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Hu Mingquan dezembro de 2015 Estudos Comparativos sobre o Envelhecimento nos Contextos Chinês e Português UMinho|2015 Hu Mingquan Estudos Comparativos sobre o Envelhecimento nos Contextos Chinês e Português Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciências Humanas

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Hu Mingquan

dezembro de 2015

Estudos Comparativos sobre o Envelhecimentonos Contextos Chinês e Português

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Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas

Trabalho realizado sob a orientação doProfessor Doutor Manuel Gamae daProfessora Doutora Sun Lam

Hu Mingquan

dezembro de 2015

Dissertação de Mestrado .Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês:Tradução, Formação e Comunicação Empresarial

Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas

Estudos Comparativos sobre o Envelhecimentonos Contextos Chinês e Português

ii

Declaração

Nome: HU MINGQUAN

E-mail: [email protected]

Telefone: +351 924200300

Número do Passaporte: G58134917

Título da Dissertação:

Estudos Comparativos sobre o Envelhecimento nos Contextos Chinês e Português

Orientadores: Professor Doutor Manuel Gama e Professora Doutora Sun Lam

Ramo de Conhecimento: Estudos Interculturais Português/Chinês

É autorizada a reprodução integral desta dissertação apenas para efeitos de

investigação, mediante declaração escrita do interessado, que a tal se compromete.

Universidade do Minho, ___/___/______

Assinatura: ________________________________________________

iii

Aos meus pais,

que merecem este trabalho

iv

Agradecimentos

A minha profunda e sincera gratidão ao Professor Doutor Manuel Gama e à

Professora Doutora Sun Lam pela orientação incansável, pela paciência, dedicação,

apoio, pelas sugestões e comentários e, a um nível pessoal, pelo incentivo e amizade.

À Diretora do Curso de Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês:

Tradução, Formação e Comunicação Empresarial, Professora Doutora Sun Lam,

pela oportunidade que me deu de frequentar este mestrado na Universidade do Minho

e pelo seu apoio, ao nível pessoal e académico.

Ao meus pais e avós pelo amor e apoio incondicional, tanto no meu percurso

académico, como ao longo da vida.

A todos os docentes do Curso de Mestrado em Estudos Interculturais

Português/Chinês: Tradução, Formação e Comunicação Empresarial, pelos

conhecimentos que me transmitiram.

Aos meus grandes amigos Zhang Fengyang, Cui Zhe, Yu Chenfei e Tian Chen, pela

sua simpatia, amizade e ajuda a todos os níveis. Aos meus colegas de mestrado, pela

amizade e apoio.

Por fim, um agradecimento à Senhora Mariana Silva, da Associação de Assistência de

S. Vicente de Paulo da freguesia da Sé, em Braga, que me auxiliou na investigação,

pela sua disponibilidade e paciência.

v

Resumo

A população é uma variável fundamental do desenvolvimento da sociedade humana e,

graças a um conjunto diverso de fatores, a esperança média de vida aumentou

exponencialmente, no último século, conduzindo a um fenómeno de envelhecimento

das sociedades desenvolvidas. Lidar com o contínuo aumento da população idosa

tornou-se, no entanto, um problema global e um dos principais desafios demográficos

do século XXI.

Nos contextos chinês e português, o envelhecimento demográfico mudou nos últimos

anos, devido à transformação política, ao desenvolvimento económico e ao avanço

social, trazendo uma série de desafios nas formas de manutenção das pessoas idosas.

Através da comparação do processo de envelhecimento demográfico e da análise das

circunstâncias de vida dos idosos na China e Portugal, abordaremos, no presente

trabalho, os fatores na base dessas mudanças, do ponto de vista político, económico,

social e cultural.

vi

摘要

人口问题是人类社会得以存在和发展的根本性问题。在二十世纪,社会的发展近

一步延长了人类的寿命,使得老龄人口数量不断增加。日益严峻的人口老龄化现

象已经成为了全球性问题,人类社会必将在二十一世纪面临更为重大的人口挑战。

近些年来,受政治变革、经济发展、社会进步等原因的影响,中葡两国的人口老

龄化情况发生了一定变化,并形成了各自的特点,给两国现今的养老模式带来了

一系列的挑战。

本文以人口老龄现象化为切入点,对中葡两国人口老龄化及其老年人生活的现状

进行分析,从而展现两国在政治、经济、社会、文化等方面的风貌。

vii

Abstract

Population is the essential problem that influences the existence and development of

human society and, thanks to multiple factors, the life hope increased dramatically in

the last century. Aging population keeps increasing as society develops, so how to

deal with this problem becomes a global issue and one of the 21st century’s major

challenges.

The aging process has changed both in Portugal and China, in recent years, due to the

influence of political innovation, economic development and social progress, forming

features of their own and bringing with it challenges for those countries’ supporting

model for the elderly.

Comparing the demographic aging process and analyzing the current situation of the

elder population, both in China and Portugal, the present paper uses the phenomenon

of aging population as an entry point, and unfold the unique political, economic,

social and cultural features of the two countries.

viii

Índice

Introdução .................................................................................................................... 1

Capítulo I Análise do envelhecimento no contexto chinês ....................................... 5

1.1 Apresentação geral do processo de envelhecimento ............................................ 6

1.2 Características do envelhecimento ....................................................................... 7

1.3 Causas do envelhecimento ................................................................................. 13

1.3.1 A redução da fecundidade ........................................................................... 13

1.3.2 A redução da mortalidade ........................................................................... 19

1.4 Tendência ........................................................................................................... 21

Capítulo II A vida atual dos idosos no contexto chinês .......................................... 24

2.1 Introdução .......................................................................................................... 25

2.2 Locais onde os idosos vivem ............................................................................. 25

2.3 A evolução da cultura da piedade filial na China .............................................. 26

2.4 As vivências das pessoas idosas na atualidade .................................................. 30

2.4.1 Políticas ....................................................................................................... 30

2.4.2 Atividades domésticas ................................................................................ 32

2.5 A crise dos cuidados tradicionais dos idosos ..................................................... 34

2.5.1 Influências da política do filho único .......................................................... 35

2.5.2 O fenómeno de Ninho Vazio ....................................................................... 35

Capítulo III Análise do envelhecimento no contexto português ............................ 39

3.1 Introdução .......................................................................................................... 40

3.2 O processo do envelhecimento .......................................................................... 40

3.3 Características .................................................................................................... 43

3.4 Causas ................................................................................................................ 46

3.4.1 A diminuição da fecundidade ..................................................................... 46

3.4.2 A diminuição da mortalidade ...................................................................... 50

3.5 Tendência ........................................................................................................... 51

ix

Capítulo IV A vida atual dos idosos no contexto português .................................. 54

4.1 Introdução .......................................................................................................... 55

4.2 Contexto Político ............................................................................................... 55

4.2.1 Apoios financeiros ...................................................................................... 55

4.2.2 Respostas sociais para idosos ...................................................................... 56

4.3 A vida atual das pessoas idosas ......................................................................... 58

4.4 Problemas atuais: falta de atenção e respeito pelos idosos ................................ 60

Conclusão .................................................................................................................... 64

Bibliografia ................................................................................................................. 68

Web Links ................................................................................................................... 71

x

Índice de Gráficos e Quadros

Índice de Gráficos Gráfico 1 - Envelhecimento de alguns países (% da pop. com mais de 65 anos).........6

Gráfico 2 - Tempo necessário para o aumento da população idosa de 9% para 18%...8

Gráfico 3 - Velocidade do envelhecimento...................................................................9

Gráfico 4 - Percentagem da população de idosos com mais de 80 anos (milhões).....10

Gráfico 5 - População de idosos das províncias chinesas...........................................11

Gráfico 6 - PNB per capita de alguns países envelhecidos (dólares).........................12

Gráfico 7 - Esperança de vida na China......................................................................20

Gráfico 8 - Mortalidade no V e VI Recenseamento (2000 e 2010)..............................21

Gráfico 9 - Mudança da estrutura da população (milhões).........................................22

Gráfico 10 - Onde os idosos vivem na atualidade.......................................................25

Gráfico 11 - Mudança do tamanho das famílias..........................................................36

Gráfico 12 - Composição dos habitantes das províncias chinesas..............................37

Gráfico 13 - Estrutura etária da população por grandes grupos de idade (%), Portugal,

1970-2014.....................................................................................................................40

Gráfico 14 - Índice de envelhecimento, índice de dependência de idosos e índice de

renovação da população em idade ativa (nº), Portugal (1970-2014)...........................42

Gráfico 15 - Pirâmides etárias, Portugal (2004 e 2014)..............................................43

Gráfico 16 - Taxa bruta de natalidade de Portugal (1960-2014).................................46

Gráfico 17 - Alunos matriculados no ensino superior em Portugal por género..........48

Gráfico 18 - Idade média do primeiro casamento, por sexo em Portugal...................49

Gráfico 19 - Média de filhos por mulher em Portugal................................................49

Gráfico 20 - Esperança de vida à nascença, Portugal (2002-2014).............................50

Gráfico 21 - Taxa bruta de mortalidade e taxa de mortalidade infantil em Portugal..51

Gráfico 22 - Pirâmide etária, Portugal, 2013 (estimativas), 2035 e 2060 (projeções,

cenário central).............................................................................................................52

Gráfico 23 - Distribuição das respostas sociais por população (2009).......................58

Gráfico 24 - Distribuição da amostra global de idosos portugueses de acordo com

quem eles vivem...........................................................................................................59

xi

Índice de Quadros Quadro 1 - Taxa bruta de natalidade na China...........................................................13

Quadro 2 - Taxa de Fecundidade das mulheres chinesas (1950-2010)......................18

Quadro 3 - Índice de envelhecimento dos territórios portugueses..............................44

Quadro 4 - Montante mensal da pensão social de velhice com duodécimos, a partir de

janeiro de 2015.............................................................................................................56

Quadro 5 - Comparação de Censos Sénior em 2014 e 2015.......................................61

Quadro 6 - Distribuição geográfica de Censos Sénior (2015)....................................61

1

Introdução

2

O termo «envelhecimento» aparece de forma cada vez mais recorrente nas nossas

conversas e pensamentos quotidianos. Cabral (2013) recorda que oenvelhecimento é

"um fenómeno positivo, quer para os indivíduos, quer para as sociedades, sendo

testemunha dos progressos realizados pela humanidade em termos económicos,

sociais e biomédicos, na base dos quais se desenvolveram as políticas públicas de

acesso generalizado da população aos cuidados de saúde" (p. 11).No entanto, não é

possível ignorar aquilo a que os investigadores chamam de paradoxo do

envelhecimento: apesar de ser um factor socialmente assumido como positivo, ao

combinar-se com a diminuição da fecundidade, gera uma série de consequências

complexas e mesmo gravosas para a sociedade.

Entre essas consequências há a considerar a sustentabilidade dos sistemas de saúde e

de apoio social, as exigências em termos de relações intergeracionais, bem como o

desafio de proporcionar um envelhecimento ativo e inclusivo para todos os cidadãos.

O envelhecimento demográfico é um conceito estatístico, que se refere a um processo

dinâmico com um desenvolvimento bidirecional da diminuição do número de jovens e

aumento do número de idosos, ou seja, a proporção da população idosa aumenta em

relação à população total. As Nações Unidas adotaram uma expressão para designar

um país quando a sua população idosa (com mais de 60 ou 65 anos) ultrapassa,

respetivamente, os 10% e 7% do total. Quando isso acontece, diz-se que o país entrou

no «período de envelhecimento».

Segundo dados das Nações Unidas, em 2005, havia mais de 629 milhões idosos em

todo o mundo. Isto quer dizer que há um idoso com 60 anos ou mais, por cada 10

pessoas. Cerca de 60 países já entraram no «modelo envelhecido» e quando a

população idosa chegar aos 2 bilhões, em 2050, representará 21% da população

mundial, percentagem superior à da população total de crianças com menos de 14

anos. Em suma, o envelhecimento demográfico tornou-se num dos problemas sociais

mais proeminentes a nível mundial. Ciente desta problemática, a União Europeia

celebrou, em 2012, o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre

Gerações.

No presente, tanto a China como Portugal se tornaram sociedades envelhecidas e,

3

pelo menos nesta matéria, os dois países apresentam algumas semelhanças. No

entanto, considerando as suas raízes culturais, tradições e circunstâncias sociais

bastante distintas, também existem várias diferenças, sobretudo na forma e na atitude

face à manutenção dos idosos. A partir de certa altura, a China registou uma grande

transformação ao nível das mentalidades e dos avanços médico-científicos, o que

conduziu à diminuição da fecundidade e da mortalidade e ao crescimento da

percentagem da população idosa. A política do filho único agravou ainda mais o

processo de envelhecimento, pelo que a China tem já o maior índice de velhice no

mundo.

Numa perspectiva internacional, o envelhecimento é um fenómeno inevitável

associado ao processo de desenvolvimento económico das sociedades modernas, que

ocorreu rapidamente, sobretudo a partir da segunda metade do século XX, englobando

muitos países, especialmente os europeus, como Portugal. A presente dissertação tem

como objetivo geral refletir acerca do envelhecimento nos contextos chinês e

português, analisando as circunstâncias de vida atual dos idosos nos dois países.

No primeiro capítulo apresenta-se o fenómeno de envelhecimento na China e faz-se

uma caracterização geral do processo, analisando por exemplo a velocidade do

crescimento da população idosa, a proporção de idosos por género e faixa etária, os

níveis de envelhecimento do ponto de vista geográfico e as condições financeiras na

China. Também se faz uma análise das possíveis razões deste envelhecimento,

especialmente a política do filho único, e uma previsão da tendência do

envelhecimento na China.

O segundo capítulo reflete sobre a situação atual dos idosos na China. Em primeiro

lugar, descreve-se a forma de manutenção dos idosos à luz da tradição e da cultura de

piedade filial. Depois, apresentam-se os apoios sociais e as atividades atuais dos

idosos. Por fim, evidencia-se a problemática da manutenção dos idosos tendo em

conta as influências negativas da política do filho único e do fenómeno de Ninho

Vazio.

