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HOMENS COM DEFICIÊNCIA: UM OLHAR SOBRE SEXUALIDADES, MASCULINIDADES E DIREITOS SEXUAIS Kalline Flávia S. Lira 1 José Roniero Diodato 2 RESUMO: Ao pensar sobre o que é normal na sexualidade humana, a resposta certamente é ambígua e complexa, porque o conceito de normalidade é social e historicamente construído. Ao cruzar a questão da deficiência com a da sexualidade, percebemos que frequentemente a sociedade tem a noção errônea de que a sexualidade das pessoas com deficiência é por natureza problemática, ou até mesmo patológica, tendem a serem vistos de forma infantilizada, a serem protegidos e cuidados. Neste estudo verificamos a percepção sobre os direitos sexuais dos próprios homens com deficiência. A metodologia utilizada consistiu de entrevistas semiestruturadas com cinco homens com diferentes deficiências, abordando temas relativos à sexualidade, abrangendo informações, valores e comportamentos. Os resultados mostram que eles consideram seu padrão sexual como normal e comum, mas sabem do preconceito da sociedade, visto que a nossa cultura tende a reduzir a sexualidade à função reprodutiva e genital, sem levar em conta a importância dos sentimentos e emoções, e que cada uma pode viver sua sexualidade de acordo com o que as circunstâncias lhe permitem. Em relação aos direitos sexuais eles apontam como principais dificuldades a acessibilidade aos serviços e informações, além da falta de qualificação dos profissionais sobre a saúde sexual e reprodutiva da pessoa com deficiência. Concluímos que é imprescindível questionar os padrões da sexualidade e da deficiência, no intuito de buscarmos um exercício livre, consciente e responsável da sexualidade, para além da mera reprodução de papéis sociais ideologicamente estabelecidos como normais, e assim construir uma sociedade inclusiva e efetivamente democrática. Palavras-chave: Homens. Deficiência. Direitos sexuais. 1 INTRODUÇÃO A sexualidade é inerente ao ser humano e se manifesta de diferentes formas. Aprendemos, desde muito cedo, que a sexualidade é algo natural e inato ao ser humano. Esta ideia está arraigada na perspectiva biológica (órgãos genitais) e nos valores sociais que definem o que é masculino e o que feminino. 1 Psicóloga. Doutoranda em Psicologia Social (UERJ). Mestre em Direitos Humanos (UFPE). Pós-graduada em Educação Especial (Universo). 2 Pedagogo. Intérprete de Libras do Núcleo de Acessibilidade (UFPE). Graduando em Letras-Libras. Anais do XIV Congresso Internacional de Direitos Humanos. Disponível em http://cidh.sites.ufms.br/mais-sobre-nos/anais/

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HOMENS COM DEFICIÊNCIA: UM OLHAR SOBRE SEXUALIDADES,

MASCULINIDADES E DIREITOS SEXUAIS

Kalline Flávia S. Lira1

José Roniero Diodato2

RESUMO:

Ao pensar sobre o que é normal na sexualidade humana, a resposta certamente é ambígua e

complexa, porque o conceito de normalidade é social e historicamente construído. Ao cruzar a

questão da deficiência com a da sexualidade, percebemos que frequentemente a sociedade tem

a noção errônea de que a sexualidade das pessoas com deficiência é por natureza

problemática, ou até mesmo patológica, tendem a serem vistos de forma infantilizada, a serem

protegidos e cuidados. Neste estudo verificamos a percepção sobre os direitos sexuais dos

próprios homens com deficiência. A metodologia utilizada consistiu de entrevistas

semiestruturadas com cinco homens com diferentes deficiências, abordando temas relativos à

sexualidade, abrangendo informações, valores e comportamentos. Os resultados mostram que

eles consideram seu padrão sexual como normal e comum, mas sabem do preconceito da

sociedade, visto que a nossa cultura tende a reduzir a sexualidade à função reprodutiva e

genital, sem levar em conta a importância dos sentimentos e emoções, e que cada uma pode

viver sua sexualidade de acordo com o que as circunstâncias lhe permitem. Em relação aos

direitos sexuais eles apontam como principais dificuldades a acessibilidade aos serviços e

informações, além da falta de qualificação dos profissionais sobre a saúde sexual e

reprodutiva da pessoa com deficiência. Concluímos que é imprescindível questionar os

padrões da sexualidade e da deficiência, no intuito de buscarmos um exercício livre,

consciente e responsável da sexualidade, para além da mera reprodução de papéis sociais

ideologicamente estabelecidos como normais, e assim construir uma sociedade inclusiva e

efetivamente democrática.

