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HORTO MUNICIPAL DE PELOTAS/RS: POSSIBILIDADES DE
ATIVIDADES VOLTADAS À EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UM
RELATO DE EXPERIÊNCIA
RODRIGUES, Paulo Ricardo Faraco1 - UFPEL
Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente
Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente trabalho aborda aspectos sobre Educação Ambiental (EA) assim como o relato de experiência de suas práticas no Horto Municipal de Pelotas/RS (HMP) no período de 2001 a 2008. Para tanto, busca-se inicialmente realizar algumas reflexões sobre concepções de Ecologia e Educação Ambiental fundamentada em autores como Garcia (1993), Jacobi (2003) e Carvalho (2004) pontua-se a importância de que a produção vegetal no HMP vise à necessidade de manter a biodiversidade de uma região aliada às práticas de EA, desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Qualidade Ambiental (SQA). No HMP muitas são as possibilidades de práticas de EA: elas poderão ser enfocadas através do contato direto da comunidade com as unidades de produção e através da SQA, recebendo a comunidade, estimulando e organizando eventos, planejando ações que levem à conduta responsável dos indivíduos em relação ao ambiente. Essa atividade, inicialmente, visa o despertar nos estudantes da percepção ambiental e inserção no ambiente natural, buscando harmonizar as expectativas da experiência de contato com natureza às vivências do dia a dia. Os alunos realizavam identificação, coleta de material botânico para herbários, práticas de fotografias e observação da fauna e da flora. Para alguns professores, essas visitas guiadas serviam para promover outras práticas de ensino-aprendizagem nas escolas. Ou seja, o conhecimento e percepções adquiridos para além dos muros das escolas, serviam para embasar e sustentar os conhecimentos e práticas da chamada educação formal, escolarizada. Aqui é apresentado o relato sobre práticas de EA efetivadas durantes as visitas ao HMP e em trilhas interpretativas que possibilitam contato direto com a natureza, direcionando o aprendizado à sensibilização do contato com o ambiente natural. Oferecem oportunidades de reflexão sobre valores e vivências, indispensáveis a mudanças comportamentais que estejam em equilíbrio com a conservação dos recursos naturais.
Palavras-chave: Educação ambiental. Horto municipal. Trilhas interpretativas.
1 Doutorando em Agronomia pela FAEM/UFPel. Especialista em Educação Ambiental pelo CEFET/RS. Diretor do Horto Municipal de Pelotas (2001-2007). E-mail: [email protected]
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Introdução
O presente trabalho que faz parte de uma pesquisa maior2 abordará aspectos sobre
educação ambiental assim como o relato de experiência de suas práticas no Horto Municipal
de Pelotas3. Para tanto, busca-se inicialmente realizar algumas reflexões sobre concepções de
Ecologia e Educação Ambiental, apontando aspectos de sua institucionalização histórica, bem
como implicações teóricas e sociais.
Assim, constatou-se necessário o estudo dos primórdios do pensamento ecológico na
cidade de Pelotas no início do século XX, através de consultas aos arquivos de jornais daquela
época na Bibliotheca Pública de Pelotense, pois se acredita que esse pensamento justifica
algumas das condições encontradas hoje no processo de arborização da cidade e o visível
descaso do poder público e da comunidade com as áreas vedes. Ressalta-se que há poucos
registros oficias e ou publicados sobre as atividades de produção vegetal e de práticas
pedagógicas desenvolvidas no Horto Municipal.
