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Page 1: HOSTÓRIA E IMPRENSA: A DIVISÃO DO ESTADO DO MATO GROSSO … · 1 HOSTÓRIA E IMPRENSA: A DIVISÃO DO ESTADO DO MATO GROSSO NA FOLHA DE S. PAULO LÍNIVE DE ALBUQUERQUE CORREA * Introdução:

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HOSTÓRIA E IMPRENSA: A DIVISÃO DO ESTADO DO MATO GROSSO NA FOLHA DE S. PAULO

LÍNIVE DE ALBUQUERQUE CORREA*

Introdução:

A divisão do Estado do Mato Grosso, promulgada no ano de 1977, é um marco da

coroação da luta separatista promovida por nortistas e sulistas em embates políticos, ideológicos

e até mesmo físicos que perduraram por cerca de cem anos. Fatores socioeconômicos e políticos

distintos aliados à força política e econômica dos fazendeiros do sul de Mato Grosso,

contribuíram para o nascimento de ideias divisionistas, e colaboraram para a posterior separação

das regiões Norte e Sul do Estado do Mato Grosso.

A imprensa fez parte do processo de divulgação do movimento na esfera local, regional

e nacional através da cobertura promovida por jornais que circulam no Estado e órgãos de

circulação nacional, possibilitando observar as relações dos meios de comunicação impressos

com os interesses políticos e econômicos vigentes, em todos os âmbitos. O material jornalístico

permite perceber a ação dos jornais na construção de representações sobre os fatos

(BOURDIEU, 2000. p. 164; 170), assim a presente comunicação tem por objeto principal as

representações jornalísticas sobre a divisão do Estado do Mato Grosso publicadas na Folha de S.

Paulo entre os anos de 1975 a 1977. Por objetivo central define-se pensar a contribuição dos

impressos e a relação dos jornais na construção dos fatos, além da relação entre o fato publicado

e interesses políticos e econômicos.

Alguns fatores foram determinantes para a escolha do jornal ‘Folha de S. Paulo’, por

configurar uma fonte externa ao acontecido, apresentando-se como uma pretensa “voz

imparcial”; a proximidade física de seu campo de atuação, além de ter, com as áreas

envolvidas, interesses particulares a São Paulo; e sua condição de periódico de alcance

nacional.

1. Os dois Mato Grosso

O processo de expansão lusitana no Brasil em direção ao oeste tem início durante a

primeira metade do século XVIII, contemplando regiões como Mato Grosso e Goiás. Segundo

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Jovam Vilela da Silva, na segunda década do século XVIII encontrou-se ouro na região de

Cuiabá às margens do córrego Coxipó-Mirim, possibilitando a ocupação efetiva da área por

meio de expedições bandeirantes.

As notícias com proporções lendárias e fantasiosas a respeito da descoberta do ouro

na região atraíram pessoas de todas as partes, porém foram maiores que a própria quantidade

do metal precioso. O “ciclo do ouro cuiabano” entrou em decadência rapidamente, já na

primeira metade do século XVIII Cuiabá sofreu com o êxodo populacional e passou a viver

num isolamento após o encerramento de seu curto ciclo econômico. Alheia à mineração, a

região sul do Estado constitui-se nesse período meramente um cenário do tráfego em direção

a Cuiabá, sofrendo ainda pequenas infiltrações dos espanhóis e do Guaicuru.

Norte e sul receberam influências distintas já em sua colonização, o que acabou por

gerar conflitos de interesses entre as duas regiões. Os migrantes que chegaram ao norte desde

o período da descoberta do ouro em Cuiabá eram, em sua maioria, lavradores sem terra ou

sitiantes que vendiam suas possessões para tornarem-se “pequenos fazendeiros” no Mato

Grosso. Já os responsáveis pela ocupação do sul foram atraídos pelas terras férteis, baratas e

pela quantidade de gado bravio dos campos de vacaria, aí encontrados abundantemente em

detrimento da ausência do ouro. O sul do Mato Grosso despontava como uma economia

disponível, substitutiva da antiga e devastada economia mineradora do norte de Mato Grosso.

