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    Lean Manufacturing: um estudo da produo cientfica publicada nos Anais do EMEPRO de 2007 a 2012

    Joo Afonso Maral de Louredo (FIPMoc) [email protected] Thas Cristina Figueiredo Rego (FIPMoc) [email protected]

    Resumo: Lean Manufacturing (LM) ou Produo Enxuta (PE) um assunto presente em todos os eventos cientficos da rea de Engenharia de Produo. Por se tratar de uma temtica importante este estudo objetivou analisar os trabalhos sobre produo enxuta publicados nos Anais do EMEPRO entre os anos de 2007 a 2012. Utilizou-se uma abordagem quantitativa-descritiva, com corte longitudinal. Como critrio de escolha dos artigos observou-se o ttulo, resumo e palavras-chave. Aqueles que apresentaram, em um desses itens, informaes referentes produo enxuta foram selecionados para o estudo. A amostra foi composta por 20 trabalhos e a anlise baseou-se em parmetros como: tipo do artigo, abordagem e caracterizao do estudo, estratgias de pesquisa e assuntos da produo enxuta abordados. Observou-se que a maioria dos trabalhos so empricos e identificados como estudo de caso; alm disso, caracterizam-se por apresentar a PE de maneira geral. Concluiu-se que, ainda h muito o que se explorar sobre esse tema, pois o nmero de trabalhos encontrados foi muito pequeno. Palavras-chave: Produo Cientfica; Anais EMEPRO; Produo Enxuta.

    1. Introduo

    O surgimento do Sistema de Produo Enxuta (SPE) ou Lean Production (LP), de acordo com Santos e Cleto (2002), teve sua origem quando a montadora automobilstica japonesa Toyota props-se a ser uma empresa vivel na fabricao de automveis. Ela queria produzir carros de maneira eficiente para um mercado pequeno como era o do Japo ao final da II Guerra Mundial. Para Ohno (1997, p. 23), uma empresa no poderia ser lucrativa usando o sistema convencional de produo em massa americano que havia funcionado to bem por tanto tempo. A esta forma de organizar o processo de trabalho, Ohno (1997), deu o nome de Sistema Toyota de Produo, contrastando-o com o que ele denominava de Sistema Ford de Produo ou Sistema de Produo em Massa. Essa a origem do desenvolvimento pela Toyota dos novos conceitos de produo.

    De acordo com Nazareno; Rentes; Silva (2002, p. 2) a Produo Enxuta surgiu como um sistema de manufatura cujo objetivo otimizar os processos e procedimentos atravs da reduo contnua de desperdcios. Possui, segundo esses autores como objetivos fundamentais a qualidade e a flexibilidade do processo, ampliando sua capacidade de produzir e competir neste cenrio globalizado. (NAZARENO; RENTES; SILVA, 2002, p. 2)

    Para Satolo e Calarge (2007, p. 2), [...] a busca de estratgias que visam melhoria da competitividade, bem como a necessidade de atender adequadamente os atributos e as

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    necessidades de seus clientes, tem feito com que muitas empresas adequem seus sistemas produtivos [...], como esses so princpios do Lean Production, muitas empresas atualmente tm adotado essa filosofia em seus sistemas de gesto.

    Segundo Dalla; Morais (2006), o sistema enxuto apesar de ter seus inmeros benefcios, tambm possui alguns cuidados quando utilizado. Sua implantao pode gerar o efeito contrrio do esperado, acarretando a ineficincia dos processos.

    A adoo da produo enxuta pode, tambm, demandar altos custos em sua fase inicial, haja vista que sua implementao preconiza fortes investimentos no rearranjo fsico de sua linha produtiva. Tem-se ento, que o arranjo produtivo adotado pela lean production baseado no formato de clulas (arranjo celular), caracterizando-se por se apresentar bastante rgido e pr-estabelecido para uma determinada famlia de produtos. (DALLA; MORAIS, 2006, p.9)

    De acordo com Ohno (1997) o Sistema Toyota de Produo possui como pilares de sustentao, o just in time e a autonomao.

    Segundo Ohno (1997), just-in-time significa que, em um processo de fluxo, as partes corretas necessrias a montagem alcanam a linha de montagem no momento em que so necessrios e somente na quantidade necessria.

    Carneiro e Madeira (2007) definem autonomao como um conceito originado e desenvolvido por Sakichi Toyoda em teares, significa dotar uma mquina da inteligncia humana. O principal benefcio da autonomao o fato de que produtos defeituosos no so produzidos, lembrando que produzir defeitos uma das fontes de desperdcio identificadas pela Toyota.