É sabido que a humanidade sempre contou a sua história, através dos tempos, por
registros que são dos mais variados tipos e formas. No caso de Pelotas, esses registros estão
marcados na sua arquitetura, na cultura das diferentes etnias que povoaram a região, na
peculiaridade de seu relevo, assim como na sua vegetação típica, mesclada de diferentes
ecossistemas que vão desde imensos banhados, mata de restinga à floresta estacional
semidecidual. Convém salientar que aqui os registros florísticos ainda são escassos, havendo
muito que se estudar sobre a bela paisagem que envolve o município. Nesse sentido pontua-se
a importância de que a produção vegetal no HMP vise à necessidade de manter a
biodiversidade de uma região aliada às práticas de Educação Ambiental, desenvolvidas pela
Secretaria Municipal de Qualidade Ambiental (SQA). A perda da biodiversidade da região se
dá em grande parte, em decorrência do crescimento desordenado da ocupação territorial,
através de nucleações sem planejamento básico de urbanismo. Isto gera um impacto
ambiental que compromete os ecossistemas, acarretando a perda de material genético ainda a
ser estudado. Através deste estudo comprovou-se a necessidade do uso de diferentes formas
de registro das atividades desenvolvidas pela SQA em ação conjunta com o Horto Municipal. 2 A pesquisa “A produção de mudas no Horto Municipal de Pelotas e a possibilidade da prática da educação ambiental”, monografia apresentada ao Curso de Educação Ambiental no CEFET/RS, 2006. 3 Ao longo do texto o Horto Municipal de Pelotas será representado pela sigla HMP. O Horto Municipal corresponde a 2 unidades de produção vegetal: Unidade de Produção Vegetal 01- Avenida Bento Gonçalves, nº 4588 –Cep. 96015-140 – Centro; Unidade de Produção Vegetal 02- Rua Joana Neutzling, s/nº, junto à Estação de Tratamento de Água do SANEP - Bairro Três Vendas – Pelotas - RS.
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Em função da carência de dados para se obter uma pesquisa mais concreta no que se refere ao
aspecto qualiquantitativo, foi necessário juntar dados dispersos e de diferentes épocas para a
montagem do estudo.
A ecologia e a educação ambiental
Atualmente, o mundo vem passando por modificações e adaptações de modos de vida
em diferentes ambientes naturais. Principalmente neste último século as transformações
globais em termos de clima e meio ambiente afetaram diretamente o modo de pensar e de agir
do homem. E é neste sentido que o pensamento ecológico vem abrangendo as mais diversas
áreas da ciência.
As ações agressivas do homem sobre o ambiente, sobre o planeta em que se vive,
estão tendo seus reflexos catastróficos. Cabe salientar que a palavra Ecologia, hoje, não vem
sendo empregada apenas para designar uma disciplina científica, típica do ambiente
acadêmico, mas também ela serve para diferenciar e identificar um amplo e variado
movimento social, que em certos lugares e ocasiões chega a adquirir contornos de um
movimento de massas com uma clara expressividade política.
A partir desta constatação surgem de imediato várias perguntas: "Como se deu essa
passagem de uma disciplina científica para um movimento social e político?", "Como se
desenvolveu o pensamento ecológico para que fosse expandido o seu campo de alcance,
tornando-se um dos temas mais debatidos do nosso tempo?”.
Responder estas questões não é uma tarefa fácil. Isto se deve basicamente a dois
motivos: o primeiro, é que o pensamento ecológico na sua evolução histórica ultrapassou em
muito os limites originais propostos por Haeckel4. Assim a Ecologia corresponde não somente
à sua vertente biológica original, na qual a percepção da complexidade dos sistemas naturais
levou a uma crescente satisfação de métodos e conceitos, como também a sua vertente mais
ligada ao campo das Ciências Sociais, que se desenvolveu mais tarde com o nome de
Ecologia Social. O campo da Ecologia adquiriu, então, uma amplidão, atingindo um enorme
enfoque multidisciplinar que permeia a Estatística, a Teoria dos Sistemas, a Cibernética, a
Teoria dos Jogos, a Termodinâmica, a Epidemiologia, a Toxicologia, a Agronomia, o
4 Biólogo alemão Ernest Haeckel, em sua obra Morfologia Geral dos Organismos, em 1866, propõe a criação de uma nova disciplina científica, a Ecologia, ligada ao campo da Biologia, com a função de estudar as relações entre as espécies animais e seu ambiente orgânico e inorgânico.
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Urbanismo, a Demografia, a Sociologia e a Economia. Em relação à Ecologia, chegou a ser
afirmado que essa ciência estava se transformando em uma "história de tudo e de todos".
O segundo ponto de dificuldade é que o movimento social que surgiu a partir da
questão da Ecologia, o chamado "movimento ecológico", não é de forma alguma homogêneo
e unitário. Incorporados nesta classificação temos desde cientistas e amantes da natureza a
empresários com ideias e modo de vida paralelos ou alternativos ao estilo de vida dominante
nas modernas sociedades industriais.
É natural, portanto, diante da amplidão do campo da Ecologia e da diversidade do
movimento ecológico, que exista em nível da opinião pública, uma percepção bastante
confusa sobre o que seja de fato essa corrente de pensamento, confusão agravada pela
multiplicidade de enfoques e apropriações sociais de ideias surgidas no debate ecológico e
divulgadas de forma fragmentária pelos veículos de comunicação de massa.
