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Priscilla de Fátima Silva Batista
Administradora Residente em Gestão
Hospitalar
HU-UFJF/Ebserh
e-mail: [email protected]
HUMANIZAÇÃO E CUIDADO EM SAÚDE
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
A ideia do cuidado em saúde está diretamente associada à proposta da humanização.
Geralmente “atribui-se ao termo um sentido já consagrado no senso comum, qual seja, o de um
conjunto de procedimentos tecnicamente orientados para o bom êxito de um certo tratamento” (Ayres,
2004, p. 74).
No entanto, o cuidado extrapola a dimensão técnica e deve ser entendido como
o desenvolvimento de atitudes e espaços de genuíno encontro intersubjetivo, de
exercício de uma sabedoria prática para a saúde, apoiados na tecnologia, mas
sem deixar resumir-se a ela a ação em saúde. Mais que tratar de um objeto, a
intervenção técnica se articula verdadeiramente com um Cuidar quando o
sentido da intervenção passa a ser não apenas o alcance de um estado de
saúde visado de antemão, nem somente a aplicação mecânica das tecnologias
disponíveis para alcançar este estado, mas o exame da relação entre
finalidades e meios, e seu sentido prático para o paciente, conforme um diálogo
o mais simétrico possível entre profissional e paciente (Ayres, 2004, p.86).
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Humanização
A humanização surge da necessidade de superação do modelo biomédico de saúde que durante muito
tempo orientou as práticas assistenciais no Brasil.
“Por que falar em humanização quando as
relações estabelecidas no processo de cuidado
em saúde se dão entre humanos?”(BRASIL, 2004, p. 6)
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Porque a humanização não tem como objetivo indicar QUEM
deve executar as ações e serviços de saúde, mas sim COMO
eles devem ser executados!
É uma proposta de qualificação do atendimento à saúde.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Como forma de efetivar a humanização no âmbito do
SUS, o Ministério da Saúde desenvolveu, em 2003, a
Política Nacional de Humanização (PNH).
Também chamada de HumanizaSUS, a PNH, emerge da
convergência de três objetivos centrais:
(1) enfrentar desafios enunciados pela sociedade
brasileira quanto à qualidade e à dignidade no cuidado
em saúde;
(2) redesenhar e articular iniciativas de humanização do
SUS e
(3) enfrentar problemas no campo da organização e da
gestão do trabalho em saúde que têm produzido
reflexos desfavoráveis tanto na produção de saúde
como na vida dos trabalhadores
(PASCHE, PASSOS e HANNINGTON, 2011, p.4542)
Para alcançar esses objetivos a PNH se estrutura em
princípios, método, diretrizes e dispositivos.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
TRANSVERSALIDADE: A PNH deve se fazer presente e estar inserida em todas
as políticas e programas do SUS. A PNH busca transformar as relações de
trabalho a partir da ampliação do grau de contato e da comunicação entre as
pessoas e grupos, tirando-os do isolamento e das relações de poder
hierarquizadas. Transversalizar é reconhecer que as diferentes especialidades e
práticas de saúde podem conversar com a experiência daquele que é assistido.
Juntos, esses saberes podem produzir saúde de forma mais corresponsável.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
INDISSOCIABILIDADE ENTRE ATENÇÃO E GESTÃO: As decisões da gestão
interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso, trabalhadores e usuários
devem buscar conhecer como funciona a gestão dos serviços e da rede de
saúde, assim como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas
organizações de saúde e nas ações de saúde coletiva. Ao mesmo tempo, o
cuidado e a assistência em saúde não se restringem às responsabilidades da
equipe de saúde. O usuário e sua rede sociofamiliar devem também se
corresponsabilizar pelo cuidado de si nos tratamentos, assumindo posição
protagonista com relação a sua saúde e a daqueles que lhes são caros.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
PROTAGONISMO, CORRESPONSABILIDADE E AUTONOMIA DOS
SUJEITOS E COLETIVOS: Entendendo o protagonismo como a capacidade de
lidar com as diferenças, de analisar situações e relações e a partir daí construir
formas de intervenção sobre isso que foi analisado, a PNH oportuniza o
acionamento do protagonismo das pessoas, ou seja, reconhece cada pessoa
como legítima cidadã de direitos, valorizando e incentivando sua atuação na
produção de saúde.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Método da Tríplice Inclusão:
A PNH aposta na inclusão de trabalhadores, usuários e gestores na produção e
gestão do cuidado e dos processos de trabalho.
A comunicação entre esses três atores do SUS provoca movimentos de
perturbação e inquietação que a PNH considera o “motor” de mudanças e que
também precisam ser incluídos como recursos para a produção de saúde.
Humanizar se traduz, então, como inclusão das diferenças nos processos de
gestão e de cuidado.
Tais mudanças são construídas não por uma pessoa ou grupo isolado, mas de
forma coletiva e compartilhada.
Incluir para estimular a produção de novos modos de cuidar e novas formas de
organizar o trabalho.
(BRASIL, 2013)
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Acolhimento
É um modo de operar os processos de trabalho em saúde de
forma a atender a todos que procuram os serviços de saúde,
ouvindo seus pedidos e assumindo no serviço uma postura
capaz de acolher, escutar e pactuar respostas mais
adequadas aos usuários.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Gestão Participativa e Cogestão
A gestão não é um lugar ou um campo de ação exclusivo de
especialistas, portanto deve permitir a inclusão de vários
sujeitos envolvidos no processo de trabalho (gestão
participativa).
