homeopatia cognitiva - casos clínicos

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Dr. Georgios Loukas www.georgeloukas.info Estudos de casos relativos à aplicação da Homeopatia cognitiva Agora irei apresentar uma série de casos interessantes. Através deles terá a oportunidade de compreender a metodologia da homeopatia cognitiva. Também poderá compreender aquilo que a distingue da metodologia homeopática anterior e vislumbrar perspectivas futuras. Caso 1 Este é o primeiro caso em que utilizei o pensamento sintético e baseei a receita nas noções do doente e não na matéria médica homeopática que já conhecia. Estava a tratar uma mulher casada com dois filhos que sofria de depressão. Descrevia-se como reservada, cautelosa em relação aos outros e relutante em falar sobre os seus problemas. Mencionava suspiros frequentes e mágoa. Quando lhe perguntei se tinham ocorrido quaisquer incidentes que a tivessem afectado, ela desatou a chorar e revelou- me a experiência profundamente traumática de ter sido violada pelo pai aos catorze anos. Desde essa altura, tinha muito medo e estava constantemente a tentar evitá-lo. Durante a puberdade, embora tivesse tido oportunidades de formar relações, abstivera-se de o fazer por ter medo. Tinha um irmão mais velho que era muito severo e tinha muito medo dele. Também tinha uma irmã mais velha que ela suspeitava também ter sido violada pelo pai. Quando estava na universidade, conheceu um amigo do seu irmão de quem gostava muito, mas com quem nunca criou uma relação porque tinha medo de que o irmão descobrisse. Mais tarde, conheceu o marido com quem teve uma longa relação platónica antes de ter relações sexuais com ele por ter medo de o fazer. Embora o seu marido a tratasse bem, nunca lhe falou na sua experiência traumática. Com o tempo, a relação com o marido começou a deteriorar-se. Tinha medo dele embora ele não fosse nada violento. Tinha um sonho recorrente que era bastante distinto. Sonhava muitas vezes que estava no quarto de banho com a porta meio aberta. Fora da porta estavam homens a observá- la. Sentia-se angustiada. Também sonhava com figuras masculinas a aproximarem-se ou perto dela e sentia-se assustada. Noutros casos via homens a persegui-la. Por vezes via o seu pai como a figura masculina. Eu estava a tratar esta mulher há quatro anos. Tinha receitado vários medicamentos, como Staphisagria, Natrium Muriaticum, Ignatia, Lac Caninum, Ambra Grisea, Cyclamen etc. sem qualquer melhoria visível.

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Page 1: Homeopatia Cognitiva - Casos Clínicos

Dr. Georgios Loukas www.georgeloukas.info

Estudos de casos relativos à aplicação da Homeopati a cognitiva

Agora irei apresentar uma série de casos interessantes. Através deles terá a oportunidade de compreender a metodologia da homeopatia cognitiva. Também poderá compreender aquilo que a distingue da metodologia homeopática anterior e vislumbrar perspectivas futuras.

Caso 1

Este é o primeiro caso em que utilizei o pensamento sintético e baseei a receita nas noções do doente e não na matéria médica homeopática que já conhecia. Estava a tratar uma mulher casada com dois filhos que sofria de depressão. Descrevia-se como reservada, cautelosa em relação aos outros e relutante em falar sobre os seus problemas. Mencionava suspiros frequentes e mágoa. Quando lhe perguntei se tinham ocorrido quaisquer incidentes que a tivessem afectado, ela desatou a chorar e revelou-me a experiência profundamente traumática de ter sido violada pelo pai aos catorze anos. Desde essa altura, tinha muito medo e estava constantemente a tentar evitá-lo. Durante a puberdade, embora tivesse tido oportunidades de formar relações, abstivera-se de o fazer por ter medo. Tinha um irmão mais velho que era muito severo e tinha muito medo dele. Também tinha uma irmã mais velha que ela suspeitava também ter sido violada pelo pai. Quando estava na universidade, conheceu um amigo do seu irmão de quem gostava muito, mas com quem nunca criou uma relação porque tinha medo de que o irmão descobrisse. Mais tarde, conheceu o marido com quem teve uma longa relação platónica antes de ter relações sexuais com ele por ter medo de o fazer. Embora o seu marido a tratasse bem, nunca lhe falou na sua experiência traumática. Com o tempo, a relação com o marido começou a deteriorar-se. Tinha medo dele embora ele não fosse nada violento. Tinha um sonho recorrente que era bastante distinto. Sonhava muitas vezes que estava no quarto de banho com a porta meio aberta. Fora da porta estavam homens a observá-la. Sentia-se angustiada. Também sonhava com figuras masculinas a aproximarem-se ou perto dela e sentia-se assustada. Noutros casos via homens a persegui-la. Por vezes via o seu pai como a figura masculina. Eu estava a tratar esta mulher há quatro anos. Tinha receitado vários medicamentos, como Staphisagria, Natrium Muriaticum, Ignatia, Lac Caninum, Ambra Grisea, Cyclamen etc. sem qualquer melhoria visível.