A Ecologia passa a ser encarada, de forma marcante nas Ciências Humanas, como um
modelo metodológico, uma vez que há preocupação com a aproximação de “modelos
ecológicos” para seus objetos de estudo. Na realidade, diversas disciplinas encontram na
Ecologia a condição de uma ciência capaz de produzir conhecimentos globalizantes que
abarcam o funcionamento do universo. Para Sureda apud Ramos (2001, P. 213),
essa apropriação metodológica pode trazer a suspeita de que a utilização do ecológico por outras disciplinas responde mais ao modismo que parece desfrutar todo o ecológico do que à sua verdadeira necessidade metodológica. Esse equívoco pode ser semelhante ao produzido por interpretações da ecologia, na qual o homem é reduzido às relações meramente naturais.
Apesar disso, contudo, é cada vez maior o número de pessoas que se interessam pela
Ecologia e sentem que ela traz algo de novo e importante para si e para o coletivo. O seu
impacto na cultura humana, nas diversas áreas da ciência, nas discussões políticas e no seu
comportamento de vários grupos sociais, é cada vez mais perceptível. Tem sido através da
Ecologia, por exemplo, que muitas pessoas estão sendo levadas a questionar o seu trabalho, o
seu consumo, o seu lazer, a sua saúde, os seus relacionamentos e a sua visão de mundo.
É certo que os termos “Ecologia” e “Meio Ambiente” passam a serem popularizados
na proporção do crescimento dos problemas ambientais onde eles passam a ser percebidos nos
discursos e projetos da sociedade atual. Mas é importante salientar que se nas últimas décadas
houve uma crescente consciência ambiental, também se percebe uma contraditoriedade do
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discurso ecológico frente à adoção de decisões políticas e econômicas. Segundo Ramos
(2001, p. 212),
nessa perspectiva, o meio ambiente é um conceito chave para o debate das questões ambientais, pois envolve questões de poder, tanto no universo econômico quanto ideológico. Não pode ser visto isoladamente e tão pouco pode ser reduzido à sua dimensão biofísica ou ser tratado segundo os parâmetros da tradição científica e filosófica hegemônica, reproduzindo a dicotomia cartesiana entre o homem e a natureza. Em outras palavras o meio ambiente não se refere apenas aos aspectos naturais de um lugar, tais como o ar, o solo, a água, a fauna, mas pressupõe o ser humano e o produto de suas ações. Ao maximizar os efeitos naturais, ao não considerar as repercussões sociais das relações do ser humano com seu ambiente e ao não problematizar essas relações, reduzimos os problemas ambientais aos problemas de poluição e de destruição da flora e da fauna. Onde e como fica o social e o político? [...] Mesmo considerando que, no discurso e nos programas de ação, o conceito de meio ambiente tem a pretensão de abranger uma multiplicidade de elementos incluindo os aspectos naturais, sociais, físicos, econômicos e culturais, uma leitura mais atenta desses discursos, artigos e projetos referentes à questão ambiental, possibilita interpretações que revelam um universo potencialmente contraditório em relação a esse conceito multifacetado.
É importante lembrar que atualmente diversos autores apontam como cenário da
discussão da Ecologia o movimento social, a crise civilizatória, crise dos referenciais
epistemológicos, filosóficos e políticos que vêm sustentando a modernidade.
Como afirma Jacobi (2003, p. 202),
O ambientalismo do século XXI tem uma complexa agenda pela frente. De um lado, o desafio de uma participação cada vez mais ativa na governabilidade dos problemas socioambientais e na busca de respostas articuladas e sustentadas em arranjos institucionais inovadores, que possibilitem uma “ambientalização dos processos sociais”, dando sentido à formulação e implementação de uma Agenda 21 no nível nacional e subnacional. De outro, a necessidade de ampliar o escopo de sua atuação, mediante redes, consórcios institucionais, parcerias estratégicas e outras engenharias institucionais que ampliem seu reconhecimento na sociedade e estimulem o envolvimento de novos atores.
No campo da educação ambiental, mais especificamente, emergem esforços para que a
relação entre cidadania e ambiente seja o eixo de sua conceituação. Segundo Garcia (1993) é
tarefa da educação ambiental, a participação política para a transformação social, resultado da
apropriação crítica e reflexiva dos conhecimentos sobre problemas ambientais que poderá
garantir os espaços de construção e reelaboração de valores éticos para uma relação menos
predatória entre os sujeitos e entre estes e o ambiente.