    Podemos destacar algumas ferramentas utilizadas no sistema de produo enxuta: kanban, 5s, seis sigma, mapeamento do fluxo de valor etc.

    De acordo com Guimares et al. (2008) o Kanban basicamente significa produzir ou obter as partes requeridas, no tempo certo, na quantidade necessria, da maneira mais eficiente e econmica possvel. O kanban representa um carto contendo um cdigo alfanumrico que identifica o item, o descreve, e diz a quantidade a ser movimentada ou a quantidade a ser produzida em um posto de trabalho, sendo utilizado no gerenciamento da produo.

    Evangelista, Grossi e Bagno (2012) definem a ferramenta 5S como: 5 Sensos 5S: O 5S, antes de ser uma ferramenta, uma filosofia com objetivo de preparao de um ambiente de trabalho para a qualidade. O 5S representa as iniciais das palavras em japons que so: Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke (que so assim descritos: i) Senso de Utilizao (Seiri): Deixar apenas o mnimo necessrio de materiais ou informaes junto ao funcionrio; ii) Senso de Ordenao (Seiton): Deixar os materiais a serem utilizados sempre disponveis, sem precisar procur-los; iii) Senso de Limpeza (Seiso): Conservar sempre limpo o ambiente de trabalho e os respectivos equipamentos; iv) Senso de Sade (Seiketsu): relacionado sade fsica e mental, elemento fundamental para a felicidade de cada funcionrio e tambm dos seus familiares; v) Senso de Autodisciplina (Shitsuke): Consiste em adquirir e internalizar bons hbitos.

    Quanto a ferramenta seis sigma: As ferramentas e tcnicas de qualidade foram chamadas de Six-Sigma em 1986 pela Motorola (pelo engenheiro da Motorola chamado Bill Smith) e no so novas. Foram desenvolvidas nos ltimos 50 anos ou mais atravs do trabalho de peritos em qualidade como Deming, Juran e outros. Apesar do uso do termo hoje em dia, Six-

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    Sigma na verdade uma medio numrica de qualidade. Para atingir o Seis Sigma, precisamente 99,99966% do que voc faz tem de estar livre de defeitos. Do ponto de vista da manufatura, isso significa apenas 3,4 defeitos por milho de produtos ou peas produzidos. Surpreendentemente, produzir 99% sem defeitos significa que voc ter 10.000 defeitos por milho e a 95% , esse nmero pula para 50.000 defeitos. (MOTA, 2007)

    Segundo Malzac Neto et al. (2010) Mapa de fluxo de valor (MFV) tem por finalidade facilitar a visualizao dos desperdcios gerados e contribuir para que seja melhor observado o valor de cada processo realizado pela empresa. Atravs das informaes geradas pelo MFV torna-se possvel implantar melhorias diretamente nos processos que venham a causar impacto no fluxo de valor.

    A Toyota uma das maiores montadores automobilsticas do mundo, por isso seu sistema de gesto chama a ateno do empresariado, gestores de produo e de pesquisadores das reas de administrao de empresas e engenharia de produo. Por isso, estudar o sistema de produo enxuta e suas ferramentas de gesto de produo e estoque algo to atual e relevante.

    Esse trabalho pretende contribuir para um maior conhecimento das pesquisas que esto publicadas sobre produo enxuta e buscou analisar os trabalhos sobre produo enxuta publicados nos Anais do EMEPRO entre os anos de 2007 a 2012.

    2. Metodologia Utilizou-se uma abordagem quantitativa-descritiva, com corte longitudinal. Para realizao da pesquisa foram investigados os artigos publicados nos Anais do

    EMEPRO (Encontro Mineiro de Engenharia de Produo) no perodo de 2007 a 2012. Como critrio de escolha dos artigos observou-se o ttulo, resumo e palavras-chave. Aqueles que apresentaram, em um desses itens, informaes referentes produo enxuta foram selecionados para o estudo. A amostra foi composta por 20 trabalhos e a anlise baseou-se em parmetros como:

    a) Tipo do artigo: terico ou emprico. b) Abordagem e caracterizao do estudo: pesquisa quantitativa, qualitativa e

    quali-quantitativa. c) Estratgias de pesquisa: estudo de caso, pesquisa bibliogrfica, pesquisa

    documental, pesquisa-ao, pesquisa de campo, observaes in loco. d) Assuntos da produo enxuta abordados: abordagem geral sobre PE, Just-in-

    time, Kanban, 5S e Seis sigma. Respeitaram-se as informaes metodolgicas apresentadas pelos autores. Desde sua primeira edio em 2007, o EMEPRO recebe trabalhos tcnicos que so

    submetidos, avaliados e aprovados para publicao nos anais do evento. Os trabalhos so organizados em reas de acordo com o assunto abordado. A TAB. 1 apresenta a quantidade de artigos publicados por rea.