No terceiro capítulo introduz-e, de forma análoga, o tema no contexto português.

Descreve-se a situação e as características do envelhecimento em Portugal, analisando

4

as razões para a diminuição de fecundidade e mortalidade, nomeadamente a mudança

na idade de maternidade e no número de filhos, assim como o prolongamento da

esperança média de vida, que também se reflete na tendência de envelhecimento.

No quarto capítulo, analisa-se a forma de manutenção dos idosos em Portugal:

descreve-se as políticas para a população idosa, nomeadamente no que respeita a

apoios financeiros e respostas sociais, e a vida dos idosos que moram no lar da

Associação de Assistência de S. Vicente de Paulo, em Braga. Faz-se também uma

análise dos problemas atuais, como o aumento do número de idosos que vivem

sozinhos e isolados e a falta de respeito para com esta franja da população tão

vulnerável.

Numa breve conclusão, oferece-se uma reflexão global de todas as questões tratadas,

comparando os contextos chinês e português.

5

Capítulo I

Análise do envelhecimento

no contexto chinês

6

1.1 Apresentação geral do processo de envelhecimento

A China transformou-se numa sociedade envelhecida no início do século XX. De

acordo com o V Recenseamento (2000), o número de idosos com mais de 65 anos era

de 88 milhões naquele ano, representando 6,96% da população total da China1. Dados

de 2004 revelavam que 21 províncias chinesas se tinham tornado regiões envelhecidas.

Nos 22 anos decorridos desde o III Recenseamento (1982) até 2004, o crescimento

médio anual da população idosa chinesa foi de 3,02 milhões de pessoas. Isto traduz

uma percentagem de crescimento médio de 2,85% por ano, ultrapassando a taxa do

crescimento populacional global (1,17%). No final de 2004, o número de idosos com

mais de 60 anos atingiu os 143 milhões, representando 10,97% da população chinesa2.

Gráfico1-Envelhecimentodealgunspaíses

(%dapopulaçãocommaisde65anos)

Fonte:YANG,Yansui,OsRelatóriosdePesquisadoEnvelhecimentodaChina,EditoradaUniversidadedeQinghua,

Pequim,2013,p.11.

1 http://baike.baidu.com/link?url=fRkvUxTva0HeWuCneV7rQD_VMCtFMscj_pUcj4k5cF2a_oNIn21_g-owMJd4OuwNLLtHg1FWV1bJ9G8xEJuliaIuzgVjqT9VITzNBtcQtK0WGqM2K6t67Eh8XDs2X64FHWka38B_VY__zQ9UYks7FBdMczPyqJr42wGzdMbSwddpsNdDasbobYYSjmMUkEZH,consultadoem10deabrilde2015. 2 http://wenku.baidu.com/link?url=MthYssCOW6dsktofUm5sTThMdLzEpY4K9s2rx0h64iG3p__j_4Mu2mehrAG5RSeHsS1gjn8upjUwAWm6tee7PiDyUT3qY0Id9J4jf2KIs9u,consultadoem10deabrilde2015.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

China

Alemanha

Japão

EstadosUnidos

Totaldapopulação

7

O VI Recenseamento, realizado em 2010, apontava para 222 milhões de crianças com

idade inferior a 14 anos, representando 16,6% da população, enquanto o número de

idosos era superior a 177 milhões, representando 13,26%, número que incluía 118

milhões de cidadãos com mais de 65 anos (8,87% na população total da China).

Comparando estes com os dados do o V Recenseamento, verificamos que a população

infantil caiu 6,29% e a proporção da população idosa com mais de 60 e 65 anos

aumentou, respetivamente, 2,93% e 1,91%3.

No final de 2012, a população de idosos com mais de 60 anos rondava os 190 milhões,

representando 14% da população total, e dados mais recentes, de 2014, revelam que a

China tem mais de 200 milhões de idosos, ou seja, os mais velhos representam 15,5%

da população do país. Sublinhe-se que esta percentagem é significativamente superior

à norma verificada em sociedades envelhecidas, que ronda 10% da população total.

1.2 Características do envelhecimento

O envelhecimento demográfico é um dos símbolos do nível do desenvolvimento

económico e social de uma nação. Atualmente, todos os países desenvolvidos

apresentam uma sociedade envelhecida, todavia a China, um país ainda em vias de

desenvolvimento, tem a maior população de idosos do mundo, o que,

indubitavelmente, é uma exceção e representa um grande desafio.

Em primeiro lugar, o número absoluto de idosos na China é grande: é o único país do

mundo que tem a população idosa acima de 100 milhões sendo, na realidade, o dobro.

Isto é equivalente à população da Indonésia, ultrapassa a população global do Brasil,

Japão e da Rússia, ficando em quarto lugar mundial4. Prevê-se que o número de

chineses com mais de 60 anos chegará a 300 milhões, em 2026, ultrapassará os 400

milhões em 2037 e atingirá o máximo em 2051, passando para um número entre os

300 milhões e 400 milhões de pessoas.

Neste universo de idosos, a população feminina é superior à dos homens. Atualmente, 3 http://baike.baidu.com/link?url=KKcSTxssF3rYSunY5hK_sE8vHImgEjSjwhjzY5m_WXHg19Z-dgyloiEtpsKzj3gsq67OQKC3s_Zzh0AX1_z0va,consultadoem11deabrilde2015. 4 www.jqgc.com/jmda/47780.shtml,consultadoem11deabrilde2015.

8

as mulheres idosas são mais 4,64 milhões do que os homens e 50%-70% tem mais de

80 anos. Estima-se que esta diferença atinja um pico em 2049: cerca de 26,45 milhões

de mulheres idosas a mais. Na segunda metade do século XXI, a diferença deverá

estabilizar entre os 17 e os 19 milhões.

Terceiro ponto, a velocidade do envelhecimento na China é muito rápida. Os idosos

representavam apenas 8% da população em 1980, sendo um país com uma estrutura

etária relativamente jovem. No entanto, a proporção ultrapassou 10% em 2000 e 12,4%

em 2010. O período entre 1982 e 2000 foi uma época de transição da estrutura etária

da população chinesa, que passou de madura para envelhecida, uma transição bastante

rápida que demorou menos de duas décadas. Por contraponto, no Reino Unido foi

necessário 80 anos e a Suécia precisou de quatro décadas. Aliás, a maior parte dos

países desenvolvidos precisa mais de 45 anos para elevar a percentagem da população

idosa com mais de 65 anos de 7% para 14%, processo que a China concluiu em 27

anos. Em suma, a China é um dos países com o envelhecimento mais rápido.

Gráfico2-Temponecessárioparaoaumentodapopulaçãoidosade9%para18%

Fonte:DadosestimativosdapopulaçãodasNaçõesUnidas(1994).

0 20 40 60 80 100 120 140 160

China

EstadosUnidos

Japão

ReinoUnido

França

Itália

Dinamarca

Singapura

Holanda

Suécia

Anos

9

Atualmente, a velocidade do envelhecimento da China é mais do dobro do que a

registada em outros países e manter-se-á assim por um longo período no futuro. Além

disso, com o pico do envelhecimento, que se prevê algures entre 2040 e 2050, o ritmo

do envelhecimento tornar-se-á ainda mais rápido. Prevê-se que, em 2050, os idosos

com mais de 60 anos representem 32,8%, ou seja, um terço da população total da

China.

Gráfico3-Velocidadedoenvelhecimento

Fonte:YANG,Yansui,OsRelatóriosdePesquisadoEnvelhecimentodaChina,EditoradaUniversidadedeQinghua,

Pequim,2013,p.11.

Ao rápido envelhecimento acresce o facto de haver pessoas com idade muito

avançada. O gráfico 4, que evidencia a tendência da população de idosos com mais de

80 anos ao longo de 50 anos, mostra que esta faixa específica tinha cerca de 20

milhões de pessoas, representando 1,5% da população total em 2010, número que

chegará a 1000 milhões no ano de 2055 (7,4%) e manterá uma proporção alta, entre 7%

e 11%, meio século depois. O ritmo acelerado do crescimento do número de pessoas

com idade avançada registará uma média de 4,14%, entre 2025 e 2050, enquanto a

taxa de crescimento anual entre 2030 e 2035 será de 6,83%.

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

China

Alemanha

Japão

EstadosUnidos

Totaldapopulação

10

Gráfico4-Percentagemdapopulaçãodeidososcommaisde80anos(milhões)

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.214.

A quinta característica relaciona-se com níveis de envelhecimento bastante

divergentes do ponto de vista geográfico. A China possui um território imenso e uma

taxa de migração interna relativamente baixa, pelo que a distribuição da população é

muito desequilibrada. Consequentemente, em termos de envelhecimento, existem

grandes diferenças regionais 5 . O grau de envelhecimento na China aumenta

obviamente de leste para oeste. O processo do envelhecimento das províncias

costeiras do leste, que têm uma economia mais desenvolvida, é mais rápido do que as

províncias subdesenvolvidas ocidentais. Ningxia tornou-se uma região envelhecida

em 2012, ou seja, 33 anos depois de Xangai, a região mais envelhecida do país, que

entrou nessa fase em 1979. Enquanto a população de idosos de Chongqing

representou 16,45% do total, em Guangdong a percentagem era apenas 8,9%.

5 Cf. XU, Mengze, Estudos Comparativos sobre as Atitudes de Procriação nos Contextos Chinês e Português(1973-2013), Dissertação do Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês, Universidade do Minho,Braga,2013,p.64.

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

1000

3000

5000

7000

9000

11000

13000

2010 2020 2030 2040 2050 2060

População

Percentagem

11

Gráfico5-Populaçãodeidososdasprovínciaschinesas

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.213.

Além disso, o número de idosos nas regiões rurais é superior ao das zonas urbanas. O

processo de urbanização, registado desde a fundação da República da China, não

acompanhou o ritmo da industrialização, por isso, grande parte da população

permaneceu no campo. Atualmente, a percentagem da população idosa das áreas

rurais é 1,24% superior à das zonas urbanas, tendência que continuará até 2040.

Prevê-se que as zonas urbanas se tornarão mais envelhecidas na segunda metade do

século XXI, ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos6.

A última característica assinalável é que o desenvolvimento económico da China

ainda não é suficiente para fazer face a este cenário. Os países desenvolvidos que

possuem uma sociedade envelhecida registaram uma modernização prévia, ou seja,

antes de se tornarem nações envelhecidas, já eram "ricos". No entanto, a China

envelheceu ainda com uma economia subdesenvolvida, significando isto que, antes de

entrar na fileira dos países desenvolvidos, já está envelhecida. Por exemplo, em 2009,

6 www.china.com.cn/aboutchina/zhuanti/zgrk/2008-05/04/content_15054797.htm, consultado em 15 de abrilde2015.

6%

8%

10%

12%

14%

16%

18%Pequim

Tianjin

Hebei

Shanxi

Neimenggu

Liaoning

Jilin

Heilongjiang

Xangai

Jiangsu

Zhejiang

Anhui

Fujian

Jiangxi

Shandong

Henan

Hubei

Hunan

Guangdong

Guangxi

Hainan

Chongqing

Sichuan

Guizhou

Yunnan

Tibete

Shaanxi

Gansu

Qinghai

Ningxia

Xinjiang

Provínciaschinesas

12

o PNB7 per capita de 37% dos países envelhecidos ultrapassava 10.000 dólares

(8.767 euros), 28% deste grupo de países registava um PNB per capita entre 10.000 e

30.000 dólares (de 8.767 mil a 26.301 euros), incluindo a Suécia, o Japão, o Reino

Unido, a Alemanha e a França 8. Em comparação, quando a China se tornou

envelhecida em 2000, o PNB per capita era de 840 dólares (736 euros), o menor de

todos os 72 países envelhecidos do mundo. Simultaneamente, o rendimento per capita

dos idosos chineses também era muito baixo. Em 2010, a renda per capita dos idosos

nas zonas urbanas era de 17.892 yuan (2.530 euros), menos de 6% da média nacional;

e a dos idosos nas zonas rurais era 4.765 yuan (674 euros), menos de 20% da renda

per capita global das zonas rurais naquele ano9. Com efeito, a China enfrenta uma

grande dificuldade económica para manter o equilíbrio do desenvolvimento nacional

e assegurar condições de vida digna aos idosos10.

Gráfico6-PNBpercapitadealgunspaísesenvelhecidos(dólares)

Fonte:YANG,Yansui,OsRelatóriosdePesquisadoEnvelhecimentodaChina,EditoradaUniversidadedeQinghua,

Pequim,2013,p.13.

7 PNB:ProdutoNacionalBruto.8 YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,EditoradoPovo,Xangai,2014.9 www.stata.gov.cn/tjsj/ndsj/2011/html/J1005C.HTM,consultadoem20deabrilde2015.10 Cf.YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,EditoradoPovo,Xangai,2014,pp.209-221.

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

Países

13

1.3 Causas do envelhecimento

Na base do envelhecimento está o desenvolvimento económico e social que leva a

uma redução persistente do desejo de procriação, causando um declínio considerável

da fecundidade e um aumento significativo da população idosa, ou seja, as principais

razões deste fenómeno social são a redução quer da fecundidade, quer da mortalidade.

1.3.1 A redução da fecundidade

A redução da fecundidade é o motivo capital do envelhecimento na China. Com o fim

da II Guerra Mundial (1939-1945), a população mundial teve um período de

crescimento sem precedentes, que motivou a previsão, por parte de alguns

demógrafos, de uma catástrofe demográfica iminente. Presentemente, esta catástrofe

poderá ser causada mais pela diminuição da fecundidade do que pelo grande

crescimento da população.

