homenagem ao dia da vitÓria 8 de maio de...
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HOMENAGEM AO DIA DA VITRIA
8 DE MAIO DE 1945
Por mais terras que eu percorra No permita Deus que eu morra
Sem que volte para l Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza A vitria que vir (Refro da Cano do Expedicionrio)
MAX WOLFF FILHO
29 JUL 1911
12 ABR 1945
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O CARINHOSO
(Yvan Maia)
Houve na FEB um sargento que, em pouco tempo, pela sua coragem, simpatia e tantos
outros dotes morais, tornou-se conhecido dos Altos Comandos Brasileiro e Americano e de
quase toda Fora Expedicionria Brasileira Sargento WOLFF hoje um smbolo e quase uma
lenda.
Paranaense da cidade de Rio Negro, morando no Rio (GB), onde servia como "oficial de
vigilncia" na extinta Polcia de Vigilncia MAX WOLFF FILHO, foi convocado e
incorporado FEB como 3 Sgt, apresentando-se 2a. Cia. do 1/11-R-I. o Regimento
Tiradentes onde passou a comandar um G.C.
No Teatro de operaes, seus atos de bravura consciente, to frequentes e repetidos,
causavam espanto a todos que o conheciam, por verem, sempre a par de uma modstia quase
humildade (parecia pedir sempre desculpas por estar se destacando) equilbrio e serenidade,
disciplina e enorme noo do cumprimento do dever, de tal modo que o distinguiam de seus
pares e demais companheiros que ramos todos ns.
Quando ns, oficiais do seu Batalho, ao contatarmos com uma de suas incontveis
patrulhas, assumamos o comando, o acerto de seus conselhos, o respeitoso carinho, a calma e
a incansvel ateno que nos dispensava, ao mesmo tempo que aos demais companheiros,
procurando, sempre vigilante e preocupado com a nossa segurana, dar, durante todo o tempo,
a mais ampla cobertura, fez com que o chamssemos de "o carinhoso"!
Como voluntrio, desincumbiu-se das mais rduas tarefas e comandou patrulhas nas mais
arriscadas misses, sendo, por isso, promovido a 2 Sargento. Seus atos de bravura lhe
valeram condecoraes brasileiras (Cruz de Guerra, Campanha, Sangue, e Combate de 1a. Classe).
Logo no incio da nossa campanha foi agraciado pelo prprio Gal. Truscott, ento comandante
do V Exrcito Aliado, com a "Bronze Star Medal".
No primeiro ataque de toda a FEB, na tarde de 12/12/944, o Cap. Joo Tarciso Bueno,
emprestado ao nosso Batalho pelo Q.G. do Gal. Zenbio da Costa, frente da 1a. Cia., que
ento valentemente comandava, tombou gravemente ferido nas mediaes de ABETAIA, lugarejo
sinistramente famoso, enquistado nas fraldas do MONTE CASTELLO e por todos ns j
conhecido como o "Corredor da Morte". Fracassado o ataque, foi dada a ordem de retraimento
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tropa, que retornou s suas bases de partida, deixando entre muitos outros, em pleno Campo de
batalha, o nosso Cap. Bueno. Somente nessa ocasio, aps o escurecer, por 3 vezes, tentou o
Sgt Wolff recuperar o capito, s no conseguindo porque, alm da escurido da noite e
forte cerrao que ento caa, o Cap. Bueno se deslocara bastante do ponto em que fora
atingido. Procurando auxiliar um companheiro ferido, embora tambm o estivesse, rolara
pequena ribanceira, perdendo os sentidos em um crrego de guas geladas. Por esse motivo,
ficou ele impossibilitado de atender ou responder aos sussurados (pela proximidade do
inimigo) nas insistentes chamadas feitas pelo Wolff, por alguns homens da nossa Seo de
Sade que o acompanhavam e pelo Sd. Sergio Pereira, ordenana do Cap. Bueno. Foi este ltimo
que, j no dia seguinte, em mais uma tentativa, conseguiu encontr-lo e carreg-lo at as
nossas posies.
Por essa poca, resolvera o Cmte. do nosso Batalho Major Manoel Rodrigues de
Carvalho Lisboa formar um peloto de escol, composto s por voluntrios de todo o
batalho e destinado a atender s mais difceis e penosas misses, sob o comando valoroso do
intrpido Sargento Wolff. Logo aps sua criao, devido s suas caractersticas e
finalidades, foi por ns apelidado de "Peloto SS", numa caricata homenagem e pardia a essa
tropa especial do tedesco (alemo).
O combate de MONTESE iniciaria, como ao principal, a chamada "Ofensiva da
Primavera", cujo dia D, previsto para 12/4/944, foi adiado pelo Gal. Truscott devido s
condies metereolgicas desfavorveis ao indispensvel apoio da Fora Area Aliada, o que
s se tornou possvel na manh do dia 14.
s vsperas desse combate e em preparo ao mesmo, foram programados diversos
reconhecimentos, um dos quais sobre o ponto cotado 747, a SW de LEPORE e nas vizinhanas de
RIVA DE BISCIA, dois lugarejos tambm tristemente clebres pelos perigos que nos ofereciam
a uma simples aproximao. Para esse reconhecimento, feito em plena luz do dia, na manh do
fatdico 12 de abril e frente de seu peloto de bravos o j famoso "Pel SS" partiu o
Sgt Wolff, com a misso de: a) verificar se o inimigo j se retirara desse setor, nas
proximidades de MONTESE, conforme informaes colhidas pelo IV Corpo do V Exrcito, do
qual fazia parte a FEB; b) em caso negativo, contatar com esse inimigo, provocando-o a fim
de obrig-lo a se revelar em efetivo e em potencial de fogo. A partida se deu por volta das
10,30 hs de uma radiosa e ensolarada manh, que contrastava com a desagradvel sensao de
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sombrios pressgios que a muitos de ns assaltava; foi assistida por grande parte do nosso
Btl. e alguns do Alto Comando, inclusive um Correspondente de Guerra, todos cnscios da
gravidade e periculosidade da tarefa.