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    TABELA 1 - Trabalhos Tcnicos EMEPRO 2007-2012

    rea 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Gesto da Produo 22 12 26 31 36 33

    Logstica - 09 06 04 08 09

    Gesto da Qualidade 06 18 15 26 44 36

    Gesto Econmica 06 07 10 06 08 03

    Ergonomia e Segurana do Trabalho 02 17 11 17 18 22

    Gesto do Produto - 08 12 14 06 04

    Pesquisa Operacional 03 09 10 24 23 15

    Gesto Organizacional - 08 22 19 29 33

    Gesto Ambiental e Sustentabilidade - 13 16 18 09 19

    Educao em Engenharia de Produo 04 11 09 08 07 07

    Gesto da Tecnologia* 02 - - - - -

    Gesto Ambiental* 02 - - - - -

    Estratgias e Organizaes* 04 - - - - -

    Engenharia do Produto* 02 - - - - -

    TOTAL 53 112 137 167 188 181

    * A partir de 2008 essas reas foram apresentadas com outras nomenclaturas. Fonte: Tabela construda pelos autores a partir dos cds do EMEPRO 2007 a 2012

    Desse universo de 838 trabalhos, 20 apresentaram como temtica a produo enxuta. Eles foram distribudos nas seguintes reas (TAB. 2):

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    TABELA 2 - Trabalhos Tcnicos sobre Produo Enxuta por rea 2007-2012

    rea 2007 2008 2009 2010 2011 2012

    Gerncia da Produo* 02 - - - - -

    Qualidade* 01 - - - - -

    Gesto da Produo - 01 02 01 04 04

    Gesto Ambiental e Sustentabilidade - - 01 - - -

    Gesto da Qualidade - - - - 02 02

    TOTAL 03 01 03 01 06 06

    * A partir de 2008 essas reas foram apresentadas com outras nomenclaturas.

    Fonte: Tabela construda pelos autores a partir dos cds do EMEPRO 2007 a 2012

    3. Resultados e Discusso Essa seo apresenta os resultados encontrados, alm da anlise e discusso dos dados

    apresentados.

    TABELA 3 - Tipos de trabalhos realizados 2007-2012

    Tipo do trabalho %

    Trabalhos prticos 90

    Trabalhos tericos 10

    Fonte: os autores

    Observa-se na TAB. 3 que apenas 10% dos trabalhos encontrados so do tipo terico, ou seja, so baseados em discusses conceituais e revises de literatura. 90% dos artigos utilizam a prtica para testar ou validar algum conceito determinado. J era de se esperar esta predominncia de artigos do tipo emprico visto que o tema envolve experincias ocorridas nas organizaes o que pode ser testado, observado e analisado in loco.

    TABELA 4 - Tipo de abordagem utilizada 2007-2012

    Abordagem %

    Qualitativa 45

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    Quantitativa 25

    Quali-quantitativa 5

    No informaram 25

    Fonte: os autores

    A TAB. 4 sinaliza que dos 20 trabalhos analisados, 25% no informaram o tipo de abordagem utilizada em seus trabalhos. Verifica-se uma quantidade maior de trabalhos classificados como qualitativos (45%) o que demonstra uma busca por maior aprofundamento nas pesquisas. 25% classificaram seus estudos como quantitativos e apenas 5% declararam ter utilizado as duas abordagens.

    TABELA 5 - Tipo de estratgia de pesquisa utilizada

    Estratgia de pesquisa %

    Estudo de caso 33,33

    Observao in loco 21,43

    Pesquisa bibliogrfica 21,43

    Pesquisa documental 11,91

    Pesquisa-ao 7,14

    Pesquisa de campo 4,76

    Fonte: os autores

    Todos os autores informaram em seus textos qual (quais) estratgia(s) de pesquisa utilizaram em seus estudos, sendo que 30% declararam utilizar somente uma estratgia de pesquisa. Os demais (70%) combinaram as tcnicas no havendo uma combinao que se sobressasse. A estratgia de pesquisa bibliogrfica no foi utilizada somente nos trabalhos tericos. Ao cruzarmos as abordagens utilizadas, com o tipo de estratgia, percebemos que, dos 33,33% dos trabalhados declarados como estudo de caso (TAB. 5), 50% informaram ser qualitativos; 0,14%, quali-quantitativos e, 28,57%, no informaram o tipo de abordagem. Isso confirma a indicao da literatura para utilizao dos estudos de caso em pesquisas qualitativas. Outra associao indicada pela literatura da abordagem qualitativa com o procedimento de observao. Nessa anlise percebemos que, dos 21,43% dos trabalhos que declararam utilizar a observao (TAB. 5), 66,67% so qualitativos.