Quadro1-TaxabrutadenatalidadenaChina

Datadoscensos Taxabrutadenatalidade(‰)

1999 14.64

2000 14.03

2001 13.38

2002 12.86

2003 12.41

2004 12.29

2005 12.40

14

2006 12.09

2007 12.10

2008 12.14

2009 11.95

2010 11.90

2011 11.93

2012 12.10

Fonte:http://baike.baidu.com/link?url=jcSeEqR7u0pr5jvzF2u6nmul0lAmIpYxkEJkPL8ixqCfmParjDST9SdO4CQA7Z

VuyxFbS1xrpm-DiIp-ZWcOOK,consultadoem2demaiode2015.

Grosso modo, a comunidade internacional considera normal uma taxa bruta de

natalidade entre 17‰ e 15‰; baixa entre 15‰ e 13‰; baixa séria entre 13‰ e 11‰

e baixa superior quando fica abaixo dos 11‰. De acordo com este critério, a taxa

bruta de natalidade na China situa-se entre os níveis baixo e baixo sério, havendo de

resto uma tendência para se aproximar do nível baixo superior.

A fecundidade na China começou a cair a partir da década de 90 do século passado

apesar do provérbio «mais filhos, mais felicidade» 11 que remete para a visão

tradicional de que os filhos são a garantia da vida idosa dos seus pais12. Contudo, com

o desenvolvimento do regime social, o governo começou a oferecer fundos de

pensões e subsídios de seguros médicos, com valores que vêm subindo, ano após ano.

Isto atenua os encargos dos filhos em relação aos seus pais idosos. Simultaneamente,

devido ao desenvolvimento económico e à inflação, os custos do acolhimento de

crianças tem vindo a aumentar, o que agrava o encargo financeiro das famílias.

11多子多福 duōzǐduōfú.12养儿防老 yǎngérfánglǎo.

15

De acordo com os dados da Academia Chinesa de Ciências Sociais13, em 2005, o

custo médio total dos pais chineses para criarem um filho até aos 16 anos era de 250

mil yuan (cerca de 20 mil euros) e, se se considerasse também os gastos da educação

universitária, este valor aumentava para 490 mil yuan (cerca de 39 mil euros). Já em

2011, os gastos com a criação de um filho até aos 25 anos ultrapassava 1 milhão de

yuan14 (cerca de 125 mil euros), o que representa uma grande pressão financeira

invisível para uma família normal, que se vê assim impedida de criar mais filhos.

O ideário feudal da China antiga defendia a ignorência de uma mulher como uma

«virtude»15, ela só precisava de «obedecer ao marido com quem se casou»16, e toda a

sua função social era tomar conta dos seus sogros e criar os filhos, portanto os casais

tendiam a ter uma prole abundante. No entanto, com o desenvolvimento social, as

mentalidaes foram mudando e a posição social das mulheres foi melhorando

gradualmente, ao mesmo tempo que as idades de casar e de procriar foram adiadas,

devido à duração do ensino superior e às ambições profissionais.

De acordo com os dados do V Recenseamento (2000), a média da idade casadoira dos

homens era de 25,3 anos e a das mulheres de 23,4 anos. No VI Recenseamento (2010),

a média da idade casadoira masculina passou para 26,7 anos e, seguindo a mesma

tendência, a idade média feminina chegou aos 24,9 anos. Aliás, nas grandes cidades

os jovens casam-se ainda mais tarde: em 2012, os homens em Xangai casavam-se por

volta dos 32,72 anos e as mulheres com cerca de 30,3 anos17.

O fenómeno do casamento tardio resulta no adiamento da procriação. Em 2000, a

média da idade das mulheres por altura da primeira maternidade foi de 26,3 anos. Dez

anos depois, em 2010, a média de idade era superior em 2,82 anos, isto é, 29,13 anos.

Este adiamento encurta seriamente o período de procriação das mulheres, limitando o

número dos filhos.

Na sociedade atual, os jovens enfrentam uma acérrima concorrência laboral, para

13中国社会科学院 zhōngguóshèhuìkēxuéyuàn.14 http://jingyan.baidu.com/article/09ea3ede240889c0afde3910.html,consultadoem4demaiode2015.15女子无才便是德 nǚzǐwúcáibiànshìdé.16嫁夫从夫 jiàfūcóngfū.17 http://news.my399.com/local/content/2013-11/03/content_1028958.htm,consultadoem5demaiode2015.

16

além de terem de fazer face a um contexto económico grave. Ambos os cônjuges

precisam de trabalhar para garantirem a estabilidade económica da família. Porém, o

aumento da atividade profissional feminina pesa muito nas suas atitudes de procriação:

as mulheres não têm tempo e energia para criarem filhos. A maioria delas teme que os

filhos as prejudique nas oportunidades de trabalho ou provoquem perdas materiais.

Algumas mulheres preferem uma família “DINK”18 (a sigla do inglês Double Income

No Kids), referindo-se aos casais com avultados rendimentos, ou seja, com

capacidade financeira para terem filhos, mas sem desejo de os terem.

A política do filho único

Além dos fatores que afetam a fecundidade comuns aos outros países, a política do

filho único teve um impacto enorme na fecundidade chinesa. O planeamento familiar

foi um meio para controlar o crescimento rápido da população pois, na chamada

infância da república da China (década de 50 até o início da década de 70 do século

passado), a sociedade entrou numa fase de elevado crescimento populacional, em

resultado de uma alta fecundidade e uma baixa mortalidade. Entre 1949 e 1964, a

população chinesa aumentou em 200 milhões, passando de 500 para 700 milhões.

Cada 100 milhões de pessoas adicionais precisou apenas, em média, de sete anos e

meio. Uma década depois, a população chinesa cresceu mais 200 milhões, atingindo

cerca de 900 milhões de habitantes, e o tempo necessário para aumentar 100 milhões

de pessoas encurtou para cinco anos19. Consciente da ameaça que o crescimento

explosivo da população representava, o governo implementou uma rígida estratégia

demográfica.

Em 1962, o Conselho de Estado20 defendia «um controle da fecundidade nas áreas

urbanas e rurais populosas». Dois anos depois, em 1964, criou a Comissão do

Planeamento Familiar e outras instituições relevantes para uma implementação

vigorosa do planeamento familiar em todo o país. Em 1978, o governo definiu

claramente ser necessário: «encorajar cada casal a ter apenas um filho, e o número de

filhos de cada casal não pode ser mais do que dois, e o intervalo entre filhos não pode

18 Traduzidofoneticamentecomo丁克 dīngkè.19 www.stats.gov.cn/ztjc/ztfx/xzg50nxlfxbg/200206/t20020605_35973.html,consultadoem8demaiode2015.20国务院 guówùyuàn.

17

ser menos que três anos». O planeamento familiar sofreu várias alterações até que, em

1982, o Conselho de Estado lançou o Documento n.º1 oficializando a política de

apenas um filho por casal. Para além de estabelecer vantagens para quem se limitasse

a um único filho, decretou severas multas para quem não o fizesse.

Foram todavia contempladas várias situações de exceção: se o primeiro filho fosse

deficiente e não pudesse ser autossuficiente, os pais podiam ter mais de um filho; o

mesmo acontecia com as famílias que faziam parte de minorias étnicas ou em que

ambos os membros do casal eram já filhos únicos. Um segundo filho foi ainda

permitido em situação de esterilidade, ou quanto surgia uma gravidez inesperada após

uma adoção; aos soldados deficientes e às famílias reconstituídas (quanto um

elemento do novo casal tem um único filho, podiam optar por gerar um segundo)21.

Devido à política do filho único, a fecundidade da China caiu abaixo do nível da

renovação de gerações, no início de 1990. Apesar do planeamento familiar, a

população chinesa era ainda enorme e continuava a aumentar, atingindo 1 bilhão e

100 milhões em 1998. Neste século XXI, o governo chinês continuou a reforçar a

implementação da política do filho único junto dos seus habitantes (1,3 biliões), o que

facilitou o acesso da população a um sistema de saúde e a uma educação de qualidade.

A Lei do Planeamento Familiar22 aprovada em 2001 encorajava o adiamento da

maternidade e manteve a política de filho único23.

De acordo com o V Recenseamento (2000), a taxa de fecundidade nacional -

estimativa do número médio de filhos que uma mulher poderá ter até ao fim o seu

período reprodutivo, mantidas constantes as taxas observadas na referida data - era

apenas de 1,22 filhos por mulher, a mais baixa do mundo e muito inferior à média

mundial de 2,1 filhos por mulher. No VI Recenseamento (2010), a taxa de

fecundidade caiu ainda mais, sendo de 1,18 filhos por mulher.

21 ResumodaReuniãodaComissãodoPlaneamentoFamiliar,1982.22中国计划生育法 zhōngguójìhuàshēngyùfǎ.23 Cf.XU,Mengze,ob.cit.,pp.34-36.

18

Quadro2-TaxadeFecundidadedasmulhereschinesas(1950-2010)

Datadoscensos Taxadefecundidade(filhos)

1950 5.81

1955 6.26

1960 4.02

1965 6.08

1970 5.81

1975 3.57

1980 2.24

1985 2.20

1990 2.31

1995 1.56

2000 1.22

2005 1.34

2010 1.18

Fonte:http://baike.baidu.com/link?url=jcSeEqR7u0pr5jvzF2u6nmul0lAmIpYxkEJkPL8ixqCfmParjDST9SdO

4CQA7ZVuyxFbS1xrpm-DiIp-ZWcOOK,consultadoem8demaiode2015.

A China calcula que a política do filho único evitou 400 milhões de nascimentos ao

longo dos últimos anos e ajudou a quebrar a preferência tradicional por grandes

famílias, que vinha perpetuando a pobreza. Mas há sérias preocupações sobre os

efeitos colaterais, como o aumento dos abortos e o rápido envelhecimento

19

populacional24.

1.3.2 A redução da mortalidade

Para além da redução da fecundidade, que tem uma influência proeminente no

envelhecimento da China, é preciso considerar também o declínio de mortalidade25 e

o prolongamento da esperança média de vida26. O prolongamento da esperança de

vida resulta de progressos médicos, desenvolvimentos científicos e melhoria dos

sistemas de segurança social, sendo uma tendência mundial.

Aquando da fundação da China, em 1949, a mortalidade era muito alta, atingindo os

20‰. Quanto foi feito o I Recenseamento, em 1953, a esperança de vida era de

apenas 45 anos. A estabilidade social e alguns progressos de caráter sanitário

contribuíram para o prolongamento da esperança de vida. Assim, o II Recenseamento

(1964) apontou para uma esperança de vida de 64 anos. Em 1978, a esperança de vida

dos homens atingiu 66,9 anos e a das mulheres 69 anos. No início da década de 80, a

esperança média de vida em muitas regiões ultrapassou os 70 anos, um dos níveis

mais avançados do mundo.

No século XXI, a economia chinesa registou um crescimento substancial, com

consequências positivas no padrão de vida dos cidadãos. A esperança de vida também

continuou a aumentar alcançando, em 2001, os 71,8 anos, enquanto a taxa de

mortalidade caiu para 6,4‰ em 2003. Os resultados do VI Recenseamento (2010)

apontavam para uma esperança de vida total dos chineses de 74,83 anos (mais 3,43

anos do que na década anterior), a que correspondia uma média de 72,38 e 77,37 anos

para os homens e as mulheres, respetivamente, isto é, mais 2,75 anos e 4,04 anos do

que em 2000. O processo de prolongamento da esperança média de vida foi mais

rápido para a população feminina do que para a masculina, sendo que a variação entre

homens e mulheres seguiu a mesma tendência da registada no resto do mundo.

24 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_do_filho_%C3%BAnico,consultadoem9demaiode2015.25 Cf.DU,Peng,AAnálisedasRazõesPrincipaisdoEnvelhecimentodaChina,ACiênciaDemográficadaChina,junhode1992,pp.18-24.26 Numadadapopulação,aexpetativadevidaaonascerouesperançadevidaànascençaéonúmeromédiodeanos que um grupo de indivíduos nascidos no mesmo ano pode esperar viver se mantidas, desde o seunascimento,astaxasdemortalidadeobservadasnoanodeobservação.

20

Um ano depois, enquanto a esperança de vida mundial atingia os 69,6 anos, a da

China prolongava-se até aos 76 anos, ultrapassando outros países no mesmo nível de

desenvolvimento e até alguns países da Europa. Nesse ano, a esperança de vida dos

habitantes de áreas rurais era mais longa entre 3 a 5 anos do que a dos habitantes nas

áreas urbanas27.

Gráfico7-EsperançadevidadaChina

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.219.

As Nações Unidas prognosticaram, em 2004, que a esperança de vida média dos

chineses chegaria aos 80 anos em dez anos, e que atingirá os 100 anos em 2300,

alterando enormemente a estrutura populacional da China e envelhecendo ainda mais

a sociedade.

27 www.phbang.cn/general/145580.html,consultadoem10demaiode2015.

40

50

60

70

80

Todos

Homens

Mulheres

21

Gráfico8-MortalidadenoVeVIRecenseamento(2000e2010)

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.220.

1.4 Tendência

O envelhecimento da sociedade chinesa no século XXI é irreversível. No período

entre 2001 e 2100, a tendência do envelhecimento da China pode ser dividida em três

fases.

A primeira fase, entre 2001 e 2020, será um período de envelhecimento rápido. A

população da China aumentará 5,96 milhões de pessoas por ano, uma taxa média de

crescimento anual de 3,28% que ultrapassa muito a taxa do crescimento total da

população (de 0,66%), e o processo de envelhecimento acelerará rapidamente. Em

2020, a população idosa atingirá 2,48 biliões, representando 17,17% do total dos

chineses e, paralelamente, a população idosa com mais de 80 anos atingirá 30,67

milhões, representando 12,37% do total de idosos.