Palavras-chave: Homens. Deficiência. Direitos sexuais.

1 INTRODUÇÃO

A sexualidade é inerente ao ser humano e se manifesta de diferentes formas.

Aprendemos, desde muito cedo, que a sexualidade é algo natural e inato ao ser humano. Esta

ideia está arraigada na perspectiva biológica (órgãos genitais) e nos valores sociais que

definem o que é masculino e o que feminino.

1 Psicóloga. Doutoranda em Psicologia Social (UERJ). Mestre em Direitos Humanos (UFPE). Pós-graduada em

Educação Especial (Universo). 2 Pedagogo. Intérprete de Libras do Núcleo de Acessibilidade (UFPE). Graduando em Letras-Libras.

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No entanto, a sexualidade humana não se resume à biologia. Ela é formada, também,

por aspectos sociais e culturais e estão conectados ao desejo, à história, à experiência

individual e aos marcadores culturais de cada sociedade. E por isso, ainda é cercada por

diversos tabus.

Um desses tabus refere-se à sexualidade das pessoas com deficiência. De forma

geral, há um modo preconceituoso de compreender a sexualidade das pessoas com deficiência

como sendo desviante dos padrões considerados normais. Este pensamento pode ser um

grande obstáculo para a plena realização da vida afetiva e sexual dos/as que são

estigmatizados/as pela deficiência.

A discussão sobre a sexualidade da pessoa com deficiência é complexa e não

podemos desvincular o fenômeno das questões de gênero. Nascimento (2004) pontua a

existência de padrões estereotipados de comportamentos em função do gênero masculino e

feminino. No caso do gênero masculino, estão presentes condutas como: independência

emocional e financeira, força física, rudeza, insensibilidade, agressividade e violência.

Para Nascimento (2004), a “masculinidade” está atrelada a outras dimensões sociais

como raça, etnia, poder econômico e nível educacional. Além dessas, somam-se preconceitos

e discriminações relativos à condição da deficiência, contrapondo-se aos padrões do corpo

perfeito, belo e saudável, viril e reprodutor.

Na nossa sociedade, o homem precisa provar cotidianamente sua condição,

reforçando sua “masculinidade”. Ao cruzar a questão da deficiência com a da sexualidade,

percebemos que frequentemente a sociedade tem a noção errônea de que a sexualidade das

pessoas com deficiência é por natureza problemática, ou até mesmo patológica. Em pleno

século XXI, acredita-se ainda que a pessoa com deficiência não tem sexualidade, tendem a

serem vistos de forma infantilizada, até mesmo protegidos e cuidados.

Neste estudo entrevistamos homens com diferentes deficiências e buscamos verificar

a percepção deles sobre a sua sexualidade e os seus direitos sexuais, com o intuito de

desmistificar alguns tabus sobre o tema. Este artigo se justifica pela escassez (ainda) de

pesquisas científicas que buscam compreender a interlocução das questões gênero-

sexualidade-deficiência, temáticas ainda cercadas de pré-conceitos e necessitando serem

problematizadas e resignificadas.

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2 DEFICIÊNCIA (S) E PADRÃO SOCIAL

Ao falarmos sobre deficiência, é preciso compreender que ser ou estar “deficiente”

quase sempre se refere a outras pessoas que são consideradas sem “deficiência”

(AMIRALIAN, 1986). Assim, a deficiência é um fenômeno socialmente construído, pois

depende do momento histórico e cultural. Em geral, a avaliação social que se tem da

deficiência é a de que ela marca um corpo não funcional e imperfeito, e que atribui ao sujeito

uma desvantagem social (AMARAL, 1995).

É possível enumerar algumas “fases” percorridas pelas pessoas com deficiência ao

longo dos séculos. A primeira fase foi a da execução. Nas sociedades primitivas não havia

pessoas com deficiência porque eram mortas ou abandonadas. A segunda fase foi a do

misticismo. Acreditava-se que as pessoas com deficiência eram possuídas por espíritos

malignos, sendo assim um objeto de temor religioso, ou ainda considerava-se a deficiência

como um castigo infligido pelos deuses. Acreditavam também que a pessoa era detentora de

poderes provenientes dos demônios, e suas impurezas e pecados expressavam-se pelas

“marcas” – os sinais corporais que cristalizavam a evidência de maus espíritos (AMARAL,

1994).

A terceira fase, na Idade Média, foi a do enclausuramento. A cegueira, por exemplo,

foi usada como castigo ou ato de vingança, assim como pena judicial, e era aplicada como

castigo para crimes nos quais havia participação dos olhos.

