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D O S S I Ê T É C N I C O Cultivo Protegido de Hortaliças Eduardo Henrique da Silva Figueiredo Matos Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília – CDT/UnB Setembro de 2007

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D O S S I Ê T É C N I C O

Cultivo Protegido de Hortaliças

Eduardo Henrique da Silva Figueiredo Matos Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico

da Universidade de Brasília – CDT/UnB

Setembro de 2007

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DOSSIÊ TÉCNICO

Sumário 1. Introdução.............................................................................................................................2 2. Objetivo.................................................................................................................................2 3. O cultivo protegido de hortaliças ..........................................................................................3 4. Manejo do ambiente em cultivo protegido ............................................................................4 4.1. Por que utilizar o cultivo em ambiente protegido...............................................................4 4.2. Fatores para o manejo em ambiente protegido.................................................................6 4.2.1. Luminosidade .................................................................................................................6 4.2.2. Temperatura ...................................................................................................................7 4.2.3. Umidade relativa do ar..................................................................................................11 4.3. Interpretação da análise de solo .....................................................................................12 4.4. Interpretação da análise foliar .........................................................................................13 4.5. Calagem ..........................................................................................................................14 4.6. Adubação orgânica em pré-plantio..................................................................................14 4.7. Características dos fertilizantes minerais utilizados para adubação de hortaliças..........15 4.8. Qualidade da água para irrigação e fertirrigação de hortaliças.......................................16 4.9. Irrigação...........................................................................................................................16 4.10. Sistema de fertirrigação.................................................................................................16 4.11. Recomendações de adubação para hortaliças sob cultivo protegido conforme análise do solo ....................................................................................................................................20 4.12. Adubação mineral de cobertua......................................................................................20 4.13. Produção de mudas.......................................................................................................21 5. Estufa..................................................................................................................................21 5.1. Conceito...........................................................................................................................21 5.2. Para que serve ................................................................................................................21 5.3. Vantagens........................................................................................................................23 5.4. Desvantagens..................................................................................................................23 6. Proteção através do mulching ............................................................................................25 7. Estrutura para um ambiente protegido ...............................................................................25 7.1. A construção da estufa....................................................................................................27 7.1.1. Montando uma estufa (passo a passo) ........................................................................27 7.1.2. Espaçamento................................................................................................................32 7.1.3. Controle edafoclimático ................................................................................................32 8. O que plantar na estufa ......................................................................................................33 8.1. Quando plantar na estufa ................................................................................................33 9. Pragas no protegido ...........................................................................................................33 Conclusões e recomendações ...............................................................................................35 Referencias.............................................................................................................................36

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DOSSIÊ TÉCNICO

Título Cultivo protegido de hortaliças Assunto Horticultura, exceto morango Resumo A utilização do cultivo protegido permite a criação de ambientes favoráveis ao cultivo durante todo o ano e o fato de proteger as plantas das intempéries trouxe um ganho em produtividade e qualidade, facilitando a vida do produtor. Aliado a isso, o mercado está sempre exigindo produtos mais competitivos, com qualidade e ofertas comprovadas. Este dossiê fará uma abordagem sobre o cultivo protegido de hortaliças no Brasil (pragas e doenças de hortaliças que mais ocorrem; irrigação; adubação; manejo do ambiente; produção de mudas e tipos de estufa). Palavras chave Cultivo; plantação; hortaliças; plantio; estufa; plantas; irrigação; adubação; mudas; manejo; Conteúdo

1. Introdução A evolução da agricultura moderna sempre foi fundamentada na necessidade de se produzir mais, visto que com o crescente aumento da população, há uma tendência de aumentar a disparidade entre a oferta e o consumo de alimentos. Para produzir mais, foi necessário criar condições mais propícias para o desenvolvimento das plantas. Surgiu, o adubo, os defensivos, o melhoramento genético, manejo de solo, irrigação dentre outros, visando aumentar a produtividade. Havia ainda o problema da sazonalidade climática, que permitia o cultivo apenas em alguns períodos do ano, determinando o chamado calendário agrícola. Geadas, ventos frios, granizo, insolação e excesso de chuva, sempre foram fatores que restringiam o cultivo a determinadas épocas, privando os agricultores de melhores lucros. Na linguagem popular, e até utilizadas por alguns técnicos, as hortaliças são classificadas como legumes, verduras e condimentos. Denomina-se legume toda hortaliça cuja a parte aproveitada como alimento é fruto, semente, bulbo, raiz ou tubérculo, como: tomate, ervilha, cebola, cenoura, batata, etc. Verduras, as hortaliças cujas partes aproveitadas são folhas, flores e hastes, como: alface, couve-flor, brócolos, agrião, e etc. Os condimentos compreendem as hortaliças cuja finalidade é melhorar o sabor, o aroma, ou a aparência dos alimente, como o coentro a cebolinha, a salsa, a pimenta, entre outros.

2. Objetivo

Este dossiê tem por premissa básica apresentar de forma detalhada informações técnicas, relacionadas ao cultivo protegido de hortaliças.

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3. O cultivo protegido de hortaliças

Ao se iniciar qualquer cultivo protegido, é fundamental saber com clareza qual é o objetivo da estrutura de proteção. Nas regiões mais frias do Brasil, são construídas "estufas", cujo principal objetivo é a manutenção da temperatura mais elevada. Já nas regiões mais quentes e úmidas, como as do estado do Rio de Janeiro, o principal objetivo de uma estrutura de proteção é a redução da incidência de pragas e doenças e contra as fortes chuvas, sem elevação da temperatura interna. A escolha da área e da estrutura para o ambiente protegido é o primeiro passo operacional a ser decidido. Entre os fatores que devem ser considerados na escolha da área, os principais são: acesso, com boas estradas para escoamento do produto, e disponibilidade de água de boa qualidade. Em uma estrutura protegida a água é colocada diretamente nas raízes da planta, reduzindo drasticamente a incidência de doenças e permitindo ainda a fertirrigação, que mantêm as plantas nutridas e possibilita corrigir rapidamente qualquer deficiência nutricional. Deste modo, além do incremento da produtividade, se obtém produtos com melhor padrão de qualidade, com baixa utilização de agrotóxicos e fertilizantes reduzindo a contaminação do ambiente. Além disso, a utilização de telas nas laterais diminui a entrada de insetos nocivos. Por diminuir os fatores de risco, o cultivo protegido possibilita a produção programada e fora de época permitindo que os produtores estabeleçam contratos de fornecimento para todo o ano. Devido ser uma técnica com alto custo inicial de implantação, o cultivo protegido no Brasil é atualmente utilizado apenas em culturas de elevado retorno por área de cultivo, como: flores, tomate, pimentão, pepino, alface, ervilha e outras. Mas seu custo inicial vem caindo rapidamente com o uso de materiais alternativos e, em um futuro próximo, esta técnica será utilizada para as mais diversas culturas. A utilização do cultivo protegido permite a criação de ambientes favoráveis ao cultivo durante todo o ano. Um fator de grande importância é a temperatura ambiente dentro da estufa, pois sua elevação demasiada causa entre outros distúrbios o abortamento de flores e florescimento precoce, no caso da alface. Em função disto os projetos implantados devem sofrer modificações tais como: a elevação do pé direito, abertura frontal (janelas zenitais) e das laterais da estufa, utilização de lanternins, cobertura com tela de sombreamento e instalação de nebulizadores. Estas modificações devem proporcionar redução de pelo menos 5º C da temperatura no interior da estufa, o que constitui, no caso da alface, a possibilidade de produção com qualidade da cultura no período de verão. Existem vários tipos de estufa, os mais encontrados são os modelos em arco, capela e londrina. O modelo da estufa é fator importante a ser considerado, já que a estrutura tipo arco confere maior resistência do plástico ao vento. O posicionamento da estufa e a colocação de quebra ventos é importante para conferir resistência aos ventos fortes. O alto custo dos modelos com estrutura de postes de cimento e arcos em ferro galvanizado dificulta a adesão dos produtores ao cultivo protegido. Estruturas utilizando madeira, principalmente eucalipto, contribuem para a redução dos custos. A substituição dos arcos de ferro galvanizado reduz ainda mais o preço final da estufa. A Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro - Pesagro-Rio, vinculada à Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior, com o objetivo de permitir o engajamento de grande número de produtores na atividade realiza pesquisas nas várias regiões do estado do Rio de Janeiro desenvolvendo modelo de estrutura de proteção (estufa) de baixo custo de construção, sistemas de produção de várias hortaliças em cultivo protegido e técnicas de manejo do ambiente interno da estufa. Na região noroeste do estado do Rio de Janeiro surgiu o interesse na utilização do modelo de estrutura de proteção desenvolvido pela Pesagro-Rio para a produção de mudas de hortaliças e fruteiras, uma vez que esta atividade apresenta boa fonte de renda, porém, é limitada pelo alto custo das estruturas normalmente utilizadas.

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A rigor, a palavra plasticultura não é sinônimo exclusivo de cultivo protegido, referindo-se na verdade ao uso geral de plásticos na agricultura. O termo pode ser aplicado, por exemplo, também em relação a canos de irrigação, embalagens, mantas para forração de reservatórios e silos, utensílios de polietileno etc.

4. Manejo do ambiente em cultivo protegido

4.1 Por quê utilizar o cultivo em ambiente protegido?

O clima é um fator que influencia a produção de hortaliças. No verão, as chuvas demasiadas danificam as hortaliças e criam condições favoráveis para o aparecimento de doenças. Por outro lado, o frio e os ventos do inverno acabam prolongando o ciclo dessas culturas. Para auxiliar na resolução desse entrave podemos lançar mão do cultivo protegido, que se caracteriza pela construção de uma estrutura, para a proteção das plantas contra os agentes meteorológicos que permita a passagem da luz, já que essa é essencial a realização da fotossíntese. Este é um sistema de produção agrícola especializado, que possibilita certo controle das condições edafoclimáticas como: temperatura, umidade do ar, radiação, solo, vento e composição atmosférica. O ambiente protegido pode ser um túnel (baixo ou alto), uma estufa agrícola com ou sem pé direito ou até mesmo uma casa-de-vegetação, onde o controle do ambiente é intensificado. Nas estruturas mais altas pode ser realizado o cultivo sem solo, mais conhecido como hidropônico (Figura 1).