O período entre 2021 e 2050 será um fase de envelhecimento acelerado. Um grande

0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9%

0-4anos

5-9anos

10-14anos

15-19anos

20-24anos

25-29anos

30-34anos

35-39anos

40-44anos

45-49anos

50-54anos

55-59anos

MortalidadenoVRecenseamento(2000) MortalidadenoVIRecenseamento(2010)

22

número de pessoas nascidas na década de 60 e no meio da década de 70 do século XX

tornar-se-á idosa nesta fase, pelo que a população de idosos terá um aumento

acelerado de 6,2 milhões por ano. Simultaneamente, a população total registará um

crescimento negativo. A população de idosos em 2023 atingirá 270 milhões, número

igual à população de crianças com menos de 14 anos. Em 2050, a população de idosos

ultrapassará os 400 milhões, ou seja, mais de 30% da população total da China.

Destes, 94,48 milhões terão mais de 80 anos, representando 21,78% da população na

velhice.

Gráfico9-Mudançadaestruturadapopulação(milhões)

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.215.

Na terceira fase, correspondente ao intervalo 2051-2100, o processo do

envelhecimento da China entrará num período sério, mas estável. A população de

idosos atingirá o pico de 437 milhões em 2051, cerca do dobro do número de crianças.

Nessa fase, a população idosa manter-se-á entre os 300 e os 400 milhões,

representando cerca de 31% dos chineses. Os idosos com mais de 80 anos serão cerca

0

20

40

60

80

100

120

140

0-4anos

5-9anos

10-14anos

15-19anos

20-24anos

25-29anos

30-34anos

35-39anos

40-44anos

45-49anos

50-54anos

55-59anos

60-64anos

65-69anos

70-74anos

75-79anos

80-84anos

85-89anos

90-94anos

95-99anos

2015

2050

23

de 25% a 30% da população total na velhice28.

28 http://wenku.baidu.com/link?url=MthYssCOW6dsktofUm5sTThMdLzEpY4K9s2rx0h64iG3p__j_4Mu2mehrAG5RSeHsS1gjn8upjUwAWm6tee7PiDyUT3qY0Id9J4jf2KIs9u,consultadoem12demaiode2015.

24

Capítulo II

A vida atual dos idosos

no contexto chinês

25

2.1 Introdução

O crescimento continuado da população idosa trouxe um problema mais imediato de

manutenção destes cidadãos. O "fardo" dos cuidados aos idosos está a ser cada vez

mais exacerbado pelo rápido envelhecimento da China. Como tomar conta de uma

grande população de idosos, garantindo-lhes conforto e qualidade de vida nos seus

anos de crepúsculo, é um problema que tem de ser abordado com urgência.

2.2 Locais onde os idosos vivem

Presentemente, os serviços de apoio aos idosos na China podem ser divididos, de

acordo com o tipo de residência, em cuidados domiciliário e institucional. O cuidado

domiciliário verifica-se quando os idosos permanecem em casa, sendo apoiados em

todos os aspetos - incluindo na área financeira - pelos familiares, normalmente os seus

filhos, às vezes os seus cônjuges. O cuidado institucional significa que os idosos

moram em lares, onde há enfermeiros e outros profissionais que podem prestar

serviços mais especializados, contudo eles têm de viver longe dos seus filhos, para

além de que os custos são elevados.

Gráfico10-Ondeosidososvivemnaatualidade

Fonte:http://finance.chinanews.com/cj/2013/10-12/5371449.shtml,consultadoem27demaiode2015.

Emcasa:60.5%

Comosseuscilhos39.1%

Eminstituiçõesprocissionais:

0.4%

26

Tendo em conta a influência da cultura tradicional chinesa, o cuidado domiciliário

tem sido o principal modo de tomar conta dos idosos. Atualmente, a maioria dos

idosos (99,6%) ainda prefere passar a sua velhice em casa, sob os cuidados dos

familiares, sendo que alguns deles moram sozinhos e outros moram com os seus

filhos. Ou seja, só uma ínfima parte opta por um lar29.

2.3 A evolução da cultura da piedade filial na China

Os idosos passarem os últimos anos de vida em casa sob os cuidados dos filhos é uma

tradição muito arreigada na China, apoiada pela cultura de piedade filial30. Para os

chineses, a piedade filial é a chave de todas as outras virtudes31. Em parte devido à

sua longa história, a consciência tradicional de respeito pelos idosos tornou-se numa

parte importante da cultura chinesa.

Os chineses acreditam que os idosos com experiências numerosas são tesouros para as

suas famílias32. Durante a sociedade primitiva, quando a China era um país agrícola,

as pessoas elegiam como chefe de tribo aqueles que possuíssem grande experiência

no cultivo. Uma vez que o conhecimento e a experiência só podiam ser transmitidos

por via oral, de geração em geração, os idosos detinham uma elevada posição social e

eram extremamente respeitados. O embrião de uma cultura de respeito e acatamento

da vontade mais velhos surgiu nessa época33.

Depois, a China entrou na fase feudal, período em que o respeito pelos idosos foi

reforçado, quer pela dinastia Xia, quer pela dinastia Shang. Durante a dinastia Zhou

(c.1046-249 a.C.), o país começou a adotar algumas regras para o cuidado dos idosos.

Nessa altura, as pessoas com mais de 50 anos já eram idosas. O «礼记•王制» ou

Clássico dos Ritos34 decretou, em relação à dieta, que tinha de se oferecer farinha e

arroz às pessoas com mais de 50 anos e também carne, que era muito preciosa, aos

29 http://finance.chinanews.com/cj/2013/10-12/5371449.shtml,consultadoem27demaiode2015.30孝文化 xiàowénhuà.31百善孝为先 bǎishànxiàowéixiān.32家有一老,如有一宝 jiāyǒuyīlǎo,rúyǒuyībǎo.33 www.docin.com/p-425356118.html,consultadoem1dejunhode2015.34 «礼记•王制» lǐjì wángzhì, O Clássico dos Ritos, foi um dos cinco clássicos chineses do cânone doconfucionismo. Descrevia as normas sociais, sistema de governo e ritos cerimoniais da dinastia Zhou. Cf.http://pt.wikipedia.org/wiki/Clássico_dos_Ritos,consultadoem1dejunhode2015.

27

idosos com mais de 60 anos. Para além disso, determinava alimentos suplementares,

como peixe, pato, frango e frutas, para as refeições dos idosos com mais de 70 anos;

que o alimento dos idosos com mais de 80 anos deveria ser precioso e delicioso e que

se devia dar comida na boca aos idosos com mais de 90 anos com mobilidade

reduzida.

Na sociedade feudal chinesa, o poder reinante podia forçar os civis a trabalharem para

o país, sem qualquer remuneração, durante alguns anos35. No entanto, a dinastia Zhou

determinou que os familiares dos idosos podiam ser dispensados deste trabalho. Por

exemplo, um dos filhos ou um dos netos de um cidadão com mais de 80 anos e todos

dos familiares dos idosos com mais de 90 anos não precisavam trabalhar para o

governo, sendo entretanto obrigados a cuidarem desses familiares. As dinastias

posteriores adotaram regras semelhantes36.

O governo da dinastia Han (206 a.C.-220 d.C.) adotou como modelo o confucionismo,

35徭役 yáoyì.36 Cf.JIANG,Yingjie,PensamentoseInspiraçõesdaSegurançaSocialdaSociedadenoPeríodoantesdaDinastiaQin,NotícasdoInstitutodeEducaçãodeWuhan,Wuhan,2006,pp.56-57.

28

que defende que a piedade filial é a base da humanidade e que só as pessoas piedosas

podem transformar-se em súbditos leais37. A piedade filial tornou-se o principal pilar

da governação para os imperadores e foi mantida ao longo de milhares de anos de

história chinesa. Assim, o governo refletiu sobre os cuidados aos idosos, introduzindo

um sistema relativamente completo, com requisitos bastante rigorosos, especialmente

no que respeita ao cuidado domiciliário. Por exemplo, o governo isentou do imposto

de concessões os idosos solitários que negociavam nos mercados; na dinastia Han,

apesar da operação de aguardente ser monopolizada pelo Estado, o governo permitiu

que idosos solitários mantivessem tabernas e vendessem aguardente, para os ajudar

economicamente. Foi também a dinastia Han que estipulou que o desrespeito pelos

anciãos fosse um delito grave; condenando as pessoas que não tomavam conta dos

seus pais ou avós ou que maltratavam os idosos. O governo atribuiu ainda uma

bengala38 aos idosos com mais de 80 anos, símbolo da sua posição social e da sua

influência. A dinastia Han formulou a primeira lei de proteção dos idosos na China39,

um texto com cerca de 600 palavras que prescreve os poderes dos idosos com mais de

70 anos em relação àvidacotidiana e à política40.

A dinastia Tang (618-907) considerou O Clássico da Piedade Filial41, de Confúcio,

como um dos padrões éticos e intelectuais, pelo que o seu sistema de cuidado aos

idosos tornou-se mais completo. A lei impedia os filhos de se ausentarem para longe,

estipulando que os pais dividissem a riqueza da família pela sua descendência42. Esta

disposição incentivou os filhos a tomarem conta dos pais idosos em casa e resolveu o

fenómeno do «ninho vazio», evitando que os mais velhos ficassem sozinhos e sem

cuidados. Para além de manter algumas práticas da dinastia Han, como a atribuição da

bengala e a isenção do imposto de concessões, o governo Tang ainda ofereceu comida

e roupa aos idosos com mais de 80 anos, para mostrar o respeito para com eles, e

arranjou empregados para cuidarem dos mais velhos: uma pessoa para os idosos com

mais de 80 anos, duas pessoas para os idosos com mais de 90 anos e cinco pessoas

para os idosos com mais de 100 anos. Entretanto, os filhos tinham de ser agradáveis e

37忠臣必出孝子之家 zhōngchénbìchūxiàozǐzhījiā.38鸠杖 jiūzhàng.39 «王杖诏令册»wángzhàngzhàolìngcè,DireitosdosIdosos.40 www.360doc.com/content/15/0410/18/20874585_462233351.shtml,consultadoem1dejunhode2015.41 OClássicodaPiedadeFilial,«孝经»xiàojīng.42父母在,不远游 fùmǔzài,bùyuǎnyóu.

29

pacientes para com os idosos, mantendo o seu sentimento prazenteiro43.

As dinastias seguintes seguiram, aproximadamente, o sistema das anteriores para

garantir a qualidade de vida dos idosos. Entretanto, as dinastias Song, Ming e Qing,

ainda isentaram os familiares dos anciãos de impostos. Na dinastia Song (960-1279),

um filho de alguém com mais de 80 anos podia ser isento dos impostos, durante a

dinastia Qing (1636-1912), este benefício foi alargado aos familiares dos idosos a

partir dos 70 anos.

Ilustração do livro «二十四孝» (Histórias de Vinte e Quatro Filhos Pios)

Além dos aspetos de moralidade, política e direitos, a sociedade feudal também

elaborou uma série de normas sociais para despertar a consciência da piedade filial.

Por exemplo, o livro «二十四孝»44, da dinastia Yuan (1271-1368), conta muitas

histórias acerca da piedade filial, onde filhos pios tomam conta dos seus pais. Estas

histórias incluem vários tipos de aspetos, com alusões em relação à dieta, saúde,

humor, funeral, etc.

43 Cf.XIE,Shengyuan,ODesenvolvimentodaSegurançaSocial,EditoradeGestãoEconómica,Pequim,2007,pp.48-52.44 «二十四孝»èrshísìxiào,HistóriasdeVinteeQuatroFilhosPios.

30

Para além de incentivar os cuidados em casa por parte dos filhos, o governo criou

também lares destinados aos cuidados dos idosos solitários. A criação deste tipo de

instituições começou durante a dinastias do Norte e do Sul (420-589), foi generalizada

na dinastia Tang e tornou-se ainda mais popular ao longo da dinastia Song. Nessa

época, o governo tomou ao seu cuidado as pessoas com mais de 50 anos, expandindo

bastante a extensão da ajuda. Durante a dinastia Ming (1368-1644), o governo

aumentou o número de lares na capital, Pequim, fazendo uma inspeção periódica do

seu trabalho e auxiliando os idosos nas suas necessidades básicas. No décimo

primeiro ano do imperador Jiajing, o governo gastou 275 moedas de prata em roupa

para os idosos da região de Pequim. Os governantes Qing seguiram as regras da

dinastia anterior, continuando a criar lares e, apesar do país ser relativamente pobre no

final da dinastia, a despesa com os idosos ainda era generosa45.

A estima e o investimento do governo antigo chinês teve uma responsabilidade e

contribuiu naturalmente para o espírito de piedade filial que ainda hoje se vive na

China. Respeitar e cuidar dos idosos é uma parte bastante importante da cultura de

piedade filial, enquanto pilar da cultura tradicional chinesa.

2.4 As vivências das pessoas idosas na atualidade

Após a fundação da Nova China, o governo continuou a promover a cultura da

piedade filial, transformando-a num direito básico dos idosos. Através de uma

tradição de milhares de anos, a sociedade chinesa formou um ambiente consistente de

piedade filial; os chineses possuem uma consciência profundamente arreigada de

proteção dos seus pais, tratando-se este de um imperativo moral invisível. Contudo,

como a sociedade envelhece depressa, o país foi obrigado a tomar medidas adicionais

para melhorar o sistema de proteção dos direitos de idosos, fazendo face ao processo

prolongado do envelhecimento registado na China.

2.4.1 Políticas

Em 1996, o governo aprovou a Lei de Proteção dos Direitos dos Idosos da República 45 Cf.WANG,WeipingeHUANG,Hongshan,ASegurançaSocialeFilantropiadaSociedadeTradicionalChinesaAntiga,EditoradeQunyan,Pequim,2005,pp.56-59.

31

Popular da China46, revista posteriormente em 2009 e 2012, para garantir a vida dos

idosos com mais de 60 anos regulando aspetos como o apoio da família, segurança

social, serviços públicos, tratamentos preferenciais e ambiente habitável. Em primeiro

lugar, os filhos e cônjuges têm responsabilidade em relação aos idosos, devendo

oferecer apoio económico, serviços diários, ajuda na doença e apoio moral. Também

não podem interferir na sua liberdade matrimonial e distribuição de propriedade.