O fim do século XVIII e começo do XIX marcaram uma mudança e um avanço na

história das pessoas com deficiência. Na 4ª fase, a da exclusão, foi realizada através da

expulsão, afastamento e desaparecimento social. Teve início a institucionalização dos corpos

anormais em hospitais, prisões e até mesmo em escolas.

No início do século XX, a segregação havia-se expandido e consolidado como

modelo de atendimento à pessoa com deficiência, mas foi somente na segunda metade deste

mesmo século, que se passou a pensar na possibilidade de inserção na sociedade. Segundo

Santos (1995), o movimento de integração na Europa surgiu como decorrência histórica de

três fatores: das duas Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945), do fortalecimento do

movimento pelos direitos humanos e do avanço científico. Com isso deu-se o início da 5ª fase,

a da integração. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, datada em 1948, na época da

Segunda Guerra Mundial, não foi ao acaso. Era um momento em que as pessoas consideradas

como “não humanas” sofriam as mais variadas violências e privações. Era, portanto, o

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momento ideal de tentar, de forma mais ampla possível, garantir os direitos a todas as

pessoas.

Por causa dos mutilados de guerra, foi necessário criar programas sociais para

reintegrar essas pessoas à sociedade. Além disso, as organizações dos direitos humanos

passaram a se preocupar em garantir que essas pessoas, depois de reabilitadas, pudessem, de

fato, reintegrarem-se socialmente. A partir dos anos 1960, a demanda em relação à pessoa

com deficiência "se dará no sentido de integrá-los com base em seus direitos enquanto seres

humanos e indivíduos nascidos em dada sociedade" (SANTOS, 1995, p. 22).

O princípio filosófico/ideológico que norteou a definição e as práticas de integração

foi o da normalização, que visou oferecer às pessoas com deficiência condições de vida iguais

às da sociedade em geral. Conforme Santos (1995), a integração neste período baseava-se,

sobretudo, no modelo médico de deficiência, que tinha como finalidade a adaptação da pessoa

com deficiência às exigências ou necessidades da sociedade como um todo.

Ainda de acordo com Santos (1995, p. 24), "até os anos 80 a integração desenvolveu-

se dentro de um contexto histórico em que pesaram questões como igualdade e direito de

oportunidades". Durante a década de 1980, concretizou-se a integração da pessoa com

deficiência. Em 1981, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Ano e a Década da

Pessoa Deficiente, abrindo espaço nos meios de comunicação para uma maior conscientização

da sociedade. Acredita-se que o processo de integração, que buscava normalizar a pessoa com

deficiência e atribuir-lhe a responsabilidade de adequação ao meio social, não propõe,

conforme constata Mantoan (1998) nenhuma mudança na estrutura social, cabendo ao

indivíduo a responsabilidade de se "adequar" ao sistema. Entretanto, as práticas

integracionistas demonstraram que as pessoas com deficiência não precisavam e nem deviam

ser excluídas socialmente.

Apenas a partir da década de 1990, passou-se à 6ª fase, a era da inclusão, em que as

exigências não se referem apenas ao direito da pessoa com deficiência à integração social,

mas sim, ao dever da sociedade, como um todo, de se adaptar às diferenças individuais.

Segundo Sassaki (1998, p. 09), "a sociedade inclusiva começou a ser construída a partir de

algumas experiências de inserção social de pessoas com deficiência, ainda na década de

oitenta". Conforme o autor, a inclusão social é um processo que contribui para a construção

de um novo tipo de sociedade através de transformações, sejam elas pequenas ou grandes,

tanto nos ambientes físicos quanto na mentalidade das pessoas, e assim também na própria

pessoa com deficiência.

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A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, ratificada

através do Decreto nº 6.949/2009, é o primeiro tratado internacional a vigorar com status

constitucional no Brasil, e preconiza a responsabilidade e o compromisso do governo e de

toda a sociedade na efetivação dos direitos das pessoas com deficiência.

A legislação mais atual no Brasil sobre as garantias da pessoa com deficiência é a Lei

Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI – Lei nº 13.146/2015). Após passar 15

anos tramitando no Senado, esta lei trouxe um grande avanço na definição da deficiência.

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo

prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com

uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade

em igualdade de condições com as demais pessoas.

Anteriormente chamados de deficientes, portadores de deficiência ou de

necessidades especiais, a lei já registra a nomenclatura correta e mais aceita dentro do

segmento: PESSOA COM DEFICIÊNCIA, posto que, estamos, antes de qualquer coisa,

falando de pessoas. Com essa definição, a LBI muda a visão sobre o conceito de deficiência –

que deixa de ser atribuída à pessoa, e passa a ser vista como consequência da falta de

acessibilidade que toda a sociedade apresenta.