A despeito da crise econômica, Cuiabá permanece como centro político e administrativo

estadual.

A importância sócio-econômica e política do Sul de Mato Grosso acentua-se, na medida em que ocorre a sistematização da criação do gado, a posse da terra e a formação de vilas e cidades, concomitante a esses fatores ocorre a instalação da Companhia Matte Larangeira e a ligação ferroviária entre o Sul de Mato Grosso e São Paulo. (SANTOS, 1995. p.22.)

A Companhia ervateira “Matte Larangeira”, fundada em 1891 por Thomaz

Larangeira, com sede inicial em Concepción no Paraguai, exerce até 1930 a maior influência

política e econômica do Estado do Mato Grosso, tendo alcançado seu apogeu por volta de

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1920. A Matte possibilitou o povoamento de uma extensa região, porém adquiriu tamanha

visibilidade a ponto de “constituir um verdadeiro Estado no Estado.” (VALLE, 1996. p.19.).

O campo de atuação da companhia era praticamente um “latifúndio correspondendo a área de

vários países da Europa” (SILVA, 1996. p.20.), porém as terras não lhe pertenciam, eram

terras devolutas pertencentes ao Estado e arrendadas à Matte. Em 1918, a empresa instalou-se

no extremo sul do Mato Grosso na Fazenda Campanário, que se tornou sede da Companhia,

posteriormente transferida para Porto Murtinho (também região sul), espraiando ainda mais

seus domínios sobre o Estado.

No final do século XIX e início do XX levas de migrantes gaúchos começam a

chegar ao sul do Mato Grosso, se estabelecem nos ervais da Companhia, aliando-se,

inicialmente, a seus dirigentes, porém, com a chegada contínua dos migrantes, surgiram as

primeiras divergências com os arrendatários da terra, “as complexas relações sócio-

econômicas e políticas entre proprietários e não proprietários fortalecem, politicamente alguns

grupos de famílias, dando origem à formação das oligarquias sulinas desvinculadas das já

existentes no Norte.”( SANTOS, 1995. p.22.). À Matte Larangeira, nunca interessou a

divisão do Estado, pois a porção sul praticamente já lhe pertencia e caso a divisão ocorresse a

Companhia teria de partilhar com os posseiros as terras de seus ervais e o seu monopólio

sobre a exploração da erva mate. Considerando-se a influência das migrações, sobretudo

gaúchas e mineiras, surgem neste período ideais separatistas, os “coronéis guerreiros”,

defendiam os ideais da divisão através da luta armada.

Para Marisa Bittar, “o regionalismo dos sulistas consiste na causa mais remota da

divisão, [...] os sulistas transformaram o seu regionalismo em divisionismo” (BITTAR, 2009.

p.24.), ainda segundo a autora, as ideias separatistas sugiram em 1892 nos confrontos

armados entre coronéis sulistas e nortistas. A partir dos êxitos obtidos, sobretudo com a

pecuária, as oligarquias sul-mato-grossenses se fizeram política e economicamente tão

importantes ao desenvolvimento do Estado quanto às do norte. Em 1901, Barros Cassal e João

Caetano Muzzi, líder do recém-criado Partido Autonomista – partido de oposição ao Partido

Republicano local – levantaram a bandeira separatista. Nesta primeira fase do movimento, os

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interesses particulares das oligarquias dominantes confundiam-se com as disputas e objetivos

políticos entre aqueles que pretendiam o poder estadual.

A construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em 1914 ligou “São Paulo a

Corumbá, na fronteira com a Bolívia, [...] atravessando todo o Sul do Estado” (BRASIL,

1977. p.06.), Campo Grande gradativamente centralizou no sul do Mato Grosso as principais

atividades políticas e econômicas de então, passando de entreposto comercial à condição de

polo irradiador de ideias. A futura capital do Estado de Mato Grosso do Sul teve seu

desenvolvimento facilitado por situar-se fora da área de controle da Matte Larangeira e ainda

por sua localização que proporcionava à ferrovia o atendimento de seus objetivos econômicos

e estratégicos, transformando-se na capital econômica do sul de Mato Grosso.

Esse trânsito de influências entre o sul do Mato Grosso e São Paulo gera, sobretudo

nos anos de 1919-1925, prosperidade econômica para as cidades sul-mato-grossenses e

proporciona a propagação do movimento divisionista também nos centros urbanos. Assim, a

causa extrapola o limite dos ervais nos anos 20 e atinge as cidades criadoras de gado, com

destaque para Campo Grande. Pode-se afirmar que a ideia divisionista esteve amplamente

relacionada às diversas correntes migratórias que compõe o sul do Estado, à expansão

pecuarista gerada a partir destes habitantes, ao regionalismo que marcou estes movimentos -

resultando na formação das oligarquias- ao desenvolvimento das cidades, a interação entre

sul-mato-grossenses e militares constantemente remanejados e a implantação da ferrovia.

(BITTAR, 2009.).

A partir de 1930 o movimento divisionista tornou-se mais organizado com a

participação de outros grupos sociais que se aliaram aos políticos sulinos exercendo pressão

sobre o governo federal, tendo ainda o respaldo de grupos econômicos não ligados à Matte

Larangeira. Em julho de 1932 eclode, em São Paulo, a chamada Revolução

Constitucionalista, além das fronteiras paulistas, o sul do Mato Grosso foi o único a aderir o

movimento revolucionário e, evidenciando mais uma vez o distanciamento das regiões, o

norte permaneceu legalista alinhando-se ao poder central.

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...Mato Grosso é um prolongamento de São Paulo. As nossas principais e mais antigas famílias vieram da brava gente paulista, dos bandeirantes que fizeram os limites do Brasil. Foram os paulistas que levantaram as nossas principais cidades. Fomos uma parte de São Paulo. (SILVA, 1996. p.153.)

As forças revolucionárias situadas no sul do Estado e as estabelecidas em São Paulo

foram, porém, vencidas pelo Governo da União. O movimento não alcançou seus objetivos,

entretanto os esforços dos revoltosos não foram em vão, criou-se em fins de 1932 a Liga Sul-

mato-grossense que auxiliaria os divisionistas na organização e planejamento de atividades

em prol da causa separatista. A este tempo Cuiabá também manifestava-se procurando abafar

as movimentações e estratégias da Liga Sul-mato-grossense, para tanto as autoridades

centristas passaram a taxar como subversivas as aspirações sulistas pela separação e as

delegacias de Cuiabá passaram a receber ordens de se exercer rigorosa vigilância contra os

movimentos divisionistas. No entanto, durante o chamado “Estado Novo” (1937-1945), a luta

divisionista atraiu a simpatia de diversos políticos, alguns até mesmo ligados ao governo de

Getúlio.

Com o fim da ditadura Varguista, a eleição de Vespasiano Martins ao senado pelo

Sul e a instalação da nova Assembleia Constituinte em 1945, a causa ganhou novo ânimo.

Segundo Valle, na década de 40, não houve, com relação à divisão do Mato Grosso, “nenhum

movimento de monta, e o movimento dividisionista somente viria à tona com maior

intensidade na década de 50” (VALLE, 1996. p.178.), acompanhado por significativas

mudanças como a chegada da rodovia ao Estado.