Figura 1. Túnel alto (A), túnel baixo (B), estrutura sem pé-direito (C) estrutura com pé-direito (D),

casa-de-vegetação (E) e estrutura hidropônica tipo NFT dentro de ambiente protegido (F). Disponível em:

<http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

O uso correto do ambiente protegido possibilita produtividades superiores às observadas em campo. Segundo Cermeño (1990) a produtividade dentro do ambiente protegido pode ser 2 - 3 vezes maior que as observadas no campo e com qualidade superior. Além do controle parcial das condições edafoclimáticas, o ambiente protegido permite a realização de cultivos em épocas que normalmente não seriam escolhidas para a produção ao ar livre. Esse sistema também auxilia na redução das necessidades hídricas (irrigação), através de uso mais eficiente da água pelas plantas. Um outro bom motivo para produzir em ambiente protegido é o melhor aproveitamento dos recursos de produção (nutrientes, luz solar e CO2), resultando em precocidade de produção (redução do ciclo da cultura) e redução do uso de insumos, como fertilizantes (fertirrigação) e defensivos.

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Um exemplo de diferença de produtividade atingida com e sem o uso de ambiente protegido em diferentes estações do ano pode ser acompanhado para a cultura da rúcula através da Figura 2 (Purquerio & Goto 2005 e Purquerio et al. 2005).

Figura 2. Produtividade de rúcula, cv. Folha Larga, cultivada em campo e ambiente protegido no inverno (A) e no

verão (B), em função de doses de nitrogênio, na colheita. Disponível em: http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm

No inverno, devido às condições climáticas favoráveis ao cultivo da rúcula, seria dispensável o uso do ambiente protegido. Porém, devido ao melhor aproveitamento dos fatores de produção pelas plantas, que ocorre dentro do mesmo, houve melhor rendimento das plantas cultivadas no ambiente protegido em relação às cultivadas em campo. A maior produtividade verificada no campo com 240 kg ha-1 de nitrogênio, foi alcançada com 110 kg ha-1 de N no ambiente protegido, ou seja, teve-se uma economia de 130 kg ha-1 de nitrogênio no cultivo protegido. Já no verão, a alta precipitação pluviométrica durante o ciclo da cultura e sua concentração em curtos períodos de tempo foi prejudicial às plantas cultivadas no campo, que não conseguiram acompanhar a produtividade verificada no ambiente protegido. No campo, além da menor produtividade também se observou menor qualidade das plantas. O impacto das gotas de chuva nas folhas, bem como a movimentação de partículas de solo, danificaram fisicamente as folhas, atrasando o desenvolvimento da planta e diminuindo a qualidade final do produto, a ponto de, na colheita, as folhas não apresentarem bom aspecto para a comercialização, pois estavam coriáceas, amareladas, danificadas e sujas (Figura 3).

Figura 3. Danos físicos (A) e acúmulo de solo (B) em folhas de rúcula, causados pela chuva em cultivo

de campo. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

Por outro lado, o cultivo em ambiente protegido também apresenta desvantagens, como o alto custo para sua implantação, dependendo do grau de tecnologia empregada no ambiente. Além disso, este sistema de cultivo envolve áreas de conhecimento amplas para

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que o manejo das plantas dentro dele seja bem feito, necessitando de mais conhecimento técnico para ser realizada com sucesso.

4.2 Fatores para o manejo em ambiente protegido

4.2.1 Luminosidade

A radiação solar é o principal fator que limita o rendimento das espécies tanto no campo, como em ambientes protegidos, especialmente nos meses de inverno e em altas latitudes. As distintas regiões do Brasil, em geral, mostram uma redução da radiação solar incidente no interior do ambiente protegido com relação ao meio externo de 5 a 35%. Estes valores variam com o tipo de plástico (composição química e espessura), com o ângulo de elevação do sol (estação do ano e hora do dia) e também dependem da reflexão e absorção pelo material. No ambiente protegido a fração difusa da radiação solar é maior que no meio externo evidenciando o efeito dispersante do plástico, que possibilita que essa radiação chegue com maior eficiência às folhas das hortaliças no seu interior, principalmente as conduzidas na vertical, ou cultivadas em densidade elevada onde uma folha tende a sombrear a outra (Figura 4). Qualquer que seja a região de produção, não se pode ter estruturas construídas ao lado de árvores ou construções que projetam sua sombra sobre o ambiente protegido, mesmo que seja apenas por algumas horas durante o dia. Estruturas geminadas, também geram faixas de sombreamento sobre as culturas em seu interior (Figura 5).

Figura 4. Esquema ilustrativo da radiação dentro do ambiente protegido e projeção aproximada de

“bolsão térmico” formado no interior da estrutura. Disponível em:

<http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

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Figura 5. Sombreamento gerado por árvores (A) e calhas em estruturas geminadas (B). Fonte:

Castilla (2005). Disponível em:

<http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>. Outro ponto a ser observado é a deposição de poeira sobre o filme plástico, que reduz a luminosidade no interior da estrutura, causando o estiolamento das plantas. Quando o filme plástico se encontra em boas condições é recomendável sua lavagem (com uma vassoura de cerdas macias ou com uma espuma que pode ser envolvida num rodo) (Figura 6). Pode-se fazer a lavagem antes do período de inverno.

Figura 6. Lavagem do filme plástico usado para cobertura de uma estrutura tipo arco (A) e detalhe de

um rodo revestido com espuma (B). Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

Para os cultivos sensíveis ao excesso de luminosidade, o uso de malhas sintéticas de sombreamento, com 30 a 50% de sombra, colocadas no interior da estrutura à altura do pé direito, soluciona satisfatoriamente o problema. O uso de iluminação artificial em ambiente protegido é uma prática cultural onerosa, sendo somente justificada para culturas de alto valor agregado e sensíveis ao fotoperíodo, como algumas flores e plantas ornamentais. Salienta-se que sempre que se altera a intensidade luminosa no interior do ambiente protegido, modificam-se, também outros parâmetros agrometeorológicos, como temperatura e umidade relativa do ar.

4.2.2Temperatura Temperatura é um fator agrometeorológico que exerce influência sobre as seguintes funções vitais das plantas: germinação, transpiração, respiração, fotossíntese, crescimento, floração e frutificação. Nos países do hemisfério norte, caracterizados por clima temperado com invernos muito rigorosos o ambiente protegido possui a finalidade de aquecimento, tornando-se uma verdadeira “estufa” para que a produção seja possível.

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Porém, nas condições climáticas brasileiras, consideradas tropicais e subtropicais, onde o cultivo de hortaliças é possível durante o ano todo, o aquecimento natural demasiado do ambiente pode causar problemas no cultivo das plantas. Para o manejo da temperatura do ar é indispensável a instalação de um termômetro de máxima e mínima a 1,5 m de altura, no centro do ambiente protegido, abrigado da luminosidade direta do sol. As leituras devem ser realizadas diariamente e sempre no mesmo horário. Atualmente, também se dispõe de equipamentos eletrônicos conhecidos como “microllogers”, que possuem sensores de temperatura e umidade do ar, que realizam automaticamente a leitura destas variáveis no momento desejado. O manejo da temperatura do ambiente protegido começa pela escolha do tipo de ambiente a ser utilizado, que está muito relacionado ao tipo de hortaliça que vai se cultivar. Cada hortaliça possui uma necessidade fisiológica diferente de temperatura, a qual pode não ser atingida em função do tipo de ambiente utilizado. Deve-se então, prestar atenção em relação à altura do pé direito do ambiente quando se pensa em cultivar plantas com arquitetura mais alta como o tomateiro. Para estas culturas, recomenda-se um ambiente com no mínimo 3,0 a 3,5 m de altura, de pé direito. Esta deve ser de 0,50 a 1,00 m maior do que a máxima altura da cultura que será conduzida (Sade, 1997). A Figura 6 ilustra aproximadamente o “bolsão térmico” que se forma numa estrutura do tipo arco onde as temperaturas são mais elevadas. Hortaliças de porte herbáceo podem ser cultivadas em ambientes com pé direito menor, ou mesmo com a ausência desse, como é o caso dos túneis de cultivo forçado, porém sempre se respeitando as necessidades térmicas da cultura. Quando a temperatura é muito alta, é possível lançar-se mão de recursos para a redução da mesma. O posicionamento da estrutura pode favorecer a ventilação natural dentro do ambiente. Na instalação do ambiente, deve-se observar a inclinação do terreno, principalmente para “estufas” do tipo londrina, pois esta facilita a passagem do ar quente pela estrutura, com sua saída pela lateral que estiver na parte mais alta do terreno. A estrutura deve sempre ser instalada com a menor dimensão (frente), no sentido da corrente do vento predominante. Outro ponto a ser observado é as cortinas laterais que devem ser sempre móveis, para serem fechadas no caso da necessidade de retenção da temperatura através do aquecimento do ar, ou abertas para a saída do ar quente, quando se deseja o resfriamento. Saídas para o ar quente, na parte superior das estruturas, conhecidas como lanternim e janelas zenitais (Figura 7) também possibilitam o resfriamento do interior do ambiente protegido. Estas podem ser fixas ou móveis, para serem abertas ou fechadas conforme a necessidade. Ressalta-se, que essas aberturas no ambiente devem sempre estar a favor do vento conforme a (Figura 8) para que a saída do ar quente seja facilitada; e que também existe a necessidade de uma abertura na parte inferior, para provocar o fluxo de ar, igualando a temperatura interna à externa, Figura 9 (Andriolo, 1999).

Figura 7. Tipos de lanternim: fixo ao longo da cumeeira (A) e na forma de janelas (B).

Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

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Figura 8. Esquema da sucção criada pelo vento do ar quente existente dentro do ambiente protegido

pela abertura superior (lanternim). Fonte: Castilla, 2005. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

Figura 9. Esquema de ventilação de um ambiente protegido onde existe entrada de ar pelas laterais e

saída pelas aberturas superiores (lanternim). Fonte: Castilla, 2005. Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

O uso de telas sintéticas de sombreamento (30 a 50%) e de pincelamento com tinta ou cal, embora sejam relativamente eficientes na diminuição da temperatura, também diminuem a luminosidade, o que nem sempre é desejado. No mercado também existe à disposição dos produtores uma tela aluminizada (40 ou 50%) que, instalada na altura do pé-direito de estruturas com 3,0 a 4,0 m de altura, proporciona redução da temperatura sem influir demasiadamente na luminosidade (Figura 10).