Nessa perspectiva, o problema não é, por exemplo, a pessoa ser cega – é não ter

sinalização em braile, piso tátil, sinal sonoro; o problema não é a pessoa ser surda – é não

garantir intérpretes de libras nos mais variados espaços, sejam públicos ou privados; o

problema não é a pessoa usar uma cadeira de rodas – é não ter rampas de acesso ou banheiros

adaptados.

Diante desse contexto histórico, a compreensão das deficiências mudou

completamente. Antes entendida por um modelo biomédico – que reconhece a doença ou

limitação como causa primeira da desigualdade social –, passou a ser compreendida através

de um modelo social, em que a deficiência é vista como uma manifestação da diversidade

humana e a opressão como resultado de sociedades não inclusivas.

A normalidade, entendida ora como uma expectativa biomédica de padrão de

funcionamento da espécie, ora como um preceito moral de produtividade e

adequação às normas sociais, foi desafiada pela compreensão de que deficiência não

é apenas um conceito biomédico, mas a opressão pelo corpo com variações de

funcionamento (DINIZ; BARBOSA; SANTOS, 2009, p. 65).

Assim, para o modelo social a causa da deficiência está na estrutura social. Para o

modelo médico, está no indivíduo. A ideia básica do modelo social, portanto, é que a

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deficiência não deve ser entendida como um problema individual, mas uma questão da vida

em sociedade.

3 SEXUALIDADE(S) VERSUS MASCULINIDADE(S)

A sexualidade humana se manifesta cultural e historicamente de maneiras distintas,

ou seja, cada sociedade considera determinados comportamentos adequados ou não, e decide

o que deve ser incentivado ou reprimido.

Inicialmente é importante frisar que o conceito de sexualidade não é sinônimo de

sexo. Para Chauí (1985) sexo limita-se à genitalidade; sexualidade é um conceito mais amplo

que envolve afetividade, prazer, erotismo, valores, concepções e atitudes sob a influência de

diferentes culturas, considerando os aspectos históricos.

A partir da metade final do século XIX passou-se a prestar mais atenção à

sexualidade devido às transformações políticas, culturais, sociais e econômicas atreladas às

revoluções industriais e burguesas, que também trouxeram uma nova divisão sexual do

trabalho e os ideais feministas. Com isso, foi constituído um conjunto de condições para que

os corpos, a sexualidade, a existência de homens e mulheres fossem significados de outro

modo: um corpo sexuado (LAQUEUR, 1990).

Nesta nova concepção da sexualidade prestou-se mais atenção aos corpos, às suas

estruturas e características materiais e físicas. Antes, a explicação para os relacionamentos

entre homens e mulheres era baseada na Bíblia e nos textos sagrados, em que o corpo não

tinha importância. Agora passava a ter um papel primordial, e o corpo passou a ser o que dá

origem, se tornou causa e justificativas das diferenças.

Para Foucault (1988), na sociedade em que vivemos, somos sujeitos de uma

sexualidade que tem poder de normalizar e controlar nossa relação com o corpo. A sociedade

cria um conjunto de regras, normas, leis e atitudes sobre sexualidade, além de punir os

indivíduos que não seguem essas regras, que podem estar associadas a questões religiosas,

morais, jurídicas e/ou científicas.

Ainda segundo Foucault (1988), o que denominamos sexualidade é um produto

histórico de um discurso sobre a sexualidade que se engendrou de muitas formas, uma

invenção tardia do século XIX. Assim, a sexualidade é uma construção história e cultural, que

correlaciona comportamentos, linguagens, representações, crenças, identidades, posturas, e

inscreve esses constructos no corpo por meio de estratégias de poder/saber sobre os sexos.

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Na história da sexualidade ocidental, o prazer tem sido caracterizado como pecado,

doença e até mesmo como perversão. Com a inserção da medicina nas questões relacionadas à

sexualidade, começou a ocorrer uma padronização da sexualidade e redução desta a um ciclo

de resposta sexual normal (SHAKESPEARE, 1998) e também a um imperativo do orgasmo.

Com isso, pessoas com deficiência que não conseguem completar o ciclo de resposta sexual

são caracterizadas como portadoras de um distúrbio.

