) 34238382 [email protected]~ Av. Floriano Peixoto, 615 salas 302 a 304 Centro CEP: 38412-112 Uberlândia/MG Telefax: (34) 32356765 [email protected]
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.• lidar com as representações tradicionais de gênero, os preconceitos e os
tabus nas próprias instituições;
• estabelecer uma parceria eficaz com a delegacia da mulher e o sistema
judiciário, o que pnva as mulheres de receberem apoio e
acompanhamento especializado;
• não achar espaços apropriados e tempo suficiente para estabelecer o
trabalho em equipe, discutir casos, condutas e metodologias, já que
muitas vezes, por falta de pessoal, todos acabam se envolvendo em
diversos problemas que necessitam ser resolvidos ao mesmo tempo.
Ainda há muito que fazer no sentido de se instituir uma política pública mais
eficaz e continuada para erradicar a violência contra a mulher e consolidar programas e
projetos capazes de promover a superação de obstáculos e a solução dos problemas. A
parceria multidisciplinar e proativa entre as diversas esferas da rede é fundamental para
promover a manutenção e ampliação dos instrumentos de garantia de direitos e de
enfrentamento das desigualdades de gênero.
Nesse sentido, sinalizamos caminhos para a gestão do trabalho na rede de
atenção à mulher em situação de violência:
• Considerar os riscos aos quais os profissionais estão expostos por
estarem em contato com os envolvidos nas situações de violência.
Construir estratégias de cuidados (institucionais, estruturais e cotidianos)
para esses profissionais é a maneira mais efetiva para a redução de
nscos.
• Elaborar sistemas para supervisão técnica da equipe envolvida na
assistência. O profissional que lida com pessoas em situação de violência
experimenta sentimentos e emoções que precisam ser reconhecidos e
trabalhados em prol da qualidade do atendimento e da promoção do bem
estar e saúde do profissional envolvido, de toda a equipe e das mulheres
atendidas." RUA TIMBIRAS, 1532 6' ANDAR LOURDES CEP: 30140-061 BELO HORIZONTElMG TELEFAJ(: (31) 2138 6767 [email protected]~ Rua Ana Neri, 145 Centro CEP: 35020-040 Governador Valadares/MG Telefax: (33) 32250475 [email protected]~ Av. Barão.do Rio Branco, 2001 sala 1505 a 1508 Centro CEP: 36013-020 Juiz de ForalMG Telefax: (32) 3215 9014 [email protected]
~ Av. Deputado Esteves Rodrigues, 616, sala 702 Centro CEP: 39400-215 Montes Claros/MG Telefax: (38) 32217720 [email protected]"Av. Doutor João Beraldo, 864 Centro CEP: 37550~OOO PousoAlegre/MG Telefax: (35) 34238382 [email protected]" Av. Floriano Peixoto. 615 salas 302 a 304 Centro CEP: 38412-112 Uberlândia/MG Telefax: (34) 32356765 [email protected]
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• Pensar em estratégias relativas ao adoecimento físico e psíquico dos
profissionais: necessidade de trabalhos em linguagem corporal, melhores
condições de trabalho, questões políticas (e outras mais amplas).
• Trabalhar em equipe multidisciplinar fomentando o envolvimento e a
horizontalidade nas relações de trabalho para estimular a noção de
corresponsabilidade entre todos. Para isso, podem.se criar estratégias de
planejamento e avaliação, buscando a qualidade e a melhoria constantes.
• Garantir a continuidade das ações estabelecidas nos serviços. As rotinas
são desfeitas a cada mudança de gestão, o que impede a continuidade e a
consolidação das ações.
Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais - XIII Plenário
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