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Figura 10. Telas aluminizadas colocadas no interior do ambiente protegido.

Disponível em: <http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>.

Porém, se o objetivo for a redução da temperatura com telas sintéticas de sombreamento, estas devem ser colocadas de 0,5 a 0,8 m por cima da cumeeira da estrutura, nunca dentro do ambiente protegido. A nebulização é um outro recurso disponível para a redução da temperatura no interior dos ambientes protegidos. Para a água passar de seu estado líquido para o gasoso ela necessita de calor. Dessa forma, através da pulverização de gotículas de água dentro do ambiente protegido, com auxílio de um sistema de nebulização ou “fogger” consegue-se a redução da temperatura do ar, pela mudança no estado físico da água (Figura 11). A utilização de nebulizadores como instrumento de controle de temperatura, também está relacionada com a umidade relativa do ar dentro do ambiente. Como exemplo, Andriolo, (1999) cita que um ambiente que se encontrava com temperatura do ar em torno de 35oC e umidade relativa do ar de 40%, quando teve sua umidade elevada para 100% apresentou uma queda na temperatura, chegando até 21oC.

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Figura 11. Nebulização dentro de ambiente protegido. Disponível em:

<http://www.iac.sp.gov.br/Tecnologias/MANEJO_Cultivo_Protegido/Manejo_Cultivo_protegido.htm>. Ressalta-se, que a nebulização não tem a função de irrigar. O manejo incorreto dos nebulizadores pode causar efeitos negativos na cultura, em função do molhamento da parte aérea da planta e aumento da umidade relativa dentro do ambiente protegido, que acarretará outros problemas como o aparecimento doenças fúngicas e bacterianas. Para algumas regiões do Brasil, a elevação da temperatura do ar dentro do ambiente protegido em alguns meses ou em alguns dias dos meses de inverno é necessária. O modo mais econômico para o aquecimento do ambiente é através do manejo das cortinas laterais que são abertas no período da manhã, após a temperatura interna do ar atingir seu máximo valor, sendo posteriormente fechada à tarde, quando a temperatura decresce. Assim procura-se acumular o ar quente dentro do ambiente para que à noite a planta tenha temperaturas maiores que a externa. Caso esse manejo não seja suficiente para elevação da temperatura no interior do ambiente protegido, o produtor pode lançar mão de caldeiras (a gás, elétrica, a lenha), que permitem o aquecimento do ambiente com ar ou água quente, que são distribuídos por meio de canos ou tubulações de plástico pelo ambiente. Em geral essa operação acaba aumentando o custo de produção. Todas essas práticas são efetuadas para manter a temperatura ideal para o crescimento e desenvolvimento das culturas. Por exemplo, o tomateiro necessita de temperaturas diurnas médias em torno de 22 a 28oC. Temperaturas acima de 30 a 32oC prejudicam o pegamento de frutos. A planta de pepino é considerada uma cultura subtropical que não tolera temperaturas baixas. A faixa ideal de temperatura é de 27 a 30oC de dia e 18 a 19oC de noite, durante o crescimento vegetativo e 27 a 28oC diurnos durante o florescimento/frutificação. Quando a temperatura dentro do ambiente protegido alcança valores mais elevados, podem ocorrer distúrbios fisiológicos como o entortamento de frutos e aborto de flores e frutos. Com relação à temperatura do solo, pode-se mantê-la dentro da faixa mais adequada para a cultura com um manejo muito simples, a irrigação. No verão, a irrigação e o manejo da temperatura do ar contribuem para a manutenção dentro da faixa ideal para a cultura. O produtor deve estar atento à temperatura do solo, principalmente no início do desenvolvimento da cultura e quando utilizar “mulching” plástico. No inverno, as irrigações devem ser feitas preferencialmente no período da manhã para que haja tempo do solo aquecer durante o dia. Em outras palavras, não devemos irrigar as plantas de tardezinha, pois as raízes irão passar toda a noite em um solo frio.

4.2.3 Umidade relativa do ar

A umidade relativa do ar no interior de um ambiente protegido é determinada diretamente pela temperatura, numa relação inversa entre ambas. Ela pode variar num período de 24 horas de 30 a 100%, sendo que diminui durante o dia e aumenta durante a noite. Ela está vinculada ao equilíbrio hídrico das plantas, onde um déficit pode alterar a evapotranspiração, alterando a capacidade do sistema radicular de absorver a água e o nutriente. Dessa forma, o manejo da umidade do ar, também vai depender da cultura visando-se atender sua fisiologia de crescimento e desenvolvimento. Para o manejo da umidade dentro do ambiente protegido é necessária a instalação de um higrômetro ou um termo-higrômetro, cujas leituras deverão ser registradas diariamente ao meio dia (12h). A localização desse instrumento deve ser a mesma citada para o termômetro de máxima e mínima. Com o monitoramento, o produtor poderá previamente estabelecer as estratégias a serem adotadas no transcorrer da cultura para manter a umidade relativa dentro dos limites da faixa ideal de cada cultura. Um efeito do excesso de umidade do ar no interior dos ambientes protegidos é a sua condensação na face interna do filme plástico de cobertura e conseqüente redução na

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transmitância da radiação solar. Para algumas culturas mais sensíveis, a queda dessas gotas promove o aparecimento de manchas nas plantas. Atualmente existem no mercado filmes plásticos “anti-gotejo”, que auxiliam as gotas formadas a escorrer pelo lado interno do plástico para as laterais da estrutura. Deve-se ressaltar que o desenho da estrutura (formato) auxilia esse processo. Para a ocorrência da maioria das doenças a umidade é um fator essencial, sendo que para elas terem um ótimo desenvolvimento, a umidade do ar deve estar acima de 80%. Portanto, através do manejo correto da umidade também se pode diminuir a incidência de doenças e conseqüentemente gerar redução no uso de defensivos agrícolas, diminuindo o custo de produção. Salienta-se que o correto manejo da umidade também se faz necessário para a aplicação de defensivos agrícolas e fitorreguladores, sendo que esses produtos não devem ser aplicados com menos de 55% de umidade relativa, pois sua eficiência pode ser reduzida. A alta umidade do ar também pode influir no aparecimento de desordens fisiológicas, como a deficiência de cálcio em folhas jovens em expansão, devido ao deficiente transporte desse elemento em função da restrição evapotranspirativa (Lorenzo Mínguez, 1998, citado por Martins et al. 1999). Em algumas situações, o excesso de umidade dentro do ambiente protegido é proveniente da localização da estrutura. Isso ocorre quando ela é instalada em baixadas sujeitas ao acúmulo de neblina ou próximas aos lagos e represas. Nesses casos pouco se pode fazer; se possível, deve-se mudar a estrutura de local, pois o excesso de umidade durante o dia, ao reduzir a transpiração, pode reduzir a produção. Um dos tratos culturais que influencia diretamente a umidade relativa do ar no cultivo protegido é a irrigação, sendo que esta deve ser realizada corretamente, através de monitoramento por tensiometria ou pela evapotranspiração da cultura. No manejo da umidade do ar, a ventilação do ambiente pode auxiliar tanto para aumentar como para diminuir a mesma. Outras medidas de manejo podem ser adotadas para se elevar a umidade, como a pulverização das plantas com água. Nesse caso a água pulverizada ao evaporar das plantas irá elevar a umidade e diminuir a temperatura. Também se pode molhar os carreadores para aumentar a umidade, controlando sempre a quantidade de água colocada para que no final da tarde o chão dos carreadores estejam secos. E finalmente não se deve utilizar “mulching” plástico nos cultivos, em regiões ou épocas sujeitas a baixas umidades do ar.

4.3 Interpretação da análise de solo Pesquisas realizadas no Instituto Agronômico de Campinas, com relação à adubação de hortaliças baseiam-se no conceito da produção relativa, ou seja, levam em conta a resposta das culturas aos nutrientes aplicados através da adubação. Esse conceito é aplicado principalmente para a interpretação dos teores de fósforo e potássio dos solos.O gráfico a seguir (Figura 12) mostra, como exemplo, a relação entre as produções relativas das culturas (incluindo hortaliças) e os teores de potássio no solo.

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Figura 12. Interpretação para os teores de potássio no solo e produção relativa de hortaliças.

Disponível em: http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm

Produção relativa para o potássio = Produção com adubação NP x 100 Produção com adubação NPK

Com base neste conceito as adubações indicadas conforme os teores de nutrientes do solo são as seguintes:

• Teor muito baixo: Adubações máximas, inclusive visando elevar o teor do nutriente no solo.

• Teor baixo: Adubações elevadas, ainda visando elevar o teor do nutriente do solo. • Teor médio: Adubações moderadas, para garantir a produção e manter ou elevar o

teor do nutriente do solo. • Teor alto: Adubações leves de manutenção ou de arranque e para manter o

nutriente na faixa de teores altos. • Teor muito alto: Podem ser dispensadas adubações para culturas menos

exigentes e que retirem poucos nutrientes com as colheitas.

4.4 Interpretação da análise foliar

A análise foliar é uma ferramenta fundamental na aferição mais precisa para as recomendações de doses de macro e micronutrientes em hortaliças. As partes das plantas a serem amostradas, a época de amostragem , o número de plantas a serem coletadas e a interpretação das análises foliares para algumas hortaliças conduzidas sob cultivo protegido são apresentadas respectivamente nas tabelas 1; 2 e 3. Ressalte-se que é importante a adoção desses critérios de amostragem para permitir a correta interpretação dos resultados das análises. Caso não seja possível amostrar as hortaliças nas épocas indicadas deve-se fazer duas amostragens, coletando as plantas “com anomalias” separadamente das plantas aparentemente “normais”, possibilitando comparar os resultados. Isso permitirá obter boas conclusões quanto a possíveis problemas de deficiência ou toxidez de nutrientes.

Hortaliça Descrição da amostragem

Alface Folhas recém desenvolvidas, da metade a 2/3 do ciclo: 15 plantas

Berinjela Pecíolo da folha recém desenvolvida: 15 plantas

Pepino 5ª folha a partir da ponta, excluindo o tufo apical, no início do florescimento: 20 plantas.