Entretanto, a sociedade garante a vida dos idosos por meio de uma pensão ou seguro

de saúde, oferecendo ainda ajudas económicas, medicinais, habitacionais, sobretudo

aos que têm dificuldades económicas47.

Como o país regista um envelhecimento acelerado, o governo vem dando mais

atenção às regalias dos idosos. Até o final de 2013, 18 províncias distribuíam o

Subsídio de Velhice48, com cerca de 8 milhões de idosos a receberem um valor

mensal49. Contudo, é difícil estabelecer regras unificadas num território tão vasto. No

início, os beneficiários eram idosos com mais de 80 anos, todavia, com o

desenvolvimento económico, algumas regiões baixaram o limite da idade para 70 ou

60 anos e aumentaram o valor do subsídio. Outras regiões adotaram critérios mais

rigorosos, o que cria disparidades regionais, havendo até cidades nas mesmas

províncias com regras diferentes50. A província de Shaanxi estabeleceu o Subsídio de

Velhice em 2011, distribuindo representativamente 50, 100 e 200 yuan mensais aos

idosos com mais de 80, 90 e 100 anos, respetivamente. Posteriormente, o governo da

província aumentou o subsídio para 100, 200 e 300 yuan e, em 2012, ainda começou a

distribuir 50 yuan por mês para os idosos com mais de 70 anos51. Quanto à província

Heilongjiang, que estabeleceu o subsídio em 2010, só distribui 100 yuan por mês aos

idosos com mais de 80 anos com dificuldades financeiras, bem como a todos os

46 LeideProteçãodosDireitosdeIdososdaRepúblicaPopulardaChina,«中华人民共和国老年人权益保障法»zhōnghuárénmíngònghéguó lǎoniánrén quányì bǎozhàngfǎ, Rights protection law of the people's Republic ofelderlypeople.47 www.cncaprc.gov.cn/contents/12/9239.html,consultadoem10dejunhode2015.48 SubsídiodeVelhice,高龄津贴 gāolíngjīntiē,OldAgeAllowance.49 http://baike.baidu.com/link?url=toc6aN--oEPsQnWik5ylz7JgaJaScdo-moJp-d4aObPfGdN2OGPvGFLnghvYNc9zhqJ24Vvo0Y2LZGjIDTADDa,consultadoem12dejunhode2015.50 http://zhidao.baidu.com/question/2138776019950092428.html?fr=iks&word=%B8%DF%C1%E4%B2%B9%CC%F9%BA%CD%B8%DF%C1%E4%BD%F2%CC%F9%D2%BB%D1%F9%C2%F0&ie=gbk,consultadoem12dejunhode2015.51 http://shaanxi.mca.gov.cn/article/mzyw/ylfw/201404/20140400617598.shtml,consultadoem13dejunhode2015.

32

idosos com mais de 90 anos52. O sistema chinês de cuidados aos idosos ainda tem

muitas lacunas e espaço para melhorar.

Além da lei para proteger os direitos básicos dos idosos, o governo também aprovou

um conjunto de regalias sociais que afetam a sua vida diária. Na China, há prioridade

de tratamento aos idosos em vários serviços públicos, tais como serviços médicos,

financeiros e legais, enquanto alguns outros serviços mantêm balcões e salas de

espera especiais para os idosos. Os chineses com mais de 60 anos podem entrar

gratuitamente em todos os parques e têm um desconto de 50% nas entradas dos

museus, galerias de arte, centros culturais, teatros, atrações turísticas, que são

totalmente gratuitos para os idosos com mais de 70 anos53.

Os transportes públicos têm de marcar mais de 10% dos lugares como especiais para

idosos, afixar cartazes publicitários para instigar as pessoas a cederem lugares aos

anciãos, e praticarem preços mais baixos ou mesmo gratuitos para estes cidadãos. As

autoridades municipais têm de inscrever os idosos com mais de 65 anos da sua

comunidade e fazer-lhes regularmente exames físicos gratuitos54. O governo procede

ainda a um desconto de cerca de 50% do preço dos serviços básicos de funeral aos

idosos que têm dificuldades financeiras ou distribui um subsídio de funeral aos seus

familiares55, etc.

2.4.2 Atividades domésticas

Além das necessidades diárias, o apoio moral também é uma parte muito importante

da vida dos idosos. Tendo em conta a gravidade do fenómeno de Ninho Vazio56,

governo instiga vigorosamente os idosos a participarem em atividades socio-culturais.

Em primeiro lugar, eles têm direito à reeducação. A primeira Universidade da

Terceira Idade pública foi estabelecida na província de Shandong, em 1983, depois do

52 http://zhidao.baidu.com/link?url=soRR_sOqAmWHMQ7JxGBkQON6867MORo4YNcgr56MrRHwWbIA_ZvhqknwEsaUUAr767ZQWuQmsaDVqajdzVB1OK,consultadoem13dejunhode2015.53 http://shanxi.sina.com.cn/travel/message/2014-08-18/092466529.html,consultadoem15dejunhode2015.54 www.cncaprc.gov.cn/contents/12/9293.html,consultadoem16dejunhode2015. 55 http://sws.mca.gov.cn/article/bz/zcfg/201204/20120400298049.shtml,consultadoem16dejunhode2015.56 OfenómenodeNinhoVazio,空巢 kōngcháo,refere-seàsfamíliascujosfilhosseseparamdospais,aoatingiremaidadeadulta,deixandoageraçãomaisvelhasozinha.

33

primeiro pacote de documentos didáticos ter sido editado em 197857. Ao longo destas

três décadas, a reeducação dos idosos foi-se diversificando. Por exemplo, atualmente,

a Universidade da Terceira Idade de Tianjin, que foi criada em 1985, tem 25.308

estudantes que frequentam mais de 80 tipos de cursos de 9 departamentos, abrindo

ainda 77 campos de treino fora da universidade, em 70 comunidades de 11 distritos da

cidade. A universidade começou a oferecer 19 cursos online em 2013 e organizou

mais de 7000 atividades em 2014, para os 2 milhões de idosos da cidade de Tianjin58.

Entretanto, a China instalou um total de 470 mil Centros de Vivências, que fornecem

salas de leitura, de recreação, de exercício físico, de convívio e centros de saúde para

os idosos, uma cobertura que abrangia 70% do país, no final de 2014. Os idosos

podem organizar atividades próprias ou participar em atividades comunitárias nestes

Centros de Vivências, como caligrafia, pintura, declamação, canto, hora da leitura,

dança, jogos de cartas ou tabuleiro, entre muitas outras possíveis. O governo chinês

planeia criar mais Centros de Vivências e aumentar a cobertura das zonas urbanas até

95% e das áreas rurais até 80%, no fim de 201559.

No quotidiano, os idosos chineses costumam fazer ginástica matinal ou participar em

atividades espontâneas depois do jantar, em praças ou parques próximos da sua casa,

como Taiji Quan, dança ou ginástica rítmica. Eles também constituem frequentemente

grupos nas comunidades e participam regulamente em competições ou jogos que o

governo organiza, patrocinados por corporações à escala de distritos, cidades ou

províncias.

O ambiente de piedade filial é hoje mantido por contribuições de setores diversos,

incluindo a comunicação social, que desempenha um papel muito importante nesta

problemática. Quase todas os canais de televisão e estações de rádio na China fazem

propaganda, sob a forma de anúncios de utilidade pública ou atos de virtude de filhos

obedientes, instigando as pessoas a prestarem cuidados aos idosos.

57 http://baike.baidu.com/link?url=Yh38dwitKOU6DoVeUmwdbO4UlEMIoqQIu0e3CFPIHUQ1gvH1q3w46_uZuunxleyRW5HLF29jEU6TFrRrEvMDK_,consultadoem19dejunhode2015.58 www.cncaprc.gov.cn/contents/22/74366.html,consultadoem20dejunhode2015.59 www.cncaprc.gov.cn/contents/3/77782.html,consultadoem22dejunhode2015.

34

Taiji Quan, uma especie de Yoga chinês.

O dia 9 de setembro do calendário lunar festeja-se um feriado tradicional chinês, que

corresponde ao dia do culto dos antepassados da China antiga60. Todos os familiares

vão para lugares altos, na crença de que fazer exercício físico com um clima

agradável de outono lhes trará saúde no ano próximo, bem como vida longa.

Atualmente, os chineses ainda mantêm as tradições, pelo que o governo chinês

transformou esse feriado no Dia de idosos em 1988, e inscreveu-o no calendário dos

feriados oficiais em 2013.

2.5 A crise dos cuidados tradicionais dos idosos

Apesar dos apoios sociais descritos sumariamente atá aqui, a maioria dos apoios aos

idosos chineses provém dos familiares. Contudo, a forma tradicional do cuidado

domiciliário enfrenta muitas dificuldades, devido à política do filho único, ao risco de

desaparecimento do único filho, ao fenómeno de Ninho Vazio e à decadência da

cultura da piedade filial. Ou seja, a sociedade chinesa tem um desafio gigante e

crescente em relação à população de idosos, por forma a atender às suas necessidades. 60重阳节 chóngyángjié.

35

2.5.1 Influências da política do filho único

Mais de 30 anos após a criação da política do filho único, os pais da primeira geração

de um único filho, começam a envelhecer, tendo o descendente que assumir todas as

responsabilidades e cuidados para com eles. Atualmente, existem cada vez mais

famílias com uma estrutura de «4-2-1», querendo isto dizer que um casal tem um filho

e quatro idosos a seu cargo. Portanto, as pessoas de meia-idade estão face a uma

pressão económica e material enorme para tomar conta do filho e dos idosos. Daqui a

20 anos, quando a terceira geração de filhos únicos chegar à idade adulta, alguns

casais poderão ter até 12 idosos (pais, sogros, avós, bisavós...) a seu cargo, e cuidar de

todos eles poderá ser incomportável.

Simultaneamente, a política demográfica da China aumenta o risco do

desaparecimento da descendência. Atualmente, na China há mais de 100 milhões de

filhos únicos, representando 8% da população total, segundo os dados do VI

Recenseamento (2010). Considerando a média de idade de procriação das mulheres de

25 anos, o risco de morte do único filho das pessoas com 50 anos é de cerca de 2% e,

para os idosos com 80 e 90 anos, o risco aumenta para 7,76% e 16%. Idosos com

idade muito avançada precisam de mais cuidados, mas o risco do seu único filho

desaparecer também aumenta proporcionalmente com a idade. Se isso acontecer, terá

que ser a sociedade a providenciar-lhe os cuidados necessários.

2.5.2 O fenómeno de Ninho Vazio

Os dados do VI Recenseamento (2010) mostram que a China possui 7.895.700

famílias de Ninho Vazio, incluindo 3.667.500 idosos que moravam sozinhos e

4.228.200 famílias em que os idosos viviam com o seu cônjuge. A população dos

idosos com o Ninho Vazio é superior a 121 milhões de pessoas, proporção que

representa 51,1% da população total de idosos e que, no futuro, ultrapassará os 70%.

O gráfico 11 refere-se à mudança do tamanho das famílias chinesas entre o V

Recenseamento (2000) e VI Recenseamento (2010). Em 2000, as famílias com

elementos de uma só geração representavam 21,7% das famílias, aumentando para

36

34,18% uma década depois. Já a proporção de famílias com membros de três gerações,

desceu de 18,24% para 17,3%. Entretanto, a quantidade de famílias com quatro e

cinco gerações diminuiu. De facto, o fenómeno de famílias multigeracionais torna-se

cada vez mais raro: o tamanho médio das famílias chinesas no IV Recenseamento

(1990) era de 3,96 pessoas, enquanto no V Recenseamento (2000) caiu para 3,44

continuando a diminuir até 3,09 pessoas por família no VI Recenseamento (2010). A

diminuição do tamanho das famílias significa um aumento do número de idosos que

moram separados dos seus filhos.

Gráfico11-Mudançadotamanhodasfamílias

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.223.

Por um lado, com o desenvolvimento da indústria secundária e terciária nas últimas

décadas, o foco económico da China mudou das áreas rurais para as zonas urbanas,

levando um grande número de pessoas a mudarem-se para as cidades. Quando os

chineses saem da sua residência original, os seus pais estão já a ficar idosos e, regra

geral, evitam mudanças, com medo de não se habituarem facilmente a um ambiente

novo, o que resulta na separação das gerações. No final de 2012, 50 milhões de idosos

tinham sido deixados em casa nas áreas rurais, faltando-lhes, muitas vezes, cuidados

21.70%

59.32%

18.24%

0.74%

0.0010%

34.18%

47.83%

17.31%

0.69%

0.0007%

FamíliascomUmaGeração

FamíliascomDuasGerações

FamíliascomTrêsGerações

FamíliascomQuatroGerações

FamíliascomCincoGeraçõesouMais

VIRecenseamento(2010) VRecenseamento(2000)

37

básicos, materiais e emocionais. Muitos desses anciãos precisam de fazer uma grande

quantidade de trabalhos agrícolas para ganharem o seu sustento e, às vezes, ainda

ajudam a cuidar dos netos.

Gráfico12-Composiçãodoshabitantesdasprovínciaschinesas

Fonte:YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,Editora

doPovo,Xangai,2014,p.224.

Por outro lado, os trabalhadores mudam frequentemente de cidade, para conseguirem

mais oportunidades na economia atual e, considerando que a habitação é limitada nas

zonas urbanas, o fenómeno de Ninho Vazio aumenta. Em 2010, a residência de 261

milhões de pessoas era diferente da sua localização registada nos censos anteriores e

um terço destes imigrantes transferiu-se para outras províncias. Os filhos que

trabalham longe normalmente só visitam os pais alguns dias durante o Ano Novo

Chinês, não podendo garantir o seu sustento e os seus cuidados.