De acordo com Strickler (2001) há um “cobertor virtual de silêncio” ao se negar a

sexualidade da pessoa com deficiência, pois para algumas pessoas da sociedade e familiares a

sexualidade está presente, mas é melhor que fique “esquecida” e se evite falar no assunto,

segregando assim esses indivíduos, acreditando que as pessoas com deficiência são seres

assexuados. No entanto, a sexualidade se desenvolve em todos os indivíduos, com e/ou sem

deficiência – o que difere é a expressão da sexualidade. Essas ideias resultam em menor

autonomia e em poucas possibilidades de escolhas, ou seja, nega-se a possibilidade de que

pessoas com deficiência possam exercer sua sexualidade de forma plena e prazerosa.

Numa sociedade patriarcal como nossa, que normaliza e controla o corpo, o que é, de

fato, ser homem? Segundo Nolasco (1997), geralmente responde-se esta pergunta a partir de

uma representação do “homem de verdade”. Para o autor, meninos e meninas crescem sob a

crença de que mulher e homem são o que são por natureza. Neste modelo de masculinidade

que deve ser seguido, o “homem de verdade” é solitário e reservado no que se refere às suas

experiências pessoais, e superficial e prático na realização de suas atividades.

Embora existam diferenças do ser homem e ser mulher no tempo, no espaço e até

mesmo dentro das classes sociais, Nolasco (1995) ressalta que os homens ainda utilizam

padrões tradicionais para construção de sua identidade sexual, como: poder, agressividade,

iniciativa e sexualidade incontrolada.

Segundo Damatta (1997), um dos aspectos da insegurança de ser homem é o medo

da impotência. Para o autor, há uma preocupação de falhar na hora H, e neste sentido, mais

importante do que ter um pênis é saber se relacionar. Damatta (1997) considera que relacionar

é descobrir que “ser homem” não é o mesmo que “sentir-se como homem” – ou seja, o

homem precisa receber de uma mulher o atestado de que se é verdadeiramente “homem”.

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Assim, a construção da sexualidade masculina tem sido marcada historicamente pela

virilidade (potência e quantidade) e pela agressividade (poder, dominação sobre as mulheres).

Quanto à masculinidade3 hegemônica, Seffner (2003, p. 137) afirma que:

Poucos homens detêm o conjunto completo dos atributos prescritos para a

masculinidade hegemônica, e talvez se possa dizer que são mesmo pouco aqueles

que conseguem reunir uma quantidade razoável daqueles atributos. Desta forma,

muitos homens mantêm alguma forma de conexão com o modelo hegemônico que

não cumprem na totalidade. Investir nestas características que permitem a conexão

com o modelo dominante torna-se importante como forma de desfrutar dos

privilégios àqueles concedidos.

Essa vontade de normalidade e de se adequar as expectativas, nos acompanha desde

a infância, já que vivemos numa cultura que tende a padronizações, que define os modos de

ser corretos e os que são desviantes. Com isso, os comportamentos (incluindo os sexuais), em

vez de realidades naturais, são realidades sociais produzidas historicamente através de

relações de saber-poder e de dispositivos sociais, econômicos e culturais (FOUCAULT,

1988).

Se a sociedade impõe padrões de normalidade em relação às condutas sexuais,

também estabelece padrões para o desenvolvimento (cognitivo, motor, da linguagem, etc.)

que não estão simplesmente ligados à saúde, mas à ideia de perfeição – corpo perfeito, gozo

perfeito, o “homem perfeito”. A hipótese é que as deficiências identificadas no corpo afetarão

a vida sexual e a vivência da sexualidade dessas pessoas “imperfeitas”. Percebemos que a

questão da normalidade em relação à sexualidade não é fácil. E para as pessoas com

deficiência possuir todos os atributos do “homem de verdade” torna-se mais complicado.

Disso decorre o agravamento da discriminação e a rejeição social, como se homens com

deficiência fossem “menos homens”, porque (às vezes) não atingem o padrão social de

masculinidade.

Um último ponto, que merece destaque, se refere aos direitos sexuais e reprodutivos

da pessoa com deficiência. O artigo 25, do Decreto 6949/2009, trata dos direitos à saúde, e

enfatiza os direitos à saúde sexual e reprodutiva. A Convenção garante o direito de casar e

constituir família, bem como a garantia do acesso a informações sobre reprodução e

planejamento familiar e aos meios necessários para exercer esses direitos. No entanto, como

afirmaram nossos entrevistados, a garantia desses direitos ainda está longe de ser efetivada.

3 Apesar de estarmos dando visibilidade à construção das masculinidades, ressaltamos que não há estudo/análise

de homens e mulheres separadamente, pois a elaboração de conceitos como masculinidade/feminilidade só é

possível na relação de reciprocidade entre eles/elas.