Há outro modo de fazer as mudanças na saúde,
considerando esses sujeitos mais livres para a criação,
autônomos e corresponsáveis pela coprodução de saúde
(cogestão).
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Clínica Ampliada e compartilhada
Pretende superar o modelo de clínica que não reconhece
singularidades e tem grandes dificuldades de produção de
vínculos com as pessoas. Tem como foco a não restrição da
clínica à dimensão biológica, entendendo que as pessoas
não se limitam às expressões das doenças de que são
portadoras.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Ambiência
Criar espaços saudáveis, acolhedores e confortáveis, que
respeitem a privacidade, propiciem mudanças no processo de
trabalho e sejam lugares de encontro entre as pessoas.
Refere-se ao tratamento dado ao espaço físico entendido
como espaço social, profissional e de relações interpessoais
que deve proporcionar atenção acolhedora, resolutiva e
humana. Vai além da composição técnica, simples e formal
dos ambientes, passando a considerar as situações que são
construídas, em determinados espaços e em determinado
tempo, e vivenciadas por um grupo de pessoas com seus
valores culturais e relações sociais.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Valorização do Trabalhador
Ainda são poucos os serviços de saúde que funcionam como espaços
coletivos, onde as experiências são discutidas e compartilhadas.
E a quase inexistência desses, ainda se somam outros problemas, como
o trabalho desgastante, a precarização das relações e condições de
trabalho, o valor atribuído ao trabalhador por parte da população e do
governo, a gestão centralizada etc., que produzem adoecimento.
A luta por melhores condições de trabalho é um exercício ético constante,
que aponta para uma avaliação permanente das práticas e seus efeitos
sobre a vida de todos e de cada um.
É importante dar visibilidade à experiência dos trabalhadores e incluí-los
na tomada de decisão, apostando na sua capacidade de analisar, definir e
qualificar os processos de trabalho.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Defesa dos direitos dos usuários
Os usuários de saúde possuem direitos garantidos por lei e
os serviços de saúde devem incentivar o conhecimento
desses direitos e assegurar que eles sejam cumpri- dos em
todas as fases do cuidado, desde a recepção até a alta.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Acolhimento com Classificação de Risco (ACR)
Mecanismo que permite gerenciar a fila de espera.
Em linhas gerais tem como fundamento a
priorização do atendimento para os casos mais
graves ou com maior risco. Dessa forma, muda-se a
lógica do serviço do atendimento, que deixa de ser
por ordem de chegada e passa a ser por maior
necessidade.
Projeto Terapêutico Singular (PTS)
Instrumento de organização e sistematização do
cuidado construído entre equipe de saúde e
usuário, considerando singularidades do sujeito e a
complexidade de cada caso. Ao entender o sujeito
como singular, esse dispositivo se alinha à diretriz
da clínica ampliada ao perceber o indivíduo como
produto de um contexto sociocultural, não limitado
ao aspecto biológico.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Programa de Formação em Saúde e Trabalho
(PFST)
O PFST busca estimular a criação de espaços que
permitam o diálogo e a troca de saberes entre os
profissionais da área da saúde, estimulando a
construção coletiva do trabalho e a aprendizagem
compartilhada.
Grupo de Trabalho de Humanização (GTH)
Permite a efetivação do método da tríplice inclusão
no âmbito do SUS. O GTH, também conhecido como
Comitê de Humanização, permite que, de forma
colegiada, se identifique e discuta os pontos críticos
do funcionamento do serviço, como dificuldades do
trabalho e tensões do cotidiano.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
Projeto memória do SUS que dá certo
Valorização das experiências bem-
sucedidas no SUS, desde sua criação,
buscando, a partir delas, repensar os
processos de trabalho e propor mudanças.
Colegiado Gestor
Espaço coletivo de gestão, para produção de acordos e
pactos entre usuários, trabalhadores e gestores. Ou seja,
é um dos lugares onde o método da tríplice inclusão se
efetiva.
ECONOMIA E GESTÃO DA SAÚDE
REFERÊNCIAS
AYRES, José Ricardo de Carvalho Mesquita. Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde. Interface
(Botucatu), Botucatu, v. 8, n. 14, p. 73-92, Fev. 2004 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832004000100005&lng=en&nrm=iso>.
BRASIL. Política Nacional de Humanização. DF, Brasília, 2013. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_humanizacao_pnh_folheto.pdf>.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Política
Nacional de Humanização: A Humanização como Eixo Norteador das Práticas de Atenção e Gestão em Todas as
Instâncias do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Série B. Textos básicos de Saúde. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_2004.pdf>.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização: o que é, como
implementar (uma síntese das diretrizes e dispositivos da PNH em perguntas e respostas). Brasília: Ministério da
Saúde, 2010. 72p. Disponível em:
<http://www.redehumanizasus.net/sites/default/files/diretrizes_e_dispositivos_da_pnh1.pdf>.
PASCHE, Dário Frederico; PASSOS, Eduardo; HENNINGTON, Élida Azevedo. Cinco anos da política nacional de
humanização: trajetória de uma política pública. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, n. 11, p. 4541-
4548, Nov. 2011 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232011001200027&lng=en&nrm=isso>.