A partir de 1952 na Escola Superior de Guerra do Estado Maior das Forças Armadas,

o ideal divisionista obteve importantes adesões como as dos generais Ernesto Geisel e

Golbery de Couto e Silva. No final da década, o movimento voltou a se intensificar e tomou

novo fôlego com a candidatura de Jânio Quadros, nascido em Campo Grande1, à presidência

da República. Eleito, Jânio declarou, para o desapontamento dos separatistas, “que, depois de

1 Há controvérsias quanto à cidade de origem do ex-presidente, em seu livro “Pedro Pedrossian, o Pescador de Sonhos – Memórias”- 2006, o ex-governador afirma ter Jânio Quadros nascido em Miranda-MS.

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seu Governo, ninguém mais iria pensar em Dividir o Estado.” (VALLE, 1996. p.36.). Dos

anos seguintes até 1963, a Liga Sul-mato-grossense fundou comitês pró-divisão por todas as

cidades sulistas, procurando divulgar e promover a separação das regiões e a criação do

Estado do Mato Grosso do Sul. (VALLE, 1996. p.36.).

O grande marco da década de 60, porém, foi o Golpe Militar de 31 de março de

1964, com a ação, os separatistas novamente se recolheram, porém, a chama é reacesa com a

chegada a Cuiabá dos coronéis Ernesto Geisel e Golbery de Couto e Silva, destacados para

tratar de assuntos referentes à redivisão do Estado. No contexto da ditadura o governo

promovia a ocupação de “espaços vazios” em prol da segurança nacional, aliando seu projeto

de “Brasil Potência” aos interesses da elite agrária sul-mato-grossense.

Com base em estudos realizados, com vistas à divisão do Estado desde a década de

60 pelos já mencionados generais, foi entregue, em meados de 1974, ao Governo Federal o

prospecto do plano de divisão. Por conta das eleições ocorridas no mesmo ano, planos foram

alterados e num pronunciamento em outubro, o ministro Rangel Reis, transferia a divisão para

o ano seguinte. Em 1975 surge a primeira manifestação pública e oficial das elites a respeito

da divisão, “as Associações de Diplomados da Escola Superior de Guerra – que desde 1952 já

vinham debatendo o problema, resolveram publicar dois relatórios e divulgá-los

simultaneamente em Cuiabá e Campo Grande” (VALLE, 1996. p.183.), reacendendo as

polêmicas entre as regiões do Estado.

O ideal da divisão perdurou através dos tempos, e os anseios divisionistas somente

foram atendidos quase um século após o primeiro brado separatista, a Lei Complementar

nº31, promulgada em 11 de outubro de 1977, em Brasília, criou o Estado de Mato Grosso do

Sul, constituído de 55 municípios agrupados e 07 microrregiões homogêneas.

Nenhuma das populações envolvidas foi consultada a respeito da divisão e somente

tomaram parte dos planos do Governo Federal para a região depois da exposição de motivos,

e da conclusão da lei complementar, “... não houve manifestações populares que

antecedessem e apoiassem a sua criação, também não houve manifestações que a ela se

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opusessem. [...]. Em síntese: as duas regiões aceitaram o ato consumado” (BITTAR, 2009.

p.432.). Alguns interpretam a separação como uma consequência lógica da configuração

geográfica do Estado do Mato Grosso, outros a classificam como “uma decisão pessoal, um

ato de arbítrio do presidente Geisel” (VALLE, 1996. p.56.), há ainda quem creia numa ação a

serviço do Governo Federal para multiplicar espaço político através da criação de novas

Unidades da Federação. O fato é que, “... nas bases, o que realmente motivou essa decisão,

assim como motivará outras, ‘é que esta foi a que melhor serviu, no caso, aos mais altos

interesses nacionais! ’” (SILVA, 1996. p.194.), resta saber há que interesses e a quem eles

contemplam.

2. A Folha de S. Paulo

Criada em 1921, a Folha da Noite nasceu da iniciativa de um grupo de profissionais

advindos do jornal “O Estado de S. Paulo (OESP)”.