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4 SEXUALIDADE DOS HOMENS COM DEFICIÊNCIA: OPRESSÃO E

VULNERABILIDADE

Esta pesquisa tem como intuito analisar as percepções sobre sexualidade e direitos

sexuais e reprodutivos de homens com deficiência. Para efeitos da pesquisa, a abordagem

utilizada foi qualitativa. Segundo Minayo (2012) a pesquisa qualitativa é aquela que trabalha

com “o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das

atitudes” (p. 21).

Para coleta de dados, o instrumento utilizado foi a entrevista semiestruturada. A

transcrição foi realizada respeitando com fidedignidade o vocabulário utilizado pelos

entrevistados, preservando a forma estrutural da Língua Brasileira de Sinais (Libras), já que

entrevistamos três homens surdos. Ressaltamos que a Libras possui estrutura gramatical

própria, independente da Língua Portuguesa, por isso, percebemos nas falas dos entrevistados

surdos uma discrepância quanto a organização gramatical de suas ideias. Strobel e Fernandes

(1998) justificam este fenômeno a partir da estrutura sintática da Libras, pois “a ordem dos

sinais na construção de um enunciado obedece regras próprias que refletem a forma de o

surdo processar suas ideias, com base em sua percepção visual-espacial da realidade” (p.15).

Acreditamos, no entanto, que a fala destes entrevistados está compreensível para qualquer

pessoa.

Participaram da pesquisa cinco homens, com diferentes tipos de deficiência. Os

entrevistados são identificados pela letra “E” e por números de 1 a 5. O Quadro 1 apresenta as

principais características dos entrevistados.

Quadro 1 – Características dos Entrevistados

E1 E2 E3 E4 E5 Tipo de

deficiência Visual Auditiva Auditiva Auditiva Física

Idade 28 37 28 31 29

Estado Civil Solteiro Solteiro Solteiro Casado Solteiro

Escolaridade Superior

completo

Superior

incompleto

Superior

incompleto

Superior

incompleto Médio completo

Profissão Publicitário

Instrutor de

Libras Estudante

Profº Instrutor

de Libras Artista popular

Orientação

Sexual Heterossexual Homossexual Heterossexual Heterossexual Heterossexual

Fonte: Elaborado pelos/as autores/as (2017)

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A primeira categoria de análise das entrevistas foi sexualidade/relacionamentos

amorosos. Nesta categoria, os entrevistados responderam sobre o que é importante e as

maiores dificuldades em um relacionamento amoroso.

E1 – As barreiras são as mesmas de qualquer outra pessoa, apenas com a atenuante

das barreiras atitudinais [...]. É bem comum ouvir frases assim: “Mas ele é cego,

como vau ser se vocês tiverem um filho?”.

E2 – Namorar pessoas ouvinte difícil, mas eu ensinar Libras.

Segundo a fala dos entrevistados, ficou evidente a questão das barreiras sociais.

Conforme a LBI (BRASIL, 2015), as barreiras podem ser: comunicacionais – como no caso

de E2, em que a diferença no uso da língua aparece como um complicador dos

relacionamentos; atitudinais – como no caso de E1, em que o comportamento dos outros

frente à deficiência é depreciativa; urbanísticas; arquitetônicas; nos transportes; e

tecnológicas.

Nessa categoria, também perguntamos sobre as principais dúvidas no que refere ao

sexo/sexualidade e com quem eles conversam ou conversaram sobre o assunto.

E1 – Me perguntava como seria usar camisinha, tendo em vista que nenhuma

campanha pensava em audiodescrição, braile ou textos ampliados. [Conversei com]

Amigos e amigas, primos, colegas de trabalho.

E2 – Eu pensar beijar menina engravidar, depois aula ciência aprendi não verdade.

Eu não gosto mulheres, prefiro homem, perigo não tem engravidar. [...] Amigo

ajudar entender sexo.

E3 – Eu gozar perna pensar grávida! [...] Namorada minha primeira mulher, ensinar

mim.

E5 – [Conversei com] Minha mãe. Todas as dúvidas tirei com os relacionamentos.

A maioria dos entrevistados fala sobre sexo e/ou namoro com seus amigos, mas

também há situações em que conversam com familiares. O fato de apenas um referir à mãe

reforça a ideia de que, geralmente, os pais ignoram a possibilidade de seus filhos terem uma

vida amorosa e sexual como a maioria das pessoas.

Esse resguardo no espaço familiar fica mais óbvio pelas dúvidas expressadas pelos

entrevistados, como pensar que um beijo engravidaria uma mulher. No caso de E2,

relembramos a dificuldade com a língua, visto que muitas vezes nem a própria família usa a

Libras, apresentando-se como uma dupla barreira.