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Pimentão Folha recém desenvolvida, do florescimento à metade do ciclo: 25 plantas

Tomate Folha com pecíolo, por ocasião do 1º fruto maduro: 25 plantasTabela 1. Amostragem de hortaliças sob cultivo protegido, para análise foliar

Hortaliça N

g/kg P

g/kg K

g/kg Ca

g/kg Mg

g/kg S

g/kg Alface 30 – 50 4 – 7 50 – 80 15 – 25 4 – 6 1,5 – 2,5

Berinjela 40 – 60 3 – 12 35 – 60 10 – 25 3 – 10 – Pepino 45 – 60 3 – 12 35 – 50 15 – 35 3 – 10 4 – 7

Pimentão 30 – 60 3 – 7 40 – 60 10 – 35 3 – 12 – Tomate 40 – 60 4 – 8 30 – 50 14 – 40 4 – 8 3 – 10

Tabela 2. Faixas de teores adequados de macronutrientes nas folhas de hortaliças.

Cultura B mg/kg

Cu mg/kg

Fe mg/kg

Mn mg/kg

Mo mg/kg

Zn mg/kg

Alface 30 – 60 7 – 20 50 – 150 30 – 150 0,8 – 1,4 30 – 100 Berinjela 25 – 75 7 – 60 50 – 300 40 – 250 – 20 – 250 Pepino 25 – 60 7 – 20 50 – 300 50 – 300 0,8 – 1,3 25 – 100

Pimentão 30 – 100 8 – 20 50 – 300 30 – 250 – 30 – 100 Tomate 30 – 100 5 – 15 100 – 300 50 – 250 0,4 – 0,8 30 - 100

Tabela 3. Faixas de teores adequados de micronutrientes nas folhas de hortaliças.

4.5 Calagem

A necessidade da calagem é determinada pela porcentagem de saturação por bases do solo e a tolerância da espécie de hortaliça ao menor ou maior grau de acidez do solo. A equação para cálculo da calagem é dada por:

NC = CTC (V2 – V1) 10 PRNT

na qual: NC = Necessidade de calagem, em t/ha; CTC (ou T) = Capacidade de troca de cátions do solo expressa em mmolc/dm3 de solo. V1 = Saturação por bases dada pela análise do solo. V2 = Saturação por bases que se pretende atingir (de uma maneira geral entre 70 e 80%). A incorporação do calcário deve ser feita até 20 a 30 cm de profundidade, pois diversas hortaliças tem o sistema radicular tão profundo como culturas extensivas. Dentre as hortaliças de sistema radicular profundo cultivadas em estufa agrícola pode-se citar o tomate. Com o sistema radicular moderadamente profundo destacam-se pimentão, pepino, berinjela, melão, salsa e cebolinha. Entre aquelas de sistema radicular pouco profundo citam-se a alface, chicória e almeirão. A aplicação do calcário deve ser feita com pelo menos 30 a 40 dias de antecedência ao plantio utilizando-se de preferência o calcário finamente moído (“filler”) com PRNT de 80 a 90% ou parcialmente calcinado (PRNT de 90 a 100%). Caso seja encontrado apenas o calcário comum (PRNT de 60 a 70%) este deve ser incorporado ao menos 60 dias antes do plantio das hortaliças. Deve-se preferir os calcários que contenham boa quantidade de magnésio em sua composição, como os dolomíticos (acima de 12% de MgO).

4.6 Adubação orgânica em pré-plantio A adubação orgânica para hortaliças sob cultivo protegido apresenta as seguintes vantagens:

a) Melhora as condições físicas do solo, diminuindo, por exemplo, os problemas de compactação de solos, freqüente no sistema de cultivo protegido.

b) Diminui a incidência de nematóides visto que os adubos orgânicos em geral possibilitam o desenvolvimento nos solos de microorganismos úteis que tem ação antagônica aos nematóides.

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c) Fornece, ainda que parcialmente, nutrientes às plantas de maneira gradual e contínua.

Por outro lado a adubação orgânica apresenta algumas limitações: a) A incorporação dos fertilizantes orgânicos ao solo deve ser realizada pelo menos 30

a 40 dias antes do plantio, tempo necessário para o processo de cura ou decomposição sem o que poderá haver “queima” das sementes ou mudas de hortaliças.

b) Alguns fertilizantes orgânicos mal decompostos podem introduzir sementes de mato no local.

c) Estercos animais , principalmente de aves poedeiras, podem carregar resíduos de sal e outros produtos presentes nas rações , acarretando problemas como salinização do solo.

Dentre os fertilizantes orgânicos indicados para utilização em culturas sob cultivo protegido, destacam-se o húmus de minhoca, o composto orgânico e a torta de mamona pré-fermentada. As quantidades dos fertilizantes orgânicos a serem aplicadas dependem também de sua disponibilidade local e do custo do transporte e aplicação. A figura 2 mostra o húmus de minhoca em embalagem fechada. Tal adubo orgânico é um dos mais importantes insumos que proporciona boas produtividades de hortaliças, mantendo o equilíbrio microbiano do solo

Figura 13. Húmus de minhoca próprio para adubação orgânica em pré-plantio.

Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>.

4.7 Características dos fertilizantes minerais utilizados para adubação de hortaliças sob cultivo protegido

Os fertilizantes aplicados em pré-plantio para hortaliças sob cultivo protegido devem preferencialmente ser aplicados de 10 a 15 dias antes do plantio e incorporados em área total dos canteiros ou nos sulcos de plantio. Devido ao menor custo e boa eficiência agronômica recomenda-se para o pré-plantio a utilização dos fertilizantes de solubilidade parcial em água e em ácidos fracos, como o superfosfato simples , superfosfato triplo, o termofosfato, farinha de ossos, no caso dos fosfatados e o cloreto e potássio e sulfato de potássio no caso dos potássicos. Ainda em pré-plantio, onde são aplicadas moderadas quantidades de nitrogênio é também possível a utilização de fertilizantes como a uréia, sulfato de amônio e nitrato de amônio, entre outros de menor custo em relação aos nitrogenados altamente solúveis.

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Tais fertilizantes, porém, não devem ser aplicados de maneira indistinta e por períodos contínuos, pois poderão causar problemas de salinização e acidificação do solo. Com relação aos adubos de cobertura, aplicados em pós-plantio até a colheita das hortaliças, recomenda-se a utilização de fertilizantes de alta solubilidade em água já que estes são aplicados via irrigação, em geral por gotejamento e, portanto, devem ter alto poder de dissolução na água evitando-se assim o entupimento dos equipamentos. Entre as principais fontes destacam-se o monoamônio fosfato (MAP purificado), nitrato de cálcio, nitrato de potássio e o fosfato monopotássico (MKP) como eficientes fontes de nutrientes via fertirrigação para as hortaliças sob cultivo protegido.

4.8 Qualidade da água para irrigação e fertirrigação de hortaliças É fundamental ter o conhecimento da qualidade da água que será utilizada tanto para irrigação como para fertirrigação das hortaliças cultivadas sob estufa agrícola ou a campo (a céu aberto).

4.9 Irrigação A água é um dos fatores limitantes da produção agrícola, considerando sua participação nos vários processos metabólicos da planta. Portanto, a água deve ser fornecida às mudas na quantidade necessária e no tempo certo. Excesso de água pode propiciar condições anaeróbicas em torno das raízes, reduzindo a respiração e limitando a fotossíntese e, ainda, favorecendo o aparecimento de doenças foliares e do solo. Por outro lado, o suprimento de água insuficiente provoca perdas excessivas de água por meio da transpiração, conduzindo a enrolamento, amarelecimento e queda de folhas. O ideal é manter um fornecimento de água necessário para evitar esses problemas (Scarpare Filho,1995; Martins et al., 1999). O manejo adequado de água para a germinação das sementes e desenvolvimento das plântulas é feito por via de irrigação. A água de irrigação deve apresentar boa qualidade, isto é, livre de excesso de sais solúveis e de produtos poluentes. A irrigação pode ser feita de várias maneiras, nebulização, microaspersão e subirrigação.

1. Nebulização: fornece água em forma de gotículas, o que proporciona menor danos às mudas, principalmente nos primeiros estágios de desenvolvimento. É usada também para controlar temperatura/umidade relativa em casa de vegetação, estufa e em viveiro de enraizamento.

2. Microaspersão: a água é liberada em forma de círculo ou semicírculo e a vazão e a

área molhada variam de acordo com o microaspersor. A perda de água nesse sistema pode ser maior do que no de nebulização.

3. Subirrigação: é feita por inundação das bancadas ou do próprio piso onde se

encontram os recipientes usados na formação das mudas. Nesse caso, as bancadas/pisos possuem declives e a água é colocada na parte superior, após a absorção, a água é drenada na parte inferior. A subirrigação permite manter a folhagem seca, o que pode contribuir para a pouca incidência de doenças, como também a perda de água minimizada. O custo da irrigação por meio desse método pode ser elevado, dependendo do sistema escolhido.

O sistema de irrigação a ser utilizado e o seu dimensionamento dependem, principalmente, do estágio de desenvolvimento das mudas, da disponibilidade de água e de recursos disponíveis.

4.10 Sistema de fertirrigação

Pode-se citar três sistemas de fertirrigação utilizados para hortaliças cultivadas sob estufa agrícola. O primeiro é aquele que utiliza mangueiras em forma de fitas ou tripas, na superfície ou sub-superfície do solo. Essas mangueiras contém micro-orifícios, às vezes na

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forma de poros. As mangueiras de irrigação podem ou não ser cobertas com plásticos colocados ao longo das linhas plantadas com hortaliças (figuras 14 e 15).

Figura 14: Gotejadores do tipo “fita” ou “espaguete” sobre a superfície do solo plantado com pimentão. Disponível em:

<http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>.

Figura 15. Mudas de tomate plantadas sobre mulching de plástico com gotejadores na sub-superfície do solo. Disponível em:

<http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>. Outro sistema de fertirrigação é através de tubo - gotejadores que são dispostos ao longo das linhas de irrigação e gotejam água com fertilizantes dissolvidos sobre vasos de plástico com substratos diversos (figuras 16 e 17).

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Figuras 16 e 17: Irrigação e fertirrigação em tomate através de tubos gotejadores. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>.