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Durante este tempo, sentiu-se um pouco reconfortada, mas nunca apresentou uma melhoria significativa. Na Primavera de 1994 pensei em dar-lhe Natrium Bromatum. A minha escolha baseou-se no elemento dos maus-tratos e na sua associação com o bromo. As melhorias que apresentou foram notáveis. Subsequentemente, este medicamento foi receitado de novo em várias ocasiões sem que fosse necessário outro medicamento para a sua psicossíntese. Nesta altura, e antes de prosseguir, gostaria de abordar certos aspectos do Natrium bromatum. O tipo de indivíduo associado a este medicamento tem um medo particular de ser maltratado numa relação amorosa. O indivíduo Natrium Bromatum apresenta um medo intenso do sexo oposto e tem medo de criar uma relação amorosa. Quaisquer tentativas de sedução por parte da outra pessoa são entendidos como uma violação. É um medicamento importante para casos de mulheres que tenham sido violadas. Após uma violação a mulher teme o sexo oposto. Retrai-se perante o toque de qualquer homem. O acto sexual evoca a memória da violação. Contudo, o Natrium Bromatum não é apenas receitado a mulheres que tenham sido violadas. Em muitos casos, as raparigas jovem têm receio da sua primeira relação amorosa. Isto pode ocorrer quanto crescem num ambiente com discussões frequentes entre a mãe e o pai em que a mãe assumiu muitas vezes o papel da vítima. Estas raparigas têm tendência a formar relações platónicas e não permitem que o seu parceiro as aborde sexualmente com o intuito de fazer amor. Noutros casos, podem sentir uma dor aguda durante a relação sexual. Natrium Bromatum é um excelente medicamento para estes casos. Noutros casos, a escolha de homens (ou mulheres, respectivamente) pode não despoletar o medo de violação na relação. Por exemplo, o caso de uma rapariga cujas relações até à data têm sido sempre com homens homossexuais aponta para o medicamento Natrium Bromatum. A figura masculina assusta uma mulher Natrum Bromatum. Por conseguinte, ela escolhe homens passivos, delicados ou homossexuais. Por outro lado, aborrece-se facilmente numa relação destas. Deseja homens inatingíveis de quem tem medo mal os conhece. Natrium Bromatum também pode revelar-se muito útil em casos de homossexualidade masculina que se deve a um medo do sexo oposto. O medo das mulheres leva os homens a procurarem relações homossexuais. (Como é óbvio, o mesmo aplica-se às mulheres). Nesta altura, vou regressar à descrição do caso em questão. Antes de receitar Natrium Bromatum procurei informações relevantes na matéria médica homeopática, mas não consegui localizar quaisquer estudos com tais informações. Neste caso, a receita não se baseou nos tradicionais ensaios homeopáticos experimentais, mas sim no pensamento sintético. O resultado foi tão extraordinário que me levou a começar a processar as informações do historial dos doentes de forma sintética. Começou a formar-se uma nova metodologia na minha mente. Já não estava decidido a encontrar um medicamento na matéria médica existente para receitar à doente. Estava meramente a registar as principais inseguranças do doente e a tentar descobrir os conceitos que representavam.

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Durante este processo, descobri que muitos dos doentes precisavam de medicamentos que não existiam. Foi então que debati as minhas observações com o farmacêutico Ioannis Efstathiou, que estava disposto a prepará-los de forma a podermos testá-los. Os resultados dos testes destes medicamentos foram verdadeiramente extraordinários. Subsequentemente, durante os últimos anos, centenas de novos medicamentos foram preparados pelo Ioannis e a Christiana Efstathiou e formaram a base para a aplicação desta nova metodologia.