A segunda categoria a ser analisada foi a autoimagem. A pergunta explorava a

autopercepção como uma pessoa que pode ter relações sexuais. Ficou claro que os

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entrevistados têm uma autoimagem e uma autoestima positivas. Estas foram construídas com

base na educação familiar e nas relações sociais e interpessoais.

E1 – Hoje me entendo como um ser sexualmente ativo, sem qualquer tipo de

amarras relacionadas à minha condição de pessoa com deficiência.

E4 – Normal. Pessoas achar sou normal não, mas eu apenas surdo.

O desenvolvimento da sexualidade se dá por meio do modo que nos enxergamos,

mas também como percebemos que as pessoas nos enxergam. Por isso, a terceira categoria de

análise foi a percepção dos outros em relação à sexualidade dos entrevistados. Para isto, a

primeira perguntou versou sobre a como a família percebe a possibilidade de namoro e

relacionamentos sexuais.

E1 – Cresci numa família que tinha uma visão estreita, que impossibilitou qualquer

tipo de diálogo construtivo sobre sexualidade. Entretanto, como filho homem

sempre me foi apresentada uma responsabilidade de namorar mulheres, sempre ser o

“comedor”.

E3 – Meu pai, minha mãe, não falar nada mim. Nunca orientar.

E4 – Meu pai medo mulher aproveitar mim. Proibir eu fazer sexo.

E5 – Eles aceitam tranquilamente, encaram normalmente.

Mais uma vez, aparecem respostas opostas. Para a maioria, a família não soube

encarar com naturalidade a sexualidade dos filhos; para outros, transcorreu sem maiores

problemas. Relembramos a ideia de Strickler (2001) de que há um “cobertor virtual de

silêncio”, sendo mais fácil negar a existência da sexualidade da pessoa com deficiência. Por

outro lado, há uma exigência de que o homem, mesmo com deficiência, esteja nos padrões da

“masculinidade”, ou seja, ele tem que ser viril, potente, e ter muitas mulheres, como pontua

E1. Lembramos que para Seffner (2003), poucos (ou quase nenhum) homens conseguem

alcançar o perfil da “masculinidade hegemônica”.

A outra pergunta dessa categoria versou sobre a percepção dos pares

(companheiros/as) sobre a sexualidade deles.

E2 – Normal. Transar homem normal. Eu faço gesto, eles entendem.

E5 – Mulher julga pela aparência, acha que é complicado se relacionar com um

cadeirante. Elas dizem: “Você não tem o movimento que eu gosto”, não se importa

com o amor, independente da condição física.

Nos depoimentos ficou evidente, mais uma vez, a dualidade das experiências. Para

alguns foi mais tranquilo; para outros, houve mais dificuldade. A fala de E5 reflete o estigma

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que incide sobre as pessoas com deficiência, principalmente a física. Lembramos a noção da

sexualidade como controle e normatização de nossa relação com o corpo, baseada nos

pressupostos de Foucault (1988). Assim, a sociedade busca o “corpo perfeito”, e tudo que

foge ao padrão é considerado anormal e rejeitado.

Nesta categoria perguntamos ainda sobre a percepção de terceiros em relação ao

relacionamento de pessoas com deficiência.

E1 – Sim, na rua as pessoas estranham um casal onde haja uma pessoa cega. (fomos)

constantemente observados por um cara, que não estava acreditando que ali era um

casal. Bem inconveniente, mas isso é algo corriqueiro.

E5 – A maioria das pessoas me julga pela aparência, principalmente na relação

sexual. Acha complicado se relacionar com cadeirante. Sociedade julga pelo olhar.

A sociedade, de forma geral, ainda acredita que para uma pessoa com deficiência

seja impossível a realização plena da sexualidade. Shakespeare (1998) ressalta que esta

concepção é baseada numa ideia de que existe um ciclo de resposta sexual normal. E assim,

quem não tem a resposta esperada, é considerado problemático.

A última categoria analisou o acesso aos serviços de saúde e informações sobre

direitos sexuais e reprodutivos. Os direitos sexuais e reprodutivos são direitos humanos

fundamentais para a qualidade de vida e o exercício da cidadania de todas as pessoas. O

direito à sexualidade de forma prazerosa, satisfatória e segura, no geral, não fazem parte das

compreensões e expectativas construídas em relação às pessoas com deficiência. Nesta

categoria, perguntamos sobre a maior dificuldade para exercer os direitos sexuais e

reprodutivos e se há acessibilidade nos serviços.