Jacobi (2003, p. 198) alerta:
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E como se relaciona educação ambiental com a cidadania? Cidadania tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens. A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária.
Pedrini e De Paula (1997) na tentativa de conceituar Educação Ambiental apontam
para seu caráter interdisciplinar como principal aporte conceitual, indicando a necessidade de
superar a dimensão ecológica restrita e incorporar outros conhecimentos, como o das ciências
sociais e políticas.
Tozoni-Reis (2004, p. 13) ressalta que
acima de tudo educação ambiental é educação. Educação em suas várias dimensões: portanto, é preciso considerar a formação do homem no espaço educacional mais amplo ou no espaço educacional mais restrito – a escola. Em todos os sentidos é preciso levar em conta o caráter sócio-histórico do homem.
Para Carvalho (2004) os projetos político-pedagógicos que têm em vista uma
educação ambiental crítica poderiam ser pensados como a formação de um sujeito capaz de
“ler” o seu ambiente e interpretar as relações, os conflitos e os problemas a ele inerentes. A
educação acontece como parte da ação humana de transformar a natureza em cultura,
atribuindo-lhe sentidos.
Práticas de educação ambiental no HMP: um relato de experiência
Conforme relatos de antigos administradores do HMP, esse teve seu início em meados
dos anos de 1960. Atualmente constitui-se em dois espaços no perímetro urbano:
Horto Municipal da Avenida Bento Gonçalves, nº 4458, localiza-se no centro da
cidade. Funciona como um entreposto de recebimento de materiais, doação e venda de mudas,
e vem se caracterizando como um espaço potencial práticas pedagógicas em Educação
Ambiental, com espaço para aulas práticas e teóricas, dada a sua localização de fácil acesso
aos escolares.
2- Horto Municipal da Barragem do Arroio Santa Bárbara (HMBSB) está localizado
junto à Estação de Tratamento de Água, (ETA/SANEP) em um bairro periférico da cidade.
Caracteriza-se pela produção de mudas em maior escala.
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Cumpre salientar que até o ano de 2001, nesses espaços, tinha-se como única
preocupação a produção de mudas de plantas para abastecer as praças, parques e ruas da
cidade. Pouco se percebia a preocupação dos órgãos municipais envolvidos com o
planejamento urbano no sentido de divulgar ações voltadas à recuperação da flora e fauna de
nossa região e da própria conscientização da população quanto à práticas de preservação
ambiental.
O HMP esteve por longo tempo a serviço de outras secretarias municipais, tendo sua
autonomia de práticas e decisões sujeitas à definições de cunho político-partidário. Possuía
muitos funcionários que atuavam sem um encaminhamento via concurso público para
exercerem seus cargos.
Portanto, muitas situações levaram esse local a sofrer inúmeras interferências políticas,
fazendo com que somente em tempos mais atuais o seu perfil de produção e de atividades
voltadas à consciência ambiental venha se modificando.
Sendo assim, muitas são as possibilidades de práticas de Educação Ambiental nesse
local. Elas poderão ser enfocadas da seguinte forma: através do contato direto da comunidade
com as unidades de produção do HMP; através da fundamental participação da SQA,
organizando o local para o recebimento da comunidade, estimulando e organizando eventos,
planejando ações de sensibilização da comunidade que levem à conduta responsável dos
indivíduos em relação ao ambiente.
Ressalta-se aqui a experiência de implantação no HMP de trilhas interpretativas.
Como afirma Tilden apud Curado e Angelini (2006, P.396)
Parques, estações ambientais ou ecológicas e outras áreas naturais protegidas utilizam-se, com frequência, de trilhas interpretativas em programas de uso público. Trilhas como meios de interpretação ambiental visam não somente à transmissão de conhecimentos, mas também propiciam atividades que revelam os significados e as características do ambiente por meio do uso de elementos originais, por experiência direta e por meios ilustrativos.
Práticas de Educação Ambiental efetivadas em trilhas interpretativas possibilitam
contato direto com a natureza, direcionando o aprendizado à sensibilização do contato com o
ambiente natural. Oferecem oportunidades de reflexão sobre valores e vivências,
indispensáveis a mudanças comportamentais que estejam em equilíbrio com a conservação
dos recursos naturais.