Em alguns tipos de estufas, como as do tipo túnel alto (nas formas de arco e capelas) e quando são plantadas hortaliças folhosas, é também utilizado o sistema de aspersão com barras contendo os aspersores na altura de 50 a 60 cm. Deve-se aplicar água limpa sobre as hortaliças após a aplicação dos fertilizantes via água de irrigação (figura 18).

Figura 18: Sistema de miniaspersão utilizado no cultivo de hortaliças folhosas, tais como o espinafre da Nova Zelândia, sob estufa do tipo capela.

Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>.

No caso da produção de mudas de hortaliças a fertirrigação pode ser realizada no sistema de micro-aspersão e nebulização, onde é importante irrigar-se com água limpa após a aplicação dos fertilizantes altamente solúveis para que não ocorra “queima” das folhas por possíveis resíduos (figura 19).

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Figura 19: Fertirrigação por nebulização em mudas de alface. Deve ser aplicada água limpa após a utilização dos fertilizantes.

Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>.

Ainda um quinto sistema, menos utilizado é o de aplicação dos fertilizantes na água de inundação onde as mudas de hortaliças dentro de copinhos perfurados, são colocadas sobre “piscinas”, onde ocorre a absorção de água e nutrientes pelas plantas (figura 20).

Figura 20: Mudas de pepino (enxertado) em copinhos de plástico, fertirrigadas no sistema de inundação (“piscinas”).

Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>.

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4.11 Recomendações de adubação para hortaliças sob cultivo protegido

conforme análise do solo

A seguir são descritas as recomendações de adubação de hortaliças conforme os teores de nutrientes no solo, com base inclusive na extração e exportação de nutrientes pelas hortaliças. A adubação no solo em pré-plantio deve ser realizada em toda área do canteiro ou no sulco de plantio. Recomenda-se a aplicação do calcário e fertilizantes desde a superfície até 20 a 30 cm de profundidade para proporcionar melhor crescimento e distribuição do sistema radicular das plantas. O parcelamento dos fertilizantes a serem aplicados em cobertura deve levar em conta, a marcha de absorção de nutrientes da cultura. Para as hortaliças de maneira geral considera-se que 10% dos nutrientes são aplicados no primeiro quarto do ciclo da cultura (início de crescimento); 20% dos nutrientes são aplicados na segunda fase de desenvolvimento; 40% dos nutrientes são aplicados na terceira fase do ciclo (período de maior formação de massa fresca de folhas e frutos) e 30% na quarta fase do ciclo da cultura. Dependendo da espécie e do grupo de hortaliças (folhas, raízes e frutos), nutrientes como o potássio tem a sua aplicação concentrada na etapa da máxima produção de frutos. Misturar os fertilizantes ao solo, pelo menos 10 dias antes da semeadura ou transplante das mudas. Acrescentar à adubação mineral de plantio 1 kg de B/ha e 3 kg de Zn/ha para todas as hortaliças acima citadas. Novas aplicações de micronutrientes somente serão efetuadas após análise química do solo.

4.12 Adubação mineral de cobertura:

Alface – 60 a 120 kg/ha de N; 20 a 40 kg/ha de P2O5 e 30 a 60 kg/ha de K2O, parcelando as aplicações em doses diárias ou em dias alternados, através da fertirrigação. Almeirão e Chicória – 60 a 120 kg/ha de N, parcelando as doses através da fertirrigação. Couve de folha - 60 a 120 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando as doses através da fertirrigação. A cada 30 dias pulverizar as plantas com 0,5 g de molibdato de amônio e 1 g de ácido bórico por litro de água. Cebolinha: 60 a 90 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K20, parcelando através da fertirrigação. Rúcula: 90 a 150 kg/ha de N, parcelando as doses através da fertirrigação. Salsa: 30 a 90 kg/ha de N e 20 a 40 kg/ha de K2O, parcelando as doses na fertirrigação. As quantidades maiores ou menores de nutrientes dependerão da análise do solo, análise foliar, cultivar utilizado e produtividade esperada. Adubação mineral de cobertura: Aplicar 60 a 120 kg/ha de N; 40 a 80 kg/ha de P2O5 e 60 a 120 kg/ha de K2O, parcelando através da fertirrigação. As quantidades maiores ou menores de nutrientes dependerão da análise do solo, análise foliar, cultivar utilizado e produtividade esperada. Adubação mineral de cobertura: Aplicar de 80 a 160 kg/ha de N; 60 a 100 kg/ha de P2O5 e 80 a 160 kg/ha de K2O, parcelando através da fertirrigação. As quantidades maiores ou menores de nutrientes dependerão da análise de solo, análise foliar, cultivar utilizado e produtividade esperada. Adubação mineral de cobertura: Aplicar de 200 a 300 kg/ha de N; 60 a 120 kg/ha de P2O5 e 120 a 240 kg/ha de K2O, parcelando as doses através da fertirrigação. As quantidades menores ou maiores de nutrientes a serem aplicados dependerão da análise de solo, análise foliar, cultivar utilizado e produtividade esperada.

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4.13 Produção de mudas

A produção de mudas de hortaliças sob cultivo protegido tem apresentado um crescimento expressivo, em decorrência das vantagens em relação ao sistema tradicional, geralmente conduzido em sementeira a céu aberto, como por exemplo:

• Maior precocidade. • Menor possibilidade de contaminação fitopatogênica. • Maior relação percentual entre sementes plantadas e mudas obtidas. • Melhor aproveitamento da área destinada à produção de mudas. • Maior facilidade na execução de tratos culturais como desbaste, irrigação,

adubação, tratamento fitossanitário. • Menor estresse por ocasião do transplantio.

Além das vantagens acima citadas, o plantio através de mudas obtidas sob cultivo protegido, em bandejas, reduz o ciclo da cultura no campo (Tabela 4), permitindo maior número de cultivos no mesmo local.

Tabela 4. Comparação entre prazos de formação de mudas e o ciclo no campo, em dias, nos

sistemas tradicional (sementeira) e de recipiente (bandeja) de algumas espécies (Carmelo, 1995).

Vários fatores estão envolvidos na formação de uma muda em sistema protegido, enumerando-se como principais o substrato, o recipiente e a irrigação. Esses devem proporcionar um bom desenvolvimento da muda durante a sua permanência no viveiro, visando um bom desempenho da futura planta (Leskovar & Stoffela, 1995). As mudas de hortaliças são, normalmente, formadas a partir de sementes, porém, algumas espécies, como por exemplo tomate, podem ser produzidas por meio do enraizamento de estacas axilares.

5. Estufa

5.1 Conceito Estufa é um ambientes protegido que propicia um micro clima adequado ou próximo ao ideal para o desenvolvimento das culturas. As estufas podem ser pequenas, cobrindo somente uma bancada, ou podem ser grandes e cobrir várias bancadas. As armações das estufas podem ser construídas em vários formatos e com vários materiais: em madeira, em cloreto de polivinil flexível (PVC) e mista (com madeira e PVC; ou com madeira e aço galvanizado). Essas armações são cobertas com plástico, destinado a esse fim, colocados nas partes de cima, na frente, atrás, e nas laterais da estufa.

5.2 Para que serve Para se cultivar hortaliças em ambiente protegido é necessário antes de tudo, conhecer muito bem as espécies que serão cultivadas, principalmente quanto às exigências

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ambientais e nutricionais, ou seja, conhecer as necessidades fisiológicas das hortaliças. Também, o ambiente em que serão plantadas, não só em termos de região, mas de localização, coletando informações sobre temperaturas reinantes (máxima e mínima), período de maior chuva, predominância de ventos, culturas adjacentes e permanência de uma mesma cultura. Durante os períodos favoráveis ao cultivo, todos os agricultores plantam, o que aumenta a oferta (oferta superior ao consumo), ocasionando uma queda de preços, resultando em prejuízo, ou lucros baixos. Mesmo durante a época normal de plantio o produtor está sujeito a variações climáticas que de alguma forma afetam o cultivo. Foi em decorrência desses fatores que o homem começou a buscar soluções para controlar o ambiente de cultivo, surgindo então os primeiros cultivos utilizando plásticos, em estufas, túneis de cultivo forçado, cobertura de solo. O uso de plástico na agricultura teve sua expansão lenta, as técnicas ainda não eram empregadas corretamente. Porém à medida que seu emprego foi sendo ajustado, expandiu-se rapidamente, proporcionando o desenvolvimento de áreas improdutivas. No Brasil a plasticultura teve um grande impulso nas décadas de 70 e 80 com a produção de flores e somente nos meados da década de 80 é que a produção de hortaliças em estufas ganhou ênfase. A plasticultura é mais usada nas regiões sul e sudeste, porém outras regiões apresentam grande potencial para a utilização. Na Amazônia as chuvas inviabilizam o cultivo em determinadas épocas. Com o uso do guarda-chuva é possível produzir mais regularmente. No nordeste, a exemplo da Almeria na Espanha que é também uma região semi-árida, tem-se a possibilidade de produzir regularmente alimentos em estufas, bastanto para isso incentivos governamentais. O plástico tem sido mais empregado no Brasil, na forma de estufas cujas principais culturas são: tomate, pepino, melão, pimentão, vagem, alface; como túneis de cultivo forçado; alface, morango; cobertura morta de solo, para morango, alho. Boa parte dos novos produtores se lançou à atividade sem bases técnicas e ignorando o mercado. Na verdade, nem mesmo as instituições de pesquisa estavam aparelhadas para oferecer um pacote tecnológico a esses agricultores, pois o sistema era uma novidade para todos. Muitos produtores, amargaram experiências com as estufas por dar pouca atenção ao tipo de artigos produzidos sob plásticos. (Ceagesp, 2007) Nem toda hortaliça oferece maior rentabilidade quando produzida através desse sistema. Além disso, é preciso estar atento ao gosto do consumidor. Ainda hoje, há muito produtor que só pensa no mercado quando está com a mercadoria encalhada no sítio. Nem sempre é possível tirar vantagens da entressafra, isto é, conseguir lucro explorando produtos "fora de época", já que em muitos períodos haverá concorrência com produtos obtidos de forma convencional, que têm custos reduzidos. (Antonio Hélio Junqueira) Em algumas partes do país, como no Norte e no Centro-Oeste, os proprietários de estufas podem se restringir aos produtos convencionais, porque as condições climáticas limitam sua obtenção no campo. Mas em outras regiões, como no Sudeste, é preciso trabalhar com artigos ou apresentação diferenciados (em bandejas, com uma marca comercial etc. ), com variedades desenvolvidas especificamente para o cultivo protegido, explorando nichos do mercado.O desconhecimento de premissas como essas teria feito quebrar muitos dos horticultores nesse período de implantação da plasticultura no Brasil, reduzindo as taxas de crescimento da atividade, que chegaram a ser superiores a 20% ao ano na fase inicial. Não há dados oficiais precisos sobre o número de estufas no Brasil. No entanto, pesquisadores de universidades e instituições ligadas à atividade calculam que o cultivo protegido de hortaliças ocupe atualmente cerca de 2 mil hectares em todo o país, com o predomínio dos plantios de pimentão, tomate, pepino e alface, esta última principalmente através da hidroponia, que é um sistema de cultivo, dentro de estufas sem uso de solo. É possível dizer, hoje, que não há limitações técnicas para se obter qualquer variedade de hortaliças em estufas, embora existam restrições mercadológicas para este ou aquele produto. O plantio protegido é uma arma para controlar as adversidades climáticas. E uma

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arma lucrativa, se for explorada com inteligência.