E3 – Não tem intérprete no serviço.

E5 – Não dispõe de acessibilidade de forma alguma. As pessoas ficam abismadas se

vai pegar camisinha: “Pra quê se não vai usar? Se você não funciona, tu só vai ser

enrolado”. Nem acessibilidade, nem informação. Se quiser, tem que buscar nos

livros, pessoas mais experientes. O que a gente ouve é que cadeirante não precisa de

camisinha porque não tem ereção.

A falta de preparo dos profissionais de saúde sobre os direitos sexuais e reprodutivos

das pessoas com deficiência é evidente na fala dos entrevistados. Primeiro, a barreira

comunicacional: poucos serviços contam com intérpretes de Libras, e praticamente não

existem profissionais da saúde que dominem a língua. O direito à informação de forma

acessível é fundamental para que as pessoas com deficiência possam usufruir dos seus direitos

da melhor forma possível.

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Em segundo lugar, o desconhecimento dos direitos é refletido no preconceito por

parte dos profissionais, que não percebem a pessoa com deficiência como alguém com

autonomia e plena condição de ter relações sexuais. Para Shakespeare (1998), os estereótipos

sobre as pessoas com deficiência tornam a opressão sobre sua sexualidade mais profunda e

debilitante que outros grupos sociais que enfrentam discriminação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No contexto da sociedade em que vivemos o culto ao corpo perfeito está cada vez

maior. Por isso, apesar de muitos avanços na área, devemos reconhecer, infelizmente, que a

deficiência ainda é compreendida, pela maioria das pessoas, como um conjunto de diferenças

desvantajosas, o que é uma condição que agrava a discriminação e a rejeição social

(AMARAL, 1994).

A questão da deficiência é uma temática cada vez mais debatida. De forma geral,

deixou de ser vista como uma doença, a partir do modelo médico, para ser entendida como

uma expressão da diversidade do ser humano e como consequência das barreias sociais, a

partir de um novo modelo de enfoque social. No entanto, é percebida de formas diferentes a

depender da sociedade que falamos.

Durante muito tempo não se cogitou que as pessoas com deficiência apresentassem

necessidade e direito à experiência e à manifestação da sexualidade, e por isso foi negada

como se a deficiência eliminasse o desejo. Embora esteja mudando gradativamente, hoje têm

muitas pessoas que consideram as pessoas com deficiência como seres assexuados, e do

mesmo modo há aqueles que nunca tiveram oportunidade de conhecer seus direitos sexuais.

A partir das análises das entrevistas realizadas para este artigo, ficou evidente que é

fundamental a acessibilidade, e a eliminação das barreiras que as pessoas com deficiência

enfrentam no cotidiano no que se refere à sexualidade e reprodução, sejam barreiras físicas,

comunicacionais, atitudinais, entre outras. Os direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com

deficiência é uma área que necessita ser visibilizada e garantida nas leis, na educação, na

sociedade em geral, para familiares e pessoas que trabalham com pessoas com deficiência, na

medicina e para as próprias pessoas com deficiência terem conhecimento sobre seus direitos.

Assim, estudar a pessoa com deficiência sem conhecer seu contexto social, histórico

e familiar, não é possível. Os resultados mostram que a influência da família e sua rede social

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de apoio têm um impacto na autoestima dos indivíduos. Por outro lado, o não acolhimento da

família, pode ter como consequência um processo de discriminação e baixa autoestima.

Houve uma predominância nos discursos do sentimento de empoderamento em

relação à sua sexualidade, percebida pelos homens com deficiência como algo natural e sem

grandes diferenças em relação às das pessoas sem deficiência. Apesar de haver dinâmicas de

não aceitação da sexualidade por parte de alguns membros da família, ou de protecionismo

exacerbado, foi observada uma resiliência e os homens assumiram a responsabilidade de suas

vidas, incluindo a área sexual.

As declarações acerca das preocupações com a saúde sexual nos chamam a atenção e

corroboram para o entendimento da deficiência a partir de um referencial social, ou seja, as

principais limitações estão nos espaços públicos que ainda não são totalmente inclusivos. Os

profissionais de saúde não compreendem e não conseguem ver a sexualidade das pessoas com

deficiência como um direito humano básico, e mais uma vez estigmatizam essa população,

como se fossem sujeitos assexuados.

Desta forma, o presente estudo poderá contribuir para subsidiar novas práticas de

abordagens aos homens com deficiência, tendo em vista que a sociedade em geral, e

especialmente os profissionais de saúde, não parecem preparados para lidar com essa temática

e, principalmente, com a sexualidade da população com deficiência.

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