Na atual sociedade plural e de extrema mobilidade, a tradição da piedade filial

enfrenta um desafio sério pois a relação entre os pais e os filhos torna-se mais igual,

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Totaldapopulação

Pequim

Tianjin

Hebei

Shanxi

Neimenggu

Liaoning

Jilin

Heilongjiang

Xangai

Jiangsu

Zhejiang

Anhui

Fujian

Jiangxi

Shandong

Henan

Hubei

Hunan

Guangdong

Guangxi

Hainan

Chongqing

Sichuan

Guizhou

Yunnan

Tibete

Shaanxi

Gansu

Qinghai

Ningxia

Xinjiang

HabitantesoriginaisHabitantesquemigraramdentrodamesmaprovínciaHabitantesquemigraramdeoutrasprovíncias

38

os pais não exercem influência absoluta sobre os seus filhos, apesar do governo

chinês se esforçar por manter esta cultura viva. A posição social dos idosos está a cair,

especialmente nas áreas rurais, enquanto os jovens, que vivem sobretudo nas zonas

urbanas, têm mais capital. A distância também torna difícil a comunicação entre pais

e filhos, levando a uma menor consciência de responsabilidade dos jovens em relação

aos seus progenitores, enquanto alguns idosos têm dificuldades em obter cuidados e

apoio económico dos filhos.

Tendo em conta o rápido processo de envelhecimento, no futuro, a procura de

serviços de apoio aos idosos aumentará exponencialmente e a China terá que colmatar

esta enorme lacuna nas próximas décadas61.

61 Cf.YANG,CuiyingeZHENG,Chunrong,EvoluçãoeTendênciasdePolíticaGlobaldaSegurançaSocial,EditoradoPovo,Xangai,2014,pp.221-231.

39

Capítulo III

Análise do envelhecimento

no contexto português

40

3.1 Introdução

A população de idosos com mais de 65 representava 8% do total dos portugueses em

1960, mostrando que a sociedade portuguesa já se encaminhava para o

envelhecimento. Com a variação populacional nestas cinco décadas, Portugal

tornou-se um dos países mais envelhecidos da Europa e mesmo do mundo62.

3.2 O processo do envelhecimento

A população idosa de Portugal tem vindo a aumentar continuamente desde a década

de 60 do século XX. A mudança dos números de idosos e jovens transformou a

estrutura etária portuguesa, resultando numa nova relação dos componentes da

população.

Gráfico13-Estruturaetáriadapopulaçãoporgrandesgruposdeidade(%),

Portugal(1970-2014)

Fonte:INE,EstimativasAnuaisdaPopulaçãoResidente

Como se pode observar no Gráfico 13, em 1970, havia 27,5 idosos por cada 100

62 Cf.ROSA,MariaJoãoValente,OEnvelhecimentodaSociedadePortuguesa,FFMS,Lisboa,2012,p.27.

41

jovens com idade inferior a 14 anos e 12,7 idosos por cada 100 indivíduos com idade

entre os 15 e os 64 anos (população em idade ativa), ou seja, o índice de

envelhecimento e o índice de dependência de idosos atingia, respetivamente, 27,5 e

12,7.

Apesar da população idosa atingir 1,1 milhões de pessoas e representar 11,31% do

total da população em 1980, o número de jovens em Portugal era ainda significativo

(2,5 milhões), representando 25,8%. Nesta altura, o índice de envelhecimento e o

índice de dependência de idosos aumentaram para 43,8 e 18,0, o que representou um

aumento considerável comparativamente à década anterior. Se, nos anos 80, o país

mantinha ainda uma estrutura etária consistente e menos envelhecida do que a média

da União Europeia, isto mudou em 1992 com a população idosa a atingir os 1,4

milhões e a representar 14,09%, da população total do país. Assim, a sociedade

portuguesa entrou na fase do envelhecimento profundo.

Neste século XXI, o crescimento da população idosa acentuou o envelhecimento em

Portugal. Em 2000, o país tinha 1,67 milhões de idosos (16,19% da população).

Segundo Moura (2006), o fenómeno do envelhecimento demográfico traduziu-se num

aumento de cerca de 140% da população idosa desde 196063. Um ano depois, a

população de idosos tornou-se maior do que a de jovens e o índice de envelhecimento

aumentou para 101,6 pela primeira vez na História. Em 2012, Portugal tornou-se o

quarto país da União Europeia com maior percentagem de idosos (19,2%).

Portugal está a enfrentar um duplo envelhecimento demográfico com o aumento do

número de idosos e a diminuição do número de jovens e de pessoas em idade ativa.

Durante cinco décadas, o número de pessoas com mais de 65 anos aumentou cerca de

700 mil, ao mesmo tempo que se registaram menos um milhão de nascimentos e a

população de crianças desceu para 14,48% da população total64.

Entretanto, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), “o índice de

renovação da população em idade ativa, que traduz a relação entre o número de

63 Cf.MOURA,Cláudia,SéculoXXI:SéculodoEnvelhecimento,Lusociência,Lisboa,2006,p.28.64 www.pordata.pt/Portugal/População+residente+total+e+por+grandes+grupos+etários-513, consultado em 4dejulhode2015.

42

pessoas em idade potencial de entrada no mercado de trabalho (20 a 29 anos de

idade) e o número de pessoas em idade potencial de saída do mercado de trabalho

(55 a 65 anos de idade), tem vindo a diminuir, com maior incidência nos últimos

quinze anos: desde 1999 que este índice tem diminuído continuadamente, tendo-se

situado em 2010 abaixo de 100, para atingir 84 em 2014.”

Gráfico14-Índicedeenvelhecimento,índicededependênciadeidososeíndicede

renovaçãodapopulaçãoemidadeativa(nº),Portugal(1970-2014)

Fonte:INE,EstimativasAnuaisdaPopulaçãoResidente

Com efeito, pela idade média da população residente também se confirma o

envelhecimento da sociedade portuguesa. Entre 1960 e 2000, a idade média da

população aumentou cerca de 10 anos, de 27,8 anos para 37,5 anos. No século XXI, a

idade média aumentou ainda mais rapidamente: entre os dois últimos censos (2001 e

2011), fixou-se nos 41,8 anos, sendo a idade média das mulheres (43,2 anos) superior

à dos homens (40,3 anos). Segundo estimativas mais recentes, em 2014, a idade

média da população residente era já de 43,1 anos: 44,5 anos para as mulheres e 41,5

anos para os homens65.

65 www.pordata.pt/Europa/População+residente+idade+média-2265,consultadoem5dejulhode2015.

43

Em 2014, Portugal tinha uma população de idosos com mais de 2 milhões de pessoas,

representando mais de 20% da sua população total. Com 138,6 idosos por cada 100

jovens, a sociedade entrou na fase envelhecida superior66.

Gráfico15-Pirâmidesetárias,Portugal(2004e2014)

Fonte:INE,EstimativasdePopulaçãoResidenteemPortugal2014.

3.3 Características

Analisando o Gráfico 15, constata-se que a população idosa feminina tem sido

superior à masculina. Na década de 70 do século XX, havia um fosso de 168,76 mil

entre a população idosa feminina e masculina que atingia, respetivamente, 502.409 e

333.649 pessoas. No início do século XXI, o número das mulheres idosas era 972.266,

mais 279 mil do que o número de idosos do sexo masculino, (693.238). Nos anos

seguintes, a diferença tornou-se mais evidente e, na atualidade, o número das

mulheres idosas é 1.221.598, mais um milhão do que em 2002, enquanto o número

dos homens idosos é 865.908, representando respetivamente 58,52% e 41,48% da

66 www.pordata.pt/Portugal/Indicadores+de+envelhecimento-526,consultadoem5dejulhode2015.

44

população idosa. Ou seja, há mais 355,69 mil mulheres idosas do que homens na

mesma situação.

Concomitantemente, com o acentuar da longevidade, a proporção da população dos

idosos mais velhos (com 80 e mais anos) é cada vez maior no âmbito da população

portuguesa. Se em 1971 representava 1,43% da população total e 14,78% do total de

idosos, o número atual da chamada quarta idade quase quadruplicou (586.655),

perfazendo 5,64% da população total e 28,1% da população idosa. Além disso, a

maior parte dos idosos com idade mais avançada (64,6%) era do sexo feminino.

Segundo os dados de 2014, o número de mulheres com mais de 80 anos era 379 mil e

incluía 176 mil com mais de 85 anos (46,44% da população na quarta idade). No

mesmo ano, o número dos homens com mais de 80 anos era 207,7 mil, entre os quais

havia 81,4 mil com mais de 85 anos (39,19% da população com mais de 80 anos)67.

Quadro3-Índicedeenvelhecimentodosterritóriosportugueses

Fonte:INE,PORDATA

Do ponto de vista geográfico, podemos observar, a partir do Quadro 3, que a evolução

do envelhecimento regional se manteve relativamente estável desde o início do século

XXI. Em primeiro lugar, constata-se que os níveis de envelhecimento divergem

bastante entre o continente e as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. No ano 67 www.pordata.pt/Portugal/População+residente+total+e+por+grupo+etário-10, consultado em 7 de julho de2015.

45

passado havia 141,6 idosos por cada 100 jovens no continente, contudo, o índice das

regiões autónomas era mais baixo, de 77,3 nos Açores e 97,4 na Madeira. No interior

da área continental, as regiões do Alentejo e do Centro eram as mais envelhecidas,

com índices de 183,6 e 173,6, respetivamente. No antípodas fica a área metropolitana

de Lisboa, com um índice de 127, o que a torna a região mais jovem de Portugal

continental. Comparando com os dados de 2001, as regiões Norte e Centro

envelheceram mais depressa, sendo que o seu índice de envelhecimento aumentou

49,3 e 44,4, respetivamente.

Fonte:observador.pt68

Entretanto, as áreas interiores de Portugal eram mais envelhecidas do que as zonas do

litoral. Em 2014, os municípios com o maior índice de envelhecimento eram Vila

Velha de Ródão (803,9); Alcoutim (648,3); Penamacor (560,3); Oleiros (549,3) e

Pampilhosa da Serra (535,6). À exceção de Alcoutim que fica no distrito de Faro, os

restantes municípios concentram-se na região Centro, sendo que a maioria pertence ao

distrito de Castelo Branco que tinha o maior número de idosos em Portugal69.

68 http://observador.pt/2014/09/30/quem-sao-e-como-vivem-os-idosos-em-portugal/, consultado em 10 dejulhode201569 www.pordata.pt/Municipios/População+residente+total+e+por+grandes+grupos+etários-390, consultado em10dejulhode2015.

46

3.4 Causas

A redução da fecundidade e da mortalidade são as duas principais causas identificadas

no processo de envelhecimento populacional, bem confirmadas pela ciência

demográfica.

3.4.1 A diminuição da fecundidade

Uma das consequências imediatas da redução da fecundidade é a diminuição da taxa

bruta de natalidade ou número de nascimentos. Na década de 60, a taxa bruta de

natalidade manteve-se superior a 21‰, um índice bastante alto. Confirmando a

tendência decrescente da taxa bruta de natalidade en Portugal, o número desceu para

16,6‰ em 1979, ficando no intervalo normal (17‰-15‰, Cf. Capítulo I), e para 14,5‰

em 1983, altura em que se tornou um país com uma natalidade baixa. No século XXI,

o processo de diminuição manteve-se: em 2003, o índice desceu para 10,8‰ e o país

entrou na fase da taxa bruta de natalidade baixa superior (inferior a 11‰, Cf. Capítulo

I). Atualmente, a taxa bruta de natalidade portuguesa atingiu a permilagem mais baixa

de sempre, de apenas 7,9‰, havendo ainda a probabilidade de continuar a descer no

futuro70.

Gráfico16-TaxabrutadenatalidadedePortugal(1960-2014)

Fonte:INE,PORDATA

70 www.pordata.pt/Portugal/Taxa+bruta+de+natalidade-527,consultadoem12dejulhode2015.

47

A queda da ditadura em 25 de abril de 1974 trouxe a Portugal várias e significativas

mudanças políticas e sociais. Com uma alteração radical das suas condições políticas,

o novo governo do país, com perspetivas mais liberais e modernas, possibilitou um

debate público mais amplo que incluiu classes profissionais, organizações políticas e

femininas, melhorando muito o seu papel de prestador de serviços à população. A este

contexto, somaram-se alguns meios eficazes de controlo da natalidade, sobretudo

através do chamado planeamento familiar.

Na década de 1960, iniciou-se em Portugal o apoio social e a criação da pensão

mínima, no entanto, apenas 1,3% da população era beneficiária desta pensão paga

pelo sistema público. Após a revolução do regime social, o Estado inscreveu este

apoio como um direito em 1984, alargando o número de pessoas abrangidas. E, meio

século volvido, 40% dos portugueses beneficiavam do pagamento de pensões (dados

de 2013)71.

Ao mesmo tempo, durante o processo de urbanização e terceirização da economia, o

rendimento familiar elevou-se, sendo porém acompanhado pelo aumento do custo

económico dos filhos. Apesar dos filhos assegurarem apoio moral aos progenitores e

poderem ser uma garantia de sobrevivência na velhice, as pessoas preferem ter menos

filhos uma vez que os custos são mais altos do que os benefícios72. Segundo o

Inquérito à Fecundidade de 2013, em que foram observadas cerca de 180 variáveis,

67% das mulheres e 68% dos homens consideram que os «custos financeiros

associados a ter filhos» é o maior motivo para não terem (mais) filhos. O

desenvolvimento social não é alheio ao fenómeno de diminuição da natalidade, tendo

conduzido a uma mudança de mentalidades, sobretudo com a emancipação das

mulheres e a sua promoção social73.