FIG 21. Canteiros de plástico

Disponível em: <http://globorural.globo.com/barra.asp?d=/edic/171/rep_estufa2.htm>. A estufa pode "corrigir" as limitações climáticas de um local, mas é preciso antes de tudo analisar a relação custo-benefício que ela oferece. "Um agricultor do Sul do país, onde o clima é predominantemente frio, pode produzir pepino de forma protegida, se quiser. Mas, somente fechando a estrutura com plástico transparente, ele não vai conseguir atingir a faixa térmica necessária para o bom desenvolvimento da cultura. Seria preciso gerar mais calor, instalando um sistema de aquecimento. Isso nem sempre é compensador, valendo mais a pena talvez trazer esse pepino de outras regiões produtoras.

5.3 Vantagens

• Reduz a umidade foliar, com reflexos positivos na diminuição da ocorrência de doenças que atacam a parte aérea.

• Amplia o período de safra. • Permite o uso de técnicas de desinfecção de solo: solarização ou aplicação de

produtos fumigantes. • Facilita o uso de substrato. • Protege contra geadas.

5.4 Desvantagens

Devido as mudanças na estrutura dificulta a rotação de áreas, prática usual em função das doenças oriundas do solo. A utilização de túnel tem como função básica proteger as plantas da chuva, neblinas, ou orvalho muito forte, evitando o molhamento da folha e, como conseqüência, reduzindo drasticamente a incidência de fungos e bactérias, criando condições de produzir frutos de excelente qualidade, com reduzida utilização de defensivos. Além do túnel baixo, existe a produção de morangos em casa plástica, que tem as mesmas funções do túnel, com a vantagem de permitir atividades de tratos culturais, mesmo em dias de chuva, inclusive a colheita de frutos com ótima qualidade, operação não aconselhada no túnel baixo, devido ao molhamento do fruto na colheita. Desta forma, a oferta de fruto no mercado, no dia seguinte, cai significativamente e o preço do produto reage na mesma proporção. Tanto o túnel baixo como a casa plástica são aconselhados para as regiões onde a incidência de chuvas é freqüente na época da colheita. Nos dois sistemas, a irrigação recomendada é a localizada (por gotejamento). Nestes sistemas, deve-se tomar cuidado especial com relação ao ataque de ácaros, eliminando os focos no início. (Fig. 22 e 23).

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Fig. 22 Casa Plástica e túnel baixo Disponível em:

<http://sistemaproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Morango/SistemaProducaoMorango/cap09.htm>.

Fig. 23. Casa Plástica Disponível em:

<http://sistemaproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Morango/SistemaProducaoMorango/cap09.htm>.

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6. Proteção através do mulching

Fig. 24. Mulching Disponível em: <http://globorural.globo.com/barra.asp?d=/edic/171/rep_estufa2.htm>.

Da mesma forma, ao se falar em plantio protegido de hortaliças e flores por meio de plasticultura não se está, necessariamente, referindo-se ao uso de estufas. A utilização de telas plásticas também pode ser qualificada dessa maneira. Outra forma de proteção de culturas é o mulching, que consiste na cobertura do solo com plástico preto. Isso ajuda a controlar a temperatura e a umidade no terreno dos canteiros, aumentar sua capacidade de armazenamento hídrico, bem como evitar a ocorrência de ervas daninhas. Além de plástico, essa técnica também pode ser aplicada utilizando-se matéria orgânica, serragem, capim etc. O mulching é uma forma de plantio protegido mais barata do que as estufas, porém tem menor efeito sobre a produtividade. Muitos produtores utilizam o mulching mesmo no interior das estufas. Mas há horticultores que vêm conseguindo resultados muito satisfatórios apenas com os plásticos pretos sobre os canteiros. O custo por caixa de pimentão obtido por meio do mulching varia de 2 a 2,20 reais, basicamente o mesmo do pimentão de estufa. Mas, este último chega a cerca de 4 reais, se considerados os valores referentes à depreciação, investimento para a construção das instalações etc. (José Guilherme Leal, agrônomo da Emater). A produtividade de pimentões através de mulching, atinge em média 60 toneladas por hectare. 7. Estrutura para um ambiente protegido

A construção de casas de vegetação, as chamadas estufas, podem ser feitas em concreto, ferro galvanizado, alumínio ou madeira, em diferentes modelos, podendo ser cobertas com vidro ou, principalmente, com películas de polietileno transparente. Os custos destas estruturas variam enormemente, em função do nível de sofisticação, apresentando as mais simples um custo que se inicia com US$ 3,00 o metro quadrado, até as mais sofisticadas, que podem custar mais de US$ 20,00 o metro quadrado. O manejo correto da plasticultura inicia-se na hora da construção da estufa, ou seja, na avaliação do modelo mais adequado, da inclinação do telhado, posição em relação ao sol, altura do pé-direito, entre outros detalhes. Na localização da estufa, é preciso levar em conta o deslocamento da luz solar ao longo do ano e a direção dos ventos predominantes. Nas regiões de alta insolação como o Nordeste, é desaconselhado a instalação no sentido norte-sul, por promover um sombreamento muito pequeno na estufa, o que não é interessante nesses locais. Essa posição, entretanto, é ideal no Sul do país e em parte do Sudeste, onde há baixa luminosidade em determinadas épocas do ano e é conveniente aproveitar ao máximo as irradiações solares. Já na Amazônia, seria mais importante considerar a direção dos

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ventos predominantes, já que eles ajudam a refrescar o interior da estufa. Na faixa do Brasil Central que engloba o Distrito Federal e o Triângulo Mineiro, é recomendado que a estufa seja erguida de sudoeste para nordeste, para aproveitar, dessa forma, os movimentos das massas de ar. Os ventos podem ser utilizados como aliados do plantio protegido. Mas, em locais onde as ventanias são acentuadas, é preciso usar materiais de maior resistência, como perfis de ferro galvanizado mais grossos ou madeiras de maior diâmetro. A altura do pé-direito, por sua vez, deve ser tanto maior quanto mais altas forem as temperaturas locais. E aí, novamente, entra a questão da resistência dos materiais, reforçando-se a estrutura quando a altura for elevada. A inclinação do telhado interfere na absorção dos raios solares: aumentando-se a inclinação, maior quantidade de irradiação é desviada ao incidir sobre a construção, diminuindo, assim, o calor dentro da estufa. Para a porção central do país, pode ser utilizada uma inclinação de 26 a 30 graus. No Sul, onde o calor pode ser bem-vindo, o intervalo fica entre 12 e 18 graus, para que o desvio de irradiação seja menor; já para o Nordeste, a inclinação do telhado pode ser de 45 graus. As estufas do tipo capela, com telhado em duas águas, são mais apropriadas para locais de clima quente e úmido, como Amazônia, Nordeste e Brasil Central. Elas possuem janelas na parte superior das duas extremidades, e, quando abertas, promovem a remoção do ar quente que se acumula no local. Já os modelos com teto em arco servem para todas as regiões, mas prestam-se melhor para o Sul e o Sudeste do país. Quanto mais curvo for o telhado, maior a captação de raios solares; por essa razão, as instalações conhecidas como túnel alto, dotadas de arcos que saem diretamente do solo, têm melhor aplicação nos Estados sulinos. Já para regiões muito quentes, um modelo eficiente de estufa é a de teto convectivo. A Embrapa Hortaliças tem um trabalho com esse tipo de instalação que está sendo utilizado num projeto em Iranduba, no Amazonas. Uma das águas do telhado tem 33 graus de inclinação e a outra, 22 graus, deixando entre elas uma abertura de cerca de 80 centímetros ao longo de toda a cobertura, fechada com telas para impedir a entrada de insetos. A estrutura deve ser montada de forma que os ventos soprem pela abertura, movimentando o ar quente e úmido que se acumula no interior da estufa. O tipo de material utilizado na cobertura das estufas também pode conferir maior produtividade ao plantio. Além dos plásticos comuns de polietileno e dos de PVC, que oferecem maior resistência (seis anos em média, contra um ano e meio dos primeiros), existem os chamados especiais, derivados do polietileno com adição de sais como os de silício e bário, com finalidades específicas. Um deles é o plástico antigotejamento, que tem a capacidade de concentrar o vapor d'água que se acumula nas paredes e no teto da instalação. Dessa forma, a água escorre pelas laterais em vez de se precipitar sobre as folhas da cultura, evitando assim doenças fitossanitárias. Outro tipo é o reflectivo, que permite a passagem de luz solar para a estufa, mas bloqueia as faixas de irradiação que rendem calor. Ele é muito indicado para a plasticultura no Nordeste, mas tem o dobro do custo do plástico comum e não é facilmente encontrado. Também raro no mercado é o material difusor de luz, que converte a irradiação solar para as faixas que interessam à fotossíntese. Esse plástico é indicado para regiões de baixa luminosidade, como o Sul, durante o outono e o inverno, e também para a Amazônia, em razão da alta nebulosidade que deixa as estufas às escuras em determinadas épocas do ano. O cultivo protegido de hortaliças vem se tornando uma alternativa vantajosa para os produtores, aumentando os lucros devido à redução das perdas e aumento da produtividade, além de apresentar vantagens em relação ao cultivo a campo, como melhor qualidade dos frutos, proteção contra queimaduras de sol e chuvas em excesso. 7.1. A construção da estufa