Segundo depoimentos de Pedro Cunha, um de seus fundadores, e de Paulo Duarte, um de seus colaboradores de primeira hora, a causa imediata do surgimento da Folha da Noite, em 1921, foi a extinção, logo após o término da Primeira Guerra, do jornal conhecido como Estadinho, editado como vespertino pelos proprietários de O Estado de S. Paulo. (MOTA e CAPELATO, 1981. p.36).

Desta forma, a lacuna deixada pelo Estadinho2, foi ambicionada e preenchida por

esses colaboradores. Surge assim a Folha da Noite que buscava atuar junto a um leitorado não

atingido pelo OESP, sendo por isso definido por seus dirigentes como um “jornal popular”

que buscava representar e dirigir-se as classes médias urbanas, ambicionando também “uma

suposta penetração na classe operária”. Como evidência do êxito obtido pelo periódico já

firmado no mercado, surge em 1925 a “Folha da Manhã” que se constituía como um jornal

matutino e representava um complemento das funções do primeiro periódic, distribuído no

período da tarde e que por isso não tinha tempo de dar algumas notícias.

2 Cabe ressaltar que o Estadinho era apenas um caderno publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo durante a primeira Guerra Mundial e não o jornal O Estado de S. Paulo em si.

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O ano de 1929 se estabeleceu como marco de uma grande modificação na linha do

jornal que iniciou a sua trajetória numa postura crítica à política dominante, buscando

aproximação com as classes populares e encerrou a década de 20 tornando-se inteiramente

governista. Outra característica do período digna de destaque é o fato de que passam a

protagonizar nos jornais os interesses de São Paulo em detrimento das chamadas “aspirações

populares”. “Há uma exacerbação do regionalismo. Tudo se explica e justifica em nome da

“grandeza de São Paulo.” (MOTA e CAPELATO, 1981.p.48.).

A “segunda fase” da história do jornal tem início com a chamada “Revolução de

1930”, quando, após serem empasteladas e deixarem de circular, as Folhas da Noite e da

Manhã tiveram seus despojos vendidos ao grupo de Octaviano Alves de Lima (fazendeiro e

comerciante do café), os jornais só voltaram a circular no ano de 1931, com um caráter

marcadamente rural. As Folhas caracterizaram-se no período como “jornais da lavoura”, nesta

“segunda fase” alcançou-se ainda a emancipação financeira e uma fisionomia empresarial,

não era o lucro o principal interesse do grupo de proprietários, era o café a maior preocupação

do jornal, fomentando, por isso, o preconceito aos industriais. Para os idealizadores do “novo”

jornal, a causa da lavoura deveria “ser considerada como a causa de S. Paulo e do Brasil.”

(TASCHNER, 1992. p.52.). Porém, a luta e o empenho de Alves de Lima não foram

suficientes e quinze anos depois da compra este vendeu o periódico e abandonou a carreira

jornalística.

Assim, em 1945, juntamente com o início do período de redemocratização pós-

ditadura Vargas, tendo como bandeira de luta a consolidação da democracia, José Nabantino

Ramos dá início à “terceira fase” da história do jornal, “o novo diretor das Folhas

representava a renovação do capitalismo e trazia uma nova mentalidade à empresa.” (MOTA

e CAPELATO, 1981. p.101.). Até por volta de 1950, porém, o jornal ainda passará a

representar firmemente os ideais dos capitalistas agrários, após este período, no entanto, há

um retorno a ênfase urbana e se estabelece também um viés industrialista.

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Nabantino Ramos é apontado como o grande responsável pelas mudanças ocorridas

no período de 1945 a 1962, quando modernizou o jornal, reestruturou a administração e

racionalizou o trabalho colocando-os em termos de empresa. A visão progressista instaurada

por Nabantino foi influenciada por acontecimentos no campo político, econômico, social e

cultural. Em fins da década de 40 (1946/48), as Folhas, se tornaram porta-voz da ideologia

das classes médias urbanas do Estado de São Paulo, “um jornal da classe média para a classe

média” (MOTA e CAPELATO, 1981.p.71.), afirmava Ramos.