Caso 2

Na mesma altura, estava a ser consultado por outro doente que sofria de dores de cabeça. Estas tinham melhorado com Natrium Muriaticum. Contudo, havia duas características que não tinham melhorado. A primeira era o facto de sentir a necessidade de fumar canábis para reduzir o stress. A segunda era a sua preferência exclusiva por manter relações com homens. Não estava satisfeito com o progresso do seu tratamento porque também queria ver mudanças nestas características. Perguntei-lhe então porque não gostava de ter relações com mulheres. Ele disse-me que sempre que uma mulher o tenta seduzir sexualmente, sente um aperto no estômago. Existia um medo de mulheres dentro dele. Quando lhe pedi para me descrever a sua mãe, disse que ela era muito punitiva, que lhe batia frequentemente e tinha medo dela. Nessa altura, começava a conhecer mais aprofundadamente os compostos de bromo. O caso anterior de Natrium Bromatum era bastante recente e estava convencido de que este doente precisava do mesmo medicamento, pelo que lho receitei. Visitou-me alguns meses mais tarde para me dizer que tinha tido uma relação permanente com uma mulher e parara de usar canábis porque já não se sentia tão ansioso. Vi-o outra vez um ano mais tarde na véspera do seu casamento. Fez-me notar o quanto este medicamento tinha mudado a sua vida e que queria voltar a tomá-lo. Muitos pensam que o estudo de novos medicamentos é desnecessário. Mas o que teria acontecido neste caso se não se tivesse receitado Natrium Bromatum? Haveria a possibilidade de outro sal Natrum ter produzido resultados tão extraordinários? Porque é que o Natrium Muriaticum não teve um efeito tão profundo? Agora é evidente, com base na nossa experiência, que administrar uma medicamento parcialmente semelhante apenas ajuda parcialmente, mas não pode proporcionar um cura profunda.

Caso 3

Durante a minha primeira visita a Moscovo, o organizador do seminário tinha marcado alguns doentes para eu examinar de forma a demonstrar na prática a metodologia que estava a ensinar. Uma médica que assistia ao seminário trouxe-me o seu filho de três anos que tinha problemas no sistema respiratório. Adoecia frequentemente devido a infecções respiratórias e tinha dificuldade em respirar. Já lhe tinham sido administrados alguns medicamentos homeopáticos, mas estes não tinham produzido qualquer efeito. Foi extremamente difícil recolher o historial de uma criança pequena cujo idioma não falava. Contudo, durante o exame tive sorte porque reparei que o rapaz tinha uma

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tendência para bater constantemente na mãe. Perguntei-lhe se aquilo acontecia com frequência e ela respondeu que sim. Também me explicou que ele fazia aquilo sobretudo a ela. Perguntei-lhe se tinha medo de ser maltratada e ela disse que sim. Explicou-me que tinha um medo intenso de ser maltratada quando estava no ensino secundário. Foi nessa altura que os pais a enviaram para um colégio interno. Enquanto esteve lá sentia-se sozinha; sentia que não tinha família e que as crianças mais velhas a poderiam maltratar. Com base nesta informação receitei Magnesia Bromata tanto à mãe como ao filho. Este medicamento ajudou-os aos dois significativamente. A escolha do medicamento baseou-se no facto das crianças muitas vezes demonstrarem os mesmos perfis clínicos que os pais. Também se pensa que durante a gravidez algumas das emoções da mãe são transmitidas ao feto. Por isso, ao examinar a criança, perguntamos muitas vezes à mãe acerca do seu estado emocional durante a gravidez. Há casos em que reparámos que o estado psicológico da mãe deixou marcas no estado psicológico da criança. Neste caso em particular, a tendência do rapaz para maltratar a sua mãe estava associada ao medo de maus-tratos da mãe. Este é um dos casos em que a homeopatia clássica poderia parecer ineficaz. Contudo, neste caso receitar o medicamento correcto ajudou o doente. Magnesia Bromata é um dos medicamentos que quase nunca seriam receitados por um homeopata tradicional. No entanto, para um homeopata cognitivo, é uma escolha óbvia.

Caso 4

Este é o caso de uma doente que tinha medo de vir a magoar o seu filho. Sentia um impulso para atirar o filho para a lareira ou pela janela. Sentia uma culpa terrível por ter estes pensamentos. Embora estivesse sob tratamento homeopático há um ano, não se verificava qualquer melhoria. Associava estes pensamentos às dificuldades na sua relação com o marido. Descrevia-o como rígido, reservado, ligado à sua mãe e sem iniciativa própria. Tinha muitos ciúmes dela e existiam sempre atritos entre eles. Ela é a quarta filha de um casal que queria um rapaz. Quando nasceu, não era desejada pelos pais. Sentiu uma rejeição intensa. Disse que foi a maior desilusão dos seus pais e que eles nunca lhe deram a atenção que davam às outras filhas. Queriam trocá-la por um primo. Viveu num colégio interno desde os treze anos até à conclusão do ensino secundário. As condições em que vivia eram muito severas e especialmente rigorosas. Após as férias, sentia-se sempre como uma órfã. Também sentia que nunca teve uma mãe. De um modo geral, dizia que sentia uma grande desilusão. O medicamento que a ajudou a vencer a sensação de orfandade foi Magnesia Muriatica. Todos os sintomas físicos de que se queixava também foram aliviados. A sensação de orfandade da doente fora adquirida quando ela era um feto. Esta ideia viria a ser reforçada pelas várias experiências da sua vida. Quando uma mãe não deseja a gravidez e tenta provocar um aborto, é o suficiente para criar a noção de orfandade no feto, se as suas tentativas falharem. Houve casos em que