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A construção de uma estufa requer um investimento inicial que pode ser recuperado em dois ou três anos de cultivo, ou até mesmo em uma ou duas safras, mas isso só será possível se o produtor colher o produto certo na hora certa. Até certo tempo atrás tinha-se idéia que o custo de construção de uma estufa era muito alto. Na realidade este custo era grande devido a grande quantidade de madeira e arame que gastavam. Hoje existem vários modelos de estufas, alguns bem em conta, tornando a estufa acessível a todos produtores. 7.1.1. Montando uma estufa (passo a passso) Esse passo a passo apresenta a montagem de uma Cobertura para Estufas que pode ser facilmente montado pelo próprio produtor, utilizando colunas de madeira ou concreto. O KIT Monte Fácil, elaborado pela empresa Biosystem estufas agrícolas, é composto por Arcos, Tirantes, Filmes (Plásticos), Telas e Fixadores que são enviados para qualquer lugar do Brasil, acompanhado de Manual de Montagem que explica a montagem passo-a-passo. Os Kits são produzidos nas seguintes dimensões: - módulos de 5,0m (L) x 3,0m (P) - módulos de 6,4m (L) x 3,0m (P) - módulos de 7,0m (L) x 3,0m (P) - módulos de 8,0m (L) x 3,0m (P) (L) = Largura (P) = Profundidade 1. Primeiro Passo: Depois de limpar e nivelar o terreno, demarque a área onde será construída a Estufa. Em geral, o piso fica com uma inclinação (desnível) de 1% a 5% no sentido do comprimento da Estufa.

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

Chumbe os Postes conforme a Figura 1. Abra uma cova de 30 cm de diâmetro por 60 cm de profundidade. Coloque o poste dentro da cova e preencha o buraco com concreto. Os postes podem ser de madeira (Vigas 6 x 12 cm; Caibros 8 x 8, Mourões de Madeira Tratada ou Concreto). As dimensões da Estufa e as medidas dos postes (fora da terra) estão na Tabela abaixo.

Tabela 5. Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

2. Segundo Passo:

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Basicamente, há duas formas de travar os postes: com Caibros/Vigas (Fig 2.1) ou com Sarrafos (Fig 2.2). Se você optou pela montagem com Sarrafos de 10 ou 15 cm, basta pregá-los ou parafusá-los no topo dos postes. Se estiver montando com caibros/vigas, seu Kit acompanhará os conectores metálicos – que devem ser usados conforme Fig 2.1.

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

3. Terceiro Passo: Antes de montar os DOIS Arcos Frontais, identifique a Peça 1 – Trizeta de Tubo e a Emenda Interna (conforme mostrados na Fig 3).

3.1 - Introduza a Emenda Interna em uma das metades do tubo e parafuse-a; 3.2 – Junte as duas metades de tubo e parafuse junto com uma Trizeta; 3.3 – Parafuse as outras duas Trizetas em cada semi-arco (os arranques para o tubo de

travamento devem apontar para a mesma face);

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

4. Quarto Passo: Antes de montar os DOIS arcos da segunda linha, identifique a Peça 2 – Cruzeta de Tubo e a Emenda Interna (conforme mostrados na Fig 4).

3.1 - Introduza a Emenda Interna em uma das metades do tubo e parafuse-a; 3.2 – Junte as duas metades de tubo e parafuse junto com uma Cruzeta; 3.3 – Parafuse as outras duas Cruzetas em cada semi-arco;

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Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

5. Quinto Passo: Para montar os Arcos Internos siga o mesmo procedimento do Passo anterior, lembrando-se que nos arcos internos só se utiliza uma Cruzeta (Peça 2) na emenda dos arcos – Não há cruzetas nos semi-arcos.

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

Obs: Se seu Kit foi adquirido com travamento triplo para todos os módulos, você deve instalar 3 cruzetas em cada arco – exatamente como foi feito no Quarto Passo.

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6. Sexto Passo: Parafuse um Suporte em cada extremidade dos Arcos.

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

7. Sétimo Passo: Fixe os Arcos/Suportes na face externa dos Postes. Se preciso, force um pouco os arcos, pois alguns podem apresentar pequena variação na curvatura. Observe as Figuras 7 e 7.1.

7.1 – Os Arcos Frontais vão na extremidade da Estufa; 7.2 – Os Arcos de Segunda Linha, vão ao lado dos Frontais; 7.3 – Os Arcos Internos vão no centro da Estufa

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

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Figura 7.1 Detalhe posição suporte do Arco

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

OBS: Posicione o suporte de Arco Frontal bem na quina externa do caibro/poste, evitando que os cantos da madeira danifiquem o plástico.

8. Oitavo Passo: Para fixar os tubos de travamento dos Arcos, observe a Figura 8:

8.1 – No módulo da frente e de trás, serão instalados 3 tubos de travamento; 8.2 – Nos módulos centrais, será instalado apenas 1 tubo de travamento;

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

Obs: Se seu Kit foi comprado com travamento triplo para todos os módulos, você deve instalar 3 tubos de travamento por módulo.

9. Nono Passo: Para sua Estufa ficar mais segura, você pode instalar tirantes de Cabo-de-Aço ou Arame Galvanizado. A seguir, sugerimos algumas formas de tirantamento que você próprio pode fazer com material adquirido na sua cidade.

Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>.

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Dica: Antes de cobrir a Estufa, verifique se não há “Cantos Vivos” que possam rasgar o plástico. Ajuste a montagem ou enrole tiras de plástico, fita crepe ou borracha nos “cantos vivos” antes de instalar o plástico. 7.1.2. Espaçamento Estabelecer um espaçamento que possibilite maximizar a produção, sem prejuízo ao tamanho do fruto e ao manejo fitossanitário, é o ideal. Quando se eleva o número de plantas por unidade de área, aumenta-se a produtividade, porém, o tamanho do fruto pode diminuir a partir de determinado número. Além disso, há uma diminuição na entrada de luz por entre as plantas, bem como na ventilação, fator essencial para uma boa produção de hortaliças. A falta de ventilação pode possibilitar a formação de um microclima, que facilita a multiplicação de patógenos, tornando o controle de doenças mais difícil e oneroso. (Marco Antonio Rezende Alvarenga, engenheiro agrônomo, Dr. em Agronomia e professor da UFLA). 7.1.3. Controle edafoclimático Além do controle parcial das condições edafoclimáticas, o ambiente protegido permite a realização de cultivos em épocas que normalmente não seriam escolhidas para a produção ao ar livre. Esse sistema também auxilia na redução das necessidades hídricas (irrigação), através de uso mais eficiente da água pelas plantas. Um outro bom motivo para produzir em ambiente protegido é o melhor aproveitamento dos recursos de produção (nutrientes, luz solar e CO2), resultando em precocidade de produção (redução do ciclo da cultura) e redução do uso de insumos, como fertilizantes (fertirrigação) e defensivos. (Luis Felipe Villani Purquerio, engenheiro agrônomo, Mestre em produção vegetal e pesquisador do IAC) A vantagem da estufa é permitir o cultivo na entressafra, em condições climáticas normalmente desfavoráveis. Para o produtor se orientar com respeito ao que produz, quando produzir e quanto produzir na estufa, ele deve analisar alguns fatores que determinarão a viabilidade do cultivo, tais como: escolha de mercado, comportamento de preços ao longo dos anos, custo de produção, e qual a tecnologia a ser utilizada, ou seja o tipo de estufa, veja quadro 6.

QUADRO 6 - Roteiro para a definição do cultivo em estufas

Momentos de decisões Aspectos a serem observados

O que plantar? - mercado - viabilidade econômica - tecnologia disponível

Quanto plantar? - mercado - viabuilidade econômica - disponibilidade de recursos - domínio da tecnologia

Quando plantar? - mercado (sazonalidade) Como plantar? - tecnologia disponível

O primeiro passo é determinar se o mercado será local, ou regional, ou com nível de Ceasa. Se for como o Ceasa, deve-se verificar o período de menor oferta, o que implica em preços melhores. Se for local, deve-se considerar os hábitos da população, pois determinadas hortaliças não são consumidas em determinados mercados, existe um consumo regional. Por exemplo, em Lavras não existe mercado para o tomate tipo cereja ou mesmo o pepino japonês.

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Outra alternativa na escolha do mercado é a opção por consumidores mais requintados, visto que os produtos colhidos sob estufas, apresentam qualidades melhores; por exemplo, supermercados, hotéis, exportação, etc. Uma das alternativas para o produtor é produzir para o mercado regional, aquelas hortaliças que normalmente vem de outras regiões. 8. O que plantar na estufa? Algumas hortaliças e até mesmo algumas cultivares se adaptam melhor ao cultivo em estufas, várias são as possibilidades:

- Japonês

• Pepino - Caipira - Santa Cruz - Salada

• Tomate

- Cereja - Lisa - Crespa

• Alface

- Americana

• Pimentão • Melão • Vagem • Etc.