Em julho de 1949 é criada a Folha da Tarde, um jornal matutino e mais popular com

o propósito de substituir a Folha da Noite, que vinha paulatinamente perdendo sua

importância. Em janeiro de 1960 ocorreu a unificação dos jornais que passaram a chamar-se

“Folha de S. Paulo” mantendo três edições diárias. A construção dos “novos periódicos”

deu-se através de uma diversificação de assuntos, na busca por novos públicos atestando cada

vez mais o seu caráter empresarial. Porém, com dificuldades financeiras e administrativas,

além de problemas internos, Ramos retirou-se da Folha em agosto 1962, dando início a

“quarta fase” da história dos jornais, agora sob a tutela de Octávio Frias de Oliveira, ligado ao

capital financeiro, e Carlos Caldeira Filho, do setor da construção civil, a estrutura

empresarial que havia sido previamente montada por Nabantino Ramos, seria levada a cabo

pelo grupo Frias-Caldeira.

Conforme Mota e Capelato, a reformulação da empresa realizou-se em três etapas: 1º

– reorganização financeiro-administrativa e tecnológica (1962-1967), 2º - a “revolução”

tecnológica (1968-1974) e 3º - definição de um projeto político cultural (1974-1981). Ainda

segundo os autores, “em 1963 a Folha tornara-se o jornal de maior circulação paga do Brasil”

(MOTA e CAPELATO, 1981.p.192.). No campo político a Folha do grupo Frias-Caldeira,

buscou um posicionamento de neutralidade e, entusiasta da ideologia legalista, assumiu o

papel de defensora da ordem, sendo capaz de, em nome desta, apoiar o Golpe de 1964, assim

como a maior parte da grande imprensa. Na prática política, o neutralismo apregoado não se

efetivou, a Folha aproximou-se da UDN e, assumindo o seu papel de formadora de opinião,

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contribuiu com “a preparação ideológica de seus leitores para a aceitação do Movimento

Militar de 1964.” (MOTA e CAPELATO, 1981.p.179.).

Para Dias, a estratégia política do jornal deu certo na medida em que o apoio ao

Golpe de 1964 rendeu à Folha um grande crescimento econômico observável também no

período pós-golpe. Diferentemente de outros jornais, durante a ditadura militar a Folha não

possuía censores em sua redação, “só recebia a relação ou indicações de temas proibidos por

telefone da Polícia Federal” ((MOTA e CAPELATO, 1981.p.207), praticando a autocensura.

No período denominado como “revolução tecnológica” (1968-1974), a Folha de S. Paulo

revelou-se uma empresa inovadora através de seus investimentos em maquinários importados

e grandes tecnologias de prensa. Tais alterações projetaram-se no aumento do público,

fazendo com que em 1969, segundo pesquisa do IBOPE (MOTA e CAPELATO, 1981.

p.203.), a Folha figurasse como o jornal mais lido do interior do Estado de São Paulo,

superando o OESP.

No chamado período de “definição de um projeto político cultural (1974-1981)”, a

Folha que anteriormente defendera o Golpe, agora se distanciava dele. Dentre os motivos

deste afastamento se destacam uma “decepção” com os rumos do regime em 1965,

distanciando-se ainda mais com o agravamento da violência em 1968. Em meados da década

de 70, sob o risco de perder os leitores que esboçavam descontentamento com o governo, a

empresa assumiu uma posição mais crítica. Em 1975 com a chamada “Distensão Política” do

esquema Geisel-Golbery, o jornal teve uma autonomia maior, e em busca de uma imagem

mais definida, aliou-se a outros segmentos da sociedade civil na defesa de bandeiras como a

redemocratização do país, a liberdade de imprensa e os direitos humanos.

A principal mudança da empresa Folha de S. Paulo no período Frias-Caldeira,

porém, dá-se na medida em que esta se transforma em um conglomerado da indústria cultural.