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    TABELA 6 - Assuntos abordados

    %

    Produo enxuta (Geral) 34,49

    Just-in-Time 10,33

    Kanban 24,14

    5S 6,90

    Seis sigma 10,34

    Mapeamento fluxo de valor 13,80

    Na TAB.6, observamos que os 34,49%, de artigos que abordaram o assunto produo enxuta (geral) propuseram revisar conceitos e/ou os princpios bsicos do sistema Toyota. Os demais focaram seus estudos em uma ferramenta especfica da produo enxuta. Just-in-Time (10,33%), Kanban (24,14%) e Mapeamento de fluxo de valor foram as temticas mais abordadas nos artigos identificados. Todos esses estudos buscaram analisar a aplicabilidade dessas ferramentas nas instituies investigadas, o que demonstra a preocupao dos trabalhos com a produo enxuta aplicada na prtica.

    4. Consideraes Finais Atravs da anlise dos artigos publicados nos Anais do EMEPRO no perodo de 2007 a 2012 sobre produo enxuta, concluiu-se que o assunto apesar de atual e relevante apresenta poucos estudos, ou seja, h ainda muito o que se explorar sobre esse tema. Constatou-se a predominncia de estudos de caso e observaes associadas a uma abordagem qualitativa o que mostra uma coerncia metodolgica nos trabalhos publicados. Alm disso, concluiu-se que a maioria dos trabalhos so empricos o que demonstra a relao da temtica com a prtica das organizaes.

    Referncias CARNEIRO, Welington Monteiro; MADEIRA, Thiago Rodrigues. O Sistema Toyota de produo: Alm do uso do Kanban e do Just-in-time. In: ENCONTRO MINEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUO, 3., 2007, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: PUC-MINAS, 2007.

    DALLA, Werner Duarte; MORAIS, Lucilio Linhares Perdigo de. Produo enxuta: vantagens e desvantagens competitivas decorrentes da sua implementao em diferentes organizaes. XIII SIMPEP Bauru, SP, p.9. 2006. Disponvel em: . Acesso em: 31 maio 2012.

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    EVANGELISTA, Clsia de Souza; GROSSI, Fernanda Machado; BAGNO, Raoni Barros. Lean Office Escritrio Enxuto: Estudo da aplicabilidade do conceito em uma empresa de transportes. In: ENCONTRO MINEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUO, 8, 2012. Itajub. Anais. Itajub, UNIFEI MG; 2012. GUIMARES, Irce Fernandes G. et al.. Aplicao do sistema kanban nas atividades de dois hospitais da regio de Minas Gerais. In: ENCONTRO MINEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUO, 4, 2008, Ouro Preto. Anais. Ouro Preto: UFOP; 2008 MALZAC NETO, Henri Geraldo et. Al. Mapeamento de fluxo de valor: uma aplicao em uma empresa do setor de embalagens plsticas flexveis. In: ENCONTRO MINEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUO, 6, 2010, Vale do Ao. Anais... Coronel Fabriciano, Unileste MG; 2010.

    MOTA, Daniel de Oliveira. Aplicao de ferramentas de qualidade (six-sigma) em um projeto de balanceamento de produo. In: ENCONTRO MINEIRO DE ENGENHARIA DE PRODUO, 3., 2007, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: PUC-MINAS, 2007 NAZARENO, R. R.; RENTES, A. F.; SILVA, A. L. da. Implantando tcnicas e conceitos da produo enxuta integrada dimenso de anlise de custos. Disponvel em: Acesso em: 03 jun. 2012.

    OHNO, Taiichi. O sistema Toyota de produo: alm da produo em larga escala. Porto Alegre: BOOKMAN., 1997.

    SANTOS, C. A. dos; CLETO, M. G. Produo enxuta: um estudo de caso de aplicao numamultinacional instalada no Brasil. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produo, 22. Curitiba. Anais... Porto Alegre: ABEPRO, 2002. Disponvel em: < http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2002_TR12_0039.pdf> Acesso em: 03 jun. 2012

    SATOLO, Eduardo Guilherme; CALARGE, Felipe Arajo. Determinao do Grau de Aderncia ao Sistema Lean Production para Empresas da Indstria Automobilstica: um estudo tipo. XXVII Encontro de Engenharia de Produo. Foz do Iguau PR, p.3. 2007. Disponvel em: . Acesso em: 29 maio 2012.