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as inseguranças de orfandade se desenvolveram exclusivamente devido a este facto sem quaisquer outros incidentes após o nascimento.

Caso 5

Foi-me trazida uma criança de doze anos que sofria de depressão há alguns meses. A criança era muito reservada e não respondeu a nenhuma das minhas perguntas. A única resposta que deu quando lhe perguntei como se sentia foi: “Sinto uma grande desilusão. Sentir-me-ia muito aliviado se tomasse um veneno.” Durante o resto da sessão ele ficou a olhar para o chão e apesar dos meus esforços para lhe extrair algumas palavras, não disse nada. Apenas interrompeu a minha conversa com a sua mãe para lhe dizer que queria ir embora. A mãe descreveu-o como uma pessoa particularmente introvertida que não falava sobre os seus problemas e que se desilude facilmente. Tem uma relação muito má com o seu pai. É aplicado na escola, mas tem dificuldade em fazer amigos com outras crianças. Quando era pequeno era disléxico e foi tratado. A mãe sublinha que isto o afectou muito psicologicamente. Com base nesta descrição, determinei que a criança tinha as seguintes características:

1. Desiludia-se facilmente. 2. Tinha uma relação muito má com o seu pai. 3. Tinha uma sensação de inferioridade e desigualdade devido à sua dislexia.

É compreensível que a sua sensação de inferioridade e desigualdade se agravassem durante a puberdade. Consequentemente, a depressão surgiu no início da puberdade. Era óbvio que ele precisava de um medicamento homeopático que contivesse cloro, cálcio e boro. Pedi a Christiana Efstathiou que mo preparasse. O medicamento recebeu o nome de Borium Muriaticum Calcareatum e foi administrado à criança. A melhoria da criança após tomar este medicamento foi notável. Durante os primeiros dias do tratamento a depressão diminui, o seu comportamento melhorou, e ele tornou-se mais falador e sociável. A relação com o seu pai também melhorou. Este é outro caso que teria sido difícil de tratar, se é que tal fosse possível, empregando a abordagem tradicional. É um dos muitos casos que demonstram a abertura de novos horizontes pela aplicação da homeopatia cognitiva. Até à data, foram preparados mais de cento e cinquenta medicamentos com base na metodologia descrita neste caso. Inicialmente, o medicamento era preparado para um doente específico para o qual se determinou ser necessário. Após o primeiro caso, muitos destes medicamentos foram receitados a vários outros doentes.

Caso 6

Um homem de 26 anos, funcionário do sector privado, apresentava sintomas de psoríase nos últimos dois anos. Fora tratado por um dermatologista, bem como por um

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homeopata sem quaisquer resultados. A erupção tinha alastrado por todo o seu corpo. Devido a este problema teve de parar de trabalhar durante os últimos dois meses. Disse que ultimamente estava particularmente tenso. Tinha uma agenda muito preenchida. Sentia-se muito tenso no trabalho e incapaz de relaxar. É muito trabalhador. Gosta de ser o melhor. No trabalho, esforça-se muito para ser apreciado. A amizade é muito importante para si. Anseia pelo apreço dos seus amigos e faz tudo para o conquistar. Foi-lhe administrado Aurum Sulfuratum Kalinatum em várias potenciações. No espaço de um mês, a erupção tinha diminuído significativamente. Passados dois meses estava completamente curado. Desde então o problema não reapareceu. Este caso demonstra uma cura notável após a receita de um novo medicamento. Aurum Sulfuratum Kalinatum é um dos novos medicamentos concebidos segundo a metodologia da Homeopatia Cognitiva. É um medicamento que usámos várias vezes. A sua principal característica, que é muito comum no ser humano, é a necessidade de criar para obter o apreço dos amigos ou da família. Por isso, acreditamos que nos próximos anos se tornará num dos medicamentos mais utilizados da matéria médica homeopática.