Tal conquista deu-se com a aquisição de títulos como “Última Hora” e “Notícias

Populares”, ambos de São Paulo. O grupo assumiu também em 1968 o controle da Fundação

Cásper Líbero, o que fez com que ao longo da década de 60 tivessem controle sobre cerca de

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50% do mercado de leitores no que se refere à venda avulsa na grande São Paulo

(TASCHNER, 1992. p.151.). Frias e Caldeiras transformaram algumas empresas em crise e

até mesmo em ruínas, num “império jornalístico”.

3. A Folha de S. Paulo e a Divisão do Estado do Mato Grosso

Em pesquisa realizada no “Acervo Folha”, optou-se por utilizar as expressões “Mato

Grosso” e “Mato Grosso do Sul” como termo de busca, gerando um montante inicial de 1370

páginas, muitas, porém, não relacionadas ao objeto abordado na pesquisa. Após verificação

inicial do material, 180 notícias foram selecionadas para redação do trabalho, por abordarem:

a) a divisão do Mato Grosso; b) a criação do Mato Grosso do Sul e c) os desdobramentos da

questão divisionista. A Folha mencionou a possibilidade da divisão pela primeira vez já em

15 de junho de 1965, em nota presente na página 6 do primeiro caderno, sob o título:

“Elementos do Codigo Penal no ginasio”, a próxima notícia relacionada à divisão dá-se

somente seis meses depois: “AL discutirá divisão de Mato Grosso”.

Ainda em abril de 1968, no caderno denominado “Suplemento Especial”, a Folha

trouxe um conjunto de reportagens sob o título “Mato Grosso: muita terra e pouca gente”,

parte da “Série Realidade Brasileira: Centro-Oeste”. No decorrer de 23 páginas o tema foi

dividido em outros seis subtítulos: “1. Tão grande quanto rico; 2. Pecuária, escalada do

progresso; 3. A rodovia e o desenvolvimento de Mato Grosso; 4. Tamanho é problema?

(Divisão do Estado: solução que muitos defendem); 5. Conflito entre passado e o futuro e 6.

Um Estado com três Capitais.”. A Folha de S. Paulo deixa transparecer, já na introdução das

reportagens, o seu posicionamento com relação à divisão do Estado do Mato Grosso, o jornal

faz declarações com relação à “superioridade” do Sul do Estado em detrimento do Norte.

A Folha apresenta a região Sul de Mato Grosso como tendo a sua ocupação

populacional mais bem distribuída, padrão de desenvolvimento econômico mais elevado e

uma economia dinâmica, “em franco processo de consolidação, com a industrialização

rompendo a hegemonia agropecuária” (FOLHA DE S. PAULO, 1968. p.19-42.), fatos que se

devem, segundo o periódico, à “benéfica” influência de São Paulo e Minas Gerais sobre a

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região. O suplemento ainda apresenta a cidade de Campo Grande como “centro de irradiação

do progresso em vasta área de Mato Grosso” (FOLHA DE S. PAULO, 1968. p.19-42.).

Enquanto ao Norte coube a alcunha de “incorporado ao vazio amazônico” constituindo-se

“num desafio ao pioneirismo”. A posição da Folha de S. Paulo nos embates do divisionismo

apresenta-se de forma latente, sendo ainda corroborada por dados de períodos seguintes.

Definiu-se como recorte temporal para amostragem do material divulgado pelo

jornal, o ano de 1975 em que ocorre, a primeira manifestação pública e oficial das elites a

respeito da divisão do Mato Grosso e tem como data final o último mês do ano em que foi

homologado o decreto de criação do Mato Grosso do Sul (1977).

Por não conter um dispositivo de desambiguação, muitas informações, apareceram

relacionando Mato Grosso a situações de ordens diversas, fazendo com que o número

aparentemente grande de notícias fosse bastante reduzido. Assim, os dados considerados para

elaboração do presente artigo advêm da leitura e análise de 100 notícias publicadas pelo jornal

Folha de S. Paulo no período de 01 de janeiro de 1975 a 31 de dezembro de 1977.