Nesse sentido, a interpretação em áreas naturais é uma estratégia educativa que integra
o ser humano com a natureza, motivando-o a contribuir para a preservação das unidades de
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conservação. Em relação à presença de estudantes nesses espaços, esses autores afirmam que
enquanto na educação formal o aluno tem uma repetição de ambiente com presença
obrigatória diária, a visita a locais informais proporciona estímulos à curiosidade e ao
interesse, que por sua vez facilitam o processamento de informações e o aprendizado.
Práticas educativas que extrapolam a sala de aula do ambiente escolar potencializam o
conhecimento, contribuem para superar a fragmentação do que é ministrado em sala de aula.
Isso é o que se espera ao propor que sejam constituídas trilhas interpretativas no HMP: uma
prática de educação ambiental feita diretamente em um espaço que vise à conscientização da
riqueza e beleza do ambiente natural, que por vezes é tratado como um ecossistema pobre e
sem valor para a conservação.
No HMP, no período de 2005 a 2008, foram recebidos alunos de diversas escolas da
rede pública e privada e do ensino superior com a finalidade de conhecerem a unidade de
produção de mudas e percorrerem o trajeto da trilha interpretativa em um fragmento florestal
de 1,2 ha. As visitas eram agendadas na SQA.
As práticas realizadas no HMP eram previamente definidas e esclarecidas pela equipe
gestora do horto e pelos professores das escolas que acompanhavam os alunos. Nas escolas os
alunos estudavam sobre os conteúdos a serem abordados na ida ao HMP tendo por base
foldere’s explicativos e um guia de arborização urbana da cidade de Pelotas que eram
distribuídos aos alunos
Nas práticas realizadas no HMP, os estudantes eram acompanhados por
monitores/alunos do Curso de Ecologia da Universidade Católica de Pelotas, sob a orientação
do diretor do HMP e de uma professora do Curso.
Fazia parte dessa atividade, inicialmente, o despertar nos estudantes da percepção
ambiental e inserção no ambiente natural, buscando harmonizar as expectativas da
experiência de contato com natureza às vivências do dia a dia.
Os alunos realizavam identificação de espécies, coleta de material botânico para
herbários, práticas de fotografias e observação da fauna e da flora. Para alguns professores,
essas visitas guiadas serviam para promover outras práticas de ensino-aprendizagem nas
escolas. Ou seja, o conhecimento e percepções adquiridos para além dos muros das escolas,
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serviam para embasar e sustentar os conhecimentos e práticas da chamada educação formal,
escolarizada.5
Considerações finais
Finalizamos o presente relato de experiência com a citação de Jacobi (2003, P.189)
que ressalta a necessidade de reflexão sobre práticas sociais voltadas para o meio ambiente:
A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, cria uma necessária articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão ambiental configura-se crescentemente como uma questão que diz respeito a um conjunto de atores do universo educativo, potencializando o envolvimento dos diversos sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa perspectiva interdisciplinar. O desafio que se coloca é de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo como referência que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o ser humano.
É nesse sentido que se identifica o HMP como um espaço potencial para o
desenvolvimento de práticas de Educação Ambiental.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, I. Educação Ambiental: formação do sujeito ecológico. SP: Cortez, 2004. 256p.
CURADO, P.; ANGELINI, R. Avaliação de atividade de educação Ambiental em trilha interpretativa, dois a três anos após sua realização. Acta Sci. Biol. Sci. Maringá, v. 28, n. 4, p. 395-401, Oct./Dec., 2006.
GARCIA, R. L. Educação Ambiental – uma questão mal colocada. Caderno Cedes, n. 29, 1993.
JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, n. 118, março/ 2003 Cadernos de Pesquisa, n. 118, p. 189-205, março/ 2003.
PEDRINI, A.G. & DE PAULA, J.C. Educação ambiental: críticas e propostas. In: PEDRINI, A.G. (org.). Educação ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.
5 Sobre a Avaliação de atividade de Educação Ambiental em trilha interpretativa ver o interessante artigo de Curado e Angelini (2006).
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RAMOS, E. Educação ambiental: origem e perspectivas. Educar em Revista, n. 18, p. 201-218. Ed. da UFPr , Curitiba, 2001.
RODRIGUES, P. R. F. A produção de mudas no Horto Municipal de Pelotas e a possibilidade da prática da educação ambiental. Monografia apresentada ao Curso de Educação Ambiental no CEFET/RS, 2006.mimeo.
TOZONI-REIS, M. Educação Ambiental: natureza, razão e história. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.