Acompanhamos passo a passo, uns poucos diretamente, do nosso melhor Observatrio, a
lenta progresso da patrulha. Foi assim que algumas horas depois, cerca de 13,15 hs, muito
aflitos e contristados, vimos seu destemido comandante cair numa cilada, em MASERNO,
localidade vizinha COTA 747, objetivo principal a ser alcanado. Num estreito corredor de
minas, que comeava a uns 15 metros do reduto inimigo que procurava surpreender, foi o Sgt
Wolff ferido pela exploso de uma dessas minas e, logo aps, quando embora j ferido se
preparava para atirar uma granada de mo a fim de desalojar os alemes da casa em que se
abrigavam, foi, pela segunda vez, atingido mortalmente no abdmen, por uma rajada de
"lourdinha" (metralhadora tedesca), disparada de uma janela do 1 andar da casa, tombando
definitivamente.
O cuidado que ele tivera, como sempre, antes de avanar sozinho alguns metros mais ao
encontro do seu fatal destino, de ordenar aos seus comandados que se aferrassem ao terreno
procurando permanecer abrigados, salvou-os da mesma sorte, posto que, vendo-o tombar
gravemente ferido, quisessem todos socorrlo; a enrgica ao do Sgt Nilton Jos Facion, 2
Sgt da C.C.I. e sub-comandante do "Pel SS", impediu-os de se atirarem inadvertidamente ao
encontro de um risco certo.
Mesmo assim, o catarinense Sd. Joo Estevam da Silva, na tentativa que fez de resgatar
seu comandante, caiu tambm mortalmente e, logo depois, foi ferido o prprio Sgt Facion.
Nessa altura, j obtivramos permisso do Major Lisboa para tentarmos socorrer, l mesmo, os
feridos e resgatar os mortos, se houvesse. S nos foi concedida com a condio de levarmos
capacete e braadeira com a Cruz Vermelha e com o auxlio de alguns dos nossos homens de
sade, o que fizemos imediatamente.
L chegando, assumimos o comando da patrulha e determinamos que continuassem todos
abrigados, enquanto nossos enfermeiros atenderiam aos feridos e ns faramos nova tentativa
para alcanarmos o Sgt Wolff e o Sd. Estevam; fizemos, ento, dois extensos lances e no
mais pudemos prosseguir, pois apesar de nossa "Cruz Vermelha", o inimigo no nos permitiu
nem mesmo localizar qualquer um dos dois que procurvamos, tal a intensidade da barragem de
fogo que anteps continuao do nosso avano. Se no conseguimos sequer avistar os nossos
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dois companheiros, pudemos, graas a Deus, retrair a patrulha com todos os demais feridos,
debaixo do fogo protetor da nossa Artilharia Divisionria, para cujos tiros funcionamos na
ocasio e com o auxlio do "Hand-talk" como "observador avanado", embora hostilizados sem
cessar pela fria do fogo inimigo que nos via escapar, assim, sua sanha.
Somente muitos dias passados, bem depois da tomada de MONTESE e consequente progresso
das nossas tropas em direo do histrico Vale do rio P, foi-nos possvel o resgate dos
corpos dos dois verdadeiros heris que deram suas vidas pela Ptria.
O Sargento Wolff foi promovido a 2 Tenente "post-mortem".
A ele, como aos demais que no voltaram com vida, a nossa saudade e a nossa gratido!
(Reproduo de texto extrado de uma pasta intitulada: Casos da FEB Contribuio de Expedicionrios cpias abril de 1973)
Respeitada a grafia da poca
(Centro de Documentao do Exrcito, hoje desativado)
Msica: "Legend", de R. Armando Morabito (com belssimo vocal feminino) Braslia, DF, 8 de maio de 2015.
http://www.suaaltezaogato.com.br
http://www.suaaltezaogato.com.br/
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Alessandria, Itlia, 26 de Maio de 1945
Ilma. Snra. ETELVINA WOLFF
Respeitosos cumprimentos
Acabo de receber o vosso telegrama em que solicitais in
formaes sbre o vosso filho, segundo sargento Max Wolff.
, verdadeiramente contristado, que vos participo que o vosso
filho, quasi ao terminar a guerra, tombou como um verdadeiro bravo em
defesa do nosso querido Brasil.
Podeis, dele, vos orgulhar. Ningum o ultrapassou em lealdade,
desprendimento, destemr e esprito de sacrifcio. Pedia, a mide, para
ser incluido nas patrulhas que, altas horas da noite, iam em busca do
contto com o inimigo. Portouse, sempre, como um verdadeiro soldado. Nada
o demovia do cumprimento do dever: nem o frio inclemente, nem o inimigo
rancoroso e destemido. Dentre as Citaes de Combate, conferidas a vrios
Oficiais e Praas, a sua se projetar na histria de nossa Ptria.
Apresentandovos, pois, em meu nome e da Infantaria
Expedicionria, as nossas sinceras condolencias, eu vos afirmo que o vosso
pranteado filho, semelhana dos Pinheiros de vossa Terra Natal, viveu,
pelas qualidades morais, sempre na vertical e caiu deixando um vasio
cheio de saudades entre os componentes da Fra Expedicionria
Brasileira.
Gen. Euclydes Zenobio da Costa
(Reproduo da carta enviada pelo Gen Zenbio da Costa, ento Cmt da FEB, a Sra Etelvina Wolff, genitora do Sgt Wolff, comunicando o seu falecimento em combate)