O Gráfico 17 mostra que o número de alunos no ensino superior cresceu

exponencialmente em Portugal, desde 1978, evolução que se refletiu sobretudo entre

as raparigas. No início dos anos 80, o número de jovens do sexo feminino a frequentar

o ensino superior ainda era inferior ao dos rapazes, superando-o em 1986 e assim se 71 Cf.ROSA,MariaJoãoeCHITAS,Paulo,PortugaleaEuropa:osNúmeros,FFMS,Lisboa,2013,pp.63-64.72 Cf.XU,Mengze,ob.cit.,p.40.73 www.ffms.pt/upload/docs/slides-da-conferencia-de-imprensa_ine_bO3r-ir3ZkKA_QhpeiRLXw.pdf, consultadoem14dejulhode2015.

48

mantendo até à atualidade. O prolongamento dos percursos formativos dos jovens

leva ao atraso da idade casadoira e fértil, contribuindo para a redução da fecundidade.

Gráfico17–AlunosmatriculadosnoensinosuperioremPortugalporgénero

Fonte:DGEEC,PORDATA.

De acordo com o INE (ver Gráfico 18), a idade média do primeiro casamento em

Portugal continua a aumentar. Em 1960, a idade média do primeiro casamento

masculino e feminino era, respetivamente, de 26,9 anos e 24,8 anos. Em comparação,

no ano 2000 a idade aumentou para 27,5 anos e 25,7 anos, respetivamente. A

tendência de casar tardiamente acentuou-se no século XXI, numa década, a idade

média masculina e feminina aumentou 3,3 anos e 3,5 anos, respetivamente. Segundo

os dados mais recentes, a atual idade média do primeiro casamento em Portugal é de

32,1 anos para os homens e 30,6 anos para as mulheres, destacando porém a

popularidade crescente das uniões de facto, que distorce estes números.

A participação das mulheres no mercado de trabalho tornou-se significativa a partir da

década de 80. Elas dedicam cada vez mais tempo à carreira e à realização profissional,

sendo cada vez mais difícil equilibrarem o tempo familiar, laboral e de lazer, o que

tem obviamente implicações na procriação. Em 1960, a idade média da mãe na altura

do nascimento do primeiro filho em Portugal era de 25 anos, enquanto atualmente é

49

de 30 anos74.

Gráfico18–Idademédiadoprimeirocasamento,porsexoemPortugal

Fonte:INE,PORDATA.

Para além disso, o número médio de filhos por mulher em idade fértil continua a cair,

conforme se constata no Gráfico 19. No início da década de 1960, havia uma média

superior a três filhos, sendo um dos valores de fecundidade mais elevados entre os

países do atual conjunto UE-27. Com uma média de 1,23 filhos por mulher (2014),

Portugal é hoje um dos países com a fecundidade mais baixa na Europa.

Gráfico19-MédiadefilhospormulheremPortugal

Fonte:INE,PORDATA.

74 Cf.ROSA,MariaJoãoeCHITAS,Paulo,Portugal:osNúmeros,FFMS,Lisboa,2010,p.16.

50

3.4.2 A diminuição da mortalidade

Por outro lado, a diminuição dos níveis de mortalidade também é um fator importante

que resulta no aumento do número de idosos. Os indivíduos vivem mais tempo do que

no passado, ou seja, a esperança de vida à nascença tem vindo a aumentar.

Em 1960, o número médio de anos de vida em Portugal era cerca de 63 anos, mais

concretamente, 60,7 anos para os homens e 66,4 anos para as mulheres. Em 2004, a

esperança de vida à nascença dos homens aumentou para 74,1 anos e a das mulheres

elevou-se para 80,56 anos, sendo o número médio total de 77,43 anos, deveras uma

idade avançada. Atualmente, a esperança de vida dos portugueses à nascença é de

mais 17 anos do que na década de 60: 77,16 anos para os homens e 83,03 anos para as

mulheres, aumentando respetivamente 3,06 anos e 2,47 anos na última década

(Gráfico 20).

Gráfico20-Esperançadevidaànascença,Portugal(2002-2014)

Fonte:INE,EstimativasdePopulaçãoResidenteemPortugal2014.

Portugal atribui uma grande importância à saúde da sua população. Em 2008, havia

51

367 médicos por 100 mil habitantes quando este número era inferior a 200 no início

dos anos 80. Nessa altura, as despesas com a saúde representavam 10% do PIB75 do

Estado, um valor alto no contexto da UE-2776.

Em resultado de desenvolvimentos médicos, científicos e sociais, a mortalidade não

só foi reduzida como modificou profundamente a sua estrutura. Analisemos a taxa de

mortalidade infantil, que se refere ao número de óbitos de crianças com idade inferior

a um ano por cada 1000 nascidos. Na década de 60, morreram 77,5 crianças com

idade inferior a um ano por cada milhar de nascimentos. Atualmente, o número caiu

para 2,8, que é um dos valores mais baixos do mundo e revela a qualidade da saúde

materno-infantil em Portugal.

Gráfico21-TaxabrutademortalidadeetaxademortalidadeinfantilemPortugal

Fonte:INE,PORDATA.

3.5 Tendência

Segundo estimativas do INE, a população portuguesa deverá continuar a envelhecer e

de modo particularmente intenso. Apesar dos níveis de fecundidade aumentarem

levemente, com a tendência de decréscimo da população de jovens com idade inferior

a 15 anos, a população de idosos com 65 ou mais anos continuará a aumentar. Em

75 PIB:ProdutoInternoBruto.76 Cf.ROSA,MariaJoãoeCHITAS,Paulo,PortugaleaEuropa:osNúmeros,FFMS,Lisboa,2013,p.72e76.

52

2030, a população de Portugal passará dos atuais 10 milhões para 9,845 milhões e

tornar-se-á o terceiro país do mundo com a população mais envelhecida (com uma

idade média de 50,2 anos)77. Segundo a projeção para 2060, a população residente em

Portugal tenderá a diminuir para 8,6 milhões e tornar-se-á bem mais envelhecida do

que hoje.

Gráfico22-Pirâmideetária,Portugal,2013(estimativas),

2035e2060(projeções,cenáriocentral)

Fonte:INE,DiaMundialdaPopulação,11julhode2014.

Nessa altura, a população de jovens será cerca de 993 milhares, representando 12%

dos residentes. Entretanto, a população idosa poderá ser quase o triplo do número do

jovens, cerca de 3 milhões, o que representará 35% dos portugueses. Isto quer dizer

que um em cada três residentes em Portugal terá 65 ou mais anos. Se considerarmos

um aumento maior da esperança de vida, este número ainda poderá subir para 3,3

milhões (36%). Além disso, a população com 80 e mais anos de idade poderá atingir

1,4 milhões de pessoas, representando cerca de 13% da população residente. Em

77 www.ointerior.pt/noticia.asp?idEdicao=821&id=48222&idSeccao=11604&Action=noticia, consultado em 18dejulhode2015.

53

resultado do agravamento dos desequilíbrios geracionais, o índice de envelhecimento

poderá vir a atingir o valor de 307 idosos por cada 100 jovens78.

O processo de envelhecimento culminará, em 2060, com uma idade média para o total

da população portuguesa de 51,3 anos, sendo respetivamente de 48,8 anos para os

homens e 53,4 anos para as mulheres. Ao mesmo tempo, a esperança de vida à

nascença também chegará a níveis muito elevados: os homens poderão esperar viver

84,21 anos e as mulheres poderão esperar viver 89,88 anos79.

78 Cf.ROSA,MariaJoãoValente,OEnvelhecimentodaSociedadePortuguesa,FFMS,Lisboa,2012.pp.26-33. 79 Cf.INE,DiaMundialdaPopulação,11julhode2014.

54

Capítulo IV

A vida atual dos idosos

no contexto português

55

4.1 Introdução

Todos os exemplos avançados ilustram um cenário preocupante da sociedade

portuguesa, que habitualmente surge associado ao envelhecimento da população. Este

cenário tem dado origem à ideia de que o processo de envelhecimento social não tem

antídoto, é inevitável e irreversível. A médio prazo, o envelhecimento demográfico

será, contudo, atenuado com as elevadas expetativas e condições de vida80. Por isso, o

problema mais premente não está nos números demográficos que nos são revelados,

mas no método de colocação e manutenção de uma grande população de idosos, que

ainda continua a aumentar.

4.2 Contexto Político

4.2.1 Apoios financeiros

Sendo um país desenvolvido, Portugal tem uma capacidade financeira mais sólida do

que a China e uma segurança social relativamente eficaz. Neste contexto, o Estado

estabeleceu uma série de políticas para proteção dos idosos, investindo ainda valores

avultados em apoios, cuidados e serviços vários.

Analise-se os subsídios existentes para satisfazerem as necessidades básicas de vida

dos portugueses mais velhos. Regra geral, os contribuintes em Portugal começam a

receber mensalmente, a partir dos 65 anos, uma Pensão de Velhice calculada com

base na remuneração de referência e o número de anos civis com registo de

remunerações relevantes. Em simultâneo, os pensionistas têm direito a receber um

montante adicional de igual valor, correspondente aos subsídios de férias e de Natal,

nos meses de julho e dezembro81. E os pensionistas por invalidez e velhice que

tenham rendimentos mensais iguais ou inferiores a 167,69 euros (caso se trate de

pessoa isolada) ou 251,53 euros (tratando-se de um casal) podem obter a Pensão

Social de Velhice, no valor de 201,53 euros, e o complemento extraordinário de

solidariedade (CES) cujo valor é variável consoante a idade82.

80 Cf.ROSA,MariaJoãoValente,OEnvelhecimentodaSociedadePortuguesa,FFMS,Lisboa,2012,pp.48-49.81 www4.seg-social.pt/pensao-de-velhice,consultadoem2denovembrode2015.82 www4.seg-social.pt/pensao-social-de-velhice1,consultadoem2denovembrode2015.

56

Quadro4-MontantemensaldaPensãoSocialdeVelhicecomduodécimos,

apartirdejaneirode2015

Fonte:www4.seg-social.pt/pensao-social-de-velhice1,consultadoem2denovembrode2015.

Os idosos de baixos recursos com mais de 66 anos e residentes em Portugal têm ainda

direito ao Complemento Solidário para idosos, cujo valor depende dos seus

rendimentos anuais. De acordo com o valor de referência do complemento, em 2015,

o beneficiário pode receber no máximo 4.909 euros por ano83. Entretanto, os

benefeciários do Complemento Solidário para Idosos têm direito a benefícios de

saúde adicionais, sendo que o Estado comparticipa uma parte do valor gasto em

medicamentos, óculos, lentes ou dentaduras84. Além dos exemplos avançados, o

sistema da segurança social em Portugal inclui ainda ajudas em caso de doença e

morte, oferecendo apoios em vários outros aspetos.

4.2.2 Respostas sociais para idosos

A criação de infra-estruturas é paralela ao desenvolvimento social do país pelo que,

além das prestações às famílias, Portugal tem um conjunto de respostas de apoio

social relativamente aperfeiçoadas para pessoas idosas, tentando satisfazer todas as

suas necessidades e ajudar famílias a cuidarem dos seus familiares idosos,

promovendo a autonomia, a integração social e a saúde.

Segundo o Despacho Normativo N.º 682/99 de 12 de novembro, o Serviço de Apoio

83 www4.seg-social.pt/complemento-solidario-para-idosos,consultadoem2denovembrode2015.84 www4.seg-social.pt/beneficios-da-saude-csi,consultadoem2denovembrode2015.

57

Domiciliário (SAD) é uma resposta social que assegura a assistência física e/ou

psíquica dos idosos no seu domicílio. Segundo o Guião Técnico aprovado por

Despacho em 29.11.2004, um Centro de Dia é uma resposta social que presta um

conjunto de serviços para pessoas com 65 e mais anos durante o dia, mantendo-se

estes utentes no seu meio social e familiar. Segundo o mesmo Guião Técnico, um

Centro de Noite é um equipamento de acolhimento noturno para idosos isolados, que

vivem uma situação de solidão e permanecem no seu domicílio durante o dia, mas que

necessitam de acompanhamento durante a noite. Segundo o Decreto-lei n.º 391/91, de

10 de outubro, o acolhimento familiar para pessoas idosas, é uma resposta social que

consiste em integrar, temporária ou permanentemente, idosos em casas de famílias

capazes de lhes proporcionarem um ambiente estável e seguro. Segundo o Despacho

Normativo n.º 12/98 de 25 de fevereiro, existem ainda outras respostas sociais como

as Estruturas Residenciais, um alojamento coletivo para idosos que assegura a

alimentação adequada às suas necessidades domésticas. Liste-se, por fim, os Centros

de Convívio, que oferecem apoio a atividades sociais, recreativas e culturais,

organizadas e dinamizadas com participação ativa das pessoas idosas residentes numa

determinada comunidade, e os Centros de Férias e Lazer, que cuidam dos idosos

durante períodos de férias dos seus familiares, por exemplo.

Existe toda uma série de legislação que regula e garante apoios sociais para pessoas

idosas, por exemplo, o Decreto-lei n.º 391/91, Disciplina o regime de acolhimento

familiar de idosos e adultos com deficiência; a Portaria n.º 67/2012 que Define as

condições de organização, funcionamento e instalação das estruturas residenciais para

pessoas idosas; a Portaria n.º 38/2013, Estabelece as condições de instalação e

funcionamento do serviço de apoio domiciliário e revoga o Despacho Normativo n.°

62/1999, de 12 de Novembro e a Portaria n.º 96/2013, que Estabelece as condições de

instalação e funcionamento dos estabelecimentos de apoio social – Centro de Noite .

O governo também protege os idosos concedendo-lhes prioridade de atendimento na

justiça, saúde e em muitos serviços públicos.

Segundo dados de 2009 do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social (MTSS), as

ajudas aos idosos representavam 52,3% das respostas sociais globais do Estado (Cf.

Gráfico 23).

58

Gráfico23–Distribuiçãodasrespostassociaisporpopulação(2009)

Fonte:PINTO,DaviddosSantos,RespostasSociaisparaIdososemPortugal,Covilhã,2012,p.12.