Tânia de Luca chama atenção para a importância de se “atentar para o destaque

conferido ao acontecimento, assim como para o local em que se deu a publicação” (LUCA,

2005. p.140), havendo também uma hierarquia de seções. Ainda segundo a autora, os

procedimentos tipográficos e as ilustrações também conferem significado ao discurso e “a

ênfase em certos temas, linguagem e a natureza do conteúdo tampouco se dissociam do

público que o jornal [...] pretende atingir” (LUCA, 2005. p.140).

Manchetes podem ser definidas como “o principal ponto de atração de uma notícia,

juntamente com a foto. [...] têm as funções de resumir a notícia, impactar e atrair o leitor de

forma a persuadi-lo a ler o texto por inteiro.” (FERNANDES e ANDRADE, 2013. p.07). A

primeira manchete localizada sobre a temática divisionista data de 01 de maio de 1975,

“Senador apoia divisão de Mato Grosso” e em 12 de fevereiro de 1976 lê-se na primeira

página que a “Divisão de Mato Grosso sairia logo”. Outras quatro manchetes de períodos

distintos também merecem destaque, são elas: “Em janeiro de 79, Mato Grosso do Sul e do

Norte” (22.03.77); “Garcia Neto desconhece divisão” (23.03.77); “Anunciada divisão de

Mato Grosso” (04.05.77) e “Redivisão é necessária” (11.10.77). A ênfase dedicada às

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notícias através das manchetes deixa transparecer, nos exemplos citados, a posição da Folha

que endossava a divisão antecipando-se a ela (nos cinco primeiros exemplos) e corroborando-

a (no último), valendo-se da máxima de que “a visão do leitor sobre determinado fato pode ser

construída a partir de uma única frase.” (FERNANDES e ANDRADE, 2013. p.07). Assim

temos que o destaque conferido a uma notícia marca também um posicionamento, as notícias

estão sempre a “serviço de”, cabendo ao leitor e ao pesquisador investigar a quem ela serve.

Compreendemos, portanto, que a análise deve ser ainda mais abrangente, entendendo a mídia

como integrante do jogo político e da construção do acontecimento histórico (SOTANA,

2010. p.22-23.). A imprensa é ora moldada pela realidade político social na qual se insere, ora

artífice desta.

A Folha de S. Paulo noticiou a sequencia de fatos relacionados à criação do Mato

Grosso do Sul, publicou e produziu séries de reportagens, artigos de opinião e charge,

materiais que quando analisados revelam um posicionamento da empresa explicável através

de uma reconstituição histórica. Como “o grande jornal da classe média brasileira” (MOTA e

CAPELATO, 1981. p.234.), e como baluarte da defesa de São Paulo, é em nome destes e de

sua relação com o sul do Mato Grosso que a Folha define e explicita o seu posicionamento

favorável à divisão.

A Folha de S. Paulo, no período pesquisado, demonstrou nitidamente ser impossível

ignorar “a posição política dos jornais e, principalmente, as relações sociais construídas ao

longo das suas trajetórias” (SOTANA, 2008. p.6.), ao analisar o posicionamento dos meios de

comunicação diante de acontecimentos históricos. Ainda que se pretenda imparcial e objetiva,

a imprensa nunca se limita a meramente transmitir informações, não só informa como

também forma e deve, por isso, ser compreendida como agente do campo político. Segundo

Luiz Antônio Dias, “[...] os jornais sempre buscam atrair seus leitores para uma causa, quer

seja ela política ou econômica.” (DIAS, 1993. p. 32.).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTAR, Marisa. “Mato Grosso do Sul a construção de um estado: regionalismo e divisionismo no sul de Mato Grosso”. Volume I. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2009.

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