A definição do que plantar deve ser baseada nos hábitos do mercado escolhido. 8.1 Quando plantar na estufa? As hortaliças, assim como outros produtos agrícolas, face a algumas características peculiares como a forte influência dos fatores climáticos, tempo de produção, perecibilidade, possuem um determinado padrão de comportamento de preços ao longo do ano, que se repete de forma semelhante durante certo período de tempo. Os preços apresentam flutuações quando analisados numa série temporal e essas variações podem ser devidas a: mudanças graduais de oferta/demanda, geralmente associadas à alterações de renda, gosto e preferência dos consumidores, tecnologia de produção, crescimento populacional, etc;há variações a longo prazo, relacionadas com a expansão ou retração da atividade; há variações estacionais ou sazonais, caracterizadas por períodos de safra e entressafra durante o ano, onde cada hortaliça apresenta características próprias na sua variação estacional de preços (mudanças na tecnologia de produção podem alterar o comportamento da variação estacional de preços tornando a oferta estável durante o ano); há variações aleatórias, ligadas a aspectos biológicos da cultura, como fatores climáticos que promovam a escassez ou abundância do produto. Desde que se disponha de uma série histórica regular e confiável de dados, pode-se utilizar o comportamento dos preços para se tomar decisões a respeito de quando plantar na estufa. Conhecendo-se as informações sobre comportamento de preços de determinada hortaliça, através das curvas de sazonalidade, resta então usar tecnologias que promovam a coincidência da colheita com os preços máximos, como por exemplo o uso de estufas. 9. Pragas no protegido Com a expansão do cultivo em ambiente protegido no Brasil, verificou-se que algumas espécies de insetos e ácaros se tornaram problemas sérios no interior das casas de vegetação, causando perdas consideráveis em quantidade e qualidade da produção. Os principais artrópodes-pragas de cultivos protegidos são: traça-do-tomate, moscas-brancas, pulgões, ácaros, tripes e minadores, que ocorrem principalmente nas culturas de tomate, pimentão, alface, pepino e melão. A alta temperatura e a baixa umidade, que

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normalmente ocorrem dentro das casas de vegetação, a ausência de fatores de mortalidade e áreas pequenas com alto adensamento de plantas, favorecem o aumento populacional destas espécies pragas, dificultando o seu controle. A traça-do-tomate ocorre na cultura por todo o ciclo, sendo que o período crítico é o de formação dos frutos. As larvas formam minas nas folhas, e se alimentam no interior destas. Também broqueiam o caule, perfuram o broto terminal e atacam os frutos. As moscas-brancas são pragas de grande importância econômica nas casas de vegetação, ocorrendo nas culturas de tomate, pimentão, alface, pepino e melão. Estão presentes em todo o ciclo da cultura, sendo que o período crítico vai da fase de muda até os 30 dias após o transplante. Causam danos pela sucção direta da seiva da planta e pela transmissão de viroses. Os pulgões estão associados principalmente às culturas de tomate, pimentão, alface, pepino e melão. Podem ocorrer por todo o ciclo da cultura, mas o período crítico vai da fase de muda até os 30 dias após o transplante. Ocasionam amarelecimento e deformação da folhagem, podendo diminuir o rendimento. São transmissores dos vírus Y, topo-amarelo e amarelo-baixeiro do tomateiro. Os ácaros ocorrem nas culturas de tomate, pimentão e pepino, principalmente no final do ciclo. Provocam amarelecimento ou manchas avermelhadas na face oposta às colônias, que vão crescendo até a queda das folhas e morte da planta. Os tripes ocorrem em tomate, pimentão, pepino e alface. Podem atacar a cultura por todo o ciclo, mas a fase mais crítica vai até os 60 dias após o transplante. Causam danos diretos, por raspar as folhas e sugar a seiva e indiretos, como vetores de viroses. As larvas minadoras ocorrem em tomate, alface e pepino, desde a germinação até a colheita. As larvas penetram nos folíolos, cavando galerias irregulares ou minas e destroem o parênquima foliar, ocasionando secagem das folhas. Para um manejo eficiente dessas pragas em ambiente protegido, é necessário que medidas preventivas sejam adotadas no início da cultura, uma vez que é mais fácil impedir a entrada das pragas nas casas de vegetação do que controlá-las. Recomenda-se, portanto: a) realizar a limpeza da casa de vegetação, antes de um novo plantio; b) destruir restos culturais; c) eliminar a vegetação externa; d) utilizar sementes e mudas livres de insetos e ácaros; e) utilizar uma proteção mecânica contra artrópodes, como telas anti-afídeos (pulgões) e tripes, junto às laterais; f) instalar, dentro e fora das casas de vegetação, armadilhas amarelas, cobertas com cola ou óleo queimado. Estas armadilhas visam reter os insetos (moscas-brancas, pulgões, tripes e minadores) e auxiliar o monitoramento das pragas, alertando o agricultor quanto às espécies presentes, e o nível populacional. As armadilhas devem ser penduradas no interior das casas de vegetação, entre as plantas, ficando na altura da parte superior destas. Mesmo com a adoção dessas medidas, os artrópodes podem entrar nas casas de vegetação e, encontrando condições favoráveis ao seu desenvolvimento, vão se estabelecer como pragas. É recomendada a adoção de um sistema de amostragem, visando monitorar a presença das pragas, de modo que a infestação seja detectada bem no início, permitindo a adequação de medidas de controle. A amostragem deve ser feita ao acaso, cobrindo-se toda a área interna da casa de vegetação. As plantas devem ser inspecionadas pelo menos uma vez por semana, para verificar a presença de ovos, larvas ou adultos de insetos e ácaros e os sintomas de dano.

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Para verificar a presença de traça-do-tomateiro, recomenda-se procurar ovos e larvas nas folhas e flores do terço superior da planta. Para mosca-branca, pulgão e tripes o monitoramento deve ser realizado, procurando-se a presença das colônias na face inferior da folhagem. Para tripes, procurar também no interior das flores, nos botões florais e nos brotos. Para ácaros, observar os sintomas e a teia na parte inferior da folhagem. Para larvas minadoras, observar o número de minas e a porcentagem de minas com larvas vivas. As plantas hospedeiras das pragas, na parte externa, também devem ser periodicamente inspecionadas e, quando necessário, pulverizadas. Outras táticas de manejo integrado são recomendadas, para manter a população de pragas abaixo do nível de dano econômico. Dentre elas, podemos citar o uso de cultivares resistentes, controle químico, controle biológico e a utilização de feromônio sexual, quando disponível comercialmente. O feromônio sexual é usado em armadilhas distribuídas na casa de vegetação, com o objetivo de capturar insetos, para monitorar a presença da praga, e auxiliar na determinação de seu crescimento populacional. A utilização eficiente do controle químico envolve a identificação correta da praga e da fase do seu ciclo biológico de maior dano; a escolha do produto mais adequado e forma de aplicação, levando-se em conta o modo de atuação, a classe toxicológica e o preço; a obediência às recomendações do fabricante quanto a dosagem indicada e o período de carência. O controle biológico, usando o parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum, tem mostrado grande potencial para o controle da traça-do-tomateiro (Tuta absoluta). Apresenta-se como uma técnica promissora para ser usado em ambiente protegido, e é objeto de estudo da Embrapa Hortaliças. Esta técnica, além de efetuar o controle da praga, é específica e inócua, não causando danos ao homem e ao ambiente. Conclusões e recomendações É necessário planejamento e conhecimento técnico para o cultivo em ambiente protegido, pois o investimento realizado é alto, dependendo do grau de tecnologia empregada no ambiente. Além disso, este sistema de cultivo envolve amplas áreas de conhecimento para que o manejo das plantas seja bem feito, necessitando de mais conhecimento técnico para ser realizado com sucesso. Para se cultivar hortaliças em ambiente protegido, é necessário, antes de tudo, conhecer muito bem as espécies que serão cultivadas, principalmente quanto às exigências ambientais e nutricionais, ou seja, conhecer as necessidades fisiológicas das hortaliças. Também, o ambiente em que serão plantadas, não só em termos de região, mas de localização, coletando informações sobre temperaturas reinantes (máxima e mínima), período de maior chuva, predominância de ventos, culturas adjacentes e permanência de uma mesma cultura. A ventilação serve para trocar o ar de dentro da estrutura, e, por isso, ela deve ser leve, pois ventos fortes podem prejudicar a estrutura. A ventilação também afeta a temperatura e a umidade relativa do ar dentro das estruturas. Quando a temperatura é muito alta, é possível lançar-se mão de recursos para a redução da mesma. O posicionamento da estrutura pode favorecer a ventilação natural dentro do local. Na instalação do ambiente, deve-se observar a inclinação do terreno, principalmente para ‘estufas’ do tipo londrina, pois esta facilita a passagem do ar quente pela estrutura, com sua saída pela lateral que estiver na parte mais alta do terreno. A estrutura deve sempre ser instalada com a menor dimensão (frente), no sentido da corrente do vento predominante. As cortinas laterais, devem ser sempre móveis, para serem fechadas no caso da

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necessidade de retenção da temperatura através do aquecimento do ar, ou abertas para a saída do ar quente, quando se deseja o resfriamento. Saídas para o ar quente, na parte superior das estruturas, conhecidas como lanternim e janelas zenitais, também possibilitam o resfriamento do interior do ambiente protegido. Estas podem ser fixas ou móveis, para serem abertas ou fechadas conforme a necessidade. Essas aberturas no ambiente devem sempre estar a favor do vento para que a saída do ar quente seja facilitada; e que também existe a necessidade de uma abertura na parte inferior, para provocar o fluxo de ar, igualando a temperatura interna à externa. Entrar em contato com a Embrapa <http://www.embrapa.br/> para mais esclarecimentos. Referências FOLHA DO CAMPO. Disponível em: <http://www.folhadocampo.com/alternativa.php?alternativa=0013>. Acesso em: 22 set. 2007. Gonçalves, W. Magela; Resende, L. Vilela. Cultivo de hortaliças em estufas: quando plantar?. Sociedade Nacional de Agricultura – SNA. Disponível em: <http://www.sna.agr.br/artigos/artitec-horicultura01.htm>. Acesso em 22 set. 2007. SNA. Cultivo protegido: produção programada e fora de época. Disponível em: <http://www.sna.agr.br/artigos/artitec-cultivo.htm>. Acesso em: 21 set. 2007. Neville Barbosa dos Reis, pesquisador da Embrapa Hortaliças de Brasília/DF. Geni Litvin Villas Boas. Embrapa Hortaliças. Artigo publicado na edição número 11 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de dezembro/2001 - janeiro/2002. Data de Publicação: 1/2/2006. Fonte: Revista Campo & Negócios Online GLOBO RURAL. Disponível em: <http://globorural.globo.com/barra.asp?d=/edic/171/rep_estufa2.htm>. Acesso em: 22 set. 2007. HIDROGOOD. Disponível em: <http://www.hidrogood.com.br/11h/pag/brz/estufas.asp>. Acesso em: 23 set. 2007. CEPLAC. Curso de Horticultura. Disponível em: <http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo8.htm>. Acesso em: 23 set. 2007. TRANI, Espindola Paulo; Calagem e adubação para hortaliças sob cultivo protegido. Infobibos. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_1/CalagemHortalicas/Index.htm>. Acesso em: 23 set. 2007. BIOSYSTEM. Manual de montagem. Disponível em: <http://www.biosystem.agr.br/manual.pdf>. Acesso em: 23 set. 2007. Nome do técnico responsável Eduardo Henrique da Silva Figueiredo Matos Nome da Instituição do SBRT responsável CDT/UnB Data de finalização 25 set. 2007