Entre 1998 e 2009, o Estado concedeu o maior conjunto de respostas sociais para

idosos, que cresceram 68,8%. As respostas sociais de Serviço de Apoio

Domiciliário/Lares de Idosos e Centros de Dia aumentaram 87,5% e 44%,

respetivamente, o que reflete a preocupação ao nível das políticas sociais destinadas

aos idosos85.

4.3 A vida atual das pessoas idosas

Um estudo realizado em 2003, com uma amostra de 1.354 idosos, revelava que a

maioria das pessoas idosas permanecia em casa, com a família ou sozinhos.

Entretanto, existia também uma percentagem que vivia em lares de idosos86 (Gráfico

24), embora, se fira-se, a publicação é já de 2003.

85 Cf. PINTO, David dos Santos, Respostas Sociais para Idosos em Portugal, Universidade da Beira Interior,Covilhã,2012,pp.6-13.86 Cf.SOUSA,Liliana,GALANTE,HelenaeFIGUEIREDO,Daniela,QualidadedeVidaeBem-estardosIdosos:UmEstudoExploratórionaPopulaçãoPortuguesa,UniversidadedeAveiro,Aveiro,2003,p.4.

59

Gráfico24–Comquemvivemosidosos

Fonte:SOUSA,Liliana,GALANTE,HelenaeFIGUEIREDO,Daniela,QualidadedeVidaeBem-estardosIdosos:Um

EstudoExploratórionaPopulaçãoPortuguesa,UniversidadedeAveiro,Aveiro,2003,p.4.

Investigação na Associação de Assistência de S. Vicente de Paulo, da freguesia da

Sé, em Braga

No contexto da presente investigação, realizou-se uma visita a uma estrutura

residencial para idosos, de forma a conhecer o seu funcionamento. Tratou-se da

Associação de Assistência de S. Vicente de Paulo, que se situa no concelho de Braga,

na freguesia da Sé.

As suas instalações são compostas por 3 quartos individuais e 14 quartos duplos,

instalações sanitárias, sala de atividades, sala de banho assistido, sala de jantar,

cozinha, despensas e lavandaria. Apesar da instituição possuir duas respostas sociais,

a saber, Lar para Idosos e Serviço de Apoio Domiciliário, a nossa investigação incide

apenas sobre a primeira resposta social.

A instituição acolhe idosos de todos os pontos do país, no entanto a maioria dos

Família:65.9%

Sozinho:21.2%

Lardeidosos:9.2%

Outrassituações:2.3%

Não-respostas1.3%

60

utentes é dos distritos de Braga e de Vila Real87. Atualmente 30 idosos vivem neste

lar, com uma média de idades de 83 anos: seis destes idosos estão lá há menos de um

ano, 15 idosos entre um e cinco anos, 5 idosos são residentes há cinco a dez anos, 3

idosos permanecem entre dez a vinte anos e um idoso vive ali há mais de vinte anos.

A instituição assegura vários serviços e cuidados domésticos nomeadamente cuidados

de higiene, tratamento da roupa, higiene dos espaços, cuidados de enfermagem e

administração de fármacos. Paralelamente, presta apoio no desempenho das

atividades de vida diária e assistência religiosa. Além de atividades lúdicas pontuais

como pintar, ver televisão e trabalhar da horta, os idosos têm atividades fixas mensais,

por exemplo, ginástica (duas vezes por semana), manicure (quinzenalmente) e

eucaristia (mensal). Realizam-se também atividades de animação sociocultural,

lúdico-recreativas e ocupacionais, que o animador define mensalmente, de acordo

com os temas de cada mês, como passeios, pintura, trabalhos manuais, jogos de

memória, entre outras.

Os idosos que vivem numa estrutura residencial têm direito a um apoio monetário do

governo, no valor de 362,49 euros por mês, representando quase 50% do valor da

mensalidade da Associação de Assistência de S. Vicente de Paulo.

4.4 Problemas atuais: falta de atenção e respeito pelos idosos

Pode-se dizer que a qualidade de vida e bem-estar dos idosos em Portugal são bons,

no entanto existem também alguns problemas inegáveis. A Guarda Nacional

Republicana (GNR) realiza anualmente a operação «Censos Sénior», uma campanha

de segurança direcionada que tem como principal objetivo atualizar o registo dos

idosos que vivem sozinhos ou isolados, identificar novas situações e informar as

entidades competentes das situações de potencial perigo.

De acordo com os dados dos «Censos Sénior», foram sinalizados 15.596 idosos em

2011, 23.001 em 2012, 28.197 idosos em 2013 e 33.963 no ano seguinte. Dados mais

recentes da GNR apontam para 39.216 idosos a viverem sozinhos ou isolados em todo

87 Cf. SILVA, Mariana Pereira de Sousa e, Relações entre Pais e Filhos na Velhice. O Caso dos IdososInstitucionalizadosnoLarS.VicentedePaulo,UniversidadeCatólicaPortuguesaCentroRegionaldeBraga,Braga,2011,p.3.

61

o país em 2015, o que representa mais 5.253 pessoas do que no ano transato. Para

além da possibilidade de haver pessoas não sinalizadas, verifica-se uma tendência de

crescimento do número de idosos a viverem sozinhos ou isolados88.

Quadro5–ComparaçãodosCensosSéniorem2014e2015

Situações 2014 2015

Idososquevivemsozinhosouisolados 33.963 39.216

Idososquevivemsozinhos 21.316 23.996

Idososquevivemisolados 4.281 5.205

Idososquevivemsozinhoseisolados 3.026 3.288

Fonte:JornalPúblico89

Com base nos dados do Quadro 5, dos 39.216 idosos sinalizados pela GNR, 23.996

vivem sozinhos, 5.205 vivem isolados e 3.288 vivem sozinhos e isolados, o que

representa um crescimento de 2.680, 924 e 262 pessoas, respetivamente, em relação

ao ano anterior. Os militares da GNR encontraram ainda 6.727 idosos, mais 907 do

que em 2014, que vivem acompanhados mas que se encontram em «situação de

vulnerabilidade fruto de limitações físicas ou psicológicas».

Quadro6–DistribuiçãogeográficadeCensosSénior(2015)

Distrito Idososquevivemsozinhosouisolados Comparandocom2014

Aveiro 1.646 +837

Beja 3.914 +829

Braga 1.647 +73

Bragança 3.092 +301

CasteloBranco 2.165 +114

Coimbra 1.745 +180

88 www.publico.pt/sociedade/noticia/quase-40-mil-idosos-sozinhos-ou-isolados-1694846, consultado em 6 denovembrode2015.89 www.publico.pt/sociedade/noticia/quase-40-mil-idosos-sozinhos-ou-isolados-1694846,consultadoem6denovembrode2015.

62

Évora 2.853 +203

Faro 1.977 +638

Guarda 3.236 +491

Leiria 822 -154

Lisboa 1.225 +219

Portalegre 2.829 -40

Porto 1.109 +211

Santarém 1.732 -346

Setúbal 1.632 +944

VianadoCastelo 921 +99

VilaReal 2.916 +644

Viseu 3.755 +10

Fonte:JornalPúblico90

Atualmente, Beja é o distrito com o maior número de idosos a viverem sozinhos ou

isolados (3.914 identificados), mas o maior crescimento verificou-se no distrito de

Setúbal, onde surgiram 944 novos casos. De acordo com os últimos censos sénior,

cujos dados foram transportados para o Quadro 6, outros distritos com grande número

de idosos a viverem nestas condições são Viseu (3.755), Guarda (3.234), Bragança

(3.092), Vila Real (2.916) e Évora (2.853).

“Na sociedade ocidental, os idosos têm sido estereotipados e desqualificados como

rígidos, senis, aborrecidos, inúteis e dependentes. Ou seja, a pessoa no fim da vida é

«olhada» como marginal à sociedade, o que implica a sua exclusão.”91 Em suma,

muitas pessoas idosas perdem a sua posição social e o respeito público. Disso dá eco a

imprensa diária portuguesa com títulos como «Portugal é dos menos “generosos” da

Europa nos cuidados a idosos»92 e «Maus-tratos a idosos preocupam instituições de

solidariedade social»93.

90 www.publico.pt/sociedade/noticia/quase-40-mil-idosos-sozinhos-ou-isolados-1694846,consultadoem6denovembrode2015.91 RevistadeSaúdePública,vol.37nº.3,SãoPaulo,junhode2003.92 Cf.Público,Lisboa,29.09.2015.93 Cf.DiáriodoMinho,Braga,26.09.2015.

63

É sobretudo o Estado que se preocupa com a vida dos idosos, mas eles não recebem

cuidados suficientes por parte das respostas sociais, para além de permanecerem cada

vez mais afastados da família. Por exemplo, os lares de idosos permitem a

convivência social entre os residentes e os familiares e amigos, os cuidadores e a

própria comunidade, contudo, a investigação realizada na Associação de Assistência

de S. Vicente de Paulo revela que se alguns idosos têm visitas frequentes da família,

outros são negligenciados pelos filhos e demais familiares.

Reconhecendo esse problema, o Estado aprovou uma lei sobre a estratégia de

proteção ao idoso: “a partir de 25 de setembro de 2015, os crimes contra pessoas com

mais de 65 anos terão penas mais severas. As burlas contra idosos passam a ser

consideradas agravadas automaticamente, com penas de prisão que passam do

máximo atual de três anos para dez.”94 Acreditamos que, com a nova legislação, os

idosos poderão ter uma vida melhor em Portugal.

94 DiáriodeNotícias,Lisboa,22.09.2015.

64

Conclusão

65

Por vários fatores, nomeadamente passados históricos distintos, a imensa distância

geográfica e trajetórias distintas de desenvolvimento, a China e Portugal formaram

culturas, tradições e regimes políticos totalmente diferentes. Através da investigação

motivada por esta dissertação, constatamos algumas semelhanças no envelhecimento

demográfico no contexto chinês e português, mas também várias diferenças no que

respeita a tradições e políticas dirigidas à terceira e quarta idade.

Com o desenvolvimento social e a mudança de mentalidades, as mulheres foram-se

emancipando e promovendo a sua posição social. A pressão profissional e o

crescimento do custo económico que envolve um filho diminuíram o desejo de

procriação. Entretanto, devido aos avanços médicos e científicos, homens e mulheres

prolongaram a esperança de vida. Aparentemente, quer na China, quer em Portugal, a

diminuição de fecundidade e da mortalidade conduziram ao envelhecimento das

populações.

Além disso, o envelhecimento dos dois países apresenta algumas características

semelhantes, nomeadamente um grande fosso entre a população idosa feminina e

masculina, o aumento da população idosa acompanhado pelo aumento da população

de idosos mais velhos (com 80 e mais anos) e uma grande diferença dos níveis do

envelhecimento entre províncias ou regiões.

Entretanto, enquanto o envelhecimento no contexto português foi sobretudo um

resultado inevitável relacionado com o desenvolvimento económico e social, a

situação da China tem uma forte influência da política do filho único. Por causa desta

política, a China diminuiu bastante os nascimentos, envelhecendo mais cedo e

rapidamente do que quase todos os outros países do mundo. Para além disso, o país

envelheceu antes de estabelecer uma base económica sólida, o que retarda o

desenvolvimento social. Por fim, devido ao nível de urbanização que segue o de

industrialização, um grande número de trabalhadores jovens mudou-se para as cidades,

registando-se um envelhecimento mais grave nas áreas rurais do que nas zonas

urbanas.

Face ao crescimento da população idosa, em ambos os países se aprovou uma série de

legislação e se concretizou prioridades de atendimento para melhorar a vida dos

66

idosos. A maioria dos idosos, tanto na China como em Portugal, passa a sua velhice

em casa, sozinhos ou com os filhos, mas com raízes diferentes, pois a manutenção das

pessoas idosas nos dois países têm núcleos diferentes, como explicamos

seguidamente.

No contexto chinês, devido à milenar tradição e evolução da cultura da piedade filial,

os idosos têm uma posição social elevada, o respeito por eles tem sido um consenso

popular. Os apoios e cuidados aos idosos são uma responsabilidade dos filhos e da

família, o Estado desempenha apenas um função de apoio suplementar. As políticas

pelos idosos ainda são defeituosas e o estabelecimento de respostas de apoio social

para pessoas idosas está apenas no início.

No contexto português, as pessoas mais velhas são sobretudo mantidas pelo Estado.

Enquanto país desenvolvido, Portugal tem um conjunto de respostas de apoio social

às pessoas idosas relativamente aperfeiçoado, as ajudas e os serviços de ajuda são

mais institucionalizados. As políticas de apoio económico e muitas respostas sociais

podem garantir a vida dos idosos e atingem pelo menos o padrão básico do país.

No entanto, com o processo do envelhecimento a acentuar-se, a forma de manutenção

das pessoas idosas nos dois países está sujeita a grande pressão. Na China, devido à

política do filho único, uma pessoa precisará de cuidar de mais idosos do que

anteriormente, aumentando o fardo financeiro das famílias. Por outro lado, o filho

único reduzirá a garantia da vida dos idosos. Além disso, o aumento do número de

famílias de Ninho Vazio mostra que os cuidados domésticos não poderão satisfazer as

necessidades diárias e morais dos mais velhos no futuro.

Em Portugal, apesar do investimento significativo do governo nas respostas sociais

para os idosos, ainda é fraco o sentido de respeito devido aos idosos pela restante

população. A diminuição do apoio das famílias na manutenção das pessoas idosas

pressupõe o aumento das prestações sociais do Estado. Assim, perante estes gastos, o

Estado fica com menos meios para o desenvolvimento de outros setores económicos e

sociais.

Em suma, aparentemente, com a diminuição continuada da fecundidade e mortalidade,

67

a China e Portugal tornar-se-ão cada vez mais envelhecidos e, com aumento da

população idosa, os dois países enfrentarão no futuro um maior desafio na área

política, social e económica.

68

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